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CLARISSA FEDER
SIOMARA PACHECO
SÃO PAULO
2019
FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS
Trabalho apresentado às
disciplinas Língua Portuguesa:
Semântica e Estilística e
Literatura Infantil, ministradas,
respectivamente, pela Profª. Dra.
Siomara Pacheco e Profª. Dra.
Clarissa Feder, como
instrumento de avaliação
continuada.
SÃO PAULO
2019
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................ 4
2 ANÁLISE ESTILÍSTICA..........................................................................11
3 ANÁLISE LITERÁRIA..............................................................................19
Nos dois exemplos acima, nota-se que o sujeito enunciador tinha intenção
de trabalhar a gramática de forma lúdica, a partir da construção lexical incomum,
e que ele priorizou, assim como igualmente o fazem os falantes das línguas
naturais ao criarem neologismos durante a fala do dia a dia, o processo de
formação de palavras por meio da sufixação, ou seja, a adição de um sufixo a
um radical.
Ainda aqui estamos ante um processo começado nos anos 20, quando
Monteiro Lobato fundou e desenvolveu a sua editora, marcada por
alguns traços inovadores: preferência quase exclusiva por autores
brasileiros do presente; interesse pelos problemas da hora; busca de
uma fisionomia material própria, diferente dos tradicionais padrões
franceses e portugueses; esforço para vender por preços acessíveis
sem quebra da qualidade editorial. (CANDIDO, 1987, p. 232)
Um artista para ser realmente grande precisa refletir em sua obra pelo
menos alguns dos aspectos essenciais das contradições econômicas
que o envolvem. Lobato compreendeu isso muito cedo e muito cedo
passou a estudar o meio que o cercava sem qualquer preconceito
romântico e sem qualquer fantazia literária. (ALVES, 1948, pg. 271)
3.2.1.Rinoceronte
O livro começa com Dona Benta dando aulas de gramática para Pedrinho,
já que o menino tem dificuldade em aprender na escola por considerar chata a
maneira como é ensinado a decorar regras. Então, Emília sugere uma viagem
ao país da gramática, para assim o menino aprender fora dos livros e de maneira
mais descontraída. Para isso, recebem a ajuda do rinoceronte Quindim, um
“famoso gramático”. No livro Caçadas de Pedrinho (1933), o rinoceronte é
apresentado pela primeira vez nos contos de Monteiro Lobato, descrito como um
animal feroz e “traiçoeiro”. Porém, em Emília no País da Gramática a boneca faz
uma descrição oposta a esta, informando que o animal é um “sabidão” e
“grandessíssimo gramático”:
— Aqui nem dá gosto morar, vovó — dizia ele, torcendo o nariz. — Fora o
jaguar, que outra fera possuímos? Só paca e veado e anta — uns pobres
herbívoros que têm medo de gente. Eu queria mas era enfrentar peito a peito
um rinoceronte!... Dona Benta arrepiava-se com aquilo. Lera muita coisa
sobre as grandes feras africanas e sabia que nenhuma existe mais traiçoeira
e feroz do que o rinoceronte, com aquele seu terrível chifre no meio da testa.
LOBATO (1933) p. 6
3.2.2. Emília
Além disso, a ideia da boneca abre precedente para que se pense na nova
metodologia pretendida por Lobato, e que tem por base os preceitos de Anísio
Teixeira acerca da “escola nova”: a escola foi pensada como “um lugar onde os
alunos fossem ativos”. Como vemos a seguir:
“Emília teve uma grande ideia: visitar o Verbo Ser, que era o mais velho
e graduado de todos os Verbos. Para isso imaginou um estratagema:
apresentar-se no palácio em que ele vivia, na qualidade de um jornal
imaginário – O Grito do Pica-Pau Amarelo
- Meu caro senhor – disse ela ao porteiro do palácio – eu sou redatora
do Grito do Pica-Pau Amarelo, o mais importante jornal do sítio de
Dona Benta, e vim cá especialmente para obter uma entrevista do
grande e ilustre Verbo Ser. Será possível?
(...) Emília foi levada à presença dele e entrou muito tesa, com um
bloquinho de papel debaixo do braço e um lápis sem ponta atrás da
orelha (...)
- Salve, Serência! exclamou Emília, curvando-se diante dele, os braços
espichados, à moda do Oriente. - O que me traz à vossa augusta
presença é o desejo de bem servir aos milhares de leitores do Grito do
Pica-Pau Amarelo, o jornal de maior tiragem do sítio de Dona Benta”
(LOBATO, 1934, pg.50)
Sendo assim, não era somente interessante ouvir falar de gramática, mas
sim, vivê-la, propor questões sobre ela, investigá-la – enfim - conhecê-la. Emília
acaba sendo levada em passeio, ou seja, não se trata de obter o conhecimento
por obrigação, mas por ação e prazer.
Uma das características notórias da boneca é ser extremamente
questionadora do uso de arcaísmos e crítica do português tradicional de
Portugal. Segundo ela, o português brasileiro deveria se livrar das velharias da
língua e simplificar sua gramática, como vemos no diálogo a seguir entre Emília
e uma palavra arcaica:
— Nesse caso, se é inútil, se não tem o que fazer, se está sem
emprego, a senhora não passa dum Arcaísmo cujo lugar não é aqui e
sim nos subúrbios. Está tomando o espaço de outras. (LOBATO, 1934,
pg.21.)
Após essa listagem, o professor deve perguntar aos alunos o que eles
acham sobre o modo como as palavras estão escritas. Estão erradas? Uma
conversa coletiva sobre as impressões dos alunos seria interessante.
Em seguida, o trecho de “Emília no País da Gramática” é apresentado
para que todos façam uma leitura silenciosa. Depois, o professor pergunta aos
alunos quais foram suas impressões desse trecho, o que eles compreenderam.
Por fim, o professor deve explicar que tudo o que os alunos buscaram no
texto regional seriam considerados na época de Lobato provincianismos, e que
quem os utilizava em suas falas era estigmatizado, assim como o senhor
provincianismo, na obra, que está preso, e que isso não é uma prática correta
com as pessoas. Hoje, depois de muitos estudos sobre a linguagem, se
entendem essas palavrinhas como uma variedade linguística - a variante
regional. Cada variedade é apenas uma maneira diferente de utilizar a língua
portuguesa e não um erro. A variedade regional tem tanta legitimidade quanto
qualquer outra, mas infelizmente ainda hoje se estigmatiza quem a utiliza.
Para outra atividade seguindo a mesma área, dessa vez para Ensino
Médio, um primeiro ano, por exemplo, podemos utilizar o trecho a seguir:
gí·ri·a
1 (SOCIOLING) Linguagem, em geral efêmera, marcada por
vocabulário novo, ou já existente, porém com outra significação, e
construções metafóricas, muitas vezes cômicas: A gíria se popularizou
e é usada hoje por diferentes grupos sociais.
2 (SOCIOLING) Linguagem usada por marginais, que costuma
funcionar como elemento de agregação e aceitação social, não
compreendida por outras pessoas.
3 (SOCIOLING) Linguagem própria de indivíduos que desempenham
a mesma profissão ou arte, com vocabulário especial, às vezes difícil
de entender; jargão: “Se a mãe o prendia ficava a fazer exercícios de
capoeiragem no corredor, cantando dobrados, a gingar, como fazia à
frente dos batalhões, com uma gíria sórdida e gestos
desempenados” (CN).
4 Vocábulo ou expressão de linguagem informal; slang.
Portanto, pode-se dizer que Emília no País da Gramática é uma obra não
só para entretenimento, mas também como objeto de estudo, pois apresenta
aspectos estilísticos e literários e contribui para o aprendizado e o despertar da
imaginação, tornando-se uma leitura fundamental nas salas de aula.
REFERÊNCIAS