Sei sulla pagina 1di 37

Responsabilidade socioambiental

Responsabilidade socioambiental
Responsabilidade Socioambiental

Brasília, 2008
Prof. Dr. Naomar de Almeida Filho Prof. Dr. Antônio Nazareno Guimarães Mendes Prof. Dr. Paulo Speller
Reitor Reitor Reitor
Prof. Dr. Herbert Conceição Prof. Dr. Ricardo Pereira Reis Profa. Dra. Marinêz Isaac Marques
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Vice-Reitor Propg – Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Prof. Dr. Reginaldo Souza Santos Prof. Dr. Joel Augusto Muniz Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta
Diretor da Escola de Administração Pró-Reitor de Pós-Graduação Coordenador do Projeto
Prof. Dr. Rogério E. Quintella Prof. Dr. Antônio Carlos dos Santos jmarta@ufmt.br
Coordenador do Núcleo de Pós-graduação Chefe Depto Administração e Economia – DAE Prof. Dr. Dirceu Grasel
em Administração (NPGA) Prof. Dr. Ricardo de Souza Sette Coordenador Pedagógico
Coordenador do Curso dgrasel@ufmt.br
Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento
e Gestão Social (CIAGS) www.ufmt.br
secretmbadrs@ufla.br
Profa. Dra. Tânia Fischer
Coordenadora Geral
Prof. Dr. José Antonio Gomes de Pinho
Vice-Coordenador
Prof. Me. Edgilson Tavares de Araújo
Coordenador Acadêmico de EAD

mbadrs@ufba.br
Prof. Dr. Timothy Martin Mulholland Ph.D. Professor Alberto Borges Matias
Reitor Diretor Presidente
Prof. Dr. Edgar Nobuo Mamiya Prof. Me. David Forli Inocente
Vice-Reitor Gerente de Ensino
Centro de Educação a Distância – CEAD www.inepad.org.br
Prof. Dr. Sylvio Quezado de Magalhaes
secretaria.mba@inepad.org.br
Diretor
Prof. Ricardo de Sagebin
Coordenador Executivo
Laura M. Goulart Duarte
Coordenadora do Curso

www.cead.unb.br

PROFESSORA AUTORA GERENTE DA UNIDADE DE PEDAGOGIA


Prof. Dra. Paula Chies Schommer Ana Luisa Nepomuceno

GERENTE DA UNIDADE DE APOIO ACADÊMICO E


LOGÍSTICO
Lourdinéia Martins da Silva Cordoso

GERENTE DE PRODUÇÃO
Rossana Beraldo

DESIGNER EDUCACIONAL
Fábio Ultra

ILUSTRADORES
Rodrigo Mafra

REVISORES
Marcela Silva
Daniele Santos
Sumár io

Ícones Organizadores .......................................................................... 6


Apresentação ........................................................................................ 7
Tema 1 Responsabilidade socioambiental: histórico, motivações e dife-
rentes abordagens 11
1.1 Diferentes visões a respeito do papel das empresas frente aos de-
safios sociais e ambientais na atualidade ....................................... 13
1.2 Um pouco da história dos debates a respeito de responsabilidade
socioambiental ................................................................................. 19
1.3 Abordagens conceituais ao tema .................................................... 23
1.4 Motivações para o engajamento das empresas .............................. 30
1.5 Desafios e limites da responsabilidade socioambiental ................... 31
Tema 2 Impactos socioambientais da atividade econômica e mecanismos
de preservação 37
2.1 A atividade humana e seus impactos ambientais e sociais ............. 39
2.2 Avanços, desafios persistentes, novos desafios ............................. 48
2.3 Estratégias e mecanismos de superação da degradação ambien-
tal e da injustiça social ..................................................................... 52
Tema 3 Responsabilidade socioambiental como estratégia de negócios,
de desenvolvimento e de gestão 61
3.1 Responsabilidade socioambiental como estratégia de competiti-
vidade e de sustentabilidade e sua relação com desenvolvimento
sustentável ....................................................................................... 62
3.2 Mercado ambiental e oportunidades de negócios com viés socio-
ambiental ......................................................................................... 67
3.2.1 Negócios na base da pirâmide ............................................... 69
3.2.2 Exemplos de oportunidades de negócios ............................... 71
3.3 Mercado financeiro, responsabilidade socioambiental e desenvol-
vimento sustentável ......................................................................... 75
3.3.1 Finanças Sustentáveis ............................................................ 76
3.3.2 Ações dos agentes do sistema financeiro e suas contribui-
ções para o desenvolvimento sustentável .............................. 79
3.3.3 Índices de sustentabilidade e fundos de investimento ........... 83
3.4 Governança Corporativa ................................................................. 87
Tema 4 Traduzindo princípios de responsabilidade socioambiental em
estratégias e instrumentos de gestão 93
4.1 Pactos, declarações, normas e certificações de responsabilidade
socioambiental ................................................................................. 94
4.1.1 Iniciativas globais, de caráter abrangente: declarações, prin-
cípios, pactos, protocolos e diretrizes ..................................... 96
4.1.2 Normas que envolvem auditoria e certificação ....................... 99
4.1.3 O processo de construção da ISO 26.000 – norma interna-
cional de responsabilidade social ........................................... 100
4.2 Indicadores de gestão em responsabilidade social e ambiental ..... 101
4.2.1 Indicadores setoriais e para micro e pequenas empresas ..... 106
4.3 Responsabilidade socioambiental como sistema de gestão inte-
grado ................................................................................................ 106
4.4 Comunicação com as partes interessadas e responsabilidade so-
cioambiental ..................................................................................... 111
4.5 Integração de ferramentas de gestão e estratégias de pressão da
sociedade sobre as empresas ......................................................... 117
Tema 5 Investimento Social Privado – mobilização de recursos privados
para fins públicos 121
5.1 Conceitos e práticas de participação das empresas no atendimen-
to a demandas sociais: filantropia, cidadania empresarial, investi-
mento social privado ........................................................................ 122
5.1.1 Filantropia ............................................................................... 123
5.1.2 Cidadania empresarial ............................................................ 124
5.1.3 Investimento social privado .................................................... 125
5.1.4 Relações entre investimento social privado e responsabilida-
de social empresarial .............................................................. 127
5.2 Estágios e modelos de atuação das empresas na área social: do
assistencialismo às estratégias ....................................................... 128
5.2.1 Instituto, Fundação ou setor na empresa?.............................. 131
5.3 Investimento social privado no Brasil – histórico, organizações de
fomento e investidores ..................................................................... 134
5.4 Dados e exemplos de investimento e de ação social das empre-
sas no Brasil .................................................................................... 139
5.4.1 Pesquisa IPEA sobre ação social das empresas no Brasil .... 139
5.4.2 Exemplos de modelos de atuação diversos ........................... 140
5.5 Oportunidades e desafios para o investimento social privado ........ 145
Tema 6 Empresas, Responsabilidade Socioambiental e Desenvolvimento
Regional Sustentável 151
6.1 Desenvolvimento regional sustentável como desafio comparti-
lhado ................................................................................................ 152
6.2 Os papéis específicos das empresas no desenvolvimento regional
sustentável ....................................................................................... 156
6.3 Caminhos e práticas de engajamento das empresas no desenvol-
vimento regional sustentável .......................................................... 158
6.3.1 Crescimento econômico, pagamento de salários e de im-
postos ..................................................................................... 159
6.3.2 Desenvolvimento de fornecedores e indução a melhores
práticas na cadeia de valor ..................................................... 160
6.3.3 Capacitação de trabalhadores e oportunidades de emprego 161
6.3.4 Estímulo ao voluntariado ........................................................ 163
6.3.5 Investimento social comunitário .............................................. 165
6.3.6 Engajamento na Agenda 21.................................................... 166
6.3.7 Relações com comunidades fornecedoras e uso sustentável
da biodiversidade .................................................................... 167
6.3.8 A estratégia DRS do Banco do Brasil ..................................... 169
6.3.9 Aprendendo a trabalhar em parceria ...................................... 170
6.4 Limites e contradições da ação das empresas em prol do desen-
volvimento regional .......................................................................... 173
Referências 179
Sobre a professora autora 193
Ícones organizadores

Conhecimentos, habilidades e Conceitos ou idéias que mere- Após finalização do tema,


atitudes a serem desenvolvidos cem destaque. recomendamos que você faça
por você. uma síntese dos assuntos
estudados para consolidação
da aprendizagem.

Pensamento aprofundado de Espaço reservado para você Após a leitura do tema, é


pontos importantes. fazer anotações relativas ao solicitado que você siga para a
tema estudado. videoaula do tema em estudo.
Apresentação

Caro(a) aluno(a),
Nesta disciplina do MBA em Desenvolvimento Regional Sus-
tentável, serão discutidas as diferentes responsabilidades
que vêm sendo atribuídas às organizações na atualidade, so-
bretudo, às empresas, enfatizando-se a articulação entre seu
tradicional papel produtivo e suas relações com os contextos
sociais e ambientais nos quais se inserem.
No Tema 1 – Responsabilidade socioambiental: histórico,
motivações e diferentes abordagens –, apresentam-se di-
ferentes visões e abordagens conceituais relativas ao papel
das empresas frente aos desafios econômicos, sociais e am-
bientais da atualidade, elementos da história dos debates a
respeito de responsabilidade socioambiental, bem como de-
safios e limites da gestão responsável.
No Tema 2 – Impactos socioambientais da atividade eco-
nômica e mecanismos de preservação –, discute-se alguns
dos impactos dos modelos atuais de atividade produtiva sobre
a natureza e a sociedade, bem como estratégias e mecanis-
mos de preservação e de conservação que vêm sendo pro-
postos e adotados, visando a enfrentar os desafios de sobre-
vivência e de qualidade de vida no planeta.
No Tema 3 – Responsabilidade socioambiental como es-
tratégia de negócios, de desenvolvimento e de gestão –,
evidencia-se a relação entre responsabilidade socioambiental
e desenvolvimento sustentável, apresentando-se argumentos
e experiências que buscam demonstrar como a responsabi-
lidade socioambiental pode configurar-se, simultaneamente,
como estratégia de competitividade e de sustentabilidade.
Trata-se, em especial, do papel do setor financeiro nesse con-
texto e de práticas que vêm sendo promovidas em seu âmbi-
to, visando à promoção da sustentabilidade.
 GESTÃO DE PESSOAS

No Tema 4 – Traduzindo princípios de responsabilidade


socioambiental em estratégias e instrumentos de gestão
–, procura-se mostrar os diversos instrumentos de gestão e
de pressão da sociedade sobre as empresas, por meio dos
quais se busca contribuir para a transformação de práticas
nas organizações, bem como para ampliar a capacidade da
sociedade e das próprias empresas de controlar e avaliar pos-
síveis avanços em responsabilidade socioambiental.
No Tema 5 – Investimento Social Privado – mobilização
de recursos privados para fins públicos –, trata-se de um
âmbito mais específico da responsabilidade socioambiental,
apresentando-se conceitos e práticas de participação das em-
presas no atendimento a demandas sociais. São discutidos
termos como filantropia, cidadania corporativa e investimento
social privado, bem como modelos de atuação das empresas
na área social, no Brasil e no mundo.
No Tema 6 – Empresas, Responsabilidade Socioambiental
e Desenvolvimento Regional Sustentável –, são apresenta-
dos exemplos de atuação empresarial, sempre em articulação
com outros setores, que evidenciam caminhos possíveis para
seu engajamento na promoção do desenvolvimento regional
sustentável. São apontados, também, limites e contradições
comumente enfrentados ao procurar-se promover o desenvol-
vimento, especialmente no que se refere ao papel das empre-
sas nesse processo.
Esperamos que você encontre, ao longo do percurso des-
ta disciplina, oportunidades de enriquecimento de práticas
e reflexões relativas à responsabilidade socioambiental. Tal
percurso passa pelos caminhos de pesquisa indicados nesta
apostila, pelas idéias proporcionadas pelos professores nas
videoaulas, pelas discussões com colegas e tutores e, sobre-
tudo, pela articulação disso tudo com suas experiências no
seu cotidiano como estudante, como profissional e como ci-
dadão.

Bons estudos!
11

Tema 1
Responsabilidade socioambiental: histórico, motivações e
diferentes abordagens

Uma palavrinha inicial


Ao tratarmos de desenvolvimento, seja no âmbito individual,
organizacional ou societário, é inevitável falar em mudança. A
mudança é parte da vida e sempre foi intensa na história da
humanidade. Nas últimas décadas, porém, transformações em
vários campos – conhecimentos, valores, tecnologias, clima, po-
pulações, padrões produtivos e organizacionais – evidenciam a
necessidade de redefinição de papéis, relações e responsabili-
dades na sociedade.
Tanto os avanços, que permitem melhorias na qualidade de vida
das pessoas, quanto os desafios sociais e ambientais, enfrenta-
dos pelo planeta e pela humanidade, levam a novas configura-
ções nas relações entre seres humanos e os demais habitantes
do planeta e nas relações dos seres humanos entre si. Tais re-
lações costumam ser intermediadas por organizações, as quais
se tornam mais complexas e interdependentes. Sejam elas do
Estado, da sociedade civil, do mercado ou da fronteira entre es-
ses campos, novas responsabilidades são atribuídas pela socie-
dade às organizações.
Um dos termos em evidência nesse contexto é responsabilida-
de, o qual está associado às idéias de poder e de livre arbítrio.
Quanto maior o poder e a liberdade que uma pessoa ou uma
organização tem para decidir e realizar algo, maior a responsa-
bilidade associada a essa decisão ou ação. A responsabilidade é
inerente à condição humana de refletir, planejar, fazer escolhas
e interferir em seu meio.
Na época atual, ao mesmo tempo em que se desenvolvem novos
conhecimentos, cresce a percepção da interdependência entre
fenômenos sociais, ambientais e econômicos. Em paralelo, con-
tinua elevada a concentração de poder em torno dos Estados
nacionais e cresce o poder de grandes empresas globalizadas.
Por outro lado, o imenso domínio da humanidade em relação
12 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

à natureza, conquistado no processo evolutivo e potencializado


pelos avanços tecnológicos dos últimos séculos, mostra-se ain-
da limitado, na medida em que a natureza segue revelando sua
força, a despeito da tentativa de controle humano sobre todos os
seus “recursos” e fenômenos.
A humanidade segue, pois, enfrentando antigos desafios, como a
instabilidade de elementos naturais e a convivência conflituosa entre
os habitantes do planeta, ao mesmo tempo em que novos desafios
se apresentam, exigindo criatividade e capacidade de inovação. No
Como veremos ao longo
campo da gestão, ao lado das questões econômicas, debatem-se
do texto, o termo respon-
mais intensamente temas sociais e ambientais, no sentido de como
sabilidade social é mais
podem ser tratados pelas organizações e incorporados aos proces-
freqüente que o termo
sos gerenciais e estratégicos. Da preocupação com os impactos
responsabilidade socio-
da atividade econômica sobre as relações sociais e sobre o meio
ambiental na produção
ambiente, surgem os termos responsabilidade social e, mais re-
sobre o tema, embora seja
centemente, responsabilidade socioambiental.
crescente a utilização des-
te último, pois evidencia Neste primeiro tema da disciplina, discutiremos elementos do con-
de forma mais enfática a texto, do histórico, das motivações e das abordagens conceituais
interligação entre questões relativas ao debate sobre responsabilidade socioambiental. Embo-
sociais e ambientais. ra a discussão sobre responsabilidade seja uma questão coletiva,
Nesta disciplina, na que envolve tanto indivíduos como organizações, de todos os seto-
maioria das vezes em res, nesta disciplina, trataremos mais diretamente das responsabi-
que aparecem, os termos lidades das empresas, nesse processo de renegociação do pacto
responsabilidade social e social, no qual se redefinem papéis para a promoção do desenvol-
responsabilidade socioam- vimento (WILHEIM, 1999). Embora o foco esteja nas empresas, a
biental são considerados noção fundamental é de interdependência e, portanto, de co-res-
como sinônimos. ponsabilidade pelos desafios e pelas possíveis soluções.

Ao estudar este tema, espera-se que cada participante


tenha mais subsídios para:

• perceber elementos do contexto atual que influen-


ciam o debate a respeito do papel das empresas e de
outros atores sociais nas questões socioambientais;

• conhecer características do processo histórico relati-


vas ao papel das empresas no Brasil e no mundo;

• identificar motivações das empresas para engajar-se


nesse processo;

• conhecer abordagens teóricas e conceituais que podem


ser utilizadas para a compreensão da responsabilidade so-
cioambiental e das práticas associadas a essa discussão.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 13

1.1 Diferentes visões a respeito do papel das empresas


frente aos desafios sociais e ambientais na atualidade
A época em que vivemos pode ser reconhecida pelos avanços
gerados em várias áreas, os quais contribuem para a melhoria
da qualidade de vida da humanidade. Em termos gerais, a popu-
lação mundial – constituída por mais de seis bilhões de pessoas
– tem hoje maior expectativa de anos de vida ao nascer, mais
acesso à educação e a bens e serviços do que em qualquer
tempo, embora tais condições variem muito de um lugar para
outro. Por outro lado, antigos desafios – como a superação da
fome e da violência – e novos – como o esgotamento de recur-
sos naturais – afetam o equilíbrio social e ameaçam a própria
sobrevivência do planeta.
A análise da realidade costuma evidenciar a hibridização de
diversas características, de limites e de avanços, de múltiplas
combinações entre o tradicional e o novo, da existência de pa-
radoxos, da convivência de lógicas opostas que se opõem e, ao
mesmo tempo, se articulam, como as lógicas da competição e
da solidariedade.
Se, por um lado, podem-se reconhecer progressos alcançados em
áreas como tecnologia da informação, medicina, tecnologia nucle-
ar e petroquímica, persistem guerras e conflitos – com motivações
que misturam questões étnicas, religiosas, econômicas e políticas
–, terrorismo, violência urbana, intolerância, racismo, drogas, novas
e antigas doenças ainda vitimando muitas pessoas.
No campo da gestão, é possível perceber desequilíbrios entre
transformação produtiva e eqüidade social, competitividade e
coesão social, eficiência e solidariedade, crescimento e distri-
buição de resultados (BOMBAL e KROTSCH, 1998).
No campo econômico, há muita riqueza sendo gerada, em pa-
ralelo à pobreza e à desigualdade na distribuição dos recursos.
Uma das bases do capitalismo, sistema econômico dominante
de nossa época, é justamente a necessidade de ampliação con-
tínua da capacidade produtiva – de bens ou serviços. Se é ver-
dade que dispor de novos bens e serviços pode contribuir para a
qualidade de vida das pessoas no planeta (embora de maneira
desigual), isso pode não gerar o mesmo efeito na vida de outras
espécies que compartilham o planeta com os seres humanos e,
inclusive, no próprio planeta como um todo.
A exacerbada exploração da natureza pela humanidade tem
contribuído para elevar a instabilidade das condições de vida na
Terra. De questão restrita ao domínio de poucos cientistas e am-
bientalistas, em meados do século XX, as mudanças climáticas, a
extinção de espécies, o esgotamento de recursos naturais e seus
14 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

A construção do texto impactos sociais e econômicos atraem holofotes da mídia e moti-


deste Tema 1 está basea- vam debates em diferentes segmentos sociais, políticos e científi-
da, em grande parte, em cos, pelos quatro cantos do planeta, no início do século XXI.
SCHOMMER, Paula C. e
Nesse contexto, podem-se distinguir três correntes de opinião
ROCHA, Fabio C. C. As
a respeito do papel específico das empresas frente aos desa-
Três Ondas da Gestão So-
fios sociais e ambientais, de acordo com Schommer e Rocha
cialmente Responsável no
(2007):
Brasil: Dilemas, Oportuni-
dades e Limites. Anais do 1) Visão liberal – comumente associada a economistas neoli-
31º ENANPAD. Encontro berais como Milton Friedman, a idéia predominante, nessa ver-
da Associação Nacional de tente, é de que a responsabilidade primordial das empresas é
Pós-Graduação e Pesqui- gerar lucros para seus acionistas, por meio de suas funções pro-
sa em Administração. Rio dutivas, de maneira eficiente e competitiva, utilizando o potencial
de Janeiro, 2007. das tecnologias. Dessa maneira, as empresas produzem bene-
fícios à sociedade na medida em que geram empregos, pagam
impostos e ofertam bens e serviços que a sociedade demanda
É atribuída a Milton
(LOGAN, ROY e REGELBRUGGE, 1997; KREITLON, 2004).
Friedman a frase “The
Outro argumento dessa concepção é que lidar com problemas
business of business is
sociais não é uma competência típica do setor empresarial. Tais
business” (LOGAN, ROY
problemas devem, pois, ser resolvidos por atores cuja finalidade
e REGELBRUGGE, 1997,
está voltada para questões públicas – Estado e sociedade civil.
p. 8), que poderia ser
traduzida como “o negócio
dos negócios é fazer
negócios”.

Embora essa visão seja bastante criticada, o lucro dos acionis-


tas e a sustentabilidade do próprio negócio são, de fato, priorida-
des para as empresas privadas. Pela natureza do sistema eco-
nômico em que estão inseridas, as empresas precisam garantir
resultados financeiros positivos, geralmente no curto prazo, para
seguir atuando no mercado. As empresas são, por definição, en-
dividadas, uma vez que todas elas possuem um passivo, seja
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 15

com acionistas, sócios, fornecedores, financiadores ou investi-


dores, sendo pressionadas a garantir as condições para honrar
tal passivo, raramente sendo permitido priorizar o retorno em
longo prazo, tanto para a empresa como para a sociedade.
2) Visão crítica – para os críticos do movimento da responsa-
bilidade social, as empresas capitalistas, especialmente as glo-
balizadas, no âmbito do sistema econômico vigente, são as res-
ponsáveis pela maior parte dos problemas sociais e ambientais
que vivemos e são as grandes beneficiárias de um sistema es-
sencialmente explorador e concentrador de poder e de riquezas.
De fato, nas últimas décadas, vivemos um processo de elevada
concentração de capitais no setor empresarial, estimulado pela
liberalização dos mercados e elevação dos fluxos internacionais
de produção, de consumo e de capitais, pela privatização de gran-
des empresas estatais, e por processos de fusões e aquisições Anderson, Lee e Cavanagh
(SANTOS, 1998), conformando-se mega corporações que atuam (2005) mostram que, em
em diferentes países. O mercado tem hoje mais liberdade, rique- 2002, das 100 maiores “eco-
za e poder do que em qualquer outro tempo, na medida em que nomias” do mundo, 52 eram
houve transferência maciça de ativos do setor público para o empresas, 48 eram países,
setor privado e aumento dos fluxos internacionais de capital. considerando-se Produto In-
terno Bruto (PIB) dos países
Ainda de acordo com a visão crítica, se as empresas recebem e faturamento das empre-
a maior parte dos benefícios e expurgam os efeitos nocivos de sas. Entre as empresas de
suas atividades a outros atores sociais, não seriam elas próprias maior faturamento, em 2002,
que se mobilizariam para promover mudanças efetivas, princi- estavam Wal-Mart, General
palmente se isso significar abrir mão de poder. Mudanças gra- Motors, Exxon Mobil, Royal
duais nas responsabilidades e nos sistemas de gestão empresa- Dutch/Shell, British Petro-
riais seriam contraproducentes e até nocivos para o avanço na leum, Ford Motor, Daimler
solução dos problemas sociais e ambientais. Chrysler, Mitsubishi, Mitsui,
Acreditar que o engajamento das empresas traria melhorias nas Alliaz e Citigroup. Estudos
condições do planeta e da sociedade equivaleria a “tapar o sol a respeito do poder das
com a peneira”, levantar falsas expectativas e reduzir as pressões grandes corporações globa-
lizadas podem ser localiza-
por transformações mais profundas no sistema. A tendência seria
dos nos sites do Institute
amenizar certas evidências do sistema explorador e alcançar me-
for Policy Studies (www.
lhorias em alguns campos, mas sem atuar sobre os mecanismos
ips-dc.org/global_econ) e do
que geram a exclusão social e a devastação ambiental.
Worldwatch Institute (www.
Permitir às empresas que definam, elas próprias, quais suas res- worldwatch.org). Acesso em
ponsabilidades – o que deve e o que não deve ser externalizado 25 nov. 2007.
– seria conceder-lhes ainda mais poder. Mais do que isso, espe-
rar que as empresas tratem dos desafios sociais e ambientais no
âmbito dos negócios, utilizando para isso seus métodos de ges-
tão e os mecanismos próprios do mercado, seria conceder-lhes
poderes adicionais e legitimar o modo de gestão empresarial
como superior. Seria como “colocar a raposa para tomar conta
do galinheiro”.
16 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Haveria, pois, o risco de contribuir para reforçar a crença na ca-


pacidade superior da iniciativa individual e privada em relação
ao Estado, bem como a despolitização das questões e confli-
tos sociais (KREITLON, 2004; PAOLI, 2002), transformando-as
em riscos ou oportunidades para os negócios. Nesse sentido,
Kreitlon (2004) considera a responsabilidade social empresarial
como ideologia essencialmente conservadora, uma vez que evi-
ta o questionamento ético radical das relações entre empresas
e sociedade e “contribui para legitimar e manter a hegemonia do
mercado sobre diversas questões de natureza pública e política”
(2004, p. 11).

Como foi visto na disciplina Nessa mesma linha, estão os críticos do próprio conceito de de-
Desenvolvimento Territorial, senvolvimento sustentável, uma vez que ele contém a idéia
Organizações e Gestão, o essencialmente utópica de que seria possível conciliar cresci-
Relatório Brundtland (1987) mento econômico, consumismo e competitividade, por um lado,
define: “Desenvolvimento e proteção ambiental e justiça social, por outro, conforme discus-
sustentável é o desen- são já apresentada neste curso, na disciplina Desenvolvimento
volvimento que satisfaz as Territorial, Organizações e Gestão.
necessidades do presente
3) Visão política – esta corrente corresponde ao campo primor-
sem comprometer a capaci-
dial daqueles que defendem e participam do movimento da res-
dade das futuras gerações
ponsabilidade socioambiental das empresas. Seus defensores
satisfazerem suas próprias
argumentam que mesmo que se acredite que o papel central
necessidades”. É um con-
das empresas é produzir bens e serviços e gerar lucros para os
ceito que busca conciliar as
acionistas (visão liberal) e se admita que as empresas são as
necessidades econômicas,
grandes vilãs da sociedade atual (visão crítica), pelo poder que
sociais e ambientais sem
concentram, elas não podem estar à margem do debate político,
comprometer o futuro de
ambiental e social. Outro argumento, nesse sentido, é de que
quaisquer dessas demandas
(CEBDS, 2006).
não podem existir empresas saudáveis e lucrativas em socieda-
des enfermas e empobrecidas (TORO O., 1997; CARAVEDO,
1998), portanto, a sustentabilidade das empresas depende da
sustentabilidade em sentido mais amplo.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 17

Para essa corrente, a idéia de limitar o papel das empresas à


geração de empregos e ao pagamento de impostos está ultra-
passada, seja pelo poder das empresas ou pela complexidade
dos problemas atuais. Admite-se que toda atividade produtiva
atende a uma demanda social, portanto, as empresas existem,
primordialmente, para atender a necessidades coletivas. Os lu-
cros são resultados da atividade produtiva que atende a uma
necessidade.
Uma empresa tem como tarefa primordial desempenhar com
boa qualidade a atividade produtiva em torno da qual se orga-
niza – atendendo a necessidades coletivas, gerando trabalho e
renda para empregados e fornecedores, recolhendo impostos
que financiam atividades do Estado, contribuindo para o desen-
volvimento da tecnologia e do conhecimento, gerando lucros
e remunerando acionistas –, mas suas responsabilidades vão
além disso, como veremos adiante.
Chamamos essa corrente de “política” porque seus formulado-
res compreendem que é por meio da política que as pessoas,
instituições e sociedades transformam-se e são transformadas.
Portanto, as empresas precisam ser pressionadas politicamente
para avançar em suas práticas e melhor atender aos interesses
coletivos, maximizando seu valor. As pressões e conflitos por in-
teresses são vistos como naturais e necessários para a evolução
social, e devem ser tanto internos como externos às empresas,
advindos dos pares, funcionários, governos e seus mecanismos
de regulação e punição, sistemas de auto-regulação dos merca-
dos, organismos de governança global, mídia, opinião pública,
consumidores, sindicatos ou organizações da sociedade civil. Entre as três visões apre-
sentadas, qual delas está
Nesse sentido, a sociedade é chamada a redefinir o que autoriza mais próxima do que você
e o que não autoriza em relação à gestão, quais os padrões de acredita? Quais os papéis
comportamento exigidos das empresas, aumentando os benefí- que você atribuiria às em-
cios ou recompensas para aquelas que se ajustam a esses pa- presas na atualidade?
18 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

drões e, ao mesmo tempo, aumentando os custos ou punições


para aquelas que não se ajustam. No âmbito dessa corrente,
tem sido fortalecido, mais recentemente, o argumento de que a
gestão social e ambientalmente responsável pode converter-se
em vantagem competitiva e fator de sustentabilidade empresa-
rial, como veremos adiante.

Independentemente da corrente que apresente os argumentos mais convincentes,


o fato é de que o tema da responsabilidade socioambiental ganhou relevância nos
debates pelo mundo, nos últimos anos. O destaque que vem alcançando, tanto
entre seus defensores como entre seus críticos, evidencia que não se trata de um
modismo, mas de um debate importante, de caráter ideológico.

A responsabilidade socioambiental, tanto das empresas como


dos demais agentes sociais, está fortemente ligada ao tema do
desenvolvimento sustentável. Se acreditamos que é possível
construir um modelo de desenvolvimento mais justo e equilibra-
do, tanto do ponto de vista econômico, quanto social e ambien-
tal, é necessário redefinir papéis e práticas, tanto dos indivíduos
enquanto cidadãos, como das organizações públicas e privadas
por meio das quais os indivíduos produzem, trabalham, atendem
a suas necessidades e relacionam-se com os outros.

Para Rousseau, filósofo Vivemos, nas últimas décadas, um processo intenso de renego-
iluminista do século XVIII, ciação do pacto social (WILHEIM, 1999), buscando (re)definir
o pacto social pode ser papéis e responsabilidades de cada ator nesse processo, em
definido quando “cada um meio ao qual os três grandes dogmas institucionais da moder-
de nós coloca sua pessoa e nidade (PIMENTA, 1998) – Estado, mercado e sociedade civil
sua potência sob a direção – vivem paradoxos e passam por transformações.
suprema da vontade geral”. Os Estados nacionais, apesar do questionamento neoliberal so-
bre sua eficiência e eficácia e do intenso processo de privatização
e descentralização, vivido a partir do final da década de 1970 em
muitos países, seguem concentrando muito poder. No campo da
sociedade civil, surgem novas formas de mobilização e articulação,
propiciando a emergência do chamado terceiro setor, conjunto das
organizações da sociedade civil, as quais combinam recursos e ca-
racterísticas públicas e privadas. Ao mesmo tempo, como vimos, o
mercado ganha impulso e poder, por meio da globalização econô-
mica e produtiva, da financeirização da economia, da flexibilização
da produção, da aplicação de novas tecnologias produtivas e da
criação de novos produtos, serviços e tipos de negócios.
Em paralelo a isso, cresce a preocupação mundial com os efei-
tos da ação humana sobre a devastação da natureza e as mu-
danças climáticas, levando ao questionamento mais intenso do
modelo produtivo atual, especialmente pela poluição ambiental
que gera. Movimentos sociais e organizações da sociedade civil
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 19

pelo mundo articulam-se para exigir respeito a direitos dos traba-


lhadores e das populações empobrecidas, direitos das crianças,
das mulheres e das minorias, melhor distribuição dos resultados
do crescimento econômico, respeito à diversidade cultural e pro-
teção ambiental.
Essas e outras transformações recentes no mundo, incluindo a
ampliação da comunicação entre pessoas e países e avanços
tecnológicos, fazem crescer a percepção da interdependência
entre fenômenos econômicos, sociais e ambientais, e da perme-
abilidade das fronteiras entre o público e o privado, demandan-
do-se mais articulação entre diferentes setores, no âmbito de um
espaço compartilhado, no qual empresas, governos e sociedade
civil são co-responsáveis pelas questões coletivas que afetam a
todos (SCHOMMER, 2000).

1.2 Um pouco da história dos debates a respeito de


responsabilidade socioambiental
Reflexões a respeito do papel das empresas na sociedade e
questões éticas relativas à sua atuação podem ser identificadas
desde os primórdios do capitalismo, como em Adam Smith, na
sua Teoria dos sentimentos morais, de 1759, e no clássico de
Friedrich Engels, Situação da classe trabalhadora na Inglaterra,
de 1845 (KREITLON, 2004). Desde o século XVII, líderes em-
presariais eram grandes doadores de recursos para causas so-
ciais em países como os Estados Unidos, embora tais doações
não estivessem relacionadas ao papel das empresas, mas sim a
motivações e papéis atribuídos aos indivíduos (SMITH, 1994).
Na década de 1920, Mary Parker Follet, considerada pioneira na O livro de Howard R.
abordagem de temas proeminentes no mundo da gestão até os Bowen, Responsibilities of
dias atuais, defendia um amplo espectro de questões relativas ao the businessman, lançado
papel das empresas na sociedade, para além de suas funções em 1953, é considerado um
econômicas tradicionais, como a produção e o lucro (ARGAN- dos marcos da discussão
DOÑA, 1998). Mas foi a partir dos anos 1950 que a questão da a respeito da responsabi-
responsabilidade das empresas passou a ganhar importância lidade de empresários e
no mundo dos negócios. empresas.

A questão disseminou-se, nas décadas de 1960 e 1970, por vá-


rios países, acompanhada da discussão de temas como a pro-
teção ambiental e os impactos nocivos da atividade produtiva
no meio ambiente, os direitos das mulheres e a própria crítica
ao capitalismo como sistema incapaz de atender às necessida-
des das pessoas de maneira minimamente equilibrada. A partir
da década de 1980, fatores como o avanço da globalização, a
financeirização da economia, a flexibilização da produção e a
privatização de empresas estatais contribuíram para concentrar
20 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

ainda mais poder nas mãos de poucas e grandes empresas,


trazendo novas questões para o debate a respeito do papel de
cada ator social na promoção do equilíbrio entre dimensões eco-
Mais elementos do histórico nômicas, sociais e ambientais, o ideal do desenvolvimento sus-
relativo ao papel do setor tentável, engendrado nessa mesma época. Da década de 1990
produtivo na economia e para cá, o envolvimento das empresas com questões sociais
na sociedade são apre- e ambientais passou a ser crescentemente associado a ques-
sentados no Tema 2 desta tões estratégicas de negócios, para além de sua característica
disciplina. filantrópica tradicional.
No Brasil, algumas características peculiares merecem ser con-
sideradas. Historicamente, o Estado brasileiro ocupou o papel
de promotor do desenvolvimento, inclusive como Estado-empre-
sário, responsável direto por atividades produtivas como siderur-
gia, mineração, petróleo e energia elétrica, ao mesmo tempo em
que patrocinou a instalação de empresas privadas em diferentes
setores da economia. Muitas empresas estatais, ao instalarem-
se pelo país, viram surgir cidades em torno de si, levando-as a
desempenhar múltiplos papéis, para além de sua função produ-
tiva estrita, como prover serviços públicos, financiar infra-estru-
tura local e promover a modernização econômica e social (FIS-
CHER, 2003).
Outra característica da relação entre o setor empresarial bra-
sileiro e as demandas sociais é que, por muito tempo, a ação
social dos “homens de bem” foi praticada por meio de igrejas,
especialmente a católica. O próprio Estado desempenhava cer-
tas funções sociais – no campo da saúde e da assistência social,
por exemplo – por meio de entidades relacionadas às igrejas,
Para conhecer mais entre elas a Santa Casa de Misericórdia. A divulgação da “Carta
sobre a Associação dos de Princípios do Dirigente Cristão”, em 1965, pela Associação
Dirigentes Cristãos de dos Dirigentes Cristãos de Empresas, que pode ser conside-
Empresas acesse o site rada como marco da discussão sobre a responsabilidade dos
www.adce.org.br. Acesso gestores empresariais, no Brasil, tem como berço uma organiza-
em 25 nov. 2007. ção vinculada à religião.
A partir do final da década de 1970, o país passou por intensas
transformações, tanto no campo político quanto econômico. As
principais mudanças têm relação com o processo de redemo-
cratização do país, com o fim da ditadura militar, a partir do qual
houve a descentralização de funções e recursos do governo fe-
deral para os governos estaduais e municipais e o surgimento
de múltiplas organizações da sociedade civil, nacionais e inter-
nacionais, atuando no Brasil. Novas estruturas de governança
na relação entre o público e o privado, como os conselhos de
políticas públicas, proliferaram pelo país.
Ao mesmo tempo, mudanças no cenário econômico e político
internacional geraram alterações na relação entre Estado e mer-
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 21

cado no país: a agenda neoliberal pregava redução do tamanho


do Estado, levando à privatização de grandes empresas esta-
tais, ao tempo em que a aceleração da globalização levava à
maior integração produtiva, comercial, financeira e gerencial en-
tre mercados e empresas em diferentes países e à formação de
poderosos grupos empresariais com atuação mundial.
Algumas iniciativas e organizações surgidas nesse período recen-
te da história brasileira vêm desempenhando papéis importantes
para a reflexão a respeito das responsabilidades das empresas
na dinâmica social, seja por seu pioneirismo nas ações em torno
de certos temas, seja pela mobilização que conseguem gerar.
Em 1982, foi lançado o Prêmio ECO – Empresa e Comunidade
(www.premioeco.com.br), pelas Câmaras Americanas de Co-
mércio de São Paulo (AMCHAM – www.amcham.com.br), sendo
considerada uma iniciativa pioneira no incentivo e reconheci-
mento de ações de empresas voltadas para comunidades.
O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE
– www.ibase.org), fundado em 1981, tem como objetivo central
democratizar as informações a respeito da realidade brasileira
no campo econômico, social e político. Uma das linhas de ação
do IBASE defende posturas éticas e socialmente responsáveis
na atuação das empresas, em especial, por meio de práticas de
gestão mais transparentes, passando pela publicação de balan-
ços sociais, como veremos no Tema 4.
Outra iniciativa relevante no que tange às práticas empresariais
é a do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), realizado pela Fun-
dação Nacional da Qualidade (www.fnq.org.br). Desde sua pri-
meira edição, em 1991, os critérios para o Prêmio valorizaram
de maneira crescente questões sociais e ambientais e relações
das empresas com seus públicos de interesse como indicadores
de qualidade na gestão empresarial.
22 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Entre as muitas organizações que apresentam contribuições re-


levantes nesse campo, cabe mencionar o trabalho da Fundação
Abrinq (www.fundabrinq.org.br), criada em 1990 por empresas
fabricantes de brinquedos, a qual se destaca pelo pioneirismo
na abordagem de responsabilidades das empresas e pelas ini-
ciativas de conscientização e mobilização das empresas e da
sociedade em torno de questões relevantes, como o combate ao
trabalho infantil. Um dos símbolos desse processo é o Selo “Em-
presa Amiga da Criança”, concedido a empresas que assumem
compromissos em benefício da infância.
Em 1995, foi fundado o Grupo de Institutos, Fundações e Empre-
sas (GIFE – www.gife.org.br), o qual desempenha papel-chave
na mobilização empresarial em prol de questões públicas, reu-
nindo atualmente cerca de 100 organizações de origem empre-
sarial que praticam investimento social privado, como veremos
em mais detalhes no Tema 5. Outra organização que trabalha
na promoção e qualificação do investimento social privado é o
Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS
– www.idis.org.br), fundado em 1999. No campo da governan-
ça corporativa, destaca-se o Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa (IBGC – www.ibgc.org.br), criado em 1995, o qual
se dedica à disseminação do conceito e das boas práticas de
governança pelas empresas, como veremos no Tema 3.
Em 1997, foi fundado o Conselho Empresarial Brasileiro para
o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS – www.cebds.org.br),
ligado ao World Business Council for Sustainable Development
(WBSCD). O CEBDS reúne grupos empresariais brasileiros em
torno do desafio de criar condições no meio empresarial e nos
demais segmentos da sociedade para uma relação harmoniosa
entre dimensões sociais, econômicas e ambientais.
Em 1998, foi fundado o Instituto Ethos de Empresas e Responsa-
bilidade Social Empresarial (www.ethos.org.br), organização que
desempenha papel crucial no movimento da responsabilidade so-
cial empresarial, sendo reconhecido nacional e internacionalmen-
te. O Instituto Ethos busca promover a responsabilidade social
empresarial, destacando a necessidade de traduzir princípios éti-
cos em indicadores e ferramentas de gestão aplicáveis no cotidia-
A missão do Instituto Aka-
no das práticas das empresas e a necessidade de sua adesão ao
tu consiste em conscienti-
processo de construção do desenvolvimento sustentável.
zar e mobilizar o cidadão Uma das organizações surgidas a partir da mobilização gerada
brasileiro para seu papel pelo Instituto Ethos é o Instituto Akatu pelo Consumo Cons-
protagonista, enquanto ciente (www.akatu.org.br), criado em 2001, desenvolvendo
consumidor, na construção ações que visam a conscientizar e mobilizar a sociedade para
da sustentabilidade da que consuma de maneira a contribuir para a sustentabilidade
vida no planeta. do planeta, engajando as próprias empresas nesse movimento.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 23

Tanto no Brasil como no mundo, são inúmeras as organizações


relevantes por seu trabalho de aprimoramento da responsabi-
lidade socioambiental, algumas das quais serão mencionadas
no decorrer desta disciplina ou podem ser localizadas nos sites
mencionados acima e nas referências ao longo do texto.
Apesar do trabalho de organizações como essas e da crescen-
te visibilidade da idéia de que a responsabilidade das empresas
não se confunde com filantropia, possivelmente a característica
brasileira mais significativa nesse contexto seja a tendência de
relacionar responsabilidade social empresarial com ações sociais
externas, voltadas para a comunidade, sem relação com a ges-
tão do negócio. Atentos a isso, as lideranças do movimento da
responsabilidade social empresarial no Brasil têm elevado o tom
do discurso que demanda compromisso com a responsabilidade
social e ambiental em todos os processos de gestão empresarial,
e não apenas nas ações voltadas para a comunidade externa.
Ao mesmo tempo, a maior visibilidade da problemática ambien-
tal e da necessidade de mudanças nos processos produtivos
para seu enfrentamento, bem como a percepção da inter-rela-
ção entre problemas sociais e ambientais, evidenciou que a res-
ponsabilidade das empresas com essas questões passa neces-
sariamente pela gestão do próprio negócio.

1.3 Abordagens conceituais ao tema


A temática do papel das empresas na sociedade e de suas
responsabilidades pode ser discutida com base em estudos
oriundos de diferentes áreas da ciência. Do campo da filosofia,
origina-se a relação fundamental com ética e moral, tanto dos in-
divíduos como das organizações nas quais os indivíduos tomam
decisões e geram efeitos sobre a coletividade.
Na sociologia, diferentes correntes dedicam-se ao estudo de te-
mas pertinentes ao papel das empresas, como o mundo do tra-
balho, a organização produtiva, as relações sociais e políticas e
os elementos culturais que influenciam padrões de organização
e definição de papéis sociais.
Na ciência política, estudos relativos ao poder de cada agente
político, ao longo do tempo, as relações entre o Estado e a bur-
guesia, os empresários e empresas, bem como as noções de
ideologia e de hegemonia, podem ser úteis para a análise do
fenômeno.
No campo do direito, debatem-se questões fundamentais como
direitos e deveres, responsabilidades de pessoas físicas e pes-
soas jurídicas pelos seus atos e suas conseqüências, sejam elas
24 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

intencionais ou não, bem como mecanismos legais de incentivo


e punição a determinados comportamentos.
Na economia, qualquer análise a respeito dos sistemas econô-
micos, seus atores e papéis, passa pelas empresas ou firmas e
suas responsabilidades.
Da biologia, contribuições que vão da abordagem sistêmica aos
estudos no campo da ecologia, os quais se relacionam direta-
mente com questões ambientais e da gestão, de modo geral.
Na área de administração e estratégia, o tema vem ganhando
espaço nas últimas décadas.
Vários são os modelos construídos para tratar de responsabi-
lidade social, normalmente mencionando fases ou etapas que
compõem a atuação socialmente responsável, e sistemas e fer-
ramentas de gestão associados a cada uma delas, como ve-
remos no Tema 4. Nesta disciplina, trataremos diretamente de
algumas dessas contribuições, sendo que as demais podem ser
buscadas por meio das referências indicadas.
Em trabalho que demonstra a relação entre os temas da ética e
da responsabilidade social das empresas, Kreitlon (2004) distin-
gue três escolas de pensamento que, de certa maneira, moldam
o debate até os dias atuais, especialmente no que se referem às
razões que levam as empresas e seus dirigentes a voltarem sua
atenção a essa maneira de gerir:

• Business Ethics (Ética Empresarial) – ramo da ética


aplicada que trata da ação das empresas como uma
questão normativa, baseada em valores e julgamen-
tos morais. As empresas, como os indivíduos, estariam
sujeitas a regras morais que devem pautar suas ações,
independentemente dos resultados em termos de ne-
gócios;
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 25

• Business & Society (Mercado e Sociedade) – enten-


de a relação entre empresas e sociedade como uma
questão contratual, que exige a definição de direitos e
deveres associados a cada ator social, em cada época,
de acordo com uma abordagem sociopolítica. Nesse
sentido, as empresas devem estar a serviço da socie-
dade que as legitima. Afinada com essa corrente estão
as noções de cidadania empresarial ou de empresa
cidadã;

• Social Issues Management (Gestão de Questões So-


ciais) – define-se pela natureza utilitária da abordagem
ao tema, considerando os problemas sociais como
variáveis a serem consideradas nas estratégias das
empresas, seja como ameaças ou custos, seja como
oportunidades de negócios. Associada a essa idéia
está a concepção de que o que é bom para os negó-
cios é bom para a sociedade, e de que as empresas, A Responsabilidade
ao promoverem sua própria sustentabilidade, contri- Social da Empresa: um
buiriam para a sustentabilidade do planeta e vice-ver- bom negócio para todos
sa. Afirmações como “A ética é um bom negócio” ou foi tema da IV Conferên-
cia Interamericana sobre
“Responsabilidade Social da Empresa: um bom
Responsabilidade Social
negócio para todos” são típicas dessa visão, a qual
da Empresa, promovida
vem conquistando espaço nos últimos anos.
pelo Banco Interamericano
Para Kreitlon (2004), cada uma dessas abordagens refere-se a de Desenvolvimento (BID),
uma maneira distinta de compreender o mundo e, portanto, não realizada em dezembro de
podem ser utilizadas em conjunto para justificar as práticas de 2006, no Brasil.
26 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

uma empresa. A autora argumenta que determinado comporta-


mento pode ser:

a) intrinsecamente bom, desejável e promotor do bem co-


mum e, portanto, deve ser praticado, independente de
gerar bons resultados para o desempenho financeiro
de uma empresa ou;

b) tal comportamento é legítimo, uma vez que decorre de


um acordo ou contrato entre atores sociais, com base
em anseios compartilhados de justiça ou, ainda;

c) esse mesmo comportamento é adotado na medida em


Em que medida suas deci-
que é útil para que a empresa atinja seus objetivos.
sões cotidianas na organi-
zação são motivadas por Seria incoerente dizer que certa atitude é motivada, ao mesmo
valores éticos, por imposições tempo, por ser mais justa e gerar melhores resultados para a
legais ou por sua possível empresa. Embora possa acontecer essa coincidência nos efei-
contribuição para a competi- tos, para a autora, as motivações não se confundiriam. Além
tividade? Essas motivações disso, cabe questionar o que prevaleceria quando uma decisão
podem confundir-se? considerada mais justa não coincidisse com aquela que geraria
melhores resultados para uma empresa.

O termo stake significa Uma das abordagens mais disseminadas para tratar da respon-
interesse, enquanto holder sabilidade das empresas é aquela desenvolvida a partir do tra-
pode ser aqui entendido balho de R. Edward Freeman, em 1984, conhecida como “teoria
como aquele que possui ou das partes interessadas” ou “teoria dos stakeholders”. Nessa
que detém (um interesse), concepção, a gestão das empresas deve considerar um conjun-
e foi cunhado em referência to amplo de relações, contemplando todos os públicos ou atores
às noções tradicionais de sto- que afetam e são afetados por suas atividades.
ckholder, que corresponde a Além dos públicos de relacionamento da empresa facilmente re-
acionista, e shareholder, que conhecidos no âmbito das operações do negócio – funcionários,
corresponde a sócio e pode gestores, proprietários, acionistas, fornecedores, clientes e con-
ser entendido, também, como sumidores –, são partes interessadas organizações de interesse
acionista. civil, social ou ambiental, tanto no âmbito local quanto global,
bem como governos, sindicatos, mídia e sociedade, além do
meio ambiente e das gerações futuras.
A idéia é de que não apenas os proprietários ou acionistas investem
recursos em uma empresa e correm riscos ao fazê-lo. Todos aque-
les que se relacionam com a organização e/ou são afetados por ela
– voluntária ou involuntariamente – também investem algum recurso
ou correm algum tipo de risco. Assim, todos merecem ser considera-
dos nas estratégias das empresas e possuem o direito de procurar
exercer influência sobre elas. O grau dessa influência depende da
legitimidade e do poder para exercê-la conquistados por cada um
desses públicos de interesse, bem como depende de canais de rela-
cionamento e de diálogo entre empresas e seus stakeholders.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 27

Defende-se que aquelas empresas que conseguem articular


melhor os diferentes interesses dos stakeholders (os quais não
costumam ser harmônicos ou convergentes) e integrá-los a suas
estratégias tendem a evitar riscos, ampliar oportunidades e gerar
melhores condições de sustentabilidade. Melhores relações com
os stakeholders costumam exigir boas práticas de governança,
incluindo-se mais mecanismos de transparência, de prestação
de contas (accountability) e de construção de confiança.
No Brasil, é possível identificar elementos dessas e de outras
abordagens, sendo que uma das maneiras de identificá-las é
acompanhar os termos que costumam estar associados ao de-
bate. Entre os termos mais comuns, apresentamos um breve
comentário a seguir, ressaltando que a diversidade de termos,
conceitos e instrumentos relacionados à discussão, ao mesmo
tempo em que revela a multiplicidade do fenômeno, gera certa
confusão no cotidiano das empresas e na própria produção aca-
dêmica a respeito de responsabilidade socioambiental.

Termos Associados ao Debate

Termo Definição

Do grego ethos, refere-se a caráter, modo de ser, enquanto moral,


que vem do latim mos (plural mores – mais usado), significa cos-
tumes (RIBEIRO, 2002). Para alguns autores, podemos considerar
ética e moral como sinônimos. Para outros, a ética, para além do que
é definido como certo ou errado pelas regras morais em cada con-
Ética texto social e histórico, está intimamente ligada à capacidade dos
seres humanos de refletirem a respeito de seus atos e orientarem-se
pelo desejo de buscar, continuamente, o mais justo e o mais belo. A
ética não se resume, portanto, ao cumprimento de leis e normas. A
ética interroga as próprias leis e costumes, na busca pelo que é mais
justo, mais avançado, provocando mudança de valores.

Palavra de origem grega que significa amor ao homem ou amor à


humanidade (IOSCHPE, 1997). Uma ação filantrópica é, essencial-
mente, um ato motivado pelo amor ao próximo. O termo é utilizado
até os dias atuais em vários países que estimulam a ação filantrópi-
ca de indivíduos e organizações. No Brasil, ganhou significado pejo-
rativo, tanto por escândalos envolvendo organizações filantrópicas,
quanto no sentido de que a filantropia tenderia ao assistencialismo,
Filantropia atuando apenas sobre os efeitos dos problemas, e não sobre suas
causas. Em países como os Estados Unidos, embora a origem do
termo também seja ligada à ação social de “pessoas de bem”, pas-
sou a ser usado na expressão filantropia estratégica, tanto no sen-
tido de que uma ação filantrópica pode ser realizada de maneira
a melhor aplicar os recursos para solucionar o problema a que se
destina, bem como, no caso da filantropia empresarial, de articular-
se às estratégias do negócio.
28 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Etimologicamente, cidadania vem de cidade, no sentido clássico


de sociedade política (civitas), espaço público no qual os cidadãos
membros livres participam de processos de decisão que visam ao
interesse coletivo (BENEVIDES, 1992). Ser um cidadão refere-se a
um status concedido aos membros de uma comunidade, que pres-
supõe que todos são iguais no respeito a direitos e deveres. Tais
direitos e deveres variam de uma sociedade para outra e de uma
época para outra, e não se limitam ao que está nas leis formais,
incluindo direitos humanos, direitos civis ou de liberdade, direitos de
participação política, direitos sociais (FEDOZZI, 1997) e, mais recen-
temente, direitos ambientais.
Uma organização, ao assumir o status como entidade independente
de indivíduos na sociedade, poderia ser considerada como cidadã,
Cidadania Corpo- com direitos e deveres definidos por essa sociedade. Cidadania em-
presarial pode ser entendida, pois, como relação de direitos e deve-
rativa ou Cidada-
res entre empresas e seu âmbito de relações e como participação ati-
nia Empresarial va na vida das cidades, comunidades ou contextos públicos em que
se inserem (SCHOMMER, 2000). O termo cidadania empresarial foi
bastante usado no Brasil nas décadas de 1980 e 1990, época em que
a palavra cidadania virou moda no país, na esteira do processo de
redemocratização e incorporação de novos direitos. Atualmente, não
é muito utilizado, como veremos no Tema 5.
Nos referenciais a respeito da responsabilidade socioambiental ou
cidadania das empresas de origem nos Estados Unidos, é comum
o uso dos termos corporação ou corporativo, em expressões como
cidadania corporativa ou responsabilidade social corporativa.
Nos referenciais brasileiros, utiliza-se mais o termo empresarial, no
lugar de corporativo, já que aqui, ao contrário dos Estados Unidos, é
mais comum o termo empresas do que corporações para referir-se
a organizações privadas com fins produtivos e lucrativos.
O investimento social privado representaria um tipo de prática de moti-
vação filantrópica, porém tendo como característica principal o repas-
se de recursos privados de maneira planejada, sistemática e monito-
Investimento
rada para causas ou projetos de interesse público (GIFE, 2007a). As
Social Privado características do investimento social privado, que pode ser praticado
por empresas, famílias, indivíduos e conjuntos de pessoas e organiza-
ções em uma comunidade, serão debatidos no Tema 5.
Responsabilidade social empresarial é o termo mais utilizado, atu-
almente, no Brasil, para referir-se ao comportamento desejado das
empresas nas suas relações com seus públicos ou partes interessa-
das (stakeholders), no curto e no longo prazo. O Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social define: “Responsabilidade so-
cial empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética
Responsabilidade e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela
se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatí-
Social Empresarial
veis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando
ou Responsa- recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitan-
bilidade Social do a diversidade e promovendo a redução das desigualdades so-
Corporativa ciais” (ETHOS, 2007). Importa frisar que responsabilidade social não
representa um estágio a ser alcançado, mas se trata de um processo
contínuo de reflexão ética e aprimoramento de práticas.
O termo corporativa pode ser considerado como sinônimo de em-
presarial, no contexto brasileiro, e costuma ser utilizado na expres-
são responsabilidade social corporativa, especialmente quando
traduzido de referenciais produzidos em língua inglesa.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 29

Com a crescente aproximação entre dimensões sociais e ambien-


tais nos debates sobre desenvolvimento sustentável, o termo res-
ponsabilidade socioambiental vem sendo mais utilizado, podendo
referir-se a condutas empresariais, mas também aplicado a outros
tipos de organizações, uma vez que indivíduos e organizações que
atuam em diferentes setores são estimulados a refletir sobre suas
responsabilidades em relação aos desafios sociais e ambientais do
Responsabilidade planeta.
Socioambiental
A idéia fundamental, no caso das empresas, é a de que questões
sociais e ambientais devem estar integradas às macro estratégias
de gestão, relacionadas a todas as dimensões do negócio e como
característica transversal da gestão. Idealmente, no âmbito dessa
concepção, as empresas definiriam suas metas e expectativas de
resultados em função de critérios de desempenho não apenas eco-
nômicos, mas também sociais e ambientais.
Marketing social refere-se a uma forma de exercer marketing, na
qual o “produto” a ser colocado no mercado são idéias ou comporta-
mentos, podendo ser encarado como instrumento de mudança social
(KOTLER, 1992). São exemplos de Marketing social: marketing do
plano regional de desenvolvimento, por uma comissão; campanha
para redução do consumo de cigarros; promoção do uso de cinto de
segurança em automóveis ou do uso de preservativos em relações
sexuais; promoção de uma causa social, levantando fundos para
ação ou organização.
Marketing Social
Enfim, várias organizações podem utilizar ferramentas de marketing
para promover comportamentos sociais, para motivar um público a
adotar uma nova idéia ou prática (KOTLER, 1992). Para Schiavo e
Fontes (citados em SCHIAVO, 1999, p. 29), a concepção é ainda
mais ampla: “Marketing social é a gestão estratégica do processo
de mudança social a partir da adoção de novos comportamentos,
atitudes e práticas, nos âmbitos individual e coletivo, orientados por
preceitos éticos, fundamentados nos direitos humanos e na eqüida-
de social”.
Prática mercadológica por meio da qual o nome ou a marca de uma
empresa é associada a uma causa ou organização valorizada pela
sociedade, em dado momento, doando-se recursos a tal causa toda
vez que um produto ou serviço da empresa é adquirido (BLOOM,
HUSSEIN e SZYKMAN, 1997). Pode ocorrer, também, pela distri-
buição conjunta de produtos ou informações sobre determinada
questão, ou licenciamento de uma marca ou logotipo para alguma
empresa comercializar (ANDREASEN, 1996).
Marketing Relacio-
O Instituto IDIS, o qual busca contribuir para a difusão do conceito e
nado a Causas
de boas práticas de marketing relacionado a causas no Brasil, defi-
ne-o como “uma parceria comercial entre empresas e organizações
da sociedade civil que utilizam do poder das suas marcas em bene-
fício mútuo” (INSTITUTO IDIS, 2007).
Um dos exemplos mais conhecidos de marketing relacionado a uma
causa no Brasil é o do McDia Feliz, promovido pelo Instituto Ronald
McDonald’s, associando o nome da empresa a organizações e pro-
jetos de apoio a crianças com câncer.
30 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

1.4 Motivações para o engajamento das empresas


Para Logan, Roy e Regelbrugge (1997), há muitas razões para
o mercado envolver-se com questões sociais e ambientais e tais
razões dificilmente são as mesmas de uma empresa para ou-
tra. Os autores defendem, no entanto, que os benefícios desse
envolvimento, tanto para os negócios quanto para a sociedade,
mostrarão que se deve incentivar a maior participação do merca-
do, sem suspeitas prévias sobre seus motivadores. Mas, ainda
segundo eles, para sensibilizar e formar uma massa de atuação
social no setor empresarial, é preferível utilizar argumentos de
negócios do que esperar pelo senso cívico ou filantrópico.
Mirvis (2006) observa que muitas empresas sempre foram ge-
renciadas de maneira ética, respeitando leis, clientes, fornece-
dores, concorrentes, comunidade, meio ambiente e governos,
sem deixar de ser lucrativas. Isso seria motivado pelos valores
de fundadores e dirigentes, independentemente de exigências
contratuais ou de possíveis vantagens em termos de imagem,
o que estaria no âmbito da corrente da Business ethics entre as
três correntes vistas no item 1.3.
Outras empresas começaram a preocupar-se com tais questões e a
mudar comportamentos em decorrência de alguma crise, como um
acidente que tenha provocado impactos ambientais ou uma denún-
cia de exploração de trabalhadores. Tais fatos tornam-se fontes de
pressão por entidades reguladoras, consumidores e opinião pública,
forçando as empresas a fazerem mudanças em seus processos pro-
dutivos, característica próxima da corrente Business & Society.
Ainda de acordo com Mirvis (2006), a maioria das empresas move-
se em estágios, revelando que pode haver diferentes motivadores
ao longo do tempo. Muitas iniciam seu engajamento com ações
pontuais e, aos poucos, na medida em que ampliam a percepção
dos benefícios de uma atuação mais responsável em todas as
etapas de seu negócio e passam a ser mais pressionadas por
seus stakeholders, engajam-se de maneira mais profunda.
Há, ainda, aquelas empresas que percebem nos desafios so-
ciais e ambientais boas oportunidades de negócios e voltam
suas estratégias e recursos para atender necessidades relacio-
nadas à preservação ambiental e às necessidades de consumo
dos mais pobres, por exemplo.
No Tema 3 desta disciplina, Outro conjunto de causas para o engajamento das empresas
trataremos dos possíveis pode estar nas pressões geradas sobre os negócios decorren-
benefícios que as empresas tes de problemas ambientais, de segurança, violência, falta de
podem alcançar por meio de garantia de direitos, reforçando a percepção de que instituições
sua adesão a práticas sociais estáveis e democráticas, bem como a sustentabilidade do meio
e ambientais mais respon- ambiente, são necessárias para a segurança dos negócios e
sáveis. para sua própria sobrevivência.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 31

1.5 Desafios e limites da responsabilidade socioambiental


Embora admitindo a amplitude, complexidade e subjetividade do
tema da responsabilidade empresarial como algo que permeia
toda a gestão, pesquisadores e pessoas engajadas no movimen-
to percebem que ainda há distância entre as práticas predomi-
nantes nas empresas e as recentes transformações conceituais,
que incorporam novos atributos à gestão responsável.
Tais práticas, muitas vezes, reproduzem apenas parcialmente
aspectos do conceito, enquanto outras são até contraditórias,
geralmente por falta do entendimento claro da temática ou por
receio de experimentar novas concepções para a gestão dos
negócios. Além disso, há setores da economia altamente marca-
dos por práticas de corrupção, exploração de mão-de-obra e de
recursos naturais, nos quais os argumentos da responsabilidade
social soam como parte de uma realidade muito distante.
Os contrastes nas práticas podem ser entendidos como evidên-
cia da fragilidade, inadequação e superficialidade da proposta,
por um lado, e podem ser considerados como naturais em pro-
cessos de aprendizagem organizacional e mudanças na cultura
empresarial, por outro. A diversidade pode ser vista como evi-
dência da riqueza e das múltiplas possibilidades do movimento
de responsabilidade socioambiental nas empresas, nas quais
há hibridização de práticas e características organizacionais,
misturando influências, tempos e culturas gerenciais distintas
(SCHOMMER e ROCHA, 2007).
The Corporation EUA,
No documentário The Corporation (ACHBAR, ABBOTT e
2003. 145 min. Direção: Jen-
BAKAN, 2004), são apresentadas características da natureza
nifer Abbott e Mark Achbar.
das empresas que reforçam seu potencial para tornarem-se ex-
Com participações de: Noam
ploradoras e não responsáveis pelos danos que geram, como:
Chomsky, Steve Wilson,
Jane Akre, Naomi Klein,
• Diferentemente dos indivíduos, empresas não possuem Michael Moore, Vandana
consciência moral. Como teria dito o Barão de Thurlow, na Shiva. Site oficial: www.
Inglaterra: “As empresas não têm um corpo para encarce- thecorporation.com. Acesso
em 25 nov. 2007.
rar e uma alma para salvar” (citado por Robert Monks, em
ACHBAR, ABBOTT e BAKAN, 2004), o que as leva a atitu-
des que os indivíduos, sozinhos, não adotariam.

• As pessoas nas empresas não são direta e inteiramente res-


ponsabilizadas pelos efeitos de suas ações, uma vez que a
empresa, ao ter personalidade como pessoa jurídica, pode
ser julgada, punida e multada. Raramente as pessoas que
provocam algum dano à sociedade por meio de suas deci-
sões nas empresas são implicadas diretamente na punição.
32 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

• Uma característica marcante da atividade empresarial é


gerar externalidades que outros resolverão, como segu-
rança, cuidados com lixo, construção de infra-estrutura
para circulação de produtos etc. As empresas podem ser
consideradas máquinas de produção de externalidades
daquilo que a sociedade permite que seja externalizado.

• Se diagnosticadas psicologicamente como pessoas, po-


dem-se identificar nas empresas comportamentos típicos
da psicopatia, como incapacidade de sentir culpa, indife-
rença aos sentimentos alheios e dificuldade para manter
relações duradouras (ACHBAR, ABBOTT e BAKAN, 2004;
NASCIMENTO, 2006).

• Característica legal e contábil que torna as empresas endi-


vidadas com seus acionistas ou proprietários faz com que
tenham que gerar resultados financeiros em curto prazo,
priorizando os lucros e os interesses dos acionistas acima
de quaisquer outros.

• O problema da motivação pelo lucro associa-se ao “peca-


do” da ganância, já que qualquer patamar de lucratividade
nunca é considerado suficiente.

De fato, embora tenha crescido o número de empresas que se


declaram interessadas em avançar na sua responsabilidade
socioambiental e proliferem práticas inovadoras nesse senti-
do, essa ainda é uma questão menor no cotidiano da maio-
ria das empresas (MIRVIS, 2006). As pressões por eficiência,
lucratividade, competitividade e redução de custos são mais
fortes do que as pressões por transparência e respeito aos
direitos dos trabalhadores ou ao meio ambiente, por exemplo.
Além da lógica do sistema econômico em si, a modernidade ca-
racteriza-se pela extrema valorização da dimensão econômica
da vida, como se fosse uma esfera superior e independente
de outras dimensões – culturais, sociais, estéticas, políticas
e ambientais. Parece ser aceita a idéia de que o econômico
exige sacrifício de bens e valores sociais, políticos, culturais
e naturais.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 33

A visão de que Estado e sociedade civil têm o papel primordial


de cuidar das questões sociais, enquanto cabe às empresas
o papel produtivo e gerador de riquezas, ainda é predominan-
te no meio empresarial e na sociedade. Tanto nas empresas
como fora delas, a maioria das pessoas entende que respon-
sabilidade social significa apoio financeiro a projetos sociais.
Pesquisas realizadas por organizações acadêmicas e empresa-
riais demonstram que a grande maioria das empresas tem como
característica a prática da filantropia de caráter assistencialista,
ou seja, são repassados recursos financeiros para projetos so-
ciais em comunidades externas, de maneira pontual, sem articu-
lação dessas ações sociais com a gestão do negócio.
Paoli (2002) alerta que a ação social das empresas não cons-
titui espaço de debate e de controle público, contribuindo para
despolitizar a questão social. As pessoas que são “ajudadas”
pelas empresas ou passam a ser consideradas enquanto suas
partes interessadas não são vistas como sujeitos de direitos, e
sim como receptores de favores (PAOLI, 2002).
A coerência entre os investimentos sociais e as práticas em-
presariais constitui outro desafio nesse sentido. Ainda é co-
mum, por exemplo, empresas que apóiam projetos ambien-
tais, mas que não avançaram no monitoramento da sua gestão
ambiental, ou que apóiam projetos sociais e estão no topo de
rankings de reclamações de consumidores.
34 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Outra dificuldade é a de que ninguém quer arcar com os cus-


tos – financeiros, políticos, institucionais – para definir novos
padrões. Como em uma corrida de cavalos, aquele que sai na
frente tende a não ser o vencedor. Os custos dos pioneiros
podem não ser recompensados, uma vez que a inovação em
práticas gerenciais pode representar esforços e custos iniciais
não reconhecidos pelo mercado, a priori, e que os concorren-
tes não terão se adotarem quando for inevitável, seja por pres-
sões regulatórias ou do mercado. Além disso, tende a haver
pressões entre os concorrentes e parceiros em cada segmen-
to empresarial, para que não haja avanço na concessão de
benefícios a funcionários, clientes ou fornecedores.
Mesmo quando há condições para pagar mais ao trabalhador,
por exemplo, os empregadores tendem a não fazê-lo, seja por
pressões dos integrantes do setor, seja porque há oferta exce-
dente de mão-de-obra disposta a trabalhar com baixos salá-
rios e sem observância de direitos trabalhistas (SCHOMMER
e ROCHA, 2007).
Embora haja maior pressão atualmente sobre as práticas em-
presariais, o poder da sociedade em relação a elas ainda é
muito limitado. Os consumidores costumam ter pouco acesso
à informação, embora haja esforços nesse sentido. Além dis-
so, empresas não são, por definição e história, organizações
de base democrática. Se, por um lado, é verdade que avan-
çam os mecanismos de governança corporativa e há exigência
de mais transparência, é igualmente verdadeiro que as deci-
sões nas empresas ainda estão guardadas, em sua maioria,
Além dos limites e contradi-
em uma bem fechada “caixa preta”, por outro lado.
ções aqui apontadas, você
identificaria outros entraves Nesse sentido, cabe observar quais são e em que medida cada
para o avanço da respon- stakeholder interfere efetivamente nas práticas das empresas.
sabilidade socioambiental Nas relações de poder, é natural que aqueles que têm menos
das empresas? Como você poder para impor suas posições sejam menos considerados,
observa essas dificuldades mantendo-se nas piores posições no jogo e sofrendo mais
no seu cotidiano? seus impactos negativos (SCHOMMER e ROCHA, 2007).

Em meio a tantos dilemas, é recomendável evitar o maniqueísmo, que associa “o


mal” ao mercado e às empresas e “o bem” à sociedade civil ou “às comunidades”.
As empresas são parte da sociedade e seus comportamentos são permitidos por
essa, são reflexos dos valores e dos contextos sociais em que se inserem. Cabe,
portanto, definir o que se autoriza e o que não se autoriza mais, em função dos
desafios sociais e ambientais que enfrentamos hoje. Ao longo desta disciplina, ve-
remos contrapontos aos argumentos acima e exemplos de práticas que procuram
contribuir para avanços em termos de sustentabilidade.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 35

Em síntese
A responsabilidade socioambiental não é uma questão restrita
ao universo das empresas. Os desafios da sustentabilidade,
que envolvem dimensões econômicas, sociais e ambientais,
exigem a co-responsabilidade dos diversos atores sociais, se-
jam eles do Estado, do mercado ou da sociedade civil. A dis-
cussão sobre o papel específico das empresas na sociedade
não é algo novo, mas ganha maior relevância na atualidade,
na medida em que as empresas privadas concentram muito
poder.
A definição dos papéis e responsabilidades das empresas,
bem como o significado dos termos empregados no debate,
exige análise de elementos do contexto histórico e do contexto
atual, considerando-se aspectos sociais, econômicos, políti-
cos, ambientais e culturais.
Muitos são os elementos que motivam as empresas a engajar-
se no movimento da responsabilidade socioambiental, assim
como são profundos os dilemas e limites que dificultam o avan-
ço das práticas, no cotidiano das organizações. Nos próximos
temas, estudaremos exemplos de possibilidades de avanço,
pela superação dos limites aqui apontados, bem como discuti-
remos outros desafios.

Potrebbero piacerti anche