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É o Relatório.
VOTO
Com relação à inépcia do projeto básico inicial da obra em exame, levando à
necessidade de alterações que aumentaram o valor do contrato de execução em 9,9%, a
Secex/PR entende que tais alterações se justificaram em razão de novo estudo de tráfego
da rodovia, feito pela obsolescência do estudo inicial, causada pela demora na
realização da licitação, e da experiência obtida com a restauração de rodovia estadual
que serve de alternativa à estrada federal.
2. Tais estudos indicaram a necessidade de um reforço na estrutura da estrada, em
relação à solução inicial, o que permitirá à rodovia absorver tráfego mais intenso. Pode-
se concluir, portanto, que a alteração contratual acarretou algum benefício para o
usuário final da rodovia, não se tratando de mera correção de imperfeições do projeto
ou, o que é pior, de tentativa de atenuar, para a contratada, as condições econômico-
financeiras advindas da licitação, como ocorre com certa freqüência nas revisões a que
são submetidos quase a totalidade dos contratos rodoviários celebrados pelo Dnit. Resta,
assim, concordar com a proposta da Unidade Técnica no sentido do acolhimento das
razões de justificativa apresentadas pelos responsáveis.
3. Desejo, no entanto, manifestar discordância em relação ao pensamento externado pela
zelosa Secex/PR de que tais alterações, em se tratando de obras rodoviárias, são normais
e até inevitáveis, e que, por essa razão, o regime de execução desse tipo de contrato
deveria ser sempre o de empreitada por preços unitários. Entendo, diversamente, que as
alterações contratuais, embora tenham previsão no estatuto de licitações e contratos
administrativos, têm caráter claramente excepcional, notadamente as que interferem na
situação econômico-financeira da avença. Para estas, aliás, há que se exigir sempre que
tenham como resultado um ganho palpável, qualitativo ou quantitativo, para o interesse
público nos termos das alíneas “a” e “b”, inciso I, do art. 65 da Lei 8.666/1993.
4. Alterações que tenham como motivação exclusiva a correção de erros de projeto,
envolvendo, o mais das vezes, aspectos eminentemente técnicos, de difícil ou
impossível compreensão por parte de quem não dispõe dos conhecimentos específicos
necessários, têm escassa senão inexistente fundamentação legal, e devem, por isso e por
serem facilmente utilizáveis como reserva mental para manipulações indevidas, serem
sempre alvo de suspeita acerca das suas reais finalidades. Em um quadro em que a
alterabilidade essencial dos contratos, em vez de excepcional, se torna na verdade a
regra, a tal ponto exacerbada que o processo revisional já se inicia mal assinado o termo
contratual, que é o que se verifica na maioria dos contratos rodoviários, não há como
não considerar tal quadro como reflexo de uma grave anomalia administrativa, que
ainda está para ser devidamente enfrentada e suprimida pelos administradores do Dnit.
5. Até que ocorra o equacionamento dessa grave falha administrativa, restará à Corte de
Contas, sempre que confrontada com a prática por tudo perniciosa da revisão contratual
indiscriminada, perquirir minudentemente de suas verdadeiras intenções e aplicar as
cominações previstas em lei a todos os responsáveis pelas alterações indevidas,
inclusive, se for o caso, os autores de projetos ineptos. Além disso, é bom lembrar que,
nos exatos termos do art. 7º, § 6º, da Lei 8.666/1993, são nulos de pleno direito os atos e
contratos derivados de licitações baseadas em projeto incompleto, defeituoso ou
obsoleto, devendo tal fato ensejar não a alteração do contrato visando à correção das
imperfeições, mas sua anulação para realização de nova licitação, bem como a
responsabilização do gestor faltoso.
6. Dito isso, passo a examinar a proposta de determinação ao Dnit, formulada pela
Secex/PR, no sentido de somente promover medições de serviços executados pelos
quantitativos efetivamente executados dos serviços medidos, abstendo-se de fazê-lo
mediante atribuição de percentuais determinados incidentes sobre grupos de serviços. A
esse respeito, consta que o Dnit baixou regulamentação interna – a Instrução de Serviço
2/2004 – dispondo que a verificação dos serviços executados será indicada pelos
percentuais de execução dos eventos previstos no contrato, definindo-se evento como as
classes em que se agrupam os serviços rodoviários, como terraplenagem, pavimentação,
etc.
7. A Secex/PR informa que a Superintendência Regional da autarquia dispõe de
relatórios detalhados dos serviços executados, objeto das medições periódicas, e que
também há outros documentos que sintetizam os quantitativos de cada serviço previsto
no contrato, documentos esses que ficam à disposição dos órgãos de controle. Mas
considera que tal documentação pode muito bem não ser disponibilizada em outros
estados, impedindo o acesso às informações relativas aos quantitativos efetivamente
executados de cada serviço. Em face desse possível prejuízos à atividade de controle, a
Secex/PR propõe a transmissão da determinação referida.
8. Entendo que a preocupação manifestada pela Unidade é compreensível, mas a
determinação suscitada está a carecer de uma demonstração mais robusta da ilegalidade
da normatização interna baixada pelo Dnit e, quiçá, do pronunciamento do titular da
autarquia acerca da impugnação aqui feita. Com efeito, não se pode negar à entidade,
sem motivação suficientemente forte, o direito de organizar e regulamentar o registro
das medições dos serviços executados, ainda mais sem que se tenha verificado no caso
concreto qualquer prejuízo à fiscalização exercida pelo Tribunal. Assim, pelo menos no
presente processo, os elementos acenados pela Secex parecem-me, com a devida vênia,
insuficientes para efetuar determinação que eqüivale ao reconhecimento da ilegalidade
do normativo interno do Dnit.
9. Na verdade, penso que a Unidade Técnica, ao propor a determinação, tinha em mente
a aludida impossibilidade ou inadequação do regime por empreitada global para as
obras rodoviárias, conforme comentado acima. Como o pagamento das parcelas
adimplidas nesse regime se dá por marcos ou eventos contratuais, conforme previsto no
art. 40, § 3º, da Lei 8.666/1993, a Secex/PR crê que tal regime de medição também não
é aplicável aos contratos rodoviários, dada a sua alterabilidade imanente, daí a
impugnação da metodologia. Mas, como já visto, não convém encarar tal alterabilidade
como a regra e sim como exceção, não se podendo inclusive afastar a hipótese de que o
Dnit esteja, com a nova regulamentação, buscando combater o excesso de revisionismo
contratual que ali impera cronicamente, sendo essa mais uma razão pela qual não
conviria anuir à determinação alvitrada pela Secex/PR.
10. Nada obstante, nada impede que a Segecex seja instada a, em conjunto com a Adfis
e a Secob, programar um trabalho de fiscalização no Dnit com vistas à verificação da
regularidade da Instrução de Serviço 2/2004, versando sobre a forma de registro de
medições efetuadas pela autarquia, exame que poderá se estender à legitimidade da
motivação que deu origem à norma e às repercussões da nova sistemática, inclusive para
os trabalhos de auditoria afetos a esta Corte de Contas.
11. Por fim, entendo que não se mostra necessário fazer, nesse momento, a comunicação
de praxe ao Congresso Nacional, acerca da situação da obra em exame, uma vez que a
já foi encaminhado á Comissão do Orçamento relatório consolidado das auditorias
Fiscobras realizadas em 2005.
Ante o exposto, Voto por que seja adotada a deliberação que ora submeto a este
Colegiado.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de relatório de levantamento de
auditoria realizado em obras de Recuperação de Trechos Rodoviários na BR-153/PR,
trecho Divisa SP/PR-Entroncamento com a BR-272, no Estado do Paraná, sob
responsabilidade do Departamento Nacional de Infra-Estrutura dos Transportes – Dnit,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão
Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. acatar as razões de justificativa apresentadas pelos Srs. Hideraldo Luiz
Caron, Carlos Alberto Cotta e Alexandre Silveira de Oliveira, membros da diretoria do
Departamento Nacional de InfraEstrutura de Transportes – Dnit;
9.2. determinar à Segecex que, em conjunto com a Adfis e a Secob, programe
trabalho de fiscalização no Dnit com vistas à verificação da regularidade da Instrução de
Serviço 2/2004, versando sobre a forma de registro de medições efetuadas pela
autarquia, devendo o exame se estender à legitimidade da motivação que deu origem à
norma e às repercussões da nova sistemática, inclusive para os trabalhos de auditoria
afetos a esta Corte de Contas.
9.3. arquivar o presente processo.
Fui presente:
LUCAS ROCHA FURTADO
Procurador-Geral