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Sociologia da Educação AULA 3

Leandro José dos Santos


Josali Amaral

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA

Karl Marx e Max Weber:


ideologia e ação social

1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM

„„ Reconhecer a forma como a ideologia permeia as relações sociais;


„„ Compreender a noção de ação social e a categoria de tipos ideais;
„„ Refletir sobre os condicionantes das práticas sociais.
Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social

2 COMEÇANDO A HISTÓRIA

Caro aluno, você já se deu conta da força que tem o discurso sobre a preparação
para o trabalho? Por que o processo de educação escolar está tão vinculado à
preparação para a inserção dos indivíduos no mercado? Por que é tão difícil
fazer com que um aluno se interesse pela literatura ou pela arte? O que está por
detrás das diferentes interpretações que o discente faz do conteúdo ministrado?

Nesta aula vamos discutir alguns conceitos que podem nos orientar na reflexão
sobre essas questões que atravessam a vida profissional do professor e que
interferem diretamente no ministério dos conteúdos e nas rotinas das aulas.
Vamos conhecer os ditames da cultura burguesa por meio dos conceitos de
alienação e ideologia de Karl Marx e os princípios da ação social elaborados
por Max Weber. Esperamos com isso que você possa formar uma ideia sobre o
comportamento e as expectativas de seu aluno e possa se preparar para dialogar
com ele, para além do cumprimento dos programas de ensino.

3 TECENDO CONHECIMENTO

Já vimos que o pensamento de Karl Marx foi muito importante para modificar a
compreensão que temos da sociedade. Suas teses demonstraram que o modo
de vida burguês está fortemente segmentado em dois grupos: os detentores
dos meios de produção e os trabalhadores.

Essa visão não é simplista como parece, pois resulta de um profundo estudo
sobre a forma como a sociedade liberal reorganizou a produção de bens. É
importante lembrarmos que a base dessa reorganização é a fragmentação
do trabalho, que faz com que o operário perca, definitivamente, o controle
da sua vida e seja privado dos saberes inerentes ao seu ofício. Se, em tempos
antigos, um sapateiro conduzia a manufatura de seu produto desde o preparo
do couro até o acabamento final, depois da revolução industrial, esse processo
passou a ser realizado em etapas, cabendo a grupos treinados de operários
realizarem separadamente cada uma delas. A consequência dessa modificação é
a transferência das regras da organização do trabalho, que passam a ser ditadas
pela classe proprietária, a qual estipula mecanismos para disciplinar a produção.
Em outras palavras, o operário deve se submeter às exigências impostas pela
classe dominante.

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Devemos ainda fazer uma reflexão: as sociedades antiga e medieval tinham


formas de dominação até mais incisivas, pois o trabalho foi fortemente marcado
pela servidão e pela escravidão. Apenas o homem livre, pequeno comerciante,
dispunha do controle sobre sua própria vida. Então qual a novidade do sistema
burguês? Ao refletir sobre essa questão, você descobrirá que o fato novo é a
produção do ideal de liberdade. A sua reflexão mostrará que as sociedades
industriais prometem a todo homem que ele é senhor de si. O problema é que
essa promessa traz consigo uma contradição: que a universalização da liberdade
se dá na mesma medida em que os indivíduos, liberados do trabalho escravo
e servil, se submetem, voluntariamente, às novas formas de organização do
trabalho disciplinado das fábricas e propriedades agrícolas modernas.

3.1 Dominação e ideologia

Para Marx, a fragmentação do trabalho constitui a base do processo de alienação,


uma vez que nessa fragmentação é tirado do trabalhador o seu poder de decisão
sobre as horas de trabalho, remuneração, ritmo de trabalho e os elementos
fundamentais para o desenvolvimento da sua consciência e subjetividade: a
criatividade, a capacidade de reconhecer-se pelo seu trabalho, a satisfação de ver
o resultado de seu labor. Conforme esse autor, o processo produtivo disciplinado
fragmenta os aspectos subjetivos do trabalho, deixando a cargo daqueles que
pertencem a estratos da esfera dominante os elementos intelectuais da produção.
Em suma, o trabalho organizado desumaniza o trabalhador, que passa a ser
parte da engrenagem, ou seja, uma mera ferramenta do processo produtivo.

Diante do parágrafo anterior, você, caro aluno, poderia questionar se a humanidade


do operário realmente está ausente nos espaços de produção. Objetivamente,
a resposta é um sonoro sim: nos espaços da produção, o humano está ausente.
Primeiro porque há uma indiferenciação entre os operários, podendo, qualquer um,
indistintamente, manipular, com a mesma precisão, o maquinário ali disposto, de
modo que as peculiaridades, as potencialidades e a personalidade dos operários
nada influem no processo produtivo. Segundo porque os espaços da produção
realizam uma separação entre o trabalhador e o resultado de seu trabalho. O
que se faz no interior da fábrica é apenas uma parte muito pequena daquilo
que comporá o produto final, que, em muitos casos, poderá ser montado em
outro lugar. Numa configuração como essa, o trabalhador não se reconhece e
não se realiza naquilo que produz. Em último lugar, o domínio da produção
reduz o humano à força motriz, elemento, mais uma vez, substituível por outros
elementos capazes de manter as máquinas em funcionamento. Nesse ponto, a
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marca humana se neutraliza porque pode ser facilmente substituída pelo vento,
pela água, pelo vapor, pelo petróleo, etc.

Mas como é possível a ocorrência dessa submissão? Que mecanismos a sociedade


liberal produziu para levar o trabalhador a neutralizar a sua potencialidade
humana e, ainda assim, se sentir livre?

Para responder a essas questões, precisamos ter em mente que a divisão da


sociedade em classes, além de separar o operário do produto do seu trabalho,
também corresponde a uma segunda cisão das formas de trabalho: o trabalho
físico e o trabalho intelectual. Como você já deve saber, nas linhas de produção
das sociedades industriais, a classe trabalhadora executa, majoritariamente, um
trabalho físico, manual, ao passo que as classes dominantes realizam o trabalho
criativo, administrativo e ocupam os postos de trabalho mais intelectualizados.

Mas você, que tem lido com atenção os nossos textos, sabe que esses elementos
não são suficientes para explicar e justificar a exploração de uma classe sobre
a outra. Por isso, cabe ainda citar outros elementos que atuam para garantir o
funcionamento e a reprodução do sistema. Dentre esses elementos, o Estado
liberal juridicamente organizado figura como o principal responsável por tutelar
a relação entre as classes. Conforme Marx, o Estado liberal é o responsável por
criar, organizar e disseminar o repertório político capaz de avalizar a legitimidade
das novas formas de organização do trabalho nas sociedades industriais. Grosso
modo, o Estado funciona por intermédio de um aparato institucional-legal
que imprime a ideia de consenso sobre a organização da sociedade a partir da
atividade produtiva.

Para Marx, o que conduz o trabalhador a se submeter ao intenso ritmo de trabalho


e a se anular como humano é a ideologia burguesa: em síntese, a ideologia pode
ser entendida como um conjunto de ideias e crenças que explica e legitima o
funcionamento da sociedade e que, na sociedade burguesa, tem a função de
conformar os indivíduos aos ditames liberais.

As bases desse conceito foram publicadas no livro A ideologia alemã, que Marx
(2007) escreveu em parceria com o filósofo Friedrich Engels. Nesse livro os
autores traçam uma crítica à ideologia burguesa. Trazemos aqui a síntese do
professor Tomazi (2000, p. 180-181), que destaca três elementos característicos
da ideologia criticada por Marx:
Separação – resultante da divisão da vida humana em duas
instâncias específicas: a infra-estrutura, que é a esfera da
produção material, e a superestrutura, esfera da produção das
ideias. De maneira muito simplificada, podemos dizer que a
infra-estrutura se compõe da economia (a produção dos bens
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necessários à sobrevivência dos homens) e a superestrutura


se constitui da moral, do direito, da política e das artes.

Determinação – relação decorrente da separação entre


infra-estrutura e superestrutura. Partindo desta separação,
observa-se o domínio estabelecido pela infra-estrutura
sobre a superestrutura. Serão as relações de produção que
irão determinar (definir) a organização social – as formas de
comportamento e de convívio entre os homens […].

Inversão – elemento constitutivo fundamental do conceito


de ideologia, considerada distorção da realidade.

A característica inversão é o que determina o poder que a ideologia tem de


conformar as classes trabalhadoras. Embora o conceito de determinação nos
indique que é a vida material que determina o comportamento e o convívio
social, pela inversão, somos levados a compreender a realidade a partir dos
ideais burgueses. Desse modo, acreditamos que somos livres, sem perceber que
estamos presos a uma disciplina de trabalho que ocupa a maior parte do nosso
tempo de vida. Enquanto acreditamos que somos todos iguais perante a lei, na
prática estamos sujeitos a uma série de diferenciações determinadas pelo grau
de acesso aos bens de consumo.

Se acreditamos que com a educação somos capazes de aumentar nossas chances


de alçar postos de trabalho melhor remunerados do que nossos pais, o acesso
à formação intelectual e cultural está limitado ao que é disponibilizado para
a classe social a que pertencemos. Desse modo, a sociedade burguesa está
assentada numa série de contradições, as quais são mascaradas pelos ideais
difundidos pela classe dominante.

Podemos dizer que o Estado burguês está alicerçado por uma produção intelectual
a qual formula raciocínios que justificam o modo como está organizado o
sistema de produção. Para Marx, a própria filosofia está comprometida com essa
justificação, já que os pensadores liberais teceram explicações que fundamentam
o sistema e levam à aceitação de que o modelo capitalista é uma tendência
natural do desenvolvimento humano, compreendido como a melhor forma de
vida atingida até então. Conforme esse autor expressa noutro texto, A questão
judaica, publicado em 1844:
Nenhum dos pretensos direitos do homem ultrapassa […]
o homem egoísta, o homem como membro da sociedade
burguesa, quer dizer o homem separado da comunidade,
voltado para si mesmo, unicamente preocupado por seu
interesse pessoal e obediente ao seu arbitrário privado.
(MARX apud NAY, 2007, p. 424).

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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social

Ideias como a liberdade, o direito à igualdade, a oportunidade de mudança gerada


pelo trabalho remunerado, e a hipervalorização do trabalho e da educação são o
arcabouço teórico da naturalização do sistema liberal. Esses ideais enfraquecem
o sentimento de comunidade e concentram a atenção dos sujeitos na sua
individualidade, o que leva à perda da consciência da realidade social.

Quem de nós já não ouviu as reclamações sobre como as pessoas são egoístas
e pensam apenas no seu próprio sucesso ou fracasso? Assim é o nosso aluno
que chega à sala de aula desejando mais o diploma, o qual o disponibilizará
para o mercado de trabalho, do que realmente aprender e desenvolver suas
habilidades intelectuais. Nesse contexto, as instituições e os aparatos jurídicos
funcionam como mecanismos que condicionam o indivíduo a pensar seus direitos
de forma individual. Em razão disso, tanto o sucesso quanto o fracasso passam a
ser explicados não mais pelos condicionantes sociais, mas por meio do esforço
ou do mérito pessoal (na aula 5, retomaremos essa discussão).

Nós, autores deste texto, arriscamos dizer que o homem da sociedade burguesa
é solitário, mais que egoísta. Se, na antiguidade ou medievalidade, a ordem
social era explicada pelas doutrinas religiosas, nas quais Deus ou deuses e a
comunidade eram as razões fundamentais da existência, agora a explicação é
dada pela racionalização da sociedade e pelo Estado, que, por meio de seu corpo
administrativo e do aparato intelectual, conforma os indivíduos nas posições
sociais a que estão sujeitos. Veja que o isolamento e o consequente abandono
do indivíduo a seu próprio esforço e sorte tornam mais eficiente a sua dominação
e exploração. Pelo corpus ideológico, o Estado e os proprietários não precisam
recorrer à violência física para disciplinar o trabalho, e, em último caso, as forças
policiais e militares podem ainda legitimamente ser utilizadas para esse fim.

Em A ideologia alemã, Marx (2007) afirma que “as ideias dominantes são as
ideias da classe dominante”. O autor demonstra que o idealismo, especialmente
desenvolvido na Alemanha, foi o responsável por difundir a crença de que a
análise da sociedade corresponde à análise do desenvolvimento das ideias.
Para Marx, o desenvolvimento da consciência burguesa resultou numa inversão
teórica que mascara a realidade. Se, por um lado, o trabalhador foi alienado pela
modificação das formas de trabalho, por outro, corroborou com esse processo
um movimento intelectual que reforçava a ilusão de que as modificações sociais
se dão por meio das ideias. Caberia, então, à verdadeira ciência investigar o
funcionamento das reais condições da existência material a fim de descortinar
a realidade e revelar a crueldade da exploração do trabalhador.

Mas você pode se perguntar: como isso funciona realmente?

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3.2 O fetiche da mercadoria e o consumo

Tentaremos responder à pergunta que finalizou o tópico anterior introduzindo


a noção de “fetichismo pela mercadoria”. Fetiche é uma palavra que expressa a
ideia de idolatria, uma adoração irracional por um objeto que gera no idólatra
um comportamento de serviço. O termo é empregado para se referir aos cultos
animistas, nos quais se acredita que certos objetos são encarnações de espíritos
ou são dotados de poderes sobrenaturais.

Ao se apropriar dessa palavra, Marx nos induz a inferir que a sociedade burguesa
eleva a mercadoria à condição de um objeto especial, para o qual se movem
todas as forças sociais. O fetiche da mercadoria está associado ao mercado de
consumo, uma vez que os produtos ofertados no mercado prometem atender
a necessidades e prazeres humanos, de modo que todos desejam adquiri-los
o tempo todo.

A fragmentação do trabalho levou à falta de percepção de que quando adquirimos


um determinado produto, ele é resultado de um longo processo de transformação
que se dá numa intricada rede de relações sociais. Sugerimos que você visite a
aula 7 do componente curricular de Filosofia da Educação e releia o exemplo
do suco de laranja. Lá demonstramos como o processo de fabricação do suco
é demorado e caro, mas, quando compramos a caixinha de suco de laranja no
supermercado, apenas nos importamos com o valor ou preço que ele adquiriu. A
certa altura do desenvolvimento do mercado de consumo, um produto finalizado
passa a ter uma importância tal que ele se torna necessário, e nem mesmo o alto
valor que pagamos por ele nos demove do ato de adquiri-lo. Naquele exemplo,
dissemos que poderíamos fazer o suco de laranja em casa, mas, como o ritmo da
vida moderna torna o nosso tempo exíguo, o produto industrializado assume
uma importância e um valor que não tinha antes. Assentimos esse valor porque
passamos a acreditar que essas mercadorias facilitam a vida.

Nesse sentido, importa ao mercado o valor de troca assimilado e não o dispêndio


de trabalho que foi demandado na produção da mercadoria. Ao consumidor
importa acumular o valor necessário para adquirir esse produto, sem que isso
implique refletir sobre toda a dimensão de esforço que, enquanto consumidor,
terá que fazer para atingir seu objetivo. Conforme nos indica Lallemant (2003,
p. 116), “por trás de um bem que se vai trocar por um outro bem se ocultam não
só um dispêndio de trabalho, mas sobretudo, uma relação social determinada”.

Se pensarmos além das ideias proclamadas por Marx, o mercado de consumo é


alicerçado por uma série de ideais que nos levam a consumir indiscriminadamente.
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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social

A moda, por exemplo, faz com que adquiramos uma série de produtos que não
são efetivamente necessários, mas que nos garantem a aceitação social em
determinados grupos de convívio. Esse comportamento em torno da mercadoria
nos coloca num ritmo circular que nos aferra no universo do trabalho, uma
vez que, para obter as mercadorias que pensamos ser necessárias, precisamos
nos manter no mercado de trabalho e nos submeter ao ritmo da produção. É
também possível especular que aqueles que não estão habilitados a se manter no
universo do trabalho, ou que estão limitados a trabalhos de baixa remuneração,
são compelidos pelo mesmo desejo de consumo e buscam forma de adquirir
bens por meios ilícitos, como o roubo e a corrupção.

Contextualizando o comportamento do nosso aluno, basta conversar com


um jovem prestes a realizar a prova do Enem para verificar que ele almeja ter
um carro e viajar, hoje símbolos do status da classe média. Mas ele pouco tem
consciência do quanto de trabalho terá que dispender para atingir essa finalidade.
Quando esse aluno tem acesso a um determinado texto na internet ou observa
com displicência a aula de um professor, o que lhe interessa é o produto que ele
realmente consumirá: as questões da prova, as quais o habilitarão a entrar na
universidade, meio para atingir o mercado de trabalho e de consumo de bens.
Esse aluno tem dificuldades em compreender o esforço laboral do professor ou
do autor do texto lido, que esse produto é fruto de anos de trabalho e de acúmulo
cultural da humanidade. Muito menos é capaz o aluno de compreender o esforço
similar que terá que fazer. O conhecimento assimilado como mercadoria, como
meio de troca por outras coisas, torna-se mero instrumento e perde a dimensão
humana. Talvez isso seja um dos motivos pelo qual é tão difícil reconhecer o
trabalho do professor e despertar a atenção de nosso aluno para os textos e
discussões que mediam o aprendizado.

3.3 A Sociologia Compreensiva de Max Weber

Caro aluno, após a leitura das contribuições de Marx, esperamos que você ainda
tenha fôlego para nos acompanhar noutra breve e instigante reflexão sobre a
Sociologia de Max Weber.

No percurso que traçamos nas linhas a seguir, você vai perceber que, entre Weber
e os clássicos que estudamos anteriormente, existem divergências importantes.
Por outro lado, você também vai notar que o conjunto de argumentos que
Weber utiliza para a compreensão dos fenômenos sociais não é assimilável numa
primeira aproximação. Nesse caso, sugerimos que você fique atento e busque
saber mais sobre a produção e a trajetória intelectual desse autor.
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Até aqui, só sabemos que Weber não é um autor de fácil leitura. À primeira
vista, dizer que um autor possui uma leitura truncada não parece ser uma boa
estratégia para estimular o aprendizado. Ao ler o que estamos dizendo, adeptos de
algumas teorias contemporâneas da educação ficariam estarrecidos e poderiam
nos acusar de não motivarmos adequadamente os nossos alunos.

Mas você não precisa se espantar, pois, a partir da perspectiva weberiana, você verá,
por si só, que, diferentemente do que pregam algumas correntes pedagógicas,
saber, a priori, que determinado texto possui um conjunto de argumentos,
conceitos e hipóteses de intricada compreensão não significa, necessariamente,
desestímulo, renúncia ou engavetamento definitivo dos estudos. Pelo contrário,
veremos que, em vez de afastar o leitor, a densidade teórica de um autor pode,
também, ser um elemento de motivação e agenciamento da leitura.

Mais uma vez, não pense que isso foi dito com a intenção de assustá-lo ou
afastá-lo da sociologia weberiana. Esse alerta foi dado porque nos permite
passar informações importantes sobre esse autor. A primeira delas é que, para
além da Sociologia, esse Weber foi um grande estudioso do Direito, da História,
da Economia e da Filosofia.

A segunda informação é que, mesmo dividindo a fundação da Sociologia com


Durkheim, Weber tem interpretações e concepções que divergem profundamente
com as de seu contemporâneo. Enquanto Durkheim filia-se à tradição positivista,
Weber rejeita todas as tentativas de aproximação entre as ciências humanas e os
paradigmas das ciências naturais. Para este autor, enquanto os elementos naturais
precisam ser explicados, os fenômenos sociais, em razão da complexidade que lhes
é intrínseca, carecem de ser compreendidos sociologicamente. Em decorrência
dessa distinção entre as ciências naturais e as humanas, Weber fundou o que
ficou conhecido como Sociologia Compreensiva, cujo esforço intelectual não
está na explicação pura e simples, mas na tentativa de compreender o sentido
implícito das ações humanas.

Conforme Weber, os elementos que motivam as ações individuais não estão fora
do indivíduo, muito menos exercem sobre ele aquela coercitividade vexatória
descrita por Durkheim. Para esse autor, o que mobiliza a ação humana não é
o espírito da força coletiva, mas uma complexa rede de fatores subjetivos. Em
razão disso, cabe ao cientista social de matriz weberiana capturar e compreender
sociologicamente a ação social.

Só para retomarmos o cenário que ilustramos acima, podemos dizer que poucos
créditos teriam essas correntes pedagógicas mediadas por fatores generalizantes
e, por vezes, distantes das potencialidades individuais dos educandos. Isso porque,
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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social

se adotarmos uma perspectiva weberiana, veremos que a ação pedagógica


dever estar umbilicalmente ligada à tentativa de capturar o sentido da ação
pedagógica e os elementos subjetivos que induzem, estimulam e despertam
no aluno o interesse pelos estudos e pela leitura.

Nesse aspecto, cabe observar que atentar para a subjetividade nada tem a
ver com os processos psicológicos presentes nos indivíduos, pois o objeto de
compreensão da sociologia de Weber não é o indivíduo, mas o sentido da ação
por ele praticada.

Como veremos nas aulas seguintes, o educador que nega, camufla ou evita
a aproximação de seus alunos com os autores ditos “complexos”, “densos” e
“polêmicos” reproduz, seja consciente ou inconscientemente, uma categoria
de violência peculiar ao ambiente escolar: a violência simbólica.

Mas deixemos isso de lado e voltemos a Weber...

Faltou-nos dizer que o tema central e norteador da produção desse autor é a


sociedade capitalista moderna e o respectivo processo de racionalização da
conduta humana. O ponto culminante dos estudos de Weber está impresso no
campo da sociologia das religiões e algumas de suas interpretações estão no
clássico ensaio A ética protestante e o espírito do capitalismo. Aqui, Weber analisa
a imbricada relação estabelecida entre a ética puritana e a cultura capitalista
moderna. A partir da observação de que os protestantes de sua época eram, de
modo geral, mais bem-sucedidos do que os católicos, Weber buscou encontrar
outra esfera de determinação do impulso capitalista que não fosse o materialismo
histórico descrito por Karl Marx.

Ao impelir a interpretação de que a sociedade seria configurada pelas ações


individuais, a sociologia de Weber, de certa maneira, se distancia das interpretações
coletivistas. Mas perceba que, partindo da análise da ação dos agentes, Weber
pretende chegar ao social, ao todo. Sob esse prisma, não é o todo – a sociedade
– que faz com que as pessoas sejam como são, mas são as pessoas, agindo
individualmente, que fazem a sociedade existir e acontecer.

Em Weber (1999, p. 3), a Sociologia não é a ciência dos fatos sociais, mas “uma
ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim
explicá-la casualmente em seu curso e em seus efeitos”. Veja, então, caro aluno,
que o conceito básico da teoria weberiana é o de ação social, que pode ser
entendido como o ato de agir, comunicar ou se relacionar, tendo em vista a
orientação do comportamento de outros.

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AULA 3

Outra coisa que você precisa saber sobre Weber é que, apesar de ele ser um
estudioso da ação social, ainda assim não é possível à Sociologia determinar
categoricamente como os indivíduos vão se comportar em dadas circunstâncias.
Aqui, só para retomarmos, mais uma vez, o nosso exemplo anterior, podemos
dizer que, diante de uma conjuntura heterogênea, nova e complexa, o educador
não é capaz de determinar ou prever decisivamente o comportamento do aluno.
Em razão disso, o que cabe ao professor é tentar compreender o sentido subjetivo
que cada um de seus alunos atribui à educação, aos estudos e à escola e, a partir
daí, montar um esquema de probabilidades de ações que poderão auxiliá-lo na
interpretação e organização de suas atividades, seja na escola ou no ambiente
da sala de aula. Observe que, se você estender essa estratégia metodológica
para fora da escola, você terá acesso a uma nova maneira de analisar a vida em
sociedade.

3.4 Weber o os tipos ideais

Ao chegar neste ponto, você pode pensar: mas como o professor ou o cientista
social pode orientar a sua ação diante da imensidão subjetiva e da diversidade
dos fenômenos sociais? Essa é uma boa pergunta! Para responder a ela, Weber
recorre à sua formulação de “tipo ideal”. Essa categoria nada tem a ver com
modelos utópicos de comportamento, trata-se de um recurso metodológico
criado para orientar o cientista. “Consiste em enfatizar determinados traços
da realidade – por exemplo, aqueles que permitam caracterizar a conduta do
burocrata profissional e a organização em que ele atua – até concebê-los na sua
expressão mais pura e consequente, que jamais se apresenta assim nas situações
efetivamente observáveis” (COHN, 2003, p. 8).

Conforme Aron (1995), os tipos ideais se dividem em três espécies: a primeira


é a dos tipos ideais de indivíduos históricos, nesse caso, o tipo ideal é uma
reconstrução parcial de uma realidade histórica. O sociólogo seleciona, no
conjunto histórico, um certo número de característica para constituir o todo
inteligível. A segunda espécie é a dos tipos ideais que designam elementos em
um grande número de circunstâncias – quando combinados, esses conceitos
permitem compreender os conjuntos históricos reais. Por fim, a terceira espécie
de tipos ideais é constituída pelas reconstruções racionalizantes de condutas
de um tipo particular.

Dito de outra maneira, o tipo ideal é a estratégia metodológica que o sociólogo


utiliza para compreender as ações presentes na vida social, mas cujo entendimento
só é possível mediante uma formulação abstrata de suas condições ideais de
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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social

realização, como se não houvesse obstáculos à sua consumação. A utilização


desse recurso visa não só permitir a interpretação e a compreensão do sentido
subjetivo visado pelos agentes, mas garante, também, o “distanciamento” do
pesquisador em relação ao objeto. Dessa feita, percebe-se que o tipo ideal é
sempre um meio, não um fim.

Em Weber, os indivíduos são mobilizados a agir a partir de quatro tipos básicos


de ação social:

a) a ação tradicional, que tem por base um costume arraigado, a


tradição familiar ou o hábito. É um tipo de ação que se adota quase
automaticamente, reagindo a estímulos habituais;
b) ação afetiva, cujo fundamento são os sentimentos de qualquer
ordem. Aqui, o sentido da ação está nela mesma. Age afetivamente
quem satisfaz suas necessidades, seus desejos;
c) ação racional com relação a valores, fundamentada em convicções,
tais como o dever, a dignidade, a beleza, a sabedoria, a piedade ou
a transcendência de uma causa – qualquer que seja seu gênero –,
sem levar em conta as consequências;
d) ação racional com relação a fins. Aqui o fundamento é a avaliação
que se estabelece entre meios e fins. Nesse tipo de ação, o indivíduo,
numa dada situação, pensa antes de agir; ele calcula, se programa
e mede as consequências.

Como você pode ver, a sociologia weberiana é uma ciência que procura
compreender a ação social e essa compreensão implica a percepção do sentido
que o ator social atribui à sua conduta. Assim sendo, o objetivo e a preocupação
de Weber é compreender a própria conduta humana, que é permeada por
sentidos subjetivos, mas que pode implicar uma estrutura inteligível. Isso decorre
do processo de racionalização peculiar ao mundo ocidental.

Segundo o pensamento teórico desse autor, toda a sociedade moderna ocidental


tende à organização racional. Para ele, toda ação social é resultado de uma
avaliação, de um cálculo. Esse cálculo serve para medirmos os custos e os benefícios
das nossas ações. Ponderando entre os meios e os fins, age racionalmente aquele
indivíduo que encontra um resultado adequadamente satisfatório aos fins que
almeja. Com esse autor, aprendemos que viver em sociedade implica dispor de
algum grau de racionalidade (WEBER, 2000; 1982).

Nesse sentido, a própria atividade cientifica, que objetiva o revelar de uma


“verdadeira face dos fenômenos”, é uma combinação entre ação racional com
relação a fins e ação racional em relação a um valor. A racionalidade é obtida
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AULA 3

pelo respeito às regras da lógica e da pesquisa, que são essenciais para o alcance
de resultados válidos. Assim, o cientista se propõe a enunciar proposições
verdadeiras, relações de causalidade e interpretações compreensivas que sejam
universalmente aceitas.

Como você pode perceber, Weber é adepto de orientação metodológica


individualista. Diferentemente de Marx e Durkheim, ele não explica a sociedade
a partir da identidade coletiva, mas a partir do sentido das ações dos indivíduos.
Nesse caso, para a teoria weberiana, a sociedade não é uma coisa em si mesma,
externa aos indivíduos. Ela só ganha sentido a partir das relações estabelecidas
entre os atores.

Note, então, que Weber não estuda a sociedade como se ela fosse um sistema
ou um organismo vivo. Ele não a vê como um bloco único, mas como uma rede,
ou uma teia de significados. Isso denota que, dependendo do ponto em que
fixamos o nosso olhar, podemos compreender e interpretar intensões inacessíveis
aos observadores não iniciados.

Exercitando

Eu, Etiqueta [...]


(Carlos Drummond de Andrade)
Meu isso, meu aquilo. 
Desde a cabeça ao bico
Em minha calça está dos sapatos, 
grudado um nome  São mensagens, 
Que não é meu de batismo ou Letras falantes, 
de cartório  Gritos visuais, 
Um nome... estranho.  Ordens de uso, abuso,
Meu blusão traz lembrete reincidências.
de bebida 
Que jamais pus na boca,
nessa vida,  [...]
Em minha camiseta, a marca E fazem de mim homem-anúncio
de cigarro  itinerante, 
Que não fumo, até hoje não fumei.  Escravo da matéria anunciada. 
Minhas meias falam de produtos  Estou, estou na moda. 
Que nunca experimentei  É duro andar na moda, ainda
Mas são comunicados a meus pés. que a moda 
Seja negar minha identidade,

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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social

[...] [...]
Agora sou anúncio  Saio da estamparia, não de casa, 
Ora vulgar ora bizarro.  Da vitrine me tiram, recolocam,
Em língua nacional ou em
[...]
qualquer língua 
Meu nome novo é Coisa. 
(Qualquer principalmente.) 
Eu sou a Coisa, coisamente.
Eu é que mimosamente pago 
Para anunciar, para vender (ANDRADE, 1984, p. 85-87).

Disponível em:

àà http://pensador.uol.com.
br/frase/MjAyODM0/

Depois de ler poema acima, associe os versos do poema aos conceitos estudados
nesta aula. Faça um post no fórum disponível no AVA, argumentando como a
ideologia burguesa afeta a rotina escolar. Recorra às reflexões que você fez sobre
o poema para fundamentar suas ideias.

4 APROFUNDANDO SEU CONHECIMENTO

Para conhecer melhor as ideias que expusemos


aqui, sugerimos que você realize a leitura
do livro História das ideias sociológicas, das
origens a Max Weber, de Michel Lallement. Por
meio de sínteses dos principais conceitos e
extratos de textos originais dos autores, esta
obra proporciona compreender a formação do
pensamento sociológico, culminando com as
Figura 1 contribuições de Max Weber.

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AULA 3

5 TROCANDO EM MIÚDOS

Nesta aula vimos que Marx identifica na ideologia a dominação que a burguesia
exerce sobre os trabalhadores. Para esse autor, a ideologia é compreendida como
um conjunto de ideias que produzem explicações sobre o funcionamento da
sociedade e conformam os indivíduos à ordem social. Ao criticar a ideologia
burguesa, Marx revela que ela produz uma visão invertida da realidade, que inibe
a percepção de que a vida e o comportamento dos indivíduos são determinados
pela organização da produção. Na perspectiva desse filósofo, o Estado e todo
seu aparato jurídico, bem como a moral e a lógica do mérito individual são
instâncias criadas para submeter o trabalhador às modernas formas de trabalho
alienado. Tal submissão é garantida ainda pelo fetiche da mercadoria e pelo
culto ao indivíduo, os quais fazem com que o trabalhador, simultaneamente,
sinta necessidade de manter-se inserido no sistema e perca a dimensão social do
trabalho. Max Weber, por sua vez, analisa a sociedade pela dimensão compreensiva
e analisa os aspectos subjetivos das práticas sociais. Para esse autor, o que explica
a sociedade é a ação social. Conforme Weber, o que faz a sociedade existir é o
conjunto das práticas individuais, as quais são motivadas por valores subjetivos,
que desencadeiam determinadas ações. Para compreender esse fenômeno, o
autor cria a categoria de tipos ideais, a qual é utilizada como importante recurso
metodológico na compreensão da sociedade.

6 AUTOAVALIANDO

Depois de ter feito a leitura desta aula, reflita sobre os questionamentos abaixo,
tentando responder a eles:

„„ Sou capaz de reconhecer a forma como a ideologia permeia as


relações sociais?

„„ Posso dizer que compreendi o conceito de ação social e a importância dos


tipos ideais, criados por Weber?

„„ Consigo analisar os condicionantes que orientam as diversas práticas sociais?

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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social

REFERÊNCIAS

ARON, Raymond. Max Weber. In: ARON, Raymond. As etapas do pensamento


sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

COHN, Gabriel. Introdução. In: COHN, Gabriel (Org.). Max Weber: Sociologia.
São Paulo: Ática, 2003.

LALLEMENT, Michel. História das ideias sociológicas: das origens a Max Weber.
Petrópolis: Vozes, 2004.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

NEY, Oliver. História das ideias políticas. Petrópolis: Vozes, 2007.

TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 2000.

WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva.


3. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.

WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos Científicos, 1982.

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