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INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
Caro aluno, você já se deu conta da força que tem o discurso sobre a preparação
para o trabalho? Por que o processo de educação escolar está tão vinculado à
preparação para a inserção dos indivíduos no mercado? Por que é tão difícil
fazer com que um aluno se interesse pela literatura ou pela arte? O que está por
detrás das diferentes interpretações que o discente faz do conteúdo ministrado?
Nesta aula vamos discutir alguns conceitos que podem nos orientar na reflexão
sobre essas questões que atravessam a vida profissional do professor e que
interferem diretamente no ministério dos conteúdos e nas rotinas das aulas.
Vamos conhecer os ditames da cultura burguesa por meio dos conceitos de
alienação e ideologia de Karl Marx e os princípios da ação social elaborados
por Max Weber. Esperamos com isso que você possa formar uma ideia sobre o
comportamento e as expectativas de seu aluno e possa se preparar para dialogar
com ele, para além do cumprimento dos programas de ensino.
3 TECENDO CONHECIMENTO
Já vimos que o pensamento de Karl Marx foi muito importante para modificar a
compreensão que temos da sociedade. Suas teses demonstraram que o modo
de vida burguês está fortemente segmentado em dois grupos: os detentores
dos meios de produção e os trabalhadores.
Essa visão não é simplista como parece, pois resulta de um profundo estudo
sobre a forma como a sociedade liberal reorganizou a produção de bens. É
importante lembrarmos que a base dessa reorganização é a fragmentação
do trabalho, que faz com que o operário perca, definitivamente, o controle
da sua vida e seja privado dos saberes inerentes ao seu ofício. Se, em tempos
antigos, um sapateiro conduzia a manufatura de seu produto desde o preparo
do couro até o acabamento final, depois da revolução industrial, esse processo
passou a ser realizado em etapas, cabendo a grupos treinados de operários
realizarem separadamente cada uma delas. A consequência dessa modificação é
a transferência das regras da organização do trabalho, que passam a ser ditadas
pela classe proprietária, a qual estipula mecanismos para disciplinar a produção.
Em outras palavras, o operário deve se submeter às exigências impostas pela
classe dominante.
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AULA 3
marca humana se neutraliza porque pode ser facilmente substituída pelo vento,
pela água, pelo vapor, pelo petróleo, etc.
Mas você, que tem lido com atenção os nossos textos, sabe que esses elementos
não são suficientes para explicar e justificar a exploração de uma classe sobre
a outra. Por isso, cabe ainda citar outros elementos que atuam para garantir o
funcionamento e a reprodução do sistema. Dentre esses elementos, o Estado
liberal juridicamente organizado figura como o principal responsável por tutelar
a relação entre as classes. Conforme Marx, o Estado liberal é o responsável por
criar, organizar e disseminar o repertório político capaz de avalizar a legitimidade
das novas formas de organização do trabalho nas sociedades industriais. Grosso
modo, o Estado funciona por intermédio de um aparato institucional-legal
que imprime a ideia de consenso sobre a organização da sociedade a partir da
atividade produtiva.
As bases desse conceito foram publicadas no livro A ideologia alemã, que Marx
(2007) escreveu em parceria com o filósofo Friedrich Engels. Nesse livro os
autores traçam uma crítica à ideologia burguesa. Trazemos aqui a síntese do
professor Tomazi (2000, p. 180-181), que destaca três elementos característicos
da ideologia criticada por Marx:
Separação – resultante da divisão da vida humana em duas
instâncias específicas: a infra-estrutura, que é a esfera da
produção material, e a superestrutura, esfera da produção das
ideias. De maneira muito simplificada, podemos dizer que a
infra-estrutura se compõe da economia (a produção dos bens
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AULA 3
Podemos dizer que o Estado burguês está alicerçado por uma produção intelectual
a qual formula raciocínios que justificam o modo como está organizado o
sistema de produção. Para Marx, a própria filosofia está comprometida com essa
justificação, já que os pensadores liberais teceram explicações que fundamentam
o sistema e levam à aceitação de que o modelo capitalista é uma tendência
natural do desenvolvimento humano, compreendido como a melhor forma de
vida atingida até então. Conforme esse autor expressa noutro texto, A questão
judaica, publicado em 1844:
Nenhum dos pretensos direitos do homem ultrapassa […]
o homem egoísta, o homem como membro da sociedade
burguesa, quer dizer o homem separado da comunidade,
voltado para si mesmo, unicamente preocupado por seu
interesse pessoal e obediente ao seu arbitrário privado.
(MARX apud NAY, 2007, p. 424).
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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social
Quem de nós já não ouviu as reclamações sobre como as pessoas são egoístas
e pensam apenas no seu próprio sucesso ou fracasso? Assim é o nosso aluno
que chega à sala de aula desejando mais o diploma, o qual o disponibilizará
para o mercado de trabalho, do que realmente aprender e desenvolver suas
habilidades intelectuais. Nesse contexto, as instituições e os aparatos jurídicos
funcionam como mecanismos que condicionam o indivíduo a pensar seus direitos
de forma individual. Em razão disso, tanto o sucesso quanto o fracasso passam a
ser explicados não mais pelos condicionantes sociais, mas por meio do esforço
ou do mérito pessoal (na aula 5, retomaremos essa discussão).
Nós, autores deste texto, arriscamos dizer que o homem da sociedade burguesa
é solitário, mais que egoísta. Se, na antiguidade ou medievalidade, a ordem
social era explicada pelas doutrinas religiosas, nas quais Deus ou deuses e a
comunidade eram as razões fundamentais da existência, agora a explicação é
dada pela racionalização da sociedade e pelo Estado, que, por meio de seu corpo
administrativo e do aparato intelectual, conforma os indivíduos nas posições
sociais a que estão sujeitos. Veja que o isolamento e o consequente abandono
do indivíduo a seu próprio esforço e sorte tornam mais eficiente a sua dominação
e exploração. Pelo corpus ideológico, o Estado e os proprietários não precisam
recorrer à violência física para disciplinar o trabalho, e, em último caso, as forças
policiais e militares podem ainda legitimamente ser utilizadas para esse fim.
Em A ideologia alemã, Marx (2007) afirma que “as ideias dominantes são as
ideias da classe dominante”. O autor demonstra que o idealismo, especialmente
desenvolvido na Alemanha, foi o responsável por difundir a crença de que a
análise da sociedade corresponde à análise do desenvolvimento das ideias.
Para Marx, o desenvolvimento da consciência burguesa resultou numa inversão
teórica que mascara a realidade. Se, por um lado, o trabalhador foi alienado pela
modificação das formas de trabalho, por outro, corroborou com esse processo
um movimento intelectual que reforçava a ilusão de que as modificações sociais
se dão por meio das ideias. Caberia, então, à verdadeira ciência investigar o
funcionamento das reais condições da existência material a fim de descortinar
a realidade e revelar a crueldade da exploração do trabalhador.
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AULA 3
Ao se apropriar dessa palavra, Marx nos induz a inferir que a sociedade burguesa
eleva a mercadoria à condição de um objeto especial, para o qual se movem
todas as forças sociais. O fetiche da mercadoria está associado ao mercado de
consumo, uma vez que os produtos ofertados no mercado prometem atender
a necessidades e prazeres humanos, de modo que todos desejam adquiri-los
o tempo todo.
A moda, por exemplo, faz com que adquiramos uma série de produtos que não
são efetivamente necessários, mas que nos garantem a aceitação social em
determinados grupos de convívio. Esse comportamento em torno da mercadoria
nos coloca num ritmo circular que nos aferra no universo do trabalho, uma
vez que, para obter as mercadorias que pensamos ser necessárias, precisamos
nos manter no mercado de trabalho e nos submeter ao ritmo da produção. É
também possível especular que aqueles que não estão habilitados a se manter no
universo do trabalho, ou que estão limitados a trabalhos de baixa remuneração,
são compelidos pelo mesmo desejo de consumo e buscam forma de adquirir
bens por meios ilícitos, como o roubo e a corrupção.
Caro aluno, após a leitura das contribuições de Marx, esperamos que você ainda
tenha fôlego para nos acompanhar noutra breve e instigante reflexão sobre a
Sociologia de Max Weber.
No percurso que traçamos nas linhas a seguir, você vai perceber que, entre Weber
e os clássicos que estudamos anteriormente, existem divergências importantes.
Por outro lado, você também vai notar que o conjunto de argumentos que
Weber utiliza para a compreensão dos fenômenos sociais não é assimilável numa
primeira aproximação. Nesse caso, sugerimos que você fique atento e busque
saber mais sobre a produção e a trajetória intelectual desse autor.
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AULA 3
Até aqui, só sabemos que Weber não é um autor de fácil leitura. À primeira
vista, dizer que um autor possui uma leitura truncada não parece ser uma boa
estratégia para estimular o aprendizado. Ao ler o que estamos dizendo, adeptos de
algumas teorias contemporâneas da educação ficariam estarrecidos e poderiam
nos acusar de não motivarmos adequadamente os nossos alunos.
Mas você não precisa se espantar, pois, a partir da perspectiva weberiana, você verá,
por si só, que, diferentemente do que pregam algumas correntes pedagógicas,
saber, a priori, que determinado texto possui um conjunto de argumentos,
conceitos e hipóteses de intricada compreensão não significa, necessariamente,
desestímulo, renúncia ou engavetamento definitivo dos estudos. Pelo contrário,
veremos que, em vez de afastar o leitor, a densidade teórica de um autor pode,
também, ser um elemento de motivação e agenciamento da leitura.
Mais uma vez, não pense que isso foi dito com a intenção de assustá-lo ou
afastá-lo da sociologia weberiana. Esse alerta foi dado porque nos permite
passar informações importantes sobre esse autor. A primeira delas é que, para
além da Sociologia, esse Weber foi um grande estudioso do Direito, da História,
da Economia e da Filosofia.
Conforme Weber, os elementos que motivam as ações individuais não estão fora
do indivíduo, muito menos exercem sobre ele aquela coercitividade vexatória
descrita por Durkheim. Para esse autor, o que mobiliza a ação humana não é
o espírito da força coletiva, mas uma complexa rede de fatores subjetivos. Em
razão disso, cabe ao cientista social de matriz weberiana capturar e compreender
sociologicamente a ação social.
Só para retomarmos o cenário que ilustramos acima, podemos dizer que poucos
créditos teriam essas correntes pedagógicas mediadas por fatores generalizantes
e, por vezes, distantes das potencialidades individuais dos educandos. Isso porque,
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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social
Nesse aspecto, cabe observar que atentar para a subjetividade nada tem a
ver com os processos psicológicos presentes nos indivíduos, pois o objeto de
compreensão da sociologia de Weber não é o indivíduo, mas o sentido da ação
por ele praticada.
Como veremos nas aulas seguintes, o educador que nega, camufla ou evita
a aproximação de seus alunos com os autores ditos “complexos”, “densos” e
“polêmicos” reproduz, seja consciente ou inconscientemente, uma categoria
de violência peculiar ao ambiente escolar: a violência simbólica.
Em Weber (1999, p. 3), a Sociologia não é a ciência dos fatos sociais, mas “uma
ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim
explicá-la casualmente em seu curso e em seus efeitos”. Veja, então, caro aluno,
que o conceito básico da teoria weberiana é o de ação social, que pode ser
entendido como o ato de agir, comunicar ou se relacionar, tendo em vista a
orientação do comportamento de outros.
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Outra coisa que você precisa saber sobre Weber é que, apesar de ele ser um
estudioso da ação social, ainda assim não é possível à Sociologia determinar
categoricamente como os indivíduos vão se comportar em dadas circunstâncias.
Aqui, só para retomarmos, mais uma vez, o nosso exemplo anterior, podemos
dizer que, diante de uma conjuntura heterogênea, nova e complexa, o educador
não é capaz de determinar ou prever decisivamente o comportamento do aluno.
Em razão disso, o que cabe ao professor é tentar compreender o sentido subjetivo
que cada um de seus alunos atribui à educação, aos estudos e à escola e, a partir
daí, montar um esquema de probabilidades de ações que poderão auxiliá-lo na
interpretação e organização de suas atividades, seja na escola ou no ambiente
da sala de aula. Observe que, se você estender essa estratégia metodológica
para fora da escola, você terá acesso a uma nova maneira de analisar a vida em
sociedade.
Ao chegar neste ponto, você pode pensar: mas como o professor ou o cientista
social pode orientar a sua ação diante da imensidão subjetiva e da diversidade
dos fenômenos sociais? Essa é uma boa pergunta! Para responder a ela, Weber
recorre à sua formulação de “tipo ideal”. Essa categoria nada tem a ver com
modelos utópicos de comportamento, trata-se de um recurso metodológico
criado para orientar o cientista. “Consiste em enfatizar determinados traços
da realidade – por exemplo, aqueles que permitam caracterizar a conduta do
burocrata profissional e a organização em que ele atua – até concebê-los na sua
expressão mais pura e consequente, que jamais se apresenta assim nas situações
efetivamente observáveis” (COHN, 2003, p. 8).
Como você pode ver, a sociologia weberiana é uma ciência que procura
compreender a ação social e essa compreensão implica a percepção do sentido
que o ator social atribui à sua conduta. Assim sendo, o objetivo e a preocupação
de Weber é compreender a própria conduta humana, que é permeada por
sentidos subjetivos, mas que pode implicar uma estrutura inteligível. Isso decorre
do processo de racionalização peculiar ao mundo ocidental.
pelo respeito às regras da lógica e da pesquisa, que são essenciais para o alcance
de resultados válidos. Assim, o cientista se propõe a enunciar proposições
verdadeiras, relações de causalidade e interpretações compreensivas que sejam
universalmente aceitas.
Note, então, que Weber não estuda a sociedade como se ela fosse um sistema
ou um organismo vivo. Ele não a vê como um bloco único, mas como uma rede,
ou uma teia de significados. Isso denota que, dependendo do ponto em que
fixamos o nosso olhar, podemos compreender e interpretar intensões inacessíveis
aos observadores não iniciados.
Exercitando
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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social
[...] [...]
Agora sou anúncio Saio da estamparia, não de casa,
Ora vulgar ora bizarro. Da vitrine me tiram, recolocam,
Em língua nacional ou em
[...]
qualquer língua
Meu nome novo é Coisa.
(Qualquer principalmente.)
Eu sou a Coisa, coisamente.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender (ANDRADE, 1984, p. 85-87).
Disponível em:
àà http://pensador.uol.com.
br/frase/MjAyODM0/
Depois de ler poema acima, associe os versos do poema aos conceitos estudados
nesta aula. Faça um post no fórum disponível no AVA, argumentando como a
ideologia burguesa afeta a rotina escolar. Recorra às reflexões que você fez sobre
o poema para fundamentar suas ideias.
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5 TROCANDO EM MIÚDOS
Nesta aula vimos que Marx identifica na ideologia a dominação que a burguesia
exerce sobre os trabalhadores. Para esse autor, a ideologia é compreendida como
um conjunto de ideias que produzem explicações sobre o funcionamento da
sociedade e conformam os indivíduos à ordem social. Ao criticar a ideologia
burguesa, Marx revela que ela produz uma visão invertida da realidade, que inibe
a percepção de que a vida e o comportamento dos indivíduos são determinados
pela organização da produção. Na perspectiva desse filósofo, o Estado e todo
seu aparato jurídico, bem como a moral e a lógica do mérito individual são
instâncias criadas para submeter o trabalhador às modernas formas de trabalho
alienado. Tal submissão é garantida ainda pelo fetiche da mercadoria e pelo
culto ao indivíduo, os quais fazem com que o trabalhador, simultaneamente,
sinta necessidade de manter-se inserido no sistema e perca a dimensão social do
trabalho. Max Weber, por sua vez, analisa a sociedade pela dimensão compreensiva
e analisa os aspectos subjetivos das práticas sociais. Para esse autor, o que explica
a sociedade é a ação social. Conforme Weber, o que faz a sociedade existir é o
conjunto das práticas individuais, as quais são motivadas por valores subjetivos,
que desencadeiam determinadas ações. Para compreender esse fenômeno, o
autor cria a categoria de tipos ideais, a qual é utilizada como importante recurso
metodológico na compreensão da sociedade.
6 AUTOAVALIANDO
Depois de ter feito a leitura desta aula, reflita sobre os questionamentos abaixo,
tentando responder a eles:
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Karl Marx e Max Weber: ideologia e ação social
REFERÊNCIAS
COHN, Gabriel. Introdução. In: COHN, Gabriel (Org.). Max Weber: Sociologia.
São Paulo: Ática, 2003.
LALLEMENT, Michel. História das ideias sociológicas: das origens a Max Weber.
Petrópolis: Vozes, 2004.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos Científicos, 1982.
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