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Avaliação de Impactos

Ambientais

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 1


1. Conceitos e Definições Básicas sobre Impacto Ambiental

1.1 Introdução

Neste capítulo serão abordadas algumas definições relativas a poluição,


degradação e qualidade ambiental no intuito de entender a mudança de visão
e paradigma no trato dos problemas ambientais. Tal mudança de visão resultou
na modificação da compreensão do que é o meio ambiente, partindo de uma
visão inicial em que o meio ambiente é visto apenas como meio físico
circundante para uma visão atual mais abrangente que considera elementos
econômicos e sociais também. Isso modificou a forma como os problemas
ambientais são encarados atualmente, abarcando uma série de aspectos muito
mais amplos que aqueles estritamente relacionados com a poluição e a
qualidade do meio físico. Essa mudança tem implicações diretas nas definições
acima citadas e na abrangência da avaliação de impactos ambientais (AIA)
atual. As definições pertinentes e uma breve discussão sobre essas
modificações e suas implicações no processo de AIA é o que será abordado
neste capítulo.

1.2 Poluição × Degradação Ambiental

A compreensão do que é o meio ambiente modificou-se no tempo, partindo de


uma visão mais restrita que compreende somente aspectos do meio físico
circundante para uma visão mais ampla que também compreende os aspectos
sociais e econômicos.

A expressão meio ambiente (milieu ambiance) aparece pela primeira vez na


obra do naturalista francês Geoffrey de Saint-Hilaire Études progressives d’un
naturaliste, de 1835, na qual milieu significa o lugar onde está ou se movimenta
um ser vivo e ambiance designa o que rodeia esse ser. Mais tarde, em sua obra
Introduction à l’étude de la médecine expérimentale, de 1865, o médico e
fisiologista francês diferencia o meio interno, aquele constituído por todas as
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estruturas e os processos que ocorrem dentro dos organismos daquele que
seria o meio externo, ou meio ambiente, meio que cerca os indivíduos que
podem funcionar como estímulos para as resposta do meio interno (Bernard,
1865).

A definição de meio ambiente da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei no


6938/81) afirma que é “conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas”. Tal definição abarca a gama de fatores que compõem o meio
físico circundante e está relacionada com o hábitat e o nicho ecológico das
espécies (Begon, 2006). Definições mais abrangentes tratam de incorporar,
explicitamente, as ações antrópicas, como, por exemplo, a do Conselho
Internacional da Língua Francesa, que destaca, além dos fatores químicos,
físicos e biológicos, também “os fatores sociais suscetíveis de produzir um
efeito direto ou indireto, imediato ou a longo termo sobre os seres vivos e as
atividades humanas”.

A inclusão das atividades humanas e seus efeitos na definição de meio


ambiente foi sendo modificada muito por conta das constatações dos efeitos
das alterações antrópicas sobre este e da constatação da importância de alguns
“serviços” prestados pelo ambiente. Teve grande importância para isso o
surgimento do movimento ambientalista, que surge na segunda metade da
década de 1940. Mais precisamente em 1949, acontece a Conferência Científica
das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos, na qual foram
discutidos o exercício da atividade antrópica sobre os recursos naturais, a
importância da educação e o desenvolvimento integrado de bacias
hidrográficas (Marzall, 1999). Na década de 1960, o movimento ambiental
tomou força e começou a apontar e cobrar das autoridades responsáveis
medidas relativas à mitigação de alguns impactos ambientais como, por
exemplo, os efeitos do DDT nos ambientes naturais (Carson, 2002). A partir
daí diversos países começaram a criar mecanismos de mitigação de impactos

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das atividades humanas; histórico que será abordado mais detalhadamente no
próximo capítulo.

Discussões mais recentes sugerem que o conceito de meio ambiente deve ser
mais abrangente, não apenas contemplando o meio ambiente natural, ou físico,
constituído pelo solo, pela água, pelo ar atmosférico e por seres vivos e suas
interações, mas também abarcando o meio urbano e o meio ambiente cultural,
integrado pelos patrimônios histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e
turístico (Silva, 2004). Uma definição que abrange todos esses aspectos pode
ser encontrada em Jollivet e Pavé (1992): “Meio ambiente constitui o conjunto
de meios naturais (milieux natureles) ou artificializados da ecosfera onde o
homem se instalou e que ele explora e administra, bem como o conjunto dos
meios não submetidos a ação antrópica e que são considerados necessários a
sua sobrevivência”. Esta estabelece claramente os diferentes aspectos que
compreendem a visão moderna de meio ambiente e uma de suas contribuições
é abordar a noção de ecosfera, noção esta que engloba não apenas os
componentes do meio, mas também processos e mecanismos que os ligam e
os fazem interagir (Figura 1.1). Desta forma, são consideradas não somente as
inter-relações entre meios abiótico e biótico, mas também como os fatores
antropogênicos e a sociedade. Essa separação é, em certo sentido, arbitrária,
pois o homem faz parte da natureza. No entanto, dada a magnitude de suas
ações e a intensidade de seus impactos no meio, é interessante separá-los,
pois os aspectos culturais e econômicos devem ser considerados sob a ótica
antrópica e podem ter tanto efeitos negativos quanto positivos.

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Figura 1.1 Conjunto de fatores e processos componentes do meio ambiente. A
ecosfera é formada pelo conjunto das atividades humanas e os fatores bióticos
e abióticos e suas interrelações. As setas mostram as interpelações e os
mecanismos de retroalimentação que podem ser tanto positivos quanto
negativos. (Fonte: autor)

A ampliação da noção de meio ambiente como composto por aspectos sociais


e econômicos levou também a modificações na legislação e nas formas de se
fazer a avaliação de impactos ambientais que atualmente levam em conta os
efeitos nas comunidades humanas nesses aspectos. De fato, o reflexo dessa
modificação pode ser notado na evolução das legislações mundial e brasileira.
No começo da percepção e das discussões sobre as ações humanas no
ambiente e a necessidade de regulá-las, a noção de impacto ambiental estava
relacionada única e exclusivamente com a poluição. Nas décadas de 1940 e
1950 os EUA e a Inglaterra já possuíam leis para controle da poluição hídrica e
do ar.

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A palavra poluição deriva do latim polluere, que significa “sujar, contaminar,
tornar impuro”, e pode ser definida como uma alteração indesejável causada
pelo ser humano, nas propriedades físicas, químicas e biológicas da atmosfera,
hidrosfera ou litosfera que cause ou possa causar prejuízo à saúde, à
sobrevivência ou às atividades dos próprios seres humanos ou outras espécies
ou ainda deteriorar materiais (Braga, 2005, p. 6). Os impactos antrópicos no
ambiente eram vistos de modo unicamente prejudicial e estritamente
relacionados com a liberação, em grandes quantidades, de substâncias tóxicas
ou nocivas à biota e de grande alteração do meio físico. Essa visão inicial fez
as primeiras legislações relativas ao controle dos impactos ambientais estarem
relacionadas com fontes de poluição pontuais ligadas ao setor produtivo,
principalmente o industrial (Sanchez, 2006).

A ideia de que outras atividades tais como o desmatamento, a ocupação de


encostas, o assoreamento de rios, a extinção de hábitat para espécies e outros
aspectos que não estão relacionados com a liberação de substâncias tóxicas e
nocivas no ambiente também impactam o ambiente levam ao desenvolvimento
da noção de degradação ambiental. Desta forma, alterações antrópicas que
acarretem mudanças no ambiente e que tenham como resultado a perda de
sua qualidade do mesmo são degradação ambiental. A Política Nacional de Meio
Ambiente em seu artigo 3o, inciso III, define degradação ambiental como
“alteração adversa das características do meio ambiente”. Desta forma,
conceitos como áreas degradadas são comumente usados para fazer referência
aos efeitos negativos das atividades humanas em uma determinada área;
menos comumente pode também ser usado para fazer referência a áreas que
sofreram degradação por eventos naturais (Finotti et al. submetido), como, por
exemplo, os grandes movimentos de massa que ocorreram em encostas da
região serrana do Rio de Janeiro em janeiro de 2011 por conta do forte volume
de chuvas em um curto espaço de tempo (Figura 1.2). A presença de áreas
com solos muito superficiais e a incidência de fortes chuvas foram os principais
fatores responsáveis pelo fenômeno, portanto fenômenos naturais (Medeiros e

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Barros, 2011, Agenda 21 Nova Friburgo). No entanto, estão comumente
associados e são favorecidos pelas alterações humanas. Encostas sem
cobertura vegetal e com ocupações irregulares estão mais suscetíveis a tais
eventos.

Assim, podemos afirmar que o grau de degradação ambiental depende de uma


conjunção de fatores que podem contribuir para o aumento da magnitude e da
sua frequência. Os efeitos das modificações antrópicas no ambiente podem ter
origem, intensidade e frequência diferentes e, portanto, o grau de degradação
é sempre relativo a esses fatores e ao estado inicial do ambiente. O
conhecimento inicial sobre o estado de conservação “ideal” e/ou o que poderia
se considerar um estado desejável para o funcionamento dos ecossistemas têm
que ser fundamentados em determinados critérios ou parâmetros, o que
poderia definir a sua qualidade ambiental. A noção de qualidade ambiental está
intrinsecamente ligada à de degradação, pois somente será possível inferir o
grau de degradação de um ambiente se for possível ter a ideia de até que ponto
os serviços que este propicia e os processos que nele ocorrem estão
minimamente preservados. Ela pode ser usada para estabelecer limites que
dizem respeito ao grau de resistência e resiliência¹ de determinado sistema e
da necessidade de ações de restauração, recuperação e mitigação da
intensidade e frequência dos impactos. A definição de qualidade ambiental
apresenta um certo grau de subjetividade, pois está relacionada com critérios
objetivos que levam em conta estimativas e/ou medições dos impactos
percebidos pela sociedade e também com critérios subjetivos e juízos e valores
daquela sociedade a respeito dos aspectos ambientais a que está submetida
(La Rovere, 2001).

Desta forma, tanto a poluição quanto a degradação ambiental ocasionam uma


mudança negativa no ambiente, provocando uma diminuição na qualidade
ambiental. No entanto, isso depende da intensidade e frequência com que tais
impactos ocorrem e também dos benefícios sociais e econômicos que tais

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mudanças ocasionarão. A consideração de todos os aspectos relacionados com
as modificações que as atividades antrópicas provocam no ambiente são
necessárias para entender e estimar os impactos ambientais.

1Resistência e resiliência são dois conceitos ecológicos que dizem respeito à


capacidade do ambiente de resistir aos impactos, não apresentando alterações
muito significativas ao original em termos de funcionamento e estrutura e à
capacidade do ambiente em, tendo sofrido alteração significativa, voltar ao seu
estado original, respectivamente (Begon, 2006).

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Figura 1.2 Áreas degradas em Nova Friburgo–RJ por efeito das fortes chuvas
ocorridas em janeiro de 2011. Muitas dessas áreas não apresentavam nenhuma
evidência de ocupação, corte de árvores ou qualquer outra forma de impacto
antrópico. (Fonte: autor)

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1.3 Impactos Ambientais

Poluição e degradação ambiental levam a noções extremamente pejorativas no


que tange aos impactos antrópicos no meio. No entanto, as atividades
antrópicas não causam apenas consequências negativas no meio,
especialmente quando considerados aspectos sociais como a geração de
emprego e renda. Segundo a Resolução Conama no 001/86, impacto ambiental
pode ser definido como “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas
e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia, resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam:

I. A saúde, a segurança e o bem-estar da população;


II. As atividades sociais e econômicas;
III. A biota;
IV. As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V. A qualidade dos recursos ambientais”.

Outra definição de impacto ambiental é dada pela NBR ISO 14001,² que o
define como “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica,
que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais³ (elemento das
atividades ou produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com
o meio ambiente) da organização (empresa, corporação, firma,
empreendimento, autoridade ou instituição, ou parte ou uma combinação
desses, incorporada ou não, pública ou privada, que tenha funções e
administração próprias.)”. A família de normas ISO 14000 trata da gestão
ambiental que engloba vários aspectos sobre sistemas de gestão de empresas.
A NBR ISO 14001 trata especificamente dos “requisitos para que um sistema
da gestão ambiental capacite uma organização a desenvolver e implementar
política e objetivos que levem em consideração requisitos legais e informações
sobre aspectos ambientais significativos”. Ela introduz o termo aspecto

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ambiental que tem relação importante com o conceito de impacto ambiental.
Como descrito anteriormente, qualquer elemento resultante de uma cadeia
produtiva (resíduo gerado) é um aspecto ambiental daquela atividade
produtiva. Esse aspecto ambiental pode ou não ser um impacto ambiental, haja
vista que, para ser considerado impacto ambiental, ele deve necessariamente
modificar o meio ambiente.

Para entender melhor, consideremos um aspecto ambiental qualquer, como,


por exemplo, a emissão de “gases estufa” no meio aéreo tais como gás
carbônico (CO2) ou o gás metano (CH4). A emissão desses gases é o resultado
de vários processos produtivos industriais onde haja combustão ou
fermentação. A simples emissão destes gases no meio não necessariamente
poderia ser um problema, pois, se a concentração ou volume for baixa, estes
serão dissipados no meio e absorvidos ou transformados no meio ambiente. No
entanto, se forem lançados em volumes acima daqueles em que o ambiente é
capaz de transformá-los, estes passam a se acumular no meio e podem causar
alterações significativas tais como aumento da capacidade da atmosfera de
absorver calor, irritação e intoxicação de vias respiratórias de seres vivos etc.
Assim, um aspecto ambiental pode gerar impacto ambiental se for significativo,
ou seja, se o seu efeito ambiental4 for significativo.

2A ISO tem como objetivo principal aprovar normas internacionais em todos os


campos técnicos, como normas técnicas, classificações de países, normas de
procedimentos e processos etc. No Brasil, a ISO é representada pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A série de ISO 14000 é constituída por
normas que determinam diretrizes para garantir que determinada empresa
(pública ou privada) pratique a gestão ambiental. Essas normas são conhecidas
pelo Sistema de Gestão Ambiental (SGA).
3Os parênteses foram utilizados para descrever as definições dos conceitos em
negrito dadas pela própria norma.

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4Efeito ambiental pode ser definido como “alteração de um processo natural ou
social decorrente de uma ação humana”. Ela apresenta vários pontos em
comum com a noção de aspecto ambiental, já que ambas representam
interfaces ou mecanismos da relação entre causas e consequências das ações
humanas no ambiente (Sanchez, 2011).

Geralmente, uma atividade envolve uma série de aspectos, tanto negativos


quanto positivos, se considerados também seus aspectos sociais e econômicos.
Qualquer atividade de produção gera emprego, renda e benefícios sociais.
Esses vários aspectos devem ser levados em conta na AIA de uma atividade e
sua relação custo-benefício ambiental, social, econômico e cultural são de
extrema importância. O termo impacto ambiental possui, intuitivamente,
conotação negativa. No entanto, seu verdadeiro significado se refere às
mudanças no meio ambiente, benéficas ou prejudiciais, que se observam ao
comparar os efeitos das ações de um projeto (Okmazabal, 1988). Definir todos
os aspectos ambientais e seus impactos no meio é uma atividade laboriosa por
vários motivos.

Uma delas está relacionada com suas temporalidade e espacialidade, de difícil


previsão. A maioria dos conceitos abrange apenas os efeitos da ação humana
sobre o meio ambiente, ou seja, desconsidera os fenômenos naturais e a
significância temporal e espacial de tais efeitos, o que é “o grau de alteração
de um determinado fator ambiental em função de uma ação humana” (Silva,
1994). Bolea (1984) tenta levar em consideração os aspectos ambientais
temporais que serão afetados ao definir impacto ambiental de um projeto como
“a diferença entre a situação do meio ambiente (natural e social) futuro,
modificado pela realização de um projeto, e a situação do meio ambiente futuro
tal como teria evoluído sem o projeto”. Há uma série de outras definições do
termo impacto ambiental que levam em consideração a relação de ação-reação
entre o estado atual de um ecossistema e sua situação futura após a

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implantação da intervenção ou incidência do impacto (Moreira. 1992;
Westman, 1985).

No entanto, todas elas esbarram na dificuldade de espelhar a complexidade da


dinâmica ambiental que tem como resultado, geralmente, definições que
adquirem um certo caráter reducionista e estático. A principal dificuldade
encontrada na definição de impacto ambiental, e consequentemente na sua
identificação, consiste na própria delimitação do impacto, já que ele se
propaga, espacial e temporalmente, por uma complexa rede de interpelações
difíceis de predizer, em grande parte porque existem fenômenos que ainda não
são bem entendidos uma vez que há deficiências instrumentais e metodológicas
para predizer respostas dos ecossistemas às atividades humanas. Essa questão
torna-se ainda mais crítica quando se trata da dimensão social.

Com o intuito de tentar explicitar a dinâmica espaço-temporal, as definições de


impacto ambiental têm sido esmiuçadas em vários aspectos, a saber:

 Impactos diretos (ou primários) e indiretos (ou secundários):


impactos diretos são os desgastes impostos aos recursos utilizados, os efeitos
sobre os empregos gerados etc. Como impacto indireto decorrente dos
anteriores, pode-se citar, por exemplo, o crescimento demográfico resultante
do assentamento da população atraída pelo projeto, o que gera impactos com
relação ao consumo de recursos e à poluição do meio ambiente (produção de
resíduos).

 Impactos de curto e longo prazos: impactos ambientais de curto


prazo ocorrem normalmente logo após a realização da ação, podendo até
desaparecer em seguida. O impacto ambiental de longo prazo é verificado
depois de certo tempo da realização da ação, como, por exemplo, a modificação
do regime de rios e a incidência de doenças respiratórias causadas pela inalação
de poluentes por períodos prolongados.

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 Impactos reversíveis e irreversíveis.

 Impactos cumulativos e sinérgicos: consideram a acumulação no


tempo e no espaço de efeitos sobre o meio ambiente e seus efeitos de
retroalimentação.

Essas classificações propiciam o entendimento e a definição da magnitude dos


impactos ambientais, ajudando a estabelecer se estes podem ser considerados
“significativos”, ou seja, impactos que necessitam de planos de avaliação e
monitoramento e que não podem ser regulados por normas nem
procedimentos regulatórios mais simples. Mais detalhes serão abordados no
Capítulo 3.

A consideração dos vários aspectos relativos à AIA leva também a diferentes


terminologias. Na literatura de língua inglesa, adotam-se expressões como
“environmental impact assessment” (avalição de impacto ambiental) para
designar estudos que englobam aspectos sociais e ecológicos conjuntamente,
que podem ser chamados de “ecological impact assessment” (avaliação de
impacto ecológico) e “social impact assessment” (avaliação de impacto social)
para os que tratam de aspectos ecológicos e sociais separadamente,
respectivamente. Uma outra expressão posteriormente criada, “integrated
impact assessment“ (avaliação de impacto integrada), refere-se ao estudo do
conjunto de consequências sociais e ecológicas segundo um enfoque holístico
que evidencie os efeitos cumulativos resultantes de suas interações,
requerendo para sua elaboração um conjunto de disciplinas distintas, embora
integradas.

A discussão dos vários aspectos relacionados com a AIA reflete a sua


complexidade. No Brasil, a AIA é realizada sempre de modo global, enfocando
seus diversos aspectos. Portanto, é uma abordagem integrada que não diz

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respeito apenas ao ambiente físico, mas aos diversos aspectos que o compõem.
Nesta apostila adotaremos a definição estabelecida por Sanchez (2008), que,
por sua simplicidade e abrangência, parece a mais adequada: “processo de
exame das consequências futuras de uma ação presente ou proposta”.

Nos próximos capítulos vamos conhecer como esse processo evoluiu e quais
são os conceitos e as metodologias utilizados nos processos de AIA.
Seguiremos adiante com um breve histórico sobre a evolução da AIA e seus
aspectos técnicos e metodológicos serão abordados nos outros capítulos.

2. Histórico e Etapas de um Estudo de Impacto Ambiental

2.1 Introdução

Neste capítulo há um breve histórico sobre a evolução dos estudos de AIA no


mundo e no Brasil e serão estudados alguns aspectos relativos às etapas para
a elaboração desses estudos e sua legislação pertinente. Também serão
abordados quais podem ser seus indicadores, discutindo as aplicações e as
limitações de cada um. Desta forma, pretende-se fornecer um quadro geral
que relacione todos esses aspectos e sua aplicabilidade atual.

2.2 Breve Histórico no Mundo

O início do processo de AIA está intimamente relacionado com o surgimento e


desenvolvimento do movimento ambiental. Até a década de 1960 pouca ou
nenhuma atenção era dada aos efeitos da poluição sobre o meio ambiente. A
partir de 1970 o movimento ambiental toma força e os efeitos da poluição
começam a ser evidenciados. Um marco importante é a publicação do livro de
Rachel Carson intitulado Primavera Silenciosa, que aponta os efeitos do uso de
pesticidas em áreas naturais (Carson, 2013).

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O marco jurídico inicial das AIA aconteceu nos EUA com a criação da sua lei de
política ambiental, a National Environmental Policy Act (Nepa), aprovada em
dezembro de 1969 e em vigor desde janeiro de 1970. Essa lei requer que todas
as agências do governo federal passem a observar vários aspectos na tomada
de decisões que possam causar consequências ambientais negativas. De
maneira geral, a lei obriga a que todas as agências federais utilizem de forma
interdisciplinar e sistemática os conhecimentos científicos e culturais da área
ambiental na tomada de decisões de ações que possam ter impactos
ambientais negativos, estabelecendo métodos e procedimentos adequados
para sua avaliação e a inclusão dessa avaliação em proposta de ação ou
legislação que afetem significativamente o ambiente humano (Nepa, 1970).

Marcos importantes originados pela criação da Nepa foram a criação do


Conselho de Qualidade Ambiental (Council of Environmental Quality [CEQ]),
ente administrativo subordinado diretamente à Presidência da República e que
tinha que assegurar que as agências federais implementassem os requisitos da
Nepa, e do Environmental Impact Statement¹ (EIS), que estabelecia alguns
critérios para o planejamento ambiental. O primeiro era importante, pois
conferia relevância à questão ambiental mediante representação política na
tomada de decisões no âmbito federal. O segundo conferia operacionalidade à
legislação, estabelecendo diretrizes claras para a implementação dos princípios
enunciados pela Nepa (Caldwell, 1977; Sanchez, 2008). Essas diretrizes
estabelecem os fundamentos do que viriam a ser os estudos de impacto
ambiental (EIA) nos EUA e em outros países do Norte que implementaram suas
políticas ambientais nas décadas de 1970 e 1980 (Bellinger et al., 2000;
Sanchez, 2008).

O EIS foi considerado um instrumento interessante, principalmente no que se


refere à participação da sociedade civil nas tomadas de decisão pelos órgãos
ambientais, via audiências públicas (Absy, 1995). No entanto, por conta da
complexidade da aplicação das diretrizes do CEQ, que geravam mudanças nas

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decisões administrativas e novos processos decisórios para todas as agências
do governo federal, e a sua aplicação insatisfatória em vários pontos, é que
houve a necessidade da substituição da aplicação das diretrizes para a
elaboração e a apresentação do EIS. Essa modificação atribuiu às diferentes
agências a elaboração de suas diretrizes e procedimentos, deixando a CEQ com
função de estabelecimento de diretrizes gerais e regulação da aplicação da lei,
podendo atuar como árbitro em determinadas questões conflitantes entre
agências. Desta forma, ocorreu a descentralização dos processos de gestão de
AIA, o que possibilitou que cada órgão pudesse agir de modo independente,
evidentemente seguindo as diretrizes gerais estabelecidas pelo órgão supremo.

A aplicação da AIA em outros países seguiu-se à dos EUA e ocorreu em primeiro


lugar em alguns países do Norte de colonização britânica por conta das suas
similaridades no sistema jurídico e com relação aos impactos ambientais. Em
países da Europa o modelo americano não foi bem visto inicialmente, mas,
posteriormente (em 1975), a Comissão Europeia iniciou a elaboração de uma
diretiva que obrigava a elaboração de estudos de impactos ambientais para
atividades de significativo impacto ambiental. Tal diretiva ficou pronta 10 anos
mais tarde (Sanchez, 2008).

Muitos países da comunidade europeia já adotavam alguma modalidade de


AIA, geralmente associada ao planejamento territorial, mas apenas a França
possuía um sistema formalizado por lei (Wathern, 1988). Dentre os países da
comunidade europeia, vale destacar a legislação francesa  primeiro país a
adotar de forma legal a AIA. A França, por conta de diferenças em seu regime
jurídico, apresentou peculiaridades importantes com relação ao sistema
americano. Uma delas, e talvez uma das mais importantes para nós, é a
exigência de realização do estudo por parte do próprio interessado na atividade
e/ou no empreendimento, seja ele público ou privado, diferentemente da
legislação americana, na qual a aplicação se limita a propostas públicas federais
ou decisões do governo federal sobre iniciativas privadas (Sanchez, 2008).

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Outros marcos importantes que colaboraram para a discussão da disseminação
e implementação dos processos de AIA no mundo foram aqueles
proporcionados pelos acordos internacionais e a pressão feita pelos bancos de
financiamento e desenvolvimento multilaterais.

O primeiro dos acordos internacionais na história da construção das AIA foi a


realização da Conferência de Estocolmo em 1972. Em sua declaração, a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano faz sete
proclamações sobre a responsabilidade e a necessidade dos vários atores
(países, cidadãos e empresas) em se responsabilizar e tomar medidas de
preservação do meio ambiente com base na necessidade da própria existência
da vida humana no planeta e da melhoria e manutenção de sua qualidade. Essa
carta contém 26 princípios básicos sobre diretrizes que devem ser adotadas ou
observadas em âmbito internacional. Podem ser considerados os mais
diretamente relacionadas com ações de AIA os seguintes princípios:

“Princípio 5
Os recursos não renováveis da terra devem empregar-se de forma que se evite
o perigo de seu futuro esgotamento e se assegure que toda a humanidade
compartilhe dos benefícios de sua utilização.

Princípio 6
Deve-se por fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais que
liberam calor, em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não
possa neutralizá-los, para que não se causem danos graves e irreparáveis aos
ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra
a poluição.

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Princípio 7
Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição
dos mares por substâncias que possam por em perigo a saúde do homem, os
recursos vivos e a vida marinha, menosprezar as possibilidades de
derramamento ou impedir outras utilizações legítimas do mar”.

Tais princípios referem-se direta e explicitamente aos perigos da poluição e à


necessidade de ações de preservação de recursos naturais não renováveis. A
preocupação com outras formas de degradação vem mais explicitamente
definida nos Princípios 13 e 14, que fazem uma correlação direta entre a
proteção do meio ambiente e o desenvolvimento:

“Princípio 13
Com o fim de se conseguir um ordenamento mais racional dos recursos e
melhorar assim as condições ambientais, os Estados deveriam adotar um
enfoque integrado e coordenado de planejamento de seu desenvolvimento, de
modo a que fique assegurada a compatibilidade entre o desenvolvimento e a
necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano em benefício de
sua população.

Princípio 14
O planejamento racional constitui um instrumento indispensável para conciliar
às diferenças que possam surgir entre as exigências do desenvolvimento e a
necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente”.

Esse documento reforçou as necessidades de se promoverem ações de


preservação do meio ambiente em âmbito mundial, e muitos princípios desse
documento são adotados como diretrizes para a elaboração de sistemas que
tentem conciliar desenvolvimento e preservação ambiental. A preocupação com
a ampliação e normatização destes sistemas aparece também em outros
documentos internacionais como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

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Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) (a Rio-92), que em três de seus
documentos, a Declaração do Rio, a Agenda 21 e a Convenção sobre
Diversidade Biológica (CDB), inclui em seus princípios e capítulos menções a
AIA. A elaboração desses documentos suscitou uma série de discussões, e,
embora alguns deles, como, por exemplo, a Agenda 21 tenham pouco efeito
normativo (Soares 2003), eles acarretaram uma série de ações em outros
países, como a criação de novas leis sobre o assunto e até mesmo tratados
internacionais multilaterais como a Convenção sobre Avaliação de Impacto
Ambiental em um Contexto Transfronteiriço (Convenção de Spoo), promovida
pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (Sanchez, 2008).

Os bancos (Banco Mundial [BID] e Banco Interamericano de Desenvolvimento


[BIRD]) e as agências de desenvolvimento multilaterais (USAID e OCDE),
pressionados pelas organizações não governamentais (ONG) ambientalistas e
pela sociedade civil nos EUA e na Europa foram também pressionadas a
elaborar estudos de AIA para suas atividades e acordos de cooperação, o que
levou outras agências do mundo (ACDI/CIDA, no Canadá, e Danida, na
Dinamarca) a também estabelecerem seus procedimentos de avaliação de
projetos no que concerne a AIA (Sanchez, 2008).

Considerando-se o histórico, pode-se perceber que a implementação das ações


de AIA no mundo foi, em grande parte, resultado de significativa pressão da
sociedade civil e do movimento ambiental organizado, os quais tiveram papel
relevante em pressionar as autoridades para a implementação das ações que
visem ao cuidado de empreendimentos que afetem a qualidade de vida
humana. Foi e ainda é por intermédio dessas pressões que muitos dos
processos de licenciamento de grandes obras e empreendimentos têm seu
avanço diminuído ou mesmo impedido por conta do aspecto duvidoso de seus
impactos ambientais, sociais e culturais, por mecanismos que possibilitam a
participação direta de segmentos sociais no processo de licenciamento
ambiental. Veremos agora um pouco do histórico da AIA no Brasil.

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1Segundo o Oxford Dictionary, statement pode ser definido como algo que
alguém diz ou escreve oficialmente ou uma ação feita para expressar uma
opinião.

2.3 Histórico Brasileiro e Legislação

Historicamente, desde a época do Brasil colônia já existiam algumas


preocupações com relação ao uso dos recursos naturais. No século XVIII, a
Coroa Portuguesa editou medidas e alvarás para racionalizar o uso de madeiras
de lei para a construção naval e para a derrubada dos mangues utilizados em
curtumes (Dean, 2002). Desde essa época, impactos relativos à mineração e à
expansão das fronteiras agrícolas também já eram percebidos como grandes
entraves ao desenvolvimento nacional (Pádua, 1987, 2002).

Na legislação brasileira, houve uma grande quantidade de leis promulgadas na


década de 1930 as quais visavam racionalizar o uso dos recursos naturais, dada
a intensa fase de industrialização promovida por Getúlio Vargas (Sanchez,
2008). Datam dessa época o Código de Águas (1934), o Código Florestal
(1934), o Código de Minas (1934), o Decreto-Lei de Proteção ao Patrimônio
Histórico, Artístico e Arqueológico (1937) e o Código de Pesca (1938). Essas
leis visavam regulamentar o uso de recursos específicos atendendo às
demandas da época e, portanto, não se constituíam em uma política ambiental
brasileira. No entanto, já apresentavam avanços no que diz respeito à proteção
de áreas naturais tais como o estabelecimento de florestas protetoras pelo
código florestal, reconhecendo as funções desses ambientes em vários
aspectos tais como regulação do volume de águas e conservação das espécies
(Sanchez, 2008).

No governo militar houve a revisão de vários códigos promulgados na década


de 1930. Cabe ressaltar as modificações ao código florestal brasileiro, o que

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 21


resultou no Código Florestal de 1964. Dentre essas modificações, por exemplo,
há a criação das áreas de preservação permanentes (APP), áreas florestadas
ao redor de corpos hídricos e em regiões de instabilidade ou fragilidade
geomorfológica.

Uma conjunção de fatores internos e externos propiciaram a evolução das


políticas ambientais no Brasil levando a implementação da AIA (Pádua, 1991).
Como fatores externos, assim como aconteceu em outros países em
desenvolvimento, a implementação de ações de AIA era exigência de
organismos multilaterais de financiamento como o BIRD e o BID. Alguns
projetos do final da década de 1970 e início da de 1980, como a usina
hidrelétrica de Sobradinho e o ponto de exportação de minério da Companhia
Vale do Rio Doce, financiados pelos órgãos anteriormente citados, tiveram que
realizar seus estudos de impacto ambiental (Sanchez, 2008). Tais estudos
foram conduzidos com base em normas internacionais, já que o Brasil ainda
não havia desenvolvido normas próprias (Absy et al., 1995). Como fatores
internos, podemos citar o surgimento de atividades desenvolvidas no meio
acadêmico, os movimentos sociais e os setores dos movimentos ambientalistas
que apontavam, nos projetos de desenvolvimento, a exclusão social, os
impactos ambientais relacionados aos mesmos (Tundisi, 1978; Lutzemberger,
1980) e o problemas ambientais, principalmente a poluição e a escassez de
água, relacionados com as atividades da indústria e com o uso e ocupação do
solo.

Para a consolidação das ações de AIA no Brasil, não somente as inciativas e as


leis no âmbito federal foram importantes, também as leis e as ações realizadas
nos âmbitos estaduais, pois a institucionalização da avaliação de impactos
ambientais foi primeiramente realizada nesses níveis. Particularmente, a
experiência do Rio de Janeiro serviu de base para a regulamentação da AIA no
país. Foi a implementação de um sistema estadual de licenciamento de fontes
de poluição que possibilitou que se estabelecessem as bases para a análise dos

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 22


licenciamentos ambientais e, mais tarde, a exigência de um relatório de
impacto ambiental, o que permitiu uma abrangência maior na análise dos
problemas ambientais envolvidos, não os restringindo apenas às questões de
poluição (como já discutido no capítulo). O comprometimento dos profissionais
dos órgãos públicos envolvidos na implementação da AIA e o desenvolvimento
técnico desses profissionais teve grande importância no processo de
regulamentação da AIA no país (Sanchez, 2008).

A AIA surge como instrumento legal pela primeira vez na Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei no 6.938/81), que institui no plano federal a avaliação de
impacto ambiental e o licenciamento ambiental, antes somente existentes em
alguns estados. Antes dela, legislações específicas sobre a aplicação de AIA
para subsidiar “áreas críticas de poluição” (Lei no 6803/80) e um projeto de lei
sobre zoneamento industrial, que previa a delimitação de zonas de uso
exclusivamente industrial, já previam avaliações de impacto ambiental para a
execução dessas atividades no âmbito federal (Machado, 2003). Em seus
artigos 10 (este com redação determinada pela Lei no 7804/1989) e 11, inserem
a obrigatoriedade da realização do licenciamento ambiental, estipulando como
deve ser dada publicidade ao processo e delimitam as responsabilidades do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) na elaboração,
acompanhamento e fiscalização das atividades de licenciamento ambiental
(PNMA, 1981). No seu artigo 12, determina que as entidades e órgãos de
financiamento e incentivos governamentais também tenham a concessão de
seus benefícios a aprovação do licenciamento e condicionadas a realização de
obras e aquisição de equipamentos destinados ao controle da degradação
ambiental e à melhoria na qualidade de vida. Muitos artigos dessa lei tiveram
a redação de seu caput alterada pela Lei no 7804/1989 ou regulamentada pela
Lei no 99274/1990, dentre os principais motivos é que com a Lei 7735/1989 o
IBAMA é criado e outras entidades autárquicas são extintas tais como a

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 23


Secretaria Especial ao Meio Ambiente (Sema) e a Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca (Sudepe).

Em 1986, é aprovada a Resolução Conama no 001. Esta surge como


necessidade de implementação pelo Conama do exercício das
responsabilidades que lhe são atribuídas pelo artigo 18 do Decreto no
88.351/83, que estabelece os princípios gerais para o licenciamento ambiental,
inclusive os itens relativos à elaboração do relatório de impacto ambiental
(Rima) e do estudo de impacto ambiental (EIA) (EIA/Rima). Este artigo passa
a ser o de número 17 nas modificações implementadas pelo Decreto Federal
no 99.274, de 6 de junho de 1990.

A Resolução Conama no 001/86 também define o escopo de aspectos a serem


contemplados nesses estudos e discrimina os tipos de atividades que deverão
passar pelo processo de licenciamento ambiental, definindo o papel dos órgãos
competentes no processo e as responsabilidades de condução do processo por
parte dos atores envolvidos. Cabe ressaltar a similaridade com a legislação
francesa no que diz respeito a atribuições de responsabilidades de condução
dos estudos e relatórios por parte dos requerentes do empreendimento,
diferentemente da legislação americana em que o responsável é o órgão
público. No mesmo ano, a Resolução Conama no 006 trata dos modelos de
publicação de pedidos de licenciamento, em quaisquer de suas modalidades,
sua renovação e a respectiva concessão de licença, constando instruções para
a publicação em jornal oficial do Estado e periódicos de grande circulação, e a
Resolução Conama no 011 altera e acrescenta atividades no artigo 2o.

Um marco legislativo importante no que diz respeito à participação social nos


processos de licenciamento foi a promulgação da Resolução Conama no 009/87,
que dispõe sobre a questão das audiências públicas e regulamenta os processos
de chamada e execução de tais audiências, colocando como documento dos
estudos de AIA as atas e os anexos provenientes de tais audiências. Mais à

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 24


frente veremos que, atualmente, existe uma série de outros mecanismos de
participação social nos processos de licenciamento. Nesse mesmo ano, a
Resolução Conama no 006 estabelece regras gerais para o licenciamento
ambiental de obras de grande porte de interesse relevante da União, como a
geração de energia elétrica, e a Resolução Conama no 010 estabelece como
pré-requisito para licenciamento de obras de grande porte a implantação de
uma estação ecológica pela instituição ou empresa responsável pelo
empreendimento com a finalidade de reparar danos ambientais causados pela
destruição de florestas e outros ecossistemas.

Em 1988, a Constituição Federal deixa explícito em seu artigo 225 a


responsabilidade de todos em relação à manutenção da qualidade do meio
ambiente para esta e outras gerações futuras e, no seu inciso IV, estabelece o
vínculo entre os estudos de impacto ambiental e o licenciamento e a
obrigatoriedade de sua publicidade. Essa modificação na constituição selou o
arcabouço legislativo básico sobre o qual após se sucederam algumas
modificações de regulamentação e aprimoramento para a realização das
atividades de AIA no Brasil que formam o arcabouço legal atual. As principais
delas são descritas a seguir.

Ainda em 1988, a Resolução Conama no 005 dispõe sobre licenciamento das


obras de saneamento para as quais seja possível identificar modificações
ambientais significativas e a Resolução Conama no 008 dispõe sobre
licenciamento de atividade mineral, o uso do mercúrio metálico e do cianeto
em áreas de extração de ouro.

O Decreto no 99274, promulgado em 1990, no Capítulo 4, trata do


licenciamento ambiental de atividades utilizadoras de recursos ambientais,
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como dos
empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental e, no Capítulo 5, seus artigos apresentam modificações importantes

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 25


como, por exemplo, a não obrigatoriedade do Rima em casos de sigilo
industrial. Também estabelece em seu Capítulo 18 a regulamentação da
capacidade de determinação de redução das atividades poluidoras por parte do
Ibama, e no seu Capítulo 19 regulamenta os tipos de licença que este pode
conceder, discriminando o que é licença prévia (LP), licença de instalação (LI)
e licença de operação (LP).

Ainda em 1990, duas resoluções Conama tratam especificamente do


licenciamento de atividades de extração mineral. A Resolução Conama no 009
estabelece normas específicas para o licenciamento ambiental de extração
mineral de diversas classes e a Resolução Conama no 010 estabelece critérios
específicos para o licenciamento ambiental de extração mineral da classe II.
Tais classes foram estabelecidas pelo Decreto-Lei no 227, de 28 de fevereiro de
1967.

A Resolução Conama no 237/1997 revê os procedimentos e os critérios


utilizados no licenciamento ambiental dando nova regulamentação à vários
aspectos da legislação anterior. Dentre elas, podem-se destacar a
discriminação, de forma mais detalhada, de empreendimentos e atividades que
estão sujeitos ao licenciamento ambiental e a regulamentação das etapas do
procedimento de licenciamento. É importante ressaltar que no seu artigo 12 a
resolução prevê que o órgão ambiental pode definir procedimentos específicos
dadas as características e peculiaridades de atividades ou empreendimento,
podendo haver simplificação do processo para empreendimentos de pequeno
impacto ambiental, para grupos de empreendimentos e atividades similares
pequenos e vizinhos e para a simplificação também de empreendimentos que
implementem planos e programas voluntários de gestão ambiental. Em 2001,
com a Resolução Conama no 279 os procedimentos de licenciamento ambiental
foram simplificados para empreendimentos elétricos de pequeno potencial de
impacto ambiental.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 26


Posteriormente, outras resoluções Conama foram sendo promulgadas em
aspectos mais específicos da legislação, tais como os requisitos mínimos e
termos de referência para a realização de auditorias ambientais (Conama
306/2002), os casos de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto
ambiental que possibilitam a supressão de vegetação em áreas de preservação
permanente (APP) (Conama 369/2006), o licenciamento ambiental simplificado
de sistemas de esgotamento sanitário (Conama 377/2006) e o licenciamento
ambiental de novos empreendimentos destinados à construção de habitações
de interesse social (Conama 412/2009). Todas essas resoluções visavam à
facilitação da implementação de projetos de forte interesse na agenda política
do governo vigente na época.

Atualmente, a legislação ambiental brasileira prevê uma série de tipos de


estudos que não EIA e Rima, como, por exemplo, o plano de recuperação de
áreas degradadas (Prad), o relatório de controle ambiental (RCA), o estudo de
impacto de vizinhança (EIV), entre outros que foram surgindo dada a
necessidade de contemplar aspectos peculiares de determinados impactos e
suprir outras demandas. Esses tipos de estudo serão abordados
posteriormente. De maneira complementar, muitos manuais de órgãos
estaduais têm sido elaborados, e uma vasta legislação, nos âmbitos estadual e
municipal, tem sido criada.

Estudaremos agora as etapas do licenciamento ambiental e alguns aspectos


que devem ser contemplados em sua elaboração.

2.4 Definição, Tipos e Etapas do Licenciamento Ambiental

Segundo a Resolução Conama no 237/97, o licenciamento ambiental é um


procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia
localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades
utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 27


poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação
ambiental. Pode-se dizer que, atualmente, o licenciamento ambiental tem
funções de caráter preventivo e corretivo. Como função preventiva, a ideia é
fazer ajustes e modificações necessárias nos projetos de obras e
empreendimentos que possam reduzir possíveis danos ao meio ambiente
decorrentes de suas atividades. Tais reduções devem contemplar os diferentes
aspectos ambientais, sociais e culturais das atividades propostas. Como função
corretiva, o licenciamento pode ser condicionado à realização de ações de
compensação necessárias para a mitigação de tais atividades.

Essas funções foram definidas quando da promulgação do Decreto no


99274/1990, em que foram determinados três tipos de licença, definidas de
acordo com as etapas da obra ou empreendimento:

 Licença prévia: é solicitada na fase de planejamento do


empreendimento ou atividade ou no caso de alteração e ampliação deste. Este
precede as fases de instalação e operação e seu objetivo principal é avaliar
quais possíveis danos ao meio ambiente podem ser causados por tais atividades
e que condições são necessárias para o prosseguimento de elaboração do
projeto. Nessa fase devem ser observados os planos municipais, estaduais ou
federais de uso de solo.

 Licença instalação: autoriza a instalação do empreendimento ou


atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas
e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais
condicionantes.

 Licença de operação: autoriza o início da operação da atividade ou


empreendimento, após a verificação dos requisitos e do cumprimento das
exigências constantes nas LP e LI.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 28


Os prazos de validade das licenças mencionadas anteriormente são
estabelecidos pelos órgãos ambiental competente, tendo LP e LI prazo máximo
de, respectivamente, 5 e 6 anos e a LO prazo mínimo de 4 e máximo de 10
anos. O órgão ambiental pode alterar os prazos de validade previamente
concedidos a uma determinada licença, porém estes não podem ultrapassar os
limites máximos discriminados anteriormente.

A exigência desses três tipos de licença segue a lógica do cumprimento de


etapas em que é possível ter maior controle e previsibilidade nas alterações
que os empreendimentos podem causar no meio ambiente, estabelecendo de
antemão seu grau e, quando for o caso, reduzindo-o a níveis aceitáveis. O rol
de empreendimentos e atividades sujeitas ao licenciamento ambiental estão
relacionados no Anexo 1 da Resolução Conama no 237/1997 e são
discriminados nos seguintes tipos de atividades: extração e tratamento de
minerais, indústria de produtos minerais não metálicos, indústria metalúrgica,
indústria mecânica, indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações,
indústria de material de transporte, indústria de madeira, indústria de papel e
celulose, indústria de borracha, indústria de couros e peles, indústria química,
indústria de produtos de matéria plástica, indústria de produtos alimentares e
bebidas, indústria de fumo, indústrias diversas (produção de concreto, asfalto
e galvanoplastia), obras civis, serviços de utilidade, transporte, terminais e
depósitos, turismo, atividades diversas, atividades agropecuárias e uso de
recursos naturais. Para cada um desses itens (tipos de atividade) há uma série
de subitens que detalham que atividades estão compreendidas em cada um
deles. Por exemplo, no item atividades diversas compreende o parcelamento
do solo e a instalação de distrito e polo industrial. Pode-se perceber nessa
resolução a preocupação em determinar um escopo meticuloso das atividades
que devem ser submetidas ao licenciamento, não dando margem a
interpretações dúbias no que diz respeito ao que é ou não uma atividade que
possa causar impacto ambiental.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 29


Além disso, esse detalhamento é importante, pois, para cada tipo de licença, é
necessário um conjunto diferente de documentos determinada pelo órgão
licenciador responsável (municipal, estadual ou federal).

Segundo o artigo 10 da Resolução Conama no 237/1997, as etapas do


procedimento de licenciamento ambiental são as seguintes:

I- definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do


empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários
ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser
requerida;

II- requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado


dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida
publicidade;

III- análise pelo órgão ambiental competente, integrante do Sistema


Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), dos documentos, projetos e estudos
ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando
necessárias;

IV- solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental


competente, integrante do Sisnama, uma única vez, em decorrência da análise
dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber,
podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e
complementações não tenham sido satisfatórios;

V- audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação


pertinente;

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 30


VI- solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental
competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo
haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e as
complementações não tenham sido satisfatórios;

VII- emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer


jurídico;

VIII- deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida


publicidade.

Existem ainda mais dois tipos de licença para empreendimentos que foram
construídos antes de as regras de licenciamento serem elaboradas: a licença
de instalação corretiva (LIC), que é direcionada para empreendimentos
instalados ou em instalação e que ainda não procederam ao licenciamento
ambiental, e a licença de operação corretiva (LOC), que é direcionada para
empreendimentos em operação e que ainda não procederam ao licenciamento
ambiental (Fiemig, sem ano). Veremos um estudo de caso de LOC no estudo
de caso do Capítulo 8.

3 . Avaliação de Impacto Ambiental, suas Fases e Indicadores

3.1 Introdução

A AIA é um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938/81)


formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o início
do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de
uma ação proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas
alternativas, que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao
público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles devidamente
considerados. Ela é realizada em três etapas: triagem, identificação, previsão

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 31


e interpretação da importância dos impactos ambientais relevantes (Silva,
1994a). Neste capítulo estudaremos as fases da AIA, bem como os indicadores
ambientais utilizados para a sua elaboração.

3.2 Fases da Avaliação de Impacto Ambiental

A AIA pode funcionar como instrumento para duas finalidades diferentes. A


primeira é ser um instrumento auxiliar do processo de decisão, representando
um método de análise sistemática, por meio de parâmetros técnico-científicos,
dos impactos ambientais associados a um determinado projeto. A segunda é
ser instrumento de auxílio ao processo de negociação  esta vertente, político-
institucional, atribui para a AIA um papel de interlocutor entre os projetos
públicos e/ou privados com a sociedade na qual esses projetos estão inseridos.

A AIA é necessária para empreendimentos que gerem impactos ambientais


“significativos”. A definição de impactos ambientais significativos depende da
relação entre a capacidade de resistência ou resiliência dos ecossistemas e da
magnitude do impacto gerado. Empreendimentos que gerem impactos
ambientais de pequena magnitude podem ser controlados por normas e regras
de controle da geração e disposição final de resíduos, não sendo assim
necessária a realização de estudos completos de AIA, apenas o cumprimento
das normas já estabelecidas pela legislação (Sanchez, 2006). Um exemplo é o
licenciamento de postos de gasolina. No Brasil, a legislação pertinente à
atividade de armazenamento e distribuição de combustível é a no 237/97, que
cita a atividade como sendo sujeita ao licenciamento ambiental. No entanto, o
Conama publicou a Resolução no 273/2000, com a principal finalidade de
padronizar os procedimentos e o licenciamento das atividades que possuem
armazenagem de combustíveis, como os postos de gasolina e transportadores-
revendedores-retalhistas (Lorenzett, 2010). Essa resolução é bem clara no que
diz respeito à responsabilidade dos postos de combustíveis, pois dispõe que,
em caso de acidentes ou vazamentos que apresentem situações de perigo ao

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 32


meio ambiente ou às pessoas, bem como na ocorrência de passivos ambientais,
proprietários, arrendatários ou responsáveis pelo estabelecimento,
equipamentos, sistemas e os fornecedores de combustíveis que abastecem ou
abasteceram a unidade responderão solidariamente pela adoção de medidas
para controle da situação emergencial e para o saneamento das áreas
impactantes.

Essa mesma resolução também diz que os equipamentos e sistemas destinados


ao armazenamento e à distribuição de combustíveis automotivos, assim como
sua montagem e instalação, deverão ser avaliados quanto à sua conformidade
no âmbito do Sistema Brasileiro de Certificação. Previamente à entrada em
operação e com periodicidade não superior a 5 anos, os equipamentos e
sistemas deverão ser testados e ensaiados para a comprovação da inexistência
de falhas ou vazamentos, segundo procedimentos padrões, de maneira que
possibilite a avaliação de sua conformidade no âmbito do Sistema Brasileiro de
Certificação (Figura 3.1). Assim, a correta observação das normas na instalação
e operação desse tipo de empreendimento exime-o de um processo de AIA
completo.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 33


Figura 3.1 A) Canaletas utilizadas para recolhimento de água contaminada por
resíduos de óleo. B) Caixa de separação de óleo e resíduos.

Em ambientes que possuem funções ecológicas ou culturais importantes tais


como zonas de recarga de aquíferos, cenários de grande beleza cênica, regiões
de solos cársticos (solos calcários frágeis, geralmente associados a existência
de ambientes espeleológicos), regiões de alta biodiversidade ou de ocorrência
de espécies endêmicas, entre outros, sobretudo onde os impactos têm caráter
irreversível, cumulativos ou sinérgicos, a realização completa da AIA é
obrigatória.

A primeira etapa da AIA é a triagem que consiste em classificar os tipos de


empreendimentos de acordo com o seu potencial poluidor. Tais listas
classificam os empreendimentos pelo seu potencial poluidor em

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 34


empreendimentos que necessitam de estudo de impacto prévio, chamados de
listas positivas, e aqueles empreendimentos que, a princípio, não necessitam
de tais estudos, chamados de listas negativas. Tais listas são classificações
prévias genéricas do potencial poluidor dos empreendimentos e facilitam
bastante o processo de AIA. No entanto, características locais das áreas onde
serão instalados os empreendimentos devem ser observadas. Áreas de
relevante interesse ecológico, por exemplo, necessitam de estudos de AIA
independentemente do tipo de empreendimento. Por exemplo, o Decreto
Federal no 99556/1990 estabelece a necessidade de preparação de EIA para
obras ou empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio espeleológico
nacional. Esse e outros tipos de ambientes são considerados especiais por
conta de sua beleza cênica, vulnerabilidade e razões de ordem histórica e social
e exigem a realização de EIA independentemente do tipo de empreendimento
(Ibama/MMA 2001). A aplicação direta de tais critérios é problemática, pois
existe uma diferença grande entre tipos de empreendimentos e a delimitação
clara se eles podem ou não causar impactos ambientais significativos; cada
caso deve ser considerado com cuidado. Em casos nos quais a aplicação dos
critérios mencionados suscita dúvidas sobre a necessidade de se elaborar um
EIA completo pode-se recorrer à elaboração de estudos preliminares. Em São
Paulo, por exemplo, por intermédio da Resolução SMA no 42/94, criou-se uma
avaliação inicial chama de relatório ambiental preliminar (RAP) para os casos
de projetos cujos potenciais de impacto não são evidentes.

Para que os critérios de triagem sejam aplicados é necessário que o


empreendedor apresente um memorial descritivo do projeto, com informações
essenciais tais como: local do projeto, suas características ambientais e do
entorno e descrição do projeto e suas alternativas. Esses documentos são
fundamentais para que o órgão competente possa analisar o projeto com base
nos critérios acima expostos. É importante também dar-se publicidade ao
projeto nessa etapa e nas etapas seguintes para que a opinião pública se
manifeste caso haja algum problema, evitando assim transtornos futuros. As

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 35


etapas que compõem um processo de AIA estão esquematicamente resumidas
na Figura 3.2.

Figura 3.2 Etapas do processo de AIA. (Fonte: Prof. Eduardo Lucena Cavalcanti
de Amorim, disponível em
http://www.ctec.ufal.br/professor/elca/Aula%20Conceitos%20AIA2.pdf,
acesso em 20/02/2016)

A identificação dos impactos ambientais apresenta dificuldades inerentes à sua


delimitação espaço-temporal, exigindo ampla análise de toda uma possível
gama de interações, o que a torna de difícil execução. Outro problema reside
na natureza diferenciada desses efeitos, o que dificulta o estabelecimento de
um padrão de mensuração comum. A fase de predição dos impactos ambientais
também envolve limitações instrumentais relativas à previsão do
comportamento de ecossistemas complexos. Essa fase é normalmente
chamada na literatura interacional de scoping, que, em português, pode ser
definido como escopo do projeto.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 36


Normalmente ela é feita pela elaboração de um termo de referência (TR). Nesse
documento o órgão ambiental apresenta os aspectos relevantes que devem ser
abordados e indicações de como o problema deve ser abordado, que tipo de
estudo, duração e periodicidade deste. Alguns podem chegar a um nível de
detalhamento bastante alto, como, por exemplo, indicar espécies da flora e
fauna que devem ser monitoradas. Em algumas jurisdições, como, por
exemplo, Rio de Janeiro e São Paulo, o TR é elaborado a partir de um plano de
trabalho que deve ser elaborado e entregue pelo empreendedor. O plano de
trabalho deve explicitar os aspectos a serem analisados, bem como as
metodologias necessárias para o estudo, e com base nesse documento o órgão
ambiental faz o TR. No Brasil, as jurisdições que adotam uma sistemática
estruturada para a realização de TR dão nomes distintos a esse documento. No
Rio de Janeiro, por exemplo, o TR é denominado Instruções Técnicas (Art. 2o,
Lei no 1356/1988).

A consulta à legislação vigente fornece uma boa referência das restrições e


aspectos que podem influenciar a elaboração tanto do plano de trabalho quanto
do TR. A consulta a convenções internacionais e outros documentos de
entidades governamentais, não governamentais que tratem de diversidade
biológica e preservação de áreas de relevância para o patrimônio ambiental,
histórico e cultural fornecem uma boa referência para a identificação de
elementos relevantes do ambiente (Beanlands & Duinker, 1983). Uma fonte de
consulta interessante é a página da International Association for Impact
Assesment (IAIA) (http://www.iaia.org). Nessa página pode ser encontrada
uma bibliografia vasta sobre a identificação de elementos relevantes para EIA.
Essa identificação, quando colocada sob a ótica tanto dos profissionais que vão
analisar o processo quanto do público interessado, pode ajudar a identificar
tais elementos. Muitas vezes espécies da fauna e flora podem não estar em
listas de espécies ameaçadas de extinção, mas possuir valor cultural ou
medicinal valorizado localmente pelas populações. A concepção moderna de
AIA incorpora o público em diferentes fases do processo. Embora seja de difícil

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 37


operacionalização, isso reduz o nível de subjetividade presente na avaliação e
também evita que este seja um entrave grande para o andamento do processo
de AIA no futuro, evitando conflitos antes não previstos.

Por esse motivo, é preciso levar em consideração na formulação do TR diversas


alternativas ao projeto original, confrontando com a alternativa de não realizá-
lo, segundo estipula a Resolução Conama no 1/86 no seu art. 5o: “contemplar
todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-se
com a hipótese de não realização do projeto”. A realização de um elenco de
alternativas possíveis ajuda a evitar problemas futuros, auxiliando inclusive que
os EIA não tenham que ser refeitos várias vezes.

Identificando-se a necessidade de elaboração do EIA, seguem-se as fases de


identificação dos impactos, predição e avaliação. Atualmente, também são
utilizadas as etapas de definição de objetivos e de monitoramento,
denominadas de fases de pré e pós-impacto, respectivamente (Westman,
1985). Enquanto a primeira induz à ampliação e ao aprimoramento da
discussão dos objetivos do estudo sob as diferentes óticas dos atores
envolvidos antes do início do processo, a segunda propicia uma realimentação
fundamental para a avaliação que opera, frequentemente, com um elevado
grau de incerteza. Também é possível, em casos previstos na Resolução no
279/2001, que o empreendedor apresente um relatório de avaliação
simplificado (RAS), que, como o próprio nome diz, é uma simplificação do
documento de EIA dado o baixo potencial de impacto de certas atividades
(abordaremos esse instrumento com mais detalhes no capítulo seguinte). Os
métodos para predição e avaliação dos impactos ambientais serão vistos no
Capítulo 7.

Convém ressaltar que, embora o EIA/Rima seja o principal documento em um


processo de avaliação de impactos ambientais, outros relatórios possíveis
podem ser elaborados dependendo do caso, alguns deles podem até mesmo

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 38


substituir o EIA/Rima. Os principais são o plano de controle ambiental (PCA), o
RCA, o Prad e o RAS (este já discutido). Apesar de não haver diretrizes
específicas regulamentadas pelo Conama para a elaboração de PCA, RCA, Prad
e outros, estes são considerados estudos ambientais, em virtude do referencial
teórico implícito na legislação pertinente (análise dos efeitos ambientais da
ação antrópica) e da sequência dos procedimentos requeridos por estes serem
basicamente os mesmos da Resolução Conama no 001/86 para elaboração de
EIA/Rima (Absy et al., 1995).

O PCA é exigido pela Resolução Conama no 009/90 para concessão de LI de


atividade de extração mineral de todas as classes previstas no Decreto-Lei no
227/67. O RCA é exigido pela Resolução Conama no 010/90, na hipótese de
dispensa do EIA/Rima, para a obtenção de LP de atividade de extração mineral
da classe II, prevista no Decreto-Lei no 227/67 (classe II  jazidas de
substâncias minerais de emprego imediato na construção civil). Por último, o
Prad tem sido utilizado para a recomposição de áreas degradadas pela
atividade de mineração. É elaborado de acordo com as diretrizes fixadas pela
NBR 13030, da ABNT, e outras normas pertinentes. Não há diretrizes para
outros tipos de atividade.

3.3 Indicadores Físico, Químicos, Biológicos e Socioeconômico-


Culturais De Impactos Ambientais

Indicadores ambientais podem ser definidos como “ferramentas de


acompanhamento de alteração de padrões ambientais e de estratégias de ação
sobre o meio ambiente através da análise sistemática e da expressão sintética
das evoluções temporais e/ou espaciais, em relação a uma situação de
referência, com o objetivo de estabelecer metas e verificar eficiência e eficácia
das ações” (Sema, 1991). Eles têm caráter diagnóstico diante de uma situação
que se quer avaliar e são compostos por variáveis e/ou parâmetros que servem
como medidas da magnitude do impacto ou das condições ambientais que se

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 39


quer analisar (Munn, 1975; Moreira, 1992). Eles são construídos a partir de
uma série de dados analisados e podem ser utilizados em conjunto para a
elaboração de índices que expresse um conjunto de características ambientais.
Algumas características devem ser observadas para a realização de coletas que
possam se constituir em boas séries históricas e que possam permitir a seleção
de indicadores, em vários níveis hierárquicos (ecossistêmas, comunidades
etc.), que permitam a detecção dos padrões e processos ecológicos de
funcionamento dos ecossistemas e as alterações advindas dos impactos
antrópicos nestas características (Simberloff, 1998). Uma das dificuldades na
utilização dessa abordagem é a definição clara de que indicadores devem ser
utilizados e com que frequência (Lindenmayer et al., 1999).

Em se tratando de impactos provocados pela poluição, atualmente existem uma


série de indicadores ambientais que já estão estabelecidos, estando seus limites
e variações já estabelecidos em resoluções e normas técnicas, que podem ser
utilizados para a avaliação e o monitoramento dos diversos “compartimentos”
que formam o ambiente (água, ar, solo e seres vivos). No entanto, fora o caso
dos poluentes, para uma grande quantidade de indicadores de impacto, não
existem.

Como cada um desses compartimentos tem características e propriedades


distintas o comportamento e parâmetros de poluição são diferentes. No
entanto, pode haver similaridades no que tange à avaliação de métodos e
parâmetros para dois ou mais tipos de “compartimentos”, como, por exemplo,
será visto em relação aos compartimentos aquáticos e terrestres.
Vejamos agora alguns dos parâmetros utilizados como indicadores da qualidade
para cada tipo de compartimento ambiental.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 40


3.3.1 Meio Aquático

Existem vários aspectos relacionados com o monitoramento do meio aquático


que devem ser levados em consideração. Em geral, empreendimentos e obras
podem afetar a vazão, seja por conta do consumo seja pela dinâmica dos
corpos hídricos, o que afeta a biota local, ou afetar a recarga de aquíferos.
Essas alterações podem ser verificadas por cálculos de vazão e modelos que
ajudem a entender os efeitos futuros dessas alterações. Em outros
empreendimentos, as alterações têm efeitos na qualidade da água, são
promovidas pelo aumento da carga de sedimentos nos corpos d’água e pelo
assoreamento de corpos hídricos, o que altera seus parâmetros físicos e
químicos. Os indicadores de qualidade da água podem ser divididos em
parâmetros físicos e químicos. Parâmetros físicos estão relacionados com a
presença de sólidos e gases na água e dentre os principais destacam-se:

 Sólidos: são definidos como todas as impurezas presentes na água,


com exceção dos gases dissolvidos. De acordo com o tamanho das partículas,
os sólidos podem ser classificados em suspensos e dissolvidos. Os sólidos
suspensos são constituídos principalmente de matéria orgânica e sedimentos
de erosão e compõem a fração das partículas que fica retida após a passagem
de uma amostra de volume conhecido por uma membrana filtrante com poro
igual a 1,2 m. Os sólidos dissolvidos representam a fração da amostra que
passa pela membrana de 1,2 m.

 Temperatura: é uma medida da intensidade de calor. Temperaturas


elevadas têm como consequência o aumento das taxas das reações físicas,
químicas e biológicas, além da diminuição de solubilidade dos gases como o
oxigênio dissolvido.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 41


 Condutividade: é definida como a capacidade da água de transmitir
corrente elétrica. Os sólidos dissolvidos são os constituintes responsáveis pela
condutividade que pode ser utilizada como medida indireta da presença de sais.

 Cor: os sólidos dissolvidos são os principais responsáveis por conferir


coloração à água. A cor pode ser classificada em aparente e verdadeira. No
valor da cor aparente pode estar presente a parcela causada pela turbidez, e,
quando esta é removida, tem-se a cor verdadeira.

 Turbidez: representa o grau de alteração à passagem da luz através da


água. Os sólidos suspensos são os principais responsáveis pela turbidez
causando difusão e a absorção da luz. Valores elevados podem reduzir a ação
do cloro em processos de desinfecção e servir de abrigo para microrganismos.

Os parâmetros químicos são aqueles que indicam a presença de alguns


elementos ou compostos químicos. Entre os principais estão:

 pH: representa a concentração de íons hidrogênio H+ (em escala


antilogarítmica). Os sólidos dissolvidos e gases dissolvidos são os principais
constituintes que alteram o pH. Sua faixa de variação é de 0 a 14. O valor do
pH indica a condição de acidez ou alcalinidade da água. Valores baixos de pH
(inferiores a 7) no pH indicam potencial corrosividade e agressividade da água,
o que pode levar à deterioração das tubulações e peças por onde essa água
passa. Valores elevados de pH podem levar ao surgimento de incrustações em
tubulações.

 Alcalinidade: é a medida da capacidade de neutralizar os ácidos


através da quantidade de íons na água que reagirão para neutralizar os íons
de hidrogênio. Os principais constituintes são os sólidos dissolvidos na forma
de bicarbonatos (HCO3-), carbonatos (CO32-) e hidróxidos (OH-).

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 42


 Dureza: representa a concentração de cátions multimetálicos em
solução (Ca2+ e o Mg2+). A dureza pode ser classificada em dureza carbonato
(temporária, correspondente à alcalinidade, associada a HCO3- e CO32-) e
dureza não carbonato (permanente, associada a ânions como Cl- e SO42-). Os
constituintes responsáveis são os sólidos dissolvidos originários da dissolução
de minerais contendo cálcio e magnésio. A principal consequência das águas
duras é a redução na formação de espumas e o surgimento de incrustações
nas tubulações de água quente.

 Cloretos: são componentes resultantes da dissolução de sais. Os


constituintes responsáveis estão na forma de sólidos dissolvidos. Em
determinadas concentrações pode conferir sabor salgado à água.

 Ferro e manganês: têm origem natural na dissolução de componentes


do solo. Quando estão em suas formas insolúveis (Fe3+ e Mn4+) podem causar
cor na água e acarretar manchas durante a lavagem de roupas e em utensílios
sanitários. Os constituintes responsáveis são os sólidos dissolvidos.

 Fósforo: presente na água sob a forma de sólidos em suspensão e


sólidos dissolvidos. É encontrado sob as formas de ortofosfato (forma mais
simples, diretamente disponível), polifosfato (forma mais complexa) e fósforo
orgânico. Pode ser originário de compostos biológicos, células e excrementos
de animais.

 Nitrogênio: está presente na forma de sólidos em suspensão e sólidos


dissolvidos. Na água pode estar sob as seguintes formas: nitrogênio molecular
(N2), nitrogênio orgânico (dissolvido ou em suspensão), amônia (livre NH3 e
ionizada NH4+), nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-). Pode ter origem em proteínas,
compostos biológicos, células e excrementos de animais. A forma
predominante do nitrogênio pode informar o estágio da poluição. Assim,

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 43


quando predomina o nitrogênio orgânico ou amônia, a poluição é recente e,
quando predomina o nitrato, a poluição é remota.

 Sulfatos: os constituintes responsáveis por este parâmetro estão na


forma de sólidos dissolvidos. O íon sulfato pode ser um indicador de poluição
de uma das fases da decomposição da matéria orgânica e dependendo da
concentração pode produzir efeitos laxativos.

 Matéria orgânica: a matéria orgânica pode ter origem natural ou


antropogênica e é mensurada pelo consumo de oxigênio dissolvido na água. A
matéria carbonácea (com base no carbono orgânico) divide-se em fração não
biodegradável (em suspensão e dissolvida) e fração biodegradável (em
suspensão e dissolvida). Graças à variedade de compostos presentes na
matéria orgânica são utilizados medidas indiretas para sua quantificação,
como: a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e a demanda química de
oxigênio (DQO). A DBO representa uma indicação aproximada da matéria
orgânica biodegradável. Na DQO a oxidação da matéria orgânica é realizada
com o uso de um oxidante (dicromato de potássio) em meio ácido. De acordo
com Von Sperling (2005), a relação entre DQO e DBO pode indicar a
composição da matéria orgânica. Uma relação DQO/DBO5 baixa ( 2,5) indica
que a fração biodegradável é elevada e uma relação DQO/DBO5 alta (valores
superiores a 3,5 ou 4) significa que a fração inerte (não biodegradável) é
elevada.

Os parâmetros biológicos indicam a presença de seres vivos na água e os mais


comumente analisados são:

 Coliformes totais: as bactérias do grupo coliforme são utilizadas como


organismos indicadores de contaminação. Geralmente não são patogênicas,
mas indicam a possibilidade da presença de organismos patogênicos. Os

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 44


coliformes totais indicam as condições higiênicas e podem estar presentes
inclusive em águas e solos não contaminados.

 Coliformes termotolerantes: é o grupo de bactérias originário


predominantemente do intestino humano e de outros animais. A principal
bactéria do grupo é Escherichia coli, abundante nas fezes homens e de animais
de sangue quente. Sua presença na água constitui indicação de contaminação
por fezes, e algumas espécies de Escherichia coli são patogênicas.

Algumas normas e portarias estabelecem os limites para cada um desses
parâmetros e padrões para a qualidade da água. Documentos importantes
nesse sentido são a Portaria MS no 518/04 do Ministério da Saúde, a Resolução
Conama no 274/00, a Resolução no 357/05 e a NBR 13969/97.

3.3.2. Meio Terrestre

Alterações no meio terrestre podem proporcionar o aumento da carga de


erosão, geração de resíduos sólidos que terão que ser destinados e
acondicionados em determinado local, perda de cobertura vegetal e diminuição
de áreas nativas. Para as modificações que alteram as características físicas
superficiais do solo (topografia), existem várias técnicas de sensoriamento
remoto que podem ajudar a estimar e prever as modificações decorrentes de
tais alterações. Com essas técnicas é possível estabelecer a proporção de
ocupação do solo, a proporção de perda de área verde e outros aspectos que
mostrem o uso e ocupação do solo. No caso de alterações nos parâmetros
físico-químicos do solo, estas podem ter efeitos superficiais, sendo necessária
apenas a amostragem do mesmo com a utilização de trados e pás. Outras
alterações têm efeitos diretos no lençol freático e, portanto, os parâmetros
utilizados são os mesmos daqueles utilizados para o monitoramento do meio
aquático. Nesses casos é muito útil a instalação de poços de monitoramento

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 45


que permitem não apenas uma amostragem pontual, mas também seu
monitoramento ao longo do tempo.

No caso de contaminação química, a seleção dos parâmetros a serem


analisados tem relação com o tipo de indústria ou atividade que será instalada.
Por exemplo, na indústria química os prováveis contaminantes são ácidos,
bases metais, solventes (tolueno, benzeno etc.), fenóis e compostos orgânicos
específicos; no caso de indústria petroquímica os compostos a serem
monitorados são hidrocarbonetos, ácidos, bases e abestos. Assim, existe uma
série de compostos que devem servir de indicadores de acordo com o tipo de
impacto gerado. Esses compostos podem ser avaliados por métodos químicos
como cromatografia a gás, cromatografia/espectofotometria de massa e de
fluorescência e métodos de imunoessay. É possível também a utilização de
métodos geofísicos, que utilizam as propriedades físicas dos solos tais como
permissividade elétrica, condutividade e resistividade elétrica e suscetibilidade
magnética. Essas medições são feitas com aparelhos específicos como
resistivímetros, sondas (radares) e condutivímetros.

Normas que classificam o tipo de resíduo em classes de acordo com a sua


periculosidade com a NBR 10004 e que estabelecem procedimentos para a
análise de lixiviação, solubilização e amostragem (NBR 10005, 10006 e 10007)
desses resíduos podem ser utilizadas para análise do potencial poluidor de
determinado empreendimento ou obra.

3.3.3 Meio Aéreo

Com relação ao meio atmosférico, as principais modificações são aquelas


pertinentes à geração de ruídos, de material particulado e de gases de
combustão. Com relação à geração de materiais particulados e gases de
combustão, a Resolução no 3/90 do Conama estabelece os padrões de
qualidade do ar com base nas concentrações de partículas totais em suspensão,

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 46


dióxido de enxofre, ozônio, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de nitrogênio
e dióxido de carbono. Tais parâmetros são medidos levando-se em conta o
período de amostragem e classificam as emissões em quatro padrões
chamados de primário, atenção, alerta e emergência. Tais classificações
ajudam a determinar qual é a magnitude de alteração das atividades
poluidoras, bem como quais a amplitude e a magnitude das possíveis ações
mitigatórias de tais obras e empreendimentos utilizando-se modelos
matemáticos preditivos. Tais modelos permitem entender qual a provável
dinâmica dos poluentes dado o grau de liberação de resíduos de uma
determinada atividade. Por exemplo, no caso de uma rodovia, seria possível
fazer uma estimativa com base no número de veículos esperados, na
quilometragem média anual percorrida pelos veículos, a taxa de emissão de
tais veículos e a seleção de dados metereológicos para o cálculo das taxas de
dispersão para uso em modelos de dispersão.

A geração de ruídos pode ser estimada pelos níveis de pressão sonora emitidos
pelo conjunto de atividades que compõem o empreendimento, aplicado em
relações matemáticas simples ou complexas que podem até mesmo estimar a
propagação de ruídos dada a distância, a existência de barreira física e a
rugosidade do terreno. Para isso, é possível fazer um monitoramento pré-
operacional, simulando a emissão desses ruídos e fazendo as medições em
diversos pontos na paisagem. A partir daí esses resultados podem ser colocados
em um software de interpolação de dados para que sejam estimados os níveis
de ruído por faixas na paisagem, denominadas isolinhas (Sanchez, 2008).

3.3.4 Meio Biótico

Os organismos ou suas características morfológicas e fisiológicas quando


utilizados como indicadores são denominadas bioindicadores. Existem
bioindicadores moleculares, celulares e no nível do organismo, populações e
comunidades. As duas características mais importantes dos bioindicadores são:

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 47


permitir identificar as interações que ocorrem entre os contaminantes e os
organismos vivos e possibilitar a mensuração de efeitos subletais. Além disso,
algumas características são importantes para que um organismo ou grupo
possa ser considerado um bom bioindicador, a saber (Johnson et al., 1993):
ser taxonomicamente bem definido e facilmente reconhecível por não
especialistas, apresentar distribuição geográfica ampla, ser abundante ou de
fácil coleta, ter baixa variabilidade genética e ecológica, preferencialmente
possuir tamanho grande, apresentar baixa mobilidade e longo ciclo de vida e
dispor de características ecológicas bem conhecidas e ter possibilidade de uso
em estudos em laboratório.

As concentrações de contaminantes podem ser medidas diretamente nos


tecidos de plantas e animais, especialmente naqueles considerados organismos
de topo de cadeia alimentar que, por conta da bioacumulação (acumulação de
substâncias persistentes nos tecidos), apresentam maior quantidade de
contaminantes quando estes estão presentes no meio (Kehrig et al., 2011). A
avaliação da sensibilidade a concentrações de substâncias tóxicas (ensaios
ecotoxicológicos) é frequentemente utilizada (Barbour et al., 1999).

Alguns grupos de organismos são muito utilizados na avaliação dos impactos,


pois sua presença e abundância no meio são indicativos diretos da qualidade
ambiental de uma área. As comunidades biológicas refletem a integridade
ecológica total dos ecossistemas (p. ex., integridade física, química e biológica),
fornecendo uma medida agregada dos impactos (Barbour et al., 1999). As
comunidades biológicas de ecossistemas aquáticos são formadas por
organismos que apresentam adaptações evolutivas a determinadas condições
ambientais e apresentam limites de tolerância a suas diferentes alterações
(Alba-Tercedor, 1996). Desta forma, o monitoramento biológico constitui-se
como uma ferramenta na avaliação das respostas destas comunidades
biológicas a modificações nas condições ambientais originais (Goulart e Callisto,
2003). Os principais métodos envolvidos abrangem levantamento e avaliação

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 48


de modificações na riqueza de espécies e índices de diversidade; abundância
de organismos resistentes; perda de espécies sensíveis; medidas de
produtividade primária e secundária (Barbour et al., 1999).

O grupo de macroinvertebrados bentônicos é um exemplo de bom de grupo


taxonômico indicador de qualidade da água. Para isso, são utilizadas listas de
espécies que se constituem em agrupamentos de espécies encontrados em
ambientes com diferentes níveis de impacto. Tais listas são utilizadas para a
elaboração de modelos preditivos e sistemas de classificação de impacto
baseados nesses taxa (Buss et al., 2003).

Para avaliação e monitoramento da biodiversidade, o Instituto Chico Mendes,


por meio de uma técnica de seleção de indicadores que envolveu a elaboração
de listas de espécies com bases na consulta a especialistas, revisão da literatura
e em iniciativas piloto, selecionou alguns grupos que compõem o que
chamaram de módulo básico de monitoramento (Figura 3.3) (Pereira et al.,
2013).

Figura 3.3 Módulo básico de monitoramento dos grupos considerados bons


indicadores para monitoramento e avaliação da biodiversidade. (Fonte: Pereira
et al., 2013)
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 49
Dentro de tais grupos é possível selecionar que espécies são importantes
localmente e fazer uma avaliação baseada na ocorrência destas espécies e na
diversidade encontrada no sistema. Convém ressaltar que outros podem
também ser selecionados como indicadores, como é o caso de anfíbios e
répteis. Isso depende da avaliação feita em cada uma das localidades com base
nas características de sua fauna e flora (Pereira et al., 2013). O interessante
dessa classificação é a possibilidade de se estabelecer um conjunto de grupos
taxonômicos que devem compor um sistema de avaliação e monitoramento
básico da biodiversidade, padronizando, assim, os procedimentos de avaliação
da biodiversidade.

3.3.5 Indicadores Socioeconômico-Culturais.

Aumento da demanda de bens de serviços, geração de impostos e contribuição,


criação de postos de trabalho, incremento nas atividades comerciais, aumento
da arrecadação tributária e impacto visual no empreendimento são alguns dos
exemplos de indicadores socioeconômico-culturais que podem ser utilizados em
estudos de impacto. Todos esses indicadores podem ser estimados
quantitativamente e, geralmente, podem fornecer uma ideia do incremento
monetário para a região e da sua capacidade de desenvolvimento econômico
local. Estes devem ser sempre ponderados em relação às atividades que já se
realizam no local e sua medida deve levar em conta os impactos de obras ou
empreendimentos nas atividades locais, principalmente quando essas
atividades são consideradas tradicionais e têm relação com culturas peculiares
de uma comunidade.

3.5 Conclusão

Neste capítulo pudemos ver, de forma geral, quais são as fases da AIA e alguns
indicadores utilizados para se fazer a previsão nos EIA. Outros documentos

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 50


foram também citados  Rima e Prad  e serão estudados e discutidos com
mais detalhes nos próximos capítulos.

4. Estudo de Impacto Ambiental

4.1 Introdução

O primeiro EIA realizado no Brasil foi o da barragem e usina hidrelétrica de


Sobradinho (Bahia), no rio São Francisco, em 1972, de acordo com Moreira
(1989 apud Tommasi, 1994). Segundo Rosenberg et al. (1981), o EIA é uma
área da ecologia aplicada, mas com frequência tem misturado questões morais
e políticas com questões científicas. A elaboração do EIA/Rima é exigência para
o licenciamento de diversas atividades consideradas efetivas ou potencialmente
causadoras de significativa degradação do meio ambiente (Resolução Conama
no 001/86). Segundo essa mesma Resolução, no seu artigo 6o, o EIA tem que
contemplar no mínimo as seguintes etapas:

“I- Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição


e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo
a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,
considerando:

a) o meio físico  o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos


minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime
hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;

b) o meio biológico e os ecossistemas naturais  a fauna e a flora, destacando


as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e
econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação
permanente;

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 51


c) o meio socioeconômico  o uso e ocupação do solo, os usos da água e a
sócio-¬economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos
e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local,
os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.

II- Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através


de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e
negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e
longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas
propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios
sociais.

III- Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a
eficiência de cada uma delas.

lV- Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os


impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem
considerados”.

Essa mesma resolução estabelece as obrigações dos órgãos ambientais das


diversas esferas da Federação:

“Parágrafo Único  Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambiental


o órgão estadual
competente; ou o IBAMA ou quando couber, o Município fornecerá as
instruções adicionais que se fizerem necessárias, pelas peculiaridades do
projeto e características ambientais da área”.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 52


A Resolução Conama no 279/2001 estabelece que, para o caso de atividades
com potencial poluidor consideradas de pequeno impacto, pode ser elaborado
um RAS:

“I - Usinas hidrelétricas e sistemas associados;


II - Usinas termelétricas e sistemas associados;
III - Sistemas de transmissão de energia elétrica (linhas de transmissão e
subestações);
IV - Usinas eólicas e outras fontes alternativas de energia.
Parágrafo único. Para fins de aplicação desta Resolução, os sistemas associados
serão analisados conjuntamente aos empreendimentos principais. Art. 2º Para
os fins desta Resolução, são adotadas as seguintes definições: I - Relatório
Ambiental Simplificado RAS: os estudos relativos aos aspectos ambientais
relacionados”.
A proposta de conteúdo mínimo para a elaboração do RAS consiste em um
subconjunto de informações necessárias no EIA, sendo constituído das
seguintes etapas.

A - Descrição do Projeto
- Objetivos e justificativas, em relação e em compatibilidade com políticas
setoriais, planos e programas governamentais; e
- Descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,
considerando-se a hipótese de não realização, especificando a área de
influência.

B - Diagnóstico e Prognóstico Ambiental


- Descrição dos prováveis impactos ambientais e socioeconômicos da
implantação e operação da atividade, considerando-se o projeto, suas
alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando
métodos, técnicas e critérios para sua identificação, quantificação e
interpretação; e

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 53


- Caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,
considerando-se a interação dos diferentes fatores ambientais.

C - Medidas Mitigadoras e Compensatórias


- Medidas mitigadoras e compensatórias, identificando os impactos que não
possam ser evitados;
- Recomendação quanto à alternativa mais favorável;
- Programa de acompanhamento, monitoramento e controle.

As partes iniciais de informações gerais sobre o empreendimento, a


caracterização do empreendimento e a área de influência são comuns a todos
os documentos (EIA, Rima e RAS), o que diferenciará o EIA dos demais é o
maior aprofundamento e detalhamento de cada uma das partes seguintes.
Podemos, assim esquematizar, as etapas de elaboração de um EIA como ilustra
a Figura 4.1.

Figura 4.1 - (Fonte: Prof. Eduardo Lucena Cavalcanti de Amorim, disponível em


http://www.ctec.ufal.br/professor/elca/Aula%20Conceitos%20AIA2.pdf,
acesso em 20/02/2016)

Agora vamos estudar agora cada uma das etapas do EIA com mais detalhes.
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 54
4.2 Caracterização do Projeto, da Área de Influência e Diagnóstico
Ambiental da Área sob Influência do Projeto

Todo o projeto de EIA deve começar contendo informações básicas gerais do


empreendimento e sua caracterização. As informações gerais são aquelas que
descrevem de forma pormenorizada toda a identificação de um projeto; nela
devem constar nome, razão social, endereço e histórico do empreendimento,
nacionalidade de origem e das tecnologias, porte e tipos de atividades
desenvolvidas, os objetivos e justificativas (no contexto econômico-social do
país, da região, do estado e do município), localização geográfica, vias de
acesso, etapas de implantação e se existem empreendimentos associados e/ou
similares.

Após essas informações é necessária uma caracterização para cada uma das
fases que o envolvem (planejamento, implantação, operação e desativação),
em que são colocados seus objetivos e justificativas do projeto em relação a
compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais.

A descrição do projeto deve contemplar as suas alternativas tecnológicas e


locacionais, especificando a área de influência, matéria-prima, mão de obra,
fontes de energia, processos e técnica operacionais, prováveis efluentes,
emissões, resíduos de energia e geração de empregos.

Deve se também determinar a área de influência (AI) do projeto. Esta somente


pode ser determinada após a previsão de impactos e apenas poderá ser
determinada de fato após as ações de monitoramento ambiental. Inicialmente,
a realização de um diagnóstico prévio deve tentar estabelecer a limitação
geográfica das áreas diretamente afetada e das indiretamente afetadas. É
aconselhável sempre se considerar como unidade básica a bacia hidrográfica
na qual se localiza o empreendimento, justificando a escolha com base nos
modelos e predições anteriormente utilizados ou em dados de estudos prévios

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 55


realizados na área. No entanto, o estabelecimento da amplitude e magnitude
dos impactos (de maneira geral estas duas estão correlacionadas) são as ações
de monitoramento. É possível que existam impactos diferentes em áreas
diferentes do mesmo projeto, assim esse projeto terá várias áreas de influência,
a área de influência total é soma de todas as áreas (Sanchez, 2008).

Para a realização do diagnóstico ambiental prévio, deve-se fazer uma


caracterização atual do ambiente natural, ou seja, antes da implantação do
projeto, considerando-se as variáveis suscetíveis de sofrer direta ou
indiretamente efeitos em todas as fases do projeto. Deve-se também tentar
estabelecer os fatores ambientais físicos, biológicos e antrópicos de acordo com
o tipo e porte do empreendimento utilizando-se não apenas dados secundários,
mas também informações cartográficas com a AI em escalas compatíveis com
o nível de detalhamento dos fatores ambientais considerados. Os atributos e
características do meio físico (subsolo, solo, água, clima), do meio biótico e do
meio socioeconômico-cultural e seus indicadores já foram discutidos
anteriormente. Um instrumento importante para a avaliação do local para
instalação da obra e da avaliação de seus impactos é a utilização do
zoneamento ecológico-econômico (ZEE), que consiste em um conjunto de
regras para o uso dos recursos ambientais, estabelecido por zonas que
possuem padrões de paisagem semelhantes. É um instrumento de
planejamento que estabelece diretrizes ambientais, permitindo identificar as
restrições e as potencialidades de uso dos recursos naturais (SEA-RJ, 2000)
(Figura 4.2).

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 56


Figura 4.2 Zoneamento das macrocategorias considerando-se todo o Estado do
Rio de Janeiro. Essa avaliação pode ser feita em várias escalas geográficas.
(Fonte: disponível em http://www.zee-rj.com.br/Produto)

4.3 Medidas Mitigatórias e Monitoramento dos Impactos


Ambientais

A implantação do empreendimento, após análise e aprovação da proposta,


deve ser acompanhada da implementação de todas as medidas mitigadoras. O
monitoramento visa acompanhar essa implementação, verificando se as
medidas estão sendo eficientes ou não, se o empreendimento atende aos
requisitos aplicáveis e alertando para a necessidade de ajustes e correções.
Os resultados encontrados com os procedimentos de AIA descritos acima
servem como base para a construção do plano de gestão ambiental (PGA) de
uma obra ou empreendimento. Atualmente, tais planos constituem-se em
ferramentas para se planejar as atividades da empresa não só com relação a
prevenção ou mitigação de danos ao ambiente, mas também sua contribuição
para a melhoria da qualidade ambiental e o desenvolvimento social e
econômico de um local ou de determinada região. A AIA tem permitido tal
análise e a implantação efetiva de iniciativas potenciais que contribuem para
um desenvolvimento mais sustentável.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 57


Para isso, dois itens de uma AIA são utilizados. “Medidas mitigatórias” e planos
de monitoramento são itens de uma AIA que definem que providências deverão
ser tomadas futuramente caso o projeto seja aprovado. Constituem-se em itens
e propostas que viram compromisso do empreendedor ou obrigação imposta
pelo órgão ambiental (Sanchez, 2006).
Tanto as medidas mitigatórias quanto o monitoramento dos impactos
ambientais fazem parte do PGA de uma empresa que pode envolver ainda mais
dois conjuntos de medidas: medidas compensatórias e medidas de valorização
de impactos benéficos. São exemplos de tais medidas aquelas relacionadas a
educação ambiental, recuperação de áreas degradadas, desenvolvimento de
potencial turístico ou recreativo, entre outros. Tais medidas podem estar
contidas no PGA dos EIA, mas também podem estar em documentos
posteriores tais como o projeto básico ambiental (PBA) (Resolução Conama no
6/87), no caso do setor elétrico, ou o PCA, no caso de atividades de mineração
(Sanchez, 2006).

“Medidas mitigatórias” é uma expressão genérica para se designar um conjunto


de ações que visam diminuir os impactos negativos no ambiente, como medidas
para a emissão de poluentes atmosféricos, tratamento de efluentes líquidos,
construção de estruturas para a circulação de fauna (p. ex., escadas para
peixes e passagens para animais terrestres em rodovias). Tais medidas são
consideradas mitigatórias se não fizerem parte das exigências previstas em lei
para a sua instalação e devem ser ajustadas à necessidade de cada caso
específico. Existem diversas experiências passadas que servem como base da
avaliação de erros e acertos em projetos de medidas para a mitigação dos
impactos (para o caso de viadutos para a fauna e “ecodutos”, ver
Rijkswaterstaart, 1995, e Setra, 1993) e uma série de manuais de boas práticas
de gestão ambiental (p. ex., IPT/Cempre 2000 e Coopermiti 2014 para a gestão
de resíduos sólidos). No entanto, estas devem ser tomadas como guias gerais
e fonte de consulta e ideias sobre as mediadas possíveis e determinada prática

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 58


produtiva ou obra, mas as aplicações de tais ideias e técnicas devem ser
analisadas caso a caso.

Monitoramento ambiental pode ser definido com observação e estudo do


ambiente ao longo do tempo. Está fortemente calcado no método científico e
sua intenção é produzir dados suficientes para que possa informações válidas
sobre uma determinada situação/problema. Essas informações são
fundamentais para que se possa tomar decisões fundamentadas (Artiola et al.,
2004). É uma abordagem multidisciplinar que envolve a ação de especialistas
de várias disciplinas, biologia, química e outros. No caso do monitoramento dos
impactos ambientais, especialistas de áreas como antropologia, sociologia,
economia também são necessários.

Monitoramento dos impactos ambientais é o acompanhamento das variáveis


selecionadas pelo EIA visando à verificação das suas variações e modificações
no ambiente. Monitorar significa adquirir informação sobre um sistema em
diferentes pontos do tempo para avaliar seu estado e fazer inferências sobre
suas mudanças (Yoccoz et al., 2001). O monitoramento pode ser também o
registro regular de variáveis (indicadores) estudadas em um projeto ou
programa de pesquisa em determinada(s) localidade(s). Nesse sentido, o
monitoramento é um instrumento de gestão para observar se existem
mudanças durante uma série temporal.

O plano de monitoramento tem como uma de suas funções a de verificar a


ocorrência ou não dos impactos previstos no EIA. Dependendo da etapa em
que é implantado, ele pode ser chamado de pré-operacional, operacional e pós-
operacional. No EIA , ele aborda essencialmente a etapa operacional e pós-
operacional. Ele deve ser realizado de forma sistemática e periódica de uma
forma que permita perceber as variações advindas do fenômeno estudado. Para
isso, os métodos utilizados para o monitoramento devem ser suficientemente
acurados (proximidade do valor medido da variável ao seu valor real) e precisos

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 59


(proximidade dos valores medidos obtidos pela repetição do processo de
mensuração) e delimitados quanto às escalas temporais e espaciais em que o
fenômeno/impacto ocorre. A definição da amplitude (área de ocorrência,
frequência e intensidade de ocorrência) é estabelecida pelo diagnóstico do EIA
e, com base nisso, é que se determinam aspectos como intensidade amostral
necessária para monitoramento, frequência de coleta de dados e distribuição
dos pontos de amostragem.

É importante ressaltar que o monitoramento não deve estar restrito aos fatores
do meio biótico e abiótico, mas também a fatores do sociais e econômicos. Para
tal, devem ser utilizados indicadores que levem em conta um processo social
de coleta de dados, levando em conta os problemas apontados pela população
envolvida de forma qualitativa (Armour, 1990).

Os resultados do plano de monitoramento devem ser usados para analisar e


rever as atividades realizadas e os impactos de uma obra ou empreendimento,
podendo ser alterado de acordo com as necessidades apontadas.

4.4 Análise de Custo e Benefícios

A análise custo-benefício (ACB) consiste em um método para avaliar o impacto


económico líquido de um projeto público, podendo também ser aplicada a uma
diversidade de intervenções, como, por exemplo, subsídios para projetos
privados, reformas regulamentares, novas taxas de tributação etc. O objetivo
da ACB consiste em determinar se um projeto é viável do ponto de vista do
bem-estar social, por meio da soma algébrica dos seus custos e benefícios,
descontados ao longo do tempo. A técnica em questão consiste em prever os
efeitos económicos de um projeto, quantificar esses efeitos, transformá-los em
unidades monetárias (sempre que possível) e calcular a sua rentabilidade
económica, por via de um indicador preciso, que permita formular uma opinião
concreta em relação ao desempenho esperado do projeto. A principal vantagem

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 60


da ACB em comparação com outras técnicas contabilísticas de avaliação
tradicionais consiste no fato de os efeitos externos e de as distorções
observadas nos preços serem igualmente considerados. Desta forma, as
imperfeições do mercado são explicitamente tidas em conta, o que não
acontece na contabilidade empresarial nem, por norma, nos sistemas
contabilísticos nacionais (Cline, 1997).

A ACB é constituída de uma análise técnica que identifica o contexto e as


características do projeto, uma análise financeira e uma análise econômica que,
partindo da análise financeira, identifica os itens de receita e despesa e os
preços de mercado e produz estimativas sobre vários aspectos desde fluxos de
entrada e saída até a quantificação dos efeitos externos do projeto. Para o
cálculo desses valores, são utilizados modelos e equações que estimam o valor
e a rentabilidade dos empreendimentos.

Atualmente, na elaboração e análise de programas ou projetos de


desenvolvimento, é necessária a avaliação de efeitos chamados de intangíveis,
aqueles afetam o desenvolvimento regional e as qualidades ambiental e de vida
(Carvalho, 2001). Tradicionalmente, apenas eram medidos os efeitos que têm
estimativas diretas de preço de mercado e constituem-se efeitos econômicos
primários e os impactos (custos-benefícios) diretos resultantes da implantação
do plano. A metodologia de avaliação convencional é a análise de custo-
benefício que basicamente visa medir os benefícios-custos de uma determinada
ação em termos de uma unidade monetária comum (Pearce, 1989).

Isto acontece porque os efeitos diretos ou primários de um projeto,


normalmente, são fáceis de identificar e mensurar por meio de estudos técnicos
e econômico-financeiros e os impactos secundários ou indiretos, geralmente
apresentam dificuldades de identificação e de mensuração. A necessidade de
promover estudos de avaliação e valoração de impactos ambientais e sociais
se originou da inadequação dos métodos tradicionais de avaliação de projetos

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 61


ambientais, os quais não consideram a proteção do meio ambiente nem o uso
racional. A lógica por trás da criação de tais métodos é que, sendo praticamente
impossível frear os impactos derivados de projetos de desenvolvimento, uma
vez que a própria sociedade necessita deles, é necessário decidir que níveis de
degradação poderiam ser socialmente aceitáveis pelas comunidades envolvidas
e ecologicamente menos danosos que pudessem garantir o desenvolvimento
sustentável para as gerações futuras (Carvalho, 2001).

Os efeitos intangíveis podem ser medidos podem ser realizadas por estimativas
de custos-benefícios secundários (desenvolvimento regional), de efeitos
intangíveis (qualidade ambiental) e de impactos distributivos (qualidade de
vida). Essas medidas são feitas por elaboração de cartograma, gráficos,
quadros e tabelas para delimitação espacial e temporal da área estudada e a
consideração das dinâmicas demográficas e socioeconômicas como fatores
condicionantes de organização do espaço regional, criando estruturas
produtivas e condições de vida.

A valoração tradicional dessas variáveis é feita pela estimativa dessas variáveis


e uma razão direta entre o valor atual dos benefícios e o valor atual dos custos.
A viabilidade econômica dos projetos é admitida quando esta razão é maior
que 1. Existem atualmente técnicas mais avançadas de estimativas como o
enfoque multiobjetivo (Irvin, 1978; Meister, 1986), considerado um método
alternativo à análise custo-benefício, para a seleção de projetos e programas
de políticas públicas ambientais. Nesse enfoque, é necessário considerar
explicitamente diversos objetivos e alternativas e, consequentemente, as
respectivas trocas (trade-offs), uma vez que objetivos diferentes são
usualmente conflitantes. Ele dá ênfase à avaliação de efeitos intangíveis, isto
é, não medidos por preços de mercados, tais como impactos ambientais na
estimação de custos e benefícios secundários, na área do desenvolvimento
regional, e identificação de impactos distribucionais, particularmente na área
social (Carvalho, 2001).

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 62


4.5 Conclusão

Como pudemos estudar neste capítulo, a elaboração de um EIA envolve uma


série de questões metodológicas que visam à apreensão das várias dimensões
(ambientais, econômicas, sociais e culturais) implicadas na execução de um
empreendimento ou obra. A correta avaliação dessas dimensões envolve uma
equipe multidisciplinar de especialistas e deve ser conduzida de forma a
maximizar tempo e esforço e, em última análise, recursos financeiros. Desta
forma, a estrita observância destas etapas e condição sine qua non para a
correta realização de EIA.

As etapas posteriores à realização do EIA/Rima são a análise técnica do projeto,


a consulta pública e a decisão. A análise técnica é realizada pelo órgão
governamental encarregado de autorizar o empreendimento na qual é
verificada a conformidade com os termos de referência e a regulamentação ou
procedimentos aplicáveis. Essa análise também como objetivo verificar se o
estudo descreve adequadamente o projeto proposto, se analisa devidamente
seus impactos e se propõe medidas mitigadoras capazes de atenuar
suficientemente os impactos negativos. A consulta pública consiste em
mecanismos formais de consulta aos interessados, incluindo os diretamente
afetados pela decisão, mas não se limitando a estes. Há diferentes
procedimentos de consulta: em audiência pública, durante a preparação do
termo de referência, durante a etapa de análise sobre a necessidade de EIA ou
durante a realização deste (Kapusta e Rodriguez, 2009). Esse aspecto e seus
mecanismos serão abordados mais adiante.

Todas essas etapas embasam o processo decisório. A decisão pode caber a


diferentes entidades governamentais, dependendo da tradição jurisdicional de
cada caso. Pode ser tomada pela autoridade ambiental, pela autoridade da área
da tutela à qual se subordina o empreendimento (p. ex., um projeto florestal
cabe ao ministério responsável por esse setor), pelo governo (por meio de um

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 63


Conselho de ministros ou do chefe de governo), pelo modelo de decisão
colegiada (por meio de um Conselho com participação da sociedade civil em
que esses colegiados são subordinados à autoridade ambiental) (Kapusta e
Rodriguez, 2009).

O acompanhamento da implantação da execução do EIA/Rima e suas


respectivas medidas mitigatórias e de monitoramento são realizadas por
fiscalização ou supervisão dos órgãos ambientais competentes e/ou auditorias
ambientais. A auditoria ambiental permite verificar aspectos de uma atividade,
que resultará em impactos sobre a saúde humana, a segurança e o meio
ambiente. Ocorre de modo sistemático, organizado e documentado, realizada
por equipe técnica designada, nos termos da lei, pelo órgão de meio ambiente.
O documento emitido resulta na análise e nas recomendações (Kapusta e
Rodriguez, 2009).

Um roteiro básico para a elaboração de EIA pode ser encontrado no Manual de


Orientação  Estudos de Impacto Ambiental  EIA; no Relatório de Impacto
Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo,
Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental — DAIA — João Roberto
Rodrigues (Cetesb, 2014). Veremos agora alguns dos aspectos relacionados
com os Rima.

5. Relatório de Impacto Ambiental

5.1 Introdução

O Rima refletirá as conclusões do EIA, apresentando uma síntese dele. As


informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por
mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de
modo que seja possível entender as vantagens e as desvantagens do projeto,
bem como todas as consequências ambientais de sua implementação. A

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 64


diferença entre esses dois documentos é que apenas o Rima é de acesso
público, pois o EIA contém maior número de informações sigilosas a respeito
da atividade.

Um dos grandes problemas do Rima é que, em muitos casos, ele é feito como
uma sequência de corte e colagem do EIA, apresentando pouca diferença em
termos de linguagem e redação e estrutura em relação a este. Desta forma, os
objetivos de tornar o conteúdo do EIA mais acessível e compreensível para o
público em geral não são alcançados. Para que isso não aconteça, algumas
recomendações são importantes e devem ser observados na redação da Rima,
é isso que veremos neste capítulo.

Há diversos Rima disponíveis para consulta pública na internet, exemplos são


o Rima do projeto de integração do Rio São Francisco com as bacias
hidrográficas do Nordeste Setentrional (popularmente conhecida como
transposição do Rio Francisco) (Ecology Brasil, 2004), o Rima do Terminal
Fluvial de Granéis Sólidos da Cargill Agrícola S.A. (CPEA, 2012) e o Rima da
Belo Sun Mineração LTDA., Projeto Volta Grande no Pará (Brandt, 2010). Nos
dois itens posteriores, nos quais discutiremos o formato básico do Rima, sua
redação e apresentação, usaremos o Rima do Terminal Fluvial de Granéis
Sólidos da Cargill Agrícola S.A. (CPEA, 2010) para exemplificar as
recomendações por considerar que este é um Rima bem elaborado,
extremamente bem ilustrado e com linguagem adequada.

5.2 Formato Básico do Rima

Segundo a Resolução Conama no 01/86 em seu artigo 9o, o Rima deverá conter,
no mínimo:

“I. Os objetivos e justificativas do projeto;


II. A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais;

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 65


III. A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de
influência do projeto;
IV. A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação
da atividade;
V. A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência;
VI. A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em
relação aos impactos negativos;
VII. O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII. As recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e
comentários de ordem geral).”

A fim de que o material integrante do Rima se torne mais atrativo e


compreensível à população, algumas recomendações com relação a estrutura
e conteúdo podem ser seguidas (Jesus, 2009; Cetesb, 2014). Com relação à
estrutura, o Rima deve ser apresentado com uma estrutura lógica e coerente,
descrevendo as ações do projeto que causam impactos, os impactos, as
medidas mitigadoras, os impactos significativos e o monitoramento de forma
integrada e equilibrada.

A apresentação geral deve conter todas as etapas do estudo, sendo que essas
etapas não devem ser, necessariamente, os nomes técnicos dados a ela.
Podem ser, por exemplo, apresentadas em forma de perguntas retóricas, como
no caso “Porque construir um terminal fluvial em Santarém?” ou “Como será o
terminal após a sua ampliação?” (Figura 5.1). Essas etapas certamente estão
escritas no EIA como as de Objetivos e Aspectos Técnicos do projeto, mas
nessa linguagem fica claro para o público geral o conteúdo. Convém notar
também que no início há uma parte introdutória explicando o que são o EIA e
o Rima e explicando a sua origem. Isto é suma importância para que a
população entenda o porquê de o documento estar sendo apresentado.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 66


Figura 5.1 Sumário do Rima do Terminal Fluvial de Granéis Sólidos da Cargill
Agrícola S.A. (Fonte: CPEA, 2010)

Assim como na apresentação do EIA, o Rima deverá apresentar a equipe


responsável pela elaboração dos estudos ambientais, indicando a sua área
profissional e o registro no respectivo Conselho de Classe, assim como os
cadastros da equipe técnica responsável junto ao “Cadastro Técnico Federal de
Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental”, conforme determina a
Resolução Conama no 01/88. Podem ser também colocados apenas os dados
da empresa responsável pela elaboração do EIA/Rima em caso de empresa de
consultoria. Poderá ser incluída no Rima a bibliografia consultada para a

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 67


realização dos estudos e as leis consultadas, bem como um glossário contendo
a listagem dos termos técnicos utilizados.

Para o Rima resulta em um documento feito por um agrupamento de trechos


copiados e colados do EIA, é interessante que seja escrito separadamente. Em
muitos trechos do documento analisado, os subtítulos de alguns tópicos
fornecem uma mensagem preliminar das conclusões desses subtópicos (Figura
5.2). Deve-se fazer do Rima um documento único e evitar a colocação de
anexos e adendos, exceto por mapas e figuras ilustrativos e adaptados para o
entendimento do público geral. O tamanho do documento deve ser
proporcional ao tipo, à complexidade e ao tamanho do projeto; o ideal é que
ele possua uma forma sintética em que a linguagem seja também adaptada a
divulgação para o público.

Figura 5.2 Exemplos de subtítulo utilizados na exposição de objetivos e


justificativas do empreendimento do Rima do Terminal Fluvial de Granéis
Sólidos da Cargill Agrícola S.A. (Fonte: CPEA, 2010, p. 6)

O conteúdo do Rima deve fazer referência clara e explícita ao EIA e apresentar


um diagnóstico sucinto da área. Os seus objetivos devem ser definidos
claramente, e na descrição do projeto devem estar contidos elementos do
projeto, localização, cronograma, fases do projeto, cargas ambientais
relevantes (emissão, consumo de energia etc.) e alternativas de projeto
consideradas. Utilizar recursos visuais para facilitar o entendimento das etapas
de execução de obra e projeto final, como mapas, croquis, infográficos e
perspectivas ilustradas (Figuras 5.3 e 5.4).

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 68


O Rima deve descrever, de forma integrada, os elementos ambientais
significativamente afetados, a projeção da condição desses elementos sem o
projeto, as ações do projeto que podem gerar impactos significativos, os
principais impactos previstos e as medidas adotadas para preveni-los, reduzi-
los ou compensá-los e medidas para aumentar os impactos positivos. Deve
incluir também a avaliação da efetividade das medidas adotadas para prevenir,
reduzir ou compensar os impactos negativos ou para potencializar os impactos
positivos. A exposição dessas medidas em quadros-síntese é uma maneira de
tornar prática e acessível todos os impactos levantados, bem como as suas
respectivas medidas mitigatórias (Figura 5.5).

5.3 Apresentação dos Relatórios e Redação do Eia/Rima

Na apresentação tanto do EIA quanto do Rima é importante seguir algumas


recomendações gerais. As recomendações aqui sugeridas são uma síntese de
Jesus (2009) e Cetesb (2014). É importante escrever o EIA/Rima em língua
nativa. O EIA deve conter todos os termos técnicos necessários para o
entendimento dos problemas, já o Rima deve ser escrito de forma simples,
clara, concisa e sem termos técnicos, explicando todas as siglas e abreviações
na primeira vez que aparecem no texto.

O texto deve ser apresentado em folhas tamanho A4 ou A3 dobrado em A4


com páginas numeradas e com o texto formatado de tal maneira que propicie
leitura fácil, contendo quadros de fácil leitura e mapas que apresentem a
síntese dos impactos. Os mapas devem apresentar referências, escala gráfica,
orientação e legenda (Figura 5.4).

A apresentação das alternativas locacionais deve ser feita cartograficamente


ou em outra forma gráfica sempre que possível e, quando possível, apresentar
fotos, fotos aéreas e simulações visuais. Citar todas as imagens no texto e

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 69


colocá-las, sempre que possível, perto do respectivo texto. Uma versão
eletrônica do Rima deve ser preparada em formato .pdf.

Figura 5.3 Infográfico demonstrando a infraestrutura do Terminal Fluvial de


Granéis Sólidos da Cargill Agrícola S.A. (Fonte: CPEA, 2010, p. 9a)

Figura 5.4 Mapas e fotos dos municípios envolvidos, das atividades presentes
na área e de paisagens ambientalmente significativas Rima do Terminal Fluvial
de Granéis Sólidos da Cargill Agrícola S.A. (Fonte: CPEA, 2010, p. 21)

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 70


Uma maneira interessante de se apresentar no final do relatório um resumo
com as principais conclusões do estudo é fazê-lo em tópicos e colocá-los de
forma sistematizada e resumida (Figura 5.6).

Figura 5.5 Parte do quadro-síntese dos impactos Rima do Terminal Fluvial de


Granéis Sólidos da Cargill Agrícola S.A. (Fonte: CPEA, 2010, p. 30)

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 71


Figura 5.6 Apresentação em tópicos das principais conclusões do estudo e
viabilidade ambiental do Terminal Fluvial de Granéis Sólidos da Cargill Agrícola
S.A. (Fonte: CPEA, 2010, p. 42)

5.4 Conclusão

A elaboração de um Rima é uma tarefa delicada e talvez seja uma das etapas
mais minuciosa da elaboração de um EIA/Rima, pois sua correta elaboração e
sua clareza evitam muitos dos transtornos advindos de consultas públicas
posteriores. A clareza na elaboração de um Rima torna todo o processo
evidente para que todos os envolvidos possam facilmente identificar alterações,
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 72
ações mitigatórias e ações positivas, além de favorecer a elaboração de
questionamentos, a visualização de outras possibilidades e a implementação
do empreendimento ou obra.

6 - Plano de Recuperação de Área Degradada

6.1 Introdução

As atividades modificadoras do meio ambiente e que exigem que se


apresentem o Prad para a solicitação do licenciamento encontram-se listadas
nas Resoluções Conama nos 001/86, 011/86, 005/87, 006/87, 006/88, 009/90,
010/90. Deve conter todas as informações relativas às medidas a serem
adotadas com objetivo de reabilitar a área degradada pela atividade. A sua
elaboração deverá ocorrer de forma ordenada e clara, procurando dar maior
enfoque às extensões da área impactada pela atividade e da área a ser
recuperada; à descrição das etapas do plano de recuperação, detalhando a
terraplanagem, volume de material a ser movimentado, declividade e
estabilidade dos taludes e drenagem; à descrição da preparação de solo,
implantação de vegetação nativa da região com informações qualitativa e
quantitativa das espécies vegetais a serem introduzidas, bem como seu
manejo, monitoramento, localização e época de plantio e a adequação
paisagística da área e proposição para uso futuro, quando da conclusão da
recuperação de área (Kapusta e Rodriguez, 2009).

6.2 Estrutura Básica de um Prad

A recuperação de áreas degradadas deve atender às normas pertinentes à


recuperação de áreas degradas: Instrução Normativa no 14, de 15 de maio de
2009, Instrução Normativa no 04, de 13 de abril de 2011, Decreto no 6.514 de
22 de julho de 2008, Lei no 9.605, de 12 de fevereiro 1998. As informações
necessárias para a identificação do responsável do empreendimento ou obra

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 73


são: identificação do requerente (nome ou razão social, endereço completo,
telefone e fax, e-mail, CPF/CNPJ, RG/órgão emissor, representante legal
(procuração). O responsável técnico deve ser um profissional da área ambiental
(biólogo, engenheiro ambiental, florestal ou agrônomo) com registro no
Cadastro Técnico Federal e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Uma
das obrigações do responsável técnico pela elaboração e execução do Prad é
comunicar, por intermédio dos relatórios de monitoramento e avaliação, todas
e quaisquer irregularidades e problemas verificados na área em processo de
recuperação, sob pena da responsabilidade prevista no Decreto no 6514, de 22
de julho de 2008.

Uma etapa inicial requerida para a realização do Prad é a identificação do(s)


processo(s) causador(es) de degradação e a caracterização da área degradada.
A primeira envolve a identificação do tipo de degradação (p. ex., poluição,
desmatamento, fogo, construção ou reforma, queimada) e sua classificação,
quando pertinente, e, em relação aos padrões estabelecidos em resoluções e
normas oficiais tais como as do Conama e da ABNT. Essa classificação leva em
conta a duração (tempo) do processo causador de degradação e os efeitos
negativos (danos) causados por esses processos ao ambiente (p. ex., processos
erosivos, perdas de solo, assoreamento, alteração da dinâmica dos corpos
hídricos, lesão ou morte de indivíduos da flora ou fauna, perda de
biodiversidade, perda de espécies ameaçadas ou endêmicas). A caracterização
da área degradada envolve a caracterização do meio físico (caso existam
particularidades não detalhadas no item “caracterização da gleba”), a
caracterização de solo, (tipo de solo, conforme Sistema Brasileiro de
Classificação dos Solos/Embrapa), granulometria (percentual de areia, argila e
silte), análise química (macro e micronutrientes, pH, alumínio e substâncias
poluidoras), indicando se os dados obtidos estão dentro ou fora dos padrões
aceitáveis indicados por normas e resoluções oficiais e estudos científicos,
prováveis características do solo original (podendo basear-se também na
análise em áreas controle identificadas no restante da gleba e entorno),

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 74


erodibilidade do solo, uso e ocupação do solo, comparação do solo atual em
relação ao hipotético solo original, avaliando capacidade de comportar
regeneração natural. Envolve também a caracterização do meio biótico com a
descrição da(s) fitofisionomia(s) e estudos qualitativo e quantitativo da flora
nativa e exótica em desenvolvimento. Essa descrição deve ser capaz de
demonstrar se a área encontra-se ou não em processo de regeneração natural
satisfatório, tipo(s) e estado(s) da provável vegetação original da área
degradada e indicação dos remanescentes de vegetação nativa mais próximos
avaliados como potenciais fontes de sementes/propágulos. É também
recomendável que se faça um mapa da área degradada, caso existam
particularidades não detalhadas no mapa de “caracterização da gleba” (Pereira
et al., 2013).

Dependendo da área de influência do impacto, outras análises podem ser


requeridas como a análise da bacia hidrográfica, das águas superficiais e sua
qualidade. Esse pode ser o caso, por exemplo, de atividades de mineração
(Ibramil, 2008).

A identificação da área onde será executado o projeto deve conter as seguintes


informações: proprietário do imóvel, denominação do imóvel, localização
(coordenadas geográficas e croqui de acesso), município, área total do imóvel
rural (ha) com informações georreferenciadas dos vértices e par de
coordenadas da sede, área de reserva legal, área de preservação permanente,
área total do dano (APP, RL, outras) em hectares, georreferenciada
(informações georreferenciadas de todos os vértices das áreas do imóvel, de
preservação permanente, de reserva legal, a recuperar – a fim de delimitar as
poligonais, com a indicação do respectivo Datum), tipo de solo, relevo, tipologia
vegetal, hidrografia e situação de uso atual.
É importante também que o plano tenha um cronograma de execução da
implantação dos plantios. Nesse campo é necessário estabelecer o cronograma
das diversas etapas que envolvem a recuperação desde a preparação do solo

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 75


(medidas corretivas, técnicas de remediação e preparação para o plantio),
cercamento da área e execução dos plantios até as medidas de monitoramento
e manutenção tais como o combate a formigas e replantio, se necessário, e os
custos envolvidos em cada etapa (Figura 6.1). Convém ressaltar que a
utilização de fogo e de agrotóxicos são formas de manejo proibidas nas ações
de recuperação.

Figura 6.1 Cronograma de execução das etapas das ações do Prad.

A apresentação detalhada dos custos e acompanhamento das atividades


também necessárias é necessária, detalhando-se as unidades de medida
utilizadas para cada item e seu valor unitário (Figura 6.2).

Figura 6.2 Planilha de estimativa dos custos de implantação e


acompanhamento detalhada (Unidades de medida: H/h – hora/homem; L –

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 76


litros; ton – toneladas; kg – quilos; H/t – hora/trator; VB – valor básico; Amo
– amostra; UN – unidade; Custo – R$).

Os documentos que deverão acompanhar o plano são: certidão de inteiro teor


do imóvel, expedida pelo Cartório de Registro de Imóvel competente, com
averbação da área de reserva legal, justa posse ou declaração de posse;
imposto territorial rural (ITR), ART de elaboração e execução, ato declaratório
ambiental (ADA), inscrição do responsável pela elaboração e pela assistência
técnica do projeto no Cadastro Técnico Federal (apresentar Certificado de
Regularidade), mapa da propriedade com delimitação das áreas de reserva
legal, de preservação permanente, da área a ser recuperada e da locação dos
recursos hídricos, estradas etc., croqui de acesso à propriedade e fotos
identificadas com as respectivas coordenadas geográficas da área degradada
que será recuperada.

Um outro item fundamental é a apresentação da lista de espécies que serão


utilizadas no plantio com nome popular, científico e família. Essa lista deve
conter obrigatoriamente espécies nativas da região. O plantio de exóticas e/ou
frutíferas em reserva legal somente poderá ser realizado quando o interessado
for agricultor familiar, empreendedor familiar rural ou povos e comunidades
tradicionais (definido pela Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006), conforme
Instrução Normativa no 05, de 08 de setembro de 2009 em seu artigo 8º
(IBAMA 2014).

O ICMBio, em casos nos quais a recuperação da área for de menor


complexidade, pode permitir a execução de um Prad simplificado sem itens
considerados desnecessários. Nesse caso, para a opção pelo Prad simplificado,
deverá ser incluída justificativa para cada item não desenvolvido. A
simplificação do Prad é, portanto, indicada apenas para casos de pequena
degradação ambiental (Pereira et al., 2013). Vale ressaltar que essa

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 77


possibilidade existe, principalmente, para áreas em unidades de conservação
federal.

6.3 Áreas Degradadas e Medidas Mitigatórias

As medidas mitigatórias aplicáveis em áreas degradadas estão relacionadas


com a restauração florestal. Áreas degradadas podem ser definidas como
aquelas que, após sofrer um forte impacto, perderam a capacidade de retornar
naturalmente ao estado original ou ao equilíbrio dinâmico, ou seja, perdeu sua
resiliência (Martins, 2014). Como já visto, essa definição é mais
frequentemente utilizada para se referir a áreas antropicamente impactadas,
no entanto eventos naturais podem também resultar em alterações
significativas dos ecossistemas, afetando assim sua resiliência (Capítulo 1).
Algumas intervenções antrópicas têm tal magnitude no ambiente que essas
áreas são conhecidas como áreas de empréstimo e decorrem da construção de
usinas hidrelétricas, de rodovias, de mineração e outros projetos
desenvolvimentistas. Assumem tal magnitude que a sua recuperação é hoje
uma obrigação legal (artigo 224 da Constituição Brasileira). Nesse caso, a
recuperação com reflorestamento é muito mais difícil, lenta e dispendiosa, uma
vez que a preparação do terreno para a recomposição vegetal das áreas lesadas
exige terraplanagem, obras para a condução da drenagem e, quando
necessário, a devolução dos horizontes superficiais do solo, removidos e
armazenados previamente (Noffs et al., 2000). Em alguns casos, a análise
prévia das condições do solo exige remodelamento topográfico e recomposição
do solo antes da realização dos plantios (Ibama, 1990). Tais medidas envolvem
técnicas muito específicas de geotecnia, remediação do solo e recuperação das
suas propriedades físico-químicas.

A realização das atividades de plantio deve observar vários aspectos


importantes. Um deles é procurar áreas que possam estar próximas a
remanescentes vegetais ou fazendo os plantios observando que tenham mais

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 78


proximidade com tais remanescentes. Desta forma, procura-se manter e
recompor o fluxo gênico nas populações envolvidas, reduzindo a endogamia, e
favorecer os fenômenos de dispersão de espécies da flora e fauna,
possibilitando o aporte de nutrientes às cadeias alimentares dos ecossistemas
aquáticos eventualmente adjacentes, além de ampliar a oferta de nichos e
alimentos às comunidades. Assim, a recomposição vegetal é planejada com o
propósito de assegurar a sucessão até alcançar o estágio final com a presença
dominante das espécies definitivas. As espécies florestais empregadas no
programa são escolhidas dentre aquelas identificadas em reservas
remanescentes na região. A integração de tais fatores é fundamental para a
facilitação dos processos de sucessão ecológica dos ecossistemas, constituindo-
se no princípio que rege todo o trabalho de recomposição de matas (Noffs et
al., 2000).

No caso de atividades ligadas à mineração existem também os planos de


fechamento de minas. Tais documentos são muito similares aos Prad,
apresentando pequenas diferenças quanto aos objetivos, ao envolvimento dos
interessados, a avaliação de riscos, critérios e custos de fechamento e quanto
a seus planos. Por exemplo, quanto à avaliação de riscos, um critério
importante é a existência de passivos ambientais, o que impacta também os
custos do procedimento (Lima et al., 2006). Passivo ambiental é definido pelo
Ministério do Meio Ambiente (MMA) como “aquele que é gerado quando no
encerramento das atividades mineradoras não foi executada nenhuma ação ou
projeto no sentido de recuperação do meio ambiente, possibilitando o seu
retorno às condições originais ou o restabelecimento das condições de
equilíbrio” (Ibama, 1990).

6.4 Conclusões

A elaboração de Prad envolve muitos dos aspectos contemplados em um


EIA/Rima, sua execução faz parte desses estudos e é parte fundamental para

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 79


as ações de mitigação dos diversos impactos relacionados a empreendimentos
e obras. O Prad deve levar em consideração a previsão e a importância dos
impactos e os estudos de importância ambiental. Veremos no próximo capítulo
como são feitas essas avaliações.

7. Estudos de Base e Diagnóstico Ambiental

7.1 Introdução

Como o próprio nome diz, os estudos de base fornecem todo o embasamento


técnico-científico para a realização de um diagnóstico ambiental. O diagnóstico
ambiental é o ponto de partida para todo EIA, pois é realizado a partir da
definição dos indicadores ambientais, sociais, econômicos e culturais.

7.2 Previsão da avaliação da importância de impactos

Com relação à previsão de impactos ambientais existem alguns métodos já


estruturados que possibilitam identificar, coletar e organizar as informações
coletadas de modo que sua visualização fique clara para as partes interessadas
(Andreazzi & Milward-de-Andrade, 1990). Esses métodos variam com as
características do projeto e as condições ambientais (Magrini, 1989; Silva,
1994) e podem ser utilizados como avaliação da importância relativa dos
impactos em escalas espaciais e temporais.

Como discutido anteriormente, a aplicação de métodos para AIA mostra-se


limitada pela própria dificuldade de prever a evolução de sistemas tão
complexos quanto os ecossistemas e pela dificuldade na avaliação da dinâmica
social desencadeada por uma ação ou projeto, que estão sujeitas a aspectos
de caráter econômico, cultural e psicológico de apreensão bastante complexa.
Existem na literatura diversas classificações para estas técnicas, que variam
conforme a ótica adotada. Neste trabalho vamos adotar a classificação a divisão

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 80


dos métodos em dois grandes grupos: os métodos tradicionais de avaliação de
projetos, como a análise custo-benefício, e os métodos calcados na utilização
de pesos escalonados. O primeiro grupo de técnicas busca uma mensuração
desses aspectos em termos monetários, enquanto o segundo procura aplicar
escalas de valores aos diferentes impactos medidos originalmente em suas
respectivas unidades físicas, estes são chamados também de métodos
quantitativos. Os métodos quantitativos são classificados em duas categorias
(Absy, 2001):

 Centrada preponderantemente na identificação e sintetização dos


impactos.
 Incorpora de forma mais efetiva o conceito de avaliação, podendo
explicitar as bases de cálculo ou a ótica de diferentes grupos sociais.

Na primeira categoria encontram-se os métodos do tipo listagem de controle


(checklists), as matrizes de interação, os diagramas de sistemas, os métodos
cartográficos, as redes de interação e os métodos ad hoc; e na segunda estão
métodos como o de Battelle e análise multicritério, que explicitam as bases de
cálculo, e a folha de balanço e a matriz de realização de objetivos, que
desagregam a avaliação segundo a ótica de diferentes grupos (Magrini, 1990).

Existem também os chamados métodos ad hoc, como sua própria denominação


indica, são elaborados para um projeto específico, identificando normalmente
os impactos mediante longa reflexão, caracterizando-os e sintetizando-os em
seguida por meio de tabelas ou matrizes. A seguir veja uma breve descrição
dos métodos:

- Métodos cartográficos: o mais conhecido é o método McHarg,


desenvolvido em 1969 para determinar aptidões territoriais por meio de
superposição de mapas de capacidade, confeccionados em diferentes tons de
cinza para quatro usos distintos de solo (agricultura, recreação, silvicultura e

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 81


meio urbano), em que se estabelecem as possibilidades de usos combinados.
Esses métodos são aplicados na avaliação de impactos ambientais visando à
localização e à identificação da extensão dos efeitos sobre o meio pelo uso de
fotogramas aéreos; ultimamente são utilizadas imagens de satélites
(Bachfischer, 1978). As principais vantagens desses métodos consistem na
grande capacidade e objetividade para representar a distribuição espacial dos
impactos, sendo limitados, contudo, quanto à capacidade de identificação dos
impactos indiretos e de considerar os impactos socioeconômicos. Podem ser
úteis na elaboração de zoneamentos ambientais. Mais recentemente, o método
de “Análise do Risco Ecológico”, partindo deste enfoque, evoluiu para
incorporar condicionantes socioeconômicos e problemas de desenvolvimento
regional, permitindo superar algumas dessas limitações (FARIA, 1983).

- Métodos checklist: consistem em relações padronizadas de fatores


ambientais a partir das quais se identificam os impactos provocados por um
projeto específico. Existem hoje diversas listas padronizadas por tipo de
projetos (projetos hídricos, autoestradas etc.) além de listas computadorizadas
como o Programa Meres, do Departamento de Energia dos EUA, que computa
a emissão de poluentes a partir de especificações sobre a natureza e o tamanho
do projeto. Embora sejam basicamente técnicas de identificação, as checklists
podem incorporar escalas de valoração e ponderação dos fatores. Apesar de
constituírem uma forma concisa e organizada de relacionar os impactos, são
um método por demais simples e estático, que não evidencia as inter-relações
entre os fatores ambientais (Tabela 7.1).

- Matrizes de interação: são técnicas bidimensionais que relacionam ações


com fatores ambientais. Embora possam incorporar parâmetros de avaliação,
são métodos basicamente de identificação. Entre os mais conhecidos encontra-
se a matriz de Leopold que é constituída de 100 colunas, nas quais estão
representadas as ações do projeto, e de 88 linhas relativas aos fatores
ambientais, perfazendo um total de 8.800 possíveis interações. Pela dificuldade

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 82


de operar com esse número de interações, trabalha-se geralmente com
matrizes reduzidas para 100 ou 150, das quais, em geral, no máximo 50 são
significativas. O princípio básico da matriz de Leopold consiste em,
primeiramente, assinalar todas as possíveis interações entre as ações e os
fatores, para em seguida estabelecer, em uma escala que varia de 1 a 10, a
magnitude e a importância de cada impacto, identificando se o mesmo é
positivo ou negativo. O principal problema dessa matriz é a pontuação da
importância dos impactos que é feita de forma subjetiva ou normativa, uma
vez que envolve atribuição de peso relativo ao fator afetado no âmbito do
projeto (série debate em meio em ambiente); este é um problema pertinente
também aos demais métodos quantitativos. Outros aspectos criticáveis são a
não identificação das inter-relações entre os impactos, o que pode levar à dupla
contagem ou à subestimativa desses impactos, bem como a pouca ênfase
atribuída aos fatores sociais e culturais (Absy, 2001).

- Redes de interação: estabelecem relações do tipo causa-condição-efeito


que permitem a melhor identificação dos impactos e de suas inter-relações. Um
dos métodos mais conhecidos é o de Sorensen (1971), que analisa diversos
tipos de uso do solo em regiões costeiras. Trata-se de uma técnica
preponderantemente de identificação de efeitos, que parte da caracterização
de diferentes usos de solo, os quais se desdobram em diversos fatores causais
que, por sua vez, acarretam impactos ambientais classificados em condições
iniciais, consequências e efeitos. O método indica igualmente ações corretivas
e mecanismos de controle. Rau (1980) acrescentou ao método Sorensen
parâmetros valorativos de magnitude, importância e probabilidade, visando ao
cálculo de um índice global de impacto. Embora ele apresente um avanço em
relação aos métodos anteriores, persistem nesse enfoque problemas
conceituais relativos à determinação da importância, além de ser relativamente
difícil garantir o uso de escalas intervalares para todos os impactos. Esse
método utiliza parâmetros probabilísticos, o que é um avanço em relação aos
outros métodos, no entanto a carência de informações históricas que permitam

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 83


seu cálculo é uma dificuldade a mais desse método. Métodos similares como o
CNYRPAB (Departamento de Desenvolvimento e Planejamento Regional do
Estado de Nova York) e o Bereano são utilizados para identificar os impactos
do oleoduto do Alasca (Absy, 2001).

Tabela 7.1 Exemplo de planilha de checklist realizado na Central de Tratamento


de Resíduos (CTR) de Igarassu, PE (Fonte: França et al., 2012)

Mapeamento de Processos Avaliação de Aspectos e Impactos Ambientais


CTR-PE Revisão 1
Área: CTR-PE
Data: outubro de 2012
Meio Aspecto Impacto Efeito Natureza Temporalidade
Duração Reversibilidade Magnitude Abrangência
Frequência Significância Medidas MitigadorasLegislação Ambiental
Aplicável

Atividades do Laboratório Físico Descarte das substâncias químicas


Risco de acidentes operacionais. N D T C R 2
1 1 2 Programa de Gerenciamento e descarte de
substâncias químicas Lei no 6.367, de 19 de outubro de 1976 - Dispõe
sobre o seguro de acidentes do trabalho a cargo do INPS e dá outras
providências.
Área dos Reatores Físico Manutenção dos reatores A falha pode ocasionar
danos ao solo e lençol freático N D T L I 2 1
3 6 Reciclagem dos funcionários. NR 9/Ministério do
Trabalho  Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
Área das Balanças Biótico Veículos de grande porte Contaminação do solo
através do derramamento de óleos e graxas N D P L I
3 1 1 3 Programa de Manutenção Preventiva 
Programa de Monitoramento Resolução Conama no 362 de 23 de junho de

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 84


2005 – Determina que todo óleo lubrificante usado ou contaminado receberá
destinação adequada.
Classe I Biótico Sistema de Drenagem Superficial Carregamento de
Partículas para os corpos d'água N D P M I 1 2
1 2 Programa de Manutenção Preventiva - Programa de
Monitoramento NR 9/Ministério do Trabalho  Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais
Classe II Físico Operação de veículos e máquinas Emissão de gases N
I P M I 2 1 3 6 Monitoramento
na manutenção dos veículos Decreto Estadual no 24.017, de 07 de
fevereiro de 2002. Aprova o zoneamento ecológico econômico costeiro (ZEEC)
do litoral norte do Estado de Pernambuco e dá outras providências.
Áreas de preservação Biótico/Físico Recuperação de áreas degradadas
Plantio Compensatório P D P L I 3 1
3 9 Palestras sobre Educação Ambiental Decreto Estadual
no 24.017, de 07 de fevereiro de 2002. Aprova o zoneamento ecológico
econômico costeiro (ZEEC) do litoral norte do Estado de Pernambuco e dá
outras providências.

- Diagramas de sistemas (Odum, 1971): são outra categoria de técnicas de


identificação; utilizam simbologia relativa a circuitos eletrônicos, os impactos
são medidos em termos de fixação e fluxo de energia entre os componentes
dos ecossistemas (Gilliland e Risser, 1977). A grande vantagem dessa técnica,
além de identificar os impactos indiretos, está na utilização de uma unidade
comum para mensuração de todos os impactos. No entanto, diagramas não
são muito difundidos por causa do relativo grau de complexidade no
estabelecimento dos fluxos de energia para todos os 17 impactos. Aspectos
como ruídos, fatores estéticos, sociais, culturais e outros são de difícil
mensuração em unidades energéticas. Uma outra dificuldade está no
estabelecimento dos limites do sistema, e de assegurar que todas as trajetórias

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 85


e interações estejam sendo consideradas, além da impossibilidade de se
quantificar todos os impactos em unidades energéticas.

- Método Battelle ou sistema de avaliação ambiental (EES): explicita,


claramente, as bases de cálculo dos índices utilizados e conduz à obtenção de
valorização e avaliação integradas da importância dos impactos, resultando na
representação de um índice correspondente à avaliação total dos impactos
ambientais. É constituído de quatro categorias ambientais que se desdobram
em 18 componentes; estes, por sua vez, subdividem-se em 78 parâmetros. A
determinação do grau de impacto líquido para cada parâmetro ambiental é
dada pela expressão:

UIA = UIP × QA
onde:
UIA = unidade de impacto ambiental
UIP = unidade de importância
QA = índice de qualidade ambiental.

A contabilização final é feita pelo cálculo de um índice global de impacto, dado


pela diferença entre a unidade de impacto ambiental total com a realização do
projeto e a unidade de impacto ambiental sem a realização do projeto, ou seja:
UIA com projeto  UIA sem projeto = UIA por projeto.

O índice de qualidade ambiental é determinado a partir da medição dos


parâmetros em suas respectivas unidades e posterior conversão, por meio de
funções características de cada parâmetro (escalares), em uma escala
intervalar que varia de 0 a 1. Esses escalares podem variar conforme a natureza
do parâmetro e do ecossistema considerado. Embora esse método apresente
vantagens em relação aos anteriores no que tange à explicitação das bases de
cálculo, ele apresenta falhas quanto à identificação das interações entre
impactos, podendo levar à dupla contagem e ao estabelecimento dos escalares.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 86


Enquanto o comportamento de alguns parâmetros, como os de caráter físico,
é em princípio de mais fácil determinação, o de outros, como os de natureza
social e cultural, torna questionável a aplicação de funções.

- Análise multicritério (AMC): decorre da incorporação dos problemas que


envolvem a análise de múltiplos objetivos, além de grandes incertezas relativas
aos possíveis impactos e aos conflitos entre diferentes óticas individuais ou de
grupos sociais. Os métodos de análise multicritério agregam etapas do
processo de avaliação de impacto ambiental, como a definição das ações
potenciais a serem analisadas, a formulação de critérios de análise e a avaliação
das ações sob a ótica de cada critério. A evolução desses métodos está
associada à viabilidade de permitir uma análise sistematizada, não estática e
gradual, além de operar uma avaliação baseada em critérios tanto qualitativos
como quantitativos. Um outro aspecto importante está na utilização de
instrumentos probabilísticos e de análise de sensibilidade, além de agregar
aspectos teóricos e técnicos aos processos de negociação. Como restrição à
aplicação desses métodos está a complexidade de que se revestem, com uma
abordagem necessariamente tecnocrática, dificultando a participação do
público na análise dos resultados. Além disso, a fragmentação e a
compartimentalização do ambiente acarretam uma ênfase exclusiva nos
componentes ambientais, sem levar em conta as interrelações do sistema
ambiental. Métodos análogos são o de Helliwell, que formulou um sistema de
classificação ecológica para florestas e áreas florestáveis, e o de Sondheim, que
utiliza especialistas para a determinação da magnitude e representantes do
público para a pontuação da importância, entre outros (Absy, 2001).

Um dos aspectos mais frágeis dos métodos anteriores consiste na determinação


da importância dos impactos. O elevado grau de subjetividade presente nesta
atividade levou ao desenvolvimento de técnicas que, em vez de estabelecerem
peso único de importância, procuram evidenciar as diferentes óticas dos grupos
envolvidos. Chega-se, assim, aos métodos que explicitam os valores do público.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 87


Entre essas técnicas, estão a folha de balanço de planejamento, a matriz de
realização de objetivos, a matriz de trade-off simples e a matriz de trade-off de
prioridades.

- Folha de balanço de planejamento: classifica os atores envolvidos em


produtores (empresas, indivíduo, atividade ou local) e consumidores (grupos
afetados). Em seguida, contabiliza em termos monetários os custos e benefícios
de alternativas para as partes afetadas, sem qualquer preocupação, a priori,
com o cálculo de um índice global, já que os eventuais impactos não
quantificáveis são objeto apenas de uma análise qualitativa.

- Matriz de realização de objetivos: considera os grupos afetados sem


classificá-los em produtores e consumidores, pois esta classificação é por vezes
difícil, comportando elevado grau de subjetividade. Os impactos das
alternativas são avaliados em termos de custos e benefícios a partir das
ponderações dos diferentes objetivos da comunidade e dos grupos afetados. É
evidente que mesmo esse tipo de técnica embute subjetividades e dificuldades
de contabilização. Assim, é sempre aconselhável, quando se trabalha com
sistema de pesos, efetuar análises de sensibilidade. De qualquer forma, o
enfoque apresenta a vantagem de contrapor, de modo transparente, as
diferentes óticas envolvidas. (ABSY, 2001).

Pode-se perceber que os diferentes métodos apresentados anteriormente


apresentam sempre alguma limitação no que diz respeito a valoração dos
impactos que, notadamente com relação aos impactos socioculturais,
apresentam várias dificuldades de valoração. Portanto, seus resultados devem
ser considerados com cuidado e seus efeitos devem ser sempre ponderados,
analisando-se suas partes constituintes separadamente. Cada fase do processo
de AIA corresponde a um capítulo, em que se caracterizam os agentes sociais
envolvidos, os procedimentos e as ferramentas, atuais e alternativos, bem

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 88


como as sugestões de mudança na legislação existente para viabilização das
alternativas propostas.

As etapas de avaliação envolvem um conjunto de métodos que devem ser


utilizados de acordo com a sua operacionalidade, sua relação custo-benefício e
sua eficácia. Métodos que envolvam esforços financeiro e de tempo muito
elevados que não resultem em ganhos reais de acurácia e precisão ou que são
desnecessários diante do problema analisado devem ser evitados. São
normalmente utilizados cinco métodos para efetuar a predição (Westman,
1985):

• Estudos de casos que permitam extrapolar os efeitos de uma ação similar


sobre o mesmo ecossistema ou outro ecossistema semelhante.

• Modelos conceituais ou quantitativos que efetuem previsões das interações


do ecossistema.

• Bioensaios de estudos de microcosmo que simulem os efeitos das


perturbações sobre os componentes dos ecossistemas sob condições
controladas.

• Estudos de perturbações no campo que evidenciem respostas de parcela da


área proposta para o projeto às perturbações experimentais.

• Considerações teóricas de especialistas que propiciem a predição dos efeitos


a partir da teoria vigente e dos dados disponíveis. É possível também a reunião
de vários especialistas para opinar sobre o problema.

Para cada um dos métodos explicitados anteriormente, indicadores ambientais


correspondentes a cada um dos compartimentos ambientais são necessários
para uma correta avaliação. Tais indicadores foram abordados no Capítulo 3.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 89


7.3 Análise de Risco de Impactos Ambientais

Para a delimitação das medidas mitigatórias, utilização é necessário utilizar os


métodos de avaliação da importância de impactos ambientais (discutida no
capítulo anterior) e também é de suma importância a realização de análises de
risco. Se, por um lado, a avaliação da importância dos impactos envolve a
multiplicidade de atributos e fatores tanto benéficos quanto maléficos do
ambiente, a análise de risco envolve apenas a consideração dos efeitos
negativos de aspectos do empreendimento ou obra que possam causar
acidentes. Muitas vezes os impactos derivados do seu mau funcionamento são
mais nocivos do que aqueles relacionados ao seu funcionamento normal
(Sanchez, 2006).

A análise de risco deve levar em consideração a duração e intensidade de tais


riscos, se estes são agudos, ou seja, eventos de forte intensidade mas de curta
duração como, por exemplo, explosão em indústrias ou rupturas de barragens,
ou se estes são crônicos, eventos de duração longa mas de baixa intensidade
que podem causar efeitos cumulativos, como, por exemplo, a liberação no
ambiente de substâncias tóxicas que podem gradativamente afetar a saúde de
uma população. Para cada um desses tipos há uma família de análises
possíveis. Tais riscos são chamados por esse mesmo autor de riscos
tecnológicos diferente dos chamados riscos naturais, que são oriundos de
fenômenos naturais (atmosféricos, hidrológicos, geológicos etc.). Normalmente
as avaliações de risco estão mais relacionadas com os denominados
tecnológicos, no entanto avaliações de risco podem tratar de modificações nos
processos naturais tais como as alterações geológicas ocasionadas pela
construção de uma estrada ou o aumento na probabilidade de inundação de
um rio dada a sua retificação (Sanchez, 2006).

A avaliação de riscos ambientais envolve a avaliação de uma série de condições


sobre sua magnitude e probabilidade de ocorrência. Risco pode ser definido

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 90


como estimativa do potencial de danos a pessoas, instalações, meio ambiente
ou imagem baseada em combinação de frequência esperada de ocorrência e
magnitude dos danos (Fepam, 2015). Pode ser estimado pela fórmula a seguir:

R = f(M, P) => Perigos


Onde: R é o risco, M é a magnitude do evento e P é a probabilidade.

O risco está associado à possibilidade de ocorrência do evento, é uma


propriedade intrínseca da situação, ser ou coisa e não pode ser controlado ou
reduzido. O que pode ser gerenciado é o perigo associado ao risco, atuando-
se sobre sua frequência e/ou magnitude. O Ibama faz distinção entre dois tipos
de análise, uma para risco e outra para perigo, no caso da avaliação laboratorial
do uso de agrotóxicos. Na avaliação de perigo consideram-se os resultados dos
testes como base para estabelecer restrições ao uso de um produto, visando
evitar acidentes. Pode-se dizer que o foco de uma avaliação de perigo não é o
uso regular de um produto, mas sim a consequência de um acidente. De modo
diverso, na avaliação de risco, visa-se averiguar se é seguro o uso regular de
um dado produto, nos termos de uso propostos pelo registrante (dose, método,
intervalo e período de aplicação), considerando-se além do comportamento e
toxicidade expressos nos resultados dos testes, as estimativas de concentração
ambiental (Santos, 2012).

A avaliação de risco é realizada, geralmente, em três etapas: identificação dos


perigos, análise das consequências e estimativas do risco e avaliação dos riscos
e gerenciamento dos riscos (Carpenter, 1995). Estudos de Análise de Riscos
(EAR) podem ser integrados aos EIA ou podem ser realizados separadamente.
Em atividades ligadas a extração, refino e transporte de petróleo esses estudos
são quase sempre exigidos. Nas indústrias, normalmente, estabelece-se um
programa composto de formulação, implementação, acompanhamento e
auditoria de medidas e procedimentos técnicos e administrativos destinados a
eliminar, prevenir, minimizar e controlar os riscos identificados nas instalações,

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 91


chamado de planos de gerenciamento de risco (PGR) (Fepam, 2015). Tais
medidas devem agir nos dois fatores que configuram a avaliação de risco de
forma conjugada, ou seja, conjugando as probabilidades de frequência e de
magnitude do evento.

Os PGR são bem mais simples que os EAR; este último possui uma série de
itens, a saber: caracterização do empreendimento e da região, identificação
dos perigos e consolidação de cenários de acidentes, estimativa de efeitos
físicos e análise de vulnerabilidade, estimativa de frequências e de avaliação de
riscos e gerenciamento de riscos. Este último item é o PGR que é composto por
planos e medidas relacionados aos aspectos críticos mais importantes
identificados e possui um plano de atendimento de emergência (PAE) em caso
de ocorrência de acidentes. O PGR pode ser facilmente incorporado a um EIA
e contém informações sobre segurança dos processos, manutenção,
treinamento de pessoal, procedimentos operacionais similares aos encontrados
internamente nas empresas (Sanchez, 2006).

Há diversas técnicas, ferramentas e procedimentos para a execução das


análises de risco que não cabem ser discutidas aqui; informações mais
detalhadas podem ser encontradas em Carpenter (1995) e Sanchez (2006);
para barragens, em específico Colle (2008) pode ser consultado.

7.4 Técnicas de Consulta e Participação Pública

A participação pública é uma ação que deve ser realizada em várias etapas do
processo de AIA. A audiência pública é um instrumento formal de participação
pública no processo de AIA (Conama nos 001/86 e 009/87) que ocorre após a
execução do EIA e a apresentação do Rima. Pode ser solicitada pelo Ministério
Público ou por um conjunto de 50 cidadãos. A legislação não prevê audiências
para outros tipos de estudos ambientais (PCA, RCA, Prad; documentos
previstos na categoria extração mineral). As finalidades da audiência pública

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 92


são: expor o projeto proposto e seus impactos ambientais e discutir o Rima,
sanar dúvidas, recolher as críticas e sugestões a respeito, levantar subsídios
para a análise e parecer final do órgão licenciador sobre o empreendimento
proposto. O órgão de meio ambiente, a partir da data de entrega do EIA/Rima,
fixa em edital, anunciado pela imprensa, o local e a abertura do prazo para que
os interessados solicitem a realização de audiência pública com um prazo de
no mínimo 45 dias. Durante esse prazo são disponibilizadas cópias do Rima,
respeitando o sigilo industrial. Após o prazo, o Órgão/Conselho Estadual do
Meio Ambiente (Oema) convoca os solicitantes e divulga na imprensa a data, o
local e o horário da audiência. A audiência é dirigida pelo representante do
Oema, que, após a exposição do projeto e do Rima, abre a discussão para os
presentes. Na parte final é lavrada a ata e são anexados os documentos escritos
e assinados (Absy, 1995).

Atualmente há orientação para a utilização de várias práticas e mecanismos de


participação pública no sentido de promover a negociação em várias fases do
processo. Tais fases podem envolver diferentes atores sociais com interesses
distintos.

A audiência pública é o único mecanismo de participação social previsto na


legislação ambiental brasileira para o processo de AIA (ver Resolução Conama
no 001/86) e tem caráter não obrigatório. Ela pode também ser realizada se for
julgada pertinente ou quando requerida por entidade civil, pelo Ministério
Público ou por 50 ou mais cidadãos. Outros mecanismos são propostos com o
objetivo do incremento da participação social no processo de AIA, são eles
(Absy, 1995):

 Grupo de trabalho: formalizado e coordenado pelo órgão ambiental


licenciador, com a função de compartilhar responsabilidades em diferentes
fases do processo de AIA.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 93


 Comitê de assessoramento técnico-científico: apoia o órgão de
meio ambiente.

 Grupo de assessoramento popular: organizado preferencialmente


com o apoio do setor de educação ambiental do órgão ambiental licenciador.

 Audiências públicas intermediárias: têm como objetivo um


escalonamento do processo de AIA, com possibilidade de concessão de licença
prévia a empreendimentos, antes de concluído o EIA/Rima ou outro documento
técnico semelhante exigido pelo órgão de meio ambiente. Esse mecanismo
possibilita correções no processo, antes da audiência pública final, podendo
agilizar a tomada de decisão e reduzir custos, tanto para o empreendedor
quanto para o órgão ambiental.

É pertinente a implementação de um ou mais mecanismos desses no processo


de AIA. Sua inclusão evita problemas futuros, possibilitando a identificação e
solução de problemas oriundos de conflitos entre as partes interessadas no
decorrer do processo, não deixando para o final, o que evita, assim, que o
EIA/Rima tenha que ser refeito.

7.5 Conclusão

Com o fim deste capítulo cobrimos todos os aspectos relativos à AIA. Vamos
agora analisar estudos de caso de EIA, discutindo suas etapas.

8. Estudos de Caso

8.1 Introdução

A avaliação dos EIA/Rima envolve a análise minuciosa de suas etapas quanto


à correta avaliação de tipos e magnitude dos impactos identificados e a análise

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 94


da adequação dos métodos propostos para a sua mitigação. Neste capítulo
serão discutidos alguns aspectos da avaliação dos estudos de impacto
ambiental mediante análise de um estudo de caso.

8.2 Análise de Relatório de Impacto Ambiental

A análise dos EIA/Rima são feitas item por item orientados por perguntas que
visam analisar se os objetivos e metas delimitados foram alcançados. Quanto
aos métodos e às técnicas, deve-se verificar se estão adequados ao objeto de
estudo, a região onde se insere a obra ou empreendimento e se o estudo
poderá ser feito no período proposto, isto é, se a quantidade de dados e o
tempo de coleta são adequados. Também tem que levar em consideração a
capacidade de tal método em avaliar a situação existente e fazer os
prognósticos futuros dos impactos gerados, indicando suas alternativas
metodológicas e medidas de controle e monitoramento dos impactos gerados.

Outro critério importante é fazer a avaliação da área de influência do


empreendimento: a definição clara dos aspectos ecológicos e socioeconômicos
e delimitação da influência para cada fator ambiental e seus componentes
culturais, econômicos e sociopolíticos da intervenção proposta. A elaboração
de uma base cartográfica geograficamente referenciada e a delimitação da
escala adequada à interpretação dos dados e ao registro das conclusões
recomendadas.

A etapa de previsão dos impactos é também avaliada analisando-se a clareza


de métodos, técnicas e critérios adotados tais como: saúde, segurança e o
bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; qualidade dos recursos
ambientais. Um dos aspectos mais importante dessa etapa da avaliação do
EIA/Rima é a sua adequação quanto à capacidade de avaliar a qualidade
ambiental futura. Nessa etapa deve-se verificar se a avaliação feita no

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 95


EIA/Rima fornece bons modelos para previsão de impactos futuros e se os
indicadores propostos são adequados para avaliar os diversos efeitos
ambientais potenciais tais como: efeitos positivos e negativos (benéficos e
adversos), diretos e indiretos (cadeia de efeitos), imediatos e a médio e longo
prazos e temporários e permanentes.

Se esses modelos e indicadores são adequados, então pode-se ter certa


confiança na definição das medidas de monitoramento e nas propostas de
mitigação dos impactos identificados contidas no plano de monitoramento. Elas
também fornecerão embasamento para saber se outros aspectos como o grau
de reversibilidade, as propriedades cumulativas e sinergéticas dos impacto e a
distribuição dos custos e dos benefícios sociais do empreendimento foram
adequadamente analisados. Por último, deve-se analisar se as alternativas
técnicas e econômicas elaboradas comtemplam a mitigação dos impactos
negativos e a potencialização dos impactos positivos (Absy, 1995).

8.3 Estudo De Caso

Faremos agora a análise de alguns aspectos do Estudo de Impacto Ambiental


da PCH Nova Maurício, localizada nos municípios de Leopoldina, São João
Nepomuceno, Descoberto e Itamarati de Minas, distando 320 km de Belo
Horizonte, de propriedade da Valesul Alumínio S.A. (Visão Ambiental, 2011). O
estudo completo está disponível em
http://www.siam.mg.gov.br/siam/lc/2011/2694020100012011/9223362011.p
df, e seria interessante que o aluno obtivesse esse documento para a análise a
seguir.

Esse empreendimento foi construído em 1955 e entrou em operação no ano de


1956 com um gerador. Nos anos de 1958, 1967 e 1970 outros três geradores
foram instalados, aumentando assim sua geração de energia. O reservatório
formado pelo barramento no rio Novo atingiu uma área de 3,12 km2 de

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 96


extensão (área inundada). Na época da instalação da usina não existiam
exigências ambientais. A empresa já estava instalada há mais de 50 anos e o
documento em análise é o requerimento de uma LOC.

O EIA da empresa apresenta todos os itens necessários à avaliação do impacto


ambiental, estando no sumário todas as etapas necessárias contempladas
(Figuras 8.1 e 8.2). Na caracterização do empreendimento as etapas de análise
de custo-benefício e de contabilidade financeira não precisaram ser elaboradas,
pois a instalação já estava feita. Logo após, segue-se um item de levantamento
da legislação ambiental pertinente que trata basicamente dos aspectos
relacionados com a qualidade de água e unidades de conservação, principais
impactos gerados pelo empreendimento, já que ele pressupõe modificações na
qualidade da água e os impactos relacionados com a inundação das áreas
adjacentes. Nesse item, é feito um levantamento descritivo da legislação
bastante extenso, principalmente no que tange às áreas de preservação
ambiental, que depois não é utilizada para justificar a área de influência direta
ou indireta de forma direta. A etapa seguinte faz a delimitação das unidades
de conservação e utiliza pobremente a legislação levantada, ou seja, todo o
levantamento da legislação ambiental, no que tange a unidades de
preservação, é desnecessária. É fornecida uma extensa lista de leis federais,
estaduais e municipais que não serão utilizadas para justificar os impactos do
empreendimento. Isto poderia ser feito com uma breve descrição da legislação
pertinente ao caso específico direcionado ao problema em questão.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 97


Figura 8.1 Sumário do estudo de EIA/Rima da PCH Nova Maurício, Minas Gerais.
(Fonte: Visão Ambiental, 2010, p. 1)

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 98


Figura 8.2 Continuação do sumário do estudo de EIA/Rima da PCH Nova
Maurício, Minas Gerais. (Fonte: Visão Ambiental, 2010, p. 1)

Um elemento importante apresentado pelo EIA é a declaração de anuência


fornecida pelas prefeituras, atestando a regularidade do empreendimento
quanto a legislação de uso e ocupação do solo. Esses documentos oferecem
embasamento técnico ao empreendimento e são importantes como suporte aos
outros elementos apresentados no EIA/Rima, pois demonstram que o estudo
está sendo observado pelos diferentes entes da federação.
A descrição do empreendimento a seguir mostra todos os detalhes técnicos
sobre as instalações e as medidas necessárias sobre as características do
funcionamento da mesma, tais como os níveis de vazão a montante e a jusante,
vazões mensais e medidas de tomada de água, além dos métodos utilizados
para essas medidas.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 99


Na etapa seguinte estão as descrições da área de influência direta (AID) e área
de influência indireta (AII). Importante nesse trecho é que, como o processo
de licenciamento está ocorrendo após a instalação da usina, a caracterização
anterior dos meios físicos, bióticos e socioeconômicos não foi feita e, portanto,
não é possível estimar de forma mais acurada quais foram os impactos
causados pelo empreendimento e, consequentemente, definir claramente o
que foi AID e AII. Os autores do EIA, em questão, ressaltam que “para estes
três meios, este estudo considerou coincidentes a AID (Área de Influência
Direta) e AII (Área de Influência Indireta), tendo em vista a consolidação do
empreendimento, em operação há mais de 50 anos, o que dificulta a
determinação da magnitude e espacialidade dos impactos ambientais advindos
da sua operação. Desta forma, e como proposta metodológica, admite-se nesse
estudo que os aspectos e impactos ambientais inerentes à operação da PCH
Maurício encontram-se dentro das áreas informadas abaixo” (Visão Ambiental,
2010, p. 33).

Isso também acontece com o diagnóstico ambiental, que leva em consideração


somente a fase de operação. Nesse item, os vários aspectos são tratados de
maneira ampla e avaliam-se os diferentes aspectos físicos do solo tais como
geologia, geomorfologia e tipo de solo. Um aspecto importante a ser notado
aqui é também o levantamento da tipologia minerária da região com suas
atividades mineradoras ativas e suas localizações por município abrangido pelo
empreendimento (Figura 8.3). A análise de tal atividade é importante por conta
da influência que pode exercer na qualidade da água.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 100


Figura 8.3 Tabela descritiva da tipologia minerária e das áreas ativas com suas
respectivas atividades do município de Leopoldina. (Fonte: Visão Ambiental,
2010, p. 50)

A empresa ainda apresenta, para o município de Leopoldina, um mapa


das solicitações de extração e exploração em andamento (Figura 8.4). Esse
aspecto é importante para prever os impactos potenciais futuros na atividade
da hidrelétrica.

Figura 8.4 Mapa de localização de solicitação de pesquisa e exploração mineral


nas AID e AII do empreendimento ora denominado PCH Nova Maurício. (Fonte:
Visão Ambiental, 2010, p. 51)

A seguir são feitas as análises da qualidade da água cujos e métodos e


procedimentos de análise são detalhados com nível de detalhamento
adequado, descrevendo-se a metodologia de amostragem, os pontos amostrais
e as normas pertinentes à realização da coleta e das análises químicas. Nessas

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 101


análises é possível perceber a preocupação na caracterização tanto espacial
quanto temporal, estabelecendo um acompanhamento da sua variação
sazonal. É claro que para a correta caracterização da variação sazonal seriam
necessárias séries históricas maiores, pois podem existir variações interanuais.
No entanto, na maioria dos EIA estas não podem ser feitas, pois o tempo
disponível para a realização de tal análise não é suficiente. A análise de casos
anteriores é importante para saber se existem levantamentos prévios para a
região com relação a esse aspecto. Nesse caso, a existência de dados pretéritos
sobre essas variáveis permitiria uma análise mais acurada da variação sazonal
das variáveis hidrológicas analisadas. Chama atenção a caracterização
minuciosa que é feita da biota aquática que, pelo seu detalhamento, permite
uma visão bastante ampla da riqueza e diversidade de tal biota. É importante
ressaltar a comparação dos resultados encontrados com os parâmetros de
qualidade de água e de índices bióticos existentes, eles fornecem uma base
comparativa importante na avaliação diagnóstica das áreas estudadas.

O diagnóstico do meio biótico terrestre envolveu tanto a parte de flora quanto


de alguns filos animais considerados importantes como peixes, anfíbios, répteis
e mamíferos. Na parte de foi feita a descrição das fitofisionomias do entorno,
da análise qualitativa dos seus respectivos estágios sucessionais, sua
composição específica, caracterização das AAP e de ocupação e uso do solo. A
parte de análise de fauna apresenta de forma detalhada a metodologia e os
resultados das coletas realizadas. No entanto, para a parte da flora não é
possível saber quais foram as metodologias de levantamento de dados e
tampouco se citam as referências que já foram utilizadas para tal, se for esse
o caso. Para isso, pode-se consultar a literatura, o IBGE e vários trabalhos
científicos com listas de espécies características para as várias regiões
fitogeográficas do Brasil. Se foi esse caso, essas referências deveriam ter sido
citadas, se não a metodologia deveria estar descrita.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 102


Um ponto importante nesse tópico é a descrição de atividade de plantio de
mudas e replantio de espécies nativas no entorno da represa. Esse é um
exemplo de boa prática realizada e que entra no hall de medidas mitigatórias
realizadas pela mesma. Como já visto em capítulos anteriores, essa é uma ação
que conta a favor da aprovação de uma licença. É discutível se esta deveria
estar junto a seção de diagnóstico, talvez seria melhor colocar como item à
parte junto com outras medidas mitigatórias.

A etapa de análise de impactos ambientais foi feita pela caracterização dos


impactos a partir do que se encontra instalado e em funcionamento, ou seja,
fase de operação do empreendimento. Os principais impactos gerados após a
operação de usinas hidrelétricas estão relacionados principalmente com a
qualidade de água e a comunidade de peixes, mas também envolvem ações de
reflorestamento das áreas do entorno que visam à melhoria da qualidade
ambiental dessas áreas e à diminuição dos processos de assoreamento por
transporte de solo para dentro do corpo hídrico do reservatório.

Para a análise de impactos ambientais, foram usados dois métodos já


discutidos: o método ad hoc, que consiste na realização de reuniões entre
profissionais experimentados de diversas áreas do conhecimento e escolhidos
de acordo com a natureza dos impactos a serem analisados, e o método da
listagem de controle (checklist), que consiste na listagem dos possíveis
impactos ambientais em ordem de importância (magnitude). A utilização de
tais métodos é complementar. O principal problema é que são métodos
tradicionais que não levam em conta os diferentes pesos que as variáveis
ambientais podem ter e não possibilitam a inter-relação entre eles. Como se
pode perceber, é feita uma listagem dos fatores identificados como causadores
dos impactos ambientais, mas nenhuma relação é estabelecida entre eles. Por
exemplo, o surgimento de pontos erosivos, o assoreamento e a qualidade da
água são aspectos relacionados que devem ser levados em consideração
conjuntamente.

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 103


Por fim, ressalta-se no EIA que o plano de monitoramento será apresentado
em um PCA que será elaborado posteriormente à aprovação do
empreendimento. Para o empreendimento isso apresenta a vantagem de poder
não gastar recursos incialmente desnecessários na sua elaboração se o projeto
não for aprovado.

8.4 Conclusão

A análise conduzida neste capítulo não teve como objetivo esgotar o assunto
em torno do tema, existem muitos aspectos que podem ser abordados
dependendo do tipo e da dimensão do empreendimento e das várias
características do local de sua implantação. O que se pretendeu aqui foi fazer
uma análise crítica da estrutura geral de um EIA com base em um exemplo
real, a fim de chamar a atenção para alguns aspectos importantes na
elaboração desse documento (o Rima já foi abordado em capítulo anterior). A
análise de outros documentos possibilitará a percepção dos diversos aspectos
que envolvem essa tarefa.

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