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RESUMO
Mais uma vez me deparo com uma obviedade a ser confirmada. Desta vez,
sobre o conceito de estética. Grande parte das pessoas sabem que é um ramo
da filosofia que estuda o belo. Foi desafiante escolher um texto de meu gosto
como referência, e a partir dele, descobrir que esta obviedade não se confirma,
ou seja, não é nada óbvia esta afirmação. O conceito de Estética, na visão
adotada, vai muito além do que o estudo do belo. Ela está enraizada na
existência, não é mera abstração. Enrique Dussel, a partir de Heidegger,
permitiu que eu conheça uma outra concepção sobre estética, que a mim, é
muito mais concreta que a prenunciada.
1. O QUE É ESTÉTICA?
1
Fiz este artigo como exigência do curso de pós-graduação em Filosofia e História contemporânea da
Universidade Metodista de São Paulo. Email para contato: hugo.allan@gmail.com.
2
Nome original: SKRIK. Esta obra expressa o desespero, no grito, as linhas sinuosas, as cores e a composição criam
uma tensão na obra, num contexto pós-guerra.
A palavra estética vem da palavra grega aísthesys, que significa
sentido, sensibilidade. Portanto, estética é a filosofia da sensibilidade e não da
beleza.
Se o ser humano, ao compreender o ser das coisas, dos entes, vai além
deles, transcendendo-os, instaurando uma nova ordem, que configura o mundo
a função d(a)(o) artista, portanto, vai muito além de imitar as coisas do
cotidiano. El(a)(e) deve reatualizar sua compreensão do ser dos entes, dentro
de um mundo, o faz através de sua inspiração e intuição artística. Penetrar nas
coisas até seu fundamento, ler nelas o mistério mais esquecido: intus-legere:
entendê-las3. Ou ainda, revelar o oculto4. Portanto, (a) (o) artista deve
compreender o ser dos entes que habitam o mundo, mundo este que é cultural,
histórico.
3
Aqui Dussel comenta Cornelio Fabro. (DUSSEL, 1997, p. 113.)
4
Dussel nos chama à atenção ao conceito de A-lethéia: desvelamento do oculto, voltar a si do esquecimento do ser:
Die Kehre der Vergessenheit des sein, um desvelar (enthüllen) o velado.
vivendo apenas pela mera utilidade, tudo fica inautêntico, impessoal, relativo, o
mundo torna-se cosmos.
Por isso é necessário que haja pessoas que possam desvelar o velado,
mostrar o ser das coisas. Na idade média, era dito como entusiasmo, ou seja,
ser habitado pelos deuses. O ser humano deve transcender-se, nunca
esquecendo-se do ser dos entes5.
Por isso, o artista deve ser antes de tudo um ser humano, que
junto ao metafísico cumpre a missão suprema dentro de uma
cultura: recuperar o sentido do ser de uma época. Sua função
não é intuir a beleza, mas primeiramente o ser. A partir do ser,
as coisas se mostram em sua beleza transcendental, nessa
beleza ontológica que é perfeitamente compatível com o
horrivelmente feio. A feiúra sensível da forma de um disforme,
de um mutilado de guerra, pode resplandecer sob a beleza de
seu ser oculto e agora manifestado. (DUSSEL, 1997, p.115).
5
Aqui achei pertinente copiar a nota que DUSSEL,1997,p.114, faz: “Quando Nietzsche expressou que "o homem é
como uma corda estendida entre o animal e o homem que se transcende (traduzido corretamente do termo
Uebermensch), uma corda sobre um abismo" (Also sprach Zarathustra, Stuttgart, Raclem, 1962, p. 8), apontou o que
anotamos aqui. Quando o homem não transcende a “situação dada", perde-se nela; quando não compreende o ser,
esquece-o e, esquecendo-o, perde por fim o último fundamento e o sentido de todo o seu mundo”.
6
La Liberté guidant le peuple foi pintada por Eugène Delacroix para comemorar a Revolução em Julho
de 1830.
Não é uma obra bela, agradável aos olhos. É chocante, provoca
espanto, as cores escuras, os corpos sendo pisoteados pelos vencedores, as
nuvens escuras cobrindo-os... Expressam o ser dos entes.
7
Na sua percepção, é claro.
8
Tirar a arte do ciclo do utilitarismo pragmático, não quer dizer que ela não tenha uma finalidade, como
veremos.
9
Alusão ao conceito de gênio: que ao contrário do que se pensa, não é exuberante, extraordinário, por
ser alguém além do normal. Mas a palavra gênio vêm de genética, de gens, ou seja, o gênio o é, porque
assumi-se enquanto diferente, enquanto ele mesmo. A dimensão poiética do ser humano, em sua
alteridade, vem justamente desta reflexão, que farei em outro momento.
Artista brasileira Nele Azevedo10
O que diz a arte abstrata a quem passa fome? O que a Monalisa pode
significar para a mulher violentada, em sua dignidade? Apenas quis trazer a
questão a ser conhecida. Sinceramente, não sei se voltarei a refleti-la
sistematicamente. Aqui exemplifiquei apenas com obras de arte mas por tratar-
se de estética, o conceito aqui exposto, aplica-se a música, teatro, cinema...
10
A artista fez cerca de mil esculturas de gelo para protestar contra a falta de políticas ambientais no
encontro da WWF (Word Wide Fund for Nature). Foto de Maya Hitij, acessada em:
http://twixar.com/nygv, Janeiro de 2010.
todas as formas de expressões artísticas. Com o agravante de que arte é arte.
Não há fragmentação ou status de uma mais importante que a outra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
11
http://innfoco.blogspot.com/2009/10/grafite.html, acessado em Janeiro, 2010.