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POLÍTICA INTERNACIONAL
Ano 41 nº 1 1998
MCT
Sumário
ROTAS DE INTERESSE
A integração bilateral Brasil-Argentina: tecnologia nuclear e Mercosul 5
Odete Maria de Oliveira
Moeda única do Mercosul: notas para o debate 24
Fabio Giambiagi
O euro e as relações exteriores da União Européia 39
Deisy Ventura e Philippe Alquié
A OMC – Organização Mundial do Comércio e as negociações sobre
investimentos e concorrência 56
Vera Thorstensen
PRIMEIRA INSTÂNCIA
As relações entre Argentina, Brasil, Chile e Estados Unidos:
política exterior e Mercosul 89
Raúl Bernal-Meza
Desafios e dilemas dos grandes países periféricos: Brasil e Índia 108
Samuel Pinheiro Guimarães
Uma nova política exterior depois do apartheid? – Reflexões sobre
as relações regionais da África do Sul, 1974-1998 132
Wolfgang Döpcke
A Guerra do Chaco 161
L. A. Moniz Bandeira
INFORMAÇÃO
Resenhas 201
Antonio Augusto CANÇADO TRINDADE: Tratado de Direito Internacional dos
Direitos Humanos (Volume I). Maurice VAÏSSE: La Grandeur: politique étrangère du
général de Gaulle (1958-1969). Katia de Queirós MATTOSO; Idelette M. Fonseca
dos SANTOS; Denis ROLLAND (dir.): Naissance du Brésil moderne: 1500-1808.
Alfredo da Mota MENEZES: Guerra do Paraguai: como construímos o conflito.
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Caixa Postal 4400 70919-970 Brasília DF, Brasil
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REVISTA BRASILEIRA DE POLÍTICA INTERNACIONAL
Ano 41 nº 1 1998
Contents
ROUTES OF CONCERN
The bilateral integration Brazil-Argentina: nuclear technology and Mercosur 5
Odete Maria de Oliveira
Mercosur’s single currency: notes for the debate 24
Fabio Giambiagi
The euro and the European Union foreign relations 39
Deisy Ventura e Philippe Alquié
The WTO – World Trade Organisation and the negotiations
about investments and competition 56
Vera Thorstensen
FIRST INSTANCE
The relations between Argentina, Brazil, Chile and the United States:
foreign policy and Mercosur 89
Raúl Bernal-Meza
Brazil and India: the great peripheric countries challenges and dilemmas 108
Samuel Pinheiro Guimarães
A new foreign policy after the apartheid? – Reflections about
South Africa regional relations, 1974-1998 132
Wolfgang Döpcke
The Chaco War 161
L. A. Moniz Bandeira
INFORMATION
Reviews 201
Antonio Augusto CANÇADO TRINDADE: Tratado de Direito Internacional dos
Direitos Humanos (Volume I). Maurice VAÏSSE: La Grandeur: politique étrangère du
général de Gaulle (1958-1969). Katia de Queirós MATTOSO; Idelette M. Fonseca
dos SANTOS; Denis ROLLAND (dir.): Naissance du Brésil moderne: 1500-1808.
Alfredo da Mota MENEZES: Guerra do Paraguai: como construímos o conflito.
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A integração bilateral Brasil-
Argentina: tecnologia nuclear e
Mercosul
ODETE MARIA DE OLIVEIRA*
1. Introdução
nessa área. No país, a evolução dos trabalhos investigatórios remonta aos idos de
1934, no campo da Física Nuclear, junto à Universidade de São Paulo, estendendo-
se a outras universidades.
Nos anos 50, foram criados vários institutos de pesquisa (Belo Horizonte,
São Paulo e Rio de Janeiro), equipados com reatores experimentais, sofisticados
laboratórios e grupos de estudos, obtendo significativos resultados: projetaram e
construíram um reator de pesquisa (tipo Argonauta) e fabricaram seu combustível.
Ainda foram criados vários organismos de planejamento e administração, objetivando
promover as diretrizes políticas ao setor, mobilizando os cientistas em direção à
tecnologia do urânio natural e água pesada, o que ensejaria a independência da
nação brasileira ao monopólio externo e às regras de salvaguardas internacionais.1
Entre as décadas de 40 e 70, em parceria com os EUA, sucessivos acordos
bilaterais foram firmados, com resultados desfavoráveis ao Brasil, pois
comprometiam o potencial estratégico de seus minérios atômicos.
Em l975, amplo e oneroso acordo bilateral foi firmado com novo parceiro,
a Alemanha, que definiu a tecnologia do urânio enriquecido e água leve ao Programa
Nuclear Civil do país. Opção deplorável em todos os sentidos: representava forte
interesse de grupos e institucionalizou a situação de dependência ao Estado nuclear
brasileiro, acarretando sérios prejuízos à soberania nacional, além de pesados ônus
financeiros que agravaram ainda mais a dívida externa do país.2
Nessa época dos anos 70, o governo do presidente Ernesto Geisel decidiu
implantar, no país, em dez anos, importante parque nuclear,3 um gigantesco projeto,
concretizado em etapas: a) um complexo de nove usinas atômicas geradoras de
energia nuclear; b) um complexo de usinas destinadas ao ciclo completo de
combustível nuclear. Os governos seguintes postergaram os cronogramas de
execução das usinas nucleoelétricas, com exceção de Angra I que se encontrava
em avançado estágio de construção, de Angra II e Angra III.
A experiência da primeira usina nuclear brasileira e a segunda da América
Latina, Angra I, localizada a l30 Km do Rio de Janeiro, adquirida da Westinghouse
(EUA), foi negativa. Apresentou toda espécie de problemas. Sua edificação, iniciada
em l972, entrou em operação comercial em l984, após treze anos de construção e
com apenas 50% de sua capacidade máxima, por falhas no projeto de seu reator
que, somadas a uma série de defeitos crônicos, obrigavam a manter o reator parado
por longos períodos de tempo, tornando a central conhecida por vaga-lume (acende
e apaga).4
Vultoso é o prejuízo dessa usina que permanece sem fornecer a
contraproposta de sua demanda, face ao agravamento de problemas e prolongados
períodos de paralisação no processo de geração elétrica, enquanto seu investimento
ultrapassa a 2,2 bilhões de dólares.5
A segunda usina nuclear, Angra II, localizada próxima à Angra I, foi
adquirida da Kraftwerk Union AG (KWU), Alemanha, em l976. Seu cronograma
A INTEGRAÇÃO BILATERAL BRASIL-ARGENTINA: TECNOLOGIA NUCLEAR E MERCOSUL 7
são formalizados em solene tratado, com base nos estudos do PICE e da Declaração
de Iguaçu e firmado em 29 de novembro de l988.
O Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento instituía um
espaço econômico comum, no prazo de dez anos, numa primeira fase, quando
buscaria a harmonização das políticas aduaneiras, comerciais, agrícolas, industriais
e de transporte e comunicação, bem como a coordenação de políticas monetária,
fiscal e cambiária, e, numa fase mais adiantada, avançar na harmonização gradual
das demais políticas referentes ao mercado comum.
No início da presente década, em 6 de julho de l990, com assinatura da
Ata de Buenos Aires, Brasil e Argentina decidem acelerar o processo de integração
do mercado comum, antecipando, para a data de 3l de dezembro de l994, o marco
definitivo dessa consolidação, reduzindo pela metade os prazos estabelecidos no
Tratado de l988. O impacto dessa aceleração levou à adesão de novos parceiros
ao contexto da integração, de início o Uruguai e depois o Paraguai, a qual foi
pactuada, em 26 de março de l99l, no Tratado de Assunção, conduzindo o comando
das relações econômicas do Cone Sul no rumo ao fortalecimento de um bloco de
mercado comum regional protegido.
Esta década de 90 também se torna decisiva ao processo de integração
nuclear. A Declaração de Fiscalização Mútua, firmada em 28 de novembro de
1990, marca a terceira etapa da cooperação bilateral nuclear entre Brasil e Argentina
ao (a) criar o Sistema Comum de Contabilidade e Controle (SCCC); (b) estabelecer
o cumprimento das seguintes atividades: 1) intercâmbio das listas descritivas de
todas as instalações nucleares e das declarações dos inventários dos materiais
atômicos existentes em cada país; 2) realização de inspeções recíprocas nos
sistemas centralizados dos registros; 3) apresentação dos sistemas de registros e
relatórios do SCCC à AIEA; (c) agenciar a entrada em vigor do Tratado de Tlatelolco
e atualizar seus termos.
A viabilização jurídica da Declaração de Fiscalização Mútua foi formalizada
através de um amplo acordo, o Acordo para o Uso Exclusivamente Pacífico da
Energia Nuclear, firmado em 18 de julho de 1991, em Guadalajara, México, criando
a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares
(ABACC), com personalidade jurídica e sede no Rio de Janeiro. A esse acordo,
em 20 de agosto de 1991, foi firmado um Protocolo Adicional, estabelecendo
privilégios e imunidades aos funcionários e inspetores em missão ou serviços da
ABACC. Em síntese: o Acordo de 1991 concede às partes o direito inalienável ao
desenvolvimento da pesquisa, produção e utilização da energia nuclear com fins
pacíficos, preservando os segredos industriais, tecnológicos e comerciais de ambos
os países.
Na agenda das obrigações ajustadas na Declaração de Fiscalização Mútua,
duas etapas restava vencer: a) formalização de um acordo de salvaguardas; b)
vigência e atualização dos termos do Tratado de Tlatelolco.
A INTEGRAÇÃO BILATERAL BRASIL-ARGENTINA: TECNOLOGIA NUCLEAR E MERCOSUL 17
5. Considerações Finais
Junho de 1998
Notas
1 Ver OLIVEIRA, Odete Maria de. A questão nuclear brasileira: um jogo de mandos e desmandos.
Florianópolis: UFSC, 1989, 201p.
2 Ver OLIVEIRA, Odete Maria de. Os descaminhos do Brasil nuclear. Florianópolis: FUNCITEC/
Imprensa Oficial, 1998 (no prelo).
3 GOLDEMBERG, José. Energia nuclear no Brasil: as origens das decisões. São Paulo:
HUCITEC, 1978, p.85.
4 DARELLA, Maria Dorothea Post. Impasses de energia nucleoelétrica no Brasil na década de
80. Florianópolis: UFSC, 1989, 424p. Dissertação (Mestrado em Sociologia Política)
Universidade Federal de Santa Catarina.
A INTEGRAÇÃO BILATERAL BRASIL-ARGENTINA: TECNOLOGIA NUCLEAR E MERCOSUL 19
5 LOPES, Fernando. “Angra I pode gerar US$ 90 milhões”. Gazeta Mercantil. São Paulo, 12 abr.
1995, p.c-1.
6 “Na época em que foi adquirida, ano de 1976, o cálculo de seu custo aproximava 850 milhões
de dólares. Em 1992, passados 16 anos, elevava-se à casa dos 4,29 bilhões de dólares”. In:
TACHINARDI, Maria Helena. “Fechamento do acordo em bancos ajuda na obtenção de
recursos para Angra II”. Gazeta Mercantil. São Paulo, 10 jul. 1992, p.12.
7 “Angra-2 já bateu o recorde de atraso na construção de uma usina nuclear. Ela deveria ter
entrado em operação em 1983, dois anos após Angra-1, mas só operará no ano 2000 (...)”. In:
CAPOZOLI, Ulisses. “Cresce a oferta de urânio no mercado externo: programa nuclear brasileiro
nasceu em 1975”. Estado de S. Paulo. São Paulo, 24 out. 1995, p.A-15.
8 MENCONI, Darlene. “Verba acessa: o governo retoma as obras de Angra II, reabrindo debate
sobre energia nuclear”. Veja. São Paulo, p.42-44, abr. 1995.
9 Ver OLIVEIRA, Odete Maria de. Integração Nuclear Brasil-Argentina: uma estratégia
compartilhada. Florianópolis: UFSC, 1996, p.38-44.
10 “ESTRUTURA do setor pode sofrer alterações após a análise GT-PRONEN”. Gazeta Mercantil.
Rio de Janeiro, 6 de out. 1990, p.16. Ver ALVEL, Rex Nazaré. Política nacional de energia
nuclear. Rio de Janeiro: Escola Superior de Guerra, 1983, 59p. Palestra.
11 NUCLEOBRAS. “Complexo Industrial de Resende”. Rio de Janeiro: 1992, p.2.
12 COMISSÃO de avaliação do programa nuclear brasileiro. Relatório do Presidente de República.
Brasília: 1986, v.3. NT n.º 002 e n.º 003.
13 “SUBMARINO nuclear brasileiro fica pronto em seis anos”. Folha de S. Paulo. São Paulo, 12
set. 1989, p.A-8. “MARINHA instala reator em 1991”. Folha de S. Paulo. São Paulo, 3 dez.
1989, p.A-4.
14 MALHEIROS, Tânia. “Exército começa a construção do reator atômico”. Folha de S. Paulo.
São Paulo, 24 out. 1989, p.A-6.
15 “FIRMA em Nova Iguaçu produz grafite de pureza nuclear”. O Globo. Rio de Janeiro, 22 set.
1990, p.19.
16 “Um dos principais projetos militares do campo nuclear autônomo, hoje em andamento no
país, refere-se à obtenção de plutônio – material crucial para a fabricação da bomba atômica –
pelo centro tecnológico do Exército, no Rio.” In: LOPES, Roberto. “Piva foi o ‘pai’ do projeto”.
Folha de S. Paulo. São Paulo, 19 dez. 1990, p.A-6.
17 “TESTES são possíveis há dois anos”. Folha de S. Paulo. São Paulo, 10 ago. 1986, p.12.
“TORRE de sondagem ainda está na Serra do Cachimbo”. Folha de S. Paulo. São Paulo, 15 ago.
1986, p.9.
18 “COLLOR vai lacrar o poço da Serra do Cachimbo”. Folha de S. Paulo. São Paulo, 18 set.
1990, p.A-7. “BURACO lacrado”. Isto é Senhor. São Paulo, n.1097, p.23-24, set. 1990.
19 TORIBIO, Lucia. “A bomba atômica ia ser construída no CTA”. O Globo. Rio de Janeiro, 15
nov. 1990, p.15. BITTENCOURT, Getúlio. “Operações Solimões: o programa nuclear do
Brasil”. Gazeta Mercantil. Rio de Janeiro, 27 set. 1990, p.26. FREITAS, José Eustáquio. “A
bomba atômica foi projetada”. O Globo. Rio de Janeiro, 16 nov. 1990, p.18.
20 “A exploração da bomba atômica sempre foi admitida pelo ex-ministro da Marinha, almirante
Maximiano da Fonseca.” In: “Átomos armados”. Isto é Senhor. São Paulo, set. 1990, p.A-5.
“Uma bomba atômica de amostra”. Entrevista de Frederico Füllgraf com o almirante Maximiano
da Fonseca (ex-ministro da Marinha no Governo João Baptista Figueiredo). In: FÜLLGRAF,
Frederico. A bomba pacífica: O Brasil e outros cenários da corrida nuclear. São Paulo: Brasiliense,
1988, p.227-237.
21 Em Sierra Pintada, província de Mendoza, a 1500 quilômetros de Buenos Aires, encontra-se a
maior jazida de urânio a céu aberto, uma das maiores da América do Sul, onde está localizado o
complexo de concentrado produzindo yellow-cake. In: OLIVEIRA, Odete Maria de. Integração
Nuclear Brasil-Argentina: uma estratégia compartilhada. Florianópolis: UFSC, 1996 p.96.
20 ODETE MARIA DE OLIVEIRA
22 Trata-se do PLAN 1976-2000, promulgado pelo Decreto n.º 302, de 29 de Janeiro de 1979, que
ratifica os mesmos objetivos do PLAN anterior, de 1975-1985: “(1) Utilizar a energia nuclear
em lugar de outras fontes sempre que convenha ao país; (2) conseguir o auto abastecimento
integral; (3) desenvolver todas as formas de aproveitamento da tecnologia nuclear; (4) assegurar
ao país a proteção da sua população e do meio ambiente de possíveis efeitos de ordem nuclear.”
In: MACHADO, Aluízio. “Argentina acelera programa nuclear em 4 novas usinas”. Jornal do
Brasil. Rio de Janeiro, 18 fev. 1970, p.30.
23 BERTONI, Jorge. “O Plano Nuclear Argentino”. Política e Estratégia. São Paulo, v.2, n.4,
p.514, out./dez. 1984. Também nesta edição da revista Política e Estratégia, a publicação de um
dossiê do Centro Argentino de Estudos Estratégicos, que relata os propósitos e as realizações
da Argentina no campo do átomo.
24 “ATUCHA completa 10 anos de construção”. Notícias nucleares. Rio de Janeiro, n.12, p.8, 16
nov. 1984. TAVARES, Flávio. “Relatório apresenta problemas em usina nuclear argentina”.
Folha de S. Paulo. São Paulo, 4 set. 1986, p.10.
25 LATGE, Luís Carlos. “Argentina avança no domínio nuclear: Usina de Embalse é outra prova
de competência”. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 8 mai. 1983, p.30.
26 LATGE, Luís Carlos. “Argentina inaugura sua segunda usina nuclear com 648 MW”. Jornal do
Brasil. Rio de Janeiro, 4 mai. 1983, p.18.
27 TOTTI, Paulo. “Venda de usina atômica”. Gazeta Mercantil. São Paulo, 6 maio 1992, p.1-2.
28 ALVES, Rosental Calmon. “Argentina consegue tecnologia para tratamento de urânio”. Jornal
do Brasil. Rio de Janeiro, 2 nov. 1981. ALVES, Rosental Calmon. “Argentina será auto-
suficiente em combustível até 97”. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 21 ago. 1981, p.27.
29 Em resumo: “O Centro Atômico Constituyentes dedica-se ao desenvolvimento de reatores
nucleares, de um lado, e ao de elementos combustíveis, de outro; no Centro Atômico de Ezeiza
funciona o RA-3, na produção de radioisótopos; o Centro Atômico de Bariloche dedica-se
principalmente à pesquisa de base, bem como às pesquisas aplicadas e ao desenvolvimento
tecnológico, sendo sede do Instituto de Física”. In: MACHADO, Aluízio. “Argentina acelera
programa nuclear com 4 novas usinas”. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 18 fev. 1979, p.30.
30 “A água pesada é fundamental para a linha adotada pela Comissão Nacional de Energia Atômica
(CNEA) da Argentina. Além de sua utilidade nos reatores, o urânio natural constitui um bem de
capital muito valioso, pois sua produção, no país, evitará a dependência a países estrangeiros,
como o Canadá, que vende ou aluga o produto e, geralmente, condiciona o fornecimento a
salvaguardas e controles que costumam ter muitas implicações políticas.” In: SCARONE,
Hugo. “Dentro de cinco anos a produção de água pesada”. O Globo. Rio de Janeiro, 4 abr.
1976, p.8.
31 Projetos para sua construção foram elaborados ainda em 1955, retomados em 1972, e continuaram
como uma das metas do PLAN de 1975-1985 e 1976-2000. In: “PESQUISA nuclear leva
Argentina à produção de água pesada”. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 30 abr. 1976, p.28.
SCARONE, Hugo. “Em Atucha I, a água pesada é problema”. O Globo. Rio de Janeiro, 01 set.
1979, p.8.
32 “SUÍÇA aprova reator para a Argentina”. O Globo. Rio de Janeiro, 4 jun. 1980, p.7. “SUÍÇA
responde aos EUA”. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 13 mar. 1980, p.30. “SUÍÇA garante
usina atômica”. O Globo. Rio de Janeiro, 13 mar. 1980, p.15.57.
33 “ARGENTINA constrói depósito para lixo de suas usinas nucleares”. O Globo. Rio de Janeiro,
01 out. 1986, p.10.
34 “O problema é que Gastre se situa a apenas 450 quilômetros do epicentro de um terremoto que
devastou o Chile em 1960, o que não oferece nenhuma segurança.” In: “ARGENTINA instala
lixeira atômica”. Diário Catarinense. Florianópolis, 15 abr. 1990, p.5. ARNT, Ricardo.
“Geólogos argentinos condenam o depósito nuclear de Gastre”. Jornal do Brasil. Rio de
Janeiro, 29 jan. 1989, p.12.
A INTEGRAÇÃO BILATERAL BRASIL-ARGENTINA: TECNOLOGIA NUCLEAR E MERCOSUL 21
35 “O Governo argentino recebeu, há um ano, uma proposta francesa para construir um depósito
de lixo atômico em Gastre (...). Renderia US$ 13,51 bilhões líquidos à Argentina, em dez anos
(...). A proposta, (...) feita por Henry Troude, em nome da firma Techiney Ugine Kuhlmann
S.A., inclui três pontos básicos: financiamento da construção do depósito; financiamento e
administração de uma estrada de ferro de 600 quilômetros (porto de Madryn até Gastre);
fornecimento dos vagões especiais para transportar os resíduos.” In: NEGREIROS, José.
“Greenpeace confirma projeto de depósito de lixo nuclear na Argentina”. O Globo. Rio de
Janeiro, 25 out. 1990, p.9. NEGREIROS, José. “Depósito nuclear mobiliza argentinos”. O
Globo. Rio de Janeiro, 29 out. 1990, p.11.
36 “ARGENTINA instala lixeira atômica”. Diário Catarinense. Florianópolis, 15 abr. 1990, p.5.
37 TAVARES, Flávio. “Argentina pode fabricar bomba atômica, diz militar”. Folha de S. Paulo.
São Paulo, 28 set. 1986, p.16.
38 “ARGENTINA abandona construção de míssil”. Zero Hora. Porto Alegre, 15 maio 1990,
p.18.
39 Karl Winnacker, Walter Schurr, Wolfgang Seelmann-Eggbert, Otto Hans, Karl Wiztz, entre
outros.
40 OLIVEIRA, Odete Maria de. Integração Nuclear Brasil-Argentina: uma estratégia
compartilhada. Florianópolis: UFSC, 1996, p.106-108.
41 FÜLLGRAF, Frederico. A bomba pacífica: O Brasil e outros cenários da corrida nuclear. São
Paulo: Brasiliense, 1988, p.127-128.
42 Idem, p.130.
43 “O plano nuclear argentino enveredou abertamente pelo caminho militar, em busca da bomba
atômica. A corrida é apressada, quase com desespero (...).” In: TAVARES, Flávio. “O segredo
da bomba argentina”. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 4 dez. 1983, p.4.
44 “O auxílio da União Soviética, nos últimos 18 meses, fez com que a Argentina agilizasse a
obtenção da tecnologia complementar de enriquecimento do urânio (...), os militares
empobreceram o país e enriqueceram o urânio”. Idem, ibidem.
45 “O projeto começou a ser desenvolvido secretamente a partir de 1978, quando os EUA decidiram
suspender o fornecimento de urânio enriquecido à Argentina.” Idem, ibidem.
46 “A bomba atômica é uma realidade na Argentina, necessitando apenas de uma decisão política
para sua fabricação.” In: PORTANOVA, Rogério. “O Programa Nuclear brasileiro: alguns
aspectos internacionais”. In: CAUBET, Christian Guy. O Brasil e a dependência externa. São
Paulo: Acadêmica, 1989, p.97.
47 “A CAPACIDADE nuclear dos argentinos”. Zero Hora. Porto Alegre, 24 mar. 1988, p.20.
48 CAMARGO, Sonia de. “Caminhos que se juntam e se separam: Brasil e Argentina, uma visão
comparativa”. Política e Estratégia. São Paulo, v.4, n.3, jul./set. 1986, p.374-404. BANDEIRA,
Muniz. O eixo Argentina-Brasil: o processo de integração da América Latina. Brasília: UNB,
1987, 120p. SCENNA, Miguel Angel. Argentina-Brasil (cuatro siglos de rivalidad). Buenos
Aires: Ediciones la Bastilla, 1975. CAMILLIÓN, Oscar H. “As relações entre o Brasil e a
Argentina no mundo”. Revista Brasileira de Política Internacional. Rio de Janeiro, v.46, n.45,
mar./jun. 1969.
49 “FÍSICOS argentinos e brasileiros repudiam projetos nucleares”. Folha de S. Paulo. São Paulo,
10 out. 1986, p.5.
50 GUGLIALMELLI, Juan Enrique. Geopolítica del Cono Sur. Buenos Aires: El Cid Editor,
1979. GUGLIALMELLI, Juan Enrique. “Tres batallas perdidas por Argentina y ahora peligrosas
perspectivas con el papel de sócio menor del Brasil”. Estratégia. Buenos Aires, v.18, n.9,
nov.1980.
51 “TESTES nucleares provocam incredulidade na Argentina”. Folha de S. Paulo. São Paulo, 9
ago. 1986, p.9.
22 ODETE MARIA DE OLIVEIRA
Resumo
Abstract
common market. This process evolution took place in three fundamental circles:
the first one, approximation antecedents; the second one, decisive instruments
for a large integration; and the third one, the solidification of two basis, one at the
nuclear technological level, joining the two countries in the sui generis back up
system and the operation of the Tlatelolco Treaty, the other, at the economic level
instituting the Mercosur by the Asunción Treaty.
1. Introdução
A proposta de unificação monetária entre os países do Mercosul, feita em
Giambiagi (1997) e depois transformada em proposta oficial do Governo argentino,
tem gerado, como era natural se esperar, algumas reações contrárias, tanto na
Argentina como no Brasil. Não nos compete analisar aqui por que a proposta pode
ser benéfica para a Argentina. Por outro lado, a argumentação em favor de uma
agenda de convergência entre aqueles dois países – que seria depois estendia aos
demais países membros do acordo regional – já foi feita em Lavagna e Giambiagi
(1998). Assim, o presente artigo se destina, especificamente, a responder a algumas
das críticas que começam a ser feitas à proposta de formação de uma área
monetária unificada entre os países do Mercosul ou, alternativamente – talvez em
uma primeira etapa –, entre Brasil e Argentina.
Há quatro esclarecimentos prévios que cabe fazer a respeito das
características do texto. Primeiro, ele tem como marco de referência as objeções
feitas à proposta através de menções esporádicas feitas aqui e acolá na imprensa,
já que, sendo o tema muito recente, não se tem notícia ainda da existência de um
debate acadêmico mais aprofundado sobre a matéria. Segundo, justamente em
função disso, a apresentação dos argumentos contrários à proposta da moeda
única para o Mercosul será feita por nós na base de deduções elaboradas a partir
de argumentos apresentados muito sucintamente na imprensa, já que, pela natureza
das matérias que esta publica, nela não há espaço para uma apresentação mais
longa das idéias dos críticos. Terceiro, nossos argumentos, neste artigo, não
procurarão responder a uma certa linha de argumentação contrária à proposta,
baseada no fato de que os países do Mercosul não configuram uma área monetária
ótima (optimum currency area – OCA), o que implicaria tratar de uma literatura
específica da teoria econômica, provavelmente algo árida para o público de não
economistas para o qual este artigo se destina.2 E quarto, por último, o artigo, com
exceção da sua última seção, não pretende ser propriamente uma defesa da moeda
única em si – o que já foi feito no mencionado artigo de Giambiagi de 1997 –, mas
apenas – como o seu título indica explicitamente – uma resposta a algumas das
críticas feitas a ela.
O trabalho encontra-se organizado em quatro seções. Depois desta
introdução, são sintetizadas as críticas feitas à proposta de unificação monetária
entre os países do Mercosul, após o que se tenta argumentar contra essas críticas,
na seção posterior. Finalmente, faz-se algumas reflexões finais, à guisa de conclusão.
mercados e de produtos da sua pauta de exportações que faria com que o seu
interesse primordial fosse o de negociar com os diversos blocos comerciais, de
modo a extrair o máximo de vantagens, ao invés de se fechar nos termos de um
único acordo específico. Ao mesmo tempo, esse caráter o tornaria menos vulnerável
do que os seus vizinhos em relação à existência de choques adversos de preços
sobre o conjunto das suas exportações.
3. Resposta às críticas
a) Natureza prematura da proposta. A rigor, isto não chega a ser uma crítica, já
que mesmo os defensores da proposta de unificação monetária reconhecem que é
preciso que esta só ocorra após cumprida uma série de requisitos de maior
coordenação macroeconômica entre as economias e de harmonização das
respectivas legislações. Esse timing foi, inclusive, de alguma forma endossado
pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, quando, por ocasião
da entrevista à imprensa em que o Presidente da Argentina, Carlos Menem,
mencionou pela primeira vez a idéia da unificação monetária em público, no final
de abril de 1997, o Presidente brasileiro comentou que: “Chegará o momento, mais
adiante, para uma moeda comum, e a convergência de políticas macro-
econômicas”.5 A questão a resolver, portanto, não seria discutir se a moeda comum
é uma meta boa ou não para ser atingida e, sim, em que momento começar a
trabalhar, com que cronograma e com que margem em relação às concessões que
cada país está disposto a fazer, para que a proposta de moeda única possa se
transformar em realidade algum dia. Nesse sentido, embora seja claramente
prematuro pensar em criar algo similar ao que foi, por exemplo, o Instituto Monetário
Europeu (IME) no início do processo que deverá levar à integração monetária
européia, a tese oposta, de que o tema não deve entrar na agenda diplomática dos
países da região, também não nos parece correta, já que encerra o risco de
“congelar” o Mercosul nos termos atuais, com os riscos a isso associados.6
MOEDA ÚNICA DO MERCOSUL: NOTAS PARA O DEBATE 29
satisfy the criteria for entry into a currency union ex post than ex ante”
(Frankel e Rose, 1997, páginas 67/68, grifos nossos).
Tabela 1
Brasil – Participação das exportações ao Mercosul
nas exportações totais (%)
1990 4,2
1991 7,3
1992 11,5
1993 14,0
1994 13,6
1995 15,3
1996 15,5
1997 17,1
prazo de declínio do déficit público é um dos fatores que explica o fracasso das
autoridades brasileiras em obter uma melhoria sistemática, duradoura e consistente
dos resultados do setor público.9 Isto porque, na ausência de uma restrição fiscal
efetiva como a que, por exemplo, existe atualmente na Europa, submetida ao budget
constraint dos tetos de Maastricht, o Governo não tem tido um instrumento no
qual se escudar para resistir às pressões por mais gastos, o que faz com que
inexista a figura de uma “camisa de força” que condicione a execução da política
fiscal. Em tais condições, o traçado de metas fiscais informais por parte do Governo
acaba não tendo muita força como fator de resistência às pressões localizadas dos
diferentes setores da sociedade e, na prática, não se tem verificado uma restrição
orçamentária que efetivamente funcione como uma barreira contra o excesso de
gasto. A existência de um acordo externo que o país tivesse que honrar, em benefício
da integração regional – com as vantagens a isso associadas em termos de
fortalecimento do país enquanto parte de uma região mais forte no cenário
mundial –, seria, então, uma ajuda importante para as autoridades fiscais do Governo.
4. Comentários finais
mais adequada, parece-nos, deve ser a de começar a agir para que essa meta
possa ser atingida, em algum momento que não seja nem irrealisticamente
prematuro, nem perigosa e desnecessariamente distante.
Março 1998
Bibliografia
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SERRA, José. “ECUs e Bupas”. Folha de São Paulo, 2 de março, 1998.
Notas
1 O autor agradece os comentários de Bruno Freire e Francisco Marcelo Rocha Ferreira acerca de
uma versão preliminar do artigo. Como de praxe, a responsabilidade pelo conteúdo final do
trabalho cabe inteiramente ao autor.
2 O tratamento deste ponto foge aos limites deste artigo. De qualquer forma, cabe dizer que: a)
o fato de um grupo de países não constituir uma área monetária ótima não é um obstáculo à
unificação monetária entre eles; e, b) a proposta de que os países do Mercosul venham algum
dia a ter uma moeda única, pressupõe a existência de um tempo de preparação suficientemente
longo para que o espaço geográfico formado por eles se torne mais próximo de ser uma área
monetária ótima.
3 Para algumas destas críticas ver, por exemplo, Serra (1998).
4 Para uma análise dos problemas específicos da integração financeira entre os países do Mercosul,
que inclusive dá origem a uma postura cética do autor do estudo, acerca da possibilidade
de futuros avanços em termos de coordenação de políticas entre os países, ver o trabalho de
Abreu (1997).
5 Gazeta Mercantil, 28 de abril de 1997. Reprodução textual do jornal.
38 FABIO GIAMBIAGI
Resumo
Abstract
Tabela 1
O atual desempenho internacional do dólar, do yen e das moedas européias
Part. em % no: D lar Yen Marco Outras moedas
alemª o europØias (a)
no comØrcio mundial realizado 47.6 4.8 15.3 18.2
nas transa ı es de c mbio 83.8 23.6 37.1 32.8
(sobre um total de 200%)
nas emissı es de obriga ı es 37.8 17.7 15.6 8.8
internacionais
na d vida dos pa ses em 50.0 18.1
desenvolvimento
16.1
nas reservas oficiais mundiais 56.4 7.1 13.7 12.1
(a) Composi ª o exata variÆvel segundo as rubricas, mas que inclui sempre a libra esterlina, o franco
francŒs, o florim e o ECU.
Fonte: La lettre du CEPII, n 156, abril 1997
Tabela 2
A política de câmbio
Art. 109, §1 ou Art. 109, § 2
!
(a) conclusª o de acordos sobre um sistema de taxa de c mbio !
(c) Na hip tese de inexistŒncia de
para o euro (feita pelo Conselho por unanimidade, a partir acordo definido pelo §1, o Con-
de recomenda ª o do BCE ou da Comissª o, ap s consulta selho pode formular orienta ı es
do BCE a fim de obter um consenso compat vel com a gerais de pol tica de c mbio
estabilidade de pre os) !
(d) Condi ª o: nª o afetar o objetivo
!
(b) ado ª o, modifica ª o ou abandono, pelo Conselho, das de estabilidade de pre os
cota ı es centrais do euro no sistema de taxa de c mbio
Art. 109, §3
- Permite ao Conselho fixar os acertos relativos s negocia-
ı es e conclusª o de acordos previstos no artigo 109, §1,
primeira frase
(Comissª o plenamente associada s negocia ı es, a Comuni-
dade deve expressar uma posi ª o œnica)
A política de câmbio, tal como é concebida pelo artigo 109, poderá criar
um certo número de conflitos. Dois tipos de dificuldades afiguram-se: a ameaça à
independência do BCE e o conflito de competências entre a Comunidade e os
Estados membros, o que será estudado através do exemplo da zona franco, o
largo espaço territorial onde se utiliza atualmente a moeda francesa.
evitar uma possível influência sobre a BCE e seus próprios Bancos Centrais. O
artigo 105, §2, do Tratado de Maastricht confia ao SEBC a definição e a execução
da política monetária da Comunidade, a condução das operações de câmbio
consoante ao artigo 109, assim como a posse e a gestão das reservas oficiais de
câmbio dos Estados membros.
Quando da negociação do Tratado em tela, a Alemanha temia que a
definição da política de câmbio pelo Conselho tivesse por conseqüência a perda da
independência do BCE, este responsável pela execução da política definida pelo
Conselho. Logo, haveria o risco de que tal execução viesse a comprometer o
objetivo da estabilidade de preços. Em um sistema de câmbio estável, os Estados
têm a obrigação de sustentar as moedas estrangeiras vendendo sua própria moeda
contra a moeda estrangeira em questão. Para manter a paridade, os Estados devem
aumentar em certos momentos sua massa monetária, o que de fato pode constituir
uma ameaça para a estabilidade de preços do ponto de vista interno. A UEM
apresenta uma contradição estrutural neste aspecto.6 Por um lado, ela busca a
estabilidade de preços pela estabilização dos câmbios internos mas, de outra parte,
ela se permite participar aos sistemas de câmbio fixo externos, o que pode levar a
uma instabilidade de preços. Por esta razão, a política de câmbio prevista pelo
artigo 109 foi estritamente demarcada e o BCE nela desempenha um papel muito
importante.
Para compreender a influência do BCE na definição da política de câmbio,
convém lembrar o texto do artigo 109: a competência do Conselho é visivelmente
limitada pela obrigação de compatibilidade com o objetivo principal de assegurar a
estabilidade de preços. A Comissão européia7 observa que o artigo 109, §1, não
obriga o Conselho e o BCE a chegar a um acordo, mas simplesmente a concertar
suas posições. Em caso de divergência, prevalece a opinião do Conselho. Inobstante,
o risco de desacordo profundo é modesto pois o Conselho é obrigado a respeitar
incondicionalmente o objetivo de estabilidade de preços em matéria de política de
câmbio.
As orientações gerais do Conselho, não possuem valor jurídico obrigatório
neste domínio.8 O artigo 105, §2, prevê apenas que o BCE deve conduzir as
operações de câmbio de acordo com o artigo 109. As conclusões do Conselho
Europeu de Luxemburgo, já citado, são muito reveladores neste aspecto. Elas
precisam que, no que se refere à execução da política de câmbio, as orientações
gerais do Conselho diante de uma ou diversas moedas não-comunitárias serão
formuladas apenas em circunstâncias excepcionais, à luz dos princípios e políticas
definidos pelo Tratado. Na ausência destas orientações, o BCE deve assumir a
direção da política de câmbio.
O retorno a um sistema de câmbio fixo, previsto pelo artigo 109, §1, é
pouco provável. Na ausência dele, o Conselho fixa simples orientações gerais não
obrigatórias para o BCE, e, isto, à título excepcional. Logo, não há razão para
46 DEISY VENTURA E PHILIPPE ALQUIÉ
Tabela 3
O FMI
Defini ª o - autoridade de consulta e coordena ª o
Origem - Acordos de Bretton Woods, julho de 1944
- Uma nova dimensª o : Acordos de Kingston ou da Jamaica, 1976
Fun ª o - C digo de boa conduta monetÆria (poderes moral, semi-regulamentar,
semi-judiciÆrio e de auto-interpreta ª o)
- Livre conversibilidade de moedas (exce ª o artigo XIV Estatutos e
derroga ª o expressa)
Orgª o Composi ª o CompetŒ ncia
Conselho de governadores Ministros de finan as ou Presidentes - Admissª o de novos Estados
( rgª o dirigente) dos Bancos centrais membros
- Revisª o de quotas
- Decisª o de expulsª o, etc.
ComitŒinterino Os 5 pa ses dos quais as quotas sª o Aplica ª o de medidas destinadas a
( rgª o pol tico) mais importantes tŒm um auxiliar os pa ses em
administrador permanente desenvolvimento
(Alemanha, Estados Unidos, Fran a,
Japª o e Reino Unido)
+ ArÆbia Saudita + 18
administradores eleitos
O Conselho de - Os 5 - gestª o do Fundo ( rgª o restrito)
administra ª o - 3 pa ses nomeados de fato (ArÆbia - elei ª o do Diretor gerente
( rgª o dirigente) Saudita, China e Rœssia)
- 19 eleitos por grupos de pa ses
constitu dos pelos outros pa ses
membros (mandato de 2 anos)
Meios de financiamento - Quotas-parte (subscri ª o no pool de divisas, negociado com o FMI a cada
candidatura, revisado periodicamente)
- A remunera ª o de investimentos e comissı es
- EmprØstimos (do pr prio FMI ou de grupos de Estados)
Modalidades de - Compra ou saque incondicional (atØ100% da quota-parte)
AssistŒncia financeira - As parcelas de crØdito (sucessivas) condicional (atØ200% da quota-parte)
oferecida - Pol ticas espec ficas condicional (parcela de crØdito + pol ticas
espec ficas = atØ450% da quota-parte)
DES Direitos Especiais de Saque moeda escritural fixada em fun ª o de uma
cesta de cinco moedas (Alemanha, Estados Unidos, Fran a, Japª o e Reino
Unido)
O EURO E AS RELAÇÕES EXTERIORES DA UNIÃO EUROPÉIA 51
Tabela 4
O G7
Defini ª o - Foro de origem espont nea, sem mandato preciso, organiza ª o ou
secretariado estruturados
- Suas reuniı es sª o preparadas pelos sherpas (representantes pessoais dos
Chefes de Estado ou de Governo)
Composi ª o - Os cinco pa ses cujas moedas sª o inclu das na defini ª o do DES + ItÆlia +
Canada
- Diferentes forma ı es, as mais importantes Chefes de Estado e Ministros
das Finan as
- Os Presidentes da Uniª o EuropØia e da Comissª o sª o convidados como
observadores, assim como a Rœssia
Dom nios de discussª o - Pol tica de c mbio
G7 Finan as - Pol tica monetÆria
- Pol tica econ mica e or amentÆria
Junho de 1998
O EURO E AS RELAÇÕES EXTERIORES DA UNIÃO EUROPÉIA 53
Bibliografia
Obras genéricas
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MANIN, Philippe. Les Communautés européennes – L’Union européenne. Paris: Pedone, 1997,
part. pp. 115-127 e 145-152.
NGUYEN QUOC DINH. Droit international publique. Paris: LGDJ, 1994, spéc. “Relations
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REY, Jean-Jacques; ROBERT, Eric. Institutions économiques internationales. Bruxelles: Bruylant,
1997, part. pp. 36-38 et 130-133.
Artigos especializados
Documentos
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Comissão Européia. Les aspects externes de l’Union économique et monétaire. Bulletin Agence
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Fundo monetário internacional. Les conséquences de l’UEM pour l’Europe et l’économie mondiale.
FMI Bulletin, Vol. 26, Numero 7, 14 abril 1997.
Fonds Monétaire International. Working Paper, The CFA Franc Zone and the MEU.
Novembre 1997.
54 DEISY VENTURA E PHILIPPE ALQUIÉ
Notas
1 Para melhor compreender o funcionamento da UEM, um compêndio de toda a legislação
atinente é acessível via Internet (http://www.ecu-activities.be/compendium/fr/index.html ).
Ver especialmente os estatutos do SEBC e do BCE no site (http://www.ecu-activities.be/
compendium/fr/92sebcf.html).
2 Ver LOUIS, Jean-Victor. L’Union économique et monétaire, Commentaire Jacques
Megret, Volume 6. Bruxelas: Universidade Livre de Bruxelas, 1995, p. 82.
3 Conforme F. Dehousse e K. Ghemar in “Le Traité de Maastricht et les relations extérieures de
la Communauté européenne”. Jornal de Direito Internacional, 1994/2, p. 156.
4 Ver adiante o item 1.2.2.
5 Por exemplo, os chamados “acordos do Louvre”. Para compreender em que consiste o G7, ver
adiante o item 2.2.2.
6 Conforme Dehousee, op. cit., p. 154.
7 Op. cit.
8 Conforme J.-V. Louis, op. cit., p.84.
9 Segundo M. Belanger. Les institutions économiques internationales. Paris: Economica, 1997,
p.118.
10 Ver adiante o conceito de Direito Especial de Saque no item 2.2.1.
11 Ver Fundo Monetário Internacional. Documento de Trabalho, The CFA Franc Zone and the
MEU. Novembro de 1997.
12 Ver, em seguida, item 2.1.1.
13 In “Union monétaire et Fonds monétaire international”. Mélanges Hahm, p. 212.
14 Acordo europeu relativo aos equipamentos de veículos que efetuam transporte rodoviário
internacional, processo 22/70, decisão de 31 de março de 1971, Reccueil p. 263.
15 Ver Parecer 1/76, de 24/4/77 e decisão Kramer, CJCE 14/7/76.
16 In “Les accords internationaux dans la jurisprudence de la Cour”. Revue Géneral du Droit
International Public, abril-junho 1990, p. 299.
17 In “La compétence de la Communauté pour conclure l’Accord OMC”. Revue Europe, dezembro
de 1994, p.4.
18 Ver Boletim EU 12-1997, p. 13.
19 Ver A. Bénassy-Quéré. “L’euro dans le système monétaire international”. Cahiers Français,
julho-setembro 1997.
20 In Boletim do FMI, Volume 26, Número 7, 14/4/97, p.104.
Resumo
Abstract
The article analyses the political, juridical and institutional aspects of the
building up of the Monetary and Economic European Union, the euro, and its impact
on the member states economic policy formation.
1 – INTRODUÇÃO
— Uma ação apropriada deve ser tomada de modo a reforçar os níveis nacionais,
regionais e internacional, com a finalidade de eliminar, ou efetivamente tratar
as práticas comerciais restritivas, incluindo aquelas de corporações trans-
nacionais, que afetem adversamente o comércio internacional, particularmente
o dos países em desenvolvimento.
— A colaboração entre governos nos níveis bilateral e multilateral deve ser
estabelecida, e mecanismos apropriados devem ser elaborados em nível
internacional, e/ou o uso da máquina internacional existente deve ser melhorado
para facilitar a troca e a disseminação de informações entre os governos, em
relação às praticas comerciais restritivas.
— Os meios necessários devem ser estabelecidos para facilitar a realização de
consultas multilaterais com respeito a temas de política relacionados ao controle
dessas práticas.
76 VERA THORSTENSEN
4 – Conclusões
globalização das economias, a OMC vem sofrendo forte pressão para se adequar
às novas exigências do mundo atual, o que se consubstancia no desafio de enfrentar
uma nova negociação multilateral, no limiar do ano 2000, seja ela em áreas definidas
como agricultura, serviços e propriedade intelectual, seja ela em maior dimensão,
englobando todos os temas tradicionais, além dos novos temas, que, certamente,
serão incluídos nas negociações. Ainda, o novo contexto internacional está exigindo
toda uma discussão sobre os objetivos da OMC, até agora baseados no aumento
dos níveis de riqueza através da liberalização do comércio, para a necessidade de
se ampliar tais objetivos, passando a baseá-los no aumento dos níveis de riqueza
através da liberdade para a competição internacional, o que acarretaria a ampliação
das atividades da OMC para incluir regras sobre a concorrência e sobre
investimentos.
Diante do quadro de abertura de novas negociações é que cresce a
importância de se analisar os impactos dos novos temas sobre o comércio do
MERCOSUL com seus parceiros internacionais, em todos os níveis onde ocorre o
jogo comercial, isto é, dentro do MERCOSUL, diante de eventuais acordos regionais
de integração com a CE ou com o NAFTA, e dentro das organizações que negociam
acordos internacionais sobre esses temas como OCDE e OMC.
O grande desafio a enfrentar é o da decisão de como atuar nas diversas
frentes de negociação, se de forma simultânea, abrindo negociações regionais,
inter-regionais e multilaterais, e usando avanços e recuos em uma frente como
tática para obter vantagens em outra frente, ou então, optar pela abertura de frentes
de negociação de forma seqüencial, enfrentando as negociações multilaterais, e
adiando as negociações regionais para o futuro.
Qualquer que seja a opção adotada, os novos temas do comércio
internacional estarão presentes, o que implica a necessidade do MERCOSUL se
aprofundar sobre temas como comércio e investimentos e comércio e concorrência.
Os temas em questão pressupõem um mesmo debate, qual seja, dentro do
contexto atual, da necessidade de se manter a diversidade dos padrões e regras,
respeitando os diferentes níveis de desenvolvimento dos países, ou de se partir
para um processo de harmonização desses padrões e regras, respeitando padrões
mínimos aceitáveis por todos, e um processo de convergência a mais longo prazo.
O problema a ser enfrentado, é que a disparidade de tais padrões e regras pode
criar sérias barreiras ao comércio, ou ainda, pode ser usada como forma disfarçada
de proteção.
Quanto aos temas investimento e concorrência, a experiência internacional
demonstra a inter-relação entre eles e o crescimento do comércio. Assim, é
importante ponderar sobre qual deve ser a estratégia a ser tomada, se a de negociar
tais temas dentro dos acordos regionais, se a de deixar que se negociem acordos
plurilaterais dentro do “clube” dos países desenvolvidos, a OCDE, ou partir para a
negociação de acordos multilaterais que envolvam países desenvolvidos e em
86 VERA THORSTENSEN
Junho de 1998
Bibliografia
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Resumo
Abstract
Brasil
a ordem emergente após o fim da Guerra Fria confere aos Estados Unidos o papel
de única potência hegemônica que concentra vantagens conjuntamente nas esferas
de segurança e economia – a mensagem se dirige a esta potência.
Cardoso busca, então, obter dos Estados Unidos um relacionamento com
um perfil semelhante ao que esta potência tem com Japão e França. No entanto –
e tal qual se advertira ao se abordar o outro objetivo (regional) dessa continuidade
de política – surgiram dificuldades que afetaram a consecução desse propósito.
Junto ao objetivo assinalado, Cardoso aprofunda as relações com o
Mercosul e, em particular, com a Argentina. Entretanto, como indicaremos, em
ambos os cenários surgem problemas.
Em primeiro lugar, faz-se cada vez mais difícil para o Brasil desenvolver
uma agenda positiva com os Estados Unidos. Os temas ALCA-NAFTA-ALCSA
e as travas norte-americanas às exportações brasileiras constituem os eixos chaves
da discórdia. Em segundo lugar, aparecem as dificuldades com a Argentina, que
graças à existência de distintas percepções que, no Brasil, têm o Executivo, o
Legislativo e o Itamaraty no tocante a seu sócio e sua política exterior, permitem
diminuir seu efeito negativo, tanto sobre as relações bilaterais como no interior do
Mercosul.
Apesar das novas iniciativas se adverte, não obstante, que a dimensão
comercial tem sido, até agora, a mais explorada das formas de inserção internacional
do Brasil, o que faz com que o debate sobre a inserção se concentre no campo
comercial e o político mantenha um baixo perfil. Sem embargo, o só fato de aspirar
a um reconhecimento como potência regional e como potência média mundial, a
partir de sua condição de país-continente, levou, necessariamente, a que o País
tenha que assumir posições respeitantes a distintos temas da agenda mundial, o
que deveria conduzir ao aumento significativo do perfil político de sua inserção
internacional.
No nível da política regional, a proposta brasileira de criação do ALCSA
evidencia a crescente preocupação com a atração que a iniciativa norte-americana
da ALCA e, mesmo, o NAFTA exercem sobre os países da região, incluindo o
próprio sócio mais importante: a Argentina. Da mesma forma, a persistência de
estratégias distintas, em tempo e qualidade, como são as propostas norte-americana
e brasileira sobre os mecanismos de integração econômica para ampliar o mercado
latino-americano sob mecanismos tarifários preferenciais, assinalam que, no futuro,
persistirão tendências mais rumo ao conflito do que à cooperação entre os Estados
Unidos e o Brasil.
Contudo, isto não deveria ser estranho a quem lê a história como fonte da
experiência política: cada vez que, no sistema interestatal moderno, houve uma
potência hegemônica em declínio ante uma potência média emergente, surgiram
problemas em suas relações bilaterais.
AS RELAÇÕES ENTRE ARGENTINA, BRASIL, CHILE E ESTADOS UNIDOS... 93
Argentina
Chile
que, embora não seja abertamente neoliberal, mantém alguns dos delineamentos
fundamentais desenhados pelo modelo econômico do regime Pinochet, cuja
conseqüência social é a continuidade de um marcado desvio na distribuição da
renda.
A partir dessas características governamentais, a vontade de fazer do
País esse modelo de desenvolvimento (alternativo ao exemplo dos “tigres asiáticos”)
e um pilar da política de abertura comercial na América Latina, para colocar Santiago
como eixo privilegiado de negócios financeiros e comerciais no Mercosul, tem
como elemento chave o necessário aval norte-americano.
Justamente o interesse de Washington no Chile radica na continuidade de
sua política econômica de linhas neoliberais, porque aparece como o modelo e
exemplo a se seguir pelas demais economias da região em seus objetivos de
integração ao NAFTA e/ou à ALCA. Isto explica o fato de que duas administrações
norte-americanas distintas, uma republicana e a outra democrata, tenham posto a
mesma atenção e esforço para conceder ao Chile o ansiado status de “sócio”.
No entanto, é necessário considerar, também, alguns aspectos estruturais
que determinam, hoje, os delineamentos da política exterior chilena. O País teve,
durante algumas décadas do século XX, uma política de ativismo internacional, até
1973, que não condizia com sua dimensão econômica e suas capacidades e poder.
Tal ativismo – que, não obstante, se traduziu em imagem e prestígio, que acompanhou
os esforços diversificados de cooperação internacional fomentados com o respaldo
em sua tradição democrática – teve sempre um condicionante externo: a
dependência de sua economia com relação ao centro da hegemonia.
A atual política exterior é conservadora e pragmática, sendo antes uma
expressão de um Estado comercial do que um exemplo de sua tradição de ativismo.
Quiçá nesta mudança tenham influído tanto as condições herdadas de quase duas
décadas de autoritarismo quanto a necessária revisão de algumas categorias
históricas que foram muito importantes no passado, mas que, à luz do pragmatismo
econômico, ante o processo de transição e mudança da economia e da política
mundiais perderam certa vigência.
A agenda “política” das relações bilaterais com os Estados Unidos está,
hoje, ausente, na medida em que não existem problemas (incluindo alguns temas
de caráter comercial, como as acusações norte-americanas de dumping à indústria
chilena do salmão e as pressões norte-americanas por uma maior abertura de sua
economia, que, sem embargo, paradoxalmente, é uma das mais abertas do mundo).
O realismo pragmático frente aos Estados Unidos, traduzido em extensos períodos
como um “alinhamento”, coincidiu com a aceitação interna da reprodução do modelo
centro-periferia (graças à reprodução constante de sua heterogeneidade estrutural)
e do papel de sua estrutura econômica em dito subsistema.
Se imaginamos os objetivos que os Estados Unidos perseguem na região
(construir um mercado amplo em seu benefício, deslocando competidores extra-
100 RAÚL BERNAL-MEZA
Conclusões
Junho de 1998
Bibliografia
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AS RELAÇÕES ENTRE ARGENTINA, BRASIL, CHILE E ESTADOS UNIDOS... 107
Resumo
Abstract
The article presents a reflection about theory and politics that look forward
to insert the analysis of Argentina’s, Brazil’s and Chile’s foreign policy in the context
of hemispheric relations (with the United States) and of Mercosur. In the case of
the three Latin-American countries, the article identifies the major tendencies on
the interpretation of the possible insertion, of these countries own view in the
nowadays international system and a general approximation of the bilateral, sub-
regional and North-American hemispheric agendas.
Introdução
Este artigo argumenta que se, por um lado, Brasil e Índia apresentam
significativas diferenças como sociedades e Estados, o que explicaria o histórico
isolamento recíproco, caracterizado pela fragilidade de vínculos políticos e
econômicos,1 por outro, situam-se em uma categoria especial quando se examina
o conjunto de países que constituem a periferia do sistema político e econômico
capitalista mundial.
Essa categoria, a que pertenceriam a Índia e o Brasil, e a que denominamos
nesse artigo de “grandes países periféricos”, defronta-se com um cenário
internacional, resultado de um longo processo histórico, organizado em torno do
que são conceituadas, no artigo, como “estruturas hegemônicas de Poder”.
O artigo descreve as características desse cenário, suas contradições
principais, as estratégias de preservação e expansão de poder daquelas estruturas
hegemônicas e, por fim, sugere objetivos estratégicos que o Brasil e a Índia, como
grandes países periféricos, deveriam procurar atingir. Os desafios para os grandes
países periféricos são superar tanto as vulnerabilidades externas quanto as
disparidades internas e construir a democracia real e, assim, serem capazes de vir,
ou virem, a integrar aquelas estruturas ou deixarem de estar a elas subordinados.
O dilema é que ou enfrentam esses desafios, e para tal terão um relacionamento
complexo, tenso e difícil com aquelas estruturas, ou permanecerão em situação de
crescente inferioridade, devido à concentração de poder econômico, político e militar,
e enfrentarão um processo de desagregação econômica interna, de instabilidade
política e de eventual fragmentação territorial.
países socialistas asiáticos) e sobre aqueles territórios da periferia aos quais haviam
taticamente permitido “desvios” de organização econômica e política (e. g., Estado-
empresário, planejamento da economia pelo Estado) no período mais acirrado da
disputa com o modelo socialista alternativo.
econômicos asiáticos haviam “passado de moda”. Porém, apenas dois meses antes
o relatório do FMI (assim como os relatórios das demais agências) apresentavam
as economias asiáticas como modelos a serem seguidos por todos os países da
periferia, o que era repetido pelos meios de comunicação acriticamente.
O cenário econômico
O cenário político
Vulnerabilidades externas
Disparidades internas
é que são eles possíveis e urgentes e que caso não venham a ser adotados as
conseqüências dessa omissão serão graves e inevitáveis. Naturalmente, tais
programas somente geram resultados a médio prazo, mas a percepção de sua
existência pelas populações beneficiadas é essencial, assim como a própria
participação dessas populações em sua elaboração.
No quadro das disparidades internas, adquire grande importância o papel
da mídia. Do ponto de vista econômico, a mídia relevante, isto é, a que atinge
grande audiência, na imprensa, na radiodifusão, mas, em especial, na televisão,
está organizada como grande empresa com finalidade lucrativa. Suas vinculações
com o setor produtivo privado, através das agências de publicidade, fazem com
que elas sejam acima de tudo, veículos de difusão de anúncios comerciais e, portanto,
indutores do consumo. Esta indução ao consumo vai de encontro à necessidade de
aumentar a taxa de poupança interna com vistas a aumentar a taxa de investimento,
sem dependência excessiva da poupança externa. Do ângulo político, e no caso
brasileiro, os meios de comunicação de massa, em especial a televisão e o rádio,
são concessões do poder público e, muitas vezes, vinculados às agências do Estado
por operações de empréstimo. Do ângulo social, a televisão, em especial, tem-se
permitido uma exploração excessiva da violência, do individualismo e do sexo, com
repercussões sobre os padrões de comportamento da juventude em geral e dos
segmentos da população mais sensíveis a tal exploração.
Ao lidar com os meios de comunicação, imediatamente se coloca a questão
da liberdade de expressão e de seus limites, isto é, da conveniência política e ética
da censura. Sendo os meios de comunicação, em especial a televisão, concessões
do poder público e, ao mesmo tempo, empresas voltadas para o lucro (e, em extremo,
lucrativas), e tendo em vista a situação social, econômica e política seria
perfeitamente correto e possível para os Governos, sem utilizar a censura, estimular
comportamentos de programação condizentes com tal situação. No que diz respeito
à incitação à violência e à exploração de cenas de sexo e de cenas aviltantes do
indivíduo, não há dúvida de que a legislação penal poderia ser perfeitamente aplicada
aos responsáveis por tais programas.
Conclusão
Maio de 1998
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TUNSTALL, Jeremy. The Media Are American. New York: Pantheon Books, 1974.
Notas
1 Uma exceção importante é a tradicional cooperação nos foros econômicos internacionais entre
as delegações diplomáticas brasileiras e indianas.
2 Isto é, não cria barreiras legais. Isto não quer dizer que não haja preconceito, em especial em
relação aos negros, nas classes média e alta, mas não entre as classes pobres, onde há uma menor
incidência de preconceito racial.
3 De certa forma, foi o domínio colonial que veio a unificar a Índia como Estado.
4 Os acordos de assistência militar e fornecimento de armas influenciam as concepções políticas
estratégicas, o treinamento de oficiais, criam vínculos comerciais e vínculos de interesse e
simpatia política.
5 O cinema de Hollywood apresenta as estruturas hegemônicas e, em especial, os Estados
Unidos como os líderes científicos e tecnológicos e como os únicos capazes de defender a
humanidade nas eventuais “guerras intergalácticas”, como no exemplo do filme Independence
Day.
6 A situação de emprego e de expansão da economia nos Estados Unidos deve-se, justamente, à
sua posição estratégica no centro das estruturas hegemônicas e de país emissor da moeda-
reserva internacional.
7 No caso do Brasil, tem sua origem na longa vigência do regime escravocrata (que durou trezentos
e oitenta e oito anos) e do regime servil dos grandes latifúndios, que durou até recentemente
quando se introduziu a legislação de trabalho no campo. E, por sua vez, esta concentração de
renda se reflete no sistema político através da extraordinária desigualdade de poder efetivo
entre os cidadãos, que são nominalmente iguais. A deficiência de políticas eficazes para superar
as desigualdades econômicas, sociais e políticas, torna a população de origem negra (e pobre)
sujeita a absorver influências desagregadoras externas e a fortalecer tendências de exclusão e
rejeição de integração na sociedade mais ampla.
8 Esta observação é válida para o Brasil. Todavia, a influência do poder econômico nas eleições
é um fenômeno que ocorre em ambos os países, em grande escala.
Resumo
Abstract
I.
II.
que 100 ataques aéreos foram computados.32 Em agosto de 1981, deu-se a, então,
maior invasão, a chamada Operation Protea, usando mais do que 5.000 tropas
terrestres. O exército angolano conseguiu parar o avanço somente em 110
quilômetros dentro do país. Como resultado, a maior parte da Província de Cunene
ficou ocupada pelos sul-africanos até 1988. De lá, a SADF forneceu assistência
maciça de combate à UNITA e realizou ataques aéreos ao norte.
b) Assistência aberta de combate a grupos antigovernamentais, como no
caso da FNLA (1975) e da UNITA (apartir 1975) em Angola.
c) Assistência financeira e logística, no armamento e no treinamento, bem
como a oferta do seu território nacional como área segura de retirada a guerrilheiros
e terroristas que lutavam contra os governos dos Estados da Linha de Frente:
UNITA em Angola, RENAMO33 em Moçambique, a milícia de Muzurewa e Sithole
e os dissidentes da ZAPU em Zimbábue, a chamada Lesotho Liberation Army.
Na maioria dos casos, as operações e até a existência destes grupos dependiam
inteiramente do engajamento sul-africano.
d) Sabotagem a alvos econômicos e militares nos Estados da Linha de
Frente, realizada por comandos sul-africanos. Estes atos de sabotagem eram
inúmeros; a destruição de armazéns petrolíferos em Beira (Moçambique),
freqüentes ataques a instalações militares e a destruição de grande quantidade de
material, inclusive de uma grande parte da força aérea de Zimbábue, além dos
diversos ataques às instalações petrolíferas de empresas norte-americanas em
Cabinda (Angola), foram os mais espetaculares.
e) Coerção econômica contra aqueles Estados da Linha de Frente que
eram dependentes da África do Sul e da sua rede de transporte, especialmente
Zimbábue, Moçambique e Lesoto.
f) Envolvimento em golpes militares e tentativas de golpe, como no caso
de Lesoto e das Seychelles.
g) A chamada “forward defense”: ataques militares, assassinatos e
atentados contra o CNA e a SWAPO, suas bases, escritórios, representantes e
militantes comuns, e, também, contra campos de refugiados e membros da polícia
e do militar local simpáticos aos dois movimentos em quase todos os Estados da
Linha de Frente.34
Os objetivos principais da política sul-africana de desestabilização eram a
“neutralização” dos Estados da Linha de Frente (com respeito à política e postura
anti-apartheid) e a eliminação da ameaça à dominação branca, representada pelas
atividades do CNA, da SWAPO e, em menor grau, do CPA (Congresso Pan-
Africano). A implementação desta estratégia transformou a década de 80 em um
período de guerra não-declarada na África Austral e trouxe extrema insegurança
e grande hostilidade às relações sub-regionais. As perdas humanas e materiais são
estimadas em 1.500,000 mortos e US $ 60 bilhões. Complementando as ofensivas
militares, foi lançado um novo esquema de cooperação formal regional, a chamada
UMA NOVA POLÍTICA EXTERIOR DEPOIS DO APARTHEID ? – REFLEXÕES SOBRE... 141
we did not see ourselves as playing a leading role in the region.... Our perceived
reluctance to have a ‘hands on’ approach to our region and to be pro-active in our
continent has to some extent been viewed by our neighbors and friends with some
suspicion and a great deal of cautions.”61
De outro lado, Nelson Mandela, repetidamente, surpreendeu o mundo com
uma série de súbitas tentativas de mediação (nos conflitos do Zaire, Sudão, Timor
Leste), sendo todas mal sucedidas, bem como com iniciativas de medidas relativas
aos direitos humanos (no caso da Nigéria). Especialmente, a maneira pela qual foi
conduzido o assunto nigeriano atrapalhou a comunidade internacional, em função
do seu fulminante radicalismo moral não-realista e por suas mudanças de política
abruptas.62 No palco mundial, parece que Mandela tenta balancear as relações
excelentes com os EUA, de um lado, e compromissos e ligações com Estados
amigos dos tempos da luta de libertação, que, atualmente, sofrem do ostracismo
por parte dos Estados Unidos, de outro (Cuba, Irã, Líbia).63 Observadores ficam
perplexos com a aparente contradição entre o alto rigor moral, articulado
especialmente pelo próprio Mandela e, algumas vezes, o puro oportunismo
econômico nas decisões da política exterior (por exemplo, no caso das exportações
de armas ou no caso do reconhecimento da economicamente poderosa, mas não-
democrática China Vermelha em vez de Taiwan). Recentemente, a disputa sobre
a orientação na política exterior focaliza no significado de African renaissance,
um termo que, depois de anos de pobreza conceitual, poderia emergir como uma
nova palavra-chave nas relações internacionais sul-africanas. O “renascimento
africano” significa a luta contra a marginalização internacional da África, para um
novo poder político e econômico do continente, acompanhado pela democratização,
respeito aos direitos humanos e combate à corrupção, uma luta na qual a África do
Sul teria um papel chave.64 Mas, enquanto os “pragmáticos”, como Mbeki, vêem
esta transformação do continente africano e a nova preeminência em aliança com
o capital estrangeiro, sob as premissas de uma ordem mundial liberal, ao final das
contas, como uma oportunidade de vender mais produtos sul-africanos no
continente, os seus críticos dentro do CNA falam do renascimento africano como
um “ sustained and vigilant challenge against the strategic orientation of globalization”
e como um questionamento das “neo-colonial relations between Africa and the
world’s economic powers.”65
III.
struggle and our destiny is intertwined with the region; our peoples belong with
each other. Southern Africa is, therefore, a pillar upon which South Africa’s foreign
policy rests.”67
Consciente das relações econômicas desiguais e exploradoras entre a África
do Sul e o subcontinente, as declarações do CNA não deixaram dúvida de que o
Estado pós-apartheid iria quebrar com esta assimetria e também com a
“geopolítica” da era de Klerk. Os documentos de discussão de 1993 e 1994
formularam como objetivos básicos uma cooperação regional intensiva, a integração
econômica da região e a “reconstrução” da África Austral depois do apartheid.
A “nova ordem regional” se basearia em igualdade: “A democratic South Africa
should therefore explicitly renounce all hegemonic ambitions in the region. It should
resist all pressure to become the ‘regional power’ at the expense of the rest of the
subcontinent; instead, it should seek to become part of a movement to create a
new form of economic interaction in Southern Africa based on the principles of
mutual benefit and interdependence.”68
Nelson Mandela fez grande esforço para acalmar o medo na região da
predominância sul-africana depois do fim do apartheid: “...democratic South Africa
will... resist any pressure or temptation to persue its own interests at the expense
of the subcontinent. (...)... any move towards a common market or economic
community must ensure that industrial development in the entire region is not
prejudicated. It is essential therefore that a program to restructure regional
economic relations after apartheid be carefully calibrated to avoid exacerbating
inequalities.”69
Mas, em nenhum ramo da política exterior, a brecha entre princípios políticos
e morais de um lado, e a realidade de outro, se tornou tão grande como na política
regional. De fato, a nova África do Sul avançou em relação à “geoeconomia” da
era de Klerk, sem muita consideração aos interesses econômicos dos seus vizinhos.
A ofensiva comercial da África do Sul na sub-região causou muita consternação
nos Estados da SADC, especialmente em Zimbábue, cujas indústrias secundárias
se sentiram expostas a uma concorrência desleal. Junto com a competição entre
os Presidentes Mandela e Mugabe pela liderança política regional, o conflito
comercial levou a tensões significativas entre os dois países.
Conflitos comerciais têm uma longa história na região, especialmente entre
os dois países industrialmente mais avançados, a África do Sul e o Zimbábue.
Desde a virada do século, as economias da sub-região são interligadas. Mesmo
durante os anos de confrontação política e militar e de sanções contra a África do
Sul, os produtos sul-africanos não desapareceram das pratileiras dos Estados
vizinhos, embora os esforços da SADCC de diversificação tenham conseguido
reduzir a sua presença substancialmente. Desde 1981, a exportação sul-africana
para os mercados sub-regionais, fora da SACU70 , diminuiu em volume e valor.71
Por exemplo, Zimbábue, o declarado “mercado natural” da África do Sul ao norte,
UMA NOVA POLÍTICA EXTERIOR DEPOIS DO APARTHEID ? – REFLEXÕES SOBRE... 149
Sul foi o fator mais decisivo para o surgimento desta constelação. Ela oscila entre
forte retórica moral e puro racionalismo econômico, extremos entre os quais a
África do Sul ainda não encontrou um equilíbrio que pudesse satisfazer os seus
vizinhos.
Junho de 1998
Notas
1 Territórios do Alto Comissário Britânico (British High Commissioner’s Territories):
Betsuanalândia (Botsuana), Suazilândia, Lesoto.
2 Sobre o expansionismo sul-africano histórico veja: HYAM, R.. The Failure of South African
Expansion, 1908-1948. London: Macmillan, 1972, mas, também, com enfoque e interpretação
diferentes: CHANOCK, M.. Unconsummated Union: Britain, Rhodesia and South Africa,
1900-45. Manchester: Manchester UP, 1977.
3 Veja: HERBST, J.. “South Africa and Africa after Apartheid”. Em: HARBESON, J.W. &
ROTHCHILD, D. (orgs.). Africa in World Politics. Post-Cold War Challenges. Boulder:
Westview Press, 1995.
4 A Southern Africa Development Coordination Conference (SADCC) se transformou em
Southern Africa Development Community (SADC) em 1992, assumindo um compromisso
mais forte de integração regional. Atualmente 14 países fazem parte da Comunidade: Angola,
Botsuana, Moçambique, Namíbia, Mauritius, República Democrática do Congo, Malawi,
Seychelles, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue, Lesoto, Suazilândia, África do Sul.
5 ROTBERG, R.I.. “Introduction: South Africa the Region – Hegemony and Vulnerability”. Em:
ROTBERG, R.I. (et. al.). South Africa and its Neighbors. Regional Security and Self-Interest.
Lexinton: Mass. (Lexington Books). 1985. pp. 1.
6 THOMPSON, C.B.. “Zimbabwe in Sadcc: a Question of Dominance?” em: STONEMAN, C.
(org.). Zimbabwe’s Prospects. Issues of Race, State and Capital in Southern Africa. London:
MacMillan, 1988. SHAW, T.M.. “Dependence or Interdependence in the Global Political
Economy”. Em: DELANCEY, M.W. (org.). Aspects of international relations in Africa. African
Studies Programme, 1979, pp. 66.
7 SHAW, T.M.. “South Africa, Southern Africa and the World System”. Em: CALLAGHY, Th.
M. (org.). South Africa in Southern Africa, The Intensifying Vortex of Violence. New York:
Praeger, 1983, pp. 45.
8 GRUNDY, K.W.. “Regional Relations in Southern Africa and the Global Economy”. Em:
DELANCEY, M.W.(org.). Aspects of international relations in Africa. African Studies
Programme, 1979, pp. 90.
9 Para um discussão crítica acerca da viabilidade deste termo no contexto da África Austral como
categoria analítica, veja: BLUMENFELD, J.. Economic Interdependence in Southern Africa –
from Conflict to Cooperation. London and New York: Pinter Publ. and St. Martin’s Press for
The Royal Institute of International Affairs, London, 1991. BUTLER, J.. “South Africa’s
Role in Southern Africa: An Historical Essay”. CALLAGHY, Th. M. (ed.). “South Africa in
Southern Africa, The Intensifying Vortex of Violence”. New York: Praeger, 1983, pp. 21.
10 BSL-states= Botsuana, Lesoto, Suazilândia.
11 A literatura acerca das relações econômicas entre a África do Sul e os seus países vizinhos, na
dimensão histórica e atual, é muito ampla. Este artigo baseia-se principalmente nas seguintes
publicações: HANLON, J.. Beggar your Neighbours: Apartheid Power in Southern Africa.
154 WOLFGANG DÖPCKE
Bloomington: Indiana Univ. Press, 1986. LEISTNER, E. e ESTERHUYSEN, P.. South Africa
in Southern Africa: economic interaction. Pretoria: Africa Institute of South Africa, 1988.
BLUMENFELD, J.. Economic Interdependence in Southern Africa – from Conflict to
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Vortex of Violence. New York: Praeger, 1983.
12 DU PISANI, A.. “South Africa and the region”. Em: MILLS, G.(org.). From pariah to
participant: South Africa’s evolving foreign policy, 1990-1994. Johannesburg: SAIIA, 1994.
p.52-69.
13 MILLS, G. & BAYNHAM, S.. “South African Foreign Policy, 1945-1990”. Em: MILLS, G.
(org.). From pariah to participant: South Africa’s evolving foreign relations, 1990-1994.
Johannesburg: SAIIA, 1994, pp. 10.
14 Ibid, p.11.
15 Veja o compreensivo estudo de Barber e Barratt que interpreta a política exterior da África do
Sul como ciclos de desafio e reação. BARBER, J. & BARRATT, J.. South Africa’s Foreign
Policy. The search for status and security 1945-1988. Cambridge: CUP, 1990.
16 Veja: MILLS, G. & BAYNHAM, S.. “South African Foreign Policy, 1945-1990”. Em: MILLS,
G. (org.). From pariah to participant: South Africa’s evolving foreign relations, 1990-1994.
Johannesburg: SAIIA, 1994. DU PISANI, A.. “South Africa and the region”. Em: MILLS, G.
(org.). From pariah to participant: South Africa’s evolving foreign relations, 1990-1994.
Johannesburg: SAIIA, 1994. pp. 52-69. BARBER, J. & BARRATT, J.. South Africa’s Foreign
Policy. The search for status and security 1945-1988. Cambridge: CUP, 1990.
17 LEGUM, C.. Southern Africa. The Secret Diplomacy. London: Rex Collings, 1975, p.5.
18 Os Estados da Linha de Frente (Frontline States) consistiam em: Zimbábue, Angola, Botsuana,
Moçambique, Tanzânia, Zâmbia. Em 1990, a Namíbia ingressou no grupo e, em 1994, a própria
África do Sul.
19 LEGUM, C.. Southern Africa. The Secret Diplomacy. London: Rex Collings, 1975. LEGUM,
C.. “Southern Africa: How the Search for Peaceful Change Failed”. Em: LEGUM, C. (org.).
Africa Contemporary Record 1975/76, London: Rex Collings, 1976.
20 STULTZ, N.H.. “South Africa in Angola and Namibia”. Em: BLIGHT, J. & WEISS, Th. G.
(orgs.). The suffering grass: superpowers and regional conflict in southern Africa and the
Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992, pp. 79.
21 SWAPO= South West Africa People’s Organization. Movimento de libertação da Namíbia.
22 FNLA= Frente Nacional de Libertação de Angola. UNITA= União Nacional para a Independência
Total de Angola. MPLA= Movimento Popular de Libertação de Angola. Os três movimentos,
que haviam lutado na guerra anticolonial separadamente e em mútua competição,
comprometeram-se com um procedimento para uma transição democrática e consensual no
Acordo de Alvor de janeiro de 1995. Mas, especialmente a UNITA e a FNLA, não consideraram
seriamente esta solução pacífica e buscaram o confronto militar contra o MPLA. Junto com a
África do Sul, conseguiram fazer recuar o MPLA para Luanda e seus arredores, onde este
movimento declarou a independência do país no dia 11 de novembro 1975. O governo do
MPLA foi salvo da derrota militar pela maciça ajuda de combate por parte dos cubanos que, ao
que parece, tomaram a iniciativa de responder positivamente aos pedidos do MPLA, sem
consulta anterior à União Soviética. Veja: BLIGHT, J. & WEISS, Th. G. (orgs.). The suffering
grass: superpowers and regional conflict in southern Africa and the Caribbean. Boulder:
Lynne Rienner, 1992. LAÏDI, Z.. The Superpowers and Africa. the Constraints of a Rivalry,
1960-1990. Chicago & London: Chicago UP, 1990.
UMA NOVA POLÍTICA EXTERIOR DEPOIS DO APARTHEID ? – REFLEXÕES SOBRE... 155
23 STULTZ, N.H.. “South Africa in Angola and Namibia”. Em: BLIGHT, J. & WEISS, Th. G.
(orgs.). The suffering grass: superpowers and regional conflict in southern Africa and the
Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992. GRUNDY, K. W.. The Militarization of South
African Politics. Oxford: Oxford Univ. Press, 1988.
24 GRUNDY, K. W.. The Militarization of South African Politics. Oxford: Oxford Univ. Press,
1988, p. 90. SADF= South Africa Defence Force, o exército da África do Sul.
25 MARTE, L. F.: Political cycles in international relations: the cold war and Africa 1945-1990.
Amsterdam: VU UP, 1994. p. 317.
26 MARTE, L. F.. Political cycles in international relations: the cold war and Africa 1945-1990.
Amsterdam: VU UP, 1994, p. 317. LEGUM, C.. “Foreign Internvention in Angola”. Em:
LEGUM, C. (org.). Africa Contemporary Record 1975/76. London: Rex Collings, 1976, p.
A31.
27 ZANU-PF= Zimbabwe African National Union-Patriotic Front. ZAPU= Zimbabwe African
People’s Union.
28 Este parte se baseia principalmente em: GRUNDY, K. W.. The Militarization of South African
Politics. Oxford: Oxford Univ. Press, 1988, p. 90. WARDROP, J.. “Continuity and change in
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evolving foreign relations, 1990-1994. Johannesburg: SAIIA, 1994.
29 BLIGHT, J. & WEISS, Th. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers and regional conflict
in southern Africa and the Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992, Conclusion, pp. 149.
30 WENZEL, Cl.. Die Südafrikapolitik der USA in der Ära Reagan. Konstruktives oder destruktives
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argumenta que a política norte-americana acerca da África Austral era mais diferenciada e
tolerante do que a tese da “cruzada contra o comunismo“ implica. MARTIN, B.. “American
Policy Towards Southern Africa in the 1980s”. Em: Journal of Modern African Studies, 27,1,
pp. 23-46, 1989. Veja também: CROCKER, Ch.. High noon in Southern Africa. Making Peace
in a Rough Neighborhood. New York & London: W.W. Norton & Co., 1992.
31 STULTZ, N.H. “South Africa in Angola and Namibia”. Em: BLIGHT, J. & WEISS, Th. G.
(orgs.). The suffering grass: superpowers and regional conflict in southern Africa and the
Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992.
32 HANLON, J.. Apartheid’s Second Front: South Africa’s War Against its Neighbours. Middlesex:
Penguin Books, 1986, p. 159.
33 RENAMO= Resistência Nacional Moçambicana. Este grupo foi fundado pelo serviço secreto
da Rodésia para ajudar o regime de Ian Smith na sua guerra contra os guerrilheiros da ZANU em
Moçambique e contra o Estado moçambicano depois de 1975. Depois da independência da
156 WOLFGANG DÖPCKE
Rodésia/Zimbábue em 1980, a África do Sul assumiu a tutela sob este grupo e o reorganizou
como um movimento terrorista eficaz e na sua arma principal para a desestabilização do
governo moçambicano. O terrorismo da RENAMO levou Moçambique à beira de um colapso.
Porém, esta oposição armada contra o Estado moçambicano não reflete só as maquinações da
África do Sul. A RENAMO conseguiu, também, se aproveitar das divisões na sociedade
moçambicana (étnicas, regionais, sociais), do neotradicionalismo, da distância dos chefes
tradicionais junto ao Estado e da rejeição da política de modernização e do “jacobinismo” das
elites urbanas e socialistas pela sociedade rural. Todavia, entre os pesquisadores, bem como no
debate público em Moçambique, a relevância destas raízes locais e, com isso, das razões locais
da revolta, estão sujeitas a severas disputas. Nas eleições de 1994, a RENAMO conseguiu 38%
dos votos, o seu candidato à Presidência, Dhlakama, 33,7%. A votação reflete uma clara
polarização étnica/regional. Para o debate sobre o caráter da RENAMO veja: MINTER, W..
Apartheid’s Contras: An Inquiry into the Roots of War in Angola e Mozambique. Johannesburg
& London: Zed, 1996. VINES, A.. Renamo: Terrorism in Mozambique. Centre for Southern
African Studies, University of York, London/Bloomington/Indianapolis: James Currey/Indiana
University Press, 1991. YOUNG, Tom. “The MNR/RENAMO: External and Internal
Dynamics”. Em: African Affairs. 1990, pp. 490-509.
34 HANLON, J.. Apartheid’s Second Front: South Africa’s War Against its Neighbours. Middlesex:
Penguin Books, 1986. DAVIES, R. und O’MEARA, D.. “Total Strategy in Southern Africa –
An Analysis of South African Regional Policy since 1978”. Em: CHAN, St. (org.). Exporting
Apartheid. Foreign Policy in Southern Africa 1978-1988. London: Macmillan, 1990. pp. 179.
35 GRUNDY, K. W.. The Militarization of South African Politics. Oxford: Oxford Univ. Press,
1988.
36 ibid., p. 88.
37 ROTBERG, R.I.. “Introduction: South Africa in the Region – Hegemony and Vulnerability”.
Em: ROTBERG, R.I. (et. al.). South Africa and its Neighbors. Regional Security and Self-
Interest. Lexinton: Mass. (Lexington Books), 1985. pp. 1.
38 Como introdução veja: SPARKS, A.. Tomorrow is Another Country. The Inside Story of South
Africa’s Negociated Revolution. South Africa: Struik Book Distributors, 1994. BEINART, W..
Twentieth Century South Africa. Oxford: OUP, 1994.
39 WENZEL, Cl.. Die Südafrikapolitik der USA in der Ära Reagan. Konstruktives oder destruktives
Engagement. Hamburg: Institut fur Afrikakunde, 1990.
40 VENTER, D.. South Africa and the African comity of nations: from isolation to integration (=
Africa Institute Research Paper Nº 56). Pretoria: Africa Institute of South Africa, 1993.
41 Para o conflito de Namíbia e a sua solução veja: PYCROFT. “Angola – ‘The Forgotten Tragedy’”.
Em: Journal of Southern African Studies, vol. 20, Nº 2, 1994, pp. 241. WOOD, B.. “Preventing
the Vacuum: Determinants of the Namibian Settlement”. Em: Journal of Southern African
Studies, vol. 17, Nº 2, 1991. HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch (1987-1996). Politik,
Wirtschaft und Gesellschaft in Afrika südlich der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1988-
1997.
42 Veja entre outros: HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und Gesellschaft
in Afrika südlich der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1988. MARTE, L. F.. Political cycles
in international relations: the cold war and Africa 1945-1990. Amsterdam: VU UP, 1994.
TVEDTEN, I.. “US policy toward Angola since 1975”. Journal of Modern African studies, 30,
1, p.31-52, 1992. SOMERVILLE, Keith. Foreign military intervention in Africa. London:
Pinter, 1990. WARDROP, J.. “Continuity and change in South Africa and in South Africa’s
relations with its neighbours”. Em: BRUCE, R. D. (org.). Prospects for peace: changes in the
Indian Ocean region. Perth: Indian Ocean Centre for Peace Studies, pp. 253-272, 1992.
43 Esta análise se baseia principalmente em: WOOD, B.. “Preventing the Vacuum: Determinants
of the Namibian Settlement”. Em: Journal of Southern African Studies, vol. 17, Nº 2, 1991.
UMA NOVA POLÍTICA EXTERIOR DEPOIS DO APARTHEID ? – REFLEXÕES SOBRE... 157
44 Blight e Weiss citam uma entrevista com Jorge Risquet, membro do Politbureau cubano e
principal negociador dos acordos com a África do Sul: “Cuito Cuanavale was decisive. the
negociations came later. The battle of Stalingrad took place three years before the fall of Berlin,
but it was at Stalingrad that the outcome of World War II was decided.... The South Africans
realized that putting up a frontal battle in southern Angola and northern Namibia would amond
to the swan song of apartheid. So they decided to concede Namibia.” BLIGHT, J. & WEISS,
TH. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers and regional conflict in southern Africa and
the Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992: “Conclusions: Must the Grass Suffer?”, p. 161.
Veja também: O’NEILL, K. & MUNSLOW, B.. “Angola: Ending the Cold War in Southern
Africa”. Em: FURLEY, O. (org.). Conflict in Africa. London: Tauris, 1995, pp. 183. OHLSON,
Th.. “The Cuito Cuanavale Syndrome: Revealing SADF Vulnerabilities”. Em: MOSS, G. &
OBERY, I. (orgs.). South African Review 5. Johannesburg: Ravan, 1989, pp. 181.
45 WARDROP, J.. “Continuity and change in South Africa and in South Africa’s relations with
its neighbours”. Em: BRUCE, R. D. (org.). Prospects for peace: changes in the Indian Ocean
region. Perth: Indian Ocean Centre for Peace Studies, pp. 253-272, 1992.
46 Para o argumento da continuidade na política exterior da África do sul a partir da “New
Diplomacy” de van Heeren, veja: EVANS, G.. “South Africa in Remission: the Foreign Policy
of an Altered State”. Em: Journal of Modern African Studies, 34,2, pp. 249-269, 1996. Veja
também: VALE, P.. “South Africa’s “New Diplomacy””. Em: MOSS, G. & OBERY, I. (orgs.).
South African Review 6. From “Red Friday” to Codesa. Johannesburg: Ravan, 1992, pp. 424.
47 VAN HEERDEN, N.P.. “South Africa and Africa: The New Diplomacy”. Em: ISSUP Bulletin,
No. 4, pp. 1-11, 1989.
48 Ibid.
49 VENTER, D.. South Africa and the African comity of nations: from isolation to integration (=
Africa Institute Research Paper Nº 56). Pretoria: Africa Institute of South Africa, 1993. DU
PISANI, A.. “South Africa and the region”. Em: MILLS, G. (org.). From pariah to participant:
South Africa’s evolving foreign relations, 1990-1994. Johannesburg: SAIIA, 1994. p.52-69.
50 Veja: HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und Gesellschaft in Afrika
südlich der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1990 e 1991. The Financial Times, 7.5.1991:
“On the road to normalization”. Die Welt (Hamburg), 17.4.1991: “Geteiltes Echo am Kap auf
EG-Entscheidung”.
51 EVANS, G. “South Africa in Remission: the Foreign Policy of an Altered State”. Journal of
Modern African Studies, 34,2, pp. 249-269, 1996. THOMAS, S.. The Diplomacy of Liberation:
the international relations of the African National Congress of South Africa, 1960-1985. London:
1995. JOHNSTONE, A. und SHEZI, S.. “The ANC’s foreign policy”. JOHNSTONE, et.al.
(orgs.). Constitution-Making in the new South Africa. London: Leicester UP, 1993.
52 EVANS, G.. “South Africa in Remission: the Foreign Policy of an Altered State”. Journal of
Modern African Studies, 34,2, 1996, p. 258.
53 AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Ready to Govern. ANC policy guidelines for a
democratic South Africa adopted at the National Conference (28-31.5.1992), 1992. AFRICAN
NATIONAL CONGRESS. Foreign Policy in a New Democratic South Africa. A Discussion
Paper (Oct. 1993), 1993. AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Discussion Paper: Foreign
Policy Perspective in a Democratic South Africa (Dec. 1994), 1994. DEPARTMENT OF
FOREIGN AFFAIRS (DFA). South African Foreign Policy, Discussion Document, Julho,
1996. DFA. Parliamentary Briefing, Sept. 1997. DFA. Statement on Nzo’s Budget Speech, 7/5/
98.
54 EVANS, G.. “South Africa in Remission: the Foreign Policy of an Altered State”. Journal of
Modern African Studies, 34,2, 1996, p. 259 & p. 266.
55 Mail and Guardian, 9.6.1995: “Foreign Affairs Department Under Fire”. Mail and Guardian,
8.9.1995: “The Realists in a Tussle with Radicals”.
158 WOLFGANG DÖPCKE
56 HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und Gesellschaft in Afrika südlich
der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1995.
57 HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und Gesellschaft in Afrika südlich
der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1995. EVANS, G.. “South Africa in Remission: the
Foreign Policy of an Altered State”. Journal of Modern African Studies, 34,2, 1996. SHUBIN,
Vladimir: Flinging the Doors Open: Foerign Policy of the New South Africa. CASA. Uni of
Western Cape, Working Paper. Bellville: CSAS, 1995. CALLAND, R. e WELD, D..
Multilateralism, southern Africa and the postmodern world: an exploratory essay. Bellville:
University of the Western Cape, Centre for Southern African Studies, 1994.
58 HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und Gesellschaft in Afrika südlich
der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1995. The Star (Johannesburg), 31.5.1995: “Foreign
Policy: just a set of impulses?”.
59 Le Monde (Paris), 6.11.1996: “La grande prudence de la diplomatique sud-africaine”. Das
Parlament (Bonn), 21.2.1997: “Vom internationalen Paria zum überforderten Hoffnungsträger”.
60 The Star, Johannesburg, 1996, 25.9.: “African renaissance can’t remain romantic concept”.
61 DFA. Background Document delivered by the MFA at the Parliamentary Media Briefing Week,
11/2/1997
62 The East African (Nairobi), 4.8.97: “Big Shift as Mandela Warms up to Abacha. Frankfurter
Rundschau, 14.4.1996: “Ein Neuling, der in viele Fettnapfchen tritt.”
63 Financial Times (London), 3.10.1996: “Tricky balancing act. Policy makers are having to
contend with the legacy of apartheid and old friendships”. Frankfurter Rundschau, 22.10.1997:
“Die USA suchten Mandela zu besänftigen”.
64 O Presidente Mandela, em um discurso no Parlamento do Zimbábue, explica, assim, a “African
renaissance”: “The time has come for Africa to take full responsibility for her woes and use the
immense collective wisdom it possesses to make reality of the idea of the African renaissance.
It is a renaissance that must mean that Africa refuses to be a passive onlooker in a chinging
world, hapless victim to modern machinations by the forces historically responsible for her
woes. Only this way can Africa assert her right to be an equal partner in world affairs.” Em:
The Herald (Harare), 21.5.1997: “Africa must take responsibility for its woes – Mandela”.
65 ANC Discussion Paper. Developing a Strategic Perspective on South Africa Foreign Policy,
July 1997. Veja também: Financial Times (London), 22.10.1997: “Reborn Africa reaches out.
Ideological battles between the old left and the pragmatists persist in the ANC”.
66 AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Ready to Govern. ANC policy guidelines for a
democratic South Africa adopted at the National Conference (28-31.5.1992), 1992. AFRICAN
NATIONAL CONGRESS. Foreign Policy in a New Democratic South Africa. A Discussion
Paper (out. 1993), 1993. AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Discussion Paper: Foreign
Policy Perspective in a Democratic South Africa (dec. 1994), 1994. DFA. South African Foreign
Policy. Discussion Document, julho 1996. DFA. Parliamentary Briefing, set. 1997. ANC.
Discussion Paper: Developing a Strategic Perspective on South Africa Foreign Policy, julho
1997.
67 ANC. Foreign Policy in a New Democratic South Africa. A Discussion Paper (out. 1993),
1993.
68 Ibid.
69 Nelson Mandela: “South Africa’s Future Foreign Policy”. Em: Foreign Affairs 72, nov. – dec.
1993, pp. 91-2.
70 SACU= Southern African Customs Union. União aduaneira entre a África do Sul, Botsuana,
Lesoto e Suazilândia que existe desde o início do século XX. Depois da sua independência, a
Namíbia se integrou a esta União.
71 MAASDORP, G.G.. “Squaring up to Economic Dominance: Regional Patterns”. Em:
ROTBERG, R.I., et. al.; South Africa and its Neighbors, pp. 91, 1985.
UMA NOVA POLÍTICA EXTERIOR DEPOIS DO APARTHEID ? – REFLEXÕES SOBRE... 159
72 ENGEL, U.. The Foreign Policy of Zimbabwe. Hamburg: Institut für Afrikakunde, 1994, p.
291.
73 KAPLINSKY, R.. “The Manufacturing Sector”. Em: MAASDORP, G. e WHITESIDE, A..
Towards a Post-Apartheid Future. Political and Economic Relations in Southern Africa. London/
Basingstoke: MacMillan, 1992, pp. 83. The Star, Johannesburg, 1996, 19.6.: “Unemployment
resists feeble assaults.”
74 Financial Mail, Johannesburg, 1992, 28.8.: “Trade. New directions“. The East African, Nairobi,
1995, 24.7.: “S. African firms fill void as West turns elsewhere”. PIAZOLO, M.. “Südafrika –
Wachstumsmotor der südlichen Afrika?” Em: Afrika Spektrum, 31, Jg., 96/3, Hamburgo, 1996.
INTERNATIONAL MONETARY FUND. Direction of Trade Statistics Yearbook 1997.
Washington: 1997, pp. 404-5.
75 Mail & Guardian, 1997, 23. – 29.5.: “South Africa accused of bully-boy tactics in trade with
Zimbabwe”.
76 Ibid.
77 The Business Herald, Harare, 1993, 3.6.: “Pretoria seeks to boost trade with Mozambique”.
The Star, Johannesburg, 1994, 24.11.: “Trade boom for SA goods”.
78 The Star, Johannesburg, 1994, 24.11.: “Trade boom for SA goods”. Mail & Guardian,
Johannesburg, 1996, 7.6.: “Zim attacks SA on Trade policies”. The Star, Johannesburg, 1996,
14.4.: “Export drive causes havoc for African neighbours”.
79 The East African, Nairobi, 1995, 24.7.: “S. African firms fill void as West turns elsewhere”.
80 The Star, Johannesburg, 1996, 14.4.: “Export drive causes havoc for African neighbours”.
81 INTERNATIONAL MONETARY FUND. Direction of Trade Statistics Yearbook 1997.
Washington: 1997, pp. 404-5. The Herald, Harare, 1996, 24.5.: “President tells SA to co-
operate”. The Herald, Harare, 1997, 8.3.: “Trade deal will see beef exports to SA”.
82 BARBER, J. & BARRAT, J.. South Africa’s Foreign Policy. The Search for Status and Security
1945-1988, p.133.
83 Financial Gazette, Harare, 1993, 4.3.: “Textile barons hold key to SA trade talks”. The Herald,
Harare, 1996, 21.2.: “South African trade unions protest against textil imports”.
84 Mail & Guardian, Johannesburg, 1996, 7.6.: “Zim attacks SA on Trade policies”.
85 Financial Gazette, Harare, 1995, 13.7.: “Retaliatory tariffs urged against AS”.
86 The Herald, Harare, 1996, 24.5.: “President tells SA to co-operate”.
87 The Sunday Mail, Harare, 1996, 4.2.: “SA under fire at SADC conference”.
88 The Herald, Harare, 1996, 5.6.: “View SADC with a soft heart, SA told”.
89 The Star, Johannesburg, 1996, 3.7.: “SA-Zimbabwe trade war looms”. The Herald, Harare,
1996, 2?.7.: “New tariffs announced to protect goods from external competition”.
90 The Herald, Harare, 1996, 27.7.: “New tariffs suspended pending consultations”.
91 The Herald, Harare, 1997, 15.2.: “State announces new tariff structure”. The Business Herald,
Harare, 1997, 20.2.: “New tariffs bring mixed blessings”.
92 The Herald, Harare, 1996, ?.8.: “At last SA agrees to cut tariffs. Thousands of local textile jobs
now safe”. The Herald, Harare, 1996, 8.8.: “Details on deal with SA”. The Herald, Harare,
1996, ?.10.: „Zimb, SA agree to speed up trade talks”. The Herald, Harare, 1996, 8.10.: “SA
committed to trade deal”.
93 Financial Gazette, Harare, 1997, 6.3.: “SA offer raises hop for stalled trade talks”. The Herald,
Harare, 1997, 8.3.: “Trade deal will see beef exports to SA”. The Herald, Harare, 1997, 6.8.
94 SADC. Protocol on Trade in the Southern African Development Community, 1996. The Star
(Johannesburg), 2.7.1997: “Problems of past haunt region”.
95 Electronic Mail & Guardian (Johannesburg), 24.11.1997: “SA’s neigbours wary of an EU
trade deal.” Veja também: HOLLAND, M.: “South Africa, SADC, and the European Union:
Matching Bilateral with Regional Policies”. Em: Journal of Modern African Studies, 33, 2,
1995, pp. 263-283.
160 WOLFGANG DÖPCKE
96 The Financial Gazette, Harare, 11.9.1997: “Major power struggle rocks SADC leadership”.
The Independent, Harare, 19.9.1997: “Mandela refutes threat to quit SADC”.
Resumo
Abstract
The article demonstrates that the regional relations in the Southern Africa
experienced a dramatic change which transformed this conflict region, after 1989,
into a relative peaceful and safe zone between states. The abandonment of South
Africa destabilization policy was instrumental in the process. Inside this new
atmosphere of peace and political consensus other friction, mainly economic ones,
rose and make the region oscillate between a great commitment with integration
and “commercial wars”. Again, South Africa regional policy is decisive for the
rising of this constellation. It oscillates between a strong moral rhetoric and a pure
economic reasoning.
A Guerra do Chaco
L. A. MONIZ BANDEIRA*
Chaco, onde o latifúndio teve e ainda tinha um “fulgor jamás sobrepasado o siquiera
alcanzado” em qualquer região do mundo60. Com efeito, o Chaco, palavra,
aparentemente de origem quíchua, compreendia vasta planície, encravada na
mesopotâmia da Bacia do Prata, ao centro-sul do continente, e dividida, dada a sua
extensão, em três regiões: Chaco Boreal, Chaco Central e Chaco Austral. A disputa
pelo seu domínio começou nos meados do século XIX, quando Juan de la Cruz
Benavente, Encarregado de Negócios da Bolívia em Buenos Aires, protestou contra
a celebração do Tratado de Navegação e Limites de 15 de julho de 1852, pelo qual
a Confederação Argentina reconheceu a soberania do Paraguai sobre o rio do
mesmo nome, “de costa a costa”, até sua confluência com o Paraná 61 .
Desdobramento maior não houve, o Tratado de Navegação e Limites de 15 de
julho de 1852, aliás, nem ratificado foi e a questão somente se reacendeu, em 1866,
com a publicação do Tratado da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai). Na
ocasião, o Governo da Bolívia manifestou estranheza ante o fato de que as Potências
Aliadas, ao decidirem sobre a expropriação do território do Estado paraguaio,
incluíssem na retalhadura “gran porción del território boliviano”, à Argentina
destinando extensa região ocidental do rio Paraguai (Gran Chaco) e ao Brasil, na
sua margem direita, o trecho compreendido entre a Bahia Negra e o Jaurú62 . Os
três Aliados trataram então de ressalvar, através de cartas e notas reversais, os
direitos da Bolívia, cujo apoio o Ministro das Relações Exteriores do Paraguai,
José Berges, solicitara, acenando-lhe com a oportunidade de “recuperar seus
territórios e direitos usurpados pelo Brasil”63 . O General Mariano Melgarejo, que
governava, naquela época, o país, inclinou-se, a princípio, a atender ao apelo e
ofereceu ao Marechal Francisco Solano López uma “coluna de 12.000 bolivianos”64 .
A ação diplomática do Brasil, enviando a Sucre, como Ministro Plenipotenciário, o
Conselheiro Felipe Lopes Neto, neutralizou-o e levou-o a firmar o Tratado de 27
de março de 1867, pelo qual a Bolívia perdeu a margem direita do rio Paraguai e
larga faixa de terra entre a foz do Beni e o Javari65 , embora não o impedisse de
permitir, sem obstáculos, a constante passagem de armamentos para o Marechal
Francisco Solano López66 .
A disputa em torno do Chaco, no entanto, agravou-se depois de terminada
a guerra contra o Paraguai. A Argentina, escorada no Tratado da Tríplice Aliança,
reclamou a posse de toda a margem esquerda do rio Paraná até o Iguaçú, e de
toda a riba ocidental do rio Paraguai, até a Bahia Negra, em frente ao Fortim
Coimbra, i. e., todo o território do Chaco, havendo suas tropas ocupado já a Villa
Occidental. Como ao Brasil não convinha que ela ainda mais seu território dilatasse,
o Governo Imperial não lhe reconheceu a pretensão, a pretexto de resguardar os
direitos da Bolívia, e só admitiu o alargamento de sua fronteira, à margem ocidental
do rio Paraguai, até o Pilcomayo. O Governo de Buenos Aires, com Domingo
Sarmiento na Presidência da República e Carlos Tejedor no Ministério das Relações
Exteriores, declarou então todo o Chaco província da Argentina, tendo Villa Ocidental
A GUERRA DO CHACO 171
afigurava, sem sequer uma saída para a Bacia do Prata. Em realidade, a Bolívia
não tanto se beneficiara com o boom dos nitratos, quando entre 1866 e 1879
explorava juntamente com o Chile as jazidas de salitre, e os portos de Tocopilla,
Antofagasta e Cobija, perdidos durante a Guerra do Pacífico, pouco lhe serviram,
dado que ela não dispunha de grandes excedentes para exportação. Mas o fato foi
que seu interesse no Chaco e em obter uma saída para o rio Paraguai recresceu, a
partir de 1879, depois do laudo arbitral do Presidente Hayes e coincidentemente
com a ocupação da costa do Pacífico pelo Chile. Naquele ano, o Presidente Narciso
Campero, em carta ao Imperador Pedro II, pleiteou a devolução das margens do
Alto Paraguai, cedidas ao Brasil por Melgarejo, sob o argumento de que o Tratado
de 1867 contrariava os “claros desígnios de la Providencia”, ao impedir que a
população da Bolívia acesso ao rio tivesse e a privar, assim, de “un órgano
respiratorio que le ha concedido la voluntad del Supremo Hacedor”69 . Ao mesmo
tempo, ele determinou que Antônio Quijarro, seu Ministro em Buenos Aires, viajasse
para Assunção, como Plenipotenciário, a fim de negociar um acordo que garantisse
à Bolívia o domínio sobre a margem direita do Paraguai, ao sul da Bahia Negra.
Quijarro e José Segundo Decoud, Ministro das Relações Exteriores do Paraguai,
em 15 de outubro de 1879, firmaram então um Tratado, pelo qual transferia para a
Bolívia mais da metade do Chaco. O Tratado Quijarro-Decoud aprovado não foi
pelo Paraguai, da mesma forma que dois outros mais – Tamayo-Aceval (1887) e
Ichazo-Benitez (1894)70 – celebrados até o final do século XIX 71.
Como os dois países nenhum entendimento alcançassem e a construção
pela Bolívia, no Chaco, dos fortins Ballivian e Guachalla quase uma guerra
desencadeasse, a Argentina, sob o governo de José Figueroa Alcorta e tendo
Estanislao S. Zeballo como Ministro das Relações Exteriores, ofereceu os bons
ofícios em busca de uma solução amigável para o litígio. Em 12 de janeiro de 1907,
os Plenipotenciários da Bolívia, Cláudio Pinilla, e do Paraguai, Adolfo R. Soler,
firmaram então um Protocolo, em que as partes contratantes se comprometiam a
não minorar nem avançar no Chaco as possessões existentes até aquela data e
entregavam a questão à arbitragem do Presidente da Argentina. O entendimento,
contudo, não evoluiu, por vários motivos, entre os quais, principalmente, a renúncia
do Presidente Figueroa Alcorta, em virtude de grave incidente diplomático com a
Bolívia, que julgava o Protocolo atentatório à sua soberania. Confiança,
naturalmente, não havia na isenção da Argentina. Segundo se informara, o próprio
Chanceler Estanislao S. Zeballos era grande concessionário de terras no Chaco,
as quais adjudicadas lhe foram pelo Governo do Paraguai72. E, na Argentina, havia
quem alimentasse a esperança de que ela talvez ainda aquela região incorporar
pudesse, o que a salvaria de muitos problemas, no futuro, e lhe asseguraria a
jurisdição sobre o rio Paraguai, a contrabalançar a expansão do Brasil em Mato
Grosso. “Los Estados Unidos llevan su jurisdicción alli donde existen intereses de
su nacionalidad” – assim um documento encaminhado ao Chanceler Victorino de
A GUERRA DO CHACO 173
obtidas e ainda não exploradas, alargou as reservas do Estado para 160.000 ha.
em Chubut, bem como criou a primeira companhia estatal de petróleo do mundo, a
Dirección General de Explotación de Petroleo de Comodoro Rivadavia, cuja
produção, entre 1916 e 1919, cresceu cerca de 45 %, a alcançar 188.111 m³98.
Essa companhia, ao final do Governo do Presidente Hipólito Yrigoyen (1916-1922),
reorganizada foi (1922), sob o nome de Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), e
sua direção entregue ao General Enrique Mosconi, possibilitando-lhe promover
“una de las más profundas campañas nacionalistas que ha visto la Argentina”99,
com o objetivo de “argentinizar”, na medida do possível, tanto a produção quanto a
distribuição de petróleo e paralisar a penetração da Standard Oil no norte do país100 .
Com efeito, a Standard Oil, que dominava, através da West India Oil
Company (WICO), cerca de 80 % do comércio nacional de gasolina e desfrutara,
em Buenos Aires, do monopólio absoluto do mercado101, começara a adquirir,
naquela época, i. e., entre 1922 e 1923, concessões nas Províncias de Salta e
Jujuy, onde, por volta de 1870, explorações particulares esporadicamente se
realizaram, sem maior êxito102. Mosconi manifestava a seu respeito opinião bastante
negativa. Julgava que os norte-americanos, como “novos ricos”, não reconheciam
limitações, para a consecução dos seus propósitos, e suas reações chegavam até
“el desconocimiento y atropello de la soberania de otros pueblos”103. E procurou,
conseqüentemente, contrapor-se à expansão da Standard Oil. Esta posição contou
com o apoio do Presidente Marcelo T. Alves (1923-1928), que, também eleito pelo
Partido Radical, fortaleceu os planos de Mosconi, mediante a implementação de
política ainda mais agressivamente nacionalista, visando a consolidar e expandir a
Yacimientos Petrolíferos Fiscales. Esta companhia estatal, por volta de 1929, já
respondia por 234 milhões de litros de gasolina, contra 126 milhões produzidos
pelas corporações estrangeiras, dos 700 milhões consumidos na Argentina, já a
emergir como um grande mercado em expansão superando a própria França, devido
às suas importações de automóveis, que a colocaram na liderança absoluta do
ranking mundial, com mais do que o dobro do Brasil, então no segundo lugar104.
Não foi, por conseguinte, devido à influência da Royal Dutch Shell e sim para
defender a prevalência da YPF, enquanto empreendimento do Estado que, no seu
segundo mandato, o Presidente Hipólito Yrigoyen (1929-1930) não permitiu à Bolívia
construir, com financiamento da Standard Oil, os dois oleodutos, que seu território
atravessariam, até Formosa, Rosario ou Zárate (Buenos Aires), sobre o rio Paraná.
Àquele tempo, a Standard Oil of New Jersey e a Royal Dutch Shell
disputavam o petróleo na Argentina, como no resto da América do Sul, interessadas,
em larga medida, em assenhorear-se de reservas para o futuro. O espectro da
Standard Oil, contudo, era o que mais assustava. Em face de problemas internos
nos EUA, da explosão do nacionalismo no México e da difícil competição com os
interesses britânicos no Oriente Médio, elas e outras companhias norte-americanas
voltaram as atenções para a América do Sul, onde, durante os anos 20, seus
178 L. A. MONIZ BANDEIRA
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1 Mauá, 1942, pp. 171 e 177; Granzieira, 1979, pp. 117 e 118.
2 Calógeras, 1927, p. 237; Normano, 1939, p. 230.
3 Graham, 1968, p. 100; Mendoça, p. 206.
4 Sodré, 1976, p. 262; Granzieira, 1979, pp. 62, 73 a 75.
5 Donghi, 1972, pp. 168 e 274; Granzieira, 1979, pp. 58 e 60.
6 Mauá, 1942, p. 252.
7 Mauá, 1977, pp. 116 a 119.
8 Teixeira Soares, 1957, pp. 248 a 249, 297 a 298, 333 a 335; Faria, 1958, pp. 197, 225, 318 a
319; Normano, 1939, pp. 123 a 125.
9 Besouchet, 1978, pp. 107 a 114; Teixeira Soares, 1957, pp. 189 a 201; Mauá, 1942, pp. 301.
10 Id., pp. 295 e segs.
11 Mauá, 1942, p. 283; Teixeira Soares, 1957, p. 318.
12 Warren, 1978, p. 283.
13 Warren, 1985, pp. 51 a 61.
14 Ferns, 1969, p. 326.
15 Carta de E. Thornton a Thomas Baring, particular, Rio de Janeiro, 23.2.1867; Thornton a
Baring, particular, 7.9.1967. HC4.1.45, BBA-H.G. Lettson e Lord Claredon, Montevideo,
10.2.1866. PRO-FO420-20, Teixeira Soares, 1957, p. 309; Pomer, 1968, p. 237.
16 Ofício n° 6, confidencial, Francisco Otaviano de Almeida Rosa ao Conselheiro João Pedro Dias
Vieira, Buenos Aires, 25.4.1965, AHI-272-1-21. Pomer, 1979, pp. 122 a 123. “Existe remédio
radical e definitivo para a situação e este consiste em fazer com que o Paraguai e a Banda
Oriental entrem para fazer parte de uma Federação com a República Argentina, a fim de criarem
um Estado de língua castelhana que responda ao Brasil pelos seus atos e afaste por sua
responsabilidade as ocasiões de guerra”. Nota de Domingo F. Sarmiento ao Ministro das
Relações Exteriores da Argentina, New York, s/d, In Sarmiento, 1983, pp. 122 a 123.
17 Pastore, 1972, p. 178.
18 Memoria del Ministerio de Hacienda del Gobierno Provisorio al Congreso Nacional, Asunción,
24.11.1870. Apud Pastore, 1972, p. 178.
19 Caballero Aquino, 1985, p. 148.
20 Id., Ibid., p. 148 e 149.
21 Cardozo, 1965, p. 117.
22 Warren, 1985, p. 120.
A GUERRA DO CHACO 193
104 Solberg, 1979, p. 56 e 123. Em 1930, seu contributo representou 57,9 % do total da produção
nacional e, embora caísse para 37,5 % em 1934, ele continuou acima dos 40 %, nos anos
subseqüentes, até superar os 60 %, a partir de 1940, enquanto a participação das companhias
estrangeiras, da ordem de 42,1 % em 1930 subiu para 62,5 % em 1934, quando começou a
declinar até cair para menos de 40 % a partir de 1940. Frondizi, 1955, p. 368.
105 Id., Ibid., p. 54.
106 Id., Ibid., p. 54.
107 Id., Ibid., p. 55. Yergin, 1993, pp. 232 e 233.
108 Solberg, 1979, p. 211. Larra, 1957, pp. 124 a 133. Rouquié, 1981, p. 214.
109 Id., Ibid., p. 214.
110 Solberg, 1979, p. 154.
111 Id., Ibid., pp. 154 e 211. Rouquié, 1981, pp. 214 e 215. Frondizi, 1955, pp. 270 a 271.
112 Frondizi, 1955, pp. 389 a 391. Klein, 1969, p. 153.
113 Annual Report – 1931 – Doc. A3353/3353/33, confidential, Tottenham-Smith to John Simon
Asunción, 30.4.1932. Paraguay – Chaco – 1933 – PRO-FO371-15852.
114 Annual Report – 1932 – 16269 Confidential, Tottenham-Smith to John Simon, Asunción,
29.3.1933 – Paraguai – Chaco, 1933 – A6093/1143/33. PRO-FO371 – 16586.
115 Ibid.
116 Vide íntegra do discurso em Seiferheld, 1983, pp. 498 a 501. Frondizi, 1955, p. 390.
117 Despatch N° 464 – strictly confidential, Delegation os USA – Peace Conference, Spruille
Braden to the Secretary of State, Buenos Aires, 22.7.1937. NA – File 724.34119.9.
118 Ibid. Sobre o tema vide Seiferheld, 1983, pp. 462 a 472. Klein, 1967, p. 229. Klein, 1969, p.
153. Warren, 1949, p. 294.
119 Seiferheld, 1983, p. 486.
120 Id., Ibid., pp. 464 e 465.
121 Id., Ibid., pp. 466 a 470. Warren, 1949, p. 294. Klein, 1969, pp. 217 e 218.
122 Spruille Braden fora quem, juntamente com seu pai, transferira algumas das concessões de
petróleo que ela explorava.
123 Despatch N° 464, strictly confidential – Delegation of USA – Peace Conference, Spruille
Braden to the Secretary of State, Buenos Aires, 22.7.1937. NA – File 724.34119/9. – “A seu
debido tiempo, el Presidente del Directorio de Standard Oil de New Jersey me invitó a almorzar
con él y sus directores (...) Después de alguna conversación general mi anfitrión, con considerable
profanidad se soltó contra los ‘desonestos bolivianos que habian robado sus propiedades’ (de
la Standard Oil). Le respondí qie estaba totalmente equivocado y que era la propia Standard Oil
quien habia estado en falta en todo el negócio. En una forma más bién beligerante me pidió que
le explicara. Le proporcioné todos los hechos y quando terminé de hacerlo, él se volvió al
abogado de la Standard Oil, que estaba presente e le dijo: ‘Es esto verdad?’ La confirmación del
abogado de mi historia resultó en mayor profanidad, esta vez dirigida a su propia plana mayor”.
Braden, 1971, pp. 26 e 27.
124 “... Ao citar Saavedra Lamas, é evidente que Spruille Braden reconhece nele o que vale dizer na
Argentina -um inimigo da Standard Oil. Isso significa que Saavedra Lamas é um agente do
inimigo real: a Royal Dutch Shell, que se aliou à Argentina no apoio oferecido ao Paraguai”.
Chiavenato, 1979, p. 115. Sobre o tema vide Seiferheld, 1983, pp. 458 a 462. Klein, 1969, pp.
153 e 194.
125 Despatch N° 23, R. Noswosthy to Sir John Simon, La Paz, 9.2.1933; carta de Vickey Armstrong
ao Foreign Office, London, 14.2.1933. PRO-FO371-16545.
126 Despatch N° 1362, Atherton, US Embassy, to the Secretary of State, London, 12.4.1935;
Despatches N° 223 3 224, US Legation in Asunción, 10.5.1935, Chronological Records –
Chaco Dispute – April 1st., 1935 to August 1st, 1935, p. 17. NA – File 724.34119/103 1/2.
A GUERRA DO CHACO 197
127 Letters from Midlank Bank to Foreing Office, 1.10.1932 e 19.12.1932, PRO-FO371-1580.
Despatch N° 105, R. H. Tollenham-Smith, Britsh Legation in Asunción, to H. G. Chilton,
Britsh Embassy in Buenos Aires, Asunción, 22.11.1933. PRO-FO527 – 24.
128 Zook, 1962, p. 23.
129 Id., Ibid.
130 Estigarríbia, 1950, p. 195.
131 Palmeiro, 1973, p. 76.
132 Memorandum, Eusébio Ayala a Vicente Rivali, Embaixador em Buenos Aires, Asunción,
12.9.1934; apud Pastore, 1972, p. 395. Querejazu Calvo, 1981, p. 439. “En el Paraguay ya no
cabian dudas acerca de la actitud de la Standard Oil, más aún con la presunción – que los hechos
posteriores demostraron errada – de que el Chaco albergaba un reservatorio fabuloso en riqueza
petrolera”. Seiferheld, 1983, p. 508. “La Standard Oil sabia entre tanto lo que los bolivianos
iban a descubrir solo 30 años después: que los yacimientos disputados eran escasamente
importantes. En consecuencia, no mostró mayor entusiasmo com los aprestos bolivianos”.
René Zavaleta Mercado – “Bolívia: Crescimiento de la Idea Nacional”, Cuadernos de la Revista
Casa de las Américas, La Habana, Cuba, 1967, apud Gonzáles Quintanilla, 1977, p. 30.
133 Memorandum, Ayala a Vicente Rivarola, Asunción, 12.9.1934, apud Querejazu Calvo, 1981,
p. 439. Vide também Seiferheld, 1983, p. 509.
134 Solberg, 1979, p. 174. Seiferheld, 1983, p. 479.
135 Solberg, 1979, pp. 159 e 161.
136 Annual Report 1932 – 14249 confidential, Tottenham-Smith to John Simon, Asunción,
29.3.1933. PRO-FO16586 – Paraguay Chaco 1933 A6093/1143/33/.
137 Barrero U., 1979, p. 285.
138 Despatch N° 208, strictly confidential, Spruille Braden to the Secretary of State – Delegation
of USA – Peace Conference – Buenos Aires, 2.7.1936. NA 724.34119/521 LD. Braden, 1971,
p. 31.
139 Despatch N° 594, strictly confidential, Braden to the Secretary of State – Delegation od USA
– Peace Conference, Buenos Aires, 28.12.1937. NA-274. 34119/1158 LH.
140 Nota de Protesto de la Delegación Boliviana – Enclosure N° 1 to Despatch N° 607, Braden to
the Secretary of State, Delegation of USA – Peace Conference, Buenos Aires, 10.1.1938. NA-
724.34119/1173 LH.
141 Despatch N° 594, strictly confidential, Braden to the Secretary of State – Delegation of USA
– Peace Conference, Buenos Aires, 28.12.1937. NA-724.34119/1158 LH.
142 Despatch N° 458, strictly confidential, Leslie E. Reed, 1st Secretary, to the Secretary of State,
Legation of USA in Montevideo, 21.1.1937. NA-724-34119/757 LH.
143 Braden, 1971, p. 91.
144 Só em 23 de julho de 1964, com a assinatura, em La Paz, do Protocolo Adicional ao Tratado de
1938 sobre a Ligação Ferroviária, o Brasil finalmente entregou a administração da Bolívia o
trecho da ferrovia Corumbá – Santa Cruz de la Sierra, situado no território boliviano, e recebeu
quitação do compromisso, que assumira com o Tratado de Petrópolis e o Tratado de 25 de
dezembro de 1928 modificara. Ao negociar a entrega da ferrovia, os representantes brasileiros
consideraram a importância geopolítica da região por ela servida. Relatório do Ministério das
Relações Exteriores, apresentado ao Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar
Castelo Branco, pelo Ministro das Relações Exteriores, Vasco Leitão da Cunha – 1964 – Seção
de Publicações da Divisão de Documentação do MRE, pp. 24 e 25.
145 Zook, 1962, p. 382.
146 Despatch N° 464, strictly confidential, Braden to the Secretary of State, Buenos Aires,
22.7.1937. NA-File 724.34119/9.
198 L. A. MONIZ BANDEIRA
147 Memorandum, Carlos Zubizarreta, Paraguayan Delegate. Enclosure to the Despatch of Oct.
7th., 1937, Buenos Aires. NA-724.34119/1081 LH.
148 Id., Ibid.
149 Circular N° 908, confidencial, MRE às Missões Diplomáticas Brasileiras, a) M. de A. (Moniz
de Aragão), Secretário Geral, Rio de Janeiro, 22.8.1934. AHI – Guerra do Chaco – 9(31).(43)5.
150 Ministério de Guerra – Estado Mayor General del Ejército – Bases para el “Plan de Operaciones
Máximo” – 1933-1934, secreto, Anexo a la Orden Secreta N° 66 – Ejemplar 1: Jefe. Plan de
Operaciones Máximo – Variante A – Frontera Noreste – Zonas de Concentración – 1933-1934.
a) General de Brigada Ramón Molina, Jefe del Estado Mayor del Ejército. Aprobado: General
de División Tomás Martinez, Inspector General del Ejército. AN-AP51(9)-APPAGM.
151 Id., Ibid.
152 Id., Ibid.
153 Id., Ibid.
154 Ofício N° 107, índice: “Situação do Brasil em face da Guerra do Chaco”, secreto, Cel. Francisco
Gil Castelo Branco, Chefe da 2ª Seção do Estado-Maior do Exército, ao General Olímpio da
Silveira, Chefe do Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro. 27.11.1934. AN-AP51(7)-
APPAGM.
155 “Situação Atual do Brasil como Potência Militar Sul-Americana”. Estudos apresentados ao
Conselho Superior de Guerra pelo General de Divisão Waldomiro Castilho de Lima, Inspetoria
do 1° Grupo de Regiões Militares, Reservado, s/d (provavelmente 1934-1935), AN-AP51(5)
– HPPAGM.
156 Ofício N° 237, Lafaiete de Carvalho e Silva ao Chanceler Afrânio de Melo Franco, Buenos
Aires, 2.7.1933; Ofício N°.304, reservado, Embaixada do Brasil no Uruguai (s/a) ao Chanceler
Melo Franco, Montevideo, 3.10.1933. AHI- Lata 164, maços 2717 a 2722.
157 Atos Internacionais firmados por ocasião da visita ao Brasil do Excelentíssimo Senhor General
Agustín P. Justo, Presidente da Nação Argentina, Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do
Comércio, Rodrigues & Cía., 1933.
158 Carta de Getúlio Vargas a Oswaldo Aranha, Rio de Janeiro, 24.12.1934 – CPDOC – GV
34.12.24/1.
159 Id., Ibid.
160 Relatório – Inspetoria dos CC/EE da fronteira Mamoré-Guaporé, a) Capitão Aluízio Pinheiro
Ferreira, Inspetor – Comandante da 8ª Região Militar, 26 de janeiro de 1935. Índice: “Presta
informações sobre as prováveis conseqüências da Guerra do Chaco nas relações brasileiro-
bolivianas pela bacia amazônica”. AN-AP51(7) – APPAGM.
161 Id., Ibid.
162 Id., Ibid.
163 Id., Ibid.
164 Referência à Aliança Popular Revolucionária Americana -APRA, movimento de esquerda
liderado no Peru por Victor Haya de la Torre.
165 “Situação Atual do Brasil como Potência Militar Sul-Americana” – Estudos apresentados ao
Conselho Superior de Guerra pelo General de Divisão Waldomiro Castilho de Lima, Inspetor
do 1° Grupo de Regiões Militares, Reservado, s/d (provavelmente 1934-1935). AN-
AP51(5)APPAGM.
166 Id., Ibid.
167 Despatch N° 372, Subject: Rumor regarding supposed intention of Argentina to attack Brazil.
R. M. Scotten, Counselor of Embassy, to the Secretary of State. Rio de Janeiro, 3.4.1938. NA-
732.35/59 L/JPS.
A GUERRA DO CHACO 199
168 I- Estados Unidos y la Paz del Chaco – II- EE.UU y la Carta de Belmonte (Memórias del Jefe
de la Delegação Americana Spruille Braden. Capítulos XIX, XX y XXV. Tradução, Introdução
y Comentários de Victor Andrade V., Cuadernos de Hoy, n° 6, La Paz, 1982, p. 43.
169 Braden, Spruille – “Diplomáticos y Demagogos” – Memorias sobre la Conferencia de Paz del
Chaco (Versión castellana de los principales capítulos), New York, 1971, p. 21. “El Gobierno
norte-americano tenia razones para creer que la Argentina habia jugado un papel importante en
la expropiación de los bienes de la Standard Oil llevado a cabo por el Gobierno boliviano el 13
de marzo de 1937... Después de la guerra, se celebraron negociaciones en Buenos Aires para
una concesión petrolífera. Como contrapartida, la Argentina protegeria a Bolívia del Paraguay.
La expropiación a la Standard Oil tuvo lugar no mucho después y luego breve lapso se firmó um
acuerdo entre la Argentina y Bolívia que preveia la participación argentina en el desarrollo de
los yacimientos bolivianos, como asi mismo la exportación de petróleo boliviano a la Argentina.
(Cordell) Hull y Summer Welles estaban enfurecidos, particularmente no mucho antes el canciller
boliviano Enrique Finot habia dicho al ministro norte-americano R. Heenry Norwel que ‘Bolívia
debe hacerle el juego al imperialismo argentino para obter un arreglo aceptable en el Chaco’”.
Escudé, 1992, pp. 246 e 247.
170 Despatch N° 464, strictly confidential, Delegation of USA – Peace Conference, Spruille Braden
to the Secretary of State, Buenos Aires, 22.7.1937. NA – File 724. 34119/9.
171 Nota n° 11, Embaixador Mario de Pimentel Brandão, Secretário Geral, a Alberto Ostria Gutierrez,
Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da Bolívia, Rio de Janeiro, 25.2.1938. AHI
– Guerra do Chaco – Conferência de Paz.
172 Ofício n° 49, secreto 2ª Seção, General de Divisão Pedro Aurélio de Goes Monteiro, Chefe do
Estado-Maior do Exército, ao Ministro da Guerra, Rio de Janeiro, 4.6.1938. AHI – Guerra do
Chaco – Conferência de Paz.
173 Id., Ibid.
174 Carta de Oswaldo Aranha a Getúlio Vargas, abril de 1938, CPDOC – FGV – 04 380405/2.
175 Id., Ibid.
176 O Presidente Ortiz, em 1940, licenciou-se, por motivo de doença, sendo substituido à frente do
Governo pelo Vice-Presidente, Ramón S. Castilho. Em 1942, impossibilitado de reassumir,
renunciou e, em 1943, os militares derrubaram o Presidente com um golpe-de-Estado.
Resumo
Abstract
This article analyses the circumstances that surrounded the Chaco War,
between Paraguay and Bolivia, in the first half of the current century. It studies the
evolution of the political and economic situation in the region since the War of the
Triple Alliance, stressing also the interests of the neighbouring countries in the
dispute of the belligerent countries over the Chaco. Paraguay and Bolivia fought
each other in order to control the region guided by economic reasons, mainly for
Paraguay, and strategic ones, mostly for Bolivia, which, by possessing the Chaco,
would have access to the Plata Basin and easier drainage to its oil production. The
deflagration of the conflict involved more directly the interests of Argentina and
Brazil, two countries that played an important role in the development and in the
conclusion of the Chaco War.
Resenhas
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional
dos Direitos Humanos (Volume I). Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris,
1997, 486 p.
polêmica entre dualistas e monistas, uma vez que a primazia, no caso da co-existência
de normas de tratados internacionais e normas internas, será a da norma mais
favorável à vítima. Isso não significa, porém, que os Estados podem descuidar de
suas normas internas, mas, simplesmente, que não há como admitir as obrigações
convencionais contraídas por um Estado no plano internacional e ao mesmo tempo
negar-lhes vigência no plano do direito interno. Como os tratados de direitos humanos
consagram valores comuns superiores, não pode o Estado erigir-se em árbitro do
alcance final de suas obrigações, isto é, não cabe a hipótese de um tratado de
direitos humanos ser revogado por uma lei doméstica.
A implementação dos tratados de direitos humanos, como ressalta o autor
no capítulo dedicado à interação entre o direito internacional e o direito interno,
requer o concurso de todos os órgãos do Estado. As obrigações convencionais de
proteção vinculam os Estados partes e não somente seus Governos. Ou seja, “o
descumprimento das normas convencionais engaja de imediato a responsabilidade
internacional do Estado, por ato ou omissão, seja do Poder Executivo, seja do
Legislativo, seja do Judiciário” (pág. 442). Assim, não é apenas o Executivo que
está obrigado a tomar as medidas para o cumprimento dos tratados de direitos
humanos. O Legislativo tem papel central tanto na regulamentação de tais tratados
– de modo a dar-lhes eficácia no direito interno – como na harmonização das
normas domésticas com o disposto nos instrumentos internacionais. Ao Judiciário,
por seu turno, incumbe aplicar efetivamente as normas dos tratados de direitos
humanos no plano interno e assegurar que sejam respeitadas.
Ao defender a especificidade do direito internacional dos direitos humanos
e a noção de garantia coletiva, subjacente a todos tratados de direitos humanos,
Cançado Trindade delimita um campo de batalha contra as concepções que tendem
a minimizar a dimensão internacional da proteção. O direito internacional dos direitos
humanos se insurge, portanto, contra a visão estática tradicional, reconhecendo
que o ser humano é sujeito tanto de direito interno quanto do direito internacional,
dotado em ambos de personalidade e capacidade jurídicas próprias. Demonstração
dessa tendência reside na consolidação da possibilidade de recurso direto de
indivíduos aos mecanismos internacionais de supervisão das obrigações na área
dos direitos humanos. Apesar de não substituírem os tribunais internos e tampouco
operarem como uma espécie de quarta instância em relação às decisões dos últimos,
os tribunais internacionais – tendo em vista o objetivo maior na proteção integral
dos indivíduos – podem examinar a conformidade de atos internos com as obrigações
internacionais em matéria de direitos humanos.
Uma das muitas qualidades do livro é o cuidado tomado pelo autor de
construir em bases sólidas a argumentação, partindo dos fundamentos e chegando
às afirmações mais abstratas. Assim, a questão da especificidade do direitos
internacional dos direitos humanos não nos é imposta como um fait accompli ou
como se não carecesse de explicação e demonstração. Desde os primeiros
RESENHAS 203
capítulos, que tratam das fases legislativa e de implementação dos direitos humanos,
o texto conduz o leitor a confrontar fatos históricos, argumentos jurídicos
concorrentes, e posições adotadas por países em foros multilaterais, logrando, desse
modo, reconstruir a complexidade da luta pela afirmação e consolidação dos direitos
humanos nos planos internacional e nacional. Nesse sentido, os capítulos referentes
à preparação, realização e resultados da Conferência Mundial de Viena sobre
Direitos Humanos (junho de 1993) são exemplo do trabalho meticuloso de
reconstrução histórica e análise que só poderia ser realizado por quem, além de ter
participado ativamente do processo descrito, procurou interpretar os fatos vividos
de modo a dotar-lhes de sentido e inteligibilidade.
Do mesmo modo, os demais capítulos se complementam e parecem
convergir para o objetivo de demonstrar a necessidade de abandonar posições
ultrapassadas que, infelizmente, continuam a impedir um tratamento integral para
a questão dos direitos humanos. A título de exemplos – visto que seria impossível
apreender aqui todas dimensões dessa obra monumental – valeria uma rápida
menção aos capítulos VIII (“As três vertentes da Proteção Internacional da Pessoa
Humana”) e IX (“A Proteção Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais”). Quanto às três vertentes de proteção da pessoa humana – os direitos
humanos, o direito humanitário e o direito dos refugiados –, Cançado Trindade
demonstra a virtual superação da antiga visão compartimentalizada que marcou o
tratamento do tema. Segundo o autor, “a nova dimensão do direito de proteção do
ser humano, dotado reconhecidamente de especificidade própria, vem-se erigindo
no plano jurisprudencial sobre o binômio das obrigações de ‘respeitar’ e ‘fazer
respeitar’, em todas circunstâncias, os tratados do Direito Internacional Humanitário
e do Direito Internacional dos Direitos Humanos” (pág. 347). Ou seja, o que se
defende, e que inclusive foi consagrado na Conferência Mundial de Viena, é uma
visão sistêmica e integrada da proteção internacional da pessoa humana, que implica
o reforço mútuo das três vertentes mencionadas. Os três ramos, portanto, são
como três pilares de um mesmo edifício, fornecendo instrumental para lidar com
situações complexas em que a única forma de oferecer proteção efetiva às vítimas
reais e/ou potenciais consiste na aplicação articulada de normas que emanam das
diferentes vertentes.
O capítulo relativo à proteção dos direitos econômicos, sociais e culturais
dissipa crenças e falácias que, se corretas, fariam de tais direitos simples letra
morta nos tratados de direitos humanos. Com efeito, esses direitos têm sido
interpretados como de “natureza programática”, cuja realização ficaria localizada
em um futuro tão distante quanto incerto. Cançado Trindade se rebela contra a
separação sob muitos aspectos artificial e ideológica entre direitos civis e políticos,
de um lado, e direitos econômicos, sociais e culturais, de outro. Como observa o
autor, “à integridade do ser humano corresponde em definitivo a integralidade de
seus direitos” (pág. 391). Em conseqüência, o autor considera um grande avanço
204 RESENHAS
Benoni Belli
Números atrasados desde 1993 podem ser adquiridos por R$ 8,00 a unidade. Para
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pondente a R$ 20,00 para o Brasil ou US$ 30,00 para o exterior ao ano em nome
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