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13/08/2017 Uma Bíblia sem Igreja?

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10. Uma Bíblia sem Igreja?


"A Sagrada Escritura", ensina o Concílio Vaticano II, "é a Palavra de Deus enquanto redigida sob a
moção do Espírito Santo". Isto não signi�ca, porém, que Deus tenha limitado aos textos sagrados a
totalidade de sua Revelação. Longe de qualquer reducionismo, a Igreja esteve sempre consciente
de que a palavra última do Pai está contida não em um livro, mas manifestada visivelmente na
própria pessoa de Cristo, Verbo encarnado.

Nesta aula de encerramento do curso "Por que não sou protestante", Padre Paulo Ricardo nos
ajuda a entender por que os católicos, rejeitando o princípio logicamente insustentável da Sola
Scriptura, não consideram a Bíblia a fonte única e exclusiva da Revelação divina.

Um dos princípios fundamentais da Reforma protestante é o da sola Scriptura, segundo o qual a Bíblia, e unicamente ela,
constitui a regra de fé à qual um genuíno cristão deve-se ater [1]. É apenas e tão-somente nas Sagradas Escrituras,
proclamam os sectários de Martinho Lutero, que se encontra a totalidade do depósito da Revelação divina: nelas estão
�xadas, de uma vez para sempre, todas as verdades que Deus nos quis transmitir; ao interpretá-las, o �el recebe diretamente
do Alto, sem intermediários humanos de qualquer espécie, as luzes para a sua vida moral e religiosa. Com o Texto Sagrado
em mãos, rea�rmam eles, não há necessidade de autoridades nem de Magistério; basta folheá-lo seguindo os próprios
critérios para embeber-se, em suas páginas inspiradas, da mais pura e autêntica pregação evangélica. Livro infalível não se
sabe como nem por que razões, cada protestante recebe do seu livreiro um exemplar da Bíblia e crê devotamente trazer
embaixo do braço o próprio "Verbo feito papel".

Ao primado da Escritura vem somar-se, num contorcionismo lógico, o primado da fé individual, cujo mais notável instrumento
de trabalho é o livre exame, uma revolução radical e de consequências nefastas no campo da hermenêutica bíblica [2]. Agora,
é ao leitor, iluminado pelo Espírito Santo, que cabe determinar com certeza irrefragável o que a Palavra de Deus quer ou não
dizer. A interpretação e a correta inteligência dos textos sagrados �cam assim submetidas ao capricho e às preferências da
consciência individual de cada crente, que julga sentir, como que por "instinto", onde está a única e verdadeira fé dada aos
homens por Nosso Senhor Jesus Cristo. Rechaçando, pois, toda e qualquer autoridade que não a sua, Lutero fundou sobre um
livro, furtado dos púlpitos de nossas igrejas [3], uma religião em que os mesmos escritos, lidos de modos os mais
contrastantes, opõem, numa Babel de seitas, luteranos a calvinistas, batistas a adventistas, menonitas e pentecostais…

O drama dos protestantes, é claro, não se resume a dissidências internas; a própria lógica por detrás do monismo bíblico que
lhes é característico termina por negar, ao �m e ao cabo, a autoria divina das Escrituras. Com efeito, ainda que, em suas
origens, o protestantismo histórico não tenha rejeitado de todo o valor da Sagrada Tradição e de algum ensinamento o�cial
[4], o excessivo biblismo que com o passar do tempo se tornou a nota distintiva dos "reformados" continha, ao menos em
gérmen, um problema tão insolúvel quanto inconveniente: se, como dizem, o único veículo por que nos chegam as verdades
reveladas é a palavra escrita de Deus, como podemos chegar "à posse tranquila e certa da Escritura como livro divino" [5]?
Trata-se de estabelecer, com base na Bíblia, a existência da mesma Bíblia como Revelação — um círculo vicioso que põe em
xeque dois dados básicos da nossa fé: a inspiração do Texto Sagrado e, por conseguinte, a canonicidade dos escritos que o
integram.

De fato, ainda que na Bíblia estivessem contidos todos os dogmas necessários à edi�cação e à salvação dos �éis, �caria por
demonstrar pelo menos uma verdade, "pressuposta a todas as demais, que", sem petição de princípio, não pode ser provada
"com a autoridade exclusiva da Bíblia" [6], a saber: a existência da própria Escritura enquanto Palavra de Deus redigida sob a
moção do Espírito Santo [7]. Disto já se pode formar uma ideia do quão insu�ciente é a regra de fé protestante. Com efeito,
devemo-nos perguntar, em primeiro lugar, de que maneira podemos saber com segurança quais são os livros inspirados, se
em nenhum lugar da Bíblia nos é apresentado um catálogo exaustivo dos textos que a compõem. E mesmo que
possuíssemos uma tal lista, como poderíamos ter certeza de que esses textos foram efetivamente ditados pelo Espírito
Santo? Se remontarmos agora aos começos do cristianismo, quando os escritos do Novo Testamento, ainda em processo do
formação, eram desconhecidos da maioria maciça dos �éis, a próxima dúvida que nos há de surgir não pode ser outra: aonde
iam os primeiros cristãos haurir os ensinamentos de Jesus, que nada deixou escrito [8]? Por certo que não à Bíblia.

A essas di�culdades a Igreja tem respondido, desde o período da Reforma, com as palavras do seu divino Fundador: "Ide por
todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16, 15). Jesus Cristo, é evidente, quis que a sua doutrina fosse
preservada ao longo das gerações e �elmente transmitida a todos os povos, sem desvios nem corrupções humanas. Era
conveniente, portanto, que estabelecesse um órgão de transmissão dos seus ensinamentos que, por um lado, os protegesse
de uma leitura arbitrária e de um subjetivismo pernicioso e, por outro, estivesse ao alcance fácil e seguro de todas as
inteligências, conforme as palavras de Timóteo: Deus "deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento
da verdade" (1Tm 2, 4). E a "Escritura manifestamente não se acha nestas condições" [9]. Com efeito, como poderiam os �éis
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mais simples, geralmente pobres e sem instrução, ter acesso aos Livros Sagrados, que, antes do desenvolvimento da
imprensa, não se encontravam reunidos e bem trabalhados como nas edições modernas que hoje qualquer um pode ter à
mão? Acaso desejaria o Senhor, durante quase quinze séculos, ver os pobres e miseráveis privados de um exemplar da Bíblia?

Ora, a �m de que a Boa-nova ressoasse, íntegra e incorruptível, em todos os ouvidos, Cristo mandou os Apóstolos pregarem-
na de viva voz. Con�ou-lhes, assim, o dever de ensinar aos povos e nações tudo quanto dEle haviam aprendido e recebido
por meio do Espírito Santo. É justamente a essa pregação apostólica, por cujo intermédio a Palavra de Deus, numa sucessão
ininterrupta, é conservada, exposta e difundida pela Igreja ao longo da história, que nós católicos chamamos Tradição, à luz
unicamente da qual é possível ler, de forma correta, aquilo que Deus quis registrar na Escritura Sagrada. Disto resulta,
primeiramente, que "a Igreja, a quem está con�ada a transmissão e interpretação da Revelação, 'não tira só da Sagrada
Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas'" [10].

No entanto, é exclusivamente ao Magistério Eclesiástico, e não aos �éis, que compete discernir o sentido autêntico do Texto
Sagrado, uma vez que só à Hierarquia da Igreja, Corpo Místico de Cristo, foi dada a prerrogativa de participar do magistério
infalível dAquele que é a sua divina Cabeça [11]: "Quem vos ouve, a mim me ouve" (Lc 10, 16). Pode-se dizer, nesse sentido,
que é a Igreja o ambiente natural da Bíblia e é apenas na Igreja, sob a guia dos seus legítimos pastores — ou seja, do Papa e
dos bispos —, que sabemos o que realmente querem dizer os escritos inspirados. Desta realidade, bem como da nossa
particular insu�ciência para compreender a Bíblia, encontramos alguns indícios já no Novo Testamento, quando vemos o
Senhor ou os Apóstolos explicarem a Escritura a seus ouvintes. "Porventura entendes o que estás lendo?", perguntou Filipe ao
eunuco etíope. Ao que este lhe respondeu: "Como é que posso, se não há alguém que mo explique?" (At 8, 30s). "Começou
então Filipe a falar e", expondo-lhe o profeta Isaías, "anunciou-lhe Jesus" (At 8, 35). E Cristo, em Emaús, abrira o espírito a
Cléofas e seu companheiro, para que compreendessem que era dEle que se falava em todo o Antigo Testamento (cf. Lc 24, 25-
27.45).

Sem nada acrescentar ou tirar do depósito que lhe foi con�ado por mandato divino, a Igreja orienta infalivelmente os seus
�lhos sobre o verdadeiro sentido dos textos bíblicos, prevenindo-os de qualquer interpretação que discorde do que por ela é
proposto como sendo a reta compreensão da Palavra de Deus [12]. De fato,

[...] a Sagrada Escritura não pode ser plenamente entendida por quem não tenha a fé católica. Acontece
perante a Bíblia o que acontece perante a �gura de Jesus Cristo: quem não tiver a fé, só poderá ver em Jesus um
homem evidentemente extraordinário e singular; mas com isso �ca muito longe da verdade e, portanto, não
entenderá Jesus Cristo quem não crer que é o Filho de Deus Encarnado, a segunda Pessoa da Santíssima
Trindade, o único Salvador e Redentor da humanidade [13].

Do mesmo modo, a Bíblia não poderá ser entendida, na profundidade do seu signi�cado, por quem não se deixar iluminar
pela luz da verdadeira fé, dando o seu mais �el e humildade assentimento tanto aos livros sagrados, cujo autor principal é o
próprio Deus, e àqueles que o mesmo Senhor constituiu como seus únicos e legítimos intérpretes, ou seja, ao Magistério
daquela que é, à semelhança de sua túnica inconsútil, a depositária incorruptível dos tesouros divinos e o prolongamento, na
terra, do seu próprio Corpo: a santa Madre Igreja, una, católica, apostólica e romana.

Leituras recomendadas

F. Carballo, Protestantismo e Bíblia. Trad. port. de José Vicente. São Paulo: Paulinas, 1959.
L. Navarro, Legítima Interpretação da Bíblia. Recife, Campanha de Instrução Religiosa, 1958.

Referências

1. Cf. A Boulenger, Manual de Apologética. 2.ª ed., Porto: Apostolado da Imprensa, 1950, p. 401, n. 332, a.
2. Cf. Miguel A. Tábet, Introducción General a la Biblia. 2.ª ed., Madrid: Palabra, 2004, p. 348.
3. Cf. Pe. Leonel Franca, A Igreja, a Reforma e a Civilização. 5.ª ed., Rio de Janeiro: Agir, 1948, p. 212.
4. Cf. W. Henn, "Protestantismo", in: AA.VV., Lexicon: Dicionário Teológico Enciclopédico. São Paulo: Loyola, 2003, p. 621. Para
se verem livres das autoridades legítimas, os reformadores europeus trataram de proclamar o princípio do "livre
exame" e da su�ciência das Escrituras; quando porém se quiseram fazer ouvir, não temeram impor aos demais, com
violência mais dura do que a que diziam combater, o jugo da doutrina que eles mesmos, do dia para a noite, haviam
forjado (v. J. Balmes, El Protestantismo Comparado con el Catolicismo. 10.ª ed., Barcelona: Imprenta del "Diario de
Barcelona", 1921, vol. 1, p. 13).
5. Pe. Leonel Franca, Catolicismo e Protestantismo. 2.ª ed., Rio de Janeiro: Agir, 1952, p. 155.

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6. Id., 1948, p. 222.


7. Cf. Catecismo da Igreja Católica (CIC), n. 81; Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática "Dei Verbum" (DV), de 18 nov.
1965, n. 9 (AAS 58 [1966] 821; DH 4212).
8. Cf. CIC, n. 83.
9. Pe. Leonel Franca, 1948, p. 224.
10. CIC, n. 82; DV, ibid.
11. Cf. Catecismo de São Pio X, n. 882.
12. Cf. J. Monforte. Conhecer a Bíblia. Trad. port. de Luis M. Correia. Coimbra: Diel, 1998, p. 30.
13. "Introdução geral à Bíblia", in: Santos Evangelhos, da Bíblia Sagrada anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade
de Navarra. Braga: Theologica, 1994, p. 36.

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