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ICET - Curso de arquitetura e urbanismo

Os
caminhos
do
jardim ocidental

APOSTILA DA DISCIPLINA PAISAGISMO – atividade 1

Prof. Ms. J. Arthur Fell

(Esta apostila destina-se exclusivamente ao uso acadêmico vinculado à Feevale.)


Feevale - Arquitetura e Urbanismo PAISAGISMO - Prof. José Arthur Fell ATIVIDADE 1 1

Os caminhos do jardim ocidental


Introdução ................................................................................................................................................................................................. 1
A concepção do jardim ............................................................................................................................................................................. 2
A antiguidade............................................................................................................................................................................................ 6
O jardim romano ....................................................................................................................................................................................... 7
A idade média e o jardim hispano-árabe ................................................................................................................................................. 9
O século XV e o jardim ideal de Polifilo................................................................................................................................................. 11
O Renascimento e o jardim italiano....................................................................................................................................................... 13
O jardim francês ..................................................................................................................................................................................... 16
O desenvolvimento do jardim clássico .................................................................................................................................................. 18
O jardim paisagista ................................................................................................................................................................................. 20
O jardim do século XIX........................................................................................................................................................................... 22
O século XX ............................................................................................................................................................................................ 25
Referências ............................................................................................................................................................................................. 28

OBS.: A estrutura deste texto é uma síntese, na quase totalidade das citações que
seguem, do livro La arquitectura de los jardines, de Francesco Fariello (1910-1992).

Introdução
“O jardim, em sua origem tem um significado mágico e religioso, e quase todas as
religiões tem tido seu próprio jardim mítico: o Éden dos israelenses, o Eridú dos
assírios. O Ida-Varsha dos hindus ou o bosque sagrado dos primeiros itálicos. Nestas
civilizações primitivas, o jardim quase sempre leva associada a idéia de paraíso.
“À medida que as crenças mágicas vão cedendo espaço ao pensamento religioso,
o jardim se desenvolve sem renegar de suas origens [místicas] e assume também outras
funções; em uma fase mais avançada, se converte em objeto de desfrute massivo e logo,
em sua forma mais evoluída, em expressão de necessidades intelectuais e estéticas.

Tabela 01 – parcialmente adaptada de Fariello, 2000.

Natureza primitiva
Natureza
O paraíso e a pureza
Crenças pagãs
A natureza é divina
Religião (unidade)
O homem e a natureza
Intelecto (racionalismo)
Valores humanos
Estética (humanismo)
Expressão das virtudes
Arte
JARDINS

“Uma característica do jardim, em todas as épocas e em todos os lugares, é sua a


oscilação perpétua entre a natureza e artifício [artificial], entre a disciplina arquitetônica
e a liberdade pictórica, entre a estrutura e a sensação. [...] os jardins são também um
modo de tomar possessão da natureza, assim como um pintor que toma possessão de
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um objeto ou de uma fisionomia quando os retrata. Mas apesar de que o pintor escolhe
um reflexo [desde o objeto] para fixá-lo a sua obra, o arquiteto paisagista, mais
afortunado, se apropria realmente das árvores, das cascatas, das flores, das rochas,
para plasmar [dar forma] a natureza viva, fazer apreciáveis certas belezas e dedicá-las a
fins puramente estéticos.”
“O jardim se distingue tanto da paisagem eminentemente natural como da
paisagem humanizada, caracterizada pela presença de obras humanas no cenário
natural. [...] a paisagem natural, em seu aspecto mais genuíno, se apresenta como algo
totalmente imune às alterações, com atributos de beleza espontânea próprios do
ambiente físico e biológico, a natureza está viva, mas em um estado quase de
subconsciência, ao que somente o intelecto humano pode imprimir significado e valor
figurativo.
“A intervenção humana pode se manifestar com obras utilitárias, relacionadas
com as exigências da vida e dos assentamentos [...] Uma conseqüência desta intervenção
é a modificação mais ou menos pronunciada [...] nesta fase de intervenção não falta por
vezes, por parte do homem, a observância quase instintiva de algum critério elemental
orientado a prejudicar o menos possível o entorno; e tudo isto – ainda que não
manifeste todavia um fim estético consciente – revela já um desejo espontâneo de
adaptar a paisagem às obras humanas.

Tabela 02 – adaptação de Fariello, 2000.

LIBERDADE PAISAGEM NATURAL


PICTÓRICA expontânea elementar
subconsciente

O JARDIM E AS PAISAGENS

consciente
estética utilitária
DISCIPLINA
PAISAGEM HUMANIZADA ARQUITETÔNICA

“Finalmente, a intervenção na paisagem pode fazer-se com a intenção precisa de


criar uma composição estética, que seja um fim em si mesma e esteja distanciada de
cometidas práticas. Neste caso, o homem provoca alterações profundas, que podem
afetar também a todo o entorno paisagista, [...]”

A concepção do jardim
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Como visto, o artista paisagista pode adotar um critério arquitetônico ou


pictórico. “A essência, todavia, não muda porque os elementos oferecidos pela natureza
se tomam igualmente como os meios de expressão figurativa.”
“O clima, a vegetação e os fatores ambientais [precedentes] exercem uma
influência natural sobre o aspecto do jardim [e], dentro de certos limites, condicionam
também a eleição de seus elementos.” Contudo não são determinantes ou colocam
limites ao paisagista já que a concepção da idéia surge do espírito criador.
Por exemplo, considerando a interdependência entre jardins e edificações, no
século XVIII, o jardim, de forte herança e disposição geométrica, condiciona a forma e a
disposição das edificações; o urbanismo moderno herdou destas concepções, utilizadas
em parques e jardins oitocentistas, a organização de seus esquemas e traçados. Após,
entrando também no século XIX, o paisagismo inglês de disposição livre, permitia a
disposição de edificações articuladas em vastas extensões de parques em contato íntimo
com uma natureza menos controlada, de aspecto mais natural (as conhecidas cidades-

Tabela 03– adaptação de Fariello, 2000.

Controle JARDIM GEOMÉTRICO


da Alteração da Disposição
natureza paisagem rígida e
natural controlada
Antiguidade - XVIII
simbolismo
A EXPRESSÃO FIGURATIVA
DOS JARDINS
naturalismo
XVIII...
Enaltecimento Disposição
da paisagem flexível e
natural liberada Aproximação

JARDIM DE FORMAS LIVRES com a natureza

jardim ou os bairros-jardins surgem na Inglaterra em meio à crítica à cidade industrial


insalubre). Se reafirmou daí em diante o significado formal do jardim na paisagem do
ambiente construído, Parques, praças e jardins urbanos começam a modificar a austera
e seca paisagem de herança medieval. Para os Estados Unidos em fins do século XIX,
também é transladada esta idéia; F. L. Olmsted, entre outros, leva adiante os ideais em
voga na Europa. Ao longo do século seguinte, o XX, o cenário suburbano americano
começaria a se modificar e os bairros e cidades, a semelhança de jardins, a se
consolidarem por todo o seu território caracterizando suas cidades (fig. 01).
“Em nós está enraizada a idéia de que uma obra de arte deve possuir um grau
máximo de durabilidade e estabilidade, e causar o maior efeito [...]” o paisagista, ao
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contrário, trabalha com elementos com grande variabilidade orgânica e inorgânica; “no
jardim, somente os edifícios e os elementos de pedra [e de qualquer outro material] são
imutáveis; também a ordenação planimétrica e a configuração do terreno são
relativamente estáveis. A vegetação, ao contrário, está sujeita tanto ao crescimento
como às mudanças das estações [...] para ele [o projetista] o jardim está a meio caminho
entre a arte e a natureza.

Figura 01 – mapa do Plano Geral


de Riverside, 1869, um bairro
residencial em Chicago, dos
arquitetos Olmsted e Vaux. O
traçado das vias tenta
assemelhar-se aos caminhos
naturais devidos à topografia do
terreno, em contraponto ao
extensivo uso da malha xadrez. A
maximização de áreas verdes é
prevista neste plano, há duas
áreas reservadas para parques,
há praças, árvores nos passeios
e gramados junto aos passeios.
Fonte: Jellicoe, 2000.

“No jardim clássico, a concepção se baseia no intento de criar um efeito


duradouro e permanente; tanto na ideação geral como no tratamento dos elementos
pétreos e arbóreos se intenta adotar a estabilidade da arquitetura [...]
“O jardim paisagista [séc. XIX] rechaça estes métodos de estilização; seus meios
são totalmente distintos e tendem a plasmar [formatar] uma beleza ideal derivada de
todos os elementos vivos: prados, árvores, água e céu. Os elementos são menos
controláveis e se afastam em grande medida de uma configuração exata.” Este jardim
valoriza e conta com vitalidade das plantas, com os valores lumínicos da atmosfera e
com o cromatismo variado das plantas e da variabilidade do crescimento devido às
trocas das estações.
Esta tendência permanece até os dias de hoje:
“com respeito ao passado, hoje se constata uma forte atração até o mundo
natural; e os jardins, havendo deixado de serem privilégio de indivíduos o de círculos
restritos, representam uma aspiração muito difundida [...] Este desejo se manifesta
como um antídoto à tecnologia e como uma necessidade do homem contemporâneo de
dispor de um refúgio reparador em um mundo tumultuado.
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“Ao plantear novos requisitos e novas demandas, as necessidades práticas de


higiene, de sociabilidade e de recreação, e as exigências de índole cultural e espiritual,
tendem a ampliar o campo da arte dos jardins a uma vastíssima gama de temas,
motivos e funções, ao menos totalmente novas em relação com o passado.
“Em paralelo com a evolução da arquitetura e das demais artes, o jardim está
numa fase de renovação que, valendo-se das experiências do passado, deve contemplar
os aportes de tecnologia moderna.
“O urbanismo moderno se caracteriza por uma clara concepção orgânico-
paisagista que garante às zonas verdes um papel de componente primordial.
Em suma, Fariello considera importante que o jardim, e a paisagem
contemporânea, tenham maior ênfase na concepção criadora e no respeito à vitalidade
da paisagem natural do que adotar idéias pré-concebidas (figuras 02 e 03)...

À esquerda, figura 02 – a tendência contemporânea de integrar a vegetação e as


obras pétreas sem prejuízo das primeiras – a comunhão entre formalizado e não
formalizado -, casa do arquiteto G. Bawa (Sri Lanka). Acima, figura 03 – uma
situação em Ohio - EEUU; um retorno conceitual à natureza é demonstrado aí, ao
se aproveitar o declive do terreno para acomodar uma arquibancada de desenho
diversificado e inusitado. Fonte: Jellicoe, 2000.

“superando a disputa estéril e vazia que no passado contrapôs o formalizado com


o não formalizado [...] Esta atitude remete aos ensinamentos de Repton, o mais próximo
de nós, dos arquitetos paisagistas do século XVIII [...] considerou essenciais os aspectos
estéticos e expressivos em relação com os fins específicos exigidos pela composição
[arquitetônica] e pelas circunstâncias [contextuais]. E nesta concepção, Repton
contemplou sempre a paisagem considerando sua eficácia como jardim”
“[..] nossa época terá a herança de equiparar o jardim à paisagem [natural e
urbana], garantindo a esta última um significado figurativo mais amplo e com
independência para que prevaleça nela os aspectos naturais ou bem os devidos ao
homem.” ... numa alusão à volta ao paraíso.
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A antiguidade
“Os jardins mais antigos dos que temos notícia são os de Nínive e Babilônia [...]
os jardins da Babilônia, situados ao largo das margens do rio Eufrates, se remontam ao
século VIII a.C., e se sabe que, restaurados em um período posterior por
Nabucodonossor, se conservaram durante alguns séculos, pois seguiam existindo na
época dos reis da Pérsia”. Pode-se afirmar que estes jardins eram terraços escalonados
em uma elevação do terreno, culminando em um grande jardim murado no terraço
superior. Eram suportados por grandes estruturas de paredes, colunas e arcadas;
continham vegetação variada, árvores e esculturas e decoração nas paredes.
Segundo Auguste Choisy, apud Fariello, ao estudar alguns baixo-relevos assírios:
“estes mostram, na parte alta dos edifícios residenciais, um terraço a céu aberto,
coberto por outro superior. Apesar de que este protege a cobertura da casa e forma um
tipo de espaço arejado com funções de isolamento térmico, o segundo terraço, mais
abaixo, tem uma profunda cobertura de terra vegetal com plantas e constitui um
verdadeiro jardim artificial.”
Estes terraços ajardinados, na Assíria, coroavam inclusive as habitações mais
modestas.

À esquerda, figura 04 – planta Sobre os jardins egípcios


de uma vila (residência com
jardim dentro de uma cidade) sabe-se que alcançaram notável
egípcia em uma pintura
encontrada em uma tumba de grau de desenvolvimento,
Tell el-Amarna.
Abaixo, figura 05 – favorecidos por uma técnica
representação de elevação de
uma casa egípcia típica com agrícola e hidráulica bastante
jardim. Fonte: Fariello, 2000.
avançada.
“Durante muito tempo o
jardim [egípcio] foi um luxo
acessível somente aos dirigentes,
que se usava como espaço exterior
da casa. As grandes mansões
egípcias se compunham de
pavilhões distribuídos por uma
vasta zona ajardinada, delimitada por muros altos e dividida interiormente em várias
partes mediante taipas1 mais baixas. As obras de ajardinamento alcançavam, além de
plantações e arvoredo, gradis âminas d’água. O térreo se dividia em formas regulares e
incluía pavilhões e quiosques, livremente abertos igualmente à própria residência, já

1 Parede feita de barro ou de cal e areia com enxaiméis e fasquias de madeira; tabique, estuque, taipal, pau-a-pique. Taipa de
mão: Taipa de barro atirado com a mão. Taipa de pilão: Taipa de cascalho e saibro socados.
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que o verdadeiro fechamento da mansão era constituído por um muro que rodeava todo
o jardim.”
Com a expansões faraônicas contra os etíopes e os assírios se importaram
muitos espécimes que foram aclimatados ao clima da região: amêndoa, pessegueiro,
cerejeiras, álamo, carvalho, plátano, mirta, rosa, jasmim, etc.
Sobre a Grécia não restaram muitos dados que permitam reconstruir
suficientemente um tipo completo de jardim. “os jardins foram usados cm fins
ornamentais junto aos edifícios públicos como templos, auditórios e ginásios, e
consistiam quando muito em grupos de árvores dispostas com uma sensibilidade
rústica rodeadas de arriates com flores e as vezzes animadas com tanques e fontes. [..]
Contudo, é certo que tanto nos jardins públicos como nos privados, os gregos
mostraram uma marcada inclinação pelo gênero natural no emprego dos elementos
arbóreos, deram preferência ao cultivo de flores, em particular a rosa, levada à
Macedônia pelo rei Midas. O clima exigia o cultivo de árvores de sombra com o plátano,
o álamo e o olmo, e junto a estes espécimes se usaram com profusão arbustos
ornamentais, árvores ornamentais e videiras.”
Conforme Jellicoe (2000), “em Creta não havia fortificações, os jardins estavam
abertos à paisagem, a vida tinha caráter doméstico e existia o jardim de prazer. Em
Micenas, e mais adiante em toda a Grécia, os jardins eram algumas vezes pátios ou
hortas, ou estavam confinados a lugares públicos ou semipúblicos, tais como arvoredos
e fontes sagrados e academias. Platão, particularmente, reconhecia que um jardim
ordenado ajudava a aprender”.

O jardim romano
Fariello segue: “A arte do jardim é um dos aspectos de particular sensibilidade
naturalista da civilização romana, na qual confluem crenças religiosas de origem itálica
e influxos místicos orientais herdados dos etruscos. Junto à religião do jardim rústico –
morada dos lares, divindades da terra e protetores da casa [deuses domésticos dos
etruscos e dos romanos] -, se desenvolve o culto dos bosques sagrados, dedicados aos
deuses ou aos mortos.”
“Com a [antiga] civilização romana se inicia a verdadeira história da arte do
jardim”
Os mais antigos jardins romanos possuíam uma função mais utilitária. O hortus
[horta] era um jardim nos fundos da casa, sem caráter ornamental destinado a plantas
comestíveis. A partir das sugestões de Varrão, em seu tratado De re rústica, os jardins
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romanos começam a incorporar flores para adornar os altares dos deuses e as tumbas
mortuárias.
Em Pompéia e Herculano se percebe que o jardim exerce uma função na
configuração da casa, deixando de ser um elemento acessório como na residência itálica
primitiva. As casas possuíam muitas vezes um jardim interno rodeado por um
peristilo2, ou seja, as dependências da casa desenvolviam-se em volta deste jardim em
que os caminhos eram ladeados por sebes, tanques de água e estatuas; alguns jardins
possuiam videiras com uma estrutura suportada por colunas. Era um jardim
meramente ornamental. O grau de intimidade entre este jardim e a casa se percebe em
átrios que se abrem francamente para os caminho que levam para o interior do jardim.
A água era conduzida aos tanques por canais (fistulae); fontes e chafarizes garantiam
uma musicalidade e a luz e a frescura estavam diretamente em contato com grandes
salas.

Figuras 06, 07 e 08 – imagens desde


o corredor coberto, resultante da
disposição de uma galeria de colunas
(peristílo), da Casa dos Vétios, em
Pompéia, mostrando o jardim interno.
Figura 09 – planta da Casa dos Vétios.
Fonte: Fariello, 2000.

Residências comuns ou vilas não abriam mão do frescor dos jardins. Uma vila
compara-se a um edifício compacto mais um jardim. A vila romana equipara-se a uma
pequena cidade por possuir um conjunto arquitetônico variado entre jardins: termas,
biblioteca, anfiteatro, auditório, teatros, etc. a disposição era bastante livre e era
sugerida pela topografia do terreno. A lógica e a harmonia romana percebia-se pelos
caminhos retilíneos que determinavam as principais vistas; rampas e escadarias
organizavam-se em virtude de vistas panorâmicas. Algumas vilas romanas são tão
grandes que se comparam aos enormes parques modernos.
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O grau de amplidão e magnitude paisagística das grandes vilas romanas, onde a


Vila Adriana é um grande exemplo, mede-se pelo enorme e instantâneo encantamento
emitido por suas grandes vistas panorâmicas que exaltam toda relação das obras de
arquitetura com a natureza: a topografia, os arvoredos, os montes, as cascatas, os lagos
e os rios pré-existentes no local.

Figuras 10, 11 e 12
– vistas dos recantos
da Vila Adriana. Em
Tívoli, Itália. Criada
entre 118 e 138 d.C.,
resulta de uma
vontade do
imperador Adriano
de reproduzir
cenários de lugares
pelos quais viajou.
É considerada por
muitos como a
rainha das vilas
imperiais da
antiguidade.
Figura 13 – maquete
do conjunto.
Fonte: Fariello, 2000.

A idade média e o jardim hispano-árabe

“Com a caída do império romano


desapareceu da Europa toda a onda dos métodos
de jardinaria, a civilização medieval teve que
reconstruir, lenta e fadigosamente, sua própria
arte de jardim.
“A incerteza das condições de vida e a falta
de segurança nas comunicações impuseram às
comunidades religiosas a necessidade de procurar
o alimento nas proximidades de seus
assentamentos.”
Junto aos edifícios monásticos dos cenobitas
Figura 14 – tipificação de um jardim medieval
com área verde ao norte. Nas outras nove
divisões: no centro há uma fonte; acima dela,
da época havia sempre uma horta, como plantas
labirintos, banhos e herbários; abaixo dela,
gramados com flores. Nos dois lados dela: dois leguminosas, árvores frutíferas, plantas aromáticas
grandes herbários e junto de seus quatro vértices
há quatro pomares. Fonte: Fariello, 2000. e medicinais e algumas flores.

2 Galeria de colunas em volta de um pátio ou de um edifício


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A partir do século X, com as cruzadas, a horticultura fez grandes progressos e


teve aumentada a oferta de espécimes, trazidos do oriente, como flores: tulipas,
jasmins, jacintos, lírios, lilases, etc.
“Esta evolução vem acompanhada de uma primeira seleção das plantas, com a
conseguinte divisão do recinto cercado em várias zonas de cultivo [...] o vergel, com
árvores frutíferas, arbustos e plantas ornamentais; a horta [...] com uma função
puramente utilitária, reservado aos legumes e às plantas medicinais; e o jardim de
flores, com uma função exclusivamente ornamental.”
Com exceção da Espanha, como será visto a seguir, estas foram as características
gerais de todos os jardins medievais na Europa.
A ocupação progressiva da
península ibérica, principalmente a partir
do ano 750, pela cultura árabe diversificou,
ampliou e remodelou a jardinaria na
Espanha. Principalmente porque a cultura
expansionista árabe sempre ‘arrecadou’
aspectos dos lugares anteriormente
ocupados: aprenderam com os persas as
técnicas de artes aplicadas e as ceramistas;
com os egípcios, o manuseio com a água e
as técnicas de irrigação; e com os romanos
e cartagineses do norte africano, as normas
agrícolas.
“O jardim árabe manifesta o anelo
pelo paraíso maometano. Ávida do
muçulmano está ligada a idéia que tem do
paraíso, imaginado como um jardim, um

Figura 15 – jardim de Alhambra, em Granada, ES. Seção e


lugar de delícias e prazeres onde poderá
planta geral. Fonte: Fariello, 2000.
alcançar a completa satisfação de suas
aspirações, desde as mais simples até as maias elevadas. À espera destes gozos não
terrenos prometidos pelo alcorão, o muçulmano procura entretanto lograr algo
semelhante durante sua vida neste mundo.
“A tendência dos árabes à vida íntima deixou em seus jardins um registro
estritamente doméstico, graças ao emprego de superfícies limitadas e ao respeito
constante do módulo humano. Inclusive quando o terreno do qual se dispõe é muito
extenso, o jardim se divide em uma sucessão de espaços fechados e recolhidos,
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análogos aos pátios interiores de suas casas. Estes, separados uns dos outros, se
comunicam entre si através de passadiços pequenos e ocasionais, e somente uma
cancela ou um gradil permitem entrever desde cada um deles o recinto seguinte. [...]
“A água assegura à vegetação uma luxuriante exuberância e constitui o elemento
decorativo de maior evidência, aparecendo em fontes, bacias e chafarizes, e correndo de
um tanque a outro ao longo de acéquias (canais para rega) de terracota que penetram
até os espaços cobertos contíguos aos jardins. [...]

Figura 16 - O Generalife,
próximo à Alhambra, na
mesma colina,
provavelmente construído
para abrigar as mansões
dos sultões. Ao lado o pátio
de ciprestes da sultana, com
uma fonte. Fonte: Fariello,
2000.

“O amplo uso de azulejos de cores vivas constitui outra das particularidades


destes jardins [...] além de usar-se em bacias e tanques, os azulejos se aplicam também
para o revestimento de assentos, muretas e paredes de fundo.
“A falta de esculturas com figuras humanas – não consentidas pela religião
muçulmana -, os ornamentos plásticos e decorativos quedam reduzidos a escassos e
sensíveis elementos que se associam com o emprego da água, da cerâmica e das
plantas.
“Os ornamentos arbóreos apresentam as espécies tipicamente mediterrâneas:
ciprestes, magnólia, laranjeira, limoeiro, boj e arrayan.”

O século XV e o jardim ideal de Polifilo3


“Um movimento de renovação geral, acompanhado de uma árdua investigação de
todos os aspectos da civilização clássica, começa e tem seu pleno desenvolvimento na
Itália durante o século XV, para culminar posteriormente nas geniais manifestações do
Renascimento.
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“Estas novas forças impulsoras – que afetam a todo o mundo artístico desde as
primeiras décadas do século – influem também na jardinaria, a qual, não sendo ainda
uma expressão artística completa, apresenta evidentes signos de emancipação dos
esquemas medievais. Isto queda patente com a atenuação de seu caráter rústico e
utilitário e com a aparição no jardim de elementos ornamentais novos e mais ricos. [...]
“Deduz-se que o jardim do século XV – se bem que conserva traços e métodos
medievais – leva a cabo uma série de avanços que podem resumir-se assim:
- coordenação da casa e do jardim em um único eixo dominante e busca de
vínculos com a paisagem;
- realização de elementos de transição entre a massa mural e a massa arbórea
mediante pórticos, loggias (galerias ou arcadas abertas) e escadarias ou arquibancadas;
- organização dos pendentes com jardins pendurados, terraços e rampas de
ligação;
- adoção, em uma forma evoluída, de certos elementos de arquitetura de jardim,
como pérgulas com colunas ou pavilhões com loggias salientes;
- criação de elementos totalmente novos: jardim secreto, labirintos ou montículos
para belvederes4;
- introdução, além das fontes, de formas plásticas mais ricas e variadas:
assentos, jarrãos e balaustradas de mármore, estatuas antigas, etc.
- tratamento dos elementos arbóreos com formas tanto geométricas como
decorativas, com aplicações da arte de topiaria5.”
Francesco di Giorgio, em seu escrito Trattato, admite que além da forma do
jardim poder derivar da conveniência do lugar, e assim como mostra Alberti em seu
tratado De re aedificatoria, derivar das melhores relações com as vistas da paisagem,
recomenda que a forma do jardim deve ser reduzida a algum tipo de figura [geométrica]
perfeita, como a circular, a quadrada, a triangular, a pentagonal, a hexagonal e a
octogonal.
“Estes preceitos dos tratadistas não aparecem traduzidos em realizações
concretas, senão que revelam muito mais uma tendência muito mais imaginativa que se
põe de manifesto na bisca de esquemas abstratos. A descrição de um jardim ideal
incluída no livro Hypnerotomachia Poliphili de Francesco Colonna – editado em Veneza
em fins do século XV (1499) – resume de forma quase exacerbada esta tendência da
época.

3 que apresenta polifilia: aumento do número de peças de um verticilo floral. Verticilo: Conjunto de peças foliáceas colocadas no
mesmo nível, i. e., inseridas em um só nó caulinar.
4 Pequeno mirante de onde se descortina um vasto panorama. Terraço em local elevado.
5 Arte de adornar os jardins dando a uma planta ou a grupos de plantas configurações diversas.
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“O grande jardim da ilha de Citérea se imagina no livro com uma forma circular e
com elementos concêntricos. Rodeado de água salgada, está fechado em toda sua volta
por murta com uma fileira de ciprestes.”
São vários círculos
Figura 17 –
ideallização de um
jardim polifílico, por
concêntricos divididos em 20
Francesco Colonna,
1499, segundo a fatias separadas por grandes
reconstrução de Ítalo
Cilento e Marco paredes com cancelas de
Guerra. Fonte:
Fariello, 2000. mármore branco e vermelho,
como raios de círculo.
O primeiro círculo
consta de cítricos; o segundo
subdivide-se em três anéis de
prados, separados por ruas
circulares, possui pavilhões,
fontes e topiarias, e termina
com um peristilo de mármore;
depois, há um arroio coberto
por um pergolado atravessado
por várias pontes que iniciam
outros caminhos até o centro;
após uma zona de pequenos
prados, depois, um grande
pórtico seguido de uma rua revestida de mármore; mais adiante, vários círculos de
obras de topiaria e logo uma via circular com arvoredos atravessados por arroios, para
acabar num último círculo com mais obras de topiaria e uma via com mosaicos e um
anfiteatro com uma fonte e Vênus ao centro.
“É como um mundo artificial e abstrato, organizado com um rígido sistema
geométrico. [...] nela se revela sobretudo uma atitude típica da época, que constituirá a
premissa da criação renascentista. [...]
“Mais que nas escassas realizações – que nem sequer tem chegado até nós -, o
aportar do século XV enraíza-se nesta concepção com a qual se estabelece que o jardim
deve ser uma composição unitária, geométrica e disciplinada por uma norma
arquitetônica, à que devem ficar submetidos todos os elementos da jardinaria, tanto os
de pedra como os vegetais.”

O Renascimento e o jardim italiano


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“Nascido em clima de magnificência, o jardim do século XVI reflete o


racionalismo humanista da época, que afiança o domínio do homem sobre o mundo
sensível.”
“O homem do renascimento não se sente atraído à natureza por um sentimento
elegíaco [triste] e, em conseqüência, não se sente incitado a acercar-se a ela em busca de
aspectos como a espontaneidade, a mutabilidade e a singularidade. Se concebe o jardim
como um espaço de residência ao ar livre, adequado a magnificência da casa e portanto
submetido, como ela, a uma norma arquitetônica. A casa transmite seus ritmos ao
jardim mediante todo um conjunto de ramificações de murais, terraços, escalinatas
(grandes escadarias) e rampas, condicionando assim tanto sua função como seu
caráter” a Vila Lante (fig. 18) demonstra esta reordenação da natureza subordinada às
habitações, às demais obras e aos passeios.

Topo: figura 18 – planta e perfil da Vila Lante,


em Bagnaia – IT, obras iniciadas pelo cardeal
F. de Gambara em 1568. Demonstra este
jardim o domínio racional sobre a natureza. O
homem manipula a natureza e as obras
pétreas. Esta vila demonstra a preocupação
com a perspectiva através de eixos ortogonais
Abaixo: figura 19 – vista da Vila Lante,
mostrando sua parte mais baixa, onde estão a
fonte e os lagos entre jardins
geometricamente calculados, com vegetação
ornamental do tipo parterre [ver nota de
rodapé 7].
Fonte: Fariello, 2000.
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“Em tal concepção, os elementos naturais e arbóreos se consideram suscetíveis


de ser transformados em qualquer forma desejada, igual ao resto dos materiais de
construção,” e a ordenação dos jardins obedece as mesmas normas da construção,
simetria, perspectivas, linhas, etc.

Ao lado, figura 20 – planta


do Jardim de Bóboli, em
Toscana – IT. Suas obras
começaram em 1550 com
os desenhos de Tribolo;
após sua morte, foram
continuadas por Ammannati
e depois por Buontalenti. As
obras e os aspectos
definitivos do jardim se
deram no inicio do Séc. XVII
por G. e A. Parigi.
Abaixo: à esquerda, figuras
21 e 22 – a grande avenida
e o tanque da ilha. À direita,
figuras 23 e 24 – o anfiteatro
e a fonte de Netuno.
Fonte: Fariello, 2000.

“A primeira exigência que o jardim se vê obrigado a cumprir é a conexão com a


paisagem [...] por regra geral, o lugar eleito é uma colina com pendentes às vezes muito
pronunciados. [...] a vila ocupa um lugar na parte alta, ao final da linha visual ou a
meia ladeira [...] os passeios, sempre retilíneos e ortogonais entre si, compartimentam o
jardim com determinismo geométrico e orientam as vistas até os pontos interessantes,
[...] a água não aparece nunca em seu estado natural, senão sempre em formas
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artificiais, e se emprega com exclusiva intenção decorativa em suas possibilidades de


ascensão (chafariz) e de queda (cascatas e fontes).
“Uma característica peculiar do jardim renascentista italiano é a proeminência
dos elementos de alvenaria, [...]” o resultado é um controle total sobre todos os
elementos sendo que os elementos arbóreos e vegetais estão sempre subordinados aos
elementos pétreos.
“Um jardim assim concebido está obrigado a colher somente as plantas que
possam contribuir ao efeito arquitetônico do conjunto e que assegurem um aspecto
permanente e definitivo.”
Este tipo de jardim não comporta plantas pequenas e coloridas, as quais não
conseguem se inserir no contexto escultórico entre grandes massas arbóreas e
arquitetônicas, elas inclusive causariam certa confusão à rica plástica decorativa destes
jardins. Porém são reunidas em espaços específicos, os jardins secretos, junto à uma
edificação e separados do jardim.
Muitos elementos de descontração, de jogo, de atração e de causar surpresa
foram explorados por este tipo de jardim: labirintos, fontes de água, efeitos acústicos,
animados.
Com o século XVII, os jardins tendem a transmutarem-se em parque. Por
maiores efeitos plásticos, se libera a rigidez arquitetônica e se aceita a inclusão de
curvas. As vistas de perspectivas lineares tendem a serem substituídas por um sistmea
de vistas múltiplas e indefinidas.

O jardim francês
“Durante todo o século XV, a França não teve mais do que jardins semi-
utilitários, especialmente nas proximidades dos castelos e das mansões senhoriais, com
características não muito distintas às do tipo medieval.
“Somente após a expedição de Carlos VIII à Itália (1494) deu começo uma rápida
evolução que se manifestou tanto na concepção como nas formas. [...]
“Nesta época, a França permanece fiel à disposição defensiva tanto da casa como
do jardim, [...]” os castelos e palácios seguem cercados por torres angulares e fossos.
“este tipo de disposição [...] imprimirá logo ao jardim francês uma de suas
características mais destacadas [...] os cinturões de água e os canais com uma função
puramente decorativa.”
Pode-se dizer que a contribuição italiana fez muito à evolução dos jardins
franceses. D’Argenville, em La théorie et la pratique du jardinage (1709 e 1747),
apresentou quatro preceitos para se adquirir uma boa distribuição:
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[1] “fazer que a arte ceda perante a natureza” - ou seja nenhum ornamento que
revele a mão do homem deverá prevalecer sobre os elementos naturais os quais devem
ser enaltecidos, isso revela uma grande diferença em relação à sua herança italiana -;
[2] “não sobrecarregar de sombras o jardim” - i.e., não entorpecer os jardins pelo
arvoredo; os espaços planos e abertos devem predominar junto aos edifícios, os
canteiros, terraços e rampas com arbustos que não obstaculizem a vista -;

PALÁCIO

Topo: à esquerda, figura 25 – planta geral definitiva do Jardim de Versalhes, nos arredores de Paris, desenhada pelo abade
Delagrive em 1746; este imenso jardim resulta a pedido de Luís XIV a Le Notre, por ter se impressionado por sua obra anterior
em Vaux, completada em 1661. Topo: à direita, figura 26 – vista desde o palácio, com a fonte em primeiro plano. Abaixo, figura 27
– perspectiva pintada por Patel, mostrando os pavilhões do Palácio que já existiam desde 1624 (Luís XIII) e que foram ampliados
a partir de 1661 por Le Vau; a partir de 1678 por Mansart e a partir de 1756 por Gabriel. Os jardins de Versalhes foram fruto de
um desenvolvimento progressivo. Fonte: Jellicoe, 2000.

[3] “não deixá-lo demasiado a descoberto” - assim cuidar para que o espectador
não abarque todo o jardim de uma só vista; vários pontos de vista excitam o espectador
a descobrir suas várias partes -; e...
[4] “fazer que pareça mais grande do que é” - em complemento ao anterior pois
jardins totalmente abertos aparentam serem menores do que são -.
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“O edifício deve surgir sobre um terraço elevado para permitir que desde este se
possa desfrutar todo o jardim [semelhantemente aos jardins Italianos]. Os canteiros
decorados com desenhos de sebes6 baixas (parterres7) é o que deve apresentar-se em
primeiro lugar ante os olhos, por isso se encontrará nas proximidades dos edifícios. [...]
o passeio principal do jardim será bastante amplo e estará colocado em frente ao
edifício; perpendicularmente a ele deverá haver ao menos outro passeio transversal.”
Ambos determinam a distribuição e a sucessão das partes do jardim distintas aos
canteiros dos parterres (fig. 28). Estes são geralmente delineados a base de figuras
geométricas, com linhas retas, curvas e mistas; em seus desenhos aparecem motivos
variados como folhagens, florões, volutas, entrelaçados, arabescos, coroas, nós e
penachos.
Outros elementos fortes destes jardins franceses são as paliçadas (fig. 29) –
estruturas vegetais com forma de parede, de muros e de colunatas -, os boulingrins –
uma superfície plana circundada em todos os seus lados por um talude de ervas -, os
pórticos, pérgulas e gabinetes (fig. 30) – quase sempre de vegetais -.

Elementos do jardim
francês. Desde a
esquerda: figura 28
– parterres
compartimentados,
com caminhos de
cascalho; figura 29 –
diferentes tipos de
paliçadas de
vegetação; figura 30
– pérgulas, pórticos
e gabinetes de
vegetação.
Fonte: Fariello, 2000.

“Com respeito ao jardim italiano o jardim francês emprega maior variedade de


espécies arbóreas, em boa parte procedentes do próprio entorno natural e, portanto,
primordialmente de folha caduca e amplas copas.”

O desenvolvimento do jardim clássico


“Até meados do século XVIII, a Europa não conheceu outro sistema de
arquitetura de jardim que não fosse o estabelecido pelos cânones renascentistas, com o
acréscimo dos progressos postados por Le Notre e pelos enriquecimentos decorativos

6 Cerca de arbustos, ramos, estacas ou ripas entrelaçadas, para vedar terrenos; Cerca feita com plantas; cerca viva.
7 [O termo parterre deriva do verbo latino partior e no sentido geral significa espaço plano e unido] na terminologia do jardim
francês quer dizer também espaço plano com decoração [de plantas] baixa e sem árvores. (Fariello, 2000). Obs.: os parterres
podem ser tanto de vegetação como incluir elementos para água, como tanques e canais.
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devidos principalmente aos artistas franceses [fortemente influenciados pelos italianos].


[...]
“O processo de difusão foi rápido e se realizou em duas fases sucessivas:
[1] à princípio, e durante todo o século XVII, se seguiram diretamente os modelos
renascentistas italianos; e a continuação...
[2] se aplicaram primordialmente as inovações francesas.”
Mantendo inalteradas as concepções básicas, houve adaptações conforme
particularidades de cada lugar.
“Na Alemanha prevaleceram durante todo o século XVII as formas italianas, se
bem que não foram imunes a influencia holandesa; no século seguinte se afiançou o
estilo francês de Le Notre.
“Neste período, os países germânicos mostraram um extraordinário fervor na
criação de obras promovidas por príncipes e grandes duques, que competiam entre si
pela construção de luxuosas residências, de palácios e de vilas rodeadas por grandiosos
jardins. Nestas obras trabalharam inicialmente artistas italianos e franceses, [...]
“A arte do jardim na Inglaterra se desenvolveu com certo atraso em respeito aos
demais países europeus. A influência italiana, chegada no século XVI através dos
modelos renascentistas franceses, aparece neste caso parcialmente enfraquecida; em
um primeiro momento se aceitou o que o estilo italiano havia de suntuoso, mantendo o
caráter familiar e utilitário do tipo medieval em boa parte do jardim.
“Depois, o jardim renascentista se manteve definitivamente fiel aos princípios do
século XVII, após a viajem de Ínigo Jones à Itália. A influência francesa prevaleceu na
segunda metade do século, e a esta seguiu uma maneira de fazer procedente da
Holanda, caracterizada pelo emprego incontrolável de formas de topiarias.”
“Pode-se afirmar que no século XVIII o jardim italiano, ainda que aceitando
aportes externos, continuou evoluindo conforme suas próprias formas [..] mas com
certa tendência à busca de efeitos de graça, de elegância e de cromatismo. O jardim
considerado cada vez mais como um lugar de diversão e deleite, e um cenário para
festas e representações teatrais, reflete o refinamento da vida e os costumes, a pedileção
pelas artes menores e a música. Pelo que respeita a jardinaria propriamente dita, não se
introduzem novas formas salvo as de procedência francesa [...]”
Todavia, o Parque Real de Caserta, Nápoles – IT, cujo traçado deve-se a L.
Vanvitelli e cujas obras começaram em 1752, é uma das exceções. Um dos mais longos
parques da Europa, possui forte influência do Renascimento italiano e francês e se
desenvolve em uma linha de 2.700 m que vai subindo progressivamente após o palácio
até os pés do monte Briano, ao norte. Ao sul revela uma vista para o mar.
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Topo: à esquerda, figura 31 – vista aérea do Parque Real de Caserta e a


indicação aproximada de suas estações; à direita, figura 32 – vista do passeio
central desde a grande cascata [que aparece ao fundo da figura 33] com o
grupo de Diana e ninfas, no ponto mais alto do parque. Abaixo: à esquerda,
figura 33 – fonte de Ceres; à direita, figura 34 – fonte de Eolo.
Fonte de referência: Fariello, 2000.

O jardim paisagista
Com uma nova visão do mundo natural, em princípios do século XVIII, uma nova
concepção modifica os termos formais da arte do jardim.
São quatro as tendências que tornaram o jardim clássico superado:
[1] evoluções de elementos clássicos;
[2] o pensamento de filósofos e poetas;
[3] a obra de pintores paisagistas e ...
[4] conhecimento dos jardins chineses através de viajantes.
“A aspiração a um estado de pureza natural leva a uma valorização ética e
estética da paisagem. Posto que a natureza é vista como algo artisticamente completo,
desmorona toda a distinção entre beleza natural e beleza artística; e ambas chegam a
identificar-se. De modo análogo, desaparece todo contraste entre jardim e paisagem,
antes considerados como uma antítese entre o formalizado e o não formalizado [...] Foi
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Jean-Jacques Rousseau quem deu o impulso decisivo a esta atitude espiritual e quem
proporcionou legitimidade ao movimento do jardim paisagista. Este filósofo propunha o
‘retorno à natureza’ colocando no centro da vida do homem o sentimento e não o
intelecto, a consciência desta força divina que vive na natureza em lugar da ciência.
“O jardim paisagista europeu nasceu e teve sua primeira formulação na
Inglaterra, em um ambiente que havia aceitado quase passivamente o estilo clássico sem
assimilar sua íntima essência, e que além disso havia tolerado como uma moda as
extravagâncias das topiarias da jardinaria holandesa, tão em voga até o fim do século
XVII.

Topo: à esquerda, figura 35 – planimetria


geral de Stourhead, segundo F. M. Piper; foi
uma iniciativa do banqueiro inglês H. Hoare,
por volta de 1750.
Ao lado, figura 36 – vista desde o caminho de
entrada mostrando um panteão (*) ao fundo.
Esta vista é mostrada aqui por emblemar os
princípios paisagistas do século XVIII.
Acima: à direita, figura 37 – famosa obra de
W. Kent para o parque de Stowe – ING, em
1733.
Fonte: Fariello, 2000.

(*) Templo arredondado que, na Grécia e na


Roma antigas, era dedicado a todos os
deuses. Monumento arquitetônico destinado a
perpetuar a memória de homens famosos
(heróis nacionais, artistas, estadistas, etc.), e
que, em geral, contém seus restos mortais.

C. Bridgeman, W. Kent, A. Pope, lorde Burlington, entre outros, trataram de


interromper a tradição clássica de muros e topiarias. A obra mais relevante de Kent, é a
transformação do parque de Stowe (fig. 37), originalmente lançado por Bridgeman em
1714. “com este trabalho, empreendido em 1733, Kent pode apresentar um exemplo
completo de jardim paisagista, se bem que vinculado à implantação regular existente,
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[...] transformou os motivos aquáticos eliminando deles toda forma regular, trocou o
passeio principal por um gramado e remodelou todo o terreno ordenando-o em
cenários, a semelhança dos jardins chineses.” Na verdade a tradição oriental é fonte
vasta para os paisagismo desse grupo de ingleses.
“A França contribuiu sem demora ao desenvolvimento do jardim paisagista, não
apenas com o pensamento de [seu compatriota] Rousseau e a filosofia da Ilustração,
senão também com realizações logradas e notáveis; [...]
“Durante este período [por volta de 1770], a Alemanha ofereceu um ambiente
particularmente favorável ao desenvolvimento do jardim paisagista e contribuiu com
numerosas realizações de grande qualidade.
“A Itália não mostrou uma participação ativa no novo movimento e acolheu a
fórmula paisagista como uma conveniência de pura e simples moda. Foi uma aceitação
passiva, quase sem reações em contrário, acompanhada somente por algum intento de
assimilação.
Características marcantes do jardim paisagista:
- “não admite igualdades, simetrias e formas que não sejam as naturais, no todo
deve parecer variado, espontâneo e em um prazeroso abandono.”
- “ao jardim é exigido também um significado que transcenda seu aspecto
puramente formal e que pretenda excitar a imaginação mediante uma harmoniosa
cadeia de emoções e de sensações: de prazer, de alegria, de melancolia, de solenidade,
de meditação e de aventura.”
- “a natureza, em sua simplicidade - escreve Whately -, não emprega mas do que
quatro elementos na composição de seus cenários: o terreno, o arvoredo, a água e as
rochas. O homem introduziu um quinto elemento, os edifícios, [...]”
O paisagista alemão Sckell, apud Fariello, afirma: “a natureza não coloca
caminhos, estes são obra do homem e dos animais”.
“No jardim paisagista, portanto, os passeios e os sendeiros [sendas] respondem a
um critério orgânico que deve expressar uma estreita cooperação entre a vontade
humana e as condições naturais. [...] Seu traçado há de expressar e favorecer o
movimento humano [...] evitando os desníveis fortes e os obstáculos de toda índole, e
deve, finalmente, adaptar-se à forma do terreno e a singularidade do lugar.

O jardim do século XIX


“No começo do século XIX, o jardim apresenta claros sinais de confusão desde o
ponto de vista estilístico.” ... em função de elementos díspares, de estética pitoresca
romântica, graças à expansão das coleções botânicas e ao constante aporte de
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espécimes exóticas, numa reunião para expressar a multiplicidade vegetal, mas nem
sempre em acordo com os rigores clássicos.
“Em meados do século se assiste a uma revalorização das formas geométricas,
até que se chega a ter um tipo de jardim composto, que possui tanto formas livres
paisagistas como elementos do jardim clássico.”

B.

A.

Topo, à esquerda, figura 38 – planimetrias de dois momentos do Bois de Bologne, Paris. Em ‘A’, o desenho original oriundo da
grande remodelação urbana de Paris por Haussmann. Em ‘B’, a transformação, em 1852, coordenada por J.C.A. Alphand, que o
transformou em um bosque inglês de estilo pitoresco (*), com influência dos jardins paisagistas. Topo, à direita, figura 39 – o Parc
des Buttes-Chaumont, criado até 1863, também por Alphand, foi implantado em uma área desolada pelo abandono de uma
extração mineral. É um dramático exemplo de recriação de formas em um lugar amorfo (fonte: Jellicoe, 2000). Abaixo, à
esquerda, figura 40 – planimetrias da Place St. Jacques e da Place Louis XVI, também por. Alphand (fonte: Mosser 1991).
Abaixo, à esquerda, figura 41 – remodelação do parque Sydenham por J. Paxton, quando do retorno do Palácio de Cristal da
Grande Exposição Universal; em 1851 a exposição fora no Hyde Park, também em Londres (fonte: Jellicoe, 2000).

Os jardins tornam-se elementos universalizados, sem muitos elementos


sentimentalistas e culturais. Graças à Revolução Industrial, inserem-se cada vez maias
na coletividade urbana. “Os parques e os jardins [...] são criados para sobretudo para
satisfazer as exigências higiênicas, recreativas e educativas dos habitantes das cidades.
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[...] As maiores realizações dos paises da Europa e dos Estados Unidos foram feitas,
pois, nos parques públicos urbanos.”
Na Inglaterra, há o retorno das formas clássicas, numa reação ao pitoresco
meramente nostálgico, com a re-inclusão das flores, até então afastadas dos jardins.
“desde a idade média até o Renascimento, as flores sempre haviam sido relegadas aos
recintos separados criados para elas.”
As flores começam a ser tema em todas as artes. De William Robinson, com seu
livro The english flower garden (1883), aos pintores Van Gogh e Gauguin.
Apesar disso a jardinaria inglesa abandona-se, no final do século, ao maior
ecletismo onde as maiores realizações são carentes de uma concepção unitária.
A Inglaterra, todavia, foi a primeira nação a advertir sobre a necessidade de se
criar grandes parques à serviço dos habitantes das cidades. Até meados do século
Londres possuía uma extensão de parques públicos interligados, situados no centro da
cidade, que se aproximava dos 600 hectares; St. Jaimes’s Park, Green Park, HydePark e
Kensington Gardens, com uma distância de mais de 4 quilômetros. Outros três parques
se situam-se na periferia: Regent´s Park, Victoria Park e Battersea Park.
Um tipo particular de pequeno jardim urbano inglês é a square, praças
quadrangulares com conjunto de residências e um jardim no meio [as cidades-jardins
européias e americanas utilizam-se desta tipologia]; se chama também de circus quando
é circular e crescent quando os prédios ocupam apenas metade do perímetro do círculo
e o jardim se abre para a paisagem em frente as edificações.
Na França, o imperador Napoleão III, após uma estada na Inglaterra conscientiza-
se da importância dos grandes parques urbanos. Sua Paris possuía então tão somente
88 hectares de parques para uma população de 1 milhão de habitantes. Um grande
programa urbanístico começa a ser elaborado a cargo do prefeito de Paris, Georges-
Eugène Haussmann; incluía um grande parque à oeste, o Bois de Boulogne com 870
hectares, e outro no extremo oposto, o Bois de Vincennes com 920 hectares.
Na Itália o jardim clássico está bastante inserido na cultura geral, o jardim
paisagista é absorvido para dentro da tradição italiana, consignando ao jardim “uma
estrutura estável e ordenada no âmbito da fórmula paisagista, mas sem cair
demasiadamente no pitoresco de caráter sentimental [...] na verdade, na Itália a arte de
jardinaria decaiu nesta época como em nenhum outro período de sua história. [...]
numerosos jardins existentes sofreram transformações mais ou menos profundas, com
resultados quase sempre destrutivos, [...]”
“Nos Estados Unidos da América, a arte dos jardins tem seu começo após
metade do século XIX e mostras certos rasgos que o distinguem da Europa ocidental.
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Neste país logo se teve uma visão copmpleta do problema das zonas verdes de uso
coletivo com termos urbanísticos, sociológicos e estéticos, e as cidades norte-
americanas foram as primeiras a por em marcha sistemas integrais de parques públicos
undos entre si mediante artérias de vegetação criadas com este propósito.
“O impulsionador deste movimento foi um artista de exceção, o paisagista
Frederick Law Olmsted (1822-1903) [...] seu nome está ligado a numerosas obras
realizadas nas principais cidades norte-americanas: o Central Park, de Nova York, com
300 hectares; o Prospect Park, de Brooklin; o Fairmount Park, da Filadélfia; o South
Park, de Chicago; os jardins do Capitólio, de Washington; o sistema de parques de
Boston e o parque de Mont-Royal; em Montreal.”

O século XX
Novas concepções para a arquitetura; porém o jardim, mesmo sofrendo as
influências do século, segue utilizando as técnicas tradicionais da jardinaria dos
períodos anteriores. Novas plásticas vêm a partir dos anos 30, no auge do movimento
moderno.
“Contudo [e afortunadamente], ao recolher os aportes formais da tradição, o
jardim contemporâneo [o texto é dos anos 60-70] libertou-se de qualquer prejuízo de
índole literária e sentimental [...]” e ocupa-se com as novas demandas culturais e
sociais.
“Esta orientação – que não há de se confundir com o ecletismo do século XIX –
considera preeminente a livre manifestação de expressões criativas na plena satisfação
das necessidades práticas, e aspira a uma visão figurativa integral destinada a equiparar
o jardim com a paisagem. Tende por isso a superar a disputa estéril que contrapôs no
passado o estilo clássico e o estilo paisagista, estendendo a arte do jardim ao conceito,
mais amplo, de paisagem, e considerando este como um espaço exterior que se há de
por em formas que devem expressar uma síntese da vida, da arte e da natureza.”
Tende a superar a discussão entre o formalizado e o não formalizado em prol do
consenso, possível e razoável, entre natureza e artifício: o jardim como jardim, a
natureza como natureza. O jardim como elemento arquitetônico, e assim sujeito às
necessidades do programa: num jogo compositivo como o faz Neutra (fig. 42); como
aproveitamento espacial, no Kaiser Center (fig. 43); numa função de proteção térmica,
como no museu de Oakland (fig. 44) a exemplo dos ancestrais terraços cobertos de
vegetação; como motivo plástico e evocativo (fig. 45) ou como integração entre
arquitetura, paisagem natural e jardim (figs. 46 e 47).
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“No jardim contemporâneo são fundamentais as exigências coletivas. [...] o


urbanismo contemporâneo se caracteriza por sua decidida aspiração paisagista.”
Todavia, por necessidades, ora de o jardim estar inserido entre a estrutura
urbana e residencial, ora por estar submetido a novas estéticas, como o cubismo, o
plasticismo e o surrealismo, todas distanciadas de vínculos com o passado, apresenta-
se constantemente como um objeto de formas que cumprem com a função de resgatar a
natureza dentro da cidade moderna.

Topo, à esquerda, figura 42 – Casa Kaufmann do arquiteto


austríaco-californiano R. Neutra, 1946, jardins construídos para
compor arquitetonicamente com os volumes da casa modernista, ao
contrário de F. L. Wright que defendia a integração da casa com a
paisagem intocável. Topo, à direita, figura 43 – jardim de cobertura
do Kaiser Center, em Oakland – EEUU. Ao lado, figura 44 –
coberturas e terraços ajardinados no Museu de Oakland, por Dan
Kiley (1969). Abaixo, à esquerda, figura 45 – evocação de paisagens
de água e montanha com elementos de concreto na praça do
Auditório de Portland – EEUU, por L. K Halprin (1964). Mais abaixo,
à esquerda, figura 46 – vista do espaço da piscina do jardim Donnell,
por T. Church (1948), em Sonoma – EEUU. Fontes: Fariello, 2000.
Abaixo, figura 47 – a planta do jardim Donnell. Fonte: Jellicoe, 2000.
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O uso freqüente de uma formalidade abstrata e de uma plástica elementar (ver o


grupo de imagens anteriores), mais o uso intensivo dos elementos simplificados da
arquitetura moderna, garantem ao jardim do século XX a farta e constante visão de uma
relação cada vez mais transparente da dependência entre edificação, jardim e paisagem,
e assim, conciliando utilitarismo e ornamentalismo em prol dos gostos vigentes. Estas
ações foram facilitadas pelo abandono progressivo do ecletismo romântico e pitoresco
que dificultava possíveis gestos de clareza na virada para o século XX.
Porém não faltam ainda intenções em praças e parques que buscam relembrar o
passado, ao possuírem o rigor da geometria clássica com uma maior concepção
asséptica da forma ou por adotarem alguma tipologia consagrada.
Um estado mais globalizado internacionaliza rapidamente as tendências; por um
lado os signos herdados do passado são freqüentemente re-estilizados, por outro, um
maior desapego de recorrências demonstra novas propostas mais livres e mais
originais; de qualquer forma numa estética sintética tendendo ao abstrato.
Assim, atualmente, o artista da paisagem pode escolher em reviver literalmente
modelos consagrados da história mas seguir uma linha como a que consagrou Burle
Marx: o jardim que tem uma nova história para contar. Ele faz bem a distinção entre
jardim e paisagem, demonstra em sua obra, que a paisagem é natural e que assim um
jardim não necessita ocupar este lugar tampouco é obrigado a equiparar-se, mas busca
com as possibilidades vegetais de seus jardins inserir os necessários signos da natureza
junto à edificação e aos espaços edificados, plasticamente.
Todavia não se deve esquecer que, o contrário, ao se inflectir a edificação sobre
uma natureza precedente, permite uma proposta paisagística ao se decidir pela
exaltação e permanência do natural, o mais intocável possível.
Enfim, a história tem demonstrado que não há porque insistir com o conflito
clássico entre formalizado e não formalizado, i.e., entre paisagem e jardim - até porque
a evolução e o aprendizado mostra que cada um destes conceitos tem um lugar a ocupar
conforme as prerrogativas específicas a cada necessidade de projeto.
Não se pode pois levianamente se equiparar o jardim nos terraços da Vila Stein,
de Le Corbusier, com o jardim de clima desértico em volta da casa Kaufmann, de
Richard Neutra, tampouco julgar rapidamente seus méritos; ambos possuem
programas e climas distintos; porém pode-se ver a mesma virtude em ambos: a
edificação, a paisagem e o jardim formando um conjunto único, em comum acordo.
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Referências

FARIELLO, F. La arquitectura de los jardines: de la antigüedad al siglo XX.


Madrid: Mairea-celeste, 2000.
JELLICOE, G. El paisage del hombre: la conformación del entorno desde la
prehistoria hasta nuestros días. Gustavo Gili: Barcelona, 2000.
MOSSER, M. (ed.) The history of garden design: the western tradition from
the renaissence to the present day. London: Thames & Hudson, 1991.

A imagem da capa é baseada numa referência em: MONTERO, M.I. Burle Marx:
el paisage lírico. Barcelona: Gustavo Gili, 2001.

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