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Os
caminhos
do
jardim ocidental
OBS.: A estrutura deste texto é uma síntese, na quase totalidade das citações que
seguem, do livro La arquitectura de los jardines, de Francesco Fariello (1910-1992).
Introdução
“O jardim, em sua origem tem um significado mágico e religioso, e quase todas as
religiões tem tido seu próprio jardim mítico: o Éden dos israelenses, o Eridú dos
assírios. O Ida-Varsha dos hindus ou o bosque sagrado dos primeiros itálicos. Nestas
civilizações primitivas, o jardim quase sempre leva associada a idéia de paraíso.
“À medida que as crenças mágicas vão cedendo espaço ao pensamento religioso,
o jardim se desenvolve sem renegar de suas origens [místicas] e assume também outras
funções; em uma fase mais avançada, se converte em objeto de desfrute massivo e logo,
em sua forma mais evoluída, em expressão de necessidades intelectuais e estéticas.
Natureza primitiva
Natureza
O paraíso e a pureza
Crenças pagãs
A natureza é divina
Religião (unidade)
O homem e a natureza
Intelecto (racionalismo)
Valores humanos
Estética (humanismo)
Expressão das virtudes
Arte
JARDINS
um objeto ou de uma fisionomia quando os retrata. Mas apesar de que o pintor escolhe
um reflexo [desde o objeto] para fixá-lo a sua obra, o arquiteto paisagista, mais
afortunado, se apropria realmente das árvores, das cascatas, das flores, das rochas,
para plasmar [dar forma] a natureza viva, fazer apreciáveis certas belezas e dedicá-las a
fins puramente estéticos.”
“O jardim se distingue tanto da paisagem eminentemente natural como da
paisagem humanizada, caracterizada pela presença de obras humanas no cenário
natural. [...] a paisagem natural, em seu aspecto mais genuíno, se apresenta como algo
totalmente imune às alterações, com atributos de beleza espontânea próprios do
ambiente físico e biológico, a natureza está viva, mas em um estado quase de
subconsciência, ao que somente o intelecto humano pode imprimir significado e valor
figurativo.
“A intervenção humana pode se manifestar com obras utilitárias, relacionadas
com as exigências da vida e dos assentamentos [...] Uma conseqüência desta intervenção
é a modificação mais ou menos pronunciada [...] nesta fase de intervenção não falta por
vezes, por parte do homem, a observância quase instintiva de algum critério elemental
orientado a prejudicar o menos possível o entorno; e tudo isto – ainda que não
manifeste todavia um fim estético consciente – revela já um desejo espontâneo de
adaptar a paisagem às obras humanas.
O JARDIM E AS PAISAGENS
consciente
estética utilitária
DISCIPLINA
PAISAGEM HUMANIZADA ARQUITETÔNICA
A concepção do jardim
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contrário, trabalha com elementos com grande variabilidade orgânica e inorgânica; “no
jardim, somente os edifícios e os elementos de pedra [e de qualquer outro material] são
imutáveis; também a ordenação planimétrica e a configuração do terreno são
relativamente estáveis. A vegetação, ao contrário, está sujeita tanto ao crescimento
como às mudanças das estações [...] para ele [o projetista] o jardim está a meio caminho
entre a arte e a natureza.
A antiguidade
“Os jardins mais antigos dos que temos notícia são os de Nínive e Babilônia [...]
os jardins da Babilônia, situados ao largo das margens do rio Eufrates, se remontam ao
século VIII a.C., e se sabe que, restaurados em um período posterior por
Nabucodonossor, se conservaram durante alguns séculos, pois seguiam existindo na
época dos reis da Pérsia”. Pode-se afirmar que estes jardins eram terraços escalonados
em uma elevação do terreno, culminando em um grande jardim murado no terraço
superior. Eram suportados por grandes estruturas de paredes, colunas e arcadas;
continham vegetação variada, árvores e esculturas e decoração nas paredes.
Segundo Auguste Choisy, apud Fariello, ao estudar alguns baixo-relevos assírios:
“estes mostram, na parte alta dos edifícios residenciais, um terraço a céu aberto,
coberto por outro superior. Apesar de que este protege a cobertura da casa e forma um
tipo de espaço arejado com funções de isolamento térmico, o segundo terraço, mais
abaixo, tem uma profunda cobertura de terra vegetal com plantas e constitui um
verdadeiro jardim artificial.”
Estes terraços ajardinados, na Assíria, coroavam inclusive as habitações mais
modestas.
1 Parede feita de barro ou de cal e areia com enxaiméis e fasquias de madeira; tabique, estuque, taipal, pau-a-pique. Taipa de
mão: Taipa de barro atirado com a mão. Taipa de pilão: Taipa de cascalho e saibro socados.
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que o verdadeiro fechamento da mansão era constituído por um muro que rodeava todo
o jardim.”
Com a expansões faraônicas contra os etíopes e os assírios se importaram
muitos espécimes que foram aclimatados ao clima da região: amêndoa, pessegueiro,
cerejeiras, álamo, carvalho, plátano, mirta, rosa, jasmim, etc.
Sobre a Grécia não restaram muitos dados que permitam reconstruir
suficientemente um tipo completo de jardim. “os jardins foram usados cm fins
ornamentais junto aos edifícios públicos como templos, auditórios e ginásios, e
consistiam quando muito em grupos de árvores dispostas com uma sensibilidade
rústica rodeadas de arriates com flores e as vezzes animadas com tanques e fontes. [..]
Contudo, é certo que tanto nos jardins públicos como nos privados, os gregos
mostraram uma marcada inclinação pelo gênero natural no emprego dos elementos
arbóreos, deram preferência ao cultivo de flores, em particular a rosa, levada à
Macedônia pelo rei Midas. O clima exigia o cultivo de árvores de sombra com o plátano,
o álamo e o olmo, e junto a estes espécimes se usaram com profusão arbustos
ornamentais, árvores ornamentais e videiras.”
Conforme Jellicoe (2000), “em Creta não havia fortificações, os jardins estavam
abertos à paisagem, a vida tinha caráter doméstico e existia o jardim de prazer. Em
Micenas, e mais adiante em toda a Grécia, os jardins eram algumas vezes pátios ou
hortas, ou estavam confinados a lugares públicos ou semipúblicos, tais como arvoredos
e fontes sagrados e academias. Platão, particularmente, reconhecia que um jardim
ordenado ajudava a aprender”.
O jardim romano
Fariello segue: “A arte do jardim é um dos aspectos de particular sensibilidade
naturalista da civilização romana, na qual confluem crenças religiosas de origem itálica
e influxos místicos orientais herdados dos etruscos. Junto à religião do jardim rústico –
morada dos lares, divindades da terra e protetores da casa [deuses domésticos dos
etruscos e dos romanos] -, se desenvolve o culto dos bosques sagrados, dedicados aos
deuses ou aos mortos.”
“Com a [antiga] civilização romana se inicia a verdadeira história da arte do
jardim”
Os mais antigos jardins romanos possuíam uma função mais utilitária. O hortus
[horta] era um jardim nos fundos da casa, sem caráter ornamental destinado a plantas
comestíveis. A partir das sugestões de Varrão, em seu tratado De re rústica, os jardins
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romanos começam a incorporar flores para adornar os altares dos deuses e as tumbas
mortuárias.
Em Pompéia e Herculano se percebe que o jardim exerce uma função na
configuração da casa, deixando de ser um elemento acessório como na residência itálica
primitiva. As casas possuíam muitas vezes um jardim interno rodeado por um
peristilo2, ou seja, as dependências da casa desenvolviam-se em volta deste jardim em
que os caminhos eram ladeados por sebes, tanques de água e estatuas; alguns jardins
possuiam videiras com uma estrutura suportada por colunas. Era um jardim
meramente ornamental. O grau de intimidade entre este jardim e a casa se percebe em
átrios que se abrem francamente para os caminho que levam para o interior do jardim.
A água era conduzida aos tanques por canais (fistulae); fontes e chafarizes garantiam
uma musicalidade e a luz e a frescura estavam diretamente em contato com grandes
salas.
Residências comuns ou vilas não abriam mão do frescor dos jardins. Uma vila
compara-se a um edifício compacto mais um jardim. A vila romana equipara-se a uma
pequena cidade por possuir um conjunto arquitetônico variado entre jardins: termas,
biblioteca, anfiteatro, auditório, teatros, etc. a disposição era bastante livre e era
sugerida pela topografia do terreno. A lógica e a harmonia romana percebia-se pelos
caminhos retilíneos que determinavam as principais vistas; rampas e escadarias
organizavam-se em virtude de vistas panorâmicas. Algumas vilas romanas são tão
grandes que se comparam aos enormes parques modernos.
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Figuras 10, 11 e 12
– vistas dos recantos
da Vila Adriana. Em
Tívoli, Itália. Criada
entre 118 e 138 d.C.,
resulta de uma
vontade do
imperador Adriano
de reproduzir
cenários de lugares
pelos quais viajou.
É considerada por
muitos como a
rainha das vilas
imperiais da
antiguidade.
Figura 13 – maquete
do conjunto.
Fonte: Fariello, 2000.
análogos aos pátios interiores de suas casas. Estes, separados uns dos outros, se
comunicam entre si através de passadiços pequenos e ocasionais, e somente uma
cancela ou um gradil permitem entrever desde cada um deles o recinto seguinte. [...]
“A água assegura à vegetação uma luxuriante exuberância e constitui o elemento
decorativo de maior evidência, aparecendo em fontes, bacias e chafarizes, e correndo de
um tanque a outro ao longo de acéquias (canais para rega) de terracota que penetram
até os espaços cobertos contíguos aos jardins. [...]
Figura 16 - O Generalife,
próximo à Alhambra, na
mesma colina,
provavelmente construído
para abrigar as mansões
dos sultões. Ao lado o pátio
de ciprestes da sultana, com
uma fonte. Fonte: Fariello,
2000.
“Estas novas forças impulsoras – que afetam a todo o mundo artístico desde as
primeiras décadas do século – influem também na jardinaria, a qual, não sendo ainda
uma expressão artística completa, apresenta evidentes signos de emancipação dos
esquemas medievais. Isto queda patente com a atenuação de seu caráter rústico e
utilitário e com a aparição no jardim de elementos ornamentais novos e mais ricos. [...]
“Deduz-se que o jardim do século XV – se bem que conserva traços e métodos
medievais – leva a cabo uma série de avanços que podem resumir-se assim:
- coordenação da casa e do jardim em um único eixo dominante e busca de
vínculos com a paisagem;
- realização de elementos de transição entre a massa mural e a massa arbórea
mediante pórticos, loggias (galerias ou arcadas abertas) e escadarias ou arquibancadas;
- organização dos pendentes com jardins pendurados, terraços e rampas de
ligação;
- adoção, em uma forma evoluída, de certos elementos de arquitetura de jardim,
como pérgulas com colunas ou pavilhões com loggias salientes;
- criação de elementos totalmente novos: jardim secreto, labirintos ou montículos
para belvederes4;
- introdução, além das fontes, de formas plásticas mais ricas e variadas:
assentos, jarrãos e balaustradas de mármore, estatuas antigas, etc.
- tratamento dos elementos arbóreos com formas tanto geométricas como
decorativas, com aplicações da arte de topiaria5.”
Francesco di Giorgio, em seu escrito Trattato, admite que além da forma do
jardim poder derivar da conveniência do lugar, e assim como mostra Alberti em seu
tratado De re aedificatoria, derivar das melhores relações com as vistas da paisagem,
recomenda que a forma do jardim deve ser reduzida a algum tipo de figura [geométrica]
perfeita, como a circular, a quadrada, a triangular, a pentagonal, a hexagonal e a
octogonal.
“Estes preceitos dos tratadistas não aparecem traduzidos em realizações
concretas, senão que revelam muito mais uma tendência muito mais imaginativa que se
põe de manifesto na bisca de esquemas abstratos. A descrição de um jardim ideal
incluída no livro Hypnerotomachia Poliphili de Francesco Colonna – editado em Veneza
em fins do século XV (1499) – resume de forma quase exacerbada esta tendência da
época.
3 que apresenta polifilia: aumento do número de peças de um verticilo floral. Verticilo: Conjunto de peças foliáceas colocadas no
mesmo nível, i. e., inseridas em um só nó caulinar.
4 Pequeno mirante de onde se descortina um vasto panorama. Terraço em local elevado.
5 Arte de adornar os jardins dando a uma planta ou a grupos de plantas configurações diversas.
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“O grande jardim da ilha de Citérea se imagina no livro com uma forma circular e
com elementos concêntricos. Rodeado de água salgada, está fechado em toda sua volta
por murta com uma fileira de ciprestes.”
São vários círculos
Figura 17 –
ideallização de um
jardim polifílico, por
concêntricos divididos em 20
Francesco Colonna,
1499, segundo a fatias separadas por grandes
reconstrução de Ítalo
Cilento e Marco paredes com cancelas de
Guerra. Fonte:
Fariello, 2000. mármore branco e vermelho,
como raios de círculo.
O primeiro círculo
consta de cítricos; o segundo
subdivide-se em três anéis de
prados, separados por ruas
circulares, possui pavilhões,
fontes e topiarias, e termina
com um peristilo de mármore;
depois, há um arroio coberto
por um pergolado atravessado
por várias pontes que iniciam
outros caminhos até o centro;
após uma zona de pequenos
prados, depois, um grande
pórtico seguido de uma rua revestida de mármore; mais adiante, vários círculos de
obras de topiaria e logo uma via circular com arvoredos atravessados por arroios, para
acabar num último círculo com mais obras de topiaria e uma via com mosaicos e um
anfiteatro com uma fonte e Vênus ao centro.
“É como um mundo artificial e abstrato, organizado com um rígido sistema
geométrico. [...] nela se revela sobretudo uma atitude típica da época, que constituirá a
premissa da criação renascentista. [...]
“Mais que nas escassas realizações – que nem sequer tem chegado até nós -, o
aportar do século XV enraíza-se nesta concepção com a qual se estabelece que o jardim
deve ser uma composição unitária, geométrica e disciplinada por uma norma
arquitetônica, à que devem ficar submetidos todos os elementos da jardinaria, tanto os
de pedra como os vegetais.”
O jardim francês
“Durante todo o século XV, a França não teve mais do que jardins semi-
utilitários, especialmente nas proximidades dos castelos e das mansões senhoriais, com
características não muito distintas às do tipo medieval.
“Somente após a expedição de Carlos VIII à Itália (1494) deu começo uma rápida
evolução que se manifestou tanto na concepção como nas formas. [...]
“Nesta época, a França permanece fiel à disposição defensiva tanto da casa como
do jardim, [...]” os castelos e palácios seguem cercados por torres angulares e fossos.
“este tipo de disposição [...] imprimirá logo ao jardim francês uma de suas
características mais destacadas [...] os cinturões de água e os canais com uma função
puramente decorativa.”
Pode-se dizer que a contribuição italiana fez muito à evolução dos jardins
franceses. D’Argenville, em La théorie et la pratique du jardinage (1709 e 1747),
apresentou quatro preceitos para se adquirir uma boa distribuição:
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[1] “fazer que a arte ceda perante a natureza” - ou seja nenhum ornamento que
revele a mão do homem deverá prevalecer sobre os elementos naturais os quais devem
ser enaltecidos, isso revela uma grande diferença em relação à sua herança italiana -;
[2] “não sobrecarregar de sombras o jardim” - i.e., não entorpecer os jardins pelo
arvoredo; os espaços planos e abertos devem predominar junto aos edifícios, os
canteiros, terraços e rampas com arbustos que não obstaculizem a vista -;
PALÁCIO
Topo: à esquerda, figura 25 – planta geral definitiva do Jardim de Versalhes, nos arredores de Paris, desenhada pelo abade
Delagrive em 1746; este imenso jardim resulta a pedido de Luís XIV a Le Notre, por ter se impressionado por sua obra anterior
em Vaux, completada em 1661. Topo: à direita, figura 26 – vista desde o palácio, com a fonte em primeiro plano. Abaixo, figura 27
– perspectiva pintada por Patel, mostrando os pavilhões do Palácio que já existiam desde 1624 (Luís XIII) e que foram ampliados
a partir de 1661 por Le Vau; a partir de 1678 por Mansart e a partir de 1756 por Gabriel. Os jardins de Versalhes foram fruto de
um desenvolvimento progressivo. Fonte: Jellicoe, 2000.
[3] “não deixá-lo demasiado a descoberto” - assim cuidar para que o espectador
não abarque todo o jardim de uma só vista; vários pontos de vista excitam o espectador
a descobrir suas várias partes -; e...
[4] “fazer que pareça mais grande do que é” - em complemento ao anterior pois
jardins totalmente abertos aparentam serem menores do que são -.
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“O edifício deve surgir sobre um terraço elevado para permitir que desde este se
possa desfrutar todo o jardim [semelhantemente aos jardins Italianos]. Os canteiros
decorados com desenhos de sebes6 baixas (parterres7) é o que deve apresentar-se em
primeiro lugar ante os olhos, por isso se encontrará nas proximidades dos edifícios. [...]
o passeio principal do jardim será bastante amplo e estará colocado em frente ao
edifício; perpendicularmente a ele deverá haver ao menos outro passeio transversal.”
Ambos determinam a distribuição e a sucessão das partes do jardim distintas aos
canteiros dos parterres (fig. 28). Estes são geralmente delineados a base de figuras
geométricas, com linhas retas, curvas e mistas; em seus desenhos aparecem motivos
variados como folhagens, florões, volutas, entrelaçados, arabescos, coroas, nós e
penachos.
Outros elementos fortes destes jardins franceses são as paliçadas (fig. 29) –
estruturas vegetais com forma de parede, de muros e de colunatas -, os boulingrins –
uma superfície plana circundada em todos os seus lados por um talude de ervas -, os
pórticos, pérgulas e gabinetes (fig. 30) – quase sempre de vegetais -.
Elementos do jardim
francês. Desde a
esquerda: figura 28
– parterres
compartimentados,
com caminhos de
cascalho; figura 29 –
diferentes tipos de
paliçadas de
vegetação; figura 30
– pérgulas, pórticos
e gabinetes de
vegetação.
Fonte: Fariello, 2000.
6 Cerca de arbustos, ramos, estacas ou ripas entrelaçadas, para vedar terrenos; Cerca feita com plantas; cerca viva.
7 [O termo parterre deriva do verbo latino partior e no sentido geral significa espaço plano e unido] na terminologia do jardim
francês quer dizer também espaço plano com decoração [de plantas] baixa e sem árvores. (Fariello, 2000). Obs.: os parterres
podem ser tanto de vegetação como incluir elementos para água, como tanques e canais.
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O jardim paisagista
Com uma nova visão do mundo natural, em princípios do século XVIII, uma nova
concepção modifica os termos formais da arte do jardim.
São quatro as tendências que tornaram o jardim clássico superado:
[1] evoluções de elementos clássicos;
[2] o pensamento de filósofos e poetas;
[3] a obra de pintores paisagistas e ...
[4] conhecimento dos jardins chineses através de viajantes.
“A aspiração a um estado de pureza natural leva a uma valorização ética e
estética da paisagem. Posto que a natureza é vista como algo artisticamente completo,
desmorona toda a distinção entre beleza natural e beleza artística; e ambas chegam a
identificar-se. De modo análogo, desaparece todo contraste entre jardim e paisagem,
antes considerados como uma antítese entre o formalizado e o não formalizado [...] Foi
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Jean-Jacques Rousseau quem deu o impulso decisivo a esta atitude espiritual e quem
proporcionou legitimidade ao movimento do jardim paisagista. Este filósofo propunha o
‘retorno à natureza’ colocando no centro da vida do homem o sentimento e não o
intelecto, a consciência desta força divina que vive na natureza em lugar da ciência.
“O jardim paisagista europeu nasceu e teve sua primeira formulação na
Inglaterra, em um ambiente que havia aceitado quase passivamente o estilo clássico sem
assimilar sua íntima essência, e que além disso havia tolerado como uma moda as
extravagâncias das topiarias da jardinaria holandesa, tão em voga até o fim do século
XVII.
[...] transformou os motivos aquáticos eliminando deles toda forma regular, trocou o
passeio principal por um gramado e remodelou todo o terreno ordenando-o em
cenários, a semelhança dos jardins chineses.” Na verdade a tradição oriental é fonte
vasta para os paisagismo desse grupo de ingleses.
“A França contribuiu sem demora ao desenvolvimento do jardim paisagista, não
apenas com o pensamento de [seu compatriota] Rousseau e a filosofia da Ilustração,
senão também com realizações logradas e notáveis; [...]
“Durante este período [por volta de 1770], a Alemanha ofereceu um ambiente
particularmente favorável ao desenvolvimento do jardim paisagista e contribuiu com
numerosas realizações de grande qualidade.
“A Itália não mostrou uma participação ativa no novo movimento e acolheu a
fórmula paisagista como uma conveniência de pura e simples moda. Foi uma aceitação
passiva, quase sem reações em contrário, acompanhada somente por algum intento de
assimilação.
Características marcantes do jardim paisagista:
- “não admite igualdades, simetrias e formas que não sejam as naturais, no todo
deve parecer variado, espontâneo e em um prazeroso abandono.”
- “ao jardim é exigido também um significado que transcenda seu aspecto
puramente formal e que pretenda excitar a imaginação mediante uma harmoniosa
cadeia de emoções e de sensações: de prazer, de alegria, de melancolia, de solenidade,
de meditação e de aventura.”
- “a natureza, em sua simplicidade - escreve Whately -, não emprega mas do que
quatro elementos na composição de seus cenários: o terreno, o arvoredo, a água e as
rochas. O homem introduziu um quinto elemento, os edifícios, [...]”
O paisagista alemão Sckell, apud Fariello, afirma: “a natureza não coloca
caminhos, estes são obra do homem e dos animais”.
“No jardim paisagista, portanto, os passeios e os sendeiros [sendas] respondem a
um critério orgânico que deve expressar uma estreita cooperação entre a vontade
humana e as condições naturais. [...] Seu traçado há de expressar e favorecer o
movimento humano [...] evitando os desníveis fortes e os obstáculos de toda índole, e
deve, finalmente, adaptar-se à forma do terreno e a singularidade do lugar.
espécimes exóticas, numa reunião para expressar a multiplicidade vegetal, mas nem
sempre em acordo com os rigores clássicos.
“Em meados do século se assiste a uma revalorização das formas geométricas,
até que se chega a ter um tipo de jardim composto, que possui tanto formas livres
paisagistas como elementos do jardim clássico.”
B.
A.
Topo, à esquerda, figura 38 – planimetrias de dois momentos do Bois de Bologne, Paris. Em ‘A’, o desenho original oriundo da
grande remodelação urbana de Paris por Haussmann. Em ‘B’, a transformação, em 1852, coordenada por J.C.A. Alphand, que o
transformou em um bosque inglês de estilo pitoresco (*), com influência dos jardins paisagistas. Topo, à direita, figura 39 – o Parc
des Buttes-Chaumont, criado até 1863, também por Alphand, foi implantado em uma área desolada pelo abandono de uma
extração mineral. É um dramático exemplo de recriação de formas em um lugar amorfo (fonte: Jellicoe, 2000). Abaixo, à
esquerda, figura 40 – planimetrias da Place St. Jacques e da Place Louis XVI, também por. Alphand (fonte: Mosser 1991).
Abaixo, à esquerda, figura 41 – remodelação do parque Sydenham por J. Paxton, quando do retorno do Palácio de Cristal da
Grande Exposição Universal; em 1851 a exposição fora no Hyde Park, também em Londres (fonte: Jellicoe, 2000).
[...] As maiores realizações dos paises da Europa e dos Estados Unidos foram feitas,
pois, nos parques públicos urbanos.”
Na Inglaterra, há o retorno das formas clássicas, numa reação ao pitoresco
meramente nostálgico, com a re-inclusão das flores, até então afastadas dos jardins.
“desde a idade média até o Renascimento, as flores sempre haviam sido relegadas aos
recintos separados criados para elas.”
As flores começam a ser tema em todas as artes. De William Robinson, com seu
livro The english flower garden (1883), aos pintores Van Gogh e Gauguin.
Apesar disso a jardinaria inglesa abandona-se, no final do século, ao maior
ecletismo onde as maiores realizações são carentes de uma concepção unitária.
A Inglaterra, todavia, foi a primeira nação a advertir sobre a necessidade de se
criar grandes parques à serviço dos habitantes das cidades. Até meados do século
Londres possuía uma extensão de parques públicos interligados, situados no centro da
cidade, que se aproximava dos 600 hectares; St. Jaimes’s Park, Green Park, HydePark e
Kensington Gardens, com uma distância de mais de 4 quilômetros. Outros três parques
se situam-se na periferia: Regent´s Park, Victoria Park e Battersea Park.
Um tipo particular de pequeno jardim urbano inglês é a square, praças
quadrangulares com conjunto de residências e um jardim no meio [as cidades-jardins
européias e americanas utilizam-se desta tipologia]; se chama também de circus quando
é circular e crescent quando os prédios ocupam apenas metade do perímetro do círculo
e o jardim se abre para a paisagem em frente as edificações.
Na França, o imperador Napoleão III, após uma estada na Inglaterra conscientiza-
se da importância dos grandes parques urbanos. Sua Paris possuía então tão somente
88 hectares de parques para uma população de 1 milhão de habitantes. Um grande
programa urbanístico começa a ser elaborado a cargo do prefeito de Paris, Georges-
Eugène Haussmann; incluía um grande parque à oeste, o Bois de Boulogne com 870
hectares, e outro no extremo oposto, o Bois de Vincennes com 920 hectares.
Na Itália o jardim clássico está bastante inserido na cultura geral, o jardim
paisagista é absorvido para dentro da tradição italiana, consignando ao jardim “uma
estrutura estável e ordenada no âmbito da fórmula paisagista, mas sem cair
demasiadamente no pitoresco de caráter sentimental [...] na verdade, na Itália a arte de
jardinaria decaiu nesta época como em nenhum outro período de sua história. [...]
numerosos jardins existentes sofreram transformações mais ou menos profundas, com
resultados quase sempre destrutivos, [...]”
“Nos Estados Unidos da América, a arte dos jardins tem seu começo após
metade do século XIX e mostras certos rasgos que o distinguem da Europa ocidental.
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Neste país logo se teve uma visão copmpleta do problema das zonas verdes de uso
coletivo com termos urbanísticos, sociológicos e estéticos, e as cidades norte-
americanas foram as primeiras a por em marcha sistemas integrais de parques públicos
undos entre si mediante artérias de vegetação criadas com este propósito.
“O impulsionador deste movimento foi um artista de exceção, o paisagista
Frederick Law Olmsted (1822-1903) [...] seu nome está ligado a numerosas obras
realizadas nas principais cidades norte-americanas: o Central Park, de Nova York, com
300 hectares; o Prospect Park, de Brooklin; o Fairmount Park, da Filadélfia; o South
Park, de Chicago; os jardins do Capitólio, de Washington; o sistema de parques de
Boston e o parque de Mont-Royal; em Montreal.”
O século XX
Novas concepções para a arquitetura; porém o jardim, mesmo sofrendo as
influências do século, segue utilizando as técnicas tradicionais da jardinaria dos
períodos anteriores. Novas plásticas vêm a partir dos anos 30, no auge do movimento
moderno.
“Contudo [e afortunadamente], ao recolher os aportes formais da tradição, o
jardim contemporâneo [o texto é dos anos 60-70] libertou-se de qualquer prejuízo de
índole literária e sentimental [...]” e ocupa-se com as novas demandas culturais e
sociais.
“Esta orientação – que não há de se confundir com o ecletismo do século XIX –
considera preeminente a livre manifestação de expressões criativas na plena satisfação
das necessidades práticas, e aspira a uma visão figurativa integral destinada a equiparar
o jardim com a paisagem. Tende por isso a superar a disputa estéril que contrapôs no
passado o estilo clássico e o estilo paisagista, estendendo a arte do jardim ao conceito,
mais amplo, de paisagem, e considerando este como um espaço exterior que se há de
por em formas que devem expressar uma síntese da vida, da arte e da natureza.”
Tende a superar a discussão entre o formalizado e o não formalizado em prol do
consenso, possível e razoável, entre natureza e artifício: o jardim como jardim, a
natureza como natureza. O jardim como elemento arquitetônico, e assim sujeito às
necessidades do programa: num jogo compositivo como o faz Neutra (fig. 42); como
aproveitamento espacial, no Kaiser Center (fig. 43); numa função de proteção térmica,
como no museu de Oakland (fig. 44) a exemplo dos ancestrais terraços cobertos de
vegetação; como motivo plástico e evocativo (fig. 45) ou como integração entre
arquitetura, paisagem natural e jardim (figs. 46 e 47).
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Referências
A imagem da capa é baseada numa referência em: MONTERO, M.I. Burle Marx:
el paisage lírico. Barcelona: Gustavo Gili, 2001.