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Rev. Eletr. Enf. 2008;10(4):966-78.

Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n4/v10n4a09.htm.


__________________________________________________________________________ARTIGO ORIGINAL

Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no período gestacional e/ou puerperal

Women sadness/depression: an approach in the period of the pregnant


and or puerperium

Tristeza/depresión en la mujer: un enfoque en lo período gestacional y/o puerperal

Maria Isabel Ruiz BerettaI, Débora Junqueira ZanetiII, Márcia Regina Cangiani FabbroI,
Marildy Aparecida de FreitasI, Eliete Maria Scarfon RuggieroI, Giselle DupasI

RESUMO case study. This study was made during the


Na gestação e puerpério, a mulher e sua família months of may to November of 2006, at the
passam por uma série de mudanças que podem High Risk Ambulatory center and the Basic
predispor ou mesmo intensificar a tristeza ou a Health Unit of the city of São Carlos/SP, and in
depressão pós-parto. Este estudo identificou e the houses of the participants. For the collection
comparou as repercussões destes quadros of data one used of two scripts of interview and
depressivos em gestantes/puérperas de baixo scale of Beck. Eight pregnates had been
risco com as de alto risco. A pesquisa é interviewed. The results had demonstrated that
qualitativa, descritiva, exploratória, do tipo the familiar support of the friend and in this
estudo de caso. Este estudo foi realizado phase of the life is extremely important, and the
durante os meses de maio a novembro de 2006, sadness and/or depression after-childbirth if
no Ambulatório de Alto Risco e em uma Unidade install or if it aggravates when these aspects are
Básica de Saúde da cidade de São Carlos/SP e, not fortified. The gestates of low risk are more
no domicílio das participantes. Para a coleta de vulnerable for presenting difficulties of
dados utilizou-se dois roteiros de entrevista e adaptation to the maternal paper and for
escala de Beck. Foram entrevistadas oito presenting unstabler partner-economic and
gestantes. Os resultados demonstraram que o familiar situations, what in instigates them to
apoio do companheiro e familiares nessa fase reflect in the paper of the Units of Basic
da vida é extremamente importante, e a Attention, in special of the professionals of
tristeza e/ou depressão pós-parto se instala ou nursing in the precocious identification,
se agrava quando estes aspectos não estão accompaniment and guiding of the cases of
fortalecidos. As gestantes de baixo risco são depression.
mais vulneráveis por apresentarem dificuldades
de adaptação ao papel materno e situações Key words: Depression Postpartum, Obstetrical
sócio-econômicas e familiares mais instáveis, o Nursing, Pregnancy Postpartum Period.
que nos instiga a refletir no papel das Unidades
de Atenção Básica, em especial dos profissionais RESUMEN
de enfermagem na identificação precoce, En la gestación y puerperio la mujer y su familia
acompanhamento e encaminhamento dos casos pasan por cambios que pueden predisponer,
de depressão. incluso intensificar, la tristeza o la depresión
postparto. Este estudio ha identificado y
Palavras chave: Depressão pós-parto; comparado las repercusiones de estos cuadros
Enfermagem obstétrica; Gravidez; Período pós- depresivos en gestantes / puérperas de bajo
parto. riesgo con las de alto riesgo. La investigación es
cualitativa, descriptiva, exploratoria, del tipo
ABSTRACT estudio de caso. Este estudio fue realizado
In the gestation and after-childbirth, the woman durante los meses de mayo a noviembre de
and its family pass for a series of changes that 2006, en lo Ambulatorio de Alto Riesgo e en una
can premake use or same to intensify the Unidad Básica de Salud de la ciudad de São
sadness or the depression after-childbirth. This
study it identified and it compared the
I
repercussions of these depressive pictures in Enfermeira, Professora Adjunta do Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos. E-mail:
pregnates/women in the after-childbirth of low dmirb@power.ufscar.br.
risk with the of high risk. The research is II
Enfermeira, graduada pela Universidade Federal de São
qualitative, descriptive, exploratory, of the type Carlos em 2006. São Carlos/SP.

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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
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Carlos/SP e en lo domicilio de las participantes. adaptación a la maternidad y situaciones socio-


Para la obtención de los datos han sido económicas y familiares más inestables, lo que
utilizados dos guiones de entrevista y la escala nos hace pensar y reflexionar en lo papel de las
de Beck. Fueron entrevistadas ocho gestantes. Unidades de Atención Básica, en especial de los
Los resultados demostraron que lo apoyo del profesionales de enfermería en la identificación
compañero y familiares en esta fase de la vida precoz, acompañamiento y encaminamiento de
es muy importante, y la tristeza y/o la los casos de depresión.
depresión postparto se instala o se agrava
cuando estos aspectos no están fortalecidos. Palabras clave: Depresión Posparto,
Las gestantes de bajo riesgo son más Enfermería Obstétrica, Embarazo, Periodo de
vulnerables pues presentan dificultades de Posparto

INTRODUÇÃO prejuízo na capacidade de pensar, de se


A depressão encontra-se classificada no concentrar ou de tomar decisões. Os
Grupo das Doenças Afetivas, ou seja, aquelas depressivos queixam-se de enfraquecimento da
que tem evolução cíclica, em que se alternam memória ou mostram-se facilmente distraídos.
períodos depressivos com fase de absoluta A produtividade ocupacional costuma estar
sanidade. Para classificá-la é importante prejudicada, notadamente nas profissões
observar a intensidade dos sintomas (1). A intelectualmente exigentes. A depressão
palavra depressão no seu uso habitual pode geralmente se associa a transtornos
significar tanto um estado afetivo normal, emocionais. Ora surge como um sintoma de
quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou determinada doença, ora apenas coexiste junto
várias) doença(s). Freqüentemente, é associada com outros estados emocionais; outras vezes
a reações normais diante de determinados surge como causa desses transtornos(1).
sofrimentos e sentimentos de perda. Como A história pregressa de depressão,
síndrome ou doença, a depressão inclui presença de sintomas depressivos na gravidez e
alterações de humor, cognitivas, psicomotoras e história familiar de transtornos do humor e de
vegetativas. Em face de sua alta prevalência e ansiedade têm sido identificadas como fatores
custos sociais, nos dias atuais é importante de risco para transtornos no puerpério. A
problema para a saúde pública(2). mulher geralmente apresenta vulnerabilidade
A sintomatologia depressiva é muito marcante a sintomas ansiosos e depressivos,
variada e diferenciada entre os indivíduos, especialmente associados ao período
manifestando-se de maneiras diferentes em reprodutivo(3).
cada personalidade. A gravidez e o parto representam
Alguns deprimidos podem apresentar momentos marcantes para a mulher, sendo
sintomas somáticos ao invés dos sintomas períodos de grandes transformações, tanto em
emocionais de tristeza, angústia, medo, etc. seu organismo como também em seu psiquismo
Esses sintomas físicos podem ser, por exemplo, e em seu papel sócio-familiar. Portanto, a
dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, gestação e o puerpério podem ser considerados
falta de ar, e outras queixas de caracterização períodos na vida da mulher que precisam ser
clínica complicada. Para crianças e adolescentes avaliados com especial atenção, pois envolvem
a depressão pode se dissimular sob a forma de inúmeras alterações físicas, hormonais,
um humor irritável e irrequieto, ao invés da psíquicas e de inserção social, que podem
tristeza e abatimento. Outros indivíduos refletir diretamente na saúde mental(4).
manifestam sua depressão com irritabilidade Atualmente a maternidade tem influência
aumentada, como por exemplo, crises de raiva, direta no aparecimento da depressão no pós-
explosividade, sentimentos exagerados de parto. Talvez o fato de que as pressões culturais
frustração e tendência para responder a eventos sob as quais as mulheres invariavelmente
com ataques de ira(1). exercem a maternidade, associadas ao
Na depressão é muito freqüente certo sentimento de incapacidade em adequar-se a

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uma visão romanceada desse estado, acabem difícil para muitas mulheres pela carência de
por deixá-las ansiosas e culpadas, suscitando clareza às suas especificidades. O papel de mãe
dessa maneira conflitos que predisponham a é um produto da cultura e refere-se a ações que
depressão pós-parto(5). se espera que a mãe desempenhe em relação a
A depressão pós-parto pode levar as mães seu filho.
a um estilo de apego considerado inseguro em O despreparo em lidar com as emoções e
relação às mães que não apresentam, assim cuidados exigidos no período do nascimento,
como também, podem fazer com que estas conduz à inadequação no desempenho do papel
visualizem seus filhos como mais difíceis de materno. O desempenho de novos papéis frente
lidar, mais lentos, exigentes e não adaptados. à maternidade/paternidade exige a adaptação
Na relação das mães com seus bebês, as mães ao novo ser, ao filho que nasceu, conciliando a
com depressão pós- parto apresentam níveis criança real com aquela fantasiada, sonhada,
de hostilidade maior na interação com seus durante todo o período gestacional. O
filhos, aparentando maior rejeição, negligência desempenho e adaptação ao papel
e agressividade (6). materno/paterno também estão envoltos pelo
O nascimento de um filho pode reativar aspecto cultural da família ou sociedade em que
uma problemática antiga, que não tenha sido vivem. O envolvimento do marido, parceiro,
suficientemente trabalhada pela mãe, já que o mãe, sogra e mesmo dos profissionais de saúde
puerpério é considerado uma fase propensa a com a nova mãe pode significar apoio ou indicar
crises emocionais. Dentre os eventuais o quanto a mãe está inapta em realizar os
transtornos emocionais do pós-parto, três tipos cuidados de si e do filho(11).
poderiam ser destacados: a melancolia da A depressão no puerpério pode levar
maternidade (baby blues – Tristeza Materna), a tempo variado para se manifestar. Sua etiologia
psicose puerperal e a depressão(7). parece ser multideterminada, podendo ter
Também chamada de baby blues, a influências genéticas, de estressores
tristeza materna pode atingir de 50% a 85% psicológicos, do contexto cultural e de
das mulheres Aparecem sintomas como mudanças fisiológicas no seu desenvolvimento e
irritabilidade, mudanças bruscas de humor, severidade. Alguns autores têm sugerido que,
indisposição, tristeza, insegurança, baixa auto- por vezes, os sintomas da depressão materna
estima e sensação de incapacidade de cuidar do podem surgir em algum outro momento do
bebê. O que distingue a depressão da Tristeza primeiro ano de vida do bebê, e não
Materna é a gravidade dos quadros(8). necessariamente nas primeiras semanas após o
A fase da gestação é uma situação em seu nascimento, embora ainda fortemente
que a mulher e companheiro/família passam por associados à maternidade(11).
uma série de mudanças em suas vidas que pode De modo geral, a literatura indica que a
ser caracterizada como um momento de crise depressão ao longo do primeiro ano pós-parto
do ser humano. Geralmente nesta fase, existe a tende a ser leve. Entretanto, mesmo que seja
necessidade de ser acolhido e identificado por leve, pode trazer muito prejuízo para a nova
pessoas que vivenciam as mesmas situações mãe, porque faz com que freqüentemente não
que as suas(9). seja diagnosticada, podendo eventualmente
A literatura indica que o período gravídico- tornar-se tão severa que pode ser necessária
puerperal é a fase de maior incidência de uma internação. Essa severidade da depressão
transtornos psíquicos na mulher, necessitando parece estar relacionada com uma grande
de atenção especial para manter ou recuperar o frustração das expectativas da maternidade,
bem-estar, prevenindo dificuldades futuras para com seu papel materno, com o bebê e com o
o filho. A intensidade das alterações tipo de vida que é estabelecido com a chegada
psicológicas dependerá de fatores familiares, da criança(10).
conjugais, sociais, culturais e da personalidade Vale ressaltar que antecedentes familiares
da gestante(10). de depressão, antecedentes pessoais ou até
A adaptação ao papel materno pode ser mesmo um episódio de depressão puerperal,

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são fatores de análise para o risco da depressão não dão conta dos fenômenos sociais complexos
pós-parto; outros aspectos tais como: que estejam envolvidos nas mesmas(14).
personalidade pré-mórbida, qualidade da saúde Este estudo foi realizado durante os meses
materna, complicações gravídicas, parto de de maio a novembro de 2006, no Ambulatório
risco ou complicado e o puerpério com algum de Alto Risco e em uma Unidade Básica de
comprometimento clínico são episódios que Saúde (UBS) da cidade de São Carlos/SP e, no
devem ser investigados no controle e prevenção domicílio das participantes. Teve início após
do transtorno depressivo puerperal(12). aprovação no Comitê de Ética da UFSCar (CAAE
Apesar dos recursos limitados de atenção n. 0829.0.000.135-06) e contém estudos de
básica, o Sistema Único de Saúde (SUS), caso de quatro gestantes das Unidades Básicas
preconiza as unidades básicas como referencial de Saúde e quatro do Ambulatório de Alto
para o primeiro atendimento de depressão(12). Risco, localizados na cidade de São Carlos/SP.
Com base nas considerações aqui Vale ressaltar que os nomes atribuídos às
apontadas, acredita-se poder contribuir para mulheres são fictícios.
uma reflexão acerca dos possíveis transtornos As gestantes do Ambulatório de Alto Risco
que possam ocorrer na gestação/maternidade. foram selecionadas aleatoriamente,
Desta forma, este trabalho tem como objetivo pressupondo-se que estas pelo fato de se
comparar e identificar as repercussões da submeterem a um serviço de pré-natal voltado
tristeza/depressão em gestantes/puérperas mais aos cuidados de uma gravidez patológica,
consideradas de baixo risco com teriam uma maior probabilidade de
gestantes/puérperas consideradas de alto risco. desenvolverem uma sintomatologia depressiva.
A amostra das gestantes da UBS, também foi
METODOLOGIA aleatória e, pelo fato do serviço de pré-natal
Estudo descritivo de abordagem nesta unidade ser realizado para atender
qualitativa, o qual busca adentrar nas relações, gravidez sem intercorrências, pressupôs-se que
processos e fenômenos que não podem ser as gestantes não estariam propensas a
reduzidos a dados quantitativos, através do desenvolverem uma sintomatologia depressiva.
significado das ações humanas. Deve ser levado As informações foram coletadas por meio
em consideração que a abordagem qualitativa de dois roteiros de entrevistas, aplicados em
em saúde tem sempre como sujeito de estudo dois momentos: um no período gestacional (no
uma pessoa, em determinada condição social, terceiro trimestre) e outro no período puerperal
inserida em determinado grupo social ou classe, (na primeira semana) e, escala de BECK, com
com suas próprias crenças, valores e prévia autorização dos sujeitos que assinaram o
significados(13). termo de consentimento.
Dentro desta abordagem, optou-se pelo O inventário e Depressão de Beck foi
método do estudo de caso, cuja adoção é utilizado por ser um instrumento de
adequada quando são propostas questões de rastreamento de depressão, e, portanto, não
pesquisa do tipo “como” e “por quê”, e nas possuir pretensão diagnóstica. Foi aplicado na
quais o pesquisador tenha baixo controle de primeira semana de puerpério. Simplesmente
uma situação que, por sua natureza, esteja visa indicar quantas e quais são as pessoas que
inserida em contextos sociais. Embora o mereceriam uma avaliação clínica para o
pesquisador utilize um quadro teórico diagnóstico de depressão maior. Consiste em 21
referencial como ponto de partida para itens compreendendo sintomas e
utilização do método, alguns estudos comportamentos da esfera cognitiva, vegetativa
organizacionais enquadram-se em situações em e do humor, para serem avaliados em escala
que o pesquisador se vê frente a frente com com quatro graus de severidade (0 a 3) e as
problemas a serem compreendidos e para os pontuações podem variar de 0 a 63(15).
quais estudos experimentais não podem ser
aplicados; ou em situações nas quais estudos
de natureza predominantemente quantitativa

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RESULTADOS casos (enumerados de 1 a 4), relatando a


reação da participante e de alguns familiares
Ambulatório de Alto Risco frente à notícia da gravidez, a existência de
Inicialmente apresenta-se uma depressão em alguma fase de sua vida, bem
caracterização da população do Ambulatório de como também sua atitude no puerpério e seu
Alto Risco (Quadro 1). A seguir, são descritos os escore na escala de Beck.

Quadro 1: Caracterização da população entrevistada no Ambulatório Alto Risco,


da cidade de São Carlos/SP, 2006.
Número
Estado Renda
Participante Idade de Patologia Profissão Escolaridade
civil familiar
gestações
Diabetes 1a3
Terceira Dona de Ensino médio
Mirian 35 gestacional pela Casada salários
(planejada) casa incompleto
segunda vez mínimos
Primeira Hipertiroidismo, 3a5
Ensino médio
Juliana 26 (não Distúrbio Bipolar Solteira Estudante salários
completo
planejada) e Borderline mínimos
Amniorrexe
prematura no 3a5
Segunda Técnica de Ensino médio
Letícia 26 quinto mês de Casada salários
(planejada) enfermagem completo
gestação e mínimos
escoliose
Linfoma Não-
Primeira 1a3
Hodgkin e Ensino médio
Maria 30 (não Casada Vendedora salários
Resistência completo
planejada) mínimos
Insulínica

Caso 1: Mirian não dorme, só cochila. O pai também está meio


Ficou feliz ao saber que estava grávida. Ao nervoso, meio estressado. Ele fica nervoso
ser questionada sobre a depressão, se já tinha porque o bebê ao invés de chorar, grita. Mas tá
sofrido da mesma em alguma fase da vida, ou feliz, eu também, ele me ajuda muito”. Na
se algum de seus familiares apresentavam ou escala de Beck Mirian alcançou o escore de 13
se já haviam apresentado essa doença, referiu pontos.
que antes da primeira gestação fez tratamento
para engravidar durante 7 anos, e nesse Caso 2: Juliana
período sentia-se muito triste: “No dia das Ao saber que estava grávida, referiu que
mães quando ouvia falar de bebê eu chorava tanto ela quanto o pai da criança reagiram de
muito”. Relatou que tem uma irmã que está forma natural. “Ele ficou normal, nem me
apresentando depressão: “Só fica na cama, não xingou, nem ficou bravo.” “ Minha mãe que
quer fazer nada, só deitada”. E que a mãe anda ficou surpresa e o meu pai ficou muito chocado.
muito triste por causa de um problema na Mas agora ele já aceitou. Olha, já escutei muita
coluna “tem que emagrecer e não consegue, crítica da minha família por parte do meu pai”.
nem tá andando. Acho que tá entrando na Relatou que nunca pensou em interromper a
depressão, isso me preocupa muito”. Referiu gestação, mas que o pai dela queria que
sentir desânimo, insônia/alteração do sono e abortasse. “O meu pai queria, mas a minha mãe
tristeza. brigou com ele. Eu nunca tiraria”.
No puerpério, Mirian apresentava muito Referiu estar triste, melancólica e
cansaço. Tinha perdido 8 quilos através de um desanimada. Foi logo desabafando, e chorou ao
regime de orientação médica. Queixou-se de dizer que o namorado não queria mais ficar com
insônia/alteração do sono. ela. Reclamou de sua sogra, dizendo que a
Com relação ao bebê, referiu: “Me sinto mesma tinha feito a cabeça dele para não ficar
um pouco nervosa; ele chora muito, tem muita mais com ela. “Acho que aquela mulher pensa
cólica, sei lá o que é, se é cólica mesmo. Ele que eu engravidei só para ter que casar com o

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filho dela”. sentindo aquela pessoa que não era, era fraca,
Juliana ao ser questionada sobre a hoje me sinto fortalecida. Mas está sendo um
presença da depressão em alguma fase da vida, pouco cansativo. Tenho que trocar o curativo
ou da vida de seus familiares, disse que teve das costas dele, é difícil, mas não reclamo.
depressão profunda há alguns anos atrás, e que Estou conseguindo descansar um pouco, e
a mãe sempre está em fase depressiva. minha mãe, minha avó e meu namorado estão
Freqüentava o CAPS (Centro de Apoio me ajudando muito nos cuidados com o bebê”.
Psicossocial) mas fazia muito tempo que não Na escala de Beck Juliana alcançou o escore de
estava indo mais. 5 pontos.
Relatou estar sentindo desânimo,
insônia/alteração do sono, tristeza, falta de Caso 3: Letícia
vontade de fazer coisas simples, como ver TV Ela e seu marido ficaram felizes com a
ou tomar banho, sentimento de culpa, pelo gravidez. Quanto à sua família, disse que seu
diagnóstico de Meningocele em seu bebê:“ Isso pai é um desleixado, não se envolve em nada e
que aconteceu com o meu bebê foi por castigo, sua mãe faleceu uma semana antes dela saber
pelo fato de eu ser assim, sempre triste e que estava grávida.
impulsiva porque tenho distúrbio bipolar. Ou até Ao ser questionada sobre a presença da
mesmo pelo fato de ter engravidado assim, essa depressão em alguma fase da vida, ou da vida
bagunça”. Relatou falta de concentração e de seus familiares, relatou que nunca
pensamentos pessimistas como suicídio. apresentou, porém sua irmã sim, e que esta se
Esperava que sua vida melhorasse muito com a encontra em tratamento. No entanto vem
vinda do bebê. “Espero que a minha vida sentindo desânimo, insônia/ alteração do sono e
melhore. Que cure a minha doença, essa alteração do apetite. “Mas sempre fui muito
tristeza que sinto”. desanimada”. Acha que sua vida depois do
Foi orientada quanto à necessidade de nascimento do bebê vai ficar bem cansativa. “Já
voltar a realizar o tratamento no CAPS. A tenho uma filha pequena, então vai triplicar o
mesma concordou que estava realmente trabalho. Mas tô feliz.”
necessitando de um atendimento especializado, No puerpério apresentava muito cansaço.
que não estava bem. Foi realizado contato com “Estou estressada com os dois filhos. Um acorda
a enfermeira da Instituição, no qual foi passado e o outro também está acordado”. Referiu estar
o caso, e a mesma ficou à espera da paciente. sendo muito chata com o marido e muito
Ela não apareceu. Um novo contato foi feito nervosa com os familiares que nem ligam muito
com Juliana dizendo que a enfermeira estava à para o nascimento do bebê, e que quando vão
sua espera, porém a mesma não compareceu. ver seu filho, ficam palpitando nos cuidados. Na
Novamente um outro contato foi feito e ela escala de Beck Letícia alcançou o escore de 2
referiu que não queria voltar para o CAPS, que pontos.
estava bem porque o namorado estava de
volta. Caso 4: Maria
No puerpério, Juliana foi encontrada Ao falar de sua gestação relatou: “Todos
totalmente diferente, esbelta, maquiada e os médicos falaram para mim que eu nunca iria
sorridente. Relatou que estava sentindo-se engravidar, não planejei nada, veio de
muito feliz com a presença do bebê e que, o pai surpresa.” Ficou feliz com a gravidez e o marido
da criança estava muito feliz também. “Parece “Um bobo total, surpreso, fazendo mil
um bobo, tira foto toda hora, compra tudo que perguntas para o médico. Hoje ele fica me
precisa, tanto para mim, quanto para o bebê. paparicando, o meu relacionamento melhorou
Comigo ele está mil porcento. Está me muito. Ele está muito mais feliz agora, porque
agradando e isso está me fazendo muito bem. A quando casamos, ele sabia que eu nunca
minha família está dando todo o apoio que poderia ter um bebê”.
preciso”. Relatou que sua mãe ficou muito
Com relação ao bebê, referiu: “Estou me preocupada com a sua gravidez. “A minha mãe

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ficou preocupada comigo, devido aos outras pessoas, dificuldades para tomar
tratamentos serem muito fortes (acabei de decisões, dificuldades para dormir, cansaço,
fazer quimioterapia). Mas agora está mais falta de apetite e desinteresse pelo marido. Na
sossegada.” escala de Beck Maria alcançou o escore de 24
Quando questionada sobre a presença da pontos, caracterizando sintomatologia
depressão em algum momento de sua vida ou depressiva. Foi encaminhada para o CAPS.
de seus familiares, referiu que apresentou a
doença quando descobriu que estava com Unidade Básica de Saúde
Linfoma Não-Hodgkin. Fez tratamento Inicialmente apresenta-se uma
psicológico por dois anos. Seu tio materno caracterização da população da Unidade Básica
apresentou uma depressão tão intensa que o de Saúde (Quadro 2). A seguir, são descritos os
levou ao suicídio. Referiu apresentar falta de casos (enumerados de 5 a 8), relatando a
concentração. reação da participante e de alguns familiares
No puerpério, queixava-se muito de dor frente à notícia da gravidez, a existência de
na episiotomia (corte realizado no parto normal depressão em alguma fase de sua vida, bem
para facilitar o nascimento do bebê). como também sua atitude no puerpério e seu
Apresentava choro, irritação, desinteresse pelas escore na escala de Beck.

Quadro 2: Caracterização da população entrevistada na Unidade Básica de Saúde,


da cidade de São Carlos/SP, 2006.
Número de Estado Renda
Participante Idade Profissão Escolaridade
gestações civil familiar
1a3
primeira Operadora Ensino médio
Lucila 27 Casada salários
(indesejada) industrial completo
mínimos
segunda Ensino médio 1 salário
Joana 38 Casada Dona de casa
(planejada) incompleto mínimo
1a3
primeira (não Ensino médio
Ana 21 Solteira Estudante salários
planejada) incompleto
mínimos
1a3
primeira Ensino médio
Laura 21 Solteira Dona de casa salários
(planejada) incompleto
mínimos

Caso 5: Lucila mais em mim. Depois do quinto mês, nem


Ao falar da gravidez relatou: “Tomava queria mais que ele me encostasse, achava um
remédio, não queria engravidar de maneira desrespeito”.
nenhuma, mas mesmo assim engravidei. Quis Nunca pensou em interromper a gestação:
morrer, fiquei com medo da reação dos meus “Sei que é pecado e, por isso eu não
pais, chorei muito”. Seus familiares forçaram o interromperia, mas passa pela cabeça da gente
casamento. “Foi horrível, minha mãe me um monte de besteira”. Questionada sobre a
mandou embora de casa, mas não cheguei a ir presença da depressão em alguma fase da vida,
porque meu pai falou que eu só sairia casada. ou na de seus familiares, relatou que no início
me obrigou a casar, então casei”. da gestação, nos três primeiros meses só
Quando foi questionada sobre a reação do chorava e ficava triste constantemente. “Acho
pai da criança frente à gravidez relatou: “Eu fiz que estava em uma fase depressiva.”
o teste em casa e liguei para ele. Ficou muito Relatou estar sentindo desânimo, tristeza,
assustado, mas falou que agora tinha que ser alteração do apetite, alteração do desejo sexual
bola para frente. A princípio realmente foi um e sentimento de culpa, mas, também colocava
susto para ele”. Quanto ao relacionamento do um pouco da culpa da gravidez no namorado.
casal, ocorreram muitas mudanças nesse Tinha pensamentos pessimistas como o suicídio.
período de gestação. “Mudou muito. A gente Tem esperanças
acabou ficando distante um do outro. Pensava que tudo fique bem com a vinda do bebê:

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“Penso em curtir, ser feliz. Espero realmente momento: “Meu marido está feliz, contente,
que ele tenha muita saúde.” mudou bastante comigo”. Relatou que a família
No puerpério, relatou sentir-se alegre também ficou feliz e que seu primeiro filho está
com a presença do bebê: “É só alegria agora”. mais calmo, ajudando nos cuidados com o bebê.
Sobre a reação do seu marido depois da Queixou-se de desânimo: “Acho que estou
chegada do bebê referiu: “Uma maravilha: para meio estressada de ficar o tempo todo dentro
ele parece que somos as duas pessoas mais desse apartamento, não saio de maneira
importantes do mundo”. Sobre o nenhuma, nem para tomar um sol. Acho que
relacionamento conjugal relatou: “Meu marido quando passar a dieta e meu filho já tiver um
está ótimo, conversa bastante comigo, pega o mês já posso sair, né”? Na escala de Beck Joana
bebê, e me faz carinho”. Também está muito alcançou o escore de 2 pontos.
feliz com sua família. ”A reação da minha
família foi ótima, tudo está sendo bom, muita Caso 7: Ana
paparicação, está todo mundo babando em meu Ao falar da gravidez referiu: “Não tomava
filho”. remédio, estava até namorando escondido. Fiz
Quanto aos cuidados com o bebê referiu pouca relação e já engravidei. Não sei como
ter sentido muitas dificuldades: ”Em duas noites isso foi acontecer. Na hora que fiquei sabendo
passadas ele chorou muito, troquei e me senti bem, mas escondi da minha mãe até o
amamentei, mas ele não parava de chorar. Aí 5º mês. Fiquei com medo de contar para ela e
pensei que não ia conseguir cuidar do bebê, para o meu pai. Mas quando descobriram ficou
porque nem fazer parar de chorar eu estava tudo bem. O meu pai é muito bravo; ele grita
conseguindo. Estar na barriga é uma coisa, muito. Então fiquei morrendo de medo de
depois que nasce é difícil, mas é uma contar. Mas agora está tudo bem”. Sobre a
experiência nova”. Estava apresentando reação do pai da criança, relatou: “Na hora ficou
insônia/alteração do sono. Na escala de Beck contente, mas agora ele sumiu, nem sei onde
Lucila alcançou o escore de 2 pontos. ele está. Nunca mais me procurou”.
Sobre a presença da depressão em
Caso 6: Joana alguma fase de sua vida ou, na de seus
Ao saber que estava grávida sentiu-se familiares, citou sua tia. Disse que após ela ter
muito feliz. Seu marido também ficou feliz, mudado de religião, ficou depressiva e faz
mas mudou de comportamento: “No começo ele terapia. Referiu que não sabia o que esperar da
era mais carinhoso, mas depois foi mudando, sua vida depois do nascimento do bebê.
ficou indiferente e se afastou de mim”. No puerpério relatou que estava se
Relatou estar apresentando desânimo e sentindo bem com a presença do bebê. “Feliz,
tristeza.: “Às vezes bate a tristeza porque eu contente”. O pai da criança não a procurou
não tenho ninguém para conversar”. Falta de depois do nascimento. Quanto à sua família,
vontade de fazer coisas simples, como ver TV estava tudo bem. ”Está bom, normal, a minha
ou tomar banho: “Às vezes não tenho vontade mãe gosta da minha filha. Eu gosto muito de
de fazer nada”. Referiu que teve depressão há cuidar do bebê. Cansa, mas na verdade nem
treze anos atrás: “Quando tive o meu filho não estou muito cansada. À tarde na hora em que
tinha ninguém comigo, não tinha pensão nem ela dorme, eu durmo também, e a minha mãe
dinheiro, morava com a minha irmã. Para mim está ajudando bastante”. Referiu estar sentindo
foi bem difícil porque criei o meu filho sozinha. alteração do apetite e falta de vontade de fazer
Quando fiquei mal, fui ao médico e ele me coisas simples, como ver TV ou tomar banho.
receitou calmante. Fui até encaminhada para o Na escala de Beck Ana alcançou o escore de 2
psiquiatra, mas não fui na consulta. Isso foi só pontos.
uma fase que passei por causa do desemprego”.
No puerpério, relatou que estava feliz e Caso 8: Laura
sentindo-se bem com a chegada do bebê. O pai Ficou feliz ao saber da gravidez, mas o
da criança também estava reagindo bem neste relacionamento com o marido mudou muito:

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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
período gestacional e/ou puerperal. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008;10(4):966-78. Available from:
http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n4/v10n4a09.htm.

“Fui fazer uma visita para minha mãe em apoio do marido/companheiro durante a
Ribeirão Preto. Quando estava lá, ele me ligou e gestação/puerpério representava um significado
falou que eu não precisava mais voltar para São muito grande. Uma série de estudos tem
Carlos, porque ele não queria mais ficar casado. demonstrado que a falta de apoio oferecida pelo
Ele não fez muita questão do filho que estou parceiro e demais pessoas com que a puérpera
esperando, nem sei porquê ele planejou esta mantém relacionamento, influenciam
gravidez comigo”. Quanto à reação de sua consideravelmente na etiologia da Depressão
família, referiu que seus familiares ficaram Pós Parto, além de outros fatores como uma
contentes. gestação não planejada, nascimento prematuro
Sobre a presença da depressão em ou morte do bebê e dificuldades em
alguma fase da vida, ou na de seus familiares, amamentar(16).
relatou: “Tive depressão quando meu marido Foi constatado que várias participantes
largou de mim. Fiquei desesperada e muito tinham familiares com depressão e que algumas
triste”. Quanto aos seus familiares nada referiu. já haviam tido em algum momento de sua vida.
Relatou estar sentindo desânimo, tristeza, falta Vale ressaltar que antecedentes familiares de
de vontade de fazer coisas simples, como ver depressão, antecedentes pessoais ou até
TV ou tomar banho, além do sentimento de mesmo um episódio de depressão são fatores
culpa. “Sinto-me culpada pelo meu marido ter de análise para o risco de depressão pós parto.
achado que eu estava forçando uma gravidez. Outros aspectos como: personalidade pré-
No começo, quando ele largou de mim tive idéia mórbida, qualidade de saúde materna,
de suicídio”. complicações gravídicas, parto complicado ou,
No puerpério, estava residindo em outro puerpério com algum comprometimento clínico
endereço, com outro irmão e a cunhada. são episódios que devem ser investigados no
Relatou que estava feliz com a presença do controle da prevenção do transtorno depressivo
bebê. “Estou contente, feliz e muito tranqüila”. puerperal(16).
Quanto ao pai da criança referiu: “Acabei Mírian, na gravidez estava feliz, mas no
deixando ele ver o bebê. Quando estava grávida puerpério apresentava-se cansada com
jurei que não deixaria, mas ele foi à insônia/alteração do sono; tinha perdido 8
maternidade no dia em que ela nasceu. Quando quilos através de um regime médico, devido à
viu a nossa filha até chorou, está parecendo um diabetes. Referiu que se sentia nervosa porque
bobo. O nosso relacionamento até mudou, o nenê chorava muito e não dormia. O marido
agora ele está mais delicado e suave comigo”. também estava nervoso e estressado. Pode-se
Gosta muito de cuidar de sua filha. Tem que inferir que o período puerperal, implica em um
levantar várias vezes à noite, mas está desgaste do casal e, como a mulher geralmente
tranqüila, pois a cunhada ajuda bastante. Na se sente responsável pelos cuidados da criança,
escala de Beck Laura alcançou o escore de 2 alimentação e atendimento de todas as suas
pontos. necessidades, acaba se desestruturando tanto
física como emocionalmente.
DISCUSSÃO A transição à maternidade/paternidade é
Através dos casos analisados, foi possível freqüentemente descrita como uma época de
detectar que, embora várias das gestações não desordem e desequilíbrio, suscitando nos pais
tivessem sido planejadas, apenas uma foi sentimentos de incapacidade, confusão frente
indesejada. A maioria das participantes ficou às novas demandas, levando a buscar apoio um
feliz ao saber que estava grávida, mas a maior no outro. As mães ocupadas com o cuidado ao
parte relatou sentir alguns sintomas depressivos filho nem sempre conseguem oferecer o apoio
como insônia/alteração do sono, o que pode ser necessário ao marido, o qual sente-se privado
atribuído ao fato da entrevista gestacional ter de suporte. O despreparo em lidar com as
sido realizada no terceiro trimestre, no qual o emoções e cuidados exigidos neste período,
desconforto físico pode colaborar para a conduz à inadequação no desempenho de papel,
apresentação desses sintomas. Para elas, o porém à medida que esta experiência é

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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
período gestacional e/ou puerperal. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008;10(4):966-78. Available from:
http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n4/v10n4a09.htm.

vivenciada, espera-se que a inabilidade com o bebê e aguardam ansiosas o


desapareça, emergindo sentimentos de reconhecimento de todos que a cercam e,
companheirismo, compartilhamento de especialmente da criança, que pode ser
situações e entrega aos papéis exteriorizados demonstrado na figura infantil calma, tranqüila
através do amor, carinho, afeto e solidariedade e satisfeita(12). Cuidar do filho envolve muitas
entre os pais(11). tarefas, as quais são realizadas de acordo com a
Juliana, apesar da gestação conturbada, personalidade e experiência da mãe. Muitas
pelo abandono do namorado, e do diagnóstico pedem ajuda e instruções, outras desejam
da doença meningocele em seu bebê e por resolver sozinhas as dificuldades, julgando
apresentar antecedentes depressivos, que se assim construir fundamentos mais sólidos de
intensificaram com esta situação, no puerpério sua competência como mãe(11).
estava feliz porque o namorado havia A depressão comumente associada ao
retornado. Não apresentava sintomatologia nascimento de um bebê refere-se a um
depressiva, mas mesmo assim, foi aconselhada conjunto de sintomas que se iniciam geralmente
a procurar ajuda com profissionais de saúde, entre a quarta e a oitava semana após o parto,
pois foi possível observar que sua felicidade atingindo de 10 a 15% das mulheres. Esses
estava à mercê de seu namoro. sintomas incluem irritabilidade, choro
Inúmeros fatores podem ser considerados freqüente, sentimentos de desamparo e
como determinantes para um desfecho saudável desesperança, falta de energia e motivação,
no puerpério. Dentre eles pode-se destacar uma desinteresse sexual, transtornos alimentares e
relação familiar harmoniosa e cooperativa, bem do sono, sensação de ser incapaz de lidar com
como o desejo e o planejamento da gravidez novas situações, bem como queixas
(17)
feita pelo casal. O papel do homem nesta fase psicossomáticas .
merece destaque, uma vez que vivencia Maria, apesar da felicidade da gravidez,
sensações psicológicas semelhantes à da manifestou sintomatologia depressiva no
mulher, e por sua vez, o direcionamento dos puerpério, alcançando o escore de 24 pontos na
fatos repercutirá de maneira favorável ou não escala de Beck. Queixava-se de muita dor
no relacionamento do casal(10). De modo geral, devido à deiscência dos pontos em sua
mulheres que vivenciaram muito estresse na episiorrafia. Estava apresentando hipertensão,
gestação e no parto e mulheres que não podem choro, irritabilidade, desinteresse pelas outras
contar com apoio social, especialmente do pessoas, dificuldades para tomar decisões,
cônjuge, têm grandes chances de desenvolver dificuldades para dormir, cansaço, falta de
depressão(7). apetite e desinteresse pelo marido. No entanto,
Letícia na gravidez estava feliz, mas no estava feliz com a presença da filha e por
puerpério apresentou um comportamento receber ajuda de seu marido e sua mãe nos
diferente para com o marido. Irritava-se cuidados com o bebê. Foi encaminhada para a
facilmente com ele e, isso gerava Unidade Básica de Saúde para
constantemente brigas conjugais. Acredita-se acompanhamento psicológico.
que a maternidade para algumas mulheres A depressão no início das quatro primeiras
apresenta-se como a concretização de um semanas do período pós-parto é um alerta, e
sonho, sem que seja feita uma análise dos pode ser aplicado aos vários transtornos do
cuidados e da responsabilidade que o humor. Por sua vez, o episódio depressivo
nascimento de uma criança exige. Ressalta-se maior é definido pela vigência de determinados
também que ela perdeu a mãe há menos de um sintomas pelo período mínimo de duas
ano e, portanto além de ainda estar elaborando semanas, sendo obrigatória a presença do
o luto, não pode contar com o suporte humor depressivo ou anedonia (diminuição ou
emocional da mãe. perda do interesse nas atividades anteriormente
O sentimento de incapacidade pode ser agradáveis), associado a quatro dentre os
muito freqüente nas puérperas, uma vez que demais sintomas: mudança significativa de peso
em geral se doam completamente aos cuidados ou do apetite, insônia ou sono excessivo,

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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
período gestacional e/ou puerperal. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008;10(4):966-78. Available from:
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agitação ou retardo psicomotor, sentimentos de nascer. Foi aconselhada novamente no


desvalia ou culpa, perda de concentração e puerpério a procurar atendimento psicológico e
idéias de morte ou suicídio(18). sua resposta foi que iria esperar o bebê crescer
Na fase puerperal a mulher encontra-se para procurar o serviço, relatando que não
exposta a maiores riscos de aparecimento de podia sair de casa enquanto não acabasse a
transtornos mentais em relação a outras fases dieta.
da vida, uma vez que as suas defesas, tanto Existem diversos fatores psicossociais que
físicas quanto psicossociais, são direcionadas à envolvem o estresse embutido nas
proteção e vulnerabilidade do bebê (19). transformações puerperais e que contribuem
Lucila apresentou uma gestação para a exacerbação dos sintomas psíquicos,
indesejada e conturbada, mas no puerpério muitas vezes funcionando como potencializador
estava feliz. O comportamento conjugal havia de risco. A predisposição também representa
mudado para melhor e estava recebendo apoio uma parcela considerável na etiologia dos
da família. Sua mãe estava feliz com o transtornos psiquiátricos puerperais.
nascimento da neta e a ajudava nos cuidados Determinadas situações ou experiências,
com o bebê. Não apresentava no momento expõem a puérpera ao maior risco de
sintomatologia depressiva. adoecimento, dentre os quais deve-se destacar:
O apoio de uma outra mulher no período primiparidade e história familiar e pessoal de
puerperal pode ser um grande suporte transtorno mental pós-parto (12). Assim sendo,
emocional ou fornecer uma base segura para a a prevenção de complicações e construção de
mãe recente. A relação da mãe com a sua um prognóstico satisfatório das síndromes
figura materna de identificação também deve mentais pós-parto, destaca a importância da
ser considerada um importante fator que pode identificação dos sintomas iniciais que norteiam
influenciar a qualidade das experiências o quadro patológico puerperal, ou seja, quanto
emocionais durante o puerpério. Estudos antes se detectar os indícios, reflexos positivos
apontam que as puérperas geralmente indicam poderão ser oferecidos na assistência individual
a mãe como apoio suportivo mais significativo, e familiar da puérpera(12).
a seguir o pai e irmão da puérpera. O apoio Laura, na sua gravidez apresentava-se
situa-se na dimensão física, na fase de triste e desanimada, sempre chorando ao
adaptação ao novo papel(11). lembrar-se do abandono do marido. No
As precárias condições socioeconômicas puerpério estava mais animada e
da puérpera e a não aceitação da gravidez são aparentemente feliz, pois estava rodeada de
os fatores que mais influenciam o aparecimento seus familiares, que estavam dando todo o
de depressão no puerpério. A alta prevalência suporte necessário.
de depressão pós-parto encontrada reforça seu A vivência no puerpério, a transição ao
significado como problema de saúde pública, papel materno, exige a operacionalização do
exigindo estratégias de prevenção e tratamento. cuidado humano, o qual auxilia a mulher a
O acompanhamento cuidadoso de mães, em movimentar-se dentro da transição com maior
especial as de baixa renda, por meio de ações autonomia e desprendimento para captar,
integradas que considerem as variáveis enfrentar e adaptar-se ao novo papel. Porém,
associadas à depressão, pode prevenir graves esse processo nem sempre é tão simples e
problemas pessoais e familiares que decorrem rápido, impondo a utilização de recursos
da depressão no puerpério(20). internos e externos, disponíveis ou não pela
Joana, apesar de uma gestação cheia de mulher, para ultrapassar os obstáculos e
tristezas, pela indiferença do marido, no barreiras que parecem intransponíveis, se
puerpério estava feliz, pois este a estava realizado de maneira solitária(11).
tratando de forma carinhosa. Como apresentava A ocorrência da depressão pós-parto está
antecedentes depressivos na gravidez, foi associada a uma série de fatores biológicos,
aconselhada a procurar atendimento psicológico obstétricos, sociais e psicológicos que se inter-
e a mesma referiu que iria esperar o bebê relacionam. Além disso, a literatura aponta

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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
período gestacional e/ou puerperal. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008;10(4):966-78. Available from:
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também para o caráter conflituoso da corporal, bioquímica, hormonal, familiar e social


experiência da maternidade como um fator de e propensa a sentimentos de culpa, com maior
risco para a depressão da mãe, uma vez que a probabilidade de gerar uma depressão materna
maternidade implica em assumir novos papéis e durante o puerpério. Esse momento depressivo,
em mudanças profundas na identidade da se não acolhido de forma humana e harmônica
mulher. Os estudos sugerem também que mães pelo companheiro, familiares e profissionais de
deprimidas tendem a perceber a própria saúde, pode interferir na manutenção da saúde
experiência de forma mais negativa do que mental materna.
mães não-deprimidas(16). A disponibilidade para ouvir a gestante
com uma postura de acolhimento por parte do
CONSIDERAÇÕES FINAIS profissional de saúde é o requisito mais
O presente estudo abordou o tema importante para a ação preventiva. Por meio da
depressão da mulher no período gestacional interação, o profissional pode detectar variações
e/ou puerperal. Foram realizados oito estudos de humor, de pensamento e comportamentos
de caso buscando identificar o nível de sugestivos de eventual distúrbio psiquiátrico.
sintomatologia depressiva e, realizados O profissional de saúde deve desenvolver
encaminhamentos para as gestantes e ações preventivas na rede pública voltados à
puérperas que apresentaram sintomas. As saúde da gestante/puérpera. Além disso, deve
mesmas foram encaminhadas para as Unidades estimular a compreensão da mulher e do
Básicas de Saúde que contavam com psicólogo companheiro em relação às fases críticas do
e/ou psiquiatra. puerpério, bem como emoções e sentimentos
O grupo de mulheres selecionadas para o provenientes deste período, ou seja, somando
estudo atendidas pela Unidade Básica de Saúde, esforços na prevenção e tratamento da
demonstrou uma maior propensão à depressão, depressão pós-parto que levarão a um exercício
o que sinaliza certa contradição, já que se materno saudável e essencial ao
supõe que, uma gravidez de alto risco é aquela desenvolvimento humano.
em que o risco de doença ou de morte, antes ou Acredita-se que cabe aos serviços de
depois do parto, é maior do que o habitual, saúde a aquisição de instrumentos para
tanto para a mãe como para o bebê. Desta identificar precocemente, tratar e/ou
forma, esperava-se que as mulheres atendidas encaminhar se necessário, gestantes e
no Ambulatório de alto risco devido ao estresse puérperas com sintomatologia depressiva,
físico e emocional durante a gestação e mesmo considerando a gravidade de cada caso. O
o puerpério apresentassem uma maior apoio dos familiares nesse período de grandes
sintomatologia depressiva. Também se deve mudanças também é extremamente importante.
ressaltar que, as gestantes de alto risco tiveram Somente a união das forças entre os
maior respaldo, podendo contar com o suporte profissionais de saúde e familiares podem
da equipe de saúde cuidadora, além de uma transformar momentos de tristeza passageiros
maior atenção familiar em uma fase em que a mulher se sentirá
No entanto, deve-se levar em conta que, acolhida para expressar seus sentimentos e
as mulheres atendidas na Unidade Básica de confiante na sua capacidade de assumir este
Saúde, não apresentavam boa estrutura novo papel.
familiar, sendo desamparadas pelos seus
maridos/companheiros durante a gestação e o REFERÊNCIAS
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