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Maria Isabel Ruiz BerettaI, Débora Junqueira ZanetiII, Márcia Regina Cangiani FabbroI,
Marildy Aparecida de FreitasI, Eliete Maria Scarfon RuggieroI, Giselle DupasI
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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
período gestacional e/ou puerperal. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008;10(4):966-78. Available from:
http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n4/v10n4a09.htm.
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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
período gestacional e/ou puerperal. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008;10(4):966-78. Available from:
http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n4/v10n4a09.htm.
uma visão romanceada desse estado, acabem difícil para muitas mulheres pela carência de
por deixá-las ansiosas e culpadas, suscitando clareza às suas especificidades. O papel de mãe
dessa maneira conflitos que predisponham a é um produto da cultura e refere-se a ações que
depressão pós-parto(5). se espera que a mãe desempenhe em relação a
A depressão pós-parto pode levar as mães seu filho.
a um estilo de apego considerado inseguro em O despreparo em lidar com as emoções e
relação às mães que não apresentam, assim cuidados exigidos no período do nascimento,
como também, podem fazer com que estas conduz à inadequação no desempenho do papel
visualizem seus filhos como mais difíceis de materno. O desempenho de novos papéis frente
lidar, mais lentos, exigentes e não adaptados. à maternidade/paternidade exige a adaptação
Na relação das mães com seus bebês, as mães ao novo ser, ao filho que nasceu, conciliando a
com depressão pós- parto apresentam níveis criança real com aquela fantasiada, sonhada,
de hostilidade maior na interação com seus durante todo o período gestacional. O
filhos, aparentando maior rejeição, negligência desempenho e adaptação ao papel
e agressividade (6). materno/paterno também estão envoltos pelo
O nascimento de um filho pode reativar aspecto cultural da família ou sociedade em que
uma problemática antiga, que não tenha sido vivem. O envolvimento do marido, parceiro,
suficientemente trabalhada pela mãe, já que o mãe, sogra e mesmo dos profissionais de saúde
puerpério é considerado uma fase propensa a com a nova mãe pode significar apoio ou indicar
crises emocionais. Dentre os eventuais o quanto a mãe está inapta em realizar os
transtornos emocionais do pós-parto, três tipos cuidados de si e do filho(11).
poderiam ser destacados: a melancolia da A depressão no puerpério pode levar
maternidade (baby blues – Tristeza Materna), a tempo variado para se manifestar. Sua etiologia
psicose puerperal e a depressão(7). parece ser multideterminada, podendo ter
Também chamada de baby blues, a influências genéticas, de estressores
tristeza materna pode atingir de 50% a 85% psicológicos, do contexto cultural e de
das mulheres Aparecem sintomas como mudanças fisiológicas no seu desenvolvimento e
irritabilidade, mudanças bruscas de humor, severidade. Alguns autores têm sugerido que,
indisposição, tristeza, insegurança, baixa auto- por vezes, os sintomas da depressão materna
estima e sensação de incapacidade de cuidar do podem surgir em algum outro momento do
bebê. O que distingue a depressão da Tristeza primeiro ano de vida do bebê, e não
Materna é a gravidade dos quadros(8). necessariamente nas primeiras semanas após o
A fase da gestação é uma situação em seu nascimento, embora ainda fortemente
que a mulher e companheiro/família passam por associados à maternidade(11).
uma série de mudanças em suas vidas que pode De modo geral, a literatura indica que a
ser caracterizada como um momento de crise depressão ao longo do primeiro ano pós-parto
do ser humano. Geralmente nesta fase, existe a tende a ser leve. Entretanto, mesmo que seja
necessidade de ser acolhido e identificado por leve, pode trazer muito prejuízo para a nova
pessoas que vivenciam as mesmas situações mãe, porque faz com que freqüentemente não
que as suas(9). seja diagnosticada, podendo eventualmente
A literatura indica que o período gravídico- tornar-se tão severa que pode ser necessária
puerperal é a fase de maior incidência de uma internação. Essa severidade da depressão
transtornos psíquicos na mulher, necessitando parece estar relacionada com uma grande
de atenção especial para manter ou recuperar o frustração das expectativas da maternidade,
bem-estar, prevenindo dificuldades futuras para com seu papel materno, com o bebê e com o
o filho. A intensidade das alterações tipo de vida que é estabelecido com a chegada
psicológicas dependerá de fatores familiares, da criança(10).
conjugais, sociais, culturais e da personalidade Vale ressaltar que antecedentes familiares
da gestante(10). de depressão, antecedentes pessoais ou até
A adaptação ao papel materno pode ser mesmo um episódio de depressão puerperal,
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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
período gestacional e/ou puerperal. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008;10(4):966-78. Available from:
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são fatores de análise para o risco da depressão não dão conta dos fenômenos sociais complexos
pós-parto; outros aspectos tais como: que estejam envolvidos nas mesmas(14).
personalidade pré-mórbida, qualidade da saúde Este estudo foi realizado durante os meses
materna, complicações gravídicas, parto de de maio a novembro de 2006, no Ambulatório
risco ou complicado e o puerpério com algum de Alto Risco e em uma Unidade Básica de
comprometimento clínico são episódios que Saúde (UBS) da cidade de São Carlos/SP e, no
devem ser investigados no controle e prevenção domicílio das participantes. Teve início após
do transtorno depressivo puerperal(12). aprovação no Comitê de Ética da UFSCar (CAAE
Apesar dos recursos limitados de atenção n. 0829.0.000.135-06) e contém estudos de
básica, o Sistema Único de Saúde (SUS), caso de quatro gestantes das Unidades Básicas
preconiza as unidades básicas como referencial de Saúde e quatro do Ambulatório de Alto
para o primeiro atendimento de depressão(12). Risco, localizados na cidade de São Carlos/SP.
Com base nas considerações aqui Vale ressaltar que os nomes atribuídos às
apontadas, acredita-se poder contribuir para mulheres são fictícios.
uma reflexão acerca dos possíveis transtornos As gestantes do Ambulatório de Alto Risco
que possam ocorrer na gestação/maternidade. foram selecionadas aleatoriamente,
Desta forma, este trabalho tem como objetivo pressupondo-se que estas pelo fato de se
comparar e identificar as repercussões da submeterem a um serviço de pré-natal voltado
tristeza/depressão em gestantes/puérperas mais aos cuidados de uma gravidez patológica,
consideradas de baixo risco com teriam uma maior probabilidade de
gestantes/puérperas consideradas de alto risco. desenvolverem uma sintomatologia depressiva.
A amostra das gestantes da UBS, também foi
METODOLOGIA aleatória e, pelo fato do serviço de pré-natal
Estudo descritivo de abordagem nesta unidade ser realizado para atender
qualitativa, o qual busca adentrar nas relações, gravidez sem intercorrências, pressupôs-se que
processos e fenômenos que não podem ser as gestantes não estariam propensas a
reduzidos a dados quantitativos, através do desenvolverem uma sintomatologia depressiva.
significado das ações humanas. Deve ser levado As informações foram coletadas por meio
em consideração que a abordagem qualitativa de dois roteiros de entrevistas, aplicados em
em saúde tem sempre como sujeito de estudo dois momentos: um no período gestacional (no
uma pessoa, em determinada condição social, terceiro trimestre) e outro no período puerperal
inserida em determinado grupo social ou classe, (na primeira semana) e, escala de BECK, com
com suas próprias crenças, valores e prévia autorização dos sujeitos que assinaram o
significados(13). termo de consentimento.
Dentro desta abordagem, optou-se pelo O inventário e Depressão de Beck foi
método do estudo de caso, cuja adoção é utilizado por ser um instrumento de
adequada quando são propostas questões de rastreamento de depressão, e, portanto, não
pesquisa do tipo “como” e “por quê”, e nas possuir pretensão diagnóstica. Foi aplicado na
quais o pesquisador tenha baixo controle de primeira semana de puerpério. Simplesmente
uma situação que, por sua natureza, esteja visa indicar quantas e quais são as pessoas que
inserida em contextos sociais. Embora o mereceriam uma avaliação clínica para o
pesquisador utilize um quadro teórico diagnóstico de depressão maior. Consiste em 21
referencial como ponto de partida para itens compreendendo sintomas e
utilização do método, alguns estudos comportamentos da esfera cognitiva, vegetativa
organizacionais enquadram-se em situações em e do humor, para serem avaliados em escala
que o pesquisador se vê frente a frente com com quatro graus de severidade (0 a 3) e as
problemas a serem compreendidos e para os pontuações podem variar de 0 a 63(15).
quais estudos experimentais não podem ser
aplicados; ou em situações nas quais estudos
de natureza predominantemente quantitativa
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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
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filho dela”. sentindo aquela pessoa que não era, era fraca,
Juliana ao ser questionada sobre a hoje me sinto fortalecida. Mas está sendo um
presença da depressão em alguma fase da vida, pouco cansativo. Tenho que trocar o curativo
ou da vida de seus familiares, disse que teve das costas dele, é difícil, mas não reclamo.
depressão profunda há alguns anos atrás, e que Estou conseguindo descansar um pouco, e
a mãe sempre está em fase depressiva. minha mãe, minha avó e meu namorado estão
Freqüentava o CAPS (Centro de Apoio me ajudando muito nos cuidados com o bebê”.
Psicossocial) mas fazia muito tempo que não Na escala de Beck Juliana alcançou o escore de
estava indo mais. 5 pontos.
Relatou estar sentindo desânimo,
insônia/alteração do sono, tristeza, falta de Caso 3: Letícia
vontade de fazer coisas simples, como ver TV Ela e seu marido ficaram felizes com a
ou tomar banho, sentimento de culpa, pelo gravidez. Quanto à sua família, disse que seu
diagnóstico de Meningocele em seu bebê:“ Isso pai é um desleixado, não se envolve em nada e
que aconteceu com o meu bebê foi por castigo, sua mãe faleceu uma semana antes dela saber
pelo fato de eu ser assim, sempre triste e que estava grávida.
impulsiva porque tenho distúrbio bipolar. Ou até Ao ser questionada sobre a presença da
mesmo pelo fato de ter engravidado assim, essa depressão em alguma fase da vida, ou da vida
bagunça”. Relatou falta de concentração e de seus familiares, relatou que nunca
pensamentos pessimistas como suicídio. apresentou, porém sua irmã sim, e que esta se
Esperava que sua vida melhorasse muito com a encontra em tratamento. No entanto vem
vinda do bebê. “Espero que a minha vida sentindo desânimo, insônia/ alteração do sono e
melhore. Que cure a minha doença, essa alteração do apetite. “Mas sempre fui muito
tristeza que sinto”. desanimada”. Acha que sua vida depois do
Foi orientada quanto à necessidade de nascimento do bebê vai ficar bem cansativa. “Já
voltar a realizar o tratamento no CAPS. A tenho uma filha pequena, então vai triplicar o
mesma concordou que estava realmente trabalho. Mas tô feliz.”
necessitando de um atendimento especializado, No puerpério apresentava muito cansaço.
que não estava bem. Foi realizado contato com “Estou estressada com os dois filhos. Um acorda
a enfermeira da Instituição, no qual foi passado e o outro também está acordado”. Referiu estar
o caso, e a mesma ficou à espera da paciente. sendo muito chata com o marido e muito
Ela não apareceu. Um novo contato foi feito nervosa com os familiares que nem ligam muito
com Juliana dizendo que a enfermeira estava à para o nascimento do bebê, e que quando vão
sua espera, porém a mesma não compareceu. ver seu filho, ficam palpitando nos cuidados. Na
Novamente um outro contato foi feito e ela escala de Beck Letícia alcançou o escore de 2
referiu que não queria voltar para o CAPS, que pontos.
estava bem porque o namorado estava de
volta. Caso 4: Maria
No puerpério, Juliana foi encontrada Ao falar de sua gestação relatou: “Todos
totalmente diferente, esbelta, maquiada e os médicos falaram para mim que eu nunca iria
sorridente. Relatou que estava sentindo-se engravidar, não planejei nada, veio de
muito feliz com a presença do bebê e que, o pai surpresa.” Ficou feliz com a gravidez e o marido
da criança estava muito feliz também. “Parece “Um bobo total, surpreso, fazendo mil
um bobo, tira foto toda hora, compra tudo que perguntas para o médico. Hoje ele fica me
precisa, tanto para mim, quanto para o bebê. paparicando, o meu relacionamento melhorou
Comigo ele está mil porcento. Está me muito. Ele está muito mais feliz agora, porque
agradando e isso está me fazendo muito bem. A quando casamos, ele sabia que eu nunca
minha família está dando todo o apoio que poderia ter um bebê”.
preciso”. Relatou que sua mãe ficou muito
Com relação ao bebê, referiu: “Estou me preocupada com a sua gravidez. “A minha mãe
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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
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ficou preocupada comigo, devido aos outras pessoas, dificuldades para tomar
tratamentos serem muito fortes (acabei de decisões, dificuldades para dormir, cansaço,
fazer quimioterapia). Mas agora está mais falta de apetite e desinteresse pelo marido. Na
sossegada.” escala de Beck Maria alcançou o escore de 24
Quando questionada sobre a presença da pontos, caracterizando sintomatologia
depressão em algum momento de sua vida ou depressiva. Foi encaminhada para o CAPS.
de seus familiares, referiu que apresentou a
doença quando descobriu que estava com Unidade Básica de Saúde
Linfoma Não-Hodgkin. Fez tratamento Inicialmente apresenta-se uma
psicológico por dois anos. Seu tio materno caracterização da população da Unidade Básica
apresentou uma depressão tão intensa que o de Saúde (Quadro 2). A seguir, são descritos os
levou ao suicídio. Referiu apresentar falta de casos (enumerados de 5 a 8), relatando a
concentração. reação da participante e de alguns familiares
No puerpério, queixava-se muito de dor frente à notícia da gravidez, a existência de
na episiotomia (corte realizado no parto normal depressão em alguma fase de sua vida, bem
para facilitar o nascimento do bebê). como também sua atitude no puerpério e seu
Apresentava choro, irritação, desinteresse pelas escore na escala de Beck.
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“Penso em curtir, ser feliz. Espero realmente momento: “Meu marido está feliz, contente,
que ele tenha muita saúde.” mudou bastante comigo”. Relatou que a família
No puerpério, relatou sentir-se alegre também ficou feliz e que seu primeiro filho está
com a presença do bebê: “É só alegria agora”. mais calmo, ajudando nos cuidados com o bebê.
Sobre a reação do seu marido depois da Queixou-se de desânimo: “Acho que estou
chegada do bebê referiu: “Uma maravilha: para meio estressada de ficar o tempo todo dentro
ele parece que somos as duas pessoas mais desse apartamento, não saio de maneira
importantes do mundo”. Sobre o nenhuma, nem para tomar um sol. Acho que
relacionamento conjugal relatou: “Meu marido quando passar a dieta e meu filho já tiver um
está ótimo, conversa bastante comigo, pega o mês já posso sair, né”? Na escala de Beck Joana
bebê, e me faz carinho”. Também está muito alcançou o escore de 2 pontos.
feliz com sua família. ”A reação da minha
família foi ótima, tudo está sendo bom, muita Caso 7: Ana
paparicação, está todo mundo babando em meu Ao falar da gravidez referiu: “Não tomava
filho”. remédio, estava até namorando escondido. Fiz
Quanto aos cuidados com o bebê referiu pouca relação e já engravidei. Não sei como
ter sentido muitas dificuldades: ”Em duas noites isso foi acontecer. Na hora que fiquei sabendo
passadas ele chorou muito, troquei e me senti bem, mas escondi da minha mãe até o
amamentei, mas ele não parava de chorar. Aí 5º mês. Fiquei com medo de contar para ela e
pensei que não ia conseguir cuidar do bebê, para o meu pai. Mas quando descobriram ficou
porque nem fazer parar de chorar eu estava tudo bem. O meu pai é muito bravo; ele grita
conseguindo. Estar na barriga é uma coisa, muito. Então fiquei morrendo de medo de
depois que nasce é difícil, mas é uma contar. Mas agora está tudo bem”. Sobre a
experiência nova”. Estava apresentando reação do pai da criança, relatou: “Na hora ficou
insônia/alteração do sono. Na escala de Beck contente, mas agora ele sumiu, nem sei onde
Lucila alcançou o escore de 2 pontos. ele está. Nunca mais me procurou”.
Sobre a presença da depressão em
Caso 6: Joana alguma fase de sua vida ou, na de seus
Ao saber que estava grávida sentiu-se familiares, citou sua tia. Disse que após ela ter
muito feliz. Seu marido também ficou feliz, mudado de religião, ficou depressiva e faz
mas mudou de comportamento: “No começo ele terapia. Referiu que não sabia o que esperar da
era mais carinhoso, mas depois foi mudando, sua vida depois do nascimento do bebê.
ficou indiferente e se afastou de mim”. No puerpério relatou que estava se
Relatou estar apresentando desânimo e sentindo bem com a presença do bebê. “Feliz,
tristeza.: “Às vezes bate a tristeza porque eu contente”. O pai da criança não a procurou
não tenho ninguém para conversar”. Falta de depois do nascimento. Quanto à sua família,
vontade de fazer coisas simples, como ver TV estava tudo bem. ”Está bom, normal, a minha
ou tomar banho: “Às vezes não tenho vontade mãe gosta da minha filha. Eu gosto muito de
de fazer nada”. Referiu que teve depressão há cuidar do bebê. Cansa, mas na verdade nem
treze anos atrás: “Quando tive o meu filho não estou muito cansada. À tarde na hora em que
tinha ninguém comigo, não tinha pensão nem ela dorme, eu durmo também, e a minha mãe
dinheiro, morava com a minha irmã. Para mim está ajudando bastante”. Referiu estar sentindo
foi bem difícil porque criei o meu filho sozinha. alteração do apetite e falta de vontade de fazer
Quando fiquei mal, fui ao médico e ele me coisas simples, como ver TV ou tomar banho.
receitou calmante. Fui até encaminhada para o Na escala de Beck Ana alcançou o escore de 2
psiquiatra, mas não fui na consulta. Isso foi só pontos.
uma fase que passei por causa do desemprego”.
No puerpério, relatou que estava feliz e Caso 8: Laura
sentindo-se bem com a chegada do bebê. O pai Ficou feliz ao saber da gravidez, mas o
da criança também estava reagindo bem neste relacionamento com o marido mudou muito:
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Beretta MIR, Zaneti DJ, Fabbro MRC, Freitas MA, Ruggiero EMS, Dupas G. Tristeza/depressão na mulher: uma abordagem no
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“Fui fazer uma visita para minha mãe em apoio do marido/companheiro durante a
Ribeirão Preto. Quando estava lá, ele me ligou e gestação/puerpério representava um significado
falou que eu não precisava mais voltar para São muito grande. Uma série de estudos tem
Carlos, porque ele não queria mais ficar casado. demonstrado que a falta de apoio oferecida pelo
Ele não fez muita questão do filho que estou parceiro e demais pessoas com que a puérpera
esperando, nem sei porquê ele planejou esta mantém relacionamento, influenciam
gravidez comigo”. Quanto à reação de sua consideravelmente na etiologia da Depressão
família, referiu que seus familiares ficaram Pós Parto, além de outros fatores como uma
contentes. gestação não planejada, nascimento prematuro
Sobre a presença da depressão em ou morte do bebê e dificuldades em
alguma fase da vida, ou na de seus familiares, amamentar(16).
relatou: “Tive depressão quando meu marido Foi constatado que várias participantes
largou de mim. Fiquei desesperada e muito tinham familiares com depressão e que algumas
triste”. Quanto aos seus familiares nada referiu. já haviam tido em algum momento de sua vida.
Relatou estar sentindo desânimo, tristeza, falta Vale ressaltar que antecedentes familiares de
de vontade de fazer coisas simples, como ver depressão, antecedentes pessoais ou até
TV ou tomar banho, além do sentimento de mesmo um episódio de depressão são fatores
culpa. “Sinto-me culpada pelo meu marido ter de análise para o risco de depressão pós parto.
achado que eu estava forçando uma gravidez. Outros aspectos como: personalidade pré-
No começo, quando ele largou de mim tive idéia mórbida, qualidade de saúde materna,
de suicídio”. complicações gravídicas, parto complicado ou,
No puerpério, estava residindo em outro puerpério com algum comprometimento clínico
endereço, com outro irmão e a cunhada. são episódios que devem ser investigados no
Relatou que estava feliz com a presença do controle da prevenção do transtorno depressivo
bebê. “Estou contente, feliz e muito tranqüila”. puerperal(16).
Quanto ao pai da criança referiu: “Acabei Mírian, na gravidez estava feliz, mas no
deixando ele ver o bebê. Quando estava grávida puerpério apresentava-se cansada com
jurei que não deixaria, mas ele foi à insônia/alteração do sono; tinha perdido 8
maternidade no dia em que ela nasceu. Quando quilos através de um regime médico, devido à
viu a nossa filha até chorou, está parecendo um diabetes. Referiu que se sentia nervosa porque
bobo. O nosso relacionamento até mudou, o nenê chorava muito e não dormia. O marido
agora ele está mais delicado e suave comigo”. também estava nervoso e estressado. Pode-se
Gosta muito de cuidar de sua filha. Tem que inferir que o período puerperal, implica em um
levantar várias vezes à noite, mas está desgaste do casal e, como a mulher geralmente
tranqüila, pois a cunhada ajuda bastante. Na se sente responsável pelos cuidados da criança,
escala de Beck Laura alcançou o escore de 2 alimentação e atendimento de todas as suas
pontos. necessidades, acaba se desestruturando tanto
física como emocionalmente.
DISCUSSÃO A transição à maternidade/paternidade é
Através dos casos analisados, foi possível freqüentemente descrita como uma época de
detectar que, embora várias das gestações não desordem e desequilíbrio, suscitando nos pais
tivessem sido planejadas, apenas uma foi sentimentos de incapacidade, confusão frente
indesejada. A maioria das participantes ficou às novas demandas, levando a buscar apoio um
feliz ao saber que estava grávida, mas a maior no outro. As mães ocupadas com o cuidado ao
parte relatou sentir alguns sintomas depressivos filho nem sempre conseguem oferecer o apoio
como insônia/alteração do sono, o que pode ser necessário ao marido, o qual sente-se privado
atribuído ao fato da entrevista gestacional ter de suporte. O despreparo em lidar com as
sido realizada no terceiro trimestre, no qual o emoções e cuidados exigidos neste período,
desconforto físico pode colaborar para a conduz à inadequação no desempenho de papel,
apresentação desses sintomas. Para elas, o porém à medida que esta experiência é
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