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S.M.

SOTO

BLOOD
AND
Chaos Series #2 CHAOS
S.M. SOTO

Apresenta:

Blood and Chaos


by S.M. Soto

TRADUÇÃO: DEBBY

REVISÃO INICIAL: BRYNNE STONE

REVISÃO FINAL: MISS MARPLE

LEITURA FINAL E FORMATAÇÃO: EVA

Outubro/2019

BLOOD
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Chaos Series #2 CHAOS
S.M. SOTO

PENSAMOS QUE OS JOGOS HAVIAM ACABADO, MAS ELES


ESTAVAM APENAS COMEÇANDO...

Ela é a marionete.

Ele puxa as cordas.

Agora o número de mortos está aumentando, o que isso pode significar?

É tudo um jogo.

De sentimentos.

De dor.

A morte é apenas uma ilusão, ou isso é o que dizem.

Ela é apenas um peão, uma peça em seu tabuleiro demente. Mas só resta
uma pergunta para o acerto de contas...

SERÁ QUE PESSOAS MORTAS REALMENTE PODEM CONTINUAR


MORTAS?

AVISO: Este livro contém situações muito perturbadoras, conteúdo duvidoso,


linguagem forte e violência explícita. Pode conter gatilhos para vítimas de abuso.
* Cliffhanger (termina em suspense)*

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Bodies — Drowning Pool

Mob Ties—Drake

Dead Bodies Everywhere—KORN

Hit Em’ Up—2Pac

Shadow on the Sun—Audioslave

Lonely Day—System of a Down

Ahora Dice—Chris Jeday ft. J Balvin, Ozuna, Archángel

Like a Stone—Audioslave

Drip Too Hard—Lil Baby, Gunna

Skeletons—Heartist

Watchin Me—Mike Will Made-It, Rae Sremmurd, Kodak Black

Venom—Eminem

Hail Mary—2Pac

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Creed – o Fantasma

Desconforto agonizante.

Dor.

Dor incômoda.

Dor.

Dor…

“Lute, figlio”, meu pai resmunga em italiano. “Ignore o ardor


de sua carne e concentre-se na tarefa”, ele sussurra de algum lugar
atrás de mim. Eu não tenho forças para virar a cabeça e procurar
por ele, a dor é demais. É tudo em que posso me concentrar. Tudo
o que posso pensar. Como diabos ele espera que eu me levante e
empurre a faca para longe com a surra que seus homens me deram?

“Foi para o seu próprio bem”, diz ele.

Eu precisava aprender a colocar minha mente antes da dor.

Não está funcionando.

“Eu não posso.”

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Ao entrar em minha linha de visão, meu pai solta uma forte


rajada de ar e acena para um de seus homens que está esperando
no canto do porão, à espreita. Antes que eu perceba, Giovanni sai
das sombras, fica de pé diante de mim com a ferramenta que eu
mais odeio. É um instrumento simples, um garfo de ferro fundido
usado na lareira, mas quando é deixado para aquecer no fogo? E a
ponta do metal vira um tom ardente de laranja e vermelho? Não é
mais apenas uma simples ferramenta, é um dispositivo de tortura.
E é um dos muitos métodos que meu pai usa.

“Nas costas, Giovanni. Vá um pouco mais fundo desta vez,


quero que ele realmente sinta isso.”

Eu nem tenho tempo para lutar contra os avanços de Giovanni.


Antes que perceba, a dor incandescente tosta minha pele, cobrindo
o ar com cheiro de pele queimada e fedor metálico de sangue. Um
grito sofrido escapa do meu peito com o esfolamento da pele nas
minhas costas. A dor é incapacitante, deixando meu corpo em
estado de choque.

“Concentre-se, Diavolo e lute contra isso. Lute como se a sua


vida dependesse disso”, ele suspira, descendo em suas coxas para
olhar nos meus olhos. “Bata em mim, filho”, ele implora. “Tire essa
faca de mim e vença.”

Lute como se sua vida dependesse disso.

Me bata.

Vença.

Em um sufoco buscando ar, meus olhos se abrem. Franzo


meus lábios contra a dor que irradia em meu abdômen. A camisa
que estou usando se agarra à minha pele, absorvendo o sangue
da ferida e a transpiração que salpica minha pele. Meu coração
bate duas vezes mais rápido e a cabeça transborda em cólera e

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agonia. Suor escorre pelas minhas costas por causa do


desconforto.

Filho da puta de merda, levar um tiro sempre é uma dor no


rabo.

Não me dedico à minha dor com frequência. Eu odeio auto


piedade e odeio a fraqueza que vem com o culpar a si mesmo. Mas
desta vez? É diferente. A dor parece diferente. Não é apenas dor
física, mas dor emocional de assistir Sophia, a única mulher que
eu amei, ser levada. Foi como reviver a morte da minha mãe mais
uma vez. Eu ainda fiquei tão desamparado como estive todos
aqueles anos atrás, quando minha mãe foi assassinada diante dos
meus olhos, com um tiro a sangue frio.

Algumas memórias deixam uma marca permanente que


escurece para sempre o coração de um homem. A morte da minha
mãe foi a primeira de muitas para mim.

Sophia se tornou minha fraqueza. Minha única fraqueza.


Depois da morte da minha mãe, passei anos sem sentir nada. A
única vez que sentia qualquer coisa era durante a matança.
Quando a sede de sangue corria em minhas veias e eu estava
prestes a acabar com a vida de um homem. Foi assim que meu
pai me ensinou a viver. Era a única maneira de sobreviver em uma
vida como esta. Eu sabia disso tão bem quanto ele.

E agora, minha fraqueza foi identificada. Explorada


cruelmente.

Grávida do meu filho, do nosso filho — não consegui cumprir


a promessa que fiz a Sophia. Não consegui salvá-la. Não consegui
impedir. Não dessa vez.

Dor profunda e deturpada penetra no meu coração.

Eu a decepcionei.

Quebrei minha promessa.

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Meus dentes se juntam e outro nível de dor me enche. Uma


dor emocional. É uma agonia profunda que me rasga por dentro
quanto mais penso sobre o ‘e se.’ E se ela foi tocada por aquele
filho da puta? Violentada? Ferida? E nosso bebê, ainda estaria
vivo?

Seus pesadelos finalmente pararam. Quando ela dormia


profundamente ao meu lado, eu não tinha que me preocupar em
tirá-la das memórias. Tudo que precisava focar era no calor de seu
corpo, e em como suas curvas recém-encontradas se encaixavam
bem ao lado das minhas. Claro, eu ainda podia ver dor naqueles
belos olhos verdes, mas não era o mesmo tipo de dor que
encontrava nela antes. Era uma dor persistente, que levaria anos
para cicatrizar. Era algo que eu estava muito familiarizado.

Sophia pensava tão desesperadamente que estava maculada,


como um ser humano esmagado e machucado, incapaz de ser
inteira de novo, mas é aí que estava errada. Sophia é a definição
de pureza e inocência, presa em um mundo de violência.

Ela era minha rosa branca. Pura de coração e vibrante em


suas profundezas.

Eu quebrei a única promessa que importava, jurei que


ninguém jamais a machucaria novamente. E falhei,
miseravelmente. Sophia nunca mais confiaria em mim. E por que
diabos deveria?

O pesadelo envolve fria e selvagemente em volta do meu peito.

Pela primeira vez em muito tempo, sinto algo além de raiva,


medo. Nunca temi muito, mas agora que eu tenho alguém na
minha vida que significa mais para mim do que eu mesmo, alguém
que quero proteger, o medo é a única coisa que está circulando
em meu corpo agora.

Fecho meus olhos contra uma súbita onda de dor. Lembro as


palavras do meu pai, repetindo-se em minha cabeça como um
mantra.
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“Lute. Combata a dor. Lute como se a sua vida dependesse


disso, Diavolo. Você não sobreviverá se não lutar.”

Um grunhido ressoa na minha garganta enquanto me


concentro no meu treinamento. Ritmadamente respiro apesar da
dor e ouço atentamente o que está acontecendo ao meu redor. Meu
batimento cardíaco diminui e os ruídos ao meu redor se
intensificam, quanto mais eu me concentro. Há o farfalhar suave
de roupas ao meu lado e grunhidos dolorosos que só podem vir de
uma pessoa, Garrett.

Ignorando a transpiração persistente na minha testa, invoco


toda a minha força e flexiono meus músculos, verificando quão
apertados são as amarras que me prendem na cadeira. Eu mal
recuo contra a corda grossa que corta a minha pele, ardendo
quando rasga a camada superior da pele. Não há folga dentro das
restrições, vou precisar encontrar outro jeito de sair da cadeira.
Tenho que dar esse crédito ao Finlay, o filho da puta escolheu
cadeiras de metal em vez de madeira.

Ele pensou em tudo cuidadosamente. Tudo premeditado.

Eu já tinha minhas suspeitas sobre ele antes, mas só foram


confirmadas em nossa última missão. Nada correu como
planejado e tudo parecia apontar para Finlay. Quando ele
desapareceu durante as ordens sem uma palavra para nenhum
dos outros caras, eu não pude ignorar a bola de medo apertando
meu estômago. Algo estava errado. Eu senti.

Cancelei a missão, apesar das ordens do nosso contratante,


e pegamos o jato de volta para Crest Fall, só que quando chegamos
de volta, já era tarde demais. A estrutura do prédio estava em
chamas, espessas nuvens cinzentas de fumaça ondulante
pairavam pesadas no ar. Corpos dos homens que patrulhavam o
perímetro estavam espalhados pelo chão ao redor do prédio. Eu
ordenei que metade dos rapazes verificasse se havia sobreviventes
no primeiro andar e a outra metade procurasse por Mera e Sophia.

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No segundo em que entramos no prédio, todo o inferno se


soltou. Automáticas dispararam em rápida sucessão, misturando-
se com gritos horríveis e o som de um fogo violento. Eu voei pelo
prédio, Garrett logo atrás, em busca de Sophia e quando a
encontrei, meu coração reagiu estranhamente. O órgão parou de
bater no meu peito e gelo tomou conta de minhas veias enquanto
eu observava Finlay segurar uma arma contra seu crânio.

Nós estávamos perdidos. Totalmente superados em números


pelo planejamento estratégico de Finlay. Nunca me senti tão sem
esperança. Minhas garras no controle estavam se soltando a cada
segundo.

Depois que Finlay acertou o cano de sua arma em Sophia, ele


jogou seu corpo flácido por cima do ombro e se afastou. Seus
homens foram instruídos a amarrar nossas mãos atrás das costas
e nossas pernas juntas até chegarmos ao local. E aqui estamos.
Neste maldito buraco do inferno.

Aquele desgraçado vai sofrer uma morte lenta e dolorosa. Isso


é uma promessa.

Piscando para abrir meus olhos embaçados, faço um


reconhecimento do meu habitat atual em busca de respostas e
tento encontrar uma saída daqui. Eu me viro para Garrett, que
ainda está futilmente tentando soltar suas amarras,
desperdiçando energia. Lentamente, avalio o salão ao nosso redor.
Sem janelas. Uma porta de metal e nada que qualquer um de nós
possa usar para se libertar.

Porra.

O som da porta de metal se abrindo deixa meu sangue em


chamas. Um sorriso se forma no meu rosto quando Finlay entra
com aquele sorriso que eu tanto odeio. Sempre soube que ele era
um merda. Deveria ter confiado no meu instinto e investigado
mais fundo, mas eu fiquei tão envolvido com Sophia, que deixei
esse merda idiota escorregar pelos meus dedos.

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“Eu nunca tive uma visão melhor. Finalmente tenho os dois


idiotas exatamente onde os quero, perto de uma morte
deliciosamente dolorosa.”

Ele caminha em direção a Garrett, que está se mexendo


loucamente em suas amarras e espumando pela boca, gritando
profanidades. Eu sei o momento em que Finlay decide tomar uma
atitude porque seu sorriso muda de irritantemente fodido para
desonestamente fodido, em segundos.

Segurando a faca alojada na perna de Garrett, Finlay torce o


cabo e a lâmina gira, cavando mais fundo. Garrett solta um rugido
feroz, seu rosto ficando vermelho. Satisfeito, Finlay arranca a
lâmina e o sangue jorra da ferida aberta como a porra de uma
torneira.

“Feche sua maldita boca”, ele grita em resposta ao rugido de


dor de Garrett. Finlay encosta a faca na perna de Garrett,
exatamente no mesmo lugar.

“Agora”, ele expele, enquadrando os ombros. “Acho que vou


encerrar a noite. Ao contrário de você”, ele diz, fixando seu olhar
em mim, “tenho um voo para pegar. Vou mandar alguém de volta
para checar vocês dois ao nascer do sol, acho que vamos ter que
ver se você”, ele claramente olha para o meu abdômen, “morre com
essa horrível ferida de bala. E você”, ele olha para Garrett, “espero
que não tenha uma infecção nessa sua perna. Aquela faca estava
bastante enferrujada.” Ele sorri sadicamente e gira, caminhando
na direção da porta de metal.

Respiro fundo antes de obrigar as palavras a saírem pelos


meus lábios, de forma alta e clara, mantendo meu tom neutro: “eu
vou sentir prazer ao matar você.”

Minhas palavras o param e vejo seus ombros tensos de raiva.


Ele se vira para me encarar com um sorriso de escárnio em sua
cara feia. Com passos decididos, se aproxima de mim e uma dor
lancinante irradia da minha ferida quando Fin enfia o dedo pela

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carne. Sufoco em minha respiração e a visão começa a


desaparecer e escurecer por causa da dor.

“Eu gostaria de ver você tentar”, ele me desafia, os olhos


brilhando de raiva. “Agora, se você não se importa, vou foder sua
garota, ooops, quero dizer, minha garota.” Ele puxa a mão e sorri
para mim de forma sádica.

Mostro os dentes e luto contra as amarras, fervendo de raiva


ao pensar em suas mãos tocando qualquer lugar perto de Sophia.
Finlay joga a cabeça para trás e ri com vontade enquanto sai da
sala sem se importar com o mundo.

É quando começo a planejar.

Uma coisa de cada vez, primeiro precisamos dar o fora daqui,


depois recuperar minha família, e só então eu farei esse filho da
puta pagar. Ainda não consigo acreditar que Sophia está grávida.
Ela vai ter meu bebê. Nunca me senti mais inconstante, protetor
e grato de uma só vez.

Meu coração vibra com assassinato.

Eu quero vingança.

Quero sangue.

Quero que a cabeça de Finlay seja arrancada dos seus


ombros, exibida em cima de uma maldita lareira.

Só de pensar em vingança todas as emoções em mim ficam


entorpecidas, até mesmo a dor. Eu sinto uma coisa e uma coisa
só. Raiva, incandescente. Meu sangue ferve sob a pele, revolto
como um inferno iminente.

Isso é no que sou bom: matar e derramar sangue. A vingança


está brotando dos meus poros e até voltar a ter minha garota na
segurança dos meus braços? Vou partir em uma missão de
matança, tirando sangue. E planejo derramar muito sangue até

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recuperar Sophia. O monstro dentro de mim ruge, o assassino, o


diabo e desta vez eu lhe dou liberdade.

Desvio minha atenção para a situação de Garrett, minha


mente já formulando uma ideia.

“Cova.” Minha voz sai calma e suave, apesar do fato de que


estou sangrando no ferimento de bala.

“O que, filho da puta?” Ele bufa através de sua dor.

“Nós vamos sair daqui. Puxe a porra da faca com os dentes e


use-a para cortar suas amarras.”

Ele olha para a faca em sua perna e estremece. “E depois o


que?”

“Depois nós o matamos.”

Fecho os olhos, bloqueio a respiração pesada de Garrett e


concentro-me em preservar tanta energia quanto possível. Eu não
sei quanto sangue perdi, mas pela maneira como minha cabeça
está flutuando, eu diria que muito.

Minha cabeça repentinamente se anima e meus olhos se


abrem com o cheiro distinto de gasolina flutuando no porão frio e
cheio de blocos de concreto. Fechando meus olhos, tento não dar
atenção aos grunhidos de dor de Garrett enquanto ele tenta se
libertar para ouvir melhor. É quando ouço. O som de algo
estourando, como madeira crepitando em um fogo aberto.

“Cova”, digo calmamente com uma tensão na minha voz.

“Estou trabalhando o mais rápido que posso aqui”, ele


resmunga de volta.

“Trabalhe mais rápido, ele está encharcando o lugar em


gasolina e já está começando a queimar.”

“O quê?” Ele ruge, congelando seus movimentos. “O filho da


puta nunca nos deixaria viver.”

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“O que funciona a nosso favor. Então, cale a boca e nos tire


daqui para que eu possa arrancar a cabeça dele.”

Uma vez que Garrett está solto faz uma pausa na minha
frente com a faca ensanguentada na mão. Ele parece algo saído
de um pesadelo com todo aquele sangue carmesim cobrindo seus
braços e mãos. Eu vejo a indecisão estampada em todo o seu rosto
sobre se ele quer me desamarrar ou não. Sei que ele ainda está
zangado, eu também estaria. Mas se esse filho da puta não me
soltar, ele é a segunda pessoa na minha lista de pessoas a matar.
Irmão ou não, não hesitarei em fazer o trabalho.

“Cova.” Seu sobrenome é um aviso, e o som da minha voz o


tira de seus pensamentos. Correndo para trás de mim, ele solta
minhas amarras, me libertando.

“Eu deveria largar sua bunda aqui para apodrecer por dormir
com a minha irmã, seu idiota.”

“Eu teria feito o mesmo”, digo calmamente quando ele


termina de me libertar, cortando as cordas em volta das minhas
pernas.

Eu fico de pé de forma instável. Meu cérebro flutua enquanto


um suor doentio brota ao longo do meu corpo. Eu sacudo e aceno
com a cabeça para Garrett para que possamos encontrar uma
saída.

Quentes e grossas nuvens de fumaça preenchem


rapidamente o espaço ao nosso redor, nos desorientando. O ar
parece espesso, como se estivesse condensado com partículas e
gases da combustão. Minha garganta arde e meus pulmões
parecem estar pegando fogo.

“Lá”, digo, acenando para a porta de metal que é a única


maneira de sair deste porão fechado. Nós dois usamos toda nossa
força restante para abrir a porta e entrar no salão cheio de fuligem
preta e cinzentas nuvens de fumaça. Eu oscilo enquanto meus
pulmões se apertam, restringindo o ar.
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Tropeço de dor, aplicando pressão contra a minha ferida que


ainda está jorrando sangue e me empurro contra a parede.
Engolindo oxigênio, sofro com a pressão familiar de escuridão
escorrendo como cola pelo meu peito. Luto contra o afunilamento
da minha visão e as garras na minha garganta que ameaçam me
fazer desmaiar. Garrett geme ao meu lado, mancando com sua
perna, tentando aliviar a pressão de suas feridas abertas.

Fechando meus olhos contra o desconforto, inalo uma


respiração forte e uso a parede como um guia para tentar enxergar
através de toda a fumaça. Abaixando a cabeça, uso minha camisa
como escudo e inspiro o mínimo de ar possível, tentando evitar a
inalação de fumaça. Uma corrente de luz reluz no ar úmido a
poucos metros de distância, e só posso esperar que seja uma
saída, para nosso bem e para o de Sophia.

Conseguimos encontrar a fonte de luz e passar pela saída do


que parece ser um depósito. Chamas raivosas lambem e devoram
a estrutura, rugindo com uma vingança própria. Qualquer chance
de procurar por sinais de onde ele poderia tê-la levado é
impossível. O lugar está totalmente deserto e fica no meio do nada,
e agora não é nada além de uma estrutura queimada, que em
breve será um entulho de cinzas.

Garrett e eu trocamos um olhar, ambos cobertos de fuligem


preta da fumaça do fogo. Seu peito sobe e desce com raiva quando
seu olhar se volta para as chamas remanescentes.

“Esse víbora da porra. Quando eu colocar minhas mãos nele,


vou lhe dar seu próprio pau para comer”, ele chia, e eu aceno com
a cabeça em concordância. “Não há sinal de onde diabos ele pode
tê-la levado. Como pode não haver nenhuma trilha? Precisamos
encontrar locais para pouso de aviões particulares. Ele disse que
tinha um voo para pegar. Onde diabos está indo com ela?” Ele
dispara pergunta após pergunta, perto de perder sua merda.

“Nós vamos encontrá-la”, digo calmamente, meus olhos


percorrendo o espaço do armazém.
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“Como?”

“Porque eu sou a porra do Fantasma”, digo baixinho, com


irritação no meu tom. “E eu sempre encontro o meu alvo
pretendido.” Olho através de Garrett, nem mesmo o vendo, a única
coisa que foco é na vingança e em um banho de sangue.

Os olhos de Garrett se iluminam lentamente e sei que ele


entende o que quero dizer.

“Vamos para casa.”

“Casa?” Ele levanta uma sobrancelha, esperando por mais


explicações minhas.

Uma súbita onda de náusea me atinge e jogo meu braço para


fora, tentando me equilibrar. Isso não ajuda.

“Nós... nós iremos para Chicago, Cova”, resmungo através da


dor, tentando ignorar o quão violentamente estou balançando.

Pelo menos espero chegar lá a tempo.

Minha visão se distorce e parece que o chão sob meus pés


está tremendo instavelmente. Como um terremoto. Aquele mesmo
suor doentio recobre minha pele, e balanço minha cabeça,
tentando lutar contra o túnel negro que está ameaçando me
chupar para seu abismo.

“Creed?”

O rosto de Garrett é a última coisa que vejo antes de minhas


pernas cederem e caio no chão.

“Porra, porra, porra!” Ouço Garrett rosnar. Eu o sinto cair ao


meu lado, seu corpo pesado batendo contra a terra. “Não se atreva
a morrer comigo, idiota.” Eu sinto as mãos de Garrett
pressionando meu ferimento. Estou tão longe que a dor nem é
registrada pelo meu cérebro.

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“Eu preciso costurar você, Creed. Apenas aguente firme, cara


grande”, ele diz com um pouco mais de urgência em seu tom.

Luto contra a pesada escuridão que pesa sobre mim e tento


abrir meus olhos, mas não adianta. Em vez disso, lambo meus
lábios secos e rezo para que minhas cordas vocais funcionem.

“C-Clarence e-e... Monte.”

“Do que diabos você está falando?”

“West C-Chicago”, sussurro, perdendo a batalha contra a


escuridão.

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Sophia

Meu corpo se sacode e acordo com um sobressalto, gemendo


de dor. Há um zumbido monótono e um ritmo irregular debaixo
de mim, como se eu estivesse em um carro, andando por estradas
montanhosas. Minha pele parece úmida e suada e minha cabeça
está latejando dolorosamente.

Lentamente, tudo começa a entrar em foco enquanto meus


olhos nebulosos se ajustam à luz brilhante no espaço fechado. Um
teto de lona preta entra no meu campo de visão e meu corpo
retumba abaixo de mim quando os pneus do veículo em que estou
passam sobre uma superfície irregular. Com minhas costas
protegidas contra bancos de couro, me desloco nos cotovelos.
Verde brilhante passa pelas janelas abertas do jipe, ou o que quer
que seja. O ar quente e abafado sopra dentro do pequeno espaço
e deixa minha pele em chamas, suando, implorando por um clima
diferente.

Meu olhar se dirige para o banco do motorista e do passageiro


e meu estômago se aperta quando vejo Finlay. Ele tem uma pistola
apontada para uma mulher de pele escura enquanto ela dirige.
Relembro de tudo, o porão com Creed e meu irmão, Finlay
atirando em Creed, à queima roupa. A devastação. Tudo avança,
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atingindo-me dez vezes. Um soluço indefeso escapa do meu peito


enquanto penso em Creed. A dor rasga meu interior, envolvendo
meu coração em um frio selvagem.

Ao som dos meus soluços, Finlay se vira e estreita os olhos


ameaçadoramente. Ignorando o incessante pulsar no meu crânio,
eu me forço a levantar e tento argumentar com Finlay.

“Por favor, não faça isso, Finlay. Por favor, apenas me deixe
ir”, soluço, apertando minha mão sobre o abdômen. A mulher com
a pele cor de café com leite no banco do motorista olha de volta
para mim com cautela e lança um olhar indecifrável para Finlay.

“Você disse que ela era sua esposa”, diz a mulher a Finlay,
suas mãos apertando o volante com força, seus cachos saltando a
cada solavanco irregular ao longo da estrada que percorremos.
“Ela não é sua esposa.”

“Ajude-me”, eu gesticulo com a boca para ela pelo espelho


retrovisor. Seu olhar se distancia quase imediatamente e seus
lábios cheios se transformam em uma linha sombria.

De repente, a mulher pisa no freio e para completamente o


veículo. Meu corpo é jogado para frente e meu rosto bate contra o
encosto de seu assento de couro.

“Que porra você acha que está fazendo?” Finlay rosna. Eu me


esforço para ficar ereta.

Finlay cava a arma em sua têmpora e acrescenta pressão


suficiente para que a cabeça dela se incline para o lado.

“Eu disse dirija. De repente, não aja como se você não me


entendesse. Se quer continuar viva e quer seu dinheiro, continue
dirigindo!”

Seu peito sobe e desce rapidamente quando Finlay mantém


sua arma descansando contra sua têmpora. Meus olhos se movem
entre os dois.

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“Finlay, por favor, apenas nos deixe ir!” Eu grito, cortando a


tensão no ar.

“Você cala a boca!” Ele berra por cima do ombro, olhando


para mim.

“Não”, diz ela resolutamente. Nossos olhares se voltam para


ela. “Você é mau. Sinto isso em você”, a mulher diz, olhando para
Finlay. “Eu levo a mulher e vamos em silêncio.”

Ela abre o cinto de segurança e faz um movimento para abrir


a porta, mas Finlay não a deixa ir longe. Desbloqueando a trava
de segurança, ele puxa o gatilho, atirando na mulher à queima-
roupa, matando-a instantaneamente.

Um grito gutural se solta do meu peito enquanto assisto, pela


terceira vez, alguém ser morto por uma bala. O sangue cobre o
jipe todo enquanto sua figura cai sobre o volante. A lateral da
cabeça dela é uma bagunça de carmesim, seu cabelo encaracolado
escuro emaranhado com sangue e carne. Incapaz de conter a
repentina onda de histeria, um gemido escorre do meu peito. Bile
sobe na minha garganta. Os músculos do meu estômago se
contraem e eu me inclino para o lado do jipe, vomitando contra o
couro. Ondas de ânsia contorcem meu corpo.

“Deus, caralho, Sophia. Veja o que você me obrigou fazer!”


Finlay rosna, me lançando um olhar zangado. “A morte dela foi
responsabilidade sua.” Ele aponta um dedo na minha direção.
“Você deveria ter calado sua boca e ela teria vivido para ver outro
dia.”

O ar sibila dos meus pulmões com suas palavras e meu corpo


treme violentamente com a força dos meus soluços.

“Eu sinto muito”, sussurro entre minhas lágrimas, olhando


para a forma caída. “Eu sinto muito.”

Fecho os olhos e balanço a cabeça, tentando apagar as


imagens horripilantes que continuam passando pela minha mente

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em alta velocidade, repetidamente. Há uma picada súbita no meu


pescoço e isso deixa meus olhos abertos, arregalados e tomados
de medo. A mão de Finlay está na minha frente segurando uma
seringa. Minhas mãos voam para o pescoço, esfregando contra a
área tenra. Lentamente, começo a sentir meus membros ficarem
mais pesados e a compreensão me domina.

Minhas sobrancelhas franzem.

“O que você... o que você fez...” Minha língua parece grossa e


pesada enquanto gruda no céu da minha boca, não permitindo
mais que eu fale.

“É para o seu próprio bem”, diz Finlay quando desliza a


mulher de pele escura para fora do banco do motorista e
cruelmente toma seu lugar. Minhas mãos se agarram ao meu
ventre e meus olhos se enchem de lágrimas.

“Meu bebê…”

Finlay franze a testa para mim no espelho retrovisor. Sua


risada aguda parece que são unhas arranhando minhas costas.

“Isso é um problema para outra hora. Durma agora, Sophia.


Você vai precisar disso.”

Meu coração personifica os cascos de um cavalo durante um


grande prêmio, batendo o mais rápido que pode. Espero contra
todas as expectativas, que tanto eu quanto meu bebê consigamos
sobreviver. A escuridão me suga para aquele vazio que já conheço
muito bem.

Eu acordo com uma dor de cabeça e uma onda de náusea


que revira meu estômago. Lutando contra meu corpo, eu me

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movimento na superfície macia que estou deitada e meu rosto se


enruga. Minhas mãos correm ao longo de algo incrivelmente
suave.

O que…?

Abrindo meus olhos, subo meu corpo preguiçoso para


descansar nos cotovelos e percebo os lençóis macios e sedosos e
uma cama ainda mais macia. Rolando de costas, estico meus
braços sobre a cabeça e bocejo enquanto uma onda de letargia flui
pelo meu corpo.

Deus, por que estou tão cansada?

Uma leve picada no meu pescoço me lembra do que me trouxe


até aqui. A imagem da mulher com a pele morena e cabelo
encaracolado escuro me vem à mente, partindo meu coração,
lembrando-me o quão maligno Finlay é.

Encolhendo-me contra a cabeceira, puxo minhas pernas para


o peito e examino o quarto. Fluxos de luz penetram através das
cortinas das janelas. Tudo parece tão normal e caprichado, com
móveis de cores claras e um banheiro privativo. Onde quer que eu
esteja, é muito longe da última masmorra em que me encontrava.
Mas, no final das contas, não é diferente. Estou sendo mantida
aqui contra a minha vontade. Finlay foi até o inferno e voltou para
me sequestrar e se livrar de todos os obstáculos que viu na minha
vida, minha família, tudo para me ter para si mesmo. O
pensamento é doentio.

Meus olhos percorrem o quarto enquanto avalio a situação


mais profundamente. O que eu poderia fazer para sair daqui? Pelo
que posso dizer, não há cadeados ou correntes em qualquer lugar,
parece apenas um quarto enganadoramente simples.

Levantando-me da cama, desloco meu olhar ao redor do local


e me dirijo para a janela que tem as cortinas onduladas. Puxo uma
respiração assustada quando olho para a vista. Uma abundância
de árvores verdes exuberantes, areia dourada e água azul-celeste
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que me faz nunca querer desviar o olhar é o que me saúda. Isto é


muito longe de uma prisão, isto é a porra de um paraíso.

Em vontade própria, minha mente relembra uma conversa


que tive com Finlay um tempo atrás.

“Tudo bem, amor. Que tal isso? Uma vez que você for capaz de
vagar livre, longe daqui, para onde gostaria ir?

Eu puxo o casaco ao redor dos meus ombros com força


enquanto uma rajada de vento chicoteia meu cabelo em volta dos
meus ombros. E olho para a neve debaixo dos meus pés e sorrio.

“Eu gostaria de ir à praia. Em algum lugar com muita gente,


muito sol e apenas...”

“O quê?” Pergunta ele.

“Algum lugar com felicidade.”

Meu coração bate forte e horror toma conta do meu corpo.


Ainda me lembro do olhar em seus olhos depois que eu disse a ele
onde queria ir, eles brilhavam, quase maliciosamente. Na época
não sabia o motivo, mas agora, agora eu sei. Entendo muito bem.
Minha mente entra em um turbilhão com a compreensão.

Oh Deus.

Não posso ser prisioneira novamente. Não serei uma vítima


novamente, mesmo que minhas acomodações sejam muito
melhores agora. Desta vez, vou lutar com unhas e dentes pela
minha liberdade. Recuso-me a ser espancada ou vendida como
uma propriedade distorcida, especialmente com alguém tão
insano quanto Finlay. Não vai acontecer, porra.

Fechando minhas mãos em punhos, eu tento limpar o


espesso nevoeiro na minha cabeça, remanescente de qualquer
droga que Finlay tenha injetado no meu sistema, pensar em uma
maneira de sair desta bagunça e dar o fora desta ilha.
Consequências não importam mais. A única coisa que importa é

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escapar e encontrar Creed e meu irmão antes que toda a


esperança se perca.

O nevoeiro no meu cérebro não me permite ir muito longe.


Minha cabeça repentinamente gira com náusea e meu estômago
se agita dolorosamente. Segurando uma mão contra meu ventre e
a outra na cabeça, corro para o banheiro e esvazio o conteúdo do
meu estômago. A bile ácida passa pelos meus lábios e entra na
tigela de porcelana, lembrando-me que já faz um tempo desde a
última vez que comi.

Limpando o suor da testa, fico de pé e empurro minhas mãos


sob a torneira, desfrutando a água fria que corre sobre minhas
palmas suadas. Estudo meu reflexo no espelho e estremeço. Há
um hematoma na minha testa, colorido de roxo e azul, da arma
de Finlay. Levemente, pressiono meus dedos contra o calombo e
inspiro de forma aguda com a dor tenra.

Idiota.

Minhas mãos imediatamente encontram o ventre, e eu


inspiro profundamente, rezando para que este pedacinho de mim
e de Creed permaneça seguro.

Colocando meus ombros para trás, saio do banheiro e vou


para o quarto. Quando levanto minha cabeça, eu congelo no lugar.
Meu coração bate com força no meu peito e minha respiração fica
presa na garganta.

“Bom dia, amor.” Finlay se inclina contra a moldura da porta


do quarto com um sorriso no rosto enquanto corre os olhos
desconfiados pelo meu corpo. Engulo de volta outra rodada de
ânsia que está subindo, e procuro ao redor do quarto por uma
fuga.

Não há nada.

Ele está na frente da minha única chance de uma fuga


segura. O peso de tudo o que aconteceu me atinge com força total,

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causando uma dor incandescente no meu peito. Lágrimas brotam


em meus olhos enquanto forço meu olhar de volta para um Finlay
presunçoso que está me encarando.

“Ah, lá vem as lágrimas pelas quais eu estive esperando. Vá


em frente, continue fazendo-as brotar, eu gosto de ver sua dor.”

Um soluço quebrado ecoa pelo ar, arrancado do meu peito.


Com a força de sacudir meu corpo enquanto penso em toda a dor
que esse homem causou. Eu me afasto de Finlay, me empurrando
contra a parede do lado oposto do quarto, esperando que o gesso
branco me engula de alguma forma.

Inclinando a cabeça para o lado, ele me observa com um


sorriso no rosto, como se eu fosse um animal intrigante no
zoológico. Como se ele fosse um espectador. Apertando meus
punhos, estreito os olhos para ele enquanto a indignação inunda
meu sistema.

“Você atirou nele.”

Seu sorriso se alarga. “Isso não foi tudo que eu fiz, amor.”

Meu coração vacila dolorosamente no meu peito. O que você


fez, seu bastardo?

“Onde está meu irmão?”

Finlay solta um suspiro fingindo o remorso que certamente


não sente. “Tivemos um pequeno acidente. Você sabe, o armazém
pegou fogo e seu irmão e seu namorado queimaram junto.”

Eu me sufoco com um suspiro.

Meu coração se parte dentro do meu peito e minhas pernas


cedem enquanto grito de dor. É incapacitante. Eu sinto que não
sou capaz de respirar, meus pulmões estão muito apertados.
Descansando a palma da mão no meu externo, tento empurrar a
dor para o fundo, mas isso me consome, corpo e alma.

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“Seu monstro! Você disse que ele viveria”, grito, enquanto


lágrimas escorrem pelo meu rosto. O zumbido fraco nos meus
ouvidos fica mais alto, deixando-me desorientada.

“Eu disse, não é?” Ele ri para si mesmo. “Olhe dessa maneira,
doce Sophia, você não escolheu nenhum deles, então agora os dois
estão mortos e isso está em suas mãos. Três vidas em vinte e
quatro horas, você está bem enrolada, Sophia”, ele murmura,
assobiando entre os dentes.

Batendo minha cabeça contra a parede, passo minhas mãos


pelo meu cabelo e puxo as raízes até que tudo que sinto é dor.
Alma esmagada, dor que consome.

“Você nunca deixaria qualquer um deles viver, não é?” Eu


sussurro entrecortadamente, olhando para o próprio diabo
através das minhas lágrimas. Creed sempre teve tanta certeza de
que era puro mal, mas ele não estava nem perto disso. Esse
homem diante de mim é o mal personificado.

Finlay atravessa o quarto, cai em suas coxas e se inclina para


frente em meu espaço pessoal. Ele aperta a mão sobre o meu
joelho como se fosse uma morsa, pressionando até que eu
estremeço.

“Não se engane, Sophia. Ninguém virá salvá-la desta vez. Eu


me assegurei disso. Você. É. Minha.”

Tirando minha perna de suas mãos, levanto a mão para


acertá-lo, mas ele a pega no ar com uma expressão letal no rosto.
“Vou deixar passar dessa vez. Da próxima, não serei tão
indulgente.”

Com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, eu olho para Finlay


e sacudo minha cabeça em estado de choque.

“Quem é você?” Eu sussurro, minha voz tingida de horror. “O


que aconteceu com você para transformá-lo em um... monstro?

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Eu-eu pensei que te conhecia, Finlay. Eu pensei que você era meu
amigo.”

Ele solta uma risada aguda que parece lançar pregos nas
minhas costas. “Seu amigo? Jesus Cristo, você realmente
acreditava nisso, não é? Eu nunca pedi para ser seu amigo,
Sophia”, ele ri com o rosto crispado de raiva. “Você quer saber o
que aconteceu comigo?” Ele sussurra duramente, inclinando-se
muito perto de mim. Eu o empurro de volta e meu ritmo cardíaco
aumenta violentamente de medo. A raiva no rosto de Finlay se
suaviza e ele lentamente levanta a mão em direção ao meu rosto.
Eu recuo para longe de seu toque, mas isso não o detém, ele pega
uma mecha do meu cabelo e esfrega entre seus dedos.

“Você me lembra muito dela.”

Meu estômago se retorce.

“Q-Quem?”

“Minha irmã. Vocês são tão inocentes, ingênuas, lindas...”,


ele diz de forma arrastada com saudade em sua voz.

Todo o ar é drenado dos meus pulmões.

“Fui mandado embora por muito tempo. Tudo por causa dela.
E você sabe o que eu fiz enquanto fiquei preso naquela sala com
nada além de quatro malditas paredes estéreis? Tracei planos. E
eu tramei.”

Minhas sobrancelhas puxam para baixo e balanço minha


cabeça em confusão.

De que diabos ele está falando?

“Quando me libertei, havia apenas uma coisa que eu queria.


A única coisa que eu nunca tive. Poder. Então, construí meu
império a partir do zero. Comecei pequeno, aceitando empregos
para diferentes gangues, contrabandeando drogas para lá e para
cá. Até que finalmente consegui minha grande chance.” Ele sorri

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com a lembrança. “Eu estava entregando um engradado cheia de


cocaína, nas docas. O idiota estúpido enviado para recuperar a
caixa estava sozinho, pelo que eu podia imaginar – eles confiavam
em mim, esse foi o erro que cometeram. Todos pensavam que eu
era leal e que queria ser como eles, mas é aí que estavam
enganados. Nunca quis ser como eles. Eu queria ser melhor.
Então, fiz a minha jogada. Eu atirei no cara e fui embora levando
a mercadoria. Era fácil encontrar idiotas nas ruas que estavam
atrás de fazer um bela grana. Eu vendi e comprei até que todos
conheciam meu nome, até que finalmente consegui o poder. Mas
então...” Ele faz uma pausa, inclinando a cabeça para o lado
enquanto olha para mim. “Então eu te encontrei.”

Calafrios se espalham pelo meu corpo e arrepios recobrem


minha pele.

“O time de seu pai havia acabado de desmantelar uma


operação inteira que eu estava administrando no sul da Califórnia.
O bastardo me custou quinhentos mil dólares.” Ele assobia entre
os dentes, balançando a cabeça. “Eu não gostei nem um pouco
dele ou de qualquer um de seus homens que interferiram no meu
negócio. Meu dinheiro. Então, fui atrás de todos os membros de
sua equipe e acabei com eles, um por um. Fiquei guardando seu
pai por último.”

Meu peito balança com um soluço e toda vez que lambo meus
lábios secos e rachados, eles têm o gosto do sal das minhas
lágrimas. Cerro minhas mãos em minhas coxas, apertando e
abrindo-as enquanto tento dominar minha raiva.

“Você é um monstro”, vejo as lágrimas escorrendo pelo canto


dos meus olhos.

“Oh, doce Sophia. Ainda não terminei minha história”, Finlay


zomba com um sorriso sarcástico no rosto. “A primeira noite em
que coloquei os olhos em você foi em seu décimo segundo
aniversário. Você era tão jovem, tão inocente e bonita. Toda vez
que olhava para você, tudo que eu via era minha irmã. Ela estava
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em seu sorriso, nos olhos esperançosos em seu rosto. Ela estava


até mesmo em sua risada. E como eu não podia mais ter Cycil na
minha vida, decidi que queria você. Em vez de matar seu pai como
planejei originalmente, eu os segui. Vocês saíram para jantar e
depois, seu pai levou você para a padaria para comprar um bolo.
O sorriso que iluminou seu rosto foi como um soco no peito,
naquele momento eu percebi que você era minha Cycil, e eu faria
qualquer coisa para tê-la, então eu fiz. Livrar-me de seus pais foi
fácil, apenas afrouxei alguns parafusos e isso despedaçou partes
dos motores. O pobre piloto nem soube o que estava acontecendo
quando o avião caiu”, ele ri.

Meu coração se quebra em pedacinhos quando penso no


medo que eles devem ter sentido quando perceberam que o avião
estava caindo. O medo de não viver, do que aconteceria comigo e
Garrett. Tudo faz meu peito se abrir de tanta dor, eu respiro fundo
pelo nariz, tentando expandir meus pulmões e fazer o ar passar,
mas tudo parece tão apertado.

“Eu esperei o meu tempo. Esperei e observei enquanto você


crescia e se transformava de uma garota para uma mulher. E pela
primeira vez em muito tempo, quis algo diferente de poder. Eu
queria você, te possuir. Mente, corpo e alma.”

Prendo meu lábio inferior entre os dentes e mordo para conter


os soluços que ameaçam escapar.

“Quando não pude mais esperar, soube que era a hora certa.
Eu sabia que o momento para nós estava finalmente se
concretizando. Fiz algumas ligações, marquei algumas reuniões
com Abdul para ajudar a prepará-la. Eu queria que você comesse
na palma da minha mão, Sophia. Ele deveria sequestrar você e
então os homens dele deveriam acabar com você. Quando eu
finalmente te encontrasse na mansão, seria seu salvador, e você
olharia para mim do jeito que olhou para ele”, ele rosna, referindo-
se a Creed. Fecho meus olhos e tento bloquear suas palavras.

Não, não, não!


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“Pare com isso”, eu sussurro.

“Mas você se apaixonou por ele, você deixou que ele tivesse o
que deveria ser meu!” Ele rosna, seu rosto indo de sereno para
raivoso em segundos. Cuspe voa de sua boca, espalhando-se pelo
meu rosto. “Você me obrigou a matá-los, Sophia. Estão todos
mortos por sua causa. Deveria ter sido eu! Você deveria ter me
escolhido!”

O soluço que eu estava tentando desesperadamente segurar


dentro de mim parte meu corpo. Uma onda de náusea me atinge
ao mesmo tempo em que solto outro soluço. O efeito que isso tem
no meu corpo me faz sentir como se tudo estivesse acabando e eu
não tivesse qualquer controle. Minha cabeça gira e meu estômago
se revolta. Meu peito aperta enquanto os soluços brotam
livremente dos meus lábios.

“Eu odeio v-você”, eu gaguejo.

Finlay estreita os olhos por um instante antes que um sorriso


se espalhe por seu rosto. “Com o tempo, isso vai mudar, querida,
garanto-lhe. Agora, limpe-se, você tem um médico para ver.” Suas
palavras interrompem meus soluços e tudo fica repentinamente
silencioso.

“Um médico?”

Ele sorri maniacamente e minhas mãos imediatamente


cobrem meu ventre.

“Você não acha que eu vou deixar você carregar o bebê de


outro homem, não é?” Ele ri com alegria.

Freneticamente sacudo minha cabeça para frente e para trás,


a preocupação pelo meu filho não nascido deixa meu corpo
tremendo de medo. “Você não pode. Eu não vou permitir.”

Em poucos segundos a mão dele está na base da minha


garganta em um aperto implacável, e meu rosto é puxado tão perto
do dele, que posso sentir seu hálito quente no meu rosto. “Você
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não tem escolha. Ou eu tiro essa maldita coisa de você, ou você


deixa um profissional fazer isso. De qualquer forma, isso”, ele diz
enfiando dolorosamente um dedo em meu abdômen, “tem que
sumir.”

Com essas palavras duras, ele grosseiramente se vira,


jogando um prato com um pedaço de torrada no chão.

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Creed – o Fantasma

Eu acordo com o baixo murmúrio de vozes familiares. Quem


diabos está falando e por que parece que meu corpo está sendo
esmagado com tijolos?

Não posso identificar de onde as vozes estão vindo, mas sei


que estão próximas. Reunindo minhas forças, tento abrir os olhos
e só consigo enxergar o quarto. Três formas claras e distintas
estão pairando sobre mim, indo e voltando umas com as outras.

“Por que ele ainda não está acordado? Eu já disse, precisamos


encontrar minha irmã!”

“E eu já disse, estou fazendo tudo que posso, porra. Ele


perdeu muito sangue e o trabalho de sutura que você fez nele foi
muito mal feito, na melhor das hipóteses. Seu corpo ainda está
lutando contra a infecção.”

“Ele vai ficar bem”, argumenta Garrett. “As pessoas têm


infecções o tempo todo!”

“Não devido a ferimentos de bala, seu idiota. Você não deveria


tê-lo costurado com ferramentas não esterilizadas! É melhor
esperar que o bastardo acorde sozinho. Ele saberá o que fazer
então.”
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“Eu não vou fazer isso, sua estúpida. Se eu esperar tanto


tempo, minha irmã e seu bebê podem não estar mais vivos”,
Garrett rosna.

Há silêncio. Então o som de alguém soltando um suspiro


profundo.

“O bebê é dele?”

“Sim, seu filho da puta estúpido, eu venho tentando explicar


isso para você.”

Uma vez que o assunto da conversa deles é compreendido por


mim, meu coração dispara para a vida e bate violentamente. Uma
explosão de adrenalina atravessa meu corpo, e eu pressiono as
palmas das mãos debaixo de mim na cama e me empurro,
estremecendo com a dor no meu abdômen.

“Foda-se!” Eu assobio.

Todos os olhares se voltam para o meu, e eu estou surpreso


que Garrett tenha sido capaz de entender o meu pedido de ligar
para Monte e Clarence.

“Patrão? Você está bem? Qual é o seu nível de dor?”

Dou um olhar mortal para Monte. “Cala a boca e me tire


dessa cama.”

“Creed...” Clarence começa a dizer, entrando na confusão. Eu


nivelo meu olhar ao dele, dizendo que deve calar a boca se sabe o
que é bom para ele.

“Quanto tempo eu estive apagado?” Eu pergunto em uma voz


estranhamente calma. Faço as contas em minha cabeça,
calculando quanto tempo levaria para ir do Missouri a Chicago.
Seis horas. Isso não está nem mesmo contando o tempo que
Garrett levou para encontrar os dois.

Os três compartilham um olhar, mas permanecem em


silêncio até que Garrett diga. “Já faz 14 horas.”
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“Porra!” Meu rosnado ecoa ao nosso redor nesta pequena


sala. Parece que estamos em uma fodida casa construída por
duendes de jardim.

Respirando fundo, balanço minhas pernas sobre a cama


médica hospitalar e reúno todas as minhas forças para ficar em
pé. “Eu tenho uma reunião que precisava acontecer ontem.
Clarence, consiga-me um terno. Monte, me arranje um maldito
carro. E Garrett”, eu digo, fixando meu olhar nele. “Prepare-se.
Estou atrasado para uma reunião com o meu pai.”

Estar de volta nesta cidade frágil e cheia de vento, repleta de


crimes, traz de volta memórias, a maioria nem sempre é boa.

Abro o porta-malas e pego minha Glock 18 totalmente


automática fazendo uma checagem de costume, torcendo o
silenciador na ponta. Alcançando o cós da minha calça, eu puxo
uma 9 mm, recarregando a pistola elegante. Sempre tenho uma
reserva pronta, coloco-a de volta no cós da minha calça, puxando
meu paletó sobre ela.

Apenas algumas horas antes, meu pai me convocou ao seu


escritório. Apoiando-se em sua cadeira de espaldar, ele mencionou
que tinha um novo trabalho para mim, para o Fantasma. Escutei
pacientemente enquanto a sede de sangue enchia minhas veias,
apenas esperando que meu alvo tivesse um nome.

Tudo que sempre precisei foi de um nome. Eu não precisava


ver fotos de seus rostos. Isso era muito fácil.

A caça é minha razão de viver. Perseguir essas pessoas como


se fossem minhas presas, é no que eu sou bom. Eu sou imprevisível.
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Ultimamente, há uma divergência com outra organização aqui


em Chicago. Rory Callaghan é o líder da máfia irlandesa. Ele
também é um filho da puta teimoso e ganancioso, que não ouve ou
segue a direção muito bem, de acordo com meu pai.

Todos aqui na cidade dos ventos sabem que os Sabellas


administram o mundo subterrâneo e as ruas de Chicago. Nós somos
impiedosos, além de lucrativos nos negócios, e meu pai não
aceitaria gentilmente que Rory o desobedecesse.

Nem eu.

Rory anda usando seus homens para transportar drogas pelo


nosso território. É óbvio que ele tem algum maldito desejo de morte.
Meu trabalho seria simples. Pegar Rory e o resto de sua turma na
próxima remessa, hoje à noite.

É quase fácil demais. A matança. Acabar com um clã inteiro


de irlandeses em dez minutos. Seria um novo recorde para mim.

Rastejando através da cerca, coloco uma bala na cabeça de


cada um dos guardas, observando-os cair no chão como cavalos
mortos. Com o terreno livre de qualquer ameaça, coloco minha
pistola no coldre e aperto a Glock totalmente automática. Valsando
através das portas do armazém, eu não espero que eles me notem.
Pulverizo a sala, colocando buracos em meus alvos a cada segundo.
Através dos corpos caindo, vejo Rory tentando escapar. Com uma
mão ainda no gatilho da Glock, puxo minha pistola e miro nas
pernas dele. Dois tiros acertam cada um de seus joelhos, forçando-
o no chão com um grito estridente que é como música para meus
ouvidos.

O silêncio desce sobre o armazém. Os únicos sons são os gritos


e cartuchos de balas de Rory ainda se espalhando pelo chão.
Lentamente, percorro a distância entre mim e Rory até chegar bem
na frente dele.

“O que você quer, filho da puta?” Ele chia de dor.

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“Eu tenho uma mensagem para você.”

“Foda-se”, ele sussurra.

“Matteo gostaria que você soubesse que ele fez seu último
movimento”, eu digo, caindo para as minhas coxas na frente dele.
“Xeque-mate.”

Puxo minha pistola rapidamente, e antes mesmo da


compreensão ser registrada nos olhos de Rory, coloco uma bala no
crânio dele.

“O terno é realmente necessário?” Garrett pergunta,


arrancando-me das memórias.

Ignoro sua linha de questionamento e passo através das


portas do clube com ele a poucos metros atrás de mim. Meu pai é
dono de muitos negócios, alguns lucrativos, enquanto outros são
mais sórdidos do que a maioria, mas esse clube, Valentina, é seu
bem mais valioso, meu bem mais valioso. Recebeu esse nome após
a morte da minha mãe, em sua homenagem. Foi feito com bom
gosto e tudo aqui nesse negócio é legítimo. Não houve negociações
obscuras aqui, é apenas um lugar para se soltar e se divertir, como
minha mãe costumava fazer.

Pisando o pé no clube mal iluminado com a atmosfera


brilhante, não posso deixar de pensar em minha mãe. Passando a
mão pelo paletó do meu terno, ignoro o paradoxo no meu peito e
mantenho meus passos. Eu preciso permanecer focado e alerta.

Aparência é importante neste mundo. Isso é algo que Garrett


teria que aprender da maneira mais difícil. Ser um italiano, criado
e nascido em uma família da Cosa Nostra vem com seu próprio
conjunto de regras fodidas. Regras que eu permiti que
comandassem minha vida por anos até que finalmente dei o fora.

É realmente simples.

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Família. Honra. Deus.

La famiglia. Onore. Dio.

As três regras principais que significam tudo para meu pai e


seus soldados. A primeira? La famiglia, nossa família, significa
tudo para homens como nós. Não importa o que você estiver
fazendo, a família é sua prioridade e não estou falando da sua
verdadeira família, mas da sua família criminosa.

Então havia a honra. Se você não tem honra neste mundo do


crime? Você não dura uma semana sem ser assassinado junto
com sua família inteira. Cosa Nostra foi construída em honra. Meu
pai se orgulha de ser honrado e de ter criado um honorável
subchefe. E Deus? Bem, nós não poderíamos sobreviver nesta vida
sem a Santíssima Trindade e a nossa religião católica. A confissão
é obrigatória e o arrependimento de nossos pecados é nossa única
graça salvadora nessa linha de trabalho. Quando você tira tantas
vidas quanto nós, pode apenas esperar que confessar seus
pecados ao homem no andar de cima possa absolvê-lo. Eu não
vou à igreja em quatro anos. No mesmo ano saí de Chicago e da
famiglia e nunca mais olhei para trás.

Sei que voltar aqui é arriscado, especialmente para mim. Fui


considerado um traidor. Eu quebrei todas as três regras. Família
era tudo e eu virei as costas para a minha.

O orgulho e a ausência de medo são esperados neste mundo,


e eu tinha os dois na palma das mãos. Mas isso não significa que
eu sou idiota. Não espero que ao entrar aqui tudo seja
magicamente perdoado. Poderá ser uma das duas opções: um,
meu pai me obrigará a cumprir inúmeras tarefas até que eu
reconquiste seu respeito, ou dois, ele me matará a sangue frio, seu
próprio filho, como lição para todos os homens à sua volta. Não
tenho certeza se devo esperar a primeira ou a segunda opção.

Essa organização é implacável para os seus, mas ainda mais


para os de fora, embora todos já soubessem disso, inclusive eu.

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Agora eu sou o inimigo, um estranho, caminhando para o inferno


que foi destinado e construído para mim.

Puxando uma respiração afiada, faço o meu melhor para


ignorar a dor no meu abdômen. Com pouco tempo, e sem qualquer
equipamento convencional, Garrett fez um trabalho meio porco ao
me costurar. Estou costurando minhas feridas desde que me
lembro, algo que meu pai me ensinou a fazer, para o caso de
alguma vez haver uma situação de vida ou morte que exigisse
atenção imediata. Ao longo dos anos, me tornei muito bom em
avaliar os danos das minhas feridas. Fiz um patchwork em todo o
meu corpo, um mapa de cicatrizes, consistindo de centenas de
pontos, cada conjunto mais limpo que o anterior.

Os pontos que seguram meu ferimento mais recente deveriam


ter sido muito melhor manuseados, mas perdi tanto sangue que
Garrett não se importou com a performance ou com a criação da
sutura perfeita, e eu estava longe demais para fazer isso sozinho.
Ele só se preocupou em tirar a porra da bala e parar o
sangramento.

O primeiro ponto sempre era o pior, e fico feliz que desta vez
fiquei inconsciente enquanto isso aconteceu. Normalmente,
quando eu tinha que me costurar, tomava alguns goles de uísque
e passava a agulha esterilizada através de um lado do corte para
o outro, lutando contra a reação do meu próprio corpo à dor
pungente. Normalmente, náusea tomaria conta do meu sistema,
mas eu lutaria contra. Inalando respirações curtas, trabalhando
através do desconforto até que a carne tivesse se fundido o
suficiente para curar.

Eu sei que, com um trabalho de sutura mal feito, qualquer


atividade física extenuante está fora de questão. Só espero que
não tenha que lutar até a morte no momento em que meu pai
puser seus olhos em mim. Até respirar e andar está sendo uma
batalha. A cada passo, sinto os pontos se esticando e repuxando,
fazendo-me curvar um pouco e estremecer para acomodar a dor.

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S.M. SOTO

O silêncio desce sobre o clube no momento em que Garrett e


eu entramos pelas portas. Cada par de olhos se vira em nossa
direção e em nossa entrada, suspiros ecoam entre os fregueses
quando reconhecimento brilha em seus olhos. Os sussurros
começam quase imediatamente, falando da minha traição e da
minha desonra.

É compreensível em nosso mundo. O filho do capo di tutti


capi1, o capo bastone2, deixar o sindicato era algo inédito, a
derradeira traição. Eu sou um traidor por deixar minha família
para trás sem nenhuma explicação, abandonando todos para viver
a vida de um mercenário.

“Bem, se não é o filho pródigo.” Uma voz profunda ressoa do


bar. É uma voz que reconheceria em qualquer lugar. O consigliere3
do meu pai, Giovanni. Sua voz está entranhada em minha mente,
na minha memória, por causa de todas as lições de tortura da
minha infância. Nunca me esquecerei dele. A sensação dor do
garfo quente cavando na minha pele, queimando minha carne,
subindo e descendo pelas minhas costas, onde agora estão
minhas tatuagens, escondendo as cicatrizes da minha infância.

Ignorando a observação, examino com meus olhos ao redor


da extensão do lugar até que eles recaem em uma figura escura.
Eu me volto para o homem escondido nas sombras do clube. Sei
que ele está lá. Posso senti-lo, até mesmo sentir seus olhos em
mim. Sou um especialista em meu pai e em sua energia. Posso
não ser capaz de vê-lo, mas sei sem sombra de dúvida, que estou
olhando diretamente para ele.

“Diavolo.”

Finalmente saindo das sombras, Matteo se mostra. Ele sorri,


de boca fechada e frio. Parece o mesmo, se não mais como um
chefe do que o habitual. Vestido em um imaculado terno preto
1
Capo Di Tutti Capi- O chefe de todos os chefes da máfia siciliana e da Cosa Nostra Americana.
2
Capo Bastone - Parente de sangue da família, toma decisões importantes e responde somente ao Capo di
Tutti Capi
3
Consigliere- Conselheiro-Posição importante para aconselhar e representar o chefe da máfia.
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com cabelo preto indisciplinado, meu pai não parece diferente do


que no dia em que fui embora. Sua posição como capo o
envelheceu bem.

“Senhor”, eu respondo com um leve aceno de cabeça.

“Eu tenho uma bala com o seu nome, stronzo4.”

Sinto Garrett endurecer ao meu lado, o que atrai a atenção


do meu pai. Seus olhos caem em Garrett e seu nariz se franze em
desgosto, sem dúvida sentindo que Garrett está muito longe de
ser um soldado italiano.

“E você trouxe um amigo? Eu acho que alguém vai ter que


ensacar, não um, mas dois corpos hoje à noite.” Matteo me olha
fixamente, esperando que eu interrompa o olhar, mas não o faço.
Eu encaro seus olhos de frente, inabalável.

“Lascia cadere le tue pistoles5”, meu pai diz para seus


soldados que cercam o clube, com armas apontadas para nós.
Lentamente, eles baixam suas armas, esperando pela próxima
ordem. Matteo acaba com a distância entre nós até ficar bem
diante de mim. Ele não tem mais a capacidade de olhar dentro dos
meus olhos, já que sou bem mais alto que os seus um metro e
oitenta.

“Mas que decepção, coglione6.”

Dou um aceno sutil concordando, não ousando desrespeitar


o capo na frente de todos os seus homens. Inclinando a cabeça
para o lado, ele me observa por um instante antes de me dar um
tapinha no ombro.

“Venha. Vocês dois. Vamos conversar.”

Olhando de relance para Garrett, aceno com a cabeça, dando-


lhe o sinal verde para seguir meu pai, nos alinhamos atrás de

4
Stonzo- Italiano- Imbecil
5
Lascia cadere le tue pistoles- Solte suas pistolas
6
Coglione- Cretino
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Matteo, enquanto ele nos leva ao seu escritório cercado por janelas
escuras que têm vista para a pista do clube.

Tudo naquele clube e seu escritório é exatamente como eu


me lembro. Como o santuário do que costumava ser anos atrás.

Matteo fecha a porta atrás de nós e se acomoda em sua


cadeira que parece um trono, juntando as mãos, nos encarando.
Dois de seus homens guardam a porta, suas armas apontadas
para mim e para Garrett, apenas esperando que façamos um
movimento errado.

Lentamente, ele serve para si mesmo três dedos de uísque em


um copo. Sorvendo o líquido forte, ele fixa os olhos em nós.

“Vocês dois estão feridos”, ele aponta sem emoção. Meu olhar
desce para a minha camisa e para o sangue vermelho escuro que
penetrou no tecido branco.

Porra, não percebi que estava tão ruim assim.

“O que o traz para a minha cidade, Diavolo?” Ele finalmente


pergunta, indo direto ao assunto.

“Preciso da sua ajuda.”

Meu pai ri.

O timbre profundo de sua risada reverbera pela sala, rolando


sobre a minha pele. Ignorando o desejo natural do meu corpo de
voar para fora da cadeira e estrangular aquele homem, agarro os
braços da cadeira e afundo minhas unhas, controlando meu
temperamento.

Sophia não tem muito tempo.

Meus lábios afinam quando o pensamento me ocorre.


Estamos em uma corrida contra o tempo, e a cada segundo que
perco aqui com meu pai, estamos perdendo.

“Por que diabos você acha que eu vou te ajudar, stronzo?”

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“Porque somos família. La famiglia. Onore. Dio”, eu recito. O


lábio superior do meu pai se curva em desdém com minhas
palavras. De repente, ele bate a palma da mão na mesa, sacudindo
os objetos.

Sua máscara de indiferença cai e pela primeira vez, meu pai


demonstra emoção.

“Nunca jogue minhas próprias regras na minha cara. Você


quebrou essas regras, Diavolo. Então não as recite como se vivesse
por elas, porque você fez isso. Eu deveria te matar e enterrar ao
lado de sua mãe por suas decepções.”

Os olhos de Matteo estão com ódio e raiva enquanto olha para


mim do outro lado da mesa, queimando buracos no meu crânio.

“Mas você não vai”, eu digo em desafio. “Você precisa de mim,


tanto quanto preciso de você.”

O silêncio desce pela sala e Matteo não se move por muito


tempo até que finalmente olha para cima e para baixo, me
avaliando.

“Fale”, é tudo o que ele diz enquanto espera que eu me


explique. Explique porque estou aqui. Por que eu fui embora.

Assim, eu começo a falar.

“Eu estava trabalhando para um setor privado do governo.


Uma agência especial de...”

“Assassinos treinados. Sim, eu sei, Diavolo. O quê? Você


achou que eu não sabia onde você estava esse tempo todo? O que
você estava fazendo? Eu sei tudo, idiota. Você tem sorte de eu
deixar você vivo tanto quanto eu.”

Minhas narinas se dilatam com raiva, mas me calo e


continuo.

“Nós derrubamos e matamos organizações criminosas e


terrorismo. Nós nos livramos dos problemas do governo...”
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Meu pai ri de forma depreciativa. “Nós? Você deixou que eles


te transformassem em um pequeno seguidor fraco. Um dos
soldados deles”, ele cospe com raiva.

Através de dentes cerrados, eu continuo. “A casa segura foi


comprometida por um inglês que trabalha para os dois lados. Ele
levou uma mulher como sua refém e eu preciso localizá-lo para
recuperar ela.”

“E como você espera que eu te ajude, Diavolo? Você é o


Fantasma, afinal, resolva isso você mesmo.”

“Eu pretendo”, grunho em resposta. “Eu só preciso saber se


o chip do GPS no anel da minha mãe pode ser reativado.”

As sobrancelhas do meu pai se elevam de surpresa com a


menção do anel da minha mãe. Ele sabe o quão especial é aquela
peça de joalheria para mim e, sem dúvida, está juntando as peças
do quebra-cabeça.

Movendo-se na cadeira, ele cruza uma perna sobre a outra e


sorri. “Então, agora você está aqui de volta, esperando minha
ajuda, tudo para encontrar essa garota. Depois de ter ido
embora...?”

Bato meu punho na mesa, perdendo a paciência. “Apenas me


diga, o chip GPS pode ser reativado ou não?”

“Sim”, ele responde calmamente, me observando de perto. Ele


não se oferece para ativar o equipamento, então isso pode
significar apenas uma coisa, ele quer algo em troca. Inclinando a
cabeça para o lado, Matteo espera que eu faça o meu próximo
movimento.

“Ative o rastreador e eu estarei de volta. Você tem a minha


palavra.” Nossos olhos se chocam e transmito a seriedade da
minha proposta.

Meu pai sorri. “E o que vou ganhar com isso?”

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Fecho meus olhos brevemente sabendo o que precisa ser


oferecido. Ele ri como se meu silêncio zangado fosse um poço de
entretenimento. Soltando uma respiração dura, abro meus olhos,
chegando a uma decisão.

“Você recebe sua arma secreta de volta e alguém para


assumir o negócio da família quando chegar a hora.”

Esfregando os dedos sobre os lábios, ele me observa


silenciosamente por um momento. Tentando interpretar quais são
meus motivos. “Por que ela é tão importante?”

“Porque ela está grávida do filho dele”, Garrett fala atrás de


mim. Minhas mãos se fecham em punhos ao meu lado. Droga,
Cova.

Eu posso sentir a irritação irradiando do meu pai.

“Da próxima vez que você falar sem permissão, vai tomar uma
bala bem no meio dos seus olhos”, meu pai diz cuidadosamente
antes de se virar para mim com uma nova luz em seus olhos. “Eu
terei um neto?”

Respondo com um aceno sutil da minha cabeça.

“Menino ou menina?”

“Ainda não sei”, eu digo com sinceridade.

Acenando para os homens atrás dele, dispensando-os, meu


pai se volta para mim com um sorriso. “Vamos começar então,
Diavolo. Que tal?”

O brilho em seus olhos azuis deixa meu corpo no limite. Com


minhas mãos, me inclino para frente, olhando para o homem
implacável sentado diante de mim.

“Eu tenho regras. Antes de concordar com qualquer coisa,


preciso da sua palavra.”

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Matteo ri. “Você tem regras para mim? Não vamos nos
esquecer que estou te fazendo um favor, Diavolo.”

“Minhas regras”, eu continuo, ignorando-o. “Você fica longe


de Sophia e do bebê. Sem interferir. Você não fará parte de suas
vidas, a menos que Sophia ou eu concordemos com isso.”

Matteo se inclina para trás em sua cadeira, me olhando.


“Você sabe que não posso fazer isso, Diavolo.”

“Você vai”, eu rosno. “Ou não temos um acordo.”

Com as mãos cruzadas sob o queixo, meu pai me observa.


Ele desvia o olhar de mim para Garrett algumas vezes antes de
ficar de pé. Com um sorriso que não chegar aos seus olhos, ele
diz: “Temos um trato, filho.”

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Garrett

Sigo Creed para o elegante Audi preto e me amontoo no banco


do passageiro em completo silêncio. Após a reunião com seu pai
no clube La Carta di Fiori Valentina, ele nos disse para encontrá-
lo em sua casa. Antiga casa do Creed.

Eu não vou fingir que entendi alguma dessas coisas de máfia,


porque não entendi nada. Toda essa coisa de honra e senhor? Está
começando a dar nos meus nervos. Se não encontrarmos Sophia
em breve, a probabilidade de encontrá-la novamente é quase nula
e me recuso a deixar isso acontecer.

De novo não.

A dor de perder um ente querido é indescritível. Quando


Sophia desapareceu pela primeira vez, pensei que morreria. Isso
machuca. Muito, porra. Só de imaginar o que poderia ter
acontecido já é punição suficiente para mim. Eu deveria protege-
la. Passar mais tempo com ela. Ser um irmão melhor. Havia tantas
coisas que eu gostaria de ter feito e não pude deixar de fazer uma
promessa a mim mesmo. No momento em que a recuperasse, faria
as pazes com ela. Eu a protegeria de todas as maneiras que posso,
exatamente como nosso pai me disse que eu precisava fazer. E
nunca a deixaria ir de novo. Eu a protegeria e a manteria em
segurança até que desse meu último suspiro.

E falhei, porra. Outra vez.

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Apertando minhas mãos em punhos ao meu lado, mordo


minha língua até que sinto gosto de sangue, mas mesmo isso não
me impede de falar.

“Você ainda a ama?” Eu lanço um olhar fulminante para o


lado da cabeça de Creed enquanto ele se concentra na estrada.

A mão dele aperta o volante quando se vira para mim com


aquela calma inexpressiva e vazia, com a qual me familiarizei ao
longo dos anos.

“Você acha que eu estaria fazendo isso se não a amasse?”

Sei que ele está dizendo a verdade. Acho que soube disso no
momento em que ele me permitiu bater nele, lá na casa segura.
Mesmo odiando o pensamento dele e da minha irmãzinha juntos,
eu não posso negar o quanto Soph ficou melhor por causa do
relacionamento deles.

Lá em Crest Fall, Glen Oaks, ela passou de uma abduzida


deprimida e assustada para uma garota que queria aprender
autodefesa e passar o tempo ao ar livre. Foi só quando percebi que
ela estava sorrindo mais vezes que compreendi que minha irmã
estava finalmente colocando aqueles nove meses no passado. Até
que toda essa merda aconteceu novamente.

É óbvio que minha irmã ama Creed. Por quê? Porra, se eu


soubesse. Inferno, até é óbvio que o bastardo está sentindo algo
além de sede de sangue. Percebi a mudança em Creed há apenas
algumas semanas, mas disse a mim mesmo que estava vendo
coisas demais. Eu o conheço há alguns anos e, naquele tempo
todo, nunca o vi agir assim... diferente. Ele não era o mesmo
silencioso e temível Creed que costumava ser, Sophia havia lhe
causado mudanças.

“Tudo bem, se você a ama como diz, apenas me prometa…


me prometa que você fará o que tiver que fazer para encontrá-la.
Não importa o que. Eu não posso perder minha irmã outra vez,
não de novo.”
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“Você nem precisa pedir. Eu venderia minha alma para salvar


Sophia e nosso filho.”

“Deus”, eu rosno, passando minhas mãos sobre a cabeça com


corte de cabelo militar. “Há quanto tempo ela se foi agora?”

Creed baixa o olhar para o relógio digital no painel e franze a


testa.

“Quase vinte e quatro horas.”

“Foda-se!” Minha maldição soa alto no carro.

“Eu vou encontra-la, Cova.” Eu me viro para Creed com um


olhar de soslaio, tentando afastar a careta do meu rosto com suas
palavras e ficar positivo. “E quando eu a encontrar, preciso que
você me faça um favor.”

Meus olhos rolam para o teto do carro, olhando para o céu


em busca de força. “Um fodido favor, Creed? Você está me zoando,
certo?”

“Não.”

“Cristo. O que é?”

Creed habilmente gira o volante, nos levando ao nosso


destino. Nosso carro desliza por uma longa estrada pavimentada,
ladeada por árvores verdejantes. Paramos em frente a uma casa,
não, risque isso, uma porra de mansão que faz meu queixo cair.

É uma clássica villa italiana do Mediterrâneo, com uma


altura imponente que me força a inclinar a cabeça para trás
apenas para ver o telhado. Parece um maldito palácio. As grandes
escadas da entrada que levam a grandes portas duplas são em
forma de ferradura e as colunas e balaústres são esculpidas em
pedra calcária, combinando com o corte.

“Quando Sophia estiver de volta em casa com segurança”, diz


Creed, me trazendo de volta à realidade e seu favor iminente. “Eu
preciso que você esteja ao lado dela de todas as maneiras que eu
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não puder. Cuide deles, dela e do bebê. Proteja-os. Ajude Sophia


a se curar. E preciso que todos os dias eles saibam que eu os amo.
Guarde os dois com a porra da sua vida, Cova.”

Eu lanço meu olhar para Creed. “Que porra você está


planejando?”

“É melhor que você não saiba.”

Minhas costas se endireitam indignadas. “Foda-se! Ela é


minha irmã, acho que tenho o direito de saber que porra você está
fazendo. Tenho que saber o motivo de você deixar Sophia e seu
bebê”, eu rosno.

“Não vou fazer isso porque quero, Cova. Só estou protegendo


os dois. Depois de hoje, quando meu pai fizer um pequeno favor,
eu serei sugado de volta para a Chicago Outfit7. Você quer uma
Sophia grávida envolvida na máfia? Porque eu não quero.” Creed
empurra a cabeça em direção à grande entrada da mansão. “Meu
pai tentará sugar ela e a essa criança que ainda vai nascer para
suas garras e, como ele está extasiado por ser um avô, tudo é
importante para ele. Se Sophia estiver grávida de um menino? É
outro herdeiro. Alguém mais para assumir depois de mim, alguém
que garantirá que o legado Sabella da máfia nunca morra. Eu não
vou deixá-la se tornar um peão em nada disso. Não vou colocar
meu filho na mesma merda que eu fui submetido.”

“Poorrra”, eu gemo, batendo a cabeça para trás no encosto de


cabeça. “Ela nunca vai querer isso, você sabe, certo? Ela vai lutar
com unhas e dentes, caralho. Ela te ama muito.”

“Eu sei”, Creed suspira, com os olhos colados à entrada da


mansão de onde seu pai e seus obedientes soldados saem. “Vamos
indo. Temos trabalho a fazer.”

A máscara sem emoção de Creed desliza sobre suas feições


ao mesmo tempo em que ele escorrega para fora do banco do

7
Chicago Outfit- É uma organização criminosa americana sediada em Chicago, Illinois, criada em meados da
década de 1910. É parte da Cosa Nostra Americana e se originou na região sul da cidade de Chicago.
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motorista. Soltando um suspiro profundo, eu o sigo enquanto ele


sobe os degraus, pronto para vender sua própria alma, tudo para
salvar minha irmã.

“Estou tão feliz que vocês finalmente decidiram nos


cumprimentar. Eu estava começando a pensar que você dois iam
começar a namorar no carro”, seu pai diz, fazendo uma carranca
endurecer meus traços. Pelo canto do meu olho, vejo que Creed
ainda não se encolheu. Em seu rosto a perfeita máscara de
indiferença.

“Você terminou?”

Matteo estreita os olhos para o desrespeito de Creed. Suas


narinas se inflam um pouco antes dele se endireitar e empurrar a
cabeça para trás.

“Sigam-me. Eu acredito que você não esqueceu pelo menos


onde fica meu escritório, filho”, ele diz a palavra como se estivesse
enojado com Creed.

Sem uma resposta, Creed segue atrás de seu pai e seus


homens que estão ostentando armas automáticas. No minuto em
que passamos pelas duplas portas vitorianas de madeira, a
primeira coisa que me impressiona é a opulência da riqueza, não
há falta dela aqui. Tetos abobadados altos com estátuas de
mármore e tapetes venezianos ornamentados. O lugar parece um
maldito santuário da Renascença italiana. Tudo no vestíbulo
parece pertencer a um maldito museu, com os pilares dourados e
a arte italiana dos velhos tempos esculpida nos tetos em formato
de abóboda, tudo isso me lembra da pintura de Michelangelo na
Capela Sistina.

Eu tento não agir como se estivesse muito intimidado pelo


lugar, mas foda-me, é quase impossível quando você está andando
por uma casa de bilhões de dólares. Esta não é apenas a casa de
um chefe da máfia, esta é a casa de um Deus.

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Atravessamos a entrada, passando a opulenta escadaria


dupla em direção ao corredor escuro com retratos pendurados ao
longo das paredes.

“Quem são eles?” Eu sussurro para Creed.

“Todo Sabella Mafioso que já viveu.”

Solto uma respiração dura. Jesus Cristo, esta família é louca.

Finalmente chegamos ao escritório de Matteo e a sala


espaçosa não decepciona, nem um pouco. Entro na sala ao lado
de Creed, forçando ao meu rosto uma expressão cuidadosamente
reservada. Matteo balança a mão para seus soldados e eles tomam
seus lugares em frente à porta, bloqueando nossa fuga. Ele se
abaixa atrás de sua mesa de mogno grande e poderosa em uma
poltrona larga de couro vermelho e preto. Atrás dele, erguem-se
prateleiras de mogno cheias de uma variedade de livros, alguns
desgastados na lombada, parecendo antigos, enquanto outros
brilham contra a luz, parecendo novos em folha.

Seguindo as ordens de Matteo, nos sentamos em frente a ele


e esperamos. Meus olhos percorrem a extensão da sala,
absorvendo tudo, procurando por quaisquer ameaças
inesperadas. Um crânio humano colocado em uma das prateleiras
atrás da cabeça dele me chama a atenção, fazendo com que eu me
ajeite na cadeira, tentando dar uma olhada melhor.

“Vejo que você encontrou o meu bem mais precioso.” Matteo


espicha a mão atrás de si, puxando o crânio da prateleira. Ele
acaricia a superfície redonda quase reverentemente. “O crânio do
meu irmão”, diz ele, respondendo minha pergunta silenciosa.
“Uma morte muito especial para mim e Diavolo, não é?” Diz ele,
mudando seu foco para seu filho.

“De fato”, diz Creed bruscamente, seus olhos afiados no


crânio e nas mãos de seu pai. Seus olhos brilham com raiva e fúria
assassina. Matteo sorri quando vê o que o crânio faz com o filho.

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“Este aqui foi o primeiro assassinato de Diavolo. Depois da


morte de sua mãe, meu filho estava pronto para sua vingança, e
cara, ele chegou lá. Arrancar o coração de um homem para fora
do peito, segurar o órgão na palma da sua mão e esmaga-lo...”

“O GPS”, diz Creed, impaciente, interrompendo o pai.

“Você terá muito treinamento para fazer quando tudo isso


acabar e você voltar a trabalhar para mim”, responde Matteo em
resposta a seu desrespeito. Os dedos de Creed envolvem os braços
da poltrona, suas unhas se afundando na almofada fofa.

“Mas não vamos nos preocupar com nada disso até que
tenhamos encontrado o meu neto ainda não nascido. Vamos
começar.”

Matteo abre um laptop e seus dedos começam a voar pelo


teclado. Creed e eu compartilhamos um olhar particular,
silenciosamente esperando que este GPS seja preciso o suficiente
para encontrar Soph.

Matteo de repente se inclina para trás em sua cadeira e um


sorriso se espalha em seu rosto. Meu coração tropeça no peito
enquanto espero o que vem a seguir. Lentamente, ele gira o laptop,
nos mostrando o monitor. Creed dispara para frente, segurando a
tela com força.

“Aquele filho da puta”, ele rosna.

“Onde ela está?” Exijo, tentando ver além do seu aperto na


tela.

Creed se vira para mim com um brilho assassino em seus


olhos. “Ela está na América do Sul. Colômbia para ser exato.” Ele
dá um zoom nas coordenadas de GPS e finalmente conseguimos
uma pista.

“Parece que ela está na costa de Cartagena”, digo em voz alta


para mim mesmo, já formulando um plano.

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Matteo agarra o laptop, voltando a tela para si mesmo. Seu


olhar se fixa em Creed, estreitando os olhos.

“Agora que a minha parte do negócio está completa, espero


que você mantenha a sua, Diavolo. Quando tudo isso acabar,
espero que você volte aqui por vontade própria. Você não vai
gostar se eu tiver que ir atrás de você eu mesmo.”

Creed se levanta e eu sigo o curso. Com um aceno sutil de


cabeça, ele concorda. “Entrarei em contato.”

“E”, seu pai diz, parando nossa saída. “Quando encontrar


quem você está procurando, e quando tiver o bastardo que
ameaçou a vida do meu herdeiro, eu gostaria que o matasse na
sala de execução no porão. Gostaria muito de assistir.”

Creed fica em silêncio enquanto considera seu pai por alguns


instantes. Cada segundo que passa é tenso enquanto eles olham
um para o outro. Finalmente, Creed move lentamente a cabeça
uma pequena fração, em um leve aceno de cabeça. “Feito.”

Nós nos desviamos de nossos assentos, a voz de Matteo nos


impedindo de ir mais longe. “Estou supondo que você vai precisar
das chaves de sua posse valiosa?”

O canto do lábio de Creed se contrai um pouco como se


estivesse lutando contra um sorriso. “É bom saber que você ainda
não o incendiou.”

Ele solta uma risada fria. “Eu queimaria você antes de


queimar aquele carro, Diavolo.”

Desta vez, Creed sorri. “O sentimento é mútuo.”

Com isso, Creed e eu saímos do escritório e descemos o


corredor. Eu sigo um passo atrás dele, ainda observando cada
detalhe do lugar onde ele cresceu.

Porra, a família dele é montada na grana.

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Ele navega pelos corredores e alas da propriedade como se


nunca tivesse saído. Quando viramos no que parece ser o
centésimo corredor, Creed abre a pesada porta de madeira de
mogno e meu queixo cai quando as luzes se acendem na garagem.

Esta não era uma garagem comum, parece um


estacionamento inteiro, cheio de nada além dos carros dos meus
sonhos. Creed mantém o passo, andando entre os carros. Meus
olhos se arregalam quando vejo em qual carro ele está entrando
na frente.

“Apresse-se, Cova.”

“Este é o carro que vamos usar? Você está brincando


comigo?”

“Garrett.” Creed levanta uma sobrancelha e eu digo uma


desculpa silenciosa para os deuses dos carros. O Aston Martin
Valkyrie preto fosco e cinza tempestuoso não merece ser retirado
sob quaisquer outras circunstâncias além de um passeio.

“Jesus.” Eu expiro quando deslizo no banco do passageiro.


No segundo em que minha bunda toca o couro, Creed aperta um
botão e as portas da garagem abrem ao mesmo tempo em que o
carro ronca furiosamente. Eu agarro a maçaneta da porta e
pressiono minhas costas no assento quando ele sai a toda
velocidade, trovejando pela propriedade.

“Existe uma razão para você escolher esse carro?” Eu grito


por cima do rugido do motor. Vívido verde e marrom passam pela
janela enquanto saímos da área ao redor da propriedade e
voltamos para a cidade.

“Ela está lá fora há muito tempo. Eu precisava de algo rápido,


e o Audi em que dirigimos não vai servir.”

Fecho meus olhos, esperando que minha irmã ainda esteja


bem.

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Creed tece através do tráfego rodoviário como um louco,


desviando de pista para pista. Em vez de ir para a cidade como eu
esperava, ele sai da autoestrada e passa pela área industrial. Cada
rua e esquina são fábricas ou armazéns e grandes edifícios
industriais. O distrito do armazém fica muito longe das partes
turísticas de Chicago. Você não pegaria um único turista nessa
área, cercado por cercas de arame farpado, paisagem aberta e
caminhões de carga estacionados no cais.

Ele vira à esquerda e, de repente, para um pouco antes de


chegarmos a um armazém industrial simples, onde se lê: Fábrica
de Papel da Brower & Bro, com vários carros estacionados no
estacionamento.

“O que você está...” Antes que eu possa terminar meu


pensamento, Creed pressiona o acelerador, parecendo que vai nos
levar direto pela frente das portas do armazém. Minha mão aperta
a maçaneta da porta e, no último segundo, Creed vira o volante,
girando o carro e passando em volta do aço do depósito e depois
forçando o carro até parar. O som do metal guinchando e agitando
ao nosso redor quando duas portas de metal se abrem como uma
garagem. Creed dirige o carro para dentro e imediatamente as
portas fecham atrás de nós, bloqueando o carro da visão externa.

Ele desliga o motor, sai e eu faço o mesmo. Quando alcança


uma parede de aço com um teclado, ele digita um código e o aço
levanta o suficiente para nos espremermos por ele. Eu imito Creed
quando ele se inclina, atravessando a alcova e entrando em outra
sala que parece não pertencer a um armazém. Parece um
escritório de recepcionista com um sofá e duas cadeiras coloridas.
Há uma mesa de café situada entre as duas cadeiras e um balcão
com máquina de café.

“É sério. Onde estamos?” Eu pergunto, finalmente me


enchendo de toda essa besteira.

“Minha casa”, diz ele enquanto caminha em direção à porta


ao lado do balcão de café. Ele coloca a mão debaixo da mesa e
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quatro bips eletrônicos soam. Sem olhar para trás para ver se
estou seguindo, Creed empurra a porta para um lugar que, de
fato, parece uma casa. A porta que originalmente pensei ser uma
saída, se abre para uma ampla sala de estar. Tudo dentro é
cromado e preto. Uma televisão está pendurada ao longo da
parede cinza de ardósia e duas longas seções de sofá e uma mesa
de centro de vidro estão colocadas em frente a ela. Creed passa
pela sala de estar e pela cozinha, subindo o conjunto de escadas
de ferro forjado em espiral. O lugar todo parece um design
industrial moderno, direto de uma revista de arquitetura. Wendy
é uma viciada em design de interiores, essa é a única razão pela
qual sei sobre as revistas ridículas.

Só de pensar em Wendy, meus pulmões apertam,


restringindo o ar. Com Sophia no topo da minha mente em todos
os momentos, eu não deixei muito espaço para Wendy. Depois de
tudo o que aconteceu, saí do Missouri sem sequer ver como ela
estava. Não houve tempo. Isso dói, porra, ficar longe dela, mas eu
tenho que focar na minha irmã, não em um relacionamento que
não está indo a lugar nenhum. Eu não sou um homem que pode
ficar com uma mulher, não na minha linha de trabalho. Mesmo
que Wendy seja a dona do meu coração, eu nunca poderia
realmente entrega-lo para ela. Isso nos destruiria.

No topo da escada, Creed vira à esquerda por um pequeno


corredor estreito que se abre para uma sala cheia de monitores.
Os monitores vigiam tudo, desde as ruas, quando os carros saem
da rodovia, até as estradas que levam ao armazém. Há cenas
apontadas para fora de onde nós viramos o carro, e o resto da
vigilância está em toda a casa, em todos os pontos de entrada.

Quando finalmente viro minha cabeça e examino o resto da


sala, uma careta se forma no meu rosto quando percebo que não
estamos sozinhos.

“Garrett, você conheceu Clarence e Monte, meus homens de


confiança”, diz Creed, apresentando-me formalmente aos homens
com a pele de cor escura. Eles estão sentados em frente a
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monitores separados com laptops abertos na frente deles. Todos


trocamos olhares e avaliamos um ao outro, ainda cautelosos.

Quando Creed me pediu para encontrar esses caras antes de


desmaiar, não foi uma tarefa fácil. Esses homens são
essencialmente fantasmas, assim como Creed. Encontrá-los
quase me matou no processo, e mesmo que tudo estivesse bem
entre nós, pelo menos por enquanto, ainda não gosto muito de ter
tido suas armas na minha cara. Nosso primeiro encontro foi uma
batalha de inteligência para a qual eu não tinha tempo.

Faço um balanço de Monte que exala uma aura formidável e


me dou um minuto para dissecar tudo sobre ele, o que eu fui
incapaz de fazer da última vez que fiquei preso em torno desses
homens. Com pele escura e cavanhaque, Monte me lembra do ator
Idris Elba, sem o sotaque. Um palito de dente sai preguiçosamente
da boca dele. Com um tom de pele mais claro, Clarence é alto e
esguio, com marcas de espinhas em todo o rosto. Seu pescoço e
braços estão cobertos de tatuagens de várias imagens e letras. Não
há como dizer onde a tinta preta intrincada começa e termina. Ele
tem uma cicatriz de tamanho médio correndo horizontalmente em
seu pescoço, que não deixa nada para a imaginação. Como ele
conseguiu a cicatriz foi o que fez Clarence o homem que ele é hoje.
Isso eu tenho certeza.

Após a reunião na mansão de Matteo, Creed não perdeu um


segundo em fazer planos. Poucos segundos depois de entrarmos
em seu carro, ele estava fazendo ligações, agendando voos
privativos e exigindo que os soldados de seu pai nos fornecessem
uma quantidade inebriante de munição e armas. Fiquei surpreso
de concordarem. Não havia como negar a hostilidade que soava
no ar sempre que Creed e seu pai estavam na mesma sala. Era
inquietante, para dizer o mínimo.

Depois de nos levar para o seu lugar nos arredores de


Chicago, o único lugar que ele deixou claro que ninguém mais
conhecia, ele entrou imediatamente em ação. Trabalhando em
como conseguir a Sophia de volta.
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Mesmo agora, eu ainda não posso deixar de ficar de olho


nesse lugar também. Está muito longe da mansão de seu pai, mas
o lugar de Creed é como uma fortaleza. É seu santuário, o espaço
onde ele trabalhava, cuidava de seus negócios e acabava com suas
mortes. Eu nem queria pensar em quantas mortes ocorreram
aqui. O exterior parece um armazém ou até uma fábrica. Sem
chamar atenção para um olhar suspeito, mas uma vez dentro? É
como andar por um condomínio de luxo.

Com minhas mãos nos quadris, não posso deixar de


continuar pesquisando o espaço ao meu redor. Se eu fizesse o que
Creed fez, matando do jeito que ele fez, eu provavelmente viveria
assim também. Isolado de todos ao meu redor, com segurança de
ponta para os trabalhos.

Creed se vira para mim, me tirando das minhas reflexões e


expondo seus planos para mim. Sem um pingo de emoção em seu
rosto ou em seu tom, ele deixa tudo em ponto de bala. Enquanto
estivermos indo para a Colômbia, ele terá seus homens
trabalhando em outras pistas em Chicago, caso isso não desse
certo. Eu só espero que não seja o caso. Creed prometeu que seus
homens são confiáveis e que são as únicas pessoas em quem ele
confia para ajudar a encontrar Sophia. Eu só posso esperar que
ele esteja certo.

Em circunstâncias normais, eu não seria tão dócil quando se


trata de deixar alguém encontrar minha irmã, mas tenho que
continuar me lembrando de que é isso que Creed faz. Ele encontra
seu alvo e os elimina. Tenho que acreditar que podemos encontrar
o merda do Finlay antes que ele machuque minha irmã.

Quando estamos fora do alcance da voz, eu me viro para


Creed com uma carranca em meus traços. “Eu pensei que os
italianos da máfia ficassem apenas com sua própria espécie?”

Ele levanta uma sobrancelha na minha linha de


questionamento.

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“Eu só quero dizer, dois caras negros, não era o que eu estava
esperando.”

“Eu não faço distinções, Cova. Se eles conseguirem fazer o


trabalho e se sua lealdade está comigo, então tudo é justo na
minha guerra.”

“Justo o suficiente”, digo com um aceno de cabeça, pronto


para começar essa missão.

Sentado na sala do monitor com Creed e seus homens, nós


examinamos as telas do local enquanto os homens de Creed
trabalham em laptops, puxando qualquer informação que podem
sobre Finlay.

Creed se vira para Monte. “O que você tem?”

“Nada que você vai gostar”, responde Monte em um tom de


barítono profundo.

“Percebi.”

“Fiz algum trabalho pesado nos antecedentes de Finlay e


voltou sem nada, então investiguei um pouco mais fundo. Dez
anos atrás, Finlay Williams emergiu do nada. Nenhum número de
previdência social, nenhum registro aqui ou no sistema da
Interpol. Depois de algumas escavações extensas, encontrei seu
nome e registros reais. Cyril Smith, nascido em Liverpool,
Inglaterra, em janeiro de 1982, foi procurado pelos assassinatos
de seus pais, Jodi e Harry Smith, assim como sua irmã mais nova,
Cycil Smith. Aos dezesseis anos, Finlay alegou insanidade pelos
assassinatos de sua família e foi preso no Hospital Psiquiátrico
Ashworth por três anos até que um incêndio começou no terceiro
andar, matando todos os pacientes, incluindo Cyril, que se
presumia estar morto. Ou, pelo menos, é isso que o relatório do
caso afirmou. Cyril escapou da clínica psiquiátrica e eu não
duvido que ele tenha sido o responsável pelo início do fogo. Apenas
alguns anos depois, o nome Finlay Williams se concretiza e
adivinha que cara tem o filho da puta?”
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“Cyril”, Creed rosna. “Bom trabalho, Monte. Eu quero que


você procure por quaisquer propriedades em nome de Cyril e sob
sua nova identidade.” Voltando-se para o homem magro,
Clarence, ele diz. “O que você tem para mim?”

“Acho que tirei a sorte grande, Creed. Finlay não é apenas


uma doninha que jogou na organização do governo privado, ele é
um chefe do crime trabalhando no tráfico de drogas, em negócios
de armas, e está no negócio de vender mulheres. A maioria de seus
contatos e aliados é com cartéis sul-americanos, taiwanês e a
Bratva. O filho da puta está bem envolvido. Ele não se passa por
Finlay nesse mundo, eles o chamam de Throne.”

“Jesus Cristo.” Eu levo uma mão frustrada sobre a minha


cabeça. Não só minha irmã está nas mãos de um psicopata que
acha que está apaixonado por ela, mas também está nas garras
de um chefe do crime que lida com merdas bem sombrias.

Merda essa que o nosso setor privado trabalhou duro para


eliminar.

“Precisamos dos nossos homens da casa segura, Creed”, eu


digo, soltando um suspiro. “Odeio ser um idiota, mas não acho
que quatro caras vão derrubar Finlay e seus lacaios.”

“Sobre isso”, diz Monte. “Conforme solicitado, localizei todos


que estavam no seu time. Ricky Kingston está vivo, mas está se
recuperando de ferimentos a bala no peito e no ombro. Kameron
Jones está vivo e passa bem. Jose Guerrero está vivo. Apenas
quatro fatalidades foram registradas, sem incluir os idosos no
primeiro nível.”

“Monte, eu quero que você fale com cada um deles e coloque


os homens aqui em alta velocidade, envie o jato particular para
escoltá-los para cá e nós vamos trabalhar a partir daí. Já lidamos
com a situação com nosso contato em Hawk Fire?8”

8
Hawk Fire- Empresa de segurança que eles trabalham.
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“O rádio está em silêncio”, diz Monte. “Eles devem ter enviado


sua própria equipe de faxineiros para cuidar dos danos e se livrar
das evidências de que o lar de idosos existia. O lote é apenas um
pedaço de terra queimada agora. Eu não acho que eles vão chegar
tão cedo, eles provavelmente acreditam que todos vocês estão
mortos.”

Creed e eu compartilhamos um olhar, sabendo que sair da


nossa ligação com o Hawk Fire não será tão fácil. Aquele setor
privado era como uma gangue, derramamos sangue para entrar,
e eles derramavam seu sangue para sair. Quando o governo paga
criminosos para matar pessoas, as chances são de que eles não
querem que ninguém viva para contar sobre isso.

“Continue assim. Parece bom demais para ser verdade”, diz


Creed, expressando meus pensamentos exatos.

“Apesar do fato de que esse filho da puta é louco”, diz


Clarence, ganhando toda a nossa atenção. “Eu também tenho
boas notícias. Encontrei todos os armazéns onde ele conduz
negócios, o tráfico de drogas, acordos de armas, mas não
encontrei onde ele está vendendo as mulheres. Eu até encontrei
as casas e nomes de alguns de seus capangas. Os burros pelo
menos, parece que os outros cobriram bem seus rastros, mas
depois de investigar um pouco mais, eu os encontrei. Passando
por registros telefônicos e correspondência, parece que Finlay está
em contato com todos os seus capangas através de um pré-pago.
Depois de rastrear o número do pré-pago, consegui encontrar uma
localização GPS que pode ajudar. De acordo com os registros que
descobri, Finlay tem sua própria fatia de terra, uma ilha particular
na costa de Cartagena, na Colômbia, na América do Sul, chamada
Ilha Throne. Eu acho que é onde ele está mantendo a mulher.”

“Jesus”, eu gemo. “O filho da puta deu seu próprio nome a


uma ilha?”

Clarence encolhe os ombros. “O cara parece um idiota.”

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Eu encontro o olhar de Creed e juro que vejo uma sugestão


de sorriso que grita sede de sangue.

“Clarence e Monte, quero que vocês baixem a lista e levem o


primeiro capanga que tem lá. Consigam qualquer informação que
puderem dele enquanto estivermos fora. Eu vou pegá-los um por
um até que tenha tudo que preciso”, diz Creed, já enchendo uma
mochila preta com poder de fogo. “Vamos, Garrett, estamos
pegando o jato.”

“Quantos jatos de merda você tem?”

“Matar paga bem”, diz ele secamente.

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Sophia

Uma vez que o Finlay sai do quarto, eu desmorono no chão e


abro as comportas. Minhas mãos envolvem meu corpo, apertando
com força, tentando preservar o único pedaço que tenho do Creed.
Meu peito aperta de dor quando penso no homem que roubou meu
coração. Cerrando meus olhos fechados contra a dor, torço contra
todas as probabilidades que ele tenha sobrevivido de alguma
forma. Rezo para que ele e Garrett tenham conseguido sair vivos,
quero dizer, como eles não poderiam, certo? Estamos falando de
Creed. Ele é implacável e autossuficiente. Depois de tudo o que
teve que suportar em sua vida, ele não merece ser baleado a
sangue frio, deixado para morrer. Ele merece ter alguém que o
ame ao seu lado. Ele merece ter a chance de um dia encontrar seu
filho, e agora tudo isso foi tirado de nós.

Um soluço rasga meu peito quando penso no médico que vem


me ver. Eu vou lutar com cada fibra do meu ser antes de deixá-lo
ou Finlay tirar esse bebê de mim. Não sei onde estamos ou como
diabos chegamos aqui, mas se eu puder pensar em uma maneira
de escapar do aperto de Finlay, talvez possa encontrar ajuda nesta
ilha sem matar ninguém.

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Esfregando uma mão trêmula sobre minha barriga lisa, toco


a corrente que Creed me deu, o anel que pertencia a sua mãe, e
faço uma promessa a ele e a ela de que vou sair daqui e proteger
este bebê, de alguma forma, encontrarei algum caminho. Meus
dedos voam pelo meu pescoço e peito apenas para parar quando
percebo que a corrente não está lá. O medo se instala na boca do
meu estômago, viajando pelo meu corpo. Meus olhos se
arregalam.

“Não, não, não”, resmungo debilmente para mim mesma,


agarrando freneticamente meu pescoço. Um peso esmagador e
pesado se instala no meu peito e uma nova onda de lágrimas
brotam nos meus olhos, e é tão forte que tira o ar de mim.

Ficando de pé, eu corro para o banheiro com os pés instáveis


e solto um grito de dor quando olho no espelho e percebo que a
corrente com o anel está faltando.

“Oh, Deus.” Eu respiro fundo. “Sinto muito.” Eu choro,


agarrando a borda de mármore do balcão. Meus dedos agarram as
bordas frias com a raiva que borbulha pelo meu corpo, nublando
qualquer sentido racional que eu tinha antes. Meus olhos se
dirigem ao meu reflexo no espelho e caem na minha garganta nua.

“Seu desgraçado!” Eu grito no topo dos meus pulmões em


uma raiva escura. Meu coração bate violentamente e minha pele
fica vermelha de raiva. Minha mandíbula aperta quando os olhos
recaem na sólida saboneteira de latão. Eu olho para ela com um
peito arfante até que de repente, a seguro com uma mão trêmula
e a próxima coisa que sei, é que estou batendo no espelho com
ela. O som penetrante da quebra de vidro é inconfundível. Pedaços
irregulares de chuva de cristal voam por toda parte, caindo no
balcão de mármore e os cacos brilhando no chão. Dou um passo
hesitante para trás e olho para o desastre diante de mim. O balcão
e o chão do banheiro parecem uma explosão de cacos de cristal,
pedaços e pedacinhos pulverizados em armas de todos os
tamanhos.

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Meu peito arfa quando me inclino na cintura e pego um


pedaço de vidro particularmente grande. Com as bordas
irregulares e afiadas, enrolo meus dedos ao redor da arma com
determinação em meus ossos. Meus instintos de sobrevivência
estão no maior pico de todos os tempos. Quando olho para a arma
pontiaguda na minha mão, uma parte do meu rosto é refletida, e
quando deixo meu olhar descer mais para baixo, para os
fragmentos quebrados ao longo do chão que brilham como joias à
luz da lua, vejo pedaços de mim mesma refletidos em cada caco.
Eu pareço selvagem e à beira da insanidade.

A porta do quarto de repente se abre, batendo na parede. Com


o caco ainda agarrado firmemente na minha mão, eu lanço meu
braço nas minhas costas, escondendo a arma. Sons de pés ecoam
do quarto para o banheiro e o rosto enraivecido de Finlay se
materializa na porta. Seu olhar flutua do vidro quebrado aos meus
pés para o espelho partido pendurado sobre a pia. Seu lábio
superior se franze de raiva.

“Acessos de raiva e mau comportamento não vão salvar você,


Sophia.”

Com botas pretas cobrindo seus pés, ele pisa no vidro, o


cristal rachando sob suas botas. Eu ignoro a dor quando meus
dedos se apertam ao redor do vidro, quanto mais perto ele fica. E
sinto o sangue escorrer na palma da mão, do corte feito pelo
fragmento, e tento não pensar na dor pungente. Com o meu
sangue bombeando em um ritmo ensurdecedor nos meus ouvidos,
meu corpo treme, não por medo, mas adrenalina. Só preciso que
ele chegue perto o suficiente para que eu possa colocar isso em
seu pescoço ou peito. Em algum lugar em que seja possível deixa-
lo atordoado por tempo suficiente para escapar.

“Você está testando minha paciência, mulher”, Finlay diz


quando estende a mão para me jogar por cima do ombro. No
segundo em que me alcança, o tempo passa mais lentamente. O
ar congela, minha respiração fica mais lenta e meu batimento
cardíaco se acalma. Suas mãos pousam na minha cintura ao
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mesmo tempo em que eu movimento o vidro irregular e tento alojá-


lo em seu pescoço.

A dor aguda penetra em meu pulso quando Finlay torce meu


braço com a arma, amaldiçoando em voz baixa.

“Sua puta do caralho!”

Ele segura meu pulso no ar em um ângulo estranho, o pedaço


de vidro parecido com uma adaga pinga com meu próprio sangue
enquanto ele fica a centímetros de seu pescoço. Meu coração para
e meu corpo treme de medo quando olho para Finlay.

Oh Deus.

Seu rosto é uma máscara escura de raiva enquanto ele olha


para mim, com intenção de matar estampada em seus olhos.
Engulo em seco, com tanto medo que não tento nem mesmo lutar
para me soltar.

“Você vai se arrepender disso”, diz ele em uma voz


estranhamente calma.

Em uma fração de segundo, Finlay envolve a palma da mão


em minha garganta e aperta, esvaziando meus pulmões,
bloqueando o meu suprimento de ar. Solto minha única arma e
minhas mãos se agarram às dele, que estão em volta do meu
pescoço, e tento futilmente arrancar seus dedos. Seus olhos
estreitam enquanto ele me assiste lutar.

“Você tentou me esfaquear”, ele sussurra, quase como se


estivesse em choque. Seus lábios se enchem de raiva e com toda
a força, ele me joga para longe dele, sobre o vidro quebrado
espalhado pelo chão de mármore. Meu corpo desliza ao longo do
vidro, o lado do meu rosto, antebraços e mãos levando o peso da
minha queda. Pedaços de cristal se alojam na pele das palmas e
braços. A dor irrompe enquanto meu sangue escorre das feridas.
Minha bochecha e queixo ardem com uma dor desconhecida que
só pode ser causada pelo vidro.

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Meus braços tremem sob o meu peso enquanto tento me


levantar. O vidro entra mais fundo, me fazendo estremecer.
Minhas mãos deslizam na umidade escorregadia de sangue e
Finlay desce para o meu nível, seu rosto a poucos centímetros do
meu. Sua mão dispara, alojando-se no meu cabelo na base do meu
crânio. Suas mãos apertam, puxando meus fios, fazendo com que
minhas raízes gritem de dor.

“Eu não queria te machucar, Sophia. Prometi a mim mesmo


que não te machucaria e agora veja o que você me fez fazer. Fiz
seu belo rosto sangrar”, diz ele, estendendo a mão para acariciar
meu rosto com a mão livre. Eu recuo, mas como ele está
segurando meu cabelo com muita força, estou presa ao seu toque.
Seus dedos esfregam meu queixo e bochecha, limpando a
umidade no meu rosto. Quando ele puxa a mão para trás, está
coberta de sangue. Meu sangue.

O fogo ruge em minhas veias enquanto olho em seus olhos


frios. Eu o odeio tanto. Gostaria de poder fazê-lo sangrar do jeito
que estou sangrando.

“Onde está meu colar? Eu o quero de volta.” Grito. A boca de


Finlay se retorce estranhamente em frente ao meu show de
valentia.

“Não posso fazer isso, pequena Sophia”, ele zomba.

“Dê. Meu. Colar.” Estou fervendo.

Finlay ri, puxando meu cabelo com ainda mais força. “Sem
chance. Estamos começando do zero, minha gatinha tola. Estou
te livrando de qualquer coisa que ligue você ao seu passado, e isso
inclui aquele maldito colar.”

Lágrimas de desamparo brotam dos meus olhos e meu queixo


treme. “Você é um filho da puta malvado.”

“Você não está errada aí”, diz ele com um sorriso arrogante.
“Agora, vamos logo, vamos ver um médico.”

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Usando o meu cabelo, ele me puxa de pé e eu estremeço


quando piso em pedaços aleatórios de vidro. Tento me livrar de
suas mãos e olho para ele. “Eu não preciso ver um médico, é
apenas vidro, estou bem.”

Finlay joga a cabeça para trás e solta uma gargalhada que


me arrepia até os ossos. Minhas sobrancelhas franzem enquanto
olho para ele. Eu não sei como não vi isso antes, mas o homem
não está bem da cabeça. Ele é louco.

“Oh, doce Sophia, você me mata. O médico é para isso”, diz


ele, apontando o dedo para minha barriga. Meu olhar endurece
como pedra.

“Não vou deixar você fazer isso.”

A expressão leve em seu rosto escurece com minha recusa.


“Você não tem escolha.”

Finlay se aproxima de mim e levanta a mão em direção à


minha cabeça novamente. Tento me esquivar, mas isso era
exatamente o que ele estava esperando que eu fizesse. Com a mão
livre, ele puxa outra agulha do bolso e antes que eu possa me
soltar, sinto uma pontada afiada no meu pescoço, que faz lágrimas
saltarem dos meus olhos.

“Não!” Eu grito.

“Eu lhe disse que você não teria escolha”, diz ele, quando meu
corpo começa a parecer que pesa mil quilos. “Desculpe, amor, não
posso deixar você ver para onde estamos indo.”

Ele levanta meu corpo flácido em seus braços e tudo o que


posso fazer é permitir enquanto minhas pálpebras ficam pesadas,
e espero que a escuridão me consuma.

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Quando eu finalmente acordo, é ao som de vozes elevadas.


Luto para não dar atenção ao latejar no meu crânio e ignoro a dor
das feridas no meu rosto e braços do vidro. A voz de Finlay se
materializa e congelo quando ouço sua ameaça enfurecida.

“Você dá algum valor à sua vida? Porque se não fizer o que


eu digo e tirar essa maldita coisa dela, vou te enforcar com suas
bolas enquanto te forço a assistir enquanto eu mato sua família
inteira.”

Eu dou suspiro inaudível. O medo destrói meu corpo e meu


peito se despedaça quando a umidade cobre meus olhos. Em vez
de abrir minhas pálpebras e alertar Finlay de que estou acordada,
fico em silêncio, tentando muito manter minha respiração no
mesmo ritmo, para que ele não perceba que estou ouvindo.

“Sr. Williams, por favor. Por favor, entenda, eu nem sei de


quanto tempo ela está, não posso apenas tirar isso dela, não é
assim que funciona. É um procedimento e eu não tenho todos os
instrumentos necessários.”

“Dê um jeito, doutor”, Finlay rosna. “Eu não me importo em


como fará isso, contanto que ela saia viva, eu não ligo. Cuidado.”

O toque súbito e estridente de um telefone celular silencia


sua discussão acalorada. Com um grunhido de irritação, ouço
Finlay rosnar antes que ele grite em seu celular.

“O que? Que porra quer dizer com alguém está na


propriedade?”

Meu coração congela com suas palavras, em seguida, começa


a galopar descontroladamente enquanto ouço.

“Bem, porra, atire neles! Deus, caramba, você não serve para
nada, merda.” Abrindo um olho, encontro Finlay andando de um
lado para o outro em seu telefone. De repente ele para e gira,
encarando o médico. “Faça o que eu disse, porra. Quero que ela
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saia daqui em duas horas.” Finlay vira as costas para o médico e


caminha em direção à saída, dando ordens em seu telefone.
“Quero eles mortos, filho da puta. Diga a Miguel para abastecer o
jato, não podemos mais ficar lá, não agora.”

Com uma maldição alta e um soco na parede, Finlay faz a


sua saída, deixando-me sozinha com o médico. Mantendo meus
olhos fechados, prendo minha respiração pesada e assustada
enquanto tento formular um plano. Eu ouço o médico soltar um
suspiro prolongado.

“Mierda.”

Meu corpo fica tenso e meus ouvidos se animam com o som


de seus passos suaves no chão de linóleo. Quando sinto sua
presença pairando sobre meu corpo supostamente adormecido,
estou pronta para atacar.

“Eu sinto muito”, ele sussurra, assim que sua mão se instala
sobre o meu abdômen empurrando levemente aqui e ali como um
médico faria em um check-up normal. Quando ele termina e sua
mão se atrapalha com o botão no meu jeans, eu resolvo agir.

Meus olhos se abrem e com toda a força que posso reunir,


aponto um chute na cabeça do médico. Quando o calcanhar do
meu pé faz contato, ele tropeça para trás e chia de dor ao embalar
sua cabeça calva e acinzentada. Eu deveria me sentir mal por fazer
isso com um homem idoso, mas não sinto. Eu só quero ficar livre.

Fechando minha mão em um punho, puxo uma respiração


profunda, tentando focar no meu treinamento com Garrett. Dou
um giro e meu punho dolorosamente colide com seus ossos,
derrubando o médico no chão. Encontro a coisa mais próxima na
sala que posso e uso como arma. Agarrando a bandeja de aço com
ferramentas e bisturis, jogo os itens no chão, onde eles batem
ruidosamente e acerto a bandeja sobre a cabeça do homem
repetidamente. Ele finalmente para de se mover, e dou um passo

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para trás, meus olhos se arregalando quando percebo o que acabei


de fazer.

“Oh, Deus”, eu choramingo. Deixando-me cair de joelhos, eu


me aproximo de seu corpo, minhas mãos trêmulas tentando
encontrar um pulso ou qualquer sinal de que não o espanquei até
a morte. Quando sinto a batida constante em seu pescoço, respiro
aliviada e me ergo em meus pés instáveis. Meu olhar se fixa nas
lâminas e eu aperto uma grande na minha mão e escondo uma
das menores no cós da minha calça.

Olhando para o homem inconsciente no chão, giro a


maçaneta da porta e a abro. Deslizando para o corredor, abraço a
faca no meu peito como se fosse uma tábua de salvação e tento
encontrar uma saída desse lugar.

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Creed

“Certo, seus putos, qual é o plano do jogo?” Pergunta Jose


enquanto enfia as facas nos coldres do peito e sob a perna da
calça. Eu me viro para Jose, Kam e Ricky com os olhos apertados,
precisando não fazer nada mais do que mostrar meu ponto de
vista.

“Temos um objetivo e apenas um objetivo, tirar Sophia com


segurança. Jose e Ricky, quero que vocês dois voltem pela entrada
sul. Kam e Garrett, vocês tomam a frente. “

“E onde você vai estar, Casanova?” Garrett diz, anexando seu


Beta C-Mag a sua M4169.

“Bem atrás de vocês seus bastardos. Fico a alguns metros de


distância de vocês, se precisarem de apoio. A última coisa que
preciso é que o filho da puta tente escapar enquanto lutamos
contra seus homens.”

“Bem pensado”, Kam grunhe.

Trabalhamos em silêncio enquanto lidamos com nossas


armas preferidas. Jose sussurra através da mochila preta que ele

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Beta C-mag- É um carregador de tambor com capacidade para 100 balas – M416- é um fuzil de assalto
fabricado pela Heckler & Koch GmbH.
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trouxe e puxa uma C-Mag estendida em uma mão e uma granada


na outra.

“Tenho uma bolsa cheia de puro poder de fogo, baby. Meu


primo em Sinaloa a encheu com alguma merda especial para nós.”
Ele continua a despejar o conteúdo da mochila e Ricky solta um
suspiro de alívio.

“Porra, isso é muita munição”, diz Garrett, levantando uma


sobrancelha para mim.

Eu encolho meus ombros enquanto coloco uma pequena


Glock no cós da minha calça. Ajoelhando, coloco uma faca em
cada tornozelo. “É melhor prevenir do que remediar, Cova.”

“E se ela não estiver aqui, cara?” Ricky pergunta de repente,


as sobrancelhas puxadas para dentro. O suor brilha no topo de
sua cabeça, o clima aqui já fazendo sua pele pálida ficar um tom
brilhante de rosa.

Soltando um suspiro, fico de pé e bato no cano da


submetralhadora em minhas mãos. “Então vamos vasculhar a
porra da terra até encontrar ela.”

“Órale, hermano10. Tudo pronto para pegar esses filhos da


puta?” Pergunta Jose, coberto de armas.

“Nasci pronto”, diz Garrett com determinação gravada em seu


rosto.

Depois de cruzar pela abundância de árvores que cercam a


casa de campo na ilha, nós abandonamos o Jipe Wrangler Safári,
e marchamos através da terra e grama a pé. Meu sangue está

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Órale, Hermano- Vamos, irmão.
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zumbindo dentro de mim, pronto para a carnificina que mal


consigo esperar que comece. Tirar vidas é o que eu fazia, é o que
eu fui treinado para fazer toda a minha vida, eu gosto disso. Mas
tirar a vida dos homens que estão mantendo Sophia em cativeiro?
Sim, eu ia me divertir no derramamento de sangue hoje.

A camisa preta se agarra à minha pele nesta umidade e gotas


de suor rolam pela minha testa em um fluxo constante. O ar está
abafado e úmido, tornando quase impossível respirar
profundamente. Eu olho através da extensão de terra verde
exuberante, parando quando encontro a clareira à frente. A
abundância de palmeiras diminui, dando uma visão clara da
entrada da vila onde o rastreador está.

As árvores são o único escudo que cobre a vila, além disso, a


casa de veraneio está aberta para todos os atacantes. Gigantescas
palmeiras imperiais se alinham ao lado da casa de estuque rosa
com janelas do chão ao teto.

Aperto minha arma com mais força enquanto me volto para


os caras com ordens.

“Matança silenciosa. Se ela estiver lá, não quero alertar


Finlay de que estamos aqui. Nossa melhor aposta é acertá-lo
quando ele menos esperar. Eu quero que todos acabem com o
maior número de homens possível. Se tiverem a chance de tirar
Sophia de lá, façam. Sem fazer nenhuma pergunta. Entendido?”

Com intensos olhares de concentração estampados em seus


rostos, cada um deles acena em aprovação ao se dividirem em
pares.

Dois homens estão em espreguiçadeiras na entrada da frente


da casa com o que parecem ser Glock 17 Carbines11 deixadas em
seus lados. Estes eram os mesmos idiotas que nós contornamos
quando entramos na ilha. O guarda que deveria estar vigiando
todos os pontos de entrada na ilha deve ter adormecido no

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Glock 17 Carabines- arma como um fuzil e grande poder de fogo
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trabalho porque chegar à ilha foi uma moleza. E roubar o Jeep


Wrangler na ilha? Ainda mais fácil.

Enquanto Jose e Ricky avançam pelas costas, Garrett e Kam


lentamente puxam para frente, agarrando-se às árvores para não
serem vistos pelos guardas. Assim que Garrett e Kam estão se
aproximando dos guardas, ouço o som distinto de estouro de tiro,
um som totalmente automático.

Rolo meus olhos para o céu, amaldiçoando Jose.

“Eu disse em silêncio, filho da puta”, rosno quando todo o


inferno começa.

Os guardas põem-se de pé diante do tiro ensurdecedor,


observando Kam e Garrett, mas meus homens são rápidos
demais. Garrett puxa o gatilho duas vezes, balançando a arma
para cima e para a direita, derrubando o segundo guarda.
Enquanto os dois guardas caem no chão, Kam se vira, me
encontrando nas árvores e sinalizando que tudo está limpo.

Com um aceno rápido, examino as árvores e os lados da casa


procurando por qualquer movimento. Eu conheço o tipo de Finlay
bem o suficiente para saber que o bastardo não vai se levantar e
lutar. Ele vai fugir enquanto deixa que seus capangas ponham
suas vidas em risco por ele. Com meu olhar treinado nas saídas,
ouço seis tiros de uma automática, quatro tiros de uma carabina,
outra rodada disparada em rápida sucessão de uma Glock.

Ainda sem movimento.

O estouro de tiros de repente cessa e minhas sobrancelhas


se juntam.

Que porra é essa?

Rosnando em irritação, saio das árvores e levanto minha


arma. Eu separo meus calcanhares, olhando através do
telescópio, girando para a esquerda e para a direita. Silêncio
desconfortável me cumprimenta.
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Voo pela entrada, passando por cima dos guardas mortos.


Erguendo minha submetralhadora, meus olhos percorrem toda a
vila, da cozinha até a sala de estar com vista para o oceano, para
o corredor de onde vem a voz de Garrett. O sangue mancha as
paredes, por causa do corpo de um guarda.

As vozes dos meus homens saem do quarto no corredor com


a porta escancarada. Empurrando para dentro, encontro todos
com olhares severos em seus rostos.

“Ela se foi.”

Três palavras. Isso é tudo que elas foram, mas o impacto que
tiveram foi catastrófico.

Minhas narinas se abrem quando um grunhido brota do meu


peito. Passando por Kam e Ricky, atravesso o quarto que parece
estar decorado para um casal de recém-casados e tropeço no
banheiro.

Meu coração aperta.

Eu cerro meus dentes.

“Revirem tudo. Cada quarto. Cada maldita fenda. Eu não vou


sair até encontrar algo.” Minha voz soa estranhamente calma
enquanto olho para todos os vidros quebrados e manchas de
sangue no chão.

Eu fecho meus olhos contra as imagens bombardeando meu


cérebro e espero que Sophia esteja bem.

Meu corpo treme de fúria quando giro em meus calcanhares,


encontrando Garrett estampando uma expressão semelhante à
minha.

“Os guardas o avisaram”, diz ele, levantando um telefone.


Meus olhos se dirigem para o guarda morto no chão e meu lábio
se franze de raiva.

“Dê-me isso.”
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Garrett solta um suspiro. “Já tentei. O número que ele


chamou assim que chegamos agora está desconectado. Finlay
sabe que alguém está atrás dele, eu só não sei se já percebeu que
somos nós.”

Abro a boca para responder, mas Jose e Ricky atravessam a


porta.

“Achei alguma coisa, Creed.” Ricky segura o anel da minha


mãe preso na delicada corrente de prata e Jose levanta um laptop
prata em suas mãos. Minhas mãos se fecham em punhos e minha
mandíbula aperta.

“E agora?” Garrett pergunta, virando para mim.

Trinco meus dentes juntos, tentando como o inferno


controlar minha raiva. Eu preciso estar calmo. Nós estamos perto.
Perto demais para o conforto de Finlay. E isso é algo que
poderíamos usar a nosso favor.

“Agora precisamos atraí-lo”, digo, pegando a corrente de


Ricky. Esfrego a ponta do meu polegar contra a prata delicada e
minha pele arrepia como se ainda pudesse sentir a presença de
Sophia.

“Como?” Kam pergunta.

“Acabando com os negócios dele. Seus capangas. Seus


parceiros. Quebrando um a um, porra.”

Depois de uma tentativa fútil de procurar por Sophia no


restante da ilha de Finlay, reabastecemos o jato e voamos de volta
para Chicago. Ligo para Monte e Clarence, pondo em movimento

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os planos, mas claro, eles estavam à frente do jogo com um dos


capangas de Finlay já em suas garras.

Quando chegamos em Chicago, Garrett e eu vamos direto


para o porão na minha casa onde o capanga de Finlay, Ivan, está
sendo mantido. Kam, Ricky e Jose trabalhariam com Monte e
Clarence para tirar do laptop qualquer informação útil sobre
Finlay.

Quando Garrett e eu descemos as escadas para o meu porão,


um santuário como a sala de execução na casa de meu pai, deixo
a sede de sangue correr pelas minhas veias. Olho para Garrett,
tomando nota da carranca franzida em seu rosto e da preocupação
em seus olhos.

“Você não tem que fazer isso, sabe.”

Tirar vidas para eliminar os bandidos do mundo é uma coisa,


mas tirar uma vida só para torturar e recuperar informações é
outra. Muitos homens não estão preparados para isso. Garrett
pode muito bem ser um deles.

Garrett para de andar e congela no lugar enquanto me prende


com um olhar. “Foda-se, Creed”, ele chia, apontando um dedo em
direção ao meu peito. “Sophia é minha responsabilidade. Meu.
Fodido. Sangue. Então sim, filho da puta, tenho que fazer isso.”

Sem dizer uma palavra, silenciosamente aceno com a cabeça


e retomamos o passo.

Eu sei que Garrett está certo. Sophia é sua irmã afinal. Ela é
a irmã que ele cuidou toda a sua vida. Eles sempre dependeram
um do outro, então só posso imaginar como isso é para ele. Quero
colocar fogo nesta terra e fazer todo mundo sangrar até que eu
tenha Sophia de volta em meus braços, e imagino que Garrett
sente o mesmo. Ele precisa do derramamento de sangue tanto
quanto eu, se não mais.

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Quanto mais nos aproximamos do porão, mais fortes são as


ameaças de danos corporais de Ivan. Enquanto aperto a maçaneta
na minha mão, minha máscara volta ao meu rosto. Eu não sou
mais Creed, no lugar dele está Diavolo Sabella, o filho da puta, o
Fantasma.

Meus lábios se estreitam no minuto em que vejo Ivan


amarrado à cadeira. Com a pele branca de alabastro coberta de
tatuagens de merda e uma cicatriz que corta seu olho, sei
imediatamente que ele está com a Bratva12. Sua descrição e nome
coincidem com o mesmo que Sophia nos deu todos aqueles meses
atrás, quando contou a mim e Garrett o que aconteceu naquela
mansão. Raiva corre pelas minhas veias enquanto eu olho para a
porra estúpida. Imaginar suas mãos na minha garota me faz ver
vermelho.

Ainda não juntei as peças de como Finlay conseguiu se


entrelaçar tão profundamente com tantos grupos diferentes. Ele
está jogando em todos os lados do campo, o que é inédito. É só
uma questão de tempo até que um dos monstros ataque, e
pretendo manter Sophia longe do fogo cruzado quando isso
acontecer.

Ivan fala sem parar sobre o nosso assassinato quando se


libertar, mas no minuto em que entramos no porão ele se cala.
Fico nas sombras da sala fria e mal iluminada e vejo Ivan e Cova
se avaliarem. Garrett vibra ao meu lado com tanta raiva
desenfreada que decido ser generoso com minha presa.

“Vá em frente.”

Cova não espera por mais instruções, ele olha para Ivan com
um grunhido. Os punhos de Garrett acertam repetidamente no
rosto de Ivan, o porão se enche de grunhidos e sons do impacto
de carne batendo na carne. Ele faz uma pausa com um punho

12
Bratva- Máfia Russa
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sangrento erguido no ar e rosna: “Seu pedaço de merda! Onde está


minha irmã?”

O maldito idiota na cadeira cospe um monte de sangue aos


pés de Garrett e levanta o queixo em desafio.

Vejo o momento em que a compostura de Garrett escorrega.


Seu rosto se transforma em um tom incomum de vermelho, e ele
levanta o punho pronto para bater no homem até deixa-lo sem
sentido. Por mais que eu gostasse de ver Ivan ser espancado,
ainda preciso de respostas. Não posso ter Cova fechando seu
cérebro antes de conseguirmos pistas.

Saindo das sombras, eu me faço visível para Ivan.


Descansando minha mão no ombro de Cova, eu aperto,
silenciosamente deixando-o saber que vou assumir daqui.

“Eu não vou falar, seus filhos da puta”, Ivan cospe com raiva
e um olhar enlouquecido em seus olhos. Meus lábios sorriem.

“Você vai”, digo calmamente enquanto deslizo minhas mãos


nos bolsos da minha calça, olhando para ele.

Ele ri maniacamente. “Eu já disse a esses outros fodidos que


não vou falar merda nenhuma por causa daquela vadia.”

Em algum lugar bem fundo, uma fornalha faz som de quente.


Meu queixo mói de um lado para o outro com raiva do xingamento
de Ivan para a minha garota.

Distanciando-me da raiva, sopro uma respiração calmante e


me volto para a mesa a alguns metros de distância, cheia de
suprimentos. Meus olhos se demoram na furadeira que está
montada com uma broca brilhante na ponta, longa o suficiente
para me ajudar a decidir.

“Traga a furadeira”, digo a Garrett e abraço a escuridão


dentro de mim.

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Essa era a parte do meu trabalho que eu amava. É doente,


totalmente distorcido, mas este sou eu. Isso é quem eu era, a
pessoa lá dentro, que tentei tanto esconder de Sophia.

A morte.

O derramamento de sangue.

A tortura.

Eu vivi por isso. Prosperei com isso. Fazer alguém sangrar e


implorar pela sua vida é o que me motivava a viver.

E isso é exatamente o que eu farei com esse pedaço de merda.

Ele sabe de alguma coisa, e é por isso que está se recusando


a falar. Ele sabe quais são os planos de Finlay e, no entanto, não
é inteligente o suficiente para me dizer antes que as coisas fiquem
sujas. Se ele estava lá na mansão quando salvamos Sophia, sabe
muito mais do que está soltando.

Agarrando a furadeira da mão estendida de Garrett, assisto


com diversão enquanto seus olhos se arregalam de medo. Sem
aviso, enfio a broca na carne do ombro dele e, com um toque no
dedo, a ferramenta elétrica inicia sua rotação. Aquilo rasga sua
pele, o músculo, o tecido e rala contra o osso.

Ivan grita como um porco a caminho do matadouro, enquanto


seu sangue e carne se espalham pelo meu rosto e as paredes de
azulejos do porão. Um rio carmesim de sangue flui da ferida,
espalhando líquido quente e pegajoso por todo o lugar até que
desce pelo dreno posicionado sob a cadeira.

Eu só paro quando não sinto mais pressão contra a broca.


Olhando mais de perto, posso ver a cabeça da broca no outro lado
do corpo do homem. Entrando de um lado do ombro e saindo do
outro.

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Ivan grita em completa agonia enquanto puxo a furadeira e a


posiciono no outro ombro. Seu medo traz o sorriso mais doentio
para o meu rosto.

“Nós podemos fazer isso a noite toda”, murmuro em uma voz


provocante que dominei ao longo dos anos.

Era a voz que eu costumava usar para assustar minha presa,


meus alvos, minhas mortes.

“Agora”, solto um suspiro, descansando em minhas coxas


para que eu possa olhar nos olhos dele. “Onde ela está? Para onde
diabos Throne levou minha garota? E antes de tomar qualquer
decisão precipitada, eu sugiro que você pense bem, porque o
próximo lugar que isso aqui vai perfurar”, eu gesticulo para a
broca ensanguentada na minha mão. “É o seu olho, e depois bem
aqui.” Cavo a broca em sua virilha, deixando meu ponto bem
claro. Seu corpo inteiro fica tenso. Se eu respirar com força
suficiente, o fedor de seu medo vai cobrir as membranas das
minhas narinas. O cheiro exala dele em ondas. E eu gosto disso.

Ivan respira irregularmente, os olhos dilatados de medo e dor.


Nenhuma quantidade de adrenalina pode bloquear esta forma de
tortura.

“Eu não sei de nada. Sou apenas um mula. De baixo nível.


Eu só conheci o Throne uma vez. Eu nunca vi ou ouvi nada sobre
ele desde então”, ele diz, de repente, implorando por sua vida sem
valor. “Não sei nada sobre seus planos ou onde ele está prendendo
a cadela.”

Puxo ar através dos meus dentes e solto um suspiro


desapontado.

“Que pena.”

Seus olhos se arregalam quando levanto a furadeira


novamente.

“Espere! Você disse que se eu falasse, viveria. Por favor!”


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Eu me volto para Garrett com as sobrancelhas levantadas.


“Eu não me lembro de dizer uma coisa assim. Você lembra?”

“Não.”

Sorrio para o olhar frio e distante em seu rosto antes de voltar


para o pedaço de merda preso à cadeira.

“Veja, o fato é, eu sei que você está mentindo para mim. E


quer saber o que acontece com os mentirosos, Ivan?” Eu pergunto
a ele, não me importando se vai responder. Ele abre a boca para
responder, mas em vez de palavras, tudo o que arranco de seu
peito é um grito de gelar o sangue. Enfiando a broca de metal na
órbita do seu olho, aperto o botão de ligar.

“Isso é o que acontece”, eu sussurro duramente bem perto de


sua orelha.

O grito gorgoleja em sua garganta e se expande pelo porão


enquanto seguro o botão liga/desliga e aperto até que não sobra
nada de seu globo ocular, e a broca gira no vazio. Sangue e partes
de seu olho voam em mim, mas nem me incomodo.

Quando ele para de gritar e se debater contra as amarras,


arranco a ferramenta da sua órbita e coloco-a gentilmente na
mesa atrás de mim.

Silêncio.

Está pesado e grosso aqui. Há uma quietude no porão que


me alerta para o fato de que ele está morto. Virando no meu
calcanhar, pego o cantil de gasolina em uma das prateleiras e volto
em direção ao seu cadáver. Tirando a faca do meu bolso de trás,
corto suas amarras e tiro-o da cadeira. Agarrando o combustível,
continuo até esvaziar todo o conteúdo sobre ele.

“Você está tentando nos queimar?” Garrett rosna, dando um


passo à frente. Eu lanço um sorriso frio em sua direção.

“O porão é à prova de fogo.”

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“Como diabos uma sala pode ser à prova de fogo?”

Não me incomodo em perder meu fôlego para responder sua


pergunta. Em vez disso, acendo um fósforo e agito sobre o corpo
sem vida, observando com satisfação enquanto ele queima.

A morte é um evento tão importante, mas a limpeza do


sangue e dos corpos parece quase... insignificante. Parece
inconsequente. O fim de uma vida, o roubo de uma alma. É tudo
muito fácil para um homem como eu.

“E agora?” Garrett pergunta.

“Nós observamos enquanto ele queima. Cada um deles”, eu


digo, sem tirar os olhos das chamas azuis e laranjas lambendo o
corpo mutilado de Ivan.

Ainda não tenho ideia de onde aquele desgraçado poderia tê-


la levado, mas uma vez que eu souber... bem, a guerra está
chegando, e não me importarei com quem vai ser perdido na mira.
Tudo o que importa é Sophia.

É melhor que Fin esteja pronto, porque estou chegando, e


uma vez que colocar minhas mãos nele, não há como dizer onde
a escuridão dentro de mim vai me levar.

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Sophia

Com as mãos trêmulas, agarro a faca contra o meu peito


enquanto eu me arrasto pelo corredor escuro. Meu coração galopa
com tanta força que posso sentir as batidas contra minhas mãos.
As tábuas do assoalho rangem sob meus pés e estremeço com
cada ruído agudo, rezando para que ninguém ouça.

Deslocando meu olhar por cima do ombro, verifico o que me


rodeia e procuro quaisquer ameaças persistentes. Eu tento
ultrapassar a neblina atrapalhando meu cérebro e descobrir para
onde diabos Finlay me trouxe. Se estivéssemos em uma ilha
remota, não haveria como ele ter me levado a um hospital normal,
o que explica o médico estranho, eu acho. Mas esse lugar em que
estou? Parece um velho barraco frágil.

O chão debaixo dos meus pés está gasto e há lacunas entre


as tábuas de madeira, e as tábuas de madeira nas paredes
parecem bem velhas, apenas um toque e eu acabaria com uma
farpa nas mãos. Parece que estou presa em uma velha cabana na
floresta.

Respiro fundo quando chego perto de um quarto no corredor


com a porta aberta. Meus dedos se agarram à faca quando passo
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pela luz fraca da sala. Chupando meu lábio inferior em minha


boca, mordisco a pele ansiosamente enquanto meu olhar percorre
a sala desocupada. Não há sinal de ninguém lá dentro, o quarto
está mortalmente quieto. Olhando paranoica sobre o meu ombro,
eu forço minhas pernas a continuarem se movendo.

Continuo pelo corredor até que ele se afunila em uma


pequena sala de estar, se é que você pode chamar aquilo assim.
Descansando contra a parede há um sofá laranja, gasto e
desigual, e a lâmpada pendurada no fio no centro da sala me dá
um arrepio na espinha, lembrando-me de quando fui levada. Meus
olhos percorrem a sala até que recaem na porta da frente. Engulo
em seco, minha boca ressecada enquanto olho para a única saída
possível.

Eu não sei onde Finlay está ou quando vai voltar. Ele poderia
estar do lado de fora com uma arma apenas esperando por mim,
até onde eu sei. Mesmo que ele não esteja, como diabos vou sair
viva desta ilha? Isto é, se eu ainda estiver na mesma ilha. Não sei
quanto tempo se passou depois que Finlay me drogou pela última
vez, mas pela aparência da luz entrando pelas janelas, diria que
está anoitecendo. Apenas mais algumas horas até a noite cair.

O medo toma conta do meu corpo enquanto tento pensar em


uma saída mais inteligente, mas chego à conclusão de que não há
uma. É agora ou nunca. Se quiser proteger meu bebê, preciso
correr o mais longe possível de Finlay. Então é isso que eu faço.

Eu corro.

Abro a porta da frente e me lanço para fora da cabana com


os pés descalços e voo para a segurança oculta das árvores.
Galhos e galhos rangem sob meus pés, se partindo, enquanto
forço minhas pernas a correr com mais força, a correr mais rápido.
Desvio de um lado para outro, ignorando o raspar das árvores
contra o meu rosto e braços. Os ramos e galhos quase parecem
mãos tentando me segurar e impedir minha fuga.

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Meus pulmões ardem.

Meus pés estão chorando de dor e cada centímetro de mim


está gritando de medo.

Não desista agora, Sophia, meu coração grita, forçando-me a


me esforçar mais. Abaixando minha cabeça, eu respiro fundo,
insistindo mais forte e forçando meu corpo a encontrar a energia
inexistente e correr. A dor afiada na lateral do meu corpo, sob
minhas costelas, grita para eu parar e respirar, mas não vou, eu
não posso. Agora não.

Não sei quanto tempo eu corro, ou até onde consegui chegar,


mas eu me recuso a diminuir o ritmo. Meus pulmões espasmam,
como se em sugestão e os músculos em minhas panturrilhas
começam a endurecer, se torcendo em um nó. Lágrimas brotam
dos meus olhos quando passo pelo ponto de ruptura do meu
corpo.

Estou cansada. Estou faminta. Sinto falta de Creed e do meu


irmão.

As sombras na floresta me perseguem enquanto atravesso o


verde exuberante. A luz do sol entrando pela copa das árvores
começa a desvanecer-se quanto mais eu corro. Meus pulmões
arfam e meu passo diminui enquanto meu corpo corre em nada.
O ácido lático queima em meus membros e meu corpo grita de
frustração quando meu tornozelo falha e eu caio na terra fria. Meu
rosto bate contra o solo úmido do chão. Um soluço escapa do meu
peito enquanto tento me levantar, mas meus músculos se
recusam a obedecer, tremendo a cada tentativa.

Eu deixo meu rosto úmido cair no solo frio enquanto minha


respiração entra e sai de meus pulmões, assobiando em sintonia
com os outros sons da natureza. Meus olhos se fecham e o rosto
de Creed se materializa. Umidade faz poças nos meus olhos
quando penso no homem por quem me apaixonei. Seus
impressionantes olhos cinzentos me assombram por dentro e não

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posso segurar o soluço que rasga meu peito, perfurando o ar da


noite. O peso esmagador da agonia me faz perder a batalha contra
minhas lágrimas. Elas caem livremente, encharcando o lado do
meu rosto contra o solo.

Tento não pensar nele com dor. Eu tento não deixar minha
mente vagar e pular para conclusões de sua morte. Em vez disso,
concentro-me nas coisas boas. O jeito que ele me beijou. Todas as
maneiras que me tomaria em seus braços e me abraçaria, me
fazendo sentir mais segura do que nunca. Concentro-me em seu
cheiro, o aroma amadeirado que tinha a capacidade de envolver
meu coração, encher minha alma inteira e me fazer sentir
novamente inteira. Meu coração se aperta de dor quando me
lembro da primeira vez que ele me disse que me amava. Eu posso
até imaginá-lo agora, me dizendo para levantar e lutar, porque
sabe que sou mais forte do que isso.

Eu sou mais forte que isso.

Uma dor aguda repentina atravessa meu estômago, me


lembrando que não comi no que parece ser vários dias. Outra
lágrima vaza quando penso no meu bebê, nosso bebê, que não vai
sobreviver a menos que eu lute.

Enfiando meus dedos na lama úmida, eu uso-a como


alavanca para arrastar meu corpo contra a árvore mais próxima.
Meus lábios se curvam, mostrando os dentes enquanto me
esforço, usando toda a minha força para rastejar. Consigo puxar
meu corpo para cima e me inclinar contra o tronco áspero que
penetra nas minhas costas através da camisa fina. Minha cabeça
bate contra a madeira enquanto tento recuperar o ar.

Giro meu olhar ao meu redor com cautela enquanto tento


recuperar o fôlego. A selva, embora escura, parece que estou em
um filme do Jurassic Park. Eu meio que espero que um
dinossauro saia por entre as árvores e me rasgue ao meio.

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Meu corpo cai contra a árvore, fadiga destruindo meu corpo.


Só preciso descansar por um segundo para que eu possa me
levantar e começar a correr novamente. Meus olhos se fecham e
quase instantaneamente, minha respiração se acalma.

“Do que são estas?” Eu sussurro, gentilmente correndo meus


dedos sobre as cicatrizes ao longo de suas costas. Escondidas sob
a multidão de suas tatuagens. As marcas são elevadas em sua pele
e parecem ásperas, quase como se fossem algum tipo de marcação
ou queimadura.

Creed de repente aperta minha mão na sua e me vira de


costas. Seu corpo firme paira sobre o meu. Meus olhos se arregalam
quando dou uma olhada no rosto dele. Suas narinas estão infladas
e seu peito está arfando, como se ele tivesse corrido uma maratona.
Como se estivesse com dor.

“Quem fez isso com você, Creed?” Minha voz vacila com
emoção e meus olhos ardem. Ele não me responde, em vez disso,
seu olhar percorre meu rosto, quase como se estivesse gravando
cada parte de mim, cada detalhe na memória. Um grunhido baixo
reverbera em seu peito e, em seguida, sua boca está de repente na
minha. Me beijando. Tomando. Extraindo minha alma inteira do
corpo. Surpresa se arrasta dentro de mim e euforia explode em
minhas veias. Gemo em sua boca, minhas mãos envolvendo seu
pescoço, puxando seu corpo para mais perto do meu, precisando
sentir seus duros músculos descansando contra mim.

Acordo com um sobressalto. O suor pontilha minha testa e


meu coração bate forte no peito. Lanço meu olhar para a esquerda
e para a direita, tentando espreitar através da escuridão para
encontrar a fonte do que me acordou. A única luz é a da lua que
entra pela abundância de árvores. Meu peito arfa enquanto
trabalho para acomodar minha respiração pesada.

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Merda!

Como posso ter adormecido?

Eu estava apenas descansando meus olhos e agora, Jesus,


agora nem sei quanto tempo estive apagada. Meu olhar se dirige
para o céu, parcialmente bloqueado pelas árvores e eu olho com
atenção, tentando adivinhar que horas são. Deve ser bem tarde da
noite, meia-noite, talvez.

Esfrego minhas mãos sobre o rosto, tentando espantar a


sonolência, mas não adianta. Eu me sinto letárgica. Meus ossos
doem por causa da corrida e meus músculos parecem como se
tivessem passado por um espremedor.

O som de um graveto quebrando à distância me chama a


atenção para a espessa e formidável linha de árvores. Meu
estômago se fecha e o coração palpita, pulsando na minha
garganta. Com movimentos frenéticos, acaricio meu corpo,
procurando por minha faca. Sinto um pequeno alívio quando
minha mão desliza sobre a menor. Reviro meu cérebro, tentando
lembrar o que aconteceu com a faca maior. Eu estava correndo
com ela, sei disso, mas depois que desabei no chão, não me lembro
de pegá-la de volta.

Meus olhos se voltam ao chão, procurando por qualquer


brilho de metal que me ajude a encontrar a faca. O oxigênio em
meus pulmões se transforma em espinhos e punhais,
dolorosamente pressionando minhas laterais quando ouço o som
distinto de outro galho estalando. Muito mais perto desta vez.
Mordo meu lábio inferior com força para não fazer barulho.

Alguém está aqui. Eu não estou mais sozinha.

Lágrimas ardem em meus olhos enquanto vasculho as


árvores e arbustos escuros em busca de qualquer movimento, mas
não vejo nada fora do comum. Minha mão palpita sobre a pequena
faca na minha cintura, e a agarro pela minha vida. Com o peito
arfando, meus ouvidos se esforçam para ouvir o movimento.
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No momento em que vejo a forma escura se materializar por


trás de uma das árvores no escuro, ele também me vê. Eu sinto.

Um gemido baixo escapa dos meus lábios enquanto me


levanto, agarrando-me à casca áspera da árvore atrás de mim para
me apoiar. Ele congela com o meu movimento repentino,
avaliando meu próximo movimento. Com a faca firmemente presa
na minha mão, corro ao redor da árvore atrás de mim e começo a
ziguezaguear através da floresta. Minhas pernas estão pesadas e
as panturrilhas queimam com o uso excessivo, mas continuo
correndo. Eu não paro. Eu nem sequer penso, apenas corro.

“Aqui, gatinha-gatinha”, uma voz chama de algum lugar atrás


de mim sussurrando através das árvores.

Cometo o erro primário de olhar para trás para ver se estou


sendo seguida. Um galho mergulhado na escuridão me atinge
enquanto eu balanço a cabeça sobre os ombros, sem ver o homem
de antes. Ao fazer isso, não noto a figura saindo das sombras,
direto em meu caminho. No momento em que viro a cabeça de
volta para frente, meu corpo colide com uma superfície dura e
braços que parecem amarras me prendem, me segurando na
posição vertical.

“Aí está você, amor.”

Minhas lágrimas caem.

Não posso segurá-las.

Não.

Eu me esforço contra o aperto de Finlay, tentando libertar


meus braços para poder espetar a faca em sua perna ou em algum
lugar útil, mas seu poder sobre mim é inflexível.

“Sophia. Sophia”, ele diz. “Você me desaponta, querida.”

Na escuridão da floresta, seu rosto é iluminado pela lua,


fazendo-o parecer um verdadeiro monstro. Um sorriso satisfeito

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se espalha em seu rosto, e ele mostra os dentes como um animal


selvagem.

“Sorte sua que gostamos da perseguição. Não é verdade,


Raul?”

Meu olhar se volta para o homem que aparece do nada.


Compreensão me domina enquanto olho entre eles.

Eles brincaram comigo.

Eles devem ter me encontrado enquanto eu cochilava e


decidiram brincar de gato e rato comigo. Enquanto eu fugia de
Raul, garantiram que eu corresse direto para os braços de Finlay.

Uma onda esmagadora de impotência arranha minha


garganta, impedindo que eu continue respirando. Em um ataque
de histeria, começo a balançar e chutar as bolas de Finlay,
tentando me libertar.

“Socorro!” Grito na noite escura. “Alguém me ajude!” Meus


gritos estridentes ecoam ao nosso redor, farfalhando as árvores.

Finlay afrouxa seu aperto em mim, deixando meu corpo cair


no chão para que ele não tenha que gastar nenhuma energia me
segurando.

No minuto em que meu corpo atinge o solo, aperto a faca na


minha mão e ataco, apontando diretamente para o pé de Finlay.
Ele solta um grunhido de dor e agarra um punhado do meu
cabelo, me puxando de pé.

“Agarre ela, seu idiota!” Finlay ordena para Raul.

Raul me pega, torcendo o punho no meu cabelo e dobrando


meus braços em um ângulo desconfortável para manter meus
pulsos juntos atrás das costas.

“Sabe, Sophia”, Finlay começa dobrando a cintura para tirar


a faca do pé. Ele a puxa para fora com um estremecimento e lança

BLOOD
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um olhar maligno para mim. “Eu prometi a mim mesmo que não
iria te machucar, e pretendo manter essa promessa.”

Meu corpo relaxa de alívio.

“Mas isso não significa que não posso colocar o Raul aqui
para te ensinar uma lição agora, não é?” Um grito desesperado
brota no meu peito enquanto o aperto de Raul em meus pulsos
fica mais firme, em alerta. “Cuide dela enquanto limpo essa
merda”, ele rosna, apontando para o pé. “E nem pense em foder
com ela, esse direito está reservado para mim e apenas para mim.
Entendeu?”

“Si.13“

“Faça isso rápido. Precisamos dar o fora desta ilha maldita.”

Finlay gira em seus calcanhares, mancando seu caminho


através da floresta, deixando-me com seu lacaio.

De repente, me lanço para fora do alcance de Raul. Por um


segundo, acho que ele vai ser um ser humano decente e me deixar
fugir, mas quando a mão dele voa, me atingindo no rosto, eu sei
que é o oposto. Ele não é um ser humano decente. Ele é um
monstro, assim como o resto.

Raul acaba com a distância entre nós e seu outro braço


dispara, conectando-se com a minha bochecha. A dor explode na
minha cara e grito quando a força de seu golpe me faz voar para o
chão. Deitada de costas, colocando o rosto palpitante na palma
das minhas mãos. Os galhos se partem sob seus passos, quanto
mais ele se aproxima. Com meus olhos cerrados, fico tensa,
esperando seus golpes caírem sobre mim, mas eles não vêm.

Lentamente, retiro minhas mãos do rosto, surpresa ao


encontrar Raul profundamente agachado, com os antebraços

13
Si- (Espanhol) - Sim
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apoiados nos joelhos. Ele inclina a cabeça para o lado e olha para
mim com uma expressão ilegível.

“Não é muito inteligente, gringa?”

Eu não respondo, com muito medo das consequências.

“Levantate, pendeja14.”

Eu não me movo

“Levante-se”, ele exige.

Quando ainda não me movo, Raul empurra a mão no meu


cabelo e agarra com força, me puxando de pé pelas minhas raízes.
Eu grito, arranhando suas mãos para me libertar.

“Não faça isso”, eu imploro. “Me ajude. Ayudame, por favor.”

Espero que usar o pouco espanhol que conheço apele para o


lado mais gentil dele, mas não. Lágrimas escorrem dos cantos dos
meus olhos. Lentamente, Raul desembaraça a mão do meu cabelo
e dá um pequeno passo para trás.

Sua boca treme. “Voy um disfrutar lastimarte15.”

Minhas sobrancelhas franzem em confusão em suas


palavras. Antes que eu possa tentar dissecar suas palavras com o
parco espanhol que eu conheço, seu punho vem voando na minha
cara e tudo acontece tão rápido que não seria capaz de fazer
qualquer coisa para impedir, mesmo se tentasse.

Eu ouço um barulho doentio que faz meu estômago revirar e


pontos pretos tomam conta da minha visão. Meu corpo cai ao chão
com um baque retumbante que tira o ar de mim. Meus ombros se
curvam e ofego quando uma nova onda de agonia passa pelo meu
corpo.

DOR.

14
Levantate, pendeja- Levante, merda.
15
Voy um disfrutar lastimarte- Vou gostar de te machucar.
BLOOD
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Essa é a única coisa que posso compreender agora. Meu rosto


e meu nariz irradiam isso. Forçando a coerência, tento manter
meus olhos abertos e procurar por Raul. Ele está pairando sobre
mim com um olhar satisfeito no rosto. Meu lábio inferior tremula
e dor atravessa meu corpo enquanto eu viro do solo frio em direção
a ele.

“Por favor”, sussurro, ignorando o sangue escorrendo do meu


nariz pelo queixo. “Estou grávida”, eu digo. Esperando, rezando
para que ele não me machuque mais.

”Eu sei”, diz ele, soltando um chute no meu ventre, que me


faz ver estrelas.

Enrolando as pernas em meu corpo, envolvo meus braços nas


canelas, forçando meu corpo em uma bola. Eu faço a única coisa
que posso, enquanto ele derrama outro chute implacável no meu
corpo, protejo meu bebê. Quando sua bota acerta meu braço, eu
grito. Uma dor quente e branca dispara pelo meu cotovelo e
antebraço, fazendo o céu girar como se eu estivesse em um
turbilhão de carrossel. Meu estômago revira, fazendo com que a
bile suba pela minha garganta. Virando a cabeça para o lado a
tempo, eu vomito. A bile rançosa faz uma poça debaixo da minha
bochecha, cobrindo meu cabelo emaranhado de sujeira.

Raul solta uma risada rouca, mas ressoa mudo, como se


minha audição estivesse funcionando de forma intermitente.
Fecho meus olhos, tentando respirar além da dor. A próxima vez
que eu os abro, estou olhando para um familiar par de olhos
verdes pálidos que eu não vejo em doze anos.

“Mãe?” Eu falo, minhas sobrancelhas franzidas em confusão.

O que mamãe está fazendo aqui? Tudo nela parece


exatamente como eu me lembro, como nas fotografias e nos meus
sonhos. Cabelo preto longo, pele leitosa, nariz pequeno e lábios
rosados.
BLOOD
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Chaos Series #2 CHAOS
S.M. SOTO

“Oi, menina doce”, ela sussurra naquele tom suave que me


lembro tão bem. Lágrimas brotam dos meus olhos e um soluço
borbulha no meu peito. Ela estende a mão e acaricia o lado do meu
rosto, não posso sentir o toque dela na minha pele, mas sinto aquilo
na minha alma, se é que isso é possível. “Eu sinto muito que isso
esteja acontecendo com você, minha pequena Sophia.”

Fecho meus olhos contra uma onda súbita de dor. Quando os


abro, encontro minha mãe me observando com um olhar simpático.

“Você pode aguentar, só mais um pouco doce menina?” Ela


pergunta, e fecho meus olhos contra a dor, balançando a cabeça.
Lágrimas escorrem dos cantos dos meus olhos enquanto tento
aguentar. Enquanto tento lutar.

Quando minhas pálpebras se abrem, mamãe se foi, mas o


céu e as árvores estão se movendo. Meu olhar lentamente desce
para o corpo duro me segurando. Meu coração acelera enquanto
a esperança enche meu peito, pensando que é Creed, mas quando
meu olhar se fixa em Raul, meu coração se despedaça. Lágrimas
escorrem dos meus olhos ao perceber que isso não acabou. Meu
pesadelo apenas começou.

BLOOD
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S.M. SOTO

Creed

A dor. Está se tornando demais. Eu não consigo respirar


através da dor que irradia do meu peito. Tudo dói. Meu rosto
latejando sob as contusões. Eu não consigo mais abrir o meu olho
direito. Está inchado e o outro, tão cheio de lágrimas que não
consegue acompanhar.

Minhas pernas querem desistir de mim e meus braços estão


cansados de bater. Eu não quero mais lutar. Eu não quero fazer
isso.

Quando minha mãe saiu para fazer compras esta manhã, ela
perguntou se eu queria ir com ela. Deveria ter dito sim. Mas não
disse. Em vez disso, olhei para meu pai e vi a sutil agitação de sua
cabeça.

Não.

Ele está tentando me ensinar como lutar. Como me deixar mais


forte. Como ele. Eu só quero ser como ele, então um dia todos
poderão olhar para mim, do jeito que olham para ele. Mas eu não
sabia que seria assim. É demais. Não sou forte o suficiente para
ele.

“Novamente. Vá de novo, Giovanni.”

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Eu ouço o barulho dos pés de Giovanni, mas não consigo ver


com a iluminação fraca no porão. Levanto meus braços trêmulos
para o alto, me preparando para lançar outro soco que
provavelmente não vai acertar, mas não adianta. Ele é muito mais
forte que eu. Tudo o que ele faz é desviar de meus braços magros e
jogar um soco direto na minha têmpora e outro no meu abdômen,
que tira todo o ar de dentro de mim. Eu tropeço com cada um dos
seus golpes. E quando seu punho pesado me atinge no rosto, meu
pequeno corpo cai no chão. Minha cabeça acerta o azulejo e
lágrimas de dor correm pelo meu rosto.

“Por favor”, sussurro em uma voz gutural, esperando que meu


pai me ouça. Eu ouço seus finos sapatos de couro italiano batendo
contra o azulejo. Alguém paira sobre mim e, quando pisco as
lágrimas, o rosto do meu pai se materializa. Apenas de leve. Não
há simpatia em seu olhar. Apenas um olhar vazio que faz meu
pequeno coração bater mais rápido.

“Diavolo”, ele diz, e eu me encolho. Odeio meu nome. Eu odeio


o que ele representa. Mamãe se recusou a me chamar assim. Ela
prefere, tesoro16 ou cuore mio17. Mas não meu pai. Eu sempre fui
Diavolo para ele, ou soldado. Nunca fui o suficiente. Não sou forte
o suficiente, não sou alto o suficiente, nem inteligente o suficiente.
Tudo o que faço, nunca está à altura.

Nada disso importa porque, no final do dia, sou sempre fraco


aos seus olhos. Eu não sou forte o suficiente para ser como ele. Para
algum dia me tornar ele, ou ser melhor que ele.

“Você está desistindo tão facilmente, filho? Como você vai


proteger sua mãe, la famiglia? Como você se protegerá se implorar
a alguém para poupar sua vida? Você deveria ser aquele que está
pairando sobre eles, enquanto dão seu último suspiro. Não o
contrário. Você tem que mergulhar bem fundo. Tome essa dor e use-
a em seu benefício.”

16
Tesoro- Tesouro
17
Cuore Mio- Meu coração
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Um soluço sacode meu peito com suas palavras, com o


pensamento de mais dor e seus lábios se curvam.

“Mais uma vez, Gio”, ordena meu pai, voltando para as


sombras. Assistindo. Sempre assistindo.

A cada chute e batida brutal, solto um uivo. Às vezes eu grito,


implorando por ajuda, ou outras vezes, grito por minha mãe.
Orando, esperando, que ela venha e me salve da dor. Eu não quero
fazer isso.

De repente, há um barulho alto e vozes gritando em italiano.


Eu deveria ser capaz de entender, italiano é a minha primeira
língua afinal de contas, mas com o zumbido em meus ouvidos, é
impossível entender o que está acontecendo.

Quando ouço a voz dela, solto um gemido e, impotente, tento


abrir os olhos.

“Dio mio.” A voz da minha mãe cruza a sala e ouço o estalido


de seus saltos enquanto ela corre para o meu lado. Suas mãos
macias embalam meu corpo, acalmando minhas feridas. Ela me
puxa para seus braços e sinto seu corpo tremer. Quando ouço um
soluço passar por seus lábios, percebo que ela está chorando
enquanto me balança em seus braços. Seu perfume me envolve,
rosas misturadas com baunilha, me envolvendo como um abraço
caloroso.

“Eu sinto muito, il mio amore. Luce dei miei occhi, della mia
vita. Il mio dolce ragazzo18”, ela sussurra em meu ouvido.

“Valentina.” O tom áspero da voz do meu pai me encolhe de


medo, e solto mais um gemido de dor. Minha mãe levanta a cabeça
e, quando consigo abrir um olho, vejo a expressão de raiva ardente.
É um olhar que eu não conheço.

18
Il mio amore. Luce dei miei occhi, della mia vita. Il mio dolce ragazzo - Meu amor. Luz dos meus olhos, da
minha vida. Meu doce garoto
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“Como você ousa. Como ousam vocês dois!” Ela grita, sua voz
perfurando o silêncio enquanto olha para o meu pai e Giovanni. “Ele
não é um peão neste mundo. Ele é um garoto! Uma criança!” Ela
grita, sua voz ficando mais aguda e mais alta.

“Valentina, anima mia19..” Meu pai começa a dizer naquele tom


suave que sempre usa com a minha mãe, mas ela o interrompe com
um grunhido. Seu olhar queimando buracos através de Giovanni.

“Esci20“, ela rosna. Quando Giovanni não se mexe, ela grita e


berra: “Deixe-nos!” Giovanni e meu pai trocam um olhar antes dele
sair da sala.

“Por que, Matteo?” Ela sussurra gaguejando, salpicando meu


rosto inchado com beijos.

“Por que, il mio amore21, se ele não aprender agora, se eu não


o preparar, ele será morto. E não vou deixar isso acontecer.”

“Por quê?” Ela diz. “Por que você não quer perder seu
herdeiro?” Seu tom é rancoroso.

“Porque ele é meu filho, Bella Mia22. Se eu perder qualquer um


de vocês, não terei nada. É por isso que ele precisa aprender agora.
Estou ajudando da única maneira que posso.”

“Não”, minha mãe chora, apertando os braços em volta de


mim. “Não quero essa vida para ele. Ele não está pronto.”

“Shhh”, meu pai sussurra, sua voz se aproximando. “Eu sei,


Valentina. Eu sei. Mas este é o único caminho. Ele precisa ser capaz
de se defender, tomar uma vida com a mesma facilidade com que o
seu adversário acabaria com a dele. Tesoro, este é o único
caminho.”

19
Anima Mia- minha alma
20
Esci- Saia
21
Il mio amore- Meu amor
22
Bella Mia- Minha bela
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As lágrimas da minha mãe espirram no meu rosto fazendo


meu coração apertar. “Ele é apenas um bebê. Ele tem apenas sete
anos. Ainda não está pronto. Meu doce garoto não está pronto.”

“Valentina, me escute.” Seu corpo se gruda no meu quanto


mais perto ele chega. “Se eu morrer...” Ele começa a dizer, mas
minha mãe o interrompe.

“Pare com isso!” Ela rosna.

“Tesoro, esta é a vida em que nasci, esta é a vida que levo, a


morte está sempre prestes a acontecer. Eu sei disso tão bem quanto
você. Se eu morrer pelas mãos ou pela bala de um inimigo, você
sabe quem serão as primeiras pessoas que eles procurarão? Vocês
dois. Vão caçar você e matar nosso filho a sangue frio. Eles vão
matar para acabar de vez com os Sabella, se ele não aprender como
se proteger. Você me entende?”

“Sim”, ela sussurra, seus braços apertados em volta de mim.


Meus olhos estão ficando mais pesados e mais pesados para se
manterem abertos e a escuridão está começando a se infiltrar. Eu
só preciso descansar. Só quero descansar.

Deixo meus olhos se fecharem e sinto meu corpo sendo


levantado em um forte par de braços. A última coisa que me lembro
de ouvir é a voz do meu pai antes de me deitar em uma cama macia.

“Você é mais forte do que pensa, filho”, ele sussurra pouco


antes de eu perder a consciência.

Eu acordo com um tremor, suor pontilhando minha testa.


Meus olhos percorrem meu escritório, procurando por algo fora do
lugar. A sala ainda está iluminada pelo brilho suave da lâmpada
da minha mesa e tudo parece em ordem.

Soltando uma respiração profunda, espero que meu coração


acalme seu ritmo e limpo o suor persistente da minha testa. Eu
empurro meus pés, tentando abafar as memórias que sempre
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parecem surgir quando menos espero que elas aconteçam. Faz


anos que não sofro com a dor nesse grau. Eu costumo tentar
manter guardada a memória da minha infância. Nada de bom vem
de olhar para trás.

Minhas botas batem contra o chão de madeira com o meu


ritmo. Passo a mão pelo cabelo pela centésima vez hoje e puxo as
mechas rebeldes.

“Foda-se!” Rosno, batendo meu punho na parede.

Já faz três dias. Três dias e eu ainda não encontrei Sophia.


Qualquer coisa pode ter acontecido com ela agora. Finlay poderia
ter tocado nela, matado, feito o que sua mente doentia quisesse
fazer, e eu não fiz nada para impedir. Não estou nem perto de
encontrar o fodido.

Nenhum de seus homens está falando. Nós estamos atrás de


cada um deles e nenhum abriu o bico. Ou eles estão todos dizendo
a verdade e não sabem de nada, ou seus homens são muito leais.
Também coloquei meus caras olhando para todos os possíveis
clientes, alguém que já esteve em contato com Finlay e sabe o que
eu consegui até agora? Corpos mortos. Eles estão começando a se
acumular e minha paciência está diminuindo muito.

Descansando as costas contra a parede, eu inclino minha


cabeça contra o gesso e fecho meus olhos. O lindo sorriso de
Sophia reflete em mim, me atingindo no peito, me deixando
completamente sem ar.

Por favor, que ela esteja bem.

Desamparo.

Essa é a única palavra que posso usar para descrever como


me sinto agora. Eu deveria estar com meu alvo pretendido agora.
Nunca demorei tanto tempo para terminar um trabalho antes.
Estou fora do meu jogo, maldição. Não consigo pensar direito

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quando se trata de Sophia, especialmente sabendo que ela está


grávida.

Sempre que sentimentos estão envolvidos, há uma bagunça


na sua cabeça. Eu sei disso, mas ainda estou nessa situação.

Sempre fui tão bom no papel de Fantasma, porque antes eu


era um bastardo frio e sem coração que não tinha emoções. Não
tinha ninguém com quem me importasse ou alguém por quem
daria minha vida. Mas agora eu tenho. E se quiser ver minha
garota viva novamente, preciso voltar aos meus velhos hábitos. Eu
preciso me transformar no homem que tenho tentado não ser a
minha vida inteira.

Diavolo Sabella. Um assassino. Uma máquina. Um maldito


fantasma.

“Creed.”

A voz de Monte me arranca dos pensamentos. Empurrando a


parede, enfio meu punho machucado no bolso e levanto o queixo.

“Eu acho que nós temos alguma coisa.” Meu coração se


acelera com suas palavras e a adrenalina corre pelas minhas
veias. “Clarence conseguiu investigar mais fundo e se deparou
com um homem que trabalha para Finlay há anos. Olha isso, a
família do bastardo mora na Colômbia. Coincidência?”

Eu mordo meus lábios em contemplação, cruzando os braços


sobre o peito. “Não é provável.”

“Exatamente o que eu pensei. Esse cara geralmente


administra um dos armazéns de drogas de Finlay que fica aqui
nos Estados Unidos. O que corre nas ruas é que o nosso amigo
colombiano desapareceu em algum confronto. Traficantes
pequenos desse mesmo armazém disseram que ele teve que voar
para casa para visitar sua família. Hoje, ele acabou de retornar.”

Eu guardo a esperança no meu peito e me concentro na sede


de sangue.
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“Como você descobriu tudo isso?”

Monte sorri. “Eu usei um quilo de cocaína para entrar,


fingindo entregar a merda ao armazém. Eles têm toda uma fodida
operação correndo lá. Remessas indo e vindo, filhos da puta lá
dentro cozinhando a merda. Esse armazém é o coração de sua
operação, Creed.”

Um sorriso puxa os cantos dos meus lábios enquanto as


engrenagens giram em minha cabeça, fazendo planos. “Então nós
vamos acabar com essa sua operação, atingindo o cara onde
realmente dói.”

“Devo reunir todos?” Pergunta ele.

“Ainda não. Eu quero o homem trazido a mim, qual é mesmo


o seu nome?”

“Raul Sanchez.”

Meu lábio se contorce. “Encontre-o.”

Monte mantém a sua palavra, trazendo Raul com a ajuda de


Kam e Ricky. Eu assisto pelos monitores enquanto jogam o corpo
dele no porão. Ao que parece, ele está inconsciente, tornando
muito mais fácil mantê-lo preso à cadeira sem lutar.

Um gemido do canto do meu escritório desvia minha atenção


dos monitores para a mulher latina encolhida no canto. Uma fita
adesiva está sobre seus lábios e as mãos e os tornozelos estão
amarrados, cortesia de Garrett. Eu normalmente não sequestraria
uma mulher inocente, mas acho que esses homens que tenho
torturado atrás de informações precisam de um pouco de...

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S.M. SOTO

incentivo. E a filha do Raul? Bem, acho que vamos descobrir o


quanto ela significa para ele.

Enquanto os caras estavam atrás de Raul, eu fiz algumas


pesquisas por conta própria. Acontece que nem toda a família de
Raul mora na Colômbia. Sua filha, Marisela, mora na Flórida com
seu namorado de longa data. Um traficante colombiano, claro.

Foi fácil o suficiente encontrar ela – contando que o dinheiro


sujo que seu namorado fazia traficando drogas e vendendo
mulheres continuasse entrando, ela não parecia se importar
muito com a origem dele, contanto que pudesse gastar – foi ainda
mais fácil pegar a garota sem que seu namorado percebesse.

Quero respostas. Quero vingança. E não vou parar até obter


isso.

Sophia ficaria desapontada comigo por voltar aos meus


velhos hábitos, voltando às táticas de Diavolo, mas não tenho
outra escolha. Eu já tive o suficiente dessa merda sem saída. Se
Raul não me der algo, vou fazer um massacre, matando todo
mundo até encontrar Sophia, incluindo sua filha.

Lágrimas escorrem dos olhos de Marisela enquanto ela me


olha de onde está do outro lado da sala. Saindo da cadeira e
ficando em pé, acabo com a distância entre nós.

“Vamos descobrir o quanto seu pai valoriza sua vida, não é?”

Eu puxo-a por cima do ombro, contra seus protestos e a levo


para o porão.

Raul ainda está inconsciente quando entramos. Marisela


grita seu nome na esperança de despertá-lo, mas é inútil. Ele não
vai acordar até que eu esteja pronto para isso. Metodicamente
prendo a garota à cadeira, amarrando de forma idêntica ao pai.
Empurro sua cadeira ao lado da dele, assim ela pode ter algum
tipo de conforto, mas isso não vai durar muito tempo.

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S.M. SOTO

Saio do porão para o corredor e encontro Jose. Ele os observa


pelo espelho de dois lados com um sorriso no rosto, desejando
vingança tanto quanto eu.

“Vai ficar?” Eu pergunto.

“Pensando nisso.”

Eu não respondo. Passo por ele em busca de novos métodos


de tortura.

Quando tenho tudo o que preciso, caminho em direção ao


corpo inconsciente de Raul, com uma calma mortal. Marisela puxa
suas amarras, gritando profanidades em espanhol por baixo da
fita na boca. Eu a ignoro e me agacho na frente de Raul. Com os
inaladores de amônia na palma da minha mão, seguro-os sob seu
nariz até ele acordar. Ele puxa uma respiração pesada, seus largos
olhos castanhos tomando consciência do seu arredor. Quando seu
olhar desce para o meu, seus olhos se estreitam. Eu não reajo.
Não me mexo. Apenas fico de pé e o encaro. Esperando.

Marisela escolhe o momento perfeito para choramingar. Raul


gira a cabeça em direção à fonte e a cor drena de sua pele
bronzeada. Agora eu sorrio.

“Hijo de puta23”, ele rosna.

“Ela não foi ferida”, digo para apaziguar. “Mas será, se você
não me disser o que eu quero ouvir.”

“Dejala ir24!”

Balanço minha cabeça e suspiro. “Ela não vai a lugar


nenhum. Eu sei que você tem trabalhado com Finlay ou Throne.
Es correcto?25”

23
Hijo de Puta- Filho da puta
24
Dejala ir- Deixe ela ir
25
Es correcto?- É correto?
BLOOD
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Ele não responde com palavras, mas vejo a verdade em seus


olhos. Ele sabe de alguma coisa.

Soltando os sais na mesa, calmamente ando em direção a


Raul, meu olhar escurecendo a cada passo. Alcançando meu bolso
de trás, eu desembainho a faca de caça e me abaixo, nivelando
meu olhar com o dele.

“Finlay tem algo que me pertence. Algo muito especial. E eu


quero saber onde ela está, Raul. Onde. Está. Minha. Mulher?” Eu
resmungo. Há uma faísca de reconhecimento em seus olhos com
a menção de Sophia e sei que ele sabe onde ela está. Ele sabe
exatamente de quem estou falando.

“Onde ela está?” Exijo, meu tom não mais segurando um


pingo de paciência. Raul sorri e minha compostura se vai. Minha
mão dispara, envolvendo sua garganta, cortando seu suprimento
de ar. Os olhos de Raul se arregalam enquanto ele luta para
respirar.

“Comece a falar, Raul, ou as coisas vão ficar muito, muito


confusas.” Meus dedos apertam o osso de sua traqueia por mais
alguns segundos antes de soltar, permitindo-lhe respirar. Ele
engasga por ar enquanto tenta recuperar o fôlego, e espero que ele
me dê alguma coisa. Qualquer coisa.

“Você nunca vai encontrar eles”, diz ele em uma voz áspera.
Meu sangue ferve e meu corpo treme enquanto a raiva surge em
minhas veias como brasa. Fecho os olhos e respiro fundo,
tentando manter alguma aparência de calma. Quando os abro,
olho para Raul e balanço a cabeça.

“Não diga que não te avisei, Raul.” Minha voz é


estranhamente calma quando aperto a faca de caça na minha mão
e me movo para sua filha.

Com um suspiro, corro a lâmina metodicamente sobre o dedo


indicador de sua filha. Seus olhos se arregalam e ele me dá uma

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olhada, aquela que diz ‘você não ousaria,’ mas eu ouso sim, filho
da puta. Eu faria isso, sim.

Ignorando a respiração rápida e a torrente de lágrimas de sua


filha, viro-me para Raul com uma sobrancelha levantada.

“Empieza a hablar?26”

Seus olhos vão de mim para sua filha, e o olhar de desculpas


em seus olhos é inconfundível.

Solto um “Tsc” baixinho, e balanço a cabeça para ele em


decepção.

“Resposta errada, amigo.”

Batendo a lâmina, empurro-a contra a ponta do dedo dela e


começo a serrar. Ela grita tão alto que seu corpo começa a tremer.
Mas os lamentos dela, esses tipos de gritos não me perturbam
mais, em vez disso, eu os aprecio. Quando você fode comigo e com
minha família, todas as apostas estão canceladas.

Ouvir os gritos estridentes de sua filha deve tê-lo acordado


porque ele começa a lutar contra as amarras, tentando em vão se
soltar e protege-la.

Muito tarde.

“Você vai me dizer o que eu preciso ouvir?”

Ele olha para mim com fogo em seus olhos ainda não se
abrindo do jeito que eu quero.

Tsc. Tsc. Que pena.

Virando as costas para Raul e sua filha, saio do porão em


busca das ferramentas necessárias para a próxima tarefa.

Jose me encontra no corredor com o meu instrumento de


tortura escolhido e com uma expressão de incerteza. A primeira

26
Empieza a hablar? - Começa a falar?
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vez que vi meu pai fazer isso, imagino que a expressão no meu
rosto fosse semelhante a dele. Eu deslizo um par de luvas pretas
em minhas mãos e estendo a mão para Jose.

“Este loco27. Você é um filho da puta frio, Creed”, diz ele,


entregando-a para mim, seu rosto franzido em desgosto.

Minhas botas ecoam contra o chão a cada passo que dou de


volta ao porão. Com as luvas pretas cobrindo minhas mãos, aperto
o rato que está se contorcendo nas minhas mãos. Andando em
linha reta em direção a sua filha que ainda está chorando em sua
cadeira, empurro o rato se contorcendo no frasco sobressalente e
o seguro sobre o dedo desmembrado.

“Meu pai costumava me contar histórias de seus dias em


campo, quando ele era apenas um subchefe da máfia. Ele disse
que sua parte favorita do trabalho era torturar pessoas. Ele vivia
por isso, porra. Você pode concordar com esse sentimento, Raul?”
Ele não responde, apenas lança punhais com os olhos em minha
direção. “Um método particular que meu pai adorava usar era
ratos. Ele gostava de ver os ratos fazerem o trabalho de tortura
por ele. Fodido, certo? Sim, eu também pensei assim quando
assisti pela primeira vez. Era a sua versão doente e distorcida da
caixa de ratos irritados.” Eu aponto para o frasco com o rato,
pronto para deixar meu ponto bem claro.

“Você quer saber o que acontecerá se eu abrir o frasco e


colocar no dedo da sua filha? O rato faminto vai ficar em uma
extremidade do frasco por um tempo, mas se eu fizer isso”, digo,
puxando meu isqueiro e segurando a chama contra o frasco
debaixo do rato. O rato vai correr para longe da chama,
arranhando freneticamente contra o vidro. “Você pode imaginar
como será se eu prender o dedo ensanguentado de Marisela aqui
com o rato, o que vai acontecer? O rato vai roer e mastigar sua

27
Este loco- Está louco.
BLOOD
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carne e osso até chegar a mão dela. Não vai parar até que encontre
uma saída, longe do calor da chama.”

Marisela solta um uivo abafado e entrecortado, gritando de


medo. Eu não afasto meu olhar de Raul. Eu o insulto com meus
olhos, apenas implorando que ele me force mais um pouco.

“Uma última chance.” Meu tom não abre espaço para


discussão. Não há perdão uma vez que você me irrita.

Silêncio. Ele fica pesado na sala, me desapontando


infinitamente.

Eu não ouço as palavras que preciso, em vez disso, ele


implora pela vida de sua filha que realmente não tem importância
para mim neste momento.

“Eu avisei.”

Segurando o pote com o rato sobre a mão da garota, pego o


isqueiro do bolso e o acendo na extremidade onde o rato está
sentado, forçando para o dedo desmembrado. A filha de Raul
engasga com seus gritos quando o rato se aproxima.

“Basta!” Raul grita, tremendo em suas amarras. Eu apago a


chama quando ele finalmente quebra. “Ele disse que estava
levando a mulher de volta para casa. Isso é tudo que eu sei. Isso
é tudo que eu sei.”

Afastando o frasco do dedo de Marisela, fecho a tampa e


coloco o pote na mesa atrás de mim. Eu me viro, observando o
peito de Raul se erguer de medo e raiva. Tomando uma decisão
em frações de segundos, saio do porão para o corredor, sabendo
que vou encontrar alguém lá. Jose e Ricky estão atentos quando
eu me aproximo deles.

“Jose, leve a garota para o andar de cima e dê-lhe alguns


analgésicos. Vou pedir ao Monte para trazer o médico da família
para consertá-la.” Eu me viro para Ricky. “Vem comigo.”

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Ricky e Jose me acompanham de volta ao porão. Sem


perguntar, Jose solta Marisela da cadeira e puxa-a por cima do
ombro. Ela grita histericamente em seu poder e Raul não está
melhor.

“Seu filho da puta!”

Jose desaparece do porão, deixando-nos três.

“Ela viverá enquanto você continuar respondendo às minhas


perguntas.”

“Vai se foder!”

“Eu acho que é a sua vez de sentir a dor agora, você não acha
Raul?” Virando meu calcanhar, apanho o frasco que está com o
rato e fecho a distância entre nós.

“Vou te fazer algumas perguntas agora, se você me irritar, vai


perder a porra da sua mão para o meu amiguinho aqui”, eu digo,
apontando para o rato com um pouco de agitação do vidro.
“Primeira pergunta: ela está viva?”

Raul olha para mim, suas narinas dilatadas. “Sim.”

Franzo meus lábios. “Ela está ferida?”

Raul faz uma pausa. Seus olhos se fecham e seu queixo se


move para frente e para trás.

Meu lábio superior se contorce porque já sei a resposta.


Erguendo o punho, golpeio Raul em sua têmpora sacudindo seu
corpo.

“Ela. Está. Ferida?” Eu rosno.

“Sim.”

Meu coração bate forte no peito, e escondo minhas emoções


antes que ele possa ver como sua resposta é dolorosa.

Porra!

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“Finlay?” Cuspo seu nome, transbordando de raiva. Raul


levanta um ombro em um encolher de ombros sem compromisso.

“Ele teve ajuda.”

Minhas sobrancelhas se levantam. Eu me aproximo. “De


quem?”

Raul ergue o queixo em direção ao teto, endireitando a


coluna. “De mim.”

Eu ouço o movimento agudo de Ricky atrás de mim e jogo


meu braço para fora, pegando seu corpo largo antes que ele possa
dar um soco.

“Você vai pagar caro por isso”, ameaço com uma calma que
eu certamente não sinto.

Agarrando meus itens da mesa, eu me viro com os


instrumentos na mão, mas Garrett chega primeiro. Ele atravessa
a porta do porão e corre para Raul, rugindo como um touro. Seus
punhos voam no rosto do homem e eu espero que ele se canse.
Não há motivos para detê-lo agora.

Garrett finalmente para e sangue escorre dos nós dos seus


dedos. Deixando o frasco na mesa, passo por Garrett, direto em
direção a Raul. Sem aviso, bato a faca de caça em todos os quatro
dedos. O sangue jorra quando atravesso seus ossos e Raul uiva
de dor. Segurando o pote com o rato sobre a mão, desenrosco a
tampa e puxo o isqueiro do bolso, colocando-o na extremidade
onde o rato está sentado. Ele corre para longe do calor em direção
aos dedos mutilados de Raul. Raul engasga com seus gritos
enquanto o rato mordisca e mastiga sua carne, fazendo tudo o que
pode para se afastar da fonte de calor. Virando meu olhar para
Raul, eu encontro seus olhos vermelhos e olho para ele com um
olhar frio, deixando-o saber que não estou nem perto de terminar.

“Se eu não encontra-la viva, Raul”, falo me agachando na


frente dele. “Vou te amarrar a essa mesa e estripar como um

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Chaos Series #2 CHAOS
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maldito peixe. Vou arrancar todos seus malditos órgãos vitais, um


por um, enquanto sua filha assiste. Você entende?”

O corpo de Raul treme violentamente, sua pele ficando


branca.

Eu me viro, encarando Garrett e Ricky e aceno com a cabeça.


“Vamos lá. Vamos deixá-lo com o rato até que eu esteja pronto
para ele. Neste momento, terei uma mensagem para enviar a
Finlay.”

“Que tipo de mensagem?” Garrett pergunta duvidosamente.

“Uma sangrenta.”

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Creed

“Você está pronto para ir, tesoro?” Minha mãe pergunta,


colocando a cabeça no meu quarto. Afasto meu olhar concentrado
para longe da tarefa em mãos. Soltando meus Legos no chão, dou
a minha mãe toda a atenção. Ela está vestida como geralmente
está, em roupas que trazem a cor cinza ardósia de seus olhos. Seu
longo cabelo flui atrás dela, e com batom vermelho e pouca
maquiagem, ela me lembra uma princesa. Sempre.

“Francesco e Luca estão esperando lá embaixo por nós.”

Eu solto um suspiro. “Tenho de ir?”

Seus lábios manchados de carmesim se transformam em um


sorriso. “O que você acha, amore mio?”

“Eu não quero ter uma festa com eles. Por que não podemos
ser apenas nós? Eu não teria que usar roupas novas, e poderia ficar
de pijama.” Eu imploro, tentando a fazer mudar de ideia sobre fazer
compras para a festa. Desta vez ela realmente ri. O som é
harmonioso. Penetra em meu peito e tenho que lutar contra o meu
próprio sorriso pelo efeito que tem.

“Oh, meu doce menino”, ela ri, entrando no quarto. Ela dobra
as pernas e deixa os joelhos caírem no chão, então fica
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descansando ao meu lado no carpete do meu quarto. Seus olhos


prateados, que são idênticos aos meus, percorrem meu rosto. Um
pequeno e sereno sorriso nos lábios. Ela corre os dedos pelo meu
cabelo, sacudindo as mechas pretas e rebeldes para um lado e para
o outro.

Segurando meu rosto em sua mão, eu me inclino para seu


toque quente. “Às vezes, amore, temos que fazer coisas que não
queremos fazer. Eu sei que você não deseja um grande aniversário,
mas seu pai quer lhe dar um presente e convidar todos os amigos
dele e nossa família. Você está sempre dizendo que quer ser mais
parecido com papai. Você não está animado em sair e comprar um
lindo terno para combinar com o dele?”

“Não muito”, murmuro.

Seus olhos se enrugam nos cantos de tanto rir. “Que tal isso?
Nós saímos e compramos um novo terno para você, e depois,
paramos na loja de brinquedos, e eu vou comprar o boneco do
Batman que você está querendo. Parece bom?” Ela se inclina para
trás, olhando para mim com tanto amor em seus olhos enquanto
espera minha resposta.

“Tudo bem”, suspiro. “Mas eu também quero um Homem-


Aranha.”

Mamãe abafa sua risada e balança a cabeça para trás e para


frente enquanto olha para mim. “Oh meu Deus, você é mesmo o filho
do seu pai”, ela diz baixinho, com um pequeno sorriso no rosto.
“Agora vamos, não queremos deixá-los esperando.”

Ela me ajuda a ficar de pé e andamos de mãos dadas pelas


escadas, em direção às portas da frente. Francesco e Luca estão
prontos, vestidos de terno, usando as mesmas expressões furiosas
que papai sempre usa. Quase como se meus pensamentos de Papai
conjurassem sua presença, ele de repente se aproxima de nós, seus
olhos varrendo a mamãe, como costumam fazer.

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“Dio mio, Valentina. Sei bellissima28.”

Mamãe cora quando ele a toma em seus braços e a beija


profundamente. As mãos dela envolvem os ombros dele, e o abraço
deles se aperta como se eles não quisessem soltar. Na maioria das
vezes, eu não os entendo. Eles fazem isso com frequência. Eles
estão sempre se tocando ou beijando, mas também discutem com a
mesma frequência. Às vezes brigando e gritando um com o outro
por horas.

Os adultos são exaustivos.

“Talvez vocês devessem esperar até que minha agenda seja


liberada, para que eu possa ir junto. Com tudo acontecendo, não
quero vocês dois fora da minha vista. Especialmente em sua
condição.”

Minhas sobrancelhas se arqueiam no tom de sua voz. Papai


geralmente fala sem emoção, mas agora, agora ele parece...
preocupado. Lanço meu olhar de volta para mamãe. Ela passa os
dedos pelo lado do rosto dele e sorri, acalmando-o. Papai esfrega a
mão sobre a barriga lisa e minhas sobrancelhas franzem com
confusão.

“Nós vamos ficar bem, Matteo. Temos Francesco e Luca


conosco. Além disso, não acho que ele é capaz de nos machucar,
mio amore. Ele é da família. Está com raiva. Já faz anos, acho que
é hora de você respirar um pouco. Você trabalha muito duro.”

Papai franze a testa. “Não o defenda, tesoro. Ele está


desequilibrado. Não vou arriscar toda a sua vida com as
palhaçadas tolas do meu irmão.”

“Calma, amore. Eu não estou o defendendo. Só não quero que


você se preocupe. Nós vamos entrar e sair.” Mamãe me dá uma
piscadela.

28
Dio mio, Valentina. Sei belíssima - Meu Deus, Valentina. Você é linda
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“Tudo bem”, diz papai, soprando um suspiro profundo. “Tenha


cuidado, amore.”

“Terei”, diz ela, chegando na ponta dos pés para beijar seus
lábios. Papai se vira para mim e eu endireito meus ombros quando
seus olhos azuis encaram os meus.

Mesmo depois de tudo, ainda quero deixar meu pai orgulhoso.


Apesar de toda a dor que ele e Giovanni me causam, eu só quero
que ele me veja como algo diferente de fraco. Quero ser forte como
ele.

“Cuide da sua mãe, Diavolo?”

Aceno com a cabeça resolutamente. Essa era uma tarefa fácil,


já que eu faria qualquer coisa para protegê-la.

“Eu verei vocês dois para o jantar uma vez que termine com
algumas coisas.”

Com essas palavras de despedida, seguro a mão de mamãe,


seguindo Francesco e Luca até o carro.

O passeio é silencioso. Assim como geralmente acontece com


os homens de papai no carro conosco. Eu olho pela janela,
observando as árvores. Não demora muito para as árvores darem
lugar à vida da cidade. Comércios e empresas. Eu tento entender a
conversa de mamãe e papai mais cedo.

De quem eles têm tanto medo? E por que papai estava


esfregando a barriga da mamãe? Ela não está doente. Ou talvez
ela estivesse, e só não quisesse que eu soubesse disso.

Não demora muito para mamãe me encontrar o terno perfeito.


A loja é no mesmo lugar em que todos na nossa família estão indo
há anos. O alfaiate, um velho homem grisalho chamado Alberto, é
amigo de papai desde que me lembro. Alberto dimensiona tudo
perfeitamente, apesar do meu mau humor. Ele me manda ficar aqui,
mover minha perna para lá, levantar meus braços ali. É tudo tão

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chato e cansativo. A única coisa que me faz continuar é saber que


vou ganhar dois brinquedos.

“Viu”, mamãe diz com um sorriso no rosto. “Isso não foi tão
ruim, não é?” Ela segura o saco contendo minha roupa de
aniversário e nós deslizamos para dentro do carro. Encolho meus
ombros, não querendo que ela saiba que não me importei tanto
quanto eu pensava. Mas pelo sorriso de conhecimento em seu rosto,
diria que ela já sabe.

“Luca, não vamos voltar ainda, prometi ao meu doce menino


dois brinquedos.”

“Valentina, Matteo não...”

Mamãe o interrompe. “Não vamos demorar muito, Luca. Eu


prometo.”

Os homens trocam olhares um com o outro antes que Luca solte


um suspiro exasperado e comece a dirigir.

As pessoas olham para nós enquanto andamos na loja e nos


observam quando entramos na fila da caixa registradora. Eu não
entendo porque continuam olhando para nós. Acho que talvez seja
por causa de Luca e Francesco, já que eles são grandes, mas acho
que é algo mais. Algo totalmente diferente. Seus olhos nos seguem,
e quando nos aproximamos demais, todos se afastam, como se
tivéssemos uma doença que eles têm medo de pegar.

“Mamãe?” Eu pergunto enquanto caminhamos com os homens


de volta para o SUV. “Por que todo mundo sempre olha para nós
assim?”

Mamãe para de andar e me dá um sorriso triste. “Porque


muitas pessoas têm medo do seu pai, tesoro.”

Abro minha boca, pronto para perguntar por que, mas de


repente há um estouro e tudo acontece de uma vez. O tempo começa
a diminuir.

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Estão gritando. Gritando alto. Alguém está gritando com a


gente. Há fogos explodindo em algum lugar. O som é tão alto que
meus ouvidos estão doendo. O rosto de mamãe está branco. Tão
branco.

Por que ela parece tão assustada?

Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela agarra meus braços


com tanta força, que grito com a dor. Ela continua gritando comigo,
me dizendo algo, mas não posso ouvi-la sobre os fogos de artifício.

“Abaixe-se! Abaixe-se!”

Mamãe e eu caímos no chão. Eu não tenho a chance de me


segurar quando caio. A parte de trás da minha cabeça acerta a
calçada e pontos pretos ameaçam roubar minha visão. Há um
zumbido alto no meu ouvido, parece que estou debaixo d’água na
piscina. Eu mal posso ouvir ruídos ao meu redor, mas nada está
claro.

“Mamãe.” Eu me sinto dizendo, mas não sei se as palavras


saem dos meus lábios. Ela ainda está deitada em cima de mim, me
encobrindo de alguma coisa. Eu não posso me mover sob seu peso.
Meu peito dói com o ombro dela pressionando contra mim, e minha
cabeça está latejando.

Não sei quanto tempo fiquei ali, esperando mamãe se mexer


ou sair de cima de mim, mas ela nunca se moveu. Não até eu sentir
algo molhado vazar em mim.

“Mamãe?”

O que é que foi isso? Por que ela não está se movendo?

Eu tento me mexer embaixo dela, mas ela não se mexe. Seu


corpo está tão quieto, faz meu coração parar.

“Mamãe”, choramingo, desta vez à beira das lágrimas. Estou


tentando ficar forte como papai, mas estou com medo. Onde estão
Francesco e Luca?

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Meus braços e pernas começam a formigar com sensações de


alfinete e agulhas por ter mamãe em cima de mim. Esforçando-me
contra seu peso, estendo a mão e acaricio sua cabeça que está
descansando metade no meu peito e metade na curva do meu
pescoço. Minha mão congela na parte de trás da cabeça quando ela
volta úmida. Lentamente, puxo minha mão trêmula para longe de
sua cabeça para que eu possa ver. Quando olho, meu estômago se
agita. Respiro fundo e solto um soluço.

“Mamãe?”

Repito isso através das lágrimas correndo pelas minhas


têmporas.

“Mamãe!” Eu grito até minha garganta ficar ardendo.

De repente, há um som de lamento, as sirenes soam como nos


filmes. Há passos trovejantes correndo em nossa direção. Há vozes
em pânico e mais gritos, mas ainda não consigo ouvir sobre o
barulho nos meus ouvidos.

Um homem vestido com um uniforme azul escuro paira sobre


mim e mamãe, seus olhos brilhando enquanto ele olha para mim.

“Você está ferido, amigo? A ajuda está chegando, baixinho. A


ajuda está chegando.”

“Mamãe”, eu soluço, voltando meus olhos para a cabeça de


cabelos negros. O policial olha para longe de mim e para a minha
mãe. Ele cerra os olhos por um segundo antes de se ajoelhar ao
meu lado.

“Você pode fechar os olhos para mim, homenzinho? Eu vou te


dizer quando pode abrir novamente, ok?”

Eu não aceno minha cabeça nem digo nada, mas fecho meus
olhos. Quando sinto que o peso da mamãe está sendo tirado de mim
e o som de mais vozes, abro os olhos. Mas gostaria de não ter
aberto. Eu gostaria de ter ficado em casa hoje. Gostaria de nunca
ter feito a mamãe vir à loja para me comprar mais brinquedos.
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As roupas dela estão manchadas de vermelho e seus olhos


bem abertos, mas sei que ela não pode me ver. Meus olhos
enxergam os buracos de bala cravados em seu corpo. Mas não
posso mover meus olhos dos dois buracos de bala na cabeça dela,
que são o material dos pesadelos. Há muito sangue, e os buracos
têm coisas vermelhas saindo. Seu cabelo está emaranhado na
carne ensanguentada, estragando sua pele.

Minha linda mamãe.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto e como se um interruptor


fosse acionado dentro de mim, solto um soluço alto que sacode todo
o meu corpo.

“Mamãe!” Eu choro. Fico de pé, ignorando a dor na minha


cabeça e rastejo para o corpo que está cercado por homens em
uniformes. Eles colocam um lençol branco sobre ela enquanto
braços agarram meu pequeno corpo, me segurando. Eu grito e luto,
chutando minhas pernas com toda a minha força.

“Tesoro!” A voz me segurando ruge. “Pare com isso, por favor”,


ele grunhe. Meu corpo relaxa nos braços de papai e quando ele me
põe de pé, minhas pernas se desfazem. Papai me pega sem esforço.
Seus braços grossos me envolvem, me abraçando com tanta força
que não consigo respirar, mas eu aperto de volta com a mesma
força, curvando-me contra seu peito.

“Mamãe...” soluço.

“Eu sei, filho”, diz meu pai com a emoção entupindo sua
garganta. “Eu sei.” Papai me coloca nos braços de Giovanni e eu
vejo quando ele empurra o policial e os médicos para chegar até
mamãe.

“Mexam-se!” Ele ruge quando as pessoas ficam se


intrometendo. Quando ele chega até ela, cai de joelhos e tira o lençol
branco do seu rosto. De costas para mim, não consigo ver seu rosto,
mas seus ombros e costas tremem. Ele abaixa a cabeça no peito de
mamãe e envolve os braços em seu corpo. Meu coração aperta,
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ainda não entendendo completamente o que está acontecendo.


Como isso aconteceu? E o que vai acontecer a seguir?

Papai solta um rugido feroz, inclinando a cabeça para trás, e


direcionando sua raiva para o céu. A visão me faz chorar ainda
mais. Eu não sei quanto tempo passa, mas, eventualmente, estou
no carro, e papai desliza ao meu lado enquanto Giovanni dirige.

Quando entramos em nossa casa, minhas lágrimas ainda não


pararam. Eu não consigo impedi-las. Quando me viro para o papai,
pela primeira vez, o vejo chorar.

Eu me sento no sofá do meu escritório e balanço a cabeça


enquanto tento clarear a mente das lembranças. Meus olhos estão
molhados e minha pele está encharcada de suor. Com um
grunhido frustrado, pulo do sofá e vou para o chuveiro, na
esperança de esquecer.

Eu não tinha entendido, mas entendo agora. Minha mãe


estava grávida quando meu tio a matou. Ela estava grávida do
meu irmãozinho ou irmãzinha. Meu coração ainda se aperta de
dor ao entender. Foi tudo minha culpa. Mesmo anos depois,
gostaria de ter feito as coisas de forma diferente naquele dia. Feito
de maneira diferente. Eu não posso deixar de sentir que a história
está se repetindo. Meu pai perdeu minha mãe e seu filho ainda
não nascido, e eu estou preocupado em perder Sophia e nosso
filho. Ajusto a temperatura da água para quente e respiro fundo
com a dor da água escaldante batendo contra a minha pele. Eu
preciso sentir dor. Eu quero a dor. Qualquer coisa para trazer a
sede de sangue. A raiva. O monstro.

Depois do banho, me visto com um terno e vou em direção à


ala leste da propriedade. Meu passo desacelera do lado de fora das
pesadas portas de madeira, e levanto a cabeça em um leve aceno
para Danilo e Franco, os soldados do meu pai vigiando a porta.

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Danilo pisa para o lado, abrindo a porta de mogno para mim.


Endurecendo, cruzo o limiar, encontrando instantaneamente os
olhos do meu pai.

“A que devo esse prazer, Diavolo?” Ele pergunta, uma


sugestão de exasperação em seu tom. Vestido em um terno todo
preto, parece tão formidável quanto sempre foi quando eu era
criança.

“Pensei que você gostaria de saber que estou lidando com


alguns negócios hoje à noite. As coisas vão ficar feias. Estou certo
disso.”

Matteo se inclina para frente, inclinando a mão em sua mesa,


me olhando através de fendas estreitadas. “E você está me dizendo
isso, por quê?”

“Porque esta noite as ruas vão sangrar e manchar de


vermelho, e quero proteger a famiglia.”

Matteo me olha especulativamente, antes de concordar.


“Qual é o seu plano de ataque?”

Um sorriso frio inclina o canto dos meus lábios.

Eles nem saberão o que os atingiu.

Depois de deixar o escritório do meu pai e explicar, junto os


rapazes e reviso meu plano para esta noite. Eu sei o que precisa
ser feito em seguida e estou pronto para isso. Eu não me importo
com quanto sangue será derramado, tudo que eu quero é Sophia
de volta.

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“Fico feliz em ter você de volta, figlio”, diz meu pai enquanto
entrega as mochilas cheias de poder de fogo. Eu aceno com a
cabeça, meu cérebro já focado na tarefa à frente.

Arruinar Finlay.

Aquele bastardo vai pagar por machucar minha garota. Por


sequestra-la. Por colocar a merda da sua mão nela.

“Eu tenho outro presente para você”, diz ele, apontando para
o homem ao seu lado. “Lorenzo será sua mão extra, cortesia do
Outfit, é claro.”

Eu olho para Lorenzo, que é meu primo e caporegime29 de


meu pai. Conheço Lorenzo desde criança, ele é um filho da puta
implacável e tem um tiro incrível. É uma vantagem que posso usar
para derrubar a operação de Finlay.

Com meu plano em movimento, começo a dar as ordens.


Monte, Clarence e Lorenzo vão se infiltrar no armazém sob o
pretexto de deixar uma remessa. É assim que Ricky e Kam vão
entrar, o caixote que está sendo entregue por Monte e Clarence
vai levar Ricky e Kam dentro, junto com explosivos C-4. Uma vez
que o caixote esteja dentro do armazém, todo o inferno se soltará
e o número de mortes aumentará.

Com meu M16, minha Desert Eagle30 e uma Glock 19,


amarrada ao meu corpo, eu fico sentado no carro com Garrett e
espero. Dou profundas respirações calmantes, já visualizando o
número de mortes. Todos os homens que eu já matei e que faziam
parte da equipe de Finlay, Clarence e Monte me ajudaram a fazer
isso passar como rivalidade entre gangues.

29
Caporegime (ou capodecina, também abreviado para capo) é um cargo de importância elevada na
hierarquia de uma família da máfia italiana. O capo é o subchefe, está abaixo apenas do Don (o padrinho) e do
Consigliere (o conselheiro).
30
A Desert Eagle é uma pistola semi-automática, de ação simples, operada por gás, que utiliza vários calibres,
sendo de destaque o .50 Action Express, .44 Magnum, .357 Magnum e .22 Long Rifle. Existe também uma
versão mais compacta no calibre 9 mm.
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A cidade de Chicago está perdendo sua merda. O prefeito está


correndo como uma galinha com a cabeça cortada, sem saber
quem diabos culpar. Já pedi a ajuda de Lorenzo e do chefe de
polícia, que por acaso está na folha de pagamento de meu pai,
para cuidar do controle de danos assim que terminar o meu
trabalho aqui esta noite.

Fecho meus olhos e uma imagem de Sophia se materializa,


aquecendo meu coração frio. Seus belos olhos verdes perfuram a
escuridão da minha alma e me lembram pelo que estou lutando.
Isso é tudo por ela e pela segurança do nosso filho. Eu sei que ela
está viva, posso sentir, eu só não sei se o nosso bebê está. Meu
peito desaba com uma dor desconhecida e faço uma careta,
tentando afastar aquilo. Empurro todos os pensamentos de
Sophia de lado e recebo de volta a escuridão fria e brutal que viveu
dentro de mim toda a minha vida. Só que desta vez, saúdo-a em
vez de me afastar dela.

O toque estridente do meu celular corta o silêncio tenso no


carro. Lentamente, enfio a mão no bolso do meu peito e deslizo o
polegar pela tela.

“Avançar”, é tudo o que Monte diz antes que a ligação seja


encerrada. Lentamente, abro meus olhos e me delicio com a sede
de sangue nadando em minhas veias. E saio do Audi e endireito
meu terno. Com passos calmos, eu entro no armazém. Todos os
homens de Finlay são mantidos sob a mira de uma arma, com as
mãos levantadas em sinal de rendição, em completa e total
desvantagem. Quando passo, alguns dos seus olhos se arregalam
enquanto outros olham para mim com medo em suas expressões.
Todo mundo sabe quem eu sou nessa parte de Chicago. Um
Sabella. Um dos muitos que comandam essa cidade.

Finlay não apostou nisso. Ele não podia imaginar que eu


fosse parte da máfia. Ninguém da nossa equipe sabia da minha
vida passada, até agora. Finlay está prestes a aprender da
maneira mais difícil por que não deve foder comigo e com os meus.

BLOOD
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Meus finos sapatos de couro italiano estalam ao longo do


chão enquanto ando pelo andar inferior do armazém. Um lado é
usado para transportar e enviar drogas, enquanto o outro lado é
usado para plantação de maconha e uma seção menor é usada
para cozinhar drogas.

O clique dos meus sapatos cessa quando paro de andar.


Virando devagar, examino cada um de seus trabalhadores,
procurando por alguém que possa ser de alguma ajuda para mim,
mas Monte estava certo, ninguém aqui sabe qualquer coisa que
Finlay não queira que eles saibam.

“Onde está o Throne?”

Minha pergunta ecoa pelo armazém. O silêncio é tão alto que


você poderia ouvir um alfinete cair.

Ninguém ousa abrir a boca, com medo das repercussões ou


simplesmente não tem a menor ideia. Meu olhar pousa em um
homem que está olhando para mim. Suas características faciais
me dão uma boa ideia de quem ele pode ser parente, Ivan da
Bratva.

Inclinando a cabeça para o lado, coloco as mãos nos bolsos


das calças e percorro a distância entre nós. Parando diante dele,
olho com uma máscara inexpressiva no meu rosto.

“Algo que você gostaria de tirar do seu peito?”

Seu lábio superior se franze. “Foda-se”, ele rosna com um


forte sotaque russo.

Eu sorrio.

Com um aceno sutil da minha cabeça, volto minha atenção


para todos os outros.

“Ninguém vai sair daqui vivo até eu descobrir onde o Throne


está.”

BLOOD
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S.M. SOTO

O silêncio se arrasta por um quilômetro e meio até que


alguém da multidão fale.

“Não conhecemos nenhum Throne por aqui.”

Meus punhos se apertam. Eu me viro para ele com uma


sobrancelha levantada e falo para todos. “Esse homem fala por
todos?”

Alguns acenam com a cabeça e eu tenho a minha resposta.


Que vergonha.

Olho para Lorenzo e aceno com a cabeça levemente. Ele dá


um sinal para Monte e Clarence, então o banho de sangue começa.

Antes que alguém possa piscar ou mesmo fugir de meus


homens, Clarence, Lorenzo e Monte esvaziam seus clipes31 neles,
fazendo todo o depósito sangrar um rio de vermelho. Gritos se
sucedem e disparos surgem, enquanto o outro lado tenta
inutilmente revidar.

Eles não têm chance.

Endireitando meu paletó, calmamente volto para o carro


enquanto puxo o celular do meu bolso. Ligo para o número de
Lorenzo.

“Faça”, ordeno para o receptor antes de terminar a ligação.


Não mais que trinta segundos se passam antes que o prédio atrás
de mim exploda em chamas. O estrondo contíguo sacode o chão.
Ignorando o calor nas minhas costas, mantenho meus passos até
entrar no carro.

Uma vez lá dentro, Garrett se vira para mim com um olhar


indecifrável no rosto.

“Sabe, às vezes, você me assusta, cara.”

31
Clipes- recarredor de armas, onde as balas ficam reservadas
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Ignorando o comentário dele, acelero o motor e me afasto da


cena com apenas uma coisa em mente. Guerra.

Eles trouxeram isso sobre si mesmos. Farei com que cada um


deles sangre e queime até que eu saiba que ela está segura.

“Você é um filho da puta cruel”, Garrett murmura.

“Alguém tem que ser.”

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Sophia

Um grunhido escapa da minha garganta quando uma dor


aguda dispara através do meu antebraço, direto para o meu
cotovelo. Confusão grossa e inebriante envolve meu cérebro
enquanto eu tento pensar além da dor.

Onde diabos eu estou?

A última coisa que me lembro é... dor. Num minuto eu estava


na floresta com Fin e no outro, estava lutando pela minha vida. O
custo que paguei por esfaquear seu pé. Quando achei que não
poderia mais aguentar a dor, sucumbi àquela doce e convidativa
escuridão que parece estar chamando meu nome. Eu estava lá, no
abismo, tenho certeza disso. Mas agora... agora não sei onde estou
e tudo dói. Minha cabeça está latejando e meus músculos doem.
Meu corpo inteiro parece ter passado pelo inferno e voltado.

Abro minhas pálpebras pesadas, piscando furiosamente


contra o filme espesso que encobre meus olhos. Madeira e
iluminação fraca são tudo o que eu consigo ver. Minha cabeça está
zonza e suor rola ao longo das minhas têmporas no meu cabelo.
Quando minha visão finalmente esclarece, solto um suspiro. Meu
corpo fica tenso e, de repente, uma onda de náusea me assalta.
BLOOD
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Engulo de volta a bile que está lentamente subindo pela minha


garganta.

“Aí está você, amor.”

Meu peito desaba.

Meu coração dói.

Essa maldita voz.

Pensei que ele tivesse ido embora. Eu pensei que eu tinha ido
embora, longe dele.

Meu lábio superior se franze em um resmungo quando meu


olhar se concentra em Finlay. Ele nem parece um homem que foi
recentemente esfaqueado. Vestido com roupas limpas e com o
cabelo perfeitamente penteado para trás, Fin parece que acabou
de sair de um retiro de mudança de vida. Ele estende a mão para
mim, mas me afasto do toque dele. Meu corpo grita de dor com o
súbito movimento brusco.

Finlay descansa a mão no meu braço, mas não consigo sentir


o toque. Tudo que sinto é o peso da palma. Minhas sobrancelhas
franzem e meu olhar desce para a mão descansando sobre o gesso
que recobre todo o meu braço. Lágrimas brotam dos meus olhos
quando percebo a cor branca. Memórias do que causou isso me
inundam, e eu recuo. Minhas mãos imediatamente voam para
minha barriga. Esfrego o local, esperando, rezando, que a pequena
vida tenha conseguido sobreviver. Mas não tenho como dizer.

Com as mãos descansando sobre meu ventre, faço um


balanço dos meus ferimentos. Sei com certeza que meu braço está
quebrado, meu corpo está frágil e fraco, e a respiração é quase
dolorosa demais para continuar. Ainda não vi meu rosto, mas pela
dor que irradia ao longo do meu nariz e da têmpora, sei que o que
eventualmente verei não será bom.

“Eu sinto muito, Sophia. Realmente sinto.”

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Lentamente meus olhos se dirigem para Finlay. Encaro o


homem que achei ser um amigo. Eu olho para ele e, finalmente,
posso ver diretamente através de sua fachada. Ele é um bastardo
desprezível e enganador. Puxo uma respiração longa e cansativa e
estreito meus olhos.

“Eu não me importo. Só quero saber se meu bebê está bem.”

Algo cintila nos olhos de Fin, mas não há como dizer, porque
sumiu em segundos. Escondendo suas feições, ele pega minhas
mãos e aperta. O gesto faz com que minha mão boa seja
dolorosamente esmagada sob o meu gesso.

“Depois da... lição que Raul teve que te dar, eu não acho que
seu bebê tenha sobrevivido. Certo, Doutor?”

É então que eu noto o médico encolhido no canto escuro. Fin


curva o dedo, pedindo-lhe para sair das sombras. Quando seu
rosto se materializa, solto um suspiro. Seu rosto está gravemente
machucado, com um grande inchaço na testa por causa do meu
ataque com a bandeja de metal quando fiz minha fuga desajeitada.
Meus olhos lacrimejam quando dou uma boa olhada nele. É
apenas um homem velho. Um velho indefeso que foi envolvido na
merda de Fin, e eu o feri. Machuquei-o fisicamente. O pensamento
já me deixa doente.

“Sr. Esparza?” Fin pede. O velho me dá um olhar que deixa


meu coração despedaçado, mesmo sem ouvir as palavras. Seus
olhos se enchem de lágrimas e ele ergue o olhar para o teto,
respirando fundo, fortalecendo-se antes de se virar para mim. Ele
não usa palavras, em vez disso, me dá uma sacudida sutil de sua
cabeça e eu quebro. Soltando minha cabeça na mão boa, deixo as
lágrimas fluírem enquanto um soluço seco rasga meu peito.

Isso dói. Dói muito, mas eu não consigo parar de chorar.

O único pedaço de Creed que eu tinha, agora se foi. Nunca


vou tê-lo de volta. Nunca vou sentir meu ventre crescer. Nunca
vou sentir meu filho se mexendo dentro de mim. Mas, acima de
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tudo, nunca vou poder compartilhar nada disso com o homem que
amo. Tudo porque Finlay o levou de mim. Tirou tudo de mim.

O tempo passa e, finalmente, minhas lágrimas desaparecem,


tudo o que resta são os soluços e um entorpecimento que não
posso deixar de receber de braços abertos. Ele envolve fria e
maliciosamente em volta do meu coração, acomodando-se nos
meus ossos.

“Somos apenas nós agora, querida. Você e eu. E estou


disposto a deixar o passado para trás porque nada pode nos
separar.”

Eu não luto contra ele. Nem discuto. Eu apenas olho para ele
sem expressão. Porque ele me destruiu. Nove meses sofrendo
espancamentos de vários homens, eu pude suportar, mas isso?
Perder Creed e nosso filho? Não posso sobreviver a isso. E nem
quero. Eu só quero que tudo acabe.

“Você me entende, amor?” Fin diz, tirando-me dos meus


pensamentos. “Nada mais de fugas. Sem mais besteiras. Só você
e eu.”

Quando não respondo, Fin agarra meu cabelo com força,


puxando meu rosto para o dele. Eu nem sinto a dor do meu couro
cabeludo. Apenas olho para ele sem expressão. Tudo o que Fin vê
nos meus olhos o leva a soltar meu cabelo e esfregar uma mão
gentil sobre os fios escuros.

“Vou abastecer o jato. Estamos indo para casa, amor.


Finalmente vamos para casa.” Fin se vira para o médico que o
observa especulativamente. “Coloque um pouco mais daquela
merda no rosto dela, o inchaço não está melhorando.”

Com isso, sai da sala, me deixando sozinha com o médico.


Nenhum pensamento de correr ou escapar nem passa pela minha
cabeça. Eu desisti. A única razão pela qual lutei tanto antes foi
porque eu tinha uma razão para isso. Eu tinha uma vida para me
manter segura. Mas isso acabou. Agora, não tenho mais motivos
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para lutar. Não que lutar com ele tenha me levado a qualquer
lugar, de qualquer maneira. Eu não sou forte o suficiente. Nunca
seria capaz de vencê-lo, e essa é a triste verdade.

O médico brinca com itens no balcão da sala antes de se virar


para mim. Seu olhar encontra o meu e a apreensão ali deixa os
cabelos do meu corpo em pé. Tenho a sensação de que Fin está
ameaçando-o de alguma forma, talvez sua vida, ou a vida de sua
família, para que ele faça esse trabalho sujo. Mas eu não tinha
percebido ainda o medo que esse homem sente de Finlay.

Estou lidando com um monstro e só agora estou realmente


compreendendo o quão ruim ele realmente é.

A cabeça grisalha do médico gira em direção à porta antes de


se virar para mim, o alerta desfigurando suas feições. Fechando a
distância entre nós, o médico segura minha mão esquerda na dele
e aperta. Eu tento erguer minha mão, mas o aperto dele aumenta.
Meus ombros ficam tensos e estremeço com o aperto
desconfortável dele. Ele inclina a cabeça para baixo para
encontrar meus olhos e é quando deixa a minha mão descer sobre
meu ventre. Sua mão solta a minha e ele metodicamente abre a
palma da minha mão, espalhando meus dedos ao longo do meu
baixo-ventre.

Uma bola apertada se forma dentro de mim.

Meu coração bate violentamente e minha respiração fica


irregular.

“O que... o que você está fazendo...”

“Sshh!” Ele estreita os olhos, verificando a porta novamente


antes de inclinar a cabeça perto da minha orelha.

“Es mentira32.”

Minhas sobrancelhas franzem em confusão. O que?

32
Es mentira - É mentira
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“Eu menti.”

Meu coração bate forte.

“O quê?” Eu sussurro.

“Tu bebé33... ainda está muito vivo.”

Um soluço passa pelos meus lábios, mas a mão do médico


voa, batendo na minha boca, efetivamente me silenciando.

“Eu não pude fazer isso. Eu deveria ter terminado isso, para
salvar sua vida e a minha, mas não consegui. Eso é horrível.”

Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e rolam sobre a


mão que ainda cobre minha boca.

“Você precisa fugir. Agora não. Você nunca vai passar por ele,
mas quando seu corpo estiver curado, você corre e não para. Use
esse tempo para reconquistar sua confiança. Coma bem. Não lute
contra ele. Se alguma coisa lhe acontecer de novo… não sei quanto
tempo o seu bebé poderá aguentar.”

Eu aceno com a cabeça lentamente, absorvendo suas


palavras. Mesmo que tenha ouvido o médico dizer isso, ainda não
consigo acreditar que meu bebê ainda está aqui. Nosso bebê ainda
está segurando as pontas. A mão alisa minha barriga ao mesmo
tempo em que o médico afasta a mão do meu rosto.

“Quando ele te levar no jato, não lute. Ele está te levando de


volta para a Inglaterra antes de cuidar dos negócios em Chicago.
Alguien lo está cazando34. Alguém está derrubando cada pedaço
de sua operação, um homem de cada vez. Quando ele deixar você
na Inglaterra, haverá guardas, encontre uma maneira de
contorná-los, uma vez que fizer isso, você corre. E nunca olhe para
trás. Comprender35?” Ele levanta uma sobrancelha, esperando
que eu responda, e tudo que consigo fazer é acenar com a cabeça.

33
Tu bebé- Seu bebê
34
Alguien lo está cazando- Alguém está caçando-o.
35
Comprender?- Entendeu
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“Mude tudo. Seu cabelo, seu nome, qualquer coisa que possa leva-
lo a você. E nunca olhe para trás. Não importa o que aconteça.”

Meu coração bate forte quando a esperança enche meu peito.


Eu só preciso esperar o meu tempo e talvez, apenas talvez, consiga
sair daqui viva.

Após a conversa baixinha com o Dr. Esparza, ele se concentra


em onde está o meu nível de dor e cuida das minhas feridas antes
de Fin aparecer e seguirmos para o jato. Eu tento não deixar
minha raiva transparecer. Eu tento ficar o mais calma possível,
não só pela minha vida e a vida do meu bebê, mas para as vidas
de uma família inteira que eu seguro na palma da minha mão. A
família do Sr. Esparza.

Pouco antes de sair, ele olhou diretamente nos meus olhos e


vi a preocupação ali, clara como o dia.

“Não estrague tudo. Por favor. As vidas da minha esposa e mi


niños36 estão em jogo. Se ele suspeitar da menor coisa, vai matar
a todos nós. Incluindo você.”

Engoli em seco com suas palavras porque sabia que ele


estava certo.

Cercada por homens enormes e armados, Fin me leva para


fora do barraco surrado em direção a um jipe que nos aguarda.
Meus olhos percorrem a expansão da selva. A selva que eu tinha
percorrido nem mesmo vinte e quatro horas atrás. Eu deveria
estar feliz por estar saindo desta ilha. Mas não estava. Eu estava
com medo do que estava por vir. Secretamente estava com medo

36
mi niños - meus filhos
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de não conseguir esconder esse segredo por tempo suficiente para


escapar de Fin.

A viagem inteira pela selva foi tensa. Fin coloca a palma da


mão na minha coxa e todo o meu corpo fica rígido. É necessário
toda a minha força para não arrancar minha coxa de seu alcance.
Mas não posso irritá-lo tão cedo. Eu tenho que escolher minhas
batalhas, e essa não é uma delas.

O verde passa pelas janelas abertas do Jeep Safari em um


borrão. Os grossos feixes de árvores terminam em um amplo
espaço de areia e o som distante das ondas batendo uma na outra.
Um jato branco reluzente está orgulhoso e alto em uma pista
improvisada. O jato é menor do que sua aeronave regular, ou avião
particular, mas a visão dele ainda é suficiente para eu sentir uma
bola de medo crescendo em minha barriga.

Após a morte dos meus pais, nunca mais entrei em um avião.


E nem pretendia.

Minha respiração acelera e meu coração bate em um ritmo


irregular. Meu olhar flutua em direção a Fin e me assusto quando
encontro seu olhar já grudado em mim. Ele está me observando,
avaliando minha reação ao jato.

Ele é a razão pela qual meus pais se foram, mortos. Ele é a


causa e a raiz de tudo de horrível que já aconteceu comigo na
minha vida, e espera que eu entre nesse avião? Depois que matou
meus pais, assassinando-os cruelmente em um acidente de avião.
Uma onda de raiva percorre meu corpo, fazendo meus braços e
pernas tremerem violentamente.

Finlay puxa uma seringa cheia com um líquido claro e meus


olhos se arregalam. Lanço meu olhar para o dele e estreito meus
olhos.

“Eu não preciso usar isso de novo, Sophia, preciso? Não


quero te tratar como minha prisioneira, mas farei se for
necessário.”
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Engulo em seco e dou uma sacudida inflexível na minha


cabeça. Não vou deixá-lo me furar com aquela seringa tão cedo.
Com um sorriso de satisfação, Fin pega minha mão e meio que me
arrasta para o jato, sem sequer prestar atenção em meus
ferimentos.

Sou levada para a aeronave e no minuto em que meu cinto


de segurança está fechado, Fin começa a brandir ordens em seu
telefone. A expressão em seu rosto está tingida de raiva
desenfreada. Afio meus ouvidos, tentando escutar o que está
sendo dito do outro lado da linha, mas é inútil. Estou ouvindo
uma conversa unilateral que não faz sentido e não chega a lugar
nenhum rapidamente. Os únicos comentários que me fazem ficar
mais ereta no banco são algo sobre um depósito e a menção de
Chicago. Simplesmente ouvir o nome da cidade faz meu coração
tremer. Creed vem à minha mente e é tudo que posso fazer para
não surtar e começar a chorar. Desloco o olhar para fora da
pequena janela do jato, preparando-me para um longo voo.

Depois de dois cochilos e uma parada para abastecimento, o


jato finalmente desce em uma pista com um céu sombrio como
pano de fundo. Com o peso do hambúrguer que comi no voo ainda
descansando fortemente em minha barriga, eu me sinto cansada
enquanto sigo Fin para fora do jato.

No carro para a cidade, nenhuma palavra é dita enquanto


sou levada para sua casa. Eu não sei o que deveria estar
esperando. Não posso deixar de me perguntar se ele tem alguma
família, e se tem, o que eles pensam dele e de seu alterego
psicopata?

Nós paramos do lado de fora de uma grande propriedade


imponente. Eu analiso a velha estrutura da casa, e percebo que
esta deve ser a casa de Finlay, o que pode significar apenas uma
coisa, estamos em sua cidade natal, no Reino Unido, um mundo
inteiro longe da minha vida nos EUA. A casa é muito maior do que
o esperado, mas a estrutura antiga e abandonada faz com que ela
pareça negligenciada, transmitindo uma vibração sinistra. Estou
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surpresa que os portões da casa se abram automaticamente pela


idade que parece ter. Estacionamos na entrada para a calçada e
em frente aos degraus de ardósia que levam às portas duplas de
carvalho. Lanço um olhar cauteloso para Fin e tudo o que ele faz
é inclinar a cabeça para a porta do carro.

“Vamos, amor. Acho que é hora de você fazer o grand tour.”

Sigo Fin pela casa enquanto ele me mostra tudo. Uma vez,
imaginei que este lugar fosse lindo por dentro, mas agora parece
triste e deserto. Os lençóis brancos cobrem a maioria dos móveis
e espessas camadas de poeira estão depositadas sobre quase
todas as superfícies. Milhões de ácaros pairam no ar, refletindo na
iluminação fraca da casa.

A casa é um bonito sobrado de dois andares com belos


detalhes de pedra ardósia. Os pisos são de cor clara de carvalho,
parecendo um pouco desgastados pelo uso. O piso inferior da casa
é mediano. A porta da frente se abre em uma espaçosa sala de
estar. Não há mobília sob lençóis brancos nesta área, quase como
se alguém tivesse esvaziado a sala propositadamente antes de
sair. Passando a sala de estar fica a escadaria. A madeira no
corrimão é igual ao piso. Depois da escadaria tem um corredor
que se divide em uma cozinha de um lado e um quarto no caminho
seguinte.

Eu sigo atrás de Finlay enquanto ele me mostra tudo, falando


sem parar. Não consigo compreender nada do que ele diz, muito
focada no que me rodeia e na bola de medo crescendo no meu
estômago a cada passo que dou. Ele está falando comigo como se
fôssemos um casal. Está me mostrando como se fosse uma casa
que compramos juntos, e estamos fazendo um tour pela primeira
vez.

Fin me leva para cima e me mostra quarto após quarto,


falando sobre sua infância e seus pais. E continua e continua.
Quando chegamos ao quarto principal, minha respiração trava e
todo o sangue escorre do meu rosto.
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“Oh meu Deus”, eu sussurro em horror quando olho para o


quarto que está totalmente mobiliado. Mas não é isso que me
deixa temendo o homem ao meu lado, é a mancha de sangue no
centro do quarto que revira meu estômago.

“Eu amava muito os meus pais, Sophia. E quero que você


entenda isso. Mas eles não me amavam de volta. Sempre amaram
mais minha irmã. Ela era o mundo inteiro deles e eu era apenas
o monstro que arruinou tudo.”

Seus olhos percorrem o quarto e, quando ele vai mais para


dentro, seu olhar pousa no velho ponto ensanguentado no carpete
e ele olha aquilo melancolicamente.

“Foi um acidente. A morte da minha irmã. Eu não quis fazer


isso. Tentei fazer com que eles entendessem isso. Acreditassem
em mim, mas eles não acreditaram.” Ele fica imóvel, preso em
suas memórias. “Eu tentei não pensar nela. Era errado. Sabia que
era, mas ela era tão linda, tão doce, tão sedutora que eu precisava
tê-la.”

A bile ácida sobe na minha garganta enquanto meu cérebro


capta onde ele está querendo chegar com essa história.

“Ela lutou comigo. Chorou tanto, e só precisava que ela


ficasse quieta por um segundo, para que pudesse explicar como
me sentia. Eu não queria apertar seu pescoço com tanta força. Foi
um acidente. Quando ouvi o estalo e vi aquela linda luz se apagar
em seus olhos, percebi o meu erro.”

Lágrimas brotam dos meus olhos, distorcendo minha visão e


dou um passo cauteloso para trás. Um erro? Foi muito mais que
um erro. Ele é perturbado.

“Meus pais me colocaram em um lugar com nada além de


pessoas doentes. Malditos psicopatas. Um monte deles. E nem
sequer vieram me visitar. Eles apenas me jogaram lá e tentaram
seguir em frente com suas vidas. Mas não acharam que eu
conseguiria fugir. Quando escapei e cheguei em casa, eu só queria
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passar um tempo com eles. Eu queria me desculpar e explicar que


estava pronto para voltar para casa.” O olhar distante em seus
olhos muda, seu corpo se torna rígido e suas sobrancelhas se
curvam de raiva. “Mas eles não me queriam de volta. Eles queriam
que eu fosse embora. Ficasse longe deles e dessa porra preciosa
de casa”, ele ferve.

Seu olhar corre pelo quarto freneticamente, como se pudesse


senti-los por toda parte aqui.

“Então, eu os matei”, ele inspira fundo, olhando para a


mancha abaixo de seus pés. “Eu os matei a sangue frio”, diz
melancolicamente, os cantos dos lábios se transformando em um
sorriso. Minhas mãos envolvem meu corpo de forma protetora
enquanto tento suprimir os arrepios que tomam conta do meu
corpo.

Ele é louco.

Se eu não tinha certeza antes, tenho agora. Há algo


seriamente errado com Fin, em seu cérebro, um tipo de
desequilíbrio químico.

Lágrimas percorrem minhas bochechas enquanto olho para


o local e imagino a morte de seus pais indefesos. Eles estavam
apenas tentando sair da dor de perder um filho. Eles estavam
tentando se curar, e ele os matou por isso.

Quando Fin se aproxima de mim, recuo para longe de seu


toque, com medo do que ele fará comigo e com meu bebê se
descobrir a verdade. Se ele foi capaz de matar sua irmã e seus pais
sem nenhum remorso por suas ações, o que diabos não faria
comigo?

“Não se afaste de mim, Sophia”, ele rosna, seu rosto se


contorcendo de raiva. Engulo em seco, piscando as lágrimas.

“Este é nosso novo começo, Sophia. Eu e você. Este lugar é


nosso. Finalmente podemos ficar juntos”, diz ele, dando um passo

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em minha direção. Eu luto contra a reação natural do meu corpo


que quer fugir dele e me forço a ficar parada. Finlay acaricia sua
mão sobre a minha cabeça suavemente e estremeço de medo com
a sensação.

Um barulho no andar de baixo o fez recuar com um sorriso.

“Temos um último negócio para terminar, amor.”

Eu ignoro seu carinho. Mantendo minha coluna ereta


enquanto descemos a escada. Com Fin um passo à frente de mim,
tenho que lutar contra o desejo de empurrá-lo pelos degraus
restantes. Se ele se machucar, ou melhor ainda, quebrar o
pescoço, essa poderia ser minha chance de escapar, mas sei que
não será tão fácil. Não estou disposta a arriscar. Ainda.

Enquanto damos os últimos passos, o cheiro de fumaça de


charuto me faz tropeçar em meus pés. Meus olhos se arregalam
quando pousam no formidável homem latino fumando o charuto.
Meu coração bate como garras de medo no meu peito. Eu me viro,
encarando Finlay com uma expressão acusadora, reconhecendo o
homem do leilão. O homem que falou comigo em espanhol
enquanto outros me batiam. O homem que não fez nada para
deter ninguém. O monstro.

“O que ele está... o que você está...” paro incapaz de formar


uma frase articulada.

Finlay me ignora.

“Alejandro. Que bom que você pode vir, companheiro.


Aguardamos sua chegada antecipada com bastante expectativa.”
Três dos homens de Finlay cercam Alejandro, em alerta máximo.

“Altamente antecipado, de fato.” Alejandro expira uma nuvem


de fumaça de charuto enquanto seus olhos se lançam para cima
e para baixo do meu corpo. “Você recebeu a transferência
eletrônica?”

Finlay sorri. “Todos os seis dígitos.”


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Os olhos de Alejandro se estreitam. “Você a machucou.


Estragou minha mercadoria. Não era isso que estou pagando.”

Meu estômago gela e tudo desmorona ao meu redor. Uma


respiração afiada fica alojada na minha garganta quando um
sentimento doentio me subjuga.

Não.

Isso não pode estar acontecendo. De novo não.

Fin faz um Tsc. “A pobre Sophia aqui sofreu uma forte queda,
não foi, amor?” Ele se vira para mim com as sobrancelhas
levantadas e olho para ele.

Queda minha bunda.

Eu volto meu olhar para Alejandro e encontro seu olhar


castanho de frente. Olho em súplica para ele fazer alguma coisa.
Não deixe Fin me machucar. Não me compre como seu animal de
estimação. Torço para que faça qualquer coisa, na verdade. Há um
brilho de compreensão em seus olhos, mas ele se vai no segundo
em que ele volta a olhar para Finlay.

“Vamos andando, então. Eu acredito que esta seja uma


transação limpa do começo ao fim.”

Fin sorri, mas não alcança os olhos dele. “Claro. Eu sei


quanto interesse você expressou nesta aqui.”

Com os olhos estreitos, Alejandro acena com a cabeça


ligeiramente antes de dar um passo em minha direção.

Assim que Alejandro estende a mão para me tocar, Finlay


puxa a arma e aponta para ele.

“Pensando bem, mudei de ideia. Não posso deixar você fazer


isso, amigo. Ela é minha.”

Alejandro estreita os olhos. “Seu filho da puta.”

Finlay ri como um lunático.


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Eu me afasto deles pegando os olhos de Alejandro. E digo


tudo o que posso naquele segundo sem usar palavras reais.

Me ajude.

Mas ele não pode. Finlay atira nele. A bala rasga seu peito e
sua camisa branca fica mais e mais vermelha a cada segundo. Seu
corpo cai no chão, e seu charuto ainda aceso rola ao longo do piso
de madeira, para longe de seu corpo.

Engasgo com minhas lágrimas e desvio meus olhos quando


Finlay me arrasta para longe da escada, passando por cima do
corpo de Alejandro, na cozinha.

“Sente-se”, ele exige. E eu sento.

Lentamente, me abaixo na cadeira, com medo de até mesmo


respirar errado e isso lhe dar uma razão para atirar em mim.

Fin faz uma bagunça na cozinha enquanto prepara pratos


para nós. Ele desliza um na minha frente e eu me forço a dar
bocadas minúsculas para não irritá-lo.

“Temos mais uma coisa a fazer, amor.”

“O quê?” Eu respondo.

Ele sorri como qualquer pessoa insana faria. “Batizar o


quarto, é claro.”

A bile sobe a minha garganta com suas palavras. Meu


estômago revira e meu coração se contrai. Antes que eu saiba o
que estou fazendo, balanço a cabeça negativamente e me atiro
para trás da mesa em pernas instáveis, qualquer coisa para me
afastar dele.

Fin bate ambos os punhos na mesa bamba, sacudindo seus


objetos.

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“Sente-se!” Ele ruge, com o rosto tingido de uma raiva


ardente. Engolindo o nó grosso na garganta, me abaixo na cadeira
muito devagar.

“Agora”, ele diz com calma forçada, afastando o cabelo da


testa. “Você vai me ouvir, Sophia, e vai escutar. Entendeu?”

Eu concordo.

Com suor na testa, Fin se inclina para frente, olhando para


mim. Ele passa a mão frustrada pelos cabelos, empurrando para
trás os cachos soltos que lhe cobrem o rosto.

“Eu vou foder essa doce buceta hoje à noite, Sophia. Serei o
dono disso. Como sempre deveria ter sido. Vou possuir cada
centímetro de você, e você não vai lutar comigo, ou vou matar a
única pessoa que te restou.”

Meu coração para.

O que ele quer dizer? De quem ele poderia estar falando?

Como se pudesse ler a confusão no meu rosto, ele cava o


bolso, puxando um simples telefone preto. Um dos muitos que já
o vi usando durante nosso curto tempo juntos. Quando ele vira a
tela para mim, um grito se aloja na minha garganta e minha visão
se embaça.

“Não”, sussurro.

“Sim”, ele rosna de volta, empurrando a foto da minha melhor


amiga Alexis, espancada e amarrada a uma cadeira, mais perto do
meu rosto. “Eu vou matar Alexis sem aviso prévio. Uma chamada
e ela está morta. Você entendeu?”

Meu lábio inferior treme enquanto mordo o soluço


ameaçando escapar dos meus lábios. Enxugando minhas
lágrimas, dou a ele o que quer e aceno com a cabeça. Enquanto
olho para a foto da minha amiga inocente, sei que é minha única
escolha. Meu coração se parte ainda mais quando olho para

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Alexis. Eu odeio que ela tenha sido arrastada para isso. Eu odeio
Fin e tudo o que ele fez para arruinar a minha vida.

Depois que Finlay limpa a mesa de nossos pratos, pega


minha mão e me arrasta para o andar de cima. Todo o caminho
para cima, meu estômago está em nós. Meu coração se quebra um
pouco mais a cada passo mais perto do quarto. Culpa e vergonha
nadam em ondas pesadas em meu cérebro, mas acima de tudo,
meu coração. Parece que estou fazendo a derradeira traição. Estou
traindo Creed da pior maneira e eu não sei o que fazer para parar.
Pensamentos de ambos, Creed e nosso bebê, saltam como pingue
pongue dentro da minha cabeça.

No minuto em que meu olhar desce para a cama, eu surto.


Imaginando seus pais deitados lá, então imagino os dois sendo
esfaqueados até a morte e isso me faz agir. Virando meus
calcanhares, tento fugir, mas Fin já esperava o movimento.
Agarrando um punhado do meu cabelo, ele puxa os fios, me
trazendo de volta para ele. Eu grito de dor e tropeço quando me
joga na cama.

“Estou feliz por você não tornar isso fácil. É muito mais
excitante assim.” Ele arqueja enquanto luta com meus braços e
pernas agitados, tentando me imobilizar.

“Finlay, pare! Por favor, não faça isso”, imploro, me


debatendo na cama. Meu coração martela violentamente e meu
peito se contrai com dor. Eu sinto sua dureza esfregando pelo meu
abdômen e isso faz com que a bile queime minha garganta. Um
grito alto rasga dos meus lábios e, se possível, me debato ainda
mais contra suas mãos em mim. Qualquer coisa para fugir do seu
toque. Bato meu corpo contra seu corpo, mas isso não parece
perturbar Fin.

“Eu prometo que você vai gostar, Sophia”, ele sussurra


nauseante perto do meu ouvido.

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Lágrimas escorrem dos cantos dos meus olhos quando penso


em Creed.

“Eu sinto muito”, soluço.

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Creed

Eu me inclino na minha cadeira e esfrego os olhos pela quinta


vez esta noite. Eu tenho olhado para a tela por horas tentando
entender Finlay e seu passado. Qualquer coisa que possa me levar
a ele e a Sophia. Faz tanto tempo que meus olhos estão grudados
nessa porra de tela estúpida e brilhante.

Deveria ter descansado depois do massacre que causei no


armazém não mais do que algumas horas atrás. Tem saído em
todos os noticiários. É a única coisa que as autoridades da cidade
e as estações de notícias podem focar. A cidade está sangrando
vermelho. Se não estivesse tão focado em encontrar Sophia,
adoraria todo o sangue e o caos.

Esfregando minhas têmporas, fecho os olhos e relembro cada


lembrança com Sophia. Mas em vez de boas lembranças piscando
por trás de minhas pálpebras fechadas, todas as ruins se repetem
em rápida sucessão. Sophia com dor. Sophia sendo levada. O
medo persistente em seus olhos.

Com um grunhido frustrado, bato minha palma na mesa. A


força faz com que os papéis se espalhem e os objetos ali em cima
se espalhem. Meus olhos caem em um dos muitos documentos
colocados na minha mesa e minhas sobrancelhas franzem.

A escritura de uma casa. A escritura dos pais de Fin.


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S.M. SOTO

Eles venderam a propriedade anos atrás. Foi comprada por


um homem mais velho que morreu alguns anos depois. Após a
morte do homem, os pais de Fin compraram a casa de volta.
Estreito meus olhos, vendo todos os pagamentos que foram feitos,
nada parece fora do comum. Está abandonada desde então.

Uma urgência enche meu peito enquanto minhas mãos voam


pelo teclado. Eu puxo o mapa da propriedade e as direções. Eu
posso estar viajando. Isso pode ser um desperdício de tempo
precioso, mas sem outras pistas, é a minha única opção.

Não perdendo outro segundo, saio correndo do escritório e


chamo os caras. Com o jato em modo de espera, podemos estar lá
em menos de sete horas.

“Você está pronto, Cova?” Pergunto enquanto nós descemos


meu elevador para a artilharia.

“Nasci pronto para essa merda. Quero privilégios sobre a


morte final.”

Reunimos AKs, Glocks e submetralhadoras, até que não


caiba mais nada em minha bolsa.

“Não vai rolar. Fin é meu.”

“Como diabos”, Garrett dispara de volta. “Ela é minha família,


caralho!”

“Você está certo, ela é sua família, mas você está esquecendo
que ela é minha. E está carregando meu filho, então cale a boca
antes que eu resolva atirar em você primeiro”, digo, de saco cheio
com suas besteiras.

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Eu o empurro para encontrar os caras no meu escritório.


Todos se reúnem em volta de mim com uma expressão
concentrada em seus rostos, sei que não poderia ter reunido um
time melhor, mesmo que tentasse. Estes são meus homens. Meu
time.

Repasso a tarefa com os caras, passando por uma planta da


propriedade. É cercada por cercas de ferro forjado. Pelas imagens,
parece velha e abandonada, mas na papelada mostra que todas
as contas ainda estão sendo pagas, mas você nunca pode ter tanta
certeza com Fin, então não vou me arriscar.

“Garrett, Lorenzo e eu vamos pela frente. Ricky, Kam e Jose


devem monitorar o restante da propriedade em busca de ameaças.
Se tudo estiver limpo, entrem. Monte e Clarence entram pelos
fundos. Lembre-se: nosso objetivo número um é...”

“Tirar Sophia de lá com segurança. Nós sabemos, chefe”, Jose


diz, batendo nas minhas costas. “Agora, vamos lá pegar esse filho
da puta. Ele já esteve com sua garota por tempo suficiente.”

Liverpool, Inglaterra.

Com as armas amarradas aos nossos corpos, eu procuro em


meus bolsos frouxos pela corrente da minha mãe e aperto o objeto
enquanto avaliamos nosso entorno. Está muito quieto na área,
nem mesmo o som de pássaros cantando ou farfalhando, apenas
uma quietude que deixa todos os cabelos do meu corpo em pé.
Mesmo com todo o silêncio, é impossível ignorar os dois carros em
frente à propriedade, depois dos portões.

Alguém está aqui. Deve estar.

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S.M. SOTO

Trazendo a corrente aos meus lábios, pressiono um beijo na


prata fria.

“Por favor, esteja aqui, baby”, eu sussurro para mim mesmo.

Meus olhos se estreitam na propriedade silenciosa – fazendo


cálculos. Eu aceno com a cabeça para os caras e sinalizo em
direção à casa. Enquanto deslizamos pela rua para a silenciosa,
nossas formas escuras se misturam às sombras. O som de botas
batendo na calçada ecoa pela rua tranquila. De repente, um tiro
alto soa através do ar parado, perfurando o silêncio. Nós todos nos
abaixamos e congelamos no lugar. Compartilho um olhar com
Garrett. A pele nos cantos dos olhos dele se enruga de
preocupação e os lábios se apertam.

“Continuem em frente”, eu instruo, meu olhar focado nas


luzes que brilham dentro da casa. A maioria das janelas está
fechada, mas as poucas que não estão exibem o suficiente para
ver que há movimento dentro dela. Monte desce até os portões,
trabalhando na desativação do sistema desatualizado. Não muito
tempo depois, passamos sem muito barulho.

Rastejamos pelo terreno, buscando as sombras. Eu


indiscutivelmente balanço a cabeça para os caras, certificando-me
que todos sabem o que fazer. Nós nos separamos em grupos,
mantendo um olhar atento no chão para qualquer armadilha ou
minas terrestres. Quanto mais me aproximo da casa, mais minha
pele fica vibrante de consciência. Meus instintos finamente
afiados e ajustados para Sophia. É como se meu corpo soubesse
que ela está aqui. Tem que estar.

Quando subimos os degraus da frente sem problemas, dou


uma olhada para Lorenzo. Alguma coisa não está certa. Entrando
na propriedade, caminhando em direção à porta da frente, está
quase fácil demais. Depois de todo o trabalho que Finlay nos deu
para manter seu paradeiro com Sophia privado, não posso
imaginar que ele seria tão descuidado. Como se ouvisse meus
pensamentos, há um estrondo ensurdecedor que reverbera
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S.M. SOTO

através do ar parado, vindo dos fundos. O chão sob meus pés


treme com as consequências da explosão. Todo o inferno se solta
após o estrondo ensurdecedor. Uma chuva de disparos soa de
todas as direções.

“Para baixo!” Garrett grita enquanto ouço balas zumbindo


pela minha cabeça. Eu me agacho e procuro nas sombras escuras
por movimento, quando finalmente encontro algo, eu disparo.
Balas espirram para fora do carregador para a área ao redor da
casa, a arma totalmente automática vibrando violentamente
contra o meu corpo. Trocando o pente, empurro o carregador para
trás e subo para ficar de pé, caminhando direto para a porta da
frente. Erguendo minha perna, aponto um chute em direção à
parte mais fraca da moldura com um grunhido. Meu pé com botas
passa direto pela madeira, estilhaçando a moldura, abrindo a
entrada. Sinto uma pequena satisfação quando a porta se abre,
arrancada das dobradiças. Ao passar pela única barreira entre eu
e Sophia, entro como se fosse uma tempestade.

De uma só vez, homens vêm voando para mim de todas as


direções. Tirando a minha Glock, solto três tiros rápidos em
sucessão contra os homens me atacando. Girando no meu
calcanhar, balanço meu braço em direção a outro homem se
esgueirando atrás de mim, pousando um gancho de direita, e um
chute na sua rótula que resulta em um grito de gelar o sangue e
um estalo alto, significando um osso quebrado.

Tirando minha faca do coldre, eu a balanço para a esquerda,


apunhalando um homem direto nos olhos e puxando o gatilho
com a mão direita, a bala atravessando o crânio de outro homem,
bem entre os olhos. Derrubo homens à esquerda e à direita, mal
tendo a chance de verificar Lorenzo e Garrett. Eu posso ouvir seus
grunhidos e sentir que estão lutando ao meu lado. Terá que ser o
suficiente por agora.

Passo por cima de corpos que parecem estar caindo como


moscas, abrindo caminho através da multidão de soldados de
Finlay. A dor no meu abdômen grita por atenção, mas eu ignoro.
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Com cada balanço, desvio, chuto e soco, posso sentir meus pontos
se esticando, o que me faz chiar de dor. Um olhar para a minha
camisa branca é toda a prova que preciso. Meus pontos se abriram
durante a luta.

Fazendo uma careta contra a dor, deixo escapar um rugido


áspero, acertando a coronha da minha arma em um dos homens
de Fin que está guardando a escada. Seu nariz jorra sangue no
impacto. Puxo minha Glock para fora, colocando uma bala na
cabeça dele enquanto está caído.

O nível de ruído dentro e ao redor da casa cresceu muito


desde que o tiroteio começou, parece que estamos em uma zona
de guerra. Não consigo ouvir nada além do tiro e gritos. Limpando
o patamar da escada, sou acuado por três homens desgrenhados
vestidos de preto. Eu cuido deles assim como os que estavam
descendo as escadas.

Um duplo tiro, no peito e cabeça, com a minha Glock.

Um corte serrilhado na jugular com minha faca.

Um cano no estômago e um pescoço quebrado.

Com respingos de sangue pertencentes a pessoas diferentes


em mim, avanço através dos quartos, ignorando o trovão de pés
subindo as escadas. Quando chego ao quarto final, começo a
correr e empurro meu ombro contra a porta, arrancando-a de suas
dobradiças. Um grunhido rasga meu peito com a visão diante de
mim.

O corpo de Sophia está em plena exibição enquanto Fin luta


sobre ela. Ao som da porta se abrindo, os dois olham para mim e
estou despreparado para o que acontece a seguir.

Fin aparentemente puxa uma pistola do ar, disparando um


tiro aleatório na minha direção e eu me movo na hora certa, mas
não rápido o suficiente, a bala roça meu ombro, esfolando minha
pele.

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Meus olhos se voltam para o rosto de Sophia manchado de


lágrimas. Ela está olhando para mim com a boca aberta, e sua
pele parece branca como um lençol. É quase como se nunca mais
esperasse me ver. Meu primeiro instinto é perguntar se ela está
bem, se ele a tocou, mas não tenho tempo porque Finlay dispara
mais um tiro. Desta vez eu tenho tempo suficiente para me mover.
Puxando minha Glock, aponto para Finlay, mas ele está pairando
sobre Sophia, perto demais para o meu gosto. Não quero atirar.
Eu não posso, não com ela assim tão perto dele.

Sou o melhor no tiro. Eu tenho sido o melhor desde que era


uma maldita criança, mas não posso arriscar.

Eu não posso. Porra. Arriscar.

“Bem, bem, bem, isso não é uma maldita surpresa agradável.


Seus filhos da puta sobreviveram depois de tudo”, Fin bufa
cansadamente enquanto luta para conter Sophia, que ainda está
lutando, tentando se libertar, mesmo que ainda não tenha tirado
os olhos de mim, nem uma vez.

“Quem você acha que queimou seu armazém até o chão”,


respondo estoicamente, lançando meu olhar para sua arma que
está mirada em mim, para Sophia lutando em seus braços.
Contanto que ele mantenha a arma em mim e longe dela, posso
resolver isso. Só preciso encontrar um jeito de chegar até ela.

À menção de seu armazém, a expressão no rosto de Finlay


fica azeda. “Seu filho da puta”, ele resmunga, colocando-se de pé.
Ele arrasta Sophia por um punhado de cabelo dela. Ela grita de
dor, seu corpo nu está coberto de hematomas, o que me deixa
irado. Minha mão aperta a Glock, meu dedo coçando para apertar
o gatilho enquanto a raiva percorre minhas veias. O monstro
dentro de mim está implorando para ser libertado. Quer se soltar.

“Solte-a”, ordeno. Com o cano da minha arma apontado para


sua cabeça, estou prestes a ceder e puxar o gatilho quando ele
balança a arma na direção de Sophia. Empurrando o cano da sua

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Beretta M9 contra a têmpora dela, ele arrasta seu corpo na frente


dele como um escudo. Um grito assustado sai de seus lábios.
Meus olhos se estreitam e eu cerro meus dentes.

“O que você vai fazer Creed, atirar nela para chegar até mim?
Você não pode fazer isso, pode?” Ele insulta. Sophia soluça
impotente, seus olhos perfurando buracos em mim. Desloco meu
olhar para o dela e vejo tudo que ela não consegue transmitir em
palavras naquelas profundidades de esmeraldas.

O medo dela.

A dor.

“Largue suas armas, todas, ou vou atirar nela. Entendeu?”

Os olhos de Sophia se arregalam e ela finalmente abre a boca


para dizer alguma coisa. “Creed não!”

Meu peito aperta ao som de sua voz. O desamparo. A


preocupação. Encontrando seu olhar medroso, eu lhe dou um
sorriso. O sorriso que é reservado apenas para ela.

“Tudo bem, anjo. Tudo vai ficar bem”, tranquilizo ao mesmo


tempo em que solto a Glock aos meus pés. Lentamente, eu me
desfaço das minhas armas. Fin assiste cada movimento meu. Seu
dedo descansando no gatilho apontado para o crânio de Sophia,
pronto. Ele está apenas esperando que eu cometa um erro.

“Facas também, filho da puta”, Fin resmunga.

Lanço outro olhar em direção a Sophia enquanto removo


minhas facas de seus coldres. Com cada saída de minhas armas,
Sophia chora mais forte. Ela soluça desesperada, me vendo
desnudado de minhas únicas defesas. Meu coração se parte com
a visão.

“Agora, coloque as mãos para cima”, ordena Fin. Eu faço o


que ele diz. E finalmente, ele faz exatamente o que eu estava
esperando, aponta sua pistola na minha direção e sorri como o

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psicopata que é. Os gritos de Sophia se intensificam, e eu gostaria


que houvesse uma maneira que eu pudesse abraça-la, impedi-la
de ver isso, mas não posso. Sou eu ou ela. Se Finlay me der um
tiro, ele não vai machucar Sophia, sei disso assim como eu
conheço a parte de trás da minha mão do caralho. Ele não iria
passar por todo esse problema apenas para jogá-la fora.

“Você nunca vai sair vivo com ela. Mesmo se atirar em mim”,
aviso. Fin sorri, reajustando seu aperto na arma.

“Eu vou aproveitar minhas chances. Não terminei com


Sophia ainda, na verdade, nós estávamos apenas começando, não
é mesmo, meu amor?” Ele pergunta enquanto grosseiramente
apalpa Sophia entre as pernas. Ela grita. Eu. Vejo. Tudo.
Vermelho.

Um rugido feroz rasga meus lábios e uma névoa escura me


consome. Ataco Finlay sem um cuidado com a pistola que está
apontada para mim.

Surpresa pisca em seus olhos.

Sophia grita.

Um tiro soa, depois outro, antes que eu sinta a dor explodir.

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Sophia

“Por favor, Fin”, peço. “Você não precisa fazer isso.”

Ignorando-me, ele desembainha um canivete do seu cós e a


prata da lâmina cintila enquanto reflete a luz. Meu corpo congela
e minha respiração exala quando sinto o aço frio da lâmina contra
a minha garganta. Lágrimas ardem nos meus olhos, distorcendo
minha visão.

Um arrepio frio percorre minha espinha enquanto lentamente


volto meu olhar para os olhos castanhos enlouquecidos de Finlay.
O anel preto ao redor do marrom de seus olhos quase engole todo
o marrom, fazendo parecer como se ele estivesse possuído. Ele
parece que vai entrar em colapso a qualquer momento.

“Se você não quer sangrar neste quarto como meus pais
fizeram, sugiro que você fique quieta”, ele ordena. Lágrimas saem
dos meus olhos e quando Fin move a lâmina da minha garganta
até a extensão do meu pescoço e até meu peito, sinto meu coração
quebrar. Ele coloca a lâmina contra o meu corpo e corta a minha
blusa e meu sutiã, sem esforço. O som das costuras rasgando é
como um eco ensurdecedor na minha cabeça. Um soluço rasga
meu peito. Eu estremeço de dor quando a ponta afiada da lâmina
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me toca no esterno. Fin desliza a faca todo o caminho até que


minha parte superior do corpo está completamente nua para ele.

De repente, há um barulho alto que sacode a fundação da


casa. Parece que estamos no meio de um terremoto. Fin congela,
sua figura pairando sobre mim por alguns sólidos segundos antes
de entrar em ação. Fechando a faca, ele pula para fora da cama
em um movimento rápido e busca seu celular dentro do jeans.
Dentro de segundos ele está bradando ordens no telefone, e
quando desliga, há o som inconfundível de tiros, à distância.

Um suor frio escorre dos meus poros. Fecho meus olhos


contra o som, e sou imediatamente levada de volta para quando
estava presa naquela mansão. Onde eu estava nua e espancada,
esparramada no chão. O mesmo lugar que foi invadido por gritos
e caos. Meus olhos se abrem de repente, e apenas um pensamento
ocorre: fugir. E corro para isso.

O medo catapulta meu corpo para frente. Usando toda a


minha força, eu pulo da cama, lutando contra a dor e corro direto
para a porta do quarto, indiferente que minha camisa e sutiã
estejam cortados bem no meio. Meu coração martela com tanta
violência contra a caixa torácica que tenho medo de saltar do meu
peito. Quando a maçaneta está ao meu alcance, eu quase grito e
me regozijo, mas como a luz no corredor escuro está apagada,
Finlay me alcança antes que eu consiga sair. Enrolando a mão no
meu cabelo, ele torce e me puxa para trás com tanta força, que
solto um grito agudo com a sensação de um pedaço de cabelo
sendo arrancado.

“Me larga!” Eu grito enquanto inutilmente tento lutar contra


ele. Seu aperto é inflexível quando acerto alguns chutes aqui e ali,
meus calcanhares golpeando em sua coxa, ou roçando em suas
canelas. Apenas algumas das minhas tentativas de me libertar
fazem com que ele grunha de dor, mas nada parece impedi-lo.

Fin luta para me levar de volta para a cama, mas luto com
ele. Com dentes e com as porras das unhas eu luto. Eu aperto
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meus calcanhares no chão e tento ficar o mais longe possível da


cama. Se possível, o som de tiros e explosões aumenta, e eu me
esforço mais. Quando Fin balança o braço para fora e seu punho
acerta minha mandíbula, eu paro minha luta momentaneamente,
completamente abalada pelo seu golpe. Pisco tentando afastar os
pontos negros que preenchem minha visão e ignoro o gosto
metálico de sangue enchendo minha boca. Aqueles poucos
segundos quieta são exatamente o que ele precisa. Usando isso
em sua vantagem Fin me joga na cama e me prende ali. Meu rosto
se contrai quando percebo o que ele conseguiu.

“Eu acho que já passou da hora de foder essa buceta. Não é?”
Ele rosna enquanto se esforça para arrancar meu short sujo e
rasgado. O som do tecido rasgando ecoa pelo quarto junto com
meus gritos de socorro.

Quando ele puxa meu short e calcinha pelas pernas, garras


de histeria saem da minha garganta. Eu me debato e grito, e
balanço meus braços descontroladamente, como uma lunática
completa. Fin me domina em meu estado fraco, suas mãos
tateando meu corpo enquanto choro impotente, olhando para o
teto. Quando sinto sua mão me apalpar lá, cerro os olhos e soluço.
Creed vem à mente. E tento me concentrar nele. Qualquer coisa
para bloquear Finlay e o que ele está tentando fazer.

De repente, a porta do quarto se abre com um rosnado


animalesco. Os barulhos além do quarto e do resto da casa se
intensificam. Fin congela em cima de mim e eu imediatamente
paro de lutar. Tirando a mão de mim, Finlay pega a pistola enfiada
na cintura. No mesmo momento em que ele puxa o gatilho é o
mesmo momento em que olho para a porta do quarto e tudo de
repente congela.

Meu coração para.

O tempo diminui.

Eu paro de respirar.

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O ar engrossa.

Todo o sangue é drenado do meu rosto e meus ouvidos rugem


com um ruído oco. Não consigo ouvir nada ao meu redor. Longe
fica o caos e o tiroteio. Em seu lugar há um toque ensurdecedor
em meus tímpanos.

De pé na entrada do quarto está Creed, meu Creed, coberto


de sangue, parecendo um anjo negro. Meu anjo negro. Eu pisco
além da imprecisão em meus olhos e tento me livrar do nevoeiro
que nubla meu cérebro e me impede de pensar racionalmente.
Fecho os olhos e reabro, imaginando se ainda estou sonhando.
Talvez seja uma aparição ou uma maneira de o meu corpo e
cérebro lidarem com o que Fin está planejando fazer comigo.
Talvez meu subconsciente esteja me mandando para um lugar
mais feliz, um lugar com Creed. Onde podemos finalmente estar
juntos.

Quando abro os olhos de novo, fico surpresa ao encontrar


Creed ainda parado ali, tão alto e formidável, lançando adagas
com os olhos em direção à Finlay. Seu peito sobe e desce
erraticamente. E quando aqueles olhos acinzentados se conectam
com meus verdes, inspiro alto, e meu coração aperta porque sei
que é real.

Ele está aqui.

Ele está vivo. Creed está vivo.

Com uma onda de emoção batendo em mim, sinto tudo de


uma vez. Meu peito arde de dor quando olho para a raiva gravada
em seu rosto, seus olhos percorrendo meu corpo nu e minhas
lágrimas recomeçam. Eu luto contra os braços de Finlay que estão
me agarrando, tentando forçar meu caminho de volta a Creed.

Preciso tocá-lo, sentir que é real. Eu preciso que ele me


abrace, para saber que é real. Que isso é real e não apenas algum
sonho doentio.

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Antes de compreender o que está acontecendo, Finlay me


agarra pelo cabelo e me puxa na frente dele, mostrando meu corpo
nu para Creed. Vejo quando os olhos dele absorvem minha pele
marcada e param na minha barriga. Suas narinas se inflam e sua
mandíbula aperta de raiva quando ele aponta a arma para Finlay
atrás de mim, que está usando meu corpo como um escudo.

“O que você vai fazer Creed, atirar nela para chegar até mim?
Você não pode fazer isso, pode?” Ele zomba. Os músculos da
mandíbula de Creed saltam e seu corpo endurece com uma tensão
desenfreada. Quando ele volta seu olhar para o meu, cinza no
verde, tento lhe dizer tudo o que posso naquele segundo.

O quanto eu o amo.

Que estou contente por ele estar vivo.

O quanto necessito que ele nos salve desse monstro.

“Largue suas armas, todas elas, ou eu vou atirar nela.


Entendeu?”

Meus olhos se arregalam quando Creed balança seu olhar de


volta para Finlay e vejo a decisão em seus olhos antes mesmo que
ele seja capaz de pronunciar as palavras.

“Creed não!” Eu grito. Minha garganta arde e meus olhos


queimam com um ataque de lágrimas.

Ele olha para Finlay por alguns segundos sólidos antes de


voltar sua atenção para mim. Quando seus olhos cinzentos
encontram os meus, sufoco com um soluço. Seus lábios se
transformam em um sorriso. É um sorriso que só vi algumas vezes
antes, mas ainda é lindo. Mesmo em face da morte.

“Tudo bem, anjo. Tudo vai ficar bem”, diz ele em uma voz
tranquilizadora que deixa os cabelos na parte de trás do meu
pescoço em pé. Vejo com horror enquanto Creed lentamente se
desfaz de suas armas. Cada arma colocada no chão a seus pés
parte meu coração ainda mais. Balanço a cabeça para ele,
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implorando para que olhe para mim novamente, para que eu


possa dizer-lhe para não fazer isso. As mãos de Finlay em mim
apertam mais enquanto ele observa Creed de perto.
Subconscientemente afunda o cano da arma na minha têmpora,
ferindo minha pele.

“Facas também, filho da puta.”

Creed lentamente puxa suas facas e eu surto. Um soluço


escapa pelos meus lábios, destruindo meu corpo machucado.

“Creed”, sussurro tão baixo, que não acho que ele me pode
me ouvir.

“Agora, coloque as mãos para cima”, ordena Fin, e fecho os


olhos, incapaz de ver o homem que amo, o homem que eu achava
que estava morto, levar um tiro de novo, diante dos meus olhos.
Sinto o segundo que Fin move a arma longe de mim em direção a
Creed, e meu coração se despedaça. Meus soluços se intensificam
enquanto me esforço para continuar inspirando. Meu olhar pousa
na artilharia das armas de Creed, no chão à nossa frente. Elas
não estão longe. Se eu conseguir escapar dos braços de Fin, posso
mergulhar para uma das armas, ou empurrar uma de volta para
Creed. Nós podemos sair vivos daqui. Eu sei que podemos. Nós
temos que sair vivos. Eu só preciso de uma distração, algo que me
dê alguns segundos.

“Você nunca vai sair vivo com ela. Mesmo se atirar em mim”,
alerta Creed. O som de sua voz profunda me tira dos meus
pensamentos.

“Vou aproveitar minhas chances. Não terminei com Sophia


ainda, na verdade, nós estávamos apenas começando, não é
mesmo, meu amor?” Finlay me toca rudemente entre as coxas e
eu grito. A vergonha e a humilhação me atingem como um golpe
no estômago. Eu fecho meus olhos contra o ataque de sensações.

“Pare com isso!” Gaguejo, com lágrimas descendo pelo meu


rosto. O aperto de Finlay no meu corpo aumenta e de repente um
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tiro soa. É tão alto, tão perto, faz meus ouvidos zumbirem. Nem
mesmo segundo outro é disparado, e de repente, a gravidade está
me puxando, e eu estou caindo. Minhas costas batem no tapete
com um baque retumbante e ouço gritos ao meu redor, mas estou
com muito medo de abrir os olhos. Com muito medo do que vou
ver.

Por favor, não deixe que ele morra. Por favor, não deixe que ele
morra. Por favor, não deixe que ele morra. Eu cantarolo para mim
mesma.

De repente há mãos em mim, agarrando meus ombros, me


sacudindo. Meu corpo fica tenso e recuo, tentando enrolar meu
corpo em mim mesma.

“Sophia? Baby, por favor, abra seus olhos. Abra seus


malditos olhos!”

Aquela voz soa muito como... Creed. Meus olhos se abrem ao


perceber aquilo e solto um soluço quando nossos olhos se
conectam. Ele está sobre mim, seu rosto apenas a alguns
centímetros de distância e aqueles olhos, aquelas lindas
profundezas cinzentas se espalham pelo meu corpo,
esquadrinham a totalidade do meu rosto. As mãos de Creed tocam
freneticamente minha pele, como se estivesse tentando se
certificar que estou realmente aqui.

“Você foi atingida? Soph, me diga, você foi ferida? Fale


comigo, baby”, ele implora, enquanto suas mãos tateiam minha
pele verificando as feridas que não estão lá. Eu quero dizer a ele
que estou bem, que não fui atingida, mas não consigo pronunciar
uma única palavra através das minhas lágrimas. Elas distorcem
minha visão enquanto olho para o homem diante de mim. Minhas
cordas vocais se recusam a cooperar, e meus lábios estão selados
juntos, incapazes de falar. Então, faço a única coisa que posso:
estendo a mão e me agarro a ele pela sua vida. Puxando seu corpo
contra o meu, eu o abraço como se minha vida inteira dependesse
disso. Minhas mãos agarram suas costas, e quando seus braços
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passam em volta de mim, apertando com força, sinto o aroma, o


que eu senti tanta falta, e choro na curva de seu pescoço.

“Eu pensei que... eu-eu pensei que você estivesse... morto”,


finalmente consigo dizer entre a torrente de lágrimas. Se possível,
Creed me aperta mais forte, como se eu também fosse sua ligação
com a vida.

“Shhh. Estou aqui, baby. Estou aqui. Eu não vou a lugar


nenhum, Sophia.” Creed guia meu rosto para longe de seu pescoço
e cobre minhas bochechas úmidas em suas mãos. Olhos que são
de prata e ônix em suas profundezas me devoram. E antes que eu
perceba, estamos nos beijando. Seus lábios quentes nos meus.
Minha boca pressionada firmemente contra a dele. Fundidos
juntos, em um áspero beijo sem barreira, que posso sentir até a
minha alma. Remontando meu coração despedaçado.

“Eu senti tanto a sua falta, anjo”, ele suspira contra meus
lábios, e a sinceridade nessas palavras me faz chorar mais.

“Eu te amo”, soluço, apertando meus braços sobre ele.

“Precisamos ir, Diavolo”, uma voz profunda, rouca diz de


algum lugar ao nosso lado. Eu sacudo ao som da voz desconhecida
e me volto para a fonte. E é quando os encontro. Kam, Ricky e um
homem que eu não reconheço.

Minha boca se abre para dizer alguma coisa, mas choque


rouba minhas cordas vocais.

Eles também estão aqui?

Olho para além deles, tentando encontrar meu irmão, mas


não vejo Garrett em lugar nenhum. Meu peito aperta em
preocupação.

Os caras jogam uma camisa para Creed que a pega sem


esforço. Creed me ajuda a tirar minha camisa cortada e sutiã que
está pendurado nos meus braços e me ajuda a colocar a camisa
de alguém.
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“Coloque isso”, diz ele enquanto me ajuda a vestir minha


calcinha e shorts descartados. Puxo a camisa folgada
nervosamente e seguro o braço de Creed. Eu tenho medo de lhe
dar um pouco de espaço. Não quero perde-lo, não de novo.

Sem aviso, ele me ergue em seus braços no estilo de noiva e


eu o ouço chupando um forte suspiro de dor. Estreito meus olhos
para ele, prestes a perguntar o que está errado, mas Kam é mais
rápido.

“Tem certeza que você a pegou?”

Creed lança a ele um olhar mortal. “Sim”, ele rosna. Eu sinto


seu corpo tremer contra mim e quando ele dá o primeiro passo
vejo seu rosto apertar de dor, quando estico minha cabeça para
baixo, eu vejo o porquê. Ele está sangrando no abdômen e está
com um tiro na coxa.

“Creed você está ferido, por favor”, eu choramingo, tentando


sair de seus braços, com medo de causar mais dor. Seus braços
se apertam ao redor do meu corpo em uma demanda para ficar
parada. Ele me lança um olhar frio que me faz calar a boca. Ele
segura a dor enquanto nos movemos com os caras pela casa,
ainda há o som de disparos de artilharia distantes, mas a casa
está muito mais silenciosa do que estava. Não parece mais uma
zona de guerra.

Sinto um gelo em minha barriga quando passamos pelo chão


cheio de cadáveres. O ar tem cheiro de morte e pólvora. A madeira
dura está repleta de corpos, sangue e cartuchos. Lágrimas
insistem em rolar dos meus olhos enquanto eu observo aquilo
tudo.

Tanta morte. Sempre muita morte.

Desvio meu olhar para longe da bagunça, incapaz de suportar


a visão. E fecho meus olhos, e o rosto cruel de Fin me vem à mente,
acelerando meu coração com medo.

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“Onde está Finlay? O que aconteceu com ele?”

Os homens estão todos em silêncio enquanto continuamos


andando. Nenhum deles se incomoda em me responder. Eu olho
de volta para Creed e vejo a expressão sombria que nubla suas
feições. Seu lábio superior franze, mostrando os dentes. Não sei
dizer se está com dor ou raiva.

“Ele conseguiu fugir.”

Suas palavras causam um arrepio frio pelo meu corpo.


Envolvo meus braços em seu pescoço ainda mais apertado, e
enterro meu rosto em seu peito, deixando as lágrimas
encharcarem sua camisa ao perceber que isso não acabou.

Uma pessoa e só uma pessoa me vêm à mente, Alexis.

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Creed

Eu faço uma careta de dor ao descer as escadas e sair pelas


portas da frente. Jose e Garrett estão alguns metros à frente,
ainda à espreita de qualquer retardatário que possa tentar nos
emboscar. Ou Finlay.

Aquele filho da puta.

Eu não posso acreditar que ele escapou.

Fúria e desapontamento correm em minhas veias,


guerreando um com o outro.

Um minuto nós estávamos lá, e eu estava preparado para


deixar que ele atirasse em mim, sabendo que Garrett e os outros
caras não estavam muito atrás. Finlay teria atirado em mim e tudo
estaria acabado e terminado. O resto dos caras o pegaria,
impedindo que ele tomasse Sophia e a levasse para fora. Mas
quando ele atirou, não foi o que eu esperava. Nada foi como
planejado. Eu não vi Lorenzo subir pela janela, eu não o vi mirar
sua arma em Finlay por trás, e quando ele puxou o gatilho
atirando em Finlay, eu não esperava que o idiota inglês acertasse
em mim também. Ao mesmo tempo em que Finlay puxou o gatilho,
a força de ser atingido pela bala de Lorenzo fez com que ele
estremecesse, mudando sua pontaria do meu peito direto para
minha coxa. A dor explodiu, mas a ignorei e entrei em ação no
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segundo em que vi Finlay cair no chão. Meu único erro foi ir


primeiro para Sophia. Ela caiu no tapete como uma tonelada de
tijolos e por um segundo assustador, pensei que ela também havia
sido atingida. Com os olhos fechados e o corpo no chão imóvel, fiz
a única coisa que podia, corri até ela.

Eu deveria ter acabado com Fin antes de correr para ela, sei
que deveria. Mas não foi isso que fiz. Eu fui direto para a minha
garota. Meu amor por Sophia obscurece minha razão quando se
trata de ser o Fantasma. Tudo o que importa é ela. Apenas ela,
sempre.

Cometi tantos erros no que se refere a Finlay. Um deles foi


dizer aos caras para ferirem Fin, mas para não mata-lo, se não
fosse necessário. Eu queria matar Finlay por mim mesmo. Eu
queria torturar o filho da puta como tinha torturado seus homens.
Eu queria que ele sentisse a dor por levar minha mulher e meu
filho. Queria o fazer sangrar. E estava sendo egoísta. Posso admitir
isso. Eu deveria ter mandado Lorenzo atirar para matá-lo. Ele
teria feito isso. Suas costas estavam escancaradas, mas ele seguiu
minhas ordens, apenas atirando para ferir.

Enquanto fui atrás de Sophia, para ter certeza de que ela


estava bem, Finlay deu a volta em Lorenzo e disparou uma bala,
acertando-o em seu braço, incapacitando a mão que atirava. Com
o próprio braço baleado do tiro de Lorenzo, Fin escapou da única
maneira que podia.

O bastardo foi direto pela janela. A maneira exata como


Lorenzo chegou.

Minhas botas batem ao longo das grossas lâminas de grama,


e aperto meus braços em Sophia. Meu coração aperta com a
sensação de seu corpo quente pressionado contra o meu. Fecho
meus olhos e reprimo um gemido enquanto penso em toda a dor
que Finlay lhe causou. Seu corpo está coberto de tantas contusões
que minha garota parece que passou pelo inferno e voltou. Seu
belo rosto está inchado, com escoriações e contusões que me
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fazem querer matar Raul outra vez. Meus olhos descem para o
ventre dela. Não consigo ver nada com a camisa folgada que ela
usa. Seu abdômen não parecia diferente enquanto ela estava
exposta na sala, mas eu não posso controlar o jeito que meu
coração aperta de medo. Eu quero que nosso bebê esteja bem. Isso
eu sei.

É incrível o quanto quero isso com Sophia. Eu não sou um


homem que sonhava em ter filhos e uma esposa. Era um homem
que matava para viver. Isso nunca foi uma parte do plano, mas
quando tive tudo ao meu alcance, bem na ponta dos meus dedos,
onde quase podia sentir o gosto, não pude deixar de me aquecer
com a ideia de um pedaço de mim e da mulher que eu estava
apaixonado, crescer dentro dela. Até que tudo foi tirado. Apenas
naquele momento eu soube, sem sombra de dúvida, que queria
isso mais do que qualquer coisa.

Ela ao menos sabe se nosso bebê ainda está vivo?

Providenciarei tudo que for necessário quando estivermos


seguros e em Chicago. Médicos. Check-ups. Monte precisa
encontrar os melhores médicos para ela.

O som de passos atrás de mim me faz apertar minha mão em


Sophia e alcançar minha Glock. Quando vejo um Garrett com o
rosto vermelho vindo em nossa direção em plena corrida, a tensão
nos meus ombros se esvai.

“Sophia!” Ele grita. Ela se agita em meus braços, esticando o


pescoço para a esquerda e para a direita até que seu olhar pousa
em seu irmão. Um soluço passa por seus lábios.

“Garrett”, ela solta através de suas lágrimas.

Como se combinado, Jose entra com o SUV pelos portões,


parando na nossa frente. Garrett puxa as portas de trás, me
ajudando a colocar Sophia dentro, um de nós de cada lado dela.
Kam e Ricky pegam a fileira de trás enquanto Jose fica no banco
do motorista e Lorenzo senta no do passageiro. Clarence e Monte
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seguem em um Audi, atrás do SUV enquanto dirigimos para o jato


para ter certeza de que não estamos sendo seguidos.

Deixo Garrett ter um momento com sua irmã. Ele a puxa para
seus braços e deixa que derrame suas lágrimas por outra vida que
ela pensou ter perdido. Jogo minha cabeça contra o assento e
fecho meus olhos contra uma nova onda de dor. O suor doentio
recobre minha pele e eu limpo continuamente, lutando contra a
reação natural do meu corpo à dor. Eu não sei quanto sangue
perdi, mas isso é o suficiente para me deixar bem tonto. O tiro na
minha coxa dói como uma cadela. Eu posso sentir o sangue
escorrendo da ferida e aplico tanta pressão quanto posso por
enquanto até estarmos no jato e eu poder me recompor. Meus
pontos abertos ao longo do abdômen também queimam como um
filho da puta, apenas aumentando o meu estoque de ferimentos
sofridos em tão pouco tempo.

Durante a luta na propriedade eu levei alguns golpes, mas


nada que pudesse me atrasar. Mas agora, é como se a dor de cada
ferida que venho acumulando estivesse me atingindo de uma só
vez.

“Creed?”

Eu sacudo ao som da voz de Jose. Todos os olhos no SUV


estão voltados para mim. É então que percebo que estamos
estacionados do lado de fora do hangar. O jato está abastecido e
pronto para decolar, já esperando na pista.

“Vamos”, eu grito. Meus olhos se dirigem para Sophia, só


para ver que ela desmaiou entre mim e Garrett. O esgotamento de
tudo finalmente chegou até ela.

Saindo do SUV, eu a abraço, pronto para puxá-la em meus


braços e levá-la para o jato, mas Garrett faz isso por mim.

“Eu a tenho, Creed.” Ele olha para baixo incisivamente para


o sangue que vaza através da minha camisa e minha perna rígida
com um buraco de bala. Meus lábios se elevam em um grunhido,
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prontos para fazer um escândalo com maldições para ele, mas


outra onda de náusea rouba minha respiração, efetivamente me
silenciando.

Subo os degraus até o jato e lanço meu olhar ao redor,


absorvendo a exaustão nos rostos dos caras. Cobertos de sangue
e sujeira, parecemos figurantes saídos de um filme de terror.
Garrett está prestes a colocar Sophia no assento ao lado dele
quando minha voz corta o silêncio exaustivo.

“Leve-a para o quarto dos fundos. Ela merece uma cama.”


Garrett acena, seguindo minhas ordens.

Eu vou em direção à cabine e onde está meu piloto de longa


data, Gianni.

“Estamos todos prontos, Sr. Sabella. Quando você estiver


pronto.”

“Vamos dar o fora daqui, então. Mas primeiro, preciso de uma


garrafa de álcool, qualquer tipo serve, e o kit de primeiros
socorros.”

Ele acena com a cabeça, já sabendo a situação. Isso


aconteceu muitas vezes.

Estou ficando velho demais para essa merda.

Descanso na cadeira ao lado da cama no quarto dos fundos,


meu olhar fixo em Sophia. O peito dela sobe e desce ritmicamente,
o rosto tensionado em aflição, mesmo enquanto dorme. Há uma
batida forte na porta antes que Gianni jogue os itens solicitados
na mesa ao meu lado.

“Vamos partir em breve.”

Com um aceno rápido, eu o dispenso e começo a trabalhar


nas minhas feridas.

Abrindo o kit de primeiros socorros, abro os pacotes de


materiais esterilizados e reúno todas as ferramentas necessárias.
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Agarrando a garrafa de uísque Macallan que Gianni deixou na


mesa, eu nem me incomodo com um copo. Abrindo a tampa, levo
a garrafa aos lábios e tomo um gole forte. A bebida queima em
toda a minha garganta e peito. O calor se agita no meu estômago
e eu continuo bebendo até que a dor persistente em minhas
feridas se transforme em uma pulsação surda que é quase
imperceptível.

Meu olhar se dirige para a cama e observo Sophia. Meu anjo.


Meu coração se contrai, mas olho para o rosto dela que está
coberto de hematomas. A raiva atravessa meu corpo enquanto
analiso minha garota. A que está carregando meu filho. Minhas
mãos se fecham em punhos e olho para o espaço, já planejando
minha próxima linha de ataque. Ainda não terminei com Finlay.

Eu não vou deixar de procurar por ele.

Não vou parar até que eu faça seu coração dar sua última
batida.

Não até saber que Sophia está segura. Minha família. O


desejo de acariciar seu lindo rosto, passar meus dedos por aquele
longo cabelo e beijar seus lábios carnudos é quase demais, mas
olho para o meu colo. Com a garrafa de Macallan em uma mão e
a outra aplicando pressão na ferida, sei que preciso terminar isso
primeiro.

Inspirando profundamente, eu tomo mais um gole da garrafa


antes de ficar de pé de um jeito instável para ir limpar minhas
mãos no banheiro adjacente.

Eu volto para o quarto e paro ao lado da mesa cheia de


suprimentos. Abro minha calça e a deixo cair no chão. Toda minha
perna direita está coberta de sangue. Uma forma de lágrima
sangrenta no centro da minha coxa escorre em um ritmo
constante. Tem uns dois centímetros de tamanho, talvez maior.
Com uma respiração afiada apesar da dor, eu torço a parte
superior do meu corpo ao redor e verifico atrás da minha coxa,

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buscando uma ferida de saída, mas é claro, que não tenho tanta
sorte. Deixando escapar um profundo suspiro, me preparo para o
pior. Eu me dou um tapa na bochecha pálida, tentando ficar
desperto.

Abrindo uma compressa embebida em álcool, inspiro fundo e


pressiono contra a ferida. Meu corpo fica tão tenso quanto uma
corda e uma dor lancinante irrompe pela minha coxa.

“Porra!”

O rugido reverbera na minha garganta, e minha mão livre


agarra o braço da cadeira até que ele range um aviso, mas não
desisto.

Inalo uma golfada de ar e retiro o álcool que agora está


encharcado de sangue e examino a ferida novamente. Analiso a
carne desfiada da minha coxa à procura de qualquer sinal ou
brilho de metal. Agarrando a pinça médica com a mão trêmula,
tento ajustar a perna o melhor que posso, de modo que a luz a
atinja no ângulo exato, mas o esforço só faz com que mais sangue
brote na ferida. A bala está definitivamente alojada no fundo da
minha coxa. Vou ter que cavar até encontrar.

Respirando fundo, solto o ar lentamente enquanto pressiono


a pinça na ferida. Meu corpo fica tenso e aperto os dentes para
não gritar palavrões e acordar Sophia. Eu desloco a pinça através
do músculo, deixando escapar ofegantes sopros enquanto a carne
ferida da minha coxa bombeia mais sangue. A pinça de repente
raspa contra o lado do metal, e eu não consigo conter o rugido.
Ele estronda pelos meus lábios, vibrando meu corpo.

Eu ouço Sophia se remexer na cama, mas não me importo.


Em vez disso, mantenho a pinça no lugar até que minha coxa pare
de tremer tanto com a dor.

“Creed?”

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O som da voz de Sophia levanta minha cabeça e eu a encontro


olhando para mim com uma névoa sonolenta nublando suas
feições. Seu olhar se desloca para os itens na mesa e suas
sobrancelhas ficam franzidas. Quando seus olhos descem para a
minha coxa e o sangue ao meu redor, eles se arregalam e seu rosto
empalidece.

“Oh meu Deus, Creed”, ela grita, se levantando para mim.


Com uma careta estampada no rosto pela dor, eu balanço minha
cabeça para ela, tentando fazê-la ficar lá. Claro, ela me ignora. Em
poucos segundos, Sophia está de joelhos, descansando ao meu
lado.

“Eu disse para você ficar”, grito com a dor.

Aqueles olhos de esmeralda olham para mim com tanta


inocência e amor brilhando em suas profundezas que meu peito
se aperta com uma súbita onda de emoção. Incapaz de me
segurar, estendo minha mão e acaricio seu rosto com as costas
dela, assim como tanto queria fazer mais cedo. Seus olhos se
fecham ao meu toque. Respirando através dor, eu me inclino para
frente e coloco meus lábios sobre os dela em um beijo suave.

Quando seus olhos se abrem, ela olha para mim e sussurra:


“Deixe-me ajudar você, Creed, por favor. Apenas me diga o que
fazer.”

Como posso dizer não a essa mulher? Ela me tem em suas


mãos. Eu tinha a tola esperança de que ela continuaria dormindo
enquanto eu me costurava, mas deveria saber que isso
aconteceria.

Com um suspiro, cedo e tiro minha camisa. Aceno para a


ferida no meu braço. Sophia solta um suspiro agudo. O raspão da
bala tomou um pequeno pedaço de pele. Parece pior do que
realmente é com todo o sangue.

“Pegue um pouco de álcool e limpe o sangue. Junte a ferida


o melhor que puder e enfaixe-a para mim.” Ela balança a cabeça
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e começa. Trabalhamos em silêncio enquanto tento me concentrar


em remover a bala.

Respirando fundo, aperto a pinça de volta na ferida, cavando


mais até que consigo fazer contato com a bala. Outro rugido rasga
do meu peito, mas desta vez não é tão alto. Meu estômago se agita,
ameaçando derramar o conteúdo aos meus pés por causa da dor.
O sangue escorre ao redor da pinça enquanto a puxo devagar.
Depois de um duro puxão que rouba a respiração direto dos meus
pulmões em um chiado áspero, a bala finalmente sai do meu
músculo. Eu a deixo cair sobre a mesa, um pedaço de metal
comprimido e ensanguentado.

Quando olho para cima, encontro Sophia me encarando com


lágrimas nos olhos. Meus olhos correm para o meu ombro e
levanto as sobrancelhas quando percebo que ela já limpou o
sangue e enfaixou-o. Eu nem senti nada. Muito focado na dor de
remover a bala.

“O que você precisa agora?” Ela pergunta baixinho,


apontando para a minha coxa. Meu lábio se inclina em um
pequeno sorriso.

“Agora vem a parte divertida.”

Suas sobrancelhas se enchem de confusão.

“Eu costuro tudo.”

Seu rosto fica pálido e ela pula de pé. “Vou chamar um dos
caras, não posso deixar você fazer isso sozinho, Creed.”

“Sophia.”

“Não, Creed. Você precisa de ajuda e vou te ajudar.” Com isso,


ela sai do quarto e entra na cabine onde o resto dos caras está.
Eu deixo cair a cabeça para trás e olho para o teto por um tempo
antes de encontrar outra gaze com álcool. Deslizo na ferida, mais
sangue fica no pano.

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“Foda-se”, sussurro duramente.

Quando percebo que a maior parte da ferida está sem sangue,


jogo o pano ensanguentado e pego o grampo no estojo de primeiros
socorros. Normalmente faço a sutura regular, mas como a ferida
na minha coxa tem muito tecido muscular, a pistola de grampo
será mais fácil.

O primeiro grampo entra suavemente. Minha respiração sai


em curtos surtos, mas tenho que continuar me lembrando de que
são necessários apenas mais alguns antes que eu termine.

Assim que finalizo minha coxa, Lorenzo e Garrett entram no


quarto, seguidos por Sophia. Garrett me dá um olhar incrédulo.

“Você realmente se grampeou?”

Eu o ignoro e empurro para o lado os lenços e panos


ensanguentados, me movendo para os pontos que romperam no
meu abdômen, logo à esquerda do meu umbigo. Vasculhando o
kit de primeiros socorros, encontro uma tesoura médica e respiro
fundo enquanto corto os pontos restantes presos à minha pele.

“Abbastanza37.” A voz de Lorenzo soa pelo ar.

Minha mandíbula flexiona e olho para ele. Eu sei o que ele


vai dizer. Que não posso fazer isso sozinho novamente, mas posso.
Ele sabe melhor do que ninguém o que eu sou capaz de fazer,
graças ao meu tempo na Outfit.

“Por favor, Creed. Apenas deixe-o fazer isso por você. Por
favor. Eu odeio ver você com dor.”

Soltando um suspiro exasperado, aceno para Lorenzo chegar


mais perto de mim. Mantenho meu olhar em Sophia o tempo todo
que ele refaz meus pontos. Nós olhamos um para o outro sem dizer
nada, apenas apreciando o silêncio. Eu olho tudo nela. Tudo o que
perdi. E guardo tudo na memória. Algumas vezes meus olhos se

37
Abbastanza- Suficiente
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voltam em direção ao seu abdômen por conta própria, mas forço


meu olhar para outro lugar apenas no caso de ter minhas
esperanças frustradas. Quando ele termina, a primeira coisa que
faço é ficar de pé e cair na cama ao lado de Sophia. Agarrando seu
rosto em minhas mãos, eu a beijo. Eu a beijo como se minha vida
dependesse disso. Eu a beijo como um homem faminto.

Como um homem apaixonado.

Quando nos afastamos, ambos ofegando pelo ar tão


necessário, Sophia tem lágrimas escorrendo pelo rosto.

“Eu não posso acreditar que você está aqui... Eu pensei...


Deus, pensei que vocês estavam mortos, Creed. Eu odiei Finlay
por ter te levado para longe de mim.” Eu coloco minha testa na
dela e olho para aquelas esferas verdes onde amo me perder. “Eu
pensei que ele tivesse tirado você de nós”, ela sussurra tão
baixinho que quase não ouço, mas escuto, e foda se meu coração
não bate um pouco mais com essas palavras. Com vontade
própria, minha mão encontra a curva ao longo do ventre de Sophia
e eu a coloco lá, descansando minha palma contra sua pele lisa.

“Está...?” Eu não quero terminar a frase, com muito medo da


resposta. Sophia recua um pouco e olha para a minha mão que
cobre quase toda sua barriga. Quando seu olhar se levanta de
volta para o meu, seus olhos estão vermelhos de lágrimas.

“Eu… eu sinceramente não sei. Depois de tudo que aconteceu


comigo... pensei...” Ela engasga com um soluço. “Eu pensei ter
perdido você. Eu queria esta pequena versão de nós, queria esse
pedaço de você, mas Finlay... ele me machucou por causa disso.”

Minhas mãos apertam ao redor dela enquanto ela fala em


frases entrecortadas. Meus dentes rangem quando penso em
Finlay e Raul machucando-a durante a gravidez. Com meu bebê.
A porra da minha carne e sangue.

“Um médico que Finlay encarregou de “cuidar” de mim, disse


que eu ainda estava grávida. Isso foi antes de partirmos para a
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Inglaterra. Eu não sei... Não sei se esse ainda é o caso”, ela diz
baixinho, emoção em sua voz.

“Quando desembarcarmos, terei os melhores médicos de


prontidão para cuidar de você. Vocês dois. Eu prometo.”

Seu queixo treme e ela perde a luta com suas lágrimas.

Um soluço passa por seus lábios e ela cai em meus braços,


chorando no meu peito.

“Eu te amo, Creed”, ela sussurra entre os soluços.

“Eu também te amo.”

Meus olhos se fecham ao expirar e eu apenas a abraço. Como


quis fazer por muitas noites. Finalmente, quando as lágrimas dela
diminuem, eu a coloco no meu colo, tentando não aplicar muita
pressão nas minhas feridas. Esfrego círculos suaves ao longo do
braço dela em um movimento reconfortante. Olhando fixamente
para a parede, eu finalmente faço a única pergunta que está me
incomodando.

“Por que você não me contou?”

Eu olho para baixo quando me encontro com o silêncio de


Sophia. Eu vejo seu lábio inferior tremer de emoção enquanto ela
luta contra as lágrimas. Ela chupa o lábio em sua boca,
mordendo-o para abafar seus gritos.

“Eu estava com medo”, diz ela, escovando as lágrimas


perdidas do rosto. “Você estava indo para aquela missão e
planejava contar a você. Corri para o quarto, pronta para dizer
tudo, mas depois...”

“Então?” Eu pergunto.

Ela suspira. “Eu me assustei. Você estava partindo, e eu já


estava preocupada com a possibilidade de você e Garrett não
voltarem. Então estava preocupada com o que você diria ou
pensaria. Decidi que quando você voltasse, nós falaríamos sobre
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isso. Iríamos ver um médico juntos ou algo assim, mas então...”


Ela para, os olhos brilhando com lágrimas. Eu a puxo de volta
para os meus braços, colocando um beijo casto em sua cabeça e
descansando meus lábios lá, nunca querendo soltá-la novamente.

“Eu sei, Baby. Eu sei.”

“Eu nem sequer consegui dizer adeus a ela, Creed. Eles


apenas atiraram nela. À sangue frio.”

Eu fecho meus olhos pensando em Mera.

“Prometa-me que vamos fazer uma cerimônia para ela. Ela


não merecia uma morte como essa, Creed. Ninguém merece.”

Pressiono meus lábios no topo de sua cabeça e a beijo,


inalando seu cheiro. “Eu prometo.”

“Prometa que você vai salvar ela também.”

Minhas sobrancelhas se juntam e minha mão para de


esfregar círculos suaves. “Salvar quem, Sophia?”

Um arrepio agita seu corpo e ela se aconchega mais perto,


quase como se estivesse tentando entrar em mim.

“Alexis. Fin a pegou. Ele está com minha melhor amiga,


Alexis.”

Meus olhos se fecham em suas palavras. E cerro meus dentes


juntos.

A guerra definitivamente não acabou.

Eventualmente, Sophia aninha seu corpo minúsculo no meu


e volta a dormir, mas desta vez, na segurança dos meus braços.
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Fecho meus olhos, saboreando a sensação dela ao meu lado.


Iremos aterrissar em Chicago daqui a mais ou menos oito horas.
Eu tenho tudo pronto para o nosso pouso. Sei o que precisa ser
feito. Monte já está com os médicos alinhados, eles estarão nos
esperando na minha casa. Assim que eu conseguir que Sophia
veja os médicos e souber que está tudo bem, que ela e o bebê estão
seguros, vou colocar Garrett e o resto dos caras cuidando dela.
Ela vai precisar de alguém enquanto eu estiver fora.

Vai doer. Vai quebrar o coração dela, mas não há outro jeito.

Não dessa vez.

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Sophia

Quando eu acordo, é com a sensação de um corpo quente


atrás de mim e o cheiro de... isso é pizza? Eu me coloco para cima,
em uma posição sentada e grogue, tentando afastar o sono para
longe dos meus olhos. Algo sussurra atrás de mim e sinto Creed
se mexendo ao meu lado na cama, espelhando minha posição. Eu
me viro para encará-lo e curvo minhas sobrancelhas com o
pequeno sorriso no rosto dele.

“O que é essa cara?”

“Você está linda”, diz ele, e suas palavras envolvem meu


coração em um caloroso abraço. Eu inclino minha cabeça para o
lado e olho em suas turbulentas profundidades de prata. Seus
olhos continuam a percorrer meu rosto quase como uma carícia.

Com um aceno de cabeça, reviro os olhos e zombo.

“Certo. Agora, por que tem cheiro de pizza aqui?” Pergunto,


olhando ao redor do quarto. Meus olhos finalmente pousam em
sua mesa. Limparam seus suprimentos médicos e roupas
ensanguentadas. Em seu lugar está um recipiente, que presumo
que esteja guardando a comida.

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“Cheira a pizza porque tem uma pizza lá dentro. Eu quero


que você coma. Não sei quanto tempo se passou desde que você
comeu pela última vez, mas logo pousaremos e não quero que você
fique enjoada.”

A intensidade com que Creed me observa faz meu coração


bater um pouco mais rápido. Um sorriso repuxa os cantos dos
meus lábios e aceno com a cabeça. Acho cativante como ele é
protetor comigo.

“Certo.”

Surpreendo-me, comendo metade das fatias de pizza que


estavam no recipiente aquecido. Não muito tempo depois de
encher meu estômago, o jato faz sua descida e nós finalmente
pousamos em Chicago.

Quando Creed e eu saímos do quarto e entramos na cabine


com o resto dos caras, todo mundo está em silêncio e pensativo.
Os caras parecem mais do que prontos para sair deste jato e ter
uma boa noite de sono. Eu não posso nem imaginar os infernos
que passaram para me ajudar.

Quando entrei no jato pela primeira vez, não prestei muita


atenção ao detalhamento interno ou ao tamanho dele, mas agora,
não posso deixar de ficar boquiaberta

Quanto dinheiro Creed tem?

Enquanto Creed fala com o resto dos caras em voz baixa,


sinto meu irmão pairando ao meu lado. Eu me viro para encará-
lo, vendo as bolsas pesadas sob seus olhos.

“Você não dormiu nada?”

Ele dá de ombros sem compromisso. “Eu tentei.”

“Oh, Gar.” Solto um suspiro pesado.

“Você está pronta?” Ele pergunta assim que a porta da cabine


do jato se abre e as escadas estão no lugar. Kam, Jose e Ricky
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saem do jato primeiro, seguidos por mim e Gar. Creed e três outros
homens que ainda não fui apresentada saem e de repente, observo
a mudança no corpo de Creed. Todos os seus músculos ficam
tensos e seu corpo fica rígido como uma tábua. Seu rosto apaga
toda emoção, mas seus olhos, seus olhos queimam com muita
raiva. Minhas sobrancelhas se franzem enquanto tento entender
a súbita mudança de atitude, mas quando ouço uma voz
desconhecida a alguns metros de distância, sei que algo não está
certo.

“Diavolo.”

Eu giro em direção ao dono da voz e congelo. Meus olhos se


arregalam quando vejo o homem vestido com um terno impecável.
Ele parece demais com Creed, é bem estranho. A única grande
diferença que posso identificar são seus olhos. Seus olhos são as
únicas coisas que eles não têm em comum. Ele deve ter herdado
seus lindos olhos da mãe.

“Fico feliz em ver que todos vocês voltaram inteiros”, diz o


homem. Eu sinto Garrett sutilmente colocar seu corpo na frente
do meu e o resto dos caras me flanqueiam, quase como se
estivessem me protegendo dele. Todos, exceto Lorenzo, um dos
estranhos. Ele faz contato visual com o pai de Creed e caminha
para seu lado, flanqueando o homem.

Meu coração bate com medo e quando volto meu olhar para
Creed, vejo a raiva estampada em todo o seu rosto. Foi-se o
homem frio e indiferente, em seu lugar está alguém que mal
contém sua raiva.

“O que você está fazendo aqui?” Creed rosna.

“Estou aqui para cobrar, filho. E queria conhecer a mulher


que está carregando meu neto.”

Eu dou um suspiro afiado em suas palavras. Seus olhos de


repente se voltam para mim e eu me encolho. Seu olhar me
percorre de cima a baixo, mas se fixa no meu rosto. Ele inclina a
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cabeça para o lado quase em contemplação e seus olhos se


estreitam.

“Onde ele está?” Ele pergunta de repente, voltando-se para


Creed. “Onde está a merda que causou isso a ela?”

Todo mundo fica em silêncio. Creed é o único que fala.

“Ele fugiu.”

Algo passa pelo rosto de seu pai, mas se vai em segundos. Ele
solta uma risada incrédula e esfrega a mão pelo queixo.

“Vamos”, diz ele. “Vamos conversar na propriedade.”

Creed entra na minha frente, me bloqueando da visão de seu


pai.

“Não há tempo. Vou leva-la a um médico.”

Seu pai zomba. “Não seja tolo. Você faz parte da família
novamente. Nós temos tudo o que você precisa. Tudo o que ela
precisa.”

“Outra hora”, diz Creed, segurando minha mão na dele e me


puxando um passo para trás. As palavras de seu pai nos congelam
no lugar.

“Eu insisto.”

Creed fica em silêncio por um longo tempo. Até que


finalmente aceita. “Nós vamos te encontrar lá.”

Todos nós entramos no SUV que está esperando e eu observo


a lateral do rosto de Creed, buscando o que ele poderia estar
pensando depois daquele encontro, mas seu rosto permanece em
branco e ele fica em silêncio durante todo o percurso até a
propriedade.

Eu não posso segurar meu suspiro quando o SUV para na


propriedade do pai de Creed, mesmo que tentasse. A beleza além

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das janelas escuras do veículo me tira o fôlego. A casa, ou mansão,


é provavelmente uma descrição melhor do lugar, grita riqueza.

Passamos pelos portões e entramos em uma longa estrada


ladeada por uma abundância de árvores. A estrada faz uma curva
em torno de uma fonte no centro do caminho que flui água através
de seu sistema como uma maldita cachoeira. A fonte central é
fascinante de se ver, feita de azulejos de cerâmica e vidro, cercada
por flores brilhantes e vibrantes.

Delicio meus olhos com a beleza da casa, tentando muito


compreender o que estou fazendo em uma propriedade tão bonita.
O SUV segue até parar e eu sigo Creed e os caras quando saem.

Um grito de surpresa se aloja na minha garganta quando


Creed de repente me levanta em seus braços. Eu inclino meu rosto
para cima, olhando-o enquanto ele faz a jornada em direção às
portas duplas.

“Você não tem que me carregar, sabe”, digo baixinho, meu


olhar analisando suas feições em busca de qualquer sinal de dor.

O homem sofreu mais ferimentos do que eu, e ainda está


tentando me arrastar como se eu não pesasse nada além de uma
pena. Aqueles olhos cinzentos descem para o meu rosto,
acariciando-me. O canto do seu lábio contrai-se bem ligeiramente
em um sorriso e o efeito que tem em mim é surpreendente. Meu
coração tropeça e lágrimas ardem nos meus olhos. É um sorriso
que nunca pensei que veria novamente. Um que eu pensei que
tinha perdido para sempre quando Finlay tentou tirar Creed de
mim. Olho para ele com olhos turvos, percebendo o quanto isso
tudo tem o afetado. Ele parece cansado, como se tivesse passado
pelo inferno e voltado, o que fez. Aquele adorável vinco se forma
entre suas sobrancelhas enquanto ele olha para mim, como
sempre acontece quando está preocupado com algo ou em
pensamentos profundos.

“O que há de errado?”

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Eu abro minha boca para responder, mas minha garganta


está tão cheia de emoção que não consigo pronunciar nenhuma
palavra. Inalando uma respiração profunda, lambo meus lábios e
tento novamente.

“Senti tanto sua falta. Eu só... eu...”

Olhos cinzentos que são tão turbulentos em suas


profundezas suavizam quando olham para mim.

“Eu sei”, ele diz baixinho. Sem outra palavra, seu olhar se
eleva e, a próxima coisa que sei é que estamos dentro do lugar que
Creed costumava chamar de lar.

Quando entramos, ele me coloca de pé e passa os braços em


volta de mim como se eu estivesse fraca demais para me manter
sozinha. Eu coloco uma mão gentil em seu antebraço e aceno com
a cabeça, avisando-o que estou bem. Se achava que o lado de fora
desse lugar era lindo, nem sequer podia imaginar como é por
dentro. Por conta própria, meus pés se movem através do piso de
mármore imaculado do vestíbulo, observando cada detalhe
minuciosamente.

“Lindo, certo?” Uma voz diz atrás de mim. Eu giro ao redor,


chocada ao encontrar o pai de Creed, ficando completamente sem
palavras. Aqui, não posso evitar o jeito que meu olhar passa sobre
o homem diante de mim, avaliando-o. É estranho como os homens
são parecidos um com o outro. A mesma constituição física, o
mesmo cabelo preto e feições bem marcadas. Eu recebo a mesma
vibração perigosa do pai de Creed, como foi com ele. Até o modo
como Matteo anda é igual a Creed. São quase cópias de carbono
um do outro, a única diferença visível que consigo detectar são os
olhos.

“Minha Valentina projetou tudo. Escolheu todos os detalhes


desse lugar. Mesmo depois de dezenove anos, mantive todos os
aspectos como ela sempre quis.”

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“É lindo”, sussurro com admiração. “Cada detalhe é tão


bonito.”

Meu olhar flutua em torno dos tetos imaculados e da bela


obra de arte ao longo das paredes e não posso evitar o aperto no
meu peito ao pensar na mãe de Creed. Eu nunca teria a chance
de conhecê-la ou compartilhar memórias com ela. Ela nunca veria
nosso relacionamento florescer ou nos ver começar uma família.
Só de estar aqui, no lugar que uma vez foi seu santuário me
aproxima da mulher que Creed amou interminavelmente.

“Assim como minha Valentina. Tudo o que ela tocou era


lindo.” Eu me viro para Matteo com a melancolia em seu tom.
Passos pesados se arrastam de algum lugar atrás de mim e sinto
uma mão grande e calejada envolver e apertar a minha. Quando o
cheiro distinto que é inerentemente de Creed envolve ao meu
redor, aperto de volta, silenciosamente o deixando saber que ainda
estou bem. Sua mão aperta a minha enquanto ele está na
presença de mim e seu pai, mas não dói. É apenas um aviso. Posso
sentir o quão fora de sua zona de conforto ele está aqui.

Matteo e Creed não dizem nada por um longo tempo, em vez


disso, ficam em silêncio, observando um ao outro através de
fendas estreitadas. Matteo faz questão de nos observar em silêncio
por um período de tempo desconfortável. Seu olhar se move entre
nós, quase como se ele estivesse tentando ler e questionar cada
detalhe do nosso relacionamento apenas com seus olhos.

Quando ficamos juntos?

Como acabamos aqui?

Se estamos apaixonados?

Quanto eu realmente sabia?

“Venha”, ele diz de repente, exibindo um sorriso que parece


muito forçado para ser natural. “O médico está esperando por você

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na ala leste. Presumo que você se lembre onde fica isso?” Ele
levanta uma sobrancelha para Creed, dando uma chance a ele.

“Eu sei”, Creed responde naquele tom frio e sem vida que
costumava me deixar louca. “Eu assumo daqui”, ele lança de volta
à alfinetada de Matteo, me levando para a ala leste.

No caminho até as escadas e em direção à parte leste da


propriedade, fico maravilhada com o tamanho do lugar. É
incrivelmente enorme e insanamente lindo. Como um museu
italiano com tanta arte e opulência ao nosso redor. Eu quero
perguntar a Creed tantas coisas sobre sua antiga casa e sua vida,
mas com tudo acontecendo, penso melhor nisso. Nós temos
assuntos mais urgentes para nos preocuparmos.

Tudo em que consigo me concentrar é no fato de que estamos


prestes a encontrar um médico. Vou descobrir se nosso bebê está
bem ou não. Eu não posso ignorar a bola de medo que aperta meu
estômago enquanto penso sobre toda a dor que sofri no meu curto
tempo com Finlay, todas as drogas que ele me deu.

Nunca pensei muito em ser mãe. Quero dizer, com certeza,


tive os pensamentos sonhadores de contos de fadas e felizes para
sempre, assim como os livros de romance que eu amava ler. Não
importava o que esses personagens passavam, eles sempre
pareciam sair do outro lado, ainda mais fortes, mais invencíveis.
Mas é só isso, a vida não é um conto de fadas.

Eu só pensava em crianças e casamento no sentido


convencional. Terminar a faculdade, começar minha carreira e
encontrar um homem que me tratasse melhor do que meus
sonhos mais loucos. Então, e só então, o casamento e o início de
uma família seriam uma opção. Mas nada disso aconteceu comigo
e Creed. Eu não terminei a faculdade e nem comecei minha
carreira, mas tenho um homem na minha vida que sei, sem
sombra de dúvida, é minha alma gêmea. Nosso relacionamento
pode não ser convencional, mas eu amo Creed mais do que a mim
mesma, e agora que há uma possibilidade de estar carregando o
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bebê dele? Isso me faz amá-lo ainda mais. Isso me faz querer
proteger esse pequeno ser precioso com toda a minha alma. Eu
nunca quis tanto algo.

Estou mergulhada em minhas reflexões internas quando


chegamos a uma pesada porta de madeira com entalhes intricados
e detalhes de latão. Creed nem se incomoda em bater, ele a abre,
assustando a mulher mais velha em pé no centro da sala.

“Oh meu.” Ela aperta a mão no peito e olha para Creed por
alguns segundos sólidos antes de fixar seu olhar de olhos
castanhos em mim. Seu rosto suaviza completamente quando dá
uma olhada no meu rosto ferido e machucado.

“Aqui, deixe-me dar uma olhada em você.”

Ela se ocupa com as mãos sobre a cama do hospital,


equipada com grades e um controle remoto que, sem dúvida,
controla a inclinação das posições.

“Eu sou Magdalene”, diz ela suavemente, seu sotaque


espanhol colorindo seu tom. Magdalene é razoavelmente baixa e
mais magra, mas apesar de sua aparência facial juvenil, que está
livre de rugas e linhas finas, seu cabelo puxado para trás em um
rabo de cavalo elegante é quase todo cinza, intercalado com alguns
fios de ônix escuro por toda parte.

Aceno em saudação. “Eu sou Sophia.”

Eu viro para Creed procurando por ajuda enquanto ele


segura minha mão na sua e me guia para a cama posicionada no
centro da sala. Existem diferentes tipos de máquinas ao meu
redor. É então que noto um homem asiático, com óculos de
armação quadrada empoleirados na ponta do nariz perto da
multidão de máquinas. Seus olhos imediatamente se dirigem para
Creed, que está pairando ao meu lado como um guarda-costas
iminente e, então, cautelosamente, de volta para mim.

Ele limpa a garganta. “Olá, Sophia. Eu sou Benjamin Chang.”

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Levanto uma mão desajeitada e sorrio, tentando, como o


inferno, conter minha ansiedade desenfreada. Toda vez que meu
olhar se espalha pela sala, ele se fixa nas máquinas que podem
trazer boas ou más notícias para as quais não tenho certeza se
estou pronta.

“Magdalene é a doutora aqui, ela é formada e será sua


colaboradora pessoal durante sua estada aqui na propriedade. O
Sr. Sabella me chamou para ficar à sua disposição também. Eu
me especializei em medicina materno-fetal, então você está em
boas mãos.” Ele força um sorriso e, mais uma vez, lança seu olhar
para Creed, como se para ter certeza de que sorrir para mim é
apropriado. O silêncio embaraçoso preenche o ar da sala que mais
parece uma suíte de hotel do que um quarto dentro de uma casa.

Dr. Chang toca a caneta e o bloco de papel na mão antes de


cortar o silêncio, indo direto ao assunto. “Você pode me dizer
quando foi sua última menstruação?”

Eu olho para Creed como se ele pudesse de alguma forma me


ajudar a montar um calendário, como se ele tivesse menstruado
regularmente. Reviro meu cérebro, tentando lembrar uma data,
um mês, qualquer coisa, mas só há vazio. Depois de nove meses
presa com aqueles monstros e depois encontrar Garrett e Creed,
fiquei sob muito estresse e manter controle dos meus ciclos não
estava exatamente no topo da minha lista de prioridades.

Creed fica parado ao lado da cama com a mão presa ao redor


da minha, não parece que ele vai soltá-la tão cedo. Aqueles olhos
cinzentos que são como ardósia e aço estão presos em mim,
observando cada movimento meu. A severidade com que ele me
analisa é tão intensa, parece que está tentando ver dentro de mim,
alcançar minha alma e agarrar meus pensamentos mais íntimos.

“Eu-eu não sei”, murmuro, voltando para o Dr. Chang.

Magdalene avança, ao lado do Dr. Chang, e me lança um


sorriso consolador. Seu sorriso faz meu coração se despedaçar de

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dor. Ela me lembra muito de Mera, dói olhar. Alheia à sombra de


dor no meu peito, Magdalene acena para mim, me pedindo para
relaxar. Eu posso dizer que ela está tentando tornar toda essa
situação mais fácil para mim, mas não acho que isso seja possível,
estou muito fora do meu elemento.

“Tudo bem, Sophia”, diz ela quando caminha até onde estou
sentada na minha posição na cama. Ela desliza luvas de látex
sobre as mãos. “Vamos ver o que temos aqui. Então, poderemos
partir de lá.” Ela me entrega um copo e aponta para o banheiro
anexo ao quarto. “Tudo o que precisamos é de uma amostra de
urina, e quando você terminar, volte aqui e faremos um exame
apropriado com o Dr. Chang para avaliar o resto de seus
ferimentos.”

Os músculos do meu estômago se contraem e minha boca


fica seca. Creed me ajuda a ficar de pé e quase imediatamente,
leva meu corpo de volta em seus braços como se fosse incapaz de
andar. Seus passos batem contra o chão de madeira, ecoando ao
nosso redor. Espero que Creed me ponha de pé uma vez que
cruzemos o limiar para o banheiro, mas para meu desgosto, ele
literalmente me leva até o banheiro, pega o copo da minha mão e
depois me coloca de pé. Uma vez que ele se agacha e suas mãos
encontram a curva em meus quadris para ajudar a abaixar meu
shorts, eu congelo, batendo minhas mãos sobre as dele,
segurando minha roupa no lugar.

“O que você está fazendo?” Arqueio uma sobrancelha


enquanto olho para ele.

Creed inclina a cabeça para o lado e me dá um olhar que diz:


“Não é óbvio?”

Minhas sobrancelhas repuxam para baixo. “Você não tem que


me ajudar, Creed.”

Seus lábios se apertam. “Sim, eu sei Sophia. Você está


ferida.”

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“Creed… eu te amo, não me entenda mal, mas não tem jeito


de eu fazer xixi na sua frente. Ainda não, pelo menos.”

Seus lábios carnudos se contorcem em diversão. Ele se


levanta, se elevando sobre mim, e suas mãos deslizam para fora
dos meus quadris no processo. Sinto falta do calor do seu toque
quase que imediatamente. Sua expressão brincalhona desaparece
e a preocupação obscurece suas feições.

“Você tem certeza?”

Eu sorrio, ignorando o calor crescente em minhas bochechas


por ter ele tão perto de mim. “Positivo. Vou gritar para você se
precisar de alguma coisa. Capiche?”

Seu sorriso começa em um canto e se espalha em seus lábios


como gasolina em um incêndio, causando uma contração no meu
centro. Não é o seu meio sorriso ou sorriso de costume, é um
brilhante, largo, onde posso ver seus dentes perfeitos, e o brilho
de diversão iluminando seus olhos. “Capiche, hein?” Ele diz com
tristeza.

Dou de ombros, fingindo indiferença. “Acho que é hora de


aprender um pouco de italiano.”

Creed de repente desce, sua boca se chocando na minha em


um beijo que arranca um gemido que ele engole facilmente. O fogo
nas minhas veias esquenta, pulsando através de mim a cada
batida do meu coração errático. Seu beijo se torna suave,
deslizando suavemente sobre o meu. Quando se afasta, está com
as pálpebras pesadas e eu não posso evitar o jeito como minhas
pernas tremem embaixo de mim, ameaçando ceder.

Com um último beijo suave nos meus lábios, Creed olha para
mim por alguns segundos antes de afastar os fios de cabelo do
meu rosto e depois solta a mão, girando nos calcanhares. Ele
fecha a porta suavemente, me deixando sozinha. Meu íntimo se
contorce de medo quando olho para o copo de plástico estéril na
minha mão. Eu quero boas notícias. De fato, preciso de boas
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notícias. Tenho muito medo do que o Dr. Chang dirá ou


encontrará. Tenho segurado o pensamento deste bebê tão
fortemente, não consigo nem pensar em deixar isso pra lá.
Cerrando meus olhos, dou uma respiração profunda e firme.

Meu coração bate forte quando coloco meu corpo sobre o vaso
sanitário, tentando apontar diretamente o copo de plástico onde
eu acho que o fluxo virá. Definitivamente não é tão fácil quanto eu
pensava que seria, com esse enorme volume ao redor do meu
braço. Tentar manobrar e descansar meus cotovelos nos joelhos é
um saco. Ficando tão confortável quanto posso, eu finalmente me
alivio, o tempo todo esperando, rezando para que a vida dentro de
mim esteja bem.

Quando abro a porta, saindo do banheiro, encontro Creed


andando de um lado para o outro. Magdalene e o Dr. Chang
trocam olhares cautelosos, mas isso é tudo o que eles oferecem. O
cabelo de Creed está em todas as direções, dele passar a mão por
ele. Acho que nunca o vi tão fora de estilo. Ele geralmente é tão
confiante e intimidante, mas agora parece... desamparado.

“Vá em frente e fique confortável na cama de novo, querida”,


diz Magdalene. “Dr. Chang e eu vamos avaliar suas contusões.”

Creed me ajuda na cama e Magdalene me pede para deitar de


costas. Fico olhando para o teto, tentando conter as lembranças
de como consegui cada machucado, mas elas vêm sem serem
convidadas de qualquer maneira. Dr. Chang verifica meu
batimento cardíaco e minha respiração com o estetoscópio.
Lágrimas brotam dos meus olhos quando sinto suas mãos ao
longo das contusões que cobrem minha pele. Ele levanta meus
pés, verificando as bolhas e rasgos dos galhos na floresta. Eu
posso sentir Creed pairando ao meu lado, e aperto sua mão na
minha, tentando incorporar toda a sua energia e força como se
fosse minha.

Dr. Chang faz um barulho contemplativo. “Você tem alguns


cortes bem ruins, que provavelmente deveriam ter sido cuidados,
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para evitar tantas cicatrizes”, ele reflete. “Mas parecem bem”, diz
ele, soprando uma respiração. Eu forço meus olhos a se abrirem,
virando minha cabeça em direção a Creed. Ele está olhando para
o meu corpo com uma raiva assassina em seus olhos,
memorizando cada cicatriz e machucado que Finlay causou.

Dr. Chang levanta meu braço que está no gesso, verificando


tudo. Ele levanta gentilmente, torcendo de um lado para o outro.
Seus dedos puxam o gesso por fora e a camada de algodão por
dentro. Ele faz outro barulho contemplativo e empurra os óculos
para cima ao longo da ponta do nariz.

“Seu gesso parece forte o suficiente. A única coisa que me


preocupa é o posicionamento. Você sente alguma dor aqui?” Ele
pergunta, batendo com o dedo na área do meu cotovelo. “Se você
sentir alguma dor ou desconforto, o osso pode estar mal
posicionado.”

Eu sacudo minha cabeça. “Não, eu não sinto muito nessa


área além de algumas dores pulsando aqui e ali, mas geralmente
é quando deixo meu braço pendurado. Mas no geral, parece
melhor do que quando...” eu calo, sem terminar minha frase.
Quase imediatamente meu olhar se lança para o lado, procurando
pelo Creed. Seus olhos se chocam com os meus e vejo toda a raiva
e tristeza que ele está tentando, como o inferno, esconder de mim.
Procuro naquelas profundezas prateadas pelo que ele poderia
estar pensando, mas a voz do Dr. Chang pede nossa atenção.

“Isso é normal”, assegura o Dr. Chang. “Por mais que eu


queira aplicar meu próprio gesso no intervalo e descobrir a
gravidade, não vou atrapalhar seu processo de cura. Só peço que
você me avise se alguma coisa mudar no futuro. Tudo o mais
parece que já está curando bem. Agora, gostaria de verificar sua
área abdominal para quaisquer problemas.” Em vez de olhar para
mim quando o Dr. Chang pede isso, ele olha para o homem
volumoso ao meu lado. Meus lábios se enchem de irritação. Creed
me procura por afirmação, se certificando de que estou bem em

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ter as mãos dele em mim. O pequeno gesto faz meu coração


disparar ao longo de uma batida.

Creed acena com a cabeça para o Dr. Chang e ele bate


palmas. “Ótimo. Sophia, posso pedir que você levante sua camisa
para mim? Eu gostaria de dar uma olhada em qualquer possível
hematoma ao longo do seu abdômen.

Com a ajuda de Creed, levanto minha camisa e permito


acesso ao Dr. Chang. Magdalene fica do lado da cama ao lado do
Dr. Chang, com uma expressão preocupada. O médico aplica uma
leve pressão no abdômen, evitando pressionar com muita força as
áreas que estão contundidas. Ele faz o mesmo na minha região
pélvica, suas sobrancelhas se curvam em concentração.

“Na maior parte, você parece bem, Sophia”, Dr. Chang


finalmente diz. “No exterior eu não vejo nada que me deixe muito
preocupado.” Ele se vira mexendo em algo nas máquinas e
sussurra com Magdalene em voz baixa. Creed e eu
compartilhamos um olhar frente aos seus sussurros secretos.

“Bem”, o Dr. Chang começa. “Parece que seu teste de urina é


positivo para o hormônio HCG, mas às vezes, mesmo depois de
abortar, seu corpo ainda traz sinais do hormônio.” Ele acrescenta
calmamente quando percebe a expressão esperançosa no meu
rosto, fazendo meu coração dar um pulo e meus pulmões
restringirem o ar. Meu íntimo se torce dolorosamente.

A mão de Creed aperta a minha, trazendo minha atenção


para si. Lágrimas nadam em meus olhos enquanto olho para ele.
Eu quero que ele me proteja de mais dor. De qualquer notícia ruim
e quase como se pudesse sentir isso, ele se abaixa e coloca seus
lábios contra a minha testa em um beijo suave.

“Para que possamos ter certeza, peço que você se dispa da


cintura para baixo, e cubra-se com esse lençol”, diz ele, apontando
para o avental de papel dobrado em sua mão. “Usando esta
varinha”, ele levanta uma pequena engenhoca, “Magdalene vai

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tentar obter um ultrassom e ver o que está acontecendo aí dentro.


Eu estarei aqui monitorando a tela para ter uma visão melhor do
feto e verificar se há alguma complicação, ou... quaisquer outros
problemas que possamos encontrar.”

As lágrimas que eu estava desesperadamente segurando


passam pelos cantos dos meus olhos e tudo que consigo fazer é
acenar com a cabeça. Dr. Chang e Magdalene saem da sala para
dar a mim e Creed um pouco de privacidade.

“Estou com medo”, eu sussurro, com muito medo de olhar


para ele. Ele fica em silêncio por um longo tempo, tanto tempo,
que acho que não vai dizer nada, mas então diz.

“Eu sei, baby”, ele diz baixinho, me puxando em seus braços.


Derramo mais algumas lágrimas, agarrando Creed com força.

Com um beijo suave nos meus lábios, Creed ajuda da melhor


maneira possível enquanto puxo meu short para baixo. Ele cobre
minha metade inferior com o lençol, apoiando a mão sobre meu
joelho direito que está tremendo como um louco. Com a mão livre,
acaricia suavemente o meu cabelo, me levando a olhar para ele.
Eu procuro seu rosto, observando cada detalhe antes de colocar
minha mão em sua mandíbula dura.

“Obrigada”, digo silenciosamente com os lábios, assim que há


uma batida na porta.

Magdalene e o Dr. Chang entram de novo e ocupam-se na


máquina. Eu ouço um tubo espirrar algo, em seguida, o som de
algo estalando.

“Você é alérgica ao látex por acaso?” Magdalene pergunta


enquanto contorna o pé da cama. Eu sacudo minha cabeça. “Você
pode descer até o fim da cama para mim, Sophia?”

Magdalene coloca um novo par de luvas e ajusta a coisa que


parece um preservativo sobre a vara. Ela esguicha um gel claro na
ponta e se vira para mim com um olhar simpático. “Isso pode

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parecer um pouco estranho, mas, por favor, tenha paciência


comigo.”

Fecho meus olhos quando sinto a varinha pressionar minha


entrada. Minha mão dispara e trava na camiseta de Creed. Aperto
meu punho no tecido enquanto ela a desliza para dentro. Eu não
posso evitar travar meus músculos com a intrusão.

“Relaxe, Sophia. Relaxe”, Magdalene murmura em um tom


suave.

Eu tento respirar apesar da sensação desconfortável e relaxo,


me concentrando em qualquer coisa que não seja o objeto
estranho sendo enfiado dentro de mim, mas de repente, a varinha
para de se mover e há um barulho estranho vindo da máquina.
Um barulho alto e rítmico. Meus olhos se abrem e se lançam em
direção ao Dr. Chang. Ele estreita os olhos para o monitor,
clicando em espaços aleatórios ao longo da tela e digitando no
teclado. Eu tento focar meu olhar na tela, mas mal consigo
distinguir, é apenas preto, branco e confuso. Eu não sei dizer o
que devo procurar.

“Boas notícias”, ele diz, finalmente parando seu monitor e


clicando no teclado. “O feto tem um batimento cardíaco constante
e”, diz ele, parando para olhar em direção a Magdalene. “Se virar
o bastão cerca de trinta graus para o lado esquerdo.” Com um
olhar de concentração em seu rosto, ele continua a olhar para o
monitor até que de repente uma imagem se forma na tela que faz
meu coração parar de forma brusca. “Sim, perfeito, lá vamos nós.”
Ele faz mais alguns ajustes e cliques na tela antes de se virar para
nós com uma expressão otimista. “Se minhas medidas estiverem
corretas, eu diria que você está de sete a oito semanas de gravidez.
Neste momento, seu bebê está no estágio de brotamento de pernas
e braços, que se você olhar um pouco mais de perto da tela”, ele
diz apontando o dedo. “pode ver o ponto de brotamento, bem aqui,
onde os braços e pernas estão crescendo.” Ele aponta para a tela
e meus olhos se concentram no pequeno ponto branco embaçado

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que parece um pouco maior do que um amendoim. Uma onda de


emoção bate em mim enquanto encaro a tela em descrença.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto de pura felicidade e alívio.


Alívio que tudo pelo que passei não foi em vão. Alívio que meus
esforços para proteger nosso filho valeram a pena, porque ele ou
ela... está bem. Alívio que Creed e eu poderemos experimentar o
nascimento de nosso filho e ser pais, afinal.

Puta merda. Eu vou ser mãe.

Quando me viro para enfrentar Creed, paro com o olhar em


seu rosto. O corpo dele está tão tenso que juro que nunca o vi tão
rígido. Ele está apenas olhando para a tela sem expressão. Não há
expressão em seu rosto, tornando impossível dizer o que ele está
pensando ou sentindo. Quanto mais tempo ele olha para a
imagem no monitor sem dizer uma palavra, mais rápido meu
coração bate. Náusea revira meu interior, trazendo transpiração
para pontilhar minha testa.

Não é isso que ele queria?

Quando ele finalmente deixa seu olhar cair no meu, eu


procuro no gelo prateado de seus olhos pelo que ele pode estar
sentindo, mas antes que tenha uma chance de dissecar seu
comportamento, sua cabeça desce e ele toma minha boca em um
beijo selvagem que tira o meu fôlego. Suas mãos pesadas tocam
meu rosto e me seguram como uma cativa voluntária. Tanta
emoção enche meu peito que eu não consigo segurar o som
sufocado que escapa. A pressão firme de seus lábios diminui até
que tudo que sinto é o calor da testa dele encostada na minha.
Quando puxo para trás, eu olho em suas esferas de cristal e meu
coração tropeça com o amor brilhando de volta para mim.

“Eu te amo. Vocês dois”, ele diz em uma voz grossa. Um


soluço passa pelos meus lábios e puxo sua boca para a minha
novamente em outro beijo.

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“Eu também te amo”, consigo dizer entre beijos e soluços que


estão intercalados com a minha risadinha incrédula.

Depois que nos afastamos, procurando ar, eu encontro


Magdalene nos encarando com olhos brilhantes. Sua emoção e
carinho estão estampados em seu rosto tão claramente quanto o
dia. Ela continua olhando para Creed quase com orgulho
maternal.

“Vamos começar um pré-natal para manter o bebê saudável


e quero que você beba muita água, Sophia. Sua amostra de urina
mostra traços de sangue que me dizem que você tem uma infecção
nos rins. No seu caso, a desidratação é a causa disso. Não é muito
sério, não vou te colocar no soro ainda, mas se as coisas
progredirem, teremos que fazer isso.”

Eu aceno com a cabeça, limpando minhas lágrimas.

“Então, o bebê está bem? Todas as drogas que Finlay me deu


não causaram nenhum dano?”

Dr. Chang balança a cabeça, parado perto do pé da cama.


“Eu não vi nenhum traço de drogas em sua amostra de urina,
então não sei qual mistura injetaram em você, mas, posso te dizer
que eu não vejo nenhum dano causado ao feto. Tudo parece bem,
menos sua desidratação. Magdalene vai ficar de olho em você para
mim, pois ela estará aqui com você todos os dias. Se tiver mais
dúvidas ou preocupações, ela pode ajudar ou encaminhá-la de
volta para mim.”

“Obrigada a ambos”, sussurro, lançando meu olhar do Dr.


Chang para Magdalene. Ele acena com a cabeça e enfia as mãos
nos bolsos antes de sair do quarto.

“Vou deixar vocês dois sozinhos”, Magdalene diz calmamente


com um pequeno sorriso, caminhando em direção à porta. De
repente, ela para e se vira. Seus olhos disparam de mim para
Creed, então eles ficam fixos nele. “Sua mãe ficaria tão orgulhosa
de você, tesoro. Parabéns.”
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Eu me viro para Creed a tempo de vê-lo recuar com suas


palavras e travar uma batalha com suas emoções. Magdalene
fecha a porta atrás dela com um clique suave, nos cobrindo em
silêncio.

“Quem é ela?”

Ele fica quieto por um longo tempo enquanto olha para a


porta.

“Ela era próxima de minha mãe.”

“Elas eram amigas?” Eu pergunto, tentando calcular quantos


anos sua mãe poderia ter agora se ainda estivesse viva.

“Magdalene era a médica da minha mãe. Ela cuidou de sua


saúde depois que minha mãe foi vendida para o meu pai.”

Um calafrio percorre minha espinha enquanto procuro suas


palavras. “Sua mãe... sua mãe foi o que?” Eu gaguejo, olhando
para ele com expectativa. Creed solta um suspiro cansado.

“A família de minha mãe a vendeu ao meu avô como uma


barganha de casamento, um casamento de conveniência. Foi uma
vítima usada pelo poder. Mais poder para a família Sabella. Ela foi
prometida ao meu tio primeiro, durante a conversa inicial do
acordo, mas então meu avô mudou de ideia e escolheu meu pai, e
bem, você sabe o resto.”

“Oh meu Deus”, respiro forte.

“A mãe de Magdalene costumava trabalhar aqui como


empregada doméstica. Depois que ela morreu, Magdalene não teve
outra escolha a não ser preencher seu lugar.”

“Isso é incrivelmente confuso Creed.”

Ele lança seu olhar para o chão e acena com a cabeça, me


dizendo que sabe o quão fodido tudo é. “Magdalene ajudou minha
mãe enquanto ela aceitava o fato de que iria se casar com meu
pai, por sorte, já vinha de uma família de merda e se apaixonou
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por Matteo quase imediatamente. Magdalene também foi parteira


da minha mãe. Foi ela quem me trouxe ao mundo.”

Eu solto uma respiração profunda. Balançando a cabeça e


tentando processar toda essa nova informação. Como eu não
soube disso antes? Meu Deus. Não é de se admirar que Magdalene
tenha olhado para Creed de uma maneira tão maternal, ela fez o
parto de Creed. Ela foi praticamente a melhor amiga de sua mãe,
que foi assassinada. Eu não iria pressioná-lo para mais detalhes,
não agora, pelo menos, mas isso era algo que eu precisava saber
mais.

Depois de me limpar e me ajeitar, sigo Creed para fora da sala


e entro no corredor imaculado. Ele pega minha mão na sua e
aperta suavemente, levando-me a olhar para ele. Ele parece tão
forte e fechado como sempre, como um anjo negro, mas por baixo
de tudo isso, parece cansado. Tão cansado. Isso faz meu coração
doer.

Eu paro meus movimentos e ele me espelha, virando com


uma carranca estragando suas feições. Eu o alcanço com minha
mão e acaricio sua mandíbula que está pontilhada com um pouco
de barba. Levantando na ponta dos pés, pressiono suavemente
meus lábios contra os dele. Seus lábios são macios e cheios. Eles
me fazem sentir em casa. Quando me afasto, vejo tudo o que
preciso ver naquele momento. O calor em seus olhos. O amor que
ele tem por mim brilhando naquelas intrincadas profundezas
cinzentas. Sinto tudo isso me envolver. O efeito me dá palpitações
no coração.

“Vamos”, ele diz com aquela voz grave que toca em algum
lugar dentro de mim.

Encontramos todos no vestíbulo e Matteo nos leva para a sala


de jantar para o jantar. Há uma longa mesa no centro da sala que
parece caber vinte convidados. A mesa está cheia de talheres e
bandejas prateadas de canapés. Todos os caras compartilham
olhares cautelosos enquanto tomam seus lugares. Com Matteo à
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cabeceira da mesa, Creed e eu à esquerda, e Lorenzo à direita,


todos os outros se acomodam nos assentos restantes.

“Por que vocês não ficam aqui a noite toda? Há muito espaço.”

Eu sinto Creed endurecer ao meu lado com essa oferta.

“Isso me daria tempo para lembrar Diavolo de seus deveres


para com essa família.”

Eu viro meu olhar em direção a Creed, minhas sobrancelhas


franzidas.

Do que ele está falando?

Antes que eu possa perguntar, portas duplas se abrem e


tenho um breve vislumbre da cozinha. Quatro mulheres gordas
com cabelos grisalhos empurram carrinhos para dentro da sala.

Vestidas em vestidos conservadores pretos com o cabelo


puxado para trás em um elegante coque polvilhados de cabelos
cinza, as mulheres correm em torno de nós, esvaziando os itens
no carrinho na longa mesa da sala de jantar.

Meu estômago ronca quando uma tigela de sopa de tomate é


colocada na minha frente junto com uma fatia fresca do que eu
tenho certeza é o pão italiano. A mulher que colocou a tigela na
minha frente faz questão de sorrir para mim.

“Antipasti38”, ela murmura em voz baixa, rapidamente


olhando para Matteo no que parece ser preocupação.

Ele acena com a cabeça levemente e tão rapidamente quanto


as mulheres entraram com seus carrinhos, elas se vão.

“Sirvam-se. O primo piatto39 sairá em breve”, diz Matteo,


surpreendendo a todos. Lanço um olhar cauteloso para Creed, que
está de olho em seu pai com um olhar parecido ao ódio. Os caras

38
Antipasti- Antepasto significa “antes da refeição” é o conjunto de iguarias servidas antes da refeição. É
tradicionalmente a entrada na gastronomia italiana formal.
39
Primo Piatto- Primeiro Prato
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começam a comer quase imediatamente. Depois de tudo o que


passaram para chegar até mim, eu nem imagino o quão famintos
estão, incluindo o Creed.

No momento em que o segundo prato chega, o espaguete à


bolonhesa, os caras parecem estar mais relaxados,
compartilhando conversas enquanto comem. Todos, exceto Creed.
Eu paro com o garfo pairando na frente da minha boca quando
vejo que ele ainda não tocou nada em sua comida.

O que diabos ele está fazendo? Não tem como não estar com
fome.

“Creed?” Ao som da minha voz, ele se volta para mim com as


sobrancelhas levantadas. “Você precisa comer alguma coisa.”

Sua mandíbula fica mais tensa, o músculo tiquetaqueando


com frustração. “Não estou com fome.”

Meu rosto se contrai porque sei que não há nenhuma


maneira no inferno que seja verdade. Ele precisa colocar seu
orgulho de lado e comer, não faz sentido morrer de fome, não
quando precisa ficar alerta. Eu me aproximo dele, descansando
minha mão em seu antebraço e aperto suavemente.

“Por favor, Creed.”

Seu corpo suaviza sob o meu toque e a tensão que estava


comprimida em torno de seus olhos suaviza quando ele olha para
mim. “Tudo bem”, ele murmura tão baixinho que quase não o
ouço.

Ao som de uma limpeza da garganta, nós dois voltamos nosso


olhar em direção à fonte. Matteo nem se incomoda em esconder
seu insultante sorriso do Creed. “Grande garoto. Não posso ter o
meu melhor soldado em colapso no trabalho, podemos?”

Minhas sobrancelhas franzem com a insinuação de Matteo.

Seu soldado? O que diabos está acontecendo?

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Creed de repente bate os punhos sobre a mesa, sacudindo os


pratos e talheres. Seu rosto se transforma em uma carranca que
é apontada diretamente para seu pai. “Não. Aqui”, ele esbraveja.
“Não se atreva a trazer isso agora.”

O sorriso presunçoso de Matteo desaparece e em seu lugar


está o mesmo olhar de fria indiferença que Creed é bom em usar.
Ele inclina a cabeça para o lado enquanto olha para um Creed
furioso, depois desvia o olhar para o resto da mesa. Garrett parece
estar pronto para sair de seu assento a qualquer momento e
atacar. O resto dos caras parecem igualmente bravos. Com um
sutil aceno de cabeça, Matteo limpa a boca no guardanapo e se
levanta, jogando o pano sobre a mesa, diretamente sobre o prato.

“Vou deixar todos vocês”, diz ele, endireitando o paletó


quando se levanta e sai da sala.

Eu não sei muito sobre Matteo, além do fato de que seu filho
o odeia, mas, por algum motivo, me sinto mal por ele quando o
vejo ir embora. Todo o tempo eu posso sentir Creed vibrando com
raiva ao meu lado. Lentamente, os caras pegam seus garfos e
terminam o resto da refeição em silêncio. Faço o mesmo, lançando
olhares cautelosos para Creed com o canto do olho. Ninguém
pergunta o que aconteceu ou diz uma única palavra. Em vez disso,
os homens continuam comendo sem mais uma palavra. Quando
todo mundo já acabou, Creed chama uma das mulheres cujo
nome é Lucia e pede para ela mostrar para Garrett e os caras seus
quartos.

Nós os seguimos pelo corredor em direção ao nosso quarto, e


tropeço para trás, pega de surpresa quando Jose me engolfa em
seus braços, apertando. “Fico feliz em ter você de volta, Mariposa”,
ele fala, me fazendo sorrir. Lágrimas ardem nos meus olhos,
afasto-me dele e dou um sorriso sem graça.

“Fico feliz em estar de volta”, eu sussurro.

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Não posso acreditar que cheguei a pensar que ele fosse o


traidor.

“Tire as mãos”, adverte Garrett. Jose me solta e dá uma


piscada brincalhona.

“Você quer que eu fique com você hoje à noite, Soph?” Meu
irmão pergunta quando chegamos ao seu quarto. Eu abro minha
boca, pronta para dizer a ele que não há necessidade, mas, Creed,
claro, é mais rápido.

“Ela vai ficar comigo esta noite, Cova.”

Os olhos de Garrett se estreitam em Creed, mas ele não tenta


lutar contra isso. “Apenas… deixe-a descansar um pouco hoje à
noite. Nada de safad...”

“Oh, Deus, Gar”, eu gemo em repulsa com o pensamento de


meu irmão levantando minha vida sexual com Creed. Há algumas
coisas que os irmãos nunca devem falar. “Nem termine essa frase.
Apenas vá para a cama antes que eu comece a vomitar.”

Garrett ri e acena com a cabeça. Ele me puxa para um abraço


apertado e depois solta. “Senti tanto a sua falta, Soph. Descanse
um pouco.” Ele beija o topo da minha cabeça e se vira para Creed.
“Cuide dela.”

“Vou cuidar”, diz Creed, cortando-o.

Meu irmão se fecha em seu quarto, e Creed desliza sua mão


na minha, me levando em direção aos nossos aposentos no final
do corredor. Esta propriedade me lembra da casa misteriosa
Winchester. Parece que não tem nada além de corredores e portas.
Eu só posso imaginar como é fácil se perder aqui.

Quando entramos no quarto, meus olhos se arregalam


enquanto observo os intrincados detalhes ao longo do papel de
parede e do teto. O quarto é lindo. Ricamente decorado em tons
suaves de creme e rosa. Há uma cama com quatro postes e
cortinas macias que cobrem as portas francesas que levam a uma
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varanda. Por conta própria, deixo meu olhar descer pelo meu
corpo e minha aparência imunda e me encolho. Antes que eu
possa sequer pensar em verificar o quarto, preciso me limpar da
imundície de Finlay.

“Vamos limpar você”, Creed sussurra em meu ouvido,


pressionando um beijo suave contra a minha têmpora, como se
estivesse lendo meus pensamentos mais íntimos.

Ele me leva para o banheiro gigantesco com uma banheira


grande o suficiente para caber todos os caras e mais alguns.
Enquanto fico boquiaberta no banheiro imaculado à minha frente,
nem percebo Creed vasculhando por aí, até que ele está na minha
frente com uma sacola plástica. Ele amarra a sacola ao redor do
meu braço para evitar que meu gesso se molhe.

“Obrigada”, eu sussurro, tentando ignorar a pontada no meu


coração. Ele faz uma pausa em seus movimentos, lançando seu
olhar para o meu. Choque cinza e verde. Eu assisto com muita
atenção enquanto seu pomo de Adão balança para cima e para
baixo enquanto ele engole.

“Não me agradeça, Sophia”, diz ele, concentrando-se em sua


tarefa.

“Bem, estou agradecendo a você.”

Ele solta um suspiro. “Eu deveria ter dito que você não tem
que me agradecer.”

“Eu tenho que agradecer. Muito. Você me salvou.”

Ele não percebe o que fez por mim? Por nós?

“Eu não teria que salvar você se tivesse feito meu trabalho
em primeiro lugar. Nada disso deveria ter acontecido, Sophia.”

E com essas palavras, eu finalmente posso entender o peso


da culpa que ele carrega em seus ombros. Como pode pensar

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assim? Depois de tudo o que ele descobriu sobre Finlay, como


ainda pode acreditar nisso?

“Ouça-me, Creed. Não é seu trabalho me salvar. Eu não sou


uma donzela em perigo. De uma forma ou de outra, Finlay teria
chegado a mim, já aceitei isso. Ele está planejando isso há anos,
Creed. Anos. Não havia outra maneira. Então, não. Isso não é sua
culpa. Isso não é culpa de ninguém, apenas dele. Do Finlay.”

Seu rosto flexiona de dor e é quase como se ele precisasse


sentir minha boca contra a dele porque Creed solta meu braço e
me beija. O calor de seus lábios contra os meus traz uma onda de
formigamento direto para minha barriga.

“É o meu trabalho salvá-la, anjo. Sempre será meu trabalho”,


ele diz contra meus lábios.

Ele me ajuda a sair da minha roupa com facilidade,


consciente de quanto meu corpo passou. Seu olhar permanece
nos cortes e contusões espalhados pela minha pele e sua
mandíbula pula com tiques com raiva. Meu coração aperta
quando penso nos últimos dias com Finlay, como achava que
Creed e meu irmão estavam mortos. Eu não posso nem imaginar
o que eles estavam passando, o que passaram. Os músculos
pulam enquanto ele mói sua mandíbula para frente e para trás.
Lentamente, Creed levanta a mão e passa o polegar sobre cada
hematoma e crosta. Seus olhos ficam tempestuosos de raiva e
quando ele os levanta para os meus, solto um inaudível suspiro
com a raiva que se forma lá.

“Eu vou mata-lo”, ele rosna com muita raiva acumulada


fervendo em seus olhos, me dá arrepios.

“Estou bem. Nós estamos bem”, enfatizo, esfregando minha


mão sobre o meu ventre. Seus olhos seguem o movimento e por
conta própria, ele coloca as mãos no meu abdômen. Meu coração
palpita com a sensação de suas mãos quentes na minha pele,
onde está nosso bebê. O pequeno pedaço de nós crescendo lá

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dentro. Caindo de joelhos na minha frente, ele se inclina para


frente e fecho meus olhos quando sinto o calor de seus lábios logo
acima do meu umbigo. Lágrimas brotam dos meus olhos e muito
amor enche meu peito.

Algo muda. O ar no local engrossa e meu corpo desperta com


a excitação. Os beijos de Creed ao longo da minha barriga se
tornam sensuais, e quando seu olhar se aproxima do meu, aperto
minhas coxas para afastar a dor súbita que sinto.

Sem palavras, Creed me levanta em seus braços e me coloca


no chuveiro. Ele segue o exemplo, descartando suas roupas
ensanguentadas no chão de porcelana. Meu olhar queima em sua
pele enquanto o observo se despir. Seus músculos flexionam e
parecem inchados. Eu não sei dizer se ele ficou mais forte durante
nosso tempo separados, ou se faz tanto tempo desde a última vez
que o vi. Meus olhos caem para seus novos pontos ao longo de seu
abdômen, o hematoma em torno dele atrai minha atenção para
seu abdômen. Minha boca de repente fica seca e lambo meus
lábios, surpresa com o quanto meu corpo está gritando por seu
toque.

Creed desliza no chuveiro atrás de mim e deixa os jatos em


cada lado nos encharcarem. Sujeira e terra rolam do meu corpo e
me encolho de vergonha. Descrença percorre meu corpo. Como ele
pode ficar perto de mim quando estou tão suja? Ele não parece
enojado ou desconfortável, se alguma coisa, ele parece contente
por estar aqui embaixo do jato de água comigo.

Correndo os dedos pelo meu cabelo, tenho o cuidado de não


molhar o meu gesso. Mesmo com a sacola, ainda estou
preocupada que de alguma forma a água possa escorrer e molhar
tudo. Eu fecho meus olhos sob o spray e suspiro quando sinto as
mãos de Creed no meu couro cabeludo, esfregando o shampoo no
meu cabelo. Ele enxágua a espuma com facilidade, passando os
dedos pelos meus fios e repetindo o processo até a hora do
condicionador.

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Depois de ficarmos limpos dos horrores dos últimos cinco


dias, Creed me segura em seus braços e eu me delicio com a
sensação de segurança que me consome sempre que estou perto
dele. Ele desliga as torneiras e, sem aviso, me levanta em seus
braços. Solto um grito agudo de surpresa.

De repente, meu corpo nu bate em água morna e percebo que


estamos entrando na banheira. A água calmante me envolve, e
meus músculos imediatamente relaxam com o impacto. Sal de
banho com um aroma de lavanda repousa sob minhas coxas e
bunda contra a banheira. Creed desliza atrás de mim e descanso
contra seu corpo. Meus olhos se fecham e deixo que ele acaricie
meu corpo com a bucha. Ele é gentil e muito cuidadoso com
minhas feridas. Suas mãos fazem carícias, e com cada toque
contra a minha pele, eu sinto meu clitóris pulsar de necessidade
e meus mamilos se enrijecem. Quando ele lava entre as minhas
pernas, solto uma lufada de ar e um gemido rouco. Seus
movimentos congelam. Quando minhas mãos apertam contra
seus antebraços, pedindo para não parar, é que ele continua.

Solto gemidos de aprovação quando ele afasta a bucha e sinto


seus dedos em minhas dobras. Eles escorregam suavemente. Seu
dedo indicador circulando meu clitóris em movimentos lentos. Seu
dedo médio mergulha dentro de mim e eu respiro fundo. Ele
continua acariciando meu clitóris e investindo seu dedo dentro de
mim.

“Creed... oh Deus.” Eu gemo quando seus dedos me


acariciam com mais velocidade sobre o meu feixe de nervos.

“Shhh”, ele sussurra no meu ouvido. Sinto sua dureza no


meu traseiro e luto com a mão livre para segurá-lo. E quando
consigo, eu aperto, saboreando a sensação de seu corpo
tensionado debaixo de mim.

“Sophia”, ele geme em aviso.

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Eu sei que estou brincando com fogo, mas não posso evitar a
maneira como meu corpo reage a esse homem. É visceral. Eu
preciso tê-lo dentro de mim. Senão, temo que vou enlouquecer.

Eu acaricio seu pau debaixo da água, apreciando o jeito que


seu corpo se aperta sob o meu enquanto ele tenta se recompor.
Virando a cabeça para o lado, aperto sua nuca desajeitadamente
com o gesso e puxo seus lábios para os meus. Quando eles se
conectam, solto um gemido agudo. Ele engole meus gemidos de
prazer e eu os dele.

Creed me tira da água e entra no quarto, indiferente a


estarmos pingando poças em todo lugar. Nós deitamos
encharcados na cama. A colcha se agarra à minha pele enquanto
ele descansa em cima de mim, os músculos duros e molhados de
seu corpo me cercando. Sua boca devora a minha e meus quadris
se levantam, tentando procurar sua dureza. Precisando. Minha
mão livre percorre suas costas e desliza ao longo dos sulcos de
seus músculos. Meu núcleo aperta em antecipação quando Creed
mergulha a cabeça na curva do meu pescoço e me beija. Sua
língua gira ao longo da minha pele e a transpiração marca minha
testa.

“Por favor.” Eu respiro no ar sufocante.

Creed se posiciona e eu envolvo minhas pernas ao redor de


sua cintura. Com os calcanhares, eu empurro contra seu traseiro,
trazendo seu corpo mais perto do meu. Seu pau duro esfrega
contra a minha umidade e meu peito arfa, tentando acomodar
minha respiração pesada. Envolvo meu gesso volumoso em torno
de seu pescoço e com a minha mão livre, guio seu pau para minha
entrada. Quando levanto meu olhar, encontro seu olhar, meus
olhos brilham com o calor. Ele desliza para dentro de mim tão
rapidamente, que estou despreparada para a sensação que rasga
meu corpo.

“Ah Merda.”

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Prazer. Muito prazer.

Minhas pernas se apertam em torno de sua cintura e eu


contraio os músculos com cada um de seus impulsos, apreciando
o modo como os lábios dele se separam e suas investidas se
tornam mais profundas. Seu pau atinge algo profundo dentro de
mim que me faz me contorcer e ver estrelas. Quando sinto o
polegar dele esfregando círculos propositais sobre o meu clitóris,
eu me perco. Encontro seus impulsos e me impulsiono de baixo
para cima. O som da nossa pele molhada batendo ecoa ao redor
do quarto.

“Porra, Sophia”, ele rosna.

Estou tão consumida pela paixão. Tão perdida nesse


sentimento que nem percebo que ele me virou de barriga para
baixo com a minha bunda no ar até que ele entra em mim.

“Creed!” Grito quando ele empurra para dentro de mim com


uma força brutal. O som de suas bolas batendo contra o meu
traseiro só serve para me excitar ainda mais. Creed enfia os dedos
nos meus quadris, dirigindo mais para dentro. Meus olhos rolam
para a parte de trás da minha cabeça e enfio o rosto no edredom,
soltando gritos roucos quando ele muda de ângulo e vai ainda
mais fundo. A sensação é demais para lidar, parece que ele está
tocando minhas entranhas, empurrando meus ovários. Eu tento
correr de seu aperto, para obter um pequeno alívio das sensações
que percorrem meu corpo, mas ele me segura mais forte e, se
possível, me fode mais forte.

“Porra, porra, porra, porra!” Eu grito quando o orgasmo


atravessa meu corpo. Creed não fica muito atrás. Seu gozo morno
me enche e ele bombeia até a última gota dentro de mim.

Ele lentamente sai de mim e descansa seu corpo ao lado do


meu depois que eu desmorono na cama.

“Caramba”, eu sussurro. Fadiga consome meu corpo. Estou


cansada demais para até mesmo abrir meus olhos.
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“Merda”, ele deixa escapar. “Por favor, me diga que não


machuquei você.”

O medo em sua voz me faz girar meu corpo para ele. “Nunca.
Eu ia mesmo dizer que devíamos fazer de novo.”

Creed ri, as linhas de riso em torno de suas bochechas se


aprofundam enquanto ele olha para mim. Fecho meus olhos e
sinto suas mãos vagando pelo meu corpo. Puxando-me em seus
braços, descanso minha cabeça em seu peito úmido e inspiro seu
cheiro. O aroma de pinho fresco e algo distintamente de Creed
enche meus pulmões. Sua mão encontra o caminho para meu
ventre e sempre gentilmente ele esfrega pequenos círculos com os
dedos. Isso me faz sorrir.

Creed solta um suspiro profundo, e tenho certeza que vai


dizer alguma coisa, mas ele para assim que alguém bate forte na
nossa porta. De repente, parece que somos dois adolescentes no
ensino médio, prestes a serem pegos em flagrante pelos pais.

Como eu poderia esquecer que estamos na propriedade de seu


pai, cercados pelos caras? Jesus.

Calor sobe ao meu rosto quase instantaneamente ao pensar


que alguém nos ouviu.

Em um movimento fluido, Creed está de pé e enrola uma


toalha na cintura. Puxo o edredom encharcado, usando-o para me
proteger de quem está na porta. Eu não acho que eles possam me
ver da minha posição na cama, mas é melhor prevenir do que
remediar.

Com a toalha presa na cintura, Creed lança seu olhar para


mim, verificando se estou decente. Aparentemente bem com o que
eu cobri, ele caminha em direção à porta e a abre apenas até a
metade, me impedindo de ver qualquer coisa além de seu corpo
grande e forte. Eu me esforço para ouvir, mas não consigo
entender o que está sendo dito. Tudo que ouço são murmúrios
baixos de Creed e quem quer que esteja do outro lado dele.
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Quando ele fecha a porta, tranca e caminha de volta para a


cama, com uma expressão agitada em seu rosto.

“O que há de errado?” Eu pergunto.

“Eu vou me encontrar com Matteo em seu escritório, junto


com o resto dos caras. Garrett vai ficar aqui com você.”

Eu me sento um pouco mais alto. “Para quê?”

“Eu tenho algumas coisas que precisam ser feitas e Matteo


bem... ele é outra história.”

“Eu não preciso que Garrett cuide de mim, Creed”, digo,


sentindo como se estivéssemos de volta à estaca zero, só que desta
vez, é Garrett de babá ao invés dele.

Ele me lança um olhar que diz ‘não discuta’ e reviro os olhos.


Ficando de pé, eu me viro para ele com as mãos nos quadris.

“O que eu devo vestir? Eu não posso ficar nua na frente do


meu irmão.”

“Magdalene deixou algumas roupas na gaveta da cômoda


para você. Eu não sei o tamanho delas, mas vão servir, por
enquanto.”

Creed veste uma simples camisa preta e jeans parecendo um


anjo negro, se é que já houve um.

Ele me beija e se despede com um humor formidável.

Vou até a cômoda e pego as roupas que Magdalene deixou


para eu usar. Verifico as etiquetas e meus olhos se arregalam
quando leio os nomes. Blusa e calça Versace. É sério? Ignorando
o custo das roupas, eu as visto e sigo para o banheiro para secar
meu cabelo um pouco mais com uma toalha.

Eu espero que meu irmão venha bater à porta a qualquer


segundo, para tomar conta de mim, mas quando me sento na
beira da cama, ele nunca vem. Eu bato meus lábios em

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contemplação, lançando um olhar ao redor do quarto. Não ouço


nenhum som vindo do corredor, então acho seguro sair antes que
qualquer um dos caras perceba, especialmente Creed e meu
irmão.

Meus pés descalços tocam o chão de mármore do corredor


enquanto navego de um corredor para o outro, tentando descobrir
para onde foi todo mundo. Meus passos vacilam quando vejo uma
sombra à frente. Meu coração se agita e meu estômago se aperta
com ansiedade. Só fica pior quando vejo Matteo sair das sombras
direto no meu caminho. Parece que ele nem percebe que estou lá
até que congela, e seu olhar desce para o meu. Seus olhos azuis,
uma tonalidade azul profunda, se estreitam em mim, e eu me
encolho quando viajam para cima e para baixo em meu corpo.

Seus passos ecoam em torno de nós a cada passo mais perto


de mim que ele dá. Quando faz uma pausa na minha frente, tento
não me afastar da mão dele, mas é inevitável. Ele não parece
incomodado com a minha reação, porque isso não o detém. Seus
olhos estão fixos na minha blusa, e seus dedos seguram o tecido
na minha manga e ele o esfrega entre os dedos.

“Eu vejo que Magdalene foi revirar o armário da minha


esposa.”

Eu suspiro com suas palavras.

Eram roupas da mãe de Creed?

“Eu-eu sinto muito.”

Sua boca se mexe em um sorriso torto que é idêntico ao de


Creed. “Não sinta. Combinam com você, Srta. Cova.”

“Eu... uh, obrigada”, murmuro desajeitadamente.

“Você me lembra dela muito, na verdade. Eu não te conheço


muito bem, mas pelo que posso dizer, você e Valentina seriam
iguaizinhas.”

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Suas palavras fazem meu peito apertar de um jeito doloroso.


“Como assim?”

Desta vez ele dá um sorriso verdadeiro. “Valentina era muito


obstinada. Ela se recusou a reconhecer o mal neste mundo e se
concentrava no bem que tinha para oferecer. Ela era pura. A única
coisa pura que já tive na minha vida. Eu posso ver porque meu
filho é tão…”

“Tão?” Eu pergunto, meu coração batendo forte contra o


peito.

“Tão, apaixonado por você”, ele termina. Suas sobrancelhas


de repente se franzem juntas em uma carranca. “Você o torna
fraco.”

Eu recuo com suas palavras e meus lábios pressionam juntos


em uma linha fina. Eu pensei que este homem estava me fazendo
um elogio, me comparando a sua esposa, só que agora, não parece
muito um elogio.

“Ele não é fraco. E me amar não o faz fraco.”

Ele suspira. “Você não pode entender este mundo em que


vivemos, Srta. Cova. Mas você vai. Diavolo sempre foi um trunfo,
mas agora? Eu não tenho certeza de quanto será um trunfo,
especialmente com uma fraqueza como você, você é o pior tipo,
afinal.”

Lágrimas raivosas ardem em meus olhos, mas eu pisco, para


não dar a ele a satisfação de me ver chorar. “O que isto quer
dizer?”

“Significa, Sophia, que você é o tipo de fraqueza que faz meu


filho pensar que pode ter tudo, ter uma vida diferente, mas ele não
pode, e essa é a triste verdade.”

Meu peito sobe e desce com raiva. “E quem vai dizer o que ele
não pode?”

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“Eu tentei”, diz Matteo simplesmente. “E homens como nós?


Nós não podemos levar uma vida normal. Amar é perigoso, e neste
mundo, nosso mundo, isso gera os maiores desastres.”

Com essas palavras duras, Matteo passa por mim,


caminhando com passos longos e decididos que estranhamente
me lembram de seu filho.

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Creed

Os caras estão calados enquanto caminhamos pelo corredor


em direção ao escritório. Depois que Lorenzo bateu na porta e me
avisou que meu pai estava nos esperando em seu escritório em
vinte minutos, sabia que estava ficando sem tempo. Eu estava
ficando sem tempo para explicar as coisas para Sophia, passar
um tempo com ela. Tudo o que consegui fazer foi sair do quarto e
reunir os caras. Eu sei que eles têm perguntas, inferno,
praticamente posso ouvi-las sendo gritadas na minha orelha.

“Espero que você saiba o que está fazendo”, Garrett diz do


meu lado enquanto andamos em direção ao escritório do meu pai.
Eu mantenho meu olhar focado à minha frente, já colocando
minha máscara de jogo no rosto.

“É a única maneira.”

Sua resposta é um huff descontente que escolho ignorar. A


tensão pesa no ar, enchendo meus pulmões com a contenção
necessária para lidar com Matteo. Meu pai não é um homem que
convoca uma reunião apenas para besteiras e risos. Ele quer
alguma coisa. De todos nós. Eu odiava lidar com ele até então, e
odeio ainda mais agora, se possível.

“O que ele quer com o resto de nós? Isso é entre você. Pai e
filho, não com a gente.”
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“Simples, amigo. Meu pai assassino está jogando o antigo


jogo de ‘quem tem o pau maior’.” Jose entra em cena. “Os líderes
do cartel fazem isso o tempo todo. Comparando soldados, armas,
chefes. É tudo a mesma coisa.”

Eu não refuto, porque ele está certo. Não sei exatamente qual
é o jogo dele, mas pretendo descobrir.

“Isso é estúpido pra caralho”, Garrett esbraveja, perdendo


sua paciência quanto mais perto chegamos da porta do escritório.

“Muito estúpido”, Ricky entra, me fazendo ranger os dentes.

“Vocês dois calem a boca para que possamos acabar com


isso”, Kam rosna em sua voz profunda, silenciando os dois.

Depois de virar o corredor, avisto Lorenzo. Quero ficar


zangado com ele, por cumprir as ordens do meu pai, em vez de
estar do meu lado, mas deveria ter esperado isso. Eu deveria
saber. Ele é um caporegime, um dos melhores. Sua lealdade é para
o Capo, não sua família.

Com os pés afastados na largura dos ombros e a alça de sua


AK descansando sobre o ombro, ele está equilibrado e pronto. Dou
um aceno de cabeça, uma indicação para se mover. Ele acena com
a cabeça ligeiramente para trás, bate os nós dos dedos na pesada
porta de madeira e nos permite entrar.

Eu me endireito enquanto entramos no escritório de Matteo.


Como de costume, ele está inclinado em sua cadeira de espaldar
alto, as mãos à sua frente. Conspirando, sempre conspirando,
porra.

“Que bom que todos podem se juntar a mim. Sentem-se”, diz


ele. Seus olhos se fixam em meus homens, observando cada
movimento. Eu sei que ter estranhos aqui, em sua casa, é como
um torno envolvendo seu pescoço, mas especialmente em seu
escritório. Este é o lugar sagrado dele, e estranhos geralmente não
entram aqui a menos que estejam sendo enviados para a

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execução. O pensamento por si só já deixa meus músculos tensos,


prontos.

Garrett e eu tomamos os lugares mais próximos de Matteo,


enquanto todos os outros se sentam ao longo dos pufes e do sofá,
empoleirados perto da lareira.

“A garota?” Meu pai pergunta, voltando sua atenção apenas


para mim. “Como ela está?”

Meu lábio contrai e levanto uma sobrancelha. “Como se você


já não soubesse.”

Seu rosto se abre em um sorriso depravado. “Touché,


Diavolo, touché. Mas gostaria de ouvir isso de você.”

Nós olhamos um para o outro por alguns segundos tensos


antes que eu acene com a cabeça, fixando o meu olhar no crânio
atrás dele.

“Ela está bem. Ossos quebrados, costelas machucadas,


alguns cortes profundos e arranhões, mas está bem. Magdalene
diz que está desidratada, então ela está tomando muitos líquidos.”

Matteo acena com a cabeça. “E meu herdeiro?”

Faço uma careta. “Seguro.”

Ele acena com a cabeça, apaziguado pela notícia. “Quanto


tempo?”

“Sete semanas.”

Seus olhos se voltam para Garrett. “Você é irmão dela, eu


presumo?”

Garrett se endireita na cadeira, assentindo. “Como


descobriu?”

Meu pai sorri. “Eu tenho olhos e ouvidos em todos os lugares.


Lembre-se disso, stronzo.”

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Seu olhar corre pela sala, observando todos. Quando recaem


em Clarence e Monte, seus olhos se estreitam, e um sorriso de
escárnio passa pelo seu rosto como se um mestre de marionetes
estivesse lentamente puxando as cordas.

“Vocês dois.” Ele curva o dedo, instruindo os dois a se


aproximarem. Ele os olha de cima a baixo enquanto se levantam
de seus lugares e ficam um pouco atrás de Garrett e da minha
cadeira.

“Estou surpreso. Muito surpreso, na verdade. Eu sei tudo


sobre todos vocês, exceto vocês dois. Nomes. Agora.”

Ele lança seu olhar para o meu e vejo as perguntas não ditas
lá. Quem são eles? Como conseguiram passar por seus homens
todos esses anos? Como é que ele nunca teve conhecimento sobre
eles?

“Clarence Jones.”

“Monte Taylor.”

Matteo inclina a cabeça para o lado, olhando-os em silêncio.

“Você não vai exigir os nomes de todos os outros? Ou apenas


deles”, Garrett responde espertamente, uma carranca permanente
gravada em seu rosto.

Meu pai lhe dá um sorriso frio. “Não há necessidade. Eu sei


tudo o que há para saber sobre o resto de vocês. Como você, por
exemplo. Garrett Cova. Perdeu seus pais aos dezoito anos,
frequentou a Escola Kennedy High, com notas abaixo da média.
Trabalhou em dois empregos para cuidar de você e de sua
irmãzinha. Depois que se alistou, você se juntou às forças
especiais e depois foi recrutado. Quando isso não te satisfez,
encontrou o Hawk Fire e esteve lá desde então.” Matteo move a
mão para Kam e Ricky. “Kameron Mills e Richard Porter.
Cresceram na mesma rua quando crianças. Kameron se alistou
na Marinha e se mudou para os boinas verdes, e Richard manteve

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o negócio da família, Sons of Death MC. E você”, ele diz, apontando


para Jose. “Jose Guerrero. Nascido e criado em Sinaloa, no
México. Membro do cartel por oito anos antes de ser renegado.
Você tem uma recompensa pela sua cabeça, garoto.”

Os caras estão chocados em silêncio. Quando Matteo fixa seu


olhar de volta em Garrett, ele estreita os olhos. “É o suficiente para
você? Ou você gostaria de mais? Eu posso continuar por dias
sobre aquela doce e pequena garota que você está se encontrando
no Missouri. Leve isso em conta na próxima vez que me
questionar. Eu não hesitarei em cortar suas bolas e alimentar você
com elas e fazer sua pobre irmãzinha assistir.”

Minhas mãos se fecham em punhos e meu peito sobe e desce


com raiva.

Este filho da puta.

Estou cansado da besteira. Cansado dos jogos. Estou enojado


e cansado dele.

“Sete homens”, meu pai zomba, soltando uma risada aguda.


Ele olha para cada um de nós. “Há sete de vocês, mas nenhum
conseguiu pegar o homem que ameaçou a minha linhagem.”

Minhas mãos se fecham com suas acusações. O maldito


bastardo.

Como se eu já não soubesse a merda monumental que aquilo


era, ter Finlay no mundo enquanto Sophia está grávida.

“Qual é o seu plano para manter a garota e meu neto seguros,


Diavolo? Esta tripulação que você montou está obviamente
afundada até o pescoço. Preciso entrar em cena com la famiglia?”

Eu mostro meus dentes. “Não.”

Ele levanta um ombro sem compromisso. “Aceite ajuda ou


não pegue a ajuda. Não importa para mim. Eu tenho um pedido.”

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Eu me inclino para frente, lançando a ele um olhar mortal.


“Não haverá pedidos seus. Nosso acordo foi feito. Depois de hoje à
noite, Sophia não ficará mais na propriedade e você não terá mais
acesso a ela ou a seu herdeiro”, zombo.

“Então, você vai apenas deixa-la livre, só assim?” Ele levanta


uma sobrancelha, chamando meu blefe. “Você passou por muitos
problemas para recuperar uma mulher que nunca teve a intenção
de manter Diavolo. Eu chamo isso de besteira.”

Eu lhe dou um sorriso frio. “Chame de besteira o que você


quiser. Eu não vou ter Sophia arrastada para esta vida, não
importa o quanto você queira. Nosso acordo acabou. Eu mantive
minha palavra e você também deve manter a sua.”

Seu lábio superior se enrola. “Muito.... abnegado, Diavolo.”


Ele esfrega os lábios e solta uma respiração irritada. “O resto de
vocês pode dar o fora. Seu convite para ficar aqui expirou.”

Nós nos encaramos, anil contra o cinza enquanto os homens


silenciosamente saem da sala atrás de mim. Eu não preciso me
virar e dizer a Garrett para checar Sophia porque eu já sei o que
ele fará. Uma vez que a porta se fecha atrás deles e a sala cheira
a silêncio, Matteo se inclina para frente, abrindo um arquivo e
empurrando-o através da mesa em minha direção.

“De volta aos negócios. Isso é tudo que você precisa saber
sobre seu próximo alvo. Os homens da Bratva estão se tornando
ousados. Vendendo em nosso território, entrando em nossos
clubes, difamando o nome Sabella. Eles estão desrespeitando la
famiglia.”

Eu pego o arquivo em minhas mãos e é como um déjà vu.


Isso me transporta de volta aos velhos tempos, quando isso era
uma ocorrência diária. Uma nova missão. Um enredo para matar
alguém.

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“Seu ato de vingança me causou muitos problemas, coglione.


A Bratva está com raiva de você por matar um deles. Conserte.
Isso.”

Eu aceno com a cabeça, colocando o rosto do meu alvo na


memória. “Pretendo.”

“Bom”, diz ele com um sorriso jubiloso no rosto. “Agora, para


o nosso último ato de negócios.”

Ele se levanta da cadeira e caminha ao redor de sua mesa em


direção ao bar ao lado do fogo que está aceso. Ele faz o trabalho
de puxar dois copos de cristal e derramar três dedos de uísque
neles. O gelo bate contra o vidro enquanto leva um copo aos lábios
e estende o outro para mim.

“Venha, Diavolo. Eu quero que você veja uma coisa.”

Levantando-me da cadeira, endireito meus ombros e o


encontro perto do fogo. Matteo perscruta o fogo, como se a fonte
de calor tivesse todas as respostas. As chamas alaranjadas
refletem em seu rosto, clareando cada um de seus traços cruéis.

“Você está nessa vida, Diavolo”, diz ele, tomando um gole de


uísque. “Não há mais excursões patéticas. Eu mantive você vivo
todo esse tempo porque você é um trunfo e meu único filho. Não
vai me desobedecer, nem essa famiglia. Si?” Seus olhos perfuram
os meus e como garras de uma criatura maligna, a ira queimando
por trás de suas profundezas escuras apunhala minha pele,
penetrando mais e mais profundamente.

“Sim.” Eu aceno. Meus olhos tremem nas chamas. O azul


lambendo o vermelho e laranja quase com raiva. Eu penso em
Sophia, como ela vai se machucar. Se eu pudesse voltar e mudar
as coisas para nós, eu faria isso. Mas a verdade é que não posso.
Essa sempre foi destinada a ser a minha vida. Não adianta
arrasta-la e nosso filho para o inferno comigo.

“Bom”, ele murmura preguiçosamente.

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Estou tão imerso nas chamas e pensamentos de Sophia, que


não antecipo ou vejo sua mudança chegando. Batendo a perna na
ferramenta de metal pendurada na lareira. A ponta do cabo se
ergue na palma da mão dele e, em um movimento rápido, Matteo
acerta a ponta ardente do garfo de ferro escaldante na lateral do
meu corpo, enfiando a ferramenta na minha carne, torcendo e
queimando minha pele já ferida.

Um grunhido de dor rasga minha garganta e Matteo cava a


ferramenta da lareira mais profundamente. A ponta queima
através da minha carne, cortando minhas roupas e derretendo a
pele. A dor incandescente sobe e desce do meu lado, e meus
músculos se contraem com tanta dor, engasgo com a respiração
com a dificuldade de respirar.

“Você não acha que eu deixaria você sair livre, não é?” Ele ri,
torcendo para a esquerda e depois no sentido horário. “Não me
decepcione, Diavolo”, ele rosna, encontrando meus olhos. Naquele
momento, permito que ele veja o quanto o odeio. Quanto o detesto.
Ele sorri friamente e, sem aviso, arranca a ferramenta do meu
corpo. Eu luto contra a reação natural de cair no chão e, em vez
disso, me mantenho firme. Sangue escorre da ponta da arma, e
como se nada tivesse acontecido, ele joga a ponta alaranjada de
volta no fogo e me dá um tapinha no ombro, antes de sair da sala.
Assim que a porta se fecha, eu inspiro fundo e minhas mãos voam
para a ferida, já aplicando pressão. Meu corpo tropeça para trás e
eu caio contra a parede, tentando ignorar a náusea nadando em
minhas veias. Agora encharcada de sangue, minha camisa se
agarra à pele, e o cheiro de carne queimada pesa no ar.

Eu manco para fora de seu escritório, inalando respirações


profundas e doloridas a cada passo. Cada vibração de movimento
e respiração deixa os nervos do meu lado freneticamente gritando
de dor. Eu luto contra a escuridão que tenta roubar minha visão,
empurrando meu corpo além de seu limite.

Eu só preciso me remendar e tirar Sophia daqui.

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Quando tropeço em nosso corredor de quartos, paro no


primeiro quarto disponível, Clarence. Descansando meu corpo
contra o batente, bato meu punho ensanguentado na porta, nem
mesmo esperando por uma resposta antes de girar a maçaneta e
abrir. Assim que a porta se abre, meu corpo tropeça para frente e
Clarence gira em torno de sua posição na janela com a arma
levantada. Quando seus olhos veem o sangue escorrendo pelas
minhas mãos, ele amaldiçoa.

“Doce mãe da porra. Tudo o que eu pedi foi vinte e quatro


horas, Creed. Vinte e quatro fodidas horas sem levar um tiro e
você não pode fazer isso.”

“Eu não fui baleado”, grito com a dor. “Agora, cale a boca e
me traga o kit de primeiros socorros debaixo da pia.”

Clarence faz uma careta, mas faz o que eu peço. Uma garrafa
de uísque e alguns palavrões depois, tenho a ferida limpa e
suturada. Com as costas apoiadas na cama, olho para o teto e
penso em uma pessoa e uma pessoa apenas.

Sophia

Isso vai machucá-la. Vou quebrar seu maldito coração, mas


é o único jeito. É a única maneira de proteger os dois. Eu prefiro
viver minha vida sem conhecer meu filho, e mantê-lo seguro, do
que egoisticamente os arrastar para dentro disso. Meu coração
aperta e meu peito dói com emoção.

Porra.

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S.M. SOTO

Sophia

Creed se foi por muito mais tempo do que eu esperava que


ficasse fora. Sua ausência me deixa impaciente e continuo fazendo
um buraco no carpete. Garrett continua me dando olhares
desaprovadores.

“Droga, Soph, você pode simplesmente se sentar, porra? Ele


está bem e você precisa descansar.”

É a minha vez de olha-lo com raiva.

“O pai dele é um chefe da máfia, Garrett. Foi quem ensinou a


Creed tudo o que ele sabe, é o verdadeiro monstro. Creed está fora
há muito tempo. E se Matteo tentar machucá-lo?” Passo uma mão
ansiosa pelo meu cabelo, sentindo a preocupação aumentar a
cada segundo que passa.

“Acredite em mim, ele não vai matar ninguém agora.


Enquanto Creed mantiver sua parte no trato, tudo ficará bem,
Soph. Apenas, por favor, sente-se agora antes que eu te amarre
na cama.”

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Levanto minhas sobrancelhas em confusão, ignorando seu


comentário. “Qual trato? Do que você está falando?” Uma
sensação doentia se agita no meu estômago.

O comportamento de Garrett está me preocupando ainda


mais. É como se ele soubesse algo que não sei e isso está
começando a me irritar.

“Que tal irmos para outro passeio?” Ele pergunta, ficando de


pé. “Quer ver o jardim de novo? A seção de rosas negras é bem
legal, um pouco mórbida, mas ainda le...”

“Eu não quero mais ver o maldito jardim, Gar!” Eu digo,


interrompendo-o. “Eu quero saber o que diabos está acontecendo.
Você prometeu: sem mais segredos. Você prometeu.”

Garrett abaixa a cabeça e olha para o teto resmungando


incoerentemente em voz baixa. Ele se vira para mim com um olhar
triste em seus olhos. “Não é meu segredo para contar, Sophia.”

“O que?”

Só então a porta do quarto se abre e Creed entra. Solto um


suspiro de alívio quando o vejo e me atiro em seus braços. Ele
assobia.

Espero que me pegue e me segure, mas, em vez disso, ele fica


lá parado, imóvel. Aquela bola de medo no meu estômago continua
crescendo. Lentamente, me afasto um pouco, para fora de seus
braços e levanto o meu olhar para o dele. Procuro seu rosto, mas
é uma máscara em branco. Isso me lembra muito do Creed que
conheci há muitos meses. A percepção faz com que um frio gelado
escorra pelo meu peito, me deixando dormente.

“Creed?”

Ele não olha para mim como eu esperava, em vez disso, olha
para o meu irmão.

“Dê-nos um minuto.”

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Garrett me lança um olhar de simpatia quando sai. Meu


coração bate em um ritmo violento contra o peito e limpo minhas
palmas pegajosas nas calças soltas.

“Creed?” Eu questiono. “O que há de errado?”

Ele finalmente olha para mim, mas meu estômago gela


quando ainda vejo a expressão vazia em seu rosto. Pressão se
acumula por trás das minhas pálpebras.

“Fale comigo. Por favor... apenas diga alguma coisa, você está
me assustando.”

“Garrett e os caras estão preparando tudo para partirem.


Quando eles estiverem prontos, você ficará na minha casa. Eles
vão te proteger em todos os momentos.”

Engulo em seco e ignoro o laço que parece estar apertando


em volta do meu pescoço. “Por que parece que você não está vindo,
Creed? Você vem também, certo?”

Leio a resposta em seus olhos antes que ele realmente diga


isso. “Não.”

Meus olhos se fecham. Eu respiro fundo, mas nenhum ar


entra em meus pulmões.

Não faça isso, Creed. Não faça isso.

Meu coração se contorce de dor. “O que você quer dizer com


você não está vindo? Eu não entendo.”

Creed solta um suspiro e desloca o olhar em direção à janela


para a vista do terreno do jardim. “Você não pode ficar aqui. Estou
enviando vocês embora para sua segurança.”

“O que você quer dizer com você está nos mandando


embora?” Meu lábio inferior treme enquanto olho para o corpo
tenso de Creed. “E a sua segurança?”

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“Isso significa que não posso ter você aqui, Sophia. Não é
seguro para você ou o bebê. Você é minha principal prioridade, eu
não me importo com a minha segurança.”

“Eu não entendo porque você não pode vir conosco? Você
pode nos proteger.”

“Eu não posso!” Ele de repente rosna, me pegando de


surpresa. Dou um passo hesitante para a ira gravada em seu
rosto. “Há coisas que tenho que fazer, Sophia. Coisas que eu não
quero fazer. Não posso levar esta vida e te proteger ao mesmo
tempo. É por isso que estou mandando você embora.”

As palavras que Garrett disse antes voltam para me


assombrar e estreito meus olhos em Creed.

“O que você fez? Que trato você fez com ele?” Eu pergunto,
embora já saiba.

“Sophia...” Ele para, e eu surto.

“O que você fez!” Eu grito, minha voz ecoando nas paredes.


Ele não fala imediatamente. Em vez disso, fica completamente
mudo. Ficamos a poucos metros de distância enquanto meu peito
arfa, meu corpo vibrando de raiva, mas de repente parece que
estamos a quilômetros de distância um do outro.

Seu peito sobe em uma grande inspiração, e sua boca se abre.


“Se ele deixasse você e o bebê em paz, eu voltaria ao jogo. Voltaria
à fila para assumir.”

Um soluço passa pelos meus lábios. “Não!”

Oh Deus, Creed. O que é que você fez?

Meu peito desaba de dor e a primeira lágrima desliza pela


minha bochecha. Como ele ousa. Depois de tudo que passamos,
acha que pode simplesmente me afastar, para me manter segura?
Não.

Foda-se, não.
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Furiosamente limpo a lágrima e vou em direção a ele,


acabando com a distância.

“Você não pode tomar essa decisão! Você não pode


simplesmente nos jogar fora em sua conveniência!” Eu grito,
furiosamente apontando um dedo em seu peito firme. Algo brilha
nos olhos de Creed.

“Minha conveniência?” Ele chia em voz baixa. “Você acha que


estou fazendo isso por conveniência?”

“Você é quem já se decidiu, decidindo por mim, Creed. Você


não tinha esse direito.” Eu lanço de volta, minha ira lutando com
as lágrimas.

“Você está carregando meu filho, Sophia. Isso me dá a porra


do direito. Estou te protegendo, droga! Estou salvando suas vidas
porque amo você.”

Sua declaração de amor me dá uma pausa, mas ignoro isso.


Eu não posso deixar Creed fazer isso conosco.

“Você pode nos proteger aqui. Contigo. Por favor, Creed, não
faça isso.”

“Você não entende, Sophia?” Ele pergunta, acabando com o


último centímetro de espaço entre nós. Ele embala meu rosto
úmido em suas mãos grandes e limpa minhas lágrimas. “Se você
ficar aqui comigo, nesta casa dirigida pela Máfia, construída sobre
sangue derramado, você vai morrer. Eu não posso viver esta vida
e te proteger ao mesmo tempo. No minuto em que alguém
descobrir quem você é, o filho de quem você está carregando, tudo
estará acabado, Sophia.”

Eu fecho meus olhos com suas palavras, sabendo que ele está
certo, mas desejando que não estivesse. Eu gostaria que
tivéssemos uma vida diferente e as circunstâncias fossem
diferentes.

“Por favor, não. Eu não posso fazer isso sem você.”


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“Shhh.” Ele se inclina e me beija. Ele pega meus lábios


ferozmente e possessivamente, marcando-me como sua. Eu me
agarro a ele, enroscando minhas mãos no tecido da sua camisa,
com muito medo de soltar. Emoção entope minha garganta,
derramando em nosso abraço. As mãos se agarram. Línguas se
entrelaçam. Os dentes se chocam.

O beijo é selvagem. É um beijo que sinto até o fundo da minha


alma.

Creed lentamente se afasta e descansa a testa na minha. Ele


olha para mim, o cinza em seus olhos parecendo mais claro que o
normal, como reflexos de metal e pedaços de gelo.

“Você é a mulher mais forte que eu conheço, Sophia. Você


pode fazer qualquer coisa.”

Suas palavras são minha ruína. Elas rasgam meu coração ao


meio. O pouco que resta de minha compostura se abre e a torrente
de lágrimas escorre pelo meu rosto. Este homem tem meu coração
de tal forma, que não tenho certeza se serei capaz de ir embora,
praticamente, deixando que ele me afaste.

Ele pressiona seus lábios contra a minha testa e inspira de


forma afiada antes de se soltar do meu abraço. Com uma
expressão firme no rosto, ele se vira, caminhando em direção à
porta do quarto.

“Não é a história da sua mãe mais uma vez, Creed.”

Ele para com minhas palavras e vejo seus ombros subindo e


descendo, como se ele estivesse respirando fundo.

“Eu sei que não”, diz ele em voz baixa. “Porque estou dando
um basta nisso antes que chegue tão longe. Estou fazendo o que
meu pai nunca conseguiu. Vou deixar você partir.”

Outro soluço passa pelos meus lábios com suas palavras. Eu


não quero que ele me deixe partir. Ele não pode.

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Ele se vira para mim. Seus olhos percorrem minhas feições,


absorvendo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Sua
mandíbula endurece. “Porque se eu não te deixar, Sophia? Vou
matar o bebê, ou pior, matar você. Recuso-me a deixar meu filho
ser sugado nas garras do meu pai. Sugado para essa merda de
vida. Vocês dois merecem coisa melhor”, ele diz com firmeza em
seu tom, retomando o passo.

“Não se atreva a fazer isso! Não se atreva a sair por aquela


porta, Creed”, aviso através das minhas lágrimas.

Ele faz uma careta, parando seus passos antes de chegar à


porta. “Eu preciso”, ele diz tão baixo que quase não o ouço.

E então ele se foi.

Eu não sei quanto tempo fico em choque, deixando as


lágrimas rolarem pelas minhas bochechas. Então tudo realmente
me atinge.

Ele está me mandando embora. Ele está nos mandando


embora.

Se algo acontecer com ele, ele terá ido para sempre, e serei
apenas eu e nosso bebê.

Nosso bebê nunca conhecerá o pai porque ele foi embora. Eu


acho isso é o que dói mais.

Eu ando pela casa em transe, esperando Garrett vir me


encontrar, assim como imagino que virá. Tropeço em uma
biblioteca cheia de livros e aquilo me leva de volta a Crest Fall. De
volta ao Creed e nossos primeiros momentos. Mais lágrimas rolam
pelo meu rosto quando relembro. Minha mente revive cada
lembrança como um rolo de filme, quando ele trouxe a caixa de
lenços para mim, quando eu estava tendo um colapso. A primeira

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vez que me mostrou uma pitada de gentileza, me permitindo ter


um vislumbre do ser humano que estava escondendo por dentro.
A maneira como me senti quando ele me beijou pela primeira vez.
Fez amor comigo pela primeira vez. Cada memória me atinge, cada
uma parecendo um tapa brutal no rosto.

“Ele é forte. Muito mais forte do que eu poderia imaginar”,


uma voz diz da entrada, me assustando. Eu me viro, apenas para
encontrar o pai de Creed, Matteo, encostado no batente me
observando. “Muito mais esperto do que eu também.”

Mordo meus lábios em desacordo. Não é isso que quero ouvir.


Eu não quero ouvir que essa é uma decisão inteligente. Eu quero
ouvir o quão estúpido e tolo ele está sendo, quero ouvir qualquer
coisa que faça com que ele mude de ideia e o mantenha comigo.

“Diga-lhe que está cometendo um erro”, digo por entre


minhas lágrimas. Por um breve momento, acho que vejo uma
pitada de arrependimento em seus olhos, mas é fugaz.

Matteo solta um suspiro. “Eu não posso fazer isso,


principessa40. Porque meu filho está certo. Fui egoísta quando se
tratava da mãe dele. Eu tive muito tempo para pensar sobre isso,
vinte e dois anos de fato, e havia muitas maneiras que eu poderia
salvar minha esposa. Não tomando-a para mim, não me casando
com ela e não deixando-a partir. Se eu tivesse feito as escolhas
certas, ela ainda estaria aqui. Meu filho está protegendo você da
única maneira que conhece.”

Eu fecho meus olhos com suas palavras, sabendo que são


verdadeiras e as odiando ainda mais. Minhas mãos tocam meu
ventre e abro bem meus olhos, encontrando seu olhar.

“Como vou fazer isso sem ele?”

Matthew esfrega a mão na nuca. “Eu não sei. Mas presumo


que com a ajuda do seu irmão.”

40
Principessa - Princesa
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Balanço minha cabeça para trás e para frente, tristeza


desmoronando em mim.

Isso não é o que eu quero.

Não é assim que isso deveria ser.

“Você se importa com ele. Eu sei que se importa. Por que não
o deixa ir? Liberte-o de tudo isso? Por favor, nos deixe. Nós vamos
embora, para onde ninguém nos conhece. Onde ninguém possa
nos encontrar”, eu imploro, gaguejando com minhas palavras.

Matteo sorri tristemente. “Porque ele será caçado como um


animal se eu fizer isso. Se não pela nossa Outfit, então por outra.
Não importa para onde você fuja, ou se esconda, eles sempre
encontrarão. Enquanto você estiver ao seu lado, você será um
alvo. Este é o único modo de proteger meu filho e você da morte.
Tudo que tentei fazer para protege-lo, foi ensiná-lo a se proteger.
Agora ele está fazendo o mesmo por vocês dois.”

“Por que nenhuma das outras famílias foi atrás dele enquanto
ele estava fora todos esses anos?”

Matteo não diz nada. Os únicos sinais de que ainda está


fisicamente aqui são sua respiração e o fato de que ele ainda está
piscando.

“Você esteve protegendo-o o tempo todo, não é?”

Seus lábios franzem, como se ele estivesse refletindo sobre


como responder.

“Eu estive”, diz ele, admitindo a verdade.

“Você o ama.” Não é uma pergunta, mas uma afirmação.


Porque agora é óbvio para mim que Matteo ama seu filho. Ele fez
o que tinha que fazer para proteger e tornar o Creed mais forte
para esta vida.

“Eu fiz muitos sacrifícios pelo meu filho e fiz muitas coisas
das quais não tenho orgulho.” Ele enfia as mãos nos bolsos. “Mas
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eu me importo com ele, do meu jeito. Mais do que ele ou sua mãe
jamais saberão.”

Tristeza.

É tudo que sou capaz de sentir enquanto olho para Matteo.


Tristeza por ele, por sua esposa e seu filho que passou a maior
parte de sua vida sem o amor de dois pais. Lágrimas ardem meus
olhos quando penso no meu próprio filho, e como talvez, afinal de
contas, Creed pode estar certo. Este bebê merece ser amado do
jeito certo. Não uma tentativa meio ingênua de uma infância.

Meu rosto se contorce e coloco minha cabeça nas mãos


enquanto penso em Creed e o quanto ele vai perder. Minhas mãos
encontram a curva ao longo da minha barriga e deixo as lágrimas
caírem. Parece que meu coração está sendo rasgado ao meio. Tudo
dói.

Eu fecho meus olhos e imagino como seria a vida com Creed.


Se fôssemos normais. Se tivéssemos vidas diferentes. Se não
estivéssemos tão fodidos. Imagino uma garotinha com belos olhos
cinzentos que lembram os de seu pai e vejo Creed olhando para
nossa doce menina com tanto amor em seus olhos, a tonalidade
cinza brilha como a luz do sol no cromo, ofuscante. Imagino o que
aconteceria no futuro e choro um pouco mais quando percebo que
nunca conseguiremos ter isso.

Matteo me deixa em paz, silenciosamente saindo da enorme


biblioteca e descendo o corredor. Depois de algum tempo, minhas
lágrimas diminuem e me sento na poltrona macia, olhando
fixamente para a parede. Esse é eventualmente o lugar onde
Garrett me encontra. Seus pés batem no chão de madeira,
ecoando pela grande extensão da sala.

“É hora de ir, Soph.”

Meu rosto se encolhe com a tristeza em seu tom e sacudo


minha cabeça para frente e para trás.

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Eu não estou pronta para partir. Isso significa que acabou e


eu apenas... não estou pronta.

“Eu não posso”, soluço, lutando contra uma nova onda de


lágrimas.

“Nós não temos muita escolha.”

Ao inspirar um fôlego, convoco todas as minhas forças antes


de acenar com a cabeça e ficar de pé. Meu corpo parece estranho
enquanto sigo Garrett para fora da biblioteca. A cada passo mais
perto do foyer, sinto meu coração apertar, rachar, esmagar sob a
dor. No segundo em que passamos do limiar para o ar fresco da
noite, uma lágrima solitária desliza pelo meu rosto.

Eu entro no SUV junto com o resto dos caras. Todos, exceto


Creed. A perda dele é como um buraco no meu peito. Quando
saímos dos portões de ferro forjado da propriedade, parece que
deixei um pedaço vital de mim mesma para trás. Meu coração bate
um pulsar triste e monótono, sua cadência não é mais animada.
A viagem é mergulhada em completo silêncio. Nenhuma palavra é
falada entre mim ou qualquer um dos outros caras. De sua
posição no banco do motorista, Clarence me dá alguns olhares
simpáticos, mas não diz nada.

Quando uma abundância de árvores dá lugar a uma estrada,


eu descanso a palma da minha mão sobre o meu ventre e
mantenho meu olhar para fora da janela. Eu não me importo para
onde estamos indo, ou quanto tempo levará para chegar lá. Tudo
o que me importa é o bebê e o homem que está colocando sua vida
em risco para nos proteger.

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Creed

“Como ela está?” Pergunto no fone.

Um suspiro cansado sopra na ligação. “Tão bem quanto se


pode esperar”, diz Garrett. “Ela chorou o dia todo e a noite toda.
Eu finalmente consegui que comesse uma refeição inteira hoje.”

Meu lábio superior se eleva em um grunhido e aperto a ponta


do nariz em frustração.

“Já faz duas semanas, Cova”, resmungo. “Ela está grávida!


Ela precisa de mais comida do que uma refeição por dia. Ambos
precisam.”

“Ei!” Garrett ladra na linha. “Estou fazendo o que você me


pediu para fazer. Você está esquecendo isso? Se tivesse mantido
seu pau dentro das calças, não estaríamos nessa bagunça.”

Eu fecho minha mão na mesa e enrolo meus dedos em punho,


saboreando a picada das minhas unhas se encaixando na minha
palma. “Tome cuidado, Cova.”

“Foda-se!” Ele devolve. Eu posso ouvi-lo andando de um lado


para o outro. O som de suas botas bate no ritmo de sua respiração
pesada. “Eu nunca a vi assim. E não sei como consolá-la ou como
melhorar isso!”

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Eu cerro meus olhos. Só o pensamento de Sophia perdida e


com tanta dor por minha causa vai contra todos os meus instintos
de protegê-la e mantê-la segura. Eu daria qualquer coisa para
mandar tudo isso para o inferno e a puxar de volta para os meus
braços, fugir com ela e fazer tudo melhorar. Mas não posso fazer
nada disso. Eu tenho que lembrar que tudo isso é para sua
proteção.

Eu levo uma mão agitada pelo meu rosto e preciso de alguns


segundos para reunir minha compostura antes de responder.
“Apenas mantenha Sophia segura, tudo bem? E tome cuidado. Eu
tenho Monte e Clarence na segurança na minha casa. As coisas
com a Bratva não estão indo como planejado e não quero que nada
aconteça com ela ou com o bebê. Entendeu?”

“Sim, idiota”, ele grita.

“Eu tenho investigado a situação da garota”, digo, mudando


de assunto.

“E?” Garrett pergunta.

“Monte pode ter encontrado uma pista sobre ela. Eu não sei
se vai dar certo, mas se conseguirmos chegar até ela a tempo, acho
que isso vai ajudar a Sophia. Pelo menos um pouco.”

Garrett solta um suspiro. “Concordo. Ela vem falando sobre


ela sem parar. Está preocupada, e eu entendo, mas não quero dar
esperanças a ela. Ainda não, pelo menos.”

“Bom. Não mencione nada até que a tenhamos em segurança.


Quanto ao dinheiro, ela usou alguma coisa?” Pergunto, embora já
saiba a resposta.

“Não. Ela não usou. Ela sabe que é seu.”

Dou um suspiro cansado. Eu tenho enviado pagamentos a


Garrett para Sophia e o bebê. Como não estou lá para cuidar dela
fisicamente, mas quero ter certeza de que ela tenha tudo de que
precisar, sejam vitaminas, roupas de bebê, berço ou qualquer
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coisa que precise. Eu esperava que ela aceitasse o dinheiro, mas


no fundo já sabia que não aceitaria. Isso não é quem Sophia é.

“Jesus Cristo, Garrett. Ela não está comendo. Ela não está
usando o dinheiro. Você está pelo menos se certificando de que os
médicos estão fazendo os check-ups adequados?”

“Eu não preciso dessa merda, Creed. Você quer as coisas do


seu jeito? Faça você mesmo, porra. Estou fazendo o que posso
para cuidar da minha irmã, então apenas se preocupe com você
mesmo.” A linha fica muda depois do discurso furioso.

Com um grunhido que vibra no meu peito, lanço meu celular


na parede e vejo como ele se quebra em vários pedacinhos. Por
conta própria, meus olhos se dirigem para a pequena fotografia
em preto e branco que está na minha mesa. Pela quinta vez hoje,
pego-a e esfrego o polegar ao longo da pequena imagem em preto
e branco. A imagem do ultrassom é o último pedaço que tenho de
Sophia e nosso bebê. Pode muito bem ser o único pedaço que terei.

Eu tento imaginar um futuro, com apenas nós três, mas toda


vez que faço isso, fico com esse aperto no meu peito. Fica difícil
respirar ou fazer qualquer outra coisa. É o mesmo sentimento que
tenho sempre que penso na minha mãe. Parece que alguém está
perfurando minha cavidade torácica, apertando cada um dos
meus órgãos com mãos de ferro.

Eu odeio não estar lá ao lado de Sophia durante a gravidez.


Não vou conseguir ver o ventre dela crescer ou seu desabrochar
em uma linda mãe. Odeio que meu filho não me conheça. Odeio
que isso seja resultado dessa minha vida, porque eu nasci um
fodido Sabella.

É o que mereço. Até eu sei disso.

Não mereço uma menina bonita e doce como Sophia.

E com certeza não mereço ter uma família linda com ela. Eu
sou um monstro. Um criminoso. O maldito diabo. Esta vida

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liderada por sangue e crime é exatamente o que eu mereço. Este


é o meu destino.

Eu desperto meu laptop com um movimento de mouse e


verifico as coordenadas no GPS uma última vez antes de deixar
escapar uma respiração aliviada. Ela está lá. Ela ainda está lá.
Não sei porque continuo verificando o GPS mesmo quando tenho
uma equipe de homens observando-a e protegendo-a o tempo
todo. Mas o ponto vermelho na tela me dá a paz de espírito que
nem sabia que precisava.

Fechando a tela, eu me levanto, pegando meu paletó que está


no encosto da cadeira. Deslizo cada braço pelas mangas e alcanço
a gaveta da minha escrivaninha, recuperando tudo que preciso.
Eu verifico a câmara da Desert Eagle de prata com cabo de
mármore antes de colocá-la na parte de trás do meu cós. Amarro
a faixa preta ao redor da minha perna, perto da panturrilha, e
confiro a faca de caça. Minha mão paira sobre a Glock 17 por uma
batida sólida antes de a conferir também. Eu provavelmente não
preciso de todo esse poder de fogo, mas da maneira como as coisas
com os russos vêm crescendo, acho que não custa estar
preparado.

Colocando a Glock no bolso interno do meu paletó, eu rolo


meus ombros para trás e dobro meu pescoço de um lado para o
outro, relaxando os músculos. Abotoo meu terno e aliso as mãos
pelo bom material italiano. Meu olhar vasculha a sala até cair no
meu armário de paletós. Eu não posso conter a pequena contração
dos meus lábios.

Abrindo a porta do armário, empurro os cabides e os paletós


restantes para o lado e bato meu punho contra a madeira escura
de cerejeira. A madeira cede para trás uns sólidos doze
centímetros, deixando uma lacuna grande o suficiente para a
minha mão, e ali eu alcanço, agarrando a placa solta. Eu a
empurro para o lado e os itens que estão escondidos atrás da
madeira se ajustam à iluminação fraca do armário. Meus rifles,

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alguns totalmente automáticos, e duas espingardas estão


escorados na parede do fundo do compartimento oculto.

Tateando a alcova, agarro a Carabina M441 e o meu Heckler


& Koch MP542. Verifico os compartimentos de munição antes de
deslizar as correias por cima do meu ombro e caminhar em direção
à minha mesa. Lá, pego dois novos telefones e os coloco em cada
bolso antes de seguir em direção à porta.

Eu a abro, não me surpreendo em encontrar dois dos homens


de meu pai, Lorenzo e Danilo, já prontos com seu poder de fogo.

“Andrei já está lá esperando com eles”, diz Lorenzo, jogando


a bola.

Eu tenho uma reunião especial com certo membro da Bratva


que vai me contar tudo que eu preciso ouvir. Se não por pura
vontade, então por qualquer força necessária.

Um sorriso curva meus lábios. “Bom.”

Paro o carro no beco, do lado de fora do restaurante chinês


de Pei King. O beco é escuro e sem surpresas, ativo com ruídos
provenientes dos restaurantes e lojas localizadas ao longo da
frente da rua. A saída traseira do P. King está bem aberta, a luz
fluorescente recaindo no beco. O calor da cozinha do restaurante
se transforma em grossas nuvens de neblina quando entra em
contato com o frio ar de Chicago. Ondas de névoa pairam no ar do
local, parecendo o produto de uma máquina de fumaça. Lorenzo
e Danilo param o carro bem atrás do meu e todos nós saímos de
nossos respectivos veículos com as armas. Como se tivéssemos
41
A carabina M4 - É uma variante mais curta e mais leve do rifle de assalto M16A2. Tem um cano de 14,5 in e uma soleira
telescópica.
42 A Heckler & Koch MP5- É uma submetralhadora, 9mm.

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combinado, Pei, o proprietário do restaurante P. King, entra na luz


da saída. No minuto em que fazemos contato visual, ele balança a
cabeça e se vira para dentro do restaurante. Eu sei por experiência
que está indo para o freezer para recuperar o que viemos aqui
pegar.

“Tira as mão de mim porra!” Eu ouço alguém rosnando, e


então Pei e o homem da hora ficam visíveis na luz. Ele luta contra
os braços de Pei e, em circunstâncias normais, poderia ter sido
capaz de espancar o homem mais velho e se soltar, mas ficar
sentado em um freezer de carne inibe algumas, se não todas, as
suas forças. Pei arrasta o homem pelo colarinho da jaqueta de
couro falsa, sai pela saída do restaurante e o joga na rua do beco.

Encontro o olhar de Pei e aceno com a cabeça antes de


encarar o idiota que está lutando no chão. Ele não espera mais
um segundo, corre de volta para dentro de seu restaurante e bate
a porta de saída, sendo mais do que provável que a tenha
trancado.

Há uma razão pela qual a família Sabella é a líder e delega


tarefas ao resto das famílias criminosas em Chicago. Os Sabellas
possuem mais da metade dos negócios de Chicago ou os terrenos
em que estão. O restaurante P. King é apenas um dos muitos. Pei
consegue administrar seu restaurante e cuida de sua família
desde que nos pague na hora certa e nos permita lidar com os
problemas quando necessário. Isso vale para todos os outros
negócios também.

As solas dos meus sapatos batem contra o pavimento


enquanto ando em direção a Andrei. Seu corpo treme quanto mais
perto eu chego dele. Não sei se é por ter estado no congelador ou
apenas por me ver. A palavra na rua é: O Fantasma está de volta
à cidade e ele anda limpando a casa. Alguns mafiosos não se
importam, enquanto outros sabem o quanto do sangue de nossos
inimigos será derramado nas ruas novamente. Minha ausência em
Chicago causou muitos problemas, não apenas para nossa
família, mas nas ruas da cidade dos ventos. Os bandidos foram
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imprudentes, os mafiosos ficaram descuidados e muitas pessoas


inocentes acabaram apanhadas na mira. Tudo isso está chegando
ao fim.

Eu paro de andar a alguns centímetros dele e me abaixo.


Inclino minha cabeça para o lado e olho para ele. Seu medo cheira,
permeando o ar ao nosso redor.

“Andrei, Andrei, Andrei”, digo, soprando um suspiro. “O que


você estava pensando? Roubar minhas remessas e tentar me
rebaixar.” Andrei treme quando se senta na calçada. Ele nem
tenta lutar contra isso. Já sabe o que está vindo. Ele é apenas um
garoto jovem. Vinte e poucos anos, mas ainda assim escolheu
cruzar com a família errada, com o homem errado. Tentar roubar
minha remessa de armas e encher sacos de cocaína com produtos
de merda? Sim, isso não funciona pra mim.

“Eles m-me obrigaram”, ele gagueja.

“Mas você ainda foi burro o suficiente para fazer isso, Andrei.”
Eu fico ereto e alcanço o cós da minha calça quando Andrei de
repente começa a soluçar.

“Espere!” Ele grita. “Sei de coisas! Eu posso te ajudar, contra


a Bratva. Sei o que eles estão planejando. Contra você, os Sabellas
e o resto das famílias. Eu sei tudo. Posso ajudar, por favor.”

Eu congelo, minha mão ainda segura o cabo da Eagle que


ainda está enfiada na minha calça, escondida sob o paletó.

“Continue”, digo, intrigado.

“Eles têm informantes infiltrados. De que outra maneira você


acha que sabiam quando exatamente me mandar para a
remessa?” Questiona.

Por fora, mantenho minha expressão em branco, vazia de


qualquer emoção exterior. Tão calmo e controlado como sempre,
mas por dentro? Há um inferno furioso se formando.

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Quem diabos é estúpido o suficiente para atravessar os


Sabellas?

“Interessante”, murmuro. Andrei acena com a cabeça e


continua, qualquer coisa para lhe dar algum tempo extra.

“Grigori está tentando te atingir internamente. Seu plano é


encontrar sua fraqueza e explorá-la. Ele quer que toda a outfit de
Chicago seja apagada para que ele possa assumir.”

“Quem está alimentando Grigori com informações”

Andrei balança a cabeça. “Eu não sei, cara, eu juro, não sei.
Mas posso descobrir mais?” Ele pergunta com uma voz
esperançosa. “Posso trabalhar nos dois lados, roubar informações
dos homens de Grigori e trazer tudo para você.”

Eu solto um suspiro. “Não vai dar. Você vê que a coisa é,


Andrei, você mostrou suas verdadeiras cores. Derramando os
segredos de alguém a quem prometeu sua lealdade. Como saberei
que você não vai fazer o mesmo comigo, Andrei?”

A cor escoa de seu rosto e ele sacode a cabeça freneticamente.


“Não. Não, eu não vou, eu prometo. Você tem minha palavra, Sr.
Sabella.”

“Sua palavra não tem valor, Andrei. Não trabalho bem com
pessoas que não são leais, ou neste caso, um rato.” Com uma bala
já na câmara, levanto meu polegar sobre a trava de segurança e
disparo um único tiro diretamente em sua cabeça. O pop ecoa no
beco, mas logo se perde entre os vários sons altos nas ruas. Seu
corpo desmorona, atingindo o chão com um baque retumbante.

Deslizando a Desert Eagle na minha cintura, volto para


Lorenzo e Danilo com um aceno de cabeça. Eles se movem em
sincronia, fazendo um rápido trabalho no corpo de Andrei.
Observo os dois homens de perto enquanto eles trabalham,
procurando por quaisquer sinais de engano. Um sentimento
desconfortável se instala no meu peito.

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Alguém de uma das famílias está vendendo informações para


a Bratva. Alguém está vendendo nossos segredos, o filho da puta.

“Senhor.”

“Senhor.”

“Diavolo.”

Eu me viro para encarar Lorenzo, sem perceber que ele está


tentando falar comigo. Levanto minhas sobrancelhas
impacientemente, ainda tentando descobrir quem diabos seria
estúpido o suficiente para não apenas trair sua própria família,
mas também os Sabellas.

“Como você quer lidar com isso?” Pergunta Lorenzo. Meus


olhos se dirigem para Danilo, de pé ao lado dele.

Olho os dois homens através de fendas estreitadas.


“Comecem a investigar. Vocês dois. Matteo especificamente
orquestrou essa remessa com os compradores. Ele contou aos
soldados seu plano. Então, quero descobrir quem está vendendo
nossas informações. Porque tenho um pressentimento de que ele
está bem debaixo do nosso nariz.”

Com isso, me viro e entro no carro. Sigo direto para a


propriedade. Matteo tem um rato nas mãos.

Eu bato meus dedos na porta do escritório de Matteo,


esperando por seu rude, “Entre” antes de entrar.

“Você já lidou com o nosso problema de remessa, stronzo?”


Pergunta ele, sem sequer olhar para cima da tela de seu laptop.

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“Temos problemas muito maiores”, eu digo, abrindo um botão


no paletó antes de me abaixar na cadeira de couro em frente à sua
mesa. “Alguém está vendendo informações para a Bratva. A fonte
de Grigori é alguém de nós.”

Isso finalmente chama sua atenção.

Lentamente, Matteo levanta a cabeça, os olhos ardendo de


raiva. “O que diabos você acabou de dizer?”

“Eu sugiro rever a lista de todos na equipe de expedição. Os


mademan43, os soldados.”

Matteo ri sombriamente. “Nós temos um rato filho da puta,


então? Há apenas uma maneira de pegá-lo, uma armadilha. Vou
orquestrar remessas falsas e alimentar os detalhes aos nossos
rapazes. Nós podemos separar o vazamento por grupo.”

Eu aceno com a cabeça, gostando da ideia. Se alguém está


vendendo informações, seja para conseguir influência, para pagar
uma dívida ou por dinheiro extra, será obrigado a fazer tudo
novamente. E desta vez vamos encontrá-lo.

“Venha dar um passeio comigo, Diavolo. Eu tenho outro


trabalho para você”, Matteo diz, levantando-se do seu lugar. Ele
enfia a arma no cós da calça e caminha em direção à porta, sem
se incomodar em esperar que eu o siga.

Nós caminhamos em sintonia um com o outro, em direção à


ala sul da propriedade. Eu fico em silêncio, esperando ouvir o que
precisa ser feito agora.

“Como está Sophia?” Ele pergunta, me balançando


completamente. Ao som do nome dela, meu coração bate forte.

Sinto falta dela. Cada segundo de cada maldito dia eu sinto


falta dela.

43
Mademan- Na Máfia Americana, um mademan ou homem feito é um membro completamente iniciado
dentro da Máfia. Para receber este título, o associado requerente precisa ser indicado por alguém que já seja
um homem feito. É exigido que o iniciado faça o juramento da Omertà, o código de silêncio da máfia
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“Ela está bem”, respondo bruscamente. Com minha visão


periférica, vejo Matteo sorrindo.

“Como ela está indo de verdade?”

Eu engulo a areia em minha garganta. “Melhor que antes. Ela


finalmente começou a comer de novo.” Do canto do meu olho, vejo
quando o rosto dele se afrouxa. Ele fica quieto por um instante,
como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos.
Viramos à esquerda e descemos os degraus da escada.

Depois de algum tempo, ele diz: “Você não deveria ter deixado
ela se apaixonar por um homem como você.”

Meu peito aperta. Eu deveria sentir raiva dele pela


declaração, mas ele está certo.

“Eu sei.”

Matteo abre a boca para dizer algo mais, mas de repente as


portas do vestíbulo se abrem e um dos soldados, Alberto, voa por
elas, histérico.

“Eu quero aqueles filhos da puta mortos!” Alberto grita, o som


estridente ressoa através do foyer, ecoando pelas paredes. Matteo
e eu compartilhamos um olhar antes de acelerar nosso passo e
paramos quando o vemos de joelhos no vestíbulo. Suas roupas
estão manchadas de sangue e ele tem lágrimas escorrendo pelo
rosto.

“Alberto? Que porra está acontecendo?” Matteo rosna,


andando em direção ao homem quebrado.

“Aqueles filhos da puta russos. Aqueles malditos bastardos


atiraram nele. Eles atiraram no meu menino!” Ele grita, a dor em
sua voz sangra, enviando um arrepio para minha espinha.

“O que aconteceu?”

“Mais cedo, pegamos alguns de seus homens no cassino. Eles


estavam sendo barulhentos, tomando liberdades com as
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garçonetes, e Antônio achou que seria melhor se nós os


expulsássemos de lá. Eles não tinham nenhuma porra de negócios
no nosso cassino. Ele mandou os caras embora para o seu
território. Eu disse para ter cuidado, para vigiar suas costas, mas,
eles... eles o pegaram. Mataram a sangue frio. Um dos nossos. Um
de nós.”

Eles usaram Andrei. Foi tudo uma distração do caralho.


Devem ter planejado outra coisa no clube, mas quando Antônio
interferiu, as coisas não correram de acordo com o plano deles.
Uma coisa que eu sei com certeza é que eles estavam apostando
que nenhum de nós estaria lá.

O rosto do meu pai se contorce de fúria.

“Eu os quero mortos”, Alberto rosna. “Cada um deles. Eu


quero todos eles mortos.”

Matteo acena com a cabeça resolutamente e ajuda Alberto a


ficar de pé. Ele troca um olhar comigo sobre a cabeça de Alberto.
“Você sabe o que fazer, Diavolo.”

Minha mandíbula flexiona e aceno com a cabeça.

Com tudo que eu preciso já no carro, ligo para Lorenzo e ele


atende no primeiro toque.

“Acabei de terminar. Os faxineiros já cuidaram do vazamento


no beco.”

“Bom. Encontre-me no cassino.”

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Creed

Quando chego ao cassino, não fico surpreso quando vejo que


Lorenzo e Danilo já estão esperando. Quando saio do carro,
observo todos os homens do meu pai que estão do lado de fora da
entrada, e analiso cada um deles de perto, tentando descobrir qual
deles é o rato.

Mesmo com todo o drama que aconteceu, o cassino ainda


está vibrando com energia. No segundo em que atravesso a
entrada, acima do limiar, vozes excitadas percorrem os tetos
abobadados. As luzes são moderadas, permitindo que o brilho dos
caça-níqueis e lustres brilhantes preencha o espaço. As mesas de
jogos de dados ficam ao fundo juntamente com gritos de excitação.
Copos e garrafas tinindo juntos se perdem nos sons vindos do bar,
risadas vivazes e fregueses barulhentos. Mulheres com roupas
escassas penduradas nos braços de homens, alguns muito mais
velhos, vestidos em ternos de estilos variados.

“Algum retardatário?” Eu pergunto, meus olhos examinando


cada mesa e quadro de pessoas aqui. Eu dirijo a pergunta para
Danilo e Lorenzo, sabendo que eles já informaram os soldados
mais velhos sobre o que aconteceu esta noite.

“Tudo limpo.”

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Com um sutil aceno de cabeça, ando direto pelo centro do


cassino e passo por todas as mesas altas. Quando passo por
grupos de pessoas, as conversas silenciam e os sussurros
começam. Os olhos me seguem enquanto faço a jornada através
do local. Alguns parecem legitimamente com medo, enquanto
outros olham com curiosidade.

Passo através das portas que levam para o quarto dos fundos
que contém todos os monitores do cassino, assustando os guardas
de segurança. Os homens se agitam em seus assentos com
expressões de raiva em seus rostos até verem quem é.

“Mostrem-me todas as imagens de mais cedo. Eu quero todos


os clipes e ângulos, especialmente do estacionamento.”

“Imediatamente, Sr. Sabella.”

Cada um dos homens puxa diferentes visões das câmeras nos


monitores e eu assisto cada clipe que passa. Quatro homens
entram juntos na entrada e se dividem em seções diferentes. O
homem número um vai direto para o grupo de pessoas
conversando no bar. O homem número dois desliza em um
assento em uma das mesas altas e o homem número três para na
mesa de dados, visivelmente assediando cada garçonete que
passa. Eu procuro em cada monitor pelo homem número quatro,
mas ele não pode ser encontrado em nenhuma das telas.

Onde diabos você foi, seu filho da puta?

“Um dos quatro homens não aparece nas imagens, onde


diabos ele foi? Quero mais cenas. Não estamos vendo o todo”, eu
digo. “Os três homens estão aqui como uma distração, além de
lidar com Andrei.”

“Uma distração para o quê?” Pergunta Lorenzo,


aproximando-se dos monitores, procurando em cada um deles.

“Isso é o que eu estou tentando descobrir”, murmuro, meus


olhos colados nas telas.

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“Não podemos encontrá-lo em nenhuma das imagens


disponíveis. Ele deve estar andando pelos pontos cegos.”

“Merda”, Danilo rosna. “Como diabos ele saberia onde ficam


todos os pontos cegos?”

Eu quero dizer que alguém de dentro deve ter dito isso a ele,
mas guardo o comentário para mim mesmo. Não posso ter certeza
de quem é e, infelizmente, não confio em nenhum desses homens.
Nem mesmo meu pai.

“Parece que encontramos seu carro de fuga”, diz Lorenzo,


apontando para o monitor no canto inferior direito. E com certeza,
ele está certo.

Todos os quatro homens entram em um Escalade preto com


facilidade. Quando o SUV é ligado, os monitores mostram um
vislumbre da placa de licença.

“Congele esse quadro”, ordeno, apontando para o monitor.


“Dê um zoom e deixe a imagem mais clara.”

Ele faz o que foi dito e, embora não seja a imagem mais clara,
ainda posso ler o número da placa.

7H832DJ

Afastando-me dos monitores, tiro um dos telefones do meu


bolso e disco um dos três únicos números que chamei. A linha
toca duas vezes antes de Clarence responder.

“Chefe.”

Eu recito o número da placa, sem nem me incomodar com


boas maneiras. “Eu preciso de um nome e de um endereço.”

“Estou nisso”, diz ele antes de desligar.

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Endireito meus ombros e torço os nós do meu pescoço antes


de me concentrar na conversa acontecendo ao meu redor.

“Ele não pode ter ido longe. A segurança não permitiria que
alguém como ele andasse pelo local sem vigilância. Especialmente
sem o chefe aqui”, diz Danilo em resposta a algo que Lorenzo disse.

“Bem, obviamente ele estava em algum lugar fazendo algo no


prédio. Sugiro que seja checado todos os pontos cegos da
propriedade”, diz Lorenzo a Danilo.

Meu telefone toca no bolso da minha calça e quando eu abro


e olho para a tela, a adrenalina corre pelas minhas veias.

“Vamos”, digo, cortando os dois. Todos os olhos se voltam


para mim com as sobrancelhas levantadas. “Acabei de receber a
localização de Grigori. Precisamos nos mover agora.”

Eu tiro o pé do acelerador quanto mais nos aproximamos do


endereço. A rua é calma e escura, e deste lado da cidade, uma rua
silenciosa e sombreada é algo que deve ser encarado com cautela.
Clarence não tinha certeza se o endereço era apenas um chamariz,
mas era nossa única opção. Este endereço estava conectado com
a placa do carro que apareceu nos monitores do cassino. Se ele
não estiver aqui, eu ainda o encontraria e seus homens, e
descobriria o que diabos estão planejando, mas por enquanto, isso
seria um começo.

Eu olho para os espelhos retrovisores, de olho em Danilo e


Lorenzo, certificando-me de que ainda estão atrás de mim. Eles
seguem de perto com os faróis apagados, espelhando os meus.
Quando chegamos a uma curva bem na esquina onde fica a casa,
fico meio surpreso ao encontrar Grigori do lado de fora com seus

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homens, as armas em mãos. Eu sabia que isso só pode acontecer


de duas maneiras. Ou esse endereço é realmente de Grigori, ou é
uma armadilha. Ele queria que o encontrássemos aqui.

Sopro um suspiro cansado e jogo o carro parando no centro


da rua, desligando o motor. Mantendo meus movimentos
imperceptíveis para seus olhares indiscretos, dou palmadas no
meu paletó, checando minhas correias. Com a sede de sangue
borbulhando em minhas veias, lentamente saio do carro e
metodicamente abotoo meu paletó, alisando minhas mãos sobre o
tecido. Ouço duas portas se fecharem atrás de mim e escuto os
passos de Danilo e Lorenzo quando se aproximam de mim. Eu viro
meu olhar para os dois homens que dão acenos sutis.

“Isso vai ficar feio, Diavolo. Você está pronto?” Lorenzo


pergunta baixinho, quase como um ventríloquo. Ele nem precisa
mover a boca.

“Sempre”, é a minha única resposta.

Meus mocassins italianos batem contra o concreto de


cascalho enquanto fecho a distância entre Grigori e seus homens.
Grigori Kusnetsov é o chefe do Solntsevskaya Bratva44. Um
homem rechonchudo, com os cabelos oleosos penteados para trás,
que mal chega a alcançar um metro e setenta. Os Kusnetsovs são
chefes da Bratva desde que eu era criança. Gerações e gerações
de crime começaram com os ancestrais de Grigori, como
aconteceu com minha própria família. Mas, assim como tudo
mais, os Kusnetsovs nunca conseguiram governar Chicago. A
Bratva nunca foi capaz de se destacar no mundo do crime. Sempre
foram os italianos, os Sabellas, que administram essa cidade.

“Bem, bem, bem, se não é o infame Fantasma. Ouvi rumores


sobre seu retorno, mas não esperava encontrar você tão cedo.
Surpresa agradável, não é, rapazes?” Grigori gargalha como uma
hiena. “Que pena, eu estava esperando que seu pai mostrasse seu

44
Solntsevskaya Bratva -O Solntsevskaya Organized Crime Group, também conhecido como Solntsevskaya
Bratva, é o maior e mais poderoso sindicato do crime da máfia russa.
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rosto pela primeira vez, em vez de mandar você fazer o trabalho


sujo dele por ele. Mas depois de tudo o que você fez com meus
homens, vou gostar de matar você, garoto.”

Um sorriso puxa meus lábios. “Você e eu sabemos que isso


não vai acontecer, Grigori.”

Suas sobrancelhas se levantam incrédulas e ele gesticula


para os homens atrás dele com suas armas apontadas para nós.

“Olhe ao redor, garoto, você está cercado. Você não vai sair
vivo daqui e sabe disso.”

Solto um suspiro cansado, propositadamente provocando


Grigori. “Eu penso de outra maneira. Agora, vou te dar uma
chance de salvar a você e seus homens me dizendo o que”, eu digo,
olhando furiosamente para o quarto homem que desapareceu dos
monitores. “estava fazendo no meu cassino.”

Reconheci cada um dos homens de Grigori no segundo em


que saí do carro. E o quarto homem desaparecido foi o primeiro
filho da puta que eu coloquei os olhos.

Os olhos dos quatro se voltam para seu chefe e Grigori ri. O


barulho agudo é como pregos no quadro-negro para mim. “Aqui é
onde fica divertido, garoto. Eu finalmente encontrei um caminho
para o império Sabella. Quem teria pensado, certo?”

Ele ri e tira algo do bolso. Meus olhos se estreitam no controle


remoto e voltam para seus olhos que estão brilhando de alegria.

“Esta pequena engenhoca”, diz ele, apertando o controle


remoto em sua mão. “Tem até um raio de dezesseis quilômetros.
Você sabe quantos quilômetros nós estamos do cassino, Sabella?”

Uma bola de medo aperta meu estômago enquanto penso


nisso. O GPS disse que esse endereço ficava a apenas onze
quilômetros do cassino.

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“A tecnologia é uma coisa linda, você não acha?” Ele sorri


tristemente. “Uma operação encerrada e mais cerca de cem para
o mesmo caminho”, diz ele e pressiona algo no controle remoto.
Minhas sobrancelhas franzem e dou um passo ameaçador para
frente, mas congelo quando o chão sob meus pés treme. O
cascalho solto no concreto salta e rola com a força das vibrações.

“Boom”, Grigori sussurra com um sorriso quando ouço um


estrondo abafado e vejo uma nuvem de fumaça saindo da direção
do cassino. Meu peito aperta.

Porra.

Grigori ri. “Sabe, garoto. Eu ia matar você aqui, mas acho que
será muito mais divertido manter você vivo. Especialmente
quando você vir o que eu tenho na manga da próxima vez.”

Meu peito se enche de fúria quando lentamente espicho


minha mão e desabotoo meu paletó. Assim que estou pegando
minha Glock, Grigori diz algo que faz gelo fluir em minhas veias.

“Onde você está escondendo sua cadela grávida, Sabella?”

Meu coração para repentinamente por algumas batidas


sólidas antes que as palpitações recomecem com uma vingança.
A bile se agita enquanto tento conter qualquer expressão externa.

“O que?” Pergunta ele, esticando os braços para os lados com


um sorriso maroto. “Achou que ninguém soubesse? Todo mundo
sabe no submundo, já me assegurei disso. A pergunta é, quem vai
encontrar ela primeiro?” Seu rosto racha em um sorriso depravado
que tira o ar dos meus pulmões.

Sophia

Foda-se, foda-se!

Escondo minhas emoções, inclino minha cabeça para o lado


e o encaro.

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“Eu não sou um homem preso. Por que eu deveria me


importar se você acha que sabe alguma coisa?” Blefo. E ele ri, o
som faz todos os meus cabelos ficarem em pé.

“Oh, porque eu sei. Você pode querer verificar em quem você


confia no seu círculo, Sabella, eles são muito bons em
compartilhar os segredos da família.”

Sinto Lorenzo endurecer ao meu lado e, enquanto olho para


Grigori, já estou calculando meu próximo movimento. Eu vou
matá-lo. Lentamente. Vou esculpir a pele de cada centímetro de
seu corpo. Rasgar membro a membro do caralho.

Quanto mais penso em torturar Grigori, mais difícil é conter


minha raiva. Minhas narinas se abrem e abro e fecho os punhos
ao meu lado, morrendo de vontade de quebrar o pescoço do
homem com minhas próprias mãos. Estou prestes a dizer para ir
ao inferno com isso e atacar, quando Lorenzo discretamente se
agarra a mim, me segurando.

“Veja só!” Grigori insulta. “Acho que consegui afetá-lo,


garotos.” Os homens com suas armas apontadas em nós riem e
como um interruptor sendo ligado dentro de mim, eu me solto.

Incapaz de me segurar por mais tempo, tiro minha Glock da


calça antes que qualquer um deles perceba. Em poucos segundos,
estou puxando o gatilho e aponto, derrubando três caras antes
que Grigori consiga um tiro. Lorenzo e Danilo disparam rodadas
com suas automáticas em seus homens. Balas passam por mim,
mas não me importo. A fúria que queima nas minhas veias não
será apagada até eu acabar com Grigori. Com uma máscara de
pedra no meu rosto, corro atrás de Grigori, que está fugindo disso.
Dois de seus homens o protegem de balas perdidas enquanto
correm para o Escalade preto, seu veículo mais próximo.

Cada vez que tenho Grigori na mira, um de seus homens


bloqueia meu tiro com seu corpo, levando a bala, desperdiçando
meu tempo. Com um grunhido de frustração, começo a correr,

BLOOD
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qualquer coisa para me aproximar de Grigori e acabar com ele. Eu


tenho que me livrar dele agora que ele sabe sobre Sophia.

Ele não é o único que sabe agora, a voz dentro da minha


cabeça me avisa.

“Diavolo!” Danilo grita em aviso, me levando a girar a cabeça


em direção a ele e pegar um dos homens de Grigori vindo em
minha direção, arma levantada. Eu me jogo para o lado e miro,
disparando um tiro em sua testa. Seu corpo se agita com a força
da bala penetrando em seu crânio e o corpo cai no chão.

O som de pneus guinchando me faz girar no meu calcanhar,


meu lábio se curva em um sorriso de escárnio quando vejo o SUV
sair da rua. Eu levanto minha Glock e puxo o gatilho, apontando
para o pneu, mas minha Glock clica e o tambor volta ao lugar.

“Foda-se!” Eu assobio enquanto vejo as lanternas


desaparecerem a cada segundo que passa. Ejetando o carregador,
eu solto um rosnado enquanto olho para o pente vazio. Não tem
uma merda de bala. Tudo que eu precisava era de um tiro no pneu
e eu poderia chegar até ele.

Porra!

“O que você quer fazer agora?” Pergunta Lorenzo.

Meu peito se ergue violentamente enquanto tenta acomodar


minha respiração pesada. Uma névoa escura me consome,
fazendo todo o meu corpo tremer. Com o meu olhar ainda
vasculhando a rua vazia onde Grigori escapou, começo a planejar
a morte daquele filho da puta e todos os outros desgraçados que
decidiram atravessar meu caminho. “Chame os limpadores,
resolva essa merda”, eu digo, me referindo a todos os corpos
mortos que nos rodeiam. “Preciso falar com Matteo sobre o cassino
e Grigori. As coisas estão prestes a ficarem feias pra caralho.”

Eu abro a porta do carro e jogo a inútil Glock no banco antes


de entrar. Giro a chave na ignição e ouço o rugido do motor

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ganhando vida. Fecho os olhos enquanto repito o que Grigori disse


sobre Sophia.

“Eu me pergunto quem a encontrará primeiro?”

Porra. Ele sabe. Todos sabem. Como diabos ele descobriu?

É oficial. Nós temos um rato filho da puta.

A constatação me irrita. Pego o telefone e ligo para Monte. A


linha toca algumas vezes antes de ele atender.

“Chefe.”

“Onde ela está?” Eu exijo. Precisando saber que ela está bem.

“No seu quarto dormindo, chefe.” A voz de Monte viaja pela


linha.

O torno ao redor do meu coração afrouxa uma fração, mas


não o suficiente. Dou um suspiro profundo enquanto acelero o
carro e saio em direção à propriedade.

“Já encontrou alguma coisa?”

“Nada ainda”, diz ele.

Eu solto um grunhido, batendo meu punho contra o volante.


“Onde diabos ele está? E o que diabos Clarence está fazendo,
pensei que tinha pistas?”

Monte suspira. “Elas acabaram sendo becos sem saída. Não


podemos encontrar Finlay em qualquer lugar, cara. Não há
atividade em seu pseudônimo novo ou antigo. Ninguém no
submundo está falando. É como se ele tivesse sumido da face da
terra.”

Minha mão aperta o volante, ficando branca no couro. Parece


que tudo pelo que eu estive trabalhando tão duro está
desmoronando. Não encontramos Finlay. Grigori e todo o
submundo foram informados sobre Sophia e o bebê. Nós temos

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uma porra de rato em la famiglia. Eu não posso ignorar a bola de


medo crescendo no meu estômago a cada segundo que passa.

Piso no acelerador, percorrendo o tráfego no caminho de volta


para a propriedade, enquanto tento descobrir onde diabos
começar a tratar dos problemas, porra, com tantos que eu já
tinha.

Onde diabos poderia Finlay estar?

Ele pode estar em qualquer lugar. É uma ameaça. Uma


enorme ameaça. Enquanto ele estiver lá fora, esse é outro
problema que tenho que proteger a Sophia e o bebê.

“Ele está planejando algo. Eu sei que está”, rosno no telefone,


sabendo que Monte ainda está do outro lado, esperando por mais
instruções. “Fique de olho em Sophia em todos os momentos.
Quero alguém estacionado em cada saída e entrada, e alguém
observando os monitores vinte e quatro, por sete. Mantenha dois
a três homens de olho nela.”

Monte fica em silêncio por um instante antes de responder.


“Ela não vai gostar disso chefe.”

“Eu não dou a mínima, Monte, apenas faça”, eu digo assim


que estou atravessando os portões da propriedade.

“Vou mandar Kam. A última vez ela socou Jose no meio dos
olhos.”

Desligando o motor, seguro minha cabeça na mão e agito


para frente e para trás. Jesus Cristo. Essa mulher teimosa será
minha morte.

“Apenas faça. Mantenha-me atualizado. E me avise se você


notar alguma atividade estranha.”

“Feito, chefe.”

“A Bratva sabe.” Eu não preciso dizer mais, ele sabe


exatamente o que quero dizer.
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“Merda”, ele amaldiçoa. “Como?”

“Temos um rato.”

“Jesus, cara. É como se você fosse um imã de malditos


traidores. Alguma ideia?”

Eu esfrego meu dedo sobre o lábio de forma contemplativa.


“Algumas, mas não tenho certeza.”

“Seu pai?”

Eu fico em silêncio, ainda não cem por cento convencido de


que meu pai não está nisso. Ele foi um dos primeiros a saber.
Inferno, seu médico a examinou na propriedade, mas eu não sei
se Matteo seria capaz de ter um dos seus morto na linha de
batalha, e orquestrar uma explosão em seu cassino. Tudo é
demais. É muito confuso. Definitivamente não é seu estilo. “Eu
ainda estou tentando descobrir. Isso simplesmente não faz
sentido. A polícia está envolvida agora, o que significa que vão
passar para o FBI, e ele geralmente evita qualquer interação com
a lei nesse nível.”

“Não tem que ser seu estilo ou fazer sentido, chefe. Se alguém
quiser alguma coisa, farão o que puderem para conseguir. Apenas
se lembre de manter a cabeça reta. Isto é igual a Finlay
novamente, só que desta vez, as apostas são muito maiores.”

“Eu sei. Mas enquanto isso, não deixe Sophia sozinha. Eu


não me importo com quem ela vai socar no processo.”

“Entendido.”

“Vocês encontraram alguma notícia sobre a garota?” A


melhor amiga de Sophia, Alexis, ainda está por aí. Eu não sei
muito sobre ela, mas sei que significa tudo para Sophia, e se eu
puder trazê-la para a segurança, talvez ajude Sophia a se curar.
Pelo menos antes, quando ela estava cercada pelos caras, ela
tinha Mera, mas agora, tem apenas Garrett. Eu sei que ela deve
se sentir presa lá.
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“Clarence acabou de enviar um e-mail. Nós a encontramos.”

Fecho os olhos com a única boa notícia que ouvi nas últimas
vinte e quatro horas.

“Depois que tudo caiu, Finlay a vendeu. Era sua única


barganha com Sophia, mas agora que a recuperamos, acho que
ele percebeu que não precisava mais dela. Clarence tem uma
localização, no norte do estado de Nova York. Um filho da puta
rico que atende pelo nome de Atticus Girard. Pode ser um
pseudônimo, ainda não tenho certeza. Clarence tem uma fonte
que está disposta a sair e recuperar a garota enquanto Atticus
está fora, em uma viagem de negócios, mas por um preço bem
elevado.”

Esfrego minhas têmporas vigorosamente para afastar a dor


de cabeça iminente. “Apenas faça.”

“Você não quer saber...”

“Não. Faça com que Clarence marque um encontro, transfira


e faça a troca. De preferência em algum lugar entre Chicago e Nova
York.”

“Feito, chefe. Nós entraremos em contato”, é tudo o que ele


diz antes de desligar. Soltando um suspiro cansado, eu pego a
Glock do assento do passageiro e entro, precisando de uma bebida
após os fodidos eventos dessa noite.

Vou direto para o escritório de Matteo, nem mesmo me


incomodando em bater antes de empurrar a porta. Não me
surpreendo quando o encontro atrás de sua mesa, segurando um
copo de cristal cheio de líquido âmbar, já gritando palavrões em
seu telefone.

Vou direto para o bar, pegando um copo e quase encho o filho


da puta até a borda. Trago o cristal aos meus lábios e bebo o
conteúdo, saboreando a suave queima do fogo líquido pela minha
garganta.

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Ao som da voz de Matteo, me viro para encará-lo.

“Importa-se de me explicar que porra aconteceu hoje à noite?


Tenho os jornais e a polícia subindo na minha bunda sobre o
Grand Aster45“, ele rosna.

“Grigori fez isso. Ele configurou tudo. De Andrei a Antônio,


para a explosão. Tudo com a porra de informações. Se importa de
me dizer como diabos ele conseguiu tudo isso?” Eu zombo, através
de meus olhos em fendas estreitadas.

Matteo arqueia uma sobrancelha, o rosto ficando mais


vermelho a cada segundo. “O que você está insinuando, stronzo?”

Cresce meu aperto em torno do cristal pesado na palma da


minha mão. Lentamente, vou em direção à sua mesa, bato meu
copo e levo-o com um olhar. “Todo o submundo sabe sobre Sophia
agora. Ela está em perigo ainda maior. E se eu descobrir que você
teve alguma coisa a ver com isso”, abaixo minha voz e cerro meus
dentes, “você vai se arrepender.”

Os olhos de Matteo perfuram minha cabeça. Sua raiva é tão


palpável que permeia o ar ao nosso redor. “Se você pensa por um
segundo, que eu arriscaria todo o meu império, meu herdeiro, la
famiglia, tudo para te chatear, você não é tão inteligente quanto
pensava que você fosse. Eu quero que o rato seja identificado,
Diavolo. Vá para o maldito trabalho e saia da minha frente. Eu
tenho ligações para fazer.” Pegando meu copo de uísque de sua
mesa, ele leva para seus lábios e drena seu conteúdo, me
dispensando.

45
Grand Aster- o cassino da família Sabella
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De volta ao meu escritório, tomo um gole da garrafa na minha


mesa, sem nem ao menos me importar com copos neste momento.
Estou sedento. Tão zangado que deixei minha garota na mão de
novo. Eu propositadamente me afastei da cena para protegê-la e
ainda assim, eles já sabem dela. Sophia ainda está em perigo e eu
não sei como coloca-la em segurança. Sinto que estou
enlouquecendo.

Sei que meu cabelo deve estar parecendo bem selvagem,


especialmente depois de passar os dedos por ele um milhão de
vezes. Durante a última hora, fui de um lado para o outro com
Clarence, estabelecendo planos para recuperar Alexis. Essa é a
única coisa que parece estar certa para mim depois de hoje. Eu só
espero que seja o suficiente para Sophia.

Tudo está organizado para amanhã. Clarence e eu vamos


pegar o jato e encontrar seu contato em um local privado em
Grandview Heights, Ohio. O negócio é simples. Uma vez que Alexis
esteja em segurança conosco, a transferência eletrônica será
concluída e cada parte seguirá caminhos separados. Com Monte
em alerta máximo, ele instruiu o resto dos caras a ficar de olho
em Sophia enquanto estarei fora. O voo é de apenas cinquenta
minutos, então ficaremos fora por duas horas e meia, mais ou
menos.

Não me sinto à vontade para deixar Sophia nem por um curto


período de tempo, mas se quiser recuperar a amiga dela em
segurança, esse é o único jeito. Eu continuo me lembrando de que
ela tem músculos mais do que suficientes para protegê-la. Cinco
homens para ser exato. Ajuda que o meu lugar seja quase
impenetrável. Enquanto sua localização permanecer em segredo,
ela estará segura.

Tomando outro gole da garrafa de uísque, fecho a pasta na


minha mesa e fico de pé. Saindo do meu escritório, eu desço o
corredor, mas minhas passadas ficam lentas quando ouço vários
conjuntos de garotas rindo. Virando no corredor, faço uma careta
com a visão diante de mim. Acompanhantes. Prostitutas bem
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pagas fodem alguns dos nossos homens no sofá da sala de estar.


Uma está descansando no colo do meu pai, enquanto ele acaricia
seus seios. A visão faz meu estômago revirar. Minhas mãos se
apertam em punhos quando penso em minha mãe e tenho que
lutar contra a vontade de tirar minha Desert Eagle e atirar na
cabeça do meu pai.

Bastardo do caralho.

É assim que ele está lidando com a situação?


Recompensando os possíveis ratos com a porra de prostitutas?

“Quer levar uma para você, Diavolo? Ou você vai ficar com
outra massagem solitária hoje à noite? Você nunca vai superar a
garota se não passar por cima dela,”, diz meu pai, batendo a mão
em uma das bochechas da bunda da garota nua. Ela tem a pele
clara e cabelos escuros e se parece com Sophia, mas ela não é.
Ninguém é.

Sem outra palavra, viro e saio do mesmo jeito que entrei.


Quando volto ao meu quarto, o primeiro lugar que compartilhei
com Sophia enquanto ela estava aqui, começo a tirar meu paletó
e colete quando, de repente, um calafrio percorre minha espinha.

Alguém mais está aqui.

Lentamente, alcanço a Eagle descansando contra a minha


calça e passo meu dedo sobre o gatilho, antes de ligar as luzes.
Minhas narinas se abrem com a visão diante de mim e minha boca
se afunda em uma linha sombria.

“Oi, Baby.”

Na cama, vestindo nada além de uma tanga preta, está uma


das putas que meu pai permitiu entrar. Eu dormi com Elissa em
várias ocasiões ao longo dos anos, diabos, até perdi a minha
virgindade com ela, mas vê-la aqui, na minha cama, nua, não tem
em mim o efeito que ela está esperando.

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Enrolo minhas mãos em punhos enquanto tento controlar


minha raiva. E lentamente ando em direção à cama. Esta noite
não é a noite para foder comigo. A cortina de cabelo preto está
pendurada no ombro e os lábios se separam em antecipação. Paro
ao pé da cama e olho para ela sem nenhuma emoção.

“Dê o fora daqui.”

Seu rosto se contrai e ela faz um show ao revirar os olhos.


“Vejo que você ainda é um idiota”, ela responde secamente,
deitada de costas nos travesseiros, empurrando o peito para cima.
Ela abre as pernas e passa a mão sobre o tecido da calcinha, se
tocando.

“Não vou mandar de novo, Elissa”, digo friamente.

“Oh, vamos lá. Deixe-me fazer você se sentir bem, baby. Eu


sei que você sente falta disso. Sente minha falta. Inferno, você e a
querida mamãezinha não estão juntos, então o que isso importa?”

Meus olhos se estreitam e dou um passo ameaçador para


frente. “O que diabos você acabou de dizer?”

Seu lábio se contorce. “As notícias voam, baby. Todo mundo


sabe sobre ela.” Ela empurra os travesseiros e se levanta sobre os
joelhos. Estende a mão para mim, mas antes que possa tocar,
levanto minha Eagle e coloco o cano contra sua testa. Seus olhos
castanhos se arregalam. Na maioria das vezes, ela faz um bom
trabalho em esconder seu medo, mas já notei o ligeiro tremor em
seu corpo e a maneira como sua respiração se acelerou.

“Eu disse para, Dar. O. Fora. Porra.”

Seu rosto torce com desdém e ela me encara em surpresa.


“Você vai se arrepender, babaca”, ela rosna, saindo da cama sem
nenhum senso de modéstia. Ela bate a porta e eu tenho certeza
de segui-la e trancar a fechadura, não estou a fim de ter mais
surpresas hoje à noite.

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Depois de jogar meu coldre na cama e tirar minhas roupas,


entro no chuveiro para lavar as atividades do dia. Sophia vem à
mente sem ser convidada e meus olhos se fecham enquanto penso
nela. Seu lindo sorriso, olhos verdes e vibrantes, cabelos longos e
macios. A mão envolve meu pau que está pulsando com desejo.
As veias incham e a ponta está vermelha e irritada. Espalmo o
membro e faço movimentos fluidos pensando em Sophia. Eu me
imagino envolto em seu calor. Colocando-me entre suas pernas
macias, minha mão aperta mais forte e bombeia mais rápido
quando a imagino gemendo. Seus apelos ofegantes em meus
ouvidos. Minha mão livre bate contra a parede de azulejos do
chuveiro enquanto me forço a gozar com apenas uma mulher em
minha mente. Sophia

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Sophia

Notícias:

As autoridades ainda estão investigando um caso de possível


incêndio criminoso em um cassino local. Na noite de quarta-feira,
autoridades foram notificadas de uma explosão no Grand Aster
Cassino, no coração de Chicago. Há especulações sobre um
possível incendiário ou um grupo de pessoas que possam ter
plantado um dispositivo no prédio horas antes da explosão. A
polícia e o FBI estão analisando todos os cenários possíveis neste
momento. Há especulações sobre as transações da máfia no Grand
Aster Cassino, de propriedade do notório Matteo Sabella. O Sr.
Sabella nunca foi condenado ou acusado de nenhum crime, mas
acredita-se que o ataque ao seu cassino pode ter relação com
gangues. A contagem de mortos chegou a impressionante marca de
setenta e oito pessoas que perderam suas vidas durante a explosão
e pelo menos sessenta pessoas ficaram gravemente feridas e foram
hospitalizadas. O desastre do Grand Aster é agora o maior
massacre nos EUA desde o massacre da Escola de Bath, em 1927,
em Michigan. Uma vigília será realizada para aqueles que

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perderam seus entes queridos na explosão na esquina da rua East


Chicago e Indianapolis Boulevard na sexta-feira às seis da tarde.

Meus olhos estão grudados na tela da televisão enquanto os


repórteres repassam as imagens do cassino que ainda está em
chamas pela explosão. Engulo em seco, meu coração pesado
quando penso em Creed e seu pai. Eles estavam lá? Eles
planejaram isso?

“Você está ouvindo isso?” Eu pergunto, me voltando para o


meu irmão.

Garrett olha para a tela com uma expressão vazia no rosto.


“Sim.”

Minhas sobrancelhas se juntam em uma carranca. “Bem,


você só vai ficar aí e agir sem noção ou você vai me contar? Ele
está bem? Apenas me diga que está bem, Gar.” Emoção entope
minha garganta, ficando evidente em minha voz. Eu olho para o
lado do rosto do meu irmão, esperando por sua reação de alguma
outra forma além de apenas olhar fixamente para a tela da
televisão como um robô.

“Sim, eu vou ficar aqui e agir como se não soubesse nada,


Sophia, porque não sei. Eu falei com ele ontem, então estou
supondo que ainda esteja vivo. Mas não ficaria surpreso se eles
fizessem isso em seu próprio cassino, Sophia. Isso é o que homens
como ele fazem, é nisso que são bons.”

Meus dentes rangem juntos de raiva. Nas últimas semanas,


meu irmão tem jogado Creed sob o ônibus a cada pequena coisa.
É como se ele não tivesse nada de bom para dizer, em vez disso,
tem sempre alguma gracinha. Eu lidei com a raiva dele nas
últimas semanas porque não tive outra escolha, mas,
francamente, estou ficando doente e cansada disso. Já entendi.
Ele não quer estar aqui, cuidando de mim no espaço do Creed,
com seus homens. Ele quer estar com Wendy. Eu compreendo.
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Mas é como se Garret não percebesse que também não estou feliz
aqui. Ele realmente acha que pedi isso? Que eu queria que isso
acontecesse?

Minha paciência com meu irmão está diminuindo muito e se


as coisas não mudarem logo, temo que vamos acabar no pescoço
um do outro. Muito parecido com como nós já estamos.

“Não se atreva”, eu rosno, colocando-me de pé. “Não fale


sobre ele como se fosse um criminoso implacável!”

“Ele é!” Garrett grita, também se levantando, encontrando


meu olhar de frente. “Nada disso importa porque ele não é mais
problema nosso, Sophia. Ele se foi. E não vai voltar e sabe de uma
coisa? Eu acho que é melhor assim. Para vocês dois. Ele não
trouxe nada além de problemas para nós, e sabe o que mais? Ele
continuará a ser um problema até que você esqueça dele...”

“Eu não posso me esquecer dele!” Eu grito, interrompendo.


Meu peito se agita violentamente com a força da minha raiva.
“Você não acha que eu faria se pudesse? Amo ele, Garrett. Esse
amor não desaparece depois de duas semanas de merda longe,
está bem? Ele sempre será meu problema porque estou
apaixonada por ele. E estou carregando o filho dele. E sei que ele
não vai voltar.” Minha voz cede com as últimas palavras. Meu
coração aperta de dor. “Eu sei disso e levei algum tempo para ver
claramente, mas agora entendo. Eu posso não gostar, mas
entendo.” Meu queixo treme enquanto tento segurar minhas
lágrimas. “Isso não significa que eu não sinto falta dele todo dia.
Isso não significa que parei de chorar para dormir todas as noites.
Então, por favor, pare de agir como se você fosse o único
incomodado com tudo isso. Pare de me tratar como se eu fosse
seu problema. Porque não sou. Se tem um lugar melhor para
estar, então vá embora”, digo, apontando para a saída. “Vá. Está
ali a porra da porta, Gar. Ninguém está te prendendo aqui.”

O rosto do meu irmão fica desconfortável. “Sophia... eu não


quis dizer...”
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“Você quis dizer, Gar.” Balanço minha cabeça, olhando para


ele através das lágrimas que nublam meus olhos. “Você quis dizer
tudo. Então, por favor, me deixe em paz. Já tenho o suficiente para
lidar com essa merda.” Giro meus calcanhares, furiosamente
enxugando minhas lágrimas enquanto saio da sala de estar. Subo
as escadas de volta para o meu quarto, o quarto de Creed, e bato
a porta atrás de mim. Meu peito dói e lágrimas quentes encharcam
meu rosto, descendo pelo pescoço enquanto penso em Creed.

Eu tentei. Eu tentei tanto parar de pensar nele. Afastar meus


pensamentos dele, mas não posso. Ele está em todos os lugares,
mas em nenhum lugar ao mesmo tempo e me deixa louca não
poder vê-lo. Não poder lhe dar um beijo ou chutar, abraçar ou
gritar com ele. Eu não posso fazer nada porque estou presa aqui
sem a única pessoa que preciso mais do que ninguém.

Eu caio na cama e viro a cabeça nos travesseiros, chorando


em silêncio. A força dos meus soluços sacode a cama e é engolida
pelos travesseiros. Sinto que não tenho feito nada além de chorar
pelas últimas duas semanas e meia e estou cansada disso. Tão,
malditamente cansada.

O som da porta do quarto rangendo nas dobradiças me faz


virar e limpar meu rosto na manga da camisa.

“Ei”, Monte diz, se inclinando contra o batente da porta.

Eu fungo e giro meus olhos para o chão, me sentindo uma


idiota. “Ei. Garrett mandou você aqui para me encher mais um
pouco?”

Olho para cima e encontro Monte sorrindo. Não é um grande


sorriso. Ele é como Creed nesse sentido. O homem nunca sorri.
Mas a pequena elevação de seus lábios é um vislumbre de um
sorriso. “Não, eu não vim por isso. Não trabalho para o seu irmão,
Sophia. Recebo ordens de uma pessoa, uma pessoa apenas e tudo
o que ele quer é manter você a salvo.”

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Meu peito aperta e meu rosto se enruga quando penso em


Creed. “Eu sinto falta dele, Monte. Sinto uma falta
enlouquecedora dele”, digo através de uma nova onda de lágrimas.
Monte suspira e descruza os braços do peito, dando um passo
para dentro do quarto.

“Ele sente a sua falta também, Sophia. Não pense que não
sente. Eu o conheço há quase cinco anos. Em todos esses anos,
nunca o vi agir assim. Por um bom tempo, legitimamente pensei
que o cara era um maldito robô. Então você apareceu e tudo
mudou. Quando falo com ele todos os dias, você quer saber a
primeira pessoa de quem ele pergunta? Você quer saber quais são
as exigências dele, vinte e quatro horas por dia, todos os dias? É
sempre sobre você, Sophia. Ouço isso em sua voz. Vejo isso em
seus movimentos. Não está sendo fácil para ele também. De fato,
isso está o matando. Lentamente.”

Eu fecho meus olhos com suas palavras, tentando ignorar a


dor aguda no meu coração.

“Não perca sua fé tão facilmente. Você se apaixonou por ele


por uma razão, não deixe essa razão se perder em sua dor. Nós
dois sabemos que é uma boa pessoa. Embora seja assustador
como o inferno, mas ele é uma boa pessoa, é a única razão pela
qual tenho ficado por aqui o tempo que já estou. E posso dizer
com a maior certeza, ele não fez aquilo.”

“Obrigada, Monte”, sussurro.

Ele acena com a cabeça e bate levemente a mão no batente


antes de se virar para sair.

“Espere!” Chamo, parando Monte em seu caminho. “Da


próxima vez que você o vir, pode dizer a ele que eu o amo?”

Monte se vira e seu rosto fica envolto em tristeza. É uma


emoção que nunca vi no rosto dele antes. “Eu sinto muito, Sophia,
mas não posso fazer isso.”

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Meu coração se entristece. “Por quê?”

“Porque se eu fizer isso, vou quebrar um homem como ele.”

Com isso, ele se vira e continua saindo do meu quarto, me


deixando com um buraco no peito.

Depois do meu encontro com Garrett e Monte, eu me sinto


mal, decidindo ficar no meu quarto a maior parte do dia. Os
episódios de náusea da gravidez estão jogando um jogo
desagradável comigo e tenho certeza que minha discussão com
Garrett provavelmente não ajudou em nada. Ultimamente, parece
que tenho descansado no banheiro do Creed mais do que eu tenho
dormido em sua cama. É como se qualquer pequena coisa que
tento comer me faça mal. Eu não sei como as pessoas se
incomodam em chamar de enjoo matinal quando as malditas
ondas de náusea me atingem em todos os momentos do dia. Eu
sei que os caras estão preocupados comigo. Tentei tranquiliza-los
de que o médico disse que isso é completamente normal, mas acho
que se preocupam que eu possa me transformar na garota do
vômito exorcista e acabe vomitando em cima deles ou algo assim.
Homens. Estou apenas contando as semanas até que esta fase da
gravidez passe e termine.

Fico no meu quarto, sentindo raiva e tristeza. Mesmo furiosa


com meu irmão, eu ainda não posso evitar me sentir como quem
fez algo errado. O equilíbrio em nosso relacionamento nunca
parece certo quando discutimos ou brigamos. Isso sempre pesa
muito no meu peito, um fardo que dificulta a respiração.

Quando uma onda avassaladora de fadiga me atinge, opto por


um cochilo, esperando que me sinta ligeiramente melhor quando
me levantar. Aninhada no edredom preto na cama, eu inalo
BLOOD
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bruscamente, respirando aliviada quando sinto o cheiro de Creed.


É quase como se cada parte dele estivesse embutida nesse quarto.
Seu cheiro permanece nesses lençóis, mesmo depois de semanas
sem ele. Em pouquíssimo tempo, minhas pálpebras ficam pesadas
e estou adormecendo.

Sinto a beira da cama mergulhar e eu me movo inquieta sob o


peso do edredom, abrindo meus olhos grogues. A figura escura e
imponente descansando na beirada da cama faz meu coração
disparar. Sacudo e afasto a névoa espessa do sono. Quando meus
olhos finalmente se ajustam à figura descansando no colchão, solto
um suspiro agudo.

“Oh meu Deus”, eu inspiro fundo. As palpitações no meu peito


se intensificam e uma onda de eletricidade passa pelas minhas
veias. “Creed? O que você está... como você...?” Eu paro, sutilmente
balançando a cabeça para trás e para frente, tentando
compreender o fato de que ele está aqui. De verdade, aqui.

Creed não diz uma palavra, apenas solta um suspiro profundo


e cansado e estende a mão para mim. Eu vou de bom grado.
Ficando de joelhos, eu me inclino ao seu toque e tenho que sufocar
o soluço que ameaça escapar apenas por sua proximidade. Sua
mão quente engole a lateral do meu rosto, sua pele calosa acaricia
minha bochecha quase reverentemente. Sinto como se as
almofadas de seus dedos estivessem acariciando minha alma.

Deus, como senti a falta dele.

Incapaz de evitar, eu agarro a mão dele e aperto. Ele congela,


e suas íris que são da cor do gelo e inverno, tudo maravilhoso, me
consomem, queimando, me escancarando para o seu ataque. Nós
olhamos um para o outro em completo silêncio, absorvendo tudo. Se
possível, ele parece ainda mais bonito, com alguns dias de barba
por fazer e lábios duros e firmes que sei que são capazes de
qualquer coisa.

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Seus olhos descem para os meus lábios e meu íntimo se revira.


Seus cílios que são escuros o suficiente para isso, fazem uma
sombra sobre sua pele bronzeada, um contraste tão forte, mas é
incrivelmente bonito.

Algo brilha no ar quando nos encaramos. É quase como se


nosso amor, nossa atração, fosse uma força tangível. E como essa
força tangível estivesse sendo testada, isso nos une. Acabam todas
as perguntas que tenho sobre por que ele está aqui ou por quanto
tempo vai ficar, tudo o que importa é sentir sua boca contra a minha.
Sentir seu corpo se conectar com o meu. É uma necessidade que
tudo consome. Nos dois extremos.

Creed desce, capturando meus lábios. Ele tira tudo de mim


naquele beijo. Seus lábios quentes e habilidosos me fazem abrir os
meus, e ele mergulha a língua para dentro. Nossas bocas deslizam
uma sobre a outra. Um grunhido reverbera em seu peito, sinto as
vibrações fluindo em linha reta através de mim, enviando excitação
ao meu núcleo. Eu me lanço contra o corpo firme de Creed, beijando-
o como se toda a nossa vida dependesse disso. Minhas mãos se
atrapalham em seu peito firme, tentando tirar sua camisa,
precisando sentir seu corpo firme sob minhas mãos.

Nossas roupas caem no chão ao acaso e Creed descansa seu


corpo firme em cima do meu. A protuberância em suas calças
repousa contra a costura da minha e solto um grito agudo para a
delícia de tudo isso. Estou quase implorando por mais quando, de
repente, sua mão dispara e envolve meu pescoço. Eu engasgo com
o aperto de sua palma esmagando minha traqueia. Minhas mãos
arranham seus dedos, tentando puxar, mas não há como. Meus
pulmões gritam de dor. Eu sinto o sangue correndo para a minha
cabeça, fazendo com que pontos pretos roubem minha visão.
Forçando meu olhar para o dele, espero encarar fixamente os olhos
cinzentos gelados, só que eles não são cinzentos, são marrons e a
pessoa com a mão ao redor da minha garganta não é Creed. É
Finlay.

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Meu coração para de repente e todo o sangue escorre do meu


rosto.

“Eu estou indo atrás de você, amor”, ele fala. “Você pode
correr, pode se esconder, mas sempre vou te encontrar.”

Sento-me na cama, meu peito arfando e meu corpo pingando


de suor. A batida frenética do meu coração troveja nos meus
ouvidos. Giro meu olhar ao redor do quarto freneticamente,
procurando por Finlay e Creed. O medo amarra meu coração,
apertando meu peito como um torno.

Ele está vindo.

Fecho os olhos e saio da cama, indo direto para o banheiro.


Ligando a torneira, espirro água fria na minha pele quente e
úmida, na esperança de lavar as imagens daquele sonho. Esfrego
a umidade dos meus olhos, olhando meu reflexo no espelho. Meu
cabelo cai em ondas grossas, caindo pelos meus ombros. Há um
brilho e espessura que normalmente não estão lá, provavelmente
das vitaminas pré-natais que tenho tomado. Meus olhos estão
vermelhos, o verde está envolto em veias capilares vermelhas.
Restos do meu sonho ainda se agarram à minha pele, refletindo
através dos meus olhos no espelho.

Soltando um suspiro, seco minhas mãos na toalha preta


pendurada no gancho e de alguma forma encontro forças para sair
do quarto de Creed. Desço as escadas à procura de Garrett e o
resto dos caras, precisando sentir a segurança da presença deles
ao meu redor. O sonho que eu tive, me perturbou. Assustou-me
demais. Isso me fez perceber o quanto estou com medo de Finlay
voltar. Mesmo que esteja com raiva do meu irmão, eu prefiro estar
perto dele, sentindo sua aura protetora ao meu redor, do que ficar
trancada no meu quarto, esperando Fin me assombrar um pouco
mais.

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S.M. SOTO

Eu envolvo meus dedos no corrimão das escadas e


cuidadosamente desço os degraus, tentando ficar o mais
silenciosa possível. Garrett deixou claro, em mais de uma ocasião,
devo acrescentar, que não me quer mais descendo as escadas,
para o caso de eu acidentalmente escorregar e cair. Agora, sempre
que preciso ir para o meu quarto ou descer as escadas, ele me faz
ligar para ele antes para que possa me ajudar como se eu fosse
inválida. Não é como se tivesse me transformado em uma vaca
enorme, nem estou mostrando barriga ainda. Daqui a alguns dias,
farei oficialmente dez semanas. Estou quase terminando o
primeiro trimestre e deixando para trás esses horríveis enjoos
matinais.

Assim que me aproximo dos últimos degraus, acho que


passei por Garrett sem ser vista até Jose passar caminhando e
fazer uma pausa quando me vê. Levantando as sobrancelhas, ele
diz: “Pensei que você não deveria descer as escadas?”

“Sophia!” Eu ouço os pés de Garrett trovejando ao virar o


corredor e lanço a Jose um olhar. Minha melhor amiga Alexis
sempre dizia que eu tinha um olhar mortal que poderia eviscerar
um homem. Esse não parece ser o caso de Jose. Pelo sorriso torto
e cáustico em seu rosto, eu diria que Alexis estava errada.

“Sério mesmo, seu imbecil!” Assobio quando desço os últimos


degraus, dando a volta em torno dele.

“Apenas seguindo ordens”, diz ele, sorrindo como um


completo idiota. “Também precisava de uma pequena vingança
por aquele soco.”

Ele sabe exatamente quanto problema isso vai me trazer com


Garrett. Como se realmente precisássemos ter outra discussão tão
cedo depois da nossa última. E, francamente, não foi um soco.
Alguém merecia minha ira e, infelizmente, Jose estava dando
ordens naquele dia.

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“Se alguma coisa acontecer com você, Cre...” Eu giro em meus


calcanhares, batendo minha mão sobre sua boca antes que ele
possa terminar a frase.

Meu peito dói e meus olhos lacrimejam. “Não diga o nome


dele.”

Os olhos de Jose se suavizam levemente, sabendo


exatamente o que ouvir seu nome fará com meu progresso. Ele
acena com a cabeça lentamente em compreensão e minha mão
desce.

“Desculpe, Mariposa.”

“Sophia, que porra eu disse sobre descer as escadas sozinha?


Jesus Cristo”, meu irmão rosna quando chega até nós. De costas
para ele, reviro os olhos em irritação e solto um suspiro antes de
me voltar. Garrett franze a testa para mim como se eu fosse uma
criança insolente e seus lábios se transformam em uma linha
sombria. Ele me pega pelo braço, me levando para a cozinha
enquanto murmura baixinho.

“Aqui. Você precisa comer alguma coisa.”

Meu olhar recai sobre a bandeja preta cheia de macarrão de


aparência pegajosa que tem uma tonalidade laranja, feijões verdes
encharcados e um pedaço escuro de carne que parece um cocô
frito. Meu nariz enruga em desgosto.

“Sério, comida congelada? Eu não vou comer isso, Gar. Eu


nem tenho apetite e você espera que eu coma... isso? Seja lá o que
for isso.”

“Foda-se minha vida. Tudo bem”, meu irmão rosna, jogando


as mãos no ar em irritação. “O que você quer então?”

Inclino minha cabeça para o lado. “Você quer dizer comida?


Tipo comida de restaurante?” Pergunto com esperança na minha
voz.

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Garrett dá um pequeno sorriso e suspira. “Sim. Comida de


restaurante.”

Um sorriso se estende pelo meu rosto. É uma trégua. Mesmo


quando éramos mais jovens, Gar e eu nunca podíamos ficar muito
tempo zangados um com o outro. A comida sempre foi o nosso
quebra-gelo, e o fato de ele estar oferecendo algo diferente de
comida congelada? Bem, vou aceitar esse pedido de desculpas.

“Sopa Wanton46?” Meu estômago ronca quando sugiro a sopa


que venho desejando.

“Vou mandar Jose e Ricky. Quer assistir a um filme ou algo


assim?”

Eu aceno, tentando não sorrir como uma louca completa.


“Certo.”

O que mais devemos fazer? Não é como se tivéssemos feito


outra coisa senão assistir a filmes e dormir.

Sigo Gar até a sala de estar e sento no sofá. Pego o cobertor


que está jogado na parte de trás do sofá e cubro minhas pernas
com ele. Garrett joga o controle remoto para mim e o pego sem
esforço.

“Tudo certo. Estamos saindo para pegar sopa como um par


de escravos. Kam e Monte estão postados do lado de fora. Nós não
devemos ficar fora mais de uma hora.”

“Parece bom. Mantenha-me atualizado”, Garrett diz


distraidamente enquanto olha para o seu telefone.

“Essa sopa vale a pena a gente sair para a chuva”, Ricky bufa,
me fazendo rir. Eu dou de ombros e sorrio, colocando minhas
mãos sobre o estômago.

46
Wonton, wantan ou vantan é uma preparação típica da região de Cantão, no sueste da China e consiste em
folhas muito finas de uma massa de farinha de trigo e ovos, recheada de formas variadas. Outra forma de servir
é em sopa, muitas vezes com min e normalmente vegetais chineses,
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“Desculpem rapazes. Tentem lembrar que é por uma boa


causa.”

Jose e Ricky trocam um olhar antes de balançar a cabeça e


sair.

Eu não sei quanto tempo passa, mas começo a cochilar


durante o filme. Quando eu finalmente acordo, é com um estrondo
alto. Eu me levanto do sofá e esfrego o sono longe dos meus olhos
turvos.

“Garrett?”

O único som é o da TV e a chuva batendo contra o aço do


armazém. Meu coração bate freneticamente empurrando os
limites do meu peito. Lambo meus lábios secos e corro meu olhar
ao redor da sala de estar. Nada parece fora do lugar e não ouço
mais nada.

Onde diabos está Gar?

“Garrett!” Eu grito novamente. Meu coração congela com o


som distante de passos. Minhas mãos viram punho embaixo do
cobertor e medo aperta minha garganta.

Ele está vindo, a voz dentro da minha cabeça me diz. Eu fecho


meus olhos e balanço a cabeça, não querendo acreditar que Finlay
está de volta.

“Gar?” Eu solto, meu olhar fixo no corredor atrás da cozinha.

“Você estava me chamando?” Garrett pergunta quando


aparece no canto. Eu solto um suspiro estrangulado e meu corpo
se levanta em alívio.

Graças a Deus.

“Por que diabos você não respondeu da primeira vez,


babaca?” Eu digo, exasperada.

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Gar ri, levantando o ombro em um encolher de ombros. “Eu


não ouvi você até agora.”

Meu estômago escolhe aquele exato momento para soltar um


grunhido de fome longo e irado. Garrett levanta uma sobrancelha
e luta para abafar o riso.

Estreito meus olhos. “Cale-se. O bebê está com fome e não


posso evitar. Os caras não estão aqui ainda? Já faz muito tempo.”

À menção dos caras, o sorriso é varrido do rosto de Garrett e


suas sobrancelhas se juntam. Ele alcança o bolso e pega o telefone
preto que ele e o resto dos caras estão usando para tudo. Algo
sobre isso não ser possível de rastrear e apenas uma precaução
de segurança.

Garrett começa a andar em direção à sala de estar e aperta


alguns botões no telefone e eu o sigo. Ele está prestes a levá-lo ao
ouvido quando ouço um estrondo que reverbera por todo o chão
sob os nossos pés. Meu braço se projeta e eu agarro meu irmão.
Reduzindo a velocidade a uma parada, me viro para Garrett e vejo
quando ele abaixa o telefone da orelha. Seus olhos percorrem a
sala, acima de nós, avaliando.

“O que foi isso?” Eu pergunto a ele em uma voz calma, medo


serpenteando em minhas veias. Garrett aperta sua mão carnuda
ao redor do meu pulso, quase como se estivesse com medo que eu
desaparecesse de repente. Seu rosto franze em preocupação e ele
bate os dedos nos botões do dispositivo celular que usa para falar
com os caras.

“Que porra é essa?” Ele rosna no telefone. Eu me inclino perto


dele, tentando ouvir uma resposta, mas não há nenhuma.

A linha está silenciosa.

“Ei!” Ele rosna. “Eu disse o que diabos está acontecendo?”

Quando ele ainda não recebe uma resposta, nos arrasta para
a sala e pega o controle remoto da TV, trocando o canal. De
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repente, a TV se enche de quadrados de vigilância. Eles estão em


todo lugar.

Meus olhos se mudam de cada pequeno quadrado para o


outro, chocados com a quantidade de imagens capturadas por lá.
Nossos olhares se assentam no pequeno quadrado da TV que está
piscando em vermelho.

“Gar?” Eu lanço a ele um olhar pelo canto do olho. “O que


significa o vermelho...”

“Merda!” Ele amaldiçoa, me assustando. Com a mão


firmemente em volta do meu braço, ele me arrasta. Minhas pernas
lutam para manter o ritmo enquanto ele corre da sala de estar
para o corredor.

“O que está acontecendo?” Consigo xingar no meio da coação.

“Alguém está na propriedade e não vejo Kam ou Monte em


nenhum lugar nos monitores. Eles se foram.”

Eu puxo uma respiração afiada e preocupada. “O que?”

“Foda-se, foda-se!”

“E Clarence? Ele tem que estar aqui em algum lugar, certo?”

A expressão no rosto do meu irmão faz meu estômago revirar.

“Clarence não está aqui. Ele está com Creed em Ohio. Eles
nem estão aqui em Chicago. Porra!” Ele rosna, esfregando uma
mão áspera pelo rosto.

A cor escoa do meu rosto e meu coração bate irregularmente


enquanto percebo o que ele acabou de dizer.

Clarence se foi.

Creed se foi? Com Clarence? O que diabos Creed está fazendo


em Ohio e por que, em nome de Deus, ele precisa de Clarence?

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“Então, você está dizendo que estamos com menos dois


homens? Creed e Clarence estão fora do estado e nenhum dos
outros caras está respondendo?”

“Isso é exatamente o que estou dizendo”, diz ele em voz baixa.


“Creed sempre tem guardas extras ao redor da propriedade, mas
não os vejo em lugar nenhum e ninguém está respondendo.”

Medo, aquela emoção feia e horrível arranha minhas


entranhas, incorporando-se à minha pele. Outro estrondo
reverbera pelo armazém, sacudindo a fundação. Meu olhar de
olhos arregalados encontra Garrett e ele pula em ação.

Agarrando minha mão, ele me arrasta pelo corredor em


direção à escada dos fundos que leva ao andar de cima. Subimos
os degraus e, ironicamente, não posso deixar de perceber que algo
deve estar muito errado se ele me deixa subir as escadas.

Quando chegamos ao degrau mais alto, Gar me para no lugar


com uma mão e puxa a arma com a outra. Ele se vira para mim e
coloca o dedo sobre os lábios, indicando que eu fique quieta. Meu
corpo treme de medo, mas de alguma forma, consigo acenar com
a cabeça em compreensão. Gar lentamente pisa no corredor com
a arma levantada, apontando de um lado para o outro,
certificando-se que não há ninguém espreitando em ambos os
lados. Quando julga seguro, segura meu braço e me arrasta para
o quarto em que ele e o resto dos caras passam a maior parte do
tempo.

“Onde estamos indo?” Eu sussurro.

Meu irmão não responde, em vez disso, abre a porta e entra


rapidamente, levantando a arma em todas as direções, como fez
no corredor. Meus olhos se arregalam quando olho em volta da
sala. Está cheia de equipamentos de alta tecnologia e monitores
que parecem mais claros do que a imagem na TV. Eu pesquiso
cada monitor por qualquer pessoa que esteja na propriedade e que
não deveria estar lá, e quando encontro, sinto um suspiro agudo.

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Não.

Meu peito trava e meu corpo treme quando meu olhar pousa
em um grupo de homens vestidos de preto, atravessando o nível
inferior do armazém do lado de fora. Eu examino cada monitor,
rezando para que de alguma forma, de alguma maneira, eles não
consigam entrar aqui.

O que aconteceu com o resto dos caras? E os guardas?

Meu coração martela e apenas um pensamento me vem à


mente.

Ele me encontrou. Meu pesadelo não foi apenas um sonho,


foi um aviso.

Finlay finalmente me encontrou e agora vai me levar de volta.


Não há outra explicação para os caras de repente desapareceram.
Um arrepio de medo corre pelo meu corpo.

Eu me viro para Garrett com uma expressão preocupada no


meu rosto, apenas para encontrá-lo na porta aberta perto do
fundo da sala. Apertando minhas mãos úmidas em punhos, forço
minhas pernas trêmulas em direção a ele e empurro a porta mais
aberta para que eu possa ter um vislumbre lá dentro. Garrett se
move ao redor da sala que é do tamanho de um luxuoso closet.
Cada parede é preenchida do chão ao teto com armas ou munição.
Há gavetas e uma mesa no centro onde Garrett está enchendo
uma bolsa preta e amarrando armas em seu corpo como se ele
fosse o fodido Rambo.

“Garrett”, sussurro, e minha voz treme de medo. Ele se vira e


me joga algo preto. Eu pego no meu peito e olho para ele com
preocupação.

“É uma faca. Você acha que pode carregar sua própria arma?”

Todo o ar é extraído dos meus pulmões.

O que?

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Eu começo a balançar a cabeça para frente e para trás


enquanto histeria arranha minha garganta. “Gar, eu não posso
fazer isso.”

“Nós não temos muita escolha, Sophia!” Ele de repente ladra,


empurrando uma arma preta na minha mão. É pesada e elegante
e, imediatamente, sei que não gosto daquilo nas palmas das
minhas mãos. Olho para a arma que está ali e percebo, não tenho
ideia de como usá-la.

Como se estivesse lendo minha mente, meu irmão tira a arma


das minhas mãos e demonstra.

“Esta é a trava de segurança”, diz ele, apontando para o


pequeno interruptor preto. “Puxe para cima. Para engatilhar a
arma, tudo o que você faz é puxar o tambor para trás, assim”, ele
diz, puxando o topo da arma. A metade superior recua um pouco,
e posso ouvir todos os mecanismos dentro se posicionando com o
pequeno movimento. Clica de volta no lugar quase imediatamente.
“Para atirar, tudo que você precisa fazer é puxar o gatilho. Se
alguma coisa acontecer e de alguma forma nos separamos, ou
alguém que você não conhece tentar se aproximar de você, você
puxa isso. Entendeu?”

Uma lágrima desliza pela minha bochecha e tudo que faço é


balançar a cabeça, de repente incapaz de falar. Garrett
gentilmente coloca a arma de volta nas palmas das minhas mãos
e clica novamente na trava de segurança.

Ele joga a alça da bolsa preta sobre o corpo e aponta a arma,


pronto. É um grande monstro negro que parece pesar uma
tonelada. Ele nos leva para fora da sala de artilharia cheia de
armas de volta para a sala de tecnologia e olha para os monitores,
bem quando há outra explosão alta, em seguida, um estrondo.
Meus olhos se arregalam enquanto olho para os monitores que
apontam para baixo e minhas pernas quase cedem. Há um buraco
na parede e os homens passam por ele, sem se importar com a
fumaça e as brasas da explosão em todos os lugares.
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Garrett xinga e puxa o telefone, discando para alguém.


“Alguém está no local”, ele grita no telefone quase imediatamente.
“Ninguém está respondendo e os alarmes estão desativados. Já
chegaram ao primeiro andar. Que porra eu faço? Onde devo
esconder Sophia?” Garrett fala ao telefone. Eu me inclino mais
perto do meu irmão, tentando descobrir com quem ele está
falando. A voz do outro lado da linha deixa minha respiração presa
e meu coração acelerado em alta velocidade.

Creed.

Eu ainda estou com raiva dele. Zangada pra caralho. Mas


sinto sua falta. Não houve um dia em que eu não tenha pensado
nele. E agora, mais do que nunca, preciso dele. Nós precisamos
dele.

Creed grita algo incoerente no telefone e eu me esforço para


ouvir, mas os ruídos no andar de baixo estão ficando mais altos.

Eles estão chegando perto.

Garrett de repente enfia o telefone no bolso e agarra meu


braço, em vez de me levar para fora do quarto, ele me arrasta de
volta para o armário com as armas.

“O que você está fazendo?”

“Você precisa se esconder”, diz Garrett, uma recém-


descoberta urgência em seu tom. Ele joga coisas ao redor até
encontrar o que está procurando. É um pequeno compartimento
que tem apenas tamanho suficiente para caber a mim. Do lado de
fora, parece um pequeno baú ou cômoda, e o interior é escuro e
vazio.

“E você?”

“Eu vou ficar bem, Soph”, diz ele apressadamente, olhando


por cima do ombro. “Só, por favor, entre aí. E atire primeiro, faça
perguntas depois. Entendeu?”

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Lágrimas correm pelo meu rosto enquanto Gar me ajuda a


entrar. Ele faz uma pausa quando está prestes a fechar a tampa
do baú sobre mim. “Eu te amo, Soph.”

Meu coração se parte.

Engasgo com um soluço.

“Eu também te amo, irmão mais velho Garrett.”

Ele aperta os olhos bem fechados como se estivesse com dor.


“Fique quieta e se proteja, Sophia. Você me ouviu?” Emoção
obstrui sua garganta, brilhando em seus olhos idênticos aos
meus.

Eu aceno com a cabeça e ele toma isso como sua deixa para
sair. Assim que a tampa se fecha, sou banhada em silêncio e me
escondo na escuridão. Completo silêncio.

Eu me inclino para trás no baú, descansando minha espinha


contra o fundo da madeira e tento controlar minha respiração. O
ar é denso aqui e há apenas pequenas frestas por onde a luz
penetra. Eu mal posso ver através delas, mas é o suficiente para
notar se alguém estiver vindo. Meus braços tremem enquanto
seguro a arma contra o meu peito posicionada e pronta para
atirar. Dando uma respiração profunda, meu olhar se fixa no
pequeno raio de luz e eu espero.

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Creed

Com Danilo, Lorenzo e Clarence preparados e prontos para


ir, nos dirigimos ao local da reunião privada. Eu instruo Danilo e
Lorenzo a ficarem nas sombras para não causar nenhum
problema com a transação. Clarence e eu somos os únicos que o
vendedor quer encontrar.

Minhas mãos estão molhadas de suor. É algo com o qual não


estou familiarizado. Isso nunca acontece. Normalmente, uso
armas de fogo e faço o que precisa ser feito para conseguir o que
quero. Mas desta vez é diferente. Esta é a vida da melhor amiga
de Sophia na palma das minhas mãos. Não posso foder com tudo.

“Deixe-me falar e mantenha a porra da arma no coldre. Nós


não queremos irritar esses tipos de caras.”

Eu grunho em resposta às exigências de Clarence, o único


sinal que aceito.

Não demora muito para o homem pontualmente aparecer.


Não me surpreende quando vejo um Bentley todo preto parar a
alguns metros de nós. Um homem desce do banco de trás, vestido
com um terno cinza cor de carvão. Seu rosto é jovem, a única coisa
que entrega sua idade é o cabelo prateado e grisalho. Ele não fecha
a porta atrás dele e posso ver vagamente a silhueta de um corpo.

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Seus mocassins estalam contra o pavimento enquanto ele


fecha a distância entre nós. Seus olhos percorrem o ambiente,
procurando por sinais de que essa transação possa ser uma
armadilha. A maioria dos homens no negócio de vender e comprar
mulheres é paranoica. Depois da história da minha mãe, prometi
nunca me envolver na venda de nenhum ser humano, estou
quebrando essa promessa hoje, tudo por Sophia.

“A parcela final do pagamento está pronta?” Pergunta ele,


indo direto ao assunto.

“Eu quero a prova física da menina primeiro”, exijo.

Seus olhos se movem de Clarence para mim, depois se


estreitam. Seus olhos varrem minha forma sólida. Os músculos
do seu rosto se contraem quase imperceptivelmente, mas eu
percebo.

“Tudo bem.” Sem tirar os olhos dos meus, ele levanta o braço
e faz um gesto de venha para cá com a mão. Outra porta do veículo
é aberta e depois fechada, então há o som de vários passos
arrastados.

Meus olhos se fixam no motorista que está arrastando a


melhor amiga de Sophia até nós. Eu não preciso mais olhar para
confirmar que é ela. Com a pele bronzeada natural de sua herança
latina e cabelos negros encaracolados, não há dúvidas de que é de
fato Alexis. Seus olhos castanhos chocolate estão arregalados de
medo quando se prendem aos meus. Eu não olho muito. Não
querendo ler as acusações em seus olhos, desvio o foco para o
vendedor.

“Agora que você tem sua prova, eu quero meu dinheiro e ela
será entregue.”

Clarence me lança um olhar com as sobrancelhas levantadas


que diz: ‘Você quer fazer isso?’

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Eu aceno, voltando meu olhar para os homens diante de


mim. Fico de olho no motorista que está segurando o braço dela
bem apertado. O rosto dela está flexionando em aflição e com dor.

Clarence toca o celular por alguns segundos antes de dizer:


“Está feito.”

O vendedor dá um sorriso frio e relaxado. “Ela é toda sua”,


diz, seu motorista empurra a garota para frente. Alexis perde o
equilíbrio e cai, os joelhos raspando na calçada. Um soluço sai de
seus lábios, seu corpo tremendo quando descansa de quatro, com
muito medo de levantar a cabeça e nos encarar.

Tenho certeza que ela acha que foi comprada por outro
homem doente que vai usá-la para seu prazer, mas é aí que está
errada. Eu estou comprando Alexis para salvá-la. E vai perceber
isso em breve.

Clarence e eu observamos o motorista e o vendedor voltarem


para o Bentley, saindo lentamente. Espero que as luzes traseiras
desapareçam antes de dar um passo lento para frente. Alexis não
se moveu de sua posição no chão. Seus braços tremem debaixo
dela. Eu não sei dizer se é por medo ou por causa de suas
lágrimas.

Pegando meu celular do bolso, ligo para Lorenzo, que atende


no primeiro toque. “Peça para Gianni ligar o jato. Estamos indo
embora.”

Eu volto para Clarence, que está olhando para a garota com


simpatia e digo a ele para pegar o carro. Seus passos recuando
ecoam ao nosso redor. Cautelosamente, dou um passo à frente,
fechando a distância entre mim e Alexis. Seu corpo fica tenso
quando percebe que estou me aproximando dela.

Paro na frente dela e fico de cócoras, estendendo minha


palma para ela. “Vamos lá.”

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Lentamente, ela levanta a cabeça, olhos castanhos e


vermelhos passam através de mim. Há muita raiva e ódio nessas
profundezas. “Toque-me e eu vou te matar”, ela avisa.

Eu não respondo. Em vez disso, espero que ela faça seu


próximo movimento. Algo me diz que não virá facilmente. Como se
combinado, o carro para atrás de mim e uma porta se abre.

“Tudo pronto para decolar”, diz Lorenzo.

Com minha paciência diminuindo, dou um passo à frente e


isso deve servir de estímulo para Alexis porque ela se levanta e
sua mão dispara, quase acertando meu rosto.

Menina tola.

Pego seu punho no ar e olho para ela. Ela murcha, o medo


nublando suas feições. Seu corpo inteiro cai em derrota e sem que
eu tenha que dizer qualquer coisa, ela sobe no carro sem outra
palavra.

Nós partimos sem problemas e eu não poderia estar mais


aliviado. Estar tão longe de Sophia não me faz bem, especialmente
com tudo o que está chovendo contra la famiglia. Eu tenho que
continuar dizendo a mim mesmo que ela ficará bem. Monte tem
os caras em alerta, e ele foi instruído a me avisar se algo der
errado.

Mesmo que não tenha ouvido um pio de ninguém, eu não


posso ignorar a bola de medo que está batendo dentro de mim. Eu
não sei o que é, mas sinto que tem algo errado.

Incapaz de me conter, saio do assento e entro na cabine do


piloto. “Quanto tempo mais?” Eu pergunto a Gianni, o piloto,
ansioso para me aproximar de Sophia.

“Descendo agora. Devemos pousar em quinze minutos ou


mais.”

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Eu aceno, me sentindo ligeiramente melhor. Volto para trás,


meu olhar pousando em Alexis, que está encarando
inexpressivamente a janela. Sua comida, um sanduíche e batatas
fritas com uma garrafa de água, está intocada. Eu olho para a
menina quebrada, esperando estar fazendo a coisa certa,
reunindo-a com Sophia. Eu provavelmente deveria contar a ela,
explicar quem sou, para que não se sinta ameaçada, mas por onde
eu deveria começar? Não tenho a capacidade de lidar com as
emoções de outra mulher além de Sophia.

Abaixando-me no assento mais longe do dela, descanso


minhas costas contra o couro, tentando me sentir confortável.
Minha mente automaticamente se dirige para Grigori e seus
homens. Finlay e seus planos. Há tanta merda sendo jogada em
mim de uma só vez, tudo sobre Sophia, que não sei por onde
começar, como impedir que tudo isso aconteça.

A vibração ao longo da minha perna me faz suspirar cansado.


Pegando no bolso da minha calça, puxo o telefone. Depois de lidar
com toda a merda com que lidei hoje, não estou com vontade de
lidar com Garrett nem com nenhuma de suas reclamações.
Levanto o telefone ao ouvido, mas antes que consiga pronunciar
as palavras, Garrett diz as palavras que eu mais temia desde que
mandei Sophia embora. Meu coração para e meu estômago se
fecha.

Alguém está na propriedade.

Eles já chegaram ao primeiro andar.

Meu sangue ferve. O chão sob meus pés balança, e estou de


repente feliz por estar sentado.

“Onde diabos está todo mundo?” Eu grito na linha. A raiva


na minha voz chama a atenção de todos. Sinto todos os seus olhos
em mim.

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“Ninguém está respondendo, o lugar está deserto!” Garrett


grita de volta, sua voz cheia de pânico. “Onde eu devo esconder
Sophia?”

Suas perguntas me irritam. Como diabos alguém descobriu


onde ela está? Como diabos chegaram à propriedade sem que eu
fosse alertado? Meus olhos se dirigem para Lorenzo, Clarence e
Danilo, que me observam com olhos estreitos e curiosos. Eles são
os únicos que sabiam que eu iria sair. Meus dentes rangem e cerro
os olhos, tentando manter a calma.

Estou quase lá.

Eu estou quase lá.

“Estou a caminho”, digo a Garrett, uma calma sombria se


instalando em meus ossos. Ficando dentro de mim, apenas
implorando para ser desencadeada. “Esconda Sophia em qualquer
lugar que você puder. Você não pode deixar que eles a encontrem.
Você me entendeu, Garrett? Proteja Sophia!” Eu rosno antes de
desligar. Não sei o que vou encontrar quando chegar lá. Garrett
disse que nenhum dos caras está respondendo e o sistema de
alarme foi desativado. Neste ponto, eu nem sei se isso faz parte do
plano da Bratva, ou pior, de Finlay.

Com a menção dos nomes de Sophia e Garrett, o rosto de


Alexis escoa de todas as cores e instavelmente ela fica de pé.

“Você”, ela sussurra entrecortada, indo em minha direção.


“Você fez isso. Você levou Sophia, não foi? Seu filho da puta
doente!” Ela grita, pulando sobre mim. Suas unhas cravam na
minha bochecha, rasgando a pele.

De repente, todos estão fora dos seus lugares, Lorenzo e


Danilo estão tentando segurar a garota, enquanto Clarence ajuda
a acalmá-la enquanto ela grita e chuta como um animal selvagem.
Levo minha mão para o rosto, meus dedos voltando úmidos, com
manchas carmesim.

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Meu peito arfa, mal contendo a raiva, então me jogo para fora
do assento e no minuto que fico de pé, Alexis para de chutar, para
de se mover e se encolhe. Ela parece que acabou de ver um
fantasma.

Ando em direção a ela, mas em vez de parar, eu me movo em


torno dela. “Quanto tempo mais, Gianni?” Eu rosno para fora.

“Pousando agora, senhor.”

“O que diabos está acontecendo, cara?” Clarence pergunta.

Fechando os olhos em uma respiração profunda e firme, me


viro de frente para os caras e Alexis. “Peguem suas armas e
qualquer munição que possam colocar em suas mãos. Eles a
encontraram. Eu não sei quanto tempo Garrett será capaz de
resistir.”

“Caralho”, Clarence rosna em resposta.

“E você”, eu digo com os olhos estreitos, me concentrando em


Alexis. “Vou deixar isso passar só porque você significa muito para
Sophia. Se quiser viver e se quiser vê-la novamente, eu sugiro que
tente se controlar. Eu tenho que salvar minha garota e não vou
perder meu tempo tentando domar você, me entendeu?” Eu rosno.

Os olhos de Alexis ficam úmidos e ela balança a cabeça


devagar.

O jato começa a descer e os caras e eu, todos compartilhamos


um olhar, preparando-nos para a guerra que certamente está nos
esperando na minha casa.

“Lorenzo, puxe as coordenadas do GPS de Sophia”, digo,


tecendo através do tráfego de Chicago. Danilo e Clarence estão em
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um carro separado, a caminho do depósito, enquanto Lorenzo, eu


e Alexis corremos a uma velocidade alucinante para chegar a
Sophia. Alexis não tentou nada desde a explosão de adrenalina no
avião, não sei o que vai acontecer quando chegar lá, mas espero
que a garota seja esperta o suficiente para se controlar por tempo
suficiente para levar Sophia para um lugar seguro.

“O GPS mostra que Sophia ainda está na propriedade.”

Por quanto tempo? Eu me pergunto.

Se Garrett seguiu minhas instruções, ele deve ter escondido


Sophia. Contanto que ela não faça um som e eles não destruam
todo o lugar, não poderão a encontrar. Pelo menos é isso que estou
esperando. Não posso perde-la.

De novo não.

Disquei para Matteo, transmitindo o que está acontecendo.


Se isso não está sendo feito por Finlay, alguém da la famiglia
deixou a informação escorregar de novo para os homens de
Grigori, o que também é pior. Eu tomarei todas as medidas
necessárias contra quem me traiu, nos traiu, mesmo que sejam
parte do Outfit.

Ligo para Garrett em seguida. A linha toca e não obtenho


resposta. Chamo de novo e de novo, mas toda vez não recebo
resposta. Bato meu punho contra o volante e tento colocar para
baixo a sensação maníaca se construindo no meu peito.

“Qual é o plano, Diavolo?” Pergunta Lorenzo.

“Encontre-a. Eu não me importo com quem você tenha que


matar, apenas encontre Sophia.”

Ele deve ouvir o pânico na minha voz porque balança a


cabeça resolutamente, sem dizer mais nada.

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No minuto em que dobro a esquina, minha respiração fica


presa quando vejo a estrutura do depósito em chamas.

“Puta merda”, Alexis solta do banco de trás.

Quando me aproximo e paro do lado de fora da entrada, vejo


todos os homens que cercam o prédio. Sem tomar tempo para
percorrer o local e observar os homens, eu saio do carro e aperto
minha Glock. As balas começam a voar em minha direção quase
imediatamente enquanto corro em direção aos homens, o metal
compacto passa pela minha cabeça. Eu disparo dois tiros aqui,
três tiros lá e nem paro para ver os corpos caírem. Pingos de chuva
batem contra o meu rosto como cortes de faca contra a minha pele
e meu terno fica encharcado, inibindo meu movimento. Olho
através do aguaceiro e paro quando vejo um rosto familiar.

“Que bom que você conseguiu chegar a tempo, Sabella.”

Minha boca se afunda em uma linha sombria quando Grigori


se aproxima com a arma levantada. Seus capangas seguem cada
movimento dele, mirando suas armas em mim de todos os
ângulos.

“Eu estava começando a pensar que você nunca apareceria.


Pensei que talvez você estivesse dizendo a verdade afinal de
contas.”

“Onde ela está”, rosno, meu corpo vibrando de raiva. Ele ri


apontando para o prédio.

“Seu pequeno segredinho deve estar aqui conosco em pouco


tempo.”

Um dos homens de Grigori sai cambaleando do armazém


coberto de sangue. A visão faz meu estômago se revirar.

Não, não, não.

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“Porra, a cadela, atirou em mim”, ele rola, aplicando pressão


no ombro. Meu coração aperta e não posso deixar de me perguntar
se ela ainda está segura.

Onde está você, Garrett?

“Como você sabia que deveria procurar aqui”, eu pergunto, já


sabendo a resposta. O rato. Quem quer que seja o bastardo, sabia
onde encontrar Sophia e como entrar. Meus olhos se movem atrás
de mim, na direção do carro, posso ver vagamente Alexis, ainda se
escondendo atrás das janelas escuras. Lorenzo se mantém como
um amortecedor, um pouco à frente do carro, mas ainda atrás de
mim, pronto para colocar uma bala em qualquer um que faça o
movimento errado.

“Estou surpreso que você ainda não tenha percebido, Sabella.


Estou bastante desapontado.” Ele insulta.

Eu sei exatamente quem é o rato antes mesmo de pronunciar


seu nome em voz alta. Quando vejo Danilo se aproximar de trás
de Grigori e nenhum de seus homens sequer piscar, sei que é ele.
Aquele filho da puta brincou conosco. Ele jogou comigo.

Danilo é o traidor filho da puta.

Meu sangue ferve enquanto olho para ele a poucos metros de


distância. Fúria queima minhas veias e raiva trava uma guerra
pesada dentro do meu sistema.

“Seu filho da puta”, Lorenzo de repente rosna, chegando ao


meu lado. Eu nem percebi quando ele se afastou de Alexis e do
carro. Já que Danilo e Clarence estavam vindo juntos para cá, isso
só pode significar uma coisa…

“Onde ele está?”

Danilo solta uma gargalhada. “Fora do jogo, onde não pode


causar nenhum problema”, diz ele, referindo-se a Clarence.

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“Tsc. Tsc. O que é o príncipe de Chicago sem sua princesa?”


Grigori zomba com um sorriso vil no rosto, apreciando o
desequilíbrio de poder. “Esta noite é a noite oficial em que a
linhagem dos Sabellas termina. Começando com aquela cadela lá
dentro, então você e, finalmente, o pedaço de merda do seu pai.”

Suas palavras têm o efeito desejado e eu surto. Com um


rugido de raiva, ataco Grigori e tiros saem de todas as direções.
Eu não sinto nenhuma dor ou ricochete, então continuo. Grigori
ergue a arma para disparar, mas já é tarde demais, alguém atira
no joelho dele e ele cai no chão com um gemido de dor. Eu não me
preocupo com a teatralidade, estou sem tempo. Aponto minha
Glock e disparo uma única bala entre os olhos dele. Seus homens
caem como moscas e outros correm, mas os que ficam, têm suas
vidas tomadas da mesma maneira que tirei a de Grigori, com uma
bala na cabeça.

Quando a sua multidão de homens já não está em pé, me viro


para Lorenzo, surpreendido por encontrar Clarence, e esse é...
Jose?

“O que aconteceu?” Pergunto a Jose enquanto observo sua


forma ensanguentada. Ele força uma risada enquanto caminha na
minha direção.

“Levei um tiro buscando uma maldita sopa wanton. Você


pode acreditar nisso?”

Eu nem tenho tempo para processar a idiocracia de sua


declaração. Em vez disso, pergunto: “Onde diabos está todo
mundo?”

Jose inclina a cabeça para trás e vejo a dor escrita em seu


rosto. “Ricky se foi. Ele não suportou. Kam está lá dentro com o
Monte ajudando Garrett.”

Meus pulmões apertam.

“O que aconteceu com Garrett?”

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“Ele levou um tiro no peito e um no pescoço.”

Cerro meus olhos fechados. Porra.

De repente, giro em meus calcanhares, apontando minha


arma para Lorenzo. “Você sabia alguma coisa sobre Danilo e o que
ele estava fazendo? E não se atreva a mentir, se tiver que te matar
mais tarde por causa disso, não será bonito.”

Lorenzo balança a cabeça inflexivelmente. “Eu não fazia ideia.


Chegamos aqui e ele disse que daria a volta com Clarence e os
surpreenderia. Assim não o veriam chegando.”

Eu aceno com a cabeça ligeiramente, ainda cauteloso com


ele. Viro para Clarence cujo nariz está fodido, pingando um fluxo
constante de sangue e seu braço está torcido em um ângulo
estranho.

“O que aconteceu?”

“Ele jogou conosco. Todos nós. Eu não vi isso chegando. Nós


nos esgueiramos de volta, mas eles já estavam esperando Danilo.”

Um grunhido reverbera no meu peito e respiro


profundamente, olhando todos os caras. “Encontrem Sophia.
Jose, quero você de guarda no carro com Alexis...”

“Quem diabos é Alexis?”

Eu ignoro seu comentário, seguindo em frente. “Todo mundo,


quero vocês lá fora e dentro, procurando cada maldito recanto
deste lugar. Nós não vamos sair até que eu tenha minha garota de
volta em meus braços, agora se movam!” Eu grito.

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Sophia

Quase imediatamente depois que Garrett me escondeu no


baú, ouço gritos misturados com tiros. Cada pop me faz vacilar.
Sinto cada golpe ensurdecedor passar por mim. Eu mordo meu
lábio inferior para abafar os soluços que estão ameaçando
escapar. Lágrimas correm pelas minhas bochechas, mas não faço
nenhum movimento para limpar, com muito medo de soltar a
arma.

Há uma forte enxurrada de passos e mais tiros que soam


como uma debandada, pressiono minhas costas com mais firmeza
no baú. Tudo vem em rápida sucessão, quando rodada após
rodada, ouço os disparos de uma metralhadora. Eu fecho meus
olhos e lembro-me de todas as armas que foram amarradas ao
corpo de Garrett e rezo para que ele esteja bem. Garret tem que
estar.

De repente, o tiroteio para, mas os passos ainda ficam mais


altos. Quando a porta do lado de fora da sala de armas se abre,
coloco a mão sobre a minha boca para segurar meu grito.

“Encontre-a”, alguém ordena e meu coração para de bater.


Os homens dos monitores começam a revirar tudo na sala. Eles
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quebram as telas, jogando os monitores e mesas contra a parede.


Tudo reverbera contra o chão debaixo de mim. Através da pequena
fresta no canto, vejo homens volumosos rasgando tudo até que
um deles entra na sala de armas onde estou.

“Parece que encontramos a artilharia.” O homem ri e aperta


o interruptor de luz. Mesmo estando coberta pela tampa, meu
corpo fica com medo. Cada movimento do seu olhar ao redor da
sala me preocupa, como se de alguma forma suspeitam que estou
nesse baú, como se tivessem visão de raio-x ou algo assim.

Observo os homens através da pequena abertura, tentando


ver se reconheço algum deles ou ouço a voz de Finlay, mas não.
Nenhum parece familiar. Alguns têm fortes sotaques russos, mas,
além disso, não sei dizer quem são esses homens ou o que querem
de mim.

Eles jogam tudo ao redor, abrindo gavetas e atirando balas e


outros itens em qualquer lugar. Eles fazem isso por um tempo.
Toda vez que acho que eles estão chegando perto de me encontrar
no baú, um deles se vira e se move para outra coisa. Minhas mãos
começam a doer com a força que estou agarrando a arma. Eu
fecho meus olhos e me concentro na respiração, tentando fazer
com que soe o mais leve possível.

Os homens saem da sala e as luzes se apagam. Suas vozes


desaparecem junto com o barulho de suas botas contra o chão de
carvalho. Eu solto um suspiro, e quando penso que estou livre, a
tampa do baú de repente se abre, e eu grito.

“Achei! Parece que encontrei você.”

Eu puxo o gatilho da arma, mas ela não faz nada. Solto um


gemido quando percebo que a trava de segurança ainda está
ativada. O homem pega da minha mão e a joga no chão. Ela bate
contra a madeira, derrapando ao longo do carvalho, mas a perco
de vista uma vez que ele agarra um punhado do meu cabelo e me
puxa para fora da caixa. Meu couro cabeludo grita de dor, minhas

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mãos vão para as mãos dele, tentando remover seus dedos de


mim. Agito minhas pernas e luto para sair de seus braços, mas
ele não me solta. Seus braços são como troncos grossos de
árvores. Nenhum dos meus golpes o detém.

“Solte-me”, bufo entre chutes e socos, mas tudo o que eu


ganho é uma cotovelada no rosto. O golpe é forte. Tanto que minha
visão entra e sai por alguns segundos enquanto me recupero. Com
a mão ainda firmemente agarrada na base do meu cabelo, ele me
arrasta para fora da sala de artilharia e entra na sala com os
monitores. Está cheio de vidro e fios pendurados por toda parte.
Parece que uma bomba explodiu aqui.

Procuro em todas as telas pelo meu irmão enquanto ele me


arrasta. Mas cada uma delas está preta e rachada com vidro
quebrado. Quando ele se aproxima da porta, a histeria começa a
subir pela minha garganta e eu grito.

Grito até minha garganta doer.

Eu berro como se fosse um assassinato sangrento.

O som é penetrante, até para os meus próprios ouvidos. A


força dos gritos deixa minha garganta ardendo.

Ele me empurra violentamente, tentando fazer calar a boca,


mas continuo gritando. Quando me move em um ângulo diferente
para ficar mais firme no meu cabelo, meu olhar faz contato com a
pele nua de seus braços e eu faço a única coisa em que consigo
pensar.

Eu o mordo.

Com força.

Eu o mordo com tanta força que perfuro sua pele. Meus


dentes perfuram sua carne e o cheiro metálico de seu sangue
enche minha boca, revirando meu estômago. Ele me larga quase
imediatamente e solta um grito de dor. Uma vez que seu punho
solta do meu cabelo, caio no chão de carvalho e meus olhos
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pousam na arma. Sem olhar para trás, corro para a arma e giro
ao redor. Desta vez, solto a trava de segurança.

“Venha aqui antes que eu mate você e seu bebê, sua vadia
idiota.”

Meu coração bate forte e minhas mãos tremem quando


aponto a arma, mas meu dedo no gatilho está firme. Eu faria
qualquer coisa para proteger meu bebê e se ele der mais um passo
adiante, vou atirar.

“Deixe-me ir”, eu grito. Ele inclina a cabeça para o lado e


sorri. É um sorriso vil que promete coisas ruins. Ele pula para
frente, pronto para me atacar, mas fico tensa e puxo o gatilho.
Meus braços recuam para trás, com a força do tiro da arma e
quase bato com ela no meu rosto. Um borrifo de sangue espirra
no meu rosto, mas não me incomodo em olhar e ver se ele ainda
está vivo. Eu corro.

Com a arma firmemente apertada na minha mão boa, corro


pela escada detrás, pela saída dos fundos. No minuto em que dou
um passo para fora do armazém, a chuva cobre meu rosto e um
calafrio penetra em meus ossos. Meus ouvidos estão zumbindo
por causa do tiro, mas quando ouço mais tiros sendo disparados,
forço minhas pernas a se moverem e continuar correndo. Corro o
mais longe possível do tiroteio e do depósito. Meus pés escorregam
e deslizam pela calçada que está escorregadia de lama e eu acabo
no chão algumas vezes. Eu me esforço para me levantar. Meus
olhos percorrem freneticamente o armazém imponente e é quando
vejo o pequeno nicho perto das árvores à frente. Fico de pé e me
forço a correr.

Arrisco um olhar por cima do meu ombro e não vejo ninguém


me perseguindo. Paro em frente a uma sequoia e alguns arbustos
indomados. Olhando para trás mais uma vez, entro através dos
galhos do mato e me enfio no meio. O solo debaixo de mim é como
uma poça de lama. A frieza dele sobe e desce pela minha espinha.
A chuva cai sobre mim enquanto espero nos arbustos. Meu corpo
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treme e meus lábios começam a ficar dormentes depois de um


tempo.

Assisto de longe a atividade no armazém. Mais homens


aparecem, mais tiros são trocados, mas eu não entendo nada
disso. Meu corpo está tão gelado e eu não posso... Não consigo
pensar direito. Tudo no meu cérebro parece confuso. A única parte
do meu corpo que parece estar funcionando bem é o dedo no
gatilho. Está estável no gatilho enquanto aponto para as árvores,
preparada para atirar em qualquer um que chegar perto o
suficiente.

A adrenalina começa a se dissipar e meus olhos ficam mais


pesados e pesados. Eu pisco para além da imprecisão que rouba
minha visão e tento ficar acordada, mas perco a luta. Com a arma
apoiada em meu peito e minhas costas na lama, meus olhos se
fecham e eu cochilo.

Creed

Subo as escadas e a primeira coisa que vejo é o baú. Eu


verifico todos os quartos dentro do armazém. Nenhum de nós foi
capaz de encontrá-la. É como se tivesse desaparecido.

Meu peito está apertado de preocupação quando penso na


possibilidade de um dos homens de Grigori a ter levado. Acredito
que lidamos com todos eles, mas alguns podem ter fugido com ela
bem debaixo dos nossos narizes. O pensamento sozinho deixa
meu sangue fervendo.

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Meus olhos vasculham a área ao redor do prédio tentando


descobrir onde minha garota poderia estar. Onde ela pode ter ido.
Abaixo minha cabeça e meus olhos pegam as pequenas pegadas.
Um vinco se forma entre minhas sobrancelhas e me inclino para
baixo, examinando aquilo. Não podem ser de Alexis. Ela está com
Jose esse tempo todo. Não há como ela ter vindo aqui.

Ficando de pé com uma nova urgência, sigo as marcas. Elas


não são sempre consistentes. Algumas apenas parecem passos
que derraparam dentro da sujeira, mas são minha única pista. E
começam a desparecer quanto mais perto eu chego da clareira das
árvores.

Olho para a escuridão, me perguntando se ela teve chance de


fugir. Há um farfalhar repentino nos arbustos alguns metros à
frente dos meus pés, que se movem em direção a eles por conta
própria. Meus passos param lentamente do lado de fora do mato.
Não consigo ver muito lá dentro. Parece apenas um conjunto
profundo de arbustos que nunca foi aparado. São selvagens e
longos. Longos o suficiente para esconder alguém.

Inalando uma respiração profunda, passo mais perto da


planta selvagem. Chego para frente e empurro os galhos para o
lado e quando o faço, meu coração palpita mais forte no meu peito.
O cano de uma arma é empurrado na minha cara e a pessoa que
segura a arma é minha Sophia. Ela parece um animal selvagem,
frenética, perdida e com muito medo. Sua pequena forma tremula
quando se deita nos arbustos. Seu corpo está coberto de lama e
ela está encharcada da chuva. Em vez de seus lábios serem aquela
cor rosada natural que amo, estão tingidos de azul, com sangue
seco no queixo.

De onde diabos vem o sangue? Eu me pergunto.

Com a minha mão ainda congelada no ar, dou um passo para


frente quando percebo que ela não está abaixando a arma. É como
se nem estivesse me vendo, ela está vendo o que quer que queira
ver.
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“Sophia”, eu digo o nome dela, mas ela não se move.

Nem pisca.

“Sophia”, eu digo novamente, mas desta vez muito mais alto,


em um tom autoritário. Ela parece de volta à realidade. O nevoeiro
que cobre seus olhos de repente desaparece e quando ela olha
para mim por um instante, eles se arregalam de surpresa. Ela
reprime um soluço e a arma cai de suas mãos, espirrando em uma
poça. Lágrimas escorrem pelo rosto, misturando-se à chuva
torrencial e seu corpo se contorce violentamente em soluços
silenciosos.

Corto minha perna nos arbustos, afastando a planta


selvagem para que eu possa me espremer dentro. Abaixando-me,
levanto minha menina em meus braços e Sophia se agarra a mim,
soluçando contra o meu peito.

“Eu-eu atirei ne-nele”, gagueja violentamente e meu peito se


aperta. Aperto meus braços ao redor dela, desejando poder apagar
o que aconteceu lá atrás.

“V-você me deixou”, ela chora no meu peito e é como um tiro


no meu coração.

Eu nunca deveria ter deixado Sophia.

Percebo isso agora. Eu tolamente pensei que poderia salvar


Sophia das trevas do meu mundo, mas de alguma forma tudo isso
a encontrou de qualquer maneira. É inevitável e essa é a triste
verdade. Sou melhor em proteger enquanto ela fica ao meu lado,
ao invés de afastá-la. Esse é um erro que nunca cometerei
novamente.

“Shhh”, ecoo em seu ouvido. “Você está bem agora, anjo. Eu


não estou indo a lugar nenhum. Entendeu? Você está presa
comigo a partir de agora. Não vou sair do seu lado.”

Seu aperto em volta do meu pescoço fica mais firme e ela


acena com a cabeça contra o meu peito. “Eu ainda estou tão
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zangada com você”, ela sussurra uma vez que soluça mais
devagar.

Coloco um beijo casto em sua cabeça. “Sinto muito, anjo.”

Seu corpo se contorce violentamente com a força de seus


soluços. Deixo a minha testa cair na dela, saboreando a sensação
de tê-la tão perto de mim novamente. Sua pele parece gelo contra
a minha. Um sentimento irresistível de proteção me consome.
Quero tirar seu medo, sua dor, qualquer coisa que ameace tirar
Sophia de mim.

Levanto o corpo dela em meus braços, enrolando-a de forma


protetora no meu peito. Sophia aconchega seu corpo contra o
meu, seus ombros vibrando de frio, ou talvez do medo de tudo o
que aconteceu aqui esta noite. Mergulho minha cabeça para
baixo, descansando os lábios contra o topo de sua cabeça e
inspiro. O cheiro que é inerentemente dela, me envolve, filtrando-
se através dos meus pulmões, me ajudando a respirar novamente.

Saio das árvores e através do desastre em torno do edifício.


Eu tento proteger Sophia de ver tudo o que aconteceu, mas ela vê
de qualquer maneira.

“O que aconteceu?” Ela pergunta baixinho, um tom triste em


sua voz. Os cadáveres povoam o chão. Cartuchos de bala. Brasas
do fogo. Está um maldito campo de guerra aqui fora. “O que
aconteceu com aqueles homens? Como eles conseguiram entrar?”

Solto um suspiro. Muito bravo comigo mesmo. Eu não quero


admitir meus erros. Como eles passaram pelo meu sistema e
chegaram até ela, mas preciso.

“Eles descobriram sobre você”, eu digo e sinto-a enrijecer em


meus braços. Seus braços apertam meu pescoço, quase como se
ela tivesse medo de soltar. Sua cabeça se inclina para trás uma
fração e aquele olhar verde colide com o meu. Sinto seu olhar me
penetrar profundamente. Desejei ver seus belos olhos de novo e

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agora que os tenho em mim, quero mergulhar e nunca desviar o


olhar.

“Quem?”

Solto um suspiro. “Todos. Havia um rato em la famiglia,


alguém estava me traindo e a Matteo este tempo todo. Não é mais
seguro, Sophia. Não é seguro em nenhum lugar. Todo mundo no
lado escuro do meu mundo sabe sobre você e o bebê agora.”

Seu rosto se contrai. Medo traz redemoinhos em suas


piscinas verdes. Tanto medo.

“O que eu vou fazer agora?” Ela pergunta em voz baixa, seus


lábios tremendo.

“Não você, nós”, digo com um leve aceno de cabeça. “E o que


vamos fazer agora é manter vocês dois em segurança. Não importa
o que.”

Uma lágrima desliza pelo canto do seu olho, arrastando-se


em seus cabelos. “Eu te amo”, ela sussurra trêmula, estendendo
a mão para acariciar minha bochecha. Ela faz uma pausa antes
de tocar minha pele, seus olhos se arregalam quando dá uma boa
olhada nos arranhões na minha bochecha. Observo cada emoção
rolando em seu rosto. Leio as perguntas em seus olhos: ‘Como isso
foi parar aí? Quem arranhou você?’

“É uma longa história”, ofereço em seu silêncio. Ela lança seu


olhar de volta para o meu e sempre tão gentilmente, ela traça as
pontas de seus dedos sobre cada ferida. Aqueles dedos longos e
elegantes varrem a extensão da minha bochecha, esfregando
minha barba quase reverentemente. Seu olhar se eleva de volta
para o meu e, quando procuramos nos olhos um do outro, sinto-
a descansar a mão inteira na minha bochecha. Minha cabeça se
inclina em seu toque por conta própria, procurando a sensação de
sua pele na minha. Sua palma está fria contra a minha pele
úmida, mas as pontas de seus dedos ainda são o paraíso, porque
é ela. Sempre ela.
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Seus olhos verdes brilham enquanto olho para ela, me


perdendo em seu olhar. Mesmo com todo o caos que nos rodeia, o
mesmo caos que parece nos seguir, ela é tudo que vejo. Tudo que
eu posso sentir. Tudo o que quero.

Eu me inclino, pressionando meus lábios nos dela


suavemente. E recuo quase imediatamente quando sinto seus
lábios como cubos de gelo.

“Vamos, precisamos tirar você daqui.”

Com Sophia seguramente em meus braços, passo por cima


de corpos o tempo todo tentando mantê-la pressionada
firmemente contra o meu corpo, para que possa parar de tremer.
Localizo Lorenzo e Jose no carro com Danilo inconsciente.
Enquanto olho para o veículo, percebo que vou ter que explicar
muito a Sophia quando ela vir Alexis.

Kam, Monte e Clarence parecem piores nas roupas, com o


sangue carmesim manchando suas roupas enquanto pairam
sobre o corpo de Garrett. Ele está imóvel de sua posição no chão.
Eu não quero me preocupar com Sophia. Eu sei que é o irmão
dela, e sei que ela merece saber, mas caso ele não sobreviva,
preciso que ela permaneça calma por enquanto.

“Matteo foi notificado?” Pergunto a Lorenzo.

“Ele está nos esperando. Tem uma equipe já esperando na


sala médica.”

Eu concordo. “Bom. Vamos antes que seja tarde demais.”

Sinto Sophia mexer em meus braços, tentando dar uma


olhada ao redor, mas aperto ao redor dela, impedindo-a de ver
muito mais.

“Creed?” Ela pergunta. “Quem precisa da sala médica?”

Eu faço contato visual com Kam e os caras, balançando a


cabeça sutilmente, avisando-os que devem ficar quietos.

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“Não se preocupe com isso, anjo. Precisamos te levar para


algum lugar quente. Vamos lá.”

Corremos para os veículos. Kam, Monte e Clarence entram


no SUV com Garrett. Jose, Lorenzo, e um Danilo inconsciente no
veículo de Lorenzo. No segundo passo em direção ao carro onde
Alexis está esperando, ela grita para fora do veículo assustando
Sophia.

“Sophia?”

Sinto minha garota enrijecer em meus braços. Seu corpo se


transforma em pedra e um arrepio corre pela sua espinha. Em vez
de seus olhos se arrastarem em direção à fonte, ela desloca o olhar
para mim, os olhos questionadores.

“Soph?” Alexis diz novamente. Lágrimas brilham nos olhos de


Sophia, enquanto a compreensão a envolve. Ela bate no meu
peito, indicando que quer que eu a coloque no chão. Faço o que
ela quer, gentilmente colocando Sophia de pé na frente da porta
aberta.

Alexis desliza para fora do veículo e as duas olham uma para


a outra como se não tivessem certeza de que isso realmente está
acontecendo. Sophia confirma minhas suspeitas quando se vira e
pergunta baixinho: “Isso está realmente acontecendo?”

“Está sim.” Aceno para sua melhor amiga e como dois ímãs
se encaixando, elas se encaixam, seus corpos se juntando em um
abraço. Quando vejo lágrimas saindo do canto dos olhos de Sophia
e vejo o sorriso feliz em seu rosto, sei que fiz a coisa certa. Aquele
peso pesado que está esmagando meu peito, plantado no meu
esterno, finalmente se acalma, e uma sensação de orgulho se
desenrola no meu peito enquanto assisto a reunião daquelas
duas. Eu não entendo isso. A amizade e vínculo que
compartilham, Sophia é o mais próximo que já cheguei de alguém,
mas vê-la tão envolvida em Alexis, me faz sentir longe de todo o

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mal e dano que já causei no mundo. Como se essa fosse a única


coisa que fiz certo.

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Sophia

Eu ainda não posso acreditar que isso está realmente


acontecendo. Eu não posso acreditar que ela está aqui. Alexis está
aqui. Eu não sei como Creed conseguiu fazer isso, mas ele a
salvou.

Tenho implorado a Gar e ao resto dos caras para que a


ajudassem, para que a encontrassem e Creed, meu Creed, foi
quem conseguiu fazer isso.

Aperto seu corpo contra o meu em descrença. Minhas mãos


agarrando-a, enquanto tento ter certeza de que ela é real. Seus
braços se apertam em torno de mim até o ponto da dor, mas gosto
disso. Minha melhor amiga, que tem sido minha rocha desde a
quarta série, está aqui, finalmente aqui. Eu pensei que nunca
mais a veria. Todas aquelas noites em que chorei até dormir,
morrendo de vontade de ouvir palavras reconfortantes ou escutar
suas observações sarcásticas, e finalmente consegui recuperá-la.

Eventualmente, nós nos afastamos uma da outra e quando


olho para as piscinas familiares de seus olhos castanhos

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S.M. SOTO

caramelo, não posso deixar de sorrir. Estou chorando e


provavelmente pareço muito feia, mas eu não me importo. Tudo o
que importa é que ela está segura.

“Por favor, me diga que você está bem”, eu sussurro.

Algo cintila nos olhos de Alexis. Seu queixo treme e ela


estende a mão em direção ao meu rosto, absorvendo minhas
feridas de batalha do dia. “Você está me perguntando se estou
bem? Sério, Soph, você se olhou no espelho ultimamente?”

Uma risada borbulha na minha garganta e a emoção


engrossa minhas cordas vocais, dificultando a saída das palavras.
“Isso é ruim, hein?”

“Você provavelmente não vai estar em nenhuma das capas da


Vogue em breve”, ela me diz brincando, com lágrimas nos olhos.

Meu coração aperta quando olho para Alexis, observando sua


aparência abatida. Ela parece cansada, desgastada, e muito
diferente da menina exultante com quem cresci.

“Agora, pare de desviar e me diga que você está bem.”

Alexis lança o olhar para o chão e chupa o lábio inferior,


mordiscando. “Eu… acho que vou ficar. Levará algum tempo, mas
acho que vou ficar bem.”

Eu fecho meus olhos com suas palavras e ao som de uma


limpeza na garganta, nós duas viramos nossas cabeças em direção
ao Creed. Ele está perto da porta do motorista, tão alto e exigente
como sempre, nos observando com olhos calculistas. Seu rosto
não revela nenhuma emoção, então não posso dizer o que está
pensando.

“Precisamos ir.”

Eu aceno com a cabeça em compreensão e sorrio para ele.


Ele não sorri de volta, mas vejo o amor em seus olhos mesmo
assim. Eu sinto isso quando olha para mim. Ele avança como se

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planejasse me ajudar a entrar no carro, mas coloco minha mão


em seu antebraço, parando-o.

“Estou bem, Creed. Eu prometo.”

O músculo em sua mandíbula salta quando ele quer


argumentar, mas em vez disso, balança a cabeça e me permite
entrar sozinha.

Tomando a mão de Alexis na minha, nós entramos juntas no


banco de trás e prendemos os cintos. Nossas mãos ficam juntas
como se ambas estivéssemos com medo de que soltar significaria
estarmos separadas novamente. Viro a cabeça para encara-la e a
vejo encarando Creed enquanto ele dirige. Ela deve sentir o peso
do meu olhar porque desvia os olhos para os meus e vejo todas as
perguntas que não tem força para expressar.

“Você tem algumas explicações a dar, Soph”, diz ela em voz


baixa, apontando diretamente para Creed.

Um sorriso repuxa meus lábios enquanto olho para a parte


de trás de sua cabeça. “Oh, você não tem ideia.”

Creed

Quando chegamos à mansão, Sophia e Alexis estão no banco


de trás ainda com as mãos dadas. Os caras já estão aqui, e não
estou surpreso quando eu encontro Jose andando pelos degraus
da frente.

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Eu saio do carro, tendo cuidado para não fazer muito


barulho, assim não acordo Sophia. Jose para de andar e espera
por mim no primeiro degrau da entrada.

“Ela está bem?” Ele pergunta, sua cabeça espiando atrás de


mim para o banco de trás do carro. Eu cruzo meus braços sobre
o peito e estreito os olhos para ele.

“Sophia?”

“Não”, diz ele, exasperado. “A menina, ela está bem?”

Arqueio uma sobrancelha para ele e ele estreita os olhos. “O


que? Obviamente sei que Sophia está bem. A garota é uma
selvagem, capaz de matar um homem, e para não mencionar que
tem o seu bebê crescendo dentro dela, é obrigada a assumir suas
características implacáveis. Ela provavelmente...”

Eu suspiro e o interrompo, não querendo o ouvir divagar por


mais tempo. “Ela está bem, Guerrero. Por que você não me ajuda
a entrar com elas? Elas estão dormindo e não quero acordá-las.”

Jose me lança um sorriso cáustico, dando uma risada. “Já


fazendo o papel de papai, Creed?”

“Cale a boca”, eu digo, já caminhando de volta para o carro.

Quando temos as duas seguras em nossos braços, nos


dirigimos para dentro. O primeiro lugar para onde Sophia vai é o
nosso quarto, onde Magdalene e Chang podem examiná-la.
Garrett já está na sala médica sendo operado por um cirurgião.
Eu só espero que ele consiga sobreviver, pelo bem de Sophia.

Matteo já está esperando no vestíbulo com uma cara feia no


momento em que entramos. Seus olhos se aproximam de Sophia
e se estreitaram em Alexis aninhada nos braços de Jose.

“Jesus Cristo”, ele murmura irritado. Ele acena com a cabeça


para trás, indicando que devemos cuidar das garotas antes de
lidarmos com os negócios.

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Lorenzo e Monte escolhem esse exato momento para sair do


corredor que leva ao porão.

“Ele está amarrado e ainda inconsciente”, Lorenzo informa


para o meu pai.

Matteo acena com a cabeça e seus lábios se encolhem em um


sorriso de escárnio. “Bom, nós vamos acordá-lo quando
estivermos prontos. Eu tenho algumas ligações para fazer.” E por
ligações, sei que ele quer dizer que está ligando para os chefes das
outras famílias. Ele vai chamar todo mundo para que possam ver
como um traidor é tratado. Vai fazer disso um show, uma lição
para aqueles que estão pensando em terminar o que Danilo
começou.

Meu pai não é um homem que perdoa, nunca foi nem nunca
será. Ele não aceita gentilmente quem quer que o desrespeite e o
fato de Danilo ter ido atrás dele e ter tentado derrubar o império
Sabella? Sim, as coisas não vão ser legais para ele. Matteo é cruel,
e sua necessidade de banho de sangue rivaliza com a minha, então
eu sei, sem sombra de dúvida, que a morte de Danilo não vai ser
bonita. Vai ser dura e extremamente confusa. Minhas mãos
tremem, apenas coçando de vontade de envolver seu pescoço e
rasgá-lo em pedaços por causar toda essa merda.

Dou um suspiro de alívio quando encontro Magdalene e o Dr.


Chang já nos esperando no meu quarto. Coloco Sophia na cama e
quase como se ela pudesse sentir a presença de outra pessoa, seus
olhos se abrem. Um sorriso caloroso se espalha em seu rosto
quando ela me vê. Deposito um beijo casto em sua testa e quando
dou um passo para trás, ela nota o Dr. Chang e Magdalene.

Lentamente, se senta na cama e lança seu olhar para o meu


em preocupação.

“É só um check-up, Sophia. Queremos ter certeza de que você


está bem depois de tudo o que aconteceu ontem à noite”, diz
Chang, notando seu olhar assustado.

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Ela engole em seco. “Onde está Alexis?”

“Ela está no quarto ao lado do nosso, ainda dormindo.”

Isso alivia um pouco a preocupação em seu rosto e ela solta


um suspiro agudo. Sua mão procura a minha e a aperto
suavemente, para que saiba que estou aqui.

Dr. Chang e Magdalene fazem seu trabalho com Sophia. Eles


fazem suas perguntas aqui e ali. Pegam uma amostra de sangue,
apalpam seu abdômen e colocam um dispositivo contra sua
barriga, tentando encontrar o batimento cardíaco do bebê.
Quando um forte som sibilante sai pelo dispositivo na mão do Dr.
Chang, Sophia e eu compartilhamos um olhar. É de maravilha,
admiração e amor. Tanto amor que sinto em meus ossos.

“Tudo parece bem, Sophia. Mas eu vou pedir que você relaxe
por um tempo. Vamos fazer exames de sangue e verificar se há
algum problema subjacente que possa estar passando. É só uma
precaução, mas notei que o sangue em volta da sua boca não
pertence a você, então só queremos ter certeza de que nada foi
contraído durante a troca de fluidos corporais.”

O rosto de Sophia empalidece e ela ergue os dedos trêmulos


até o sangue ainda em crosta no seu rosto. Lágrimas nadam em
seus olhos e aperto sua outra mão, desviando o olhar dela para
mim.

“Você vai ficar bem. Está tudo bem”, eu a tranquilizo,


pressionando meus lábios em sua testa. “Vou fazer Magdalene
preparar o banho para você enquanto tenho uma palavra com o
Dr. Chang, e vou te encontrar lá assim que terminar.”

Ela acena e segue Magdalene para dentro do banheiro.


Espero até que o rugido da água do banho preencha o silêncio
antes de falar com o médico sobre Garrett.

“Como ele está?”

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Chang solta um suspiro. “Ele está estável. O cirurgião fez um


milagre nele, com certeza. Ainda está inconsciente, mas deve
acordar em breve.”

A tensão no meu peito alivia com suas palavras. Agradeço


com um aperto de mão firme antes de voltar para Sophia. Quando
Magdalene me vê, oferece um pequeno sorriso antes de sair do
nosso quarto.

Ela deve ter limpado o rosto de Sophia do sangue seco,


sujeira e fuligem, porque tudo o que escurece seu rosto é o
hematoma escuro em sua bochecha.

“Tudo bem?” Ela pergunta quando começa a tirar suas


roupas imundas. Eu fecho a distância entre nós, ajudando-a a
tirar aquelas camadas cobertas de terra. Quando está
completamente nua, meus olhos varrem seu corpo em busca de
qualquer hematoma ou qualquer coisa que os homens de Grigori
tenham deixado para trás. Meus olhos se concentram em seu
ventre e para cima, bem perto, posso ver uma ligeira curva que
não estava lá antes de manda-la embora.

“Creed?” Ela questiona, encostando em mim, forçando o meu


olhar para os olhos.

“Tudo está bem”, eu minto. Meus dedos roçam o hematoma


em sua bochecha e a raiva percorre minhas veias. Se eu pudesse
matar seus homens mais uma vez, faria. “Vamos, vamos te
limpar”, digo de repente, tentando não deixar a raiva me
consumir.

Solto Sophia no banho, ajudando-a a lavar o cabelo e o corpo.


Minhas mãos permanecem em sua pele por mais tempo do que
deveriam, mas parece que não consigo me controlar. Já faz
semanas desde que senti a pele dela sob as minhas mãos, que não
a tenho tão perto de mim. Eu quero aproveitar meu tempo e
absorver tudo isso, mas não tenho esse luxo. Ainda preciso lidar

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com Danilo, explicar a condição de Garrett para Sophia, então,


tenho que avisar a família de Ricky sobre o que aconteceu.

“O que há de errado?” Sophia pergunta, vendo minha


aparência abatida.

Eu olho para ela por um segundo, apenas apreciando sua


beleza antes de falar sobre a tempestade de merda que tenho para
lidar. Em vez de responder, ponho a bucha na água e ajudo-a a
ficar de pé. Agarrando uma das toalhas felpudas, envolvo seu
corpo, usando a ponta da toalha para espremer a água de seu
cabelo.

Incapaz de me conter, eu a puxo em meus braços e a levo de


volta para o quarto, gentilmente deitando-a na cama. Ela observa
cada movimento meu através de olhos questionadores. Uma vez
que tenho um novo conjunto de roupas descansando na mesa de
cabeceira para ela, eu sento na beira da cama e a encaro.

“Você está me assustando.”

Solto um suspiro e saio com tudo. “Ricky se foi.”

Todo o sangue é drenado do seu rosto e um suspiro passa


por seus lábios. “O-o quê?”

Atiro meus olhos para as mãos que estão em punhos no nó


da toalha. “Ele não sobreviveu. Suas lesões foram fatais e, quando
cheguei lá, ele já tinha partido.”

Seus olhos se fecham com as minhas palavras. Quando ela


os abre, olha para mim por um instante sem dizer uma palavra.
“Onde está meu irmão, Creed?” Sua voz está estranhamente
calma.

Meu peito aperta.

“Onde. Está. Meu. Irmão?” Ela pergunta com mais firmeza


dessa vez.

“Ele está na sala médica... se recuperando.”


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Lágrimas brilham nos seus olhos e no queixo. “Oh Deus. Por


que você está me dizendo isso apenas agora?” Ela resmunga, já
procurando as roupas limpas. “O que aconteceu com ele?”

“Ele levou dois tiros, no peito e um no pescoço.”

“Oh meu Deus!” Sophia sai da cama e arranca sua toalha


com raiva. “Por que diabos você não me contou, Creed?”

“Eu estava te protegendo, no caso...”

“No caso de quê?” Ela grita, congelando com as roupas em


suas mãos. “No caso dele estar morrendo? Você não acha que eu
gostaria de saber? Estar ao seu lado em seus últimos momentos?”

“Não. Teria sido demais”, jogo de volta em um tom cáustico.


Raiva explode em seus olhos frente a expressão vazia no meu
rosto.

“Como você se atreve!” Ela esbraveja, vindo em minha


direção. “Como você ousa tirar de mim essa opção. Você não tinha
esse direito, Creed.”

“Eu tinha todo o direito. Estava protegendo você.”

“Não, não estava! O que lhe dá o direito de tomar todas essas


decisões? Primeiro me afasta e quebra a porra do meu coração, e
agora isso?” Seu peito se ergue e lágrimas brilham em seus olhos.
“Eu não sou uma maldita criança, Creed. Pare de me tratar como
se eu fosse frágil e feita de vidro.”

Não digo nada por um longo período de tempo. Sei que o que
fiz foi errado. Inferno, entendo sua raiva. Eu sei que qualquer
coisa que disser vai me transformar no cara mau agora, então eu
espero.

“Onde ele está?” Ela pergunta, sua voz dando uma leve
sensação de calma.

“Eu vou te levar até ele”, digo, já ficando de pé, mas o brilho
no rosto de Sophia me para no meio do caminho.
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“Apenas me diga onde e vou encontra-lo sozinha.” Sua raiva


flui em cada palavra e é como se ela tivesse dado um golpe de
picador de gelo no meu peito, golpeando a maldita coisa em mim
repetidamente.

“No final do corredor. Na mesma sala que você fez seu check-
up em sua primeira vez aqui.”

Ela não balança a cabeça ou me agradece pela informação.


Em vez disso, entra em sua roupa com uma careta no rosto e sai
sem nem uma palavra.

Eu fico lá por um tempo, apenas olhando para a porta. Ela


está com raiva e tem todo o direito de estar, então tento não deixar
isso me incomodar. Ela precisa de espaço e vou lhe dar isso de
bom grado.

Entro no foyer, já encontrando meu pai e Lorenzo esperando.


Está na hora. Hora de fazer Danilo pagar por seus pecados contra
nossa família.

Matteo se aproxima de mim. “Como ela está?”

“Abalada. Brava. Mas está bem. Ela ficará bem.”

“Bom”, ele diz com um rápido aceno de cabeça. “E o irmão?”

“Ele vai conseguir. É muito teimoso para não sobreviver.”

Matteo sorri. “Parece com o cunhado.”

Ignoro o comentário dele, já pronto para a tarefa que está por


vir. “Está todo mundo pronto?”

“Todo mundo está esperando. Vamos começar.”

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Nós caminhamos pelo corredor em direção à escada que leva


ao porão. Não é um porão usual. O salão está iluminado, ao longo
da escadaria e a sala abaixo dos degraus é mais uma sala de
execução, em vez de qualquer outra coisa.

No segundo em que a porta se abre, todos os olhos se voltam


para nós, para nossa entrada. Homens circulam em volta da
grande extensão da sala, todos em volta de Danilo. O consigliere
de meu pai, Giovanni já está esperando, junto com Alberto,
Francesco e os chefes de outras famílias. Todos eles estão lado a
lado, olhando para Danilo.

Lorenzo encontra sua posição, de pé na lateral, seu olhar


estreitado em Danilo, amarrado a uma cadeira no centro da sala.
Quando olho para Giovanni e nossos olhares se fixam, sou
transportado de volta a anos atrás, quando eu era apenas uma
criança e tive que suportar anos de treinamento aqui.

Com meus punhos levantados, aperto a faca ao longo do cabo,


preparado para me balançar e atacar Giovanni. Circulamos um ao
outro, cada um calculando e observando o próximo movimento do
outro. Sou bom em memorizar suas combinações, sua postura em
relação a certos métodos de ataques. Reconheço tudo isso com o
melhor de minha capacidade. Anos de treinamento fizeram isso. É
a única maneira que poderia parar a dor.

Eu sinto os olhos do meu pai em nós, observando de sua


posição nas sombras. Ele não fala muito, nem se intromete quando
as coisas ficam feias. Ele apenas observa e espera. Depois que
minha mãe morreu há seis anos, meu treinamento ficou mais duro
e sangrento.

Calo meus pensamentos quando Giovanni avança com sua


faca. Meu braço levanta, bloqueando seus avanços e jogo meu
braço direito para baixo, tentando enfiar a faca em sua perna. Ele
se move bem a tempo. A faca passa raspando por sua perna,

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errando o alvo por meros centímetros. Eu jogo um gancho de


esquerda que Gio desvia e tento outro soco que não faz contato.

Giovanni ri provocativamente e a raiva que está fervendo em


minhas veias repentinamente explode. Eu o ataco, rosnando como
um touro e batendo com força meu ombro em seu estômago.
Giovanni volta surpreso, mas não demora muito para descer golpes.
Mas nem isso me atrasa. Dou-lhe o melhor que posso.

Um gancho de esquerda ali.

Investida com a faca.

Soco lá.

Corto sua pele com a faca.

Quando acho que estou em vantagem, dou dois golpes sólidos


na têmpora de Gio e outro no rosto. Ele se vira para trás, parecendo
abalado, e uso esse tempo para descer a faca e acabar com ele de
uma vez por todas. Em vez de observar Gio, observo enquanto a
faca navega para baixo, em direção ao seu peito, mas seu contra-
ataque me atinge muito mais rápido. Com um golpe sólido nas
costelas que resulta em uma fratura e todo o ar sendo sugado dos
meus pulmões, Giovanni enfia a faca na lateral do meu corpo, me
atordoando.

A dor explode.

“Foda-se!” Berro. A dor ricocheteia e a faca cai da minha mão,


batendo no chão com um barulho. Caio para frente, de joelhos
contra o concreto aos pés de Giovanni. Náuseas fazem redemoinhos
no meu estômago enquanto tento respirar através do fogo
irradiando da lesão. A transpiração pontilha meu pescoço e testa e
meu corpo lentamente se abaixa para o concreto, como se
trepadeiras estivessem em volta de mim, lentamente me puxando
para baixo.

Matteo escolhe aquele momento para sair das sombras.


Nossos olhos se encontram e tudo que vejo é decepção. Seus
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sapatos batem contra o chão duro, aproximando-se mais a cada


segundo.

“Puxe para fora”, ele instrui, nenhuma emoção exibida em seu


rosto.

Puxando um pouco de ar, eu me inclino para meu lado bom e


me preparo. Fecho meus dedos em torno do cabo da faca de Gio e
puxo. Meu rugido de dor enche o porão, dividindo minha cabeça ao
meio.

A faca não estava profundamente alojada, a lâmina estava


profunda o suficiente para me atordoar e causar dor, não um dano
irreparável. Matteo e Giovanni não querem me matar, só querem me
fortalecer. Criar certa tolerância. E tenho que aprender isso da
maneira mais difícil.

Eu jogo a faca ensanguentada no chão e agarro a lateral,


aplicando pressão na ferida. Meu olhar queima buracos no crânio
de Matteo enquanto ele me observa.

“Acho que já é hora de você aprender a se costurar, Diavolo.”

As cicatrizes ao longo das minhas costas e lateral do corpo


formigam desconfortavelmente com essa lembrança. Desvio meu
olhar, permitindo-me ser tragado de volta para as sombras do
porão. Minha atenção repousa unicamente em Danilo e meu lábio
se eleva em um sorriso de escárnio. Aquela escuridão negra que
lutei tanto para manter à distância me consome. Corpo e alma. É
muito mais fácil agora do que antes, quando prometi pelo bem de
Sophia, que eu mudaria. Mas uma vez que deixo a escuridão
voltar, a mancha fica maior e maior, e agora, parece que isso é
tudo o que me resta. Trevas.

Ele poderia arruinar tudo. Ele quase estragou tudo.


Machucou minha garota, colocou em risco a vida do meu filho.
Minhas mãos enrolam em meus punhos ao meu lado, coçando

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para atacar sua garganta e espremer a vida para fora dele. Quero
romper a cavidade do seu peito e arrancar seu coração com
minhas próprias mãos.

Quando Danilo começa a acordar na cadeira, se mexendo


para a vida, vejo a tensão de seus músculos. Vejo o momento em
que ele percebe que tudo acabou para ele. Seus olhos examinam
a sala, pousando brevemente em todos os outros, até que recaem
em mim e param. Com minhas mãos descansando nas costas, eu
as cerro em punhos. Suas narinas se abrem e seus olhos ardem
com uma raiva que é muito familiar.

“Você me traiu, Danilo. Você nos traiu, sua família”, meu pai
diz em um tom entediado, andando em volta de Danilo. Com as
mãos enfiadas nos bolsos, ele observa Danilo de perto, esperando
que fale, e ele não decepciona quando o faz.

Danilo zomba. “Eu traí essa família? Eu?” Ele ri


autodepreciativo. “Seu filho traiu essa família há muito tempo,
Matteo. Você nos traiu ao deixar Creed voltar aqui. Ele é uma
vergonha, uma vergonha pra la famiglia, e você, porra, apoia isso.
Que tipo de chefe é? Você é tão ruim quanto ele. Os Sabellas
caíram, vocês dois não estão aptos a governar”, ele rosna,
espumando pela boca. Matteo não diz nada por muito tempo,
apenas para na frente dele e olha para baixo.

“Então é por isso que você me traiu, Danilo?”

“Não. Eu te traí por ser fraco”, Danilo se agita. “Você o


recebeu de volta de braços abertos, enquanto fazia todos os que
eram leais a você se sacrificarem. O que ele teve que desistir em
troca? O que ele fez para mostrar sua lealdade a nós, hein?”

Meu peito sobe e desce enquanto tento conter minha raiva.

Do que eu desisti? Cada coisa do caralho.

Matteo levanta as sobrancelhas. “Você acha que ele não


mostrou sua lealdade, Danilo? As outras famílias parecem pensar

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diferente, então, por que você é o único que desrespeitou essa


família em sua vingança para mostrar um ponto discutível? Você
ameaçou nossas vidas, nossos meios de subsistência, a porra do
herdeiro do meu império. Você me fez perder dinheiro. Não só isso,
suas ações causaram a morte de Antonio. Você mostrou onde suas
lealdades estão. E para deixar tudo isso melhor, aqui está o que
eu vou fazer”, ele diz com um sorriso sombrio, curtindo muito o
que está acontecendo. “Diavolo vai se provar para você, vai se
livrar de nossa infestação de ratos. Ele vai cortar a sua língua e
provar o quanto essa famiglia significa para ele. Ele vai provar
para mim, para nós, onde está sua lealdade.”

Danilo fica com um tom enjoativo de branco quando saio das


sombras em direção ao corpo dele. Algo cintila em seus olhos e ele
se endireita. “Ele vai encontrar você, encontrar ela, e quando fizer
isso, você vai querer ter deixado os homens de Grigori matarem
ela e seu filho.”

Um grunhido se solta do meu peito enquanto desembainho


minha faca de caça e avanço. Matteo segura a boca de Danilo,
lutando para manter a cabeça parada. Todo mundo ignora seus
pedidos de ajuda. Eles apenas assistem, com muita atenção.

Faço o trabalho rápido em sua língua, sem qualquer cuidado,


no mínimo. A faca serrilhada rasga a carne, as bordas se enterram
no fundo de sua boca. Seu sangue flui como um maldito rio. O
fluxo de carmesim quente e pegajoso simplesmente não para.
Encharca minhas mãos, desce pelos meus braços e reveste minha
pele como se eu estivesse me ensaboando em alguma porra de
loção. Seus gritos gorgolejados são como música para os ouvidos
de todos. E quando os minutos passam, seus gritos finalmente
desaparecem em gorgolejos e depois em silêncio, inalo um suspiro
e limpo seu sangue na minha camisa. Matteo pegou um bom
spray, mas pelos olhares que todos os homens estão me dando,
eu diria que parece que acabei de sair de um banho de sangue.

“Agora”, diz Matteo. “Como prova de sua lealdade, Diavolo,


acabe com Danilo e o descarte.”
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“Feito.”

“Eu não terminei”, ele diz, e a sala fica mortalmente


silenciosa. Meu estômago aperta enquanto espero que ele me diga
o que quer. “Corte-o em pedaços. Nós não vamos descarta-lo da
maneira usual desta vez, ele será enviado para o resto das famílias
criminosas aqui em Chicago. Deixe todos saberem o que acontece
quando você vai contra um Sabella.”

Eu mantenho minha expressão livre de toda e qualquer


emoção enquanto aceno com a cabeça. Os homens saem do porão,
o fedor de sangue permeia o ar a cada segundo. Quando somos
apenas Danilo e eu lá dentro, fecho os olhos e limpo a mente de
qualquer coisa boa. Eu me concentro no mal. Na escuridão. Todos
os danos que ele causou.

Olho por olho.

Uma vida por uma vida, filho da puta.

E então começo a trabalhar.

No momento em que termino com o corpo de Danilo, minha


mente está vazia, meu rosto está vazio e minha capacidade de
emoção está esgotada. Morte e escuridão se agarram à minha pele,
lentamente me manchando por dentro e por fora, assim como
Matteo sempre quis.

Saio do porão e subo os degraus, precisando de um banho e


uma bebida. Correndo pelo corredor, tenho o cuidado de não
chegar perto do meu quarto ou da sala médica, caso eu encontre

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Sophia. Em vez disso, vou em direção oposta, em direção aos


quartos de hóspedes vazios.

“Ay que la chingada!47“ Jose engasga com a respiração


enquanto ele sai do seu quarto, me observando. “Doce mãe do
caralho, você parece Carrie48, mano.”

Passo por ele e entro no quarto ao lado e fecho a porta. Eu


não me incomodo com a luz, em vez disso, ando em direção à cama
lentamente. Meu corpo bate no colchão e olho para o teto escuro,
inexpressivo, esperando o vazio passar.

Mas isso nunca acontece.

47
Ay que la chingada!- Oh foda-se você!
48
Carrie- Aqui ele faz menção do filme Carrie- A estranha, adaptado do livro de Stephen King, onde ela leva
um banho de sangue de porco, e fica coberta da cabeça aos pés de sangue.
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Sophia

Eu estou fumegando enquanto entro pela porta ao lado do


quarto que Creed e eu estamos compartilhando, não surpresa
quando encontro Alexis sentada em sua cama, suas costas
pressionadas contra a cabeceira. Ela está recém-banhada, com o
cabelo longo e úmido pendurado no ombro.

Alexis levanta uma sobrancelha na minha entrada e me dá


um olhar conhecedor. Então, acho que ouviu minha discussão
com Creed.

Meu corpo está tremendo de raiva enquanto me forço a sentar


ao lado de Alexis, para não causar um buraco no chão. Acho que
nunca me senti tão irritada antes na minha vida. Especialmente
não com Creed. Não posso acreditar que ele tentou esconder a
condição de Garrett. Ele é meu irmão, pelo amor de Cristo. Tenho
o direito de saber se está morrendo ou, no mínimo, perto de
morrer.

“Quer falar sobre isso?” Alexis pergunta suavemente.

Eu sacudo minha cabeça. “Mas, você pode vir comigo para


ver Garrett?”

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Ela sorri, embora não alcance os olhos dela. “Vamos lá.”

Encontramos a sala médica sem problemas e quando


entramos e dou uma olhada no meu irmão, coloco minha mão
sobre a boca para abafar o soluço que ameaça escapar.

“Oh, Gar”, eu sussurro enquanto ando até o lado de sua


cama. Há um soro ligado à sua mão e, do outro lado, ele tem um
monitor de pulso e sangue sobre o dedo. Fios estão conectados à
máquina ao lado de sua cama, exibindo suas estatísticas
digitalmente. Tudo o que me interessa é o som rítmico que indica
que seu coração está batendo.

“Ele é muito sortudo por estar vivo.”

Eu me assusto com o som da voz. Girando no meu calcanhar,


encontro Magdalene com uma prancheta na mão. Ela me dá um
sorriso suave.

“Quando ele vai acordar?”

Ela desloca o olhar para Garrett, observando enquanto ele


dorme. “Difícil de dizer. Ele perdeu muito sangue, mas teve sorte
que os caras o trouxeram aqui a tempo. Seu corpo está tentando
se recuperar agora, então, honestamente, quanto mais ele dormir,
melhor. Dê-lhe algum tempo. Vai acordar quando estiver pronto.”

“Obrigada, Magdalene.”

“Claro.” Ela coloca uma mão quente no meu ombro e aperta


tranquilizadoramente, em seguida, sai da sala, me deixando aqui
com Alexis. Nós nos acomodamos nos pufes no canto da sala, e
eu me viro para que possa ter uma visão melhor da cama e do
meu irmão.

Meu coração dói quando o vejo dormir. Ele quase morreu. A


última pessoa da minha família quase foi tirada de mim. Estou
com dificuldade em absorver tudo isso.

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“Creed tentou esconder a condição de Garrett de mim”, digo


em voz alta, explicando, incapaz de segurar por mais tempo. “Ele
foi baleado duas vezes, uma no peito e uma no pescoço, e Creed...
ele ia esperar pra ver se Gar ia sobreviver, então planejaria me
contar sobre o que aconteceu.” As palavras caem dos meus lábios
enquanto mantenha o olhar fixo em meu irmão. “Eu estou tão...
tão zangada com ele, Lex. Como ousa.”

Meu corpo vibra com raiva quanto mais eu penso sobre isso.

Volto meu olhar para Alexis e a encontro me observando com


um olhar simpático em seu rosto.

“Sinto muito, Soph. Eu ainda não entendo o que está


acontecendo, ou o que estamos fazendo aqui, mas apenas fique
feliz por estar aqui com Garrett agora. Isso é tudo que realmente
importa.”

Eu dou um suspiro profundo e cansado, sabendo que ela está


certa. “Eu acho que é hora de começar a me explicar, certo?”

Alexis sorri. “Pode apostar sua pequena bunda doce que é.”

Uma risada passa pelos meus lábios e isso me deixa um


pouco feliz. Não me lembro da última vez que ri. Parece errado.
Com tudo o que aconteceu nas últimas horas, mas também parece
tão certo.

“Deus, eu nem sei por onde começar, Lex. Tudo parece uma
vida inteira atrás. Tantas coisas mudaram, minha vida é muito
diferente agora.”

Alexis encolhe os ombros, e o simples ato é algo que estou tão


familiarizada que me leva de volta aos dias em que passávamos
horas em nossos quartos, conversando sobre coisas
inconsequentes. “Comece pelo começo. O que realmente
aconteceu com você?”

Solto um suspiro e faço exatamente isso. Conto tudo a ela.


Do que eu me lembro ao ser sequestrada, ao meu tempo no porão
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com aqueles homens vis, até sobre a mansão dos horrores e como
Creed, meu irmão e o resto dos caras entraram em cena.

“O que diabos estou ouvindo agora? Como isso é possível,


Sophia? Especialmente Garrett. Eu simplesmente não consigo
acreditar.”

Eu concordo. “Eu sei. Nem eu acreditei, Lex.”

“Então… Creed? Como isso aconteceu?”

Calor enche meu peito quando penso no meu tempo com


Creed. Não foi perfeito, nem ideal, mas somos nós, e foi como
começamos. “No minuto em que coloquei os olhos nele, foi como
se eu estivesse atraída por ele. Estava tão confusa depois de tudo
que aconteceu, mas Creed era... ele era um enigma. Sabia que era
perigoso, eu sentia isso toda vez que estava perto dele. Toda vez
que olhava em seus olhos, mas nada disso importava porque ele
me fazia sentir segura. Ele me fez sentir como eu mesma de novo.
Ele me fez sentir, Lex. E depois de tudo o que aconteceu, nunca
achei que sentiria algo outra vez. Então começamos...”

“Transar feito coelhos”, ela oferece, e eu não posso deixar de


rir.

Deus, como senti falta dela.

“O que eu ia dizer foi que começamos a passar mais tempo


juntos, depois uma coisa levou a outra e me vi apaixonada por ele.
Toda parte sombria, perdida e bonita dele. E não transamos feito
coelhos.”

Agora isso faz com que Lexi ria em voz alta. As maçãs de suas
bochechas bronzeadas coram com a força da gargalhada. “Eu
nunca pensei que veria esse dia: Sophia Cova falando de transar.
Você costumava dizer que pênis lhe lembrava de cogumelos
frágeis.”

Luto para conter um sorriso e dou de ombros. “Creed é


perfeito. Ele me fez mudar de ideia.”
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“Se eu não estivesse tão feliz por você, poderia até ficar com
um pouco de inveja”, diz ela, com os olhos castanhos brilhando.

“Há algo mais”, digo nervosamente, entrelaçando meus dedos


juntos. Alexis se inclina para frente, com uma expressão de
preocupação no rosto expressivo.

“O que é?”

Eu fecho meus olhos e respiro fundo. “Estou grávida.”

Seu silêncio me leva a abrir os olhos e, quando o faço,


encontro-a me encarando boquiaberta.

“Oh, meu Deus... você acabou... acabou de dizer que você


está... você está...”

“Grávida?” Eu ofereço com um sorriso.

“Puta merda!” Sua voz é estridente de emoção, saindo no seu


rosto um largo sorriso cheio de surpresa e felicidade. Isso faz meu
coração se encher de calor. “Aquele homem delicioso te
engravidou? Meu Deus, agora eu realmente estou com ciúmes.
Não posso acreditar, Soph. Você está grávida”, diz ela com
admiração, seus olhos descendo para a minha barriga. “Você vai
ter um maldito bebê, e eu... meu Deus, eu vou ser tia!”

Rio, pegando a mão dela na minha e apertando. Os músculos


das minhas bochechas doem de tanto sorrir.

Isso.

Isso é o que eu sentia falta. Uma melhor amiga para


compartilhar tudo. A felicidade que vem de duas melhores amigas
de longa data, ao descobrir que uma delas, vai ter um filho.

Com a mão livre, Lex coloca a palma sobre a minha barriga.


Ela esfrega pequenos círculos como se eu tivesse uma barriga
realmente grande. Isso nos faz rir porque não tem o mesmo efeito.

“De quanto tempo você está?”

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“Quase dez semanas.”

“Uau”, ela respira. “Quando você vai descobrir o sexo?”

Minhas sobrancelhas se encolhem porque, com toda a


honestidade, não tenho ideia de quantas semanas tenho que estar
para descobrir. “Não tenho certeza. Nós provavelmente não
saberemos nada até chegarmos ao segundo trimestre.”

“O que você acha, menina ou menino?”

Eu reviro meus olhos e dispenso a ideia. “Eu não sei, Lexi. É


como tentar adivinhar quantas jujubas tem em uma tigela.”

Ela zomba. “Eu sou ótima nesse jogo e acho que você vai ter
um menino.”

Um sorriso se espalha no meu rosto. Eu não posso deixar de


imaginar um garotinho correndo por aí com cabelo preto e olhos
prateados. Um clone exato do pai dele. “Você acha?”

“Bem, pode ser qualquer um dos dois, mas eu sinto que você
vai ter um menino, Soph.”

Tento imaginar um futuro com Creed e nosso menininho,


mas de repente, pensamentos de Finlay voltam à mente, e a bílis
sobe na minha garganta quando percebo que nunca estaremos
realmente seguros.

O sorriso no meu rosto falha quando penso em tudo o que


aconteceu nas mãos de Finlay. O horror de perceber sua decepção.
Alexis percebe a mudança imediata na minha expressão. “O que
há de errado?” Ela pergunta, a voz tingida de preocupação.

“Um dos caras que trabalharam com Gar e Creed, ele era…
louco, Lex. Eu acho que ele é clinicamente insano. Eu-eu pensei
que ele fosse meu amigo, alguém em quem podia confiar, mas ele
me traiu. Ele traiu a todos. Foi quem orquestrou tudo. Da morte
dos meus pais ao meu sequestro. Ele planejou tudo isso, Lex,
porque achava que estava apaixonado por mim. Ele ainda acha

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que está apaixonado por mim. Ele me arrastou para uma ilha, e
Deus, Alexis, eu pensei com certeza que ia morrer, eu pensei que
ele fosse me matar por causa de sua obsessão, ou que ia morrer
tentando fugir.”

“Merda, Sophia”, ela sussurra, o horror das minhas palavras


estampadas em seu rosto. “Quando no inferno tudo isso
aconteceu?”

“Cerca de um mês agora. Juro que pensei que nunca mais


veria Creed de novo. Eu nem acreditava que nosso bebê iria
sobreviver depois da surra...”

“Espere. Desculpa. Você acabou de dizer surra? Que porra é


essa?”

“Sim. Sim, eu disse.” Minha voz treme de emoção. “Creed e


os caras me salvaram, mas não acabou. Isso nunca vai acabar.
Finlay ainda está por aí. Ele é a razão pela qual você foi
sequestrada, Alexis, e lamento tanto que você foi arrastada para
isso. Nunca em um milhão de anos achei que ele te encontraria
ou te machucaria.”

A emoção cobre seus olhos, fazendo-os encherem de


lágrimas. “Você não tem nada para se desculpar, querida.”

Mordo o interior da minha bochecha, tentando controlar


minhas emoções. “Os homens do mundo de Creed, malditos
mafiosos, todos sabem sobre mim, Lexi. E estou com medo. Tanto
medo de, porra, perder Creed ou o bebê.”

“É por isso que você está chateada com ele?”

Zombo. “Não. Há uma longa lista de razões, mas


principalmente, estou zangada por sempre tomar decisões por
mim. Nós deveríamos ser um casal, um time, mas ele me trata
como se eu fosse uma criança. Ele me afastou e propositalmente
se afastou da minha vida, tudo para me proteger. Mas nem uma
vez me perguntou se é isso que eu realmente queria. Nem parou

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para pensar o quanto isso me machucaria. Eu fiquei devastada,


Lex. Foi como se tivessem arrancado o coração do meu peito.”

“Sophia… é óbvio que ele se importa com você. É um cara e,


do jeito que você o descreveu, é um cara muito protetor. Eu acho
que te afastar foi a maneira dele de te manter segura.”

Solto um suspiro, odiando mais uma vez que ela está certa.
“Eu sei. Entendo porque fez isso, eu só queria que ele tivesse
falado comigo sobre tudo em vez de tomar decisões por mim e
todos os outros. Nos separar ainda foi perigoso. Quero dizer,
Cristo, quase mataram Garrett. Quando ele escondeu a condição
de Garrett de mim, eu apenas surtei. Eu fiquei com raiva. Ainda
estava machucada. Eu acho que, de alguma forma, quis machuca-
lo do jeito que ele me machucou, sabe?”

“Você se sente mal com a briga agora, não é?” Ela me dá um


olhar conhecedor. Meu peito aperta porque ela está certa. Eu me
sinto mal com a discussão com Creed. Foi imaturo da minha parte
atacá-lo só porque fiquei zangada e magoada. Ele estava errado
em esconder os detalhes da condição do meu irmão, sim, mas não
há dúvida de que eu poderia ter lidado melhor com as coisas.

Uma dor aguda e gelada se espalha pelo meu peito quando


lembro do jeito que gritei com ele. O jeito como tão
insensivelmente o deixei para trás no quarto. Depois de tudo o que
fez por mim, tudo o que fez por Alexis, eu deveria ter agradecido,
mas ao invés disso, eu o agredi. O flash de dor em seus olhos
quase levou de volta minhas palavras duras. Sei agora que eu
deveria ter tentado não dizer nada.

Eu não sei onde ele está, ou o que planejou, mas no segundo


que Garrett acordar e eu souber que ele está bem, vou falar com
o Creed e consertar as coisas entre nós. A vida é curta demais
para ficar com raiva de coisas que não posso mudar. Prefiro muito
mais tê-lo aqui ao meu lado, algo que tenho desejado pelas últimas
duas semanas e meia.

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“Sim, eu me sinto mal agora. Mas chega de falar de mim”,


digo, mudando de assunto. “Eu preciso que você seja verdadeira
comigo e me diga a verdade. Eu sei que você disse que está bem,
mas tenho que saber: Finlay ou algum de seus homens te
machucou?”

Alexis sempre foi forte. Mesmo quando a conheci na segunda


série, ela era a garota mais durona de sete anos que já conheci.
Ela era nova na nossa escola primária, mas isso não a abalou.
Alexis era vibrante, engraçada, e era o tipo de criança que nunca
tinha nenhum problema em fazer amigos. Algo com o qual sempre
tive dificuldade. Mas foi como se Alexis desse uma olhada em mim
e percebesse que eu precisava de um amigo. Ela veio até mim no
recreio e disse que estávamos indo no trepa-trepa juntas. Ela não
perguntou, Alexis nunca perguntou, só sabia que minha resposta
seria sim, e foi. Daquele dia em diante, se tornou minha melhor
amiga e confidente. E depois que meus pais morreram, ela esteve
ao meu lado e ao lado de Garrett. Ela emprestou seu ombro para
eu chorar e nunca esperou nada em troca.

Mas quando olho para a minha melhor amiga agora e percebo


sua aparência abatida, não posso deixar de imaginar quanto dano
Finlay e seus homens fizeram em sua alma. Ela tem hematomas
desbotados ao longo de sua mandíbula e pescoço, e seus olhos
castanhos parecem fundos com bolsas pesadas em torno deles. As
lágrimas brotam de seus olhos e seu queixo treme enquanto Alexis
luta contra a emoção.

“Eles… eles me machucaram. Muito mais do que posso dizer


com palavras.”

Suas palavras apertam meu coração como um torno. “Por


favor, me diga que eles não...”

Tenho medo de terminar essa frase. Com medo de mencionar


algo tão ruim quanto isso. Alexis inclina a cabeça para trás e olha
para o teto. Sua garganta trabalha para engolir e quando vejo seu

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rosto se contrair, uma lágrima escorrendo pelo canto do olho, eu


sei. Sei que eles a estupraram.

Um poço de emoção me atinge, agitando meu estômago tão


violentamente que faz com que bile suba pela minha garganta.
“Oh, Alexis”, eu sussurro, me odiando por causar dor a minha
melhor amiga.

“Foi minha culpa, tudo isso. Eu deveria saber melhor.” Ela


enxuga as lágrimas quase com raiva. Um enorme desejo de
protegê-la me domina, me levando a segurar sua mão na minha e
apertar. Seus olhos descem para os meus e eu a forço a manter
seu olhar fixo em mim.

“Não se atreva”, retruco um pouco mais forte do que eu


pretendia. “Isso não foi sua culpa, Alexis. Finlay e seus homens
são maus, pura maldade, e não há nada que possamos fazer para
mudar isso. Nenhuma decisão que você tomou poderia ter
mudado isso.”

Seu lindo rosto racha. “É aí que você está errada, Soph. Eu


deveria ter tomado melhores decisões. Quando recebi uma
mensagem de texto sua, pedindo ajuda, não pude acreditar.
Pensei que estava imaginando coisas ou algo assim, porque fazia
mais de um ano desde que você havia desaparecido. Seu caso já
estava arquivado na polícia, os panfletos com sua foto já estavam
apagados há muito tempo. Era como se todo mundo já tivesse
esquecido que minha melhor amiga havia desaparecido. Mas eu
não.” Ela faz uma pausa para fungar e aperta minha mão um
pouco mais forte procurando apoio. Eu lhe dou todas as minhas
forças para que ela possa dizer as palavras. “A mensagem era
simples, de um número privado. Você dizia que estava com
problemas e precisava da minha ajuda. Dizia que estava com
medo e que havia homens atrás de você e que não sabia a quem
recorrer.”

Meu coração dói. Jesus. Finlay é um doente.

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“Mandei mensagem de volta imediatamente, ainda tentando


compreender o fato de que você estava viva, e de alguma forma,
me mandando mensagens pedindo a minha ajuda. Disse para me
encontrar na minha casa depois que eu saísse do trabalho, que
eu ajudaria de qualquer maneira que pudesse. Queria tanto que
fosse você, Soph. Tanto, que não prestei atenção nas pequenas
coisas. Como quando cheguei ao meu apartamento, a porta já
estava destrancada, a energia estava cortada e já havia um
homem lá dentro esperando por mim. Eu tentei correr quando o
vi. Meu cérebro estava gritando para me virar e não olhar para
trás, mas minhas pernas ficaram enraizadas no chão. Eu não
consegui me mexer. Não consegui gritar. Por um pequeno
segundo, até pensei que o homem estivesse com você. Talvez ele
estivesse mantendo você a salvo dos outros homens? Ou talvez
estivesse ali para entregar uma mensagem sua? Mas quando me
atacou e acertou o punho no meu rosto, soube que não era o caso.
Devo ter desmaiado do golpe, ou ele me deu algo, porque quando
acordei, não estava mais no meu apartamento. Meu corpo estava
amarrado a uma cadeira no quarto de alguém. O papel de parede
estava descascando e as janelas bem fechadas. Devia ser uma
casa abandonada, porque cheirava a... Deus, cheirava a urina e
as paredes estavam cobertas com tinta spray. Lembro-me de
tentar gritar, mas o pano que foi enfiado na minha boca tornava
aquilo impossível. Senti como se estivesse sentada ali, amarrada
naquela cadeira por dias antes que alguém aparecesse. Quando
ele empurrou a porta, meu estômago se revirou, e não conseguia
parar as lágrimas. Antes daquele momento, eu esperava que fosse
alguma piada de mau gosto, ou alguma outra coisa que eu
pudesse logicamente tentar entender, mas quando ele entrou na
sala, fechando a porta atrás de si, eu soube. Deus, Soph, eu soube
que havia caído em uma cilada. A cada passo que dava em minha
direção, eu me perguntava se aquilo era o que havia acontecido
com você. Se haviam feito a mesma coisa.”

Não consigo parar a torrente de lágrimas que escorrem pelas


minhas bochechas. Odeio que Alexis teve que passar por tudo
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isso. Eu só espero que eles não a tenham machucado tanto quanto


os homens de Abdul me machucaram.

“Ele não falou muito comigo. Apenas me disse que se gritasse,


ele me mataria. Ele me deu uma barra de granola e uma garrafa
de água quando concordei e uma vez que terminei de comer, ele
enfiou o pano de volta na minha boca e saiu. Isso me confundiu,
mas uma parte de mim ficou feliz por ele não ter me matado. A
próxima vez que voltou, ele estava diferente. Não veio com comida.
Ele nem olhou para mim. Tudo o que disse foi que seu chefe
precisava mandar uma mensagem para alguém, e antes que eu
pudesse compreender isso, seu punho veio voando em direção ao
meu rosto. Fui atingida, golpe após golpe, e não pude fazer nada
além de chorar no pano e me perguntar porque diabos isso estava
acontecendo comigo.”

Coloco uma mão trêmula sobre a boca, tentando manter os


soluços. Alexis parece destruída enquanto revive cada memória.
Seus olhos estão vermelhos e seu rosto está manchado pelas
lágrimas.

“As coisas continuaram assim por alguns dias. Granola e


água, então ele ia embora, até que um dia, não voltou”, diz ela,
com a voz embargada. “Eu pensei que ia morrer lá embaixo. Tinha
certeza disso. Passei a maior parte do meu tempo dormindo. O
cheiro ficava cada vez pior conforme os dias passavam. Não me
lembro como aconteceu, mas um dia adormeci naquele quarto e
no outro acordei em outro lugar. Era... indescritível. Havia garotas
em todos os lugares. Algumas eram apenas crianças, Soph.
Malditas crianças”, ela diz, a voz cheia de nojo. “Eles nos
mantiveram todas em um quarto cheio de colchões. Nossas
refeições eram servidas lá, nossos banhos eram supervisionados,
e só podíamos usar o banheiro duas vezes por dia. Parecia um
campo de concentração, superlotado. Não sei quanto tempo
ficamos lá. Uma semana talvez? Até que um grupo de homens
abriu a porta e nos mandaram sair da sala, uma por uma, em fila
única. Não demorou muito para que eu e algumas das meninas
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mais velhas percebêssemos o que estava acontecendo. Estávamos


sendo vendidas. Homens, todos os tipos de homens andavam pela
fila, olhando cada uma de nós, parando mais tempo na frente de
algumas, antes de escolher e dizer seu preço. Quer saber quanto
foi meu preço, Soph?”

Balanço minha cabeça porque não quero saber. Eu não quero


mais ouvir. Isso dói. Cada uma de suas palavras dói, me
transportando de volta para os homens do porão, para o leilão, ao
espancamento. Pisos dourados. Sangue. Muito sangue. Tudo volta
em ondas.

“Dez mil. Esse foi o meu valor. Esse foi o meu preço, Soph. E
a pior parte? Ele tinha dinheiro. Dava pra ver que ele tinha
dinheiro, apenas pelo jeito que se portava, o jeito que se vestia.
Ele parecia dinheiro andando em um terno maligno. Tentei lutar
com ele. Realmente tentei, mas ele era forte e os sedativos que me
deram tornaram isso impossível. Cada golpe de seus punhos
parecia tijolos, acertando meu rosto, empurrando meu pescoço,
caindo em todo o meu corpo. Ele nem esperou até chegarmos em
sua casa, uma vez que entramos na limusine, ele me segurou e...
ele forçou minhas pernas a se separarem, e... Deus, Soph.” Ela
engasga. “Com meus joelhos arranhando no tapete e meu rosto
pressionado contra o assento de couro, ele me tomou e tomou,
sabendo que eu não seria capaz de lutar de volta. Não acho que
fiquei consciente o tempo todo. Num segundo, eu estava lá,
deitada em uma poça de lágrimas e, em seguida, a próxima coisa
que lembro, estava em um carro novo, sendo esbofeteada. E foi aí
que vi Creed com outro cara. Eles ficaram do lado de fora do carro
e pensei que estava sendo comprada novamente. Só que não
percebi que ele estava me comprando para me salvar, eu só...
apenas pensei que ele era outro doente, como os outros, e que
queria me machucar. Ele não tentou me tocar. Ele não olhou para
mim com luxúria nos olhos. Ele não olhou para mim, apenas nos
colocou naquele jato e eu fiquei lá imaginando o que poderia fazer
para me libertar. Considerei tentar fugir deles, mas enquanto
observava Creed, eu sabia que isso nunca aconteceria.” Alexis
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soltou um suspiro trêmulo, enxugando algumas lágrimas


perdidas. “Eu só gostaria de saber que ele estava lá para me
ajudar. Quando ouvi o seu nome e depois o nome de Garrett,
soube que não era uma coincidência, e acho que acabei surtando.
Eu o ataquei, arranhei seu rosto e exigi saber onde você estava.
Agora, tudo em que posso pensar é na necessidade irresistível de
lhe agradecer e pedir desculpas.”

“Oh, Lex”, eu sussurro, puxando seu corpo em meus braços.


Eu a abraço apertado e nos agarramos uma na outra, deixando as
lágrimas caírem por uma amizade que deveria durar a vida inteira
e foi quase interrompida. Eu a abraço, conhecendo os horrores do
que ela sofreu.

Só de olhar para minha melhor amiga, posso ver o quanto


aqueles homens a derrubaram. Eu posso ver nos olhos dela. Eles
parecem assombrados. Não são mais felizes ou despreocupados.
Ela pode não saber ainda, mas os próximos meses serão os mais
difíceis, pois tentará esquecer o que aconteceu com ela e seguir
em frente. Por experiência própria, sei que não vai ficar mais fácil.
Mas desta vez será diferente. Ela me ajudará a acompanhá-la a
cada passo do caminho.

A dor no meu coração se intensifica quanto mais penso em


Alexis e Creed. Ele a salvou de algo horrível, possivelmente a
morte, e agora, mais do que nunca, quero agradecer. Não apenas
por salvar minha melhor amiga, mas por ser altruísta, fazendo
algo não por si mesmo, mas por mim, porque sabia que era o que
eu queria, o que eu precisava.

O desejo de sair da sala e ir encontra-lo é tão forte que quase


deixo Garrett e Alexis ali, para sair à procura dele, mas sei que
não posso fazer isso. Preciso estar aqui para Gar e Lex. Uma vez
que souber que tudo vai ficar bem, eu vou encontrar Creed e
consertar as coisas.

Isso é uma promessa.

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Sophia

Enquanto espero que Garrett acorde, Alexis e eu nos


sentamos e conversamos por quem sabe por quanto tempo. As
palavras fluem livremente enquanto nós duas compensamos o
tempo perdido. Não falar com sua melhor amiga há mais de um
ano é tortura. Parece que uma parte vital de mim estava faltando
sem ela e agora que a tenho aqui, bem ao meu lado, eu me sinto
contente. Claro, ainda tenho coisas para resolver com Creed, e
tenho Garrett e meu bebê para me preocupar, mas é bom ter
minha melhor amiga para desabafar.

Um súbito guincho da cama de Garrett e seu gemido doloroso


me faz voar para fora do assento acolchoado, direto para sua
cabeceira. Parece que ele está com muita dor, mas o fato de que
seus olhos estão abertos e ele está olhando para mim, me faz
esquecer tudo isso. Porque ele está vivo. Vai ficar bem.

“Como você está se sentindo?”

“Melhor, agora que sei que você está bem”, ele diz.

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Lágrimas inundam meus olhos enquanto olho para ele. Eu


tento manter meus olhos longe de seu pescoço, não estando
pronta para ver o dano.

“Você me assustou, Gar.”

Ele força um sorriso pequeno por minha causa. “Mesmo.”

“Estou tão feliz por você estar bem. Não sei o que faria sem
você.”

“Estou feliz que você esteja bem também, moleque do


exército.”

Os olhos de Garrett de repente se arregalam e sua boca se


abre quando vê Alexis se aproximar da cama. Alexis e meu irmão
sempre foram próximos. Em uma família cheia de garotas, Garrett
sempre foi como um irmão mais velho para ela também, e é por
isso que zombar um do outro era como respirar para eles, eles não
podiam passar um dia sem fazer isso.

“O filho da puta realmente conseguiu.” Descrença ataca sua


voz e aceno, incapaz de conter o meu sorriso. “Droga”, ele geme.
“Fica muito difícil odiá-lo.”

Uma meia risada, meio soluço voa pelos meus lábios com a
verdade nessa declaração. “Ele realmente dificulta.”

Uma batida na porta nos faz olhar para a entrada,


encontrando Magdalene e um homem que não reconheço.

“Eu sou Joseph Evans, um associado do Sr. Sabella. Fico feliz


em ver que está consciente, Sr. Cova. Foi por um fio”, diz Evans,
olhando para uma prancheta, folheando seus próprios papéis.

Joseph Evans é alto e um pouco mais robusto, com cabelos


negros e olhos castanhos. Ele tem um profundo par de pés de
galinha ao redor dos olhos e um vinco concentrado entre as
sobrancelhas parece estar permanentemente gravado em sua
pele.

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“Eu ainda quero ficar de olho em você e seus ferimentos,


então o repouso na cama é uma ordem até começarmos a ver
algum progresso. Qual é o seu nível de dor em uma escala de um
a dez?”

“Dez”, Garrett diz, com o rosto flexionado. Joseph acena com


a cabeça em direção às bolsas conectadas ao seu soro.

“Eu coloquei você em uma bomba de Analgesia controlada


pelo paciente, então sempre que seu nível de dor ficar fora de
controle, basta clicar no botão”, diz ele, referindo-se ao controle
remoto em sua mão. “Isso deve ajudar a tornar as coisas mais
confortáveis para você. A bomba tem uma dosagem específica
definida, por isso, não adianta pressionar a bomba a cada cinco
minutos enquanto estiver com dor, porque não vai funcionar.
Programei uma dose bem alta agora, mas nos próximos dias,
enquanto você se recupera, vou começar a diminuir até que seu
corpo possa lidar com a dor sem ela. Acabei de apertar o botão do
gotejamento, então você vai começar a sentir melhora em apenas
alguns minutos.”

Joseph e Magdalene voam em torno de Garrett por um pouco


mais de tempo, fazendo isso e aquilo. Quando eles finalmente
saem, passo mais alguns minutos com Gar, notando a maneira
como suas pálpebras estão ficando mais fechadas e pesadas a
cada segundo.

Quando Jose, Kam, Monte e Clarence entram pela porta,


Alexis e eu tomamos aquilo como nossa deixa para sair. Eu sei
que eles provavelmente vão dar a notícia sobre Ricky para Gar, e
não sei se sou forte o suficiente para estar por perto para ouvir.

Não foge do meu conhecimento a maneira como Jose olha


para Alexis. Não é de uma maneira sexual, mas mais como um
olhar protetor. Ele a observa como um cão de guarda, como se ele
estivesse esperando atacar qualquer coisa que possa ameaçá-la a
qualquer momento.

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Quando noto Alexis olhando para ele com o canto do olho e


não com um olhar de desgosto, tenho que forçar meus lábios a
permanecerem fechados.

Interessante. Muito interessante.

Deixamos Garrett e os caras e optamos por voltar para nossos


quartos. Meus ombros caem quando não vejo Creed no quarto. E
não o encontro em nenhum lugar, na verdade. Já é madrugada, e
se passaram horas desde a nossa discussão. Certamente, ele
deveria estar de volta em nosso quarto agora, certo?

Sentindo-me fatigada, subo em nossa cama depois de fechar


as persianas para bloquear a luz e adormeço quase
instantaneamente.

Fico surpresa quando acordo horas depois e ainda não vejo


nenhum sinal de Creed. Quando tomo banho e me visto, já são
três da tarde. Eu tento não pensar muito nisso. Talvez ele tivesse
que fazer algo para seu pai, lidar com a morte de Ricky e as
consequências do que aconteceu no armazém.

Eu compartilho uma refeição com Alexis, visito Garrett e até


mesmo me deparo com Matteo, mas o único que eu não encontro
é Creed. Conforme o dia passa e as horas passam, sinto um nó
crescendo no meu estômago.

Algo está errado. Posso sentir.

Assim que o sol começa a se pôr, eu finalmente jogo a


precaução ao vento, tendo o suficiente. Percorro os corredores,
abrindo as portas de forma despreocupada. Apenas quando chego
à ala oeste da propriedade que encontro com Lorenzo. Ele me olha
com cautela enquanto faço o caminho mais curto até ele.
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“Você sabe onde está Creed? Eu não consegui encontrá-lo em


nenhum lugar.”

Lorenzo não diz nada por muito tempo, apenas olha para mim
como se estivesse tentando resolver uma equação de um problema
de matemática. Apenas quando arqueio uma sobrancelha é que
ele percebe que não vou embora sem uma resposta.

“Matteo tinha um trabalho para ele esta manhã. Pode


demorar um pouco para voltar ao seu estado normal.”

Meus olhos se estreitam. “O que isso deveria significar?”

Lorenzo olha para mim por um instante, como se não


entendesse meu lugar aqui, antes de soltar um suspiro
exasperado. “Se você não pode encontrar Creed em qualquer
lugar, ele provavelmente está no quarto ao lado do de Jose, ou no
jardim.”

Ele não espera que eu pergunte onde fica o quarto do Jose,


ele apenas passa por mim sem outra palavra.

Levo um tempo para percorrer a totalidade da propriedade,


mas assim que localizo os quartos de Jose e Kam, passo pela porta
do quarto de hóspedes esperando encontrar Creed lá dentro, mas,
em vez disso, está vazio. Eu não saio do quarto como deveria. Em
vez disso, entro e acendo as luzes, e quando o faço, meu estômago
se fecha.

“O que…”

O edredom na cama está manchado de sangue e um rastro


de gotículas leva ao banheiro. Por conta própria, meus olhos
seguem o rastro e se alargam quando pousam na pilha de roupas,
encharcadas de sangue. Mais rastros levam para o chuveiro, mas
a maior parte já foi lavada pelo ralo.

Sentindo-me tonta e francamente perturbada com a


quantidade de sangue, corro para fora do quarto de hóspedes,
hesitando em saber se devo procurar Creed no jardim. Mas, claro,
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sendo eu a idiota que sou, procuro de qualquer maneira. E quando


o encontro, o calor surge através do meu corpo.

Do lado de fora, no jardim, todo vestido de preto, Creed se


apoia em uma parede de tijolos com o que parece ser videiras
intrincadas. Ele tem uma perna dobrada, a sola da bota encostada
na parede e um cigarro na mão enquanto olha para o espaço,
concentrando-se em nada em particular. Círculos de fumaça saem
de suas narinas, as grossas ondas se erguem em torno de seu
rosto, pairando no ar perto dele. As pontas de seu cabelo preto
mal passam pelos olhos, as madeixas grossas parecendo
selvagens e despenteadas, mas sexy sem esforço.

Quanto mais olho para Creed, mais meu núcleo se aperta. Há


algo sobre a escuridão deste homem que me chama, me faz deseja-
lo de uma maneira que nunca pensei que fosse querer alguém ou
alguma coisa. Apenas parado ali, parecendo um anjo negro, com
um cigarro na mão, eu deveria estar enojada com o hábito, mas
surpreendentemente não estou. Estou curiosamente fixada e, se
estiver sendo honesta, estou até excitada. Ele parece pecado, céu
e inferno envolto em um belo embrulho.

Como se sentisse minha presença, os olhos de Creed se


voltam para mim e os fragmentos de gelo naquelas profundezas
me prendem no lugar. Ele não sorri. Não demonstra nenhuma
emoção externa. Apenas fica lá olhando e o peso do seu olhar me
faz mexer meus pés desconfortavelmente. Não posso deixar de me
perguntar se ele está com raiva de mim pelo jeito que o tratei
durante a nossa última conversa, que definitivamente explicaria a
expressão vazia em seu rosto e sua linguagem corporal impassível.

Invocando todas as minhas forças, respiro fundo e acabo com


a distância entre nós. Ele não pisca enquanto observa eu me
aproximar. Não perco o fato de que apaga o cigarro perto do
canteiro de flores quando percebe que me aproximei. Paro a
poucos metros dele, não tenho certeza se Creed me receberia para
um abraço em seus braços neste momento.

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“Eu não sabia que você fumava.”

“Eu não fumo”, é tudo o que diz, e não posso deixar de pensar
que é mentira quando eu obviamente o peguei fazendo isso. Meu
pai costumava fumar quando eu era mais jovem. Ele sempre dizia
que era o seu calmante e minha mãe odiava o hábito. Não posso
deixar de me perguntar se fumar também é um calmante para
Creed. Um silêncio desconfortável cai entre nós. Não dizemos nada
por um longo tempo. Tanto tempo, na verdade, que começo a me
perguntar se há um problema maior pairando sobre nossas
cabeças.

Então eu pergunto: “Onde você esteve?”

Ele não me responde. Apenas olha em frente, muito parecido


com o que costumava fazer na casa segura. Quando me sentia
como se estivesse falando com uma parede de tijolos, um homem
imponente que nem queria me dizer que horas eram. Com essa
percepção, sinto uma dor aguda no peito que se dissolve em
dormência, quanto mais ele não fala ou olha para mim. Só me faz
sentir pior sobre o que disse a ele anteriormente. Estava com raiva
e não deveria ter jogado tudo em cima dele do jeito que fiz. Deixei
minhas emoções me dominarem e talvez, talvez até quisesse
machucá-lo um pouco. Mas agora não quero nada disso.

“Sinto muito sobre mais cedo, Creed. Eu estava com raiva e


enquanto sei que você estava apenas cuidando de mim, deixei
minhas emoções me dominarem. E estou apenas… me desculpe.”

“Não se desculpe por se sentir como você se sente”, diz ele


estoicamente, ainda evitando o meu olhar. Isso dói. Sua frieza dói
mais do que eu pensava.

“Creed, por favor”, sussurro, sentindo lágrimas nos meus


olhos. “Eu não quero que você fique com raiva de mim.”

Ele faz um som na garganta que soa como uma risada, mas
nunca a libera. Enquanto espero que aceite minhas desculpas,
não posso deixar de olhar para ele, meus olhos varrendo cada
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pedaço. É óbvio que Creed é bonito, mas essa não é a única coisa
que faz os outros o notarem, é o poder dele, a aura que o cerca.
Há algo sobre ele que me faz sentir muito pequena quando estou
perto, mas também me faz sentir segura. Algo que, mesmo agora,
ainda me surpreende. Ele é um poder cru e inexplorado, mas
também é gentil e, às vezes, um mar de calma. É uma contradição
ambulante e eu o amo por isso.

Agora, tenho a sensação de que está lutando contra alguma


coisa. Eu não sei se é raiva de mim, ou o que mais aconteceu no
último dia, ou se é algo mais, mas posso sentir. Ele é como uma
tempestade presa dentro de uma garrafa defeituosa e estou
apenas esperando a rachadura inevitável antes que a garrafa se
estilhasse.

Engolindo a repentina onda de nervosismo, dou alguns


passos para mais perto dele e isso faz com que finalmente olhe
para mim. Há uma pequena centelha de emoção lá em suas
profundezas metálicas. Por menor que seja, ainda está lá e é o
suficiente para eu querer me aproximar.

Progresso.

“Onde você esteve?”

“Estava te dando espaço”, diz ele, sua voz soando profunda e


rouca enquanto me observa chegar mais perto, centímetro por
centímetro. Uma vez que estou de pé ao lado dele, estico minha
cabeça para trás para poder encará-lo.

“E se eu não quiser espaço?” Digo corajosamente,


pressionando minha palma contra os músculos firmes de seus
peitorais. Seu corpo vibra debaixo da minha palma. Ele parece
sombrio, pensativo e delicioso, um trio que é inerentemente Creed.
Meu coração bate contra as paredes da minha caixa torácica,
ameaçando se libertar enquanto deslizo as duas mãos ao longo do
seu peito. Creed não se move, nem sequer reage, apenas me

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observa com olhos calculistas. “E se eu só quiser você?” Sussurro,


ficando na ponta dos meus pés.

“Você já me tem”, diz ele em voz baixa e suave.

“Eu preciso sentir você, Creed. Você diz que tenho você?
Então me mostre. Prove”, eu o desafio, pressionando meus seios
contra o seu peito. Algo primitivo pisca em seus olhos com minhas
palavras. Dou um suspiro afiado quando suas mãos enrolam nos
meu bíceps e apertam levemente como se mal estivesse se
contendo.

“Sophia”, ele avisa quando olha para mim com os dentes


cerrados, luxúria brilhando em seus olhos.

“Pare de se conter, Creed, e me mostre.”

Isso faz tudo. Antes que eu consiga inalar outra respiração,


sua boca está na minha. Levando. Curando. Amando. Seus lábios
machucam os meus com uma paixão feroz que nunca senti nele
antes. O efeito disso faz com que eu aperte minhas coxas em
antecipação, qualquer coisa para afastar a necessidade que sinto.
Nossos lábios deslizam um sobre o outro, trabalhando em
conjunto enquanto a luxúria nada em nossas veias.

Ele me beija com fome como se estivesse faminto por mim.


Acaricio sua língua com a minha e movo meus quadris para trás
e para frente sobre sua crescente ereção que cutuca meu corpo.
As mãos de Creed deslizam pelos meus braços, por cima do meu
ombro e até o pescoço, indo até que as palmas de suas mãos se
assentam nas minhas nádegas, onde ele acaricia e inclina minha
cabeça para aprofundar nosso beijo.

“Por favor, Creed. Eu preciso de você”, gemo no beijo e isso é


tudo que ele precisa ouvir de mim.

Em segundos, Creed me vira e minhas costas batem contra a


parede de tijolos de vinhas. Sua cabeça se inclina, sugando contra
a pele do meu pescoço, seus dedos ágeis puxam meu top e meu

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sutiã apenas o suficiente para expor meu peito para suas carícias.
Ele chupa meu mamilo em sua boca e meus olhos rolam para trás
enquanto seus dentes mordem a ponta, enviando choques de
eletricidade direto para o meu clitóris.

Minhas mãos pegam seu jeans enquanto eu tento puxar seu


pau. Ele é quente ao toque e duro como uma rocha. Eu acaricio
meu punho para cima e para baixo, gemendo com a sensação
aveludada contra a palma da minha mão. Creed desliza a mão
livre pelas minhas calças e seus dedos mergulham na minha
umidade. Ele espalha minha excitação no clitóris e entre minhas
dobras. Um gemido profundo e gutural desliza dos meus lábios,
ecoando no jardim ao nosso redor.

Enquanto Creed desce minhas calças e roupas íntimas pelas


pernas, seus lábios cheios permanecem perto da minha orelha,
sua boca roçando a concha. “Alguém pode nos ver”, diz ele com
uma voz rouca enquanto continua a empurrar o dedo dentro e fora
de mim. Minhas paredes apertam seu dedo e ele ri no meu ouvido.
O som é sombrio e oh tão sexy.

Eu não posso explicar, mas a emoção, apenas o pensamento


de alguém nos pegar me deixa incrivelmente excitada.

“Isso te excita, Sophia?” Ele pergunta zombeteiramente, seu


dedo investindo mais rápido agora.

Os músculos do meu estômago se contraem. Com a unha do


seu polegar, ele arranha meu clitóris e engasgo com minha
respiração.

“Sim, não é? Sua buceta está encharcando minha mão, baby,


e isso é tudo que eu preciso.”

Minhas unhas cravam na pele de seus antebraços quando


sinto o orgasmo crescendo. Meus quadris giram e empurram para
frente, fodendo seus dedos.

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“Por favor, Creed”, eu imploro, precisando senti-lo dentro de


mim. Ele deve se sentir da mesma maneira, porque passa as mãos
debaixo da minha bunda e me levanta. Envolvo minhas pernas em
sua cintura e quando sua ponta bate no meu clitóris, deixo
escapar um gemido, minha cabeça batendo contra a parede de
tijolos, as vinhas trabalhando como uma almofada para o meu
crânio.

Em um forte ataque, seu pau desliza para dentro de mim,


direto até o fundo. A língua de Creed guerreia com a minha, e ele
impõe seu ritmo, fazendo minha buceta apertar a cada impacto de
seus quadris contra mim.

“Oh, Deus, Creed”, gemo, envolvendo minhas mãos em seu


pescoço, para puxar seus lábios para os meus novamente, mas ele
afasta sua cabeça para trás, me observando através de pálpebras
pesadas em vez disso.

“Você é minha”, ele rosna enquanto seus olhos se dirigem


para os nossos corpos. Ele observa seu pau bater em mim e isso
só faz meus músculos se apertarem ao redor dele ainda mais forte.
Levanto meus quadris para cada surto de atrito contra o meu
clitóris, o efeito que tem em mim me deixa ofegante para a
respiração muito necessária. “Diga”, ele exige.

“Eu sou sua”, choramingo. Minhas mãos seguram e agarram


seus ombros e ele desce a boca sobre a minha. Engole meus
gemidos de prazer e me acaricia insistentemente, exigindo que eu
lhe dê um orgasmo. Quando desliza a mão entre nossos corpos e
acaricia meu clitóris, eu me quebro em seus braços. Minhas
pernas e meus quadris apertam Creed quando o orgasmo me
atinge.

Não demora muito para Creed me seguir, seus quadris pegam


o ritmo e antes que eu veja, ele está se acalmando, seu pau se
contraindo dentro de mim com sua liberação. Ele me segura em
seus braços por um tempo, permitindo que recuperemos o fôlego.

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Ele se afasta um pouco, inclinando a cabeça para baixo e


olhando para mim, esferas de prata penetrando em minha alma,
apertando meu coração. Sua mão calorosa e calosa de repente
cobre minha bochecha e ele me beija docemente, suavemente. Tão
em desacordo com o que acabamos de fazer.

Creed me ajuda a ficar de pé e minhas pernas tremem,


parecendo macarrão. Nós nos recompomos e Creed estende a mão
para mim, sua mão engolindo a minha e ele aperta, nunca
olhando para longe.

Essa é toda a confirmação de que preciso. Nós sempre


estaremos bem, não importa o que aconteça.

Uma vez dentro do nosso quarto, Creed me deita na cama ao


lado dele. Nós dois descansamos de lado, apenas observando um
ao outro. Sinto que faz tanto tempo desde que tive a oportunidade
de apenas olhar para ele.

“Acho que devemos conversar agora”, eu digo.

Creed solta um suspiro. “Certo.”

“Para começar, nunca, nunca me afaste de novo. Você me


entendeu, Creed? Você não pode tomar decisões por mim.”

O rosto de Creed fica estoico. “Sim, eu posso. Se for preciso,


farei outra vez.”

Meu peito comprime com raiva e meus olhos se estreitam.


“Creed, você está me irritando.”

Ele sorri e é muito irritante e sinto vontade de dar um tapa


nele.

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“Eu não me importo se estou te irritando, Sophia”, diz ele, o


sorriso agora fugiu do seu rosto. “Sua segurança sempre virá em
primeiro lugar. Isso não é negociável.”

Meu lábio superior se curva e estendo a mão para golpear


Creed no rosto, qualquer coisa para colocar algum sentido naquele
homem, mas ele pega meu pulso no ar. Em vez de olhar com raiva,
parece divertido.

“Tente mais forte, anjo.” Ele sorri.

Com um grunhido, eu rolo em cima de Creed, jogando


minhas pernas ao redor dele. Meu peito arfa enquanto o encaro.
“Retire o que disse.”

Creed olha para mim, luxúria e fogo queimando em seus


olhos. “Me obrigue.”

Suas palavras enviam uma onda de emoção através de mim.


Estou furiosa com ele, mas Deus, não posso evitar o jeito que
minha buceta se aperta de necessidade dele, mesmo depois de tê-
lo.

Algo muda no ar quando nos encaramos e a próxima coisa


que sei é que a boca dele está na minha. Somos apenas línguas,
dentes e lábios, tentando levar o outro ao limite. As mãos de Creed
deslizam ao redor da minha cintura, seus dedos cavando em
minha pele antes dele me virar de costas, sua forma escura
pairando sobre mim.

Tiramos as roupas um do outro, nossas bocas se fundindo.


Minhas mãos seguram seus ombros firmes e, ociosamente, não
posso deixar de me perguntar se ele de alguma forma ficou mais
musculoso durante o tempo que passamos separados. Eu não
pude notar no jardim, mas agora posso. Ele faz um trabalho
rápido em remover meu sutiã e sua mão mergulha na minha
calcinha, os dedos ágeis acariciando meu feixe de nervos. Lanço
minha cabeça para trás e arqueio o corpo contra o dele, ainda
sensível depois do primeiro round.
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A língua hábil de Creed gira em torno do meu mamilo. Ele


suga o bico endurecido em sua boca, girando a ponta da língua.
Trata cada seio com igual atenção enquanto seu polegar continua
a esfregar círculos em meu clitóris e meus olhos rolam para a
parte de trás da minha cabeça. Quando seu dedo desliza dentro
de mim, minhas paredes se apertam imediatamente em torno da
intrusão. Lentamente, ele investe o dedo para dentro, os únicos
sons são da minha umidade e seu gozo que ainda está dentro de
mim, e meus sons de prazer.

Estou perto. Meu corpo já está acelerado do meu último


orgasmo.

A força do orgasmo que cresce dentro de mim é


impressionante. Surpreendente. Muito mais forte que o anterior.
Parece que meu corpo vai explodir, explodir em pedaços, em pó,
em meros átomos quando ele eventualmente chegar lá.

“Essa é minha menina”, Creed suspira roucamente, me


observando contorcer debaixo dele com muita atenção. Meu
centro se aperta quando sua língua se projeta para molhar o lábio
inferior. Ele desliza outro dedo dentro de mim.

“Oh, foda-se”, gemo, minha boca caindo aberta. Creed


aproveita isso e mergulhando a cabeça para baixo, me beija. Sua
língua girando com a minha. Como se ele pudesse sentir o quão
perto estou, seus dedos começam a me penetrar mais rápido,
empurrar mais forte, até que atingem aquele ponto mítico que só
Creed é capaz de encontrar.

“Goze para mim, Sophia. Goze em meus dedos, anjo.”

E eu gozo. Suas palavras são minha ruína. Minha buceta


espasma em torno de seus dedos e solto um grito abafado com a
força do orgasmo que me atinge.

Ele não para por aí. Em vez de tirar os dedos de mim, só


diminui o ritmo e cai de joelhos, se inclinando, alinhando o rosto
com meu centro. Um gemido escapa dos meus lábios.
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Ele puxa meu traseiro para a beira da cama e coloca a boca


entre as minhas pernas. Creed me come como um homem
faminto. Um homem em uma maldita missão. Sua língua palpita
sobre meu feixe de nervos sem remorso. Minhas pernas de repente
tentam se unir, e minhas mãos voam para sua cabeça, mas ao
invés de puxar para perto de mim, minhas mãos empurram sua
cabeça, incapaz de lidar com a multiplicidade de sensações que
provoca em mim. Seus dedos me fodendo, sua língua tremulando
sobre mim. Tudo me faz ter outro orgasmo.

“Creed”, eu suspiro e imploro, incoerentemente, não tenho


certeza do que estou pedindo.

Ignorando meus pedidos, ele me fode mais forte, mais rápido


e com mais força. Seus dedos cravam em minha pele e prendo a
respiração enquanto tento lidar com todas as sensações. A curva
de seus dedos em um movimento de entrada e saída é o que
finalmente me faz quebrar. Por um segundo, minha visão fica em
preto e branco, e quase todas as outras cores que você pode
imaginar. Eu quase acho que fiquei surda, mas meus gemidos se
transformam em um grito longo e agudo que arranha minha
garganta. Uma explosão ocorre no meu corpo, tão forte, parece
que uma caixa de C4 acabou de ser detonada, me destruindo em
pedaços. Eu estremeço contra ele, minhas pernas tremendo com
tanta força que Creed tem que firmá-las.

Ele finalmente relaxa a língua para lambidas suaves e


prolongadas que ainda causam sacudidas através do meu núcleo
até que desliza os dedos para fora de mim. Com movimentos
controlados, ele se levanta, se livrando de sua calça e cueca em
segundos.

“Puta merda”, eu solto. Nossos olhares se fixam e o calor que


vejo em seus olhos me faz gemer, morrendo de vontade de tê-lo
dentro de mim.

“Eu estou só começando, baby”, ele diz sombriamente, e um


miado de excitação escapa da minha garganta.
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Inclino-me para cima, em um dos meus cotovelos e estendo


a mão para Creed. Ele vem de bom grado, me permitindo puxar
seu corpo contra o meu e fundir nossos lábios. Eu gemo em sua
boca quando sinto um gosto de mim mesma em seus lábios. É tão
sexy, minhas paredes se apertam juntas, implorando que deslize
dentro de mim.

“Agora, Creed. Eu preciso de você agora”, digo ansiosamente,


minha mão livre se movimentando em seu pau longo e duro. Meus
dedos mal envolvem seu eixo grosso enquanto o aperto,
acariciando, guiando-o em direção à minha entrada. Creed de
repente tem uma mudança de planos enquanto me envolve com
as mãos, me puxando para a beira da cama com ele. Minhas mãos
seguram em seus ombros e abro minhas pernas para ele, uma
indicação de que preciso dele dentro de mim.

Levando as mãos aos meus quadris para me firmar e me


colocar em um ângulo na posição certa, Creed desliza para dentro
de mim lentamente e nós dois gememos em aprovação. Minhas
paredes se esticam deliciosamente para acomodar seu tamanho.
Há uma leve pontada de dor, mas o prazer domina tudo isso.

Nossos olhos se encontram, de verde a cinza e meu peito se


enche de calor. Sua mão percorre meu corpo, deslizando entre
meus seios, minha garganta, em direção a minha bochecha. Seus
olhos de repente suavizam enquanto olha para mim, mas sua voz
está rouca.

“Eu não posso ser gentil.” Ele tem tiques na mandíbula, como
se estivesse lutando contra a necessidade do seu corpo de
acasalar e me bater na cama como um animal selvagem. Eu coloco
uma mão sobre a dele e a retiro da minha pele. Meus lábios
pressionam contra sua palma quente e me sinto encorajada, levo
o polegar para a minha boca, chupando a ponta, levemente
roçando entre os meus dentes. Seus olhos brilham com calor.

“Foda-me, Creed. Eu preciso de você.”

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Com minhas palavras, ele bate em mim, ambos os nossos


olhos presos um ao outro com uma paixão que tudo consome. Um
gemido de prazer passa pelos meus lábios e meus olhos se
arregalam de prazer.

Creed entra e sai do meu corpo, sua pele batendo contra a


minha eroticamente. Seu pau esfrega ao longo daquele ponto
dentro de mim que me faz sentir como se eu fosse explodir. Meus
dedos encontram a curva em seus ombros e eu cavo minhas
unhas para baixo e para dentro dele, meus olhos rolando na
minha cabeça.

“Você é minha”, ele grunhe, empurrando para dentro de mim.


“Essa buceta é minha. Tudo é meu, Sophia”, ele rosna, seu
comprimento e o nível de sua necessidade por mim é brutal.

Ele bate em mim. Toda vez que se afasta, não posso deixar de
gritar de prazer quando meus músculos se contraem.

“Quando eu digo que vou te proteger, estou falando sério, me


entende? Não discuta mais comigo nas decisões. Entendeu?”

Meu corpo fica vermelho e minha respiração irregular


enquanto tento permanecer coerente e não desmaiar de prazer.
Seus impulsos me fazem ver estrelas, me atordoando, me
enviando para um reino completamente diferente.

Eu sei que estou murmurando coisas que não fazem sentido,


mas não consigo manter minha boca fechada sem prender a
respiração.

“Responda, Sophia!” Ele rosna, empurrando mais fundo. Há


pressão. Tanta pressão, meus pulmões inalam com ar, se
preparando para gritar quando ele investe dentro e fora de mim
com a força de um aríete.

Eu não quero concordar com isso. Eu não deveria ter que


concordar com ele sobre isso, mas Deus, Creed me faz tão bem.

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Não consigo nem pensar direito. Prazer nubla todo sentido


racional e antes que eu perceba, grito: “Sim!”

Meus braços se apertam ao redor de seu pescoço, trazendo


seus lábios para os meus. Creed desliza suas mãos entre nós,
esfregando círculos sobre o meu clitóris, acelerando seus
impulsos e eu me estilhaço em um milhão de pedaços debaixo
dele. Um grito de prazer ressoa do meu peito e ele engole tudo com
a boca. Me beijando. Me amando.

Lágrimas de prazer escapam dos cantos dos meus olhos


enquanto Creed persegue seu próprio orgasmo. Seus impulsos se
aceleram e seus lábios descem para o meu pescoço, onde o ouço
gemer de prazer, seu corpo ligeiramente enrijecido sobre o meu
quando goza dentro de mim.

Creed paira sobre mim, dando o seu melhor para não me


sufocar. Ele inclina o rosto para longe do meu pescoço e nossos
olhares se encontram. O suor escorre pelo seu rosto, gotículas
penduradas naqueles fios negros. Nossa pele está muito
escorregadia de suor quando movo minha mão ao longo de suas
costas para trazer sua boca até a minha, que ela desliza. Ele ainda
entende minhas intenções, se curvando para pegar meus lábios
em um beijo que é suave e gentil, não como o que acabamos de
fazer juntos.

Foi incrível. Talvez até o melhor sexo que tivemos juntos.

Sinto que Creed se soltou. Algo sobre o jeito que ele me fodeu,
tão primitivo e sem remorso, me fez sentir como se estivéssemos
quebrando novas barreiras.

Ele sai de mim, caindo na cama ao meu lado, peito arfando e


brilhando de suor. Deito-me de costas, cansada demais para
inclinar o corpo para o dele. Em vez disso, me conformo em mover
a cabeça para olhar para ele. E vejo como seu peito sobe e desce,
seus olhos se fecham enquanto tenta recuperar o fôlego. Meu peito
enche de calor enquanto olho para ele. Eu senti falta disso,

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ansiava por isso enquanto estava longe dele e agora que o tenho
aqui ao meu lado, eu não quero que ele saia do meu lado
novamente.

“Eu te amo tanto”, sussurro, a voz grossa de emoção. Os


olhos de Creed se abrem e ele inclina a cabeça para mim, as
sobrancelhas franzidas enquanto me observa. Tudo o que ele vê
no meu rosto faz com que incline o corpo para o meu e me puxe
para seus braços. Ele puxa minha cabeça contra seu peito e
descansa o queixo no topo da minha cabeça.

“Eu também te amo, anjo”, diz, a voz tão firme, é como um


bálsamo para a minha alma. “Você está bem? O bebê está...?”

Eu sorrio em seu peito e me aconchego mais nele. “Estamos


bem. Tudo está perfeito”, sussurro feliz. Minhas pálpebras
começam a ficar pesadas e é um fardo mantê-las abertas por mais
tempo. Sinto meu corpo escorregar em um sono contido enquanto
Creed me mantém envolvida em seus braços. Todas as minhas
preocupações desaparecem. Somos apenas nós, como sempre foi
destinado a ser.

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Sophia

Eu acordo na manhã seguinte surpresa quando há um calor


de corpo sufocante no meu traseiro. Coloco meus cotovelos no
colchão prestes a me mover, mas o peso de um braço descansando
em volta da minha cintura me mantém presa no lugar.

Um sorriso eleva os cantos dos meus lábios enquanto as


imagens da noite passada aparecem em flashes. Meu corpo
aquece enquanto eu me lembro vividamente do jeito que Creed me
fodeu sem sentido. A sensibilidade entre minhas pernas é prova
disso. É uma dor deliciosa, que estou muito feliz em estar
sentindo.

“Bom dia.”

Eu me assusto com o som da voz rouca de Creed. Desta vez,


quando tento me aproximar dele, ele me ajuda, virando para o
outro lado. Seu cabelo está despenteado de sono e o cinza
surpreendente de seus olhos parece alerta como sempre.

“Há quanto tempo você está acordado?” Eu pergunto


enquanto levanto meu braço e descanso a palma da mão contra

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sua bochecha quente e áspera. Seus olhos buscam os meus


enquanto eles voam pelo meu rosto.

“Um tempo.” Sua voz é firme e crua, como uma lixa.

As pontas dos meus dedos acariciam sua pele em traços


suaves de penas. Eu me aconchego um pouco mais perto,
querendo me aquecer nele. “Podemos, por favor, conversar agora?
Não me confunda mais com sexo”, digo a ele severamente,
sabendo que precisamos discutir o que tem acontecido nas
últimas semanas e o que faremos a partir daqui.

Os lábios de Creed se retorcem em um sorriso torto. “Comida


primeiro?”

Meu estômago escolhe esse exato momento para roncar,


retumbando alto entre nós. O risinho em seu rosto se transforma
em um sorriso completo quando ele ri, o som profundo e rouco.

“Vamos lá, alimentar vocês dois.”

Um largo sorriso se espalha no meu rosto com a menção do


nosso bebê, e mesmo quando ele me ajuda a sair da cama, eu
ainda não consigo apaga-lo. Depois que nos vestimos, saímos do
quarto com as mãos juntas. Eu considero bater na porta de Alex
para ver como ela está, mas acho que pode esperar até que eu
tenha uma conversa completa com o Creed.

Ele lidera o caminho em direção à cozinha, seus passos


decididos e firmes. Uma vez que atravessamos as portas, as
mulheres vestidas de uniforme preto e conservador empalidecem
com a presença dele lá na cozinha.

“Pode preparar uma refeição para Sophia, Mary? Algo


saudável com muita proteína e fruta.”

“Claro, Sr. Sabella. Ovos com presunto e um


acompanhamento de frutas e torradas para vocês dois?”

“Perfeito. Obrigado.”

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Creed me leva para fora da cozinha, para a sala de jantar e


um surto de surpresa dispara através do meu corpo quando vejo
todos já sentados ao redor da mesa, menos Matteo e meu irmão.
Meu olhar cruza com Alexis que está sentada ao lado de Jose.
Quando o lábio dela se torce em um triste sorriso, o calor sobe
pelo meu pescoço e se instala pesadamente nas minhas
bochechas.

Oh Deus. Ela deve ter nos ouvido ontem à noite. Bem, eu


quero dizer, ela deve ter me ouvido.

Tomo o assento livre ao lado de Lex e Creed segue o exemplo,


sentando no meu outro lado. A mesa está cheia de silêncio até que
Creed o quebra.

“Muita coisa aconteceu nas últimas vinte e quatro horas”, diz


ele, com voz baixa e se não me engano, até com um pouco de
tristeza. “Perdemos um grande homem que se dedicava a proteger
Sophia. O pai de Ricky está organizando um funeral para ele na
próxima sexta-feira.”

Todos os caras olham para o espaço, absorvendo as palavras


de Creed. Não posso imaginar como qualquer um deles se sente.
Especialmente Kam.

“É óbvio que os homens do meu mundo são selvagens e é


ainda mais óbvio que a mira deles será em Sophia, porque agora
eles a veem como minha fraqueza”, ele diz fortemente, olhando
para cada um dos caras. “Eu não espero que nenhum de vocês
fique depois que o funeral de Ricky terminar, mas, se quiserem
ficar, apenas saibam que o convite para estadia nesta propriedade
está em aberto para cada um de vocês, indefinidamente.”

Meu coração dói quando percebo o que Creed está fazendo.


Ele está dando aos caras uma saída depois da morte de Ricky. Se
algum deles quiser partir, seguir suas próprias vidas ou carreiras,
eles podem.

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“Finlay ainda é uma grande ameaça não apenas para o bem-


estar de Sophia, mas para todos os outros. Ele é um curinga, e
não há como dizer até onde ele vai chegar para colocar as mãos
em Sophia. Se decidirem partir, sugiro que fiquem de olhos
abertos e de olho nas costas.”

A mesa fica em silêncio. E espero que alguém diga alguma


coisa. Jose não decepciona.

“Eu não pretendo ir a qualquer lugar, Creed. Acho que falo


por todos os caras quando digo que nossa lealdade está com
Sophia e você. Queremos derrubar Finlay tanto quanto você.
Queremos vingança por Mera, por Ricky, por Garrett, não vamos
a lugar algum.”

A emoção enche meu peito quando olho em volta da mesa


para os caras. Monte e Clarence dão um aceno em concordância,
Kam parece estar com dor, mas sacode a cabeça para cima e para
baixo em um sim, assim como Lorenzo.

O fato de eu ter tantas pessoas atrás de mim, dispostas a me


proteger, traz lágrimas aos meus olhos. Creed encontra minha
mão debaixo da mesa e aperta, como se soubesse que estou perto
de começar a chorar.

“Obrigada pessoal”, eu sussurro, a voz embargada.

“Nós vamos proteger você e este bebê, não importa o que,


Soph”, Alexis diz do meu lado, tomando minha mão livre na dela.

Amor.

Amor enche meu peito e se espalha pela minha alma quando


observo aquela tripulação de desajustados diante de mim.
Homens de origens diferentes se unindo em um propósito: me
ajudar. Isso faz coisas estranhas ao meu coração. Não sei dizer se
são os hormônios ou se preciso apenas de um choro realmente
bom.

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Creed aperta minha mão e volto o olhar para ele. Há uma


necessidade agressiva de proteger em seus olhos, é uma promessa
de me manter segura. E ele sela essa promessa com um beijo
alucinante. Bem ali na frente de todos.

Depois do café da manhã, visito meu irmão com Creed e


Alexis a reboque. Ele está acordado quando chegamos lá, ainda
parecendo pior pelo desgaste, mas definitivamente está melhor do
que estava ontem. Nós conversamos por um tempo, até que seus
olhos estão se fechando de fadiga.

Lexi decide ficar com Garrett em vez de voltar para o quarto.


Eu sei que provavelmente se sente perdida e meu irmão é a única
pessoa familiar aqui para ela. Então a deixo ali. Sabendo o quanto
precisa desse senso de familiaridade.

Eu ando de mãos dadas com Creed pelo corredor mal


iluminado. No começo, acho que estamos voltando para o nosso
quarto para uma discussão particular, mas, em vez disso, ele vira
à esquerda e descemos as escadas direto para o jardim, além das
portas francesas.

À luz do dia, não posso deixar de suspirar com a beleza que


é este jardim. Quando estivemos aqui ontem à noite, tudo em que
eu conseguia me concentrar era nele, mas agora, eu também vejo
tudo o mais. Tantas flores e cores surgem para mim de uma só
vez. E o cheiro, delicioso, o cheiro aqui é divino. O jardim parece
que continua e prossegue enquanto o terreno mergulha mais
baixo, abrindo-se para os acres de terra verdejante na
propriedade. Quando saímos das portas e sob o arco envolto em
videiras de glicínias e flores vibrantes e púrpuras, meus olhos
seguem as videiras tortuosas em direção à parede de tijolos que

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Creed e eu... apenas pensar no que fizemos lá ontem à noite faz


com que o calor nas minhas bochechas aumente.

Uma fonte de um anjo querubim jorra água no centro do


jardim, enquanto canteiros e seções de uma multidão de outras
flores o cercam. Há uma seção de orquídeas coloridas, depois
rosas, a mais estranha de todas é a seção de rosas negras. Elas
não estão mortas, apenas são negras. Em plena floração, a rosa
parece uma profunda sombra carmesim, quase inclinada para o
roxo, e as bordas das pétalas parecem de camurça preta.

Elas são lindas.

Ando ao lado de Creed, absorvendo tudo aquilo. Quando


chegamos à borda, onde fica o corrimão, suspiro quando percebo
que não é onde termina. É só o começo. Além do corrimão, há um
conjunto de escadas de pedra que levam a uma exuberante
vegetação e arbustos, as sebes cortadas na forma de um labirinto.

“Meu Deus, Creed”, suspiro. “Isso é lindo.”

Ele limpa a garganta antes de dizer: “Minha mãe fez isso.”

Eu giro para encará-lo, minhas sobrancelhas subindo até o


couro cabeludo. “Sua mãe fez tudo isso? Isso é impossível.”

Um pequeno sorriso enfeita seus lábios enquanto analisa o


labirinto com um olhar de nostalgia em seus olhos. “Não a coisa
toda. Matteo nunca deixaria. Mas, cada flor, cada árvore, cada
arbusto, ela plantou e regou para a vida. Ela tinha um dedo verde,
obviamente. Costumava usar o jardim como uma fuga, às vezes
para nós dois.”

Meu coração aperta enquanto imagino um jovem Creed com


sua mãe, encontrando a paz construindo este jardim, sua única
saída da vida sombria que os cercava. Isso me lembra da minha
mãe. Ela era obcecada por flores e plantas também.

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“Nós tínhamos jardineiros que apareciam para limpar e


cortar, mas minha mãe era quem sempre fazia o plantio e a
jardinagem no viveiro. Este era o oásis dela.”

E quando olho em volta para as cores vibrantes, a


multiplicidade de flores e plantas, vejo como esse lugar poderia
ser seu oásis. Estou começando a pensar que é meu também.

“Sua mãe parece uma alma bonita, Creed.”

Seus olhos vagueiam para os meus, me fixando no lugar.


Tantas emoções em redemoinhos em suas profundezas de prata,
que não posso apontar apenas uma. “Ela era. E você também é.”

Suas palavras provocam lágrimas aos meus olhos. Incapaz


de me controlar, pulo nele, jogando meus braços ao redor de seus
ombros e o beijando. Com a minha mão em volta do seu pescoço,
o beijo profundamente, suas palavras acariciando meu corpo.
Quando nos separamos, Creed olha para mim e eu finalmente leio
suas emoções mais proeminentes, amor, proteção e determinação.

“As coisas não vão ser fáceis, anjo.”

Balanço minha cabeça e aperto minhas mãos ao redor dele,


forçando-o a me ouvir. “Eu não me importo que as coisas sejam
difíceis. Tudo o que me importa é estar com você. Prometa que não
haverá mais segredos, nem me afastar mais? Somos uma equipe,
Creed, isso significa que tomamos decisões juntos, não apenas
você resolvendo tudo para mim. Nós faremos isso como uma
família.”

“Tenho obrigações com meu pai, la famiglia. Eu não quero


você perto de nada disso, il mio amore. Se para te manter segura
tiver que me distanciar, então que seja. Você é muito importante
para perder, Sophia.”

“Você nunca vai me perder.”

A mandíbula de Creed se move quando ele quer discutir, mas


não vou aceitar nada disso. Coloco meu dedo indicador sobre seus
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lábios para silencia-lo e digo: “Me ouça, Creed. Somos mais fortes
quando estamos juntos, você e eu sabemos disso. Não posso fazer
isso sem você novamente. Aquelas semanas longe me mataram.
Eu prefiro ter você lá fora, fazendo Deus sabe o que, e depois
voltando para casa para mim, do que ficar no escuro, sem saber
onde você está, ou se está vivo. Eu sei que você tem obrigações e
entendo, mas você também tem obrigações conosco. Nós
precisamos de você.”

Ele olha para baixo, me observando em silêncio por alguns


instantes até eu ver resignação em seu rosto. Sim, disse
resignação. Ele solta um suspiro agudo e cobre minha bochecha
com a palma da mão.

“Você está certa”, diz ele, e tento não parecer tão atordoada
por ele realmente concordar comigo, mas Creed deve ver de
qualquer maneira, porque ri. O som é como um lindo bálsamo
para minha alma. Ele se inclina e descansa a testa contra a
minha. “Isso não significa que vou deixar você se meter em tudo,
Sophia. Há algumas coisas que me recuso a compartilhar com
você quando se trata dessa parte da minha vida. Isso é uma
escuridão, e me recuso a te manchar, não importa o que aconteça.
Eu não estava mentindo quando lhe contei que parte da minha
vida não é bonita. Haverá momentos em que vou chegar em casa
com o sangue de outra pessoa em mim, haverá momentos em que
a escuridão tentará me consumir, mas assim como te disse, não
tem como eu compartilhar essa parte da minha vida contigo. Você
pode ter tudo, menos isso, Sophia. Você merece mais do que um
homem que chega em casa com a vida e a alma de outra pessoa
manchando a dele. Você merece muito mais que isso.”

Lágrimas brotam em meus olhos e tudo que consigo fazer é


acenar com a cabeça. Porque eu entendo. Eu entendo muito bem.
Se vamos fazer isso funcionar, ele precisa me proteger da
escuridão com a qual vai lidar. E se esta é a única maneira, então
que assim seja. Posso não gostar, mas não tenho muita escolha.

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Ver o quarto de hóspedes e suas roupas cheias de sangue não


me fez sentir bem. Quis correr na direção oposta e vomitar no
carpete ao mesmo tempo. Eu não quero nem imaginar Creed
coberto de sangue e carne, mas sei que em algum momento, como
ontem, vai acontecer.

“Eu não vou a lugar nenhum, anjo. É só eu e você.”

Eu pressiono meus lábios contra os dele e sorrio. “Você quer


dizer nós”, eu corrijo, e sinto seu sorriso contra a minha boca.

“Nós.”

Creed e eu compartilhamos um almoço íntimo no jardim,


então ele me arrasta de volta para o nosso quarto onde faz amor
comigo, compensando o tempo perdido. Depois de um tempo nos
braços um do outro, ele diz que precisa sair por um tempo, até a
hora do jantar, cuidar de alguns negócios para o pai. Tenho que
me forçar a manter meus pensamentos indiscretos para mim
mesma. Depois da nossa discussão, sei que é assim que as coisas
têm que ser, mas isso não significa que nem sempre serei curiosa.

Então, para fazer isso funcionar, sorrio e lhe dou um beijo de


boca aberta, para que ele saiba que eu sentirei sua falta enquanto
estiver fora, mas que eu entendo, no entanto. Ele deve perceber o
quanto aquilo é difícil para mim porque segura meu rosto com as
mãos, sendo gentil e diz: “Eu voltarei antes que você perceba.” Ele
me beija na testa e novamente na boca antes de se vestir e sair.

Eu me forço a levantar e entrar no chuveiro antes de ir checar


Alexis e Garrett. Estou feliz por ter pelo menos a companhia deles
para manter minha mente longe de Creed e o que quer que fosse
que Matteo estivesse o mandando fazer agora.

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Enquanto me dirijo para a sala médica onde Garrett está,


meus pés ficam lentos quando passo pelo escritório de Matteo. A
porta está fechada e está quieto além da escuridão da imponente
madeira. Eu sei que deveria continuar andando e apenas passar
o tempo com Garrett e Alexis, mas meus pés têm vontade própria.
Antes de perceber o que estou fazendo, estou em frente à porta,
batendo na madeira. Ouço um rude, “Entre”, mas de repente estou
congelada no local.

Esta é a minha chance de me virar e fingir que isso nunca


aconteceu, mas em vez de fazer exatamente isso, fico e espero que
ele abra a porta. Ele não decepciona quando faz. Matteo a abre
com uma expressão irritada no rosto. No segundo em que seus
olhos pousam em mim, sua expressão vacila e seus olhos
suavizam.

“Sophia?”

Calor sobe ao meu rosto e eu mexo desajeitadamente em


meus pés. “Oi”, digo, levantando a mão em um aceno estranho.

“O que há de errado?” Ele pergunta, suas sobrancelhas


imediatamente mergulhando em uma carranca que se assemelha
a do seu filho.

“Nada está errado. Eu só queria saber se poderíamos


conversar?”

Surpresa. Essa é a melhor maneira que posso descrever o


olhar no rosto de Matteo enquanto me encara. Ele se afasta e
mantém a porta aberta um pouco mais para eu entrar.

Sento-me em uma das poltronas colocadas em frente à sua


mesa e observo tudo ao meu redor. Seu escritório é grande, a
imponente mesa na minha frente é o ponto focal. Para o lado fica
uma lareira e várias prateleiras nas paredes exibindo esquisitices.
Meus olhos pousam nele e na estante que está atrás. É quando
vejo o crânio descansando em uma das prateleiras. Parece...
diferente, não como um crânio comum que você vê pregado em
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um esqueleto ou em uma loja de Halloween. Este parece mais...


real.

“Sobre o que você queria falar comigo, Sophia?” Pergunta ele,


indo direto ao assunto. Engulo em seco, finalmente afastando meu
olhar do crânio de volta para ele. Matteo está descansando
confortavelmente em sua cadeira com as mãos na mesa,
esperando que eu fale.

“Eu preciso de um favor.”

Isso faz com que suas sobrancelhas subam, desaparecendo


em sua linha do cabelo. “Oh?”

“Você pode me prometer que fará esse favor, não importa o


que seja? Por favor.”

Matteo ri agudamente. “Você quer que eu te prometa algo sem


saber dos detalhes? Cova, Senhorita. Cova, você sabe que não
posso fazer isso.”

Eu me inclino para frente, descansando minhas mãos na


mesa e olho diretamente em seus olhos. “Por favor, Matteo”, eu
imploro.

Não sei o que causa isso, mas um breve lampejo de dor


ondula em seu rosto antes que ele seja capaz de escondê-lo. Seus
olhos suavizam quando olha para mim e como se não pudesse
acreditar no que está fazendo, solta um suspiro longo e duro e
olha para o teto. Seus lábios se movem, como se estivesse dizendo
alguma coisa, mas eu não ouço nada.

“Tudo bem”, ele concorda. “O que é esse favor?”

“Tenho a sua palavra?” Verifico novamente, me certificando


de que ele não está blefando.

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Ele ri. “Gesú49, mulher. Sim. Sim. Você tem minha palavra,
agora diga logo.”

Eu me endireito no lugar e peço a ele uma coisa e uma coisa


só. “Me prometa, Matteo, prometa que você nunca deixará nada
acontecer com ele. Não importa o que. Eu preciso de você para
mantê-lo seguro enquanto estiver lá fora. Eu concordei que não
faria perguntas sobre essa parte de sua vida, mas preciso de
algum tipo de garantia. Preciso saber que ele ficará bem. Seja hoje
à noite, amanhã, daqui a um mês, alguns anos, prometa que você
fará isso.”

O rosto de Matteo fica sério e ele esfrega uma mão áspera pelo
rosto. “Sophia... eu...”

“Você prometeu”, interrompo, minhas lágrimas ameaçando


transbordar.

“Essa é uma promessa impossível de cumprir em nosso


mundo.”

Eu cerro meus dentes. É uma desculpa se eu já ouvi uma.

“Ele é seu filho”, digo, sentindo meu temperamento


esquentar. Se esse fosse meu filho, faria qualquer coisa ao meu
alcance para protegê-lo.

Os olhos de Matteo se estreitam, quase ameaçadoramente.


“Estou muito ciente disso, Sophia. O que você quer que eu faça?”
Pergunta em um tom arrogante, recostando-se em seu assento.

“Proteja Creed com sua vida”, eu ofereço. É o que eu faria, e


sei que Creed faria o mesmo por mim.

Matteo sorri para mim como se eu fosse uma garotinha sem


noção. Muito egoísta. “Isso, minha querida, já é um dado. Eu
protegeria esse menino com minha vida.”

49
Gesú- (Italiano) Jesus
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“Por quê? Para preservar o herdeiro do seu império?”

“Muito pelo contrário. Eu daria minha vida por ele porque ele
é meu filho. Quer ele goste ou não, é minha carne e sangue, e o
amo mais do que amo a mim mesmo.”

Eu luto contra as lágrimas enquanto aceno com a cabeça em


compreensão. Isso é tudo que precisava ouvir.

“Obrigada”, eu sussurro, quando me empurro para fora da


cadeira e caminho em direção à porta.

“E você, Senhorita Cova. O que você faria para proteger meu


filho?” Ele pergunta, me parando no caminho. Eu sei que não há
verdadeiro significado por trás disso. Matteo nunca esperaria que
eu fosse a única a proteger o Creed de qualquer coisa.

Lentamente me viro para encará-lo e jogo toda a verdade por


trás das minhas palavras. “Eu mataria por ele. Eu mataria
qualquer um que tentasse machuca-lo ou à minha família. Isso é
o que eu faria por ele.”

Antes de virar, juro que vejo um sorriso no canto da boca de


Matteo e um brilho de respeito em seus olhos.

Deixo seu escritório me sentindo mais leve, sabendo que


Creed não está lá fora lutando sozinho. Eu não duvido dele ou de
suas habilidades. Estou apenas sendo egoísta, com razão. Não
quero perde-lo. Eu não posso. E se tiver que garantir sua
segurança de formas estranhas, como esta, então que seja.

Só porque eu prometi a Creed que não iria me inserir naquela


parte de sua vida, não significa que não farei tudo ao meu alcance
para manter sua segurança. Não importa o que. Eu faria qualquer
coisa por Creed e pela nossa família.

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Sophia

Três meses depois

Com minhas costas contra a cabeceira da cama, eu abro a


página do livro que estou lendo. Incapaz de evitar, meus olhos se
dirigem para o relógio na mesa de cabeceira. Já são oito horas, e
Creed prometeu que voltaria no máximo às oito. Não posso deixar
de sentir um pouco de ansiedade. Eu me preocupo com ele. Muito
mais do que provavelmente deveria, mas eu simplesmente não
consigo não me preocupar.

Balanço a cabeça com um suspiro frustrado e tento me


concentrar em ler meu livro. Estou apenas começando a voltar
quando a porta do quarto se abre, e Creed entra. Um suspiro de
alívio cai dos meus lábios.

“Ei, baby”, diz ele, a voz fatigada de tudo o que tinha que fazer
hoje.

Eu sorrio para ele. “Ei lindo. Dia ruim?”

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Ele me lança um sorriso, principalmente para o meu bem,


então se senta na cama ao meu lado, seus olhos examinando a
capa do livro. “Melhor agora que vi você.”

Eu me inclino para lhe dar um beijo e paro quando seu sorriso


começa a desvanecer. Minhas sobrancelhas levantam em confusão.
Estou prestes a perguntar o que há de errado quando o rosto dele
fica borrado. É como se alguém tivesse derramado tinta preta sobre
a minha visão. O rosto de Creed se contorce e distorce como tudo o
mais. A escuridão me envolve.

Os galhos estalam. Meus pés batem contra o solo e meu peito


aperta enquanto corro através da escuridão familiar da floresta.
Galhos de árvores raspam contra a minha pele. Eu posso sentir
alguém a alguns passos atrás de mim. Eles estão chegando.

Aproximando-se.

Balanço a cabeça, tentando limpar meu cérebro, mas quando


abro os olhos novamente, percebo que estou de volta naquele baú
do depósito. Enfiada firmemente lá dentro com a arma, esperando
aqueles homens me encontrarem. As árvores sumiram. A floresta
se foi. Tudo o que existe é um vislumbre de luz e tiros.

O chão sob o baú começa a tremer como se um terremoto


estivesse ameaçando a fundação. Minhas mãos se esticam e
seguram as paredes do baú, tentando me segurar, mas de repente
as paredes se foram. O baú sumiu. Tudo se foi e eu estou caindo.
Parece que a gravidade da terra está puxando meu corpo para
baixo, mas meu estômago ainda parece estar flutuando acima de
mim, apertado em uma bola.

A escuridão pairando em volta de mim está desaparecendo


enquanto continuo caindo em um quarto que conheço muito bem.
Meu corpo bate no colchão encharcado e um grito escapa dos meus
lábios quando giro meus olhos ao redor das quatro paredes estéreis
do porão da sala vil. A lâmpada pendurada no fio de metal balança
para frente e para trás, rangendo a cada movimento, lançando

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sombras assustadoras em volta de mim, o que deixa meu coração


implorando para sair do meu peito.

“Hora de brincar, bichinho de estimação.”

Eu me viro ao som de sua voz e grito.

Não, não, não.

Isso não está acontecendo. Isso não pode estar acontecendo.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto quando vejo o resto deles,


esperando para me darem outra punição. Quase como se o tempo
estivesse sendo acelerado, estou de joelhos, sendo amarrada, e a
dor que irradia nas minhas costas é ainda pior do que me lembro.
Meu grito de gelar o sangue perfura meus ouvidos.

“Por favor!” Eu grito, mais e mais até a minha garganta


queimar e tudo parecer em carne viva. O chicote faz contato com a
minha pele e meu corpo espasma quando um grito agonizante sai
do meu peito. Eu tento ver através das minhas lágrimas e apenas
um rosto se destaca naquele mar de homens.

“Eu fiz tudo por você, amor”, diz ele, olhos castanhos
queimando em mim, assim que outra chicotada rasga minhas
costas.

Eu choro.

Eu grito.

Eu me enfureço.

“Sophia.”

Mãos agarram meus braços e me agitam. Eu grito de novo,


tentando me livrar das mãos de Finlay.

“Sophia!”

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Meus olhos se abrem e eu me levanto, pele coberta de suor.


Quase imediatamente meu olhar se ajusta à escuridão do quarto,
e quando sinto movimento ao meu lado, balanço minha cabeça em
direção à fonte. Solto um suspiro e meu corpo fica aliviado quando
eu vejo Creed me observando através de olhos estreitos.

“Outro pesadelo?” Pergunta ele, já sabendo a resposta. Não


confiando em minha própria voz, aceno com a cabeça, evitando
seu olhar. Ele solta uma respiração rouca e me puxa para o peito.
Sua pele parece fria e confortável contra a minha que está cheia
de imagens daquele pesadelo.

Eu os tenho cada vez com mais frequência. Quatro semanas


para ser exata. No começo, eram como pequenas memórias se
repetindo nos meus sonhos, mas de alguma forma, se
transformaram nesses terrores noturnos que me fazem gritar em
meu sono.

“Estou ligando para o médico.”

Eu rolo meus olhos e me afasto de Creed, dando a ele um


olhar irritado. “Creed, são apenas pesadelos. Nós não precisamos
chamar o médico.”

Seus lábios ficam finos. “Sophia, você acorda gritando, o


corpo pingando de suor, a pele parecendo tão branca quanto a
porra de um papel. Isso está te matando. Está bagunçando seu
sono, o jeito que você come. Você não está bem, e ok, depois de
tudo o que aconteceu, eu ficaria surpreso se você não estivesse
tendo dificuldades para lidar.”

No começo, tentei esconder os pesadelos, mas depois de um


tempo, começaram a me acordar e a Creed, e eu não consegui
mais esconder. As coisas estão indo tão bem para nós
ultimamente, não quero estragar nada disso. Meu gesso foi
finalmente removido e estou me curando. Garrett finalmente está
de pé e andando por aí. Alexis está se instalando e os caras
parecem estar lidando com a morte de Ricky o melhor que podem.

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Eles não estão muito mais perto de encontrar Finlay, mas isso é
tudo que eu sei sobre o assunto. Os caras estão sempre em
silêncio ao meu redor e em volta de Alexis, especialmente meu
irmão e Creed. Com cinco meses de gravidez, sei que lidar com
esses pesadelos não pode ser bom, mas sei o que meu corpo
aguenta e o que não.

“Seu irmão também está preocupado com você. Está na hora,


Sophia.”

“Deixe-me tomar um banho e lavar tudo, certo? Se se


tornarem demais, prometo, vamos ao médico. Eu só... eu preciso
tentar fazer isso sozinha, Creed. Não posso deixar isso ter tanto
poder sobre mim. Nem Finlay ou qualquer um deles.” Um arrepio
percorre meu corpo com a menção de seu nome. Os lábios de
Creed se estreitam em uma linha sombria, mas ele concorda. Acho
que entende minha necessidade de superar essas lembranças.

Beija o topo da minha cabeça antes de me ajudar e me levar


para o chuveiro. Meus braços imediatamente envolvem seu
pescoço enquanto olho para ele.

“Você nem sempre tem que me carregar, sabe”, eu digo,


incapaz de esconder o sorriso na minha voz. Acho que ele
secretamente sabe o quanto amo isso. É provavelmente por isso
que o faz tanto.

“Sim, eu sei”, diz Creed assim que me deposita na frente do


chuveiro. Ele começa a se virar para sair, mas agarro seu braço,
parando-o em seu caminho.

“Chuveiro comigo?” Eu imploro com os olhos para dizer sim,


precisando sentir seu corpo contra o meu.

Os lábios de Creed torcem com tristeza e ele ri com uma


sacudida sutil de sua cabeça. “Você vai ser a minha morte.”

“Uma morte doce, eu espero?” Provoco, já tirando minhas


roupas. Eu observo quando ele faz o mesmo. Tirando a camisa

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sobre a cabeça e saindo de sua cueca. Um sorriso se espalha em


seu rosto, que o faz parecer particularmente um lobo.

“A porra mais doce”, ele sussurra, suas mãos indo direto para
meus quadris, me guiando de volta para o chuveiro. Ele se abaixa,
seus lábios se chocam contra os meus e se estou sendo honesta,
sei que tomar um banho é agora a última coisa em sua mente.
Especialmente a minha.

Ando em silêncio ao lado do meu irmão, sabendo que ele tem


algo em mente. Seu silêncio diz tudo. Nós saímos do jardim, em
direção ao labirinto quando ele finalmente se abre.

“Eu preciso ir visitar Wendy”, diz ele de repente, e paro de


andar. Meu estômago se fecha e meus olhos se arregalam.

“O que? O que você quer dizer?”

“Quero dizer que vou a Crest Fall para ver como ela está.
Depois de tudo o que aconteceu, larguei tudo para te encontrar.
Eu nem sei se ela está bem, Soph. Provavelmente acha que
estamos todos mortos. Eu só preciso saber que Wendy está bem.
Preciso verificar.”

Preocupação torce o meu interior enquanto olho para a


agonia descrita em todo o seu rosto. “Você sente falta dela, não
é?”

Ele suspira. “Sim. Sim. Quando tomei aquelas balas, pensei


que tivesse acabado e... e as únicas pessoas em quem eu
conseguia pensar eram você e ela. Queria que você e o bebê
ficassem bem, e Wendy... eu só queria que ela ficasse feliz. Que
tivesse uma vida longa e normal.”

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“Oh, Gar.” Eu suspiro. Não gosto disso. Eu não acho que ele
esteja pronto para viajar em sua condição, ele ainda não está cem
por cento. Especialmente com o Finlay ainda em algum lugar lá
fora, não sei se isso é a coisa mais inteligente a se fazer. Mas, no
entanto, entendo. Eu entendo Garrett e de onde isso vem.

Garret ama Wendy, mesmo que tenha medo de admitir, sei


que ama. E se voltar para consertar as coisas com ela é o que ele
precisa fazer para ser feliz, então não posso pará-lo. Vou me
preocupar, como diabos vou me preocupar, mas não vou
atrapalhar.

Eu estendo a mão entre nós e aperto a de Gar, demonstrando


levemente meu apoio silencioso. “Seja cuidadoso. Seu sobrinho ou
sobrinha precisa do tio.”

Ele sorri com minhas palavras. “Jesus. Imagine se for uma


garota? Creed vai se borrar todo.” Ele ri quase diabolicamente com
o pensamento e tenho que lutar contra o meu sorriso. “Você vai
ser uma ótima mãe, Soph. Mamãe e papai estariam muito
orgulhosos de você.”

Meu queixo treme e meus olhos se enchem de lágrimas. “Você


vai me fazer chorar, seu grande idiota.”

Ele ri, me cutucando levemente no braço. “Estou falando a


verdade. Eles ficariam orgulhosos, assim como eu estou.”

“Oh, venha aqui já!” Eu choro, puxando meu irmão em meus


braços e abraçando-o com força. Fecho os olhos e as lágrimas
escorrem pelas minhas bochechas em rápida sucessão. “É melhor
você ter cuidado enquanto estiver lá fora”, eu sussurro, minha voz
tremendo de emoção.

Seus braços se apertam em volta de mim. “Eu vou. É melhor


você ouvir Creed enquanto eu estiver fora. Pare de pensar que é a
supermulher e deixe que ele cuide de você.”

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Uma risada passa pelos meus lábios. “Ele te pediu para fazer
isso?”

“Talvez.”

Eu rolo meus olhos e aperto seu corpo com mais força. “Eu
te amo, Gar.”

Ele suspira. “Eu também te amo, Soph.”

Quando nos separamos, limpo meu rosto das lágrimas e me


permito aproveitar o jardim com meu irmão ao meu lado. Desde
que Creed e o resto dos caras entraram em nossas vidas, não
tivemos tempo para sermos apenas irmãos normais, mas aqui,
andando com ele, sem me preocupar com alguém prestes a atacar
ou um traidor à solta, isso é bom. Mais do que bom, na verdade.
E vou sentir falta dele enquanto estiver fora.

Depois que Garrett e eu voltamos para dentro, sigo direto


para a cozinha, já com fome de mais comida. Finalmente passei
da fase de enjoo matinal e agora estou com fome e cansada o
tempo todo. Creed até se certificou de que eu estivesse mais
próxima do pessoal da cozinha.

As mulheres são quietas e tranquilas, e tendem a se prender


às sombras, mas são doces, e o fato de que me amam sempre traz
um sorriso ao meu rosto. Eu aprendi um pouco sobre elas
enquanto estou aqui. A latina gorda é aparentemente a irmã mais
velha de Magdalene, e as outras duas são parentes de Creed.
Primas de terceiro e quarto graus, eu acredito.

Elas estão todas alojadas juntas na ala norte da propriedade,


seus quartos são tão adoráveis quanto o resto, com vista para as
áreas exuberantes que nos cercam. Aprendi bastante sobre
Magdalene e Valentina através delas também, já que as conhecem
por quase toda a vida. Elas deixaram claro que Magdalene nunca
foi a mesma desde a morte de Valentina. As duas aparentemente
eram inseparáveis.

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Elas me falam sobre Valentina frequentemente.


Compartilhando histórias de Creed de quando ele era apenas um
bebê. Uma coisa que sempre dizem é que ela era uma alma linda
e amorosa, presa na vida errada. Dizem que seu casamento com
Matteo era quente e frio. Eles tinham paixão e amor em
abundância, mas não conseguiam concordar em nada para salvar
suas vidas. Valentina aparentemente era cabeça quente, e apenas
imaginar Matteo tentando lidar com ela deve ter sido cômico.

Ainda me entristece nunca poder conhecer a mulher que


Creed guarda tão perto de seu coração, mas quando ouço algo
sobre ela através dos outros, e vejo as fotos em toda a propriedade,
tenho a sensação de que ela ainda está aqui, com todos nós.
Especialmente seu marido e filho.

Quando termino de comer, ando pela propriedade até me


sentir bem e cansada. Só estou passando pelo corredor dos
quartos de Jose e do resto dos garotos quando vejo Alexis
rastejando para fora de uma porta. Meus lábios se juntam em uma
carranca.

“O que você está...”

O dedo de Lex voa para seus lábios em um movimento de


‘shh’ e seus olhos se arregalam, enquanto faz mímica com a boca
‘cala a boca’. Eu me encolho enquanto me esgueiro para frente,
tentando ver o que ela está fazendo. A porta do quarto de Jose está
entreaberta e uma série de vozes se derrama de lá. Eu reconheço
quase todas. Especialmente Creed. Intrigada com essa reviravolta,
me aproximo e me esforço para ouvir as vozes atrás da porta.

“Não, isso não vai funcionar. Vamos descer dois homens, é


muito arriscado”, argumenta Kam com alguém.

“Bem, o que você sugere, Kam? Temos provas reais de que ele
está aqui, em Chicago e você só quer esperar que o homem dê o
primeiro passo”, Jose rosna. E agora estou muito confusa.

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“Enquanto Sophia estiver segura, tudo ficará bem. Eu avisei


os soldados, e não há como Finlay entrar na propriedade. Ele nem
vai poder chegar perto de Sophia.”

Meu estômago se agita e minha cabeça flutua.

Finlay está aqui.

Em Chicago.

Ele voltou.

Toda a cor escoa do meu rosto enquanto continuo ouvindo.

“Monte e eu temos nossos olhos colados ao filho da puta. Ele


tem os dedos mergulhados em quase todas as áreas no
submundo, mas temos conexões suficientes para saber quando
planejará seu próximo ataque”, diz Clarence.

“Bom trabalho pessoal. Bem…”

Eu não ouço o resto da sentença de Creed porque Alexis já


está me arrastando para longe da porta. Não luto contra ela. Eu
nem sequer pisco. Ainda estou em choque com o que acabei de
ouvir. Que Finlay está de volta e não só isso, que está aqui em
Chicago.

Imediatamente, minhas mãos voam para o meu ventre e um


sentimento inquieto se instala dentro de mim.

Tinha a tola esperança de que a ameaça de Finlay tivesse


desaparecido, mas porra, eu estava errada. Ele só volta sempre
que penso que estou segura ou tenho tudo sob controle. Essa é a
última coisa que preciso ouvir.

Alexis me mima loucamente enquanto estou no meu quarto,


mas ainda estou muito abalada para compreender tudo isso.
Estou cansada, tão cansada de lidar com essas ameaças
intermináveis.

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“Tem certeza de que você está bem?” Ela pergunta em dúvida,


pairando perto da porta do quarto.

“Sim. Sim. Estou bem.”

“Certo”, diz ela com ceticismo. “Vou estar aqui ao lado se você
precisar de mim.”

Eu me sinto horrível. Depois de tudo o que Alexis passou, ela


não deveria estar tentando me consolar, deveria ser o contrário.
Esses últimos meses não foram fáceis para ela. Posso vê-la em
transe para o espaço quando ninguém está olhando. Já vi a
escuridão à espreita nas bordas dos seus olhos. Ela tenta
esconder isso muito bem, mas é como eu, está confusa pelo que
aconteceu e por mais que quiséssemos começar de novo e
esquecer, não podemos.

Eu aceno para ela e no segundo que sai, eu me levanto da


cama e começo a andar de um lado para o outro. Ando tanto que
minhas panturrilhas queimam com o exercício.

Pare de pensar tão arduamente, Sophia. Eu me castigo.

Basta tomar um banho quente e assistir um filme para relaxar.


Não precisa se preocupar quando você tem todos esses homens te
protegendo. Tenho uma conversa completa comigo mesma dentro
da minha cabeça como uma pessoa louca enquanto começo o
banho. Eu sei que as chances de me acalmar são quase nulas,
mas vale a pena tentar.

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Creed

Quando entro no quarto, fico surpreso ao encontrar Sophia


já deitada na cama. Sei que ela tem estado muito mais cansada
ultimamente, e acho que é a gravidez. Ela se vira para mim com
um sorriso que não chega aos olhos. Parece preocupada.

“Você está cansada?”

Ela se empurra contra a cama e balança a cabeça. “Na


verdade, não. Só fiquei entediada, acho. Decidi tomar um banho
e me deitei. O que você tem feito?” Ela pergunta.

Dou de ombros, agitando a nuvem escura que está pairando


sobre a minha cabeça.

“Tinha algumas coisas para acertar com Matteo.”

Ela balança a cabeça e olha para as mãos no colo, como se


estivesse evitando meu olhar. Minhas sobrancelhas se juntam
enquanto a vejo tentar lidar com suas emoções. Eu conheço essa
mulher como a palma da minha própria mão. Eu sempre sei
quando tem algo em sua mente.

“Tudo bem, certo? Eu só… tenho um mau pressentimento,


Creed. E preciso saber que todos vocês estão seguros.”

E aí está.

Solto um suspiro e me abaixo na cama ao lado dela. “Tudo


está bem. Eu não vou deixar ninguém te machucar, Sophia.”

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“E quanto a você? E se alguém te machucar? O que diabos


vou fazer então, Creed? Eu não posso te perder.”

“Ei”, digo, tomando o rosto dela em minhas mãos. “Eu não


vou a lugar nenhum tão cedo. Entendeu? Você está presa comigo.”

Ela não consegue lutar contra o sorriso, mas seus olhos de


esmeralda ainda nadam no medo.

“Diga-me como fazer você se sentir melhor?” Eu pergunto,


estendendo a mão, agarrando uma mecha de cabelo pendurada
na frente do seu rosto. Arrumo de volta, alisando minha mão sobre
sua pele macia e pálida no processo.

“Você pode me beijar”, diz ela, e o tom rouco em sua voz não
passa despercebido. Então, obedeço. Acabo com a distância entre
nós e pressiono meus lábios contra os dela. O gosto de morangos
e hortelã explode na minha língua enquanto seus lábios acariciam
os meus. Sua pequena língua tentadora espreita, lambendo meus
lábios. Deixando-me louco.

Nem uma vez afastando minha boca da dela, eu rastejo em


cima de Sophia, apreciando o jeito que seus mamilos roçam contra
meu peito e seus quadris dançam em círculos pequenos e macios
na cama, buscando atrito. Na metade do tempo ela nem percebe
que faz isso, mas eu acho incrivelmente sexy que seu corpo reaja
ao meu desse jeito.

Sophia aperta os braços em mim, envolvendo as pernas na


minha cintura. Seus calcanhares cavam meu traseiro, instigando
meus quadris para baixo em cima dos dela. Meu pau endurece
como pedra, e esfrego meu corpo ao longo de sua fenda, querendo
que ela sinta o quão enlouquecido me deixa.

Arrasto meus lábios ao longo de seu pescoço, sugando e


mordiscando enquanto vou saboreando seus gemidos de prazer.
Prendendo meu dedo em seu sutiã e camisa, puxo tudo para
baixo, colocando seus seios em exposição. Eles estão crescendo a
cada dia. Tomo o mamilo na minha boca e chupo e circulo. O ofego
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áspero de Sophia ecoa pelo quarto, sua nova sensibilidade a deixa


muito mais receptiva aos meus cuidados.

Com a mão livre, deslizo a palma até sua barriga e sobre o


pequeno monte onde o nosso bebê está crescendo. Deslizo meus
dedos em sua calcinha e gemo quando sinto como ela já está
molhada para mim. Meus dedos deslizam através de suas dobras
com facilidade. Esfrego círculos no seu clitóris, apreciando o jeito
como seus quadris combinam com o meu ritmo.

Meu pau pula na minha calça e com a mão livre, eu abro o


zíper, fazendo um rápido trabalho de me libertar enquanto me
alinho em sua entrada.

“Eu te amo”, ela suspira, a voz muito sexy quando esfrego


minha ponta ao longo de sua fenda molhada e quente. Quando ela
chupa o lábio inferior suculento em sua boca, não posso mais me
segurar. Deslizo meu pau dentro dela e gemo ao sentir seu calor
úmido me envolvendo. Sua buceta aperta meu pau, e minhas
bolas tensionam com o prazer que seu doce pequeno canal
provoca. Meus quadris empurram para dentro de seu calor úmido
e seus gemidos ecoam em torno de nós, passando por cima de
mim. Suas unhas se cravam nos músculos das minhas costas,
mas isso só me excita mais. Nossas línguas lutam quando nos
beijamos mais e mais profundamente. Meu pau faz o seu melhor
para subir dentro dela a cada impulso, nunca querendo que essa
doce felicidade termine.

“Me deixa montar você”, ela exige, suas bochechas


manchadas de rosa com a excitação.

Minhas bolas apertam com suas palavras e solto um gemido.


“Jesus, você vai ser a minha morte, mulher.”

Sophia ri, o belo som nos envolve harmonicamente enquanto


ela se ajeita em cima de mim. A visão é magnífica pra caralho.
Seus seios são belos e cheios, seus mamilos rosados me chamam.

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Incapaz de me segurar, me inclino e chupo o mamilo endurecido


na boca, saboreando seus gemidos de prazer.

Minhas mãos encontram a curva ao longo de seus quadris,


guiando seus movimentos. Sophia me monta como uma mulher
em uma missão, sua bunda bate contra a minha pele e seus seios
balançam deliciosamente. Quando minhas bolas começam a
apertar, coloco meu polegar contra seu clitóris e esfrego pequenos
círculos. Os gemidos de Sophia se intensificam e sua pequena e
doce buceta aperta meu pau em com força Ela cava as unhas no
meu peito e contorce os quadris até encontrar o ponto perfeito.

“É isso aí, baby”, eu rosno. “Use meu pau para gozar.”

Minhas palavras devem fazer algum efeito porque ela joga a


cabeça para trás e rebola em cima de mim, sua umidade
escorrendo entre nossos corpos. Aumento a pressão das minhas
mãos em sua pele e invisto em seu calor molhado até que sinto
nosso orgasmo. Essa porra, arrebata a minha alma para longe do
meu corpo, junto com cada gota de sêmen que tenho.

Sophia desmorona em cima de mim, sua respiração irregular


e o corpo coberto de suor, muito parecido com o meu.

“Se eu não estivesse grávida antes, definitivamente estaria


agora”, diz ela com alegria, seus lábios carnudos roçando minha
orelha. Uma risada ressoa dentro do meu peito e aperto meus
braços ao redor dela, querendo abraçar essa linda garota pelo
resto da minha vida.

Então, eu a beijo como se fosse meu mundo inteiro.

Porque ela é.

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Sophia

Eu me mexo sobre os lençóis, batendo minha mão para o lado


de Creed da cama, mas meus dedos não encontram nada. Minha
testa franze. Grogue, abro meus olhos e bato com mais firmeza em
seu lado da cama, percebendo que ele não está aqui. Olho para o
relógio na mesa de cabeceira e vejo que são duas da manhã.

Onde diabos ele foi?

Uma sombra ao pé da cama faz meu corpo ficar tenso e meu


coração acelerar. Lentamente, meus olhos se dirigem para a figura
e meu íntimo se contorce. Garras de medo pressionam minha
garganta enquanto olho para a figura escura. Eu sei imediatamente
que não é Creed. Ele não faz isso desde Crest Fall, e mesmo assim,
não sentia então o medo que sinto agora.

“Encontrei você, amor.”

Sua mão pesada agarra meu tornozelo como um torno, me


puxando em sua direção. Um grito borbulha na minha garganta,
mas antes que ele se solte, Finlay joga a mão na minha boca, seus
olhos castanhos enfurecidos queimam através de mim.
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“Você se escondeu por tempo suficiente, Sophia”, ele rosna, a


outra mão voando para minha garganta. Ele aperta e todo o ar é
sugado dos meus pulmões. Meus olhos incham e meu corpo
espasma na cama, pernas e braços se debatendo enquanto
inutilmente tento respirar. Eu sacudo e me contorço sob seu peso,
minhas pernas emaranhadas nos lençóis, inibindo meus
movimentos.

Golpeio com meu cotovelo, acertando Finlay no ombro. Suas


mãos me soltam e aproveito a oportunidade para me lançar da
cama em direção à porta. Abro minha boca para gritar por socorro,
mas meu corpo é atingido do lado, meu estômago e costelas
colidindo com o canto da mesa de cabeceira, e Finlay cobre minha
boca com a palma da mão, me impedindo de gritar por socorro.

Dor lancinante irrompe na minha barriga. A aguda dor aperta


e o tormento é demais, solto um grito de gelar o sangue. Lágrimas
escorrem do canto dos meus olhos quando Finlay me segura, mas
não importa o quanto eu tente, não consigo me afastar dele.

“Disse a você que iria me livrar dessa coisa de qualquer jeito”,


ele grita cruelmente no meu ouvido.

Meus olhos se abrem e puxo uma inspiração afiada e


irregular. O quarto está escuro, mas desta vez quando olho para
o pé da cama, não vejo nenhuma sombra. Não há nada ali. Solto
um suspiro de alívio e, assim como fiz no meu sonho, tateio com
o braço pelo lado da cama de Creed. Quando minha mão pousa
em músculos firmes e quentes, cerro os olhos e me forço a respirar
fundo.

Ele está aqui. Foi apenas um sonho.

Voltando a deitar de lado, pressiono meus lábios contra o


ombro de Creed antes de jogar o edredom para longe das minhas
pernas e ir ao banheiro fazer xixi, em seguida, jogar um pouco de

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água na minha pele úmida. Fecho a porta atrás de mim, deixando


um pequeno espaço aberto e acendo a luz para não acordar Creed.

Empurro minha calcinha para baixo e me sento no vaso


sanitário. Meus olhos se voltam para a peça íntima e meu
estômago fica gelado quando vejo vermelho.

Minha respiração trava e o banheiro começa a girar.

“Oh, Deus”, gaguejo enquanto olho para o vermelho


manchando o tecido. Lágrimas brotam dos meus olhos e meu peito
aperta. Alarmes soam dentro da minha cabeça ao mesmo tempo
em que sinto uma cãibra no abdômen. Minha palma voa para o
pequeno volume e eu seguro, tentando respirar através da súbita
onda de dor. Parece que meu corpo está se dobrando por cima de
uma faca. Meu queixo treme e tento conter o soluço ameaçando
escapar.

“Creed”, chamo em uma voz trêmula. Quando ele não


responde, chamo sua atenção com mais urgência.

“Creed!”

Ele vem correndo para o banheiro quase que


instantaneamente. A porta se abre e os olhos cinzentos que me
encaram estão alertas, ainda firmemente assentada no vaso
sanitário. Quando ele vê minha calcinha ao redor dos tornozelos
e as lágrimas nos meus olhos, não espera que eu diga outras
palavras. Ele atravessa o banheiro em três passadas, facilmente
me ajudando a colocar a calcinha de volta. Eu sei que ele viu o
sangue manchando minha roupa, não tem como ele não ter visto.

Creed me levanta em seus braços, e me enrolo em seu peito,


minhas lágrimas enchem sua pele. Ele gentilmente me coloca na
cama e faz um rápido trabalho de se vestir. Ele chega em sua
penteadeira, tirando um moletom. E me ajuda a vestir a peça,
aproveitando para lentamente acariciar minha barriga, quase
como se estivesse silenciosamente me dizendo que tudo vai ficar
bem.
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Uma vez que estou coberta, Creed me pega e me leva pelo


corredor em direção ao quarto de Magdalene. Ele bate
ruidosamente na porta e, quando Magdalene abre, com a mão
agarrada ao manto, seus olhos se arregalam quando dá uma boa
olhada nos dois rostos. Ela fecha a porta atrás de si, correndo pelo
corredor.

“Vamos para a sala médica.”

Enrolo meu rosto no peito de Creed e fecho os olhos,


silenciosamente esperando que isso não signifique o que eu acho
que significa. Seus braços se apertam em torno de mim em
silencioso apoio e isso traz outra rodada de lágrimas.

Creed me coloca na cama enquanto Magdalene liga máquinas


e equipamentos com urgência. Quando tudo está funcionando, ela
se vira para nós, estampando uma cara corajosa.

“Deite e relaxe, Sophia. Puxe a calça para baixo um pouco e


levante a camisa.” Eu faço o que pede, e ela não perde tempo
esguichando o gel frio na minha barriga. Magdalene move o
equipamento sobre meu abdômen e nós duas olhamos para a tela.
Meu coração bate tão violentamente que ouço reverberar em meus
ouvidos. Creed desliza minha mão na sua e aperta. O gesto faz
meu peito doer.

Quando a imagem do nosso bebê aparece, o mesmo acontece


com a bela batida do coração.

Um soluço passa pelos meus lábios.

“Ainda temos um batimento cardíaco, e ele não parece estar


em perigo, mas para evitar qualquer estresse em você e no bebê,
acho que você precisa ir com calma. Eu gostaria que vocês
considerassem o repouso e evitassem todo e qualquer estresse.
Nada mais de tarefas excessivas ou preocupantes. Entendeu
menina?”

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“Ela acorda gritando com pesadelos. Isso vem acontecendo


há meses”, diz Creed, me jogando completamente embaixo do
ônibus.

“Espere”, digo, cortando tanto Creed quanto Magdalene, meu


cérebro ainda processando suas palavras. “Você disse ele. Ele não
parece estar em perigo. Isso significa...?” Eu paro, meus olhos
cheios de lágrimas novamente por uma nova razão.

A mão de Creed aperta a minha e eu juro que vejo Magdalene


corar. Ela lança seu olhar de mim para Creed, depois de volta.

“Desculpe, falei sem pensar primeiro. Eu deveria ter


perguntado se vocês queriam saber...”

“Magdalene”, Creed diz seu nome e isso a deixa em silêncio.


Esta é a primeira vez que ele fala com ela assim. “Você não precisa
se desculpar, apenas nos diga.”

Um sorriso brilhante ilumina seu rosto. “É um menino.”

Lágrimas de felicidade correm pelo meu rosto e coloco a mão


na minha boca para segurar o soluço iminente. Nós vamos ter um
menino. Uma pequena versão do Creed. O pensamento faz meu
coração disparar.

Viro para Creed e quando nossos olhos se conectam, a


primeira coisa que noto em seu olhar é felicidade. Felicidade pura.
Ali mesmo ao lado está o amor. Tudo parece tão bom para ele.

“Um doce menino”, eu sussurro, a voz grossa de emoção.


Coloco minha palma contra sua bochecha, apreciando o jeito que
ele se inclina em meu toque. A felicidade em seu rosto cai
lentamente, transformando-se em um olhar severo. Ele olha para
Magdalene e seu sorriso vacila.

“Precisamos fazer os pesadelos pararem. Ela não pode


continuar assim. Não quero que nada aconteça com esses dois. O
que podemos fazer?”

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Magdalene solta um suspiro, mas posso dizer pelo olhar em


seu rosto que ela concorda com Creed. “Eu posso falar com o Dr.
Chang assim que chegar. Ele não deve demorar muito agora.
Talvez receite algumas pílulas para dormir que sejam seguras
para Sophia e o bebê, mas não sei se isso ajudará. É só como
colocar um Band-Aid sobre uma ferida já aberta.”

Pelo afinamento dos lábios de Creed, posso dizer que ele não
gosta dessa resposta.

“Apenas tente manter Sophia em um bom ambiente. E


Sophia, tente não se preocupar tanto. Eu sei que é pedir muito,
considerando tudo, mas você precisa ter cuidado. Você está no
meio da gravidez.”

Depois que Magdalene sai, o Dr. Chang aparece e nos diz


quase a mesma coisa. Repouso. Sem estresse. Segurança
primeiro. Mesmo que a ideia de ficar acamada me deixe
absolutamente maluca, farei isso. Se é o que precisa ser feito para
manter os pesadelos longe e manter meu doce bebê em
segurança? Então, que seja. Minha crescente família importa mais
para mim do que qualquer coisa neste mundo. E a cada dia, esse
sentimento só fica mais forte.

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Sophia

Dois meses depois

“Oh, vamos lá. É apenas um passeio no parque. Eu preciso


fazer alguma coisa, Gar. Estou cansada de ficar presa aqui. Alexis
e Magdalene estão me deixando louca.”

Garrett solta um suspiro. “Não é seguro, Soph. Por que você


não pode andar pelos jardins da propriedade? Há cinquenta
porras de alas ali, é como uma maldita fortaleza. Você não ama
andar pelo jardim? Apenas dê algumas voltas no labirinto.”

Reviro meus olhos. “Porque já andei ali cerca de um milhão


de vezes. É tudo lindo, não me entenda mal, mas me sinto tão
enclausurada, como se estivesse presa nessa minúscula bolha. Eu
não posso nem contar quantas vezes já dobrei e redobrei as
roupas do bebê, só para ter outra coisa para fazer.”

Garrett levanta uma sobrancelha. “Não é uma bolha


pequena, Soph.”

“Você entende o que quero dizer.” Reviro os olhos. “Só, por


favor, me deixe ir lá fora. Por favor”, eu digo, apertando minhas
mãos na frente do peito.
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“Eu disse não, Soph. Você não vai sozinha e não tem como
Creed deixar isso acontecer. Ele só se foi há alguns dias e você já
está causando problemas. Jesus, mulher. Amanhã ele deve estar
em casa, por que você não pode perguntar a ele?”

“É um dia inteiro para esperar Gar. Por favooor. Você e alguns


caras podem vir comigo? Creed não pode dizer nada se eu tiver
todos vocês lá para me proteger. Será apenas uma rápida
caminhada ao redor do parque. O parque mais seguro que vocês
puderem encontrar para mim. Vinte minutos no máximo.”

Garrett solta um suspiro, olhando para o teto do meu quarto.


“Bem. Mas eu escolho o parque e você vai ter três guardas em você
o tempo todo. O resto de nós cobrirá o perímetro.”

Eu não posso conter o sorriso que se espalha no meu rosto e


o grito que passa pelos meus lábios. “Obrigada! Obrigada!” Eu digo
com entusiasmo. Pulo da minha cama e me lanço nos braços do
meu irmão. Meu bebê bate contra o estômago dele, o fazendo rir.

“Por favor, não faça eu me arrepender disso, Soph. Você está


quase lá, faltam apenas dois meses, não faça qualquer movimento
maluco.”

Eu aperto os ombros de Gar. “Eu não farei, prometo.”

Eu não perco tempo. Tomo banho e me visto com roupas


confortáveis e tênis antes de bater na porta de Alexis. Ela demora
uma eternidade para responder, mas quando finalmente atende,
parece confusa e não abre a porta totalmente.

“Ei”, ela respira. Seu peito sobe e desce como se estivesse


correndo uma maratona.

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“Gar está dando o direito de sair para um passeio no parque.


Quer se juntar a nós?”

Algo bate atrás dela e estico minha cabeça para o lado,


tentando dar uma espiada, mas ela bloqueia minha visão com seu
sorriso brilhante. “Você sabe o que, eu realmente gostaria, mas
estou me sentindo um pouco enjoada. Planejei um longo banho e
talvez uma bela soneca. Divirta-se, tá bom?”

“Ok, bem, melhore...”

Ela fecha a porta antes que eu possa terminar e fico de pé ali,


imaginando o que diabos aconteceu. Com um aceno de cabeça,
volto para o meu quarto para dizer a Garrett para chamar os
caras. Finalmente estou saindo daqui.

“Então, você mandou uma mensagem para ele?” Eu pergunto


do banco de trás, me sentindo um pouco nervosa. Estou na parte
de trás do SUV esperando o resto dos caras entrarem. Quero me
apressar e sair já daqui, sinto que se esperarmos mais tempo, de
alguma maneira minha viagem ao parque será arrancada pela
raiz.

“Não, eu não, mas...” Garrett é interrompido pela abertura da


porta dos fundos.

“Eu enviei”, diz Matteo suavemente, deslizando ao meu lado.


Seu braço direito, Giovanni desliza no banco do passageiro ao lado
de Garrett e o resto dos caras entram no SUV atrás de nós.

Minha boca se abre quando olho a cabeça de Matteo. “O que


você está...?” Eu paro, não tenho certeza do que quero dizer.

Ele ri. “Meu filho me mataria se eu deixasse você sair da


propriedade sem um monte de nossos homens, então vamos
apenas dizer que sou a única razão pela qual você está saindo
nesta escapada.”

“Ele ficaria louco?” Eu pergunto, já sabendo a resposta.


Creed, mais do que provavelmente não enlouqueceria, mas eu sei
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que não ficaria feliz com esta mudança de eventos. Com ele e o
Lorenzo saindo a negócios, sei que já estava preocupado em me
deixar, mas agora que estou saindo da propriedade? Sim, tenho
certeza que estaria lá fora, em Deus sabe onde, xingando uma
tempestade.

“Ele é paranoico. Por um bom motivo”, diz Matteo, olhando


para a minha barriga. Eu mordisco meu lábio inferior, sabendo
que ele provavelmente está certo.

“Vou tomar uma bela bronca quando ele voltar, não é?”

Matteo ri, jogando a cabeça para trás e não posso deixar de


notar o quanto ele se parece com seu filho. “Você pode contar com
isso.”

Respiro o ar fresco. O cheiro das árvores. O som de crianças


brincando no playground. Inclino minha cabeça para trás e sorrio
enquanto o sol brilha contra a minha pele. É tão bom estar aqui
fora. Eu sei que meu tempo está se esgotando, Garrett disse que
vinte minutos seriam longos o suficiente, mas sinto que o tempo
está passando, e estou tentando fazer isso durar.

Minhas mãos se dirigem para minha barriga crescente e


esfrego círculos pequenos e suaves, apreciando o modo como meu
pequenino se mexe. Nosso homenzinho tem se tornado cada vez
mais ativo nas últimas semanas. Sua brincadeira favorita é jogar
chute-mamãe-nas-costelas.

Eu olho para o parquinho e sorrio enquanto vejo inúmeras


crianças se divertindo. Ainda não consigo acreditar que vou ter
um desses presentinhos preciosos em breve. Eu e Creed teremos
nosso amorzinho correndo ao nosso redor, querendo descer pelo

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escorregador, pedindo ajuda no trepa-trepa... A imagem me faz


sorrir.

Minha atenção capta o menino com uma camisa listrada, em


pé perto de seu pai. Seus olhos estão fixos em mim, sua cabeça
inclinada para o lado enquanto me observa. Meu sorriso se alarga
e levanto a mão, acenando para ele. Ele deve aceitar isso como um
convite para correr até mim, porque acaba com a distância entre
nós.

“Oi”, diz ele, parando na minha frente. Sinto Garrett, Matteo


e Monte se aproximarem de forma protetora, mas olho para eles
com uma cara bem brava.

É uma criança pelo amor de Cristo.

Descendo e ficando agachada, sorrio para o menino. Ele tem


cabelo loiro encaracolado e nariz pintado com sardas.

“Oi Carinha. Qual o seu nome?”

Ele se desloca em suas minúsculas e pequenas pernas. Não


deve ter mais de cinco anos de idade. “Cole.”

“Bem, é bom conhecer você, Cole. Eu sou Sophia.”

Cole inclina a cabeça para o lado e me dá um olhar


engraçado. “Eu já sei quem você é.”

Minhas sobrancelhas se levantam. “Oh, você sabe?”


Pergunto, tentando segurar minha risada.

“Sim. Aquele homem ali mesmo me disse seu nome.”

Ele aponta para o homem que eu pensava ser seu pai, que
está de costas para mim. Meu sorriso desaparece e minhas
sobrancelhas se franzem.

“Seu pai já sabia meu nome?” Pergunto a ele, sem entender.

Ele ri. “Aquele não é meu pai. Ele é amigo da mamãe. Ele me
pediu para fazer uma coisa para ele e então eu e mamãe
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poderemos finalmente ir para casa. Ele disse que seu nome é Fin.
Como a barbatana de um tubarão.”

Um suspiro rasgado sai do meu peito e tropeço para trás com


as pernas trêmulas. De repente elas parecem como geleia. Toda a
cor escoa do meu rosto e minhas orelhas começam zumbir. O som
é alto, eu nem escuto mais as palavras do garotinho. Tudo em que
estou focada é no homem de camisa azul que se vira para nos
encarar com um sorriso que conheço muito bem.

Não, isso não está acontecendo.

Este é outro sonho.

Um pesadelo doentio.

Isso não está acontecendo!

Fecho os olhos e balanço a cabeça, tentando acordar do


pesadelo, mas quando os abro novamente, ele ainda está lá, muito
mais perto agora.

Garrett e Monte amaldiçoam quando pegam suas armas,


apontando diretamente para Finlay. Matteo, embora nunca tenha
visto Finlay, deve saber que algo está obviamente errado pela
maneira como entra na minha frente de forma protetora.

“Já faz muito tempo, amor”, diz Finlay com um sorriso frio.
Ele parece tão seguro de si mesmo que é uma reação estranha
quando você tem armas apontadas para você. Ele dá um passo em
minha direção, mas congela ao comando de Garrett.

“Dê outro passo e vou atirar.”

Mães e crianças gritam quando percebem o que está


acontecendo ao seu redor. As famílias se apressam pegando suas
coisas, fugindo da violência que, sem dúvida, está para acontecer.

Finlay solta um suspiro e faz ‘Tsc” como se meu irmão


devesse saber melhor. “Oh, Cova. Você sempre foi um homem que
segue as regras, mas já deve saber que eu não. Tenho franco-
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atiradores em todos os seus homens neste exato momento. Então


não, você não vai atirar em mim.”

Sinto todo mundo vibrando com raiva. “Como você sabia que
ela estaria aqui?” Garrett exige e Finlay ri.

“Eu tinha olhos na propriedade. Só precisei esperar pela


confirmação de que a águia deixou o ninho. E ela saiu, assim como
eu imagina que faria.”

Meu coração se parte e eu choramingo. Deveria ter escutado


Garrett. Deveria ter seguido as instruções do Creed. Deus, o que
eu fiz?

“Agora, se você entregar Sophia calma e lentamente, nenhum


sangue será derramado.”

“Não vai rolar, porra”, Matteo rosna. Ele me puxa para trás
de forma protetora.

“Tem certeza de que quer fazer isso?” Finlay pergunta,


contentamento brilhando em seus olhos. Ninguém diz nada.
Nenhum deles vai me entregar tão facilmente.

Finlay solta um suspiro. “Que seja do seu jeito.”

O primeiro tiro soa e todo o inferno se solta.

CONTINUA…

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