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Revisão Criminal: Teoria e Prática

Petição

Excelentíssimo Senhor Desembargador-Presidente do Egrégio


Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

1. (Nome do peticionário), por seu advogado infra-assinado


(doc. 1), vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, na
forma do art. 621, ns. I e III, do Código de Processo Penal, e pelas
razões de fato e de direito adiante expostas, requerer Revisão(1) do
processo-crime nº ……, que, pelo MM. Juízo de Direito da __a.
Vara Criminal da Capital, lhe promoveu a Justiça Pública.

E.R.M.
(Local e data)

_________________________________
(Nome do advogado e número da OAB)

Nota
(1) Revisão. 1. Direito subjetivo do condenado, “a revisão criminal
não é recurso, e sim ação penal (ação penal constitutiva)”, conforme
a lição de José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual
Penal, 2000, vol. IV, p. 383); 2. “Poderá ser requerida em qualquer
tempo, antes da extinção da pena ou após” (art. 622 do Cód. Proc.
Penal); 3. Primeiro que ajuíze a revisão criminal, poderá o
2

interessado requerer justificação, “instrumento específico de


produção probatória” (cf. José Frederico Marques, op. cit., 2000,
vol. II, p. 382); 4. “Peticionário ou revisionando é a denominação
que se dá ao réu condenado que requer a revisão criminal”
(Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 2005, p.
507. Na praxe forense, porém, outros termos têm sido empregados:
requerente (Rev. Tribs., vol. 174, p. 105); reclamante (Rev. Tribs.,
vol. 202, p. 547); revisando (apud Darcy Arruda Miranda,
Repertório de Jurisprudência do Código de Processo Penal, vol.
VIII, p. 767); suplicante (Idem, ibidem, p. 758); réu (Idem, ibidem,
p. 759); impetrante (Idem, ibidem, vol. X, p. 751); 5. De revisão
criminal encontram-se nos repertórios de jurisprudência e nos livros
de doutrina os seguintes sinônimos: pedido revisional (José
Frederico Marques, op. cit., 2000, vol. IV, p. 396); pretensão
revisional (Rev. Tribs., vol. 400, p. 136); rescisória criminal (Revista
de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alçada Criminal do Estado
de São Paulo, nº 4, p. 219); via rescisória (apud Darcy Arruda
Miranda, op. cit., vol. X, p. 753); súplica revisional, etc.
Razões do Pedido de Revisão de
(Nome do Peticionário)

Colendo Tribunal:

I — Exórdio

1. “Todas as vezes que a culpabilidade não esteja completamente


estabelecida, uma condenação seria injustificada” (R. Garraud,
Compêndio de Direito Criminal, 1915, vol. II, p. 170; trad. A.T. de
Menezes).

II — Dos Fatos

2. Tendo-o por infrator do art. 171, § 2º, nº VI, do Código


Penal, o MM. Juízo de Direito da __a. Vara Criminal da Capital
condenou o peticionário a cumprir(1) a pena de 1 ano de reclusão,
além de multa (docs. __ e __).

A despeito, porém, do ilustre Magistrado que a proferiu(2), a r.


sentença condenatória deve ser reformada, visto precária em
extremo a prova a que se arrimou.

3. Ouvido só na fase do inquérito(3), o peticionário repeliu a


acusação de estelionato, na modalidade de fraude no pagamento por
meio de cheque.
4

Deveras, como consta do recibo de venda de veículo, de 11 de


agosto de 2016, que a esta vai acostado(4), o cheque dado em
pagamento pelo peticionário devia ser apresentado a cobrança aos
21 dias daquele mês (doc. __). Aliás, isto mesmo a vítima escreveu
por sua letra(5) no verso da cártula.

De tudo o que leva dito o peticionário, bem se deduz que não


obrou dolosamente, isto é, nenhum artifício fraudulento empregou
para ilaquear a boa fé a terceiro(6).

III — Do Direito

4. Segundo regra jurídica rigorosamente observada, não se


caracteriza o delito do art. 171, § 2º, nº VI, do Código Penal, sem a
prova cabal da existência de fraude na emissão do cheque. É como
reza a Súmula nº 246 do Egrégio Supremo Tribunal Federal:
“Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de
emissão de cheque sem fundos”.

5. Mas, a prevalecer o decreto condenatório, fora de aplicar ao


caso a hipótese do art. 171, § 1º, do mencionado estatuto penal,
impondo-se ao peticionário pena só de multa. A razão é que
(embora após o recebimento da denúncia, porém antes da sentença
revisanda(7)) ele satisfez integralmente sua dívida(8), como se colhe do
recibo anexo a esta (doc. __).
5

IV — Dos Pedidos

6. Pelo exposto, requer o peticionário a Vossas Excelências,


varões de grande saber e conselho, dignem-se deferir-lhe a súplica
revisional para absolvê-lo, com fulcro no art. 621, nº I, do Código
de Processo Penal; se não(9), de conformidade com o preceito do art.
171, § 1º, do Código Penal, impor-lhe unicamente multa, por isso
que primário e nenhum o prejuízo da vítima.

E.R.M.
(Local e data)

_________________________________
(Nome do advogado e número da OAB)

Notas
____________________
(1) A cumprir. Nesta e noutras frases, o descuido tem metido o
sinal de crase: “à” cumprir. É erro de que se deve preservar o
texto polido. Lembre-se disto: antes de verbo não há crase.
Exemplos: passa a expor, chegou a pedir, começou a chorar,
etc.

(2) Proferiu. Proferir sentença é como geralmente se diz e


escreve. Sinônimos: pronunciar, decretar, dar, editar, exarar,
emitir, etc. “(…) emitia nova sentença sobre a relação jurídica
já decidida uma vez” (Eliézer Rosa, Cadernos de Processo
Civil, 1973, vol. I, p. 37). A forma prolatar, empregada de
muitos, não a conhece a linguagem culta. (Do infinitivo latino
6

proferre é que derivou a forma verbal proferir, que não do


supino prolatum).

(3) Fase do inquérito. Diz-se também quadra inquisitiva ou


inquisitorial; fase administrativa ou extrajudicial; fase de
investigação ou inquirição policial, etc.; Nota: Não
pronunciar o u das palavras inquérito e distinguir (em que não
há trema).

(4) Acostado. Significa junto, anexo ou encostado a. Exemplo:


“Foi Vossa Alteza servido mandar que Gonçalo Ravasco
acostasse ao seu requerimento certidão das mercês que se
fizeram a seu pai, Bernardo Vieira Ravasco” (Vieira, Obras
Escolhidas, 1953, vol. VII, p. 147).

(5) Por sua letra. Expressão é esta que se poderá dizer por
diferentes modos, como: “Vai o parecer, de meu punho, em
separado, nesta data” (Rui, Obras Completas, vol. XXXII, t.
II, p. 144); “Vai a resposta, em separado, por minha letra
(…)” (Idem, ibidem, p. 179); “Por isso lhe escrevo por mão
alheia” (Idem, Correspondência Íntima, 2a. ed., p. 189);
“Ainda agora me não deixam liberdade para escrever de
própria mão” (Alexandre de Gusmão, Cartas, 1981, p. 138);
“El-rei que está no Céu o queria fazer assim, e o deixou
escrito e firmado de sua letra e sinal” (Vieira, Cartas, 1971, t.
II, p. 383).

(6) Ilaquear a boa fé a terceiro. É enganá-lo ou embair-lhe a fé:


“Esse compromisso contado tinha por fim ilaquear a boa fé
dos interessados” (Rui, Correspondência, 1932, p. 88). Outros
sinônimos: iludir, ludibriar, defraudar, trapacear, abusar da
credulidade de, maquinar laços, etc. (cf. Francisco Ferreira
7

dos Santos Azevedo, Dicionário Analógico da Língua


Portuguesa, p. 545).

(7) Sentença revisanda. Outros nomes têm sido dados à decisão


que se pretende rever ou desconstituir: decisão revidenda
(apud Darcy Arruda Miranda, Repertório de Jurisprudência
do Código de Processo Penal, vol. X, p. 751); decisão
rescindenda (José Frederico Marques, Elementos de Direito
Processual Penal, 2000, vol. IV, p. 399); sentença revidenda
(apud Darcy Arruda Miranda, op. cit., vol. VI, p. 817), etc.

(8) Satisfez (…) sua dívida. Isto mesmo se poderia dizer com as
seguintes frases: embolsou a vítima, compôs-lhe, restituiu-lhe
ou compensou-lhe o dano, supriu ou ocorreu às despesas, etc.
Exemplos: “Tão regular, pois, é a construção embolsar-lhe a
quantia, como embolsá-lo da quantia” (Rui, Réplica, nº 261);
“Aos terceiros de boa fé se comporá o dano” (Idem, Parecer
sobre a Redação do Código Civil, 1902, p. 147); “(…) para
ocorrer às necessidades de sua casa” (Idem, O Marquês de
Pombal, 1951, p. 22); “(…) supre à despesa dos religiosos”
(Luís de Sousa, História de S. Domingos, 1767, 1a. parte, p.
274); “(…) prover às despesas do armamento” (Demóstenes,
Oração da Coroa, 1918, p. 35; trad. Latino Coelho); Restituir
o dano (Caldas Aulete, Dicionário).

(9) Se não. Cumpre não tomar “se não” por “senão”. Senão
emprega-se quando significa mas, a não ser ou do contrário;
Se não, nos mais casos (em que o se é conjunção, o não
advérbio). Exemplos: Não é réu, senão vítima (senão = mas);
“Para tudo há remédio, senão para a morte” (Bluteau,
Vocabulário, t. V, p. 590) (senão = a não ser, exceto, salvo);
Estuda, senão serás reprovado (senão = do contrário); Se não
8

comparecer à audiência, será declarado revel. “Se não,


vejamos-lhe as cartas” (Cândido de Figueiredo, Problemas de
Linguagem, 1946, vol. I, p. 113); “Se não, vejamos” (Idem,
ibidem, p. 147). Cai a propósito a lição de Arnaldo Niskier:
“Em alguns casos pode-se usar uma ou outra forma,
adaptando para isso a pontuação: Tomara que chova, senão a
safra será ruim. Tomara que chova; se não, a safra será ruim”
(Questões Práticas da Lingua Portuguesa — 700 Respostas,
1992, p. 63).
Pedido de Justificação

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __a. Vara


Criminal da Comarca da Capital

(Nome do sentenciado), por seu advogado infra-assinado


(doc. 1), vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, nos
melhores de direito, requerer Justificação, pelos fatos, fundamentos
e para os fins seguintes:

I — Dos Fatos

1. Por suposta violação do art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código


Penal, foi condenado o peticionário pelo MM. Juízo de Direito da
1a. Vara Criminal da Comarca da Capital à pena de 6 anos e 8
meses de reclusão, além de multa.

Irresignado, apelou da r. sentença para o Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de São Paulo, que lhe proveu o recurso para “fixar
as penas em 5 anos e 4 meses de reclusão e 13 dias-multa” (doc. 2).
10

Pretende agora a revisão do processo, para o que reputa


necessária a produção de prova até aqui impossível. Donde o
requerê-la a Vossa Excelência por esta via judicial.

II — Da Propriedade da Medida

2. Conquanto não a regulamentasse o Código de Processo


Penal, é indisputável que, por interpretação analógica das regras do
Processo Civil, a justificação tem por si o aval da Doutrina
e da Jurisprudência.

José Frederico Marques, cujos dotes de processualista exímio


os mais dos juristas reconhecem e proclamam, discorreu do tema
nesta substância:

“As chamadas justificações avulsas são as requeridas para


prova de fatos que, não constituindo, na atualidade, objeto de litígio,
possam futuramente interessar o justificante na defesa ou
conservação de direitos, ou de cuja verificação possa interessar,
presente ou futuramente, para fins diversos, inclusive os de ordem
juridico-penal”.

E, passos adiante:

“Onde, porém, se nos figura ser a justificação instrumento


específico de produção probatória, para instruir ação ou pedido, é
no tocante à revisão criminal” (Elementos de Direito Processual
Penal, 2a. ed., vol. II, pp. 318-319).

Pelo mesmo teor, a jurisprudência dos Tribunais:


11

“Constitui matéria pacífica, tanto na doutrina como na


jurisprudência, o cabimento de justificação no processo criminal”
(Rev. Tribs., vol. 469, p. 374).

Ainda: Cf. Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal,


19a. ed., p. 142.

De tudo o sobredito claramente se colhe que é a justificação


penal meio idôneo para a obtenção de provas.

III — Da Competência

3. Matéria a que não faleciam disceptações e controvérsias, é


essa da competência para o conhecimento do processo autônomo de
justificação: se o Juízo da condenação, se o da distribuição. À luz da
melhor jurisprudência, entretanto, está hoje além dúvida que
competente para o processamento de justificação é o Juízo a que for
distribuída:

“Quanto à competência, por tratar-se de processo não


vinculativo, cabe ao Juízo a quem for distribuída e não ao da ação
principal, mormente já estando sentenciado o feito (Rev. Tribs., vol.
280, p. 169). É que não vige(1) o princípio da identidade física na
esfera penal. Nem se aleguem razões de segurança na produção da
prova, porquanto o juiz não está impedido de requisitar os autos da
ação principal, para o seu melhor exame, tendo presente a
justificação” (Rev. Tribs., vol. 468, p. 374).
12

IV — Dos Pontos e Razões de Justificação

4. Em bem de sua defesa, requer o suplicante a Vossa


Excelência, com o mais profundo acatamento, digne-se deferir a
realização dos seguintes atos e diligências:

Submissão do peticionário ao detector de mentiras, ou


polígrafo. Na Polícia, repeliu, com a veemência de que só os
inocentes são capazes, a imputação do crime por que(2) foi
condenado.

Só o corréu o incriminou; suas declarações, todavia,


considera-as o peticionário fruto, se não da malícia, do equívoco
certamente.

Ao demais, tem por si álibi(3) fortíssimo: no dia do fato estava


em seu local de trabalho, como faz prova o documento que instrui
este pedido e irá demonstrá-lo ainda com testemunhas maiores de
toda a exceção.

Revel – que, por haver-se mudado de residência, não o


encontrara para citar o oficial de justiça –, não pôde o peticionário
provar cabalmente sua inocência; quer fazê-lo agora.

Suposto não fosse o produto do roubo achado em seu poder,


condenou-o a Justiça, firme nas palavras do corréu. Mas – e aqui
bate o ponto –, “como dizia o ilustre advogado italiano Bentin, o
reconhecimento e a chamada do corréu são os dois braços da cruz
em que se prega a inocência” (Nélson Hungria, A Pena de Morte
13

no Brasil, in Revista Brasileira de Criminologia e Direito Penal,


1967, nº 17, p. 20).

Destarte, para que suas palavras não sejam increpadas de


falazes ou infidedignas, só porque proferidas por quem figura de réu
em processo-crime, requer a Vossa Excelência haja por bem
admitir-lhe se submeta, voluntariamente, ao detector de mentiras.

Em prol de seu pedido, aduz ainda as seguintes razões:

a) A contribuição do detector de mentiras para solução de


casos como o dos autos tem sido inestimável, pois que alto o
percentual de respostas corretas;

b) A busca da verdade real é a alma e o escopo de todo


processo;

c) “Não é a absolvição do culpado, mas a condenação do


inocente, que afeta os fundamentos jurídicos, desacredita a Justiça,
alarma a sociedade, ameaça os indivíduos, sensibiliza a solidariedade
humana” (Roberto Lira, Introdução ao Estudo do Direito Penal
Adjetivo e do Direito Penal Executivo, p. 12).

V — Do Pedido

5. Por tudo o exposto, requer a defesa a Vossa Excelência,


Magistrado insigne pelo respeito à Lei e à Liberdade, tenha a bem
dar as providências necessárias, por ofício ao Senhor Diretor-Geral
do DEIC, a fim de ser o réu (nomeá-lo) submetido ao detector de
mentiras.
14

Requer mais a Vossa Excelência sejam formuladas ao réu, pela


autoridade que presidir ao ato, dentre outras que considere
oportunas, as seguintes perguntas:

a) Onde estava ao tempo em que foi cometido o crime de


que é acusado?
b) Pode comprová-lo?
c) Conhecia o corréu (mencioná-lo)?

6. À derradeira, por imprescindíveis à apuração da verdade,


requer a Vossa Excelência sirva-se tomar depoimento às
testemunhas constantes do rol abaixo, que comparecerão a Juízo
independentemente de intimação:

1. ................................................................;
2. ................................................................;
3. ............................................................... .
(Nome, qualificação e endereço).

Nestes termos,
P. Deferimento.

(Local e data)

_________________________________
(Nome do advogado e número da OAB)
15

Notas
____________________
(1) “É que não vige o princípio da identidade física na esfera
penal”. Vem a ponto, a respeito deste verbo, a advertência do
Des. Geraldo Amaral Arruda, jurista de pulso, além de
paladino da boa linguagem: “Viger também é verbo
defectivo. Não se conjuga na primeira pessoa do indicativo
presente, nem no presente do subjuntivo. Na prática, usa-se
mais o verbo vigorar, ou locuções em que entram os
substantivos vigência e vigor. Assim, na Lei de Introdução do
Código Civil (Decreto-lei nº 4.657/42) lê-se: a lei começa a
vigorar (art. 1º); antes de entrar a lei em vigor (art. 1º, § 3º); a
lei terá vigor (art. 2º)” (A Linguagem do Juiz, 1996, p. 67;
Editora Saraiva).
Merece também reproduzida aqui a lição do preclaro
Mestre Napoleão Mendes de Almeida: “Viger. É verbo
regular (= estar em vigor, ter vigor, vigorar), mas não se
emprega na primeira pessoa do sing. do indic. presente nem,
portanto, nas do presente do subjuntivo: Essa lei já não vige —
Ao tempo em que vigia a ditadura” (Gramática Metódica da
Língua Portuguesa, 29a. ed., p. 289; Editora Saraiva).
(2) “(…) a imputação do crime por que foi condenado”. Escreve-
se em duas palavras: “(…) o por que de frases como A razão
por que assim procedi — O caminho por que devo passar — O
avião por que fui ao Rio. Agora o que é relativo,
perfeitamente substituível por o qual, a qual, os quais, as
quais: A razão pela qual assim procedi — O caminho pelo qual
devo passar.
Outros exemplos: Por que enormes pecados hás
chegado a esse estado de infâmia e miséria? — Por que razão
ele assim procedeu eu não sei.
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Com a função de relativo, o que sempre se separa do


por, que é preposição” (Napoleão Mendes de Almeida,
Dicionário de Questões Vernáculas, 1981, p. 240; Editora
Caminho Suave Ltda.; São Paulo).
(3) “(...) tem por si álibi fortíssimo”. “Alibi — Em outro lugar,
alhures. Este advérbio (latino) de lugar, empregado como
substantivo, significa: a ausência provada de uma pessoa em
certo lugar, pela sua presença demonstrada em outro ponto. É
indício negativo da autoria de um ilícito penal, como se lê em
Processo Penal, do Prof. Hélio Tornaghi, p. 294. (…)
Observe-se que, apesar de proparoxítono o vocábulo, é ele
inacentuado, pois se trata de um latinismo. (…) Já era tempo
de ser aportuguesado, escrevendo-se álibi, como se faz com
ínterim, grátis, récipe, réquiem etc.” (Eliasar Rosa, Os Erros
mais Comuns nas Petições, 9a. ed., p. 24; Livraria Freitas
Bastos S.A.; Rio de Janeiro).
Preceitua Arnaldo Niskier (da Academia Brasileira de
Letras): “Escreva álibi aportuguesado, isto é, com acento
agudo no a” (Questões Práticas da Língua Portuguesa, 1991,
p. 8; Consultor; Rio de Janeiro).
A este pregão por sem dúvida atendeu o lexicógrafo
Antônio Houaiss, que registrou a voz latina, aportuguesando-
a: “Álibi — Defesa que o réu apresenta quando pretende
provar que não poderia ter cometido o crime por, p.ex.,
encontrar-se em local diverso daquele em que o crime de que
o acusam foi praticado (um vizinho proporcionou-lhe o á. de
que precisava)” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,
1a. ed.; v. álibi).
Isto de álibi, “quem alega deve prová-lo, sob pena de
confissão”, adverte Damásio E. de Jesus (Código de Processo
Penal Anotado, 23a. ed., p. 159).
Apelação:
Petição de Interposição de Recurso

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __a. Vara


Criminal da Comarca da Capital

Proc. nº ……/19
1. (Nome do sentenciado), por seu advogado e procurador infra-
assinado, nos autos de Justificação, cujos regulares termos se
processam neste douto Juízo, não se conformando com a r. decisão
de fls., que a indeferiu, vem, mui respeitosamente, perante Vossa
Excelência, na forma do disposto no art. 593, nº II, do Código de
Processo Penal, dela apelar para(1) a Egrégia Superior Instância.

2. Não entra em dúvida ser a apelação o recurso cabível da


decisão que indefere pedido de justificação criminal, como se colhe
do magistério da Doutrina (cf. Damásio E. de Jesus, Código de
Processo Penal Anotado, 23a. ed., p. 484).

3. Requer, pois, a Vossa Excelência vista dos autos para arrazoar


o recurso.

E.R.M.
(Local e data)

_________________________________
(Nome do advogado e número da OAB)
Razões de Apelação de
(Nome do Réu)

Colenda Câmara:

1. Sob o argumento de que, na Primeira Instância, “não mais é


possível discutir-se a responsabilidade do réu” quando já transitou
em julgado a decisão condenatória, indeferiu ao apelante seu pedido
de Justificação o MM. Juízo de Direito da 1a. Vara Criminal da
Comarca da Capital (fl. 26).
Mas, conquanto a defesa reconheça raros méritos e talentos
no digno subscritor do despacho apelado, é força(3) revogá-lo, não
triunfe(4) grave ofensa ao direito e aos princípios que regem o
raciocínio lógico (vênia!).

2. Em verdade, com o intuito de obter prova para melhor


instruir futuro “pedido de revisão criminal”, requereu o apelante
Justificação, “in verbis”(5): “Pretende agora a revisão de seu
processo. Para tanto, reputa necessária a produção de prova até aqui
impossível. Donde a requerer (a produção de prova), por esta via
judicial (justificação), a Vossa Excelência” (fl. 4).
O despacho impugnado, portanto, não encontrou(6) somente
as regras do direito; também fez rosto às da lógica formal: à uma,
porque está além de toda a disputa o cabimento da Justificação
como instrumento ou meio de obter prova para a instrução de
revisão criminal; à outra, porque supôs seu digno subscritor
pretendesse o apelante, em Primeira Instância, pronunciamento
rescisório de acórdão. Aí, “data venia”, tomou Sua Excelência a
nuvem por Juno(7), engano a que decerto o levou a lacônica
promoção ministerial de fl. 25. Não parecia razoável admitir, com
19

efeito, pudesse o douto Magistrado haver por pedido de revisão


criminal o que era simples requerimento de Justificação, e como tal
ajuizado mediante larga (ou ao menos suficiente) fundamentação.

3. De que a Justificação serve de medida preparatória à revisão


criminal sabe-se geralmente nos círculos forenses. A vulgaridade do
fato escusa(8) o apelante de comprová-lo “ad satiem”(9), bastando
trazer ao terreiro da controvérsia a lição de José Frederico Marques
(Elementos de Direito Processual Penal, 2a. ed., vol. II, pp. 318-
319):
“Onde, porém, se nos figura ser a justificação instrumento
específico de produção probatória, para instruir ação ou pedido, é
no tocante à revisão criminal” (é nosso o grifo).
Isto mesmo proclama a jurisprudência de nossos Tribunais:
“É admissível a justificação no processo penal (RT 202/546;
Jurisprudência-Justitia, São Paulo. Associação Paulista do Ministério
Público, 1975, I/220; RJDTACrimSP 26/225. As recentes Leis ns.
11.689/08 e 11.719/08 expressamente previram a possibilidade de
justificações, as quais se encontram nos atuais arts. 396-A, caput, e
406, § 3º” (Código de Processo Penal Anotado, 23a. ed., p. 145).
Do que tem dito a defesa bem se pode coligir que a
justificação muito há foi recebida pela Justiça Criminal e é meio útil
e apropriado a produzir prova para a instauração do procedimento
revisional.
4. A reparação do injusto gravame (e, dentre estes, o maior e
mais atroz é, sem dúvida plausível, a condenação do inocente)
houvera de merecer à Justiça máxima diligência e solicitude, nunca
ruim despacho.
As provas que pretende o apelante produzir em sede de
justificação, e que lhe serão cabais ao reconhecimento da inocência,
consistirão em:
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I — Submissão voluntária ao detector de mentiras, ou


polígrafo, de cuja eficácia na apuração da autoria de fato delituoso
discorreu eruditamente Almeida Jr. (Lições de Medicina Legal, 7a.
ed., p. 499). Aliás, a só disposição do réu de sujeitar-se àquele
aparelho depõe em crédito de seus protestos de inocência…;
II — Inquirição de testemunhas, cujas declarações se
consideram da primeira importância para a liquidação da
responsabilidade criminal do apelante.
Suposto já tenha o decreto condenatório transitado em
julgado, nunca será inoportuno perseguir os meios que a Lei
confere àquele que se conta entre as vítimas de insidioso erro
judiciário, como o apelante.

5. Em face do que leva exposto, fia a defesa que Vossas


Excelências sejam servidos prover o recurso do apelante para
ordenar o processamento de seu pedido de justificação perante o
Meritíssimo Juízo recorrido.

(Local e data)

_________________________________
(Nome do advogado e número da OAB)

Notas
____________________
(1) “(…) apelar para a Egrégia Superior Instância”. Esta, a
verdadeira regência do verbo: apelar para (e não “apelar a”).
Haja vista os exemplos seguintes: “Apelo da vossa língua para
a vossa consciência” (Vieira, Sermões, 1959, t. V, p. 206);
“(…) apelando de uma corrupta maioria parlamentar para a
nação” (Rui, Obras Completas, vol. XVI, t. II, p. 429); “Apelo
21

para a memória dos nobres Senadores” (Idem, ibidem, vol.


XXXII, t. I, p. 82); “Apelei do seu coração para a sua
coragem” (Camilo, O Bem e o Mal, 1955, p. 154).
“Apelar a alguém ou a alguma coisa, no sentido de recorrer, é
solecismo sáfio” (José de Sá Nunes, Língua Vernácula, 1939,
3a. série, p. 262).
(2) “Não entra em dúvida (…)”. Pode dizer-se ainda: é sem
dúvida que, não é ponto de dúvida, é fora de questão, é
superior a toda a controvérsia, não sofre disputa, não padece
contradição, não cai em dúvida, não deve haver debate sobre,
etc.
Para traduzir o estado de dúvida que lhes subjugava o
espírito, usavam autores de nomeada expressões desta laia:
“Via-me mais embaraçado que os argonautas na conquista do
velo de ouro” (Rafael Bluteau, Prosas Portuguesas, 1728, 1a.
parte, p. 367); “Neste ponto andam enredados os teus
comentadores” (Latino Coelho, Galeria dos Varões Ilustres
de Portugal, 1880, vol. I, p. 24); “Nada se pode averiguar
neste ponto com certeza” (Idem, ibidem, p. 332); “(…)
havemos de encontrar a fábula, coberta de um véu escuro e
impenetrável” (Matias Aires, Reflexões sobre a Vaidade dos
Homens, 1752, p. 30); “Hipóteses criadas à volta de um
vácuo” (Camilo; apud Miguel Trancoso, Camilo e Castilho
(Correspondência), 1930, p. 90); “O mesmo Alves Moreira se
deixa envolver nas tralhas de um equívoco quando desta guisa
se exprime” (Orosimbo Nonato, Da Coação como Defeito do
Ato Jurídico, 1957, p. 111); “As disceptações se desenvolvem
em rumos vários, a controvérsia frondeja e se esgalha” (Idem,
Curso de Obrigações, 1959, vol. I, p. 101); “Isto é tão escuro
como um terceto de Dante” (Camilo; apud Joaquim Pinto de
Campos, A Divina Comédia de Dante, 1866, p. XXVII);
“Grammatici certant et adhuc sub judice lis est” — Discutem
os gramáticos e a questão ainda está por decidir (Horácio,
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Arte Poética, v. 78); “Bastaria que acerca de uma palavra, uma


expressão (…) pairassem laivos de dúvidas” (Laudelino Freire,
Estudos de Linguagem, p. 73); “Tenho por sem dúvida que
(…)” (D. Francisco Manuel de Melo, Cartas Familiares, 1937,
p. 226); “É pois fora de toda a dúvida que (…)” (Castilho,
Tosquia dum Camelo, 1853, p. 30); “Não é pouco cego o nó
da questão presente, e de muitas vezes que a tenho ouvido
propor, e discutir, nunca o juízo ficava satisfeito, dando por
exausta a dificuldade” (Manuel Bernardes, Nova Floresta,
1711, t. III, p. 261); “(…) tendo por sem dúvida que havia de
vencer (…)” (Vieira, História do Futuro, 2005, p. 165;
Editora UnB); “Não me resta dúvida mínima de que é
condenado” (Camilo e Castilho, Correspondência, 1930, p.
9); “A frase não tem sentido nitidamente penetrável” (Rui,
Réplica, nº 95); “Em resposta diremos não nos parecer
suscetível de questão que (…)” (Rui, Obras Completas, vol.
XXVIII, t. III, p. 194); “Tudo isto nos deixa no ânimo
grandes dúvidas” (João de Lucena, Excertos, 1868, p. 218);
“Que o credor possa concedê-la (dilação de prazo) a um só dos
credores, coisa é maior de qualquer dúvida” (Orosimbo
Nonato, Curso de Obrigações, 1a. ed., vol. II, p. 243); “Andar
em opiniões — Ser controverso; ter reputação duvidosa”
(Constâncio, Dicionário, 1877; v. opinião).
(3) “É força”. Expressões equivalentes: é forçoso, é de preceito, é
de rigor, é mister, é de mister, etc. “É força que, é necessário”
(Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo, 2a. ed.; v. força);
“Força era concluir, portanto, que (…) seria naquele espaço
de tempo uma impossibilidade total” (Rui, Réplica, nº 2);
“Era de preceito, pois, em boa guerra, que o confessasse”
(Idem, ibidem, nº 206).
(4) “(…) não triunfe grave ofensa ao direito (…)”. Caso de elipse
da conjunção final (para que), incluída pelos mestres da língua
entre os primores do estilo e elegância da arte literária:
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“Chamo para o caso a atenção de quem o possa remediar, não


surja por aí algum outro vereador que (…)” (Cândido de
Figueiredo, Combates sem Sangue, 1925, p. 166); “Vem e
voltemos, não suceda estar já meu pai com mais cuidado em
nós, do que nas jumentas” (Bíblia Sagrada; 1 Rs, 9,5; trad.
Antônio Pereira de Figueiredo).
(5) “In verbis”. Locução latina empregada amiúde nos escritos
forenses, que se traduz por: nestas palavras, textualmente, etc.
Expressões de igual sentido e força:
“Ipsis verbis” — Por estas mesmas palavras, textualmente, à
letra ou ao pé da letra, fielmente;
“Ipsis litteris” — Com as mesmas letras. Ex.: Transcreveu
“ipsis litteris” o despacho agravado, isto é, exarou-lhe o teor
com exatidão e fidelidade, pontualmente.
(A grafia “litteris” é melhor que “literis”).
“Ad litteram” — Letra a letra, literalmente, sem mudar nem
omitir palavra. Ex.: Reproduziu a Defesa “ad litteram” os
passos capitais do acórdão revidendo.
“Ipsis litteris virgulisque” — Expressão latina que, traduzida
em vulgar, quer dizer: com as mesmas letras e vírgulas.
“Ad verbum”, “e verbo”, “de verbo pro verbo” —
Literalmente, à letra, palavra por palavra.
“Verbatim” — Literalmente.
“Verbo ad verbum” — Palavra por palavra.
(6) “O despacho impugnado não encontrou somente as regras do
direito (…). Entre as acepções do verbo encontrar figura a de
opor-se a, contrariar, contravir a, ir de encontro a, contrapor-
se a, topar com, fazer rosto a, malferir, etc. Ex. “Coisas que
encontram as leis, a consciência” (Morais, Dicionário, 1813; v.
encontrar); “(…) são epítetos que se encontram e repelem
(Rui, Réplica, nº 464); “Em frente à ilha de Marajó, o
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Amazonas encontra o Mar” (Francisco da Silva Borba,


Dicionário Gramatical de Verbos, 1990; v. encontrar).
(7) “(…) tomou Sua Excelência a nuvem por Juno”. “Tomar a
nuvem por Juno, iludir-se com as aparências” (Caldas Aulete,
Dicionário Contemporâneo, 1925; v. nuvem).
(8) “A vulgaridade do fato escusa o apelante de comprová-lo”.
Neste lugar está empregado o verbo com a significação de:
ser desnecessário, não ser (ou haver) mister, etc. Ex.: “A
enfermidade, que já não dura, foi enfermidade: já o não é.
Escusa, pois, falar na enfermidade, enquanto dura. É luxo de
pleonasmo” (Rui, Obras Completas, vol. XXIX, t. I, p. 164).
A citação do exemplo de Rui escusa outros mais que se
possam inventariar…
(9) “Ad satiem”. À saciedade; que farte; até à medula. Expressões
latinas equivalentes: “Usque ad satietatem”, “usque ad
nauseam”.

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