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VERSÃO 3
PRAJNAPARAMITA
1
SUMÁRIO
1. Apresentação ...........................................................................................4
2. Vídeo 1 (INTRODUÇÃO)..........................................................................6
3. Vídeo 2 (CAMINHO ÓCTUPLO – DO OITAVO AO PRIMEIRO PASSO -
e PRIMEIRA NOBRE VERDADE)..........................................................12
4. Vídeo 3 (RECAPITULAÇÃO, SEGUNDA, TERCEIRA E QUARTA
NOBRES VERDADES e PRAJNAPARAMITA)......................................25
5. Vídeo 4.( ABORDAGEM DA SEGUNDA VOLTA DO DHARAMA,
ABORDAGEM DA TERCEIRA VOLTA DO DHARAMA E PRECES
INICIAIS).................................................................................................36
6. Vídeo 5 (RECAPITULAÇÃO, ABORDAGEM SUTRAYANA - EXPLICAÇÃO
SOBRE AS COISAS)..............................................................................56
7. Vídeo 6 (RECAPITULAÇÃO; VIU QUE OS CINCO SKANDAS ERAM
VAZIOS POR
NATUREZA)...........................................................................................79
8. Vídeo 7 (RECAPITULAÇÃO; TODOS OS CINCO SKANDAS TEM A
NATUREZA DA VACUIDADE; FORMA É VAZIO; E VAZIO É FORMA
................................................................................................................99
9. Vídeo 8 (RECAPITULAÇÃO; FORMA É VAZIO; LUMINOSIDDE; VAZIO
É FORMA; TODOS OS DARMAS SÃO VACUIDADE; NÃO TEM
CARACTERÍSTICAS; SÃO NÃO-NASCIDOS E NÃO CESSAM; NEM
IMPUROS, NEM LIVRES DA IMPUREZA; NEM DECRESCEM E NEM
CRESCEM; A VACUIDADE NÃO TEM FORMA, NEM SENSAÇÃO,
NEM PERCEPÇÃO, NEM FORMAÇÃO MENTAL, NEM
CONSCIÊNCIA).................................................................................. 127
10. Vídeo 9 (RECAPITULAÇÃO: NÃO TEM OLHOS, OUVIDOS, NARIZ,
LINGUA, CORPO E MENTE; NÃO TEM APARÊNCIA, SOM, CHEIRO,
SABOR, TATO E OBJETOS DA MENTE; NÃO TEM OS ELEMENTOS
DE CONSCIÊNCIA RELACIONADOS AOS OLHOS E DEMAIS
SENTIDOS FÍSICOS E NÃO TEM MENTE OU ELEMENTO DE
CONSCIÊNCIA DA MENTE; NÃO TEM IGNORÂNCIA, NEM EXTINÇÃO
DA IGNORÂNCIA, NEM OS ELOS SUBSEQUENTES ATÉ A VELHICE
E MORTE E A EXTINÇÃO DA VELHICE E MORTE; DO MESMO MODO
NÃO HÁ SOFRIMENTO, OU ORIGEM DO SOFRIMENTOS, OU A
EXTINÇÃO DO SOFRIMENTO, NEM CAMINHO, NEM SABEDORIA,
NEM REALIZAÇÃO E NEM NÃO-REALIZAÇÃO)
............................................................................................................ 158;
11. Vídeo 10 (RECAPITULAÇÃO; ELES SE MANIFESTAM ATRAVÉS DA
CONFIANÇA NA PRAJNAPRAMITA; UMA VEZ QUE NÃO HÁ
OBSCURIDADES MENTAIS, NÃO HÁ MEDOS ) ............................. 189;
12. Vídeo 11 (RECAPITULAÇÃO; TRANSCENDENDO COMPLETAMENTE
AS VISÕES FALSAS, ATINGEM O DERRADEIRO NIRVANA;)
2
..............................................................................................................202
;
13. Vídeo 12 (RECAPITULAÇAO; O MUNDO É O JARDIM DA PRÓPRIA
ILUMINAÇÃO; ABORDAGEM MANTRAYANA)
.......................................................................................................... 256
14. Vídeo 13 ao 21 ( até 1:02:01) (Roteiro de oito pontos para meditação
.............................................................................................................285.
a) (1) Puxamos a forma como um exemplo prático à nossa frente
(depois praticar também com os outros quatro
skandas)...........................266;
b) (2) Contemplamos a coemergência (inseparável de quem olha)....285
c) (2a) coemergência mente-forma: isso é, isso não é, isso é, as três
afirmações da validade de Maitréia/Asanga/Vasubandu.................286
d) (2b) coemergência mente/ forma/ energia/ paisagem/ identidade/
causalidade/ propósito/visão estratégica/ urgências: bolha ...........288
e) (2c) muitos exemplos de bolhas e borbulhas abundantes iniciando
com os seis reinos, seis bardos, ciência, intersubjetividade,
causalidade, jogos de tabuleiro, samsara.......................................288
f) (2d) Doze Elos ................................................................................291
g) (3) Contemplamos o aspecto vazio (não tem aquilo dentro) .........291
h) (4) Percebemos o aspecto luminoso ou coemergente (tem aquilo
dentro) ............................................................................................292
i) (5) Contemplamos o aspecto vazio/luminoso (é na forma que o vazio
se manifesta), aqui brota a sabedoria primordial, a mente do Darma
do Buda...........................................................................................292
j) (6) Contemplamos a energia (vejam o surgimento dos 5 lungs, os
lungs dos 5 elementos) que se movimenta em nós, e sua relação
com a vacuidade..............................................................................292
k) (7) Contemplamos a magia disso tudo e a causalidade
decorrente........................................................................................293
l) (8) Sorrimos! É assim que o Samsara nos pega! Natureza vajra.
Oferenda a Samantabadra (Diante da energia, que brota da forma
vazia e luminosa, eu sorrio).............................................................293
15. Vídeo 21 (1:02:01) (Comentários finais do Lama
..............................................................................................................297
3
APRESENTAÇÃO
O presente estudo compreende os comentários ministrados por Marcelo
Nicolodi, disponível no You Tube, sobre o texto transcrito por Zita Freitas,
concernente aos ensinamentos orais transmitidos por Lama Padma Samten no
Retiro realizado, em Pernambuco, Recife, em dezembro de 2007, cujo tema é
PRAJNAPARAMITA
Do 13º ao 21º vídeo foi feita compilação do que foi dito e encaixado no Roteiro
de Oito Pontos do Lama Samten.
Esse material foi iniciado com o objetivo (de praticante iniciante) de servir como
estudo individual, mas, com o tempo, serviu de motivação (oscilante) de
beneficiar os que quiserem se aprofundar no assunto.
Oscilante por quê? Porque me peguei, algumas vezes, sendo acionado por
diversas motivações egoístas.
Com isso, percebi que estudar o Darma pode virar um obstáculo (um
sofrimento; um samsarão) se eu não me vigiar, se eu não obtiver lucidez, se eu
não equilibrar a energia sobre a motivação correta.
Percebi, também, que como estudar o Darma não difere de como eu cumpro,
no dia a dia, os itens da minha agenda: agir no mundo engloba tudo isso.
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No que tange à minha contribuição, posso dizer que foi de tentar colocar no
papel o que foi percebido. Logo, posso garantir que há falhas minhas (em
diversos níveis: motivacionais e executórios).
Por isso, apresento esse trabalho como uma amostra do que está disponível no
youtube.
Ai percebi que fazer o serviço era oportunidade para cessar esse carma: tentar
ver nas críticas oportunidade para não precisar delas para ficar bem ou mal,
enquanto era possível melhorar a obra.
Wagner Chaves
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VÍDEO 1
O Buda falou sobre.
Ele vai dizer que todos os seres tem uma idéia de um eu como um núcleo
central.
Esses três temas são a base do primeiro giro da roda do Darma e a base do
que a gente chama de caminho do ouvinte.
1) VACUIDADE –
2) PRAJNAPARAMITA -
Prajna é a visão que olha o mundo com um outro olhar, que a gente não está
acostumado.
A gente vai lançar mão de uma sabedoria que a gente não costuma usar dentro
do mundo comum, dentro do samsara usual.
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Então a gente vai conquistar a visão (entender o que aquilo é), ai depois a
gente vai meditar sobre aquilo (não basta entender, a gente vai fazer prática de
meditação correspondente a essa visão, que foi entendida).
Prajna não é um método causal. Por isso tem de estudar, tem de ouvir muitas
vezes: ... anos.
O método não causal é aquele que dá um salto de uma região para outra, sem
ter de traçar um caminho linear: é um salto de espaço mental (você sai de uma
bolha e entra em outra);
O Buda vai dizer que a aparente prisão do samsara, a roda da vida, ela é
construída: as grades são pontilhadas (parece que tem grade; mas na verdade
não tem; mas parece que tem).
Dizer que não tem não libera; mas entender que as grades não são sólidas,
não são fixas, já é um bom começo pra gente entrar nesse tema.
Esse é o tema: qual é a tela branca que está por trás das aparências?
7
muitas coisas; ai será que isso é realmente o que é? Será que isso é a verdade
real e absoluta sobre a existência? Sobre o mundo e sobre os seres? Ou será
que há; que tudo isso se manifesta numa dimensão mais sutil, que vai inclusive
além disso? Inseparável disso.
(...)
(30:36) Mas ai, o nosso caminho vai ser esse: a gente vai tentar enxergar isso
através de exemplos práticos. O mundo espelha isso o tempo todo (as
pessoas, os objetos; isso já espelha essa sabedoria, mas tem de ter o olho de
ver).
(31:48) pra entender pra que a gente vai entrar nisso, a gente precisa entender
qual é o enrosco do qual eu tenho de sair.
Então o Buda vai dizer que os seres não só acreditam na existência real (do si
mesmo; do eu) como eles acreditam na existência real dos objetos, do mundo,
das pessoas, das relações.
Quando surge o eu, surge o meu e ai ele começa a criar ao redor dele uma
construção de mundo.
(33:40) O Buda desconfiou disso e encontrou uma saída para esse estado. Ele
disse assim: quando esse estado cessa, essa sensação de eu, de meu e de
mundo sólido e real, todo o sofrimento cessa junto.
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(34:44) Mas quando o Buda se liberta disso não quer dizer que o mudo se
dissolve diante dos olhos dele. Não é isso! Essa não é a visão última sobre a
experiência da realidade.
Ele vai dizer: é a posição mental, diante das coisas, que é o problema.
(37:50) Toda vez que a gente exerce essa liberdade a gente acha que essa
nova situação é que é a real. (Agora é que é a real. É agora. Agora. Agora).
Então eu tenho uma série de justificativas para dizer que o que eu estou
fazendo hoje é o que é.
Então, a gente está preso nessa visão sólida de mundo, de vida, que nos faz
sofrer sistematicamente.
(39:28) Ai, pra gente se livrar dessa situação complicada, o ponto não é
resolver todos os aspectos práticos do mundo, em si.
A gente tem uma aspiração por controle de que em algum dia, “eu vou
conseguir ajeitar a minha vida de um jeito tal, que tudo vai ficar jóia”.
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Então a saída não é por ai. Então a saída dessa confusão pode ser qual?
Entender como que eu gerei esse engano básico. Como que eu perdi essa
sabedoria e agora eu estou enrolado.
(41:13) Então a gente está nessa situação: Eu preciso ultrapassar essa prisão
que me mantém ignorante do sofrimento dentro do samsara.
Então, esse é o objetivo desse estudo: é nos ajudar, nos capacitar a entender
um pouco mais isso.
Sabedoria e compaixão vão andar juntas. Por que? Porque, quem amplia a sua
visão de mundo, alguém que entenda as coisas de modo mais profundo, ai fica
olhando pros outros e vê que não entendem; ai naturalmente vai querer ensinar
e ajudar.
(50:58) ai tem uma comparação que o Lama faz, que é bem interessante, que é
assim: quando a gente entra no samsara tem uma porta, que está escrito
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ignorância (AVIDIA); ai, para sair do samsara, a gente vai ter de andar até
encontrar a porta que está escrito PRAJNA.
(1:14:01)
1. INTRODUÇÃO
Então existe essa visão de verdade relativa (verdade convencional), que são as
aparências comuns do mundo; e tem aquilo que nós vamos chamar de verdade
absoluta, que está inseparável da verdade relativa, que é o aspecto de
vacuidade por trás das aparências: as aparências me descrevem a verdade
relativa e a vacuidade é a base, inseparável, das aparências.
A realidade é aquilo que eu vejo, que eu ouço, que eu toco, que eu leio e o
Buda vai estar apontando aquilo que está por trás das aparências.
Então a gente vai trabalhar item por item, como é que a gente chega à
compreensão disso.
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VÍDEO 2
Nós temos um problema: o samsara (A Roda da Vida).
Uma vez que eu me fixo a alguma coisa e tento estabilizá-la e aquela coisa
teima em não ficar do jeito que eu queria que ela ficasse; ai aquilo gera mal
estar.
Apesar de parecer de que quando dói, dói demais; aquilo é real, porque não
tem como dizer que não é; essa sabedoria vai nos mostrando aos poucos que,
na verdade, quando eu sofro, quando eu passo mal diante de uma situação,
isso não se deve à situação em si, mas se deve ao meu posicionamento de
mente diante da situação.
Então prajna vai nos ajudando a recuperar essa liberdade, essa tranquilidade
diante do eu quer que surja.
Por mais desastroso que pareça, aquilo sempre tem espaço, tem liberdade na
situação. (12:13).
Prajna é a sexta das paramitas. Ela é como se fosse os olhos: vêem através da
confusão.
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Mas essas sabedorias, sem PRAJNA, não chega a lugar nenhum. Elas são
como uma pessoa cega, tateando pela saída de uma cidade.
Então, o Lama Samten vai apresentar uma visão geral do Nobre Caminho
Óctuplo, o caminho de oito passos. (18:11).
Então, quando o Buda ensinou o Darma, as primeiras coisas que ele anunciou
foram as QUATRO NOBRES VERDADES.
Então toda pessoa que se interessa pelo budismo deveria ter em mente as
QUATRO NOBRES VERDADES e o NOBRE CAMINHO ÓCTUPLO. Essa é
uma base, que é comum a todas as linhagens.
Então, o Lama, de saída, vai dar esse resumo sobre o NOBRE CAMINHO
ÓCTUPLO.
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Correta Atenção – 7º passo do Nobre caminho -
Samasathi
Então, o sétimo passo do Nobre Caminho é o tema do nosso estudo. Então ele
é um conhecimento, uma sabedoria, que vai ser acessada a partir dos
ensinamentos e da meditação e contemplação da vida.
É uma atenção correta, que olha os objetos, olha as pessoas, olha o si mesmo
e não se prende a qualquer noção reduzida do que aquilo é. É uma atenção
que olha através daquilo com o olho de Raio “X”.
Na visão correta, não se identifica com o objeto e nem com o sujeito, que olha
o objeto.
A nossa própria linguagem está estruturada com base nessa visão de mundo
(alguém fazendo algo sobre alguma coisa. Sujeito, verbo e objeto. Não é
assim?)
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Prajna é a sabedoria que nos ajuda a atravessar essa confusão (da dualidade).
Então, o que parece tão óbvio, Buda diz que é um engano fundamental.
Então, o Sétimo Passo vai ser isso: a gente vai atravessar o sentido comum.
(25:52).
Eles operam em meio ao mundo do mesmo jeito, mas a mente dos mestres
não se fixa à experiência de dualidade que surge quando “se movem no
mundo”: quando comem, quando dormem, quando vão ao banheiro,...
A cada instante, ele vê aquilo que brota com a dupla visão: ele vê o aspecto
relativo (de aparência de coisa, que brota), mas ao mesmo tempo, ele vê o
vazio (a inexistência de qualquer solidez daquela experiência que brota).
Então, isso ocorre simultaneamente na mente dele: ele não precisa raciocinar
para fazer isso.
Nessa etapa de treinamento, a gente vai ter que raciocinar, tem que se
esforçar; mas à medida que a gente avançar, a necessidade de pensar sobre
aquilo que está brotando vai desaparecer.
Então o Buda não tem necessidade de pensar para perceber que não tem o
outro separado, fora.
A mente dele não tem sensação nem de eu e nem de outro: ele está livre no
meio da experiência.
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Ai não se fala mais de dentro ou fora, apenas de experiência: eu não posso
mais separar o externo do interno.
Então o Buda é aquele que olha através das experiências sem se fixar a coisa
alguma. Então a mente dele é livre, que não opera através da noção de um
“eu”.
(41:43)
E com isso ela se torna uma ferramenta adequada para buscar a sabedoria.
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Ou seja, se a gente não limpar o campo (não tirar as ervas daninhas, arar a
terra e etc.), a gente não vai conseguir plantar nada.
Então, nós somos compulsivos nos nossos desejos e hábitos, nós somos
obsessivos naquilo que a gente quer (aquilo fica girando) e a gente está
deludido (completamente enganado sobre as aparências).
(44:15) Não tem nada mais importante para fazer. É como se você estivesse
entrando num processo de cura psiquiátrica (a mente enlouquecida, que está
respondendo a tudo sistematicamente e, quando chega no final do dia, nem
percebe, direito, o que fez, né?).
Através de SHAMATA, a gente vai cortar esse processo. A gente vai agir com
mais tranquilidade, mais serenidade. Vai fazer as coisas, também, mas vai
fazer as coisas com ATENÇÃO PLENA e não, apenas, por responsividade
(automatismo). (44:50).
Tem os dois tipos. Aquilo que é chamado de SHAMATA IMPURA é porque tem
um foco específico. Então, eu restrinjo a minha mente para focar uma coisa
única por vez (um objeto externo, as energias, um objeto imaginário, a própria
respiração); seja qual for o objeto, é um objeto específico; a SHAMATA PURA
é uma meditação de concentração com o foco aberto (TODOS OS SENTIDOS
ABERTOS, MAS A MENTE ESTÁVEL, NO MEIO DISSO, NÃO SEGUE
NENHUM DOS ESTÍMULOS, QUE BROTA, nem visuais, nem auditivos, nem
olfativos e, assim por diante).
Então, a mente aprende a parar diante do mundo (ELA NÃO TEM DE ISOLAR,
COMO NA SHAMATA IMPURA): ela se mantém em contato com o mundo,
mas no contato com o mundo, ela não se move. (46:00).
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Nas duas tem ATENÇÃO PLENA. Na SHAMATA IMPURA eu tenho atenção
plena em uma coisa por vez, na SHAMATA PURA eu tenho uma atenção plena
que não oscila diante do movimento das aparências
(1:02:52) Então esse é o sexto passo. Não para nisso. Ele vem voltando. Ai
tem o quinto passo antes do sexto. Porque meditar em silêncio já é uma coisa
sofisticada (não é uma coisa trivial e básica). Não é qualquer pessoa que
consegue sentar, parar e focar.
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No 5º Passo nós geramos méritos, ou seja,
estabelecemos relações positivas dentro do
mundo convencional, em todas as direções de tal
modo que depois possamos sentar em silêncio e
não sermos invadidos pelas ações negativas que
fizemos, que nos cobram ações urgentes para
reequilibrar o desequilíbrio que causamos.
Então eu vou praticar isso no meu dia a dia. Então, quando eu levanto da cama
de manhã, ao invés de eu me colocar a pensar (quero isso, quero aquilo),
pensar só em mim (EU, EU, EU, EU), eu me levanto e me lembro (QUE NO
DIA DE HOJE EU POSSA SER ÚTIL DE MUITAS FORMAS; QUE EU POSSA
ENCONTRR OPORTUNIDADE DE PRATICAR MORALIDADE E COMPAIXÃO
COM TODOS OS SERES QUE EU ENCONTRAR; QUE EU NÃO FIQUE SÓ
NA TEORIA: QUE EU SEJA GENEROSO EFETIVAMENTE; QUE EU POSSA
TER PACIÊNCIA COM AS PESSOAS QUE ME PROVOCAM, QUE ME
AGRIDEM E QUE NÃO CONCORDAM COMIGO).
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Agora, se eu quebro isso, já de saída, de manhã, eu já começo o dia com outra
marca. Então, esse QUINTO PASSO, o modo de vida correto é o modo de vida
virtuoso. É exatamente o que nos falta, enquanto humanidade. (1:06:25).
São as dez ações não virtuosas que a gente vai tentar evitar. E eu vou tentar
evitar aquilo não é porque o Buda disse que é certo. É porque gera sofrimento
para mim e para os outros.
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Ou seja, a motivação é uma base. Se eu não estou com a motivação de me
libertar do samsara, que é a base do budismo, eu não vou agir a partir dos
passos posteriores. Eles não vão fazer muito sentido dentro de uma motivação
comum de mundo. (1:13:00). Se a minha motivação é a motivação comum do
samsara (ou seja, eu vou me dar bem; custe o que custar; doa a quem doer) ai
eu não vou praticar virtudes, evitar as não-virtudes, cultivar meditação e assim
por diante.
Então a motivação é a pedra inicial: entender que tem algo errado ali (por
algum motivo a pessoa desconfiou, em algum momento, que tem algo errado).
Ela buscou alguma coisa para ela entender se há uma saída desse processo.
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qualquer nível de sucesso (seja qual for); qualquer coisa que eu tente
manipular as coisas externas para ser feliz; aquilo não vai dar certo; aquilo é
castelo de areia: mais cedo ou mais tarde, se dissolve.
Ai a gente sofre.
Vai repetir “de novo”? Mais do mesmo? Vai cair de novo, no mesmo estado, na
mesma visão? Ai vai colher resultados semelhantes. (1:16:14).
Estar no meio das experiências sem estar preso nelas. Sem esperar que a sua
felicidade venha delas.
Ou seja, eu vou ser feliz depois que eu fizer aquilo, aquele outro. (Tem uma
listinha, né?).
No meio das experiências tem liberdade: tem espaço; não tem apego; não tem
dependência.
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Ai, quando aquilo falta, eu passo mal.
Chocolate, cigarro, comida, bebida, etc. Várias coisas. Então isso tudo é prisão.
Então, eu vou circular pelas experiências, sem me deixar prender por elas.
Então o Buda vai dizer que o samsara é como se fosse uma casa em chamas.
Só que o samsara não é um lugar físico. É um modo de operar a mente: é um
modo como a mente se posiciona diante das aparências. (Isso é muito
importante entender).
A gente não está querendo sair desse mundo para ir para um outro mundo
legal. Esse não é o objetivo do caminho. O caminho é se libertar do mundo no
meio do mundo. É poder atuar no meio do mundo com lucidez, com sabedoria,
sem precisar se afastar dele. (1:19:20).
Enquanto eu não vejo isso, eu sou um praticante mais ou menos. Estou com
um pé na canoa do budismo e um pé na canoa do samsara, tentando me
equilibrar nas duas canoas.
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VÍDEO 3
RECAPITULAÇÃO (05:16 até 13:07).
Percebem isso?
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O samsara, a Roda da Vida não é um lugar físico, a Roda da Vida
é uma experiência interna; uma experiência mental; emocional.
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Então tem esses raciocínios: SOFRIMENTO, VIDA HUMANA
PRECIOSA, IMPERMANÊNCIA. Eu deveria aproveitar. (10:23).
Então, não tem como pular essas etapas: a gente tem de passar
por isso.
27
Interdependente, que são o circulo externo da
Roda, e que Yama ou Maharaja segura. Com isso
compreendemos a artificialidade e a mecânica
toda pela qual a nossa circunstancia é montada.
O Buda vai dizer que esse sofrimento é artificial. Ele é temporário: tem causas
e condições, que o construíram.
28
reconhecemos a extinção natural de todas as
coisas artificialmente surgidas, entre elas a
nossa própria vida.
Até quando chega o momento que a gente não consegue sustentar essas
causas e condições e morre.
Mas ai eu vou avançando e vou percebendo que não apenas o sofrimento pode
ser minimizado, mas ele pode ser completamente extinto, se eu arrancar as
raízes que geram o sofrimento.
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Depois vem a 5ª Etapa - trazer benefícios aos
seres.
Prajnaparamita
30
Então, a ponta do novelo é a noção de coemergência.
A gente teria muitas formas de entrar nisso. Então, uma forma tradicional, é a
gente pegar os objetos, os fenômenos e decompô-los.
Então, eu vou concluindo que as coisas não são reais como parecem. Elas
são, apenas, a junção de muitos fatores, causas e condições. E que elas não
tem essência.
Ai, depois, eu faço isso com o “EU”. Eu vou olhar para a própria noção de
pessoa, de ser, de identidade e começo a analisar os vários constituintes do
“EU”. E começo a ver, também, que não há esse ser, essa pessoa, essa alma,
esse espírito, central, que a gente possa apontar e dizer: Ah! Isso é a pessoa!
Ou seja, uma pessoa, nada mais é do que uma agregação daqueles fatores.
(37:07), o que para nós é muito estranho, né? Que a sensação de ser alguém,
em si: eu sou eu! Eu sempre sou eu!
A gente não percebe que a gente está mudando de instante a instante; que não
há um eu contínuo; que é uma ilusão essa sensação de eu contínuo.
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Então, isso é um método. Um método que a gente pega uma coisa e
decompõe aquilo em partes até perceber, que não sobra nada no final: não tem
essência. (38:05)
Quando eu começo a olhar pra essa noção de eu e começo a ver que não tem
nenhuma base, nenhuma solidez nisso, eu começo a relaxar um pouco na
minha idéia de „”eu”. Ai, eu vou desapegando, lentamente. Consequentemente,
eu tenho menos emoções perturbadoras.
Mas, ai, vem a noção de que, milagrosamente, sobra alguma coisa. Essa coisa
é essa base, que é impessoal, que está por trás de todas as aparências.
Esse espaço de possibilidades, ele não é morto: ele tem vida; ele tem cognição
ali dentro. Ele tem mente operando. Só que essa mente não é uma mente de
alguém; não é uma coisa.
Esse é o raciocínio, que a gente vai passar diversas vezes: de como não sobra
nada.
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Eu me apegaria a miragens do deserto? (se eu soubesse que a miragem é
miragem?).
Faz sentido se apegar ao sonho, durante a noite, sabendo que o sonho vai
acabar?
Então, quando eu começo a ver esse espaço, essa flutuação, essa liberdade,
que tem no meio das aparências; eu começo a me libertar delas.
Ai tem um outro raciocínio, que nós vamos utilizar aqui, que é o raciocínio da
coemergência. (43:01), ou seja, a coemergência é essa idéia de olhar de como
o fora não está separado, o tempo todo, do dentro.
Por exemplo, o quadro. Eu vou dizer que o quadro está, apenas, na minha
mente? Ou o quadro está, apenas na parede? Ou, isso: simultaneamente, os
dois operam?
Não tem como falar de quadro, sem ter um sujeito; um observador que fale de
quadro.
Mas a gente tem de tomar cuidado para não cair no outro extremo: ai, então, o
observador inventa tudo (o observador, sozinho, unilateralmente, ele constrói
todas as aparências).
Então, esse é o mistério da realidade: não “tá” nem só dentro (na mente); e
nem “tá” só fora (nos objetos); os dois são inseparáveis.
Então, esse raciocínio, tão simples, é ele, que quando cultivado, a gente vai
acabar superando a dualidade de sujeito e objeto; que é justamente a entrada
no samsara (O primeiro elo da originação interdependente; avydia é a entrada
da confusão).
Então, através de prajna, que é essa inteligência, que olha “pras” coisas e não
mais vê as coisas como separadas “de minhas estruturas internas”, mas
entende que o mundo é inseparável “de mim mesmo”, então isso vai,
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naturalmente, dissolvendo a noção tanto de “eu” separado, quanto de objeto
separado. E aquilo vai gerando uma pacificação diante das experiências.
No que tange a uma pessoa; quem seria essa pessoa que está sendo
observada? Ai eu vou ter sempre de ter de perguntar: depende, aos olhos de
quem?
Sempre eu vou ter de ter um referencial. Não existem (ééé) aspectos absolutos
nas aparências: nada é absoluto; tudo é relativo.
Então, cada pessoa, é um ser livre, flutuante, móvel e que, ainda é interpretado
por cada um, a partir “de suas” estruturas internas.
(50:26) Percebam: tão pronto uma experiência brota diante dos olhos, a gente
julga, na hora; a gente atribui significado: é isso; é aquilo; .gostei; não gostei;
horrível. A gente não dá tempo para a pessoa preparar a sua defesa, ouvir as
testemunhas.
34
falando isso, isso e isso, que eu não concordo. (- Ela está discordando de
mim!). (Como ela tem a ousadia de discordar de mim?) (E me irritando!)
Às vezes o outro nem percebe que está fazendo aquilo; nem tem essa
intenção, essa motivação de me irritar.
Mas eu “to” me irritando, mas do meu lado, tem outro lá, que está achando
aquilo o máximo (o que aquela pessoa “tá” falando).
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VÍDEO 4
(18:03)
Então, nesse espaço básico, nessa natureza primordial, nessa mente, que
compreende como as aparências surgem, como os processos de construção
de experiências surgem, essa mente, que olha “pra” si mesma (ela é
autorreflexiva). Ela olha “pra si mesma” e reconhece a própria criação; o
próprio engano, que ela mesma gera.
Então, essa mente tem inteligência; tem cognição: ela não é morta.
Então, efetivamente, não sobra nada, que não seja real por si só, mas essa
mente final, que sobra, a gente poderia dizer que sobra, ela não é uma coisa,
ela não é um objeto, ela não pode ser apontada, ela não pode ser definida.
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Então isso é super, assim, interessante e, ao mesmo tempo um tanto quanto,
assim, chocante (20:25).
(20:36) Na verdade é isso: toda vez que eu tento fixar a realidade, de alguma
forma, ai eu não encontro uma resposta definitiva. Eu encontro algo que é,
mais uma vez, temporário e impermanente.
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emoções perturbadoras, a gente tende a enfatizar, bastante, os aspectos de
identidade (se fixar nisso).
E quando eu “to” fazendo isso, eu “to” tomando os nós como se fosse o lenço:
eu “to” apegado aos nós; eu “to” definindo o “EU” a partir dos nós. Então eu
perco a visão da pureza do lenço primordial, que está por trás dos nós.
Isso é uma boa forma de explicar “pra” onde o prajna irá nos conduzir: para o
reconhecimento do lenço livre dos nós.
Então, essa idéia de que não há um Darma fixo, não há um ensinamento, uma
doutrina fixa, isso, também, é algo, assim, bastante (ééé) desconcertante no
budismo. No Sutra do Diamante, especialmente, o Buda vai deixar muito claro,
no diálogo ente o Buda e Subhuti (um dos discípulos dele), o Buda pergunta:
Subhuti, quando o Tathagata recebeu os ensinamentos do Buda Dipankara, lá
no passado, isso permitiu que no futuro ele alcançasse a iluminação? Ele
recebeu algum tipo de Darma fixo, algum tipo de transmissão real? E o Subhuti
vai dizer: não. Tathagata não recebeu, absolutamente, nenhum Darma fixo,
nenhum ensinamento definitivo.
Justamente por aquilo não ser sólido, não ser real. Então, o sistema de
ensinamento, o Darma, ele não é fixo: ele é uma inteligência, como o Lama “tá”
trazendo aqui. Ele é a capacidade de olhar para as coisa e, ao olhar, saber o
que fazer com uma natural liberdade diante das aparências, por não se apegar
aos nós do lenço.
A gente vai entender, a partir da verdade relativa, tudo que deve ser evitado,
tudo que deve ser acumulado. E a gente vai praticar as perfeições
(generosidade, moralidade, paciência, energia constante e concentração).
38
Então, em Prajna, todos os sistemas se dissolvem.
Tem esse ensinamento: o Darma é como uma jangada, que nos conduz até a
outra margem, da liberação. E, ai, a jangada é deixada “pra” trás: é
abandonada.
É bem importante.
Esse é o tema.
Então, essa sabedoria é uma sabedoria intuitiva, que vai brotar justamente do
fato de repousar numa região onde os nós não são vistos mais como sólidos e
reais. Então, quando o bodisatva repousa nessa região, ele se torna efetivo na
ajuda aos seres.
Enquanto a gente, ainda, habita em regiões em que os nós são vistos como
reais ou sólidos, ai, nesse tipo de circunstâncias a gente, a nossa ajuda é mais
ou menos. A nossa ajuda é limitada, a nossa ajuda é tendenciosa, porque a
39
gente está operando a partir de uma bolha, a partir de algum espaço fixo. E o
bodisatva, que, efetivamente, repousa em prajna, ele não. Ele tá livre das
bolhas e, portanto, ele consegue ajudar os outros, reconhecendo no problema,
na condição do outro, o fato que aquilo não é real, não é sólido.
Ele nunca acredita naquilo que o outro está dizendo. Ele acolhe o que o outro
traz, mas ele vê a artificialidade na experiência do outro, apesar do outro não
ver. O outro vê aquilo como muito sólido, real e se vê preso naquilo, sofrendo,
passando mal por causa daquilo.
Então, aquele que quiser ajudar, não vai encontrar nenhuma fórmula pronta
(29:19).
Lembrem que o Buda, ele deu (no primeiro encontro eu falei sobre isso), tem
os Três giros da roda do Darma. São as três principais classes de
ensinamentos, que o Buda transmitiu ao longo dos quarenta e tantos anos de
professor, que ele teve na Índia.
40
O Segundo Giro, que é esse aqui, que é exempficado pelos sutras da
prajnaparamita, esse Segundo Giro, ele vai focar nos aspectos vazios das
aparências. Então ele tem essa característica desconstrutiva. Muitas vezes
visto como uma via negativa (uma forma de decompor as aparências, as, (as)
experiências (ééé), enxergando o vazio daquilo e nos libertando do apego.
Prassanka era um tipo de argumento lógico, usados nas escolas, que mostra
quais são as conseqüências (éé) falsas de um argumento.
(34:10). Então o Lama vai apresentar, um pouco, essa visão, agora (né?).
41
Então, não há essa separação. Não há como falar sobre isso, enquanto coisas
separadas.
Então, as pessoas tentam gerar uma forma lógica de entender “da vacuidade
brota a luminosidade e brota o aspecto cognoscente e brota a energia” como
se cada uma dessas etapas fosse uma conseqüência da outra. E não é assim
que isso explica (na natureza primordial todas essa características surgem,
simultaneamente, de modo inseparável.
42
Depois vem a abordagem da Terceira Volta do
Dharma, específica do 8º Passo do Nobre
caminho – samasamadhi.
Mas, ai, para não permitir que os seres ficassem presos ao aspecto da
vacuidade (não gerassem fixação nem mesmo à vacuidade), o Buda, no
terceiro Giro, ele vai introduzir a idéia de luminosidade.
43
Então, o Lama está trazendo, aqui, um elemento do Tantra para nos ajudar a
entender, melhor, o que (que) o Terceiro Giro representa.
Não basta entender. A prática repetida, continuada, que observa como que a
energia, também, ela se entorta com os nós do lenço; essa prática sistemática,
olhando como isso tudo se constrói é o que vai permitir desatar o nó não
apenas mental, mas também o nó da energia; que é a liberação, que gera a
tranquilidade diante do que é que surja.
Ai as experiências não são mais perturbadoras (né?), uma vez que a energia
seja liberada.
Então, a pessoa quer fazer aquilo, ela tenta várias vezes, mas ela sofre com
aquilo. Aquilo não é fácil, porque há uma amarra energética; em alguns níveis,
uma amarra física (né?), uma dependência ao nível físico, que se traduz numa
alteração grave de energia e que gera um comportamento compulsivo e
obsessivo: aquilo não está mais no nível mental, cognitivo.
Às vezes parece que a gente não está avançando, que a gente “tá” fazendo
aquilo, mas aquilo não tem muito poder.
44
Então, leva um tempo, assim, para aquilo começar, para eu conseguir olhar
com outro olhar.
(43:05) Mas, aqui, o Lama, ele “tá” citando as várias, os vários aspectos da
experiência da Natureza Primordial.
Então, a nossa vida atual, a nossa vida tridimensional, física, sólida, com um
corpo, que opera com os sentidos, essa vida passa a ser vista como uma
possibilidade; um caso particular dessa mente primordial, dessa mente livre.
Essa é uma pergunta muito boa para ser feita, assim: onde é que a gente está,
o tempo todo? O tempo todo, assim, vamos pensar assim: dia após dia,
mudam as experiências, mudam as sensações, mudam as emoções, muda o
cenário. “Tá” uma constante mudança ao meu redor. Eu vou dormir, ai eu
sonho, eu tenho outras aparências, ai eu acordo, ai voltam novas aparências
similares ao dia anterior: o tempo todo tem algo acontecendo.
Mas a grande pergunta é aquela assim: o que é que não muda quando tudo
muda? O que é que está por base, qual é a base, que dá sustentação para
todas as aparências o tempo todo?
45
Então, essa mente, a mente, que dá a base é a mente que precisa ser
reconhecida; é a mente primordial.
Então, o Lama usa muito essa palavra: lucidez, porque é difícil encontrar uma
palavra, que sintetise, que defina, exatamente, o que é “a manifestação dessa
Mente”. Então, a palavra lucidez, nesse sentido (né?), de ter clareza, de
manifestar Sabedoria Primordial o tempo todo.
Então, não é lucidez no sentido comum da palavra (estar lúcido; a pessoa está
lúcida, então ela consegue se comunicar; ela sabe o que está falando) .
46
Então, a prática de prajna é utilizada, assim, como proteção nos mosteiros, de
modo tradicional; no Zem Budismo, no Budismo Tibetano, eles começam, de
manhã, recitando o Sutra do Coração. É. Aquilo é visto assim: aquilo varre
toda a confusão. Então, por isso que, para nós, recitar o Sutra do Coração é
uma prática que o Lama estimula, constantemente. Então, no CEBB Viamão, a
Sede do CEBB, todos os dias à noite se faz uma prática com recitação do
Sutra do Coração da Prajnaparamita.
Então, nós deveríamos nos diversos CEBBs e GEBBs, com o tempo, ter um
dia, ou dois dias, o que for possível, em cada um, “pra” praticar isso (né?):
recitar e acumular o Mantra da Prajnaparamita, (ééé) (ééé) até o ponto mesmo
da gente memorizar, guardar o texto do Sutra do Coração e trazer isso, assim,
ao longo do dia.
Então, por que que aquilo é protetor? Por que aquilo nos ajuda? Porque,
quando eu lembro do conteúdo do Sutra, (assim: eu já entendi um pouquinho
daquilo), aquilo, assim, varre o aspecto da confusão (eu “tô” na bolha, eu “tô”
sofrendo, eu “to passando mal numa situação difícil; ai, quando eu trago,
quando eu recordo o olhar de Prajna, eu volto a olhar aquilo que estava me
perturbando e, aquilo que me perturbava, tem outra essência, assim: outro
sabor. E ai eu consigo atravessar aquilo com maior facilidade.
Então, isso não é apenas uma metáfora, assim, não é um exagero. A prática de
prajnaparamita vai, realmente, nos libertar (né?), (50:06) (telefone tocou) ,
completamente. (50:11)
47
Na morte, tudo se dissolve, o apego a todas as coisas será deixado para trás,
as pessoas amadas, o próprio corpo (deixar o corpo para trás não é uma coisa
muito simples). Então, prajnaparamita é a melhor prática para essa hora
(51:55).
No momento da morte (ééé), ninguém vai poder nos ajudar; ninguém vai poder
nos acompanhar nessa passagem. O nosso corpo não vai mais nos ajudar: o
nosso corpo vai ficar “pra” trás. Todas as coisas, as posses, tudo aquilo que eu
cultivei; todo o conhecimento, que eu adquiri; toda comida, que eu comi; todo
dinheiro, que eu guardei; nada disso vai me ajudar. A única coisa que pode me
apoiar, no momento da morte, é a minha mente clara e lúcida, que observa a
morte acontecendo e observa o processo do morrer sem grande perturbação,
(né)? (53:17).
Muito bem.
Então, a gente viu uma introdução geral do Lama introduzindo o prajna numa
forma sintetizada.
Então, “pra” nosso estudo, a gente vai entrar com o Sutra do Coração, que é,
provavelmente, o texto budista mais estudado no mundo todo, assim. O texto
mais popular, pela capacidade de síntese, que ele tem, de uma coisa muito
complexa e, ao mesmo tempo, por ser rápido e fácil de ser memorizado,
recitado, cantado, entoado, (né?).
Bem interessante.
48
E lembrando, que esse sutra tem essa qualidade especial, de fazer uma ponte,
com um sutra que tem um mantra. Então ele faz como se fosse uma ponte
entre o caminho do Sutrayana com o Tantrayana: eles se unem (né?) no Sutra
do Coração. Então, não é a toa que o Lama Samten pegou esse texto como
sendo a base das práticas do CEBB.
Então, (pausa)
PRECES INICIAIS.
Esse início, esse louvor, à mãe, à prajnaparamita vista como a mãe de todos
os Budas. Então, ele não faz parte do texto inicial. Ele foi acrescentado, assim.
Ele é um trecho da prajnaparamita em oito mil versos (que é mais extenso). Ele
foi incorporado pelos tibetanos, no início (ééé) da recitação do Sutra do
Coração, mas quando a gente vai encontrar a versão chinesa e japonesa,
consequentemente, que, também, usa muito o Sutra do Coração, eles não tem
esse prólogo (eles não tem essa homenagem): foi algo que os tibetanos
acrescentaram, assim.
Inconcebível, Inexprimível
49
Então, isso é algo bastante frustrante. Então, a gente está estudando aqui
textos e coisas (e já está sabendo que não tem como falar direito daquilo).
Então, é um pouco estranho, (né?)
Como é que a gente vai falar daquilo, que não pode ser falado? (não pode ser
expressado através de palavras).
Então, apesar de aquilo não poder ser apontado, diretamente, ainda assim,
essa sabedoria, ela não é, apenas, um algo não existente: aquilo opera; mas
opera através da mente, que vê daquele jeito e não consegue exprimir aquilo
de modo dualista. Por isso, inexprimível, inconcebível: não pode ser falado e
não pode nem mesmo ser concebido, enquanto um objeto da mente dualista;
enquanto um objeto da mente racional.
50
Percebem?
Isso é uma coisa que eu percebo, assim, bastante nas pessoas que estudam o
Darma. (A gente entra no Darma e quer adquirir conhecimento; a gente quer
entender coisas; quer guardar essas coisas).
Depois, com o tempo a gente vai aprender a não só valorizar como sentir (-
Sim! É Isso! Não tem nada a fazer).
Os ensinamentos que geram conhecimento, eles são úteis, são meios hábeis,
mas eles não são a coisa em si. A coisa em si é isso: é se esvaziar de todos os
conceitos e fixações (e estruturas): desatar os nós do lenço.
Então, é isso que o Buda transmite: ele transmite a mente. Ele não transmite
um conhecimento específico.
51
todo. (Já fizemos muitas coisas, já nos
apresentamos de diferentes modos, nosso corpo
mudou muito desde o nascimento). Ainda assim,
essa natureza que é capaz de construir as
realidades. Está lá, presente, além de vida e
morte: se manifesta em cada olhar.
Na visão convencional do mundo, todas as coisas tem uma origem Ah! Surgiu
a partir desse momento.
Agora, a prajnaparamita, ela é não nascida. Ela não é construída. Ela não
surge a partir de causas e condições como as aparências samsáricas. Ela não
é originada interdependentemente.
É.
Algo, para cessar, precisa ser composto: tudo que é composto tem fim. Não é à
toa que os fenômenos compostos são impermanentes: é o primeiro selo do
Darma.
Então, ao que é composto (o que que é uma coisa que é composta)? É algo
que brota a partir de uma somatória de causas e condições. Isso é composto.
Então, uma coisa que não brota a partir de causas e condições, ela é não
composta.
52
O espaço é um exemplo clássico de um fenômeno não condicionado. E
prajnaparamita, essa sabedoria, também, é não condicionada: não nascida e
incessante; não tem começo nem fim.
Só que tem esse espaço por trás, que nunca se altera, onde brota as
experiências.
Então, a nossa mente, limpa, clara, primordial, ela, também, é como o céu, o
espaço: tudo brota nela, mas nada a altera; nada pode macular ou transformar
essa mente básica.
53
Experienciada pela cognição discriminativa
prístina da consciência auto-reflexiva.
Então, há uma cognição discriminativa (ou seja, tem uma capacidade da mente
analisar, uma capacidade de olhar “praquilo” (ééé) de um modo imaculado
(sem preconceitos, sem tendências). Então isso é essa cognição discriminativa
prístina.
54
Essas palavras são em português para alguma
coisa que transcende, mas ainda assim, as
palavras estão aí.
Então, há uma consciência autorreflexiva. Então, há uma mente, que olha “pra
si mesma” e se utiliza da cognição discriminativa prístina “pra” ver as coisas
tais como são.
Então, essa frase enorme significa basicamente, isso: a mente primordial tem a
capacidade de olhar “pra” si mesma e, com lucidez, reconhecer a si mesma,
enquanto liberdade.
(1:13:11)
(1:13:20)
55
VÍDEO 5
RECAPITULAÇÃO (5:23 a 8:30)
Algum problema?
Não? Tá fácil?
56
Então, quando a gente senta “pra” meditar não é a mesma coisa?
Senta pra meditar e a mente vai junto: fica monitorando, falando,
dando dicas (Ou! por que você não medita assim? Não seria
melhor se você fizesse assado?)
Mutito bem!
57
Os ensinamentos tem o propósito de nos libertar. Então, se aquilo que nos
liberta, se a gente se apega àquilo que nos liberta, ai tem um problema!
Então, tem essa noção de que o budismo se auto-extingue: ele nos conduz, ai
atravessou para a outra margem, ai não tem mais necessidade nenhuma de
carregar o barco nas costas.
Essa é a noção de paramita (aquilo que atravessa), que vai até a outra
margem. (10:40)
(telefone tocou)
(pergunta).
É muito fácil se apegar ao remédio. A gente faz isso, direto, na vida. Se apega
ao próprio mecanismo, que vai nos libertar. Ai, aquilo. Ai aquilo, (...): o ego dá
um jeito, sempre, de dar uma voltinha, por trás, e tenta se agarrar em alguma
coisa: (A que lindo: meditação! Oh! Que maravilhoso: os mestres, o Darma).
Então, o ego vai se construindo com a relação com o próprio budismo.
Mais armadilhas.
Ai vem a
58
Assim eu ouvi.
Todo monge está no caminho do arhats? Não. Tem monge que está no
caminho do bodisatva. Mas aqui, nesse Sutra, para o efeito de compreensão
há essa diferenciação. É que o Sutra surge numa época em que há um grande
debate entre o caminho do ouvinte e o caminho do bodisatva. Então, surgem
essas expressões, (né?).
1
foi escrito Hinayana. Por isso, coloquei o que foi escrito ao invés do que foi dito.
59
Então, nesse caminho, nesse veículo, aquilo funciona (há uma liberação do
samsara), mas essa liberação não é um estado de Buda, um estado de
liberação definitivo.
Então, essa é a visão, que vai surgir a partir dos Sutras do Mahayana. Então,
aqui, por isso que há essa diferenciação (grande grupo da sanga dos monges e
da sanga dos bodisatvas) para diferenciar aqueles que ainda “tão” no caminho
da liberação individual, que busca o estado de arhats (o ser puro) e o caminho
mahayana, que tem o ideal do bodisatva, que faz aquele voto, paradoxal, de
não encontrar a iluminação enquanto todos os outros seres não se iluminarem
antes. (17:00).
(17:50)
O Arhats é o ser que busca essa pureza. Uma das traduções que se usa é: o
destruidor do inimigo.
60
Porque, estar preso no samsara são os seres sencientes comuns. Estar preso
no nirvana seria o caminho do arhats. Então, o mahayana vai procura ir além
desses dois extremos.
Mais ou menos?
Então, sempre, nos ensinamentos, (ééé) se tem essa noção de que tem que ter
o local adequado, o momento adequado, a assembleia adequada, o professor
adequado e o ensinamento adequado. São cinco fatores de um ensinamento.
(20:20). São cinco fatores para que o ensinamento do Darma se complete de
modo perfeito (20:34).
A gente vai olhar o exemplo do próprio Buda. O Buda, uma vez iluminado, se
levantou e ajudou todo mundo. Ele não ficou, apenas desfrutando da
iluminação e do bem estar, que ele alcançou. (22:14).
61
(22:32)
Ele vai dizer isso aos outros que não sabem: ele
está livre.
(23:00 – 25:02)
62
Grande compaixão e grande sabedoria. Não posso trabalhar com eles,
separadamente. Então, o caminho do bodisatva são sempre as duas asas em
que vão nos nortear diante do caminho: a acumulação de meios hábeis (de
compaixão para ajudar os seres) e a acumulação de sabedoria, que enxerga
através da construção e da solidez das aparências.
Tudo bem?
(26:55 – 37:10)
Ai vem:
Então, o Darma (com “D” maiúsculo) é aquilo que nos liberta da prisão do
darma (com o “d” minúsculo).
Ele poderia ter escolhido outra palavra, mas não escolheu. Então, a gente tem
de diferenciar o “D” maiúsculo do “d” minúsculo.
63
A gente começa a entender que o Darma, enquanto ensinamento, ele não é
uma realidade separada das coisas do mundo, dos fenômenos: ele se
manifesta em meio aos fenômenos (O Darma, enquanto ensinamento).
Ou seja, o Buda “tava” lá. Ele “tava” imerso no samadhi (numa meditação muito
profunda: numa absorção meditativa). Ai, nesse samadhi, ele olha “pra” todos
os fenômenos, em todas as direções (ele não está se recolhendo no mundo;
ele está olhando “pra” todo mundo, sem exceção). E, quando ele olha “pro”
mundo, detalhadamente, ou seja, todos os fenômenos, ai brota o Darma (com
“D” maiúsculo), ou seja, o Buda vê através dos fenômenos; mas sem ter de
fugir dos fenômenos.
Então, esse é o ensinamento. O Buda “tá” quieto (ele não falou nada). Ele “tá”
manifestando isso, em meio ao mundo.
Então, Vajrasattva representa essa visão, essa visão, assim, que está de olho
aberto, olhando “pra” tudo e vendo o fora inseparável do dentro, sem ter que
alterar nada fora: não tem que purificar nada; não tem que mudar nada; não
tem que incluir; não tem que alterar nada; no próprio olhar, já se enxerga
através da solidez das construções.
64
Então, com isso, traz um bem estar, uma bem aventurança, um êxtase, uma
paz, uma alegria. Por que? Porque o Buda olha “pra” tudo e entende como é
que tudo se constrói: ele não „tá” mais no engano.
E o fato de ele enxergar e ver isso, traz um bem estar, assim: não é uma coisa,
assim, estasiada demais, assim, não é aquela coisa exagerada; é assim, um
sorriso, o Buda sorri e nada mais ele vê como puro ou impuro, fora ou dentro;
ele vê tudo como uma manifestação natural, livre, espontânea, vazia e
luminosa.
(42:58 – 43:48)
65
O ponto não é só reconhecer que aquilo que está parecendo é ilusório, vazio. É
mais profundo do que isso: é entender como é que o espelho produz as
imagens ilusórias.
E toda meditação está voltada para um dia realizar isso; um dia ter esse insight
direto; de sacar como a mente opera.
Ai o Buda vai dizer: quando você olha para o espelho, tem uma imagem real lá
dentro do espelho ou não?
Complicado.
Se eu disser que não tem, (o que é isso que aparece?); mas se eu digo que
tem, (mas, como assim tem?) (Aquilo é real ou não é?) (Não tem nada no
espelho). (O espelho não se altera em nada, quando brota uma imagem nele).
Não é?
Então, vai se dizer que todas as manifestações e aparências são como ondas
no mar do oceano da mente.
É um bom exemplo.
66
Com o Prajnaparamita estamos olhando e vendo
a nossa própria ação profunda da mente, que
produz as aparências e imagens, que passamos
a ver. Através das imagens ilusórias nós vemos
como elas são geradas.
Então é isso, o Buda precisa do mundo “pra” ele se iluminar: o Buda precisa
das aparências, das pessoas, dos objetos, do cenário todo. Que é através
desse objetos luminosos que ele vai ter o insight de liberação; não é no
processo de recolhimento absoluto (em que me desconecto do mudo).
Então, isso gera uma mente pacífica, harmoniosa, (né?), que traz o bem estar.
Agora, (ééé) a visão do Buda, ele parte de shamata, mas ai ele introduz o
insight de prajnaparamita: introduz a visão, a compreensão, essa inteligência,
que atravessa as construções.
Então, a mente do Buda, o tempo todo, ele tem essa tranquilidade, essa paz
por base, mas tem essa mente (ééé) sábia: essa sabedoria primordial, que
enxerga através das coisas.
(48:25 – 49:59)
Quando ele olha para aquilo com olhar de prajna, não é que ela vai ficar feliz:(-
que bom, perdi o dinheiro). Não é isso. Mas ela olha para a perda do dinheiro e
não tem mais (pausa), ela não “tá” mais grudada naquilo, ela “tá” descolada.
67
Então, é o quê? É uma experiência que tem consequências. Você vai lidando
numa boa com aquilo e vai transitando.
Ela é prática. Ela tem ações e sabe como andar em meio ao mundo, de modo
prático e também de modo causal.
Mas, não quer dizer que eu não posso ser funcional (eu sigo pagando a conta,
economizando, lidando com o dinheiro); mas ainda lidando com o dinheiro,
aquilo é visto como um dinheiro de sonho, construído temporariamente para
servir algumas funções.
Não há nenhuma idéia de que eu tenho de ter aquele dinheiro como se fosse
algo essencial para a minha paz e bem estar.
Então, prajna, é a visão que vai permitir nos relacionar livres de apego.
Sem prajna, tem confusão. Nessa visão sempre tem um eu operando e esse eu
operando passa mal nas relações, porque, (ai), ele tem expectativas, (né?), ele
estabelece relações utilitárias. Ai, quando aquilo não está mais funcionando
mais (bem), aquele “eu” entra em crise; entra em colapso; até que aquela
relação termina de alguma forma e aquele ser, aquela identidade morre, a
pessoa passa mal, mas daqui a pouco ela ressurge das cinzas como a “phenix”
, (né?) e começa a se relacionar novamente e vai recriando aquilo.
68
Então, estava o Buda olhando a geração das
imagens, olhando os fenômenos todos. Isso é
chamado Profunda Iluminação. Quando ele olha
os fenômenos, não é arrastado por eles, nem os
rejeita, nem os amortece, nem deixa de vê-los
com profundidade. Mas quando ele vê, os
fenômenos estão automaticamente,
instantaneamente, liberados.
Eles são instantaneamente liberados: o Buda não tem que fazer algum esforço.
Ele não tem que analisar os fenômenos, pensar sobre eles, olhar, decompor (ai
depois ele se libera). Não. Eles são naturalmente liberados; instantaneamente.
Então, isso é uma realização, que vai brotar, a partir do cultivo (ééé) longo e
sistemático de prajna.
Aquilo, no olhar dele, já é autoliberado: (não tem); não brota nenhum motivo
de fixação ou apego.
Por que que nós, seres senciente, precisamos dos fenômenos para manifestr a
mente de Buda?
69
Então, se eu não tivesse nas coisas eu não “taria” mais no mundo; se eu “to”
no mundo é porque eu ainda eu sou um ser senciente. Então, eu quero
alcançar o estado de Buda. Então, eu preciso usar o mundo como um veículo
de prática.
(56:08 – 56:35).
É. Tem esse olhar (que). Tem o olhar da causalidade que entende como o
fenômeno se constrói por causas e condições. Isso é um pedaço da história. É
um pedaço da compreensão do Buda. Então, entender como tudo (ééé), todos
os fenômenos são originados dependentemente. Então, o Buda vai explicar
que a lei da originação dependente é o que explica todos os surgimentos das
aparências, mas, ai, aqui, a gente vai além e vai enxergar essa originação
dependente das coisas (vai enxergar o aspecto vazio, que há nas coisas todas)
pelos fatos delas serem dependentes.
Se elas não fossem dependentes, elas seriam absolutas: se é uma coisa que
existe por si só, não dependeria de fatores.
Mas o Buda vai dizer que não há essa coisa que não depende de nada. Então,
como não há essa coisa, que não depende de nada; tudo é vazio: as coisas
não tem a solidez que aparentam ter. Elas são como muitos elementos que, de
repente, tem uma forma. Ai, quando eu tiro os elementos, aquela forma
desaparece.
Então, o Buda chega num ponto em que não tem mais que pensar sobre isso:
aquilo está estalado (é o olho natural dele diante das coisas).
70
Então eu “vô”, (eu “vô”) trabalhar todos esses argumentos, assim, que a gente
usa no caminho “pra” me conduzir “pra” essa mente do Buda.
Então, essa etapa analítica, de prajna, ela é necessária, ela é útil, mas ela não
é o Ponto Último. O Ponto Último é a visão instantânea do Buda, (né?), em que
ele abre mão do raciocínio; o raciocínio se torna um caso particular dentro de
infinitas possibilidades da mente livre; a linguagem, o pensamento, a mente
dualista é apenas um aspecto particular dessa mente livre, ampla e infinita
(pausa), do Buda, que já é a nossa essência, também (isso é importante)
Então, “tava” o Buda vendo a geração das imagens, (né?). Ele viu isso tudo.
Elas são automaticamente, instantaneamente, liberadas.
Então, é importante entender que eu não preciso fazer nada para as coisas se
liberarem, porque elas já são autoliberadas: eu não tenho de atuar sobre elas.
Elas já não são aquilo que pareciam ser. Eu não preciso aplicar um antídoto;
(pausa) (pausa) (pausa), nesse nível, (né?), profundo, do Buda (pausa)
(Profunda Iluminação).
A gente não quer eliminar a imagem; agente quer ver, apenas, como é que ela
surge. Esse é o ensinamento de prajna.
Porque, “pra” onde a gente “tá” andando? A gente começa a entrar nas
especifidades da coisa, que aquilo começa a ficar complicado, (né?). Mas qual
que é a idéia? A gente quer se livrar do sofrimento e quer ser feliz, (né?).
Esse é o ponto, só que a gente já entendeu que, “pra” ser felizes, enquanto
tiver “isso aqui” de apego a qualquer coisa, essa felicidade dura pouco.
71
Então, eu preciso me libertar de todos os apegos, sem exceção; e prajna é a
mente que me ajuda a me libertar dos meus apegos, por (ver), por me ajudar a
ver que os meus objetos de apegos não são o que eles parecem ser. Eles são
propaganda enganosa. A gente pode ir “pro” PROCON, PROCON do samsara.
Denunciar o samsara, porque ele é enganoso. Ele é falso. Ilusório. É um
conjunto de imagens, que me seduzem. É como ver um filme, no cinema (a
pessoa vai no cinema e “entra no filme e começa a vivenciar aquilo” e, quando
acaba o filme, (-Poxa! Que triste! Aquilo não é real! Eu queria que fosse de
verdade. Eu queria viver aquilo, porque aquilo é mais legal do que aquele
mundo que eu vivo).
Ai, aquilo, (aaaa), de repente, não é bem aquilo e começou a virar tudo do
avesso (o príncipe vira sapo), tudo vai complicando (pausa).
E ai?
(1:02:04 -1:02:15)
Isso. Exatamente. A gente quer já olhar de saída para não embarcar no sonho.
A gente pode até entrar no sonho, mas entrar com lucidez, brincar por dentro
do sonho e sair dele como se nada tivesse acontecido (pausa), numa boa.
Então a gente tira os fenômenos para dançar, mas em momento algum se fixa
a eles.
Todas as experiências.
(1:02:48 – 1:02:52)
Então, “tava” lá o Buda, imerso nesse estado de iluminação, vendo tudo com
esse olho.
72
O Buda Sakiamuni. Quieto.
Existe o Pico dos Abutres. Quem quiser visitar, na índia, “tá” lá.
(1:03:30 – 1:04:00)
Então, ele é esse ser compassivo, que está o tempo todo ouvindo o sofrimento
dos seres, olhando as dificuldades dos seres e buscando formas de ajudar.
(1:04:50 – 1:05:08).
Por isso, que sua santidade Dalai Lama é considerado uma emanação de
Avalokiteshvara, porque ele tem essa grande compaixão por todos os seres
que se manifestam.
(1:05:17 – 1:06:34).
73
Então, o pai mostra “pro” filho que o sofrimento dele, porque o brinquedo
quebrou, é um sofrimento ilusório; quer dizer, não precisa passar por aquilo.
É a mesma situação.
Então, o Buda, é aquele que vem para os seres adultos e diz: não chorem.
Então, o Avalokiteshvara “tá” fazendo esse papel. Ele vai. Ele vai mostrar como
a gente não deveria sofrer pelas experiências, que ”tão” nos perturbando.
(-Isso parece algo, assim muito distante, impossível?) Porque, assim, a gente
ouve o Budismo ano após ano e segue sofrendo, não segue?
Então, às vezes, pode chegar numa sensação, assim: (-gente, eu acho que
esse fim não vai chegar nunca). Isso ai é utópico. Isso, no passado, tinha gente
que conseguia: isso não é mais viável.
É quando a gente não tem essa visão, que a gente não dá conta de ficar lá tem
que fugir.
74
Então, liberar significa mostrar como aquilo que
está prendendo a mente dos seres não tem
substância.
A gente poderia observar e listar isso e começar a olhar com esse olhar: de
que modo aquilo é tão substancial? Por que (que) eu gerei esse apego tão
profundo? {Às vezes a gente vai entrando naquilo e nem entende mais. Ai, a
gente pára para olhar e “é mesmo, né?” Por que será que eu “to” tão apegado
a tal pessoa, a tal coisa, a tal situação? Eu nem lembro mais. Eu fui agindo de
modo automático, sem parar “pra” pensar e lá pelas tantas (pausa) (pausa): É.
Eu “to” completamente enredado; eu “to” na teia da aranha: preso, (né?). ai fica
mais difícil de libertar. Por que? Porque eu construi uma situação que eu
considero muito sólida. (-Não, mas é assim!). As pessoas chegam em crises, a
gente vai tentar argumentar, tentar a ajudar elas olharem “pra” crise com um
outro olhar e a pessoa não consegue olhar com outro olhar. (-É aquilo!)
(pausa) (-A minha dor é aminha dor: é real). (pausa). (-É sólida). (pausa). (-Não
venha dizer que o objeto da minha dor não é tão sólido assim). (pausa). (-Você
está tentando só me consolar)}.
A gente vai pegar a pessoa que está com dor e sofrimento e vai tentar conduzir
a mente daquela pessoa para outra paisagem, para ela olhar as coisas com
outro olhar, sem falar em vacuidade, sem falar nada disso.
Se ela está sofrendo é porque ela está presa a um ponto específico, mas
muitas vezes ela nem sabe o que é.
É por ai.
(Disseram que): O objeto da dor não é real, mas pra quem tá sofrendo a
dor é real.
75
(Perguntaram): Para ajudar essa pessoa vai ter de dizer que a dor dela
não é real?
Não. Não é por ai. A gente não vai chegar com essa linguagem. A gente
vai tentar. Vai pegar a pessoa, que “tá” com aquela dor e sofrendo e vai
tentar conduzir a mente daquela pessoa para outra paisagem, para ela
olhar as coisas com outro olhar, sem falar em budismo, sem falar em
vacuidade, sem falar em nada disso: a gente vai mostrando
possibilidades; vai abrindo o espaço mental dela.
E, como ela está sofrendo, ela está presa num ponto muito específico,
só que, às vezes, ela nem sabe o que (que) é. (Ai é que é mais
complicado). Às vezes, ela “tá” sofrendo e nem sabe o porquê. Aquilo é
mais profundo; “tá” num nível mais inconsciente, (né?).
Mas o método sempre vai ser o mesmo. Vai ser sempre tentar ajudar a
pessoa a encontrar (pausa) espaço, (pausa) possibilidades.
A gente tem de apontar outras coisas para ela. E, um modo hábil para
fazer isso, (ééé) (pausa) tentar conduzir a pessoa a fazer coisas boas
para as outras pessoas.
O Lama Samten, a gente brinca: a gente chega “pro” lama Samten com
um problema (“pra” conversar com ele) e sai com três tarefas. Você
chega com um problema e sai com três tarefas.
Ele quer te ajudar. Então, ele, ele vai te dar coisas boas para fazer.
76
Ai ele pede e você não sabe dizer não “pro” Lama, ai você vai fazendo,
(né?). Ai, enquanto você vai fazendo aquelas coisas, você vai
esquecendo o seu problema. Ai, você gera mérito, porque fez coisas
boas {o teu mundo melhora (pausa) e te dá mais força para você lidar
com os seus problemas}.
Às vezes a pessoa está “tão” firme e fixa, assim, no sofrimento dela que
(pausa) ela não consegue enxergar através.
Aquilo “tá” doendo no corpo. Já (dói) no corpo. Dói nas emoções. Dói na
energia, (né?): ela não “tá” bem.
Ai é complexo.
É bem comum, inclusive, uma situação que parece uma perda ou uma
dissolução de alguma coisa (logo depois eu “to” muito melhor), porque
abriu um espaço, uma coisa foi embora, “abre” espaço “pra” uma coisa
melhor surgir.
(pausa)
77
Então o Nobre Avalokiteshvara estava fazendo o
papel de Bodisattva. Ele é o Bodisattva-
mahasatva, aquele que tem visão.
(1:15:45)
78
VÍDEO 6
RECAPITULAÇÃO
(00:25)
Então, assim, “pra” quem tá vindo pela primeira vez, esse estudo
já “tá” em andamento cerca de um mês e meio, já é o sexto
encontro, (né?); a gente “tá” seguindo um texto, (né?), do Lama
Samten, uma transcrição de um Retiro, que nós atendemos sobre
esse tema; a gente “tá” avançando passo a passo, no estudo.
(1:27 – 2:01)
(Éééé).
(2:25 – 2:38).
79
Então, esse é um estudo permanente, necessário, que a gente
vai, assim, gradualmente avançando na compreensão e vai
gerando a capacidade não só de compreender, mas também, de
praticar aquilo: meditar, olhar com esse olho; que é o objetivo
final.
Muito bem.
Então, a noção de heresia, ou visão herética, vai ser tudo aquilo que o Buda
coloca, que (ééé) são visões errôneas sobre a realidade: visões filosóficas
variadas, que vem pelas experiências e pelas idéias de muitas pessoas e que
não são sustentáveis diante de uma análise cuidadosa da realidade.
Então, surge o debate em que duas pessoas com a visão diferente apresentam
os seus argumentos e vai se chegando a uma conclusão sobre aquele
encontro.
81
Já o debate, na visão budista, é uma coisa muito sofisticada, em que não
espaço “pra” emoções: aquilo é uma análise racional (lógica) dos fatos, em que
há uma troca entre as duas partes, assim, e não há, propriamente, (ééé) raiva
ou qualquer emoção perturbadora por perder um debate, por exemplo.
(8:00 – 17:22).
Então, assim, Avalokiteshvara olha “pra” todos com compaixão e diz assim
(né?): que todos vocês vejam que os Cinco Skandas eram vazios por natureza.
Se diz que na universidade de Nalanda se chegou a ter, assim, mais de dez mil
monges, internados, vivendo, praticando, meditando, estudando e que, só a
biblioteca da universidade de Nalanda eram quatro prédios, assim, com
pergaminhos acumulados.
Assim, na história das culturas, sempre tem essas grandes perdas, (né?), a
todo momento, tudo queima, até o fogo consome tudo.
82
A universidade monástica teve grandes
debatedores, entre eles Manjushrimitra, depois
Tilopa, Naropa, o mestre de Marpa, por sua vez o
mestre de Milarepa, por sua vez o mestre de
Gampopa, que por sua vez é o mestre de
Karmapa e daí surge então toda a linhagem
Kagyu. Havia então os grande debatedores.
Manjushrimitra se torna um dos defensores da
visão da Grande Perfeição (Dzogchen). Ele vem
antes de Guru Rinpoche, vai receber
ensinamentos diretos de Garab Dorge, que é uma
emanação direta de Vajrasattva. A Universidade
de nalanda gerou grandes nomes,
extraordinários. S.S. o Dalai Lama aspira recriar
Nalanda. De certa forma, na verdade já está
fazendo isso. Esse corpo de pensadores ao
redor dele, expondo as culturas, e gerando
antídotos para as próprias culturas, já é a ação
de Nalanda. O esforço de se expor as culturas,
não se fechar, de utilizar o Dharma,
essencialmente através do Prajnaparamita,
olhando as coisas com vacuidade. Olhando
também a partir dos 12 Elos, porque todas as
visões heréticas, em algum momento, apóiam
algum dos 12 Elos como se esse fosse sólido.
Aquilo que cabe nos 12 Elos é herético. Aquilo
que está fora dos 12 Elos é Dharma.
Então, os Doze Elos, para quem não foi apresentado ainda, é um ensinamento,
complexo, assim, detalhado sobre o mecanismo causal, que o fluxo de
consciência passa, assim, ao longo das várias vidas.
83
Então, tudo bem: quem não puder estudar agora, em algum momento vai
acabar estudando (esse texto, “A Roda da Vida”).
Então, quando a gente entender, melhor, prajna, a gente vai meditar sobre
cada um dos elos e vai enxergar a vacuidade correspondente àquele
ensinamento.
Tá?
Então: calma.
Se diz isso, (né?), que o Buda, após a iluminação, ele “fica” sete semanas
meditando, antes de se levantar para dar ensinamentos. E que, nessas sete
semanas, o Buda, ele entende os Doze Elos de forma detalhada. Então, aquilo
fica claro “pra” ele. Então, a partir disso, ele vê como os seres se perdem.
84
Então, a pessoa vai ser analisada e olhada a partir dos componentes dela.
85
descobre que os 5 skandas são vazios por
natureza.
Então, os cinco skandas (vamos entender assim), quando a gente olha “pra”
uma pessoa (um indivíduo) a gente poderia dividir assim (bom, uma pessoa é
composta do quê?) (De um corpo e tem uma mente operando). Então, essa é
uma classificação muito óbvia para quem olha “pra” uma pessoa (ser
senciente): tem um corpo e uma mente operando.
Então, o primeiro skanda (forma), ele se refere ao corpo. Então, forma é corpo.
Então, o skanda físico é muito óbvio (né?). Então, tem as várias formas, a
forma do corpo, as formas dos objetos {são todas as construções sólidas (ééé),
visuais, auditivas, sonoras, (ééé) (ééé), sonoras, olfativas, gustativas e táteis);
ou seja, todos os sentidos operando geram formas}
Ai, eu tenho sensações: a mente opera gerando sensações diante das várias
experiências. Então, o que (que) é sensação? Sensação é assim (cada
experiência “vem” um julgamento mental que classifica assim: gosto ou não
gosto ou tanto faz). Então, diante das experiências, surge um julgamento
interno, que divide tudo, nesse aspecto, (né?). Então, eu tenho uma sensação
agradável, desagradável ou neutra.
86
A gente faz isso o tempo todo. Então a nossa mente “tá” com o radar operando
e classificando os objetos.
Inclusive, quando a gente não consegue entender um objeto (a gente olha “pra”
alguma coisa e não consegue perceber corretamente, a gente fica muito
incomodado; a gente fica apertando o olho, assim, tentando resolver (que
diabos é isso?). Então aquilo dá até uma aflição {a gente quer andar num
mundo conhecido, num mundo confiável, num mundo , que já seja, (né?), parte
de nosso mundo interno}.Quando eu tenho de lidar com uma coisa nova, aquilo
tem um estranhamento. Então, é isso, eu vou gerar uma nova percepção.
Ai, as percepções, elas se baseiam, também, nas formações mentais (que são
o quarto skanda). Então, formações mentais ou marcas mentais (sanskaras)
eles representam o quê? (o conjunto de todas as memórias, hábitos,
condicionamentos, informações que a gente foi acumulando durante
incontáveis vidas). Então, é um skanda, assim, super amplo.
Então, quando a gente olha “pro” mundo a gente vai vendo coisas e vai dando
nome “pras”coisas; tudo isso se baseia nas nossa memórias de estruturas
anteriores.
87
Então, quatro funções mentais e uma função física, todos juntos, geram o quê?
(uma pessoa).
(30:06 – 33:30)
Se ele estivesse hoje em dia aqui (se naquela época houvesse a ciência) ele
diria assim (os cento e tantos elementos da tabela periódica são vazios por
natureza): ele acrescentaria outras classes, assim, (né?). ele afirmaria essas
coisas assim. Naquela época, ele pegou todas as classificações que existiam
e foi negando uma por uma.
88
produzidas por instrumentos. Na física Quântica
se estuda cuidadosamente como a percepção
engana, como os experimentos enganam. Depois
temos as marcas mentais (samskara), o 2º Elo.
Podemos acreditar que elas são sólidas, mas não
são também referenciais fixos.
A compreensão de samskara
(Eu falei das marcas mentais, (né?), o mundo e o fato dos cinco skandas.)
(Ãããã)
89
se exercem e nem sabemos que tudo está
funcionando. Parece que tudo é natural.
Então é isso, (né?). O quarto, o quarto skanda, ele torna toda a percepção e
operação do mundo uma coisa habitual (automatizada) e a gente acha que isso
é a verdade (isso é a realidade); mas, na verdade, isso é, apenas, uma
possibilidade de realidade, que foi construída e que, por ser construída, não é
definitiva.
(37:06 – 38:26)
(38:55 – 39:05)
A gente tem. Tem uma parte das marcas (que eu já trago) que me levou
ao ponto até onde eu já “to”, mas, quando eu entro em contato com
outros seres, eles vão trazer outras marcas (que eu “vo” olhar) e eu “vo”
aprender com eles.
(39:23 – 39:25)
Ai, na interação das marcas, surgem outras terceiras marcas (você traz
uma coisa, eu trago outra; ai, da conversa, surge uma terceira)
90
Do que a mente lida, ela pode construir qualquer tipo de experiência e
mundo.
A gente vê, (né?), como a gente vai brincando com a realidade: a gente
vai gerando tecnologia, vai gerando conhecimentos e vai manipulando
as formas e a realidade (a partir de novas marcas mentais).
Ele vai dizer o contrário. Ele vai dizer assim: você existe e pensa,
inclusive; além de um monte de outra coisa, você, também, pensa.
(40:36 – 40:42)
91
Niels Bohr vai explicar isso (ééé) com essa visão de coemergência
(inseparatividade entre quem está fazendo a experiência e aquilo que
está sendo observado) (Aquilo vai ser equacionado).
Então, até hoje essas idéias não estão bem absorvidas pela ciência,
assim, (com clareza): aquilo se utiliza, assim, de modo prático (né?), no
computador, (que é decorrente da compreensão dos fenômenos
quânticos), mas filosoficamente, aquilo não foi incorporado “pra” filosofia
da ciência – é o ponto que a gente “tá” -, então o budismo já olha com
esse olhar desde sempre, assim: o Buda Sakiamuni olhou com esse
olhar e percebeu a inseparatividade. Então, a ciência, lentamente, se
aproxima da mesma conclusão.
O Buda fez uma pesquisa na primeira pessoa, ou seja, ele olhou “pra”
própria mente (pausa) e a ciência faz a pesquisa em terceira pessoa (ela
olha “pra” fora): ela tenta gerar um observador imparcial, que olha “pra”
fenômenos externos; só que ela não entende que nunca o observador
vai ser imparcial {não é possível “pro” o observador ser imparcial; porque
o observador projeta as máquinas e os aparelhos de medição a partir já
dos preconceitos dele (ele só vai conseguir medir aquilo que ele quer
medir) (se ele projeta uma máquina, que mede freqüência a tal espectro,
etc; ele só vai conseguir medir aquilo; então ele só vê aquilo que ele
quer ver)}.
Ai, ele sugere muito que a gente entenda isso. Tem um livro da Sua
Santidade, (O Universo em um único ato), é um livro muito interessante
que, Dalai Lama vai colocar a opinião dele sobre os vários ramos da
ciência.
Muito interessante!
Muito interessante.
92
(44:13 – 44:25)
Então é uma consciência que guarda esses vários (essas várias) impressões,
como se fosse um grande reservatório.
A gente “tá” analisando “um termo” que não pertence a alaya-vijinana: que vai
além de alaya.
Então, a gente vai entender que uma pessoa é essa coisa volátil, que se altera
o tempo todo, que opera a partir de marcas e vai alterando as marcas e vai se
construindo e se reconstruindo: surgem novas coisas; desaparecem coisas
antigas.
Então, quando eu tento apontar para uma entidade fixa, nesse processo, eu
não encontro: tem uma liberdade natural, que é comum a todos os seres e,
essa liberdade (tem a liberdade de criar e essas criações vão surgindo e vão
criando marcas e condicionamentos e vão surgindo pessoas, os mundos e as
experiências).
94
O tempo todo a gente “tá” tentando fazer isso, (né?): estruturar nossas vidas de
uma forma feliz, agradável e positiva, estabilizando condições (ééé) externas.
E a gente não encontra nunca a felicidade. Por quê? Porque os fatores mentais
são todos fluidos (voláteis): não tem solidez. Então, como eu vou estabilizar
aquilo que nem é real (que é fluído; que móvel).
Então, eu começo a entender que eu sou uma coisa relativa, também: eu não
tenho uma existência fixa.
Então, assim como as outras coisas externas, eu tenho uma existência relativa.
Então, para uma pessoa eu sou uma coisa; para outra pessoa eu sou outra;
para mim mesmo eu sou uma coisa, (hoje, porque, amanhã eu posso ter outra
idéia).
Isso é muito bom, porque a idéia de pessoa gera um apego, uma fixação muito
grande, (né?), e a gente defende essa pessoa; a gente mata para defender
essa pessoa; a gente passa mal quando alguém ataca alguma identidade
nossa (que nos critica; que nos faz passar vergonha em público): a gente
passa muito mal.
Por quê? Porque é um apego à idéia de pessoa, que deveria estar muito bem,
ser feliz, ser reconhecida, ser respeitada e assim por diante.
(50:15 – 50:45)
95
Então, a gente precisa se libertar dessa necessidade de estabilizar as
condições externas para ser feliz: a gente tem de encontrar essa mente
primordial, livre de construções e entender que o resto é pura
luminosidade, pura construção, fluída, (né?), alterável ao longo do tempo
(pausa) (e isso vai gerando uma liberdade, assim).
(51:37 – 51:43)
É isso mesmo que o Lama introduziu com esse conceito, (né?), a Terra
Pura seria aquele, que opera com essa visão livre, ai, começa a
construir locais, experiências e relações com esse outro olhar.
E aqui o Lama coloca logo essa idéia, (né?): quando eu tenho essa
visão, não faz sentido eu falar em culpa ou perdão (não tem ninguém
para ser culpado e nem ninguém para ser perdoado). A gente foge
dessa idéia, (né?): de que há coisas horríveis que foram feitas “pra” mim
e que eu fiz “pros” outros. Então, eu vou me libertando disso e a vida fica
muito mais fácil: tira toneladas das costas (eu não sou mais aquela
criança, que foi abusada, violentada (éé), que foi ignorada.
Eu não sou mais aquele ser, mas tem marcas mentais, que eu carrego,
que acham que eu sou aquilo, ainda. Então, quando eu entendo, eu
começo a abandonar a sustentação das estruturas passadas (eu não
tenho de ser coerente com o passado): a coerência com o passado é
uma opção (é uma construção): nós somos seres livres.
(52:57 - 54:56)
96
tudo isso, tem a capacidade de dirigir o foco para
onde ela quiser. Mais espantoso do que isso é
que ela pode se colocar em regiões perturbadas,
deixar aquilo aparecer, para exercer liberdade, e
ajudar os seres a saírem. Esse é o teor do
Prajnaparamita.
Tudo bem? Faz sentido? (ou “tá” abstrato demais)?Parecem seres, (né?);
porque: se a gente olha no espelho: (- Sou eu!).
É muito estranho: a gente diz (sou eu); ao mesmo tempo a gente diz (é a minha
imagem).
Então, essa idéia de pessoa gera uma série de contradições grosseiras, assim.
(56:32 – 57:05)
Então, aqui, alaya-vijinana, ela opera mais assim: não tem pessoalidade ali;
mas cada fluxo mental tem as suas marcas (as tuas não são as minhas, mas
um monte delas “são” comum”s”).
(57:18 – 57:24)
Então, vida após vida o que (que) renasce? Renasce um pedaço de alaya-
vijinana; vida após vida, algumas marcas que amadurecem numa vida; depois
em outras (...).
(57:49 – 58:02)
Mas o ponto todo, aqui, é recuperar a liberdade e entender que eu não sou
obrigado a reagir. Por exemplo: alguém vem e te “dá” um tapa.
97
Você pode responder na mesma moeda e devolver o tapa (uma coisa causal,
assim: imediata); ou você pode não entrar na ação do outro e gerar uma outra
reação (cortar a cadeia negativa).
(58:29 – 58:45)
Aqui, a gente vai entrando num formato de operar, que eu não me sinto
obrigado a responder de um modo condicionado: fixo. Eu “vô” encontrando a
possibilidade de furar (de sair) da bolha (e a gente vai usando essa linguagem:
a gente “tá” numa bolha de realidade - Eu posso furar a bolha e ir para outras
construções melhores -)
(59:03 – 1:00:02)
Então, o objetivo de hoje era esse: entender mais ou menos os cinco skandas
(forma, sensação, percepção, formação mental e consciência), de como que
eles brotam em todas as experiências {porque a primeira frase que o
Avalokitesvara traz é essa (quem quiser praticar a profunda prajnaparamita
“deveria” ver assim: todos os cinco skandas tem a natureza da vacuidade)}.
(1:00:24)
98
VÍDEO 7
RECAPITULAÇÃO
Tudo bem?
Tem dúvidas?
Simples assim.
Muito simples.
(10:16 – 10:20)
99
situações do dia-a-dia. Ai eu vou fluindo pelas situações. Aquilo
que antes era muito sólido, dava o maior impacto. Ai você começa
a olhar “pras” coisas e elas não te pegam mais: – pausa -. você
gira junto com as coisas).
Tudo bem?
Pelo menos entender que é isso, ainda que não tenha habilidade para fazer,
talvez.
(11:48 - 11:51)
Em geral, a gente olha “pro” mundo, “pras” coisas, “pra” nós mesmos como
sólidos, separados, independentes e muito importantes (as coisas tomam uma
importância muito grande nas nossas vidas devido ao grau de solidez e
importância que a gente dá “pra” tudo. E isso surge, justamente, do olho da
confusão (tudo é visto como real: congelado).
Ai, vai ser aos pouquinhos: homeopaticamente a gente vai entrando nisso.
Então, na semana passada, a gente viu a estrutura dos cinco skandas: forma,
sensação, percepção, formação mental e consciência.
A gente viu que essa é uma classificação muito antiga, que olha “pra” uma
pessoa e vai dizer que uma pessoa nada mais é do que o empilhamento, a
agregação de alguns fatores, que são a forma (o corpo), e tem os agregados
mentais, que são (sensação, percepção, formação mental e consciência).
Então, na semana passada, a gente viu, em detalhes, (né?), cada um, dos
cinco skandas (o que - que - é) e como eles brotam em cada uma das
situações.
Quem não viu ou quem não “tava” lá no vídeo no youtube. Quem quiser revisar,
também, “pra” guardar isso.
100
A gente não vai conseguir, em cada encontro, revisar tudo, mas “tá” lá,
disponível, assim, (né?).
(13:25 – 13:55)
É bom revisar.
“Pra” muitos isso é muito novo, isso tudo. “Pra alguns, ele já vê aquilo por
alguns anos, assim (eu não lembro), mas “pra” maioria, isso tudo é muito novo.
Ninguém aprende.
Porque a gente vai avançando, ai a coisa é circular (algo que vem depois vai
elucidando as dúvidas do começo).
Não tenham pressa, mas não percam tempo (ao mesmo tempo); (pausa) essa
é uma boa lição, assim, (né?).
A gente vê que, a cada semana, o grupo renova muito. Então, isso é um sinal
de como é difícil manter a constância do estudo.
Quem quer entrar nisso, quer se aprofundar nisso, tem de tentar sustentar essa
regularidade.
101
Na minha marcação, a gente está no trecho assim:
(15:10 – 15:30)
Não está dizendo (como a pessoa deveria entender ou estudar) alguma coisa
do gênero.
Deveria VER que (todos os cinco skandas são vazios por natureza).
Esse é o tema,
102
Na visão do budismo, isso é um perigo (é um problema): quanto mais você der
certo no samsara, maior é o risco de você ficar preso naquilo e não querer sair
(time que “tá” ganhando não se mexe, (né?).
É.
No dia a dia é bem simples. Eu quero coisas. Eu preciso de dinheiro. “Pra” ter
dinheiro, eu preciso de uma profissão. Eu vou escolher uma profissão que seja
de acordo, mais ou menos, com os meus talentos. Ai eu estudo, me dedico,
faço aquilo, faço concurso, faço coisas; me organizo. Começo a ganhar
dinheiro. Começo a comprar as coisas que eu gosto. Mas aquilo não acaba
nunca (aquela lista é interminável: é infinita).
Já viu, (né?) (pausa) mais de uma vez, que não é por ali que a gente vai
encontrar felicidade; que, claramente, não leva à felicidade, pois até hoje
ninguém conseguiu. Então, se fosse possível, alguém já teria conseguido;
Mas não!
Então, mais uma vez lembrando, não é que a gente “tá” (ééé) dizendo que o
mundo é horrível e deve ser abandonado; a gente “tá” dizendo que o mundo é
uma artificialidade, uma construção e que, portanto, eu não deveria me refugiar
nisso: eu não deveria me entregar, apenas, completamente “pra” isso.
A opção “pra” eu liberar a minha mente, “pra” eu encontrar uma paz, uma
felicidade internas, que me “permitem” circular pelo mundo com menos
sofrimento.
103
assim, nas emoções, nas situações, no dia a dia, porque eu “to” preso nas
artificialidades.
(19:56 – 20:16)
Lembrando que, quando a gente fala (levando “pro” samsara), o samsara não
“é” as situações. O samsara não é o mundo. O samsara é o modo como a
mente opera em meio ao mundo.
Agora, no nosso caminho, a gente “tá” tentando gerar esse olho “pra” continuar
fazendo as mesmas coisas, com liberdade (no meio das coisas).
Mas ai, “pra” conseguir sustentar essa lucidez (se não tiver uma prática formal,
um estudo regular (até que as minhas dúvidas sejam, completamente,
sanadas; até que eu tenha uma estabilidade meditativa “x”; se eu não fizer isso;
se eu não investir no caminho) vai ser difícil sustentar esse olho, no dia a dia.
Às vezes tem coisas, que eu “dô” conta, mas quando vem os grandes desafios
{as doenças, as mortes, as perdas graves, as traições, as dores variadas, a
gente não “dá” muita conta, (né?)}: é mais ou menos assim.
104
Tudo bem agora, se você sustenta essa prática, como uma prioridade na sua
vida.
Isso é essencial .
Sem sustentar isso, a gente vai se distraindo (a gente vai “pra” “lá”, vai “pra”
“cá”, vai “pra” “lá”) e o processo do samsara é infinito: distrações nos arrastam;
sempre tem algo interessante “pra” fazer, ou um problema “pra” resolver, ou
alguma coisa “pra” comprar, alguma coisa “pra” comer (é infinito, né?).
Se eu não tiver essa disciplina (um certo nível de disciplina de mente), eu não
tiver atento, eu me perco.
Agora, se a pessoa tem (a) o olho de lucidez, é claro que ela pode dar muito
certo nas atividades dela: não “tá dizendo que a pessoa deva abandonar a
profissão dela, ou dar errado.
É isso?
(pausa) (pausa)
“Ele então vai dizer”: mas qual o sentido de seguir com as atividades
samsáricas se eu não estou trabalhando intensamente para que elas dêem
certo?
Ai, no caminho espiritual, a gente vai mudando o olho, vai mudando o foco de
tudo o que “ eu faço”.
Ai, nas atividades do dia a dia, nas identidades que eu vou manifestando, em
meio ao mundo, eu vou sair da motivação autocentrada (de fazer aquilo dar
certo para mim; porque eu quero alguma coisa) eu começo operar de outra
forma (em que eu faço aquilo “pra” ajudar os outros, “pra” ajudar a
humanidade, ajudar a sociedade). Tudo que eu faço lá fora, sempre tem esse
olhar (como é que eu posso contribuir? - onde quer que eu esteja -).
105
A gente sai de um modelo autocentrado, do sucesso pessoal e vai “pra” um
modelo (sim eu quero ter sucesso, mas “pra” ajudar todo mundo: quanto maior
a minha capacidade de atuação, melhor.)
É.
Mesmo quando as coisas se movem, nas aparências tem uma base (que
sustenta isso tudo): não se move.
Ela “tá” sempre lá, de base: pode passar filme de terror, filme de romance, filme
de aventura.
É.
A nossa verdadeira natureza seria essa mente livre, luminosa (que não tem
características), ou uma tela branca e, sobre essa mente primordial, são
projetadas inúmeras experiências: filmes variados.
106
Quando a gente reconhece que a gente não é bem o filme, desapega ao filme
(ai, daqui a pouco a gente “tá chorando, passando mal, por causa dos filmes,
que estão passando na nossa vida).
Percebem isso?
Mesmo que eu não tenha reconhecido essa base, essa mente primordial,
(entender que esse é o “ponto todo” do caminho), e que isso já “tá” presente,
(que não é algo que é do Buda e que eu não tenho), isso “tá” ocorrendo agora
(a gente “tá” aqui conversando, se olhando, pensando); (pausa)(- Onde que
repousa tudo isso que “tá” acontecendo?). (pausa) Tem essa base por trás,
(né?), inseparável daquilo que está acontecendo. (pausa) (pausa) Aqui, agora.
(pausa) A gente poderia propor... (interrupção de raciocínio). Qualquer um de
nós pode acessar isso a qualquer momento. (pausa) Em geral, a gente não
acessa isso, porque as nossas mentes são muito discursivas e muito agitadas.
A agitação mental, o movimento excessivo, (né?) é como se tivesse um oceano
com muitas ondas, muitos ventos e ondas, e a gente não consegue reconhecer
o oceano, aquela base plácida do oceano (porque tem muito movimento).
Tudo bem?
Fácil? (pausa) (de entender, pelo menos) (pausa) ou não, ou alguém tem
alguma dúvida?
107
Então, tem essa frase do Lama traz (né?): reconheça aquilo que não se move,
quando tudo se move (“Tá” tudo se movendo, mas tem algo que não se move)
Então, prajna é a ferramenta (a sabedoria), que vai nos ajudar a chegar nessa
base.
O Buda é infinitamente paciente por quê? O Buda não é alguém lá fora, que
está esperando (eu me iluminar); quando eu falo o Buda, o Buda é a minha
própria mente (a minha natureza primordial), que não se altera.
Então, tem outro exemplo clássico, que é o sol atrás das nuvens. As nuvens
escuras impedem o brilho do sol (que já “tá” lá); o sol não deixa de estar no
céu, porque “tá” tudo escuro. Ele “tá” lá”pra” trás.
108
O que é interessante, aqui, nesse parágrafo é (o filho ou a filha). Eles fizeram
questão de especificar homens e mulheres, porque na história do budismo tem
muito isso, (nè?), um privilégio muito grande na visão masculina, (né?),
patriarcal, machista. Então, isso sim é uma tendência cultural em alguns países
pelos quais o budismo passou, mas o budismo, em si, não tem nada disso: o
Buda nunca não ensinou uma mulher por achar que a mulher tinha algum
problema, não. Ele dava os mesmos ensinamentos “pra” mesma platéia.
Então, aqui é muito importante que esteja especificado isso, “pra” não gerar...
(interrupção de raciocínio). {a gente vai encontrar alguns textos budistas, que
vão diferenciar, sim, a capacidade do homem e da mulher (talvez isso, naquela
época, fizesse sentido naquela cultura); mas hoje em dia não faz o menor
sentido e, às vezes, é até ao contrário (né?); às vezes as mulheres estejam
muito mais abertas “pra” buscar isso.
109
sentido de se libertar das identidades pessoais e se livrar, consequentemente
das emoções perturbadoras (então, é o estado de arhats. É um estado
específico no caminho budista).
No caminho do ouvinte, não, eles vêem os objetos como externos à mente (ao
“EU” interno); já no caminho mahayana, (ééé) essa vacuidade vai ser vista em
todas as direções.
No mundo, eles olham e não vêem nada de interessante, no mundo: não tem
nada que valha a pena: superam os desejos comuns e vêem tudo como
impuro.
Em geral, a gente sai andando alegremente pelo samsara, (né?) (Pela estrada
a fora,...) a gente vai colhendo coisas, assim (né?): a gente vai comendo coisas
gostosas; vai tendo experiências, relações, viagens, filmes (a gente vai criando
coisas, assim, brilhantes) .
110
Ou não?
(pausa)
Quem truca?
É isso ou não é?
(pausa)
(pausa)
É assim ou não é?
(pausa)
A gente vai vivendo, dia após dia, as aparências diante dos olhos (vão se
alterando o tempo todo, como se o filme estivesse rodando): a gente vai
correndo atrás das aparências (mudando tudo; operando), tentando estabilizar
(e aquilo escorre entre os dedos, porque não é estabilizável) (é apenas um
filme. Como vai se estabilizar?)
A gente sofre quando não consegue. (Ai parte “pra” outra). (Agora eu vou
conseguir). (Ai parte “pra” outra).
E assim vai.
Ai estoura uma guerra naquele país. Destroem tudo. Ai, constroem tudo de
novo.
Formigas.
111
você se move pelo mundo exterior, com tranquilidade, sem depender de
qualquer construção “pra” “tá” bem ou “pra” “tá” mal.
Esse é o caminho.
(35:50 – 36:05)
(36:27 – 51:13)
(51:36 – 51:40)
(52:08 – 52:24)
112
Então, o bodisatva, quando reconhece isso de uma forma genuína, vem
aquela grande alegria, porque eles percebem que realmente eles estão
se libertando.
(52:30 – 52:52)
É isso. Quando separo que o nirvana seria algo paradisíaco (lá longe) e aqui
em baixo é o samsara (problemático), ai eu tenho essa natural conseqüência,
que reinos todos se manifestam e impulsiona.
Então, quem tem essa visão, não precisa mudar nada fora (não precisa
transformar as aparências). Não precisa achar que as aparências são impuras
e deveriam ser purificadas: esse olho, ele transita entre todas as aparências
com esse olhar de liberdade (ele não se abala com aquilo que parece muito
bom nem com aquilo que parece muito ruim).
(54:30 – 54:50)
Sempre que há uma “linha” de certo ou errado, bom ou ruim já tem uma
visão separatista, o que não quer dizer que a gente “tá” aqui
abandonando (ou negando) a verdade relativa.
113
Na verdade relativa, é claro que não é tudo a mesma coisa. As ações
tem conseqüências, (não tem?).
(pausa) (pausa)
Ele não tem de sentar pra meditar “pra” daí localizar o espaço básico
(Ele, no meio das aparências, ele tem os dois)
(56:15 – 56:25)
Você não tem noção da quantidade de seres, que dedicaram suas vidas
pensando, contemplando, realizando essas duas frases (escrevendo,
comentando): não são nem cem, nem mil. São centenas de milhares de seres,
que deixaram comentários, textos, pensamentos sobre isso.
114
Essa é a essência do Darma da liberação do caminho mahayana.
A gente “tá” aqui olhando “pras” coisas (simultaneamente, tem aparências, que
eu reconheço) (pausa) então, não tem como dizer que há alguém aqui dentro
{que primeiro olha “pras” aparências (e, ai, brotam as aparências): aquilo, o
tempo todo (esse par) é inseparável}.
A gente vai andando pelo mundo (ai, o tempo todo tem aparências que andam
junto com o sujeito).
(pausa) (pausa)
Não é assim?
(pausa) (pausa)
(59:00 – 59:13)
115
Não é que eu não “to”, aqui, olhando “pro” copo, lá fora. (O copo e o
observador que vê copo são inseparáveis).
(pausa) (pausa)
(pausa) (pausa)
(pausa) (pausa)
Todos os objetos.
(pausa) (pausa)
- “Péra” ai: não pode (eu viro “pra” lá e o objeto não existe mais?)
(pausa) (pausa)
(pausa) (pausa)
Existe no mundo de quem “tá” olhando “pra” ele: (pausa) sempre tem
que ter o observador “pra” descrever alguma coisa.
(pausa)
(pausa)
Faz sentido?
(pausa)
116
(pausa)
Qual universo?
Isso é óbvio.
O exemplo, que a gente dá, assim, uma pessoa (Ah! Fulano de Tal).
Como é que você vai descrever, direito, uma pessoa? Cada um olha
“praquela” pessoa (com o seu olho). Então é um objeto, que a gente
chamaria “de objeto comum” (é a mesma pessoa); mas “praquela”
mesma pessoa há incontáveis olhos diferentes, que olham praquela
pessoa e vêem coisas diferentes. (pausa) E avaliam e julgam de formas
diferentes.
Então, é assim.
Por isso que ninguém se entende. (cada um “tá” no seu mundo olhando
com o seu olho). Ai, os objetos vão brotando no meu mundo, assim.
(pausa) {Já brota um objeto; (pausa) só que o outro (“tá” olhando no
mundo dele). Ai, quando a gente vai conversar, a gente fala sobre coisas
diferentes; a gente tenta se entender falando de coisas diferentes.
Agora, se você trouxer alguém de outro país, que não fale a nossa
língua, ai, aquilo já é mais difícil a interação, porque os sons, que a
gente emite não são interpretados da mesma forma.
117
(1:01:42 – 1:02:16)
Vou gerar a estabilidade de sempre ter esse olho, que permite (ééé) eu
encontrar mais espaço nas “funções”.
(1:02:45 – 1:03:30)
(1:03:52 – 1:04:00)
Aquilo não é “zero ou um” (tem ou não tem). Aquilo, eu começo com um
olhar e aquilo vai ampliando, ampliando, ampliando, ampliando até o
estado do Buda.
O Buda é aquele que não cai disso em situação alguma (no universo
não tem nada que tire o Buda dessa clareza, dessa lucidez).
Aquilo é como se fosse assim (eu não via, eu não via: tinha uma névoa
diante dos meus olhos). Ai, um dia, aquela névoa saiu ( ...)
(1:04:47 – 1:04:49)
118
Eu não vou chamar de hábito, porque hábito sempre depende de
condicionamento. Portanto, todo hábito é impermanente. Ele é
condicionado.
É uma visão (é aquilo que é). Não é aquilo que é construído (não é
artificialidade mais).
Não tem que ser especial. Não tem que ser muito inteligente. Não tem
que ser muito “qualquer coisa”.
(pausa). (pausa).
119
O Trumpa vai dizer que, quando a pessoa olha com esse olho, o objeto
fica hiper-real. Não é que o objeto desaparece no éter. Não. O objeto
fica muito vivo (pausa). Vivo demais, até. Por que? Porque você não “tá”
mais (ééé) criando (ééé) (qualquer nível) tá sobrepondo coisas suas
(internas) sobre o objeto (não “tá” viajando na história do objeto).
Portanto, você sustenta a visão do objeto como ele é.
Ai, você vai ouvir os outros e não vai distorcer o que os outros te falam.
Você vai ouvir O OUTRO e não aquilo que você quer ouvir do outro
(1:07:13 – 1:07:17)
(1:07:35 - !:07:53)
Mas é isso, você vai comer pizza (numa boa). Vai achar gostoso.
É isso. Ele tem liberdade; ele pode entrar ou não na Coca Cola (se não
tem Coca, “tá” tudo bem; agora, se ele toma Coca, também não tem
problema). Ele não se perde. Não “tá” apegado. Não “tá” fixado naquilo.
Então a liberação, não é que tudo fica cinza e nada mais tem sabor
nenhum. Não isso! A liberação é o ponto em que você entra nas coisas,
mas não se perde, em nada.
120
Ai, é por isso que ele é chamado o Senhor da Dança (porque dança com
as aparências sem que as aparências o prendam).
(1:08:49 – 1:09:29)
Se aquilo te faz mal, ou por algum motivo não é bom, às vezes tem a
etapa da disciplina (que é anterior), que você desvia do objeto.
Ai, você deveria, ao longo do tempo, tentar trazer “pra” sua meditação.
Olhar “praquele” objeto primeiro na almofada, “pra” ir liberando aquilo
aos poucos.
Ai, daqui a pouco, você se sente tranquilo o suficiente “pra” voltar e olhar
de frente “praquele” objeto.
(pausa). (pausa).
Tudo bem?
(pausa). (pausa).
Ai, se eu não tiver a clareza do que (que) é prajna, ai eu vou sentar “pra”
praticar prajna e vou praticar o quê?
121
É isso. “Tá”, “tar” avançando (exemplos; uma situação aqui; uma
situação ali).
A gente “tá” tentando ver isso {(o que (que) é o vazio na situação e
porquê que isso tem um impacto em mim e no mundo; }
(pausa). (pausa).
Não é.
É uma coisa muito prática: é uma mudança de olho, que vai me libertar
do sofrimento.
122
nós pegamos as formas e tratamos de decompô-
las em vacuidade. Utilizamos a primeira
expressão “forma é vazio”, e parece que a
segunda (vazio é forma) não é necessária.
Forma é vazio
Forma representa tudo aquilo que aparece (parece) que é solidez. Tem as
formas visuais, tem os sons, tem os cheiros, tem os sabores, tem as
sensações, tem os cinco sentidos, que operam em meio ao mundo, e dão a
impressão que tudo é muito sólido e real, (né?)
Então a nossa mente está, o tempo todo, operando com os objetos dos
sentidos e com os pensamentos que vão brotando a partir disso.
Todas as formas, inclusive, as que parecem sólidas com o tato. {As que
parecem mais grosseiras, (né?)}: até a visão a gente entende. A visão eu
posso ter uma miragem, eu posso ter uma holografia, eu posso ter coisas, que
a gente vê na hora que não são sólidas; mas o tato é mais difícil, (né?)
Então, a gente vai entendendo que essas formas todas são vazias por quê?
Então, não há uma forma real: existe uma forma, que brota junto com o
observador.
123
Então, forma é vazia. Vazia do que? De qualquer existência própria, separada,
definitiva, real, intrínseca, substancial.
Isso é a forma.
(1:14:34 – 1:14:43)
(1:15:26 – 1:15:30)
(1:15:44 – 1:15:50)
O que ele quer dizer com isso é que, quando a gente não tem essa
visão, a gente acha que “tá” vendo os objetos reais.
124
Porque eu “to” tão perdido no meu mundo de construção interna (uma
projeção; daquilo que eu espero do objeto), que eu não consigo ver o
objeto por si só.
Mas é isso: quando eu olho o objeto com esse olhar (livre das minhas
projeções sobre o objeto) aquilo aparece separado da mente , mas não
tem projeção sobre ele, naquele momento.
Só tem uma flor, que brota, por causas e condições, naquele mundo,
(né? tem causas e condições), (mas a nossa experiência de flor é
totalmente construída a partir de um olho contaminado).
Ai, o Buda não deixa de ver flor: não é que as flores desaparecem
(porque o Buda se libertou das flores). As flores “tão” lá, brotando por
causalidade no mundo de sonho: elas brotam.
Eu não “to” (é) ensinando a vacuidade de uma forma tal que eu acho
que só a minha mente existe, por exemplo. (Ah! Quando eu me libertar
das minhas estruturas mentais, “nada mais existe: tudo desaparece”,
né?).
Não é isso que acontece com o Buda. O Buda se libera dos objetos e,
portanto, consegue ver os objetos de modo definitivo: ele entende a
sustentação dos objetos. Ai, aquilo é hiper-real, porque eu “to livre
daquilo e não tem qualquer camada (interrupção de frase), por exemplo,
a gente olha “pras” pessoas e projeta um monte de coisa sobre as
pessoas.
(1:17:55 – 1:17:59)
Como ela “tá” vendo a Natureza Primordial, o tempo todo, então, “pra”
onde ela olha, ela vê isso (pausa) em todas as direções. Por isso que se
diz: quando o Buda se ilumina, todo mundo se ilumina (todo o referencial
125
do Buda; todo mundo se iluminou; mas no referencial dos seres
senciente, que não se iluminaram, eles olham “pro” Buda e vêem uma
pessoa comum.
(1:18:25 – 1:18:56)
É isso.
Vê que as formas são vazias é mais fácil; agora, ver que o vazio é forma
(pausa) (pausa) essa é uma parte bem mais difícil.
126
VÍDEO 8
RECAPITULAÇÃO
(7:47)
Esse é o desafio.
Então, aqui, a gente “tá” olhando o olhar que o Lama Samten traz
(ééé), partindo já da compreensão da Grande Perfeição, que vem
127
depois disso tudo, mas permite interpretar o Sutra com um olhar
mais profundo.
“Forma é vazio
Então, esse aspecto da forma sendo visto como vazia (a). O raciocínio clássico
é esse. É olhar para a forma e decompor a forma nos vários pedaços,
entendendo que a forma (ela), quando eu vou tirando os pedaços, ela não é os
pedaços e nem os pedaços, separadamente, são a forma.
Então surge o conceito, uma idéia de forma, que não depende apenas dos
pedaços.
Não há uma forma, por si só: a mente, o observador, que olha para a forma,
concebe a forma, dá um nome (éé), traz uma solidez “praquilo”. Mas, o método
do decompor a forma em pedaços ajuda... (raciocínio interrompido); me ajuda
a superar a idéia de que a forma é sólida e real, porque, quando eu “vô” tirando
os pedaços, em qual momento a forma deixa de ser forma?
128
Qual pedaço, que eu tenho de tirar “pra” eu não vera aquilo mais como carreta?
E, se eu tiro todas as partes, não sobra nada ao final: ou seja, não há uma
alma, uma essência de carreta.
Então, a gente vai olhar “pras” carretas, “pras” pessoas, “pros” objetos em
geral, “pros” pensamentos, “pras” emoções, seja lá o que a mente puder
conceber e, quando aquilo é olhado, com cuidado, aquilo surge na
dependência de outros fatores e, portanto, aquela forma é vazia de si mesma.
Ele não “tá” negando que surge alguma coisa ali. Ninguém “tá” dizendo que
não tem nada ali. A gente está, apenas, dizendo que, o que está ali, (éé) não
surge da forma como nossa mente comum olha.
A nossa mente, comum, desavisada, vai olhar “pra” carreta e vai dizer (- É
carreta) e não questiona nada sobre o processo de observação da carreta; ao
passo de que, quando eu analiso e divido a carreta nas suas partes e vou
entendendo que carreta é apenas uma idéia de carreta (não existe carreta real,
apesar de mesmo assim a carreta ser funcional): a carreta não é só uma
alucinação da minha mente.
Estranho “pra” gente, assim, (né?), mas “pera ai”, se é totalmente vazio, então,
(ééé) quando eu paro de pensar naquilo ou paro de sustentar aquilo, aquilo
deveria desaparecer.
Mas aquilo não desaparece: aquilo segue operando; mas segue operando de
uma forma mágica, assim, de uma forma, que eu preciso da agregação de
muitos fatores e de um observador, que sustente aquilo como uma forma, com
a função que veja aquilo como aquilo parece ser.
Se não tiver alguém “pra” ver aquilo, aquilo, imediatamente deixa de ser
carreta, porque a idéia de carreta surge na mente de um observador: não há
outro lugar “pra” surgir. Né?
129
Então, forma é vazio. É a primeira frase.
Então, isso é muito interessante, porque todos os objetos que são (éé) frutos
do nosso apego (então nós temos muitos objetos aos quais nos apegamos) (E
nós nos apegamos especialmente devido à forma de relação que temos com
os objetos).
Ai, no momento que vejo que o objeto é vazio, a minha relação se transforma,
a minha relação se liberta em grande medida, que eu posso começar a superar
o apego e a fixação àquele objeto e consequentemente o sofrimento
correspondente.
(Né?)
Eu nem digo que a carreta existe, por si só, separada do observador (objeto
real) e tão-pouco eu “to” dizendo que a carreta é criada, apenas, pela minha
imaginação (pela minha mente).
130
Essa experiência de carreta não está separada do olho do observador.
Fundamental.
Então, a gente deveria, cada um parar e olhar para isso (assim, com tempo em
casa) e olhar para muitos objetos variados e realmente entender como essa
coemergência opera: como que o objeto, ele, apenas, se sustenta enquanto
objeto, na dependência de um olhar específico.
Todo mundo deveria, (ééé) o Lama pede isso assim, com as mãos em preces,
que a gente acumule esse olhar da coemergência e vai desenvolvendo esse
olho; que isso é a chave, (né?), “pra” liberação.
A mente, que não analisa ou apenas segue, (né?), se relacionando com todos
os objetos, em todas as direções, de modo convencional, de modo fixado,
apegado, responsivo, cheio de emoções perturbadoras.
Então, é por isso que eu digo que, aqui o Lama “tá” olhando o Sutra do
Coração, um texto clássico dos Sutras, a partir de um olho, que já concebe a
visão Tântrica.
131
Então, a gente ganha um tempo com isso: a gente sai um pouco do aspecto
filosófico, do Sutra, e entra pelo aspecto experiencial, que é uma característica
essencial, assim, do veículo Tântrico.
Então, a carreta é vazia e luminosa. Ela é vazia, porque se não tiver uma
luminosidade que sustente a carreta, não “tem” carreta: a carreta não existe
sozinha, por si só; portanto é vazia.
Mas, apesar de não existir por si só, ela surge na experiência dos seres, devido
à luminosidade. Então, o processo de luminosidade da mente sustenta a
experiência de carreta.
Okay?
Seguimos.
Porque é coemergente: não é assim (eu projeto coisas sobre algo lá fora). O
dentro e o fora brotam juntos. Portanto, o que (que) nasceu antes o fora ou o
dentro?
132
dentro da visão da psicologia, temos aquilo
dentro, me aproprio disso e projeto sobre as
coisas. Mas no budismo não é assim.
Vamos tentar fugir disso o tempo todo, sempre apontando para essa mente
impessoal, essa mente que não é de alguém, que não tem características
próprias, que pode construir qualquer coisa, inclusive os seres do jeito que eles
acham que são.
Mas aqueles seres, eles tem uma mente. Esta mente opera para todos da
mesma forma. Então, eles vão se prendendo na realidade da construção da
mente e vão achando que são aquilo.
133
deveríamos portar. Depois mantemos isso na
ação.
Então a gente viu que a arte, por arte, apenas, com objetivo em si só, utilizando
o princípio da vacuidade/luminosidade (eu crio coisas quaisquer, com os mais
variados objetivos).
Agora, se eu uso a arte (ééé) como uma ferramenta de prática, ou seja, vendo
o processo da arte “pra” me ajudar a ter esse olho de coemergência, então a
arte é superinteressante: ela me ajuda bastante. Tanto que o Lama tem essa
sequência clássica, assim, de olhar “pro” objeto bidimencional, pintado numa
parede (o famoso cubo, né?), como tem na sala, no Rio; depois, (ééé) (pausa)
depois você também tem (ééé) os objetos tridimencionais, como a escultura,
por, por exemplo, aquilo é só pedra, mas, mesmo sendo pedra, a gente vê algo
ali.
Então aquilo tá e não tá, ao mesmo tempo: se eu disser que não tem uma
forma humana, não é verdade; mas se eu disser que é uma forma humana,
também não é verdade.
Quando tem o reflexo da lua na água eu nem posso dizer que não tem, mas
também não posso dizer que tem a lua, ali, na água.
134
É uma experiência.
Essa experiência tem uma situação, assim, existencial, que nem é nem não é.
Já que nem é nem não é; então é, porque não é do jeito que eu era, mas
também não é nada. Então é alguma coisa e, essa alguma coisa, não é do jeito
que eu imaginava antes: ela parece, mas não é como eu pensava, (né?).
Então, ai surge a análise dos 5 skandas. Então, se o eu existe, ele tem que “tá”
nos skandas, porque uma pessoa é forma, sensação, percepção, formação
mental e consciência.
Então, o que (que) é o “eu”? O “eu” está na forma? Está nas sensações? Está
nas percepções? Ou ele é alguma coisa que é dona dos cinco skandas?
Se ele é uma coisa que é dona dos 5 skandas, onde que ele se localiza?
Então tem toda essa análise detalhada do caminho do ouvinte, para a gente
superar a noção de que o “eu” existe, de modo real.
135
Mas essa abordagem do Prajnaparamita que
estamos usando aqui, do espaço que produz as
coisas, pode nos fazer avançar muito rápido.
Então nós dizemos: “Forma nada mais é do que
vazio”.
Então , é um método bem inteligente; bem interessante, porque ele foge muito
da noção, (sabe), de partículas atômicas, de elementos constituintes.
Então, como que brota a experiência (é isso que ele está analisando).
Isso é um processo mais rápido do que eu ficar olhando para cada objeto e
ficar decompondo: tem a cabeça; a noção de cabeça; mas a cabeça são os
olhos, o nariz, a boca, a língua, as orelhas, o cabelo
É a mesma idéia da carreta, que a gente viu agora a pouco, cortando a idéia de
que os objetos são reais.
Então, essa é a primeira etapa: forma é vazio e vazio é forma; forma nada mais
é do que vazio, vazio nada mais é do que forma.
Tudo bem?
Tranquilo?
136
Nada a declarar?
137
Todas as experiências são vacuidade.
Poderíamos dizer que esse ponto é um resumo
de todo o sutra – todos os dharmas são
vacuidade.
E ponto final.
Se todos os darmas, então, qualquer coisa que eu possa criar, imaginar, olhar,
pensar, tudo aquilo é vacuidade.
“Pra” que a ação, em meio ao mundo sustente o olhar da vacuidade, eu vou ter
de meditar sobre isso por um bom tempo, buscando exemplos, liberando a
minha mente das prisões e fixações.
Então, a vacuidade, ela “tá” o tempo todo operando {porque as coisas já são
vazias; não é que quando eu entender a vacuidade, a vacuidade aparece
(TIAM! TIAM! TIAM! TIAM!)}.
Então:
Então:
Então, ai eu vou dizer, (né?), já que os darmas são vacuidade, como é que eles
poderiam ter características próprias.
(Né?)
Já sabe com clareza que ver uma coisa com uma certa cor, aquilo depende de
um aparelho sensorial; outro ser que não tem o mesmo aparelho sensorial, vê
outra coisa; vê outra cor.
139
cachorros também ouvem, ou os cheiros que um cão farejador pode pegar a
longa distância.
Mesmo entre os humanos, (né?), tem uma variação razoável, mas mesmo
assim dá uma sensação de que a gente concorda, (né?) (a gente já conversou
sobre isso, também), que a sensação de concordância, da experiência, brota
das marcas cármicas comuns, ou seja, com uma estrutura cármica comum,
surge um corpo parecido (um corpo comum), que opera com um aparelho
sensorial parecido, também (que dá uma percepção comum).
Então, (né?), qual que é o mundo real? É o deles, que “tão” com os óculos ou
dos que “tão” de fora, que não vêem aquilo?
Mas a gente vai entender, que a própria descoberta dos elementos vai surgindo
a partir de preconceitos que os “tragam”.
Eu esqueço que isso surge daquele jeito, porque eu (ééé) padronizei daquele
jeito.
Daqui a pouco vem alguém, uma pessoa com uma idéia nova, mirabolante e a
gente reestrutura tudo, a gente passa a ver com um outro sistema de
classificação e abandona aquele anterior. A ciência faz isso, sistematicamente.
(Né?)
140
Surgem idéias mais inteligentes “pra” explicar as coisas; a gente vai trocando
de idéias, (né?); são, apenas, modelos descritivos da realidade: muitos
modelos possíveis; incontáveis modelos possíveis.
Então, tem uma experiência do Lama Samten (o Lama Samten, uma vez, deu
uma aula de física “pra” monges tibetanos, na Índia, explicando (né?) sobre
universo, estrutura e ai, um dos monges falou, (né?), (é) (ééé) quem sabe um
dia a ciência, também, vai chegar ao modelo, que o Buda apontou, (né?): o
Monte Meru, no centro, os quatro continentes, continente menores, a cerca de
ferro ao redor, o grande oceano e todos os reinos empilhados (uns em cima
dos outros). Então, quem sabe o nosso modelo não seja o correto, também,
né?
Então, hoje não é o que se vê, mas dependendo do olho (que se coloca) pode
se explicar de outra forma.
Não é?
A gente não se prender aos sistemas (é assim, porque está nos livros
escolares).
E novas teorias, assim, sobre a ciência, a física brotam o tempo todo, (né?);
coisas bem estranhas, (né?), que os cientistas vão teorizando “pra” tentar
explicar tudo, como essas noções de matéria escura, energia escura, super
cordas, buracos de verme, assim por diante, (né?): tem um mundo, (né?).
É.
É bem interessante.
Então, a gente começa a estudar um pouco disso tudo “pra” ver que a ciência
não é tão (ééé) (não tem tanta certeza sobre as coisas o quanto parece, né?):
na verdade tem muito mais incertezas do que certezas.
141
sabe tudo – a gente não sabe tudo – e, por isso, a gente vai estudar e vai
construir conhecimento sobre as coisas); ao passo que a maioria das religiões
“vai” dizer (sim, nós sabemos tudo; porque o criador diz, ou não sei quem
disse, porque “tá” nos Livros Sagrados e, aquilo, é verdade).
Então, nesse sentido, a ciência se aproxima (um pouco) mais do budismo, por
ter essa mente investigativa, (por ter essa mente investigativa).
Só que a ciência esbarra num ponto em que o professor Alan Wallace vai
chamar de Tabu da Subjetividade (tem um livro dele com esse título), o Tabu
da Subjetividade, em que a ciência abomina, (né?), a subjetividade.
Impossível.
Agora, ai vem essa idéia, (né?), essa ideia de que uma mente treinada através
da meditação (especialmente a meditação de shamata), ela vai se tornando
(ééé) uma ferramenta mais adequada para observação dos fenômenos.
Uma mente estável, não responsiva; uma mente que olha para todos os
fenômenos, que ocorrem nela mesma (assim: com cuidado, com
distanciamento, desapaixonadamente), essa mente, elas é capaz de observar.
É a mente que o Buda usou, (né?)
142
Então, é como se tivesse uma ferramenta muito capaz, muito profunda, que foi
trabalhada, que foi treinada e que, então, pode ser direcionada.
Então, existe essa discussão, às vezes, das pessoas, do caminho (Ah, mas
primeiro shamata, depois prajna, ou tem uns que dizem que vai direto “pra”
prajna e pula shamata).
Mas não precisa ser, também, assim: se eu não realizar shamata eu não
consigo ter o instrumento adequado.
Então, (aquilo), (ééé) eu vou indo como possível, (né?); eu vou avançando; eu
vou dando passos: um dia eu vou ser um Buda, que vai fazer isso de modo
perfeito, mas, até eu alcançar o estado de Buda, que tanto shamata e prajna
foram aperfeiçoados, até lá eu vou tendo resultados parciais e, aquilo já é
maravilhoso; aquilo já traz uma lucidez, uma melhoria da condição de vida em
meio ao mundo, assim, enorme.
143
Então, eu não deveria achar que os pequenos avanços são bobagens. Não:
pequenos avanços já são, assim, grandes passos {já me tiram, assim, daquele
automatismo, daquela falta de (falta de visão, assim.)}
Então, os praticantes vão percebendo que a vida fica bem mais fácil, (né?)
Muito bem.
Então, para ser nascido e cessar, teria de ser uma coisa real, sólida; mas não
é: aquilo é vazio: cada hora é uma coisa; cada olho que eu coloco, aquilo
muda.
Então, aquilo brota, mas aquilo brota e é não nascido, porque não tem uma
existência real.
Então, “pra” eu dizer que aquilo é nascido, deveria ter nascido de modo
absoluto em determinado ponto do tempo.
E quando eu analiso, não é assim: aquilo surge; aquilo flutua na minha frente,
(né?), como uma forma mágica.
Ai, eu mudo o meu olhar, mudo a forma, ou às vezes a forma muda e o meu
olhar muda. Então, aquilo é coemergente; os dois juntos, inseparáveis.
144
junto os pedaços da carreta e digo (carreta), nasceu carreta: pego rodas, as
grades, o fundo, junto todos os pedaços da carreta e tem carreta.
Mas, aqui, eu “to” olhando do ponto de vista da verdade absoluta {nada surge
(nasce) de modo absoluto ou morre}.
Nada.
(Né?)
As próprias fezes dos animais, que são vistas como impuras (ninguém quer
colocar a mão naquilo), mas, daqui a pouco, aquilo tudo vira adubo e é utilizado
nas plantações, ai aquilo se torna algo maravilhoso: em muitos lugares, (né?),
coco de vaca vira combustível, (né?), seco é utilizado para fazer fogueiras;
aquilo, aquilo ajuda.
145
Uma pessoa, vegetariana, olha “pra” um pedaço de carne crua e começa a ter
um certo nojo, assim, (né?): impuro; uma pessoa carnívora olha “praquilo” e
(Hummm!) vou passar um salzinho, uma alhozinho, vou fritar e vai ficar uma
delícia.
Depende.
Então, existe uma ética convencional, (né?), a gente vai dizer que a moralidade
ou a ética dos bodisatvas, ela surge, sempre, com a motivação de não
prejudicar os outros. Então, ela cuida dos outros, ela deixa de fazer algo para
evitar o sofrimento dos outros, mas não quer dizer que haja regras éticas
universais, assim, absolutas: isso não há.
Então, aquilo... (raciocínio interrompido). É claro que não é bom matar ratos;
mas no momento em que os ratos estão gerando um problema maior (claro
que não para eles, estão gerando para os humanos). Então, matar os ratos
para preservar a vida humana preciosa começa a se justificar, de certa medida.
Mas o que eu quero dizer é que não há, mesmo no ato de matar, uma
moralidade definitiva, absoluta.
146
Em geral, a gente segue a regra, (né?): não matar, não roubar, (né?), sexo
impróprio {a gente evita tudo isso, (né?)}; mas aqui, a gente está olhando do
ponto de vista último, absoluto.
Se a própria noção de ser humano se dissolve, então como é que não vão se
dissolver as regras de conduta e de relação entre os seres humanos?
Comentei, na semana passada, quando você vai olhar (ééé), você olha o
Código de Hamurabi. Era uma sociedade patriarcal (machista). Então, as
mulheres tinham menos peso, menos valor, as crianças menos, ainda; os
escravos e os trabalhadores não tinham... (raciocínio interrompido).
147
E ai? Isso “tá” certo ou “tá” errado? É melhor morrer de fome ou comer a carne
da pessoa morta? (ou, pior ainda, matar alguém do grupo para alimentar os
outros: um morre, “pra” que os outros vivam).
Mesmo o Buda, ele não tem explicações únicas para as coisas. Por exemplo,
numa situação em que um exército de um reino, que queria destruir a tribo dos
“Sakyas”, de onde o Buda vinha (havia, ali, uma pendência antiga em relação
ao Rei e esse Rei decidiu destruir o Clã dos Sakyas). E ele se dirigiu com o
exército dele “pro” Clã dos Sakyas e o Buda se colocou no caminho. Se
colocou no caminho, conversou com o Rei e conseguiu dissuadi-lo, (né?), de
fazer aquilo. Ai o Rei retorna com o exército. Ai, uma segunda vez, o Rei vai e
o Buda, de novo, interferes. Ai, uma terceira vez, o Buda interfere. Na quarta
vez o Buda não interferiu, o Buda viu que não tinha como evitar o carma, que
tinha sido gerado naquela relação e, realmente, o Rei invade o Clã dos Sakyas
e mata a maior parte das pessoas e acaba com aquilo, (né?). Então, o Buda
era vivo, ainda, quando isso aconteceu.
Difícil.
148
A seriedade, ou seja, levar as regras do jogo a sério {o que é uma coisa super
valorizada, através da verdade relativa; do samsara (é muito importante a
pessoa ter uma fama de ser séria) (Ah, sim! Uma pessoa confiável: séria).
Então significa uma pessoa que joga as regras do jogo sempre do mesmo jeito;
de modo correto; a pessoa que não fura o jogo. Então isso é uma grande
vantagem em termos de construção do samsara}. Agora, quando eu começo a
olhar com esse olhar do prajna (levar as regras do jogo muito a sério é um
problema, (né?): é uma fixação da qual eu vou ter de me livrar; vou ter de
relativizar, vou ter de soltar aquilo, não é?).
Então, o Lama adora a dizer isso, a liberação se dá pelo sorriso; não se dá pela
seriedade, pela (vamos dizer assim: por algo muito poderoso, por um aspecto
muito duro). Não é por ai. A liberação vai se dar pela leveza, por se libertar das
regras do jogo.
Né? Então, a gente deveria olhar os nossos jogos {quais jogos eu estou
jogando seriamente demais? Os jogos do trabalho, os jogos das relações, o
jogo do dinheiro, o jogo da busca por segurança, seguro saúde, seguro do
carro, seguro da casa, seguro de tudo, como se eu pudesse me garantir, (né?),
de alguma forma, a partir disso}.
Os darmas, também
149
Então, essa noção, (né?), de salto quântico, fenômenos quânticos, também, o
Lama cita muito, também vai ter ai no CEBB Rio, no dia 12 de novembro, esse
curso com a professora Eliane Xavier, mestre em física quântica, ela vai dar
esse curso ai no CEBB Rio, mais uma vez (já deu outras vezes), de Física
Quântica e Budismo.
Bem interessante!
Quem quiser participar, ou revisar. Vai ser no sábado, manhã e tarde, OK?
A gente tá pegando um tema super moderno (as pessoas adoram usar o termo
quântico “pra” lá e “pra” cá: cura quântica; salto quântico). E a maioria das
pessoas não entende muito bem o que elas estão falando, (né?). Elas tão
usando aquilo, apenas porque pegaram no ar.
É um tema, que, talvez, vale a pena fazer o curso (pausa) e, também, quem se
interessa por essa noção (ééé) é bom, também, ler esse livro professor Alan
Wallace, (ééé), esse livro AS DIMENSÕES ESCONDIDAS. A união entre física
e budismo. É uma proposta, que o professor Alan Wallace traz; um livro muito
bem escrito, assim, complexo, mas, “pra” quem gosta um pouco de ciência e
física, vale à pena.
Muito bom.
Então, nós estamos de salto quântico: aquilo era, mas agora não é, (né?).
150
certo jeito. Surgindo de outro jeito, as coisas
também vão surgir de outro jeito.
Ambiguidade, (né?), das situações: como é que o elétron pode ser onda e
partícula ao mesmo tempo?
151
Então, também, outra tradução que se usa para essa expressão é eles não são
completos e nem incompletos: nem falta alguma coisa neles e nem eles são
totalmente satisfatórios, não são totalmente completos.
Os darmas, apenas brotam, eles não tem um processo próprio, assim, de ter
de acrescentar alguma coisa (fazê-los crescerem); nem tampouco eles
decrescem {desaparecem, (né?)} a partir de seu componentes.
Isso é um pouco, (né?), estranho, mas quando a gente olha é um pouco assim:
começa a analisar os darmas do ponto de vista da verdade relativa {é claro que
eles “tão” completos pela carreta – lá falta uma roda, ”tá” incompleta (pronto) –
agora, quando eu começo a olhar do ponto de vista absoluto, não há uma
clareza do que seria completo ou incompleto}, o que precisa crescer ou
decrescer.
Vacuidade.
152
Então, nesse sentido, tem uma série de pressupostos, que eles dão como
pedras fundamentais, que eles não querem questionar.
E quando surge alguma observação, que questiona aquilo, eles vão dizer: tem
que ter um furo; tem que ter um erro na observação; na experiência, porque
aquilo não pode contrariar (por exemplo, a velocidade da luz é fixa em qualquer
lugar do universo: a velocidade da luz é a mesma; ela é uma grandeza
fundamental).
Ai, daqui a pouco, surge uma experiência, que parece que vai contradizer
aquilo. Ai eles vão negar, categoricamente. Eles vão avaliar como encontrar
uma explicação “pra” mostrar que aquilo “tá” furado, (né?), que aquilo, de
alguma forma, “tá” mal interpretado, “pra” cair naquilo que já é conhecido.
(Né?)
Então, mais uma vez é afirmado que, na vacuidade, não tem os cinco skandas
nela.
153
Então, quando eu falo na vacuidade não tem isso, não tem aquilo e não tem
aquele outro, dá essa impressão dá (poderia dar) essa impressão, (né?), que a
coisa não existe de modo algum.
Muito bem.
Então, acho que hoje, a gente vai ficar, no texto, por aqui, assim: que a gente
viu, a gente avançou na noção de forma é vazio; vazio é forma. Também olhou
as negações, (né?), aquela série de negações sobre as características (não
tem característica, nem impuros e nem puros; não decrescem e nem crescem;
e assim por diante, (né?), essas várias classificações.
Ai, depois, a gente vai entrar num outro grupo de afirmações, que eu prefiro
deixar “pra” semana que vem.
Mas, percebem? Que, à medida que a gente avança no estudo, o raciocínio vai
se tornando, assim, repetitivo; que é sempre a mesma coisa (as coisas nem
existem por si só e, também, não existem, apenas, no mundo imaginário do
observador.
As coisas, elas não “tão” nem lá nem cá, mas existem num espaço, enquanto
um fenômeno coemergente, que não tem nenhuma solidez, que não tem
nenhuma forma fixa.
154
Então nós vivemos num mundo de formas flutuantes, formas que depende, o
tempo todo, do olhar, (né?), para se configurarem.
Então isso dá uma grande liberdade: a gente olha “pras” pessoas, as pessoas
não são fixas; eu posso olhar para elas de muitas formas.
Aquela pessoa não existe de um modo absoluto e real, ela, apenas (existe um
olhar sobre aquela pessoa).
O que eu não estou dizendo é que a pessoa não cometa ações negativas e
não gere confusão, mas o olhar que eu tenho sobre a pessoa
(independentemente sobre o que ela faça) esse olhar é construído (ele não é
um olhar fixo).
Então, a gente vai aprendendo a soltar. Vai ganhando liberdade. Liberdade traz
alívio, diminui o sofrimento, traz paz interior {não é o que a gente tá buscando,
(né?), paz, tranqüilidade, bem estar; o olho de sabedoria, (né?), que me
permite viver melhor e ajudar os outros a viverem melhor, também}.
Mas essa tentativa de congelar é totalmente infrutífera, porque, por mais que
eu tente congelar, aquilo flutua do mesmo jeito (eu tentando ou não tentando).
Então, nós não somos coerentes, nesse processo, também: a gente não
consegue ser “sérios”, como “gostaríamos”.
Por quê? (Porque a gente não consegue ser “sérios”?) Porque é isso: eu mudo
o tempo todo. Como que eu vou conseguir sustentar um padrão a vida toda?
Né?
155
As pessoas, sempre, cometem deslizes; elas não sustentam padrões, porque
elas não são só aquilo; elas são muitas possibilidades.
Tudo bem?
Alô.
Voltou Bia?
156
Quinze anos estudando isso, começa a ficar fácil, (né?)
157
VÍDEO 9
RECAPITULAÇÃO
Isso. Ver as coisas como elas são é ver que as coisas surgem de
modo causal, através da originação interdependente, mas, ao
mesmo tempo que surgem, não tem essência alguma (são
completamente vazias). Entender que todos esses surgimentos
são coemergentes: não são (não ocorrem) de modo separado do
observador.
158
Não só nas situações desagradáveis, mas também nas sedutoras
(nas coisas que nos prendem porque são boas).
Dá mais trabalho nos livrar daquilo que nos seduz do que daquilo
que nos gera aversão.
Não é isso?
Então, sem prajna não tem compaixão; sem prajna não tem ação
lúcida em meio ao mundo.
Por isso, a gente vai estudar prajna; vai praticar; vai se familiarizar
com essa visão, até o momento que isso comece a ficar natural.
Tudo bem?
160
O estudo vai andando e, ai, a gente vai entrando nos detalhes,
(né?), nos pormenores dos textos e a gente perde essa visão
mais ampla {por que (que) eu “tô” estudando isso? E onde que eu
vou chegar com isso? E onde que eu vou aplicar isso?}
O budismo, ele sempre tem (ééé) é sempre essa idéia que esses
ensinamentos são como REMÉDIOS: os ensinamentos nuca são
só para satisfazerem a nossa curiosidade mental, intelectual ou
filosófica. Nunca: nunca perdeu tempo com isso; os ensinamentos
sempre tem uma função muito pragmática: libertar os seres dos
sofrimentos seja lá qual for a confusão em que se acham.
Não é?
“Tão” mais acessíveis, mais curtas, mais diretas. Então, é por isso
que a gente usa esse texto como base.
Então a gente viu os cinco skandas, a gente viu as oito características (na
semana passada) e a gente chegou (chegou) (deixa eu ver aqui) (no item)
(ééé). Isso: “não tem olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente”.
161
existe essa classificação tradicional, que são os 18 dhatus (dezoito esferas).
Ele diz assim:
Então, vamos pensar assim: “pra” que haja uma percepção visual, eu preciso
do quê? De um objeto visual, um órgão que permita ver (no caso o olho) e uma
consciência que interprete os estímulos recolhidos pelo olho e que gere a
percepção do objeto visual.
Então tem o visual, o auditivo (eu tenho a mesma coisa) (eu tenho os sons; tem
os ouvidos e tem a consciência auditiva); Eu tenho os cheiros (eu tenho a
consciência olfativa) e assim por diante.
São seis, (né?). Eu tenho o caso (da) dos objetos mentais (isso também
ocorre), os diversos tipos de pensamentos {eu tenho a mente (que lida com os
pensamentos) e tenho a própria consciência, que “tá” (ééé), que “tá” (ééé) (a
consciência de que “tá” consciente de que a mente “tá” operando).
Essas palavras, que “pra” nós são só duas, (né?): mente e consciência,
nas línguas originais são várias palavrinhas especializadas “pra”
descrever isso, (né?). Então, existe (aqui) os tradutores (direto “pro”
inglês ou, às vezes, “pro” português muito divergentes (a respeito).
162
Mas, em geral, a palavra consciência, ela corresponde ao terceiro elo da
originação, ela sempre é uma mente dividia: uma mente dualista. Então,
consciência é sempre dualista.
Mente é mais amplo. Seria como se fosse, assim, um guarda chuva “pra”
todas as manifestações mentais (inclusive) a consciência.
163
E a palavra mente, ela tanto pode descrever a mente dualista (a mente
do samsara) como, também, se usa mente (a mente primordial; a mente
do Buda).
A mente do Buda, ela é não dualista, ela “tá” antes do samsara, ela vai
além daquilo, (né?).
Então, essas palavras, são palavras técnicas, que não tem uma
padronização. (né?).
Sim. Exatamente.
Ai, (se você está dentro) mesmo budismo, você (dependendo da escola,
da tradição) as palavras são usadas de modo um pouco “diferentes”
(também).
(Né?), que “pra” nós, a gente vai entender que consciência (vijnana), vi
(é um prefixo de separação) jnana (sabedoria), então (sabedoria
dividida).
Mas não que alguns autores não escolham traduzir, por exemplo, a
mente (a mente) búdica, a mente primordial como consciência
primordial.
Então, (aqui), no caso, quando ele “tá” falando das seis consciências e
seis objetos correspondentes (é dualista): samsara. Né?
Aqui ele “tá” dizendo que cada um desses (desses) dessas tríades, (né?)
(OBJETO, ÓRGÃO E CONSCIÊNCIA correspondente); todos eles são
vazios.
164
Em algumas escolas diziam que (que) eles eram reais (quer dizer,
algumas escolas mesmo budistas, diziam {Ok. Não há um eu por trás
disso tudo, mas os elementos, que compõem as experiências, eles são
reais; não são identidades, próprias, (né?), com necessidade de um
“EU”, “de um átomo”, de uma pessoa, mas (as coisas em si) elas são
agregadas de partículas fundamentais, que são reais}
Então, por isso que vem a negação. Avaloktesvhara vai dizer (olha, isso
que vocês apontam como real, não é real, também: também é vazio.
Então, na vacuidade não tem os 18 dhatus: as dezoito esferas da
experiência.
Tudo o que pode ser experimentado vai cair dentro dos 18 dhatus,
dentro de uma das categorias: são seis campos de experiências.
Eu não tenho de parar de ver “pra” cheirar, por exemplo: não é essa
idéia de uma consciência única, que teria de ficar trocando de objeto
“pra” perceber tudo. Então, por exemplo, é como se fosse um
processamento paralelo {tem vários micro processadores, (né?), cada
um deles cuidando (de uma) de um tipo de estímulo específico...
(raciocínio interrompido por uma pergunta)
(26:56 – 27:16)
165
consciência visual, que dá o nome (sino de meditação); é a consciência
mental, que fica interpretando todos os outros... (raciocínio
interrompido). Os sentidos são como se fosse os sensores, (né?), que
vão captando estímulos e a consciência mental organiza isso tudo {dá
nomes, classifica, cria imagens, TOSSE (27:54) e assim por diante}.
Tudo bem?
Okay?
Então aqui, ele “tá” afirmando a vacuidade desse sistema (“pra” gente
não se apegar a nenhuma das esferas: nem ao objeto, nem ao órgão,
nem à consciência correspondente)
Ela tem memórias, (né?). Ela tem marcas mentais, que operam na
consciência mental; mas a consciência visual não “tá” mais operando,
(né?).
166
Cheirinho de café. A pessoa pode salivar na hora, mesmo sem ter café,
aqui, por exemplo.
(Né?)
Isso é um sistema.
Então o café pode trazer uma tristeza ou uma alegria (ou qualquer
coisa).
167
Então, no budismo não há a idéia de subconsciente ou inconsciente
{com essas palavras, (né?)}; o que existe é assim: eu tenho um conjunto
de marcas mentais (eu chamo de samskaras), que é o segundo Elo, que
seria (assim) a acumulação infinita do quem vem acontecendo ao longo
de muitas vidas (como se fossem pequenas marcas deixadas numa
consciência de base).
Essas marcas, que vão sendo deixadas (ééé) eu não consigo acessar
todas, ao mesmo tempo. Elas “tão” disponíveis, mas a minha mente
condicionada (essa mente, aqui, do samsara, (ela) ela localiza, apenas,
(um pequeno) uma pequena (ééé) parcela dessa muitas marcas.
Não é?
168
detalhes, assim.} (Ual!) De onde brotou aquilo, repentinamente?
(Experiências foram criadas). (Essas memórias vão brotando).
Então existe essa idéia de alayavijnana (uma consciência substrato),
que seria, assim, essa consciência, que acessa, que armazena as várias
marcas. É um sistema, (né?), de como explicar isso: como explicar a
memória.
(33:58 – 34-06)
As marcas elas (são) elas “tão” na mente; a mente é vazia. Então, não
há solidez nenhuma no carma (nas estruturas cármicas do passado): o
passado não é sólido; o passado se modifica o tempo todo.
Isso é super-libertador!
(35:12 – 35:25)
Porque prajna me leva “pra” uma posição de mente, que eu não tenho
que lutar com mais nada.
169
Mas há uma ilusão de que o carma é sólido {que as marcas são reais
(são minhas)}.
Prajna permite enxergar através {e se libertar das marcas (de uma única
vez)}.
Ai tem de andar, em meio ao mundo com essa visão (porque o Buda fez
isso): ao longo das muitas vidas dele, ele foi estabilizando essa visão
(até que ele chegou naquela última vida, em que alcançou a realização
final, e alcançou a perfeição disso). Então, não era “pra” ele (mais) uma
prática; era um olho natural diante de qualquer aparência. O olho de
prajna.
É extremamente liberador.
170
Que isso? “Me libertar” das identidades não é um processo de
aniquilação das identidades. É um processo de libertação (pausa)
(pausa) da fixação (pausa) (pausa) às identidades.
Então, essa mente livre pode circular por vários papéis. Vários...
(raciocínio modificado) inteligências, (né?).
Por isso que o Buda vai dizer “(eu nem sou humano)”.
É uma possibilidade.
Eu não “to” fadado a ter de ficar preso nos meus carmas, nas minhas
dificuldades “pra” sempre, (né?).
Então é isso.
171
nem o objeto do tato, nem os objetos da mente
(os objetos abstratos).
Tudo isso surge depois. Surge por construção. É o terceiro elo. (Lá na frente).
Então, essa é uma classe complexa, (né?) de objetos. Então são os dezoito
dhatus (são os dezoito elementos), a gente vai encontrar isso na literatura
budista, também.
Então, são os Doze Elos, que a gente “tava” falando, brevemente, agora.
172
Então os Doze Elos vão sistematicamente se propagando vida após vida.
Como ajudar os seres humanos a partir do Darma, que ele havia realizado?
Então, o sistema dos Doze Elos foi um dos primeiros ensinamentos que ele
deu.
Cada etapa dos doze elos é uma visão errônea sobre a realidade. Então, essas
visões errôneas vão se complicando cada vez mais. É como se fosse um
empilhamento de visões errôneas, que a gente vai se afundando, se
afundando, se estreitando, se estreitando, se estreitando; até chegar num
ponto que não vê nada além do que aquelas visões errôneas.
E ai o Buda viu {então, os seres precisam entender esse mecanismo e eles tem
que se deslocar no sentido oposto (ou seja, eles tem de desconstruir as
aparências; eles deveriam desconstruir as construções a partir do sistema
inverso dos Doze Elos)}.
173
Na verdade relativa (na verdade das aparências, do mundo comum) eu tenho o
que se chama de originação interdependente: cada coisa surge a partir (de
outro) de outras causas e condições, que se reúnem “pra” (ééé) permitir o
surgimento dos fenômenos.
Então tem (âââ) tem retiros do Lama Samten (na internet) (“pra” quem quiser)
em que o Lama comenta o Sutra da Haste de arroz, que é o Sutra no qual o
Buda explicou (ééé) (no caso nem foi diretamente o Buda, mas Maitreya “tá” lá
ensinando, detalhadamente, como se dá (a causalidade) a originação
interdependente.
(43:39 – 43:22)
Qualquer coisa “pra” surgir (um copo) “pra” ser criado (eu tenho que reunir uma
série de elementos que vão gerando a forma de copo).
(Se faltam) se falta uma causa primária “pra” algo surgir, aquilo não surge Por
exemplo, sem óvulo ou espermatozóide não tem ser humano {pelo menos até
onde eu sei das pesquisas atuaís. De repente eles inventam uma forma, (né?)}
(45:06 – 46:10)
Mas vamos pensar assim: em tese, quando falta uma condição fundamental
“pra” (se não tem DNA; ai não tem ser humano). Pronto, sem célula de DNA,
por enquanto, ainda não descobriram um jeito, (né?).
Então se eu não tenho as causas, aquilo não surge; mas, mesmo que eu tenha
as causas, se eu não tiver as condições secundárias e adequadas, aquilo
174
também não surge: se eu não reunir tudo aquilo, que é necessário, aquilo não
vai “pra” frente.
Então, (aqui) o que está sendo dito, não é que os doze elos não operam na
verdade relativa: é claro que eles operam; mas quando eu olho “pros” Doze
Elos com cuidado (olho “pra” essência dos Doze Elos) eu não encontro nada:
eles não são, na verdade, absolutos (os Doze Elos). (É uma verdade relativa).
Essa é uma das meditações (por exemplo) que vai se fazer mais adiante: cada
elo é contemplado numa experiência e vai se buscar enxergar a vacuidade da
experiência daquele elo.
Tá?
Então, na vacuidade
Avídia, (né?)
“Pra” conseguir apreciar isso, adequadamente, a gente teria que ter, (né?),
olhado bem os Doze Elos “pra” ver qual que é o grande valor de dizer isso,
(né?).
Ai eu teria de entender bem o sistema dos Doze Elos {como esse ensinamento
fundamental que o Buda trouxe, (né?), sobre os seres}: todos os seres brotam
através do processo dos Doze Elos.
Aqui a gente tem, na segunda feira, o estudo sobre o texto da Roda da Vida, do
Lama Samten e nesse estudo, a gente vai passar, detalhadamente os Doze
Elos da Originação Interdependente.
(49:23 – 49:42)
É isso.
(50:14 – 50:22)
É. Mas, se você olha (assim), por exemplo, a gente falar um mundo mais
complexo, (né?), mas se a gente olha (um pouco) “pra” história (assim) da
humanidade, é aquela mistura, (né?) (de) de qualidades positivas (amor,
compaixão, alegria e equanimidade), mas uma grande confusão, que norteia o
comportamento a partir de {orgulho, ciúmes, inveja, desejo, apego, preguiça,
raiva, carência e assim, por diante, (né?)}. Então, os grandes acontecimentos
(geralmente) tem algo motivador por trás chamado ação perturbadora.
176
As guerras, por exemplo, (as grandes guerras, que modificam a geopolítica,
que modificam (que geram tecnologia), por exemplo, (todas elas tem uma
motivação autocentrada): uma motivação baseada nos seis reinos.
Todo mundo querendo migrar para as classes superiores para ter melhores
condições, procurando fugir de condições de escravidão ou de pobreza
(sempre foi a mesma coisa): mudou pouco o cenário.
O funcionamento básico do ser humano (ele) sempre “tá” calcado nos três
animais, nos três venenos básicos: javali, galo e cobra; ou seja, por ignorância,
desejo e raiva. Então, a gente, por ignorância, brota uma identidade; o galo é a
sustentação da identidade, a promoção da identidade e a cobra é a defesa da
identidade.
É. Só tem essa barreira cultural, que é um pouco, assim (essas palavras, esses
sistemas classificatórios, (eles) são meio estranhos, no início, mas a gente tem
que ultrapassar essas barreiras.
177
É. O Lama Samten faz um esforço (assim) supremo “pra” tentar deixar o
budismo mais palatável, mais moderno (assim), (né?), “pras” pessoas
entenderem.
Um grande esforço.
Muitos mestres vem fazendo isso (Dalai Lama, Trungpa Rinponche, Chagdud
Rinponche), esses mestres tentam gerar linguagem (linguagem moderna) que
permita as pessoas entenderem.
É por isso (também) que vem a importância do diálogo com a ciência (que o
Lama promove o tempo todo).
Então, nós “tamos” nesse ponto: os Doze Elos a gente precisa olhar.
(53:48 – 57:05)
Então, os Doze Elos, tem de ser vistos, (né?), na sua essência vazia.
Então, aqui, são as Quatro Nobres Verdades. (Não é?) Sofrimento; origem do
sofrimento; cessação do sofrimento e o caminho para a cessação do
sofrimento.
Primeira coisa que o Buda ensinou, quando ele (ele) encontra os cinco ascetas
no Parque dos Cervos (Qual o primeiro ensinamento que ele dá?) (As Quatro
Nobres Verdades) {Ele explica isso “pra” eles, (né?)}
Quem quiser (ééé) ler isso e ver isso no forma dos Sutras Históricos tem esse
texto do Buda Darma, que é o caminho “pra” iluminação (que é o compêndio
dos Sutras), muito rico, (né?) “pra” “pra” (como se fosse assim a biografia do
Buda).
178
Então, lá, tem toda a história do Buda, desde o início (como ele foi introduzindo
os vários tipos de ensinamentos).
Mas “tá” lá escrito, quando ele encontra, (qual o diálogo que surge entre ele e
os primeiros alunos?)
No estudo da Roda da Vida, vocês vão retomar o novo ciclo {é a primeira coisa,
que se analisa, (né?): um jardim chamado dukka; (né?), é a Primeira Nobre
Verdade (“pra” analisar o sofrimento)}.
Então, “tá” ali, (né?), sem entender a verdade do sofrimento {não é algo assim:
“Ah!” “tá!”, entendi: não é uma coisa “pra” passar rápido; é algo “pra” analisar
profundamente (o que “que” é a visão do sofrimento).
Muitas pessoas duvidam disso por um longo tempo (- Não é assim) {- Mais ou
menos, (né?)} (- Às vezes eu sofro, mas eu não “tô” sofrendo o tempo todo,
não) (- O mundo é meio pessimista, (né?) assim: Buda? Isso acaba em
sofrimento?) {- Nossa! Pesado, (né?)} {- É, até, uma visão meio negativa da
vida, (né?)}.
(Tem uma ignorância inerente ao processo), que nunca me permite ter uma
felicidade completa (em situação alguma): eu sempre tenho algum nível de
incômodo (mal eu consigo alguma coisa, eu já “to” com medo de perder), (né?).
Sempre é maculado: vai ser o estado de dukka.
179
O Buda afirmou a verdade do sofrimento e compreendeu o sofrimento dos
seres com profundidade.
Então, tem algumas coisas (assim), que a gente tem apegos variados
(experiências samsáricas) e a gente acha que vale a pena seguir nesse modelo
dualista, (né?). Então, é o que o Lama brinca, assim (ele chama de reflexos
coloridos no lago do samsara): tem o lago do samsara, (ai) um reflexo mais
colorido, ai a gente (Tibum!): vai, de novo, atrás do reflexo, (né?); (pausa)
(pausa) é o canto da sereia.
Então, é isso.
Então, as causas, que geram o sofrimento, não são reais: (pausa) (pausa) elas
são, também, completamente vazias (o que permite a liberação).
É.
180
Mas, nenhum deles é real.
Então, prajnaparamita vem e corta isso tudo, (né?), “pra” gente não se apegar
às etapas do caminho.
A pessoa começa a tomar remédio “pra” gripe, ai passa a gripe e ela segue
tomando: gerou apego ao remédio.
Por isso as pessoas são viciadas em remédios (variados) (porque dão algum
tipo de “barato”).
Não é?
Então.
Pois é.
Não é?
181
Então, porque (pausa) (pausa) porque como eu vou dizer que um ensinamento
fundamental do Buda é vazio (não tem solidez, nenhuma)?
(Ual!!)
(Não se sabe se foi assim que ocorreu, mas é assim que se descreve no
Mahayana): o Mahayana vai descrever (assim) dessa forma dramática, (né?);
porque é um ensinamento superradical: te tira qualquer tapete (não sobra
tapete nenhum “pra” você ficar em cima).
Nenhum.
(1:05:14 – 1:07:06)
Né?
182
A própria vacuidade é vazia: eu não posso me fixar ao conceito de vacuidade
como algo existente.
É muito sutil.
Então, ai, o budismo (ele) vai cortando todas as possibilidades, que poderiam
(raciocínio interrompido) tem várias repescagens, ai, nesse processo (em que
eu poderia recair) em erro. E, ai prajna vai cortar todas as (silêncio): não sobra
nada; (pausa) (pausa) nada.
É radical, (né?)
A gente fica aonde? Fica no espaço aberto, vazio e em queda livre: não tem
onde se agarrar.
Mas a gente já está nesse espaço em queda livre, mas acredita que há algum
nível de estabilidade (nessa queda livre): totalmente ilusória.
O samsara mostra o tempo todo que não há essa estabilidade e a gente teima
em tentar construir essa estabilidade.
Teima.
Isso é liberdade.
É. A boa notícia é essa, que prajna traz: (é que), apesar de estarmos em queda
livre, não tem fundo; (não tem fundo), (né?): não tem onde bater.
183
Então, “tá” voando. Voando, sem lugar nenhum “pra” se agarrar.
Então, na vacuidade
Sempre que tem sofrimento, tem alguma identidade estruturada: não há como
ter sofrimento se não tiver alguém achando que “tá” sofrendo.
184
que serve a sabedoria de desatar o nó do lenço?
Esse é um ponto muito importante para que não
fiquemos agora preservando o nó para poder
preservar a sabedoria que afinal é o que somos.
Não ficar guardando o nó. Não desmanche! Se
desmanchar o nó, desmancha a sabedoria e nós
desaparecemos no ar! Ou seja, construirmos
uma identidade a partir disso.
O perigo, não (acontece o tempo todo), na verdade: a gente vai, aos poucos,
se libertando dessa prisãozinha, também;
(1:11:50 – 1:11:57)
E a pessoa pode praticar uma vida inteira, achando (que “tá” avançando)
e “tá” só no aspecto externo da coisa: não mergulhou, realmente, na
essência do Dharma; ficou no samsara do Dharma.
185
(1:13:17 – 1:13:25)
Mas, as vantagens de ter méritos “pras” vidas futuras é que tenho bons
renascimentos, em que eu possa encontrar o Dharma.
Méritos são necessários, mas não é o ponto último; não é o ponto final.
(1:13:45 – 1:14:30)
Ai, surgem as cinco sabedorias (os cinco Diany Budas), como “tá”
naquele quadro “lá” em cima.
Cada um dos Diany Budas nos ensina uma sabedoria (essencial) “pra”
poder ajudar os seres.
Mas não há (éé) receita de bolo: cada pessoa é uma situação e a gente
vai ter de entrar na vida daquela pessoa a partir das cinco sabedorias e
ai, naturalmente, a ajuda vai se manifestando.
186
Aquilo não tem como separar, (né?) aquele que está sendo ajudado
daquele que ajuda.
Então, (ééé) tem de ter um espaço no fluxo mental daquela pessoa ”pra”
que a ajuda possa penetrar. E isso, às vezes, pode demorar eras “pra”
que alguém possa ter algum espaço para que a ajuda possa (silêncio).
Então, a pessoa lúcida, (ela) não se abala no meio da loucura dos outros
e tem uma chance muito maior “pra” trazer as pessoas “pra”... (silêncio).
É como uma (assim) uma lâmpada num quarto escuro (uma pequena
lâmpada ilumina o quarto inteiro).
(1:16:50 – 1:18:04)
Se fosse possível para o Buda invadir o fluxo mental de cada um, entrar
e resolver a coisa, para que todo mundos se ilumine, ele já teria feito
isso faz muito tempo, né?
187
O Buda gera meios hábeis: situações adequadas “praquela” pessoa ter o
insight.
(1:18:38 – 1:18:50)
188
VÍDEO 10
RECAPITULAÇÃO
Muito bem.
(7:39 – 8:00)
189
vacuidade (nessa idéia, nesse conceito de vacuidade enquanto a
base (ééé) onde repousa todos os fenômenos) não há nenhum
elemento que a gente possa apontar como real, como sólido.
E ai, como aquilo é visto como sólido e real, aquilo gera (apegos,
fixações e as emoções perturbadoras correspondentes).
190
Apegos a objetos. Posses {a gente vê coisas externas e diz assim
(isso é meu; ninguém mexe) ou a gente vê uma coisa que a gente
deseja muito (quer muito aquilo) porque acha que aquilo vai trazer
felicidade; objetos variados (a gente tem apego a pessoas: vários
tipos de parentescos; relação; vários modelos de relação; a gente
tem vários apegos); a gente tem apegos a idéias, ideologias (a
gente defende, né? idéias com unhas e dente)}.
A gente não “tá” livre nos fluídos, dançando (assim) com o que
quer que apareça. Não! A gente trabalha encaixotado“s” de modo
sistemático, comendo coisas muito parecidas no café da manhã.
(Não é?). Fazendo coisas muito parecidas dia após dia (assim).
191
Há, até, uma prática tradicional, que é a pessoa imaginar sendo
(assim) ofendida.
É uma forma de você ver como é que você fica, (né?) (você
imagina ver isso acontecendo) e ver como é que você reage.
Interessante.
Então como é que a gente vai lidar com isso (com esses ataques
à nossa imagem pessoal?): nosso “EU”; nosso nome; nossa
identidade.
Lembrar não vai ser o suficiente não, (né?). A gente vai ter de
praticar e realizar isso ai.
A gente vai praticar até o ponto em que aquilo não nos pega mais.
O Buda está livre da fixação. Então, ele pode ser e pode não ser
qualquer coisa, que ele está sempre no estado de equilíbrio
(independente se ele vai ter de apresentar um papel específico,
ele vai lá e apresenta). (pausa) Sem estresse.
O Buda não. Ele (ele) faz o que tiver de fazer e não se perturba.
Se sua mente opera com liberdade, ai, onde você estiver, você vai
estar bem; se tua mente não opera com liberdade, não importa o
que você faça externamente, você não vai conseguir sustentar
essa paz e a tranquilidade por mais que você se feche no seu
castelo (pausa) (pausa) (compra comida na internet, não sai mais
de casa).
É o vizinho, que grita muito; que tem cachorro; que tem criança
(sei lá o quê); alguma coisa vai te incomodar.
193
Ai, aparecem pessoas, (pausa) (caçadores), (pausa) outros
peregrinos, (pausa) animais variados. Então, eles são
perturbados, inclusive, nas cavernas dos Himalaias.
Mais possibilidades.
194
E, com prajna, a gente tem (um) a capacidade de entrar ou não
nas coisas.
Parece interessante.
Não?
Que tal?
Eles
Isso é muito sutil. (Que dá) a impressão que o caminho espiritual é algo que a
gente está evoluindo “pra” chegar em algum lugar {em algum estado
maravilhoso, assim, elevado (num estado alterado) (ééé) (alterado de
consciência) alguma coisa do gênero}.
O Buda é aquele, que ”tá” livre de qualquer posição; não é aquele que chegou
no “estado de Buda”.
É sutil isso.
195
É importante entender a diferença.
Isso não é (raciocínio interrompido) Isso é uma visão. Uma visão parcial. Inicial.
Mas a gente vai avançando “pra” essa idéia de que não há nada a fazer; não
há lugar algum a chegar.
Então aqui, ele está falando isso: (os bodisatvas não tem nada “pra” atingir).
Não tem lugar nenhum “pra” chegar (eles já entenderam que o “Estado Búdico”
não é uma coisa a ser adquirida; a ser conquistada). Eles entenderam isso.
(pausa)
(pausa)
(19:52 – 20:12)
Por isso que prajna é uma coisa hiperradical, porque ela tira todas as bases
dos referenciais e te deixa livre no espaço.
Prajna não vai te deixar bonzinho (por exemplo: eu era uma pessoa má; agora
eu “tô” no caminho do bem e, portanto, sou bom praticante).
196
Não é isso que vai acontecer.
(21:13 – 21:23)
Isso.
(21:24 – 21:33)
Isso, mas, ao mesmo tempo em que há a vacuidade, o bodisatva (ele não) ele
não deixa de (de) cuidar das convenções do mundo, (né?).
Por exemplo, não é porque ele vê que tudo é vazio, que tudo vale (por
exemplo).
Não é isso. Ele mantém generosidade, moralidade, paciência, mas isso não
brota mais da noção de alguém, que “tá” agindo de modo correto: ele “tá” livre
da noção de sujeito, portanto, aquilo é espontâneo; é natural.
É um pouco diferente.
Faz parte.
Essa (essa) liberação definitiva ela é a relativização (ééé) radical, (né?), que
prajna traz.
Ela te deixa, às vezes, meio perdido, (né?) {o que (que) é certo; o que (que) é
errado}
197
(22:53 – 23:22)
Então, a gente entende que esses meios hábeis (que a gente vai chamar de
meios hábeis, isso) são técnicas, são (ééé) capacidades, que vão facilitando a
vida dos seres “pra” que eles cheguem no ponto da liberação
(Disseram: no Senado)
No Senado, (né?); como é que você vai praticar sendo um político, por
exemplo. É difícil: tem de ser um praticante do topo (assim) “pra” não entrar na
confusão daquele jogo.
Então, quando você tem condições melhores (as pessoas tem comida, tem
água, tem onde morar, tem roupa, não ”tá” passando frio, nem calor, nem
fome) aquilo é bom, porque elas tem as condições ideais “pra” aproveitar a vida
humana preciosa e praticar até realizar a prajnaparamita.
Então são condições temporárias. São condições temporárias, que podem nos
ajudar no caminho, mas (realmente) em última instância, aquilo é
completamente vazio (não tem solidez nenhuma a generosidade e etc.).
(25:38 – 26:26)
198
É. O carma, ele só é gerado quando eu “tô” operando de modo dualista.
(26:38 – 27:11)
Mas, ai, quando alguém (éé) acessa prajna, ai, não há nem motivação e nem
não-motivação, porque a mente lúcida, ela “tá” naturalmente naquele estado
(ela não tem que se motivar mais).
Quando alguém não “tá” em prajna, ai tem de se motivar na dualidade {ai tem
de buscar (ééé) o tempo todo, forma de se motivar}; mas quando alguém
acessa prajna, (éé) a própria noção de estar motivado ou não desaparece.
Isso é uma noção, também, que surge (apenas) no samsara, (né?): ter que se
motivar “pra” fazer uma coisa boa (por exemplo).
Ai, só que, quem realiza prajna, constrói sem se perder de novo naquilo que
construiu.
Em geral é isso: a gente “tá” o tempo todo, a gente “tá” criando teias e se
prendendo nas próprias teias.
199
A gente usa dessa liberdade (dessas luminosidades naturais) e a gente vai
construindo relações, construindo coisas, né? Objetos, construções e (assim
por diante).
Não é assim?
A pessoa resolve abrir uma padaria. (Ah!, “tô” precisando ganhar dinheiro; vou
abrir uma padaria; vou ficar rico!)
Ai abre a padaria.
Ai, ela olha “pra” padaria assim: {“tá” dando trabalho, (né?)}
Às vezes (assim) a gente vai fazendo isso (uma coisa atrás da outra). Vai se
(ééé) vai se enroscando; vai se enroscando e não tem tempo de olhar “pras”
coisas mais profundas.
Então, por isso, uns dos conselhos (assim) básicos do caminho é simplificação
do estilo de vida: quanto mais simples teu estilo de vida, melhor para você
{mais simples; gasta menos; precisa ganhar menos, (né?) precisa trabalhar
menos}
(Menos apego)
Ai tem essa (esse) ditado tradicional: (sem uma estátua do Buda; uma estátua
“pra” espanar; se eu tenho cem estátuas do Buda “pra” espanar, na minha
casa; cem estátuas “pra” espanar).
200
Então, é isso; a gente vai se prendendo até no Darma {ai a pessoa compra
muitos livros; ai ela tem uma estante cheia de livros, que ela diz assim: um dia
eu vou ler (ai ela começa vários deles, que ela vai até a página 15 ou 20 (muito
bom esse livro); ai ela vem pra sanga e diz (muito bom esse livro; eu
recomendo; (mas ela não leu); (mas eu recomendo). Ai começa a empilhar livro
(TU, TU, TU, TU)}. E, ai, não consegue usar aquilo dele (isso é clássico,
assim).
Né?
A gente pode ser de um time que não torce (“pra” tal linhagem, “pra” tal
mestre).
Então,
201
A noção de Mandala não é um método, que vem através dos métodos dos
Sutras.
Então (aqui) essa é uma palavra (podem ver), que não “tá” no Sutra (Mandala).
Em geral, são três níveis ali, (né?), a Mandala Original (do Buda
Primordial); ai tem a Mandala da Compaixão (não tem? Do
Padmasambava, Chenrenzig?) e ai, tem a (a) Mandala Comum (assim,
que seria) a Mandala da Cultura de Paz {do Bom Coração, (né?); de
operar em meio ao mundo com um pouquinho mais de lucidez (assim)}.
202
Se eu olhar em última instância (se eu olhar com um olhar mais elevado
possível), aquilo, também é uma mandala.
Por mais que os seres que “tão” ali não compreendam aquilo (eles “tão”
dentro de uma mandala).
A gente até poderia dizer (às vezes se usa esses termos nos textos) nós
nos encontramos na Mandala do Buda Sakiamuni.
Mas como assim (Terra Pura)? {“Tá” todo mundo (aqui) se batendo;
cheio de problema e guerras (doenças e etc.)}?
(35:15 – 35:48)
Então, tem essa metáfora {de que tem um lenço branco (pausa) e esse lenço
“tá” cheio de nós}
203
Não, (né?)
Então, a nossa Natureza Primordial (o lenço branco) não “tá” alterada; porém,
tem os nós.
Então, no caso, o bodisatva olha “pro” lenço cheio de nós (e ele nem pergunta
se sabe desmanchar ou não; ele simplesmente desmancha).
Então, prajna é isso: prajna não fica analisando (causalmente) porque é que eu
cheguei no ponto em que eu cheguei. O que (que) o meu pai fez; o que (que) a
minha mãe fez, (né?); o que (que) numa vida passada eu fui (na França); (não
sei o quê), (né?): (tem essas análises causais cármicas, assim).
As pessoas gostam, em geral. Elas acham interessante; mas prajna não entra
nesse mérito. Prajna atravessa a causalidade.
Zero!
A gente não vai pegar o lenço e desatar nó por nó: a gente vai ver que o lenço
com o nó ou sem o nó é o mesmo lenço. E aquilo nos liberta: a gente fica
livre”s” da prisão dos nós.
204
{Perguntaram: é uma condição intermitente, (né?)}
Esse olhar?
É. Por um longo tempo, vai ser intermitente (assim): que eu “to” treinando
(ainda) aquilo.
Ai, com o tempo eu treino, (treino, treino e treino) e as experiência vão ficando
mais freqüentes e mais duradouras, até um ponto em que elas se transformam
em realizações {em que aquilo não oscila mais em condição alguma (pausa):
acordado, dormindo, morrendo, a pessoa sustenta aquela visão de uma
realização completa daquilo}.
Zero!
Até o oitavo “Bhümi” (é oitavo nível dos bodisatvas) (ainda) há algum grau de
oscilação.
Então é isso: eles olham “pra” tudo (o circo “tá pegando fogo) (eles não se
abalam) (porque eles veem que o circo é um circo ilusório) (eles olham com o
olho de raio “X”; através do circo e não sofrem com aquilo) {não (não) se
perturbam}.
205
No fato de que essas aparências não são reais o quanto parecem ser.
Então, porque que eu daria maior solidez ás aparências de hoje (em relaçã o às
de ontem)?
Mas ele leva isso até o ponto, em que (mesmo) que as aparências sejam
(assim): alguém “picotando (ele) em pedacinhos”? (Ele “tá” lá sendo torturado e
cortado e consegue sustentar esse olho), que é o que permitiu (por exemplo),
no Tibete, muitos monges serem torturados e não se perturbarem (não
gerarem raiva) (não se magoarem): passaram por dores físicas terríveis, mas a
mente deles não deu solidez às experiências (não segurou aquilo) (não
guardou aquilo): eles “tão” livres daquilo.
A dor física faz parte (ali tem um corpo humano; não tem como evitar isso,
completamente), mas como a sua mente vai reagir diante da dor (...). Por
exemplo, assim, se a pessoa “tá” lá diante de um monte de gente (e tem de
passar por uma certa dor “pra” mostrar que ela é forte) ela aguenta muito mais
do que se estivesse sozinha, fazendo aquilo.
Né?
É só ver um grande esportista numa prova assim de (você vê, por exemplo,
uma marcha atlética, uma maratona) o nível de desgaste que eles chegam
“pra” vencer aquilo (eles suportam dores, assim terríveis).
Não é assim?
Então, se a pessoa estiver num bate papo legal com alguém (pode “tá” fazendo
frio, fazendo calor) que ela vai suportar numa boa: ela “tá” lá tremendo, mas ela
“tá” lá feliz, (né?).
Então, tem (tem) o frio, mas ela não “tá” sofrendo; agora, numa outra
circunstância, que ela não “tá” curtindo aquilo (- Ai, “tá” horrível; tenho de ir
embora; não “to” agüentando mais): tem sofrimento.
206
É completamente relativa a nossa relação com as dores e etc.
Isso é fantástico.
Obscuridades mentais
Todas as idéias que nós temos sobre a realidade: tempo, espaço e etc.
207
Porque, “pra” haver medo (é isso) tem de estar sustentando alguma identidade.
Onde não há nenhuma identidade sendo sustentada, como é que vai haver
medo?
Se não tem alguém “pra” ter medo, como é que vai ter medo?
Então, como os bodisatvas (eles) estão com essa mente livre (assim, cristalina,
límpida, transparente) essa mente deles (não interessa o que estiver
acontecendo) aquilo não gera medo; não gera perturbação.
O Buda, quando “tava” sentado sob a árvore Bodhi, (é isso) ele viu os exércitos
de “Mara” caminhando na direção dele {vocês viram o filme, (né?), o “Pequeno
Buda”?}.
Os exércitos atacam, jogam flechas, jogam fogo nele (só que) (ele não tem
mais nenhuma obscuridade mental) (nada é capaz de atingi-lo).
(Você pode ver). Nós nos movemos por medo, (né?), o tempo todo: medo de
que algo ruim aconteça; medo de perder o controle sobre as coisas; esperança
de que o futuro seja melhor e medo de que as coisas boas passem.
Agora, quem tem a visão de prajna, quem repousa nesse espaço livre, não tem
esperança em relação ao futuro {esperança em relação a quê? não tem nada
melhor do que eu já (do que eu já) realizei}; chegar aonde? (não tem lugar
nenhum para chegar).
Não é assim: (quando eu conseguir isso, quando eu for para tal lugar, quando
eu tiver tal relação) eu vou ser feliz.
Isso desaparece!
Ele “tá” bem por quê? Por que “tá” repousando numa mente livre.
208
Então com liberdade não tem sofrimento, não tem medo, não tem mal-estar:
ele está bem; feliz.
Uma felicidade, que não é essa felicidade mundana (que está feliz porque “tá”
fazendo alguma coisa); está simplesmente em paz; feliz.
Ele tem um brilho de lua (assim): é leve (ééé) aquilo tem um frescor.
E ai, o Buda, nesse Sutra (ele) é perguntado (por Subuthi, (né?), o discípulo
dele, que faz as questões): {Oh! abençoado, quando (ééé) o Senhor recebeu a
transmissão do Darma, pelo Buda Dipankara, teve alguma percepção de ter
adquirido alguma coisa em sua mente?}
Não houve Darma algum adquirido; não houve conhecimento; não houve nada.
É isso que a gente tá buscando. Aqui a gente não “tá” estudando “pra”
acumular conhecimento; saber um monte de budismo, por exemplo, {“pra” falar
nas festinhas, (né?) “pra” ser uma pessoa interessante; “pra” conversar sobre o
budismo.
209
Claro que a gente faz práticas preliminares “pra” ir preparando o terreno “pra”
chegar nesse ponto de reconhecer isso.
Tudo é útil. Tudo que a gente faz (as várias práticas), todas são úteis (as
preces, as prostrações, as leituras, as conversas em grupo); tudo isso é útil e
maravilhoso; mas tudo isso “é” apenas preliminar “pra” chegar nesse ponto de
reconhecer a mente que o Buda transmite.
(47:49 – 47:52)
(48:02 – 48:06)
Pois é. Que isso quebra a nossa noção de que tem algo a ser atingido (a
sensação de que deveria “tá” caminhando “pra” alguma coisa).
A gente chega assim: não tem nada “pra” conseguir; não tem nada “pra”
chegar; (ual!! Mas que coisa!!); que caminho espiritual é esse?
(48:21 – 48:24)
Então, tem vários termos (assim) técnicos “pra” falar sobre o que (que) é essa
região.
Essa região, dessa mente livre, não é um lugar dualista. Portanto, lá não tem
(raciocínio modificando) (vocês já viram no sutra do coração; não tem nada lá
dentro: não tem característica, não é impuro nem puro, não falta nada nem “tá”
cheio, aquilo é...).
(49:03 – 49:16)
210
É o espaço vazio. Liberdade. “Tá” flutuando no espaço. Não tem chão. Não tem
tempo. Não tem dimensões (não tem grande ou pequeno).
(49:32 – 49:42)
É isso. Ai, a gente vai entender um pouco disso (intelectualmente); a gente vai
(meditativamente) tentar buscar experiência disso.
Isso vai dar trabalho: não pensa que vai ser num ano ou dois.
Não. Essa é uma boa pergunta. Você nunca vai ter que eliminar nada.
(50:09 – 50:40)
Vejam: prajna é estudado nos meios acadêmicos, mas as pessoas (não quer
dizer que elas pratiquem aquilo que elas estão estudando).
As pessoas escrevem sobre coisas, que elas nunca fizeram (que elas não tem
experiência prática sobre aquilo).
Melhor nem entrar naquilo: melhor seguir vivendo “duma” forma comum do que
entrar numa coisa que eu não vou aplicar.
(51:22 – 52:15)
É um bom sinal. Porque é isso: porque eu fico num estágio em que eu não “tô”
mais apostando no samsara completamente, mas (ainda) eu não tenho a visão
lúcida {clara, (né?)}. {Então, eu “tô” dissolvendo o samsara e eu não consegui
(ééé) ter a clareza (a tranquilidade da confiança da visão, ainda)}.
Então, leva um tempo mesmo (em que as coisas perdem um pouco do brilho,
um pouco da graça); mas eu vou re-inserindo isso através de ações positivas.
(Por isso é muito importante, enquanto eu vou estudando prajnaparamita, eu
211
vou equilibrar isso com as virtudes: generosidade, moralidade, paciência,
energia constante, porque isso gera amor, compaixão, alegria e
equanimidade).
Mesmo eu vendo que tudo é vazio e que não faz muito sentido eu quero ajudar
os seres; isso (isso) é o combustível do bodisatva.
(53:02 – 53:20)
Como o praticante não “tá” querendo provar nada “pra” ninguém. Ele se
observa nas ações. Então, ele vê quando ele “tá” sendo (generoso/falso); ele
percebe qual identidade que “tá” operando, que torna aquilo falso. Então, ele
não tem culpa: (ele não tem) ele não “tá” se “avaliando” para se julgar.
(54:01 - 54:33)
(Ual!!). Ai a você pensa: será que eu poderia (talvez) ter essa visão o tempo
todo?
212
(aquilo, também, vai te alegrando): as tuas relações vão melhorando em todas
as direções e aquilo te nutre.
(55:19 – 55:49)
A gente “tá” vendo a teoria e, quando terminar o texto, a gente vai entrar no
Roteiro de Meditação.
A gente “tá” na parte (da) (“pra”) de compreender melhor o que (si) o que (que)
é prajnaparamita e (como) (como que isso) eu posso encaixar essa visão, (né?)
naquilo que eu já conheço (assim) como é que aquilo vai se posicionar.
Uma vez entendido isso, eu vou ver como é que eu implemento isso numa
prática diária
Mas, se eu não tenho essa base (se eu não esgoto as dúvidas) na parte teórica
(que a gente “tá” fazendo aqui semana após semana) (é mais do mesmo) (a
gente “tá” esgotando dúvidas) {se eu não pensar, se eu não estudar isso e
tentar ver (onde é) onde é que eu não entendi (ainda) ai eu não vou chegar lá}
quando eu for tentar praticar (ai não vai funcionar) {eu vou “tá” pegando
prajnaparamita e vou “tá” tentando usá-la como se fosse mais um objeto (mais
uma coisa causal) (que não é o caso)}
Então, é isso: eu vou ter de esgotar essa etapa teórica (um pouquinho, pelo
menos).
Aqui, a gente não vai trabalhar no formato filosófico (que é aquele que vai
demorar anos e décadas); a gente vai usar esse método, que é baseado em
exemplos {que é o método mais direto, (né?)}: tântrico (olha “pra” coisa; não
tenta gerar uma teoria sobre aquilo; veja); (é assim que a gente “tá” se
aproximando) {que é o método que o Lama Samten tem utilizado “pra” facilitar,
(né?), o acesso a isso}.
(57:16 – 57:27)
213
Então, vem essa pergunta, (né?), essa pergunta (lida no celular) (como lidamos
com as situações prática da vida, enquanto tentamos ser simples e
experimentar o espaço?).
Todas as situações praticas (são isso) são livres, são luminosas, são vazias
(elas já são), mas eu não tenho o olho de ver.
Então, primeiro, eu treino esse olho (na meditação) “pra” quando eu levanto da
almofada e volto “pro” mundo “pras” situações práticas “pra” que eu possa
sustentar esse olho de leveza e liberdade.
Mas se eu não (se eu não) enxergar isso na meditação (sentado) como é que
vou começar enxergar isso no meio das coisas desafiadoras?
Leva um tempo.
Mas aquilo vai acontecer (acontece com todo mundo, até hoje). Por que não
vai ser com a gente?
Só que tem que ter paciência (só que não pode ser assim: vem num dia, falta
três, ai falta quatro, e ai (não entendi esse negócio de prajnaparamita).
Se ficar apenas alguma coisa aleatória vai ficar difícil obter algum resultado.
214
Mesma coisa (a motivação correta) eu tenho de contemplar os itens da
motivação (vez, após vez, após vez) “pra” que aquilo fique vivo e claro (na
minha mente).
(1:00:14 – 1:00:25)
Então, não adianta abandonar o barco no meio do rio, que a correnteza leva
embora tudo de novo.
Eu tenho que cuidar bem desse barco; eu tenho que (ééé) usar bem o barco,
(né?), guiar o barco adequadamente “pra” que eu chegue são e salvo na outra
margem.
Então, surge essa noção de orgulho vajra, ou seja, o orgulho vajra é uma
confiança de que pode aparecer o que for, que aquilo não vai me tirar da (da)
mente lúcida do Buda.
215
Por quê? Porque o que surgir, eu vou lidar com aquilo com lucidez: vou
atravessar aquilo.
(1:02:14 – 1:02:28)
Ai, vai se preocupar com quê? (Ele sabe manipular o código-fonte; o código-
fonte não o prende mais).
(1:02:40 – 1:02:46)
Ai vem uma liberdade de eu projetar o que eu quiser: eu projeto algo (não mais
“pra” mim porque eu não tenho necessidade de um filme “pra” ficar preso), mas
eu projeto algo “pra” (“pra”) entrar nos sonhos dos outros seres.
É. O Buda ele se (ele se) infiltra “dentro” do sonho dos outros seres, porque no
meio do filme dos outros ele não se perde. Então, ele ajuda os outros a saírem
dos seus filmes, também; a entenderem que o filme é apenas um filme.
Então, ele olha e entende como é que funciona {tem a tela, tem o projetor
(né?): nada de segredo nisso)}.
Como é que as pessoas ficam presas nos filmes? (Ele fica chocado).
Como é que as pessoas ficam presas nos seus pequenos filmes, (né?) e não
saem daquilo voluntariamente?
216
Elas tem de se esforçar “pra” saírem de seus filmes.
Porque elas dão tanta importância e realidade “pro” filme que elas “tão” vendo
(ao longo de muitas vidas) que elas não querem sair do filme (direito).
A gente até (não, é legal ser um Buda); mas o quê {quando a gente começa a
ver que ser um Buda é abrir mão de todas as minhas fixações, inclusive da
idéia de que eu sou um ser humano em um corpo (também, é uma construção).
(1:05:03 – 1:05:36)
Como ele tem esse olho, ele entra em qualquer filme e não se perde.
Lembram?
O Buda (ele) entra nos filmes, (ele) entra nas histórias, mas ele não se perde.
Por exemplo: ele olha “pro” filho dele com o mesmo olho de compaixão que ele
olha “pros” outros (que, claro, como ele “tá” mais próximo, ele tem que pagar as
contas daquele ser) (ele não “tá” pagando as contas de todos os filhos de todo
mundo, porque ele nem pode).
Mas ele paga as contas daquele filho {mas não quer dizer que ele tem algum
grau de apego ou olhar (assim) (ééé) especial praquele ser.
217
Por relação cármica (porque aquele ser nasceu dele) ele tem uma
responsabilidade (ele vai cuidar disso) com cuidado, (né?).
Mas ele não “tá” preso; ele não “tá” preso nos jogos.
Ele não depende do filho dizer assim (papai, eu te amo) “pra” ficar bem.
Se o filho virar as costas, bater o pé e for embora (ele: “tá” bem; como é que eu
vou seguir ajudando esse ser, que foi embora?)
Ele sempre “tá” com o olho de ajudar: ele não quer nada “pra” ele.
Ali não tem mais “ele”: não tem um ”eu” ali operando (não tem identidade;
portanto, não tem expectativa, nem medo).
Ele ajuda. Ele entra numa família e ajuda aquelas pessoas ao redor.
Ele volta “pra” terra natal dele, ele reencontra o pai, dá ensinamentos “pro” pai,
“pra” ex-esposa, “pro” filho, o filho se torna um monge (alcança a liberação na
mesma vida, também), a esposa se torna monja, o pai recebe ensinamentos.
Então, ele ajuda toda a família a se aproximar daquilo que ele encontrou.
Porque, “prum” mestre, o que (que) ele quer “pro” filho, “pras” (“pras”) pessoas
ao redor dele? (Quer que eles alcancem a liberação, porque sabe que o
samsara não vai levar “eles” a lugar nenhum; se eles seguirem o modelo
convencional do samsara, eles vão encontrar as mesmas coisas, que todo
mundo encontrou, ou seja, a frustração).
E, ai, ele entende, que não é por ali. Então, ele tenta conduzir esses seres “pra”
que eles encontrem (em algum momento) uma região através de lucidez.
Mas ele não força a barra (agora você vai ter que ser budista!) (Todo mundo
aqui, a partir de hoje, vai ser budista!). Claro que não; mas pelo exemplo de
lucidez, de amor (que “tá” ali ao redor) ele vai magnetizando todas as pessoas.
Se tem uma sala escura, uma “lampadinha” (mesmo que fraquinha, que você
ligue lá no canto) já permite ver alguma coisa na sala.
218
As mariposas já correm “praquela” luzinha.
Então, da mesma forma, o ser (que tem essa clareza) (ele) cada vez o impacto
dele é cada vez maior, (né?): ele vai atingindo mais pessoas.
(1:08:58 – 1:09:21)
Então, tem pessoas, que “tão” no meio do mundo dos negócios (e assim por
diante) e tem o comportamento de bodisatva.
O próprio Buda deu ensinamentos “pra” Reis, “pra” Generais (como é que você
vai fazer guerra com lucidez?)
Complicado.
Mas primeiro tem que ter essa mente, (né?): localizar essa mente.
Esse é o ponto.
219
Se tomamos refúgio no guru, se damos a mão
para o guru, tomamos refúgio nessa natureza,
que é a Natureza da vacuidade descrita dentro do
Prajnaparamita, se damos a mão para essa
natureza, porque é que vamos tremer na
dissolução daquilo que é artificial?
Você vê as pessoas sofrendo por times de futebol, por exemplo, (sofrendo não:
se matando).
(1:10:42 – 1:11:01)
Mas não. Tem uma rigidez das estruturas: surgem os times, ai surgem os
apegos aos times, o torcedor {que morre, quando o time toma um gol (por
exemplo)}
Então, se o menino recua, ele não precisa torcer pelo time, ele pode,
simplesmente, olhar para o time como um time; não precisa ficar apegado ao
time.
Pode até gostar do jogo, mas gostar do jogo não significa que eu tenho de me
fixar ao jogo.
Ah! Mas qual é a graça de ver o jogo de futebol se não for para torcer, (né?)
É isso: o samsara é sedutor mesmo. O samsara tem esses brilhos, (né?) Ele
nos leva a achar que é bom o jogo do samsara.
220
Sempre! Fatalmente, ela passa mal no final do jogo.
(1:12:30 - 1:13:32)
Então, esse é o ponto que a gente “tá”: a gente “tá” explorando essa idéia de
liberdade, (né?), que prajna “tá” nos trazendo (sistematicamente).
Parece que tem muitos argumentos “pra” nos mostrar que não é verdade (que
prajna é uma enganação), (né?): o samsara (ele) tenta nos desdizer; o
samsara tenta dizer assim (não: prajna é besteira; o mundo é real; o mundo é
isso ai; o mundo tem que lutar por ele).
E prajna “tá” tentando nos tirar desse engano, porque o mundo não nos oferece
o que nos promete (promete uma felicidade baseada na acumulação de coisas
e de relações e de coisas transitórias); mas aquela felicidade é uma felicidade
fugidia, (né?): não permanece; é impermanente (portanto, é insatisfatória).
(1:14:55 – 1:15:10)
Nele a gente não vai encontrar a felicidade (que é aquilo que a gente fala: o
samsara não é o mundo em si; é a forma como eu opero em meio ao mundo)
(o samsara não é um lugar: é um modo de operar a mente), lembrando sempre
isso.
Tá? (1:15:25)
221
VÍDEO 11
RECAPITULAÇÃO
Espaço novo.
(5:47 – 6:14)
(6:54 – 7:09)
(7:14 – 7:37)
Vamos lá.
Muito bem.
222
Quem está chegando aqui pela primeira vez {nesse grupo de
terça, (né?)}.
(7:41 – 10:27)
Muito bem.
Ual!
(11:28 – 11:32)
223
preguiça, carência, raiva, competição, (assim por diante), raiva e
medo (muitas classes de emoções perturbadoras, que nos
afligem).
Tudo bem?
Superimportante, (né?)
Visões falsas são as idéias que nós temos sobre a vida. Por exemplo: fixação à
ideia de um “eu”; a fixação à ideia de realidade separada dos fenômenos, das
coisas.
Isso tudo são visões errôneas. São modos de operar a mente deludidos;
enganosos, que nos prendem às experiências e nos fazem sofrer novamente.
Da mesma forma, os Budas olham para nós (adultos, né?) e sorriem, porque
eles veem como nós nos prendemos a coisas tão pequenas e aquilo toma uma
proporção gigantesca (e, ai, a gente passa mal).
A pessoa quando perde uma nota de 20 Reais (ela fica chateada, porque
perdeu); de 50 Reais (pior ainda); se for de 100, ela já ”tá” querendo cortar os
pulsos {porque perdeu a nota, (né?)}.
Então a gente (realmente) estrutura a nossa vida com alicerces pouco sólidos:
a gente, (né?) (ééé) constrói sobre a areia movediça: a gente tenta estabilizar
aquilo que não é estabilizável (e a gente passa mal).
Então, agente precisa ter esse olho, que não se fixa às coisas (e, ai, a gente
não vai ter problemas quando as coisas se moverem, a gente vai ser como
bambu: vai para um lado; vai para o outro, mas não quebra).
Né? É bem interessante essa imagem do bambu, quando ele vai desviando,
(né?) dos ventos (assim).
A gente precisa criar essa mente flexível diante das experiências: mente firme,
rígida, dura demais, quebra {tem apego à idéia, às visões variadas (políticas,
religiosas, filosóficas, econômicas); são pessoas que sofrem muito, porque o
mundo vem e desdiz o que elas acreditam, ai elas xingam , passam mal, se
debatem}.
225
Então, as
Nirvana. Nirvana é uma palavra muito conhecida, (né?), no budismo. Ela traz
esse (quê; de sensação): liberação do sofrimento.
Ou seja
226
Percebem a diferença?
Tudo bem?
Então, a gente vai seguir esse caminho, a gente vai transcender todas as
visões falsas “pra” atingir o derradeiro nirvana: o nirvana último (final, né?).
(18:43 – 18:48)
LUCIDEZ – SAMASATHI
Então, quando eles estão no meio das experiências, eles não veem mais as
experiências (ééé) como umas experiências reais (mas eles veem como cenas
de um filme).
227
E eles são expectadores (no meio desse filme); eles não são mais
personagens presos no filme.
Então, é um exemplo, que o Lama gosta muito de usar (é esse): tem a tela do
cinema (“tá” passando um filme).
Então, a gente “tá” ali, (né?), olhando, (né?) “pro” filme passar.
Ai eu sorrio, porque eu vejo que as cenas do cinema nada mais são do que luz
projetada numa tela branca.
Ai, como é que eu vou sofrer por causa do filme, quando eu reconheço que o
filme é apenas um filme?
Nas nossas vidas é a mesma coisa: quando eu não reconheço que as cenas
que estão passando são apenas cenas de um filme, {ai, eu “to” lá, como o
personagem de uma novela, dramatizando a coisa, sofrendo, chorando (e
passando mal); me alegrando}.
Então, a gente “tá” assim: (“tá” bem; “tá” mal; “tá” bem; “tá” mal).
Esse é o processo do filme: nós somos como artistas que “tão” presos numa
peça de teatro, que não reconhecem que “tão” na peça.
Eles não tem mais dúvidas de que todas as experiências são vazias: não tem
nada mais que possa pegá-los (que possa prendê-los).
Percebem isso?
A gente já usa disso o tempo todo; tem milhares de experiências nas nossas
vidas, que não nos prendem: a gente transita numa boa, leve”s”, tranqüilo”s”,
(né?).
228
Então, por exemplo, tem pessoas que são, naturalmente, pacíficas {mesmo
que alguém as provoque no mercado, por exemplo, assim (alguém, assim te
provoca, toma a tua frente; ou reclama alguma coisa com você) tem gente que
(numa boa) nem entra naquilo, (né?) e seguem o seu caminho}: não entram no
jogo; não é absorvido pela experiência.
Tem pessoas que não tem (por exemplo) preguiça (preguiça não é uma noção
perturbadora, que as pegam): a pessoa sempre tem energia “pra” fazer alguma
coisa; “tão” sempre dispostas, (né?) (acorda cedo “pra” meditar) (...).
“Pros” outros não: “pra” outros (assim), tem uma dificuldade de se mover
(assim) freqüente (dá preguiça, vontade de não fazer nada): sofá, sorvete e
Netflix.
Tem gente, que não consegue ficar meia hora assistindo um filme: tem que
fazer alguma coisa. E tem o contrário, também, os hiperativos.
Então, a gente pode “tá” livre”s” dos dois extremos (ou da preguiça e da
hiperatividade): o que tem de fazer, vai lá e faz; depois descansa (assim vai no
movimento, tranquilo).
Não tem mais raiva; não tem mais medo {porque “pra” ter medo (“pra” ter
medo, numa experiência), tem que ter uma identidade operando, que quer
sustentar alguma coisa de algum jeito}.
Então, medo do quê (ele vai ter)? Ele não tem medo nem de morrer (mais).
Então, ele “tá” leve; ele “tá” fluído; ele “tá sorrindo “pra” tudo.
229
Percebem como é fácil de (de) entender isso? (Fazer é um pouquinho mais
difícil); mas entender que essa (que essa) liberdade pode ser exercida é fácil,
(né?)
Não ter medo, não ter raiva, não ter orgulho (orgulho do quê?); {O que (que); o
que (que) um ser humano (sozinho) pode fazer de novo (de diferente), que já
foi feito por todo mundo no passado (e muito melhor, inclusive)? (né?) (Oh! O
melhor, o mais rápido homem do mundo; ai, depois vem um mais rápido;
depois vem outro (tudo vem sendo superado). Não tem nada que a gente faça
que seja motivo de grande orgulho (de se achar a grande coisa).
A gente vai vendo. Não tem (raciocínio modificado) (tudo leve; tudo fluído: não
tem orgulho)
É. Ciúmes, por exemplo. Ciúmes do quê? A gente não consegue possuir nada
(não tem nada, que seja nosso). Nem objetos e, muito menos, pessoas (ou
idéias, ou títulos, ou cargos)
Apego. Como é que você vai se apegar a nuvens no céu? (Ah! A nuvem se
desmanchou. Eu “tava “tão” feliz. Aquela nuvem parecia um trenzinho).
E a nossa vida é assim: são nuvens que vão passando e vão se dissolvendo,
sistematicamente.
230
A gente “tá” andando na rua, num dia de chuva, ai vem um carro e nos
(ESFLECH): nos lava, por exemplo.
Ai, eu lido com leveza com a experiência, (né?): eu não entro na solidez.
Ele vai deixar de fazer aquilo (da próxima vez) (ele nem viu).
Não quer dizer que a gente não vai exigir os mesmos direitos; não vai ter uma
posição ativa, socialmente: não é isso!
A gente vai fazer o que tem de ser feito: vai corrigir os desvios sociais; a gente
vai atuar.
A gente vai atuar de modo leve, sem apego às bandeiras que a gente vai “tá”
levantando.
Né? A gente não tem apego nem à ecologia; nem à igualdade social {não tem
apego a nada, nem a si mesmo [nem ao corpo]. Por quê? Porque o bodisatva
reconhece que todos os seres [eles não tem um ”eu” fixo, (né?): eles não tem
solidez alguma]}. Então, por reconhecer isso, como é que ele vai, (né?), {como
é que ele vai [ééé] se perder no meio dos vários “ismos”?}
A gente pode fazer as mesmas coisas {ações sociais [e seja o que for], mas de
fora: destacados da experiência}.
(pausa)
Faz sentido?
(pausa)
(27:46 – 28:00)
231
O bodisatva opera, numa outra base, (né?), como ele tem essa liberdade (ele
opera por sabedoria); ele vê o que {que} é benefício para os seres {sempre
pensando no todo; no coletivo}.
Ele opera a partir dessa base: ele faz o que tem de ser feito a partir dessa
base.
Ele não opera mais a partir de uma base (assim): {Ah! Isso eu gosto ou isso eu
não gosto; isso é bom “pra” mim; isso não é bom “pra” mim}.
Como seres egóicos, (né?), como seres autocentrados (como nós), a gente
opera sempre querendo tirar vantagem: o máximo de benefício para mim e o
resto eu ajudo um pouquinho; mas (sempre) eu me coloco no centro da minha
mandala, (né?): eu sou o centro do meu universo.
O bodisatva, ele não pensa mais assim. Ele se liberta dessa necessidade de
ficar, (né?) (assim) de ficar elevando esse ego; e polindo, e limpando e
cuidando desse ego.
E ele é tranquilo com isso e, quando ele não consegue, ele não passa mal,
porque ele não tem apego à própria ação.
Por exemplo, o Buda tentou ajudar muita gente, mas muita gente não quis a
ajuda do Buda. (porque, para ser ajudado, alguém tem de querer ajuda).
E ai, você acha que o Buda passava mal, ficava deprimido {quando não
conseguia ajudar as pessoas}?
Não. Ele não opera mais a partir de uma base egóica, assim: {eu quero ajudar
o outro}; o Buda, apenas, emana ajuda.
(29:32 – 29:36)
232
O sol “tá” lá, uma estrela de quinta grandeza amarela, que deve durar mais uns
quatro bilhões e meio de anos.
Ele amana luz e calor em todas as direções {e o sol cobra tarifa de energia [por
exemplo; tem bandeira vermelha; bandeira amarela na conta de luz do sol?]}
Então, o Buda é como um sol {ele emana aquilo e não vai cobrar nada: não vai
olhar “pra” traz}: ele, apenas, manifesta isso {de modo impessoal}
Maravilhoso.
Atingem completamente...
Ou seja
Não adianta assim: {eu sou uma pessoa livre, serena, tranquila e estável
[enquanto não acontece nada de ruim comigo], ai, eu sou lá [um grande
praticante], vou “pra” sanga, mantenho um pose de energia estável, equilíbrio,
(né?); [converso sobre coisas elevadas; sobre os vários livros, que li]; aquela
coisa assim, (né?); mas quando alguma coisa sai do eixo, eu me perco,
completamente [a minha energia oscila e eu me pego respondendo de um
modo convencional (como qualquer outra pessoa que nunca praticou, que
nunca ouviu nada do Dharma)]}
233
“Pra” atingir a iluminação completa e insuperável, eu vou ter de olhar para
todas as regiões obscuras. Todas. Então, por isso, é bom fazer uma listinha de
coisas que me perturbam.
(31:42 – 32:00)
Vale a pena.
Porque é isso: são incontáveis regiões difíceis, (né?) de penetrar, mas aquelas
que eu começo a olhar, eu já começo a ganhar mais liberdade {um pouquinho
que seja}.
Um pouquinho que você trabalhar, você vai ver que é um GRANDE passo.
Você tem um caderno e você anota a situação que você vai analisar.
Você se torna um (um) praticante que olha (olha) “pra” si mesmo; olha “pros”
seus sonhos; olha “pras” suas atitudes em meio ao mundo; {antes de dormir, [à
noite], observa o que passou durante o dia}.
Ai, você passa aquele “filminho” de novo e olha com outro olho.
Né? Não é assim {só entender a prajna: eu tenho de aplicar nas várias
situações perturbadoras}.
234
Essa é a idéia.
Isso acontece MUITO com os praticantes: a pessoa faz MUITA shamata {ou
seja, a prática de concentração [equilibra energia, foco único, silêncio (ela vai
gerando uma estabilidade)]}.
Mas isso não significa que ela está lidando com as regiões de perturbação.
Ela (ela) gera uma casca de proteção, que é perigosa: ela se isola do mundo,
através de shamata.
Aqui não: aqui a gente ”tá” invocando nossos demônios internos (um por um)
“pra” olhar “pra” eles.
Ai, quando brota causas e condições que acionam aquela região {alguém vai lá
e levanta o tapete [de repente] tá cheio de verme ali}.
(35:18 – 35:25)
235
Quando o Lama (fala assim) com dor é melhor (por quê?) porque eu encaro as
regiões de dor.
Eu tenho que olhar “pros” abandonos, pras” rejeições, “pras” raivas, “pros”
medos, “pras” traições, “pros” (“pros”) roubos, (né?), “pra” todas as situações
perturbadoras (ééé), que nos infligiram e que a gente infligiu aos outros.
A gente vai ter de olhar “pra” tudo: vai ter de dar uma limpada geral (assim) na
(no porão da casa).
(35:57 – 36:12)
É assim: são muitas vidas de lixo psíquico, marcas mentais confusas, vidas e
vidas e vidas.
E nós somos o resíduo cármico de tudo isso: o resto da equação (nós somos o
que sobrou disso).
Tem esse carma {que a gente tem de liberar, (né?)}, mas tem uma região de
lucidez operando (sem dúvida).
Então, mesmo que nós tenhamos muita confusão, tem regiões nossas de
sabedoria que “tão” operando (o tempo todo). Não somos 100% ruins e não
vamos nos tornar 100% bons, um dia. Não! {A gente tem lá [varia] esse
gradiente de luz [ai], que brilha}.
.Tem hora que a gente “tá” mais lúcido mesmo: 70%; tem horas que cai para
30, tem horas que cai para 5%: tudo escuro; só vê confusão.
Mas como a gente quer alcançar a liberação; a gente não vai alcançar a
liberação (por exemplo) apenas festejando o que eu tenho de bom.
236
Então, uma vez na sanga, o Lama brincou assim, (né?) (ééé) sempre ter uma
confusão (assim) de ex-namorado; de ex-marido; de ex-mulher, filho. Ai o
pessoal [(-Ai! Lama), eu estou sofrendo; que não sei o quê]. Ai, o Lama dizia
assim: (Não, por favor, namorem bastante, (né?) e, se tiver confusão, melhor
ainda, se tiver confusão).
Porque é isso: a pessoa “tá” tomando refúgio naquilo, achando que vai
alcançar a felicidade através daquilo.
Então, é melhor que esgote aquilo rápido; que veja que não é por ali.
Ai, (né?), lá pelo 25º casamento... {É, (né?), esse negócio de casamento é
meio complicado).
Não é isso, a pessoa (ela) alcança a felicidade pela lucidez da prática; ai ela
casa, namora, ou não namora (o que ela quiser).
Ela “tá” bem, sozinha ou com alguém: então, aquilo tanto faz.
Muito bem.
237
É preciso ter uma abertura e honestidade total consigo mesmo; não esconder
coisas de si mesmo; se olhar e aperceber {sim, eu fiquei feliz porque aquela
pessoa [ela “tá” me dando trabalho] ela foi embora [que bom que ela foi
embora]}.
É muito comum.
Ai, quando a outra pessoa morre (Ufa!!). Ai, a pessoa fica mal, porque se sente
{porque está sentindo aquilo: ela (ela) não poderia sentir isso}.
Então aqui, a gente não tem esse tipo de julgamento: não tem essa história de
(não deveria estar sentindo isso).
A pessoa deveria olhar para tudo: todos os impulsos por mais que primitivos e
negativos; a pessoa vê uma cena de violência, num filme, e gosta, por
exemplo.
Então, a gente tem (raciocínio interrompido). Por que a gente tem uma atração
enorme por filmes que envolvem violência, sexo, traições, roubos e, assim por
diante?
A gente olha “pros” filmes (raciocínio interrompido). É difícil um filme que retrate
uma vida comum, de uma pessoa (que faz tudo direitinho), de uma pessoa que
é eticamente correta.
(40:50 – 40:57).
238
A gente gosta de séries {séries com os temas super, (né?) complicados
(assim)}.
É assim.
Porque Isso mexe com as nossas regiões escondidas (que a gente nega).
A gente está nutrindo, mas finge que não tem muito aquilo, (né?).
Eu acho o cinema (os filmes) muito úteis: sevem “pra” muita coisa. Tem que
dar um show de emoções perturbadoras {e de maldades, (né?)}.
Ai você se vê, (né?) localizando em você as coisas assim {daqui a pouco você
está lá, torcendo pelo bandido, [né?], [quem não gostou de Pablo Escobar?
(em “Narcos”, por exemplo) (Wagner Moura, “simpaticão, né?]}”.
Então, olhem para isso (assim), a gente deveria anotar essas conexões com os
vários reinos negativos (assim).
Não é?
“Caixas de BIC”.
239
dizer que é vazio, que pode sair dali. Que não se
precisa ficar preso. Então é necessário que todos
esses lugares sejam visitados.
Tipo (tipo assim): acordem; saiam; vocês não são isso que vocês acham que
são; vocês se construíram dessa forma e, portanto, “tão” nessa situação; vocês
tem (a cada instante) vocês tem a liberdade de sair disso.
As pessoas, (elas tem assim), elas chegam para os seus problemas e dizem: a
não! É assim, porque “tá” acontecendo isso; porque tem aquilo; porque tem
aquela pessoa.
Ai o Buda vem e vai dizer: todas essas situações (sem exceção) são
completamente vazias.
Porque (éé) não há uma (uma) (o Lama) [o Lama adora esse exemplo (assim)]:
você “tá” numa sequência numérica {1, 2, 3, 4, 5, 6 [então a pessoa acha
(então, “tá”) 7, 8, 9 (mas o que impede que, em algum momento, eu diga 63;
137)}.
Quem determinou que a sequência tem que ser do jeito que vinha vindo (até
hoje)?
Então, a gente não precisa manter essa coerência com a sequência passada
(de forma alguma).
240
Dá alegria só de imaginar (Ual! É mesmo, eu não preciso!). Eu não preciso
cumprir os papéis que a minha família me impôs. Não preciso ficar trabalhando
com a mesma coisa (“pra” sempre). Não preciso sustentar as identidades do
meu nome (o que eu quero que os outros achem que eu sou).
Fantástico?
É isso que a gente “tá” fazendo aqui, sistematicamente: a gente (repete, repete,
repete, repete); vai ficando (mais claro, mais claro); (medita, medita);
(conversa, ouve, escuta, lê, estuda, ouve vídeos na internet) e aquilo vai
(avançando, avançando, avançando) a gente vai ficando, cada vez, mais
capaz”es” de lidar com as situações.
E quando eu “to” fixado num ego (numa identidade meio cega), que não tem
um observador {é isso, o ego é como se fosse assim [né? ele “tá” dentro (dum)
duma bateria (assim) antiaérea (então “tá” passando aviões e ele “tá” lá – TÁ,
TÁ, TÁ, TÁ, TÁ, TÁ, TÁ, TÁ, TÁ -, tentando derrubar os aviões)]}.
Então o ego opera dessa forma. Ele “tá” autocentrado: Ele não tem tempo “pra”
(“pêra” ai: vamos olhar para nós, aqui). Ele “tá”, apenas tentando derrubar os
aviões que “tão” atacando “ele”.
241
Ele olha “pro” mundo com esse olhar [eu contra os outros, (né?)].
Ele não percebe que o olho dele cria o avião (junto com o avião: não há avião
separado dele).
Inclusive, esse observador (ele é coemergente): ele não é real, também; mas,
por um tempo, eu uso esse observador como uma ferramenta de prática {é
uma região mental [que eu crio (artificial)]; mas esse observador da meditação
é superútil [eu crio ele]}.
Né?
242
Guru Rinpoche depois de andar no Tibet foi para
a Terra dos Demônios canibais, porque lá havia
outras regiões rígidas, fixas.
Não é?
Vamos pensar: nós vivemos numa terra meio assim, (né?), vamos pensar que
no Brasil, por ano, morrem por morte violenta 56 mil pessoas.
Morte violenta.
De 2011 a 2015 morreu mais gente (por morte violenta, no Brasil) do que na
guerra da Síria, por exemplo.
Lá (eles “tão” lá) com aviões, tanques, mísseis e (aqui) no “revolvinho”, (né?),
na metralhadora (ééé) morre mais gente do que lá.
Tem violência.
Mata fácil.
A bala perdida já “tá‟ virando uma coisa super comum (notícia de bala perdida,
toda semana tem).
243
Então, ao mesmo tempo, eu tenho (aquilo que é de bom) e (aquilo que é de
ruim).
Então, a gente tem esse misto (assim) no reino humano, (né?), as situações
mais auspiciosas e menos auspiciosas.
Por exemplo, as pessoas não se sentem muito bem (sei lá) no cemitério (muita
gente não gosta de cemitério).
Então, Brahma, Vishnu e Shiva (ééé) “pra” quem conhece um pouco, (né?), o
pessoal que pratica yoga ou já passou por outras correntes hinduístas (sempre
tem essas explicações).
“Pra” nós, (né?) - um monte de nomes, (né?) -; então, na visão budista tem
Kuntuzangpo (o Buda Primordial), de onde brotam todas as construções, (né?
Samantabadra é Kuntuzangpo) (primordial).
244
Ai, Chenrezig a gente poderia dizer que esse que mantém a compaixão e o
amor operando em meio ao mundo (mantém tudo funcionando), tudo
sustentado por amor e compaixão e o Guru Rinpoche vem e destrói as
construções, (né?), ele mostra as artificialidades das construções e como
perfurá-las.
É a mesma coisa. Não há um Buda [como se fosse uma Entidade, (né?)]: ele é
(apenas) (é) simbólico. {Essa é a grande diferença [por exemplo,] do Brahma
[do hinduísmo] “pro” [“pro”] [ééé] Kuntuzangpo do budismo, (né?).
Esse nosso Kuntuzangpo não é um (um) Deus criador primordial (não há isso
no budismo); ele representa essa qualidade Primordial da Mente, (né?) (essa
Liberdade Primordial), que é a mesma liberdade de todos os seres.
Não é?
É diferente, (né?).
O Lama “tá” fazendo (aqui) um paralelo (apenas) com as funções, mas não
quer dizer que seja a mesma coisa, (“tá”?); de modo algum, filosoficamente
(aquilo) é bem diferente.
245
Por exemplo, Cultura de Paz, Responsabilidade
Universal seria Vishnu. Precisamos estruturar a
Vida Humana Preciosa porque ela é a base para
podermos atingir a liberação. Se não tivermos
tudo organizado por Vishnu, Shiva não tem como
destruir direito isso. Se a destruição for
condicional, ela não é destruição de Shiva. A
destruição de Shiva é a destruição mesmo.
Enquanto não estiver organizado na minha
frente, não consigo matar! Então Vishnu
organiza, pacifica e entrega, e aí Shiva, clept!
Então, a idéia é essa, (né?), se a pessoa “tá” muito confusa no samsara, muito
desorganizada, é difícil “pra” ela se libertar.
Então o Buda vai dizer, (né?): evite as ações não virtuosas, cultive as ações
virtuosas; pratique amor, compaixão, alegria, equanimidade; generosidade,
moralidade, paciência, energia constante, concentração e sabedoria.
Então, vamos organizar; vamos nos relacionar bem; vamos nos alimentar
direito, “pra” manter a saúde; vamos ter rotinas adequadas para preservar
nossa vida; e assim por diante (a gente organiza tudo).
(Ai, funciona melhor), porque se eu tento cortar quando está tudo confuso,
aquilo não funciona muito bem.
É difícil.
Pode ver, uma pessoa muito perturbada, como é que ela vai sentar para
meditar?
Não consegue. Ela não consegue nem conversar direito (ela “tá” mal: “tá”
tremendo, “tá” chorando, “tá” perturbadérrima).
246
Como é que ela vai sentar e olhar para a própria mente?
Impossível.
Então, primeiro tem que dar uma organizada nessa (nessa) confusão mais
grosseira no mundo [(e ai, é o método causal), tem de organizar a própria vida
(ela tem de se afastar das emoções negativas e tem que cultivar as
qualidades)]
E ai, quando a gente tenta ajudar essas pessoas (a gente tenta fazer isso): vai
conectando “elas” com atividades positivas; a gente vai oferecendo chances
“pra” elas gerarem méritos (“pra” elas praticarem generosidade; “pra” elas
ajudarem.
O CEBB (aqui) nada mais é do que isso [a gente aluga um espaço desse,
monta e organiza (“pra” que muitas pessoas possam ajudar, possam fazer
coisas, possam participar), porque as pessoas vão organizando, vão gerando
méritos e, ai, a prática delas vai melhorando].
(57:38 – 58:29)
Eu vou ter de olhar “pra” tudo. Só que eu não vou olhar “pra” tudo de uma única
vez. Vou aos poucos: eu vou montando a minha listinha, (né?); eu vou olhando
aos poucos (o que eu tenho de olhar).
Por que o que ele “tá” dizendo aqui é que eu deveria (“pra” chegar nesse ponto
de fazer isso), olhar “pras” coisas difíceis, eu deveria ter uma etapa
preparatória (que é essa etapa de gerar virtudes; de (éé) se afastar das
negatividades [no sentido prático da coisa, (né?), (não gerar mais
negatividades), (né?), não praticar as ações não virtuosas (matar, roubar, sexo
impróprio, mentira, fala agressiva, fala separativa, fala inútil, (ééé), visões
errôneas, avareza e má vontade): as dez ações não virtuosas (principais) e
todas as suas derivadas, (né?).
247
Então, eu evito esse tipo de comportamento, porque aquilo vai melhorando a
minha vida a vida das pessoas ao meu redor.
Quanto mais eu avanço nisso, mais preparado eu fico “pra” poder olhar “pras”
regiões difíceis.
Ai, quando eu lido com as minhas sombras (e vou pacificando e vou vendo o
vazio daquilo) ai, eu tenho mais liberdade (ainda) interna “pra” poder praticar as
virtudes e evitar as não-virtudes.
O programa vai se tornando naturalmente positivo, sem ter que (sem ter que
me esforçar).
No início, eu me esforço “pra” não fazer bobagem e “pra” fazer coisas boas.
Ai, quando vou liberando essas regiões cármicas, ai, naturalmente, eu vou (ai,
naturalmente não brota a vontade de fazer ações negativas): não tem de ter
controle mais: aquilo foi liberado; aquilo não “tá” sendo mais controlado por
disciplina.
Percebem a diferença?
(1:00:33 – 1:00:54)
Quanto mais eu cuidar das pessoas ao meu redor e fizer ações virtuosas,
melhor eu vou ficar: mais protegido eu “tô”.
Claro que não é numa relação linear (assim), tão simples, (né?); mas você vai
(plantando, plantando, plantando) isso e aquilo vai, naturalmente gerando
frutos: é muito interessante (assim).
“Pra” eu destruir, (primeiro) eu tenho de ter uma clareza do que eu vou destruir.
Então, eu preciso organizar o meu samsara básico, “pra”, daí, (TIUFI): cortar
através dele.
Esse é o processo.
(1:02:00 – 1:02:36)
No caso da criança (ainda é um método causal) ela aprende (que ela sofre),
(né?), quando ela bota o dedo na tomada.
Aqui, prajnaparamita, olha “pras” sombras e não (e não) é uma coisa mais
causal em que eu vou resolver as minhas sombras.
Não é nada disso: eu vou olhar “pras” sombras e vou ver a vacuidade da
situação (que parecia sombria).
(1:03:24 – 1:03:32)
Aqui (aqui) não tem mais (nem mais) esse terceiro observador. Aqui,
simplesmente, tem liberdade no meio da sombra: aquilo que gerava sombra
(não tem mais, agora); tem, apenas, espaço e liberdade.
Então, eu não “tô” resolvendo, eu não “to” trocando por uma coisa melhor; e eu
não “to” olhando “praquilo” de fora; eu “to” no meio daquilo com liberdade.
Isso é prajna.
249
Então, prajna é isso, ela (ela) é o repouso (na paz) de (ver) que aquilo não é
real; não é sólido.
A gente tende a insistir nos vários métodos causais, (né?), porque a gente só
sabe operar através da causalidade.
Pode ver.
(1:04:28 – 1:04:42)
Então, prajna (eu quero resolver) (eu quero usar o prajna como antídoto para
os meus sofrimentos).
Essa é a nossa tendência, (MAS NÃO É ISSO!): prajna é uma sabedoria que
me ajuda a perceber que nunca houve um sofrimento real.
(1:05:14 – 1:05:37)
Tem no budismo, também, métodos causais. Métodos em que você pega uma
coisa e transforma numa coisa melhor (claramente tem isso no budismo. É
ótimo).
Bom, também.
(1:06:12 – 1:07:01)
No samsara usual, é como se fosse assim: o filme “tá” rodando e você não
acha que tem como mudar o filme (você, simplesmente, segue); ai, dentro do
budismo, eu tenho métodos causais “pra” transformar um filme de terror (por
250
exemplo) num filme tranquilo (eu vou transformando o filme; mas ainda “to”
dentro do filme): eu tenho técnicas e práticas “pra” melhorar o filme (mas ainda
é filme).
Então, prajna faz isso: eu vejo que prajna não “tá” resolvendo (não “tá”
mudando o filme); prajna “tá”, apenas, olhando o filme com clareza; com
lucidez.
Percebem a diferença?
(1:07:50 – 1:08:20)
É isso, até que aquilo não me afete mais (e solto o filme de novo)
Vocês estão brincando, mas um amigo meu fez isso com um filme de terror (ele
gostava muito de filme de terror). Ai, ele começou a fazer essa prática [no meio
de uma cena bem macabra ele dava um (pause)]. Ai, sem o som, com a
imagem parada (ele olhava praquilo); aquilo começou a perder o poder (foi
perdendo o poder de envolvê-lo no filme)
Ele começou a fazer isso várias vezes, ai, daqui a pouco (ele tava livre de filme
de terror).
(1:09:17 – 1:09:44)
Pendências.
Segue o filme.
251
Procurar uma cena mais fácil: não vai resolver tudo de cara [vai resolver o que
for possível (vai olhar e atravessar)]
“Tá bem?
Esse é o método.
Então, a gente “tá” avançando [então, a partir do Sutra do Coração, a gente vai
cada vez mais entendendo melhor o método (e como a gente vai aplicar isso)].
Tudo bem?
A gente vai entendendo isso, teoricamente (em algum momento, a gente vai
localizar isso, meditativamente).
Ponto zero.
(pausa)
Então, “tá”.
252
VÍDEO 12
RECAPITULAÇÃO
Vamos “pra” três meses, que a gente “tá” estudando esse texto,
(né?), do Lama Samten (o texto sobre a Perfeição da Sabedoria
Discriminativa - Prajnaparamita), um dos temas centrais, no
budismo (como um todo), especialmente no budismo mahayana
(e no budismo tibetano a gente vai sempre trabalhar esse tema).
É a base de todas as práticas.
253
simultaneamente (inseparáveis) e, portanto, não existe
(independentemente; por si só).
A gente vai quebrando isso: vai olhando com uma visão de fora
(uma visão mais lúcida; mais distanciada dos fenômenos).
254
Então, não são, apenas, idéias, que nos prendem [são vícios; são
sensações agradáveis (movimento de energia, que nos arrastam
em várias direções).
Tudo bem?
A gente “tava” falando (na semana passada) (uma comparação), que o Lama tá
usando [a partir da Trindade Básica hinduísta, (né)], Brahma, Visnu e Shiva,
(né?), o Criador, o Mantenedor e o Destruidor [a gente “tá” olhando (aqui) em
termos de prajnaparamita, o que (que) isso significa: o que (que) seria esse
destruir (decompor os fenômenos) e nos libertar da solidez da prisão dos
fenômenos].
Não é destruir com o sentido de eliminar as coisas, mas nos libertar das coisas:
a gente não precisa destruir algo “pra” nos libertar daquilo.
Né?
255
Às vezes a gente faz isso; na vida, (né?), na vida, é muito comum a gente
(quando quer se livrar de alguma coisa) a gente tem que cortar aquilo; tem que
se afastar (ou destruir fisicamente mesmo).
Agora, prajna, não. Prajna é a sabedoria, que me permite, olhar “pra” coisa (e
sem precisar me afastar ou fugir da coisa) eu posso me libertar das fixações
que eu tenho em relação à mesma.
Então, todo o sofrimento do samsara brota do apego [da mente que se fixa a
idéias, emoções, pensamentos, pessoas, objetos: (coisas em geral]; a mente
se fixa; um vez fixada, ela tenta sustentar aquilo como algo (ééé) permanente
(fixo); só que todos os fenômenos, sem exceção, são impermanentes.
Então, a mente que não sofre é a mente que se liberta do apego deludido às
coisas.
Quando eu tento sustentar (por exemplo) uma identidade que não “tá” mais
dando certo [(né?), aquilo não “tá” mais funcionando bem; mas eu tento (faço
malabarismos “pra” manter aquilo; as pessoas não dão mais nascimento
“praquela” minha identidade, por exemplo)].
Ou, por exemplo, uma casa. Uma casa “tá” o tempo todo em decomposição: a
impermanência “tá” atuando, constantemente {você arruma, estraga; arruma,
estraga; arruma, estraga [a gente pinta a parede, alguém encosta a cadeira, cai
256
um pedaço da (do) reboco da parede; a gente arruma o interfone, o interfone
estraga de novo, (né?)]}.
Só que essas causas e condições, elas oscilam (também, por sua vez): elas,
também, dependem de outras causas e condições.
Muitas cartas empilhadas e, quando você puxa uma carta (daqui); uma carta
cai; bate um ventinho; ai cai um pedaço do castelo.
Esse é o nosso sonho (pausa) (pausa), mas no samsara (isso) não funciona.
Não funciona não é porque existe alguma força contrária (algum ser, como o
Maharaja, por exemplo), se houvesse alguma entidade que nos enferniz”a”.
Quando eu digo que elas são vazias, eu não “to” dizendo que elas não existem:
eu não “to” dizendo que elas são inexistentes (são, apenas, uma alucinação);
quando eu falo que elas são vazias, eu “to” dizendo que elas não tem
substancialidade alguma.
257
Todos os seres, todo (todo) o relevo, todos os planetas, todas as estrelas; tudo
tem um prazo de duração; aquilo surge por causas e condições, dura um certo
tempo e (naturalmente) desaparece [e, quando desaparece, não sobra nada
(pausa): não sobra nada].
Mas, o nosso apego é muito profundo; é muito antigo; então, nós operamos
através dessa mente (é) (é) deludida, sistematicamente. Então, a gente erra e
repete o mesmo erro (cognitivo) momento, após momento.
Então, a meditação de prajna vai ser a meditação, que vai tentar nos colocar na
posição de mente (que se destaca desse processo) de fixação; de se agarrar
às coisas.
(pausa)
Fantástico?
Por exemplo, nas relações afetivas, por que (que) as pessoas sofrem?
Impossível.
258
Aquilo é naturalmente fluído.
Não é assim?
(18:36 – 18:51)
Uma série de (de) marcas, que nos condicionam [é como se a gente (uma
imagem, que o Lama Samten nos dá, assim) é como se a gente tivesse muitas
agulhas espetadas no corpo todo. Quando, alguém vem e aperta numa agulha,
a gente passa mal, (né?): aquilo dói.
A gente tem de aprender a sorrir “pra” isso. Por isso que prajna não é uma
coisa seca, dura {a gente fala de vacuidade [é como uma coisa filosófica,
abstrata (ééé) apenas para os eruditos]}.
Nada disso.
Prajna é uma inteligência criativa {um novo modo de ver as coisas, que me
deixa leve, que me traz um sorriso, que me permite sorrir perante o Maharaja,
[quando ele vem e me toca com a impermanência (vamos dizer assim)]}.
É super libertador.
259
E, “pra” fazer isso tem muitas formas, por exemplo, no final de semana a gente
teve com esse grande mestre, “Tenzin Wangyal Rinpoche” (a gente teve um
final de semana com ele); então, ele vai dar uma abordagem energética de
como trabalhar com (respirações); como trabalhar com visualizações; como
trabalhar com exercícios físicos (iogas variadas); “pra” você mexer com a
energia; mexer com os ventos e canais, que mexem diretamente com a
estrutura mental.
Então, tem métodos mais focados no corpo, métodos mais focados na energia
e métodos mais focados na mente.
A gente vai trazer esse nível mental também “pra” desfazer os nós energéticos.
É necessário.
Isso pode chegar ao ponto (por exemplo) [muitos mestres e monges tibetanos,
mesmo sendo torturados nas prisões chinesas, não perderam essa clareza e
260
(não enlouqueceram; não geraram mágoa; não geraram rancor)]: atravessaram
algo muito difícil e saíram bem: saíram com amor e compaixão do outro lado.
Então, isso é porque a prática da vacuidade ainda está longe: a gente não
consegue ver a vacuidade da bolsa (do celular, da carteira de identidade, do
dinheiro e etc.)
Muito apegados.
Isso quando eu “tô” falando de objetos e quando a gente vem pro próprio
corpo, então? [se alguém chega e nos empurra; nos dá um tapa; um tapa no
rosto (é uma ofensa muito grave) ; (um tapa no rosto); (como a gente valoriza o
rostinho)]. Tem um apego a esse nosso corpo [a gente mata “pra” não morrer
(não é assim?)].
Em geral, numa disputa, se a pessoa, “pra” não morrer, puder matar, ela mata.
A gente vai começando com coisas mais fáceis; depois as mais grosseiras [e
vai avançando, aos poucos, “pra” essas regiões de apego muito antigas (muito
profundas)].
261
Então, uma informação mental alterou a energia e corpo.
Ai, daqui a pouco a pessoa diz (Não, não, não. Desculpa. Foi engano).
Ai você: (Ufa!!!)
Então, é interdependente.
Então (aqui) é a mesma coisa. Quando tiver (por exemplo, assim): eu vou
trazer uma situação perturbadora {um hábito; um padrão de alimentação [uma
coisa que eu não consigo deixar de comer (bolo de chocolate, (né?): uma
coisa, assim, que ninguém (todo mundo acha horrível)].
Então, a pessoa vai observar aquilo, (né?) como que ela constrói a idéia {ela
não nasceu gostando de bolo de chocolate: aquilo foi construído por sensação,
percepção, por raciocínio (aquilo é bom) (ela aprendeu a identificar aquilo): tem
toda uma construção que mistura a sensação [os cinco skandas, (né?): (forma,
sensação, percepção, formação mental e consciência); então, em cada
experiência, os cinco skandas estão operando]}. Então eles nos prendem (eles
que dão a sensação de solidez da realidade).
Então, o que (que) tem de real no bolo de chocolate? O que (que) tem de real
no sabor do açúcar?
Né?
Então, aquilo aciona alguma coisa {que vai pela língua [que vai acionar o
sistema nervoso; que vai “pro” cérebro (que vai traduzir aquele estímulo numa
sensação agradável)]}: aquilo é uma construção.
Não existe realidade alguma no sabor do doce, assim como não existe
realidade nenhuma nos produtos visuais [a luz chega aos olhos, penetra, vai
“pra” retina (cones e bastonetes) e aquilo é traduzido em impulsos elétricos e
químicos (que vão pelo nervo óptico) “pra” região do cérebro (que ninguém
sabe como constrói imagens mentais.
Onde é que são construídas as imagens visuais (gente)? Onde é que “tão”?
262
Quando eu sonho (à noite) os olhos “tão” fechados (da onde vem a luz do
sonho?): não precisa ter sol lá fora “pra” ter luz na mente.
Então, a gente vai descobrindo que (na verdade) tudo o que a gente vê (não é
uma luz externa, que entra pelo olho e cria uma imagem), a gente vai ver que a
visão é uma construção mental, também (pausa) (claramente).
Ai, a outra pessoa, que “tá” do seu lado, sem os óculos, olha praquilo (e vê
outra coisa: vê tudo nublado ou embaçado).
O que (que) é real? O que você “tá” vendo com os óculos 3D ou que ela “tá”
vendo embaçado?
É dessa forma: tem gente que ama chocolate; tem gente que é (mais ou menos
chocolate) e tem gente que nem come chocolate.
Então, esse processo de prajna (esse processo que vai olhando “pras” coisas),
relativizando as coisas (elas vão perdendo poder).
Eu vou olhar como é que aquilo brota (olho uma vez, olho duas, olho três) eu
vou diminuindo o poder [o encantamento (é como se fosse uma macumba)]. E
aquilo tem poder sobre mim (me entorta) sem eu (seu eu ter) (raciocínio
263
modificado); mas quando eu começo a olhar; a olhar (esclarecer); eu lanço
consciência lúcida sobre aquilo (éé) eu vou me destacando da experiência.
Ai eu vou me libertando.
(28:53 – 29:01)
No início, ela é uma coisa um pouco (aprendida), ou seja, (é) teórica; mas eu
vou (treinando, treinando, treinando) e aquilo vai ficando natural (meu olho vai
abrindo) até chegar o momento em que aquilo é natural (não tem mais que
raciocinar “pra” ver daquele modo).
Porque a mente dualista, ela olha assim: tudo separado (eu aqui, câmera lá
fora, vocês ai); ou seja, tem a sensação de separatividade real (essa é a mente
dualista; a mente samsárica).
E ai, prajna é o (o) (o) movimento reverso (eu vou gerar uma sabedoria, que
atravessa a dualidade; atravessa a ignorância).
Tudo bem?
Não?
Então, o desenrolar dos nós energéticos ele funciona, assim, a nível de corpo,
a nível [por exemplo, eu posso fazer (isso) yogas variadas] “pra” repor energia;
264
mas eu posso fazer a nível de energia (respirações e visualizações), sem ter de
mexer muito o corpo; mas eu, também, através de uma mente clara, lúcida
(que tem o raciocínio correto) também eu consigo desfazer.
Mas, aqui, a gente “tá” desenvolvendo esse método analítico (esse método
mental de como atravessar).
É super útil.
(31:08 – 31:012)
A concentração silenciosa não tem inteligência (nela); ela não tem sabedoria
dentro dela. Então, ela não conduz à liberação.
Então, eu comentei, o Buda uniu silêncio com a mente analítica (a mente sábia
de prajna).
MUITO sutil.
Mas ele chegava lá [ele percebia, quando ele saia da meditação; ele voltava
“pro” mundo ele (ele) não tava liberado]: as coisas; o mundo (ainda) gerava
sofrimento; ainda gerava dor.
Ai, ele percebeu que ele tinha que romper a visão ignorante sobre a
experiência da realidade.
265
Se ele não atravessasse essa experiência deludida, ai (ai) a iluminação não
seria possível.
Quando ele descobre (éé) que “pra” alcançar isso ele vai ter que ver as coisas
como elas realmente são. E quando ele olha “pras” coisas com essa mente
poderosa ele vê que as coisas são vazias (ele vai dizer: as coisas não são
reais como parecem).
E esse engano é o exemplo [que a gente trabalhou bastante (aqui) nos outros
dias] é o exemplo da tela do cinema e o filme projetado.
Nós não somos o filme. Nós somos a tela branca que permite (raciocínio
modificado) (incontáveis filmes podem ser projetados sobre a tela branca); mas
quando eu não vejo a tela branca eu vejo, apenas, o filme. Ai, eu me alegro,
choro, passo mal (com as projeções sobre “o filme”), como se fossem reais.
Se eu tomo refúgio em qualquer coisa desse tipo, o que (que) vai acontecer?
Aquilo vai flutuar mais cedo ou mais tarde e como eu to me (me) baseando
naquilo “pra” minha sensação de felicidade eu “vô”, fatalmente, sofrer.
Então, o budismo não vai eliminar as coisas. Você vai fazer as coisas, mas eu
vou me libertar dessa visão deludida (que me faz tomar refúgio nas coisas).
(34:44 – 34;55)
266
É, o Buda. Não vai dizer que o Buda é uma (é uma) é um autômato (que não
tem emoções, por exemplo). Não. Não é isso. O Buda, ele se relaciona, ele
sorri, ele se alegra (com a felicidade das pessoas); quando as pessoas estão
passando mal (ele se interessa; ele fica pensando como resolver); mas (a
grande diferença da visão do Buda) é que ele tem esse olho de vacuidade
(como ele não se prende mais às experiências) ele vê uma pessoa sofrendo
(ele sabe que aquela pessoa não é aquilo); (aquele ser é um ser de sonho: não
é um ser real). Então, o Buda não deixa de ajudá-lo, mas enquanto o Buda
ajuda aquele que “tá” sofrendo (em momento algum ele dá solidez “pro”
sofrimento daquela pessoa). Ele olha aquilo como temporário, como (ele vê a
liberdade; a pessoa não vê a própria liberdade, mas o Buda “tá” vendo). O
Buda vê (vocês não são isso; não sofram; não se percam); mas os seres se
perdem.
O Buda flui: ele se relaciona; ele participa do mundo; mas não quer dizer que
ele sofra por causa da dor dos outros.
O Buda não “vê sofrimento”: a visão dele é de Raio “X” (ele vê a transparência
do samsara). (Se o samsara não é real vai sofrer do quê? É, apenas um filme
passando) [você vai “sô” (raciocínio modificado) (quando você sabe, no
cinema, que é apenas um filme, você vai ficar sofrendo por causa das cenas do
filme?) Vai? (Vai enquanto eu “dô” solidez “pras” cenas do filme). [As cenas de
um filme de guerra; as pessoas morrendo, no filme (despedaçadas, em todas
as direções)]. Aquilo é só um filme!
Quantas vezes as pessoas falam com a gente (É só filme; não fica assim não).
Não é?
Um não entrou na solidez do filme; ou outro entrou. (Aquele que entra passa
mal).
(36:42 – 36:45)
Claro que ele pode gostar. Por exemplo, Chagdud Rinpoche, o mestre do Lama
Samten, gostava de coca cola. Ele sentava e tomava coca. Ele gostava.
O fato dele gostar da coca cola não quer dizer que ele “tá” preso na coca cola.
Entende?
267
A gente não vai jogara cinza em tudo e dizer (o samsara é horrível; não quero
mais nada do samsara). Não é isso. É se relacionar bem com o samsara: o
samsara não nos pega mais.
O Buda é aquele que chegou na perfeição disso (o samsara não pega ele de
jeito nenhum).
Então, a vida do Buda não é chata. [Muitas vezes as pessoas falam, assim: ah,
mas deve ser muito sem graça, essa vida do Buda, (né?); o Buda não se
entrega às paixões; o Buda não luta por causas].
O Buda (realmente), ele se liberta: ele paira acima dessas coisas: ele “tá” no
meio dessas coisas; mas as coisas (ele vê como as crianças lutando por
brinquedos). Ele não entra no jogo dos seres humanos.
Tá bem?
Isso é bem (bem) útil. Isso é bem (bem) prático. Não tem nada de filosofia
(assim). Tem o aspecto (para) complexo [que a mente tem de superar os
obstáculos cognitivos, (né?), (vai dar um trabalhinho); mas a gente não vai ficar
presos (apenas) ao aspecto cognitivo da coisa].
(38:11 – 38:20)
A gente olha (por pior que seja a besteira que aquela pessoa esteja fazendo) a
gente não congela a pessoa naquilo.
(38: 58 – 39:05)
268
Você vê que ela “tá” fazendo bobagem [não é uma visão cor de rosa, Poliana
(não tem problema nenhum no mundo)]. Não é isso. Tem problema, mas o
problema é uma construção vazia e luminosa. Então, eu olho praquilo e vejo
que é possível a pessoa sair daquilo: eu nunca acho que a pessoa não tem
saída.
No samsara tem muitas situações que as pessoas dizem que o outro não tem
saída, (pausa) (né?). Muito comum a gente dizer (esse ai, nessa vida, não sai
disso).
O Buda ele nunca vê limitação. Tudo é possível, porque as pessoas não tem
uma prisão real. A prisão tem grades virtuais (as grades são pontilhadas).
Tem vários exemplos (nos Sutras) de praticantes que fizeram coisas horríveis.
Por exemplo tem a história famosa de Angulimala (Angulimala, que significa
guirlanda de Deus), um mestre de (de) uma outra religião falou ele que se ele
matasse e cortasse noventa e nove dedos (de pessoas diferentes) num prazo
“X” ele alcançaria um estado muito elevado. [como se fosse assim, (né?),
(assim) uma coisa muito pesada (assim), (né?): fazer sacrifícios de pessoas
“pra” obter poder]. Uma coisa assim. Ai ele começa a fazer aquilo [mata um,
dois, e três e quatro (e vai juntando os dedos) e vai fazendo um colar com os
dedos pendurados; ai, quando chega perto do centésimo (ele precisava de
cem), ai o Buda fica sabendo e intervém (ai o Buda se aproxima dele e ele
corre atrás do Buda “pra” matar o Buda, “pra” cortar o dedo do Buda); mas ai,
quanto mais ele corre, mais o Buda “tá” distante dele [o Buda “tá” mostrando
“pra” ele, que ele “tá” no meio de um sonho (pesadelo) e o Buda “tá” ajudando
“ele” a acordar]. Ai, o Buda conversa com ele e ele consegue sair daquele
sonho e entende que ele tinha sido vítima de um ensinamento (completamente)
errôneo. Ai ele se arrepende. Ai ele se torna um monge da sanga do Buda. E
ele, mesmo ele sendo um monge, as pessoas (parentes daqueles que tinham
morrido; quando ele passava ele era apedrejado; as pessoas corriam atrás dele
e ele tinha de fugir). Queriam matá-lo. Ficou um bom tempo assim. Mas ele
manteve a pureza dos votos (praticou, pratico, praticou) e naquela mesma vida
ele alcançou o estado de arhats (o ser liberado; o ser puro).
269
Alguém que matou noventa e nove pessoas naquela vida alcançou a liberação.
Então, imaginem nós que não fizemos esse tipo de absurdo (como a liberação
é fácil “pra” nós).
É possível. É viável; mas é claro, ele fez uma opção assim (ele se arrependeu
profundamente e se dedicou integralmente à prática).
A maioria de nós não tem condições (ainda) de fazer isso (se dedicar
integralmente à prática); são responsabilidades variadas; mas a gente vai
mesclar a prática com a vida cotidiana (a gente vai avançando; como é
possível).
270
Olha aqui, por exemplo, uma salinha com 20 ou trinta pessoas e a gente olha
um mar de seres que não querem nem saber (de qualquer coisa parecida
disso).
As pessoas não vão alcançar nenhum interesse [nem uma dúvida (será que é
isso só que tem de fazer aqui?)].
Vai ficar tudo ai. É tudo virtual. Ai o cara constrói um império, ai vem os
herdeiros vendem um pedaço, administram mal o outro pedaço. Aquilo tudo
(daqui a pouco) se dissolve: não sobra nada.
Então, a gente vai perceber que são poucos que vão desconfiar do jogo do
samsara e que vão buscar a libertação. E, daqueles que vão buscar, poucos
vão encontrar ensinamentos que esse nível de sofisticação, que a gente tá
encontrando.
“Vai” ter muitos ensinamentos que vão dizer (faça isso; faça aquilo; fique bem):
ensinamentos “pra” você ficar bem.
271
Isso não quer dizer que (por exemplo) que eu começo a praticar e a minha vida
vai melhorar.
Às vezes as pessoas chegam ao Darma (Ah, eu vou praticar e a minha vida vai
ficar uma moleza: vai ficar tudo bem).
Não há nenhuma linearidade nesse processo: (vai praticar e não vai mais ficar
doente? Vai praticar e não vai mais ser assaltado? Vai praticar e não vai mais
ter problema?).
Então, prajna não é nada disso. Não sobra [prajna não deixa nenhuma ponta
solta; não tem lugar nenhum onde você vai se agarrar (à mais)].
A maioria das técnicas espirituais sempre deixa uma ponta solta na qual você
se agarra: você ainda se prende a alguma coisa (algum conceito; se apega ao
Buda; se apega a Deus; se apega a Jesus; se apega a alguma coisa; se apega
ao teu bem estar; se apega a alguma prece): alguma coisa você se apega.
Mas é possível.
272
O mundo é um jardim da própria Iluminação. Não
precisamos destruir nada. O que destruímos é a
ignorância, e quando a destruímos tudo se
preserva, mas os mundos no sentido
condicionado cessaram também. Essa é a
verdadeira destruição.
É o que a gente falou aqui. Eu já não deixo de (eu não preciso deixar de tomar
coca cola) (se quiser tomar); mas, eu “to” completamente livre da coca cola.
Isso é bom. A gente gera um mundo menos agressivo; mas isso (ainda) não é
a libertação; isso é (apenas) um samsara melhor (é superimportante).
Com essa base melhor, as pessoas “tão” menos (ééé) (é); “tão” menos (é)
sendo atacadas; “tão” mais protegidas (e elas podem praticar): elas podem
encontrar o Darma e praticar.
Por exemplo, se a gente tivesse (ééé) (é) em Damasco agora (Alego) seria
possível (sentar aqui numa boa? Falar de meditação?).
(50: 16 – 50:19).
Mas aqui não. A gente “tá” numa (mais ou menos, assim) numa situação mais
ou menos de paz, (né?); ambígua (pelo menos): não estamos numa guerra
aberta. [Tem uma violência urbana muito grande, mas (ainda) não chega ao
nível, (né?), que nos impeça de fazer coisas como a gente “tá” fazendo aqui].
273
Então, a gente arruma as coisas (a gente constrói casas; planta árvores;
canaliza água; gera energia elétrica; traz gás encanado): a gente constrói toda
uma estrutura condicionada “pra” facilitar a nossa vida e permitir uma vida
humana mais adequada (que a gente possa chegar á prática do Darma).
Isso é necessário.
Então,
Então, Garab Dorge, ele viveu (mais ou menos); nasceu (mais ou menos) na
mesma época que Padmasambhava (pouco tempo depois da morte do Buda
Sakiamuni). Dois mil e seiscentos anos atrás ele surgiu (ele surgiu) (ele desde
pequeno já acessava isso; ele é uma emanação de um Buda; ele é um Buda;
274
um Nirmanakaya). Ele dá esses ensinamentos (ele introduz isso no nosso
mundo humano).
(53:01 – 53:19).
Exatamente. Cherenzig “tá” representado nessa “tanca” aqui, mil braços e onze
cabeças. Chenrezig, o Buda, o bodisatva da compaixão, ele representa a
compaixão (raciocínio modificado) (os mil braços dele, cada um tem um olho).
Então, se diz que os mil Budas [da nossa era fortunada; que virão mil Budas na
sequência; sendo que Sakiamuni foi o quarto (desses mil, que virão).
Então,
Então, essas inteligências, esses Budas e bodisatvas, eles não são um (um)
evento histórico (eles viveram, morreram e, agora, a gente conta a história
deles, do passado). Não. Eles são inteligências vivas, disponíveis.
Então, um exemplo (assim) moderno, que a gente usa é esse, (né?): como se
eles “estão” numa nuvem, disponíveis “pra” “dawnload” (não tem que pagar
nada “pra” baixar: aquilo é pirataria liberada; você tem de ter a chave de
acesso “pra” baixar). Então, esses são os ensinamentos, as práticas (esse
acesso às redes desses seres de sabedoria).
Quando a gente fala assim: o Dalai Lama é uma emanação de Cherenzig (do
Buda da compaixão), é claro que não é assim [Cherenzig entrou no corpo do
ser humano (e ele “tá” só ali naquele momento)]. “Os Lamas” são mestres que
realizaram a mente de Chrenzig e se transformaram numa emanação de
Cherenzig (Karmapa, também, é uma emanação de Cherenzig).
Ué? Tem duas? Um ser? Como é que ele pode estar em dois corpos
diferentes?
275
Não é isso, (né?): é uma sabedoria. É uma mente disponível que pode ser
(raciocínio modificado) (qualquer um de nós pode se transformar numa
emanação de Cherenzig), desde que a gente realise, de modo perfeito, a
mente de Cherenzig.
Não. Eu quero ser como ele. Eu quero ter a mesma sabedoria, que ele
manifesta.
Insuperável, também, porque não tem nada depois daquilo: não tem um estado
(assim) posterior (depois de) realizar essa mente.
276
Então, no item 6,
ABORDAGEM MANTRAYANA
É um caminho Tântrico.
Então, o mantra é um princípio ativo [ele sintetiza todo o texto do Sutra; ele
agrega, em poucas sílabas, toda a sabedoria do (do) Sutra como um todo]
277
é a transmissão da visão. No vajrayana temos
iniciação, mas aqui temos a transmissão da
visão, que se torna viva. E fazemos essa visão
convergir para um conjunto de sílabas.
Então, a pessoa usa o seu Mala, (né?), “pra” ir recitando os mantras (OM
GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA; OM GATE
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA).
Vai acumulando.
Mas quando ela acumula, não é que ela “tá” recitando aquilo e pensando
em outra coisa [o que (que) ela vai comer, quando ela chegar em casa].
Não é isso. Ela recita, tentando manter a visão, ou seja, aquilo que ela
entendeu do sutra (todo o ensinamento que foi transmitido no sutra) ela
sustenta (enquanto recita o mantra).
(1:00:09 – 1:00:12)
278
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA; OM GATE
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA). Eu começo
a gerar uma cadência de recitação. [Eu tenho que respirar e a
minha fala não é mais a fala comum do samsara (que fala um
monte de bobagens). É a fala de um ser de sabedoria. Eu “to
repetindo o que ele disse [por mais que eu não acesse, ainda,
completamente, é como se eu estivesse imitando (papai e mamãe
estão lá, assim, ensinando falar. Eu “tô” lá, tentando falar igual a
“eles”; (mas eu, ainda, não consigo); mas eu vou repetindo o
mantra “pra” reproduzir a fala da deidade]. “Eu vou chegar a isso”.
Então,
O mantra do Prajnaparamita
Que se esses seres não tivessem a realização da vacuidade ele não seriam
Budas (eles não seriam deidades; se eles não tivessem a realização completa
da vacuidade).
É a base de tudo.
279
Ele não produz engano: não tem nada construído nele.
Então, não tem engano: ele dissipa todos os enganos; não constrói nada no
lugar [eu não “tô” substituindo um engano por algo melhor; eu “tô”, apenas,
dissipando os enganos e (e) deixando a mente num estado de liberdade; eu
não “tô” colocando a mente num outro estado condicionado interessante].
Percebem a diferença?
Então o mantra
280
Uma boa parte dos mantras (OM MANE PADME HUM; OM AH HUM
VAJRA GURU PADME SIDDHI HUM; OM GATE GATE; OM TARE TAM
SOHA; OM TARE TUTTARE TURE SVAHA). A maioria dos mantras
começa com “OM” (representa essa base de onde brota a sabedoria do
Buda).
“GATE GATE”.
Ido. Não é “INDO” (que seria o gerúndio) e não é “VÁ” ou atravesse (que
seria o imperativo).
Então, a gente recita o mantra [não é que eu “to” querendo (éé) que
aquilo atravesse; que aquilo aconteça; aquilo já é (eu só tenho que ver); já
é livre [não é assim; que eu pegando uma coisa presa e “tô”
transformando numa coisa livre; aquilo sempre foi livre (só que eu não
via); aquilo já é].
Então, o mantra recupera a visão correta (de ver as coisas como elas
são).
281
Então, é poderoso. Aquilo tem uma fórmula.
Você pensa assim: quando a gente tem um problema [tem uma situação,
a gente começa a maquinar (de modo causal), condicionado (como
resolver) [o que (que) eu vou fazer; por onde que eu vou; quais pedras
que eu vou mover nesse jogo “pra” sair dessa enrascada].
Então, quando tem um problema e eu começo a falar uma coisa que não
tem nada a ver (OM GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI
SVAHA); (Opa! Como assim, né?). Aquilo eu “tô” quebrando, (né?), a
solidez, a causalidade da situação.
Alguém vem e te xinga, ai você vem e fala (OM GATE GATE PARAGATE
PARASAMGATE BODHI SVAHA)
Então, eu deveria (assim) fazer uma listinha de problemas (os seis reinos
da roda da vida; nós temos conexões com seis reinos; nós temos
situações, que transitam, por cada um dos seis reinos). Então, eu posso
anotar isso num caderno de práticas [e ir olhando essas situações;
visualizando essas situações; ou experimentando, mesmo (recitar com o
mantra)].
282
Você olha “pro” chocolate e atravessa o chocolate [Raio “X”: (Tium!)].
(1:13:55 – 1:14:02)
Então, a gente vai usar o mantra da prajnaparamita “pra” nos ajudar a nos
libertar de todas as situações.
Todo mundo tem uma listinha grande das coisas que nos entristecem, nos
alegram, nos dão desejo, nos dão raiva, nos dão medo, nos dão
sensação de carência, de abandono, de traição (uma longa lista; a gente
vai olhar “pra” própria vida; vai pesquisar e vai anotar isso).
“Pra” quem quiser tem malas [tem esse colar, (né?); tem na lojinha; “pra”
recitar os mantras].
Cada mantra, com a mão esquerda, eu avanço uma conta (OM GATE
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA; OM GATE GATE
PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA).
A gente vai avançar “pra” outras formas mais analíticas, também; mas
essa seria a primeira forma de usar o Sutra do Coração da
Prajnaparamita e o mantra correspondente “pra” começar a dissipar os
obstáculos e perturbações e (assim por diante).
283
Agora, a lição de casa é começar a usar isso [quem não “tá” usando,
ainda, (não conhecia; aqueles que conheciam, mas não “tão aplicando,
sistematicamente) deveriam usar (fazer uma prática diária de aplicar isso).
Pode fazer um mala completo; pode fixar um tempo (dez minutos e não
contar); ou ela pode recitar três malas completos (trez vezes cento e oito);
Agora, a gente tem que usar o mantra como uma síntese de tudo o que a
gente estudou [esse olhar, (né?) de ver que (forma é vaio e vazio é
forma); (forma nada mais é do que vazio e vazio nada mais é do que
forma). Então, as aparências são vazias e luminosas (eu não preciso
destruir nada); mas nada mais me pega, porque eu vejo “elas” como arco-
íres (como miragens). Então, eu não me fixo a elas como produtos reais.
(1:20:47)
284
ROTEIRO DE OITO PONTOS PARA A MEDITAÇÃO
(Estudo do Prajnaparamita no You Tube ministrado por Marcelo Nicolodi)
285
2 – Contemplamos a coemergência (inseparável de quem olha),
- Então eu vou treinar recuar e olhar para a experiência (para a bolha) com
mais liberdade;
- Vamos começar com objeto mais fáceis ao invés de trocar tapas por ai;
286
2a – coemergência mente-forma: isso é, isso não é, isso é, as três
afirmações da validade de Maitréia/Asanga/Vasubandu;
- Mas quando olho com o olhar de coemergência eu vejo que o cubo não
está lá: só há papel e tinta;
- Qualquer ser senciente que olhe para ali vai ter uma experiência de
cubo?
- Então, não tem cubo no cubo, porque ele não é real por si só;
- Mas nossa mente deludida procura apontar rótulos fixos para as coisas,
para dar uma sensação de mundo sólido;
- Isso é obvio! Isso é obvio, mas a gente não faz isso com as coisas o
tempo todo: a gente dá solidez;
- A terceira afirmação não nos deixa cair no aspecto niilista (de ficar no
nada);
- No segundo “isso é”, apesar de ser vazio (de não ter aquilo), aquilo
aparece daquele jeito;
287
- Não é mais igual ao primeiro “isso é”. Nesse, é um “é” do sujeito
dualista, que olha lá fora;
- Esse segundo “isso é”, ele está me mostrando que ele não tem base
sólida nenhuma, mas, ao mesmo tempo, pode aparecer como aquilo;
- Eles poderiam ser qualquer outra coisa, mas eles também podem ser
montanhas e rios;
- Mente e forma são iguais, porém, tem energia (que se altera); paisagem
(que se instala); identidade (que se fixa); causalidade decorrente (que
atua); propósito e visão estratégica (para obter os resultados desejados);
urgência (para fazer aquilo mais rápido possível); tudo isso é chamado de
bolha;
- A energia teima a se dirigir para algo que já foi analisado; que foi visto
como não benéfico;
Seis Reinos (todos nós passamos por situações que nos arrastam para
os reinos (com suas emoções perturbadoras correspondentes).
Como assim?
290
Tem regras causais operando ali dentro.
O carma é ilusório.
291
2d (Doze Elos)
Então eu olho para cada elo e vejo que ele não tem
substancialidade nenhuma.
O fato de eu dizer que aquilo é vazio não é dizer que aquilo não
existe ou que aquilo desaparece diante dos meus olhos.
292
4 – Percebemos o aspecto luminoso ou coemergente (tem aquilo dentro);
293
Mas aqui no item 6 eu vejo que a energia se move de modo livre,
sem a fixação de quando eu comecei o processo de análise.
294
8 – Sorrimos! É assim que o Samsara nos pega! Natureza vajra. Oferenda
a Samantabadra.
Item 8: sorrimos!
A gente vai ver que as piores experiências podem ser vistas como
pesadelos ou sonhos felizes.
Natureza Vajra.
295
Então a gente oferece a ele todas as experiência. Tanto as
agradáveis, quanto as desagradáveis.
Então, quando eu olho com esse olhar, eu ofereço isso tudo, eu não
me prendo mais a nada.
296
COMENTÁRIOS FINAIS DO LAMA
Ai vem o comentário final do Lama (sobre esse roteiro), que é maravilhoso,
também. [Eu acho (assim, essencial) um dos melhores textos sobe prajna, que
eu já encontrei:
Então, isso é muito comum. A pessoa entra “pro” budismo e ela acha que ela
vai estudar tudo (e entender tudo); vai praticar de modo muito firme (certo e
estável) e vai alcançar a liberação; mas quanto mais a pessoa pratica, mais ela
percebe que [se ela levar a sério (trazer muita seriedade à prática) aquilo,
também, acaba se transformando num obstáculo. [porque é uma construção
(também) de um personagem (ali dentro)].
Então, (éé) prajnaparamita, nessa abordagem que o Lama Samten nos traz é
apresentada de modo leve (lúdico, né?).
Quando você se pegar irritado, observe, olhe, surgiu uma conectividade [que
de um modo coemergente (não gostou) de algo; (atribuiu um valor aqui; um
valor ali); entortou (energia torta); você “tá” lá, preso (passando mal), numa
espécie de irritação [ai você: (Oh! Sim. Sorriso)]: recua (sorri, né?).
297
Mas, tudo bem, a gente vai treinando o sorriso, que tudo vai ficando mais
natural.
Nenhuma identidade tem que ser aprovada, tem que ser amada, tem que ser
querida; tem que receber elogios, receber carinho e amor.
Então esse olhar, de prajna, de sorriso, nos liberta de ter que sustentar
qualquer identidade.
298
Então, tem uma frase maravilhosa de Trumpa Rinpoche, que eu gosto de
lembrar. Numa certa palestra perguntaram “pra” ele, (né?): o que fazer quando
as pessoas nos atacam?
Ai, ele respondeu, assim, de modo muito simples: Ah! Quando elas te
atacarem, não esteja lá.
As pessoas às vezes (“tá” sozinha, bate a cabeça e sangra) e ela não fica
brava consigo mesma porque cortou a cabeça; mas um tapa de outra pessoa
(uma mão no seu rosto) ela tem a voz de outra pessoa.
Mas, se eu conseguir sorrir e não ficar preso nessa obediência à energia que
surge, ai eu “to” livre.
Então, eu preciso olhar muitas vezes “pra” ir relaxando diante das experiências,
“pra” perceber a energia diferente desatando (é um lenço com muitos nós;
então eu tenho de ir desfazendo os nós desse lenço).
299
Então as pessoas se movem por pensamentos e raciocínios, mas a energia é
que é a verdadeira troca que se dá (de modo silencioso).
O tempo todo nós estamos buscando situações (ééé) experiências que elevem
a energia (que excitem a energia). Eu, também, já falei isso várias vezes (é
bem interessante a gente olhar para isso), como nós somos mendigos
energéticos, que ficam o tempo todo mendigando no samsara (“pra” me dar
uma experiência “pra” acelerar a minha energia), “pra” que eu me sinta bem.
Então, eu “tô”, o tempo todo, tentando (ééé) encontrar uma condição perfeita
de equilíbrio “pra” essa energia [de um equilíbrio agradável, (né?), de energia].
Não lutar contra o samsara. Não olhar para o samsara como um lugar físico
(ruim).
E ai, nós não vamos ficar presos nem no samsara e nem no nirvana (nem uma
experiência de bem aventurança da liberdade e nem uma experiência dualista
de sofrimento). Então, a mente vai além de samsara e nirvana: ela repousa
300
nesse espaço que está além de qualquer julgamento, (né?) das coisas serem
boas ou ruins.
Ou seja, de vez em quando eu consigo olhar com mais clareza, (né?), com
mais lucidez.
Então, janelas.
Tem, ainda, um outro texto, que (também) “tá” presente no Livro Roda da Vida
(lá no capítulo sobre prajnaparamita), em que “o Lama começa, assim, com o
formato de verdade, (né?)”: abra os olhos de vagar e veja a realidade vajra
inteira diante de você (“nada a fazer, basicamente”) (é um texto muito bonito,
também, buscando o Ponto Último), em que (quando eu acumulo os 8 pontos
de prajnaparamita), eu vou me aproximando desse olhar da natureza vajra, de
modo natural, de modo leve, não mais cognitivo, pesado, mas um olhar de
leveza da experiência direta daquilo, (né?).
301
Então, esse é o texto, (né?), que o Lama nos tem transmitido “pra” prática de
prajnaparamita. Então, eu recomendaria, (né?), que esse texto “seja” lido
muitas vezes (marcar; anotar; fazer [pensar, contemplar e repousar), (né?)
sobre esse texto; depois usar os 8 pontos de prajna (com muitos exemplos);
todos aqueles sugeridos num material muito maravilhoso, (né?).
Então, todos os vídeos anteriores dão uma base [muita conversa, (né?) e
comentários “pra” nos dar essa base de compreensão “pra” poder fazer isso].
Esse olho não é o olho, que vai surgir (do muito esforço), no sentido de que eu
vou ser (um dia) muito inteligente (acumular muito conhecimento) e, enfim, vou
enxergar.
Esse olho vem dessa abertura (que vai me ocorrer) interna, (né?).
É algo que já (já) nos é intrínseco (assim): não é algo que eu tenha de
desenvolver “pra” construir esse olho: esse olho já “tá” lá, só que ele “tá”
obscurecido (tem poeira sobre a lente).
Então, é isso. Vamos seguir assim: a lição de casa seria reler esse texto
algumas vezes (esse roteiro) e tentar seguir aplicando os 8 pontos em
exemplos específicos (objetos, pessoas, emoções, situações, sonhos e, assim
por diante).
302