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ESTUDO SOBRE O Prajnaparamita ministrado por Marcelo

Nicolodi no You Tube

VERSÃO 3

PRAJNAPARAMITA

O sutra que elimina todo o sofrimento

1
SUMÁRIO
1. Apresentação ...........................................................................................4
2. Vídeo 1 (INTRODUÇÃO)..........................................................................6
3. Vídeo 2 (CAMINHO ÓCTUPLO – DO OITAVO AO PRIMEIRO PASSO -
e PRIMEIRA NOBRE VERDADE)..........................................................12
4. Vídeo 3 (RECAPITULAÇÃO, SEGUNDA, TERCEIRA E QUARTA
NOBRES VERDADES e PRAJNAPARAMITA)......................................25
5. Vídeo 4.( ABORDAGEM DA SEGUNDA VOLTA DO DHARAMA,
ABORDAGEM DA TERCEIRA VOLTA DO DHARAMA E PRECES
INICIAIS).................................................................................................36
6. Vídeo 5 (RECAPITULAÇÃO, ABORDAGEM SUTRAYANA - EXPLICAÇÃO
SOBRE AS COISAS)..............................................................................56
7. Vídeo 6 (RECAPITULAÇÃO; VIU QUE OS CINCO SKANDAS ERAM
VAZIOS POR
NATUREZA)...........................................................................................79
8. Vídeo 7 (RECAPITULAÇÃO; TODOS OS CINCO SKANDAS TEM A
NATUREZA DA VACUIDADE; FORMA É VAZIO; E VAZIO É FORMA
................................................................................................................99
9. Vídeo 8 (RECAPITULAÇÃO; FORMA É VAZIO; LUMINOSIDDE; VAZIO
É FORMA; TODOS OS DARMAS SÃO VACUIDADE; NÃO TEM
CARACTERÍSTICAS; SÃO NÃO-NASCIDOS E NÃO CESSAM; NEM
IMPUROS, NEM LIVRES DA IMPUREZA; NEM DECRESCEM E NEM
CRESCEM; A VACUIDADE NÃO TEM FORMA, NEM SENSAÇÃO,
NEM PERCEPÇÃO, NEM FORMAÇÃO MENTAL, NEM
CONSCIÊNCIA).................................................................................. 127
10. Vídeo 9 (RECAPITULAÇÃO: NÃO TEM OLHOS, OUVIDOS, NARIZ,
LINGUA, CORPO E MENTE; NÃO TEM APARÊNCIA, SOM, CHEIRO,
SABOR, TATO E OBJETOS DA MENTE; NÃO TEM OS ELEMENTOS
DE CONSCIÊNCIA RELACIONADOS AOS OLHOS E DEMAIS
SENTIDOS FÍSICOS E NÃO TEM MENTE OU ELEMENTO DE
CONSCIÊNCIA DA MENTE; NÃO TEM IGNORÂNCIA, NEM EXTINÇÃO
DA IGNORÂNCIA, NEM OS ELOS SUBSEQUENTES ATÉ A VELHICE
E MORTE E A EXTINÇÃO DA VELHICE E MORTE; DO MESMO MODO
NÃO HÁ SOFRIMENTO, OU ORIGEM DO SOFRIMENTOS, OU A
EXTINÇÃO DO SOFRIMENTO, NEM CAMINHO, NEM SABEDORIA,
NEM REALIZAÇÃO E NEM NÃO-REALIZAÇÃO)
............................................................................................................ 158;
11. Vídeo 10 (RECAPITULAÇÃO; ELES SE MANIFESTAM ATRAVÉS DA
CONFIANÇA NA PRAJNAPRAMITA; UMA VEZ QUE NÃO HÁ
OBSCURIDADES MENTAIS, NÃO HÁ MEDOS ) ............................. 189;
12. Vídeo 11 (RECAPITULAÇÃO; TRANSCENDENDO COMPLETAMENTE
AS VISÕES FALSAS, ATINGEM O DERRADEIRO NIRVANA;)

2
..............................................................................................................202
;
13. Vídeo 12 (RECAPITULAÇAO; O MUNDO É O JARDIM DA PRÓPRIA
ILUMINAÇÃO; ABORDAGEM MANTRAYANA)
.......................................................................................................... 256
14. Vídeo 13 ao 21 ( até 1:02:01) (Roteiro de oito pontos para meditação
.............................................................................................................285.
a) (1) Puxamos a forma como um exemplo prático à nossa frente
(depois praticar também com os outros quatro
skandas)...........................266;
b) (2) Contemplamos a coemergência (inseparável de quem olha)....285
c) (2a) coemergência mente-forma: isso é, isso não é, isso é, as três
afirmações da validade de Maitréia/Asanga/Vasubandu.................286
d) (2b) coemergência mente/ forma/ energia/ paisagem/ identidade/
causalidade/ propósito/visão estratégica/ urgências: bolha ...........288
e) (2c) muitos exemplos de bolhas e borbulhas abundantes iniciando
com os seis reinos, seis bardos, ciência, intersubjetividade,
causalidade, jogos de tabuleiro, samsara.......................................288
f) (2d) Doze Elos ................................................................................291
g) (3) Contemplamos o aspecto vazio (não tem aquilo dentro) .........291
h) (4) Percebemos o aspecto luminoso ou coemergente (tem aquilo
dentro) ............................................................................................292
i) (5) Contemplamos o aspecto vazio/luminoso (é na forma que o vazio
se manifesta), aqui brota a sabedoria primordial, a mente do Darma
do Buda...........................................................................................292
j) (6) Contemplamos a energia (vejam o surgimento dos 5 lungs, os
lungs dos 5 elementos) que se movimenta em nós, e sua relação
com a vacuidade..............................................................................292
k) (7) Contemplamos a magia disso tudo e a causalidade
decorrente........................................................................................293
l) (8) Sorrimos! É assim que o Samsara nos pega! Natureza vajra.
Oferenda a Samantabadra (Diante da energia, que brota da forma
vazia e luminosa, eu sorrio).............................................................293
15. Vídeo 21 (1:02:01) (Comentários finais do Lama
..............................................................................................................297

3
APRESENTAÇÃO
O presente estudo compreende os comentários ministrados por Marcelo
Nicolodi, disponível no You Tube, sobre o texto transcrito por Zita Freitas,
concernente aos ensinamentos orais transmitidos por Lama Padma Samten no
Retiro realizado, em Pernambuco, Recife, em dezembro de 2007, cujo tema é

PRAJNAPARAMITA

O sutra que elimina todo o sofrimento

O texto comentado, do Lama, está em azul e os ensinamentos do Marcelo


estão em preto; exceto no roteiro de oito pontos, onde as cores foram
invertidas

Do 1º ao 12º vídeo tentei fazer transcrição do que foi dito.

Do 13º ao 21º vídeo foi feita compilação do que foi dito e encaixado no Roteiro
de Oito Pontos do Lama Samten.

Tentei fazer transcrição, também, nos Comentários Finais do Lama.

Esse material foi iniciado com o objetivo (de praticante iniciante) de servir como
estudo individual, mas, com o tempo, serviu de motivação (oscilante) de
beneficiar os que quiserem se aprofundar no assunto.

Oscilante por quê? Porque me peguei, algumas vezes, sendo acionado por
diversas motivações egoístas.

Com isso, percebi que estudar o Darma pode virar um obstáculo (um
sofrimento; um samsarão) se eu não me vigiar, se eu não obtiver lucidez, se eu
não equilibrar a energia sobre a motivação correta.

Percebi, também, que como estudar o Darma não difere de como eu cumpro,
no dia a dia, os itens da minha agenda: agir no mundo engloba tudo isso.

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No que tange à minha contribuição, posso dizer que foi de tentar colocar no
papel o que foi percebido. Logo, posso garantir que há falhas minhas (em
diversos níveis: motivacionais e executórios).

Esse trabalho está em desenvolvimento e está passando por algumas versões


(vamos dizer assim).

Percebi que, enquanto refazia a obra, constatei o quanto a versão anterior


estava aquém do conteúdo do curso apresentado no youtube (e antes eu
achava que a versão anterior estava boa).

Por isso, apresento esse trabalho como uma amostra do que está disponível no
youtube.

Por isso, com esse trabalho pretendo, apenas, estimular as pessoas a


assistirem os vídeos.

Destaco que a melhora da qualidade desse serviço prestado também foi


possível por causas das críticas dos trabalhos que foram, aos poucos,
apresentadas.

No início, ao receber as críticas, era acionado, involuntariamente um


mecanismo interno (que esperava elogio, mas era sangrado com as críticas).

Ai percebi que fazer o serviço era oportunidade para cessar esse carma: tentar
ver nas críticas oportunidade para não precisar delas para ficar bem ou mal,
enquanto era possível melhorar a obra.

Com foco no (treinamento) de (encontrar) e (manter) a motivação correta


(muito oscilante) e com o desiderato de contribuir com a divulgação do estudo
(que possibilita a cessação do sofrimento) apresento o que se segue.

Wagner Chaves

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VÍDEO 1
O Buda falou sobre.

PRIMEIRO GIRO DA RODA DO DARMA

1) DUKA- A eterna insatisfação que permeia todas as experiências no


samsara.
2) IMPERMANÊNCIA- Todas as experiências que são construídas sobre
causas e condições, fatalmente, elas terminam: elas tem começo, meio
e fim.
3) NÃO EU (AUSÊNCIA DE EU) – Quando eu busquei pela raiz do eu, eu
não encontrei nada.

Ele vai dizer que todos os seres tem uma idéia de um eu como um núcleo
central.

Os nossos fluxos de emoções e pensamentos, a gente vai chamando de eu


mesmo.

Isso é um engano. É um engano fundamental dos seres sencientes. A crença


de que eles existem como individualidades separadas.

Esses três temas são a base do primeiro giro da roda do Darma e a base do
que a gente chama de caminho do ouvinte.

Apenas a contemplação desses três temas conduz à liberação da roda da vida:


a cessação do ciclo interminável de renascimentos.

SEGUNDO GIRO DA RODA DO DARMA

Vinte anos depois da iluminação, no Pico dos Abutres, o Buda além de


trabalhar esses temas, ele apresenta uma visão mais radical sobre a realidade.

1) VACUIDADE –
2) PRAJNAPARAMITA -

Prajna é a visão que olha o mundo com um outro olhar, que a gente não está
acostumado.

A gente vai lançar mão de uma sabedoria que a gente não costuma usar dentro
do mundo comum, dentro do samsara usual.

6
Então a gente vai conquistar a visão (entender o que aquilo é), ai depois a
gente vai meditar sobre aquilo (não basta entender, a gente vai fazer prática de
meditação correspondente a essa visão, que foi entendida).

Ai, depois, através da meditação, nosso fluxo mental via alterando,


permanentemente, e ai a gente começa a conseguir a agir no mundo de outra
forma, com outro olhar.

Ai a gente vai entender essa sequência. Todo o budismo se estrutura em


termos de VISÃO, MEDITAÇÃO E AÇÃO.

É muito comum pessoas que estudam muito, meditam pouco e ai não


conseguem transformar o seu comportamento (quando testadas, pelas
dificuldades da vida, elas recaem nos padrões habituais: elas não conseguem
olhar para as aparências das situações com o olhar de prajna). (Elas vão com o
olhar comum, que é o olhar causal: elas vão tentar resolver o problema).

Prajna não é um método causal. Por isso tem de estudar, tem de ouvir muitas
vezes: ... anos.

A realização final se dá quando a pessoa consegue andar no mundo sem


nunca perder essa visão; sem nunca recair nos padrões habituais do samsara.

Tudo bem até aqui?

Então prajnaparmita é uma sabedoria.

O método não causal é aquele que dá um salto de uma região para outra, sem
ter de traçar um caminho linear: é um salto de espaço mental (você sai de uma
bolha e entra em outra);

O objetivo é te libertar da aparente prisão (26:36); não é o de trocar uma prisão


por outra.

O Buda vai dizer que a aparente prisão do samsara, a roda da vida, ela é
construída: as grades são pontilhadas (parece que tem grade; mas na verdade
não tem; mas parece que tem).

Dizer que não tem não libera; mas entender que as grades não são sólidas,
não são fixas, já é um bom começo pra gente entrar nesse tema.

Esse é o tema: qual é a tela branca que está por trás das aparências?

Esse é o tema de prajnaparamita; ou seja, apesar de nós, pelos cinco sentidos


e consciência mental (a gente se relacionar, pensar, falar, escolher: fazer

7
muitas coisas; ai será que isso é realmente o que é? Será que isso é a verdade
real e absoluta sobre a existência? Sobre o mundo e sobre os seres? Ou será
que há; que tudo isso se manifesta numa dimensão mais sutil, que vai inclusive
além disso? Inseparável disso.

A gente vai investigar, aqui, isso aos poucos.

(...)

(30:36) Mas ai, o nosso caminho vai ser esse: a gente vai tentar enxergar isso
através de exemplos práticos. O mundo espelha isso o tempo todo (as
pessoas, os objetos; isso já espelha essa sabedoria, mas tem de ter o olho de
ver).

A gente vai tentar desenvolver esse olho de ver.

(31:48) pra entender pra que a gente vai entrar nisso, a gente precisa entender
qual é o enrosco do qual eu tenho de sair.

Então o Buda vai dizer que os seres não só acreditam na existência real (do si
mesmo; do eu) como eles acreditam na existência real dos objetos, do mundo,
das pessoas, das relações.

O que nos mantém presos ao samsara é a sensação de que as coisas são


realmente sólidas e fixas; e isso nos gera apego e fixação às coisas.

É ai que está a raiz do problema: quando a minha visão distorcida da realidade,


me conduz a gerar fixação e apego aos objetos, aos seres, a mim mesmo, às
minhas idéias.

Apego. Apego. Apego: apego é a sensação de posse sobre alguma coisa.

E essa sensação de posse, ela vai surgir justamente desse engano.

Quando surge o eu, surge o meu e ai ele começa a criar ao redor dele uma
construção de mundo.

(O mundo é assim, não é?)

(O que tem de errado nisso?)

(33:40) O Buda desconfiou disso e encontrou uma saída para esse estado. Ele
disse assim: quando esse estado cessa, essa sensação de eu, de meu e de
mundo sólido e real, todo o sofrimento cessa junto.

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(34:44) Mas quando o Buda se liberta disso não quer dizer que o mudo se
dissolve diante dos olhos dele. Não é isso! Essa não é a visão última sobre a
experiência da realidade.

O Buda se ilumina e ele segue em meio ao mundo, conversando, caminhando,


ensinando os seres; ou seja, o Buda não vai achar que as coisas, em si, são o
problema.

Ele vai dizer: é a posição mental, diante das coisas, que é o problema.

E isso a gente já sabe, intuitivamente.

Ou seja, quando eu mudo o meu posicionamento metal diante da experiência,


a própria experiência muda.

(37:50) Toda vez que a gente exerce essa liberdade a gente acha que essa
nova situação é que é a real. (Agora é que é a real. É agora. Agora. Agora).

Então eu tenho uma série de justificativas para dizer que o que eu estou
fazendo hoje é o que é.

Então, a gente está preso nessa visão sólida de mundo, de vida, que nos faz
sofrer sistematicamente.

Então a experiência de vida não é tão séria o quanto parece.

Ai vem o sofrimento: choro, angústia, ansiedade, depressão, ódio, raiva, medo,


ciúmes, desejo, apego, orgulho, inveja, uma lista de conseqüências.

Um engano básico, aparentemente tão ingênuo gera uma avalanche.

(39:28) Ai, pra gente se livrar dessa situação complicada, o ponto não é
resolver todos os aspectos práticos do mundo, em si.

A gente tem uma aspiração por controle de que em algum dia, “eu vou
conseguir ajeitar a minha vida de um jeito tal, que tudo vai ficar jóia”.

Quando eu tiver uma aposentadoria bem legal, o meu apartamento pago, os


filhos criados, o carro pago, o seguro do carro, o seguro de vida, (...) a conta no
azul.

A gente acha que quando a gente conseguir manipular o samsara de uma


forma perfeita, a gente vai ser feliz; só que o samsara teima em não se deixar
manipular de uma forma perfeita: sistematicamente ele nos frustra.

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Então a saída não é por ai. Então a saída dessa confusão pode ser qual?
Entender como que eu gerei esse engano básico. Como que eu perdi essa
sabedoria e agora eu estou enrolado.

(41:13) Então a gente está nessa situação: Eu preciso ultrapassar essa prisão
que me mantém ignorante do sofrimento dentro do samsara.

Prajnaparamita é a sabedoria que nos liberta disso.

Então, esse é o objetivo desse estudo: é nos ajudar, nos capacitar a entender
um pouco mais isso.

(41:34) Todos nós estamos mais ou menos no mesmo barco: tentando


entender isso, praticar isso para alcançar, (né?), esse estágio de liberação. É
(...), e que a gente possa, não só apenas, nos livrar do nosso sofrimento, mas,
também, ajudar os outros seres a fazerem o mesmo, porque essa sabedoria do
prajna ela nunca é separada da compaixão.

Sabedoria e compaixão vão andar juntas. Por que? Porque, quem amplia a sua
visão de mundo, alguém que entenda as coisas de modo mais profundo, ai fica
olhando pros outros e vê que não entendem; ai naturalmente vai querer ensinar
e ajudar.

(44:00) A prajnaparamita na versão mais sintética do que essa (SUTRA DO


CORAÇÃO) se diz que é a prajnaparamita enquanto a sílaba “AH!”: a sílaba
“AH!” resume todo o resto.

(49:48) Todos os ensinamentos do Buda são, apenas, preparatórios para se


chegar em prajnaparamita (SHANTIDEVA).

Ou seja, no caminho do bodisatva, a gente pratica as seis perfeições, né? As


seis paramitas. Então, a gente pratica generosidade, moralidade (ou ética
moral), paz (paciência), energia constante (perseverança), concentração para
chegar em sabedoria.

Então, a sabedoria, é o ápice do caminho.

Então, o caminho sempre tem essa etapa de acumular essas práticas


anteriores, de acumular méritos, arrumando a nossa conexão com o mundo e
com as pessoas e com nós mesmos: a gente vai praticando as cinco primeiras,
vai abrindo o caminho para chegar em prajnaparamita, para entender, para
atravessar isso e, ai, enfim, alcançar o estado de Buda; se iluminar.

(50:58) ai tem uma comparação que o Lama faz, que é bem interessante, que é
assim: quando a gente entra no samsara tem uma porta, que está escrito

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ignorância (AVIDIA); ai, para sair do samsara, a gente vai ter de andar até
encontrar a porta que está escrito PRAJNA.

Então nós vamos começar com o texto do Retiro de 2007, no Recife.

(1:14:01)

1. INTRODUÇÃO

O Prajnaparamita pode ser entendido como o


barco que nos leva para a outra margem.

Atravessamos da margem da ignorância para a


margem da liberação. Ou seja, ele representa um
trajeto. Não é a descrição do que poderíamos
fazer a partir da outra margem, e sim a descrição
do caminho que nos leva de uma margem a
outra. Vai utilizar o que se chama a “dupla
realidade”. Nós temos a visão comum e temos a
visão extraordinária, obtida a partir da visão
comum. Essa sabedoria do Prajnaparamita é
chamada em tibetano sherab.

Aqui, o Lama cita um termo interessante de dupla realidade. Esse é um termo


que foi cunhado por NAGARJUNA. Ele que organizou essa explicação assim,
que há uma verdade relativa das aparências; que as coisas são aparentemente
causais; são funcionais (planto semente de alface e eu colho alface: aquilo
funciona).

Então existe essa visão de verdade relativa (verdade convencional), que são as
aparências comuns do mundo; e tem aquilo que nós vamos chamar de verdade
absoluta, que está inseparável da verdade relativa, que é o aspecto de
vacuidade por trás das aparências: as aparências me descrevem a verdade
relativa e a vacuidade é a base, inseparável, das aparências.

A realidade é aquilo que eu vejo, que eu ouço, que eu toco, que eu leio e o
Buda vai estar apontando aquilo que está por trás das aparências.

Então a gente vai trabalhar item por item, como é que a gente chega à
compreensão disso.

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VÍDEO 2
Nós temos um problema: o samsara (A Roda da Vida).

A prisão no samsara se estabelece a partir de idéias confusas sobre a


realidade e nós mesmos. Então, a gente precisa de uma técnica, de uma
sabedoria, que nos ajude a superar essas confusões. Superar essas várias
fixações e idéias fixas sobre as coisas.

E nesse processo, o sofrimento vem junto.

Uma vez que eu me fixo a alguma coisa e tento estabilizá-la e aquela coisa
teima em não ficar do jeito que eu queria que ela ficasse; ai aquilo gera mal
estar.

Então, prajnaparamita vai nos mostrando que toda experiência do samsara,


(ela é livre), ela é flutuante, ela não tem base nenhuma sólida.

Apesar de parecer de que quando dói, dói demais; aquilo é real, porque não
tem como dizer que não é; essa sabedoria vai nos mostrando aos poucos que,
na verdade, quando eu sofro, quando eu passo mal diante de uma situação,
isso não se deve à situação em si, mas se deve ao meu posicionamento de
mente diante da situação.

Então prajna vai nos ajudando a recuperar essa liberdade, essa tranquilidade
diante do eu quer que surja.

Por mais desastroso que pareça, aquilo sempre tem espaço, tem liberdade na
situação. (12:13).

Prajnaparamita é uma sabedoria transcendental. Ela não olha pro mundo de


modo causal. É uma inteligência que olha como as experiências se constroem
e enxerga através das experiências: não se fixa a elas; ou seja, transcende a
prisão das experiências.

Paramita é a perfeição. Prajna a sabedoria

Prajna é a sexta das paramitas. Ela é como se fosse os olhos: vêem através da
confusão.

As seis PARAMITAS são as SEIS PERFEIÇÕES: generosidade, moralidade,


paciência, energia constante são a base para a PARAMITA (sabedoria): são
pré-requisitos, que favorecem o surgimento do PRAJNA.

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Mas essas sabedorias, sem PRAJNA, não chega a lugar nenhum. Elas são
como uma pessoa cega, tateando pela saída de uma cidade.

Então, o Lama Samten vai apresentar uma visão geral do Nobre Caminho
Óctuplo, o caminho de oito passos. (18:11).

Então, quando o Buda ensinou o Darma, as primeiras coisas que ele anunciou
foram as QUATRO NOBRES VERDADES.

A verdade do SOFRIMENTO, da ORGIGEM DO SOFRIMENTO, da


POSSIBILIDADE DE CESSAÇÃO DO SOFRIMENTO e do CAMINHO QUE
LEVA PARA A CESSAÇÃO DO SOFRIMENTO

Então, o caminho que leva à cessação do sofrimento é o Caminho de Oito


Passos.

Então toda pessoa que se interessa pelo budismo deveria ter em mente as
QUATRO NOBRES VERDADES e o NOBRE CAMINHO ÓCTUPLO. Essa é
uma base, que é comum a todas as linhagens.

Então, o Lama, de saída, vai dar esse resumo sobre o NOBRE CAMINHO
ÓCTUPLO.

Sabedoria Última – 8º passo do Nobre caminho –


Samasamadhi

A Sabedoria Última em tibetano é chamada


yeshe. A sabedoria última é quando depois de
atravessarmos, nós olhamos em volta. E então o
que nós vemos? Vemos a Natureza Última. Este é
um ponto extraordinário, tem um foco específico.
Seria a Oitava Etapa do Nobre caminho de Oito
Passos, chamado samasamadhi, o samadhi
último, o aspecto Último da Realidade.

No texto do Lama, no trecho “Sabedoria Última, Oitavo Passo no Nobre


Caminho Óctuplo, SAMASAMADHI é chamado de YESHE.

Não é Prajna. É outra coisa. É a sabedoria final. É vista depois que


atravessamos e olhamos em volta.

O SAMASAMADHI é o aspecto último da realidade. É o estado de meditação


profundo: é a iluminação.

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Correta Atenção – 7º passo do Nobre caminho -
Samasathi

A etapa do Prajnaparamita, o 7º Passo chama-se


samasathi, a Correta Atenção. Ou seja, quando
olharmos para as coisas comuns, nós olhamos
com o olho de visão correta. Conseguimos ver o
que é comum, e dentro do que é comum,
fazemos uma transição para a visão que
ultrapassa o sentido comum. Esse é o objetivo
do Prajnaparamita.

Então, o sétimo passo do Nobre Caminho é o tema do nosso estudo. Então ele
é um conhecimento, uma sabedoria, que vai ser acessada a partir dos
ensinamentos e da meditação e contemplação da vida.

É uma atenção correta, que olha os objetos, olha as pessoas, olha o si mesmo
e não se prende a qualquer noção reduzida do que aquilo é. É uma atenção
que olha através daquilo com o olho de Raio “X”.

De forma alguma é uma atenção, que nega os objetos. Que nega as


experiências, que nega as pessoas. Não. No meio das experiências ela não se
perde nas experiências, ou seja, se liberta do apego e fixação àquilo que brota;
(mas não tem que negar a experiência em si para poder atravessar). (22:54).

Na visão correta, não se identifica com o objeto e nem com o sujeito, que olha
o objeto.

Através de Prajna vamos transcender o que se chama de Três Esferas: em


cada situação tem um SUJEITO, um OBJETO e uma AÇÃO.

A nossa própria linguagem está estruturada com base nessa visão de mundo
(alguém fazendo algo sobre alguma coisa. Sujeito, verbo e objeto. Não é
assim?)

Só que PRAJNA dissolve a separação entre sujeito, objeto e ação.

Lembram? O Primeiro Elo, a IGNORÂNCIA, que nos mantêm presos ao


samsara é justamente o SURGIMENTO da SEPARATIVIDADE ente sujeito e
objeto.

Esse é o ponto do início do samsara: é o surgimento da confusão: quando a


mente se divide em dois; uma mente única se divide em sujeito e objeto: passa
a atuar como se aquilo fosse real, como se o sujeito fosse separado do objeto e
vice e versa.

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Prajna é a sabedoria que nos ajuda a atravessar essa confusão (da dualidade).

Essa palavra dualidade nós vamos ouvir muito no budismo. O budismo


transcende a dualidade.

Qual dualidade? A dualidade de sujeito e objeto; ou seja, a sensação de que


tem um mundo externo separado do mundo interno; como se houvesse um
sujeito preso dentro da cabeça e olhando para fora e houvesse um mundo
pronto, real, sólido, a ser experimentado.

Então, o que parece tão óbvio, Buda diz que é um engano fundamental.

(Tudo bem até aqui?)

Então, o Sétimo Passo vai ser isso: a gente vai atravessar o sentido comum.
(25:52).

Quando a gente fala em PRAJNA, a gente está usando a linguagem dualista


(limitada) para falar de sabedoria. Agora, nesse estado de não-dualidade não
há mais essa linguagem separativa. Então os mestres tem dificuldade de
descrever o estado de não dualidade.

Eles operam em meio ao mundo do mesmo jeito, mas a mente dos mestres
não se fixa à experiência de dualidade que surge quando “se movem no
mundo”: quando comem, quando dormem, quando vão ao banheiro,...

Como funciona a mente do Buda?

A cada instante, ele vê aquilo que brota com a dupla visão: ele vê o aspecto
relativo (de aparência de coisa, que brota), mas ao mesmo tempo, ele vê o
vazio (a inexistência de qualquer solidez daquela experiência que brota).
Então, isso ocorre simultaneamente na mente dele: ele não precisa raciocinar
para fazer isso.

Nessa etapa de treinamento, a gente vai ter que raciocinar, tem que se
esforçar; mas à medida que a gente avançar, a necessidade de pensar sobre
aquilo que está brotando vai desaparecer.

Então o Buda não tem necessidade de pensar para perceber que não tem o
outro separado, fora.

A mente dele não tem sensação nem de eu e nem de outro: ele está livre no
meio da experiência.

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Ai não se fala mais de dentro ou fora, apenas de experiência: eu não posso
mais separar o externo do interno.

O Buda opera assim o tempo todo.

Então o Buda é aquele que olha através das experiências sem se fixar a coisa
alguma. Então a mente dele é livre, que não opera através da noção de um
“eu”.

Mas mesmo não operando através da noção de um eu fixo, o Buda é funcional.


Ele sabe a hora de comer, de dormir. Mas o Buda não separa mais aquele
corpo, através do qual ele se manifesta, do próprio cenário que está sendo
experienciado.

Meditação Shamata – 6º passo do Nobre


Caminho

Por sua vez, o Prajnaparamita é uma sucessão


da Sexta Etapa, ou seja, no Sexto Passo do
Nobre caminho, nós precisamos desenvolver a
habilidade de estarmos em contato com as
coisas, mas não sermos arrastados por elas. Se
não tivermos contatos com as coisas, não
teremos como gerar lucidez sobre elas, não
estaremos nem vendo. Mas se tomamos contato
com as coisas, e somos arrastados, com a mente
ocupada pelo sentido usual das coisas, então
também não teremos condição de colocar
sabedoria, porque já estamos ocupados.

Então, a meditação shamata é crucial,


corresponde a 6ª Etapa. Somos capazes de parar
diante das coisas para contemplá-las e vê-las no
seu aspecto profundo. Isso é shamata pura. Se
tivermos essa habilidade, então podemos ser
instruídos sobre como olhar. Mas se quando
olhamos, somos simplesmente arrastados, não
temos chance de olhar com profundidade. Não
há nem espaço. Parece que não tem nem
sentido. Parece que a nossa liberdade é
simplesmente seguir os impulsos que aparecem.
A noção de liberdade fica totalmente perturbada.

Usualmente os seres sencientes dentro do


samsara, dentro do giro da Roda da Vida, ao
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olharem para as coisas pensam que liberdade é
seguir o impulso que brota a partir da visão das
coisas. Nós vamos nos defrontar com esse
obstáculo, com essa parede, essa montanha,
através da meditação shamata.

Shamata não é mergulhar num estado particular,


onde ficamos imunes, mas é conseguirmos nos
manter equilibrados sem saltitar com a mente,
mesmo diante das coisas que dizem “sim, agora
faça isso, faça aquilo...”. Então essa é a nossa
prática. Se quisermos entrar nas regiões
cármicas mais difíceis para nós, precisamos de
shamata pura, ou seja, precisamos entrar nas
regiões de dificuldade, e lá, também não sermos
arrastados. Depois vamos usar a sabedoria do
Prajnaparamita (7ª etapa), como o conteúdo da
visão que foca essas regiões onde queremos
colocar lucidez. A seguir, na 8ª Etapa nós
localizamos a Natureza Incessante, Luminosa,
que está por trás de todas as experiências. Não
precisamos mais escolher nenhuma experiência,
mas seja qual for a experiência, nós podemos
localizar essa Natureza.

(41:43)

A gente partiu do OITAVO PASSO (Natureza Primordial). Ai, o Lama explicou o


SÉTIMO PASSO (PRAJNAPARAMITA), ou seja, a sabedoria que vai nos
libertar, mas tem uma etapa anterior, ou seja, SHAMATA (MEDITAÇÃO DE
CONCENTRAÇÃO).

SHAMATA significa, assim, repousar serenamente. É uma etapa de pacificação


da mente. A gente senta e vai gerar, apenas, foco, relaxamento e estabilidade.
A gente vai aprender a não ter de responder o tempo todo às exigências da
própria mente (a mente vai prá lá, vai pra cá, vai pra lá, vai pra cá, pede
aquilo).

Ou seja, ao invés de simplesmente responder, que é o padrão usual do


samsara, a gente tem de gerar essa capacidade de parar.

E não é um não responder, tenso, por disciplina, apenas: é um “não responder”


relaxado, sereno, em que a mente agitada vai sendo pacificada.

E com isso ela se torna uma ferramenta adequada para buscar a sabedoria.
17
Ou seja, se a gente não limpar o campo (não tirar as ervas daninhas, arar a
terra e etc.), a gente não vai conseguir plantar nada.

Aqui em SHAMATA é a mesma coisa. A mente samsárica é completamente


confusa. É disfuncional. Ela é obsessiva, compulsiva e disfuncional. Por isso
que chama transtorno obsessivo, compulsivo e delusório; como se fosse a
doença geral da humanidade.

Então, nós somos compulsivos nos nossos desejos e hábitos, nós somos
obsessivos naquilo que a gente quer (aquilo fica girando) e a gente está
deludido (completamente enganado sobre as aparências).

Então, Shamata, começa a curar isso. É uma etapa de cura: eu respiro


(tempo), respiro, (tempo) relaxo. (tempo). Foco.

(44:15) Não tem nada mais importante para fazer. É como se você estivesse
entrando num processo de cura psiquiátrica (a mente enlouquecida, que está
respondendo a tudo sistematicamente e, quando chega no final do dia, nem
percebe, direito, o que fez, né?).

Através de SHAMATA, a gente vai cortar esse processo. A gente vai agir com
mais tranquilidade, mais serenidade. Vai fazer as coisas, também, mas vai
fazer as coisas com ATENÇÃO PLENA e não, apenas, por responsividade
(automatismo). (44:50).

Tem os dois tipos. Aquilo que é chamado de SHAMATA IMPURA é porque tem
um foco específico. Então, eu restrinjo a minha mente para focar uma coisa
única por vez (um objeto externo, as energias, um objeto imaginário, a própria
respiração); seja qual for o objeto, é um objeto específico; a SHAMATA PURA
é uma meditação de concentração com o foco aberto (TODOS OS SENTIDOS
ABERTOS, MAS A MENTE ESTÁVEL, NO MEIO DISSO, NÃO SEGUE
NENHUM DOS ESTÍMULOS, QUE BROTA, nem visuais, nem auditivos, nem
olfativos e, assim por diante).

Então, a mente aprende a parar diante do mundo (ELA NÃO TEM DE ISOLAR,
COMO NA SHAMATA IMPURA): ela se mantém em contato com o mundo,
mas no contato com o mundo, ela não se move. (46:00).

As duas são necessárias, porque A SHAMATA IMPURA ensina a desenvolver


a capacidade de foco único (concentração intensa; foco único); e a SHAMATA
PURA ajuda a não responder quando os sentidos estão operando. Por
exemplo, é super útil, você está num ônibus (tem um monte de coisa
acontecendo ali); você pode manter uma mente tranquila, sem se desconectar
dos estímulos; mas sem se agitar por causa dos estímulos externos.

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Nas duas tem ATENÇÃO PLENA. Na SHAMATA IMPURA eu tenho atenção
plena em uma coisa por vez, na SHAMATA PURA eu tenho uma atenção plena
que não oscila diante do movimento das aparências

As duas são complementares.

(47:53) Na prática de shamata, seja impura ou pura não tem JULGAMENTO


nenhum: QUE SHAMATA É SÓ OBSERVAÇÃO (não tem raciocínio).
SHAMATA é o estado onde a mente, relaxada e tranquila, APENAS OLHA: ela
não responde; mas ela não pensa sobre o conteúdo daquilo que está sendo
visto.

O julgamento é uma construção dualista. O julgamento vai ser atravessado


através de prajna; não é a shamata que me liberta do julgamento, não.
SHAMATA gera, apenas, paz, equilíbrio ao corpo, equilíbrio às energias,
equilibra a mente.

Então SHAMATA tira o ser do excesso de confusão: prepara a base.

Mas shamata NÃO ME LIBERTA DO SAMSARA. Apenas, me prepara melhor


para não ser tão responsivo no meio do samsara. Ai, para eu lidar com as
minhas idéias fixas (julgamento, preconceito e etc.), ai eu preciso de prajna,
para atravessar isso (48:58).

No nosso Roteiro de Meditação, até o sexto item, é etapa de meditação; do


sétimo item em diante é etapa de ação no mundo.

Então, a prática de SHAMATA é essencial, né? (52:36)

(VIPASSANA tem análise).

(Fé é um elemento no caminho) (54:37)

(1:02:52) Então esse é o sexto passo. Não para nisso. Ele vem voltando. Ai
tem o quinto passo antes do sexto. Porque meditar em silêncio já é uma coisa
sofisticada (não é uma coisa trivial e básica). Não é qualquer pessoa que
consegue sentar, parar e focar.

Então tem as etapas anteriores. (1:03:34)

Estabelecemos relações positivas - 5º passo do


Nobre Caminho

Agora, a própria meditação em silêncio, shamata


impura ou shamata pura vem depois do 5º passo.

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No 5º Passo nós geramos méritos, ou seja,
estabelecemos relações positivas dentro do
mundo convencional, em todas as direções de tal
modo que depois possamos sentar em silêncio e
não sermos invadidos pelas ações negativas que
fizemos, que nos cobram ações urgentes para
reequilibrar o desequilíbrio que causamos.

Estabilizamos a nossa vida de tal maneira que


não tenhamos de nos defrontar com essas
conjunturas, circunstâncias, de ações negativas
que tenhamos feito e que agora aparecem como
cobradores cármicos diante de nós, e que
precisamos reagir de algum modo.

Então nós criamos méritos, criamos uma


conexão positiva em todo lado, de tal modo que
quando sentarmos para meditar, estaremos
apoiados.

(1:04: 36) Então, isso é essencial, também. É o que chamamos de gerar


méritos (ou carma positivo); que eu entendo que cada ação virtuosa que eu
realizo, aquilo tem boas conseqüências. Então, a gente vai praticar amor,
compaixão, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paciência,
energia constante, concentração e sabedoria.

Então eu vou praticar isso no meu dia a dia. Então, quando eu levanto da cama
de manhã, ao invés de eu me colocar a pensar (quero isso, quero aquilo),
pensar só em mim (EU, EU, EU, EU), eu me levanto e me lembro (QUE NO
DIA DE HOJE EU POSSA SER ÚTIL DE MUITAS FORMAS; QUE EU POSSA
ENCONTRR OPORTUNIDADE DE PRATICAR MORALIDADE E COMPAIXÃO
COM TODOS OS SERES QUE EU ENCONTRAR; QUE EU NÃO FIQUE SÓ
NA TEORIA: QUE EU SEJA GENEROSO EFETIVAMENTE; QUE EU POSSA
TER PACIÊNCIA COM AS PESSOAS QUE ME PROVOCAM, QUE ME
AGRIDEM E QUE NÃO CONCORDAM COMIGO).

Eu deveria, no primeiro raciocínio, quando eu abro os olhos; deveria ser esse


(EU ME LEMBRAR O QUE QUE EU REALMENTE ESTOU FAZENDO AQUI).

Se eu “mantiver” aquela mentalidade autocentrada (ACORDA: meu café, meu


banho, minhas coisas, velocidade, horário, Eu, eu, eu, eu, eu); aquilo é um
samsarão, né? É o samsara ao qual a gente está condicionado.

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Agora, se eu quebro isso, já de saída, de manhã, eu já começo o dia com outra
marca. Então, esse QUINTO PASSO, o modo de vida correto é o modo de vida
virtuoso. É exatamente o que nos falta, enquanto humanidade. (1:06:25).

(Livro o Lama e o Economista) (1:09:34).

Então esse é o QUINTO PASSO. O quinto Passo é um Pré-requisito para o


Sexto, Sétimo e Oitavo Passos. É difícil praticar PRAJNA se não estiver com a
vida mais ou menos arrumada. Muito difícil.

Não causar mal aos outros seres – 4º, 3º e 2º


passos do Nobre Caminho

Para fazer isso, para estabelecer relações


positivas em todos os lados nós precisamos da
etapa anterior, ou seja, precisamos pelo menos
da aspiração de não causar mal aos outros
seres. Se tivermos impulsos de causar mal aos
outros seres, é muito difícil que tenhamos
impulsos de criar coisas positivas para eles.
Então, abdicamos das ações negativas de corpo,
fala e mente (2ª, 3ª e 4ª Etapas).

Então, os SEGUNDO, TERCEIRO E QUARTO PASSOS, vão evitar as ações


negativas de corpo, fala e mente. Então tem uma listinha, né? Não matar, não
roubar, não praticar sexo impróprio, não agredir com palavras, não difamar,
não caluniar, não mentir, não usar fala inútil, não ser avarento, não ter má
vontade e não guardar visões errôneas sobre a realidade.

São as dez ações não virtuosas que a gente vai tentar evitar. E eu vou tentar
evitar aquilo não é porque o Buda disse que é certo. É porque gera sofrimento
para mim e para os outros.

Então, a gente vai restringir, um pouco, o comportamento. É super necessário.

(1:12:21) E, ai, a gente chega no primeiro item.

Motivação – 1ª etapa do Nobre caminho

Antes de abdicar das ações negativas de corpo,


fala e mente, ou seja, 2ª, 3ª e 4ª Etapas, nós
definimos a nossa Motivação. Essa motivação
vem como decorrência da compreensão da
Primeira Nobre verdade.

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Ou seja, a motivação é uma base. Se eu não estou com a motivação de me
libertar do samsara, que é a base do budismo, eu não vou agir a partir dos
passos posteriores. Eles não vão fazer muito sentido dentro de uma motivação
comum de mundo. (1:13:00). Se a minha motivação é a motivação comum do
samsara (ou seja, eu vou me dar bem; custe o que custar; doa a quem doer) ai
eu não vou praticar virtudes, evitar as não-virtudes, cultivar meditação e assim
por diante.

Então, é o entendimento que a Roda da Vida é uma experiência problemática,


de sofrimento e que seria interessante, talvez, viver de uma forma diferente:
viver com a mente operando a partir de outro softwere. Não o softwere da
“Roda”, mas o software de “Prajna”.

Então a motivação é a pedra inicial: entender que tem algo errado ali (por
algum motivo a pessoa desconfiou, em algum momento, que tem algo errado).
Ela buscou alguma coisa para ela entender se há uma saída desse processo.

Ela estava insatisfeita. É uma curiosidade.

Então, ou seja, eu preciso entender a Primeira Nobre Verdade.

Primeira Nobre Verdade – Não vamos a lugar


nenhum. Experiência Cíclica.

Ou seja, se nós tivermos uma motivação


equivocada, nós simplesmente ficamos presos
dentro da Roda da vida. Simplesmente buscamos
obter vitória, e essas vitórias nos levam para
outras circunstancias, depois para outras, todas
elas impermanentes. Não vamos a lugar nenhum,
apenas nos desgastamos.

Isso vai se repetindo, né? A gente repete, sistematicamente, as mesmas


coisas. É só olhar, quem tem 20, 30, 40 anos, é só olhar: olha pra trás e tem
vários exemplos. A gente se esforça, se esforça, se esforça e constrói alguma
coisa. E essa coisa, de repente, se esfacela: escorre pelos dedos.

Ai a gente constrói outra: se esforça, se esforça, se esforça. Constrói. Depois,


aquilo, de novo, vai embora.

Então a PRIMEIRA NOBRE VERDADE é essa: não é possível encontrar


felicidade através das experiências da Roda da Vida.

Sempre que eu coloco a minha felicidade na dependência da aquisição de


algo, na dependência da relação com outra pessoa, ou na dependência de

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qualquer nível de sucesso (seja qual for); qualquer coisa que eu tente
manipular as coisas externas para ser feliz; aquilo não vai dar certo; aquilo é
castelo de areia: mais cedo ou mais tarde, se dissolve.

Ai a gente sofre.

Então deveria contemplar a PRIMEIRA NOBRE VERDADE, sistematicamente,


porque, enquanto eu não entender bem a PRIMEIRA NOBRE VERDADE, ou
seja, que a experiência do samsara é sofrimento. “eu sigo assim, né? Mais ou
menos”. (1:15:48) Mas, ainda assim o mundo é muito interessante e atraente,
ou seja, o que brilha mesmo para mim são as experiências do samsara.

E ai é aquilo. Não é que eu deveria me afastar do mudo, mas eu deveria olhar


para o mundo com o olho mais esperto, assim: de quem já teria sido picado por
cobra.

Vai repetir “de novo”? Mais do mesmo? Vai cair de novo, no mesmo estado, na
mesma visão? Ai vai colher resultados semelhantes. (1:16:14).

Estar no meio das experiências sem estar preso nelas. Sem esperar que a sua
felicidade venha delas.

O problema é quando eu deposito expectativa, esperança que aquilo (obter


resultado nas experiências) é aquilo que eu tenho de fazer aqui.

Ou seja, eu vou ser feliz depois que eu fizer aquilo, aquele outro. (Tem uma
listinha, né?).

Ai, eu nunca chego lá.

Ai, mesmo resolvendo todos os itens da listinha, eu não sou feliz.

É olhar para cada experiência com olhar de sabedoria. É não se emaranhar.


Não se prender nas experiências. É transitar pelas experiências; sem fugir
delas. Sem fugir.

No meio das experiências tem liberdade: tem espaço; não tem apego; não tem
dependência.

Eu não dependo daquilo para estar bem.

Eu posso comer chocolate. Não tem problema. Mas se eu dependo de comer


chocolate para ficar bem, para estabilizar a minha energia, eu estou com
problema. Eu estou dependente.

23
Ai, quando aquilo falta, eu passo mal.

Chocolate, cigarro, comida, bebida, etc. Várias coisas. Então isso tudo é prisão.

Então, eu vou circular pelas experiências, sem me deixar prender por elas.

Isso seria interessante se a gente conseguisse fazer isso. (1:18:24).

Então, tem sofrimento ou não tem sofrimento no samsara?

Então o Buda vai dizer que o samsara é como se fosse uma casa em chamas.
Só que o samsara não é um lugar físico. É um modo de operar a mente: é um
modo como a mente se posiciona diante das aparências. (Isso é muito
importante entender).

A gente não está querendo sair desse mundo para ir para um outro mundo
legal. Esse não é o objetivo do caminho. O caminho é se libertar do mundo no
meio do mundo. É poder atuar no meio do mundo com lucidez, com sabedoria,
sem precisar se afastar dele. (1:19:20).

(1:22:37) Quando eu peso o sofrimento (meu e dos seres ao redor). Quando eu


olho para isso com cuidado, eu começo a perder o encantamento pelo o modo
de vida samsárico. Eu começo a olhar pro samsara (mas o samsara não dá
certo. É uma experiência que todo mundo se dá mal no final).

Então isso me estimula a seguir o caminho. Pela compreensão da Primeira


Nobre Verdade, do sofrimento que tudo permeia, com aquilo eu começo a me
tornar um praticante mais genuíno.

Enquanto eu não vejo isso, eu sou um praticante mais ou menos. Estou com
um pé na canoa do budismo e um pé na canoa do samsara, tentando me
equilibrar nas duas canoas.

24
VÍDEO 3
RECAPITULAÇÃO (05:16 até 13:07).

Alguém se lembra do que nós vimos até a semana passada?

Tem aquela super revisão do Lama, apresentando o Nobre


Caminho de Oito Passos. É a base de todo o budismo: As quatro
Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo (que é a quarta
nobre verdade).

A gente chegou nas 4 nobres verdades.

A gente viu o SOFRIMENTO, que permeia todas as experiências.

A gente deveria refletir longamente sobre isso.

É isso mesmo? (A existência no samsara é permeada por


sofrimento, mesmo?) Ou, mais ou menos? (pausa) - Aquilo às
vezes é (pausa) e às vezes não é -.

É importante olhar isso. (pausa) Porque esse tema vai determinar


o nosso grau de engajamento no caminho.

Enquanto a gente tem alguma esperança secreta no samsara (-É,


TÁ RUIM, MAS PODE MELHORAR; SEMPRE TEM AQUELA
IDEIA DE QUE O SAMSARA, UMA HORA, PODE DAR CERTO).

Então, a gente guarda essa esperança secreta em algum lugar da


nossa mente.

Então, a gente não consegue se entregar ao caminho. (7:19)

Percebem isso?

Então, é super recomendado essa contemplação repetida do


sofrimento; dos vários reinos, o que não é uma abordagem,
pessimista, negativa da vida; não, é uma abordagem que olha os
fatos da manifestação, enquanto samsara.

A gente não está criticando o lugar em si ou os tipos de seres,


mas está criticando a mente com a qual os seres operam. Isso é
bem importante.

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O samsara, a Roda da Vida não é um lugar físico, a Roda da Vida
é uma experiência interna; uma experiência mental; emocional.

E a partir disso brotam todos os reinos.

As aparências externas dos reinos são, totalmente, construídas a


partir do estado mental, interno, dos seres, que ali habitam.

Então é o contrário, não é que o meio gera o ser; na verdade, na


visão budista, o ser gera o meio, inclusive as aparências físicas e
geográficas do planeta. E assim por diante. Na visão do Buda, isto
é, nada mais do que o cenário adequado para o carma de alguns
seres específicos.

Uma visão fascinante, né? Interessante.

A gente vai entender, também, isso: que ninguém nasce no lugar


errado, ou seja, o carma de cada ser, naturalmente, atrai o ser
para renascer nas condições adequadas para experimentar
aquilo.

Não há nenhuma idéia de plano. Não há um plano: há arraste


cármico. Vai acontecendo de modo não lúcido: modo totalmente,
ignorante. (9:15)

Então, o nosso trabalho é recobrar a lucidez (a liberdade) diante


dessas experiências samsáricas, que podem nos arrastar.

Então, essa é a primeira Nobre Verdade. É preciso olhar para


isso.

Perceber, né? Essa idéia da casa em chamas. (9:30)

Hoje está tudo bem, né? Mas a qualquer momento,... (temos


corpos muito frágeis, emoções muito frágeis, estrutura, assim, de
sustento muito frágeis).

Qualquer coisa que dê errado, derruba todo o edifício: um exame


de rotina, pronto: problema! Tem alguma coisa lá e a pessoa já
entra em perturbação. (9:55)

A gente deveria olhar, assim, com cuidado, a fragilidade da vida


humana e aproveitar, aquilo, bem, enquanto há tempo.

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Então tem esses raciocínios: SOFRIMENTO, VIDA HUMANA
PRECIOSA, IMPERMANÊNCIA. Eu deveria aproveitar. (10:23).

Mas ouvir e entender isso não é o suficiente. A gente precisa


contemplar isso profundamente, até o ponto em que nossas
prioridades (pausa) mudem. Ou seja, esses raciocínios, eles
foram projetados para voltar a mente dos seres para o Darma.

Os seres estão com a mente voltada para o samsara.

Esses raciocínios vão, lentamente, assim, tirando a fixação do


samsara, gerando interesse genuíno pelo Darma, que é o
caminho que pode levar á liberação. (11:19)

Então, não tem como pular essas etapas: a gente tem de passar
por isso.

É a experiência de lucidez que nos liberta do sofrimento. Só que a


lucidez, às vezes, não vem tão rápido, né?

Então, a gente precisa, com lucidez ou sem lucidez, a gente


começa a contemplar a estrutura do samsara e isso nos gera o
interesse cada vez maior ainda pela lucidez; a gente quer sair
daquilo (quer operar de outra forma).

Eu me liberto de uma região cármica específica e isso me alivia.


Ai, eu olho e vejo que as pessoas estão patinando naquele
mesmo problema. Ai brota compaixão, brota a vontade de ajudar
o outro.

Essa é a Primeira Nobre Verdade. (13:06).

Então o Buda anunciou a Segunda Nobre Verdade.

Segunda Nobre Verdade – A prisão é artificial.


Causas da experiência Cíclica.

Então o Buda diz que ainda que isso seja a


origem de Duka, do sofrimento, da prisão, essa
origem, é artificial. Essa noção de que todo esse
processo circular é originado de modo artificial,
é a compreensão da Segunda Nobre Verdade.
Esta pode ser melhor compreendida pela
descrição completa do quadro da Roda da vida,
especialmente os Doze Elos da Originação

27
Interdependente, que são o circulo externo da
Roda, e que Yama ou Maharaja segura. Com isso
compreendemos a artificialidade e a mecânica
toda pela qual a nossa circunstancia é montada.

O Buda está dizendo que o sofrimento não é uma condição inerente à


existência.

Isso é muito importante.

O Buda vai dizer que esse sofrimento é artificial. Ele é temporário: tem causas
e condições, que o construíram.

Porque, se tem causas e condições que o construíram, a gente pode


desmantelar essas condições.

Então a Segunda Nobre Verdade, também, vai ser estudada em detalhes. A


gente vai entender como se prendeu, né?

Como é que a gente se perde no samsara?

Ai tem os Doze Elos, direitinho, né? (IGNORÂNCIA, MARCAS MENTAIS,


CONSCIÊNCIA, NOME E FORMA, SENTIDOS, CONTATO, SENSAÇÕES,
DESEJO, APEGO, NASCIMENTO, SUSTENTAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA
VIDA E DECREPITUDE E MORTE).

Os Doze Elos descrevem, cuidadosamente, como a mente vai gerando


compreensões errôneas e, como cada compreensão (dessa) condiciona a
próxima compreensão errônea.

Então a confusão vai só aumentando.

É importante estudar isso. (16:00)

Então, vem a Terceira Nobre Verdade.

Terceira Nobre Verdade – Dissolução da


Experiência Cíclica.

Uma vez que tudo isso é artificial, então pode ser


dissolvida. Ou, como se diz nos ensinamentos da
Grande perfeição (Dzogchen) - tudo aquilo que é
artificial é naturalmente liberto -. Não precisamos
nem nos preocupar em dissolver, pois, ao surgir,
já tem dentro de si sua extinção: olhamos e

28
reconhecemos a extinção natural de todas as
coisas artificialmente surgidas, entre elas a
nossa própria vida.

O próprio nascimento do corpo, enquanto uma vida, é de surgimento


temporário, artificial: tem causas e condições.

Até quando chega o momento que a gente não consegue sustentar essas
causas e condições e morre.

A gente começa a meditar, começa a pensar e percebe que a gente consegue


diminuir um pouco.

A prática de shamata (de concentração meditativa) ela vai amortecendo a


nossa reação diante das coisas.

Então, a gente encontra um eixo de estabilidade e se abala menos diante das


experiências.

Isso dá um referencial, que o sofrimento pode ser minimizado.

Mas ai eu vou avançando e vou percebendo que não apenas o sofrimento pode
ser minimizado, mas ele pode ser completamente extinto, se eu arrancar as
raízes que geram o sofrimento.

Ai vem o prajnaparamita, objeto do nosso estudo, ou seja, sabedoria que vai na


raiz da coisa, ela não amortece, apenas: não minimiza; elimina, completamente
as causas. (18:53)

Ai vem a Quarta Nobre Verdade. (31:02)

Quarta Nobre Verdade - Caminho para a extinção


da Experiência Cíclica

É o caminho que nos leva a um processo


deliberado em direção à extinção da Experiência
Cíclica.

Esse caminho começa com a motivação - 1ª


Etapa

Segue com a recomendação de não trazer


sofrimento aos seres através do corpo, fala e
mente -2ª, 3ª e 4ª Etapas.

29
Depois vem a 5ª Etapa - trazer benefícios aos
seres.

Depois a 6ª Etapa – Meditação. Sentar presente,


porém imune aos impulsos que brotarem, sem
permitir que a presença das coisas nos arraste.

Então vem a 7ª Etapa – Prajnaparamita.

Enfim, o nosso tema.

É importante entender essa estrutura do caminho.

Não basta estudar. Estudo é bom. Meditação é melhor.

Acumular, sistematicamente, etapas de meditação, sobre cada um desses


itens. É super necessário. (32:05)

Prajnaparamita

Aprendemos a examinar o conteúdo daquilo que


nos perturba. Vamos liberar a aflição, porque ao
olhar esse conteúdo, nós vemos que ele é
coemergido conosco mesmos. Não é um
conteúdo externo que atua sobre nós. É um
conteúdo que coemerge com nossa disposição
mental. Descobrimos então que não precisamos
seguir aquilo. Podemos ultrapassar as
contingências externas, ultrapassando as
contingências internas, porque elas são
inseparáveis.

Ao refletir sobre isso, sobre a criação desses


mundos externos a partir das experiências
internas, ao refletir sobre a coemergência dos
mundos externos e internos como inseparáveis,
gêmeos, uma unidade, nós terminamos
encontrando uma Natureza Ilimitada, que é Livre,
Luminosa, Compassiva: atribui sentido e energia
àquilo que constrói e, que também, dispõe de
uma capacidade Cognoscente, que olha para as
coisas e é capaz de entendê-las e superar o
engano. Essa capacidade cognoscente termina
por gerar o Dharma.

30
Então, a ponta do novelo é a noção de coemergência.

A gente teria muitas formas de entrar nisso. Então, uma forma tradicional, é a
gente pegar os objetos, os fenômenos e decompô-los.

Eu pego as coisas e começo a analisar. Eu vou tirando as partes de uma coisa


e o que (que) sobra ao final?

Não sobra nada.

Então, eu vou concluindo que as coisas não são reais como parecem. Elas
são, apenas, a junção de muitos fatores, causas e condições. E que elas não
tem essência.

O exemplo clássico que o Buda vai trazer é o da carroça. (35:43)

Eu vou tirando as partes.

Em que momento a carroça deixa de ser carroça?

Então, não existe carroça. A carroça é uma construção mental. É uma


designação mental que a mente humana olha, junta coisas e chama de uma
certa coisa.

Mas não existe carroça por si só. (36:20)

Então, existe esse método de analisar as coisas, enquanto externas.

Ai, depois, eu faço isso com o “EU”. Eu vou olhar para a própria noção de
pessoa, de ser, de identidade e começo a analisar os vários constituintes do
“EU”. E começo a ver, também, que não há esse ser, essa pessoa, essa alma,
esse espírito, central, que a gente possa apontar e dizer: Ah! Isso é a pessoa!

A gente vê que tem os cinco agregados operando: corpo, sensação,


percepção, formação mental e consciência operando. Todos em conjunto, mas
que, quando eu tiro qualquer um deles não tem mais uma pessoa operando.

Ou seja, uma pessoa, nada mais é do que uma agregação daqueles fatores.
(37:07), o que para nós é muito estranho, né? Que a sensação de ser alguém,
em si: eu sou eu! Eu sempre sou eu!

A gente não percebe que a gente está mudando de instante a instante; que não
há um eu contínuo; que é uma ilusão essa sensação de eu contínuo.

Isso é muito importante olhar com cuidado.

31
Então, isso é um método. Um método que a gente pega uma coisa e
decompõe aquilo em partes até perceber, que não sobra nada no final: não tem
essência. (38:05)

Os seres humanos são isso e os fenômenos são todos assim (carroça,


templo,...).

Ta, bom, mas e daí? Que exercício mental é esse, né?

Isso tem implicações gigantescas, porque quando eu começo a entender isso,


o meu apego às aparências, às coisas começa a se dissolver. Por exemplo, a
gente tem um apego muito grande ao próprio corpo, à própria identidade, à
própria noção de “eu”.

Quando eu começo a olhar pra essa noção de eu e começo a ver que não tem
nenhuma base, nenhuma solidez nisso, eu começo a relaxar um pouco na
minha idéia de „”eu”. Ai, eu vou desapegando, lentamente. Consequentemente,
eu tenho menos emoções perturbadoras.

Menos apegado à defesa do meu “eu”, eu sofro menos. (40:55).

Mas, milagrosamente, mesmo me desapegando (né?), dessa noção de “eu”, eu


sigo operando muito bem. Que eu poderia: então, “pêra ai”, se eu tiro todos os
pedaços, então desaparece; não sobra nada no final.

Mas, ai, vem a noção de que, milagrosamente, sobra alguma coisa. Essa coisa
é essa base, que é impessoal, que está por trás de todas as aparências.

Então eu vou vendo essa possibilidade. Ai, eu vou chamar isso de


vacuidade/luminosidade, ou seja, tem uma base, que é vazia, que, portanto,
não tem essência nenhuma, que não tem características próprias (eu olho
“praquilo” e não consigo definir alguma coisa fixa lá). Ai eu chamo de
vacuidade: espaço de possibilidades.

Esse espaço de possibilidades, ele não é morto: ele tem vida; ele tem cognição
ali dentro. Ele tem mente operando. Só que essa mente não é uma mente de
alguém; não é uma coisa.

Tudo bem? Vocês estão acompanhando mais ou menos? (41:57)

Esse é o raciocínio, que a gente vai passar diversas vezes: de como não sobra
nada.

E, como não sobra nada, a que que eu vou me apegar?

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Eu me apegaria a miragens do deserto? (se eu soubesse que a miragem é
miragem?).

Faz sentido se apegar a uma miragem?

Faz sentido se apegar ao sonho, durante a noite, sabendo que o sonho vai
acabar?

Então, quando eu começo a ver esse espaço, essa flutuação, essa liberdade,
que tem no meio das aparências; eu começo a me libertar delas.

Então, esse é um raciocínio. É um raciocínio para a coisa em si.

Ai tem um outro raciocínio, que nós vamos utilizar aqui, que é o raciocínio da
coemergência. (43:01), ou seja, a coemergência é essa idéia de olhar de como
o fora não está separado, o tempo todo, do dentro.

Faz ou não faz sentido? Vamos olhar. (43:18)

Por exemplo, o quadro. Eu vou dizer que o quadro está, apenas, na minha
mente? Ou o quadro está, apenas na parede? Ou, isso: simultaneamente, os
dois operam?

Não tem como falar de quadro, sem ter um sujeito; um observador que fale de
quadro.

O que que seria do quadro sem um observador para descrevê-lo? (44:02)

Mas a gente tem de tomar cuidado para não cair no outro extremo: ai, então, o
observador inventa tudo (o observador, sozinho, unilateralmente, ele constrói
todas as aparências).

Também não é isso.

Então, esse é o mistério da realidade: não “tá” nem só dentro (na mente); e
nem “tá” só fora (nos objetos); os dois são inseparáveis.

Então, esse raciocínio, tão simples, é ele, que quando cultivado, a gente vai
acabar superando a dualidade de sujeito e objeto; que é justamente a entrada
no samsara (O primeiro elo da originação interdependente; avydia é a entrada
da confusão).

Então, através de prajna, que é essa inteligência, que olha “pras” coisas e não
mais vê as coisas como separadas “de minhas estruturas internas”, mas
entende que o mundo é inseparável “de mim mesmo”, então isso vai,

33
naturalmente, dissolvendo a noção tanto de “eu” separado, quanto de objeto
separado. E aquilo vai gerando uma pacificação diante das experiências.

Só que isso, a gente começa entendendo, mais ou menos, ai eu vou ter de


cultivar isso. Eu vou ter de ver muitos exemplos disso, em todas as direções.
(45:40).

No que tange a uma pessoa; quem seria essa pessoa que está sendo
observada? Ai eu vou ter sempre de ter de perguntar: depende, aos olhos de
quem?

Sempre eu vou ter de ter um referencial. Não existem (ééé) aspectos absolutos
nas aparências: nada é absoluto; tudo é relativo.

Então, cada pessoa, é um ser livre, flutuante, móvel e que, ainda é interpretado
por cada um, a partir “de suas” estruturas internas.

Ai a gente começa a ver a complexidade das relações, porque alguém, fixado


nas suas estruturas internas, olha “pra” fora e vê outra pessoa. Ai, lê essa
pessoa de forma inseparada com as suas estruturas internas. Ai começa a se
comunicar com essa pessoa; só que a outra, também está olhando “pra” de
“cá”, também com as suas estruturas internas. Então, as duas estão projetando
conteúdo interno delas sobre o outro; o outro tem uma idéia própria sobre si
mesmo; e, aquela pessoa, está vendo uma outra idéia sobre o outro. Ai
começa uma comunicação completamente truncada (47:26), em que alguém,
emite uma mensagem, essa mensagem é recebida e interpretada a partir de
um olhar específico e é devolvida de uma outra forma que é interpretada (...);
ou seja, o erro na comunicação vai ficando gigantesco (47:39).

(50:26) Percebam: tão pronto uma experiência brota diante dos olhos, a gente
julga, na hora; a gente atribui significado: é isso; é aquilo; .gostei; não gostei;
horrível. A gente não dá tempo para a pessoa preparar a sua defesa, ouvir as
testemunhas.

Não dá. A gente já julga e executa, na hora.

Tá no olho, assim: tudo é visto de uma forma fixa, imediata.

Isso é avydia: ignorância.

Então, eu preciso recuar desse processo. Eu preciso ganhar esse olho de


coemergência. Por exemplo, quando eu percebo que eu estou me irritando com
uma conversa: aquilo está esquentando. (-Opa!) Eu estou entrando numa
experiência em que eu “to” dando para aquela pessoa, para aquela situação, o
poder de me irritar. (- Por que eu estou me irritando?) Porque essa pessoa está

34
falando isso, isso e isso, que eu não concordo. (- Ela está discordando de
mim!). (Como ela tem a ousadia de discordar de mim?) (E me irritando!)

Eu começo a perceber como as minhas estruturas internas “tão” construindo


uma experiência de irritação.

Às vezes o outro nem percebe que está fazendo aquilo; nem tem essa
intenção, essa motivação de me irritar.

Mas eu “to” me irritando, mas do meu lado, tem outro lá, que está achando
aquilo o máximo (o que aquela pessoa “tá” falando).

LIVROS MENCIONADOS NESSE VÍDEO

- Texto além do materialismo espiritual (Trumpa Rinpoche) vai analisar, com


cuidado, todas as armadilhas do caminho espiritual (55:55). Livro Lúcida Letra.

- Livro Dimensões Escondidas – A Unificação da Física e Consciência. (Alan


Wallace).

35
VÍDEO 4
(18:03)

Ao refletir sobre isso, sobre a criação desses


mundos externos a partir das experiências
internas, ao refletir sobre a co-emergência dos
mundos externos e internos como inseparáveis,
gêmeos, uma unidade, nós terminamos
encontrando uma Natureza Ilimitada, que é Livre,
Luminosa, Compassiva. Atribui sentido e energia
àquilo que constrói, e que também dispõe de
uma capacidade Cognoscente que olha para as
coisas e é capaz de entendê-las e superar o
engano. Essa capacidade cognoscente termina
por gerar o Dharma.

Então, nesse espaço básico, nessa natureza primordial, nessa mente, que
compreende como as aparências surgem, como os processos de construção
de experiências surgem, essa mente, que olha “pra” si mesma (ela é
autorreflexiva). Ela olha “pra si mesma” e reconhece a própria criação; o
próprio engano, que ela mesma gera.

Então, essa mente tem inteligência; tem cognição: ela não é morta.

Esse vazio, não é um vazio morto; não é um vaio estático. É um vazio


luminoso e inteligente (cognitivo) (19:28).

Então, é importante entender isso, também, porque, quando a gente estuda as


etapas de prajna focando, especialmente, a vacuidade, pode parecer (-Então o
que que sobra?). Não sobra nada?

Então, efetivamente, não sobra nada, que não seja real por si só, mas essa
mente final, que sobra, a gente poderia dizer que sobra, ela não é uma coisa,
ela não é um objeto, ela não pode ser apontada, ela não pode ser definida.

Então, esse é o grande mistério, assim, da existência fundamental da realidade


das experiências.

Aquilo se manifesta. Aquilo tem um brilho. Aquilo tem cognoscência, tem


inteligência, porém, quando eu tento apreender aquilo, de alguma forma, aquilo
escapa entre os dedos.

36
Então isso é super, assim, interessante e, ao mesmo tempo um tanto quanto,
assim, chocante (20:25).

(20:36) Na verdade é isso: toda vez que eu tento fixar a realidade, de alguma
forma, ai eu não encontro uma resposta definitiva. Eu encontro algo que é,
mais uma vez, temporário e impermanente.

Se eu aponto alguma característica fixa na natureza primordial eu,


imediatamente, recaio na dualidade e, portanto, não é aquilo. Eu perdi aquilo
de novo.

Então, é importante entender isso.

Então, o segredo do Buda é repousar nessa


condição de liberdade, olhar para aquilo que é
construído com essa capacidade cognoscente.
Ele olha e gera o dharma. O dharma é o
ensinamento que dissolve a artificialidade da
construção. Podemos usar o exemplo do lenço
com vários nós. Ainda que o lenço possua vários
nós, ele continua sendo o lenço original. Isso é a
compreensão da Grande Perfeição (Dzogchen).
Ou seja, não importam quantos nós forem atados
no lenço, ele é o lenço original. Agora, se
quisermos recuperar a aparência original do
lenço, então precisamos da capacidade
cognoscente – olhamos o lenço, examinamos
como os nós foram dados. Então desatamos.

Então, esse é um exemplo tradicional (né?) que se vai usar. Então, as


aparências, a nossa existência é como um lenço branco, imaculado, sem
manchas, porém, cheio de nós.

Então, os nós, dão a impressão de que surgem aparências, surgem distorções


no lenço: o lenço original parece uma outra coisa, devido os nós. Porém, o
lenço, em si, nunca se altera, quando os nós são dados: a essência do lenço é
a mesma.

Então, da mesma forma, a gente precisa entender o mecanismo de


desconstrução dos nós, de certa medida, para poder enxergar o lenço original
(o lenço livre de qualquer mácula).

Então, essa é a natureza da nossa mente. A gente, em geral, se vê como seres


confusos, como seres deludidos, como seres problemáticos, cheios de

37
emoções perturbadoras, a gente tende a enfatizar, bastante, os aspectos de
identidade (se fixar nisso).

E quando eu “to” fazendo isso, eu “to” tomando os nós como se fosse o lenço:
eu “to” apegado aos nós; eu “to” definindo o “EU” a partir dos nós. Então eu
perco a visão da pureza do lenço primordial, que está por trás dos nós.

Isso é uma boa forma de explicar “pra” onde o prajna irá nos conduzir: para o
reconhecimento do lenço livre dos nós.

O ensinamento do Buda sobre o Dharma diz: não


há um Dharma fixo, não há uma doutrina final. O
Dharma é essa capacidade cognoscente de olhar
para as coisas e ao olhar, saber o que fazer.

Então, essa idéia de que não há um Darma fixo, não há um ensinamento, uma
doutrina fixa, isso, também, é algo, assim, bastante (ééé) desconcertante no
budismo. No Sutra do Diamante, especialmente, o Buda vai deixar muito claro,
no diálogo ente o Buda e Subhuti (um dos discípulos dele), o Buda pergunta:
Subhuti, quando o Tathagata recebeu os ensinamentos do Buda Dipankara, lá
no passado, isso permitiu que no futuro ele alcançasse a iluminação? Ele
recebeu algum tipo de Darma fixo, algum tipo de transmissão real? E o Subhuti
vai dizer: não. Tathagata não recebeu, absolutamente, nenhum Darma fixo,
nenhum ensinamento definitivo.

Justamente por aquilo não ser sólido, não ser real. Então, o sistema de
ensinamento, o Darma, ele não é fixo: ele é uma inteligência, como o Lama “tá”
trazendo aqui. Ele é a capacidade de olhar para as coisa e, ao olhar, saber o
que fazer com uma natural liberdade diante das aparências, por não se apegar
aos nós do lenço.

Isso é o Darma. Esse é o Darma último.

É claro que existem os ensinamentos sobre a verdade relativa, em que a gente


vai estudar, detalhadamente, os seis reinos da roda da vida, as ações virtuosas
e não virtuosas, os doze elos da originação interdependente.

A gente vai entender, a partir da verdade relativa, tudo que deve ser evitado,
tudo que deve ser acumulado. E a gente vai praticar as perfeições
(generosidade, moralidade, paciência, energia constante e concentração).

Então, tudo isso, é muito útil e é um pedaço enorme (né?) do caminho do


Darma, mas a gente vai caminhando na direção do Sétimo Passo, no Nobre
Caminho Óctuplo, que é Prajnaparamita, que vai, justamente, nos libertar de
qualquer fixação à verdade relativa, a todas as classe de Darmas anteriores.

38
Então, em Prajna, todos os sistemas se dissolvem.

Então, isso, ao mesmo tempo, que é desconcertante, de outro lado, é


extremamente libertador. Não é? Porque a gente acaba se libertando, inclusive,
do próprio Darma, do próprio Budismo, não gerando apego, não gerando
fixação a isso como ensinamento, como uma doutrina fixa.

Então, o Buda nos liberta do próprio Budismo.

Tem esse ensinamento: o Darma é como uma jangada, que nos conduz até a
outra margem, da liberação. E, ai, a jangada é deixada “pra” trás: é
abandonada.

É bem importante.

Não dá para ritualizar isso: pegue o nó, use a


mão direita, puxe... não tem como fazer assim,
porque os nós são todos diferentes e o samsara
possui nossa capacidade construtora de nós e
confusões, que por sua vez, vai produzindo mais
nós e confusões com outras configurações.
Então, é necessário uma inteligência ativa: não
basta uma inteligência enquanto recomendação.
Precisamos de uma inteligência ativa que olha e
é capaz de desatar.

Esse é o tema.

As pessoas perguntam: (-como ajudar as outras pessoas?); como intervir de


modo efetivo na vida das outras pessoas?

Ai vem essa explicação: sempre no processo de ajuda, no processo de


beneficiar os seres, vão ser aplicadas as Cinco Sabedorias (né?). E não há
uma formula fixa: não dá para estabelecer um coquetel, disso assim: quanto
que eu uso da cor azul, da cor amarela, da cor vermelha, da cor verde, da cor
branca.

Então, essa sabedoria é uma sabedoria intuitiva, que vai brotar justamente do
fato de repousar numa região onde os nós não são vistos mais como sólidos e
reais. Então, quando o bodisatva repousa nessa região, ele se torna efetivo na
ajuda aos seres.

Enquanto a gente, ainda, habita em regiões em que os nós são vistos como
reais ou sólidos, ai, nesse tipo de circunstâncias a gente, a nossa ajuda é mais
ou menos. A nossa ajuda é limitada, a nossa ajuda é tendenciosa, porque a

39
gente está operando a partir de uma bolha, a partir de algum espaço fixo. E o
bodisatva, que, efetivamente, repousa em prajna, ele não. Ele tá livre das
bolhas e, portanto, ele consegue ajudar os outros, reconhecendo no problema,
na condição do outro, o fato que aquilo não é real, não é sólido.

Ele nunca acredita naquilo que o outro está dizendo. Ele acolhe o que o outro
traz, mas ele vê a artificialidade na experiência do outro, apesar do outro não
ver. O outro vê aquilo como muito sólido, real e se vê preso naquilo, sofrendo,
passando mal por causa daquilo.

Então, aquele que quiser ajudar, não vai encontrar nenhuma fórmula pronta
(29:19).

(29:32) A gente vai precisar desenvolver essa lucidez natural, instantânea,


como a gente usa na prática de Metabhavana, na meditação do Amor
universal, na sexta frase do Metabhavana a gente vai falar isso: que aquele ser
encontre lucidez de modo natural e instantâneo. Tem que ser na hora. Não
pode ser uma coisa planejada, estruturada: aquilo brota, justamente, da
liberdade (desse espaço aberto, que é conquistado, através da prática de
prajna).

Então, a gente chega ao tópico “Abordagem da Segunda Volta do Darma”.

Abordagem da Segunda Volta do Dharma –


Prasangika Madhyamika

Lembrem que o Buda, ele deu (no primeiro encontro eu falei sobre isso), tem
os Três giros da roda do Darma. São as três principais classes de
ensinamentos, que o Buda transmitiu ao longo dos quarenta e tantos anos de
professor, que ele teve na Índia.

Então, o Primeiro Giro, vamos lembrar, focava, especialmente, os


ensinamentos de causalidade da Volta do Darma.
Está focado especialmente sobre os ensinamentos sobre causalidade. Busca
entender como o carma opera, como a gente vai construindo as aparências, de
modo causal.

E o Primeiro Giro culmina na liberação da ideia do “EU” (DE EGO).

Então, o Primeiro Giro da Volta do Darma, também, tem uma noção de


vacuidade, mas essa vacuidade se restringe à noção de indivíduo, enquanto
ser único, sólido e real.

Então, esse é o Primeiro Giro.

40
O Segundo Giro, que é esse aqui, que é exempficado pelos sutras da
prajnaparamita, esse Segundo Giro, ele vai focar nos aspectos vazios das
aparências. Então ele tem essa característica desconstrutiva. Muitas vezes
visto como uma via negativa (uma forma de decompor as aparências, as, (as)
experiências (ééé), enxergando o vazio daquilo e nos libertando do apego.

Ele tem esse foco principal.

Então vamos olhar “pra” esse Segundo Giro.

Esse termo (né?), Prasangika Madhyamika, é uma classificação um tanto


quanto complexa das várias escolas filosóficas, que foram surgindo no
Budismo ao longo dos séculos (31:59).

(32:44) Madhyamika significa caminho do meio (então, é a escola que propõe o


caminho do meio). Prasangika significa os consequencialistas.

Prassanka era um tipo de argumento lógico, usados nas escolas, que mostra
quais são as conseqüências (éé) falsas de um argumento.

Então, os Prasangika, tudo que o oponente vem e afirma uma verdade, os


Prasangika vão trabalhar (ééé), mostrando as falhas daquele raciocínio;
mostrando, como é possível (ééé), derrubar o argumento do outro, uma vez
que o argumento do outro tenta afirmar algo fixo (os Prasangika vão mostrar as
incoerências, através de um processo, que se chama redução ao absurdo).

Vão mostrando as conseqüências absurdas de afirmação de algo, enquanto


fixo.

Então, é uma coisa bem filosófica, assim.

Eles se afirmaram dentro do Budismo Tibetano, especialmente, como uma das


escolas consideradas, assim, as mais elevadas (33:50).

(34:10). Então o Lama vai apresentar, um pouco, essa visão, agora (né?).

Então, a Natureza Última dispõe de uma


capacidade cognoscente, que pertence à própria
vacuidade.

Então, aquilo é inseparável (vacuidade, luminosidade, essa capacidade


cognoscente elas não são aspectos separados).

Quem vem antes, a vacuidade ou a luminosidade ou o aspecto cognoscente?

41
Então, não há essa separação. Não há como falar sobre isso, enquanto coisas
separadas.

São, totalmente, como as faces de uma mesma moeda.

Então, as pessoas tentam gerar uma forma lógica de entender “da vacuidade
brota a luminosidade e brota o aspecto cognoscente e brota a energia” como
se cada uma dessas etapas fosse uma conseqüência da outra. E não é assim
que isso explica (na natureza primordial todas essa características surgem,
simultaneamente, de modo inseparável.

Quando olhamos isso, podemos entender o que


é a abordagem da Segunda Volta do Dharma, que
muitos mestres chamam abordagem Rantong, ou
abordagem Pransangika Madhyamika,

A palavra Rantong significa (ééé) vazia de si mesmo. Então, é uma abordagem


radical de vacuidade, em que todos os darmas são analisados e vistos como
vazios de si mesmos. Inclusive a mente é olhada e vista como vazia de si
mesma.

Então, nessa abordagem,

vamos olhar para o mundo externo e vamos dizer


“nada disso é sólido”. Essa é uma das
abordagens do Prajnaparamita – nada disso tem
substancia. Samasathi.

Então essa palavra, Samasathi, significa a mais elevada atenção plena, o


nome do Sétimo Passo do Nobre Caminho Óctuplo, em sânscrito.

Então, a Sétima etapa, onde a gente trabalha prajnaparamita, é a etapa de


Samasathi, em que eu tenho a visão correta, a atenção mental correta (36:36).

Ai vem a abordagem da Terceira Volta do Darma.

Abordagem da Terceira Volta do Dharma –

8º passo do Nobre Caminho – Samasamadhi

Samasamadhi seria o mais elevado samadhi.

Samadhi é absorção meditativa. Seria, assim, êxtase meditativo mais elevado


do Buda: o Oitavo passo. Ponto último.

42
Depois vem a abordagem da Terceira Volta do
Dharma, específica do 8º Passo do Nobre
caminho – samasamadhi.

Então, no Segundo Giro da Roda, o Buda enfatizou, especialmente, o aspecto


vazio “pra” libertar os seres da fixação dos objetos.

Mas, ai, para não permitir que os seres ficassem presos ao aspecto da
vacuidade (não gerassem fixação nem mesmo à vacuidade), o Buda, no
terceiro Giro, ele vai introduzir a idéia de luminosidade.

Então, esse é o Terceiro Giro, ele foca especialmente a natureza búdica, as


qualidades que brotam espontaneamente na mente búdica.

Então, no Segundo Giro, ele liberta do apego samsárico, a solidez das


experiências, que eu ainda tinha no primeiro Giro.

Então o Segundo Giro me liberta disso.

No Terceiro Giro, ele restitui o aspecto luminoso das aparências. Portanto, me


liberta da fixação ao aspecto vazio. Ai eu encontro um equilíbrio entre
vacuidade e luminosidade: tudo brota de um modo naturalmente vazio, mas
luminoso. Portanto, as aparências não são eliminadas, as aparências (ééé) não
são negadas. Elas são, apenas, vistas de uma outra forma, de uma forma mais
livre, mais profunda.

Nós olhamos a realidade e vemos que há uma


dimensão além da própria dissolução da
confusão. Na segunda, volta nós dissolvemos a
confusão: não há substancialidade na confusão.
Na terceira volta nós descobrimos a Natureza
presente, que produz as coisas e que também
tem essa Liberdade, Luminosidade, Energia
dinâmica, Cognoscência: ela mesma produz as
aparências e ela mesma, produzindo os nós, é
capaz de dissolvê-los, de desatá-los.

Então, o Lama introduziu aqui, agora, a noção de energia dinâmica. Também é


um termo essencial, assim, na visão da Grande Perfeição, que é a idéia de que
não há, apenas, vacuidade e luminosidade (e construção luminosa), mas isso
tudo brota, inseparável, de uma dimensão de energia, que “tá” se movendo. E
essa percepção da energia é uma característica, também, especial (ééé), que
vai ser abordada nos sistemas Tântricos.

43
Então, o Lama está trazendo, aqui, um elemento do Tantra para nos ajudar a
entender, melhor, o que (que) o Terceiro Giro representa.

Então, aquilo completa; aquilo se fecha, (né?)

Então, a visão dos Sutras vai discorrer, especialmente, sobre os aspectos da


mente.

E, no Tantra, a gente vai trabalhar, especialmente sobre a energia, o que trás,


assim, uma complementação perfeita, porque, ai, quando eu vou aplicar a
prajnaparamita, (OK!), eu entendo aquilo com aquele olhar, mas eu sigo
respondendo de modo automático: a energia entorta diante das experiências”

Não basta entender. A prática repetida, continuada, que observa como que a
energia, também, ela se entorta com os nós do lenço; essa prática sistemática,
olhando como isso tudo se constrói é o que vai permitir desatar o nó não
apenas mental, mas também o nó da energia; que é a liberação, que gera a
tranquilidade diante do que é que surja.

Ai as experiências não são mais perturbadoras (né?), uma vez que a energia
seja liberada.

Esse é o grande desafio.

O exemplo, clássico, é a pessoa que está tentando se libertar de um vício,


cigarro, álcool, ou chocolate, seja o que for, açúcar.

Então, a pessoa quer fazer aquilo, ela tenta várias vezes, mas ela sofre com
aquilo. Aquilo não é fácil, porque há uma amarra energética; em alguns níveis,
uma amarra física (né?), uma dependência ao nível físico, que se traduz numa
alteração grave de energia e que gera um comportamento compulsivo e
obsessivo: aquilo não está mais no nível mental, cognitivo.

Aquilo começou no nível mental e cognitivo, mas gerou um hábito, um


condicionamento energético e físico, que, agora, para ser transcendido, leva
um certo tempo (42:03).

Então, para diminuir aquela compulsão, aquela obsessão, aquela ansiedade


correspondente ao vício, ao hábito, eu vou ter de usar a ferramenta de prajna,
essa análise, muitas vezes.

E aquilo vai me liberando, assim, gradativamente.

Às vezes parece que a gente não está avançando, que a gente “tá” fazendo
aquilo, mas aquilo não tem muito poder.

44
Então, leva um tempo, assim, para aquilo começar, para eu conseguir olhar
com outro olhar.

A gente precisa investir nisso, (né?) (42:46)

(43:05) Mas, aqui, o Lama, ele “tá” citando as várias, os vários aspectos da
experiência da Natureza Primordial.

A gente precisa entender, assim, cada um deles. O aspecto vazio, o aspecto


luminoso, aspecto de energia dinâmica, de cognoscência; todos eles brotam
dessa base, que é a Mente primordial. Todos inseparáveis.

Então a nossa Natureza, a nossa vida, a nossa


existência verdadeira se dá a partir dessa
compreensão de samasamadhi, o 8º Passo do
Nobre caminho. Nesse sentido, a nossa mente é
muito mais ampla, infinitamente mais ampla, do
que as mentes que operam sob condições.
Dentro do samsara, quando nós olhamos para as
cosias, nós reagimos ao conteúdo delas, ficamos
fazendo voltas dentro de sentidos limitados,
presos a espaço e tempo. Quando
compreendemos essa mente muito ampla, vemos
que essa mente produz os significados todos
das coisas (e ali é que ela realmente opera) (e é
ali onde nós verdadeiramente vivemos). As
nossas vidas de fato se dão lá, além de espaço e
tempo, mas entendemos como espaço e tempo
podem surgir a partir da ignorância.

Então, a nossa vida atual, a nossa vida tridimensional, física, sólida, com um
corpo, que opera com os sentidos, essa vida passa a ser vista como uma
possibilidade; um caso particular dessa mente primordial, dessa mente livre.

Essa é uma pergunta muito boa para ser feita, assim: onde é que a gente está,
o tempo todo? O tempo todo, assim, vamos pensar assim: dia após dia,
mudam as experiências, mudam as sensações, mudam as emoções, muda o
cenário. “Tá” uma constante mudança ao meu redor. Eu vou dormir, ai eu
sonho, eu tenho outras aparências, ai eu acordo, ai voltam novas aparências
similares ao dia anterior: o tempo todo tem algo acontecendo.

Mas a grande pergunta é aquela assim: o que é que não muda quando tudo
muda? O que é que está por base, qual é a base, que dá sustentação para
todas as aparências o tempo todo?

45
Então, essa mente, a mente, que dá a base é a mente que precisa ser
reconhecida; é a mente primordial.

Então, reparem isso: quando estiverem andando na rua, fazendo qualquer


coisa; que tem algo que dá uma sustentação, que dá uma base para aquela
experiência; e esse algo é o mesmo que dá a sustentação para outra
experiência.

Então, o reconhecimento desse algo, desse elemento, dessa natureza búdica,


é o objetivo da prática.

Prajna vai nos libertando da sensação de solidez da aparência em si, o que


pode nos permitir reconhecer aquilo que “tá” lá o tempo todo: a mente que não
se altera quando tudo se altera.

Então, é isso que a gente está buscando o tempo todo.

Espaço, tempo, tridimencionalidade vão brotando numa experiência específica;


numa experiência particular (ééé), que se constrói a partir dessa Mente
Primordial.

Dentro desse panorama geral, vamos estudar


agora a Sétima Etapa do Nobre caminho, ou seja,
o Prajnaparamita. Este ensinamento é crucial
porque dissolve a rigidez da aparência diante de
nós: prajnaparamita é Lucidez.

Então, o Lama usa muito essa palavra: lucidez, porque é difícil encontrar uma
palavra, que sintetise, que defina, exatamente, o que é “a manifestação dessa
Mente”. Então, a palavra lucidez, nesse sentido (né?), de ter clareza, de
manifestar Sabedoria Primordial o tempo todo.

Então, não é lucidez no sentido comum da palavra (estar lúcido; a pessoa está
lúcida, então ela consegue se comunicar; ela sabe o que está falando) .

Então, no vocabulário comum, a gente usa lúcido nesse sentido. Aqui, no


Darma, o termo lúcido ou lucidez “é alguém que está manifestando a Sabedoria
Primordial: “tá” vendo com esse olho.

Chagdud Rinpoche dizia que o Prajnaparamita


deve ser utilizado nas piores situações: é ótimo
para as causas perdidas; usamos como recurso
último nas piores situações (é o mais poderoso
de todos): ele dissolve a ignorância.

46
Então, a prática de prajna é utilizada, assim, como proteção nos mosteiros, de
modo tradicional; no Zem Budismo, no Budismo Tibetano, eles começam, de
manhã, recitando o Sutra do Coração. É. Aquilo é visto assim: aquilo varre
toda a confusão. Então, por isso que, para nós, recitar o Sutra do Coração é
uma prática que o Lama estimula, constantemente. Então, no CEBB Viamão, a
Sede do CEBB, todos os dias à noite se faz uma prática com recitação do
Sutra do Coração da Prajnaparamita.

Então, nós deveríamos nos diversos CEBBs e GEBBs, com o tempo, ter um
dia, ou dois dias, o que for possível, em cada um, “pra” praticar isso (né?):
recitar e acumular o Mantra da Prajnaparamita, (ééé) (ééé) até o ponto mesmo
da gente memorizar, guardar o texto do Sutra do Coração e trazer isso, assim,
ao longo do dia.

Então, por que que aquilo é protetor? Por que aquilo nos ajuda? Porque,
quando eu lembro do conteúdo do Sutra, (assim: eu já entendi um pouquinho
daquilo), aquilo, assim, varre o aspecto da confusão (eu “tô” na bolha, eu “tô”
sofrendo, eu “to passando mal numa situação difícil; ai, quando eu trago,
quando eu recordo o olhar de Prajna, eu volto a olhar aquilo que estava me
perturbando e, aquilo que me perturbava, tem outra essência, assim: outro
sabor. E ai eu consigo atravessar aquilo com maior facilidade.

Então, isso não é apenas uma metáfora, assim, não é um exagero. A prática de
prajnaparamita vai, realmente, nos libertar (né?), (50:06) (telefone tocou) ,
completamente. (50:11)

- Alou. (pausa) Sim. (pausa) Tudo bem? (pausa) Sim.


(pausa) Tá. (pausa) Sim. (pausa). Sim. (pausa) (pausa) (pausa) .
A tá, eu to no meio de um grupo de estudo “on line” e achei que
alguém estivesse me ligando para fazer uma pergunta do estudo.
Então, eu vou te pedir, assim, uma licença e depois eu te passo
isso tudo, direitinho. Pode ser? (pausa) Tá bom, querida,
desculpa, tá? (pausa) Não. Imagina. (pausa) Tchau, tchau.

(Era uma pessoa de Volta Redonda. Depois eu falo com ela).

Então é isso: prajna dissolve a ignorância.

Ao morremos, olhamos para as coisas e


atribuímos realidade para elas. Precisamos,
então, ultrapassar esse sentido da realidade fixa.
Isso é o Prajnaparamita.

Então, que experiência é mais desafiadora do que a própria morte?

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Na morte, tudo se dissolve, o apego a todas as coisas será deixado para trás,
as pessoas amadas, o próprio corpo (deixar o corpo para trás não é uma coisa
muito simples). Então, prajnaparamita é a melhor prática para essa hora
(51:55).

Devemos nos lembrar que cada um de nós vai


morrer e, nessa hora, melhor do que lembrar dos
filhos, é melhor lembrar do Prajnaparamita.
Prajnaparamita – lucidez-. De lá, podemos, então,
ajudar os seres.

No momento da morte (ééé), ninguém vai poder nos ajudar; ninguém vai poder
nos acompanhar nessa passagem. O nosso corpo não vai mais nos ajudar: o
nosso corpo vai ficar “pra” trás. Todas as coisas, as posses, tudo aquilo que eu
cultivei; todo o conhecimento, que eu adquiri; toda comida, que eu comi; todo
dinheiro, que eu guardei; nada disso vai me ajudar. A única coisa que pode me
apoiar, no momento da morte, é a minha mente clara e lúcida, que observa a
morte acontecendo e observa o processo do morrer sem grande perturbação,
(né)? (53:17).

Muito bem.

Então, a gente viu uma introdução geral do Lama introduzindo o prajna numa
forma sintetizada.

Agora, finalmente, a gente vai entrar no Sutra do Coração da Prajnaparamita.

Certo? Tudo bem até aqui?

Agora a gente vai entrar no “linha a linha” do Sutra do Coração.

Então vamos pensar assim: eu expliquei no primeiro encontro, também, que


prajnaparamita é um corpo de literatura muito extenso. Então, existe o Sutra da
Prajnaparamita em cem mil versos. Longo. Existe o Sutra da Prajnaparamita
em vinte e cinco mil versos. Em dezoito mil versos. Oito mil versos. Setecentos
versos. Em trezentos versos. E tem o Sutra do Coração, que é mais sintético.

Então, “pra” nosso estudo, a gente vai entrar com o Sutra do Coração, que é,
provavelmente, o texto budista mais estudado no mundo todo, assim. O texto
mais popular, pela capacidade de síntese, que ele tem, de uma coisa muito
complexa e, ao mesmo tempo, por ser rápido e fácil de ser memorizado,
recitado, cantado, entoado, (né?).

Bem interessante.

48
E lembrando, que esse sutra tem essa qualidade especial, de fazer uma ponte,
com um sutra que tem um mantra. Então ele faz como se fosse uma ponte
entre o caminho do Sutrayana com o Tantrayana: eles se unem (né?) no Sutra
do Coração. Então, não é a toa que o Lama Samten pegou esse texto como
sendo a base das práticas do CEBB.

É um texto essencial, que resume tudo.

Quem praticar com base no Sutra do Coração, entendendo e utilizando isso


como ferramenta, não precisa estudar muitas coisas à mais não: não precisa
diversificar centenas de livros, comentários e, assim por diante.

Então, (pausa)

PRECES INICIAIS.

Essência da Abençoada Prajnaparamita

Inconcebível, inexprimível Prajnaparamita.

Não-nascida, incessante, por natureza


semelhante ao céu.

Então, vem o comentário do Lama sobre esse início.

Esse início, esse louvor, à mãe, à prajnaparamita vista como a mãe de todos
os Budas. Então, ele não faz parte do texto inicial. Ele foi acrescentado, assim.
Ele é um trecho da prajnaparamita em oito mil versos (que é mais extenso). Ele
foi incorporado pelos tibetanos, no início (ééé) da recitação do Sutra do
Coração, mas quando a gente vai encontrar a versão chinesa e japonesa,
consequentemente, que, também, usa muito o Sutra do Coração, eles não tem
esse prólogo (eles não tem essa homenagem): foi algo que os tibetanos
acrescentaram, assim.

Inconcebível, Inexprimível

Refere-se à condição de que essa Sabedoria


Prajnaparamita, esse princípio ativo
Prajnaparamita, não pode ser descrito: não é
uma sabedoria que colocamos em um papel.
Quando os mestres transmitem a mente para o
aluno, eles estão transmitindo a mente, não o
conhecimento. Eventualmente transmitem
conhecimento, mas este é um meio hábil, não é a
mente.

49
Então, isso é algo bastante frustrante. Então, a gente está estudando aqui
textos e coisas (e já está sabendo que não tem como falar direito daquilo).
Então, é um pouco estranho, (né?)

Como é que a gente vai falar daquilo, que não pode ser falado? (não pode ser
expressado através de palavras).

Então, apesar de aquilo não poder ser apontado, diretamente, ainda assim,
essa sabedoria, ela não é, apenas, um algo não existente: aquilo opera; mas
opera através da mente, que vê daquele jeito e não consegue exprimir aquilo
de modo dualista. Por isso, inexprimível, inconcebível: não pode ser falado e
não pode nem mesmo ser concebido, enquanto um objeto da mente dualista;
enquanto um objeto da mente racional.

Então, prajna não pode ser apreendida dessa forma.

Por exemplo, vamos supor que vocês tenham


uma habilidade no mundo. Não adianta
ensinarem esta habilidade através de regras: é
preciso que passem o talento dessa habilidade.
Podem treinar as pessoas, mas se elas não
tiverem talento, elas não são capazes de
improvisar: elas não têm a mente. É necessário
transmitir esse talento, só que esse talento já
está presente no outro: precisamos apenas
desobstruir. Então o Prajnaparamita vai nos
ajudar a desobstruir o que já está presente. Mas
esse talento não é descrito nem pela quantidade
total das habilidades de quem está transmitindo.
Ele é transmitido e, quando o outro recebe esse
talento, ele é capaz de gerar todas as
habilidades: não precisa copiar as habilidades.

Então, nesse ensinamento – Prajnaparamita - o


Buda transmite a mente, a mente que vê.
Portanto, não precisa transmitir as visões junto:
transmite só a mente que vê.

Prajnaparamita representa essa mente lúcida,


que é capaz de olhar o mundo convencional e vê
isso com clareza e, essa mente, é inconcebível,
inexprimível. O que é concebível e exprimível é o
que foi visto. Mas aqui não estamos falando do
que foi visto, mas da mente, do talento.

50
Percebem?

Isso é uma coisa que eu percebo, assim, bastante nas pessoas que estudam o
Darma. (A gente entra no Darma e quer adquirir conhecimento; a gente quer
entender coisas; quer guardar essas coisas).

Então, quando a gente faz grupos de estudos em que a pessoa tem a


sensação de que está guardando alguma coisa (recebendo algum
conhecimento) a pessoa fica feliz: (bem, eu fui lá hoje e aprendi isso, isso e
isso). É uma sensação de ter obtido alguma coisa.

Agora, quando a gente vai estudar prajnaparamita, é um problema, porque não


tem nada a ser obtido. Então aquilo é meio frustrante, assim.

Aquilo não é um estudo comum. Não é um estudo comum. Aquilo, de certa


forma é, até, desconcertante e desagradável. É uma coisa parecida com o
estudo “do além do materialismo espiritual” (...). Aquilo é assim: as pessoas
vão se sentindo um pouco incomodadas com aquilo. Aquilo não é muito
gostoso de ver, porque aquilo está, o tempo todo, cortando a ilusão, cortando a
ilusão, cortando a ilusão e prajna é isso; só que a gente tem um hábito, um
hábito, tem, na verdade, um vício, um vício muito antigo e profundo de querer
obter uma coisa; agarrar uma coisa. E quando eu participo de um estudo, de
uma prática, em que não tem nada a ser agarrado, só tem coisas a serem
tiradas e deixadas para trás; aquilo, numa certa etapa do caminho, não é muito
agradável.

Depois, com o tempo a gente vai aprender a não só valorizar como sentir (-
Sim! É Isso! Não tem nada a fazer).

Os ensinamentos que geram conhecimento, eles são úteis, são meios hábeis,
mas eles não são a coisa em si. A coisa em si é isso: é se esvaziar de todos os
conceitos e fixações (e estruturas): desatar os nós do lenço.

Isso é o que é. Isso é o que a gente vai buscar.

Então, é isso que o Buda transmite: ele transmite a mente. Ele não transmite
um conhecimento específico.

Ai vem a próxima frase, (né?).

Não- nascida, incessante

Significa que não pertence ao mundo


convencional: é uma presença Incessante e
Luminosa; já está lá; nos acompanha o tempo

51
todo. (Já fizemos muitas coisas, já nos
apresentamos de diferentes modos, nosso corpo
mudou muito desde o nascimento). Ainda assim,
essa natureza que é capaz de construir as
realidades. Está lá, presente, além de vida e
morte: se manifesta em cada olhar.

Então, não-nascido; esse é um termo, que a gente vai encontrar muito no


budismo.

Então, como assim “não-nascido”?

Na visão convencional do mundo, todas as coisas tem uma origem Ah! Surgiu
a partir desse momento.

Esse é o olhar sem análise. É o olhar desavisado. É o olhar comum do mundo.

Ah! Isso apareceu agora: nasceu.

Agora, a prajnaparamita, ela é não nascida. Ela não é construída. Ela não
surge a partir de causas e condições como as aparências samsáricas. Ela não
é originada interdependentemente.

Prajnaparamita é o aspecto de liberdade. Não é condicionada, portanto, nunca


nasceu e nunca vai morrer. Não tem como ser perdido: aquilo “tá” sempre vivo.
Então é não-nascida.

E é incessante, da mesma forma.

É.

Algo, para cessar, precisa ser composto: tudo que é composto tem fim. Não é à
toa que os fenômenos compostos são impermanentes: é o primeiro selo do
Darma.

Então, ao que é composto (o que que é uma coisa que é composta)? É algo
que brota a partir de uma somatória de causas e condições. Isso é composto.

Então, uma coisa que não brota a partir de causas e condições, ela é não
composta.

O exemplo, clássico, que se tem, também, é o espaço. Por exemplo, o espaço,


ele brota a partir de causas e condições? Quais são os constituintes do
espaço?

52
O espaço é um exemplo clássico de um fenômeno não condicionado. E
prajnaparamita, essa sabedoria, também, é não condicionada: não nascida e
incessante; não tem começo nem fim.

Por natureza semelhante ao céu

Então, o céu, ou o espaço, “são” também “um” exemplo clássico..

A palavra (ééé) é utilizada para céu é, geralmente, a mesma que espaço. É


“nanca”, em tibetano. Então, aquilo aponta “pra” esse, esse olhar “pro” céu;
olhar “pro” espaço. “Lírios”.

Significa que pode acolher qualquer coisa, assim


como o céu acolhe qualquer objeto, qualquer
pássaro. Qualquer manifestação, o espaço
acolhe. Ou seja, o espaço permite que aquilo
ande por dentro do espaço. Então, a nossa
mente, nossa natureza, é livre: ela acolhe os
mais variados pensamentos ou construções e,
nesse sentido, por natureza é semelhante ao céu.

Essa natureza básica é isso: o tempo todo brota experiências, emoções,


sensações, pensamentos, visões, sons e etc. (Eles vem e vão, vem e vão, vem
e vão ). E para onde eles vão, quando eles desaparecem?

Eles , simplesmente brotam, permanecem um tempo (como se estivessem num


palco). Daqui a pouco eles desaparecem.

Só que tem esse espaço por trás, que nunca se altera, onde brota as
experiências.

Então, tem a tela do cinema e tem o filme projetado.

A tela não se altera, quando o filme é projetado.

Então, a nossa mente, limpa, clara, primordial, ela, também, é como o céu, o
espaço: tudo brota nela, mas nada a altera; nada pode macular ou transformar
essa mente básica.

Ai continua, (né?), a homenagem:

(So-so ran-rik ye-she tiô-iul-uá. Tü-sum Gyal-uê Yum-lá tshá-sá-lô).

53
Experienciada pela cognição discriminativa
prístina da consciência auto-reflexiva.

Mãe de todos os Vitoriosos dos três tempos, a


você presto homenagem!

Então, aqui vem uma frase complicada:

“experienciada pela cognição discriminativa


prístina”.

Essa sabedoria é experimentada como uma


cognição, ou seja, como um processo mental,
discursivo, discriminativo, porém prístino, no
sentido de que não tem nenhuma marca dentro.

Então, a palavra prístina se refere a essa qualidade pura, primordial, livre de


máculas.

Então, há uma cognição discriminativa (ou seja, tem uma capacidade da mente
analisar, uma capacidade de olhar “praquilo” (ééé) de um modo imaculado
(sem preconceitos, sem tendências). Então isso é essa cognição discriminativa
prístina.

Uma vez que está dissolvendo, ele não está


construindo coisas, é completamente puro, não é
uma teoria. É a dissolução das teorias, a
dissolução do próprio Budismo. Ou seja, é uma
cognição discriminativa prístina.

Então, discriminativa no sentido de discriminar os vários objetos e fenômenos, .


(né?). De diferenciar um do outro, discriminando.

Cognição, no aspecto de entendimento mental (de olhar “praquilo”


discriminando um a um), prístino ( ou seja primordial, livre de qualquer
tendência ou construção anterior).

Então, experienciado pela cognição discriminativa prístina da consciência


autorreflexiva.

Então, o que (que) é a consciência autorreflexiva?

Auto-sustentada, da Natureza Ilimitada.

54
Essas palavras são em português para alguma
coisa que transcende, mas ainda assim, as
palavras estão aí.

Ou seja, não tem como explicar isso de modo perfeito.

Então, há uma consciência autorreflexiva. Então, há uma mente, que olha “pra
si mesma” e se utiliza da cognição discriminativa prístina “pra” ver as coisas
tais como são.

Então, a mente primordial reconhece a si mesma, nesse processo.

Então, essa frase enorme significa basicamente, isso: a mente primordial tem a
capacidade de olhar “pra” si mesma e, com lucidez, reconhecer a si mesma,
enquanto liberdade.

Mãe de todos os Vitoriosos

Ou seja, essa Liberdade Natural, gera os Budas


(os vitoriosos): ela é a Mãe de todos os Budas,
de todos os Vitoriosos. Não só os Budas do
passado, mas os Budas do presente e do futuro
(os três tempos). Não há outro modo dos Budas
surgirem que não seja através dessa forma.

Então, é super tradicional a comparação de prajna com uma mãe; a mãe de


todos os vitoriosos. Então, ela acabou sendo representada, (né?) como grafia
tântrica (é), numa forma feminina. (1:10:40).

(1:13:11)

A você presto Homenagem!

Presto Homenagem ao Sutra Prajnaparamita ou à


Sabedoria Prajnaparamita (masculino ou
feminino).

(1:13:20)

55
VÍDEO 5
RECAPITULAÇÃO (5:23 a 8:30)

Muito bem. Na semana passada a gente avançou. Alguém tem


alguma questão? Alguma questão não ficou clara?

Algum problema?

Não? Tá fácil?

A gente entrou, efetivamente, no Sutra do Coração, na semana


passada. A gente “tá” vendo aqueles versos iniciais e o louvor à
mãe, à mãe dos vitoriosos, (né?), prajnaparamita.

A gente “tá” vendo, que no próprio louvor, já se explica o que é a


prajnaparamita, de uma forma super sintética: inconcebível,
inexprimível prajnaparamita. Não nascida, incessante e por
natureza semelhante ao ceu.

É semelhante ao céu, ou seja, é a sabedoria discriminativa, que


nos aponta esse espaço, essa verdade. (porque o céu tudo
acolhe, né?). Então, justamente, prajnaparamita é a sabedoria
que aponta essa liberdade, esse espaço infinito de possibilidades.

Então, aquilo, é o resumo da coisa.

Então, para o bom entendedor, meia palavra basta.

Se a gente pegasse, apenas isso, sentasse e contemplasse, a


gente poderia alcançar a realização direta disso, mas, em geral,
nós somos seres muito discursivos, nós precisamos de muitas
palavras, muitos exemplos “pra” entender as coisas.

Então, a gente vai estudar detalhadamente aquilo, porque a gente


não tem essa capacidade de pegar de modo direto, mas é
possível.

Sempre que a gente faz a prece inicial da prajnaparamita, (Ma-


sam-diê-me she-rab-pa-rol-tchin ) , aquilo é um momento, assim,
uma possibilidade DE VER: cada vez, (né?), aquilo está
disponível; aquilo é possível; mas em geral, não, a gente precisa
de experiência, (- fale um pouco mais sobre isso): a gente vai se
complicando na própria teia discursiva interna.

56
Então, quando a gente senta “pra” meditar não é a mesma coisa?
Senta pra meditar e a mente vai junto: fica monitorando, falando,
dando dicas (Ou! por que você não medita assim? Não seria
melhor se você fizesse assado?)

Esse movimento, (né?) interno, discursivo, que é quase que


infinito. A gente vai ter de encontrar a região, que vai além disso:
que suspende isso.

Mutito bem!

O Abençoado Coração da Sabedoria


Transcendental

Homenagem à Bhagavati Prajnaparamita!

Homenagem à Abençoada Prajnaparamita,


Abençoada Sabedoria Prajnaparamita. Bhagavati
significa abençoada. Prajna é a sabedoria que
transporta. Paramita é o tipo de ensinamento que
uma vez compreendido, ele se dissolve.

É maravilhosa essa expressão. A maior parte das


coisas que são sábias, verdadeiras, nós
tendemos a escrever em ouro e grudar em algum
lugar, como se fosse algo definitivo. No entanto,
Paramita significa aquela verdade, que uma vez
exercida, perde a função. Isso é maravilhoso.

Todas as filosofias deveriam ser entendidas


como Paramitas. Funciona e depois jogamos
fora. Essa é uma noção maravilhosa, a de que
nós temos a Natureza Livre, de que quando nos
curamos, aquilo pode ser descartado. A própria
sabedoria, a própria filosofia, a própria
compreensão profunda, difícil, o extrato daquele
esforço todo, tudo isso é para jogar fora. Por que
jogamos fora? Porque não precisamos mais, já
temos a visão.

Esse é um conceito muito interessante, assim, no budismo, de que os


ensinamentos do Buda, eles tem um propósito, único, de nos livrar da confusão
e, uma vez libertos, a gente não carrega aquilo nas costas: a gente não gera
nenhum apego ao budismo e aos ensinamentos, em si; a gente não vai gerar
facções e defender aquilo e se apegar àquilo.

57
Os ensinamentos tem o propósito de nos libertar. Então, se aquilo que nos
liberta, se a gente se apega àquilo que nos liberta, ai tem um problema!

Então, tem essa noção de que o budismo se auto-extingue: ele nos conduz, ai
atravessou para a outra margem, ai não tem mais necessidade nenhuma de
carregar o barco nas costas.

Essa é a noção de paramita (aquilo que atravessa), que vai até a outra
margem. (10:40)

(telefone tocou)

-Alou. (pausa) Oi fredi. (pausa). Interfone?. (pausa) Ah!


(pausa) Tá fora. (pausa) “Péra ai, que eu vô abri” (pausa) .
(pausa) . (pausa)

(-Está fora do gancho)

(-Senão, não toca)

Muito bem. (11:40).

(pergunta).

Nunca há a idéia de que o Darma seja uma filosofia, um explicação definitiva


sobre as coisas, ou seja, (o Buda explicou como as coisas são). O Buda vai,
claramente, no Sutra do Diamante, ele vai, (ele vai) negar, todos os
ensinamentos que ele mesmo deu. Ele vai dizer assim: o Buda não afirmou
nada definitivo, em momento algum, “pra” não surgir nenhum apego sutil à
noção de vacuidade, à noção de prajnaparamita, à qualquer noção (ééé)
fixada, deludida.

É muito fácil se apegar ao remédio. A gente faz isso, direto, na vida. Se apega
ao próprio mecanismo, que vai nos libertar. Ai, aquilo. Ai aquilo, (...): o ego dá
um jeito, sempre, de dar uma voltinha, por trás, e tenta se agarrar em alguma
coisa: (A que lindo: meditação! Oh! Que maravilhoso: os mestres, o Darma).
Então, o ego vai se construindo com a relação com o próprio budismo.

Mais armadilhas.

Ai vem a

ABORDAGEM SUTRAYANA - EXPLICAÇÃO


SOBRE AS COISAS

58
Assim eu ouvi.

Uma vez o Abençoado estava residindo em


Rajagriha, na montanha do Pico dos Abutres,
junto com ele estava um grande grupo da sanga
dos monges e da sanga dos bodisatvas.

Estabeleceu o cenário, onde o ensinamento vai ser dado.

Essa é a descrição de um local físico. A sanga


dos monges e a sanga dos Bodisatvas - o grupo
de praticantes monges e do grupo de praticantes
Bodisatvas-.

Qual a diferença entre eles? Os monges em


princípio, buscam a condição de arhats, ou seja,
a condição na qual podemos andar no mundo,
mas ficamos livres de ter que responder a ele. É
como se tivéssemos alcançado uma capacidade
de shamata pura. E assim nos movemos no
mundo.

Todo monge está no caminho do arhats? Não. Tem monge que está no
caminho do bodisatva. Mas aqui, nesse Sutra, para o efeito de compreensão
há essa diferenciação. É que o Sutra surge numa época em que há um grande
debate entre o caminho do ouvinte e o caminho do bodisatva. Então, surgem
essas expressões, (né?).

Mais adiante o Mahayana vai dizer que há o Mahayana e o Hinayana. Então,


aqui, na visão do Hinayana 1 seria o caminho do monge e o Mahayana seria o
caminho do bodisava. Né?

Então vamos entender isso aqui.

É. Essa expressão Hinayana significa caminho estreito (caminho menor);


Mahayana significa grande caminho (É claro que foi o Mahyana que cunhou
essas expressões, né?).

Assim, o escopo da visão, a pespectiva da vacuidade é diferente nos dois


caminhos. Então, nesse caminho do monge, (éé) se busca a liberação da
fixação ao “eu”, identidade pessoal, mas não há essa idéia de grande
compaixão, que há no Mahayana. Também, não há essa idéia de que todos os
fenômenos são vazios, que é uma coisa que o Mahayana vai introduzir.

1
foi escrito Hinayana. Por isso, coloquei o que foi escrito ao invés do que foi dito.

59
Então, nesse caminho, nesse veículo, aquilo funciona (há uma liberação do
samsara), mas essa liberação não é um estado de Buda, um estado de
liberação definitivo.

O estado de Buda vai ser alcançado através do caminho do bodisatva.

Então, essa é a visão, que vai surgir a partir dos Sutras do Mahayana. Então,
aqui, por isso que há essa diferenciação (grande grupo da sanga dos monges e
da sanga dos bodisatvas) para diferenciar aqueles que ainda “tão” no caminho
da liberação individual, que busca o estado de arhats (o ser puro) e o caminho
mahayana, que tem o ideal do bodisatva, que faz aquele voto, paradoxal, de
não encontrar a iluminação enquanto todos os outros seres não se iluminarem
antes. (17:00).

(17:50)

O Arhats é o ser que busca essa pureza. Uma das traduções que se usa é: o
destruidor do inimigo.

Quem é o inimigo? (As emoções aflitivas).

É aquele que eliminou as emoções aflitivas, completamente. Portanto, ele está


livre do renascimento no samsara. Que nada mais desperta a emoção
perturbadora nele: não tem desejo e apego.

Agora, tem um probleminha, no caminho do arhats, que é o fato deles, ainda,


terem algumas fixações: eles não conseguem ver o aspecto de liberdade de
todos os fenômenos. Se diz que eles fogem do samsara, mas ficam apegados
ao nirvana. (né?)

No caminho do arhat há essa visão: samsara x nirvana.

Samsara é condição comum de renascimento em meio ao mundo e, o nirvana,


seria a liberação definitiva disso, ou seja, não mais renascer e repousar num
estado de paz definitiva e absoluta.

E o mahayana não trabalha com essa noção do samsara x nirvana. Ele vê o


contrário: samsara e nirvana são a mesma coisa. Tem essa frase famosa,
assim: samsara é nirvana e nirvana é samsara; ou seja, depende, apenas, de
qual olho você olha (você olha com um olhar é samsara; olha com outro olhar é
nirvana). E, ai, o caminho mahayana, ele vai procurar nos libertar da própria
noção de diferenciação entre samsara e nirvana (pausa), ou seja, no caminho
mahayana, a gente vai buscar a liberdade, que “tá” além do que ficar preso no
samsara ou ficar preso no nirvana.

60
Porque, estar preso no samsara são os seres sencientes comuns. Estar preso
no nirvana seria o caminho do arhats. Então, o mahayana vai procura ir além
desses dois extremos.

Tudo bem? Ficou claro, assim?

Mais ou menos?

Então, essa é a assembléia ao redor do Buda.

Então, sempre, nos ensinamentos, (ééé) se tem essa noção de que tem que ter
o local adequado, o momento adequado, a assembleia adequada, o professor
adequado e o ensinamento adequado. São cinco fatores de um ensinamento.
(20:20). São cinco fatores para que o ensinamento do Darma se complete de
modo perfeito (20:34).

Os bodisatvas têm uma aspiração adicional.


Partem dessa realização, mas dizem “ok, estou
imune, mas meus filhos não estão, minha esposa
não está, meus pais não estão, meus amigos não
estão. Assim , vou me expor ao mundo, entender
como eles estão presos e ajudá-los a sair
daquela condição”. Então, os bodisatvas
retornam (é como se eles já estivessem um nível
de liberação, mas retornam). Eles retornam e eles
é que realmente vão ouvir o Prajnaparamita. O
Prajnaparamita é um instrumento dos
Bodisattvas. Os arhats diriam “Por que devo me
preocupar com o mundo, uma vez que estou
imune a ele?” Os Bodisattvas vão olhar para o
mundo e dizer “Estou livre do mundo, porém os
seres não estão. Como faço para eles se
liberarem? Como posso ajudá-los a se liberarem,
em suas várias circunstancias?”

Sob ponto de vista do Bodisatva, havendo a


realização final, não há esse sentido de que ele
não tenha se libertado. O fato de ele se interessar
pelos seres, estar no meio do mundo ajudando,
isso é já um sinal da realização.

A gente vai olhar o exemplo do próprio Buda. O Buda, uma vez iluminado, se
levantou e ajudou todo mundo. Ele não ficou, apenas desfrutando da
iluminação e do bem estar, que ele alcançou. (22:14).

61
(22:32)

O Buda Shakyamuni transmite o ensinamento


para todos os seres. O Guru Rinpoche transmite
os ensinamentos, mas, ao mesmo tempo, não
desaparece como o Buda Shakyamuni: ele vai
atrás (aonde houver confusão, estará lá): este é o
sentido de Bodisatva; não está buscando a
liberação; não está preso a isso, porque tem a
visão pura; sabe que o sofrimento é um
sofrimento de sonho, também.

Ele vai dizer isso aos outros que não sabem: ele
está livre.

(23:00 – 25:02)

Podemos ter algum nível de liberdade, mas o


nível de liberdade mesmo é aquele em que a
gente consegue exercer a liberdade em meio á
confusão. Poderíamos dizer “estou livre” por
estarmos afastados da confusão. Mas, Guru
Rinpoche representa esse “lótus que nasce do
lodo; flutua sobre o sofrimento”. Seu nome,
Padmasambhava significa “Nascido do Lótus”.
No meio da confusão, brota a pureza. A pureza
não é perturbada pela confusão. Confusão não
tem solidez. Essa é a clareza de Guru Rinpoche.
Quando fazemos a Prece de Sete Linhas, nós
aspiramos ter a mesma realização. Para isso já
andamos um longo caminho, porque para surgir
o Lótus, tem que haver lodo e lágrimas e, essa
parte, nós já temos. Só falta a Flor de Lótus. Só
falta a Lucidez, o Prajnaparamita, que é o teor do
Lótus.

Então, o surgimento do caminho do bodisatva.

Prajnaparamita, ela é um ensinamento que vem por dentro do caminho do


bodisatva: não é algo separado. Então, essa idéia de nascimento sobre o lótus,
a compaixão genuína, trabalhar pelo benefício dos seres de modo algum, “tá”
separado desse ensinamento complexo sobre vacuidade, sobre a essência das
coisas, como as experiências se constroem: os dois andam juntos, (né?).

62
Grande compaixão e grande sabedoria. Não posso trabalhar com eles,
separadamente. Então, o caminho do bodisatva são sempre as duas asas em
que vão nos nortear diante do caminho: a acumulação de meios hábeis (de
compaixão para ajudar os seres) e a acumulação de sabedoria, que enxerga
através da construção e da solidez das aparências.

Tudo bem?

(26:55 – 37:10)

Então “tá” lá, um grupo de monges e bodisatvas.

Ai vem:

Em dado momento o Abençoado entrou no samadi


que examina os diferentes tipos de Darma,
chamado “profunda iluminação”.

Diferentes tipos de dharma

Diferentes tipos de fenômenos, objetos,


circunstancias, manifestações. A palavra dharma
no Prajnaparamita tem esse sentido.

Mas como trata-se da mente do Buda, ao mesmo


tempo em que olha esses fenômenos (dharmas),
brota o Dharma. Então o Dharma é inseparável
do dharma.

A mesma palavra, em sânscrito, ela descreve muitas coisas. Tem dez


significados diferentes para a palavra darma. A gente usa esses dois principais.
darma (com o “d” minúsculo), ele se refere a todos (os). A tudo aquilo que eu
posso apontar enquanto fenômeno, ou seja, algo que está acontecendo, algo
que tem uma existência. Muitos tipos de classes de darmas: objetos físicos,
objetos mentais, emoções, tudo isso são visto como darma (com o “d”
minúsculo). E o Darma (com “D” maiúsculo) se refere ao conjunto dos
ensinamentos do Buda.

Então, o Darma (com “D” maiúsculo) é aquilo que nos liberta da prisão do
darma (com o “d” minúsculo).

Ele poderia ter escolhido outra palavra, mas não escolheu. Então, a gente tem
de diferenciar o “D” maiúsculo do “d” minúsculo.

Então o Dharma é inseparável do dharma.

63
A gente começa a entender que o Darma, enquanto ensinamento, ele não é
uma realidade separada das coisas do mundo, dos fenômenos: ele se
manifesta em meio aos fenômenos (O Darma, enquanto ensinamento).

Um é visto como inseparado do outro. Importante isso.

Os fenômenos, ou seja, o dharma comum, se


tornam o Dharma da lucidez, no sentido de que
os fenômenos são vistos na sua real
manifestação. Então, mesmo essa expressão
“fenômenos do mundo”, torna-se uma expressão
de lucidez, que é o próprio Dharma, a lucidez
diante dos fenômenos do mundo: o Dharma é
inseparável dos próprios fenômenos.

Ou seja, o Buda “tava” lá. Ele “tava” imerso no samadhi (numa meditação muito
profunda: numa absorção meditativa). Ai, nesse samadhi, ele olha “pra” todos
os fenômenos, em todas as direções (ele não está se recolhendo no mundo;
ele está olhando “pra” todo mundo, sem exceção). E, quando ele olha “pro”
mundo, detalhadamente, ou seja, todos os fenômenos, ai brota o Darma (com
“D” maiúsculo), ou seja, o Buda vê através dos fenômenos; mas sem ter de
fugir dos fenômenos.

Então, esse é o ensinamento. O Buda “tá” quieto (ele não falou nada). Ele “tá”
manifestando isso, em meio ao mundo.

E isso é chamado de profunda iluminação, (né?).

Então, o Abençoado estava olhando, deliciado,


os fenômenos. Os tibetanos chamam
frequentemente, isto, de êxtase - essa
contemplação deliciada-. Isso é simbolizado pela
imagem de Vajrasattva. Na prática de Vajrasattva,
precisamos olhar os fenômenos e coemergimos
com eles. Então contemplamos.

Então, Vajrasattva representa essa visão, essa visão, assim, que está de olho
aberto, olhando “pra” tudo e vendo o fora inseparável do dentro, sem ter que
alterar nada fora: não tem que purificar nada; não tem que mudar nada; não
tem que incluir; não tem que alterar nada; no próprio olhar, já se enxerga
através da solidez das construções.

Esse é o olhar de Vajrasattva.

Então, o Buda, ele “tá” lá. Ele “tá manifestando isso.

64
Então, com isso, traz um bem estar, uma bem aventurança, um êxtase, uma
paz, uma alegria. Por que? Porque o Buda olha “pra” tudo e entende como é
que tudo se constrói: ele não „tá” mais no engano.

E o fato de ele enxergar e ver isso, traz um bem estar, assim: não é uma coisa,
assim, estasiada demais, assim, não é aquela coisa exagerada; é assim, um
sorriso, o Buda sorri e nada mais ele vê como puro ou impuro, fora ou dentro;
ele vê tudo como uma manifestação natural, livre, espontânea, vazia e
luminosa.

Esse é o olhar do Buda nesse samadi.

Esse exemplo também pode ser descrito como


Nankai Norbu Rinpoche transmite em um texto
onde dá ensinamento sobre Bodicitta.

Esse mestre, Nankai Norbu Rinpoche, é um mestre tibetano, que mora no


ocidente. Ele é o fundador da comunidade dzogchen. Ele dá ensinamentos
pelo mundo. Ele já teve no Brasil várias vezes. Acho que em 2014, no final de
2014 ele “teve” em São Paulo, no retiro. É um grande mestre. Ele “tá” vivo e
segue ensinando, assim.

(42:58 – 43:48)

Então, esse mestre, Nankai Norbu Rinpoche, ele diz:

“quando nós olhamos uma imagem dentro do


espelho, sabemos que essa imagem é ilusória”.
Mas também podemos não saber. Olhamos no
espelho e atuamos a partir da imagem. Então,
penteamos o cabelo, aparamos o bigode: nós
olhamos no espelho e operamos a partir da
imagem que vemos. Então surge um mestre atrás
de nós, sereno, que diz “a imagem que você está
vendo é ilusória”. Porém o ensinamento mais
profundo ainda não é esse (de que isso é
ilusório). O ensinamento mais profundo é que
através da imagem ilusória, que estamos
olhando, nós descobrimos como o espelho
funciona.

Interessante, isso, (né?)

65
O ponto não é só reconhecer que aquilo que está parecendo é ilusório, vazio. É
mais profundo do que isso: é entender como é que o espelho produz as
imagens ilusórias.

Esse é o grande insight sobre a natureza da mente: como é que a mente


produz essas existências, essas aparências? Como é que ela funciona? Como
é que a mente opera de modo a gerar essa sensação de solidez nas
aparências ilusórias?

Então, essa é a grande pergunta, assim.

E toda meditação está voltada para um dia realizar isso; um dia ter esse insight
direto; de sacar como a mente opera.

A gente acha que já sabe: a mente é assim, eu to aqui pensando, dentro da


minha cabeça e o mundo “tá” lá fora. Eu interajo com o mundo. Esse é mundo
do samsara, individualista.

Ai o Buda vai dizer: quando você olha para o espelho, tem uma imagem real lá
dentro do espelho ou não?

Complicado.

Se eu disser que não tem, (o que é isso que aparece?); mas se eu digo que
tem, (mas, como assim tem?) (Aquilo é real ou não é?) (Não tem nada no
espelho). (O espelho não se altera em nada, quando brota uma imagem nele).

Não é?

Então, o exemplo do espelho é um exemplo tradicional, assim.

Tem vários exemplos, a imagem no espelho, outro exemplo comum: as ondas


e o oceano. É um exemplo muito bom, (né?).

Tem o oceano e tem as ondas. As ondas são separadas do oceano? As ondas


são diferenciadas do oceano? Ou elas são, o tempo todo, o próprio oceano se
manifestando?

Quando elas desaparecem, para onde elas retornam?

“Pro” próprio oceano.

Então, vai se dizer que todas as manifestações e aparências são como ondas
no mar do oceano da mente.

É um bom exemplo.
66
Com o Prajnaparamita estamos olhando e vendo
a nossa própria ação profunda da mente, que
produz as aparências e imagens, que passamos
a ver. Através das imagens ilusórias nós vemos
como elas são geradas.

Então é isso, o Buda precisa do mundo “pra” ele se iluminar: o Buda precisa
das aparências, das pessoas, dos objetos, do cenário todo. Que é através
desse objetos luminosos que ele vai ter o insight de liberação; não é no
processo de recolhimento absoluto (em que me desconecto do mudo).

Então, isso é muito importante. É entender que a prática (tem a prática de


shamata, que é uma coisa; a prática de silêncio, né?).

A shamata, que, em geral, “tá” associada a esse recolhimento, a essa


interiorização, (né?), em que eu vou pacificando o meu mundo interior. Respiro
(pausa). Respiro (pausa). Relaxo (pausa). Gero foco (pausa). Presença
(pausa). “Tô” atento (pausa). E vou me recolhendo.

Então, isso gera uma mente pacífica, harmoniosa, (né?), que traz o bem estar.

Agora, (ééé) a visão do Buda, ele parte de shamata, mas ai ele introduz o
insight de prajnaparamita: introduz a visão, a compreensão, essa inteligência,
que atravessa as construções.

Então, a mente do Buda, o tempo todo, ele tem essa tranquilidade, essa paz
por base, mas tem essa mente (ééé) sábia: essa sabedoria primordial, que
enxerga através das coisas.

(48:25 – 49:59)

O nosso trabalho, como praticantes, é ir purificando os obscurecimentos. E,


prajna, é a sabedoria, que vai limpando esses obscurecimentos, com o olhar
claro e lúcido, que não mais se abala. Então, aquilo, que antes poderia me
perturbar, fortemente (a pessoa perde um dinheiro - aquilo pode ser horrível
“pra” ela, porque ela tem um grande apego ao dinheiro, que ela conquistou a
duras penas. Ai ela perde um dinheiro. Ai, aquilo gera uma perturbação. Ela
tem apego. Ela sofre, ele pode ter raiva, ela pode ter medo; ela pode chorar, se
desesperar).

Então, isso é a situação: é um fenômeno.

Quando ele olha para aquilo com olhar de prajna, não é que ela vai ficar feliz:(-
que bom, perdi o dinheiro). Não é isso. Mas ela olha para a perda do dinheiro e
não tem mais (pausa), ela não “tá” mais grudada naquilo, ela “tá” descolada.

67
Então, é o quê? É uma experiência que tem consequências. Você vai lidando
numa boa com aquilo e vai transitando.

Ela é prática. Ela tem ações e sabe como andar em meio ao mundo, de modo
prático e também de modo causal.

Não tem apego, porque prajna é a visão, que me liberta da fixação à


experiência.

Portanto, se não tem apego, não tem sofrimento.

Mas, não quer dizer que eu não posso ser funcional (eu sigo pagando a conta,
economizando, lidando com o dinheiro); mas ainda lidando com o dinheiro,
aquilo é visto como um dinheiro de sonho, construído temporariamente para
servir algumas funções.

Não há nenhuma idéia de que eu tenho de ter aquele dinheiro como se fosse
algo essencial para a minha paz e bem estar.

Então, prajna vai me descolando. Então, esse é um exemplo simples. Prático.

Quando eu levo “pras” relações, assim, nem se fala.

Nas relações, no dia a dia, todos os níveis de relações, a gente vai


estabelecendo apegos e fixações. E aquilo é fruto, (né?), determinante de
sofrimento.

Fatal: numa relação, que tem apego, vai gerar sofrimento.

Então, prajna, é a visão que vai permitir nos relacionar livres de apego.

Ela não corta as relações. Corta os apegos, que há nas relações.

Então, com prajna, é possível manifestar amor e compaixão genuínos:


desinteressados.

Sem prajna, tem confusão. Nessa visão sempre tem um eu operando e esse eu
operando passa mal nas relações, porque, (ai), ele tem expectativas, (né?), ele
estabelece relações utilitárias. Ai, quando aquilo não está mais funcionando
mais (bem), aquele “eu” entra em crise; entra em colapso; até que aquela
relação termina de alguma forma e aquele ser, aquela identidade morre, a
pessoa passa mal, mas daqui a pouco ela ressurge das cinzas como a “phenix”
, (né?) e começa a se relacionar novamente e vai recriando aquilo.

Então, tudo isso por falta de visão de prajna.

68
Então, estava o Buda olhando a geração das
imagens, olhando os fenômenos todos. Isso é
chamado Profunda Iluminação. Quando ele olha
os fenômenos, não é arrastado por eles, nem os
rejeita, nem os amortece, nem deixa de vê-los
com profundidade. Mas quando ele vê, os
fenômenos estão automaticamente,
instantaneamente, liberados.

Então, essa expressão é muito importante: autoliberação.

Eles são instantaneamente liberados: o Buda não tem que fazer algum esforço.
Ele não tem que analisar os fenômenos, pensar sobre eles, olhar, decompor (ai
depois ele se libera). Não. Eles são naturalmente liberados; instantaneamente.

Então, isso é uma realização, que vai brotar, a partir do cultivo (ééé) longo e
sistemático de prajna.

Com a visão de prajna, a gente vai se libertando, no início, através da análise


dos fenômenos (a gente olha “pras coisas; olha; decompõe; se afasta um
pouco - para poder olhar de fora - e aquilo vai perdendo força).

Ainda tem um processo acontecendo, um processo analítico; um processo


cognitivo. E o Buda, ele já alcançou a manifestação disso, ele não tem mais de
fazer esse exercício.

Aquilo, no olhar dele, já é autoliberado: (não tem); não brota nenhum motivo
de fixação ou apego.

Imagina que bom que deve ser isso, (né?).

Por que que nós, seres senciente, precisamos dos fenômenos para manifestr a
mente de Buda?

Porque, vejam: a gente está imerso no samsara. É justamente a idéia de que o


samsara é real e sólido que nos mantém presos ao samsara. Então, é através
(do). É enxergar que o próprio samsara não é aquilo que ele parece ser que
(vai) nos possibilitar a liberação. Então, é olhando os fenômenos, do samsara,
que eu vou me libertar deles e, consequentemente, me libertar de todo o resto:
eles são o caminho, o veículo, de liberação.

Não é nenhum estado, assim, de afastamento, de (de) interiorização exagerada


(ééé), de fuga do mundo, que vai gerar o estado de Buda. É, justamente,
olhando “pras” coisas e não mais se prendendo às coisas, que o estado de
Buda vai ser alcançado.

69
Então, se eu não tivesse nas coisas eu não “taria” mais no mundo; se eu “to”
no mundo é porque eu ainda eu sou um ser senciente. Então, eu quero
alcançar o estado de Buda. Então, eu preciso usar o mundo como um veículo
de prática.

Um Buda, depois de liberado, ele poderia repousar (é) no darmakaya (no


espaço básico, em que não há mais objetos, propriamente). Ele poderia, mas o
Buda, por compaixão, ele se mantém no meio aos sonhos dos seres “pra”
ajudá-los. (Ele mesmo não depende mais daquele sonho) “pra” gerar essa
sensação de “EU”: ele não tem mais sensação de “EU”. Ele entende que os
seres, que estão no sonho, ainda tem. Então, ele se infiltra nele, ele permanece
no sonho “pra” ajudar aqueles seres a despertar do sonho.

(56:08 – 56:35).

É. Tem esse olhar (que). Tem o olhar da causalidade que entende como o
fenômeno se constrói por causas e condições. Isso é um pedaço da história. É
um pedaço da compreensão do Buda. Então, entender como tudo (ééé), todos
os fenômenos são originados dependentemente. Então, o Buda vai explicar
que a lei da originação dependente é o que explica todos os surgimentos das
aparências, mas, ai, aqui, a gente vai além e vai enxergar essa originação
dependente das coisas (vai enxergar o aspecto vazio, que há nas coisas todas)
pelos fatos delas serem dependentes.

Se elas não fossem dependentes, elas seriam absolutas: se é uma coisa que
existe por si só, não dependeria de fatores.

Mas o Buda vai dizer que não há essa coisa que não depende de nada. Então,
como não há essa coisa, que não depende de nada; tudo é vazio: as coisas
não tem a solidez que aparentam ter. Elas são como muitos elementos que, de
repente, tem uma forma. Ai, quando eu tiro os elementos, aquela forma
desaparece.

Então, nesse caminho, a gente vai aliar duas coisas: a compreensão da


originação dependente, que vai nos conduzir á visão da vacuidade.

Então, o Buda chega num ponto em que não tem mais que pensar sobre isso:
aquilo está estalado (é o olho natural dele diante das coisas).

Então, enquanto a gente “tá” no caminho, a gente precisa raciocinar, a gente


precisa entender as coisas nesse formato (Ah! É vazio por quê? Ah! Porque
não tem uma essência, porque não existe por si só, porque é coemergente –
depende das minha estruturas internas; o fora e o dentro são inseparáveis -).

70
Então eu “vô”, (eu “vô”) trabalhar todos esses argumentos, assim, que a gente
usa no caminho “pra” me conduzir “pra” essa mente do Buda.

Então, todos os argumentos tem vantagens e desvantagens: tem falhas


(pausa) neles, mas eles são úteis ao longo do caminho.

Então, essa etapa analítica, de prajna, ela é necessária, ela é útil, mas ela não
é o Ponto Último. O Ponto Último é a visão instantânea do Buda, (né?), em que
ele abre mão do raciocínio; o raciocínio se torna um caso particular dentro de
infinitas possibilidades da mente livre; a linguagem, o pensamento, a mente
dualista é apenas um aspecto particular dessa mente livre, ampla e infinita
(pausa), do Buda, que já é a nossa essência, também (isso é importante)

Então, “tava” o Buda vendo a geração das imagens, (né?). Ele viu isso tudo.
Elas são automaticamente, instantaneamente, liberadas.

Então, é importante entender que eu não preciso fazer nada para as coisas se
liberarem, porque elas já são autoliberadas: eu não tenho de atuar sobre elas.
Elas já não são aquilo que pareciam ser. Eu não preciso aplicar um antídoto;
(pausa) (pausa) (pausa), nesse nível, (né?), profundo, do Buda (pausa)
(Profunda Iluminação).

Por exemplo, se olhamos a imagem dentro do


espelho poderíamos dizer “como me livrar dessa
imagem, dessa aparência dentro do espelho?”
Aí, tentamos provar que a imagem não é real.
Porém, seria mais efetivo entender que ela não é
real, entendendo como ela surge. Assim, já
estaremos entendendo que ela não é real, em vez
de olhar e tentar derrubá-la.

A gente não quer eliminar a imagem; agente quer ver, apenas, como é que ela
surge. Esse é o ensinamento de prajna.

Tudo bem? “Tão” acompanhando?

Porque, “pra” onde a gente “tá” andando? A gente começa a entrar nas
especifidades da coisa, que aquilo começa a ficar complicado, (né?). Mas qual
que é a idéia? A gente quer se livrar do sofrimento e quer ser feliz, (né?).

Não é o que todo mundo quer?

Esse é o ponto, só que a gente já entendeu que, “pra” ser felizes, enquanto
tiver “isso aqui” de apego a qualquer coisa, essa felicidade dura pouco.

71
Então, eu preciso me libertar de todos os apegos, sem exceção; e prajna é a
mente que me ajuda a me libertar dos meus apegos, por (ver), por me ajudar a
ver que os meus objetos de apegos não são o que eles parecem ser. Eles são
propaganda enganosa. A gente pode ir “pro” PROCON, PROCON do samsara.
Denunciar o samsara, porque ele é enganoso. Ele é falso. Ilusório. É um
conjunto de imagens, que me seduzem. É como ver um filme, no cinema (a
pessoa vai no cinema e “entra no filme e começa a vivenciar aquilo” e, quando
acaba o filme, (-Poxa! Que triste! Aquilo não é real! Eu queria que fosse de
verdade. Eu queria viver aquilo, porque aquilo é mais legal do que aquele
mundo que eu vivo).

Então, a gente vai entrando em sonhos, em fantasias e o samsara, como um


todo, é uma grande fantasia. Eu nem sei como as pessoas constroem castelos
no ar (lembrem de alguns projetos que vocês criaram, teceram coisas,
fantasiaram e acharam que seriam felizes para sempre, quando aquele projeto
se concretizasse).

Ai, aquilo, (aaaa), de repente, não é bem aquilo e começou a virar tudo do
avesso (o príncipe vira sapo), tudo vai complicando (pausa).

E ai?

Qual que é a solidez daquela experiência?

(1:02:04 -1:02:15)

Isso. Exatamente. A gente quer já olhar de saída para não embarcar no sonho.
A gente pode até entrar no sonho, mas entrar com lucidez, brincar por dentro
do sonho e sair dele como se nada tivesse acontecido (pausa), numa boa.

Ai vem a expressão, senhor da dança, de Chagdud Rinpoche. É alguém que


dança em meio aos fenômenos.

Então a gente tira os fenômenos para dançar, mas em momento algum se fixa
a eles.

Não tem de fugir de nada. Mesmo as experiências traumáticas e terríveis


precisam ser olhadas com esse olho.

Todas as experiências.

(1:02:48 – 1:02:52)

Então, “tava” lá o Buda, imerso nesse estado de iluminação, vendo tudo com
esse olho.

72
O Buda Sakiamuni. Quieto.

Lá no alto do Pico dos Abutres, em Rajagriha.

Existe o Pico dos Abutres. Quem quiser visitar, na índia, “tá” lá.

(1:03:30 – 1:04:00)

E, ao mesmo tempo, o nobre Avalokitesvara, o


bodisatva-mahasatva, enquanto praticava a
profunda Prajnaparamita, viu que os cinco
skandas eram vazios por natureza

Então, surge uma nova figura aqui no Sutra, Avalokiteshvara.

Então, o Avalokiteshvara é o Buda da compaixão.

Então, o nome dele é Avalokiteshvara, aquele que ouve os sons do mundo;


também se traduz como olhos que tudo veem.

Então, ele é esse ser compassivo, que está o tempo todo ouvindo o sofrimento
dos seres, olhando as dificuldades dos seres e buscando formas de ajudar.

Ele personifica a grande compaixão.

(1:04:50 – 1:05:08).

Por isso, que sua santidade Dalai Lama é considerado uma emanação de
Avalokiteshvara, porque ele tem essa grande compaixão por todos os seres
que se manifestam.

(1:05:17 – 1:06:34).

Ele olhava como as pessoas veem e alterava.


Essa é a função de Avalokitesvara. Buda da
Compaixão é isso. Ele entende como os seres
vem ao mundo e vai lá dentro da confusão, olha
como os seres entendem, e aí ele mesmo faz o
trajeto, e libera. Liberar significa mostrar como
aquilo que está prendendo a mente dos seres
não tem substância.

Então, “tá” lá a criança chorando, porque o brinquedo quebrou. Ai os


pais vão lá (-não! – pausa -, não se preocupe, isso é só um brinquedo; não é
tão importante; eu compro outro; vamos concertar).

73
Então, o pai mostra “pro” filho que o sofrimento dele, porque o brinquedo
quebrou, é um sofrimento ilusório; quer dizer, não precisa passar por aquilo.

Então, a gente faz isso com as crianças, não faz?

Agora, nós, como seres adultos, fazemos exatamente a mesma coisa:


sofremos e choramos, porque os “nossos” brinquedos quebram.

É a mesma situação.

Então, o Buda, é aquele que vem para os seres adultos e diz: não chorem.

Então, o Avalokiteshvara “tá” fazendo esse papel. Ele vai. Ele vai mostrar como
a gente não deveria sofrer pelas experiências, que ”tão” nos perturbando.

(-Isso parece algo, assim muito distante, impossível?) Porque, assim, a gente
ouve o Budismo ano após ano e segue sofrendo, não segue?

Então, às vezes, pode chegar numa sensação, assim: (-gente, eu acho que
esse fim não vai chegar nunca). Isso ai é utópico. Isso, no passado, tinha gente
que conseguia: isso não é mais viável.

A gente poderia cair nesse tipo de pensamento, mas, em geral, se eu não


consigo enxergar com aquele olho é porque eu não pratiquei o suficiente: todos
aqueles que praticarem, entrarem nisso, vão conseguir o mesmo olhar; não é
algo exclusivo para os mestres do passado, ou alguma coisa assim.

Aquilo “tá”vivo, (né?).

Um pouquinho que eu enxergo disso já me liberta (- nossa! Um monte. Uma


região, assim, de perturbações).

O interessante é isso: quando a gente se liberta das regiões de perturbação, a


gente não vai ficando distantes, frios, indiferentes em relação ao mundo. Muito
pelo contrário, a gente vai conseguindo “tá” no meio daquilo e com mais
interesse ainda e ficando bem no meio daquilo.

É quando a gente não tem essa visão, que a gente não dá conta de ficar lá tem
que fugir.

Então, o prajnaparamita não nos afasta do mundo: nos permite entrar em


qualquer lugar do mundo (pausa) bem, sem se abalar.

Então, esse é o ensinamento.

74
Então, liberar significa mostrar como aquilo que
está prendendo a mente dos seres não tem
substância.

Então, isso aqui já e um ensinamento bem interessante. Então, a gente poderia


listar, na nossa vida atual, o que é que está prendendo a nossa mente: quais
são os pensamentos obsessivos que me abalam e que me consomem? Quais
são os apegos fortes, assim, (eu não quero abrir mão daquilo de modo algum)?

A gente poderia observar e listar isso e começar a olhar com esse olhar: de
que modo aquilo é tão substancial? Por que (que) eu gerei esse apego tão
profundo? {Às vezes a gente vai entrando naquilo e nem entende mais. Ai, a
gente pára para olhar e “é mesmo, né?” Por que será que eu “to” tão apegado
a tal pessoa, a tal coisa, a tal situação? Eu nem lembro mais. Eu fui agindo de
modo automático, sem parar “pra” pensar e lá pelas tantas (pausa) (pausa): É.
Eu “to” completamente enredado; eu “to” na teia da aranha: preso, (né?). ai fica
mais difícil de libertar. Por que? Porque eu construi uma situação que eu
considero muito sólida. (-Não, mas é assim!). As pessoas chegam em crises, a
gente vai tentar argumentar, tentar a ajudar elas olharem “pra” crise com um
outro olhar e a pessoa não consegue olhar com outro olhar. (-É aquilo!)
(pausa) (-A minha dor é aminha dor: é real). (pausa). (-É sólida). (pausa). (-Não
venha dizer que o objeto da minha dor não é tão sólido assim). (pausa). (-Você
está tentando só me consolar)}.

Aquilo é muito entranhado, assim: muito profundo (a sensação de que o objeto


da dor é um objeto real).

Enquanto a gente “tiver” preso a isso, olhando “pro” espelho e fixados à


imagem do espelho, a gente não tem como se livrar do sofrimento.

A gente vai pegar a pessoa que está com dor e sofrimento e vai tentar conduzir
a mente daquela pessoa para outra paisagem, para ela olhar as coisas com
outro olhar, sem falar em vacuidade, sem falar nada disso.

A gente vai mostrando possibilidades: vai abrindo o espaço mental dela.

Se ela está sofrendo é porque ela está presa a um ponto específico, mas
muitas vezes ela nem sabe o que é.

É por ai.

Então o Nobre Avalokiteshvara

(Disseram que): O objeto da dor não é real, mas pra quem tá sofrendo a
dor é real.

75
(Perguntaram): Para ajudar essa pessoa vai ter de dizer que a dor dela
não é real?

Não. Não é por ai. A gente não vai chegar com essa linguagem. A gente
vai tentar. Vai pegar a pessoa, que “tá” com aquela dor e sofrendo e vai
tentar conduzir a mente daquela pessoa para outra paisagem, para ela
olhar as coisas com outro olhar, sem falar em budismo, sem falar em
vacuidade, sem falar em nada disso: a gente vai mostrando
possibilidades; vai abrindo o espaço mental dela.

E, como ela está sofrendo, ela está presa num ponto muito específico,
só que, às vezes, ela nem sabe o que (que) é. (Ai é que é mais
complicado). Às vezes, ela “tá” sofrendo e nem sabe o porquê. Aquilo é
mais profundo; “tá” num nível mais inconsciente, (né?).

Não é assim: quebrou o meu computador. Não é isso. É uma coisa


(muuuuito!!!) mais profunda. É uma perturbação, que ela não sabe de
onde vem. {Às vezes leva tempo, (né?), para esclarecer (pausa) aquela
questão específica}.

Mas o método sempre vai ser o mesmo. Vai ser sempre tentar ajudar a
pessoa a encontrar (pausa) espaço, (pausa) possibilidades.

A pessoa “´ta” sem espaço: “tá” claustrofóbica na situação. (pausa) Ai,


ela sofre.

A gente tem de apontar outras coisas para ela. E, um modo hábil para
fazer isso, (ééé) (pausa) tentar conduzir a pessoa a fazer coisas boas
para as outras pessoas.

Isso é um super-método: tirá-la do autocentramento (ela “tá” olhando,


apenas, “pro” problema dela, (né?); “pro” sofrimento dela; ajudá-la a sair
um pouco disso e olhar para as outras pessoas, que estão sofrendo,
também. Então, aquilo já minimiza, de saída, o sofrimento dela.

Um meio hábil. Mas o ponto é, sempre, ampliar a mente: ampliar a visão.

O Lama Samten, a gente brinca: a gente chega “pro” lama Samten com
um problema (“pra” conversar com ele) e sai com três tarefas. Você
chega com um problema e sai com três tarefas.

O que (que) é isso?

Ele quer te ajudar. Então, ele, ele vai te dar coisas boas para fazer.

76
Ai ele pede e você não sabe dizer não “pro” Lama, ai você vai fazendo,
(né?). Ai, enquanto você vai fazendo aquelas coisas, você vai
esquecendo o seu problema. Ai, você gera mérito, porque fez coisas
boas {o teu mundo melhora (pausa) e te dá mais força para você lidar
com os seus problemas}.

É um método hábil de ajudar, mas não é muito fácil ajudar as pessoas.

Às vezes a pessoa está “tão” firme e fixa, assim, no sofrimento dela que
(pausa) ela não consegue enxergar através.

Aquilo tem um nó energético, tem um nó emocional, tem um nó mental.


Ela não sabe nem por onde começar “pra” desfazer o nó.

Aquilo “tá” doendo no corpo. Já (dói) no corpo. Dói nas emoções. Dói na
energia, (né?): ela não “tá” bem.

Ai é complexo.

Mas é por ai: é ampliar o espaço mental.

Então, com a gente, a gente tem de fazer a mesma coisa: as minhas


regiões de apego, fixação e dor, eu tenho que olhar com um olhar mais
amplo, esse olhar de prajna, que vai me mostrar que eu nunca estou
preso de verdade na situação.

Nenhuma situação é ruim ou boa, intrinsecamente.

É bem comum, inclusive, uma situação que parece uma perda ou uma
dissolução de alguma coisa (logo depois eu “to” muito melhor), porque
abriu um espaço, uma coisa foi embora, “abre” espaço “pra” uma coisa
melhor surgir.

É comum isso acontecer.

(pausa)

A vida é isso. Tem fenômenos ocorrendo. Os fenômenos são


impermanentes (Eles não duram para sempre nem pro bem nem pro
mal). Então, as doenças passam, as alegrias passam: tudo vem e passa.
Ai, se eu aproveito cada uma das experiências “pra” treinar esse olhar,
eu vou me libertando delas. Ai, eu vou sofrendo cada vez menos com as
próximas experiências, (pausa) com liberdade; (pausa) com esse olho
de liberdade.

77
Então o Nobre Avalokiteshvara estava fazendo o
papel de Bodisattva. Ele é o Bodisattva-
mahasatva, aquele que tem visão.

Ele é um Bodisattva mahasatva. Então, ele não é só um Bodisattva. Bodisattva


é um ser que busca a iluminação. Mahasatva é um grande ser. Ou seja, ele é
um bodisattva, que já está muito avançado no caminho. Ele não é um iniciante,
assim.

(1:15:45)

78
VÍDEO 6
RECAPITULAÇÃO

(00:25)

Então, vamos começar o prajnaparamita.

Então, assim, “pra” quem tá vindo pela primeira vez, esse estudo
já “tá” em andamento cerca de um mês e meio, já é o sexto
encontro, (né?); a gente “tá” seguindo um texto, (né?), do Lama
Samten, uma transcrição de um Retiro, que nós atendemos sobre
esse tema; a gente “tá” avançando passo a passo, no estudo.

Então, na semana passada, a gente parou num trecho em que


Avalokiteshvara viu que os cinco skandas eram vazios por
natureza. Então, antes de começar, eu gostaria de perguntar se
alguém tem alguma questão.

(1:27 – 2:01)

Então, a gente “tá” nesse ponto. A gente “tá” avançando no texto,


(né?), analisando o quê? (O Sutra do Coração).

O Sutra do Coração da Prajnaparamita é um texto essencial, que


vai nos trazer, de modo muito sintético todo o conhecimento de
prajnaparamita (que é uma coisa muito vasta).

Então, a gente “tá” avançando.

(Éééé).

Se ninguém tem nenhuma pergunta, a gente vai seguir.

(2:25 – 2:38).

Então, prajnaparamita, lembrando, (né?), é a perfeição da


sabedoria discriminativa. É a sabedoria que o Buda ensina, que
nos ajuda a atravessar a prisão do apego, a solidez das coisas; a
prisão conceitual, que acaba gerando todas as emoções
perturbadoras; todo o sofrimento do samsara.

Então, prajnaparamita é a ferramenta, que nos permite atravessar


a confusão, (ééé), a visão errônea sobre a realidade. Portanto,
tem o poder de nos libertar.

79
Então, esse é um estudo permanente, necessário, que a gente
vai, assim, gradualmente avançando na compreensão e vai
gerando a capacidade não só de compreender, mas também, de
praticar aquilo: meditar, olhar com esse olho; que é o objetivo
final.

Transcender a visão confusa, dualista do samsara e atravessar


para a visão dos seres iluminados, que é a visão (ééé) que não há
mais separação entre sujeito e objeto; a visão constante da
coemergência, que gera uma natural libertação de todas as
fixações e apegos.

Muito bem.

Então, o nobre Avalokiteshvara estava fazendo o papel de bodisatva.

Ele é o bodisatva mahasatva (aquele que tem visão).

Então, ele Viu que os Cinco Skandas eram vazios


por natureza

Então, vamos ver o comentário do Lama:

Os 5 Skandas dentro da tradição hinduísta são a


base da nossa existência. Quando estudamos
Patânjali, os vedas, encontramos sempre a
descrição dos 5 Skandas. Não é uma
nomenclatura budista, mas dentro da cultura
anterior, pré-budista. Também é importante dizer
que dentro da cultura indiana, não há
propriamente o budismo. Há os ensinamentos do
Buda, mas o Buda pertence à cultura védica. Ele
não se separa da cultura védica. É como um
grande mestre como outros grandes mestres já
vieram. Os budistas então se separam e geram
uma visão específica. Não havia um budismo
propriamente. Do mesmo modo como muitos
diferentes mestres vieram e havia grandes
mestres hinduístas contemporâneos ao próprio
Buda. Naquela época mesmo surgiram os
debates entre as várias correntes de
ensinamento. Esses debates terminaram por
gerar o budismo, porque marcaram a diferença
entre a posição budista e as outras posições que
então começaram a ser chamadas de hereges.
80
Eram sutis diferenças. Por exemplo, a Roda da
Vida, não é exclusiva do Budismo. Encontramos
desenhos da Roda da Vida em outras tradições.

Mas agora estamos olhando o Budismo. Estamos


olhando como esses ensinamentos terminaram
gerando um corpo, que se protegeu, ganhou
nome próprio, e seguiu. Mas mesmo na Índia há
uma tradição de debate de grande proximidade
entre os shivaístas e os budistas. Lentamente, o
budismo foi totalmente reabsorvido pela cultura
védica e desapareceu, evaporou dentro da Índia.
Porém, no período onde o Budismo existia como
uma tradição sustentada, esses ensinamentos se
transferiram para a china e de lá se espalharam.
Posteriormente, bem depois, esses
ensinamentos entraram no Tibet. O budismo
tinha uma universidade monástica de grande
importância, a Universidade de Nalanda, que
equivaleria no corpo humano, a uma glândula do
sistema imunológico. Ou seja, absorvia visões
heréticas, localizava-as todas, reprocessava
dentro do budismo, convertia em budismo, e
emitia os anticorpos para que aquilo não
andasse por conta própria.

Então, a noção de heresia, ou visão herética, vai ser tudo aquilo que o Buda
coloca, que (ééé) são visões errôneas sobre a realidade: visões filosóficas
variadas, que vem pelas experiências e pelas idéias de muitas pessoas e que
não são sustentáveis diante de uma análise cuidadosa da realidade.

Então, surge o debate em que duas pessoas com a visão diferente apresentam
os seus argumentos e vai se chegando a uma conclusão sobre aquele
encontro.

O debate indiano (ééé) é um debate focado na busca da verdade, numa


explicação clara, que sirva “pra” todo mundo.

Não é um debate de defesa da minha bandeira.

Vamos pensar assim: nós temos debates políticos, em que não há


propriamente uma busca pela verdade. Há, apenas, uma defesa da própria
bandeira, sem analisar, com cuidado, a posição do outro.

81
Já o debate, na visão budista, é uma coisa muito sofisticada, em que não
espaço “pra” emoções: aquilo é uma análise racional (lógica) dos fatos, em que
há uma troca entre as duas partes, assim, e não há, propriamente, (ééé) raiva
ou qualquer emoção perturbadora por perder um debate, por exemplo.

Era tradicional, aquele que perdia o debate, automaticamente, aceitava a visão


do outro, agradecia e seguia a visão do outro dali por diante. Uma coisa
desapaixonada, uma busca, assim, geral da verdade ultima.

(8:00 – 17:22).

Então, assim, Avalokiteshvara olha “pra” todos com compaixão e diz assim
(né?): que todos vocês vejam que os Cinco Skandas eram vazios por natureza.

Esse é o ponto, (né?)

Então, a universidade monástica teve grandes


debatedores, entre eles Manjushrimitra, depois
Tilopa, Naropa, o mestre de Marpa, por sua vez o
mestre de Milarepa, por sua vez o mestre de
Gampopa, que por sua vez é o mestre de
Karmapa e daí surge então toda a linhagem
Kagyu.

Muitos mestres, (né?). Muitos mestres iluminados, que tiveram a origem,


assim, dos seus ensinamentos lá na Univesidade de Nalanda, na Índia, onde,
ainda hoje, existem as ruínas (é um ponto turístico, assim: um ponto de
peregrinação).

Se diz que na universidade de Nalanda se chegou a ter, assim, mais de dez mil
monges, internados, vivendo, praticando, meditando, estudando e que, só a
biblioteca da universidade de Nalanda eram quatro prédios, assim, com
pergaminhos acumulados.

E, de tudo isso, não sobrou nada, que quando as invasões islâmicas


começaram, no século XII e XIII, aquilo foi queimado, assim, completamente.
Então, a gente não; a gente perdeu; a gente não tem noção, assim, dos textos
(que só havia lá) e que não foram preservados em outros lugares: uma grande
perda.

Assim, na história das culturas, sempre tem essas grandes perdas, (né?), a
todo momento, tudo queima, até o fogo consome tudo.

(Éééé). Havia, então, os grandes debatedores.

82
A universidade monástica teve grandes
debatedores, entre eles Manjushrimitra, depois
Tilopa, Naropa, o mestre de Marpa, por sua vez o
mestre de Milarepa, por sua vez o mestre de
Gampopa, que por sua vez é o mestre de
Karmapa e daí surge então toda a linhagem
Kagyu. Havia então os grande debatedores.
Manjushrimitra se torna um dos defensores da
visão da Grande Perfeição (Dzogchen). Ele vem
antes de Guru Rinpoche, vai receber
ensinamentos diretos de Garab Dorge, que é uma
emanação direta de Vajrasattva. A Universidade
de nalanda gerou grandes nomes,
extraordinários. S.S. o Dalai Lama aspira recriar
Nalanda. De certa forma, na verdade já está
fazendo isso. Esse corpo de pensadores ao
redor dele, expondo as culturas, e gerando
antídotos para as próprias culturas, já é a ação
de Nalanda. O esforço de se expor as culturas,
não se fechar, de utilizar o Dharma,
essencialmente através do Prajnaparamita,
olhando as coisas com vacuidade. Olhando
também a partir dos 12 Elos, porque todas as
visões heréticas, em algum momento, apóiam
algum dos 12 Elos como se esse fosse sólido.
Aquilo que cabe nos 12 Elos é herético. Aquilo
que está fora dos 12 Elos é Dharma.

Então, os Doze Elos, para quem não foi apresentado ainda, é um ensinamento,
complexo, assim, detalhado sobre o mecanismo causal, que o fluxo de
consciência passa, assim, ao longo das várias vidas.

Então, é o ensinamento, que “tá” dentro da Roda da Vida {Aquela Imagem. É o.


(É o) aro mais externo. Tem doze divisões. E quem quiser isso, aprofundar
“isso”, estudar isso, tem o estudo de segunda feira, à noite, sobre a Roda da
Vida –Esse livro do Lama Samten, assim, muito ilustrado, muito detalhado “A
Roda da Vida”; vale a pena, assim, estudar}.

É quase como se fosse um prerriquisito, assim, para entender bem o que a


gente está fazendo aqui, no grupo de terça, porque, (com) a Roda da Vida, a
gente entende como o samsara se estrutura e, aqui, a gente “tá” olhando como
fugir do samsara: pular fora do samsara, (né?).

Então, um complementa o outro.

83
Então, tudo bem: quem não puder estudar agora, em algum momento vai
acabar estudando (esse texto, “A Roda da Vida”).

Então, tem esse ensinamento, detalhado dos Doze Elos.

Como os Doze Elos representam a causalidade, que estrutura o surgimento do


samsara (então, é isso que o Lama “tá” dizendo), cada um desses Doze Elos é
uma visão errônea sobre a realidade: uma visão herética.

Então, prajnaparamita vai ultrapassar cada um desses elos.

Então, quando a gente entender, melhor, prajna, a gente vai meditar sobre
cada um dos elos e vai enxergar a vacuidade correspondente àquele
ensinamento.

Tá?

Então: calma.

Nagarjuna, grande sábio indiano diz: “Os 12 Elos


são a essência do Budismo. A partir dos 12 Elos,
brotam as Quatro Nobres Verdades, o Nobre
Caminho de Oito Passos, a noção de Liberação,
brotam todos os ensinamentos.”

Se diz isso, (né?), que o Buda, após a iluminação, ele “fica” sete semanas
meditando, antes de se levantar para dar ensinamentos. E que, nessas sete
semanas, o Buda, ele entende os Doze Elos de forma detalhada. Então, aquilo
fica claro “pra” ele. Então, a partir disso, ele vê como os seres se perdem.

Entendendo como que os seres se perdem no samsara, ai ele enxerga qual


que seria o método de ensinamento “pra” tirá-los daquilo. Ai, vem as Quatro
Nobres Verdades e o Nobre Caminho de Oito Passos, (né?), que são, assim,
os pilares fundamentais do budismo {Quatro Nobres Verdades ( A verdade do
Sofrimento; Origem do Sofrimento; Extinção do Sofrimento e Caminho “pra”
extinção do Sofrimento, que são os - os - Oito Passos do Nobre Caminho)}.

Então: esse o formato.

Agora, quando os cinco skandas (a palavra skanda – a gente vai detalhar


melhor – a palavra skanda às vezes é traduzida como agregado, ou montes:
empilhamento de coisas). Então, cinco skandas seriam, cinco camadas, assim,
de algo que é empilhado. É uma definição que surge para descrever o que
(que) é uma pessoa. Então, vai se dizer que uma pessoa nada mais é do que?
(O empilhamento de vários fatores).

84
Então, a pessoa vai ser analisada e olhada a partir dos componentes dela.

Então, olhando os 5 Skandas numa visão realista


(também havia uma visão realista dentro do
hinduísmo) – as formas são sólidas, as
construções são verdadeiras, as percepções são
verdadeiras, as marcas mentais são reais e as
consciências também. São os 5 Skandas: forma,
sensação, percepção, formação mental e
consciência. Avalokitesvara olha para isto e
descobre: as prisões são construídas de ferros
de 5 qualidades: forma, sensação, percepção,
formação mental e consciência. Quem acreditar
na solidez disso (os 5 skandas), está preso.

Ele então diz que os 5 skandas são vazios por


sua própria natureza. Ou seja, não preciso fazer
nada neles. Eles já são vazios. Eles têm a
substancialidade do sonho. Olhando o exemplo
dos meninos que se reúnem ao final da tarde
para jogar futebol, quando eles traçam com cal
as linhas do campo, marcam o gol, dizem quem
pertence a cada time, começam a jogar, olham
para o tempo, sabem quanto tempo tem ainda de
partida – tudo isso é sólido. Mas na verdade o
tempo do jogo não é sólido, as linhas no chão
não são sólidas, as barras do gol não são
sólidas, os times não são sólidos, os
componentes do time não são sólidos, o
resultado final não é sólido. Nem o início, nem o
meio, nem o fim, nada do que acontece ali é
sólido. No entanto, mesmo assim aquilo
acontece. Podemos olhar essa realidade como
verdadeira, real, cósmica, ou olhar isso como
algo construído.

Chenrezig (Avalokitesvara em tibetano) diz então


que os 5 skandas tem essa substancialidade, não
tem uma natureza em si “mesmas”. Por exemplo,
as linhas do campo não têm uma natureza em si
mesma, nada daquilo tem uma substancialidade
em si mesmo. Ganham substancialidade a partir
da coemergência. Nossa mente atuando junto
com aquilo dá a solidez daquilo. Portanto, ele

85
descobre que os 5 skandas são vazios por
natureza.

Então, os cinco skandas (vamos entender assim), quando a gente olha “pra”
uma pessoa (um indivíduo) a gente poderia dividir assim (bom, uma pessoa é
composta do quê?) (De um corpo e tem uma mente operando). Então, essa é
uma classificação muito óbvia para quem olha “pra” uma pessoa (ser
senciente): tem um corpo e uma mente operando.

Então, o primeiro skanda (forma), ele se refere ao corpo. Então, forma é corpo.

Ai, quando eu olho “pra” mente, quais são as funções mentais?

Então, nesse sistema, se diz que as funções mentais são: sensação,


percepção, formação mental e consciência.

Então, quatro skandas mentais e um skanda físico; todos eles interligados,


inseparáveis, assim, empilhados.

Então, o skanda físico é muito óbvio (né?). Então, tem as várias formas, a
forma do corpo, as formas dos objetos {são todas as construções sólidas (ééé),
visuais, auditivas, sonoras, (ééé) (ééé), sonoras, olfativas, gustativas e táteis);
ou seja, todos os sentidos operando geram formas}

Então, esse é o primeiro ponto (forma).

Ai, eu tenho sensações: a mente opera gerando sensações diante das várias
experiências. Então, o que (que) é sensação? Sensação é assim (cada
experiência “vem” um julgamento mental que classifica assim: gosto ou não
gosto ou tanto faz). Então, diante das experiências, surge um julgamento
interno, que divide tudo, nesse aspecto, (né?). Então, eu tenho uma sensação
agradável, desagradável ou neutra.

Não é? (A gente vai perceber isso.)

Então, esse é o skanda das sensações.

Ai vem o skanda das percepções.

As percepções (ééé) são entendidas como o momento em que (olhando “pra”


alguma coisa) a gente rotula, a gente entende o que (que) aquilo é; (a gente
localiza aquilo no nosso inventário mental); a pessoa bate o olho numa coisa
preta e diz: computador. Então, ela vê a forma, interpreta a forma e rotula
aquilo; designa; dá um nome “praquilo”.

86
A gente faz isso o tempo todo. Então a nossa mente “tá” com o radar operando
e classificando os objetos.

Inclusive, quando a gente não consegue entender um objeto (a gente olha “pra”
alguma coisa e não consegue perceber corretamente, a gente fica muito
incomodado; a gente fica apertando o olho, assim, tentando resolver (que
diabos é isso?). Então aquilo dá até uma aflição {a gente quer andar num
mundo conhecido, num mundo confiável, num mundo , que já seja, (né?), parte
de nosso mundo interno}.Quando eu tenho de lidar com uma coisa nova, aquilo
tem um estranhamento. Então, é isso, eu vou gerar uma nova percepção.

Então, a percepção é esse momento em que eu localizo esse objeto e dou um


nome “pra” ele: eu tenho uma forma e, diante da forma, eu tenho uma
percepção (câmera); a gente vai olhando assim.

Ai, as percepções, elas se baseiam, também, nas formações mentais (que são
o quarto skanda). Então, formações mentais ou marcas mentais (sanskaras)
eles representam o quê? (o conjunto de todas as memórias, hábitos,
condicionamentos, informações que a gente foi acumulando durante
incontáveis vidas). Então, é um skanda, assim, super amplo.

Então, quando a gente olha “pro” mundo a gente vai vendo coisas e vai dando
nome “pras”coisas; tudo isso se baseia nas nossa memórias de estruturas
anteriores.

Então, em algum momento a gente é apresentado (a criança vai crescendo e


vai sendo apresentada “pros” objetos: vai aprendendo a se relacionar com o
mundo; mas ela já carrega uma série de condicionamentos de vidas anteriores,
que, inclusive, permite ela olhar “pra” algumas coisas e não ver outras. Então,
tem toda uma estrutura. Então, isso eu vou chamar isso de hábitos
condicionamentos, marcas. E o conjunto disso eu vou chamar de carma. Então,
carma seria o conjunto de todos os samskaras (São, também, traduzidos como
sulcos. Então é como se aquilo deixasse um rastro; um sulco na mente; uma
marca; formações mentais, que é o quarto skanda).

E o quinto skanda é o que chama de consciência (vijnana). Então, consciência


é (vamos dizer assim) a função mental que gera a sensação de ser alguém
(Então tem uma mente operando livremente e surge a idéia de que “eu sou
alguém separado do mundo e das formas externas”).

Então, isso brota a partir da consciência. Então, a consciência é aquela que


trabalha os outros skandas (e que se apropria dos outros skandas dizendo “eu
sou ela mesma”).

87
Então, quatro funções mentais e uma função física, todos juntos, geram o quê?
(uma pessoa).

(30:06 – 33:30)

Então, é muito importante entender esses cinco skandas. Em todos os tipos de


experiências, pelas quais a gente passa, sempre tem os cinco skandas
operando. Então, assim, brota uma pessoa na minha frente (alguém entra pela
porta). Tem uma forma. Ai brota uma sensação (eu julgo aquilo: agradável,
desagradável, indiferente). Brota uma percepção (fulano de tal). Brotam marcas
mentais (eu já o conheço ou não o conheço; é uma pessoa nova “ou to vendo
pela primeira vez”). Então, tem memórias acessadas para tentar se relacionar
com aquele ser que “tá” entrando. Tem uma consciência (eu “to” aqui olhando
“pra” ele lá; tem uma separação entre nós). Então, é importante entender que
quando a gente for fazer a meditação dos oito pontos (para qual a gente está
se direcionando), então, eu “vô” analisar os cinco skandas em cada
experiência.

Não é muito complicado, eu entender o que são os cinco skandas. Forma,


sensação, percepção, formação mental”,” consciência. Então, esse é o
sistema, que está sendo analisado. Então, havia muitos sistemas, que
tentavam mostrar a realidade das coisas. Então, Avalokitesvara, quando ele
“tá” dando ensinamento de prajna, ele vai negar todas essas classificações.

Se ele estivesse hoje em dia aqui (se naquela época houvesse a ciência) ele
diria assim (os cento e tantos elementos da tabela periódica são vazios por
natureza): ele acrescentaria outras classes, assim, (né?). ele afirmaria essas
coisas assim. Naquela época, ele pegou todas as classificações que existiam
e foi negando uma por uma.

Então, esse é o objetivo: mostrar a vacuidades dessas coisas.

Para a compreensão disso é melhor estudar a


Ignorância – Avydia, o 1º dos 12 Elos. Estudar
com cuidado e então ver os outros Elos. Por
exemplo, entre os 5 skandas, temos forma (rupa),
que é produto da ignorância – avydia, 1º Elo.
Depois temos sensações – vedana, 7º Elo, depois
percepção (samjana), ligado á vedana e ligado á
forma (rupa). As percepções (samjana) tem uma
conexão também com o 6º Elo, contato (órgãos
físicos em contato com o mundo). Ao estudar o
6º Elo vemos como os cientistas se enganam em
suas percepções aparentemente neutras

88
produzidas por instrumentos. Na física Quântica
se estuda cuidadosamente como a percepção
engana, como os experimentos enganam. Depois
temos as marcas mentais (samskara), o 2º Elo.
Podemos acreditar que elas são sólidas, mas não
são também referenciais fixos.

A compreensão de samskara

(Eu falei das marcas mentais, (né?), o mundo e o fato dos cinco skandas.)

seria assim: nós temos a nossa natureza livre


que pode operar com diferentes inteligências.
Samskara são inteligências de certo tipo,
contagiosas, podemos transmitir para o outro.
Não é pessoal, exclusiva. O outro pega e começa
a usar.

A gente transmite conhecimentos uns para os outros e todo mundo começa a


ver tudo igual: todo mundo começa a se relacionar com o mundo de uma forma
muito parecida. E isso vai se propagando.

(Ãããã)

A base da sabedoria comum do mundo repousa


sobre samskara, sobre as marcas. Precisamos
que essas marcas sejam transmitidas. Vamos
para a escola para receber as marcas. Os
professores nos introduzem em outras regiões,
nos transferem as marcas, que vão passando
pelas costas, de uns para os outros. Ou seja, nós
agimos, e sem que precisemos falar coisa
alguma, o outro vê o que estamos fazendo,
entende, localiza e passa a operar com aquilo.
Essa transmissão é a transmissão mais efetiva e
mais rápida. Quando recebemos essa,
transmissão nem nos damos conta de que a
recebemos. Passamos a operar em outras
paisagens, ficamos presos. Nossa natureza é
livre, nós recebemos a transmissão das marcas.
Passamos a gerar a capacidade de entrar em
outras paisagens e, aí dentro, passamos a operar
condicionados à mente e nem percebemos. Os
impulsos de energia brotam, as ações de corpo

89
se exercem e nem sabemos que tudo está
funcionando. Parece que tudo é natural.

Então é isso, (né?). O quarto, o quarto skanda, ele torna toda a percepção e
operação do mundo uma coisa habitual (automatizada) e a gente acha que isso
é a verdade (isso é a realidade); mas, na verdade, isso é, apenas, uma
possibilidade de realidade, que foi construída e que, por ser construída, não é
definitiva.

(37:06 – 38:26)

(Fizeram uma pergunta)

Há diferenças na marcas mentais. As pessoas não concordam; elas


entram em atrito. Elas estão vendo o mundo de uma forma diferente
(uns dos outros, né?).

Tem uma grande região (uma vasta região) de concordância (que


predomina: a gente vê os mesmos objetos, com cores parecidas, com
tamanhos similares, porque a gente tem marcas mentais parecidas);
agora, na região em que a gente vai diferir (um dos outros) a gente entra
em atrito: (-Eu “to” vendo, mas você não “tá” vendo).

(38:55 – 39:05)

A gente tem. Tem uma parte das marcas (que eu já trago) que me levou
ao ponto até onde eu já “to”, mas, quando eu entro em contato com
outros seres, eles vão trazer outras marcas (que eu “vo” olhar) e eu “vo”
aprender com eles.

Então tem uma troca.

(39:23 – 39:25)

Aquilo vai se somar com as anteriores: a gente vai acumulando marcas


mentais, infinitamente; cada pessoa, que a gente encontra, a gente
grava novas coisas, como se tivesse um grande “HD” registrando isso o
tempo todo.

Ai, na interação das marcas, surgem outras terceiras marcas (você traz
uma coisa, eu trago outra; ai, da conversa, surge uma terceira)

Então, esse mecanismo é infinito (de produção).

90
Do que a mente lida, ela pode construir qualquer tipo de experiência e
mundo.

Então, uma mente livre, vai gerando novas possibilidades.

A gente vê, (né?), como a gente vai brincando com a realidade: a gente
vai gerando tecnologia, vai gerando conhecimentos e vai manipulando
as formas e a realidade (a partir de novas marcas mentais).

(40:10 – 40:21) Descartes (Penso, logo existo)

Ele vai dizer o contrário. Ele vai dizer assim: você existe e pensa,
inclusive; além de um monte de outra coisa, você, também, pensa.

Então, a existência não brota do pensamento, mas o pensamento brota


da Natureza Búdica da (da) (da) Mente Primordial.

(40:36 – 40:42)

(Noção de identidade). Já é ignorância: já é avídia.

Descartes parte do ponto de vista de avídia.

Em certo sentido, ele “tava” ele “tava” correto em trazer o referencial


“pro” sujeito. (Isso é bom); mas ele manteve o sujeito separado do
mundo (do objeto) .

Então, esse é o engano básico, é o engano fundamental de todos os


seres sencientes, que é a avídia, o primeiro elo (dos doze elos), onde
brota a confusão de “todo” (pausa): a separatividade (sujeito e objeto),
onde tudo começa (a mente se divide em duas; ela se divide entre
observador e aquilo que é observado, achando que um não tem nada a
ver com o outro).

E esse é o engano fundamental e, ai o que chocou a “comunidade


científica” na década de XX ou XXX, quando se descobriu que (ééé) nos
fenômenos quânticos, as experiências se alteravam de acordo com o
posicionamento da experiência pelo observador: “quando o observador
projeta a experiência de outra forma, a pessoa tem um resultado
diferente com o mesmo objeto”.

Então, aquilo foi chocante, assim.

Até hoje, surgem (ééé) tentativas de explicar isso de uma forma


reducionista, mas, ai, por exemplo, na “Escola de Copenhagen”, onde

91
Niels Bohr vai explicar isso (ééé) com essa visão de coemergência
(inseparatividade entre quem está fazendo a experiência e aquilo que
está sendo observado) (Aquilo vai ser equacionado).

Então, no meio científico se chega a esse ponto.

Então, até hoje essas idéias não estão bem absorvidas pela ciência,
assim, (com clareza): aquilo se utiliza, assim, de modo prático (né?), no
computador, (que é decorrente da compreensão dos fenômenos
quânticos), mas filosoficamente, aquilo não foi incorporado “pra” filosofia
da ciência – é o ponto que a gente “tá” -, então o budismo já olha com
esse olhar desde sempre, assim: o Buda Sakiamuni olhou com esse
olhar e percebeu a inseparatividade. Então, a ciência, lentamente, se
aproxima da mesma conclusão.

O Buda fez uma pesquisa na primeira pessoa, ou seja, ele olhou “pra”
própria mente (pausa) e a ciência faz a pesquisa em terceira pessoa (ela
olha “pra” fora): ela tenta gerar um observador imparcial, que olha “pra”
fenômenos externos; só que ela não entende que nunca o observador
vai ser imparcial {não é possível “pro” o observador ser imparcial; porque
o observador projeta as máquinas e os aparelhos de medição a partir já
dos preconceitos dele (ele só vai conseguir medir aquilo que ele quer
medir) (se ele projeta uma máquina, que mede freqüência a tal espectro,
etc; ele só vai conseguir medir aquilo; então ele só vê aquilo que ele
quer ver)}.

Então, esse é o engano básico da (da) ciência “com as suas funções”.

Então, Sua Santidade, Dalai Lama, ele promove, sistematicamente,


essas (esses) diálogos (né?). essas conferências buscando esses
diálogos ciência/budismo.

Ai, ele sugere muito que a gente entenda isso. Tem um livro da Sua
Santidade, (O Universo em um único ato), é um livro muito interessante
que, Dalai Lama vai colocar a opinião dele sobre os vários ramos da
ciência.

Muito interessante!

E, também, tem esse livro do professor Allan Wallace (Dimensões


escondidas) em que, ele, também, faz esse debate entre física e
budismo (quem não é da ciência, é complexo, assim; mas quem está no
meio acadêmico, vale a pena ver).

Muito interessante.

92
(44:13 – 44:25)

Temos então o último dos 5 skandas, Vijnana –


consciência. Vijnana são as consciências, essas
existências, as identidades que transitam, e que
parecem seres. Podemos ultrapassar isso,
ultrapassar samskara. Podemos recuperar a
condição natural, e operamos de um jeito ou de
outro, mas com outra inteligência. Todos que
tem samskara de certo tipo pode usar isso em
um momento e em outro momento não usar,
porque está em outra paisagem, em outra
condição.

Mas aquilo está presente como uma


disponibilidade

Ou seja, tem as marcas mentais e, dependendo da situação, a gente acessa


umas ou outras; a gente consegue, inclusive, selecionar quais hábitos e
condicionamentos eu quero usar numa certa situação

(usamos para isso a palavra alaya-vijnana: alaya


significando depósito; alaya-vijnana, depósito de
impressões).

Então é uma consciência que guarda esses vários (essas várias) impressões,
como se fosse um grande reservatório.

Temos então um conjunto grande de


“possibilidade” de operarmos. É como se
houvesse uma grande região. A nossa
consciência tem um foco como uma lanterna em
algum lugar. Quando a lanterna ilumina uma
parte, ela não vê a outra parte. Responde
segundo aquilo que vê. Vai se deslocando nas
regiões de alaya-vijnana, algo vai aparecendo e
automaticamente outras regiões vão
desaparecendo. Nossa consciência opera de
modo pontual, mas não tanto, e sim em
pequenas regiões de significados.

Por exemplo, hoje, agora, estamos operando em


uma pequena região. Podemos fazer muitas
coisas, mas agora estamos focando nossa
consciência numa coisa muito específica.
93
Estamos com uma luzinha dentro de uma região
que já nem é alaya-vijnana, estamos na verdade
indo para as Terras Puras.

A gente “tá” analisando “um termo” que não pertence a alaya-vijinana: que vai
além de alaya.

Só em Terras Puras que fazemos o que estamos


fazendo aqui. Então essa nossa consciência livre
pode se deslocar para essas várias regiões e
essa é a natureza da nossa consciência, da
nossa lucidez.

Então, formação mental são essas estruturas que


não são nem nossas. Se quiséssemos
poderíamos dizer que isso é a visão
Transpessoal Budista. Não tratamos pessoas.
Pessoa? Não temos como descrever uma
pessoa, porque uma pessoa é liberdade mais
condicionamento, porém o condicionamento não
é fixo. É assim também a questão do perdão, da
culpa. Não há culpa.

Então, a gente vai entender que uma pessoa é essa coisa volátil, que se altera
o tempo todo, que opera a partir de marcas e vai alterando as marcas e vai se
construindo e se reconstruindo: surgem novas coisas; desaparecem coisas
antigas.

Então, quando eu tento apontar para uma entidade fixa, nesse processo, eu
não encontro: tem uma liberdade natural, que é comum a todos os seres e,
essa liberdade (tem a liberdade de criar e essas criações vão surgindo e vão
criando marcas e condicionamentos e vão surgindo pessoas, os mundos e as
experiências).

Então, essa é a descrição de como a coisa se estrutura, só que, não


entendendo como esse processo surge, a gente gera apego às construções.

Então, é como construir um castelo de areia à beira do mar e se apegar a ele:


não quer que ele seja destruído: quer morar lá; quer sustentar aquilo; quer
estabilizar as experiências.

Então, vejam que todos os sofrimentos dos seres decorre da tentativa de


estabilizar as experiências agradáveis

Não é isso que a gente faz o tempo todo?

94
O tempo todo a gente “tá” tentando fazer isso, (né?): estruturar nossas vidas de
uma forma feliz, agradável e positiva, estabilizando condições (ééé) externas.

E a gente não encontra nunca a felicidade. Por quê? Porque os fatores mentais
são todos fluidos (voláteis): não tem solidez. Então, como eu vou estabilizar
aquilo que nem é real (que é fluído; que móvel).

Não tem como.

Então, entendendo isso, a gente já começa a se libertar da noção de que eu


sou uma pessoa fixa (um ser sólido, único; separado do mundo).

Então, eu começo a entender que eu sou uma coisa relativa, também: eu não
tenho uma existência fixa.

Então, assim como as outras coisas externas, eu tenho uma existência relativa.
Então, para uma pessoa eu sou uma coisa; para outra pessoa eu sou outra;
para mim mesmo eu sou uma coisa, (hoje, porque, amanhã eu posso ter outra
idéia).

Então, essa idéia de pessoa vai desmoronando.

Isso é muito bom, porque a idéia de pessoa gera um apego, uma fixação muito
grande, (né?), e a gente defende essa pessoa; a gente mata para defender
essa pessoa; a gente passa mal quando alguém ataca alguma identidade
nossa (que nos critica; que nos faz passar vergonha em público): a gente
passa muito mal.

Por quê? Porque é um apego à idéia de pessoa, que deveria estar muito bem,
ser feliz, ser reconhecida, ser respeitada e assim por diante.

A gente precisa, urgentemente, se libertar dessa prisão do conceito da pessoa


(de ego) (ai pode se usar essa palavra).

(50:15 – 50:45)

A gente, na nossa visão, a gente tenta congelar o outro: tipo, outro é


isso. Só que o outro não é isso: ele teima em ser o que eu não quero
que ele seja. Então, ele fica flutuando na minha frente. E eu fico
tentando estabilizar a imagem dele. Ai, eu me frustro, sistematicamente.
Por isso, as relações são sofridas: as pessoas tentam ter imagens fixas
das outras. E, como as outras não são fixas, elas são, naturalmente,
livres, ai, aquilo, gera uma frustração sistemática.

95
Então, a gente precisa se libertar dessa necessidade de estabilizar as
condições externas para ser feliz: a gente tem de encontrar essa mente
primordial, livre de construções e entender que o resto é pura
luminosidade, pura construção, fluída, (né?), alterável ao longo do tempo
(pausa) (e isso vai gerando uma liberdade, assim).

(51:37 – 51:43)

É isso mesmo que o Lama introduziu com esse conceito, (né?), a Terra
Pura seria aquele, que opera com essa visão livre, ai, começa a
construir locais, experiências e relações com esse outro olhar.

Ai, isso, eu vou chamar de Terra Pura.

E aqui o Lama coloca logo essa idéia, (né?): quando eu tenho essa
visão, não faz sentido eu falar em culpa ou perdão (não tem ninguém
para ser culpado e nem ninguém para ser perdoado). A gente foge
dessa idéia, (né?): de que há coisas horríveis que foram feitas “pra” mim
e que eu fiz “pros” outros. Então, eu vou me libertando disso e a vida fica
muito mais fácil: tira toneladas das costas (eu não sou mais aquela
criança, que foi abusada, violentada (éé), que foi ignorada.

Eu não sou mais aquele ser, mas tem marcas mentais, que eu carrego,
que acham que eu sou aquilo, ainda. Então, quando eu entendo, eu
começo a abandonar a sustentação das estruturas passadas (eu não
tenho de ser coerente com o passado): a coerência com o passado é
uma opção (é uma construção): nós somos seres livres.

Mas é difícil exercer essa liberdade, porque o apego às marcas do


passado é muito grande.

(52:57 - 54:56)

Temos essa liberdade que opera sob condições.


As condições operaram em um determinado
momento, mas não quer dizer que vão voltar a
operar. Se nos consideramos culpados, então
somos culpados do samsara inteiro, de todas as
marcas de alaya-vijnana em que um dia
poderemos entrar. Nós somos culpados por
aquilo que pode acontecer mais adiante e do que
já aconteceu. Então não há solução. Somos
responsáveis pela tragédia toda, por todos os
lados, mas na verdade a nossa natureza é livre.
Espantosamente a nossa Natureza, por trás de

96
tudo isso, tem a capacidade de dirigir o foco para
onde ela quiser. Mais espantoso do que isso é
que ela pode se colocar em regiões perturbadas,
deixar aquilo aparecer, para exercer liberdade, e
ajudar os seres a saírem. Esse é o teor do
Prajnaparamita.

Vimos então o 4º e o 5º skandas: samskara e


vijnana. Vijnana são as consciências, essas
existências, as identidades que transitam, e que
parecem seres.

Tudo bem? Faz sentido? (ou “tá” abstrato demais)?Parecem seres, (né?);
porque: se a gente olha no espelho: (- Sou eu!).

É muito estranho: a gente diz (sou eu); ao mesmo tempo a gente diz (é a minha
imagem).

Como é que pode ser eu e meu ao mesmo tempo?

Então, essa idéia de pessoa gera uma série de contradições grosseiras, assim.

(56:32 – 57:05)

Então, aqui, alaya-vijinana, ela opera mais assim: não tem pessoalidade ali;
mas cada fluxo mental tem as suas marcas (as tuas não são as minhas, mas
um monte delas “são” comum”s”).

(57:18 – 57:24)

Todas as identidades brotam dessa alaya-vijinana, mas ela é assim, um grande


reservatório de potenciais, em que (tudo o que eu acumulei durante muitas
vidas) “tá” ali guardado (que pode vir a brotar em qualquer momento)
dependendo das causas e condições brotam aspectos específicos dessa alaya-
vijinana.

Então, vida após vida o que (que) renasce? Renasce um pedaço de alaya-
vijinana; vida após vida, algumas marcas que amadurecem numa vida; depois
em outras (...).

(57:49 – 58:02)

Mas o ponto todo, aqui, é recuperar a liberdade e entender que eu não sou
obrigado a reagir. Por exemplo: alguém vem e te “dá” um tapa.

97
Você pode responder na mesma moeda e devolver o tapa (uma coisa causal,
assim: imediata); ou você pode não entrar na ação do outro e gerar uma outra
reação (cortar a cadeia negativa).

(58:29 – 58:45)

Aqui, a gente vai entrando num formato de operar, que eu não me sinto
obrigado a responder de um modo condicionado: fixo. Eu “vô” encontrando a
possibilidade de furar (de sair) da bolha (e a gente vai usando essa linguagem:
a gente “tá” numa bolha de realidade - Eu posso furar a bolha e ir para outras
construções melhores -)

(59:03 – 1:00:02)

Então, o objetivo de hoje era esse: entender mais ou menos os cinco skandas
(forma, sensação, percepção, formação mental e consciência), de como que
eles brotam em todas as experiências {porque a primeira frase que o
Avalokitesvara traz é essa (quem quiser praticar a profunda prajnaparamita
“deveria” ver assim: todos os cinco skandas tem a natureza da vacuidade)}.

(1:00:24)

98
VÍDEO 7
RECAPITULAÇÃO

Tudo bem?

Estudaram durante a semana?

Tem dúvidas?

Assim: é bom sempre lembrar, (né?), o estudo de prajna é,


justamente, o estudo sobre a sabedoria, que nos ajuda a
recuperar o quê? A liberdade diante das aparências.

Simples assim.

Em geral, a gente não consegue exercer essa liberdade {nós


estamos presos nos condicionamentos, nos hábitos, em tudo
aquilo que a gente chama de carma (uma estrutura automatizada,
em que a gente olha “pra” tudo com um olhar fixo e, ai, dá muita
solidez “pras” coisas, que gera apego, que gera torrente de
emoções perturbadoras, (né?), que nos fazem sofrer.

Muito simples.

(10:16 – 10:20)

O Estudo é, apenas, a base teórica “pra” que você entenda com


que olho você deveria olhar.

Ai, a prática, é uma prática analítica {a gente vai chegar: a gente


vai estudar aqui, passo a passo. É um roteiro de meditação
analítico. Não é, apenas, shamata (shamata é silêncio – pausa -.
Concentração; agora, nas meditações analíticas, você tem um
roteirinho, né? – Olhe isso. Ai você olha. Agora, olhe aquilo. Ai,
você olha aquilo. Ai você vai avançando. Ai, quando você olha
com esse olho, de repente tem uma abertura, assim, que você se
percebe, realmente, olhando com outro olho; – pausa -. ai esse
momento, você deveria prolongar o máximo possível; – pausa -. e
quando aquilo se tornar natural, ai, aquilo no meio do mundo
cotidiano, você vai começando a olhar com esse olho. – pausa -.
Essa é a sequência. – pausa -. Entendendo a teoria. Aplicando
isso na meditação até o ponto que eu começo a ter uma abertura
maior. – pausa -. Estabilizo isso e começo a levar para todas as

99
situações do dia-a-dia. Ai eu vou fluindo pelas situações. Aquilo
que antes era muito sólido, dava o maior impacto. Ai você começa
a olhar “pras” coisas e elas não te pegam mais: – pausa -. você
gira junto com as coisas).

Prajna é um instrumento de análise, que vai derrubando o apego;


a fixação .

Tudo bem?

Pelo menos entender que é isso, ainda que não tenha habilidade para fazer,
talvez.

(11:48 - 11:51)

Prajna conduz para à lucidez.

Em geral, a gente olha “pro” mundo, “pras” coisas, “pra” nós mesmos como
sólidos, separados, independentes e muito importantes (as coisas tomam uma
importância muito grande nas nossas vidas devido ao grau de solidez e
importância que a gente dá “pra” tudo. E isso surge, justamente, do olho da
confusão (tudo é visto como real: congelado).

O olho de prajna vai descongelando essa prisão do samsara.

Ai, vai ser aos pouquinhos: homeopaticamente a gente vai entrando nisso.

A gente “tá” estudando o Sutra do Coração, com os comentários do Lama,


justamente “pra” nos ajudar a olhar.

Então, na semana passada, a gente viu a estrutura dos cinco skandas: forma,
sensação, percepção, formação mental e consciência.

A gente viu que essa é uma classificação muito antiga, que olha “pra” uma
pessoa e vai dizer que uma pessoa nada mais é do que o empilhamento, a
agregação de alguns fatores, que são a forma (o corpo), e tem os agregados
mentais, que são (sensação, percepção, formação mental e consciência).

Então, na semana passada, a gente viu, em detalhes, (né?), cada um, dos
cinco skandas (o que - que - é) e como eles brotam em cada uma das
situações.

Quem não viu ou quem não “tava” lá no vídeo no youtube. Quem quiser revisar,
também, “pra” guardar isso.

100
A gente não vai conseguir, em cada encontro, revisar tudo, mas “tá” lá,
disponível, assim, (né?).

Mas a gente vai avançando.

(13:25 – 13:55)

É bom revisar.

“Pra” muitos isso é muito novo, isso tudo. “Pra alguns, ele já vê aquilo por
alguns anos, assim (eu não lembro), mas “pra” maioria, isso tudo é muito novo.

Então tem que revisar.

Não vai aprender isso tudo de saída, na primeira.

Ninguém aprende.

Não se cobrem assim.

Cinquenta por cento, se tiver acompanhando, já “tá” bem bom.

Sem muito estresse.

Porque a gente vai avançando, ai a coisa é circular (algo que vem depois vai
elucidando as dúvidas do começo).

Então, não se apavorem.

Não tenham pressa.

Não tenham pressa, mas não percam tempo (ao mesmo tempo); (pausa) essa
é uma boa lição, assim, (né?).

A gente vê que, a cada semana, o grupo renova muito. Então, isso é um sinal
de como é difícil manter a constância do estudo.

E, se isso, (aqui), já é difícil, imagina isso em casa.

Quem quer entrar nisso, quer se aprofundar nisso, tem de tentar sustentar essa
regularidade.

É melhor. Mais fácil.

Então vamos seguir.

101
Na minha marcação, a gente está no trecho assim:

os cinco skandas são vazios por natureza.

(15:10 – 15:30)

Então, a gente viu isso.

Nessa primeira (raciocínio interrompido). A primeira lição, a pergunta de


Shariputra “pra” Avalokitesvara (o Buda da compaixão) é: como que alguém,
que queira praticar a profunda prajnaparamita, deveria proceder?

Como fazer? Como a pessoa deveria praticar?

Não está dizendo (como a pessoa deveria entender ou estudar) alguma coisa
do gênero.

Como praticar? Como desenvolver esse olho?

Deveria VER que (todos os cinco skandas são vazios por natureza).

Esse é o tema,

ou seja, não tem substancialidade. Quando


acreditamos que isso é sólido, então estamos
presos na doutrina do mundo, que nos cobra
assim: não sabemos quem somos, ainda não nos
encontramos. Mas curiosamente quando a
pessoa se encontra, é aí mesmo que ela está
perdida. Quando a pessoa ainda não se
encontrou, ainda há uma chance. Esse
encontrar-se no sentido comum do mundo
significaria a pessoa vestir uma artificialidade.
Depois vem um trabalho longo do psicólogo, e a
pessoa se estrutura com aquilo, gera um mundo
a partir daquilo, não abre. E então se encontrou!

Então, se encontrar no samsara, seria fazer dar certo as nossas identidades


(as nossas identidades construídas). Então, assim, do ponto de vista do
samsara, a gente trabalha “dia e noite” para estruturar papéis que tenham
sucesso, (né?) (vários papéis desses). Então, isso, para o samsara é o que há
de melhor a fazer (aparentemente).

102
Na visão do budismo, isso é um perigo (é um problema): quanto mais você der
certo no samsara, maior é o risco de você ficar preso naquilo e não querer sair
(time que “tá” ganhando não se mexe, (né?).

Em geral, as pessoas se aproximam de um caminho espiritual, quando algo,


quando elas desconfiaram que algo, ali, não é o ponto; que aquilo não vai
conduzir a uma felicidade definitiva. Portanto, elas buscam uma outra saída,
além da manipulação das causas e condições comuns do dia a dia.

É.

No dia a dia é bem simples. Eu quero coisas. Eu preciso de dinheiro. “Pra” ter
dinheiro, eu preciso de uma profissão. Eu vou escolher uma profissão que seja
de acordo, mais ou menos, com os meus talentos. Ai eu estudo, me dedico,
faço aquilo, faço concurso, faço coisas; me organizo. Começo a ganhar
dinheiro. Começo a comprar as coisas que eu gosto. Mas aquilo não acaba
nunca (aquela lista é interminável: é infinita).

Já viu, (né?) (pausa) mais de uma vez, que não é por ali que a gente vai
encontrar felicidade; que, claramente, não leva à felicidade, pois até hoje
ninguém conseguiu. Então, se fosse possível, alguém já teria conseguido;

Mas não!

Então, aquilo, se eu gero uma certa habilidade de sustentar, é mais difícil de


querer sair, ainda.

Então, mais uma vez lembrando, não é que a gente “tá” (ééé) dizendo que o
mundo é horrível e deve ser abandonado; a gente “tá” dizendo que o mundo é
uma artificialidade, uma construção e que, portanto, eu não deveria me refugiar
nisso: eu não deveria me entregar, apenas, completamente “pra” isso.

O caminho espiritual vem como?

A opção “pra” eu liberar a minha mente, “pra” eu encontrar uma paz, uma
felicidade internas, que me “permitem” circular pelo mundo com menos
sofrimento.

Tá clara, essa lógica?

Isso é muito importante entender, porque, quando a gente oscila, a nossa


motivação, no caminho, em geral, é porque eu encontrei alguma coisa, que “tá”
brilhando mais que o caminho espiritual: algum projeto, alguma relação,
alguma coisa, (uma viagem; algo “pra” comprar); a gente vai se perdendo,

103
assim, nas emoções, nas situações, no dia a dia, porque eu “to” preso nas
artificialidades.

Ai, eu esqueço o caminho. Eu não consigo praticar. Eu não consigo estudar. Eu


não venho mais à sanga: eu fico lá passeando no samsara (me batendo);
confiando nele; acreditando que, agora, vai ser muito bom: se distrai; se distrai
e se perde, de novo.

Então, a gente poderia ficar atento”s”, “pra” observar se a motivação de seguir


o caminho está oscilando ou não.

Então, esse item, a motivação correta, é o item número 1. É a primeira pedra:


sem motivação, ninguém faz nada.

No nosso caminho é a mesma coisa.

(19:56 – 20:16)

Lembrando que, quando a gente fala (levando “pro” samsara), o samsara não
“é” as situações. O samsara não é o mundo. O samsara é o modo como a
mente opera em meio ao mundo.

O samsara não é um local físico; não é uma atividade específica. O samsara é


quando a mente opera em meio ao seu mundo (ao seu cenário) de modo
separado, dualista e autocentrado.

Isso é samsara: sofrimento garantido.

Agora, no nosso caminho, a gente “tá” tentando gerar esse olho “pra” continuar
fazendo as mesmas coisas, com liberdade (no meio das coisas).

Mas ai, “pra” conseguir sustentar essa lucidez (se não tiver uma prática formal,
um estudo regular (até que as minhas dúvidas sejam, completamente,
sanadas; até que eu tenha uma estabilidade meditativa “x”; se eu não fizer isso;
se eu não investir no caminho) vai ser difícil sustentar esse olho, no dia a dia.

Às vezes tem coisas, que eu “dô” conta, mas quando vem os grandes desafios
{as doenças, as mortes, as perdas graves, as traições, as dores variadas, a
gente não “dá” muita conta, (né?)}: é mais ou menos assim.

É importante trilhar o caminho de forma regular, assim. É um conselho que o


Lama “dá”, os quatorze conselhos do coração, assim, um deles é isso: sustente
uma prática diária regular. {É a melhor coisa que você pode fazer por você e
por todas as pessoas em seu redor, também, (né?)}.

104
Tudo bem agora, se você sustenta essa prática, como uma prioridade na sua
vida.

Isso é essencial .

Sem sustentar isso, a gente vai se distraindo (a gente vai “pra” “lá”, vai “pra”
“cá”, vai “pra” “lá”) e o processo do samsara é infinito: distrações nos arrastam;
sempre tem algo interessante “pra” fazer, ou um problema “pra” resolver, ou
alguma coisa “pra” comprar, alguma coisa “pra” comer (é infinito, né?).

Se eu não tiver essa disciplina (um certo nível de disciplina de mente), eu não
tiver atento, eu me perco.

Então, a gente “tá” olhando os cinco skandas.

Então, essa idéia de se encontrar no samsara é um pouco problemática.

Agora, se a pessoa tem (a) o olho de lucidez, é claro que ela pode dar muito
certo nas atividades dela: não “tá dizendo que a pessoa deva abandonar a
profissão dela, ou dar errado.

Eu deveria ser um fracassado, então, “pra” poder dar certo no budismo?

É isso?

(pausa) (pausa)

Também não é o ponto.

Mas, assim, eu não deveria tomar refúgio no sucesso das identidades


samsáricas.

“Ele então vai dizer”: mas qual o sentido de seguir com as atividades
samsáricas se eu não estou trabalhando intensamente para que elas dêem
certo?

Ai, no caminho espiritual, a gente vai mudando o olho, vai mudando o foco de
tudo o que “ eu faço”.

Ai, nas atividades do dia a dia, nas identidades que eu vou manifestando, em
meio ao mundo, eu vou sair da motivação autocentrada (de fazer aquilo dar
certo para mim; porque eu quero alguma coisa) eu começo operar de outra
forma (em que eu faço aquilo “pra” ajudar os outros, “pra” ajudar a
humanidade, ajudar a sociedade). Tudo que eu faço lá fora, sempre tem esse
olhar (como é que eu posso contribuir? - onde quer que eu esteja -).

105
A gente sai de um modelo autocentrado, do sucesso pessoal e vai “pra” um
modelo (sim eu quero ter sucesso, mas “pra” ajudar todo mundo: quanto maior
a minha capacidade de atuação, melhor.)

É.

Nesse sentido, o bodisatva poderia ser qualquer coisa: um político, um


empresário (não há um lugar errado “pra” um bodisatva estar): ele vai trabalhar
“pra” ajudar os seres em qualquer condição (uma dona de casa, um filho, ou
qualquer coisa: não há posição errada).

No Budismo o encontrar-se significa encontrar a


liberdade natural, que sempre esteve conosco.
Não podemos ser derrubados dessa liberdade
natural, nem mesmo quando nos confundimos e
geramos alguma coisa particular, porque todo
aspecto particular que geramos, ele será
derrubado mais adiante. Vamos ser derrubados
com certeza, porque aquilo não tem solidez.
Diríamos assim, o Buda é infinitamente paciente.

Então, na visão budista, (encontrar-se) é encontrar essa base da mente (essa


Natureza Primordial), que não oscila, quando tudo oscila.

Mesmo quando as coisas se movem, nas aparências tem uma base (que
sustenta isso tudo): não se move.

Um bom exemplo é esse da tela do cinema e do filme projetado sobre a tela: os


filmes mudam, as imanes mudam, mas a tela do cinema muda? (enquanto as
imagens estão sendo projetadas?).

Há alguma alteração na tela branca?

Ela “tá” sempre lá, de base: pode passar filme de terror, filme de romance, filme
de aventura.

Então, a nossa vida é um pouco isso.

É.

A nossa verdadeira natureza seria essa mente livre, luminosa (que não tem
características), ou uma tela branca e, sobre essa mente primordial, são
projetadas inúmeras experiências: filmes variados.

Então, vida após vida, a gente vai trocando de filmes.

106
Quando a gente reconhece que a gente não é bem o filme, desapega ao filme
(ai, daqui a pouco a gente “tá chorando, passando mal, por causa dos filmes,
que estão passando na nossa vida).

Agora, se eu entendo que aquilo é, apenas, aparência, manifestação


temporária e dinâmica; que eu não tenho que me preocupar (porque a base
não se altera) (eu tomo refúgio nessa base que não se altera) ai aquilo fica
muito mais fácil: eu vou atravessando pela vida com tranquilidade.

Percebem isso?

Mesmo que eu não tenha reconhecido essa base, essa mente primordial,
(entender que esse é o “ponto todo” do caminho), e que isso já “tá” presente,
(que não é algo que é do Buda e que eu não tenho), isso “tá” ocorrendo agora
(a gente “tá” aqui conversando, se olhando, pensando); (pausa)(- Onde que
repousa tudo isso que “tá” acontecendo?). (pausa) Tem essa base por trás,
(né?), inseparável daquilo que está acontecendo. (pausa) (pausa) Aqui, agora.
(pausa) A gente poderia propor... (interrupção de raciocínio). Qualquer um de
nós pode acessar isso a qualquer momento. (pausa) Em geral, a gente não
acessa isso, porque as nossas mentes são muito discursivas e muito agitadas.
A agitação mental, o movimento excessivo, (né?) é como se tivesse um oceano
com muitas ondas, muitos ventos e ondas, e a gente não consegue reconhecer
o oceano, aquela base plácida do oceano (porque tem muito movimento).

Então, a prática meditativa vai ajudando a pacificar a agitação superficial e,


através de prajna, dos vários raciocínios e análises eu vou localizando essa
base (né?).

Tudo bem?

Fácil? (pausa) (de entender, pelo menos) (pausa) ou não, ou alguém tem
alguma dúvida?

Esse raciocínio é super importante: que existem as aparências, os movimentos


causais, as expectativas de verdades relativas {e aquilo que vai acontecendo o
tempo todo), que aquilo é sempre relativo (que aquilo, assim, cada um olha
com um olho e não tem valores absolutos; na verdade é relativa, (nè?); por isso
que ela é chamada de relativa (dependendo do olho que eu coloco, aquilo
muda) e tem as aparências da vida (e tem a verdade absoluta, que é essa
base, imutável, imóvel, que sempre esteve presente e sempre estará) (você
morre e ela segue presente; você renasce e ela segue: é sempre a mesma;não
há alteração; ela não evolui e, também, não retrocede; aquilo não pode ser
mexido, não pode ser atacado) }

107
Então, tem essa frase do Lama traz (né?): reconheça aquilo que não se move,
quando tudo se move (“Tá” tudo se movendo, mas tem algo que não se move)

Se a gente gerar a capacidade de reconhecer isso, mesmo quando a gente


estiver passando por uma experiência super traumática, assim, a gente vai “tá”
reconhecendo essa base e não vai se perder.

Muitos mestres morrem nessa condição. Eles aprenderam a reconhecer isso


na vida, estabilizaram, realizaram isso. Ai, no momento da morte, é o momento
em que eles sentam em meditação, repousam nessa base e deixam morrer:
vão embora {morrem repousando nisso e não agitados, ou com medo, ou
preocupados (porque deixaram de fazer coisas, ou pelas coisas ruins que
fizeram, ou que deveriam não ter feito): eles esquecem tudo e repousam nessa
base.

Ai eles alcançam a iluminação definitiva no momento da morte.

Todos nós podemos fazer isso: está disponível.

Então, prajna é a ferramenta (a sabedoria), que vai nos ajudar a chegar nessa
base.

O Buda é infinitamente paciente por quê? O Buda não é alguém lá fora, que
está esperando (eu me iluminar); quando eu falo o Buda, o Buda é a minha
própria mente (a minha natureza primordial), que não se altera.

Ela está lá, (pausa) disponível.

Quando a agitação e confusão diminuírem, ela vai brilhar.

Então, tem outro exemplo clássico, que é o sol atrás das nuvens. As nuvens
escuras impedem o brilho do sol (que já “tá” lá); o sol não deixa de estar no
céu, porque “tá” tudo escuro. Ele “tá” lá”pra” trás.

Então, o trabalho do caminho vai dissipando as nuvens e o sol vai brilhando


cada vez mais (parece nossa situação ontológica existencial, vamos dizer
assim, “pra” você não assustar, na visão do budismo).

Então, pelo poder do Buda, o venerável Sariputra


disse ao nobre Avalokitesvara, o bodisatva-
mahasatva:

“Como deveria proceder o filho ou a filha de


nobres qualidades que quisesse praticar a
profunda Prajnaparamita?”

108
O que é interessante, aqui, nesse parágrafo é (o filho ou a filha). Eles fizeram
questão de especificar homens e mulheres, porque na história do budismo tem
muito isso, (nè?), um privilégio muito grande na visão masculina, (né?),
patriarcal, machista. Então, isso sim é uma tendência cultural em alguns países
pelos quais o budismo passou, mas o budismo, em si, não tem nada disso: o
Buda nunca não ensinou uma mulher por achar que a mulher tinha algum
problema, não. Ele dava os mesmos ensinamentos “pra” mesma platéia.

Então, aqui é muito importante que esteja especificado isso, “pra” não gerar...
(interrupção de raciocínio). {a gente vai encontrar alguns textos budistas, que
vão diferenciar, sim, a capacidade do homem e da mulher (talvez isso, naquela
época, fizesse sentido naquela cultura); mas hoje em dia não faz o menor
sentido e, às vezes, é até ao contrário (né?); às vezes as mulheres estejam
muito mais abertas “pra” buscar isso.

Por ter sido perguntado desta forma, o nobre


Avalokitesvara, o bodisatva-mahasatva, disse ao
venerável Sariputra:

“Ó Sariputra, um filho ou uma filha de nobres


qualidades que desejasse praticar a profunda
Prajnaparamita deveria ver assim:

Todos os cinco skandas têm a natureza da


vacuidade

Todos os cinco skandas têm a natureza da


vacuidade

Então vamos seguir falando disso

Chenrezig está explicando o que ele viu. Ele viu


além dos arhats, e isso é extraordinário. Os
arhats dão solidez para o que estão vendo.
Olham para as coisas e dizem: “Ah, isso sim. Ah,
isso não”. Movem-se tentando contornar,
movem-se por pequenos trajetos dentro desse
espaço. Mas, inevitavelmente quando evitamos
alguma coisa, então construímos céu e terra
distantes, separamos céu e terra.

Então, a visão do caminho do ouvinte, a gente já conversou, aqui, um pouco,


também, sobre isso. No caminho do ouvinte, há uma realização avançada no

109
sentido de se libertar das identidades pessoais e se livrar, consequentemente
das emoções perturbadoras (então, é o estado de arhats. É um estado
específico no caminho budista).

Mas o Avalokitesvara está olhando além da realização desse estado do arhats.


Ele está apontando o caminho do Bodisatva, que não apenas se liberta do “EU”
(da identidade pessoal), mas também vê o vazio do mundo (das aparências
chamadas de externas)

No caminho do ouvinte, não, eles vêem os objetos como externos à mente (ao
“EU” interno); já no caminho mahayana, (ééé) essa vacuidade vai ser vista em
todas as direções.

É isso que o Avalokitesvara está ensinando ao Shariputra.

Então, quando construímos céu e terra distantes... (interrupção de raciocínio).


Então, no caminho do ouvinte, eles separam o nirvana, que seria o Céu, do
samsara, que seria a Terra. Então, o mundo condicionado, é visto por eles
como aversivo (como negativo), algo a ser evitado e deixado “pra” trás. Então,
eles meditam e praticam (o tempo todo eles se dedicam à prática). Vão se
isolando (eles fogem das experiências do mundo). O objetivo deles é esperar
até a morte “pra” alcançar o nirvana definitivo.

No mundo, eles olham e não vêem nada de interessante, no mundo: não tem
nada que valha a pena: superam os desejos comuns e vêem tudo como
impuro.

Portanto, o que haveria “pra” desejar nesse mundo?

Eles vêem problemas nas experiências.

Em geral, a gente sai andando alegremente pelo samsara, (né?) (Pela estrada
a fora,...) a gente vai colhendo coisas, assim (né?): a gente vai comendo coisas
gostosas; vai tendo experiências, relações, viagens, filmes (a gente vai criando
coisas, assim, brilhantes) .

E vai consumindo essas coisas (né?).

Dia após dia, a gente vai consumindo aparências; (pausa) consumindo


sensações; (pausa) consumindo percepções.

Né? Não é isso que a gente faz?

(pausa) (pausa) (pausa)

110
Ou não?

(pausa)

Quem truca?

(pausa) (pausa) (pausa)

É isso ou não é?

(pausa)

A gente deveria enxergar isso.

(pausa)

É assim ou não é?

(pausa)

A gente vai vivendo, dia após dia, as aparências diante dos olhos (vão se
alterando o tempo todo, como se o filme estivesse rodando): a gente vai
correndo atrás das aparências (mudando tudo; operando), tentando estabilizar
(e aquilo escorre entre os dedos, porque não é estabilizável) (é apenas um
filme. Como vai se estabilizar?)

A gente sofre quando não consegue. (Ai parte “pra” outra). (Agora eu vou
conseguir). (Ai parte “pra” outra).

E assim vai.

Ai a pessoa acha que está tudo bem.

Ai estoura uma guerra naquele país. Destroem tudo. Ai, constroem tudo de
novo.

Formigas.

Formigas construindo formigueiros. (pausa). (Ai vem as chuvas e lavam os


formigueiros) (pausa). (Começam de novo a construir), “ad infinitum” (pausa).
(sem parar, sem cessar, esse movimento).

Ai vem o Buda e diz: acorda (alguém olha “pra” isso.).

Não é por ai: olhem (pausa).; reconheça a estabilidade interna (pausa).


(quando você estabilizar o teu mundo interior e encontrar essa liberdade, ai

111
você se move pelo mundo exterior, com tranquilidade, sem depender de
qualquer construção “pra” “tá” bem ou “pra” “tá” mal.

(pausa) (pausa) (pausa)

Esse é o caminho.

(35:50 – 36:05)

Eu comentei, ainda a pouco, que a gente segue fazendo as mesmas


coisas, mas com outra motivação.

Ao Ivés de estar buscando isso só “pro” meu prazerzinho. Não. Tudo o


que eu faço é sempre pensando numa forma ampla, numa forma
coletiva. Por exemplo, uma pessoa pode restringir alguns
comportamentos alimentares pensando no impacto que tem no planeta,
por exemplo. Ela não “tá” querendo só o sabor (aquilo que é bom “pra”
boca). Ela “tá” olhando “pro” todo.

(36:27 – 51:13)

A vacuidade vai ser a suspensão da separação entre sujeito e objeto:


(“tá” lá o objeto, mas você não sabe onde o objeto começa e a mente
termina).

Eu estou aqui olhando (lá fora).

Como que eu estou olhando “prum” objeto vazio?

Há uma experiência de objeto vazio: o sujeito e objeto são inseparáveis;


nunca foram separados de verdade.

(51:36 – 51:40)

Não ser arrastado é uma conseqüência de ver a vacuidade do objeto.


Quando eu “to” experimentando a vacuidade de uma situação (seja qual
for), ai, aquilo não me arrasta de jeito nenhum. Porque eu não “to”
(porque não tem ninguém vendo algo ali): tem, apenas, uma situação
livre; o espaço; a liberdade.

Então, a vacuidade, é o movimento livre da mente, diante das


aparências, que não são separadas da mente.

(52:08 – 52:24)

112
Então, o bodisatva, quando reconhece isso de uma forma genuína, vem
aquela grande alegria, porque eles percebem que realmente eles estão
se libertando.

(52:30 – 52:52)

Mas na verdade não há essa separação. Quando


separamos céu e terra, espantosamente criamos
a terra, criamos o samsara como algo sólido e
aspiramos ultrapassar o samsara e chegar à
liberação como se houvesse uma grande
separação entre céu e terra. Numa linguagem
mais dura diríamos que a parir disso nós
construímos os 6 Reinos, entre eles os infernos,
damos solidez aos 6 Reinos, damos solidez à
Roda da Vida.

É isso. Quando separo que o nirvana seria algo paradisíaco (lá longe) e aqui
em baixo é o samsara (problemático), ai eu tenho essa natural conseqüência,
que reinos todos se manifestam e impulsiona.

Mas então vem Chenrezig e diz que os 5 skandas


são vacuidade, ou seja, a Roda da Vida como um
todo não tem solidez, e assim a liberação é
possível. Entendemos os ensinamentos da
Grande Perfeição onde todos os aspectos da
Roda da vida, nenhum deles excluídos, são
manifestações, são ornamentos da Natureza
Última. Não há nada que não brote disso. Mas
ainda assim, está lá o sofrimento. Então
Chenrezig começa a explicar de forma mais
detalhada.

Então, quem tem essa visão, não precisa mudar nada fora (não precisa
transformar as aparências). Não precisa achar que as aparências são impuras
e deveriam ser purificadas: esse olho, ele transita entre todas as aparências
com esse olhar de liberdade (ele não se abala com aquilo que parece muito
bom nem com aquilo que parece muito ruim).

(54:30 – 54:50)

Sempre que há uma “linha” de certo ou errado, bom ou ruim já tem uma
visão separatista, o que não quer dizer que a gente “tá” aqui
abandonando (ou negando) a verdade relativa.

113
Na verdade relativa, é claro que não é tudo a mesma coisa. As ações
tem conseqüências, (não tem?).

A causalidade opera na verdade relativa.

A verdade absoluta “tá” sempre por trás dando sustentação “pra”


verdade relativa.

(pausa) (pausa)

Então, eu tenho que aprender a andar bem na verdade relativa sem


perder a visão da verdade absoluta {Esse (essa) é a visão do Buda)}

Então o Buda tem a visão da TALIDADE (a visão do TATHATA), que é


qual visão? A visão em que o Buda sabe andar bem no meio da
causalidade (dos fenômenos) mas, em momento algum, ele perde o
espaço básico, que está por trás (ele vê os dois ao mesmo tempo).

Ele não tem de sentar pra meditar “pra” daí localizar o espaço básico
(Ele, no meio das aparências, ele tem os dois)

Essa é a visão do Buda: é a visão, que a gente “tá” buscando.

Então, em termos de verdade relativa, eu deveria estudar,


detalhadamente a Roda da Vida, os Doze Elos da Originação
Interdependente (eu deveria entender a causalidade): as Quatro Nobres
Verdades.

(56:15 – 56:25)

E, também, tem que avançar em direção do conhecimento da verdade


absoluta {que é o que a gente “tá” buscando aqui; estudar a
prajnaparamita, que conduz nessa direção, (né?)}

A gente vai desenvolvendo as duas, (tá?)

Ai vem a frase, talvez, mais famosa da história do budismo.

Forma é vazio, vazio é forma. Forma nada mais é


do que vazio, vazio nada mais é do que forma.

Você não tem noção da quantidade de seres, que dedicaram suas vidas
pensando, contemplando, realizando essas duas frases (escrevendo,
comentando): não são nem cem, nem mil. São centenas de milhares de seres,
que deixaram comentários, textos, pensamentos sobre isso.

114
Essa é a essência do Darma da liberação do caminho mahayana.

Então, a gente vai trabalhar, fortemente, essas idéias.

Então a primeira frase é:

Forma é vazio, vazio é forma

Quando entendemos isso a partir da


coemergência, (leitura interrompida por raciocínio)

Lembra? Dessa palavra coemergência, que eu citei agora há pouco? (Co)


(emergência). Então, emergência (algo “tá emergindo, brotando, surgindo).
(Co), porque aquilo é simultâneo a outra coisa. Então, a idéia de coemergência
é a idéia de que o (observador) e o (objeto) observado eles não são (não é
assim: o observador nasceu antes do objeto ou o objeto nasceu antes do
observador) (Na visão materialista do mundo, eu vou dizer: o objeto já está lá;
ele já nasceu antes de eu olhar “pra” ele; são separados: o objeto “tá” lá e o
sujeito “tá” separado) (e numa outra visão, também, mentalista, eu poderia
dizer que primeiro vem o sujeito e depois vem o objeto).

Mas aqui não.

O Buda “tá” dizendo que sujeito e objeto brotam simultaneamente (tem,


apenas, uma experiência). Ai, num evento, em que eu poderia, até, dividir em
sujeito e objeto (apenas “pra” falar disso); mas não há uma separação real
entre os dois: (pausa) eles brotam juntos.

A gente “tá” aqui olhando “pras” coisas (simultaneamente, tem aparências, que
eu reconheço) (pausa) então, não tem como dizer que há alguém aqui dentro
{que primeiro olha “pras” aparências (e, ai, brotam as aparências): aquilo, o
tempo todo (esse par) é inseparável}.

A gente vai andando pelo mundo (ai, o tempo todo tem aparências que andam
junto com o sujeito).

(pausa) (pausa)

Não é assim?

(pausa) (pausa)

(59:00 – 59:13)

115
Não é que eu não “to”, aqui, olhando “pro” copo, lá fora. (O copo e o
observador que vê copo são inseparáveis).

(pausa) (pausa)

Quem nasceu antes? O ovo ou a galinha?

(pausa) (pausa)

Eles nasceram juntos.

(pausa) (pausa)

Todos os objetos.

(pausa) (pausa)

- “Péra” ai: não pode (eu viro “pra” lá e o objeto não existe mais?)

(pausa) (pausa)

Claro que existe.

(pausa) (pausa)

Existe no mundo de quem “tá” olhando “pra” ele: (pausa) sempre tem
que ter o observador “pra” descrever alguma coisa.

Não há (ééé) mundo sem observador “pra” falar do mundo.

(pausa)

Sempre que se fala, assim, a palavra mundo, coisas, a gente tem de


pensar assim (tá bem: sob o olho de quem?) (Quem que tá
descrevendo?) (Tem que ter o olho de um observador.)

Não há universo sem observador.

(pausa)

Faz sentido?

(pausa)

(- Não, mas se todos os seres desaparecessem, o universo segue).

116
(pausa)

(Mas, ai, a gente pergunta: qual universo, que segue?)

O universo que os humanos vêem hoje? (O que os humanos descrevem,


de uma certa forma, ele vai seguir daquele jeito? Ou o universo das
formigas, o universo de “sei lá mais quem”).

Qual universo?

Quando eu falo em objeto, em coisas, sempre eu tenho de especificar


(pausa) qual o referencial (a partir do olho de quem).

Isso é óbvio.

O exemplo, que a gente dá, assim, uma pessoa (Ah! Fulano de Tal).
Como é que você vai descrever, direito, uma pessoa? Cada um olha
“praquela” pessoa (com o seu olho). Então é um objeto, que a gente
chamaria “de objeto comum” (é a mesma pessoa); mas “praquela”
mesma pessoa há incontáveis olhos diferentes, que olham praquela
pessoa e vêem coisas diferentes. (pausa) E avaliam e julgam de formas
diferentes.

Então, é assim.

Por isso que ninguém se entende. (cada um “tá” no seu mundo olhando
com o seu olho). Ai, os objetos vão brotando no meu mundo, assim.
(pausa) {Já brota um objeto; (pausa) só que o outro (“tá” olhando no
mundo dele). Ai, quando a gente vai conversar, a gente fala sobre coisas
diferentes; a gente tenta se entender falando de coisas diferentes.

A comunicação é difícil (a comunicação precisa).

Mas é claro, que há uma vasta região de concordância sobre as


experiências, que nos permite a interação.

Por exemplo, interagir com um cachorro já é mais difícil, porque a região


de concordância é muito menor (Ele entende um pouco do nosso
mundo; a gente entende um pouco do mundo dele); mas entre os seres
humanos, aquilo é mais próximo.

Agora, se você trouxer alguém de outro país, que não fale a nossa
língua, ai, aquilo já é mais difícil a interação, porque os sons, que a
gente emite não são interpretados da mesma forma.

117
(1:01:42 – 1:02:16)

Quando você muda o seu olhar, a experiência muda, porque a


experiência é inseparável do olho do observador. Então, se o observador
muda a posição mental dele, toda a situação muda.

A gente já exerce essa liberdade em várias condições, só que agora a


gente “tá” recuperando a clareza disso e vai aplicar isso de modo direto,
não só (ééé) às vezes eu consigo e às vezes eu não consigo.

Vou gerar a estabilidade de sempre ter esse olho, que permite (ééé) eu
encontrar mais espaço nas “funções”.

(1:02:45 – 1:03:30)

Esse é o olho: a gente quer chegar nesse ponto. A gente começa


analisando (racionalmente entrando nisso). Com o tempo, aquilo vai
ficando o olho natural e que a pessoa nem cai mais na visão comum.

E, por um longo tempo, os bodisatvas caem em algumas situações e


não caem em outras: eles vão limpando “sei lá o quê”.

(1:03:52 – 1:04:00)

Em algumas situações ele sustenta esse olho de lucidez e ele não se


perde: ele não cai na dualidade sujeito/objeto, mas ainda vão ter outras
situações que ainda o arrastam. Ele não consegue sustentar esse olho
de lucidez: ele se perde e, ai, passa a operar de modo comum, naquela
situação.

Aquilo não é “zero ou um” (tem ou não tem). Aquilo, eu começo com um
olhar e aquilo vai ampliando, ampliando, ampliando, ampliando até o
estado do Buda.

O Buda é aquele que não cai disso em situação alguma (no universo
não tem nada que tire o Buda dessa clareza, dessa lucidez).

Não é por esforço (pausa). É por ver! É natural, instantâneo e


espontâneo: o Buda não tem de fazer força para ver com esse olho.

Aquilo é como se fosse assim (eu não via, eu não via: tinha uma névoa
diante dos meus olhos). Ai, um dia, aquela névoa saiu ( ...)

(1:04:47 – 1:04:49)

118
Eu não vou chamar de hábito, porque hábito sempre depende de
condicionamento. Portanto, todo hábito é impermanente. Ele é
condicionado.

Essa visão do Buda não é condicionada: é uma visão natural, livre de


qualquer construção

Portanto, aquilo, não perde nunca mais.

É uma visão (é aquilo que é). Não é aquilo que é construído (não é
artificialidade mais).

É a base que não se altera, quando tudo se altera.

O Buda vai olhar com esse olho. Ele não se perde.

Ele reconquista a lucidez, (né?) (que já é o direito; que é o nosso direito


natural – a gente já tem tudo o que precisa “pra” olhar com esse olho).

É difícil de manter, devido aos nossos obscurecimentos, à nossa fixação,


ao “eu”, às coisas (então, tem várias distorções nas nossas relações
com o mundo, com as pessoas).

O caminho (pausa). vai dissipando essas distorções. Ele vai permitindo,


(né?), que essa mente brilhe cada vez com maior clareza.

E fatalmente acontece, só que tem né (pausa). (pausa). (pausa): todo


mundo que tentou, até hoje, conseguiu. Tem milhões de relatos, não são
dez pessoas na histórias, que conseguiram desenvolver esse olho. São
incontáveis praticantes.

Então, o método é muito claro. Funciona “pra” todo mundo.

Não tem que ser especial. Não tem que ser muito inteligente. Não tem
que ser muito “qualquer coisa”.

Aquilo é o que é. É o olhar. É suspender os julgamentos; aquela mente


discursiva, que fica o tempo todo olhando “pro” objeto, como objeto (e
avaliando e construindo). É olhar com esse olhar puro, esse olhar
natural. (pausa). (pausa). (pausa): vê o objeto, mas não se perde no
objeto.

(pausa). (pausa).

119
O Trumpa vai dizer que, quando a pessoa olha com esse olho, o objeto
fica hiper-real. Não é que o objeto desaparece no éter. Não. O objeto
fica muito vivo (pausa). Vivo demais, até. Por que? Porque você não “tá”
mais (ééé) criando (ééé) (qualquer nível) tá sobrepondo coisas suas
(internas) sobre o objeto (não “tá” viajando na história do objeto).
Portanto, você sustenta a visão do objeto como ele é.

Ai você na “tá” distorcendo nada.

Ai você vai ter o ouvido supremo, também.

Ai, você vai ouvir os outros e não vai distorcer o que os outros te falam.

Você vai ouvir O OUTRO e não aquilo que você quer ouvir do outro

(1:07:13 – 1:07:17)

Então. Esse é um dos estágios da liberação das marcas mentais. A


sabedoria, que vai brotando (a sabedoria do espelho, né?), que vai
brotar, quando eu consigo sair, temporariamente (pelos menos) da
estrutura das marcas (e opero com lucidez). Ai, com o tempo, eu “vô”
estabilizando a sabedoria do espelho até o ponto que eu não perco
mais.

(1:07:35 - !:07:53)

Isso. Eu não preciso destruir essa virtualidade, ou seja, essas


aparências (esse mundo), eu não preciso destruir ou fugir disso. Eu
tenho só que olhar “pra” isso com clareza (sem me perder no meio
disso).

Mas é isso, você vai comer pizza (numa boa). Vai achar gostoso.

Chagdud Rinpoche gostava de Coca Cola. Gostava de Coca Cola. Ai,


como é que você entende isso?

É isso. Ele tem liberdade; ele pode entrar ou não na Coca Cola (se não
tem Coca, “tá” tudo bem; agora, se ele toma Coca, também não tem
problema). Ele não se perde. Não “tá” apegado. Não “tá” fixado naquilo.

Então a liberação, não é que tudo fica cinza e nada mais tem sabor
nenhum. Não isso! A liberação é o ponto em que você entra nas coisas,
mas não se perde, em nada.

120
Ai, é por isso que ele é chamado o Senhor da Dança (porque dança com
as aparências sem que as aparências o prendam).

Essa é a mente, que a gente vai buscar.

(1:08:49 – 1:09:29)

É. Se você não dá conta de liberar aquilo (pausa), diante da coisa, às


vezes tem que usar da disciplina e evitar aquilo.

Se aquilo te faz mal, ou por algum motivo não é bom, às vezes tem a
etapa da disciplina (que é anterior), que você desvia do objeto.

Ai, você deveria, ao longo do tempo, tentar trazer “pra” sua meditação.
Olhar “praquele” objeto primeiro na almofada, “pra” ir liberando aquilo
aos poucos.

Ai, daqui a pouco, você se sente tranquilo o suficiente “pra” voltar e olhar
de frente “praquele” objeto.

Ai você vê o que acontece: se você avançou na tua prática, na almofada,


aquilo vai ter menos poder sobre você.

Mas, talvez, demore um bom tempo (alguns objetos vão demorar um


bom tempo “pra gente” conseguir liberar mesmo).

Ai, o exercício vai ser na almofada.

A gente “tá” caminhando (né?) ”pra” chegar nos vários métodos de


praticar isso, assim, efetivamente. A gente “tá” olhando os raciocínios
(tem de entender toda a base teórica, tirar as dúvidas, esclarecer “pra”,
dai, aplicar nas situações práticas).

(pausa). (pausa).

Tudo bem?

(pausa). (pausa).

É isso que a gente tá fazendo.

Se eu não entender, quando for praticar, sobra o quê?

Ai, se eu não tiver a clareza do que (que) é prajna, ai eu vou sentar “pra”
praticar prajna e vou praticar o quê?

121
É isso. “Tá”, “tar” avançando (exemplos; uma situação aqui; uma
situação ali).

A gente “tá” tentando ver isso {(o que (que) é o vazio na situação e
porquê que isso tem um impacto em mim e no mundo; }

(pausa). (pausa).

O que (que) isso muda? Não é só uma discussão filosófica “pra”


entender o que são as coisas, o que (que) é o universo; quem sou eu.

Não é.

É uma coisa muito prática: é uma mudança de olho, que vai me libertar
do sofrimento.

A implicação é, assim, definitiva não é nem grande: a implicação é


suprema, que esse raciocínio vai trazer.

Do raciocínio, depois de um certo ponto, você vai migrar para uma


experiência natural, que não precisa mais de raciocínio (começa com
raciocínio; com exemplos; ai aquilo chega ao ponto que (TUFF!), pulou
“pro” outro lado: ai você não tem como mais (pausa). (pausa), (você
pode até perder), cair de volta “pra” cá, mas, ai, você já tem a referência,
você volta mais rápido.

Então, quando entendemos isso a partir da coemergência (eu


trabalhei a idéia da palavra coemergencia)

não sabemos distinguir uma expressão (forma é


vazio) da outra (vazio é forma). A parir da
coemergência nós evitamos entender de forma
separada a forma e a vacuidade.

Por exemplo, dentro da 2ª volta do dharma,


(leitura interrompida por raciocínio)

Lembra? Quando, lá no começo, eu expliquei que o Buda deu (ofereceu) os


Três Giros da Roda do Darma (o primeiro, o segundo e o terceiro).

O segundo giro enfatiza, especialmente, o aspecto vazio das coisas.

Então, no segundo Giro,

122
nós pegamos as formas e tratamos de decompô-
las em vacuidade. Utilizamos a primeira
expressão “forma é vazio”, e parece que a
segunda (vazio é forma) não é necessária.

Então, (ééé) a gente vai seguir avançando nessas duas frases.

Forma é vazio

Forma representa tudo aquilo que aparece (parece) que é solidez. Tem as
formas visuais, tem os sons, tem os cheiros, tem os sabores, tem as
sensações, tem os cinco sentidos, que operam em meio ao mundo, e dão a
impressão que tudo é muito sólido e real, (né?)

Da mesma forma, a mente racional, também: tem pensamentos, tem idéias e


emoções, que parecem muito sólidas e verdadeiras, (não é?).

Então a nossa mente está, o tempo todo, operando com os objetos dos
sentidos e com os pensamentos que vão brotando a partir disso.

Isso parece tudo muito sólido.

Isso são formas.

Mas ele está dizendo, aqui, que as formas são vazias.

As formas não tem qualquer substancialidade ou realidade própria.

Todas as formas, inclusive, as que parecem sólidas com o tato. {As que
parecem mais grosseiras, (né?)}: até a visão a gente entende. A visão eu
posso ter uma miragem, eu posso ter uma holografia, eu posso ter coisas, que
a gente vê na hora que não são sólidas; mas o tato é mais difícil, (né?)

Então, a gente vai entendendo que essas formas todas são vazias por quê?

Porque elas são construídas de modo inseparável das estruturas internas do


observador.

Não há uma forma, absoluta, separada lá fora.

Ela surge coemergente ao observador.

Então, se as estruturas internas do observador “mudam”, a forma muda.

Então, não há uma forma real: existe uma forma, que brota junto com o
observador.
123
Então, forma é vazia. Vazia do que? De qualquer existência própria, separada,
definitiva, real, intrínseca, substancial.

Isso é a forma.

Ela é vazia de qualidades próprias.

Todas as qualidades que botam da forma brotam inseparáveis da estrutura do


sujeito observador.

Hoje nós vamos ficar por aqui.

É só guardar essa idéia.

Essa idéia é muito profunda e tem implicações.

(1:14:34 – 1:14:43)

Os seres que já nascem no mesmo reino, já tem um carma muito


parecido, que “os” impulsionou a nascer com aquele tipo de corpo, com
aquele aparelho sensorial (vamos dizer assim).

Mas não é? Nós mesmos, com aparelhos sensoriais muito parecidos (a


gente vai ter os daltônicos, que trocam cores, as pessoas que tem (ééé)
a sensibilidade do tato diferenciada, às vezes a pessoa perdeu algumas
células por queimadura (e o fulano não tem mais aquilo), ai tem aqueles
que não conseguem cheirar direito (ai, trocam os cheiros) e assim vai,
(né?). Então, é muito parecido (porque o carma é muito próximo), mas á
medida que o carma se afasta um pouquinho, a diferença de mundo vai
se tornando totalmente diferente: cada um na sua bolha (na sua
experiência).

(1:15:26 – 1:15:30)

É o Trumpa Rinpoche. Isso está no texto “Além do Materialismo


Espiritual”, no capítulo sobre “Shunyata” (um capítulo sobre a
vacuidade).

(1:15:44 – 1:15:50)

O que ele quer dizer com isso é que, quando a gente não tem essa
visão, a gente acha que “tá” vendo os objetos reais.

Os objetos são todos opacos.

124
Porque eu “to” tão perdido no meu mundo de construção interna (uma
projeção; daquilo que eu espero do objeto), que eu não consigo ver o
objeto por si só.

Mas é isso: quando eu olho o objeto com esse olhar (livre das minhas
projeções sobre o objeto) aquilo aparece separado da mente , mas não
tem projeção sobre ele, naquele momento.

É o exemplo quando o Buda mostrou a flor; quando o Buda olhou “pra”


flor, ele se iluminou, porque olhou “pra” flor como ela realmente é. (não
como os seres humanos projetam construção de flor sobre a flor).

(-Ah! Mas não tem uma flor?)

Só tem uma flor, que brota, por causas e condições, naquele mundo,
(né? tem causas e condições), (mas a nossa experiência de flor é
totalmente construída a partir de um olho contaminado).

Ai, o Buda não deixa de ver flor: não é que as flores desaparecem
(porque o Buda se libertou das flores). As flores “tão” lá, brotando por
causalidade no mundo de sonho: elas brotam.

Eu não “to” (é) ensinando a vacuidade de uma forma tal que eu acho
que só a minha mente existe, por exemplo. (Ah! Quando eu me libertar
das minhas estruturas mentais, “nada mais existe: tudo desaparece”,
né?).

Não é isso que acontece com o Buda. O Buda se libera dos objetos e,
portanto, consegue ver os objetos de modo definitivo: ele entende a
sustentação dos objetos. Ai, aquilo é hiper-real, porque eu “to livre
daquilo e não tem qualquer camada (interrupção de frase), por exemplo,
a gente olha “pras” pessoas e projeta um monte de coisa sobre as
pessoas.

No momento que eu não tiver mais isso eu consigo olhar a pessoa


exatamente como ela realmente se manifesta: vai ser um olho morto.

Com esse olho eu consigo ver a coisa no máximo da pureza da


construção dela.

(1:17:55 – 1:17:59)

Como ela “tá” vendo a Natureza Primordial, o tempo todo, então, “pra”
onde ela olha, ela vê isso (pausa) em todas as direções. Por isso que se
diz: quando o Buda se ilumina, todo mundo se ilumina (todo o referencial

125
do Buda; todo mundo se iluminou; mas no referencial dos seres
senciente, que não se iluminaram, eles olham “pro” Buda e vêem uma
pessoa comum.

O Buda vê tudo como liberdade, como espaço básico.

(1:18:25 – 1:18:56)

As coisas brotam, todas, por causalidade, (né?): tem mecanismos


causais e originações interdependentes que fazem as coisas brotarem.

Os seres senciente olham “pra” originação interdependente como


objetos reais e projetam (ééé) uma visão sobre eles.

Os Budas olham “pra” originação interdependente de modo


completamente livre (e eles conseguem ver os fenômenos da originação
interdependente de modo completamente puro).

É isso.

O Buda não vai deixar de ver os objetos.

Mas, ao mesmo tempo o objeto não existe por si só: é inseparável

Só que a mente do Buda (como “tá” completamente livre de conceitos)


vê aquilo de forma pura (hiper-real).

Os serem humanos vêem aquilo sempre destorcido: sempre tem névoa


na frente dos olhos dos seres humanos (todos os objetos, eles
interpretam, eles distorcem; o Buda não distorce nada; ele vê tudo com
esse olho livre), porque a originação interdependente “tá” rolando no
paralelo (ela não deixa de existir, porque o Buda vê a vacuidade das
coisas).

São inseparáveis: forma é vazio; vazio é forma (as formas não


desaparecem, porque eu vejo a vacuidade) e (não há nenhuma
vacuidade separada das formas).

A gente vai trabalhara mais na próxima semana, aprofundar o universo


da frase.

Vê que as formas são vazias é mais fácil; agora, ver que o vazio é forma
(pausa) (pausa) essa é uma parte bem mais difícil.

Ai a gente vai avançar nisso, tà?

126
VÍDEO 8
RECAPITULAÇÃO

(7:47)

Então, vamos retomar.

A gente “tá” passando, (né?) o Sutra do Coração, linha a linha.


“Tá” introduzindo os vários termos que (ééé) a gente tem que
entender “pra” falar sobre o prajnaparamita (então, tem toda uma
nomenclatura própria).

A gente falou muito sobre coemergência, na semana passada. E


a gente chegou (é) justamente na análise dessas frases, assim,
que são centrais para a compreensão do Sutra do Coração
(Forma é vazio; vazio é forma), que dá um nó na cabeça de todo
mundo (alguns acham que entendem, outros acham que não
entendem nada).

Então, tem essa questão, assim, como interpretar e como...


(raciocínio interrompido). Como que (éé) essa afirmações (né?)
(é), aparentemente tão complexas e paradoxais podem
transformar, na verdade, numa visão, numa compreensão, que
permite uma prática específica e que nos leva à liberação da
confusão, (né?), das prisões e dos sofrimentos,
consequentemente?

Isso é bastante interessante.

Como ultrapassar essa barreira cognitiva para transformar isso


num olhar, numa prática e não apenas num conhecimento
(pausa), numa compreensão teórica?

Esse é o desafio.

Então, a gente “tá” no texto. É. No item (forma é vazio).

Então, a gente viu que no Segundo Giro da Roda do Darma, há


uma ênfase, especial, ao aspecto vazio das formas e, é por isso,
que há várias formas de interpretar o Sutra do Coração.

Então, aqui, a gente “tá” olhando o olhar que o Lama Samten traz
(ééé), partindo já da compreensão da Grande Perfeição, que vem

127
depois disso tudo, mas permite interpretar o Sutra com um olhar
mais profundo.

“Forma é vazio

Vemos então muitos exemplos do Buda, alguns


específicos. O Buda diz, “nós tomamos uma
carreta, e tiramos as rodas da carreta, porque
essas não são carreta. Olhamos e dizemos, „a
carreta está lá, apenas sem as rodas‟. Então
tiramos as grades laterais da carreta. Dizemos
que a carreta está lá, sem as rodas e sem as
grades. Então tiramos o eixo da carreta. Dizemos
que a carreta está lá, sem as rodas, sem as
grades e sem o eixo. Aí tiramos o fundo da
carreta. E aí a carreta... oh!... está lá, só que
agora sem as rodas, sem as grades, sem o eixo,
sem o fundo. Mas então o que era a carreta? A
essência da carreta é a vacuidade. Não havia
uma carreta ali. Havia rodas, chapa, eixo e
grades.

Agora vamos analisar o contrário, vamos colocar


o fundo, as grades, o eixo e as rodas. Plim!
Carreta! Então a carreta por si mesma não
existia. Assim, um dos raciocínios da vacuidade
é decompormos aquilo em pedaços.

Então, esse aspecto da forma sendo visto como vazia (a). O raciocínio clássico
é esse. É olhar para a forma e decompor a forma nos vários pedaços,
entendendo que a forma (ela), quando eu vou tirando os pedaços, ela não é os
pedaços e nem os pedaços, separadamente, são a forma.

Então surge o conceito, uma idéia de forma, que não depende apenas dos
pedaços.

Não há uma forma, por si só: a mente, o observador, que olha para a forma,
concebe a forma, dá um nome (éé), traz uma solidez “praquilo”. Mas, o método
do decompor a forma em pedaços ajuda... (raciocínio interrompido); me ajuda
a superar a idéia de que a forma é sólida e real, porque, quando eu “vô” tirando
os pedaços, em qual momento a forma deixa de ser forma?

No exemplo da carreta, tradicional, clássico, em que momento a carreta deixa


de ser carreta?

128
Qual pedaço, que eu tenho de tirar “pra” eu não vera aquilo mais como carreta?

E, se eu tiro todas as partes, não sobra nada ao final: ou seja, não há uma
alma, uma essência de carreta.

A carreta surge pela agregação de muitos fatores, ou seja, é um fenômeno


originado dependentemente.

Então, todos os fenômenos originados na dependência de muitos outros


fatores (ééé), a gente vai dizer que eles são vazios, que eles não tem nenhuma
essência por trás deles, (né?).

Então, a gente vai olhar “pras” carretas, “pras” pessoas, “pros” objetos em
geral, “pros” pensamentos, “pras” emoções, seja lá o que a mente puder
conceber e, quando aquilo é olhado, com cuidado, aquilo surge na
dependência de outros fatores e, portanto, aquela forma é vazia de si mesma.

Ele não “tá” negando que surge alguma coisa ali. Ninguém “tá” dizendo que
não tem nada ali. A gente está, apenas, dizendo que, o que está ali, (éé) não
surge da forma como nossa mente comum olha.

A nossa mente, comum, desavisada, vai olhar “pra” carreta e vai dizer (- É
carreta) e não questiona nada sobre o processo de observação da carreta; ao
passo de que, quando eu analiso e divido a carreta nas suas partes e vou
entendendo que carreta é apenas uma idéia de carreta (não existe carreta real,
apesar de mesmo assim a carreta ser funcional): a carreta não é só uma
alucinação da minha mente.

A idéia de carreta surge no observador inseparável do objeto lá fora: os dois


não são duas coisas, mas são a mesma; mas mesmo assim, pela agregação
de fatores (ééé), pela agregação de muitas causas e condições, a carreta
funciona: a carreta é funcional (ela não é, apenas, um fruto da imaginação).

Estranho “pra” gente, assim, (né?), mas “pera ai”, se é totalmente vazio, então,
(ééé) quando eu paro de pensar naquilo ou paro de sustentar aquilo, aquilo
deveria desaparecer.

Mas aquilo não desaparece: aquilo segue operando; mas segue operando de
uma forma mágica, assim, de uma forma, que eu preciso da agregação de
muitos fatores e de um observador, que sustente aquilo como uma forma, com
a função que veja aquilo como aquilo parece ser.

Se não tiver alguém “pra” ver aquilo, aquilo, imediatamente deixa de ser
carreta, porque a idéia de carreta surge na mente de um observador: não há
outro lugar “pra” surgir. Né?

129
Então, forma é vazio. É a primeira frase.

Então, isso é muito interessante, porque todos os objetos que são (éé) frutos
do nosso apego (então nós temos muitos objetos aos quais nos apegamos) (E
nós nos apegamos especialmente devido à forma de relação que temos com
os objetos).

Ai, no momento que vejo que o objeto é vazio, a minha relação se transforma,
a minha relação se liberta em grande medida, que eu posso começar a superar
o apego e a fixação àquele objeto e consequentemente o sofrimento
correspondente.

(Né?)

Esse é um pedaço da história; mas vazio é forma: é a segunda frase

“Não havia carreta porque não há a carreta. O


que temos é fundo, grades, eixo e rodas. Porém
agora, quando olho para isso, eu vejo carreta!
Então o vazio (a ausência da carreta) se
transforma em forma (carreta). Esse é o princípio
da luminosidade. Nós juntamos os pedaços e
quando olhamos, vemos mais do que o conjunto
dos pedaços que havia ali. Somos capazes de
nos relacionar completamente operativos. Mas
se não tivermos a carreta dentro de nós, não
veremos a carreta, assim como muitos objetos
que somos capazes de olhar, mas não
entendemos, estão fora do contexto, porque só
entendemos a partir do que nós temos dentro.
Esse é o sentido de co-emergência. Se surge
uma carreta co-emergente interna e externa,
então a carreta existe. Se apenas houver aquele
conjunto do lado de fora, mas não tivermos a
carreta dentro, então a carreta não surge.”

Então, percebem que não está nem só foram e nem só dentro.

Eu nem digo que a carreta existe, por si só, separada do observador (objeto
real) e tão-pouco eu “to” dizendo que a carreta é criada, apenas, pela minha
imaginação (pela minha mente).

Então, eu tenho um objeto (o som falhou) o externo e o interno brotam de modo


coemergente e surge uma experiência de carreta.

130
Essa experiência de carreta não está separada do olho do observador.

Então, aquilo... (raciocínio interrompido), eu começo a entender como que as


aparências são construídas de modo coemergente; não, apenas, de modo
unidirecional, interno e tão-pouco de modo real, separado, externo.

Fundamental.

Então, a gente deveria, cada um parar e olhar para isso (assim, com tempo em
casa) e olhar para muitos objetos variados e realmente entender como essa
coemergência opera: como que o objeto, ele, apenas, se sustenta enquanto
objeto, na dependência de um olhar específico.

Então, esse é o tema, assim.

Todo mundo deveria, (ééé) o Lama pede isso assim, com as mãos em preces,
que a gente acumule esse olhar da coemergência e vai desenvolvendo esse
olho; que isso é a chave, (né?), “pra” liberação.

Quando eu começo a ver como tudo se constrói, eu já estou a um passo atrás,


olhando “praquilo” e não, apenas, respondendo automaticamente.

A mente, que não analisa ou apenas segue, (né?), se relacionando com todos
os objetos, em todas as direções, de modo convencional, de modo fixado,
apegado, responsivo, cheio de emoções perturbadoras.

Porém, quando eu desenvolvo esse olhar de coemergência, eu já “to” um


passo atrás, observando não apenas o objeto, mas como que brota o objeto.

Então, isso é superimportante.

E aqui nesse parágrafo, o Lama, também, introduziu um termo (que é a


luminosidade), que, se vocês olharem, não é uma palavra que se encontra no
Sutra.

No Sutra do coração, justamente por ser um texto do caminho do Sutra,


Sutrayana, (ééé) ainda não apresenta esse conceito de luminosidade. {Esse é
um conceito que surge (ééé) no caminho dos Tantras (o TANTRAYANA)}.

Então, é por isso que eu digo que, aqui o Lama “tá” olhando o Sutra do
Coração, um texto clássico dos Sutras, a partir de um olho, que já concebe a
visão Tântrica.

131
Então, a gente ganha um tempo com isso: a gente sai um pouco do aspecto
filosófico, do Sutra, e entra pelo aspecto experiencial, que é uma característica
essencial, assim, do veículo Tântrico.

Então, a carreta é vazia e luminosa. Ela é vazia, porque se não tiver uma
luminosidade que sustente a carreta, não “tem” carreta: a carreta não existe
sozinha, por si só; portanto é vazia.

Mas, apesar de não existir por si só, ela surge na experiência dos seres, devido
à luminosidade. Então, o processo de luminosidade da mente sustenta a
experiência de carreta.

Okay?

Seguimos.

(Perguntam ao Lama sobre a noção em


psicologia de “projeção”, “dar significado”
relacionando com coemergência).

Então, esse é um termo comum da psicologia: projetar alguma coisa, {como se


eu, como ser humano, projetasse, (né?), significados sobre o objeto}.

Resposta do Lama: No Budismo não usamos a


noção de projeção, e sim a noção de
coemergência. Na projeção há um eu que projeta.
Pressupõe a existência de alguém que projeta.
No Budismo dizemos que a pessoa se constrói.
Quando ela constrói o exterior, ela se constrói
junto.

Porque é coemergente: não é assim (eu projeto coisas sobre algo lá fora). O
dentro e o fora brotam juntos. Portanto, o que (que) nasceu antes o fora ou o
dentro?

Não tem alguém que preexiste e que produz


aquilo outro. Ela coemerge. Na verdade é uma
visão transpessoal todo o tempo, onde somos
uma vacuidade que opera com alguma coisa que
não é nossa. Por exemplo, outra pessoa pode
usar a noção de carreta, não posso me apropriar
dela. Não posso explicar a minha identidade a
parir da carreta que eu vejo, porque o outro
também pode manifestar isso. Então eu produzo
aquilo, mas não sou aquilo de fato. Mas talvez

132
dentro da visão da psicologia, temos aquilo
dentro, me aproprio disso e projeto sobre as
coisas. Mas no budismo não é assim.

Então isso é super importante, (né?), a gente fugir da idéia de que há um eu


que constrói o mundo sozinho, separado das estruturas, que são
aparentemente externas.

Então a superação da sensação de interno e externo é justamente o objetivo


final de todo esse trabalho, de busca pela sabedoria.

Então se eu reforço o interno, enquanto ele sendo o único construtor, (né?),


das aparências, projetando tudo ao redor dele, então eu “tô”, de certa forma,
reforçando a idéia de existência do sujeito: do eu.

Vamos tentar fugir disso o tempo todo, sempre apontando para essa mente
impessoal, essa mente que não é de alguém, que não tem características
próprias, que pode construir qualquer coisa, inclusive os seres do jeito que eles
acham que são.

Mas aqueles seres, eles tem uma mente. Esta mente opera para todos da
mesma forma. Então, eles vão se prendendo na realidade da construção da
mente e vão achando que são aquilo.

Prajnaparamita vai nos libertando dessa sensação de construção real.

Vazio é forma... Isso é extraordinário, é a 3ª volta


do Dharma, onde vamos nos aprofundar no vazio
que produz as formas. Mas, atenção! Eis agora
uma coisa nova! Em vez de ficar pensando nas
formas, pensamos “o que é essa presença
anterior à forma, que da origem às próprias
formas com ela? O que é essa liberdade?

É a liberdade que permite o surgimento das formas.

Essa liberdade, o Buda vai dizer, não nasce e não


morre. Quando vemos Maharaja aparecendo
ameaçador, olhamos para ele e dizemos: “Ah!
Ah! Ah!” e ele dissolve, não resiste. Ele surge da
coemergência, é produzido desse modo. É
inseparável dessa visão, não é uma experiência
externa. Então olhamos isso como manifestação
da luminosidade. Essa é uma meditação que

133
deveríamos portar. Depois mantemos isso na
ação.

Temos as três etapas:

Visão - quando entendemos tudo isso.


Entendemos, mas perdemos.

Meditação - quando estabilizamos essa visão.

Ação - quando somos capazes de mexer nas


coisas, girar, produzir coisas do mundo
condicionado, sem perder essa visão. O mais
parecido seria a arte, que trabalha diretamente
com isso. Produz o que não é.
Escancaradamente.

A gente conversou, um pouco, sobre isso, na semana passada, sendo, a arte,


uma bela forma, assim, de observar o potencial de criação, (né?) vazio e
luminoso das experiências (de todas as experiências).

Então a gente viu que a arte, por arte, apenas, com objetivo em si só, utilizando
o princípio da vacuidade/luminosidade (eu crio coisas quaisquer, com os mais
variados objetivos).

Agora, se eu uso a arte (ééé) como uma ferramenta de prática, ou seja, vendo
o processo da arte “pra” me ajudar a ter esse olho de coemergência, então a
arte é superinteressante: ela me ajuda bastante. Tanto que o Lama tem essa
sequência clássica, assim, de olhar “pro” objeto bidimencional, pintado numa
parede (o famoso cubo, né?), como tem na sala, no Rio; depois, (ééé) (pausa)
depois você também tem (ééé) os objetos tridimencionais, como a escultura,
por, por exemplo, aquilo é só pedra, mas, mesmo sendo pedra, a gente vê algo
ali.

Não é que a gente projete um significado, mas de modo coemergente, a gente


olha para a escultura e vê uma forma humana, por exemplo, na pedra.

Então aquilo tá e não tá, ao mesmo tempo: se eu disser que não tem uma
forma humana, não é verdade; mas se eu disser que é uma forma humana,
também não é verdade.

Então tem uma experiência, assim como o reflexo da lua na água.

Quando tem o reflexo da lua na água eu nem posso dizer que não tem, mas
também não posso dizer que tem a lua, ali, na água.

134
É uma experiência.

Essa experiência tem uma situação, assim, existencial, que nem é nem não é.

Nem é nem não é.

Então, eu vou dizer no final: então tá. Então é.

Já que nem é nem não é; então é, porque não é do jeito que eu era, mas
também não é nada. Então é alguma coisa e, essa alguma coisa, não é do jeito
que eu imaginava antes: ela parece, mas não é como eu pensava, (né?).

No caminho do ouvinte nós vamos trabalhar


longamente para provar a inexistência de um eu.

O foco principal é a busca da vacuidade do “eu”, da identidade pessoal.

Então, ai surge a análise dos 5 skandas. Então, se o eu existe, ele tem que “tá”
nos skandas, porque uma pessoa é forma, sensação, percepção, formação
mental e consciência.

Isso é uma pessoa.

Então, o que (que) é o “eu”? O “eu” está na forma? Está nas sensações? Está
nas percepções? Ou ele é alguma coisa que é dona dos cinco skandas?

Se ele é uma coisa que é dona dos 5 skandas, onde que ele se localiza?

Então tem toda essa análise detalhada do caminho do ouvinte, para a gente
superar a noção de que o “eu” existe, de modo real.

Dentro dessa abordagem que estamos aqui


falando, não precisamos provar isso, porque
estamos vendo essa natureza livre podendo
utilizar as várias inteligências. Justamente por
ela poder se manifestar de modo múltiplo, não
precisamos pegar a forma e ficar desmontando-
a, um trabalho elaborado, difícil.
Tradicionalmente estudaríamos assim: onde está
localizada a mente? Está dentro do corpo? Fora
do corpo? Dentro dos olhos? Atrás dos olhos?
Onde está a mente? Está dentro dos sentidos
físicos? Está no tempo? Até que respondemos:
“não, não, não, não”. Ficamos confusos: “onde
estará ela?”

135
Mas essa abordagem do Prajnaparamita que
estamos usando aqui, do espaço que produz as
coisas, pode nos fazer avançar muito rápido.
Então nós dizemos: “Forma nada mais é do que
vazio”.

Então, o Lama “tá”, justamente, trazendo essa abordagem especial, assim,


direta de MAHAMUDRA, em que eu não fico trabalhando em cima da
decomposição das formas e, também, não fico trabalhando na decomposição
do sujeito (DO EU).

A gente vai olhar para os dois como inseparáveis, coemergentes e, portanto eu


dissolvo de uma única vez a solidez de objeto e de sujeito.

Então , é um método bem inteligente; bem interessante, porque ele foge muito
da noção, (sabe), de partículas atômicas, de elementos constituintes.

É um método (ééé) que enfatiza a operação da mente e não, propriamente,


(ééé) a construção das coisas, das experiências, enquanto elas mesmas.

Então, como que brota a experiência (é isso que ele está analisando).

Isso é um processo mais rápido do que eu ficar olhando para cada objeto e
ficar decompondo: tem a cabeça; a noção de cabeça; mas a cabeça são os
olhos, o nariz, a boca, a língua, as orelhas, o cabelo

Então, o que (que) é uma cabeça?

Se eu vou tirando os pedaços e aquilo segue sendo uma cabeça,...

É a mesma idéia da carreta, que a gente viu agora a pouco, cortando a idéia de
que os objetos são reais.

É mais fácil trabalhar com a ideia de coemergência de mente/objeto.

Então, essa é a primeira etapa: forma é vazio e vazio é forma; forma nada mais
é do que vazio, vazio nada mais é do que forma.

Tudo bem?

Até aqui, tudo bem?

Alguém tem alguma questão, alguma pergunta?

Tranquilo?

136
Nada a declarar?

Então, a gente vai adiante.

Então, forma é vazio e vazio é forma

Do mesmo modo sensação, percepção, formação


mental e consciência são todos vacuidade

Do mesmo modo - os skandas restantes,


sensação...

Forma corresponde ao corpo e os skandas mentais (sensação, percepção,


formação mental e consciência) correspondem ao aspecto mental.

Juntos, eles trazem a noção de solidez: de ser; de existência.

Assim, Sariputra, todos os darmas são


vacuidade.

O Avalokitesvara está explicando, o bodisatva da compaixão.

A compaixão suprema é ensinar para alguém o prajnaparamita.

Todas as outras espécies de compaixão, elas são logicamente úteis e


maravilhosas, mas elas são compaixões limitadas.

A compaixão de mostrar prajnaparamita é a compaixão de ajudar o ser a


superar a raiz do sofrimento: não é uma ajuda (uma compaixão paliativa), mas
sim, é uma compaixão definitiva.

Então, aqui, Avalokitesvara, o bodisatva da compaixão, ele vem “pra” cortar a


ignorância básica.

Então, ele vem “pra” nos ajudar a superar: é a compaixão suprema.

Assim Shariputra, todos os darmas são vacuidade.

Então, darmas com o “d” minúsculo (lembrando) significa todos os fenômenos,


todos os objetos, todas as categorias de coisas.

Eles são vacuidade.

Eles não são nada mais do que isso.

Então, todos os darmas são vacuidade.

137
Todas as experiências são vacuidade.
Poderíamos dizer que esse ponto é um resumo
de todo o sutra – todos os dharmas são
vacuidade.

E ponto final.

Se todos os darmas, então, qualquer coisa que eu possa criar, imaginar, olhar,
pensar, tudo aquilo é vacuidade.

Então, só que ai, eu precisaria ver isso, não apenas entender.

Por isso que há visão, meditação e ação.

“Pra” que a ação, em meio ao mundo sustente o olhar da vacuidade, eu vou ter
de meditar sobre isso por um bom tempo, buscando exemplos, liberando a
minha mente das prisões e fixações.

Então aqui a gente está trabalhando a visão, ou seja, discutindo os conteúdos,


as palavras, os termos (pausa), buscando alguns exemplos clássicos, assim
“pra” nos ajudar a entrar nisso.

Mas eu tenho a visão; depois, eu vou ter de sentar e meditar.

Vou ter de puxar várias formas (sensações, percepções, formações mentais e


consciência) e olhar “pra” tudo isso e perceber que isso, realmente, é vazio.

Não adianta eu me convencer de que é vazio. Não é um processo de que eu


tenho de aceitar alguma coisa: eu tenho de olhar; eu tenho de ver com esse
olho, (né?).

Eu tenho de conseguir ver com esse olho e isso vem a partir de um


treinamento sistemático de observação (A cada momento, a cada instante, a
cada experiência me mostra que isso estava na minha frente o tempo todo).

Então, a vacuidade, ela “tá” o tempo todo operando {porque as coisas já são
vazias; não é que quando eu entender a vacuidade, a vacuidade aparece
(TIAM! TIAM! TIAM! TIAM!)}.

Então, a vacuidade já está ali, só que eu não vejo.

Então, a vacuidade é esse olho de liberdade.

Então:

Todos os dharma são vacuidade


138
Todas as experiências são vacuidade.
Poderíamos dizer que esse ponto é um resumo
de todo o sutra – todos os dharmas são
vacuidade.

Não têm características. São não-nascidos e não


cessam. Nem impuros e nem livres da impureza.
Nem decrescem e nem crescem.

Então:

Não têm características

Ou seja, todos os darmas (os fenômenos) não tem características reais


próprias.

Se eles são vacuidade, não tem características.


Ou seja, não tem características em si mesmos,
eles brotam coemergentemente.

Então, as características próprias, por exemplo, cor, forma, peso, tamanho


(todas as características que a gente aponta nos darmas, nos fenômenos,
todas elas não são reais (são atribuídas, são coemergentes).

Então, ai eu vou dizer, (né?), já que os darmas são vacuidade, como é que eles
poderiam ter características próprias.

(Né?)

Já sabe com clareza que ver uma coisa com uma certa cor, aquilo depende de
um aparelho sensorial; outro ser que não tem o mesmo aparelho sensorial, vê
outra coisa; vê outra cor.

Da mesma forma, a percepção de tamanho depende, também, do aparelho


sensorial do observador.

Claro que o nosso referencial, como seres humanos, nos dá a sensação de


que (é óbvio, nós seres humanos vemos as coisas desse jeito e, portanto, é
assim).

A gente convencionou isso: tudo o que nós vemos é o mundo real.

Então, a gente não percebe os campos magnéticos, que os tubarões percebem


na água ou os ruídos que os morcegos percebem, (né?), os sons que os

139
cachorros também ouvem, ou os cheiros que um cão farejador pode pegar a
longa distância.

Mesmo entre os humanos, (né?), tem uma variação razoável, mas mesmo
assim dá uma sensação de que a gente concorda, (né?) (a gente já conversou
sobre isso, também), que a sensação de concordância, da experiência, brota
das marcas cármicas comuns, ou seja, com uma estrutura cármica comum,
surge um corpo parecido (um corpo comum), que opera com um aparelho
sensorial parecido, também (que dá uma percepção comum).

É como duas pessoas, jogando o mesmo jogo, elas colocam os óculos 3D


(naquele jogo). Elas duas começam a ver as coisas do jogo. Agora, as
pessoas, que estão ao redor e que estão sem os óculos 3D não vêem as
mesmas coisas e, portanto, não reagem da mesma forma.

Então, (né?), qual que é o mundo real? É o deles, que “tão” com os óculos ou
dos que “tão” de fora, que não vêem aquilo?

Então, essa noção, (né?), de que os objetos tem características, propriedades;


aquilo vai caindo, (né?), apesar de a física, a química, todas as ciências
estudarem a matéria, detalhadamente. Então, tem a tabela periódica dos
elementos, cada elemento tem característica própria, (né?), muito definidas
através de experiências de laboratório.

Mas a gente vai entender, que a própria descoberta dos elementos vai surgindo
a partir de preconceitos que os “tragam”.

Então, a natureza vai se apresentando a partir da “linguagem” que eu impuser


sobre ela.

Sempre um determinado tipo de experimento, afirmando determinadas


características das coisas, a partir daquele experimento, eu vou ter um padrão,
criando tabelas, listas, classificando tudo.

Eu esqueço que isso surge daquele jeito, porque eu (ééé) padronizei daquele
jeito.

É muito comum, né?

Daqui a pouco vem alguém, uma pessoa com uma idéia nova, mirabolante e a
gente reestrutura tudo, a gente passa a ver com um outro sistema de
classificação e abandona aquele anterior. A ciência faz isso, sistematicamente.

(Né?)

140
Surgem idéias mais inteligentes “pra” explicar as coisas; a gente vai trocando
de idéias, (né?); são, apenas, modelos descritivos da realidade: muitos
modelos possíveis; incontáveis modelos possíveis.

E qual que é o modelo correto, né?

Então, tem uma experiência do Lama Samten (o Lama Samten, uma vez, deu
uma aula de física “pra” monges tibetanos, na Índia, explicando (né?) sobre
universo, estrutura e ai, um dos monges falou, (né?), (é) (ééé) quem sabe um
dia a ciência, também, vai chegar ao modelo, que o Buda apontou, (né?): o
Monte Meru, no centro, os quatro continentes, continente menores, a cerca de
ferro ao redor, o grande oceano e todos os reinos empilhados (uns em cima
dos outros). Então, quem sabe o nosso modelo não seja o correto, também,
né?

Então, hoje não é o que se vê, mas dependendo do olho (que se coloca) pode
se explicar de outra forma.

Então, sistemas cosmológicos, sistemas de explicação a nível macroscópio, ou


microscópio, nas sub-partículas (então, aquilo tem muitas formas de trazer).

Não é?

Então, é interessante observar isso.

A gente não se prender aos sistemas (é assim, porque está nos livros
escolares).

(Grade coisa: os livros escolares mudam o tempo todo).

E novas teorias, assim, sobre a ciência, a física brotam o tempo todo, (né?);
coisas bem estranhas, (né?), que os cientistas vão teorizando “pra” tentar
explicar tudo, como essas noções de matéria escura, energia escura, super
cordas, buracos de verme, assim por diante, (né?): tem um mundo, (né?).

É.

É bem interessante.

Então, a gente começa a estudar um pouco disso tudo “pra” ver que a ciência
não é tão (ééé) (não tem tanta certeza sobre as coisas o quanto parece, né?):
na verdade tem muito mais incertezas do que certezas.

Agora, talvez a grande vantagem (a grande vantagem) da ciência sobre as


religiões, em geral, é o fato de a ciência parte de um ponto assim (a gente não

141
sabe tudo – a gente não sabe tudo – e, por isso, a gente vai estudar e vai
construir conhecimento sobre as coisas); ao passo que a maioria das religiões
“vai” dizer (sim, nós sabemos tudo; porque o criador diz, ou não sei quem
disse, porque “tá” nos Livros Sagrados e, aquilo, é verdade).

Então, nesse sentido, a ciência se aproxima (um pouco) mais do budismo, por
ter essa mente investigativa, (por ter essa mente investigativa).

Só que a ciência esbarra num ponto em que o professor Alan Wallace vai
chamar de Tabu da Subjetividade (tem um livro dele com esse título), o Tabu
da Subjetividade, em que a ciência abomina, (né?), a subjetividade.

Ou seja, nós temos de gerar experiências objetivas e ter resultados, que


possam ser repetidos, independente de quem é o sujeito.

Essa é a busca da ciência, (né?).

E, ai, vem o choque da ciência, justamente, no surgimento da mecânica


quântica por perceber {alguns perceberam, (né?)} que o observador tinha um
papel, ali, no resultado da experiência, (né?). Então, não tem como tirar a
subjetividade da experiência: não existe isso, como uma experiência
completamente objetiva, como se procura, (né?), (ééé) explicar na ciência.
Então, é bem interessante isso.

Esse é um tabu. Um dogma. É um dogma da ciência, em que até hoje se


resiste muito, (né?). Então aquilo, não “tá” absorvido, ainda, (relativizado).

Ao fugir da subjetividade continua a base para o cientista ser confiável, já, ao


passo que, o budismo, ele já parte da ideia que é impossível se livrar da
subjetividade, porque os seres humanos “tão”, o tempo todo, no seu espaço
mental. Então, não tem outro espaço “pra” “tá”. Então, como é que eu começo
tirar a mina subjetividade de lado. Como é que eu consigo tirar todos os meus
pressupostos, todas as minhas marcas mentais, toda a minha estrutura
cognitiva e fazer uma coisa livre disso?

Impossível.

Agora, ai vem essa idéia, (né?), essa ideia de que uma mente treinada através
da meditação (especialmente a meditação de shamata), ela vai se tornando
(ééé) uma ferramenta mais adequada para observação dos fenômenos.

Uma mente estável, não responsiva; uma mente que olha para todos os
fenômenos, que ocorrem nela mesma (assim: com cuidado, com
distanciamento, desapaixonadamente), essa mente, elas é capaz de observar.
É a mente que o Buda usou, (né?)

142
Então, é como se tivesse uma ferramenta muito capaz, muito profunda, que foi
trabalhada, que foi treinada e que, então, pode ser direcionada.

Então, vejam como isso é importante. A gente “tá” aqui estudando


prajnaparamita (sabedoria discriminativa), mas se eu não tiver, por base, uma
mente mais treinada, de shamata, ai, na hora que eu for tentar olhar com olhar
de prajna aquilo fica difícil, porque a minha mente é agitada, é muito flutuante:
ela não tem uma base, (né?). Uma ferramenta, um microscópio ou telescópio,
instrumento de medição, ele não (ele não é adequado “pra” tarefa).

É importante, assim, seguir praticando shamata sempre em paralelo com o


prajna.

Então, existe essa discussão, às vezes, das pessoas, do caminho (Ah, mas
primeiro shamata, depois prajna, ou tem uns que dizem que vai direto “pra”
prajna e pula shamata).

E ai, como é que faz, (né?)

A gente precisa seguir uma ordem ou não?

Então, o Lama Samten tem introduzidos as duas coisas, simultaneamente, em


paralelo: a pessoa pode ir praticando, sim, shamata {maravilhoso, (né?),
praticar o equilíbrio da energia através dos elementos}.

Então, eu “vo” equilibrando a energia, através de shamata e “vo” gerando


sabedoria através de prajna; eu “vo” (ééé) juntando as duas, trabalhando em
paralelo e aquilo anda rápido.

Muito bom assim, (né?).

Então, é isso: eu preciso do instrumento adequado “pra” conseguir gerar esse


olhar, aqui.

Mas não precisa ser, também, assim: se eu não realizar shamata eu não
consigo ter o instrumento adequado.

Então, (aquilo), (ééé) eu vou indo como possível, (né?); eu vou avançando; eu
vou dando passos: um dia eu vou ser um Buda, que vai fazer isso de modo
perfeito, mas, até eu alcançar o estado de Buda, que tanto shamata e prajna
foram aperfeiçoados, até lá eu vou tendo resultados parciais e, aquilo já é
maravilhoso; aquilo já traz uma lucidez, uma melhoria da condição de vida em
meio ao mundo, assim, enorme.

143
Então, eu não deveria achar que os pequenos avanços são bobagens. Não:
pequenos avanços já são, assim, grandes passos {já me tiram, assim, daquele
automatismo, daquela falta de (falta de visão, assim.)}

Então, os praticantes vão percebendo que a vida fica bem mais fácil, (né?)

Muito bem.

Então, os darmas não tem características próprias (a gente já explorou, um


pouco, esse tema): não tem característica própria, intrínseca, em coisa alguma;
tudo brota de forma coemergente interno, externo e inseparáveis.

Então, os darmas são, também:

Não- nascidos e não cessam

Ou seja, não seria assim: surgem, e agora eu


vejo!

Na verdade surgem a cada vez que temos a


experiência e contemplamos. Podem surgir de
forma diferente, pois é vacuidade. Não cessam –
não estão naquele lugar.

Então, para ser nascido e cessar, teria de ser uma coisa real, sólida; mas não
é: aquilo é vazio: cada hora é uma coisa; cada olho que eu coloco, aquilo
muda.

Então, aquilo brota, mas aquilo brota e é não nascido, porque não tem uma
existência real.

Então, “pra” eu dizer que aquilo é nascido, deveria ter nascido de modo
absoluto em determinado ponto do tempo.

E quando eu analiso, não é assim: aquilo surge; aquilo flutua na minha frente,
(né?), como uma forma mágica.

Ai, eu mudo o meu olhar, mudo a forma, ou às vezes a forma muda e o meu
olhar muda. Então, aquilo é coemergente; os dois juntos, inseparáveis.

Então eu vou dizer: os darmas são não nascidos e não cessam.

Então, é claro, aqui eu “to” sempre analisando do ponto de vista da verdade


absoluta; do ponto de vista da verdade relativa, convencional, é óbvio que eu

144
junto os pedaços da carreta e digo (carreta), nasceu carreta: pego rodas, as
grades, o fundo, junto todos os pedaços da carreta e tem carreta.

Ai pego a carreta e saio andando, não é? Arrastando a carreta.

Então, é claro, é claro que aquilo surge.

Mas, aqui, eu “to” olhando do ponto de vista da verdade absoluta {nada surge
(nasce) de modo absoluto ou morre}.

Nada.

Nem impuros, nem livres da impureza

Não são livres de impureza, pois se a impureza


tem algum sentido, então eles tem toda
impureza. Mas também não são impuros, porque
não há nada dentro deles que não seja a
manifestação da própria vacuidade que produz
aquilo. Por exemplo, poderíamos dizer que o
jogo dos meninos é completamente impuro, um
samsara complicado, que produz emoções
negativas. Mas o jogo dos meninos é expressão
da liberdade, o aspecto lúdico.

Puro e nem livre de impureza: nem impuro e nem puro.

Os objetos, os darmas e os fenômenos, as emoções, os pensamentos, eles


são puros ou impuros?

Atribuir o rótulo de puro ou impuro a qualquer coisa é um fenômeno co-


emergente: aquilo não é inerente àquilo.

(Né?)

As próprias fezes dos animais, que são vistas como impuras (ninguém quer
colocar a mão naquilo), mas, daqui a pouco, aquilo tudo vira adubo e é utilizado
nas plantações, ai aquilo se torna algo maravilhoso: em muitos lugares, (né?),
coco de vaca vira combustível, (né?), seco é utilizado para fazer fogueiras;
aquilo, aquilo ajuda.

Então, o que (que) é puro ou impuro?

Depende do olho do observador.

145
Uma pessoa, vegetariana, olha “pra” um pedaço de carne crua e começa a ter
um certo nojo, assim, (né?): impuro; uma pessoa carnívora olha “praquilo” e
(Hummm!) vou passar um salzinho, uma alhozinho, vou fritar e vai ficar uma
delícia.

Então, o que (que) é o olhar de pureza e impureza?

Depende.

Muito importante, (né?), “pra” gente sair de qualquer noção de purismo,


moralista ou ético.

Então, existe uma ética convencional, (né?), a gente vai dizer que a moralidade
ou a ética dos bodisatvas, ela surge, sempre, com a motivação de não
prejudicar os outros. Então, ela cuida dos outros, ela deixa de fazer algo para
evitar o sofrimento dos outros, mas não quer dizer que haja regras éticas
universais, assim, absolutas: isso não há.

Tudo dependendo da condição, né... (raciocínio interrompido). Por exemplo, se


tem uma manifestação de ratos numa cozinha, como já aconteceu em Viamão,
o que você vai fazer com os ratos? Vai deixar os ratos furarem os pacotes,
contaminarem as comidas (daqui a pouco alguém pega uma doença) ou você
vai tentar (ééé) se livrar dos ratos, (né?)

Então, aquilo... (raciocínio interrompido). É claro que não é bom matar ratos;
mas no momento em que os ratos estão gerando um problema maior (claro
que não para eles, estão gerando para os humanos). Então, matar os ratos
para preservar a vida humana preciosa começa a se justificar, de certa medida.

Então, é um raciocínio complexo, (né?). Perigoso. Super perigoso, porque pode


dar, (né?) margem para a gente tomar uma série de atitudes.

Eu já vi praticante matando baratas e dizendo, (né?) (eu “to” transferindo a


consciência delas “prum” lugar melhor, porque elas “tão” ai numa forma muito
degradada. Elas morrem e renascem num lugar bem melhor).

A gente pode justificar as nossas aversões, medos e problemas, simplesmente


matando seres e dizendo que aquilo tudo está justificado.

Não é tão simples assim.

Mas o que eu quero dizer é que não há, mesmo no ato de matar, uma
moralidade definitiva, absoluta.

Então, é um tema bem delicado.

146
Em geral, a gente segue a regra, (né?): não matar, não roubar, (né?), sexo
impróprio {a gente evita tudo isso, (né?)}; mas aqui, a gente está olhando do
ponto de vista último, absoluto.

Então aqui isto tudo, também, se dissolve.

Se a própria noção de ser humano se dissolve, então como é que não vão se
dissolver as regras de conduta e de relação entre os seres humanos?

Então, é um assunto que eu deveria ter, sempre, esse cuidado: verdade


relativa e verdade absoluta.

No plano relativo, sim, tem uma série de convenções e padrões éticos; do


ponto de vista absoluto, não tem nada disso: tudo isso é construção co-
emergente da mente de um determinado grupo de seres.

Em outro tipo de universo, em um outro tipo de construção mental surgem


outras regras lá, de moralidade, diferentes das nossas, (né?).

Os seres humanos mesmo, a nossa moralidade varia, totalmente, ao longo do


tempo, (né?).

Comentei, na semana passada, quando você vai olhar (ééé), você olha o
Código de Hamurabi. Era uma sociedade patriarcal (machista). Então, as
mulheres tinham menos peso, menos valor, as crianças menos, ainda; os
escravos e os trabalhadores não tinham... (raciocínio interrompido).

Então, para eles, aquilo era ético. Era correto, (né?).

Então, se um homem prejudicasse outro homem, esse homem poderia (ééé)


fazer alguma coisa, às vezes, com uma posse daquele outro homem que o
prejudicou (seja mulher, seja filha, seja escravo) ele pode fazer uma maldade
(na nossa visão); “pra” eles, justiça.

O que (que) é justiça, (né?).

Justiça é uma coisa convencional.

É muito interessante analisar os dilemas éticos, assim: dilemas éticos


(situações limite). Aquele caso, as pessoas estão (ééé) num lugar, sem
comida; vão morrer e começam a comer a carne umas das outras, por
exemplo: (alguém morre, eles comem a carne “pra” sobreviver).

147
E ai? Isso “tá” certo ou “tá” errado? É melhor morrer de fome ou comer a carne
da pessoa morta? (ou, pior ainda, matar alguém do grupo para alimentar os
outros: um morre, “pra” que os outros vivam).

É super difícil, (né?), de explicar; de chegar a um consenso, assim; mas tem


essas questões.

O samsara é complicado. Ele nos põe nesses tipos de situações.

Mesmo o Buda, ele não tem explicações únicas para as coisas. Por exemplo,
numa situação em que um exército de um reino, que queria destruir a tribo dos
“Sakyas”, de onde o Buda vinha (havia, ali, uma pendência antiga em relação
ao Rei e esse Rei decidiu destruir o Clã dos Sakyas). E ele se dirigiu com o
exército dele “pro” Clã dos Sakyas e o Buda se colocou no caminho. Se
colocou no caminho, conversou com o Rei e conseguiu dissuadi-lo, (né?), de
fazer aquilo. Ai o Rei retorna com o exército. Ai, uma segunda vez, o Rei vai e
o Buda, de novo, interferes. Ai, uma terceira vez, o Buda interfere. Na quarta
vez o Buda não interferiu, o Buda viu que não tinha como evitar o carma, que
tinha sido gerado naquela relação e, realmente, o Rei invade o Clã dos Sakyas
e mata a maior parte das pessoas e acaba com aquilo, (né?). Então, o Buda
era vivo, ainda, quando isso aconteceu.

Então, é isso. O Buda tenta interferir, mas aquilo é complexo, (né?).

E é complexo, também. O Buda chega, (né?) (interrupção de raciocínio); a


pomba voando e o abutre atrás, ai a pomba pede “pro” Buda protegê-la do
abutre; o abutre diz (Oh! Se eu não comer essa pomba, eu vou morrer; eu “to”
o dia inteiro voando atrás dela e eu preciso levar comida “pros” meus filhotes e,
ai, o Buda oferece pedaços do corpo dele; mas aquilo não funciona, (né?); ai
tem essa idéia de que uma vida vale uma vida. Então, é um super dilema,
(né?).

Então, o Buda é isso, (né?)

Ele mata a pomba ou mata o abutre?

Qual é a escolha mais correta, (né?)

Difícil.

O mundo inteiro é um aspecto lúdico.


Precisamos nos lembrar muitas e muitas vezes
disso, porque rapidamente estamos dentro de
ambientes e ficamos sérios. Olhamos de forma
fixa, e aí nos complicamos.

148
A seriedade, ou seja, levar as regras do jogo a sério {o que é uma coisa super
valorizada, através da verdade relativa; do samsara (é muito importante a
pessoa ter uma fama de ser séria) (Ah, sim! Uma pessoa confiável: séria).
Então significa uma pessoa que joga as regras do jogo sempre do mesmo jeito;
de modo correto; a pessoa que não fura o jogo. Então isso é uma grande
vantagem em termos de construção do samsara}. Agora, quando eu começo a
olhar com esse olhar do prajna (levar as regras do jogo muito a sério é um
problema, (né?): é uma fixação da qual eu vou ter de me livrar; vou ter de
relativizar, vou ter de soltar aquilo, não é?).

Então, entender que a seriedade exagerada não libera.

Então, o Lama adora a dizer isso, a liberação se dá pelo sorriso; não se dá pela
seriedade, pela (vamos dizer assim: por algo muito poderoso, por um aspecto
muito duro). Não é por ai. A liberação vai se dar pela leveza, por se libertar das
regras do jogo.

Então, é assim que se dá.

Né? Então, a gente deveria olhar os nossos jogos {quais jogos eu estou
jogando seriamente demais? Os jogos do trabalho, os jogos das relações, o
jogo do dinheiro, o jogo da busca por segurança, seguro saúde, seguro do
carro, seguro da casa, seguro de tudo, como se eu pudesse me garantir, (né?),
de alguma forma, a partir disso}.

Então, a gente vai jogando jogos, (né?)

Então é isso: nem impuro e nem puro.

Os darmas, também

Nem decrescem e nem crescem

Eles não evoluem. Isto está relacionado à Física


Quântica também. Uma partícula está num ponto
e ela surge depois em um outro ponto, mas ela
não faz uma trajetória para se deslocar. Este é o
sentido profundo da noção de salto quântico. A
partícula tem uma forma e depois aparece com
outra forma, dá um salto sem nenhuma
explicação do que acontece no período do salto.
Também não tem nenhuma relação causal entre
o que aconteceu aqui e ali. Simplesmente
desaparece de uma forma e surge em outra. Isto
acontece por causa da coemergência.

149
Então, essa noção, (né?), de salto quântico, fenômenos quânticos, também, o
Lama cita muito, também vai ter ai no CEBB Rio, no dia 12 de novembro, esse
curso com a professora Eliane Xavier, mestre em física quântica, ela vai dar
esse curso ai no CEBB Rio, mais uma vez (já deu outras vezes), de Física
Quântica e Budismo.

Bem interessante!

Quem quiser participar, ou revisar. Vai ser no sábado, manhã e tarde, OK?

A gente tá pegando um tema super moderno (as pessoas adoram usar o termo
quântico “pra” lá e “pra” cá: cura quântica; salto quântico). E a maioria das
pessoas não entende muito bem o que elas estão falando, (né?). Elas tão
usando aquilo, apenas porque pegaram no ar.

Então é legal entender, um pouco, os fundamentos (assim) de uma forma


acessiva, é claro [não vai se abordar isso na forma tradicional, de equações
matemáticas complicadíssimas. Aquilo se pega os exemplos, (né?), e vai se
explicando}.

Então, é um tema bem interessante.

É um tema, que, talvez, vale a pena fazer o curso (pausa) e, também, quem se
interessa por essa noção (ééé) é bom, também, ler esse livro professor Alan
Wallace, (ééé), esse livro AS DIMENSÕES ESCONDIDAS. A união entre física
e budismo. É uma proposta, que o professor Alan Wallace traz; um livro muito
bem escrito, assim, complexo, mas, “pra” quem gosta um pouco de ciência e
física, vale à pena.

Muito bom.

Então, nós estamos de salto quântico: aquilo era, mas agora não é, (né?).

Olhamos um dia de um jeito, e outro dia vemos


de outro jeito. Epa! Aquilo era de um jeito e agora
é de outro, mas como foi essa trajetória? Não
tem trajetória, porque a forma como as coisas se
apresentam, não são “fora” e nem têm
evoluções. Elas “são” e depois “são” de outro
jeito.

Do mesmo modo, nós temos essa liberdade,


porque as coisas são inseparáveis de nós. Nós
surgimos de um jeito e as coisas surgem de

150
certo jeito. Surgindo de outro jeito, as coisas
também vão surgir de outro jeito.

Mantendo as paisagens e os pressupostos todos


direitinhos, a causalidade ocorre, os objetos são
externos, tudo funciona. Mas a explicação
profunda das coisas é que através de causa e
efeito não vamos conseguir nenhuma explicação
final das coisas. Nós encontramos um sistema
ambíguo, na linguagem quântica.

Ambiguidade, (né?), das situações: como é que o elétron pode ser onda e
partícula ao mesmo tempo?

(É). O mesmo elétron se apresenta como onda ou partícula. É uma


ambigüidade, não é? Porque onda não é partícula (por definição) e partícula
não é onda.

Niels Bohr diz que os sistemas desse tipo tem


uma inconsistência interna, porque existe uma
variável a mais que não está sendo considerada,
por isso nunca conseguimos uma explicação
final. Então quando essa variável muda, temos
resultados que vamos chamar de ambíguos. Eu
tinha um resultado, agora estou obtendo outro, e
já não sei o que é que mudou. Ou seja, mudou
uma variável que não estou considerando.

Então, os sistemas causais não tem dentro deles


a não-causalidade. Só que a não-causalidade
opera. E quando ela opera, o resultado é
ambíguo. Por exemplo, um trem andando num
trilho, mas não está previsto no sistema férreo
que vem alguém, puxa uma alavanca e desloca o
trem de uma linha férrea para outra. A
causalidade seria o trem andar sempre naquela
linha. A coemergência é a lei, a coemergência é a
vacuidade, é a compreensão. Mas para
entendermos melhor a vacuidade, entendemos a
coemergência. Nem decresce e nem cresce é
isso. Causa e efeito nem decresce e nem cresce.

Os darmas, os fenômenos e objetos não decrescem e nem crescem.

151
Então, também, outra tradução que se usa para essa expressão é eles não são
completos e nem incompletos: nem falta alguma coisa neles e nem eles são
totalmente satisfatórios, não são totalmente completos.

Os darmas, apenas brotam, eles não tem um processo próprio, assim, de ter
de acrescentar alguma coisa (fazê-los crescerem); nem tampouco eles
decrescem {desaparecem, (né?)} a partir de seu componentes.

Então, não há um crescimento real ou decréscimo real na observação dos


darmas.

Eles não “tão” completos nem incompletos.

Isso é um pouco, (né?), estranho, mas quando a gente olha é um pouco assim:
começa a analisar os darmas do ponto de vista da verdade relativa {é claro que
eles “tão” completos pela carreta – lá falta uma roda, ”tá” incompleta (pronto) –
agora, quando eu começo a olhar do ponto de vista absoluto, não há uma
clareza do que seria completo ou incompleto}, o que precisa crescer ou
decrescer.

Não se tem nada sobrando e nem nada faltando ali.

Vacuidade.

Essa parte é muito importante, Chenrezig vai


expressar o que seria o grande ceticismo
budista, em contradição com a ciência. Por
exemplo, a ciência acredita que as coisas no
fundo, são regidas por leis universais, que as leis
estão lá, em algum lugar, atuando.

Essas leis seriam absolutas: funcionariam sobre quaisquer causas e condições.

S.S.o Dalai Lama diz “os cientistas são crentes,


nós budistas somos céticos”. Ou seja, não confie
nos cientistas! eles são crentes, acreditam nas
suas teorias! Mas a cada vez que as teorias
mudam, os mundos mudam, mas eles só vêem o
mundo de certo jeito. Depois muda, e muda todo
mundo de novo.

Quando muda a teoria, ai todos os cientistas mudam de idéia de novo; e se


apegam, de novo, à nova idéia.

152
Então, nesse sentido, tem uma série de pressupostos, que eles dão como
pedras fundamentais, que eles não querem questionar.

E quando surge alguma observação, que questiona aquilo, eles vão dizer: tem
que ter um furo; tem que ter um erro na observação; na experiência, porque
aquilo não pode contrariar (por exemplo, a velocidade da luz é fixa em qualquer
lugar do universo: a velocidade da luz é a mesma; ela é uma grandeza
fundamental).

Ai, daqui a pouco, surge uma experiência, que parece que vai contradizer
aquilo. Ai eles vão negar, categoricamente. Eles vão avaliar como encontrar
uma explicação “pra” mostrar que aquilo “tá” furado, (né?), que aquilo, de
alguma forma, “tá” mal interpretado, “pra” cair naquilo que já é conhecido.

(Né?)

Porque o medo de perder o sistema de referência é muito grande.

Se você tira os alicerces de um sistema de pensamento, aquilo gera um


incômodo enorme.

E o budismo, nesse sentido, é bastante incomodo, porque ele tem esse


objetivo, justamente, de nos libertar de todos os sistemas de referência.

Então, ele chega nas nossas vidas e chacoalha, completamente, os nossos


alicerces. Ele nos liberta dos alicerces para nos levar “pra” uma região
espacial, de liberdade, que nos mostra, que os referenciais são, apenas,
possibilidades, mas não são fixos, (né?)

Então, é um pouco amedrontador.

A ciência não gosta, (né?).

A ciência não os cientistas (alguns cientistas).

Portanto, Sariputra, a vacuidade não tem forma


nem sensação, nem percepção, nem formação
mental, nem consciência

Então, mais uma vez é afirmado que, na vacuidade, não tem os cinco skandas
nela.

Chenrezig está descrevendo a vacuidade, mas


não pensem que ele está se referindo à
afirmação de que as coisas não existem.

153
Então, quando eu falo na vacuidade não tem isso, não tem aquilo e não tem
aquele outro, dá essa impressão dá (poderia dar) essa impressão, (né?), que a
coisa não existe de modo algum.

Muitas pessoas olham essa parte como a


negação de todas as coisas. Não é isso.

Dentro da vacuidade não existe aquilo que


estamos vendo, como estamos vendo. Tudo
aquilo que estamos olhando é construído pela
luminosidade, não é que aquilo não exista. Mas
originalmente dentro da vacuidade não havia
aquilo, nós construímos depois e é isso que ele
está dizendo.

Então não tem forma, nem sensação, nem


percepção... Tudo isso surge depois.

Como? A partir dos 12 Elos, vemos isso


direitinho.

Os Doze Elos descrevem o processo causal, (né?), da construção, da


construção das coisas.

Muito bem.

Então, acho que hoje, a gente vai ficar, no texto, por aqui, assim: que a gente
viu, a gente avançou na noção de forma é vazio; vazio é forma. Também olhou
as negações, (né?), aquela série de negações sobre as características (não
tem característica, nem impuros e nem puros; não decrescem e nem crescem;
e assim por diante, (né?), essas várias classificações.

A gente “tá” avançando no Sutra, olhando os vários grupos de afirmações.

Ai, depois, a gente vai entrar num outro grupo de afirmações, que eu prefiro
deixar “pra” semana que vem.

Mas, percebem? Que, à medida que a gente avança no estudo, o raciocínio vai
se tornando, assim, repetitivo; que é sempre a mesma coisa (as coisas nem
existem por si só e, também, não existem, apenas, no mundo imaginário do
observador.

As coisas, elas não “tão” nem lá nem cá, mas existem num espaço, enquanto
um fenômeno coemergente, que não tem nenhuma solidez, que não tem
nenhuma forma fixa.

154
Então nós vivemos num mundo de formas flutuantes, formas que depende, o
tempo todo, do olhar, (né?), para se configurarem.

Então isso dá uma grande liberdade: a gente olha “pras” pessoas, as pessoas
não são fixas; eu posso olhar para elas de muitas formas.

E, eu pratico o metabhavana e reconstruo o olhar sobre a pessoa, baseado na


vacuidade.

Então, metabhavana só é possível porque a vacuidade é a verdadeira natureza


da relação com aquela pessoa.

Aquela pessoa não existe de um modo absoluto e real, ela, apenas (existe um
olhar sobre aquela pessoa).

O que eu não estou dizendo é que a pessoa não cometa ações negativas e
não gere confusão, mas o olhar que eu tenho sobre a pessoa
(independentemente sobre o que ela faça) esse olhar é construído (ele não é
um olhar fixo).

Então, a gente vai aprendendo a soltar. Vai ganhando liberdade. Liberdade traz
alívio, diminui o sofrimento, traz paz interior {não é o que a gente tá buscando,
(né?), paz, tranqüilidade, bem estar; o olho de sabedoria, (né?), que me
permite viver melhor e ajudar os outros a viverem melhor, também}.

Então, esse é o raciocínio. O raciocínio de prajna vai soltando as amarras,


(né?), da fixação (EU SOU ISSO, EU TENHO ESSA CARACTERÍSTICA, EU
NÃO TENHO AQUILO); (O FULANO É ASSIM; É ASSADO): a gente da
muita... (raciocínio interrompido) {a gente congela, (né?), a nós mesmos e as
pessoas}.

Mas essa tentativa de congelar é totalmente infrutífera, porque, por mais que
eu tente congelar, aquilo flutua do mesmo jeito (eu tentando ou não tentando).

Então, nós não somos coerentes, nesse processo, também: a gente não
consegue ser “sérios”, como “gostaríamos”.

A gente não consegue.

Por quê? (Porque a gente não consegue ser “sérios”?) Porque é isso: eu mudo
o tempo todo. Como que eu vou conseguir sustentar um padrão a vida toda?

Né?

155
As pessoas, sempre, cometem deslizes; elas não sustentam padrões, porque
elas não são só aquilo; elas são muitas possibilidades.

Então, tem espaço, (né?)

Tudo bem?

Alguém tem alguma pergunta? (Né, o pessoal que “tá” acompanhando?)

Alguém quer trazer alguma questão?

Alô.

( A Bia “falô” que “ficô” mudo).

Voltou Bia?

(Acho que tá todo mundo me ouvindo, né?)

Acho que “tá” bem.

Muito bom, Augustos. (How!) Motivados!

Augusto trouxe uma mensagem: (Seguimos muito motivados).

É uma alegria, (né?), a gente encontrar esse tipo de ensinamento, assim. É


uma coisa muito rara, assim, muito maravilhosa, porque é uma coisa simples
que aponta para a liberação do sofrimento.

Que fazer coisas causais para se libertar do sofrimento ia dar um trabalho


infinito; agora não, prajna vem e diz: você não precisa {Dê um salto: saia, (saia)
dessa visão torta e, simplesmente, olhe de outro jeito}.

Então, é (pausa), assim, (pausa) uma coisa muito rara.

Quando a gente alia o Sutra do Coração, prajnaparamita (que é o que a gente


“tá” fazendo aqui) com outras visões, (né?), que é a visão da Grande Perfeição,
que é o olhar a partir do qual o Lama “tá” sempre olhando (essa explicação
através de vacuidade e luminosidade) isso fica muito maravilhoso; fica muito
fácil de olhar, assim.

Não é fácil? Eu acho que fica muito fácil.

156
Quinze anos estudando isso, começa a ficar fácil, (né?)

157
VÍDEO 9
RECAPITULAÇÃO

Primeira pergunta: Afinal de contas, o que (que) a gente “tá”


fazendo aqui?

Já pararam “pra” pensar? O porquê (que) a gente “tá” estudando


isso?

Qual é o objetivo de estudar isso?

Atingir a lucidez? O que seria atingir a lucidez?

A gente usa bastante essa palavra, mas no contexto budista, é


uma palavra técnica. Não é o mesmo contexto de estar lúcido {por
exemplo: alguém está morrendo e está lúcido: no domínio das
faculdades mentais, ainda (né?)}.

“Pra” nós, lucidez, é uma coisa muito mais ampla e profunda.

Quem arrisca? O que é a lucidez?

Ver as coisas como elas são.

Isso implica em ver de que forma, as coisas?

Sem dualidade, no seu ponto natural de manifestação.

Isso. Ver as coisas como elas são é ver que as coisas surgem de
modo causal, através da originação interdependente, mas, ao
mesmo tempo que surgem, não tem essência alguma (são
completamente vazias). Entender que todos esses surgimentos
são coemergentes: não são (não ocorrem) de modo separado do
observador.

Isso que é “tá” lúcido.

Estar lúcido, mas não perder essa visão em qualquer (em


qualquer) situação (mais ou menos desafiadora; mais ou menos
desagradável).

Então, isso seria se manter lúcido.

158
Não só nas situações desagradáveis, mas também nas sedutoras
(nas coisas que nos prendem porque são boas).

Ai é mais difícil, (né?)

Dá mais trabalho nos livrar daquilo que nos seduz do que daquilo
que nos gera aversão.

Mas, todos os fenômenos agradáveis e desagradáveis tem a


mesma base (ausência de essência).

A gente vai investigar isso, sistematicamente.

O que no início a gente vai fazer? (raciocínio interrompido)

Manter a mente lúcida significa nos libertar das fixações a


qualquer coisa como sólida, estável, real e permanente.

A gente vai se libertando dessa ilusão que o samsara (que a) (que


a) (o samsara) nos faz cultivar, (né?).

O samsara se sustenta a partir da delusão dos seres.

A visão deludida acredita que as coisas são permanentes, que as


coisas tem essência, que as coisas são reais (separadas de nós).

Essa é a visão dualista, a visão confusa, a visão da ignorância.

Ai, prajna é a sabedoria que nos ajuda a cruzar para a outra


margem, além desse engano cognitivo.

É por isso que a gente “tá” estudando isso aqui.

Porque isso aqui não é apenas um estudo filosófico, para


entender melhor as coisas, mas sim, na verdade, é uma
sabedoria extremamente pragmática de como se manifestar no
mundo, como se relacionar, como ter coisas, como ter funções
comuns no mundo sem se fixar a nada, sem se apegar a nada.

Isso só é possível através de prajna.

Quem não tem essa visão não consegue fazer isso.

Da mesma forma, teve uma pergunta, durante a semana, no


grupo, de e-mail, (né?), como é possível manifestar compaixão,
(né?), se tudo é vazio?
159
E a resposta é essa: só é possível manifestar compaixão genuína
se eu tiver a visão de que as coisas são vazias.

Se eu não tenho a visão de prajna (de vacuidade das coisas), não


é possível manifestar uma compaixão genuína. Vai ser sempre
uma compaixão construída, tendenciosa (compaixão do samsara).

Quando eu tenho prajna (ai, sim!) a compaixão pode brotar de


modo genuíno, sem ter expectativa alguma de resultado, por
exemplo.

E quando não há prajna, tem apego, fixação. Portanto, tem


expectativa de resultado.

Quando há prajna (há sabedoria) ai o bodisatva age


completamente livre em meio ao mundo sem “isso aqui” de
expectativa e de tentativa de controlar as aparências.

Porque, no samsara, a gente tenta o tempo todo fazer o quê?


(Controlar as aparências “pra” que elas, (né?), se manifestem ao
meu favor).

Não é isso?

A gente faz isso o tempo todo: malabarismos para estruturar o


nosso samsara “pra” obter a satisfação sensorial; “pra” obter
energia (estimulação de energia) a partir dos objetos
considerados externos.

E com a visão de prajna, a gente se liberta, completamente, disso


e, livres dessa dependência energética, a gente consegue ajudar
os seres sem expectativa: sem querer nada em troca.

Então, sem prajna não tem compaixão; sem prajna não tem ação
lúcida em meio ao mundo.

Por isso, a gente vai estudar prajna; vai praticar; vai se familiarizar
com essa visão, até o momento que isso comece a ficar natural.

Tudo bem?

É importante (sempre) lembrar onde estamos e para onde


estamos andando.

160
O estudo vai andando e, ai, a gente vai entrando nos detalhes,
(né?), nos pormenores dos textos e a gente perde essa visão
mais ampla {por que (que) eu “tô” estudando isso? E onde que eu
vou chegar com isso? E onde que eu vou aplicar isso?}

O budismo, ele sempre tem (ééé) é sempre essa idéia que esses
ensinamentos são como REMÉDIOS: os ensinamentos nuca são
só para satisfazerem a nossa curiosidade mental, intelectual ou
filosófica. Nunca: nunca perdeu tempo com isso; os ensinamentos
sempre tem uma função muito pragmática: libertar os seres dos
sofrimentos seja lá qual for a confusão em que se acham.

Não é?

Vamos “lembrá” disso, (né?).

Então, “pra” isso, a gente “tá” analisando o Sutra do Coração da


prajnaparamita, que é o texto fundamental, em que todas as
escolas, que cultivam essa visão do prajna vão se basear.

“Tão” mais acessíveis, mais curtas, mais diretas. Então, é por isso
que a gente usa esse texto como base.

Então, uma prática fundamental no CEBB, o Lama Samten já


comentou isso uma centena de vezes, nesses 20 anos como
Lama, que a prática dá estrutura, (né?) para todo o eixo do
programa do CEBB.

Então, a gente tem de se familiariza com esse texto do Sutra do


Coração.

É bem importante, (né?).

A gente “tá” lendo “linha a linha”.

Então a gente viu os cinco skandas, a gente viu as oito características (na
semana passada) e a gente chegou (chegou) (deixa eu ver aqui) (no item)
(ééé). Isso: “não tem olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente”.

Então, Avalokitesvara, (né?) o bodisatva da compaixão, que “tá” ensinando o


Shariputra o que é a visão da prajnaparamita. Então, ele “tá” apresentando
uma série de negações (todos os darmas são vacuidade; todos os fenômenos;
todas as construções são vacuidade). Então, ele “tá” pegando as várias
classificações tradicionais (que havia na época) e dizendo que elas são vazias
(pra gente não ter nenhum apego em relação a elas). Então, por exemplo,

161
existe essa classificação tradicional, que são os 18 dhatus (dezoito esferas).
Ele diz assim:

Não tem olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e


mente;

não tem aparência, som, cheiro, sabor, tato e


objetos da mente;

não tem os elementos de consciências


relacionadas aos olhos (e aos demais sentidos
físicos), e não tem mente ou elemento de
consciência da mente.

Então, esse sistema de “dezoito” são três grupos de seis.

Então, vamos pensar assim: “pra” que haja uma percepção visual, eu preciso
do quê? De um objeto visual, um órgão que permita ver (no caso o olho) e uma
consciência que interprete os estímulos recolhidos pelo olho e que gere a
percepção do objeto visual.

Então, sempre tem esses três elementos: o objeto, o órgão correspondente e a


consciência correspondente.

Então tem o visual, o auditivo (eu tenho a mesma coisa) (eu tenho os sons; tem
os ouvidos e tem a consciência auditiva); Eu tenho os cheiros (eu tenho a
consciência olfativa) e assim por diante.

São seis, (né?). Eu tenho o caso (da) dos objetos mentais (isso também
ocorre), os diversos tipos de pensamentos {eu tenho a mente (que lida com os
pensamentos) e tenho a própria consciência, que “tá” (ééé), que “tá” (ééé) (a
consciência de que “tá” consciente de que a mente “tá” operando).

(21:04 – 21:07 – Perguntado: a consciência e a mente? Há uma


separação?)

Essas palavras são super complicadas, (né?).

Essas palavras, que “pra” nós são só duas, (né?): mente e consciência,
nas línguas originais são várias palavrinhas especializadas “pra”
descrever isso, (né?). Então, existe (aqui) os tradutores (direto “pro”
inglês ou, às vezes, “pro” português muito divergentes (a respeito).

162
Mas, em geral, a palavra consciência, ela corresponde ao terceiro elo da
originação, ela sempre é uma mente dividia: uma mente dualista. Então,
consciência é sempre dualista.

Mente é mais amplo. Seria como se fosse, assim, um guarda chuva “pra”
todas as manifestações mentais (inclusive) a consciência.

Então, por exemplo, quando a gente olhou os cinco skandas, tinha


(forma, sensação, percepção, formação mental e consciência).

Então, eu disse assim {que forma é o skanda físico, (né?) (corresponde


á materialidade) e que eu tinha quatro skandas mentais (sensação,
percepção, formação mental e consciência) todos ocorrem “a” nível de
mente.

Então, eu tenho mente e corpo.

Então, a consciência é como se fosse uma das funções mentais (nesse


sistema, né?); mas essas palavras (vão ser usadas) nos textos (de
modo) intercambiado ou trocado: não há uma padronização “pra” isso.

É bom entender isso.

(22:27 – 22:34 – E o ego?)

É. O ego opera através das consciências, (né?). Então, por exemplo,


quando a gente vê os Doze Elos da Originação Interdependente, a gente
vê que a raiz primordial do ego é o primeiro elo (avydia) (a ignorância
básica), ou seja, a separação entre sujeito e objeto. Começa no primeiro
elo. Lá no primeiro elo. Ai esse embrião vai se manifestando, vai se
propagando, (né?) vai condicionando o próximo elo, que são os
samskaras (ou marcas mentais); vão surgindo várias experiências (e
percepções), que condicionam o terceiro elo (que são as consciências);
ai brotam as consciências (e aquilo vai avançando) (e o ego vai se
estruturando ao longo dos Dozes Elos da Originação Interdependente).
É importante estudar os Doze Elos. É complexo aquilo. Tem que estudar
com muito tempo, com muita paciência, assim.

Mas é o ensinamento, que o Buda deu, descrevendo como que as


identidades surgem e se estruturam.

Então, a consciência é um pedaço disso: um pedaço desse processo.

163
E a palavra mente, ela tanto pode descrever a mente dualista (a mente
do samsara) como, também, se usa mente (a mente primordial; a mente
do Buda).

A mente do Buda, ela é não dualista, ela “tá” antes do samsara, ela vai
além daquilo, (né?).

Então, essas palavras, são palavras técnicas, que não tem uma
padronização. (né?).

(23:59 – 24:10 – E em outras culturas tem outro significado?)

Sim. Exatamente.

Ai, (se você está dentro) mesmo budismo, você (dependendo da escola,
da tradição) as palavras são usadas de modo um pouco “diferentes”
(também).

Tem essas questões.

(Né?), que “pra” nós, a gente vai entender que consciência (vijnana), vi
(é um prefixo de separação) jnana (sabedoria), então (sabedoria
dividida).

Então consciência (vijnana) é a mente dualista.

A gente sempre opera de modo dualista.

Mas não que alguns autores não escolham traduzir, por exemplo, a
mente (a mente) búdica, a mente primordial como consciência
primordial.

Também se faz isso.

Ai, então, tem essa questão.

(Né?) São vários: não há uma padronização.

Então, cada sistema é um.

Então, (aqui), no caso, quando ele “tá” falando das seis consciências e
seis objetos correspondentes (é dualista): samsara. Né?

Aqui ele “tá” dizendo que cada um desses (desses) dessas tríades, (né?)
(OBJETO, ÓRGÃO E CONSCIÊNCIA correspondente); todos eles são
vazios.
164
Em algumas escolas diziam que (que) eles eram reais (quer dizer,
algumas escolas mesmo budistas, diziam {Ok. Não há um eu por trás
disso tudo, mas os elementos, que compõem as experiências, eles são
reais; não são identidades, próprias, (né?), com necessidade de um
“EU”, “de um átomo”, de uma pessoa, mas (as coisas em si) elas são
agregadas de partículas fundamentais, que são reais}

Então, havia essa questão, assim, (né?).

Então algumas escolas “svabhavata” (25:45) afirmavam isso (a realidade


de todos os darmas). Então, aquilo são abrolhos, assim, filosóficos,
(né?).

Então, por isso que vem a negação. Avaloktesvhara vai dizer (olha, isso
que vocês apontam como real, não é real, também: também é vazio.
Então, na vacuidade não tem os 18 dhatus: as dezoito esferas da
experiência.

Então, se eu tiro todos os objetos visuais, auditivos (e assim por diante),


inclusive mentais, o que (que) sobra?

Não sobra nada.

Tudo o que pode ser experimentado vai cair dentro dos 18 dhatus,
dentro de uma das categorias: são seis campos de experiências.

Interessante ver que essas consciências operam (ééé) em paralelo. Por


exemplo, eu posso simultaneamente {eu “to” vendo o objeto e
processando a consciência visual (e cheirando alguma coisa)}.

Eu não tenho de parar de ver “pra” cheirar, por exemplo: não é essa
idéia de uma consciência única, que teria de ficar trocando de objeto
“pra” perceber tudo. Então, por exemplo, é como se fosse um
processamento paralelo {tem vários micro processadores, (né?), cada
um deles cuidando (de uma) de um tipo de estímulo específico...
(raciocínio interrompido por uma pergunta)

(26:56 – 27:16)

Sim. Vários objetos despertam mais de uma consciência, por exemplo,


(pausa) (um objeto) se eu pego, por exemplo, um objeto na mão, (né?),
aquilo tem uma forma visual, tem uma sensação tátil, tem um cheiro,
(né?), tem um sabor {várias coisas naquele objeto, (né?)}; todas as
consciências podem operar sobre aquele objeto; tem a consciência
mental, interpretando, rotulando (sino de meditação); não é a

165
consciência visual, que dá o nome (sino de meditação); é a consciência
mental, que fica interpretando todos os outros... (raciocínio
interrompido). Os sentidos são como se fosse os sensores, (né?), que
vão captando estímulos e a consciência mental organiza isso tudo {dá
nomes, classifica, cria imagens, TOSSE (27:54) e assim por diante}.

Tudo bem?

Então essa é uma idéia básica, assim, sobre esse sistema.

Então, sempre terei um objeto, um órgão (raciocínio interrompido) se eu


perco um órgão (por exemplo) e fico cego (perdi os olhos) ai eu não
tenho mais como ter contato com objetos visuais. Por quê? Porque o
“hardware” correspondente “tá” danificado. Então, “pra” ter a percepção
visual, os três tem de operar juntos (objeto, órgão e consciência
correspondente).

Okay?

Então, esse é o sistema tradicional, assim.

Então aqui, ele “tá” afirmando a vacuidade desse sistema (“pra” gente
não se apegar a nenhuma das esferas: nem ao objeto, nem ao órgão,
nem à consciência correspondente)

(28:40 – 28:50 – E se a pessoa fica cega ela continua com a


consciência da visão?)

Ela tem memórias, (né?). Ela tem marcas mentais, que operam na
consciência mental; mas a consciência visual não “tá” mais operando,
(né?).

A consciência mental... (raciocínio interrompido). Por exemplo, vamos


pegar um exemplo, (né?): (quando eu sonho à noite). Quando eu sonho
à noite eu “to” de olhos fechados, (né?). Você tem imagens lá (não tem
imagens?). Não são os olhos que “tão operando, não tem luz (ali)
operando; mas tem... (raciocínio interrompido). Essas imagens são pura
consciência mental. Não é a consciência visual, comum, (né?), que se
relaciona através desse mecanismo padrão.

E a consciência mental, (ela é capaz) ela tem memórias, (né?) das


várias consciências (a gente pode, agora, imaginar cheiro de pão de
queijo quente, por exemplo). Você pode não “tá” sentindo, mas você
pode lembrar.

166
Cheirinho de café. A pessoa pode salivar na hora, mesmo sem ter café,
aqui, por exemplo.

(Né?)

A gente tem as memórias (as marcas mentais correspondentes) e a


consciência mental, ela pode acessar isso tudo.

Isso é um sistema.

(29:57 – 30:19 – A gente pode funcionar por associação?).

Não. Com certeza. Vamos dizer assim. Eu posso lembrar do cheiro do


café e a sua experiência sensorial, em si. (Lembrar da sua experiência
sensorial), mas a experiência sensória pode disparar uma marca mental
{lembro da casa da minha avó, quando eu tinha dez anos, aquele
cheirinho de café (e bolo) (ai lembro a minha avó) (já morreu) aquilo...}.

Então o café pode trazer uma tristeza ou uma alegria (ou qualquer
coisa).

É isso. As marcas mentais... (raciocínio interrompido); uma coisa


condiciona a outra, (né?): uma marca mental, que é recordada, pode
disparar uma série de outras marcas mentais.

(30:48 – 30:51 – Podem ser conscientes ou inconscientes, né?)

Podem ser inconscientes. Pode. Eu posso não “tá” consciente. Eu posso


(ééé) sentir alguma coisa estranha em relação àquilo e nem saber de
onde aquilo vem; ou muito boa, mas também, não sei de onde vem.

Uma sensação boa em relação àquilo, mas não consigo definir.

O que não quer dizer, necessariamente, (que eu vá) que eu consiga, a


partir de um estímulo, recuperar a memória completa (principalmente,
aquilo, que tem memórias de vidas anteriores, também).

Eu tenho dificuldade: tá muito profundo, assim, na consciência de base,


(né?); (aquilo “tá” tudo enterrado). (Camadas profundas), mas às vezes
acontece: tem pessoas que tem, (né?), recordações espontâneas de
várias coisas.

(31:29 – 31:34 – Entraria ai o subconsciente?)

167
Então, no budismo não há a idéia de subconsciente ou inconsciente
{com essas palavras, (né?)}; o que existe é assim: eu tenho um conjunto
de marcas mentais (eu chamo de samskaras), que é o segundo Elo, que
seria (assim) a acumulação infinita do quem vem acontecendo ao longo
de muitas vidas (como se fossem pequenas marcas deixadas numa
consciência de base).

Essas marcas, que vão sendo deixadas (ééé) eu não consigo acessar
todas, ao mesmo tempo. Elas “tão” disponíveis, mas a minha mente
condicionada (essa mente, aqui, do samsara, (ela) ela localiza, apenas,
(um pequeno) uma pequena (ééé) parcela dessa muitas marcas.

Por que (que) ela localiza apenas uma parcela?

Porque a mente samsárica, ela é muito estreita “pra” (ééé) sustentar a


vida e a sobrevivência desse corpo; nessa existência.

Então, a gente “tá” muito “focados”.

Ai, quem pratica meditação, assim, amplamente, vai avançar em


shamata (assim, até quase o final de shamata) vai começar a ter
recordações espontâneas.

Quando a mente é pacificada (atenção plena; mente tranquila; serena,


não mais agitada pelas necessidades do presente e do futuro); nessa
mente, ai começam a brotar coisas do passado; mais profundas.

Ai o Buda vai dizer que recordou as quinhentas vidas passadas.

É possível acessar memórias muito antigas.

Então, a gente faz isso, por exemplo, (ééé) em alguns momentos a


gente faz (como se tivesse um esforço de concentração) e lembra de
coisas do passado.

Não é?

A gente pode acessar memórias.

Em retiro a gente percebe um pouco isso, (né?)

Eu não conheço ninguém que "lembrou" de vidas passadas {até agora,


(né?)}, mas, assim, é muito interessantes as experiências {você “tá” lá,
meditando, ai, de repente, vem uma letra de uma música inteira; Marília
é uma música de 20 anos atrás (que você nem lembrava); vem em

168
detalhes, assim.} (Ual!) De onde brotou aquilo, repentinamente?
(Experiências foram criadas). (Essas memórias vão brotando).
Então existe essa idéia de alayavijnana (uma consciência substrato),
que seria, assim, essa consciência, que acessa, que armazena as várias
marcas. É um sistema, (né?), de como explicar isso: como explicar a
memória.

(33:58 – 34-06)

O método budista, não é um método, que não vai se preocupar (muito)


em ficar se recordando das marcas passadas. A gente “tá” buscando a
lucidez (aqui e agora “pra” não importa a marca que brotar, eu atravesso
a marca com a vacuidade); porque as marcas são todas vazias.

As marcas elas (são) elas “tão” na mente; a mente é vazia. Então, não
há solidez nenhuma no carma (nas estruturas cármicas do passado): o
passado não é sólido; o passado se modifica o tempo todo.

Quando eu tenho prajna, o passado não me arrasta mais: não me


prende.

Isso é super-libertador!

Que isso? Se a gente fosse “prum” método causal de ficar puxando as


marcas, (aquilo seria infinito). Com certeza. Ai, uma brincadeira que o
Lama sempre faz é a de dar calote no carma, (né?); de pular por cima do
carma.

Porque o carma é infinito. Se a gente tiver de resolver ou purificar todo


carma (...): não dá; não dá tempo, (né?). Então,... (raciocínio
interrompido por uma pergunta)

(35:12 – 35:25)

Combater é como se eu “tivesse” lutando contra algo; mas é atravessar:


é ver a transparência disso.

Prajna ajuda a ver a transparência daquilo, que parecia real.

Porque prajna me leva “pra” uma posição de mente, que eu não tenho
que lutar com mais nada.

Eu “tava” lutando com um fantasma (na verdade): não existe aquilo.

169
Mas há uma ilusão de que o carma é sólido {que as marcas são reais
(são minhas)}.

Tem o ego... (raciocínio interrompido). O mecanismo de surgimento do


ego gera uma apropriação das marcas mentais, como se houvesse um
personagem, que é dono daquilo.

Mas aquilo não é de ninguém.

Não tem alguém por trás daquilo.

Prajna permite enxergar através {e se libertar das marcas (de uma única
vez)}.

Se eu conseguisse sustentar a mente de prajna (o tempo todo), eu


“taria” livre do carma; mas como leva um bom tempo “pra” eu (eu) (ééé)
(assim) estabilizar a visão de prajna. Então, eu “vô” num caminho, que a
gente é introduzido a isso (começa a praticar; começa a fazer isso).

Ai tem de andar, em meio ao mundo com essa visão (porque o Buda fez
isso): ao longo das muitas vidas dele, ele foi estabilizando essa visão
(até que ele chegou naquela última vida, em que alcançou a realização
final, e alcançou a perfeição disso). Então, não era “pra” ele (mais) uma
prática; era um olho natural diante de qualquer aparência. O olho de
prajna.

Então, esse é o caminho. O caminho de libertação. Libertação do carma.


Libertação daquilo que eu acho que eu sou.

A gente acha que é alguma coisa e se apega a isso.

Defende isso com unhas e dentes.

Então, o Darmas vai nos libertando da prisão de ser alguma coisa.

Quando eu me liberto da necessidade de ter de ser alguma coisa, ai, a


minha mente livre, pode ser qualquer coisa (porque não “tá” mais
apegada a nada). Ai, “flui”, (né?), vários papéis e identidades (sem se
apegar a nenhum deles).

É extremamente liberador.

A gente vai localizar a base... (raciocínio interrompido)

170
Que isso? “Me libertar” das identidades não é um processo de
aniquilação das identidades. É um processo de libertação (pausa)
(pausa) da fixação (pausa) (pausa) às identidades.

É como se você estivesse num baile de máscaras e “tivesse” apegado à


máscara (pausa) (pausa): eu sou a máscara!

E aqui, a gente vai reconhecer (pausa) que a gente não é a máscara.

A gente pode por uma máscara.

A gente pode trocar de máscara.

Então, essa mente livre pode circular por vários papéis. Vários...
(raciocínio modificado) inteligências, (né?).

Por isso que o Buda vai dizer “(eu nem sou humano)”.

O próprio estado de ser humano é um estado particular da consciência


última.

É uma possibilidade.

A mente livre pode assumir incontáveis formas de manifestação


(inclusive ser um corpo humano).

Então, é melhor... (raciocínio reajustado) a gente ir migrando (da) da


idéia de seres reais “pra” idéia de uma mente livre, que manifesta muitas
inteligências. Essas inteligências podem ser de vários tipos: mais
destrutivas, menos destrutivas; mais sabedoria, menos sabedoria.

Só de ouvir isso, já tira toneladas das costas, (né?).

Imaginar: sim! Eu posso ter essa liberdade, (né?).

Eu não “to” fadado a ter de ficar preso nos meus carmas, nas minhas
dificuldades “pra” sempre, (né?).

Então é isso.

Não tem aparência, som, cheiro...

Ou seja, não tem aparência (dos olhos), nem os


objetos dos ouvidos (som), nem os objetos do
olfato (cheiro), nem os objeto do paladar (sabor),

171
nem o objeto do tato, nem os objetos da mente
(os objetos abstratos).

Não tem os elementos de consciência...

Na vacuidade original não tem também os


elementos de consciência relacionados a olhos,
nariz, ouvido, língua, tato e mente. Tudo isso
surge depois.

Tudo isso surge depois. Surge por construção. É o terceiro elo. (Lá na frente).

E não tem mente ou elemento de consciência da


mente

Essa mente seria NAN-PARR-SHÊ-PÊH, que é


vijnana em sânscrito. É consciência, consciência
limitada, consciência do mundo. Está se
referindo ao aspecto condicionado que surge do
1º dos 12 Elos.

Então, a gente conversou: tem o primeiro dos doze elos: é o surgimento da


ignorância, que vai condicionar até a chegada de vijnana, que é a consciência.

Então, quando surge a confusão, naturalmente decorrem as consciências.

Então, essa é uma classe complexa, (né?) de objetos. Então são os dezoito
dhatus (são os dezoito elementos), a gente vai encontrar isso na literatura
budista, também.

Agora, não só isso, ele vai avançar e dizer:

Não tem ignorância, nem extinção da ignorância,


nem (os elos subseqüentes) até velhice e morte e
a extinção da velhice e morte.

Então, são os Doze Elos, que a gente “tava” falando, brevemente, agora.

Então tem os Doze Elos: o surgimento da ignorância, que condiciona as


marcas mentais, que condicionam a consciência, que condiciona nome e
forma, que condiciona os sentidos, que condiciona o contato, que condiciona
as sensações, que condiciona o desejo, que condiciona o apego, que
condiciona o nascimento, que condiciona a sustentação da identidade e que
conduz à decrepitude e morte.

172
Então os Doze Elos vão sistematicamente se propagando vida após vida.

Uma coisa, naturalmente condicionada à próxima.

Esse é o mecanismo dos doze elos.

Só que... (raciocínio modificado)

Então, esse é o ensinamento fundamental do Buda. Se diz que o Buda, após a


iluminação, ficou sete semanas, (né?) (ééé) sentando “pra” meditar em
diversos lugares, avaliando como ele poderia acessar os seres humanos.

Como ajudar os seres humanos a partir do Darma, que ele havia realizado?

Não era uma coisa muito simples.

Então, o Buda, ele foi assim (ééé) gerando remédios (classes de


ensinamentos) que ele foi engendrando, assim, (né?).

Então, o sistema dos Doze Elos foi um dos primeiros ensinamentos que ele
deu.

Então ele viu (raciocínio modificado) (como é que os seres se prendem no


samsara?).

Ai ele vislumbrou, claramente, os Doze Elos, cada uma das etapas.

Cada etapa dos doze elos é uma visão errônea sobre a realidade. Então, essas
visões errôneas vão se complicando cada vez mais. É como se fosse um
empilhamento de visões errôneas, que a gente vai se afundando, se
afundando, se estreitando, se estreitando, se estreitando; até chegar num
ponto que não vê nada além do que aquelas visões errôneas.

E ai o Buda viu {então, os seres precisam entender esse mecanismo e eles tem
que se deslocar no sentido oposto (ou seja, eles tem de desconstruir as
aparências; eles deveriam desconstruir as construções a partir do sistema
inverso dos Doze Elos)}.

Então, esse é um ensinamento, que o Buda deu.

Mas aqui, no Sutra do Coração, ai vem o Avalokitesvara e diz assim (não


existem os Doze Elos: os Doze Elos são uma miragem). Então, ele “tá”
negando, também, o ensino fundamental do Buda; ou seja, o sistema dos Doze
Elos é uma boa forma de descrever a verdade relativa; ou seja, como que as
aparências surgem.

173
Na verdade relativa (na verdade das aparências, do mundo comum) eu tenho o
que se chama de originação interdependente: cada coisa surge a partir (de
outro) de outras causas e condições, que se reúnem “pra” (ééé) permitir o
surgimento dos fenômenos.

(Esse) Essa idéia é fundamental também (pilar do budismo também) originação


interdependente.

Precisamos olhar “pra” isso com cuidado.

Então tem (âââ) tem retiros do Lama Samten (na internet) (“pra” quem quiser)
em que o Lama comenta o Sutra da Haste de arroz, que é o Sutra no qual o
Buda explicou (ééé) (no caso nem foi diretamente o Buda, mas Maitreya “tá” lá
ensinando, detalhadamente, como se dá (a causalidade) a originação
interdependente.

Vale a pena (também) estudar, em algum momento, assim.

(43:39 – 43:22)

Então, no aspecto relativo (as coisas se manifestam) a partir da somatória de


muitos fatores (não é?).

Qualquer coisa “pra” surgir (um copo) “pra” ser criado (eu tenho que reunir uma
série de elementos que vão gerando a forma de copo).

Um ser humano “pra” existir, (né?), começa lá com um óvulo, um


espermatozóide, aquilo se une (Tum Tum Tum Tum Tum Tum) vai crescendo,
(né?): muitas causas e condições, que vão se reunindo “pra” permitir o
surgimento.

Tudo surge dessa forma; por agregação de fatores.

(Se faltam) se falta uma causa primária “pra” algo surgir, aquilo não surge Por
exemplo, sem óvulo ou espermatozóide não tem ser humano {pelo menos até
onde eu sei das pesquisas atuaís. De repente eles inventam uma forma, (né?)}

(45:06 – 46:10)

Mas vamos pensar assim: em tese, quando falta uma condição fundamental
“pra” (se não tem DNA; ai não tem ser humano). Pronto, sem célula de DNA,
por enquanto, ainda não descobriram um jeito, (né?).

Então se eu não tenho as causas, aquilo não surge; mas, mesmo que eu tenha
as causas, se eu não tiver as condições secundárias e adequadas, aquilo

174
também não surge: se eu não reunir tudo aquilo, que é necessário, aquilo não
vai “pra” frente.

Então a originação interdependente é o aspecto relativo.

No aspecto absoluto, eu analiso as coisas e todas elas são vazias.

Então, (aqui) o que está sendo dito, não é que os doze elos não operam na
verdade relativa: é claro que eles operam; mas quando eu olho “pros” Doze
Elos com cuidado (olho “pra” essência dos Doze Elos) eu não encontro nada:
eles não são, na verdade, absolutos (os Doze Elos). (É uma verdade relativa).

Então, (aqui) a gente “tá” olhando através deles.

Cada um deles é vazio.

Essa é uma das meditações (por exemplo) que vai se fazer mais adiante: cada
elo é contemplado numa experiência e vai se buscar enxergar a vacuidade da
experiência daquele elo.

A gente entende os 12 elos primeiro e, ai, eu vou pegar a situação específica


(em que vejo o surgimento da identidade a partir dos Doze Elos) e, ai, eu vou
trabalhar (meditativamente), contemplando a vacuidade de cada etapa: cada
elo é vazio.

Eu vou desconstruindo as visões errôneas, que me prendem ao mecanismo


causal dos elos.

Tá?

Então, na vacuidade

Não tem ignorância (tib. MA-RIG-PA,

Avídia, (né?)

obscurecimento da lucidez; rigpa, lucidez).

RIGPA é lucidez. Então, a palavra RIGPA é a mente livre: a mente primordial


lúcida; MA RIGPA é a mente ignorante. É a mente dualista, a mente que é do
samsara.

Ou seja, na origem de tudo, na vacuidade, não há


a ignorância, nem a extinção da ignorância (MA-
RIG-PA-SE-PA-ME-PA-NE), nem a extinção disso.
Não há essa categoria. Nem a ignorância, nem a
175
extinção da ignorância (relacionado ao 1º dos 12
Elos) e continua até velhice e morte, e a extinção
da velhice e morte (12ºElo).

Aqui ele negou, completamente, os 12 elos, mostrando que cada um deles


(eles) (eles) surgem de modo causal, porém, ilusórios: não há solidez nenhuma
em qualquer um dos 12 elos.

“Pra” conseguir apreciar isso, adequadamente, a gente teria que ter, (né?),
olhado bem os Doze Elos “pra” ver qual que é o grande valor de dizer isso,
(né?).

Ai eu teria de entender bem o sistema dos Doze Elos {como esse ensinamento
fundamental que o Buda trouxe, (né?), sobre os seres}: todos os seres brotam
através do processo dos Doze Elos.

Então, é bem importante entender isso.

Aqui a gente tem, na segunda feira, o estudo sobre o texto da Roda da Vida, do
Lama Samten e nesse estudo, a gente vai passar, detalhadamente os Doze
Elos da Originação Interdependente.

Então, “pra” quem quiser participar, em algum momento: segunda à noite.

(49:23 – 49:42)

É isso.

Apesar dos tempos serem completamente diferentes (2600 anos depois),


mudam, assim {as mentes dos seres mudam: surgem novos conhecimentos,
novas tecnologias, novas construções, novos tipos de identidades (porque a
mente vai criando novas coisas)}, porém o mecanismo não mudou (nunca
mudou): o mecanismo é sempre o mesmo; o mecanismo não depende da
época; não depende de gênero; não depende da raça; não depende nem de
classe de ser.

(50:14 – 50:22)

É. Mas, se você olha (assim), por exemplo, a gente falar um mundo mais
complexo, (né?), mas se a gente olha (um pouco) “pra” história (assim) da
humanidade, é aquela mistura, (né?) (de) de qualidades positivas (amor,
compaixão, alegria e equanimidade), mas uma grande confusão, que norteia o
comportamento a partir de {orgulho, ciúmes, inveja, desejo, apego, preguiça,
raiva, carência e assim, por diante, (né?)}. Então, os grandes acontecimentos
(geralmente) tem algo motivador por trás chamado ação perturbadora.

176
As guerras, por exemplo, (as grandes guerras, que modificam a geopolítica,
que modificam (que geram tecnologia), por exemplo, (todas elas tem uma
motivação autocentrada): uma motivação baseada nos seis reinos.

Então, (ééé) a humanidade repete mais do mesmo (o tempo todo); muda um


pouquinho o sistema (assim por diante), mas qual é a diferença (não é?) (por
exemplo) de nós para os egípcios de cinco mil anos atrás? (em termos de
funcionamento de ser humano).

Havia outros costumes, outras regras de moralidade, mas eram pessoas


querendo sobreviver, fazendo o que podiam para sobreviver, querendo se dar
bem.

Não era a mesma coisa? (todo mundo querendo se dar bem?)

Todo mundo querendo migrar para as classes superiores para ter melhores
condições, procurando fugir de condições de escravidão ou de pobreza
(sempre foi a mesma coisa): mudou pouco o cenário.

O funcionamento básico do ser humano (ele) sempre “tá” calcado nos três
animais, nos três venenos básicos: javali, galo e cobra; ou seja, por ignorância,
desejo e raiva. Então, a gente, por ignorância, brota uma identidade; o galo é a
sustentação da identidade, a promoção da identidade e a cobra é a defesa da
identidade.

Esse é o mecanismo que todo mundo opera: se apega a uma identidade,


promove, defende a identidade e, se ela for atacada, se defende.

O tempo todo: nós fazemos isso o tempo todo.

Isso sempre foi assim, não importa a sociedade.

Isso é atemporal (esse mecanismo de funcionamento).

Por isso que o budismo segue funcionando.

A gente tem linguagem “pra” dialogar com qualquer tipo de civilização.

Todos os fenômenos “modernos” vão cair nessas classificações todas.

É. Só tem essa barreira cultural, que é um pouco, assim (essas palavras, esses
sistemas classificatórios, (eles) são meio estranhos, no início, mas a gente tem
que ultrapassar essas barreiras.

177
É. O Lama Samten faz um esforço (assim) supremo “pra” tentar deixar o
budismo mais palatável, mais moderno (assim), (né?), “pras” pessoas
entenderem.

Um grande esforço.

Muitos mestres vem fazendo isso (Dalai Lama, Trungpa Rinponche, Chagdud
Rinponche), esses mestres tentam gerar linguagem (linguagem moderna) que
permita as pessoas entenderem.

É por isso (também) que vem a importância do diálogo com a ciência (que o
Lama promove o tempo todo).

Como a ciência é considerada a verdade, (né?), no mundo ocidental, hoje em


dia, então, o diálogo com a ciência é superimportante.

Então, nós “tamos” nesse ponto: os Doze Elos a gente precisa olhar.

(53:48 – 57:05)

Então, os Doze Elos, tem de ser vistos, (né?), na sua essência vazia.

Mas ai, não para nisso: ele avança.

Do mesmo modo, não há sofrimento, ou origem


do sofrimento, ou extinção do sofrimento, nem
caminho;

Então, aqui, são as Quatro Nobres Verdades. (Não é?) Sofrimento; origem do
sofrimento; cessação do sofrimento e o caminho para a cessação do
sofrimento.

Então, o que (que) é mais fundamental no budismo do que as Quatro Nobres


Verdades?

Primeira coisa que o Buda ensinou, quando ele (ele) encontra os cinco ascetas
no Parque dos Cervos (Qual o primeiro ensinamento que ele dá?) (As Quatro
Nobres Verdades) {Ele explica isso “pra” eles, (né?)}

Quem quiser (ééé) ler isso e ver isso no forma dos Sutras Históricos tem esse
texto do Buda Darma, que é o caminho “pra” iluminação (que é o compêndio
dos Sutras), muito rico, (né?) “pra” “pra” (como se fosse assim a biografia do
Buda).

178
Então, lá, tem toda a história do Buda, desde o início (como ele foi introduzindo
os vários tipos de ensinamentos).

Vale a pena em algum momento.

É longo, assim. É coisa “pra” ler com um bom tempo, (né?).

Mas “tá” lá escrito, quando ele encontra, (qual o diálogo que surge entre ele e
os primeiros alunos?)

Então, as Quatro Nobres Verdades.

Então, ou seja, todos os seres sencientes se encontram numa condição de


sofrimento.

É preciso analisar isso.

No estudo da Roda da Vida, vocês vão retomar o novo ciclo {é a primeira coisa,
que se analisa, (né?): um jardim chamado dukka; (né?), é a Primeira Nobre
Verdade (“pra” analisar o sofrimento)}.

Então, “tá” ali, (né?), sem entender a verdade do sofrimento {não é algo assim:
“Ah!” “tá!”, entendi: não é uma coisa “pra” passar rápido; é algo “pra” analisar
profundamente (o que “que” é a visão do sofrimento).

Muitas pessoas duvidam disso por um longo tempo (- Não é assim) {- Mais ou
menos, (né?)} (- Às vezes eu sofro, mas eu não “tô” sofrendo o tempo todo,
não) (- O mundo é meio pessimista, (né?) assim: Buda? Isso acaba em
sofrimento?) {- Nossa! Pesado, (né?)} {- É, até, uma visão meio negativa da
vida, (né?)}.

Assim, o budismo pode parecer esquisito, mas eu tenho de entender o que


(que) ele quer dizer com sofrimento.

A tradução de sofrimento, também, não é a melhor tradução. Dukka não é


(bem) sofrimento: também é sofrimento, mas é uma coisa mais ampla. É um
estado em que a coisa (ééé) não tem garantia nenhuma. É um misto, assim, de
sofrimento e alegria {sempre vem dualista, assim {comprou um carro, já viu (já
viu) que tem um risquinho no painel} (é aquela mistura de coisas confusas,
assim, de todas as experiências).

(Tem uma ignorância inerente ao processo), que nunca me permite ter uma
felicidade completa (em situação alguma): eu sempre tenho algum nível de
incômodo (mal eu consigo alguma coisa, eu já “to” com medo de perder), (né?).
Sempre é maculado: vai ser o estado de dukka.

179
O Buda afirmou a verdade do sofrimento e compreendeu o sofrimento dos
seres com profundidade.

É um ponto essencial “pra” nos dar o combustível “pra” seguir no caminho,


porque, enquanto eu acreditar que o samsara é uma experiência legal (bacana,
que vale à pena ficar aqui) ({afinal de contas, (né?), tem umas coisas legais,
não tem? (tem um filme novo, que vai estrear; tem a cervejinha, de sexta-feira,
à noite; tem o rodízio de pizza; tem aquele livro novo “pra” comprar (pegar,
assim, cheirar o papel: livro novo!), (né?).

Então, tem algumas coisas (assim), que a gente tem apegos variados
(experiências samsáricas) e a gente acha que vale a pena seguir nesse modelo
dualista, (né?). Então, é o que o Lama brinca, assim (ele chama de reflexos
coloridos no lago do samsara): tem o lago do samsara, (ai) um reflexo mais
colorido, ai a gente (Tibum!): vai, de novo, atrás do reflexo, (né?); (pausa)
(pausa) é o canto da sereia.

O samsara é basicamente isso: é o canto da sereia; a gente cai.

Então, eu tenho de analisar profundamente, “pra” perceber isso operando o


tempo todo {o que não é uma visão negativa da vida, mas sim, uma visão clara,
(né?), de como as coisas operam}.

Então, é isso.

Então, não há o sofrimento e não há a origem do sofrimento.

Então, as causas, que geram o sofrimento, não são reais: (pausa) (pausa) elas
são, também, completamente vazias (o que permite a liberação).

Então, a Terceira Nobre Verdade, que é a cessação (então a cessação,


também, é ilusória). {Isso é interessante, (né?)}

Então, a iluminação, também, é ilusória?

Porque a iluminação... (raciocínio interrompido)

Disseram: ai, (ai) bagunçou!

É.

O que acontece é assim: se eu dissesse que a cessação (a iluminação é real)


então significaria que eu “to” saindo de um estado real “pra” ir “prum” outro
estado real: o samsara seria real e o nirvana, também, seria real.

180
Mas, nenhum deles é real.

Então, a sensação é ilusória, porque eu (nunca na verdade) estive, realmente,


preso no samsara: aquilo não era real.

Portanto, a liberação disso, também, não é real.

Então, a cessação, também, é vazia.

E o caminho (ai vem o Nobre Caminho Óctuplo); {O Buda ensinou, (né?)


(Astingika-Marga: o Nobre Caminho Óctuplo); aquilo também (cada etapa:
motivação correta; evitar as ações negativas de mente de fala e de corpo;
modo de vida correto; concentração correta; atenção correta; sabedoria
primordial correta) todos eles (os Oito passos do Nobre Caminho) são todos
eles vazios; não tem nenhuma realidade (em nenhuma etapa).

É um caminho de sonho “pra” liberar seres de sonhos de um sofrimento de


sonho.

É assim que o Buda descreveu, (né?).

Então, prajnaparamita vem e corta isso tudo, (né?), “pra” gente não se apegar
às etapas do caminho.

Nunca gerar apego ao método: não gerar apego ao remédio.

A pessoa começa a tomar remédio “pra” gripe, ai passa a gripe e ela segue
tomando: gerou apego ao remédio.

É tão gostosinho, ”Melhoral Infantil” (- Lembram?); a gente punha na boca e era


tão docinho.

Por isso as pessoas são viciadas em remédios (variados) (porque dão algum
tipo de “barato”).

Não é?

Então.

Pois é.

Então, é isso, as Quatro Nobres Verdades são vazias, também.

Isso é uma afirmação bastante (assim) corajosa por parte do Avalokitesvara.

Não é?

181
Então, porque (pausa) (pausa) porque como eu vou dizer que um ensinamento
fundamental do Buda é vazio (não tem solidez, nenhuma)?

Então, é um pouco isso (assim).

É. Prajnaparamita é radical, tanto que se diz que {quando os ensinamentos de


prajnaparamita foram expostos, os Arhats (ou seja, aqueles, que ainda
estavam fixados ao Primeiro Giro da Roda do Darma) muitos deles cuspiram
sangue e caíram mortos (na hora)}

(Ual!!)

(Não se sabe se foi assim que ocorreu, mas é assim que se descreve no
Mahayana): o Mahayana vai descrever (assim) dessa forma dramática, (né?);
porque é um ensinamento superradical: te tira qualquer tapete (não sobra
tapete nenhum “pra” você ficar em cima).

Nenhum.

Então, é um pouco desagradável, assim, (né?); “te” libertar de todas as


estruturas (não te deixar nenhum referencial seguro). Não há referenciais fixou
ou seguros (nem a velocidade da luz).

(1:05:14 – 1:07:06)

Então, as Quatro Nobres Verdades são vazias, também.

Não só isso. Não tem

nem sabedoria, nem realização e nem não-


realização.

Ual! Então, sabedoria, a busca da sabedoria (a própria prajnaparamita,


também, não é real).

A realização da sabedoria, também, não é real?

Também não tem um estado real de não-realização (o estado, de ignorância,


do samsara, também não é real).

Né?

Ele “tá” negando toda e qualquer possibilidade de fenômeno (de construção);


mesmo as mais sutis (pausa) (pausa) são vazias.

182
A própria vacuidade é vazia: eu não posso me fixar ao conceito de vacuidade
como algo existente.

Então, a vacuidade é um ensinamento que vem para me libertar das


construções, certo? (da fixação e de apego a qualquer construção); mas a
tendência da mente humana é recair na reificação de alguma coisa (de novo).

Então, a gente tende a reificar a vacuidade.

Então, tudo é vazio, até a vacuidade.

É muito sutil.

Então, é muito fácil recair na dualidade do samsara, mesmo em coisas hiper


abstratas.

Então, ai, o budismo (ele) vai cortando todas as possibilidades, que poderiam
(raciocínio interrompido) tem várias repescagens, ai, nesse processo (em que
eu poderia recair) em erro. E, ai prajna vai cortar todas as (silêncio): não sobra
nada; (pausa) (pausa) nada.

É radical, (né?)

Isso vai tirando todas as nossas estruturas.

A gente fica aonde? Fica no espaço aberto, vazio e em queda livre: não tem
onde se agarrar.

É assim que o Buda opera.

Mas a gente já está nesse espaço em queda livre, mas acredita que há algum
nível de estabilidade (nessa queda livre): totalmente ilusória.

O samsara mostra o tempo todo que não há essa estabilidade e a gente teima
em tentar construir essa estabilidade.

Teima.

Ai, prajna vai me trazendo a naturalidade da queda e a liberdade da queda: não


há mais nenhum tipo de tentativa de estabilizar coisa alguma.

Isso é liberdade.

É. A boa notícia é essa, que prajna traz: (é que), apesar de estarmos em queda
livre, não tem fundo; (não tem fundo), (né?): não tem onde bater.

183
Então, “tá” voando. Voando, sem lugar nenhum “pra” se agarrar.

Então, na vacuidade

Do mesmo modo, não há sofrimento...

Do mesmo modo, na vacuidade originalmente


não há sofrimento, na vacuidade originalmente
não há origem do sofrimento, na vacuidade
originalmente não há extinção do sofrimento.
Sofrimento, origem do sofrimento e extinção do
sofrimento se refere a usarmos a liberdade para
construir o jogo, brincarmos e sofrermos ali
dentro. É simples!

Não há nenhum sofrimento sem uma construção


de paisagem, sem um campo demarcado, sem
uma identidade construída, sem uma co-
emergência que aciona isso tudo.

Quando estiverem sofrendo, pensem: Qual é o


limite do campo? Qual é a identidade
construída? Onde estão as traves do gol? Então
vemos que não há sofrimento, nem extinção do
sofrimento.

Sempre que tem sofrimento, tem alguma identidade estruturada: não há como
ter sofrimento se não tiver alguém achando que “tá” sofrendo.

Nem caminho; nem sabedoria, nem realização e


nem não-realização

Claro que não há caminho, porque originalmente


não tem caminho porque não tinha ninguém
perdido. O caminho seria o caminho de volta,
porque primeiro tem alguém perdido, para então
aparecer o caminho. Então não há o caminho.

Poderíamos pensar então – Ah! Restou a


sabedoria. Mas não há a sabedoria. A sabedoria
tem esse nome porque vem como caminho,
como extinção dessas coisas todas. Seria a
sabedoria do caminho, e não a Sabedoria Última
(tib. Yeshe). Seria a sabedoria de desatar o nó do
lenço, mas depois que o lenço foi desatado, para

184
que serve a sabedoria de desatar o nó do lenço?
Esse é um ponto muito importante para que não
fiquemos agora preservando o nó para poder
preservar a sabedoria que afinal é o que somos.
Não ficar guardando o nó. Não desmanche! Se
desmanchar o nó, desmancha a sabedoria e nós
desaparecemos no ar! Ou seja, construirmos
uma identidade a partir disso.

Isso é um perigo! Se fixar aos conceitos do budismo, se agarrar, (né?) às


várias sabedorias e aos ensinamentos e gerar novas identidades a partir dos
ensinamentos.

O perigo, não (acontece o tempo todo), na verdade: a gente vai, aos poucos,
se libertando dessa prisãozinha, também;

(1:11:50 – 1:11:57)

Isso. Entrar na bolha do samsara do Dharma, (né?).

O samsara do Darma, porque surge um mundo aqui dentro (e surgem


figuras e roupas e cânticos e livros e almofadas): uma tecnologia
espiritual avançada; uma coisa complexa, assim.

A gente pode se perder nisso (se divertindo no meio disso).

E a pessoa pode praticar uma vida inteira, achando (que “tá” avançando)
e “tá” só no aspecto externo da coisa: não mergulhou, realmente, na
essência do Dharma; ficou no samsara do Dharma.

Às vezes a pessoa “tá” fazendo coisas boas (ela “tá” trabalhando no


Dharma, “tá” ajudando um monte de gente), mas “tá” operando a partir
de uma identidade. Então, aquilo, ainda, “tá” no samsara (mesmo que
gere méritos).

Não é o propósito do Buda: o Buda não quer que ninguém acumule


muito mérito: não é esse, o ponto

O ponto é liberar os seres.

O Mérito surge como um apoio no caminho. Ele é útil. É necessário, mas


o objetivo do caminho não é acumular os méritos.

Quando o Buda fala em mérito, é o carma das ações positivas. (Cada


ação positiva gera o que o que a gente chama de méritos).

185
(1:13:17 – 1:13:25)

Nessa e nas vidas futuras. Isso mesmo.

Mas, as vantagens de ter méritos “pras” vidas futuras é que tenho bons
renascimentos, em que eu possa encontrar o Dharma.

Se eu fizer muita besteira (não tiver méritos) eu nasço em situações


muito difíceis. Ai, eu não encontro o Darma. Ai, eu sou massacrado no
samsara.

Méritos são necessários, mas não é o ponto último; não é o ponto final.

(1:13:45 – 1:14:30)

É um pouco a resposta, que eu dei aqui, durante a semana, (né?).

É aquela questão, que o bodisatva é sempre aquela mistura de meios


hábeis e sabedoria da vacuidade. É. Os meios hábeis (ééé) são as
várias qualidades, que eu vou desenvolvendo (amor, compaixão, alegria,
equanimidade, generosidade, moralidade, paciência, energia constante,
concentração e a própria sabedoria). Então, é com a mistura de todos
esses fatores que eu vou aprendendo a lidar com os seres.

Ai, surgem as cinco sabedorias (os cinco Diany Budas), como “tá”
naquele quadro “lá” em cima.

Cada um dos Diany Budas nos ensina uma sabedoria (essencial) “pra”
poder ajudar os seres.

Então, o bodisatva opera a partir daquilo.

Mas não há (éé) receita de bolo: cada pessoa é uma situação e a gente
vai ter de entrar na vida daquela pessoa a partir das cinco sabedorias e
ai, naturalmente, a ajuda vai se manifestando.

Claro, lembrando de que (como eu expliquei naquela resposta) mesmo o


Buda não conseguiu ajudar todo mundo; mesmo o Guru Rinpoche não
conseguiu ajudar todo mundo; os Lamas não conseguem ajudar todo
mundo. Então, o nosso raio de atuação é muito pequeno, (né?). Por
quê? Porque para ajudar alguém é preciso ter alguém querendo ser
ajudado.

Isso nunca é unilateral: é coemergente.

186
Aquilo não tem como separar, (né?) aquele que está sendo ajudado
daquele que ajuda.

Então, (ééé) tem de ter um espaço no fluxo mental daquela pessoa ”pra”
que a ajuda possa penetrar. E isso, às vezes, pode demorar eras “pra”
que alguém possa ter algum espaço para que a ajuda possa (silêncio).

Isso, realmente, é como o Lama diz: é comovente; é dramático; porque


você vê aquele oceano de devastação (de sofrimento) e não tem muito o
que se fazer (por um longo tempo). E o melhor que você faz é o quê?
Avançar no teu caminho: gerar mais habilidades {quanto mais você está
(estável, motivado, claro, lúcido)}, mais você vai ajudando (sem nem
perceber).

A própria presença de alguém que está mais lúcido, tem um impacto no


grupo. É o que o Lama chama de ação de poder.

A ação de poder é assim: a pessoa não se abala diante da loucura da


confusão. (pausa) (pausa) (pausa). Ela não se abala!

Ai, a loucura, a loucura, (ela) é impermanente: ela não é real; mas a


lucidez permanece.

Então, a pessoa lúcida, (ela) não se abala no meio da loucura dos outros
e tem uma chance muito maior “pra” trazer as pessoas “pra”... (silêncio).
É como uma (assim) uma lâmpada num quarto escuro (uma pequena
lâmpada ilumina o quarto inteiro).

(1:16:50 – 1:18:04)

Quando a pessoa repousa nesse estado básico de liberdade e


sabedoria, ai brota naturalmente a ajuda.

Se a ajuda vai ser eficaz ou não, não depende só de quem “tá”


ajudando; também depende de quem “tá” sendo ajudado: é
coemergente.

Se fosse possível para o Buda invadir o fluxo mental de cada um, entrar
e resolver a coisa, para que todo mundos se ilumine, ele já teria feito
isso faz muito tempo, né?

Então, não é possível.

O fluxo mental tem de trilhar o caminho de se libertar.

187
O Buda gera meios hábeis: situações adequadas “praquela” pessoa ter o
insight.

(1:18:38 – 1:18:50)

Então, a gente vai ficar por aqui, hoje.

188
VÍDEO 10
RECAPITULAÇÃO

Muito bem.

Então, estamos avançando, (né?), no Sutra do Coração


(Comentário do Lama ao Sutra do Coração).

A gente “tá” vendo que ele (ééé) sintetiza, (né?) a sabedoria de


prajnaparamita, que (portanto) “pra” nós (assim) ela é a base;
uma compreensão, um aprofundamento do linha a linha do Sutra
do Coração é algo indispensável, (né?) “pra” gente avançar nesse
sentido.

A gente “tá” fazendo isso já há um bom tempo.

Seguimos fazendo, (né?).

Hoje já é o 10º encontro (já), desse estudo.

Quase dois meses e meio que a gente “tá” estudando.

E ai (ééé) a gente quer chegar nessa compreensão mais ou


menos teórica “pra” poder aplicar aquilo como uma prática.

É. Isso apenas como conhecimento, como filosofia, não serve de


grande coisa; a gente tem de transformar isso numa prática para
lidar com as situações do dia a dia (de uma outra forma).

Então a gente “tá” caminhando nessa direção: a gente vai chegar,


mais adiante, nos roteiros de meditação correspondentes.

Então, até aqui (até o momento, assim) alguém tem alguma


pergunta, alguma questão, alguma coisa que ficou mais ou
menos?

Ou nem ainda (nem) sabe se tem dúvida.

(7:39 – 8:00)

Tem isso: a gente vai indo.

Então, a gente está vendo essa série de negações no sutra do


coração {na semana passada, que a gente viu, (né?) que na

189
vacuidade (nessa idéia, nesse conceito de vacuidade enquanto a
base (ééé) onde repousa todos os fenômenos) não há nenhum
elemento que a gente possa apontar como real, como sólido.

Então, a gente viu que todas as classes (mesmo dentro do


budismo), que o Buda ensina as quatro nobres verdades, o nobre
caminho óctuplo, os doze elos da originação interdependente, os
cinco skandas, os 18 dathus, todos esses elementos, essas
classes; todos são vazios por natureza.

Então, o Avalokitesvara, o Buda da compaixão, “tá” afirmando


isso aqui no texto.

Então, é uma afirmação bastante (assim) radical sobre a


realidade.

Que “pra” nós (assim) as coisas realmente parecem ser o que


elas aparentam ser: a gente não questiona muito o status das
coisas; a gente vai, simplesmente, se relacionando e vivendo
(alegremente) no samsara (pulando de objeto em objeto;
experiência em experiência) e cada experiência é vista como
sólida, como algo real.

E ai, como aquilo é visto como sólido e real, aquilo gera (apegos,
fixações e as emoções perturbadoras correspondentes).

Não é assim que funciona?

A gente dá solidez, portanto, dá importância (da estrutura “pras”


experiências) e, ai, aquilo gera apego e fixação.

Então, prajna vai nos devolver a capacidade de olhar para as


coisas com leveza, transparência, com liberdade e com
desapego.

É um processo longo (assim). Não é do dia para a noite que a


gente vai conseguir fazer isso: a gente vai avançando aos
pouquinhos.

Alguém aqui tem algum tipo de apego?

(Risos) (9:58 – 10:10).

Apegos variados, (né?).

190
Apegos a objetos. Posses {a gente vê coisas externas e diz assim
(isso é meu; ninguém mexe) ou a gente vê uma coisa que a gente
deseja muito (quer muito aquilo) porque acha que aquilo vai trazer
felicidade; objetos variados (a gente tem apego a pessoas: vários
tipos de parentescos; relação; vários modelos de relação; a gente
tem vários apegos); a gente tem apegos a idéias, ideologias (a
gente defende, né? idéias com unhas e dente)}.

Então, a gente tem muitos apegos. A gente tem apego aos


nossos hábitos; aos nossos padrões de comportamento (não é?),
quando a gente tem de sair da nossa rotina (assim) a gente não
costuma a gostar muito; quando alguém nos obriga a fazer
alguma coisa (que a gente não “tá” acostumado) e não quer fazer
(aquilo gera um mal estar, né?).

A gente não “tá” livre nos fluídos, dançando (assim) com o que
quer que apareça. Não! A gente trabalha encaixotado“s” de modo
sistemático, comendo coisas muito parecidas no café da manhã.
(Não é?). Fazendo coisas muito parecidas dia após dia (assim).

Então, quando a gente tem de sair daquilo (aquilo perturba):


perturba a ordem interna.

Muitos apegos e fixações.

Então, a gente tem trabalho pela frente, não tem?

Então, pensa assim: um Buda, um ser iluminado é alguém que se


libertou de todo e qualquer resquício de apego e fixação?

O Buda não tem apego nem ao próprio corpo; nem à idéia de si


mesmo (não há mais a idéia de “EU”), o Buda: ele não tem essa
idéia.

É uma mente livre, que opera de forma impessoal: fluída (não


sustenta identidade; apego a identidade e a formas).

Quando uma das nossas identidades entra em colapso, a gente


esperneia “pra” caramba, (não é?)

A identidade profissional, a identidade afetiva, a identidade


política, qualquer coisa (assim), a gente passa mal, (né?); quando
aquilo não é respeitado, não é visto como (de modo elevado).

191
Há, até, uma prática tradicional, que é a pessoa imaginar sendo
(assim) ofendida.

As pessoas chegam e xingam, cospem nela, denigrem (ela)


(assim), o tempo todo.

É uma forma de você ver como é que você fica, (né?) (você
imagina ver isso acontecendo) e ver como é que você reage.

Interessante.

Isso pode acontecer, não pode?

Vai que, (né?)

Então como é que a gente vai lidar com isso (com esses ataques
à nossa imagem pessoal?): nosso “EU”; nosso nome; nossa
identidade.

(Disseram: lembrar que é vazio)

Lembrar não vai ser o suficiente não, (né?). A gente vai ter de
praticar e realizar isso ai.

A gente vai praticar até o ponto em que aquilo não nos pega mais.

Na prática, é isso: a gente “tá” simulando; “tá” e copiando a mente


do Buda, tentando copiar a forma como a mente do Buda opera.

E aquilo é meio (pausa) realmente, artificial por um “BOOOM”


tempo.

E, aos poucos, aquilo vai aparecendo nas situações do dia a dia.

A gente vai ficando cada vez mais “capazes”, (né?) de transitar e


atravessar.

Como atravessar as perdas? (As perdas variadas, né?)

(Perguntaram: Qual a diferença entre a fixação às


identidades e a negação)

Na negação não funciona, porque ela é, apenas, o oposto da


coisa. Por exemplo, a pessoa, “pra” não se incomodar com as
identidades (ela) diz (eu vou me afastar das identidades porque
eu não quero me incomodar).
192
Só que ela gerou uma nova identidade (a identidade daquele que
não quer ser nada). É uma identidade. Por exemplo, se ela for
chamada para ser alguma coisa ela se perturba.

O Buda está livre da fixação. Então, ele pode ser e pode não ser
qualquer coisa, que ele está sempre no estado de equilíbrio
(independente se ele vai ter de apresentar um papel específico,
ele vai lá e apresenta). (pausa) Sem estresse.

Já (a pessoa), que “tá” fugindo das identidades (e esse é um


modelo espiritual, também) (é uma) (é uma) (é uma espécie de
tendência espiritual) que seria {não quer exercer papel nenhum no
mundo (por exemplo): se isolar, completamente do mundo}. E
achar que o mundo é negativo; é (é) ruim, (né?) e o mundo é
perigoso e, portanto, eu prefiro fugir.

É uma posição (que, ainda, é uma posição) confusa. É uma


posição, que (ainda) “tá” dentro do samsara: ainda é uma fuga.

O Buda não. Ele (ele) faz o que tiver de fazer e não se perturba.

Então na liberação, realmente não tem mais sofrimento algum,


enquanto na fuga sempre vai ter sofrimento: você foge, foge e
foge e aquilo te alcança.

Não tem como escapar: aquilo é como sua mente opera.

Se sua mente opera com liberdade, ai, onde você estiver, você vai
estar bem; se tua mente não opera com liberdade, não importa o
que você faça externamente, você não vai conseguir sustentar
essa paz e a tranquilidade por mais que você se feche no seu
castelo (pausa) (pausa) (compra comida na internet, não sai mais
de casa).

Ai, não adianta: em algum momento vai dar algum problema.

É o vizinho, que grita muito; que tem cachorro; que tem criança
(sei lá o quê); alguma coisa vai te incomodar.

Não tem como se isolar. Vai lá “pra” montanha (raciocínio


interrompido). Tem várias histórias (assim) desses praticantes,
que vão “pras” montanhas (cavernas das montanhas) “pra”
meditar.

193
Ai, aparecem pessoas, (pausa) (caçadores), (pausa) outros
peregrinos, (pausa) animais variados. Então, eles são
perturbados, inclusive, nas cavernas dos Himalaias.

Essa tentativa de se isolar completamente não funciona nunca.

Um pouco é bom “pra” prática, (né?), em bons retiros, mas aquilo


(se esperar a perfeição disso) aquilo não vai chegar nunca.

A gente “tá” trabalhando nesse sentido de recuperar essa


naturalidade, essa leveza nas (nas) relações, nas aparências.

A gente transita em meio às aparências sem precisar (é) destruir


qualquer coisa, sem precisar cortar qualquer coisa.

“Pra” isso eu tenho de ver a insubstancialidade (o vazio das


coisas).

Então é essa etapa que a gente “tá” trabalhando.

O sutra “tá” apresentando a noção de vazio.

E quando eu realmente entendo que aquilo (que aquilo) é vazio,


então a base do meu apego vai se dissolvendo.

O meu apego brota da dependência de achar que aquilo é algo


real; é algo (realmente que tem) (pausa) aquilo é aquilo (por si
só).

Quando eu começo a entender que aquilo só é aquilo (se eu der


aquele sentido “praquilo”). Então eu posso escolher se eu entro
ou saio daquilo, como eu quiser.

Ai, eu começo a ganhar mais espaço, (né?).

Então, prajna me devolve o espaço em meio às aparências


(assim).

Mais possibilidades.

Quando a gente não tem prajna, a gente “tá” lá estreito”s”, (né?),


respondendo do mesmo modo sempre; automatizados,
responsivos: a gente não exerce liberdade; a gente faz as coisas,
simplesmente sendo arrastados, (né?)

194
E, com prajna, a gente tem (um) a capacidade de entrar ou não
nas coisas.

Não é porque eu comi (ontem) aquela coisa que eu tenho de


comer, no dia seguinte, a mesma coisa: eu tenho liberdade.

Então, as nossas respostas não precisam ser sempre as mesmas.

Isso é bem interessante.

Parece interessante.

Não?

Que tal?

Portanto, Sariputra, uma vez que os bodisatvas


não têm nada para atingir, eles se manifestam
através da confiança na Prajnaparamita.

Eles

Não tem nada para atingir

Ou seja, eles não estão se construindo em alguma coisa.

Isso é muito sutil. (Que dá) a impressão que o caminho espiritual é algo que a
gente está evoluindo “pra” chegar em algum lugar {em algum estado
maravilhoso, assim, elevado (num estado alterado) (ééé) (alterado de
consciência) alguma coisa do gênero}.

Né? Pode parecer que o caminho espiritual seria algo assim.

Mas não é, o caminho espiritual não vai te conduzir a lugar nenhum.

Na verdade, o caminho espiritual te liberta da necessidade de “tá” em algum


lugar.

Não te leva a algum lugar.

Olha que interessante.

O Buda é aquele, que ”tá” livre de qualquer posição; não é aquele que chegou
no “estado de Buda”.

É sutil isso.

195
É importante entender a diferença.

Ao mesmo tempo, (né?), dá a impressão de que a gente “tá” lutando contra os


obstáculos, contra a negatividade (a minha raiva, o meu medo) como se tivesse
um adversário no caminho.

Isso não é (raciocínio interrompido) Isso é uma visão. Uma visão parcial. Inicial.

Mas a gente vai avançando “pra” essa idéia de que não há nada a fazer; não
há lugar algum a chegar.

Apenas repousar em serenidade diante de todas as experiências, sem ter que


alterar coisa alguma.

A gente vai andando nessa direção.

Então aqui, ele está falando isso: (os bodisatvas não tem nada “pra” atingir).

Não tem lugar nenhum “pra” chegar (eles já entenderam que o “Estado Búdico”
não é uma coisa a ser adquirida; a ser conquistada). Eles entenderam isso.

Então, eles relaxam.

(pausa)

E repousam na confiança da prajnaparamita.

(pausa)

(19:52 – 20:12)

Até prajnaparamita, a gente vai trabalhar com a noção de transformação,


porque a gente “tá” trabalhando a mente tentando substituir coisas negativas
por coisas melhores.

Agora, quando a gente chega em prajnaparamita, há uma (assim) uma


radicalidade no sentido de eliminar qualquer transformação: a gente vai
atravessar as coisas, vendo o vazio delas; eu não “to” transformando uma
coisa numa coisa melhor; eu “to”, simplesmente, diante de uma coisa que
parecia ruim e: “EU ATRAVESSO ELA” (e não substituo por nada no lugar).

Por isso que prajna é uma coisa hiperradical, porque ela tira todas as bases
dos referenciais e te deixa livre no espaço.

Prajna não vai te deixar bonzinho (por exemplo: eu era uma pessoa má; agora
eu “tô” no caminho do bem e, portanto, sou bom praticante).
196
Não é isso que vai acontecer.

A bondade vai brotar de uma forma natural e espontânea no meio disso


(assim), sem que eu tenha que construir (transformar) o personagem numa
coisa melhor.

(21:13 – 21:23)

Isso.

(21:24 – 21:33)

Isso, mas, ao mesmo tempo em que há a vacuidade, o bodisatva (ele não) ele
não deixa de (de) cuidar das convenções do mundo, (né?).

Por exemplo, não é porque ele vê que tudo é vazio, que tudo vale (por
exemplo).

Não é isso. Ele mantém generosidade, moralidade, paciência, mas isso não
brota mais da noção de alguém, que “tá” agindo de modo correto: ele “tá” livre
da noção de sujeito, portanto, aquilo é espontâneo; é natural.

É um pouco diferente.

Tem uma etapa do caminho em que a gente “tá”, ainda, se transformando.

Faz parte.

É ótima essa etapa: construção de um personagem melhor (é um personagem,


que seria um praticante; uma pessoa, que substitui negatividades por ações
positivas).

Mas, quando chega em prajna, dissolve tudo (tanto o negativo, quanto o


positivo são vazios por natureza).

É super, assim (ual!): chocante, (né?).

E (pausa) (ééé). Ai vem as críticas, (né?) (em cima desse ensinamento), a


crítica, especialmente, que te deixa sem um sistema ético (como é que a gente
vai viver em meio ao mundo se tudo é vazio?).

Essa (essa) liberação definitiva ela é a relativização (ééé) radical, (né?), que
prajna traz.

Ela te deixa, às vezes, meio perdido, (né?) {o que (que) é certo; o que (que) é
errado}
197
(22:53 – 23:22)

É que o bodisatva, ele olha (assim) “pro” samsara e vê que o samsara é


completamente vazio, mas dentro dessa (dessa) natureza vazia do samsara
(ééé) aparências surgem (tem o aspecto luminoso do samsara). E, esse
aspecto luminoso, ele não é totalmente aleatório (por exemplo, o Buda observa
e diz que tem uma causalidade operando ali). Então, você planta uma coisa e
colhe resultados correspondentes.

Então, como o bodisatva, o objetivo dele é que todos os seres se libertem da


confusão (assim como ele). Ai, ele vê quais causas e condições que podem
ajeitar a vida dessas pessoas para que elas possam praticar e acabar
enxergando o vazio de todas as coisas.

Então, a gente entende que esses meios hábeis (que a gente vai chamar de
meios hábeis, isso) são técnicas, são (ééé) capacidades, que vão facilitando a
vida dos seres “pra” que eles cheguem no ponto da liberação

Mas essas técnicas em si não liberam ninguém: generosidade, moralidade e


paciência (vão arrumando o samsara): vão tornando o samsara um lugar
melhor de ser viver (o que é bom, porque, quando “tá” todo mundo em paz;
ninguém “tá” se matando; ninguém “tá” roubando “uns dos outros”; aquilo gera
uma sociedade mais pacífica, que facilita a prática).

Porque, quando eu “to” numa sociedade muito desorganizada (em termos de


ética moral, por exemplo) é quase impossível praticar. (Como você vai praticar
na guerra da Síria, por exemplo? Você “tá” lá, o tempo todo lutando pela
sobrevivência; não sabe quando cai a próxima bomba).

(Disseram: no Senado)

No Senado, (né?); como é que você vai praticar sendo um político, por
exemplo. É difícil: tem de ser um praticante do topo (assim) “pra” não entrar na
confusão daquele jogo.

Então, quando você tem condições melhores (as pessoas tem comida, tem
água, tem onde morar, tem roupa, não ”tá” passando frio, nem calor, nem
fome) aquilo é bom, porque elas tem as condições ideais “pra” aproveitar a vida
humana preciosa e praticar até realizar a prajnaparamita.

Então são condições temporárias. São condições temporárias, que podem nos
ajudar no caminho, mas (realmente) em última instância, aquilo é
completamente vazio (não tem solidez nenhuma a generosidade e etc.).

(25:38 – 26:26)

198
É. O carma, ele só é gerado quando eu “tô” operando de modo dualista.

Quando eu “to” operando de modo não dualista, não há mais carma.

Isso é interessante, né?

(26:38 – 27:11)

A etapa da motivação, ela vai te colocar no caminho. Então, também é um


meio hábil. Também é algo construído. É (a número um) do caminho, a
motivação correta; mas quando a gente chega em prajna, inclusive a motivação
é vista como vazia {os itens da motivação não são itens reais, sólidos; eles,
também, são construções coemergentes (eles não tem solidez nenhuma
neles); cada um daqueles raciocínios da motivação correta}.

Mas, ai, quando alguém (éé) acessa prajna, ai, não há nem motivação e nem
não-motivação, porque a mente lúcida, ela “tá” naturalmente naquele estado
(ela não tem que se motivar mais).

Quando alguém não “tá” em prajna, ai tem de se motivar na dualidade {ai tem
de buscar (ééé) o tempo todo, forma de se motivar}; mas quando alguém
acessa prajna, (éé) a própria noção de estar motivado ou não desaparece.

Isso é uma noção, também, que surge (apenas) no samsara, (né?): ter que se
motivar “pra” fazer uma coisa boa (por exemplo).

Então, é dualista (assim).

Já, em prajna, não há mais isso.

Então, a motivação, ela (também) é uma ferramenta do caminho, mas, que,


também, vai ser vista como vazia, (né?), quando em prajnaparamita.

Não sobra nada. Nenhuma... (raciocínio interrompido). Qualquer coisa que a


gente pode pensar, construir ou imaginar (éé) prajna vê aquilo como vazio.

Então é esse de... (raciocínio interrompido) é o Estado Básico, (né?); Liberdade


Primordial, onde não há nada construído (ainda).

E com essa liberdade primordial pode-se construir qualquer coisa.

Ai, só que, quem realiza prajna, constrói sem se perder de novo naquilo que
construiu.

Em geral é isso: a gente “tá” o tempo todo, a gente “tá” criando teias e se
prendendo nas próprias teias.
199
A gente usa dessa liberdade (dessas luminosidades naturais) e a gente vai
construindo relações, construindo coisas, né? Objetos, construções e (assim
por diante).

E, nesses processos, a gente vai se prendendo com a própria construção


luminosa.

Não é assim?

Às vezes a pessoa para e pensa: (como é que eu cheguei aonde eu cheguei?);


(como é que eu me compliquei tanto?); (em que momento eu tive essa idéia
brilhante de começar isso?)

A pessoa resolve abrir uma padaria. (Ah!, “tô” precisando ganhar dinheiro; vou
abrir uma padaria; vou ficar rico!)

Ai abre a padaria.

Ai começa a trabalhar na padaria.

Ai, a padaria endoida a pessoa das cinco da manhã às dez da noite.

Ai, cinco anos depois, ela não ficou rica.

Ai, ela olha “pra” padaria assim: {“tá” dando trabalho, (né?)}

Ai ela repensa: (Será que eu deveria mudar de negócio?)

Às vezes (assim) a gente vai fazendo isso (uma coisa atrás da outra). Vai se
(ééé) vai se enroscando; vai se enroscando e não tem tempo de olhar “pras”
coisas mais profundas.

Então, por isso, uns dos conselhos (assim) básicos do caminho é simplificação
do estilo de vida: quanto mais simples teu estilo de vida, melhor para você
{mais simples; gasta menos; precisa ganhar menos, (né?) precisa trabalhar
menos}

(Disseram: menos apego)

(Menos apego)

Ai tem essa (esse) ditado tradicional: (sem uma estátua do Buda; uma estátua
“pra” espanar; se eu tenho cem estátuas do Buda “pra” espanar, na minha
casa; cem estátuas “pra” espanar).

200
Então, é isso; a gente vai se prendendo até no Darma {ai a pessoa compra
muitos livros; ai ela tem uma estante cheia de livros, que ela diz assim: um dia
eu vou ler (ai ela começa vários deles, que ela vai até a página 15 ou 20 (muito
bom esse livro); ai ela vem pra sanga e diz (muito bom esse livro; eu
recomendo; (mas ela não leu); (mas eu recomendo). Ai começa a empilhar livro
(TU, TU, TU, TU)}. E, ai, não consegue usar aquilo dele (isso é clássico,
assim).

Então, a gente vai se complicando, porque é isso (a característica da mente


dualista é característica do galo, (né?): aquisitividade.

Lembram dessa palavra? {é um dos aspectos do galo, (né?), da Roda da Vida};


aquisitividade {quer coisas e mais, e mais, e mais (mais um mestre; mais um
livro; mais um retiro; uma coisa legal); a gente vai comparando os mestres, os
ensinamentos (Ah! Esse é mais legal que esse; tem um “ranking”)}.

Então, a gente entra no Dharma com uma atividade consumista.

Então, a gente faz isso com qualquer outra coisa

Né?

A gente pode ser de um time que não torce (“pra” tal linhagem, “pra” tal
mestre).

E, ai, vai se confundindo no próprio Darma mesmo, porque a gente vai


entrando com a mentalidade dualista, materialista (e ai vem a idéia do
Materialismo Espiritual) e ai, a gente vai consumir o Dharma como mais um
objeto.

A gente tem de sair disso: prajna vai nos libertar disso.

Vai nos tirar qualquer construção.

Então,

Eles se manifestam através da confiança

Retornam à Mandala original, os olhos deles


olham e eles, a parir dessa sabedoria natural,
yeshe, eles desmontam as construções.

Então, o Lama introduziu, aqui, essa idéia de Mandala Original, (né?)

201
A noção de Mandala não é um método, que vem através dos métodos dos
Sutras.

Então, os Sutras não vão falar em Mandala.

Mandala vem do caminho Tântrico.

Então, surge a noção de Mandala (que é uma circunferência e o seu conteúdo).


Então, uma Mandala é a manifestação de um Centro de Sabedoria. Então, tem
um Buda (um ser iluminado; masculino ou feminino; não importa); um ser
iluminado, que manifesta um Palácio (tem todo um Secto; tem toda uma Terra
Pura; tudo isso vai ser uma Mandala; as Mandalas tem essa noção de Regiões
de Sabedoria).

Então, a tradução literal seria assim (Circunferência e o seu conteúdo:


Mandala); mas, aqui, a gente usa essa noção de Mandala enquanto acessar
Regiões de Sabedoria.

A gente “tá” trabalhando nessa direção.

Então (aqui) essa é uma palavra (podem ver), que não “tá” no Sutra (Mandala).

É uma coisa posterior, que vem dos Tantras, (né?)

(Perguntaram: qual é a diferença da bolha “pra” mandala da Roda


da Vida)

É. Na verdade é assim: a gente procura reservar a palavra mandala (a


gente procura reservar a palavra mandala) mais “pra” Regiões de
Sabedoria e, quando eu “to” falando de samsara (o Lama tem usado o
termo bolhas, paisagens, reinos, lokas), que são palavras que se usam
para se referir, (né?), quando eu “to” numa situação dualista.

Então, mandala (é quando eu “to” numa situação de sabedoria). Então,


(raciocínio interrompido)...

Em geral, são três níveis ali, (né?), a Mandala Original (do Buda
Primordial); ai tem a Mandala da Compaixão (não tem? Do
Padmasambava, Chenrenzig?) e ai, tem a (a) Mandala Comum (assim,
que seria) a Mandala da Cultura de Paz {do Bom Coração, (né?); de
operar em meio ao mundo com um pouquinho mais de lucidez (assim)}.

Então, tem esses três níveis.

Ai, realmente, a Roda da Vida, não é, propriamente, uma mandala.

202
Se eu olhar em última instância (se eu olhar com um olhar mais elevado
possível), aquilo, também é uma mandala.

Por mais que os seres que “tão” ali não compreendam aquilo (eles “tão”
dentro de uma mandala).

A gente até poderia dizer (às vezes se usa esses termos nos textos) nós
nos encontramos na Mandala do Buda Sakiamuni.

O Buda Sakiamuni veio e girou a Roda do Darma e permitiu que o


Darma fosse praticado pelos seres (e que eles alcançassem a
iluminação, assim como ele). Então, é como se estivesse na esfera de
influência de Buda Sakiamuni.

Então, às vezes, se usa essa interpretação (às vezes) nos textos.

Então, o nosso mundo é visto como uma Terra Pura de Sakiamuni.

Mas como assim (Terra Pura)? {“Tá” todo mundo (aqui) se batendo;
cheio de problema e guerras (doenças e etc.)}?

É aquilo: a compaixão do Buda é tão grande, que ele manifesta num


espaço (em que mesmo os seres, que não tem méritos “pra” “tá” numa
Terra Pura mais sutil) eles podem praticar (em condições medianas).

É uma interpretação interessante.

(35:15 – 35:48)

É isso: se eu aproveitar aquilo como sabedoria, ela se transforma numa


mandala, imediatamente; aproveita as experiências, (né?)

Então, os bodisatvas retornam à Mandala Original {a Mandala do Buda


Primordial, (né?): Samantabhadra}.

A confiança seria assim: quando olham o lenço


cheio de nós, nem perguntam se sabem
desmanchar ou não. Eles olham e desmancham!

Então, tem essa metáfora {de que tem um lenço branco (pausa) e esse lenço
“tá” cheio de nós}

O lenço deixa de ser lenço por estar cheio de nós?

Alguma coisa muda no lenço (em si)?

203
Não, (né?)

Mas ele “tá” cheio de nós.

Então, nós somos como seres (como lenços) cheios de nós.

Então, a nossa Natureza Primordial (o lenço branco) não “tá” alterada; porém,
tem os nós.

Então, a gente tem de desfazer os nós, (né?)

Então, no caso, o bodisatva olha “pro” lenço cheio de nós (e ele nem pergunta
se sabe desmanchar ou não; ele simplesmente desmancha).

Então, prajna é isso: prajna não fica analisando (causalmente) porque é que eu
cheguei no ponto em que eu cheguei. O que (que) o meu pai fez; o que (que) a
minha mãe fez, (né?); o que (que) numa vida passada eu fui (na França); (não
sei o quê), (né?): (tem essas análises causais cármicas, assim).

As pessoas gostam, em geral. Elas acham interessante; mas prajna não entra
nesse mérito. Prajna atravessa a causalidade.

Eu não preciso sustentar coerência nenhuma com o meu passado.

Zero!

Eu não preciso, como um fantasma, carregar correntes pela mansão.

Prajna (simplesmente) abandona o meu passado e atravessa aqui e agora.

Não tem de ser um método gradual em que eu vá (lentamente) relembrando


uma experiência traumática (ou alguma coisa assim) e aquilo vai soltando.

Prajna olha e atravessa, imediatamente.

É um método (assim) bem interessante. Um método rápido: (pausa) mas claro


que envolve um conhecimento super sutil; um olhar super sutil (sobre as
coisas).

Mas essa é a ideia.

A gente não vai pegar o lenço e desatar nó por nó: a gente vai ver que o lenço
com o nó ou sem o nó é o mesmo lenço. E aquilo nos liberta: a gente fica
livre”s” da prisão dos nós.

A gente não acha mais que a gente é os nós.

204
{Perguntaram: é uma condição intermitente, (né?)}

Esse olhar?

É. Por um longo tempo, vai ser intermitente (assim): que eu “to” treinando
(ainda) aquilo.

Quando eu alcançar a realização, (pausa) (existe essa noção de que em uma


longa fase em que eu vou ter experiências sobre um determinado “EPA”).

A experiência vem (fica um tempinho) e escapa. Ai eu fico desesperado


tentando recuperar a experiência (que eu tive).

Assim, todas as práticas são assim.

Ai, com o tempo eu treino, (treino, treino e treino) e as experiência vão ficando
mais freqüentes e mais duradouras, até um ponto em que elas se transformam
em realizações {em que aquilo não oscila mais em condição alguma (pausa):
acordado, dormindo, morrendo, a pessoa sustenta aquela visão de uma
realização completa daquilo}.

O Buda é o ser iluminado (é aquele que não oscila mais).

Zero!

Os bodisatvas estão no caminho, (né?), então eles tem alguns graus de


oscilação.

Até o oitavo “Bhümi” (é oitavo nível dos bodisatvas) (ainda) há algum grau de
oscilação.

Do oitavo em diante, não.

Os bodisatvas se manifestam desse modo,


através dessa confiança na dissolução da
artificialidade.

Então é isso: eles olham “pra” tudo (o circo “tá pegando fogo) (eles não se
abalam) (porque eles veem que o circo é um circo ilusório) (eles olham com o
olho de raio “X”; através do circo e não sofrem com aquilo) {não (não) se
perturbam}.

Eles tem confiança na prajnaparamita.

Eles tem confiança no vazio luminoso das aparências.

205
No fato de que essas aparências não são reais o quanto parecem ser.

Eles olham assim: onde estão as aparências de ontem? (Elas vieram,


passaram diante dos meus olhos e foram embora).

Então, porque que eu daria maior solidez ás aparências de hoje (em relaçã o às
de ontem)?

As aparências são apenas aparências.

Mas ele leva isso até o ponto, em que (mesmo) que as aparências sejam
(assim): alguém “picotando (ele) em pedacinhos”? (Ele “tá” lá sendo torturado e
cortado e consegue sustentar esse olho), que é o que permitiu (por exemplo),
no Tibete, muitos monges serem torturados e não se perturbarem (não
gerarem raiva) (não se magoarem): passaram por dores físicas terríveis, mas a
mente deles não deu solidez às experiências (não segurou aquilo) (não
guardou aquilo): eles “tão” livres daquilo.

A dor física faz parte (ali tem um corpo humano; não tem como evitar isso,
completamente), mas como a sua mente vai reagir diante da dor (...). Por
exemplo, assim, se a pessoa “tá” lá diante de um monte de gente (e tem de
passar por uma certa dor “pra” mostrar que ela é forte) ela aguenta muito mais
do que se estivesse sozinha, fazendo aquilo.

Vejam como a nossa relação com a dor é completamente relativa.

Né?

É só ver um grande esportista numa prova assim de (você vê, por exemplo,
uma marcha atlética, uma maratona) o nível de desgaste que eles chegam
“pra” vencer aquilo (eles suportam dores, assim terríveis).

Mas tem uma motivação.

Então, a mente vai se relacionar com a dor dependendo do contexto.

Não é assim?

Então, se a pessoa estiver num bate papo legal com alguém (pode “tá” fazendo
frio, fazendo calor) que ela vai suportar numa boa: ela “tá” lá tremendo, mas ela
“tá” lá feliz, (né?).

Então, tem (tem) o frio, mas ela não “tá” sofrendo; agora, numa outra
circunstância, que ela não “tá” curtindo aquilo (- Ai, “tá” horrível; tenho de ir
embora; não “to” agüentando mais): tem sofrimento.

206
É completamente relativa a nossa relação com as dores e etc.

Uma vez que não há obscuridades mentais, não


há medos.

Isso é fantástico.

Obscuridades mentais

Construções parciais entre elas a própria


sabedoria. Faça isso, não faça aquilo! No sutra
do diamante o Buda reitera que ele não obteve,
não recebeu nenhum conhecimento do Buda
Dipankara (o mestre dele).

De uma vida muito longínqua.

Não recebeu a transmissão de um sistema,


recebeu a transmissão da mente. Isso significa
que não há obscuridades mentais na vacuidade.
Se não há obscuridades mentais, não há nada
artificial para ser defendido. Se não há nada para
defender, então não há medos. Os tibetanos
chamam isso, às vezes, de orgulho vajra. Ou
seja, brota uma espécie de orgulho, porque não
importa o que samsara fizer, não tem poder.

Então, aqui tem uma série de afirmações, (né?).

Obscuridades mentais – Todas as construções nas quais nós temos apegos e


fixações. Por exemplo, (obscuridades mentais): a noção de que eu sou uma
mente que “tá” dentro dessa cabeça, (né?), operando através desse cérebro e
que isso sou eu (esse corpo); tridimensional, sólido, que, ao longo do tempo,
vai envelhecendo.

Tudo isso são construções da (da) mente: obscuridades mentais.

Todas as idéias que nós temos sobre a realidade: tempo, espaço e etc.

Tudo isso é construído.

Então, o bodisatva (ele) se liberta de todas as obscuridades mentais.

Ai, não há medos.

207
Porque, “pra” haver medo (é isso) tem de estar sustentando alguma identidade.

Onde não há nenhuma identidade sendo sustentada, como é que vai haver
medo?

Não faz sentido?

Se não tem alguém “pra” ter medo, como é que vai ter medo?

Tem que ter alguém lá.

Então, como os bodisatvas (eles) estão com essa mente livre (assim, cristalina,
límpida, transparente) essa mente deles (não interessa o que estiver
acontecendo) aquilo não gera medo; não gera perturbação.

O Buda, quando “tava” sentado sob a árvore Bodhi, (é isso) ele viu os exércitos
de “Mara” caminhando na direção dele {vocês viram o filme, (né?), o “Pequeno
Buda”?}.

Os exércitos atacam, jogam flechas, jogam fogo nele (só que) (ele não tem
mais nenhuma obscuridade mental) (nada é capaz de atingi-lo).

Nada é capaz de atingi-lo.

Então, ai o medo desaparece.

(Você pode ver). Nós nos movemos por medo, (né?), o tempo todo: medo de
que algo ruim aconteça; medo de perder o controle sobre as coisas; esperança
de que o futuro seja melhor e medo de que as coisas boas passem.

Fica o tempo todo oscilando nisso.

Agora, quem tem a visão de prajna, quem repousa nesse espaço livre, não tem
esperança em relação ao futuro {esperança em relação a quê? não tem nada
melhor do que eu já (do que eu já) realizei}; chegar aonde? (não tem lugar
nenhum para chegar).

Então, as aparências não são mais (éé) a fonte de felicidade, (né?)

Não é assim: (quando eu conseguir isso, quando eu for para tal lugar, quando
eu tiver tal relação) eu vou ser feliz.

Isso desaparece!

Ele “tá” bem por quê? Por que “tá” repousando numa mente livre.

208
Então com liberdade não tem sofrimento, não tem medo, não tem mal-estar:
ele está bem; feliz.

Uma felicidade, que não é essa felicidade mundana (que está feliz porque “tá”
fazendo alguma coisa); está simplesmente em paz; feliz.

É um brilho constante. Não é um brilho exagerado: é um brilho de lua (como se


fala); não é um brilho de sol.

Ele “tá” brilhando (assim) exultante (superalegre: saltitante).

Ele tem um brilho de lua (assim): é leve (ééé) aquilo tem um frescor.

Então, a mente do bodisatva é assim.

Ai o Lama citou o Sutra do Diamante, {que é outro texto tradicional, (né?)}; a


gente tem o Sutra do Coração (que a gente “tá” olhando), o Sutra do Coração
da Prajnaparamita e tem o Sutra do Diamante, que também é prajnaparamita
(que, também, é um texto que pertence à literatura prajnaparamita), mais longo
{umas treze ou quatorze páginas, assim, (A4)}.

E ai, o Buda, nesse Sutra (ele) é perguntado (por Subuthi, (né?), o discípulo
dele, que faz as questões): {Oh! abençoado, quando (ééé) o Senhor recebeu a
transmissão do Darma, pelo Buda Dipankara, teve alguma percepção de ter
adquirido alguma coisa em sua mente?}

Ai o Buda diz: bem perguntado Subuthi. Quando o Buda Dipankara me


transmitiu a mente de prajnaparamita, eu não adquiri, absolutamente, coisa
alguma.

Não houve Darma algum adquirido; não houve conhecimento; não houve nada.

Houve, apenas, a transmissão dessa mente, que repousa nesse espaço.

É isso que a gente tá buscando. Aqui a gente não “tá” estudando “pra”
acumular conhecimento; saber um monte de budismo, por exemplo, {“pra” falar
nas festinhas, (né?) “pra” ser uma pessoa interessante; “pra” conversar sobre o
budismo.

Então, o budismo vai nos conduzir ao reconhecimento desse espaço.

É o único objetivo dele.

Todo o resto é parcial (assim): não serve de grande coisa.

209
Claro que a gente faz práticas preliminares “pra” ir preparando o terreno “pra”
chegar nesse ponto de reconhecer isso.

Tudo é útil. Tudo que a gente faz (as várias práticas), todas são úteis (as
preces, as prostrações, as leituras, as conversas em grupo); tudo isso é útil e
maravilhoso; mas tudo isso “é” apenas preliminar “pra” chegar nesse ponto de
reconhecer a mente que o Buda transmite.

Faz sentido isso?

Ou parece, muito, viagem?

(47:49 – 47:52)

Parece muito distante, não, Francisco?

Parece que é uma coisa assim (ual!!): inatingível.

(48:02 – 48:06)

Pois é. Que isso quebra a nossa noção de que tem algo a ser atingido (a
sensação de que deveria “tá” caminhando “pra” alguma coisa).

A gente chega assim: não tem nada “pra” conseguir; não tem nada “pra”
chegar; (ual!! Mas que coisa!!); que caminho espiritual é esse?

(48:21 – 48:24)

É. (A natureza dessa mente). Essa natureza, a gente vai chamar de natureza


prístina; natureza primordial, natureza búdica; espaço básico.

Então, tem vários termos (assim) técnicos “pra” falar sobre o que (que) é essa
região.

Essa região, como não é uma coisa, é difícil de descrever.

Essa região, dessa mente livre, não é um lugar dualista. Portanto, lá não tem
(raciocínio modificando) (vocês já viram no sutra do coração; não tem nada lá
dentro: não tem característica, não é impuro nem puro, não falta nada nem “tá”
cheio, aquilo é...).

(Perguntaram: a tela branca?)

(49:03 – 49:16)

Se eu me fixar na tela branca, o problema vai pegar na tela branca, (né?)

210
É o espaço vazio. Liberdade. “Tá” flutuando no espaço. Não tem chão. Não tem
tempo. Não tem dimensões (não tem grande ou pequeno).

(49:32 – 49:42)

É isso. Ai, a gente vai entender um pouco disso (intelectualmente); a gente vai
(meditativamente) tentar buscar experiência disso.

Isso vai dar trabalho: não pensa que vai ser num ano ou dois.

{Perguntaram: “pra” ter vacuidade você tem de eliminar o objeto


do seu lado, (né?)}

Não. Essa é uma boa pergunta. Você nunca vai ter que eliminar nada.

(50:09 – 50:40)

Vejam: prajna é estudado nos meios acadêmicos, mas as pessoas (não quer
dizer que elas pratiquem aquilo que elas estão estudando).

Eu posso falar (longamente) sobre Nagarjuna, escrever sobre Nagarjuna e não


ter “isso aqui” de experiência daquilo que eu “to” falando.

Inclusive, nos meios acadêmicos, é o que mais tem, (né?).

As pessoas escrevem sobre coisas, que elas nunca fizeram (que elas não tem
experiência prática sobre aquilo).

Uma, (uma) forma de olhar, (né?)

O budismo é empírico. Extremamente empírico. Se você não trouxer


experiência daquilo que “cê” “tá” estudando, ou falando, é inútil.

Melhor nem entrar naquilo: melhor seguir vivendo “duma” forma comum do que
entrar numa coisa que eu não vou aplicar.

(51:22 – 52:15)

É um bom sinal. Porque é isso: porque eu fico num estágio em que eu não “tô”
mais apostando no samsara completamente, mas (ainda) eu não tenho a visão
lúcida {clara, (né?)}. {Então, eu “tô” dissolvendo o samsara e eu não consegui
(ééé) ter a clareza (a tranquilidade da confiança da visão, ainda)}.

Então, leva um tempo mesmo (em que as coisas perdem um pouco do brilho,
um pouco da graça); mas eu vou re-inserindo isso através de ações positivas.
(Por isso é muito importante, enquanto eu vou estudando prajnaparamita, eu
211
vou equilibrar isso com as virtudes: generosidade, moralidade, paciência,
energia constante, porque isso gera amor, compaixão, alegria e
equanimidade).

Isso gera uma percepção positiva do mundo.

Mesmo eu vendo que tudo é vazio e que não faz muito sentido eu quero ajudar
os seres; isso (isso) é o combustível do bodisatva.

(53:02 – 53:20)

Como o praticante não “tá” querendo provar nada “pra” ninguém. Ele se
observa nas ações. Então, ele vê quando ele “tá” sendo (generoso/falso); ele
percebe qual identidade que “tá” operando, que torna aquilo falso. Então, ele
não tem culpa: (ele não tem) ele não “tá” se “avaliando” para se julgar.

Então, ele simplesmente faz e se observa fazendo. (Ah! Eu não consigo


praticar generosidade desinteressada, porque eu tenho apego àquele objeto;
porque não estou nem ai par aquela pessoa, mesmo).

Ele (ele) é tranquilo quanto a isso.

Ele observa isso e segue praticando os dois lados (segue acumulando as


virtudes) e segue praticando o prajna (que vai dissolvendo as identidades).

Uma apóia a outra e ele vai avançando.

(54:01 - 54:33)

É como praticar um pouquinho de shamata: só silêncio e concentração e a


gente vê o impacto positivo na vida cotidiana. {Aqui, todo mundo já teve uma
experiência (mínima, que seja) de ver que o silêncio tem um impacto (positivo)
na vida.

Ai a mesma coisa, a idéia de prajna: só com a teoria disso, a gente começa a


repensar a vida (já te libertou de muitas coisas).

(Ual!!). Ai a você pensa: será que eu poderia (talvez) ter essa visão o tempo
todo?

Como é que eu medito sobre isso?

Então, um pouquinho que eu vou avançando, vai gerando graus de liberdades


adicionais: eu vou ampliando, ampliando, ampliando, ampliando e os méritos
que você vai gerando através de generosidade, moralidade, paciência e etc.

212
(aquilo, também, vai te alegrando): as tuas relações vão melhorando em todas
as direções e aquilo te nutre.

(55:19 – 55:49)

A gente “tá” vendo a teoria e, quando terminar o texto, a gente vai entrar no
Roteiro de Meditação.

A gente “tá” na parte (da) (“pra”) de compreender melhor o que (si) o que (que)
é prajnaparamita e (como) (como que isso) eu posso encaixar essa visão, (né?)
naquilo que eu já conheço (assim) como é que aquilo vai se posicionar.

Uma vez entendido isso, eu vou ver como é que eu implemento isso numa
prática diária

Tem várias formas de fazer isso.

A gente vai passar uma por uma.

Mas, se eu não tenho essa base (se eu não esgoto as dúvidas) na parte teórica
(que a gente “tá” fazendo aqui semana após semana) (é mais do mesmo) (a
gente “tá” esgotando dúvidas) {se eu não pensar, se eu não estudar isso e
tentar ver (onde é) onde é que eu não entendi (ainda) ai eu não vou chegar lá}
quando eu for tentar praticar (ai não vai funcionar) {eu vou “tá” pegando
prajnaparamita e vou “tá” tentando usá-la como se fosse mais um objeto (mais
uma coisa causal) (que não é o caso)}

Ai (aquilo) não funciona.

Então, é isso: eu vou ter de esgotar essa etapa teórica (um pouquinho, pelo
menos).

Aqui, a gente não vai trabalhar no formato filosófico (que é aquele que vai
demorar anos e décadas); a gente vai usar esse método, que é baseado em
exemplos {que é o método mais direto, (né?)}: tântrico (olha “pra” coisa; não
tenta gerar uma teoria sobre aquilo; veja); (é assim que a gente “tá” se
aproximando) {que é o método que o Lama Samten tem utilizado “pra” facilitar,
(né?), o acesso a isso}.

(57:16 – 57:27)

Tem uma liberdade no meio disso, (né?), (o vento “tá” lá soprando).

213
Então, vem essa pergunta, (né?), essa pergunta (lida no celular) (como lidamos
com as situações prática da vida, enquanto tentamos ser simples e
experimentar o espaço?).

Isso (é o que) a gente “tá” querendo chegar (não é?)

Como lidar com as situações práticas?

Todas as situações praticas (são isso) são livres, são luminosas, são vazias
(elas já são), mas eu não tenho o olho de ver.

Então, primeiro, eu treino esse olho (na meditação) “pra” quando eu levanto da
almofada e volto “pro” mundo “pras” situações práticas “pra” que eu possa
sustentar esse olho de leveza e liberdade.

Mas se eu não (se eu não) enxergar isso na meditação (sentado) como é que
vou começar enxergar isso no meio das coisas desafiadoras?

A chance é mínima de conseguir.

Então, por isso, primeiro eu estudo em condições controladas de temperatura e


pressão (pra entender). Ai, com essa condição boa, a gente vai meditar (vai
pegar primeiro as situações fáceis) (vai aprofundando nas mais difíceis: vai
avançando) (ai a gente vai começando a usar isso no meio do mundo).

Leva um tempo.

Mas aquilo vai acontecer (acontece com todo mundo, até hoje). Por que não
vai ser com a gente?

Só que tem que ter paciência (só que não pode ser assim: vem num dia, falta
três, ai falta quatro, e ai (não entendi esse negócio de prajnaparamita).

(Vale meia presença assistir os vídeos em casa).

Então, mas assim, a gente vem (estudando e aprofundando); se identificando a


isso mesmo “pra” chegar no ponto da prática, (né?).

Se ficar apenas alguma coisa aleatória vai ficar difícil obter algum resultado.

Qualquer prática é difícil obter resultado, (né?), mesmo as práticas causais


(shamata: causal); mas se eu não fizer dia após dia shamata
(sistematicamente) eu não vou pacificar a minha mente: eu preciso ter essa
acumulação.

214
Mesma coisa (a motivação correta) eu tenho de contemplar os itens da
motivação (vez, após vez, após vez) “pra” que aquilo fique vivo e claro (na
minha mente).

Tem um nível de esforço da prática

(1:00:14 – 1:00:25)

A gente vai treinar por um tempo até poder abandonar o treinamento.

O treinamento é útil, mas ele não é o objetivo em si.

Lembra? (A gente não “tá” querendo chegar a nenhum lugar?)

Mas, enquanto eu não “to” nessa liberação, não adianta eu abandonar o


treinamento (eu preciso do caminho até eu chegar lá).

Quando eu chego lá, eu jogo tudo fora: eu abandono o barco (o barco só me


serve “pra” me levar até a outra margem; eu cheguei na outra margem, eu
abandono o barco).

Mas enquanto eu não chego, eu “tô” no meio do rio.

Então, não adianta abandonar o barco no meio do rio, que a correnteza leva
embora tudo de novo.

Esse é o samsara: a correnteza.

Então, o barco (os ensinamentos) estão lá (me ajudando a atravessar).

Eu tenho que cuidar bem desse barco; eu tenho que (ééé) usar bem o barco,
(né?), guiar o barco adequadamente “pra” que eu chegue são e salvo na outra
margem.

São metáforas, assim.

Então, muito bem.

A gente viu isso, (né?): o Sutra do Diamante.

Então, surge essa noção de orgulho vajra, ou seja, o orgulho vajra é uma
confiança de que pode aparecer o que for, que aquilo não vai me tirar da (da)
mente lúcida do Buda.

É um orgulho (assim), porque eu não tenho medo de nada.

215
Por quê? Porque o que surgir, eu vou lidar com aquilo com lucidez: vou
atravessar aquilo.

É uma espécie de orgulho, mas não é o orgulho no sentido comum da palavra


(ter uma atitude arrogante diante dos outros); mas o Lama brinca {é como o
orgulho da pessoa que “tá” no cinema e sabe que “tá” no cinema; ela “tá” vendo
o filme na tela branca (projetado na tela branca) ela “tá” lá na poltrona, mas ela
não “tá” presa no filme (na historinha do filme) (ela “tá”) ela “tá” no cinema (ela
“tá” atenta ao cinema).

(1:02:14 – 1:02:28)

Ele entendeu como funciona o jogo: ele entendeu o código-fonte.

Ai, vai se preocupar com quê? (Ele sabe manipular o código-fonte; o código-
fonte não o prende mais).

(1:02:40 – 1:02:46)

As emoções perturbadoras vão (cada vez) brotando menos: raiva, medo,


desejo, apego, ciúmes, inveja (essas emoções vão desaparecendo);
paulatinamente (até num ponto que não tem mais aquilo).

Vão desaparecendo mesmo.

O que sobra no lugar? (Lucidez, compaixão, amor, felicidade, generosidade


natural).

Ai vem uma liberdade de eu projetar o que eu quiser: eu projeto algo (não mais
“pra” mim porque eu não tenho necessidade de um filme “pra” ficar preso), mas
eu projeto algo “pra” (“pra”) entrar nos sonhos dos outros seres.

É. O Buda ele se (ele se) infiltra “dentro” do sonho dos outros seres, porque no
meio do filme dos outros ele não se perde. Então, ele ajuda os outros a saírem
dos seus filmes, também; a entenderem que o filme é apenas um filme.

Esse é o papel do Buda.

Então, ele olha e entende como é que funciona {tem a tela, tem o projetor
(né?): nada de segredo nisso)}.

Como é que as pessoas ficam presas nos filmes? (Ele fica chocado).

Como é que as pessoas ficam presas nos seus pequenos filmes, (né?) e não
saem daquilo voluntariamente?

216
Elas tem de se esforçar “pra” saírem de seus filmes.

Que fantástico, (né?).

A qualquer momento, elas podem recuar, mas elas não recuam.

Porque elas dão tanta importância e realidade “pro” filme que elas “tão” vendo
(ao longo de muitas vidas) que elas não querem sair do filme (direito).

A verdade é essa: quem quer, realmente, se iluminar?

Quem quer, realmente, abrir mão de todos os referenciais?

Há! (Não dá medo?)

Dá um medinho, não dá?

Quem seria eu depois que eu abrisse mão de todos os referenciais? (assim,


esse “eu”, que eu acho que eu sou).

Onde é que eu vou cair? (que buraco é esse?)

Se a pessoa pensar com cuidado, aquilo é meio estranho.

A gente até (não, é legal ser um Buda); mas o quê {quando a gente começa a
ver que ser um Buda é abrir mão de todas as minhas fixações, inclusive da
idéia de que eu sou um ser humano em um corpo (também, é uma construção).

Então, aquilo é bastante radical: é bastante desafiador (assim).

A gente vai avançando.

(1:05:03 – 1:05:36)

Como ele tem esse olho, ele entra em qualquer filme e não se perde.

Lembram?

O Buda (ele) entra nos filmes, (ele) entra nas histórias, mas ele não se perde.
Por exemplo: ele olha “pro” filho dele com o mesmo olho de compaixão que ele
olha “pros” outros (que, claro, como ele “tá” mais próximo, ele tem que pagar as
contas daquele ser) (ele não “tá” pagando as contas de todos os filhos de todo
mundo, porque ele nem pode).

Mas ele paga as contas daquele filho {mas não quer dizer que ele tem algum
grau de apego ou olhar (assim) (ééé) especial praquele ser.

217
Por relação cármica (porque aquele ser nasceu dele) ele tem uma
responsabilidade (ele vai cuidar disso) com cuidado, (né?).

Mas ele não “tá” preso; ele não “tá” preso nos jogos.

Ele não depende do filho dizer assim (papai, eu te amo) “pra” ficar bem.

Se o filho virar as costas, bater o pé e for embora (ele: “tá” bem; como é que eu
vou seguir ajudando esse ser, que foi embora?)

Ele sempre “tá” com o olho de ajudar: ele não quer nada “pra” ele.

Ali não tem mais “ele”: não tem um ”eu” ali operando (não tem identidade;
portanto, não tem expectativa, nem medo).

Ele ajuda. Ele entra numa família e ajuda aquelas pessoas ao redor.

O próprio Buda Sakiamuni, depois de iluminado, volta “pra” família dele.

Ele volta “pra” terra natal dele, ele reencontra o pai, dá ensinamentos “pro” pai,
“pra” ex-esposa, “pro” filho, o filho se torna um monge (alcança a liberação na
mesma vida, também), a esposa se torna monja, o pai recebe ensinamentos.
Então, ele ajuda toda a família a se aproximar daquilo que ele encontrou.

Porque, “prum” mestre, o que (que) ele quer “pro” filho, “pras” (“pras”) pessoas
ao redor dele? (Quer que eles alcancem a liberação, porque sabe que o
samsara não vai levar “eles” a lugar nenhum; se eles seguirem o modelo
convencional do samsara, eles vão encontrar as mesmas coisas, que todo
mundo encontrou, ou seja, a frustração).

E, ai, ele entende, que não é por ali. Então, ele tenta conduzir esses seres “pra”
que eles encontrem (em algum momento) uma região através de lucidez.

Mas ele não força a barra (agora você vai ter que ser budista!) (Todo mundo
aqui, a partir de hoje, vai ser budista!). Claro que não; mas pelo exemplo de
lucidez, de amor (que “tá” ali ao redor) ele vai magnetizando todas as pessoas.

Ele é como uma lâmpada na escuridão.

As pessoas veem que ele brilha.

Ele vai, naturalmente, se tornando um líder de família (local) e, assim por


diante, porque ele tem aquele brilho da lucidez.

Se tem uma sala escura, uma “lampadinha” (mesmo que fraquinha, que você
ligue lá no canto) já permite ver alguma coisa na sala.
218
As mariposas já correm “praquela” luzinha.

Então, da mesma forma, o ser (que tem essa clareza) (ele) cada vez o impacto
dele é cada vez maior, (né?): ele vai atingindo mais pessoas.

Não tem o menor problema com a família ou qualquer outra coisa.

Poderia ser (até) um executivo de uma empresa (por exemplo); se ele


quisesse; se ele achasse que beneficiaria daquela forma.

Tem exemplos (por exemplo) tem um grande Patrono do Darma, que o


reverendo (...), que (éé) (que) ele fundou um grupo de promoção do budismo
no Japão (ele é dono da...), uma empresa líder do Mercado Mundial, assim,
grande.

E ele é um grande (ééé) bodisatva (assim) ajudando em todas as direções o


Darma (patrocinando coisas) (...).

(1:08:58 – 1:09:21)

Então, tem pessoas, que “tão” no meio do mundo dos negócios (e assim por
diante) e tem o comportamento de bodisatva.

É possível: não é contraditório (de modo algum).

O próprio Buda deu ensinamentos “pra” Reis, “pra” Generais (como é que você
vai fazer guerra com lucidez?)

Complicado.

Mas tem (tem) como fazer: tudo tem como fazer.

Mas primeiro tem que ter essa mente, (né?): localizar essa mente.

Esse é o ponto.

Por exemplo, Maharaja vem atacar, mas na


verdade não tem nada para fazer. Por exemplo, o
menino no meio do jogo, se ele tem a visão que
estava antes do próprio jogo, não será afetado
pelo resultado do jogo. Se Maharaja disser que o
resultado do jogo vai ser 10x0, o menino sorri
porque sabe da insubstancialidade daquilo, não
vai ter medo, porque não está preso a um
sistema de crença, a uma obscuridade mental.

219
Se tomamos refúgio no guru, se damos a mão
para o guru, tomamos refúgio nessa natureza,
que é a Natureza da vacuidade descrita dentro do
Prajnaparamita, se damos a mão para essa
natureza, porque é que vamos tremer na
dissolução daquilo que é artificial?

Você vê as pessoas sofrendo por times de futebol, por exemplo, (sofrendo não:
se matando).

É. Por causa de uma bola rolando.

(1:10:42 – 1:11:01)

Ai rolam emoções poderosas (no meio daquilo).

É um jogo. É uma construção. Não tem... (raciocínio modificado) Quem


inventou a regra daquilo? Podia mudar a regra amanhã. Podia ter três bolas ao
mesmo tempo. Uma bola “pra” cada um.

Podia mudar as regras, (né?)

Mas não. Tem uma rigidez das estruturas: surgem os times, ai surgem os
apegos aos times, o torcedor {que morre, quando o time toma um gol (por
exemplo)}

Que loucura, (né?)

Então, se o menino recua, ele não precisa torcer pelo time, ele pode,
simplesmente, olhar para o time como um time; não precisa ficar apegado ao
time.

Pode até gostar do jogo, mas gostar do jogo não significa que eu tenho de me
fixar ao jogo.

Não tem problema com o jogo em si; o problema é quando eu mergulho de


cabeça no jogo e me prendo nele.

Ah! Mas qual é a graça de ver o jogo de futebol se não for para torcer, (né?)

É isso: o samsara é sedutor mesmo. O samsara tem esses brilhos, (né?) Ele
nos leva a achar que é bom o jogo do samsara.

Só que o jogo do samsara tem um probleminha: no final, a criança sempre cai:


esborracha o nariz no chão e chora.

220
Sempre! Fatalmente, ela passa mal no final do jogo.

Não é um jogo muito legal.

Não. É um jogo que você (sempre) perde no final.

Vocês gostam de jogos, que vocês (sempre) perdem no final?

(1:12:30 - 1:13:32)

Assim (todos os jogos): se eu estou de fora do jogo, eu não me perturbo.

É isso que a gente está buscando.

Então, vamos ficar por aqui, hoje.

Então, esse é o ponto que a gente “tá”: a gente “tá” explorando essa idéia de
liberdade, (né?), que prajna “tá” nos trazendo (sistematicamente).

Parece que tem muitos argumentos “pra” nos mostrar que não é verdade (que
prajna é uma enganação), (né?): o samsara (ele) tenta nos desdizer; o
samsara tenta dizer assim (não: prajna é besteira; o mundo é real; o mundo é
isso ai; o mundo tem que lutar por ele).

Essa é a visão, (né?), a visão do samsara.

E prajna “tá” tentando nos tirar desse engano, porque o mundo não nos oferece
o que nos promete (promete uma felicidade baseada na acumulação de coisas
e de relações e de coisas transitórias); mas aquela felicidade é uma felicidade
fugidia, (né?): não permanece; é impermanente (portanto, é insatisfatória).

O samsara, ele tem defeito de fábrica (vem já com defeito de fábrica): é um


produto que não funciona do jeito que disseram que ia funcionar.

Tem que entrar no PROCON.

(1:14:55 – 1:15:10)

No samsara é só se libertando dele.

Nele a gente não vai encontrar a felicidade (que é aquilo que a gente fala: o
samsara não é o mundo em si; é a forma como eu opero em meio ao mundo)
(o samsara não é um lugar: é um modo de operar a mente), lembrando sempre
isso.

Tá? (1:15:25)

221
VÍDEO 11
RECAPITULAÇÃO

Sejam bem vindos.

Espaço novo.

Que silêncio bom, hein?

O que vocês acharam “pra” meditar?

Olha, achei bem especial (assim).

(5:47 – 6:14)

É claro que a gente não consegue um silêncio perfeito, mas agora


eu já tirei o relógio da parede {porque era um relógio de ponteiro e
o silêncio, que “tava” aqui à tarde (assim) parecia que o relógio
era um (TAC, TAC, TAC).

Vamos ficar sem relógio aqui. Vamos colocar um “digitalzinho”


mesmo (o barulho é menos).

Não existe o silêncio perfeito, mas quanto mais silêncio, ajuda


sim.

Nós todos somos praticantes iniciantes; a gente precisa de


condições adequadas: ambiente propício: mais silêncio; mais
tranquilo, melhor.

Por isso, a gente vai fazer retiros em lugares afastados.

(6:54 – 7:09)

Então, tem isso, (né?)

A gente vai se adaptando (assim) ao espaço.

(7:14 – 7:37)

Vamos lá.

Muito bem.

222
Quem está chegando aqui pela primeira vez {nesse grupo de
terça, (né?)}.

(7:41 – 10:27)

Muito bem.

Então, estamos estudando prajnaparamita, a perfeição da


sabedoria discriminativa.

Ual!

Para quem está chegando hoje... (pausa). Mas, é uma visão


(assim) do budismo tibetano, na verdade todo o todo o Budismo
Mahayana traz (no budismo Tibetano, também, é
superenfatizado), ou seja, “pra” alcançar a liberação do
sofrimento, da confusão, da experiência cíclica, da Roda da Vida
(o que a gente chama de samsara), “pra” alcançar a liberação do
samsara, eu tenho que realizar essa sabedoria.

Essa sabedoria é a sabedoria, que vê através das experiências,


que nos liberta da fixação à solidez; à dureza; ao aspecto fixo das
experiências.

Então prajna é uma inteligência. É uma sabedoria que vem sendo


cultivada, vai sendo estudada e aprendia; e, depois, ela vai se
transformar numa prática específica, que vai nos libertar disso.

(11:28 – 11:32)

Então, a gente “tá” vendo um texto do Lama Samten, a gente “tá”


avançando (passo a passo), vendo vários conceitos (assim) mais
ou menos complexos.

{Não se preocupe (assim) quem “tá” chegando, querer entender


tudo: aos poucos a gente vai pegando}

E a gente vai transformando esses conceitos num olhar, numa


visão prática em meio ao mundo.

Não é uma coisa apenas filosófica; bem pelo contrário, nosso


objetivo é muito prático: a gente quer pegar isso “pra” transformar
nossas relações, transformar (ééé) a forma como a gente (éé)
anda no mundo; nos libertar das emoções perturbadoras, que nos
afligem tanto, (né?): o orgulho, inveja, ciúme, desejo, apego, (éé)

223
preguiça, carência, raiva, competição, (assim por diante), raiva e
medo (muitas classes de emoções perturbadoras, que nos
afligem).

Eu só vou me libertar disso quando eu enxergar através da


solidez das experiências.

Eu tenho de furar a bolha do samsara: a bolha da experiência


cíclica.

Então, “pra” isso, a gente “tá” estudando esse texto e, em breve, a


gente vai estar meditando, também, sobre isso.

(Do grupo, que tá vindo, já há alguma questão? Alguma


contemplação?)

Tudo bem?

Tem conseguido aplicar um pouco (assim) como prática diária?


Como uma prática regular?

Superimportante, (né?)

Transformar os grupos de estudo numa prática regular, senão


aquilo não avança, (né?).

Impressionante (pausa). Ficariam estagnados.

Então, no nosso texto, a gente “tá” (a gente parou naquele parágrafo)

Transcendendo completamente as visões falsas,


atingem o derradeiro nirvana.

Ou seja, aqueles que praticam a prajnaparamita (a sabedoria discriminativa)


eles transcendem, completamente, as visões falsas.

Visões falsas são as idéias que nós temos sobre a vida. Por exemplo: fixação à
ideia de um “eu”; a fixação à ideia de realidade separada dos fenômenos, das
coisas.

Isso tudo são visões errôneas. São modos de operar a mente deludidos;
enganosos, que nos prendem às experiências e nos fazem sofrer novamente.

Então, quando a gente vê (por exemplo) as crianças brincando e sofrendo por


causas das brincadeiras; quando alguém toma o brinquedo delas {elas passam
mal, (né?) no meio do jogo (da brincadeira)}.
224
Ai o adulto “dá risada”, porque vê que é apenas um jogo.

Da mesma forma, os Budas olham para nós (adultos, né?) e sorriem, porque
eles veem como nós nos prendemos a coisas tão pequenas e aquilo toma uma
proporção gigantesca (e, ai, a gente passa mal).

A pessoa quando perde uma nota de 20 Reais (ela fica chateada, porque
perdeu); de 50 Reais (pior ainda); se for de 100, ela já ”tá” querendo cortar os
pulsos {porque perdeu a nota, (né?)}.

Ou terminou uma relação (aquilo é horrível, a pessoa fica semanas passando


mal por causa da relação, sofrendo); foi demitido, perdeu o emprego {terrível,
assim, (né?)}.

Então a gente (realmente) estrutura a nossa vida com alicerces pouco sólidos:
a gente, (né?) (ééé) constrói sobre a areia movediça: a gente tenta estabilizar
aquilo que não é estabilizável (e a gente passa mal).

Sistematicamente (de tempos em tempos) a gente tem uma dor de barriga


dessas.

Aquilo é muito ruim, (né?)

A gente não gosta disso.

Então, agente precisa ter esse olho, que não se fixa às coisas (e, ai, a gente
não vai ter problemas quando as coisas se moverem, a gente vai ser como
bambu: vai para um lado; vai para o outro, mas não quebra).

Né? É bem interessante essa imagem do bambu, quando ele vai desviando,
(né?) dos ventos (assim).

Ele segue os ventos sem lutar contra, (né?): ele é flexível.

A gente precisa criar essa mente flexível diante das experiências: mente firme,
rígida, dura demais, quebra {tem apego à idéia, às visões variadas (políticas,
religiosas, filosóficas, econômicas); são pessoas que sofrem muito, porque o
mundo vem e desdiz o que elas acreditam, ai elas xingam , passam mal, se
debatem}.

A gente vai se libertando de todos os “ISMOS”, inclusive o do budismo.

Né? A gente não se apega nem ao budismo: o budismo é, apenas, um barco


que conduz à outra margem e na outra margem a gente larga aquilo e segue,
(né?), livre”s” {voando pelo espaço básico (assim)}.

225
Então, as

Visões falsas – visões parciais.

Então, o bodisatva é aquele que pratica prajnaparamita (ele transcende,


completamente, as visões e atingem o derradeiro nirvana).

Nirvana. Nirvana é uma palavra muito conhecida, (né?), no budismo. Ela traz
esse (quê; de sensação): liberação do sofrimento.

Então, o Buda falava, (né?), que atingiu o nirvana.

(Então), mas o nirvana também tem gradações.

Esse Nirvana (aqui) do Sutra do Coração (ele)

Não é o nirvana do caminho do ouvinte

Ou seja

um lugar onde ninguém incomoda, onde ficamos


imunes.

Porque o nirvana do caminho do ouvinte é uma posição de mente, que se


afasta das coisas, que se afasta das experiências. É uma fuga das
experiências. É uma fuga: é encontrar uma região interna muito pacífica,
tranquila, serena (livre de qualquer apego egóico), porém ainda é um estado
isolado: é um estado condicionado.

Esse nirvana (aqui) não.

Diante de toda a confusão

No nirvana do ouvinte é assim, (né?)

Diante de toda a confusão, olhamos um ponto


longínquo, e não respondemos. Não é esse
Nirvana fechado. É o Nirvana capaz de olhar
todas as coisas sem obscuridades, portanto não
há como ser atingido. Esse é o derradeiro
Nirvana.

Ou seja, é o nirvana, que “tá” no meio da confusão, de todos os fenômenos, de


todos os desafios e, no meio disso, tem paz, tem lucidez, sem precisar fugir de
nada.

226
Percebem a diferença?

O primeiro nirvana é um nirvana de isolamento, um nirvana da fuga (de certa


forma); esse segundo, não (que o sutra está propondo) é uma operação de
mente livre, leve (assim), que flui no meio de todas as experiências mais ou
menos perturbadoras e que não tem mais perturbação no meio daquilo: que
seria perturbadora, mas não mais é.

Então, esse é o nirvana do caminho mahayana.

É o caminho que a gente segue.

Tudo bem?

Então, a gente vai seguir esse caminho, a gente vai transcender todas as
visões falsas “pra” atingir o derradeiro nirvana: o nirvana último (final, né?).

(18:43 – 18:48)

Ai, a gente “tá” no item cinco.

LUCIDEZ – SAMASATHI

SATHI é atenção plena.

SAMA é universal (assim), total, completa.

Todos os budas dos três tempos, por


repousarem na Prajnaparamita, atingem
completamente a iluminação perfeita e
insuperável.

Por repousarem nessa lucidez, nessa visão, na


capacidade de desatar nós, ver o mundo
condicionado, ver a liberdade disso, atingem
completamente a iluminação perfeita e
Insuperável.

Eles repousam na prajnaparamita, ou seja, eles reconhecem esse estado de


vacuidade coemergente de todas as experiências.

Então, quando eles estão no meio das experiências, eles não veem mais as
experiências (ééé) como umas experiências reais (mas eles veem como cenas
de um filme).

227
E eles são expectadores (no meio desse filme); eles não são mais
personagens presos no filme.

Então, é um exemplo, que o Lama gosta muito de usar (é esse): tem a tela do
cinema (“tá” passando um filme).

Quando a gente não entende o processo (é como se eu fosse um personagem


do filme, preso na tela), daquelas cenas.

Quando eu entendo como funciona o processo de criação do filme {é como se


eu tivesse saído da tela (e agora eu “tô” ali sentando no cinema, numa boa),
olhando o filme passar, comendo pipoca, tomando água (que é o que a gente
costuma tomar no cinema, né?)}.

Então, a gente “tá” ali, (né?), olhando, (né?) “pro” filme passar.

Ai eu sorrio, porque eu vejo que as cenas do cinema nada mais são do que luz
projetada numa tela branca.

Ai, como é que eu vou sofrer por causa do filme, quando eu reconheço que o
filme é apenas um filme?

Nas nossas vidas é a mesma coisa: quando eu não reconheço que as cenas
que estão passando são apenas cenas de um filme, {ai, eu “to” lá, como o
personagem de uma novela, dramatizando a coisa, sofrendo, chorando (e
passando mal); me alegrando}.

Então, a gente “tá” assim: (“tá” bem; “tá” mal; “tá” bem; “tá” mal).

Esse é o processo do filme: nós somos como artistas que “tão” presos numa
peça de teatro, que não reconhecem que “tão” na peça.

Quando eu me recuo para o banco do cinema (do teatro), eu (simplesmente)


observo aquilo tudo acontecendo.

Então, os bodisatvas (eles) repousam na confiança da prajnaparamita.

Eles não tem mais dúvidas de que todas as experiências são vazias: não tem
nada mais que possa pegá-los (que possa prendê-los).

Percebem isso?

A gente já usa disso o tempo todo; tem milhares de experiências nas nossas
vidas, que não nos prendem: a gente transita numa boa, leve”s”, tranqüilo”s”,
(né?).

228
Então, por exemplo, tem pessoas que são, naturalmente, pacíficas {mesmo
que alguém as provoque no mercado, por exemplo, assim (alguém, assim te
provoca, toma a tua frente; ou reclama alguma coisa com você) tem gente que
(numa boa) nem entra naquilo, (né?) e seguem o seu caminho}: não entram no
jogo; não é absorvido pela experiência.

Tem pessoas que não tem (por exemplo) preguiça (preguiça não é uma noção
perturbadora, que as pegam): a pessoa sempre tem energia “pra” fazer alguma
coisa; “tão” sempre dispostas, (né?) (acorda cedo “pra” meditar) (...).

“Pros” outros não: “pra” outros (assim), tem uma dificuldade de se mover
(assim) freqüente (dá preguiça, vontade de não fazer nada): sofá, sorvete e
Netflix.

Tá bom “pra” vocês, assim?

Tem gente, que não consegue ficar meia hora assistindo um filme: tem que
fazer alguma coisa. E tem o contrário, também, os hiperativos.

Então, a gente pode “tá” livre”s” dos dois extremos (ou da preguiça e da
hiperatividade): o que tem de fazer, vai lá e faz; depois descansa (assim vai no
movimento, tranquilo).

Então, todos nós já exercemos essa liberdade natural em várias situações.


Agora, o bodisatva, por entender e realizar a prajnaparamita, agora não tem
mais nada que o pegue.

Vocês conseguem imaginar isso?

Não tem mais raiva; não tem mais medo {porque “pra” ter medo (“pra” ter
medo, numa experiência), tem que ter uma identidade operando, que quer
sustentar alguma coisa de algum jeito}.

O bodisatva abriu mão dessa identidade (ele repousa na prajnaparamita; nessa


liberdade natural).

Ele tem essa realização.

Então, medo do quê (ele vai ter)? Ele não tem medo nem de morrer (mais).

Porque não tem identidade nenhuma “pra” segurar; “pra” sustentar.

Então, ele “tá” leve; ele “tá” fluído; ele “tá sorrindo “pra” tudo.

229
Percebem como é fácil de (de) entender isso? (Fazer é um pouquinho mais
difícil); mas entender que essa (que essa) liberdade pode ser exercida é fácil,
(né?)

Não ter medo, não ter raiva, não ter orgulho (orgulho do quê?); {O que (que); o
que (que) um ser humano (sozinho) pode fazer de novo (de diferente), que já
foi feito por todo mundo no passado (e muito melhor, inclusive)? (né?) (Oh! O
melhor, o mais rápido homem do mundo; ai, depois vem um mais rápido;
depois vem outro (tudo vem sendo superado). Não tem nada que a gente faça
que seja motivo de grande orgulho (de se achar a grande coisa).

A gente vai vendo. Não tem (raciocínio modificado) (tudo leve; tudo fluído: não
tem orgulho)

É. Ciúmes, por exemplo. Ciúmes do quê? A gente não consegue possuir nada
(não tem nada, que seja nosso). Nem objetos e, muito menos, pessoas (ou
idéias, ou títulos, ou cargos)

Vai ter ciúmes do quê?

Apego. Como é que você vai se apegar a nuvens no céu? (Ah! A nuvem se
desmanchou. Eu “tava “tão” feliz. Aquela nuvem parecia um trenzinho).

E a nossa vida é assim: são nuvens que vão passando e vão se dissolvendo,
sistematicamente.

A gente tenta agarrar a nuvem e a gente passa mal.

Ai daqui a pouco a gente desiste: parte para outra nuvem.

Ai tenta agarrar outra nuvem.

A gente vai, sistematicamente, passando por isso.

Percebem? Que é um processo contínuo de tentar agarrar o que não é


agarrável?

Você tem de soltar isso.

Então, o bodisatva, ele solta, completamente, esse processo (ele repousa em


paz).

A paz só é possível quando eu repouso na prajnaparamita, que é o


reconhecimento dessa fluidez, dessa liberdade, desse brilho luminoso e vazio
de todas as experiências cotidianas.

230
A gente “tá” andando na rua, num dia de chuva, ai vem um carro e nos
(ESFLECH): nos lava, por exemplo.

E ai? Eu posso: (bfgdjdfyjkfghndkfu)? {ficar muito irritado com o motorista ou,


(OK, né?): dia de chuva, como é que vai escapar disso}? (Acaba acontecendo).

Ai, eu lido com leveza com a experiência, (né?): eu não entro na solidez.

Adianta eu xingar o motorista? (muda o fato de eu estar molhado)?

Ele vai deixar de fazer aquilo (da próxima vez) (ele nem viu).

Então, a gente não entra (não se perturba).

Não quer dizer que a gente não vai exigir os mesmos direitos; não vai ter uma
posição ativa, socialmente: não é isso!

A gente vai fazer o que tem de ser feito: vai corrigir os desvios sociais; a gente
vai atuar.

A gente vai atuar de modo leve, sem apego às bandeiras que a gente vai “tá”
levantando.

Né? A gente não tem apego nem à ecologia; nem à igualdade social {não tem
apego a nada, nem a si mesmo [nem ao corpo]. Por quê? Porque o bodisatva
reconhece que todos os seres [eles não tem um ”eu” fixo, (né?): eles não tem
solidez alguma]}. Então, por reconhecer isso, como é que ele vai, (né?), {como
é que ele vai [ééé] se perder no meio dos vários “ismos”?}

Não vai: não se perdem.

Vocês percebem a diferença de operação?

A gente pode fazer as mesmas coisas {ações sociais [e seja o que for], mas de
fora: destacados da experiência}.

(pausa)

Faz sentido?

(pausa)

(27:46 – 28:00)

231
O bodisatva opera, numa outra base, (né?), como ele tem essa liberdade (ele
opera por sabedoria); ele vê o que {que} é benefício para os seres {sempre
pensando no todo; no coletivo}.

Ele opera a partir dessa base: ele faz o que tem de ser feito a partir dessa
base.

Ele não opera mais a partir de uma base (assim): {Ah! Isso eu gosto ou isso eu
não gosto; isso é bom “pra” mim; isso não é bom “pra” mim}.

Como seres egóicos, (né?), como seres autocentrados (como nós), a gente
opera sempre querendo tirar vantagem: o máximo de benefício para mim e o
resto eu ajudo um pouquinho; mas (sempre) eu me coloco no centro da minha
mandala, (né?): eu sou o centro do meu universo.

O bodisatva, ele não pensa mais assim. Ele se liberta dessa necessidade de
ficar, (né?) (assim) de ficar elevando esse ego; e polindo, e limpando e
cuidando desse ego.

Ele opera de uma base de sabedoria.

Ele sempre atua pelo coletivo.

Ele faz o que tem de ser feito.

E ele é tranquilo com isso e, quando ele não consegue, ele não passa mal,
porque ele não tem apego à própria ação.

Por exemplo, o Buda tentou ajudar muita gente, mas muita gente não quis a
ajuda do Buda. (porque, para ser ajudado, alguém tem de querer ajuda).

E ai, você acha que o Buda passava mal, ficava deprimido {quando não
conseguia ajudar as pessoas}?

Não. Ele não opera mais a partir de uma base egóica, assim: {eu quero ajudar
o outro}; o Buda, apenas, emana ajuda.

Não é pessoal: a questão, não é mais pessoal

É uma visão ampla, livre, coletiva (assim), que transcende as fronteiras.

(29:32 – 29:36)

É o exemplo como se fossem os raios do sol.

232
O sol “tá” lá, uma estrela de quinta grandeza amarela, que deve durar mais uns
quatro bilhões e meio de anos.

Ele amana luz e calor em todas as direções {e o sol cobra tarifa de energia [por
exemplo; tem bandeira vermelha; bandeira amarela na conta de luz do sol?]}

O sol, apenas, emana.

Ele não vê “pra” onde aquilo vai.

Ele é uma fonte de luz e calor.

Então, o Buda é como um sol {ele emana aquilo e não vai cobrar nada: não vai
olhar “pra” traz}: ele, apenas, manifesta isso {de modo impessoal}

Maravilhoso.

Então, os bodisatvas repousam na confiança da prajnaparamita e, assim, eles


atingem, completamente, a iluminação perfeita e insuperável.

Atingem completamente...

Não basta samadhi

Então, samadhi é a palavra que designa a absorção meditativa, (né?)

Ou seja

(samadhi é furarmos essa montanha, e podermos


observar através dela). Completamente significa
que nós vamos perseguir os conteúdos que não
pudemos ainda praticar a liberdade frente a eles.

Ou seja, atingem, completamente, a iluminação perfeita e insuperável.

Não adianta assim: {eu sou uma pessoa livre, serena, tranquila e estável
[enquanto não acontece nada de ruim comigo], ai, eu sou lá [um grande
praticante], vou “pra” sanga, mantenho um pose de energia estável, equilíbrio,
(né?); [converso sobre coisas elevadas; sobre os vários livros, que li]; aquela
coisa assim, (né?); mas quando alguma coisa sai do eixo, eu me perco,
completamente [a minha energia oscila e eu me pego respondendo de um
modo convencional (como qualquer outra pessoa que nunca praticou, que
nunca ouviu nada do Dharma)]}

Isso significa que o Darma ainda não penetrou naquela região.

233
“Pra” atingir a iluminação completa e insuperável, eu vou ter de olhar para
todas as regiões obscuras. Todas. Então, por isso, é bom fazer uma listinha de
coisas que me perturbam.

(31:42 – 32:00)

(Disseram: vale a pena começar).

Vale a pena.

Porque é isso: são incontáveis regiões difíceis, (né?) de penetrar, mas aquelas
que eu começo a olhar, eu já começo a ganhar mais liberdade {um pouquinho
que seja}.

Nossa! As pessoas relatam melhorias nas relações familiares, de trabalho, em


meio ao mundo {leveza, né?}.

Um pouquinho que você trabalhar, você vai ver que é um GRANDE passo.

Então, é (éé) um pouco de estratégia de {assim} de prática, (né?), ao invés de


deixar solto na mente, eu sugiro que se tenha {realmente} um caderno de
práticas (assim).

Você tem um caderno e você anota a situação que você vai analisar.

Você “tá” (“tá”) se observando.

Você se torna um (um) praticante que olha (olha) “pra” si mesmo; olha “pros”
seus sonhos; olha “pras” suas atitudes em meio ao mundo; {antes de dormir, [à
noite], observa o que passou durante o dia}.

Poxa! Eu me perdi completamente naquela situação. (Ai, eu anoto aquela


situação, assim.)

Eu vejo que aquilo é uma prisão (ainda).

Ai eu pratico prajnaparamita, olhando “praquilo”.

Ai, você passa aquele “filminho” de novo e olha com outro olho.

Você vai pacificando aquela região {que te perturbou ao longo do dia}.

A gente vai ter de fazer isso MUITAS vezes.

Né? Não é assim {só entender a prajna: eu tenho de aplicar nas várias
situações perturbadoras}.

234
Essa é a idéia.

Então furar isso é ver. Mas agora pegamos essa


capacidade de ver e entramos em meditação.
Essa meditação se chama samasathi.

Então, SATHI é a atenção plena; SAMA é a mais elevada: completa.

Então, samasathi é o sétimo passo do caminho óctuplo [é a prática de


prajnaparamita, (né?)]

Então, a gente vai fazer isso, sentados, em meditação.

Vamos buscar, cuidadosamente, todos os


obstáculos e é dentro desse sentido que dizemos
entre confusão e não confusão (é melhor
confusão); entre confusão com dor e confusão
sem dor (é melhor confusão com dor). É esse o
sentido de samapathi. Porque se nós
conseguirmos (habilmente) proteger regiões de
confusão e proteger regiões de dor sem lucidez,
essas regiões ficarão aguardando.

Isso acontece MUITO com os praticantes: a pessoa faz MUITA shamata {ou
seja, a prática de concentração [equilibra energia, foco único, silêncio (ela vai
gerando uma estabilidade)]}.

Mas isso não significa que ela está lidando com as regiões de perturbação.

Ela (ela) gera uma casca de proteção, que é perigosa: ela se isola do mundo,
através de shamata.

Aqui não: aqui a gente ”tá” invocando nossos demônios internos (um por um)
“pra” olhar “pra” eles.

(Ééé), quanto mais eu olhar, mais rápido eu vou alcançar a iluminação.

Se eu for hábil em fugir, em esconder {em varrer para baixo do tapete


[direitinho] e maquiar bem a coisa [ai, aquilo vai ficar por baixo (assim)
(apodrecendo; esperando)]}.

Ai, quando brota causas e condições que acionam aquela região {alguém vai lá
e levanta o tapete [de repente] tá cheio de verme ali}.

(35:18 – 35:25)

235
Quando o Lama (fala assim) com dor é melhor (por quê?) porque eu encaro as
regiões de dor.

Eu tenho que olhar “pros” abandonos, pras” rejeições, “pras” raivas, “pros”
medos, “pras” traições, “pros” (“pros”) roubos, (né?), “pra” todas as situações
perturbadoras (ééé), que nos infligiram e que a gente infligiu aos outros.

A gente vai ter de olhar “pra” tudo: vai ter de dar uma limpada geral (assim) na
(no porão da casa).

Esse porão é velho.

Tem cobras e lagartos.

(35:57 – 36:12)

É assim: são muitas vidas de lixo psíquico, marcas mentais confusas, vidas e
vidas e vidas.

E nós somos o resíduo cármico de tudo isso: o resto da equação (nós somos o
que sobrou disso).

Tem esse carma {que a gente tem de liberar, (né?)}, mas tem uma região de
lucidez operando (sem dúvida).

É. O exemplo tradicional (também) é esse: por mais espessas que sejam as


nuvens, sempre tem um pouco de luz do sol, que atravessa.

Então, mesmo que nós tenhamos muita confusão, tem regiões nossas de
sabedoria que “tão” operando (o tempo todo). Não somos 100% ruins e não
vamos nos tornar 100% bons, um dia. Não! {A gente tem lá [varia] esse
gradiente de luz [ai], que brilha}.

.Tem hora que a gente “tá” mais lúcido mesmo: 70%; tem horas que cai para
30, tem horas que cai para 5%: tudo escuro; só vê confusão.

A gente oscila mesmo: não é fixo.

Mas como a gente quer alcançar a liberação; a gente não vai alcançar a
liberação (por exemplo) apenas festejando o que eu tenho de bom.

Eu vou alcançar liberação é sendo corajoso, olhando “praquilo” que é difícil;


“praquilo” que dói; “praquilo” que eu não quero ver.

Então, eu vou ter que olhar.

236
Então, uma vez na sanga, o Lama brincou assim, (né?) (ééé) sempre ter uma
confusão (assim) de ex-namorado; de ex-marido; de ex-mulher, filho. Ai o
pessoal [(-Ai! Lama), eu estou sofrendo; que não sei o quê]. Ai, o Lama dizia
assim: (Não, por favor, namorem bastante, (né?) e, se tiver confusão, melhor
ainda, se tiver confusão).

Porque é isso: a pessoa “tá” tomando refúgio naquilo, achando que vai
alcançar a felicidade através daquilo.

Então, é melhor que esgote aquilo rápido; que veja que não é por ali.

Então, se a pessoa não (não) tem as experiências correspondentes, ela (ainda)


fica (talvez, né?) arquitetando que (um dia, quando aparecer a pessoa ideal ou
o emprego ideal, o a casa ideal, ou o cachorro ideal, os filhos ideais); ai vai ser
tudo muito bom, tudo muito maravilhoso.

Tem esse tipo de ilusão, (né?).

Então, o quanto antes eu me livrar desse tipo de ilusão, é melhor e, a maioria


das pessoas “vão” ter de passar por experiências doloridas para enxergar (É,
realmente, o Lama tinha razão).

Ai, (né?), lá pelo 25º casamento... {É, (né?), esse negócio de casamento é
meio complicado).

Se eu tentar estabilizar a minha felicidade através de um casamento, eu estou


perdido.

Não é isso, a pessoa (ela) alcança a felicidade pela lucidez da prática; ai ela
casa, namora, ou não namora (o que ela quiser).

Ela “tá” bem, sozinha ou com alguém: então, aquilo tanto faz.

É através da lucidez, não é através da situação externa (que eu vou estabilizar)


a paz e a felicidade.

É importante lembrar disso.

Muito bem.

Não deveria... (raciocínio modificado) Ai, o Trungpa Rinpoche traz (muito,


também) naquele livro “Além do Materialismo Espiritual”; (a gente olhou muito
para isso), a noção da honestidade.

237
É preciso ter uma abertura e honestidade total consigo mesmo; não esconder
coisas de si mesmo; se olhar e aperceber {sim, eu fiquei feliz porque aquela
pessoa [ela “tá” me dando trabalho] ela foi embora [que bom que ela foi
embora]}.

Ás vezes, as pessoas se pegam {quando cuidam de uma pessoa idosa [que


“tá” dando muito trabalho] elas se pegam (um pouco) aliviadas e felizes quando
a pessoa morre.

Conhecem histórias assim?

É muito comum.

A pessoa cuidou (assim) deu um trabalhão (talvez por alguns anos).

Ai, quando a outra pessoa morre (Ufa!!). Ai, a pessoa fica mal, porque se sente
{porque está sentindo aquilo: ela (ela) não poderia sentir isso}.

Então aqui, a gente não tem esse tipo de julgamento: não tem essa história de
(não deveria estar sentindo isso).

A pessoa deveria olhar para tudo: todos os impulsos por mais que primitivos e
negativos; a pessoa vê uma cena de violência, num filme, e gosta, por
exemplo.

Ela não deveria gostar daquilo, mas ela gosta.

Ela tem que olhar “pra” isso.

Tem uma marca cármica ali.

Então, a gente tem (raciocínio interrompido). Por que a gente tem uma atração
enorme por filmes que envolvem violência, sexo, traições, roubos e, assim por
diante?

A gente olha “pros” filmes (raciocínio interrompido). É difícil um filme que retrate
uma vida comum, de uma pessoa (que faz tudo direitinho), de uma pessoa que
é eticamente correta.

Geralmente, não são esses os temas, (né?).

(40:50 – 40:57).

É isso. A gente gosta de imprensa sensacionalista, não gosta?

238
A gente gosta de séries {séries com os temas super, (né?) complicados
(assim)}.

É assim.

Porque Isso mexe com as nossas regiões escondidas (que a gente nega).

A gente está nutrindo, mas finge que não tem muito aquilo, (né?).

Escreva no caderninho (isso mesmo): eu estava assistindo a série do Netflix:


(olha lá o que eu percebi em mim, olhando aquele filme).

Eu acho o cinema (os filmes) muito úteis: sevem “pra” muita coisa. Tem que
dar um show de emoções perturbadoras {e de maldades, (né?)}.

Tem muita coisa bonita, também, mas o que predomina é a confusão

Ai você se vê, (né?) localizando em você as coisas assim {daqui a pouco você
está lá, torcendo pelo bandido, [né?], [quem não gostou de Pablo Escobar?
(em “Narcos”, por exemplo) (Wagner Moura, “simpaticão, né?]}”.

O personagem pode se tornar algo interessante.

Então, olhem para isso (assim), a gente deveria anotar essas conexões com os
vários reinos negativos (assim).

Vamos praticar em cima daquilo.

Tem bastante material (ai) “pra” olhar.

Não é?

“Caixas de BIC”.

No samapathi vamos passar por dentro de todas


as coisas para poder praticar a vacuidade nessas
regiões.

Vou ter de localizar as regiões de perturbação e vou ter de encontrar o vazio


daquilo.

Eu tenho de encontrar o vazio daquilo.

Se alguma região os mestres não entraram, essa


região vai ter um número imenso de seres
armadilhados, porque ninguém entrou ali para

239
dizer que é vazio, que pode sair dali. Que não se
precisa ficar preso. Então é necessário que todos
esses lugares sejam visitados.

Os mestres tentam entrar em todos os ambientes “pra” ajudar os seres que


estão presos ali dentro, “pra” ensinar o Dharma.

Tipo (tipo assim): acordem; saiam; vocês não são isso que vocês acham que
são; vocês se construíram dessa forma e, portanto, “tão” nessa situação; vocês
tem (a cada instante) vocês tem a liberdade de sair disso.

Então, o budismo é extremamente libertador, nesse sentido: em qualquer


momento, não há situação definitiva.

As pessoas, (elas tem assim), elas chegam para os seus problemas e dizem: a
não! É assim, porque “tá” acontecendo isso; porque tem aquilo; porque tem
aquela pessoa.

Então, a pessoa descreve um rosário, (né?) de justificativas “pra” afirmar o


porquê ela tem de permanecer naquele lugar [(e que não tem saída): não tem
saída. É assim: a vida é assim].

Ai o Buda vem e vai dizer: todas essas situações (sem exceção) são
completamente vazias.

Então, só de pensar sobre isso, a gente dá um salto (assim) de vidas de


(assim) libertação: a gente vai acelerar a nossa iluminação em muitas vidas [só
de pensar (É, realmente, eu tenho um pouco de liberdade, sim; deveria penar
mais sobre isso; eu não “to” preso nos meus hábitos e condicionamentos, não;
eu posso andar em outra direção)].

Porque (éé) não há uma (uma) (o Lama) [o Lama adora esse exemplo (assim)]:
você “tá” numa sequência numérica {1, 2, 3, 4, 5, 6 [então a pessoa acha
(então, “tá”) 7, 8, 9 (mas o que impede que, em algum momento, eu diga 63;
137)}.

Quem determinou que a sequência tem que ser do jeito que vinha vindo (até
hoje)?

Então, a gente não precisa manter essa coerência com a sequência passada
(de forma alguma).

Então, o budismo te liberta da coerência com o seu passado.

Percebem o potencial disso?

240
Dá alegria só de imaginar (Ual! É mesmo, eu não preciso!). Eu não preciso
cumprir os papéis que a minha família me impôs. Não preciso ficar trabalhando
com a mesma coisa (“pra” sempre). Não preciso sustentar as identidades do
meu nome (o que eu quero que os outros achem que eu sou).

Eu não preciso sustentar nada disso: eu tenho a liberdade de entrar e sair na


hora que eu quiser.

Fantástico?

Agora, “tá” [mas eu tento e não consigo (as pessoas dizem)]

Ai vem a prática continuada, paciente, repetitiva de olhar, olhar [eu tenho de


recuperar essa (essa) liberdade; a capacidade de exercer essa liberdade].

É isso que a gente “tá” fazendo aqui, sistematicamente: a gente (repete, repete,
repete, repete); vai ficando (mais claro, mais claro); (medita, medita);
(conversa, ouve, escuta, lê, estuda, ouve vídeos na internet) e aquilo vai
(avançando, avançando, avançando) a gente vai ficando, cada vez, mais
capaz”es” de lidar com as situações.

Então, podem ter confiança nisso.

Milhões de pessoas já alcançaram a iluminação (através desse método) ao


longo de 2500 anos. Não é uma coisa que inventaram agora [“new wave”,
assim: (talvez funcione; talvez não)].

É um método testado e validado e os praticantes seguem o mesmo roteiro


[muda o cenário, muda a tecnologia, mudam (assim) a forma como as pessoas
se vestem e parecem, mas o modo de operar a mente é o mesmo: não muda
nada ao longo dos (dos) séculos]. Por isso que o budismo segue vivo e segue,
completamente, útil.

[Perguntaram: e a gente segue, sempre apontando “pra” fora, (né?)]

Tem essa tendência.

E quando eu “to” fixado num ego (numa identidade meio cega), que não tem
um observador {é isso, o ego é como se fosse assim [né? ele “tá” dentro (dum)
duma bateria (assim) antiaérea (então “tá” passando aviões e ele “tá” lá – TÁ,
TÁ, TÁ, TÁ, TÁ, TÁ, TÁ, TÁ, TÁ -, tentando derrubar os aviões)]}.

Então o ego opera dessa forma. Ele “tá” autocentrado: Ele não tem tempo “pra”
(“pêra” ai: vamos olhar para nós, aqui). Ele “tá”, apenas tentando derrubar os
aviões que “tão” atacando “ele”.

241
Ele olha “pro” mundo com esse olhar [eu contra os outros, (né?)].

Ele não percebe que o olho dele cria o avião (junto com o avião: não há avião
separado dele).

Ele não tem observador.

Então, a gente precisa gerar esse observador interno.

Então, na prática de shamata eu vou gerar esse observador.

Ai eu uso esse observador, que eu “to” gerando “pra” desenvolver sabedoria


(que é a prática de prajnaparamita).

(Perguntaram: esse observador não tem identidade, então?)

No início tem. No início tem um observador, que (ainda) é uma identidade


construída (ainda); mas é uma identidade mais útil (é uma identidade mais
inteligente, já operando).

Ai, prajna vai dissolver, inclusive, esse observador (mais adiante).

Inclusive, esse observador (ele é coemergente): ele não é real, também; mas,
por um tempo, eu uso esse observador como uma ferramenta de prática {é
uma região mental [que eu crio (artificial)]; mas esse observador da meditação
é superútil [eu crio ele]}.

Ai, ele vai ser aplicado por um monte de tempo.

Ai, eu vou avançando na meditação, até um momento que eu dissolvo


(inclusive) o observador.

(48:27 – 48: 54)

Era mais ou menos (tipo) o filme Matrix, (né?).

No Matrix, (né?) as pessoas começavam (assim) a querer fazer coisas


diferentes (e começavam a não mais querer seguir as regras da Matrix).

Ai, começa a surgir a possibilidade de sair (quando eu começo a não querer


jogar os mesmos jogos de modo automatizado).

Né?

A gente precisa fazer isso.

242
Guru Rinpoche depois de andar no Tibet foi para
a Terra dos Demônios canibais, porque lá havia
outras regiões rígidas, fixas.

Não é um lugar para arhats,

(seres puros e pacíficos)

estes vão todos para a Terra Pura. Guru


Rinpoche transforma a Terra de Demônios
Canibais em Terra Pura, com o poder do vajra, o
poder da vacuidade, a ação irada. Ação irada é a
destruição dos mundos.

Então, entra essa noção, (né?)

A nossa prática não é uma prática só de conforto, paz e tranquilidade. É uma


prática que vai penetrar nessas regiões difíceis (terras dos demônios canibais).

Não é?

Vamos pensar: nós vivemos numa terra meio assim, (né?), vamos pensar que
no Brasil, por ano, morrem por morte violenta 56 mil pessoas.

Morte violenta.

De 2011 a 2015 morreu mais gente (por morte violenta, no Brasil) do que na
guerra da Síria, por exemplo.

Lá (eles “tão” lá) com aviões, tanques, mísseis e (aqui) no “revolvinho”, (né?),
na metralhadora (ééé) morre mais gente do que lá.

Então, não é, propriamente, um país muito tranquilo (assim), (né?).

É um país que tem bastante violência urbana e rural, também, (né?).

Tem violência.

Mata fácil.

A bala perdida já “tá‟ virando uma coisa super comum (notícia de bala perdida,
toda semana tem).

Então, terra de demônios canibais [vamos pensar assim, (né?)]

A gente tem de lidar, (né?) com as situações.

243
Então, ao mesmo tempo, eu tenho (aquilo que é de bom) e (aquilo que é de
ruim).

Então, a gente tem esse misto (assim) no reino humano, (né?), as situações
mais auspiciosas e menos auspiciosas.

A gente vai ter de usar as menos auspiciosas “pra” praticar.

Por exemplo, as pessoas não se sentem muito bem (sei lá) no cemitério (muita
gente não gosta de cemitério).

Então, uma prática interessante é ir ao cemitério e dar uma caminhada, dar


uma olhada [ver o que (que) brota; o que (que) não broa]: vai acessando essas
regiões de medo.

Eu tenho medo de vivo; eu não vou ter medo de morto.

(51:35 – 52: 08)

Entrar nas regiões de medo e obscuridades; a gente vai ter de fazer.

No hinduísmo temos a Trindade hinduísta:

Brahma – o Criador constrói o mundo.

Vishnu - o Protetor e Sustentador do mundo.

Shiva – o Destruidor do mundo.

Então, Brahma, Vishnu e Shiva (ééé) “pra” quem conhece um pouco, (né?), o
pessoal que pratica yoga ou já passou por outras correntes hinduístas (sempre
tem essas explicações).

Guru Rinpoche seria Shiva, o destruidor, aquele


que vai destruir os mundos. Quando entendemos
isso, o aspecto sustentador do mundo ao qual
temos grande apego, Vishnu o torna menor,
espantosamente. Vishnu é Chenrezig.

(Sustenta, mantém as coisas funcionando)

Brahma seria o próprio Kuntuzangpo.

“Pra” nós, (né?) - um monte de nomes, (né?) -; então, na visão budista tem
Kuntuzangpo (o Buda Primordial), de onde brotam todas as construções, (né?
Samantabadra é Kuntuzangpo) (primordial).
244
Ai, Chenrezig a gente poderia dizer que esse que mantém a compaixão e o
amor operando em meio ao mundo (mantém tudo funcionando), tudo
sustentado por amor e compaixão e o Guru Rinpoche vem e destrói as
construções, (né?), ele mostra as artificialidades das construções e como
perfurá-las.

[Perguntaram: qual seria a diferença entre Kuntuzangpo (a


Natureza Primordial) e a Natureza Básica da Mente?]

É a mesma coisa. Não há um Buda [como se fosse uma Entidade, (né?)]: ele é
(apenas) (é) simbólico. {Essa é a grande diferença [por exemplo,] do Brahma
[do hinduísmo] “pro” [“pro”] [ééé] Kuntuzangpo do budismo, (né?).

Esse nosso Kuntuzangpo não é um (um) Deus criador primordial (não há isso
no budismo); ele representa essa qualidade Primordial da Mente, (né?) (essa
Liberdade Primordial), que é a mesma liberdade de todos os seres.

Não é?

É diferente, (né?).

O Lama “tá” fazendo (aqui) um paralelo (apenas) com as funções, mas não
quer dizer que seja a mesma coisa, (“tá”?); de modo algum, filosoficamente
(aquilo) é bem diferente.

Então, Guru Rinpoche é aquele que vai destruir os mundos.

Quando entendemos isso, o aspecto sustentador


do mundo (leitura interrompida)

(Ah! Isso eu já li.)

Na visão limitada hinduísta, Brahma é aquele que


constrói o mundo, como um deus criador, e o
mundo passa a existir.

Mas na visão budista Brahma não terminou a


criação, ele está vivo, estamos seguindo
construindo, e essa construção é vazia. É um
sonho de Brahma, não é uma construção física, e
é por isso que o sustentador, Vishnu, vem para
nos sustentar. Considero esse aspecto muito
importante.

245
Por exemplo, Cultura de Paz, Responsabilidade
Universal seria Vishnu. Precisamos estruturar a
Vida Humana Preciosa porque ela é a base para
podermos atingir a liberação. Se não tivermos
tudo organizado por Vishnu, Shiva não tem como
destruir direito isso. Se a destruição for
condicional, ela não é destruição de Shiva. A
destruição de Shiva é a destruição mesmo.
Enquanto não estiver organizado na minha
frente, não consigo matar! Então Vishnu
organiza, pacifica e entrega, e aí Shiva, clept!

Então, a idéia é essa, (né?), se a pessoa “tá” muito confusa no samsara, muito
desorganizada, é difícil “pra” ela se libertar.

Então, no budismo, a gente tem uma série de práticas e ensinamentos, “pra”


primeiro organizar a vida da pessoa, no aspecto prático, no aspecto causal.

Então o Buda vai dizer, (né?): evite as ações não virtuosas, cultive as ações
virtuosas; pratique amor, compaixão, alegria, equanimidade; generosidade,
moralidade, paciência, energia constante, concentração e sabedoria.

Então, vamos organizar; vamos nos relacionar bem; vamos nos alimentar
direito, “pra” manter a saúde; vamos ter rotinas adequadas para preservar
nossa vida; e assim por diante (a gente organiza tudo).

Ai, eu tenho o ambiente, as condições adequadas “pra” praticar; ai sim, eu


posso penetrar nessas regiões de confusão mais profundas, mais complexas,
(né?).

Ai, com tudo mais organizadinho, ai eu venho e corto.

(Ai, funciona melhor), porque se eu tento cortar quando está tudo confuso,
aquilo não funciona muito bem.

É difícil.

Eu tenho de, primeiro, dar uma arrumada no samsara.

Pode ver, uma pessoa muito perturbada, como é que ela vai sentar para
meditar?

Não consegue. Ela não consegue nem conversar direito (ela “tá” mal: “tá”
tremendo, “tá” chorando, “tá” perturbadérrima).

246
Como é que ela vai sentar e olhar para a própria mente?

Impossível.

Então, primeiro tem que dar uma organizada nessa (nessa) confusão mais
grosseira no mundo [(e ai, é o método causal), tem de organizar a própria vida
(ela tem de se afastar das emoções negativas e tem que cultivar as
qualidades)]

E ai, quando a gente tenta ajudar essas pessoas (a gente tenta fazer isso): vai
conectando “elas” com atividades positivas; a gente vai oferecendo chances
“pra” elas gerarem méritos (“pra” elas praticarem generosidade; “pra” elas
ajudarem.

O CEBB (aqui) nada mais é do que isso [a gente aluga um espaço desse,
monta e organiza (“pra” que muitas pessoas possam ajudar, possam fazer
coisas, possam participar), porque as pessoas vão organizando, vão gerando
méritos e, ai, a prática delas vai melhorando].

Então, esse é o método.

A gente tem que ajudar as pessoas a se conectarem com o Darma, primeiro


através de ações virtuosas.

É assim que a gente vai operar.

(57:38 – 58:29)

Aqui, nesse nível de prática (a gente “tá” falando de prajnaparamita), eu não


vou fugir de nada: eu não vou (éé) tentar deixar “pra” depois; varrer “pra”
debaixo do tapete, (né?).

Eu vou ter de olhar “pra” tudo. Só que eu não vou olhar “pra” tudo de uma única
vez. Vou aos poucos: eu vou montando a minha listinha, (né?); eu vou olhando
aos poucos (o que eu tenho de olhar).

Por que o que ele “tá” dizendo aqui é que eu deveria (“pra” chegar nesse ponto
de fazer isso), olhar “pras” coisas difíceis, eu deveria ter uma etapa
preparatória (que é essa etapa de gerar virtudes; de (éé) se afastar das
negatividades [no sentido prático da coisa, (né?), (não gerar mais
negatividades), (né?), não praticar as ações não virtuosas (matar, roubar, sexo
impróprio, mentira, fala agressiva, fala separativa, fala inútil, (ééé), visões
errôneas, avareza e má vontade): as dez ações não virtuosas (principais) e
todas as suas derivadas, (né?).

247
Então, eu evito esse tipo de comportamento, porque aquilo vai melhorando a
minha vida a vida das pessoas ao meu redor.

Etapa da organização (eu organizo um pouco e isso potencializa a minha


prática de olhar “pras” sombras mais pesadas.

Quanto mais eu avanço nisso, mais preparado eu fico “pra” poder olhar “pras”
regiões difíceis.

Uma coisa apóia a outra.

Ai, quando eu lido com as minhas sombras (e vou pacificando e vou vendo o
vazio daquilo) ai, eu tenho mais liberdade (ainda) interna “pra” poder praticar as
virtudes e evitar as não-virtudes.

O programa vai se tornando naturalmente positivo, sem ter que (sem ter que
me esforçar).

No início, eu me esforço “pra” não fazer bobagem e “pra” fazer coisas boas.

Ai, quando vou liberando essas regiões cármicas, ai, naturalmente, eu vou (ai,
naturalmente não brota a vontade de fazer ações negativas): não tem de ter
controle mais: aquilo foi liberado; aquilo não “tá” sendo mais controlado por
disciplina.

Percebem a diferença?

Isso é muito importante.

(1:00:33 – 1:00:54)

Se a gente pratica a meditação silenciosa, por exemplo, (“pra” equilibrar a


energia, “pra” poder lidar melhor com o externo); a gente faz metabhavana
(“pra” poder melhorar as relações em todas as direções) e, especialmente, a
melhor proteção que tem é a prática de generosidade e moralidade.

Quanto mais eu cuidar das pessoas ao meu redor e fizer ações virtuosas,
melhor eu vou ficar: mais protegido eu “tô”.

Aquilo é imediato: você cuida do ambiente e o ambiente “vai te cuidar”.

Claro que não é numa relação linear (assim), tão simples, (né?); mas você vai
(plantando, plantando, plantando) isso e aquilo vai, naturalmente gerando
frutos: é muito interessante (assim).

A melhor proteção é a prática de generosidade.


248
Ai, com isso, a vida humana preciosa fica potencializada.

Ai eu vou avançando “pra” essas práticas de atravessar (de cortar).

“Pra” eu destruir, (primeiro) eu tenho de ter uma clareza do que eu vou destruir.

Então, eu preciso organizar o meu samsara básico, “pra”, daí, (TIUFI): cortar
através dele.

Esse é o processo.

(1:02:00 – 1:02:36)

No caso da criança (ainda é um método causal) ela aprende (que ela sofre),
(né?), quando ela bota o dedo na tomada.

Então, isso é causalidade, eu “tô” entendendo (no samsara) o que (que) eu


devo fazer e o que (que) eu não devo fazer [que é superimportante, (né?); é
maravilhoso.

Aqui, prajnaparamita, olha “pras” sombras e não (e não) é uma coisa mais
causal em que eu vou resolver as minhas sombras.

Não é nada disso: eu vou olhar “pras” sombras e vou ver a vacuidade da
situação (que parecia sombria).

Não é aceitação; é um atravessar (aquilo); é uma transparência; é ver que eu


“tava” enganado em respeito àquilo.

(1:03:24 – 1:03:32)

Aqui (aqui) não tem mais (nem mais) esse terceiro observador. Aqui,
simplesmente, tem liberdade no meio da sombra: aquilo que gerava sombra
(não tem mais, agora); tem, apenas, espaço e liberdade.

Então, eu não “tô” resolvendo, eu não “to” trocando por uma coisa melhor; e eu
não “to” olhando “praquilo” de fora; eu “to” no meio daquilo com liberdade.

Então, prajna vê a coemergência da sombra e do observador interno (e


dissolve os dois): vê que há liberdade no meio da construção.

Isso é prajna.

Não tem um eu e não tem a sombra, que me aflige (por exemplo).

249
Então, prajna é isso, ela (ela) é o repouso (na paz) de (ver) que aquilo não é
real; não é sólido.

Isso é prajna: não é método causal.

A gente tende a insistir nos vários métodos causais, (né?), porque a gente só
sabe operar através da causalidade.

Pode ver.

(1:04:28 – 1:04:42)

Tem uma tendência assim (um monstro sobre prajnaparamita), eu tento


encaixar prajnaparamita nos métodos que eu já conheço [eu tento pegar algo
que não é causal e tento encaixar naquilo (que eu já opero) que é a
causalidade].

Então, prajna (eu quero resolver) (eu quero usar o prajna como antídoto para
os meus sofrimentos).

Essa é a nossa tendência, (MAS NÃO É ISSO!): prajna é uma sabedoria que
me ajuda a perceber que nunca houve um sofrimento real.

(1:05:14 – 1:05:37)

Tem no budismo, também, métodos causais. Métodos em que você pega uma
coisa e transforma numa coisa melhor (claramente tem isso no budismo. É
ótimo).

Bom, também.

Melhor do que viver de modo automatizado no samsara.

Então, (essa é) (raciocínio modificado) a maior parte sobre dos ensinamentos


sobre a verdade relativa (eles são causais) (eu vou construindo coisas
melhores e vou me afastando das negativas); mas aqui, nesse estudo que a
gente “tá” fazendo (a gente “tá” vendo prajnaparamita), então, eu não “to” mais
me apoiando em métodos causais (de construção positiva). Aqui, simplesmente
eu olho “pras” coisas e vejo a transparência das coisas.

(1:06:12 – 1:07:01)

No samsara usual, é como se fosse assim: o filme “tá” rodando e você não
acha que tem como mudar o filme (você, simplesmente, segue); ai, dentro do
budismo, eu tenho métodos causais “pra” transformar um filme de terror (por

250
exemplo) num filme tranquilo (eu vou transformando o filme; mas ainda “to”
dentro do filme): eu tenho técnicas e práticas “pra” melhorar o filme (mas ainda
é filme).

Prajnaparamita não é isso. Prajnaparamita é sair do filme (é reconhecer o filme


apenas como filme); não importa se é filme de terror; não importa se é filme
“comédia romântica”; ambos são apenas filme: não tem diferença nenhuma
entre eles em essência (apenas filme: luz projetada).

Então, prajna faz isso: eu vejo que prajna não “tá” resolvendo (não “tá”
mudando o filme); prajna “tá”, apenas, olhando o filme com clareza; com
lucidez.

Percebem a diferença?

(1:07:50 – 1:08:20)

O exercício do caderno é mais ou menos assim: “tà” lá o filme rolando, ai tem


uma cena perturbadora (PAUSE: eu “dô” um pause no filme) e anoto a cena
que me perturba [e começo a praticar em cima da cena (com pause)].

É isso, até que aquilo não me afete mais (e solto o filme de novo)

Ai, daqui a pouco, vem outra cena que me perturba (PAUSE)

Vocês estão brincando, mas um amigo meu fez isso com um filme de terror (ele
gostava muito de filme de terror). Ai, ele começou a fazer essa prática [no meio
de uma cena bem macabra ele dava um (pause)]. Ai, sem o som, com a
imagem parada (ele olhava praquilo); aquilo começou a perder o poder (foi
perdendo o poder de envolvê-lo no filme)

Ele começou a fazer isso várias vezes, ai, daqui a pouco (ele tava livre de filme
de terror).

Perdeu a graça, (né?); mas se libertou (pelo menos).

Essa era a ideia.

(1:09:17 – 1:09:44)

(Se não “tá” conseguindo) deixa no caderninho “pra” depois.

Pendências.

Segue o filme.

251
Procurar uma cena mais fácil: não vai resolver tudo de cara [vai resolver o que
for possível (vai olhar e atravessar)]

“Tá bem?

Esse é o método.

Então, a gente “tá” avançando [então, a partir do Sutra do Coração, a gente vai
cada vez mais entendendo melhor o método (e como a gente vai aplicar isso)].

Tudo bem?

(1:10:02 – 1:10: 38)

Prajna é assim: tudo é vazio (não importa a tonalidade da coisa).

Então, é como se você encontrasse a região, que vem antes de qualquer


programação [a região básica, que é comum a todos os seres (que é igual “pra”
todo mundo; que não tem programação nenhuma; não tem hábito; não tem
condicionamento algum).

É isso que a gente “tá” tentando localizar.

A gente vai entendendo isso, teoricamente (em algum momento, a gente vai
localizar isso, meditativamente).

Vai localizar a “sede”: (Ual!!)

Ponto zero.

(pausa)

E percebe que tudo emana desse Ponto Zero.

É isso que a gente vai buscar.

Então, “tá”.

Então, hoje vamos ficar por aqui.

252
VÍDEO 12
RECAPITULAÇÃO

Hoje é o 12º encontro.

Vamos “pra” três meses, que a gente “tá” estudando esse texto,
(né?), do Lama Samten (o texto sobre a Perfeição da Sabedoria
Discriminativa - Prajnaparamita), um dos temas centrais, no
budismo (como um todo), especialmente no budismo mahayana
(e no budismo tibetano a gente vai sempre trabalhar esse tema).
É a base de todas as práticas.

Então, esse olhar (esse olhar de liberdade), esse olhar, que


atravessa a solidez das construções, que entende que, enfim (não
só entende, mas enxerga diretamente) a tal da vacuidade das
coisas

Então, existe, tradicionalmente, essa divisão [da vacuidade da


identidade pessoal: vacuidade do “eu”; indivíduo, (né?) (a idéia de
que o eu é real vai ser analisada; vai ser derrubada através de
uma sequência de raciocínios)].

E ai, não só os raciocínios, mas a prática da meditação focando


esse estado livre (de eu; de identidades) vai nos conduzir á
libertação das identidades.

E, também, existe essa noção de vacuidade dos fenômenos,


(né?), de todas as construções, de todos os objetos, pensamentos
(e assim por diante).

Existe esses dois grandes (gru) grupos (assim), que


tradicionalmente se trabalha (a vacuidade da identidade e a
vacuidade da identidade dos fenômenos)

A gente vem andando nisso.

Então, o Sutra do Coração (o Sutra do Coração da


Prajnaparamita), que é o texto fundamental, [que a gente tá
analisando, (né?), linha a linha], então ele vai demonstrando que
qualquer classe de fenômeno (que você possa imaginar ou
arbitrariamente descrever) aquilo é naturalmente vazio: não tem
solidez alguma, por si só (aquilo se baseia numa construção
coemergente, em que o sujeito e aquilo que é construído surgem

253
simultaneamente (inseparáveis) e, portanto, não existe
(independentemente; por si só).

Esse é o raciocínio básico (assim, fundamental) de


prajnaparamita.

Então, isso parece uma coisa, basicamente filosófica, mas isso


vai nos conduzir através de práticas à realização dessa mente
que nos liberta da prisão dos fenômenos (e consequentemente a
iluminação).

O Buda praticou duas coisas, basicamente. O Buda praticou


shamata [silêncio, (né?); concentração (“pra” estabilizar a mente;
“pra” se libertar das perturbações grosseiras) “pra” que a mente
fosse uma ferramenta adequada “pra” manifestar sabedoria.

Então, sem um pouco de shamata (de silêncio; de foco) é difícil


avançar na etapa de sabedoria (a gente avança, mas pouco; fica
mais ou menos).

Então, o Buda pratico silêncio e concentração.

Em cima disso o Buda praticou essa investigação profunda (que


agente chama de vipassana; que é traduzido como insight
penetrante)

O que a gente “tá” fazendo aqui (prajnaparamita) é uma espécie


de vipassana (“pra” nós, aqui, é a vipassana principal).

A gente vai investigar os fenômenos (investigando, analisando, a


gente vai decompondo) a gente vai vendo que aquilo não “era”
bem o que parecia (antes de fazer a análise).

Então, aquilo vai perdendo força {é como se a gente “tivesse”


rompendo [quebrando] a magia do samsara [o encantamento do
samsara, que nos arrasta (“pra” lá, “Pra” cá; “pra” lá, “Pra” cá;
“pra” lá, “Pra” cá)]}

A gente vai quebrando isso: vai olhando com uma visão de fora
(uma visão mais lúcida; mais distanciada dos fenômenos).

Isso, de início, é uma coisa cognitiva, (né?), uma análise mais


mental (mas isso, com a prática continuada, ela vai alterando,
também, a fixação energética.

254
Então, não são, apenas, idéias, que nos prendem [são vícios; são
sensações agradáveis (movimento de energia, que nos arrastam
em várias direções).

A gente vai trabalhar nesses dois sentidos.

Então, é isso: só dando uma pincelada geral (”pra” quem “tá”


chegando agora) (o que a gente “´tá” fazendo aqui já há algum
tempo)..

E o nosso material de base é esse texto famoso (o Sutra do


Coração da Prajnaparamita).

Tudo bem?

Quem tiver questões, pode trazendo, (“tá”?), não (não) precisa


esperar o momento certo “pra” fazer pergunta não (a gente vai já
conversando).

Então, também, tem um texto [que a gente “tá” seguindo, (né)] e a


gente “tá” no seguinte parágrafo.

O Buda veio e deu o ensinamento como destruir


o mundo a partir da visão humana. Por isso é
necessário preservar tudo direitinho. Só que
destruir é Nirvana

A gente “tava” falando (na semana passada) (uma comparação), que o Lama tá
usando [a partir da Trindade Básica hinduísta, (né)], Brahma, Visnu e Shiva,
(né?), o Criador, o Mantenedor e o Destruidor [a gente “tá” olhando (aqui) em
termos de prajnaparamita, o que (que) isso significa: o que (que) seria esse
destruir (decompor os fenômenos) e nos libertar da solidez da prisão dos
fenômenos].

Então, o Buda introduziu isso:

Só que destruir é Nirvana, mas não é destruir


propriamente, é Liberar!

Não é destruir com o sentido de eliminar as coisas, mas nos libertar das coisas:
a gente não precisa destruir algo “pra” nos libertar daquilo.

Né?

255
Às vezes a gente faz isso; na vida, (né?), na vida, é muito comum a gente
(quando quer se livrar de alguma coisa) a gente tem que cortar aquilo; tem que
se afastar (ou destruir fisicamente mesmo).

Esse é um modelo. (Éé) lidar com os fenômenos (com os problemas; as


dificuldades) usando a disciplina (por disciplina eu me afasto; eu rompo; eu
corto aquilo).

Agora, prajna, não. Prajna é a sabedoria, que me permite, olhar “pra” coisa (e
sem precisar me afastar ou fugir da coisa) eu posso me libertar das fixações
que eu tenho em relação à mesma.

Então, o problema não “tá” na coisa em si, mas no apego à coisa.

E o apego se origina na minha construção enganosa (da experiência da coisa).

Então, eliminando a construção enganosa (eliminado a ignorância), eu me


liberto do apego (me libertando do apego, eu não tenho mais sofrimento diante
dos objetos).

Então, todo o sofrimento do samsara brota do apego [da mente que se fixa a
idéias, emoções, pensamentos, pessoas, objetos: (coisas em geral]; a mente
se fixa; um vez fixada, ela tenta sustentar aquilo como algo (ééé) permanente
(fixo); só que todos os fenômenos, sem exceção, são impermanentes.

Então, essa mente que se fixa às coisas, sofre naturalmente.

Então, a mente que não sofre é a mente que se liberta do apego deludido às
coisas.

Esse é um raciocínio bem importante “pra” a gente guardar e pensar, realmente


(assim).

Todos os meus sofrimentos no dia a dia se devem a quê?

Quando eu tento sustentar (por exemplo) uma identidade que não “tá” mais
dando certo [(né?), aquilo não “tá” mais funcionando bem; mas eu tento (faço
malabarismos “pra” manter aquilo; as pessoas não dão mais nascimento
“praquela” minha identidade, por exemplo)].

Eu passo mal: sofro (porque eu não consigo sustentar).

Ou, por exemplo, uma casa. Uma casa “tá” o tempo todo em decomposição: a
impermanência “tá” atuando, constantemente {você arruma, estraga; arruma,
estraga; arruma, estraga [a gente pinta a parede, alguém encosta a cadeira, cai

256
um pedaço da (do) reboco da parede; a gente arruma o interfone, o interfone
estraga de novo, (né?)]}.

Então, aquilo, é um processo (assim) infinito: a gente fica tentando sustentar as


coisas; mas as coisas são naturalmente vazias e, por serem vazias, elas são
impermanentes.

Então, a impermanência é uma decorrência natural do fato das coisas serem


vazias.

As coisas não existem de um modo sólido e independente: as coisas surgem


por uma composição muito ampla de causas e condições, que as sustentam.

Só que essas causas e condições, elas oscilam (também, por sua vez): elas,
também, dependem de outras causas e condições.

Então, é um grande castelo de cartas, (não é?).

Muitas cartas empilhadas e, quando você puxa uma carta (daqui); uma carta
cai; bate um ventinho; ai cai um pedaço do castelo.

Na nossa vida, também, é assim: a gente vai tentando organizar.

Nosso sonho dourado seria ter o controle perfeito em todas as direções da


vida: tudo funcionando (saúde perfeita, corpo bem, alimentação, exercícios,
tranquilidade, dinheiro, relações); tudo funcionando.

Esse é o nosso sonho (pausa) (pausa), mas no samsara (isso) não funciona.

Não funciona não é porque existe alguma força contrária (algum ser, como o
Maharaja, por exemplo), se houvesse alguma entidade que nos enferniz”a”.

É. Aquilo não funciona, porque naturalmente (todo o samsara é vazio) e, se ele


é vazio, ele é um sonho; é como uma nuvem no céu (não tem como manter
aquele formato por muito tempo).

Todas as formas, todas as construções são, naturalmente, vazias.

Quando eu digo que elas são vazias, eu não “to” dizendo que elas não existem:
eu não “to” dizendo que elas são inexistentes (são, apenas, uma alucinação);
quando eu falo que elas são vazias, eu “to” dizendo que elas não tem
substancialidade alguma.

Portanto, elas surgem duram um certo tempo e, naturalmente, desaparecem.

257
Todos os seres, todo (todo) o relevo, todos os planetas, todas as estrelas; tudo
tem um prazo de duração; aquilo surge por causas e condições, dura um certo
tempo e (naturalmente) desaparece [e, quando desaparece, não sobra nada
(pausa): não sobra nada].

E aquilo mostra, naturalmente, a vacuidade das coisas.

Mas, o nosso apego é muito profundo; é muito antigo; então, nós operamos
através dessa mente (é) (é) deludida, sistematicamente. Então, a gente erra e
repete o mesmo erro (cognitivo) momento, após momento.

Então, a meditação de prajna vai ser a meditação, que vai tentar nos colocar na
posição de mente (que se destaca desse processo) de fixação; de se agarrar
às coisas.

Então, prajna recupera a liberdade perdida (basicamente isso).

(pausa)

Fantástico?

Recuperando a liberdade perdida, a gente faz as mesmas coisas (a gente lava


os pratos, a gente vai ao mercado, a gente se relaciona, a gente trabalha); mas
a gente flui no meio das coisas sem gerar apego e sofrer (por causa das
coisas).

Por exemplo, nas relações afetivas, por que (que) as pessoas sofrem?

Sofrem, porque elas se apegam (tem uma expectativa de comportamento das


outras pessoas) (as outras pessoas teimam a não se comportar “direitinho”)
(elas não obedecem): (elas não são obedientes à gente); (Como é que pode?
Elas não obedecem); (a gente reclama, briga e discute); [aquilo fica pior, (né?),
com o tempo]; (ai, consegue melhorar um pouquinho); (as pessoas acabam se
afastando).

Intolerância, por quê? Porque eu tento manter de um certo formato específico


(algo, que não é fixo).

Uma tentativa impossível, porque as pessoas mudam o tempo todo.

Como é que você mantém uma relação (sempre) no mesmo formato?

Não tem como.

Impossível.

258
Aquilo é naturalmente fluído.

Então, o melhor que eu tenho a fazer é o quê?

Lidar com a fluidez da vida (do samsara), da mente.

Quando eu aprendo a lidar com essa fluidez, eu me desarmo, relaxo: eu vivo


muito melhor.

Não é assim?

Alguém não concorda?

(18:36 – 18:51)

Nós estamos presos pelos hábitos, condicionamentos (ééé) individuais,


familiares, sociais, culturais (e assim por diante).

Uma série de (de) marcas, que nos condicionam [é como se a gente (uma
imagem, que o Lama Samten nos dá, assim) é como se a gente tivesse muitas
agulhas espetadas no corpo todo. Quando, alguém vem e aperta numa agulha,
a gente passa mal, (né?): aquilo dói.

Então, a gente “tá” muito sensív”eis”, (assim).

Frágil, essa construção.

É só ver os sofrimentos (pequenas coisas). O Buda fala, (né?), que o nosso


sofrimento é como o sofrimento das crianças (quando quebra um brinquedo).

É a mesma coisa: nós temos os nossos brinquedos de adultos.

Ai, quando a gente quebra ou perde um brinquedo, a gente passa mal.

A gente tem de aprender a sorrir “pra” isso. Por isso que prajna não é uma
coisa seca, dura {a gente fala de vacuidade [é como uma coisa filosófica,
abstrata (ééé) apenas para os eruditos]}.

Nada disso.

Prajna é uma inteligência criativa {um novo modo de ver as coisas, que me
deixa leve, que me traz um sorriso, que me permite sorrir perante o Maharaja,
[quando ele vem e me toca com a impermanência (vamos dizer assim)]}.

É super libertador.

259
E, “pra” fazer isso tem muitas formas, por exemplo, no final de semana a gente
teve com esse grande mestre, “Tenzin Wangyal Rinpoche” (a gente teve um
final de semana com ele); então, ele vai dar uma abordagem energética de
como trabalhar com (respirações); como trabalhar com visualizações; como
trabalhar com exercícios físicos (iogas variadas); “pra” você mexer com a
energia; mexer com os ventos e canais, que mexem diretamente com a
estrutura mental.

Ou seja, mente, energia e corpo são inseparáveis.

Quando eu mexo no corpo, aquilo afeta a energia e afeta a mente.

Quando eu mexo na energia, aquilo afeta o corpo e afeta a mente.

Quando eu mexo na mente, aquilo afeta a energia e o corpo.

Então, tem métodos mais focados no corpo, métodos mais focados na energia
e métodos mais focados na mente.

Então, por exemplo, quando a gente faz (aqui) um estudo teórico de


prajnaparamita, a gente “tá” trabalhando mais a nível mental.

A gente vai trazer esse nível mental também “pra” desfazer os nós energéticos.

É necessário.

Esse é o movimento: várias técnicas; muitos métodos; muitos mestres; cada


um deles vislumbra (assim) novos meios hábeis de como ajudar as pessoas a
saírem das suas prisões e condicionamentos.

Então, não há um budismo: existem incontáveis budismos (quando se diz que o


Buda deu 84mil classes de ensinamentos diferentes) “pra” lidar com as infinitas
disposições mentais dos seres.

É assim que funciona a brincadeira.

Então, a gente “tá” vendo isso, (né?), no texto.

Então, o objetivo de prajna não é destruir; não é cortar; mas liberar.

Liberar, eu não preciso fugir da experiência [diante da experiência que (no


início) me entortava, agora eu olho com naturalidade e fluo no meio daquilo]

Isso pode chegar ao ponto (por exemplo) [muitos mestres e monges tibetanos,
mesmo sendo torturados nas prisões chinesas, não perderam essa clareza e

260
(não enlouqueceram; não geraram mágoa; não geraram rancor)]: atravessaram
algo muito difícil e saíram bem: saíram com amor e compaixão do outro lado.

Interessante, (né?), a que ponto a gente pode levar isso.

Por exemplo, em geral, os praticantes iniciantes (como nós), [a gente “tá”


praticando o Darma (muito bonito e maravilhoso); a gente sai ali fora e se
alguém vier e nos assaltar e levar uma bolsa (a gente fica perturbado”s”,
assim): nos tira do eixo.

Então, isso é porque a prática da vacuidade ainda está longe: a gente não
consegue ver a vacuidade da bolsa (do celular, da carteira de identidade, do
dinheiro e etc.)

A gente não consegue.

Muito apegados.

Isso quando eu “tô” falando de objetos e quando a gente vem pro próprio
corpo, então? [se alguém chega e nos empurra; nos dá um tapa; um tapa no
rosto (é uma ofensa muito grave) ; (um tapa no rosto); (como a gente valoriza o
rostinho)]. Tem um apego a esse nosso corpo [a gente mata “pra” não morrer
(não é assim?)].

Em geral, numa disputa, se a pessoa, “pra” não morrer, puder matar, ela mata.

É raro quem toma uma atitude (assim) de relaxar e soltar.

Medo de morrer; apego á existência; apego à própria identidade.

Muito profundo, (isso).

A gente vai começando com coisas mais fáceis; depois as mais grosseiras [e
vai avançando, aos poucos, “pra” essas regiões de apego muito antigas (muito
profundas)].

(23:42 – 24:13 perguntaram: Desfazer os nós energéticos é uma coisa física?)

Não. Aquilo é em nível mental, também, porque (vamos pensar assim): a


energia é inseparável da mente. Então, quando (eu vou dar um exemplo bem
claro, assim): por exemplo, ai você recebe um telefonema (uma má notícia),
aquilo chega por uma via cognitiva (tem uma fala; uma informação); aquela
informação é ruim (uma má notícia); ai, a tua energia entorta {na hora: [você
começa a passar mal, (né?), taquicardia, tensão, respiração curta]}.

261
Então, uma informação mental alterou a energia e corpo.

Ai, daqui a pouco a pessoa diz (Não, não, não. Desculpa. Foi engano).

Ai você: (Ufa!!!)

Então, uma informação cognitiva, imediatamente, liberou a tensão energética.

Então, é interdependente.

Então (aqui) é a mesma coisa. Quando tiver (por exemplo, assim): eu vou
trazer uma situação perturbadora {um hábito; um padrão de alimentação [uma
coisa que eu não consigo deixar de comer (bolo de chocolate, (né?): uma
coisa, assim, que ninguém (todo mundo acha horrível)].

Ai é aquilo (a pessoa não consegue se livrar); quando vê aquilo, ela não


consegue dizer não praquilo (nem por disciplina e nem, muito menos, por
liberação).

Então, a pessoa vai observar aquilo, (né?) como que ela constrói a idéia {ela
não nasceu gostando de bolo de chocolate: aquilo foi construído por sensação,
percepção, por raciocínio (aquilo é bom) (ela aprendeu a identificar aquilo): tem
toda uma construção que mistura a sensação [os cinco skandas, (né?): (forma,
sensação, percepção, formação mental e consciência); então, em cada
experiência, os cinco skandas estão operando]}. Então eles nos prendem (eles
que dão a sensação de solidez da realidade).

Então, o que (que) tem de real no bolo de chocolate? O que (que) tem de real
no sabor do açúcar?

Né?

O que (que) tem?

Então, aquilo aciona alguma coisa {que vai pela língua [que vai acionar o
sistema nervoso; que vai “pro” cérebro (que vai traduzir aquele estímulo numa
sensação agradável)]}: aquilo é uma construção.

Não existe realidade alguma no sabor do doce, assim como não existe
realidade nenhuma nos produtos visuais [a luz chega aos olhos, penetra, vai
“pra” retina (cones e bastonetes) e aquilo é traduzido em impulsos elétricos e
químicos (que vão pelo nervo óptico) “pra” região do cérebro (que ninguém
sabe como constrói imagens mentais.

Onde é que são construídas as imagens visuais (gente)? Onde é que “tão”?

262
Quando eu sonho (à noite) os olhos “tão” fechados (da onde vem a luz do
sonho?): não precisa ter sol lá fora “pra” ter luz na mente.

Então, a gente vai descobrindo que (na verdade) tudo o que a gente vê (não é
uma luz externa, que entra pelo olho e cria uma imagem), a gente vai ver que a
visão é uma construção mental, também (pausa) (claramente).

Pessoas diferentes vêem coisas diferentes, com tonalidades diferentes.

Bem interessante (isso).

Legal, também, a experiência dos óculos 3D (você põe os óculos e vê


diferente).

Ai, a outra pessoa, que “tá” do seu lado, sem os óculos, olha praquilo (e vê
outra coisa: vê tudo nublado ou embaçado).

O que (que) é real? O que você “tá” vendo com os óculos 3D ou que ela “tá”
vendo embaçado?

A gente começa a entender assim: todas as experiências sensoriais não tem


realidade própria alguma (vai depender da estrutura mental, que participa da
experiência).

É dessa forma: tem gente que ama chocolate; tem gente que é (mais ou menos
chocolate) e tem gente que nem come chocolate.

Então, chocolate é (intrinsecamente) bom (ou gostoso)?

Claro que não. (pausa) Depende de quem olha.

Então, a gente vai entendendo que todas as experiências são relativas.

Então, esse processo de prajna (esse processo que vai olhando “pras” coisas),
relativizando as coisas (elas vão perdendo poder).

Quando eu analiso (ponho um pedaço de bolo na minha frente) sinto a energia


alterar; mas eu paro, olho (observo esse movimento da energia), vejo a
coemergência [a gente vai fazer o roteiro, direitinho; agente vai entrar nisso; é
uma meditação bem especificada (que o Lama montou)].

Eu vou olhar como é que aquilo brota (olho uma vez, olho duas, olho três) eu
vou diminuindo o poder [o encantamento (é como se fosse uma macumba)]. E
aquilo tem poder sobre mim (me entorta) sem eu (seu eu ter) (raciocínio

263
modificado); mas quando eu começo a olhar; a olhar (esclarecer); eu lanço
consciência lúcida sobre aquilo (éé) eu vou me destacando da experiência.

Ai eu vou me libertando.

E isso mexe com a energia, imediatamente.

(28:53 – 29:01)

Prajnaparamita é a sabedoria, que conduz à lucidez

No início, ela é uma coisa um pouco (aprendida), ou seja, (é) teórica; mas eu
vou (treinando, treinando, treinando) e aquilo vai ficando natural (meu olho vai
abrindo) até chegar o momento em que aquilo é natural (não tem mais que
raciocinar “pra” ver daquele modo).

Porque a mente dualista, ela olha assim: tudo separado (eu aqui, câmera lá
fora, vocês ai); ou seja, tem a sensação de separatividade real (essa é a mente
dualista; a mente samsárica).

Quando a gente avança na sabedoria de prajna, (essa sensação de


separatividade em relação a todos os fenômenos) vai desaparecendo.

E isso [essa (essa) visão da coemergência] da inseparatividade


(observador/objeto) supera a divisão (sujeito/objeto); que é a raiz de toda a
confusão.

O Primeiro Elo dos Dozes Elos da Originação Interdependente é a ignorância


(AVIDIA): não conhecimento (ignorância); que é justamente o surgimento da
percepção dualista (começa assim, a confusão).

E ai, prajna é o (o) (o) movimento reverso (eu vou gerar uma sabedoria, que
atravessa a dualidade; atravessa a ignorância).

Tudo bem?

“Tô” falando grego?

Não?

Alguns já ouviram isso muitas vezes, mas outros não, (né?)

A gente vai indo (assim).

Então, o desenrolar dos nós energéticos ele funciona, assim, a nível de corpo,
a nível [por exemplo, eu posso fazer (isso) yogas variadas] “pra” repor energia;
264
mas eu posso fazer a nível de energia (respirações e visualizações), sem ter de
mexer muito o corpo; mas eu, também, através de uma mente clara, lúcida
(que tem o raciocínio correto) também eu consigo desfazer.

Eu vou usar todos os remédios disponíveis na prateleira.

Mas, aqui, a gente “tá” desenvolvendo esse método analítico (esse método
mental de como atravessar).

É super útil.

(31:08 – 31:012)

A gente vai usar o Mantra (também) como ferramenta.

O Mantra se baseia na compreensão.

A concentração silenciosa não tem inteligência (nela); ela não tem sabedoria
dentro dela. Então, ela não conduz à liberação.

Então, eu comentei, o Buda uniu silêncio com a mente analítica (a mente sábia
de prajna).

Ai, unindo essas duas coisas, ele chegou à iluminação.

Mas, só o silêncio, não leva à liberação (de forma alguma).

O Buda, ele começou assim (nas primeiras) os primeiros mestres do Buda,


especialmente, Alara Kalama e Uddaka Ramaputta.(que eram dois grandes
mestres hinduístas da época) eles ensinaram ao Buda a acessar o Reino da
forma e o da não-forma (através do silêncio).

MUITO sutil.

Ai, o Buda chegou, rapidamente, lá.

Mas ele chegava lá [ele percebia, quando ele saia da meditação; ele voltava
“pro” mundo ele (ele) não tava liberado]: as coisas; o mundo (ainda) gerava
sofrimento; ainda gerava dor.

Tem que ter uma cura, definitiva, “pro” sofrimento.

Essa cura não vem só através da prática de silêncio (de shamata).

Ai, ele percebeu que ele tinha que romper a visão ignorante sobre a
experiência da realidade.

265
Se ele não atravessasse essa experiência deludida, ai (ai) a iluminação não
seria possível.

Essa foi a grande descoberta.

Quando ele descobre (éé) que “pra” alcançar isso ele vai ter que ver as coisas
como elas realmente são. E quando ele olha “pras” coisas com essa mente
poderosa ele vê que as coisas são vazias (ele vai dizer: as coisas não são
reais como parecem).

E esse engano é o exemplo [que a gente trabalhou bastante (aqui) nos outros
dias] é o exemplo da tela do cinema e o filme projetado.

Nós não somos o filme. Nós somos a tela branca que permite (raciocínio
modificado) (incontáveis filmes podem ser projetados sobre a tela branca); mas
quando eu não vejo a tela branca eu vejo, apenas, o filme. Ai, eu me alegro,
choro, passo mal (com as projeções sobre “o filme”), como se fossem reais.

Agora, quando eu tomo refúgio na tela branca (que é a base que dá


sustentação) à projeção (quando eu tomo refúgio na tela branca) ai nada me
abala (que pode ser um filme de terror; pode ser um filme de comédia
romântica; pode ser um filme de aventura) não importa o que “tá” passando (eu
tomo refúgio na tela, que não se altera) quando o filme “tá” mudando.

Esse é o único refúgio seguro.

Qualquer outro tipo de refúgio é impermanente: é areia movediça. (A gente não


vai tomar refúgio nas cenas do filme).

Quando eu me refugio, por exemplo, na (na) na estrutura que eu consegui dar


na minha própria vida; quando eu me refugio (na minha profissão; nas minhas
relações; na minha conta bancária; no meu conhecimento; nos meus animais
de estimação) seja lá onde eu tomo refúgio (eu me refugio em cenas de filme);
eu fatalmente, eu vou sofrer.

Percebem isso (como é)?

Se eu tomo refúgio em qualquer coisa desse tipo, o que (que) vai acontecer?
Aquilo vai flutuar mais cedo ou mais tarde e como eu to me (me) baseando
naquilo “pra” minha sensação de felicidade eu “vô”, fatalmente, sofrer.

Então, o budismo não vai eliminar as coisas. Você vai fazer as coisas, mas eu
vou me libertar dessa visão deludida (que me faz tomar refúgio nas coisas).

(34:44 – 34;55)

266
É, o Buda. Não vai dizer que o Buda é uma (é uma) é um autômato (que não
tem emoções, por exemplo). Não. Não é isso. O Buda, ele se relaciona, ele
sorri, ele se alegra (com a felicidade das pessoas); quando as pessoas estão
passando mal (ele se interessa; ele fica pensando como resolver); mas (a
grande diferença da visão do Buda) é que ele tem esse olho de vacuidade
(como ele não se prende mais às experiências) ele vê uma pessoa sofrendo
(ele sabe que aquela pessoa não é aquilo); (aquele ser é um ser de sonho: não
é um ser real). Então, o Buda não deixa de ajudá-lo, mas enquanto o Buda
ajuda aquele que “tá” sofrendo (em momento algum ele dá solidez “pro”
sofrimento daquela pessoa). Ele olha aquilo como temporário, como (ele vê a
liberdade; a pessoa não vê a própria liberdade, mas o Buda “tá” vendo). O
Buda vê (vocês não são isso; não sofram; não se percam); mas os seres se
perdem.

O Buda flui: ele se relaciona; ele participa do mundo; mas não quer dizer que
ele sofra por causa da dor dos outros.

O Buda não “vê sofrimento”: a visão dele é de Raio “X” (ele vê a transparência
do samsara). (Se o samsara não é real vai sofrer do quê? É, apenas um filme
passando) [você vai “sô” (raciocínio modificado) (quando você sabe, no
cinema, que é apenas um filme, você vai ficar sofrendo por causa das cenas do
filme?) Vai? (Vai enquanto eu “dô” solidez “pras” cenas do filme). [As cenas de
um filme de guerra; as pessoas morrendo, no filme (despedaçadas, em todas
as direções)]. Aquilo é só um filme!

Quantas vezes as pessoas falam com a gente (É só filme; não fica assim não).

Não é?

A pessoa “tá” lá chorando, passando mal.

Um não entrou na solidez do filme; ou outro entrou. (Aquele que entra passa
mal).

(36:42 – 36:45)

Claro que ele pode gostar. Por exemplo, Chagdud Rinpoche, o mestre do Lama
Samten, gostava de coca cola. Ele sentava e tomava coca. Ele gostava.

O fato dele gostar da coca cola não quer dizer que ele “tá” preso na coca cola.

Entende?

267
A gente não vai jogara cinza em tudo e dizer (o samsara é horrível; não quero
mais nada do samsara). Não é isso. É se relacionar bem com o samsara: o
samsara não nos pega mais.

O Buda é aquele que chegou na perfeição disso (o samsara não pega ele de
jeito nenhum).

Por quê? Porque ele enxerga através.

Então, a vida do Buda não é chata. [Muitas vezes as pessoas falam, assim: ah,
mas deve ser muito sem graça, essa vida do Buda, (né?); o Buda não se
entrega às paixões; o Buda não luta por causas].

O Buda (realmente), ele se liberta: ele paira acima dessas coisas: ele “tá” no
meio dessas coisas; mas as coisas (ele vê como as crianças lutando por
brinquedos). Ele não entra no jogo dos seres humanos.

A gente “tá” caminhando nessa direção.

Prajna é a ferramenta, que vai nos ajudar a chegar ao estado de Buda.

Tá bem?

Isso é bem (bem) útil. Isso é bem (bem) prático. Não tem nada de filosofia
(assim). Tem o aspecto (para) complexo [que a mente tem de superar os
obstáculos cognitivos, (né?), (vai dar um trabalhinho); mas a gente não vai ficar
presos (apenas) ao aspecto cognitivo da coisa].

(38:11 – 38:20)

A compaixão do bodisatva nunca tem um olho de solidez “pro” outro. Por


exemplo, quando eu “dô” solidez ao sofrimento do outro, aquilo é pena. Não é
compaixão.

Na nossa visão, compaixão sempre vem acompanhada de sabedoria (que


nunca congela o outro: o outro não é aquilo, que parece ser). Então, a gente
tem sempre um olhar de um nascimento elevando “pro” outro, por pior que seja
a condição do outro.

A gente olha (por pior que seja a besteira que aquela pessoa esteja fazendo) a
gente não congela a pessoa naquilo.

Então, a nossa compaixão tem um olhar de transparência.

(38: 58 – 39:05)

268
Você vê que ela “tá” fazendo bobagem [não é uma visão cor de rosa, Poliana
(não tem problema nenhum no mundo)]. Não é isso. Tem problema, mas o
problema é uma construção vazia e luminosa. Então, eu olho praquilo e vejo
que é possível a pessoa sair daquilo: eu nunca acho que a pessoa não tem
saída.

No samsara tem muitas situações que as pessoas dizem que o outro não tem
saída, (pausa) (né?). Muito comum a gente dizer (esse ai, nessa vida, não sai
disso).

Então, esse é o olho samsárico, duro, condicionado.

O Buda ele nunca vê limitação. Tudo é possível, porque as pessoas não tem
uma prisão real. A prisão tem grades virtuais (as grades são pontilhadas).

Se a prisão fosse real, seria difícil em algumas circunstâncias sair, mas a


prisão na é real.

Então, a libertação é possível a qualquer instante “pra” qualquer um por pior eu


seja o comportamento.

Tem vários exemplos (nos Sutras) de praticantes que fizeram coisas horríveis.
Por exemplo tem a história famosa de Angulimala (Angulimala, que significa
guirlanda de Deus), um mestre de (de) uma outra religião falou ele que se ele
matasse e cortasse noventa e nove dedos (de pessoas diferentes) num prazo
“X” ele alcançaria um estado muito elevado. [como se fosse assim, (né?),
(assim) uma coisa muito pesada (assim), (né?): fazer sacrifícios de pessoas
“pra” obter poder]. Uma coisa assim. Ai ele começa a fazer aquilo [mata um,
dois, e três e quatro (e vai juntando os dedos) e vai fazendo um colar com os
dedos pendurados; ai, quando chega perto do centésimo (ele precisava de
cem), ai o Buda fica sabendo e intervém (ai o Buda se aproxima dele e ele
corre atrás do Buda “pra” matar o Buda, “pra” cortar o dedo do Buda); mas ai,
quanto mais ele corre, mais o Buda “tá” distante dele [o Buda “tá” mostrando
“pra” ele, que ele “tá” no meio de um sonho (pesadelo) e o Buda “tá” ajudando
“ele” a acordar]. Ai, o Buda conversa com ele e ele consegue sair daquele
sonho e entende que ele tinha sido vítima de um ensinamento (completamente)
errôneo. Ai ele se arrepende. Ai ele se torna um monge da sanga do Buda. E
ele, mesmo ele sendo um monge, as pessoas (parentes daqueles que tinham
morrido; quando ele passava ele era apedrejado; as pessoas corriam atrás dele
e ele tinha de fugir). Queriam matá-lo. Ficou um bom tempo assim. Mas ele
manteve a pureza dos votos (praticou, pratico, praticou) e naquela mesma vida
ele alcançou o estado de arhats (o ser liberado; o ser puro).

269
Alguém que matou noventa e nove pessoas naquela vida alcançou a liberação.
Então, imaginem nós que não fizemos esse tipo de absurdo (como a liberação
é fácil “pra” nós).

É possível. É viável; mas é claro, ele fez uma opção assim (ele se arrependeu
profundamente e se dedicou integralmente à prática).

A maioria de nós não tem condições (ainda) de fazer isso (se dedicar
integralmente à prática); são responsabilidades variadas; mas a gente vai
mesclar a prática com a vida cotidiana (a gente vai avançando; como é
possível).

Então, não há nenhuma (nenhuma, assim) visão de que só se eu fizer uma


opção radical (desse tipo) é que eu poderia alcançar a liberação. Não. A
liberação não importa o estilo de vida. Ela “tá” disponível. Ela é um insight que
brota de quem recebe ensinamentos. A gente purifica os obstáculos. Ninguém
sabe em que ponto a pessoa específica “tá”. Não tem como dizer (aqui) entre
nós quem está mais próximo ou mais distante da liberação. A gente não faz
esse tipo de avaliação. Porque eu não sei das vidas passadas de cada um (em
que ponto cada um pode “tá”).

Então, a gente (assim) vai se aproximando dos mestres, vai recebendo


ensinamentos e praticando.

Em algum momento é fatal que todos vão se libertar.

Então, essa é a visão do Buda. (Todos tem a natureza de Buda).

(42:58 – 43:27 Perguntaram: só o fato da gente levar a fé de que aquilo na Oe


sólido ajuda?)

Ajuda. Só de ouvir falar sobre essa idéia de liberdade, vacuidade, a natureza


de Buda, que todos os seres vão se libertar em algum momento (você já tira
toneladas das costas).

Eu acho (assim) uma coisa muito impactante.

Eu posso (ainda) não concordar completamente; eu tenho dúvidas; eu posso


não conseguir praticar ou manifestar aquilo; mas só de ouvir isso; encontrar
esses ensinamentos significa que a gente já passou muita vidas purificando
carma grosseiro “pra” chegar num ponto “pra” topar com isso.

Não é comum encontrar isso.

270
Olha aqui, por exemplo, uma salinha com 20 ou trinta pessoas e a gente olha
um mar de seres que não querem nem saber (de qualquer coisa parecida
disso).

As pessoas estão presas nos jogos samsáricos (jogando “pra” ganhar),


jogando pesado, pisando em quem tiver de pisar (não pisa no meu calo senão
eu devolvo na mesma moeda).

Então, a humanidade, em geral, se comporta dessa forma.

As pessoas não vão alcançar nenhum interesse [nem uma dúvida (será que é
isso só que tem de fazer aqui?)].

Todo mundo vai, simplesmente, trabalhando, ganhando dinheiro, vivendo num


moedor de carnes do samsara, fazendo salsicha: as pessoas vem e são
moídas [elas acham que vão dar certo; elas vão e (se esforçam, se esforçam) e
suam e se batem (uns conseguem um pouquinho mais; uns conseguem um
pouquinho menos). No final, todos morrem e olham pra trás (e deixaram o
quê?). O que (que) fica pra trás? (Não leva nem o corpo embora) o que dirá
das coisas que construiu.

Vai ficar tudo ai. É tudo virtual. Ai o cara constrói um império, ai vem os
herdeiros vendem um pedaço, administram mal o outro pedaço. Aquilo tudo
(daqui a pouco) se dissolve: não sobra nada.

O samsara é assim: totalmente impermanente.

Então, a gente vai perceber que são poucos que vão desconfiar do jogo do
samsara e que vão buscar a libertação. E, daqueles que vão buscar, poucos
vão encontrar ensinamentos que esse nível de sofisticação, que a gente tá
encontrando.

“Vai” ter muitos ensinamentos que vão dizer (faça isso; faça aquilo; fique bem):
ensinamentos “pra” você ficar bem.

Tem muitas terapias e técnicas (coisas maravilhosas) que melhoram as vidas


das pessoas; agora, o que a gente “tá” fazendo aqui não tem o menor propósito
(assim) de melhorar a qualidade de vida de ninguém. Isso aqui é assim:
(samsara, tchau). Libertação (“tá” buscando a libertação final). A gente não “tá”
buscando uma coisa paliativa.

Existem ensinamentos paliativos, também, mas não é o propósito de


prajnaparamita. Prajnaparamita é a espada de Manjushri, que corta
completamente a ignorância e nos leva ao estado de Buda.

271
Isso não quer dizer que (por exemplo) que eu começo a praticar e a minha vida
vai melhorar.

Às vezes as pessoas chegam ao Darma (Ah, eu vou praticar e a minha vida vai
ficar uma moleza: vai ficar tudo bem).

Não há nenhuma linearidade nesse processo: (vai praticar e não vai mais ficar
doente? Vai praticar e não vai mais ser assaltado? Vai praticar e não vai mais
ter problema?).

Não é assim, gente.

Os desafios continuam, (agora) o olho eu você tem diante do desafio (esse se


transforma, completamente). Consequentemente, a sua vida se transforma,
também.

É bem importante ver isso.

Tem práticas que melhoram a qualidade de vida. Por exemplo, shamata


(concentração), não tem dúvida que melhora a qualidade de vida [equilibra a
energia (pausa); equilibra os elementos (pausa); equilibra os canais (pausa);
pacifica a mente (pausa)]. Aquilo vai dando bem estar (pausa), vai levando ao
êxtase (pausa): bem aventurança (a pessoa fica lá; estática), aquele olhar de
felicidade, (presa naquele estado). Maravilhoso! Muito bom; mas gera apego
em mim (o bem estar da meditação gera apego).

Então, prajna não é nada disso. Não sobra [prajna não deixa nenhuma ponta
solta; não tem lugar nenhum onde você vai se agarrar (à mais)].

A maioria das técnicas espirituais sempre deixa uma ponta solta na qual você
se agarra: você ainda se prende a alguma coisa (algum conceito; se apega ao
Buda; se apega a Deus; se apega a Jesus; se apega a alguma coisa; se apega
ao teu bem estar; se apega a alguma prece): alguma coisa você se apega.

Prajna, não sobra uma partícula de poeira (no final).

É super cortante. É super irado, (né?). É um ensinamento irado (assim), porque


ele tira (assim) a poeira diante dos olhos (olha o que é; não tenta te prender
numa coisa parcial).

[A gente tá no meio desse processo, (né?)]

A gente vai indo (como é possível, né?). Aquilo demora, um pouco.

Mas é possível.

272
O mundo é um jardim da própria Iluminação. Não
precisamos destruir nada. O que destruímos é a
ignorância, e quando a destruímos tudo se
preserva, mas os mundos no sentido
condicionado cessaram também. Essa é a
verdadeira destruição.

É o que a gente falou aqui. Eu já não deixo de (eu não preciso deixar de tomar
coca cola) (se quiser tomar); mas, eu “to” completamente livre da coca cola.

Precisamos então preservar da destruição


comum para poder fazer toda a ignorância
convergir nas formas, e aí destruir a ignorância
dessas formas.

Ou seja, a gente cuida do mundo (a gente tenta preservar o mundo da


destruição) e, assim, grosseiras [por exemplo, as guerras; as coisas horríveis
(que se faz por ai)]. Então, a gente tenta gerar uma cultura de paz (a gente
trabalha com a idéia de responsabilidade universal e cultura de paz) “pra” ter
um mundo melhor. A gente se comporta melhor. A gente ensina as pessoas, as
crianças a se comportarem melhor.

Isso é bom. A gente gera um mundo menos agressivo; mas isso (ainda) não é
a libertação; isso é (apenas) um samsara melhor (é superimportante).

Com essa base melhor, as pessoas “tão” menos (ééé) (é); “tão” menos (é)
sendo atacadas; “tão” mais protegidas (e elas podem praticar): elas podem
encontrar o Darma e praticar.

Por exemplo, se a gente tivesse (ééé) (é) em Damasco agora (Alego) seria
possível (sentar aqui numa boa? Falar de meditação?).

A gente teria tranquilidade, (gente)?

(50: 16 – 50:19).

É. Alguma coisa poderia acontecer: poderia cair uma bomba (a qualquer


momento): a gente não “taria” bem.

Mas aqui não. A gente “tá” numa (mais ou menos, assim) numa situação mais
ou menos de paz, (né?); ambígua (pelo menos): não estamos numa guerra
aberta. [Tem uma violência urbana muito grande, mas (ainda) não chega ao
nível, (né?), que nos impeça de fazer coisas como a gente “tá” fazendo aqui].

273
Então, a gente arruma as coisas (a gente constrói casas; planta árvores;
canaliza água; gera energia elétrica; traz gás encanado): a gente constrói toda
uma estrutura condicionada “pra” facilitar a nossa vida e permitir uma vida
humana mais adequada (que a gente possa chegar á prática do Darma).

Isso é necessário.

Então,

O Buda ensinou como fazer isso. Nesse sentido


tem a Trindade viva.

Na visão Budista, Vishnu e Shiva seriam


emanados de Brahma.

Kuntuzangpo, Natureza Última

Kuntuzangpo é o nome do Buda Primordial, “pros” tibetanos. Kuntuzangpo; ou


Samantabhadra.

Natureza Última, emana realidade, emana os 5


Diani Budas, emana vajrasattva, Garab Dorge,
Chenrezig

Então, surgem vários nomes (assim).

(de forma direta ou indireta).

Então, vamos pensar, o Buda Primordial (Kuntuzangpo; Samantabhadra)


[representa essa qualidade primordial da mente pura. {Ele emana, por
exemplo, vajrasattva [que é essa estátua aqui, ao lado do Buda. Vajrasattva é
um ser, que representa a visão natural da perfeição de todas as coisas; da
pureza primordial. Então, vajarasattva geralmente é representada na cor
branca, com o vajra (na mão direita) e um sino (na mão esquerda) (meios
hábeis, sabedoria e vacuidade). Então, vajrasattva representa esse olhar puro
diante do que quer que surja. Vajrasattva não “tá” no nível (aqui) humano
(nirmanakaya, visível); ele “tá” no nível (sambhogakaya: nível das deidades).
Vajrasattva emana o primeiro mestre humano, que é Garab Dorge, que
introduz os ensinamentos da Grande Perfeição, Dzogchen]}.

Então, Garab Dorge, ele viveu (mais ou menos); nasceu (mais ou menos) na
mesma época que Padmasambhava (pouco tempo depois da morte do Buda
Sakiamuni). Dois mil e seiscentos anos atrás ele surgiu (ele surgiu) (ele desde
pequeno já acessava isso; ele é uma emanação de um Buda; ele é um Buda;

274
um Nirmanakaya). Ele dá esses ensinamentos (ele introduz isso no nosso
mundo humano).

(53:01 – 53:19).

Exatamente. Cherenzig “tá” representado nessa “tanca” aqui, mil braços e onze
cabeças. Chenrezig, o Buda, o bodisatva da compaixão, ele representa a
compaixão (raciocínio modificado) (os mil braços dele, cada um tem um olho).
Então, se diz que os mil Budas [da nossa era fortunada; que virão mil Budas na
sequência; sendo que Sakiamuni foi o quarto (desses mil, que virão).

Então, todos eles são emanados a partir de avalokiteshvara.

Então, a compaixão é a base que dá origem a todos os Budas.

Então, a gente deveria saber disso (assim); que a compaixão é inseparável da


mente dos Budas. Então, avalokiteshvara (o Cherenzig) representa isso.no
Pantheon de Deidades.

Então,

Essencialmente todas as inteligência brotam


constantemente, não é que brotaram do passado.

Então, essas inteligências, esses Budas e bodisatvas, eles não são um (um)
evento histórico (eles viveram, morreram e, agora, a gente conta a história
deles, do passado). Não. Eles são inteligências vivas, disponíveis.

Então, um exemplo (assim) moderno, que a gente usa é esse, (né?): como se
eles “estão” numa nuvem, disponíveis “pra” “dawnload” (não tem que pagar
nada “pra” baixar: aquilo é pirataria liberada; você tem de ter a chave de
acesso “pra” baixar). Então, esses são os ensinamentos, as práticas (esse
acesso às redes desses seres de sabedoria).

“Tá” tudo disponível, “pra” qualquer um de nós.

Quando a gente fala assim: o Dalai Lama é uma emanação de Cherenzig (do
Buda da compaixão), é claro que não é assim [Cherenzig entrou no corpo do
ser humano (e ele “tá” só ali naquele momento)]. “Os Lamas” são mestres que
realizaram a mente de Chrenzig e se transformaram numa emanação de
Cherenzig (Karmapa, também, é uma emanação de Cherenzig).

Ué? Tem duas? Um ser? Como é que ele pode estar em dois corpos
diferentes?

275
Não é isso, (né?): é uma sabedoria. É uma mente disponível que pode ser
(raciocínio modificado) (qualquer um de nós pode se transformar numa
emanação de Cherenzig), desde que a gente realise, de modo perfeito, a
mente de Cherenzig.

Então, as Deidades são todas assim.

A gente pode acessar essas inteligências.

Quando a gente recita o Mantra de Padmasambhava (OM AH HUM VAJRA


GURU PADME SIDDHI HUM): “OM AH HUM VAJRA GURU PADME SIDDHI
HUM; OM AH HUM VAJRA GURU PADME SIDDHI HUM” a gente tá recitando
o Mantra do guru, a gente “tá” tentando copiar a mente de Padmasambhava: a
gente “tá” acessando a mente do Guru. (Eu não “to” esperando que o Guru
venha a cavalo, de um lugar distante “pra” me salvar).

Não. Eu quero ser como ele. Eu quero ter a mesma sabedoria, que ele
manifesta.

Então, o mantra dele, permite acessar essa sabedoria.

Assim por diante (em todas as inteligências disponíveis).

Iluminação é isso! A capacidade de estar imerso


nesses aspectos, olhar e ver isso tudo, mas não
estar preso, manter-se livre do sentido
condicionado. Poder operar dentro da
causalidade condicionada, mas não estar preso a
ela.

Então, assim, os bodisatvas

Atingem completamente a Iluminação Perfeita e


Insuperável

Lembram daquela frase do Sutra? (Por repousarem na prajnaparamita, os


bodisatvas atingem a iluminação perfeita e insuperável)

Insuperável porque não tem artificialidade


dentro, não tem crença dentro.

Insuperável, também, porque não tem nada depois daquilo: não tem um estado
(assim) posterior (depois de) realizar essa mente.

Então, ai vem, finalmente, o mantra.

276
Então, no item 6,

ABORDAGEM MANTRAYANA

S. S. o Dalai Lama considera esta, a abordagem


mais elevada. Trata-se da abordagem
mantrayana. Já vimos a abordagem sutrayana.

O caminho dos Sutras é o caminho dos ensinamentos (do caminho causal); o


caminho que explica tudo direitinho.

SUTRAYANA: veículo dos Sutras.

O caminho do Mantra, ou caminho vajrayana (também) é o caminho das


Deidades, é o caminho da recitação dos mantras, da construção de mandalas e
da (da) (da) (da) autoliberação através da identificação com essas mandalas.

É um caminho Tântrico.

Nós podemos, também, viver isto.

Então podemos viver isso – abordagem


tantrayana. Mas podemos também viver isso na
abordagem mantrayana, desde que o mantra
esteja vivo.

Então, não adianta (apenas) eu recitar um conjunto de (de) sílabas sem


entender, sem saber nada [“pra” que (que) aquilo] “tá” sendo direcionado.

O importante é entender a essência.do mantra.

Abordagem mantrayana - toda a sabedoria do


sutra é colocada num mantra. Em vez de
dizermos tudo aquilo, dizemos o mantra, que
significa aquela compreensão toda.

Então, o mantra é um princípio ativo [ele sintetiza todo o texto do Sutra; ele
agrega, em poucas sílabas, toda a sabedoria do (do) Sutra como um todo]

Não precisamos falar do conjunto das palavras...


forma é vazio, vazio é forma... Não precisamos
dizer todo o sutra. Dizemos o mantra, porque ele
carrega a lucidez correspondente ao sutra. É a
chave que nos permite reacessar a visão que já
desenvolvemos. Poderíamos dizer que o mantra

277
é a transmissão da visão. No vajrayana temos
iniciação, mas aqui temos a transmissão da
visão, que se torna viva. E fazemos essa visão
convergir para um conjunto de sílabas.

Quando recitamos podemos ver toda a sabedoria


do sutra. E então perseveramos nisso (na
recitação), praticamos longamente. De modo
geral se diz, 1 milhão e 200 mil repetições do
mantra, individuais. Ou melhor, 3 milhões, ou
melhor ainda, 10 milhões. Com 3 milhões de
repetição do mantra com certeza atingimos a
visão estável disso.

Então, a pessoa usa o seu Mala, (né?), “pra” ir recitando os mantras (OM
GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA; OM GATE
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA).

Vai acumulando.

Mas quando ela acumula, não é que ela “tá” recitando aquilo e pensando
em outra coisa [o que (que) ela vai comer, quando ela chegar em casa].
Não é isso. Ela recita, tentando manter a visão, ou seja, aquilo que ela
entendeu do sutra (todo o ensinamento que foi transmitido no sutra) ela
sustenta (enquanto recita o mantra).

O mantra é a forma sintética de tudo aquilo que foi visto antes.

O mantra não é (assim) uma coisa milagrosa, também, [que só de já


recitar o mantra (sem entender nada) vou obter milagres, (né?).

Não é tão simples assim.

Mas é pela repetição, que eu vou me aproximando da visão. Cada vez


mais: (Mais. Mais. Mais. Mais).

Vou estabilizar isso.

(1:00:09 – 1:00:12)

Com certeza, é um veículo de liberação, também. (Porque é uma


fala iluminada. É uma fala de um ser de sabedoria).

Então, quando eu falo (quando eu repíto aquilo) (Pra recitar o


mantra, eu não “tô” tendo de organizar a respiração?): (OM GATE

278
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA; OM GATE
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA). Eu começo
a gerar uma cadência de recitação. [Eu tenho que respirar e a
minha fala não é mais a fala comum do samsara (que fala um
monte de bobagens). É a fala de um ser de sabedoria. Eu “to
repetindo o que ele disse [por mais que eu não acesse, ainda,
completamente, é como se eu estivesse imitando (papai e mamãe
estão lá, assim, ensinando falar. Eu “tô” lá, tentando falar igual a
“eles”; (mas eu, ainda, não consigo); mas eu vou repetindo o
mantra “pra” reproduzir a fala da deidade]. “Eu vou chegar a isso”.

Portanto, o mantra da Prajnaparamita – o mantra


da grande lucidez - é o mantra insuperável, o
mantra que torna igual o que é desigual, o
mantra que pacifica por inteiro todo o
sofrimento.

Então,

O mantra do Prajnaparamita

O som associado ao Prajnaparamita, o som da


Grande Lucidez, o som insuperável, o som que
torna igual o que é desigual, o som que pacifica
por inteiro todo o sofrimento.

Então, (ééé) é o mantra da grande lucidez. É como se (eu tenho inúmeros


mantras; de muitas deidades); mas prajnaparamita “tá” por trás de todos eles
(porque todas as deidades, seja a Tara, seja o Buda da medicina; a Tara verde;
Manjusri, o Avalokitesvara, as deidades iradas (todas) não importa qualo tipo
de inteligência eu vou acessar, todas essas inteligências, sem exceção,
repousam num estado básico de vacuidade.

Que se esses seres não tivessem a realização da vacuidade ele não seriam
Budas (eles não seriam deidades; se eles não tivessem a realização completa
da vacuidade).

Então, o mantra da prajnaparamita, como ele aponta diretamente “pra” essa


visão da vacuidade, ele é como se fosse o mantra raiz de todos os outros
mantras.

É a base de tudo.

Uma vez que não produz engano, deveria ser


reconhecido como verdadeiro.

279
Ele não produz engano: não tem nada construído nele.

Então, não tem engano: ele dissipa todos os enganos; não constrói nada no
lugar [eu não “tô” substituindo um engano por algo melhor; eu “tô”, apenas,
dissipando os enganos e (e) deixando a mente num estado de liberdade; eu
não “tô” colocando a mente num outro estado condicionado interessante].

Percebem a diferença?

Tem muitos métodos (ééé) provisórios, que tiram a mente do estado


condicionado e colocam num estado mais interessante (o que é muito bom);
mas aqui não: a gente, simplesmente, dissolve a ignorância e repousa no
espaço de liberdade, que resta depois de absolver a ignorância [e fica nesse
estado de liberdade; que é onde a mente dos mestres repousa o tempo todo
(os mestres estabilizaram isso; eles ficam o tempo todo com esse olhar livre;
não tem nada sólido “pra” eles; então eles vão circulando; e eles não sofrem
mais).

Então o mantra

Deveria ser reconhecido como verdadeiro – pode


ser reconhecido como verdadeiro, ele é
verdadeiro.

O mantra Prajnaparamita é recitado assim:

TADYATHA OM GATE GATE PARAGATE


PARASAMGATE BODHI SVAHA

Com uma tradução possível assim:

Atravesse, atravesse com segurança,


atravesse para a outra margem, a margem
dessa compreensão, dessa lucidez.

Então, até a iluminação.

Então, “OM.”, a sílaba “OM” é, geralmente, a primeira sílaba da maioria


dos mantras, porque “OM” (ele) sintetiza o aspecto Darmakaya (o aspecto
Primordial, de onde brota a sabedoria das deidades).

O “OM” é uma sílaba (é considerado uma sílaba) semente, uma sílaba


sagrada (assim).

“OM” (tanto no hinduísmo quanto no budismo).

280
Uma boa parte dos mantras (OM MANE PADME HUM; OM AH HUM
VAJRA GURU PADME SIDDHI HUM; OM GATE GATE; OM TARE TAM
SOHA; OM TARE TUTTARE TURE SVAHA). A maioria dos mantras
começa com “OM” (representa essa base de onde brota a sabedoria do
Buda).

“GATE GATE”.

Então, “GATE” é o particípio do verbo “IR” em sânscrito. É particípio (não


é imperativo e não é gerúndio).

Complicou a coisa agora, (né?)

Então, vamos dizer assim.

Então, o que (que) é o particípio?

Verbo “IR” (qual que é o particípio do verbo “IR”?)

Ido. Não é “INDO” (que seria o gerúndio) e não é “VÁ” ou atravesse (que
seria o imperativo).

Então, “IDO”, ou seja, (já foi); Ido, ido (atravessado).

Uma coisa que já se concluiu.

“PARAGATE” (Atravessado, ido para a outra margem; para o outro lado).

“PARASAMGATE” (É totalmente ido; completamente ido para a outra


margem).

“BODHI”. Bodhi (Significa iluminação; até a iluminção)

“SVAHA” é como se fosse: (que assim seja; um amém, assim).

O “TADYATHA” (lá no início) (ééé) é como se fosse (É assim). É assim:


OM GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA.

Então, a gente recita o mantra [não é que eu “to” querendo (éé) que
aquilo atravesse; que aquilo aconteça; aquilo já é (eu só tenho que ver); já
é livre [não é assim; que eu pegando uma coisa presa e “tô”
transformando numa coisa livre; aquilo sempre foi livre (só que eu não
via); aquilo já é].

Então, o mantra recupera a visão correta (de ver as coisas como elas
são).
281
Então, é poderoso. Aquilo tem uma fórmula.

(1:06:06 - 1:06:39 -1:11:51)

A gente pode usar esse mantra [a gente tem lá situações perturbadoras


(regiões de apego e fixação); a gente olha “pra” essas regiões e recita:
OM GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA; OM
GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA OM GATE
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA.

No mínimo é uma resposta não causal.

Você pensa assim: quando a gente tem um problema [tem uma situação,
a gente começa a maquinar (de modo causal), condicionado (como
resolver) [o que (que) eu vou fazer; por onde que eu vou; quais pedras
que eu vou mover nesse jogo “pra” sair dessa enrascada].

Então , esse é o samsara (causal; condicionado).

Então, quando tem um problema e eu começo a falar uma coisa que não
tem nada a ver (OM GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI
SVAHA); (Opa! Como assim, né?). Aquilo eu “tô” quebrando, (né?), a
solidez, a causalidade da situação.

No mínimo é isso: eu “tô” respondendo de um modo não convencional


diante do problema.

Alguém vem e te xinga, ai você vem e fala (OM GATE GATE PARAGATE
PARASAMGATE BODHI SVAHA)

A gente quebra, (né?); a gente quebra a resposta usual.

Então, eu deveria (assim) fazer uma listinha de problemas (os seis reinos
da roda da vida; nós temos conexões com seis reinos; nós temos
situações, que transitam, por cada um dos seis reinos). Então, eu posso
anotar isso num caderno de práticas [e ir olhando essas situações;
visualizando essas situações; ou experimentando, mesmo (recitar com o
mantra)].

Ai, você põe o chocolate na frente e (OM GATE GATE PARAGATE


PARASAMGATE BODHI SVAHA; OM GATE GATE PARAGATE
PARASAMGATE BODHI SVAHA)

Você não foge do chocolate e nem esconjura o chocolate, também,


assim, (né?): não acha que o chocolate é ruim.

282
Você olha “pro” chocolate e atravessa o chocolate [Raio “X”: (Tium!)].

Pode até comer; mas come por liberdade.

Não come por impulso; por responsividade. [Não. Eu tenho liberdade de


comer chocolate. Só “pra” mostrar que eu consigo (eu) vou por no
armário. Amanhã eu como].

Liberdade diante das situações.

(1:13:55 – 1:14:02)

Então, a gente vai usar o mantra da prajnaparamita “pra” nos ajudar a nos
libertar de todas as situações.

Então, tem bastante coisa “pra” fazer, não tem?

Todo mundo tem uma listinha grande das coisas que nos entristecem, nos
alegram, nos dão desejo, nos dão raiva, nos dão medo, nos dão
sensação de carência, de abandono, de traição (uma longa lista; a gente
vai olhar “pra” própria vida; vai pesquisar e vai anotar isso).

E vai aplicar essa fórmula (OM GATE GATE PARAGATE


PARASAMGATE BODHI SVAHA).

“Pra” quem quiser tem malas [tem esse colar, (né?); tem na lojinha; “pra”
recitar os mantras].

Então, o mala é útil, porque (quando eu recito o mantra) sem o mala


[daqui a pouco eu posso ficar “vuado” e me perder na (na) recitação: eu
“tô” lá olhando (olhando) “pra” meditação e me perdi no mantra]. Agora,
quando eu tenho o apoio físico [aquilo me ajuda a não me perder na
cadência “do mantra”).

Cada mantra, com a mão esquerda, eu avanço uma conta (OM GATE
GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA; OM GATE GATE
PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA).

Uma forma de trabalhar.

A gente vai avançar “pra” outras formas mais analíticas, também; mas
essa seria a primeira forma de usar o Sutra do Coração da
Prajnaparamita e o mantra correspondente “pra” começar a dissipar os
obstáculos e perturbações e (assim por diante).

283
Agora, a lição de casa é começar a usar isso [quem não “tá” usando,
ainda, (não conhecia; aqueles que conheciam, mas não “tão aplicando,
sistematicamente) deveriam usar (fazer uma prática diária de aplicar isso).

Começar a empoderar o mantra.

Pode fazer um mala completo; pode fixar um tempo (dez minutos e não
contar); ou ela pode recitar três malas completos (trez vezes cento e oito);

Então, tradicional, as pessoas recitam o mantra {ou por período de tempo


definido; ou por um número de contagens definida; ou até alcançar algum
sinal de realização daquilo [pode ficar anos; vidas (até ter uma clareza da
realização do mantra daquela sabedoria específica)]}.

Tem que aplicar.

Então, essa seria a lição de casa da semana.

(1:16:23 – 1:20:00 propaganda do retiro)

Então, a idéia é essa: lê o Sutra do Coração {quem não tiver o texto


[também, me pede], que eu envio por email ou arquivo de texto [“pra”
recuperar o tempo perdido]} e (a gente) vai entrando (assim, né?) na
prajnaparamita (cada vez de modo mais prático)}

Três meses na parte teórica (a gente chegou no mantra).

Agora, a gente tem que usar o mantra como uma síntese de tudo o que a
gente estudou [esse olhar, (né?) de ver que (forma é vaio e vazio é
forma); (forma nada mais é do que vazio e vazio nada mais é do que
forma). Então, as aparências são vazias e luminosas (eu não preciso
destruir nada); mas nada mais me pega, porque eu vejo “elas” como arco-
íres (como miragens). Então, eu não me fixo a elas como produtos reais.

E isso vai me libertando.

Esse é o trabalho de prajna.

(1:20:47)

284
ROTEIRO DE OITO PONTOS PARA A MEDITAÇÃO
(Estudo do Prajnaparamita no You Tube ministrado por Marcelo Nicolodi)

1 – Puxamos a forma como um exemplo prático à nossa frente (depois


praticar também com os outros quatro skandas);

- Isolar o objeto em análise.

- Quem acreditar na solidez dos cinco skandas está preso;

- Forma é corpo. Não só as coisas visuais. É tudo aquilo que a gente dá


um significado. Ex: O cheiro é uma forma; o som é uma forma.

- Quando eu olho para a mente, quais sãos as funções mentais?


Sensação, percepção, formação mental e consciência.

- São 4 skandas mentais e um físico;

- Sensação é um julgamento mental que classifica assim: gosto ou não


gosto ou tanto faz: é uma análise das experiências;

- Percepções. No momento em que, olhando para alguma coisa, a gente


rotula (entende) o que aquilo é: a gente localiza aquilo no nosso
inventário mental;

- Formações mentais ou marcas mentais (sanskaras) representam o


conjunto de todas as memórias, hábitos, condicionamentos, informações
que fomos acumulando durante incontáveis vidas;

O conjunto disso vou chamar de carma.

Então carma é o conjunto de todos os samskaras (sulco: um rastro


na mente);

- Consciência (vijnana) é a função mental que gera a sensação de ser


alguém: eu sou alguém separado do mundo e das formas.

Então, é a consciência que trabalha os outros skandas (que se


apropria dos outros skandas dizendo “eu sou ela mesma”).

Os cinco skandas gera uma pessoa.

O sofrimento é gerado pela tentativa de estabilizar as experiências


agradáveis: apego.

285
2 – Contemplamos a coemergência (inseparável de quem olha),

- Olha para a experiência: sujeito e objeto;

- O objeto existe, mas com sujeitos diferentes e objetos diferentes;

- Há uma experiência “de”: de acordo com a bolha; de acordo com o


reino;

- Portanto, não há objetos reais, separados dos sujeitos que os


observam;

- Há uma base vazia e luminosa;

- A liberação é o reconhecimento dessa base, que nunca se ausentou;

- Então prajna é a sabedoria discriminativa que me ajuda a me libertar da


visão dualista que me impede de reconhecer a mente primordial;

- A metabhavana altera a coemergência que eu tenho com aquele ser;

- Aqui a gente está reconquistando a clareza desse processo;

- Então eu vou treinar recuar e olhar para a experiência (para a bolha) com
mais liberdade;

- Como que eu me relaciono com a experiência? (Ex: garganta inflamada).


Pode ser com muito sofrimento ou eu posso não dar grande importância
para aquilo (a mente não vai ficar girando em torno daquilo: a gente está
olhando outras coisas). Então a gente pode lidar melhor com as crises
financeiras, emocionais, vocacionais e de relacionamentos e etc.

- Eu preciso exercitar esse olho que cria a liberdade diante de qualquer


experiência;

- Mesmo ouvindo e entendendo isso, quando surge uma situação um


pouquinho perturbadora, a gente já entra na solidez da experiência e já
começa a operar de modo automático;

- Vamos começar com objeto mais fáceis ao invés de trocar tapas por ai;

286
2a – coemergência mente-forma: isso é, isso não é, isso é, as três
afirmações da validade de Maitréia/Asanga/Vasubandu;

- Agora vamos ver como a “forma” é inseparável da mente que vê;

- Isso é (tem o cubo ou a caneca: é a visão do samsara);

- Tem uma solidez no primeiro “isso é”;

- No Zem eles vão dizer: No início da prática as montanhas eram


montanhas e os rios eram rios;

- Mas quando olho com o olhar de coemergência eu vejo que o cubo não
está lá: só há papel e tinta;

- Qualquer ser senciente que olhe para ali vai ter uma experiência de
cubo?

- Então, o cubo só existe por causa da visão do sujeito;

- Então, não tem cubo no cubo, porque ele não é real por si só;

- “Isso não é”: é porque eu dissolvo a solidez da experiência do cubo;

- Mas nossa mente deludida procura apontar rótulos fixos para as coisas,
para dar uma sensação de mundo sólido;

- Isso é obvio! Isso é obvio, mas a gente não faz isso com as coisas o
tempo todo: a gente dá solidez;

- Então, se tivesse esse olhar (essa relativização que surge da


compreensão da coemergência) eu não me apegaria e não sofreria tão
facilmente pelos objetos e pelas situações;

- Por isso, eu tenho de recuar: eu preciso olhar para as experiências e


recuar no mecanismo que é utilizado para construir as experiências;

- Muito bem. Então na coemergência de mente e forma, “isso é”, “isso


não é”, MAS “isso é”;

- A terceira afirmação não nos deixa cair no aspecto niilista (de ficar no
nada);

- No segundo “isso é”, apesar de ser vazio (de não ter aquilo), aquilo
aparece daquele jeito;

287
- Não é mais igual ao primeiro “isso é”. Nesse, é um “é” do sujeito
dualista, que olha lá fora;

- Esse segundo “isso é”, ele está me mostrando que ele não tem base
sólida nenhuma, mas, ao mesmo tempo, pode aparecer como aquilo;

- Então o segundo “isso é” é uma base livre;

- Ai, na prática do Zem: as montanhas deixaram de ser montanhas e os


rios deixaram de ser rios;

- Ai, na realização do Zem, as montanhas voltam a ser montanhas e os


rios voltam a ser rios;

- E eles são apenas montanhas e apenas rios;

- Eles poderiam ser qualquer outra coisa, mas eles também podem ser
montanhas e rios;

- Então, a gente tem de furar essa sensação de sujeito separado do


objeto;

- No “2a”, eu faço o treinamento a nível de mente: como a mente se


prende na experiência;

- As emoções são, também, escancaradamente coemergentes.

2b – coemergência mente/ forma/ energia/ paisagem/ identidade/


causalidade/ propósito/visão estratégica/ urgências: bolha;

- Mente e forma são iguais, porém, tem energia (que se altera); paisagem
(que se instala); identidade (que se fixa); causalidade decorrente (que
atua); propósito e visão estratégica (para obter os resultados desejados);
urgência (para fazer aquilo mais rápido possível); tudo isso é chamado de
bolha;

- A bolha mostra como as pessoas se prendem na experiência e parece


completamente real;

- E essa experiência faz com que a pessoa se mova no mundo;

- Essas bolhas estouram de vez em quando. Ai: acabou aquilo;

- Então o item “2b” vai concluir todo o processo de construção da bolha;


288
- É pela repetição da contemplação da coemergência que aquele nó
energético vai se dissolvendo;

- Eu tenho de me libertar no nível da idéia conceitual, que dá solidez (2a)


e, no nível da experiência energética, que se agarra àquilo, mesmo
sabendo que não deveria mais (2b);

- A energia teima a se dirigir para algo que já foi analisado; que foi visto
como não benéfico;

- Como fazer: começar com shamata, trabalhar a energia, pacificar,


repousar; foco intenso; 15 a 30 minutos de shamata; ai eu passo para o
exercício da coemergência, já com a mente mais tranquilizada;

- Manter um caderno de prática e montar uma lista, exercícios, vão


repetindo; se envolvam com aquilo; treinem algo vivo, para que não vire
só um encontro semanal;

2c – muitos exemplos de bolhas e borbulhas abundantes iniciando com


os seis reinos, seis bardos, ciência, intersubjetividade, causalidade, jogos
de tabuleiro, samsara;

Bolha (seria uma experiência mais ampla);

Borbulhas (são pequenos estados de ânimo, de humor);

Seis Reinos (todos nós passamos por situações que nos arrastam para
os reinos (com suas emoções perturbadoras correspondentes).

- dos infernos (raiva e medo);

- dos fantasmas famintos (carência; nunca consigo aquilo);

- dos animais (preguiça e obtusidade mental; sempre fazer do mesmo


jeito);

- dos humanos (desejo e apego);

- dos semideuses (competitividade, ciúmes, inveja, agressividade);

- dos deuses (orgulho, tudo está perfeito; superioridade).

A gente vai olhar a meditação, também, como apenas uma


experiência.
289
Olhar os seis bardos como vazios.

Ciência. A ciência, também, é uma construção coemergente; dualista. Não


é fixa.

Intersubjetividade. São vários sujeitos se relacionando. É o fenômeno que


nos leva a concordar que isso aqui é azul.

Cada um tem uma experiência similar e, portanto, concorda e surge


uma noção de mundo.

E, se a gente está dizendo que aquilo é a mesma coisa, aquilo é


real.

E a gente gosta de se aproximar de pessoas que reforçam nossas


crenças.

Causalidade. Ela também é coemergente.

Isso aqui é chocante.

Eu estabeleço uma relação causal entre semente de alface e o pé de


alface.

Em que momento semente de alface, realmente, é alface?

É uma construção da mente a idéia de que semente de alface e


alface estão diretamente relacionados.

Como assim?

A causalidade é isso: a gente acha que uma coisa leva à outra.

A causalidade não se sustenta, quando se olha com o olhar de


prajna.

A gente constrói a causalidade.

No Primeiro Giro da Volta do Darma o Buda explicou a causalidade.

Você tem de cuidar de suas ações.

Elas tem conseqüências.

Isso é uma etapa da prática: entender que a causalidade opera


dentro desse sonho samsárico.

290
Tem regras causais operando ali dentro.

Quando o Buda deu o Segundo Giro da Volta do Darma


(prajnaparamita), o Buda negou os doze elos, negou as 4 nobres
verdades, negou tudo o que ele tinha dito antes.

O carma é coemergente. Todo ilusório.

Se o carma não fosse ilusório, não seria possível alcançar a


liberação.

Prajnaparamita diz que o carma é vazio: não tem solidez.

Enquanto a mente dualista operar presa no samsara, o carma será


matemático.

Mas quando eu olho com esse olhar de visão absoluta de prajna, eu


percebo que o carma é apenas a cena de um filme: não tem carma real
nenhum; não tem dono do carma.

Não tem ninguém para sofrer os efeitos do carma.

O carma é ilusório.

Jogos de Xadrez. Em que as regras são fixas. Especificas. E o jogador


fica preso naquele mundo de xadrez.

Então, o jogo nos prende.

Então, a gente começa a perceber todos os jogos que jogamos, nas


empresas, nos relacionamentos,...

Quando eu olho com o olho de coemergência, eu dou um passo a


traz e começo a perceber que eu posso entrar no jogo ou não.

O Lama diz: estar 100% dentro e 100% fora; ao mesmo tempo.

A gente precisa treinar isso.

Primeiro com jogos mais fáceis e depois com os campeonatos


mundiais (com as situações mais difíceis).

291
2d (Doze Elos)

Cada um desses 12 elos são coemergentes.

Os elos não são reais. Não tem existência própria, independente da


estrutura interna do próprio observador, que está envolvido no elo.

Existe esse exercício de desconstrução proposto pelo Buda, que é


desconstruir os elos no sentido reverso.

Eu começo do 12º e venho retornando.

Então eu pego uma identidade que está agonizando, que está


morrendo (12º elo).

E venho percorrendo: como é que cheguei naquilo?

Isso é uma análise causal dos 12 elos.

Porém, eu posso fazer esse retorno dos elos e, ao invés de vir


focando o aspecto da causalidade entre eles, vir focando o vazio de cada
elo.

Então eu olho para cada elo e vejo que ele não tem
substancialidade nenhuma.

3 – Contemplamos o aspecto vazio (não tem aquilo dentro);

Não tem aquilo naquilo.

Para ter aquilo, eu preciso olhar com um olho específico.

Se aquilo fosse intrinsecamente real, não teria como eu fugir


daquele olhar específico.

Ai eu digo: Ual!! Aquilo é vazio!

O fato de eu dizer que aquilo é vazio não é dizer que aquilo não
existe ou que aquilo desaparece diante dos meus olhos.

A vacuidade proposta pelo Buda é justamente a percepção de que


aquele fenômeno não tem substancialidade, mas mesmo assim ele
aparece.

292
4 – Percebemos o aspecto luminoso ou coemergente (tem aquilo dentro);

No Item 4 retoma o aspecto luminoso.

Então, apesar de, em essência não ter nada, aquilo aparece.

Aquilo tem aparência: tem um sonho ali ocorrendo.

5 – Contemplamos o aspecto vazio/luminoso (é na forma que o vazio se


manifesta), aqui brota a sabedoria primordial, a mente do Darma do Buda;

No item 5 eu procuro enxergar os dois simultaneamente.

Não existe nenhum grande vazio separado das formas, separado


das experiências.

Então, as experiências tem as suas vacuidades.

Eu não estou falando de uma grande vacuidade escondida em


algum lugar.

Cada forma é uma natural expressão da vacuidade, inseparáveis.

Eu não posso dizer que a forma vem antes da aparência ou que a


aparência vem antes da forma.

Aqui brota a sabedoria primordial, a mente do Darma do Buda.

Então veja: no início a gente tem de raciocinar para enxergar essas


coisas, mas com o tempo, aquilo se torna o olho natural das aparências.

6 – Contemplamos a energia (vejam o surgimento dos 5 lungs, os lungs


dos 5 elementos) que se movimenta em nós, e sua relação com a
vacuidade;

No item 6, a gente retorna para a energia.

A experiência é completamente vazia, mas a energia se move.

293
Mas aqui no item 6 eu vejo que a energia se move de modo livre,
sem a fixação de quando eu comecei o processo de análise.

Aqui eu vejo a energia fluindo e se manifestando.

A energia brota de modo livre, autoliberada.

Então, a gente volta a observar isso, mas com clareza e lucidez.

7 – Contemplamos a magia disso tudo e a causalidade decorrente;

Se as coisas não são reais como pareciam, não são sólidas,


definidas, fixas, externas, intrinsecamente existentes, mas mesmo assim
elas aparecem, então isso acaba se tornando como uma manifestação
mágica.

Ou seja, os fenômenos todos são como sonhos; são como reflexos


da lua na água, como uma miragem,...

Então o que é a realidade se as coisas não são aquilo que eu


imaginava?

Então vem os bodisatvas e constroem as Terras Puras a partir


dessa liberdade, dessa magia.

Ninguém está preso numa causalidade fixa. Ninguém.

Mesmo assim parece que aquilo é causal.

Então, nesse aspecto mágico da construção, surge a sensação da


causalidade.

A causalidade parece ser verdade última sobre a vida, sobre o


mundo, mas não é!

A causalidade, ela é uma decorrência dessa magia que está por


traz: é um olho específico; é coemergente, também.

294
8 – Sorrimos! É assim que o Samsara nos pega! Natureza vajra. Oferenda
a Samantabadra.

“Diante da energia, que brota da forma vazia e luminosa, eu sorrio.”

Item 8: sorrimos!

Esse sorrido é um sorriso sutil da percepção de que não precisava


sofrer tanto; não precisava se fixar tanto (as coisas são muito mais leves
do que parece; mais livres).

A gente vai ver que as piores experiências podem ser vistas como
pesadelos ou sonhos felizes.

Naquele corpo que está sofrendo não tem ninguém real.

Você vai encontrar diversos mestres que morreram com doenças


bem difíceis.

O Lama conta de Chagdud Rinpoche nos últimos anos,


enfraquecido, quando saía cansado dos ensinamentos.

Então, aquele corpo sofrendo, mas a mente repousando naquele


brilho.

A gente sorri tanto para as sedutora, tentando nos prender, quanto


paras as ruins.

Esse sorriso não é um sorrido de aversão, de deboche. É um


sorriso de que eu posso entrar ou não na situação: é um sorriso de
liberdade.

Natureza Vajra.

Eu olho tudo ao meu redor e vejo tudo brotando como vazio e


luminoso e inseparável de minhas estruturas internas.

O mundo que eu vejo é o mundo que eu consigo ver.

É o mundo que meu carma, minhas estruturas me permitem ver.

Quando eu me liberto de minhas estruturas cármicas, as minhas


possibilidade de mundo se ampliam de modo infinito.

Samantabadra é o Buda Primordial.

295
Então a gente oferece a ele todas as experiência. Tanto as
agradáveis, quanto as desagradáveis.

Então, o Buda Primordial é a natureza de minha própria mente.

Então, quando eu olho com esse olhar, eu ofereço isso tudo, eu não
me prendo mais a nada.

Eu me sinto completamente livre nesse processo de observar como


tudo vai surgindo e eu vou oferecendo.

Não preciso guardar, não preciso me fixar a numa dessas


experiências.

Isso a gente vai chamar de oferenda a Samantabadra.

Essa frase a gente deveria guardar: “Diante da energia, que brota


de forma vazia e luminosa, eu sorrio.” (Destaco).

Então, agora, atento, a um passo atrás, observando as minhas


experiências de mundo, eu olho para isso tudo e sorrio.

E para fazer isso eu preciso estar sereno. Eu preciso estar atento à


experiência.

Por isso, é mais fácil começar na almofada, em vez de começar em


meio ao mundo, às pessoas, à dinâmica do samsara.

É mais fácil trazer exemplos sentado.

Então esse é o exercício.

296
COMENTÁRIOS FINAIS DO LAMA
Ai vem o comentário final do Lama (sobre esse roteiro), que é maravilhoso,
também. [Eu acho (assim, essencial) um dos melhores textos sobe prajna, que
eu já encontrei:

A liberação ocorre pelo riso e não pela seriedade, não


pela dinamite, não pela vacuidade, não temos que
destruir o mundo. Temos que iluminá-lo! Nós sorrimos
para ele.

Então, isso é muito comum. A pessoa entra “pro” budismo e ela acha que ela
vai estudar tudo (e entender tudo); vai praticar de modo muito firme (certo e
estável) e vai alcançar a liberação; mas quanto mais a pessoa pratica, mais ela
percebe que [se ela levar a sério (trazer muita seriedade à prática) aquilo,
também, acaba se transformando num obstáculo. [porque é uma construção
(também) de um personagem (ali dentro)].

Então, (éé) prajnaparamita, nessa abordagem que o Lama Samten nos traz é
apresentada de modo leve (lúdico, né?).

Então, a liberação (se liberta) pelo riso (e não pela seriedade).

Não adianta você saber todos os argumentos filosóficos e toda a filosofia


madhyamaka (e reduzir todos os fenômenos de modo analítico, através de
simbologismos e etc) e concluir que tudo é vazio.

Isso, necessariamente, não vai te libertar. Eu preciso dessa experiência direta


diante das formas. Esse é o método (ééé) dos yogues, (né?); um método
tântrico (também) de eu aproveitar todas as experiências como um método de
prática.

Então, esse é o nosso caminho: o caminho dos yogues do cotidiano [como o


Lama tem chamado, (né?)].

Sorrir diante de qualquer coisa.

Quando você se pegar irritado, observe, olhe, surgiu uma conectividade [que
de um modo coemergente (não gostou) de algo; (atribuiu um valor aqui; um
valor ali); entortou (energia torta); você “tá” lá, preso (passando mal), numa
espécie de irritação [ai você: (Oh! Sim. Sorriso)]: recua (sorri, né?).

Pode não sorrir com muita naturalidade (no começo, né?)

297
Mas, tudo bem, a gente vai treinando o sorriso, que tudo vai ficando mais
natural.

Não se levar a sério é um dos critérios principais para se liberar.

Nenhuma identidade tem que ser aprovada, tem que ser amada, tem que ser
querida; tem que receber elogios, receber carinho e amor.

As identidades (são) que nos prendem, (né?).

Então esse olhar, de prajna, de sorriso, nos liberta de ter que sustentar
qualquer identidade.

Portanto, não tem seriedade alguma no processo.

Então, não temos que destruir o mundo: temos de iluminá-lo.

Sorrimos para ele.

Como alguém que repentinamente se vê de forma mais


ampla do que se via. O samsara não é negativo, o
samsara é lúdico. Nós sofremos dentro do samsara
como as crianças também sofrem, por coisas muito
simples. Nossa dor em samsara está ligada à energia;
não só não vemos a energia como tomamos a
obediência àquela energia como nosso refúgio
fundamental. A única forma de superarmos isso é
compreender este processo e sorrir! (Destaco)

Então vejam. É isso, (né?), as pessoas perguntam, repetidamente: “tá” bem, eu


“to” entendendo a coemergência, mas ainda sinto essa energia torta (essa
energia não “tá” bem).

Então, eu só vou libertar o nó energético através dessa (olhando com o olhar


de brincadeira, rindo de mim mesmo; rindo do papel que eu exerço na vida).

Ah! Mas as pessoas me enganaram, me machucaram, me traíram (mentiram) e


aquilo parece, assim (eu tenho razão de estar me sentindo mal).

Eu tenho razão de “tá” me sentido mal (se eu tinha) alguma identidade


específica “pra” defender naquele processo.

Se eu não tenho identidade, não tem ninguém “pra” ser atacado.

298
Então, tem uma frase maravilhosa de Trumpa Rinpoche, que eu gosto de
lembrar. Numa certa palestra perguntaram “pra” ele, (né?): o que fazer quando
as pessoas nos atacam?

Ai, ele respondeu, assim, de modo muito simples: Ah! Quando elas te
atacarem, não esteja lá.

Não esteja lá.

Tem que ter alguém lá “pra” se sentir atacado.

Então, se eu não engulo aquilo como um ataque à identidade (que eu “tô”


defendendo): eu, apenas, observo o fenômeno, eu não tenho o peso, a
seriedade, a dramaticidade, que ele acaba assumindo [se eu tiver segurando
um javali específico, (né?)].

Um tapa na cara é o fim do mundo (por exemplo)? Aquilo é horrível (a pessoa


guarda aquilo uma vida inteira); guarda a vingança para devolver lá na frente
(por exemplo).

Mas, o que (que) é um tapa na cara?

As pessoas às vezes (“tá” sozinha, bate a cabeça e sangra) e ela não fica
brava consigo mesma porque cortou a cabeça; mas um tapa de outra pessoa
(uma mão no seu rosto) ela tem a voz de outra pessoa.

A gente vai construindo (ééé) interpretações e as experiências vão tomando,


(né?), esse ar de samsara e vão se complicando.

Mas, se eu conseguir sorrir e não ficar preso nessa obediência à energia que
surge, ai eu “to” livre.

Então, eu preciso olhar muitas vezes “pra” ir relaxando diante das experiências,
“pra” perceber a energia diferente desatando (é um lenço com muitos nós;
então eu tenho de ir desfazendo os nós desse lenço).

Cada um que eu solto já e mais um grau de liberdade.

Essa energia é o sangue do samsara, é o que o


movimenta.

O Lama sempre insiste, (né?), que a verdadeira linguagem do samsara não é a


linguagem cognitiva, verbal: é a linguagem da energia.

299
Então as pessoas se movem por pensamentos e raciocínios, mas a energia é
que é a verdadeira troca que se dá (de modo silencioso).

O tempo todo nós estamos buscando situações (ééé) experiências que elevem
a energia (que excitem a energia). Eu, também, já falei isso várias vezes (é
bem interessante a gente olhar para isso), como nós somos mendigos
energéticos, que ficam o tempo todo mendigando no samsara (“pra” me dar
uma experiência “pra” acelerar a minha energia), “pra” que eu me sinta bem.

Né? Se a temperatura cai, eu reclamo, porque atrapalhou a minha sensação


energética; se a temperatura se eleva demais eu, também, reclamo, porque a
minha energia (também) “tá” sofrendo.

Então, eu “tô”, o tempo todo, tentando (ééé) encontrar uma condição perfeita
de equilíbrio “pra” essa energia [de um equilíbrio agradável, (né?), de energia].

E eu não encontro aquilo, (né?), manipulando as causas e condições externas.

Eu preciso me libertar dessa dependência.

O aspecto da energia, também é liberado através de prajna.

Precisamos não só entender o samsara, mas temos de


absolver o samsara, liberá-lo, iluminá-lo.
Prajnaparamita nos ajuda a compreender o aspecto
xamânico da realidade.

O aspecto xamânico é a acumulação das energias, (né?), que muitos mestres


vão fazer isso, (né?), de modo natural.

Então, esse (esse) ponto aqui é muito importante, (né?).

Não lutar contra o samsara. Não olhar para o samsara como um lugar físico
(ruim).

Esse é o raciocínio bastante limitado. Então, o samsara é uma espécie de


experiência de mundo (não o mundo em si); o samsara é uma experiência de
mundo confusa, deludida, onde há sofrimento.

Quando nós nos libertamos do samsara, nós olhamos com o olhar de


liberdade, ou seja, o que seria o nirvana.

E ai, nós não vamos ficar presos nem no samsara e nem no nirvana (nem uma
experiência de bem aventurança da liberdade e nem uma experiência dualista
de sofrimento). Então, a mente vai além de samsara e nirvana: ela repousa

300
nesse espaço que está além de qualquer julgamento, (né?) das coisas serem
boas ou ruins.

Essa é a libertação final, (né?), que vai ser alcançada através de


prajnaparamita.

Na meditação dos oito pontos, a experiência inicial é


que a realidade circundante é o samsara e a sabedoria
se manifesta em janelas onde a mente Prajnaparamita
se apresenta.

Ou seja, de vez em quando eu consigo olhar com mais clareza, (né?), com
mais lucidez.

Então, janelas.

Realizando-se a acumulação dessa prática, há um


momento em que a descrição dos primeiros versos do
texto "Indo ao Ponto Último" se torna clara e a
realidade circundante surge diretamente como a
realidade Vajra.

Tem, ainda, um outro texto, que (também) “tá” presente no Livro Roda da Vida
(lá no capítulo sobre prajnaparamita), em que “o Lama começa, assim, com o
formato de verdade, (né?)”: abra os olhos de vagar e veja a realidade vajra
inteira diante de você (“nada a fazer, basicamente”) (é um texto muito bonito,
também, buscando o Ponto Último), em que (quando eu acumulo os 8 pontos
de prajnaparamita), eu vou me aproximando desse olhar da natureza vajra, de
modo natural, de modo leve, não mais cognitivo, pesado, mas um olhar de
leveza da experiência direta daquilo, (né?).

Nesse momento há uma inversão e a experiência do


samsara se torna um surgimento artificial, aparência
particular e fugaz da realidade Vajra.

Então, quando eu desenvolvo esse olho (quando eu localizo esse olho), a


aparência do samsara (a gente acaba concluindo) é apenas um caso particular
(poderiam ser infinitas outras coisas, mas nós escolhemos algumas
experiências e construímos aquilo).

Então, o samsara não é mais um mundo real, o samsara é uma experiência


que eu tenho de mundo {é, apenas, um caso específico de construção, [né?]
imerso nessa realidade vajra [bases, (né?) de construção de aparências]}.

301
Então, esse é o texto, (né?), que o Lama nos tem transmitido “pra” prática de
prajnaparamita. Então, eu recomendaria, (né?), que esse texto “seja” lido
muitas vezes (marcar; anotar; fazer [pensar, contemplar e repousar), (né?)
sobre esse texto; depois usar os 8 pontos de prajna (com muitos exemplos);
todos aqueles sugeridos num material muito maravilhoso, (né?).

Então, esse é o ponto em que estamos.

Então, todos os vídeos anteriores dão uma base [muita conversa, (né?) e
comentários “pra” nos dar essa base de compreensão “pra” poder fazer isso].

Esse olho não é o olho, que vai surgir (do muito esforço), no sentido de que eu
vou ser (um dia) muito inteligente (acumular muito conhecimento) e, enfim, vou
enxergar.

Esse olho vem dessa abertura (que vai me ocorrer) interna, (né?).

Então, não necessariamente isso vai ocorrer do esforço [o esforço do estudo


(da compreensão) é apenas uma base cognitiva; mas o olho de prajna vai se
dar pela experiência direta (pela acumulação da experiência direta).

É algo que já (já) nos é intrínseco (assim): não é algo que eu tenha de
desenvolver “pra” construir esse olho: esse olho já “tá” lá, só que ele “tá”
obscurecido (tem poeira sobre a lente).

Então, todo o trabalho, (né?), do exercício de prajna é esse [espanar, (né?)


essa poeira que está diante da visão correta].

Então, prajna é a visão correta sobre as coisas, sobre as aparências.

Então, é isso. Vamos seguir assim: a lição de casa seria reler esse texto
algumas vezes (esse roteiro) e tentar seguir aplicando os 8 pontos em
exemplos específicos (objetos, pessoas, emoções, situações, sonhos e, assim
por diante).

Então, eu considero que esse bloco “tá” concluído.

302

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