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Artistas Gráficos

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José E. Anclrade

INDICE

Introdução 7
As regiões 11
As causas da guerca 39
A guerua cívil 65
O impacto da guerra 79
l A reconstruÇão . . 90
q
Conclusão 109
{} Indicações para leiturq 114
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Editora Brasiliense S.A. t

R. GeneralJardim, 160 I(,
01223 *São Paulo - SP I
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Fone (01 11 231-1422 l
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Qucrcnros :rgradecer a Rudolph Bell, Eric Foner e Michael M. Hall pelas
suas sugestÕes bibliográficas, e a Eni Orlandi pelas correções e melhora-
nrcntos no Português.
Reconhecemos também a nossa dívida parâ com os alunos das matérias
rle ltistória da Àmérica II e Estados Unidos Contemporâneos que, atra-
vós rle suas perguntas e críticas nas salas de aula da Universidade
l'i:ladrral dr Campinas, muilo nos ensinaram.

*
"sentimos que a nossa causa ê justa e sagrada; solenemcnte procla-
mamos, para todo o gênero humano, que desejamos a paz ao preço de
rNTnoDUÇÃO
qualquer sacrifício, menos o da honra e da independência. Não procu'
ramos conquista alguma, nem enaltecimento, nem concessão alguma de
qualquer espécie dos Estados dos quais faz pouco tempo éramos confe-
derados. Tudo que pedirnos é sermos deixados em paz', que aqueles
que nunca mandaram em nôs agora nào tentem subjugar-nos pela força A Cuerra Civil Norte-americana (1861-65) me-
das armas. " rece a atenção do estuclante brasileiro por diversos
motivcs. Primeiro, foi uma guerra que marcou pro-
Jeflerson Davis, primeira fala ao Congresso dos Es-
tados ConÍerierados da América, 1861. fundamente a eyolução histôrica dos Estados Unidos
da América (EUA). Até esttr gllerra, todos os con-
"Um oitavo de toda a população era formado de escravos de cor, não flitos políticos mais importantes entre as grandes
distribuídos de um modo geral pela União, porêm localizados na sua
parte meridionai. Tais escravos constituíam um interesse pecutiar e regiões norte-ameÍicanas, do Norte e do Sul, tinham
poderoso, Todos sabiam que esse interesse, de certo modo, foi a causâ sido resolvidos, adiados ou escamoteados dentre as
da guerra. Fortalecê-lo, perpetuá-lo e ampliá-lo era o objetivo pelo qual linhas da Constituição de 178?, e através de proces-
os insurretos pretendiam dividir a União, nern que tivessem de recorrer
à guerra, ao passo quc o governo não reclamava outro direito que o de
sos pacíficos de barganha, conchavo, negociação e
restrii,gir sua difusão territorial." voto. A guerra representou uma confissão de que o
sistema políticrr falhou, esgotou os seus recursos sem
Àbraham Lincoln, segundo discurso de p.'se «la
presidência dos Estados Unidos da América, 1865. encontrar uma solução. Foi urda prova de que,
mesmo numa das democracias mais antigas, houve
uma época em que somente a guerra podia superar
* os antagonismos políticos.
O tota.l dos mortos ajuda a apreciar a magnitude
A meus filhos, José e Zena, para quem a Histôria
deste evento traunrâtico para os EUA. Calcula-se que
Comparativa já é familiar.
 l)ct er L.
ulll t()ttl rle ôltlüX) americanos cornbatentes nror-
lcranl nos dois laclos, unt total que excede o de todos
()s nrort()s altlericanos nir Primeira Guerra Mundial
(l9l.l-ItJ, com 125000 mortos americanos); na Se-
gun(la (luerra Ir{unclial (i939-45, c<'»m 322000 nror-
tos anrericanos), na Guerra da Coréia ( 1950-53. conr
55(Xn ntortos americanos), e na Guerra do Vietnã
( l96l-75, com 57000 morlos arnericanos).
Ent segundo lugar, esta guerru lembra vários
aspectos da história rio Brasil, quando questões
sernelhantes surgiram. Para começar, a guerra foi
runra reação a um nrovirnenl«t sepalatista. C) Sul de-
clarou a sua independência do Norte. e estabeleccrr
unra nova nação, os Llstados Confederados da Anté-
rica (ECA). O Norte teve que invadir o Sul e lutar por
quatro anos até destruir este separatismo. I)a mesma
forma, o Governo Imperial Brasileiro teve qr.re repri-
mir conr armas a Confederação rlo Equador no Nor-
deste, em 1824: e a República de Piratini e a llepr'r-
blica Catarinense, criadas pela Revolução dos Far-
roupilhas no Rio Grancle do Sul. em 1835-45.
A abolição da escravidão foi outra questãq que
convulsionou a vida política dos EUA e do Brasil,
no século XIX. No Sul dos EUA, a escravidão foi tão
importante quanto nas regiões brasileiras cle granrle
lavoura. Em ambos os países os setores escravistas
passaram a maior parte do século à procura de ma-
neiras de preservar esta relação de trabalho contra
as restrições gradativamente colocadas por grupos
fora destes setores. Mas nos EUA a abolição final
foi imposta à ferro e fogcr pela vitôria do Norle no
l.i.st,rt lterg (l rtt'rra Civ il A tn e ri cu rt u
liiii da Guerra Cir,,il, enquanto rro Brasil a aholição
resultou de unra combinação de iongas carlpanhas
de rrobilização popular, das revoltas dos próprios es-
cravos, e do oportunisnto dos escravocratas, c1ue,
antes da abolição, iá acharanr subslitutos para os
seus t:scra\'()s, ou entre os traballt:rclrlres nzrcionais,
ou entre os imigrantes estr;rngeiros.
Finalntente. nruitos historiadores norle-anreri-
canos entetrdenr a Gucrra Civil conto unt conflito
entre duas sociedaclcs cliferentes: a do Norte. ba-
seada nas nranuÍattiras c cantinhantlo rapicianrente
para a inclustrializaçho. e a do Su[, haseada na eco-
rtonria agrhria de cxportação c procurando cxpaudir
a írrea clestas lavouras. Entbora enr escala bent nte-
nor. e em data bem posterior, o Brasil também expe-
rimenlou momentos de atrito entre o setor nascente
clas nranufaturas c o setor agrário, conto por exernplo
nos debates sobre o nívcl de tarifas irrluaneiras na
Prirneira República. É nolávcl, erltretanto, que a
historiografia briisileira nroderna eln geral reconheça
uma certa contple mentaridade dos interesses dos in-
dustriais e dos grandes agricultores, ao contrário da
situação nos EUA no século passado.
Os paralelos entre a história clos ELIA e a do
Brasil. nestas questões de separatismo, abolição e
compctição entre a indírstria e a agricultura, convi-
dam a uma reflexãtt bem ntitior sobre a razão pela
qual, no Brasil, tais questões encontrarant um enca-
nrinhamento e uma solução às vezes bastante clife-
rente dos encontrados pekrs EUA. e o que isso teria a
ver conr as difercnças atuais entre as pcllíticas. as
 Peter L. f-isenherg

economias e as sociedades clos dois países. Ao longo

rlesta histôria, que aliâs não pretende fornecer mais
do que uma introdução ao estudo da guerra, pÍocu-
raremos levantar diversos pontos de coulparação
especifica eutre os EUA e o Brasil no século XIX.
Caberia ao leitor, entretanto, partir ciestas informa-
ções para desenvolvet' as suas prôprias explicações
das diferenças.

AS REGIÕES

O Norte

Vanros agora examinar as raízes clas contradi-

çôes profundas entre o Norte e o Sul, através de um
estudo cla evolução de cada região. Como foi que
cada região desenvolveu as suas atividades econô-
micas mais dinâmicas? Como se formaram as classes
sociais principais, de modo que cada região chegasse
a defender posições políticas tão cliferentes, particu-
larmente com respeito a uma terceira região, o Oeste,
que somente uma guerÍa conseguiu resolvê-las?

A economia

0 Norte dos EUA incluía a região da costa

atlântica, desde o atual Esta.do cle Maine ató Mary-
t2
l .
land.* Os povoadores inglescs. e os seus clescen-
dentes na época colonial (1607- 1776), tinham esten_
dido o Norte na direção ociclental até a corciilheira
clas Monlanhas Apalaches, e, no começo do sécukl
XIX, o nt<'rvilnento de povoalnento 1113,7sssou as
nrontanhas e chegou até :r rnargenr oriental clo Rio
Mississippi.
A vicJa econômica clo Norte tinha conreçaclo nas
colônias cle Nova Inglaterra e nas cio Meio, com nú_
cieos de pequenos agricultores produzindr) apenas o
necessário para a surr própria subsistência. A abun_
dância de pcixes, perlo clo litoral. e as gr;rncles ntatas
inclrrzirant o crescilnento rla pesca e da construção de
bitrcos a vcla" Da nresura forma, as iazi«las de miné-
rio de ferro e a facilidacle cle fabricar carvão vegetal
permitirant a criação de muitas pequenâs fundiç.ões.
Como conseqüência, já no século XVIII Írs pequenas
comunidades rurais do Norte virarn surgir unr vigo_
roso comércio de carne seca e de bacalhau, cle pro_
dutos derivados da baleia como sebo e velas, cle pro-
visões para barcos e de farinha de trigo e cereais.
Comerciantes radicados nos portos de Boston. Nova
Iorque e Filadélfia mandaram estes proclutos ao Ca_
ribe para suprir as necessiclacles das colônias mais
preciosas da nretrópole inglesa na época, as ilhas
(*) Por motivos técnicos, não foi possível incluir mais do que unr ntapa
detalhailo. O leitor está conr.idario a consultar Manoel M. de Albu-
querque, Arthur C. Ferreira Reis c Carlos Delgado de Carvalho,
Atlus Histririco Lsttiur. 7l ect., Ilio tJe Janeiro, MECi FENAME,
1977 , pp. 52-57 e 62-tr.r.
('ivil Americurtu
i.tt'rr ittrg
ilçucareiras de Barbados, Jamaica e as Ilhas de Bar-
ravcnto e Sotovento. Em troca, estas ilhas manda_
ranl melaço e açúcar para as refinarias continen-
tais do Norte, que por sua vez exportavam rum para
a Africa. Lâ o rum era trocado por escravos, que
erarn trazidos para as ilhas para continuar a produ-
çiro de produtos de cana-de-açúcar. Este comércio
triangular foi complementado por um comércio recí-
proco de peixe salgado e frutas do Norte para manu-
faturas da Inglaterra.
Antes de conteçar a sua revolução industrial,
por volta de 1760, a metrópole inglesa não se inco-
nrodava muito quando as colônias do Norte apli-
caranl o capital acumulado no comércio triangular
para construir novas manufaturas de môveis. carro-
ças. panos, sapatos, ferramentas e sabão, desde que
es1írs ntercadorias fossem consumidas internamente
nas colôinias continentais. "I'ampouco a metrôpole
reclamava se estas nranufaturas eraln exportaclas
para as colônias inglesas no Caribe, já que a própria
metrópole não conseguia abastecê-las por preços
mais baratos, devido ao maior custo de transporte.
Este abastecimento reduzia os custos de produção
dos artigos coloniais corno açírcar, cacau e café, os
quais eram nruito cobiçados pela metrópole.
Quando a revolução industrial conreçou na In-
glaterra, o governo metropolitano tentou re«luzir a
concorrência colonial em manufaturas, para que os
americanos comprassem mais dos ingleses, e tazer
com qrre os colonos pagassem uma porção maior das
dcspesas cle administração das colônias. Mas os ame-
t,t I)a t er L. l','iserrherg
ricânos não aceitaram este enrijecintento do sistenra
colonial, e declararam ál sua independência. Na
Guerra de Independência (1726-31;, como numâ ou-
tra guerra contra a Inglaterra (.1812-14) durante a
época napoleônica, ficor.r .claro para os antericatros
que eles ttão podianr contat' colr a itrtportação de
manufaturas inglesas, e que eles linhatu qlle monlar
a sua prôpria tranufalura. Assim, expandiram-se no
Norte as pequenas fâbricas de linhas e pano cle lã e
de algodão, cle sapatos e de relógios, e apareceralll
nrais oficinas lrrocluzindo ferratnenlas e arnlzrs. Os
conrcrciantes Íorneceratn o capital para tnr.titas rles-
tas rnauufaturas cujo vaior, enr 1860, pela prinreira
vez igualou o valor dcis produtcls agropecuários.
O crescimento das manufaturas no Norte tanl-
bérn devia nruito à introdução de invenções ntecâni-
cas para alrmentar a proclutil'idade, e aos novos mé-
torlos de orgatriz.ar a prodrlqrão. A relaliva falta de
mão-cle-obra, ern cornparaçã<t colll a Itrglaterra, e os
salários conseqüetrteinente nrais altos, levaratn os
empresários a se interessarent nrais pela adoçãcl de
mâquinas que fariam o trabalho de pessoas. Mesmo
quando a populaçã-o crescia rapidamenle, este cresci-
menlo não se transformava ell1 força cle trabalho
parír os outros, porque muitas das pessoas, qlte illcl'e-
rurentarant a população, preferiranl trabalhar conl()
lavradores autônomos.
Assim, na agricultura, o arado de ferro e depois
cle aço. o rastelo e a sementeira foram desenvolvidos
e clivulgados entre 1820 e 1850. Na década antes da
Guerra Civil, os araclos de aço de John Deere, os
( ; tr t' rru (..iv'il Antericuttu l5
riebulhaciores cle Jerorne Case e as colhecleiras rnecâ-
nicas de Cyrus N{cCormick pertnitiam ao trabalha-
rior agrícoia fazer nutna hora o que anles levava até
unr riia inteiro. No selor inclusÍrial, a prodtlção de
pcças intcrcambiár'eis, desenvolvida por Eli Whitney,
foi a grande novidatle, porque significava que não
cra nrais necessário que cada peça fosse feita sclb
rncrlida paia cacla produto. Agora podia-se organizar
rrma iinhar de montagent. com cada operário fazendo
rcpetitil'aniet-lte algumas simples operaçÔes e uma
prticluçào crn iníissa. r\ linha cle ntontagenr foi adap-
tarla espccialmt-nte na fabricaçittl cie armas brancas,
purafuso..;, 1)()rcí1s, rel(rgios, trtitquinas agrícolas, fe-
clradtrras, cacleados. teares. ntáquinas cle escrever e
rlc costurar e ferrameutas.
A agricultura do Norte expancliu-se para o No-
rrreste durante a primeira parte do século XIX.
Irnrl;trrrados pela multiplicação das propriedades
lugrícolas e o crescinrento das cidacles tlo Nordeste.
os posseiros, pequenos proprietârios e nativos e imi-
erantes sem terra procuraram as áreas ao redor clos
Grandes Lagos. Lá, eles estabeleceram pequenas fa-
zcrrdas. de unr tamanho médio de 50 hectares, nas
te rras seln dono. ou nas tcrras de índios das tribos de
Algoncluins. Iroquois e Sioux, ctrjos protestos foram
ignrlrarlos otr rcprinridos. Estes lavradores trabalha-
ranr c()nr a sr.rit própria fantilia, cultivaram trigo, mi-
lho, uvas. gudcl hovitto, carneiros e suínos, e vende-
ranr esla lrroclução para o Nordeste enl troca de
ntanufaturas.
A ecortorria tlo Ntlrtc expancliu-se ainda mais
t6
l)orqut: o nlercado foi muito ampliado pelos rnclhora-
nrcntos nos transportes. Durante a prinreira metacle
do século XIX, o Norte experimentou um surto de
investimentos públicos e particulares nos lranspor-
tes. Primeircl, o dinheiro fluia para as estradas e
pontes, sobre as quais viajavant os vagões puxackrs
por animais, e onde os postos de pedâgio procluziam
rendas parâ os seus construtores. Depois, a presença
dos diversos rios navegáveis no interior de Massa-
chusetts, Nova Iorque e Pensilvânia levou capitalistas
e governadores a investir na construção cle canais,
rios artificiais, para ligar o liloral cont os Grancles
Lagos e conl os rios que desaguavam no Rio Missis-
sippi. Embora a construção de urn quilônretro dc
canal custasse cinco a oito vezes o que custava um qui-
lômetro cle estrada, o transporte cle fretes e passa-
geiros em grandes chalas puxarlas por animais ao
lottgo doscanais eliminou até 90o,h rlo custo para os
t"tsuários.
O aperfeiçoanrento cio veleiro rápido c.lipper na
década iie 1840 e a inlrodução cle barcos nrovirlos
com máquinas a vapor aprescntarant outros avanços
na ârea de transporte sobrc a água, que recluziriarn
significativarnente o tenrpo cle viagcm e os custos rlc
frcte e passageiros. O harco a. vap()r crn 1860 lazia a
viagem de Liverpool até Nova Iorque enr rluas senla-
nas, quando o barco a vela. quarenta anos Írnles.
levaya entre seis a sete semaltas 1rara o lnesmo per-
curso. Os barcos men(rres a vapor agilizavant o lrans-
porte flul'ial, porque eles ullt cxcnlplo são as
- no
"gaiolas" que ainda trausitarn llio São Francisco
( rttr,t'rü (-it'il Arnericurtu
T rto Brasil podiarn sut:ir facilmente contra as fortes
-
cort r:niezas cios rios.
Ainda durante a fa-se âurea da construção clos
canais (1830-.50), a extensão das eslradas de ferro
protrrori:irir-roLr beneficic,s rnais irnporlantes, não so-
rrrcrrtc para os usrrários, mas tanrbérn para o parque
intiLrstrial clo Ntlrl-e, enr geral. A eslrada cie ferrc
go!.a\:a rle grandes vanlagens sobre os canais, conrcr
as de não congelar n,-r inverno, c1e não depencler cle
rríveis l'ariáveis tle ágr.rtr. de não oferecer perigo ai-
gilnr para a navegação notrlrna. de poder subir ou
!)Lllt: trar através de tírneis as ntontanhas mais altas,
ric tt'r trnra velocidacle alta cttnstanle e a Íorça de
l)uli.rr cargas cnoi'mes e de possibilitar a construção
rle ranrais até as portas das fátrricas e das fazendas.
Nunr per:iodo cle febrii investinetrto privado e púr-
bíico, a mericanos e europerrs correram para comprar
irçires ern cornpanliias Íerroviárias, que pagavaÍn
bt,ns diriderrdos e a.indn recebiam suhsídios do go-
vern() na forma de parcelas de terras a cada lado dos
trilhcs. ,,\s companhias vendiam as terras, lucrando a
curto 1-rrazo na revenda e a nrédio pra,z(t, quando as
tcrras começaram a procluzir e os faz.endeiros trans-
portavant a sua produção pela estrada de ferro. E,n-r
1850, cluandcl os canais tinham uma extensãro de
5 120 quilônretros. as estradas de ferroiâ alcançavam
14400 quilômetros, e. na véspera da Guerra Civil, os
EtlA tinham 48 000 quilômetros de trilhos, dos quais
629lo estavam localizados no Norte. O Brasil hoje tem
32 (m0 quilônretros de trilhos.
Além de baratear o transporte e possibilitar que
Itt Pytlr L ["t:;ttilttrÍ!
vllils e iazendas mais distatrtcs ckr litoral atlâritic<r
pude.§sem mandar os seus produtos paríi os centros
ile popuiaçã,], as esr"?:âdâs de ferro exrrrterâfl) iii-nil
Íorte demanda sobre as oficiuits que fírbricui','âm in-
surrlos parâ a sua construçãtt. conrr.r []rego:;. lrilhr:s.
lor:onrotivas. vagõe's e rnâquinas a vapor. Àssim. a
c:xtensão da rede ferr,lviâria nos EUA. no sécuio pas-
sarlo, estimulqru a implar:tação cie rrnla granrle varie-
d;rr1e de fábri*as cle peças, e estabeleceu nurna base
iiuradoura a inrlústria rie Lrens de produção, nun.t
papei rnuito semeihante àqr:ele desempenhado Jrela
indristria automohilística no Brasil no .jóculo XX.
,4,s c/c,rses scclox
C) crescimento rápitlo da populaçâtt do Norte
lontrilruiu muito para o ailrnento cla clenranda de
mercadorias Íla sua econclnria. Ent.re 180{) e 1t150.
a população dos EUA mais do quc quadruplicou,
numa velocitlade bem acima daquela conseguida peiit
população brasileira, na mesrna época ('fabela 1).
Calcula-se que três qrrintos desta população ameri-
cana moravam no Norte ou no Oeste rJo país.
.I'AB[,I-A
I - T'OPULAÇÀO
( milhões de habitantes )
(,ut tttt ('tyil .'lttttrtcuttLt l9
,{s grancle s nrassas de irnigrantes europeus con-
{r'ilr,rír'lrrn rlc uniit nraneira essencial para cste cresci-
rr( iil() rlcrlugrâfico. Eias conteçaranl a chegar aos
I I I,\ rr pailir rÍe 1828. quan,:1,r pela pri nteira vez
() nillIlr.'t,r ilt iurigritntes anirais r-rllrapassorr 300()0.
rrnr:rrrillrr:o atingit'la pekr Blasil na tlécaria rie ltj80.
l)'rrrtiie (,s írnos cle lti30-4(1" a irligraçiro para os
I U\ cliegru a rrnrír média anrial (le 59000; de
l,3lt)50. a 1;10í10: e dc 1850-t)0. a 260000. Estes
í,1liltrliutcs vierlrm errprrrratlos peias nrás condiçÕes
,'t orrirrrrie a.; c pela pcrsc-grriç'arr política e religiosiL rr;.r
lr l;rnrlu (50'l'i, rlos inrignrntes), Aienranha (26'1i,) c
lnÊlirt('rrír (lb'i1,), alónr de serenl atraídos pclos sllíi-
rr\)t Í'cliil.ivrrnrcnle nrelhorcs e pelas faciliriades lrri
.t(l(lrlllir.tcrrâs prtiprias fio I"iorte e no Oeste. Firll
l,\5{), r.-s inrigrnntes constituíarl l0qi, da populaçiii-.
lo (;r l.
(Jiirrl cnt ii cilnrpusição rlestu sociedacle no N()r-
l,'l []rn prinrciro Itrgar, nào ]rouve cscravos. No firrr
rlt,secuio XVIIX e n() corleço rio século XIX, a maior
I)iri'trc (li)5 e slados r'io Norlc aboliu a escral'idão ou a
( \tirvu abolinrlo, atrar.és rtre leis clo verrtre livre. A
, lrrssc cltls lr abalhaclrlrc's ltvres, que incluiu a nraioriii
,los inrigranlcs rccénr-chegtrdos. elnpregou-se nas
,rlir-irurs c()ur() aprer.lrliz.es e oficiais. e colno trabalha-
rlolcs bruçais ua construção civil e nír cônstrução rlos
t rrrrais e cias estradas cle ferro. As mulheres seruiranl
('()lli() cnrpregadas. ou encontraram serviço coÍno
,)l)crírrias nas tecclagens. No campo, o pobre empre-
!tlr\'ár-se c«rmlr .jornaleiro e aspirava a chegar a ser
lrirrct:irt, ou inquilino. n,irs fazenclas dos clutros.
 Pcttr 1.. l,isertherg
A grande classe média, a classe mais nunrerosa
do Norte, encontrava-se predominarrtemente no
câmpo, onde a agricitltura e a pecuâria conr tratralho
familiar foi a base da vida cconômica. 'I-anto r.ros
pequenos sítios de legunres e fnrtas criados nos solos
inférteis e pedregosos da Nova Inglaterra, qurnlo n;rs
fazenclas maiores de centeio. cevada, aveia e trigo, r'n-r
cle laticínios e suínos, nas canrpinas de Nova trorque , rirltr à prevulôncia ainda do sistema donréstico e da
Ilensilr,ânia, Ohio, Incliana, Illinois, N{ichigan e Wis-
consin, os próprios douos das fazencl;rs e granias e as
suas fatnílias {iz.eranl quase todtts as tare[as. Alrenas
clurante a safra ou outra época de trabalho nrais
intenso recorria-sc à ajuda «le algunr assalariaclo.
inquilino, ou nlesmo ao mutirão rJos vizinhos. Foi
esta classe que, iur-i1o com os fazendeiros dc Sul,
procurou os solcls novos e terras -lem donr.,s pirra ela e
os seus íilhos. e assiln cntprlrr(|u nrais as fronteiras
dos EUA para o Oeste,
A outra classe ntéCia nascia nas porrcas grandes
cidades como Nova lorque que, ent 1860. foi a pri-
meira a ultrapassar um miihão de habitantes. []sta
classe média urbana inclui a pequena burguesia dos
artesãos e mecânicos com oficiners próprias. us i)r()-
fissões liberais conro advogarlos. rnóclicos, proft:sso,
res, jornalistas e os funcionãrios públicos. Enrbora
menor, em número, rlo que a clasr;e rrródia rural ,
a classe média urbana teve urna expressão política
desproporcionalmente maior rlo qtre os seus nú-
meros.
No cunre cla pirânride social do Norte as
classes nrais ricas aparecerant áls pessoas que- acu-
-
( tttt tt tt ('it i1 ..1t;tr,r!cuttu
nrrrllrrirnr as suas fortunas no con'lércio de importa-
\'ití) c c{})(1r'tação, nas finanças e nas atividades ban-
t'ilis. Iries residiart nos grandes centros porttrários
t'r'r
rk' []oston, Nova Iorque. Fiiarlélfia e Bitltirnorc. À
Ilctr1c rlc'ta elite, apenas 1nri, dos honrens adultos
livr',.:s rletinltu 2'/o/o cia riclrreza cla rcgião. íJs rlanu-
lrrlrrrciros tarntrélrr pertencianr à classe rica, mas de-
l)('(lurníl manufatura, apenas alguns poucos ganha-
viur) () bastante para entrar naquela fração de 7ct<,.
O Sul
,l e<'onotnia
No começo cla coloniz.ar,'ão inglesa, «t Sul corn-
irrct:nclia quatro colônias fi"rndadas no século XVII:
Virginia, Carolina e Georgi;i. íjraças à
iVIar.""land.
ícrtilirlade das grandes várzeas recortadas por rios
l)Lrrcrles rlesaguando no Âtlânlico. eslas colôrrias
l)rosperai'rnr na base dc unra agricultura cle expor-
tação rle Íumo, índigo e arroz. As grandes fazenclas
lrrocluzindo estas lavouras fornrarant-se com doações
clo governo iuglês muito semelhantc à maneira
peia quai Poriugal -tinha instalado os sesnteiros no
llr;lsil - e por prêmios concedidos aos colonizadores
para cstirrtuiar a imigração e o povoamento. Na úl-
tiina rlécacla ria coiônia, a de 1760, o íunro t-iontinara
a exportaçào do Sul, e junto c()nl () arroz conseguia
22 Pt t rr 1.. {
unrir rcnda ntédia anual igual à ntetade do r.alor
rrrórlio do açúcar exportado pelo Brasil durante a
d'poca colonial.
As colônias c1o Sul vencliam a maior parte cle sua
prrirlução para a Iuglaterra, e, nos fins clo século
XVII, a renda cla exporlaçijo do Sul era ciuco vezes
nrairlr do que a renda das exportaçr)es clo Norte. Mas
a diferença no valor das exportações das duas regiões
foi diminuindo, de r"nodo que, na última década da
colônia, o Sul ganhava praticamente o mesmc, di-
nheiro que o Norte através de seu comércio exterior.
Isso se dava em parte porque as oulras colônias clo
Caribe. tanto as inglesas quanto as espanholas, ia-
ziam uma forte concorrência (:ont o fumo e o índigo
clo Sul.
O começo da revolução industrial inglesa no
írltimo quartel do sér:ulo XVIII deu um novo estí-
mulo para a economia clo Sul. Para o setor de pttnta
da revolução industrial, isto é, os têxteis. a matéria-
prima de algodão era essencial. Os fazendeiros clo
Sul substituírarn suas lavouras em declinio pelas cle
algodão, e engrenaram na rápida expansão da eco-
nomia inglesa. Inictalmente, cultivavam a variedade
de algodão de fibra cornprida, que florescia apenas
enr certas âreas litorâneas da Geôrgia e Carolina do
Sul. Logo depois. os fazendeiros introduziranr a va-
riedade de fibrzi curta, que se adaptava melhor às
condições de solo e clima variacias. Para acelerar t'r
processo custoso de separar a semente desta fibra
curta, o inventor Eli Whitney já em 1794 aperieiçoou
uma má.quina descaroçaclora quc nrultiplicou por unr
- i.rr' tt ht'rg
rle 50 a quantidaC,e que um hontenr podia
Assim, o aigodão ficou "rei". dominando a eco-
rrorrriu c it sociedade do Sul, contribuinclo com sete
,,illrvos cla prrodução muttdial desta matéria-printa. e
pqt'r'anclo qua$e dois lerços da renda das exporlaçÕes
irnlcricalras rlos anos 1836.40. A Inglal,erra conlprava
rkris terços deste algodão americano; as fábricas
rrnrericanas de iinha e pano também cresceram nesta
ír1.,oca, cle moricl que três quartos do algodão não
cxportado foram alimentar os teares do Norte, e unl
(1iAr1o ficou para as fábricas do prôprio Sul.
Para realizar a produção de algodão, que foi
rkrbrando em cada década até atingir o auge de
qlrase 4,5 milhões de fardos (cada fardo Íínha 227
quilogramas) na véspera da Guerra Civil. era neces-
síirio terra. dinheiro e mão-cle-obra. Na nredida que
o rl]ercaclo expandia-se e prevalecia o desitrteresse em
aclubos. rotativiciacle de lavouras e outras técnicas
presenativas de fertilidade nas terras mais velhas, os
fazendeiros procuravam as terras mais férteis e mais
{âceis cle trabalhar com rnâquinas. Em terras boas,
o algodão rendia até três safras por âno. Essas terras
encontravan)-se no Sudoeste, Itos estados linrítrofes
com o Golfo clo México, chegando os fazendeiros, na
r'éspera da guerra, às partes orientais do Texas. alént
do Rio Mississippi. As grandes lazenclas abrangianr
mais do que 800 hectares, o que fez com que o
tamanho médio da propriedade rurai no Sul fosse o
dobro do tamanho médio da mesma no Norte. Em
propriedades menores tambên'r se produzia algodão.
24 Ptrtr L. Iiisenbtrg rru (. Arnerit:unu

Casas comerciais e bancos localizados no Sul em

rle algodão tinham entre 16 e 50 escravos, e um terço
cidades portuârias como Nova órleans, Mobil.e, Sa-
rlos escravocratas nestâs áreas tinha mais do que S0
vannah e Charleston, e no Norte. especialmente em
cs(jravos. No Sul em geral, nesta época, Llma em cada
Nova Iorque, emprestaram o dinheiro para o custeicl
clos fazeudeiros de algodão. Aquelas casas também
j guatro iamílias tinha pelo menos unl escravo.
Outras lavouras desenrpenharam papéi:; inrpor-
se cncarregavam da comercialização e exportação.
tantes no Sul. O milho cobria unta área três vezes
e de comprar ou importar as necessidades da fa-
rnaior do que o próprio algodão e era unt alimento
zenda, numa maneira muito semelhante àquela pela
qual os comissários e casas de correspondentes finan- bâsico das pessoas, dos suínos e das galinhas, em-
bora não produzisse rendas monetárias iguais às do
ciavam e comercializavant a proclução de açúcar e algodão. Nos estados do Alto Sul, Virgínia, Carolina
café no Brasil. Os cornerciantes de Nova Iorque tanr-
clo Norte e Kentucky, o fumo nrantinha a sua posi-
bém providenciavam os barcos para as viagens oceâ_
nicas e asseguravarn as cargas contra aciclentes çiro, mas contribuiu apenas com 6%o das exportaçôes
perdas.
e nacionais do qüinqüênio 1845-49. Em alguns estaclos
havia plantações cle cânhamo. arroz e trigo e em
Para a mão-de-obra das fazenclas, os plantado_
Louisiana e Iexas concentravam-se os engenhos cle
res importavam escravos africanos ou compravam
açúcar.
escravos a outras regiões do Sul. O Governo F.ederal
declarou o tráfico internacional de escravos ilegal em
A indústria no Sul engatinhava em comparaçrão
1808. No Sul, a escravidão continuou scnclo unra
com o Norte, e se concentrava principalmente ncr
beneficiamento de produtos agrícolas. Engenhos <1e
relação de trabalho muito importante. e um contra_
açúcar, moinhos de arroz, milho e trigo e serralire-
bando de africanos escravizados florescia atê a guerra
(1808-61). O volume médio anual deste contrabando, rias para a confecção de tábuas, telhas, barris e
aguarrás, ao lado de algumas poucas fâbricas cle
entretanto, era cle 5 000 escravos, cifra que não repre_
linha e pano de algodão. praticamente esgotant a
sentou nem um quinto dos escravos contrabancleaclos
lista. Empresírrios sulistas exploraram nrinas cle car-
anualmente da Ãfrica para o Brasil no períoclo cle
vão, ferro, cobre e chumbo, mas a transformação
ilegalidade des te tráf ico ( t 83 I -50) .
destes minerais em produtos finais foi realizada no
Conto a lavoura de algodão, ao contrário do
Norte. Em 1860, o Sul detinha apenas I5% da capa_
beneficiamento. não podia ser mecanizada na época.
ciriade industrial nacionai e apenas 5o/o clos
estes escravos erarn essenciais para plantar, cultivar,
forarn ernpregados fora das lavouras. "..ruun.
desbastar, colher e secar o produto. Em 1860, apro-
O sistema de transportes no Sul aproveitirva os
ximadamente a metade dos escravocratas nas áreas grandes rios perenes" como o Mississippi e.os seus
26 l'tttr I I itr'rilrL,r!
nluilos aflrrentes, para a condução de cargas cntre as
faz-endas e os illercaclos. Companirias ferror.iárias
constntírant apenas 10500 quilômetros cie trilhos ncr
Sul antes da guerril, nlenos de uma tcrça parte tla
recit: nacit'»ra1. Enthora o transporle flur.ial cscoÍtssc
benr a r.,rotiuçiio. ele pouco cstirrruiava o sLrrgir;rento
de indúslrias fornec:edoras, como vinlos .lcoltteccr no
Norte ,
,4s clrrsses sot:iui.s
A sor-'iedade clo Sul, árssim c()rno a sLra econonria.
parecia-se muito com a sociedacle e a economia bra-
sileiras da época. Na base da pirâmide social licarant
os escravos. a classe mais numerosa.
Ern 1860 o Sul
tinha 3950000 escravos, um pouco mais do que o
dobro do número de escravos no Brasil nesta clécarla.
Mas estes escravos at.nericatros reprcrselrtarant Llnl
terço da população d«t Sul, o dobro cla propor.çiro cle
escravos na polrulação brasileira. Quase a rrielacle
dos escravos no Sul trabalhava nas faz_e ndas cle algo-
dão e a otrtra rnetacie foi distribuida erltre âs rtutriis
lal'ouras. as pequenas ntanufaturas t: o artesanato.
c os serviços uas villis e cidacles.
O fato dc que a popr.rlaçiro escrava urnericitna
dobrou entre 1820 e 1860, apesar cla ilegaliclade clo
tráfico internacional e clo papel relativamente pe-
queno clo contrabando. sugere que as condições de
trabalho e da vida do escravo, embora ruins, pelo
menos permitiant um crcscinrento natural da popu-
lação, cont o nÍrntero de crianças escravas nascidas e
'. , ut tt tt ('it il .4»tr'rit,ttttt 27
solrreviventes exceclendo o núrnero de escravos mr',r-
lcrrcit'r, o qrle nunca foi o caso no Brasil errr geral.
I rrnibém se pcrcle constatar que houve rnenos revoltas
tlc escravos e nlenos quilombos no Sul dos EUA do
(luc no Brasil. lrur todo o século XIX, por exemplo,
rcaliz.ararrn-se al)enas duas revoltas, uma em Nova
C)rleans cm l81l e outra em Virgínia em 1831, ern-
lrora r'árias outras tivessem siclo planejadas mas des-
cobertas e reprimidas antes de começar.
Mas seria urn erro sucumt-,ir à tentaçào cle afir-
nrar quc a escravirlão era mais brancla enl.re os ame-
ricanos do que entrc os brasileiros. Os escra'r,os no
Sul sofrianr os mesmos castigos como o tronco, mar-
cação de ferro quente, e açoites no pelourinho. Os
escravos no Sul defendiam-se através de sabotagem.
roubo, fingimento de doenças e ataques físicos contra
os feitores e os senhores. Quando o escravo tinha a
coragem e encontrava a oportunidarle. ele lugia e
Dr()curava chegar até os estaclos clo Norte, olr mesmo
até o Canaclá. Esta fuga foi aiudada por uma recle cle
coiteiros e inforrnantes chamarla "a estracia de ferro
subterrânea". Fuginrlo cie noitr:. orientírnd(l-se pela
cstrela clo Norte. nrais cle 50 000 escriivos. inclusive os
abrllicionistas nrilitantcs Harriel l"ubntan. uma ex-
empregada, e Frederick Dotrgl;rss, unr ex-calafate de
nal'ios. assinr cc'rttseguiranr a sua liberdade.
C)s brancos mais pobres. clue tinharn peio nlenos
a sua liberclacle e o orgtilho de sua cor. faziani parte
cia classe dos pequenos lavradores. Trabalhando senl
erscra\'()s nas piores terras das montatrhas e rlos pân-
tanos, estcs irgricultures tinham norntalnrente rttças
T-t'
,8 ,,()
[.. l-i.:t,trbt rg trtt ( 4 Dt('rt('uilLl

proprras onde eles plantavam as

I culturas rle subsis_
tencla. ,t:les eram auto_suficientes, sern ligações solos. e os nlaiores plantéis rle est:ravos. I)e todos os
i portantes com as grandes fazenclas.
im_ llzendeiros produzindo algocião com escravos, os dez
Os negros livres por cento mais ricos detinham 6l% dos escÍaYos e
também pertenciam a esta classe, mas eies
eran.r (rfJ(Zr ,'a produçào de algoclão. Esta oligarqtria consi-
muito por-rcos. calcura-se que ern rg60 rrc S*r
havia ilcrava-se uma aristocracia, conl tudo metios os titu-
16 escravos para caciir negro livre,
enquanto no Brasil Ios. Corlcl a elite urbaua no Norte, a elite rural no Sul
ent 1872 a raz'ãl era milis cld quc cláis negros
livres ltrtrocinava as aÍ'tes, as boas nlaneil'ls e a vida sun-
para cada escravo.
Outros agricultgres brancos, radicaclos nas tuosa. Diferente do qrre a suâ contrapartida no
.
giões periféricas como o Vale
re_ Norte, a ciigarquia sulista gostava da carreira mili-
do Rio Shenancioah em lar, recorria ao duelo cotr-ro tllrtíl maneira hourada de
Virgínia e a ârea cle capim-do..campo (bluegrass.)
Kentucky, criaram Írutas, legurnes, cereais, batatas_
en-r resolver cliferenças entre gente livre, e tinha pocleres
doces e diversos tipos cle gaào. Eles tinham rle vicilt e morte sobre os escrav()s, conl os quais tl
alguns ['.stacio quase nutlca interferia.
poucos t:scravos, ou empregavam
assalariados. e as Esta. cligarquia de fazendeiros ricos diviclia o
suas terras eram maiores do que as roças
simples dos poder político do Sul com donos das grandes casas de
brancos pobres.
exportação e importaçito" Aual'és cle suas ligações
. ..Ao contrário do Norte, no Sul faltava uma classe conrerciais conl as firnras do Norte, que financiavam
TÍdi., urbana intportante, enr parte porque faltavarn o cornpravant a sua produçãtl, a oligarquia mantcve
ciriades grandes. A maior cidaàe sulista
em lg60 era uma rede de ittteresses comul-ls cLrm a ciasse clonri-
Nova Orleirrls, corn 168000 habit;;tes,
bem inferior nante nortista até a Guerra Civil'
a Nova Iorque (1.2 milhões, incluindo o
tsrooklyn).
FiladélÍia (565C()0), e Baltimore (2t2O0O).
e âpenas
parecida conr Boston e as ciclades
do l.elho Noioeste
como Cincinnati e Saint l-ouis. A expansão
da rede 0 Oeste
ferroviária clo Nordeste até o Rio Mississippi,
na dé-
:3du q. 1850, permitiu que Nova Iorquá iirasre de O Oeste significava uma ârea de fronteira clinâ-
Nova Oriea.ns o privilóeio Ae ,*""U.. ã maior parte
das exportações do Oeste e frustrou o mica, não uma região especifica. Nos meados do sé-
crescimento do culo XVIII, o Oeste denotava a área entre as Mon-
porto sulista.
No cume cJa pirâniide social drt Sul, dominavani tanhas Apalaches e a margenr leste do Rio Missis-
or. grancles f azendeiros, que tinhant t:s melhores sippi, alénr do qual as terras eram reivindicadas pela
F'rança, a Espanha e a Inglaterra. Cent anos depois,
IT ''
tl Pcrer L. Eisenbtry
rirliro, ilegal rro México desde 182g. pressões exer_
ciclas também para limitar o influxo rie mais irni-
grrntes americanc,s, para suspender a distribuição de
terra, e pírra negar autonomia política ao Texas.
Ilcbc.lando-se c clerrotando os exércitos nrexicanos,
os anrericanos estahcleceraut a Ilepública rio Texas.
tambénr conhecirla come a Repírblica da Listrela
Srilitírria (ii banrleira" tinlia. uma só estrela). ern 1g36.
Irsta llepública durou 10 anos. Em 1845, quanclo a
Inglaterra e a França mostraram-se interessadas
Irumái aliança (:om r) -l'cxas unt Lrrodulor consicle-
rírvcl clc Algi,,,l-io, açúcar c- garlo e essa altura --
o g()-t'erno utrrci'icatr(i clo Presidentc Janies Knox
Polk. conr plcno apc--i<l rlos lexanos, rapidanrente
allexou :i pequena naçào.
Outros americanos entraram nr:, Méxic..r inile-
pe ndente, na área do estaclo de Alta Califórnia. Che-
ganrl':, por I'ia cie unra viagem de bart:r-l a vela ail
recit,rr drt Cabo de Horncls, estes anrericanos vencie-
ranr todo tipo de rnanuÍatrrra aos fazendeiros e nris-
sionários da Califôrnia, e c,rnrpraranr cíluros e sebo,
p:ira a fabricação de sapatos e velas. Este comercio
levou ao estabelecimento de feitorias e, na clécada cle
i840, z\s primeiras inigrações por lerra ate a Cali-
f(rrnia. e à criação de pcquenas colônias agropecuá-
rias no Vale do Rio Sacrarnento.
Os EUA anexarant a Clalifórnia atrar'és de urna
guer]'a com o Méxiccl. Quancio este pais recllsori-se a
negociar u verrda da area â ossls do Texas. () sovcrno
de I'olk. receoso cle clrre o México venclesse a áre-a
para a inglurerra ou a I"-rarrça. dcclarou gucrra, irrsti-
Lttr'tttl ( A ttt t'ricutt tt 33
lit'lrttrlo-se conr a doutrina popular c1e "destintt Inani-
lesto". segunclcl a qual o prôprio Deus queria qtlc ()s
l.t lA chegassem até o Pacífico. Depois de 21 nreses
rlt'vitírrias seguidas contra os t.nexicanos. incluindo a.
r'irl)lurál ckl portcl principal cle Vera Crr.rz- e da cltpital,
('i«lurle cio México, os EUA colnpraranl pe lo prcço de
l5 rrrilhões de dólares quase a metarle clo território
nucional mexicano. uma área hoie em dia conrpreen-
rlrnclo os estados da Califórnia. Nevada, Utah e par-
It's «lo Arizona. Novo México, Coloraclo e Wyorrting.
l'rrra nraior ciesgosto clos tnexicanos, logt'r clepclis de
t orrcluir a r,encla forçada enr 1848, descobriu-sc ()ur()
rrrr ('rrlifírrnia. Em lt]53, os [rUA pagaram mais 10
rrrilhôes ao México para uma faixa cle território nir
srrl do Arizona e Novo México. onde se pensava
eonstruir uma estrarla de ferro até a Califórnia. e
onile, c1e fato. descobriu-se logo depois I.tritras clc
()rrfo e rlc prala.
Os ELJA não prccisaram fazer guerra para ane-
xar o território clo Oregon no extremo Noroeste, na
irrea hoje composla pclos estados de Oregon, Wa-
sl'rington, Idaho e partes c1e Montana e W1'oming.
I)or un'r acordo cie 1818, os iuglcses c os i.tlttcricat.los
rieranr-se dirr-itos tnr'tlttos rlc cxplorar esta /tre a. Os
ingleses cnlraranr printciro enr ltJ21, qttatrtlo a Clonl-
panhia da Bahia rle Htrclsott conteçotl .r caça ll() cas-
t(lr e outros anintliis apreci,lclos por sllas pcles. Nos
mearlos da dtlcada de 1830. ntissiorrários meloclisttrs
c preshilenatr',,s iltls I,.-L,lA liderirratr cara\.anas t'le
nrigratrtes para () ()rcHi,tr, ttrni:; it llr()cttra tie te rt'as tttl-
vas clo clttc cle ltlttrlts irtdí1ltniLs I)ítl'a c()lt\ e rtcr. I ltrtli

Peter L. Eisenberg
centena de pessoas em dez a vinte carroções cobertos
de lona, as Iamosas "escunas das pradarias", acom-
panhados de seus rebanhos de gado e cavalos, segui-
ram cada ano, a partir de 1842, com destino ao Vale
do Rio Willamette. Estimulada por propaganda nos
EUA, a migração para o Oregon cresceu, e a popula-
ção americana 1â ultrapassou a inglesa por uma razáo
de 6 americanos para cada inglês, em 1845. No ano se-
guinte, o Presidente Polk pediu aos ingleses a abdi-
cação de suas pretensões no Oregon. Com a caça
rareando, e a pouca esperança de igualar a coloni-
zaçáo americana, os ingleses concordaram em se reti-
rar, em troca de uma linha divisôria fixa na latifude
de 49o, e uma tarifa aduaneira que favorecia as
exportações inglesas para os EUA.
A economia
Nos anos de 1803 a 1853, os EUA tinham esten-
dido a sua fronteira do Rio Mississippi até o Pacifico,
e triplicado o territôrio nacional. Quais as atividades
econômicas que motivaram esta expansão?
Nas décadas de 1820 a 1840, uma das atividades
mais importantes foi a caça de animais como castor,
veado e bisão, na Região das Montanhas Rochosas.
Inicialmente as companhias comerciais conseguiram
as peles através de escambo com os índios das tribos
Blackfoot, Crow, Grosventre e Blood, mas a partir de
1822 as companhias incentivaram os brancos, os
"homens das montanhas", a passaÍ o ano caçando
35
r',,,1;rtlos pitrlr clepois se reunirent todos para vender
.ri)\ r'('l)r'cst:tttatltes clas companhias' Esta caça pros-
',,'trirrirr por vinte anos, até que não havia nlais ani-
rn;ris strl.icientes para pagar as despesas'
Nits tnesmas clécadas florescia o conlércio colll o
lvltirico alrar'és do entreposto de Santa Fé' Aberta ao
,,,rrr('r'cio estrangeiro pela indepenclência nlericana'
\;rrrllr Iió tornou-se um pôlcl de atração para alllL'ri-
r':rrros itventureiros que levaranl pelo "Caminho de
S:rrrlir Irré" os têxteis, Ierragetls e bugigangas paríI
lr.()ciu'por ouro. prata, peles e nrulas' Este comércicl
tlrrlou até a décacia cle 1t140, quanclo as tensões polí-
lit'lrs na frotrteira provocarant restrições por parte
rlos rtrexicanos.
Etn algumas âreas como os vales férteis da Cali-
lírnria e do Oregon, e na região a leste e ao sul clo
( iranclc Lago Salgarlo, onde os dissidentes religioscls
t'lurnrados Mórnlons souberam irrigar e ctrltivar ccln-
Iorrne ttnr plano cooperativista a parlir de 1847' a
irgricullura e a pecuâria em peqtlena escala fittcarant
r aíze s. Mas as pequenas
popr'rlações e as granrles
tlistânciits dos centros maiores impeclirarl que nrui-
las lazenclas do Oeste chegassem a se integrar econo-
rnicamente com o resto da nação, até depois cla
Guerra Civil, quando os trilhos das estradas de ferro
ligaram o Oeste ao Norte e ao Sul.
Sem dúvida, a ativirlade econônrica mais ren-
tâvel no Oeste, antes r1a guerra, era a mineração' A
tlescoberta cle ourtl na Califôrnia em 1848' cle ouro
no Coloraclo enl 1858, e cle ouro c de prata em
Nevada enr 1859, provocaÍânr corriclas frenêticas cle
3ó Peter L. Eisenberg
dezenas de milhares de americanos e europeus so-
nhando em fazer suas fortunas. De fato, os primeiros
a chegar muitas vezes conseguiram enriquecer: no
primeiro ano de exploração, as minas da Califôrnia
produziram 10 milhões de dólares, e no auge da
extração, em 1852, a produção subiu para g1 mi-
lhões, aproximadamente seis a sete vezes o valor
anual do açúcar exportado por Louisiana e de um
terço a um quarto do valor do algodão produzido
pelo Sul nos melhores anos antes da guerra. Só o
filão de Comstock em Nevada rendeu 300 milhões em
vinte anos de exploração. Desde que a produção
mineira ocorreu em regiões isoladas cujas populações
somadas mal ultrapassavam 400000 pessoas, possi-
bilitando uma renda per capita altíssima, é fâcil
apreciar a atração exercida por ela sobre os mi_
grantes.
As classes sociais
Até a época da mineração. o maior grupo no
Oeste era o dos índios das tribos como Sioux, Nez
Percé, Arapaho, Comanche, Osage, pawnee, Chey-
enne, Yuma, Blackfoot, Crow e Apache. Estes ín-
dios, nômades de uma cultura neolitica, tinham in-
corporarÍo como meio rle transporte o cavalo, intro-
duzido pelos espanhôis no México cok:nial. Os índios
viviam principalmente da caça e cla pesca. Fora da
Califôrnia e do Oregon, onde foram reduzidos a tra-
balhadores nas faz.enclas, poucos índios integravam-
,( ilit s()ci(j(lacle clos brancos e nluitos resistiarn a
",tr's t'onl unra guerra de guerrilhas baseada nas
l,rIr( ;r\ rlc cavalaria.
( )s [rruncos trabalhavanl tlas suas próprias fa-
z,'rrtlrrs, uitrrlados pelas fanrílias, oLl algutrs vaqttcirtls
,r',,,rrllrriutltts, colt't a exceçãtl das áreas conro Cali-
l,,r rrirr c Oregon, perto do Oceano Pacífico. onde a
l,,,ssibilidacle de escoar a produção por l11Ílr incen-
Irrou rr criação c1e maiores {azendas com turnlas
ltr':rrrtlcs de trabalhadores inclígenas.
As nritras lrouxerant inicialnletltc unla poptl-
lrrçlio rle garintpeirtts que viviatrl catando ollro c
lrllrlrr nír superfície da terra e nos riachos. Quancltr
t'stcs depósitos esgotarant-se, entraranl as grandcs
..,rrrrpanhias mineiras, que cavavam longos túneis
srrbte rrâneos, e instalaram moinhos para qttebrar a
ptrlnr c o quartzo retirados. Como a procura rle ouro
(' I)rata exigia tempo integral dos ntineiros' ao redor
tlrrs nrinas surgiram pequettas vilas vendendo ali-
rrrentos, roupas, ferramentas e outras mercadorias
t'ssenciais. e oferecendo serviços para o lazer dos
nrineiros como o jogo e a prostituição.
Assim, o Oeste parecia a terra da oportunidade
prrra todos, onde nent grandes capitais nem grandes
t'xtettsões cle terras eram os privilégios de poucos,
nras cada homem com os seus próprios esforços po-
tlia construir uma vida digna. Talvez por este motivo,
o Oeste tornou-se muito cobiçado pelo Norte que
esperava que lâ a pequena e média propriedade
rlesenvolveriam uma agricultura e unla pecuária vol-
tadas para o abastecimento clas grandes populações
/'i
3E Petcr L. Eisenberg

do Norte, e para a com mpra das suas manufaturas.

Era cobiçado também pt pelo Sul, que esperava poder
aproveitar as terras alémm do Texas, para a expansão
cla lavoura de algodão e outras plantas, trabalhando
r

com a mão-de-obra escr icrava. Como veremos, era o

conflito entre estas duass ,visões clo Oeste que aguçava
as tensões que levaram à Guerra Civil.

AS CAUSAS DA GUERRA

Quando a Guerra Civil começou' ninguénl tlevia

tt'r ficaclo muito sllrprt-so, porqtle os conflitos de
irrleresse entre Norte e Sul, e a incapacidade cres-
tcntc dos meios tradicitlnais de resolvê-l()s. tillhiinl
rrrrra longa histôria que renlotlta às prôprias origens
tlrr repúb1ii:a alllericalla' Os políticos tillhanl encoll-
tnrdo rliversas malleiras de colttornar, acliar ou igtlct-
rar estes conflilos antes cle 1861. O irlício da guerra
signi{icou que tais meios pací{icos rrão fitncionai'an-t
nrlris.
Qr.rais el'am os pontosprincipais de crlnflito en-
tre Nàrte e Sul? [Jm deles foi a qLrestão cla tarifa
sobre importaçÕes. Descle 1816, o Norte queria que
este irnpàsto fosse elevado o bastante para oferecer
lrlguma proteção contra a concorrência de matérias-
prirnas e manrtfaturas importadas; o Sul, e por un1
certo tempo o Oeste, queriam que o inlposto fosse
setnpre baixo, para assitrl perrnitir que estas regiões,
 Peter L. Llisenberg
que não tinham manufaturas tão importantes
quanto
o Norle, pudessem importar u, ,ru, necessidacles
pelos preços mais baratos possíveis.
Os debates sobre a tarifa repercutiram durante
as clócarlas antes da Guerra Civil.
euando o Con_
gresso aprovor.r urna nova lei cle tarifa
alta em 1g32,
os representantes da Carolina do Sul protestaram,
convocando uma assembléia no seu estado. Nesta
assembléia os participantes declararam que tal
tarifa
era "nula, vtrz.ia e nenhuma Iei, senr obiigação para
este estaclo, ()s seus funcionirrios. ou os seus
cida_
clãos". A asscmbléia proibiu aos funcionários da
alfândega que cobrassem o nolo intposto, e ameaçou
que qualquer tentativa de forçar o estado
a obedecer
às leis seria "incompatível com a permanência da
Carolina do Sul na União". O yi"s-presidenle John
C. Calhoun, cla Carolina do Sul, cleienclia a legali_
dade de um estado invocar ,,a doutrinha de nulifi_
cação" para tornar leis feclerais sem efeito, e ele se
demitiu no meio da crise, que sô foi resolvida em
1833, quando o Presidente Andrew Jackson e os pro_
tecionistas do Norte concordaram em diminuir o
ní-
vel da tarifa. O intposto sobre manufaturas impor-
tadas ficou gradativamente recluzido até chegar
20ü/o do valor em 1842, para depois flutuar
aos
entre
20o/o e 30Yo até a Guerra Civil.
Um segundo ponto de atrito entre Norte e Sul,
que também envolvia o Oeste, era a questão do
acesso às terras novas conquistadas ou compradas
aos índios, ao México e à França. Inicialnrenle a
política territorial visavzr a venda destas terras públi_
4 rtttrt(Lttt u
( .r\, ('()lno uma medida de arrecadar dinheiro para o
( i.r't'r'no I-'ederal. Nas primeiras leis cle terras (1785.
l/()(r), o Congresso impôs preços elevaclos a serenl
lr:rg()s l'r vista, ou com 5002, de entrada. e Sralldes
l),rr('clírs nrínimas de 259 hectares. Os capitalistas do
Nor.lc apoiavant estas leis, porque receavanl que. se as
It rurs ckr Oeste fossem de fácil aquisição, os operá-
r ios tlcixariam as fábricas ou forÇariam um auntento
rlos salários. Eles tambénr se opuseraln itos esquenlas
rlt'vcnder as terras pobres mais barato. e de permilir
(luc ()s posseiros tivessem a preferência para comprar
rrs lcrras onde residiam.
Contra os defensores de terras caras. formou-se
rrrrra aliança forte. Os pequenos proprietârios do
Norte queriam terras mais baratas, porque previram
r;rrc eles ou os seus filhos poderiam fornlar novas
llrzerndas mais para o Oeste. Os operários, nlesnlo
t;trando não dispostos a trocar a fábrica pela faz.enda,
pcrceberam que, se os imigrantes tivessem acesso
fácil à terra. haveria menos concorrência no mercado
rle trabalho fabril. Na década de 1840. surgiu enl
Nova Iorque o Partido de Solo Gratuito, liderando
rum movimento popular reivindicando a distribuição
gratuita das terras públicas. Estes nortistas argu-
nrentavam que o Oeste funcionaria como uma vâl-
vula de escape para as tensões sociais nas cidades do
lrste. No seu auge, eles conseguiram 10% da vota-
ção popular nas eleições presidenciais de 1848, e na
década de 1850 continuavam a agitar.
Os sulistas apoiavam as reivindicações de terra
barata, porque imaginavam que as terras do Oeste
 43
Peter L. [-isenher',",

l)rcstavanl llara as suas lavou[as, e porque eles recea- r r',.rr,t rt Illtture /.a tlc Llatrcos etlittllciro' Os celllros tlc
país itllciro o
\anl que scllt o rlinlreiro das vendas de terras o Go- lrn.rn\'ir\ ttrt t'ttlrtieste elllprestavattl ao
tlegílcios clo crr-
icrno Fer:ieral teria que aumt:ntar o imposto sitbre a ,.,l,rt:rl rtetttllr.lla(1tl por clécaclas t.los
iurporlaçiio. Os fazencleiros do Oeste perto clo rio rrr, lt it,. c I)()r1íIl'lto eralll cclltros cle credtlre s' Elcs
Missis:ippi seuliírnl-se à vontade ern aliança cont o ,lrt( r lirlll ttttr tratlctl tlaci«lttltl ctlrlr tlircittls erclltsivos
Srrl. portlrre cle s cscoavilln a suít produçâo atravós cle ,1,.t.rtritir.rlinheiro, c clttcriattl o Íitll tltrs tntiltiPllts
Norrr Orleans c vencliunr rnuilo para o consumcl ckt r,rr iutllttlcs tle ditlltciro ctrtilitltl p()r llallc()s I)itrticLl-
Sul. Corjro conseqürência clesta aiiança entre ele- l.r rt's licctte iackrs pelos gove rllos
esta«iuais' l'arie tia-
nrentos cio Nrrrte. rlo Sul e do Oeste. as novas leis de rt, r tlrtc circulavanr ctlnfrlrnre a {an-ra cle
cirda banco c
terras ckr século XIX (18m. 1804 e lB20) tendiam a ,, r,.'rt cslitdtl. L'les qucriam tatttbétn unr clinheirtl
facilitar a aquisição a ntais longo prazo, e por preços '' t,,, i.", qtIc. qtlallcio trsaclo parx pltgllr rrltla dír icla'
inferiorcs. c e nr purcelas nrínirlers ntenores. I r\ ( \\(' ,, tl,,l,ra rcal ctlrrcslltltltlctltc
lltl t'it1or ittlltrcsst'
Quanclo o avanço r1«l algoclão para o Oesle che- rr;t t'('tlttltt.
goll aos seus lintites naturais no -['exas. na clécada de Os faz.etrdciros clct Strl t tlo Ocsle' ao colltríirlo'
parte' favorecianr
1850. as regiões lrocarant ile posição a respeito da til'ul)()s rlevedtlres nA sua maior
',,,,,i,,,'
disposição iias terr:rs pírblicas. r\gura, os políticos clo llcsibilitiacie tias etlrissÕcs clt- ciinheirtl' e tttrr
-fexas {)
Sul. acrcciitantlo que o terrilório entrc e Ca- ,lirrlreit'o trlais irtflacirltlatlo' tluc flrcilitltrilt I)ilgil-
nutl/t consliliría "o Grarrrle L)escrlo Arnericano", rrre rllo (lL' SultS dír'itlaS. [iStCs gftrl-loS it1'rt'iitr itt.tt tttC-
lanto que o cxórci1o fcderal inrpoltou canrelos para latrrtróttl porqrtc. gltttltatltlo etll
r ltrlirs in[lacirtnítrias
transprlrtes ern itJ56 e lti57, desistiranr cle aprriar cr lil,r'as c frattcos 1l(lr causa tlc sctt gratrtic ettrolvi-
fâcil acesso a essàs terras. No Norte. prrr oulro laclo, nlcnt() tro cclttrércirt exterior, na htlra t1e
carllbiar esta
c,,s enrpresariris perceLrerant que o crescirnerlto. ut.r rrrotdit cstratrgeira cles receberiatn tlrliis rlittheirtl na-
Oeste, rle propricclacles agrícolas e pecuária, irurreu- ,'iotrlti sc cstt' estivesse tlcsvaloriz.atttltl-se' I)or cstcs
talia a olerla rle gônc'ros alinrenticios às cirjacies. Irrolivos. as classes rl()ttlinatrtc's c 1-l<lllttlarcs tlo srrl c
baixaria o crrsto rle vida, c assinr contribuiriir para colltrlt ()s ccutros crctlot cs citi
rlrr Otste sc iutltaratrl
(lue os salários rriio aurncntassent tanto. Os ltolíticos Nortc llara derrcitar projetos de lllitlltcr rttit bitttct'r
nortisias tanrbérl perceberant que. se eles apt.,iassenr rutcitrital rlePois dc 1836'
o Oeste para abrir as terras ao povoaü1ento. po<1iam O clr.rarttl pt)ll1Lr cie alrito elltre o Norte c o Stll
receber ern troca o apoio do Oeste para tariÍas aclun- ,irrt,,,..l^a1u" chatrlaclo tic "nlelhoranrutlttls ittter-
"r,
rrt,s". I rlicialnlctrtc csta lt'ase tltreria tlize r
neiras ntais elevadas. estratlas'
Um lercciro ltonto tle atrito errtre Nrtrte r Suj r:ltttLtis t: tlrcllttlrlttrtetrttls «lc llorttls' ttltltls ctlstclttltls

----
44 Pt,t L,r L. l'-ist,n herg 'rvil Anrericana 45

pe lrr (lovcrno I-e(lcral. Quanclo conteçou a época das

estriidas clc ferro. os ntelhoralltentos internos signiÍi- ü
* !-&'.
clrrattl subsíc1ios federais para ajudar na sLlál cons- {'r 'rs
;..Ál!1.
.s

irttçrto. () Norte c o Ocs1e, cnt geral, favorcciant os

I)r'()!ll'iu)llrs Ictlcruis clc nrclhoralncntos inlcrnos, ltor-
(lr.ic clcs ilrttt ganlltr- llo\'()s nrc|catlos e lucrar coln a
crlcrrsl-ro cltrs rcrles tlc transporles.
lvlas «rs fazcncleir os rftr Sul desconliar,anr cle que
clcs terilinr clue pagar tinta grande parte do cuslo
tlestcs nre'lltoranterrtos atrat'és cle elevados imposttrs
nu rrllân<legu, scnr rccchcr os benefícios, unra vez que
o sistcnra Íluyiirl tornou tlris ntelhoralnentos t'ro trans-
portc tcrrestrc lncnos inrptlr-tantes no Sul. Na ciécada
rle 1850, conr ír rlescoberta clas min:rs no Qs51a. nruita
genle pensava enl pronlover a construção cle unta
estrada de ferro transcontinental, cont aiuda do Go-
verno Federal, que trariu vantugens llara todas as re-
giocs. Mas cada cidacle nraior, ao longo r1o Vale rkr
Ilio Mississiplri. queria ter o lerrninal oriental dos
trilltos. c, ncsta concorrência regional sobre o tra-
çado. frustraranr-se os proietos de subsicliar a cons-
trução.

A escravidão
As qtrcstr)es da tarifa das terras pÍrblicas, do ,1 Res;srárcia à Escravidãa. "Os Ultimos Momentos de
bltt.tco nacionul e dinhciro forte e dos rtrell.rorantentos
.lt,lrn Í,|row'rt". Quadro de T'homas llovenden, 1884. Cant
internos. rlivirlianr us rcgities. Mus neni todo atrittt .vr'rt lc,.'tnte derroÍadt), IJro*'n foi o úni<:tt amerit:antt en.fttr'
polílico cxplorlc cnl ltuerra ciril, e atrar'ós tios dois cudo por truiçõtt na histúríu do.r EÍ14.
 l'L'rtr 1.. l'.ittir btrg
partidos polílicosi principais. os Whigs e ()s I)ento-
cratas, estas diferenças forírnt negociaclas. Os Whigs
rcpresentarant os gralldes comcrciante s e ntanufatu-
reircls do Norte . os fazendcirrls mais ricos e riiLs l'arrrí-
lias conr ntíriores pretensões aristocríttie as nrl Srrl. e
os lazendeiros rlrais interessarlos enr rnelhr)ralnt:nt()s
internos no Oestc. Os Whigs cle[cnrlianr urn ltapcl
Inaior para o Govenro Federal na prornoçiio da cco-
nomia e a regulação cla sociedade. e ganhararrr as
eleiçr)es presidenciais enr 1840 e 1841i. Mus cstas
vit(rrias aconteccranr ntenos c<inro rcstrltrrrlo rllr l)opu-
laridade clos icleais dos Whigs. rlo cluc rla circrrns-
tância «1e que os canclidatos dos Whigs tantt-rórrr e rurn
herôis militares das guc.rras contra os inglcses. os ín-
dios e os mexicanos.
Os Detrtocratas tinhanr o altoio clr-rs pccltienos
cotnercianles e Iazencleiros clo Norte c clo Ocstc. rlos
lrabalhadorcs urbar)()s e irnigranlcs tro Nolic c ikrs
fazendeiros lrenorcs n«r Sul. Eles tlefenrlianr Lirrra
filosofia política do luissez-Jaire. acreditartrlo que o
Governo Federal clevia-se abster cie sc introntcler na
economia r- na socieclade. I)ttr suli base polrular
I.naior. os De ntocratas ganllarant as ele içite s presi-
denciais de lU2u. 1836, ltJ44, 1852 e 185ô.
l)urante o períoclo cle lfi28 a 1854. cstes rkris
partidos políticos consegtriranr apoio cnt toclas as trôs
regiões clos EUA, sem que qualquc-r unt cic.les se
identificasse denrais com qualquer ullla rlas regiÕcs.
Isso foi feito de tal maneiru que foi lrossír.el que o
Congresso Iretleral clehatr-'ssc. reltetirlanr,-'nte, IotIrs
os lrontrls tlc tttrito cntrc as rcgiocs, c cncoirtl.lrssc
,,lrrÇircs plrrciais ttegocilttllts cttlrc |el)rr-sen-
rrrtL's rlo Nortc. Sul e C)cste .
\t'ttirLrnr (lestes lrotttrts tlc' atriltl. llortlttlto, rlcve
'.rr r rnsi(lcra(lo o 8,rlul(1c re sltortsltve I ltcilt Gttcrrit
r
t rr rl. ,\ esct-ltrirll-to. poréttt. l)r()\'()cotl c()11Íli1()s tltLtilo
rrr,ris proIrrnrlos tlo rlue estcs. Irsl:r rellrçlt() (le lrttbtt-
ll r,, t seravo. llcncritli/.[t(lit al)el]ít\ ttrt Sttl. cltLrltttlctlte
( lrlr'r'cne ií1\'ír esla socicr-lltcle tla tlo Norle . Os sofri-
rr('lrl()s clos cscravos tras fltzendits L'as crtleidades
( r,lr) lrs rltutis os cltpilitt's'clri-ntaltt ltcrscgttit'attl t'
Ir(ru\e t"ulr tle V()ltlr 0s l'rrgilivtts. crcilurutlr .ts paixÕcs
rrr,,r ris lr() N()rlc. Os tlcbates strbrc lt cscraviclào eve tt-
Irr;rInrcrilc polx117111'1111t os partitlos l)olític()s e (le selll-
Ir.r'rrrlulr tta Guerra C'ivi1"
,\o longo tlos 85 anos enlre a tleclaração da inde-
1,, rrrlôncilr e () cr)n)eÇo tla Gtrerra Cir il. irs brigas
l,,,iitielrs nuris sérias cstortt'avattt ltos ltl()lttettttts clc
,IllrlrIcr lr cscravitlito. N;.t'Orrlctutttça tlo Nortteste rle
Ii , ()S
|I À , )\ fCllfCStlllallteS
:litantes
l'e ltt'C\Ul1 [Í (l()S
tlos llo\'OS cslil(1()s (la
ttovos CStil(l()S cla eIltiI()
entittr
, lurrrlrtla Cottíccicraçito tlos Estados Urtidos cla Ante-
il( rr c()ncordaran) que o tcrritôrio Íro I]oroeste cio Rio
( )lrio. trem ao norte ckrs entilo limites cla agricultura
'.rrlistu, seria livre da escraviclão. Mas pressões sulis-
l,rs Iize ranr c()nr clue cles tanrhónr garantissL-ll que
,;rnrlqrrcr escra\'o frrgitlo para tal te rritítrio teria cle
st'r' tle volviclo ao selr clono.
No nrcsnro ano, as cleliciências ciil'ersas da Con-
It'ricraçào indr.rz.iram a cnnvocílção cle rima consti-
lirirrtc para refornrlrlárr as bases (lo goverlto centrarl.
Nr's!rr errnslilLriitlc. rcitlizarla cnr [rilat]ólíia. os dcle-
lrrtlos rlo l,Jorie c tlo Sul cnlraritllr cltt coltllil() sobrt a
 49
48 Pt't tr 1,. l', i.tt'trhcrg

escravi(ião. e foi fe ita trnur série cle acorclclos. LJnta

l,111rl1r trliiico intertul«:ionul tle esctit','os, rt Sttl itcci-
rr
to11 .1 se ttt pi'ot,len1x. Coinrt ntt ilrasil. ollde
1l-çi."rr)
questão foi a cla representação cla Câtlara tl,1os lleprc-
rrrr,;i rrrccliila ser.Irerhante Írti aprovadi,i em 1850. as
sentatttes do Congresso Fedcral. Os conterccianles do
.r i('irs il\) Aito Sul itiittrladas conl arro7. e- ítrnlo jit
Nordeste terlianr que, se it represetrtaçàtt f«rsse cal-
Irrrlrlrrn rrirrilos cscra!'os e a lci servitt pírral val()rizá-
ctrlarla c()nro ul.ttit prolrorçito tlit l.ltlitttlaçltolr lolal, os
1",,. -1t ileas tle t:rt-'seit'trcttto ntais rírltitlo no Baixo
fazcttrleiros rltl Sul gutrltariattt ttttt ltotler lttllrlí1icrr cru-
gcrarlo. Ir()rqucr inclrririattt o ttrittrcrtl cle scCTIS CSCTA- ':rrl srrslciitíliíull uirr r-'olttrairattilo pealttcll(). t)rits a
i,,rrlt'pritteipal tle n()\'()s escra\'os I)ílra o alg()dalo era
vos. e nrbora ()s cscra\'os ttito tivesscttt dircit,to lrolí1ico
,, \ r'ntl-c ria ruàc cscravál e o tráfico interno, qtte dre -
algunr. Os tror.listas chegaratr a perguntar:: se o\ su-
r.r\ir csci'ílYos dos cst;rrlos dtl Alttl Sul para as fa-
listas poililrt.t.r contitr cottl os sctls escra\'()si I)itra itLl-
./r'il(1;l\ rio []aixo Su1.
lllclllar il suít rel)l'esclllitçi-l(), l)()r tltlL'()\ ll()rlrlislir: Ir:rtr
Nlr stlcicrlu<le civil. ultta das printe iras rcaçÕcs à
lrorlilttrt cottlltr coltt () se tt glttltt ? l)tlr trttlrtto Iltrlo, tls , \( r'rr\ jtlitt ocorrcu, cllr
ltr, qrritttdrl ttttt grtrptl clc
113
sulistas Irito clucriltttt cltlc os itttltoslos IcclcrltIris losscttt
l,r .rne r',s ricos cttt Virgírtia criou it S«tcictlatlc Anle-
coLrraclos tta hasc tla poptrlltçlto. ittelttilttltr) ()s cscra-
r( rrlir ric Colonizaçuo. Irsla Sociedacle partia do
vos. Se incluíssent, at carga lributnria seria n"tnuilo ntais
pesada para os contribuitttes tlo Sr.rl. isto é.. os livres, t,rrrrei].rii'r de quc a nrelhor solução para a cscravidão
, llr ir l' nrigrirç:-r,i 110s Iregros. Eles gattltarilltl apoio n,'r
rio qrrc l)irrrt os ctltttribtritttcs tlo Ntlrtt. [)alrnr sltir tlo
\ l1,r Srrl. atrainc'lo escravocratas qtterentltl se livrar
illpasse. os cottslilttilltcs c()tlcot-tlltrittti etttrr consirlc- ,1,,., 11çq1'11ç srrhicrsil()s e alraittdo abolicionistas cé-
rar unr escfrr\'() c()ll)o () etltrivltletttc lt trôs quirrltrs rlc11
Irr',s tlrr prlssihilirlarle tla ccle xistência entre negros e
r,rrri livrc, l{urto l)arit o cltlcttlo tllt reprccsc ll t itÇ íl().
l,r rrrre os. O governo clo Prcsidente James Monroe, et.tr
(lutrlll() I)itril (r rlt'r illllrt,rl,ts.
Iti l(). ç1r11111rou lerras na Ãfrica ()cidental para os
Os ct'rns1i uitt tes tanthtlttr cotrsitlcraratrln o lrlifico
1
rr'rlt.()s cnrignl(l()s. Até a Guerra Civil, esta Sociedade
interrlrciotuil tlc cscritvos e os cscravos Iugitlos. It c
(.nvcr)ccu irl)cnas 12(n0 negros it emigrar, lllas era o
enconlr'irranr strIttçircs Iirvor/tveis tro Strl. [:ilcs resol-
lr:rslirnte lrara criar lr Ilcpúrhlictr de Libéria, enr ltJ46,
verlurt ttuo tlchrtlcr tt [cchltrttettlo tlo trlilie,:o irtlcltlt-
ciotrltl attlcs tle ll'J08, rlrrrr pt'rnlilil ..ltlc sc ctlbc ritssc nl
.tn) r elilrilal de Monrírvia. O 1tróprio presidente
'l \Irnrharrr [.irtcoln. posleriornrente autclr cia aboliçàcl,
itnlloslrts sr-rtrre cste tr'álictl. ittttiréttt os sttrrlistas gu-
,rpoialu esta colotrização de negros americanos tra
rantirant o ciire ittt de rcaver os escrar os I'i,lgii<los, rne s-
,\ lr icu, Anrerica Central e Iro Caribe.
I.tto r-lrtatttlo esles fugialtt para cstiiiios scnnr cserai i- () ittrito enlre Norte e Sul agravou-se muito nas
tli'tr I.
,lisr'rrsst-res srlbre a orgattização ptllítica clo Oeste, e
Qitlttttlo crrt Iu08 o ('tttlul t sst) itI)l ()\'()Ll
 Pettr 1,. f,isothcrg 5l

sempre a questãi) cla escralidão transpatecia ncstcs 'i", cotlo a barga-

"Acordos do Missouri'
lrr rt's. [rstes
debates. A referida Ordenança r1e 1787 estabeleceu
rrlrrr Iicou conhecida. efetivamente ciirninuíranr
ci a área
algumas regras para o Oeste. Na medicla qlle os
berta para a escra-
,lo ( )cste que tinha sido deixada abe
americanos fossem povo.indo estes territórios, eles
passarianr â ser Élovernados por f.ressoírs nortreacJas
r lrela lei de 1187, e reafirma
rrlr'rtr raranl o pocler clcr
('ouBl'css('r Irecieral de '0nl urn clireito cle
interferir cr.lt
pelo Congresso. Quando livesse pelo menos 50(X)
l)r'()l)ric(lade e legisiar sobre a ravirlão. no Oesle.
escra
homens livres, o território podia eleger unrA assent-
Mlrs tarrhérl gitrantiram que, tro Ct Jongresso Federal.
bléia legislativa própria. Ao chegar aos 60000 habi-
,, ctluilíbrio entre os senadores e re representantes das
tantes. o territôrio potlia escreve,. a sua própria cons-
,rrcirs livres e escravistas seria tnantittido.
tituição e pectrir sua admissão corno estaclo à Unrào.
hste equilíbrio nào se alterou, cdurantc a dócada
Assim, até 1820, entraranr na tJnião mais nor,e
rle 1u30. quando o Arkansas entror tlu na Uniàcl contir
estados. No Norte, e proibindo especificantente a
t'sllrrlo escravista ern lll36. e o Michi higan etrtrou c()nr()
escravirlão nas suas constituições, entraram Vermont
t'staclo livre em 1837. Da nresnra fort )rrna. nÍr décacla dc
(1791), Ohio ( 1803), Indiana ( 18Ló) e Itlinois ( tBlB).
llJ40, a Flórida e o'I'exas cntrírrár r'áln ctlmo estad()s
No Sui, permitindo a escravidão, entraram Kentubky 'isconsin entrarí]lr)
L'scravistas enr 1845. e Iorva e Wis
(1792), Tennessee (1796), Louisiana (1812), Missis-
r'onro estados livrcs em l8,{6 e 1848.l. respeclir-ar.IrenIe.
sippi (1817) e Alabama (1819). Incluindo os trez.e
Na trresnra época em que ()s políticos
f no Con-
estados originais, nranteve-se unr eqtrilíbriri entre gresso realiz.aram os iicordos mant( rtenclo o eqrrilíbrio
onze estados livres e onze erstados escravistas. ('rrlre ()s cslad\)s cscritvislas c ()s eslít
tados livres, a pri-
Tal equilíbrio foi ameaçado em l819. quanclo o I
rncira cantpanha cle ;rboliciortisnrol rraclical surgi;r enr
território cle Missouri, na margem leste do Rio Mis- i Iloston, Massachusetts, enr 1829.. Iniciado por unr
sissippi, pediu aclmissão como unl estaclo escravisra. 'egava aos escrav()s
I ncgro livre, David Walker, que pret
e um representante de Nova Iorque apreserrtou uma "nratern, ou sejam lnorlos", o trtovir 'inre:r-rto tinha conrrr
I

emenda estipulando u aboliçào graclual da rsr-.ravi- | :;e u lídcr principal o redalor Willianr nr Lloyd Garrison.
dão no ll'lissouri. Os sulistas reagirarn fortelncnte e I (larrison publicava o jortral O Liht 'hertudor. de 18.11
os nortistas tiveranr que suprinrir a emcnda e tlcixar I rr 1865. no qual se reivindiciu'a a ab rbolição inrediata e
o Missouri entrar corno eslaclo esçravista. Enr troca, rnclar a Socieclade
I
:;em indenização. E,le air-rdou a fun
o Norte ganhou a entracia ilo estado livre rJo M.ainc, e I
Anrr:ricana contra a Escravidão er em Fiiaclólfia, enr
uma proibição da escravirlão no Oeste ao nortc cla I
!til3, e durante a década cie 1830 es estcs aboiicionistas
latitude 36'30", com a erceção do Missouri. qrre se 'reio, pronloveram
":'0" u::"*
I
circularam prop:rganda pelo corre
:::::"'1""'" :::" l corríerências e itrundaraur o Congrt rresso conl abaircl-
 I)rt r' r 1,. l'.'i.tor berg
assinados. O ntovimento enfatizava it iltroraiidade da
escravidão, e Garrison conrlcnava tatrto o Soverlxo
quanto as igrejas como cúrtçrlices dos e:icravocrÍttas.
Garrison defendia um anarqllismo crislão qtle repll-
diava a força, as leis e os governos.
Outros grupos l,rra tlo goverll() tantbéttt ltltavitttt
contra a escravicllo. Abolicionistas negrtls ctlltrtl Fru-
derick Douglass, [Iarriet 'fut'man e Soiourtler'I'ruth
pregararn a favor cla causa, e 17 jornais llegros circtt-
lavam no Norte antes dit Glrerra Civil. O Partirlo da
I-iberdade, fundado cnr lu40 por abolicionistas ttãtr
anarquistas, aprcseltl()tt o prillcir«t cittttliclittil, cttt
eleiçÕes presidenciais de 1ft40 e 184'1. qtre defenrlia a
exclusão da esr:ravidão clos territórios. o fitrl do trír-
fico interestadual, e a abolição na capital federal de
Washington, D.C. Entretanto, este partiilo ganhou
poucos votos, e praticantente se Itrndiu conr o Particlo
de Solo Gratuito enr 1tJ4tj.
Os movinrentos abolicionistas no Norte antes de
1850 não atraíram mais apoio cleviclo a cluas cir-
cunstâncias. Primeiro, as elites clo Norte mantinham
estreitas relações comerciais com os faz.encleiros clo
Sul, e não tinham interesse em provocá-los. Segundo,
os operários do Norte receavanl que os negrtls livres
concorressem no mercado de trabalho, e rebaixáISSenl
o nível dos salários. Ambas as classes guarclavam for-
tes preconceitos raciais contra os negros. Muitas ve-
zes os abolicionistas foram corridos de seus pôdios, e
pelo menos um redator, Elijah Lovejoy, foi linchado
em lllinois. em 1837.
Seria necessário que os meios políticos se nlos-
t tnt't t'tt ( iril Áttrt'rit urttt 53
lrassem incapazes de rcsoiver o conflilo sobre a escra-
r idão, e que as paixÕes morais se exacerbassem tanto
n() a.taque qLlanto r,.a clefesa cla escraviclão, para que
urrr rriovimento político eniergisse col-!1 a força çlrecisa
para qri'ecipiÍlrr unta r:rise definitiva cla questão. Este
nroi'inrertto apareceria na clécada de 1850, e teria co-
ln() o se Lr eletrtento principal o Partido llepublicano.
O fim dos acordos
Na clécada cte 1fiir0, a capacidade de realiz.ar
lr,:oriftrs politicos ao nivel rtacional esgolou-se' Isto
luconteceu por dois nlotivos principais. Primeiro, o
pi:ôprio cre scimento demográfico nlais rápido no
Noric fez com que o t-lfimero de rcpresentantes nol'-
1is1;rs rta Cântara sllpera§se cleÍinitivamente o nti-
-I'abela 2
nrcl'() rle rcpresentalttes sulistits. Conlo a
rleurotrslra, ern ifJ20, tltranrlo liouve tis Acordos de
Missouri, a ciilerenç:a ettlre as pc'pulações clo Nor',e e
r1o Srii tra pe(luel.ra; mas eni 18510 esta diferença
pesíva 'tr;rstanle enl favor clo Norte. Inclicativo desta
rururlatrça fr.ri o Íato de c;ue a Câmara dos Repre-
scnlanles, ott(ie a reprcsentaçár-i era diretantente prtl-
porcional à pripulaçàt), aprovasse um projelo de Da-
rici Wilrnot. rla Pensilvânia, em 1848' segundo o quai
a escravidão ficaria proitrirla nos territórios conqttis-
tad,.rs através cia gr-rerrí] con-l cl México. iVí;rs no Se-
naclo. onrle cada estatlt-i tinha a rnesnla representa-
ção, os sertadorcs dtl Sul cotlseguiraur derrotar tt
projeto repetiriantente.
 Peter
TABELA 2 POPULAçÃO AMERICANA POR REGIÕES
- (mllhõer de peccoae)
Em segundo lugar, nos novos territôrios do Oes-
te, as condições de solos, de climas mais âridos e
mais frios e a maior distância dos mercados não fayo-
reciarn a expansão da escravidão. Assim, em 1849 e
1850 os territôrios da Califôrnia e do Novo México
- contra o fugitivo, a lei foi promulgada retroativa-
que incluíam todas as terras entre o Texas e a Cali-
fôrnia
- e de Deseret que incluía toda apediram
norte do Novo México e-ao sul do Oregon
ârea ao
entrada na União como estados livres. -Os sulistas
não encontraram uma contrapartida de territôrios
escrayistas. Então, eles abandonaram o velho jogo de
equilibrar as entradas de estados novos, e descobri-
ram noyas maneiras de preservar o equilíbrio polí-
tico.
Pelo Acordo de 1850, a Califórnia entrou sem
escravidão e o tráfico de escravos foi proibido na
capital federal, o Distrito de Colúmbia. Mas o preço
para o Norte foi caro. O Deseret ou Utah, como
vinha a ser chamado, e o Novo México não entraram
na União e ficaram como territôrios, até 1896 e 1912
respectivamente, e sem definição alguma sobre a
legalidade da escravidão. O estado escravista do
L. Eisenberg t ,nt rrLt (-ivi! Arrttricurtrt
'l'exas rccebeu i0 nrilhões de dólares para desistir cle
suas reivindicações de partes do Novo Mérico.
Certamente. a cclncessão nrais itnportante para
o Sr:i neste Âcordo cle 1850 foi rima novA e ntuito
lievera lei sobre escr.lvos fugitivos. Esta lei estipulava
que qr.ralquer pessoa acusatia de ser um escravrt fitgi-
lil,o perdia os direitos ao processo por júri e de dar
testemuniro. Com apenâs a declaração por escrito do
alegado senhor, ela tinha que ser devolvida àqueie.
Qrrem ajr"rdasse a fuga teria que pagar multas e danos
cle um total de até $2.000; o iuiz que desse ganho ao
senhor receberia $10, mas se desse ganho ao escravo
receberia apenas $5. Além de todas estas cláusulas
mente, em violação aberta à Constituição.
O Acordo de 1850 encontrou aceitação no Norte
e no Sul. embora quatro estados sulistas convocas-
sem reuniões para discutir a secessão da União, por-
que, como nos acordos anteriores, este deu vantagens
para as duas regiões. O Acordo também funcionou
porque a conjuntura econômica da época permitia
uma certa prosperidade, que inibia o acirramento
clas paixões. No Norte, os homens de negôcios esta-
vam enriquecendo com o movimento provocado pela
descoberta de ouro na Califôrnia, e pela rápida ex-
tensão das estradas de ferro. Depois que a Inglaterra
aboliu em 1846 as Leis do Trigo, que por dêcadas
tinham barrado irnportações de alimentos básicos
para defender os negócios dos grandes proprietârios
rurais ingleses, os fazendeiros nortistas entraram de
cheio no novo trercado inglês. Os comerciantes do
 57
Ptttr L. !:iserrh<'rg I itttrra Civil Amencqrtu

ffi;'**,;";;;;l
sú

Norte ranrbénl es,llv.rtlr lucratrdtl conl írs \'írntagens 'i"i'ir*at, dramatizou os males da escravidão 3
es-
da aceieraçào o'o contércici interltacioltal. qr're t'estri-
|
dos fugitrvos' Este livro
tar'ain clesles novos illercados e r-1os velozes barcc's t..f"i*.*L ãs sofrirnentos miihão de exemplares
cliTtiter e harcos a vAll0l'.
;;;;;; ent 1[i52' r'cnclt:u umprclibiclo tto Sul e inspi-
cur dois alics, conseguiu ser
No Sul. tls Íaz.cttrlciros dc algoilittl 1ii'':ratlt atttls popular'
pr(rspetrrs I1o col.l.lçço r1a dócai'ia rle 1850. ,t)orqtlc ()s
rou"- vâries peças de teatro de 1850' alguns senadores
pr"çot ilo :r1go,-lão. depois de uirta qllsda ira c1écarla
N; ép;ca ilo Acordo
escravidáo do
trnham cogitario em tirar a questão <ia
anterior. estavai.l.t etn ascclsàti ll()r'ilnleIlte. clevirlo pu'" u popttlação de cada
iIC's melhoranlcnttls inlrotltrzirlos tlit itldÍrsiria têxtil
C;;;;;t;"iede'al e deixar Esta suges-
terrilorio resolver como bern entendesse'
no Norte, tta trnglaterrÍI c lla fluro1ra. [: tls fazeticlei- "a doutrina de soberania po-
1ão. conhecida como
ros clc l'uttrrt. conr varit:drlrles c 1écnices ll{')t'lls. g()zA- ;, clo Kan -
,r*i"r: turr hou f orça qttatr do .os. tet'ritôrios
ar61 111nt'Lrcnt dc utttlt rÜeul)t'r:lçit(). na União' em
om e delebraska peCiram adtrrissão
lúiLs. se o Acorclti cle 1850 salisfcz- atls lícicres rlo Norte o'ueriarn adrniiir
polílicos das duas regiues. elc glgrt)u a questão da lüi. ãt congressistas Stephan Dou-
.r"[, *rluao, Jo*o livres, e o Senador
escrat'idão a unl novo patamítr dt consciôtlcia 1;tlpu- velho Ntrroeste' itrteressou-
gtas tie Illinois, estado Co
1ar. A nova lei sohre cscravos f tigilit'os incetltivou L)ouglas queria ganhar
muitos escravocralas e t:apitãeS-'-itr-il)ilto it Yiit-iitI pltt 't
;;;;;.;1;ente pelo projcto' territórios para a cons-
clas populaçÓes destes
cl Norte, onde eles prcnderânl ittillttt.tct.t:'''iltt lt t'tc- ^pài"de uina estrada cie ferro transcontinentai com
"tnrqac
gros, acusilndo-os dc ser fugiiirtls' e Ievltt'rltl-t's i1e lvlas a resistência
terminal em seu est;do tle Illinois'
volta para o Sul. Os clperadores da "cstr'tiiii de fet'rti
iJ.osSulistas{ezcomqueDouglasprocurasseevitara
subterrânea"', que antes tinfranl o seil tL'rlllinai lr's vés de um apelo para a
estados do Norte , agora estcncleranl o reLr sis'rt:nta rit' ;;;;; J; escravidãt atrT
it,ur.ino da soberania popular' A Lei de
Kansas-
coiteircs tt infornratttes alr: tl Cattailâ, esllcciaitrre trtc nestes termos' com cada terri-
l\lebraska foi aprovada
a prrrvincier cenrral lic Ontário, para onde se dirtgiram os seus
tfrtio.n,.u,rrJo na União como cleterminariam
virrios nrilltares rlc pc:;soas de cor' Alguns eslaiios ilil
n*t,itont.r. [:fetivarnente' o Congresso derrubou
o§
Norte a-proYílvatll "leis cle liberdade DCSS()ai"' qlIC
,i"o.do= <1i-, Missouri" de 182Ü' qYe
delirnitaram
garantiram ails fugitivos os r)iestllos riireitriç neg;ldos para escravidão no Oeste'
áreas proiblrias a
peia lei federal, c impuscranl mlillas para querl props-
lr' Áo contrário clo que esperavam os seus
currrprisse tal lei Ern Massacltusetts. hotrvc ntttlins
,

diminuiu ar
populares tentanclo" ern vão. impeciir qttt' sttposl'os
;iI n"nt"i. a l-ri de Kansas-Nebraska nãomas provocou
iensÕes so'trre a" qtlestão da cscravidão'
,iL

fugitivos fossem rclirados dtl estado' O ronrance

l
ll,
,
58
Peter L. Eisenberg
di'ersas reaçóes fortes. No Norte, nruilos militarrtes
dos partidos Whig, Democrata e Solo Grat,.rito,
todos
hostis à extensão da escravidão aos territórios.
cincli_
ram com os seus correligionários e criaram o particlo
Republicano, em tBS4. Este partido cresceu tão rapi_
damente que no mesmo ano, em aliança com o par-
tido Americano, os "sabe-nadas", que ie opuseram
à
imigração maciça e especiain-rente à imigração cató_
lica, gan.haram a maioria na Câmara dos ltepresen-
tantes. e os governos em vários est:rdos clo Norte.
A Lei de Kansas-Nebraska tambérn fez explodir
a violência. Conforme a lei e a doutrina da
sobérania
popular, os prôprios habitantes do Kansas e
de Ne_
braska resolveriam a legalidade da escravidão nos
seus respectivos estados. Imediatamente,
sulistas do
Missouri e, depois, números equivalentes de nortis-
tas vindos de tão longe como da Nova Inglaterra
migraram para o Kansas, para influenciar na deci_
são. Cada Iado andava aruraclo, os tiroteios torna_
ram-se constantes, e mais de 200 pessoas morrerant
nos conflitos. Num dado momento, o Kansas tinha
um gcvernador, uma assernbléia legislativa e uma
constituição prô-escravidão e outro governador,
as_
sembléia e constituição antiescravidao. Depois
de
quatro meses da guerra de guerrilhas que .,fez
Kan-
sas sangrar", o Governo Federal enviou tropas
e
acalmou os ânimos.
Alguns sulistas ambicionaram encontrar novos
territôrios paÍa a escravidão além das fronteiras na_
cionais. Eles apoiaram expeclições militares particu_
lares para anexar a Baixa Caliiôrnia (lgS5). Nicará_
t ,nt rrd ()i'il Americana
gua (1855) e Honduras (1860), licleradas pelo aven-
tureiro William Walker, clo J'ennessee. Essas expedi-
çt'res todas fracassaram e Walker finalmente foi Íuzi-
laclo por hondurenhos indignados. Outros sulistas,
conl o apoio dos Presidentes Polk e Franklin Pierce,
também pensavam em ajudar a Cuba escravista a se
libertar da Espanira, para depois anexá-la aos EUA,
nras este plano tampouctt deu certo. De qualquer
filrma, entretanto, estes esforços no Kansas e no ex-
terior para decidir pelas arnras a questão da escra-
vidão constituíram ensaios plra a Guerra Civil, que
não tardaria mltito para conteçar.
No segundo qüinqüênio da década de 1850, o
Governo Federal tornou-se ainda mais favorável ao
Sul. Nas eleições presidenciais de 1856, 14 dos esta-
dos escravistas votaram no candiclato vencedor James
Buchanan, cujo Partido Democrata capturou o con-
trole tanto do Senado como da Câmara. Buchanan,
embora um nortista da Pensilvânia, acreditava com
Stephen Douglas na soberània popular e também
apoiava a conquista clo México e a compra de Cuba.
Logo no começo do seu mandato, a Corte Suprema,
enquanto o tribunal de último recurso e o intérprete
oficial da Constituição, decidiu que os Acordos do
Missouri, de 1820, eram anticonstitucionais. A Corte
chegou a esta conclusão quando considerou o pro-
cesso de um escravo, Dred Scott, cujo senhor o tinha
levado pâra as áreas livres de Illinois e Minnesota.
Scolt argumentou que, por ter residido onde a escra-
vidão era ilegal, ele teria ganho a sua prôpria liber-
dade, mas a Corte resolveu que não. Segundo ela,

I)L'Ier [,. l',i.sttt herg
nalo sr)ilelttc o Cotlgrcrisí) naio tinhlr o l)o(l(_'r dt_, 1tr.i,,'iu.
Llnr cidírdão cle seus dirciios ile prol-lrier.ia(le ent es-
cr'ár\'('), rrtas tinh;r ii otrrigação dc itrcerrtivar e prolcger
li t:scrrvirlào conto tlrrirlcltrer oulro lipo «le i,rrlpric-
rlrtrJc p;irlicular. A f illte aindlr act'escenlou clljc nr-,
nhunr Í)egro, cscrâvo orr livre. podia sei ciiiar-ião e
E()zai' de clirr-'i1os igrruil, iros rLrs brancos.
Un.r orrtrr., golpe i..i),ttra o Norte foi o píinico
financeiro de !851/. L.st,: Pânico, () conteÇo tle urna
de1-lressão, resultou clr i,/rrios fatores. printciro. o
lrleçcl dc,s cerciiis .rnrericanos cairr de repenle, (jl.ian-
dr., depois clo fim da guerra curopéia na Crinréia
( 185.1-56). os etu'opeus v«rltlranr a prorlrrzir AS silÍts
safr,lrs nornrlis. Segundo. ()s europeils liquicler;uu
tnuitr-,s investimentos e rlepósitos bancários nos [:L]4,
para poder custear estir puerril e 0u1ras nil tifriua. no
Oricnte Méclio. na India c nÍr Chiua. e isso rigprl111i11
a Billsii de \/iilorcs de Nova Iorque . clrerrou ouro das
reserl'.r-s e Ievoir r,ár'ios ba.nccls à ialência. Finnlmenle.
a espcctrlaçào llgcsnf,'..íxlíl !ras ct'llrpanltias Ícrrqviá-
rias, niuilas das quais estcnderalit os trilhos elérn rjls
árcas r-rndr â renda dos fletes e rlos p;rssageircrs 113-
g3\'a os.lurtts sobre o capital ernprestaclo, l)rov()cou A
falência destas companhias. e dcls banco, 3 contpa-
nhias de -\eÉ{ur{} a elas ligadas. Este Pân^ro iniciou
un.la {lepi"essão de vârios anos r.lo Norte e no Oeste,
encluaulo o Sr-rl. ern geral, guLa\a cle preços altrts e
exportaçôr.s Ce algcrdão cada âno maiores.
Mas. se I ilnverno Federal e o ntomeltto econô-
iri,:r-r favoreciarn o,Sul, outras Íorças pronretiam parir
o l"iorie. Os territorios de Minnesota e Oregon en-
i
t-..
ôt
Ilirritirt tra Lltriiro e otlttl cstatlos livres cnr 1858 t 1859,
r t".pcctivanrett tc. sctlt contraparticla de ntllr's estados
t'scritvistas, Nas elciçeles párra t> Cotrgresso em 1858,
,rs llc; ublicattos rccal)ttlrÍtritttl na Úlântlra a ttlaioria,
rlrrc tit.hatn lrctditlo enr ltl56. [,J nt cios vete:rartos cla
grrerra cle guerrilhas enl Kansas, John Brou'n, com
lrpt,io fittartcciro tlc ltbolicionistas do Norte, lirJerou
trrn tnovintetrto quc teltttlu ttitrtar unl arsenal de
guerra etn Virgítiiit. Brorvn pliltttjava Lisar as armas
puür lcl'antar Llllla rcbelião de escravos' Quando
l)r'cs() c e Il[orca(1o. Br'tlu'n tornott-se unl
ttlártir para
os aboliciottistas. Segunclo uma canção que se popu-
larizor.r rrttrito na época e tltle virou unra nlarcha para
irs lrol)as trrlt'tistas durante ír gucrra. "o corpo dt;
.lohn Brouu está apoclreccndo lla terra, lnas a sua
lrllra l'ai nrarchattdo para frente".
As eleições de 1860
Nas eleições presidenciais cle 1860. a tensão polí-
tica entre Norte e Sul chegtlu ao potllo máximo' Os
I)enrocratas clividiram-se fatalmente e escolheram
dois candidatos para presidente. Os do Norte e do
Oeste nomearam Stephen Douglas, o campeão da
soberania popular, nlas os do Sul nomearam John
Breckinriclge. o então Vice-presidente. um escravista
do Kentucky que queria que o Governo Federal pro-
tegesse a escraviclão nos territôrios. Os antigos Whigs
e õs mais conservaclores do Norte e do Sul escolheram
-it
I
62 Peter L. [:isettberg
o Senador John Bell do Tennessee, parâ tentar con_
tinuar com a política de acordos e não enfrentar
diretamente a questão da escravidão; estes formaranr
o efêmero Partido da União Constitucional.
Os Republicanos indicararn .{braham Lincoin
de Illinois. Lincoln tinha pouca experiência politica e
tinha perdido uma eleição disputadíssima para se-
nador de Illinois em 1858. Mas clurante esta cam-
panha para senador Lincoln tinha realiz-aclo uma
série de debates muito comentados com o vencedor,
Stephen Dor.rglas, e tinha defendido a legalidade da
escravidão no Sul e a ilegalidade cla mesma nos terri-
tôrios. Lincoln, entretanto, previa que ,.uma casa
dividida contra si mesnra não subsistirá. Acredito
que esse governo, meio escrarrocrata e meio livre, não
poderá durar para sempre... e ele se transformará só
numa coisa, ou só noutra". Lincoln, nestes clebates,
tinha obrigado Douglas a recc-rnhecer a contraclição
entre a soberania popular, que suieitava a escraviclão
ao voto do povo, e a decisão judicial no caso de Drer1
Scott. que colocou o escravo na categoria sagrada da
propriedade particular intocável pelas leis. Embora
Douglas ganhasse a eieição para senaclor em lB5g,
despresiigiou a Corte Suprema e se clesmoralizou
seriantente com os Denrttcratas clo Sul, o que contri-
buiu para a cisão rreste Partirlo. erl 1860.
Coin os f)emocralas divididos, Lincoln ganhou
as eieições presidenciai:; ent 1860. Ele receber-r 40o1,
do voto popular, o apoio cle todos os dezesseis estaclos
do Norte, e de dois dos três estaclos do Oeste. en-
quanto o Sul clislribuía os seus volers entre Breckin_
t itttrru Ciyil Antericunu 63
ridge (onze estados), Bell (três estados) e Douglas
(um estado). Ernbora os Republicanos não tivessem
lic;rc]o com rlaiorias nem no Senado nern na Câmara.
eles conseguiram, pela prirneira yez, a presidência.
e pela primeira vez um particlo cleclaradamente opos-
to à extensão da escravidão assumiu a liderança da
União.
O Sul. mesmo retendo o controle da Corte Su-
prema e boas chances para alianças no Congresso,
interpretou a eleição de Lincoln como a sentença cle
Ilorte para a escravidão. Ap(ls a contageln cle votos e
antes tnesmo da posse de Lincoln, a Assembléia Es-
tadual da Carolina do Sul, seguida pelas assembléia:;
dos outros estados do Baixo Sul, votou para corlar
todas as relações com o Governo Federal, num ato
que levou a termo as alneaças das crises cle nulifi-
cação eni 1832 e da secessão em 1850. Estes estados
iusti{icaram-se dizendo que, na Constituição, eles
tinhanr apenas delegado certos poderes para o Go-
verno Federal, e que eles podiarn reaver estes poderes
quand«r quisessem. Ao mesmo tempo, as assembléias
estaduais do Sul mandaram representantes para uma
constituinte em Montgonrery, Alabama, onde cria-
ram a nova nação, os Estados Confederados da Amé-
rica (ECA). Esta constituinte elaborou uma consti-
tuição modelacla na dos EUA, mas com plenas gâran-
tias para a escravidão e proibições de subsídios para
rnelhoramentos internos e de impostcts de in-rporta-
çào. A constituinte escolheu para presiclente o Demo-
crata.Tefferson Davis, unt fazetideiro cle algoclão, mi-
litar. ex-nrinistro da Gtrerla e cluas vezes senad«lr
ó4 I''tt er 1,. I;isen i;erg

dc, Mississilrpi.
federal1 do
Nasas suárs
s últimas senrar)a5 lro cíirgo, o l'rr:si-
Buclianan ainria procrrrou conr os nroderaclos
clente Buc
reaiizar acordos senrellrarrtes aos dc i820 e 1[i50. r'es-
Lr ac
c:endo a latitude de 36' 30" conto a divis;io
talieler:enc
ârea livres e escr'.ilras no Oes1e. Ilara evitar
enlr'e âreas
:ações, Buchanan desistiu de abastt-'ccr por
provocaçõr
mar ass fortalczas
for ferlerai:; lro liloral da Calolina do
zÍas os Republicanos penranecerarrr intransi-
Sul. IVÍas
getrtes coutra
cot a ertensàcl da escravicião ao Oeste c
n, a,
I-incoin, ao assunrir a prcsidôncia eur março de 1861,
A GUERRA CIVIL
r en
teitntru enr mandar 24(X) homens e 285 peças de
rria, além cle mantimentos. para o Forte Sum-
artilharia,
nlt:s quc estes refclrços cheg,asscm, os Caroli-
ter. Anles
nianosr bombarclearam
bor e clestruíram completantente Qual era a correlação de forças nesta guerra?
rle, enr ahril de l86l.
este forte, Tuclo indicaya no começo que o Norte era mais forte.
A guerra
gue colneçou com esle bontbardeio. Pat'a o Vinte e dois estacios se ntantiveranl na União, in-
Norle, a guerra
gr inicialnrcnte não visava a acabar coni cluindo os estados escravistas do Alto Sul do Mis-
rvidão, senão manter a união da nação e evitar
a escravidi
souri, Kentucky, Maryland e Delaware e os territô-
ssão do Sul. Para o Sul, a guerra visava a de-
a secessão rios de Kansas, Virgínia Ocidental e Nevada, que
fender' a secessão,
s, a sua independência do Norte, e entraranr na União, durante a guerra, como estados.
inico meio que restou para preservar a escra-
foi o únicr A população do Norte era mais do que o dobro da rlo
vidão das
das esperadas pressões dos Republicanos. Sul (veia Tabela 2); ela era tnais do que o quâdmplo.
lo o Norte tentou impedir a secessão, estourou se se exciuíssem os escravos, em quem os sulistas ttão
Quando
a guerra.
ra. confiavam para carregar arnras, embora o seu tra-
balho libera.sse homens livres para lutar. O Norte
tinha dois tcrços das estradas de ferro; 85% das
inclústrias, incluir-rdo 85% da produção cle coberto-
res, roupas, sapatos e 97Yo do valor da produção das
arnlâs, além da maior parte dos trabalhadores quali-
ficados, dos bancos e do clinheiro em circulação. 0
Norte também tinha um vigoroso setor agropecuário,
 Peter L. Eisenberg
t ittcrru Cit'il Arnericunu

com a classe dominante clo Sul, e porque estes países

complementado pelo do Oeste, em que apenas o
compravam grandes quantidades de algodão ao Sul.
Texas separou-se da União.
Os sulistas também esperavam que o seu controle
Mas as vantagens do Norte não queriam dizer
sobre a foz clo Rio Mississippi neutralizasse os esta-
que o Sul não tinha ccndição alguma de resistir' Em
dos do Noroeste dos EUA, que dependiam deste rio
primeiro lugar, o Sul gozava da vantagem psicolôgica
para escoar a sua produção.
de estar defendendo a sua prôpria terra. Como dizia
A guerra não terminou logo nos primeiros me-
o Presidente Jefferson Davis, "tudo que pedimos é
ses, como alguns políticos otimistas do Norte espera-
sermos deixados eÍn paz"; isto forçou os nortistas a
vam. A estratégia do Sul era simples: adotar uma
invadirem o Sul para sufocar a rebelião e caracteri-
atitude defensiva, e deixar que o Norte tomasse as
zou a guerra, para os sulistas, como a defesa de seus
prôprios lares. O Sul também dispunha, no começo iniciativas. Mas a estratégia do Norte foi inicialmente
confusa e hesitante, e em parte por este motivo pas-
da guerra, de exércitos melhores. A sua população
saram-se quatro anos até que o Norte conseguisse a
civil, por ser muito rnais rural e mais treinada na vitôria.
caça e no cavalgar do que a do Norte, atirava melhor
e cavalgava melhor. Devido à tradição sulista de os
fazendeiros mandarem alguns filhos para a carreira
militar, os oficiais que deixaram o exército da União A guerra no mar
para formar o corpo de oficiais do exército da Confe-
deração tinham mais experiência e pericia de guerra
Um objetivo ôbvio para o Norte era de manter o
do que os oficiais do Norte. O General Robert E. [,ee
controle dos mares. O Sul dependia das trocas cons-
{oi tão estimado que o Presidente Lincoln queria tantes de produtos agrícolas por manufaturas impor-
nomeâ-lo Comandante-Chefe das tropas nortistas.
tadas. Evidentemente, para não ajudar ao inimigo,
Mas Lee permaneceu fiel ao seu estado natal, a Vir-
o Norte não ia vender nem comprar mais do Sul, de
gínia secessionista, e serviu o Sul como conselheiro
modo que o Sul tinha que manter aberto os fluxos
militar do Presidente Davis. Foi responsâvel por mui-
comerciais com a Europa. Para interromper este trâ-
tas vitôrias, e eventualmente foi nomeado Coman-
fico, o Presidente Lincoln logo se apropriou de quase
dante-Chefe das tropas sulistas.
toda a Marinha de Guerra e declarou um bloqueio
Os sulistas acreditavam ter outras vantagens'
dos portos sulistas, advertindo aos europeus que não
Eles acreditavam que a Inglaterra e a França iam
permitiria mais o comércio com o Sul. Mas a esqua-
apoiar a sua rebelião, porque estes países eram domi-
dra do Norte era pouco para patrulhar os 5 600 quilô-
nados por classes aristocrâticas que simpatizavam
ó8 Peter L. Eisenherg
metros do litoral sulista; o Brasil tem 7 400 quilô-
metros. Lincoln tinha que mobilizar toda uma frota
de balsas, baleeiros, escunas de pesca e rebocaclores
para tomar posições em frente aos portos sulistas.
Os sulistas, por sua vez, enlpregaram uma frota
de "furadores de bloqueio", barcos a vapor muito
veloz.es e de pouco calado, que transitavant entre o
Sul e os portos estrangeiros nas Bahamas e noutras
ilhas do Caribe , onde os barcos europeus esperavam-
nos. Os sr,rlistas também usaram, pela primeira vez
na histôria da guerra naval, vários barcos blindados
conr chapas de ferro de cinco centímetros, impérvit-rs
a balas e bombas de artilharia. O Sul capturou do
Norte o primeiro destes, o "Merrimac", e construiu
mais uns quatro. O Norte também usou barcos blin-
dados. Contra barcos de madeira estes blinclados
eram tcrríveis, mas como eles eram letrtos e difíceis
cle manotrrar. a batalha entre blindados costlrmava
terrninar nunr ernpate.
Os sulistas eucomendaram mais cle uma clúz-ia
de "destrôiers de conrórcio" em estaleiros ingleses e
franceses. Estes barcos destruíram mais de 250 bar-
ccls da nrarinha mcrcante do Norte e forçaram unra
alta tão grirnde nas taxas de seguros que muitos nor-
tistas vencleranl os seus bzrrcos a estrangeiros. C Sul
tambérrr encomenclou na Inglaterra uma série clc
"barcos de esporà.o", que serviriam para furar lite-
ralmente os bloqueadores, mas o Norte fez tanta
pressão diplomâtica que impediu a entrega destes.
A mais longo prazo, cntretanto, o Norte tinlra
melhores condiçÕes de l'encer a guerra naval, porque
( itt,'rru Ciy,il Americanu 69
goz.ava deum potencial ntaior lrara construir blin-
dados. O Norte tinha muito minério de ferro e gran-
des fundições na Pensilvânia e Otrio, enquanto que o
Sul tinha pouco minério e apenas uma grande fun-
dição, na capii-al da Confedcraçào. em Richmond,
Virginia.
0 bloqueio estrangulott a importação de chá,
café, sabão, velas, nredicamentos, papel jornal, rou-
pas feitas e outras necessidades para que o Sul pu-
clesse guerrear. Se nações estrartgeiras tivessem clado
mais apoio, provavelttlente teriem rornpido o blo'
queio. A Inglaterra logo deciarou a sua neutraliclade
entre os beligerantes, o que lhc dava o direito defazer
negôcios coin ambos. Assirn, a Inglaterra conside-
rava a guerra corno mais clo que uma simples rebe-
lião inierna, e eventualmente os ingleses poderiam
reconhecer a independência do Sul. Os ingleses, além
das simpatias jâ referidas, ressentiant-se da elevação
da tarifa aduaneira do Norte alé 17Yo durante a
guerra. Os súditos da Rainha Victória também en-
tenderam que se os EUA ficassem divididos em dois
países, tal enfraquecimento sô podia ser um bene-
fício para aclueles.
Mas três fatores derrotaram as esperanças su-
listas para unta aliança estrangeira. Primeiro, a pro-
clução do Sul não foi tão necessária às indústrias
têxteis inglesa e francesa como se esperava. Ante-
cipanckr unra guerra. os uranufatureiros estrangeiros
tinhanr estor:ildo bastante algodão no fim da década
de 1850, c autt.tcttt;tvanl iIS suas importações do Egil.o
c da India. Qtratrtlo os cttttterciantes do Sul tentaram
 t irtr.'rru Civil Atnericuttu 7l
70 Peter L. Eisenberg

irntecipanclo tttl t-lestlrembrattrento clos EUA uma

:ial cle algoclão, para agrâvar
criar uma escassez artificial
oportuniclade cle restaurar tl impéritl francês no con-
a suposta dependência estrrstrangeira, eles abalaram a
tir.rente atrericatrtl, cle oncle os ingleses a tinham
nseguirarn tarnbérn abalar o
indústria inglesa, mas cons
cxpulsado unt sécu1o antes. Napoleào chegou a inva-
crédito do Sul no )r,
exterior, o que lornava as irnpor-
dii o N{éxico enr 1862. oncle insialou o Imperaclor
tações ainda mais difíceis.S.
Maximiliano I para unt reitro instâr'el rle citrco anos'
Por outro lado, o Norl orte tambénr fazia comércio
Mas Lincoln não se distralu conl os Íranceses no
com a Europa, e no perío ríodo cle 1861-63. devido às
quebras nas safras de trigc
Móxico, e o epis(rciio não ajudt-rti o Slttr' Logo que a
igcl na E,uropa, na .A,mérica
glaterra inrportou do Norte Liuerra Civil ternlirlt)[l , os nlexicl-tttos' cotrt a aiucla
do Sui e no Egito, a Ingla
rlos anrericanos. cxpulsariun ()s iratrcestls er fuz-ilaram
mais de 40(r{, de seu lrigo 1«r e farinha. Quando Napo-
Maximiliano.
leão III da França tentava va se aliar c()nl a Inglaterra
Se o Sul conseguitt potlcit ajucla c'los L'strangei-
para romper o bloqueior riclo Sul, o Norte ameaçou
go, o que ia criar problemas ros. o Norte, ao cotltrário, gt)zava de unra anlizade
suspender a venda cle trigo
Lça que Napoieào desistiu da
forte cotl a Rússia lmperial. O Czar Aiexandre II
sociais tão sérios na França
liherou os servos russos enr 1861, nunl a1o admirado
idéia. Assim, depenciência :ia por ciependência. as na- pelo Norte, e enr i8b3 Alexandre tl:rtrdou uma es-
cstrangciras não r m tanta l'antagenr em apoiar
iartr
ções qrla,lra cie guerra para Nova Iorquc. e outra para São
o Sul. e de fato nenr ar Inglaterra
I neur a F-rança
ltrutrcisco. Estas csqr.radras estavirnl posicionanclo-se
chegaranr a reconirecer os os E.staclos Confederados da
para lr.itar contra os itrgleses, castl hiluvesse guerra
América oiicialmente.
etrtrc a Rússia t a Itt8,1aterra. Mas tls atlrericilltr'rs
Em segundo lugar, aas classes tlornil-rantes e a prcfe riatrt acreclitar clue o§ harct'ls rtlssos vinham aitl-
opinião pública inglesas, qtre qr tinhatn abriiitlo a escril-
iJar a trtatttcr o trloqueio, o qtte levantclu o rtloral tlo
vidão nas suas colônias; no r Caribe enr 1838. não
l.iorte e cieprinriu o do Sui.
aceitavam uma aliança cor Joilr quenr ainda defendia a
escravidão. como ficou clar laro clepois que Lincoln fez a
Proclarnirçào da Etttutrcipa paÇão clos Escravos nos fins
de 1862, e quando 500U.X )ü) tr;ibalhaclores da indús- A guerra n0 continente
lria têxtil inglesa. clesenrpr pregiidos pela falta cle algo-
dão. continuaranr a nrattif, tifcstar a.poio 1.rara o Norte.
A luta ncr inlerior do continente foi muito mais
Ilm terceiro lugar, as a: ambiçilcs curopéis não
difícil para o Norte do clue o bloclueio nlarítimr:. A
necessariamente se afinara rranr Çonr as clos sulistas. A
estratégia tetrestre do Norte visava à manutenção cle
França cle Napoleho Iitr pensaYa p errt apoiar o Sr:1,
72 Peter l-. Eist,rtberg ( ittt'rnt ('ivil Antericurtrt

duas frentes, porque as Montanhas Apalaches divi_

diam o Sul desde a Virgínia até o norte cla Geórgia, e
A batalha de Antietam, enr Marylancl, em se-
tenrbro de IlJ62, foi uma das mais sangrentas, com
impediam a passagem rios exércitos (veja *upuJ. O,
generais nortistas abrirarn primeiro a frenle a
niais de 12000 morlos para cada lado num sô dia,
leste rnas lá o general nortista George B. McCleilan final-
rlestas montanhas, centrando-a na Virgínia e nas
merrte conseguiu frusirar o corrtra-ataque dos Confe-
áreas orientais da Virgínia Ocidenlal, kentucky e
deradcs. Esta meia-vitôria obrigou os sulistas a re-
Ienessee. Esta fr.ente tornou-se crítica porque nela se
cuiir para a Virgínia e levou L,incoln ata,zer a procla-
localizavam a capital federal de Washington e a ca_
mação da Emarrcipação. Nesta Proclarnação, o presi-
pital confe,lerada de Richmond, As duas capitais
dente declarou livres os escrayos nos estados rebel-
ficavarn apenas 160 quilômetros uma rja outra, a
des, o que de fato não litrerou ninguém porque,
rnesma distância que hâ entre São paulo e piraci_
obl'iamente, os estados rebeides a ignoraram. Ivlas a
cirba, tru entre Rio de Janeiro e Cabo Fri«r. Nesta
Proclamaçáo oficializou a glrerra corno sendo uma
frente, cada lado concentrava grancles exércitos e
procurava defender a sua capital ao mesmo tentpo campanha contra a escravidão, e não apenas uma
repressão de um mol,intento separatista, e ajudou a
que ameaçava a do inimigo.
convencer à Inglaterra a não inten'ir.
O Norte abriu uma seguncla frente a oeste das A Proclanração cla Emancipação também auto-
Montanhas Apalaches. nas partes ocidentais de I(en_
rizou os ex-escravos a entrarem nas forças armadas
tucky e Tennessee, no sul do Missouri e ao longo clo
do Norte a partir de 1863. Até o fim da guerra,
Rio Mississippi, desde lllinois até o Golfo do México.
cakrula-se que 208 4tl6 negros entraram nos exércitos
Aqui os exércitos combatendo eram rnenores, porque
e marinha do Norte, ou seja, aproximadamente l4yo
tinham que se distribuir nurna região muito rnaiôr.
das tropas. Mas até 1864 os negros tinham que servir
Nos primeiros anos, as tropas do Norte, os Fccle_
rnais tempo, quase nunca eram promovidos a oficiais
rais, perdiam muitas batalhas na frente oriental. A
e recebiam armas, salários e tratamento médico infe-
inexperiência, a desorganizaçáo, a cautela excessiva
riores aos dos brancos, de modo que a sua taxa de
e a simples incompetência atormentavam estes exér-
mortalidade (37o/o) era três vezes superior à taxa
citos nesta frente. Lincoln nomeou seis comandantes geral clos combatentes nortistas.
diferentes entre julho de 186l e julho de 1g63, cinco
Nestes anos de 1861 e 1862, os exércitos do
deles num prazo de apenas dez meses. As tropas do
Norte avançaram muito mais na frente ocidental. Em
Sul, os Confederados, ao contrário, sob o conrando
1861, eles engajaranr tropas sulistas em pequenas
eticaz do General Joseph E. Johnston e do Ceneral
batalhas no Missouri e nas montanhas da Virgínia
Robert E. Lee, conquistaram uma série de vitôrias.
Ocidental, e couseguirÍrn.r rnanter estas duas âreas na
74 Peter L. [,'isettherg ( )uerra Civil Americana

União. Em 1[1862, enquanto os Confederados enl

Nova Ôrleans estavâm esperando um ataque Yindo
r

;ippi acima, o nortista Almirante David

do Rio lvlississi
Farragut fez a. sua Marinha de Guerra subir clo Golfo
s
* lI
do México parrra caplurar esle porto inlportante, e li
EI
'ste rio âo comêrcio sulista. Nn terra. os r l-
assim fechar es Ji

exércitos ,rais ocuparam Kentucky e o oeste do

feder t^
l_
Tennessee, mando o centro ferroviârio de Corinth e
ton
o porto fluvial de
t Memphis, e obrigando os sulistas a
se retirarem doo trecho alto do Rio N{ississippi.
O mês dec :cisôrio para a guerrír foi iulho de 1863.
No Leste, os nnortistas rnassac:rarâllt unt exército de tô
[,ee em Gettyslsburg, Pensilvânia. o ponto mais setell- \ô
\o
_-,-._D'> OO

t. Alaham a 21. Golto do Méxic,r

2. Amárica do Nortc 24. lliinois :{
Ç
Britânica (Canadá) 2.5, Iucliana
§
3. A n dersonviile lô. iLrwa \
4. Antictanr 2?. Kansas
28. Kr'nluckv :
§)
-5. A rk an sas
29 i.ago lrrie o
6. A tlan ta
7. Augusta .10. L.ago Michig;rn {
8. B alt imort- ..] I Lruisiana
9. Carolina do N0rtc 32. Maryland
i0 Caroiina do Sul 3-1. Nlassachu.;ctts
ll. Charlestorr .1.1. )'rlenphis
t2. Ch al tan(x)Ba .15. Mérico
13. Cincinnati 36. Michigarr
l,l. Colúnrbia .i7. Mississiyrpi I
t-5. C olnecticut .18. Missouri
i6. Corint h 39. Ivlotrilt:
17. I)ela* are 40 Montgonrerr I
1 lJ. F'il adélÍi a 41. Monlanhas Apala.
ig. Flórida chrs !
20. Furtc Sumler ,{2. Ncbraska
21. (icôrgia 43. I'{ora Iorqrrc
22. Cctt ysb uÍÊ -14. Nova Íorque {t!da
dr) I
.r1
76 E'isenberg
trional alçendo pelos Confecleraclos. No C)este, os
norlistas depois de um sílio de seis sem;rnas tomaram
Vicksburg, a cidade nrelhor fortificacla no Rio Mis-
sissippi, cuja queda deu ao Norte o contrcrle de toda a
extensão deste rio, eliminou os estados confederaclos
do Texas, Louisiana e Arkansas da guerra e abriu a
parte ocidental do Br.ixo Sul para o avanço federal.
Em novembro de 186-], os Federais tornaram Chatia-
nooga. Tennessee, outro iu-rportante entroncamento
de estraclas de ferro e unt rJc.,s ponlos de ligacão entre
os dois laclos das Montanhas Apalaches. Corn a que-
cla de Chattanooga, o Norte preparoll-se para invadir
a Geôrgia, no leste do Baixo Sul.
C) general federal que tomou Kentucky. Corinth
e 1,'icksburg, na frente ocidental, foi Ulysses S.
Grant. Nele l,incoln finalmente descobriu o militar
que podia traduzir as vantagens do Norte numa vitô-
ria final. Norneado Comandante-Chefe de tod.os os
exércitos federais, em março de 1864, Grant imple-
mentou uma estratégia mortal de dois objetivos. Pri-
meiro, ele destruiria a base material do Sul e com
isso o rnoral da população civil. Segundo, ele ata-
caria continuamente os exércitos do Sul sem se preo-
cupar com as perdas nortistas, que podiam ser subs-
tituídas mais facilmente clo que as perdas sulistas, o
que logo lhe mereceu o apeliclo de "o açougueiro".
Grant também se preocupou muito menos em defen-
der Wastrington ou outros locais importantes desde
que os Confe<Jeraclos não tinham mais condiçóes de
ameaçar seriamente.
Assim, Grant mandou queimar todo o Vale do
(livil Americana 77
Itio Shenandoah, uma ârea fértil que abastecia as
tropas sulistas defendendo Richmond. Ao mesmo
tempo, e da mesma forma, Grant ordenou a seu
General William Tecumseh Sherman que saísse de
Chattanooga contra o sulista General Johnston,
numa série de ataques que culminaram na captura e
incêndio de Atlanta, em setembro de 1864, ao mesmo
tempo que o Almirante Farragut capturou Mobile,
o porto principal do Alabama. Logo depois Sherman
desprendeu-se das suas linhas vulneráveis de abas-
tecimento e marchou até o Atlârrtico. Ajudado por
libertos para abastecer o seu exército às custas da
população civil, Sherman cumpriu a sua promessa de
"Íazer a Geôrgia uivar", deixarrdo uma faixa quei-
mada de 100 quilômetros de largura sem lavouras,
mâquinas, gado, fábricas, celeiros, pontes ou estra-
das de ferro. Chegando no porto de Savannah, Sher-
man passou o inverno lâ,, e na primavera de 1865 ele
rumou para o Norte, atravessando a Carolina do Sul,
o berço da secessão, rleixando ruína e devastação no
seu rastro, e queimando o porto de Charleston, a se-
gunda cidade do Sul, e a capitai estadual, Colúmtria.'
Graut pressionava Richlnond, batalhando corn
Lee quase que diariamente, por r:inco meses, e so-
frendo, mas também inflingirrclo dezenas de milhares
de baixas. Sherman cruzava implacavelmente as
Carolinas. Os dois generais nortistas completavam
unr movimento de aperto do qual lree e Johnston não
encontrararn saídas. Em abril de 1865, apôs meses
nas trincheiras, Grant finalmente tomou Petersburg,
o centro ferroviário paÍa a capital confederada, e
7tí
Ir
Peter L. Eisenberg
I

logo depois queimou a prôpria'ia Richmond, alvo das

campanhas federais no Leste te desde o começo da
guerra. Lee teve que er no dia 9 de abril de
se render :

rtor sulista amargurado

1865. Cinco dias depois um ator
oln. Quatro dias depois
assassinou o Presidente Lincoln
clo assassinato, Sherman ecebeu a rendição de
rece
Johnston. A guerra terminou.

O IMPACTO DA GUERRA

Para manter o Sul na União, os EUA pagaram

um preço muito caro. Entre os combates e os hos-
pitais e prisões, onde epidemias de difteria, febre
tifôide, febre amarela, disenteria e varíola ceifaram
vidas, morreram 360000 pessoas do Norte (12% dos
combatentes) e 258000 do Sul (20% dos comba-
tentes). Morreu o presidente na hora da vitôria.
Por outro lado, morreu também a escravidão.
Através da 133'emenda à Constituição, o Congresso
em janeiro de 1865 aboliu a escravidão de vez, libe-
rando 4 nrilhões de pessoas de cor. A rendição do Sul
prometeu que esta abolição, ao contrârio da Eman-
cipação em 1862, seria respeitada.

No l.{orte
A União sobreviveu, mas os quatro anos e seis
dias de luta operaram muitas mudanças, tanto no
fl'
Peter L. Eisenberg

xôpria Richmond, alvo das

logo depois queimou a prôp
campanhas federais no LesLeste desde o começo da
render no dia 9 de abril de
guerra. Lee teve que se ren(
1865. Cinco dias depois um ator sulista amargurado
Lincoln. Quatro dias depois
assassinou o Presidente Linc
clo assassinato, Shermanan recebeu a rendição de
r

Johnston. A guerra terminou

O IMPACTO DA GUERRA

Para manter o Sul na União, os EUA pagaram

um preço muito caro. Entre os combates e os hos-
pitais e prisões, onde epidemias de difteria, febre
tifôide, febre amarela, disenteria e varíola ceifaram
vidas, morreram 360000 pessoas do Norte (12% dos
combatentes) e 258000 do Sul (20% dos comba-
tentes). Morreu o presidente na hora da vitória.
Por outro lado, morreu também a escravidão.
Atravês da 133'emenda à Constituição, o Congresso
em janeiro de 1865 aboliu a escravidão de vez, libe-
rando 4 nrilhões de pessoas de cor. A rendição do Sul
prometeu que esta abolição, ao contrârio da Eman-
cipação em 1862, seria respeitada.

No i.{orte
A União sobreviveu, mas os quatro anos e seis
dias de luta operaram muitas mudanças, tanto no
r (
80 Peter L. Eisenberg
Norte como no Sul, de modo que nenhuma das re-
giões em 1865 se assemelhou àquelas que tinham
sido na década de 1850. Como vimos, para o Norte a
guerra tinha começado numa conjuntura econômica
muito desfavorável. Até 7862, o Norte continuou a
sofrer a depressão provocada pelo Pânico de 1857.
O volume de transportes marítimos caiu 60% entre
1860 e 1864, em parte devido também ao bloqueio
que restringiu o movimento da nação inteira. A cons-
trução de estradas de ferro praticamente parou, e a
indústria de têxteis entrou em depressão por falta de
algodão. Até 1863, o Norte teve que importar fardas
e munições. O setor financeiro viu-se impossibililado
de receber 300 milhões de dôlares em dívidas dos
fazendeiros e comerciantes do Sul.
Como se a depressão não fosse o basta-nte, o
Norte tarnbérn teve que substituir as ceutenas de mi-
lhares de braços que saíram da força cle trabalhcr
para entrar na.s forças armadas. O Congresso tentou
estimular ainda mais a imigração com a Lei do Tra-
balho Contratado em 1864, que permitiu aos patrões
fazerem contratos com imigrantes no exterior, e
adiantarem a passagem transatlântica contra o com-
prolnisso do irnigrante rcssarcir a dívida com o salâ-
rio do prinreiro ano de trabalho" A t,ei dispensou os
imigrantes contratados do serviço militar. Assim
como se deu corn os esforços de estin:ular a imigra-
ção para o Brasil nos meados do sóculo XIX, este sis-
tema também tolheu a litierdade do imigrante por
pelo menos um ano.
Mas a recuperação econôrnica do Norte baseou-
ittrrru Civil Americana 8r
se principalmente na demanda da própria guerra. Os
cxêrcitos {ederais precisavam de quarrtidades enor-
mes de mercadorias como alimentos, roupas, calça-
clos, chapéus, cobertores, barracas, carroças, vagões,
ârmâs e muniç:ões. Esta dentanda era sempre reno-
vada pela râpida destruição causacla pela guerra, e
larn'oém se rnanteve alta pela qualidade defeituosa
ilo material fornecido. Muita gente lucrou venclendo
ao Governo Federal barcos qtJe Yazavam água, fuzis
que estouravam com poucos tiros, uniformes e cober-
tores que desintegt'avam na chuva e cavalos e mulas
<le costas quebradas.
Para enfrcnlar a demanda, e para compensar a
falta dc braços, tanto :i. agrictrltura quanto a manu-
fatura tiveratn que se ruecanizar. Na agricultura, os
fazerrdeiros aceleraram a adoção de mâquinas inven-
tadas nas décadas anteriores à guerra. Na manufa-
tura, as graudes inovações foram a generaliz.ação da
ináquina de costura aperfeiçoada por lssac Singer,
a sua adaptação à fabricação rJe calçacios e a sila
entrada no lar como â primeira máquina de uso
doméstico, habilmente promovida numa maneira
inovarlora através de campanhas cle publicidade.
cursos, planos de compra a p[azo e contratos de
rnanutcnção.
A guerra promoveu a concentração de capital'
Certas nrâquinas eram tão caras que somente os
grandes fazendeiros e rnantrfatureiros podiam com-
prâ-las. Somente os grandes ntanufalureiros podiam
integrar a sua produção, para realizar todas as tare-
fas clesde o primeiro beneficiamento da matéria-
,TI
82 Peter L.
prinra até o acatrameuto c1o artigo finai, o que evitava
os impostos ccbrados sLrbre a venda r1e artigos semi-
acabados. Somente os grandes tiveram influência
Frolitica em lvi/ashingtnn, pela arnizade ou pelc su-
irorno, pâra conseguir os lr-itlratil,cig cL.ittratos de for-
necimento ;ros exércitos.
Fio:; lranspori.es e tilrr:l-,óill ítas ccm-rtnicaçÕes,
â guerra irÍonl()\rtru rr cor:icilltrírção. Antes da guerra
;rs compailhias de lerrcvlas, de r:anais e <1e ieiégrafos
rillnccrrerafit ftiriosamentr:, I L]s u,:uários gozaram de
ilí'rjços baixo:'. Dulante * sjlrifli i.o, â p:''rsa ,iq: r;ran-
i l;lr tlrri:âr1r ;1is1; r;1 iil Íorrrl;,1(:iics à:, Írettto:s clistantes,
,
)r i ir; ii 111i1 t ieurora pr-rrlia,;:us tar l, ici as. inilui:i il fu:ii es.
,1i:i {-'onr1)itil.i:ias rie *s'lurdiis de fcr:r(l eni.rg â '"'il5t{l
.ltlârrtica e r,r L;rgo Michigaii fundlrani-:e , eon':o fi.z-e-
ranr tambe *-r irrLrtÍ'as. trafcg;l.nrtrc, antre Massachuseít.s
í:j i{ova Ir;rque. ülrio e íXiinois e íllilois c l'{ichigalr.
,,\ cr-rrnpan1ri;r ilc lelépi;"ilfos k\csrtr:rn Llnion !rL)nlprou
ntuitas Iirmas peqriernâli i;r:si.c ranrcl nr.r velho No-
rocslc, ct:,nsoiidou.-se c{lÍri :-ls ftruJS companhias irír.io-
res e cmergiu con-lo 111r) inoÍi{rpiiiic em iEôô.
Váriris grancies eapitalisi;rs cio íiliii:ro ql.i"iri* d{-r
',icuit'r X IX iniciarlir]l ais siiíis ;âirerriis tli.lrafl l,r, tu
guerril. iohn D. Rockefciler, qr.re venclia alinrclttos
il:lrit ()s ercrcitris rlo i:r*r-lrte, itt','esliu seus 1uc1'os lta
t.efiltaçao tle 1;eiri!lco ç:rn [8tr2. H,ntão" o petroleo t'oi
lusatlo pall a ilrrntinação; P.ockefeller lundaria ;t
Stanclarcl Cri([:5SC) cr.n ]ii70. Philip Amrour e Gus-
tavus Su'ifi Ítrrncri:rnr ,"1!i':tc riij l:<,.i e de porcc, às
tropas fetleruis, c tlr1,"ois riu gucrra {icariam comD os
"reis" rl.>s frigorílieo:;. ,aurlr.[rcw Clrnegie investia cm
Eise nberg (,tt('l'fU Americanr^t 83
Iirhricas de pontes, eixos, trilhos e locomotivas na
l)ensilvânia durante a guerra; na clécada seguinte ele
iinplantaria e dominaria a indústria do aço.
Homens espertos na área de §inanças também
lu«.:rararn durante a guerrâ. .!ay Cooke ganhou t-r
:r:onopólic na venda c1e apôlices do Governo Federal,
rtpô.iices riestinadas a levanxar lnais de 2 bilhões de
ii,5lz-.res pâra pagar es riespesar r1a guerra, ei)fir co-
inisriões <ie ü,5% para o ágitr {J*oke" Cs banqueiros
{iecrge Peabodv e Pierpont h{r:rgan negociaranr i)llro
r.r ;rl .rdaram os ittvestirlore!; ânlericânos apreensi-,os il
r:,.r1ccarem o seu capital nas praÇas europeias rliris
,i;trguras. Jay Goul«i fez vârt(rs g0lpes especulanrlc' r:nr
.it'lles de companhras ferroviârias; ele aproveitava iu-
'l;ritlaçÕes
secre fas coÍr1-'lra{iás a Íuncionârir:s cii: !lc-
r,'erno. ü "Ccrncrlorr>" {lornelius Vanderbilt, qr:r ;a
iia Cécada rie 1850 detinlia a mâior Íortuna irmeii-
an;t. baseadit nos l"ranspnrtes marítimos. consegr.int
'.
,i-, controie de trrrjas as linhas de trem <1ue entrav;:m
na cidacle e?e ldova íorqutr pelo norte em 1864.
À secessáo ,io Sul determinou a retiracia de qria-
:;e todos cs seris representanies <1o Congresso. Os
rcpresentantes dil Norte e rXo Lleste, âgora rem oposl-
,.:âo, fizeram aprovâr clurante a Éiuerrâ uma sêrie rle
nedidas que revigor;rrafir as econr-lmias de suas re-
giões. Primeiro, três companhias de estraclas de ferro
{ranscontinentais ganhararn sutlsidios generosos de
dinlieiro e terras. e duas e*mpietaram a primeira
linha ligando Oniaha, eÍn l{ebraska, com Sacra-
t;rrrrto, na Califôrnia, em 1869"
Ern segundo lugar, parÍr prolxtover a ocupar;ão
I 84 Peter L. Eisenberg I itterru Civil Americana E5

do Oeste, o Congresso ern 1862 aprovou a lei de Jôlares em papel-moeda, sem que pudesse trocá-
rle dôl
Homesteads, através da qual as terras públicas se- por ouro, o Governo inflacionou o nivel de preços
los por
riam doadas gratuitarnente em parcelas de 64,8 hec- etivamente conseguiu
c efeti, um empróstimo obrigatôrio
tares para qualquer adulto que residisse e fizesse ilas classes
clz credoras, que tinham que receber as notas
certos melhoramentos na parcela durante cincc anos. valorizactas em pagamento de dívidas oficiais.
desval
As únicas pessoas inelegíveis eram os menores de Mas,s, as emissões também constituíam um emprês-
idade, os soldados e os simpatizantes da Confedera- timoo frforçado à ciasse operâria, qrte viu o valor real de
ção e os estrangeiros sem intenções de se naturalizar. SCUS salârios cair um terço entre 1860 e 1865.
s SZ
Esta lei também contribuiu pàta a concentração da Uma outra medida importante foi a reorgani-
U
riqueza, porque permitiu a l'endzr das parcelas, e 'taçào
ão do sistema Lrancário em 1863 e 1864. Primeiro,
especuladores e conrpanhias inrobiliârias fir:arant longresso colocou um imposto de 10% sobre as
o Con
com as rnelhores terlas. issões de dinheiro por bancos particulares, o que
ernissc
' Ern terceiro lugar, para melhorar o nível téc- bou cotn a circulação deste dinheiro. Segundo,
acabor
nico, o Congresso, ern tr862, aprovou uma olttra iei longresso
o Con autorizou um sistema de bancos parti-
que deu terras pública.s para os estados criareni ins- ares licenciados pelo Governo Federal, os chama-
culare
titutos de ensino superior de agronornia e cle mecâ- dos br bancos nacionais. Os bancos estaduais foram
nica. Estas cloações, dc pelo menos 36422 hectares igados a depositar um terço rJo seu capital para o
obriga
por estado, incentivaranl o desenvolvimento de ses- erno, para receber, ent troca, 90% do valor em
goverr
senta e nove universidades, incluindo particulares heiro emitido pelo Governo Federal. Pela pri-
clinhei
como Cornell e o Institutr: de Tecrtologia de Massa- ira vez,, desde a década de 1830, conseguiu-se
meira
chusetts (MIT), e estaciuais colno as de Pensilvânia, lronizar o papel-moeda e srrjeitar os bancos parti-
padro
Illinois, Minnesota, Wisconsitt e Califôrnia. ares à fiscalização federal.
culare
Em quarto lugar, para custear a guerra o Go-
verno Federal vendia apôlices pagando juros, e co-
brou mais impostos. C) Congresso reformou o im- No §utr
posto de renda no sentido de atingir mais às classes
ricas, aumentou os inrpostos de consumo. e elevou os O Sul tamtrém passou por mudanças notáveis
impostos sobre importaçóes de artigos de lã e cie Íerro âs das linhas de con-rbate, mâs a maioria destas
para níveis realmente protecionistas. danÇas foi para pior. Como o Governo Federal, o
O Congresso tarnbérn promoveu uma certet in- verlro Confederado tentou pagar as suas despesas
flação. Aprovando uma emissão total cle 450 nrilhões n dinheiro emprestado, arrecadado através da
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EE Peter L. Eisenberg ( irterru Civil Americana '9r

capita que o Norte emitiu. Tamanha era a infiação em fevereiro de 1864, o governo sulista nacionalizou
no Sul que se dizia que no começo da guerra o sulista o comércio exterior e um ano clepois assumiu o con-
ia ao rnercado com a carteira de dinheiro e a sacola trole direto dos canais, telégrafos e barcos a vapor.
de compras, e no fim da guerra ele ia com uma sacola Mas estas medidas estatizantes, como o projeto de
de dinheiro para trazer uma carteira de compras. recrutar e armar os escravos aprovado poucas serna-
Para suprir os seus exércitos com nraterial de nas antes clo fim, foram insuficientes para evitar a
guerra, o Sul tinha que criar quase do nacla um par- bancarrota, a crise e a derrota final.
que industrial; no Norte, como vimos, o problema
era muito mais o de reorientar a produção das manu-
faturas. O Governcl da Confederação subsidiou a
metade dos custos de montagem e um terço do valor
cla produção, para que a.s ernpresas particulares
montassern fábricas de material hélico, e controlou
os niveis de preços e de lucros" Todos os fornos e
fundições foram obrigados a produzir armas, mi:ni-
ções, trilhos, blindados e máquinas. Mas logo se
esgota.ram os estoques de minério de ferro, cle m,octro
que o governo tinha que arrancar trilhos de estradas
de ferro pouco estratêgicas para fundi-los para tru-
tras necessidades.
O próprio governo sulista pôs-se a. produzir ar-
mâs e rnunições em arsena.is públicos, e criar uma
grande fábrica de pólvora em Augusta, Geôrgia, na
época a maior fábrica estatal do mundo. A rnarinha
do Sul construiu vinte estaleiros, cinco fábricas de
annas, d'*as de rnáquinas e uma ci,e pólvora, o que
possibilitou a. produçâo tJe vinte e dois barcos blin-
dados. A maior parte desta indústria estatai foi loca-
lizada na capital de Richmond, Virgínia, e no Eaixo
Sul, na Geórgia e Alabama.
Desesperado com o avanço das tropas ferlerais,