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Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e
mestre profissional em Controladoria pela mesma universidade.
Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio e grande porte como contador em áreas de Custos e
Orçamentos e foi consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP.
É também autor de materiais para ensino a distância, redige livros didáticos e atividades de apoio educacional e
instrucional, elabora avaliações e grava aulas em estúdio audiovisual, além de ser radialista e apresentador de televisão
com DRT.
148, p. il.
U502.90 – 19
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Sueli Brianezi Carvalho
Andréia Andrade
Sumário
Contabilidade
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 CAMPO DE ATUAÇÃO DA CONTABILIDADE.............................................................................................11
1.1 Esquentando os motores.....................................................................................................................11
1.2 Conceitos de contabilidade............................................................................................................... 13
1.3 A contabilidade como sistema de informação e controle.................................................... 16
2 GRUPOS DE INTERESSE NA INFORMAÇÃO CONTÁBIL...................................................................... 17
2.1 A contabilidade e as finanças empresariais................................................................................ 17
2.2 A contabilidade, a economia e o direito ..................................................................................... 20
3 O BALANÇO PATRIMONIAL........................................................................................................................... 22
3.1 Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido............................................................................................... 22
3.2 Princípios básicos de origens e aplicações de recursos......................................................... 28
3.3 Conceitos de Conta.............................................................................................................................. 33
4 BALANÇOS SUCESSIVOS: CONCEITUAÇÃO E PRÁTICA...................................................................... 34
4.1 Operações envolvendo contas de ativo, passivo e patrimônio líquido........................... 35
Unidade II
5 MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS....................................................................................................... 55
5.1 Mecanismo de débito e crédito ...................................................................................................... 55
5.2 Registros Contábeis: livro diário e livro-razão.......................................................................... 61
5.2.1 O balancete de verificação................................................................................................................... 65
6 VARIAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ...................................................................................................71
6.1 Despesas, receitas e resultado...........................................................................................................71
6.2 Apuração do resultado e transferência para o patrimônio líquido ................................. 79
6.3 Registros das operações contábeis – regime de caixa e regime de competência.................87
6.3.1 Ajustes contábeis conforme regime de competência............................................................... 88
Unidade III
7 INTRODUÇÃO À ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL...........................................................103
7.1 Ativo Circulante................................................................................................................................... 112
7.2 Ativo não circulante........................................................................................................................... 114
7.3 Passivo Circulante............................................................................................................................... 115
7.4 Passivo não circulante....................................................................................................................... 116
7.5 Patrimônio líquido.............................................................................................................................. 117
8 INTRODUÇÃO À ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO..........122
8.1 Receitas brutas.....................................................................................................................................126
8.2 Receitas líquidas..................................................................................................................................126
8.3 Lucro bruto............................................................................................................................................127
8.4 Receitas (despesas) operacionais .................................................................................................127
8.5 Resultado antes do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre
o lucro líquido..............................................................................................................................................128
8.6 Resultado líquido do exercício.......................................................................................................128
APRESENTAÇÃO
Este livro-texto propõe-se a atingir o objetivo da disciplina Contabilidade, tomando como base seu
Plano de Ensino, que é “contribuir para o desenvolvimento das competências requeridas dos alunos,
para que possam exercer o papel de contadores e de administradores, conforme definidas no Projeto
Pedagógico do Curso/PPC, em consonância com as diretrizes Curriculares Nacionais para Graduação em
Ciências Contábeis – Resolução CNE/CES nº 10/2004 e de Administração – Resolução CNE/CES nº 4/2005.
Mais especificamente, o objetivo traçado para esta disciplina é proporcionar meios ao aluno para
que conheça como são elaboradas ou “produzidas” as demonstrações financeiras e as inter-relações
e interdependências dos seus componentes, ou seja, “saber utilizar as Demonstrações Financeiras ou
Contábeis como fonte de informações de natureza econômica, financeira e patrimonial para tomada de
decisões nos processos de controle e planejamento das operações”.
É importante que antes de convidar o aluno para aprender como fazer uma leitura das demonstrações
financeiras/contábeis1, pois este é um conhecimento indispensável para a tomada de decisões no
campo das finanças empresariais, ele conheça o processo ou “a aventura” necessária para obter uma
demonstração financeira/contábil, sendo esse esforço também um auxílio para que o aluno compreenda
as informações que esses informes objetivo transmitir para a sociedade. Quanto melhor o conhecimento
em Contabilidade, melhor a compreensão das demonstrações financeiras/contábeis.
Não se trata de um livro “introdutório”, no sentido de trazer apenas uma leve e simplificada
amostra do que seja contabilidade. Muito menos existe a preocupação de esgotar o assunto e discutir
temas avançados ou casos extraordinários e complexos. Então, este livro-texto traz noções que serão
imprescindíveis para as outras disciplinas, que acrescentarão conhecimentos mais avançados em um
ambiente multidisciplinar. O Método das Partidas Dobradas, por exemplo, é imprescindível para todo o
curso. Normalmente, os professores de disciplinas mais avançadas irão considerar que o aluno já tem
conhecimento suficiente para aplicá-lo.
É importante também comentar que muitos dos termos que serão introduzidos facilitarão a
compreensão do aluno para seu desenvolvimento em disciplinas de outras áreas da Administração.
Por exemplo, o aluno que conhecer o conceito (ou a “conta contábil”) de “capital social” irá facilmente
compreender o que é uma “ação” na Bolsa de Valores. E, se esse mesmo aluno conhecer o conceito
contábil de “resultado”, terá melhores condições para entender o que é uma debênture. Ambos os
exemplos pensando-se na disciplina de Mercado de Capitais.
Para tal, elaborou-se um texto com a intenção de ter fácil compreensão, com muita teoria e prática.
1
Na legislação brasileira, em muitos momentos, os termos “demonstrações financeiras” e “demonstrações contábeis”
aparecem como sinônimos, embora tecnicamente existam demonstrações emanadas da contabilidade e de outros trabalhos
administrativos. Para este livro-texto, demonstrações financeiras/contábeis significam o conjunto de demonstrações
obrigatórias definidas nas Leis nº 6.404/1976 e 11.638/07 (de acordo com as Normas Internacionais de Contabilidade).
7
O conteúdo a ser abordado aplica-se, sem distinção, a empresas de qualquer porte e/ou ramo, e
atualmente com as normas internacionais de contabilidade em praticamente todos os países do planeta.
Neste livro-texto, houve uma preocupação em mesclar exemplos de instituições de pequeno, médio e
grande porte. Além disso, analisamos o empreendedorismo, tema fundamental para o contador.
INTRODUÇÃO
Acredito que a primeira pergunta que você deve estar fazendo não seja: “Para que estudar
contabilidade?”. Considero que, por ter escolhido um curso de Administração ou Ciências Contábeis,
você já saiba que esta é uma disciplina muito importante para a sua vida acadêmica e profissional. Você
demonstra vocação para esse tema. Imagino que a sua dúvida inicial então deva ser: “Como começar a
estudar contabilidade?”. E, talvez, se vale a pena estudar contabilidade, principalmente se você ainda não
tiver consolidado a sua vontade de ser um administrador ou contador.
Como iremos estudar a seguir, há muitos interessados na contabilidade, dada a sua importância.
Porém, nem todos veem importância na contabilidade. Imagino inclusive que muitos de seus amigos
e/ou colegas tenham criticado a sua escolha de ser um administrador e/ou um contador. E é fácil de
entender por que isso está acontecendo. No Brasil, a contabilidade estava sendo preparada, na maioria
dos casos, apenas para fins tributários. Os contadores eram vistos como uma espécie de braço do
governo, mais uma obrigação em meio a um mar de burocracia.
Essa situação era um pouco melhor no exterior, onde a profissão contava com certo glamour. Nos
Estados Unidos, por exemplo, a profissão contábil era fortemente associada ao mercado de capitais.
Mas com o avanço das telecomunicações e da tecnologia da informação, muitos perguntavam se a
contabilidade ainda teria relevância no mundo atual. Para complicar as coisas, surgiram grandes
escândalos contábeis, e os usuários da contabilidade fizeram muitas críticas sobre os seus procedimentos.
Uma mesma empresa poderia dar lucro em um país e prejuízo em outro, mudando‑se apenas as regras
contábeis.
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Nos últimos anos, os contadores entenderam que normas fortes e com validade em todo
o planeta deveriam ser implantadas. Surgiu então um esforço de harmonização contábil
internacional exigindo que, mais do que “preparadores de números”, os contadores forneçam
dados qualitativos e interpretem os negócios. Mais do que isso, além de relatar o que ocorreu
no passado, os contadores precisam relatar o que poderá ocorrer no futuro, antecipando‑se
a mudanças. Esse movimento de harmonização contábil internacional é certamente um dos
grandes projetos da humanidade. Poucas vezes uma profissão conduziu um projeto de magnitude
como esse.
Tudo isso significa que, ao escolher estudar Administração e/ou Ciências Contábeis, você certamente
optou por uma das profissões mais relevantes da atualidade; desde já, entenda que você não é um(a)
aluno(a) que está apenas recebendo conhecimento, você é um agente de mudança porque também fará
parte desse grande esforço de harmonização contábil internacional.
Nesta disciplina você estará sendo preparado para a ação, ou seja, terá contato com uma base de
conhecimento imprescindível. Ao final deste estudo, espera‑se que você tenha formado habilidades para
conhecer a contabilidade e agir em ambiente profissional.
Todo e qualquer lugar pode ser um ambiente perfeito para estudar. Mas, para estudar da melhor
forma possível, cada um tem suas individualidades e manias. Há pessoas que conseguem absorver bem
um assunto a partir de uma simples leitura. Outros não têm muita paciência para ler e preferem fazer
exercícios. Há ainda os que têm predileção por livros coloridos, preenchidos com gráficos, elementos
visuais e resumos, ou aqueles que não gostam de teorias acadêmicas e dão preferência a livros que
ilustrem exemplos práticos e, assim, retratem o cotidiano empresarial. Desse modo, quando este trabalho
foi elaborado, pensou‑se em mesclar estratégias de ensino para que ele se tornasse interessante. No
entanto, o que viria a ser um conteúdo interessante? O que seria um conteúdo chato? Essas respostas
dependem de sua postura como aluno. Por isso, a recomendação é: aproveite este livro‑texto com olhos
interessados.
É claro que você é livre para estudar da maneira que achar melhor e que acreditar ser
mais eficiente. Porém, nesse sentido, sugere‑se que, antes de qualquer atitude, seu estudo
seja iniciado pela bibliografia. Verifique livros, artigos e referências que foram utilizados na
elaboração deste livro‑texto. Em seguida, percorra as unidades, sempre fazendo as atividades
propostas.
Como estudante de educação a distância, você é um autodidata, o que significa que precisa
de disciplina e muita motivação. Contabilidade é uma disciplina que exige concentração e
assiduidade, justamente o que no mundo atual é muito difícil! Para tornar seu estudo mais
eficiente, recomendo reservar algumas horas do seu tempo exclusivamente para estudar
contabilidade, não se dedicando ao mesmo tempo a mais nada (evite atender ao telefone,
receber mensagens, conversar com os amigos nas redes sociais da internet, deixar a TV ligada
em um noticiário, estar próximo a crianças ou animais e a outras distrações).
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Para tornar seu estudo mais agradável e prazeroso, escute música clássica! Isso mesmo,
estudos internacionais têm mostrado que ela é excelente para o estudo. Ou escolha músicas
de que você goste, não necessariamente as clássicas, mas evite as que distraiam em demasia,
como o heavy metal .
Observação
Interaja sempre com os tutores, com seus colegas e com o professor nos
fóruns. Além disso, contribua com pesquisas, curiosidades e observações.
Neste livro-texto, abordaremos os aspectos básicos da contabilidade, incluindo seu histórico e grupos
de interesse das informações contábeis. Estudaremos transações que envolvem contas patrimoniais:
ativo, passivo e patrimônio líquido e a constituição do Balanço Patrimonial. Veremos o Método das
Partidas Dobradas, conhecido popularmente como débito e crédito, e também as variações do patrimônio
líquido (despesas, receitas e resultado). Por fim, estudaremos a estrutura (grupos e subgrupos) do Balanço
Patrimonial e a Demonstração de Resultados do Exercício (DRE).
Para cada uma das unidades, há perguntas para aguçar sua curiosidade. Essas perguntas estão
dispostas na seguinte figura:
Qual é a
dinâmica da
O que é contabilidade?
contabilidade?
Como os fatos
são registrados na
contabilidade?
Como interpretar
as demonstrações
financeiras/contábeis?
Vamos lá!
10
CONTABILIDADE
Unidade I
1 CAMPO DE ATUAÇÃO DA CONTABILIDADE
O que é
contabilidade?
Figura 2
Antes de responder a essa pergunta, é muito importante entender quais são as necessidades do
atual ambiente de negócios. Para isso, trago um caso pioneiro de uma empresa que está oferecendo
uma solução para a implantação dos veículos elétricos e que é um exemplo “à flor da pele” de
empreendedorismo:
O texto a seguir foi baseado no impressionante relato de Senor e Singer (2011), e a intenção
em trazer esse relato é provocá‑lo. Assim como fazemos um “aquecimento” antes de iniciar
exercícios físicos, trata‑se de uma preparação muito útil para absorver melhor os conteúdos
teóricos que nos aguardam. Há muitos anos o mundo discute a possibilidade de utilizar novas
e modernas tecnologias para substituir a dependência do petróleo que, em alguns países, é
absoluta. Atualmente, há várias tecnologias com esse objetivo, desde os combustíveis verdes
(sendo o Brasil uma referência nesse tipo de combustível, com o pioneiro programa Proálcool)
até o carro elétrico, tido por muitos como uma ótima (ou, talvez, a melhor) solução.
Porém, ocorre que a tecnologia do carro elétrico ainda é incipiente. Muitos carros
elétricos atuais são híbridos, ou seja, mistos entre as tecnologias antigas e as novas, mas
isso não resolve o problema. Os cientistas afirmam que baterias são a melhor forma de
armazenar energia, mas elas precisam de tempo para reabastecimento. Nesse sentido, o carro
a gasolina ainda é imbatível. Enquanto um carro elétrico precisa de muitas horas para ser
11
Unidade I
Ainda mais ousado do que isso, inspirado no procedimento já praticado pelas operadoras de telefonia
celular, veículos poderiam ser disponibilizados de graça aos clientes, desde que eles assinassem um
pacote de serviços. Ou seja, em vez de o cliente comprar um carro, compraria um plano de quilômetros
e receberia um carro novo.
Saiba mais
A ambiciosa ideia de Shai Agassi, que foi apoiada por ninguém menos que o estadista Shimon
Peres e, posteriormente, pelo executivo brasileiro Carlos Ghosn, é carregada de expectativas e
riscos altíssimos. Observe que um alto executivo da indústria automobilística demoliu a ideia,
recomendando veementemente que fosse abandonada. Certamente, não se trata de uma maldade
ou mesmo de um jogo de interesses; esse executivo está apoiado em dados e pesquisas que indicam
que não é um empreendimento que deve receber esforços. Porém, a ideia de tirar do papel o sonho
dos carros elétricos foi adotada por esses homens, que não são apenas ambiciosos, mas acima de
tudo teimosos.
12
CONTABILIDADE
• Qual deve ser a postura de um empreendedor como Shai Agassi ou Carlos Ghosn? Entusiasmada
ou conservadora?
• Que estrutura um administrador e um contador devem proporcionar para que possam atender às
necessidades de informação dos sócios da empresa, dos outros gestores e dos usuários externos?
Saiba mais
Agora que já estamos devidamente “aquecidos”, vamos iniciar o nosso estudo teórico sobre a
contabilidade.
A contabilidade é a ciência que desenvolveu uma metodologia que capta, registra, acumula, resume
e analisa todos os fatos econômicos e financeiros que ocorrem em uma entidade.
13
Unidade I
Que tal observar a definição de contabilidade de outro professor, por exemplo, um professor de
origem norte‑americana? O professor Michael P. Griffin (2012, p. 3‑4), que é vice‑reitor da Charlton
Business School da Massachusetts University, em Dartmouth, ensina que:
Na introdução do seu livro, o professor Griffin (2012, p. 11) ensina ainda que a contabilidade “é
a linguagem dos negócios”, sendo que exatamente a mesma frase é utilizada pelo professor Niyama
(2005), da Universidade de Brasília, um dos maiores especialistas em contabilidade internacional
no Brasil.
Observação
Em ambos, podemos ver que a contabilidade tem um campo de atuação muito amplo, podendo
ser utilizada em diversos tipos de entes, ou melhor, “entidades”. Por entidade compreendemos desde as
pessoas físicas até as instituições de Direito Público, como Estados, Municípios e União, passando por
instituições privadas, com ou sem fins lucrativos, como é o caso das fundações.
14
CONTABILIDADE
Observação
As transações ou operações que ocorrem em uma entidade são, dentre outros exemplos, compras,
vendas, pagamentos e recebimentos. Imagine uma loja de sapatos. Durante um dia rotineiro de trabalho,
essa loja certamente venderá alguns pares de sapatos, gerando a necessidade de repor os estoques. Para
isso, o gerente da loja irá emitir um pedido de compras. Quando as mercadorias chegarem e as prateleiras
forem reabastecidas, o fornecedor dos sapatos e o transportador deverão ser pagos, e os clientes terão
de pagar pelos sapatos que compraram. Para que essa loja possa funcionar adequadamente, precisará
estar limpa, iluminada e bem-decorada – significando gastos que igualmente precisam ser pagos.
Cada um dos gastos, compras e vendas recebe a denominação, no jargão contábil, de transação ou
operação contábil. Esses eventos, em geral, estão associados a documentos comprobatórios, como a
nota fiscal, a fatura, a duplicata, a nota promissória e o recibo. Captação, registro, acúmulo e resumo
das transações da entidade geram as demonstrações contábeis, das quais o nosso curso se ocupará com
o balanço patrimonial e com a demonstração de resultado do exercício.
Lembrete
Nessas duas definições de contabilidade é possível observar ainda que o processo contábil não existe
apenas para acumular dados, mas também para formar e analisar informações. Basicamente, as funções
da contabilidade são dispostas na seguinte figura:
Contabilidade
Função econômica e
Função administrativa financeira
Prestar informações
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Unidade I
Captar, acumular e
resumir transações
Tomada de decisão
O trabalho na contabilidade se inicia, conforme estudamos nesta unidade, com a captação dos
fenômenos que afetam a situação patrimonial da entidade. Para isso, costuma‑se sintetizar todo esse
trabalho em algumas atividades básicas, como captar, acumular e resumir transações.
Imagine a seguinte situação: em uma empresa que produz pranchas de surfe, o proprietário
fixou uma meta de produção para o diretor industrial e metas de vendas para os vendedores.
Durante o mês, o contador capta dados, acumula‑os e os resume, apresentando demonstrativos.
Ao receber esses demonstrativos, o proprietário (usuário interno) interpreta que o diretor industrial
teria alcançado a meta, mas não os vendedores, o que teria gerado estoques acima do previsto.
Assim, uma das decisões que podem ser tomadas é a de produzir menor quantidade de pranchas
e, talvez, de valor mais elevado.
Ainda nesse mesmo exemplo, imagine que um gerente de banco (usuário externo) observe nos
demonstrativos que o proprietário da empresa teria vendido uma maior quantidade de pranchas
16
CONTABILIDADE
a prazo. O gerente poderá, então, oferecer um serviço de cobrança mais adequado ou evitar
conceder um empréstimo a essa empresa, de acordo com as políticas do banco.
Lembrete
Vimos que Griffin (2012) citou a importância da contabilidade para as finanças empresariais
de uma forma geral. Mais especificamente, Griffin (2012, p. 137) comenta que “a contabilidade
é a matéria‑prima da análise financeira”. Não sem razão, uma vez que os dados contábeis são
fundamentais para que os analistas financeiros possam analisar os dados das empresas e tomar
decisões.
Para Matarazzo (2003), as demonstrações financeiras fornecem uma série de dados sobre a empresa,
de acordo com regras contábeis. A análise de balanço transforma esses dados em informações e será
tanto mais eficiente quanto melhores informações produzir.
A maior parte dos autores ligados à área financeira costuma dizer que o processo de análise
de balanços se inicia logo após o processo contábil. Esses processos são descritos nas figuras a
seguir:
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Unidade I
Processo contábil
Fatos
Compras Pagamentos
Vendas Recebimentos
Escrituração
Diário Razão Livros fiscais
Apuração do resultado
Lucro ou prejuízo
Demonstrações contábeis
Balanço patrimonial
Demonstração do resultado do exercício
Demonstração do fluxo de caixa
Demonstração do valor adicionado
Notas explicativas
Figura 5
Análise de balanço
Exame e padronização
Balanço patrimonial Demonstração do resultado do exercício
Índices-padrão
Cálculos e comparação
Relatório de análise
Elaboração do relatório de forma clara para determinado usuário
Figura 6
18
CONTABILIDADE
Por conta das necessidades dos analistas, era comum até alguns anos atrás a solicitação de relatórios
ad hoc para as empresas, o que de certa forma gerava problemas de confiabilidade nas próprias
demonstrações financeiras e criava mais trabalho para os contadores.
Observação
Nesse sentido, a IASB e o CPC no Pronunciamento Conceitual Básico orientam os contadores a não
mais preparar relatórios ad hoc, elaborando de forma mais atenta as próprias demonstrações financeiras
como o balanço patrimonial. Esse aspecto é muito importante para conferir maior credibilidade para o
trabalho contábil em geral.
• investidores;
• outros credores.
A seguir, citações literais do CPC (retiradas do Pronunciamento Conceitual Básico) a respeito disso:
Lembrete
Saiba mais
A contabilidade possui uma ampla gama de usuários, dentro e fora da empresa contabilizada.
Alguns autores, como Santos (2005), para fins de estudo e organização, costumam separar os
usuários da contabilidade em dois tipos:
• os usuários internos;
• os usuários externos.
Externamente, organizações e indivíduos procuram ter uma avaliação acerca da empresa, ainda que
não tenham acesso direto à sua rotina diária. Vejamos alguns usuários e sua relação com a contabilidade:
• Usuários internos:
— Gestores financeiros: analisam, por meio da contabilidade, a posição financeira expressa por
dinheiro e direitos a receber, bem como as obrigações a serem saldadas com esses recursos.
— Gestores de produção: analisam a relação entre despesas e receitas, bem como os níveis de
estoques.
20
CONTABILIDADE
— Gestores em geral: qualquer um que precise entender e analisar a história da empresa expressa
em unidades monetárias.
— Sócios: querem saber de seus haveres, do lucro a que fazem jus e do real desempenho da
empresa. Usam a contabilidade para cobrar resultados dos administradores.
• Usuários externos:
— Fornecedores: utilizam, dentre outros recursos, a contabilidade, para avaliar se o cliente terá
capacidade de pagar pelos produtos comprados a prazo.
Há ainda grupos de interesse diversos, como o governo, que usa largamente as informações contábeis
para fins de arrecadação e fiscalização de impostos, e para a formação de políticas econômicas, a partir
dos dados que as demonstrações financeiras oferecem.
Podemos citar muitos outros interessados, como funcionários, órgãos de classes, pessoas e diversas
instituições, como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o CRC (Conselho Regional de Contabilidade),
empresas concorrentes, jornalistas em busca de informações para suas matérias e muito mais.
21
Unidade I
3 O BALANÇO PATRIMONIAL
Qual é a dinâmica
de contabilidade?
Figura 7
A seguir, estudaremos o patrimônio empresarial, assunto que é descrito em muitos livros como
“estática patrimonial” e que representa o “balanço patrimonial”, uma das demonstrações financeiras que
as empresas apresentam frequentemente ao mercado.
O balanço patrimonial apresenta, do seu lado esquerdo, o ativo, ou seja, os bens e direitos da empresa;
e, do lado direito, o passivo, que são as obrigações com terceiros em geral, como fornecedores, banqueiros
e funcionários, o patrimônio líquido, e as obrigações com terceiros específicos, nas sociedades limitadas
representados pelos quotistas, e, nas sociedades anônimas, representados pelos acionistas.
No Brasil, a estrutura de um balanço patrimonial é definida na Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades
Anônimas), que foi posteriormente modificada pelas Leis nº 11.638/07 e nº 11.941/09, reconhecendo no
22
CONTABILIDADE
Quadro 1
Balanço patrimonial
Passivo
Ativo
Patrimônio líquido
Os bens materiais, corpóreos ou tangíveis são objetos que a empresa tem para uso (armários,
prateleiras, computadores, máquinas, automóveis, vitrines etc.), troca (mercadorias e dinheiro) ou
consumo (como materiais de limpeza, de expediente e de embalagem).
Observação
23
Unidade I
Já os bens imateriais, incorpóreos ou intangíveis correspondem àqueles que, por sua natureza, não
se consegue tocar. Os bens imateriais são cada vez mais importantes no patrimônio de uma empresa,
muitas vezes, assumindo valores maiores do que os dos bens físicos dos quais a empresa dispõe.
Saiba mais
Os direitos são todos os valores que a empresa tem para receber de terceiros.
24
CONTABILIDADE
O passivo significa as obrigações exigíveis da empresa, ou seja, as dívidas que serão cobradas, conforme
a data de seu vencimento. Conhecido como dívidas com terceiros em geral ou, ainda, passivo exigível.
Observação
O patrimônio líquido é considerado o capital próprio da empresa, enquanto
o ativo são as aplicações tanto do capital próprio como do capital de terceiros.
Muitas vezes, costumamos confundir a figura do proprietário (ou dos proprietários), como se ele e
a empresa fossem a mesma coisa. Por mais que um negócio seja profundamente vinculado a alguém, a
empresa tem uma personalidade jurídica, e a pessoa física tem outra completamente diferente. Assim, a
empresa “deve” recursos ao proprietário – daí dizermos que o patrimônio líquido é uma obrigação para
“terceiros em específico”.
abertura, prometer que irá depositar nela determinada quantia de dinheiro ou bens e direitos. A esse
ato dá‑se o nome de subscrição de capital, representada pela promessa de investimento feita
pelos sócios na conta capital a integralizar. Trata‑se de um direito da empresa perante os sócios,
e devido a isso se coloca a conta no ativo. O investimento ou o capital inicial dos proprietários é
representado pela conta capital social, vista no patrimônio líquido.
Quadro 7
Balanço patrimonial
Ativo Passivo
Caixa R$ 5.000,00 Fornecedores R$ 30.000,00
Banco R$15.000,00 Impostos a pagar R$ 15.000,00
Duplicatas a receber R$ 20.000,00 Salários a pagar R$ 10.000,00
Imóveis R$ 200.000,00 Empréstimos R$ 150.000,00
Veículos R$ 30.000,00
Total R$ 205.000,00
Patrimônio líquido
Capital social R$ 60.000,00
Reservas de lucros R$ 5.000,00
Total do ativo R$ 270.000,00 Total passivo + PL R$ 270.000,00
Podemos observar:
26
CONTABILIDADE
Capital de terceiros
Capital próprio
Figura 8
O patrimônio bruto ou capital à disposição da empresa é o total dos bens + direitos, isto é,
o ativo.
Iudícibus et al. (2010, p. 20) descrevem ainda uma situação mais restrita, que às vezes ocorre em
uma empresa, que é o passivo suplantar o ativo, ou o que se chama de Patrimônio Líquido Negativo e
que é conhecido popularmente como “passivo a descoberto”. Em uma situação desse tipo, a fórmula da
Equação Fundamental do Patrimônio fica:
Vamos estudar a partir de agora os principais usos da contabilidade. Já vimos nas próprias definições
de contabilidade que se trata de um conhecimento de aplicação ampla.
27
Unidade I
Todos os recursos obtidos por uma empresa passam pelo passivo ou pelo patrimônio líquido. Os
recursos são originados nos valores investidos pelos sócios ou nos valores a pagar para terceiros. O
ativo, por sua vez, evidencia todas as aplicações dos recursos obtidos em dinheiro, estoques, veículos e
máquinas, dentre outros. Todo bem ou direito (isto é, o ativo da empresa) tem uma origem, que pode ser
de terceiros ou sócios. Por meio desses conceitos, podemos entender que o total de aplicações (ativo)
será sempre igual ao total de origens (passivo + patrimônio líquido).
Por meio do balanço patrimonial a seguir, demonstram‑se o total de bens e os direitos e obrigações
da empresa:
Ativo Passivo
Dinheiro em caixa R$ 10.000,00 Fornecedores R$ 228.000,00
Banco R$ 34.200,00 Salários a pagar R$ 332.000,00
Duplicatas a receber R$ 74.200,00 Impostos a recolher R$ 122.000,00
Máquinas R$ 78.000,00 Financiamento R$ 206.000,00
Veículos R$ 42.000,00
Equipamentos de Total R$ 888.000,00
informática R$ 48.400,00
Patrimônio líquido
Imóveis R$ 341.200,00
Marca R$ 460.000,00 Capital social R$ 200.000,00
Total PL R$ 200.000,00
Total geral R$ 1.088.000,00 Total geral R$ 1.088.000,00
que a empresa tiver, melhor. Mas há casos em que o endividamento pode ser benéfico para a
empresa, alavancando as operações. Todos esses aspectos são possíveis de analisar por meio do
balanço patrimonial.
Exemplo de aplicação
29
Unidade I
Imposto de renda e
contribuição social diferidos 17.c 8.629 8.629 71.981 71.246
Imobilizado disponível para venda 9.b - - 40.585 50.427
Depósitos judiciais 18 78.053 78.109 101.431 102.011
Outros créditos e valores a receber 2.056 2.056 16.018 7.650
------------- ------------- ------------- -------------
189.772 211.975 319.836 343.188
Investimentos em controladas 8 897.311 952.689 - -
Investimentos em coligadas 8 56.229 71.400 56.229 71.400
Outros investimentos 4.634 4.710 7.675 5.257
Imobilizado 9.a 9.394 16 1.094.518 1.116.801
Intangível 10 2 2 114.015 113.888
------------- ------------- ------------- -------------
Total do ativo não circulante 1.157.342 1.240.792 1.592.273 1.650.534
------------- ------------- ------------- -------------
Total dos ativos 1.181.918 1.310.251 3.110.364 3.371.430
======== ======== ======== ========
Saiba mais
<http://www.mzweb.com.br/coteminas/web/download_arquivos.
asp?id_arquivo=79794FCA-609E-4C06-B94E-A0DCE4F04536>.
Observe que os ativos da Cia. Coteminas somaram três bilhões, cento e dez milhões de reais em 2012,
e um pouco mais do que isso em 2011: três bilhões, trezentos e setenta e um milhões de reais. Muito,
não é mesmo? Todo esse dinheiro está à disposição dessa empresa, seja pagando contas e salários, seja
na forma de máquinas, equipamentos e investimentos em outras empresas.
Como veremos posteriormente com mais detalhes, de todo esse dinheiro, a Coteminas tinha, “no
cofre”, ou seja, à disposição “para gastar” ou para “giro de caixa”, cento e quarenta e seis milhões de reais
(observe a conta contábil “caixa e equivalentes de caixa”).
30
CONTABILIDADE
Observação
Mas... e de onde veio todo esse dinheiro? Para responder a essa pergunta, precisamos buscar o
passivo da Coteminas, que será demonstrado a seguir:
31
Unidade I
32
CONTABILIDADE
Essa distribuição de capitais também é denominada nas finanças como estrutura de capital e é
um aspecto muito observado pelos analistas financeiros, que, não raramente, consideram o fato de a
empresa ter mais capital próprio do que de terceiros, algo confortável, embora nem sempre isso seja
uma realidade.
Não deixe de observar ainda que os valores do ativo da Coteminas são idênticos aos valores
do passivo. Para o ano de 2012, tanto o ativo como o passivo estão [corretamente] com o valor
de R$ 3.110.364,00, ou seja, não há nem um real de diferença! Isso é a Equação Fundamental do
Patrimônio (Ativo + Passivo = Patrimônio Líquido).
Importante
O balanço patrimonial da Cia. Coteminas foi utilizado para fins estritamente pedagógicos, em
ambiente universitário. A escolha ou o uso dessa empresa não deve jamais ser interpretado como
sugestão do professor de consumo de produtos ou realização de investimentos.
Os valores constantes na contabilidade de uma empresa são dispostos em contas contábeis, ou seja,
a representação gráfica dos elementos patrimoniais (bens, direitos e obrigações), denominações que
resumem uma categoria de elementos patrimoniais ou ligados ao resultado. Por exemplo: imaginemos
que uma empresa tenha em seu patrimônio veículos para vendedores, motocicletas, lanchas para
transporte marítimo e caminhões para entregas aos clientes e para transporte de mercadorias em geral.
O contador pode sintetizar todos esses elementos em uma só categoria (conta contábil), denominada
Veículos ou Veículos Automotores.
Segundo Iudícibus et al. (2010, p. 38) “o importante é que em cada conta se mantenha o registro
da história da movimentação do componente do ativo, do passivo ou do patrimônio líquido a que se
refere” e “utilizam‑se contas separadas para representar cada tipo de elemento do Ativo, do Passivo e
do Patrimônio Líquido”.
As diversas contas contábeis de uma empresa são dispostas de forma agrupada e ordenada em um
plano de contas, um trabalho personalizado para cada empresa e definido pelo contador de acordo com
as especificidades do negócio.
Lembrete
33
Unidade I
Para a formulação de um plano de contas, cada contador seguia o seu bom senso e os usos e
costumes ao elaborar as denominações das contas contábeis. Mais recentemente, de acordo com
o Pronunciamento Conceitual Básico, entendeu‑se que os contadores devem também observar as
denominações que são utilizadas no ramo de negócios onde a empresa está presente e reproduzir
essas denominações no Plano de Contas. Assim, os usuários externos terão maior facilidade para
analisar dados de empresas de um mesmo ramo.
a) Contas patrimoniais
b) Contas de resultado
As contas patrimoniais expressam os elementos do balanço patrimonial, que são mantidos a cada
exercício social.
As contas de resultado representam as despesas e receitas e são zeradas e/ou anuladas a cada
exercício social, com a apuração do resultado do exercício.
Para bem entender a dinâmica contábil iremos agora acompanhar uma sequência de situações
(fatos contábeis) que acontecem em uma empresa fictícia, para fins de exemplo. A cada nova sequência,
iremos observar quais são as modificações nas demonstrações contábeis dessa empresa. Trata‑se de
uma técnica muito eficiente para estudar contabilidade.
No entanto, é importante esclarecer de antemão que essa rotina não é usual nos escritórios
contábeis. Normalmente, os fatos são registrados isoladamente, e o Balanço Patrimonial e a
DRE são apurados periodicamente. Essa apuração é chamada de “fechamento contábil” ou
“corte contábil”.
Lembrete
34
CONTABILIDADE
Saiba mais
b) imaginar que se trata de uma situação real, em que você precisa de fato apresentar uma solução;
Observação
Vamos lá:
Este é um processo de estudo que se baseia no fato de que, após a realização de uma operação,
é apurado um balanço patrimonial. Após outra operação, será feito um novo balanço patrimonial
partindo‑se do anterior, e assim sucessivamente.
Esse processo não é o usual nos escritórios contábeis, em que se apura periodicamente um balanço
patrimonial, e essa apuração é chamada de fechamento. Como normalmente são muitas operações, não
é possível apurar um balanço patrimonial após cada operação; no entanto, trata‑se de um poderoso
processo para se estudar contabilidade.
Uma orientação para estudar eficientemente contabilidade (neste exercício e em qualquer outro) é
imaginar que a situação proposta é real. Assim, resolva os exercícios passo a passo, como se estivesse
trabalhando de verdade.
35
Unidade I
1. Vários empresários fundam uma Sociedade Anônima denominada Alef, subscrevendo um capital
social de R$ 1.000,00.
Saiba mais
Abrir uma nova empresa é um dos atos mais importantes, devendo ser
devidamente registrado nos órgãos públicos do município, do estado e
do país.
Observação
5. Compra de prédio por R$ 10.000,00 para abrigar a sede da empresa, sendo R$ 500,00 à vista e o
restante a crédito.
1. Vários empresários fundam uma Sociedade Anônima denominada Alef, subscrevendo um capital
social de R$ 1.000,00.
A subscrição de capital representa a promessa do investimento feito pelos sócios e será representada
pela conta capital a integralizar. Isso é um direito da empresa perante os sócios, e devido a isso a
conta é colocada no ativo.
36
CONTABILIDADE
O investimento dos proprietários é representado pela conta capital social, a ser representada no
patrimônio líquido.
Quadro 12
Patrimônio líquido
Capital social R$ 1.000,00
Capital a integralizar R$ (1.000,00)
Ativo R$ 0,00 Passivo+PL R$ 0,00
Observa‑se que o capital da empresa foi integralizado na forma de espécie monetária. Devido ao
fato de a conta caixa ser um bem, e todo bem ser ativo, será zerada a conta capital a integralizar
e surgirá a conta caixa (um bem monetário – ativo).
Neste momento, elabora‑se o balanço patrimonial nº 1 por meio de seus dados. A integralização
significa que os sócios pagaram à empresa o que lhe deviam, desfazendo a conta capital a integralizar.
Como a integralização foi em dinheiro, a conta que representará será o caixa. Observa‑se que o
capital social continua sem modificações.
Quadro 13
Ativo Passivo
Caixa R$ 1.000,00
Patrimônio líquido
Capital social R$ 1.000,00
37
Unidade I
Quadro 14
Nesta operação, a empresa compra outro bem, gera um aumento de ativo (conta: veículos) e,
por ter sido a prazo, gera uma dívida no passivo (duplicatas a pagar). As demais contas não
se alteram.
Quadro 15
38
CONTABILIDADE
5. Compra de prédio por R$ 10.000,00 para abrigar a sede da empresa, sendo R$ 500,00 à vista e o
restante a crédito.
Nesta operação, a empresa ampliou seu ativo, por meio da compra de um imóvel, sendo pagos
R$ 500,00 à vista; o restante gera uma ampliação nas dívidas da empresa, e reduziu‑se a conta
caixa em R$ 500,00. Pelo pagamento da parte à vista, criam‑se a conta imóveis, no valor de
R$ 10.000,00, e, no passivo, a conta notas promissórias a pagar, para representar a parcela
de compra do imóvel feita a prazo. As demais contas não se alteram.
Quadro 16
3. Compra de peças para reparo, nas seguintes condições: R$ 1.000,00 à vista e R$ 2.000,00 a prazo.
39
Unidade I
Observa‑se que o capital da empresa foi integralizado na forma de espécie monetária, porque a
conta caixa é um bem, e todo bem é ativo (um bem monetário – ativo).
Neste momento inicial, elabora‑se o balanço patrimonial por meio dos dados do contrato social da
empresa. Como a integralização foi, no ato do início da empresa, em espécie monetária (isto é, em
dinheiro), a conta que representará será o caixa. Observa‑se que o capital social será demonstrado
pelo valor total que foi aplicado no ativo.
Quadro 17
Ativo Passivo
Caixa R$ 20.000,00
Patrimônio líquido
40
CONTABILIDADE
Quadro 18
Patrimônio líquido
3. Compra de peças para reparo, nas seguintes condições: R$ 1.000,00 à vista e R$ 2.000,00 a prazo.
Quadro 19
Ativo Passivo
Caixa R$ 15.000,00 Fornecedores R$ 2.000,00
Mercadorias R$ 3.000,00
Patrimônio líquido
Móveis e utensílios R$ 4.000,00 Capital social R$ 20.000,00
Partindo do balanço patrimonial anterior, teremos de representar agora a venda de peças para
reparos ao preço de custo. Isso diminuirá a conta peças para reparos no valor de R$ 1.000,00,
41
Unidade I
e surgirá uma nova conta no ativo – clientes –, que representa o valor a receber dos clientes,
R$ 1.000,00. Por esta venda ser ao preço de custo, não houve lucro nem prejuízo. As demais
contas do balanço patrimonial não se alteram.
Nesta operação, utiliza‑se uma nova conta contábil. O contador, no início das operações da
empresa, estabelece as principais contas contábeis da empresa no plano de contas, realizando um
estudo das prováveis operações em que a empresa irá se envolver.
Lembrete
Quadro 20
Clientes R$ 1.000,00
Mercadorias R$ 2.000,00
Patrimônio líquido
Capital social R$ 20.000,00
42
CONTABILIDADE
Quadro 21
Quadro 22
43
Unidade I
R$ 10.000,00, e gerando um aumento das obrigações da empresa para com terceiros, a conta nota
promissória a pagar no passivo no valor de R$ 10.000,00. As demais contas não se alteram.
Quadro 23
Quadro 24
Patrimônio líquido
Equipamentos R$ 4.000,00 Capital social R$ 30.000,00
Veículos R$ 1.200,00
44
CONTABILIDADE
Observação
Quadro 25
Ativo Passivo
Caixa R$ 19.200,00 Fornecedores R$ 1.000,00
Banco R$ 10.000,00 Duplicatas a pagar R$ 1.200 ,00
Clientes R$ 1.000,00 Nota promissória a pagar R$ 10.000,00
Peças para reparos R$ 6.800,00
Equipamentos R$ 4.000,00
Patrimônio líquido
Veículos R$ 1.200,00
Capital social R$ 30.000,00
Partindo do balanço patrimonial 9/10, teremos de representar agora o recebimento das vendas
do item 4. Como o recebimento foi feito por meio do cheque, irá aumentar a conta banco
no ativo e zerar a conta clientes. As demais contas do balanço patrimonial não se alteram.
45
Unidade I
Quadro 26
Saiba mais
O endereço é: <www.cpc.org.br>.
Exemplo de aplicação
A seguir, propõe-se uma atividade para trabalharmos alguns dos pontos que estudamos nesta
unidade:
Exercício:
46
CONTABILIDADE
Mallu Magalhães é uma cantora que começou sua carreira por meio da internet. Quando aconteceu
sua festa de debutante, Mallu pediu aos seus avós que dessem o valor que gastariam com a festa
de debutante e eventuais presentes em dinheiro. Com esse dinheiro, ela foi a um estúdio e gravou
algumas músicas, que foram postadas na internet, “para ver no que dava”. Por sorte, ou pelo fato de
pessoas que sabem reconhecer um talento iniciante terem ouvido suas músicas, Mallu teve a felicidade
de experimentar um crescimento meteórico em sua carreira. Hoje é uma artista que se apresenta
constantemente na MTV.
Com base nessa interessante história, proponho a você um exercício inspirado nesse caso da Mallu
Magalhães. Tente fazer esse exercício sem a ajuda de ninguém.
Outra dica: O lado do débito deve sempre bater com o lado do crédito. Se isso não ocorrer, estará
errado.
Vamos ao exercício:
Após obter um pequeno capital com seus pais, a roqueira Andressa Lee, fã incondicional de Rita Lee,
foi aconselhada a abrir uma empresa e tomou as primeiras decisões de sua carreira. Essas decisões foram
as seguintes:
1. Investimento inicial de capital no valor de R$ 40.000,00 em dinheiro, sendo que o valor total foi
depositado em conta‑corrente do Banco Exempel S.A.
3. Compra de uma máquina de costura (para ela mesma costurar seu figurino) por R$ 6.000,00.
Pagamento de R$ 3.000,00 à vista e R$ 3.000,00 a prazo.
4. Compra de um fusca conversível usado em bom estado e customizado com grafismos de rock.
Pagamento a prazo no valor de R$ 18.000,00.
7. Venda da guitarra adquirida na operação 2 a uma amiga. Transação feita a prazo e pelo mesmo
valor que foi adquirida.
Comentários
1. Investimento inicial de capital no valor de R$ 40.000,00 em dinheiro, sendo que o valor total foi
depositado em conta‑corrente do Banco Exempel S.A.
47
Unidade I
Quadro 27
Patrimônio líquido
Capital social R$ 40.000,00
Nessa primeira operação, que é o início da pequena empresa de Andressa Lee, abriu‑se o
capital social (patrimônio líquido) que, por sua vez, foi depositado em uma conta bancária no
ativo.
Quadro 28
Andressa Lee resolveu comprar uma guitarra, ou seja, um ativo para sua empresa. O contador então
abriu uma conta contábil denominada “instrumentos musicais”. Observe que, por causa do valor ter
saído da conta bancária, diminuiu‑se R$ 4.000,00 na conta bancos, e, ao todo a empresa continua a ter
R$ 40.000,00 em seu ativo.
3. Compra de uma máquina de costura (para ela mesma costurar seu figurino) por R$ 6.000,00.
Pagamento de R$ 3.000,00 à vista e R$ 3.000,00 a prazo.
48
CONTABILIDADE
Quadro 29
Agora, Andressa Lee resolveu comprar um outro bem que julga ser importante para o seu
trabalho: uma máquina de costura. O contador efetuou exatamente o mesmo procedimento que
fez na operação 2, mas como se trata de um bem com uma natureza diferente, o contador abriu
uma conta contábil denominada móveis e utensílios.
Observe, ainda, que parte dessa máquina foi comprada a prazo. Por isso, o contador abriu uma conta
contábil no lado direito do balanço patrimonial, no passivo, que representa essa dívida.
4. Compra de um fusca conversível usado em bom estado e customizado com grafismos de rock.
Pagamento a prazo no valor de R$ 18.000,00.
Quadro 30
Andressa Lee resolveu comprar um outro bem que julga ser importante para sua atividade, e
optou por uma compra a prazo. Observe que o valor na conta bancária continua intacto, e o que
houve foi um aumento na dívida. Numa situação dessas, a empresária está utilizando recursos
(dinheiro) de terceiros.
49
Unidade I
Quadro 31
Agora, Andressa Lee resolveu pagar uma das dívidas que contraiu nas operações anteriores.
Observe que diminuíram ao mesmo tempo os saldos das contas de fornecedores e de bancos
conta movimento.
Quadro 32
Andressa Lee, provavelmente pensando em obter dinheiro para realizar algum negócio,
decidiu contrair um empréstimo no banco. Observe que ela preferiu não utilizar o saldo que
tinha na conta de bancos conta movimento, porque sabe que irá utilizar o dinheiro para
outras finalidades. Assim, aumentou‑se o passivo e, com isso, o ativo (conta bancos conta
movimento).
50
CONTABILIDADE
7. Venda da guitarra adquirida na operação 2 a uma amiga. Transação feita a prazo e pelo mesmo
valor que foi adquirida.
Quadro 33
Nesta última operação do nosso exercício, ao que parece, Andressa Lee resolveu fazer um negócio
mais sentimental, sem a intenção de ganhar dinheiro. Vendeu a sua guitarra pink para uma amiga, mas
ainda não recebeu o dinheiro.
O contador então encerrou a conta de instrumentos musicais, porque a empresa deixou de ter uma
guitarra, e abriu uma conta de “direitos a receber”, ou seja, o valor que a empresa da Andressa Lee terá
a receber de sua amiga.
O fundamental nesse exercício é entender que a empresa não é a Andressa Lee, pois tem uma
personalidade jurídica própria, apesar de ser administrada pela Srta. Andressa Lee. Neste momento,
podemos dizer que a empresa tem um patrimônio de R$ 89.500,00, sendo R$ 40.000,00 de capital
próprio e R$ 49.500,00 de capital de terceiros. Esse capital foi aplicado em recursos financeiros (dinheiro),
uma máquina de costura, um veículo e ainda há direitos a receber.
Resumo
51
Unidade I
52
CONTABILIDADE
Se você ainda não estiver confortável para responder, nem que seja
minimamente, a essa pergunta, não hesite em voltar e ler esta unidade
mais uma ou quantas vezes for necessário. E não tenha ansiedade; estudar
contabilidade é um caminhar, em que cada vez mais conhecimentos serão
agregados a essa base conceitual que acabamos de estudar.
Exercícios
Questão 1 (Enade 2009). Para o exercício da profissão contábil, é necessário observar o Código de
Ética, cujo objetivo é fixar a forma pela qual se devem conduzir os contabilistas.
A) Assinar os balanços de uma empresa, elaborados por profissional não habilitado, sem orientar,
sem supervisionar e sem fiscalizar sua preparação.
B) Emitir parecer favorável de auditoria a uma empresa, sem a realização de testes suficientes para
fundamentar a sua opinião.
C) Propor honorários aviltantes para clientes de outros escritórios, a fim de aumentar a receita
que recebe.
D) Publicar, no sítio do seu escritório de contabilidade, artigo técnico, sem citar a fonte consultada.
E) Renunciar às suas funções ao perceber a ocorrência de desconfiança por parte de seu cliente,
sem prejudicá-lo.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: os atos indicados nessa alternativa revelam atitude bastante negativa e não
profissional. Os demonstrativos podem apresentar uma série de impropriedades e, eventualmente,
fraudes e dados irregulares.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: trata-se de atitude que não vai ao encontro da boa conduta e do profissionalismo
exigidos em um processo de auditoria.
53
Unidade I
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: trata-se de um procedimento condenável. O escritório deve procurar obter meios que
permitam a realização de seus serviços de forma eficiente, com a redução de custos desnecessários,
por exemplo.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: essa prática é condenável e sujeita o profissional e a empresa a multas e penas judiciais.
E) Alternativa correta.
Justificativa: é o que deverá ocorrer se não for possível o cumprimento da tarefa sob sua
responsabilidade, de forma lícita e ética.
A) Permanente imobilizado.
B) Circulante.
C) Permanente diferido.
E) Permanente investimento.
54