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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA

NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO - UEMAnet


UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UAB
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

MUSICALIZAÇÃO NO ENSINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO

Ivaldo Guimarães Torreão Júnior


Os matérias produzidos para os cursos ofertados pelo UEMAnet/UEMA para o Sistema Universidade Aberta do Brasil -
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a obra ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins não comerciais, que seja
atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

Reitor Professor Conteudista


Gustavo Pereira da Costa Ivaldo Guimarães Torreão Júnior
Vice-Reitor Revisão de Linguagem
Walter Canales Sant´ana Lucirene Ferreira Lopes
Pró-Reitora de Graduação Designer de Linguagem
Zafira da Silva de Almeida Clécia Assunção Silva
Núcleo de Tecnologias para Educação
Designer Pedagógico
Ilka Márcia Ribeiro S. Serra - Coordenadora Geral
Paulo Henrique Oliveira Cunha
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Projeto Gráfico e Diagramação
Ilka Márcia R. S. Serra - Coord. Geral
Tonho Lemos Martins
Lourdes Maria P. Mota - Coord. Adjunta | Coord. de Curso
Capa
Coordenação do Designer Educacional
Yuri Almeida
Cristiane Peixoto - Coord. Administrativa
Maria das Graças Neri Ferreira - Coord. Pedagógica

Torreão Júnior, Ivaldo Guimarães


Musicalização no Ensino Fundamental e Médio
[e-Book]. / Ivaldo Guimarães Torreão Júnior. – São Luís:
UEMA; UEMAnet, 2019.
42 p.
ISBN:
1. Musicalização. 2. Conteúdos. 3. Métodos. 4.
Abordagens. 5. Criança. 6. Adolescente. I. Título.
CDU: 78:373.3/.5
APRESENTAÇÃO

Caro (a) estudante,

I
niciamos este estudo nos fazendo a seguinte pergunta: O que deve ser ensinado na escola
de educação básica para musicalizar o educando? Essa pergunta aponta a direção de nosso
estudo e promove reflexões necessárias para o entendimento do trabalho de musicalização.
Precisaremos estudar um pouco do que nos diz a legislação sobre o assunto. Neste e-Book,
não trataremos de forma aprofundada a respeito dos aspectos legislativos, faremos um
breve recorte, a fim de facilitar o trabalho do licenciando no que diz respeito à elaboração
dos planos de aula dos momentos de musicalização na escola.
A falta de uma legislação mais específica com relação aos conteúdos deixava uma lacuna na
elaboração das atividades do ensino de música na escola de educação básica chancelado
pela LDB. Entretanto, em 2018, foi elaborado um importante documento, fundamentado na
BNCC, que norteia a distribuição dos conteúdos e atividades de música ao longo dos anos
do ensino básico. Assim, apreciaremos na Unidade 1, Musicalização e o seu planejamento –
um breve, mas suficiente, conteúdo que tornará menos volumoso o trabalho da elaboração
das atividades de musicalização.
Além de entender os conteúdos, o licenciando precisa acervar-se do conhecimento a respeito
dos principais métodos, práticas e técnicas de ensino musical, dirigidos a alunos dos vários
ciclos do Ensino Fundamental e Médio. Tal cabedal, associado ao conhecimento do que a
legislação orienta a ser ensinado, tem o objetivo de dotar o professor de música da necessária
habilidade para o trabalho em sala de aula com os alunos da escola de educação básica.
Em outras palavras, é o como fazer. Essa abordagem será feita na Unidade 2, Conteúdos,
métodos e abordagens musicalizadoras – aqui apreciaremos tópicos importantes a respeito
de alguns dos principais métodos musicalizadores, os chamados Métodos Ativos.
Na Unidade 3, A musicalização na formação da criança e do adolescente - refletiremos sobre
preferência musical, onde ela se origina, em que momento o sujeito tende a se afastar dessa
origem e como evitar este afastamento. Estudaremos a importância da apreciação musical
para a ampliação do repertório, que deve ser o mais universal possível, devendo contemplar
também a música da cultura própria do aluno. Veremos a influência da musicalização na
formação da criança e do adolescente. Estudaremos ainda a respeito da fruição. E para
tanto, refletiremos sobre novas propostas musicalizadoras.
Você verá que a reflexão sobre o que usar para musicalizar, perpassa por todas as Unidades. Essa
constante visa promover o entendimento a respeito de como compor o conteúdo da musicalização.
Bons estudos!
SUMÁRIO

UNIDADE 1
MUSICALIZAÇÃO E SEU PLANEJAMENTO............................................... 6

1.1 A BNCC e o Documento Curricular do Território Maranhense............... 7


1.2 O Organizador Curricular....................................................................... 8
1.3 Musicalização e o Plano de Aula........................................................... 13
Referências............................................................................................ 17

UNIDADE 2
CONTEÚDOS, MÉTODOS E ABORDAGENS MUSICALIZADORAS.......... 18

2.1 Musicalização e seu conteúdo............................................................... 18


2.2 Síntese dos Métodos ativos................................................................... 20
2.3 Música e movimento: o passo, um método brasileiro............................ 24
2.4 Musicalização e autonomia.................................................................... 27
Referências............................................................................................ 28

UNIDADE 3
A MUSICAIZAÇÃO NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 30

3.1 Musicalização e preferência musical..................................................... 30


3.2 Musicalização e cultura na escola.......................................................... 31
3.3 Outras Propostas Musicalizadoras......................................................... 33
3.4 A música na formação da criança e adolescente................................... 35
3.5 Musicalização e os processos de fruição e criação musical.................. 38
Referências............................................................................................ 42

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio


1
UNIDADE
MUSICALIZAÇÃO E SEU
PLANEJAMENTO

OBJETIVOS:

Reconhecer as possibilidades de musicalização contidas na BNCC e DOCTEMA;


Realizar o diagnóstico musical;
Elaborar planos de aula, contemplando musicalização para as diversas
etapas do Ensino Fundamental e Médio a partir do Organizador Curricular.

C
omo ponto de partida para esta disciplina, a legislação oferece subsídios
elementares para o planejamento didático de aulas de Música na
Educação Básica. A elaboração de atividades instigadoras e que ao
mesmo tempo estejam de acordo com a legislação educacional atual requer do
docente, além de criatividade (atributo indispensável ao professor de música),
conhecer os recursos pedagógicos dos quais pode lançar mão para planejar
sua atuação em sala de aula. Assim, é recomendável, que além de ter contato
com um ou mais métodos de musicalização, que comprovadamente apresentem
eficácia em sua aplicação, o licenciado em música aprecie os documentos da
legislação em vigor, relacionados ao ensino de música. Esta apreciação não
pretende e nem deve limitar as propostas do professor a esta ou aquela lista de
atividades, pois o docente possui liberdade para propor novas atividades, desde
que atendam às ementas curriculares e aos objetivos propostos.
Sem pretensão de encerrar uma lista, podemos citar alguns exemplos de
documentos que devem ser apreciados pelo professor: a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394), a Lei nº 11.769; a Lei nº
13.278; o Plano Nacional de Educação (PNE); os PCN’s; a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) e o Documento Curricular do Território Maranhense.
Os dois últimos, bem como a elaboração do plano de aula, constituem nosso
objeto de estudo nesta Unidade.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 6


1.1 A BNCC e o Documento Curricular do Território Maranhense

Buscar subsídios para a elaboração de atividades musicalizadoras a partir da


legislação vigente não é tarefa fácil, dada à densidade dos documentos que
exigem um processo minucioso de análise e síntese.
Contudo, tomando por base a BNCC, a Secretaria de Estado da Educação
do Maranhão (SEDUC-MA), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação do Maranhão (UNDIME-MA), a União Nacional dos Conselhos
Municipais de Educação do Maranhão (UNCME-MA) e o Conselho Estadual de
Educação do Maranhão (CEE-MA) realizaram uma extensa ação colaborativa
para a construção de um referencial para a elaboração e reelaboração dos
Projetos Políticos-Pedagógicos (PPP), bem como de planos de aula, das
escolas integrantes das redes públicas e privadas no Maranhão. Trata-se do
Documento Curricular do Território Maranhense (DOCTEMA)1, que para a
alegria da comunidade musical acadêmica, aponta que “os objetivos do ensino
de música na escola precisam ser musicais” (MARANHÃO, 2019, p. 192). O
documento destaca ainda que:
Percepção, experimentação, criação, im-
provisação, leitura, interpretação, arranjos,
reflexões e identidade são pontos a serem
levados em consideração no planejamento ela-
borado pelo professor de música, ou seja, a exi-
gência de uma graduação específica é essen-
cial para alcançar os objetivos propostos. (Ibid.,
192, grifo nosso).

É importante que os termos em destaques na citação estejam refletidos e


presentes no trabalho do professor de música atuante na educação básica. Dito
isto, apreciaremos no próximo tópico os aspectos, compilados pelo DOCTEMA,
de maior relevância para os objetivos da disciplina musicalização. Não se
intenciona aqui dissecar o documento, estudaremos um dos seus principais
destaques, o Organizador Curricular.

__________________
1
Sigla não oficial, cunhada apenas para referenciar o documento neste e-Book.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 7


www

Sugiro baixar o documento da BNCC. Disponível em: http://


basenacionalcomum.mec.gov.br/, assim como o Documento
Curricular do Território Maranhense. Disponível em: http://www.
educacao.ma.gov.br/conheca-o-documento-curricular-do-
territorio-maranhense-para-educacao-infantil-e-ensino-
fundamental/. Os dois arquivos também estão disponíveis no
material da disciplina.

1.2 O Organizador Curricular

Trata-se de uma planilha que, para o componente “Arte”, apresenta quatro co-
lunas: Linguagem artística; Objetos de conhecimento; Habilidades; e Atividades
sugeridas. As três primeiras estão previstas na BNCC e fazem parte de sua es-
trutura geral (BRASIL, 2017, p. 23) para as três etapas da Educação Básica e
dizem respeito a:
• Linguagem artística: Linguagem (uma das cinco áreas do conhecimento
definidas na BNCC); e Arte (uma das quatro linguagens definidas dentro da
área de conhecimento Linguagens);
• Objetos de conhecimento: reúne os conceitos, conteúdos e processos tratados
nas habilidades de cada linguagem;
• Habilidades: são os objetivos/aprendizagens que espera-se atingir em cada
objeto de conhecimento, disciplina e ano. Podemos enxergá-las como os
objetivos de cada objeto de conhecimento. Por exemplo, para os primeiros
cinco anos do Ensino Fundamental temos a habilidade “(EF15AR16) Explorar
diferentes formas de registro musical não convencional...” ligada ao objeto
de conhecimento “Notação e registro musical”. Convém a apreciação da
explicação do código acima na Figura 1 a seguir.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 8


Figura 1 - Explicação do código das habilidades

Fonte: BNCC – Adaptada pelo Autor (2019).

A quarta coluna apresentada no Organizador Curricular do DOCTEMA,


“Atividades Sugeridas”, não consta na BNCC e, como o próprio nome indica,
apresenta um conjunto de atividades sugeridas para cada conjunto de
Habilidades de cada Objeto de Conhecimento.
A diversidade de atividades relacionadas na coluna “Atividades Sugeridas”
promove uma reflexão e ao mesmo tempo responde uma das perguntas
norteadoras sugeridas na apresentação deste e-Book: o que deve ser ensinado
na escola de educação básica para musicalizar o educando? De acordo com o
acervo de atividades relacionadas na coluna mencionada podemos responder
com tranquilidade que todo o conteúdo relacionado à música pode fazer parte
dos processos de musicalização no Ensino Fundamental e Médio.
Entretanto, há de se considerar dois aspectos. O primeiro é em que nível cada
assunto será abordado e o segundo é com relação à vivência musical escolar
anterior. Esta última em função de que a musicalização na escola de educação
básica é ainda incipiente. Ou seja, atualmente não está curricularmente garantido
que ao chegar a uma turma do 7º ano do Ensino Fundamental, o professor de
música encontre-a apta para iniciar a leitura e escrita musical, uma vez que no
ano anterior (6º ano) a turma deveria ter trabalhado os elementos da notação
musical convencional prevista no Objeto de Conhecimento “Notação e registro
musical”, como preconiza o DOCTEMA. Esta condição ainda não é a realidade
do ensino de música no Brasil. Contudo, é possível que alguma escola esteja
trabalhando com este ou outro currículo cujo ensino de música esteja organizado.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 9


É importante compreender que o conteúdo apresentado no Organizador
Curricular proposto pelo DOCTEMA, parte de um pressuposto de que deve ser
aplicado sistematicamente desde o 1º ano do Ensino Fundamental, seguindo
uma sequência lógica de desenvolvimento e complexidade de temas. Conforme
o próprio nome sugere, a aplicação do Organizador Curricular pressupõe uma
ordem sequencial na inserção das Atividades Sugeridas.
Não obstante, o professor de música pode beneficiar-se do Organizador Curricular
para preparar suas aulas, ainda que num contexto onde os alunos não tenham
sido expostos a uma sequência curricular de musicalização. Pois o conteúdo
apresentado é vasto. E assim sendo, uma vez diagnosticado o nível musical em
que a turma se encontra, o professor terá ao seu dispor uma generosa lista de
possibilidades de atividades musicais para preparar o seu plano de aula.

É importante observar que, apesar do Organizador Curricular


propor uma solução para o preenchimento de uma lacuna referente
ao conteúdo curricular do ensino de música na educação básica,
o professor pode utilizá-lo para programar suas propostas em
contextos de sala de aula em que os alunos ainda não estejam
em um programa curricular de ensino musical. Observando, é
claro, o diagnóstico musical da turma.

As atividades sugeridas no organizador curricular estão distribuídas de acordo


com oito Objetos de Conhecimento, a saber: Contextos e práticas; Elementos
da linguagem; Materialidades; Notação e registro musical; Processos de criação;
Patrimônio cultural; Matrizes estéticas culturais; e Arte e tecnologia.
Observa-se que a BNCC apresenta cinco objetos de conhecimento e o
DOCTEMA acrescentou mais três itens, conforme mostrado, a seguir, no
Quadro1, comparativo dos objetos de conhecimento.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 10


Quadro1 – Comparativo dos Objetos de Conhecimento
BNCC DOCTEMA
Contextos e práticas Contextos e práticas
Elementos da linguagem Elementos da linguagem
Materialidades Materialidades
Notação e registro musical Notação e registro musical
Processos de criação Processos de criação
Patrimônio cultural
Matrizes estéticas culturais
Arte e tecnologia
Fonte: Elaborado pelo Autor (2019).

O Quadro1 revela a importância do trabalho realizado no DOCTEMA. A


ampliação dos Objetos de Conhecimento contempla aspectos importantes da
cultura regional e da tecnologia voltada ao ensino de arte na educação básica.
Engloba-se neste último a tecnologia digital aplicada à música, inclusive os mais
variados softwares de produção musical que podem e devem ser utilizados no
contexto da musicalização. Assim, o professor de música dispõe de um grande
leque de possibilidades na coluna “atividades sugeridas”, para subsidiar a
elaboração de seus planos e consequentemente sua atuação em sala de aula.
A ideia é que o professor realize o diagnóstico musical da turma e consulte o
“Organizador Curricular”, para então propor as atividades de acordo com o ano,
nível e sequenciamento do conhecimento musical.

O diagnóstico musical da turma pode ser feito por meio do


planilhamento de informações colhidas pelo professor. Exemplo:
para uma turma do 2º ano, em que o ensino de música ainda não
esteja sistematizado, o professor pode relacionar em uma planilha as
habilidades musicais que os alunos deveriam ter adquirido no 1º ano
e marcar um Sim ou Não para cada aluno e avaliar qual abordagem
aplicar a partir do resultado. Veja que no exemplo, a seguir, a turma não
permite uma abordagem curricularmente sequencial.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 11


Tabela 1 – Diagnóstico musical
Alunos Total
Conteúdo Competência
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 S N
Reconhece os extremos de
S N N S N N N N N S 3 7
grave e agudo?
Altura Identifica graves e agudos
no corpo (peito, palma S N N N N N N N N N 1 9
aberta e concha)?

Timbre: Percebe Violão aço e Violão Nylon S S N N N S S S N N 5 5


a diferença entre
Guitarra e Baixo S S N N N S N S N S 5 5
os seguintes
instrumentos? Cavaquinho e Bandolim S N N N N N N N N N 1 9
Fonte: Elaborada pelo Autor (2019).

O “Organizador Curricular” apresenta sugestões para as etapas do 1º ao 9º ano


do Ensino Fundamental. Desta forma, cabe a seguinte pergunta, como ficam
as atividades de musicalização para o Ensino Médio? Para essa etapa a BNCC
prevê, através da progressão das aprendizagens, um aprofundamento dos
processos de criação nas:
[...] linguagens das artes visuais, do audiovisual,
da dança, do teatro, das artes circenses e da
música. Além de propor que os estudantes
explorem, de maneira específica, cada uma
dessas linguagens. (BRASIL, 2017, p. 482).

Portanto, para musicalização no Ensino Médio, podemos lançar mão dos mesmos
temas das atividades sugeridas no ensino fundamental, em uma abordagem
de exploração da linguagem e maior liberdade autoral do educando, com
possibilidades de conexões e intersecções com os conteúdos das demais áreas
do conhecimento. Dessa forma, o processo de musicalização no ensino médio,
em condição de sequenciamento curricular, deve ser promovido de maneira que:
[...] os estudantes possam assumir o papel
de protagonistas como apreciadores e como
artistas, criadores e curadores, de modo
consciente, ético, crítico e autônomo, em saraus,
performances, intervenções, happenings,
produções em videoarte, animações, web arte
e outras manifestações e/ou eventos artísticos
e culturais, a ser realizados na escola e em
outros locais. Assim, devem poder fazer uso de
materiais, instrumentos e recursos convencionais,
alternativos e digitais, em diferentes meios e
tecnologias. (Ibid.,p. 483, grifo nosso).

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 12


HAPPENING – Termo criado no fim dos anos 1950 pelo americano
Allan Kaprow (1927-2006) para designar uma forma de arte,
combinando artes visuais e um teatro sem texto nem representação,
fazendo com que o expectador participe da cena. Distingue-se da
performance, na qual não há participação do público.
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3647/happening

Para maior compreensão, faça a leitura do tópico 5.11 da BNCC


sobre as sete competências específicas e respectivas habilidades das
linguagens e suas tecnologias no Ensino Médio.

1.3 Musicalização e o Plano de Aula

Trataremos, brevemente, neste tópico a respeito da elaboração do Plano de


Aula. Esta é uma ferramenta importante. Ela facilita ao professor a tarefa de
prever os objetivos a serem atingidos, os conteúdos que serão ministrados, as
atividades a serem desenvolvidas e as formas de avaliação. Funciona como
ferramenta do professor para a elaboração de atividades que pretende executar
em sala de aula em um determinado período.
Alguns autores apontam que o planejamento das atividades pode objetivar a
distribuição de um determinado conteúdo e que este pode versar sobre um
tema específico a ser trabalhado em um período também específico, sendo
o mais abrangente (ano, semestre, bimestre...), caracterizando um Plano de
Ensino. Para o planejamento em um período mais curto (mês, semana e horas)

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 13


ou uma determinada aula, aplica-se o Plano de Aula. Enfim, é uma ferramenta
dinâmica cujas características variam de acordo com a instituição escolar em
que labora o professor e diferencia-se do Plano de Ensino pela abrangência
do período.
Não existe um modelo que seja padrão universal para Planos de Aula. Ele
apresenta características diversas de acordo com o que cada instituição de
ensino adota. Nesta disciplina adotaremos, como modelo para o nosso treino,
um plano que contempla, entre outros, alguns itens abordados pela BNCC e
pelo DOCTEMA, a saber: Nome do professor; Número sequencial da aula;
Duração; Ano/etapa; Data da aula; Objetos de conhecimento; Objetivos;
Habilidades; Conteúdos; Descrição das atividades; Recursos utilizados;
Avaliação e Referências. A adoção destes itens tem por objetivo facilitar a
execução da atividade do professor de música em sala de aula, pois com
um plano de aula bem elaborado o professor terá melhores condições de
alcançar seus objetivos.
Com relação à carga horária o DOCTEMA aponta um mínimo de duas horas
semanais que
[...] o ensino de Arte possui uma metodologia
específica e complexa, que exige profissionais
qualificados com formação e conhecimentos
específicos para cada linguagem artística [...]
Assim também, corroborando o documento
norteador nacional, em se tratando da realidade
local maranhense, a Proposta Curricular de
Arte do Ensino Fundamental, aprovada pelo
Conselho Estadual de Educação, prevê a forma
como devem ser trabalhados seus conteúdos,
enfatizando o respeito a uma carga horária de no
mínimo duas horas semanais[...] (MARANHÃO,
2019, p. 187, grifo do autor).

Vejamos algumas orientações para o preenchimento do plano de aula, conforme


o modelo apresentado na Figura 2. No exemplo, observa-se que apenas dois
campos estão preenchidos com o texto igual ao contido no DOCTEMA: O
campo “Objeto de conhecimento” e o campo “Habilidades” que apresenta o
código EF15AR14 (MARANHÃO, 2019, p. 201). Os demais campos estão
preenchidos com redação própria do professor, tomando por base, além da
descrição dos campos citados, a descrição contida na coluna das atividades
sugeridas.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 14


Figura 2 - Plano de Aula

Universidade Estadual do Maranhão - UEMA


Núcleo de Tecnologias para Educação - UEMAnet

Plano de Aula - Componente Música

Professor: Fulano de Tal


Aula: Nº 01 Duração: 1 h/a Ano/etapa: 3º ano Data: ??/??/2019
OBJETO DE
Elementos da linguagem: paisagem sonora.
CONHECIMENTO

Geral • Desenvolver audição em perspectiva


• Perceber e descrever os sons do ambiente;
Objetivos • Ouvir o ambiente em profundidade (ouvir perto e ouvir longe);
Específicos
• Desenvolver níveis de concentração necessários a algumas
atividades musicais.

(EF15AR14) Perceber e explorar os elementos constitutivos e as propriedades


Habilidades
sonoras da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etc.)
Conteúdos Propriedades do som (timbre e intensidade): Paisagem sonora.
Em momento de relaxamento e dispostos em círculo, o professor solicita que
todos, devidamente acomodados fechem os olhos e comecem a ouvir os sons
do ambiente por 30 segundos. Depois passam a descrever o que ouviram.
Descrição Novamente, o professor solicita a repetição do exercício, pedindo-lhes que agora
tentem ouvir o que está fora da sala e descrevam. Depois tentem ouvir o que
está fora da escola e descrevam. A ideia é que ouçam com mais profundidade
(perspectiva) cada vez mais.
Recursos
Sala de aula com carteiras afastadas ou pátio.
Utilizados

Será feita considerado o nível de envolvimento com a atividade. Não sendo


Avaliação
necessário avaliar em função do que o aluno conseguiu ouvir.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base


Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2017. Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 8 maio 2019.

MARANHÃO. Secretaria de Estado da Educação. Documento Curricular do


Referências
Território Maranhense para Educação Infantil e Ensino Fundamental. 1. ed.
Rio de Janeiro, RJ: FGV,2019.

SHAFER, R. Murray. Educação Sonora. 2. ed. Atualizada. São Paulo: UNESP,


2011.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 15


Para a habilidade EF15AR14, a coluna “Atividade sugerida” apresenta sete
sugestões de atividades, que podem ser usadas na íntegra no plano de aula ou
como subsídios para a elaboração da descrição de atividade como no exemplo
na Figura 2.
O professor de música, ao promover os processos de musicalização, precisa ser
criativo, espontâneo e, como músico, saber improvisar. Mas o saber improvisar
deve ser uma habilidade musical e não uma indiligência de ordem científica. Em
outras palavras, convêm que o professor, ao dirigir-se à sala de aula, tenha em
mente os objetivos que deseja atingir, as habilidades que pretende construir,
as atividades que deseja realizar, os recursos que utilizará e a forma de
avaliação que aplicará. Para tanto, um bom planejamento é fundamental. Caso
surja necessidade de um improviso, que este seja inerente às suas habilidades
musicais e feito de forma a não comprometer a qualidade do seu trabalho.

www

Para maior compreensão a respeito do Plano de Aula sugiro a


leitura da entrevista feita pelo Jornal do Professor à Doutora em
Educação, Marlene Grillo. Disponível no Portal do Professor, no
endereço http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.
html?idConteudo=130

ATIVIDADE

No material da disciplina está disponível o modelo de plano de aula do exemplo


apresentado neste e-Book. Ele deverá ser preenchido conforme as explicações
aqui contidas.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 16


Resumo

Na Unidade, refletimos a respeito do processo de musicalização sob o ponto


de vista dos documentos legais que fundamentam a obrigatoriedade do
ensino de música na escola de educação básica, mais especificamente para o
Ensino Fundamental e Médio. Vimos que os documentos BNCC e DOCTEMA
apresentam excelentes subsídios para a elaboração do plano de aula e para a
atuação do professor de música. Destacamos que, a realidade atual do ensino
de música na educação básica, ainda não é sequencial e que isso indica ao
musicalizador a necessidade de realização do diagnóstico da turma em relação
ao nível em que esta se encontra musicalmente. Aprendemos a consultar o
Organizador Curricular para extrair propostas de atividades para sala de aula, a
realizar o diagnóstico musical, e por fim, tratamos a respeito da elaboração do
plano de aula, utilizando, entre outros, campos que estão previstos na BNCC e
DOCTEMA, dando fundamentação para as atividades em sala de aula.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base


Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2017. Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 8 maio 2019.
MARANHÃO. Secretaria de Estado da Educação do. Documento Curricular
do Território Maranhense para Educação Infantil e Ensino Fundamental.
1. ed. São Luís, MA, 2019. Disponível em: https://drive.google.com/drive/
folders/1ySAHICYIWheaFju__pkAbykeAbPsE7ce. Acesso em: 8 maio 2019.
SCHAFER, R. Murray. Educação Sonora. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos,
2009.
______. O Ouvido Pensante. 2. ed. atualizada. São Paulo: UNESP, 2011.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 17


2
UNIDADE CONTEÚDOS, MÉTODOS
E ABORDAGENS
MUSICALIZADORAS
OBJETIVOS:

Compreender a musicalização e seus conteúdos;


Conhecer os princípios de alguns métodos ativos de musicalização;
Entender aspectos da música e movimento por meio do método O Passo.

2.1 Musicalização e seu conteúdo

A
musicalização é o elo entre o acervo teórico do professor e a prática
musical em sala de aula. Tudo o que se pensa em música, pode ser
tema musicalizador, desde um simples e ritmado bater de palmas até
uma complexa abordagem sobre harmonia, passando pela história da música,
composição, apreciação e outras. Com isso, a escolha da atividade a ser realizada
depende de fatores, como os que foram abordados na Unidade anterior, que
dizem respeito ao estágio musical em que a turma se encontra.
Os Pedagogos musicais promoveram suas metodologias buscando despertar o
interesse dos alunos pela música através de contextos práticos, onde a vivência
musical deve anteceder o conhecimento teórico.
A experiência direta com a música a partir da
vivência de diversos elementos musicais é o que
caracteriza os métodos ativos de educação musical.
Nesta perspectiva, o aluno participa ativamente
dos processos musicais desenvolvidos em sala de
aula, processos estes que oportunizam o contato
com várias dimensões do fazer musical. Com essas
abordagens, evita-se o foco na teoria musical e nos
exercícios descontextualizados, que muitas vezes,
desestimulam a aprendizagem musical exatamente
porque não são reconhecidos como experiências
musicais válidas. (FIGUEIREDO, 2012, p. 85).

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 18


Contudo, apesar de ser um conhecimento necessário, os métodos já
desenvolvidos, não devem limitar a atuação do professor apenas a atividades
propostas em seus compêndios. Devem servir como ponto de partida e
referencial para as propostas de musicalização, o que não significa dizer
que não se deva utilizar esta ou aquela metodologia para um processo de
sensibilização musical.
Os pedagogos musicais mais atuantes têm ofertado à comunidade musical
acadêmica um legado de atividades musicalizadoras, os chamados Métodos
Ativos, que ficaram conhecidos como de primeira e segunda geração, conforme
Fonterrada (2008). No Livro De Tramas e Fios, a autora descreve aspectos que
caracterizam as duas gerações e aponta como principais da primeira geração,
os métodos ativos desenvolvidos por Émile-Jacques Dalcroze, Edgar Willems,
Zoltan Kodály, Carl Orff e Shinichi Suzuki. Entre os autores da segunda geração
dos métodos ativos, a autora aponta, entre outros, educadores como Jonh
Paynter e Murray Schafer, que cunhou o termo soundscape, traduzido no Brasil
como paisagem sonora.

Os Métodos Ativos constituem metodologias de apresentação


e apreensão do conteúdo musical a partir de uma experiência
direta e ativa do educando com o fazer musical. Foi apresentado
neste curso na Unidade 2 da Disciplina Metodologia de Ensino
da Música.

As contribuições destes autores são de fundamental importância para o


desenvolvimento de práticas musicalizadoras. É tanto que podemos perceber
claramente as suas teorias nas propostas das atividades contidas no Organizador
Curricular, tratado na primeira Unidade deste e-Book, estando desta forma, entre
os principais métodos, práticas e técnicas de musicalização para o ensino formal
de música propostos para a escola de educação básica.
Para ilustrar o que foi dito acima, vejamos no próximo tópico, um resumo da
proposta de alguns dos educadores citados.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 19


2.2 Síntese dos Métodos ativos

DALCROZE Figura 3 - Exemplo de Exercício Dalcroze

Pensamento Norteador: “Não Ouvimos a música só


com os nossos ouvidos, ela ressoa no corpo inteiro, no
cérebro e no coração” (DALCROZE apud LAMBERT,
2016). Essência Metodológica: Música para o
corpo e a mente. Desenvolvimento da escuta ativa
e integração entre música e movimento. Recursos:
Corpo, voz e instrumentos musicais. Exemplos de
atividade: Exercícios musicais corporais e vocais,
solfejos rítmicos e melódicos com leitura alternativa
ou tradicional.
Fonte: (MATEIRO; ILARI, 2012, p.43).

Figura 4 - Posições Manossolfa KODÁLY


Pensamento Norteador: “Que a música pertença a
todos” (ZOLTÁN KODÁLY apud LAMBERT, 2016).
Essência Metodológica: Desenvolvimento da
prática do canto coletivo e habilidades de percepção
auditiva. Aulas ofertadas regularmente na escola.
Desenvolvimento da apreciação e do pensamento
musical. A musicalização deve fazer parte da vida
do cidadão, que deve se manifestar musicalmente
com a capacidade de “pensar, ouvir, expressar, ler e
Fonte: (MATEIRO; ILARI, 2012, p.43).
escrever utilizando a linguagem musical tradicional”
(MATEIRO; ILARI, 2012, p. 57).
Recursos: Voz.
Fonte: https://musicalesysonoras.una.
edu.ar/cursos/concepcion-kodaly_22630 Exemplos de atividade: Manossolfa, solmização (leitu-
ra relativa – Dó móvel), canto, solfejo rítmico e melódico.

Para maior entendimento, assista ao vídeo Aprendendo o


manossolfa e solfejo com a Professora Meri Arakawa. Disponível
no You Tube em:
https://www.youtube.com/watch?v=hwA4W1JVH_s

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 20


WILLEMS Figura 5 - Instrumento de
plaqueta - metalofone
Pensamento Norteador: “Crer na música é acre-
ditar na possível harmonia dos homens” (EDGAR
WILLEMS apud LAMBERT, 2016).
Essência Metodológica: Desenvolvimento da
acuidade auditiva e o canto coletivo; Desenvolvimento
da sensorialidade e aspectos afetivos da escuta. A
aula começa na relação humana.
Recursos: Voz, sinos e instrumentos de plaquetas. Fonte: (MATEIRO; ILARI, 2012, p. 113).

Exemplos de atividade: Exercícios corporais e solfejo rítmico e melódico, exercícios


com sinos e instrumentos de plaquetas.

Figura 6 - Instrumental Orff

CARL ORFF
Pensamento Norteador: “Diga-me e eu
esqueço, mostra-me e eu me lembro, en-
volva-me e eu entendo” (CARL ORFF apud
LAMBERT, 2016).
Essência Metodológica: Desenvolvimento
da expressão, criatividade e musicalidade
como um todo. Uso do instrumental Orff,
que de acordo com Materiro e Ilari (2012, p.
144) surgiu “... com a função de executar os
componentes rítmicos da prática musical”.
Recursos: Instrumentos de plaquetas (xilo-
fones e metalofones) de percussão e a voz.
Exemplos de atividade: Tocar e improvisar
em grupo, criando frases, ostinatos, pergun-
tas e respostas ou inventando rimas.

Fonte: (MATEIRO; ILARI, 2012, p. 146).

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 21


SHINICHI SUZUKI Figura 7 - Dr. Sninichi Suzuki

Pensamento Norteador: “Eu só que-


ro formar bons cidadãos. Se uma crian-
ça ouve boa música desde o dia do seu
nascimento e também aprende a tocar,
desenvolve habilidade, disciplina e perse-
verança. Conquista assim, um bom cora-
ção” (SUZUKI, 1994, p. 093 apud ILIBIO;
NEVES, 2015).
Essência Metodológica: participação
dos pais; repetição; ouvir a peça a ser es- Fonte: https://portal.brasilsonoro.com/historia/a-historia-
tudada e aprender pela imitação/exemplo. de-shinichi-suzuki/
O método Suzuki é a educação do talento. Desenvolvimento da habilidade musical de
forma análoga ao aprendizado da língua materna. O talento como consequência do
estudo sistemático, baseado na repetição. O ambiente deve ser favorável ao aprendi-
zado e o papel da família preponderante. Aprendizado estruturado em aulas coletivas
(Figura 8), com repertório apresentando níveis de dificuldade em escala gradual.
Recursos: Instrumentos musicais, players de música e exercícios do método.
Exemplos de atividade: aprendizado musical por meio da observação, repetição e
autodisciplina: ouvir o exemplo em casa diariamente e trabalhar o aprendizado da peça
coletivamente em sala de aula.
Figura 8 - Aulas coletivas

Fonte: http://cim.quattrocentoquaranta.it/wp-content/uploads/2018/06/Violoncelli-Suzuki-768x526.jpg
Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 22
MURRAY SCHAFER Figura 9 - Fazendo chuva – atividade de musicalização
com leitura alternativa
Pensamento Norteador: “Ruído
é qualquer som que interfere. É
o destruidor do que queremos
ouvir [...] a música de fundo foi
inventada para homens sem ou-
vidos” (SCHAFER, 1991, p. 69).
Essência Metodológica: de-
senvolvimento da escuta inteli-
gente por meio da observação
da paisagem sonora. A meto-
dologia proposta por Schafer
apresenta muitas possibilida-
des de aproximação da com-
preensão da teoria musical por Fonte: Acervo do Autor (2019).

meio da observação da paisa-


Figura 10 - Dr. Murray Schafer – Regência Corporal
gem sonora. Atividades de re-
produção da paisagem sonora
utilizando notação alternativa
possibilita o entendimento dos
eventos sonoros em relação à
passagem do tempo. A título de
inspiração, vejamos a Figura 9.
A ideia é que o professor pro-
ponha a marcação de passa-
gem do tempo (andamento) e
a turma, devidamente com as
“vozes” divididas, reproduza o
contido na notação alternativa.
Recursos: qualquer material
alternativo, instrumento musical
ou estímulo sonoro. Exemplos
de atividade: apreciação da
paisagem sonora, improvisação
utilizando os mais variados tipos
de produção sonora e regência Fonte: Schafer (1991, p. 18).
corporal.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 23


Para ampliar o conhecimento sobre os métodos ativos, sugiro
a releitura da Unidade 2 da Disciplina Metodologia de Ensino da
Música. Disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).

2.3 Música e movimento: o passo, um método brasileiro

Figura 11 - Oficina d’O Passo – Montbard (França 2016)

Fonte: https://www.institutodopasso.org/galeria
Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 24
No ano de 1996, o professor Lucas Ciavatta, junto aos seus alunos do primeiro
segmento do ensino fundamental, vislumbrou o que naquele mesmo ano
passaria ser chamado de “O Passo”. Buscando soluções para o que ele próprio
descreve como “processo altamente seletivo do acesso à prática musical tanto
nos espaços acadêmicos quanto nos espaços populares” (CIAVATTA, 2009,
p.15), desenvolveu a construção de uma base musical rítmica com abertura
para o universo sonoro através de uma sequência de exercícios e por isso é
considerado um método.
Devido ao sentido mais amplo expressado nos conceitos, ferramentas,
habilidades e compreensões na proposição do método e também da diversidade
de canais de construção do conhecimento musical adotado, o autor também o
define como uma “abordagem multi-sensorial” (Ibid., p. 15).
O contato e estudo dos métodos musicalizadores é de fundamental importância
ao licenciando em música. Podem abrir portas para novas inspirações, como
aconteceu com o professor Lucas Ciavatta:
Há certamente várias semelhanças e até
elementos de outros métodos no caminho
d’O Passo. Se isto acontece, o motivo não
são as minhas formações específicas nestes
outros métodos, porque não as tive, mas
certamente se deve ao fato de, em minha
graduação na UNIRIO, eu ter tido contato
com estes métodos. No entanto, é preciso
que se diga que a maior inspiração d’O Passo
foi e continua sendo o fazer musical popular
brasileiro, principalmente no que diz respeito
à relação entre corpo e música no processo
de aquisição do suingue. (Ibid., p. 15).

O método tem sido aceito pela Figura 12 - Oficina d’O Passo – Trancoso - BA
comunidade acadêmica musical
como ferramenta para musica-
lização. Seu criador, Professor
Lucas Ciavatta, tem viajado por
todo o Brasil e exterior divulgan-
do e multiplicando o conhecimen-
to adquirido ao longo de alguns
anos de experimentação. Hoje,
já bem consolidado, o método
tem sido empregado fortemente
no Brasil e na França.
Fonte: https://www.institutodopasso.org/galeria

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 25


Figura 13 - Curso d’O Passo – Teresina - PI

Fonte: https://www.ufpi.br/ultimas-noticias-ufpi/3736-educador-musical-lucas-ciavatta-
ministra-curso-no-cine-teatro-da-ufpi

O Passo apresenta-se como opção de prática musical a ser empregada no Ensino


Básico, pois o corpo2 é um dos principais ativos do método, logo o movimento
está totalmente presente na prática desta metodologia e acessível a qualquer
ambiente de aprendizagem, uma vez que depende de poucos recursos (o corpo
e a notação do método) para sua realização.
O Passo possui três notações (gráfica, oral e corporal) que estão articuladas entre
si e são as ferramentas cujo método lança mão para que, de forma integrada,
promovam o processo de alfabetização e prática musical (a musicalização). Como
sugestão de aplicação prática, aponta-se o estudo e experimentação das folhas
d’O passo. Ponto de partida para a introdução ao método. Para tanto, a primeira, a
folha dos números e suas instruções, estão disponíveis no material da disciplina.

www

Para melhor entendimento das notações do método sugiro a apre-


ciação do assunto. Disponível em: https://www.institutodopasso.
org/folhas

________________
2
Um dos quatro pilares de fundamentação do método (corpo, Imaginação, grupo e cultura), que orientam um andar
específico no qual a prática do método se baseia.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 26


2.4 Musicalização e autonomia

Figura 14 - Atividade musical prazerosa

Fonte: Revista Musica na Educação Básica, v.3 n.3.

As propostas dos métodos ativos focam em um desenvolvimento de habilidades


musicais onde é dada atenção ao “como fazer”. A obtenção do conhecimento
musical surge a partir de atividades em que o aluno vivencia a experiência de
fazer música e esta, deve ser sempre prazerosa, como sugere a Figura 14. E o
professor também precisa ser criativo para propor suas próprias atividades, pois
muitas vezes nos deparamos com contextos tão particulares em sala de aula
que a solução é criarmos algo específico, como aponta Beineke:
Para isso, o professor também precisa apropriar-se
criativamente das canções, dos jogos e brincadei-
ras. É esse o sentido que move nosso projeto: ex-
perimentar, analisar, adaptar, produzir e reinventar
materiais didáticos para o ensino de música na es-
cola. Nesse sentido, consideramos essencial que
os professores se tornem menos consumidores
e mais produtores de material didático, na busca
por construir aprendizagens musicais significativas
para os seus alunos. (BEINEKE, 2011, p. 23).

O professor possui autonomia para elaborar novas propostas. Recomenda-


se que as atividades de musicalização devem contemplar aspectos teóricos
para que sua fundamentação e objetivos sejam norteadores, mas, sobretudo,
aspectos práticos, despertando no aluno o interesse pela prática musical e só
depois pela teoria.
Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 27
Resumo

Nesta Unidade, estudamos que a musicalização é o elo entre a teoria e prática


musical escolar. Entendemos que tudo o que se pensa em música pode compor
o conteúdo musicalizador e que a escolha das atividades deve estar de acordo
com o nível da turma. Estudamos a respeito dos principais pedagogos musicais
e seus métodos, que buscam despertar o interesse pela prática musical.
Conhecemos também, que o professor não deve limitar suas ações somente
a atividades propostas pelos métodos, deve buscar também pela criatividade.
Observamos que as contribuições dos autores dos chamados métodos ativos
é de fundamental importância para a musicalização e que estão expressas nas
atividades sugeridas no Organizador Curricular. Aprendemos que os métodos
ativos se classificam como de primeira e segunda geração. Vimos o pensamento
norteador, a essência metodológica, os recursos e exemplos de atividades de
alguns métodos ativos. Vimos, ainda, “O Passo”, um método musicalizador
desenvolvido por um professor brasileiro, a partir de experiências no Ensino
Fundamental. Por fim, refletimos sobre a autonomia do professor na elaboração
de novas propostas de musicalização, sempre visando um objetivo por meio de
atividades práticas e prazerosas.

Referências

BEINEKE, Viviane. Música, jogo e poesia na educação musical escolar. Música


na Educação Básica, Porto Alegre, v. 3, n. 3, p.8-27, 05 set. 2011. Disponível
em: http://www.abemeducacaomusical.com.br/revista_musica/ed3/pdfs/revista
MEB3.pdf. Acesso em: 5 jun. 2019.
CIAVATTA, Lucas. O Passo: música e educação. Rio de Janeiro: L. Ciavatta, 2009.
FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. A educação musical do século XX:
os métodos tradicionais. In: SÉRGIO LUIZ FERREIRA DE FIGUEIREDO
(São Paulo). Ministério da Cultura (Org.). A Música na Escola. São Paulo:
Allucci & Associados Comunicações, 2012. p. 85-87. Disponível em: http://
amusicanaescola.com.br/wp-content/uploads/2019/04/AMUSICANAESCOLA.
pdf. Acesso em: 24 maio 2019.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 28


FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre
música e educação. São Paulo: Unesp, 2008.
ILIBIO, Fernando Nunes; NEVES, Jádina de Farias. A MÚSICA NA CONSTRUÇÃO
E FORMAÇÃO DO SER. Revista Maiêutica, Indaial-sc, n. 1, p.19-36, 2015.
Disponível em: https://publicacao.uniasselvi.com.br/index.php/ART_EaD/article/
viewFile/1355/504. Acesso em: 30 maio 2019.
LAMBERT, Rosangela. Educadores Musicais: Uma reflexão comparativa
de suas abordagens. 2016. Disponível em: https://terradamusicablog.com.br/
abordagens-de-educacao-musical/. Acesso em: 28 maio 2019.
MATEIRO, Teresa; ILARI, Beatriz. Pedagogias em Educação Musical. Curitiba:
Intersaberes, 2012.
SCHAFER, Raymond Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Editora Unesp,
1991. 399 p. Tradução de: Marisa Trench de Oliveira Fonterrada; Magda R.
Gomes da Silva; Maria Lúcia Pascoal.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 29


3
UNIDADE A MUSICAIZAÇÃO NA
FORMAÇÃO DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE
OBJETIVOS:

Refletir sobre preferência musical e formação da criança e do adolescente;

Compreender os processos de fruição e criação musical na escola de educação


básica.

3.1 Musicalização e preferência musical

A
qui faremos uma breve reflexão a respeito da preferência musical e sua
influência no processo formativo de alunos do Ensino Fundamental e
Médio. Sabemos que a preferência musical começa a ser construída
ainda na primeira infância com a influência do ambiente familiar. Já nos primeiros
anos do Ensino Fundamental a criança, através dos processos de escuta,
passa a perceber de forma mais personalizada os elementos sonoros. Com o
desenvolvimento dessa percepção a preferência musical começa a ser delineada
e, algumas vezes, afasta-se daquela iniciada, tanto no ambiente familiar quanto
da cultura local.
Não cabe neste estudo abordarmos os motivos de tal afastamento, convêm,
entretanto, refletirmos a respeito da importância da promoção de uma apreciação
musical diversificada, onde o indivíduo tenha a oportunidade de sentir-se incluído
no meio, face à aceitação de sua preferência musical, principalmente pelo
professor, e ao mesmo tempo seja exposto a elementos sonoros universais.
Busca-se, no espaço escolar, garantir uma apreciação musical ampla, capaz
de oferecer elementos para uma formação crítica isenta de preconceitos, lúcida
e criteriosa, dotando o futuro cidadão de estético senso musical. Tal senso só
nos chega com a apreciação de um repertório musical vasto, incluindo neste

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 30


os elementos de nossa própria cultura, pois uma das formas de sermos globais
é conhecendo e vivenciando nossa própria identidade cultural. Os jovens, que
mais devem entender de bumba meu boi, são aqueles nascidos em meio a
essa manifestação (ou em seus arredores), pois conhecendo sua história, seus
sotaques, seus instrumentos, suas indumentárias, o auto do bumba meu boi e
o ritual, se sentirão incluídos em qualquer contexto cultural, pois terão conteúdo
diferenciado para somar ao cenário global, como aponta o DOCTEMA.
A música na Educação Básica deve considerar uma
diversidade de repertório, origens, associações,
tradições e revoluções ocorridas constantemente
desde a sistematização do conhecimento humano.
Apresentada por um professor qualificado e
comprometido, a música vai aproximar o educando
de suas tradições e permitir que se desenvolva
além dos limites de sua comunidade, respeitando
o outro, mas sem deixar de ter um pensamento
crítico sobre o que lhe é oferecido sob o rótulo de
arte. Valorizando a vivência prévia do indivíduo
e sua cultura local, a educação musical faz com
que o educando parta do seu espaço para o todo.
(MARANHÃO, 2019, p. 192).

Desta forma, compete ao professor musicalizador ter, além do conhecimento


adquirido na licenciatura, o caráter pesquisador presente em sua atuação,
impelindo-o sempre em direção a novos conteúdos e fontes de conhecimento.

3.2 Musicalização e cultura na escola

Publicações sobre a cultura em que o próprio aluno esteja imerso são muito
significativas para dar-lhe a noção da importância global de sua regionalidade.
Neste sentido, a título de exemplo, temos o livro “Batucada Maranhense” do
Professor Rogério Leitão, no qual, entre outros aspectos, oportuniza a apreciação
de elementos do bumba boi de forma mais científica ou sistêmica, pois segundo
Leitão (2013, p.15), “A riqueza rítmica presente em nossas manifestações
culturais merecem ser estudadas e catalogadas mais sistemicamente, visando
sua preservação e evitando seu desaparecimento.”
Esse tipo de abordagem pode possibilitar ao aluno que vive essa realidade em
sua comunidade, um olhar mais investigativo para dentro de sua própria cultura.
Imaginemos o que pode significar para um aluno do oitavo ano do ensino
fundamental, nascido e crescido em uma comunidade que cultiva a tradição do

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 31


bumba meu boi sotaque da ilha, deparar-se em Figura 15 - Página do Livro Batucada
Maranhense de Rogério Leitão
sala de aula com a rítmica aplicada ao toque
dos pandeirões traduzidas para os elementos
teóricos da música, conforme a Figura 15.
Fornecer conteúdos baseados em materiais
como este corrobora com o trabalho de
subsidiar a construção de preferência musical
lúcida. Pois, com o conhecimento teórico
da formação de rítmicas de sua cultura o
aluno passa a conseguir ver o ritmo escrito
e compará-lo com outros, constatando
suas diferenças e, principalmente, suas
semelhanças com elementos culturais globais.
Portanto, a sala de aula precisa abraçar a
preferência musical que os alunos já trazem
consigo e a partir dela, promover mais e
mais apreciações. A palavra-chave é cativar.
Jamais conseguiremos afetividade em nossa Fonte: Acervo do Autor (2019).
proposta de repertório sem que antes façamos
o mesmo com relação ao repertório que o aluno traz consigo.
As diversas “habilidades” e “objetos de conhecimento”, previstos na BNCC e no
DOCTEMA, do qual podemos lançar mão para construção de nossas propostas
musicalizadoras, permitem essa interação. O educador criativo, em suas
proposições, aproveita a experiência e preferência musical de seus alunos para,
por meio delas, promover neles o desenvolvimento das habilidades musicais
necessárias para a saudável formação de um cidadão.

As atividades onde podemos aproveitar a bagagem musical


dos alunos podem ser elaboradas mais facilmente a partir
das sugestões propostas para os objetos de conhecimento
Contextos e práticas - Músicas do mundo (músicas de cá e de
lá); Elementos da linguagem - Paisagem sonora; e Patrimônio
cultural - Cancioneiro popular maranhense e suas influências
culturais. Consulte o Organizador Curricular – componente
música, no material da disciplina.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 32


3.3 Outras Propostas Musicalizadoras

A preferência musical se amplia à propor- Figura 16 - Revista infantil sobre música


ção que mais conteúdos são ofertados. O
vasto material existente na mídia impressa,
e principalmente digital, oferece possibilida-
des de experiências significativas de apre-
ciação musical. Em 2009, a edição número
22 da coleção “Saiba Mais”, da Maurício de
Souza Editora, apresenta um recorte sobre
a história universal da música de forma lú-
dica, com linguagem acessível a crianças e
adolescentes (Figura 16). Podendo ser en-
contrada na Internet, é uma ferramenta de
abordagem musicalizadora para os primei-
ros anos do Ensino Fundamental.
Outra publicação de igual relevância para
os processos de formação musical é a Fonte: Acervo do autor (2019).
coleção em quadrinhos das histórias do
Clube da Esquina (Figura 17), voltada para o público dos últimos anos do ciclo
fundamental e Ensino Médio, abordando aspetos formativos da música brasileira.
São exemplos de material alternativo, que o musicalizador dispõe para promover
diversidade no trabalho do desenvolvimento da preferência musical.

Figura 17 - Clube da esquina em quadrinhos


Filmes e animações
contando histórias dos
grandes mestres da
música brasileira tam-
bém constituem um
bom arsenal de possi-
bilidades musicaliza-
doras e construtoras
da preferência.

Fonte: http://f.i.uol.com.br/livraria/capas/images/1122261.jpeg

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 33


O termo “musicalizadoras e construtoras da preferência” não reporta
ações indutoras da preferência do professor em detrimento a do
aluno e sim atividades com objetivos de ofertar maior quantidade
de apreciações para que o próprio aluno possa elencar suas
preferências.

O Clube da Esquina é um movimento musical brasileiro, que


surgiu na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis em Belo
Horizonte, protagonizado por músicos como Milton Nascimento,
Beto Guedes, Lô Borges, Toninho Horta, Fernando Brant e
outros. De seus encontros naquela esquina surgiram grandes
canções do repertório da MPB, como “Travessia”, “Manoel o
audaz” e “Trem azul”.

Começar uma aula apresentando aos alunos filmes e animações revelando


acontecimentos de como tal artista ou tal gênero se formou é uma atividade
promissora. Devido ao nível de descontração que este tipo de condução
proporciona, se estabelece um excelente momento para os alunos manifestarem
suas impressões em uma roda de conversa, por exemplo. Podem ser incentivados
a compartilhar o que entenderam com a formulação de perguntas como: Quais
detalhes perceberam? Quais instrumentos estão ali representados? Como
perceberam a forma como tal artista manipula tal instrumento? Qual gênero
musical aparece no vídeo? E outras.
Um exemplo para esta abordagem é o curta metragem “Alma Carioca - Um
Choro de Menino”, do diretor William Côgo, que conta a história de um menino
da zona portuária do Rio de Janeiro da década de 20, que juntamente com
outros colegas, se encontram com figuras como Pixinguinha.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 34


“Alma Carioca - Um Choro de Menino” - Gênero: Animação;
Subgênero: Comédia, Infanto-juvenil; Diretor: William
Côgo; Duração: 5 min/ Ano: 2002. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=NOdIq1ZHOzA

3.4 A música na formação da criança e adolescente

A presença da música na formação do Figura 18 - Modos Gregos


indivíduo remonta à antiguidade Grega,
onde a base da educação era constituída
por três disciplinas humanísticas
(gramática, retórica e dialética) e
quatro disciplinas científicas (música,
astronomia, aritmética e geometria).
Formavam as sete artes liberais,
resgatadas no período medieval por Fonte: (MED, 1996, p. 165).
Santo Agostinho. Mais tarde, através
de Boécio, ficaram conhecidas como Trivium e Quadrivium, que no reinado de
Carlos Magno foram difundidas pelo monge Alcuíno.
Acreditando que a música influenciava na formação do caráter e da cidadania,
os gregos da antiguidade creditavam-lhe um grande valor. O canto atribuía ao
jovem a capacidade de tomar decisões, além de outros valorosos atributos
como senso de ordem e dignidade. Observavam a temperança dos modos de tal
forma que, segundo Fonterrada (2008, p. 26), o modo dórico “evocava equilíbrio,
simplicidade e temperança” e era por isso o modo preferido em Esparta. De
forma semelhante, em Atenas:
[...] esperava-se promover a moral e a cidadania
responsável, base do bem comum, do poder, e da
fama do Estado, por meio da educação musical. O
valor atribuído à música era extramusical, isto é,
seu exercício contribuía para o desenvolvimento
ético e a integração do jovem na sociedade.
(FONTERRADA, 2008, p. 27).

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 35


O valor conferido a música se dava por aspectos que extrapolavam os
benefícios de ordem musical. A música compunha o conjunto de ferramentas
educacionais que os gregos utilizavam para a forja do ethos. O papel da música
naquele cenário era de ferramenta para a formação humana.

Ethos: palavra grega que designa o caráter. Conjunto dos costumes


e práticas característicos de um povo em determinada época ou
região.

Há de ser dito que na Grécia antiga os benefícios da música não eram para
todos. Os escravos não a experimentavam, pois, a música destinava-se a
desenvolver “a mente, o corpo e a alma” e este desenvolvimento era restrito ao
cidadão grego. De lá para cá, a música não perdeu seus atributos forjadores do
caráter, apenas não os são mais utilizados com o mesmo rigor. E assim como na
antiguidade grega, nos dias atuais a musicalização na escola agrega à criança e
ao adolescente todos os benefícios necessários à formação humana e por estar
presente no ambiente escolar, a música, diferentemente de como era na Grécia,
é para todos sem distinção de qualquer natureza.
A música, por ser uma ferramenta de desenvolvimento moral, mental e corpóreo,
pode ocupar na escola espaços que vão além de um conteúdo obrigatório da
disciplina de arte, e estabelecer-se como, conforme aponta Granja (2006, p.
101), “um projeto de integração capaz de articular as diferentes dimensões do
conhecimento e propiciar uma formação mais condizente com as aspirações do
ser humano”.
Na obra “Musicalizando a Escola”, Granja reflete sobre a fragilidade das
disciplinas vistas isoladamente, contribuindo muito pouco para que o aluno
perceba significado no conhecimento apreendido. Em contraponto, sugere
o fortalecimento do eixo intra/transdisciplinar como solução de organização
mais fecunda entre as disciplinas. Neste sentido, em que a música se agiganta
na escola, Granja (2006) aponta propostas de projetos como tentativas de
incorporação da música enquanto tema transversal no ambiente escolar.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 36


Trata-se de uma tentativa de incorporar a
música na escola como um tema transversal,
que possa ser articulado com as demais
disciplinas em projetos de natureza intra/
transdisciplinar. Também é importante
ressaltar não haver nenhum tipo de hierarquia
entre esses projetos e os momentos
de sua implantação, podendo ocorrer
sistematicamente, ou não, dependendo do
projeto educativo de cada escola.
Dividimos os projetos em seis temas principais:
Música e corpo; Música, Matemática e Física;
Música e palavra; Música e tecnologia; Música
e meio ambiente; Música e cultura. (GRANJA,
2006, p. 110, grifo nosso).

Portanto, a musicalização exerce um papel por demais importante na formação


de crianças e adolescentes, cabendo ao professor de música na escola de
educação básica, através do seu conhecimento e criatividade, explorar os espaços
possíveis de atuação musicalizadora nos Projetos Políticos e Pedagógicos da
escola em que atua.

E por falar em intra e transdisciplinaridade, você sabia que


“A matemática está fortemente ligada à duração das notas,
obedecendo a um tipo de divisão fracionária”? (PEREIRA, 2014,
p. 24). O trabalho do professor Pereira exemplifica aspectos da
transdisciplinaridade. Disponível em: http://musica.ufma.br/
ens/tcc/23_pereira.pdf

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 37


3.5 Musicalização e os processos de fruição e criação musical

A relação do homem com a música, assim como com as demais linguagens
artísticas, é fundamental para o desenvolvimento das capacidades cognitivas,
afetivas e psicomotoras. Diversas são as formas de relacionamento com a
música capazes de promover tais desenvolvimentos. A fruição e criação musical
incluem-se fortemente neste rol. A primeira relaciona-se intimamente com a
apreciação e segunda com o fazer musical.
Estas duas instâncias musicais estão presentes nas propostas de atividades
contidas na BNCC e no Organizador Curricular. Essas atividades, em relação
à fruição, visam dar posse ao aluno de um conhecimento mais amplo de
repertório, através de uma apreciação significativa, não só do repertório
universal como também da produção musical dos próprios alunos. São
procedimentos que estão presentes na orientação pedagógica desde a
formulação dos PCN’s.

Figura 19 - Tecnologia e criação musical

Fonte: https://www.maismusicamais.com/single-post/2017/10/31/Compositor-a-mente-brilhante-por-traz-das-canções
Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 38
O conjunto de conteúdos está articulado dentro do
contexto de ensino e aprendizagem em três eixos
norteadores: a produção, a fruição e a reflexão.
A produção refere-se ao fazer artístico e ao
conjunto de questões a ele relacionadas, no âmbito
do fazer do aluno e dos produtores sociais de arte.
A fruição refere-se à apreciação significativa de
arte e do universo a ela relacionado. Tal ação
contempla a fruição da produção dos alunos e
da produção histórico-social em sua diversidade.
A reflexão refere-se à construção de
conhecimento sobre o trabalho artístico pessoal,
dos colegas e sobre a arte como produto da
história e da multiplicidade das culturas humanas,
com ênfase na formação cultivada do cidadão.
Os três eixos estão articulados na prática, ao
mesmo tempo que mantêm seus espaços próprios.
Os conteúdos poderão ser trabalhados em
qualquer ordem, segundo decisão do professor,
em conformidade com o desenho curricular de
sua equipe. (BRASIL, 1997, p.36, grifos nosso).

Essa ideia corrobora com a BNCC que, mais recentemente, aponta seis dimensões
do conhecimento para a abordagem das linguagens artísticas. Criação e fruição
são duas destas dimensões3. Elas não apresentam hierarquia entre si e podem
ser trabalhadas no campo pedagógico na ordem em que o professor planejar. As
dimensões criação e fruição, assim como as demais, buscam promover facilidade
ao processo de ensino e aprendizagem artística levando em consideração o
caráter subjetivo do conhecimento e experiência de fazer arte.
Criação: refere-se ao fazer artístico, quando os
sujeitos criam, produzem e constroem. Trata-
se de uma atitude intencional e investigativa que
confere materialidade estética a sentimentos,
ideias, desejos e representações em processos,
acontecimentos e produções artísticas individuais
ou coletivas. Essa dimensão trata do apreender o
que está em jogo durante o fazer artístico, processo
permeado por tomadas de decisão, entraves,
desafios, conflitos, negociações e inquietações. [...]
Fruição: refere-se ao deleite, ao prazer, ao
estranhamento e à abertura para se sensibilizar
durante a participação em práticas artísticas e
culturais. Essa dimensão implica disponibilidade
dos sujeitos para a relação continuada com
produções artísticas e culturais oriundas das
mais diversas épocas, lugares e grupos sociais.
(BRASIL, 2017, p. 194-195, grifos do autor).
___________________
3
As seis dimensões são: criação, crítica, estesia, expressão, fruição e reflexão.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 39


Para contemplar o que essas dimensões propõem, a musicalização na escola
de educação básica deve promover situações de apreciação significativa e fazer
musical. Com isso estaremos possibilitando a fruição e criação. A dimensão
criação, conforme dito acima, trata de oportunizar a aprendizagem musical durante
a experimentação de fazer música. A dimensão fruição cuida de possibilitar a
relação dos alunos com as mais diversas produções musicais através dos mais
diversificados meios, como aponta Subtil.
Uma tecnologia importante para minha fruição
musical foi o rádio que se constituiu, desde
as primeiras décadas do século, num meio de
comunicação de massa distribuidor de música
destinada ao consumo cotidiano com validade
ainda hoje, [...] A introdução da televisão, como
um eletrodoméstico indispensável para a maioria
das pessoas, proporcionou o contato com outros
objetos musicais e outras formas de apreciação/
fruição musical. (SUBTIL, 2003, p. 2).

Para oportunizar uma apreciação significativa, objetivando a fruição musical,


o musicalizador pode e deve lançar mão do maior número possível de meios
tecnológicos para desenvolvimento de ouvidos pensantes. Nos dias de hoje,
em que o rádio e a televisão perdem espaço para os aparelhos conectados à
Internet, o uso de tecnologias digitais como streaming e podcast, apresenta-
-se como ferramenta de apreciação musical significativa, contemplando, além
do universo musical disponível na Internet, a produção musical dos musicali-
zandos. É imprescindível frisar aqui a importância da apreciação coletiva ao
vivo, pois não podemos deixar de contemplar nesse processo os mecanismos
tecnológicos de aprecia-
ção musical, tampouco Figura 20 - Apreciação significativa
a forma tradicional de
se apreciar música, pois
estamos nos afastando
cada vez mais das sa-
las de concerto. O tra-
balho de fruição há de
prevenir essa egressão.
Assim, a musicalização
no Ensino Fundamental
e Médio estará possibi-
litando criação e fruição
musical. Fonte: http://violaoparainiciantes.com/wp-content/uploads/2018/08/ouvido-
absoluto-relativo2.jpg

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 40


Podcasts: são arquivos de áudio que podem ser baixados (download)
e apreciados a qualquer tempo, não havendo necessidade de
conexão para sua audição.

Streaming: é um tipo de serviço on-line, onde o usuário acessa os


conteúdos no formato de áudio e/ou vídeo, sem precisar fazer o
download do arquivo, ou seja, o usuário acessa o serviço quando
estiver conectado à Internet.

Resumo

Nesta Unidade, estudamos que a preferência musical, começa a se desenvolver


a partir da primeira infância. Vimos que é preciso fomentar a apreciação para que
a preferência possua repertório vasto. Entendemos a importância da proposição
de atividades com foco na cultura dos próprios alunos. Vimos também, que o
musicalizador deve buscar nos espaços midiáticos novos temas e formas para
o desenvolvimento da sensibilização musical. Refletimos sobre a importância da
musicalização nos processos formativos da criança e adolescente, observando
que a música possui atributos capazes de contribuir para o desenvolvimento da
formação motora, mental e cidadã dos alunos do Ensino Fundamental e Médio,
sendo o professor musicalizador o principal articulador deste processo na
escola. Por fim, entendemos que os processos de criação e fruição musical dizem
respeito, respectivamente, ao fazer e à apreciação significativa de conteúdo
musical, contemplando, desde a própria produção, toda musical a qual tivermos
contato.

Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 41


Referências

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nacionais: arte / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília,DF : MEC/SEF,
1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf>.
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SUBTIL, Maria José Dozza. A apropriação da música midiática por crianças de
quarta-série do ensino fundamental. 2003. 227 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. Centro Tecnológico,
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Acesso em: 10 jun. 2019.

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