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MUSICALIZAÇÃO NO ENSINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO
I
niciamos este estudo nos fazendo a seguinte pergunta: O que deve ser ensinado na escola
de educação básica para musicalizar o educando? Essa pergunta aponta a direção de nosso
estudo e promove reflexões necessárias para o entendimento do trabalho de musicalização.
Precisaremos estudar um pouco do que nos diz a legislação sobre o assunto. Neste e-Book,
não trataremos de forma aprofundada a respeito dos aspectos legislativos, faremos um
breve recorte, a fim de facilitar o trabalho do licenciando no que diz respeito à elaboração
dos planos de aula dos momentos de musicalização na escola.
A falta de uma legislação mais específica com relação aos conteúdos deixava uma lacuna na
elaboração das atividades do ensino de música na escola de educação básica chancelado
pela LDB. Entretanto, em 2018, foi elaborado um importante documento, fundamentado na
BNCC, que norteia a distribuição dos conteúdos e atividades de música ao longo dos anos
do ensino básico. Assim, apreciaremos na Unidade 1, Musicalização e o seu planejamento –
um breve, mas suficiente, conteúdo que tornará menos volumoso o trabalho da elaboração
das atividades de musicalização.
Além de entender os conteúdos, o licenciando precisa acervar-se do conhecimento a respeito
dos principais métodos, práticas e técnicas de ensino musical, dirigidos a alunos dos vários
ciclos do Ensino Fundamental e Médio. Tal cabedal, associado ao conhecimento do que a
legislação orienta a ser ensinado, tem o objetivo de dotar o professor de música da necessária
habilidade para o trabalho em sala de aula com os alunos da escola de educação básica.
Em outras palavras, é o como fazer. Essa abordagem será feita na Unidade 2, Conteúdos,
métodos e abordagens musicalizadoras – aqui apreciaremos tópicos importantes a respeito
de alguns dos principais métodos musicalizadores, os chamados Métodos Ativos.
Na Unidade 3, A musicalização na formação da criança e do adolescente - refletiremos sobre
preferência musical, onde ela se origina, em que momento o sujeito tende a se afastar dessa
origem e como evitar este afastamento. Estudaremos a importância da apreciação musical
para a ampliação do repertório, que deve ser o mais universal possível, devendo contemplar
também a música da cultura própria do aluno. Veremos a influência da musicalização na
formação da criança e do adolescente. Estudaremos ainda a respeito da fruição. E para
tanto, refletiremos sobre novas propostas musicalizadoras.
Você verá que a reflexão sobre o que usar para musicalizar, perpassa por todas as Unidades. Essa
constante visa promover o entendimento a respeito de como compor o conteúdo da musicalização.
Bons estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE 1
MUSICALIZAÇÃO E SEU PLANEJAMENTO............................................... 6
UNIDADE 2
CONTEÚDOS, MÉTODOS E ABORDAGENS MUSICALIZADORAS.......... 18
UNIDADE 3
A MUSICAIZAÇÃO NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 30
OBJETIVOS:
C
omo ponto de partida para esta disciplina, a legislação oferece subsídios
elementares para o planejamento didático de aulas de Música na
Educação Básica. A elaboração de atividades instigadoras e que ao
mesmo tempo estejam de acordo com a legislação educacional atual requer do
docente, além de criatividade (atributo indispensável ao professor de música),
conhecer os recursos pedagógicos dos quais pode lançar mão para planejar
sua atuação em sala de aula. Assim, é recomendável, que além de ter contato
com um ou mais métodos de musicalização, que comprovadamente apresentem
eficácia em sua aplicação, o licenciado em música aprecie os documentos da
legislação em vigor, relacionados ao ensino de música. Esta apreciação não
pretende e nem deve limitar as propostas do professor a esta ou aquela lista de
atividades, pois o docente possui liberdade para propor novas atividades, desde
que atendam às ementas curriculares e aos objetivos propostos.
Sem pretensão de encerrar uma lista, podemos citar alguns exemplos de
documentos que devem ser apreciados pelo professor: a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394), a Lei nº 11.769; a Lei nº
13.278; o Plano Nacional de Educação (PNE); os PCN’s; a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) e o Documento Curricular do Território Maranhense.
Os dois últimos, bem como a elaboração do plano de aula, constituem nosso
objeto de estudo nesta Unidade.
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1
Sigla não oficial, cunhada apenas para referenciar o documento neste e-Book.
Trata-se de uma planilha que, para o componente “Arte”, apresenta quatro co-
lunas: Linguagem artística; Objetos de conhecimento; Habilidades; e Atividades
sugeridas. As três primeiras estão previstas na BNCC e fazem parte de sua es-
trutura geral (BRASIL, 2017, p. 23) para as três etapas da Educação Básica e
dizem respeito a:
• Linguagem artística: Linguagem (uma das cinco áreas do conhecimento
definidas na BNCC); e Arte (uma das quatro linguagens definidas dentro da
área de conhecimento Linguagens);
• Objetos de conhecimento: reúne os conceitos, conteúdos e processos tratados
nas habilidades de cada linguagem;
• Habilidades: são os objetivos/aprendizagens que espera-se atingir em cada
objeto de conhecimento, disciplina e ano. Podemos enxergá-las como os
objetivos de cada objeto de conhecimento. Por exemplo, para os primeiros
cinco anos do Ensino Fundamental temos a habilidade “(EF15AR16) Explorar
diferentes formas de registro musical não convencional...” ligada ao objeto
de conhecimento “Notação e registro musical”. Convém a apreciação da
explicação do código acima na Figura 1 a seguir.
Portanto, para musicalização no Ensino Médio, podemos lançar mão dos mesmos
temas das atividades sugeridas no ensino fundamental, em uma abordagem
de exploração da linguagem e maior liberdade autoral do educando, com
possibilidades de conexões e intersecções com os conteúdos das demais áreas
do conhecimento. Dessa forma, o processo de musicalização no ensino médio,
em condição de sequenciamento curricular, deve ser promovido de maneira que:
[...] os estudantes possam assumir o papel
de protagonistas como apreciadores e como
artistas, criadores e curadores, de modo
consciente, ético, crítico e autônomo, em saraus,
performances, intervenções, happenings,
produções em videoarte, animações, web arte
e outras manifestações e/ou eventos artísticos
e culturais, a ser realizados na escola e em
outros locais. Assim, devem poder fazer uso de
materiais, instrumentos e recursos convencionais,
alternativos e digitais, em diferentes meios e
tecnologias. (Ibid.,p. 483, grifo nosso).
www
ATIVIDADE
Referências
A
musicalização é o elo entre o acervo teórico do professor e a prática
musical em sala de aula. Tudo o que se pensa em música, pode ser
tema musicalizador, desde um simples e ritmado bater de palmas até
uma complexa abordagem sobre harmonia, passando pela história da música,
composição, apreciação e outras. Com isso, a escolha da atividade a ser realizada
depende de fatores, como os que foram abordados na Unidade anterior, que
dizem respeito ao estágio musical em que a turma se encontra.
Os Pedagogos musicais promoveram suas metodologias buscando despertar o
interesse dos alunos pela música através de contextos práticos, onde a vivência
musical deve anteceder o conhecimento teórico.
A experiência direta com a música a partir da
vivência de diversos elementos musicais é o que
caracteriza os métodos ativos de educação musical.
Nesta perspectiva, o aluno participa ativamente
dos processos musicais desenvolvidos em sala de
aula, processos estes que oportunizam o contato
com várias dimensões do fazer musical. Com essas
abordagens, evita-se o foco na teoria musical e nos
exercícios descontextualizados, que muitas vezes,
desestimulam a aprendizagem musical exatamente
porque não são reconhecidos como experiências
musicais válidas. (FIGUEIREDO, 2012, p. 85).
CARL ORFF
Pensamento Norteador: “Diga-me e eu
esqueço, mostra-me e eu me lembro, en-
volva-me e eu entendo” (CARL ORFF apud
LAMBERT, 2016).
Essência Metodológica: Desenvolvimento
da expressão, criatividade e musicalidade
como um todo. Uso do instrumental Orff,
que de acordo com Materiro e Ilari (2012, p.
144) surgiu “... com a função de executar os
componentes rítmicos da prática musical”.
Recursos: Instrumentos de plaquetas (xilo-
fones e metalofones) de percussão e a voz.
Exemplos de atividade: Tocar e improvisar
em grupo, criando frases, ostinatos, pergun-
tas e respostas ou inventando rimas.
Fonte: http://cim.quattrocentoquaranta.it/wp-content/uploads/2018/06/Violoncelli-Suzuki-768x526.jpg
Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 22
MURRAY SCHAFER Figura 9 - Fazendo chuva – atividade de musicalização
com leitura alternativa
Pensamento Norteador: “Ruído
é qualquer som que interfere. É
o destruidor do que queremos
ouvir [...] a música de fundo foi
inventada para homens sem ou-
vidos” (SCHAFER, 1991, p. 69).
Essência Metodológica: de-
senvolvimento da escuta inteli-
gente por meio da observação
da paisagem sonora. A meto-
dologia proposta por Schafer
apresenta muitas possibilida-
des de aproximação da com-
preensão da teoria musical por Fonte: Acervo do Autor (2019).
Fonte: https://www.institutodopasso.org/galeria
Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 24
No ano de 1996, o professor Lucas Ciavatta, junto aos seus alunos do primeiro
segmento do ensino fundamental, vislumbrou o que naquele mesmo ano
passaria ser chamado de “O Passo”. Buscando soluções para o que ele próprio
descreve como “processo altamente seletivo do acesso à prática musical tanto
nos espaços acadêmicos quanto nos espaços populares” (CIAVATTA, 2009,
p.15), desenvolveu a construção de uma base musical rítmica com abertura
para o universo sonoro através de uma sequência de exercícios e por isso é
considerado um método.
Devido ao sentido mais amplo expressado nos conceitos, ferramentas,
habilidades e compreensões na proposição do método e também da diversidade
de canais de construção do conhecimento musical adotado, o autor também o
define como uma “abordagem multi-sensorial” (Ibid., p. 15).
O contato e estudo dos métodos musicalizadores é de fundamental importância
ao licenciando em música. Podem abrir portas para novas inspirações, como
aconteceu com o professor Lucas Ciavatta:
Há certamente várias semelhanças e até
elementos de outros métodos no caminho
d’O Passo. Se isto acontece, o motivo não
são as minhas formações específicas nestes
outros métodos, porque não as tive, mas
certamente se deve ao fato de, em minha
graduação na UNIRIO, eu ter tido contato
com estes métodos. No entanto, é preciso
que se diga que a maior inspiração d’O Passo
foi e continua sendo o fazer musical popular
brasileiro, principalmente no que diz respeito
à relação entre corpo e música no processo
de aquisição do suingue. (Ibid., p. 15).
O método tem sido aceito pela Figura 12 - Oficina d’O Passo – Trancoso - BA
comunidade acadêmica musical
como ferramenta para musica-
lização. Seu criador, Professor
Lucas Ciavatta, tem viajado por
todo o Brasil e exterior divulgan-
do e multiplicando o conhecimen-
to adquirido ao longo de alguns
anos de experimentação. Hoje,
já bem consolidado, o método
tem sido empregado fortemente
no Brasil e na França.
Fonte: https://www.institutodopasso.org/galeria
Fonte: https://www.ufpi.br/ultimas-noticias-ufpi/3736-educador-musical-lucas-ciavatta-
ministra-curso-no-cine-teatro-da-ufpi
www
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2
Um dos quatro pilares de fundamentação do método (corpo, Imaginação, grupo e cultura), que orientam um andar
específico no qual a prática do método se baseia.
Referências
A
qui faremos uma breve reflexão a respeito da preferência musical e sua
influência no processo formativo de alunos do Ensino Fundamental e
Médio. Sabemos que a preferência musical começa a ser construída
ainda na primeira infância com a influência do ambiente familiar. Já nos primeiros
anos do Ensino Fundamental a criança, através dos processos de escuta,
passa a perceber de forma mais personalizada os elementos sonoros. Com o
desenvolvimento dessa percepção a preferência musical começa a ser delineada
e, algumas vezes, afasta-se daquela iniciada, tanto no ambiente familiar quanto
da cultura local.
Não cabe neste estudo abordarmos os motivos de tal afastamento, convêm,
entretanto, refletirmos a respeito da importância da promoção de uma apreciação
musical diversificada, onde o indivíduo tenha a oportunidade de sentir-se incluído
no meio, face à aceitação de sua preferência musical, principalmente pelo
professor, e ao mesmo tempo seja exposto a elementos sonoros universais.
Busca-se, no espaço escolar, garantir uma apreciação musical ampla, capaz
de oferecer elementos para uma formação crítica isenta de preconceitos, lúcida
e criteriosa, dotando o futuro cidadão de estético senso musical. Tal senso só
nos chega com a apreciação de um repertório musical vasto, incluindo neste
Publicações sobre a cultura em que o próprio aluno esteja imerso são muito
significativas para dar-lhe a noção da importância global de sua regionalidade.
Neste sentido, a título de exemplo, temos o livro “Batucada Maranhense” do
Professor Rogério Leitão, no qual, entre outros aspectos, oportuniza a apreciação
de elementos do bumba boi de forma mais científica ou sistêmica, pois segundo
Leitão (2013, p.15), “A riqueza rítmica presente em nossas manifestações
culturais merecem ser estudadas e catalogadas mais sistemicamente, visando
sua preservação e evitando seu desaparecimento.”
Esse tipo de abordagem pode possibilitar ao aluno que vive essa realidade em
sua comunidade, um olhar mais investigativo para dentro de sua própria cultura.
Imaginemos o que pode significar para um aluno do oitavo ano do ensino
fundamental, nascido e crescido em uma comunidade que cultiva a tradição do
Fonte: http://f.i.uol.com.br/livraria/capas/images/1122261.jpeg
Há de ser dito que na Grécia antiga os benefícios da música não eram para
todos. Os escravos não a experimentavam, pois, a música destinava-se a
desenvolver “a mente, o corpo e a alma” e este desenvolvimento era restrito ao
cidadão grego. De lá para cá, a música não perdeu seus atributos forjadores do
caráter, apenas não os são mais utilizados com o mesmo rigor. E assim como na
antiguidade grega, nos dias atuais a musicalização na escola agrega à criança e
ao adolescente todos os benefícios necessários à formação humana e por estar
presente no ambiente escolar, a música, diferentemente de como era na Grécia,
é para todos sem distinção de qualquer natureza.
A música, por ser uma ferramenta de desenvolvimento moral, mental e corpóreo,
pode ocupar na escola espaços que vão além de um conteúdo obrigatório da
disciplina de arte, e estabelecer-se como, conforme aponta Granja (2006, p.
101), “um projeto de integração capaz de articular as diferentes dimensões do
conhecimento e propiciar uma formação mais condizente com as aspirações do
ser humano”.
Na obra “Musicalizando a Escola”, Granja reflete sobre a fragilidade das
disciplinas vistas isoladamente, contribuindo muito pouco para que o aluno
perceba significado no conhecimento apreendido. Em contraponto, sugere
o fortalecimento do eixo intra/transdisciplinar como solução de organização
mais fecunda entre as disciplinas. Neste sentido, em que a música se agiganta
na escola, Granja (2006) aponta propostas de projetos como tentativas de
incorporação da música enquanto tema transversal no ambiente escolar.
Fonte: https://www.maismusicamais.com/single-post/2017/10/31/Compositor-a-mente-brilhante-por-traz-das-canções
Musicalização no Ensino Fundamental e Médio 38
O conjunto de conteúdos está articulado dentro do
contexto de ensino e aprendizagem em três eixos
norteadores: a produção, a fruição e a reflexão.
A produção refere-se ao fazer artístico e ao
conjunto de questões a ele relacionadas, no âmbito
do fazer do aluno e dos produtores sociais de arte.
A fruição refere-se à apreciação significativa de
arte e do universo a ela relacionado. Tal ação
contempla a fruição da produção dos alunos e
da produção histórico-social em sua diversidade.
A reflexão refere-se à construção de
conhecimento sobre o trabalho artístico pessoal,
dos colegas e sobre a arte como produto da
história e da multiplicidade das culturas humanas,
com ênfase na formação cultivada do cidadão.
Os três eixos estão articulados na prática, ao
mesmo tempo que mantêm seus espaços próprios.
Os conteúdos poderão ser trabalhados em
qualquer ordem, segundo decisão do professor,
em conformidade com o desenho curricular de
sua equipe. (BRASIL, 1997, p.36, grifos nosso).
Essa ideia corrobora com a BNCC que, mais recentemente, aponta seis dimensões
do conhecimento para a abordagem das linguagens artísticas. Criação e fruição
são duas destas dimensões3. Elas não apresentam hierarquia entre si e podem
ser trabalhadas no campo pedagógico na ordem em que o professor planejar. As
dimensões criação e fruição, assim como as demais, buscam promover facilidade
ao processo de ensino e aprendizagem artística levando em consideração o
caráter subjetivo do conhecimento e experiência de fazer arte.
Criação: refere-se ao fazer artístico, quando os
sujeitos criam, produzem e constroem. Trata-
se de uma atitude intencional e investigativa que
confere materialidade estética a sentimentos,
ideias, desejos e representações em processos,
acontecimentos e produções artísticas individuais
ou coletivas. Essa dimensão trata do apreender o
que está em jogo durante o fazer artístico, processo
permeado por tomadas de decisão, entraves,
desafios, conflitos, negociações e inquietações. [...]
Fruição: refere-se ao deleite, ao prazer, ao
estranhamento e à abertura para se sensibilizar
durante a participação em práticas artísticas e
culturais. Essa dimensão implica disponibilidade
dos sujeitos para a relação continuada com
produções artísticas e culturais oriundas das
mais diversas épocas, lugares e grupos sociais.
(BRASIL, 2017, p. 194-195, grifos do autor).
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3
As seis dimensões são: criação, crítica, estesia, expressão, fruição e reflexão.
Resumo