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SAÚDE
PSICOTERAPIA
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148p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-697-6
CDD 616.8914
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................6
2 HISTÓRIA ..................................................................................................................................8
3 CONCEITO/DEFINIÇÃO ...........................................................................................................11 2
6 PERFIL DO PSICOTERAPEUTA..............................................................................................28
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................84
20 PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA...........................................................................................113
21.1 HISTÓRICO..............................................................................................................................115
21.2 CONCEITO...............................................................................................................................116
23 TÉCNICA .................................................................................................................................126
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................141 5
1 INTRODUÇÃO
No decorrer da vida, passamos por fases em que estamos bem. Parece que
6
encontramos o estado de felicidade. Mas em outras, encontramos dificuldades para seguir nossa
vida adiante. Nestas fases nos damos conta de que, sozinhos não conseguimos caminhar.
Reconhecemos que precisamos da ajuda de outro. Mas não pode ser outro qualquer, é preciso
que este outro esteja disposto a nos assumir do modo como somos, sem julgar, e que nos dê a
atenção devida. Pressupõe-se que este outro tenha algo mais que o diferencie que é o
conhecimento da psique. Para cuidar dos sentimentos e emoções, temos o profissional
especialista em teorias psicológicas: o psicólogo.
Freud já dizia que o desejo de se tratar deve ser primeiro do paciente, na medida em
que existe um sofrimento mental que justifique a necessidade. Quando o paciente procura um
tratamento por si só revela o desejo de amenizar seu sofrimento.
Para tanto, o psicólogo pode utilizar-se da abordagem teórica que lhe faça sentido
(psicanalítica, comportamental, humanista, etc.). A escolha da abordagem depende da forma
que este profissional entende o homem e o mundo, da sua filosofia de vida.
Segundo Hall.; Nordby (2000), para ser eficaz, a psicoterapia deve provocar o
crescimento do paciente. Uma compreensão do que significa crescer, da natureza dos processos
de crescimento e da maneira de ativar esse crescimento, constitui um conhecimento essencial
para o psicoterapeuta.
A igreja, conforme relata Stone (2005), também exerceu grande influência na cura do
sofrimento mental, muitas vezes, com características sobrenaturais, primeiramente com a Igreja
Católica que tinha como pressuposto a luta entre o bem e o mal (Deus e o diabo). Mais tarde o
protestantismo de Martinho Lutero conquistou milhares de fiéis, desafiando a autoridade da
igreja, influenciando no rumo da história. Assim, a possibilidade da crítica e do diálogo propiciou
a separação entre a Igreja e o estado, contribuindo com a ciência.
Segundo Stone (2005), já nos séculos XVI e XVII começou a surgir os hospitais
psiquiátricos, que nada mais eram que “depósito” de doentes mentais. Mas foi um século mais
tarde, com o movimento do Iluminismo que a psicoterapia começou a ser modelada conforme
hoje a conhecemos. Filósofos importantes (como Voltaire e Rousseau) contribuíram com a
antropologia e o progresso do esclarecimento humano, inclusive no esclarecimento
psicoterapêutico.
É na psiquiatria francesa, no final do século XVII e início do séc. XIX, com Pinel e
Esquirol, que a terapia psicanalítica teve sua origem, como aponta Stone (2005). O método de
cura do sofrimento mental era, dentre outros, o da sugestão, que 50 anos mais tarde foi
chamado de hipnose. Além desses médicos, o neurologista Charcot foi um grande nome,
especialmente porque teve forte influência nas teorias da psicanálise de Sigmund Freud. Foi ele
quem orientou Freud nos estudos sobre histeria.
De acordo com Stone (2005), o francês d’Hervery Saint-Denis, que registrava seus
sonhos em um livro, acreditava que os sonhos eram mensagens obscuras de dentro de cada
pessoa, passíveis de tradução. Assim, ele trabalhava com o simbolismo dos seus pacientes, por
meio de frequentes e prolongadas sessões. Essa concepção fez com que Freud, em seus
estudos sobre histeria, mudasse da hipnose para um tratamento no qual o paciente está em
alerta, associando livremente. 9
Assim, Freud foi se destacando e criando uma teoria acerca do inconsciente, sólida e
muito difundida que foi se configurando como a psicanálise clássica que hoje conhecemos,
juntamente com seus colaboradores Karl Abraham, Sander Ferenczi e Ernest Jones, que, juntos,
compunham o Círculo Secreto. Encontravam-se nas noites de quarta-feira na casa de Freud
para discutir sobre aspectos teóricos e técnicos da psicanálise (STONE, 2005).
Ocorre que, conforme relata Stone (2005), esses centros e institutos diferenciavam-se
entre si, uma vez que os autores divergiam de opiniões teóricas e técnicas. Quanto mais a
psicanálise ia se expandindo mais as escolas de terapia iam se diferenciando, com teorias e
métodos próprios.
Assim, cada autor foi se destacando em algum tipo de patologia e paciente. Melanie
Klein, Anna Freud e Margareth Mahler estudaram pacientes psicóticos. Otto Kernberg se
destacou no estudo de borderlines. Já John Bowlby seguiu seu trabalho sobre o apego,
ansiedade de separação e perda, dentre muitos outros (STONE, 2005).
Da mesma forma, acrescenta Stone (2005), vários tipos de psicoterapias foram
surgindo. Como exemplo, temos: Carl Rogers, que desenvolveu a teoria humanista, Wilhelm
Reich e sua teoria do “caráter” e Jacob Moreno introduziu o psicodrama. Já Aaron Beck se
distanciou da psicanálise de Freud, criando a teoria cognitivo-comportamental.
Então, Freud foi um dos inauguradores da psicoterapia. Mas depois dele vieram outros
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tantos; alguns o seguiram, outros acrescentaram e outros ainda se distanciaram radicalmente. A
psicanálise, a psicoterapia de orientação analítica, a psicoterapia de apoio, a psicoterapia de
grupo, a psicoterapia humanista, a existencial, a cognitivo-comportamental, além de outras, são
exemplos descritos por Stone (2005).
O mais importante é que todas têm o seu valor, suas indicações e contraindicações.
Uma não é melhor que a outra. Como afirma Stone (2005) em qualquer uma das psicoterapias é
importante que o terapeuta tenha empatia, simpatia e inteligência, minimamente.
3 CONCEITO/DEFINIÇÃO
FIGURA 1 – CONCEITO/DEFINIÇÃO
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Nessa fase, como aponta Ocampo (1974), o objetivo principal é o de conseguir uma
compreensão o mais profunda possível do psiquismo do paciente. Abrange aspectos passados e
presentes (diagnóstico), assim como também os aspectos futuros (prognóstico). Investiga
aspectos sadios e doentes do paciente e possibilita dar encaminhamentos terapêuticos
(psicoterapia individual, de grupo, casal, se será realizado trabalho multiprofissional com
psiquiatra, neurologista,...).
Vale ressaltar que não será detalhado sobre o psicodiagnóstico porque não é objetivo
deste curso.
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Didaticamente falando, após encerrar o psicodiagnóstico inicia-se o processo
psicoterápico propriamente dito. Muitas vezes, é difícil delimitar uma fronteira entre esses dois
processos, uma vez que as ansiedades da dupla estão em jogo.
De acordo com Serra (2004) a maior parte dos psicólogos brasileiros (cerca de 80%)
encontra-se atuando na área clínica, exercendo a prática da psicoterapia.
Freud, no texto de 1905, “Sobre a Psicoterapia” (1976), faz uma analogia, relacionando
o trabalho das Artes e a análise, utilizando-se da expressão de Leonardo da Vinci, per via di
levare, que se refere ao trabalho de esculpir, no qual se retira da pedra o que encobre a
superfície da escultura nela contida. A arte da interpretação tem como objetivo abrir uma via de
acesso para o conhecimento do inconsciente. Ao considerar as questões inconscientes que
permeiam as relações, o psicanalista apresenta uma especificidade ao escutar o paciente, pois
não considera somente o fenômeno manifestado, mas também os conteúdos latentes que estão
presentes. Esta prática acompanhada de uma contextualização histórica e econômica investiga
qual o sentido que determinados acontecimentos têm para o indivíduo, trabalhando não com
uma verdade absoluta, mas com uma verdade individual, construída e reconstruída nas relações. 15
Acontece que, como narra Wallerstein (2005), nem todos os tipos de pacientes podiam
se beneficiar da psicanálise na época. Logo, a psicoterapia de orientação psicanalítica começou
a entrar em cena. Emprestava os conceitos da psicanálise e os aplicava nos pacientes que não
podiam ser tratados por esta última.
Segundo Wallerstein (20005) no final da década de 1930 até início de 1950 ocorreu o
que chamou de segunda era, ou seja, a “era do consenso”, quando houve um crescimento da
psicanálise norte-americana, com psicanalistas europeus refugiados de Hitler e com o aumento
das clínicas psiquiátricas no país. Pacientes com transtornos mentais não podiam ser tratados
pela psicanálise, havendo a necessidade de se adaptarem a outras psicoterapias, especialmente
à psicoterapia de base analítica, que teve como pioneiro Robert Knight.
Após a década de 1950, como aponta Wallerstein (2005), outros pontos de vista
começaram a surgir. Alguns psicanalistas propuseram a unificação da psicanálise com a
psiquiatria. Dessa forma, passou-se a entender que havia uma grande proximidade entre a
psicanálise e a psicoterapia de base analítica.
Outro grupo de psicanalistas compartilhava de outro ponto de vista, segundo
Wallerstein (2005). Sugeriu modificações na técnica psicanalítica, uma revisão da teoria clássica,
modernizando-a.
Esses pontos de vista tiveram uma repercussão pouco significativa. Entretanto, como
salienta Wallerstein (2005), a preocupação maior era a de selecionar, dentre a variedade de
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métodos terapêuticos, o mais adequado para a estrutura psicológica de cada paciente.
Então, continua Wallerstein (2005), para selecionar o método mais adequado, faz-se
necessário delinear as diferenças dentre as psicoterapias de orientação analítica. Com este
intuito, vários autores deram sua contribuição. Dentre eles podemos citar Gill, Rangell e Stone,
além de Anna Freud.
Atualmente, Wallerstein (2005) chama de era de “um mundo sem consenso”, pois se
torna cada vez mais difícil definir tais diferenças. Difícil, mas não inexistentes.
É difícil definir qual a melhor abordagem teórica a ser usada para cada tipo de paciente
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ou de patologia. Mesmo porque todas elas têm um objetivo em comum, que é o de ajudar a
minimizar o sofrimento do paciente, favorecendo seu crescimento pessoal. A diferença está na
técnica, isto é, no modo como se alcançarão os objetivos. Desde que o profissional conheça bem
sua abordagem, todas elas serão valiosas.
Ao falar sobre si, por meio da associação livre, o paciente expressará seus conteúdos
inconscientes. Por meio da transferência e da contratransferência o terapeuta poderá interpretar
tais sentimentos e dar um novo sentido para o sintoma do paciente. A mudança ocorre quando é
possível dar um novo sentido para o seu sofrimento, quando seu sintoma pôde ser elaborado.
Carl Gustav Jung foi um autor que concordou, pelo menos na fase inicial de seu
trabalho, em muitos pontos da teoria de Sigmund Freud, mas teve seus próprios pensamentos e
ideias, tornando a sua psicologia conhecida como “Psicologia Analítica” (em 1913, no 4º
Congresso Internacional de Psicanálise, em Munique, Jung chama sua psicologia de Psicologia
Analítica).
ou não. Entretanto, como ele próprio dizia, seus escritos são de difícil compreensão, e talvez por 20
este motivo sua obra não é tão lida quanto a de Freud, por exemplo (STORR, 1993).
Como pontua Jacobi (in CLARET, s/ano, p.45), a psicologia de Jung ajuda “o indivíduo
a descer conscientemente às profundezas da própria alma, a reconhecer os conteúdos dela e
integrá-los na consciência”.
Jung possuía um penetrante sentido histórico. Ele achava que a natureza do homem
não tinha mudado grande coisa no decurso de muitos séculos. Estudou mitologia, antropologia,
religião e alquimia. Por isso, desenvolveu o conceito de inconsciente coletivo.
Quando se transporta uma doença pessoal a um nível mais alto e geral, há um efeito
curativo. Às vezes, o consolo espiritual ou a influência psíquica podem ajudar ou até curar uma
doença. Assim, o fato do paciente perceber que o sofrimento não é só seu, mas sim geral, já lhe
causa um alívio, um consolo (JUNG, 1985).
Jung foi o primeiro a insistir em que o próprio analista seja também analisado. Entre
1914-1918 ele fez sua autoanálise, o que influenciou muito em sua teoria. Ele parte da solução
de seus próprios problemas para a solução dos problemas dos outros. Desse modo, o paciente
vai se desenvolver até o nível em que seu terapeuta tiver se desenvolvido.
carrega conteúdos subjetivos sobre o objeto. O termo transferência significa “carregar alguma
Freud também concorda com esse conceito, mas Jung vai além, e acrescenta a
observação de que não são apenas as imagens pessoais da infância do paciente que se
projetavam, mas também as figuras arquetípicas1.
Para Freud a transferência é o que move o tratamento, se ela não existir, não há cura.
Mas para Jung ela não é necessária, chegando até ser indesejável. “Uma transferência é sempre
um estorvo, jamais uma vantagem. Cura-se apesar da transferência e não por causa dela”
(JUNG, 1985, p.141). Para Jung não é preciso que o paciente ame ou odeie o terapeuta, porque
o problema central do paciente é que ele aprenda a viver a sua própria vida, sem que o
terapeuta se intrometa nela.
Em psicoterapia, o fato de o paciente ter emoções, por si só, exerce efeito no analista.
Assim, o terapeuta serve de função especular, isto é, aceita as emoções do paciente sendo um
espelho para elas. Nesse sentido Jung não aceita a ideia do uso do divã. Para cumprir a função
especular, o terapeuta deve estar de frente ao paciente, de modo que este primeiro tenha
liberdade para reagir às emoções do segundo.
1 Os arquétipos não podem ser descritos, mas seus conceitos aparecem na consciência como imagens e idéias
arquetípicas. São padrões ou motivos universais que vêm do inconsciente coletivo e formam o conteúdo básico das
religiões, mitologias, lendas e contos de fadas. Emergem nos indivíduos através de sonhos e visões.
Temos também o conceito de contratransferência, que se refere aos sentimentos do
analista em relação ao seu paciente (o processo inverso da transferência). Os conteúdos
projetados pelo paciente são idênticos aos elementos do inconsciente do próprio terapeuta.
Entretanto, se o terapeuta não conhecer seu inconsciente, pode ser que o paciente caia no
inconsciente de seu terapeuta, e então o processo terapêutico pode travar. Assim, fica mais uma
vez confirmada à importância do terapeuta em fazer análise. (JUNG, 1985). 23
Quanto ao teste da associação de palavras, Jung (1985) afirma que está um tanto
ultrapassado, por isso não o utiliza mais em seus pacientes. Este teste consiste em uma lista de
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mais ou menos cem palavras. Explica-se à pessoa que se submete ao teste que, após a
apresentação da palavra estímulo, o mais rápido possível ela tem que dizer qual a palavra que
surge na cabeça. Marca-se o tempo de cada resposta e depois se tira a média deste tempo.
Após, parte-se para uma segunda etapa: repetem-se as palavras estímulos e o indivíduo tem
que repetir suas respostas. Em alguns momentos a memória falha, e tais erros é que são
significativos.
linguagem dos sonhos é uma linguagem natural, simbólica, que talvez seja difícil de
compreender, mas não constitui uma tentativa de esconder coisa alguma. Podem-se ler os
sonhos como se aborda uma língua estrangeira. Muitos sonhos originam-se no inconsciente
pessoal, isto é, dizem respeito aos problemas emocionais cotidianos, às relações interpessoais e
Jung estava mais interessado nos sonhos que se originavam no inconsciente coletivo.
Nesses casos ele não hesitava em fornecer suas próprias associações, filtradas do seu próprio e
extenso conhecimento de mitologia, religião e alquimia. Essa técnica é chamada de
amplificação, isto é, a prática de fornecer ao paciente analogias e comparações.
Durante a sua autoanálise, Jung desenhava e pintava suas próprias visões e sonhos.
Ele encorajou seus pacientes a fazerem o mesmo, ou, escrever poemas, fazer modelagens ou
esculturas, ou mesmo dançar suas próprias fantasias. Embora um paciente possa tratar um
sonho dessa forma e fosse estimulado a fazê-lo, Jung estava mais interessado na espécie de
fantasia que acode à mente das pessoas quando elas não estão despertas nem adormecidas,
mas num estado de divagação em que o raciocínio está suspenso, mas não se perdeu a
consciência (STORR, 1993).
A descrição acima se refere à técnica da imaginação ativa, que se destina a mobilizar a
criatividade do paciente. É uma forma de desenvolver as possibilidades criadoras latentes no
próprio paciente.
Nesse sentido, para Bahls; Navolar (2004) existem dois tipos de comportamento: o
comportamento respondente (que tem um caráter involuntário) e o comportamento operante
(com caráter voluntário). O primeiro é aquele capaz de modificar o ambiente, e sofre influências
sobre o próprio ambiente. Já o comportamento clássico ou respondente está associado ao
conceito de estímulo-resposta.
5.3.1 Indicações
Individual;
Grupal;
Casal;
Familiar.
6 PERFIL DO PSICOTERAPEUTA
Quando o paciente toma a iniciativa de procurar ajuda por si só, esse já é um bom
prognóstico. Supõe que a pessoa percebe que está sofrendo, não concorda com seus sintomas
e tem o desejo de mudança. Este tipo de paciente é chamado de egodistônico.
Quanto ao paciente, este também tem suas expectativas, uma vez que buscou ajuda
porque está sofrendo. Algumas expectativas estão relacionadas a algumas questões: será que o
paciente vem buscar a solução mágica para seus problemas? Será que está disposto a ter uma
postura ativa no tratamento, ou espera mais do psicólogo?
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< http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-
Sigmund_Freud_LIFE.jpg>. Acesso em: 05 ago. 2011.
O analista não pode fazer nada ao paciente, se este último não demonstrar um mínimo
de interesse pela sua cura (isto é, vir até o consultório). Nesse sentido não é recomendado que o
analista vá até a casa do paciente.
Outra diferença reside no atendimento aos quadros psicóticos, que podem ser tratados
pela psicoterapia de orientação psicanalítica, bem como os mais urgentes, desde que o trabalho
seja em conjunto com outros profissionais, como psiquiatra, neurologista, nutricionista (no caso
de transtornos alimentares), etc.
8 A ENTREVISTA PSICANALÍTICA
Sobre isso Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) apontam que é importante favorecer a
expressão dos conteúdos inconscientes, e, portanto, “devemos deixá-lo tanto quanto possível à
vontade para mostrar seu modo de ser e de interagir conosco”.
Tendências suicidas;
Uso de dependências químicas;
Compulsões (alimento, jogo, sexo, etc.);
Sintomas somáticos;
Fobias;
Uso de medicação, especialmente as de uso psiquiátrico, como os ansiolíticos,
antidepressivos e anticonvulsivantes.
Freud [1913(1976)] diz no texto em que faz recomendações aos psicanalistas que os
aspectos importantes no início do tratamento são os acordos quanto a tempo e dinheiro, ou seja,
o contrato. Está incluído ainda o diagnóstico e indicação terapêutica realizados pelo terapeuta.
Quanto ao tempo, Freud [1913(1976)] alerta que “a cada paciente é atribuída uma hora
específica de meu dia de trabalho disponível, pertence a ele que é responsável por ela, mesmo
que não faça uso da mesma” (p. 168).
Ainda quanto ao tempo, o paciente geralmente tem curiosidade de saber quanto tempo
vai durar o tratamento. Freud [1913(1976)] faz uma comparação com o tempo de construção de
uma casa: “na verdade, a pergunta relativa à duração provável de um tratamento é quase
irrespondível” (...) e acrescenta: “mesmo pessoas inteligentes esquecem que uma proporção
necessária tem de ser observada entre tempo, trabalho e sucesso” (p. 170).
Freud [1913(1976)] orienta para a importância de não dar prazos para o fim do
tratamento. Além disso, pode ser conveniente, em algumas situações, informar ao paciente
sobre a interrupção do tratamento. Este autor compara a interrupção de uma análise com a
interrupção de uma cirurgia, sendo, portanto, insatisfatório.
Outro fator a ser discutido no contrato refere-se aos honorários do terapeuta, quando
se tratar de clínica privada. Freud [1913(1976)] faz uma associação entre dinheiro e fatores
sexuais. Sugere que os honorários sejam tratados de forma espontânea e sincera, sem
vergonha.
Há que se identificar o simbolismo que o dinheiro tem para cada paciente. Assim, o
terapeuta deve ser responsável por receber os honorários, de modo que possa realizar as
interpretações quando necessário. Portanto, é ideal que não seja função da secretária.
Quanto ao tratamento, Freud [1913(1976)] conclui: “nada na vida é tão caro quanto a
doença e a estupidez” (p. 176).
10 ALIANÇA TERAPÊUTICA
A aliança terapêutica, também chamada de vínculo, diz respeito a uma relação dual:
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paciente e terapeuta. Segundo Keidann; Dal Zot (2005) refere-se à capacidade de estabelecer
uma relação de trabalho entre a dupla. Ocorre após o contrato e é à base do processo
psicoterápico.
Ocorre após a dissociação do ego do paciente. Ou seja, parte do paciente deseja falar
do problema e a outra não quer, porque lhe causa sofrimento. Ao realizar a dissociação, o
paciente irá se identificar com o terapeuta. Trata-se de um processo importante na psicoterapia:
o paciente irá se identificar com a parte do ego saudável do terapeuta (já que a mente desse
está mais saudável, após ter realizado sua análise). Então, a melhora se dá quando está
incorporado o ego saudável do terapeuta no paciente (DEWALD, 1981).
De acordo com Freud [1905(1976)] o aparelho psíquico está dividido em: consciente,
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pré-consciente e inconsciente.
De acordo com Luz (2005) a psicoterapia passa por três fases, sendo elas: início, fase
intermediária e término.
Quanto ao início do tratamento, Luz (2005) salienta que compreende desde o primeiro
contato com o paciente até o estabelecimento da aliança terapêutica, que pode variar de
sessões a meses, conforme cada caso.
O maior risco nessa fase, como aponta Luz (2005), é a interrupção precoce do
tratamento. Para tanto, um recurso útil diz respeito aos conteúdos contratransferenciais, ou seja,
os sentimentos que o paciente desperta no terapeuta.
42
As fantasias iniciais, por parte da dupla, são inúmeras. Quanto às fantasias do
paciente, este pode ter medo de entrar em contato com seus conflitos mais infantis porque foram
desastrosos, pode ter medo de ficar dependente do terapeuta. Pode ainda ter medo de perder o
controle de suas emoções ou de aflorar fantasias eróticas. De qualquer forma, cabe ao terapeuta
interpretar tais fantasias, para que deixem de ser um obstáculo ao tratamento, ou seja, deixem
de ser resistências (LUZ, 2005).
Já a fase intermediária da psicoterapia é definida por Luz (2005, p. 258) como a fase
mais longa, que compreende desde o estabelecimento da aliança terapêutica até o momento da
alta. O objetivo desse momento é o de “examinar, analisar, explorar e resolver os sintomas e as
dificuldades emocionais do paciente”. Quanto à técnica, a interpretação das resistências iniciais
e dos conflitos inconscientes do paciente é a principal delas.
Em relação à temática abordada nesta fase, o foco são os assuntos trazidos pelo
próprio paciente durante as sessões. Geralmente são temas referentes às situações vividas no
dia a dia, como conflitos de relacionamento familiar, no trabalho; ambições, planos e decepções.
Enfim, sofrimentos cotidianos (LUZ, 2005).
Quanto à postura do terapeuta, Luz (2005) recomenda que seja atenta e respeitosa, de
modo que o paciente possa sentir-se à vontade para falar. Dessa forma, à medida que vai
surgindo o momento oportuno, o terapeuta poderá intervir, seja pontuando, assinalando ou
interpretando.
Ocorre que, como aponta Luz (2005), na fase intermediária nem sempre o processo
evolui tão bem. Às vezes pode ocorrer uma estagnação temporária, em função das resistências,
impasses, acting out, perturbação da aliança terapêutica, etc.
A alta é uma questão de comum acordo entre a dupla. Para o terapeuta, alguns
indicadores subsidiam seu trabalho, segundo Luz (2005). São eles:
Ocorre que nem sempre o processo psicoterápico tem êxito. Então se depara com o
fenômeno do abandono do tratamento, que é sempre indesejável.
De acordo com Laplanche e Pontalis (2008, p. 458) “chama-se resistência a tudo o que
44
nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso deste
ao seu inconsciente”.
Segundo Francisco (1995) o acting out pode estar a serviço ao que Freud chamou de
“lembranças encobridoras”. Ao invés de lembrar, o indivíduo atua, uma vez que se trata de
experiências infantis bastante remotas e que não foram compreendidas na ocasião. Pode se
referir a várias situações que se opõem ao processo analítico, como o silêncio, esquecimento de
sessões, decisão súbita de deixar a análise, dentre outros.
Entretanto, como aponta Gus (2005), o fenômeno do acting out pode ser útil ao
tratamento, desde que compreendidos e bem encaminhados àqueles pacientes de difícil acesso,
em que predominam o pré-verbal, a desorganização psíquica, o caos e o vazio mental.
Sendo assim, afirma Gus (2005) que, no acting out e enactment a realidade psíquica
ganha expressão, por meio do ato, de vivências primitivas dolorosas (como ansiedades
persecutórias, etc.), as quais o indivíduo não se lembra e que podem ser percebidas por meio da
transferência e da contratransferência. Portanto, trata-se de revivências de conflitos primitivos da
dupla terapêutica.
Nesse sentido, Gus (2005) entende que as vivências primitivas são da dupla terapeuta-
paciente. As experiências de fantasias inconscientes destrutivas, arcaicas, de ansiedade
persecutória e situações traumáticas são reeditadas por ambos. Então, o psicoterapeuta também
possui papel fundamental: há que se compreender e manejar adequadamente o fenômeno do
acting out e enactment.
Longos silêncios, faltas e atrasos podem se configurar como acting out, que, caso
ocorram de forma intensa no início do tratamento, podem levar à interrupção do tratamento
(GUS, 2005).
Há também o fenômeno do impasse que, segundo Pires (2005) pode estar relacionado
à interrupção no tratamento psicoterápico. Trata-se de uma estagnação do desenvolvimento da
terapia, que implica num cessamento da elaboração, perceptíveis no processo transfero-
contratranferencial, caracterizada por intensas repetições de conflitos não resolvidos envolvendo
a dupla terapêutica.
O fenômeno do impasse muitas vezes é confundido com o acting out, como sinaliza
Pires (2005). A diferença reside no momento em que ocorrem: o acting out pode ocorrer já no
início do tratamento, enquanto que o impasse geralmente deve ocorrer em fases posteriores do
processo psicoterápico.
[...] em defesa de, pelo menos parte dessa ideia, é preciso dizer que
uma interrupção é sempre mais ética do que a manutenção de um
tratamento interminável, pois esta última opção configura uma 47
espoliação emocional e econômica do paciente por parte do terapeuta.
O sintoma implica num ganho secundário. Funciona como uma “bola de neve”, isto é,
quanto mais o tempo passa, mais fica prejudicial. É uma metáfora de uma resolução sexual e
implica numa homeostase (equilíbrio) do aparelho psíquico. Este equilíbrio é dinâmico (em
alguns momentos é bom, mas em outros é ruim). Acontece que o sintoma toma bastante libido
(energia) do indivíduo, impedindo, assim, que ele não tenha energia para outras coisas.
Esta é uma técnica que deve ser usada com cautela, uma vez que tem seu momento
oportuno. A recomendação é que o terapeuta possa identificar quando seu paciente estiver
próximo de tornar o conteúdo consciente. É difícil saber se uma interpretação está correta. Mas
alguns indícios podem ser observados. Ao interpretar, é importante avaliar a reação do paciente,
o assunto ou material seguinte que ele vai trazer.
Segundo este autor é importante deixar o paciente falar, mas cabe ao terapeuta a
função da escuta especializada.
Em oposição, tem também aquele paciente que fala muito, como uma espécie de
descarga emocional. Entretanto, deixa de falar o mais importante. Pode ser inclusive, um tipo de
51
resistência.
Segundo Dewald (1981), o esclarecimento é uma forma de intervenção que tem por
objetivo esclarecer alguma situação específica da experiência e do comportamento do paciente.
Está mais no nível consciente e pré-consciente.
FIGURA 2 - DIVÃ
52
O paciente não inicia o tratamento logo deitando no divã. O momento de deitar é
aquele em que de fato inicia-se a análise, ou seja, quando o paciente não tem nada mais para
contar sobre sua história de vida. O ato de apenas descrever fatos não significa
necessariamente que está sendo terapêutico. Há que se avaliar os casos em particular, mas às
vezes pode demorar mais de um ano para iniciar o processo de análise propriamente dito e
poder deitar no divã.
A relação com o outro é saudável para a Psicanálise, uma vez que há investimento de
libido (ou energia). Uma pessoa que se isola do mundo reveste-se em seu próprio narcisismo, e
consequentemente, surgirão os sintomas. Todo amor tem sua origem nas fontes primitivas, de
contato com a pele (inicialmente, da mãe com o bebê). Com o passar do tempo, a sociedade
exige que esse amor mude de direção, passando para um amor genital.
Nesse sentido, Freud usou o termo “sexualidade” em alemão “lieben”, que significa
“amar”. Portanto, este autor utiliza esse conceito em praticamente toda sua obra. Nesse sentido,
não se limita ao sexo no sentido genital, como entende o senso comum (FREUD [1910(1976)]).
Ainda com relação à técnica, em sua obra “Recordar, repetir e elaborar”, Freud
[1914(1976)], orienta o caminho do processo psicoterápico.
Recordar significa contar o que sabe da experiência ou evento traumático. Mas Freud
[1914(1976)] salienta que nem sempre o indivíduo recorda de suas experiências infantis, mas as
reproduz por meio da ação (acting out), repetindo-as. Não é tão importante que o paciente se
lembre das suas experiências, porque ele vai repeti-las na terapia.
Mas o que o paciente repete? “Repete ao invés de recordar e repete sob as condições
da resistência” (FREUD [1914(1976) p. 198]). O paciente repete ou atua seus conteúdos
reprimidos, traços patológicos, seu sintoma e as resistências.
A doença do paciente, como sinaliza Freud [1914(1976)], é atual, e dessa forma deve
ser tratada. As origens da doença é que estão associadas às experiências passadas. Portanto, o
paciente irá repetir fragmentos da vida real, atual.
Segundo Milhollan e Forisha (1972), no século XIX a Psicologia começa a evoluir como
disciplina independente, apesar dos problemas psicológicos de mente e conhecimento serem de
domínio de filósofos. Fisiologistas e físicos contribuíram para a Psicologia por meio do estudo do
sistema nervoso e da sensação.
Para que a Psicologia pudesse se tornar uma ciência (até então era estudada como
disciplina da Filosofia) era importante torná-la mais objetiva. Era importante que seu objeto de
estudo pudesse ser mensurado, observado. Nesse sentido, alguns nomes foram muito
importantes. Dentre eles, destacam-se: Wundt, Thorndike, Pavlov, Watson e Skinner.
57
FIGURA 2 – CAIXA
58
FIGURA 3 - CONDICIONAMENTO
59
FIGURA 5 - SKINNER
61
1. Indicações
O termo agorafobia foi proposto em 1871 por Westphal (1822-1890), que significa medo
de lugar amplo e movimentado (ágora, em grego – assembleia de pessoas, praça do mercado).
Transtorno de pânico começou a ser conceituado por Freud, em seus escritos sobre neuroses de
ansiedade. No tratamento são associados psicoterapia com medicamentos. Estudos mostram
que no tratamento psicológico deve estar incluído um repertório de manejo das crises, como a
exposição aos estímulos temidos e treino em relaxamento. Muito eficaz no tratamento é a
estratégia A.C.A.L.M.E.-S.E, descrita a seguir:
A.C.A.L.M.E.-S.E.
63
A chave para lidar com um estado de ansiedade é aceitá-lo totalmente. Permanecer no
presente e aceitar sua ansiedade a faz desaparecer. Para lidar com sucesso com sua ansiedade
você pode utilizar a estratégia “A.C.A.L.M.E.-S.E.”, de oito passos. Usando-a você estará apto(a)
a aceitar sua ansiedade até que ela desapareça.
De acordo com Falcone.; Figueira (2001), ansiedade frente a várias situações sociais é
normal e adaptativa, pois permite comportar-se de maneira adequada. Mas quando a ansiedade
é muito intensa interfere no funcionamento social e na vida da pessoa. A fobia social, como 65
também é chamada, manifesta-se como medo excessivo de comportamentos humilhantes e
embaraçosos e consequente desaprovação e rejeição pelas outras pessoas. As situações mais
temidas são: falar em público, comer e beber na frente dos outros, falar com estranhos e ao
telefone, participar de reuniões sociais, interagir com o sexo oposto, lidar com figuras de
autoridade, entre outros. Alguns apresentam manifestações físicas, como tremor, sudorese,
palpitações, e outros relatam apenas autoconsciência e medo. A evitação fóbica pode ser sutil
ou extrema. São utilizados no tratamento os psicofármacos e estratégias terapêuticas, como a
exposição ao vivo combinada com reestruturação cognitiva.
67
FIGURA 9 – TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA.
68
71
14.7 TABAGISMO
Apesar de todo mal que o cigarro faz à saúde, seu consumo continua aumentando.
Fumar é um comportamento reforçado por meio de estímulos externos e internos. Estratégias
úteis no tratamento são a retirada gradual e métodos aversivos e terapia de reposição de
nicotina (GIGLIOTTI et.al. 2001)
FIGURA 14
72
73
74
75
79
15.5 AUTOINSTRUÇÃO
81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste módulo foi apresentar de maneira resumida uma introdução ao estudo
da psicoterapia cognitivo-comportamental, suas aplicações e técnicas mais utilizadas, trazendo
também conceitos das terapias, cognitiva e comportamental. Atualmente é uma das abordagens
mais utilizadas no tratamento de problemas psicológicos e psiquiátricos. Apresenta resultados
significativos e comprovados, tanto para crianças, quanto para adultos ou adolescentes,
individualmente ou em grupo. É também uma terapia de caráter educativo, já que o paciente
também aprenderá sobre o processo da terapia.
85
16 PSICOTERAPIA DE GRUPO
16.1 INTRODUÇÃO
Para Lewin, o fato de ouvir as pessoas falando de seus próprios problemas já era em si
terapêutico. Dessa concepção resultou uma das características atuais, que é o “fator da
87
universalidade”, isto é, em grupo, os pacientes não sentem que estão sozinhos e que são os
únicos que sofrem. Além desses fatores, Yalom (2006) menciona outros, como o altruísmo e a
socialização.
É importante ressaltar que a Psicoterapia de Grupo pode ser tão eficaz quanto a
Psicoterapia Individual. Cada uma possui suas especificidades que podem trazer benefícios
terapêuticos para o paciente. De qualquer forma vale a recomendação clássica de qualquer
tratamento, que considera que a formação, teórico-prático do profissional é indispensável:
conhecimento, supervisão e análise pessoal.
17 FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS
Mas o que a Psicologia Social tem a ver com a Psicologia de Grupo? Já foi dito
anteriormente que a segunda nasceu da primeira, além disso, Freud utiliza essas expressões
como sinônimas. Para este autor [1920-22(1976)] “a psicologia de grupo interessa-se assim pelo
indivíduo como membro de uma raça (...) ou como parte componente de uma multidão que se
organizam em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido” (p. 92).
Zimerman (2000) ampliou esta ideia e desenvolveu o que ele chamou de “campo
grupal”: num grupo os fenômenos encontrados são reflexos da interação entre os participantes, e
não uma somatória de cada um.
Nesse sentido, os fenômenos inconscientes exercem mais influência que nossa vida
consciente. A maior parte de nossos comportamentos é regida pelas leis da instância psíquica
90
que não temos conhecimento – o inconsciente.
A necessidade de haver um líder no grupo já era um tema discutido por Le Bon, citado
em Freud [1920-22(1976)]. Este autor faz uma associação do grupo com um rebanho obediente,
o qual precisa de um pastor. Mas salienta que o líder deve ter algumas qualidades, como
“prestígio”, acreditar fielmente nas suas ideias, além de ser imponente.
91
FIGURA 2 – CAMPO GRUPAL
É da natureza do homem interagir entre si. Para tanto, alguns conceitos estudados nas
relações humanas dizem respeito à interação social, comunicação e grupo. A Psicologia Grupal
apropria-se justamente desta necessidade que o indivíduo tem de agrupar-se, inicialmente
espontaneamente – família, grupo na escola, creche, cursos, trabalho, clube, etc.
Segundo Zimerman (2000), “grupo” pode ser definido como um conjunto de pessoas.
Um conjunto de pessoas refere-se a uma “comunidade”, que por sua vez, um conjunto de
comunidades constitui uma sociedade.
Entretanto, o grupo que interessa (o grupo terapêutico) tem que ter alguns requisitos,
como salienta Zimerman (2006). Um simples aglomerado de pessoas não forma um grupo
propriamente dito. Este autor ilustra claramente essa concepção quando compara um grupo com
uma orquestra: antes de iniciar o concerto os músicos, isoladamente, são simples músicos. Mas
quando o maestro inicia a regência, a orquestra se torna um grupo de fato, pois cada um tem
seu papel, lugar e posição, além de um objetivo em comum: tocar uma canção. Nesse mesmo 92
sentido, um grupo terapêutico possui um objetivo, uma tarefa a cumprir e uma organização
própria.
Quando as pessoas estão num grupo forma-se o que Zimerman (2000) chama de
“campo grupal”, que constitui numa “estrutura que vai além da soma dos componentes” (p. 84). É
resultante de alguns fenômenos subjetivos que são reflexos da interação de todos os membros.
São eles: fantasias, mecanismos de defesas, ansiedades, resistências, transferência e
contratransferência, vínculos, etc.
Vale ressaltar que o campo grupal refere-se à dinâmica de interação entre todos os
participantes e ao terapeuta. Entretanto, as identidades específicas de cada membro precisam
ser respeitadas.
Embora não aja evidência científica de que a família nuclear (pai, mãe e irmãos) seja
considerada como o grupo primordial ou primeiro, uma associação com o grupo terapêutico
permite observar algumas semelhanças.
Em qualquer família, percebe-se que cada membro desempenha papel e função
definidos, assim como nos grupos terapêuticos.
A associação vai além e permite analisar que no grupo familiar há regras e maneiras
próprias de organização e funcionamento, muitas vezes implícitas. Estão envolvidos sentimentos
ambivalentes, como os de amor (segurança, aconchego, carinho) e de ódio, ciúme, inveja,
93
rivalidade e rejeição. As figuras, materna e paterna constituem nos primeiros modelos de
identificação para o indivíduo (RAVAZZOLA, 1997).
A família, para Osório (1997, p. 50) “é uma unidade grupal onde se desenvolvem três
tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e consanguinidade (irmãos)”. É
uma instituição universal, presente em todas as culturas e épocas históricas. O que varia com a
contemporaneidade é a estrutura, formando novas configurações. A família tradicional – pai, mãe
e filhos – é cada vez menos comum, ao passo que a união entre homossexuais, produções
independentes, (re) casamentos, adoções e filhos de casamentos anteriores são cada vez mais
frequentes.
A função materna pode ser resumida pelo conceito de Winnicott, isto é, da mãe
suficientemente boa. Refere-se aquela mãe que é capaz de gratificar e de frustrar seu bebê na
medida certa. É aquela mãe que consegue prover as necessidades físicas e emocionais – de
alimento, calor, amor, carinho,... Sua função é a de ser continente, ou seja, acolher as angústias
e ansiedades da criança e depois devolvê-la modificada. Por outro lado, essa mãe pode frustrá-
la na medida certa, sabendo estar ausente (ZIMERMAN, 2000).
A função paterna, segundo Zimerman (2000), também é muito importante. Está
relacionada a proporcionar estabilidade, segurança e apoio à mãe, na tarefa de cuidar e de
educar a criança. É, especialmente, do pai a função de colocar limites, auxiliando no processo de
separação-individuação, necessária para o desenvolvimento saudável do filho.
Quanto aos irmãos, estes também têm sua influência na dinâmica do grupo familiar.
94
Para Zimerman (2000) é entre os irmãos que se experimenta a capacidade de lidar com
sentimentos ambivalentes, que são vivenciados em relacionamentos futuros. Referem-se aos
sentimentos fraternais, de cuidado, carinho e zelo com o irmão, assim como também aos
sentimentos marcados por rivalidade, ciúme e inveja.
São amplas e ricas as possibilidades de grupo que fica difícil listar e definir exatamente
cada modalidade, mesmo porque muitas delas se entrelaçam ou se complementam.
A seguir está descrita uma classificação proposta por Zimerman (2000, p. 90) referente
ao critério da finalidade. Eis a divisão:
95
- Ensino-aprendizagem
- Institucionais (empresas,
escolas, igreja, exército,
OPERATIVOS associações, etc.)
- Comunitários (programas de
saúde mental)
- na área médica em
geral (diabéticos,
reumáticos, idosos,
etc.)
TERAPÊUTICOS
- base psicanalítica
- psicodrama
- abordagem múltipla
18.1 GRUPOS OPERATIVOS
97
18.2 GRUPOS TERAPÊUTICOS
2. Tipos de grupos
98
Aberto. Caracteriza-se por não ter um prazo para o término, além do que permite
que entrem e saiam pessoas do grupo.
Para Pichon-Rivière (1991) o doente costuma ser o porta-voz das angústias e conflitos
do grupo. Inconscientemente, o grupo “elege” essa pessoa porque é insegura, característica
essa que tende a deixar o indivíduo paralisado e doente (quando a natureza do papel for
patológica).
Radar. Esse papel costuma ser assumido por aquela pessoa do grupo que
capta, antes dos demais, os primeiros sinais de angústias e ansiedades do grupo. Geralmente,
esses conflitos são expressos por intermédio de abandono do tratamento, somatizações e outras
atuações; ou seja, de forma não verbal (ZIMERMAN, 2000).
Apaziguador. É aquele papel conhecido como “colocar pano quente”. Como 100
afirma Zimerman (2000) é desempenhado por pessoas que apresentam dificuldades de lidar
com situações tensas, ou de agressividade.
Esse papel orienta Pichon-Rivière (2000), pode ser de natureza boa (maternal,
paternal, etc.) ou má, nas situações em que predominam fantasias paranoides, persecutórias,
etc.
101
19 A FORMAÇÃO DE UM GRUPO
A indicação para psicoterapia de grupo deve ser feita com cautela. Nem todos os
pacientes podem se beneficiar dessa modalidade terapêutica. Uma seleção acertada implicará
em bons resultados.
Pesquisas revelam, segundo Yalom (2006), que a psicoterapia de grupo é tão benéfica
quanto à modalidade individual. Além disso, alguns benefícios podem ser adquiridos mais com a
terapia de grupo, principalmente aqueles relativos às questões sociais, como melhorar as redes
sociais e a aprendizagem social.
O trabalho em grupo tem seus benefícios peculiares que não são observados na
Psicoterapia Individual. Em algumas situações, como por exemplo, na dependência química, a
grupoterapia com os pacientes e com a família é muito eficaz. Diz Ravazzola (1997, p. 301) que
“a interação entre pares torna-se facilitadora da mudança. Escutar um par não é o mesmo que
um terapeuta. As pessoas se aliviam ao descobrir que outros compartilham seu problema e que
transitam por caminhos semelhantes”.
Pichon-Rivière (1991) afirma que algumas características são universais, isto é, fazem
parte de todas as pessoas. São elas: medos básicos (perda e ataque); sentimento de
insegurança; fantasias básicas (doença, tratamento e cura) e processos de aprendizagem e
comunicação.
Nas instituições públicas (Sistema Único de Saúde), a exemplo das Unidades Básicas
104
de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Centro de Referência da
Assistência Social (CRAS), há uma tendência em se trabalhar com grupos. A demanda de
pacientes é muito grande, o que torna a fila de espera cada vez maior. Em grupo, num mesmo
espaço de tempo e por um mesmo profissional, podem ser atendidas mais pessoas.
Nas Unidades Básicas de Saúde, que têm por objetivo a atenção primária da saúde, de
caráter preventivo, alguns grupos temáticos são interessantes. O trabalho em grupo de acordo
com as fases do desenvolvimento, como crianças, orientação aos pais, gestantes e idosos, por
exemplo.
A formação dos grupos pode ocorrer também por patologias, como: grupo de pacientes
deprimidos, ansiosos, psicossomáticos, dentre outros. Outra modalidade de trabalho com grupos
pode ser numa perspectiva interdisciplinar, quando o psicólogo atua junto aos demais
profissionais da saúde. Como exemplo, temos: grupo de hipertensos, diabéticos, obesos e
dependentes químicos.
Yalom (2006) salienta que é muito difícil selecionar os pacientes mais indicados para a
grupoterapia, e já adianta que é mais fácil estabelecer critérios de exclusão do que de inclusão.
Mesmo porque existem vários tipos de grupos. Assim, determinado paciente não está indicado
para um tipo, mas pode estar para outro.
Zimerman (2000) lista um grupo de pacientes que são contraindicados para a terapia
de grupo. São eles:
Pode-se também combinar com o grupo outras questões que possam contribuir com o
bom andamento da terapia, como o uso do celular, respeito a individualidade e as diferenças,
sigilo, etc.
Entretanto, vale lembrar que um grupo não significa uma mera junção de pessoas;
portanto não é somente fazer uma simples transposição da técnica, da natureza individual para a
coletiva.
Faltas;
Atrasos;
Solicitações de mudança de horário;
Longos silêncios;
Combinados de não falar em determinado assunto;
Solicitação por terapia individual;
Dificuldades com honorários, etc.
Quanto aos motivos principais, para Zimerman (1997), que possam evocar as
resistências, podem ser:
Medo do desconhecido;
Medo da humilhação;
Vergonha;
Presença da inveja;
Medo da depressão;
Falhas técnicas do terapeuta.
110
19.4 TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA
19.5 COMUNICAÇÃO
Zimerman (1997) afirma que as dificuldades encontradas no processo da comunicação
numa terapia de grupo ficam mais evidentes do que na terapia individual. Uma análise deste
fenômeno permite observar que a forma de comunicação tende a revelar sobre a patologia de 111
cada um. A fala do obsessivo-compulsivo é mais detalhista, a do histérico é exagerada. A do
narcisista é arrogante, já a do fóbico tende a ser evitativa.
19.6 INTERPRETAÇÃO
Zimerman (1997) reporta-se à técnica de grupo inicial, mas avisa que sua experiência
permite fazer algumas modificações. Anteriormente, orientava-se que não era adequado
interpretar referindo-se individualmente aos membros; era melhor que evitasse fazer
interpretações relacionando aos fatos infantis e que essa técnica deveria ser feita com base no
“aqui-agora”.
A técnica atual, proposta por Zimerman (1997), permite algumas modificações, como:
112
19.7 TÉRMINO E RESULTADOS TERAPÊUTICOS
O término pode significar duas situações, como aponta Zimerman (1997): pode ser que
o grupo todo encerre, seja pelo que ficou estabelecido no contrato, seja por outros motivos
(grupo fechado), mas pode ser também que o término seja individual, isto é, que uma pessoa
conclua sua participação no grupo (são situações comuns de grupos abertos).
20 PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA
114
Sendo tão importante, é esperado que o coordenador possua alguns atributos
desejáveis e/ou indispensáveis. Isso não significa que deva ser uma pessoa “perfeita”, afinal de
contas também é provido de sentimentos, sofrimentos e dificuldades. Espera-se que tenha
minimamente se submetido à experiência de análise pessoal e uma maior maturidade
emocional.
Zimerman (1997) destaca alguns atributos, uma parte indispensável e outra desejável,
os quais se esperam do terapeuta de grupo. Dentre eles:
21 PSICOTERAPIA BREVE
21.1 HISTÓRICO
De acordo com Braier (2000) a Psicoterapia Breve surgiu principalmente da
necessidade da crescente demanda das pessoas que precisavam de atendimento e da
quantidade insuficiente de terapeutas, especialmente em hospitais e centros de saúde. Além
disso, muitos dos que procuravam ajuda terapêutica eram pessoas de poucos recursos
econômicos, e, portanto, que não tinham condições financeiras para arcar com despesas numa
terapia em longo prazo. Tal terapia caracteriza-se por ter objetivos limitados, é bastante 116
interpretativa ou de insight, e é empregada em pessoas com capacidade egoica suficiente para
serem tratadas por ela.
21.2 CONCEITO
A psicoterapia breve, segundo Knobel (2002), é uma espécie de Psicanálise
condensada, cujo tempo e objetivos são limitados. Trata-se de uma psicoterapia com objetivos
mais modestos. 117
Os termos “Psicoterapia breve” e “Psicoterapia focal” são usados como sinônimos por
Knobel (1986), que conclui: “o máximo no mínimo de tempo”. D. Malan, considerado o pai da
“Psicoterapia Focal”, também concorda que são sinônimos.
Além do fator tempo, o foco é um dos elementos que melhor caracterizam as terapias
breves. O foco, que se refere basicamente à queixa trazida pelo paciente, diz respeito ao
objetivo, que acaba sendo o centro do tratamento e não pode ser perdido de vista.
22 FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS
No que se refere aos fins terapêuticos, de acordo com Braier (2000), a Psicanálise tem
como meta tornar consciente o inconsciente. Tal meta implica numa reconstrução da estrutura
da personalidade do analisando, que por sua vez envolve a resolução de conflitos mediante a
119
elaboração, acarretando bem-estar ou alívio dos sintomas.
Entretanto, conforme Braier (2000), esta não é a única maneira de ativar as funções
egoicas. Há também outra, que se baseia no apoio. Na Psicoterapia Breve, algumas vezes é
121
necessário utilizar de técnicas de apoio, especialmente quando a função egoica do paciente está
bastante debilitada e este não consegue suportar uma terapia interpretativa.
Na Psicoterapia Breve o tempo é limitado, o que faz com que os objetivos também o
sejam, caracterizando-se como as necessidades mais ou menos imediatas do indivíduo, com o
que se apresentar com mais urgência e/ou importância, almejando o fortalecimento e ativação de
suas funções egoicas para que ele consiga recuperar seu autodesenvolvimento e solucionar
seus conflitos (BRAIER, 2000).
Faz-se necessária a delimitação de um ou dois focos prioritários de dificuldades, sendo
que a solução fará com que o indivíduo se fortaleça emocionalmente. Segundo Braier (2000), em
Psicoterapia Breve “... se tenta basicamente delimitar zonas da problemática geral do paciente
e/ou dos episódios de sua vida, dirigindo preferencialmente para aí, a partir desse momento, a
exploração terapêutica” (p. 42).
Diante dessas colocações vale dizer que a cura nunca se realiza durante o tratamento.
Segundo Braier (2000) “... um tratamento curto adequadamente conduzido pode desencadear, a
partir da solução de um aspecto do problema do paciente, um processo evolutivo, uma reação
em série, que com o avançar dos anos promova uma mudança interior...” (p. 54). É nesse
sentido que se pode falar em fortalecimento e ativação de funções egoicas para
autodesenvolvimento interior.
É valido dizer que a Psicoterapia Breve recebe muitas críticas, até mesmo dentro da
área psicanalítica. Birman (2000) diz que se não houvesse o tratamento de curto prazo, as
pessoas com perturbações psíquicas se entregariam a tratamentos psicofarmacológicos, sendo
esquecida, dessa maneira, sua subjetividade e individualidade. “Com efeito, é preferível que as
individualidades possam ser simbolicamente reconhecidas como subjetividade, mediante as
psicoterapias breves, do que serem reduzidas à brutalidade de sua condição animal, pelo
tratamento psicofarmacológico...” (p. 16).
Além de tudo isso, existe a relação entre tempo e subjetividade, a qual sofreu
influências das novas tecnologias de comunicação, da nova forma de existência. Atualmente as
pessoas são induzidas a agir de forma rápida, diferentemente do que ocorria há algumas
décadas, quando as pessoas podiam permanecer em intermináveis reflexões. Vale dizer
também que essas pessoas que se entregavam a reflexões profundamente intermináveis e
relegavam a ação em si, a segundo plano acabavam se tornando obsessivas em função do
investimento narcísico que faziam. 122
Braier (2000, p. 33), afirma que
Devemos ativar muito especialmente as
funções egoicas do paciente essenciais para
o trabalho terapêutico, tais como, a
percepção, a atenção, a memória, etc.,
ativação que adquire muita importância
porque acelera e facilita o caminho em
direção ao insight.
da personalidade.
da neurose de
transferência.
de mudanças.
terapêuticos
22.1 INDICAÇÕES
Braier (2000) recomenda que a Psicoterapia Breve poderá ser indicada em várias
situações. Vejamos algumas delas:
C) Capacidade de insight.
Por outro lado, Braier (2000) considera que em muitas situações a Psicoterapia Breve
visa atender mais a uma questão de ordem assistencial, no sentido de que há pessoas que não
podem custear seu tratamento. É o caso de pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), através de instituições públicas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e até
mesmo as chamadas clínicas-escola, isto é, as clínicas de Universidades.
Nesse sentido, Braier (2000) aponta que quase todas as pessoas têm indicação de
Psicoterapia Breve, mesmo sendo grave sua doença. Entretanto faz uma ressalva: “desde que
se recorra, com critério e segundo cada caso, à técnica interpretativa e à de fortalecimento do
ego” (p. 207).
23 TÉCNICA
Na Psicanálise a questão do tempo e da frequência das sessões são fatores que estão
associados e consistem na essência deste método científico. Na era pós-Freud aspectos
econômicos e de tempo foram se contrapondo com a Psicanálise, dando origem às psicoterapias
127
breves.
Nesse sentido, Braier (2000) orienta usá-la basicamente em três situações: 1) Quando
surgirem obstáculos que possam culminar com a interrupção do tratamento; 2) Na entrevista
devolutiva, quando o psicólogo fornecer uma visão geral do caso; e/ou 3) Com a finalidade de
avaliar a capacidade de insight do paciente.
Ainda quanto às entrevistas, Braier (2000) afirma que é fundamental realizar uma boa
anamnese, a fim de colher dados necessários para a história clínica do paciente. Detalhar o
motivo da consulta é valiosíssimo, uma vez que na grande maioria das vezes está relacionado
ao foco de trabalho que será eleito para o tratamento.
Delimitar um foco ou a situação-problema não é tarefa fácil, pois muitos pacientes
como aponta Braier (2000), apresentam patologias mais generalizadas, que muitas vezes estão
relacionadas a vários aspectos. Torna-se, portanto, difícil de eleger um ponto de urgência. Em
contrapartida, outros pacientes apresentam quadros mais focais, mais fáceis de serem
delimitados. É o caso de quadros agudos, tais como eventos traumáticos, depressões, luto,
processo de internação ou surgimento de doença, etc. 130
Outro ponto está ligado às relações objetais, ou seja, aos tipos de vínculos que o
paciente estabelece com as pessoas mais próximas, como os pais, filhos, cônjuge, colegas de
trabalho, etc. Segundo Braier (2000) é importante que estes pacientes consigam ter razoável
tolerância à frustração, habilidade para lidar com as situações de separação e de perdas em
condições razoáveis, minimamente. Isto porque são pessoas que permanecerão por pouco
tempo com o terapeuta, que necessitam ter uma postura ativa diante do tratamento que logo se
encerrará, ocorrendo à separação.
Na entrevista devolutiva, Braier (2000) recomenda que seja feita de forma clara e
objetiva, procurando devolver o que foi investigado do paciente, tanto seus aspectos sadios
quanto os patológicos. Criar um clima de compreensão do sofrimento do paciente fortalecerá a
aliança terapêutica.
Na Psicoterapia Breve, assim como nas outras, há necessidade de realizar o contrato 131
terapêutico, isto é, um compromisso entre a dupla. Nele algumas questões, segundo Knobel
(2002) precisam estar claras. São elas:
Braier (2000) orienta que a definição do foco a ser trabalhado deve ser feito junto ao
paciente, de comum acordo, de forma clara e objetiva. Este foco está relacionado com as
expectativas do paciente em relação ao tratamento. Entretanto, “toda terapia breve de insight
pressupõe a existência de fins terapêuticos inerentes à natureza mesma do processo, por
exemplo, que o paciente alcance maior consciência da enfermidade ou eleve sua autoestima” (p.
74). Esse é, portanto, o objetivo geral da Psicoterapia Breve.
Sigilo profissional;
Confiança mútua;
Avaliação honesta e compreensiva junto ao paciente.
Nesse sentido, salienta Braier (2000, p. 86), que o papel do terapeuta é mais ativo do
que na Psicanálise. Em algumas situações ele poderá responder as perguntas do paciente,
favorecendo um “equilíbrio entre gratificação e privação do paciente”. Um tratamento breve não
permite tempo suficiente para tratar as resistências oriundas de sentimentos hostis, agressivos,
no processo de transferência negativa.
Quanto à técnica, Braier (2000) propõe que se evite a transferência, ou melhor, que
não ocorra com tanta intensidade. Realizar assinalamentos, formular questões, oferecer
sugestões e informações são parte da técnica em Psicoterapia Breve. A interpretação também é
utilizada, mas precisa ter relação com o foco de trabalho que foi eleito como objetivo no
tratamento. Algumas vezes o terapeuta faz perguntas que vêm de encontro a este foco. Sua
atenção deve estar voltada para ele (o foco).
Esta é uma técnica empregada para facilitar a expressão do inconsciente, como aponta
Braier (2000), mas que tende a conduzir à regressão, o que não seria interessante na
Psicoterapia Breve. Pode ser que, associando livremente o paciente falará de outros temas que
não estarão relacionados ao foco principal. Assim, poderia ser desperdiçado tempo, uma vez
que este é fator decisivo em tratamentos breves. Cabe ao terapeuta a tarefa de auxiliar o
paciente a voltar para o foco.
Diante dessa problemática, orienta Braier (2000) que a associação livre não seja usada
com tanta frequência, mas em algumas situações durante o tratamento, nas quais estejam
voltadas para o foco. Isto exige flexibilidade por parte do terapeuta. Este autor recomenda que,
no início do tratamento, deve-se orientar o paciente a falar tudo o que sabe sobre seu sofrimento
ou que tenha relação com ele, podendo ser situações atuais, recordações anteriores,
pensamentos, etc.
Nessas situações, Braier (2000) recomenda que o terapeuta poderá dispor da técnica
do manejo da transferência a fim de vencer as resistências despertadas com a alta. É adequado,
por exemplo, assinalar ao paciente sua tentativa de visar ganho secundário com suas recaídas.
Entretanto, como aponta Braier (2000), mesmo identificando esta característica, muitas
vezes, o terapeuta não tem outra escolha a não ser atender o paciente da mesma forma.
Pensando, sobretudo, em instituições públicas, que adotam a psicoterapia breve como técnica
de trabalho, comumente não há possibilidade de encaminhá-lo para outra instituição.
Para tentar superar essa dificuldade, Braier (2000) propõe que, no momento de
planejar o tratamento, o terapeuta já disponibilize um tempo maior para destiná-lo ao processo
de elaboração do luto vivenciado pela separação.
Por parte do terapeuta, Braier (2000) alerta que as ansiedades costumam repercutir
ainda mais. “A separação significa, para ele, ver-se privado de gratificações simbióticas; o luto
provoca sentimentos de desvalorização e perda” (p. 170). Sentimentos de impotência e de
fracasso também podem ocorrer.
De qualquer forma, finaliza Braier (2000), espera-se que, ao término do tratamento, o
paciente possa caminhar por conta própria a partir dos benefícios que obteve com a
psicoterapia.
136
A avaliação dos resultados ao final do tratamento, segundo Braier (2000), deve ser
feita pelo paciente e pelo terapeuta, isto é, em conjunto. Esse autor propõe um método de
avaliação que consiste basicamente de dois recursos: entrevista com o paciente e um
psicodiagnóstico.
Em relação ao primeiro recurso, Braier (2000) salienta que podem ser feitas duas
entrevistas. Uma logo após ter finalizado o processo psicoterápico, que pode durar em torno de
quarenta minutos e tem por objetivo solicitar uma autoavaliação do paciente. E a segunda
entrevista, que deve ser feita após alguns dias depois da primeira, objetiva fazer uma devolução
pelo terapeuta, comunicando ao paciente suas impressões.
Melhora do sintoma;
Resolução da problemática focal;
Consciência da enfermidade;
Melhora da autoestima;
Mudanças em outros aspectos da vida do indivíduo, como relacionamentos
interpessoais, vida sexual, etc.;
Planos para o futuro.
Conforme Fiorini (1993), muitas pessoas reagem ainda com certa desconfiança em
relação aos tratamentos breves, uma vez que eles carecem de maiores estudos teóricos e
técnicos e, principalmente, em relação aos resultados terapêuticos. Para tanto, torna-se
necessário elaborar um esquema referencial próprio.
Nesse sentido, um ponto a ser considerado nesse esquema referencial diz respeito à
enfermidade ou crise do paciente. Segundo Fiorini (1993), um tratamento breve deve ter como
foco os determinantes atuais da queixa do paciente. Isso significa que não é possível estimular
conflitos infantis do indivíduo, mas ajudá-lo a (re)organizar sua vida atual, nas diversas áreas:
família, trabalho, social, etc.
Isso não quer dizer que os aspectos e conflitos históricos infantis não sejam
considerados. Eles simplesmente não devem ser estimulados, pois não haverá tempo hábil para
elaborá-los.
Outro ponto abordado por Fiorini (1993) refere-se ao trabalho de uma equipe
multiprofissional. Aliar a psicoterapia breve com outros tratamentos, em muitos casos,
potencializa o efeito terapêutico. É o caso de profissionais como psiquiatras e neurologistas
(medicação), nutricionistas (transtornos alimentares), assistentes sociais, terapeutas
ocupacionais, etc.
139
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicoterapia Breve é ainda um campo que carece ser mais bem explorado,
justamente porque não possui uma identidade própria. É confundida muitas vezes com a
Psicanálise e/ou outros métodos de tratamento mais longos. Atualmente, ainda permeia a crença
de que se trata de uma psicoterapia inferior à Psicanálise, por uma herança histórica. Uma não
se contrapõe a outra, mas diferencia-se, sobretudo, pela técnica empregada.
140
Nesse sentido, Braier (2000) sugere que a formação do terapeuta deve contemplar a
análise pessoal, a supervisão com profissional mais experiente e conhecimentos teóricos. Para
este autor, a formação em Psicanálise seria um critério ideal, mas não é a realidade atual. Então,
para suprir esta carência, é importantíssimo que o terapeuta tenha como uma de suas metas em
seu treinamento conhecer com muita destreza as diferenças entre Psicoterapia Breve e
Psicanálise. Isso porque um dos erros mais frequentes está relacionado com a confusão da
técnica.
Mensagem final
a partir de hoje,
Sofre, chora,
ama e sente
O olhar atento,
o ouvido aberto,
escutando a tristeza do outro,
Quanto a mim,
141
fico triste, fico alegre
mim.
E agora,
Cyro Martins
(Psicanalista e escritor)
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