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Triagem Organização LTDA ME
Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167
Portal Educação

P842p Psicoterapia / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013.

148p. : il.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-697-6

1. Psicoterapia - história. 2. Psicoterapeuta. 3. Orientação psicoterápica. I.


Portal Educação. II. Título.

CDD 616.8914
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................6

2 HISTÓRIA ..................................................................................................................................8

3 CONCEITO/DEFINIÇÃO ...........................................................................................................11 2

4 DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA ..............................14

5 PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA ...................................................18

5.1 PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA ............................................................19

5.2 PSICOTERAPIA ANALÍTICA ...................................................................................................19

5.3 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL ........................................................................25

5.3.1 Indicações .................................................................................................................................26

5.3.2 Tipos de Terapia ........................................................................................................................27

6 PERFIL DO PSICOTERAPEUTA..............................................................................................28

7 PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA ............................................................31

7.1 DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA E


PSICANÁLISE .....................................................................................................................................31

8 A ENTREVISTA PSICANALÍTICA ............................................................................................35

9 ENQUADRE TERAPÊUTICO ...................................................................................................37

10 ALIANÇA TERAPÊUTICA ........................................................................................................40

11 PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS ..........................................................................41

12 PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL ..............................................................56

12.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS ........................................................56

13 TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL ..............................................................................65

14 FOBIAS ESPECÍFICAS ...........................................................................................................66

14.1 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ...............................................................66

14.2 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO .........................................................................67


14.3 TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO .............................................................68

14.4 TRANSTORNOS AFETIVOS ...................................................................................................68

14.5 TRANSTORNOS ALIMENTARES ...........................................................................................69

14.6 DEPENDÊNCIA QUÍMICA .......................................................................................................70

14.7 TABAGISMO ............................................................................................................................71 3

14.8 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE ...............................72

14.9 ADICÇÃO AO JOGO ...............................................................................................................73

14.10 TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE .. 73

14.11 DISFUNÇÕES SEXUAIS .........................................................................................................74

14.12 TRANSTORNOS DO SONO ....................................................................................................75

15 PRINCIPAIS TÉCNICAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS ................................................78

15.1 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO ..............................................................................................78

15.2 DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA ....................................................................................79

15.3 TREINO DE ASSERTIVIDADE ................................................................................................79

15.4 PARADA DO PENSAMENTO ...................................................................................................80

15.5 AUTOINSTRUÇÃO ...................................................................................................................80

15.6 INOCULAÇÃO DO ESTRESSE ................................................................................................80

15.7 TREINO EM HABILIDADES SOCIAIS......................................................................................81

15.8 SOLUÇÃO DE PROBLEMAS ...................................................................................................81

15.9 EXPOSIÇÃO .............................................................................................................................82

15.10 EXPOSIÇÃO E PREVENÇÃO DE RESPOSTAS .....................................................................82

15.11 EXPOSIÇÃO INTEROCEPTIVA ...............................................................................................82

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................84

16 PSICOTERAPIA DE GRUPO ....................................................................................................85

16.1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................................85


17 FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS ..................................................................................88

17.1 FREUD E A PSICOLOGIA DE GRUPO ....................................................................................88

17.2 CONCEITO DE GRUPO E DE CAMPO GRUPAL ....................................................................88

17.3 A FAMÍLIA CONSIDERADA COMO GRUPO PRIMORDIAL ..................................................90

18 CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS ...........................................................................................92 4

18.1 GRUPOS OPERATIVOS...........................................................................................................94

18.2 GRUPOS TERAPÊUTICOS ......................................................................................................95

19 A FORMAÇÃO DE UM GRUPO ..............................................................................................96

19.1 A SELEÇÃO DE PACIENTES ................................................................................................101

19.2 O CONTRATO TERAPÊUTICO ..............................................................................................102

19.3 MANEJO DAS RESISTÊNCIAS ..............................................................................................106

19.4 TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA ................................................................108

19.5 COMUNICAÇÃO .....................................................................................................................109

19.6 INTERPRETAÇÃO ..................................................................................................................110

19.7 TÉRMINO E RESULTADOS TERAPÊUTICOS ......................................................................111

20 PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA...........................................................................................113

21 PSICOTERAPIA BREVE .........................................................................................................115

21.1 HISTÓRICO..............................................................................................................................115

21.2 CONCEITO...............................................................................................................................116

22 FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS .................................................................................118

22.1 INDICAÇÕES ..........................................................................................................................123

23 TÉCNICA .................................................................................................................................126

23.1 O FATOR TEMPO ...................................................................................................................126

23.2 A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E O CONTRATO TERAPÊUTICO .......................................128

23.3 O TRATAMENTO PROPRIAMENTE DITO ............................................................................131


23.4 O TÉRMINO DO TRATAMENTO ............................................................................................133

23.5 RESULTADOS TERAPÊUTICOS ...........................................................................................135

23.6 AS CONSIDERAÇÕES DE FIORINI E A TÉCNICA EM HOSPITAIS .....................................136

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................................139

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................141 5
1 INTRODUÇÃO

No decorrer da vida, passamos por fases em que estamos bem. Parece que
6
encontramos o estado de felicidade. Mas em outras, encontramos dificuldades para seguir nossa
vida adiante. Nestas fases nos damos conta de que, sozinhos não conseguimos caminhar.
Reconhecemos que precisamos da ajuda de outro. Mas não pode ser outro qualquer, é preciso
que este outro esteja disposto a nos assumir do modo como somos, sem julgar, e que nos dê a
atenção devida. Pressupõe-se que este outro tenha algo mais que o diferencie que é o
conhecimento da psique. Para cuidar dos sentimentos e emoções, temos o profissional
especialista em teorias psicológicas: o psicólogo.

As pessoas procuram psicoterapia por várias razões. Geralmente há um motivo


subjacente: o sentimento de que nem tudo vai bem com a própria vida, faltando sentido e
propósito mais profundo.

Freud já dizia que o desejo de se tratar deve ser primeiro do paciente, na medida em
que existe um sofrimento mental que justifique a necessidade. Quando o paciente procura um
tratamento por si só revela o desejo de amenizar seu sofrimento.

A palavra “terapia” vem de “theraplia” e quer dizer “cuidado, apoio”. Se juntarmos à


palavra “terapia” o prefixo “psico”, temos então “psicoterapia”, que significa o “cuidado da psique,
da alma, da mente”.

Para tanto, o psicólogo pode utilizar-se da abordagem teórica que lhe faça sentido
(psicanalítica, comportamental, humanista, etc.). A escolha da abordagem depende da forma
que este profissional entende o homem e o mundo, da sua filosofia de vida.

A Psicoterapia é uma técnica psicológica, fundamentada e embasada cientificamente


para auxiliar as pessoas que buscam conforto para seu sofrimento emocional. Seu objetivo não é
o de prometer ao paciente um impossível estado de felicidade eterna, mas sim ajudá-lo a adquirir
firmeza e paciência filosófica diante do sofrimento, auxiliando-o a lidar com seus conflitos. Nesse
sentido, a vida acontece em um equilíbrio entre a alegria e a dor.
A Psicoterapia pode ser realizada em indivíduos de todas as faixas etárias, desde a
infância, passando pela adolescência, fase adulta e até a velhice. Pode ser realizada
individualmente, em grupo, em casal ou família, no âmbito público ou privado.

O terapeuta é um grande fator curativo da psicoterapia. Ele é afetado pelas emoções


do paciente, portanto ele deve aceitá-las e servir de espelho para elas (as emoções). Dessa
7
forma, o terapeuta deve sentar-se à frente do paciente de modo que possa também expressar
suas emoções. O contágio das emoções acentua-se quando os conteúdos projetados pelo
paciente são idênticos aos conteúdos inconscientes do terapeuta. Mas para que isso ocorra, ele
também precisa fazer terapia (JUNG, 1985).

Segundo Hall.; Nordby (2000), para ser eficaz, a psicoterapia deve provocar o
crescimento do paciente. Uma compreensão do que significa crescer, da natureza dos processos
de crescimento e da maneira de ativar esse crescimento, constitui um conhecimento essencial
para o psicoterapeuta.

Isso inclui conhecer, dentre outros, o desenvolvimento da personalidade, os estágios


da vida (infância, juventude, maturidade, meia-vida e velhice) e as influências do meio externo.
Isso porque estes processos de crescimento são influenciados tanto positivamente quanto
negativamente por vários fatores, como a hereditariedade, as experiências da criança com os
pais, a educação, a cultura, a sociedade e a idade.
2 HISTÓRIA

Historicamente, a psicoterapia é muito mais antiga do que imaginamos, claro, de forma


8
não sistematizada. Suas raízes estão desde a Antiguidade, das mais diversas formas culturais,
por meio do curandeiro, danças xamanísticas, poções, Buda, etc. (STONE, 2005).

A igreja, conforme relata Stone (2005), também exerceu grande influência na cura do
sofrimento mental, muitas vezes, com características sobrenaturais, primeiramente com a Igreja
Católica que tinha como pressuposto a luta entre o bem e o mal (Deus e o diabo). Mais tarde o
protestantismo de Martinho Lutero conquistou milhares de fiéis, desafiando a autoridade da
igreja, influenciando no rumo da história. Assim, a possibilidade da crítica e do diálogo propiciou
a separação entre a Igreja e o estado, contribuindo com a ciência.

Segundo Stone (2005), já nos séculos XVI e XVII começou a surgir os hospitais
psiquiátricos, que nada mais eram que “depósito” de doentes mentais. Mas foi um século mais
tarde, com o movimento do Iluminismo que a psicoterapia começou a ser modelada conforme
hoje a conhecemos. Filósofos importantes (como Voltaire e Rousseau) contribuíram com a
antropologia e o progresso do esclarecimento humano, inclusive no esclarecimento
psicoterapêutico.

Na área da Psiquiatria, o médico Pinel, influenciado por Rousseau deu início ao


movimento antimanicomial, passando a compreender e a tratar os doentes mentais de forma
humanizada. Iniciam-se também escritos sobre estudos de caso e relatos da história de vida de
pacientes (STONE, 2005).

É na psiquiatria francesa, no final do século XVII e início do séc. XIX, com Pinel e
Esquirol, que a terapia psicanalítica teve sua origem, como aponta Stone (2005). O método de
cura do sofrimento mental era, dentre outros, o da sugestão, que 50 anos mais tarde foi
chamado de hipnose. Além desses médicos, o neurologista Charcot foi um grande nome,
especialmente porque teve forte influência nas teorias da psicanálise de Sigmund Freud. Foi ele
quem orientou Freud nos estudos sobre histeria.
De acordo com Stone (2005), o francês d’Hervery Saint-Denis, que registrava seus
sonhos em um livro, acreditava que os sonhos eram mensagens obscuras de dentro de cada
pessoa, passíveis de tradução. Assim, ele trabalhava com o simbolismo dos seus pacientes, por
meio de frequentes e prolongadas sessões. Essa concepção fez com que Freud, em seus
estudos sobre histeria, mudasse da hipnose para um tratamento no qual o paciente está em
alerta, associando livremente. 9

Assim, Freud foi se destacando e criando uma teoria acerca do inconsciente, sólida e
muito difundida que foi se configurando como a psicanálise clássica que hoje conhecemos,
juntamente com seus colaboradores Karl Abraham, Sander Ferenczi e Ernest Jones, que, juntos,
compunham o Círculo Secreto. Encontravam-se nas noites de quarta-feira na casa de Freud
para discutir sobre aspectos teóricos e técnicos da psicanálise (STONE, 2005).

No século XX, no período da Primeira Guerra Mundial, a psicanálise estava se


tornando cada vez mais estruturada e enraizada, tanto na Europa quanto na América. Surgiram
grandes centros e institutos psicanalíticos. Foram realizados muitos encontros, congressos e
publicações na área. O primeiro congresso psicanalítico ocorreu em 1908, em Salzburg, dirigido
por Freud (STONE, 2005).

Ocorre que, conforme relata Stone (2005), esses centros e institutos diferenciavam-se
entre si, uma vez que os autores divergiam de opiniões teóricas e técnicas. Quanto mais a
psicanálise ia se expandindo mais as escolas de terapia iam se diferenciando, com teorias e
métodos próprios.

Segundo Stone (2005) havia os seguidores de Freud e de sua tradição “ortodoxa”,


assim como Carl Gustav Jung que rompeu com Freud e criou sua “psicologia analítica”, a qual
considerava a natureza místico-religiosa dos fenômenos psíquicos. Além disso, foram
delineando também os tipos de pacientes atendidos na psicanálise e em outras técnicas de
psicoterapia.

Assim, cada autor foi se destacando em algum tipo de patologia e paciente. Melanie
Klein, Anna Freud e Margareth Mahler estudaram pacientes psicóticos. Otto Kernberg se
destacou no estudo de borderlines. Já John Bowlby seguiu seu trabalho sobre o apego,
ansiedade de separação e perda, dentre muitos outros (STONE, 2005).
Da mesma forma, acrescenta Stone (2005), vários tipos de psicoterapias foram
surgindo. Como exemplo, temos: Carl Rogers, que desenvolveu a teoria humanista, Wilhelm
Reich e sua teoria do “caráter” e Jacob Moreno introduziu o psicodrama. Já Aaron Beck se
distanciou da psicanálise de Freud, criando a teoria cognitivo-comportamental.

Então, Freud foi um dos inauguradores da psicoterapia. Mas depois dele vieram outros
10
tantos; alguns o seguiram, outros acrescentaram e outros ainda se distanciaram radicalmente. A
psicanálise, a psicoterapia de orientação analítica, a psicoterapia de apoio, a psicoterapia de
grupo, a psicoterapia humanista, a existencial, a cognitivo-comportamental, além de outras, são
exemplos descritos por Stone (2005).

O mais importante é que todas têm o seu valor, suas indicações e contraindicações.
Uma não é melhor que a outra. Como afirma Stone (2005) em qualquer uma das psicoterapias é
importante que o terapeuta tenha empatia, simpatia e inteligência, minimamente.
3 CONCEITO/DEFINIÇÃO

FIGURA 1 – CONCEITO/DEFINIÇÃO
11

FONTE: Disponível em: http://marciocandiani.site.med.br/fmfiles/index.asp/::XPRWTT::/ps1.jpg


Acesso em: 05 Ago. 2011.

Segundo Knobel (2002), a psicoterapia é um procedimento técnico de um vínculo


humano, baseado num referencial teórico da estrutura da personalidade e dos comportamentos
das relações interpessoais, mediante o qual uma pessoa tenta ajudar a outra que necessita de
algum tipo de assistência para aliviar ou melhorar suas condições atuais de vida, e assim, atingir
um melhor nível de desenvolvimento enquanto ser humano.

Laplanche e Pontalis (2008, p. 393) definem psicoterapia como “qualquer método de


tratamento dos distúrbios psíquicos ou corporais que utilize meios psicológicos e, mais
precisamente, a relação entre o terapeuta e o doente”. Para estes autores a hipnose, a sugestão,
a psicanálise são exemplos de psicoterapia.
Nesse sentido, a Psicoterapia é uma prática que está dentro da Psicologia Clínica.
Envolve conhecimento da Psicopatologia, da Psicologia do Desenvolvimento.

Segundo Dolto, in Mannoni (1983), a relação psicoterápica permitirá que as “forças


emocionais encobertas, em jogo conflitivo”, encontre uma saída, ou seja, a descoberta de
processos inconscientes contribui para que o paciente perceba o que está limitando sua
12
liberdade. Entendendo que esta liberdade significa o indivíduo conseguir ser criativo, e não
apenas submisso às exigências, livre da dependência do desejo de outrem, conseguindo
comunicar os seus sentimentos, amar e ser amado, enfrentar frustrações e as dificuldades
cotidianas. Assim, estamos entendendo saúde mental, não enquanto um processo de
adaptação, mas enquanto possibilidade criadora, na qual o paciente consiga transitar na relação
dialética princípio da realidade versus princípio do prazer, com certa maleabilidade.
Antes do início do processo psicoterápico, faz necessário um bom psicodiagnóstico,
isto é, a avaliação psicológica.

Nessa fase, como aponta Ocampo (1974), o objetivo principal é o de conseguir uma
compreensão o mais profunda possível do psiquismo do paciente. Abrange aspectos passados e
presentes (diagnóstico), assim como também os aspectos futuros (prognóstico). Investiga
aspectos sadios e doentes do paciente e possibilita dar encaminhamentos terapêuticos
(psicoterapia individual, de grupo, casal, se será realizado trabalho multiprofissional com
psiquiatra, neurologista,...).

O psicodiagnóstico já é em si terapêutico, na medida em que o psicólogo vai fazendo


devoluções parciais. Além disso, o paciente tem a possibilidade de falar sinceramente de si
mesmo, sem atitude de julgamento, mas de compreensão. Contribui também para o
levantamento de hipóteses diagnósticas acerca do caso, para o processo psicoterápico
(OCAMPO, 1974).

Nesta etapa o psicólogo pode-se utilizar de diversos instrumentos, tais como:


entrevistas, testes e técnicas projetivas, desenhos e a hora do jogo diagnóstica (nesta última
técnica, quando se tratar de criança).

Encerra-se com a entrevista devolutiva, que “é a oportunidade que se dá ao paciente


para que integre o que apareceu dissociado entre o conteúdo manifesto e o latente” (OCAMPO,
1974, p. 32). Inclui também a devolução dos aspectos saudáveis, adaptativos, bem como dos
patológicos. É o momento no qual são ditos os encaminhamentos e, quando necessário, a
indicação de psicoterapia.

Vale ressaltar que não será detalhado sobre o psicodiagnóstico porque não é objetivo
deste curso.
13
Didaticamente falando, após encerrar o psicodiagnóstico inicia-se o processo
psicoterápico propriamente dito. Muitas vezes, é difícil delimitar uma fronteira entre esses dois
processos, uma vez que as ansiedades da dupla estão em jogo.

O primeiro passo na psicoterapia é realizar novo contrato terapêutico, ou seja, o


esclarecimento dos papéis (paciente e terapeuta), local e horário da sessão, além dos honorários
quando se tratar de consultório particular. A seguir inicia-se o processo psicoterápico
propriamente dito.
4 DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA

Inicialmente a Psicologia designava o “estudo da alma”. Com o passar do tempo, foi


14
mudando para o estudo do comportamento humano.

A Psicologia é uma ciência que investiga o comportamento humano, os aspectos


emocionais e sua inter-relação com a sociedade. Apresenta uma diversidade de áreas de
atuação: Psicologia clínica, organizacional, escolar; Psicologia da saúde, hospitalar, jurídica, do
esporte. O psicólogo atua também em programas da área da assistência social (Centro de
Referência da Assistência Social; Centro de Referência Especializado da Assistência Social,
etc.).

De acordo com Serra (2004) a maior parte dos psicólogos brasileiros (cerca de 80%)
encontra-se atuando na área clínica, exercendo a prática da psicoterapia.

A palavra “análise”, de “psicanálise”, vem do grego “ana” (partes) e “lysis”


(decomposição, dissolução). Então, juntando “psi” com “análise” temos a decomposição das
partes psicológicas.

Conforme Laplanche e Pontalis (2008, p. 384), a Psicanálise é “um método de


investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras,
das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios)”.

Na “era Freud”, a primeira era denominada por Wallerstein (2005), permeou a


concepção de que apenas a psicanálise era a psicoterapia verdadeira de cura e científica. As
demais eram consideradas como o “cobre da sugestão”, enquanto a psicanálise era vista como o
“ouro puro”, conforme Freud e outros afirmavam.

Freud, no texto de 1905, “Sobre a Psicoterapia” (1976), faz uma analogia, relacionando
o trabalho das Artes e a análise, utilizando-se da expressão de Leonardo da Vinci, per via di
levare, que se refere ao trabalho de esculpir, no qual se retira da pedra o que encobre a
superfície da escultura nela contida. A arte da interpretação tem como objetivo abrir uma via de
acesso para o conhecimento do inconsciente. Ao considerar as questões inconscientes que
permeiam as relações, o psicanalista apresenta uma especificidade ao escutar o paciente, pois
não considera somente o fenômeno manifestado, mas também os conteúdos latentes que estão
presentes. Esta prática acompanhada de uma contextualização histórica e econômica investiga
qual o sentido que determinados acontecimentos têm para o indivíduo, trabalhando não com
uma verdade absoluta, mas com uma verdade individual, construída e reconstruída nas relações. 15
Acontece que, como narra Wallerstein (2005), nem todos os tipos de pacientes podiam
se beneficiar da psicanálise na época. Logo, a psicoterapia de orientação psicanalítica começou
a entrar em cena. Emprestava os conceitos da psicanálise e os aplicava nos pacientes que não
podiam ser tratados por esta última.

Segundo Wallerstein (20005) no final da década de 1930 até início de 1950 ocorreu o
que chamou de segunda era, ou seja, a “era do consenso”, quando houve um crescimento da
psicanálise norte-americana, com psicanalistas europeus refugiados de Hitler e com o aumento
das clínicas psiquiátricas no país. Pacientes com transtornos mentais não podiam ser tratados
pela psicanálise, havendo a necessidade de se adaptarem a outras psicoterapias, especialmente
à psicoterapia de base analítica, que teve como pioneiro Robert Knight.

Este pioneiro, conforme Wallerstein (2005) ocupou-se primeiramente em delinear o que


ele chamou de “ciência básica da psicologia dinâmica”. Para tanto, fez a primeira distinção
dentro do referencial psicanalítico: ele definiu as psicoterapias em dois grandes grupos. São as
psicoterapias de apoio, que visa à supressão dos sintomas e as psicoterapias expressivas.

Para Knight a psicanálise tem como objetivo a modificação da estrutura da


personalidade. Já a psicoterapia de apoio propõe ao paciente a reconstrução dos mecanismos
de defesa utilizados antes da descompensação. E por fim, a psicoterapia expressiva, de caráter
exploratório, visa tratar as descompensações recentes (WALLERSTEIN, 2005).

Após a década de 1950, como aponta Wallerstein (2005), outros pontos de vista
começaram a surgir. Alguns psicanalistas propuseram a unificação da psicanálise com a
psiquiatria. Dessa forma, passou-se a entender que havia uma grande proximidade entre a
psicanálise e a psicoterapia de base analítica.
Outro grupo de psicanalistas compartilhava de outro ponto de vista, segundo
Wallerstein (2005). Sugeriu modificações na técnica psicanalítica, uma revisão da teoria clássica,
modernizando-a.

Esses pontos de vista tiveram uma repercussão pouco significativa. Entretanto, como
salienta Wallerstein (2005), a preocupação maior era a de selecionar, dentre a variedade de
16
métodos terapêuticos, o mais adequado para a estrutura psicológica de cada paciente.

Então, continua Wallerstein (2005), para selecionar o método mais adequado, faz-se
necessário delinear as diferenças dentre as psicoterapias de orientação analítica. Com este
intuito, vários autores deram sua contribuição. Dentre eles podemos citar Gill, Rangell e Stone,
além de Anna Freud.

Entretanto, segundo Wallerstein (2005), foi a partir de 1979, com o simpósio em


Atlanta, patrocinado pelas sociedades psicanalistas regionais que houve significativos avanços
sobre as diferenças e semelhanças entre a psicanálise e a psicoterapia. Neste simpósio,
protagonizado por Gill, Rangel e Stone, ficou definida a posição de manter marcadas as
diferenças entre elas, cada qual com sua aplicação e indicação específica.

Essa é a terceira era, denominada por Wallerstein (2005) de “era do consenso


fragmentado”, pois cada um dos três protagonistas possuía divergências em suas concepções
sobre psicanálise e psicoterapia.

Atualmente, Wallerstein (2005) chama de era de “um mundo sem consenso”, pois se
torna cada vez mais difícil definir tais diferenças. Difícil, mas não inexistentes.

Schestatsky et al. (2005) salienta a importância de se considerar as diferenças entre


psicanálise e psicoterapia, porém uma não é “menor” que a outra. Conforme as pesquisas de
Wallerstein, em 1986, o mesmo concluiu que a psicoterapia de orientação psicanalítica e a
psicanálise estão muito próximas.

Tanto a psicanálise quanto a psicoterapia de orientação psicanalítica são métodos de


tratamento psicológico do inconsciente. Enquanto a primeira visa à mudança da estrutura
psíquica, trabalhando o conteúdo latente, a psicoterapia tem por objetivo o alívio dos sintomas,
incluindo também o conteúdo manifesto.
Nesse sentido, o que diferencia essencialmente psicanálise e psicoterapia é a técnica
utilizada, uma vez que a escuta analítica está presente em ambas. Na psicoterapia há uma
escuta do latente, e a tradução para o manifesto no momento da interpretação junto ao paciente.

Na Psicanálise a transferência é um dos conceitos-chave, utilizado com grande


frequência, enquanto que na psicoterapia acontece com menor frequência. A técnica principal na
17
psicanálise é a interpretação, na psicoterapia além da interpretação transferencial há também a
extratransferencial, confrontação, pontuação, sugestão (SCHESTATSKY et.al., 2005).

Para Laplanche e Pontalis (2008) a “psicoterapia analítica” empresta princípios teóricos


e técnicos da psicanálise, sem realizar as condições de um tratamento psicanalítico rigoroso.

Segundo Schestatsky et al. (2005) a psicoterapia de orientação psicanalítica é uma


“aventura a dois” em que um deles está em sofrimento psíquico (paciente) e o outro domina uma
certa técnica científica (terapeuta).

Eis os objetivos essenciais da psicoterapia de orientação psicanalítica, segundo


Schestatsky et al.(2005, p. 18):

[...] Questões sobre o lugar mais ou menos privilegiado de conceitos


como crescimento psíquico, expansão da mente, integração de
aspectos dissociados, tolerância à dor mental, alterações de
formações de compromisso, oportunidade da experiência com um
novo objeto, reparação de danos do ego, ressignificações de danos de
narrativas ou reconstrução de mitos pessoais [...].

Sendo assim, enquanto um especialista que domina a técnica científica de tratamento,


o terapeuta deve realizar um amplo treinamento em termos diagnósticos e terapêuticos,
compondo o clássico “tripé”: estudo, supervisão com um profissional experiente e análise
pessoal. Tudo isso baseado sempre no amor à verdade (SCHESTATSKY et.al., 2005).
5 PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA

É difícil definir qual a melhor abordagem teórica a ser usada para cada tipo de paciente
18
ou de patologia. Mesmo porque todas elas têm um objetivo em comum, que é o de ajudar a
minimizar o sofrimento do paciente, favorecendo seu crescimento pessoal. A diferença está na
técnica, isto é, no modo como se alcançarão os objetivos. Desde que o profissional conheça bem
sua abordagem, todas elas serão valiosas.

Às vezes, o fator decisivo é a instituição na qual o psicólogo trabalha. Em se tratando


de postos de saúde ou outras instituições públicas, algumas técnicas são sugeridas como mais
adequadas. Por exemplo, em hospitais a psicoterapia de apoio e psicoterapia breve são as mais
indicadas. Em postos de saúde também, além de ser uma tendência a psicoterapia de grupo, em
razão da grande demanda e do pouco tempo disponível.

A escolha da abordagem psicoterápica dependerá do estilo pessoal do terapeuta,


assim como sua visão de homem e de mundo, suas crenças e valores. Cada um irá identificar-se
com aquela que lhe fará mais sentido. O importante é que todas elas têm o seu valor. O estudo
teórico, a supervisão e a análise pessoal devem ser feitas seguindo sempre a mesma linha
teórica. Não conseguiremos atender cada paciente com uma abordagem diferente. Quando
entendemos que não é o caso, devemos encaminhá-lo para outro profissional.

Atualmente, há uma variedade de abordagens psicoterápicas. Dentre elas, as mais


conhecidas são: psicanálise, psicoterapia de orientação psicanalítica, psicoterapia analítica;
terapia cognitiva, terapia comportamental, psicoterapia cognitivo-comportamental. Há também o
psicodrama, a gestalt-terapia; a psicoterapia humanista e a humanista-existencial. A abordagem
existencialista, fenomenológica, etc. A seguir, foram descritas algumas delas:
5.1 PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA

A Psicoterapia de Orientação Psicanalítica é uma abordagem que tem como


19
pressupostos teóricos a Psicanálise, mas que se diferencia desta basicamente pela técnica
utilizada. Enquanto na Psicanálise o objetivo principal é a mudança da estrutura da
personalidade, na psicoterapia o objetivo é mais modesto: visa o alívio do sintoma.
Historicamente foi criada para tornar a Psicanálise, método este desenvolvido por Sigmund
Freud, acessível a mais pessoas e em menor tempo. Enquanto representantes, além do próprio
Freud, temos Bion, Klein, Winnicott, dentre outros.

Alguns conceitos são fundamentais em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica,


conceitos estes emprestados da Psicanálise. Primeiramente temos o conceito de inconsciente,
isto é, o material de trabalho são os processos inconscientes.

Ao falar sobre si, por meio da associação livre, o paciente expressará seus conteúdos
inconscientes. Por meio da transferência e da contratransferência o terapeuta poderá interpretar
tais sentimentos e dar um novo sentido para o sintoma do paciente. A mudança ocorre quando é
possível dar um novo sentido para o seu sofrimento, quando seu sintoma pôde ser elaborado.

5.2. PSICOTERAPIA ANALÍTICA

Carl Gustav Jung foi um autor que concordou, pelo menos na fase inicial de seu
trabalho, em muitos pontos da teoria de Sigmund Freud, mas teve seus próprios pensamentos e
ideias, tornando a sua psicologia conhecida como “Psicologia Analítica” (em 1913, no 4º
Congresso Internacional de Psicanálise, em Munique, Jung chama sua psicologia de Psicologia
Analítica).

É inegável a contribuição que Jung deu à arte da psicoterapia. Suas ideias e

pensamentos se tornaram conhecidos e reconhecidos por muitas pessoas, da área da Psicologia

ou não. Entretanto, como ele próprio dizia, seus escritos são de difícil compreensão, e talvez por 20

este motivo sua obra não é tão lida quanto a de Freud, por exemplo (STORR, 1993).

Antes de falarmos especificamente de psicoterapia, faz-se necessário uma breve


caracterização da psique, da forma como Jung a entende.

Para Jung, a psique ou personalidade total envolve aspectos conscientes e aspectos


inconscientes. É um sistema dinâmico, em constante movimento, e ao mesmo tempo,
autorregulado. Está dividida em três níveis: 1) consciente, 2) inconsciente pessoal e 3)
inconsciente coletivo. É importante considerar que, ao contrário do que pensava Freud, para
Jung a consciência surge do inconsciente, reconhecendo que o inconsciente não é um mero
depósito de desejos reprimidos, mas é uma parte tão vital de um indivíduo quanto o é a
consciência.

O indivíduo é um todo e não uma reunião de partes. A vida consiste em desenvolver


esse todo até chegar ao mais alto grau possível de diferenciação e harmonia, de modo que sua
personalidade não se dissocie. Nesse sentido, o trabalho da psicoterapia analítica tem como
meta ajudar o paciente a recuperar a unidade perdida, fortalecendo a psique.

Como pontua Jacobi (in CLARET, s/ano, p.45), a psicologia de Jung ajuda “o indivíduo
a descer conscientemente às profundezas da própria alma, a reconhecer os conteúdos dela e
integrá-los na consciência”.

Jung possuía um penetrante sentido histórico. Ele achava que a natureza do homem
não tinha mudado grande coisa no decurso de muitos séculos. Estudou mitologia, antropologia,
religião e alquimia. Por isso, desenvolveu o conceito de inconsciente coletivo.

Uma das mais importantes contribuições de Jung é o conceito de inconsciente coletivo.


Este é o “responsável pela produção espontânea de mitos, visões, ideias religiosas e certas
variedades de sonhos que são comuns a diversas culturas e períodos da história” (STORR,
1993, p. 39). É o nível da psique que inclui experiências comuns a todas as pessoas em uma
maior ou menor intensidade, e que tem suas origens na evolução da história.

As pessoas passam pelas mesmas etapas do desenvolvimento: infância, adolescência,


vida adulta e velhice. Isso ocorre devido à herança da humanidade, algo que lhe é coletivo. Se
21
não existisse a herança da espécie, as pessoas não passariam pelas mesmas etapas do
desenvolvimento, seriam, portanto, diferentes.

Quando se transporta uma doença pessoal a um nível mais alto e geral, há um efeito
curativo. Às vezes, o consolo espiritual ou a influência psíquica podem ajudar ou até curar uma
doença. Assim, o fato do paciente perceber que o sofrimento não é só seu, mas sim geral, já lhe
causa um alívio, um consolo (JUNG, 1985).

Jung foi o primeiro a insistir em que o próprio analista seja também analisado. Entre
1914-1918 ele fez sua autoanálise, o que influenciou muito em sua teoria. Ele parte da solução
de seus próprios problemas para a solução dos problemas dos outros. Desse modo, o paciente
vai se desenvolver até o nível em que seu terapeuta tiver se desenvolvido.

Na psicoterapia junguiana, os conceitos principais são: projeção, transferência, sonhos


e imaginação ativa.

O indivíduo procura psicoterapia porque necessita de ajuda para curar o seu


sofrimento. O paciente espera que alguém vá ouvi-lo, vai poder ajudá-lo, vai poder curá-lo. É o
Complexo do Salvador, ou seja, a esperança de que o terapeuta o cure, o salve de seu
sofrimento. O paciente “projeta o complexo de salvador no analista, bem como as expectativas
religiosas e a esperança de que talvez o analista, munido de conhecimentos secretos, possuísse
a chave perdida pela Igreja, podendo revelar-lhe a verdade redentora” (JUNG, 1985, p. 143). Os
elementos projetados no analista também são de natureza impessoal, arquetípica. Portanto, o
complexo do salvador é uma ideia universal, uma esperança de todo mundo, em qualquer época
da história.

O causador de seu sofrimento é sempre o outro: problemas de relacionamento com o


pai, a mãe, com o marido, filhos, escola, trabalho, etc. Nesse sentido, ele projeta no outro o seu
sofrimento. Logo, o primeiro ponto a ser trabalhado em psicoterapia é a projeção.
Paralelamente, temos a transferência, que é um conceito semelhante ao da projeção.

Segundo Jung (1985) a projeção é um mecanismo psicológico inconsciente geral, que

carrega conteúdos subjetivos sobre o objeto. O termo transferência significa “carregar alguma

coisa de um lugar para o outro” (p. 127). 22

O conceito de projeção é mais generalizado, é um mecanismo que ocorre entre o


sujeito humano e o objeto físico. A transferência de um mecanismo específico da projeção, uma
vez que se refere ao processo que se dá entre duas pessoas (terapeuta e paciente).

Na transferência o paciente projeta no terapeuta imagens derivadas de sua experiência


de figuras significativas do passado (geralmente figuras parentais). Quanto mais o terapeuta for
uma figura desconhecida, mais provável é que as imagens do mundo interior do paciente se
liguem àquele.

Freud também concorda com esse conceito, mas Jung vai além, e acrescenta a
observação de que não são apenas as imagens pessoais da infância do paciente que se
projetavam, mas também as figuras arquetípicas1.

Para Freud a transferência é o que move o tratamento, se ela não existir, não há cura.
Mas para Jung ela não é necessária, chegando até ser indesejável. “Uma transferência é sempre
um estorvo, jamais uma vantagem. Cura-se apesar da transferência e não por causa dela”
(JUNG, 1985, p.141). Para Jung não é preciso que o paciente ame ou odeie o terapeuta, porque
o problema central do paciente é que ele aprenda a viver a sua própria vida, sem que o
terapeuta se intrometa nela.

Em psicoterapia, o fato de o paciente ter emoções, por si só, exerce efeito no analista.
Assim, o terapeuta serve de função especular, isto é, aceita as emoções do paciente sendo um
espelho para elas. Nesse sentido Jung não aceita a ideia do uso do divã. Para cumprir a função
especular, o terapeuta deve estar de frente ao paciente, de modo que este primeiro tenha
liberdade para reagir às emoções do segundo.

1 Os arquétipos não podem ser descritos, mas seus conceitos aparecem na consciência como imagens e idéias
arquetípicas. São padrões ou motivos universais que vêm do inconsciente coletivo e formam o conteúdo básico das
religiões, mitologias, lendas e contos de fadas. Emergem nos indivíduos através de sonhos e visões.
Temos também o conceito de contratransferência, que se refere aos sentimentos do
analista em relação ao seu paciente (o processo inverso da transferência). Os conteúdos
projetados pelo paciente são idênticos aos elementos do inconsciente do próprio terapeuta.
Entretanto, se o terapeuta não conhecer seu inconsciente, pode ser que o paciente caia no
inconsciente de seu terapeuta, e então o processo terapêutico pode travar. Assim, fica mais uma
vez confirmada à importância do terapeuta em fazer análise. (JUNG, 1985). 23

Como já foi pontuado, a transferência e a projeção são os pontos iniciais a serem


trabalhados na psicoterapia. O analista não pode forçar uma transferência, devendo ela ser
tratada como qualquer projeção. No caso dela aparecer, o que é muito comum, Jung distingue
quatro estágios para que ela seja tratada em psicoterapia.

De acordo com Jung (1985), no início de um tratamento, as projeções são experiências


pessoais do paciente. Neste primeiro estágio devem-se trabalhar todos os níveis de
relacionamento que o paciente já teve, conscientizando-o de que ele ainda olha o mundo como
se fosse criança: tudo projeta e espera das figuras autoritárias de sua experiência pessoal. Para
estabelecer uma imagem madura o paciente deverá enxergar o lado subjetivo das imagens que
criem empecilhos para sua vida.

O segundo estágio da terapia da transferência consiste na discriminação entre


conteúdos pessoais dos impessoais. As projeções pessoais podem ser dissolvidas por meio de
realização consciente, já as impessoais não podem ser destruídas por pertencerem aos
elementos estruturais da psique. O que pode ser dissolvido é o ato da projeção, e não seu
conteúdo (JUNG, 1985).

Temos, conforme Jung (1985), o terceiro estágio, que consiste em diferenciar o


relacionamento pessoal com o analista dos fatores impessoais. É comum que o paciente goste
do terapeuta, e quando o trabalho foi bom, que o terapeuta também goste de seu paciente. Logo,
reações emocionais são aceitáveis. E isso não quer dizer que se trata, ainda, de transferência.

Finalmente, o quarto estágio da terapia da transferência é denominado de objetivação


das imagens pessoais. É uma parte fundamental do processo de individuação. Seu objetivo é
desprender a consciência do objeto para que o indivíduo não coloque a garantia de sua
felicidade em fatores externos - em outras coisas ou pessoas (JUNG, 1985).
Jung enfatiza a vida interior e acredita na existência do inconsciente. Assim, a
linguagem do inconsciente são os símbolos e o material de trabalho são: 1) a associação de
palavras, 2) a análise dos sonhos e 3) a imaginação ativa.

Quanto ao teste da associação de palavras, Jung (1985) afirma que está um tanto
ultrapassado, por isso não o utiliza mais em seus pacientes. Este teste consiste em uma lista de
24
mais ou menos cem palavras. Explica-se à pessoa que se submete ao teste que, após a
apresentação da palavra estímulo, o mais rápido possível ela tem que dizer qual a palavra que
surge na cabeça. Marca-se o tempo de cada resposta e depois se tira a média deste tempo.
Após, parte-se para uma segunda etapa: repetem-se as palavras estímulos e o indivíduo tem
que repetir suas respostas. Em alguns momentos a memória falha, e tais erros é que são
significativos.

Os sonhos, segundo Storr (1993), são a “estrada real” para o inconsciente. A

linguagem dos sonhos é uma linguagem natural, simbólica, que talvez seja difícil de

compreender, mas não constitui uma tentativa de esconder coisa alguma. Podem-se ler os

sonhos como se aborda uma língua estrangeira. Muitos sonhos originam-se no inconsciente

pessoal, isto é, dizem respeito aos problemas emocionais cotidianos, às relações interpessoais e

aos resíduos da infância.

Jung estava mais interessado nos sonhos que se originavam no inconsciente coletivo.
Nesses casos ele não hesitava em fornecer suas próprias associações, filtradas do seu próprio e
extenso conhecimento de mitologia, religião e alquimia. Essa técnica é chamada de
amplificação, isto é, a prática de fornecer ao paciente analogias e comparações.

Durante a sua autoanálise, Jung desenhava e pintava suas próprias visões e sonhos.
Ele encorajou seus pacientes a fazerem o mesmo, ou, escrever poemas, fazer modelagens ou
esculturas, ou mesmo dançar suas próprias fantasias. Embora um paciente possa tratar um
sonho dessa forma e fosse estimulado a fazê-lo, Jung estava mais interessado na espécie de
fantasia que acode à mente das pessoas quando elas não estão despertas nem adormecidas,
mas num estado de divagação em que o raciocínio está suspenso, mas não se perdeu a
consciência (STORR, 1993).
A descrição acima se refere à técnica da imaginação ativa, que se destina a mobilizar a
criatividade do paciente. É uma forma de desenvolver as possibilidades criadoras latentes no
próprio paciente.

Jung fundamentou sua teoria na psicanálise freudiana, nos seus conhecimentos de


mitologia, alquimia e religião. Mas, especialmente, em sua experiência clínica, experiência
25
pessoal e em viagens que fez pelo México, China, África, dentre outros países. Apesar de dar
muita atenção à teoria propriamente dita, ele estava mais interessado em ajudar o seu paciente.
Jung deixava as pessoas livres a lidarem com os fatos a sua maneira, e encorajava aos analistas
que encontrassem seus próprios caminhos.

5.3 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Segundo Bahls; Navolar (2004), essa abordagem utiliza pressupostos do modelo


behaviorista ou comportamental e do modelo cognitivista. Uma teoria não é contrária à outra,
mas complementam-se.

No behaviorismo o foco é a análise do comportamento e suas contingências. O


ambiente interfere diretamente no comportamento, e o tema central é a aprendizagem. Seus
principais representantes são Pavlov, Skinner e Thorndike.

Nesse sentido, para Bahls; Navolar (2004) existem dois tipos de comportamento: o
comportamento respondente (que tem um caráter involuntário) e o comportamento operante
(com caráter voluntário). O primeiro é aquele capaz de modificar o ambiente, e sofre influências
sobre o próprio ambiente. Já o comportamento clássico ou respondente está associado ao
conceito de estímulo-resposta.

No modelo cognitivo dá-se mais relevância para as situações subjetivas, como a


memória, percepção, atenção, etc. Utiliza-se mais das “crenças” do que do “conhecimento”, uma
vez que o cliente atua de acordo com o que ele acredita ou percebe, mesmo que elas estejam
distorcidas.

Aaron Beck, um dos principais representantes do cognitivismo, construiu sua teoria


estudando pacientes deprimidos. Ele observou que essas pessoas tinham em comum, crenças
negativas em relação a si mesmas. Assim, na terapia cognitiva as crenças que cada pessoa tem
26
irão influenciar seu comportamento, podendo surgir alguma patologia.

Como salienta Bahls.; Navolar (2004), a terapia cognitivo-comportamental tem


indicação de tratamento para vários problemas emocionais, como a ansiedade, depressão,
distúrbios alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo e conflitos sexuais.

O objetivo da psicoterapia cognitivo-comportamental, de acordo com Bahls; Navolar


(2004, p. 09), é auxiliar o cliente a “aprender novas estratégias para atuar no ambiente de forma
a promover mudanças necessárias; (...) é corrigir as distorções cognitivas que estão gerando
problemas ao indivíduo e fazer com que este desenvolva meios eficazes para enfrentá-los”.

5.3.1 Indicações

A psicoterapia é um processo orientado para o crescimento, independência e


maturidade do paciente (RIBEIRO, 1988). Nesse sentido é indicada para diversos tipos de
problemas ou situações, que estão classificados da seguinte forma:

1. Tratamento de transtornos mentais (conforme CID-10).


 Doença de Alzheimer, demência vascular, doença de Parkinson.
 Dependência química: uso de álcool, cigarro e outras drogas.
 Transtornos psicóticos, esquizofrenias.
 Transtornos do humor: maníaco, bipolar, depressivo.
 Transtornos neuróticos: fobias, ansiedade, síndrome do pânico, transtorno
obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, somatização, hipocondria e
histeria.
 Transtornos alimentares: anorexia, bulimia, obesidade.
 Transtornos do sono: insônia, pesadelos, sonambulismo.
 Transtorno sexual: ejaculação precoce, vaginismo, falta de desejo sexual. 27
 Transtornos de hábitos e impulsos: jogo patológico, cleptomania.
 Retardo mental.
 Dificuldade de aprendizagem.
 Distúrbio de conduta.
 Déficit de atenção e hiperatividade.

2. Problemas existenciais. Busca de crescimento pessoal, autoconhecimento.


Sensação de que falta sentido de vida, vazio existencial.
3. Conflitos de relacionamento interpessoal. Casos de conflito conjugal, familiar ou
profissional, nos quais a convivência torna-se difícil.
4. Elaboração de momentos específicos ou fases do desenvolvimento. Situações
como luto, doença ou hospitalização, adolescência, menopausa, velhice.

5.3.2 Tipos de Terapia

Quanto ao tipo, a psicoterapia pode ser classificada da seguinte forma:

 Individual;
 Grupal;
 Casal;
 Familiar.
6 PERFIL DO PSICOTERAPEUTA

A psicoterapia é um processo que envolve a relação humana, em que estão presentes


28
sentimentos, crenças e valores de duas pessoas. A neutralidade (um dos critérios de exigência
científica) não pode ser absoluta. Entretanto, cabe ao psicólogo saber manejar tais sentimentos
inconscientes que possam interferir no bom andamento da psicoterapia, até para evitar uma
possível interrupção.

Nossa personalidade só se expressa na relação. Eu me reconheço a partir do outro. A


construção da identidade só é feita na relação com o outro. Portanto, é na relação que a pessoa
se trata.

Atualmente, o foco na psicoterapia está voltado para a dupla terapêutica (paciente-


terapeuta) e não apenas para as características somente do paciente. Estão em jogo as
ansiedades, expectativas e o inconsciente da dupla.

Na psicoterapia, Santiago (1995) aponta que a relação da dupla terapêutica é


assimétrica. Isso significa que cada um da dupla tem funções diferentes. Neste momento o
terapeuta sabe mais que o paciente. É ele quem delimita os honorários, horários, assim como é
ele quem pode compreender o sofrimento do paciente.

Quando o paciente toma a iniciativa de procurar ajuda por si só, esse já é um bom
prognóstico. Supõe que a pessoa percebe que está sofrendo, não concorda com seus sintomas
e tem o desejo de mudança. Este tipo de paciente é chamado de egodistônico.

Em contrapartida, aquela pessoa que vem ao consultório, encaminhada por outros


profissionais ou pelos pais, supõe-se que se trata de um paciente do tipo egosintônico. Isto é, ele
não sente que está sofrendo, as queixa é o do outro. Nesse sentido o prognóstico já não é bom,
pois não está disposto à mudança.
É importar, enquanto terapeutas, nos atentarmos para os desejos, as necessidades e
as expectativas nossas e as do paciente. Nem sempre elas coincidem. O desejo interno do
tratamento não ocorre só por parte do paciente, mas também por parte do psicólogo.

O terapeuta deve identificar as expectativas do paciente em relação à psicoterapia, à


disponibilidade interna para se tratar, às fantasias e ansiedades durante o tratamento. Esses
29
sentimentos são constantes o tempo todo.

Quanto ao paciente, este também tem suas expectativas, uma vez que buscou ajuda
porque está sofrendo. Algumas expectativas estão relacionadas a algumas questões: será que o
paciente vem buscar a solução mágica para seus problemas? Será que está disposto a ter uma
postura ativa no tratamento, ou espera mais do psicólogo?

No terapeuta, segundo Santiago (1995) as suas atitudes podem oscilar entre a


onipotência e a impotência. O psicólogo, especialmente quando é iniciante, sente-se muitas
vezes inseguro para atender determinado caso.

Na prática da Psicoterapia espera-se do profissional o clássico tripé: embasamento


teórico, análise pessoal e supervisão.

O primeiro requisito trata-se da formação profissional. Serra (2004) sugere que o


psicoterapeuta tenha um amplo conhecimento acerca de sua abordagem teórica, psicopatologia,
desenvolvimento humano, além de conhecer áreas afins, como a psicofarmacologia, psiquiatria,
dentre outras. Além disso, faz-se necessário também compreender como funciona a cultura e os
hábitos de vida dos seus pacientes.

O instrumento de trabalho do psicoterapeuta é seu inconsciente, sua própria


personalidade. Portanto, sua mente precisa estar tratada. No processo de análise pessoal – que
é o segundo requisito – ele passará pelas etapas psicossexuais do desenvolvimento descritas
por Freud: fase oral, anal, fálica, genital, complexo de édipo. Conforme afirma Jung (1985), no
processo de análise, o paciente irá se desenvolver até onde a mente do terapeuta estiver
desenvolvida.

Os conteúdos inconscientes do paciente e do terapeuta estão em jogo, claro que cada


qual com sua função. Com isso, torna-se cada vez mais importante a análise pessoal do
terapeuta, de modo que seus “pontos cegos” passem a se tornar claros. Vale o alerta de Keidann
(2000): nem todos os terapeutas estão em condições de tratar todos os tipos de pacientes. O
terapeuta precisa ter claro quais são suas limitações, pontos-cegos, enfim, suas dificuldades
internas. Do contrário, poderá ocorrer a interrupção do tratamento.

Finalizando o tripé, é de fundamental importância que o profissional realize supervisão


30
dos seus casos clínicos com um profissional mais experiente, que lhe possibilitará um novo olhar
para seu trabalho.

Segundo Ribeiro (1988) a empatia também é considerada uma ferramenta importante.


Trata-se da capacidade de colocar-se no lugar do outro, sendo sensível ao sofrimento, sem,
entretanto, misturar-se com esse outro. É a flexibilidade de estar junto do outro, mantendo uma
distância ótima, suficiente para ajudar e não sofrer como a pessoa.

Outros requisitos valiosos constam no Código de Ética Profissional do Psicólogo


(2005). São eles: a ética, o sigilo, a responsabilidade e o respeito ao ser humano.
7 PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA

7.1 DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA E


31
PSICANÁLISE

A primeira diferença reside na formação profissional. Para tornar-se um psicoterapeuta


a formação inicial é a graduação em Psicologia. Esse é o requisito mínimo, mas há também o
desejável, que é uma pós-graduação específica, de Psicoterapia de Orientação Psicanalítica,
que inclui a análise pessoal e as supervisões na mesma abordagem teórica.

O psicanalista não precisa ter, necessariamente, a graduação em Psicologia.


Geralmente interessa-se por esta área, além dos próprios psicólogos, psiquiatras ou áreas afins.
Entretanto, a formação obrigatória tem duração de seis anos. No primeiro ano inicia a análise do
profissional por um psicanalista didata, membro da Sociedade Internacional de Psicanálise. Os
anos subsequentes consistem, além da continuidade da análise, os seminários clínicos (estudo
teórico) e as supervisões. A participação em congressos e outros eventos da área e/ou
publicações de trabalhos científicos fazem parte da formação.

A Psicanálise é, enquanto teoria da personalidade, uma técnica de investigação


científica que procura entender o homem como um todo, considerando essencialmente o
inconsciente.
FIGURA 1 - SIGMUND FREUD

32

FONTE: Acesso em:

< http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jpg/200px-
Sigmund_Freud_LIFE.jpg>. Acesso em: 05 ago. 2011.

Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, deixou um grande legado à sociedade


quando nos mostrou que é possível mudar a estrutura psíquica por meio da análise, técnica esta
que vem se adaptando ao longo dos anos às mudanças da sociedade. Isso ocorreu de acordo
com a necessidade de tratamentos mais rápidos, surgindo então às psicoterapias.

Enquanto a Psicanálise busca a mudança da estrutura psíquica, trabalhando o


conteúdo latente, a psicoterapia tem por objetivo o alívio do sintoma, incluindo também o
conteúdo manifesto.

Nesse sentido, o que diferencia essencialmente a psicanálise da psicoterapia de


orientação psicanalítica é a técnica utilizada, uma vez que a escuta analítica está presente em
ambas. Na psicoterapia há a escuta do latente, e a tradução para o manifesto no momento da
interpretação junto ao paciente.

Por latente entende-se um conjunto de conteúdos inconscientes que se referem às


defesas psíquicas, sentimentos transferenciais e contratransferenciais, características das fases
psicossexuais (fase oral, fálica, genital, complexo de Édipo, latência). Já os conteúdos
33
manifestos são aqueles que são expressos claramente pelo paciente.

A psicoterapia de orientação psicanalítica se baseia nos conceitos da Psicanálise,


diferenciando-se desta última basicamente pela técnica utilizada, ou seja, é mais breve e com
objetivos delimitados.

Para Laplanche e Pontalis (2008, p. 393) a psicoterapia analítica é “uma forma de


psicoterapia que se apoia nos princípios teóricos e técnicos da psicanálise, sem, todavia realizar
as condições de um tratamento psicanalítico rigoroso”.

Freud [1905(1976)], na sua obra “Sobre a Psicoterapia”, discorre sobre as indicações e


contraindicações de seu método psicanalítico. Segundo ele não é recomendado tratar de
pessoas que não vêm com espontaneidade ao consultório, ou seja, que não desejam se tratar,
pois “a força motivadora primária na terapia é o sofrimento do paciente e o desejo de ser curado
que deste se origina” (FREUD [1913 (1976)], p. 186).

O analista não pode fazer nada ao paciente, se este último não demonstrar um mínimo
de interesse pela sua cura (isto é, vir até o consultório). Nesse sentido não é recomendado que o
analista vá até a casa do paciente.

Outra contraindicação, segundo Freud [1905(1976)], refere-se aos pacientes idosos e


pessoas mais próximas. O tratamento psicanalítico é longo e custoso, portanto, a idade seria um
fator que prolongaria ainda mais o processo terapêutico. Nessa perspectiva, os casos urgentes,
como a anorexia, por exemplo, também não deveriam recorrer à psicanálise em função do
tempo. Não é recomendado também aceitar pacientes com quadros graves, como os psicóticos,
pois a capacidade simbólica está prejudicada.
Para Freud [1905(1976)], estão indicadas para o tratamento psicanalítico as pessoas
mais desenvolvidas, os casos de histeria, estados obsessivos e as abulias (falta de motivação ou
vontade).

Essas indicações e contraindicações mencionadas acima se referem à Psicanálise. No


caso da psicoterapia de base psicanalítica, o fator tempo é significante, uma vez que neste caso,
34
o tratamento é em menor duração.

Outra diferença reside no atendimento aos quadros psicóticos, que podem ser tratados
pela psicoterapia de orientação psicanalítica, bem como os mais urgentes, desde que o trabalho
seja em conjunto com outros profissionais, como psiquiatra, neurologista, nutricionista (no caso
de transtornos alimentares), etc.
8 A ENTREVISTA PSICANALÍTICA

A entrevista é um dos instrumentos do psicodiagnóstico, sendo o principal na


35
psicoterapia de orientação psicanalítica, e tem como objetivo principal conhecer a personalidade
do paciente.

De acordo com Cunha (1993), na entrevista psicanalítica é importante avaliar:

 A motivação inconsciente, isto é, o desejo do paciente em se tratar, sua


disponibilidade interna e expectativas.
 O funcionamento psíquico: medos inconscientes, modo de perceber a realidade
externa, os vínculos afetivos, etc.
 A organização da personalidade, identificando os quadros neuróticos, psicóticos
ou borderlines.
Recomenda-se realizar duas ou três entrevistas. Na primeira é interessante agendar
um horário mais flexível, pois pode durar entre uma e uma hora e meia, sem que comprometa o
horário do próximo paciente.

Para Freud [1913(1976)], o assunto para iniciar a entrevista geralmente é de escolha


do paciente. Mas a história de vida, história da doença e as recordações da infância são
informações indispensáveis para o terapeuta nortear a hipótese diagnóstica e o plano
terapêutico.

Sobre isso Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) apontam que é importante favorecer a
expressão dos conteúdos inconscientes, e, portanto, “devemos deixá-lo tanto quanto possível à
vontade para mostrar seu modo de ser e de interagir conosco”.

Para que isso aconteça, a escuta atenta é condição imprescindível. Entretanto,


Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) alerta para o fato que a escuta não implica no silêncio absoluto
do terapeuta. Ao contrário, ele “deve agir com cordialidade, discrição e sensibilidade”. Pode
iniciar a entrevista identificando-se e solicitando ao paciente que fale sobre sua queixa.
Além disso, outros pontos são fontes ricas para compreender o psiquismo do paciente.
Dentre eles, destacam-se:

 Análise de como o paciente relaciona-se com os objetos significamente afetivos,


como os pais, irmãos, cônjuges, filhos.
 Observação das contradições, fantasias e mecanismos de defesa.
36
 Análise do ego e superego. Trata-se de um ego estruturado ou desestruturado.
Um superego rígido ou frouxo.
 Exame das funções mentais, como humor, vontade, atenção, percepção, sono,
etc.

É importante ainda avaliar nas entrevistas:

 Tendências suicidas;
 Uso de dependências químicas;
 Compulsões (alimento, jogo, sexo, etc.);
 Sintomas somáticos;
 Fobias;
 Uso de medicação, especialmente as de uso psiquiátrico, como os ansiolíticos,
antidepressivos e anticonvulsivantes.

Considerando que o processo terapêutico, de alívio do sintoma, diz respeito à dupla


(terapeuta – paciente), na entrevista está em jogo o inconsciente de ambos. É preciso levar em
conta os pontos favoráveis e desfavoráveis do par. Pode ser que um terapeuta não consiga
atender determinado tipo de patologia, ou determinada faixa etária, em função de seus pontos
cegos, isto é, de seus próprios conteúdos internos que não estão trabalhados. Para atender
criança, por exemplo, é necessário que os conteúdos infantis do terapeuta estejam trabalhados.
Para atender quadros de dependência química é importante trabalhar os sentimentos
relacionados à impotência.
9 ENQUADRE TERAPÊUTICO

O contrato é uma das primeiras etapas do processo terapêutico, vindo após o


37
psicodiagnóstico. É considerado o ponto mais concreto da relação terapêutica. É realizado
verbalmente, devendo ser claro, objetivo para ambos, pois é o que orienta a dupla. O enquadre
ou contrato inclui os seguintes pontos:

 Esclarecimento dos papéis;


 Lugar;
 Horários;
 Honorários.

No que concerne ao esclarecimento dos papéis, é importante delimitar a função de


cada um da dupla (terapeuta – paciente). A tarefa do paciente é a de falar – falar o que quiser. A
do terapeuta é a escuta. Não se trata de uma escuta qualquer, mas uma escuta do material
latente. No caso de atendimento à criança, é importante delimitar algumas situações de
organização, como por exemplo, não rabiscar ou sujar as paredes, não sair da sala de
atendimento, dentre outras.

Freud [1913(1976)] diz no texto em que faz recomendações aos psicanalistas que os
aspectos importantes no início do tratamento são os acordos quanto a tempo e dinheiro, ou seja,
o contrato. Está incluído ainda o diagnóstico e indicação terapêutica realizados pelo terapeuta.

Quanto ao tempo, Freud [1913(1976)] alerta que “a cada paciente é atribuída uma hora
específica de meu dia de trabalho disponível, pertence a ele que é responsável por ela, mesmo
que não faça uso da mesma” (p. 168).

Nesse sentido, a recomendação é a de que, no momento do contrato, a dupla tenha


acordado a respeito das faltas. Cada terapeuta tem seu estilo pessoal, a maneira com a qual
consegue trabalhar mais confortavelmente.
Há controvérsias entre os autores. Mas é comum alertar ao paciente que as faltas
previamente avisadas poderão ser compensadas, remanejando a agenda do terapeuta, quando
possível, atendendo em outro dia ou horário. Em contrapartida, as faltas não avisadas costumam
ser cobradas. Isso quando se tratar de clínica privada.

Quando se tratar de instituição pública, em função da grande demanda, pode-se


38
negociar um máximo de faltas que o paciente pode ter sem perder sua vaga. Por exemplo, duas
faltas seguidas ou três intercaladas, sem avisar.

Em relação ao número de sessões, Freud [1913(1976)] atendia os seus pacientes seis


vezes na semana, que seriam todos os dias, à exceção dos domingos e feriados. Atualmente
esta frequência não é apropriada nem para a psicanálise ortodoxa.

Em psicoterapia de base analítica indicam-se duas sessões semanais e, em algumas


situações, uma, no caso de motivos financeiros, residência em outra cidade, desemprego. Mas
não é uma regra, vai depender de cada caso. Situações mais graves (como por exemplo,
depressão severa) requerem um acompanhamento mais próximo. Pode-se atender três vezes na
semana inicialmente, e à medida que a estrutura egoica do paciente vai se fortalecendo, diminui
o número de sessões. As sessões podem durar quarenta e cinco minutos. De preferência, o
tempo precisa ser rígido. Além disso, não é aconselhado mudar muitas vezes os dias e horários,
tampouco a sala de atendimento. É importante que o setting terapêutico seja preservado.

Ainda quanto ao tempo, o paciente geralmente tem curiosidade de saber quanto tempo
vai durar o tratamento. Freud [1913(1976)] faz uma comparação com o tempo de construção de
uma casa: “na verdade, a pergunta relativa à duração provável de um tratamento é quase
irrespondível” (...) e acrescenta: “mesmo pessoas inteligentes esquecem que uma proporção
necessária tem de ser observada entre tempo, trabalho e sucesso” (p. 170).

Freud [1913(1976)] orienta para a importância de não dar prazos para o fim do
tratamento. Além disso, pode ser conveniente, em algumas situações, informar ao paciente
sobre a interrupção do tratamento. Este autor compara a interrupção de uma análise com a
interrupção de uma cirurgia, sendo, portanto, insatisfatório.

Outro fator a ser discutido no contrato refere-se aos honorários do terapeuta, quando
se tratar de clínica privada. Freud [1913(1976)] faz uma associação entre dinheiro e fatores
sexuais. Sugere que os honorários sejam tratados de forma espontânea e sincera, sem
vergonha.

Os honorários correspondem à parte prática da terapia. O psicólogo tem gastos com


aluguel, água, luz, telefone, impostos, livros para seu estudo e preparação profissional. É
recomendado que o paciente pague mensalmente, e o valor deve ser reajustado anualmente
39
(FREUD [1913(1976)]).

Há que se identificar o simbolismo que o dinheiro tem para cada paciente. Assim, o
terapeuta deve ser responsável por receber os honorários, de modo que possa realizar as
interpretações quando necessário. Portanto, é ideal que não seja função da secretária.

Atualmente, nos deparamos com os planos de saúde, que determinam previamente e


de forma padrão o número de sessões e o valor a ser cobrado, além de ser pago indiretamente
ao terapeuta. Nesses casos, convém informar ao paciente sobre as dificuldades que se tem para
trabalhar com prazos predefinidos. Algumas vezes é possível combinar com o paciente sobre a
continuidade do tratamento, quando necessário, de modo que ele fique responsável pelos
honorários.

Quanto ao tratamento, Freud [1913(1976)] conclui: “nada na vida é tão caro quanto a
doença e a estupidez” (p. 176).
10 ALIANÇA TERAPÊUTICA

A aliança terapêutica, também chamada de vínculo, diz respeito a uma relação dual:
40
paciente e terapeuta. Segundo Keidann; Dal Zot (2005) refere-se à capacidade de estabelecer
uma relação de trabalho entre a dupla. Ocorre após o contrato e é à base do processo
psicoterápico.

Ocorre após a dissociação do ego do paciente. Ou seja, parte do paciente deseja falar
do problema e a outra não quer, porque lhe causa sofrimento. Ao realizar a dissociação, o
paciente irá se identificar com o terapeuta. Trata-se de um processo importante na psicoterapia:
o paciente irá se identificar com a parte do ego saudável do terapeuta (já que a mente desse
está mais saudável, após ter realizado sua análise). Então, a melhora se dá quando está
incorporado o ego saudável do terapeuta no paciente (DEWALD, 1981).

É considerada como a base do tratamento porque, a partir da postura de acolhimento e


escuta atenta do terapeuta, favorecendo um clima de confiança e respeito. Sentir-se
compreendido é condição essencial para que o paciente continue seu tratamento.
11 PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS

De acordo com Freud [1905(1976)] o aparelho psíquico está dividido em: consciente,
41
pré-consciente e inconsciente.

Uma das principais características da psicanálise e da psicoterapia de base analítica é


o inconsciente. Este é regido, segundo Freud [1905(1976)], pelo princípio do prazer e é
composto de ideias desorganizadas (ideias reprimidas, por exemplo). O inconsciente é
atemporal e, portanto, sempre atual. Apesar de não termos consciência dos conteúdos
inconscientes, poderemos vir a ter por intermédio da psicoterapia. Isso pode ocorrer por meio da
associação livre e dos sonhos.

No processo da psicoterapia a comunicação se dá de inconsciente do terapeuta para


inconsciente do paciente. Portanto, estão envolvidos os sentimentos da dupla.

Nesse sentido, dizemos que, em psicoterapia de orientação psicanalítica, assim como


na psicanálise, o inconsciente é o objeto principal a ser trabalhado.

De acordo com Luz (2005) a psicoterapia passa por três fases, sendo elas: início, fase
intermediária e término.

Quanto ao início do tratamento, Luz (2005) salienta que compreende desde o primeiro
contato com o paciente até o estabelecimento da aliança terapêutica, que pode variar de
sessões a meses, conforme cada caso.

Sendo assim, nesse momento o principal objetivo é o de estabelecer e fortalecer a


aliança terapêutica, por meio de um contrato claro e objetivo, identificando os motivos
inconscientes do sofrimento do paciente. A intervenção, portanto, precisa ser de acolhimento e
focada na interpretação das ansiedades paranoides, isto é, na dicotomia confiança-desconfiança
(LUZ, 2005).

“É importante que o terapeuta ‘ensine’ o paciente a se tratar, auxiliando-o a despertar


seu interesse pelos conflitos e pelas formas de funcionamento de sua personalidade” (LUZ, p.
257). Nesse sentido, a postura do terapeuta não deve ser de silêncio exagerado e nem tão
amistosa.

O maior risco nessa fase, como aponta Luz (2005), é a interrupção precoce do
tratamento. Para tanto, um recurso útil diz respeito aos conteúdos contratransferenciais, ou seja,
os sentimentos que o paciente desperta no terapeuta.
42
As fantasias iniciais, por parte da dupla, são inúmeras. Quanto às fantasias do
paciente, este pode ter medo de entrar em contato com seus conflitos mais infantis porque foram
desastrosos, pode ter medo de ficar dependente do terapeuta. Pode ainda ter medo de perder o
controle de suas emoções ou de aflorar fantasias eróticas. De qualquer forma, cabe ao terapeuta
interpretar tais fantasias, para que deixem de ser um obstáculo ao tratamento, ou seja, deixem
de ser resistências (LUZ, 2005).

Já a fase intermediária da psicoterapia é definida por Luz (2005, p. 258) como a fase
mais longa, que compreende desde o estabelecimento da aliança terapêutica até o momento da
alta. O objetivo desse momento é o de “examinar, analisar, explorar e resolver os sintomas e as
dificuldades emocionais do paciente”. Quanto à técnica, a interpretação das resistências iniciais
e dos conflitos inconscientes do paciente é a principal delas.

Ao comparar o processo de psicoterapia com um jogo de xadrez, Freud [1913(1976)]


diz que existem, basicamente, técnicas para o início e para o fim do tratamento. O decorrer do
mesmo é sempre um desafio. Trata-se da etapa mais árdua, uma vez que é nela que ocorrem as
principais mudanças.

Em relação à temática abordada nesta fase, o foco são os assuntos trazidos pelo
próprio paciente durante as sessões. Geralmente são temas referentes às situações vividas no
dia a dia, como conflitos de relacionamento familiar, no trabalho; ambições, planos e decepções.
Enfim, sofrimentos cotidianos (LUZ, 2005).

Quanto à postura do terapeuta, Luz (2005) recomenda que seja atenta e respeitosa, de
modo que o paciente possa sentir-se à vontade para falar. Dessa forma, à medida que vai
surgindo o momento oportuno, o terapeuta poderá intervir, seja pontuando, assinalando ou
interpretando.
Ocorre que, como aponta Luz (2005), na fase intermediária nem sempre o processo
evolui tão bem. Às vezes pode ocorrer uma estagnação temporária, em função das resistências,
impasses, acting out, perturbação da aliança terapêutica, etc.

Em relação à alta, ou ao término da psicoterapia, este não ocorre em uma única


sessão. A fase final perdura por várias sessões, nas quais são trabalhadas as ansiedades de
43
separação. De acordo com Luz (2005) esta fase inicia com a primeira comunicação da alta e
culmina com a última sessão em que a dupla terapeuta-paciente se encontra.

O objetivo principal é o de trabalhar os sentimentos de luto vivenciados pelo término do


tratamento, bem como avaliar os ganhos e benefícios conquistados durante o mesmo (LUZ,
2005).

A alta é uma questão de comum acordo entre a dupla. Para o terapeuta, alguns
indicadores subsidiam seu trabalho, segundo Luz (2005). São eles:

 A melhora ou supressão do sintoma trazido inicialmente pelo paciente.


 Alguma mudança nos vínculos afetivos, com os familiares.
 Alguma alteração nos processos de trabalho, de modo que possa almejar novos
projetos.
 Ampliação dos contatos sociais.
 Maior satisfação na vida sexual.
 Mudança no contato com a realidade, de modo que o paciente a suporte melhor.

Ocorre que nem sempre o processo psicoterápico tem êxito. Então se depara com o
fenômeno do abandono do tratamento, que é sempre indesejável.

Percorrendo a literatura, encontramos algumas explicações acerca do abandono do


tratamento psicoterápico.

Segundo Etchegoyen (2004), na fase do contrato do processo psicoterápico está


incluída a ideia de que o tratamento deve finalizar por acordo de ambas as partes e, por isso, se
apenas um lado decide, não se fala em término da análise, mas sim em interrupção. O analisado
tem liberdade para rescindir o contrato a qualquer momento, assim como o analista.
Em alguns casos, salienta Etchegoyen (2004), pode ser que os motivos que levaram à
interrupção de tratamento sejam de ordem externas, porém não é o mais comum. Os motivos
internos são mais frequentes, e quando isso acontece, chamamos de resistências, que pode vir
do analisando, ou até mesmo do analista, que não conseguiu manejá-la.

De acordo com Laplanche e Pontalis (2008, p. 458) “chama-se resistência a tudo o que
44
nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso deste
ao seu inconsciente”.

Um segundo fenômeno relacionado ao abandono do tratamento é o chamado acting


out. Chamado por Freud de “agieren” e apresenta o sentido de “atuar”.

Termo usado em Psicanálise para designar as ações que apresentam,


quase sempre, um caráter impulsivo, relativamente isolável no decurso
das suas atividades, e que torna muitas vezes uma forma auto ou
hetero-agressiva. Para o psicanalista, o aparecimento do acting out é a
marca da emergência do recalcado. Quando aparece no decorrer de
uma análise (durante a sessão ou fora dela, o acting out tem de ser
compreendida na sua conexão com a transferência, e frequentemente
como uma tentativa para ignorá-la radicalmente. (LAPLANCHE e
PONTALIS, 2008, p. 6)

Segundo Francisco (1995) o acting out pode estar a serviço ao que Freud chamou de
“lembranças encobridoras”. Ao invés de lembrar, o indivíduo atua, uma vez que se trata de
experiências infantis bastante remotas e que não foram compreendidas na ocasião. Pode se
referir a várias situações que se opõem ao processo analítico, como o silêncio, esquecimento de
sessões, decisão súbita de deixar a análise, dentre outros.

Laplanche e Pontalis (2008, p. 264) definem lembrança encobridora:

Lembrança infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela sua


especial nitidez e pela aparente insignificância do seu conteúdo. A sua
análise conduz a experiências infantis marcantes e a fantasias
inconscientes. Como o sintoma, a lembrança encobridora é uma
formação de compromisso entre elementos recalcados e a defesa.
De acordo com Gus (2005) atuações e encenações (enactments) refere-se a
sensações e sentimentos pré-verbais, portanto anterior a palavra, denotando expressões
primitivas.

Em um estágio primitivo do desenvolvimento psíquico, narra Gus (2005), quando a


linguagem ainda não existia (pré-verbal), não era possível expressar os sentimentos por meio da
45
palavra. Sendo assim, o ato é a única forma de expressão de vivências emocionais primitivas e
afetos perigosos da dupla terapêutica. Trata-se de uma obstrução ao processo de crescimento e
desenvolvimento psicoterápico, uma vez que, ao invés de atingir o insight, o indivíduo realiza um
ato.

Entretanto, como aponta Gus (2005), o fenômeno do acting out pode ser útil ao
tratamento, desde que compreendidos e bem encaminhados àqueles pacientes de difícil acesso,
em que predominam o pré-verbal, a desorganização psíquica, o caos e o vazio mental.

A realidade psíquica é resultante das percepções que o indivíduo tem do mundo


externo, somado às fantasias do mundo interno. Portanto, é uma experiência subjetiva, individual
e nem sempre traduz a realidade externa (GUS, 2005).

Sendo assim, afirma Gus (2005) que, no acting out e enactment a realidade psíquica
ganha expressão, por meio do ato, de vivências primitivas dolorosas (como ansiedades
persecutórias, etc.), as quais o indivíduo não se lembra e que podem ser percebidas por meio da
transferência e da contratransferência. Portanto, trata-se de revivências de conflitos primitivos da
dupla terapêutica.

Nesse sentido, Gus (2005) entende que as vivências primitivas são da dupla terapeuta-
paciente. As experiências de fantasias inconscientes destrutivas, arcaicas, de ansiedade
persecutória e situações traumáticas são reeditadas por ambos. Então, o psicoterapeuta também
possui papel fundamental: há que se compreender e manejar adequadamente o fenômeno do
acting out e enactment.

Atualmente há um consenso entre os psicanalistas de que o processo psicoterápico


não está focado apenas no paciente, mas sim na dinâmica do campo analítico. Assim, são
levadas em conta as condições emocionais do terapeuta e do paciente, bem como o
inconsciente de ambos (ZIMERMAN, 2004).
Quando o terapeuta, segundo Gus (2005), consegue compreender a realidade psíquica
do setting, conter e interpretar acting e enactment é possível dar novo significado às fantasias
primitivas.

Ao contrário, acrescenta Gus (2005), quando não se compreende a realidade psíquica


do par terapêutico no setting, chega-se ao “ponto cego” ou conluios inconscientes, de natureza
46
narcísica. Podem ocorrer ainda, piora do quadro clínico, impasses e interrupção do tratamento.

Longos silêncios, faltas e atrasos podem se configurar como acting out, que, caso
ocorram de forma intensa no início do tratamento, podem levar à interrupção do tratamento
(GUS, 2005).

Há também o fenômeno do impasse que, segundo Pires (2005) pode estar relacionado
à interrupção no tratamento psicoterápico. Trata-se de uma estagnação do desenvolvimento da
terapia, que implica num cessamento da elaboração, perceptíveis no processo transfero-
contratranferencial, caracterizada por intensas repetições de conflitos não resolvidos envolvendo
a dupla terapêutica.

Quando o impasse não é superado, pode ocorrer a interrupção do tratamento. Torna-


se então inevitável reavaliar o próprio trabalho do terapeuta. De alguma forma, acrescenta Pires
(2005), o paciente confirma a validade das teorias. Nesses casos é importante a supervisão do
caso, já que fica mais difícil o terapeuta, no momento da sessão, ter uma visão mais crítica. Além
disso, como o supervisor não está envolvido diretamente com o impasse, possivelmente terá
melhor condição de ajudar o terapeuta.

O fenômeno do impasse muitas vezes é confundido com o acting out, como sinaliza
Pires (2005). A diferença reside no momento em que ocorrem: o acting out pode ocorrer já no
início do tratamento, enquanto que o impasse geralmente deve ocorrer em fases posteriores do
processo psicoterápico.

Além disso, Pires (2005) afirma que a probabilidade de ocorrer impasse na


psicoterapia é menor que na psicanálise. Isso acontece porque na psicoterapia o número de
sessões é menor, o objetivo é mais focal e as situações extratransferenciais são menos intensas.
Conforme Pires (2005, p. 342), alguns autores defendem a ideia de que, nas situações
de impasse seria indicado marcar a data para interrupção do tratamento. Isso suscita muitos
questionamentos. Entretanto:

[...] em defesa de, pelo menos parte dessa ideia, é preciso dizer que
uma interrupção é sempre mais ética do que a manutenção de um
tratamento interminável, pois esta última opção configura uma 47
espoliação emocional e econômica do paciente por parte do terapeuta.

No decorrer do processo psicoterapêutico duas pessoas estranhas (terapeuta-


paciente), numa relação assimétrica, irão se encontrar frequentemente estabelecendo uma
relação única. Para Keidmann (2000) a experiência com cada novo paciente mobiliza no
terapeuta ansiedades, resistências e outras emoções inconscientes. Pode então ocorrer
abandono por erros, incompetência, hostilidade ou sedução do terapeuta.

Freud [1913(1976)] alerta sobre a oportunidade de aprender com as experiências de


pacientes abandonantes na medida em que se pode pensar sobre o fato, o mesmo que ocorre
muitas vezes quando se perde uma partida de xadrez. Aprende-se com os erros também.

Ferenczi, citado em Freud [1937-39(1976)], afirma que o êxito depende muito do


analista ter aprendido com seus próprios erros e de ter levado a melhor sobre os pontos fracos
de sua própria personalidade.

O tripé clássico da técnica psicanalítica consiste na transferência, resistência e


interpretação.

Segundo Laplanche e Pontalis (2008, p. 514) a transferência é um “processo pelo qual


os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de certo tipo de
relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica”.

Dewald (1981, p. 213) define a transferência como “uma forma de deslocamento na


qual o indivíduo dirige para um objeto presente todos aqueles impulsos, defesas, atitudes,
sentimentos e respostas” vivenciados nos primeiros relacionamentos infantis com as figuras
parentais.
O fenômeno da transferência refere-se aos conteúdos inconscientes do paciente para
o analista. Já a contratransferência vai do analista para o paciente.

No fenômeno da transferência, parte dos impulsos eróticos do indivíduo vai para a


consciência, dirigida para a realidade. A outra parte fica retida, ou permanece inconsciente.
Então, se a necessidade de amar não está totalmente satisfeita pela realidade, o indivíduo vai
48
aproximar-se de cada nova pessoa que encontrar. Esta pessoa pode ser até seu terapeuta. Isto
é natural, mesmo porque é a transferência que move o tratamento (FREUD, [1914(1976)]).

Em Psicanálise trabalha-se com a perda de um objeto. Nesse sentido, a transferência


ocorre porque o paciente acredita que o analista é esse objeto perdido. Ele acredita que o
analista detém o saber, sabe algo dele que o próprio paciente não sabe. E esse fenômeno move
o tratamento. É necessário certo “enamoramento”, ou seja, admiração pelo analista, para que o
paciente suporte um longo tempo na terapia. Vai chegar um dia em que, assim como a criança
quando cresce descobre que seu pai não é não perfeito e poderoso quanto pensava, o paciente
também vai chegar a essa conclusão. E nesse momento não vai mais haver motivo para
continuar o tratamento. É quando pode ser dada a alta (FREUD [1914-15(1976)]).

Mas o que o paciente transfere para o terapeuta? Transfere sentimentos inconscientes


infantis vivenciados com as figuras parentais.

A transferência é sempre inconsciente. É o resultado de um desejo. O ser humano tem


dois caminhos: a saúde e o sintoma. Os que fazem sintoma são pessoas que estão doentes.
Pode estar doente porque direciona seu sintoma para uma meta impossível (está sempre
esperando, insatisfeito). Nesse sentido, a pessoa desqualifica a saúde. O trabalho do
psicoterapeuta é conscientizar a pessoa disso.

O sintoma implica num ganho secundário. Funciona como uma “bola de neve”, isto é,
quanto mais o tempo passa, mais fica prejudicial. É uma metáfora de uma resolução sexual e
implica numa homeostase (equilíbrio) do aparelho psíquico. Este equilíbrio é dinâmico (em
alguns momentos é bom, mas em outros é ruim). Acontece que o sintoma toma bastante libido
(energia) do indivíduo, impedindo, assim, que ele não tenha energia para outras coisas.

Então o paciente procura o terapeuta porque essa situação é desconfortável. Mas aí


vem a resistência, pois o sintoma implica em alguns momentos, equilibrar seu aparelho psíquico.
Na medida em que seu sintoma é retirado, há uma piora de seu quadro – e isto é sinal da cura,
primeiro piora para depois melhorar.

Segundo Freud [1914(1976)] a transferência pode ser positiva ou negativa. A primeira


refere-se aos sentimentos amorosos, de amizade e confiança, enquanto que a segunda diz
respeito aos sentimentos hostis, agressivos.
49
A transferência que move o tratamento é a positiva (o paciente tem confiança no
terapeuta, acredita que ele é o detentor do saber), enquanto a transferência negativa prejudica o
tratamento, pois funciona como resistência. Esta última precisa ser interpretada ou assinalada
(FREUD [1914(1976)]).

Algumas vezes a transferência negativa é silenciosa ou muito sutil. Por exemplo:


quando o paciente chega atrasado à sessão ou falta. Quando no dia do pagamento esquece-se
de assinar o cheque, etc.

A contratransferência, como já foi dito, diz respeito ao “conjunto das reações


inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à transferência deste”
(LAPLANCHE E PONTALIS, 2008, p. 102).

É fundamental e faz parte da técnica atentar para os sentimentos que o paciente


desperta no terapeuta. Na relação com o paciente o terapeuta pode experimentar diversos
sentimentos, como raiva, prazer, desconfiança, preocupação, etc. (DEWALD, 1981).

Quando se trata de pacientes com quadros psicossomáticos, é comum o psicólogo


sentir sensações físicas, como alguma dor, por exemplo. Prestar atenção nesses sentimentos
auxiliará no processo de avaliação, bem como no momento adequado de interpretar.

O fenômeno da resistência é definido por Dewald (1981, p. 240) como “funções


psíquicas do paciente que se opõem ativamente à tarefa terapêutica de trazer o material
inconsciente ao conhecimento”, e, consequentemente, opondo-se às mudanças.

A resistência expressa à forma de como o ego se mobiliza para enfrentar as suas


angústias diante da vida. Resiste como forma de se proteger contra os ataques que sofreu no
passado (carência, abandono, incompreensão, humilhação, etc.). É o grande obstáculo ao
tratamento.
Algumas situações dentro do setting terapêutico podem ser interpretadas como
resistência, tais como: faltas, atrasos, esquecimentos, silêncio, dificuldades em falar sobre
determinados assuntos que causam angústia, etc.

O terceiro componente que faz parte do tripé da técnica psicanalítica é a interpretação.


Esta é uma técnica valiosa, em que o psicoterapeuta permite que seu paciente entre em contato
50
com seus conteúdos inconscientes, ajudando-o a “traduzir” seus sentimentos (RIBEIRO, 1988).
É nesse momento, para Freud, que é favorecida a mudança. A arte da interpretação identifica as
resistências e as torna conscientes.

Esta é uma técnica que deve ser usada com cautela, uma vez que tem seu momento
oportuno. A recomendação é que o terapeuta possa identificar quando seu paciente estiver
próximo de tornar o conteúdo consciente. É difícil saber se uma interpretação está correta. Mas
alguns indícios podem ser observados. Ao interpretar, é importante avaliar a reação do paciente,
o assunto ou material seguinte que ele vai trazer.

Dewald (1981) discorre sobre a técnica em psicoterapia de base analítica, elegendo a


escuta, o esclarecimento e a confrontação, além da interpretação como formas de intervenção.

Segundo este autor é importante deixar o paciente falar, mas cabe ao terapeuta a
função da escuta especializada.

“A atividade do terapeuta em escutar representa muito mais que a simples recepção


passiva e compilação do material verbalizado pelo paciente” (DEWALD, 1981, p. 198). Esta
escuta significa priorizar o significado dos conteúdos latentes, além de observar o
comportamento não verbal é importante observar o conteúdo que foi dito pelo paciente, mas
também o que foi omitido.

A comunicação na psicoterapia pode ser:

 Verbal: por meio da palavra, linguagem falada.


 Não verbal: por meio de comportamentos como a expressão corporal, por
exemplo.
O silêncio também é uma forma de comunicação, que pode simbolizar várias
situações: ansiedade, vazio mental, resistências, etc., podendo ser do tipo paranoide,
depressivo, fóbico, confusional, etc.

Em oposição, tem também aquele paciente que fala muito, como uma espécie de
descarga emocional. Entretanto, deixa de falar o mais importante. Pode ser inclusive, um tipo de
51
resistência.

Segundo Dewald (1981), o esclarecimento é uma forma de intervenção que tem por
objetivo esclarecer alguma situação específica da experiência e do comportamento do paciente.
Está mais no nível consciente e pré-consciente.

Já a confrontação “implica dirigir a atenção do paciente para elementos da experiência


ou comportamento nele observados pelo terapeuta, mas sem retirar qualquer inferência dos seus
possíveis significados” (DEWALD, 1981, p. 202). É interessante apontar diferenças,
semelhanças ou repetições nas experiências vividas pelo paciente. Assim, como o
esclarecimento a confrontação também ocorre a nível consciente e pré-consciente.

FIGURA 2 - DIVÃ

FONTE: Disponível: < http://www.greiceklem.psc.br/images/diva_freud.jpg?546>. Acesso em: 05


ago. 2011.
Quanto ao uso do divã, este é uma herança do método da hipnose, utilizado por Freud,
no início de seus trabalhos. O divã servia para afastar os olhos do terapeuta e do paciente, já
que Freud atendia muitos pacientes num mesmo dia, e, por sua vez, ficava mais à vontade.
Ajudava também favorecendo a ocorrência dos pensamentos involuntários, já que permitem a
associação livre, além de propiciar a regressão.

52
O paciente não inicia o tratamento logo deitando no divã. O momento de deitar é
aquele em que de fato inicia-se a análise, ou seja, quando o paciente não tem nada mais para
contar sobre sua história de vida. O ato de apenas descrever fatos não significa
necessariamente que está sendo terapêutico. Há que se avaliar os casos em particular, mas às
vezes pode demorar mais de um ano para iniciar o processo de análise propriamente dito e
poder deitar no divã.

Na psicoterapia de orientação psicanalítica o divã não é usado, principalmente porque


a regressão não é tão profunda quanto na psicanálise. Faz-se necessário a interação face a face
do terapeuta e do paciente, especialmente nos quadros psicóticos.

Em relação à técnica, em sua obra “Recomendações aos médicos que exercem a


psicanálise”, Freud [1912(1976)] sugere que não há necessidade de memorizar a história de vida
do paciente como datas, nomes ou outros pormenores. O importante é o que está marcado
afetivamente, que pode ser observado por meio dos sentimentos, entonação de voz, etc. O mais
importante é a relação terapeuta/paciente.

Outra recomendação de Freud [1912(1976)] que também se aplica a psicoterapia, diz


respeito às anotações das sessões. É melhor que os registros sejam feitos em outro momento,
que não durante o atendimento. A atenção do terapeuta, ou melhor, sua escuta deve ser o foco,
em detrimento dos registros. Além disso, caso esteja diante de um paciente com personalidade
paranoide, a desconfiança poderá ser reforçada.

Freud [1912(1976), p. 129] dá ênfase na necessidade de o terapeuta realizar sua


análise. “Deve-se insistir, antes, que tenha passado por uma purificação psicanalítica e ficado
ciente daqueles complexos seus que poderiam interferir na compreensão do que o paciente lhe
diz”. E acrescenta: “(...) todos que desejam efetuar análise em outras pessoas terão
primeiramente de ser analisados por alguém com conhecimento técnico” (p. 130).
Uma das funções do psicoterapeuta, conforme aponta Freud [1912(1976)], refere-se à
função especular, isto é, o terapeuta deve mostrar ao paciente somente o que lhe é mostrado.
Nesta mesma linha de raciocínio, o psicólogo deve orientar-se pelas capacidades do paciente e
não pelos seus desejos (do terapeuta), valorizando qualquer evolução do paciente.

A psicoterapia é um processo árduo, em que não há ausência de sofrimento. Muitas


53
vezes, a fantasia é a de que são ditas apenas palavras de conforto, como se a pessoa quisesse
ficar na zona de conforto o tempo todo, como rege o princípio do prazer. Ocorre que o princípio
da realidade é condição para a superação do sintoma, rompendo o ciclo doentio, patológico.
Como afirma Luz (2005, p. 260), na terapia o paciente “vai sofrer pelo motivo adequado e de
forma adequada”.

Para Freud, a doença significa a incapacidade de amar, o paciente vive mendigando


amor dos outros. E a função do profissional é a de ajudar esse paciente a amar. Freud conclui
que tem saúde mental aquela pessoa capaz de amar e de trabalhar, em seus vários aspectos.

A relação com o outro é saudável para a Psicanálise, uma vez que há investimento de
libido (ou energia). Uma pessoa que se isola do mundo reveste-se em seu próprio narcisismo, e
consequentemente, surgirão os sintomas. Todo amor tem sua origem nas fontes primitivas, de
contato com a pele (inicialmente, da mãe com o bebê). Com o passar do tempo, a sociedade
exige que esse amor mude de direção, passando para um amor genital.

Nesse sentido, Freud usou o termo “sexualidade” em alemão “lieben”, que significa
“amar”. Portanto, este autor utiliza esse conceito em praticamente toda sua obra. Nesse sentido,
não se limita ao sexo no sentido genital, como entende o senso comum (FREUD [1910(1976)]).

Ainda com relação à técnica, em sua obra “Recordar, repetir e elaborar”, Freud
[1914(1976)], orienta o caminho do processo psicoterápico.

O processo de recordar tem suas origens na hipnose, método esse utilizado na


primeira fase da Psicanálise. Freud [1914(1976)] diz que recordar não é tão simples,
principalmente se forem experiências muito primitivas, conhecidas como amnésia infantil.
Lembrar pode ser extremamente doloroso, portanto, muitas vezes distorcemos para ficar
suportável.
Quanto mais precoce, mais difícil de ser retirada a marca, porque menos recursos têm
o ego para lidar com a intensidade do trauma. Menos simbolismo tem, e maior é a
desorganização psíquica. Quanto mais primitivas as experiências vivenciadas, mais fica em nível
das sensações, e, portanto, não há simbolismo, apenas registro mnêmico.

As lembranças remotas, segundo Freud [1914(1976)], caso não possam ser


54
compreendidas na ocasião, mas poderão vir à tona quando forem interpretadas.

Recordar significa contar o que sabe da experiência ou evento traumático. Mas Freud
[1914(1976)] salienta que nem sempre o indivíduo recorda de suas experiências infantis, mas as
reproduz por meio da ação (acting out), repetindo-as. Não é tão importante que o paciente se
lembre das suas experiências, porque ele vai repeti-las na terapia.

Mas o que o paciente repete? “Repete ao invés de recordar e repete sob as condições
da resistência” (FREUD [1914(1976) p. 198]). O paciente repete ou atua seus conteúdos
reprimidos, traços patológicos, seu sintoma e as resistências.

A doença do paciente, como sinaliza Freud [1914(1976)], é atual, e dessa forma deve
ser tratada. As origens da doença é que estão associadas às experiências passadas. Portanto, o
paciente irá repetir fragmentos da vida real, atual.

O principal instrumento para trabalhar as repetições em psicoterapia é, para Freud


[1914(1976)], o manejo da transferência. Assim, é possível superar as resistências para então
elaborá-las.

Elaborar é trocar a atuação e as repetições por discernimento. É dar um novo sentido


ao sofrimento. Quando o paciente elabora não há mais repetição.

Segundo Freud [1914(1976), p. 202]:

Deve-se dar ao paciente tempo para conhecer melhor esta resistência


com a qual acabou de familiarizar, para elaborá-la, para superá-la,
pela continuação, em desafio a ela, do trabalho analítico segundo a
regra fundamental da análise.
Nesse processo de recordar, repetir e elaborar, para Freud [1937(1976)], a função do
terapeuta é a de “completar aquilo que foi esquecido a partir dos traços que deixou atrás de si
ou, mais corretamente, construí-lo” (p. 293).

A técnica da construção diferencia-se da interpretação, segundo Freud [1937(1976)]. A


interpretação é quando o analista interpreta um único fato da vida do paciente. Já a construção
55
refere-se a vários fatos da vida do indivíduo. É algo final, um processo mais longo.

O trabalho de construção é o objetivo e a etapa final da psicoterapia de orientação


psicanalítica. Trata-se da tarefa de ajudar o paciente a construir uma nova história de vida.
12 PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

12.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS


56

Segundo Milhollan e Forisha (1972), no século XIX a Psicologia começa a evoluir como
disciplina independente, apesar dos problemas psicológicos de mente e conhecimento serem de
domínio de filósofos. Fisiologistas e físicos contribuíram para a Psicologia por meio do estudo do
sistema nervoso e da sensação.

Para que a Psicologia pudesse se tornar uma ciência (até então era estudada como
disciplina da Filosofia) era importante torná-la mais objetiva. Era importante que seu objeto de
estudo pudesse ser mensurado, observado. Nesse sentido, alguns nomes foram muito
importantes. Dentre eles, destacam-se: Wundt, Thorndike, Pavlov, Watson e Skinner.

Em 1879, Wilhelm Wundt (1832-1920) fundou seu laboratório psicológico em Leipzig,


Alemanha, estabelecendo a Psicologia como ciência. Refere-se à psicologia de Wundt como
estruturalismo, tentativa de estudar a estrutura da mente.
FIGURA 1 - WUNDT

57

FONTE: Disponível em: http://files.segredosdapsicologia.webnode.com.pt/200000006-


15ff916f97/Wundt3.jpg. Acesso em: 05 ago. 2011.

Edward L. Thorndike (1874-1949) desenvolveu princípios e conceitos de importante


influência, como o estudo do comportamento animal, chamado de Lei de Efeito (estímulo e
resposta no comportamento de pacientes experimentais – a aprendizagem era uma questão de
gravar respostas corretas e eliminar incorretas, como resultado de suas consequências
agradáveis ou desagradáveis, isto é, recompensas ou punições).

FIGURA 2 – CAIXA

FONTE:Disponível em:< http://www.jornallivre.com.br/images_enviadas/a-caixa-de-skinner-


caixa2-jpg.jpg> . Acesso em: 05 ago. 2011.
Ivan P. Pavlov (1849-1936) e o condicionamento clássico: o processo de
aprendizagem consistia na formação de uma associação entre um estímulo e uma resposta
aprendida por meio de contiguidade (lembrança de algo que no passado foi experimentado junto
com alguma outra coisa). Estudo de secreções gástricas em cães.

58
FIGURA 3 - CONDICIONAMENTO

FONTE: Disponível em:


http://3.bp.blogspot.com/_nLGqF2OyrH0/S_nhFmYNx4I/AAAAAAAAACI/QnV0c3oORM4/s320/ex
perimento+de+pavlov>. Acesso em: 05 ago. 2011.

John B. Watson (1878-1958) e o behaviorismo – psicologia como ciência de


comportamento objetiva, com a finalidade de prever e controlar o comportamento dos indivíduos.
Aceitou o condicionamento clássico como explicação para toda aprendizagem.
FIGURA 4 - WATSON

59

FONTE: Disponível em: < http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-


watson-1-sized.jpg>. Acesso em: 05 ago. 2011.

B. F. Skinner e o condicionamento operante – um dos principais behavioristas, com a


publicação de “Behavior of Organisms”, em 1938. Estudou o comportamento manifesto ou
mensurável. O condicionamento operante relaciona o comportamento às consequências, é
controlado pelos estímulos que se seguem à resposta.

FIGURA 5 - SKINNER

FONTE: Disponível em: < http://1.bp.blogspot.com/-


L_p3nVe5Wqc/Taz13t5ktAI/AAAAAAAAACo/ZLRkpo4pTRU/s1600/skinner.jpg> . Acesso em: 05
ago. 2011.
Guimarães (2001) ressalta que a teoria comportamental ganhou espaço na década de
30 e graças a trabalhos como os de Pavlov, Skinner e Thorndike contribuíram para que a
Psicologia fosse vista sob enfoque científico e definida como ciência do comportamento. Suas
aplicações foram desenvolvidas a partir dos princípios da teoria da aprendizagem e da análise
experimental do comportamento. A partir da década de 50 é reconhecida como abordagem
sistemática de intervenção em saúde mental, em oposição à psicanálise. Enfoca diretamente o 60
comportamento a ser modificado e o ambiente onde o comportamento ocorre, valorizando a
forma como o organismo interage com o meio. O foco principal é dirigido ao que pode ser
observado, lida com eventos mensuráveis.

O desenvolvimento da teoria comportamental permitiu o conhecimento a respeito das


leis gerais do comportamento tornando-o mais previsível. Dentro da perspectiva comportamental
são apontados o comportamento respondente, que responde a um determinado estímulo
(involuntário) e o comportamento operante (voluntário), que modifica o ambiente e está sujeito a
alterações a partir das consequências dessa atuação. O “condicionamento” tem papel
fundamental nesta abordagem e significa que os comportamentos podem ser alterados
realizando-se mudanças nas condições do ambiente. No condicionamento operante uma
consequência reforçadora aumenta a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente e
uma situação aversiva, como a punição, diminui ou extingue determinado comportamento. A
“modelagem” é utilizada no condicionamento operante e consiste em modificar comportamentos
de forma progressiva, por meio de reforços sistemáticos de comportamentos que se
assemelham ao comportamento final que se deseja atingir.

Segundo Falcone (2001), a psicoterapia cognitiva começou a ser desenvolvida por


Aaron Beck no início da década de 60, a partir de insatisfações com as formulações
psicodinâmicas sobre a depressão. Seus estudos verificaram uma tendência de pacientes em
interpretar os acontecimentos de forma negativista e demonstraram que alguns apresentaram
melhora em resposta a experiências bem-sucedidas – construiu o modelo cognitivo da
depressão, estendendo a outros transtornos. Foi influenciado por várias abordagens, como a
abordagem cognitiva de Ellis -1962 -, estudos sobre modelação e autoeficácia de Bandura -1977
- e pesquisas sobre o controle cognitivo de Mahoney - 1974.
FIGURA 6 – BECK

61

FONTE: Disponível em: < http://www.atccl.org.ar/articulos/Beck4.jpg>. Acesso em: 05 ago. 2011.

Para o modelo cognitivo os transtornos psicológicos decorrem de um modo distorcido


ou disfuncional de perceber os acontecimentos, influenciando afeto e comportamento. Sua
prática terapêutica visa à mudança dos processos cognitivos, como pensamentos e emoções.
São identificados três níveis de pensamento:

1. Pensamentos automáticos: são os espontâneos, a partir de acontecimentos do


dia-a-dia;
2. Crenças intermediárias: ocorre sob a forma de suposições ou regras; refletem
ideias ou entendimentos mais profundos e são mais resistentes à mudança;
3. Crenças centrais: nível mais profundo da estrutura, compostas por ideias
absolutistas, rígidas e globais sobre si mesmo, os outros e o mundo. Desenvolvem-se na
infância e, a partir de circunstâncias traumáticas ou de experiências frequentes, tornam-se
convincentes na vida adulta. Também conhecidas como esquemas.
Os três níveis estão interligados no funcionamento cognitivo de uma pessoa com
transtorno psicológico. O objetivo da terapia cognitiva é produzir mudanças no pensamento e no
sistema de crenças, para que ajam mudanças emocionais e comportamentais duradouras.
É uma técnica breve, estruturada, educativa e orientada para o presente. Estratégias
comportamentais são utilizadas pela terapia cognitiva por produzirem mudanças cognitivas.
A terapia cognitivo-comportamental concilia procedimentos utilizados nas técnicas
comportamentais com os utilizados na modificação de processos cognitivos; desenvolvimento e
reconhecimento na década de 70, com o surgimento de novas técnicas e a utilização de
conceitos e técnicas cognitivos. Apesar das diferenças, a integração das duas abordagens vem
demonstrando resultados satisfatórios.
Segundo Sudak (2008), a terapia cognitivo-comportamental é um tratamento de curta 62
duração, com objetivos específicos e voltados para problemas baseados no modelo de que
mudar cognições é possível e leva às mudanças comportamentais. Enfatiza que os seres
humanos são capazes de controlar suas crenças e ações e se comportam de acordo com a
compreensão de suas experiências. É fundamentalmente uma terapia de problemas específicos
e que estão interferindo na vida do paciente.

1. Indicações

Serão apontados os problemas mais comuns da prática clínica.

1.1 – Transtorno de pânico e agorafobia (Rangé; Bernik, 2001)

Este é um dos problemas mais frequentes e incapacitantes entre os transtornos de


ansiedade. Há uma enorme ansiedade e tudo é feito para que não aconteça mais, como
comportamentos de fuga ou evitação, que afetam a vida desses pacientes. Envolve reações
súbitas e intensas como taquicardia, falta de ar, tremores, sudorese, vertigens, ideações de
morte, loucura, perda de controle, entre outros.

O termo agorafobia foi proposto em 1871 por Westphal (1822-1890), que significa medo
de lugar amplo e movimentado (ágora, em grego – assembleia de pessoas, praça do mercado).
Transtorno de pânico começou a ser conceituado por Freud, em seus escritos sobre neuroses de
ansiedade. No tratamento são associados psicoterapia com medicamentos. Estudos mostram
que no tratamento psicológico deve estar incluído um repertório de manejo das crises, como a
exposição aos estímulos temidos e treino em relaxamento. Muito eficaz no tratamento é a
estratégia A.C.A.L.M.E.-S.E, descrita a seguir:

A.C.A.L.M.E.-S.E.
63
A chave para lidar com um estado de ansiedade é aceitá-lo totalmente. Permanecer no
presente e aceitar sua ansiedade a faz desaparecer. Para lidar com sucesso com sua ansiedade
você pode utilizar a estratégia “A.C.A.L.M.E.-S.E.”, de oito passos. Usando-a você estará apto(a)
a aceitar sua ansiedade até que ela desapareça.

1. Aceite a sua ansiedade. Um dicionário define aceitar como dar “consentimento


em receber”. Concorde em receber as suas sensações de ansiedade. Mesmo que lhe pareça
absurdo no momento, aceite as sensações em seu corpo, assim como você aceitaria em sua
casa um hóspede inesperado e desconhecido ou uma dor incômoda. Substitua seu medo, sua
raiva e sua rejeição por aceitação. Não lute contra as sensações. Resistindo, você estará
prolongando e intensificando o seu desconforto. Ao invés disso, flua com ela.
2. Contemple as coisas à sua volta. Não fique olhando para dentro de você,
observando tudo e cada coisa que sente. Deixe acontecer com o seu corpo o que ele quiser,
sem julgamento: nem bom nem mau. Olhe à sua volta, observando cada detalhe da situação em
que você está. Descreva-os minuciosamente para você, como um meio de afastar-se de sua
observação interna. Lembre-se: você não é sua ansiedade. Quanto mais puder separar-se de
sua experiência interna e ligar-se nos acontecimentos externos, melhor se sentirá. Esteja com
ansiedade, mas não seja ela: seja apenas observador.
3. Aja com sua ansiedade. Aja como se você não estivesse ansioso (a), isto é,
funcione com suas sensações de ansiedade. Diminua o ritmo, a velocidade com que você faz as
suas coisas, mas mantenha-se ativo(a)! Não se desespere, interrompendo tudo para fugir. Se
você fugir, a sua ansiedade diminuirá, mas o seu medo aumentará, onde na próxima vez a sua
ansiedade será pior. Se você ficar onde está – e continuar fazendo as suas coisas – tanto a sua
ansiedade quanto o seu medo diminuirão. Continue agindo, bem devagar!
4. Libere o ar de seus pulmões, bem devagar! Respire bem devagar, calmamente,
inspirando pouco ar pelo nariz e expirando longa e suavemente pela boca. Conte até três,
devagarinho, na inspiração, outra vez até três prendendo um pouco a respiração e até seis na
expiração. Faça o ar ir para o seu abdômen, estufando-o ao inspirar e deixando-o contrair-se ao
expirar. Não encha os pulmões. Ao exalar, não sopre: apenas deixe o ar sair lentamente pela
boca. Procure descobrir o ritmo ideal de sua respiração, nesse estilo e nesse ritmo, e você
descobrirá como isso é agradável.
5. Mantenha os passos anteriores. Repita cada um, passo a passo. Continue a: (1) 64
aceitar sua ansiedade; (2) contemplar; (3) agir com ela e (4) respirar calma e suavemente até
que ela diminua e atinja um nível confortável. E ela irá, se você continuar repetindo estes quatro
passos: aceitar, contemplar, agir e respirar.
6. Examine seus pensamentos. Talvez você esteja antecipando coisas
catastróficas. Você sabe que elas não acontecem. Você já passou por isso muitas vezes e sabe
que nunca aconteceu nada do que pensou que aconteceria. Examine o que você está dizendo
para si mesmo (a) e reflita racionalmente para ver se o que você pensa é verdade ou não: você
tem provas sobre se o que pensa é verdade? Há outras maneiras de entender o que está lhe
acontecendo? Lembre-se: você está apenas ansioso (a) - isto pode ser desagradável, mas não é
perigoso. Você está pensando que está em perigo, mas tem provas reais e definitivas disso?
7. Sorria, você conseguiu! Você merece todo o seu crédito e todo o seu
reconhecimento. Você conseguiu, sozinho (a), e com seus próprios recursos, tranquilizar-se e
superar este momento. Não é uma vitória, pois não havia um inimigo, apenas um visitante de
hábitos estranhos que você passou a compreender e aceitar melhor. Você agora saberá como
lidar com visitantes estranhos.
8. Espere o futuro com aceitação. Livre-se do pensamento mágico de que você
terá se livrado definitivamente, para sempre de sua ansiedade. Ela é necessária para você viver
e continuar vivo (a). Em vez de considerar-se livre dela, surpreenda-se pelo jeito como a maneja,
como acabou de fazer agora. Esperando a ocorrência de sua ansiedade no futuro, você estará
em uma boa posição para lidar com ela novamente.
FONTE: Rangé; Bernik, 2001.
13 TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL

De acordo com Falcone.; Figueira (2001), ansiedade frente a várias situações sociais é
normal e adaptativa, pois permite comportar-se de maneira adequada. Mas quando a ansiedade
é muito intensa interfere no funcionamento social e na vida da pessoa. A fobia social, como 65
também é chamada, manifesta-se como medo excessivo de comportamentos humilhantes e
embaraçosos e consequente desaprovação e rejeição pelas outras pessoas. As situações mais
temidas são: falar em público, comer e beber na frente dos outros, falar com estranhos e ao
telefone, participar de reuniões sociais, interagir com o sexo oposto, lidar com figuras de
autoridade, entre outros. Alguns apresentam manifestações físicas, como tremor, sudorese,
palpitações, e outros relatam apenas autoconsciência e medo. A evitação fóbica pode ser sutil
ou extrema. São utilizados no tratamento os psicofármacos e estratégias terapêuticas, como a
exposição ao vivo combinada com reestruturação cognitiva.

FIGURA 7 – TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL

FONTE: Disponível em:< https://lh6.googleusercontent.com/--t-


Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+6.jpg>. Acesso
em: 05 ago. 2011.
14 FOBIAS ESPECÍFICAS

Costa; Lanna, (2001), caracteriza as fobias específicas por medo acentuado,


66
persistente e excessivo ou irracional de determinado objeto ou situação, geralmente são medos
aprendidos. Para a abordagem cognitivo-comportamental as fobias simples são explicadas por:
condicionamento clássico, condicionamento operante, modelação, cognições, generalização,
predisposições pessoais e filogenéticas e ganhos secundários. Tratamento: dessensibilização
sistemática, exposição ao vivo, reestruturação cognitiva, modelação, terapia implosiva ou
inundação, hipnose, relaxamento, tarefas de casa e uso de medicamentos.

FIGURA 8 – FOBIAS ESPECÍFICAS

FONTE: Disponível em:<


http://4.bp.blogspot.com/_PgIvOxUzJFY/SXm1CbbH0mI/AAAAAAAAA84/wINCNLVAML0/s400/f
obias%5B1%5D.JPG>. Acesso em: 05 ago. 2011.

14.1 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA


É um transtorno crônico de ansiedade, incapacitante, que tem como características
preocupações irreais ou excessivas, constantes, e apresenta sintomas somáticos persistentes. O
sexo feminino é mais acometido. Prejudica o desempenho social, familiar e profissional. Medidas
terapêuticas eficazes são a farmacoterapia e psicoterapia (reestruturação cognitiva, relaxamento
e exposição, aplicados em conjunto) (Schinohara; Nardi, 2001).

67
FIGURA 9 – TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA.

FONTE: Disponível em: <


http://blog.opovo.com.br/cartasdetododia/files/2010/04/ANSIEDADE.gif>. Acesso em: 05 ago.
2011.

14.2 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO

O TOC, como é conhecido, é classificado como transtorno de ansiedade e tem como


característica as obsessões (ideias intrusivas, recorrentes e persistentes) ou compulsões
(comportamentos repetitivos, sem propósito) excessivas ou irracionais, que acarretam grande
estresse, consomem considerável tempo e interferem na rotina normal. São pessoas que dão
muita atenção a detalhes, autodisciplinadas, emocionalmente controladas, confiáveis,
perseverantes, perfeccionistas e rígidas. Procedimentos comportamentais integrados com
intervenções farmacológicas mostram-se eficazes no tratamento desse transtorno. (Rangé;
Asbahr; Moritz; Ito, 2001)
FIGURA 10 - TOC

68

FONTE: Disponível em: <


http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4wF-
fymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg>. Acesso em: 05 ago. 2011.

14.3 TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

O TEPT consiste na exposição a uma experiência traumática (guerra, abuso sexual


e/ou físico, acidentes e desastres, entre outros) e como resultado a pessoa apresenta revivência
da experiência e intenso sofrimento. O objetivo principal do tratamento é recuperar o senso de
controle e estabilidade. Tratamento: farmacológico e técnicas como: exposição prolongada,
dessensibilização, apoio social, relaxamento e reestruturação cognitiva (RANGÉ; MASCI, 2001).

14.4 TRANSTORNOS AFETIVOS

São principalmente as síndromes depressivas e o transtorno bipolar. A depressão é


caracterizada por ideação suicida, delírios e alucinações e incapacitação social e ocupacional.
No transtorno bipolar a pessoa apresenta períodos de depressão e de euforia intensa (mania). A
terapia cognitivo-comportamental ajuda o paciente a adquirir novo modo de pensar, a ampliar
sua consciência, de modo a interpretar a realidade de forma realista e colabora para a
reconstrução de seu sistema de crenças. As principais técnicas usadas são: mapeamento da
vida, folha de resumo dos sintomas, gráfico do humor, afetivograma, solução de problemas,
treino de habilidades sociais, diário de atividades, reestruturação do pensamento e modificação 69
de crenças. Muito importante também é a utilização de medicamentos (NETO et.al. 2001).

FIGURA 11 – TRANSTORNOS AFETIVOS

FONTE: Disponível em: < http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-


tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257>. Acesso em: 05 ago. 2011.

14.5 TRANSTORNOS ALIMENTARES

Caracterizado por grave perturbação de o comportamento alimentar, trazendo


prejuízos à pessoa. São eles: anorexia nervosa (medo extremo de engordar, apresentando
distúrbio da imagem corporal), bulimia nervosa (episódios de ingestão incontrolável de alimentos
seguido de vômito autoinduzido, uso inadequado de laxantes, diuréticos ou moderadores de
apetite, jejum e exercícios excessivos), transtorno da compulsão alimentar periódica – TCAP
(episódios de comer compulsivo, sem os comportamentos compensatórios da bulimia). O
tratamento exige equipe multiprofissional (psicólogo, psiquiatra, nutricionista, endocrinologista,
entre outros) e interação medicamentosa. A principal técnica utilizada é a reestruturação
cognitiva (DUCHESNE.; APPOLINÁRIO, 2001). 70

FIGURA 12 - DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL

FONTE: Disponível em: < http://pesfrei.files.wordpress.com/2011/06/anorexia.jpg>. Acesso em:


05 ago. 2011.

14.6 DEPENDÊNCIA QUÍMICA

A terapia comportamental busca modificar as crenças permissivas e as crenças


intermediárias e centrais, por intermédio de técnicas como: identificação de pensamentos
automáticos, avaliação e questionamento dos pensamentos automáticos, registro diário dos
pensamentos automáticos disfuncionais e identificação, avaliação e modificação das crenças
(KNAPP.; LUZ JR.; BALDISSEROTTO, 2001).
FIGURA 13

71

FONTE: Disponível em:


<http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao-aberta-
desfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg>. Acesso em: 05 ago. 2011.

14.7 TABAGISMO

Apesar de todo mal que o cigarro faz à saúde, seu consumo continua aumentando.
Fumar é um comportamento reforçado por meio de estímulos externos e internos. Estratégias
úteis no tratamento são a retirada gradual e métodos aversivos e terapia de reposição de
nicotina (GIGLIOTTI et.al. 2001)
FIGURA 14

72

FONTE: Disponível em: < http://4.bp.blogspot.com/_oHVtojKEmN4/TK-GVYcd-


sI/AAAAAAAAAq8/uZcZvVDHeSw/s400/cigarro4.jpg>. Acesso em: 05 ago. 2011.

14.8 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE

Formas de abuso, como sexual, físico e emocional, estão relacionados a esse


transtorno, que se caracteriza por instabilidade nos relacionamentos interpessoais, autoimagem
e afeto e muita impulsividade. Costumam infringir ferimentos a si mesmos, abusam de
substâncias, principalmente medicamentos e tem alto risco de suicídio. São pacientes que
costumam abandonar a terapia, principalmente devido a sua instabilidade e medo de abandono.
No tratamento são utilizadas técnicas da terapia cognitiva padrão e medicamentos (VENTURA,
2001)
FIGURA 15 - TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE

73

FONTE: Disponível em: < http://3.bp.blogspot.com/_lrmt-


SsR0EQ/TTjcpWWL6rI/AAAAAAAAAZA/WIMxzHx9L8c/s1600/borderline_hintergrund.jpg>.
Acesso em: 05 ago. 2011.

14.9 ADICÇÃO AO JOGO

Caracteriza-se pela dificuldade em controlar o comportamento de jogar. As técnicas


terapêuticas empregadas envolvem terapia aversiva, técnicas cognitivas e tratamento
farmacológico (PRIETO, 2001).

14.10 TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE


O TDAHI caracteriza-se por dificuldade na regulação da atenção e/ou impulsividade e
hiperatividade frequente. O uso de medicamentos melhora significativamente os sintomas e as
técnicas cognitivo-comportamentais minimizam os sintomas (treino em resolução de problemas,
treino em habilidades sociais, reestruturação do sistema de crenças, estratégias para
estimulação da atenção e grupos) (DUCHESNE; MATTOS, 2001).

74

FIGURA 16 - TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E


IMPULSIVIDADE

FONTE: Disponível em:


http://www.wallstreetfitness.com.br/imgs/Fotos/transtorno_deficit_atencao_hiperatividade_tdah.jp
g Acesso em: 05 ago. 2011.

14.11 DISFUNÇÕES SEXUAIS

Principais transtornos sexuais: disfunção erétil, ejaculação precoce, baixo desejo ou


inibição do desejo sexual, anejaculação e anorgasmia masculina, anorgasmia feminina,
vaginismo e dispareunia. Terapia associada de medicamentos e terapia sexual apresenta
melhores resultados (CARVALHO, 2001).
FIGURA 17 - DISFUNÇÕES SEXUAIS

75

FONTE: Disponível em: <


http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ecd9u9wRE/s1600/te
rapia-sexual-31-252.jpg>. Acesso em: 05 ago. 2011.

14.12 TRANSTORNOS DO SONO

A insônia e a apneia do sono são os transtornos mais frequentes. O tratamento inclui a


administração de fármacos e intervenções cognitivas (reestruturação cognitiva e comprovação
de hipóteses (BUELA-CASAL.; SÁNCHEZ, 2001).

FIGURA 18 – TRANSTORNO DO SONO


76
FONTE: Disponível em: < http://notapajos.globo.com/gifwrap.asp?id=694>. Acesso em: 05 ago.
2011.
Segundo Beck et.al. (2005), a abordagem cognitivo-comportamental também é
utilizada no tratamento de transtornos de personalidade, como:
 Paranoide – interpretam as intenções e ações dos outros como humilhantes ou
ameaçadoras, mas não apresentam sintomas psicóticos persistentes.
 Esquizoide – indiferença em relação aos relacionamentos interpessoais, sem
alterações no humor; buscam muito pouco o contato com os outros e restringem manifestações
de afeto. Não apresentam sintomas psicóticos.
 Esquizotípica – evitam relacionamentos interpessoais, mas apresentam
sintomas psicóticos.
 Antissocial – comportamentos irresponsáveis e socialmente ameaçadores.
Geralmente são trazidos ao tratamento por força externa, contra sua vontade e sem vontade de
mudar. Tratamento de grande desafio, pois se limita a leves alterações de comportamento.
 Histriônica – apresentam excessiva emotividade, lábil e superficial e buscam ser
o centro das atenções. Comportamento excessivamente reativo, intenso e descontrolado e
relacionamentos pouco gratificantes. Apresenta complicações como abuso de substâncias,
alcoolismo e risco de suicídio.
 Narcisista - padrão distorcido de autopreocupação em relação a si mesmo,
autocentrado e indiferente aos sentimentos e necessidades dos outros e não aceitam limites ou
críticas. A crença central do narcisista é de inferioridade, por isso a atitude compensatória de
superioridade.
 Dependente – dependência excessiva dos outros, necessidade extrema de ser
cuidado, sentimento de desamparo e medo de abandono. Comumente apresentam ansiedade e
depressão.
 Esquiva – evitação global comportamental, emocional e cognitiva. Apresentam
muita ansiedade nos relacionamentos pessoais por medo de rejeição. Podem desenvolver
depressão, abuso de substâncias, ansiedade e transtornos do sono.
 Negativista ou passivo-agressiva – comportamentos resistentes, não cumprem
obrigações e frustram expectativas, negativistas, oposicionistas, descontentes e hostis, humor
irritável, resultando em prejuízo social. 77

Terapeutas cognitivos utilizam os princípios básicos da terapia cognitiva no tratamento


dos transtornos de personalidade como base do tratamento, mas modificam algumas
características, pois esses indivíduos utilizam estratégias disfuncionais para lidar com os outros
e o mundo, que são usadas de forma inflexível e inadequada, e são pacientes incapazes de ter
comportamentos apropriados e funcionais quando essas estratégias não funcionam. Nesse caso,
a terapia tem duração mais longa, principalmente porque o processo de formar um
relacionamento é mais gradual e difícil (SUDAK, 2008).
78

15 PRINCIPAIS TÉCNICAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS

Para Guimarães (2001), o terapeuta e o paciente trabalham juntos para identificar


crenças que a pessoa tem de si e utilizam técnicas que incluem: identificar pensamentos ou
cognições disfuncionais, automonitoração de pensamentos negativos, identificação da relação
entre pensamentos e crenças e sentimentos subjacentes, identificar e aprender padrões de
pensamentos funcionais e adaptativos, teste de realidade dos pressupostos básicos mantidos
pela pessoa sobre si mesma, o mundo e o futuro. Segue as principais técnicas utilizadas sob
enfoque integrado comportamental cognitivo.

15.1 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO

A ansiedade é uma resposta de proteção, que prepara o organismo para atacar ou


fugir de perigos reais ou não. Substâncias são liberadas pelo organismo nessa situação que
promovem alterações fisiológicas, que viabilizam respostas de luta ou fuga.
O relaxamento é um processo psicofisiológico, de aprendizagem das respostas
biológicas de relaxamento e inclui:
 Exercícios de respiração – treino em padrões de baixas taxas de respiração,
inspiração-expiração profundas e amplas e respirações diafragmáticas. Esse treino distrai o
paciente, dando-lhe sensação de controle sobre o organismo.
 Treino em relaxamento – tensionar e relaxar diferentes grupos musculares para
obtenção de um estado de conforto e bem-estar.
 Relaxamento muscular progressivo - essa técnica deve ser feita num ambiente
adequado e o paciente posicionado confortavelmente.

79

FIGURA 19 – TÉCNICAS DE RELAXAMENTO.

FONTE: Disponível em: < http://www.possibilidades.com.br/meditacao/img/relaxamento.gif>


Acesso em: 05. Ago. 2011.

15.2 DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA

Consiste em remover ou enfraquecer a ansiedade por meio da inibição recíproca, que


se chama supressão condicionada (estabelecer uma resposta antagonista à ansiedade na
presença do estímulo provocador da ansiedade, que é o relaxamento). Utiliza-se o treino em
técnicas de relaxamento e o paciente deve ser capaz de visualizar as situações temidas. Uma
das principais técnicas utilizadas no tratamento da fobia social e específica e síndrome do
pânico.

15.3 TREINO DE ASSERTIVIDADE


É feito orientando-se o paciente a emitir respostas adequadas em situações
específicas ou pelo ensaio comportamental (procedimento para o treino da assertividade).
Técnica eficaz no tratamento da fobia e da ansiedade social. 80

15.4 PARADA DO PENSAMENTO

É uma técnica de autocontrole, que consiste em formular um pensamento indesejado e


com um comando de “pare” em voz alta, impedir a evolução do pensamento. Outras palavras ou
imagens também podem ser usadas, como visualizar uma placa, escrito “Pare”. Essa técnica é
muito útil porque a presença de pensamentos incômodos favorece a ocorrência de
comportamentos indesejáveis. Muito utilizada no tratamento do estresse pós-traumático.

15.5 AUTOINSTRUÇÃO

Utilizada para modificar cognições com o objetivo de mudar comportamentos,


ensinando o paciente a desenvolver pensamentos adequados e realísticos à situação temida.
Aplicada principalmente no tratamento da ansiedade, impulsividade e hiperatividade infantil.

15.6 INOCULAÇÃO DO ESTRESSE


Consiste em treinar o paciente na vivência de uma situação estressante, para que ele
desenvolva recursos de enfrentamento a serem utilizados na situação temida real. Muito utilizada
no tratamento do pânico, fobias específicas, transtorno do estresse pós-traumático, ansiedade
generalizada, alcoolismo, entre outros.

81

15.7 TREINO EM HABILIDADES SOCIAIS

O objetivo da técnica é capacitar o paciente a emitir respostas adequadas a situações


específicas. Pode ser usada no tratamento de grupos especiais como portadores de transtornos
de personalidade evitativa e esquizofrenia.

15.8 SOLUÇÃO DE PROBLEMA

A técnica consiste em ensinar o paciente, maneiras adequadas de enfrentar situações


da vida real. Deverá aprender a manejar e adaptar procedimentos e estratégias aprendidos na
terapia, por meio de modelagem de habilidades, em sua vida. Situações são simuladas durante
as sessões. A técnica pode ser aplicada no tratamento da depressão, terapia de casal,
transtorno de conduta, hiperatividade e déficit de atenção.

FIGURA 20 – SOLUÇÃO DE PROBLEMAS.


82

FONTE: Disponível em: <


http://1.bp.blogspot.com/_SUOtG6MIDug/TJPy4IP7BzI/AAAAAAAAAGU/DnQucZGQycQ/s320/a
nalise_solucao_problemas.jpg> Acesso em: 05. Ago. 2011.
15.9 EXPOSIÇÃO

Consiste em expor o paciente, repetidamente, ao vivo ou na imaginação, diretamente a


situação temida, que são evitadas por desencadearem ansiedade. Muito apropriada para
tratamento de fobias.

15.10 EXPOSIÇÃO E PREVENÇÃO DE RESPOSTAS

Inclui a exposição mais bloqueio da resposta compulsiva para tratamento do


Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).

15.11 EXPOSIÇÃO INTEROCEPTIVA


Técnica de exposição mais provocação de respostas fisiológicas, como tonteira,
taquicardia, tensão muscular, por meio de exercícios e técnicas específicas. Utilizada no
tratamento da síndrome do pânico, com o objetivo de diminuir ou romper a associação entre
indicadores fisiológicos e reações de pânico.
Para Beck et al. (2005), no tratamento dos transtornos de personalidade algumas 83
técnicas cognitivas e comportamentais são úteis, como:

 “Sondagem Cognitiva” – utilizada para aliciar e avaliar pensamentos


automáticos.
 Confrontando os Esquemas – deve-se tratar de todos os esquemas: cognitivos,
comportamentais e afetivos. As distorções cognitivas do paciente apontam para os esquemas e
o terapeuta o ajuda na identificação de regras disfuncionais que dominam sua vida e trabalha
com ele para realizar as alterações necessárias a um funcionamento mais adaptativo.
 Tomando decisões – ajuda o paciente a aprender a tomar decisões importantes.
 Revivendo experiências da infância – situações da infância podem levar ao
entendimento das origens dos padrões desadaptativos. Recriando certas situações o paciente
tem a oportunidade de reestruturar atitudes formadas naquele período e suavizar atitudes em
relação a si mesmo.
 Uso da imaginação – permite que o paciente reviva eventos traumáticos
passados, possa reestruturar a experiência e suas atitudes decorrentes.

Sudak (2008) aponta a importância da colaboração no relacionamento entre terapeuta


e paciente. O paciente deve tornar-se coinvestigador e uma aliança terapêutica forte é essencial
para bons resultados.
84

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste módulo foi apresentar de maneira resumida uma introdução ao estudo
da psicoterapia cognitivo-comportamental, suas aplicações e técnicas mais utilizadas, trazendo
também conceitos das terapias, cognitiva e comportamental. Atualmente é uma das abordagens
mais utilizadas no tratamento de problemas psicológicos e psiquiátricos. Apresenta resultados
significativos e comprovados, tanto para crianças, quanto para adultos ou adolescentes,
individualmente ou em grupo. É também uma terapia de caráter educativo, já que o paciente
também aprenderá sobre o processo da terapia.
85

16 PSICOTERAPIA DE GRUPO

16.1 INTRODUÇÃO

FIGURA 1 – PSICOTERAPIA DE GRUPO.


86

FONTE: Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqO-


WtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-4x_koA0/s1600/roda.jpg. Acesso em: 05 ago. 2011.

Há uma tendência do indivíduo em se agrupar ou juntar-se espontaneamente com


outras pessoas, como os amigos da escola, os colegas de trabalho, do clube; com os membros
da igreja e/ou de outras instituições, ou simplesmente com a família.

As crianças gostam de brincar entre si. Os adolescentes ligam-se em grupos, “tribos”,


na tentativa de construir sua identidade. Pessoas com personalidade antissocial se reúnem em
gangues. Homens e mulheres se casam para terem filhos e construírem famílias. Os idosos
participam de grupos da terceira idade.

Enfim, a necessidade de ligar-se a outras pessoas é algo natural do ser humano.


Osório (2003) ressalta que, desde os primórdios, o homem já havia descoberto as vantagens de
agrupar-se. Entretanto, a Psicologia Grupal só se efetivou enquanto ciência no último século,
tendo sido resultado da inter-relação com outras disciplinas, especialmente da Psicologia Social
e da Sociologia.
Considera-se Psicoterapia de Grupo qualquer forma de terapia coletiva. Suas ações
têm como base fatores como a interação e a comunicação. É um modelo terapêutico que nasceu
após a Segunda Guerra Mundial, por meio de Kurt Lewin.

Para Lewin, o fato de ouvir as pessoas falando de seus próprios problemas já era em si
terapêutico. Dessa concepção resultou uma das características atuais, que é o “fator da
87
universalidade”, isto é, em grupo, os pacientes não sentem que estão sozinhos e que são os
únicos que sofrem. Além desses fatores, Yalom (2006) menciona outros, como o altruísmo e a
socialização.

A modalidade da Psicoterapia de Grupo vem de encontro a essa necessidade do ser


humano. Ocorre que um grupo terapêutico não se restringe a um somatório de pessoas. Trata-se
de um grupo organizado, com objetivos e tarefas comuns, que possui acordos e funcionamentos
próprios e tem uma finalidade terapêutica.

Há diversos tipos de grupos: operativos, terapêuticos, de suporte, de elaboração.


Podem ser abertos ou fechados, homogêneos ou heterogêneos. Quanto à abordagem teórica
podem ser de orientação psicanalítica, cognitivo-comportamental, psicodrama e sistêmico.

É importante ressaltar que a Psicoterapia de Grupo pode ser tão eficaz quanto a
Psicoterapia Individual. Cada uma possui suas especificidades que podem trazer benefícios
terapêuticos para o paciente. De qualquer forma vale a recomendação clássica de qualquer
tratamento, que considera que a formação, teórico-prático do profissional é indispensável:
conhecimento, supervisão e análise pessoal.

A terapia de grupo é uma planta curiosa no jardim da psicoterapia. Ela


é forte: as melhores pesquisas disponíveis estabeleceram que a
terapia de grupo é efetiva e tão robusta quanto a terapia individual.
Mesmo assim, necessita de cuidados constantes. Seu eterno destino é
ser sufocada periodicamente pelas mesmas velhas ervas daninhas:
‘superficial’, ‘perigosa’, ‘secundária para ser usada apenas quando não
houver terapia individual disponível ou se esta não for acessível
(YALOM, 2006, p. 421).
88

17 FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS

17.1 FREUD E A PSICOLOGIA DE GRUPO


Na sua obra “Psicologia de grupo e análise do ego”, de 1920-22, Freud discute
algumas ideias sobre grupos a partir dos estudos de Le Bon. Ele utiliza o termo “grupo” como
equivalente a “massa” e “multidão”. Nessa obra não vamos encontrar referência a técnica grupal,
mas algumas concepções preliminares sobre grupos.

Freud concorda que há influência dos fenômenos sociais na constituição do sujeito.


89
Uma relação que envolva no mínimo duas pessoas já pode ser considerada como uma relação
social, ao contrário do que se costuma pensar, ou seja, que a Psicologia Social estuda as
influências de várias pessoas sobre o indivíduo; além de estudar um grupo de pessoas ou
multidão. O interesse dessa ciência é estudar o indivíduo como fazendo parte de um grupo, de
uma profissão, de uma instituição ou de um grupo de pessoas reunidas momentaneamente para
atingir um determinado objetivo. Isto porque o instinto social vem à luz nessas situações.

Mas o que a Psicologia Social tem a ver com a Psicologia de Grupo? Já foi dito
anteriormente que a segunda nasceu da primeira, além disso, Freud utiliza essas expressões
como sinônimas. Para este autor [1920-22(1976)] “a psicologia de grupo interessa-se assim pelo
indivíduo como membro de uma raça (...) ou como parte componente de uma multidão que se
organizam em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido” (p. 92).

Le Bon, citado em Freud [1920-22(1976)] menciona algumas características de um


grupo. A primeira delas diz respeito à “mente coletiva”, ou seja, a maneira de pensar e de agir de
uma pessoa é diferente de quando está no grupo. A tendência é se comportarem de forma
diferente.

Zimerman (2000) ampliou esta ideia e desenvolveu o que ele chamou de “campo
grupal”: num grupo os fenômenos encontrados são reflexos da interação entre os participantes, e
não uma somatória de cada um.

No grupo, o indivíduo tem um “sentimento de poder invencível”, segundo Le Bon,


citado em Freud [1920-22(1976)]. Seus instintos são aflorados às vezes até de forma
irresponsável. Além disso, há o fenômeno do contágio, que faz com que os sentimentos e atos
sejam contagiosos quando o indivíduo está no grupo. Muitas vezes o interesse coletivo sobrepõe
ao interesse individual.
Yalom (2006) faz menção a essa teoria do contágio, quando revela, a partir de suas
pesquisas, que uma parte dos pacientes que desistem da grupoterapia teme que o sofrimento do
outro os contagie de alguma forma.

Nesse sentido, os fenômenos inconscientes exercem mais influência que nossa vida
consciente. A maior parte de nossos comportamentos é regida pelas leis da instância psíquica
90
que não temos conhecimento – o inconsciente.

Outra característica evidenciada por Le Bon, citado em Freud [1920-22(1976)] refere-


se aos elementos heterogêneos do grupo. Pessoas com história de vida diferente reúnem-se
entre si, provisoriamente, porque possuem algum objetivo em comum. Por isso mesmo devem
estar ligadas por um elo.

Zimerman (2000) e Pichon-Rivière (1991) compartilham dessa ideia quando classificam


os grupos como homogêneos e heterogêneos. A primeira expressão designa as características
em comum encontradas nos membros do grupo, enquanto que a segunda refere-se às
características diferentes.

A necessidade de haver um líder no grupo já era um tema discutido por Le Bon, citado
em Freud [1920-22(1976)]. Este autor faz uma associação do grupo com um rebanho obediente,
o qual precisa de um pastor. Mas salienta que o líder deve ter algumas qualidades, como
“prestígio”, acreditar fielmente nas suas ideias, além de ser imponente.

McDougall, também citada em Freud [1920-22(1976)] dá sua contribuição quando


afirma que um grupo não é uma mera reunião de pessoas. Um grupo psicológico é formado de
pessoas que têm algo em comum, objetivos em comum e, principalmente, precisa haver
organização. Dessa forma, os grupos podem ser muito produtivos. O autor cita como exemplo a
criação de folclores e canções populares, produzidas por um grupo de pessoas.

De uma forma ou de outra, as características descritas acima serviram de ponto de


partida para o desenvolvimento da técnica grupal a qual se apresenta hoje, podemos dizer que
tais ideias foram esculpidas e aprimoradas, pois não são contrárias à literatura atual sobre
grupos psicológicos.
17.2 CONCEITO DE GRUPO E DE CAMPO GRUPAL

91
FIGURA 2 – CAMPO GRUPAL

FONTE: Disponível em: http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html


Acesso em: 05 ago. 2011.

É da natureza do homem interagir entre si. Para tanto, alguns conceitos estudados nas
relações humanas dizem respeito à interação social, comunicação e grupo. A Psicologia Grupal
apropria-se justamente desta necessidade que o indivíduo tem de agrupar-se, inicialmente
espontaneamente – família, grupo na escola, creche, cursos, trabalho, clube, etc.

Segundo Zimerman (2000), “grupo” pode ser definido como um conjunto de pessoas.
Um conjunto de pessoas refere-se a uma “comunidade”, que por sua vez, um conjunto de
comunidades constitui uma sociedade.
Entretanto, o grupo que interessa (o grupo terapêutico) tem que ter alguns requisitos,
como salienta Zimerman (2006). Um simples aglomerado de pessoas não forma um grupo
propriamente dito. Este autor ilustra claramente essa concepção quando compara um grupo com
uma orquestra: antes de iniciar o concerto os músicos, isoladamente, são simples músicos. Mas
quando o maestro inicia a regência, a orquestra se torna um grupo de fato, pois cada um tem
seu papel, lugar e posição, além de um objetivo em comum: tocar uma canção. Nesse mesmo 92
sentido, um grupo terapêutico possui um objetivo, uma tarefa a cumprir e uma organização
própria.

Quando as pessoas estão num grupo forma-se o que Zimerman (2000) chama de
“campo grupal”, que constitui numa “estrutura que vai além da soma dos componentes” (p. 84). É
resultante de alguns fenômenos subjetivos que são reflexos da interação de todos os membros.
São eles: fantasias, mecanismos de defesas, ansiedades, resistências, transferência e
contratransferência, vínculos, etc.

Os fenômenos grupais acontecem em todos os grupos, espontâneos ou terapêuticos.


A diferença reside no fato de que no segundo há um coordenador (terapeuta) que irá identificar e
trabalhar tais fenômenos.

Vale ressaltar que o campo grupal refere-se à dinâmica de interação entre todos os
participantes e ao terapeuta. Entretanto, as identidades específicas de cada membro precisam
ser respeitadas.

17.3 A FAMÍLIA CONSIDERADA COMO GRUPO PRIMORDIAL

Embora não aja evidência científica de que a família nuclear (pai, mãe e irmãos) seja
considerada como o grupo primordial ou primeiro, uma associação com o grupo terapêutico
permite observar algumas semelhanças.
Em qualquer família, percebe-se que cada membro desempenha papel e função
definidos, assim como nos grupos terapêuticos.

A associação vai além e permite analisar que no grupo familiar há regras e maneiras
próprias de organização e funcionamento, muitas vezes implícitas. Estão envolvidos sentimentos
ambivalentes, como os de amor (segurança, aconchego, carinho) e de ódio, ciúme, inveja,
93
rivalidade e rejeição. As figuras, materna e paterna constituem nos primeiros modelos de
identificação para o indivíduo (RAVAZZOLA, 1997).

A família, para Osório (1997, p. 50) “é uma unidade grupal onde se desenvolvem três
tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e consanguinidade (irmãos)”. É
uma instituição universal, presente em todas as culturas e épocas históricas. O que varia com a
contemporaneidade é a estrutura, formando novas configurações. A família tradicional – pai, mãe
e filhos – é cada vez menos comum, ao passo que a união entre homossexuais, produções
independentes, (re) casamentos, adoções e filhos de casamentos anteriores são cada vez mais
frequentes.

De qualquer forma, destaca Zimerman (2000), a função da família é a de prover a


segurança, ou como ele mesmo diz: “função continente”. O cenário atual de transformações não
tem favorecido que a família cumpra sua função.

Segundo Zimerman (2000) o grupo familiar lembra não só a estrutura do grupo


terapêutico, mas também a relação que o paciente desenvolve com o terapeuta e vice-versa.
Assim, o campo grupal é constituído de sentimentos e de tipos de vínculos muito semelhantes.
Em Psicanálise chamamos de relações objetais: a forma com a qual o indivíduo se relaciona
com as pessoas em geral é influenciada por suas vivências e experiências com as figuras
infantis, inicialmente pai, mãe e irmãos e/ou outros cuidadores (como avós, babás, etc.).

A função materna pode ser resumida pelo conceito de Winnicott, isto é, da mãe
suficientemente boa. Refere-se aquela mãe que é capaz de gratificar e de frustrar seu bebê na
medida certa. É aquela mãe que consegue prover as necessidades físicas e emocionais – de
alimento, calor, amor, carinho,... Sua função é a de ser continente, ou seja, acolher as angústias
e ansiedades da criança e depois devolvê-la modificada. Por outro lado, essa mãe pode frustrá-
la na medida certa, sabendo estar ausente (ZIMERMAN, 2000).
A função paterna, segundo Zimerman (2000), também é muito importante. Está
relacionada a proporcionar estabilidade, segurança e apoio à mãe, na tarefa de cuidar e de
educar a criança. É, especialmente, do pai a função de colocar limites, auxiliando no processo de
separação-individuação, necessária para o desenvolvimento saudável do filho.

Quanto aos irmãos, estes também têm sua influência na dinâmica do grupo familiar.
94
Para Zimerman (2000) é entre os irmãos que se experimenta a capacidade de lidar com
sentimentos ambivalentes, que são vivenciados em relacionamentos futuros. Referem-se aos
sentimentos fraternais, de cuidado, carinho e zelo com o irmão, assim como também aos
sentimentos marcados por rivalidade, ciúme e inveja.

18 CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS

São amplas e ricas as possibilidades de grupo que fica difícil listar e definir exatamente
cada modalidade, mesmo porque muitas delas se entrelaçam ou se complementam.
A seguir está descrita uma classificação proposta por Zimerman (2000, p. 90) referente
ao critério da finalidade. Eis a divisão:

95
- Ensino-aprendizagem

- Institucionais (empresas,
escolas, igreja, exército,
OPERATIVOS associações, etc.)

- Comunitários (programas de
saúde mental)

- na área médica em
geral (diabéticos,
reumáticos, idosos,
etc.)

GRUPOS - na área psiquiátrica


(alcoólicos anônimos,
De autoajuda pacientes borderline,
etc.)

TERAPÊUTICOS

- base psicanalítica

- psicodrama

Psicoterápicos propriamente - teoria sistêmica


ditos
- cognitivo-
comportamental

- abordagem múltipla
18.1 GRUPOS OPERATIVOS

Segundo Pichon-Rivière (1991), o grupo operativo assemelha-se ao funcionamento do


96
grupo familiar (como também propõe Zimerman, 2000) e pode ser definido como um “conjunto
de pessoas reunidas por constantes de tempo e espaço, articuladas por sua mútua
representação interna, que se propõe, implícita ou explicitamente, uma tarefa que constitui sua
finalidade” (p. 157).

Um dos objetivos da técnica dos grupos operativos, como sinaliza Pichon-Rivière


(1991) é o de auxiliar na minimização dos medos básicos e o de favorecer o rompimento dos
estereótipos que funcionam como barreira à mudança.

“A tarefa na terapia de grupo é se envolver em uma comunicação significativa com os


outros membros do grupo, revelar-se, dar feedback válido e examinar os aspectos ocultos e
inconscientes dos próprios sentimentos, comportamentos e motivação” (YALOM, 2006, p. 197).

 Grupos operativos voltados ao ensino-aprendizagem. Zimerman (2000) resume


essa modalidade em “aprender a aprender” (p. 91). Parte-se do pressuposto de que a finalidade
é a de treinar o grupo para desenvolver uma tarefa comum.

 Grupos institucionais. Referem-se a grupos realizados em instituições em geral.


Nas empresas, o psicólogo organizacional desenvolve trabalhos com colaboradores; nas escolas
podem ser realizados grupos de pais, de alunos e/ou de professores (ZIMERMAN, 2000).

 Grupos comunitários. Um exemplo clássico são os grupos na área de saúde


mental, como ilustra Zimerman (2000). Podem ser com adolescentes, gestantes, líderes
comunitários, etc.; de caráter preventivo, de tratamento ou reabilitação.
É importante ressaltar que os grupos operativos também resultam em benefícios
terapêuticos.

97
18.2 GRUPOS TERAPÊUTICOS

 Grupos de autoajuda. Assim como os demais, essa modalidade grupal


apresenta benefícios terapêuticos. Segundo Zimerman (2000) possui esse nome porque consiste
de pessoas que apresentam o mesmo tipo de necessidades, isto é, são considerados grupos
homogêneos. Como exemplos há: alcoólicos anônimos (A. A.), narcóticos anônimos (N.A.) e
neuróticos anônimos (N.A.).
São grupos formados espontaneamente e que preservam o anonimato. A característica
fundamental, como ressalta Zimerman (2000) está na liderança do grupo: “costumam operar sob
a liderança de pessoas pertencentes a mesma categoria diagnóstica dos demais integrantes e
que passaram, ou estão passando, pelas mesmas dificuldades e experiências afetivas destes”
(p. 212).

 Grupos psicoterápicos propriamente ditos. Este item refere-se basicamente ao


enfoque teórico-técnico ao qual cada abordagem teórica está fundamentada: psicanalítica,
cognitivo-comportamental, psicodrama e sistêmica.

2. Tipos de grupos

 Homogêneo. Segundo Zimerman (2000) destina-se àquele grupo de pessoas


que possuem características comuns. São exemplos: grupos de obesos, deprimidos,
psicossomatizadores, etc.
 Heterogêneo. Refere-se a pessoas que tenham características diferentes entre
si. Por exemplo: um grupo formado por uma pessoa obsessiva-compulsiva, outra histérica, e
assim por diante.

98
 Aberto. Caracteriza-se por não ter um prazo para o término, além do que permite
que entrem e saiam pessoas do grupo.

 Fechado. Entende-se que as mesmas pessoas iniciam e terminam juntas, com


prazo definido, não podendo entrar novos membros.

3. Papéis nos grupos

Na nossa vida, costumamos desempenhar vários tipos de papéis: de mãe, de filha, de


profissional, etc. Essa natureza flexível, de mudança de papéis é um indicativo saudável.

Em cada grupo que se forma, espontâneo ou terapêutico, percebe-se que cada


membro desempenha um papel ou uma posição diferente. Na maioria das vezes é uma
“escolha” inconsciente e que faz parte da configuração do campo grupal. Diz Zimerman (2000)
que “em cada papel se condensam as expectativas, necessidades e crenças irracionais de cada
um e que compõem a fantasia básica inconsciente comum ao grupo todo” (p. 137).

O papel que o indivíduo desempenha no grupo geralmente é o mesmo evidenciado na


sua vida de forma geral: seja na escola, no trabalho, na família, numa festa, etc. Nesse sentido,
Zimerman (2000) e Pichon-Rivière (1991) apontam que, muitas vezes, esses papéis são rígidos
e estereotipados, funcionando, portanto, de forma patológica. No processo terapêutico esses
papéis devem ser identificados e modificados, de forma que se tornem mais flexíveis, deixando
sua natureza patológica.
Os papéis mais comuns, encontrados na literatura, são os seguintes:

 Bode expiatório. É aquela pessoa que representa tudo o que é “ruim”, os


aspectos negativos de todo o grupo. É comum essa pessoa sair do grupo. Mas Zimerman (2000)
alerta para o fato de que tão logo o próprio grupo se encarregará de encontrar outro. Por outro
lado, pode ser que esse indivíduo permaneça no grupo, servindo como o “bobo da corte”.
99
Portanto, é uma situação que deverá ser trabalhada pelo terapeuta.

 Porta-voz. Refere-se àquela pessoa do grupo que denuncia, que comunica os


sentimentos, necessidades, pensamentos e ansiedades inconscientes do grupo.
Essa comunicação, segundo Zimerman (2000) pode ocorrer de várias formas. Pode
ser feita verbalmente, por meio de manifestos, reivindicações, contestações. Mas pode ser
também de forma não verbal, por meio de atuações, dramatizações, silêncios, etc.

Para Pichon-Rivière (1991) o doente costuma ser o porta-voz das angústias e conflitos
do grupo. Inconscientemente, o grupo “elege” essa pessoa porque é insegura, característica
essa que tende a deixar o indivíduo paralisado e doente (quando a natureza do papel for
patológica).

 Radar. Esse papel costuma ser assumido por aquela pessoa do grupo que
capta, antes dos demais, os primeiros sinais de angústias e ansiedades do grupo. Geralmente,
esses conflitos são expressos por intermédio de abandono do tratamento, somatizações e outras
atuações; ou seja, de forma não verbal (ZIMERMAN, 2000).

 Instigador. Executa o papel de instigador, conforme Zimerman (2000), aquele


membro do grupo que costuma fazer intrigas e que acaba perturbando o campo grupal.

 Sabotador. Geralmente é um papel, segundo Zimerman (2000), que é


executado por pessoas invejosas e narcísicas, que procuram criar obstáculos e prejudicam o
bom andamento do grupo.
Para Pichon-Rivière (1991) o sabotador representa a resistência à mudança,
característica esta que faz parte de qualquer processo psicoterápico, seja ele individual ou
grupal.

 Apaziguador. É aquele papel conhecido como “colocar pano quente”. Como 100
afirma Zimerman (2000) é desempenhado por pessoas que apresentam dificuldades de lidar
com situações tensas, ou de agressividade.

 Líder. Finalmente, o papel de líder, que é, geralmente, o mais fácil de identificar


e é observável em todos os grupos.
Pichon-Rivière (1991) descreve quatro tipos de lideranças: autocrática, democrática,
demagógica e laissez-faire. A liderança autocrática é, costumeiramente, executada por pessoas
narcísicas, rígidas, cujos seguidores são pessoas inseguras e dependentes. A democrática é
aquele tipo de liderança considerada mais saudável, uma vez que os papéis, funções e limites
estão organizados. Já a do tipo laissez-faire caracteriza-se pela ausência de agente continente
para as angústias e ansiedades. E por fim, a liderança demagógica, que consiste na figura de
um líder que prega falsas ideologias, permanecendo num discurso distante da prática.

Pichon-Rivière (2000) atenta para o fato de que o terapeuta também desempenha um


papel e posição no grupo, que pode ser diferente em cada grupo que se forma. Por exemplo: um
paciente emocionalmente fragilizado pode atribuir ao terapeuta o papel maternal, isto é, de uma
pessoa que provê a segurança de uma mãe.

Esse papel orienta Pichon-Rivière (2000), pode ser de natureza boa (maternal,
paternal, etc.) ou má, nas situações em que predominam fantasias paranoides, persecutórias,
etc.

A tarefa do grupoterapeuta, como aponta Pichon-Rivière (2000) e Zimerman (2000), é


a de identificar e trabalhar esses papéis no grupo.
FIGURA 3 – TÉCNICA GRUPAL

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FONTE: Disponível em: http://www.psicomed.net/Images/t_grupo.gif. Acesso em: 05 ago. 2011.

19 A FORMAÇÃO DE UM GRUPO

Conforme Zimerman (2000), qualquer que seja a finalidade de um grupo terapêutico,


seja em instituições públicas ou privadas, a formação desse grupo segue, basicamente, quatro
etapas: planejamento, encaminhamento, seleção e composição.

A primeira delas é o planejamento, que é indispensável para a obtenção de bons


resultados terapêuticos. Refere-se à base estrutural, que exige conhecimento teórico-técnico
prévio de quem irá conduzir o grupo.
Segundo Zimerman (2000) é importante avaliar e definir algumas questões, sendo as
principais:

 Quem será o coordenador?


 Qual a finalidade desse grupo?
 Qual a técnica mais adequada (psicanalítica, comportamental, sistêmica,
102
etc.)?
 Qual o tipo de grupo mais apropriado para essa finalidade (psicoterápico, de
autoajuda, de ensino-aprendizagem, etc.)?
 Quem são e quantas são as pessoas que participarão do grupo?
 Será um grupo homogêneo ou heterogêneo?
 Será aberto ou fechado?
 Como será feito o contrato (local, dia, horário, honorário, regras específicas)?

Vale lembrar que um bom planejamento contribuirá significativamente para o bom


andamento do grupo.

A segunda etapa é o encaminhamento. Conforme Zimerman (2000) refere-se à fase


de divulgação do grupo que foi planejado. Na etapa anterior buscou-se ter claro “para quê; para
quem; como; onde; quando?” (p. 105). Pensando nas respostas para essas perguntas é que o
terapeuta saberá onde poderá encontrar os pacientes que espera. É necessário ter, no mínimo,
quatro pessoas para iniciar um grupo.

Assim, em se tratando de consultório particular, pode-se divulgar aos colegas


profissionais para que possam fazer os encaminhamentos. Quando se tratar de instituições
públicas, geralmente, já há uma fila de espera de pessoas aguardando vaga. Portanto, torna-se
uma tarefa mais simples, e então se passa para a etapa seguinte.

A etapa da seleção deve ser realizada individualmente. Dependendo da situação, os


pacientes serão atendidos por algumas sessões para depois formarem um grupo.
Na fase da seleção é ideal que se faça duas ou mais entrevistas psicológicas, de modo
que se possa ter uma avaliação da personalidade de cada paciente; e assim analisar se poderá
adaptar-se num determinado tipo de grupo. Esta etapa será detalhada no item seguinte.

Finalmente a quarta etapa, que é a da composição do grupo propriamente dito.


Zimerman (2000) denomina de “agrupamento”. Consiste em um “arranjo, um ‘encaixe’ das peças
103
isoladas, sendo que no caso de uma grupoterapia se refere a uma visualização de como será a
participação interativa de cada um dos indivíduos selecionados na nova organização gestáltica”
(p. 107).

19.1 A SELEÇÃO DE PACIENTES

A indicação para psicoterapia de grupo deve ser feita com cautela. Nem todos os
pacientes podem se beneficiar dessa modalidade terapêutica. Uma seleção acertada implicará
em bons resultados.

Pesquisas revelam, segundo Yalom (2006), que a psicoterapia de grupo é tão benéfica
quanto à modalidade individual. Além disso, alguns benefícios podem ser adquiridos mais com a
terapia de grupo, principalmente aqueles relativos às questões sociais, como melhorar as redes
sociais e a aprendizagem social.

O trabalho em grupo tem seus benefícios peculiares que não são observados na
Psicoterapia Individual. Em algumas situações, como por exemplo, na dependência química, a
grupoterapia com os pacientes e com a família é muito eficaz. Diz Ravazzola (1997, p. 301) que
“a interação entre pares torna-se facilitadora da mudança. Escutar um par não é o mesmo que
um terapeuta. As pessoas se aliviam ao descobrir que outros compartilham seu problema e que
transitam por caminhos semelhantes”.
Pichon-Rivière (1991) afirma que algumas características são universais, isto é, fazem
parte de todas as pessoas. São elas: medos básicos (perda e ataque); sentimento de
insegurança; fantasias básicas (doença, tratamento e cura) e processos de aprendizagem e
comunicação.

Nas instituições públicas (Sistema Único de Saúde), a exemplo das Unidades Básicas
104
de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Centro de Referência da
Assistência Social (CRAS), há uma tendência em se trabalhar com grupos. A demanda de
pacientes é muito grande, o que torna a fila de espera cada vez maior. Em grupo, num mesmo
espaço de tempo e por um mesmo profissional, podem ser atendidas mais pessoas.

No caso dessas instituições, muitas vezes, o critério de seleção de pacientes para a


formação do grupo surge da necessidade de atender um número grande de pacientes em um
tempo menor, o que nem sempre vem de encontro com as características individuais do
paciente.

A grupoterapia não pode ser um mero aglomerado de pessoas, escolhidas


aleatoriamente. Precisa haver critérios seletivos.

Nessas situações, um trabalho anterior ao início do grupo pode ser o de sensibilizar o


paciente para essa modalidade, podendo atendê-lo individualmente por algumas sessões até
prepará-lo para o grupo.

Nas Unidades Básicas de Saúde, que têm por objetivo a atenção primária da saúde, de
caráter preventivo, alguns grupos temáticos são interessantes. O trabalho em grupo de acordo
com as fases do desenvolvimento, como crianças, orientação aos pais, gestantes e idosos, por
exemplo.

A formação dos grupos pode ocorrer também por patologias, como: grupo de pacientes
deprimidos, ansiosos, psicossomáticos, dentre outros. Outra modalidade de trabalho com grupos
pode ser numa perspectiva interdisciplinar, quando o psicólogo atua junto aos demais
profissionais da saúde. Como exemplo, temos: grupo de hipertensos, diabéticos, obesos e
dependentes químicos.
Yalom (2006) salienta que é muito difícil selecionar os pacientes mais indicados para a
grupoterapia, e já adianta que é mais fácil estabelecer critérios de exclusão do que de inclusão.
Mesmo porque existem vários tipos de grupos. Assim, determinado paciente não está indicado
para um tipo, mas pode estar para outro.

Um primeiro sinal de indicação parece ser a motivação e o desejo do próprio paciente


105
em ser atendido em grupo. Ao serem convidados, alguns costumam resistir inicialmente, mas
quando informados sobre o funcionamento do grupo podem sentir-se estimulados; ao passo que
outros podem se recusar a participar da modalidade grupal. Alguns argumentam que não
gostariam de expor sua vida e seus sentimentos para outras pessoas. Outros se sentem
ameaçados em dividir o terapeuta com outras pessoas, pela sua personalidade narcísica. Outros
ainda, de forma inconsciente, sentem-se desencorajados por terem dificuldade de
relacionamento.

Yalom (2006) recomenda que determinados tipos de pacientes não se beneficiariam de


um grupo do tipo heterogêneo. É o caso dos sociopatas, dependentes químicos, psicóticos
agudos, paranoides e aqueles com lesão cerebral. Acrescentam-se ainda aqueles que não
possuem disponibilidade para participarem frequentemente das sessões.

Zimerman (2000) lista um grupo de pacientes que são contraindicados para a terapia
de grupo. São eles:

 Pessoas que não têm motivação ou interesse para mudanças internas.


 Pacientes que já interromperam tratamentos anteriores com razoável
frequência.
 Deficientes mentais graves.
 Pacientes que apresentam risco de suicídio.
 Quadros mais sérios de depressão, paranoia e narcisismo.

Segundo Yalom (2006), estudos sobre desistência de pacientes em psicoterapia grupal


revelam que o término prematuro é sempre indesejado, por isso entender os motivos que os
levam a abandonar a terapia auxilia no processo de seleção mais acertada. Quando um membro
sai do grupo já altera a dinâmica do mesmo, que acaba resultando em prejuízo quanto aos
benefícios terapêuticos. “O desenvolvimento adequado de um grupo exige estabilidade de
participantes, e uma onda de abandono pode retardar a maturação de um grupo por meses” (p.
193).

Os estudos demonstram que os principais motivos de abandono do tratamento são,


conforme Yalom (2006):
106
 Fatores considerados externos, tais como: dificuldade de horário, residência
em outra cidade, mudança, etc. Yalom (2006) alerta para o fato de que, quando a justificativa
dada pelo paciente é de ordem externa, é necessária uma análise mais detalhada. Muitas vezes,
o motivo externo pode estar a serviço de conflitos internos, como por exemplo, mecanismo
defensivo de negação, do qual o paciente tende a evitar porque percebe algo no grupo como
sendo perigoso.
 Desvios comportamentais no grupo. Yalom (2006) refere-se ao tipo de
paciente que não apresenta comportamento compatível com o grupo. Acrescenta que é difícil
definir um perfil desses pacientes, mas fala em características: pessoas que não têm
sensibilidade interpessoal, aquelas que não têm motivação interna para o tratamento e que não
participam das tarefas propostas. Outra característica citada pelo autor diz respeito à classe
econômica baixa e o que ele chama de pessoas com inteligência inferior. Vale ressaltar que essa
característica foi evidenciada nas pesquisas de Yalom (2006), mas não pode ser generalizada
para todos os pacientes de baixa renda com ou pouca escolaridade.
 Problemas de intimidade. Os pacientes que apresentam maior dificuldade com
problemas de intimidade, como inibição, introversão, retraimento social, características autistas
ou personalidade esquizoide tendem a abandonar mais facilmente um tratamento grupal, revela
Yalom (2006). Quando a dificuldade é maior que o desejo de mudança, essas pessoas
costumam ser tomadas por uma ansiedade de tal forma que bloqueiam no momento de falar.
 Medo de contágio emocional. Essa é uma questão muito difícil de ser
detectada logo nas entrevistas de triagem (seleção). Entretanto, nas pesquisas realizadas por
Yalom (2006), foi concluído que alguns pacientes tendem a abandonar a grupoterapia porque
têm dificuldade para ouvir o problema do outro e diferenciá-lo de si mesmas. São pacientes que
procuram evitar a proximidade de pessoas doentes e até ouvir sofrimento de outros.
 Motivos por parte do terapeuta. Estão relacionados ao despreparo teórico-
técnico do profissional, como a dificuldade de manejar as situações de conflitos no grupo; falta
de planejamento, falhas na seleção, dentre outras questões, podem contribuir para que
pacientes desistam. Vale ressaltar que, assim como na terapia individual, conteúdos internos da
dupla (paciente-terapeuta) estão em jogo.

Resumindo, os motivos citados anteriormente auxiliam o terapeuta a selecionar melhor


107
os membros para o grupo. Trata-se de critérios de exclusão. Nas palavras de Yalom (2006): “a
seleção de pacientes para a terapia de grupo, na prática é um processo de exclusão: os
terapeutas de grupo excluem certos pacientes da sua consideração e aceitam todos os outros”
(p. 208). O interesse e a disponibilidade são os principais critérios de inclusão.

19.2 O CONTRATO TERAPÊUTICO

Assim como na psicoterapia Individual, na Grupoterapia também precisa haver um


contrato ou enquadre. É comum delimitá-lo juntamente com as pessoas do grupo, pois diz
respeito às questões práticas que visam manter uma organização. Deve-se definir o local,
horário, férias, duração do tratamento quando houver necessidade e honorários do terapeuta
(quando for o caso de consultório particular).

Pode-se também combinar com o grupo outras questões que possam contribuir com o
bom andamento da terapia, como o uso do celular, respeito a individualidade e as diferenças,
sigilo, etc.

É também chamado de enquadre (setting) grupal. Segundo Zimerman (1997), referem-


se ao conjunto de limites, regras e combinados que são realizados pelo grupo. Serve não só
para manter a organização, mas também como um fator terapêutico, funcionando como
“continente”.

Zimerman (1997) lista alguns elementos que precisam ser considerados:


 Homogêneo ou fechado.
 Aberto ou fechado.
 Número de pacientes. Para Zimerman (1997) seis pessoas é um bom número,
sendo quatro o mínimo e nove o máximo.
 Sexo e idade. Zimerman (1997) relata que não há regra. Entretanto, um grupo
misto quanto ao gênero parece ser mais vantajoso. E quanto à idade, o ideal é que a diferença 108
não seja tão grande.
 Número de sessões por semana e tempo de duração da sessão. Dependerá do
referencial teórico-técnico do profissional.
 Tempo de duração do grupo. Irá variar conforme o tipo de grupo. Se for aberto,
terá o que Zimerman (1997) denominou de “duração ilimitada”; e se for fechado, “duração
limitada”.
 Participação do coterapeuta ou supervisor. É aquele profissional, segundo
Zimerman (1997) que assume o papel de observador do grupo. Ele intervém pouco e deve estar
em sintonia com o outro terapeuta. O autor destaca que essa técnica costuma apresentar bons
resultados nos casos de grupos com crianças, adolescentes e famílias.
 Entrada de um novo elemento. Zimerman (1997) orienta que convém pedir a
autorização prévia para os demais do grupo. Afinal, sua entrada precisa ser receptiva.
 Outras combinações, caso sejam necessárias.

Assim como na terapia individual, os fenômenos da: resistência, transferência,


contratransferência, comunicação e interpretação são aspectos a serem discutidos em uma
grupoterapia de base psicanalítica. São aspectos referentes à técnica.

Entretanto, vale lembrar que um grupo não significa uma mera junção de pessoas;
portanto não é somente fazer uma simples transposição da técnica, da natureza individual para a
coletiva.

19.3 MANEJO DAS RESISTÊNCIAS


Consideram-se resistência todos os elementos que atrapalham o bom andamento da
grupoterapia. Zimerman (1997) alerta para que o profissional possa analisar se a resistência é
individual ou possui caráter coletivo. 109

São algumas situações de resistência, conforme Zimerman (1997):

 Faltas;
 Atrasos;
 Solicitações de mudança de horário;
 Longos silêncios;
 Combinados de não falar em determinado assunto;
 Solicitação por terapia individual;
 Dificuldades com honorários, etc.

Quanto aos motivos principais, para Zimerman (1997), que possam evocar as
resistências, podem ser:

 Medo do desconhecido;
 Medo da humilhação;
 Vergonha;
 Presença da inveja;
 Medo da depressão;
 Falhas técnicas do terapeuta.

Muitas vezes, a resistência se expressa mediante aos papéis desempenhados pelas


pessoas no grupo, especialmente representadas pelo sabotador, monopolizador e silencioso.

Quanto à técnica, Zimerman (1997) recomenda que o primeiro passo seja a


identificação e compreensão das resistências. O segundo é avaliar se a resistência é individual
ou coletiva. No terceiro passo, o terapeuta deverá assinalar ao grupo a função da resistência. E,
por fim, cabe ao profissional analisar as suas próprias resistências quanto ao grupo.

110
19.4 TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA

É uma técnica que já foi abordada no módulo II deste curso. Recapitulando, a


transferência refere-se aos sentimentos do paciente em relação ao terapeuta, e a
contratransferência, do terapeuta em relação ao paciente. Neste caso, o paciente é o grupo. Tais
sentimentos podem ser positivos ou negativos.

Na Psicoterapia de Grupo a técnica adapta-se ao caráter coletivo. Zimerman (1997)


aponta que os fenômenos da transferência devem ser analisados e identificados sob vários
vértices:

 Do indivíduo para o grupoterapeuta;


 Do grupo para o terapeuta;
 Entre os membros do grupo;
 Do indivíduo para o grupo.

Já o fenômeno da contratransferência consistirá na avaliação feita pelo grupoterapeuta


sobre quais sentimentos o grupo lhe desperta. Para tanto, a supervisão clínica e a análise
pessoal são ferramentas indispensáveis para identificar e manejar tais sentimentos.

19.5 COMUNICAÇÃO
Zimerman (1997) afirma que as dificuldades encontradas no processo da comunicação
numa terapia de grupo ficam mais evidentes do que na terapia individual. Uma análise deste
fenômeno permite observar que a forma de comunicação tende a revelar sobre a patologia de 111
cada um. A fala do obsessivo-compulsivo é mais detalhista, a do histérico é exagerada. A do
narcisista é arrogante, já a do fóbico tende a ser evitativa.

19.6 INTERPRETAÇÃO

É especialmente pela técnica que ocorre a cura propriamente dita. Digo


“especialmente” porque ela não é a única ferramenta. Além dela, há também: assinalamento e
pontuação.

Zimerman (1997) reporta-se à técnica de grupo inicial, mas avisa que sua experiência
permite fazer algumas modificações. Anteriormente, orientava-se que não era adequado
interpretar referindo-se individualmente aos membros; era melhor que evitasse fazer
interpretações relacionando aos fatos infantis e que essa técnica deveria ser feita com base no
“aqui-agora”.

A técnica atual, proposta por Zimerman (1997), permite algumas modificações, como:

 Nomear os indivíduos do grupo, desde que seja assunto comum ao grupo;


 Não é necessário interpretar apenas no “aqui-agora”;
 Uso de assinalamentos, pontuações e clareamentos para se referir as formas de
comunicação, aos papéis desempenhados pelos indivíduos no grupo e as percepções de fatos;
 Interpretação dos papéis estereotipados e rígidos no grupo e que são repetidos
na vida em geral;
 Assinalamento de questões contratransferenciais.

112
19.7 TÉRMINO E RESULTADOS TERAPÊUTICOS

O término pode significar duas situações, como aponta Zimerman (1997): pode ser que
o grupo todo encerre, seja pelo que ficou estabelecido no contrato, seja por outros motivos
(grupo fechado), mas pode ser também que o término seja individual, isto é, que uma pessoa
conclua sua participação no grupo (são situações comuns de grupos abertos).

Zimerman (1997) prefere falar em “crescimento mental” do que em “cura”, pois o


segundo é um termo da Medicina, e está mais associado com a supressão de sintomas. Espera-
se que, ao final da grupoterapia, possam ser identificadas algumas mudanças psíquicas. Dentre
elas, destacam-se:

 Maior flexibilidade dos papéis estereotipados e rígidos;


 Melhor possibilidade de interação com outras pessoas;
 Melhor habilidade de comunicação;
 Minimização das ansiedades paranoides e depressivas;
 Capacidade para fazer diferenciação entre si e dos outros;
 Capacidade de ser “continente”.
Cada membro poderá se beneficiar de formas diferentes. Entretanto, as experiências
vividas no grupo devem favorecer o indivíduo a “adquirir liberdade para fantasiar, desejar, sentir,
pensar, comunicar, sofrer, gozar e estar junto com os outros” (ZIMERMAN, 1997, p. 142).
113

20 PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA

O profissional que exercita qualquer modalidade psicoterapêutica deve ter em mente


que está lidando com “relações humanas”. Relacionar-se implica na presença de outro, que
possui seus próprios sentimentos, dores, dificuldades, crenças, etc., além de lidar com seus
próprios sentimentos e conflitos. A Psicanálise valoriza um pressuposto fundamental: o de que
os sentimentos da dupla (paciente-terapeuta ou grupo) estão em jogo.
Sendo assim, falar de técnica em grupoterapia também remete a abordar o perfil do
profissional. Zimerman (1997) utiliza a expressão “coordenador” para se referir ao
grupoterapeuta, e acrescenta que é uma figura importantíssima no processo terapêutico, já que
é a pessoa que conduz. O coordenador representa a figura de transferência, motivada pelas
expectativas de cada membro do grupo.

114
Sendo tão importante, é esperado que o coordenador possua alguns atributos
desejáveis e/ou indispensáveis. Isso não significa que deva ser uma pessoa “perfeita”, afinal de
contas também é provido de sentimentos, sofrimentos e dificuldades. Espera-se que tenha
minimamente se submetido à experiência de análise pessoal e uma maior maturidade
emocional.

Zimerman (1997) destaca alguns atributos, uma parte indispensável e outra desejável,
os quais se esperam do terapeuta de grupo. Dentre eles:

 Gostar e acreditar em grupos;


 Ser verdadeiro;
 Coerente;
 Ético;
 Respeitoso;
 Paciente;
 Continente;
 Função de pensar;
 Comunicativo;
 Empático;
 Senso de humor.

Finalizando, a regra fundamental e indispensável para o profissional consiste no


clássico “tripé”: conhecimento teórico-técnico, supervisão com um profissional mais experiente e
análise pessoal.
115

21 PSICOTERAPIA BREVE

21.1 HISTÓRICO
De acordo com Braier (2000) a Psicoterapia Breve surgiu principalmente da
necessidade da crescente demanda das pessoas que precisavam de atendimento e da
quantidade insuficiente de terapeutas, especialmente em hospitais e centros de saúde. Além
disso, muitos dos que procuravam ajuda terapêutica eram pessoas de poucos recursos
econômicos, e, portanto, que não tinham condições financeiras para arcar com despesas numa
terapia em longo prazo. Tal terapia caracteriza-se por ter objetivos limitados, é bastante 116
interpretativa ou de insight, e é empregada em pessoas com capacidade egoica suficiente para
serem tratadas por ela.

Contextualizando a Psicoterapia Breve em sua evolução histórica, os primeiros


trabalhos referentes a essa terapia se deram logo no início dos estudos de Freud, por ele
mesmo: “...na etapa pré-analítica e no começo da analítica eram, de certo modo, terapias
breves, pois duravam só alguns meses” (BRAIER, 2000, p. 09). Freud estava empenhado em
encontrar curas rápidas para a solução de alguns conflitos e sintomas. Mas, gradualmente, o
tratamento foi se tornando mais prolongado. Ao mesmo tempo, outros autores (como S.
Ferenczi, O. Rank, e posteriormente T. French e F. Alexander) desenvolvem estudos referentes
à Psicoterapia Breve.

Segundo Braier (2000), a partir da década de 80, surgiu a necessidade de recorrer a


psicoterapias. Devido a dificuldades financeiras e de tempo, as pessoas sentiam necessidade de
uma psicoterapia menos custosa que a análise, tanto em dinheiro quanto em tempo.

Segundo Braier (2000) Freud, numa conferência em Budapeste, em 1918, adiantou-se


a fatos que posteriormente resultariam nas chamadas psicoterapias breves. Freud falou da
importância de desenvolver tratamentos breves para que um número maior de pessoas se
beneficiasse da assistência psicológica, especialmente que fossem criados estabelecimentos
estatais, para que o serviço psicológico fosse gratuito. Nessa perspectiva, Freud aponta a
necessidade de modificar a técnica a ser utilizada nas psicoterapias breves.

21.2 CONCEITO
A psicoterapia breve, segundo Knobel (2002), é uma espécie de Psicanálise
condensada, cujo tempo e objetivos são limitados. Trata-se de uma psicoterapia com objetivos
mais modestos. 117

Braier (2000) prefere usar o termo “Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica”.


Primeiro porque, a denominação “Psicoterapia Breve” implica em dizer que a terapia é breve. E
este autor aponta que ela é breve apenas do ponto de vista do terapeuta e quando comparada
ao tratamento psicanalítico. Braier fundamenta-se no referencial psicanalítico.

Os termos “Psicoterapia breve” e “Psicoterapia focal” são usados como sinônimos por
Knobel (1986), que conclui: “o máximo no mínimo de tempo”. D. Malan, considerado o pai da
“Psicoterapia Focal”, também concorda que são sinônimos.

Além do fator tempo, o foco é um dos elementos que melhor caracterizam as terapias
breves. O foco, que se refere basicamente à queixa trazida pelo paciente, diz respeito ao
objetivo, que acaba sendo o centro do tratamento e não pode ser perdido de vista.

Nas palavras de Knobel (1986, p. 13):

A Psicoterapia breve se apoia para ajudar o


indivíduo humano a ter uma real visão de suas
dificuldades, uma verdadeira apreciação de seus
problemas e um ponto de referência para correções
positivas de uma conduta que resulta de um
funcionamento psicológico perturbado.

Alguns autores são referências em Psicoterapia Breve, sendo eles: M. Knobel, H.


Fiorini, D. Malan, M. Balint, E. Braier.
118

22 FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS

Na Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica, para Braier (2000), são


trabalhados: o inconsciente, conflitos psíquicos, mecanismos de defesas, sonhos, transferência,
resistência, e outros, assim como na Psicanálise. Entretanto, há diferenças entre a Psicanálise e
a Psicoterapia Breve. As diferenças podem ser agrupadas em três aspectos: 1) fins terapêuticos,
2) temporalidade, 3) técnica.

No que se refere aos fins terapêuticos, de acordo com Braier (2000), a Psicanálise tem
como meta tornar consciente o inconsciente. Tal meta implica numa reconstrução da estrutura
da personalidade do analisando, que por sua vez envolve a resolução de conflitos mediante a
119
elaboração, acarretando bem-estar ou alívio dos sintomas.

Já na Psicoterapia Breve, como afirma Braier (2000), os objetivos precisam ser


limitados. Tem como meta principal a superação dos sintomas e problemas atuais da realidade
do paciente, de modo que este possa enfrentar adequadamente situações conflitivas. Tal meta
implica em que o paciente deve ter um princípio de insight a respeito de seus conflitos. Nesse
sentido cabe dizer que nem todas as pessoas podem se beneficiar da Psicoterapia Breve, mas
sim aquelas que possuem boa capacidade de insight.

No que diz respeito à temporalidade, Braier (2000) assinala que a duração do


tratamento na Psicanálise não é predeterminada, e pode se prolongar por anos. Na Psicoterapia
Breve é determinada previamente, e em geral leva alguns meses. Diz-se que há um início, meio
e fim previamente determinados, realidade esta que tanto analista quanto analisando devem
lidar.

E com relação à técnica, Braier (2000) faz menção a alguns fenômenos


psicoterapêuticos: os conflitos psíquicos; regressão, neurose de transferência e transferência;
resistência; insight e elaboração; fortalecimento da função egoica.

Na Psicanálise “as situações conflitivas atuais do indivíduo estão relacionadas a


conflitos infantis, dos quais, em realidade, decorrem”. (BRAIER, 2000, p. 22). E no tratamento
psicanalítico o analisando reviverá seus conflitos infantis, por meio da transferência, e serão
analisados profundamente até ser elaborado. Na Psicoterapia Breve há primeiramente uma
escolha dos conflitos a serem trabalhados, de acordo com sua urgência. Tais conflitos serão os
focos do tratamento, sendo que não é possível aprofundar em elementos mais primitivos de
modo que não mobilize o analisando em demasia.

Conforme Braier (2000) a regressão é o processo no qual o indivíduo se reporta a


etapas anteriores de seu desenvolvimento para reviver seus conflitos infantis. Esse processo é
muito importante no tratamento psicanalítico, uma vez que consiste numa etapa para elaboração
dos conflitos atuais. A neurose de transferência “é a reprodução da neurose infantil na relação
com o analista” (BRAIER, 2000, p. 26). E a transferência é o processo no qual os desejos
inconscientes se atualizam sobre certos objetos, na relação analítica.

Braier (2000) assinala que na Psicoterapia Breve deve-se evitar o desenvolvimento da


120
regressão, da neurose de transferência e da transferência. Tais mecanismos terapêuticos não
constituem como objetivos neste tipo de tratamento, na medida em que o objetivo é resolver
conflitos atuais do indivíduo.

De acordo com Braier (2000), no tratamento psicanalítico, a resistência refere-se aos


diversos obstáculos que o analisando opõe ao tratamento. Na Psicoterapia Breve surgem
resistências também, entretanto a interpretação das mesmas não pode assumir um caráter
intenso como na Psicanálise, em função da limitação do tempo.

É importante também discorrer sobre insight e elaboração. No tratamento analítico


Insight é “... a aquisição do conhecimento da própria realidade psíquica”. (Grinberg, citado em
Braier, 2000, p. 30). Trata-se de uma compreensão no sentido intelectual e afetivo, do contato
com os aspectos inconscientes.

A finalidade das interpretações do analista, que


são, por excelência, seu instrumento terapêutico, é
promover o insight dos conflitos no paciente
(BRAIER, 2000, p. 30).

A elaboração, segundo Braier (2000), é o processo no qual o paciente descobre as


conotações do insight. Isto é um trabalho exaustivo, que demanda tempo, implica em regressão
e superação das resistências do paciente. Desse modo, na Psicoterapia Breve, tanto o insight
quanto a elaboração ocorrem, mas de forma restrita e menos profunda se comparada ao
tratamento analítico. Além do mais o insight se dá muito mais a nível intelectual que afetivo.

Considero que a aquisição de insight por parte do


paciente, por meio de interpretações do terapeuta,
seja a forma mais apreciada de se conseguir o
fortalecimento de seu ego (BRAIER, 2000, p. 34).

Entretanto, conforme Braier (2000), esta não é a única maneira de ativar as funções
egoicas. Há também outra, que se baseia no apoio. Na Psicoterapia Breve, algumas vezes é
121
necessário utilizar de técnicas de apoio, especialmente quando a função egoica do paciente está
bastante debilitada e este não consegue suportar uma terapia interpretativa.

Na Psicoterapia Breve o tempo é limitado, o que faz com que os objetivos também o
sejam, caracterizando-se como as necessidades mais ou menos imediatas do indivíduo, com o
que se apresentar com mais urgência e/ou importância, almejando o fortalecimento e ativação de
suas funções egoicas para que ele consiga recuperar seu autodesenvolvimento e solucionar
seus conflitos (BRAIER, 2000).
Faz-se necessária a delimitação de um ou dois focos prioritários de dificuldades, sendo
que a solução fará com que o indivíduo se fortaleça emocionalmente. Segundo Braier (2000), em
Psicoterapia Breve “... se tenta basicamente delimitar zonas da problemática geral do paciente
e/ou dos episódios de sua vida, dirigindo preferencialmente para aí, a partir desse momento, a
exploração terapêutica” (p. 42).
Diante dessas colocações vale dizer que a cura nunca se realiza durante o tratamento.
Segundo Braier (2000) “... um tratamento curto adequadamente conduzido pode desencadear, a
partir da solução de um aspecto do problema do paciente, um processo evolutivo, uma reação
em série, que com o avançar dos anos promova uma mudança interior...” (p. 54). É nesse
sentido que se pode falar em fortalecimento e ativação de funções egoicas para
autodesenvolvimento interior.
É valido dizer que a Psicoterapia Breve recebe muitas críticas, até mesmo dentro da
área psicanalítica. Birman (2000) diz que se não houvesse o tratamento de curto prazo, as
pessoas com perturbações psíquicas se entregariam a tratamentos psicofarmacológicos, sendo
esquecida, dessa maneira, sua subjetividade e individualidade. “Com efeito, é preferível que as
individualidades possam ser simbolicamente reconhecidas como subjetividade, mediante as
psicoterapias breves, do que serem reduzidas à brutalidade de sua condição animal, pelo
tratamento psicofarmacológico...” (p. 16).
Além de tudo isso, existe a relação entre tempo e subjetividade, a qual sofreu
influências das novas tecnologias de comunicação, da nova forma de existência. Atualmente as
pessoas são induzidas a agir de forma rápida, diferentemente do que ocorria há algumas
décadas, quando as pessoas podiam permanecer em intermináveis reflexões. Vale dizer
também que essas pessoas que se entregavam a reflexões profundamente intermináveis e
relegavam a ação em si, a segundo plano acabavam se tornando obsessivas em função do
investimento narcísico que faziam. 122
Braier (2000, p. 33), afirma que
Devemos ativar muito especialmente as
funções egoicas do paciente essenciais para
o trabalho terapêutico, tais como, a
percepção, a atenção, a memória, etc.,
ativação que adquire muita importância
porque acelera e facilita o caminho em
direção ao insight.

É importante ressaltar, que ao se falar em fortalecimento egoico, entende-se que


um trabalho neste sentido, com um embasamento psicanalítico, tem como objetivo
desenvolver recursos egoicos para que o próprio paciente tenha insights, considerando
que toda a relação está permeada de conteúdos latentes, para que não se “caia na
armadilha de um trabalho superficial”, que ao invés de promover a autonomia do paciente,
acabe formando uma relação simbiótica, na qual o paciente não entra em contato com os
sentimentos que permeiam determinados conflitos.
Segundo Dolto, in Mannoni (1983), a relação psicoterápica permitirá que as
“forças emocionais encobertas, em jogo conflitvo”, encontre uma saída, ou seja, a
descoberta de processos inconscientes contribui para que o paciente perceba o que está
limitando sua liberdade. Entendendo, que esta liberdade significa o indivíduo conseguir ser
criativo, e não apenas submisso às exigências, livre da dependência do desejo de outrem,
conseguindo comunicar os seus sentimentos, amar e ser amado, enfrentar frustrações e
as dificuldades cotidianas. Assim, estamos entendendo saúde mental, não enquanto um
processo de adaptação, mas enquanto possibilidade criadora, na qual o paciente consiga
transitar na relação dialética princípio da realidade versus princípio do prazer, com certa
maleabilidade.
Entendendo que a relação terapêutica, na maioria das vezes, acontece a nível
inconsciente, é fundamental que o psicoterapeuta faça supervisão e análise pessoal, para
que esteja conseguindo amadurecer enquanto pessoa, e enquanto profissional,
considerando que estes estão intimamente ligados. Na Psicoterapia Breve, é importante
que o psicoterapeuta perceba algumas limitações que o aspecto tempo coloca, pois pode
ocorrer deste desejar inconscientemente mobilizar alguns conflitos que não seriam viáveis
trabalhar numa Psicoterapia Breve. Percebe-se a importância, de estar entrando em
contato com alguns conteúdos latentes que estão permeando o trabalho, e que se referem 123
ao desejo do próprio terapeuta, conteúdos estes que não favorecem nem o crescimento
do terapeuta, nem do paciente.
Identificar as diferenças entre Psicanálise e Psicoterapia Breve é indispensável para
aplicar adequadamente a técnica. No quadro abaixo estão descritas as principais diferenças:

Técnica Psicanálise Psicoterapia Breve

Fins terapêuticos A exploração do inconsciente. Limitados. Superação de

Resolução de conflitos básicos e sintomas e problemas

seus derivados. Reestruturação atuais.

da personalidade.

Duração Prolongada. Indeterminada. Limitada.

Trabalhos com os conflitos Refere-se especialmente aos Limita-se habitualmente a

conflitos básicos. conflitos derivados.

Regressão Dependência São favorecidas. Não são favorecidas.

Desenvolvimento e análise Sim. Não.

da neurose de

transferência.

Análise de resistência Intensiva. Limitada.

Insight Sim. Sim. Limitado. Mais


cognitivo que afetivo.

Elaboração Sim. Não. Processos geradores

de mudanças.

Fortalecimento e ativação Não (ou muito pouco). Sim.

das funções egoicas. 124

Focalização Não. Sim.

Multiplicidade dos recursos Não. Sim.

terapêuticos

Planejamento Não. Sim.

FONTE: Braier, 2000.

22.1 INDICAÇÕES

Braier (2000) recomenda que a Psicoterapia Breve poderá ser indicada em várias
situações. Vejamos algumas delas:

 Situações referentes aos ciclos de vida, tais como casamento, maternidade,


menopausa, aposentadoria, etc.
 Fatos traumáticos como o luto, separações, desemprego, acidentes, dentre
outros.
 Enfrentamento de doença, hospitalização e processo cirúrgico.
 Tratamento de neuroses.

Já em relação ao tipo de paciente, o ideal, segundo Braier (2000, p. 209) seriam


aquelas pessoas que possuem:
A) Força e plasticidade do ego, com funções em bom estado.

B) Alto grau de motivação para o tratamento.

C) Capacidade de insight.

D) Determinação e boa delimitação focal desde o início.


125

Em contrapartida, seriam contraindicados, de acordo com Braier (2000), aqueles casos


mais graves, como: psicopatia, borderline, perversões e casos graves de psicoses.

É importante considerar que a Psicoterapia Breve, assim como as demais


psicoterapias, não é indicada para todas as pessoas. Nesse sentido é necessário ser feito um
processo psicodiagnóstico de modo a indicar quais pessoas podem se beneficiar da psicoterapia
Breve, ou não. E mais, qual o direcionamento do trabalho a ser dado no tratamento.

Por outro lado, Braier (2000) considera que em muitas situações a Psicoterapia Breve
visa atender mais a uma questão de ordem assistencial, no sentido de que há pessoas que não
podem custear seu tratamento. É o caso de pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), através de instituições públicas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e até
mesmo as chamadas clínicas-escola, isto é, as clínicas de Universidades.

Nesse sentido, Braier (2000) aponta que quase todas as pessoas têm indicação de
Psicoterapia Breve, mesmo sendo grave sua doença. Entretanto faz uma ressalva: “desde que
se recorra, com critério e segundo cada caso, à técnica interpretativa e à de fortalecimento do
ego” (p. 207).

De qualquer forma, é importante considerar que nem todos os tipos de pacientes


apresentarão bons resultados terapêuticos.
126

23 TÉCNICA

23.1 O FATOR TEMPO


A essência da Psicoterapia Breve está justamente na brevidade de um tratamento
psicológico, isto é, o fator tempo. Por esse motivo este tema merece um destaque especial.

Na Psicanálise a questão do tempo e da frequência das sessões são fatores que estão
associados e consistem na essência deste método científico. Na era pós-Freud aspectos
econômicos e de tempo foram se contrapondo com a Psicanálise, dando origem às psicoterapias
127
breves.

Neste cenário, Birman (2000) levanta a indagação de como é possível tratar de


questões subjetivas em um curto espaço de tempo? Para este autor, a experiência psicanalítica
exige uma posição estratégica do tempo para a subjetividade, portanto, um longo tempo e maior
frequência semanal seriam condições para bons resultados terapêuticos. Ele compara a
Psicoterapia Breve com a ponta de um iceberg, o que significa que, assim como no iceberg, o
que fica dentro da água é a maior parte dele, no processo terapêutico breve poderá ser tratado
apenas uma parte dos conteúdos psíquicos.

Os processos subjetivos também foram se transformando com o tempo, assim como


os valores, crenças e modos de vida. Pensando assim, é que, segundo Birman (2000),
justificam-se as Psicoterapias Breves, que entraram em cena enquanto possibilidade terapêutica,
por diversas razões. Inicialmente por questões de ordem econômica e de tempo, especialmente
nos campos da Psiquiatria e da Psicologia Clínica (décadas de 1950 e 1960).

Os hospitais e outras instituições de saúde foram crescendo, principalmente na área


pública, mantidas pelo Estado. A proposta da Psicanálise foi ficando inviável para muitas
pessoas, principalmente em função do alto custo financeiro e de ser um tratamento longo. Nos
setores públicos o Estado não conseguia manter o tratamento. Dessa forma, a Psicoterapia
Breve vem para atender a essa demanda.

Inicialmente, a Psicoterapia Breve era conhecida como um tratamento inferior quando


comparada à Psicanálise. Diz Birman (2000) que os psicanalistas eram considerados como
verdadeiros analistas e os demais como pseudoanalistas. É como se a Psicanálise fosse
privilégio para as pessoas de classe alta e as demais psicoterapias, de segunda linha.
Entretanto, aponta Birman (2000) que nas décadas de 1960 e 1970 havia críticas em
relação à longa duração de um tratamento psicanalítico; questionava-se, inclusive, se era eficaz
permanecer tanto tempo em análise.

É importante mencionar que a grande frequência das sessões semanais na Psicanálise


tem motivo de ser. Para Freud o intervalo longo entre uma sessão e outra poderia aumentar as
128
resistências no paciente.

Voltando a eficácia terapêutica, segundo Birman (2000), trata-se de um assunto


complexo e polêmico. “O que pode ser eficaz, num certo ponto de vista, não é o mesmo que é
valorizado num outro, na análise dos efeitos terapêuticos de certo procedimento” (p. 17). Além
disso, temos que considerar as expectativas e ambições do próprio paciente. Muitas vezes, suas
ambições em tratar seus conteúdos internos, em falar de sua subjetividade são mais modestas
que a proposta da Psicanálise. O valor que cada pessoa atribui a sua subjetividade pode ser
diferente.

Atualmente, além dos espaços públicos de tratamento de saúde mental, há também os


convênios de saúde que funcionam como um terceiro na relação terapeuta/paciente. Estas
instituições delimitam o número de sessões e a duração do tratamento, tornando um padrão
único para todos os pacientes, independente de suas necessidades, patologias e benefícios
terapêuticos. Nesse sentido, Birman (2000) afirma que a frequência semanal das sessões
acabou se tornando uma espécie de “instituição”, já que satisfaz mais as necessidades da
própria instituição do que as do paciente.

Finalizando, é importante considerar ainda que diversas mudanças ocorreram dos


tempos de Freud até os dias atuais. O processo da globalização, a inclusão digital e o mundo do
trabalho agitado levaram a uma aceleração do tempo, fazendo com que as pessoas tenham
pressa. Consequentemente, os pacientes e as patologias também mudaram. São marcadas por
patologias narcisistas e pelo vazio mental. Este cenário requer uma (re)leitura dos processos
subjetivos.
23.2 A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E O CONTRATO TERAPÊUTICO

Na Psicoterapia Breve o primeiro passo diz respeito ao psicodiagnóstico, assim como


129
nas demais psicoterapias. Segundo Braier (2000), o processo avaliativo consiste em entrevistas,
testes psicológicos e entrevista devolutiva. Tem como objetivos principais: a construção da
aliança terapêutica, o diagnóstico e prognóstico e a formulação do plano terapêutico. Faz parte
também desse processo o estabelecimento do contrato terapêutico, ocasião em que é explicado
ao paciente sobre o método de trabalho e a duração do tratamento. É também o momento onde
é eleito um foco de trabalho.

O estabelecimento da aliança terapêutica, conforme Braier (2000) inicia-se já nas


primeiras entrevistas, isto é, nos primeiros contatos paciente/terapeuta, e é condição essencial
para qualquer tratamento. Nesse primeiro momento, Braier (2000) recomenda informar
diretamente ao paciente sobre os objetivos iniciais – que são de avaliação e delineamento do
contrato -, bem como dos passos a serem dados no decorrer do tratamento.

A postura do psicólogo, na Psicoterapia Breve e já nas entrevistas, como aponta Braier


(2000), é mais ativa. Em alguns momentos é ele quem dirige a entrevista, seja formulando
questões para fins diagnósticos, ou até mesmo assinalando e interpretando. Vale ressaltar que a
técnica da interpretação precisa ser usada com muita cautela e segurança, especialmente no
início do tratamento.

Nesse sentido, Braier (2000) orienta usá-la basicamente em três situações: 1) Quando
surgirem obstáculos que possam culminar com a interrupção do tratamento; 2) Na entrevista
devolutiva, quando o psicólogo fornecer uma visão geral do caso; e/ou 3) Com a finalidade de
avaliar a capacidade de insight do paciente.

Ainda quanto às entrevistas, Braier (2000) afirma que é fundamental realizar uma boa
anamnese, a fim de colher dados necessários para a história clínica do paciente. Detalhar o
motivo da consulta é valiosíssimo, uma vez que na grande maioria das vezes está relacionado
ao foco de trabalho que será eleito para o tratamento.
Delimitar um foco ou a situação-problema não é tarefa fácil, pois muitos pacientes
como aponta Braier (2000), apresentam patologias mais generalizadas, que muitas vezes estão
relacionadas a vários aspectos. Torna-se, portanto, difícil de eleger um ponto de urgência. Em
contrapartida, outros pacientes apresentam quadros mais focais, mais fáceis de serem
delimitados. É o caso de quadros agudos, tais como eventos traumáticos, depressões, luto,
processo de internação ou surgimento de doença, etc. 130

Em relação ao que avaliar num psicodiagnóstico em Psicoterapia Breve, alguns


pontos, segundo Braier (2000), merecem destaque. Trata-se de critérios mínimos que precisam
ser considerados para indicação ou contraindicação para essa modalidade de psicoterapia. O
resultado satisfatório do tratamento depende disso.

Um ponto refere-se à avaliação das funções básicas do ego do paciente, isto é,


pensamento, atenção, percepção, fala, memória, etc. Um paciente com ego muito
desestruturado dificilmente se beneficiará de um tratamento breve. A capacidade de insight e de
simbolização precisa estar preservada (BRAIER, 2000).

Outro ponto está ligado às relações objetais, ou seja, aos tipos de vínculos que o
paciente estabelece com as pessoas mais próximas, como os pais, filhos, cônjuge, colegas de
trabalho, etc. Segundo Braier (2000) é importante que estes pacientes consigam ter razoável
tolerância à frustração, habilidade para lidar com as situações de separação e de perdas em
condições razoáveis, minimamente. Isto porque são pessoas que permanecerão por pouco
tempo com o terapeuta, que necessitam ter uma postura ativa diante do tratamento que logo se
encerrará, ocorrendo à separação.

Um terceiro ponto diz respeito às motivações do paciente em se tratar. Braier (2000)


salienta que precisa haver um alto grau de desejo de mudança e, de preferência, que a terapia
ocorra num momento favorável a essas mudanças. Pacientes que vêm encaminhados por
desejos ou necessidades de outras pessoas, pouco ou nada poderão se beneficiar de um
tratamento que requer muito envolvimento por parte da dupla terapêutica.

Na entrevista devolutiva, Braier (2000) recomenda que seja feita de forma clara e
objetiva, procurando devolver o que foi investigado do paciente, tanto seus aspectos sadios
quanto os patológicos. Criar um clima de compreensão do sofrimento do paciente fortalecerá a
aliança terapêutica.

O contrato terapêutico sinaliza o fim de uma etapa (psicodiagnóstico) e início de outra


(o tratamento propriamente dito).

Na Psicoterapia Breve, assim como nas outras, há necessidade de realizar o contrato 131
terapêutico, isto é, um compromisso entre a dupla. Nele algumas questões, segundo Knobel
(2002) precisam estar claras. São elas:

 Questões práticas como: estabelecimento de local, dias, horários, feriados,


faltas e honorários (este último quando for o caso de clínica particular);
 Delimitação do número, tempo e duração das sessões e do tratamento.
 Delimitação dos objetivos terapêuticos a serem alcançados;
 Explicação da função e dos objetivos terapêuticos.

Braier (2000) orienta que a definição do foco a ser trabalhado deve ser feito junto ao
paciente, de comum acordo, de forma clara e objetiva. Este foco está relacionado com as
expectativas do paciente em relação ao tratamento. Entretanto, “toda terapia breve de insight
pressupõe a existência de fins terapêuticos inerentes à natureza mesma do processo, por
exemplo, que o paciente alcance maior consciência da enfermidade ou eleve sua autoestima” (p.
74). Esse é, portanto, o objetivo geral da Psicoterapia Breve.

Quanto à duração do tratamento, segundo Braier (2000), na maioria das vezes,


convém delimitar um prazo para o término da terapia, que poderá variar conforme algumas
situações: 1) Quando se tratar de uma instituição o tempo já estará definido (3, 6, 12 meses); 2)
Por conveniências do próprio paciente: em se tratando de mudança, viagem ou outros; 3)
Quando se tratar de consultório particular pode-se definir o prazo de comum acordo com o
paciente, sempre observando os riscos e os benefícios terapêuticos.

Algumas características em Psicoterapia Breve, segundo Knobel (2002), são


essenciais. Algumas delas são:

 Sigilo profissional;
 Confiança mútua;
 Avaliação honesta e compreensiva junto ao paciente.

23.3. O TRATAMENTO PROPRIAMENTE DITO 132

Diz Braier (2000) que a organização do planejamento terapêutico é um dos aspectos


que diferenciam as psicoterapias breves. Elaborar uma estratégia auxilia no cumprimento dos
objetivos delimitados. É evidente que não se trata de um projeto estático, rígido, mas ao
contrário, requer flexibilidade por parte do terapeuta de modo que o mesmo possa ser
readaptado quando necessário.

Após a avaliação diagnóstica e o planejamento terapêutico, dá-se início ao tratamento


propriamente dito. Nesta fase, algumas características são essenciais na relação
terapeuta/paciente, principalmente porque se diferencia do método psicanalítico.

A postura do terapeuta na Psicanálise é mais neutra e distante, procurando preservar o


anonimato. Já na Psicoterapia Breve o vínculo é mais próximo. É importante que o terapeuta
possa expressar interesse em relação ao sofrimento do paciente, favorecendo um clima de
confiança (BRAIER, 2000).

Nesse sentido, salienta Braier (2000, p. 86), que o papel do terapeuta é mais ativo do
que na Psicanálise. Em algumas situações ele poderá responder as perguntas do paciente,
favorecendo um “equilíbrio entre gratificação e privação do paciente”. Um tratamento breve não
permite tempo suficiente para tratar as resistências oriundas de sentimentos hostis, agressivos,
no processo de transferência negativa.

Quanto à técnica, Braier (2000) propõe que se evite a transferência, ou melhor, que
não ocorra com tanta intensidade. Realizar assinalamentos, formular questões, oferecer
sugestões e informações são parte da técnica em Psicoterapia Breve. A interpretação também é
utilizada, mas precisa ter relação com o foco de trabalho que foi eleito como objetivo no
tratamento. Algumas vezes o terapeuta faz perguntas que vêm de encontro a este foco. Sua
atenção deve estar voltada para ele (o foco).

Em relação à técnica da associação livre, defendida por Freud, há controvérsias na


Psicoterapia Breve. Alguns autores (dentre eles Bellak e Small) apontam que ela não deve ser
133
usada exatamente como na Psicanálise (BRAIER, 2000).

Esta é uma técnica empregada para facilitar a expressão do inconsciente, como aponta
Braier (2000), mas que tende a conduzir à regressão, o que não seria interessante na
Psicoterapia Breve. Pode ser que, associando livremente o paciente falará de outros temas que
não estarão relacionados ao foco principal. Assim, poderia ser desperdiçado tempo, uma vez
que este é fator decisivo em tratamentos breves. Cabe ao terapeuta a tarefa de auxiliar o
paciente a voltar para o foco.

Diante dessa problemática, orienta Braier (2000) que a associação livre não seja usada
com tanta frequência, mas em algumas situações durante o tratamento, nas quais estejam
voltadas para o foco. Isto exige flexibilidade por parte do terapeuta. Este autor recomenda que,
no início do tratamento, deve-se orientar o paciente a falar tudo o que sabe sobre seu sofrimento
ou que tenha relação com ele, podendo ser situações atuais, recordações anteriores,
pensamentos, etc.

Falando mais especificamente sobre as sessões, Braier (2000) recomenda que, em


Psicoterapia Breve sejam realizadas duas sessões semanais, na maioria dos casos. Entretanto,
em algumas situações basta uma apenas. A duração de cada sessão pode ser de quarenta
minutos.

Paralelamente à Psicoterapia Breve, na tentativa de potencializar os benefícios


terapêuticos, pode-se recorrer ao trabalho de outros profissionais, por intermédio de
encaminhamentos. Braier (2000) cita a participação do psiquiatra (uso de psicofármacos),
terapeuta ocupacional, psicoterapeuta grupal, etc.

Além disso, muitas vezes, a participação e o envolvimento dos familiares do paciente


fazem-se necessário e favorável ao tratamento. Em algumas situações os familiares podem
auxiliar na fase diagnóstica, contribuindo com informações valiosas para a compreensão do
caso. Em outros momentos a família poderá ajudar assumindo determinadas responsabilidades
quanto ao tratamento (BRAIER, 2000).

Já no caso de crianças e adolescentes, a participação dos pais e/ou cuidadores é de


suma importância, em todos os momentos do tratamento, como aponta Braier (2000). Primeiro
porque cabe aos pais, geralmente, a função de levar o paciente e arcar com os custos
134
financeiros. Segundo porque é comum que a enfermidade do paciente tenha relação com os
conflitos do núcleo familiar.

23.4 O TÉRMINO DO TRATAMENTO

O término do tratamento ou a alta geralmente implica num processo marcado por


muitas ansiedades, tanto por parte do terapeuta quanto por parte do paciente. Lidar com o luto
oriundo do término do vínculo terapêutico constitui tarefa essencial, porém difícil.

Por parte do paciente, as ansiedades com o fim do tratamento costumam estar


relacionadas desde a sensação de abandono e de vazio até o medo da morte ou de enlouquecer
(numa intensidade maior). Geralmente neste último caso trata-se de pacientes com estrutura
egoica menos fortalecida e que vivenciam vínculos mais simbióticos, isto é, de dependência
afetiva (BRAIER, 2000).

Segundo este autor, é possível observar tais ansiedades do final do tratamento de


diversas formas:

 Quando o paciente começa a trazer novos focos de problemas, numa tentativa


inconsciente de seduzir o terapeuta, permanecendo vinculado a ele.
 Quando se percebe piora do paciente em algumas situações, como forma de
obter ganho secundário.
 Quando o paciente demonstra atitudes hostis em relação ao terapeuta ou
começa a atuar (acting out).
 Finalmente, quando o paciente desenvolve uma relação terapêutica negativa e
acaba por interromper o tratamento antes de seu desfecho. De tão dolorosa a separação, o
paciente opta, inconscientemente, por terminar antes.
135

Nessas situações, Braier (2000) recomenda que o terapeuta poderá dispor da técnica
do manejo da transferência a fim de vencer as resistências despertadas com a alta. É adequado,
por exemplo, assinalar ao paciente sua tentativa de visar ganho secundário com suas recaídas.

Braier (2000, p. 169) menciona que “a manutenção da melhora certamente dependerá


em grande parte de suas possibilidades de introjetar e conservar uma boa imagem do
terapeuta”. Isso ocorre quando a transferência é positiva.

Já foi mencionado anteriormente que, no processo psicodiagnóstico, um dos pontos a


serem avaliados refere-se à capacidade de lidar com situações de luto e separação. Isto seria
critério, junto com outros fatores, de indicação ou contraindicação de um tratamento breve.

Entretanto, como aponta Braier (2000), mesmo identificando esta característica, muitas
vezes, o terapeuta não tem outra escolha a não ser atender o paciente da mesma forma.
Pensando, sobretudo, em instituições públicas, que adotam a psicoterapia breve como técnica
de trabalho, comumente não há possibilidade de encaminhá-lo para outra instituição.

Para tentar superar essa dificuldade, Braier (2000) propõe que, no momento de
planejar o tratamento, o terapeuta já disponibilize um tempo maior para destiná-lo ao processo
de elaboração do luto vivenciado pela separação.

Por parte do terapeuta, Braier (2000) alerta que as ansiedades costumam repercutir
ainda mais. “A separação significa, para ele, ver-se privado de gratificações simbióticas; o luto
provoca sentimentos de desvalorização e perda” (p. 170). Sentimentos de impotência e de
fracasso também podem ocorrer.
De qualquer forma, finaliza Braier (2000), espera-se que, ao término do tratamento, o
paciente possa caminhar por conta própria a partir dos benefícios que obteve com a
psicoterapia.

136

23.5 RESULTADOS TERAPÊUTICOS

A avaliação dos resultados ao final do tratamento, segundo Braier (2000), deve ser
feita pelo paciente e pelo terapeuta, isto é, em conjunto. Esse autor propõe um método de
avaliação que consiste basicamente de dois recursos: entrevista com o paciente e um
psicodiagnóstico.

Em relação ao primeiro recurso, Braier (2000) salienta que podem ser feitas duas
entrevistas. Uma logo após ter finalizado o processo psicoterápico, que pode durar em torno de
quarenta minutos e tem por objetivo solicitar uma autoavaliação do paciente. E a segunda
entrevista, que deve ser feita após alguns dias depois da primeira, objetiva fazer uma devolução
pelo terapeuta, comunicando ao paciente suas impressões.

Na primeira entrevista é o momento que o paciente tem de poder falar da experiência


da terapia, de possíveis benefícios e mudanças que identificou. Poderão falar também de
críticas, sugestões, enfim, são as impressões do paciente (BRAIER, 2000).

Já na segunda entrevista é o espaço para o terapeuta fazer sua devolução,


confrontando suas impressões, inclusive, com a autoavaliação do paciente. De acordo com
Braier (2000), alguns pontos devem ser considerados:

 Melhora do sintoma;
 Resolução da problemática focal;
 Consciência da enfermidade;
 Melhora da autoestima;
 Mudanças em outros aspectos da vida do indivíduo, como relacionamentos
interpessoais, vida sexual, etc.;
 Planos para o futuro.

Quanto ao psicodiagnóstico, Braier (2000) usa a expressão reteste. Refere-se a


137
(re)aplicação de testes que foram realizados no início da terapia. Mas orienta que precisa ter um
intervalo mínimo de seis meses. Os testes revelam o momento de vida atual do paciente e,
portanto, o resultado poderá variar. O objetivo é fazer uma comparação entre esses dois
momentos, ou seja, o início e o fim do tratamento.

Falando ainda sobre o término do tratamento, algumas possibilidades podem ocorrer,


conforme aponta Braier (2000, p. 194):

1. A finalização do processo psicoterápico propriamente dito;


2. A realização de entrevistas de acompanhamento (são as entrevistas de
avaliação mencionadas anteriormente);
3. Um novo contrato;
4. Encaminhamento para outro tipo de tratamento.

Em relação à quarta possibilidade, o fato de sugerir outro tipo de tratamento não


significa, como aponta Braier (2000), que a terapia breve não teve êxito ou benefícios. Algumas
vezes, funciona como uma motivação para o paciente iniciar uma terapia em longo prazo, por
exemplo.

23.6 AS CONSIDERAÇÕES DE FIORINI E A TÉCNICA EM HOSPITAIS


Salienta Fiorini (1993) que algumas instituições, por si só, demandam intervenções
mais breves e urgentes. É o caso de hospitais: geral e psiquiátrico. O paciente internado anseia
pela alta o quanto antes. Assim, o atendimento psicológico ocorre durante o período de
internação. Deve ser focal, isto é, ter como objetivo o processo de doença e internação.

O hospital é uma instituição caracterizada pelo binômio saúde/doença. As pessoas


138
internadas passam apenas um período de suas vidas no hospital, que pode durar dias ou até
meses, dependendo da problemática apresentada e do procedimento realizado (cirurgia,
antibiótico-terapia, etc.). Nesse sentido, muitas vezes, não é possível prever quando o paciente
sairá do hospital. Às vezes a saída ocorre pela alta (melhora clínica) e outras, pelo óbito.

A técnica mais adequada deve ser a Psicoterapia Focal, ou também chamada de


emergencial, pois como o nome já diz, o conflito é urgente, não dá para esperar. O atendimento
deve ocorrer no “aqui-agora”.

Delimita-se a problemática do paciente, uma dificuldade central, um “problema foco”,


que é eleito como primordial e que na maioria das vezes é o processo de doença, bem como os
conteúdos que estejam relacionados a ela (internação, exames, cirurgias, cuidados paliativos,
etc.).

Conforme Fiorini (1993), muitas pessoas reagem ainda com certa desconfiança em
relação aos tratamentos breves, uma vez que eles carecem de maiores estudos teóricos e
técnicos e, principalmente, em relação aos resultados terapêuticos. Para tanto, torna-se
necessário elaborar um esquema referencial próprio.

Nesse sentido, um ponto a ser considerado nesse esquema referencial diz respeito à
enfermidade ou crise do paciente. Segundo Fiorini (1993), um tratamento breve deve ter como
foco os determinantes atuais da queixa do paciente. Isso significa que não é possível estimular
conflitos infantis do indivíduo, mas ajudá-lo a (re)organizar sua vida atual, nas diversas áreas:
família, trabalho, social, etc.

Isso não quer dizer que os aspectos e conflitos históricos infantis não sejam
considerados. Eles simplesmente não devem ser estimulados, pois não haverá tempo hábil para
elaborá-los.
Outro ponto abordado por Fiorini (1993) refere-se ao trabalho de uma equipe
multiprofissional. Aliar a psicoterapia breve com outros tratamentos, em muitos casos,
potencializa o efeito terapêutico. É o caso de profissionais como psiquiatras e neurologistas
(medicação), nutricionistas (transtornos alimentares), assistentes sociais, terapeutas
ocupacionais, etc.

139

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicoterapia Breve é ainda um campo que carece ser mais bem explorado,
justamente porque não possui uma identidade própria. É confundida muitas vezes com a
Psicanálise e/ou outros métodos de tratamento mais longos. Atualmente, ainda permeia a crença
de que se trata de uma psicoterapia inferior à Psicanálise, por uma herança histórica. Uma não
se contrapõe a outra, mas diferencia-se, sobretudo, pela técnica empregada.

140
Nesse sentido, Braier (2000) sugere que a formação do terapeuta deve contemplar a
análise pessoal, a supervisão com profissional mais experiente e conhecimentos teóricos. Para
este autor, a formação em Psicanálise seria um critério ideal, mas não é a realidade atual. Então,
para suprir esta carência, é importantíssimo que o terapeuta tenha como uma de suas metas em
seu treinamento conhecer com muita destreza as diferenças entre Psicoterapia Breve e
Psicanálise. Isso porque um dos erros mais frequentes está relacionado com a confusão da
técnica.

Os tratamentos breves consistem em uma tendência na atualidade. Bons resultados


terapêuticos têm sido alcançados com esta técnica, quando utilizada com a seriedade e o rigor
científico que demanda.

Mensagem final

“Pois fica decretado

a partir de hoje,

que terapeuta é gente também.

Sofre, chora,

ama e sente

e, às vezes, precisa falar.

O olhar atento,

o ouvido aberto,
escutando a tristeza do outro,

quando, às vezes, a tristeza

maior está dentro do seu peito.

Quanto a mim,
141
fico triste, fico alegre

e sinto raiva também.

sou de carne e sou de osso

e quero que você saiba isto de

mim.

E agora,

que já sabes que sou gente,

quer falar de você para mim?”

Cyro Martins

(Psicanalista e escritor)

REFERÊNCIAS

____. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artmed, 2000.


BAHLS, S. C.; NAVOLAR, A. B. B. Terapia cognitivo-comportamental: conceitos e pressupostos
teóricos. In: Revista eletrônica de Psicologia. n. 04, jul. 2004. Disponível em:
<www.utp.br/psico.utp>. Acesso em: 05. Ago. 2011.

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