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e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais


Guia de Referência Anti-Branqueamento
de Capitais e de Combate ao
Financiamento do Terrorismo
Segunda Edição e Suplemento sobre a
Recomendação Especial IX

Segunda Edição Guia de Referência


Anti-Branqueamento de Capitais e de
trabalho em curso Combate ao Financiamento do Terrorismo
para discussão pública
Segunda Edição
www.amlcft.org e Suplemento sobre a Recomendação Especial IX

Paul Allan Schott


1 2 15 16 17 18

3 4 5 6 19 20 21 22

7 8 9 10 23 24 25 26

11 12 13 14 27 28 29 30

1. Colombia 15. Zambia


2. Botswana 16. Thailand
3. Singapore 17. Brazil
4. China 18. Trinidad and Tobago
5. New Zealand 19. United States
6. India 20. Malaysia
7. Norway 21. Ethiopia
8. Tanzania 22. Republic of Korea
9. Costa Rica 23. Czech Republic
10. Turkey 24. Dominican Republic
11. Sri Lanka 25. BCEAO
12. Ecuador 26. European Union
13. Austria 27. England
14. South Africa 28. Kuwait
29. Finland
30. Japan

Design and layout by James Quigley


e de Combate ao Financiamento do Terrorismo
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais
Guia de Referência Anti-Branqueamento
de Capitais e de Combate ao
Financiamento do Terrorismo
Segunda Edição e Suplemento sobre a
Recomendação Especial IX

Guia de Referência
a Recomendação Especial IX
Segunda Edição e Suplemento sobre

Anti-Branqueamento de Capitais e de
trabalho em curso Combate ao Financiamento do Terrorismo
para discussão pública
Segunda Edição
www.amlcft.org e Suplemento sobre a Recomendação Especial IX

Paul Allan Schott


1 2 15 16 17 18

3 4 5 6 19 20 21 22

7 8 9 10 23 24 25 26

11 12 13 14 27 28 29 30

1. Colombia 15. Zambia


2. Botswana 16. Thailand
3. Singapore 17. Brazil
4. China 18. Trinidad and Tobago
5. New Zealand 19. United States
6. India 20. Malaysia
7. Norway 21. Ethiopia
8. Tanzania 22. Republic of Korea
9. Costa Rica 23. Czech Republic
10. Turkey 24. Dominican Republic
11. Sri Lanka 25. BCEAO
12. Ecuador 26. European Union
13. Austria 27. England
14. South Africa 28. Kuwait
29. Finland
30. Japan

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Guia de Referência
Anti-Branqueamento de Capitais e de
Combate ao Financiamento do Terrorismo
Segunda Edição
e Suplemento sobre a Recomendação Especial IX
Guia de Referência
Anti-Branqueamento de Capitais e de
Combate ao Financiamento do Terrorismo

Segunda Edição
e Suplemento sobre a Recomendação Especial IX
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Copyright © 2004
Banco Internacional para a Reconstrução
e o Desenvolvimento/ BANCO MUNDIAL
1818 H Street, N.W.
Washington, D.C. 20433, EUA

Todos os direitos reservados


Produzido nos Estados Unidos da América
Primeira tiragem da Segunda Edição e Suplemento sobre a Recomendação Especial IX,
Abril de 2005

Esta publicação destina-se a circular com o objectivo de fomentar a discussão e colher


comentários. O formato deste documento não foi, assim, preparado de acordo com os
procedimentos apropriados para textos formais impressos e o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional (FMI) declinam qualquer responsabilidade associada a erros.
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directamente ao Copyright Clearance Center, Inc., 222 Rosewood Drive, Danvers, MA
01923, EUA, antes de fazer as respectivas fotocópias.
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um fax com o seu pedido e todas as informações necessárias para o Republication
Department, Copyright Clearance Center, fax 978-750-4470.
Todos os outros pedidos de informações sobre direitos e licenças devem ser encami-
nhados para o Banco Mundial, no endereço acima mencionado, ou enviados por fax para
o número 202-522-2433.

Paul Allan Schott é Consultor junto do Sector Financeiro do Banco Mundial.


Fotografias da capa: Comstock

www.amlcft.org

iv
Índice

Prefácio..........................................................................................................ix

Agradecimentos...............................................................................................xi

Abreviaturas e acrónimos...............................................................................xiii

Introdução: Como utilizar este Guia de Referência...........................................xvii

Parte A: O problema e a resposta internacional

Capítulo I: Branqueamento de capitais e financiamento


do terrorismo: Definições e explicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-1
A. O que é o branqueamento de capitais? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-2
B. O que é o financiamento do terrorismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-4
C. A ligação entre branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo . . . . . . . I-5
D. A magnitude do problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-6
E. Os processos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-7
F. Onde ocorrem o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo? . . . . I-9
G. Métodos e tipologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-9

Capítulo II: O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento . . . . . . . . . II-11


A. As consequências negativas para os países em desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . II-12
B. As vantagens de uma conjuntura eficaz ABC/CFT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . II-17

Capítulo III: Organismos internacionais que definem padrões normativos . . . . III-11


A. A Organização das Nações Unidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-22
B. O Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de Capitais . . . . . . . . . . . . . III-27
C. O Comité de Basileia de Supervisão Bancária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-33
D. Associação Internacional dos Supervisores de Seguros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-36


Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

E. Organização Internacional das Comissões de Valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-36


F. Grupo Egmont de Unidades de Informação Financeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-39

Capítulo IV: Organismos regionais e grupos relevantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-43


A. Organismos regionais do tipo GAFI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-43
B. Grupo Wolfsberg de Bancos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-46
C. Secretariado da Commonwealth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-50
D. Organização dos Estados Americanos – CICAD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-51

Parte B: Os elementos de um sistema eficaz ABC/CFT

Capítulo V: Requisitos para os ordenamentos jurídicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . V-53


A. Criminalização do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo V-54
B. Criminalização do terrorismo e do financiamento do terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . . V-67
C. Apreensão e perda (ou “forfeiture") . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . V-67
D. Tipos de entidades e pessoas abrangidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . V-71
E. Regulamentação e supervisão — Normas de integridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . V-75
F. Leis conformes com a aplicação das Recomendações do GAFI . . . . . . . . . . . . . . . V-78
G. Cooperação entre as autoridades competentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . V-78
H. Investigações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . V-79

Capítulo VI: Medidas preventivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-81


A. Identificação de clientes e vigilância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-82
B. Requisitos de conservação de documentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-96
C. Comunicação de operações suspeitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-98
D. Comunicação de operações em numerário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-104
E. Equilíbrio entre as leis da privacidade e os
requisitos de comunicação e divulgação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-106
F. Controlos internos, cumprimento e auditorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-107
G. Regulamentação e supervisão—Normas de integridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-108
H. Pessoas colectivas e entidades sem personalidade jurídica . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-108

Capítulo VII: A Unidade de Informação Financeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-111


A. Definição de Unidade de Informação Financeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-113
B. Funções principais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-114
C. Tipos ou modelos de UIFs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-119
D. Outras funções possíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-124

vi
Índice

E. Organização da UIF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-127


F. Salvaguardas de privacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-129
G. Informações e retorno de informação (feedback) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-132

Capítulo VIII: Cooperação internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII-135


A. Requisitos prévios para uma cooperação internacional eficaz . . . . . . . . . . . . . . VIII-136
B. Princípios gerais de cooperação internacional para o combate
ao branqueamento de capitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII-139
C. Cooperação internacional entre as UIFs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII-140
D. Cooperação internacional entre autoridades de supervisão financeira . . . . . . VIII-142
E. Cooperação internacional entre autoridades policiais e judiciárias . . . . . . . . . . VIII-145
F. Considerações para infracções fiscais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII-147

Capítulo IX: Combate ao financiamento do terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-149


A. Ratificação e aplicação de instrumentos da Organização das Nações Unidas . . IX-150
B. Criminalização do financiamento do terrorismo e
do branqueamento de capitais associado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-152
C. Congelamento e perda de bens relacionados com o terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . IX-153
D. Comunicação de operações suspeitas relativas ao terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . . IX-155
E. Cooperação internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-156
F. Sistemas alternativos de remessa de fundos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-157
G. Transferências electrónicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-159
H. Organizações sem fins lucrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-160
I. Transportadores de numerário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-161
J. Questionário de auto-avaliação sobre o financiamento do terrorismo . . . . . . . . . . IX-165

Parte C: O papel do Banco Mundial e do Fundo Monetário


Internacional
Capítulo X: Iniciativas do Banco Mundial e do
Fundo Monetário Internacional para o combate
ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo . . . . . . . . . . . . X-167
A. Aumentar o conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . X-169
B. Elaboração de uma metodologia universal de avaliação ABC/CFT . . . . . . . . . . . . . X-171
C. Desenvolvimento de capacidades institucionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . X-172
D. Investigação e análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . X-175

vii
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Anexos
I. Sítios de organizações-chave, instrumentos jurídicos e iniciativas . . . . . Anexo I-179
II. Outros sítios e fontes de informação úteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo II-187
III. Convenções Contra o Terrorismo da Organização das
Nações Unidas referidas na Convenção Internacional para
a Eliminação do Financiamento do Terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo III-189
IV. As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de
Capitais do Grupo de Acção Financeira e as Notas Interpretativas . . . . Anexo IV-191
V. As Recomendações Especiais sobre o Financiamento
do Terrorismo do Grupo de Acção Financeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo V-225
VI. Notas Interpretativas e Notas de Orientação relativas às
Recomendações Especiais sobre o Financiamento do
Terrorismo e o Questionário de Auto-Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo VI-229
VII. Referência cruzada das Quarenta Recomendações
no Guia de Referência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo VII-1
VIII. Referência cruzada das Recomendações Especiais
no Guia de Referência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo VIII-267

Diagramas
Os Processos do Branqueamento de Capitais e do Financiamento do Terrorismo . . . . . . I-8

viii
Prefácio

A s tentativas de branqueamento de capitais e de financiamento do terro-


rismo têm vindo a evoluir rapidamente nos últimos anos como resposta
directa ao aumento das medidas destinadas ao seu combate. A comunidade
internacional tem sido testemunha da utilização de métodos cada vez mais
sofisticados para movimentar fundos ilícitos através dos sistemas financeiros
em todo o mundo e reconhece a necessidade de melhorar a cooperação multi-
lateral para combater estas actividades criminosas.
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional elaboraram esta
segunda edição do Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de
Combate ao Financiamento do Terrorismo com o fim de auxiliar os países a
entender os novos padrões internacionais. Espera-se que o Guia de Referência
sirva como fonte única e abrangente de informações práticas para que os
países combatam o branqueamento de capitais e o financiamento do terroris-
mo. Nele são analisados os problemas causados por estes crimes, as acções
específicas que os países devem tomar para os enfrentarem e o papel que as
organizações internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional, desempenham neste processo.
Oferecemos esta nova versão como um utensílio para que os países esta-
beleçam e melhorem os seus Sistemas jurídicos e institucionais e as suas medi-
das preventivas em conformidade com as novas normas e melhores práticas
internacionais. Esta segunda edição do Guia de Referência e do Suplemento
sobre a Recomendação especial IX será também traduzida para árabe, chinês,
espanhol, francês, português e russo para melhor servir uma mais vasta audi-
ência .
Considerando que as tendências e técnicas de branqueamento de capitais
e de financiamento do terrorismo, assim como a correspondente resposta
internacional, evoluem, pretendemos manter o Guia de Referência sob revi-
são, actualizando-o sempre que necessário. Agradecemos o seu feedback e
todas as recomendações que possam servir para conferir a este Guia uma
maior utilidade.

Margery Waxman R. Barry Johnston Jean-François Thony


Directora de Programa e Director Adjunto Assessor Geral Adjunto
Assessora Principal Departamento de Sistemas Departamento Jurídico
Integridade dos Mercados Monetários e Financeiros Fundo Monetário
Financeiros Fundo Monetário Internacional
Banco Mundial Internacional

ix
Agradecimentos

E sta publicação foi escrita por Paul Allan Schott, Consultor junto da
Unidade de Integridade dos Mercados Financeiros, do Sector Financeiro
do Banco Mundial. O autor está especialmente grato a Margery Waxman,
Directora, Integridade do Mercados Financeiros, Banco Mundial, pelo seu
apoio, encorajamento e paciência na elaboração da primeira e segunda edição
deste Guia de Referência.
O autor agradece aos seus colegas do Banco Mundial e do Fundo
Monetário Internacional pela disponibilidade na leitura das diversas versões
preliminares da primeira edição e pelos conselhos e opiniões que deram,
com base nos seus trabalhos para o desenvolvimento e a aplicação do pro-
grama conjunto do Banco Mundial/Fundo Monetário Internacional para o
combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo:
John Abbott, Maud Julie Bokkerink, Pierre-Laurent Chatain, Alain Damais,
Ross Delston, Gabriella Ferencz, Ted Greenberg, Raul Hernandez Coss,
Barry Johnston, Nadim Kyriakos-Saad, Samuel Maimbo, John McDowell,
Bess Michael, Michael Moore, Pramita Moni Sengupta, Takashi Miyahara,
Thomas Rose, Heba Shams, Jean-François Thony e Cari Votava.
O autor agradece em particular a Joseph Halligan pelo seu traba-
lho de actualização do Guia de Referência para incluir a revisão das 40
Recomendações do GAFI e a Metodologia. Finalmente, o autor não poderia
ter elaborado esta abrangente segunda edição sem o trabalho de membros
dos quadros do Banco Mundial, que ajudaram a organizar meticulosamente
o material, a verificar todas as referências e a fazer com que esta publica-
ção se tornasse uma realidade: Oriana Bolvaran, Nicolas de la Riva, Martín
Joseffson, Amanda Larson, Annika Lindgren, Maria Orellano, James Quigley,
Dafna Tapiero, Emiko Todoroki e Tracy Tucker.
Finalmente, o autor agradece também a António Folgado, do GRIEC
- Ministério da Justiça de Portugal e a Maria Célia Ramos, do Departamento
Jurídico - Banco de Portugal, pelo apoio na meticulosa revisão da tradução
para língua portuguesa do Guia de Referência.

xi
Abreviaturas e acrónimos

ABC Anti-branqueamento de capitais


AISS Associação Internacional dos
Supervisores de Seguros
As Quarenta Recomendações As Quarenta Recomendações sobre o
Branqueamento de Capitais do GAFI
AT Assistência Técnica
Banco Grupo do Banco Mundial
BCCI Bank Internacional de Crédito e Comércio
CFO Centro Financeiro Off-shore
CFT Combate ao financiamento do terrorismo
Comité de Basileia Comité de Basileia de Supervisão Bancária
Convenção de Estrasburgo Convenção Relativa ao Branqueamento,
Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do
Crime (1990)
Convenção de Palermo Convenção das Nações Unidas contra a
Criminalidade Organizada Transnacional (2000)
Convenção de Viena Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico
Ilícito de Estupefacientes e de Substâncias
Psicotrópicas (1988)
COS Comunicações de operações suspeitas
CSC “Conheça o seu cliente”
CTC Comité de Combate ao Terrorismo do Conselho
de Segurança das Nações Unidas
EAP Estratégia de Assistência ao País
FMI Fundo Monetário Internacional
Fundo Fundo Monetário Internacional

xiii
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

GABCAOA Grupo Anti-Branqueamento de Capitais da África


Oriental e Austral
GAFI Grupo de Acção Financeira sobre o
Branqueamento de Capitais
GAFIC Grupo de Acção Financeira das Caraíbas
GAFISUD Grupo de Acção Financeira da América do Sul
sobre o Branqueamento de Capitais
GAP Grupo Ásia-Pacífico sobre o Branqueamento
de Capitais
Grupo Egmont Grupo Egmont de Unidades de Informação
Financeira
Grupo Wolfsberg Grupo Wolfsberg de Bancos
ME Memorando de entendimento
MONEYVAL Comité Restrito dos Peritos de Avaliação das
Medidas Anti-Branqueamento de Capitais do
Conselho da Europa
OEA Organização dos Estados Americanos
OICV Organização Internacional das Comissões
de Valores
ONU Organização das Nações Unidas
ORTG Organismos Regionais do Tipo GAFI
PC-R-EV Agora conhecido como MONEYVAL
PTNC Países e Territórios Não Cooperantes
RCNC Relatório sobre o Cumprimento de
Normas e Códigos
Recomendações Especiais Nove Recomendações Especiais do GAFI sobre o
Financiamento do Terrorismo
SITFs Sistemas informais de transferência de fundos
UIF Unidade de Informação Financeira
UNSCCTC Comité de Combate ao Terrorismo do Conselho
de Segurança das Nações Unidas

xiv
Introdução:
Como utilizar este Guia de Referência

E sta Segunda Edição do Guia de Referência tem por finalidade servir


como uma fonte única e abrangente de informação para os países que
pretendam criar ou aperfeiçoar os seus sistemas jurídicos e institucionais des-
tinados ao combate ao branqueamento de capitais (ABC) e ao combate ao
financiamento do terrorismo (CFT). Esta problemática tem vindo a adquirir
uma relevância crescente numa economia global em que os fundos podem ser
fácil e imediatamente transferidos de uma instituição financeira para outra,
incluindo transferências para instituições em diferentes países. A comunida-
de internacional está confiante de que todos os países estabeleçam regimes
eficazes ABC/CFT com capacidade para serem bem sucedidos na prevenção,
detecção e repressão do branqueamento de capitais e do financiamento do
terrorismo, combatendo, por esta via, as consequências económicas e sociais
devastadoras resultantes destas actividades criminosas.
A parte A deste Guia de Referência descreve o problema do branquea-
mento de capitais e do financiamento do terrorismo, as suas consequências
negativas e as vantagens de um regime eficaz. Identifica ainda os organismos
internacionais que definem padrões relevantes e discute as suas iniciativas
específicas e instrumentos destinados a combater estas actividades.
A parte B descreve os diversos elementos que integram um sistema jurí-
dico e institucional abrangente ABC e CFT para qualquer país. Cada um
destes componentes foi instituído pelo Grupo de Acção Financeira sobre o
Branqueamento de Capitais (GAFI) e as outras organizações internacionais
emitentes de normas-padrão e cada um dos elementos é essencial para um
regime abrangente e eficaz. Esta parte do Guia de Referência constitui uma
abordagem progressiva para alcançar o cumprimento das normas internacio-
nais, embora não imponha os métodos ou acções específicas que devem ser
adoptados. Em vez disso, levanta as questões que devem ser abordadas e dis-
cute as opções de que os países dispõem para resolver estes problemas.
A parte C descreve o papel do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional (FMI) no esforço global e na coordenação da assistência técnica

xv
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

disponível para os países, com o fim de os ajudar a alcançar o cumprimento


dos padrões internacionais.
Cada capítulo inclui uma análise completa sobre os tópicos nele abrangi-
dos (embora sejam feitas referências a análises pertinentes noutros capítulos)
com referências detalhadas a antecedentes e materiais de fontes originais.
Os anexos I, II e III apresentam citações completas de materiais de referên-
cia que são usados no Guia de Referência ou que são, de qualquer forma,
úteis a um país na abordagem das inúmeras questões difíceis associadas ao
ABC e CFT. Para facilitar a tarefa, os Anexos IV e V incluem novamente as
normas internacionais aprovadas pelo GAFI, respectivamente as Quarenta
Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais (revistas em 2003), o
Glossário e Notas Interpretativas e as Nove Recomendações Especiais sobre
o Financiamento do Terrorismo. O Anexo VI inclui as Notas Interpretativas e
as Notas de Orientação do GAFI relativas às Recomendações Especiais sobre
o Financiamento do Terrorismo e o Questionário de Auto-Avaliação para os
países relativo ao financiamento do terrorismo. Finalmente, os Anexos VII e
VIII incluem referências cruzadas das Recomendações do GAFI nas discussões
do Guia de Referência.
Quando um país avalia o seu sistema jurídico e institucional ABC e de
CFT, pode optar por utilizar, como a sua própria lista de verificação e meca-
nismo de auto-avaliação, a Metodologia Abrangente ABC/CFT mencionada
no Capítulo X. Esta é a mesma Metodologia utilizada pelo GAFI, pelos
organismos regionais do tipo GAFI, pelo Banco e pelo FMI na realização de
avaliações dos seus próprios membros ou de outros países.

xvi
Capítulo I

Branqueamento de capitais e
financiamento do terrorismo:
Definições e explicações
A. O que é o branqueamento de capitais? E. Os processos
B. O que é o financiamento do terrorismo? 1. Colocação
2. Acumulação
C. A ligação entre o branqueamento de capitais 3. Integração
e o financiamento do terrorismo. F. Onde ocorrem o branqueamento de capitais
D. A magnitude do problema e o financiamento do terrorismo?
G. Métodos e tipologias

P ara a maioria dos países, o branqueamento de capitais e o financiamen-


to do terrorismo colocam questões importantes relativas à prevenção, à
detecção e ao procedimento penal. As sofisticadas técnicas utilizadas para
branquear capitais e para financiar o terrorismo contribuem para aumentar
a complexidade destas questões. Estas técnicas são sofisticadas ao ponto de
envolverem diferentes tipos de instituições financeiras; múltiplas operações
financeiras; intermediários, tais como consultores financeiros, contabilistas,
empresas de fachada e outros prestadores de serviços; transferências para,
através de e provenientes de diferentes países; e diversos instrumentos finan-
ceiros e outros tipos de activos que podem acumular dividendos. Não obstan-
te, o branqueamento de capitais é, fundamentalmente, um conceito simples.
Trata-se do processo pelo qual os produtos de uma actividade criminosa são
dissimulados para ocultar a sua origem ilícita. Em suma, o branqueamento de
capitais envolve os produtos derivados de bens obtidos de forma criminosa e
não propriamente esses bens.
O financiamento do terrorismo também é um conceito fundamentalmen-
te simples. É o apoio financeiro, por qualquer meio, ao terrorismo ou àqueles

I-
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

que incentivam, planeiam ou cometem actos de terrorismo. No entanto, é


mais difícil definir o conceito de terrorismo, pois o termo pode ter implica-
ções importantes de natureza política, religiosa e nacional de um país para
outro. O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo apre-
sentam muitas vezes características operacionais semelhantes relacionadas,
na sua maioria, com a ocultação e a dissimulação.
Os branqueadores de capitais enviam fundos ilícitos através de canais
legais com o objectivo de ocultar a sua origem criminosa, enquanto os finan-
ciadores do terrorismo transferem fundos, que podem ter origem lícita ou
ilícita, de modo a ocultar a sua origem e uso final, que se traduz no apoio ao
terrorismo. Mas o resultado é o mesmo — a recompensa.
Quando os capitais são branqueados, os criminosos lucram com as suas
acções; são recompensados ao ocultar o acto criminoso que gera os produtos
ilícitos e ao dissimular as origens do que aparentam ser produtos legítimos.
Da mesma forma, aqueles que financiam o terrorismo são recompensados ao
ocultar as origens dos seus fundos e ao dissimular o apoio financeiro à execu-
ção dos seus estratagemas e ataques terroristas.

A. O que é o branqueamento de capitais?

O branqueamento de capitais pode ser definido de várias maneiras. A maio-


ria dos países partilha a definição adoptada pela Convenção das Nações
Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas
(1988) (Convenção de Viena)1 e pela Convenção das Nações Unidas contra a
Criminalidade Organizada Transnacional (2000) (Convenção de Palermo):2
• A conversão ou a transferência de bens, quando o autor tem o conhe-
cimento de que esses bens são provenientes de qualquer infracção ou
infracções [de tráfico de drogas] ou da participação nessa ou nessas
infracções, com o objectivo de ocultar ou dissimular a origem ilícita
desses bens ou de ajudar qualquer pessoa envolvida na prática dessa
ou dessas infracções a furtar-se às consequências jurídicas dos seus
actos;
• A ocultação ou a dissimulação da verdadeira natureza, origem, loca-
lização, disposição, movimentação, propriedade de bens ou direitos a
eles relativos, com o conhecimento de que provêm de uma infracção

1. http://www.incb.org/e/conv/1988/.
2. http://www.undcp.org/adhoc/palermo/convmain.html.

I-
Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definições e explicações

ou infracções ou da participação nessa ou nessas infracções; e


• A aquisição, a detenção ou a utilização de bens, com o conhecimento,
no momento da sua recepção, de que provêm de qualquer infracção ou
infracções ou da participação nessa ou nessas infracções.3

O Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de Capitais


(GAFI), que é reconhecido como a organização internacional que define
os padrões normativos para as iniciativas anti-branqueamento de capitais
(ABC),4 define o conceito de “branqueamento de capitais” de forma concisa,
como “ a utilização e transformação de…produtos do crime para dissimular
a sua origem ilícita” com o objectivo de “legitimar” os proventos resultantes
da actividade criminosa.5
A infracção subjacente ao branqueamento de capitais é a actividade cri-
minosa que lhe está associada, que gera os produtos, os quais, quando bran-
queados, constituem o crime de branqueamento de capitais. Nos seus termos,
a Convenção de Viena limita as infracções subjacentes às infracções de tráfico
de drogas. Como consequência, os crimes não relacionados com o tráfico
de drogas, como por exemplo a fraude, o rapto e o furto, não constituem
infracções de branqueamento de capitais nos termos da Convenção de Viena.
Todavia, com o passar do tempo, a comunidade internacional chegou à con-
clusão de que as infracções subjacentes ao branqueamento de capitais deve-
riam ir mais além do tráfico de drogas. Assim, o GAFI e outros instrumentos
internacionais ampliaram a definição utilizada na Convenção de Viena para
as infracções subjacentes, incluindo outros crimes graves.6 Por exemplo, a
Convenção de Palermo exige a todos os Estados Partes a aplicação da infrac-
ção de branqueamento de capitais, conforme definida na Convenção, ao
“maior número possível de infracções subjacentes”.7
Nas suas 40 Recomendações para o combate ao branqueamento de
capitais (As Quarenta Recomendações), o GAFI incluiu especificamente as
definições técnicas e jurídicas de branqueamento de capitais, estabelecidas nas
Convenções de Viena e Palermo, e listou 20 categorias de infracções designa-
das que devem ser incluídas como infracções subjacentes ao branqueamento
de capitais.8

3. Ver Convenção de Viena, artigos 3.° (b) e (c)(i); e Convenção de Palermo, artigo 6.° (i).
4. Ver o Capítulo III, B., GAFI.
5. GAFI, Perguntas Frequentes, O que é o branqueamento de capitais? http://www.fatf-gafi.org/
document/29/0,2340,en_32250379_32235720_33659613_1_1_1_1,00.html#Whatismoneylaun
dering.
6. Ver a discussão no Capítulo V, A., 2., Âmbito da infracção subjacente.
7. A Convenção de Palermo, Artigo 6.° no 2 a), http://www.undcp.org/adhoc/palermo/convmain.
html.
8. As Quarenta Recomendações, Rec. 1; http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF.
Ver também o Capítulo V, A., Criminalização do branqueamento de capitais, neste Guia de
Referência.

I-
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

B. O que é o financiamento do terrorismo?

A Organização das Nações Unidas (ONU) realizou numerosos esforços, na


sua maioria na forma de tratados internacionais, para combater o terroris-
mo e os mecanismos utilizados para o seu financiamento. Mesmo antes do
ataque de 11 de Setembro aos Estados Unidos, a ONU já havia adoptado a
Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo
(1999), a qual estipula que:

1. Comete uma infracção, nos termos da presente Convenção, quem, por


quaisquer meios, directa ou indirectamente, ilegal e deliberadamen-
te, fornecer ou reunir fundos com a intenção de serem utilizados ou
sabendo que serão utilizados, total ou parcialmente, tendo em vista a
prática:
a. De um acto que constitua uma infracção compreendida no âmbito
de um dos tratados enumerados no anexo e tal como aí definida;
ou
b. De qualquer outro acto destinado a causar a morte ou ferimentos
corporais graves num civil ou em qualquer pessoa que não participe
directamente nas hostilidades numa situação de conflito armado,
sempre que o objectivo desse acto, devido à sua natureza ou con-
texto, vise intimidar uma população ou obrigar um governo ou
uma organização internacional a praticar ou a abster-se de praticar
qualquer acto.
2. ...
3. Para que um acto constitua uma das infracções previstas no n.o 1, não
é necessário que os fundos tenham sido efectivamente utilizados para
cometer a infracção contemplada nas alíneas a) ou b) do n.o 1.9

A dificuldade para certos países consiste em definir o terrorismo. Nem


todos os países que adoptaram a Convenção concordam sobre quais os
actos que devem ser considerados como terrorismo. O significado de terro-
rismo não é aceite universalmente tendo em conta as suas importantes impli-

9. Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (1999), Artigo


2.°, http://www.un.org/law/cod/finterr.htm. As Convenções mencionadas no anexo na alínea a)
do n.° 1 estão identificadas no Anexo III deste Guia de Referência.

I-
Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definições e explicações

cações políticas, religiosas e nacionais, que diferem de país para país.


O GAFI, que é reconhecido também como a organização internacional
que define padrões normativos para as iniciativas de combate ao financia-
mento do terrorismo (CFT),10 não define especificamente o conceito “finan-
ciamento do terrorismo” nas suas nove Recomendações Especiais sobre o
Financiamento do Terrorismo (Recomendações Especiais)11 , elaboradas
após os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001. Não obstante, o GAFI
recomenda aos países que ratifiquem e apliquem a Convenção Internacional
das Nações Unidas para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo, de
1999.12 Assim, a definição acima mencionada é a que foi adoptada pela
maioria dos países para definir o financiamento do terrorismo.

C. A ligação entre o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo.

As técnicas utilizadas para branquear capitais são essencialmente as mesmas


utilizadas para ocultar as origens e os fins do financiamento do terrorismo.
Os fundos utilizados para apoiar o terrorismo podem ter origem em fontes
legítimas, em actividades criminosas ou em ambas. De qualquer forma, é
importante dissimular a fonte do financiamento do terrorismo, quer esta
seja lícita quer ilícita. Se for possível ocultar a fonte, esta continua disponí-
vel para actividades de financiamento do terrorismo no futuro. Da mesma
forma, para os terroristas, é igualmente importante ocultar a utilização dos
fundos, para que a actividade de financiamento continue sem ser detectada.
Por estas razões, o GAFI recomendou que todos os países criminali-
zem o financiamento do terrorismo, de actos terroristas e das organizações
terroristas,13 e que considerem tais infracções como infracções subjacentes ao
branqueamento de capitais.14 Finalmente, o GAFI determinou que as nove
Recomendações Especiais, juntamente com as Quarenta Recomendações
sobre o branqueamento de capitais,15 constituem a estrutura básica para a
prevenção, a detecção e a eliminação do branqueamento de capitais e do
financiamento do terrorismo.
Para combater o financiamento do terrorismo, é necessário também que

10. Ver o Capítulo III, B., GAFI.


11. As Recomendações Especiais estão reproduzidas no Anexo V deste Guia de Referência.
12. Id., em Rec. Espec. I.
13. Id., em Rec. Espec. II.
14. Id.
15. Id., no parágrafo introdutório.

I-
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

os países considerem tornar mais abrangentes as respectivas estruturas ABC,


para incluir as organizações sem fins lucrativos, sobretudo as instituições de
caridade, para assegurar que estas organizações não sejam utilizadas, directa
ou indirectamente, para financiar ou apoiar o terrorismo.16 As iniciativas de
CFT exigem também uma análise dos sistemas alternativos de transmissão ou
de remessa de fundos, como os hawalas. Este esforço deve incluir uma análise
das medidas a tomar para impedir a utilização destas entidades pelos bran-
queadores de capitais ou pelos terroristas.17
Como já referido, uma diferença significativa entre o branqueamento de
capitais e o financiamento do terrorismo é que os fundos envolvidos podem
ter origem legítima ou ser provenientes de actividades criminosas. Entre as
fontes legítimas podem figurar doações ou contribuições monetárias ou de
outros bens para organizações como fundações ou instituições de caridade
que, por sua vez, as utilizam para apoiar actividades terroristas ou organiza-
ções terroristas. Consequentemente, esta diferença requer leis especiais para
lidar com o financiamento do terrorismo. No entanto, quando os fundos uti-
lizados para financiar o terrorismo têm origem em fontes ilícitas, estes fundos
podem já estar incluídos no sistema ABC do país, dependendo do âmbito das
infracções subjacentes ao branqueamento de capitais.

D. A magnitude do problema

O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, pela sua


própria natureza, estão orientados para o sigilo e não se prestam a análises
estatísticas. Os branqueadores não documentam a amplitude das suas opera-
ções nem divulgam o montante dos lucros; o mesmo ocorrendo com aqueles
que financiam o terrorismo. Além disso, é ainda mais difícil fazer estimativas,
já que estas actividades ocorrem a nível global. Os branqueadores utilizam
vários países para ocultar os seus proventos ilícitos, aproveitando-se das dife-
renças existentes nos respectivos regimes ABC, nos esforços para a aplicação
da lei e na cooperação internacional. Assim, não existem estimativas fiáveis
sobre a magnitude do problema de branqueamento de capitais e de financia-
mento do terrorismo a nível global.
Em relação exclusivamente ao branqueamento de capitais, o Fundo
Monetário Internacional estimou que o valor total dos fundos branqueados

16. Recomendações Especiais, Rec. Esp. VIII.


17. Recomendações Especiais, Rec. Espec. VI.

I-
Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definições e explicações

em todo o mundo pode variar entre 2% e 5% do produto interno bruto


mundial. Com base em estatísticas de 1996, estas percentagens representa-
riam cerca de 590 mil milhões de dólares a 1,5 bilhões de dólares.18 Assim,
seja qual for a estimativa, a gravidade do problema é enorme e merece a
total atenção de cada país.

E. Os processos

A preocupação inicial com o branqueamento de capitais surgiu aquando da


sua primeira ligação com o tráfico ilícito de estupefacientes. O objectivo dos
traficantes de drogas era, regra geral, o de converter pequenas somas em
numerário em contas bancárias, instrumentos financeiros ou outros activos.
Hoje, os proventos ilícitos têm origem numa vasta gama de actividades cri-
minosas, entre elas - a corrupção política, a venda ilegal de armas e o tráfico
ilícito e a exploração de seres humanos. Independentemente da infracção, os
branqueadores de capitais recorrem à colocação, acumulação e integração
no processo de transformar o produto ilícito em fundos ou bens aparente-
mente legítimos.

1. Colocação

O primeiro estádio do processo envolve a colocação no sistema financeiro,


geralmente por intermédio de uma instituição financeira, dos fundos obtidos
de forma ilícita. Uma forma possível é depositar numerário numa conta ban-
cária. Grandes quantias de numerário são divididas em quantidades menores,
menos notórias, e depositadas, ao longo do tempo, em diversas dependências
de uma única instituição financeira ou em várias instituições financeiras. O
câmbio de uma moeda noutra ou a conversão de notas pequenas em notas de
maior denominação podem ocorrer neste estádio. Além disso, os fundos ilíci-
tos podem ser convertidos em instrumentos financeiros, tais como ordens de
pagamento ou cheques, e combinados com fundos legítimos para não causar
suspeitas. Outro método de colocação possível é a compra de valores mobili-
ários ou de contratos de seguros utilizando numerário.

18. Vito Tanzi, “Money Laundering and the International Finance System” [O Branqueamento de
Capitais e o Sistema Financeiro Internacional], IMF Working Paper No. 96/55 (Maio de 1996),
em 3 e 4.

I-
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Os Processos do Branqueamento de Capitais e do Financiamento do Terrorismo

Branqueamento de capitais Financiamento do terrorismo

Bem legítimo
Dinheiro proveniente de $$$$$ $$$$$ ou
um acto criminoso dinheiro proveniente de
um acto criminoso

Sociedadede
Banco
valores
Colocação Colocação
O dinheiro é depositado Os bens são inseridos
em contas no sistema financeiros

Banco Banco

Acumulação Instituição Acumulação


Comp. de
Os fundos são transferidos finan. Os fundos são transferidos
seguros
para outras instituições para não bancária para outras instituições
dissimular a origem para dissimular a origem

Integração Bem legítimo Integração


Os fundos são usados ou distribuição Os fundos são distribuídos
para adquirir bens legítimos para financiar
actividades terroristas

2. Acumulação

O segundo estádio do branqueamento de capitais tem lugar após a entrada


dos proventos ilícitos no sistema financeiro quando os fundos, valores mobi-
liários ou contratos de seguro são convertidos ou movimentados para outras
instituições, distanciando-os ainda mais da sua origem criminosa. Nesta
altura, os fundos podem ser utilizados para comprar outros valores mobiliá-
rios, contratos de seguro ou outros instrumentos de investimento facilmente
transferíveis e, em seguida, vendidos através de outra instituição. Os fundos
podem ser também transferidos por qualquer outra forma de instrumento
negociável, como cheques, ordens de pagamento ou títulos ao portador, ou

I-
Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definições e explicações

ser transferidos electronicamente para outras contas em várias jurisdições. O


branqueador também pode dissimular a transferência como um pagamento
por bens ou serviços ou transferir os fundos para uma empresa de fachada.

3. Integração

O terceiro estádio envolve a integração dos fundos na economia legítima.


Isto é realizado com a compra de bens, como imóveis, valores mobiliários ou
outros activos financeiros e artigos de luxo.
Estes três estádios também estão presentes nos esquemas de financia-
mento do terrorismo, excepto o facto de que o terceiro estádio (a integração)
envolve a distribuição de fundos aos terroristas e às suas organizações de
apoio, enquanto o branqueamento de capitais, como atrás referido, evolui na
direcção oposta — a da integração dos fundos de origem criminosa na econo-
mia legítima.

F. Onde ocorrem o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo?

O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo podem ocor-


rer e ocorrem em qualquer país do mundo, em particular onde os sistemas
financeiros são complexos. Países com infra-estruturas ABC e CFT pouco
rigorosas, ineficazes ou corruptas também se tornam potenciais alvos destas
actividades. Nenhum país se encontra a salvo.
Considerando que as operações financeiras internacionais complexas
podem ser abusivamente utilizadas para facilitar o branqueamento de capitais
e o financiamento do terrorismo, os diversos estádios do branqueamento de
capitais e do financiamento do terrorismo ocorrem em muitos países diferen-
tes. Por exemplo, a colocação, a acumulação e a integração podem ocorrer
em três países distintos. Além disso, uma ou todas as fases podem também
ser retiradas do local originário do crime.

G. Métodos e tipologias

Os capitais podem ser branqueados de várias maneiras, desde o depósito de


pequenas quantias em numerário em contas bancárias sem nenhuma particu-
laridade (para transferência posterior) até à compra e revenda de artigos de

I-
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

luxo, como automóveis, antiguidades e jóias. Os fundos ilícitos podem tam-


bém ser transferidos através de uma série de operações financeiras internacio-
nais complexas. Os branqueadores de capitais são muito criativos — quando
os supervisores detectam um método, os criminosos rapidamente encontram
outro.
As várias técnicas utilizadas para branquear capitais ou financiar o
terrorismo são geralmente denominadas métodos ou tipologias. Os termos
“método” e “tipologia” podem ser utilizados indistintamente, sem qualquer
diferença entre eles. É impossível descrever com precisão, num determinado
momento, o universo dos diversos métodos utilizados pelos criminosos para
branquear capitais ou para financiar o terrorismo. Além disso, é provável
que os seus métodos sejam diferentes de país para país, devido à quantidade
de características e factores únicos de cada país, incluindo a sua economia, a
complexidade dos mercados financeiros, o regime ABC, a eficácia das autori-
dades policiais e o nível de cooperação internacional. Acresce que os métodos
estão em constante mutação.
Além disso, várias organizações internacionais têm produzido excelen-
tes obras de referência sobre os métodos e as técnicas de branqueamento de
capitais. O GAFI tem produzido documentos relativos aos métodos nos seus
relatórios anuais e no seu relatório anual de tipologias.19 Os vários orga-
nismos regionais do tipo GAFI também disponibilizam informação sobre as
várias tipologias detectadas nas respectivas regiões. Para obter informação
mais actualizada sobre os métodos e as tipologias de branqueamento de
capitais, deverá consultar os sítios destas entidades.20 Além destas, o Grupo
Egmont preparou uma compilação de cem casos seleccionados de combate
ao branqueamento de capitais com informação fornecida pelas Unidades de
Informação Financeira que são membros deste organismo.21

19. Ver, por exemplo, Relatório 2003-04 do GAFI sobre as Tipologias de Branqueamento de
Capitais, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/19/11/33624379.PDF, e relatórios anteriores, http://
www.fatf-gafi.org/document/23/0,2340,en_32250379_32237277_34037591_1_1_1_1,00.html.
20. Ver o Capítulo IV para uma discussão dos organismos regionais tipo GAFI.
21. http://www.fincen.gov/fiuinaction.pdf. Ver o Capítulo III, F., O Grupo Egmont.

I-10
Capítulo II

O branqueamento de capitais afecta


o desenvolvimento

A. As consequências negativas para os países B. As vantagens de uma


em desenvolvimento conjuntura eficaz ABC/CFT
1. Aumento do crime e da corrupção 1. Combate ao crime e à corrupção
2. Consequências internacionais e investimento estrangeiro 2. Maior estabilidade para as instituições financeiras
3. Instituições financeiras debilitadas 3. Incentivo ao desenvolvimento económico
4. Economia e sector privado colocados em risco
5. Iniciativas de privatização prejudicadas

O êxito das iniciativas criminosas e das operações de financiamento do


terrorismo depende, em grande medida, do seu sucesso em ocultar as
origens ou as fontes dos fundos e branquear os produtos, movimentando-os
através dos sistemas financeiros nacionais e internacionais. A falta de um
regime anti-branqueamento de capitais ou a sua existência com deficiências
ou corrupção num determinado país oferecem aos criminosos e àqueles que
financiam o terrorismo a oportunidade de actuar, utilizando os seus proven-
tos financeiros para ampliar as suas acções criminosas e promover actividades
ilegais, tais como a corrupção, o tráfico de drogas, o tráfico ilícito e a explo-
ração de seres humanos, o tráfico de armas, o contrabando e o terrorismo.
Embora o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo
possam ocorrer em qualquer país, as suas consequências económicas e sociais
são particularmente significativas nos países em desenvolvimento, já que estes
mercados tendem a ser menores e, assim, mais vulneráveis às influências cri-
minosas e terroristas.
O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo têm tam-
bém consequências económicas e sociais significativas para os países com

II-11
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

sistemas financeiros frágeis, pois estes também são susceptíveis de ser pertur-
bados por estas influências. A economia, a sociedade e, em última instância,
a segurança dos países utilizados como plataformas para o branqueamento
de capitais ou para o financiamento do terrorismo1 são todas colocadas em
perigo. Todavia, é difícil avaliar a magnitude destas consequências adversas,
pois os impactos negativos não podem ser quantificados com precisão, quer
em termos gerais para a comunidade internacional, quer para qualquer país
específico.
Por outro lado, um sistema eficaz anti-branqueamento de capitais (ABC)
e de combate ao financiamento do terrorismo (CFT) oferece benefícios impor-
tantes para o país, quer a nível nacional quer internacional. Entre estes bene-
fícios destacam-se níveis mais baixos de criminalidade e de corrupção, maior
estabilidade das instituições financeiras e dos mercados, impactos positivos
sobre o desenvolvimento económico e a reputação nacional na comunidade
mundial, melhores técnicas de gestão de risco para as instituições financeiras
do país e maior integridade do mercado.

A. As consequências negativas para os países em desenvolvimento

1. Aumento do crime e da corrupção

O sucesso do branqueamento de capitais ajuda a rentabilizar as actividades


criminosas: é uma recompensa para os criminosos. Assim, sempre que um
país seja considerado um paraíso para o branqueamento de capitais, é pro-
vável que atraia os criminosos e promova a corrupção. Os paraísos para o
branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo apresentam:

• Um regime frágil ABC/CFT;


• Muitos ou alguns tipos de instituições financeiras não abrangidos pelo
sistema ABC/CFT;
• Uma aplicação limitada, fragilizada ou selectiva das disposições ABC/
CFT;
• Sanções ineficazes, incluindo disposições que tornam difícil a declara-
ção de perda; e

1. Para uma análise detalhada dos efeitos económicos negativos do branqueamento de capitais,
ver Brent L. Bartlett, “Negative Effects of Money Laundering on Economic Development” [Os
Efeitos Negativos do Branqueamento de Capitais sobre o Desenvolvimento Económico] (um
Relatório de Investigação Económica elaborado para o Banco Asiático de Desenvolvimento,
Junho de 2002). Ver também John McDowell e Gary Novis, “Economic Perspectives”
[Perspectivas Económicas], Departamento de Estado dos Estados Unidos (Maio de 2001).

II-12
O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

• Um número limitado de infracções subjacentes ao branqueamento de


capitais.

Quando o branqueamento de capitais é frequente num país, dá origem a


mais crime e corrupção. Também faz aumentar práticas de suborno, pontos
de passagem críticos para o sucesso das tentativas de branqueamento de capi-
tais, tais como:

• Os funcionários e a direcção das instituições financeiras,


• Advogados e contabilistas,
• Legisladores,
• Autoridades de aplicação da lei,
• Autoridades de supervisão,
• Autoridades policiais,
• Ministério Público, e
• Tribunais.

Por outro lado, um sistema abrangente e eficaz ABC/CFT, em conjunto


com uma execução oportuna e uma aplicação eficaz da lei, reduzem signi-
ficativamente os aspectos rentáveis desta actividade criminosa, desencora-
jando assim os criminosos e os terroristas a utilizar um país. Isto é espe-
cialmente verdadeiro quando os produtos das actividades criminosas são
eficazmente declarados perdidos como parte integrante do sistema jurídico
ABC/CFT de um país.

O facto de um país ser considerado um paraíso de branqueamento de capi-


tais ou de financiamento do terrorismo pode, por si só, ter consequências
negativas importantes para o seu desenvolvimento. As instituições financeiras
estrangeiras podem optar por limitar as suas operações com as instituições
situadas em paraísos de branqueamento de capitais; sujeitar estas operações
a um exame mais detalhado, aumentando os seus custos; ou simplesmente
fazer cessar quaisquer relações de correspondência ou de concessão de crédi-
to. Até os negócios e as empresas legítimas situadas em paraísos de branque-
amento de capitais podem ser afectados pela redução do acesso aos mercados
mundiais ou pelo aumento dos custos nesse acesso em consequência do
exame mais detalhado sobre a titularidade, a organização e os sistemas de
controlo.
Qualquer país conhecido pela falta de rigor na aplicação do regime
ABC/CFT terá uma menor probabilidade de receber investimentos privados

II-13
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

estrangeiros. No caso das nações em desenvolvimento, a elegibilidade para


receber apoio de governos estrangeiros provavelmente será também seriamen-
te restringida
Além disso, o Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de
Capitais (GAFI) mantém uma lista de países que não cumprem os requisitos
ABC ou não cooperam suficientemente na luta contra o branqueamento de
capitais. A inclusão nesta lista, conhecida como lista de “países e territórios
não cooperantes” (PTNC),2 revela publicamente que o País referido não tem
sequer em vigor os padrões mínimos. Além dos impactos negativos aqui men-
cionados, os países membros do GAFI podem também individualmente impor
medidas específicas contra um país que não tome providências para corrigir
as suas deficiências ABC/CFT.3

O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo podem pre-


judicar a solidez do sector financeiro de um país, bem como a estabilidade
das instituições financeiras individuais, de várias formas. A apreciação que
se segue centra-se nas instituições bancárias, embora as mesmas consequên-
cias ou semelhantes possam aplicar-se também a outros tipos de instituições
financeiras, tais como sociedades de valores mobiliários, companhias segura-
doras e sociedades de investimento. As consequências negativas, geralmente
consideradas como riscos de reputação, operacionais, legais e de concentra-
ção, estão relacionadas. Cada um destes riscos tem os seus custos específicos:

• Perda de negócios lucrativos,


• Problemas de liquidez causados pela retirada de fundos,
• Cancelamento de acordos de correspondência bancária,
• Custos de investigação e multas,
• Apreensão de activos,
• Prejuízos em empréstimos, e
• Diminuição do valor das acções das instituições financeiras.4

O risco de reputação traduz-se no potencial que a publicidade negativa


das práticas de negócio e associações de um banco, seja ou não verdadeira,
causa uma perda de confiança na integridade da instituição.5 Os clientes,

2. Ver o Capítulo III, GAFI, A Lista PTNC.


3. Id.
4. Comité de Basileia de Supervisão Bancária, Customer due diligence for banks [Medidas de
vigilância relativas à clientela no que respeita aos bancos], (Outubro de 2001), parágrafos 8 a
17, http://www.bis.org/publ/bcbs85.pdf.
5. Id., parágrafo 11.

II-14
O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

tanto os tomadores de empréstimos como os depositantes e os investidores,


deixam de fazer negócios com uma instituição cuja reputação tenha sido
prejudicada por suspeitas ou alegações de branqueamento de capitais ou de
financiamento do terrorismo.6 A perda de tomadores de empréstimos de alta
qualidade reduz a rentabilidade das operações de crédito e aumenta o risco
da carteira de crédito. Os depositantes podem também retirar os seus fundos,
reduzindo, por esta via, uma fonte de financiamento de baixo custo para o
banco.
Além disso, os fundos depositados por branqueadores de capitais num
banco não oferecem estabilidade como fonte de financiamento. Enormes
montantes de fundos branqueados são muitas vezes levantados inesperada-
mente de uma instituição financeira através de transferências electrónicas ou
de outro tipo, causando potenciais problemas de liquidez.
O risco operacional traduz o potencial de prejuízo derivado da insufici-
ência ou deficiência dos procedimentos internos, da actuação de funcionários,
dos sistemas ou de acontecimentos externos.7 Como já foi referido, estes
prejuízos verificam-se quando as instituições incorrem em custos mais eleva-
dos pelos serviços interbancários ou de correspondência bancária, ou quando
estes serviços são reduzidos ou cancelados. O aumento do custo dos emprésti-
mos ou dos financiamentos pode também ser incluído nestes prejuízos.
O risco de natureza legal traduz o potencial de prejuízo decorrente de
acções judiciais, sentenças desfavoráveis, contratos não cumpridos, multas e
sanções que dão origem a despesas acrescidas para a instituição ou mesmo
ao seu encerramento.8 O branqueamento de capitais envolve criminosos em
quase todos os aspectos do processo. Consequentemente, os clientes legítimos
podem também tornar-se vítimas de um crime financeiro, perder dinheiro
e processar a instituição para serem ressarcidos dos prejuízos sofridos. É
possível que as autoridades bancárias ou policiais realizem investigações,
provocando outras despesas, além das eventuais multas ou outras sanções
correspondentes. Além disso, certos contratos poderão não ser susceptíveis de
cumprimento, por terem sido fraudulentamente celebrados pelo cliente crimi-
noso.
O risco de concentração traduz o potencial de perda resultante da expo-
sição excessiva na concessão de créditos ou empréstimos concedidos a um só
cliente.9 As disposições estatutárias ou regulamentares limitam, geralmente, o

6. Id.
7. Id., parágrafo 12.
8. Id., parágrafo 13.
9. Id., parágrafo 14.

II-15
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

grau de exposição de um banco a um único devedor ou grupo de devedores


relacionados. A falta de informação sobre um determinado cliente, os seus
negócios ou a sua relação com outros devedores, pode colocar o banco numa
situação de risco neste aspecto. Esta situação é especialmente preocupante
quando existem contrapartes relacionadas, devedores conjuntos e uma fonte
comum de rendimentos ou activos para a liquidação dos compromissos.
Podem ainda resultar prejuízos de contratos insusceptíveis de cumprimento
ou de contratos celebrados com pessoas fictícias.
Os bancos e os seus depositantes estão protegidos quando são aplicados
regimes eficazes de vigilância da clientela.10 A identificação dos beneficiários
efectivos de uma conta é um aspecto crucial para um regime eficaz ABC/CFT.
Estes procedimentos de identificação oferecem uma protecção contra relações
comerciais com pessoas singulares ou colectivas fictícias, sem um património
considerável, tais como empresas de fachada, e contra criminosos ou terroris-
tas conhecidos. Os procedimentos de vigilância também ajudam a instituição
financeira a compreender a natureza dos interesses comerciais do cliente e as
questões financeiras subjacentes.

Os branqueadores de capitais são conhecidos por utilizar “empresas de


fachada”, por exemplo empresas comerciais que aparentam ser legítimas e
participar em negócios legítimos, mas que na realidade são controladas por
criminosos.
Estas empresas de fachada misturam os fundos ilícitos com fundos legí-
timos para encobrir os proventos ilícitos. O acesso das empresas de fachada
aos fundos ilícitos permite-lhes subsidiar os seus produtos e serviços, ofe-
recendo-os a preços até inferiores aos do mercado. Como consequência, as
empresas legítimas têm dificuldade em competir com estas empresas de facha-
da, cujo único fim é preservar e proteger os fundos ilícitos, e não propriamen-
te gerar lucros.
Ao utilizar empresas de fachada e outros investimentos em empresas
legítimas, os produtos do branqueamento de capitais podem ser utilizados
para controlar indústrias ou alguns sectores da economia em certos países. As
distorções artificiais nos preços de bens e de mercadorias originam uma dis-
tribuição indevida dos recursos, aumentando a possibilidade de instabilidade
monetária e económica.11 O fenómeno cria também uma via de evasão fiscal,
privando assim o país destas receitas.

10. Ver o Capítulo VI, Identificação de clientes e vigilância.


11. John McDowell e Gary Novis, Economic Perspectives
[Perspectivas Económicas], Departamento de Estado dos
EUA, Maio de 2001.

II-16
O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

Os branqueadores de capitais ameaçam os esforços de muitos países para


reformar as suas economias através das privatizações.12 Estas organizações
criminosas têm a capacidade de oferecer propostas superiores às de compra-
dores legítimos de antigas empresas públicas. Quando os produtos ilícitos
são investidos desta forma, os criminosos aumentam o seu potencial para a
prática de outras actividades criminosas e de corrupção, e de privar o país
do que deveria ser uma empresa legítima, a operar no mercado e pagando os
seus impostos.

B. As vantagens de uma conjuntura eficaz ABC/CFT

1. Combate ao crime e à corrupção

Um sólido sistema institucional ABC/CFT, que inclua um amplo leque de


infracções subjacentes ao branqueamento de capitais, ajuda a combater o
crime e a corrupção em geral.13 A tipificação do branqueamento de capitais
como crime proporciona outro meio para perseguir os criminosos, quer os
que praticam os crimes subjacentes quer os que os auxiliam a branquear os
fundos obtidos de forma ilegal. Da mesma forma, um sistema ABC/CFT que
inclua o suborno como uma infracção subjacente e que seja eficaz reduz as
oportunidades de os criminosos subornarem ou mesmo corromperem os fun-
cionários públicos.
Um regime eficaz ABC constitui, em si mesmo, um obstáculo para as pró-
prias actividades criminosas. Tal regime cria dificuldades para os criminosos
retirarem benefícios dos seus actos. Neste sentido, a perda dos produtos do
branqueamento de capitais é crucial para o êxito de qualquer programa ABC.
A perda dos bens ou produtos do branqueamento de capitais elimina completa-
mente estes lucros, reduzindo o incentivo à prática de actos criminosos. Assim,
é óbvio que quanto mais alargado for o âmbito das infracções subjacentes ao
branqueamento de capitais, maior será o potencial benefício.

2. Maior estabilidade para as instituições financeiras

A confiança do público nas instituições financeiras e, portanto a sua esta-


bilidade, é reforçada com práticas bancárias sólidas, que reduzam os riscos

12. Id.
13. Ver o Capítulo I, O que é o branqueamento de capitais; ver também o Capítulo V, Alcance da
infracção subjacente.

II-17
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

financeiros das suas operações. Estes riscos incluem o potencial de perda em


que os indivíduos ou as instituições financeiras, poderem Incorrer devido a
resultado de fraude ocasionada directamente por uma actividade criminosa,
de falta de rigor nos controlos internos ou da violação de leis e regulamentos.
Os procedimentos de identificação de clientes e de diligência devida, tam-
bém conhecidos como regras “conheça o seu cliente” (CSC), fazem parte de
um regime eficaz ABC/CFT. Estas normas, além de coerentes com o funciona-
mento sólido e seguro dos bancos e de outros tipos de instituições financeiras,
permitem também o seu reforço. Estas políticas e procedimentos constituem
um utensílio eficaz de gestão de riscos. Por exemplo, quando uma determi-
nada pessoa singular ou colectiva é proprietária de vários negócios aparente-
mente constituídos como entidades distintas e a instituição possui um amplo
conhecimento das operações do cliente em virtude dos procedimentos CSC,
a instituição pode limitar a sua exposição ao devedor e, dessa forma, o seu
risco de crédito. Tendo em conta os benefícios da gestão de risco dos procedi-
mentos CSC, o Comité de Basileia de Supervisão Bancária inclui uma política
CSC nos seus Princípios Fundamentais de Supervisão Bancária Efectiva, além
de razões relacionadas com o combate ao branqueamento de capitais.14
Para além dos benefícios da confiança do público, um regime eficaz
ABC/CFT reduz a possibilidade de a instituição sofrer prejuízos ocasionados
por fraude. A observância dos procedimentos de identificação do cliente e a
determinação do beneficiário efectivo permitem realizar uma vigilância espe-
cífica para as contas de maior risco e um acompanhamento preventivo de
actividades suspeitas. Estes controlos prudenciais internos são coerentes com
o funcionamento seguro e sólido de uma instituição financeira.

3. Incentivo ao desenvolvimento económico

O branqueamento de capitais exerce um efeito negativo directo no crescimen-


to económico ao desviar recursos para actividades menos produtivas. Os fun-
dos ilegais branqueados seguem, na economia, um percurso diferente do dos
fundos legais. Em vez de serem inseridos em canais produtivos que possibi-
litem a realização de outros investimentos, os fundos branqueados são colo-
cados com frequência em investimentos “estéreis” para preservar o seu valor
ou facilitar a sua transferência. Estes investimentos incluem imóveis, obras de
arte, jóias, antiguidades ou bens de consumo de valor elevado, como auto-
móveis de luxo. Estes investimentos não geram produtividade adicional para

14. Ver os Princípios Fundamentais de Supervisão Bancária Efectiva, Princípio 15, Comité de
Basileia de Supervisão Bancária, www.bis.org/publ/bcbs30.pdf.

II-18
O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

a economia. O que ainda é pior é que as organizações criminosas podem


transformar empresas produtivas em investimentos estéreis, administrando-as
com o objectivo primordial de branquear produtos ilegais, e não com o pro-
pósito de gerar lucros. Uma empresa deste tipo não responde à procura do
consumidor ou a outras utilizações legítimas e produtivas do capital. O facto
de ter os recursos de um país dedicados a investimentos estéreis, em vez de
investimentos que promovam outros fins produtivos, reduz a produtividade
da economia no seu conjunto.
A existência de regimes sólidos ABC/CFT constitui um desincentivo para
o envolvimento da criminalidade na economia. Isto permite que os investi-
mentos sejam utilizados para fins produtivos que respondam às necessidades
do consumidor e contribuam para a produtividade da economia em geral.

II-19
Capítulo III

Organizações internacionais que


definem padrões normativos

A. A Organização das Nações Unidas 4. A Lista PTNC


1. A Convenção de Viena 5. Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo
2. A Convenção de Palermo 6. Metodologia para avaliações ABC/CFT
3. A Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do C. O Comité de Basileia de Supervisão Bancária
Terrorismo
1. Declaração de Princípios sobre o Branqueamento de Capitais
4. Resolução 1373 do Conselho de Segurança
2. Princípios Fundamentais para Bancos
5. Resolução 1267 do Conselho de Segurança e Resoluções que se
3. Vigilância relativa à clientela
sucederam
6. Programa Global contra o Branqueamento de Capitais D. Associação Internacional dos Supervisores
7. O Comité Contra o Terrorismo de Seguros
B. O Grupo de Acção Financeira sobre o E. Organização Internacional das Comissões de
Branqueamento de Capitais Valores
1. As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais
F. Grupo Egmont de Unidades de Informação
2. Acompanhamento do progresso dos membros
Financeira
3. Comunicação das tendências e técnicas de branqueamento de capitais

E m resposta à crescente preocupação no que respeita ao branqueamento


de capitais e às actividades terroristas, a comunidade internacional tem
desenvolvido acções em várias frentes. A reacção internacional é, em grande
medida, o reconhecimento do facto de que o branqueamento de capitais e o
financiamento do terrorismo tiram proveito dos velozes mecanismos utiliza-
dos para as transferências internacionais, tais como as transferências electró-
nicas, para alcançar os seus propósitos. Assim, torna-se necessário existir uma
cooperação e coordenação transnacional articulada para conseguir frustar os
esforços dos criminosos e dos terroristas.
Os esforços internacionais começaram com o reconhecimento de que o
tráfico de drogas era um problema mundial e que apenas poderia ser enfren-
tado com eficácia de uma forma multilateral. Desta forma, a primeira con-
venção internacional referente ao branqueamento de capitais estabeleceu as
infracções de tráfico de drogas como as únicas infracções subjacentes. (Uma
infracção subjacente é aquela de cuja prática resultam os produtos destinados
ao branqueamento de capitais.) Considerando que a comunidade interna-
cional está actualmente preocupada com vários tipos de crime, a maioria
dos países passou a incluir uma ampla gama de infracções graves na lista de
infracções subjacentes ao branqueamento de capitais.

III-21
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Este capítulo analisa as diversas organizações internacionais que definem


padrões nesta matéria. Também descreve os documentos e instrumentos cria-
dos para fins de combate ao branqueamento de capitais (ABC) e ao financia-
mento do terrorismo (CFT).

A. A Organização das Nações Unidas

A Organização das Nações Unidas (ONU) foi a primeira organização interna-


cional a realizar acções significativas para lutar contra o branqueamento de
capitais a nível verdadeiramente global.1 A ONU é importante nesta matéria
por diversas razões. Em primeiro lugar, é a organização internacional com
o maior número de membros. Fundada em Outubro de 1945, a ONU conta
hoje com 191 Estados membros do mundo inteiro.2 Em segundo lugar, a
ONU dirige activamente um programa de combate ao branqueamento de
capitais, o Programa Global contra o Branqueamento de Capitais (GPML),3
com sede em Viena, na Áustria, e parte do Gabinete sobre as Drogas e o
Crime (ODC) da ONU.4 Em terceiro lugar, e talvez o aspecto mais relevante,
a ONU tem a capacidade de adoptar tratados ou convenções internacionais
que têm força de lei num país sempre que este assine, ratifique e aplique a
convenção, de acordo com o seu sistema constitucional e ordenamento jurídi-
co. Em certos casos, o Conselho de Segurança da ONU tem autoridade para
obrigar todos os países membros através de uma Resolução do Conselho de
Segurança, sem necessidade de qualquer outra acção individual por parte de
um país.

1. A Convenção de Viena

Como resultado da crescente preocupação com a intensificação do tráfi-


co internacional de drogas e o enorme montante de capitais relacionados que
entram no sistema bancário, a ONU, através do Programa das Nações Unidas
para o Controlo Internacional das Drogas (UNDCP), promoveu um instru-

1. Houve outras iniciativas internacionais, como as “Medidas Contra a Transferência e Guarda de


Fundos de Origem Criminosa”, adoptadas pelo Comité do Conselho da Europa, em 27 de Junho
de 1980. No entanto, o objectivo deste Guia de Referência não é entrar nos detalhes da história
do esforço internacional no combate ao branqueamento de capitais.
2. Lista dos Estados Membros: www.un.org/Overview/unmember.html.
3. Ver http://www.imolin.org/imolin/gpml.html.
4. O nome do UNDCP foi mudado para Gabinete para o Controlo da Droga e Prevenção do
Crime (ODCCP) em 1997 e, novamente, para Gabinete sobre as Drogas e o Crime (ODC) em
Outubro de 2002.

III-22
Organizações internacionais que definem padrões

mento internacional para o combate ao tráfico de drogas e ao branqueamento


de capitais. Em 1988, esta iniciativa resultou na adopção da Convenção das
Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e de Substâncias
Psicotrópicas (1988) (Convenção de Viena).5 A Convenção de Viena, assim
designada em homenagem à cidade em que foi assinada, inclui sobretudo dis-
posições para o combate ao comércio ilícito de drogas e questões relaciona-
das com a aplicação da lei; são partes da Convenção169 países.6 Embora não
use os termos “branqueamento de capitais”, a Convenção define o conceito
e insta os países a criminalizar esta actividade.7 No entanto, a Convenção de
Viena é limitada à infracção de tráfico de drogas como infracção subjacente
e não aborda os aspectos de prevenção do branqueamento de capitais. A
Convenção entrou em vigor em 11 de Novembro de 1990.

2. A Convenção de Palermo

Com o objectivo de intensificar os esforços de combate à criminalidade


organizada internacional, a ONU adoptou a Convenção Internacional contra
a Criminalidade Organizada Transnacional (2000) (Convenção de Palermo).8
Esta Convenção, também assim denominada em homenagem à cidade onde
foi assinada, contém uma ampla gama de disposições para o combate à cri-
minalidade organizada, comprometendo-se os países que a ratificam a aplicar
as suas disposições, através da aprovação de leis internas. No que concerne
ao branqueamento de capitais, os países que ratificarem a Convenção de
Palermo ficam especificamente obrigados a:

• Criminalizar o branqueamento de capitais e incluir todos os crimes


graves na lista de infracções subjacentes ao branqueamento de capitais,
quer tenham sido cometidos dentro ou fora do país, e permitir que o
elemento intencional seja deduzido a partir de circunstâncias factuais
objectivas9;
• Estabelecer regimes de regulação para dissuadir e detectar todas as for-
mas de branqueamento de capitais, incluindo medidas de identificação
do cliente, conservação de documentos e comunicação de operações
suspeitas10;

5. http://www.incb.org/e/conv/1988/.
6. Em 1 de Agosto de 2004. Ver http://www.unodc.org/unodc/treaty_adherence.html.
7. A Convenção de Viena, Artigo 3.° (b) e (c) (i).
8. http://www.undcp.org/adhoc/palermo/convmain.html.
9. A Convenção de Palermo, Artigo 6.°
10. Id., Artigo 7.° (1) (a).

III-23
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• Autorizar a cooperação e a troca de informações entre autoridades


administrativas, de regulação, de aplicação da lei e de outras áreas, a
nível nacional e internacional, e considerar a criação de uma unidade
de informação financeira para recolher, analisar e disseminar informa-
ções11; e
• Promover a cooperação internacional12.

Esta Convenção entrou em vigor em 29 de Setembro de 2003, após


ser assinada por 147 países e ratificada por 82 países13. A Convenção de
Palermo é importante, pois as suas disposições ABC adoptam a mesma
estratégia previamente definida pelo Grupo de Acção Financeira sobre o
Branqueamento de Capitais (GAFI) nas suas Quarenta Recomendações sobre
o Branqueamento de Capitais14.

3. Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo

O financiamento do terrorismo já era uma preocupação internacional


antes dos ataques aos Estados Unidos em 11 de Setembro de 2001. Em res-
posta a esta preocupação, a ONU adoptou a Convenção Internacional para
a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (1999)15. Esta Convenção
entrou em vigor em 10 de Abril de 2002, com 132 países signatários e 112
países ratificantes16. (Ver o Anexo III deste Guia de Referência para consultar
uma lista das Convenções especificadas.)
Esta Convenção impõe aos Estados ratificantes a criminalização do ter-
rorismo, das organizações terroristas e dos actos terroristas. Nos termos da
Convenção, é ilícito qualquer pessoa fornecer ou recolher fundos com (1) a
intenção de que os fundos sejam utilizados ou (2) o conhecimento de que os
fundos serão utilizados para a execução de qualquer dos actos de terrorismo
definidos nas outras convenções especificadas e incluídas em anexo a esta
Convenção.

11. Id., Artigo 7.° (1) (b).


12. Id., Artigo 7.° (3) e (4).
13. Em 1 de Agosto de 2004. Ver http://www.unodc.org/unodc/crime_cicp_signatures_convention.
html.
14. Ver a Análise neste Capítulo, GAFI.
15. http://www.un.org/law/cod/finterr.htm.
16. Em Março de 2004. Ver, http://www.unausa.org/newindex.asp?place=http://www.unausa.org/
policy/newsactionalerts/advocacy/fin_terr.asp.

III-24
Organizações internacionais que definem padrões

4. Resolução 1373 do Conselho de Segurança

Ao contrário de uma convenção internacional, que requer a assinatura,


a ratificação e a aplicação por um país membro da ONU para ter força de
lei nesse país, uma Resolução aprovada pelo Conselho de Segurança, em
resposta a uma ameaça à paz e à segurança internacional, nos termos do
Capítulo VII da Carta da ONU, é vinculativa para todos os países membros
da ONU17. Em 28 de Setembro de 2001, o Conselho de Segurança da ONU
adoptou a Resolução 137318, que obriga os países a criminalizar as acções de
financiamento do terrorismo. Além disso obriga os países a:

• rejeitar todas as formas de apoio a grupos terroristas;


• eliminar a concessão de refúgio ou apoio a terroristas, bem como con-
gelar os fundos ou bens das pessoas, organizações ou entidades envol-
vidas em actos terroristas;
• proibir a prestação de auxílio activo ou passivo a terroristas; e
• cooperar com outros países em investigações penais e trocar informa-
ções sobre planos de actos terroristas.

5. Resolução 1267 do Conselho de Segurança e Resoluções que se sucederam

O Conselho de Segurança da ONU também tomou medidas nos termos


do Capítulo VII da Carta da ONU, exigindo que os Estados membros con-
gelem os bens dos Talibãs, de Osama Bin Laden, da Al-Qaeda e de entida-
des de que são proprietários ou por eles controladas, conforme designados
pelo “Comité de Sanções” (agora denominado Comité 1267). A primeira
Resolução 1267, de 15 de Outubro de 1999,19 era relativa aos Talibãs e foi
seguida da Resolução1333, de 19 de Dezembro de 200020, relativa a Osama
bin Laden e à Al-Qaeda. Resoluções posteriores criaram mecanismos de
monitorização (Resolução 1363, de 30 de Julho de 200121), combinaram as
listas anteriores (Resolução1390, de 16 de Janeiro de 200222), estabeleceram
algumas exclusões (Resolução 1452, de 20 de Dezembro de 200223) e adop-
taram medidas para melhorar a aplicação (Resolução 1455, de 17 de Janeiro
de 200324).

17. http://www.un.org/aboutun/charter/index.html.
18. http://www.state.gov/p/io/rls/othr/2001/5108.htm.
19. http://www.un.org/Docs/scres/1999/sc99.htm.
20. http://www.un.org/Docs/scres/2000/sc2000.htm.

III-25
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

O Comité 1267 emite a lista de indivíduos e entidades cujos bens deve-


rão ser congelados, tendo adoptado procedimentos para fazer aditamentos
ou exclusões à lista, com base em pedidos dos Estados membros. A lista mais
recente está disponível no sítio do Comité 1267.25

6. Programa Global contra o Branqueamento de Capitais

O Programa Global contra o Branqueamento de Capitais (GPML)


encontra-se sob a alçada do Gabinete sobre as Drogas e o Crime (ODC) da
ONU.26 O GPML é um projecto de investigação e assistência, que tem como
objectivo aumentar a eficácia da acção internacional contra o branqueamento
de capitais, oferecendo informações técnicas especializadas, formação e conse-
lhos a pedido dos países membros. Os seus esforços centram-se nas seguintes
áreas:

• Aumentar o nível de consciencialização das pessoas chave nos Estados


membros da ONU;
• Ajudar a criar sistemas jurídicos com o apoio de modelos de legislação
quer para países com direito consuetudinário quer para os de tradição
romano-germânica;
• Desenvolver a capacidade institucional, especialmente com a criação
de unidades de informação financeira;
• Facultar formação para reguladores jurídicos, judiciais e policiais, e
para os sectores financeiros privados;
• Promover uma abordagem regional para a resolução de problemas;
desenvolver e manter relações estratégicas com outras organizações; e
• Manter uma base de dados e realizar análises das informações relevan-
tes.

Assim sendo, o GPML é uma fonte de informação, de conhecimentos


especializados e de assistência técnica para a criação ou o aperfeiçoamento da
infra-estrutura ABC de um país.

21. http://www.un.org/Docs/scres/2001/sc2001.htm.
22. http://www.un.org/Docs/scres/2002/sc2002.htm.
23. http://www.un.org/Docs/scres/2002/sc2002.htm
24. http://www.un.org/Docs/sc/unsc_resolutions03.html.
25. http://ods-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N99/300/44/PDF/N9930044.pdf?OpenElement
26. “Programa Global contra o Branqueamento de Capitais”, http://www.imolin.org/imolin/gpml.
html.

III-26
Organizações internacionais que definem padrões

7. O Comité Contra o Terrorismo

Como já foi referido, em 28 de Setembro de 2001, o Conselho de


Segurança da ONU adoptou uma Resolução (Resolução 1373) em resposta
directa aos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001.27 Esta Resolução
obrigou todos os países membros a tomar medidas específicas para combater
o terrorismo. A Resolução, que é vinculativa para todos os países membros,
também criou o Comité Contra o Terrorismo (CTC), incumbindo-o de
monitorizar o desempenho dos países membros no desenvolvimento de uma
capacidade mundial de combate ao terrorismo. O CTC, composto por 15
membros do Conselho de Segurança, não é uma entidade responsável pela
aplicação da lei; não aplica sanções nem se encarrega do procedimento penal
ou sanciona países específicos.28 Pelo contrário, o Comité procura estabele-
cer um diálogo entre o Conselho de Segurança e os países membros sobre a
forma de alcançar os objectivos da Resolução 1373.
A Resolução 1373 insta todos os países a submeter um relatório ao
CTC, sobre as iniciativas tomadas para aplicar as medidas da Resolução,
e a apresentar regularmente relatórios de progresso. Neste sentido, o CTC
solicitou que todos os países efectuassem uma auto-avaliação da legislação
vigente e dos mecanismos existentes para combater o terrorismo, de acordo
com as obrigações da Resolução 1373. O CTC identifica as áreas em que um
determinado país necessita reforçar as suas bases e infraestruturas jurídicas e
faculta assistência aos países, embora o próprio CTC não preste assistência
directa.
O CTC mantém um sítio com um directório para os países que procu-
ram assistência para melhorar as suas infra-estruturas de combate ao terroris-
mo.29 O directório contém modelos de legislação e outras informações úteis.

B. O Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de Capitais

27. Resolução 1373 do Conselho de Segurança da ONU.


28. Ver http://www.un.org/sc/ctc.
29. Id.

III-27
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Criado em 1989 pelos países do G-730, o Grupo de Acção Financeira


sobre o Branqueamento de Capitais (GAFI) é um organismo intergoverna-
mental cujo objectivo é o de desenvolver e promover uma resposta internacio-
nal para o combate ao branqueamento de capitais.31 Em Outubro de 2001,
o GAFI alargou o seu mandato para incluir o combate ao financiamento do
terrorismo.32 O GAFI é um organismo que elabora políticas, reunindo peri-
tos em questões jurídicas, financeiras e de aplicação da lei para levar a cabo
a reforma de leis e regulamentos nacionais em matéria ABC e CFT. Entre os
actuais membros do grupo figuram 31 países e territórios e duas organiza-
ções regionais.33 Além destes, o GAFI trabalha em colaboração com vários
organismos34 e organizações35 internacionais. Estas entidades gozam do esta-
tuto de observador junto ao GAFI, que não lhes dá direito a votar, mas per-
mite-lhes plena participação nas sessões plenárias e nos grupos de trabalho.
As três funções principais do GAFI no tocante ao branqueamento de
capitais são:

30. Id. Os países do G-7 são a Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino
Unido.
31. Sobre o GAFI e o Financiamento do Terrorismo, em
http://www.fatf-gafi.org/pages/0,2966,en_32250379_32236947_1_1_1_1_1,00.html
32. Id., em Financiamento do Terrorismo.
33. Os 31 países e territórios membros são: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria,
Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Reino
da Holanda, Hong Kong-China, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega,
Nova Zelândia, Portugal, Reino Unido, Rússia, Singapura, Suécia, Suíça e Turquia. As duas
organizações regionais são a Comissão Europeia e o Conselho de Cooperação do Golfo.
34. Os organismos internacionais são os organismos regionais do tipo GAFI (ORTGs), que têm
forma e funções similares às do GAFI. Certos membros do GAFI também participam nos
ORTGs. Estes organismos são: Comité MONEYVAL (anteriormente conhecido como PC-R-EV)
do Conselho da Europa, Grupo Anti-Branqueamento de Capitais da África Oriental e Austral
(GABCAOA), Grupo Ásia-Pacífico sobre o Branqueamento de Capitais (GAP), Grupo de Acção
Financeira das Caraíbas (GAFIC) e Grupo de Acção Financeira da América do Sul sobre o
Branqueamento de Capitais (GAFISUD). Para uma análise destas organizações, ver o Capítulo
IV, Organismos regionais e grupos relevantes, Organismos regionais do tipo GAFI. O GAFI tam-
bém trabalha com o Grupo Egmont.
35. As organizações internacionais que têm, entre outras missões e funções, uma específica anti-
branqueamento de capitais, são: Associação Internacional dos Supervisores de Seguros (AISS),
Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Asiático de Desenvolvimento, Banco Central
Europeu (BCE), Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial, Europol, Fundo Monetário Internacional (FMI),
Gabinete das Nações Unidas sobre as Drogas e o Crime (UNODC), Grupo Intergovernamental
de Acção contra o Branqueamento de Capitais em África (GIABA), Grupo Offshore de
Supervisores Bancários (GOSB), Interpol, Organização dos Estados Americanos/Comité
Interamericano Contra o Terrorismo (OEA/CICTE), Organização dos Estados Americanos/
Comissão Interamericana para o Controlo do Abuso de Drogas (OEA/CICAD), Organização
Internacional das Comissões de Valores (OICV), Organização Mundial das Alfândegas (OMA),
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) e Secretariado da
Commonwealth.

III-28
Organizações internacionais que definem padrões

1. acompanhar o progresso dos membros na aplicação de medidas anti-


branqueamento de capitais;
2. analisar e apresentar relatórios de tendências e técnicas de branquea-
mento e as contra-medidas; e
3. promover a adopção e aplicação dos padrões anti-branqueamento de
capitais do GAFI a nível global.

1. As Quarenta Recomendações

O GAFI adoptou um conjunto de 40 recomendações, As Quarenta


Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais (As Quarenta
Recomendações), que constituem um sistema abrangente ABC, tendo sido
elaboradas de modo a terem aplicação universal em todos os países do
mundo36. As Quarenta Recomendações estabelecem princípios de acção;
permitem aos países flexibilizar a aplicação dos princípios de acordo com as
respectivas circunstâncias particulares e requisitos constitucionais. Embora
não sejam vinculativas para os países, As Quarenta Recomendações têm sido
amplamente reconhecidas pela comunidade internacional e pelas organizações
relevantes, como os padrões internacionais ABC.
As Quarenta Recomendações contêm, na realidade, um conjunto de
acções obrigatórias para um país que deseje ser considerado pela comunidade
internacional como cumprindo os padrões internacionais nesta matéria. Cada
uma das Recomendações é analisada em pormenor neste Guia de Referência,
especialmente nos Capítulos V, VI, VII e VIII.
As Quarenta Recomendações foram inicialmente aprovadas em 1990 e
objecto de revisão em 1996 e 2003, para ter em conta os novos desenvolvi-
mentos em matéria de branqueamento de capitais e para reflectir as melhores
práticas desenvolvidas a nível internacional.

2. Acompanhamento do progresso dos membros

O acompanhamento do progresso dos membros no cumprimento dos


requisitos das Quarenta Recomendações é realizado através de um procedi-
mento com duas etapas: auto-avaliações e avaliações mútuas. Na etapa de
auto-avaliação, cada membro responde a um questionário-padrão, com fre-

36. As Quarenta Recomendações, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/


34030579.PDF.

III-29
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

quência anual, relativamente à aplicação das Quarenta Recomendações. Na


etapa de avaliação mútua, cada membro é examinado e avaliado por peritos
de outros países membros.
Quando um país não está disposto a tomar as medidas necessárias para
cumprir As Quarenta Recomendações, o GAFI recomenda que todas as insti-
tuições financeiras prestem especial atenção às relações e operações comerciais
com pessoas, incluindo empresas e instituições financeiras, dos países não
cumpridores e, quando se justificar, comuniquem às autoridades competentes
as operações suspeitas, isto é, as que não apresentam uma causa económica
ou lícita aparente.37 Em última instância, se um país membro não aprovar
medidas destinadas ao cumprimento, a sua participação na organização pode-
rá ser suspensa. Contudo, antes da aplicação de sanções desenvolve-se um
processo de pressão pelos pares.

3. Comunicação das tendências e técnicas de branqueamento de capitais

Uma das funções do GAFI é analisar e elaborar relatórios sobre as ten-


dências, as técnicas e os métodos de branqueamento de capitais (também
conhecidos como tipologias). Para cumprir esta parte do seu mandato, o
GAFI publica relatórios anuais sobre as evoluções do branqueamento de capi-
tais, no seu Relatório de Tipologias.38 Estes relatórios são de grande utilidade
para todos os países, e não apenas para os membros do GAFI, para os manter
actualizados em relação às novas técnicas ou tendências do branqueamento de
capitais e a outros desenvolvimentos nesta área.

4. A Lista PTNC

Um dos objectivos do GAFI é promover a adopção dos padrões inter-


nacionais ABC/CFT por todos os países. Nestes termos, o seu mandato vai
para além dos seus membros, embora o GAFI apenas possa impor sanções
aos países e territórios que são membros. Assim, para encorajar todos os
países a adoptar medidas para prevenir, detectar e perseguir criminalmente os
branqueadores de capitais, ou seja, para aplicar As Quarenta Recomendações,
o GAFI aprovou um procedimento para identificar as jurisdições que repre-
sentam um obstáculo à cooperação internacional nesta área. O procedimento

37. Id., Rec. 21.


38. Ver Documentos do GAFI, Tendências e Técnicas do Branqueamento de Capitais, em http://
www.fatf-gafi.org/document/23/0,2340,en_32250379_32237277_34037591_1_1_1_1,00.html.

III-30
Organizações internacionais que definem padrões

recorre a 25 Critérios, que são consistentes com As Quarenta Recomendações,


para identificar esses países e territórios não cooperantes (PTNCs) e incluí-los
numa lista de acesso público.39
Um país PTNC é incentivado a realizar, com celeridade, progressos na
resolução das suas deficiências. Caso um país PTNC não alcance progressos
suficientes, podem ser-lhe impostas contra-medidas. As contra-medidas con-
sistem em acções específicas executadas pelos países membros do GAFI contra
um país incluído na Lista PTNC.
Além da atenção especial a dar às relações e operações comerciais prove-
nientes dos países constantes da lista,40 o GAFI pode também impor outras
contra-medidas, a serem aplicadas de forma gradual, proporcionada e flexível;
entre elas destacam-se:

• Requisitos rigorosos de identificação dos clientes e melhoria dos aler-


tas, incluindo alertas financeiros específicos para uma jurisdição, desti-
nados às instituições financeiras para que identifiquem os beneficiários
efectivos antes de estabelecer relações comerciais com indivíduos ou
empresas desses países;
• Melhorar os mecanismos relevantes de comunicação ou comunicação
sistemática de operações financeiras, considerando o facto de as ope-
rações financeiras com esses países poderem configurar-se como mais
suspeitas;
• Ao analisar pedidos de aprovação para o estabelecimento de sucursais,
agências ou escritórios de representação dos bancos, considerar o facto
de o banco ser oriundo de um país PTNC;
• Alertar as empresas do sector não financeiro para o facto de as opera-
ções com entidades dos PTNCs podem envolver o risco de branquea-
mento de capitais.41

Finalmente, integrando estas contra-medidas, os países membros do GAFI


poderão pôr fim às suas operações com instituições financeiras desses países.
A maioria dos países faz um esforço coordenado para serem retirados da
Lista PTNC, pois a inclusão causa problemas significativos às suas instituições
financeiras e às empresas envolvidas em operações internacionais, bem como
à sua reputação internacional.

39. Iniciativa PTNC,


http://www.fatf-gafi.org/pages/0,2966,en_32250379_32236992_1_1_1_1_1,00.html.
40. As Quarenta Recomendações, Rec. 21.
41. GAFI, declarações e documentos do GAFI sobre PTNC. Ver, por exemplo, Comunicado de
Imprensa, 20 de Dezembro de 2002, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/45/30/33693959.pdf.

III-31
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

5. Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo

O GAFI também centra a sua experiência no esforço mundial para com-


bater o financiamento do terrorismo. Para cumprir o seu mandato nesta maté-
ria, o GAFI aprovou nove Recomendações Especiais sobre o Financiamento
do Terrorismo (Recomendações Especiais)42. Como parte desta iniciativa, os
membros do GAFI utilizam um questionário de auto-avaliação43 para dar
a conhecer as medidas adoptadas no sentido de cumprir as Recomendações
Especiais. O GAFI continua a elaborar orientações sobre as técnicas e meca-
nismos utilizados no financiamento do terrorismo. O Capítulo IX deste Guia
de Referência apresenta uma análise mais detalhada das Recomendações
Especiais e do Questionário.

6. Metodologia para avaliações ABC/CFT

Em 2002, após longas consultas, o GAFI, o Fundo Monetário


Internacional (FMI) e o Banco Mundial aprovaram uma metodologia comum
de avaliação a ser utilizada quer pelo GAFI, nas suas avaliações mútuas, quer
pelo FMI e Banco Mundial, nas suas avaliações no âmbito dos programas de
avaliação do sector financeiro e de centros financeiros offshore. Os organis-
mos regionais do tipo GAFI (ORTGs), organismos sectoriais de âmbito geo-
gráfico definido que participaram na elaboração da Metodologia, aceitaram-
na posteriormente para utilização nas suas avaliações mútuas.
A Metodologia foi revista em 2004, após a revisão das Quarenta
Recomendações em 2003. Esta Metodologia estabelece mais de 200 “critérios
essenciais” que os avaliadores devem examinar ao avaliar um regime ABC e
CFT. Abrange o enquadramento jurídico e institucional ABC/CFT de um país,
incluindo as Unidades de Informação Financeira. A Metodologia também
inclui os elementos relevantes das Resoluções do Conselho de Segurança da
ONU e das convenções internacionais, assim como as normas de regulação e
de supervisão dos sectores bancário, de seguros e de valores mobiliários. Estes
critérios essenciais descrevem os elementos que devem obrigatoriamente estar
em vigor para cumprir integralmente cada uma das Quarenta Recomendações

42. Ver Recomendações Especiais. Estas Recomendações Especiais estão incluídas no Anexo V,
http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/55/16/34266142.pdf.
43. http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/20/34033909.pdf

III-32
Organizações internacionais que definem padrões

e das Recomendações Especiais. A Metodologia inclui orientações para como


classificar o cumprimento, tendo por base o desempenho em relação aos crité-
rios essenciais.
A Metodologia inclui também vários “elementos adicionais”, que cons-
tituem opções destinadas a reforçar os sistemas ABC/CFT. Embora o desem-
penho em relação a estes elementos seja examinado como parte da avaliação
geral, não são obrigatórios e não são incluídos na avaliação do cumprimento.
A adopção de uma Metodologia comum e abrangente de avaliação,
pelo GAFI, FMI, Banco Mundial e ORTGs significa que passa a existir uma
abordagem mais uniforme a nível mundial para a avaliação e classificação do
desempenho de um país. Será exigido ao país submetido a avaliação, numa
primeira fase, a preparação de uma auto-avaliação do seu sistema ABC/CFT
a elaborar de acordo com o documento da Metodologia. O documento é
também útil como guia detalhado das medidas que um país deve aplicar para
cumprir os padrões internacionais44.

C. O Comité de Basileia de Supervisão Bancária

O Comité de Basileia de Supervisão Bancária (Comité de Basileia)45 foi


criado em 1974 pelos governadores dos bancos centrais dos países do Grupo
dos 10.46 Cada país é representado pelo seu banco central ou pela respectiva
autoridade com responsabilidade formal pela supervisão prudencial do sector
bancário, quando esta autoridade não é o banco central. O Comité não tem
nenhuma autoridade formal de supervisão internacional nem força da lei. O
seu papel é o de formular padrões e orientações amplas de supervisão e fazer
declarações de melhores práticas com recomendações sobre um amplo conjun-
to de questões de supervisão bancária. Estas normas e orientações são adop-
tadas na expectativa de que as autoridades competentes de cada país dêem
todos os passos necessários para a respectiva aplicação, através das medidas
estatutárias, regulamentares ou de outra natureza, mais adequadas ao sistema

44. A Metodologia pode ser encontrada em Metodologia ABC/CFT, em http://www.fatf-gafi.org/


dataoecd/46/48/34274813.PDF. Ver também o Capítulo X, Elaboração de uma metodologia
universal de avaliação ABC/CFT, para uma análise mais detalhada da Metodologia e a sua apli-
cação pelo Banco Mundial e pelo FMI.
45. http://www.bis.org/index.htm.
46. O Grupo dos 10 países é um nome impróprio, pois na realidade conta com 13 países membros.
Os membros do Comité de Basileia (incluindo o Grupo dos 10) são: Alemanha, Bélgica, Canadá,
Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Japão, Luxemburgo, Reino Unido, Suécia e
Suíça.

III-33
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

nacional. Três dos padrões de supervisão e orientações do Comité de Basileia


referem-se a questões de branqueamento de capitais.

1. Declaração de Princípios sobre o Branqueamento de Capitais

Em 1988, o Comité de Basileia publicou a sua Declaração sobre


Prevenção do Uso Criminoso do Sistema Bancário para Fins de
Branqueamento de Capitais (Declaração sobre Prevenção)47. A Declaração
sobre Prevenção resume as políticas e os procedimentos básicos que as direc-
ções dos bancos devem aplicar nas suas instituições para ajudar a eliminar o
branqueamento de capitais através do sistema bancário, quer a nível nacional
quer internacional. A declaração refere que os bancos podem ser utilizados
“involuntariamente” como intermediários pelos criminosos. Portanto, o
Comité considera que a primeira e mais importante salvaguarda contra o
branqueamento de capitais é “a integridade das próprias direcções dos bancos
e a sua atitude vigilante para impedir que as suas instituições se tornem asso-
ciadas dos criminosos ou sejam utilizadas como um meio para o branquea-
mento de capitais.”48
A Declaração sobre Prevenção contem essencialmente quatro princípios:

• A devida identificação do cliente;


• Padrões éticos elevados e cumprimento das leis;
• Cooperação com as autoridades policiais; e
• Políticas e procedimentos destinados à observância da Declaração.

Em primeiro lugar, os bancos devem envidar esforços razoáveis para


conhecer a verdadeira identidade de todos os clientes que solicitam os serviços
da instituição.49 Os bancos devem seguir uma política explícita de não reali-
zação de operações comerciais significativas com clientes que não apresentem
provas da sua identidade.
Em segundo lugar, os bancos devem assegurar-se de que os seus negócios
estão a ser realizados em conformidade com padrões éticos elevados e de
acordo com as leis e os regulamentos aplicáveis às operações financeiras.50
Assim, os bancos não devem oferecer serviços ou prestar assistência activa

47. http://www.bis.org/publ/bcbsc137.pdf.
48. Id., no Preâmbulo do parágrafo 6.
49. Id., em Identificações dos clientes.

III-34
Organizações internacionais que definem padrões

quanto à realização de operações quando tenham bons motivos para acreditar


que estão associadas ao branqueamento de capitais.
Em terceiro lugar, os bancos devem cooperar plenamente com as autori-
dades policiais nacionais, tanto quanto lhes permitam as leis e os regulamen-
tos locais relacionados com a confidencialidade do cliente.51 Não deve ser
facultado nenhum apoio ou assistência aos clientes que tentem iludir as auto-
ridades policiais com informações alteradas, incompletas ou falsas. Quando
um banco tiver motivos razoáveis para presumir que os fundos depositados
são de origem criminosa ou que as operações realizadas têm fins criminosos,
deve tomar as medidas adequadas, incluindo recusar-se a prestar assistência,
cortar o relacionamento com o cliente e fechar ou congelar a conta.
Em quarto lugar, os bancos devem adoptar políticas formais consistentes
com a Declaração sobre Prevenção.52 Além disso, os bancos devem assegurar-
se de que todos os seus funcionários conhecem as políticas e recebem a devida
formação respeitante às questões abrangidas por essas políticas. Entre as suas
políticas, um banco deve adoptar procedimentos específicos para a identifica-
ção do cliente. Finalmente, a função de auditoria interna da instituição deve
criar um mecanismo eficaz de verificação do cumprimento dessas políticas.

2. Princípios Fundamentais para Bancos

Em 1997, o Comité de Basileia publicou os seus Princípios Fundamentais


de Supervisão Bancária Efectiva (Princípios Fundamentais),53 que oferecem
um programa abrangente para um sistema de supervisão bancária efecti-
va e abarcam uma ampla variedade de temas. Do total de 25 Princípios
Fundamentais, um deles, o Princípio Fundamental 15, trata do branqueamen-
to de capitais, estabelecendo que:

Os supervisores bancários devem assegurar-se de que os bancos dis-


põem de políticas, práticas e procedimentos adequados, incluindo
regras estritas de “conheça o seu cliente”, que promovam padrões
elevados de ética e profissionalismo no sector financeiro e evitem que
o banco seja utilizado, intencionalmente ou não intencionalmente, por
criminosos.54

50. Id., em Cumprimento das leis.


51. Id., em Cooperação com as autoridades policiais.
52. Id., em Observância da Declaração.
53. http://www.bis.org/publ/bcbs30.pdf.

III-35
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

As políticas e os procedimentos de “conheça o seu cliente”, ou “CSC”,


são uma componente crucial de um sistema institucional ABC/CFT eficaz para
todos os países.
Além dos Princípios Fundamentais, o Comité de Basileia publicou em
1999 a “Metodologia dos Princípios Fundamentais”, com 11 critérios especí-
ficos e cinco critérios adicionais para ajudar a avaliar a suficiência das políti-
cas e procedimentos de CSC.55 Entre estes critérios adicionais figuram referên-
cias específicas ao cumprimento das Quarenta Recomendações.56

3. Vigilância relativa à clientela

Em Outubro de 2001, o Comité de Basileia publicou um documento


detalhado sobre os princípios de CSC intitulado Customer due diligence for
banks [Medidas de vigilância relativa à clientela para os bancos] (Vigilância
Relativa à Clientela).57 Este documento foi publicado à luz das deficiências
observadas nos procedimentos de CSC a nível mundial. Estas normas de CSC
desenvolvem e oferecem informações mais específicas sobre a Declaração
sobre Prevenção e o Princípio Fundamental 15. Os elementos essenciais dos
padrões de CSC são enumerados em detalhe neste documento.
É importante observar que estas normas de CSC estabelecidas na
Vigilância Relativa à Clientela pretendem beneficiar os bancos para além do
combate ao branqueamento de capitais, protegendo a segurança e a solidez
dos bancos e a integridade dos sistemas bancários. Além disso, o Comité
de Basileia, apoia firmemente neste documento a “adopção e aplicação das
Recomendações do GAFI, especialmente das relacionadas com os bancos”, e
pretende que as normas de Vigilância Relativa à Clientela “sejam consistentes
com as Recomendações do GAFI”.58

D. Associação Internacional dos Supervisores de Seguros

A Associação Internacional dos Supervisores de Seguros (AISS), criada em


1994, é uma organização de supervisores de seguros de mais de 100 países e
jurisdições diferentes.59

54. Id. Princípio Fundamental 15.


55. Metodologia dos Princípios Fundamentais, em http://www.bis.org/publ/bcbs61.pdf.
56. Id., Anexo 2, Excertos das Recomendações do GAFI.
57. Id.
58. Id., no parágrafo 3.

III-36
Organizações internacionais que definem padrões

Os seus objectivos principais são:

• Promover a cooperação entre os reguladores de seguros,


• Estabelecer normas internacionais para a supervisão de seguros,
• Oferecer formação aos seus membros, e
• Coordenar os trabalhos com reguladores de outros sectores financeiros
e das instituições financeiras internacionais.60

Além dos reguladores membros, a AISS conta com mais de 60 membros


observadores, representando associações sectoriais, associações profissionais,
companhias de seguros e de resseguros, consultores e instituições financeiras
internacionais.61
Além de tratar de uma vasta gama de temas, incluindo praticamen-
te todas as áreas de supervisão de seguros, a AISS trata especificamente
do branqueamento de capitais num dos seus documentos. Em Janeiro de
2002,62 a Associação aprovou o Documento de Orientação N.° 5, Anti-
Money Laundering Guidance Notes for Insurance Supervisors and Insurance
Entities [Orientações sobre o Combate ao Branqueamento de Capitais para
Supervisores de Seguros e Entidades de Seguros] (Notas de Orientação sobre
o ABC). Inclui uma análise abrangente do branqueamento de capitais no con-
texto do sector de seguros. Como outros documentos internacionais do tipo,
as Orientações sobre ABC estão destinadas a ser aplicadas por cada país,
tomando em consideração as companhias seguradoras envolvidas, os produtos
oferecidos no país e o sistema financeiro, a economia, a constituição e o res-
pectivo sistema jurídico.
As Orientações sobre ABC incluem quatro princípios para as entidades
de seguros:

• Cumprir as leis anti-branqueamento de capitais,


• Ter procedimentos de “conheça o seu cliente”,
• Cooperar com todas as autoridades policiais, e
• Ter políticas, procedimentos e programas de formação internos de ABC
para os funcionários.

59. Para uma lista dos países membros e jurisdições, ver Members [Membros], em
http://www.iaisweb.org/132_176_ENU_HTML.asp. A lista de membros contém os links dos sítios
individuais dos membros.
60. Id., na página inicial.
61. Id., em Observers [Observadores], para uma lista das organizações observadoras.
62. Id., em Documento de Orientação N.° 5, Anti-Money Laundering Guidance Notes for Insurance
Supervisors and Insurance Entities [ Orientações sobre o Anti-Branqueamento de Capitais para
Supervisores de Seguros e Entidades de Seguros], Janeiro de 2002.

III-37
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Estes quatro princípios reflectem os quatro princípios da Declaração


sobre Prevenção do Comité de Basileia. As Orientações sobre o ABC são
completamente consistentes com As Quarenta Recomendações, incluindo
o aspecto da comunicação de actividades suspeitas e outros requisitos. Na
realidade, As Quarenta Recomendações estão incluídas num apêndice das
Orientações sobre o ABC da AISS.

E. Organização Internacional das Comissões de Valores

A Organização Internacional das Comissões de Valores (OICV)63 é uma


organização de supervisores e de administradores de valores mobiliários com
responsabilidades sobre o quotidiano da regulação dos valores mobiliários e
da administração das leis dos valores mobiliários nos respectivos países. Os
actuais membros da OICV integram organismos regulamentadores de 105
países.64 Quando não existe nenhuma autoridade governamental encarregada
da administração das leis dos valores mobiliários num determinado país, um
organismo de auto-regulação do país, como uma bolsa de valores, reúne as
condições para ser admitido como membro, com direito ao voto. A organiza-
ção também conta com membros associados, que são organizações interna-
cionais, e membros filiados, que são organizações auto-reguladas; nenhuma
destas duas categorias de membros tem direito a voto.
A OICV tem três objectivos principais para a regulamentação dos valores
mobiliários:

• Proteger os investidores;
• Assegurar a equidade, eficiência e transparência dos mercados; e
• Reduzir o risco sistemático.65

No que concerne ao branqueamento de capitais, a OICV aprovou uma


“Resolução sobre o Branqueamento de Capitais” em 1992. Como outras
organizações internacionais do tipo, a OICV não tem competência para a
aprovação de normas vinculativas. Como o Comité de Basileia e a AISS,
depende dos seus membros para aplicar as suas recomendações nos respecti-
vos países. A resolução estabelece que:

63. http://www.iosco.org/iosco.html.
64. Ver Membership Lists [Listas de Membros], em http://www.iosco.org/iosco.html
65. http://www.iosco.org/pubdocs/pdf/IOSCOPD125.pdf.

III-38
Organizações internacionais que definem padrões

Cada membro da OICV deve considerar:

1. A quantidade de informação relativa à identificação dos clientes auto-


reguladas pelas instituições financeiras sob a sua supervisão, com o
propósito de aumentar a capacidade das autoridades competentes para
identificar e perseguir criminalmente os branqueadores de capitais;
2. O alcance e a suficiência dos requisitos de conservação de documentos,
com o intuito de fornecer instrumentos para a reconstrução das opera-
ções financeiras nos mercados de valores e de futuros;
3. Encontrar juntamente com os reguladores nacionais encarregados do
procedimento judicial das infracções de branqueamento de capitais,
a forma adequada para lidar com a identificação e a comunicação de
operações suspeitas;
4. Os procedimentos adoptados para impedir os criminosos de obter o
controlo das empresas de valores mobiliários e de futuros, tendo em
vista trabalhar em conjunto com as contrapartes estrangeiras para tro-
car esta informação, quando necessário;
5. A forma apropriada de assegurar a manutenção, pelas sociedades de
valores mobiliários e de futuros, de procedimentos de acompanhamen-
to e de cumprimento das operações concebidos para impedir e detectar
o branqueamento de capitais;
6. A utilização de numerário e seus equivalentes nas operações com valo-
res mobiliários e futuros, incluindo a adequação da documentação e a
capacidade de reconstituir qualquer dessas operações;
7. Os meios mais apropriados, considerando as suas capacidades e poder,
de trocar informações para combater ao branqueamento de capitais.66

F. Grupo Egmont de Unidades de Informação Financeira

Como parte dos esforços de combate ao branqueamento de capitais, os


governos criaram organismos para analisar a informação apresentada pelas
entidades e pessoas abrangidas pela obrigação de comunicação de actividades
de branqueamento de capitais. Tais organismos são geralmente conhecidos
como Unidades de Informação Financeira (UIFs). Estas Unidades servem
como centros de coordenação para os programas nacionais ABC, porque faci-
litam a troca de informação entre as instituições financeiras e as autoridades

66. http://www.iosco.org/library/index.cfm?whereami=resolutions.

III-39
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

policiais. Como o branqueamento de capitais é praticado à escala mundial,


também existe a necessidade de trocar informação a nível internacional.67
Em 1995, várias unidades governamentais hoje conhecidas como
UIFs começaram a trabalhar em conjunto e formaram o Grupo Egmont
de Unidades de Informação Financeira (Grupo Egmont) (assim chamado
em homenagem ao local da sua primeira reunião, no Palácio de Egmont-
Arenberg, em Bruxelas).68 O objectivo do Grupo é proporcionar um fórum
com o fim de as UIFs melhorarem o apoio dado aos seus respectivos progra-
mas nacionais ABC e coordenarem as iniciativas nesta matéria. Este apoio
inclui a expansão e sistematização da troca de informações financeiras, o
aumento da especialização e das capacidades do seu pessoal, a promoção de
melhores comunicações entre as UIFs recorrendo à tecnologia, e ajudar a
criar UIFs no mundo inteiro.69
A missão do Grupo Egmont foi ampliada em 2004, para incluir especifi-
camente a informação financeira sobre o financiamento do terrorismo70. Para
aderir ao Grupo de Egmont,71 a UIF de um país deve primeiro enquadrar-se
na definição de UIF deste Grupo, que é seguinte:“uma agência nacional cen-
tral responsável para receber (e, se permitido, requerer ), analisar e transmitir
às autoridades competentes informações financeiras: (i) respeitantes a pro-
dutos suspeitos do crime e ao potencial financiamento do terrorismo, ou (ii)
exigidas pela legislação nacional para combater o branqueamento de capitais
e o financiamento do terrorismo”72. Um membro deve também comprometer-
se a actuar em conformidade com os Princípios para a Troca de Informações
entre Unidades de Informação Financeira, em Matéria de Branqueamento de
Capitais [Principles for Information Exchange Between Financial Intelligence
Units for Money Laundering Cases]73 do Grupo Egmont. Estes princípios
incluem as condições para a troca de informações, limitações à utilização per-
mitida das informações e confidencialidade.
O Grupo Egmont integra actualmente 94 jurisdições74 como membros.
Estes têm acesso a um sítio seguro, não disponível ao público, para a troca de
informações.

67. Ver a análise no Capítulo VII deste Guia de Referência.


68. http://www.egmontgroup.org/.
69. Ver a Declaração de Objectivo, Grupo Egmont, em http://www.egmontgroup.org/statement_of_
purpose.pdf.
70. Id.
71. Para uma análise sobre a adesão ao grupo, ver o documento de Egmont no seu sítio, com os
procedimentos para adesão ao Grupo de Egmont, em http://www.egmontgroup.org/procedu-
re_for_being_recognised.pdf.
72. http://www.egmontgroup.org/info_paper_final_092003.pdf.
73. Ver Statement of Purpose [Declaração de Intenções], Grupo Egmont. http://www.egmontgroup.
org/statement_of_purpose.pdf.
74. Em 2 de Junho de 2004. Ver http://www.egmontgroup.org/list_of_fius_062304.pdf.

III-40
Organizações internacionais que definem padrões

O Grupo Egmont é um organismo informal, sem secretariado ou sede


permanente. Este Grupo reúne-se em sessão plenária uma vez por ano e em
grupos de trabalho três vezes ao ano. No Grupo Egmont, os directores das
UIFs tomam todas as decisões relativas a políticas, incluindo a aceitação de
membros. O Grupo criou o Comité de Egmont para facilitar a coordenação
com os Grupos de Trabalho e os directores das UIFs nos períodos entre as
sessões plenárias anuais.
Finalmente, o Grupo Egmont elaborou materiais de formação disponí-
veis ao público. O Grupo compilou casos de combate ao branqueamento de
capitais com informações trabalhadas pelas UIFs que o integram75. Produziu
também um vídeo e documentos relativos ao Grupo Egmont, que estão dispo-
níveis no seu sítio.

75. http://www.fincen.gov/fiuinaction.pdf.

III-41
Capítulo IV

Organismos regionais e grupos


relevantes

A. Organismos regionais do tipo GAFI B. Grupo Wolfsberg de Bancos


1. Grupo Ásia-Pacífico sobre o Branqueamento de Capitais 1. Princípios Anti-Branqueamento de Capitais para Private Banking
2. Grupo de Acção Financeira das Caraíbas 2. Declaração sobre a Eliminação do Financiamento do Terrorismo
3. Conselho da Europa – MONEYVAL 3. Princípios Anti-Branqueamento de Capitais para Bancos Correspondentes
4. Grupo Anti-Branqueamento de Capitais da África Oriental e Austral C. Secretariado da Commonwealth
5. Grupo de Acção Financeira da América do Sul sobre o Branqueamento
de Capitais D. Organização dos Estados Americanos
– CICAD

A lém dos Organismos Internacionais que definem padrões analisados no


Capítulo III, existem outros organismos internacionais que desempenham
um papel essencial no combate ao branqueamento de capitais e ao financia-
mento do terrorismo. Estes grupos tendem a organizar-se numa base regional
ou de acordo com os fins específicos do organismo.

A. Organismos regionais do tipo GAFI

Os grupos regionais do Grupo de Acção Financeira sobre o


Branqueamento de Capitais (GAFI) ou os organismos regionais do tipo GAFI
(ORTGs) são muito importantes para a promoção e aplicação das normas
anti-branqueamento de capitais (ABC) e de combate ao financiamento do ter-
rorismo (CFT) nas respectivas regiões. Os ORTGs são, para as suas regiões, o
que o GAFI representa para o mundo.
Seguem o modelo do GAFI e, tal como este Grupo, o seu único objec-
tivo são as iniciativas de combate ao branqueamento de capitais e ao
financiamento do terrorismo. Incentivam a aplicação e observação das

IV-43
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais (As Quarenta


Recomendações) e as nove Recomendações Especiais sobre o Financiamento
do Terrorismo (Recomendações Especiais)1 do GAFI. Realizam também
avaliações mútuas dos seus membros, destinadas a identificar as respectivas
deficiências, para que estes possam tomar medidas correctivas. Finalmente,
os ORTGs facultam informação aos seus membros sobre as tendências, as
técnicas e outros desenvolvimentos do branqueamento de capitais, nos seus
Relatórios de Tipologias, elaborados geralmente numa base anual.
Os ORTGs são organismos voluntários e cooperantes. A adesão é aber-
ta a qualquer país ou jurisdição da respectiva região geográfica, que esteja
disposto a cumprir as regras e os objectivos do organismo. Alguns membros
do GAFI também são membros dos ORTGs. Além dos membros com direito
a voto, encontra-se disponível para as jurisdições e organismos que desejem
participar nas actividades do organismo o estatuto de observador sem direito
a voto.
Os ORTGs actualmente reconhecidos pelo GAFI são:

1. Grupo Ásia-Pacífico sobre o Branqueamento de Capitais (GAP)2


2. Grupo de Acção Financeira das Caraíbas (GAFIC)3

1. As Quarenta Recomendações, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF, repro-


duzidas no Anexo IV deste Guia de Referência; e as Recomendações Especiais, http://www.fatf-
gafi.org/dataoecd/55/16/34266142.pdf, reproduzidas no Anexo V deste Guia de Referência.
2. As jurisdições membros são: Austrália, Bangladesh, Brunei Darussalam, Cambodja, Estados
Unidos, Ilhas Fiji, Filipinas, Hong Kong-China, Ilhas Cook, Ilhas Marshall, Índia, Indonésia,
Japão, Macau-China, Malásia, Mongólia, Nepal, Niue, Nova Zelândia, Palau, Paquistão,
República da Coreia, Samoa, Singapura, Sri Lanka, Tailândia, Taipé e Vanuatu. As jurisdições
observadoras são: Canadá, França, Papua-Nova Guiné, Reino Unido, República das Maldivas,
República de Nauru, República de Quiribati, República Democrática Popular do Laos, Tonga,
União de Myanmar e Vietname. As organizações observadoras são: Associação das Nações do
Sudeste Asiático (ASEAN), Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), Banco Mundial, Centro
de Assistência Técnica Financeira do Pacífico (PFTAC), Cooperação Económica Ásia-Pacífico
(APEC), Fundo Monetário Internacional (FMI), Gabinete das Nações Unidas sobre as Drogas e
o Crime (ODC), GAFI, Grupo de Acção Financeira das Caraíbas (GAFIC), Grupo de Egmont,
Grupo de Supervisores Bancários Offshore (GSBO), INTERPOL, Organização Mundial
das Alfândegas (OMA), Programa para o Controlo Internacional das Drogas (UNDCP) da
Organização das Nações Unidas (ONU), Secretariado da Commonwealth e Secretariado do
Fórum das Ilhas do Pacífico (PIFS). http://www.apgml.org.
3. Os países membros são: Anguila, Antígua e Barbuda, Antilhas Holandesas, Aruba, Bahamas,
Barbados, Belize, Bermudas, Costa Rica, Domínica, El Salvador, Granada, Guatemala, Guiana,
Haiti, Honduras, Ilhas Caimão, Ilhas Turcos e Caicos, Ilhas Virgens Britânicas, Jamaica,
Monserrate, Nicarágua, Panamá, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis,
São Vicente e Granadinas, Suriname, Trindade e Tobago e Venezuela. As Nações Cooperantes
e Apoiantes são: Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, México e Reino Unido.
Os observadores são: Banco de Desenvolvimento das Caraíbas (BCD), Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), CARICOM, Comissão Europeia, Conselho das Caraíbas para a
Aplicação do Direito Alfandegário (CCLEC), Gabinete das Nações Unidas sobre as Drogas e

IV-44
Organismos regionais e grupos relevantes

3. Conselho da Europa – MONEYVAL4


4. Grupo Anti-Branqueamento de Capitais da África Oriental e Austral
(GABCAOA)5
5. Grupo de Acção Financeira da América do Sul sobre o Branqueamento
de Capitais (GAFISUD).6

Alguns ORTGs estabeleceram as suas próprias convenções ou instrumen-


tos ABC. Por exemplo, em 1990, o GAFIC publicou as suas “Recomendações
de Aruba”, que são 19 recomendações respeitantes ao branqueamento de
capitais na perspectiva regional das Caraíbas e complementam As Quarenta
Recomendações.7 Além disso, em 1992, uma reunião a nível ministerial deu
origem à “Declaração de Kingston”, que manifestou o compromisso dos
respectivos governos do GAFIC para a aplicação dos padrões internacionais
ABC.8 Da mesma forma, o Conselho da Europa adoptou, em 1990, a sua
“Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos
Produtos do Crime” (a Convenção de Estrasburgo).9 Estes são instrumentos
importantes para a aplicação das normas ABC nas respectivas regiões.

o Crime (UNODC), Grupo de Supervisores Bancários Offshore (GSBO), Interpol, Organização


dos Estados Americanos/Comissão Interamericana para o Controlo do Abuso de Drogas (OEA/
CICAD), Programa Global da ONU contra o Branqueamento de Capitais (GPML), Secretariado
da Commonwealth, Secretariado do GAFI e Secretariado do Grupo Ásia-Pacífico. http://www.
cfatf.org.
4. Os membros são: Albânia, Andorra, ‘Antiga República Jugoslava da Macedónia’, Arménia,
Azerbaijão, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Chipre, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Estónia,
Federação Russa, Geórgia, Hungria, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Malta, Moldávia, Polónia,
República Checa, Roménia, São Marino, Sérvia e Montenegro e Ucrânia. As jurisdições
observadoras são: Canadá, Estados Unidos, Japão, México, Santa Sé. Os observadores são:
Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), Banco Mundial, Comissão das
Comunidades Europeias, Divisão para a Prevenção do Crime e Justiça Penal da Organização
das Nações Unidas, Fundo Monetário Internacional (FMI), Gabinete das Nações Unidas sobre
as Drogas e o Crime (UNODC), GAFI (Secretariado e Países Membros), Grupo de Supervisores
Bancários Offshore (GSBO), Interpol, Secretariado da Commonwealth, Secretariado-Geral do
Conselho da União Europeia e Organização Mundial das Alfândegas (OMA). http://www1.oecd.
org/fatf/Ctry-orgpages/org-pcrev_en.htm.
5. Os membros que assinaram o memorando de entendimento do GABCAOA são: África do
Sul, Botswana, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Quénia, Seychelles, Suazilândia,
Tanzânia, Uganda. Os membros que não assinaram o ME do GABCAOA são: Lesoto, Zâmbia
e Zimbabué. Os observadores são: Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Banco de
Desenvolvimento da África Oriental, Banco de Desenvolvimento da África Oriental e Austral,
Banco Mundial, Estados Unidos, FMI, Interpol, Organização Mundial das Alfândegas (OMA),
Programa Global da ONU contra o Branqueamento de Capitais, Reino Unido, Secretariado
da Commonwealth, Secretariado da EAC, Secretariado da SADC, Secretariado do COMESA e
Secretariado do GAFI. http://www.esaamlg.org.
6. Os membros são: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e
Uruguai. Os observadores são: Alemanha, ,Espanha, Estados Unidos, França, México, Portugal
, Banco Mundial, BID, FMI, Grupo Egmont e Organização das Nações Unidas .http://www.gafi-
sud.org/english/index.html.
7. http://www.cfatf.org/eng/recommendations/cfatf/.
8. http://www.cfatf.org/eng/kingdec/.
9. http://conventions.coe.int/Treaty/en/Treaties/Html/141.htm.
IV-45
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Além disso, a criação de três outros ORTGs está em consideração ou em


curso.10 As três novas áreas geográficas abrangidas seriam:

• O Médio Oriente e a África do Norte11 (MOAN);


• África Central e Ocidental (GIABA); e
• Sudoeste da Europa e Ásia (EURASIA)

A questão da participação como membro e outras questões de organi-


zação necessitam ser resolvidas, bem como os procedimentos de avaliação
mútua, antes de qualquer destes organismos ser reconhecido pelo GAFI.

B. Grupo Wolfsberg de Bancos

O Grupo Wolfsberg é uma associação de 12 bancos globais, represen-


tando principalmente preocupações internacionais relacionadas com o private
banking.12 O Grupo, assim chamado em homenagem ao Château Wolfsberg,
no nordeste da Suíça, onde foi criado, estabeleceu quatro conjuntos de princí-
pios para o private banking.

1. Princípios Anti-Branqueamento de Capitais para o Private Banking

Estes princípios representam a óptica do Grupo quanto às orientações


adequadas ABC, para lidar com indivíduos possuidores de altos rendimentos
líquidos e com os departamentos de private banking das instituições finan-
ceiras. Estes departamentos tratam da identificação do cliente, bem como
do beneficiário efectivo das contas e de situações que exigem uma vigilância
acrescida, tais como operações não usuais ou suspeitas.
Os onze princípios envolvem:

1. Aceitação do cliente: orientações gerais

10. GAFI, Relatório Anual 2003-2004, pág. 15,


http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/12/44/33622501.PDF.
11. Id.; as reuniões preparatórias incluíram representantes dos seguintes países: Arábia Saudita,
Argélia, Bahrain, Qatar, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Iémen, Jordânia, Kuwait, Líbano,
Marrocos, Omã, Síria e Tunísia.
12. O Grupo de Wolfsberg consiste nos seguintes bancos internacionais: ABN Amro N.V.,
Santander Central Hispano S.A., Bank of Tokyo-Mitsubishi Ltd., Barclays Bank, Citigroup,
Credit Suisse Group, Deutsche Bank A.G., Goldman Sachs, HSBC, J.P. Morgan Chase, Société
Générale, UBS AG. http://www.wolfsberg-principles.com/index.html.

IV-46
Organismos regionais e grupos relevantes

2. Aceitação do cliente: situações que exigem vigilância acrescida /aten-


ção
3. Actualização da ficha do cliente
4. Procedimentos ao identificar actividades não usuais ou suspeitas
5. Acompanhamento
6. Responsabilidades de controlo
7. Comunicação
8. Educação, formação e informação
9. Requisitos de conservação de documentos
10. Excepções e desvios
11. Organização anti-branqueamento de capitais.13

2. Declaração sobre a Eliminação do Financiamento do Terrorismo

A Declaração de Wolfsberg sobre a Eliminação do Financiamento do


Terrorismo descreve o papel que as instituições financeiras deveriam assumir
no combate ao financiamento do terrorismo, com o objectivo de intensificar
a contribuição das instituições financeiras para a resolução deste problema
internacional.14 A declaração sublinha que as instituições financeiras devem
auxiliar as autoridades competentes no combate ao financiamento do terro-
rismo, através da prevenção, da detecção e da troca de informação.
Esta declaração refere que se deveriam melhorar as políticas e os proce-
dimentos de “conheça o seu cliente” (CSC), através da verificação de listas de
terroristas conhecidos ou suspeitos. Além disso, os bancos deveriam desempe-
nhar um papel activo na ajuda aos governos, aplicando uma vigilância acres-
cida sempre que detectem actividades suspeitas ou irregulares. Uma vigilância
acrescida é particularmente importante quando os clientes estão envolvidos
em sectores ou actividades já identificados pelas autoridades competentes
como tendo sido utilizados para o financiamento do terrorismo.15 A decla-
ração apoia o fortalecimento da cooperação internacional e a aprovação as
Recomendações Especiais do GAFI.16

3. Princípios Anti-Branqueamento de Capitais para Bancos Correspondentes

13. http://www.wolfsberg-principles.com/privat-banking.html.
14. http://www.wolfsberg-principles.com/financing-terrorism.html.
15. Id., princípios 4 e 5.
16. Id., princípio 7.

IV-47
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

O Grupo Wolfsberg adoptou um conjunto de 14 princípios para reger o


estabelecimento e a manutenção de relações de banca correspondente a nível
global.17 Os princípios proíbem os bancos internacionais de realizar negócios
com “bancos de fachada”.18 Além disso, os princípios utilizam uma estraté-
gia de avaliação do risco no estabelecimento de relações de banca correspon-
dente, elaborada com o propósito de avaliar o nível adequado de vigilância
que um banco deve adoptar em relação aos bancos correspondentes seus
clientes.
Ao avaliar os possíveis riscos, os princípios de Wolfsberg exigem que um
banco correspondente considere as seguintes informações relativas ao banco
cliente:

• domicílio;
• titularidade e estrutura de gestão;
• carteira comercial, e
• base de clientes.19

Este perfil de riscos tem como objectivo ajudar os bancos a aplicar os


procedimentos de CSC, quando prestam serviços de banca correspondente.
Os princípios também especificam a identificação e o acompanhamento das
operações ou actividades não usuais ou suspeitas.
Os princípios para bancos correspondentes abrangem os seguintes temas:

1. Preâmbulo
2. Banca correspondente
3. Responsabilidade e supervisão
4. Vigilância baseada no risco
5. Normas de vigilância
6. Vigilância acrescida
7. Bancos de fachada
8. Bancos centrais e organizações supra-nacionais
9. Agências, sucursais e filiais
10. Aplicação à base de clientes
11. Actualização das fichas dos clientes
12. Acompanhamento e comunicação de actividades suspeitas
13. Integração com o programa anti-branqueamento de capitais
14. Recomendação de um Registo Internacional.20

17. http://www.wolfsberg-principles.com/corresp-banking.html.
18. Id., princípio 7.
19. Id., princípio 5.
20. Id., Índice da Introdução.

IV-48
Organismos regionais e grupos relevantes

4. Monitorização, verificação e busca

Este conjunto de princípios identifica as questões que devem ser abor-


dadas para que as instituições financeiras possam desenvolver procedimentos
adequados de acompanhamento, de verificação e de busca,21 aplicando uma
estratégia baseada no perfil de risco. Os princípios reconhecem que o perfil
de risco pode ser diferente para uma instituição financeira, como um todo,
e para as suas unidades individuais, dependendo dos negócios realizados
por uma determinada unidade (por exemplo retalho, private banking, banca
correspondente, corretagem). Os princípios reconhecem ainda que qualquer
procedimento de acompanhamento, verificação ou busca deve limitar-se a
detectar os clientes e as operações com características identificáveis distintas
das que caracterizam os comportamentos aparentemente legítimos.
De acordo com estes princípios, as instituições financeiras devem criar
procedimentos adequados que permitam identificar actividades e padrões não
usuais de actividade ou operações. Como as operações, os padrões ou as acti-
vidades não usuais não têm de ser suspeitos em todos os casos, as instituições
financeiras devem ter a capacidade de analisar e determinar se determinados
padrões, actividades e operações são de natureza suspeita em relação, entre
outras hipóteses, a possível branqueamento de capitais.22
Os princípios incentivam a aplicação de uma estratégia baseada no risco
para o acompanhamento das actividades.23 Além disso, os princípios promo-
vem a utilização de verificações e filtros em tempo real, o que requer a análise
da operação antes da sua execução, sempre que houver uma interdição ou
sanção em vigor.24 Encoraja-se a realização de buscas retroactivas, de acordo
com a estratégia de risco adoptada pela instituição.
A maior parte do acompanhamento continuado de actividades não usu-
ais e potencialmente suspeitas deve ser realizada através da monitorização das
operações.25 O acompanhamento das operações com base no risco, para a
identificação de possíveis actividades de branqueamento de capitais, requer o
desenvolvimento de modelos de risco que identifiquem os potenciais riscos de
branqueamento de capitais e forneçam meios para a classificação dos riscos,
para os comparar com as operações realizadas. Um procedimento adequado
de acompanhamento de operações deve comparar a informação sobre as ope-

21. http://www.wolfsberg-principles.com/monitoring.html.
22. Id., princípio 3.
23. Id., princípio 4.
24. Id., princípio 4.1.
25. Id., princípio 5.

IV-49
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

rações com os riscos identificados (tais como a localização geográfica da ope-


ração, o tipo de produtos e serviços oferecidos e o tipo de cliente que realiza
a operação), com base nas diversas tipologias de branqueamento de capitais
e de outras actividades ilícitas, para determinar se a operação é não usual ou
suspeita.

C. Secretariado da Commonwealth

O Secretariado da Commonwealth é uma associação voluntária de 53


Estados soberanos, que se consultam e cooperam mutuamente no interesse
comum dos seus povos numa ampla variedade de assuntos, incluindo a pro-
moção da compreensão internacional e a paz mundial.26 Todos os Estados
membros, com excepção de Moçambique, estiveram directa ou indirecta-
mente sob o domínio britânico ou mantiveram vínculos administrativos com
outro país da Commonwealth.
No que concerne ao ABC e CFT, o Secretariado da Commonwealth
faculta assistência aos países para a aplicação das Quarenta Recomendações
e das Recomendações Especiais. Trabalha com organizações nacionais e inter-
nacionais e ajuda os governos a aplicar as Recomendações do GAFI. É obser-
vador no GAFI, GAFIC, GAP e GABCAOA.
O Secretariado da Commonwealth publicou “A Manual of Best Practices
for Combating Money Laundering in the Financial Sector [Manual de
Melhores Práticas para o Combate ao Branqueamento de Capitais no Sector
Financeiro]”.27 Este manual destina-se às autoridades governamentais, aos
reguladores e às instituições financeiras.

26. Os países da Commonwealth são: África do Sul, Antígua e Barbuda, Austrália, Bahamas,
Bangladesh, Barbados, Belize, Botswana, Brunei Darussalam, Camarões, Canadá, Chipre,
Dominica, Gâmbia, Gana, Granada, Guiana, Ilhas Fiji, Ilhas Salomão, Índia, Jamaica, Lesoto,
Malásia, Malawi, Maldivas, Malta, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Nauru, Nigéria, Nova
Zelândia, Papua-Nova Guiné, Paquistão, Quénia, Quiribati, Reino Unido, República Unida da
Tanzânia, Samoa, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis, São Vicente e Granadinas, Serra Leoa,
Seychelles, Singapura, Sri Lanka, Suazilândia, Tonga, Trindade e Tobago, Tuvalu, Uganda,
Vanuatu e Zâmbia. http://www.thecommonwealth.org/.
27. O manual está disponível apenas mediante solicitação directa ao Secretariado da
Commonwealth; actualmente não está disponível on-line.

IV-50
Organismos regionais e grupos relevantes

D. Organização dos Estados Americanos – CICAD

A Organização dos Estados Americanos (OEA) é o organismo regional


de segurança e diplomacia no Hemisfério Ocidental. Todos os 35 países das
Américas ratificaram a Carta da OEA.28 Em 1986, a OEA criou a Comissão
Interamericana para o Controlo do Abuso de Drogas (CICAD) como forma
de enfrentar o problema cada vez maior do tráfico de drogas neste hemisfé-
rio. Em 1994, os Chefes de Estado e de Governo do Hemisfério Ocidental
aprovaram a inclusão das iniciativas regionais ABC nas funções da CICAD. A
CICAD elaborou estratégias regionais abrangentes e modelos de regulamentos
para o combate ao tráfico e ao consumo de drogas, à proliferação de substân-
cias químicas e precursores e ao tráfico de armas, bem como para o combate
ao branqueamento de capitais.29

28. As nações da OEA são: Antígua e Barbuda, Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia,
Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Dominica, El Salvador, Equador, Estados
Unidos, Granada, Guatemala, Guiana Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis, São Vicente e
Granadinas, Suriname, Trindade e Tobago, Uruguai e Venezuela. http://www.oas.org/main/
english/.
29. http://www.cicad.oas.org/Desarrollo_Juridico/eng/legal-regulations-money.htm.

IV-51
Capítulo V

Requisitos para
os ordenamentos jurídicos

A. Criminalização do branqueamento de D. Tipos de entidades e pessoas abrangidas


capitais e do financiamento do terrorismo 1. Instituições financeiras
1. Definição do crime 2. Actividades e profissões não financeiras designadas
2. Alcance da infracção subjacente 3. Outras pessoas e entidades potencialmente abrangidas
3. Considerações transnacionais para a cooperação internacional E. Regulação e supervisão—Normas-padrão de
4. Dolo — Conhecimento ou intenção integridade
5. Responsabilidade das pessoas colectivas
6. Responsabilidade do autor da infracção subjacente 1. Instituições financeiras
7. Honorários dos advogados 2. Actividades e profissões não financeiras designadas

B. Criminalização do terrorismo F. Leis conformes com a aplicação das


e do financiamento do terrorismo Recomendações do GAFI

C. Apreensão e perda (ou “forfeiture”) G. Cooperação entre as autoridades


competentes
1. Perda dos produtos directos e indirectos do crime
2. Execução da perda dos bens H. Investigações
3. Responsabilidade de terceiros
4. Aspectos internacionais da declaração de perda

E xiste um conjunto de medidas que cada país deve aprovar para garantir
que o respectivo sistema institucional anti-branqueamento de capitais
(ABC) se encontra em conformidade com os padrões internacionais. Os orga-
nismos internacionais que definem padrões normativos reconhecem que os
países têm ordenamentos jurídicos diferentes e que, por isso, nenhum país
está em condições de adoptar leis específicas que sejam idênticas às de outro
país. Os requisitos específicos para o combate ao financiamento do terroris-
mo (CFT) são analisados no Capítulo IX. Assim, o presente capítulo analisa
os oito requisitos para os ordenamentos jurídicos, relacionados principalmen-
te com o ABC. Estes oito requisitos estão classificados como requisitos dos
ordenamentos jurídicos para proporcionar uma apreciação no contexto deste
Guia de Referência. No entanto, alguns dos requisitos poderiam igualmente
ser analisados em diferentes categorias. Por exemplo, a “Regulamentação e
supervisão — Normas de Integridade” poderia ser analisada no Capítulo VI,
“Medidas preventivas”. Independentemente da sua classificação, cada um
destes oito requisitos é necessário ao sistema jurídico anti-branqueamento de

V-53
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

capitais de um país. De acordo com estes princípios, cada país tem a liber-
dade de adoptar leis que sejam consistentes com as suas próprias circunstân-
cias culturais, princípios jurídicos e com a Constituição, bem como com os
padrões internacionais. Estes requisitos são os seguintes:

• A criminalização do branqueamento de capitais em conformidade com


as Convenções de Viena e de Palermo;
• A criminalização do terrorismo e do financiamento do terrorismo;
• Leis para a apreensão e perda (ou “forfeiture)” dos produtos ilegais;
• Os tipos de entidades e pessoas a serem abrangidas pelas leis ABC;
• Normas de integridade para as instituições financeiras;
• Leis consistentes com a aplicação das Recomendações do GAFI;
• Cooperação entre as autoridades competentes; e
• Investigações

Os requisitos para os sistemas jurídicos ABC e os demais padrões nor-


mativos internacionais mencionadas neste Guia de Referência baseiam-se
nas Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais (As
Quarenta Recomendações) publicadas pelo Grupo de Acção Financeira sobre
o Branqueamento de Capitais (GAFI); os países também podem consultar
a Metodologia ABC/CFT para obter mais explicações sobre estes requisitos
e a forma como são avaliados.1 As Quarenta Recomendações estão redigi-
das como recomendações, mas são muito mais do que meras sugestões ou
recomendações. Traduzem-se em mandatos de acção para todos os países,
não apenas para os membros do GAFI, para que possam ser considerados
em conformidade com os padrões internacionais. Assim, ao redigir os seus
diplomas legais, os países deveriam examinar com muita atenção todas as
recomendações do GAFI .

A. Criminalização do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo

O ponto de partida para um país criar ou aperfeiçoar o seu sistema ABC


é tornar o branqueamento de capitais um crime no direito interno. A crimina-
lização apresenta três objectivos principais. Primeiro, obriga ao cumprimento
das medidas preventivas ABC. Segundo, vincula actos que possam parecer
inofensivos à actividade criminosa abertamente, ou seja, as acções de quem

1. As Quarenta Recomendações, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF estão


reproduzidas no Anexo IV deste Guia de Referência, juntamente com o Glossário e as Notas
Interpretativas. Metodologia ABC/CFT, htpp://www.fatf-gafi.org/pdf/Meth-2004_en.pdf/.

V-54
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

transforma os produtos ilícitos são consideradas actos criminosos. Terceiro,


a criminalização estabelece um fundamento específico para o aumento da
cooperação internacional nesta função crucial da aplicação da lei. Atendendo
à natureza criminosa e aos aspectos internacionais das infracções de branque-
amento de capitais, as autoridades competentes de um país podem recorrer a
instrumentos internacionais de grande eficácia, especialmente aos mecanismos
de auxílio judiciário mútuo e, assim, podem mais eficazmente localizar, com-
bater e perseguir criminalmente o branqueamento de capitais a nível interna-
cional.

1. Definição do crime

A criminalização do branqueamento de capitais deve ser realizada em


conformidade com a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito
de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas (1988) (Convenção de
Viena)2 e com a Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade
Organizada Transnacional (2000) (Convenção de Palermo).3 As disposições
pertinentes destas Convenções são os Artigo 3° (1) (b) e (c) da Convenção de
Viena e o Artigo 6° (1) da Convenção de Palermo. A criminalização do bran-
queamento de capitais nos termos destes artigos é a primeira recomendação
do GAFI.4 Muitos países assinaram e ratificaram estas Convenções, embora
tal não seja suficiente para o cumprimento da Recomendação 1. Os países
têm de aplicar, internamente, os requisitos dos Artigos relevantes.
Embora a Convenção de Viena tenha o seu âmbito limitado ao tráfico de
drogas e não utilize os termos “branqueamento de capitais”, as três catego-
rias de infracções especificadas nesta Convenção constituem a base da infrac-
ção de branqueamento de capitais. As categorias são:

i. a conversão ou a transferência de bens, com o conhecimento de que os


mesmos provêm de uma infracção de tráfico de drogas, com o objecti-
vo de ocultar ou dissimular a origem ilícita desses bens ou de auxiliar
a pessoa implicada numa infracção de tráfico de drogas a eximir-se às
consequências jurídicas dos seus actos;5
ii. a ocultação ou a dissimulação da verdadeira natureza, origem, loca-
lização, disposição, movimentação, propriedade ou outros direitos

2. Convenção de Viena, http://www.incb.org/e/conv/1988/.


3. Convenção de Palermo, http://www.undcp.org/adhoc/palermo/convmain.html.
4. As Quarenta Recomendações, Rec. 1.
5. Convenção de Viena, artigo 3.° (1)(b)(i).

V-55
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

respeitantes aos bens, com o conhecimento de que eles provêm de uma


infracção de tráfico de drogas;6
iii. a aquisição, detenção ou uso de bens, com o conhecimento de que pro-
vêm de uma infracção de tráfico de drogas.7

De acordo com a Convenção de Viena, as primeiras duas categorias


devem ser incorporadas nas leis nacionais; a terceira infracção não é obriga-
tória e depende “dos princípios constitucionais e dos conceitos fundamentais
do respectivo ordenamento jurídico”8 de cada país.
A definição da infracção de branqueamento de capitais da Convenção de
Viena conta com uma ampla aceitação e é utilizada em todos os instrumentos
jurídicos internacionais actuais relativos a este tema.9 Utilizando a defini-
ção da Convenção de Viena, a Convenção de Palermo alarga a definição da
infracção de branqueamento de capitais do seguinte modo:

a. quando cometida intencionalmente:


i. a conversão ou transferência de bens, quando o autor tem conheci-
mento de que esses bens são produto do crime, com o objectivo de
ocultar ou dissimular a origem ilícita dos bens ou ajudar qualquer
pessoa envolvida na prática da infracção principal a furtar-se às
consequências jurídicas dos seus actos;
ii. a ocultação ou dissimulação da verdadeira natureza, origem, locali-
zação, disposição, movimentação ou propriedade de bens ou direi-
tos a eles relativos, sabendo o seu autor que esses bens são produto
do crime;

b. de acordo com os conceitos fundamentais do seu ordenamento jurídi-


co:
i. a aquisição, a detenção ou a utilização de bens, sabendo aquele
que os adquire, detém ou utiliza, no momento da recepção, que são
produto do crime;
ii. a participação, em qualquer uma das infracções estabelecidas em
conformidade com o presente artigo ou qualquer associação, cons-
piração, tentativa ou cumplicidade com vista à prática das mesmas,
bem como a prestação de auxílio, assistência, facilitação e aconse-
lhamento da prática dessas infracções.10

6. Id., artigo 3.° (1)(b)(ii).


7. Id., artigo 3.° (c)(i).
8. Id.
9. Ver também o Capítulo III, a Organização das Nações Unidas, a Convenção de Viena.

V-56
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

A Organização das Nações Unidas (ONU) adoptou modelos de legis-


lação baseados nestes conceitos, conforme estabelecido na Lei Modelo
da Organização das Nações Unidas sobre o Branqueamento, Perda e
Cooperação Internacional Relativos aos Produtos do Crime (1999)11 e na
Lei Modelo da Organização das Nações Unidas sobre o Branqueamento de
Capitais e os Produtos do Crime (2000).12
O Conselho da Europa adoptou elementos da Convenção de Viena ao
elaborar a sua Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão
e Perda dos Produtos do Crime (1990).13 Outras organizações internacionais
seguiram o mesmo modelo: a Organização dos Estados Americanos, com o
seu Regulamento Modelo sobre Delitos de Branqueamento Relacionados com
o Tráfico Ilícito de Drogas e Outros Delitos Graves (1999) (Regulamento
Modelo da OEA),14 a Lei Modelo da Organização das Nações Unidas sobre
Branqueamento, Perda e Cooperação Internacional Relativos aos Produtos do
Crime (1999) (Lei Modelo da ONU)15 e a Lei Modelo da Organização das
Nações Unidas sobre o Branqueamento de Capitais e os Produtos do Crime
(2000) (Lei Penal Modelo da ONU).16

2. Alcance da infracção subjacente

a. Inclusão do maior número possível de infracções como infracções subjacentes

Uma infracção subjacente ao branqueamento de capitais é a actividade


criminosa que gera os produtos, os quais, quando branqueados, resultam na
infracção do branqueamento de capitais.17 A designação de certas activida-
des criminosas como infracções subjacentes ao branqueamento de capitais
é necessária para o cumprimento dos padrões normativos internacionais. A
designação de um número cada vez maior de infracções penais como infrac-

10. Palermo Convention, artigo 6.° (1).


11. Artigo 1.1.1, http://www.imolin.org/imolin/en/ml99eng.html.
12. Artigo 17, http://www.unodc.org/pdf/lap_money-laundering-proceeds_2000.pdf.
13. Conselho da Europa, Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos
Produtos do Crime (1990), Artigo 6.° (1).,
http://conventions.coe.int/treaty/en/Treaties/Html/141.htm.
14. Organização dos Estados Americanos, Regulamento Modelo sobre Delitos de Branqueamento
Relacionados com o Tráfico Ilícito de Drogas e Outros Delitos Graves (1999), artigo 2.° (1),
(1) e (3)., http://www.cicad.oas.org/Desarrollo_Juridico/ebg/legal-regulations-money.htm.
15. Artigo 1.1.1, http://www.imolin.org/imolin/en/ml99eng.html.
16. Artigo 17, http://www.unodc.org/pdf/lap_money-laundering-proceeds_2000.pdf.
17. Ver a Convenção de Palermo, artigo 2.° (h); Conselho da Europa, Convenção Relativa ao
Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime (1990), artigo 1.° (e).

V-57
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

ções subjacentes ao branqueamento de capitais tem ocorrido com o desenvol-


vimento destes padrões internacionais.
A primeira iniciativa internacional contra o branqueamento de capitais
encontrava-se na Convenção de Viena. Contudo, esta Convenção constitui
um instrumento internacional de controlo das drogas e as infracções sub-
jacentes ao branqueamento de capitais estão relacionadas apenas com as
infracções de tráfico de drogas.18 A Convenção de Palermo impõe a todos
os Estados partes a obrigação de aplicar as infracções de branqueamento
de capitais da Convenção ao “maior número possível de infracções subja-
centes”.19 A Recomendação 4 da versão de 1996 das 40 Recomendações
do GAFI especificou que as infracções subjacentes devem ser “baseadas em
infracções graves”. Contudo, nem a Convenção de Palermo nem a versão
de 1996 das 40 Recomendações definiram, em pormenor, o que constitui o
“maior número possível” de infracções subjacentes ou as “infracções graves”.
Assim, o âmbito da infracção subjacente foi deixado ao critério de cada país,
sujeito apenas ao requisito da Convenção de Viena de que o tráfico de drogas
deve constituir uma infracção subjacente.
O âmbito das infracções subjacentes utilizado na versão actual das
Quarenta Recomendações é muito mais amplo.20 A Recomendação 1, aliás
bastante extensa, começa por repetir o texto anterior da Convenção de
Palermo e a versão de 1996 das 40 Recomendações de que os países deve-
riam incriminar como branqueamento de capitais todas as infracções graves,
por forma a incluir o maior número possível de infracções como infracções
subjacentes ao branqueamento de capitais.21 Após estabelecer os vários méto-
dos para consagrar as infracções subjacentes ou principais (ver abaixo), a
Recomendação afirma que os países devem incluir (no mínimo) “um conjun-
to de infracções que se integrem nas categorias de infracções designadas”.22
Existem 20 categorias de infracções designadas:

• Participação num grupo criminoso organizado e em acções ilegítimas


para obtenção de fundos, nomeadamente através de
chantagem, intimidação ou outros meios;
• Terrorismo, incluindo o financiamento do terrorismo;

18. Convenção de Viena, Artigo 3.°.


19. Convenção de Palermo, artigo 2.° (a).
20. As Quarenta Recomendações, Rec. 1.
21. Id.
22. Id., Rec. 1.

V-58
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

• Tráfico de seres humanos e tráfico ilícito de migrantes;


• Exploração sexual, incluindo a exploração sexual de crianças;
• Tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas;
• Tráfico de armas;
• Tráfico de bens roubados e de outros bens;
• Corrupção e suborno;
• Fraude;
• Contrafacção de moeda;
• Contrafacção e pirataria de produtos;
• Crimes contra o meio ambiente;
• Homicídio e ofensas corporais graves;
• Rapto, detenção ilegal e tomada de reféns;
• Roubo ou furto;
• Contrabando;
• Extorsão;
• Falsificação;
• Pirataria; e
• Utilização abusiva de informação privilegiada e manipulação do mer-
cado.23

Há dois outros aspectos importantes sobre a descrição das infracções


subjacentes. Primeiro, o requisito é o de incluir “um conjunto de infracções”
em cada categoria de infracções designadas. Por exemplo, um país não estaria
a cumprir esta Recomendação se, na categoria de “roubo ou furto”, desig-
nasse apenas os produtos do “roubo de veículos” como infracção subjacente
ao branqueamento de capitais e excluísse os produtos dos furtos de outros
bens. Segundo, cabe aos países definir as infracções da lista acima referida e a
natureza dos elementos específicos dessas infracções que as tornam infracções
subjacentes ao branqueamento de capitais.
O requisito essencial é o de criminalizar os produtos derivados das con-
dutas descritas na referida lista. Além disso, não se torna necessário descrever
uma infracção no Código Penal exactamente nos mesmos termos utilizados
nesta lista. Por exemplo, em alguns países não existe uma infracção específica
designada como “fraude”, embora o comportamento fraudulento seja crimi-
nalizado no âmbito de alguma outra infracção, como por exemplo o “furto”.
Sempre que seja possível obter uma condenação pelo branqueamento dos
produtos resultantes de um comportamento fraudulento, o país tem a flexibi-
lidade para descrever ou classificar como entender, esse comportamento.

23. Ver a definição de “categoria de infracções designadas” no Glossário das Quarenta


Recomendações.

V-59
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

A única excepção a esta flexibilidade diz respeito ao financiamento do


terrorismo. Nas nove Recomendações Especiais sobre o Financiamento do
Terrorismo (Recomendações Especiais), o GAFI requer especificamente que o
financiamento do terrorismo, de actos terroristas e das organizações terroris-
tas seja designado como infracção subjacente ao branqueamento de capitais.
Não é suficiente criminalizar estas actividades apenas com base em legislação
sobre a prestação de auxílio e assistência, a tentativa ou o conluio.

b. Métodos para descrever as infracções subjacentes

O GAFI descreve os tipos ou as categorias de actos criminosos que


devem ser designados como infracções principais ou subjacentes ao branque-
amento de capitais, embora seja deixado a cada país o modo e o método de
criminalização destes comportamentos. Isto pode ser feito através de referên-
cia a:

• Todas as infracções;
• Um limiar ligado ou a uma categoria de infracções graves ou a uma
moldura penal aplicável à infracção subjacente (critério do limiar);
• Uma lista de infracções subjacentes; ou
• Uma combinação destes métodos.

Quando os países optarem pelo critério do limiar, as infracções sub-


jacentes devem incluir, no mínimo, todas as infracções qualificadas como
“infracções graves” no seu direito interno ou incluir as infracções puníveis
com pena de duração máxima superior a um ano de prisão (nos países cujos
sistemas jurídico-penais contemplem penas mínimas, deveriam incluir todas
as infracções puníveis com pena de duração mínima superior a seis meses de
prisão). Por exemplo, as categorias de infracções graves incluem “crimes com
processo comum” (por oposição aos crimes com processo sumário), “delitos
graves” (por oposição a contravenções) e “crimes” (por oposição a delitos).
Importa observar que os países onde é aplicado o critério do limiar para as
infracções subjacentes designadas estão sujeitos à observância de dois requisi-
tos mínimos adicionais, não alternativos:

V-60
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

• O limiar deve abranger todas as 20 categorias de infracções designadas


(ver acima); e
• Todas as infracções graves ou todas as infracções puníveis com pena
de duração máxima superior a um ano de prisão (ou seis meses nos
países que aplicam limiares mínimos)

Isto significa que qualquer infracção não constante da lista de categorias


de infracções designadas, mas que é definida pelo país como uma “infracção
grave” ou punida com pena de duração máxima superior a um ano de prisão,
deveria também ser designada por esse país como uma infracção subjacente
ao branqueamento de capitais.

3. Considerações transnacionais para a cooperação internacional

Como já referido, as Recomendações do GAFI estabelecem uma cate-


goria mínima de infracções que devem ser classificadas como infracções
subjacentes ao branqueamento de capitais, mas incentivam os países a ir
além dela.24 Como tornar essa lista mais abrangente bem como o modo e
o método de criminalização são aspectos deixados ao critério de cada país.
A amplitude das medidas que um país tomar neste sentido tem, no entanto,
consequências na sua capacidade de cooperação a nível internacional e de
trocar informações com outras autoridades nacionais.
A Recomendação 1 determina que as infracções subjacentes devem
abranger as condutas ocorridas noutro país, que constituam uma infracção
nesse país e que teriam constituído uma infracção se tivessem ocorrido em
território nacional.25 Trata-se do designado princípio da “dupla incrimina-
ção”, segundo o qual a conduta cometida noutro país deve ser considerada
uma infracção subjacente nesse país e no território nacional. Contudo, trata-
se de um requisito mínimo. Esta Recomendação prevê também que os países
podem estabelecer que o único requisito prévio para o procedimento criminal
do branqueamento de capitais é o de que a conduta ocorrida noutro país
teria constituído uma infracção subjacente, se o acto tivesse ocorrido no terri-
tório nacional.26 Esta abordagem permitiria o procedimento criminal no local
onde os produtos ilícitos foram gerados, mesmo em resultado de um acto que
não constitua uma infracção subjacente no país onde o acto foi cometido,
desde que esse acto seja considerado um crime no país onde esses produtos
foram branqueados.

24. As Quarenta Recomendações, Rec. 1.


25. Id.
26. As Quarenta Recomendações, Rec. 1.

V-61
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Embora não incentive necessariamente os países a adoptar esta última


abordagem, o GAFI encoraja-os a prestarem auxílio judiciário mútuo mesmo
na ausência de dupla criminalização.27
O GAFI prevê também que quando o requisito da dupla incriminação
seja exigido para a prestação de auxílio jurídico mútuo ou para a extradição,
tal requisito deverá considerar-se cumprido, independentemente de os países
subsumirem o crime na mesma categoria de crimes, desde que em ambos os
países esteja criminalizada a conduta subjacente à infracção. Por exemplo, se
o país A pede auxílio ao país B relativamente ao branqueamento dos produ-
tos de uma fraude, e não existir no país B nenhuma infracção específica de
fraude, este último deve prestar o auxílio caso tenha criminalizado a conduta
fraudulenta nos termos de qualquer outra infracção (por exemplo, o furto).

4. Dolo — Conhecimento ou intenção

Nos termos da Convenção de Viena, o autor age com dolo — a intenção


ou o propósito de cometer a infracção de branqueamento de capitais — quan-
do “tem conhecimento” de que os produtos são provenientes da infracção
subjacente.28 Mas os países podem ampliar o alcance da responsabilidade,
para incluir o “branqueamento de capitais por negligência”, quando o autor
deveria ter conhecimento de que os bens eram o produto de um acto crimino-
so ou que tinham sido obtidos com o produto desse acto.
Os países têm várias opções para determinar o “dolo” associado à infrac-
ção de branqueamento de capitais.29 A legislação de um país pode decidir que
o conhecimento concreto sobre a origem ilícita dos bens, ou a mera suspeita
dessa origem ilícita, constitui o elemento necessário para obter uma conde-
nação por branqueamento de capitais. O legislador pode também aceitar
como requisito de culpabilidade a noção de “deveria ter conhecimento”, que
constitui uma forma de negligência no branqueamento de capitais.30 Além
deste requisito geral de intenção, a lei pode prever uma intenção específica
de “ocultar ou dissimular a origem ilícita” dos bens ou a intenção de auxiliar
outra pessoa a “furtar-se às consequências jurídicas dos seus actos”.31
Segundo a Lei Modelo da ONU, o conhecimento concreto ou o “ter
razão para acreditar”, que os bens são provenientes de actos criminosos, cons-
titui o assim chamado elemento intelectual do branqueamento de capitais.32
No entanto, a Lei Modelo prevê que a intenção específica pode aplicar-se a

27. As Quarenta Recomendações, Rec. 1.


28. Id., Rec. 37.
29. Convenção de Viena, artigo 3.° (b)(i).
30. Lei Modelo da ONU, http://www.imolin.org/imolin/en/ml99eng.html.
31. Id., Artigo 1.1.1.
32. Id., no subparágrafo (a).

V-62
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

certas infracções de branqueamento de capitais, tais como as de ocultar ou


dissimular a origem, a natureza, a localização, a disposição, a movimentação
ou a propriedade dos bens. Da mesma forma, certas infracções de branquea-
mento de capitais poderiam exigir a comprovação da intenção específica, por
parte de um indivíduo, de auxiliar outrem a furtar-se às consequências jurídi-
cas dos seus actos.33
Uma definição ampla de “dolo” foi adoptada no Regulamento Modelo
da OEA.34 Este Regulamento Modelo aborda três formas de dolo: (i) o acu-
sado tinha conhecimento de que os bens constituem produtos de uma activi-
dade criminosa, conforme definido na Convenção; (ii) o acusado deveria ter
conhecimento de que os bens foram adquiridos com os produtos da actividade
criminosa; e (iii) o acusado ignorava, de forma intencional, a natureza dos
produtos.35 Nesta terceira categoria de dolo, o acusado “não conhecia” “nem
deveria ter conhecimento” da origem dos produtos, mas suspeitava da sua
proveniência criminosa e optou por não realizar uma averiguação mais apro-
fundada para verificar ou eliminar esta suspeita. Neste sentido, o acusado pre-
tendeu manter-se ignorante ou “propositadamente cego” quanto à natureza
dos produtos quando “poderia ter conhecimento” da infracção criminal após
ter investigado ou indagado. Em termos de culpabilidade, este tipo de dolo
situa-se entre a negligência e padrões de conhecimento específico da intenção.
O Regulamento Modelo da OEA prevê também que estas três categorias
culposas de dolo podem ser inferidas a partir de circunstâncias objectivas e
factuais.36
Finalmente, pode ser muito difícil provar o dolo no caso de uma pessoa
que participa numa actividade que, à primeira vista e em certas circunstâncias,
pareça normal. Consequentemente, a Convenção de Viena, a Convenção de
Palermo, As Quarenta Recomendações e vários outros instrumentos jurídicos
estabelecem que a lei deve permitir que a intencionalidade requerida possa ser
inferida a partir de circunstâncias factuais objectivas.37 Quando as circunstân-
cias factuais objectivas corresponderem à situação, o requisito de dolo encon-
tra-se preenchido.

33. Lei Penal Modelo da ONU, no Artigo 17.° (a).


34. Id., no subparágrafo (b).
35. Regulamento Modelo da OEA.
36. Regulamento Modelo da OEA, Artigo 2.°.
37. Id., no subparágrafo (5).

V-63
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

5. Responsabilidade das pessoas colectivas

O branqueamento de capitais ocorre muitas vezes por intermédio de pes-


soas colectivas. No entanto, o conceito da responsabilidade penal das pessoas
colectivas varia muito entre países. Alguns países, principalmente aqueles com
tradição de direito consuetudinário, sujeitam as pessoas colectivas às leis de
responsabilidade penal. Nos países com tradição romano-germânica, as leis
penais podem não se aplicar às pessoas colectivas. Assim, deveria ser conside-
rada a modificação das leis destes países para, quando permitida, estabelecer a
responsabilidade penal das pessoas colectivas.
O GAFI recomenda que, sempre que possível, as pessoas colectivas, não
apenas os seus funcionários, sejam passíveis de responsabilidade penal, de
acordo com os princípios gerais do ordenamento jurídico de um país.38 A
imposição de sanções civis ou administrativas significativas poderia ser um
substituto suficiente sempre que o enquadramento jurídico ou constitucional
não sujeite as pessoas colectivas à responsabilidade penal.
A Lei Modelo da ONU não prevê a responsabilidade penal para pessoas
colectivas. No entanto, prevê outras sanções para as pessoas colectivas39 e
a sua aplicação sempre que as infracções de branqueamento de capitais são
cometidas em nome da pessoa colectiva, ou em benefício desta, por um dos
seus agentes ou representantes. As sanções previstas na Lei Modelo da ONU
incluem multas, exclusão de certas actividades comerciais, encerramento ou
liquidação, além da publicação das decisões judiciais.40 A Lei Modelo da
ONU não classifica estas sanções como penais e refere especificamente que tal
não deve derrogar a responsabilidade individual do agente ou do funcionário
da pessoa colectiva pela prática dos actos.41
No Regulamento Modelo da OEA, a responsabilidade penal aplica-se
igualmente às pessoas colectivas e às pessoas singulares. Na realidade, uma
disposição define especificamente “pessoa”, para os fins do Regulamento,
como sendo “uma pessoa, singular ou colectiva, susceptível de adquirir direi-
tos ou contrair obrigações, incluindo, entre outras, empresas, sociedades,
fideicomissos ou patrimónios, sociedades por acções, associações, sindicatos,
joint-ventures ou outras organizações ou grupos não registados como pessoas
colectivas”.42 Na Lei Penal Modelo da ONU, o termo “pessoa” é definido

38. Convenção de Viena, Artigo 3.° (3); Convenção de Palermo, Artigo 6.° (2)(f); As Quarenta
Recomendações, Rec. 2; Convenção do Conselho da Europa Relativa ao Branqueamento,
Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime (1990), Artigo 6.° (2)(c).
39. As Quarenta Recomendações, Rec. 2; Regulamento Modelo da OEA, Artigo 15.
40.Lei Modelo da ONU, Artigo 4.2.3.
41. Id.
42. Id.

V-64
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

de forma a incluir quer as pessoas singulares quer as pessoas colectivas.43


Embora este texto defina “pessoa” de uma forma mais limitada do que a da
OEA, não deixa de reconhecer o princípio da responsabilidade penal das pes-
soas colectivas.

6. Responsabilidade do autor da infracção subjacente

Uma questão importante é a de saber se a responsabilidade pelo bran-


queamento de capitais é aplicável também à pessoa que cometeu a infracção
subjacente, além da pessoa que branqueou os produtos ilícitos. Vários países
não responsabilizam o autor da infracção subjacente pelo branqueamento dos
produtos dos seus actos criminosos, se este não estiver envolvido na activida-
de de branqueamento. O fundamento para esta forma de tratar a questão é o
de que punir o autor por se furtar às consequências jurídicas da sua actividade
criminosa poderia constituir uma dupla punição pela prática de uma única
infracção penal.
Outros países responsabilizam o autor da infracção subjacente pelo
branqueamento dos produtos ilícitos com base no facto de a conduta e os
prejuízos da evasão serem diferentes da infracção subjacente. Existem também
razões práticas para esta abordagem. Isentar os autores das infracções subja-
centes de responsabilidade pelo branqueamento de capitais poderia prejudicar
gravemente terceiros pelas suas acções no manuseamento dos produtos do
crime e, ao mesmo tempo, deixar livres de responsabilidade os autores mate-
riais . Isto poderia ocorrer quando a infracção subjacente foi cometida fora do
território nacional, colocando-a fora da competência do Estado para perseguir
terceiros pelas actividades de branqueamento.
Em termos gerais, os padrões internacionais nesta área estabelecem uma
infracção ampla de branqueamento, que permite responsabilizar o autor pelo
branqueamento dos produtos da sua própria actividade criminosa, indepen-
dentemente da sua participação nesta actividade de branqueamento.44 No
entanto, estes padrões permitem também variações de país a país.

43. Regulamento Modelo da OEA, Artigo 1.° (6).


44. Artigo 2.° (l).

V-65
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

7. Honorários dos advogados

Os advogados passaram a integrar a lista de actividades e profissões não


financeiras designadas a ser abrangidas pelos regimes ABC/CFT.45 Este aspec-
to merece uma atenção especial no que respeita às infracções subjacentes.
As infracções subjacentes ao branqueamento de capitais podem ser defi-
nidas na lei de uma forma tão ampla que, na sua totalidade, incluam qualquer
operação que envolva a utilização dos produtos derivados de uma actividade
criminosa. Tendo em conta uma interpretação tão ampla, estas leis poderiam
ter o efeito de criminalizar o simples recebimento de honorários de um advo-
gado pela prestação dos seus serviços de defensor num processo penal. Isto
cria problemas específicos relativamente ao respeito pelas garantias consagra-
das na lei.
Se tivermos em conta que o direito do acusado a uma defesa adequada
no processo penal, está agora consagrado como um aspecto do direito a um
julgamento justo, os países devem ser cuidadosos ao definir o âmbito das
infracções de branqueamento de capitais.
Os países podem também considerar uma disposição que exclua os advo-
gados dessa potencial responsabilidade penal, pelo facto de apenas prestarem
os seus serviços, sempre e quando esses serviços tenham sido limitados à defe-
sa do acusado em juízo, ou que tenham sido prestados apenas em relação com
este julgamento.46
Sem prejuízo do direito de um acusado a um julgamento justo, os advo-
gados também têm um dever respeitante à integridade do sistema financeiro
e à integridade da sua profissão. Se um advogado tiver conhecimento de que
os seus honorários provêm de uma actividade criminosa, deveria respeitar
estes padrões de integridade e não aceitar cegamente o dinheiro branqueado,
especialmente quando está a prestar outros serviços ao cliente, para além de o
defender em juízo.

45. Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional (2000), Artigo
6.° (2)(f); Conselho da Europa, Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e
Perda dos Produtos do Crime (1990), Artigo 6.° (2)(b), Lei Modelo da ONU, Artigo 1.1.1; Lei
Penal Modelo da ONU, Art. 17o; Regulamento Modelo da OEA, Artigo 2.°.
46. Ver este Capítulo, Actividades e profissões não financeiras designadas.

V-66
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

B. Criminalização do terrorismo e do financiamento do terrorismo

Aqueles que financiam o terrorismo, da mesma forma que outros crimi-


nosos, podem utilizar os sistemas financeiros nacionais e internacionais para
ocultar os fundos necessários para apoiar as suas actividades, mesmo quando
esses fundos são provenientes de fontes legítimas. A criminalização de todos
os aspectos do terrorismo e do financiamento do terrorismo é uma maneira
prática de debilitar a capacidade das organizações terroristas, impedindo a
entrada dos fundos no sistema financeiro. Além disso, os países precisam de
leis que os ajudem a detectar a presença dos fundos do terrorismo no seu ter-
ritório, para que possam declarar a sua perda. Esta actuação ajuda também a
frustrar as acções terroristas.
Nas suas nove Recomendações Especiais sobre o Financiamento do
Terrorismo (Recomendações Especiais), o GAFI insta os países a criminalizar
o financiamento do terrorismo, de actos terroristas e das organizações ter-
roristas, e a designá-los como infracções subjacentes ao branqueamento de
capitais.47
Como atrás referido, em “Alcance da infracção subjacente”, o GAFI
estabelece que uma das categorias de infracções designadas é o terrorismo,
incluindo o financiamento do terrorismo.48 Assim, tomando em conjunto as
Quarenta Recomendações e as Recomendações Especiais, o terrorismo, os
actos terroristas, as organizações terroristas e o financiamento do terrorismo
devem ser individualmente considerados como infracções subjacentes pelas leis
de branqueamento de capitais de um país.

C. Apreensão e perda (ou “forfeiture”)

As abordagens actuais sobre a criminalidade internacional e o financia-


mento do terrorismo foram concebidas para eliminar a rentabilidade das acti-
vidades criminosas e impedir os terroristas de aceder aos fundos. Estes objec-
tivos não podem ser alcançados sem leis que incluam mecanismos eficazes de
declaração de perda, que permitam às autoridades privar os criminosos e os
terroristas dos seus produtos ilícitos.49

47. Conselho da Europa, Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos
Produtos do Crime: Relatório Explicativo, parág. 33. As leis e regulamentos modelo para esta
área não se pronunciam a este respeito. Ver Lei Modelo da ONU; Lei Penal Modelo da ONU;
Regulamento Modelo da OEA.
48. Recomendações Especiais, Rec. Espec. II.
49. As Quarenta Recomendações, Glossário, Categorias de infracções designadas; e Recomendações
Especiais, Rec. Espec. II.
V-67
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

1. Perda dos produtos directos e indirectos do crime

O GAFI incentiva os países a adoptar leis que permitam uma inter-


pretação ampla da perda dos produtos do crime, em conformidade com as
Convenções de Viena e de Palermo.50 No passado, na maioria dos ordena-
mentos jurídicos, a perda era, em grande medida, restringida aos instrumen-
tos utilizados na prática do crime, tais como a arma do homicídio, ou aos
objectos do crime, tais como as drogas, no tráfico de drogas, em contraste
com os produtos derivados do crime. A Convenção de Viena e a Convenção
de Palermo definem os termos, “produtos do crime”, como “quaisquer bens
derivados ou obtidos, directa ou indirectamente, da prática de uma infrac-
ção”.51 Muitos países adoptaram agora esta interpretação mais ampla de
bens passíveis de perda, em resposta aos lucros gerados por certas actividades
criminosas, especialmente à luz da fungibilidade destes lucros e da facilidade
com que os fundos podem ser introduzidos e retirados do sistema financeiro
internacional.
O GAFI incentiva os países a adoptar leis que permitam a declaração da
perda dos capitais branqueados, dos produtos do branqueamento e das infrac-
ções subjacentes, dos instrumentos utilizados ou destinados a ser utilizados
no branqueamento e de bens de valor equivalente.52 Esta definição ampla
reveste-se de utilidade, considerando que os criminosos provavelmente conver-
terão os bens, se estes bens estiverem sujeitos a perda, antes da declaração de
perda ou da sua execução. Também é provável que os criminosos transfiram
os bens, colocando-os fora do alcance das autoridades ou que os misturem
com bens adquiridos de forma legítima. Para lidar com estas várias situações
as quais, de acordo com uma interpretação tradicional da perda, poderiam
conduzir a que as decisões de perda fossem impossíveis de executar , os gover-
nos deveriam considerar a adopção de um conceito de “perda de valores”,
que lhes conferisse o poder de declarar a perda de quaisquer bens do autor, de
valor equivalente ao dos produtos ilícitos.53

2. Execução da perda dos bens

A execução eficaz das declarações de perda exige que as autoridades


competentes tenham os poderes necessários para identificar, localizar e avaliar

50. Convenção de Viena, Artigo 1.° (f), Convenção do Conselho da Europa, Convenção Relativa ao
Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime (1990), Artigo 1.° (d).
51. As Quarenta Recomendações, Rec.3.
52. Convenção de Viena, Artigo 1.° (p); Convenção de Palermo, Artigo 2.° (e).
53. As Quarenta Recomendações, Rec. 3.

V-68
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

os bens que podem ser objecto de perda.54 Para o efeito, é necessário que
estas autoridades tenham o poder de exigir a divulgação ou de apreender
registos comerciais e financeiros.55 O GAFI recomenda especificamente que
as leis de sigilo bancário ou, por exemplo, outros estatutos de protecção da
privacidade sejam elaborados de forma a não constituir obstáculos a tal divul-
gação ou apreensão para os fins mencionados.56
No presente, os fundos podem ser transferidos para fora de uma juris-
dição nacional com o simples premir de uma tecla do computador. Assim,
deveria ser outorgado às autoridades o poder de tomar medidas preventivas.
Por exemplo, deveriam ter condições de congelar e apreender bens passíveis
de perda. Este poder é uma condição necessária para um sistema eficaz de
aplicação da lei no sentido de prevenir o branqueamento de capitais.57 (Ver o
Capítulo IX, Congelamento e perda de bens relacionados com o terrorismo,
para uma análise detalhada sobre o congelamento, a apreensão e a perda de
bens. Essa análise aplica-se também aos bens relacionados com o branquea-
mento de capitais)

3. Responsabilidade de terceiros

Embora o direito internacional relativo à perda não exclua a perda de


bens que se encontrem em mãos de terceiros, o GAFI e vários acordos interna-
cionais limitam tal acção, exigindo que os países tomem medidas de protecção
dos direitos de terceiros de boa-fé.58 Os terceiros que celebram um contrato
e têm conhecimento ou deveriam ter conhecimento de que esse contrato pre-
judicaria a capacidade do Estado de executar a respectiva perda de bens não
estão de boa-fé. As leis de um país devem tratar especialmente da questão da
validade de tais contratos nessas circunstâncias.59

54. Convenção de Viena, Artigo 5.°; Conselho da Europa, Convenção Relativa ao Branqueamento,
Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime (1990), Artigo 2.°.
55. As Quarenta Recomendações, Rec. 3.
56. Convenção de Viena, Artigo 5.° (3); Conselho da Europa, Convenção Relativa ao
Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime (1990), Artigo 4.° (1).
57. As Quarenta Recomendações, Rec. 4, Convenção de Viena, Artigo 5.° (3); Conselho da Europa,
Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime
(1990), Artigo 4.° (1).
58. As Quarenta Recomendações, Rec. 3, Convenção de Viena, Artigo 5.° (2); Conselho da Europa,
Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime
(1990), Artigo 3.°.
59. As Quarenta Recomendações, Rec. 3; A Convenção de Viena, article 5(8); Council of Europe,
Convention on Laundering, Search, Seizure and ConfiscatioArtigo 5.° (8); Conselho da Europa,
Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime
(1990), Artigo 5.°; A Convenção de Palermo, Artigo 12(8).
V-69
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

De acordo com o Regulamento Modelo da OEA, a autoridade competen-


te é obrigada a fazer uma notificação sobre os procedimentos.60 A notificação
deve permitir que potenciais terceiros reclamem os seus direitos sobre os bens
passíveis de perda. Segundo o mesmo Regulamento, o tribunal ou outra auto-
ridade competente devem devolver os bens ao requerente, se chegarem à con-
clusão de que este: (1) tem um título válido da propriedade dos bens; (2) não
participou na infracção subjacente nem conspirou para a sua prática ou nela
se envolveu de qualquer outra forma; (3) não teve conhecimento do uso dos
bens para fins ilegais e não consentiu livre e espontaneamente neste uso; (4)
não adquiriu direitos especificamente destinados a evitar os procedimentos de
perda; e (5) fez tudo o que razoavelmente poderia ser esperado para impedir o
uso ilegal dos bens.
Ao tratar da questão dos terceiros de boa-fé, a Lei Penal Modelo da
ONU prevê que o tribunal possa negar a reclamação de direitos de terceiros
aos bens nos casos em que concluir que a pessoa (1) estava envolvida na prá-
tica da infracção principal; (2) adquiriu os bens através de uma contrapres-
tação insuficiente; ou (3) adquiriu os bens com conhecimento da sua origem
ilícita.61 Em comparação, a Lei Modelo da ONU utiliza um padrão mais rigo-
roso, que não exige o envolvimento na infracção subjacente como base para
rejeitar a reclamação do direito aos bens.62

4. Aspectos internacionais da declaração de perda

O estabelecimento de um regime eficaz de declaração de perda para fins


internos constitui apenas a primeira etapa para a eliminação da rentabilidade
que está no cerne de tantas actividades internacionais de branqueamento de
capitais. A segunda etapa necessária, imprescindível para o sucesso geral desta
iniciativa, é a de criar mecanismos de cooperação para assegurar a execução
de declarações de perda a nível internacional. Os países podem conceder às
autoridades competentes o poder de dar resposta aos pedidos de perda apre-
sentados por outros países, através do recurso a medidas como a localização,
a identificação, o congelamento e a apreensão.

60. As Quarenta Recomendações, Rec. 3.


61. Regulamento Modelo da OEA, Artigo 6.4.
62. Lei Penal Modelo da ONU, Artigo 36. Esta é uma lei modelo concebida para jurisdições basea-
das no direito consuetudinário.

V-70
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

Como incentivo para a cooperação internacional, os países podem con-


siderar a celebração de acordos de partilha de bens. O princípio geral para a
disposição dos bens declarados perdidos é o da sujeição às leis e aos regula-
mentos nacionais do país executante da declaração de perda.63 No entanto, os
instrumentos jurídicos internacionais incentivam os países a celebrar acordos
mútuos que permitam a partilha dos bens declarados perdidos entre todos
os países que cooperaram na investigação e no processo de perda.64 Estes
instrumentos jurídicos incentivam também a distribuição de parte dos fundos
declarados perdidos às agências intergovernamentais dedicadas ao combate à
criminalidade.65

D. Tipos de entidades e pessoas abrangidas

As Recomendações do GAFI impõem vários requisitos às instituições


financeiras e às actividades e profissões não financeiras para impedir o bran-
queamento de capitais e o financiamento do terrorismo.66 Além disso, as
Recomendações estabelecem excepções à aplicação destas medidas preventi-
vas. Nestes termos, uma decisão fundamental para os países é a de determinar
quais as entidades e pessoas que devem ser abrangidas e por quais os requisi-
tos aplicáveis. Nesta perspectiva, todas as medidas preventivas se aplicam às
“instituições financeiras67, enquanto que algumas se aplicam, de forma mais
limitada, a certas “actividades e profissões não financeiras designadas”.

1. Instituições financeiras

É manifesto que os branqueadores de capitais e aqueles que financiam o


terrorismo têm de ter acesso às instituições financeiras. Estas instituições ofe-
recem os meios para estes indivíduos transferirem fundos entre outras institui-
ções financeiras, tanto a nível nacional como internacional. Estas instituições
fornecem também os mecanismos para converter moeda e fazer pagamentos
pelos bens utilizados no processo de branqueamento de capitais e de finan-

63. Ver Lei Modelo da ONU, Artigo 4.2.9. Esta é uma lei modelo concebida para jurisdições basea-
das no direito romano-germânico.
64. Convenção de Viena, Artigo 5.° (a); Conselho da Europa, Convenção Relativa ao
Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos Produtos do Crime (1990), Artigo 15; A
Convenção de Palermo, Artigo 14(1).
65. Convenção de Viena, Artigo 5.° (b); A Convenção de Palermo, Artigo 14(3)(b); Regulamento
Modelo da OEA, Artigo 7.° (d).
66. Convenção de Viena, Artigo 5.° (b)(i); A Convenção de Palermo (2000), Artigo 14(3)(a);
Regulamento Modelo da OEA, Artigo 7.° (e).
67. As Quarenta Recomendações, ver, em geral, Recs. 5–25.

V-71
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

ciamento do terrorismo. Os tipos de instituições financeiras e as suas capa-


cidades variam muito entre os diferentes países. Segundo as Recomendações
do GAFI, o termo “instituições financeiras” abrange “qualquer pessoa ou
entidade que exerça como actividade profissional uma ou mais das seguintes
actividades ou operações, em nome ou por conta de um cliente”:

• Recepção de depósitos e de outros fundos reembolsáveis do público


(incluindo o private banking);
• Concessão de empréstimos (incluindo o crédito ao consumo, o crédito
hipotecário, o factoring, com ou sem recurso e o financiamento de
transacções comerciais (incluindo forfeiting)).
• Locação financeira (excepto locação financeira de produtos de consu-
mo);
• Transferência de numerário ou valores68 (incluindo os sectores formais
e informais, tais como a actividade informal de remessa);
• Emissão e gestão de meios de pagamento (por exemplo: cartões de cré-
dito e de débito, cheques, cheques de viagem, ordens de pagamento e
cartas de crédito, moeda electrónica);
• Prestação de garantias e outros compromissos;
• Transacções sobre:
a. instrumentos do mercado monetário (cheques, letras, certificados de
depósito, derivados, etc.);
b. mercado de câmbios;
c. instrumentos sobre divisas, taxas de juro e índices;
d. valores mobiliários;
e. operações a prazo sobre mercadorias;
• Participação em emissões de valores mobiliários e prestação de serviços
financeiros conexos;
• Gestão individual e colectiva de patrimónios;
• Guarda e administração de fundos ou valores mobiliários líquidos, por
conta de clientes;
• Outros tipos de investimento, administração ou gestão de fundos ou de
numerário por conta de clientes;
• Subscrição e colocação de seguros de vida e outros investimentos rela-
cionados com seguros (aplicável tanto a sociedades de seguros como
aos mediadores de seguros, tais como os agentes e corretores); e
• Câmbio manual.69

68. Id.
69. Ver também a Nota Interpretativa às Recomendações Especiais, Rec. Espec. VI e VII.

V-72
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

Esta definição é funcional e não institucional ou de designação. O cri-


tério é o de a entidade ou o indivíduo realizar qualquer uma das funções ou
actividades acima para os clientes, e não o nome ou a designação do negócio.
Por exemplo, qualquer pessoa singular ou colectiva que aceite depósitos e/ou
conceda empréstimos ao público, quer seja denominada um banco quer não
encontra-se abrangida pela definição. Em muitos casos, as leis ou regulamen-
tos limitam a realização de tais actividades a instituições financeiras possuido-
ras de licença e, nestas situações, os países que aplicam os controlos ABC/CFT
a estas instituições financeiras estariam em situação de cumprimento dos
padrões. Por outro lado, quando tais actividades podem ser realizadas legal-
mente por entidades não licenciadas, os controlos ABC/CFT devem aplicar-se
também a estas entidades.
Existem duas restrições a este requisito. Primeiro, quando uma das activi-
dades financeiras acima descritas é realizada ocasionalmente ou com frequên-
cia muito limitada, de tal forma que seja diminuto o risco de branqueamento
de capitais, o país pode decidir não aplicar todos ou alguns dos requisitos
de branqueamento de capitais.70 Um possível exemplo desta situação seria o
de um hotel, que oferece serviços muito limitados e ocasionais de câmbio de
moeda estrangeira aos seus hóspedes ou o de uma agência de viagens, que
pode fazer transferências electrónicas para os seus clientes, que se encontram
num outro país, em casos de emergência.
Uma segunda restrição consiste em poder um país decidir, em “circuns-
tâncias estritamente limitadas e justificadas” e quando exista “um risco
comprovadamente baixo de branqueamento de capitais”, não aplicar todas
ou algumas das Quarenta Recomendações à lista de actividades financeiras
atrás identificada.71 O GAFI não oferece uma orientação clara sobre quais
seriam estas circunstâncias. No entanto, os países são incentivados a adoptar
uma abordagem baseada no risco, que pode conduzir à existência de medidas
adicionais em áreas de risco elevado ou, em circunstâncias estritamente limi-
tadas e justificadas, na redução do número de medidas, com base num risco
diminuto de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo
devidamente comprovado. A actividade financeira deve ser excluída ou sujeita
a controlos limitados apenas depois de um estudo adequado comprovar que
o risco de branqueamento de capitais é baixo. O princípio de base deve ser o
de que todas as actividades financeiras descritas devem ser sujeitas a todos os
requisitos ABC.

70. As Quarenta Recomendações, Glossário, Instituições financeiras.


71. Id.

V-73
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

2. Actividades e profissões não financeiras designadas

• As Recomendações do GAFI foram revistas em 2003, para incluir, pela


primeira vez, determinadas actividades e profissões não financeiras
designadas no campo de aplicação das Quarenta Recomendações. Os
requisitos aplicáveis a estas entidades e profissionais são mais limitados
e aplicam-se em circunstâncias mais limitadas do que as das institui-
ções financeiras. Os detalhes de quais os requisitos aplicáveis e a que
actividades e profissões não financeiras são analisados no Capítulo VI,
embora se possa adiantar que os países são obrigados a aplicar deter-
minadas disposições ABC/CFT às seguintes entidades e pessoas:
• Casinos (incluindo os casinos na Internet);
• Agentes imobiliários;
• Negociantes de metais preciosos;
• Negociantes de pedras preciosas;
• Advogados, notários, outras profissões jurídicas independentes e conta-
bilistas, referindo-se aos profissionais liberais que exercem a sua profis-
são a título independente, como sócios ou empregados num escritório.
Não se refere a profissionais “internos” vinculados por contrato a
outro tipo de empresas, nem a profissionais que trabalhem em serviços
públicos que possam estar já sujeitos a medidas destinadas a combater
o branqueamento de capitais;
• Prestadores de serviços a sociedades e trusts, referindo-se a todas as
pessoas ou empresas que não se encontrem já abrangidas noutras cate-
gorias a que se aplicam estas recomendações e que prestam a terceiros,
a título profissional, na totalidade ou em parte, os seguintes serviços:
a. actuação como agentes na constituição de pessoas colectivas;
b. actuação como administradores ou secretários de uma sociedade,
sócios ou titulares de posição idêntica, para outras pessoas colec-
tivas (ou proceder às diligências necessárias para que um terceiro
actue dessa forma);
c. fornecimento de sede social, endereço comercial, instalações ou
endereço administrativo ou postal a uma sociedade, ou a qualquer
outra pessoa colectiva ou a entidades sem personalidade jurídica
(legal arrangements);
d. actuação como administrador de um express trust (ou proceder às
diligências necessárias para que outra pessoa actue dessa forma); ou

V-74
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

e. intervenção como accionistas por conta de outra pessoa (ou proce-


der às diligências necessárias para que outra pessoa intervenha dessa
forma).72

3. Outras pessoas e entidades potencialmente abrangidas

Finalmente, numa Recomendação distinta e abrangente, o GAFI estabe-


lece que os países devem considerar a aplicação das Recomendações a activi-
dades e profissões, diferentes das atrás mencionadas, que apresentem um risco
de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.73 Cabe
a cada país considerar quais as actividades ou profissões aincluir e deter-
minar qual é a resposta apropriada ao risco. Os exemplos poderiam incluir
comerciantes de artigos de luxo e de valor elevado (antiguidades, automóveis,
barcos, etc.), casas de penhores, leiloeiros e consultores de investimento. Não
existe nenhuma exigência para abranger um ou todos os desta ou de qualquer
outra lista, embora se exija que os riscos sejam tidos em conta e lhes seja dada
uma resposta adequada.

E. Regulação e supervisão — padrões de integridade

Os capitais não podem ser branqueados nem o terrorismo pode ser finan-
ciado sem o envolvimento das instituições financeiras, de certas entidades
comerciais e de certas pessoas. Quando os criminosos controlam as institui-
ções financeiras ou ocupam cargos de direcção nas instituições financeiras,
os países deparam-se com extremas dificuldades para prevenir e detectar o
branqueamento de capitais. Da mesma forma, quando certas pessoas estão
envolvidas em acções de branqueamento de capitais, os países encontram
maiores dificuldades na prevenção e detecção. Os requisitos de integridade e
de licenciamento impedem a participação de tais entidades e indivíduos nas
actividades de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo.

72. Id.
73. As Quarenta Recomendações, Glossário, Actividades e profissões não financeiras designadas.

V-75
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

1. Instituições financeiras

a. Instituições sujeitas aos Princípios Fundamentais

Estas instituições, ou seja, os bancos, companhias seguradoras ou a


indústria de valores mobiliários, estão sujeitas a regimes abrangentes de super-
visão, conforme estabelecidos nas normas aprovadas , respectivamente, pelo
Comité de Basileia de Supervisão Bancária, pela Associação Internacional dos
Supervisores de Seguros e pela Organização Internacional das Comissões de
Valores.74 As disposições incluem requisitos de:

• Necessidade de licença e de autorização para a realização de negócios;


• Avaliação (determinação de competência e adequação) dos dirigentes
e administradores, quanto a requisitos de integridade, qualificação e
experiência;
• Impedimento de participação de dirigentes e administradores com ante-
cedentes criminais ou pareceres negativos das autoridades reguladoras;
e
• Proibição de acesso à titularidade ou ao controlo das instituições por
indivíduos com antecedentes criminais.

Estes requisitos devem aplicar-se tanto para fins prudenciais como de


controlos ABC/CFT, e a supervisão inclui a capacidade de exigir a apresenta-
ção de registos e informações para a verificação do cumprimento dos requisi-
tos.75

b. Outras instituições financeiras

Estas instituições não estão normalmente sujeitas à aplicação de requi-


sitos tão rigorosos como as instituições sujeitas aos Princípios Fundamentais
(em grande medida porque não se colocam as mesmas questões prudenciais).
Por exemplo, não se avalia a “competência e adequação” dos dirigentes e
administradores quanto aos requisitos de integridade, qualificação e experiên-
cia. Para fins ABC/CFT, os requisitos mínimos para estas instituições financei-
ras são os seguintes:

• Estas instituições devem ser portadoras de licença ou registadas;

74. Id., Rec. 20.


75. Ver o Capítulo IV.

V-76
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

• Devem estar sujeitas a supervisão ou a vigilância para fins ABC, em


função do risco de branqueamento de capitais e de financiamento do
terrorismo existente no respectivo sector.76

Isto implica um requisito de licenciamento ou de registo para todas estas


“outras instituições financeiras”, mas permite que cada país defina o nível
de supervisão a exercer sobre a aplicação interna de medidas ABC/CFT. Em
certos casos, a vigilância poderia ser limitada à acção das autoridades policiais
sobre as instituições que não cumprissem os regulamentos aplicáveis, sem se
realizar uma fiscalização pró-activa ou supervisão do cumprimento.
No entanto, para as actividades de transferência de fundos e de câm-
bio, o GAFI exige, além de uma licença ou registo, “sistemas eficazes” de
acompanhamento e de controlo do cumprimento das obrigações.77 Nenhuma
Recomendação descreve em pormenor o que constitui um sistema eficaz na
prática, todavia considera-se que o requisito ultrapassa a mera acção das
autoridades policiais contra as instituições não cumpridoras.

2. Actividades e profissões não financeiras designadas

As actividades e profissões não financeiras distribuem-se por duas catego-


rias: casinos e todas as outras actividades e profissões não financeiras (outras
APNFs).
Os casinos estão sujeitos a requisitos rigorosos, que incluem:

• Posse de uma licença;


• Medidas para impedir os criminosos de possuírem, controlarem ou
explorarem os casinos; e
• Supervisão do respectivo cumprimento dos padrões ABC/CFT.

Para todas as outras APNFs, exige-se a aplicação de sistemas eficazes


para acompanhar e assegurar o cumprimento das normas em função do risco
existente. O acompanhamento pode ser realizado por uma agência governa-
mental ou por uma organização de auto-regulação. Em contraste com outras
instituições financeiras (ver atrás), não existe nenhum sistema de licenciamen-
to ou registo.

76. As Quarenta Recomendações, Rec. 23.


77. Id.

V-77
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

F. Leis consistentes com a aplicação das Recomendações do GAFI

Um aspecto crucial de qualquer ordenamento jurídico é o de possuir leis


e regulamentos que sejam internamente coerentes e que actuem concertada-
mente. Assim, é importante que uma lei não conflitue com outra lei, a não ser
que exista uma razão de natureza política para se abrir uma excepção, e que
as duas leis possam ser interpretadas como complementares, sem contradição
entre elas.
Uma área de potencial conflito é a das leis de sigilo. Muitas vezes os paí-
ses adoptam leis gerais de protecção da privacidade da informação financeira,
que não permitem a sua divulgação. Estas leis podem entrar em conflito com
o requisito específico, por exemplo, de que as instituições financeiras comuni-
quem operações suspeitas.78
Com o fim de serem cumpridos os requisitos ABC/CFT, o GAFI estabe-
lece que cada país deve assegurar-se de que as leis de sigilo para instituições
financeiras não inibam a aplicação das suas Recomendações.79

G. Cooperação entre as autoridades competentes

Cada país deve criar mecanismos efectivos para que os decisores políti-
cos, a UIF, as autoridades policiais (incluindo as alfandegárias, quando for o
caso), os supervisores das instituições financeiras e outras autoridades compe-
tentes possam cooperar entre si.80 Se as leis e o sistema de aplicação da lei do
país assim o permitirem, este requisito deve alargar-se à coordenação da ela-
boração e aplicação de políticas e actividades de combate ao branqueamento
de capitais e ao financiamento do terrorismo.
Estas Recomendações deveriam ser interpretadas no sentido de que as leis
e os mecanismos de um país deveriam ser encarados como um meio de facili-
tar a cooperação entre as diversas autoridades competentes e a coordenação
entre as autoridades envolvidas nas iniciativas ABC e CFT. Sobretudo, as leis e
os mecanismos de um país não deveriam nunca ser encarados como proibindo
ou restringindo os esforços de cooperação.

78. Id.
79. Ver As Quarenta Recomendações, Rec. 13.
80. Id., Rec. 4.

V-78
Requisitos para os ordenamentos jurídicos

H. Investigações

Cada país se deve assegurar que existam autoridades específicas de apli-


cação da lei incumbidas das investigações de branqueamento de capitais e de
financiamento do terrorismo.81 Na tentativa de maximizar o uso das investi-
gações no combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do ter-
rorismo, o GAFI incentiva os países a autorizar, apoiar e desenvolver técnicas
e mecanismos especiais de investigação, tais como operações encobertas, as
investigações especializadas de bens e as investigações em cooperação com
outros países.82
As acções de investigação, assim como todas as autoridades competentes
envolvidas no combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do
terrorismo de um país, devem receber recursos financeiros, humanos e téc-
nicos adequados, incluindo funcionários que garantam elevados padrões de
integridade.83
Finalmente, a eficácia do regime ABC/CFT de um país depende da dispo-
nibilidade de informação útil, Por conseguinte, cada país deve manter estatís-
ticas sobre a eficácia e a eficiência das suas investigações e dos outros aspectos
do respectivo regime.84

81. Id., Rec. 31.


82. Id., Rec. 27.
83. Id.
84. Id., Rec. 30.
85. Id., Rec. 32.

V-79
Capítulo VI

Medidas preventivas

A. Identificação de clientes e vigilância 3. Âmbito da obrigação de comunicação


1. Âmbito dos procedimentos de identificação de clientes e de vigilância 4. Crimes fiscais
2. Quem é o cliente? 5. Sector de seguros
3. Procedimentos de identificação e de aceitação de clientes 6. Sector de valores mobiliários
4. Contas e operações de baixo e alto risco 7. Actividades e profissões não financeiras designadas
5. Circunstâncias que exigem maior vigilância D. Comunicação de operações em numerário
6. Extensão da vigilância a fornecedores e outros
1. Múltiplas operações em numerário
7. Medidas para o sector de seguros
2. Movimentações transnacionais
8. Medidas para o sector de segurança
3. Técnicas modernas de gestão monetária
9. Medidas para as actividades e profissões não financeiras designadas
E. Equilíbrio entre as leis da privacidade e os
B. Requisitos de conservação de documentos
requisitos de comunicação e divulgação
1. Instituições financeiras
2. Sector de seguros F. Controlos internos, cumprimento e auditorias
3. Sector de valores mobiliários
G. Regulamentação e supervisão
4. Actividades e profissões não financeiras designadas
C. Comunicação de operações suspeitas H. Pessoas colectivas e entidades sem
personalidade jurídica
1. Operações suspeitas: quais são as suas características
2. Disposições de protecção para os ordenantes das comunicações

O s branqueadores de capitais e aqueles que financiam o terrorismo utili-


zam vários tipos de instituições financeiras e certas entidades e profissões
não financeiras para os ajudar nas suas actividades criminosas. Na realidade,
o acesso a tais entidades e pessoas é fundamental para o êxito dos criminosos,
porque as instituições financeiras e outras oferecem os meios para transferir
fundos para outras instituições financeiras, quer interna quer internacional-
mente, para efectuar câmbios e para converter os produtos do crime em dife-
rentes instrumentos financeiros e outros bens.
Nas Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais
(As Quarenta Recomendações),1 o Grupo de Acção Financeira sobre o
Branqueamento de Capitais (GAFI) estabeleceu várias medidas preventivas
que os países devem adoptar em matéria de combate ao branqueamento
de capitais (ABC). Estas medidas preventivas aplicam-se a todas as insti-
tuições financeiras e, de forma mais limitada, às actividades e profissões

1. http://www.fatf-gafi.org/pdf/40Recs-2003_en.pdf.

VI-81
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

não financeiras designadas. Além disso, estas medidas preventivas ABC são
também úteis para o combate ao financiamento do terrorismo (CFT) no
âmbito das Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo
(Recomendações Especiais)2 do GAFI.
Como todas as Quarenta Recomendações, as medidas preventivas, basi-
camente as Recomendações 5 – 25, em termos gerais não são meras reco-
mendações, mas representam mandatos de acção para um país que deseje ser
considerado em conformidade com os padrões internacionais ABC e CFT.
No entanto, estes mandatos de acção são também flexíveis, permitindo que
um país adopte os requisitos que sejam compatíveis com as circunstâncias
económicas internas, o seu ordenamento jurídico e a sua Constituição. Para
maior explicação sobre os requisitos, os países podem também consultar a
Metodologia de Avaliação do Cumprimento das Quarenta Recomendações e
das Recomendações Especiais.3

A.Identificação de clientes e vigilância

De acordo com os padrões internacionais estabelecidas pelo Comité de


Basileia de Supervisão Bancária (Comité de Basileia)4 e pelo GAFI,5 os países
devem assegurar-se de que as suas instituições financeiras aplicam os procedi-
mentos devidos de identificação de clientes e de vigilância. Estes procedimen-
tos aplicam-se tanto aos clientes individuais como às pessoas colectivas clien-
tes de uma instituição financeira. Estas regras ou procedimentos asseguram
que as instituições financeiras mantenham um nível adequado de conhecimen-
to sobre os seus clientes e as respectivas actividades financeiras. Os requisitos

2. http://www.fatf-gafi.org/pdf/SRecTF_en.pdf
3. http://www.fatf-gafi.org/pdf/Meth-2004_en.PDF.
4. Princípios Fundamentais de Supervisão Bancária Efectiva e Medidas de Vigilância Relativa à
Clientela no que Respeita aos Bancos do Comité de Basileia, Princípio 15, em http://www.bis.
org/publ/bcbs30.pdf.
5. As Quarenta Recomendações, Rec. 5, http://www.fatf-gafi.org/pdf/40Recs-2003_en.pdf. As
Quarenta Recomendações estão reproduzidas no Anexo IV e as Recomendações Especiais, no
Anexo V deste Guia de Referência.

VI-82
Medidas preventivas

de identificação do cliente também são conhecidos como regras “conheça o


seu cliente” (CSC),6 uma expressão utilizada pelo Comité de Basileia.7
As políticas de CSC não só ajudam as instituições financeiras a detectar,
dissuadir e impedir o branqueamento de capitais e o financiamento do ter-
rorismo, mas oferecem também benefícios palpáveis à instituição financeira,
para os clientes respeitadores da lei e para o sistema financeiro no seu con-
junto. Em particular, as práticas CSC:

• Promovem a qualidade dos negócios, da governação e da gestão de


risco entre as instituições financeiras;
• Ajudam a preservar a integridade do sistema financeiro e viabilizam as
iniciativas de desenvolvimento nos mercados emergentes;
• Reduzem a incidência da fraude e de outros crimes financeiros; e
• Protegem a reputação da organização financeira contra o efeito negati-
vo da associação com criminosos.8

1. Âmbito dos procedimentos de identificação de clientes e de vigilância

Os procedimentos de identificação de clientes e de vigilância utilizados


por uma instituição financeira devem também aplicar-se às suas sucursais
e agências e filiais controladas - tanto a nível nacional como internacional
— quando não exista conflito com as leis locais.9 Sempre que as leis locais
proibirem a aplicação, as autoridades competentes do país em que se situa o
estabelecimento principal deverão ser informadas sobre a impossibilidade de
as instituições no país anfitrião aplicarem estes procedimentos. Os supervi-
sores do país anfitrião devem esforçar-se por alterar estas leis e regulamentos
na jurisdição local.10 Não existindo qualquer restrição legal no país anfitrião,
mas na presença de dois níveis diferentes de normas regulamentares no país

6. Comité de Basileia, Princípios Fundamentais de Supervisão Bancária Efectiva, o Princípio 15


afirma, “Os supervisores bancários devem assegurar-se de que os bancos aplicaram políticas,
práticas e procedimentos adequados, incluindo regras estritas de “conheça o seu cliente”, as
quais promovem padrões elevados de ética e profissionalismo no sector financeiro e impedem o
banco de ser usado, com ou sem intenção, por elementos criminosos.”
7. Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos
afirma: “Os supervisores no mundo inteiro estão a reconhecer, cada vez mais, a importância de
assegurar a aplicação de controlos e procedimentos nos seus bancos, para que conheçam os clien-
tes com que lidam. A vigilância adequada para os clientes novos e existentes é uma parte central
destes controlos.” http://www.bis.org/publ/bcbs85.pdf.
8. Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos
(Disposição 9).
9. As Quarenta Recomendações, Rec. 22.
10. Id.

VI-83
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

sede e no país anfitrião, deverá ser aplicada a norma mais exigente ou mais
abrangente11.

2. Quem é o cliente?

O Comité de Basileia define um cliente como:

• Uma pessoa ou entidade que mantém uma conta junto de uma insti-
tuição financeira ou em cujo benefício é mantida uma conta (ou seja,
beneficiários efectivos);
• Os beneficiários das operações realizadas por intermediários profissio-
nais (por exemplo, agentes, contabilistas, advogados); e
• Uma pessoa ou entidade associada à operação financeira, que possa
criar um risco significativo para o banco.12

Um aspecto fundamental da identificação do cliente é saber se o cliente


está a actuar em benefício próprio ou se existe um beneficiário efectivo da
conta possivelmente não identificado nos documentos mantidos pela insti-
tuição financeira. Se houver razão para suspeitar que o cliente está a actuar
em benefício de outra pessoa ou entidade, as medidas devidas de vigilância
deverão ser aplicadas.
A existência de um beneficiário efectivo também é difícil de apurar no
caso de entidades sem personalidade jurídica ou sociedades anónimas onde
existem vários níveis de titularidade. Os vários níveis de titularidade são
caracterizados quando uma sociedade anónima é proprietária ou controla
outra ou outras pessoas colectivas. Em certos casos, podem existir várias
sociedades, cada uma de propriedade de outra sociedade e, finalmente, de
propriedade ou sob o controlo de uma sociedade-mãe. Quando estão envolvi-
das sociedades ou pessoas colectivas, devem ser utilizadas as medidas devidas
de vigilância para determinar a verdadeira identidade da entidade-mãe ou
que detém o controlo do cliente.

11. Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos
(Disposição 66).
12. Id. (Disposição 21).

VI-84
Medidas preventivas

3. Procedimentos de identificação e de aceitação de clientes

As instituições financeiras devem desenvolver e aplicar procedimentos


claros de identificação e de aceitação para os clientes e para quem actue no
interesse dos clientes.13 Estes procedimentos devem incluir a elaboração de
perfis de clientes de alto risco. Os perfis incluiriam os indicadores normais
de risco, tais como os antecedentes pessoais, o país de origem, a ocupação
de cargos públicos ou de nível elevado, contas interligadas, além do tipo e
da natureza da actividade comercial.14 Ao elaborar políticas de aceitação de
clientes, as instituições financeiras devem ter especial cuidado para conseguir
um equilíbrio adequado entre a prevenção do risco das actividades crimino-
sas e o desejo de conseguir novos clientes. Como regra geral, a rigidez das
normas de aceitação deve ser proporcional ao perfil de risco de um potencial
cliente. Recomenda-se vivamente que apenas a direcção superior tome as
decisões sobre os clientes cujos perfis indiquem que representam um risco ele-
vado de actividades de branqueamento de capitais.15
As instituições financeiras devem elaborar as suas políticas de aceitação
de clientes de forma a não excluir as pessoas socialmente desfavorecidas.
Estas políticas de aceitação de clientes também não devem, de nenhuma
forma, restringir o acesso do público em geral aos serviços financeiros.16 Isto
é especialmente importante nos países que estão a caminhar para o aumento
da utilização de instrumentos financeiros, como cheques, cartões de crédito
ou de débito, pagamentos electrónicos e outros mecanismos de pagamento, e
a ultrapassar o estádio de uma economia baseada no numerário.
As contas deveriam ser abertas apenas após a verificação satisfatória da
identidade do novo cliente.17 Não se deve permitir a nenhum cliente que abra
ou mantenha uma conta anónima ou com um nome fictício.18 Esta proibição
aplica-se também a uma conta numerada, caso o acesso a essa conta seja
efectuado através de um número ou de um código, sem que sejam exigidos os
procedimentos de identificação do cliente com base em documentos oficiais.19
As contas numeradas são permitidas apenas quando são utilizados os mesmos

13. Id. (Disposição 20).


14. Id.
15. Id.
16. Id.
17. Id. (Disposição 22). As Quarenta Recomendações, Rec. 5.
18. As Quarenta Recomendações, Rec.5, e Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à
Clientela no que Respeita aos Bancos, (Disposição 30).
19. Id.

VI-85
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

procedimentos de identificação do cliente e os documentos comprovativos


(com a conservação dos documentos). De acordo com estas orientações, as
instituições financeiras devem verificar o documento oficial de identificação
dos clientes. Os melhores documentos para verificar a identidade de clientes
actuais ou futuros são aqueles que são mais difíceis de reproduzir.20 Nesta
medida, os países devem exigir a utilização de documentos “oficiais” emiti-
dos pelas autoridades competentes, tais como um passaporte, carta de condu-
ção, bilhete de identidade ou cartão de contribuinte.
Nos casos em que um agente representa um beneficiário (por exemplo,
por meio de trusts, nomeados, contas fiduciárias, sociedades e outros inter-
mediários), as instituições financeiras devem tomar medidas razoáveis para
verificar a identidade e a natureza das pessoas ou organizações em cujo nome
a conta está a ser aberta ou para quem uma operação está a ser realizada.21
As instituições financeiras devem verificar a legalidade destas entidades,
obtendo as seguintes informações dos potenciais clientes:

• Nome e forma jurídica da organização do cliente;


• Endereço;
• Nomes dos administradores;
• Titulares principais ou beneficiários;
• Disposições que regulam a forma de obrigar a organização;
• Agente(s) a actuar em nome da organização; e
• Número da conta (se aplicável).22

Nos casos de transferências de fundos, tais como as remessas de dinhei-


ro, as instituições financeiras devem incluir informações precisas e relevantes
sobre o ordenante (nome, endereço e número da conta) e transmitir estas
informações juntamente com a transferência de fundos através da cadeia de
pagamento.23
A identidade de um cliente deve ser confirmada através de procedimen-
tos de vigilância nos casos de clientes ocasionais que tenham ultrapassado o

20. Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos
(Disposição 23).
21. As Quarenta Recomendações, Rec. 5.
22. Id., Rec. 5.
23. Recomendações Especiais, Recomendação Especial VII.

VI-86
Medidas preventivas

limiar designado ou quando existam dúvidas sobre a identidade real do clien-


te.24 O mesmo se aplicaria a pessoas colectivas que sejam clientes ocasionais.
A identificação do cliente é um processo contínuo que exige das institui-
ções financeiras, como regra geral, a conservação de fichas actualizadas com
todas as informações relevantes sobre os seus clientes. As fichas devem ser
actualizadas aquando da realização, por exemplo, de operações significativas,
de alterações nas normas de documentação dos clientes, alterações materiais
na operação de uma conta e quando se considerar que os registos existentes
são insuficientes.25 Os supervisores das instituições financeiras de um país
são vivamente incentivados a auxiliar as instituições financeiras a desenvolver
os seus próprios procedimentos de identificação e de aceitação de clientes.

4. Contas e operações de baixo e alto risco

As medidas de vigilância relativa à clientela atrás descritas devem ser


aplicadas em conformidade com o risco associado ao tipo de cliente e à
operação. Este princípio geral é comum tanto nas Recomendações do GAFI
como no documento do Comité de Basileia sobre a Vigilância Relativa à
Clientela. Para as categorias de maior risco, devem ser tomadas medidas
reforçadas, sendo em seguida analisados certos casos específicos. Para as cate-
gorias de menor risco, um país pode permitir que as suas instituições finan-
ceiras apliquem medidas reduzidas ou simplificadas. O GAFI e o Comité de
Basileia identificaram alguns exemplos destes clientes ou operações, mas estas
listas não são exaustivas, ficando esta matéria ao critério do país. Exemplos
destes clientes de menor risco são as instituições financeiras, sociedades de
capital aberto ao investimento público e empresas públicas.26 Os exemplos
destas operações são as contas de grupo, regimes de reformas e apólices de
seguros com prémio anual de pequeno montante.27
Não obstante, existe a expectativa de que os clientes sejam sempre iden-
tificados e que certos procedimentos básicos sejam observados para verificar

24. Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos,
Disposição 53; e GAFI, As Quarenta Recomendações, Rec. 11.
25. Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos
(Disposição 24).
26. Ver As Quarenta Recomendações, Notas Interpretativas à Rec. 5, parágrafos 9 e 10.
27. Ver As Quarenta Recomendações, Notas Interpretativas à Rec. 5, parágrafos 11 e 12.

VI-87
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

a identidade. As medidas reduzidas ou simplificadas podem aplicar-se a todo


o processo de verificação e/ou ao volume de informações recolhidas no que
respeita ao objectivo e à natureza da relação comercial e das operações.28
Uma questão específica em que o risco é um factor diz respeito à deter-
minação da identificação dos clientes que já tinham contas antes de a verifica-
ção da identidade de novos clientes se tornar um requisito. Nem o Comité de
Basileia nem o GAFI requerem a criação de um programa abrangente para a
verificação da identidade dos clientes existentes ou tomar outras medidas de
vigilância.29 No entanto, exige-se que as instituições financeiras verifiquem a
identidade e tomem medidas de vigilância para clientes existentes de acordo
com a necessidade e o risco.

5. Circunstâncias que exigem maior vigilância

Em certos casos, As Quarenta Recomendações referem que devem ser


tomadas certas medidas reforçadas de vigilância, além das que são normal-
mente aplicadas pelas instituições financeiras. São analisados, em seguida, os
casos que exigem procedimentos adicionais de vigilância.

a. Pessoas politicamente expostas

O GAFI define as pessoas politicamente expostas (PEPs) como:

Indivíduos a quem estão ou foram cometidas funções públicas proe-


minentes num país estrangeiro como, por exemplo, Chefes de Estado
ou de Governo, altos quadros políticos, altos cargos governamentais,
judiciais, ou militares, altos quadros de empresas públicas e funcio-
nários importantes de partidos políticos. As relações de negócio com
membros da família ou pessoas muito próximas de PEPs envolvem
riscos de reputação idênticos aos das PEPs. A definição não é aplicá-
vel a indivíduos em posições ou categorias intermédias ou mais baixas
do que as atrás mencionadas.30

Esta definição abrange apenas os clientes que ocupam funções públicas


num país “estrangeiro”, o que significa que não se aplica às PEPs “nacio-
nais”. No entanto, o GAFI incentiva os países a reforçar a vigilância a PEPs

28. Ver As Quarenta Recomendações, Notas Interpretativas à Rec. 5, parágrafo 9.


29. Ver As Quarenta Recomendações, Notas Interpretativas à Rec. 5, parágrafo 8.
30. As Quarenta Recomendações, Glossário, Pessoas politicamente expostas.

VI-88
Medidas preventivas

nacionais, exigindo que esta mesma vigilância reforçada seja aplicada às PEPs
estrangeiras.31

As medidas reforçadas de vigilância consistem em:

• Identificar as PEPs;
• Obter aprovação ao nível da direcção superior para a abertura de con-
tas;
• Estabelecer a fonte do património e dos fundos;
• Reforçar a monitorização contínua.

Na realidade, a identificação de um cliente como PEP é, muitas vezes, o


maior desafio que se coloca à instituição financeira, atendendo à definição do
conceito. Nenhuma organização oficial publica uma lista destes indivíduos,
embora várias entidades comerciais mantenham e actualizem tais listas com
regularidade.

b. Relações transnacionais de banca correspondente

Outro exemplo de contas com alto potencial de risco para as instituições


financeiras são as relações transnacionais de banca correspondente. Tais rela-
ções poderiam servir como uma forma de as entidades ou pessoas oriundas
de países com sistemas pouco rigorosos acederem ao sistema financeiro mun-
dial sem serem submetidas aos procedimentos devidos de vigilância. Antes de
iniciar relações de banca correspondente com uma instituição de outro país,
um banco deve:

• Verificar a natureza dos negócios do banco cliente, a sua reputação e a


qualidade da sua supervisão;
• Avaliar os controlos ABC/CFT do banco cliente;
• Obter a aprovação da direcção superior para a relação;
• Reduzir a escrito as respectivas responsabilidades;
• Se as contas correspondentes de transferência (payable-through-
accounts) fizerem parte da relação comercial, assegurar-se de que o
banco cliente verifica a identidade e aplica as medidas de vigilância
contínua aos seus clientes.32

31. As Quarenta Recomendações, Notas Interpretativas à Rec. 6


32. As Quarenta Recomendações, Rec. 7.

VI-89
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Deve evitar-se a relação de banca correspondente com instituições locali-


zadas nos países considerados pelo GAFI como “países e territórios não coo-
perantes” (PTNCs).33 Nenhuma operação deve ser realizada com “bancos de
fachada” (isto é, bancos constituídos numa jurisdição onde não mantenham
uma presença física e que não se encontrem integrados num grupo financeiro
regulamentado).34

c. Clientes sem presença física

À medida que a tecnologia se desenvolve, aumenta o fenómeno dos clien-


tes e das relações comerciais “sem presença física”, com clientes a utilizarem o
telefone e a Internet para obter serviços financeiros sem terem necessariamen-
te de visitar a instituição prestadora. Não existe a intenção da parte das orga-
nizações internacionais que definem padrões de obstruir tais desenvolvimentos
que, além de beneficiar a economia, ampliam o leque de opções e serviços
para os clientes. As instituições financeiras e outras que prestam estes serviços
devem estar cientes de que os riscos de ABC/CFT são muito diferentes no
tocante a estes clientes, necessitando tomar as medidas apropriadas para lidar
com esta realidade.35
Embora o GAFI coloque a questão do aumento do risco que significa
este tipo de contas, não oferece nenhuma orientação quanto às medidas a ser
tomadas para tratar deste risco mais elevado. Assim, é deixado ao critério de
cada país estabelecer as políticas e os procedimentos adequados.

d. Clientes recomendados

Em certos países, as empresas financeiras aceitam clientes “recomen-


dados” por intermediários ou por terceiros sem tomar qualquer medida
de vigilância relativa a estes clientes. Nestas circunstâncias, as instituições

33. Para uma lista completa das jurisdições não cooperantes do GAFI, ver http://www.fatf-gafi.org/
pages/0,2966,en_32250379_32236992_1_1_1_1_1,00.html.
34. As Quarenta Recomendações, Rec. 18. Ver também Comité de Basileia, Medidas de Vigilância
Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos (Disposição 51).
35. Id., Rec. 8.

VI-90
Medidas preventivas

financeiras devem atentar a três procedimentos.36 Primeiro, a instituição


deve assegurar-se de que o intermediário ou terceiro que faz a recomendação
está sujeito aos requisitos de vigilância relativa à clientela e que o respectivo
cumprimento destes requisitos é passível de supervisão. Segundo, a instituição
deve assegurar-se de que o intermediário ou terceiro que faz a recomendação
recolheu informações suficientes sobre a identidade e outros documentos rele-
vantes para cumprimento do dever de vigilância por parte do cliente. Terceiro,
as instituições devem assegurar-se de que o intermediário ou terceiro que faz
a recomendação possa disponibilizar, após solicitação e sem demora, estas
informações.
O intermediário ou terceiro que faz a recomendação pode ser do próprio
ou de um outro país. Quando o intermediário ou terceiro que faz a recomen-
dação é de outro país, a instituição financeira necessita tomar cuidados espe-
ciais para se assegurar de que os requisitos atrás indicados foram respeitados.
Vários países, que permitem a aceitação de clientes recomendados, exigem
que o intermediário ou terceiro que faz a recomendação seja um indivíduo ou
uma instituição sujeita aos controlos ABC, que seja supervisionado por um
organismo regulamentar responsável pelo cumprimento dos controlos ABC e
que esteja localizado num país cumpridor das normas do GAFI.

e. Outros negócios de alto risco

O GAFI também chama a atenção para duas outras categorias de opera-


ções que exigem uma atenção especial. Primeiro, existem operações comple-
xas, operações não usuais de montantes anormalmente elevados e tipos não
habituais de operações que não apresentam uma causa económica ou lícita
aparente.37 Os antecedentes e os propósitos de tais operações devem, tanto
quanto possível, ser examinados e os resultados registados. Quando a institui-
ção financeira não puder descobrir estas informações e/ou estiver preocupada
com o negócio, deve pensar em rejeitar o negócio e/ou comunicar a operação
suspeita.
Segundo, existem países que foram identificados como não cumpridores
das Recomendações do GAFI e que merecem especial atenção. Embora não se
proíbam as operações com tais países, as instituições financeiras devem con-
ferir-lhes uma atenção especial e, em caso de dúvida quanto ao seu objectivo,

36. Id., Rec. 9.


37. Id., Rec. 11.

VI-91
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

investigar mais a fundo e registar as conclusões.38 Quando uma instituição


financeira não está convencida de que as operações são realizadas de boa-fé,
deve pensar em rejeitar o negócio e/ou comunicar a operação suspeita.

6. Extensão da vigilância a fornecedores e outros

A estrutura da cadeia de fornecimento de várias empresas tem adquirido


uma complexidade e uma interconexão cada vez maior com o avanço do
comércio à escala global. Assim, várias instituições financeiras concluíram ser
necessário exercer uma maior vigilância sobre os distribuidores, fornecedores
e agentes das organizações, além dos funcionários e bancos correspondentes
das instituições financeiras. Os supervisores das instituições financeiras de
cada país podem considerar a aplicação de políticas que incorporem estas ten-
dências na vigilância devida, especialmente quando tais relações possam ser
consideradas de risco mais elevado, como atrás se descreveu.

7. Medidas para o sector de seguros

A Associação Internacional dos Supervisores de Seguros (AISS) estabelece


as suas próprias orientações para a identificação de clientes e a vigilância; o
sector de seguros deve observar estas orientações, além dos requisitos relevan-
tes das Quarenta Recomendações atrás analisados. As orientações da AISS
recomendam que as companhias seguradoras:

• Estabeleçam, de uma forma que “considerem razoável”, que todas


as partes relevantes para a aplicação dos seguros existam de facto.
Quando os assuntos envolvidos são muitos (por exemplo apólices de
seguro de vida colectivas e planos de pensões), poderá ser suficiente
usar um grupo limitado, tal como o dos accionistas ou directores prin-
cipais;
• Verifiquem todas as partes mandatárias subjacentes, bem como as suas
relações com os titulares da apólice — os mandatários, e não os titu-
lares da apólice, devem ser questionados relativamente à natureza da
relação;
• Proíbam contas anónimas e fictícias;

38. Id., Rec. 21.

VI-92
Medidas preventivas

• Verifiquem sinistros, comissões e qualquer outro montante pagos a


terceiros, que não os titulares da apólice (por exemplo, associações,
empresas);
• Aumentem a vigilância quando os fluxos financeiros ou padrões das
operações do titular da apólice sofrem alterações significativas, inespe-
radas ou inexplicáveis;
• Aumentem a vigilância relativa à compra e venda de contratos de segu-
ros dotais em segunda-mão e apólices individuais de seguros ligados a
fundos de investimento; e
• Monitorizem o resseguro ou a retrocessão com regularidade, com o
objectivo de se assegurarem que os pagamentos são realizados a entida-
des de resseguro de boa-fé, a taxas justificadas pelo nível de risco.39

8. Medidas para o sector de segurança

A Organização Internacional das Comissões de Valores (OICV) não esta-


beleceu requisitos próprios de identificação do cliente ou de vigilância para
as sociedades de valores mobiliários, corretoras ou entidades de investimento
colectivo. Embora a OICV não tenha estabelecido estes requisitos específicos,
os requisitos de identificação do cliente das Quarenta Recomendações (con-
forme pormenorizadamente descritas na Metodologia40) aplicam-se ao sector
de valores mobiliários.

9. Medidas para as actividades e profissões não financeiras designadas

Estes requisitos de vigilância relativa à clientela, e os requisitos relativos


à conservação de documentos, aplicam-se às actividades e profissões não
financeiras designadas de uma forma mais limitada do que às instituições
financeiras. A análise que é feita em seguida esboça as circunstâncias em que
os procedimentos de vigilância se aplicam a estas entidades e pessoas.

a. Casinos

Os procedimentos de vigilância para as instituições financeiras aplicam-se


quando clientes de casinos realizam operações financeiras de montante equi-

39. Ver AISS, Notas de Orientação de Anti-Branqueamento de Capitais,


http://www.iaisweb.org/02money.pdf.
40. http://www.fatf-gafi.org/pdf/Meth-2004_en.PDF.

VI-93
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

valente ou superior a 3000 USD/EUR. Os exemplos destas operações incluem


a compra ou venda de fichas, a abertura de contas, as transferências electró-
nicas e o câmbio de moedas. Isto não significa que todas as operações de jogo
tenham de ser monitorizadas ou registadas pelo período de 5 anos.41

b. Agentes imobiliários

As operações de compra e venda de imóveis para um cliente exigem a


aplicação dos procedimentos de vigilância. Contudo, a identificação e outras
medidas de vigilância relativa à clientela precisam de ser aplicadas apenas
quando uma operação ocorre e apenas para a parte que é o cliente do agente
imobiliário.42 Em muitos países, o cliente é o vendedor e não o comprador.

c. Negociantes de metais e pedras preciosas

As operações em numerário de montante equivalente ou superior a


15.000 USD/EUR devem ser abrangidas pelos requisitos de vigilância.43

d. Advogados, notários, outras profissões jurídicas independentes e contabilistas

Os requisitos de identificação e de vigilância aplicam-se às operações pre-


paradas ou efectuadas para um cliente, no âmbito das seguintes actividades
específicas:

• A compra e venda de imóveis;


• A gestão de fundos, valores mobiliários ou outros bens do cliente;
• A gestão de contas bancárias, de poupança ou de valores mobiliários;
• A organização de contribuições destinadas à criação, exploração ou
gestão de sociedades;

41. As Quarenta Recomendações, Rec. 12, parágrafo a. As recomendações aplicáveis são as Recs. 5,
6 e 8 a 11.
42. Id., Rec. 12, parágrafo b.
43. Id., Rec. 12, parágrafo c.

VI-94
Medidas preventivas

• A criação, exploração ou gestão de pessoas colectivas ou de entidades


sem personalidade jurídica, e a compra e venda de entidades comer-
ciais.44

A frase chave é “preparem ou efectuem operações”. Isto significa que não


se aplica ao mero aconselhamento sobre como efectuar tal operação. Exige-se
a identificação e a vigilância relativa à clientela (e a conservação de documen-
tos) após o profissional se envolver na realização da operação, que inclui o
trabalho prévio da sua preparação, além da sua execução. Estas são situações
em que os advogados e contabilistas actuam como “guardiões” (gatekeepers)
do sistema financeiro, ao prestar serviços que podem abrir a possibilidade de
os clientes efectuarem operações de branqueamento de capitais ou de financia-
mento do terrorismo.

e. Prestadores de serviços a sociedades e trusts

Os procedimentos de vigilância aplicam-se a operações preparadas ou


efectuadas para um cliente no âmbito das seguintes actividades específicas:

• actuação como agentes na constituição de pessoas colectivas;


• actuação como administradores ou secretários de uma sociedade,
sócios ou titulares de posição idêntica, para outras pessoas colectivas
(ou proceder às diligências necessárias para que um terceiro actue dessa
forma);
• fornecimento de sede social, endereço comercial, instalações ou ende-
reço administrativo ou postal a uma sociedade, ou a qualquer outra
pessoa colectiva ou a entidades sem personalidade jurídica (legal arran-
gements);
• actuação como administrador de um express trust (ou proceder às dili-
gências necessárias para que outra pessoa actue dessa forma); ou
• intervenção como accionistas por conta de outra pessoa (ou proce-
der às diligências necessárias para que outra pessoa intervenha dessa
forma)45.

Em certos países, as operações como as descritas são efectuadas por


advogados. Para ser coerente com os critérios estabelecidos para os advo-
gados, o critério relevante é, novamente, “preparar e efectuar”, que exclui o

44. Id., Rec. 12, parágrafo d.


45 Id., Rec. 12, parágrafo e.

VI-95
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

mero aconselhamento, mas inclui o trabalho prévio à realização de uma deter-


minada operação.

B. Requisitos de conservação de documentos

1. Instituições financeiras

As instituições financeiras devem conservar os documentos relativos à


identidade do cliente e à operação por um período mínimo de cinco anos
após o fecho de uma conta.46 As instituições podem ser obrigadas a conservar
os documentos por um período superior a cinco anos, se assim o o determina-
rem as autoridades de regulação. O conteúdo dos documentos deve ser dispo-
nibilizado prontamente às autoridades mediante solicitação e, além disso, ser
suficientemente detalhado para permitir o procedimento penal por conduta
criminosa.47
A conservação de documentos é importante tanto para fins de prevenção
como de detecção do branqueamento de capitais e do financiamento do terro-
rismo. Quando um potencial cliente tem conhecimento de que os documentos
são conservados, é menos provável que tente utilizar a instituição para estes
fins ilegais. A conservação de documentos também é útil para a detecção das
pessoas envolvidas e estabelece um rasto financeiro que ajuda as autoridades
competentes a perseguir criminalmente as partes envolvidas.
As seguintes informações devem ser incluídas no registo da operação de
um cliente:

• Nome do cliente e/ou do beneficiário;


• Endereço;
• Data e natureza da operação;
• Tipo e valor da moeda envolvida na operação;
• Tipo e número de identificação da conta; e
• Outras informações relevantes normalmente registadas por uma insti-
tuição financeira.48

46. As Quarenta Recomendações, Rec. 10.


47. Id.
48. Id.

VI-96
Medidas preventivas

2. Sector de seguros

A AISS estabelece o seu próprio conjunto de requisitos de conservação de


documentos; as entidades seguradoras devem cumprir estes requisitos, além
das orientações relevantes das Quarenta Recomendações. As seguradoras
devem também obter as seguintes informações (quando aplicável) quando
registam a operação de um cliente:

• O local da realização;
• A avaliação financeira do cliente;
• A análise de necessidade do cliente;
• Os detalhes sobre o método de pagamento;
• A descrição dos benefícios;
• As cópias da documentação utilizada para verificar a identidade do
cliente;
• Os registos pós-venda associados ao contrato, até ao seu vencimento; e
• Os detalhes do processamento do vencimento e o pagamento de sinis-
tros (incluindo a “documentação de encerramento”).49

Os supervisores das instituições financeiras devem verificar se todos os


representantes das companhias seguradoras são possuidores da licença exigida
pela respectiva legislação de seguros e jurisdição.50 Os representantes podem
conservar os documentos em nome de uma entidade de seguros, mas a integri-
dade dos registos é da responsabilidade desta entidade, como fornecedora do
produto.51 Nestes casos, é necessário existir uma clara divisão de responsabi-
lidades entre a entidade de seguros e o seu representante.52

3. Sector de valores mobiliários

A OICV estabeleceu o seu próprio conjunto de requisitos de conservação


de documentos, que as sociedades de valores mobiliários devem respeitar,
além de cumprir os requisitos gerais das Quarenta Recomendações já atrás
analisados. A OICV requer que a autoridade central nacional da área da cri-

49. Ver AISS, Notas de Orientação Anti-Branqueamento de Capitais.


50. Id
51. Id.
52. Id.

VI-97
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

minalidade financeira ou outras autoridades competentes assegurem a conser-


vação de documentos pelos intermediários, conforme a necessidade, demons-
trando o seu cumprimento das regras regulamentares.53 Estes documentos
devem ser legíveis, compreensíveis e abrangentes, e devem incluir todas as
operações que envolvem activos de investimento colectivo.54

4. Actividades e profissões não financeiras designadas

Os requisitos de conservação de documentos para as actividades e pro-


fissões não financeiras designadas aplicam-se nas mesmas circunstâncias dos
requisitos de identificação do cliente e vigilância relativa à clientela.55 Ver a
precedente Secção A.9, Identificação de clientes e vigilância, Medidas para as
actividades e profissões não financeiras designadas.

C. Comunicação de operações suspeitas

Quando uma instituição financeira suspeitar ou tiver razões suficientes


para suspeitar de que certos fundos são o produto de uma actividade crimino-
sa ou que estão relacionados com o financiamento do terrorismo, deve comu-
nicar estas suas suspeitas à respectiva Unidade de Informação Financeira.56
Além disso, deve ser exigido aos bancos que comuniquem actividades sus-
peitas e incidentes importantes de fraude aos supervisores, tendo estes de se
assegurar que as autoridades competentes foram alertadas.57 As instituições
financeiras, ao fazer comunicações de operações suspeitas (COSs), não devem,
em qualquer circunstância, avisar um cliente de que o seu comportamento foi
comunicado como suspeito às autoridades.58 A partir desse momento - ou
seja, após a comunicação - as instituições financeiras devem cumprir integral-
mente todas as instruções das autoridades governamentais, incluindo o forne-
cimento de documentos.59

53. Ver OICV, Princípios de Supervisão dos Operadores de Esquemas de Investimento Colectivo
(CIS Set. 1997), disponível em http://www.iosco.org/pubdocs/pdf/IOSCOPD69.pdf.
54. Id.
55. As Quarenta Recomendações, Rec. 12.
56. As Quarenta Recomendações, Rec. 13.
57. Comité de Basileia, Princípio Fundamental 15, Descrição 31.
58. As Quarenta Recomendações, Rec. 14.
59. Id., Recs.10 e 28.

VI-98
Medidas preventivas

1. Operações suspeitas: quais são as suas características

As operações suspeitas têm determinadas características gerais, incluindo


a mais óbvia, as operações que se desviam dos padrões normais de actividade
de uma conta. Qualquer operação complexa ou de montante anormalmente
elevado - além de quaisquer padrões não usuais de operações sem aparente
causa económica, comercial ou lícita - é suspeita e, por conseguinte, deve
ser objecto de uma maior investigação por parte da instituição financeira
e, se necessário, das autoridades competentes.60 Para as ajudar a identificar
operações suspeitas, estas instituições financeiras devem estabelecer limiares
baseados no risco para monitorizar os tipos ou categorias particulares de
contas. Alguns exemplos específicos de actividade suspeita (por exemplo,
movimento muito elevado da conta, incompatível com o saldo) são úteis para
as instituições financeiras e devem de alguma forma ser-lhes fornecidos pelos
supervisores.61
As instituições financeiras e os seus funcionários devem estar sempre vigi-
lantes em relação a operações suspeitas. A lista que se segue, embora não seja
exaustiva, contém indicações de operações suspeitas:

• Indicações gerais

– Retirada de activos imediatamente após o seu crédito numa conta.


– Uma conta sem movimento repentinamente activada, sem qualquer
razão plausível.
– O alto valor patrimonial de um cliente não é compatível com as
informações a seu respeito nem com o respectivo negócio.
– Um cliente fornece informações falsas ou alteradas ou recusa-se a
comunicar informações exigidas pelo banco.
– A preparação de uma operação sugere um fim ilícito, é economica-
mente ilógica ou não é identificável.

60. Id., Rec.11.


61. Id., Rec. 25; Ver também Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que
Respeita aos Bancos, (Disposição 53).

VI-99
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• Indicações relativas a operações em numerário

– O depósito frequente de numerário em quantias incompatíveis com


as informações respeitantes ao cliente ou respectivo negócio.
– O depósito de numerário imediatamente seguido da emissão de che-
ques ou transferências para contas abertas em outros bancos locali-
zados no mesmo ou em outro país.
– O levantamento frequente de quantias em numerário sem qualquer
conexão óbvia com o negócio do cliente.
– A troca frequente de notas de valor elevado por notas de menor
valor ou o câmbio daquelas notas por outra moeda.
– O levantamento de cheques, incluindo cheques de viagem, de valor
elevado.
– A frequência de operações em numerário em quantias imediatamen-
te inferiores ao limiar a partir do qual a instituição financeira exige
a identificação ou comunicação.

• Indicações relativas a operações em contas de depósito

– O fecho de uma conta seguido da abertura de novas contas no


mesmo nome ou no de familiares do cliente.
– A compra de acções com fundos transferidos do exterior ou imedia-
tamente após um depósito em numerário na conta.
– Estruturas ilógicas (várias contas, transferências frequentes entre as
contas, etc.).
– A concessão de garantias (caução, obrigações) sem qualquer razão
óbvia.
– Transferências a favor de outros bancos sem qualquer indicação do
beneficiário.
– A quitação inesperada, sem uma explicação convincente, de um
empréstimo em mora.
– O depósito de cheques de valor elevado incompatível com as infor-
mações respeitantes ao cliente ou ao respectivo negócio.

2. Disposições de protecção para as comunicações

As leis de protecção ajudam a incentivar as instituições financeiras a


comunicar todas as operações suspeitas. Estas leis protegem as instituições
financeiras e os seus funcionários contra a responsabilidade penal e civil sem-
pre que comuniquem, de boa-fé, operações suspeitas às autoridades competen-

VI-100
Medidas preventivas

tes. Estas disposições jurídicas devem oferecer às instituições financeiras e aos


seus funcionários ou representantes, protecção contra processos judiciais por
qualquer alegação de violação das leis de confidencialidade ou de sigilo, sem-
pre e quando a comunicação da suspeita tenha sido feita de boa-fé (ou seja,
não foi feita de forma superficial nem maliciosa).62

3. Âmbito da obrigação de comunicação

Uma COS é uma forma de alertar as autoridades para a possibilidade de


que uma determinada operação possa envolver o branqueamento de capitais
ou o financiamento do terrorismo e, consequentemente, para a necessidade de
investigação. Na maioria dos casos, a instituição financeira que faz a comu-
nicação não terá provas de que a operação representa o produto do crime e
muito menos saberá qual o crime específico que está envolvido. A instituição
financeira terá conhecimento simplesmente de que a operação não é usual e
incompatível com o tipo normal de operações da conta. Muito possivelmente,
não terá conhecimento da origem dos fundos nem dos motivos da opera-
ção, não devendo questionar o cliente sob pena de correr o risco de o alertar.
Nestas situações, a instituição deve fazer uma comunicação de operação sus-
peita e deixar investigação a cargo das autoridades.
Como as instituições que fazem as comunicações normalmente não terão
conhecimento do fundamento subjacente da operação, um sistema de comuni-
cação de operações suspeitas deve basear o dever de comunicar na “suspeita”
de que os fundos podem estar relacionados com uma infracção de natureza
criminal. Não se torna necessário exigir que esta instituição investigue a
operação ou tenha provas concretas de que os fundos estão relacionados com
uma actividade criminosa.

4. Crimes fiscais

Certos países não classificam os crimes fiscais, tais como a evasão fis-
cal, como infracções subjacentes ao branqueamento de capitais. Assim, o
branqueamento dos produtos da evasão fiscal não constitui necessariamente
uma infracção de branqueamento de capitais. No entanto, as instituições
financeiras devem comunicar as operações que considerem suspeitas e deixar
às autoridades a tarefa de determinar se é uma situação de branqueamento
de capitais. Caso contrário, existe o risco de os clientes tentarem justificar

62. As Quarenta Recomendações, Rec. 14.

VI-101
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

as operações relacionadas com infracções subjacentes ao branqueamento de


capitais como sendo relativas aos produtos da evasão fiscal e pressionarem as
instituições a não fazer as comunicações de operações suspeitas..

5. Sector de seguros

A AISS estabeleceu o seu próprio conjunto de orientações para a comu-


nicação de operações suspeitas.63 O sector de seguros deve observar estas
orientações, além de cumprir os requisitos das Quarenta Recomendações
atrás mencionadas. As companhias de seguros devem comunicar actividades
suspeitas à Unidade de Informação Financeira ou a outra autoridade central
nacional. Apresentam-se em seguida casos de operações suspeitas específicas
do sector de seguros, que merecem ser investigados:

• O resgate antecipado, inesperado ou pouco vantajoso de uma apólice


de seguro;
• A utilização não usual de um intermediário para a realização de
alguma operação ou actividade financeira comum (por exemplo, o
pagamento de sinistros ou de altas comissões a um intermediário não
usual);
• Um método não usual de pagamento; e
• Operações que envolvam jurisdições com instrumentos de regulamen-
tação pouco rigorosos na área de branqueamento de capitais e/ou do
financiamento do terrorismo.64

6. Sector de valores mobiliários

A OICV não estabeleceu requisitos próprios de comunicação de activida-


des suspeitas para as sociedades de valores mobiliários, corretoras ou entida-
des de investimento colectivo. Embora a OICV não tenha requisitos próprios
ou adicionais nesta área, os requisitos de comunicação de actividades suspei-
tas das Quarenta Recomendações aplicam-se ao sector de valores mobiliários.

63. Ver AISS, Notas de Orientação Anti-Branqueamento de Capitais.


64. Id.

VI-102
Medidas preventivas

7. Actividades e profissões não financeiras designadas

Nos termos da revisão das Quarenta Recomendações, em 2003, passou a


ser exigido que as entidades e profissões não financeiras designadas comuni-
quem operações suspeitas, embora de forma mais limitada do que a obrigação
de identificarem os clientes e de adoptarem medidas de vigilância.65
Para os advogados, notários, outras profissões jurídicas independentes e
contabilistas, a obrigação de fazer uma COS existe apenas quando realizam
uma operação financeira para ou em nome de um cliente. Este requisito é
mais limitado do que a obrigação de identificar os clientes e de adoptar medi-
das de vigilância a eles relativas, em dois aspectos:

• A obrigação de comunicação abrange apenas as “operações financeiras”


e não todas as operações; e
• A obrigação de comunicação aplica-se apenas quando o profissional
realiza uma operação financeira para o seu cliente.66

Não existe uma obrigação de comunicação em circunstâncias de privilé-


gio profissional de natureza legal. Cada país determina quando tais obriga-
ções de comunicação são obrigatórias, mas o privilégio abrange normalmente
as informações obtidas na avaliação da posição jurídica de um cliente ou
na representação do cliente num processo. Os países podem permitir que os
membros deste grupo façam as comunicações às respectivas organizações de
auto-regulação (OARs) e não à UIF, desde que tenham sido estabelecidas for-
mas de cooperação entre estas duas entidades.67
Os negociantes de metais e de pedras preciosas são obrigados a submeter
COSs apenas quando realizam operações em numerário com os clientes de
montante igual ou superior ao limiar de 15.000 USD/EUR.68
É exigido que os prestadores de serviços a sociedades e a trusts apresen-
tem COSs apenas em circunstâncias em que realizem operações em nome de
um cliente.69 Como consequência, qualquer operação e não apenas as opera-
ções financeiras suspeitas, deve ser comunicada. No entanto, a comunicação é
limitada às situações em que os trusts ou os prestadores de serviços a socieda-
des realizem de facto a operação; o mero aconselhamento ou a preparação da
operação não necessita ser comunicada.

65. As Quarenta Recomendações, Rec. 16.


66. Id., Rec. 16, parágrafo a.
67. Id., Nota Interpretativa à Rec. 16.
68. Id., Rec. 16, parágrafo b.
69. Id., Rec. 16, parágrafo c.

VI-103
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

D. Comunicação de operações em numerário

Os países devem considerar os possíveis benefícios que podem obter ao


exigir a comunicação de todas as operações em numerário que ultrapassem
um limiar de determinado valor 70, embora não sejam obrigados a impor
este requisito. O requisito de comunicação das operações em numerário tem
implicações significativas para os recursos e para a privacidade, que os países
devem ter em consideração ao estudar esta questão. Cada país ou jurisdição
define o seu próprio limiar para a comunicação com base nas suas próprias
circunstâncias. Por exemplo, os Estados Unidos exigem que as instituições
financeiras registem e comuniquem às autoridades designadas todas as opera-
ções que envolvam numerário ou instrumentos ao portador de valor superior
a US$10.000.71
Outros países exigem a comunicação para níveis semelhantes. Estes
limiares podem ser criados por lei ou por regulamentação sob a autoridade da
respectiva autoridade de supervisão nacional. Dependendo das circunstâncias
próprias de cada país, os mesmos requisitos podem também ser aplicados às
entidades e profissões não financeiras, tais como os casinos, negociantes de
antiguidades e de automóveis, advogados, contabilistas ou outras situações
em que compras de valor elevado são pagas em numerário.
As autoridades competentes devem ter muito cuidado ao definir o limiar
a utilizar no país; este deve ser suficientemente elevado para não incluir as
operações insignificantes, mas suficientemente baixo para detectar operações
com potenciais ligações à criminalidade financeira. Além disso, os países
podem incluir excepções aos requisitos de comunicação para as operações nos
casos em que esta comunicação se revele onerosa para o sistema, e não parti-
cularmente produtiva para assegurar o cumprimento da lei.
Acresce que certas entidades podem apresentar um risco diminuto de
envolvimento no branqueamento de capitais e, assim, reunir as condições
para ser incluídas nas excepções. Estas entidades incluem governos, certas
instituições financeiras ou sociedades que logicamente se supõe estarem livres

70. As Quarenta Recomendações, Rec. 19.


71. Ver, por exemplo, Lei do Sigilo Bancário dos EUA de 1970.

VI-104
Medidas preventivas

de corrupção, e clientes que frequentemente realizam operações de grandes


montantes em numerário devido à natureza dos seus negócios. Tais excepções
devem ser reexaminadas com regularidade para determinar se continuam ade-
quadas, quer como regra geral como para certas entidades, sob circunstâncias
específicas.

1. Múltiplas operações em numerário

Os requisitos de comunicação de operações em numerário também se


aplicam a múltiplas operações efectuadas no mesmo dia, que é uma prática
conhecida, em língua inglesa, como “smurfing”. Se o montante consolidado
das operações ultrapassar o limiar designado para a comunicação, as institui-
ções financeiras devem comunicar toda a série de operações realizadas.72 Esta
salvaguarda contra o smurfing - quando várias operações individuais envol-
vendo diversas contas numa instituição financeira conseguem ser realizadas
imediatamente abaixo do limiar fixado por um país para a comunicação - é
um elemento fundamental do esforço para prevenir o branqueamento de capi-
tais e o financiamento do terrorismo. Os criminosos e terroristas obviamente
recorrem às suas próprias contra-medidas para evitar ser detectados por pro-
gramas de software. É por esta razão que é absolutamente crucial que autori-
dades competentes realizem análises pró-activas para detectar as actividades
financeiras dos criminosos e terroristas.
É claro que uma operação pode ser também comunicada como suspeita
mesmo sem ser identificada pela utilização do limiar ou das múltiplas opera-
ções. Por exemplo, um depósito individual de 9.900 pode ser considerado sus-
peito, em várias circunstâncias, quando o país tem um limiar de 10.000 como
requisito de comunicação, pois sugere a estruturação de operações pelo cliente
com o intuito de se furtar às exigências de comunicação.

2. Movimentações transnacionais

Os branqueadores de capitais realizam transferências transnacionais de


numerário, instrumentos ao portador e mercadorias de valor elevado como
um esquema de branqueamento de capitais. É importante que os países
possuam um mecanismo para detectar quando tais transferências podem ser
utilizadas para fins de branqueamento de capitais ou de financiamento do
terrorismo.
As autoridades devem considerar a definição de um limiar mínimo para o
requisito de comunicação de movimentações transnacionais de moeda, outros

72. Comité de Basileia, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos,
(Disposição 16).

VI-105
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

instrumentos negociáveis e mercadorias de valor elevado (ou seja, metais ou


pedras preciosas). A movimentação internacional não usual ou suspeita destes
bens, o seu local de origem e o local de destino devem ser comunicados aos
serviços alfandegários ou outras autoridades competentes do país.73

3. Técnicas modernas de gestão monetária

As capacidades de monitorização das instituições financeiras e das autori-


dades governamentais têm aumentado com a tendência de redução nas trans-
ferências de numerário e de moeda e do aumento da utilização de cheques,
cartões de pagamento, depósitos directos e registo contabilístico de valores
mobiliários. Estas operações deixam rasto de documentação que é útil em
caso de suspeita de actividades ilícitas, permitindo que as autoridades com-
petentes realizem as suas investigações. O êxito das investigações depende da
conservação exacta e completa dos documentos. Por esta razão, é vivamente
incentivada a utilização destes métodos modernos de gestão monetária e de
transferência de pagamentos.74

E. Encontrar um equilíbrio entre as leis da privacidade e os requisitos


de comunicação e divulgação

A comunicação de informações, por exemplo, operações suspeitas e ope-


rações em numerário, ou a divulgação de registos por uma instituição finan-
ceira a uma autoridade competente, envolve necessariamente informações nor-
malmente tratadas como confidenciais nos termos das leis de sigilo bancário
ou de privacidade de um país.
Ao exigir a comunicação ou a divulgação destas informações para fins
ABC e CFT, o país necessita estabelecer as devidas excepções às leis de priva-
cidade ou autorizar especificamente a comunicação e a divulgação para estes
fins limitados. O GAFI estabelece especificamente que as leis sobre segredo
profissional das instituições financeiras devem ser elaboradas de forma a não
obstar à aplicação de qualquer das suas Recomendações.75 Ao mesmo tempo,
o país deve assegurar o respeito e a protecção da confidencialidade, excepto
nos casos em que as necessidades de política pública, tal como os processos
de branqueamento de capitais, prevalecem sobre a necessidade de proteger
a privacidade da informação financeira. Ao assegurar a confidencialidade e

73. As Quarenta Recomendações, Rec. 19.


74. Id., Recs. 20 e 28.
75. Id., Recs. 4 e 28.

VI-106
Medidas preventivas

a privacidade no quadro geral, o país protege a comunicação e a divulgação


contra os abusos. Ao adoptar este procedimento, o país incentiva a máxima
cooperação e a adequada comunicação e divulgação pelas entidades e pessoas
sujeitas a estes requisitos.

F. Controlos internos, cumprimento e auditorias

Os países devem exigir que todas as instituições financeiras abrangidas


pelas leis ABC e CFT estabeleçam e mantenham políticas e procedimentos
internos para impedir que as suas instituições sejam utilizadas para fins de
branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo.76 As políticas
e os procedimentos internos podem variar entre as diferentes instituições e os
vários tipos de instituições, mas todos devem considerar a dimensão, o âmbito
e a natureza das operações da instituição.
Os procedimentos internos incluem a formação contínua, que mantém
os funcionários informados e actualizados sobre as evoluções da área ABC
e CFT. A formação dos funcionários deve (1) descrever a natureza e os pro-
cessos de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo; (2)
explicar as leis e os requisitos regulamentares ABC/CFT; e (3) explicar as
políticas e os sistemas da instituição relativos aos requisitos de comunicação
de actividades suspeitas, com ênfase nas obrigações de identificação do cliente,
de vigilância e de comunicação.
Além disso, as instituições financeiras devem investigar os candidatos a
um emprego quanto a possíveis intenções de utilizarem as instituições para
branquear capitais e/ou financiar o terrorismo.77 Recomenda-se que cada ins-
tituição financeira nomeie, ao nível da Direcção, um responsável pelo cumpri-
mento dos requisitos de controlo ABC/CFT.78 A existência desta pessoa ajuda
a assegurar a devida atenção da Direcção aos esforços de cumprimento destes
requisitos na instituição.
A função de auditoria também é um requisito de política e de procedi-
mento interno a ser cumprido; a função de auditoria deve ser independente da
função administrativa do cumprimento dos requisitos, para que a qualidade
da função de cumprimento possa ser testada e validada como um todo.79

76. Id., Rec. 15.


77. Id.
78. Id., Nota Interpretativa à Rec. 15.
79. Id.

VI-107
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

G. Regulação e supervisão — Normas de integridade

As análises precedentes tratam das medidas preventivas ABC e CFT, que


devem ser aplicadas pelas autoridades nacionais às instituições financeiras e
a certas actividades e profissões não financeiras designadas. Não é suficien-
te que as autoridades nacionais imponham estes requisitos nas respectivas
legislações. Os países necessitam também tomar medidas para assegurar a
aplicação prática destes requisitos. Como vários outros elementos dos padrões
internacionais, o âmbito da regulação e de supervisão deve basear-se no risco
de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo a que se
encontra exposta a instituição em questão. O enquadramento estabelecido
pelas organizações que definem os padrões prevê diversos tipos de regulação e
de supervisão para:

• As instituições sujeitas aos Princípios Fundamentais,


• Outras instituições financeiras, e
• Actividades e profissões não financeiras designadas

As recomendações de regulação e de supervisão relativas às normas


de integridade das Quarenta Recomendações são analisadas em detalhe no
Capítulo V, em Regulação e supervisão — Normas de integridade.

H. Pessoas colectivas e entidades sem personalidade jurídica

Cada país deve adoptar as medidas adequadas para impedir os branquea-


dores de capitais e aqueles que financiam do terrorismo de utilizar ilicitamen-
te as sociedades e outras formas de pessoas colectivas.80 Estas medidas devem
incluir informações exactas e tempestivas sobre os beneficiários efectivos e
o controlo das pessoas colectivas; as autoridades competentes devem ter um
acesso rápido a tais informações. Além disso, nos países onde são permitidas
as acções ao portador, devem ser adoptadas as medidas adequadas para impe-
dir o abuso destas acções para fins de branqueamento de capitais ou de finan-
ciamento do terrorismo.81

80. Id., Rec. 33.


81. Id.

VI-108
Medidas preventivas

Um país deve também adoptar medidas adequadas para se assegurar que


os trusts e outras entidades sem personalidade jurídica semelhantes não sejam
utilizados indevidamente por pessoas envolvidas no branqueamento de capi-
tais ou no financiamento do terrorismo82. Estas medidas preventivas devem
incluir o acesso a informação sobre o fundador, o administrador e os benefici-
ários destes tipos de entidade sem personalidade jurídica83.

82. Id., Rec. 34.


83. Id.

VI-109
Capítulo VII

A Unidade de Informação Financeira

A. Definição de Unidade de Informação 3. Aplicação da lei e retenção de bens


Financeira 4. Formação
5. Investigação
B. Funções principais
1. Depósito centralizado para as informações comunicadas E. Organização da UIF
2. Análise 1. Escolha do modelo certo
3. Difusão das informações 2. Considerações sobre capacidade
3. Considerações sobre recursos humanos
C. Tipos ou modelos de UIFs
1. Administrativas F. Salvaguardas de privacidade
2. Policiais 1. A principal tensão entre as políticas: Privacidade versus eficiência
3. Judiciais 2. Princípio da confidencialidade
4. Híbridas 3. Princípio da especialidade
4. Independência e prestação de contas
D. Outras funções possíveis
1. Responsabilidades de supervisão ou de regulação G. Informações e retorno
2. Investigações de informação (feedback)

O s envolvidos no combate ao branqueamento de capitais e ao financia-


mento do terrorismo devem ter acesso a certos tipos de informações de
natureza financeira para que possam realizar investigações financeiras. Nesta
perspectiva, a Unidade de Informação Financeira (UIF) desempenha um papel
cada vez mais importante neste processo.1
Os branqueadores de capitais manipulam os seus produtos ilícitos na
tentativa de ocultar ou dissimular a sua verdadeira natureza, origem, loca-
lização, disposição e movimentação, com o objectivo final de integrar estes
produtos na economia legítima.2 Os financiadores do terrorismo procuram
ocultar a fonte dos fundos e dissimular a sua utilização ilícita em apoio ao
terrorismo. As investigações financeiras são muito favorecidas quando um

1. Para uma análise abrangente sobre as UIFs, ver Financial Intelligence Units, An Overview
[Unidades de Informação Financeira, uma Síntese] 2004, (Síntese das UIFs) pelo Fundo
Monetário Internacional e o Banco Mundial, disponível (apenas para leitura) em
www.amlcft.org.
2. Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e de Substâncias
Psicotrópicas (1988) (Convenção de Viena), Art. 3.° (b)(i) e (ii).
http://www.incb.org/e/conv/1988/.

VII-111
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

país conta com um regime abrangente que exija a comunicação de certas


informações e a conservação de documentos, e que facilite a troca de infor-
mações entre as autoridades competentes, quer a nível nacional quer inter-
nacional. Os objectivos principais das investigações financeiras são os de
identificar, rastrear e documentar a movimentação de fundos; identificar e
localizar os bens sujeitos às medidas policiais; e apoiar a perseguição penal da
actividade criminosa.
As investigações financeiras procuram descobrir o rasto financeiro deixa-
do pelos criminosos. Como parte deste processo, os investigadores analisam
os registos das contas nas instituições financeiras, os registos de imóveis, os
documentos sobre hipotecas e sentenças, registos empresariais, contas em
corretoras e fundos mútuos, contratos de seguros e uma gama completa de
registos de outras relações financeiras e comerciais. As operações financeiras
ilícitas têm adquirido uma maior sofisticação e complexidade, exigindo que
os investigadores tradicionais adquiram novos e especializados utensílios de
informação.
O Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de Capitais
(GAFI), que é reconhecido como a organização que define os padrões inter-
nacionais para as iniciativas anti-branqueamento de capitais (ABC) e de
combate ao financiamento do terrorismo (CFT), estabelece, nas Quarenta
Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais (As Quarenta
Recomendações), que cada país deve criar uma UIF.3 Além disso, o GAFI
insta os países a impor medidas às instituições financeiras e a certas activida-
des e profissões não financeiras, para exigir que conservem documentos sobre
a identidade dos seus clientes e as suas operações e a comunicarem quaisquer
operações suspeitas.4 As informações originadas por estes requisitos de comu-
nicação de operações suspeitas e de conservação de documentos devem ser
transmitidas à UIF do país, para serem utilizadas na reconstituição de ope-
rações, para estabelecer ligações entre clientes individuais e um determinado
negócio, para provar o “dolo” de um indivíduo e, finalmente, para identificar
o papel de um indivíduo numa actividade criminosa ou de financiamento do
terrorismo.
Os requisitos de comunicação de informações e de conservação de
documentos dão origem a um volume considerável de dados financeiros,
sendo que grande parte não pode ser facilmente utilizada pelas autoridades
competentes sem serem feitas análises adicionais. Para que o enquadramento
institucional ABC e CFT de um país seja minimamente eficaz, o país deve

3. As Quarenta Recomendações, Rec. 26, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF.


4. Id., Recs. 10–22.

VII-112
A Unidade de Informação Financeira

instituir um sistema confiável e eficiente para o processamento, análise e difu-


são destas informações. Sem um sistema como este, as autoridades policiais
enfrentam muito mais dificuldades para detectar operações financeiras de
criminosos ou de terroristas. A necessidade urgente de uma análise eficaz dos
dados relativos a possíveis crimes financeiros explica, em parte, a proliferação
de UIFs e a crescente importância das suas funções no esforço internacional
para impedir, detectar e perseguir criminalmente o branqueamento de capitais
e o financiamento do terrorismo.5

A. Definição de Unidade de Informação Financeira

O Grupo Egmont de Unidades de Informação Financeira (Grupo


Egmont), que é a organização que define os padrões normativos internacio-
nais para as UIFs, adoptou a seguinte definição de UIF em Novembro de
1996:

Uma agência central nacional com responsabilidade pela recepção


(e, quando permitida, a solicitação), análise e difusão, às autoridades
competentes, de informações financeiras divulgadas (i) respeitantes
aos produtos suspeitos do crime, ou (ii) exigidas pela legislação ou
regulamentação nacional para combater o branqueamento de capi-
tais.6

A Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada


Transnacional (2000) (Convenção de Palermo) adoptou esta definição, decla-
rando que “Cada Estado Parte… considerará a possibilidade de criar um ser-
viço de informação financeira que funcione como centro nacional de recolha,
análise e difusão de informação relativa a eventuais actividades de branquea-
mento de capitais”.7

5. Em Junho de 2004, 94 países criaram Unidades de Informação Financeira, que são membros
do Grupo Egmont. O Grupo Egmont, Financial Intelligence Units of the World [Unidades de
Informação Financeira do Mundo], disponível em http://www.egmontgroup.org/.
6. O Grupo de Egmont é uma organização informal de Unidades de Informação Financeira, assim
denominado em homenagem à localização da primeira reunião do grupo, no Palácio de Egmont-
Arenberg, em Bruxelas. O objectivo do grupo é proporcionar um fórum para que as UIFs
melhorem o apoio dado aos respectivos programas nacionais anti-branqueamento de capitais.
Ver Grupo Egmont, “Information Paper on Financial Intelligence Units and the Egmont Group”
[Documento Informativo sobre as Unidades de Informação Financeira e o Grupo Egmont], dis-
ponível em http://www.egmontgroup.org/info_paper_final_092003.pdf. Ver também o Capítulo
III, o Grupo Egmont.
7. A Convenção de Palermo, Artigo 7.° (1)(b).

VII-113
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Alargando esta definição, o GAFI requer que os países estabeleçam uma


UIF, que tenha estas três funções essenciais, ou seja, recolher ou “guardar” as
informações comunicadas, analisá-las e trocar informações financeiras8, com
o objectivo de detectar e combater o branqueamento de capitais e o finan-
ciamento do terrorismo. O GAFI tem também como exigência geral a de que
todas as autoridades nacionais troquem informações e cooperem com as suas
homólogas nacionais e internacionais9.
Em 2004, o Grupo Egmont reviu a sua definição de UIF para incluir
especificamente o combate ao financiamento do terrorismo10. A definição
actual de uma UIF é a seguinte:

Uma agência central nacional com responsabilidade pela recepção


(e, quando permitida, a solicitação), análise e difusão, às autoridades
competentes, de informações financeiras divulgadas:
i. respeitantes aos produtos suspeitos do crime e o potencial
financiamento do terrorismo, ou
ii. exigidas pela legislação ou regulamentação nacional para
combater o branqueamento de capitais e o financiamento do
terrorismo11.

Como resultado, a definição do Grupo Egmont para uma UIF é total-


mente coerente com As Quarenta Recomendações.

B.Funções principais

As UIFs variam de país a país, mas todas partilham três funções fun-
damentais: recebem, analisam e difundem informações para combater o
branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo. A difusão de
informações financeiras deve ser realizada quer a nível nacional quer interna-
cional.
Como o branqueamento de capitais é, muitas vezes, uma actividade
transnacional, é importante que as UIFs juntem as suas forças às de outros
serviços nacionais de informação. Assim, até as melhores leis e regulamentos
nacionais contra o branqueamento de capitais, incluindo os referentes a uma

8. As Quarenta Recomendações, Recs. 36, 37 e 40.


9. Id., Recs. 26 e 31.
10. O Grupo Egmont, Declaração Revista de Intenções (23 de Junho de 2004),
www.egmontgroup.org.
11. Id.

VII-114
A Unidade de Informação Financeira

UIF, necessitam de um mecanismo de troca de informações a nível internacio-


nal para poder combater com eficácia o branqueamento de capitais e o finan-
ciamento do terrorismo.

1. Depósito centralizado para as informações comunicadas

As instituições financeiras devem transmitir todas as comunicações de


operações suspeitas e outras divulgações de informação obrigatórias (tais
como as comunicações de operações em numerário) à UIF do seu país.12 A
centralização desta “função de depósito” — designando a UIF como a parte
receptora das comunicações de informações financeiras — é um pré-requisito
para um sistema preventivo eficaz contra o branqueamento de capitais13 a
nível nacional e internacional.
A utilização de um depósito centralizado para a comunicação de infor-
mações e divulgações obrigatórias assegura a disponibilidade de todas as
informações relevantes num só local, facilitando assim o processamento e a
análise das informações de uma forma uniforme. A centralização aumenta
também a eficiência da recolha de informações.

2. Função analítica

As UIFs afiguram-se como mais do que meras bases de dados das infor-
mações financeiras exigidas pelas leis ou pelas autoridades nacionais de
regulação. As UIFs devem analisar os dados recebidos, pois muitas comuni-
cações de operações suspeitas (COSs) e outras divulgações de informações
financeiras aparentam, com frequência, tratar-se de operações inocentes. No
entanto, os depósitos, os levantamentos e as transferências usuais de fundos
ou a compra de valores mobiliários ou de apólices de seguros podem ser ele-
mentos importantes de informação para a detecção e a perseguição penal do
branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.
Apenas o exame e a análise permitirão que as UIFs detectem operações
financeiras criminosas. A distinção entre as operações verdadeiramente sus-
peitas e as que não são usuais, mas inofensivas, requer uma análise funda-
mentada. Sem esta análise, a recolha dos dados mais sofisticados do mundo
deixaria de ser produtiva.

12. As Quarenta Recomendações, Recs. 13 e 19, parágrafo 6.


13. Ver Síntese das UIFs, Capítulo 3, Receiving Transaction Reports [Recepção de Comunicações
de Operações].

VII-115
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Estas funções analíticas exigem que os países concedam às suas UIFs a


necessária capacidade jurídica, recursos humanos adequados e capacidade
técnica suficiente. Em particular, as funções analíticas das UIFs exigem pode-
res alargados para aceder às informações. Estes poderes devem incluir: o
acesso a certas bases de dados comerciais ou governamentais; o poder para
solicitar informações adicionais das entidades que comunicam informações e
de outras fontes, conforme a necessidade; e o acesso a técnicas e mecanismos
avançados de informação, tais como as escutas telefónicas e as operações
encobertas, mas sujeitos aos princípios jurídicos nacionais.
Cada país deve equilibrar as preocupações muito concretas sobre pri-
vacidade com a necessidade de a UIF poder desempenhar com eficácia a
sua função analítica. Embora a utilização das bases de dados comerciais
disponíveis ao público não cause preocupações relativas à privacidade, essas
preocupações são causadas com o poder de as Unidades de Informação cen-
tralizadas solicitarem dados adicionais. O mesmo cuidado deve aplicar-se à
vigilância da UIF e a outras técnicas de recolha de informação. As normas
sobre privacidade das instituições financeiras devem ser elaboradas de modo
a não interferir nas funções da UIF, mas devem proteger a privacidade das
informações.14
As UIFs desempenham três funções analíticas especializadas: táctica, ope-
racional e estratégica.15

a. Análise táctica

A análise táctica é o processo de recolha dos dados necessários para


estruturar o processo e apresentar os factos subjacentes à prática da infracção
penal. Embora a análise táctica possa ser realizada em todas as comunicações
recebidas, é provável que as COSs contenham as informações de mais directa
utilidade.
A análise táctica inclui a comparação dos dados recebidos das institui-
ções que comunicam as informações e de outras fontes, com os dados já em
poder da UIF ou a esta acessíveis. Tais dados incluem listas de nomes, ende-
reços, telefones e informações constantes de comunicações encaminhadas por
outras instituições. Embora algumas instituições incluam a forma mais sim-
ples da análise táctica nas suas comunicações, as UIFs adicionam informações
conexas de que disponham sobre o cliente ou a operação em questão às suas
bases de dados.

14. As Quarenta Recomendações, Rec. 4.


15. Id., Capítulo 3, Analyzing Reports [Análise das Comunicações].

VII-116
A Unidade de Informação Financeira

Após receberem uma COS, os funcionários da UIF examinarão as infor-


mações adicionais sobre o alvo da investigação, a empresa, as operações ou
outros elementos envolvidos num determinado caso, para determinar as bases
para outras análises. As principais fontes de informações adicionais são:

• Os dados próprios da UIF,


• Fontes disponíveis ao público,
• Bases de dados do Governo,
• Outras informações oriundas de entidades que fazem comunicações e
de outras entidades, e
• Outras UIFs.16

b. Análise operacional

A análise operacional utiliza informações tácticas para formular várias


hipóteses sobre as possíveis actividades de uma pessoa sob suspeita da prática
de um crime. A análise operacional dá apoio ao processo de investigação.
Utiliza todas as fontes de informação disponíveis para a UIF a fim de identifi-
car padrões de actividade, novos alvos, relações entre a pessoa que está a ser
investigada e os seus cúmplices, pistas, perfis criminais e, sempre que possível,
indicações de possível comportamento futuro.
Uma técnica de análise operacional é a definição do perfil financeiro. Isto
proporciona ao analista métodos para desenvolver indicadores de rendimen-
tos ocultos de um indivíduo, de um grupo de indivíduos ou de uma organiza-
ção. É um método indirecto eficaz para recolher, organizar e apresentar pro-
vas relacionadas com a condição financeira de quem está sob investigação.
A relevância do perfil é demonstrar que aquele que está sob investigação não
consegue identificar uma fonte legítima para a diferença entre os valores dis-
pendidos e o rendimento auferido. O conhecimento dos bens de uma pessoa
também pode oferecer pistas que liguem a pessoa sob investigação às infrac-
ções subjacentes.
Através da análise operacional, as informações recebidas pela UIF são
transformadas em informação operacional, que pode ser transmitida aos
órgãos de segurança ou ao Ministério Público para outras acções.17

16. Id.
17. Id.

VII-117
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

c. Análise estratégica

A análise estratégica desenvolve conhecimentos a ser utilizados no traba-


lho futuro da UIF. A característica principal da informação estratégica é a de
que não está relacionada com casos específicos, mas com novas questões ou
tendências. O âmbito de uma qualquer análise estratégica é muito variável,
em função do mandato da UIF. Pode consistir na identificação de padrões
criminosos em evolução num determinado grupo ou no facultar de avaliações
amplas de padrões de criminalidade a emergir ao nível nacional.
A análise estratégica é desenvolvida depois de todas as informações
terem sido recolhidas e analisadas. Requer uma gama mais ampla de dados
do que a análise operacional, além de analistas experientes. Os dados têm
origem nas comunicações feitas pelas entidades, nas informações operacionais
e tácticas da própria UIF, em fontes públicas, nas autoridades policiais e em
outros organismos governamentais. A um nível mais amplo, a análise estra-
tégica pode sugerir a necessidade de exigir a comunicação de informações e
impor outras obrigações ABC/CFT a novas entidades ou de reforçar os requi-
sitos existentes.18

3. Difusão de informações a nível nacional

Caso exista uma suspeita de branqueamento de capitais ou de finan-


ciamento do terrorismo, a UIF deve ter capacidade para trocar informa-
ções financeiras ou de as transmitir a outras autoridades nacionais para a
realização de investigações ou de outras acções. A UIF deve também estar
autorizada a cooperar e coordenar as suas acções com as outras autoridades
nacionais que se dedicam à detecção, à prevenção e à perseguição criminal do
branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.
Nunca é demais sublinhar a importância da troca oportuna de informa-
ções com as autoridades competentes. A eficácia das medidas anti-branque-
amento de capitais depende da transmissão das informações disponíveis à
autoridade competente. Na maioria das UIFs, a troca de informações ocorre
normalmente após a realização de algumas análises das informações financei-
ras divulgadas. Noutras UIFs, sobretudo nas que recebem um volume enorme
de informações financeiras, as próprias comunicações são imediatamente
disponibilizadas às autoridades policiais; estas UIFs realizam as análises das
comunicações e de outras informações financeiras mediante solicitação das

18. Id.
.

VII-118
A Unidade de Informação Financeira

autoridades policiais ou posteriormente, conforme a necessidade. Em qual-


quer dos casos, o essencial é que a UIF forneça a informação financeira à
autoridade competente com a maior rapidez possível, para que esta possa
investigar as pistas que lhe são fornecidas.19
A existência de uma coordenação a nível nacional é fundamental. A UIF
deve ser um parceiro essencial na coordenação nacional e até poderia ter
competência para assumir o papel de liderança na coordenação das autori-
dades competentes responsáveis pelo combate ao branqueamento de capitais
— o mesmo é dizer, a UIF, as autoridades de regulação e de supervisão do
sector financeiro, as polícias, as autoridades judiciais e outros Ministérios ou
administrações pertinentes.20

4. Troca de informações a nível internacional

Atendendo ao facto de o branqueamento de capitais e o financiamento


do terrorismo serem actividades em grande medida transnacionais, as UIFs
devem ter a capacidade de trocar informação financeira com outras UIFs em
todo o mundo, para serem parceiros efectivos no combate internacional a
estes crimes. Uma característica fundamental de uma UIF é a sua capacidade
para cooperar, de forma eficiente e rápida, com todas as suas homólogas
estrangeiras. A troca de informações ao nível internacional deve ocorrer por
intermédio de comunicações directas e seguras com as competentes autorida-
des estrangeiras.21

C. Tipos ou modelos de UIFs

Os países escolhem geralmente um dos quatro modelos básicos para


criar ou melhorar as operações de uma UIF:
a. O modelo administrativo, em que a UIF é incluída numa autoridade
de regulação/supervisão, como o Banco Central ou o Ministério das
Finanças, ou estabelecida como autoridade administrativa
independente;
b. O modelo policial, segundo o qual a Unidade é anexada a um órgão
de segurança, de natureza geral ou especializada;
c. O modelo judicial, em que a Unidade está junto a uma autoridade
judicial ou ao Ministério Público; ou

19. Id., Capítulo 3, Dissemination Reports [Relatórios de Difusão].


20. As Quarenta Recomendações, Rec. 31.
21. Ver o Capítulo VIII deste Guia de Referência, Cooperação internacional.

VII-119
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

d. O modelo híbrido, que pode ser uma combinação dos três modelos
anteriores.

Estas variações surgem principalmente devido às diferentes circunstâncias


de cada país e à falta de um modelo aceite a nível internacional, quando as
primeiras Unidades foram criadas, no início da década de 1990. Por exem-
plo, em certos países, enfatizou-se a função da UIF como um instrumento
adicional para os organismos de segurança no combate ao branqueamento
de capitais e respectivos crimes associados, o que resultou na criação da UIF
como agência de investigação ou perseguição criminal. Outros países concen-
traram-se na necessidade de uma “separação” entre as instituições financeiras
e a polícia e, assim, criaram as suas UIFs fora destes organismos.
No entanto, importa destacar que as quatro classificações são, até
certo ponto, arbitrárias e que existem outras maneiras de classificar as UIFs.
Descreve-se, em seguida, cada um dos modelos, as suas vantagens e desvanta-
gens (embora a lista não seja exaustiva), e apontam-se exemplos de países que
aplicam estes modelos.

1. Administrativas

As UIFs do tipo administrativo fazem normalmente parte da estrutura ou


estão sob a supervisão de uma administração ou organismo distinto das auto-
ridades policiais ou judiciais.22 Por vezes, o tipo administrativo constitui uma
agência distinta e é colocado sob a supervisão de um Ministério ou adminis-
tração (autónomo) ou não está sujeito a tal supervisão (independente). A ideia
central desta estrutura é estabelecer uma “separação” entre o sector financeiro
(e, em termos mais gerais, as entidades e profissões não financeiras passíveis
de obrigações de comunicação de informações) e as autoridades policiais res-
ponsáveis pela investigação e a perseguição penal de crimes financeiros.
As vantagens de uma UIF do tipo administrativo são:

• A UIF actua, por um lado, como interface com o sector financeiro e


outros sectores sujeitos às obrigações de comunicação de informações
e, por outro, com as autoridades policiais; isto evita o aparecimento de
ligações institucionais directas entre as partes que comunicam as infor-
mações e os organismos de segurança, embora as comunicações sejam
levadas ao conhecimento destes organismos de segurança.

22. Síntese das UIFs, Establishing an FIU [Criação de uma UIF]. 

VII-120
A Unidade de Informação Financeira

• As instituições financeiras e outras entidades divulgam as informações


com mais confiança quando sabem que a difusão será limitada aos
casos de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo e
que se baseará na própria análise da UIF e não nas informações limita-
das comunicadas pela instituição.
• A UIF é uma interlocutora “neutra”, técnica e especializada para as
partes que comunicam as informações.
• Quando a UIF é criada no âmbito de um organismo de regulação,
torna-se a interlocutora natural das instituições financeiras.
• As informações podem ser trocadas com facilidade com todos os tipos
de UIFs.

As desvantagens são as seguintes:

• Como a UIF não faz parte da administração policial, pode haver demo-
ra na aplicação das medidas policiais, tais como o congelamento de
uma operação suspeita ou a detenção de um suspeito, com base nas
informações financeiras divulgadas.
• A UIF em geral não detém os poderes legais de que são dotados os
organismos de segurança e as autoridades judiciais para recolher mate-
rial probatório.
• As UIFs do tipo administrativo (a menos que sejam verdadeiramente
independentes) ficam mais sujeitas à supervisão directa das autoridades
políticas.23

Exemplos de países com UIFs do tipo administrativo incluem: Andorra,


Antilhas Holandesas, Aruba, Austrália, Bélgica, Bolívia, Bulgária, Canadá,
Colômbia, Croácia, Eslovénia, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda,
Israel, Liechtenstein, Malta, Mónaco, Panamá, Polónia, República Checa,
República da Coreia, Roménia, Rússia, Ucrânia e Venezuela.24
Ao transformar uma autoridade administrativa numa “separação” entre
a instituição financeira e outros sectores que comunicam informações e os
órgãos de segurança, as autoridades têm maior facilidade para obter a coope-
ração das instituições que comunicam as informações, as quais muitas vezes
estão conscientes das desvantagens, no que se refere aos seus clientes, de man-
ter elos directos institucionalizados com esses organismos de segurança. As
UIFs do tipo administrativo são geralmente as preferidas do sector bancário.
Pelas mesmas razões, também podem ter interesse para outras instituições e

23. Id.
24. Id.

VII-121
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

profissões que foram aditadas à lista de entidades sujeitas aos requisitos de


comunicação de informações.

2. Policiais

Em certos países, a ênfase nos aspectos policiais da UIF levaram à criação


desta como parte de um órgãos de segurança, por ser a forma mais fácil de
estabelecer uma Unidade com os devidos poderes policiais sem ter de designar
uma nova entidade e um novo enquadramento jurídico e administrativo.25
Em termos operacionais, neste modelo, a UIF estará próxima de outras
unidades policiais, como uma unidade de crimes financeiros, e beneficiará da
sua experiência e das suas fontes de informações. Em troca, as informações
recebidas pela UIF podem ser acedidas com mais facilidade pelos órgão de
segurança e podem ser utilizadas em qualquer investigação, aumentando a sua
utilidade. A troca de informações também pode ser acelerada com a utilização
das redes nacionais e internacionais existentes de troca de informações sobre a
criminalidade.
As vantagens de uma UIF do tipo policial são:

• É criada no interior de uma infra-estrutura existente, eliminando a


necessidade de se estruturar uma nova entidade.
• Permite maximizar a utilização, pelas autoridades policiais, das infor-
mações financeiras divulgadas.
• Há uma reacção policial rápida aos indicadores de branqueamento de
capitais e de outros crimes.
• As informações podem ser trocadas por intermédio da vasta estrutura
internacional de redes de troca de informações sobre a criminalidade
(como a Interpol).
• O acesso relativamente fácil à informação criminal e à comunidade da
informação em geral.

As desvantagens são as seguintes:

• Este tipo de UIF tende a concentrar-se mais nas investigações do que


nas medidas de prevenção.
• Os órgãos de segurança não são um interlocutor natural para as ins-
tituições financeiras; é necessário estabelecer uma confiança mútua, o

25. Id.

VII-122
A Unidade de Informação Financeira

que pode exigir algum tempo, e os órgãos de segurança podem carecer


dos conhecimentos financeiros necessários para empreender tal diálogo.
• O acesso aos dados das instituições financeiras (além das comunicações
de operações suspeitas) requer em geral o início de uma investigação
formal.
• As instituições que comunicam as informações podem sentir relutân-
cia em divulgar informações às autoridades policiais caso saibam que
poderão ser utilizadas na investigação de qualquer crime (não só os de
branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo).
• As instituições que comunicam as informações podem sentir relutância
em divulgar informações às autoridades policiais sobre operações que
não passem de meras “suspeitas”.

Exemplos de países com UIFs do tipo policial incluem: Alemanha,


Áustria, Eslováquia, Estónia, Hungria, Irlanda, Islândia, Reino Unido e
Suécia.
Além disso, uma UIF do tipo policial terá normalmente todos os poderes
do próprio organismo de segurança, sem a necessidade de uma distinta capa-
cidade jurídica específica. Estes poderes incluem o poder de congelar opera-
ções e apreender bens (com o mesmo grau de controlo judiciário aplicável a
outras autoridades policiais do país).

3. Judiciais

Este tipo de UIF é normalmente criado no âmbito do poder judiciário do


país e, de forma geral, sob a jurisdição do Ministério Público. Tal estrutura
encontra-se vulgarmente nos países com tradição de direito romano-germâni-
co, em que o Ministério Público faz parte do sistema judicial e têm autoridade
sobre os organismos de investigação.26
As UIFs do tipo judicial podem funcionar bem nos países onde as leis de
sigilo bancário são vigorosas ao ponto de exigir uma ligação directa com as
autoridades judiciais para assegurar a cooperação das instituições financeiras.
As vantagens de uma UIF do tipo judicial são:

• Normalmente contam com um alto grau de independência de interfe-


rências políticas.
• A divulgação de informações é feita directamente ao organismo autori-
zado a investigar ou a dar início ao processo penal.

26. Id.

VII-123
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• Os poderes judiciários (por exemplo, a apreensão de fundos, o congela-


mento de contas, a realização de interrogatórios, a detenção de pessoas
ou a execução de buscas) são imediatamente accionados.

As desvantagens são as seguintes:

• Em geral, as mesmas desvantagens das UIFs do tipo policial aplicam-se


às UIFs do tipo judicial, excepto pela relutância em divulgar informa-
ções sobre “suspeitas”.
• Este tipo de UIF pode encontrar dificuldades na troca de informações
com UIFs não judiciais.27

Exemplos de países com UIFs judiciais: Chipre e Luxemburgo.28

4. Híbridas

Esta última categoria abrange as UIFs que apresentam combinações dife-


rentes das estruturas descritas nas outras três categorias. Este tipo de estrutura
híbrida é uma tentativa de aproveitar as vantagens dos vários tipos de UIF,
combinados numa única organização. Certas UIFs combinam as característi-
cas das UIFs dos tipos administrativo e policial, enquanto outras combinam
os poderes dos serviços alfandegários com os da polícia. Pode-se observar que,
em certas UIFs, os funcionários de vários organismos de regulação e de órgãos
de segurança trabalham na UIF, sem deixar de exercer os poderes dos respecti-
vos serviços de origem. Entre os países que criaram UIFs “híbridas” figuram a
Dinamarca, Guernsey, Jersey e Noruega.29

D. Outras funções possíveis

Além das responsabilidades relativas às suas funções principais, poder-se-


iam atribuir a uma UIF, qualquer que seja o modelo utilizado, várias outras
funções.

1. Responsabilidades de supervisão ou de regulação

27. Id.
28. Id.
29. Id.

VII-124
A Unidade de Informação Financeira

Poderia ser concedido à UIF o poder de supervisionar as instituições


financeiras e as actividades e profissões não financeiras no tocante ao cum-
primento dos requisitos de conservação de documentos e de comunicação de
informações.30 Nestes casos, a UIF também poderia ser autorizada a impor
sanções ou penalidades às entidades e pessoas que não cumpram as suas obri-
gações de comunicação de informações ou de conservação de documentos
— por exemplo, multas significativas e/ou suspensão de licenças. Além disso,
a UIF poderia ser autorizada a promulgar os regulamentos necessários para a
aplicação de leis de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamen-
to do terrorismo.
Para o efeito, tem de existir uma autoridade responsável no país pelo
cumprimento dos requisitos. Na maioria dos países, esta responsabilidade
recai sobre a autoridade de supervisão de cada sector financeiro, actividade
ou profissão não financeira. Mas, como centraliza a recepção da informação
financeira, além de a analisar, a UIF encontra-se bem posicionada para moni-
torizar o cumprimento das obrigações ABC e CFT. Alguns países optaram por
atribuir à UIF a responsabilidade pelo cumprimento das obrigações ABC/CFT.
Em certos países, determinadas entidades e pessoas que comunicam as infor-
mações não estão sujeitas a qualquer outra supervisão além da exercida pela
UIF, o que o torna esta entidade mais adequada para tratar das questões de
cumprimento das obrigações que surgem neste contexto.
Além disso, a UIF poderia receber a autorização para publicar regulamen-
tos para o sector financeiro e outros sectores obrigados a comunicar infor-
mações, no que concerne à aplicação das leis de combate ao branqueamento
de capitais. No entanto, ao atribuir tais responsabilidades à UIF, torna-se
necessário considerar as questões de equilíbrio entre as necessidades ABC/CFT
e outras preocupações respeitantes à supervisão. Para ser eficaz e para desem-
penhar as suas funções principais, assim como eventuais responsabilidades
adicionais, uma UIF deve ser dotada de recursos adequados e receber o devido
apoio do Governo. Se a capacidade da UIF for limitada em termos de recursos
humanos, o acréscimo de funções de supervisão ou de regulação poderia pre-
judicar as suas funções principais.

2. Investigações

Os países podem atribuir às suas UIFs a função de dar apoio à investiga-


ção promovida pelos outros órgãos de segurança, como parte das investiga-
ções de branqueamento de capitais em curso. Neste caso, esperar-se-ia que a
UIF, mediante solicitação, troque informações com as autoridades responsá-

30. Id., Other FIU Functions [Outras Funções da UIF]

VII-125
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

veis pela investigação. Os poderes poderiam implicar o exercício de poderes


acrescidos que permitiriam à UIF solicitar informações adicionais às institui-
ções financeiras ou até realizar investigações, incluindo a identificação de pos-
síveis bens a serem congelados, apreendidos ou declarados perdidos.

3. Aplicação da lei e retenção de bens

Os países também podem conceder às suas UIFs o poder de tomar


medidas provisórias para lidar efectivamente com casos que exijam acções
urgentes. Como a UIF é um elemento governamental fundamental para a
identificação de operações suspeitas, faz sentido conceder-lhe poderes para
tomar medidas provisórias para preservar os bens eventualmente passíveis
de ser declarados perdidos. Tais medidas poderiam incluir o congelamento
temporário de bens, além de outras medidas que proíbam qualquer alienação
legal dos bens.
No entanto, estes poderes provisórios exigem que a UIF tenha a capaci-
dade de investigar e identificar os bens passíveis de declaração de perda nos
termos das leis de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento
do terrorismo. Neste processo, todavia, deve existir um cuidado especial para
assegurar os recursos suficientes para a UIF desempenhar as suas funções
principais — ou seja, as de receber e analisar as comunicações de operações
suspeitas, além da de trocar informações com as suas homólogas nacionais e
internacionais.
Quando os poderes para tomar medidas provisórias de suspender ope-
rações e/ou congelar bens estão autorizados, tais poderes são normalmente
limitados, em termos da duração da retenção ou do congelamento. O congela-
mento ou a apreensão de bens exigem geralmente a participação das autorida-
des judiciais ou governamentais externas à UIF.31

4. Formação

Devido à natureza concentrada e multidisciplinar dos conhecimentos de


uma UIF, esta poderia facilmente servir como o serviço governamental respon-
sável por assessorar e formar os quadros das instituições financeiras relativa-

31. Id.

VII-126
A Unidade de Informação Financeira

mente às medidas de combate ao branqueamento de capitais e ao financia-


mento do terrorismo.
Refere-se, uma vez mais, que os países devem considerar as limitações
de recursos ao decidir se devem atribuir esta função à UIF. A capacidade, o
financiamento e os conhecimentos especializados são questões cruciais nesta
área, na medida em que a procura destes serviços pode tornar-se excessiva.

5. Investigação

A UIF está numa posição privilegiada para prestar serviços de pesquisa


ao Governo, com base na sua experiência na recepção, análise e difusão de
informações financeiras sobre o branqueamento de capitais e o financiamento
do terrorismo. Esta afirmação é verdadeira especialmente quando é conferido
à UIF um mandato amplo no que respeita à análise estratégica, como já atrás
analisado neste capítulo. A sua função estratégica poderia facilmente ser
ampliada para autorizar investigações separadas e relatórios sobre o que foi
apurado.
Como é o caso de tantas outras funções, a inclusão da investigação e o
âmbito dessa investigação dependem do financiamento, da disponibilização de
recursos humanos e dos conhecimentos especializados. Sem tais recursos, as
funções principais da UIF poderiam ser prejudicadas.

E. Organização da UIF

Existem várias decisões a serem adoptadas para criar a UIF ou reforçar as


operações de uma UIF já existente.

1. Escolha do modelo certo

As boas decisões sobre o modelo a adoptar para uma UIF têm origem
num conhecimento igualmente sólido das características culturais e econó-
micas de um país e das suas tradições jurídicas e policiais. Embora nenhum
modelo individual funcione para todos os países, certos critérios são essen-
ciais; a análise que se segue é apresentada na forma de questões:

• A UIF terá ou tem a capacidade e os conhecimentos especializados


necessários sobre operações financeiras? Caso contrário, do que neces-
sita?

VII-127
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• Qual é a relação entre a UIF proposta ou existente e o sector financeiro


no contexto nacional? O que melhoraria esta relação?
• A instituição possuirá ou possui uma cultura que incentive a protecção
da confidencialidade das informações financeiras e atenue os possíveis
danos à privacidade individual?
• A UIF proposta possuirá ou possui efectivamente a capacidade jurídica,
a capacidade técnica e a experiência para oferecer uma cooperação
internacional adequada e oportuna?
• O enquadramento jurídico aplicável à UIF proposta ou existente
permitiria a sua participação no tipo administrativo de cooperação
internacional e nas trocas internacionais de informações relacionadas
com operações suspeitas, de forma rápida, eficiente, espontânea e/ou
“mediante solicitação”?

2. Considerações sobre capacidade

A qualidade das investigações financeiras depende da qualidade de cada


investigador e da infra-estrutura tecnológica de apoio às iniciativas de recolha
de informação financeira. Um país deve definir as suas políticas relativas à
forma como a UIF pode retirar o máximo proveito das capacidades de análise
financeira dos seus funcionários. Nesta área, o país deve determinar também
o melhor enquadramento institucional para essas capacidades — o Banco
Central, o Ministério das Finanças, as polícias, o poder judiciário. A estru-
turação de uma UIF como agência inteiramente separada das autoridades de
regulação, administrativas e policiais existentes num país poderia ter também
implicações significativas para os recursos.

3. Considerações sobre recursos humanos

As políticas de recrutamento têm implicações para as questões relacio-


nadas com os recursos, a privacidade e a eficácia institucional. A relativa
escassez de pessoas especializadas em investigações financeiras significa que as
considerações relativas aos recursos humanos devem nortear-se pela natureza
multidisciplinar das investigações financeiras, para diversificar ao máximo
possível o recrutamento.
Os antecedentes dos funcionários e os termos da contratação são detalhes
importantes. Por um lado, os funcionários dos Ministérios do Tesouro ou das
Finanças, os supervisores bancários e os funcionários das Alfândegas pode-
riam contribuir com os seus conhecimentos financeiros e a sua familiaridade
com as operações que envolvem as entidades que comunicam as informações.

VII-128
A Unidade de Informação Financeira

Por outro lado, as autoridades policiais ou judiciais oferecem a sua experiên-


cia na aplicação da lei, que pode ser útil especialmente quando a UIF é dota-
da de poderes policiais.
Os termos da contratação também afectam o grau de independência e
confidencialidade do trabalho da UIF. A escassez de especialização/experiência
de alto nível exigida aos analistas da UIF significa que certos países poderão
optar por preencher os quadros dos seus serviços com peritos contratados a
outros organismos. Embora esta seja uma opção menos onerosa para preen-
cher os postos de trabalho — e provavelmente a que mais incentiva uma troca
efectiva de informações — os Governos necessitam avaliar a questão da priva-
cidade e as implicações a longo prazo destas decisões.

F. Salvaguardas de privacidade

As UIFs são depósitos, assim como guardiões, de informações de elevado


grau de confidencialidade, o que exige uma vigilância constante das salva-
guardas jurídicas e sistémicas.

1. A principal tensão entre as políticas: Privacidade versus eficiência

À medida que as UIFs ganham forma, certas tensões emergem entre as


políticas, decorrentes sobretudo das ambiciosas metas das leis e dos regula-
mentos ABC e CFT, que competem ou corroem os interesses da privacidade.32
As leis anti-branqueamento de capitais surgiram, em parte, como resposta
aos obstáculos que as leis de sigilo bancário impunham às iniciativas de super-
visão e à acção policial. Em certas jurisdições, os rigorosos requisitos de sigilo
bancário frustram amiúde as investigações que tentam obter as informações
financeiras necessárias para detectar crimes e transgressões dos regulamentos,
ou para detectar e declarar a perda de bens. Um resultado deste género é con-
trário à estrutura recomendada pelo GAFI, que estabelece que as leis de priva-
cidade das instituições financeiras não devem impedir a aplicação de nenhuma

32. A declaração de intenções do Grupo Egmont, no seu preâmbulo, afirma que a organização está
“ciente... da natureza sensível das divulgações de informações financeiras”. O Grupo também
acredita que “as UIFs devem esforçar-se para incentivar a elaboração das normas jurídicas nacio-
nais e das leis da privacidade de forma a não inibir a troca de informações, em conformidade
com estes princípios, entre as UIFs; ver O Grupo Egmont, Principles for Information Exchange
Between Financial Intelligence Units for Money Branqueamento Cases [Princípios para a Troca
de Informações entre as Unidades de Informação Financeira, em Matéria de Branqueamento de
Capitais], (13 de Junho de 2001), Princípio 7.
http://www.egmont-group.org/princ_info_exchange.pdf.

VII-129
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

das suas recomendações.33 Procedimentos complexos também prejudicam as


investigações que tentam recolher informações e/ou provas no exterior. Com a
globalização financeira, tais preocupações tornaram-se ainda mais acentuadas.
As leis ABC/CFT podem ser consideradas uma tentativa de assegurar a efici-
ência da troca de informações e da recolha de provas, quer a nível nacional
como internacional, como pré-requisitos para uma aplicação eficaz dos regu-
lamentos e leis penais na economia globalizada de hoje.
A natureza muito sensível e confidencial das informações financeiras
requer que as UIFs instituam procedimentos rigorosos de salvaguarda para
as suas importantes funções de recolha de provas financeiras e de troca de
informações. A eficácia das acções policiais depende da eficiência e da rapidez
do acesso às informações financeiras. Mas esta necessidade das autoridades
policiais colide com os limites das preocupações com a privacidade financeira,
levantando questões legítimas quando ao potencial abuso.
No desempenho do seu papel de depósito, processadoras e distribuidoras
de informações financeiras relacionadas com os crimes de branqueamento de
capitais e de financiamento do terrorismo, as UIFs estão no centro deste deba-
te sobre a eficiência versus a privacidade. Esta tensão reflecte-se nas escolhas
que os países fazem quanto à estrutura, às funções, aos poderes e aos proce-
dimentos das suas Unidades de Informação Financeira. Os países precisam
de avaliar, de modo realista, os custos para a privacidade, que são inerentes a
cada uma das escolhas que fazem quanto aos poderes concedidos e às limita-
ções impostas às UIFs.

2. Princípio da confidencialidade

A imposição do princípio de confidencialidade às UIFs é uma das protec-


ções mais importantes contra o abuso da privacidade das informações finan-
ceiras. Este princípio também permitirá que a UIF desempenhe as suas funções
como intermediária entre as partes que comunicam as informações e o sistema
de justiça penal.
Nas situações em que a UIF seja parte de outro organismo, como a polí-
cia ou o Ministério Público, a Unidade normalmente é regida por uma obriga-
ção geral de confidencialidade. No entanto, na falta de uma obrigação geral,
esta deve ser estabelecida especificamente nas disposições jurídicas que criam e

33. As Quarenta Recomendações, Rec. 4

VII-130
A Unidade de Informação Financeira

regem a UIF, com o apoio de sanções penais e/ou civis eficazes.34 A obrigação
de confidencialidade pode ser também expressa nas leis gerais nacionais sobre
a privacidade.
Porém, a obrigação de confidencialidade da UIF deve ser elaborada de
forma a não restringir desnecessariamente a possibilidade de fornecer o retor-
no de informação (feedback) às entidades transmitentes das informações, pois
esse retorno de informação é importante tanto para a relação entre a UIF e os
intermediários financeiros como para que as instituições que comunicam as
informações possam desenvolver mecanismos eficientes de comunicação.35 Os
requisitos de confidencialidade devem ser elaborados de forma a não inibir a
cooperação internacional entre as UIFs.36

3. Princípio da especialidade

A fim de complementar a obrigação de confidencialidade, as UIFs podem


adoptar o “princípio da especialidade”, que serve para limitar a utilização
das informações que lhe são comunicadas pelas instituições financeiras e por
outras entidades, ou solicitadas pela UIF às partes que comunicam informa-
ções. Se a UIF for proibida de utilizar as informações fornecidas, para qual-
quer fim que não o do combate ao branqueamento de capitais e ao financia-
mento do terrorismo (e outros crimes conexos), os países poderão promover
um espírito de confiança entre as instituições que comunicam as informações,
outras partes e a UIF.
A limitação da especialidade depende necessariamente do significado de
“combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo”.
A restrição poderia ser elaborada de forma a estabelecer que as informações
financeiras geridas pela UIF poderiam ser utilizadas exclusivamente no desem-
penho das suas responsabilidades, conforme descrito na lei de criação da UIF.
Também poderia ser estabelecida numa estipulação estatutária ou regulamen-
tar específica respeitante às condições para a difusão das informações da UIF.
O princípio da especialidade deve ser redigido de forma suficientemente
ampla para que a UIF não seja impedida de aplicar as leis e os regulamentos
de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo.
Também deve permitir a utilização das informações fornecidas à UIF na apli-

34. Guy Stessens, Money Laundering: A New International Law Enforcement Model
[Branqueamento de Capitais: um Novo Modelo de Acção Policial Internacional] (Cambridge,
Inglaterra e Nova York, Nova York, Estados Unidos: Cambridge University Press, 2000), 191.
35. Ver a Secção G, Informações e feedback, neste Capítulo. Ver também GAFI, Providing Feedback
to Reporting Financial Institutions and Other Persons: Best Practice Guidelines [Fornecimento
de Retorno de Informação para as Instituições Financeiras e Outras Pessoas que Comunicam
Operações Suspeitas: Orientações das Melhores Práticas], ¶ 6, disponível em http://www.fatf-
gafi.org/dataoecd/32/46/34046950.pdf.
36. O Grupo Egmont, Principles of Information Exchange between Financial Intelligence Units
for Money Laundering Cases [Princípios para a Troca de Informações entre as Unidades de
Informação Financeira, em Matéria de Branqueamento de Capitais] (13 de Junho de 2001),
Princípio 7.
VII-131
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

cação das leis e dos regulamentos relacionados com a infracção ou infracções


subjacentes. Além disso, se o princípio da especialidade se aplicar às trocas de
informação a nível internacional entre as UIFs, deverá ser elaborado de forma
a não inibir ou prejudicar a eficiência da cooperação internacional entre as
UIFs.37
As violações da limitação do princípio da especialidade deveriam ser
punidas pelas leis de proceso respeitantes à inadmissibilidade das provas nos
tribunais e/ou por alguma forma de responsabilidade civil ou estatutária pela
violação da confidencialidade.

4. Independência e prestação de contas

Os países devem assegurar a independência da UIF em relação à influên-


cia política, bem como a sua independência da autoridade competente ou de
outra autoridade de supervisão nas decisões que toma quanto às operações a
analisar ou às informações a difundir. A independência oferece outra medida
de protecção contra o abuso ou o uso indevido das informações financeiras
divulgadas. A independência não é um conceito absoluto, pois existirá sempre
algum nível de prestação de contas, embora a UIF não deva estar sujeita ao
abuso ou à influência indevida das outras autoridades governamentais. Este
sentido de independência reforça o sentido de confiança entre a UIF e as enti-
dades que comunicam as informações financeiras, o que, por sua vez, promo-
ve a prevenção e a detecção do branqueamento de capitais e do financiamento
do terrorismo.
Esta independência poderia ser garantida através de várias formas. Em
certos casos, poderia ser estabelecida criando-se a UIF como organismo distin-
to, com um orçamento autónomo e funcionários que não respondam perante
qualquer organismo que possa inclinar-se a utilizar o sistema para além dos
seus próprios limites. No entanto, esta independência deve ser acompanha-
da dos mecanismos adequados de prestação de contas, como relatórios ao
Parlamento, auditorias e/ou fiscalização judicial.

G. Informações e retorno de informação (feedback)

É importante que a UIF trabalhe em estreita cooperação com as entida-


des e pessoas que comunicam as informações, bem como com as autoridades
competentes do país, para combater o branqueamento de capitais e o finan-

37. Id., em Principles of Information Exchange between Financial Intelligence Units for Money
Laundering Cases [Princípios para a Troca de Informações entre as Unidades de Informação
Financeira, em Matéria de Branqueamento de Capitais] (13 de Junho de 2001),
Princípios 11 e 12.

VII-132
A Unidade de Informação Financeira

ciamento do terrorismo. No âmbito das suas obrigações relativas à privacida-


de, a UIF deve fornecer retorno de informação (feedback) sobre as tendências
e tipologias de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo,
o que auxiliará as instituições financeiras e as actividades e pessoas não finan-
ceiras a melhorar as suas práticas ABC/CFT e, em particular, as suas comu-
nicações de operações suspeitas. Uma crítica frequente das instituições que
comunicam as informações é que recebem pouco ou nenhum retorno de infor-
mação (feedback) das UIFs quanto à utilidade das suas comunicações. Assim,
estas entidades ficam sem orientação quanto à utilidade dos seus mecanismos
de comunicação de informação no combate ao branqueamento de capitais e
ao financiamento do terrorismo.
Embora existam restrições óbvias para o que uma UIF pode responder
à instituição sobre determinadas informações comunicadas (especialmente
quando a comunicação envolve uma investigação em andamento), a UIF pode
oferecer um retorno de informação (feedback) geral a estas instituições sobre
a qualidade e a utilidade das comunicações. As UIFs terão também recolhido
dados que, uma vez analisados, deverão produzir informações úteis sobre
a evolução e as tendências no branqueamento de capitais. Estas conclusões
devem ser partilhadas com as entidades e as pessoas que comunicam as infor-
mações, para que saibam o que procurar ao criar os seus sistemas ABC/CFT.
O retorno de informação (feedback) sobre antecedentes de casos específicos,
após a conclusão das investigações e dos procedimentos judiciais, pode tam-
bém revestir-se de utilidade.
O GAFI estabelece agora que todas as autoridades competentes, incluin-
do as UIFs, devem facultar orientações e o retorno de informações (feedba-
ck).38 As autoridades poderão esperar que esta questão seja apresentada com
destaque nas avaliações ABC/CFT. As UIFs deverão também manter estatísti-
cas abrangentes referentes às COSs recebidas e difundidas.39

38. As Quarenta Recomendações, Rec. 25.


39. Id., Rec. 32.

VII-133
Capítulo VIII

Cooperação internacional

A. Requisitos prévios para uma cooperação D. Cooperação internacional entre autoridades


internacional eficaz de supervisão financeira
1. Requisitos prévios da cooperação internacional: o desenvolvimento de 1. A cooperação entre os supervisores bancários
uma capacidade nacional ampla e eficaz 2. A cooperação entre os supervisores de valores mobiliários
2. A ratificação e aplicação das convenções internacionais 3. A cooperação entre os supervisores de seguros
3. O cumprimento das recomendações do GAFI e das outras normas E. Cooperação internacional entre autoridades
específicas para certos sectores policiais e judiciárias
B. Princípios gerais de cooperação 1. Princípios básicos
internacional para o combate ao 2. Princípios adicionais
branqueamento de capitais
F. Considerações sobre infracções fiscais
C. Cooperação internacional entre as UIFs
1. As características principais da cooperação internacional entre as UIFs
2. As condições da capacidade de cooperação internacional da UIF
3. A relação entre os vários modelos organizacionais e a cooperação
internacional

A criminalidade organizada e outras actividades criminosas importantes e


de grande rentabilidade estão a ocorrer cada vez mais a nível transna-
cional. Esta realidade observa-se particularmente no caso das operações de
branqueamento de capitais, em que os criminosos utilizam o sistema finan-
ceiro internacional aberto e retiram proveito da livre movimentação de capi-
tais pelo mundo inteiro para ocultar a origem ilícita dos produtos dos seus
crimes e para promover as suas actividades ilícitas. No contexto do combate
ao branqueamento de capitais, do ponto de vista global, as rápidas trocas de
informações e a cooperação internacional eficaz entre os vários organismos
dos países de todo o mundo tornaram-se pré-requisitos para alcançar o seu
êxito.
A cooperação internacional torna-se cada vez mais necessária em todos
as fases (ou seja, as fases da recolha da informação financeira, da investi-
gação e do procedimento criminal) das investigações anti-branqueamento
de capitais (ABC). No estádio da recolha da informação financeira de um
caso de branqueamento de capitais, as Unidades de Informação Financeira

VIII-135
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

(UIFs) necessitam, por exemplo, de trocar informações com as suas homólo-


gas estrangeiras para que possam analisar devidamente as comunicações de
operações suspeitas e outras informações de natureza financeira. O mesmo
se pode dizer do estádio da investigação, para que a polícia possa ter êxito
ao investigar os casos de branqueamento de capitais. A capacidade de trocar
informações com as suas homólogas estrangeiras com rapidez, sem obstáculos
ou atrasos desnecessários, torna-se cada vez mais uma característica essencial
de qualquer UIF, autoridade policial ou Ministério Público.
Além disso, se considerarmos que os branqueadores de capitais estão
sempre à procura de refúgios com regimes ABC e de combate ao financia-
mento do terrorismo (CFT) pouco rigorosos, ineficazes ou corruptos, ou
daqueles com capacidades limitadas de cooperação internacional, os países
poderão constatar que a aplicação de um sistema adequado de cooperação
internacional os ajuda a impedir, detectar e perseguir criminalmente o bran-
queamento de capitais no seu próprio sistema financeiro nacional.

A. Requisitos prévios para uma cooperação internacional eficaz

Para que os países possam utilizar os canais de cooperação internacio-


nal existentes, devem observar vários requisitos prévios, tais como: (1) o
desenvolvimento de uma capacidade nacional ampla e eficaz; (2) a ratifica-
ção e a aplicação das convenções internacionais relativas ao branqueamen-
to de capitais e ao financiamento do terrorismo; e (3) o cumprimento das
Recomendações do Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de
Capitais (GAFI), isto é, As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento
de Capitais (As Quarenta Recomendações)1 e as nove Recomendações
Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo (Recomendações Especiais),2
e dos outros padrões internacionais específicos para certos sectores.

1. Requisitos prévios da cooperação internacional: o desenvolvimento de uma


capacidade nacional ampla e eficaz

A criação de todas as autoridades necessárias e a atribuição de todos os


poderes, responsabilidades, recursos humanos e orçamento necessários ao

1. As Quarenta Recomendações, em http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF.


2. Recomendações Especiais, em http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/46/48/34274813.PDF.

VIII-136
Cooperação internacional

desempenho eficiente das suas funções é, naturalmente, um requisito prévio


para que um país possa cooperar com os seus parceiros a nível internacional3.
Para ter um sistema eficaz ABC/CFT, um país deve criar autoridades
administrativas para supervisionar as instituições financeiras de cada sector,
bem como uma UIF — isto é, uma autoridade central encarregada de receber
e analisar as comunicações de operações suspeitas (COSs) e outros tipos de
comunicações obrigatórias (tais como as de operações em numerário) para
fins de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terro-
rismo.
Da mesma forma, no que respeita ao sistema de justiça penal, os países
devem ter serviços eficazes de polícia, com capacidade e formação especiali-
zada sobre investigações de branqueamento de capitais e de financiamento do
terrorismo, além de um sistema judicial em funcionamento e livre de corrup-
ção.
Uma correcta estruturação destas autoridades, assim como dotá-las dos
recursos humanos adequados, constituem os alicerces de um sistema amplo e
eficaz de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terro-
rismo quer a nível nacional quer internacional.

2. A ratificação e aplicação das convenções internacionais

Todos os países devem assinar e ratificar as convenções pertinentes adop-


tadas pela Organização das Nações Unidas (ONU): em particular, os países
devem assinar e ratificar a Convenção da ONU contra o Tráfico Ilícito de
Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas (1988) (Convenção de Viena),4
a Convenção da ONU para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo
(1999)5 e a Convenção da ONU contra a Criminalidade Organizada
Transnacional (2000) (Convenção de Palermo).6 Estas acções fazem parte das
Recomendações do GAFI.7
Além disso, os países devem assinar e ratificar as outras convenções ABC
e CFT adoptadas pelas organizações nas suas respectivas regiões, tais como
a Convenção Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e Perda dos

3. As Quarenta Recomendações, Rec. 36.


4. A Convenção de Viena, http://www.incb.org/e/conv/1988/.
5. Convenção da ONU para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo, http://www.un.org/
law/cod/finterr.htm.
6. A Convenção de Palermo, http://www.unodc.org/palermo/convmain.html.
7. As Quarenta Recomendações, Rec. 1, e Recomendações Especiais, Rec. Espec. I.

VIII-137
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Produtos do Crime (1990) (a Convenção de Estrasburgo),8 do Conselho da


Europa.
Os países devem aplicar integralmente todas as disposições destas con-
venções nas suas leis nacionais, incluindo as relativas à criminalização do
branqueamento de capitais e à cooperação internacional, que lhes permitirão
participar nos mecanismos de auxílio judiciário mútuo previstos nas referidas
convenções.9

3. O cumprimento das recomendações do GAFI e dos outros padrões específicos


para certos sectores

Os países devem cumprir os padrões internacionais existentes relati-


vos ao combate à criminalidade organizada, ao branqueamento de capitais
e ao financiamento do terrorismo. Estes, incluem as Recomendações do
GAFI, que se aplicam a todos os aspectos das leis e regulamentos de um
país para o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do
terrorismo. Incluem, além disso, os Princípios Fundamentais de Supervisão
Bancária Efectiva adoptados pelo Comité de Basileia de Supervisão Bancária
(o Comité de Basileia), bem como os seus Princípios de Vigilância Relativa à
Clientela. Outros padrões foram estabelecidas pela Associação Internacional
dos Supervisores de Seguros (AISS), pela Organização Internacional das
Comissões de Valores (OICV) e pelo Grupo Egmont.
Cada uma destas organizações que define padrões normativos exige que
cada país estabeleça canais de cooperação internacional com os seus parceiros
estrangeiros. Por exemplo, o GAFI recomenda que “cada país deve envidar
esforços para melhorar a troca internacional, entre as autoridades competen-
tes, espontaneamente ou a pedido, de informações sobre operações suspeitas
e as pessoas e sociedades envolvidas nestas operações”.10 Além dos princípios
gerais de cooperação internacional contra o branqueamento de capitais, exis-
tem condições específicas que se aplicam à cooperação internacional entre
as UIFs, as autoridades de supervisão financeira e as autoridades policiais e
judiciais.

8. As Quarenta Recomendações, Rec. 35.


9. Id., na Rec. 36.
10. Id., na Rec. 40.

VIII-138
Cooperação internacional

B. Princípios gerais de cooperação internacional para o combate ao branquea-


mento de capitais

De acordo com os padrões internacionais, os princípios gerais abaixo


indicados devem ser aplicados pelos países para assegurar a existência de
dispositivos eficazes para a troca de informações e para facultar a cooperação
internacional em cada estádio da investigação do branqueamento de capitais
ou do financiamento do terrorismo:
• Quando uma autoridade no país A tem informações oficialmente pedi-
das por uma autoridade no país B, a autoridade que recebeu o pedido
no país A deve estar autorizada a fornecer rapidamente as informações
à autoridade que fez o pedido no país B.
• Quando uma autoridade no país A tem informações que, segundo
o seu conhecimento, seriam úteis para uma autoridade no país B, a
autoridade no país A deve estar autorizada a fornecer as informações
espontânea e rapidamente à autoridade no país B.
• Quando uma autoridade no país A recebe um pedido de uma autori-
dade no país B, relativo à obtenção de informações ou de um docu-
mento, ou à realização de uma investigação ou de um inquérito, ou
à execução de uma determinada acção específica no contexto de uma
análise, investigação ou processo de branqueamento de capitais, a
autoridade que recebe o pedido no país A deve estar autorizada a
executar a acção pedida (naturalmente, se esta acção for permitida, de
acordo com as regras aplicáveis à execução das suas funções a nível
nacional).11

Esta troca de informações ou a prestação de assistência e cooperação


a uma autoridade estrangeira não devem estar sujeitas a condições indevi-
damente restritivas. No entanto, é geralmente aceite que a autoridade que
recebe o pedido possa aplicar certas condições à prestação de assistência. Por
exemplo, a autoridade que recebe o pedido poderia sujeitar a sua assistência
às condições abaixo indicadas e estipular que a autoridade que faz o pedido:

• Desempenhe funções similares às da autoridade que recebe o pedido


(princípio da especialidade);
• Descreva, no seu pedido, os fins e o âmbito da utilização da informa-
ção, sendo que a informação, após ser transmitida pela autoridade que

11. Id., nas Recs. 36 e 40..

VIII-139
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

recebe o pedido, deverá ser utilizada pela autoridade que o apresentou


conforme o âmbito indicado no seu pedido (transparência);
• Esteja sujeita a disposições de confidencialidade semelhantes às aplicá-
veis à autoridade que recebe o pedido (confidencialidade); e
• Esteja, ela própria, autorizada a trocar informações com a autoridade
que recebe o pedido (reciprocidade).

C. Cooperação internacional entre as UIFs

Como o branqueamento de capitais é uma actividade transnacional, a


detecção das respectivas operações depende, muitas vezes, da troca de infor-
mações entre as UIFs de diferentes países e da sua capacidade de cooperar,
com eficácia e rapidez, com as suas homólogas estrangeiras. Além disso, os
países devem estar conscientes das possíveis consequências da estrutura orga-
nizacional que escolherem ao criar a respectiva UIF.

1. As características principais da cooperação internacional entre as UIFs

A capacidade de cooperação internacional de uma UIF depende do


princípio do reconhecimento mútuo entre as entidades que desempenham as
mesmas funções e do estabelecimento da confiança mútua.12 Donde resulta
que cada UIF deve apresentar características fundamentais que estejam em
conformidade com a definição do Grupo Egmont e actuar segundo os princí-
pios deste Grupo. Isto permitiria à entidade ser reconhecida como uma UIF e
ser tratada como tal pelas outras UIFs. Estas características estão descritas no
Capítulo VII, a Unidade de Informação Financeira.
Além disso, cada UIF deve estar autorizada por lei a trocar dados
financeiros e outra informação financeira relevante com as suas homólogas
estrangeiras. Em particular, a UIF deve ter a capacidade de cooperar e trocar
informações por iniciativa própria ou a pedido. Isto pode ser conseguido com
base na reciprocidade ou num acordo formal de auxílio mútuo, tal como um
memorando de entendimento (ME). Finalmente, a UIF que recebe o pedido
deve estar autorizada a fornecer, e ter a capacidade de fornecer, sem demora,
informações ou análises eventualmente disponíveis e relevantes à investigação
a ser realizada pela UIF que apresentou o pedido.

12. Declaração Revista de Propósitos, O Grupo de Egmont (23 de Junho de 2004),


http://www.egmont-group.org/statement_of_purpose.pdf.

VIII-140
Cooperação internacional

2. As condições da capacidade de cooperação internacional da UIF

A capacidade de cooperação internacional da UIF não deve ser sujeita a


condições indevidamente restritivas (ver a Secção B deste Capítulo, quanto
às restrições legislativas). Devem existir salvaguardas adequadas — incluindo
disposições de confidencialidade — para assegurar que as trocas de informa-
ção entre as UIFs estejam de acordo com os princípios fundamentais, nacio-
nais e internacionais, em conformidade com as suas obrigações em matéria de
protecção da vida privada e de protecção de dados.13 Todos os países devem
assegurar, pelo menos, que as informações recebidas de uma UIF estrangeira
sejam utilizadas e protegidas nos termos das mesmas disposições de confiden-
cialidade que se aplicam a informações semelhantes obtidas de fontes nacio-
nais.14

3. A relação entre os vários modelos organizativos e a cooperação internacional

Uma UIF deve estar autorizada a cooperar a nível internacional com


todas as suas homólogas estrangeiras, qualquer que seja a sua estrutura inter-
na e organizativa. Este aspecto é de particular importância à luz das diversas
estruturas organizativas que existem entre as UIFs à escala internacional.
De facto, embora a maioria das UIFs, enquanto organismos de recolha de
informação financeira, estejam vinculadas a autoridades administrativas,
como Ministérios das Finanças, Departamentos do Tesouro, autoridades de
Regulação/supervisão ou outras estruturas administrativas ad hoc, outras
UIFs actuam no âmbito de unidades policiais. Algumas fazem até parte da
estrutura do Ministério Público. Além disso, mesmo que a maioria das UIFs
partilhe das mesmas responsabilidades, poderiam existir outras diferenças
estruturais entre elas, bem como certas diferenças jurídicas/processuais.
Assim, as regras que se aplicam à capacidade de uma determinada UIF ofere-
cer a máxima cooperação a nível internacional têm de levar em consideração
esta diversidade. Por outras palavras, as regras devem ter a flexibilidade sufi-

13. As Quarenta Recomendações, Rec. 40.


14. Principles for Information Exchange Between Financial Intelligence Units for Money Laundering
Cases [Princípios para a Troca de Informações entre as Unidades de Informação Financeira, em
Matéria de Branqueamento de Capitais], Anexo à Declaração de Propósitos, O Grupo Egmont.

VIII-141
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

ciente para que as UIFs possam trocar informações com todas as suas homó-
logas, não obstante a sua diferente natureza ou estrutura organizativa.15
A escolha para um país reside em saber (1) se existem ou deveriam
existir restrições à troca de informações financeiras; (2) no caso afirmativo,
até que ponto as informações deveriam ser trocadas; e (3) que tipo de infor-
mações devem ser trocadas. Ou seja, as autoridades devem estar conscientes
de que a escolha do modelo organizativo pode ter consequências directas
e/ou indirectas para a capacidade de cooperação internacional da UIF. Por
exemplo, a criação de uma UIF baseada exclusivamente no poder judiciário
pode prejudicar a cooperação internacional com UIFs não judiciais. De facto,
muitos países têm princípios jurídicos fundamentais ou constitucionais que
impossibilitam o acesso das autoridades judiciais à mesma cooperação inter-
nacional ou aos mesmos canais de troca de informação disponíveis para as
autoridades administrativas ou policiais. Em certos países, estes princípios
jurídicos obrigam as autoridades judiciais a cooperar a nível internacional
exclusivamente de acordo com os procedimentos de cooperação judiciária
(mecanismos de auxílio judiciário mútuo), os quais são regidos por tratados
e princípios que podem conter várias condições restritivas. Certas condições
podem inibir o âmbito e a rapidez da troca de informações com outras UIFs
no estádio da informação.

D. Cooperação internacional entre autoridades de supervisão financeira

É amplamente reconhecido que os supervisores financeiros (de bancos,


seguros e valores mobiliários) devem ser autorizados a cooperar — esponta-
neamente ou a pedido — com os seus homólogos estrangeiros no que toca a
análises ABC/CFT e procedimentos de investigação. Os princípios gerais de
cooperação internacional, conforme já referido atrás, na Secção B, aplicam-se
a estes canais específicos de troca de informação. No contexto da supervisão,
esta cooperação ocorre em cada sector específico, entre os respectivos super-
visores.

15. As Quarenta Recomendações, Rec. 40.

VIII-142
Cooperação internacional

1. A cooperação entre os supervisores bancários

No que respeita à troca de informação, o Comité de Basileia estabeleceu


princípios adicionais, que se aplicam a todos os supervisores bancários. Estes
princípios encontram-se no documento sobre Vigilância Relativa à Clientela,
publicado pelo Comité de Basileia, em Outubro de 2001. Especificamente, os
supervisores de sucursais de grupos bancários não devem ser impedidos de
partilhar relatórios consolidadas sobre depósitos, “concentração de devedo-
res” ou notificação de fundos sob gestão caso o supervisor do país de origem
necessite destas informações.16
A jurisdição anfitriã deve permitir que os supervisores ou auditores do
país da sede realizem inspecções in loco, ao nível das agências locais e entre
as sucursais dos bancos estrangeiros, para verificar o cumprimento dos pro-
cedimentos e das políticas de “Conheça o seu cliente” (CSC) instituídos pelo
país de origem. Este procedimento exigirá um exame das fichas dos clientes e
de uma amostra aleatória das contas.17
Os supervisores ou auditores do país de origem devem ter acesso, na
jurisdição anfitriã, a informações sobre contas individuais de clientes, na
medida do necessário. Ou seja, o suficiente para que os supervisores possam
avaliar devidamente as normas de vigilância aplicadas à identificação do
cliente, assim como as práticas de gestão de risco.18
Finalmente, os supervisores devem aplicar salvaguardas para assegurar
que as informações respeitantes a contas individuais e obtidas através de
acordos de cooperação sejam utilizadas exclusivamente para fins lícitos de
supervisão e que possam ser protegidas, de forma satisfatória, pela parte que
as recebe.19

2. A cooperação entre os supervisores de valores mobiliários

A OICV estabeleceu princípios adicionais que se aplicam a todos os


supervisores de valores mobiliários. O supervisor de valores mobiliários deve
ter autoridade para trocar quer informação pública quer não pública com os
seus homólogos nacionais e estrangeiros20.
16. Comité de Basileia de Supervisão Bancária, Medidas de Vigilância Relativa à Clientela no que
Respeita aos Bancos, Outubro de 2001, para. 68. http://www.bis.org/publ/bcbs85.pdf.
17. Id.
18. Id.
19. Id.
20. Organização Internacional das Comissões de Valores (OICV), Princípio Fundamental N.° 11.
http://www.iaisweb.org/358coreprinciplesmethodologyoct03revised.pdf. Para obter mais infor-
mações, ver o ME Multilateral da OICV (Maio de 2002)..

VIII-143
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Devem existir mecanismos de cooperação em vigor a nível internacional,


para facilitar a detecção e a dissuasão dos actos transnacionais e auxiliar o
cumprimento das responsabilidades de licenciamento e de supervisão. Entre
estes mecanismos destacam-se os Memorandos de Entendimento.21
A cooperação internacional pode ajudar a: (1) obter informações públicas
ou não públicas, por exemplo, sobre o titular de uma licença, uma empresa
com acções negociadas em bolsa, um accionista, o beneficiário efectivo ou
a pessoa que exerça o controlo sobre o titular de uma licença ou empresa;
registos bancários, de corretagem ou de outra natureza; (2) obter a coopera-
ção voluntária daqueles que possam ter informações sobre o objecto de um
inquérito; (3) obter informações forçadas — por intermédio do fornecimento
de documentos ou da prestação de depoimentos ou declarações orais, ou
ambos; (4) fornecer informações sobre os processos administrativos de uma
jurisdição; ou (5) obter mandados judiciais, por exemplo, ou outras injunções
judiciais urgentes.22
Os acordos de troca de informação, quer formais quer informais, devem
considerar a prestação de assistência na obtenção ou no fornecimento de
(1) informações públicas ou não públicas, por exemplo, sobre o titular de
uma licença, uma empresa com acções negociadas em bolsa, um accionista,
o beneficiário efectivo ou a pessoa que exerça o controlo sobre o titular de
uma licença ou empresa; (2) registos bancários, de corretagem ou de outra
natureza; (3) a cooperação voluntária daqueles que possam ter informações
sobre o objecto de um inquérito; (4) informações forçadas — através do for-
necimento de documentos ou da prestação de depoimentos ou declarações
orais, ou ambos; e (5) informações sobre os procedimentos administrativos de
uma jurisdição; ou na obtenção de mandados judiciais, como, por exemplo,
injunções urgentes.23

3. A cooperação entre os supervisores de seguros

Não existem regras formais para a cooperação entre os supervisores de


seguros, para fins específicos ABC. Isto não significa que não troquem infor-

21. OICV, Princípios, Sec. 9.4. Ver também Princípios da OICV, Sec. 11.10, e Documento Público
da OICV N.° 52, Discussion Paper on International Cooperation in Relation to Cross-Border
Activity of Collective Investment Schemes [Documento de Discussão sobre a Cooperação
Internacional Relativa à Actividade Transnacional de Esquemas de Investimento Colectivo],
Comité Técnico da OICV, Junho de 1996.
22. Princípios da OICV, Sec. 9.4; OICV, “Report on Issues Raised for Securities and Futures
Regulators by Under-regulated and Uncooperative Jurisdictions” [Relatório sobre Questões
Levantadas por Jurisdições Subreguladas e não Cooperantes para os Reguladores de Valores
Mobiliários e Futuros], Documento Público N.° 41, Comité Técnico da OICV, Outubro de
1994.
23. OICV, Princípios, Sec. 9.3.

VIII-144
Cooperação internacional

mações de acordo com o permitido pelas respectivas jurisdições. De qualquer


maneira, os princípios gerais de cooperação internacional, conforme descritos
acima, devem aplicar-se ao sector de seguros.

E. Cooperação internacional entre autoridades policiais e judiciárias

A cooperação internacional entre as autoridades judiciais é de particular


importância para qualquer sistema que ambicione ser amplo e eficaz contra
as actividades de branqueamento de capitais. Na prática, nenhum processo
de branqueamento de capitais pode ter êxito sem o apoio de uma jurisdição
estrangeira numa determinada etapa da investigação.24
A cooperação internacional depende da assinatura e ratificação de todas
as Convenções relevantes aprovadas pela Organização das Nações Unidas e
outras organizações internacionais e regionais. De facto, estas convenções for-
necem muitas vezes o fundamento jurídico necessário para a troca de informa-
ção com autoridades judiciais estrangeiras e a realização de acções em nome
destas autoridades
Os princípios gerais nesta área são os mesmos descritos na Secção B,
atrás abordados. Devido à diferente natureza da cooperação judiciária inter-
nacional, foram estabelecidos vários princípios adicionais e/ou inteiramente
específicos nesta área. Estes princípios são originários das várias Convenções
da Organização das Nações Unidas, assim como das Recomendações do
GAFI.
Importa destacar que os vários requisitos constitucionais devem ser res-
peitados e abordados aquando da negociação de acordos entre autoridades
judiciárias soberanas. Além disso, deve ter-se muito cuidado para não permitir
que os suspeitos procurem refúgio na categoria não extraditável de “crimes
políticos” nos casos ABC/CFT, especialmente quando estes envolvam pessoas
influentes.

1. Princípios básicos

As leis e os procedimentos devem incentivar e facilitar o auxílio judiciário


mútuo nos assuntos relacionados com a aplicação das leis ABC/CFT, espe-
cialmente no que concerne à utilização de medidas de coacção. Entre estas
figuram o fornecimento de documentos pelas instituições financeiras e outras

24. As Quarenta Recomendações, Rec. 36.

VIII-145
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

pessoas; a revista de pessoas e a busca em instalações; a localização e a identi-


ficação de bens; além da apreensão de bens e a recolha de provas para utiliza-
ção nas investigações e nos processos ABC/CFT e em acções conexas em curso
em jurisdições estrangeiras.25
As leis e os procedimentos adequados devem prever o auxílio judiciário
mútuo efectivo nas investigações ou processos ABC/CFT, em que a jurisdição
solicitante requeira: (1) o fornecimento ou a apreensão de informações, docu-
mentos ou provas (incluindo registos financeiros) das instituições financeiras,
outras entidades ou pessoas singulares; (2) buscas em instituições financeiras,
outras entidades e domicílios; (3) a tomada de declarações de testemunhas;
e (4) a localização, identificação, congelamento, apreensão e perda dos bens
branqueados ou destinados a ser branqueados, dos produtos do branquea-
mento de capitais e dos bens utilizados ou destinados a ser utilizados para o
financiamento do terrorismo, assim como dos instrumentos de tais infracções,
ou de bens de valor equivalente.26
Devem celebrar-se tratados ou outros acordos formais (e mecanismos
informais) para apoiar a cooperação internacional; como por exemplo, atra-
vés do auxílio judiciário mútuo bilateral ou multilateral.27 Os acordos insti-
tucionais e de outro tipo devem permitir que as autoridades policiais troquem
informações com as suas homólogas internacionais relativamente ao objecto
das investigações; estes acordos devem basear-se nos acordos em vigor e em
outros mecanismos de cooperação. Além disso, as autoridades nacionais
devem registar o número, a origem e a finalidade dos pedidos de tais trocas de
informação, assim como a satisfação desses pedidos.
Os países devem dotar as suas autoridades policiais e judiciárias com
recursos financeiros, humanos e técnicos adequados para que possam assegu-
rar uma vigilância adequada, realizar investigações e reagir pronta e plena-
mente aos pedidos de assistência recebidos de outros países.

2. Princípios adicionais

Na medida do possível, os diferentes padrões vigentes nas jurisdições


requerentes e requeridas, no que respeita ao elemento “intenção” da infracção
nos termos das leis nacionais, não devem afectar a capacidade de prestar o
auxílio judiciário mútuo.28

25. Id., na Rec. 40.


26. Id., na Rec. 38.
27. Id., na Rec 27.
28. Id., na Rec 36.

VIII-146
Cooperação internacional

A assistência deve ser prestada nas investigações e nos processos em


que as pessoas tenham cometido quer a infracção de branqueamento quer as
infracções subjacentes, assim como nas investigações e nos processos em que
as pessoas tenham cometido apenas a infracção de branqueamento de capitais.
As autoridades devem ser autorizadas a realizar investigações (incluindo
a divulgação controlada de informações confidenciais) em cooperação com as
autoridades competentes de outros países; deverá ser assegurada a garantia da
existência de salvaguardas adequadas.29
Os acordos devem permitir a coordenação transnacional efectiva da apre-
ensão e da perda, incluindo, quando permitida, a autorização para a partilha,
com outros países, dos bens declarados perdidos, quando a perda resulta
directa ou indirectamente de acções policiais coordenadas.30
Finalmente, os procedimentos devem permitir a extradição dos indivíduos
acusados de branqueamento de capitais, de financiamento do terrorismo ou
de infracções conexas, ou prever o julgamento do acusado num determinado
país, quando este não puder ser extraditado.31

F. Considerações sobre infracções fiscais

Em geral, os países devem garantir que as suas autoridades competentes


prestem a mais ampla cooperação internacional às suas homólogas estrangei-
ras. Como atrás mencionado (Secção B), os países têm o direito de impor cer-
tas condições antes de prestar auxílio, embora tenham de evitar a imposição
de condições indevidamente restritivas a esse auxílio. Uma condição que pode
ser imposta ao auxílio judiciário mútuo ou à extradição é a dupla incrimina-
ção, embora os países sejam incentivados a facultar a ajuda mesmo quando
este requisito não estiver verificado.
Certos países não criminalizam determinadas infracções fiscais, tais como
a evasão fiscal, como infracções subjacentes ao branqueamento de capitais
e, por conseguinte, é possível que estejam impedidos de prestar a assistência
requerida por outro país no contexto de um inquérito sobre o branqueamento
dos produtos de um crime fiscal. No entanto, quando as questões fiscais são
apenas uma parte do pedido e este apresenta uma componente não fiscal,
sempre que a componente fiscal inclua uma infracção subjacente ao bran-

29. Id., na Rec 27.


30. Id., na Rec 38.
31. Id., na Rec 39.

VIII-147
queamento de capitais, o país que recebe o pedido deve prestar a assistência
requerida.
Capítulo IX

Combate ao financiamento do terrorismo

A. Ratificação e aplicação de instrumentos da E. Cooperação internacional


Organização das Nações Unidas
F. Sistemas alternativos de remessa de fundos
B. Criminalização do financiamento do
terrorismo e do branqueamento de G. Transferências electrónicas
capitais associado H. Organizações sem fins lucrativos
C. Congelamento e perda de bens relacionados I. Transportadores de numerário
com o terrorismo
J. Questionário de auto-avaliação sobre o
D. Comunicação de operações suspeitas financiamento do terrorismo
relativas ao terrorismo

O s ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos


realçaram a importância da prevenção, da detecção e da eliminação do
financiamento do terrorismo e de actos terroristas por parte da comunidade
internacional. Em Outubro de 2001, o Grupo de Acção Financeira sobre o
Branqueamento de Capitais (GAFI) ampliou o respectivo mandato para além
do combate ao branqueamento de capitais (ABC), juntando-se ao esforço
mundial de combate ao financiamento do terrorismo (CFT).
Para alcançar estas objectivos, o GAFI adoptou as oito Recomendações
Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo (Recomendações Especiais)
originais ao mesmo tempo que alargou o seu mandato. Em Outubro de
2004, o GAFI aprovou a nova Recomendação Especial IX, sobre transpor-
tadores de numerário. Da mesma forma que as Quarenta Recomendações
sobre o Branqueamento de Capitais (As Quarenta Recomendações), as
Recomendações Especiais do GAFI não são meras sugestões, mas represen-
tam verdadeiros mandatos de acção para todos os países, não apenas os
membros do GAFI, para que o país seja considerado em conformidade com
os padrões internacionais de CFT.1 Os países também podem consultar a

1. Recomendações Especiais, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF. As


Recomendações Especiais e as Notas de Orientação estão reproduzidas no Anexo V deste Guia
de Referência. As Quarenta Recomendações, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.
PDF, estão reproduzidas no Anexo IV deste Guia de Referência.

IX-149
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Metodologia ABC/CFT para obter informações sobre como são avaliadas as


Recomendações Especiais.2 Além disso, o GAFI convidou especificamente
todos os países a adoptar as Recomendações Especiais e a participar no seu
exercício de auto-avaliação3 A aplicação das Recomendações Especiais, jun-
tamente com as Quarenta Recomendações, constituem o enquadramento fun-
damental para detectar, prevenir e eliminar o financiamento do terrorismo.
As Recomendações Especiais são relativamente recentes, pelo que a
experiência com a sua interpretação e aplicação é ainda um tanto limitada.
Inicialmente o GAFI aprovou as Notas de Orientação gerais para ajudar a
explicar as Recomendações Especiais.4 Com a experiência acumulada ao
longo do tempo, o GAFI publicou Notas Interpretativas formais e mais subs-
tantivas para várias Recomendações Especiais.5 Além disso, o GAFI publicou
também orientações sobre Melhores Práticas para várias das Recomendações
Especiais6. Finalmente, o GAFI publicou as Orientações para as Instituições
Financeiras na Detecção do Financiamento do Terrorismo como forma de
ajudar as instituições financeiras a adquirir conhecimentos sobre os mecanis-
mos utilizados para financiar o terrorismo.7

A. Ratificação e aplicação de instrumentos da Organização das Nações Unidas

A primeira Recomendação Especial tem duas partes.8 A primeira parte


estabelece que “cada país deveria tomar imediatamente as medidas necessá-
rias para ratificar e aplicar integralmente a Convenção das Nações Unidas
para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (1999)”.9 Os avaliado-
res do cumprimento desta Recomendação devem dar particular atenção à

2. http://www.fatf-gafi.org/pdf/Meth-2004_en.pdf.
3. Ver Questionário de Auto-Avaliação sobre o Financiamento do Terrorismo,
http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/20/34033909.pdf.
4. As Notas de Orientação para as Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo
(Notas de Orientação) estão reproduzidas no Anexo VI deste Guia de Referência, http://www.
fatf-gafi.org/dataoecd/39/20/34033909.pdf.
5. As Notas Interpretativas às Recomendações Especiais II, III, VI e VII estão reproduzidas no
Anexo VI deste Guia de Referência. Para a Rec. Esp. II, http://www.fatf-gafi.org/document/53/
0,2340,en_32250379_32236947_34267829_1_1_1_1,00.html; para a Rec. Esp. III, http://www.
fatf-gafi.org/document/0/0,2340,en_32250379_32236947_34241792_1_1_1_1,00.html; para a
Rec. Esp. VI, http://www.fatf-gafi.org/document/33/0,2340,en_32250379_32236947_34252321_
1_1_1_1,00.html; e para a Rec. Esp. VII, http://www.fatf-gafi.org/document/56/0,2340,en_
32250379_32236947_34256440_1_1_1_1,00.html.
6. Para a Rec. Esp. III, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/15/34033495.pdf; para a Rec. Esp. VI,
http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/17/34033713.pdf; para a Rec. Esp. VIII, http://www.fatf-
gafi.org/dataoecd/39/19/34033761.pdf.
7. http://www.fatf-gafi.org/pdf/GuidFITF01_en.pdf.
8. Recomendações Especiais, Rec. Esp. I.
9 http://www.un.org/law/cod/finterr.htm. Ver também o Capítulo III, A Organização das Nações
Unidas.

IX-150
Combate ao financiamento do terrorismo

acção específica realizada pelo país para aplicar as várias disposições desta
Convenção.
A segunda parte da primeira Recomendação Especial requer que cada
país aplique integralmente as Resoluções do Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas (ONU) que tratam do financiamento do
terrorismo, particularmente a Resolução 1373 do Conselho de Segurança.10
Embora as Recomendações Especiais mencionem especificamente a Resolução
1373,11 os países devem considerar todas as Resoluções relativas ao finan-
ciamento do terrorismo. Além disso, é provável que o conjunto das referidas
Resoluções se altere com o tempo. São identificadas em seguida as Resoluções
do Conselho de Segurança actualmente indicadas como importantes na
“Metodologia de Avaliação do Cumprimento das 40 Recomendações do
GAFI e das 8 Recomendações Especiais do GAFI”12:

• S/RES/1267 (1999)13
• S/RES/1333 (2000)14
• S/RES/1363 (2001)15
• S/RES/1390 (2002)16
• S/RES/1455 (2003)17
• S/RES/1526 (2004)18

Como acontece com todas as Convenções da ONU, a aplicação efectiva


é essencial para o cumprimento das Recomendações do GAFI. Aplicar sig-
nifica que um país toma todas as medidas adequadas e necessárias para pôr
em vigor as disposições de uma Convenção da ONU e das Resoluções do
Conselho de Segurança da ONU, de molde a torná-las vinculativas no seu
território nacional.19 Estas medidas necessárias podem ser adoptadas através
de uma lei, regulamento, directiva, decreto ou qualquer outro acto legislativo

10. Recomendações Especiais, Rec. Esp. I.


11. http://www.state.gov/p/io/rls/othr/2001/5108.htm..
12. http://www.fatf-gafi.org/pdf/Meth-2004_en.PDF.
13. http://www.un.org/Docs/scres/1999/sc99.htm.
14. http://www.un.org/Docs/scres/2000/sc2000.htm.
15. http://www.un.org/Docs/scres/2001/sc2001.htm.
16. http://www.un.org/Docs/scres/2002/sc2002.htm.
17. http://www.un.org/Docs/sc/unsc_resolutions03.html.
18. http://www.un.org/Docs/sc/unsc_resolutions04.html.
19. GAFI, Notas de Orientação, Parágrafo 5.

IX-151
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

ou decisão adequada, de acordo com o sistema constitucional e jurídico do


país.20
Entre as Resoluções do Conselho de Segurança da ONU que tratam do
financiamento do terrorismo, a que a Recomendação Especial I menciona
especificamente é a Resolução 1373.21 Esta Resolução obriga todos os países
membros da ONU a:

• Criminalizar as acções de financiamento do terrorismo;


• Negar todas as formas de apoio aos grupos terroristas;
• Eliminar a concessão de refúgio ou apoio a terroristas, bem como con-
gelar os fundos ou bens das pessoas, organizações ou entidades envol-
vidas em actos terroristas;
• Proibir a prestação de auxílio activo ou passivo a terroristas; e
• Cooperar com outros países em investigações penais e trocar informa-
ções sobre projectados actos de terrorismo.22

B. Criminalização do financiamento do terrorismo e do branqueamento de capitais


associado

A segunda das Recomendações Especiais contém dois elementos, os


quais exigem que cada país:

• Criminalize o financiamento do terrorismo, de actos terroristas e das


organizações terroristas; e
• Estabeleça as infracções terroristas como infracções subjacentes ao
branqueamento de capitais.23

O GAFI publicou uma Nota Interpretativa a descrever como deve um


país aplicar a Recomendação Especial II.24 Esta Recomendação exige que
cada país criminalize o financiamento do terrorismo, de actos terroristas e das
organizações terroristas, quer os fundos sejam provenientes de actos ilícitos
(caso em que a acção deve ser considerada uma infracção subjacente ao bran-
queamento de capitais nos termos do segundo elemento da Recomendação)

20. Id.
21. Recomendações Especiais, Rec. Esp. I.
22. S/RES/1371 (2001), http://www.un.org/Docs/scres/2001/sc2001.htm.
23. Recomendações Especiais, Rec. Esp. II.
24. http://www.fatf-gafi.org/document/53/0,2340,en_32250379_32236947_34267829_1_1_1_1,00.
html.

IX-152
Combate ao financiamento do terrorismo

quer obtidos de forma lícita. A legislação deve ser específica, em termos da


criminalização do financiamento do terrorismo. Não é suficiente criminalizar
“o auxílio e a assistência” ou a “tentativa” ou o “conluio”.25 Este último
conceito não é sempre suficientemente claro em certos ordenamentos jurí-
dicos. A legislação deve também abranger qualquer pessoa que recolha ou
forneça fundos com a intenção de que esses fundos sejam utilizados para o
terrorismo; não é necessário demonstrar ou provar que os fundos foram efec-
tivamente utilizados para o terrorismo.26

C. Congelamento e perda de bens relacionados com o terrorismo

De acordo com a terceira Recomendação Especial, cada país deve aplicar


medidas para congelar “os fundos ou outros activos de terroristas, daqueles
que financiem o terrorismo e de organizações terroristas, de acordo com as
Resoluções da Organização das Nações Unidas”.27 Além disso, cada país
deve adoptar as medidas adequadas que permitam às suas autoridades com-
petentes “a apreensão e a declaração de perda de bens que sejam provenien-
tes do financiamento do terrorismo, de actos terroristas ou das organizações
terroristas, para isso sejam utilizados ou que a isso se destinem”.28
O GAFI publicou uma Nota Interpretativa formal para a aplicação da
Recomendação Especial III.29 Além disso, o GAFI também publicou um con-
junto de Melhores Práticas que devem ajudar os países a entender a melhor
forma de aplicar os requisitos desta Recomendação.30
Nesta Recomendação, há três conceitos básicos que podem ter signifi-
cados diferentes em diferentes países: congelamento, apreensão e perda (ou
“forfeiture”). “Congelamento” significa que uma autoridade competente
de um país está autorizada a bloquear ou a limitar o uso de fundos ou bens
específicos e, assim, prevenir a sua movimentação ou dispersão.31 Os fundos
ou bens “congelados” continuam a ser de propriedade do titular, ficando
sob a gestão da instituição financeira (ou outra entidade) e sob o controlo
da administração existente. O objectivo do congelamento de bens é afastar o

25. Id.
26. Id.
27. Recomendações Especiais, Rec. Esp. III.
28. Id.
29. http://www.fatf-gafi.org/document/0/0,2340,en_32250379_32236947_34241792_1_1_1_1,00.
html.
30. http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/15/34033495.pdf.
31. GAFI, Nota Interpretativa à Rec. Esp. III, no Parágrafo 7a.

IX-153
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

controlo do proprietário sobre os bens, para que estes não possam ser utiliza-
dos para um fim proibido.
“Apreensão” significa que a autoridade governamental competente está
autorizada a assumir o controlo dos fundos ou bens especificados.32 Na apre-
ensão, os bens ou fundos continuam a ser de propriedade do titular original,
mas a posse, administração e gestão destes bens são assumidas pela respectiva
autoridade competente. “Perda” (ou “forfeiture”) significa que a autoridade
competente está autorizada a transferir a titularidade dos fundos ou dos bens
especificados para o próprio país.33 A perda ocorre em geral quando existe
uma condenação penal ou uma sentença judicial que determine que os bens
ou os fundos são derivados de uma actividade criminosa, ou que se destina-
vam a ser utilizados em violação da lei.
O congelamento dos fundos do terrorismo sob a autoridade das
Resoluções relevantes da ONU deve ser realizado através de uma acção admi-
nistrativa, sem necessidade de outros procedimentos legislativos ou judiciais.
Em aplicação das Resoluções do Conselho de Segurança da ONU constitui-se
uma obrigação juridicamente vinculativa para os Estados membros, devendo
ser possível uma acção imediata de todos os países. É, de facto, muito impor-
tante que a acção de congelamento seja imediata, já que é provável que, a
existir um atraso, os fundos sejam removidos da jurisdição.
O Comité 1267 da Organização das Nações Unidas publica uma lista
consolidada dos indivíduos e das organizações em relação aos quais há um
mandado de congelamento de fundos nos termos das várias Resoluções rele-
vantes do Conselho de Segurança da ONU relativas à Al-Qaeda, aos Talibãs
e a Osama bin-Laden.34 O mandado de congelamento aplica-se tanto a estes
indivíduos e organizações como a qualquer pessoa que actue em seu nome. A
lista é actualizada periodicamente sendo publicada no sítio da ONU uma lista
consolidada.
De acordo com a Recomendação Especial III, os países também devem
aprovar mecanismos para congelar os fundos de indivíduos ou organizações
envolvidas no terrorismo. Este é também um requisito geral da Resolução
1373 do Conselho de Segurança. O Comité Contra o Terrorismo (CTC), a
actuar nos termos da Resolução 1373, não publica uma lista, mas autoriza
os países individualmente a designarem as pessoas e entidades cujos fundos
devem ser congelados. Os países devem tomar em consideração as acções de

32. Id., no Parágrafo 7b..


33. Id., Notas de Orientação, no Parágrafo 7c.
34. http://www.un.org/Docs/sc/committees/1267/1267ListEng.htm.

IX-154
Combate ao financiamento do terrorismo

congelamento realizadas por outros países nos termos da Resolução 1373.35


Embora não exista nenhuma obrigação de acompanhar a acção de congela-
mento realizada por outros países, estas listas devem ser examinadas e, quan-
do for o caso, também aplicadas. Os países devem realizar estas acções com
base em fundamentos razoáveis ou com a convicção razoável de que a entida-
de ou indivíduo designado está envolvido no financiamento do terrorismo.

D. Comunicações de operações suspeitas relacionadas com o terrorismo

De acordo com a quarta das Recomendações Especiais, as instituições


financeiras que “suspeitarem, ou tiverem motivos razoáveis para suspeitar,
que os fundos estão ligados, associados ou que podem ser utilizados para o
terrorismo, actos terroristas ou organizações terroristas” devem comunicar,
de imediato, as suas suspeitas às autoridades competentes.36
Este requisito aplica-se tanto às instituições financeiras, conforme defi-
nidas nas Quarenta Recomendações, como às actividades e profissões não
financeiras, que agora estão também definidas nas mesmas Recomendações
(ver o Capítulo 5).37 Estes requisitos de comunicação de informações devem
ser consistentes com a aplicação das leis ABC e CFT do país.
Esta Recomendação refere-se à comunicação de informações em duas
circunstâncias alternativas: quando existe uma “suspeita” de que os fundos
estão ligados ao financiamento do terrorismo; e quando existem “motivos
razoáveis para suspeitar” que os fundos estão ligados ao financiamento do
terrorismo. A distinção entre as duas é a certeza, que constitui o padrão para
a obrigação da comunicação da operação.38 O padrão da “suspeita” é por
natureza subjectivo e coincide com o utilizado nas Recomendações ABC do
GAFI.39 O padrão “motivos razoáveis para suspeitar” é consistente com a
Recomendação ABC, embora seja um pouco mais amplo do que o da pura
“suspeita” requerendo, assim, a comunicação de acordo com um conjunto
mais amplo de circunstâncias. Os países podem cumprir este requisito de
comunicação de informações com base no padrão da “suspeita” ou de “moti-
vos razoáveis para suspeitar”.40

35. GAFI, Nota Interpretativa à Rec. Esp. II, no Parágrafo I.


36. Recomendações Especiais, Rec. Esp. IV.
37. GAFI, Notas de Orientação, no Parágrafo 19.
38. GAFI, Notas de Orientação, no Parágrafo 21.
39. As Quarenta Recomendações, Rec. 13, que estabelece: “Quando as instituições financeiras sus-
peitam que os fundos provêm de uma actividade criminosa”, devem comunicar prontamente as
suas suspeitas.
40. GAFI, Notas de Orientação, no Parágrafo 21.

IX-155
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

E. Cooperação internacional

A quinta das Recomendações Especiais estabelece que cada país deve


prestar a outro país, através do mecanismo de auxílio judiciário mútuo ou de
outros mecanismos, “a maior assistência possível em relação a investigações,
inquéritos e procedimentos de natureza penal, civil e administrativa, relati-
vos ao financiamento do terrorismo, de actos terroristas e das organizações
terroristas”.41 Cada país deve também adoptar todas as medidas adequadas
para garantir que não está a servir de refúgio para os indivíduos acusados de
financiar o terrorismo, actos terroristas ou organizações terroristas, e deve
adoptar procedimentos para, se possível, extraditar tais pessoas42.
A primeira parte desta Recomendação autoriza o intercâmbio de infor-
mação através de mecanismos de auxílio judiciário mútuo ou por outros
meios. “Auxílio judiciário mútuo” significa a faculdade de prestar uma gama
completa de assistência jurídica, incluindo a recolha de provas; a detecção
e a apreensão de documentos ou artigos relevantes aos processos ou inves-
tigações criminais; e a capacidade para dar cumprimento a um pedido de
apreensão, perda (ou “forfeiture”) em matéria penal apresentado por um país
estrangeiro.43 A troca de informações por meios “que não o auxílio judiciá-
rio mútuo” significa qualquer outro acordo, incluindo uma troca que ocorra
através das Unidades de Informação Financeira (UIFs) ou outros organismos
governamentais que troquem informações a nível bilateral nos termos de
Memorandos de Entendimento (MEs), troca de cartas ou outros instrumen-
tos.44
A segunda parte desta Recomendação diz respeito aos conceitos de
“refúgio” e de “extradição”. Estes termos têm os mesmos significados que os
termos “refúgio”,45 utilizado na Resolução 1373 do Conselho de Segurança
da ONU,46 e “extraditar”,47 utilizado na Convenção Internacional da ONU
para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo.48 No tocante à extra-
dição, os países devem garantir que “as alegações de motivos políticos não
sejam reconhecidas como base para a recusa em extraditar pessoas acusa-

41. Recomendações Especiais, Rec. Esp. V.


42. Id.
43. GAFI, Notas de Orientação, no Parágrafo 24.
44. Id., no Parágrafo 25.
45. Id., no Parágrafo 26.
46. Resolução do Conselho de Segurança da ONU 1373 (2001), no Parágrafo 2 (c).
47. Id.
48. Convenção da ONU para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo,
no Artigo 11o, http://www.un.org/law/cod/finterr.htm..

IX-156
Combate ao financiamento do terrorismo

das de envolvimento no financiamento do terrorismo”.49 Este conceito e a


sua redacção são originários da Convenção da ONU para a Eliminação do
Financiamento do Terrorismo.50

F. Sistemas alternativos de remessa de fundos

Nos termos da sexta Recomendação Especial, cada país deve adop-


tar medidas para garantir que pessoas singulares e colectivas que prestam
serviços de “transferência de dinheiro ou de valores” sejam portadoras de
licença ou registadas e sujeitas às mesmas normas, ou seja, As Quarenta
Recomendações, que se aplicam a outras instituições financeiras.51 Além
disso, as entidades que prestam ilegalmente tais serviços devem ser passíveis
de sanções administrativas, civis ou penais.52 Os requisitos devem aplicar-se
à transferência de dinheiro ou de valores através de um sistema informal de
transferência.
O GAFI publicou uma Nota Interpretativa, além de um conjunto de
Melhores Práticas para a Recomendação Especial VI, com o objectivo de ofe-
recer orientações formais e assistência geral, respectivamente, sobre a forma
como os países podem aplicar esta Recomendação.53
Os serviços formais de remessa ou de transferência de dinheiro são
muitas vezes prestados por uma categoria distinta de instituições financeiras
não bancárias, que movimentam os fundos em nome de pessoas singulares
ou colectivas através de um rede própria dedicada a este fim ou do sistema
bancário regulamentado. Com o objectivo de determinar o cumprimento das
Quarenta Recomendações, os prestadores deste tipo de serviço, que estão
incluídos na definição de “instituições financeiras”, devem estar sujeitos às
leis ABC/CFT do país e ser portadores de licença ou registados.54

49. GAFI, Notas de Orientação, no Parágrafo 26.


50. Artigo 14o da Convenção.
51. Recomendações Especiais, Rec. Esp. VI.
52. Id.
53. http://www.fatf-gafi.org/document/33/0,2340,en_32250379_32236947_34252321_1_1_1_1,00.
html; e http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/17/34033713.pdf.
54. As Quarenta Recomendações, Glossário, Instituições financeiras.

IX-157
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

O “sistema de transferência de dinheiro ou valores” refere-se a um tipo


de serviço financeiro que movimenta fundos ou valores de uma área geográfi-
ca para outra, através de redes ou mecanismos informais e não supervisiona-
dos.55 Em muitas jurisdições, estes sistemas informais têm funcionado tradi-
cionalmente fora do sector financeiro regulamentado, conforme atrás descrito.
Estes sistemas informais incluem o Mercado Negro de Câmbio do Peso, o
hundi ou o Hawala.56
O objectivo da Recomendação Especial VI é garantir que os países impo-
nham requisitos ABC e CFT a todas as formas de sistemas de transferência
de dinheiro/valores.57 Assim, um país deve, pelo menos, garantir que todos
os serviços de transferência de dinheiro e de valores, incluindo os informais,
estejam sujeitos às normas específicas do GAFI e aos padrões internacionais.58
Além disso, um requisito decorrente desta Recomendação especial é a designa-
ção de uma autoridade competente para emitir licenças ou registar todos estes
serviços informais de transferência de dinheiro/valores e exigir que estas enti-
dades tenham programas adequados de protecção contra o branqueamento de
capitais e o financiamento do terrorismo.59 Este requisito é consistente com
As Quarenta Recomendações.60
Com esta Recomendação, a comunidade internacional não está a tentar
eliminar os sistemas informais de transferência de dinheiro/valores. Em muitos
casos, estes sistemas oferecem um serviço de grande utilidade para as pessoas
que não têm um acesso fácil ao sector financeiro formal. Contudo, tem havi-
do casos de sistemas que foram utilizados para branquear capitais e transferir
fundos para terroristas, e esta Recomendação destina-se a aplicar-lhe con-
trolos ABC/CFT. Esta Recomendação requer ainda o cumprimento por parte
destas entidades, mas não as sujeita ao mesmo tipo de requisitos de regulação
e de supervisão aplicados às instituições sujeitas ao Comité de Basileia de
Supervisão Bancária, à Associação Internacional dos Supervisores de Seguros
ou à Organização Internacional das Comissões de Valores.

55. GAFI, Notas de Orientação, no Parágrafo 31, e Nota Interpretativa, no Parágrafo 4.


56. Para uma análise deste assunto, ver documentos do Banco/Fundo sobre estas questões (ver o
Capítulo X, Análise do Sistema Hawala e Estudos de Sistemas de Remessa). Ver também, XI
Relatório de Tipologias do GAFI (2000), http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/29/37/34038120.
pdf, e Asia Pacific Group Report on Underground Banking and Alternative Remittance Systems
[Relatório do Grupo Ásia-Pacífico sobre Bancos Clandestinos e Sistemas Alternativos de
Remessa] (2001), http://www.apgml.org/content/typologies¬_reports.jsp.
57. GAFI, Notas de Orientação, no Parágrafo 29, e Nota Interpretativa, Parágrafo 2.
58. As Quarenta Recomendações, Recs. 4–25.
59. Id., Rec., 23.
60. Id.

IX-158
Combate ao financiamento do terrorismo

G. Transferências electrónicas

De acordo com a sétima Recomendação Especial, cada país deve tomar


as medidas adequadas para exigir que as instituições financeiras abrangidas,
incluindo os serviços de remessa de dinheiro, incluam dados exactos e úteis
sobre o ordenante (nome, endereço e número da conta) nas transferências de
fundos e outras mensagens relativas às mesmas que sejam enviadas, e que as
informações acompanhem a transferência ou mensagem relacionada ao longo
de toda a cadeia de pagamentos.61 Além disso, tais instituições financeiras
devem realizar uma vigilância acrescida e acompanhar actividades suspeitas
de transferência de fundos que não contenham informação completa sobre o
ordenante.62
A aplicação desta Recomendação tem demonstrado ser algo complexa,
e o GAFI publicou uma Nota Interpretativa bastante extensa para clarificar
os requisitos da Recomendação Especial VII.63 Não existe um conjunto de
Melhores Práticas referentes a esta Recomendação.
O objectivo desta Recomendação é o de obter informações sobre quem
está a enviar transferências electrónicas, para que os fundos enviados para
fins ilegais possam ser identificados, em conjunto com quem os enviou.64 Os
requisitos de informação dependem de a transferência ser nacional ou trans-
nacional. As transferências transnacionais devem ser acompanhadas do nome,
número da conta (ou número de referência único, quando não existe uma
conta, como, por exemplo, nas operações únicas) e endereço.65 O número do
bilhete de identidade ou o número de identificação do cliente, ou a data e o
local de nascimento podem substituir o endereço, caso o cliente receie revelar
o seu endereço. A prestação destas informações na transferência electrónica
permitirá a obtenção dos dados do ordenante com maior rapidez e facilidade
caso exista uma investigação internacional de branqueamento de capitais ou
de financiamento do terrorismo, do que se fosse necessário proceder a inquéri-
tos prolongados.
As transferências nacionais necessitam ser apenas acompanhadas do
número da conta, desde que seja possível conhecer a restante informação
sobre a organização no prazo de três dias após a instituição ordenante ter

61. Recomendações Especiais, Rec. Esp. VII.


62. Id.
63. http://www.fatf-gafi.org/document/56/0,2340,en_32250379_32236947_34256440_1_1_1_1,00.
html.
64. Id. no Parágrafo 1.
65. Id., nos Parágrafos 8 e 9.

IX-159
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

recebido um pedido da instituição beneficiária ou das autoridades. Os países


podem isentar destes requisitos operações de valor até 3.000 EUR/USD.66
As instituições financeiras beneficiárias devem ter a capacidade de iden-
tificar as transferências electrónicas que não apresentem informação signifi-
cativa. Este requisito não exige o exame de todas as operações, além de ser
improvável que as instituições beneficiárias tenham a capacidade de realizar
uma investigação sobre a exactidão das informações. Os ordenantes das trans-
ferências de fundos não são os seus clientes. No entanto, as instituições devem
possuir sistemas para examinar uma amostra das transferências electrónicas.
Quando as informações estão incompletas, as instituições devem considerar
fazer uma comunicação de operação suspeita. Quando uma instituição finan-
ceira envia mensagens que não incluem as informações necessárias sobre o
ordenante, a instituição beneficiária deve reconsiderar a relação comercial
com este ordenante.67

H. Organizações sem fins lucrativos

De acordo com a oitava Recomendação Especial, cada país deve exami-


nar a adequação das suas leis e regulamentos relativas às organizações sem
fins lucrativos, com o intuito de determinar se podem ser utilizadas para o
financiamento do terrorismo.68 Em particular, um país deve garantir que as
suas organizações sem fins lucrativos não podem ser usadas indevidamente:

• Por organizações terroristas que se apresentem como entidades legíti-


mas;
• Para explorar entidades legítimas como meio de financiamento do ter-
rorismo, nomeadamente com o propósito de evitar medidas de congela-
mento de activos; ou
• Para dissimular ou ocultar o desvio de fundos destinados a fins legíti-
mos para organizações terroristas.69

Não existe uma Nota Interpretativa para esta Recomendação mas, na


tentativa de ajudar os países a proteger as suas organizações sem fins lucra-
tivos contra abusos, o GAFI publicou um conjunto de melhores práticas

66.http://www.fatf-gafi.org/document/56/0,2340,en_32250379_32236947_34256440_1_1_1_1,00.
html.
67. Id., nos Parágrafos 11 a 14.
68. Recomendações Especiais, Rec. Esp. VIII.
69. Id.

IX-160
Combate ao financiamento do terrorismo

internacionais intitulado “Combate ao Abuso das Organizações sem Fins


Lucrativos.70
O objectivo desta Recomendação é impedir que as organizações sem fins
lucrativos (isto é, as organizadas para fins de beneficência, religiosos, educa-
tivos, sociais ou fraternais), bem como outras pessoas colectivas e entidades
sem personalidade jurídica, sejam indevidamente utilizadas pelos terroristas71.
Nesta perspectiva, a Recomendação é bastante genérica, pois as várias enti-
dades classificadas como organizações sem fins lucrativos assumem diferentes
formas jurídicas e a natureza das suas operações variam de jurisdição para
jurisdição.72
Na tentativa de evitar exigir a adesão a um conjunto rígido de regras,
que possam vir a ter pouco ou nenhum significado em certas jurisdições, a
Recomendação consiste em orientações gerais e objectivos a ser alcançados,
em vez de requisitos específicos. De acordo com a Recomendação, estas três
áreas devem receber a atenção dos países:

• Assegurar a transparência financeira. Estas organizações devem ter


registos financeiros transparentes e realizar as suas actividades de
forma a permitir a auditoria e a prestação de contas da utilização dos
fundos. As contas devem ser publicadas e o desembolso de fundos deve
ser efectuado através de contas abertas em instituições financeiras esta-
belecidas.
• Verificação programática. As organizações devem ter conhecimento de
quem recebe os fundos e de como são gastos, devendo tomar medidas
concretas para monitorizar activamente estes aspectos Isto é especial-
mente importante quando os destinatários estão noutro país.
• Administração. Devem ser mantidos bons registos das actividades da
organização e estruturas claras de governação e a prestação interna de
contas.

I. Transportadores de numerário

O objectivo da nona Recomendação Especial, adoptada em Outubro de


2004, é garantir que os terroristas e outros criminosos não possam financiar
as suas actividades ou branquear o produto proveniente da prática de crimes

70. http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/19/34033761.pdf.
71. GAFI, Notas de Orientação, no Parágrafo 39.
72. Id.

IX-161
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

através do transporte físico transfronteiras de numerário e de instrumentos


negociáveis ao portador.73 As pessoas ou entidades que transportam nume-
rário ou equivalente através de fronteiras são geralmente conhecidas como
“transportadores de numerário” (cash courriers).
A Recomendação Especial IX inclui essencialmente quatro requisitos
específicos em relação às actividades dos transportadores de numerário.
Primeiro, todos os países devem criar um sistema para detectar o transporte
físico transfronteiras de numerário e de instrumentos negociáveis ao porta-
dor.74 Segundo, cada país deve assegurar que suas autoridades competentes
disponham de poderes para bloquear ou reter numerário e instrumentos
negociáveis ao portador que: (i) suspeitem estar ligados ao financiamento do
terrorismo ou ao branqueamento de capitais; ou (ii) que tenham sido objecto
de falsa declaração ou falsa revelação. Terceiro, esta Recomendação Especial
exige ainda que cada país deve assegurar a aplicabilidade de sanções eficazes,
proporcionadas e dissuasivas a quem preste falsas declarações ou falsas revela-
ções em relação ao transporte transfronteiras de numerário ou de instrumen-
tos negociáveis ao portador. Quarto e último, exige que todos os países adop-
tem medidas que permitam declarar a perda de numerário e de instrumentos
negociáveis ao portador que estejam relacionados com o financiamento do
terrorismo ou com o branqueamento de capitais.
Ao mesmo tempo que adoptou esta Recomendação Especial IX, o GAFI
adoptou uma Nota Interpretativa formal para a acompanhar.75 A Nota
Interpretativa inclui uma descrição razoavelmente completa das definições uti-
lizadas na Recomendação, bem como uma descrição razoavelmente completa
de como um país pode aplicar as obrigações nela indicadas. Para acompa-
nhar também esta Recomendação, o GAFI adoptou ainda um documento de
Melhores Práticas Internacionais, designado “Detectar e impedir o transporte
transfronteiras de numerário por terroristas e outros criminosos”.76 Para
saber como aplicar esta Recomendação Especial IX, se o desejar, um país
poderá também consultar o documento de Melhores Práticas, que foi adopta-
do em Fevereiro de 2005.
De acordo com a Nota Interpretativa, “instrumentos negociáveis ao por-
tador” significa:

• instrumentos monetários ao portador, tais como cheques de viagem;


• instrumentos negociáveis (incluindo cheques, notas promissórias e
ordens de pagamento) que são emitidos ao portador, endossados a um

73 Nota Interpretativa à Recomendação Especial IX, no Parágrafo 1.


74 Recomendações Especiais, Rec. Esp. IX.
75 Nota Interpretativa à Recomendação Especial IX.
76 http://www.fatf-gafi/50/63/3442418.pdf.

IX-162
Combate ao financiamento do terrorismo

beneficiário fictício, ou em tal forma que a titularidade seja transferível


com a entrega; ou
• instrumentos incompletos (incluindo cheques, notas promissórias e
ordens de pagamento) assinados, mas em que seja omisso o nome do
beneficiário.77
Deve considerar-se que, para os fins desta Recomendação Especial, o
ouro e os metais e pedras preciosas estão especificamente excluídos da defini-
ção do termo “instrumentos negociáveis ao portador”.78 As revelações, decla-
rações ou outras formas de aquisição de informação relativas ao ouro e aos
metais e pedras preciosas podem, no entanto, ser abrangidas pelas disposições
legais de um país, por exemplo através da legislação ou regulamentação adu-
aneira, embora não seja necessário incluí-los para estar em conformidade com
esta Recomendação.79
“Transporte físico transfronteiras” refere-se a qualquer entrada ou saída
física de numerário ou de instrumentos negociáveis ao portador, de um país
para outro. Estes termos incluem: o transporte físico (i) por uma pessoa sin-
gular ou na sua bagagem ou veículo; (ii) o envio através de um contentor; ou
(iii) a remessa postal por uma pessoa singular ou colectiva.80
De acordo com a Nota Interpretativa, um país pode cumprir as suas
obrigações nos termos desta Recomendação, adoptando medidas de detecção,
através de um de dois sistemas: um sistema de declaração ou um sistema de
revelação81. No “sistema de declaração” todas as pessoas que efectuem o
transporte físico transfronteiras de numerário ou de instrumentos negociáveis
ao portador que ultrapasse um limiar pré-estabelecido (cujo valor máximo
não pode exceder 15.000 EUR/USD), devem apresentar uma declaração ver-
dadeira às autoridades competentes designadas, relativa ao valor de tal trans-
ferência e a outras informações relevantes. O limiar pré-estabelecido deve ser
suficientemente baixo para cumprir os objectivos da Recomendação.82
No “sistema de revelação”, todas as pessoas que efectuem o transporte
físico transfronteiras de numerário ou de instrumentos negociáveis ao porta-
dor devem fazer uma revelação verdadeira às autoridades competentes desig-
nadas, sempre que a mesma lhes for solicitada, do valor da transferência e de
outras informações relevantes.83 Para o efeito, um país deve assegurar-se que
as autoridades competentes possam realizar as suas averiguações de forma

77 Nota Interpretativa à Recomendação Especial IX, no Parágrafo 3.


78 Id., na Nota de Rodapé 1.
79 Id.
80 Id., no Parágrafo 5.
81 Id., no Parágrafo 9.
82 Id., no Parágrafo 9a.
83 Id., no Parágrafo 9b.
IX-163
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

direccionada, com base em informação ou em suspeitas, ou de uma forma


aleatória.

É importante sublinhar que um país deverá ter em vigor um sistema de


detecção para o transporte que entre ou saia do país, mas não está obrigado
a utilizar o mesmo tipo de sistema para a entrada ou a saída de transportes
transfronteiras de numerário ou de instrumentos negociáveis ao portador.84
Assim, por exemplo, um país pode ter um sistema de declaração para a entra-
da e um sistema de revelação para a saída de transportes transfronteiras e
vice-versa.
Uma falsa declaração ou uma falsa revelação devem ser entendidas como:

• uma designação incorrecta do montante de numerário ou de instru-


mentos negociáveis ao portador transportados,
• uma designação incorrecta de qualquer informação relevante que é
pedida na declaração ou cuja revelação é exigida ou de outra forma
solicitada pelas autoridades competentes, ou
• a falta de declaração ou a não revelação tal como exigidas.85

Quando descubram de uma falsa declaração ou uma falsa revelação, as


autoridades competentes designadas devem ter poderes para solicitar e obter
do transportador mais informação relativamente à origem e à intenção da uti-
lização do numerário ou dos instrumentos negociáveis ao portador.86
Independentemente do sistema utilizado, a informação obtida através
do processo de declaração e/ou de revelação deve estar disponível para a
Unidade de Informação Financeira (UIF).87 Além disso, o processo de decla-
ração e/ou de revelação deve permitir o mais amplo auxílio e cooperação
internacional de acordo com As Quarenta Recomendações, designadamente
as Recomendações 35 a 40 e a Recomendação Especial V.88 Para facilitar tal
cooperação, nas circunstâncias em que é feita uma declaração ou revelação
que ultrapassa o limiar máximo, quando é descoberta uma falsa declaração
ou um falsa revelação ou quando existem suspeitas de branqueamento de
capitais ou de financiamento de terrorismo, a informação relevante devem ser
guardada, incluindo o montante do numerário ou dos instrumentos ao porta-
dor, declarado, revelado ou descoberto e a informação sobre a identificação
do transportador ou transportadores.89

84 Id., nos Parágrafos 9 e 10a.


85 Id., nos Parágrafos 6 e 7.
86 Id., no Parágrafo 10b.
87 Id., no Parágrafo 10c.
88 Id., no Parágrafo 10f.
89 Id.
IX-164
Combate ao financiamento do terrorismo

Em relação às pessoas que efectuem um transporte físico transfrontei-


ras de numerário ou de instrumentos negociáveis que estejam efectivamente
relacionados com o financiamento do terrorismo ou com o branqueamento
de capitais, esse numerário ou instrumentos negociáveis ao portador devem
ser sujeitos a medidas, incluindo de natureza legislativa, consistentes com As
Quarenta Recomendações (Recomendação 3) e a Recomendação Especial III,
que permitam declarar a respectiva perda.90 Previamente a esta determinação,
quando exista: (i) uma suspeita de financiamento de terrorismo ou de bran-
queamento de capitais; ou uma (ii) falsa declaração ou uma revelação falsa, as
autoridades competentes devem estar aptas a bloquear ou reter o numerário
e/ou os instrumentos negociáveis ao portador por um período razoável com o
objectivo de averiguarem se existe alguma prova de branqueamento de capi-
tais ou de financiamento de terrorismo.91
Finalmente, os países são encorajados a aplicar a Recomendação Especial
IX, sujeitando-a a salvaguardas, para assegurar a utilização adequada da
informação recebida e sem restringir, por qualquer forma, os pagamentos
comerciais entre os países, por bens e serviços, ou a livre circulação de capi-
tais.92

J. Questionário de auto-avaliação sobre o financiamento do terrorismo

Para concentrar a atenção nas questões de interpretação e de aplica-


ção das Recomendações Especiais, o GAFI publicou um Questionário de
Auto-Avaliação sobre o Financiamento do Terrorismo (QAAFT).93 Este
Questionário foi utilizado inicialmente apenas pelos membros do GAFI. Após
ter sido feita uma avaliação inicial do QAAFT, o GAFI publicou as Notas de
Orientação para as Recomendações Especiais e o QAAFT. O Questionário
encontra-se também disponível no sítio do GAFI, podendo ser utilizado por
qualquer país para fins de auto-avaliação.94

90 Recomendação Especial IX e Nota Interpretativa à Recomendação Especial IX, no parágrafo 11.


91 Nota Interpretativa à Recomendação Especial IX, no Parágrafo 10e.
92 Id., no Parágrafo 1.
93 http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/20/34033909.pdf.
94 Id.

IX-165
Capítulo X

Iniciativas do Banco Mundial e do


Fundo Monetário Internacional para o
combate ao branqueamento de capitais
e ao financiamento do terrorismo
A. Aumentar o conhecimento C. Desenvolvimento de capacidades
1. A Série Diálogo Mundial institucionais
2. Estratégia de Assistência ao País 1. A organização de conferências de formação
B. Desenvolvimento de uma metodologia 2. A prestação de assistência técnica a países individuais
universal de avaliação ABC/CFT D. Investigação e análise
1. Programa piloto de doze meses 1. Análise do sistema Hawala
2. Relatório sobre o cumprimento de normas e códigos 2. Estudos sobre sistemas alternativos de remessa de fundos
3. Revisão da metodologia universal 3. Sítio ABC/CFT do Banco Mundial
4. Manual para UIFs
5. Guia de Referência

A s missões do Banco Mundial (Banco) e do Fundo Monetário Internacional


(FMI ou Fundo) são fundamentalmente diferentes. Não obstante, ambas
as organizações têm objectivos idênticos no que concerne ao combate ao
branqueamento de capitais (ABC) e ao combate ao financiamento do terroris-
mo (CFT). Além disso, o Banco e o Fundo trabalham em conjunto em todas
as suas iniciativas destinadas a alcançar estes objectivos.
A principal missão do Banco é combater a pobreza em todo o mundo.
O Banco ajuda os países a reforçar as suas iniciativas de desenvolvimento,
concedendo empréstimos e facultando assistência técnica para o desenvolvi-
mento das capacidades institucionais, além de empréstimos para melhorar as
infra-estruturas e o meio ambiente nos países em desenvolvimento. A missão
do Banco inclui o fornecimento de recursos, a troca de conhecimentos e o
estabelecimento de parcerias nos sectores público e privado.1

1 Sobre o Banco Mundial, http://www.worldbank.org.

X-167
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Na sua essência, a missão do FMI é macroeconómica e envolve a super-


visão da estabilidade financeira a nível mundial. Entre os objectivos do FMI
destacam-se:

• Promover a cooperação monetária internacional;


• Facilitar a expansão e o crescimento equilibrado do comércio interna-
cional;
• Promover a estabilidade cambial; e
• Auxiliar no estabelecimento de sistemas multilaterais de pagamentos.

Além disso, o Fundo promove a estabilidade monetária internacional,


concedendo empréstimos aos países para que possam corrigir desajustamen-
tos nas respectivas balanças de pagamentos sem recorrer a medidas que pos-
sam destruir a prosperidade nacional ou internacional.2
Em Abril de 2001, as Direcções Executivas do Banco Mundial e do FMI
reconheceram que o branqueamento de capitais constitui um problema que
preocupa o mundo inteiro e afecta os principais mercados financeiros, e tam-
bém os de menor expressão.3 Considerando que o branqueamento de capitais
apresenta consequências económicas, políticas e sociais potencialmente devas-
tadoras para os países em vias de desenvolver as economias nacionais e de
criar instituições financeiras sólidas, o Banco reconheceu que o branqueamen-
to de capitais pode impor custos significativos aos países em desenvolvimen-
to. O FMI reconheceu que o branqueamento de capitais apresenta uma vasta
gama de consequências macroeconómicas, incluindo mudanças imprevisíveis
na procura de dinheiro, riscos para a solidez das instituições financeiras e dos
sistemas financeiros, além da maior volatilidade dos fluxos de capitais inter-
nacionais e das taxas de câmbio, como consequência do volume imprevisto
de transferências transnacionais.
Após os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, as Direcções
Executivas do Banco Mundial e do FMI adoptaram planos de acção
para reforçar as iniciativas ABC/CFT. Além disso, as Direcções reco-
nheceram, em Julho e Agosto de 2002, As Quarenta Recomendações
sobre o Branqueamento de Capitais (As Quarenta Recomendações) e
as oito Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo
(Recomendações Especiais), aprovadas pelo Grupo de Acção Financeira sobre

2 Sobre o FMI, http://www.imf.org.


3 Para uma análise mais detalhada das acções do Banco e do Fundo, ver Intensified Work on
Anti-Money Laundering and Combating the Financing of Terrorism [Intensificação do Trabalho
Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo]. Relatório
Conjunto de Progresso do Trabalho do FMI e do Banco Mundial, http://www.imf.org/external/
np/mae/aml/2002/eng/092502.htm.

X-168
Iniciativas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional

o Branqueamento de Capitais (GAFI), como os padrões internacionais rele-


vantes ABC/CFT. As Direcções incluiram o ABC e o CFT na lista de áreas
úteis para o seu trabalho operacional e deram início, em Novembro de 2002,
a um programa piloto de 12 meses baseado numa metodologia universal e
abrangente para uma avaliação ABC/CFT.
No decurso do programa piloto, o Fundo e o Banco realizaram avalia-
ções em 33 jurisdições, e o GAFI, juntamente com os organismos regionais
do tipo GAFI (ORTGs), avaliaram outras oito jurisdições. As Direcções do
Fundo e do Banco estudaram os resultados do programa piloto em Março
de 2004. Concluíram que o programa piloto havia tido êxito e registaram
com agrado a intensificação da atenção internacional que o programa atra-
íra para as questões ABC/CFT e a boa colaboração mantida com o GAFI
e com os organismos regionais do tipo GAFI (ORTGs). Nessa ocasião, as
Direcções resolveram transformar o trabalho ABC/CFT numa componente
permanente das suas actividades; continuar a sua colaboração com o GAFI;
reconhecer as Recomendações revistas do GAFI como os novos padrões a ser
cumpridos na elaboração dos Relatórios sobre o Cumprimento de Normas e
Códigos (RCNCs) e a Metodologia revista para avaliar o cumprimento desses
padrões; e atribuir recursos adicionais a este trabalho no futuro. O Fundo e
o Banco esperam realizar cerca de 20 avaliações por ano aplicando a mesma
Metodologia utilizada pelo GAFI e pelos ORTGs.

A.Aumentar o conhecimento

1. A Série Diálogo Mundial

O primeiro passo para criar ou melhorar o sistema institucional ABC e


CFT de um país é aumentar o nível de consciencialização da administração
nacional relativamente aos problemas e às consequências para o seu futuro,
partilhar as experiências dos outros países e informar o país sobre os recursos
e a assistência disponíveis. Para alcançar este objectivo, o Banco Mundial e o
FMI estabeleceram uma série de Diálogos Mundiais sobre Políticas Regionais
relativas ao ABC/CFT. Estes Diálogos são organizados através de videocon-
ferências interactivas para os países membros de uma determinada região
geográfica, permitindo que as autoridades governamentais desses países, os
quadros técnicos do Banco e do Fundo, os Organismos Regionais do Tipo
GAFI (ORTGs), os bancos regionais de desenvolvimento e outras organiza-
ções internacionais discutam e troquem informações. As questões discutidas
centram-se no seguinte:

X-169
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• Identificar os desafios enfrentados pelos países no combate aos fluxos


de capitais ilícitos;
• Partilhar as experiências de sucesso;
• Identificar os problemas específicos de países nessa região; e
• Compreender o tipo de assistência de que os países necessitam para
combater o branqueamento de capitais e o financiamento do terroris-
mo.

Algumas das questões-chave abordadas na Série Diálogo Mundial são:

• Como é que o Banco Mundial e o FMI podem ajudar os países a refor-


çar a sua resposta ao branqueamento de capitais e ao financiamento
do terrorismo?
• Como é que o branqueamento de capitais e o financiamento do terro-
rismo se enquadram no contexto mais amplo da corrupção e da má
governação?
• Qual tem sido a resposta dos governos?
• Quais são os actuais desafios para as autoridades de Regulação?
• Qual é a estrutura institucional apropriada para cada país aplicar um
programa eficaz de combate ao branqueamento de capitais e ao finan-
ciamento do terrorismo?
• Quais são os futuros desafios no combate ao branqueamento de capi-
tais e ao financiamento do terrorismo nos países participantes?

Para responder a estas questões, os funcionários superiores representan-


tes dos países participantes oferecem os seus pontos de vista sobre os custos
económicos do abuso dos sistemas financeiros pelos criminosos, especialmen-
te para fins de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo.
Outros pontos para discussão incluem as maneiras práticas de sustentar o
desenvolvimento económico e a integridade dos mercados financeiros face a
estas ameaças. O diálogo ajuda os países a aprender uns com os outros, reti-
rando lições das suas próprias experiências e da experiência mais ampla dos
peritos internacionais.

2. Estratégia de Assistência ao País

O Banco está a integrar os resultados do Programa de Avaliação do


Sector Financeiro (PASF) dentro de um conjunto mais amplo de medidas de
desenvolvimento consideradas na Estratégia de Assistência a um País (EAP),

X-170
Iniciativas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional

a qual define, em consulta com o respectivo Governo, as prioridades do pro-


grama do Banco para um determinado país para um período de três anos.
Como consequência da realização de análises sistemáticas das conclusões do
PASF, a assistência em matéria ABC/CFT já foi incluída em mais de 30 EAPs
elaboradas desde Março de 2002. A assistência técnica recebe alta prioridade
nos países em que as vulnerabilidades na integridade do regime ABC/CFT
podem criar riscos significativos para a governação e para o desenvolvimento.
As EAPs também tratam das questões ABC/CFT em maior detalhe quando
se trata de um país com deficiências no cumprimento dos padrões e melhores
práticas internacionais.
O Fundo integrou os componentes ABC/CFT na sua supervisão do
Artigo IV.4 Além dos relatórios de Avaliação da Estabilidade do Sistema
Financeiro (AESF) que apresenta à Direcção Executiva (que resumem as con-
clusões dos PASFs, incluindo as avaliações ABC/CFT), os resultados do ques-
tionário ABC/CFT foram incorporados em mais de 70 discussões nos termos
do Artigo IV desde Janeiro de 2002.

B. Desenvolvimento de uma Metodologia universal de avaliação ABC/CFT

Durante o ano de 2002, o Banco e o FMI trabalharam em estreita cola-


boração com o GAFI e com outras organizações internacionais que definem
padrões normativos, isto é, o Comité de Basileia de Supervisão Bancária
(Comité de Basileia), a Organização Internacional das Comissões de Valores
(OICV), a Associação Internacional dos Supervisores de Seguros (AISS) e
o Grupo Egmont, para estabelecer uma Metodologia comum e abrangente
de avaliação ABC/CFT. O GAFI aprovou e reconheceu esta Metodologia
na sua reunião plenária de Outubro de 2002. A Metodologia consistia em
120 critérios que abarcam cada uma das Quarenta Recomendações e das
Recomendações Especiais do GAFI, incluindo medidas de aplicação da lei
penal.5 Abrangia também o sistema jurídico e institucional ABC/CFT para
um país, incluindo a criação de Unidades de Informação Financeira (UIFs).
A metodologia também abordava as respectivas Resoluções do Conselho de
Segurança e Convenções internacionais da Organização das Nações Unidas
(ONU), além de outras medidas adoptadas pelas organizações internacionais

4 Sobre o FMI, http://www.imf.org.


5 Metodologia ABC/CFT, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/46/48/34274813.PDF.

X-171
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

que definem padrões normativos. Oferecia uma avaliação exaustiva das medi-
das preventivas destinadas às instituições financeiras.
Após a revisão das Quarenta Recomendações, em Junho de 2003, o
Banco e o Fundo trabalharam com o GAFI e com os ORTGs para elaborar
uma Metodologia de avaliação revista. Esta foi reconhecida pelo GAFI em
Fevereiro do mesmo ano e pelas Direcções do Banco e do Fundo em Março
de 2004. Inclui mais de 200 “critérios essenciais” para a avaliação dos paí-
ses, em termos do seu cumprimento das normas do GAFI, e alguns “critérios
adicionais”, os quais, embora não façam parte dos padrões cuja avaliação
será classificada, reflectem as melhores práticas internacionais e integram a
avaliação. Existe um número consideravelmente maior de critérios em relação
à versão anterior da Metodologia, como consequência do âmbito das normas
aprovadas em 2003.
A Metodologia será utilizada pelas organizações internacionais nas ava-
liações dos controlos ABC/CFT que realizarem como parte das suas avalia-
ções gerais de um país, em termos do cumprimento das normas financeiras
internacionais nos processos do PASF e do CFO. O resultado será um RCNC
relativo ao ABC/CFT, que será apresentado às Direcções Executivas do Banco
e do Fundo. A metodologia também será utilizada pelo GAFI e pelos ORTGs
nas suas avaliações mútuas. O GAFI e os ORTGs elaborarão um RCNC
como parte das suas avaliações mútuas, que será reconhecido pelo Banco e
pelo Fundo.
Neste processo, o GAFI, os ORTGs, o Banco e o Fundo realizam indivi-
dualmente avaliações utilizando a mesma Metodologia e concordam em reco-
nhecer mutuamente os relatórios uns dos outros. As organizações trabalham
em conjunto para estabelecer um calendário razoável para as avaliações, que
seja compatível com o calendário de PASF/CFO das instituições financeiras
internacionais e o calendário de avaliações mútuas do GAFI/ORTG. Espera-
se que o Fundo e o Banco realizem cerca de 20 avaliações por ano, e que o
GAFI e os ORTGs realizem à volta do mesmo número. Este calendário deve
permitir que todos os países sejam submetidos a uma avaliação completa
aproximadamente a cada cinco anos.

C. Desenvolvimento de capacidades institucionais

1. A organização de conferências de formação

O Banco e o Fundo organizam conferências de formação direccionadas


para questões específicas ABC/CFT, utilizando autoridades públicas envolvi-

X-172
Iniciativas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional

das no combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terro-


rismo numa determinada região. Por exemplo, em 2002, celebraram-se duas
conferências de assistência técnica: uma em Montevideu, no Uruguai, e outra
em Moscovo, na Rússia.
A conferência de Moscovo é ilustrativa do tipo de informações apresen-
tadas. O tema central da conferência foi a criação de Unidades de Informação
Financeira (UIFs) operacionais. A conferência destinava-se aos países onde
não existiam UIFs operacionais ou que apenas recentemente começaram a
funcionar. O objectivo primordial da conferência foi envolver peritos dos
países da Europa do Leste que atingiram recentemente uma situação de con-
formidade com os padrões ABC/CFT e criar uma oportunidade para que as
autoridades desses países apresentassem as suas experiências e melhores prá-
ticas.
A conferência também foi útil como mecanismo para ajudar os países
e as organizações que prestam assistência técnica ABC/CFT a compreender
onde se situam as necessidades mais urgentes, e proporcionar-lhes a oportu-
nidade de fazer contactos pessoais com as autoridades governamentais desses
países, para que a assistência possa ser prestada no futuro com maior pronti-
dão e facilidade.
A conferência teve êxito, ao demonstrar a importância de dar atenção
às questões ABC/CFT e de apresentar os vários requisitos dos padrões inter-
nacionais de uma forma que as autoridades dos países participantes possam
compreender. Também demonstrou as medidas específicas que estas auto-
ridades devem começar a tomar nos seus respectivos países. Além disso, as
autoridades governamentais puderam fazer contactos pessoais com peritos da
área e com os seus homólogos dos países vizinhos, o que facilita a obtenção
de aconselhamento e assistência para a aplicação de um sistema ABC/CFT.
Outro workshop foi realizado na África do Sul, em Maio de 2004,
envolvendo os 14 países membros do Grupo Anti-Branqueamento de Capitais
da África Oriental e Austral (GABCAOA). Foi organizado pelo GABCAOA
com a participação do Banco e do Fundo, e incluiu peritos de várias outras
organizações internacionais e países. O objectivo desta iniciativa foi o de
informar as autoridades dos países do GABCAOA sobre os elementos bási-
cos de uma estratégia nacional de combate ao branqueamento de capitais e
ao financiamento do terrorismo e de trabalhar com elas na elaboração das
respectivas estratégias para lidar com as grandes questões ABC/CFT enfren-
tadas por cada país. Os participantes trabalharam na reunião para elaborar
um esboço de estratégias a serem depois desenvolvidas no país antes de serem
finalizadas e apresentadas ao plenário do GABCAOA em Agosto de 2004.

X-173
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

2. A prestação de assistência técnica a países individuais

O Banco e o Fundo estão a prestar várias formas de assistência técnica


(AT) aos países que desejam criar ou melhorar os seus regimes ABC/CFT.6
Desde Abril de 2001, estas iniciativas de AT têm-se intensificado. O Banco e
o Fundo utilizam as conclusões dos PASFs e outras análises ABC/CFT para
determinar a necessidade e estabelecer as prioridades de AT.
Nos países em desenvolvimento, a AT ABC/CFT é incluída na EAP da
jurisdição, que estabelece, em consulta com o governo do país, as prioridades
para o programa de assistência do Banco numa base trianual. Em particular,
a AT recebe alta prioridade nos países em que as vulnerabilidades na integri-
dade do regime ABC/CFT podem criar riscos significativos para a governação
e o desenvolvimento.
A AT do Banco e do Fundo para o ABC/CFT centra-se na:

• Elaboração de leis e de regulamentos ABC/CFT compatíveis com as


melhores práticas internacionais;
• Aplicação de leis, regulamentos, políticas e procedimentos, pelos
supervisores do sector financeiro e outras autoridades competentes
similares encarregues de aplicar as medidas ABC/CFT;
• Estruturação de um enquadramento jurídico para as Unidades de
Informação Financeira (UIFs) compatíveis com as melhores práticas
internacionais;
• Elaboração de programas de formação e de consciencialização para
tratar das questões ABC/CFT nos sectores público e privado;
• Colaboração com outras partes em programas multinacionais de for-
mação; e na elaboração de materiais de formação informatizados.

Nos dois anos anteriores à decisão tomada pelas Direcções do Banco e


do Fundo, em Março de 2004, de transformar o ABC/CFT numa componente
permanente dos seus programas de trabalho, o Banco e o Fundo organizaram
85 projectos de assistência técnica para 63 países específicos e 32 projectos
regionais que abrangeram mais de 130 países.

6 Intensified Work on ABC/CFT [Intensificação do Trabalho ABC/CFT], parágrafos 39 e 40. Ver


http://finsec.worldbank.org/assets/images/AML-CFT_Methodology_SecM2002-0554.pdf.

X-174
Iniciativas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional

D. Investigação e análise

1. Análise do sistema Hawala

O Banco e o Fundo realizaram um estudo das características operacio-


nais dos sistemas informais de transferência de fundos (SITFs), geralmente
conhecidos como Hawalas.7 O estudo analisou o contexto histórico e socio-
económico em que os Hawalas evoluíram. Neste sentido, a sua evolução está
enraizada principalmente na melhoria do comércio entre áreas geográficas
distantes numa época em que os instrumentos bancários convencionais eram
deficientes ou inexistentes.
O estudo também analisa as características operacionais dos SITFs desti-
nados tanto para fins legítimos como ilegítimos. Entre as suas características
operacionais destacam-se a rapidez, os baixos custos de operação, a conveni-
ência e a familiaridade étnica e cultural, a versatilidade e o potencial anoni-
mato. Além disso, os SITFs prosperaram nos países onde as instituições finan-
ceiras são ineficientes e as políticas financeiras restritivas. Finalmente, como
qualquer outra actividade económica clandestina, os SITFs têm repercussões
no controlo monetário, influenciando as operações cambiais, distorcendo os
dados económicos (e, assim, as informações estatísticas disponíveis para as
autoridades) e reduzindo a cobrança de impostos sobre os rendimentos e ser-
viços.
O estudo também analisa as implicações nas respostas dos organismos
de regulação e supervisão a este tipo de actividade. A Recomendação VI das
Recomendações Especiais do GAFI aconselha os países a tratar os Hawalas e
outros SITFs como parte do sistema regulado, sujeitos a muitos dos mesmos
requisitos ABC/CFT aplicados às instituições financeiras.8 Cada vez mais paí-
ses estão a sujeitar estas entidades a licenciamento ou a registo, em conformi-
dade com a aquela Recomendação do GAFI.

2. Estudos sobre sistemas alternativos de remessa de fundos

Em Setembro de 2002, os Ministros das Finanças da Cooperação


Económica Ásia-Pacífico (APEC) criaram um grupo de trabalho sobre os sis-
temas alternativos de remessa (SARs) para examinar os factores económicos,
estruturais e regulamentares que incentivam o uso dos SARs nas economias
da APEC. Em apoio ao projecto, o Banco Mundial elaborou um relatório que

7 http://www1.worldbank.org/finance/html/amlcft/docs/IFTS_IMF/IFTS_Contents.pdf.
8 http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/46/48/34274813.PDF.

X-175
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

cria um enquadramento para estimar a magnitude dos fluxos das remessas,


analisa os incentivos ao uso dos canais formais em relação aos informais e
examina o papel dos sectores financeiros formais na disponibilização de servi-
ços de remessa que cumprem as normas internacionais ABC/CFT.9
Como parte do seguimento da Iniciativa SAR da APEC e como parte
de um esforço para aumentar o envolvimento do Banco Mundial no estudo
do tema importante dos SARs para todos os seus clientes, foram planeados
estudos de casos comparativos para economias específicas. As constatações e
conclusões das investigações serão partilhadas como parte da troca de ideias e
de experiências. Este é um projecto que se encontra em curso; as constatações
dos vários estudos serão comunicadas e disponibilizadas no sítio ABC/CFT do
Banco Mundial.

3. Sítio ABC/CFT do Banco Mundial

O Banco mantém um sítio especificamente relacionado com as matérias


ABC/CFT10 Este sítio contém informações actualizadas sobre os programas
e as iniciativas do Banco no combate ao branqueamento de capitais e ao
financiamento do terrorismo. Também contém materiais de referência e publi-
cações, tais como este Guia de Referência. O sítio encontra-se acessível em
www.amlcft.org. Quem quiser contactar o Banco sobre questões ABC/CFT
deve escrever para aml@worldbank.org.

4. Manual para UIFs

Em 2004, o Fundo e o Banco publicaram conjuntamente um manu-


al sobre praticamente todos os aspectos da criação e operacionalização de
Unidades de Informação Financeira (UIFs). O manual é intitulado Financial
Intelligence Unit, An Overview [Unidade de Informação Financeira, uma
Síntese].11

9 Ver http://www.amlcft.org, APEC Symposium on Remittances [Simpósio da APEC sobre


Remessas].
10 http://www.amlcft.org.
11 O manual está disponível para compra junto do FMI. Também está disponível para leitura
apenas no sítio ABC/CFT do Banco, http://www.amlcft.org.

X-176
Iniciativas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional

O manual abrange uma vasta gama de temas relacionados com as UIFs,


incluindo:

• Medidas-chave para a criação de uma UIF,


• Modelos básicos de operação,
• Funções principais,
• Funções adicionais, e
• Avaliações internacionais.

5. O Guia de Referência

Este Guia de Referência sobre ABC e CFT é o resultado dos esforços do


Banco e do Fundo no combate ao branqueamento de capitais e ao financia-
mento do terrorismo. Quando os decisores de políticas examinaram os mate-
riais ABC/CFT disponíveis para os países, especialmente os que se encontram
em vias de desenvolvimento e que contam com experiência limitada nesta
área, tornou-se óbvio que nenhuma fonte única poderia ser utilizada para
resolver todas estas questões. Por isso, o Banco e o Fundo encomendaram este
Guia de Referência como um meio para permitir o acesso a todas as informa-
ções disponíveis a partir de uma fonte de informação única e abrangente.
A primeira edição foi publicada em 2003, em cinco idiomas (inglês, fran-
cês, russo, árabe e espanhol). Esta segunda edição foi elaborada como uma
actualização, no seguimento da revisão das Quarenta Recomendações em
Junho de 2003,12 da Metodologia revista para as avaliações, em 2004,13 e de
outras alterações nos materiais pertinentes, além de outras evoluções nos pro-
gramas e nas actividades ABC/CFT do Fundo e do Banco.
O Guia de Referência está disponível no sítio do Banco,
http://www.aml cft.org/, e será também traduzido para outros idiomas.

12 http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF.
13 http://www1.worldbank.org/finance/html/amlcft/methodology.htm.

X-177
Anexo I

Sítios de organizações relevantes,


instrumentos jurídicos e iniciativas.

Comité de Basileia de Supervisão Bancária — Banco de Pagamentos


Internacionais

• http://www.bis.org/ (Página Inicial do BIS)


• http://www.bis.org/bcbs/ (Comité de Basileia de Supervisão Bancária)
• http://www.bis.org/publ/bcbs30.pdf (Princípios Fundamentais de
Supervisão Bancária Efectiva)
• http://www.bis.org/publ/bcbs61.pdf (Metodologia dos Princípios
Fundamentais)
• http://www.bis.org/publ/bcbs85.htm#pgtop (Medidas de Vigilância
Relativa à Clientela no que Respeita aos Bancos)
• http://www.bis.org/publ/bcbsc137.pdf (Prevenção do Uso Ilegal
do Sistema Bancário para Fins de Branqueamento de Capitais —
Dezembro de 1988)

Secretariado da Commonwealth

Annex I-179
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• http://www.thecommonwealth.org/ (Sítio Principal)


• http://www.thecommonwealth.org/dynamic/Country.asp (Países da
Commonwealth)

Conselho da Europa

• http://www.coe.int/portalT.asp (Página Principal)


• http://conventions.coe.int/Treaty/en/Treaties/Html/141.htm (Convenção
do Conselho da Europa Relativa ao Branqueamento, Detecção,
Apreensão e Perda dos Produtos do Crime — A Convenção de
Estrasburgo, 8.XI.1990)

Grupo Egmont de Unidades de Informação Financeira (UIFs)

• http://www.egmontgroup.org/ (Página Principal)


• http://www.egmontgroup.org/list_of_fius_062304.pdf (Países com
Unidades de Informação Financeira operacionais)
• http://www.egmontgroup.org/statement_of_purpose.pdf (Declaração de
Intenções do Grupo Egmont de Unidades de Informação Financeira ,
Guernsey, 2004)
• http://www.egmontgroup.org/info_paper_final_092003.pdf
(Documento Informativo sobre as Unidades de Informação Financeira
e o Grupo Egmont)
• http://www.egmontgroup.org/procedure_for_being_recognised.pdf
(Procedimento para ser reconhecido como país membro)
• http://www.fincen.gov/fiuinaction.pdf (Lista de casos ABC)

União Europeia

• http://europa.eu.int/ (Página Principal)


• http://www.imolin.org/eudireng.htm (Directiva do Conselho sobre
a Prevenção da Utilização do Sistema Financeiro para Fins de
Branqueamento de Capitais (91/308/EC))
• http://www.imolin.org/EUdir01e.htm (Directiva 2001/97/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de Dezembro de 2001,
alterando a Directiva do Conselho 91/308/EC sobre a Prevenção da
Utilização do Sistema Financeiro para Fins de Branqueamento de
Capitais.)

Anexo I-180
Anexo I: Sítios de organizações relevantes, instrumentos jurídicos e iniciativas.

Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de Capitais (GAFI)

• http://www.fatf-gafi.org/pages/0,2966,en_32250379_32235720_1_1_
1_1_1,00.html (Página de Boas Vindas)
• http://www.fatf-gafi.org/document/29/0,2340,en_32250379_
32235720_33659613_1_1_1_1,00.html#Whatismoneylaundering
(Branqueamento de Capitais)
• http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF (As Quarenta
Recomendações 2003)
• http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/46/48/34274813.PDF (As
Recomendações Especiais 2001)
• http://www.fatf-gafi.org/pages/0,2966,en_32250379_32236947_1_1_
1_1_1,00.html (Financiamento do Terrorismo)
• http:///www1.oecd.org/fatf/pdf/PB9906_en.pdf (Breves políticas sobre
o branqueamento de capitais)
• http://www.fatf-gafi.org/findDocument/0,2350,en_32250379_
32235720_1_32247552_1_1_1,00.html (Métodos e Tendências de
Branqueamento de Capitais)
• http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/21/34033955.pdf (Notas de
Orientações para as instituições financeiras sobre a Detecção do
Financiamento do Terrorismo)
• http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/19/34033761.pdf (Combate
ao Abuso das Organizações sem Fins Lucrativos: Melhores Práticas
Internacionais (11 de Outubro de 2002))
• http://www1.oecd.org/fatf/Initiatives_en.htm (Outras iniciativas
internacionais Anti-Branqueamento de Capitais e de combate ao
Financiamento do Terrorismo)
• http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/45/30/33693959.pdf (Declarações e
documentos do GAFI sobre PTNCs, Comunicado de Imprensa, 20 de
Dezembro de 20022, o GAFI decide aplicar contra-medidas à Ucrânia;
nenhuma contra-medida será aplicada à Nigéria neste momento)
• http://www.fatf-gafi.org/document/56/0,2340,en_32250379_
32236947_34256440_1_1_1_1,00.html (Nota Interpretativa à
Recomendação Especial VII: Transferências Electrónicas) (11 de
Outubro 2002)
• http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/32/46/34046950.pdf (Orientações
das Melhores Práticas do GAFI para o Fornecimento do retorno de
informação (feedback) para as Instituições Financeiras e outras Pessoas
que Comunicam Operações Suspeitas (25 de Junho de 1998))

Anexo I-181
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/12/44/33622501.PDF (Relatório
Anual 2003-2004)
• http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/39/20/34033909.pdf (Questionário
de Auto-Avaliação)
• http://www.fatf-gafi.org/pages/0,2966,en_32250379_32236992_1_1_
1_1_1,00.html (Países e Territórios Não Cooperantes)

Organismos regionais do tipo GAFI

Grupo Ásia-Pacífico sobre o Branqueamento de Capitais

• http://www.apgml.org (Sítio Principal)


• http://www.apgml.org/content/member_jurisdiction.jsp (Jurisdições
Membros)
• http://www.apgml.org/content/observer_jurisdiction.jsp (Jurisdições
Observadoras)
• http://www.apgml.org/content/organisations.jsp (Organizações
Observadoras)

Grupo de Acção Financeira das Caraíbas

• http://www.cfatf.org (Sítio Principal)


• http://www1.oecd.org/fatf/Ctry-orgpages/org-cfatf_en.htm (Nações e
Observadores Cooperantes e Apoiantes)
• http://www.cfatf.org/about/about.asp?PageNumber=1 (Adesão)
• http://www.cfatf.org/eng/recommendations/cfatf/ (Grupo de Acção
Financeira das Caraíbas — 19 Recomendações do GAFIC, 1990)
• http://www.cfatf.org/eng/kingdec/index.pdf (Declaração de Kingston
sobre o Branqueamento de Capitais — 5-6 de Novembro de 1992)

MONEYVAL (Comité Restrito dos Peritos de Avaliação das Medidas Anti-


Branqueamento de Capitais do Conselho da Europa (Comité PC-R-EV), agora deno-
minado MONEYVAL)

• http://www.coe.int/T/E/Legal_affairs/Legal_cooperation/Combating_
economic crime/Money_laundering/ (Sítio Principal)
• http://www1.oecd.org/fatf/Ctry-orgpages/org-pcrev_en.htm (Membros
e Observadores)

Anexo I-182
Anexo I: Sítios de organizações relevantes, instrumentos jurídicos e iniciativas.

Grupo Anti-Branqueamento de Capitais da África Oriental e Austral (GABCAOA)

• http://www.esaamlg.org (Sítio Principal)


• http://www1.oecd.org/fatf/Ctry-orgpages/org-esaamlg_en.htm
(Membros e Observadores)

Grupo de Acção Financeira da América do Sul sobre o Branqueamento de Capitais


(GAFISUD)

• http://www.gafisud.org (Sítio Principal)


• http://www.gafisud.org (Ver Membros e Observadores)

Associação Internacional dos Supervisores de Seguros

• http://www.iaisweb.org/ (Página Principal)


• http://www.iaisweb.org/framesets/pas.html (Síntese dos princípios, nor-
mas e documentos de orientação da AISS)
• http://www.iaisweb.org/132_176_ENU_HTML.asp (Países membros e
jurisdições)

Fundo Monetário Internacional

• http://www.imf.org/ (Página Principal)


• http://www.imf.org/external/np/mae/aml/2002/eng/092502.htm
(Intensificação do Trabalho Anti-Branqueamento de Capitais e de
Combate ao Financiamento do Terrorismo (ABC/CFT)) (Setembro de
2002)
• http://www.imf.org/external/np/mae/am/2002/eng/092523.htm
(Metodologia Abrangente ABC/CFT)

Organização Internacional das Comissões de Valores

• http://www.iosco.org/iosco.html (Página Principal)


• http://www.iosco.org/pubdocs/pdf/IOSCOPD125.pdf (OICV
Objectivos e Princípios de Regulamentação dos Valores Mobiliários)
(2002)
• http://www.iosco.org/docs-public/1997-authorisation_of_collective.
html (Autorização de Esquemas de Investimento Colectivo (EIC) e
Serviços Conexos. Um Relatório do Comité Técnico) (1997)

Anexo I-183
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• http://www.iosco.org/library/index.cfm?whereami=resolutions (Um
Directório de Resoluções Aprovadas pela Organização Internacional
das Comissões de Valores)
• http://www.iosco.org/docs (Princípios de Supervisão dos Operadores
de Esquemas de Investimento Colectivo (Setembro de 1997))

Organização dos Estados Americanos – CICAD

• http://www.oas.org/main/english/ (Página Principal)


• http://www.cicad.oas.org/en/?CICAD%20-%New.htm (Cimeira
das Américas, Conferência Ministerial sobre o Branqueamento dos
Produtos e Instrumentos do Crime – Buenos Aires, Argentina, 2 de
Dezembro de 1995. Ver Branqueamento de Capitais, ver Documentos,
ver Plano de Acção de Buenos Aires.)
• http://www.cicad.oas.org/Desarrollo_Juridico/eng/legal-regulations-
money.htm (Regulamento Modelo sobre Infracções de Branqueamento
Ligadas ao Tráfico Ilícito de Drogas e outras Infracções Graves (1998)

Organização das Nações Unidas

• http://www.un.org
• http://www.undcp.org/ (Gabinete de Controlo das Drogas e do Crime)
• http://www.un.org/Overview/unmember.html (Lista dos Estados
Membros)
• http://www.unodc.org/pdf/lap_money-laundering-proceeds_2000.
pdf (Lei Modelo do Programa das Nações Unidas para o Controlo
Internacional das Drogas (UNDCP) sobre o Branqueamento de
Capitais e os Produtos do Crime de 2000)
• http://www.incb.org/e/conv/1988/ (Convenção das Nações Unidas con-
tra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas
(1988) (Convenção de Viena))
• http://www.undcp.org/adhoc/palermo/convmain.html (Convenção das
Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional
(2000) (A Convenção de Palermo))
• http://www.unodc.org/unodc/crime_cicp_signatures_convention.
html (Signatários – Convenção contra a Criminalidade Organizada
Transnacional)

Anexo I-184
Anexo I: Sítios de organizações relevantes, instrumentos jurídicos e iniciativas.

• http://www.un.org/law/cod/finterr.htm (Convenção Internacional das


Nações Unidas para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo
(1999))
• http://www.untreaty.un.org/ENGLISH/Status/Chapter_xviii/treaty11.
asp (Situação – Convenção para a Eliminação do Financiamento do
Terrorismo)
• http://www.un.org/aboutun/charter/index.html (Carta da ONU)
• http://untreaty.un.org/English/Terrorism.asp (Colecção de Tratados da
Organização das Nações Unidas, Convenções sobre o Terrorismo)
• http://www.imolin.org/ml99eng.htm (Lei Modelo das Nações Unidas
sobre o Branqueamento, Perda e Cooperação Internacional Relativa
aos Produtos do Crime (1999))
• http://www.un.org/terrorism/ (Acção da ONU contra o Terrorismo)
• http://www.un.org/sc/ctc (Comité Contra o Terrorismo)
• http://www.unodc.org/unodc/treaty_adherence.html (Lista dos países
membros)
• http://www.imolin.org/imolin/en/poctf03.html (Lei Modelo das Nações
Unidas sobre os Produtos do Crime e Financiamento do Terrorismo
(2003))
• http://www.imolini.org/en/tfbi1103.html (Lei Modelo das Nações
Unidas sobre Financiamento do Terrorismo (2003))

Organização das Nações Unidas – Rede Internacional de Informações sobre o


Branqueamento de Capitais

• http://www.imolin.org/ (Página Principal)


• http://www.imolin.org/imolin/gpml.html (Programa Global das Nações
Unidas contra o Branqueamento de Capitais)
• http://www.imolin.org/conventi.htm (Normas, Convenções e
Instrumentos Jurídicos)
• http://www.imolin.org/model.htm (Leis/Regulamentos Modelo)
• http://www.imolin.org/map.htm (Leis nacionais relativas ao branquea-
mento de capitais (mapa))
• http://www.imolin.org/reference.htm (Referência)
• http://www.imolin.org/current.htm (Eventos actuais no cenário anti-
branqueamento de capitais)
• http://www.imolin.org/calendar.htm (Calendário de Eventos
2002/2003)

Organização das Nações Unidas – Resoluções do Conselho de Segurança

• http://www.un.org/documents/scres.htm

Anexo I-185
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Grupo Wolfsberg de Bancos

• http://www.wolfsberg-principles.com/index.html (O Grupo Wolfsberg


de Bancos)
• http://www.wolfsberg-principles.com/privat-banking.html (Orientações
Globais Anti-Branqueamento de Capitais para o Private Banking)
• http://www.wolfsberg-principles.com/wolfsberg_statement.html (A
Eliminação do Financiamento do Terrorismo)
• http://www.wolfsberg-principles.com/corresp-banking.html (Os
Princípios de Wolfsberg Anti-Branqueamento de Capitais para Bancos
Correspondentes)

O Grupo do Banco Mundial

• http://www.worldbank.org/
• http://www.amlcft.org (Sítio da Unidade de integridade dos mercados
financeiros)

Anexo I-186
Anexo II

Outros Sítios e fontes de informação úteis

Sítios

Banco Central Europeu


• http://www.ecb.int/

Rede de Combate aos Crimes Financeiros (FinCEN)


• http://www.fincen.gov/af_main.html

Fórum de Estabilidade Financeira


• http://www.fsforum.org/

Interpol
• http://www.interpol.com/Public/Terrorism/default.asp
(O envolvimento da Interpol no combate ao terrorismo internacional)

Sítio do cumprimento das normas Anti-Branqueamento de Capitais


• http://www.countermoneylaundering.com/

Anexo II-187
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico


• http://www.oecd.org/ (Página Inicial)

Departamento do Tesouro dos EUA, Controlador da Moeda, Administrador dos


Bancos Nacionais
• http://www.occ.treas.gov/launder/origc.htm (Branqueamento de capi-
tais: um guia para os bancos evitarem problemas)

Departamento de Estado dos EUA — Resumos sobre os Países


• http://www.state.gov/documents/organization/8703.pdf
(Branqueamento de Capitais e Crimes financeiros)

A Organização Mundial das Alfândegas


• http://www.wcoomd.org/ie/index.html (Página Principal)

Outros recursos

• Guy Stessens. 2000. Money Laundering: A New International Law


Enforcement Model [Branqueamento de Capitais: um Novo Modelo
Internacional de Acção Policial]. Cambridge, Inglaterra e Nova Iorque,
Nova Iorque, Estados Unidos: Cambridge University Press.
• Herbert Morais. 2002. “The War Against Money Laundering,
Terrorism and the Financing of Terrorism [A Guerra contra o
Branqueamento de Capitais, oTerrorismo e o Financiamento do
Terrorismo]”, LAWASIA Journal. Esta publicação é feita pela
Associação de Direito da Ásia-Pacífico, Darwin, Austrália, mas
actualmente não está disponível on-line (http://www.lawsocnsw.asn.
au/publications.htm). Contacte o secretariado da LAWASIA. Uma ver-
são bem mais abreviada deste artigo, intitulada “Behind the Lines in
the War on Terrorist Funding” [Atrás das linhas inimigas na Guerra
contra o Financiamento do Terrorismo], foi publicada no International
Financial Law Review, Dezembro de 2001.

Anexo II-188
Anexo III

Convenções Contra o Terrorismo da


Organização das Nações Unidas
referidas na Convenção Internacional
para a Eliminação do Financiamento
do Terrorismo

1. Convenção para a Repressão da Captura Ilícita de Aeronaves, assinada


em Haia em 16 de Dezembro de 1970.
2. Convenção para a Repressão de Actos Ilícitos contra a Segurança da
Aviação Civil, assinada em Montreal em 23 de Setembro de 1971.
3. Convenção sobre a Prevenção e Repressão de Infracções contra
Pessoas Gozando de Protecção Internacional, incluindo Agentes
Diplomáticos, adoptada pela Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas em 14 de Dezembro de 1973.
4. Convenção Internacional contra a Tomada de Reféns, adoptada
pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 17 de
Dezembro de 1979.
5. Convenção sobre a Protecção Física dos Materiais Nucleares, adopta-
da em Viena em 3 de Março de 1980.
6. Protocolo para a Repressão de Actos Ilícitos de Violência nos
Aeroportos ao Serviço da Aviação Civil Internacional, complementar
à Convenção para a Repressão de Actos Ilícitos contra a Segurança da
Aviação Civil, assinada em Montreal em 24 de Fevereiro de 1988.

Anexo III-189
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

7. Convenção para a Supressão de Actos Ilícitos contra a Segurança da


Navegação Marítima, assinada em Roma em 10 de Março de 1988.
8. Protocolo para a Supressão de Actos Ilícitos contra a Segurança das
Plataformas Fixas localizadas na Plataforma Continental, assinada em
Roma em 10 de Março de 1988.
9. Convenção Internacional para a Repressão de Atentados Terroristas a
Bomba, adoptada pela Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas em 15 de Dezembro de 1997.

Anexo III-190
Anexo IV

As Quarenta Recomendações
sobre o Branqueamento de Capitais
do Grupo de Acção Financeira e as
Notas Interpretativas

A. Sistemas jurídicos

Âmbito de aplicação do crime de branqueamento de capitais

1. Os países deveriam criminalizar o branqueamento de capitais de acordo


com o disposto na Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito
de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas (Convenção de Viena),
de 1988, e na Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade
Organizada Transnacional (Convenção de Palermo), de 2000.
Os países deveriam aplicar o crime de branqueamento de capitais a todos
os crimes graves, de forma a abranger o conjunto mais alargado de infracções
principais. As infracções principais podem ser definidas por referência a todos
os crimes ou por referência a um limiar, ligado ou a uma categoria de infrac-
ções graves, ou a uma moldura penal aplicável à infracção principal (critério
do limiar), ou a uma lista de infracções principais, ou ainda a uma combina-
ção destes critérios.

Anexo IV-191
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Quando os países optarem pelo critério do limiar, as infracções principais


deveriam incluir, pelo menos, todas as infracções qualificadas como graves
pela legislação nacional, ou incluir as infracções puníveis com pena de dura-
ção máxima superior a um ano de prisão. Nos países cujos ordenamentos
jurídico-penais contemplem penas mínimas, as infracções principais deveriam
incluir todas as infracções puníveis com pena de duração mínima superior a
seis meses de prisão.
Qualquer que seja o critério adoptado, cada país deveria incluir, no míni-
mo, um conjunto de infracções que se integrem nas categorias de infracções
designadas.1
As infracções principais subjacentes ao branqueamento de capitais deve-
riam abranger actos cometidos noutro país, que constituam uma infracção
nesse outro país e que teriam constituído uma infracção principal se tivessem
ocorrido em território nacional. Os países podem estabelecer que o único
requisito prévio é o de que o acto constitua uma infracção principal, se o acto
tivesse ocorrido em território nacional.
Os países podem determinar que o crime de branqueamento de capitais
não seja aplicável a quem cometeu a infracção principal, quando tal seja exi-
gível pelos princípios fundamentais da sua ordem jurídica.

2. Os países deveriam assegurar que:

a) A intenção e o conhecimento requeridos para provar o crime de bran-


queamento de capitais estão em conformidade com as normas estabe-
lecidas nas Convenções de Viena e de Palermo, incluindo a possibili-
dade de o elemento intencional ser deduzido a partir de circunstâncias
factuais objectivas;
b) A responsabilidade criminal e, quando ela não seja possível, a res-
ponsabilidade civil ou administrativa, deveriam aplicar-se às pessoas
colectivas. Tal não deve excluir os procedimentos paralelos de natureza
criminal, civil ou administrativa aplicáveis a pessoas colectivas, em
países onde tais formas de responsabilidade se encontrem previstas. As
pessoas colectivas deveriam estar sujeitas a sanções eficazes, proporcio-
nadas e dissuasivas. Estas medidas não deveriam prejudicar a respon-
sabilidade penal das pessoas singulares.

1. Ver no Glossário a definição de “categorias de infracções designadas”.

Anexo IV-192
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

Medidas provisórias e perda

3. Os países deveriam adoptar medidas similares às previstas nas


Convenções de Viena e de Palermo, inclusive medidas legislativas, a fim de
que as autoridades competentes estejam em condições de declarar perdidos os
bens branqueados, os produtos derivados do branqueamento de capitais ou
das infracções principais, bem como os instrumentos utilizados ou destinados
a serem utilizados na prática destes crimes, ou bens de valor equivalente, sem
prejuízo dos direitos de terceiros de boa-fé.
Tais medidas deveriam permitir: (a) identificar, localizar e avaliar os bens
sujeitos a perda; (b) adoptar medidas provisórias, tais como o congelamento
e a apreensão, a fim de obstar a qualquer transacção, transferência ou cessão
dos referidos bens; (c) adoptar medidas para prevenir ou evitar actos que pre-
judiquem a capacidade do Estado para recuperar bens sujeitos a perda; e (d)
tomar todas e quaisquer medidas de investigação apropriadas.
Os países poderão considerar a adopção de medidas que permitam a
perda de tais produtos ou instrumentos, sem que seja exigida uma condena-
ção criminal prévia, ou medidas que exijam que o presumível autor do crime
demonstre a origem legítima dos bens eventualmente sujeitos a perda, sempre
que estejam em conformidade com os princípios vigentes no seu direito inter-
no.

B. Medidas a adoptar pelas instituições financeiras e pelas actividades e profis-


sões não financeiras para evitar o branqueamento de capitais e o financiamento
do terrorismo

4. Os países deveriam assegurar que as normas sobre segredo profissional


das instituições financeiras não obstem à implementação das Recomendações
do GAFI.

Dever de vigilância relativo à clientela (customer due diligence - CDD) e conserva-


ção de documentos

5.* As instituições financeiras não deveriam manter contas anónimas nem


contas sob nomes manifestamente fictícios.
As instituições financeiras deveriam adoptar medidas de vigilância em
relação aos clientes, exigindo, nomeadamente, a respectiva identificação e
verificação da identidade, sempre que:

* Recomendações indicadas com um asterisco devem ser lidas com a sua respectiva Nota
Interpretativa.

Anexo IV-193
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• estabeleçam relações de negócio;


• efectuem transacções ocasionais: (i) acima do limiar designado aplicá-
vel; ou (ii) que constituam transferências electrónicas, nas circunstân-
cias previstas na Nota Interpretativa da Recomendação Especial VII;
• exista uma suspeita de branqueamento de capitais ou de financiamento
do terrorismo; ou
• a instituição financeira tenha dúvidas quanto à veracidade ou adequa-
ção dos dados de identificação do cliente previamente obtidos.

As medidas de vigilância a adoptar relativas à clientela (medidas CDD) são


as seguintes:

a) Identificar o cliente e verificar a sua identidade através de documentos,


dados e informações de origem credível e independente;2
b) Identificar o beneficiário efectivo e tomar medidas adequadas para
verificar a sua identidade, de tal forma que a instituição financeira
obtenha um conhecimento satisfatório sobre a identidade do beneficiá-
rio efectivo. No que respeita às pessoas colectivas e entidades sem per-
sonalidade jurídica, as instituições financeiras deveriam tomar medidas
adequadas para compreender a estrutura de propriedade e de controlo
do cliente;
c) Obter informações sobre o objecto e a natureza da relação de negócio;
d) Manter uma vigilância contínua sobre a relação de negócio e exami-
nar atentamente as operações realizadas no decurso dessa relação,
verificando se são consistentes com o conhecimento que a instituição
tem do cliente, dos seus negócios e do seu perfil de risco, incluindo, se
necessário, a origem dos fundos.

As instituições financeiras deveriam aplicar todas as medidas CDD atrás


identificadas de (a) a (d), mas podem determinar o alcance dessas medidas,
em função do nível de risco associado ao tipo de clientela, à relação de negó-
cio ou à operação. As medidas a adoptar deverão respeitar as normas emiti-
das pelas autoridades competentes. Para categorias de risco mais elevadas, as
instituições financeiras deveriam aplicar medidas de vigilância reforçadas. Em
circunstâncias determinadas, quando os riscos são menores, os países podem

2 Documentos, dados e informações de origem credível e independente serão, doravante, designa-


dos por “dados de identificação”.

Anexo IV-194
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

autorizar as instituições financeiras a aplicar medidas reduzidas ou simplifi-


cadas.
As instituições financeiras deveriam verificar a identidade do cliente e
do beneficiário efectivo, antes ou durante o estabelecimento de uma relação
comercial ou quando realizam operações com clientes ocasionais. Os países
podem permitir às instituições financeiras que completem a verificação da
identidade, no mais breve espaço de tempo possível, após o estabelecimento
da relação de negócio, quando os riscos de branqueamento de capitais sejam
geridos de modo eficaz e for essencial não interromper o desenrolar normal
da relação negocial.
Quando a instituição financeira não possa dar cumprimento ao disposto
nas alíneas (a) a (c) atrás mencionadas, não deveria abrir a conta, iniciar a
relação de negócio ou efectuar a operação, ou deveria pôr termo à relação de
negócio e deveria, além disso, considerar fazer uma comunicação da operação
suspeita do cliente.
Estas obrigações deveriam aplicar-se a todos os novos clientes, apesar de
as instituições financeiras deverem também aplicar esta Recomendação aos
clientes já existentes, segundo a relevância da operação e do risco, aplicando
também as regras de vigilância às relações negociais existentes, sempre que o
considerem oportuno.

6.* As instituições financeiras deveriam, em relação a pessoas politicamente


expostas, além de aplicar as medidas de vigilância normais:

a) Dispor de sistemas de gestão de riscos adequados a determinar se o


cliente é uma pessoa politicamente exposta;
b) Obter autorização da Direcção para estabelecer relações comerciais
com tais clientes;
c) Tomar medidas razoáveis para determinar a origem do património e
dos fundos;
d) Assegurar a monitorização, de forma reforçada e contínua, da relação
de negócio.

7. As instituições financeiras, no que respeita a relações transfronteiras


entre bancos correspondentes e a outras relações semelhantes, além de aplicar
as medidas de vigilância normais, deveriam:

a) Recolher informação suficiente sobre a instituição a quem é prestado o


serviço (a instituição cliente) para compreender plenamente a natureza
da sua actividade e conhecer, a partir de informações publicamente

Anexo IV-195
Reference Guide toAnti-Branqueamento
Guia de Referência Anti-Money Laundering and Combating
de Capitais the Financing
e de Combate of Terrorism
ao Financiamento do Terrorismo

disponíveis, a reputação da instituição e a qualidade da sua supervi-


são, nomeadamente verificar se a instituição em causa foi objecto de
uma investigação ou de uma intervenção da autoridade de supervisão,
relacionada com o branqueamento de capitais ou o financiamento do
terrorismo;
b) Avaliar os controlos postos em prática pela instituição cliente destina-
dos ao combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do
terrorismo.
c) Obter aprovação da Direcção antes de estabelecer novas relações de
correspondência;
d) Reduzir a escrito as responsabilidades respectivas de cada instituição;
e) Quanto às contas correspondentes de transferência (payable-through
accounts), assegurar-se de que o banco cliente verificou a identidade e
aplicou as medidas de vigilância contínua relativamente à clientela que
tem acesso directo às contas do banco correspondente, e assegurar que
aquele banco se encontra habilitado a fornecer os dados apropriados
sobre a identificação dos seus clientes, quando tal lhe for solicitado
pelo banco correspondente.

8. As instituições financeiras deveriam conceder uma particular atenção


às ameaças de branqueamento de capitais inerentes às tecnologias novas ou
em desenvolvimento que possam favorecer o anonimato e adoptar medidas,
se necessário, para evitar a utilização destas tecnologias nos esquemas de
branqueamento de capitais. Em especial, as instituições financeiras deveriam
adoptar políticas e procedimentos para enfrentar riscos específicos associados
a relações de negócio ou operações efectuadas sem a presença física do clien-
te.
9.* Os países podem autorizar as instituições financeiras a recorrer a inter-
mediários ou a outros terceiros para dar cumprimento aos requisitos das
alíneas (a) a (c) das medidas CDD ou para captar negócios, desde que sejam
respeitados os critérios a seguir indicados. Quando este recurso for permiti-
do, a responsabilidade última pela identificação do cliente e pela verificação
dos dados recai sobre a instituição financeira que recorreu a terceiros.
Deveriam ser respeitados os seguintes critérios:

a) Uma instituição financeira que recorra a um terceiro deveria obter, de


imediato, a necessária informação respeitante aos requisitos das alíneas
(a) a (c) das medidas CDD. As instituições financeiras deveriam tomar
as medidas necessárias para se assegurarem de que o terceiro está em
condições de disponibilizar, após solicitação e sem demora, cópias dos

Anexo IV-196
Annex IV: FATF Forty
Anexo Recommendations
IV: As Quarenta on Money
Recomendações sobre o Laundering and de
Branqueamento Interpretive
Capitais doNotes
GAFI

dados de identificação e outra documentação relevante para cumpri-


mento do dever de vigilância aplicável à clientela;
b) A instituição financeira deveria assegurar-se de que o terceiro está
sujeito a Regulação e a supervisão e que adoptou medidas para cum-
prir as obrigações de vigilância aplicáveis à clientela, nos termos das
Recomendações 5 e 10.

Cabe a cada país determinar em que países podem estar localizados os


terceiros que cumprem estes requisitos, tendo em conta as informações dispo-
níveis sobre os países que não aplicam, ou que aplicam insuficientemente, as
Recomendações do GAFI.

10.* As instituições financeiras deveriam conservar, durante pelo menos cinco


anos, todos os documentos relativos às transacções efectuadas, tanto internas
como internacionais, a fim de poderem responder rapidamente aos pedidos
de informações das autoridades competentes. Estes documentos deveriam
permitir reconstituir as transacções individuais (inclusive os montantes e
tipos de divisas em causa, se for caso disso), de modo a fornecerem, se neces-
sário, prova em processos de natureza criminal.
As instituições financeiras deveriam conservar registos dos documentos
comprovativos da identificação obtidos através das medidas de vigilância
aplicáveis à clientela (por exemplo, cópia ou registo de documentos oficiais
como passaporte, bilhete de identidade, carta de condução ou documentos de
idêntica natureza), documentação relativa às contas e correspondência comer-
cial durante, pelo menos cinco anos, após o termo da relação de negócio.
Os dados de identificação e os registos das operações deveriam ser pos-
tos à disposição das autoridades nacionais competentes para a prossecução
da sua missão.

11.* As instituições financeiras deveriam examinar com particular atenção


todas as operações complexas, de montantes anormalmente elevados e todos
os tipos não habituais de operações que não apresentem uma causa eco-
nómica ou lícita aparente. As circunstâncias e o objecto de tais operações
deveriam ser examinados, na medida do possível, e os resultados desse exame
deveriam ser reduzidos a escrito, ficando ao dispor das autoridades compe-
tentes e dos auditores.

12.* O dever de vigilância relativo à clientela e o de conservação de docu-


mentos previstos nas Recomendações 5, 6 e 8 a 11 aplicam-se às actividades
e profissões não financeiras designadas, nas seguintes situações:

Anexo IV-197
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

a) Casinos — sempre que os clientes efectuem operações financeiras de


montante igual ou superior ao limiar designado aplicável;
b) Agentes imobiliários — sempre que realizem operações para os seus
clientes relativas à compra e venda de imóveis;
c) Negociantes de metais preciosos ou pedras preciosas — sempre que
realizem operações em numerário com um cliente, de montante igual
ou superior ao limiar designado aplicável;
d) Advogados, notários, outras profissões jurídicas independentes e con-
tabilistas, sempre que preparem ou efectuem operações para os clien-
tes, no âmbito das seguintes actividades:

- Compra e venda de imóveis;


- Gestão de fundos, valores mobiliários ou outros activos do cliente;
- Gestão de contas bancárias, de poupança ou de valores mobiliários;
- Organização de contribuições destinadas à criação, exploração ou
gestão de sociedades;
- Criação, exploração ou gestão de pessoas colectivas ou de entidades
sem personalidade jurídica e compra e venda de entidades comer-
ciais;

e) Prestadores de serviços a sociedades e trusts, sempre que preparem ou


efectuem operações para um cliente, no quadro das actividades descri-
tas nas definições constantes do Glossário.

Comunicação de operações suspeitas e cumprimento das normas

13.* Se uma instituição financeira suspeitar ou tiver motivos razoáveis para


suspeitar que os fundos provêm de uma actividade de natureza criminal ou
que estão relacionados com o financiamento do terrorismo, deveria ser obri-
gada, através de lei ou de regulamento, a apresentar de imediato uma comu-
nicação de operação suspeita à Unidade de Informação Financeira (UIF).

14.* As instituições financeiras, os seus dirigentes, funcionários e empregados


deveriam:

a. Ser protegidos, por disposições legislativas, contra qualquer responsa-


bilidade criminal ou civil por quebra das regras de confidencialidade,
impostas por contrato ou por qualquer disposição legislativa, regula-
mentar ou administrativa, quando comunicarem, de boa-fé, as suas

Anexo IV-198
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

suspeitas à UIF, ainda que desconhecessem exactamente qual era a


actividade criminal em questão e mesmo que a actividade ilegal não
tenha realmente ocorrido;
b. Ser proibidos, por lei, de divulgar que foi feita uma comunicação de
operação suspeita (COS) ou que foi transmitida à UIF uma informação
conexa.

15.* As instituições financeiras deveriam elaborar programas de combate ao


branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo que compreen-
dessem, no mínimo:

a. Políticas, procedimentos e controlos internos, inclusive dispositivos


apropriados para verificar o seu cumprimento, e procedimentos ade-
quados na contratação dos seus empregados, a fim de garantir que
esta se efectua de acordo com critérios exigentes;
b. Um programa contínuo de formação dos empregados;
c. Um dispositivo de controlo interno para verificar a eficácia do sistema.

16.* As obrigações decorrentes das Recomendações 13 a 15 e 21 aplicam-se


às actividades e profissões não financeiras designadas, com as seguintes espe-
cificações:

a. Os advogados, notários, outras profissões jurídicas independentes e


contabilistas deveriam obrigatoriamente comunicar operações suspei-
tas sempre que, agindo por conta de um cliente ou para um cliente,
efectuem uma operação financeira no quadro das actividades descri-
tas na Recomendação 12 (d). Os países são fortemente encorajados
a estender a obrigação de comunicação a todas as outras actividades
profissionais dos contabilistas, incluindo a auditoria;
b. Os negociantes de metais preciosos ou pedras preciosas deveriam obri-
gatoriamente comunicar operações suspeitas quando realizem opera-
ções em numerário com um cliente, de montante igual ou superior ao
limiar designado aplicável;
c. Os prestadores de serviços a sociedades e a trusts deveriam obriga-
toriamente comunicar operações suspeitas quando, em nome de um
cliente ou para um cliente, efectuem uma operação no âmbito das acti-
vidades referidas na Recomendação 12 (e).

Os advogados, notários, outras profissões jurídicas independentes e


contabilistas, que trabalhem como profissionais jurídicos independentes, não

Anexo IV-199
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

estão obrigados a comunicar as operações suspeitas se as informações que


possuem tiverem sido obtidas em situações sujeitas a segredo profissional ou
cobertas por um privilégio profissional de natureza legal.

Outras medidas preventivas do branqueamento de capitais e do financiamento do


terrorismo

17. Os países deveriam assegurar-se de que dispõem de sanções eficazes,


proporcionadas e dissuasivas, de natureza criminal, civil ou administrativa,
aplicáveis às pessoas singulares ou colectivas sujeitas a estas Recomendações
que não cumpram as obrigações de combate ao branqueamento de capitais e
ao financiamento do terrorismo.

18. Os países não deveriam autorizar o estabelecimento de bancos de


fachada ou tolerar a continuação da sua actividade no seu território. As
instituições financeiras deveriam recusar iniciar ou manter relações de corres-
pondência com bancos de fachada. As instituições financeiras deveriam ainda
abster-se de estabelecer relações com instituições financeiras correspondentes
estrangeiras que permitam que as suas contas sejam usadas por bancos de
fachada.

19.* Os países deveriam considerar:

A eficácia e a utilidade de um sistema, segundo o qual os bancos e


outras instituições financeiras e intermediários comunicassem todas as
transacções internas e internacionais em moeda ou em divisas, acima
de um certo montante, a uma agência central nacional, que dispusesse
de uma base de dados informatizada, sujeita a condições de utilização
restritas que assegurem o uso correcto da informação, sendo essa
informação acessível às autoridades competentes para ser usada em
casos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terroris-
mo.

20. Os países deveriam considerar a aplicação das Recomendações do GAFI


às actividades e profissões que apresentem riscos de branqueamento de capi-
tais ou de financiamento do terrorismo, para além das actividades e profis-
sões não financeiras designadas.

Anexo IV-200
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

Os países deveriam, além disso, encorajar o desenvolvimento de técni-


cas modernas e seguras de gestão de fundos que sejam menos vulneráveis ao
branqueamento de capitais.

Medidas a adoptar relativamente a países que não cumprem as Recomendações


do GAFI ou que o fazem de modo insuficiente

21. As instituições financeiras deveriam conceder particular atenção às suas


relações de negócio e às operações com pessoas singulares e colectivas, inclu-
sive as sociedades e instituições financeiras, situadas em países que não apli-
cam as Recomendações do GAFI ou o fazem de modo insuficiente. Quando
as referidas operações não apresentem causa económica ou lícita aparente, as
suas circunstâncias e objecto deveriam, na medida do possível, ser examina-
dos, os resultados desse exame deveriam ser reduzidos a escrito e estar dispo-
níveis para ajudar as autoridades competentes. Sempre que um país continue
a não aplicar as Recomendações do GAFI, ou a fazê-lo de modo insuficiente,
os países deveriam poder aplicar as contra-medidas adequadas.

22. As instituições financeiras deveriam assegurar que os princípios que lhe


são aplicáveis são igualmente aplicados pelas suas sucursais e filiais maiori-
tárias situadas no estrangeiro, especialmente em países que não apliquem ou
apliquem de modo insuficiente as Recomendações do GAFI, na medida em
que as leis e regulamentos locais o permitam. Quando estas mesmas leis e
regulamentos não o permitam, as autoridades competentes do país em que se
situa o estabelecimento principal deveriam ser informadas pelas instituições
financeiras de que estas últimas não podem aplicar as Recomendações do
GAFI.

Regulação e supervisão

23.* Os países deveriam assegurar que as instituições financeiras são sujei-


tas a regulação e a supervisão adequadas e que aplicam, efectivamente, as
Recomendações do GAFI. As autoridades competentes deveriam adoptar as
medidas legislativas ou regulamentares necessárias para evitar que os cri-
minosos ou os seus cúmplices adquiram ou sejam beneficiários efectivos de
participações de controlo ou de participações significativas em instituições
financeiras ou de nelas ocuparem funções de direcção.
Para as instituições financeiras sujeitas aos Princípios Fundamentais
(Core Principles), as medidas de regulação e de supervisão aplicáveis para fins
prudenciais e que são também adequadas para prevenir o branqueamento de

Anexo IV-201
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

capitais deveriam aplicar-se, de forma idêntica, para os fins de combate ao


branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo.
As outras instituições financeiras deveriam ser objecto de licença ou
registo, estar sujeitas a regulação apropriada, bem como a supervisão ou
vigilância para fins de combate ao branqueamento de capitais, em função
do risco de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo
existente no respectivo sector. No mínimo, as entidades que prestem serviços
de transferência de fundos ou de valores, ou que se dediquem ao câmbio de
moeda ou de divisas, deveriam ser objecto de licenciamento ou registo e estar
sujeitas a sistemas eficazes de monitorização e de controlo do cumprimento
das obrigações nacionais em matéria de combate ao branqueamento de capi-
tais e ao financiamento do terrorismo.

24. As actividades e profissões não financeiras designadas deveriam ser sujei-


tas a medidas de regulação e de supervisão, nos seguintes termos:

a. Os casinos deveriam ser sujeitos a um regime completo de regulação


e de fiscalização, destinado a assegurar que aplicam efectivamente as
medidas de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento
do terrorismo. Pelo menos:

- Os casinos deveriam ser objecto de licenciamento;


- As autoridades competentes deveriam adoptar as medidas necessá-
rias, legislativas ou regulamentares, para evitar que os criminosos
ou os seus cúmplices sejam titulares ou beneficiários efectivos de
participações de controlo ou de participações significativas em casi-
nos ou de neles ocuparem funções de direcção ou de exploração;
- As autoridades competentes deveriam assegurar que os casinos
sejam objecto de uma fiscalização efectiva do cumprimento das suas
obrigações de combate ao branqueamento de capitais e ao financia-
mento do terrorismo;

b. Os países deveriam assegurar que as outras categorias de actividades


e profissões não financeiras designadas estejam sujeitas a sistemas efi-
cazes de monitorização e de controlo das suas obrigações em matéria
de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do ter-
rorismo. Este acompanhamento deveria efectuar-se em função da sen-
sibilidade ao risco e poderia ser efectuado por uma autoridade gover-
namental ou por uma entidade de auto-regulação apropriada, desde
que tal entidade esteja em condições de assegurar que os seus membros

Anexo IV-202
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

cumprem as obrigações em matéria de combate ao branqueamento de


capitais e ao financiamento do terrorismo.

25.* As autoridades competentes deveriam estabelecer directrizes e promo-


ver o retorno da informação (feedback), de modo a permitir às instituições
financeiras e às actividades e profissões não financeiras designadas aplicar
as medidas nacionais de combate ao branqueamento de capitais e ao finan-
ciamento do terrorismo e, em particular, a detectar e a comunicar operações
suspeitas.

C. Medidas institucionais e outras, necessárias aos sistemas de combate ao bran-


queamento de capitais e ao financiamento do terrorismo

Autoridades competentes, suas atribuições e recursos

26.* Os países deveriam criar uma Unidade de Informação Financeira (UIF)


que sirva como centro nacional para receber (e, se permitido, requerer),
analisar e transmitir comunicações de operações suspeitas (COS) e outras
informações relativas a actos susceptíveis de constituírem branqueamento de
capitais ou financiamento do terrorismo. A UIF deveria ter acesso, directo ou
indirecto e em tempo útil, às informações financeiras, administrativas e pro-
venientes das autoridades de aplicação da lei (law enforcement authorities),
para desempenhar cabalmente as suas funções, incluindo a análise das comu-
nicações de operações suspeitas.

27.* Os países deveriam assegurar que as investigações sobre o branqueamen-


to de capitais e o financiamento do terrorismo são confiadas a autoridades
de aplicação da lei específicas. Os países são encorajados a apoiar e a desen-
volver, tanto quanto possível, técnicas especiais de investigação adequadas à
investigação do branqueamento de capitais, tais como as entregas controla-
das, as operações encobertas e outras técnicas pertinentes. Os países são tam-
bém encorajados a usar outros mecanismos eficazes, tais como o recurso a
grupos permanentes ou temporários especializados em investigações sobre o
património e em investigações realizadas em colaboração com as correspon-
dentes autoridades competentes de outros países.

28. Ao conduzir investigações sobre o branqueamento de capitais e as


infracções subjacentes, as autoridades competentes deveriam estar em condi-
ções de poder obter documentos e informações para utilizar nessas investiga-

Anexo IV-203
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

ções, nos procedimentos de natureza criminal e em acções relacionadas. Esses


poderes deveriam incluir a possibilidade de impor às instituições financeiras
e a outras entidades medidas compulsórias para a apresentação de documen-
tos, para a busca e a revista de pessoas e locais e para a apreensão e obten-
ção de prova.

29. As autoridades de supervisão deveriam possuir os poderes necessários


para acompanhar e assegurar o cumprimento das obrigações em matéria de
combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo por
parte das instituições financeiras, incluindo a competência para realizar ins-
pecções. Estas autoridades deveriam ter competência para ordenar a apresen-
tação pelas instituições financeiras de quaisquer informações relevantes para
verificar o cumprimento das obrigações e aplicar sanções administrativas
adequadas, em caso de violação daquelas obrigações.

30. Os países deveriam dotar as suas autoridades competentes, envolvidas


no combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terroris-
mo, com os recursos financeiros, humanos e técnicos adequados. Os países
deveriam dispor de procedimentos que garantam que o pessoal afecto a estas
autoridades seja da maior integridade.

31. Os países deveriam assegurar que os decisores políticos, a UIF, as


autoridades de aplicação da lei e as autoridades de supervisão disponham
de mecanismos eficazes que lhes permitam cooperar e, quando necessário,
coordenarem-se, a nível nacional, para o desenvolvimento e a aplicação de
políticas e actividades destinadas a combater o branqueamento de capitais e
o financiamento do terrorismo.

32. Os países deveriam assegurar que as suas autoridades competentes pos-


sam avaliar a eficácia dos respectivos sistemas de combate ao branqueamento
de capitais e ao financiamento do terrorismo, mantendo dados estatísticos
completos sobre aspectos ligados à eficácia e ao bom funcionamento de tais
sistemas. Essas estatísticas deveriam incidir sobre as comunicações de ope-
rações suspeitas recebidas e transmitidas, sobre as investigações, as acções
judiciais e as condenações ligadas ao branqueamento de capitais e ao finan-
ciamento do terrorismo, sobre os bens congelados, apreendidos e declarados
perdidos, e sobre o auxílio judiciário mútuo ou outros pedidos internacionais
de cooperação.

Anexo IV-204
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

Transparência das pessoas colectivas e outras entidades sem personalidade


jurídica (legal arrangements)

33. Os países deveriam adoptar medidas para impedir a utilização ilícita das
pessoas colectivas por parte dos branqueadores de capitais. Os países deve-
riam assegurar que existe informação adequada, precisa e actualizada sobre
os beneficiários efectivos da propriedade e o controlo das pessoas colectivas,
susceptível de ser obtida ou consultada, em tempo útil, pelas autoridades
competentes. Em particular, os países onde as pessoas colectivas podem emi-
tir acções ao portador deveriam adoptar medidas apropriadas para assegurar
que essas acções não serão indevidamente usadas para branquear capitais e
estar aptos a demonstrar a adequação dessas medidas. Os países poderiam
considerar adoptar medidas que facilitem às instituições financeiras o acesso
à informação sobre o beneficiários efectivos da propriedade e do controlo
das entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements), por forma a
darem cumprimento às obrigações previstas na Recomendação 5.

34. Os países deveriam adoptar medidas para impedir a utilização ilícita


de entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements) por parte dos
branqueadores de capitais. Em particular, os países deveriam assegurar a
existência de informação adequada, precisa e actualizada sobre os “express
trusts”, incluindo informação sobre os fundadores, administradores e bene-
ficiários, susceptível de ser obtida ou consultada, em tempo útil, pelas auto-
ridades competentes. Os países poderiam considerar adoptar medidas que
facilitem às instituições financeiras o acesso à informação sobre os beneficiá-
rios efectivos da propriedade e do controlo das entidades sem personalidade
jurídica (legal arrangements), por forma a darem cumprimento às obrigações
previstas na Recomendação 5.

D. Cooperação internacional

35. Os países deveriam adoptar medidas imediatas para se tornarem partes


e aplicarem integralmente a Convenção de Viena, a Convenção de Palermo
e a Convenção Internacional das Nações Unidas para a Eliminação do
Financiamento do Terrorismo, de 1999. Os países são ainda encorajados a
ratificar e aplicarem outras convenções internacionais relevantes, tais como
a Convenção do Conselho da Europa Relativa ao Branqueamento, Detecção,
Apreensão e Perda dos Produtos do Crime, de 1990, e a Convenção Inter-
Americana contra o Terrorismo, de 2002.

Anexo IV-205
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Auxílio judiciário mútuo e extradição

36. Os países deveriam, de forma rápida, construtiva e eficiente, proporcio-


nar o mais amplo auxílio judiciário mútuo nas investigações e procedimentos
de natureza criminal sobre o branqueamento de capitais e o financiamento
do terrorismo e em procedimentos conexos. Em especial, os países:

a. Não deveriam proibir nem colocar condições injustificadas ou indevi-


damente restritivas à prestação de auxílio judiciário mútuo;
b. Deveriam assegurar-se de que dispõem de procedimentos claros e efica-
zes para a execução dos pedidos de auxílio judiciário mútuo;
c. Não deveriam recusar a execução de um pedido de auxílio judiciário
mútuo, tendo como única justificação o facto de o crime envolver tam-
bém matéria fiscal;
d. Não deveriam recusar a execução de um pedido de auxílio judiciário
mútuo, tendo como justificação o facto de o seu direito interno impor
às instituições financeiras que mantenham o segredo ou a confidencia-
lidade.

Os países deveriam assegurar que os poderes atribuídos às autoridades


competentes, de acordo com a Recomendação 28, podem ser também utiliza-
dos para dar resposta a pedidos de auxílio judiciário mútuo e, se for compatí-
vel com o seu direito interno, responder a pedidos directos, apresentados por
autoridades judiciárias ou autoridades de aplicação da lei estrangeiras às suas
homólogas nacionais.
A fim de evitar conflitos de competência, seria conveniente estudar-se a
possibilidade de elaborar e aplicar mecanismos que permitam determinar, no
interesse da justiça, a jurisdição mais adequada para o julgamento das pesso-
as acusadas em casos sujeitos a processos criminais em vários países.

37. Os países deveriam prestar o mais amplo auxílio judiciário mútuo


mesmo na ausência da dupla incriminação.
Quando a dupla incriminação for um requisito para a prestação de auxí-
lio judiciário mútuo ou para a extradição, tal requisito deverá considerar-se
cumprido independentemente de ambos os países subsumirem o crime na
mesma categoria de crimes ou de tipificarem o crime com a mesma termino-
logia, sempre que em ambos os países esteja criminalizada a conduta subja-
cente à infracção.

Anexo IV-206
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

38.* Seria conveniente que pudessem ser tomadas medidas rápidas, em


resposta a pedidos de outros países, para identificar, congelar, apreender e
declarar a perda de bens objecto de branqueamento de capitais, de produtos
derivados do branqueamento ou das infracções subjacentes, de instrumentos
utilizados ou destinados a serem utilizados na prática daqueles crimes ou
outros bens de valor equivalente. Deveriam existir também medidas destina-
das a coordenar os procedimentos de apreensão e de perda, podendo incluir
a repartição dos bens declarados perdidos.

39. Os países deveriam reconhecer o branqueamento de capitais como um


crime susceptível de permitir a extradição. Cada país deveria extraditar os
seus nacionais ou, quando não o possa fazer apenas em razão da nacionali-
dade, esse país deveria, a pedido daquele que requer a extradição, submeter,
sem demoras indevidas, o caso às suas autoridades competentes para que
estas possam promover o procedimento criminal pela prática da infracção
indicada no pedido. Essas autoridades deveriam tomar as suas decisões e
conduzir os seus procedimentos, tal como o fariam em relação a qualquer
outro crime grave, no quadro do seu direito interno. Os países envolvidos
deveriam cooperar entre si, em especial em aspectos processuais e probató-
rios, para assegurar a eficácia de tais procedimentos criminais.
Na medida em que as suas estruturas jurídicas o permitam, os países
poderiam considerar a simplificação dos processos de extradição através da
transmissão directa de pedidos de extradição entre os ministérios competen-
tes, da extradição das pessoas baseada unicamente em mandados de detenção
ou de julgamento e/ou de processos simplificados de extradição de pessoas
que, livre e voluntariamente, aceitem renunciar ao processo formal de extra-
dição.

Outras formas de cooperação

40.* Os países deveriam assegurar que as suas autoridades competentes pro-


porcionem as mais amplas possibilidades de cooperação internacional às suas
homólogas estrangeiras. Deveriam existir dispositivos claros e eficazes que
facilitassem, de forma imediata e construtiva, a troca directa com as auto-
ridades homólogas, espontaneamente ou a pedido, de informações sobre o
branqueamento de capitais e sobre as infracções que lhe estejam subjacentes.

Anexo IV-207
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Essas trocas de informações deveriam ser autorizadas sem condições restriti-


vas indevidas. Em especial:

a. As autoridades competentes não deveriam recusar um pedido de assis-


tência, tendo como única justificação o facto de o pedido envolver
matéria fiscal;
b. Os países não deveriam invocar leis que obriguem as instituições finan-
ceiras à manutenção do segredo ou da confidencialidade como justifi-
cação para recusar a cooperação;
c. As autoridades competentes deveriam estar em condições de apresentar
pedidos de informações e, quando possível, proceder a investigações
em nome das suas homólogas estrangeiras.

Quando a possibilidade de obter informações solicitadas por uma auto-


ridade competente estrangeira não esteja incluída nas competências da autori-
dade homóloga, os países são igualmente encorajados a permitir uma rápida
e construtiva troca de informações com outras autoridades não homólogas. A
cooperação com autoridades estrangeiras diferentes das homólogas pode ter
lugar directa ou indirectamente. Quando existirem dúvidas sobre a opção a
tomar, as autoridades competentes deveriam, em primeiro lugar, contactar as
suas homólogas estrangeiras para solicitar a assistência pretendida.
Os países deveriam adoptar medidas de salvaguarda e de controlo para
assegurar que as informações trocadas pelas autoridades competentes seja
utilizada apenas para os fins autorizados, em conformidade com as suas obri-
gações em matéria de protecção da vida privada e de protecção de dados.

Glossário

Nas presentes Recomendações, as abreviaturas e referências que se seguem,


têm o seguinte significado:

“Beneficiário efectivo” refere-se à(s) pessoa(s) singular(es) que são as pro-


prietárias últimas ou detêm o controlo final de um cliente e/ou a pessoa no
interesse da qual é efectuada uma operação. Inclui também as pessoas que
controlam efectivamente uma pessoa colectiva ou uma entidade sem persona-
lidade jurídica (legal arrangement).

“Princípios Fundamentais” refere-se aos “Princípios Fundamentais de


Supervisão Bancária Efectiva” (Core Principles for Effective Banking

Anexo IV-208
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

Supervision) adoptados pelo Comité de Basileia de Supervisão Bancária,


aos “Objectivos e Princípios de Regulamentação dos Valores Mobiliários”
(Objectives and Principles for Securities Regulation) adoptados pela
Organização Internacional das Comissões de Valores e aos “Princípios de
Supervisão de Seguros” (Insurance Supervisory Principles) adoptados pela
Associação Internacional dos Supervisores de Seguros.

“Categorias de infracções designadas” significa:

• participação num grupo criminoso organizado e em acções ilegítimas


para obtenção de fundos, nomeadamente através de chantagem, inti-
midação ou outros meios;
• terrorismo, incluindo o financiamento do terrorismo;
• tráfico de seres humanos e tráfico ilícito de migrantes;
• exploração sexual, incluindo a exploração sexual de crianças;
• tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas;
• tráfico de armas;
• tráfico de bens roubados e de outros bens;
• corrupção e suborno;
• fraude;
• contrafacção de moeda;
• contrafacção e pirataria de produtos;
• crimes contra o meio ambiente;
• homicídio e ofensas corporais graves;
• rapto, detenção ilegal e tomada de reféns;
• roubo ou furto;
• contrabando;
• extorsão;
• falsificação;
• pirataria; e
• utilização abusiva de informação privilegiada e manipulação do merca-
do.

Quando determinar o conjunto de infracções que passarão a ser con-


sideradas como infracções subjacentes em cada uma das categorias acima
enumeradas, cada país poderá decidir, de acordo com o seu direito interno,
como tipificar essas infracções, bem como a natureza de qualquer elemento
particular que as qualifique como infracções graves.

“Actividades e profissões não financeiras designadas” significa:

Anexo IV-209
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

a. Casinos (incluindo os casinos na Internet);


b. Agentes imobiliários;
c. Negociantes de metais preciosos;
d. Negociantes de pedras preciosas;
e. Advogados, notários, outras profissões jurídicas independentes e con-
tabilistas — refere-se aos profissionais liberais que exercem a sua pro-
fissão a título independente, como sócios ou empregados num escritó-
rio. Não se refere a profissionais “internos” vinculados por contrato a
outro tipo de empresas, nem a profissionais que trabalhem em serviços
públicos que possam estar já sujeitos a medidas destinadas a combater
o branqueamento de capitais;
f. Prestadores de serviços a sociedades e trusts – refere-se a todas as pes-
soas ou empresas que não se encontrem já abrangidas noutras catego-
rias a que se aplicam estas Recomendações e que prestam a terceiros, a
título profissional, na totalidade ou em parte, os seguintes serviços:
- actuação como agentes na constituição de pessoas colectivas;
- actuação como administradores ou secretários de uma sociedade,
sócios ou titulares de posição idêntica, para outras pessoas colec-
tivas (ou proceder às diligências necessárias para que outra pessoa
actue dessa forma);
- fornecimento de sede social, endereço comercial, instalações ou
endereço administrativo ou postal a uma sociedade, ou a qualquer
outra pessoa colectiva ou a entidades sem personalidade jurídica
(legal arrangements);
- actuação como administrador de um express trust (ou proceder às
diligências necessárias para que outra pessoa actue dessa forma);
- intervenção como accionistas por conta de outra pessoa (ou pro-
ceder às diligências necessárias para que outra pessoa actue dessa
forma).

“Limiar designado” refere-se ao montante fixado nas Notas Interpretativas.

“Instituições Financeiras” significa qualquer pessoa ou entidade que exerça


como actividade profissional uma ou mais das seguintes actividades ou ope-
rações, em nome ou por conta de um cliente:

Anexo IV-210
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

1. Recepção de depósitos e de outros fundos reembolsáveis do público.3


2. Empréstimos.4
3. Locação financeira.5
4. Transferência de numerário ou valores.6
5. Emissão e gestão de meios de pagamento (por exemplo: cartões de cré-
dito e de débito, cheques, cheques de viagem, ordens de pagamento e
cartas de crédito, moeda electrónica).
6. Prestação de garantias e outros compromissos.
7. Transacções sobre:
a. instrumentos do mercado monetário (cheques, letras, certificados de
depósito, derivados, etc.);
b. mercado de câmbios;
c. instrumentos sobre divisas, taxas de juro e índices;
d. valores mobiliários;
e. operações a prazo sobre mercadorias.
8. Participação em emissões de valores mobiliários e prestação de servi-
ços financeiros conexos.
9. Gestão individual e colectiva de patrimónios.
10. Guarda e administração de fundos ou valores mobiliários líquidos,
por conta de clientes.
11. Outros tipos de investimento, administração ou gestão de fundos ou
de numerário por conta de clientes.
12. Subscrição e colocação de seguros de vida e outros investimentos
relacionados com seguros.7
13. Câmbio manual.

Quando uma actividade financeira é exercida por uma pessoa ou entida-


de, ocasionalmente ou de um modo muito limitado (em termos quantitativos
e absolutos), de tal forma que seja diminuto o risco de existir uma actividade
de branqueamento de capitais, um país pode decidir que não é necessária a
aplicação, total ou parcial, das medidas contra o branqueamento de capitais.

3 Inclui também o private banking.


4 Inclui nomeadamente: crédito ao consumo, crédito hipotecário, factoring, com ou sem recurso e
financiamento de transacções comerciais (incluindo forfeiting).
5 Não é aplicável a acordos de locação financeira sobre produtos de consumo.
6 É aplicável à actividade financeira formal ou informal, por exemplo, à actividade de remessa
alternativa de fundos. Veja-se a Nota Interpretativa à Recomendação Especial VI. Não é aplicáv-
el a qualquer pessoa, singular ou colectiva, que apenas forneça às instituições financeiras siste-
mas de mensagens ou outros sistemas de apoio para a transferência de fundos. Veja-se a Nota
Interpretativa à Recomendação Especial VII.
7. Aplicável a sociedades de seguros e mediadores de seguros (agentes e corretores).

Anexo IV-211
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Em circunstâncias estritamente limitadas e justificadas e com base num


risco comprovadamente baixo de branqueamento de capitais, um país pode
decidir não aplicar todas ou algumas das Quarenta Recomendações a algu-
mas das actividades financeiras acima enumeradas.

“UIF” significa Unidade de Informação Financeira.

“Entidades sem personalidade jurídica” (legal arrangements) refere-se a


express trusts ou outros instrumentos jurídicos similares.

“Pessoas colectivas” refere-se a sociedades, fundações, anstalt, associações ou


quaisquer outras entidades semelhantes que estejam em posição de estabele-
cer uma relação permanente, como cliente, com uma instituição financeira
ou, de outro modo, serem titulares de bens.

“Contas correspondentes de transferência” (payable-through accounts) refe-


re-se a contas em bancos correspondentes, utilizadas directamente por tercei-
ros para a realização de operações por conta própria.

“Pessoas politicamente expostas” (PEPs) são indivíduos a quem estão ou


foram cometidas funções públicas proeminentes num país estrangeiro, como
por exemplo, Chefe de Estado ou de Governo, altos quadros políticos, altos
cargos governamentais, judiciais ou militares, altos quadros de empresas
públicas e funcionários importantes de partidos políticos. As relações comer-
ciais com membros da família ou pessoas muito próximas de PEPs envolvem
riscos de reputação idênticos aos das pessoas politicamente expostas. A defi-
nição não é aplicável a indivíduos em posições ou categorias intermédias ou
mais baixas do que as atrás mencionadas.

“Banco de fachada”, significa um banco constituído numa jurisdição onde


não tem qualquer presença física e que não se encontra integrado num grupo
financeiro regulamentado.

“COS” significa comunicação de operações suspeitas.

“Supervisores” refere-se às autoridades competentes e responsáveis pela


garantia do cumprimento efectivo pelas instituições financeiras das normas
destinadas a combater o branqueamento de capitais e o financiamento do
terrorismo.

Anexo IV-212
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

“Recomendações do GAFI” refere-se às presentes Recomendações e às


Recomendações Especiais do GAFI sobre o Financiamento do Terrorismo.

Notas Interpretativas às Quarenta Recomendações

Generalidades

1. Neste documento, deverá entender-se que a referência a “países” abran-


ge igualmente os “territórios” ou as “jurisdições”.

2. As Recomendações 5-16 e 21-22 estabelecem que as instituições finan-


ceiras ou as actividades e profissões não financeiras designadas deveriam
adoptar certas medidas. Tal implica que os países adoptem medidas que obri-
guem as instituições financeiras ou as actividades e profissões não financeiras
designadas a cumprir cada Recomendação. As obrigações de base constantes
nas Recomendações 5, 10 e 13 deveriam ser transpostas para a ordem jurí-
dica interna, por via legislativa ou regulamentar, enquanto que os elementos
mais pormenorizados dessas Recomendações, bem como as obrigações cons-
tantes de outras Recomendações, poderiam ser transpostas quer sob a forma
de lei ou de regulamento, quer por outros meios obrigatórios, emitidos pelas
autoridades competentes.

3. Quando se faz referência a que uma instituição financeira deva ter


conhecimento satisfatório de um certo assunto, essa instituição deve estar
apta a poder demonstrar às autoridades competentes as medidas adoptadas
para esse fim.

4. Para dar cumprimento às Recomendações 12 e 16, não é necessário que


os países adoptem leis ou regulamentos aplicáveis exclusivamente aos advo-
gados, notários, contabilistas e às outras actividades e profissões não finan-
ceiras designadas, desde que tais actividades ou profissões estejam cobertas
por leis ou regulamentos que lhes sejam aplicáveis.

5. As Notas Interpretativas aplicáveis às instituições financeiras também se


aplicam às actividades e profissões não financeiras designadas, quando tal for
apropriado.

Recomendações 5, 12 e 16

Anexo IV-213
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Os limiares designados aplicáveis às operações (previstas nas Recomendações


5, 12 e 16) são os seguintes:

• Instituições financeiras (para os clientes ocasionais, conforme previsto


na Recomendação 5) — USD / € 15 000;
• Casinos, incluindo os casinos na internet (conforme previsto na
Recomendação 12) — USD / € 3 000;
• Negociantes de metais preciosos ou pedras preciosas, quando realizem
operações em numerário (conforme previsto nas Recomendações 12 e
16) — USD / € 15 000.

As operações financeiras que ultrapassem cada um dos limiares acima


referidos incluem as situações em que é realizada uma única operação, bem
como aquelas em que ocorrem várias operações entre as quais parece existir
uma ligação.

Recomendação 5

Dever de vigilância relativo à clientela e proibição de alertar o cliente

1. Se durante o estabelecimento ou o desenrolar de uma relação de negócio


ou quando realiza uma operação ocasional uma instituição financeira suspei-
tar que tal operação se relaciona com o branqueamento de capitais ou com o
financiamento do terrorismo, a instituição deveria:

a) Em regra, procurar identificar e verificar a identidade do cliente e do


beneficiário efectivo, quer seja permanente, quer ocasional, indepen-
dentemente de qualquer derrogação ou limiar que pudesse ser aplicável;
b) Fazer uma comunicação de operação suspeita (COS) à UIF, nos termos
da Recomendação 13.

2. A Recomendação 14 proíbe às instituições financeiras, aos seus dirigen-


tes, funcionários e empregados divulgar que foi feita uma comunicação de
operação suspeita ou enviada uma informação com ela relacionada à UIF.
Existe o risco de os clientes poderem ser involuntariamente alertados quando
a instituição financeira cumpre as suas obrigações de identificação da clientela
(CDD) nestas circunstâncias. O conhecimento, por parte do cliente, de uma
possível comunicação de operação suspeita ou de uma investigação em curso
poderia comprometer os esforços subsequentes para investigar a operação
suspeita de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

Anexo IV-214
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

3. Assim, se as instituições financeiras suspeitarem de que as operações se


relacionam com o branqueamento de capitais ou com o financiamento do
terrorismo, deverão ter em conta o risco de o cliente ser alertado quando dão
cumprimento ao dever de vigilância relativo à clientela. Se a instituição finan-
ceira tiver motivos razoáveis para considerar que o cumprimento do dever de
vigilância relativo à clientela irá alertar o cliente ou potencial cliente, poderá
optar por não completar esse procedimento e deverá fazer uma comunicação
de operação suspeita (COS). As instituições deveriam assegurar-se que os seus
empregados têm conhecimento e estão sensibilizados em relação a estas ques-
tões quando cumprem o dever de vigilância em relação à clientela.

Dever de vigilância da clientela: pessoas colectivas e entidades sem personalida-


de jurídica

4. Ao dar cumprimento às alíneas (a) e (b) do dever de vigilância da clien-


tela, relativo às pessoas colectivas ou entidades sem personalidade jurídica, as
instituições financeiras deveriam:

a) Verificar se a pessoa que declara agir em nome do cliente está habilita-


da para o efeito e identificar essa pessoa;
b) Identificar o cliente e verificar a sua identidade — o tipo de medidas
normalmente necessárias para cumprir satisfatoriamente esta função
implica obter prova do documento constitutivo ou similar do estatuto
jurídico da pessoa colectiva ou da entidade sem personalidade jurídica,
bem como informação respeitante a: firma ou nome do cliente, identifi-
cação dos administradores dos “trusts”, forma jurídica, morada, iden-
tificação dos directores e disposições que regulam a forma de obrigar a
pessoa colectiva ou a entidade sem personalidade jurídica;
c) Identificar os beneficiários efectivos, o que implica nomeadamente
compreender a estrutura de propriedade e de controlo e tomar todas
as medidas razoáveis para verificar a identidade dessas pessoas. O tipo
de medidas normalmente necessárias para cumprir satisfatoriamente
esta função incluiria identificar as pessoas singulares detentoras de
participações de controlo e as pessoas singulares que dirigem a pessoa
colectiva ou entidade sem personalidade jurídica. Quando o cliente ou
o detentor de uma participação de controlo seja uma sociedade com o
capital aberto ao investimento do público, sujeita a deveres de informa-
ção, não é necessário procurar identificar e verificar a identidade dos
accionistas dessa sociedade.

Anexo IV-215
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

As informações ou os dados relevantes podem ser obtidos a partir de


registos de natureza pública, do cliente ou de outras fontes idóneas.

Remissão para a identificação e verificação já efectuadas

5. As medidas de CDD previstas na Recomendação 5 não implicam que as


instituições financeiras tenham de identificar e verificar a identidade de cada
cliente sempre que este efectue uma operação. Uma instituição financeira
pode servir-se das medidas de identificação e verificação anteriormente efec-
tuadas, a menos que tenha dúvidas sobre a veracidade da informação obtida.
Exemplos de situações que poderão conduzir a que uma instituição financeira
tenha dúvidas desse género são as de existirem suspeitas de branqueamento
de capitais relacionadas com esse cliente ou quando as operações executadas
na conta do cliente se alteram significativamente, de forma anormal face ao
perfil da actividade do cliente.

Momento da verificação

6. Entre os exemplos das várias circunstâncias em que se poderia permitir


completar a verificação da identificação após o estabelecimento da relação de
negócio, por tal se mostrar necessário para não interromper o normal desen-
volvimento da operação, contam-se os seguintes:

• Operações efectuadas sem a presença física do cliente;


• Operações com valores mobiliários. No mercado de valores mobiliários
as sociedades e os intermediários podem ter de efectuar as operações
muito rapidamente, de acordo com as condições do mercado em vigor
no momento em que o cliente os contacta, e pode ser necessário efectu-
ar a operação antes de completar a verificação da identidade do cliente;
• Actividades de seguros de vida. Em relação às operações com seguros
de vida, os países podem permitir que a identificação e verificação da
identidade do beneficiário da apólice tenha lugar após o estabeleci-
mento da relação de negócio com o tomador do seguro. No entanto,
em todos estes casos, a identificação e verificação deverão ocorrer
no momento ou antes do pagamento das prestações do seguro ou no
momento em que o beneficiário pretender exercer os direitos conferidos
pela apólice.

Anexo IV-216
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

7. As instituições financeiras deverão também adoptar procedimentos de


gestão de risco em relação às situações em que um cliente pode beneficiar da
relação comercial antes da verificação da identidade.
Tais procedimentos deveriam incluir um conjunto de medidas, tais como
a limitação do número, do tipo e/ou do montante das operações que podem
ser efectuadas, bem como a monitorização de operações complexas ou de
elevado montante que se afastem das normas previsíveis nesse tipo de relação.
As instituições financeiras deveriam consultar o documento do Comité de
Basileia sobre CDD8 (secção 2.2.6.) para colher orientação específica quanto a
exemplos de medidas de gestão de risco relativas a operações efectuadas sem a
presença física do cliente.

Obrigação de identificação de clientes existentes

8. Os princípios enunciados no documento do Comité de Basileia sobre


CDD e que dizem respeito à identificação de clientes existentes deveriam
servir de orientação às instituições que exercem actividades bancárias e pode-
riam aplicar-se a outras instituições financeiras, quando sejam pertinentes.

Medidas simplificadas ou reduzidas do dever de vigilância relativo à clientela

9. A regra geral é a de que a clientela deve estar sujeita ao conjunto dos


deveres de vigilância, incluindo o dever de identificar o beneficiário efec-
tivo. Porém, em certos casos, o risco de branqueamento de capitais ou de
financiamento do terrorismo é menor, a informação sobre a identificação do
cliente e do beneficiário efectivo é pública ou existem verificações e contro-
los apropriados noutras áreas dos sistemas nacionais. Nestas circunstâncias,
seria admissível que um país permitisse às suas instituições financeiras aplicar
medidas CDD simplificadas ou reduzidas quanto à identificação e verificação
da identidade do cliente e do beneficiário efectivo.

10. Exemplos de clientes em relação aos quais poderão aplicar-se medidas


CDD simplificadas ou reduzidas são:

• As instituições financeiras — quando estejam sujeitas às obrigações de


combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terroris-
mo em conformidade com as Recomendações do GAFI e se encontrem
sujeitas a supervisão no cumprimento dessas obrigações;
• As sociedades com o capital aberto ao investimento do público, que se
encontrem sujeitas a deveres de informação;

8. O “documento do Comité de Basileia sobre CDD” refere-se ao documento sobre as Regras


de Identificação de Clientes para a Banca, publicado pelo Comité de Basileia de Supervisão
Bancária, em Outubro de 2001.

Anexo IV-217
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• A administração pública e as empresas públicas.

11. As medidas CDD simplificadas ou reduzidas podem também aplicar-se


aos beneficiários efectivos de contas de grupo detidas por empresas ou pro-
fissões não financeiras designadas, desde que tais empresas ou profissões se
encontrem sujeitas às obrigações de combate ao branqueamento de capitais
e ao financiamento do terrorismo, em conformidade com as Recomendações
do GAFI e a sistemas eficazes de monitorização do cumprimento dessas
obrigações. Os bancos deveriam também seguir o disposto no documento
do Comité de Basileia sobre CDD (secção 2.2.4.), que estabelece orientações
específicas sobre as situações em que uma instituição detentora de contas
pode confiar a um cliente, que seja um intermediário financeiro profissional,
a execução das obrigações de vigilância sobre os clientes deste último ou
sobre os seus próprios clientes (ou seja, os beneficiários efectivos da conta
bancária). Quando necessário, o documento do Comité de Basileia sobre
CDD poderia também fornecer orientações quanto a contas do mesmo género
detidas por outros tipos de instituições financeiras.

12. As medidas CDD simplificadas ou reduzidas poderiam também aplicar-se


a diversos tipos de produtos ou operações, tais como (enumeração meramente
exemplificativa):

• Apólices de seguros de vida, em que o prémio anual não seja superior


a USD / € 1000, ou quando comportem apenas um prémio único que
não seja superior a USD / € 2500;
• Apólices de seguros de reforma, se não houver cláusula de resgate e se
a apólice não puder ser dada em garantia;
• Regimes de reforma ou semelhantes, que confiram benefícios de refor-
ma aos trabalhadores, quando as contribuições sejam feitas através de
deduções nos vencimentos e desde que o respectivo regime não permita
a cessão dos direitos detidos pelos respectivos membros.

13. Os países poderiam também decidir se as instituições financeiras devem


aplicar este procedimento simplificado apenas a clientes estabelecidos na sua
jurisdição ou também a clientes estabelecidos em outras jurisdições que esses
países considerem que cumprem e aplicam efectivamente as Recomendações
do GAFI.
As medidas CDD simplificadas não poderão aplicar-se se houver suspei-
tas de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo ou em
situações específicas que apresentem um risco elevado.

Anexo IV-218
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

Recomendação 6

Os países são encorajados a estender a aplicação das obrigações da


Recomendação 6 aos indivíduos que exerçam funções públicas de relevo no
seu próprio país.

Recomendação 9

Esta Recomendação não se aplica à subcontratação nem ao mandato.


Esta Recomendação também não se aplica às relações, contas ou opera-
ções entre instituições financeiras, por conta dos seus clientes. Tais relações
são reguladas pelas Recomendações 5 e 7.

Recomendações 10 e 11

Quanto à actividade seguradora, a expressão “operações” deverá ser enten-


dida como abrangendo o objecto do seguro, o pagamento do prémio e as
prestações.

Recomendação 13

1. A referência à actividade criminosa na Recomendação 13 reporta-se:

a) A todos os actos criminosos que num país constituem uma infracção


subjacente ao branqueamento de capitais; ou
b) No mínimo, àquelas infracções que constituem uma infracção subja-
cente nos termos da Recomendação 1.

Os países são vivamente encorajados a adoptar a alternativa (a). Todas as


operações suspeitas, incluindo as tentativas de efectuar uma operação, deve-
riam ser comunicadas independentemente do seu montante.

2. Ao aplicar a Recomendação 13, as operações suspeitas deveriam ser


comunicadas pelas instituições financeiras, independentemente de envolverem
questões de natureza fiscal. Os países deveriam considerar que, com o objec-
tivo de dissuadir as instituições financeiras de comunicarem operações suspei-
tas, os branqueadores de capitais poderão tentar alegar que, inter alia, as suas
operações se encontram relacionadas com questões fiscais.

Anexo IV-219
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Recomendação 14 (alerta ao cliente)

Quando os advogados, notários, outras profissões jurídicas independentes e


contabilistas que trabalhem por conta própria tentarem dissuadir um cliente
de prosseguir uma actividade ilícita, isso não constitui um alerta ao cliente
(tipping-off).

Recomendação 15

O tipo e o alcance das medidas a adoptar relativamente a cada uma das


obrigações previstas nesta Recomendação devem ser apropriados ao risco de
branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo, bem como à
dimensão da actividade comercial em questão.
No caso das instituições financeiras, os dispositivos de controlo do
cumprimento deveriam incluir a designação de um responsável ao nível da
Direcção.

Recomendação 16

1. Compete a cada país determinar as matérias sujeitas a segredo pro-


fissional ou cobertas por um privilégio profissional de natureza legal.
Normalmente tais matérias abrangeriam as informações que os advogados,
notários ou outras profissões jurídicas independentes recebem ou obtém dos
seus clientes: (a) quando apreciam a situação jurídica do seu cliente, ou (b)
quando defendem ou representam o cliente, no âmbito de processos judiciais,
administrativos, de arbitragem ou de mediação. Se os contabilistas estiverem
sujeitos a deveres semelhantes de segredo profissional também não são obri-
gados a comunicar operações suspeitas.

2. Os países podem autorizar que os advogados, notários, outras profissões


jurídicas independentes e contabilistas transmitam as suas comunicações de
operações suspeitas às respectivas ordens profissionais, desde que tenham sido
estabelecidas formas de cooperação apropriadas entre estes organismos e a
UIF.

Recomendação 23

A Recomendação 23 não deveria ser interpretada no sentido de exigir a


introdução de um sistema de revisão periódica das autorizações concedidas
à tomada de controlo do capital em instituições financeiras simplesmente

Anexo IV-220
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

para fins de combate ao branqueamento de capitais, mas para sublinhar, na


perspectiva do GAFI, o carácter desejável e conveniente de reexaminar se o
controlo accionista nas instituições financeiras (bancárias e não bancárias, em
especial) é adequado. Por conseguinte, quando existirem critérios de compe-
tência e integridade (fit and proper) dos accionistas, a atenção dos superviso-
res deverá dirigir-se para a sua relevância em termos de combate ao branque-
amento de capitais.

Recomendação 25

Quando considerarem o retorno da informação que deve ser facultado às


entidades que comunicam operações suspeitas (feedback), os países deve-
riam tomar em consideração o documento “Melhores Práticas do GAFI
para o Retorno da Informação às Instituições Financeiras e outras Pessoas
que Comunicam Operações Suspeitas (FATF Best Practices Guidelines on
Providing Feedback to Reporting Financial Institutions and other Persons)”.

Recomendação 26

Se um país tiver criado uma UIF, deveria considerar a sua candidatura ao


Grupo Egmont. Os países deveriam aderir à “Declaração de Propósitos do
Grupo Egmont” (Egmont Group Statement of Purpose) e aos seus “Princípios
para a Troca de Informações entre as Unidades de Informação Financeira,
em Matéria de Branqueamento de Capitais” (Principles for Information
Exchange Between Financial Intelligence Units for Money Laundering Cases).
Estes documentos estabelecem orientações importantes sobre as atribuições e
competências das UIFs e sobre os mecanismos a observar na troca de infor-
mações entre estas unidades.

Recomendação 27

Os países deveriam considerar a adopção de medidas a nível nacional,


incluindo legislativas, que permitam às suas autoridades competentes que
investigam casos de branqueamento de capitais, diferir a detenção de suspei-
tos e/ou a apreensão de bens, ou não proceder a tais detenções ou apreensões,
com o propósito de identificar as pessoas envolvidas nessas actividades ou de
recolher prova. Sem essas medidas, torna-se inviável a adopção de certos pro-
cedimentos como as entregas controladas e as operações encobertas.

Recomendação 38

Anexo IV-221
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Os países deveriam considerar:

a) Criar um fundo com os activos expropriados no seu país, onde fossem


depositados a totalidade ou parte dos bens declarados perdidos, e usá-
lo para fins de dotação das autoridades de aplicação da lei, de saúde,
de educação ou para outros fins apropriados;
b) Adoptar as medidas necessárias para permitir a repartição, com ou
entre outros países, dos bens declarados perdidos, em particular sempre
que a perda tenha resultado, directa ou indirectamente, de acções coor-
denadas das autoridades de aplicação da lei.

Recomendação 40

1. Para os efeitos desta Recomendação:

a) “Homólogas” refere-se às autoridades com atribuições e funções equi-


valentes;
b) “Autoridade competente” refere-se a todas as autoridades administra-
tivas e autoridades de aplicação da lei com responsabilidades no com-
bate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo,
incluindo a UIF e as autoridades de supervisão.

2. Diferentes canais podem ser adequados para a troca de informação,


consoante o tipo de autoridade competente envolvida e a natureza e fins da
cooperação. Entre os mecanismos ou canais utilizados para a troca de infor-
mações, podem citar-se, a título de exemplo: acordos e convenções bilaterais
ou multilaterais, memorandos de entendimento, trocas de informação com
base na reciprocidade ou através das organizações internacionais ou regionais
apropriadas. No entanto, esta Recomendação não abrange a cooperação rela-
tiva ao auxílio judiciário mútuo nem à extradição.

3. A referência à troca indirecta de informações com autoridades estrangei-


ras, que não as homólogas, abrange a situação em que a informação solicita-
da é transmitida pela autoridade estrangeira, por intermédio de uma ou mais
autoridades nacionais ou estrangeiras, antes de ser recebida pela autoridade
que as solicitou. A autoridade competente que solicita a informação deverá
sempre indicar claramente a finalidade do pedido, bem como em nome de
quem essa informação é solicitada.

Anexo IV-222
Anexo IV: As Quarenta Recomendações sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

4. As UIFs deveriam ter competência para apresentar pedidos de infor-


mação em nome das suas homólogas estrangeiras sempre que tal possa ser
relevante para uma análise de certas operações financeiras. No mínimo, os
pedidos de informação deveriam incluir:

• Pesquisas na sua própria base de dados, que deveriam incluir informa-


ções relativas a comunicações de operações suspeitas;
• Pesquisas noutras bases de dados, às quais tenham acesso directo ou
indirecto, incluindo bases de dados das autoridades de aplicação da lei,
bases de dados públicas ou administrativas e bases de dados sujeitas a
exploração comercial, que estejam disponíveis.

Sempre que lhes seja permitido, as UIFs deveriam também contactar


outras autoridades competentes e instituições financeiras para obter informa-
ções relevantes.

Anexo IV-223
Anexo V

As Recomendações Especiais sobre o


Financiamento do Terrorismo do Grupo
de Acção Financeira

I. Ratificação e aplicação dos instrumentos da Organização das Nações Unidas


Cada País deveria tomar imediatamente as medidas necessárias para ratificar
e aplicar integralmente a Convenção Internacional das Nações Unidas para a
Eliminação do Financiamento do Terrorismo de 1999.
Os países deveriam igualmente pôr em prática, de imediato, as
Resoluções da Organização das Nações Unidas relativas à prevenção e eli-
minação do financiamento de actos terroristas, particularmente a Resolução
1373 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

II. Criminalização do financiamento do terrorismo e do branqueamento de capitais


associado
Cada país deveria criminalizar o financiamento do terrorismo, de actos ter-
roristas e de organizações terroristas. Os países deveriam assegurar-se de que
tais infracções são consideradas como infracções subjacentes ao branquea-
mento de capitais.

III. Congelamento e perda de bens relacionados com o terrorismo


Cada país deveria pôr em prática medidas para congelar, sem demora, os
fundos ou outros activos de terroristas, daqueles que financiem o terrorismo
e de organizações terroristas, de acordo com as resoluções da Organização
das Nações Unidas relativas à prevenção e eliminação do financiamento de
actos terroristas.

Anexo V-225
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Cada país deveria também adoptar e pôr em prática medidas, incluindo


de carácter legislativo, que permitam às autoridades competentes a apreensão
e a declaração de perda de bens que sejam provenientes do financiamento do
terrorismo, de actos terroristas ou de organizações terroristas, ou para isso
sejam utilizados ou que a isso se destinem.

IV. Comunicações de operações suspeitas relacionadas com o terrorismo


Se as instituições financeiras, ou outras empresas ou entidades sujeitas às
obrigações de prevenção de branqueamento de capitais, suspeitarem, ou tive-
rem motivos razoáveis para suspeitar, que os fundos estão ligados, associados
ou que podem ser utilizados para o terrorismo, actos terroristas ou organi-
zações terroristas, deveriam ser obrigadas a comunicar, de imediato, as suas
suspeitas às autoridades competentes.

V. Cooperação internacional
Cada país deveria facultar aos outros países, com base num tratado, acordo,
ou noutro instrumento de auxílio judiciário mútuo ou de troca de informa-
ções, a mais ampla assistência possível em relação a investigações, inquéritos
e procedimentos de natureza penal, civil e administrativa, relativos ao finan-
ciamento do terrorismo, de actos terroristas e de organizações terroristas.
Os países deveriam tomar igualmente todas as medidas possíveis para
assegurar que não será concedido refúgio a indivíduos acusados de financiar
o terrorismo, actos terroristas ou organizações terroristas e deveriam ter pro-
cedimentos em vigor para, se possível, extraditar tais indivíduos.

VI. Sistemas alternativos de remessa de fundos


Cada país deveria tomar as medidas para garantir que as pessoas singulares
e colectivas, incluindo os seus agentes, que prestam serviços de transferência
de dinheiro ou valores, incluindo as transferências através de redes ou siste-
mas informais, são objecto de licenciamento ou de registo e sujeitas a todas
as recomendações do GAFI aplicáveis aos bancos e às instituições financeiras
não bancárias. Cada país deveria assegurar-se que as pessoas singulares ou
colectivas que prestem este serviço ilegalmente são passíveis de sanções admi-
nistrativas, civis ou penais.

VII. Transferências electrónicas


Os países deveriam tomar medidas para exigir das instituições financeiras,
incluindo àquelas que se dedicam à transferência de fundos, a inclusão de
informação exacta e útil, relativa ao ordenante (nome, endereço, e número
de conta), nas transferências de fundos e mensagens relativas às mesmas; tais

Anexo V-226
Anexo V: As Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo do GAFI

informações deveriam acompanhar a transferência ou a mensagem relativa a


esta ao longo de toda a cadeia de pagamentos.
Os países deveriam tomar medidas para garantir que as instituições finan-
ceiras, incluindo aquelas que se dedicam à transferência de fundos, realizam
uma vigilância aprofundada e um controlo adequado, para fins de detecção de
actividades suspeitas, das transferências de fundos que não contenham infor-
mação completa sobre o ordenante (nome, endereço e número de conta).

VIII. Organizações sem fins lucrativos


Os países deveriam rever a adequação das leis e regulamentações relativas a
entidades que podem ser utilizadas para o financiamento do terrorismo. As
organizações sem fins lucrativos são particularmente vulneráveis e os países
deveriam assegurar-se de que as mesmas não possam ser utilizadas:

i. por organizações terroristas que se apresentem como entidades legíti-


mas;
ii. para explorar entidades legítimas como meio de financiamento do ter-
rorismo, nomeadamente com o propósito de evitar medidas de congela-
mento de activos, e
iii. para dissimular ou ocultar o desvio de fundos destinados a fins legais
para organizações terroristas.

IX. Transportadores de numerário (cash courriers)


Os países deveriam adoptar medidas para detectar o transporte físico atra-
vés das fronteiras de numerário e de instrumentos negociáveis ao portador,
incluindo um sistema de declaração ou qualquer outra obrigação de revela-
ção.
Os países deveriam assegurar que as suas autoridades competentes dis-
ponham de poderes para bloquear ou reter numerário ou outros instrumentos
negociáveis ao portador que suspeitem estar ligados ao financiamento do
terrorismo ou ao branqueamento de capitais, ou que tenham sido objecto de
falsa declaração ou revelação.
Os países deveriam assegurar a aplicabilidade de sanções eficazes, pro-
porcionadas e dissuasivas a quem prestar falsas declarações ou revelações.
Nos casos em que o numerário ou os instrumentos negociáveis ao portador
estiverem ligados ao financiamento do terrorismo ou ao branqueamento de
capitais, os países deveriam também adoptar medidas, incluindo de natureza
legislativa, consistentes com a Recomendação 3 e com a Recomendação espe-
cial III, que permitam declarar a perda do referido numerário ou instrumentos
negociáveis.

Anexo V-227
Anexo VI

Notas Interpretativas e Notas de


Orientação relativas às Recomendações
Especiais sobre o Financiamento do
Terrorismo e o Questionário de Auto-
Avaliação do Grupo de Acção Financeira
sobre o Branqueamento de Capitais

Notas Interpretativas

Nota Interpretativa da Recomendação Especial II: Criminalização do finan-


ciamento do terrorismo e do branqueamento de capitais associado

Objectivo

1. A Recomendação Especial II (RE II) foi elaborada com o objectivo de


garantir que os países tenham a capacidade jurídica de perseguir crimi-
nalmente e aplicar sanções penais às pessoas que financiam o terrorismo.
Considerando a estreita conexão entre o terrorismo internacional e, inter
alia, o branqueamento de capitais, , um outro objectivo da RE II é o de
sublinhar este vínculo, obrigando os países a incluir as infracções de finan-
ciamento do terrorismo como infracções subjacentes ao branqueamento de

Anexo VI-229
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

capitais. A base para criminalizar o financiamento do terrorismo deverá


ser a Convenção Internacional das Nações Unidas para a Eliminação do
Financiamento do Terrorismo, 1999.1

Definições

2. Para os fins da RE II e desta Nota Interpretativa, aplicam-se as seguintes


definições:

a) O termo fundos refere-se a bens de qualquer tipo, tangíveis ou intan-


gíveis, móveis ou imóveis, adquiridos por quaisquer meios e os docu-
mentos ou instrumentos legais seja qual for a sua forma, incluindo a
electrónica ou digital, que atestem a proprie ou outros direitos sobre
esses bens, incluindo, mas sem que essa enumeração seja exaustiva,
créditos bancários, cheques de viagem, cheques bancários, ordens de
pagamento, acções, títulos, obrigações, saques bancários e letras de
crédito.
b) O termo terrorista compreende qualquer pessoa singular que: (i) come-
ta ou tente cometer actos terroristas, por quaisquer meios, directa ou
indirectamente, ilegal e deliberadamente ; (ii) participe, como cúmpli-
ce, na prática de actos terroristas; (iii) organize ou induza outrem à
prática de actos terroristas; ou (iv) contribua para a prática de actos
terroristas por um grupo de pessoas a actuar com um propósito
comum, em que a contribuição seja realizada intencionalmente e com
o propósito de facilitar o acto terrorista ou com conhecimento da
intenção do grupo de cometer um acto terrorista.
c) O termo acto terrorista inclui:
i) Um acto que constitua uma infracção no âmbito de um dos seguin-
tes tratados: Convenção para a Repressão da Captura Ilícita de
Aeronaves (1970), Convenção para a Supressão de Actos Ilícitos con-
tra a Segurança da Aviação Civil (1971), Convenção sobre Prevenção
e Repressão de Infracções contra Pessoas Gozando de Protecção
Internacional, incluindo os Agentes Diplomáticos (1973), Convenção
Internacional contra a Tomada de Reféns (1979), Convenção sobre
Protecção Física dos Materiais Nucleares (1980), Protocolo para a

1. Embora a Convenção da ONU ainda não estivesse em vigor na ocasião da publicação original
da RE II, em Outubro de 2001 — e, portanto, não é citada na própria RE — a intenção do
GAFI tem sido, desde a expedição da RE II, a de reiterar e reforçar a norma da criminalização,
conforme prevista na Convenção (em particular, no Artigo 2.°). A Convenção entrou em vigor
em Abril de 2003.

Anexo VI-230
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

Repressão de Actos Ilícitos de Violência nos Aeroportos Internacionais


ao Serviço da Aviação Civil , complementar da Convenção para
a Repressão de Actos Ilícitos contra a Segurança da Aviação Civil
(1988), Convenção para a Supressão de Actos Ilícitos contra a
Segurança da Navegação Marítima (1988), Protocolo para a Supressão
de Actos Ilícitos contra a Segurança das Plataformas Fixas localiza-
das na Plataforma Continental (1988) e a Convenção Internacional
para a Repressão de Atentados Terroristas à Bomba (1997); e
ii) Qualquer outro acto destinado a causar a morte ou ferimentos corpo-
rais graves num civil ou em qualquer pessoa que não participe direc-
tamente nas hostilidades numa situação de conflito armado, sempre
que o objectivo desse acto, devido à sua natureza ou contexto, vise
intimidar uma população ou obrigar um Governo ou uma organização
internacional a praticar ou a abster-se de praticar qualquer acto.
d) O termo financiamento do terrorismo inclui o financiamento de actos
terroristas, de terroristas e de organizações terroristas.
e) O termo organização terrorista refere-se a qualquer grupo de terro-
ristas que: (i) cometa ou tente cometer actos terroristas, por quais-
quer meios, directa ou indirectamente , ilegal e deliberadamente; (ii)
participe, como cúmplice, de actos terroristas; (iii) organize ou induza
outrem à prática de actos terroristas; ou (iv) contribua para a prática
de actos terroristas por um grupo de pessoas actuando com um pro-
pósito comum em que a contribuição seja realizada intencionalmente
e com o propósito de facilitar o acto terrorista ou com o conhecimen-
to da intenção do grupo de cometer um acto terrorista.

Características da infracção de financiamento do terrorismo

3. As infracções de financiamento do terrorismo deveriam aplicar-se a qual-


quer pessoa que deliberadamente forneça ou reúna fundos, por quaisquer
meios, directa ou indirectamente com a intenção de que deveriam ser utiliza-
dos ou sabendo que serão utilizados, total ou parcialmente: (a) para realizar
um acto ou actos terroristas; (b) por uma organização terrorista; ou (c) por
um terrorista individual.

4. A criminalização do financiamento do terrorismo baseada apenas no auxí-


lio ou na instigação, na tentativa ou no conluio não se encontra em confor-
midade com esta Recomendação.

Anexo VI-231
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

5. As infracções de financiamento do terrorismo deveriam aplicar-se a quais-


quer fundos, independentemente de a sua origem ser legítima ou ilegítima.

6. Para que um acto constitua uma infracção de financiamento do terrorismo


não é necessário que os fundos: (a) tenham sido efectivamente utilizados para
cometer ou tentar cometer a um acto ou actos terroristas; ou (b) estejam liga-
dos a um acto ou actos terroristas específicos.

7. Deveria também considerar-se como infracção a tentativa de cometer a


infracção de financiamento do terrorismo.

8. Deveria também considerar-se como uma infracção a prática das seguintes


condutas:

a) Participar como cúmplice na infracção prevista nos números 3 ou 7


desta Nota Interpretativa;
b) Organizar ou induzir outrem à prática da infracção prevista nos
números 3 ou 7 desta Nota Interpretativa;
c) Contribuir à para a prática de uma ou mais infracções previstas nos
números 3 ou 7 desta Nota Interpretativa, por um grupo de pessoas
actuando com um propósito comum. Além de intencional, a referida
contribuição: (i) ser realizada com o propósito de facilitar a actividade
ou a intenção criminal do grupo, quando a referida actividade ou
intenção envolva a prática de uma infracção de financiamento do ter-
rorismo; ou (ii) ser realizada com conhecimento da intenção do grupo
de cometer uma infracção de financiamento do terrorismo.

9. O financiamento do terrorismo devem ser considerado uma infracção


subjacente ao branqueamento de capitais.

10. As infracções de financiamento do terrorismo deveriam aplicar-se inde-


pendentemente de a pessoa que presumivelmente cometeu a infracção ou
infracções estar no mesmo país ou em país diferente daquele em que o terro-
rista ou terroristas, ou a organização ou organizações terroristas, se encontra
localizado, ou no qual o acto ou actos terroristas foi ou será praticado.

11. A lei deveria permitir que o elemento intencional da infracção de finan-


ciamento do terrorismo seja deduzido a partir de circunstâncias factuais
objectivas.

Anexo VI-232
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

12. A responsabilidade criminal pelo financiamento do terrorismo deveria


aplicar-se a pessoas colectivas. Quando tal não seja possível (por exemplo,
devido aos princípios fundamentais da lei nacional), deveria aplicar-se a res-
ponsabilidade civil ou administrativa.

13.O facto de as pessoas colectivas estarem sujeitas a responsabilidade crimi-


nal pelo financiamento do terrorismo, não deveria excluir a possibilidade de
procedimentos penais, civis ou administrativos paralelos nos países onde tais
formas de responsabilidade se encontrem previstas.

14. As pessoas singulares e colectivas deveriam estar sujeitas a sanções


penais, civis ou administrativas eficazes, proporcionais e dissuasivas.

Nota Interpretativa da Recomendação Especial III: Objectivos do congelamento e


da perda de bens relacionados com o terrorismo

1. A Recomendação Especial III do GAFI consiste em duas obrigações. A


primeira requer que as jurisdições apliquem medidas que permitam rapi-
damente congelar ou, quando for o caso, apreender fundos ou outros bens
relacionados com o terrorismo, em conformidade com as Resoluções per-
tinentes da Organização das Nações Unidas. A segunda obrigação prevista
na Recomendação Especial III é a de adoptar medidas que permitam a uma
jurisdição apreender ou declarar a perda dos fundos ou de outros bens do
terrorismo com base num mandado ou num mecanismo emitido por uma
autoridade competente ou por um tribunal.

2. O objectivo do primeiro requisito é o de congelar os fundos ou outros


bens relacionados com o terrorismo quando existir uma base ou motivos
razoáveis para suspeitar ou quando existir a convicção de que tais fundos
ou outros bens poderiam ser usados para financiar a actividade terrorista. O
objectivo do segundo requisito é o de privar os terroristas destes fundos ou
de outros bens se e quando as ligações forem adequadamente estabelecidas
entre os fundos ou outros bens e os terroristas ou a actividade terrorista.
A intenção do primeiro objectivo é de natureza preventiva, enquanto a do
segundo é fundamentalmente preventiva e punitiva. Ambos os requisitos são
necessários para privar os terroristas e as redes terroristas dos meios para
realizar futuras actividades terroristas e manter as suas infra-estruturas e
operações.

Anexo VI-233
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Âmbito

3. A Recomendação Especial III destina-se, no que respeita ao primeiro requi-


sito, a complementar as obrigações no âmbito das Resoluções do Conselho
de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSNU) relativas à preven-
ção e eliminação do financiamento de actos terroristas — S/RES/1267(1999)
e Resoluções que se sucederam,2 S/RES/1373(2001) e quaisquer Resoluções
futuras relacionadas com o congelamento ou, quando for o caso, a apreen-
são de bens do terrorismo. Importa sublinhar que nenhuma das obrigações
estabelecidas na Recomendação Especial III tem a intenção de substituir
outras medidas ou obrigações que possam já ter sido adoptadas para lidar
com os fundos ou outros bens no contexto de uma investigação ou processo
penal, civil ou administrativo.3 Na realidade, a Recomendação Especial III
centra-se nas medidas preventivas necessárias e únicas no sentido de inter-
romper o fluxo ou uso dos fundos ou de outros bens dos grupos terroristas.

4. A S/RES/1267(1999) e a S/RES/1373(2001) são diferentes no que concer-


ne às pessoas e entidades cujos fundos ou outros bens devem ser congelados,
às autoridades responsáveis por efectuar estas designações e ao efeito de tais
designações.

5. A S/RES/1267(1999) e as Resoluções que se sucederam obrigam as jurisdi-


ções a congelar, sem demora, os fundos ou outros bens que são propriedade
ou estão sob o controlo da Al-Qaeda, dos Talibãs, de Osama bin Laden ou
de pessoas e entidades a eles associadas, conforme designadas pelo Comité de
Sanções da ONU à Al-Qaeda e aos Talibãs, criado nos termos da Resolução
1267 do Conselho de Segurança da ONU (o Comité de Sanções à Al-Qaeda
e aos Talibãs, incluindo os fundos derivados dos fundos ou outros bens que
são propriedade ou estão sob o controlo, directo ou indirecto, destes ou

2. Quando publicada, a S/RES/1267(1999) tinha um período de validade de um ano. Uma série


de resoluções foi expedida pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas
(UNSC) para prorrogar e aperfeiçoar as disposições da S/RES/1267(1999). Resoluções suces-
soras são as Resoluções que prorrogam e estão directamente relacionadas com a Resolução
S/RES/1267(1999) original. Na ocasião da Publicação da presente Nota Interpretativa, dentre
estas Resoluções figuravam a S/RES/1333(2000), S/RES/1363(2001), S/RES/1390(2002) e
S/RES/1455(2003). Nesta Nota Interpretativa, o termo S/RES/1267(1999) refere-se à S/
RES/1267(1999) e Resoluções que se sucederam.
3. Por exemplo, tanto a Convenção da ONU contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e
Substâncias Psicotrópicas (1988) como a Convenção da ONU contra a Criminalidade
Organizada Transnacional (2000) estabelecem obrigações respeitantes ao congelamento, apre-
ensão e perda no âmbito do combate à criminalidade transnacional. Estas obrigações existem
distinta e separadamente das obrigações estabelecidas na S/RES/1267(1999), S/RES/1373(2001)
e na Recomendação Especial III.

Anexo VI-234
Annex
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

de pessoas a actuar em seu nome ou sob a sua orientação, e a garantir que


estes ou outros fundos ou outros bens não sejam disponibilizados, directa ou
indirectamente, para o benefício de tais pessoas, por cidadãos ou por qual-
quer pessoa no seu território nacional. O Comité de Sanções à Al-Qaeda e
aos Talibãs é a autoridade responsável por designar as pessoas e entidades
que devem ter os seus fundos ou outros bens congelados nos termos da S/
RES/1267(1999). Todas as jurisdições membros da Organização das Nações
Unidas são obrigadas, por esta S/RES/1267(1999), a congelar os bens das
pessoas e entidades assim designadas pelo Comité de Sanções à Al-Qaeda e
ao Talibãs4.

6. A S/RES/1373(2001) obriga as jurisdições5 a congelar, sem demora, os


fundos ou outros bens de pessoas que cometem ou tentem cometer actos
terroristas, neles participem ou que os facilitem; de entidades de propriedade
ou sob o controlo, directo ou indirecto a, destas pessoas; e de pessoas e enti-
dades a actuar em seu nome ou sob a sua orientação, incluindo fundos ou
outros bens derivados ou gerados de bens que são propriedade ou estão sob
o controlo, directo ou indirecto, de tais pessoas ou de pessoas e entidades a
estas associadas. Cada jurisdição individual tem autoridade para designar as
pessoas e as entidades que devem ter os seus fundos ou outros bens congela-
dos. Além disso, para assegurar o desenvolvimento de uma cooperação efec-
tiva entre as jurisdições, estas devem examinar e executar, quando for o caso,
as acções iniciadas nos termos dos mecanismos de congelamento de outras
jurisdições. Quando (i) é enviada uma notificação ou comunicação específica
e (ii) a jurisdição que recebe o pedido está convencida, em conformidade com
os princípios jurídicos aplicáveis, de que a designação pedida se baseia em
fundamentos ou motivos razoáveis para suspeitar que a pessoa designada seja
um terrorista, um financiador do terrorismo ou uma organização terrorista,
deve proceder de imediato ao congelamento dos fundos ou de outros bens da
pessoa designada.

Definições

7. Para os fins da Recomendação Especial III e desta Nota Interpretativa,


aplicam-se as seguintes definições:

4. Quando o CSNU actua ao abrigo do Capítulo VII da Carta da ONU, as resoluções aprovadas
são vinculativas para todos os membros da ONU.
5. O CSNU actuou ao abrigo do Capítulo VII da Carta da ONU ao aprovar a S/RES/1373(2001)
(ver a nota de rodapé anterior).

Anexo VI-235
Annex
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

a) O termo congelar significa proibir a transferência, conversão, aliena-


ção ou movimentação dos fundos ou de outros bens com base numa
acção iniciada por uma autoridade competente ou um tribunal nos
termos de um mecanismo de congelamento, e pelo respectivo período
de validade. Os fundos ou outros bens congelados continuam a ser
propriedade da(s) pessoa(s) ou entidade(s) que tinham direitos sobre
os fundos ou sobre os outros bens especificados, aquando do con-
gelamento, podendo continuar a ser administrados pela instituição
financeira ou por outras entidades designadas por tal(is) pessoa(s) ou
entidade(s) antes do início de uma acção nos termos de um mecanismo
de congelamento.
b) O termo apreender significa proibir a transferência, conversão, aliena-
ção ou movimentação dos fundos ou de outros bens com base numa
acção iniciada por uma autoridade competente ou um tribunal nos
termos de um mecanismo de congelamento. No entanto, por oposi-
ção à acção de congelamento, a apreensão é executada através de um
mecanismo, nos termos do qual a autoridade competente ou o tribunal
pode assumir o controlo dos fundos ou de outros bens especificados.
Os fundos ou os outros bens apreendidos continuam a ser propriedade
da(s) pessoa(s) ou entidade(s) que tinham direitos sobre os fundos ou
sobre os outros bens especificados por ocasião da apreensão, mas a
autoridade competente ou o tribunal assume com frequência a posse,
administração ou gestão dos fundos ou de outros bens apreendidos.
c) O termo declarar a perda (que inclui a”forfeiture”, quando aplicável),
significa a privação permanente dos fundos ou de outros bens, por
ordem de uma autoridade competente ou de um tribunal. A perda (ou
“forfeiture”) tem lugar através de um procedimento judicial ou admi-
nistrativo que transfere a propriedade dos fundos ou de outros bens
especificados para o Estado. Neste caso, a(s) pessoa(s) ou entidade(s)
titulares de direitos sobre os fundos ou sobre os outros bens especifi-
cados na ocasião da perda (ou “forfeiture”) ficam, em princípio, sem
qualquer direito aos fundos ou aos outros bens declarados perdidos6.
d) O termo fundos ou outros bens significa activos financeiros, bens de
qualquer tipo, tangíveis ou intangíveis, móveis ou imóveis, seja qual
for o modo de aquisição e documentos ou instrumentos legais seja
qual for a sua forma, incluindo a electrónica ou digital, que demons-
trem a titularidade ou outros direitos sobre tais fundos ou outros bens,
incluindo, mas sem que esta enumeração seja exaustiva, créditos ban-

6. Os mandados de perda (ou “forfeiture”) estão comummente ligados a uma condenação penal ou
a uma sentença judicial que tenha estabelecido que os bens declarados perdidos são derivados de
uma violação da lei, ou que se destinavam a ser utilizados para tal violação.

Anexo VI-236
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

cários, cheques de viagem, cheques bancários, ordens de pagamento,


acções, títulos, obrigações, saques bancários e letras de crédito, além
de eventuais juros, dividendos ou outros rendimentos ou valores acu-
mulados ou gerados por tais fundos ou outros bens.
e) O termo terrorista compreende qualquer pessoa singular que: (i) come-
ta ou tente cometer actos terroristas,7 por quaisquer meios, directa ou
indirectamente, ilegal e deliberadamente; (ii) participe, como cúmplice,
na prática de actos terroristas ou de financiamento do terrorismo; (iii)
organize ou induza outrem à prática de actos terroristas ou de finan-
ciamento do terrorismo; ou (iv) contribua para a prática de actos ter-
roristas ou de financiamento do terrorismo por um grupo de pessoas
actuando com um propósito comum, em que a contribuição seja reali-
zada intencionalmente e com o propósito de facilitar o acto terrorista
ou o financiamento do terrorismo ou com conhecimento da intenção
do grupo de cometer um acto terrorista ou de financiamento do terro-
rismo.
f) A expressão aqueles que financiam o terrorismo refere-se a qualquer
pessoa, grupo, associação ou outra entidade que forneça ou reuna, por
quaisquer meios, directa ou indirectamente, fundos ou outros bens que
possam ser utilizados, total ou parcialmente, para facilitar a prática de
actos terroristas, ou por quaisquer pessoas ou entidades que actuem
em nome ou sob a orientação destas pessoas, grupos, associações ou
outras entidades. Isto inclui aqueles que fornecem ou reúnem fun-
dos ou outros bens com a intenção de que sejam utilizados ou com o
conhecimento de que se destinam a ser utilizados, total ou parcialmen-
te, para a execução de actos terroristas.

7. Um acto terrorista inclui um acto que constitua uma infracção abrangida e definida num dos
seguintes tratados: Convenção para a Repressão da Captura Ilícita de Aeronaves, Convenção
para a Supressão de Actos Ilegais contra a Segurança da Aviação Civil, Convenção sobre
Prevenção e Repressão de Crimes contra Pessoas Gozando de Protecção Internacional, incluindo
os Agentes Diplomáticos, Convenção Internacional contra a Tomada de Reféns, Convenção
sobre Protecção Física dos Materiais Nucleares, Protocolo para a Repressão de Actos Ilícitos
de Violência nos Aeroportos Internacionais ao Serviço da Aviação Civil, complementar à
Convenção para a Supressão de Actos Ilegais contra a Segurança da Aviação Civil, Convenção
para a Supressão de Actos Ilícitos contra a Segurança da Navegação Marítima, Protocolo para a
Supressão de Actos Ilícitos contra a Segurança das Plataformas Fixas Localizadas na Plataforma
Continental, Convenção Internacional para a Repressão de Atentados Terroristas à Bomba e
Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (1999).

Anexo VI-237
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

g) O termo organização terrorista refere-se a qualquer pessoa colectiva,


grupo, associação ou outra entidade que é dirigida ou está sob o con-
trolo, directa ou indirectamente, de um terrorista ou de terroristas.
h) O termo pessoas designadas refere-se às pessoas ou entidades desig-
nadas pelo Comité de Sanções da Al-Qaeda e dos Talibãs nos ter-
mos da S/RES/1267(1999) ou às pessoas ou entidades designadas
e aceites, quando for apropriado, pelas jurisdições ao abrigo da S/
RES/1373(2001).
i) O termo sem demora, para os fins da S/RES/1267(1999), significa,
idealmente, numa questão de horas após a respectiva designação
pelo Comité de Sanções da Al-Qaeda e dos Talibãs. Para os fins da
S/RES/1373(2001), o termo prontamente significa logo que existam
fundamentos ou motivos razoáveis para a suspeita ou a convicção
de que uma pessoa ou entidade é um terrorista, um financiador do
terrorismo ou uma organização terrorista. O termo prontamente deve
ser interpretado no contexto da necessidade de prevenir a evasão ou a
dissipação fundos ou de outros bens ligados ao terrorismo e da neces-
sidade de uma acção global coordenada para interromper e desfazer
com rapidez este fluxo.

Congelar sem demora fundos ou outros bens relacionados com o terrorismo

8. Para atender à intenção preventiva da Recomendação Especial III, as juris-


dições devem estabelecer a necessária competência e adoptar as normas e os
procedimentos que se seguem para congelar os fundos ou outros bens dos
terroristas, daqueles que financiam o terrorismo e de organizações terroristas
em conformidade com a S/RES/1267(1999) e a S/RES/1373(2001):

a) Competência para congelar, descongelar e proibir a negociação dos


fundos ou de outros bens das pessoas designadas. As jurisdições
devem proibir, eficazmente, a transferência, a conversão, a alienação
ou a movimentação dos fundos ou de outros bens. Entre as opções
para atribuir a competência para congelar e descongelar os fundos ou
outros bens do terrorismo destacam-se:
i) conceder o poder ou designar uma autoridade competente ou um
tribunal para emitir, administrar e executar acções de congelamento
e de descongelamento ao abrigo dos mecanismos pertinentes, ou
ii) promulgar leis que atribuam a responsabilidade pelo congelamento
dos fundos ou de outros bens das pessoas designadas, que sejam

Anexo VI-238
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

publicamente identificadas por uma autoridade competente ou um


tribunal, à pessoa ou à entidade que detém os fundos ou outros
bens, e sujeitá-la a sanções em caso de não cumprimento.
A competência para congelar e descongelar fundos ou outros
bens deve aplicar-se também aos fundos ou outros bens derivados dos
fundos ou de outros bens, ou por estes gerados, propriedade ou sob o
controlo, directo ou indirecto, de tais terroristas, daqueles que finan-
ciam o terrorismo ou de organizações terroristas.
Qualquer que seja a opção escolhida, devem existir autoridades
competentes claramente identificáveis, com responsabilidade pela exe-
cução das medidas. As autoridades competentes devem garantir que
os seus cidadãos ou quaisquer pessoas e entidades presentes no respec-
tivo território nacional estejam proibidos de disponibilizar quaisquer
fundos ou outros bens, recursos económicos ou serviços financeiros
ou outros serviços ligados, directa ou indirectamente, individualmente
ou em conjunto, para benefício das: pessoas designadas; terroristas;
financiadores do terrorismo; organizações terroristas; entidades detidas
ou sob o controlo, directo ou indirecto, de tais pessoas ou entidades;
e pessoas e entidades que actuem em nome ou sob a orientação destas
pessoas ou entidades.
b) Procedimentos de congelamento. As jurisdições devem desenvolver e
aplicar procedimentos para congelar os fundos ou outros bens espe-
cificados no parágrafo (c), de imediato e sem aviso prévio às pessoas
ou entidades afectadas. As pessoas ou entidades detentoras de tais
fundos ou de outros bens devem ser obrigadas, por lei, a congelá-los e
também ser passíveis de sanções pelo não cumprimento deste requisito.
Qualquer demora entre o recepção oficial das informações fornecidas
em apoio a uma designação e o congelamento efectivo dos fundos ou
de outros bens das pessoas designadas reduz a eficácia da designação,
dando tempo para que as pessoas designadas removam os fundos ou
outros bens das contas e dos locais identificáveis. Assim, estes procedi-
mentos devem garantir (i) a pronta determinação da existência de fun-
damentos ou de motivos razoáveis para iniciar uma acção nos termos
de um mecanismo de congelamento e (ii) o subsequente congelamento,
sem demora, dos fundos ou de outros bens, aquando da determinação
da existência de tais fundamentos ou de motivos para o congelamento.
As jurisdições devem desenvolver sistemas eficientes e eficazes para
comunicar ao sector financeiro as acções executadas nos termos dos
seus mecanismos de congelamento, imediatamente após a execução.
Além disso, devem fornecer orientações claras, especialmente às insti-

Anexo VI-239
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

tuições financeiras e a outras pessoas ou entidades que possam estar


na posse dos fundos ou de outros bens, quanto à obrigação de tomar
medidas ao abrigo dos mecanismos de congelamento.
c) Fundos ou outros bens a ser congelados ou, quando for o caso, apre-
endidos. Segundo a Recomendação Especial III, os fundos ou outros
bens a ser congelados incluem aqueles que estão sujeitos ao congela-
mento nos termos da S/RES/1267(1999) e da S/RES/1373(2001). Tais
fundos ou outros bens incluiriam também aqueles que são propriedade
ou estão sob o controlo, individualmente ou em conjunto, directo
ou indirecto, das pessoas designadas. De acordo com as obrigações
que decorrem da Convenção Internacional das Nações Unidas para
a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (1999) (a Convenção
sobre o Financiamento do Terrorismo (1999)), as jurisdições devem ter
a capacidade para congelar ou, quando for o caso, apreender quais-
quer fundos ou outros bens que identificarem, detectarem e verifica-
rem, em conformidade com princípios jurídicos aplicáveis, que estão a
ser utilizados pelos terroristas, por aqueles que financiam o terrorismo
ou pelas organizações terroristas, ou que por eles são utilizados, repar-
tidos ou disponibilizados. O congelamento ou a apreensão, ao abrigo
da Convenção sobre o Financiamento do Terrorismo (1999) pode
ser executado com o congelamento ou a apreensão no contexto uma
investigação ou processo penal. A acção de congelamento executada
nos termos da Recomendação Especial III deve ser feita sem prejuízo
dos direitos de terceiros que estejam de boa-fé.
d) Procedimentos de retirada da lista e descongelamento. As jurisdi-
ções devem criar e aplicar procedimentos de conhecimento público
para considerar os pedidos de retirada da lista, através do recurso a
certos critérios compatíveis com as obrigações internacionais e com
os princípios jurídicos aplicáveis, e para descongelar, de forma tem-
pestiva, os fundos ou outros bens das pessoas ou entidades retiradas
da lista. No caso das pessoas e entidades designadas nos termos da S/
RES/1267(1999), estes procedimentos e critérios devem estar em con-
formidade com os procedimentos adoptados pelo Comité de Sanções
da Al-Qaeda e dos Talibãs, ao abrigo da S/RES/1267(1999).
e) Descongelar mediante verificação da identidade. No caso de pesso-
as ou entidades com nome idêntico ou semelhante aos das pessoas
designadas, que são inadvertidamente afectadas por um mecanismo de
congelamento, as jurisdições devem criar e aplicar procedimentos do
conhecimento público para descongelar os fundos ou outros bens des-

Anexo VI-240
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

tas pessoas ou entidades de forma tempestiva mediante verificação de


que a pessoa ou entidade envolvida não é uma pessoa designada.
f) Facultar o acesso a fundos ou a outros bens congelados em determi-
nadas circunstâncias. Quando as jurisdições determinarem que os fun-
dos ou outros bens, que estão de outra forma sujeitos a congelamento
nos termos das obrigações da S/RES/1267(1999), são necessários para
despesas básicas; para o pagamento de certos tipos de honorários,
despesas e taxas de serviço, ou para despesas extraordinárias,8 as
jurisdições devem autorizar o acesso a tais fundos ou a outros bens em
conformidade com os procedimentos existentes na S/RES/1452(2002)
e sujeitos a aprovação pelo Comité de Sanções da Al-Qaeda e aos
Talibãs. Pelos mesmos motivos, as jurisdições podem autorizar o aces-
so a fundos ou a outros bens, se as medidas de congelamento forem
aplicadas em conformidade com a S/RES/1373(2001).
g) Recursos. As jurisdições devem estabelecer um mecanismo através do
qual uma pessoa ou entidade alvo de um mecanismo de congelamento
no contexto do financiamento do terrorismo possa sindicar essa medi-
da garantindo que a mesma seja reavaliada pela autoridade competen-
te ou por um tribunal.
h) Sanções. As jurisdições devem adoptar medidas adequadas para acom-
panhar eficazmente o cumprimento das leis, normas ou regulamenta-
ções relevantes que regem os mecanismos de congelamento, por parte
de instituições financeiras e outras pessoas ou entidades que possam
estar na posse de fundos ou de outros bens, conforme indicado no
parágrafo 8(c) precedente. O não cumprimento dessas leis, normas ou
regulamentações deve ser passível de sanções civis, administrativas ou
penais.

Apreensão e perda

9. Em conformidade com a Recomendação 3 do GAFI, as jurisdições devem


adoptar medidas semelhantes às constantes no Artigo V da Convenção das
Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e de Substâncias
Psicotrópicas (1988), nos Artigos 12º a 14º da Convenção da Organização
das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional
(2000), e no Artigo 8.°da Convenção sobre o Financiamento do Terrorismo
(1999), incluindo medidas legislativas, para conceder o poder aos seus tribu-

8. Ver Artigo 1, S/RES/1452(2002) quanto aos tipos específicos de despesas que estão abrangidas.

Anexo VI-241
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

nais ou autoridades competentes de apreender e declarar a perda de fundos


ou de outros bens do terrorismo.

Nota Interpretativa à Recomendação Especial VI: Sistemas alternativos de remessa


de fundos

Generalidades

1. Os sistemas de transferência de dinheiro ou de valores demonstraram ser


vulneráveis a uma utilização indevida para fins de branqueamento de capitais
e de financiamento do terrorismo. O objectivo da Recomendação Especial VI
é o de aumentar a transparência dos fluxos de pagamento garantindo que as
jurisdições imponham medidas consistentes anti-branqueamento de capitais e
de combate ao financiamento do terrorismo em todos os modelos de sistemas
de transferência de dinheiro/valores, em especial os que operam tradicional-
mente à margem do sector financeiro convencional e que não se encontram
actualmente sujeitos às Recomendações do GAFI. Esta Recomendação e Nota
Interpretativa destacam a necessidade de incluir todos os serviços de transfe-
rência de dinheiro ou de valores, quer sejam formais ou informais, no âmbito
de certos requisitos legais e regulamentares mínimos, em conformidade com
as Recomendações relevantes do GAFI.

2. A Recomendação Especial VI consiste em três elementos principais:

a) As jurisdições devem exigir o licenciamento ou o registo de pessoas


(singulares ou colectivas) que fornecem serviços de transferência de
dinheiro/valores, incluindo os que operam por intermédio de sistemas
informais;
b) As jurisdições devem garantir que os serviços de transferência de
dinheiro/valores, incluindo os sistemas informais (como descritos no
parágrafo 5), estão sujeitos às 40 Recomendações (2003) do GAFI
aplicáveis (em particular, as Recomendações 4-16 e 21-25)9 e às Oito
Recomendações Especiais (em particular a RE VII); e
c) As jurisdições devem estar aptas a impor sanções aos serviços de trans-
ferência de dinheiro/valores, incluindo aos sistemas informais, que

9. Quando esta Nota Interpretativa foi originalmente publicada, estas referências eram feitas às 40
Recomendações do GAFI de 1996. No seguimento da publicação das 40 Recomendações revis-
tas do GAFI, em Junho de 2003, este texto foi adequadamente actualizado. Todas as referências
são agora feitas às Quarenta Recomendações do GAFI de 2003 GAFI.

Anexo VI-242
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

operam sem licença ou registo e não cumprem com as Recomendações


relevantes do GAFI.

Âmbito e aplicação

3. Para os fins desta esta Recomendação, são utilizadas as seguintes defini-


ções.

4. Serviços de transferência de dinheiro ou de valores refere-se a serviços


financeiros que aceitam numerário, cheques, outros instrumentos monetários
ou outros depósitos de valores num local e pagam um montante correspon-
dente em numerário ou em outra forma a um beneficiário noutro local atra-
vés de uma comunicação, mensagem, transferência ou através de uma rede de
compensação à qual pertença o serviço de transferência de dinheiro/valores.
As operações executadas por estes serviços podem envolver um ou mais inter-
mediários e um terceiro para o pagamento final.

5. Um serviço de transferência de dinheiro ou de valores pode ser forneci-


do formalmente por pessoas (singulares ou colectivas) através do sistema
financeiro regulado ou informalmente através de instituições financeiras não
bancárias ou outras entidades comerciais ou qualquer outro mecanismo que
funcione através do sistema financeiro regulado (por exemplo, utilização de
contas bancárias) ou por intermédio de uma rede ou mecanismo que opera à
margem do sistema regulado. Em algumas jurisdições, os sistemas informais
são frequentemente conhecidos como serviços alternativos de remessa ou sis-
temas bancários clandestinos (ou paralelos). Frequentemente, estes sistemas
têm ligações com determinadas regiões geográficas e, consequentemente, são
descritos pela utilização de vários termos específicos. Alguns exemplos destes
termos incluem hawala, hundi, fei-chien e o mercado negro de câmbio do
peso10.

6. Objecto de licença significa o requisito de ser obtida uma autorização de


uma autoridade designada competente, por forma a operar legalmente um
serviço de transferência de dinheiro/valores.

10. A inclusão destes exemplos não sugere que tais sistemas são lícitos numa qualquer jurisdição em
particular.

Anexo VI-243
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

7. Registo nesta Recomendação significa o requisito de registar ou declarar


junto de uma autoridade competente a existência de um serviço de transfe-
rência de dinheiro/valores para que o seu negócio seja legal.

8. A obrigação de obtenção de uma licença ou de registo aplica-se a agen-


tes. No mínimo, a empresa principal deve manter uma lista actualizada de
agentes que deve ser apresentada às autoridades competentes designadas. Um
agente é qualquer pessoa que forneça serviços de transferência de dinheiro ou
de valores sob a direcção ou através de um contrato com um remetente lega-
lizado ou portador de uma licença (por exemplo, titulares de uma licença, de
uma franquia, concessionários).

Aplicabilidade da Recomendação Especial VI

9. A Recomendação Especial VI deve aplicar-se a todas as pessoas (singulares


ou colectivas), que realizem para ou no interesse de outra pessoa (singular ou
colectiva) as actividades descritas nos anteriores parágrafos 4 e 5 como sua
actividade principal ou de modo regular ou constante, mesmo que se trate de
uma parte subordinada de uma empresa comercial distinta.

10. As jurisdições não necessitam impor um sistema de registo/licença dis-


tinto nem designar outra autoridade competente no que se refere a pessoas
(singulares ou colectivas) já titulares de licença ou registadas como institui-
ções financeiras (tal como definido pelas Quarenta Recomendações do GAFI
(2003)) numa determinada jurisdição, em que a referida licença ou registo
permite o desempenho das actividades descritas nos referidos parágrafos 4
e 5 e que já se encontram sujeitas à aplicabilidade total das obrigações, em
conformidade com as Quarenta Recomendações do GAFI (2003) (em espe-
cial, as Recomendações 4 – 16 e 21 – 25) e com as Oito Recomendações
Especiais (em especial a RE VII).

Licenciamento ou registo e cumprimento das normas

11. As jurisdições devem designar uma autoridade para emitir licenças e/ou
efectuar registos e garantir que estes requisitos são cumpridos. Deverá existir
uma autoridade responsável por assegurar o cumprimento pelos serviços de
transferência de dinheiro/valores das Recomendações do GAFI (incluindo as

Anexo VI-244
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

Oito Recomendações Especiais). Devem existir sempre sistemas eficazes de


acompanhamento para garantir o referido cumprimento. Esta interpretação
da Recomendação Especial VI (por exemplo, a necessidade de designar auto-
ridades competentes) é consistente com a Recomendação 23 do GAFI.

Sanções

12. As pessoas que realizam serviços de transferência de dinheiro/valores


sem licença ou registo devem ser sujeitas a sanções administrativas, civis ou
penais adequadas.11 Os serviços de transferência de dinheiro/valores titulares
de licença ou de registo que não cumpram integralmente as medidas rele-
vantes expressas nas Quarenta Recomendações do GAFI (2003) ou nas Oito
Recomendações Especiais devem ser também sujeitos a sanções adequadas.

Nota Interpretativa da Recomendação Especial VII: Transferências electrónicas12

Objectivo

1. A Recomendação Especial VII (RE VII) foi elaborada com o objectivo


de prevenir que os terroristas e outros criminosos tenham o livre acesso a
transferências electrónicas para movimentar os seus fundos e para detectar
esta utilização indevida sempre que a mesma ocorra. Tem por fim, designada-
mente, garantir que informações básicas sobre o ordenante das transferências
electrónicas estejam imediatamente disponíveis para (1) as competentes auto-
ridades policiais e/ou autoridades judiciárias, para as auxiliar na detecção, na
investigação, e na perseguição penal de terroristas ou de outros criminosos
e para a localização dos bens de terroristas ou de outros criminosos, (2) as
Unidades de Informação Financeira, para análise de actividades não usuais e
suspeitas e a sua respectiva disseminação, se necessário, e (3) as instituições
financeiras beneficiárias, para facilitar na identificação e na comunicação de
operações suspeitas. Não é intenção do GAFI impor normas rígidas nem um
procedimento operacional único que pudesse afectar negativamente os siste-
mas de pagamento.

11. A inclusão destes exemplos não sugere que tais sistemas são lícitos numa qualquer jurisdição em
particular.
12. É um facto reconhecido que as jurisdições necessitarão de tempo para fazer as mudanças legisla-
tivas ou regulamentares relevantes e para dar a oportunidade às instituições financeiras de fazer
as necessárias adaptações aos seus sistemas e procedimentos. Este período não deve ultrapassar
dois anos após a adopção desta Nota Interpretativa.

Anexo VI-245
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Definições

2. Para os fins desta Nota Interpretativa, aplicam-se as seguintes definições.

a) Os termos transferência electrónica e transferência de fundos refere-


se a qualquer operação efectuada em nome de uma pessoa ordenante
(quer singular ou colectiva) através de uma instituição financeira, por
via electrónica, com o fim de disponibilizar um montante de dinheiro a
uma pessoa beneficiária noutra instituição financeira. O ordenante e o
beneficiário podem ser a mesma pessoa.
b) Transferência transnacional significa qualquer transferência electrónica
em que o ordenante e as instituições beneficiárias estão localizadas em
diferentes jurisdições. Este termo também se refere a qualquer cadeia
de transferências electrónicas que tenha pelo menos um elemento
transnacional.
c) Transferência doméstica significa qualquer transferência electrónica
em que o ordenante e as instituições beneficiárias estão localizadas
na mesma jurisdição. Assim, este termo refere-se a qualquer cadeia de
transferências electrónicas que seja realizada na sua totalidade dentro
das fronteiras de uma única jurisdição, mesmo que o sistema utilizado
para efectuar a transferência electrónica possa estar localizado numa
outra jurisdição.
d) O termo instituição financeira é o que se encontra definido nas
Quarenta Recomendações do GAFI (2003).13 O termo não se aplica
a todas as pessoas ou entidades que apenas fornecem às instituições
financeiras sistemas de mensagens ou outros sistemas de apoio à trans-
missão de fundos.14
e) O ordenante é o titular da conta ou, nos casos em que não exista uma
conta, a pessoa (singular ou colectiva) que submete o pedido junto da
instituição financeira para a realização da transferência electrónica.

13. Quando esta Nota Interpretativa foi originalmente publicada, estas referências eram às 40
Recomendações do GAFI de 1996. No seguimento da publicação das Quarenta Recomendações
revistas do GAFI, em Junho de 2003, este texto foi adequadamente actualizado. Todas as refer-
ências são agora feitas às Quarenta Recomendações do GAFI de 2003.
14. No entanto, estes sistemas desempenham um papel no fornecimento dos meios necessários para
que as instituições financeiras possam cumprir as suas obrigações nos termos da RE VII e, em
particular, na preservação da integridade das informações transmitidas por uma transferência
electrónica.

Anexo VI-246
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

Âmbito

3. A RE VII aplica-se, nas seguintes condições, às transferências transnacio-


nais e domésticas entre instituições financeiras.

Transferências electrónicas transnacionais

4. As transferências electrónicas transnacionais devem ser acompanhadas de


informações adequadas e fidedignas relativas ao ordenante.15

5. As informações que acompanham as transferências electrónicas transnacio-


nais devem incluir sempre o nome do ordenante e o local onde está sediada
a conta e o respectivo número da conta. Na ausência de uma conta, deve ser
incluído um número único de referência.

6. As informações que acompanham a transferência electrónica devem incluir


sempre o endereço do ordenante. No entanto, as jurisdições poderão permi-
tir que as instituições financeiras substituam o endereço por um número de
identidade nacional, número de identificação do cliente ou data e local de
nascimento.

7. As transferências electrónicas transnacionais incluídas em transferências


em bloco, excepto as que são enviadas por serviços de remessa de fundos,
deverão ser tratadas como transferências electrónicas nacionais. Nestes casos,
as instituições requerentes devem reter as informações necessárias para a iden-
tificação de todos os ordenantes e disponibilizá-las, se pedidas, às autoridades
e à instituição financeira beneficiária. As instituições financeiras devem garan-
tir que as operações não rotineiras não são incluídas nas transferências em
bloco nas situações em que tal poderia aumentar o risco de branqueamento
de capitais ou de financiamento do terrorismo.

15. As jurisdições poderão ter um limiar mínimo (não superior a 3.000US$) por um período de um
ano a contar da publicação desta Nota Interpretativa. Ao cessar este período, o GAFI realizará
uma avaliação desta questão para determinar se a aplicação de um limiar mínimo é aceitável.
Não obstante quaisquer limiares, informações adequadas e fidedignas do ordenante devem ser
retidas e disponibilizadas pela instituição financeira requerente tal como referido no parágrafo 9.

Anexo VI-247
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Transferências electrónicas nacionais

8. As informações que acompanham as transferências electrónicas nacio-


nais devem também incluir as informações do ordenante tal como acontece
com as transferências electrónicas transnacionais, excepto se as informações
completas do ordenante puderem ser disponibilizadas à instituição financei-
ra beneficiária e às autoridades competentes por outra forma. Neste último
caso, as instituições financeiras necessitam apenas de incluir o número da
conta ou um número de identificação único desde que este número ou identi-
ficação permita rastrear a operação até ao seu ordenante.

9. As informações devem ser disponibilizadas pela instituição financeira


requerente no prazo de três dias úteis após a recepção do pedido de uma
instituição financeira beneficiária ou das autoridades competentes. As auto-
ridades policiais devem poder exigir a apresentação imediata das referidas
informações.

Excepções da RE VII

10. A RE VII não abrange os seguintes tipos de pagamentos:

a) Qualquer transferência que seja resultante de uma operação efectuada


através da utilização de um cartão de crédito ou de débito desde que
o respectivo número deste cartão de crédito ou de débito acompanhe
todas as transferências resultantes dessa operação. No entanto, quando
são utilizados cartões de crédito ou de débito como método de paga-
mento para efectuar uma transferência de dinheiro, ficam abrangidos
pela RE VII, e as informações necessárias devem ser incluídas na men-
sagem.
b) Transferências e compensações entre instituições financeiras em que
quer o ordenante quer o beneficiário são instituições financeiras a
actuar em nome próprio.

Anexo VI-248
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

Papel das instituições financeiras ordenantes, intermediárias e beneficiárias

Instituição financeira ordenante

11. A instituição financeira ordenante deve assegurar que as transferências


electrónicas qualificadas incluem as informações completas do ordenante. A
instituição financeira ordenante deve ainda verificar todas estas informações
quanto à sua exactidão, além de as manter, em conformidade com os padrões
estabelecidos nas Quarenta Recomendações do GAFI (2003).16

Instituição financeira intermediária

12. Quer para transferências electrónicas transnacionais quer para nacionais,


as instituições financeiras que se encontram no papel de intermediárias na
cadeia de transferências electrónicas devem garantir que as informações com-
pletas do ordenante que acompanham a transferência electrónica são manti-
das com esta.

13. Sempre que limitações técnicas impeçam que as informações completas


do ordenante que acompanham uma transferência electrónica transnacional
sejam mantidas com uma transferência electrónica nacional com aquela rela-
cionada (durante o período necessário para adaptação a sistemas de paga-
mento), deve ser mantido pela instituição financeira intermediária que as rece-
be um registo, pelo período de cinco anos, de todas as informações recebidas
pela instituição financeira ordenante.

Instituição financeira beneficiária

14. As instituições financeiras beneficiárias devem ter procedimentos efica-


zes baseados no risco para identificar as transferências electrónicas que não
incluem as informações completas do ordenante. A ausência de informações
completas do ordenante deve ser considerada como um factor na avaliação da
eventual natureza suspeita da operação de transferência e, tal como é devido,
se deverão então ser comunicadas à Unidade de Informação Financeira ou
a outras autoridades competentes. Em alguns casos, a instituição financei-

16. Ver nota de rodapé 2.

Anexo VI-249
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

ra beneficiária deve considerar restringir ou mesmo terminar esta relação


comercial com as instituições financeiras que não cumpriram com os padrões
da REVII.

Mecanismos para assegurar a aplicação pelas instituições financeiras não cum-


pridoras das regras e regulações de transferência electrónica

15. As jurisdições devem adoptar medidas adequadas para acompanhar efi-


cazmente o cumprimento pelas instituições financeiras das regras e regulações
que regem as transferências electrónicas. O não cumprimento pelas institui-
ções financeiras destas regras e regulações deve ser passível de sanções civis,
administrativas ou penais.

Nota Interpretativa à Recomendação Especial IX: Transportadores de numerário

Objectivo

1. A Recomendação Especial IX do GAFI foi desenvolvida com o objectivo


de garantir que os terroristas e outros criminosos não possam financiar as
suas actividades ou branquear o produto proveniente da prática de crimes
através do transporte físico transfronteiras de numerário e de instrumentos
negociáveis ao portador. Especificamente, procura assegurar que os países
disponham de medidas para 1) detectar o transporte físico transfronteiras
de numerário e de outros instrumentos negociáveis ao portador, 2) bloquear
ou reter numerário ou outros instrumentos negociáveis ao portador que se
suspeite estarem relacionados com o financiamento do terrorismo ou com
o branqueamento de capitais, 3) bloquear ou reter numerário ou outros
instrumentos negociáveis ao portador que foram falsamente declarados ou
revelados, 4) aplicar as sanções adequadas pela prestação de falsas declara-
ções ou revelações, e 5) permitir declarar a perda de numerário ou de outros
instrumentos negociáveis ao portador relacionados com o financiamento do
terrorismo ou com o branqueamento de capitais. Os países devem aplicar a
Recomendação Especial IX, sujeitando-a a salvaguardas restritas, para asse-
gurar a utilização adequada da informação e sem restringir, por qualquer
forma: (i) os pagamentos comerciais entre os países, por bens e serviços; ou
(ii) a livre circulação de capitais.

Anexo VI-250
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

Definições

2. Para os fins da Recomendação Especial IX e desta Nota Interpretativa,


aplicam-se as seguintes definições:

3. Os termos instrumentos negociáveis ao portador incluem instrumentos


monetários ao portador, tais como: cheques de viagem; instrumentos negociá-
veis (incluindo cheques, notas promissórias e ordens de pagamento) que sejam
ao portador, endossados sem restrição, feitos para um beneficiário fictício ou
em tal forma que a titularidade seja transferível com a entrega; instrumentos
incompletos (incluindo cheques, notas promissórias e ordens de pagamento)
assinados, mas em que seja omisso o nome do beneficiário.17

4. O termo numerário refere-se às notas bancárias e às moedas em circulação


como instrumento de câmbio.

5. Os termos transporte físico transfronteiras referem-se a qualquer entrada


ou saída física de numerário ou de instrumentos negociáveis ao portador de
um país para outro. Estes termos incluem os seguintes meios de transporte:
(1) o transporte físico por uma pessoa singular ou na sua bagagem ou veícu-
lo; (2) o envio de numerário através de um contentor ou (3) a remessa postal
de numerário ou de instrumentos negociáveis ao portador por uma pessoa
singular ou colectiva.

6. Os termos falsa declaração referem-se ao acto de falsear o valor do nume-


rário ou de instrumentos negociáveis ao portador transportados, ou falsear
outra informação relevante pedida na declaração ou solicitada pelas autorida-
des. Estes termos incluem ainda o preenchimento incorrecto da declaração.

7. Os termos falsa revelação referem-se ao acto de falsear o valor do nume-


rário ou dos instrumentos negociáveis ao portador transportados, ou falsear
outra informação relevante que se requer seja revelada ou que é solicitada
pelas autoridades. Estes termos incluem ainda a revelação feita de forma
incorrecta.

17 Para os fins desta Nota Interpretativa não estão incluídos o ouro nem os metais preciosos ou
pedras preciosas, apesar da sua elevada e da sua utilização, em determinadas situações, como
meio de câmbio ou transmissão de valor. Os mesmos podem ser abrangidos através da legislação
ou regulamentação aduaneira. Se um país detectar uma movimento transfronteiriço inusual de
ouro ou de metais preciosos ou pedras preciosas, deve considerar notificar, de forma apro-
priada, as autoridades alfandegárias ou outras autoridades competentes dos países de onde
são provenientes estes ouro ou metais ou pedras preciosas e/ou aos quais se destinam, devendo
cooperar com o objectivo de determinar a fonte, o destino e os propósitos destes movimentos e
a aplicação de uma acção em conformidade.

Anexo VI-251
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

8. Quando os termos relacionados com o financiamento do terrorismo ou o


branqueamento de capitais são utilizados para descrever numerário ou ins-
trumentos negociáveis ao portador, referem-se a numerário ou instrumentos
negociáveis ao portador que são: (i) o produto de, ou utilizado em, ou diri-
gido ou destinado a ser utilizado no financiamento do terrorismo, de actos
terroristas ou de organizações terroristas,; ou (ii) produto do branqueamento,
ou proventos resultantes da prática de infracções subjacentes ou instrumentos
utilizados ou destinados a ser utilizados na comissão destas infracções.

Tipos de sistemas que podem ser aplicados para tratar a


questão dos transportadores de numerário

9. Os países podem cumprir as suas obrigações nos termos da Recomendação


Especial IX e desta Nota Interpretativa aplicando um dos seguintes tipos de
sistemas; contudo, os países não estão obrigados a utilizar o mesmo tipo de
sistema para a entrada ou a saída de transportes transfronteiras de numerário
ou de instrumentos negociáveis ao portador:

a) Sistema de declaração: As características essenciais do sistema de


declaração são as seguintes. Todas as pessoas que efectuem o transpor-
te físico transfronteiras de numerário ou de instrumentos negociáveis
ao portador, que ultrapasse um limiar pré-estabelecido, cujo valor
máximo é de 15.000 EUR/USD, devem apresentar uma declaração
verdadeira às autoridades competentes designadas. Os países que
apliquem um sistema de declaração devem assegurar que o limiar pré-
estabelecido é suficientemente baixo para cumprir os objectivos da
Recomendação Especial IX.
b) Sistema de revelação: As características principais de um sistema de
revelação são as seguintes. Todas as pessoas que efectuem o transporte
físico transfronteiras de numerário ou de instrumentos negociáveis
devem fazer uma revelação verdadeira às autoridades competentes
designadas, sempre que a mesma lhes for solicitada. Os países que
apliquem um sistema de revelação devem assegurar-se que as autori-
dades competentes designadas possam realizar as suas averiguações de
forma direccionada, com base em informação ou em suspeitas, ou de
uma forma aleatória.

Elementos adicionais aplicáveis a ambos os sistemas

Anexo VI-252
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

10. Qualquer que seja o sistema existente, os países deverão assegurar-se que
o seu sistema inclui os seguintes elementos:

a) O sistema de declaração ou de revelação deve aplicar-se ao transporte


de numerário e de instrumentos negociáveis ao portador que entra ou
sai do país.
b) Quando descubram uma falsa declaração ou revelação de numerário
ou de instrumentos negociáveis ao portador ou uma declaração ou
revelação incorrecta, as autoridades competentes designadas devem
ter poderes para solicitar e obter do transportador mais informação
relativamente à origem e à intenção da utilização de numerário ou dos
instrumentos negociáveis ao portador.
c) A informação obtida através do processo de declaração ou de revelação
deve estar disponível para a Unidade de Informação Financeira (UIF),
quer seja através de um sistema pelo qual é notificada dos incidentes de
transporte transfronteiras suspeitos ou através de outra via que coloque
a informação da declaração ou da revelação directamente à sua dispo-
sição.
d) A nível nacional, os países devem assegurar-se que exista uma adequa-
da coordenação entre as autoridades aduaneiras, de imigração e outras
autoridades com intervenção nas questões que resultam da aplicação
da Recomendação Especial IX.
e) Nos seguintes dois casos, as autoridades competentes devem estar
aptas a bloquear ou a reter numerário ou instrumentos negociáveis
ao portador por um período de tempo razoável com o objectivo de
averiguarem se existe alguma prova de branqueamento de capitais
ou de financiamento do terrorismo: (i) quando exista uma suspeita de
branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo; ou (ii)
quando exista uma falsa declaração ou uma falsa revelação.
f) O sistema de declaração ou de revelação deve permitir o mais amplo
auxílio e cooperação internacional, de acordo com a Recomendação
Especial V e com as Recomendações 35 a 40. Para facilitar tal coope-
ração, nas circunstâncias em que: (i) é feita uma declaração ou uma
revelação que ultrapassa o limiar máximo de 15.000 EUR/USD, (ii)
quando é feita uma falsa declaração ou uma falsa revelação ou (iii)
quando existem suspeitas de branqueamento de capitais ou de financia-
mento do terrorismo; esta informação deve ser guardada para uso das
autoridades competentes. No mínimo, esta informação deve conter: (i)
o montante do numerário ou de instrumentos negociáveis ao portador

Anexo VI-253
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

declarados ou revelados; e (ii) informação sobre a identificação do ou


dos transportadores.

Sanções

11. As pessoas que efectuem uma falsa declaração ou uma falsa revelação
devem ser sujeitas sanções efectivas, proporcionadas e dissuasivas, de natu-
reza penal, civil ou administrativa. As pessoas que efectuem um transporte
físico transfronteiras de numerário ou de instrumentos negociáveis ao por-
tador que estejam relacionados com o financiamento do terrorismo ou com
o branqueamento de capitais devem ser também sujeitas a sanções efectivas,
proporcionadas e dissuasivas, de natureza penal, civil ou administrativa, e
ser sujeitas a medidas, incluindo de natureza legislativa, consistentes com a
Recomendação 3 e com a Recomendação Especial III, que permitam declarar
a perda do referido numerário ou dos instrumentos negociáveis ao portador.

Notas de Orientação

1. As Oito Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo


foram adoptadas pelo GAFI em Outubro de 2001. Logo após a sua adopção,
o GAFI encarregou-se da avaliação do nível de aplicação das Recomendações
Especiais através de um exercício de auto-avaliação. Foi elaborado um ques-
tionário de auto-avaliação sobre o financiamento do terrorismo (QAAFT),
com uma série de questões para cada Recomendação Especial. As questões
foram concebidas para conhecer aspectos que ajudem a avaliar se uma
determinada jurisdição aplicou de facto uma determinada Recomendação
Especial.

2. Desde a adopção das Recomendações Especiais, o GAFI teve pouco tempo


para desenvolver interpretações baseadas na experiência adquirida com a
aplicação destas medidas. Consequentemente, foi decidido, na conclusão da
fase inicial deste exercício realizado pelos membros do GAFI, que outras
orientações seriam elaboradas e publicadas para ajudar as jurisdições não
membros do GAFI a compreender alguns dos conceitos constantes das
Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo e a clarificar
certos aspectos do QAAFT. Assim, o presente documento contém clarifica-
ções adicionais sobre as Oito Recomendações Especiais e o QAAFT.

Anexo VI-254
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

3. Sublinha-se, desde já, que as informações aqui apresentadas se destinam


principalmente a servir como guia para as jurisdições que estejam a tentar
preencher e submeter o QAAFT. Por esta razão, não devem ser consideradas
completas nem definitivas. Eventuais dúvidas sobre determinadas interpre-
tações ou implicações das Recomendações Especiais devem ser dirigidas ao
Secretariado do GAFI, no endereço contact@fatf-gafi.org.

REI: Ratificação e aplicação dos instrumentos da Organização das Nações Unidas

4. Esta Recomendação contém dois elementos:

• As jurisdições devem ratificar e aplicar integralmente a Convenção


Internacional das Nações Unidas para a Eliminação do Financiamento
do Terrorismo, de 1999, e
• As jurisdições devem aplicar cinco Resoluções do Conselho de
Segurança da ONU: S/RES/1267(1999), S/RES/1269(1999), S/
RES/1333(2000), S/RES/1373(2001) e S/RES/1390(2001).

5. Para os fins desta Recomendação Especial, ratificação significa que foram


realizados os procedimentos legislativos ou administrativos nacionais eventu-
almente necessários para aprovar a Convenção da ONU e que os respectivos
instrumentos de ratificação foram entregues na Organização das Nações
Unidas. Aplicação, na forma aqui utilizada, significa que foram aplicadas
medidas para colocar em vigor as disposições indicadas na Convenção da
ONU e nas Resoluções do CSNU. As medidas podem ser estabelecidas por
lei, regulamento, directiva, decreto ou qualquer outro acto legislativo exigido
pelas leis nacionais.

6. A Convenção da ONU foi aberta à assinatura de 10 de Janeiro de 2000 a


31 de Dezembro de 2001 e, após a assinatura, requer a ratificação, a aceita-
ção ou a aprovação. Os instrumentos de ratificação, de aceitação ou de apro-
vação devem ser depositados junto ao Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas, em Nova Iorque. Os países que não assinaram a Convenção
podem aceitá-la (ver o Artigo 25º da Convenção). O texto integral da
Convenção da ONU pode ser consultado em http://untreaty.un.org/English/
Terrorism/conv12.pdf. Em 19 de Março de 2002, 132 países haviam assina-
do e 24 haviam depositado os instrumentos de ratificação. Em 10 de Março
de 2002, a Convenção da ONU alcançou o número mínimo de ratificações
(22) estipulado como necessário para entrar em vigor. A data efectiva da

Anexo VI-255
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

Convenção é 10 de Abril de 2002. A página web, que contém informações


actuais sobre a Convenção, está localizada no sítio da ONU, em http://
untreaty.un.org/ENGLISH/status/Chapter_xviii/ treaty11.asp. Para obter
informações gerais sobre os tratados da ONU, ver http://untreaty.un.org/
english/guide.asp e o Manual de Tratados do Gabinete de Assuntos Jurídicos
da ONU, em http://untreaty.un.org/English/TreatyHandbook/hbframeset.htm.
Os textos das pertinentes Resoluções do Conselho de Segurança da ONU
podem ser consultados no sítio da ONU, em http://www.un.org/documents/
scres.htm.

RE II: Criminalização do financiamento do terrorismo e do branqueamento de capi-


tais associado

7. Esta Recomendação contém dois elementos:

• As jurisdições devem criminalizar “o financiamento do terrorismo, de


actos terroristas e das organizações terroristas”; e
• As jurisdições devem estabelecer as infracções de financiamento do ter-
rorismo como infracções subjacentes ao branqueamento de capitais.

8. Ao aplicar a RE II, as jurisdições devem criar infracções penais específi-


cas para as actividades de financiamento do terrorismo ou poder recorrer
a infracções penais existentes que possam ser aplicadas directamente a tais
casos. As frases financiamento do terrorismo ou financiamento de actos ter-
roristas referem-se às actividades descritas na Convenção da ONU (Artigo
2°) e na S/RES/1373(2001), Parágrafo 1b) (ver o sítio da ONU, em http://
www.un.org/documents/scres.htm, para consultar o texto desta Resolução).
Importa observar que cada jurisdição deve também garantir que as infracções
de financiamento do terrorismo devem ser consideradas infracções subjacen-
tes mesmo quando cometidas noutro Estado. Nestes termos, esta interpreta-
ção decorrente da RE II é coerente com a Recomendação 4 do GAFI.

9. A Recomendação 4 do GAFI exige já que as jurisdições designem as


“infracções graves” como infracções subjacentes ao branqueamento de capi-
tais. A RE II alarga o âmbito da Recomendação 4, exigindo, perante a gravi-
dade das infracções de financiamento do terrorismo, que estas sejam especifi-
camente incluídas entre as infracções subjacentes ao branqueamento de capi-
tais. Para o texto integral das Quarenta Recomendações do GAFI, bem como

Anexo VI-256
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

das respectivas Notas Interpretativas, ver o sítio do GAFI, em http://www.


fatfgafi.org/40Recs_en.htm.

10. Finalmente, como é em regra o caso de outras infracções subjacentes ao


branqueamento de capitais, as jurisdições devem garantir que as infracções de
financiamento do terrorismo constituam infracções subjacentes mesmo quan-
do cometidas numa jurisdição diferente daquela onde a infracção de branque-
amento de capitais está a ser aplicada.

RE III: Congelamento e perda de bens relacionados com o terrorismo

11. Esta Recomendação contém três elementos principais:

• As jurisdições devem ter a autoridade para congelar fundos ou bens


dos (a) terroristas e organizações terroristas e (b) daqueles que finan-
ciam actos terroristas ou organizações terroristas;
• Devem ter a autoridade para apreender (a) os produtos do terrorismo
ou de actos terroristas, (b) os bens usados no terrorismo, em actos
terroristas ou por organizações terroristas e (c) os bens destinados ou
designados para o uso no terrorismo, em actos terroristas ou por orga-
nizações terroristas; e
• Devem ter a autoridade para declarar a perda (a) dos produtos do
terrorismo ou de actos terroristas, (b) os bens usados no terrorismo,
em actos terroristas ou por organizações terroristas e (c) os bens desti-
nados ou designados para o uso no terrorismo, em actos terroristas ou
por organizações terroristas.

12. O termo medidas, conforme utilizado na RE III, refere-se às disposições


(legislativas ou regulamentares) ou aos “poderes executivos” explícitos que
permitam os três tipos de acção. Como na Recomendação anterior, não é
necessário que os textos que autorizam estes poderes mencionem, em parti-
cular, o financiamento do terrorismo. No entanto, as jurisdições com leis já
existentes devem poder citar as disposições específicas que lhes permitem con-
gelar, apreender ou declarar a perda de fundos e de bens relacionados com o
terrorismo no contexto jurídico/judicial nacional.

13. A definição dos conceitos de congelamento, apreensão e perda variam de


uma jurisdição para outra. Para os fins das orientações gerais, facultam-se em
seguida as descrições destes termos:

Anexo VI-257
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

14. Congelamento: No contexto desta Recomendação, uma autoridade


governamental ou judicial competente deve ter a capacidade para congelar,
bloquear ou restringir fundos ou bens específicos e, assim, impedir a sua
movimentação ou alienação. Os bens/fundos continuam a ser de propriedade
do titular original e podem continuar a ser administrados por uma instituição
financeira ou outra forma de administração designada pelo titular.

15. Apreensão: Como no congelamento, as autoridades governamentais ou


judiciais competentes devem ter a capacidade de tomar medidas ou emitir
mandados que lhes permitam assumir o controlo dos fundos ou bens especi-
ficados. Os bens/fundos continuam a ser de propriedade do titular original,
embora a autoridade competente muitas vezes assuma a posse, a administra-
ção ou a gestão destes bens/fundos.

16. Perda (ou “forfeiture”): A perda ocorre quando as autoridades governa-


mentais ou judiciais competentes determinam a transferência da titularidade
dos fundos ou dos bens especificados para o Estado. Neste caso, o proprie-
tário original perde todos os direitos aos bens. As decisões de perda estão
comummente ligadas a uma condenação penal e a uma sentença judicial em
que se determina que os bens foram derivados de uma violação da lei ou que
se destinavam a ser utilizados para esse fim.

17. No que respeita ao congelamento no contexto da RE III, os termos ter-


roristas, financiadores do terrorismo e organizações terroristas referem-se a
indivíduos e a entidades identificados nos termos da S/RES/1267 (1999) e
da S/RES/1390 (2002), bem como a quaisquer outros indivíduos e entidades
como tal designados por um governo nacional.

RE IV: Comunicações de operações suspeitas relativas ao terrorismo

18. Esta Recomendação contém dois elementos principais:

• As jurisdições devem estabelecer uma obrigação de comunicação às


autoridades competentes quando existe a suspeita de que os fundos
estejam ligados ao financiamento do terrorismo; ou
• As jurisdições devem estabelecer uma obrigação de comunicação às
autoridades competentes quando existam motivos razoáveis para sus-
peitar que os fundos estejam ligados ao financiamento do terrorismo.

Anexo VI-258
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

19. Para os fins da RE IV, o termo instituições financeiras refere-se tanto a


bancos como a instituições financeiras não bancárias (IFNBs). No contexto
da avaliação da aplicação das Recomendações do GAFI, as IFNBs incluem,
pelo menos, os seguintes tipos de serviços financeiros: agências de câmbio,
corretoras de valores, companhias seguradoras e serviços de remessa/transfe-
rência de fundos. Também se entende que esta definição de instituições finan-
ceiras se aplica à RE IV para fins de consistência com a interpretação das
Quarenta Recomendações do GAFI. Especificamente no que concerne à RE
IV, se outros tipos de profissões, negócios ou actividades comerciais estiverem
actualmente abrangidos pelas obrigações de comunicação anti-branqueamen-
to de capitais, as jurisdições devem também aplicar as obrigações de comuni-
cação do financiamento do terrorismo a estas entidades ou actividades.

20. O termo autoridade competente, para os fins da RE IV, entende-se ser a


Unidade de Informação Financeira (UIF) da jurisdição ou outra autoridade
central que tenha sido designada por esta jurisdição para receber as comuni-
cações relacionadas com o branqueamento de capitais.

21. Em relação aos termos suspeitar e ter motivos razoáveis para suspeitar, a
distinção é feita entre os graus de certeza em que se basearia a comunicação
de uma operação. O primeiro termo — ou seja, o requisito de comunicar
às autoridades competentes quando uma instituição financeira suspeita que
fundos sejam derivados da actividade terrorista ou destinados a ser utilizados
nesta actividade— é um padrão subjectivo e transpõe, para a RE IV, a obriga-
ção de comunicação estabelecida na Recomendação 15 do GAFI. O requisito
de comunicação de operações quando existem motivos razoáveis para suspei-
tar que fundos sejam derivados da actividade terrorista ou destinados a ser
utilizados nesta actividade é uma norma objectiva consistente com a intenção
da Recomendação 15, embora um pouco mais ampla. No contexto da RE IV,
as jurisdições devem estabelecer uma obrigação de comunicação, que pode
basear-se na suspeita ou no facto de existirem motivos razoáveis para suspei-
tar.

RE V: Cooperação internacional

22. Esta Recomendação contém cinco elementos:

Anexo VI-259
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

• As jurisdições devem permitir a troca de informações relativas ao


financiamento do terrorismo com outras jurisdições, através de meca-
nismos de auxílio judiciário mútuo;
• As jurisdições devem permitir a troca de informações sobre o financia-
mento do terrorismo com outras jurisdições através de meios que não
os mecanismos de auxílio judiciário mútuo;
• As jurisdições devem dispor de medidas específicas para permitir a
recusa de “refúgio” para os indivíduos envolvidos no financiamento
do terrorismo;
• As jurisdições devem dispor de procedimentos que permitam a extradi-
ção dos indivíduos envolvidos no financiamento do terrorismo; e
• As jurisdições devem dispor de disposições ou procedimentos para
garantir que “a alegação de motivos políticos não seja reconhecida
como base para a recusa em extraditar pessoas acusadas de envolvi-
mento no financiamento do terrorismo”.

23. Para obter uma ideia clara da situação em cada jurisdição através do
processo de auto-avaliação, foi criada uma distinção artificial, em certas
questões do QAAFT entre, por um lado, a cooperação internacional através
de mecanismos de auxílio judiciário mútuo, e, por outro, a troca de infor-
mações através de meios que não este auxílio judiciário mútuo.

24. Para os fins da RE V, o termo auxílio judiciário mútuo significa a facul-


dade de prestar uma gama completa de assistência jurídica não coerciva,
incluindo a recolha de provas, o fornecimento de documentos para a inves-
tigação ou para ser utilizados como provas, a detecção e a apreensão de
documentos ou artigos relevantes aos processos ou investigações criminais, a
capacidade para dar cumprimento a um pedido de restrição ou de apreensão
ou perda apresentado por um país estrangeiro, em matéria penal. Neste caso,
o auxílio judiciário mútuo incluiria também a troca de informações através
de cartas rogatórias (isto é, entre autoridades judiciais de diferentes jurisdi-
ções).

25. A troca de informações por meios que não o auxílio judiciário mútuo
inclui qualquer acordo que não os descritos no parágrafo anterior. Esta cate-
goria deve incluir as trocas que ocorrem entre as UIFs ou outras agências que
comunicam bilateralmente entre si com base em memorandos de entendimen-
to (MEs), trocas de cartas, etc.

26. Relativamente aos três últimos elementos da RE V, estes conceitos devem


ser entendidos conforme referidos nos documentos relevantes da ONU. Estes

Anexo VI-260
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

documentos são a S/RES/1373 (2001), Parágrafo 2c) (para a recusa de refú-


gio); a Convenção da ONU, Artigo 11º (para a extradição); e a Convenção da
ONU, Artigo 14º (para a rejeição da alegação de motivos políticos no tocante
à extradição). O texto da Convenção da ONU pode ser consultado em http://
untreaty.un.org/ English/Terrorism.asp; o texto da S/RES/1373 (2001) pode
ser acedido em http://www.un.org/documents.scres.htm.

27. O termo execução civil, conforme usado na RE V, procura referir-se


apenas ao tipo de investigações, inquéritos ou procedimentos realizados
por autoridades de regulação ou administrativas de certas jurisdições com
autorização para executar estas actividades em relação ao financiamento do
terrorismo. A execução civil não inclui procedimentos civis e acções conexas,
como compreendidas nas jurisdições com uma tradição de direito romano-
germânico.

RE VI: Sistemas alternativos de remessa de fundos

28. Esta Recomendação consiste em três elementos principais:

• As jurisdições devem exigir a obtenção de uma licença ou o registo de


pessoas singulares ou colectivas que prestam serviços de transferência
de dinheiro/valores, incluindo os sistemas ou redes informais;
• As jurisdições devem garantir que os serviços de transferência de
dinheiro/valores, incluindo os sistemas ou redes informais, estejam
sujeitos às Recomendações 10 – 12 e 15 do GAFI; e
• As jurisdições devem ter a capacidade para impor sanções aos serviços
de transferência de dinheiro/valores, incluindo os sistemas ou redes
informais, que não obtenham a licença/registo e que não cumpram as
Recomendações relevantes do GAFI.

29. Os sistemas de transferência de dinheiro ou de valores têm demonstrado


estar vulneráveis a uma utilização indevida para fins de branqueamento de
capitais ou de financiamento do terrorismo. A intenção da RE VI é garantir
que as jurisdições imponham medidas anti-branqueamento de capitais e de
combate ao financiamento do terrorismo a todas os modelos de sistemas de
transferência de dinheiro/valores. Para obter uma ideia clara da situação em
cada jurisdição através do processo de auto-avaliação, foi criada uma dis-
tinção artificial, em certas questões, entre os sistemas formais e informais de
transferência.

Anexo VI-261
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

30. O termo serviço de remessa ou de transferência de dinheiro refere-se a um


serviço financeiro — muitas vezes prestado por uma categoria distinta de ins-
tituições financeiras não bancárias — que movimente fundos para indivíduos
ou entidades através de uma rede dedicada a este fim ou pelo sistema bancá-
rio regulado. Para os fins da avaliação do cumprimento das Recomendações
do GAFI, os serviços de remessa/transferência de dinheiro estão incluídos
como uma categoria distinta de IFNB e, por conseguinte, são considerados
parte do sector financeiro regulado. Não obstante, tais serviços são utilizados
com frequência em certas operações de branqueamento ou de financiamento
do terrorismo, como parte de um esquema mais amplo de serviços alternati-
vos de remessa ou de bancos clandestinos.

31. O termo sistema informal de transferência de dinheiro ou de valores


também se refere a um serviço financeiro que movimente fundos ou valores
de uma área geográfica para outra. Contudo, em certas jurisdições, estes sis-
temas informais têm funcionado tradicionalmente fora do sector financeiro
regulado, em contraste com os serviços “formais” de remessa/transferência
de dinheiro descritos no parágrafo anterior. Alguns exemplos de sistemas
informais são o sistema bancário paralelo existente nas Américas (muitas
vezes denominado “Mercado Negro de Câmbio do Peso”), o sistema hawala
ou hundi no Sul da Ásia e os sistemas da China ou do Extremo Oriente. Para
obter mais informações sobre este assunto, ver o XI Relatório de Tipologias
do GAFI (3 de Fevereiro de 2000), disponível no sítio do GAFI, em http://
www.fatfgafi.org/FATDocs_en.htm#Trends, ou o Asia Pacific Group Report
on Underground Banking and Alternate Remittance Systems [Relatório do
Grupo Ásia-Pacífico sobre Bancos Clandestinos e Sistemas Alternativos de
Remessa] (18 de Outubro de 2001), disponível no sítio do GAP, em http://
www.apgml.org/.

32. Quando os termos objecto de licença ou de registo estão indicados no


questionário, um ou outro são considerados suficientes para atender aos
requisitos da Recomendação. O objecto de licença nesta Recomendação sig-
nifica a obrigação de obter a autorização de uma autoridade governamental
designada para operar um serviço de transferência de dinheiro/valores. O
registo nesta Recomendação significa a obrigação de registar ou declarar a
existência de um serviço de transferência de dinheiro/valores para que o negó-
cio possa funcionar. Importa observar que a consequência lógica dos requisi-
tos da RE VI é que as jurisdições devem designar uma autoridade para emitir
licenças ou proceder aos registos e uma autoridade para garantir o cumpri-

Anexo VI-262
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

mento das Recomendações do GAFI para os serviços de transferência de


dinheiro/valores, incluindo os sistemas ou redes informais. Esta interpretação
que resulta da RE VI (isto é, a necessidade de designar as autoridades com-
petentes) é consistente com as Recomendações 26 e 33 do GAFI. A referência
a “todas as Recomendações do GAFI que se aplicam a bancos e instituições
financeiras não bancárias” inclui, pelo menos, as Recomendações 10, 11, 12 e
15. Outras Recomendações relevantes incluem as Recomendações 13, 14, 16
– 21 e 26 – 29. O texto integral destas e de todas as outras Recomendações
do GAFI pode ser consultado no sítio do GAFI, em http://www.fatfgafi.
org/40Recs_en.htm.

RE VII: Transferências electrónicas

34. Esta Recomendação consiste em três elementos:

• As jurisdições devem exigir que as instituições financeiras incluam


informações sobre o ordenante nas transferências de fundos remetidas
internamente na jurisdição ou para fora dela;
• As jurisdições devem exigir que as instituições financeiras retenham
informações sobre o ordenante das transferências de fundos, incluindo
cada estádio do processo de transferência; e
• As jurisdições devem exigir que as instituições financeiras examinem
com mais atenção ou acompanhem as transferências de fundos quando
as informações sobre o ordenante não estão disponíveis.

35. Para os fins da RE VII, três categorias de instituições financeiras são


especificamente relevantes (bancos, agências de câmbio e serviços de remessa/
transferência de dinheiro), mas outros serviços financeiros (por exemplo, cor-
retoras de acções, companhias seguradoras, etc.) podem estar sujeitas a estes
requisitos em certas jurisdições.

36. A lista dos tipos de informações exactas e relevantes sobre o ordenante,


que a Recomendação Especial indica (ou seja, o nome, endereço e número
da conta) não procura ser completa. Em certos casos — por exemplo, o de
um cliente ocasional — é possível que não exista um número de conta. Em
algumas jurisdições, o número do bilhete de identidade ou a data e o local de
nascimento poderiam também ser designados como informação obrigatória
sobre o ordenante.

Anexo VI-263
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

37. O termo vigilância aprofundada para os fins da RE VII significa examinar


a operação em maior detalhe para determinar se certos aspectos relacionados
com a operação poderiam ser considerados suspeitos (por exemplo, origem
num país conhecido por dar refúgio a terroristas ou a organizações terroris-
tas) e, assim, justificar uma eventual comunicação à autoridade competente.

RE VIII: Organizações sem fins lucrativos

38. A intenção da RE VIII é a de garantir que as pessoas colectivas, e não


as entidades sem personalidade jurídica, e particularmente as organizações
sem fins lucrativos, não possam ser utilizadas pelos terroristas como disfar-
ce ou como meio para facilitar o financiamento das suas actividades. Esta
Recomendação consiste em dois elementos:

• As jurisdições devem examinar o regime jurídico das entidades, em


particular das organizações sem fins lucrativos, para impedir a sua uti-
lização indevida para fins de financiamento do terrorismo; e
• Em relação especificamente às organizações sem fins lucrativos, as
jurisdições devem garantir que tais entidades não possam ser utilizadas
para dissimular ou para facilitar as actividades de financiamento do
terrorismo, evitar as medidas de congelamento de bens ou ocultar o
desvio de fundos destinados a fins legais para as organizações terroris-
tas.

39. Como atrás observado, a intenção da RE VIII é a de garantir que as pes-


soas colectivas, e não as entidades sem personalidade jurídica pertinentes, e
as organizações sem fins lucrativos não possam ser indevidamente utilizadas
pelos terroristas. As pessoas colectivas assumem uma variedade de formas,
que diferem de uma jurisdição para outra. O grau de vulnerabilidade de um
determinado tipo de entidade à utilização indevida para o financiamento do
terrorismo pode também variar de uma jurisdição para outra. Por esta razão,
uma selecção dos tipos de pessoas colectivas e de outras entidades sem perso-
nalidade jurídica foi apresentada no QAAFT, na tentativa de obter uma ideia
clara da situação em cada jurisdição. Esta selecção baseia-se nos tipos de enti-
dades que foram observadas, no passado, como estando envolvidas nas acti-
vidades de branqueamento de capitais e/ou de financiamento do terrorismo.
As categorias individuais podem apresentar semelhanças e, em certos casos,
poderão não existir na jurisdição todas as categorias indicadas no QAAFT.

Anexo VI-264
Anexo VI: Notas Interpretativas e Notas de Orientação às Recomendações Especiais do GAFI

40. Importa observar igualmente que as organizações sem fins lucrativos, uma
particular atenção da RE VIII, podem existir em formas jurídicas que variam
de uma jurisdição para outra. Ou seja, a selecção dos tipos de entidade no
QAAFT foi feita para que as jurisdições possam encontrar pessoas colectivas
ou entidades sem personalidade jurídica que correspondam à respectiva situ-
ação interna. O termo organização sem fins lucrativos pode ser comummente
entendido como incluindo os tipos de entidades organizadas para fins de
beneficência, religiosos, educativos, sociais ou fraternais, ou para a realização
de outros tipos de “bons trabalhos”. Além disso, os rendimentos de tais enti-
dades ou actividades normalmente não devem beneficiar qualquer accionista
privado ou individual, e podem ser impedidas de estar envolvidas directa ou
significativamente em actividades políticas. Em muitas jurisdições, as organi-
zações sem fins lucrativos estão isentas das obrigações fiscais.

41. No QAAFT, o termo empresas offshore refere-se às pessoas colectivas


normalmente constituídas com responsabilidade limitada em certas jurisdi-
ções e que são muitas vezes abrangidas por um regime regulamentar distinto
ou privilegiado. Estas entidades podem ser utilizadas para manter e realizar
negócios (uma empresa holding ou de fachada), emitir acções ou obrigações
ou levantar capitais de outras formas. Em regra, estão isentas da tributação
local ou sujeitas a uma taxa preferencial, e podem estar proibidas de realizar
negócios na jurisdição em que foram constituídas. A International Business
Corporation (IBC) é um exemplo de uma entidade deste tipo. No QAAFT, as
jurisdições devem responder apenas às questões relevantes sobre as empresas
offshore se existir um sector offshore na sua jurisdição.

42. O QAAFT inclui também a categoria “Trusts e/ou fundações” na RE


VIII. Os trusts são entidades sem personalidade jurídica disponíveis em certas
jurisdições. Embora não sejam rigorosamente pessoas colectivas, são utili-
zados como meio para controlar ou transferir bens e podem, como certas
pessoas colectivas, ser utilizados indevidamente para ocultar ou dissimular
o verdadeiro titular dos bens. O termo fundações refere-se principalmente a
“fundações ou estabelecimentos privados” que existem em certas jurisdições
com tradição de direito romano-germânico e que podem participar em acti-
vidades comerciais e/ou sem fins lucrativos. Alguns exemplos são os Stiftung,
stichting, Anstalt, etc.

— Secretariado do GAFI
27 de Março de 2002

Anexo VI-265
Anexo VII

Referência cruzada das Quarenta


Recomendações no Guia de Referência

Recomendação Guia de Referência

1 Capítulo I, nota de rodapé 8


Capítulo V, notas de rodapé 4, 20 – 22, 25 – 27
Capítulo VIII, nota de rodapé 7

2 Capítulo V, notas de rodapé 38, 39

3 Capítulo V, notas de rodapé 51, 53, 55, 58 – 60

4 Capítulo V, notas de rodapé 57, 80


Capítulo VI, nota de rodapé 75
Capítulo VII, notas de rodapé 14 – 20, 33
Capítulo IX, nota de rodapé 58

Anexo VII-267
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

5 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 5, 17 – 19, 21 – 22, 41
Capítulo IX, nota de rodapé 58

6 Capítulo V, nota de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, nota de rodapé 41
Capítulo IX, nota de rodapé 58

7 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, nota de rodapé 32
Capítulo IX, nota de rodapé 58

8 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 35, 41
Capítulo IX, nota de rodapé 58

9 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 36, 41
Capítulo IX, nota de rodapé 58

10 Capítulo V, nota de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 41, 46 – 48, 59
Capítulo VII, nota de rodapé 5
Capítulo IX, nota de rodapé 58

11 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 37, 41, 60
Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

12 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 42 – 45, 55
Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

Anexo VII-268
Anexo VII: Referência cruzada das Quarenta Recomendações no Guia de Referência

13 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68, 79


Capítulo VI, nota de rodapé 56
Capítulo VII, notas de rodapé 4, 12
Capítulo IX, notas de rodapé 39, 58

14 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 58, 62
Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

15 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 76, 77, 79
Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

16 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 65, 66, 68, 69
Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

17 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

18 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, nota de rodapé 34
Capítulo VII, notas de rodapé 4, 12
Capítulo IX, nota de rodapé 58

19 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 70, 73
Capítulo VII, notas de rodapé 4, 12
Capítulo IX, nota de rodapé 58

Anexo VII-269
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

20 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68, 74


Capítulo VI, nota de rodapé 74
Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

21 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, nota de rodapé 38
Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

22 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, notas de rodapé 9, 10
Capítulo VII, nota de rodapé 4
Capítulo IX, nota de rodapé 58

23 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68, 76 – 78


Capítulo IX, notas de rodapé 58, 59, 60

24 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo IX, nota de rodapé 58

25 Capítulo V, notas de rodapé 67 – 68


Capítulo VI, nota de rodapé 61
Capítulo VII, nota de rodapé 38
Capítulo IX, nota de rodapé 58

26 Capítulo VII, notas de rodapé 3, 9

27 Capítulo V, nota de rodapé 82


Capítulo VIII, notas de rodapé 27, 29

28 Capítulo VI, notas de rodapé 59, 74, 75

29 Capítulo V, notas de rodapé 76, 77

30 Capítulo V, nota de rodapé 84

Anexo VII-270
Anexo VII: Referência cruzada das Quarenta Recomendações no Guia de Referência

31 Capítulo V, nota de rodapé 81


Capítulo VII, notas de rodapé 9, 20

32 Capítulo V, nota de rodapé 85


Capítulo VII, nota de rodapé 39

33 Capítulo VI, notas de rodapé 80, 81

34 Capítulo VI, notas de rodapé 82, 83

35 Capítulo VIII, notas de rodapé 3, 8

36 Capítulo VII, nota de rodapé 8


Capítulo VIII, notas de rodapé 9, 11, 24, 28

37 Capítulo V, nota de rodapé 28


Capítulo VII, nota de rodapé 8

38 Capítulo VIII, notas de rodapé 26, 30

39 Capítulo VIII, nota de rodapé 31

40 Capítulo VII, nota de rodapé 8


Capítulo VIII, notas de rodapé 10, 11, 13, 15, 25, 40

Anexo VII-271
Anexo VIII

Referência cruzada das Recomendações


Especiais no Guia de Referência

Recomendação Guia de Referência

I Capítulo I, nota de rodapé 12


Capítulo VIII, nota de rodapé 7
Capítulo IX, notas de rodapé 8, 10, 21

II Capítulo I, notas de rodapé 13, 14, 15


Capítulo V, notas de rodapé 24, 48, 49
Capítulo IX, notas de rodapé 23 – 26, 35

III Capítulo IX, notas de rodapé 6, 27, 28, 29,


30, 31, 32, 33

IV Capítulo IX, nota de rodapé 36

Anexo VIII-273
Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

V Capítulo IX, notas de rodapé 41, 42

VI Capítulo I, nota de rodapé 17


Capítulo V, nota de rodapé 69
Capítulo IX, notas de rodapé 6, 51, 52, 53

VII Capítulo V, nota de rodapé 69


Capítulo IX, notas de rodapé 61, 62 – 67

VIII Capítulo I, nota de rodapé 16


Capítulo IX, notas de rodapé 6, 68, 69, 70

Anexo VIII-274

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