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KM

Rafe Bridges parou de misturar negócios com prazer


há muito tempo, mas quando recebe um telefonema de um
intrigante policial que precisa ajudar um velho amigo da
família, ele fraqueja e aceita o caso. A cada dia que passa,
Rafe fica ainda mais fascinado com Jeremy Halliday... mas
o maior problema não é o que ele faz da vida. É o pequeno
detalhe de Jeremy ser hetero.

Rafe se afasta dele, mas Jeremy não está imune a Rafe.


Sabendo que ele pode perder alguém incrível, Jeremy tem
que descobrir o que e quem ele realmente quer. E em breve.

Nada mais é preto ou branco.

KM
KM
KM
Para meu marido, Chris, que nunca desiste de mim e dos meus
sonhos. Obrigado por me deixar pesquisar vídeos de casais gays de
todo o mundo e não se importar muito com o tempo que
demorou. Eu te amo.

E para minha família... as pessoas mais incríveis.

KM
AGRADECIMENTOS

É claro que, como autor, uso licença criativa enquanto escrevo,


mas queria que este livro fosse uma autêntica história de amor, e não
simplesmente um romance sobre um casal gay. Eu gostaria de
agradecer àqueles que leram o manuscrito na íntegra ou por partes e
me deram um feedback honesto.

KM
SEIS SEMANAS atrás

O som do chuveiro cortou Rafe como um tapa no rosto e,


enquanto ele apertava os olhos contra a luz que brilhava entre as
cortinas, todas as decisões estúpidas da noite anterior voltaram
correndo. Um coro de idiotice atingindo todas as notas altas,
começando com seu amigo Jack Daniels1 e terminando com seu ex-
namorado, Mark Newland. O que ele estava pensando?

Seu cérebro não estava envolvido. Obviamente.

Rafe odiava ser um idiota, mas ele tinha que sair dali, de
preferência enquanto Mark estava ocupado no banheiro. Ele rolou,
quase gemendo quando sua cabeça demorou alguns segundos para
alcançar o resto dele. Sua língua estava colada ao céu da boca e seu
pescoço e cabeça doíam tanto que ele sentia como se estivesse com
torcicolo. Merda... talvez ele tivesse.

Era demais esperar que acordar em uma cama que não fosse
sua significava que ele só tinha desmaiado, mas ele estava nu e havia
uma lembrança muito nebulosa de algum beijo... Ele afastou os
lençóis com desgosto e encontrou -SURPRESA!- um
preservativo. Ele gemeu de verdade dessa vez. Brian como seu
melhor amigo deveria ter acabado com essa loucura! Ele tinha
algumas explicações sérias para dar. Tinha que haver uma
explicação muito boa para ele ter deixado Rafe sair e cometer esse
grande erro. Mas, pensando nisso, Rafe estava sozinho quando o

1
Marca de uísque.

KM
Jack Daniels realmente começou a trabalhar sua mágica. Brian já
tinha ido embora.

Oh Deus. Ele não tinha ninguém para culpar além de si


mesmo.

Movendo-se tão rapidamente quanto ele era capaz, ele se


arrastou ao redor da sala, puxando sua calça jeans e camisa
enquanto os encontrava. Ele estava cavando um sapato embaixo da
cômoda quando a porta do banheiro se abriu. Seus olhos se
fecharam em derrota. Muito tarde. Não havia como sair sem uma
cena agora.

─Correndo sem um banho, então?─ Mark perguntou, seu tom


não muito ferido e não muito surpreso. Graças a Deus, Rafe não
podia engravidar o sujeito; ele estaria preso em um relacionamento
sem dúvida.

─Eu tenho um monte de coisas acontecendo hoje─, ele


finalmente falou, sua voz soando como se ele estivesse chupando um
escapamento de carro a noite toda. Sua respiração provavelmente
poderia derrubar alguém também. ─O trabalho não para só por
causa... disso.─ Ele acenou entre eles.

Rafe finalmente colocou as mãos em torno do sapato e sentou-


se nos calcanhares, recusando-se a olhar para o ex.

─E o que foi isso?─ Mark rosnou, atravessando a sala e


agachando-se na frente dele, sua toalha fazendo pouco para cobrir os
fortes músculos de suas pernas.

Rafe calçou os sapatos e balançou a cabeça, incrédulo.

KM
─ Isso foi um erro, Mark. Você sabe.

─Você é tão idiota─, ele retrucou e agarrou Rafe pelo queixo,


sacudindo seu rosto tão rápido que ele estremeceu. ─Tudo estava
bem ontem à noite. Você queria isso. Agora você age como se eu te
tivesse te arrastado até aqui contra a sua vontade.

Rafe empurrou a mão de Mark para longe e ficou de pé em um


movimento que fez seu cérebro fazer uma dança cancan para
acompanhar.

─Isso nunca deveria ter acontecido. Você sabe, se eu não


estivesse tão bêbado, não teria voltado para casa com você. Eu nunca
tentei te enganar. Quando eu disse há mais de um ano, eu quis dizer
aquilo. Isso nunca deveria ter acontecido.

─Bem, aconteceu, Rafe. Você dormiu com seu ex, que também
passa a ser o homem que você alegou amar uma vez. Por que você
não pode admitir que estamos juntos agora porque talvez ainda
exista algo entre nós?

Sim. Como amargura.

─Mark─, Rafe estendeu as mãos, cortando-o. ─Você era meu


namorado porque eu me importava com você, mas não éramos bons
juntos. Você sabe disso. Queríamos coisas diferentes e ficaríamos
infelizes se ficássemos juntos. Eu nunca fui certo para você, nunca
estive pronto para me estabelecer como você.

─Foi o que você disse antes, mas agora… estamos aqui. Juntos
novamente. E isso significa alguma coisa, talvez você esteja pronto
para estar comigo agora? Não é como se você estivesse transando

KM
por aí, Rafe. Eu conheço você. Você não pula de um cara para
outro. Eu não ouvi rumores sobre você pegar um homem diferente
toda noite.

Os ombros de Rafe afundaram e ele queria se sufocar por ser


burro o suficiente para acabar nessa situação, explicando mais uma
vez que não podia estar com Mark. Não importa o quão ruim tenha
sido seu dia, não era desculpa para ficar tão bêbado e se jogar na
mesma situação que ele levou tanto tempo para sair da primeira
vez. Ele nunca se importou com Mark do jeito que realmente
deveria, e sim, ele provavelmente demorou muito tempo pra sair
disso porque ele não queria machucá-lo e era mais fácil fingir que
sua vida sexual estava bem. Mas ele não poderia ser arrastado para
isso novamente. De jeito nenhum.

─Ouça─, ele suspirou e Mark atravessou a sala para ficar na


frente dele novamente, sua expressão dizendo a Rafe o quanto ele
estava esperando que esta fosse sua grande reconciliação, o
renascimento de seu relacionamento.

─Espere Rafe. Antes que você comece. Você nunca pensa em


como foi? Eu sei que você se sentiu pressionado e isso é minha
culpa, eu admito totalmente, mas não é verdade quando você diz que
não foi algo bom. Nós tivemos muitos bons momentos juntos.─
Mark foi sincero quando ele olhou em seus olhos, sua voz suave e
sedutora. ─Lembra-se do lago? As viagens? A vez que fomos para a
Califórnia?

Os lembretes não fizeram nada pela causa de Mark. Ele


realmente acreditava que o que ele estava dizendo era razão

KM
suficiente para mergulhar de volta, mas foi exatamente o pontapé
que Rafe precisava para acabar com isso antes que saísse do
controle.

─A noite passada não deveria ter acontecido. Me desculpe,


porque isso só nos fez reviver passado. Você precisa encontrar um
cara que possa lhe dar o que você precisa. Esse cara não sou eu. Nós
nos divertimos muito, sim, mas a nostalgia não vai nos fazer dar
certo. Eu sinto muito.

Mark mordeu o lábio inferior com força e recuou.

─Saia da minha casa, então. Eu entendi agora. Você se


transformou em um idiota que gosta de usar os outros.

─Não tente essa merda comigo. Quem usou quem nessa


situação, Mark? Você viu o estado em que eu estava. Você tirou
proveito disso na esperança de que nós acabássemos com um casal
novamente, mas isso não é um filme gay independente onde todas as
pontas soltas estão amarradas porque eu estava muito bêbado para
pensar claramente e você estava lá para me pegar.

─Eu lhe disse para sair.

─Marck. Pare com isso. Nós podemos agir como adultos sobre
isso.─ Rafe viu quando seu ex flexionou sua mandíbula, seus braços
cerrados sobre o peito como se estivesse se segurando.

Sua consciência o atingiu com a lembrança de como ele estava


prestes a fugir como um covarde e fazer a caminhada da
vergonha. Não era exatamente a coisa adulta a fazer. Ele realmente
não queria que as coisas terminassem assim, e não apenas porque

KM
ele estaria esbarrando em Mark no futuro. Ele se odiava por levantar
as esperanças do cara, mesmo que não fosse completamente culpa
dele.

─Venha aqui.

A cabeça de Mark se virou e seus lábios se contorceram em


uma careta de dor por meio segundo antes que uma respiração
sufocada lhe escapasse.

─Esqueça.

─ Venha aqui ─, ele ficou de braços abertos até que Mark


finalmente cedeu e se moveu em seu abraço. Ele pousou as mãos na
cintura de Rafe e deu outro suspiro trêmulo. ─Eu realmente sinto
muito─, Rafe sussurrou. ─Você sabe que está melhor sem mim...

Mark ficou quieto, seus polegares se movendo suavemente


sobre os lados de Rafe. Mesmo essa pequena quantidade de contato
provou que o corpo de Rafe era um completo traidor. A leve caricia o
fez querer esquecer as coisas sérias e cair no colchão, apesar de sua
ressaca furiosa.

Ele se deixou segurar por mais alguns instantes e depois de um


último aperto, afastou-se, pegando o paletó e saindo do quarto. Ele
se moveu rapidamente pela casa que costumavam dividir e saiu. Isso
pareceu o certo até que ele se lembrou que Mark tinha dirigido na
noite anterior e seu próprio caminhão estava a uma longa distância.

Impressionante. Ele deveria ir ao centro para conversar com


um policial sobre uma investigação em uma hora. Ele teria sorte se
ainda não estivesse fedendo a Jack e Coca-Cola, e muito mais se

KM
chegasse a tempo. Ele estava prestes a chamar um táxi quando a
porta se abriu atrás dele e Mark saiu, puxando uma camiseta sobre
sua cabeça. Rafe realmente teve que desviar os olhos do espetacular
conjunto de abdominais antes de ser pego assistindo.

─Eu vou levá-lo de volta para o seu caminhão─, disse Mark em


voz baixa. ─Vamos lá.

─Obrigado─, Rafe murmurou.

─Pode me fazer um favor?─, Perguntou ele, virando-se para


ele com os olhos treinados no chão. Rafe esperou. ─Não fale comigo
por um tempo.─ Ele levantou o rosto e seus olhares se
encontraram. Droga, Rafe tinha realmente estragado as coisas desta
vez. Ele apenas acenou de volta quando Mark colocou mais alguns
passos entre eles. ─Entre no carro.

KM
CAPÍTULO UM

─Você terá trinta e quatro anos em breve. Você precisa parar


de perder tempo, é tudo o que estou dizendo. Não há necessidade de
me calar como se eu não fizesse nenhum sentido.

Rafe não lutou contra o desejo de revirar os olhos e sua mãe


notou, mudando para o modo de negação total, sua configuração
padrão.

─Terei trinta e quatro em seis meses, mãe, e não estou


perdendo tempo. Você e meu pai são aqueles que me dão tudo
menos paz sobre esse assunto. Não tente usar isso contra mim,─ ele
resmungou.

Ele estava acostumado com isso, sua discursão mensal. Na


verdade, era mais como a festança mensal da mãe e o tratamento
silencioso mensal de seu pai. Realmente fez um cara sentir-se bem-
vindo e amado. Nenhum deles podia acreditar, muito menos aceitar,
que o filho deles pudesse estar fazendo algo tão escandaloso
quanto gostar de homens.

Seus pais eram os filhos do catolicismo robusto. Hoje em dia,


Rafe tinha que praticamente recitar o Rosário na soleira da porta só
para entrar na casa deles. Gay não era realmente um meio com o
qual eles poderiam lidar, quer significasse “feliz” ou “bicha”. A única
coisa que poderia ser pior do que seu filho insistindo que ele nunca
estaria com outra mulher seria se ele de repente confessasse que
atirava bebês de um penhasco a cada terceira terça-feira do
mês. Eles provavelmente o colocariam na fogueira.

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Daí as ilusões de sua mãe de que ele só precisava encontrar a
garota certa e o ombro frio de seu pai até que aquela garota
aparecesse com ele algum domingo, de preferência com netos já
prontos. Para eles, ser gay não era nem uma fase, era como um vírus
da gripe, uma erupção cutânea com comichão que ele nem deveria
pensar em coçar; só que ele tivera essa erupção em particular há
treze anos. Que rebelde.

─Você está perdendo tempo, Rafe. Preciso listar os porquês?─


ela perguntou, e continuou como se ele precisasse da lembrança de
suas muitas decepções. ─Você foi para a faculdade por uma
licenciatura em comunicação; Nós estávamos tão felizes por você. E
o que você fez então? Você se tornou algum tipo de detetive de
rua. Você poderia ser morto enfiando o nariz onde não
pertence. Você não é casado. Você não tem filhos.

─Nada do que eu já não tenha te falado─, ele murmurou


baixinho. E vamos lá? De rua? Mesmo? Isso foi apenas desagradável.

─Trinta e quatro anos de idade─, ela disse.

Rafe suspirou e pensou em se jogar pela janela da cozinha para


fugir.

─Eu não terei essa conversa de novo, mãe. É uma perda de


tempo. Eu não quero um lembrete sobre como eu falhei com você,
ou um resumo de suas expectativas. Você pode até me fazer um
favor e não armar mais nenhum encontro a menos que seja com um
cara alto e loiro que você conhe-

KM
─Isso é o suficiente!─ Ela retrucou. ─Você não vai me
desrespeitar assim em minha casa. Eu tentei ser paciente com você,
Rafe, eu realmente tentei, mas você nunca pensa no que seu estilo de
vida faz com seu pai e eu.

─Besteira─, Rafe rosnou, jogando o pano de prato que ele


estava usando para secar os pratos no balcão. ─Você não sabe nada
sobre meu estilo de vida porque eu nunca forcei você a aceitar
isso. Obviamente.

Sua mãe pulou e fez o sinal da cruz algumas vezes.

─Se você não consegue controlar sua língua, então vá


embora. Não vou aceitar isso.─ Ela alisou o tecido da saia e depois
enfiou um prato de sobremesa nas mãos dele. ─Leve isso para o seu
pai. Nossa conversa acabou.

Rafe podia pensar em várias maneiras mais criativas de


encerrar a conversa, mas ele reprimiu tudo o que queria e saiu da
sala. Seja o que for. O mesmo velho drama e ele só tinha que lidar
com isso uma vez por mês.

Quando ele saiu do armário, ele tentou preencher a lacuna e


manter seu relacionamento, mas depois de ser rejeitado dezenas de
vezes, ele jogou a toalha e decidiu se fazer escasso. Graças a Deus, ele
tinha a família de Brian, os Hatchett, que o receberam de braços
abertos e compensaram a riqueza de insultos que seus pais jogavam
nele.

Rafe tinha saído a sério com três caras e não tão seriamente
visto mais alguns, mas nunca conseguiu apresentar um namorado

KM
para seus próprios pais. Ele os levou para os Hatchett se o
relacionamento progredisse o suficiente. Não, até o dia em que ele
fosse para seus pais e implorasse perdão por “mentir” sobre querer
homens, seus pais seriam mais felizes com sua ausência. Hoje foi na
verdade a primeira vez que sua mãe trouxe um encontro às cegas em
um longo tempo, mas ele estava bem além do ponto de humilhá-
la. Ele sabia que seu pai ouvira uma parte de sua discursão baseado
na postura ereta dele sentado em sua feia poltrona verde, seu corpo
praticamente vibrando com raiva reprimida.

─Sobremesa está pronta, pai, e eu estou indo, então tudo deve


ficar bem. ─ Ele pegou as chaves da mesa de café e foi para a
porta. ─Eu vou ligar para vocês mais tarde esta semana─, ele disse,
nem mesmo voltando para ver se seu pai ouviu. Com seu
temperamento tão próximo da superfície, era melhor para todos se
Rafe desse o fora de lá. Ainda era cedo, além disso. Ele poderia pegar
uma cerveja e descontrair.

Ele tentou não se decepcionar quando seu pai não respondeu e


sua mãe não saiu da cozinha para se despedir. Nessas ocasiões,
lembrava-se dos dias em que conversavam com ele e mostrava um
pouco de interesse. Agora ele era um embaraço e a coisa era, ele não
estava disposto a trabalhar por seu carinho como um cachorro - para
mudar uma parte de seu comportamento e ser bem recebido de volta
ao rebanho. De jeito nenhum. Ele não iria passar o resto da vida
miserável, casado com uma mulher que não poderia amar,
simplesmente para fazer seus pais sorrirem para ele
novamente. Foda-se isso. Rafe abriu a porta da caminhonete e
entrou. Seu pé estava coçando para bater no acelerador e tirá-lo da

KM
vizinhança o mais rápido possível, mas ele se manteve sob
controle. Não resolveria nada encurtar a vida dos seus pneus.

No momento em que ele estava mudando de velocidade, o


celular dele tocou a campainha para um interlocutor
desconhecido. Ele puxou o telefone do bolso e olhou para a
tela. Código de área de Albuquerque. Poderia ser qualquer um.

Ele abriu o telefone e respirou fundo.

─Rafe Bridges.

Houve uma breve pausa, depois uma voz profunda que


despertou seus ouvidos.

─Sim, ei, aqui é Jeremy Halliday. Eu não sei se você vai se


lembrar de mim, mas eu sou o policial que prendeu o DUI2 há alguns
meses atrás? Você estava investigando o cara por fraude ou algo
assim?

As estatísticas vitais do policial Jeremy Halliday


instantaneamente apareceram na mente de Rafe e ele não pôde
evitar o sorriso que lentamente se espalhou por seu rosto. Ele não ia
esquecer alguém assim tão rapidamente. Policial de
motocicleta. Botas pretas grandes. Um oitenta e oito, loiro, de olhos
verdes e, infelizmente, completamente hétero. No entanto, isso não
o impediu de admirá-lo quando ele estava de costas.

─Oh, certo… Ed Phillips, cara do inferno. DUI e acusação por


fraude. Claro, eu me lembro.─ O oficial Halliday riu e Rafe esperou

2
Dirigindo sob a influência: de álcool ou outra substancia.

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para ouvir a verdadeira razão pela qual ele estava
ligando; Certamente não era para convidá-lo para sair. Merda.

─Isso é pouco ortodoxo, mas eu tenho uma situação em


minhas mãos que eu esperava que você pudesse me ajudar. Eu ainda
tinha seu cartão e alguns caras com quem trabalho recomendaram
você, então...

──O que posso fazer por você?─ Rafe


perguntou. Massagem? Encontro? Ele sorriu para si mesmo. Se este
fosse outro trabalho, ele não poderia realmente aceitar agora. Ele
estava ocupado, o que era ótimo, mas muito ocupado para dar a
outro caso a atenção que merecia, sem colocar mais nada em
segundo plano.

─Um cara com quem trabalho foi enviado para iniciar um


relatório de uma pessoa desaparecida sobre uma garota do meu
antigo bairro. Eu recebi uma ligação de um amigo mais ou menos ao
mesmo tempo e a irmã dele está desaparecida. Eu não posso me
envolver na investigação, e não é que a família pense mal sobre o
cara do departamento, mas ele ligou porque eles não estão dispostos
a confiar na Unidade de Pessoas Desaparecidas para cuidar
disso. Eles queriam saber se eu tinha alguma recomendação para um
investigador particular.

─E você pensou em mim?─ Rafe disse, percorrendo a última


conversa que teve com uma de suas melhores fontes de seu antigo
bairro, Manuel Abrigo. O cara possuía um trailer de comida que
atendia à multidão na hora do almoço em um estacionamento no

KM
centro da cidade. ─Este é o uh… o caso de Aragon? Filha está
desaparecida desde quinta-feira ou algo assim?

O policial Halliday pareceu surpreso quando ele respondeu.

─Quinta à noite, sim. Você ouviu sobre isso através de contatos


no departamento?

Rafe sorriu.

─Algo parecido. Agora, o cara que ligou para você, ele é um


velho amigo?

── Nós crescemos juntos. Carlos Aragon. Ele trabalha com o


pai para o departamento de rodovias. Obviamente, estão todos
abalados com isso; a garota é a única outra criança e ela é bem mais
nova que Carlos, mas o pai deles está caindo no fundo do poço e
quer mais narizes para o chão do que podemos oferecer. Você sabe,
como um maldito regimento.

─Então, eles estão pensando que um cara com uma licença


para vadiar pode pegar cobrir todo esse terreno?

─Muito bem─, Halliday riu. ─Não que eu tenha colocado dessa


maneira.

─Claro que não─, ele respondeu, procurando o bloco de


anotações e a caneta no console central por hábito e perguntar as
partes importantes. ─Qual é o nome da filha?

─Yesenia. Ela tem dezessete anos.

─E a família acha que é impossível ela ter fugido?

KM
─Bem, se você conversar com o pai de Carlos, Hector, ele está
certo de que ela foi sequestrada pelo namorado. Carlos e sua mãe
não têm tanta certeza─ suspirou ele. ─Yesenia e seu pai são
conhecidos por discutir de vez em quando.

─Você ainda mantém contato íntimo com eles?─ Rafe


perguntou. ─Quantas vezes você os vê?

─Não com frequência, na verdade. A menos que eu esteja no


bairro visitando meu pai e eu pare por lá. Eu não tinha notícias de
Carlos há meses antes do telefonema.

Rafe assentiu para si mesmo e rabiscou um pouco mais. Este


definitivamente seria um caso demorado se ele decidisse assumir, o
que ele ainda não tinha feito, mas como sempre, ele estava
intrigado. Provavelmente não era nada mais do que uma garota que
ficou chateada com seu pai e em vez de bater as portas e gritar o
quanto ela o odiava, fugiu com um cara que prometeu melhorar sua
vida.

─Ouça─, disse ele depois de um momento. ─Eu não estou


dizendo que posso aceitar o caso ainda - eu tenho alguns trabalhos
que eu estou tentando encerrar agora - mas me dê esta noite para
olhar as coisas e ver se eu consigo mudar algo. Eu não quero
conhecer a família, pedir-lhes que me contem a história, então me
virar e dizer que minha agenda está cheia demais. Sabe o que eu
quero dizer?

─Claro─, respondeu Halliday. ─Eu aprecio qualquer ajuda que


você possa oferecer. Me ligue quando souber se vai dar para você
aceitar o caso. Talvez possamos nos encontrar na vizinhança e eu

KM
lhes apresento a eles. Não quero ofender seu carisma ou qualquer
coisa, mas eles provavelmente se sentiriam mais confortáveis com
alguém que eles conhecem estando lá também.

Rafe concordou e terminou a ligação depois de mais alguns


instantes, virando a caminhonete na direção do escritório de uma
sala, em vez do pub onde a cerveja estava esperando por ele. Ele já
estava na metade do caminho antes de reconhecer que, em vez de
percorrer seu conjunto de tarefas e descobrir sua linha do tempo, ele
já estava mudando as coisas para acomodar o caso de Yesenia
Aragon. Tanto para alto, loiro, bonito e hetero não ter nenhum efeito
sobre ele. Oh, o que sua mãe diria se ela soubesse.

***

O pai de Jeremy estava de pé atrás de sua porta de tela


esperando quando ele entrou na garagem. Ele deu-lhe um aceno e
olhou para os outros carros na rua. Não parecia que Bridges tinha
aparecido ainda. A família Aragon morava a quatro casas e tudo
parecia calmo também.

Exaustão cobria seus músculos quando ele abriu a porta do


carro e saiu. Uma corrida matinal e uma longa jornada no sol
definitivamente haviam cobrado seu preço. Ele estava acabado. Seu
pai saiu e balançou a cabeça em direção ao seu Barracuda 723.

3
modelo de carro

KM
─Soa muito bem. Eu posso ouvir você chegando a três
quarteirões de distância.

Jeremy deu um sorriso cansado e olhou para seu orgulho e


alegria. No mês passado ele conseguiu pintá-la - um doce trabalho
personalizado em vermelho-maçã com duas listras negras de corrida
- e as novas cores, junto com as rodas de caça-níqueis, completaram
todo o trabalho externo que ele queria fazer. Agora ele estava
começando a fazer uma séria reforma no interior. Ela era a cova de
dinheiro mais bonita que ele poderia querer.

─Meu objetivo é sacudir as tábuas do piso a três quarteirões de


distância. Deixe-me saber quando isso acontecer─, disse
ele. ─Algum sinal do investigador ainda?

─Não─, ele balançou a cabeça, ─mas você está adiantado. Tem


tempo para uma cerveja?

─Eu provavelmente não deveria, já que vamos lá falar sobre


Yesenia. Eu não queria aparecer lá oficialmente, mas eu não quero
ficar muito não oficial, sabe? Hector teria um aneurisma se sentisse
o cheiro de cerveja na minha respiração.─ Jeremy encostou-se à
grade da varanda e cruzou os braços. ─Eu esperarei aqui fora. Esse
cara está me fazendo um favor; Ele trocou todos os casos em que
está trabalhando para ver se pode ajudar. Nós só nos encontramos
uma vez no tribunal de trânsito e isso foi há meses, então estou
surpreso que ele tenha dito sim.

─Você o prendeu ou algo assim?─ Seu pai perguntou,


afundando em uma das cadeiras que ele mantinha na varanda.

KM
─Ele estava investigando um cara que eu parei em um
DUI. Acabou que o cara era culpado de fraude de seguros
também. Ferimentos falsos, incapacidade, registros médicos; tudo
isso. Rafe Bridges apareceu no tribunal de trânsito e me parou no
corredor para me fazer perguntas. ─Ele fez uma pausa quando viu
um caminhão Nissan seguindo em sua direção. ─Eu acho que é ele.

Com certeza, o caminhão parou e estacionou no único espaço


disponível no final da entrada. A janela baixou e ele gritou:

─Tudo bem se eu estacionar aqui?─ Jeremy acenou em


concordância e observou quando ele saiu do carro, dando ao carro
de Jeremy duas boas olhadas quando passou por ele. Ele era um
daqueles caras bonitos de uma forma que era impossível não notar -
tanto para rapazes quanto para garotas. E Bridges provavelmente
sabia disso, passeando por aí com óculos de sol frouxos, ele tinha
muito apelo, com certeza fazia as mulheres babarem. Ele tinha que
ser italiano com todo aquele cabelo preto. Jeremy o ultrapassava por
cerca de dois ou três centímetros, mas o detetive se portava tão bem
que não era perceptível. Era meio estranho que ele tenha tido tantos
problemas para lembrar como Bridges parecia antes. O cara era
impressionante mesmo em jeans e uma camisa de botão. Era meio
irritante, especialmente desde que Jeremy se sentiu desleixado por
não ter tido tempo para um banho depois do trabalho. Ele não
queria parecer como se não desse a mínima.

Rafe chegou ao fundo dos degraus e sorriu enquanto tirava os


óculos de sol, lançando um olhar chocantemente azul-gelo neles e
estendendo a mão. Jeremy sacudiu e depois observou o pai fazer o
mesmo.

KM
─Este é meu pai, Peter Halliday. Papai, Rafe Bridges.─ Seu pai
assentiu e olhou para trás e para frente entre eles.

─Eu lhe ofereceria algo para beber, mas Jeremy estava dizendo
que você gostaria de ir direto a casa de Aragon.

─Isso é provavelmente melhor─, ele concordou com um


sorriso natural. ─Eu tenho minha bolsa no caminhão, então
podemos ir em frente a menos que haja qualquer outra coisa que
você queira que eu saiba antes de sairmos. Você pode ter uma
perspectiva diferente sobre as coisas, já que mora perto deles e viu o
que está acontecendo.─ O respeito de Jeremy pelo investigador
aumentou quando o cara incluiu seu pai. Era mais um sinal de que
ele estava pedindo à pessoa certa para ajudar seus velhos
amigos. Ele estava exalando profissionalismo e carisma.

─Bem─, seu pai lançou um olhar preocupado na direção da


casa de Aragon. ─Definitivamente há bastante brigas lá, mas isso é
esperado. Hector e sua filha discutiam muito. Eu não sei o que você
ouviu, mas é óbvio para seus vizinhos que ele é superprotetor. Não
surpreendeu a maioria de nós na vizinhança saber que ela não estava
mais por perto. Ele dirá a qualquer um que ouvir que o namorado
dela a levou. Ele tem o mercado envolvido nessa teoria da
conspiração. Ele chamou Angel de bandido trapaceiro.

─Angel é o namorado?─ Com o aceno de seu pai, Bridges


disse: ─Bem, ele é um bandido trapaceiro?─ Jeremy observou com
interesse a maneira como o detetive fazia perguntas. Tudo saiu tão
naturalmente, como se as perguntas e as respostas não tivessem
importância em sua investigação. Ele apostaria dinheiro no fato de

KM
que o cara provavelmente entrevistava pessoas e tinha todas as suas
perguntas respondidas antes que elas percebessem que o
interrogatório havia começado.

─O garoto é jovem, é tudo. Ele anda principalmente com seus


primos. Ele é um pouco grosseiro, pode se considerar um pouco
homem de mais, mas ele não é um bandido. Acho que ele
provavelmente cuida da filha mais do que Hector percebe. O
problema é que ela não tem dezoito anos e Angel sim. Hector acha
que ele está se aproveitando dela.

Brigdes encostou-se ao corrimão na parte inferior dos degraus,


parecendo pensativo.

─Isso é difícil─, disse ele, mudando o olhar para


Jeremy. ─Alguma ideia de como a Sra. Aragon está lidando com
isso? Ela se sente da mesma forma que seu marido?

Jeremy deu de ombros.

─Carlos, o filho deles - eu falei sobre ele - me disse que ela está
apenas tentando ficar quieta. Eles nunca viram Hector assim, então
estão pisando com cuidado ao redor dele. Ele me disse que sua mãe
era quem deixava Yesenia sair com esse garoto. Ela lembrou a
Hector que seu pai não gostava dele quando eles começaram a
namorar também. Isso o irritou ainda mais, eu acho. ─Ele se afastou
da varanda e desceu os degraus até que eles estavam próximos um
do outro. ─Eles estão preocupados. De luto.

Bridges assentiu e estendeu a mão para o pai de Jeremy


novamente.

KM
─Sr. Halliday, foi um prazer conhecê-lo.

─Me chame de Peter. Obrigado por dar uma mão com


isso. Eles são velhos amigos.

─Não é um problema.

─Eu voltarei quando terminarmos lá─, Jeremy acrescentou,


liderando o caminho de volta a pé e esperando enquanto Bridges
pegava uma bolsa de couro de sua caminhonete. O pai dele gritou do
alpendre que sua irmã passaria por lá mais tarde também e Jeremy
tentou não gemer na frente de Rafe e fazer ] perguntas. Em vez
disso, ele assentiu resignado.

Eles andaram em silêncio por alguns momentos antes que o


detetive o detivesse.

─Eu farei o meu melhor para ajudá-los, mas é uma espécie de


política não oficial minha que eu não aceito trabalhos em que o
cliente está constantemente interferindo na investigação. Se eu
quisesse ser microgerenciado, teria ficado preso ao meu trabalho de
comunicação.─ Enquanto falava, seus olhos estavam focados como
lasers em Jeremy, que se sentia lutando para segurar o olhar. O cara
não estava piscando. ─Não estou dizendo que isso seja dramático ou
algo assim; Conheço vários outros investigadores que gostaria de
recomendar, mas se Hector me pedir para fazer esse trabalho e
interferir continuamente, porque ele é muito controlador, não vai
funcionar.

─Eu entendo. Você pode até avisa-lo, mas eu não sei se ele será
o seu eu habitual com sua filha na linha.

KM
O olhar de Bridges se moveu de novo e Jeremy deu um suspiro
silencioso de alívio por não estar mais sob escrutínio tão intenso. Foi
muito estranho.

─Na frente da família, eu te chamo de oficial Halliday, mesmo


que você os conheça há tanto tempo, mas, em outros momentos,
posso chamá-lo de Jeremy?

─Jeremy, Jay, Halliday… não importa para mim. Você prefere


Rafe? ─Aqueles sorridentes olhos azuis brilharam para ele e Jeremy
desejou ser novamente ignorante sobre o quão ridiculamente bonito
o cara era. De pé ao lado do PI4, coberto de suor e sujeira, só o fez
sentir-se pouco profissional.

─Sim. Rafe está bem pra mim.

Após a curta caminhada nas pedras que serpenteavam por um


gramado minúsculo, mas bem cuidado, Jeremy abriu um portão
baixo e o segurou para Rafe. Eles estavam na metade da caminhada
quando Pepper, o pastor alemão da família, começou a rosnar e latir
como sempre desde que Jeremy o conhecera. Ele estava
acostumado, mas demorou meio segundo para ver que Rafe não
estava. Ele amaldiçoou e deu um passo para frente até o homem
estar parcialmente escondido atrás de Jeremy.

─Desculpe─, ele suspirou, ─eu estou trabalhando nisso, mas a


maioria dos cães me assusta.─ Os olhos de Jeremy se
arregalaram. Bem, bem, bem. Parecia que o Sr. Calma e Charme
tinha alguns problemas depois de tudo.

4
private investigator; investigador particular.

KM
─Este é definitivamente mais latido que mordida. Ele só está
empolgado, acredite em mim.

─ Claro, o que seja...─ Rafe deu outro olhar furtivo ao cachorro


e Jeremy observou, surpreso, quando todos os sinais de desconforto
desapareceram no segundo em que a porta de tela se abriu e Hector
Aragon apareceu. Foi impressionante pra caralho. Rafe estava de
volta aos negócios.

KM
CAPÍTULO DOIS

Hector Aragon não era um homem alto, chegando apenas ao


ombro de Rafe, mas se movia como se fosse mais alto que
Jeremy. Sua pele estava desgastada e bronzeada, e a mão que ele
ofereceu era áspera do trabalho. Ele observou Rafe com olhos negros
astutos e chegou a só deus sabe que conclusão. Raiva e frustração
eram palpáveis no ar ao redor dele, embora ele estivesse
surpreendentemente quieto comparado ao que Rafe esperava.

O cachorro - qual era o nome dele? Pepper? - estava cheirando


os sapatos e mesmo que isso o agitasse mais do que ele queria
admitir, ele tinha que ignorá-lo. Não incuti muita confiança quando
o investigador que você estava pensando em contratar começa a se
esconder atrás de policiais loiros quentes ao ser enxotado por um
cachorro. Rafe respirou profundamente e trocou o contato visual
com Jeremy, que, graças a Deus, segurou a coleira do cachorro e o
puxou para longe. Homem glorioso. Depois de uma introdução
forçada e de um silêncio desconfortável, Hector virou-se e conduziu-
os a uma sala cheia até a borda com um sofá, mesa de café e duas
poltronas.

─Venha e sente-se. Você também, Jeremy─ ele disse baixinho.

Rafe se viu olhando para os olhos castanhos perturbados de


uma mulher que só podia ser a sra. Aragon. Hector confirmou isso
ao apresenta-la e ela apontou para uma poltrona para ele se
sentar. Jeremy se moveu ao redor da mesa de café, oferecendo-lhe
um abraço que ela pareceu nervosa ao retornar. Houve um olhar de

KM
Hector, e quando ela se sentou ao lado do marido no sofá, com as
mãos apertadas no colo, a tensão em seu corpo falava volumes. Ela
estava definitivamente com medo de Hector e infeliz em geral.

─Meu filho está trabalhando hoje à noite, ou ele estaria aqui─,


anunciou Hector em seu forte sotaque espanhol. ─Ele ligou para
Jeremy e pediu a ele para conseguir um detetive que pudesse se
concentrar em trazer minha filha de volta a esta casa.

Rafe se inclinou para frente, os antebraços apoiados nos


joelhos.

─O policial Halliday me ligou ontem e me contou um pouco


sobre suas circunstâncias. Sinto muito por ouvir sobre sua filha. Eu
farei o que puder para ajudar.

─Você é licenciado?─ Hector perguntou abruptamente, seus


olhos afiados como uma águia em sua presa. Rafe se abaixou ao lado
da cadeira e abriu a aba da bolsa. Pepper foi direto para sua mão e
ele se moveu rapidamente para sair do caminho, pegando sua prova
de licença e um cartão para deslizar sobre a mesa. ─Eu tenho licença
desde 1999 e sempre trago informações de referência, se você quiser
uma cópia delas também.

Hector não olhou para nenhuma das informações e Rafe se


sentou em silencio por mais alguns segundos antes que Hector viu
algo que o satisfizesse e, finalmente, começasse a trabalhar, com
Rafe imediatamente pulando para iniciar uma gravação da conversa.

─Minha filha está desaparecida desde a noite de quinta-


feira. Temos fotos dela para você usar em sua investigação.

KM
Rafe assentiu com a cabeça e pegou um bloco de notas e uma
caneta, perguntando com um olhar se estava tudo bem se ele fizesse
anotações. Hector e sua esposa assentiram, então ele se ocupou em
escrever qualquer coisa que se destacasse para ele.

Yesenia tinha apenas dezessete anos e seu namorado, Angel


Torres, tinha dezoito anos. O par estava namorando há seis meses. A
descrição de Jeremy sobre a proteção de Hector não era nem uma
gota no balde para a maneira do homem em pessoa. Ele mal
conseguiu evitar espumar pela boca quando falou sobre o menino,
seus olhos brilhando perigosamente sob as sobrancelhas baixas. A
maior parte do que ele disse levou de volta a Angel. A sra. Aragon
estava visivelmente calada e apertada como uma mola, enquanto o
marido continuava sem parar.

Rafe esperou que Hector perdesse a força antes de tentar


conseguir uma palavra na conversa.

─O policial Halliday mencionou para mim que você está


confiante de que essa não é uma situação descontrolada. Você
acredita que sua filha foi levada contra sua vontade? O que
aconteceu na noite em que ela desapareceu?

─ Yesenia tem sido uma criança voluntariosa ultimamente; ela


sabe que eu desaprovo esse garoto, mas também sabe que eu a amo e
nunca a tiraria de casa.─ O raciocínio de Hector fez o oposto de sua
provável intenção: fez Rafe pensar que Yesenia estava infeliz o
suficiente para fugir. Hector estava cheio de desculpas.

─Ela nunca ameaçou sair dessa maneira─, continuou


Hector. ─Eu acho que o namorado dela estava envenenando sua

KM
mente e ela estava se envolvendo com a multidão com quem ele
trabalha - nada além de um monte de vatos5 que pensam que são
algo. Fui para o quarto dela antes de ir para a cama às dez para ver
como ela estava - ela escapou uma vez antes e não permitiria que
isso acontecesse de novo, sabe - e ela não estava lá. Sua janela estava
escancarada como se alguém a tivesse levado e não tivesse tido
tempo para fecha-la.

─A polícia encontrou alguma impressão no quarto dela? Estou


supondo que eles procuraram?

Hector assentiu com a cabeça, seus lábios se apertando com


malícia.

─Eles encontraram impressões apenas dos membros da


família. Mas as impressões não significam tudo─, ele acrescentou
rapidamente.

─Você não ouviu barulhos estranhos de seu quarto ou


encontrou qualquer outra evidência de uma luta?─ Ele balançou a
cabeça amargamente.

─Então você acredita firmemente que foi Angel quem a


levou?─ Rafe perguntou, já impaciente com a maneira como ele
tinha que cavar discursos moralizantes para chegar ao ponto.

─Aquele menino. Angel. Maldito ese6. Ele provavelmente se


reuniu com alguns de seus amigos bandidos, levou-a, e agora ele não

5
Mexicano para jovem.
6
Forma como adultos mexicanos chamam os jovens.

KM
a deixa sair e ficar com sua família. Ela provavelmente está
assustada e preocupada onde quer que esteja.

Rafe assentiu com a cabeça e rabiscou um pouco rabugento em


seu bloco enquanto olhava ao redor da sala, sentindo que a sra.
Aragon parecia que estava se controlando um pouco para não falar.

─Você concorda com seu marido, senhora Aragon? Você estava


aqui no momento em que seu marido descobriu que Yesenia não
estava em casa?─ ele perguntou e pensou que, se as narinas de
Hector se dilatassem ainda mais, estariam disparando fogo. Ela deu-
lhe um olhar de soslaio, mas falou de qualquer maneira.

─Eu estava aqui─, ela murmurou hesitante. ─Eu não acho que
ela foi sequestrada, detetive. Yesenia ama sua família. Ela ama o pai,
mas eles estão brigando tanto...

─ Angelina!─ Hector interrompeu e Rafe se recostou na


poltrona, vendo que Jeremy estava percebendo as mesmas coisas
que ele.

─Vou lhe contar minha opinião, Hector─ ela retrucou,


apertando as mãos novamente enquanto se voltava para Rafe, com
os olhos implorando. ─Foi difícil para Yesenia… todas essas
brigas. Eu trabalho muito e não poderia estar aqui como um...
amortecedor, suponho. Ela se importa muito com Angel, e por ter os
dois homens com quem ela mais se importa brigando, eu acho ...
Acho que ela se assustou e fugiu.─ Hector se recusou a olhar a
direção de sua esposa novamente depois disso, e Rafe sentiu o
desprezo dele no ar. Nessas ocasiões, ele se alegrava em ser gay e
solteiro - não que o abuso doméstico não acontecesse do lado dele,

KM
mas seriamente, isso era ridículo. Tão estereotipado. E desajeitado,
não vamos esquecer essa parte, ele disse a si mesmo.

─Sr. e a Sra. Aragon, falei com um contato na Unidade de


Pessoas Desaparecidas hoje. O policial Halliday─ ele olhou na
direção de Jeremy por um tempo, notando a maneira como ele
agarrava o cachorro novamente, ─também pode estar ciente de que
o namorado de sua filha está na cidade e sua filha não está com
ele. Também houve uma declaração de que você foi à casa de Angel e
exigiu vê-la e descobriu que ela não estava lá. Se ela fugiu, ou se foi
levada─, acrescentou ele antes que Hector pudesse discutir,─ ela não
está com ele agora e não há provas de que ela esteve com ele desde a
última quinta-feira. A polícia informou você sobre isso?

─Eu acho que ela tem amigos ajudando. Ela é uma garota
popular, minha Yesenia. Se as amigas dela acharam que ela
precisava de ajuda, tenho certeza de que elas a ajudariam a fugir. ─
A sra. Aragon evitou responder diretamente, o rosto pálido, os olhos
dela continuamente piscando em direção marido. ─Você sabe como
as crianças podem ser.

Rafe não respondeu desde que ele estava pensando no último


pedaço da informação. Não tinha certeza de que Yesenia se
qualificasse ainda criança e não tinha experiência com crianças. Mas
fugir parecia um grito de socorro para ele.

Hector não pôde ficar quieto por mais um segundo, sua voz
afiada enquanto ele falava.

─Eu disse que esse garoto é um bandido; Eu não disse que ele
era burro. Claro que ele não vai mantê-la com ele o tempo todo onde

KM
eu poderia encontrá-la e trazê-la para casa. Ele é esperto o suficiente
para saber que isso o faria ser descoberto e preso.

Rafe não se incomodou em mencionar o fato de que Hector


não parecia se sentir da mesma forma na noite de quinta-feira
quando ele correu para o Angel para uma sessão de pancadaria.

─Será que ela acharia tão fácil deixar o namorado para trás
também?─, Ele disse.

─Eu acho que ela sabe que seria o primeiro lugar que todo
mundo iria procurar por ela e então ela não iria lá, Sr. Bridges. Acho
que ela pode voltar para casa depois de algum tempo longe─
sussurrou Angelina suavemente.

Bem, um deles parecia confiante. Angelina estava aguardando


o retorno da filha pródiga. Acho que todos veriam como isso
funcionava. Rafe observou Hector com cuidado, enquanto
mencionava um ponto que ele tinha certeza de que o homem estava
esperando.

─Eu sei que você quer alguém que possa prestar um pouco
mais de atenção do que o departamento de polícia poderia oferecer
agora. Isso é compreensível. Eu quero garantir que a polícia está
trabalhando duro nisso. As pistas que eles estão seguindo, as
entrevistas que estão conduzindo... você entende que eu vou seguir
as mesmas pistas, farei as mesmas perguntas. Há uma garantia de
que você conseguirá as respostas que deseja sem me contratar.

─Eu quero que você encontre minha filha, Sr. Bridges─,


disparou Hector. ─Não quero ofender Jeremy, que está disposto a

KM
nos ajudar recomendando você, mas o departamento recebe muitos
casos em seu escritório. Eles estão sobrecarregados. Não há como
eles se concentrarem nisso e trazer minha Yesenia de volta antes
de quem quer que tenha levado tenha certeza de que ela nunca volte
em casa. Eu pagarei seu preço. Em troca, você vai chegar ao fundo
disso. Esse menino merece estar na cadeia.

Rafe sabia que não devia, mas se arriscou e perguntou a Hector


suas razões para não gostar de Angel Torres de forma tão vocal, e
recebeu de volta uma enxurrada de insultos, nenhum dos quais
realmente respondeu à sua pergunta. Ele definitivamente não era
mais sábio sobre porque o garoto merecia uma sentença de
prisão. Certamente não havia prova de estupro estatutário. Inferno,
suas impressões não estavam em qualquer lugar perto do quarto de
Yesenia e ela não tinha liberdade suficiente para sair o tempo
suficiente para realizar muito de qualquer coisa naquele bairro.

Hector Aragon era claro sobre três coisas apenas: queria sua
filha em casa, queria controla-la e queria que o namorado
apodrecesse em uma cela em algum lugar - esperançosamente
alguma com castigos físicos, à la Bastille, que realizava sessões
diárias de surra.

Rafe não gostou do que estava vendo. Se Hector se esforçasse


mais, havia um sério risco de violência. Ele teria que ir amanhã a
Angel Torres e ver aonde isso levava. Ele também estaria fazendo
viagens frequentes de volta para a casa de Aragon - um de seus
truques quando ele não estava se sentindo muito confiante sobre a
história que ele estava recebendo de um cliente. Não era

KM
frequentemente necessário, mas algo sobre o casal estava
desencadeando um alarme nele.

Os Aragons deram a ele todas as informações de contato que


ele precisava para os amigos, a família e o namorado de Yesenia. A
foto que eles forneceram dela mostrou uma versão mais jovem de
Angelina. Cabelos castanhos claros, lindos olhos cor de avelã,
covinhas e um sorriso caloroso. Ela era muito bonita e parecia mais
jovem que seus dezessete anos. A imagem da inocência.

Toda a visita e entrevista levou uma hora. Ele deixou seu


cartão e informações de referência com eles e esperou na calçada
enquanto Jeremy se despedia. Eles não conversaram até estarem de
volta na frente do pai de Jeremy.

─Aposto que você gostaria de não ter respondido aquele


telefonema ─, Jeremy deu-lhe um olhar envergonhado.

Rafe sorriu quando ele jogou sua bolsa no caminhão, um


pouco da tensão deixando seus ombros.

─Isso foi... uma experiência interessante. Há muitas coisas


acontecendo debaixo da superfície lá.─ Ele hesitou em dizer mais,
não querendo ofender Jeremy que conhecera essa família a maior
parte de sua vida.

─Não se segure por minha causa─ murmurou Jeremy,


inclinando-se cansado contra o caminhão de Rafe. ─Eu nunca vi
Hector assim. Com certeza, eu não estive por aí tanto assim nos
últimos anos, mas desde que Yesenia entrou no colegial, ele
mudou. Ele parece pensar que todo mundo está tentando pegar sua

KM
filha e fazer o senhor sabe o que com ela. Carlos nem sabe o que
fazer sobre isso.

─Angelina não está bem. Isso me deixou preocupado depois de


observa-los juntos.

Jeremy assentiu com a cabeça, olhando através da luz fraca da


noite de volta para a casa de Aragon.

─Muito estranho. Ouça, me desculpe, está se tornando ainda


mais difícil de assumir do que você pensava. Se Hector começar a
dificultar sua vida, me avise. Eu posso ser capaz de convencê-lo.

─Eu agradeço─ Rafe riu, de repente se tornando muito


consciente da masculinidade quente que Jeremy exalava do jeito que
estava encostado em sua caminhonete. Seu longo corpo estava
perfeitamente relaxado, e mesmo com o sol já se pondo, seu
bronzeado dourado ainda era óbvio. Era como estar em pé
conversando com a droga do deus sol.

Porra, ele precisava de um namorado.

Em um esforço para se distrair, apontou para o carro na


entrada e balançou a cabeça, admirado.

─É seu?

O sorriso de resposta de Jeremy foi tão incrível, era tão quente,


e o cara nem sabia disso. Rafe sempre estaria empurrando a imagem
de Jeremy para fora de sua mente.

KM
─Sim. Essa é minha 'Cuda7. Assim que for legal, vou me casar
com ela.

Rafe engasgou com a risada, afogando-se sob uma onda de


ironia.

─Sua família ficará tão orgulhosa. Me envie um convite.

─Com certeza.─ Ele acenou em direção à porta da frente da


casa. ─Você é bem-vindo para tomar uma bebida antes de sair, se
quiser. Nós ficaríamos felizes em ter você. Além disso, minha irmã
está aqui e não me incomodará sobre encontros às cegas, se estiver
por perto.

Rafe não podia rir do pensamento de Jeremy em encontros às


cegas, então ele sorriu torto.

─Sua mãe ainda está por aí?

─Não─, Jeremy afastou-se do carro. ─Partiu quando eu era


realmente jovem. Só eu, papai e minha irmã desde que eu era tinha
três anos.

─É legal você se dar bem com seu pai. Meu pai mal fala
comigo.─ Rafe fechou os lábios com uma maldição. Ele
realmente disse isso? Ele disse! O que havia de errado com ele? A
última coisa que Jeremy precisava saber era como seus pais odiavam
quem ele era. Ele precisava dar o fora dali antes de começar a flertar
com o cara. ─Sabe de uma coisa, vou ter que adiar essa bebida. Eu

7
Diminutivo de Barracuda que é o modelo do carro.

KM
tenho algumas coisas para cuidar e amanhã estarei ocupado
interrogando Angel Torres.

─Certo. Não vou atrapalhar você.─ Jeremy se afastou da


caminhonete e sorriu quando começou a andar.

Rafe não sabia o que o fez dizer isso - por que ele precisava
deixar alguma pequena brecha para o contato com um cara
obviamente hetero, mas ele falou de qualquer maneira.

─Vou mantê-lo informado sobre a investigação. Deixarei você


saber como tudo está se desdobrando.

─Seria ótimo. Mais uma vez obrigado, cara ─, ele acenou. ─Até
a próxima.

Deus, Rafe esperava que sim.

Quando ele estava esparramado no sofá em casa, ele pegou o


celular e apertou o botão de discagem rápida para Brian. Ele foi
parar no correio de voz depois de alguns toques e suspirou no sinal.

─Ei cara, sou eu. Tomei o caso porque aparentemente eu não


sei como dizer não. Grande surpresa certo? E droga, esse policial
que me arrumou o trabalho é mais bonito do que eu me lembrava - é
claro que eu estava totalmente de ressaca quando o conheci. Ele é
como um Adonis élfico. De qualquer forma, pensei em deixar você
saber que eu cedi para que você possa vir e me tirar da minha
miséria antes de eu me apaixonar por outro cara hetero. Traga
tranquilizante de elefante, talvez. Me liga.

KM
***

Angel Torres não parecia feliz em conversar com outro


detetive, já que Rafe deveria ir à casa dos pais uma vez por
mês. Quando ele estacionou a caminhonete, o garoto saiu do lado de
fora com relutância, lançando olhares ao redor do bairro como se
estivesse preocupado com quem estava assistindo. Ele estava
vestindo uma camiseta branca extra longa que pendia sobre a
cintura flácida de seu jeans. Era como um uniforme padrão e
certamente uma afirmação, Rafe pensou.

─Angel?─, ele perguntou, saindo do caminhão, seu gravador


de bolso já zumbindo.

─Você é o PI?─ Angel murmurou, a cabeça inclinada como se


ele tivesse algo a provar, e Rafe sabia que ia ser um longo dia sujo.

─Sim, Rafe Bridges. Como eu disse quando conversamos mais


cedo, os Aragons me contrataram para ajudar a encontrar a filha
deles.

─E como eu lhe disse antes, eu já disse aos policiais o que eu


sei.─ Ele enfiou as mãos nos bolsos. ─Por que você não liga para eles
e pergunta o que eu disse?

─Porque eu não sou um policial e não posso ficar em seus


rostos o tempo todo pedindo informações que eles não podem e não
vão me dar. Eu faço minha própria investigação.─ Ele estendeu a
mão e Angel relutantemente sacudiu. ─Eu prefiro fazer perguntas do
meu jeito.

KM
─Eu não vi Senia desde a manhã de quinta-feira─, Angel
ofereceu do nada. ─Às vezes, a mãe dela me deixa passar por lá
quando seu pai está no trabalho para que eu possa passar um tempo
com ela sem brigas.

─Sim, tenho a impressão de que você e Hector não são muito


próximos, mas eu não estou tomando partido - vocês podem odiar
um outro para sempre, no que me diz respeito - meu trabalho é
encontrar Yesenia.─ A expressão de Angel era cética. Ok, então o
garoto não caiu nessa. Ganhe alguns, perca alguns.

─Escute, você estaria disposto a fazer isso durante o


almoço? Eu pago. Eu tenho mais duas entrevistas depois disso e não
comi.

─Cara, eu não tenho muito tempo para isso─, ele reclamou,


tentando parecer duro, mas só conseguiu parecer uma criança. Rafe
se perguntou o que era que o mantinha tão ocupado aos dezoito
anos. Ele estava disponível no meio do maldito dia, de qualquer
forma.

─Almoço. Trinta minutos e terminamos. Mesmo que eu tenha


mais perguntas do que tempo.─ Angel hesitou por um segundo e
então passou, batendo o ombro no de Rafe. Uma manobra clássica
destinada a intimidar; era possivelmente mais eficaz se o receptor
não fosse mais alto.

─O relógio está correndo, detetive.

Agradável. Angel era um verdadeiro encantador. Não é de


admirar que Yesenia gostasse tanto dele.

KM
Dez minutos depois, Rafe estava estacionando em um banco,
fazendo malabarismos com algumas bebidas e um prato de
chimichangas embrulhados em papel alumínio.

─De todos os lugares que poderíamos ir, você escolheu


burritos em um estacionamento?─ Ele cheirou a comida como se
estivesse envolta em veneno de rato.

─Você vai mudar de ideia quando sentir o gosto, confie em


mim.

Angel deu de ombros e desembrulhou a chimichanga.

─Eu pensei que você fosse me fazer perguntas.─ Ele deu uma
mordida enorme e Rafe imaginou segura-lo pelas orelhas até que ele
parasse com toda essa besteira de machão.

─Certo─, ele disse, deixando a oportunidade passar. ─Você


disse que a última vez que viu Yesenia foi na quinta de manhã.

Ele assentiu, sem dizer nada.

─Ela fugiu? Você sabe onde ela está?─ Direto ao ponto era
sempre uma boa tática.

Angel revirou os olhos e balançou a cabeça, como se tivesse


que escolher entre trabalhar em algum lugar entre limpar gaiolas de
macaco no zoológico e ter os dentes arrancados.

─Ela fugiu. Ela estava pronta para fazer qualquer coisa para
fugir daquele babaca.

KM
─Eu suponho que você esteja falando de Hector Aragon.─ Ele
preencheu os espaços em branco, enquanto Angel começou a
mastigar outra mordida. ─Por que ela queria se afastar dele? Ela
falava muito sobre isso?─ Angel deu de ombros.

─Na verdade não. Ela não gostava que ele não a deixasse me
ver. Ela disse que ele a queria tão perto o tempo todo e ela odiava
isso.

─E você não sabe onde ela está? Você não ouviu falar dela?

─Não. Ela ligou mais tarde naquele dia, depois que eu saí, e ela
ainda estava em casa. Eu deveria levá-la para sair na quinta à noite,
mas seu pai descobriu e eles começaram a brigar novamente. Eu não
sei para quem ela pediu ajuda. Eu não sei onde ela está, mas ela
precisava ir embora.

─Então, você me diria se soubesse onde ela está?

Angel fez uma pausa e finalmente sacudiu a cabeça.

─Então você poderia entregá-la de volta para ele? Não.

Exatamente no modo como Angel respondeu a pergunta, Rafe


poderia dizer que ele não sabia onde sua namorada estava, mas
havia algo acontecendo, talvez ele soubesse que ela tinha fugido, mas
ela não tinha dito a ele onde e quando.

─O pai dela acha que você está por trás disso.

─Merda, o que há de novo? Algo ruim acontece, sou


responsável. Isso é besteira. Ele acha que estou escondendo ela ou

KM
que alguém que eu conheço a levou. Ele é louco - caso sério,
mano. Problemas sérios.

─Que tipo de problemas?─ perguntou Rafe, acomodando-se


no banco e tomando todo tipo de anotações mentais.

─Cara, eu tenho uma irmãzinha da mesma idade de Senia, e


meu pai a observa como um falcão, mas não da mesma maneira que
o pai de Senia. Ele a acorrentaria à mobília se ele pudesse. Ela mal
pode sair de casa durante o verão, mesmo que seja para ir a
visitar amigo de quem ele gosta. Ele a trata como se ela não fosse
nada além de uma prisioneira. Ele nem permite que ela tenha um
emprego de meio período.

Rafe captou a preocupação nos olhos de Angel antes de ele se


virar e voltar ao almoço. Sua mandíbula apertou com força a cada
mordida. O garoto estava preocupado com a namorada, muito
preocupado, então Rafe observou muito atentamente quando fez sua
próxima pergunta.

─Ele a machucou?

Angel continuou mastigando, sua testa franzindo


sombriamente sobre seus olhos negros.

─Como hematomas, você quer dizer?

─Sim.

Seu corpo ficou tenso e ele segurou o papel de alumínio, com


tanta força que a carne de seus dedos ficou branca.

KM
─Nunca houve hematomas que eu pudesse ver, mas isso não
significa nada, sabe?─ Ele fixou um olhar furioso em Rafe. ─Ele
controla tudo sobre a vida dela. Ele me odeia e acha que estou
usando Senia. Pergunte a qualquer pessoa que eu conheça, até
mesmo aos meus pais, eles dirão que eu faria qualquer coisa por
ela. Por que mais eu aguentaria aquele idiota todo esse tempo? Se eu
a estivesse usando, não teria ficado por perto.

Rafe assentiu e limpou a garganta, sua mente se movendo


rapidamente.

─Então, Hector está confuso, não acha? Ele odeia você, acha
que você está usando a filha dele, mas ao mesmo tempo ele deve
saber que você se importa um pouco, porque você é seu primeiro
suspeito do sequestro. Isso é interessante para mim. Ele disse que
você é inteligente o suficiente para levá-la e mantê-la em outro lugar,
então quando os policiais procurarem com você, você parece
inocente.

─Ele é um idiota. Eu te disse que ele é louco. O que, você acha


que ele está escondendo alguma coisa?

─Alguém está.─ Rafe lançou um olhar para o lado.

─Eu não estou usando ela, cara. Eu já disse isso. Eu não a levei
ou a escondi. Me amarre a um desses detectores de mentira, você
verá.

─Eu poderia fazer isso. Eu tenho a licença,─ ele blefou ,─mas


não se preocupe. Se eu pensasse que você é um mentiroso, eu apenas

KM
diria isso em seu rosto. Por enquanto, estamos apenas
conversando.─ Os lábios de Angel se contraíram um pouco.

─Eu não estou mentindo. Os policiais sabem onde eu estava na


quinta-feira; minha história confirma.

─Eu sei. Eu conversei com um dos caras da Unidade de


Pessoas Desaparecidas e pedi a ele para me dizer isso.

─Bem, então?─ Ele retrucou.

─Quando você soube que ela estava desaparecida?─ Rafe


continuou, voltando à história novamente. Angel bufou.

─Quinta à noite. Seu pai viio para minha casa, acordou toda a
minha família batendo na porta da frente. Ele achava que Yesenia
estava comigo e meus pais até deixaram que ele checasse meu
quarto. Ele e Carlos.─ Ele tinha como dizer o quão furioso isso deve
tê-lo deixado, estava claro.

─Carlos estava com ele?─ Rafe cobriu sua surpresa. Esta foi a
primeira vez que ele ouviu falar de Carlos participando.

─Sim, o maricón revirou o meu armário!─ Angel estava


ocupado demais espumando para notar o modo como Rafe
endureceu com a palavra espanhola para viado. Levou um segundo
para dar de ombros como outro comentário imaturo de um garoto
ignorante.

─Você diria que conhece melhor Yesenia?─ Ele finalmente


perguntou.

KM
Angel brincou com a bola esmagada de papel alumínio e
assentiu.

─Além de sua mãe, sim.─ Não há dúvida de que o cara amava


Yesenia. Assim que Rafe começou a puxar as camadas, era óbvio que
a principal prioridade de Angel era e que ele faria tudo o que
pudesse para protegê-la. É por isso que Rafe não confiava muito no
álibi.

─Então, onde você procuraria por Yesenia? Onde você acha


que ela iria?

─Eu não sei, cara. Algum lugar onde o pai dela não a
encontraria, eu acho. Eu também perguntei por aí─ ele
ofereceu. ─Eu fui a suas amigas e meus amigos. Ela tem uma família
grande. Qualquer um poderia tê-la ajudado, mas se o fizeram, não
falaram e provavelmente nunca falariam. Eles sabem que ele não
está certo.

─Você está preocupado?─ Rafe perguntou e se preparou para a


reação de Angel. E ele não desapontou, pulando de pé e atirando a
bola de alumínio em algum lugar perto dos sapatos de Rafe.

─Que tipo de pergunta fodida é essa? Por que eu não ficaria


preocupado com a minha garota fugindo sem me dizer nada? Tudo o
que sei é que em um minuto ela estava naquela casa, e no seguinte,
seu pai está batendo na minha porta. Eu não sei onde ela está, mas
estou feliz que ela não esteja mais lá. Mesmo se eu não voltar a vê-la,
ainda assim ficarei feliz.

KM
Angel estava respirando pesadamente, provavelmente pronto
para atacar Hector se ele tivesse a chance e se ele soubesse que não
seria o primeiro cara que os policiais procurariam. Rafe olhou para
ele por um longo tempo até o garoto desviar o olhar, as mãos
voltando para os bolsos.

─Meu tempo acabou─, Rafe disse simplesmente, ele sentia o


desconforto crescendo a cada diferente pessoa com quem ele falava
sobre o caso Aragon.

─Você não comeu.─ Angel acenou com a cabeça em direção ao


prato ainda no banco.

─Eu vou levar isso.─ Ele pegou a comida, acenou para Manuel
no trailer de burritos, e foi para onde tinha estacionado. Seu apetite
tinha ido embora de qualquer maneira.

Angel deu a Rafe mais alguns nomes de pessoas com quem ele
poderia querer falar antes de sair do caminhão na frente de sua
casa. Nomes que Rafe tinha certeza de que ele não contara à
polícia. O primeiro foi um dos muitos primos de Yesenia, Grace, e o
segundo foi Angelina Aragon, de todas as pessoas. Para um cara que
não queria sua namorada de volta sob o mesmo teto que seu pai,
Angel certamente estava oferecendo algumas pistas confusas
agora. A última coisa que ele disse ao sair do caminhão foi sobre
como a mãe de Yesenia sabia o que estava acontecendo naquela casa
melhor do que ninguém, mas os policiais provavelmente não
tirariam muito dela com Hector pairando ao redor. Rafe fez algumas
ligações desde que Angel se aproximou quando chegou aos números
de telefone, e finalmente entrou em contato com a prima. Ela

KM
trabalhava como caixa em uma daquelas grandes mercearias e disse
que o encontraria quando o turno acabasse, mas apenas por dez
minutos e só no estacionamento. Foi definitivamente o seu dia para
entrevistas de alta manutenção. Suas amigas estavam esclarecendo o
quão grande a briga deve ter sido para Yesenia sair de casa, que era a
conclusão na qual Rafe se inclinava. A garota saiu por sua própria
vontade e com a ajuda de alguém.

Às três horas, estava esperando no estacionamento, encostado


no caminhão com os olhos treinados nas portas automáticas da
loja. Ele a viu facilmente - ela ainda estava desamarrando suas tiras
de avental enquanto vagava para fora - e ele se afastou do caminhão,
encontrando-a no meio do lote de asfalto quente.

─Dez minutos─, disse ela, olhando para cima através das


pálpebras tão fortemente alinhadas com suor que ele sentiu sua
própria regar em simpatia.

─Se importa se eu gravar isso?─ Ela encolheu os


ombros. ─Onde está Yesenia? Você sabe?

─Não.─ Ela passou a mão sobre seu cabelo. ─Eu falei com ela
na quinta-feira depois da briga com o pai.

─Ela disse se iria fugir ou se estava com problemas?

Eles estavam de volta ao caminhão e Grace se sentou no pára-


choque traseiro, sacudindo a cabeça.

─Não. Ela me disse que seu pai se irritou novamente com


Angel, o que acontece o tempo todo.─ Ela olhou para ele. ─Você tem
um cigarro?

KM
─Fumar vai te matar. Eu já tenho muitas outras opções se
decidir que uma morte lenta é a certa para mim.

Grace fez um barulho de ─psshh─ e desviou o olhar.

─Policiais,─ ela disse baixinho.

─Yesenia parecia diferente?─ perguntou ele, ignorando a


irritação dela. ─Angel me disse que vocês duas conversavam muito.

─Ela estava chateada. De que outra forma ela poderia ficar? O


pai dela é um idiota. Eu estive na casa dela quando ele ficou louco
por ela estar fora. Ele me deixou de castigo uma vez quando a levei
para uma festa. Angel nem estava lá.

─Diga-me uma coisa─, disse ele, tentando levá-la a olhar para


ele. ─Como era o relacionamento de Yesenia com seu pai quando
Angel não estava por perto e eles não estavam brigando.─ Grace
revirou os olhos.

─Muito estranho.

─Como assim?

─Era como se ele estivesse tentando ser seu melhor amigo. Ele
a levava para fazer compras ou a mantinha em casa com ele. Ela
disse que ele gostava de tê-la lá, não queria que ela se machucasse ou
o que quer que fosse.

─Isso não soa tão estranho para mim,─ Rafe respondeu,


sentando na outra extremidade do para-choque.

KM
─Se você visse o jeito que ele a olhava, você saberia o que eu
quero dizer. Ele olhava para ela, como se estivesse observando tudo
o que ela fazia, ou como se ele soubesse que ela iria sair
eventualmente.─ A voz de Grace tinha diminuído um pouco da
dureza que ela colocou, não se concentrando mais no fato de que ela
tinha informações e poderia usa-las em um jogo de poder.

─Então ela fugiu?

─Eu não disse isso─, ela virou a cabeça, os cachos ondulados


de seu cabelo caindo sobre os ombros. ─Mas ela mal podia sair de
casa, como ela deveria ser sequestrada?─ Ele assentiu.

─Ele acha que ela foi levada por Angel ou alguns de seus
amigos. Acredita que eles a tiraram do quarto dela e agora a estão
escondendo.

Grace passou a mão pelo cabelo novamente, um tique nervoso


ou algo assim, vários fios compridos presos nos anéis que ela usava.

─Ele disse à minha mãe, sua irmã, que ela foi ao banheiro e
não voltou. Acho que ele não te contou isso. A janela estava aberta e
ela não estava lá. Que tipo de pai assiste seus filhos tão de perto que
enlouquecem se passam muito tempo sozinhos no banheiro?

Ela estava certa; isso era definitivamente estranho e Hector


guardara aquele detalhe suculento para si mesmo.

─Então digamos que ela fugiu, você acha que Angel é o tipo de
cara que seu pai acha que ele é? O tipo de pessoa que poderia fazer
isso, então mentir para a polícia?

KM
Grace franziu as sobrancelhas enquanto olhava para o
estacionamento. Demorou um minuto, mas ela finalmente balançou
a cabeça.

─Angel realmente se preocupa com Senia, sabe? Todos menos


o pai dela podem ver como ele nunca a machucaria. Ele não é um
gangster. Ele tem um bom emprego e não sai por aí brigando com as
pessoas. O tio Hector não quer que ninguém mais além dele esteja
perto dela.

A última frase de Grace fez com que o estômago de Rafe


embrulhasse. Deus, isso pode significar várias coisas.

─Estou preocupada com ela─, Grace sussurrou, todos os


pretextos caindo.

─Porque você não sabe onde ela está?

─Eu não sei─, Grace respirou fundo e soltou rápido. ─Talvez


eu esteja mais preocupada que ela tenha que voltar para casa quando
você a encontrar. Ela com certeza fugiu.

Rafe a observou atentamente por um minuto e sua expressão


não mudou.

─Quando é o aniversário de Yesenia, Grace?

Ela piscou com a pergunta inesperada e franziu a testa para


ele.

─Em três semanas. 17 de agosto. Por quê?

Rafe sacudiu a cabeça.

KM
─Eu estou apenas curioso─, ele disse. ─Seus pais não me
disseram isso.─ Ela encolheu os ombros e abanou-se com o avental
amassado.

─Aposto que ela está na cidade. Ela não tem outro lugar para
ir. Todos que ela conhece estão aqui.

─Vocês duas são muito próximas.

─Nós costumávamos ser mais, mas ela tem um cara agora. Eu


não queria me meter em seus negócios o tempo todo. Nós ficávamos
bastante juntas muito antes. Mas as coisas mudaram. Eu pensei que
ela confiasse em mim o suficiente para me dizer que ela iria fugir.

Rafe captou a nota de dor em sua voz.

─A quem você acha que ela pode ter dito aonde ela iria? Existe
alguém?

Ela virou a cabeça lentamente e Rafe ficou chocado ao vê-la


enxergar as lágrimas em seus olhos.

─Ela teria me dito─, ela murmurou. ─É assim que sei que se


ela puder não voltará por um longo tempo. Ela está se escondendo e
por isso não queria estar em nenhum lugar onde o pai a encontraria.

─Então, se não foi para você, para quem ela contou?

─Eu não sei, ok?─ Ela cuspiu. ─Eu não sei onde ela está.─
Grace se afastou do pára-choque e começou a voltar para a loja.

─Obrigado por responder minhas perguntas─, ele gritou de


volta, mas ela o ignorou e continuou se movendo.

KM
CAPÍTULO TRÊS

Jeremy estava em seu intervalo, sua motocicleta estacionada


em um espaço a poucos metros de distância da mesa do pátio em sua
lanchonete favorita. Ele poderia ter parado em casa para uma
refeição rápida, mas ele queria que alguém mais fizesse o trabalho
hoje. Atualmente, ele estava comendo pastrami e centeio e
esperando que a cidade ficasse em paz por vinte minutos para que
ele pudesse terminar com suas batatas fritas e refrigerante pela
primeira vez. Entre as mordidas, ele checou suas mensagens e
parecia que ele se tornou bastante popular esta manhã enquanto
estava fora protegendo e servindo. Três novos correios de voz. O
primeiro era um aviso para a prática de softball, apenas trinta
minutos mais cedo do que o habitual. Agradável. Um turno
completo, seguido por duas horas de prática de base, e ele estaria
verdadeiramente acabado.

Sua irmã, Tracey, deixou a segunda mensagem. Ela estava


pedindo um favor, o que significava que o encontro às cegas que ele
estava evitando estava dolorosamente próximo. Neste caso, um
jantar na sexta-feira... e ele iria. Ele lhe devia, mas ele não tinha
certeza se era tanto assim. Isso acabaria com Tracey ficando
chateada com alguma amiga irritada enquanto Jeremy e seu
cunhado se faziam escassos. Ele apagou a mensagem dela
imediatamente. Não havia outra escolha a não ser ficar deitado por
um tempo. Ele poderia fingir que havia deixado o país, talvez.

Angelina Aragon chamou por último e sua voz chamou sua


atenção, agradecendo-lhe por encontrar Rafe e ajudá-los. Ela parecia

KM
totalmente em estado de choque, vazia e nada como a mulher que ele
conhecia há anos. Era quase como se alguém estivesse pairando em
seu cotovelo enquanto falava, e depois do interrogatório da noite
anterior, ele poderia facilmente imaginar Hector fazendo isso. Cara,
esse cara havia mudado.

Fazia muito tempo desde que ele passou algum tempo real com
os Aragon e Hector estava bem assustador agora. Ele estava bem
tenso, nervoso e defensivo. Jeremy não sabia se era simplesmente
porque estava com medo de sua filha ou se havia outra coisa
acontecendo. Fosse o que fosse, Jeremy deixou sua casa na noite
anterior, sentindo-se realmente perturbado. Ele também sabia que
Rafe não iria aceitar qualquer loucura do grande H. Se Hector não se
controlasse, ele perderia o PI e estaria de volta à estaca zero com a
polícia que ele não confiava para encontrar para encontrar a própria
bunda mesmo com instruções.

Jeremy jogou o telefone de volta na mesa e fez um baque


contra o metal que assustou a garota na mesa ao lado. Ela corou e
sorriu com seu pedido de desculpas, sacudindo o cabelo por cima do
ombro de um jeito que ela achava que deveria ser atraente.

Eh. Ele era velho demais para ela de qualquer maneira; ela mal
tinha vinte anos ele adivinhou. Sete anos de diferença era um pouco
demais, mesmo para ele. Deus, ele não queria um primeiro encontro
novamente. Fale sobre excruciante. Ver pessoas seria muito mais
fácil se ele pudesse pular o começo estranho, mas pensando
nisso... todos os seus relacionamentos tinham sido difíceis do
começo ao fim.

KM
Ele assentiu educadamente e desviou o olhar, imaginando que
ela entenderia seu desinteresse. Ela era fofa, ele supunha, mas não
havia nada chamando-o. Se ela soubesse o quão cientificamente ele
estava considerando a, ela se levantaria e iria embora. Mesmo as
mulheres com quem ele namorou por um tempo não o haviam
deixando fumegando apenas por estar na mesma sala que
ele. Ultimamente, porém, era como se ele nem estivesse olhando - e
seu dia estava cheio de oportunidades para ver mulheres
bonitas. Merda, metade de seu turno era gasto perto do campus da
universidade, onde jovens mulheres eram como formigas num
piquenique. Talvez ele fosse o problema. Como os anos estavam
somando muito rápido. Ele não tinha mais vontade de namorar. Isso
parecia um desperdício de energia para ele, se esforçar em um
encontro apenas para perceber que não estava funcionando e ele
desistiria novamente. E se o encontro chegasse ao sexo, nunca era
tão emocionante para ele. Ele tentava deixa-las felizes. Mas Jeremy
sempre encontrava um motivo para não continuar. Ele até morou
com uma namorada por seis meses e foi legal... por cerca de uma
semana. Até que ele percebeu que ela era uma mulher a deriva. Foi
como se afogar pelo resto dos cinco meses e três semanas, e isso não
era algo que ele gostaria de fazer novamente. Ele a deixou e ela
parou de falar com ele, e foi isso. Por último ele ouviu que ela se
mudou para o Arizona. Nenhum desgosto do seu lado. Quão
superficial era isso? Ele só passou por isso; foi patético.

O telefone de Jeremy começou a zumbir de novo,


interrompendo sua linha de pensamento, e ele tomou um gole de
refrigerante, olhando para o identificador de chamadas com um
olhar cauteloso. Era Rafe Bridges e ele não tinha certeza do porque,

KM
mas ele estava sorrindo, grande momento. Ele apostava que o
detetive era um cara esperto. Jeremy respondeu rapidamente, mas
em vez de ouvir uma saudação, ele teve um monte de crepitação e
uma maldição em seu ouvido.

─Rafe?─, Ele perguntou, franzindo a testa em confusão.

Depois de um segundo ele ouviu: ─Jeremy? Me desculpe,


cara. Deixei meu telefone em um lugar de chimichanga.─ Ele estava
rindo enquanto falava e o sorriso de Jeremy ficou ainda maior.

─Onde você conseguiu a chimichanga?

─Você já viu aquele trailer de burritos no centro da cidade


perto do tribunal? Eu vou lá pelo menos duas vezes por semana.

─Você faz abdominais a noite toda para manter a pança longe?

─Foda-se. Meu metabolismo é melhor do que quando eu


estava no ensino médio... alguns dias.─ Houve outro ruído e algo
arrastando no fundo, ─Eu liguei em um momento ruim? Você tem
um minuto?

Jeremy olhou rapidamente para o relógio e estremeceu.

─Na verdade, eu só tenho mais dez minutos antes de pegar a


estrada. Se demorar mais do que isso, podemos conversar mais tarde
ou nos encontrar.─ Rafe ficou em silêncio por um instante.

─Sim, acho que isso pode levar algum tempo. Juro que não
estou tentando arrastar você para essa investigação - entendo que
você tem que manter uma distância profissional -, mas eu queria

KM
entender algumas coisas, já que você está familiarizado com a
família por um tempo. Eu quero ter certeza de que estou cobrindo
todas as bases.

─Claro─, Jeremy respondeu, achando que ele estava animado


com a perspectiva de sair com um cara que poderia vir a ser um
contato sólido. ─Eu tenho prática de softball hoje à noite depois do
meu turno, mas posso te encontrar depois disso. Normalmente, a
equipe vai para aquele pub, Mulhaney, em Eubank. Você quer se
encontrar lá?

A voz de Rafe baixou uma oitava, suas palavras guardadas.

─Você está na liga dos homens do departamento de polícia?

─Sim. Por quê?─ Jeremy estava se interessando agora. Essa foi


uma reviravolta estranha.

─Mark Newland ainda é a primeira base?

Oh, definitivamente havia um tom bem ajustado nessa questão


e Jeremy percebeu que ele sabia por quê. Ele não suportava a
mesmíssima mistura de presunção e cinismo de Newland. Eles
provavelmente eram amigos.

─Ele ainda está no time. Um desses caras que tem uma boa
dose de amargura e em algum lugar ao longo do caminho todo
mundo começa a gostar dele. Um velho amigo ou algo assim?

─Não é bem assim. Há uma pequena história que é melhor


deixar no passado, ─Rafe murmurou desconfortavelmente.

KM
─Bem, nós não temos que nos encontrar lá. Ele não costuma ir
ao bar depois de treinos e jogos. São principalmente policiais e ele
trabalha em horas estranhas com os despachantes. Cabe a você, no
entanto.

Rafe limpou a garganta de um jeito que fez Jeremy se


perguntar o que exatamente havia acontecido entre os dois
homens. O detetive estava agindo como se ele estivesse receoso.

─Não. Não se preocupe com isso. Mulhaney está bem. Eu


posso te encontrar lá.

─Nós sairemos cedo hoje à noite. Por volta das oito, estou
supondo. Eu vou direto para o bar de lá. Parece bom?

─Claro.─ O barulho crepitante começou novamente e a voz de


Rafe foi cortada. ─Eu tenho que comer essa chimichanga, ou eu vou
morrer. Encontro você lá.

Jeremy sorriu novamente e disse adeus, fechando o telefone


com um rápido estalo. Ele ia descobrir sobre essa coisa com Mark
Newland, com certeza. Rafe não era do tipo que ficava estranho - ele
não precisava conhecer o cara para perceber isso - então sua reação
foi duplamente interessante. Talvez ele fizesse uma investigação
para ver o que poderia descobrir.

Ele ainda estava todo feliz alguns minutos depois, quando


olhou para cima e ficou cara a cara com a garota que até um minuto
atrás estava na mesa ao lado. Com uma pequena risada tímida, ela
colocou metade de uma folha de papel de caderno na frente dele e se
afastou, balançando bastante os quadris.

KM
Sabendo que ela estaria observando a reação dele, ele manteve
a irritação longe de seu rosto, mas ele não conseguia parar de
balançar a cabeça quando viu seu número de telefone impresso na
página.

─Jeannette─, ele leu em voz alta. ─Tudo bem.

Mesmo que ele não pudesse mais vê-la, ele sabia que ela
provavelmente estava por perto sentada em seu carro observando,
então ele enfiou o número em sua carteira e levantou-se para jogar
fora as sobras de almoço. Ele não sentiu nada. Nenhuma faísca de
interesse. Nenhuma atração. Nada. Quando ele colocou o capacete e
subiu em sua moto, ele fez algumas contas rápidas sobre quantas
horas restavam até que ele pudesse se encontrar com Rafe e seu
estômago revirou um pouco. Por que diabos isso soa muito melhor
do que um encontro com Jeannette borbulhante?

KM
CAPÍTULO QUATRO

Jeremy suspirou quando desligou o motor, o distintivo rugido


gutural de seu Barracuda tomando um pouco de sua ansiedade com
isso. Ele tinha certeza de que Rafe já estava esperando dentro de
Mulhaney, então ele rapidamente limpou o rosto com uma toalha da
bolsa e fez uma careta quando voltou coberta de sujeira laranja do
campo de futebol. Ele não tinha ideia do motivo de tê-lo incomodado
tanto, mas parecia que toda vez que ele se encontrava com o
detetive, ele estava sujo e fedendo. Exceto pela primeira vez meses
atrás no tribunal. Mas Rafe não se lembraria disso quando Jeremy
continuava a aparecer como o senhor Sr. Seboso.

E o maior problema? Por que esse tipo de coisa estava


cruzando sua mente? Rafe ligou para ele. Ele sabia que Jeremy
estava saindo do treino. Por que qualquer um deles deveria se
importar com a aparência dele? E por que diabos ele estava
nervoso? Ele queria tanto impressionar o cara? Jeremy amaldiçoou
e passou a toalha sobre o rosto mais uma vez e abriu a porta com um
grunhido, estremecendo contra o calor da noite em sua pele
queimada pelo sol.

─Você parece acabado.

Sua cabeça girou ao redor e ele não pôde deixar de sorrir


quando viu Rafe em pé no para-choque de seu carro com - surpresa,
surpresa - shorts sujos e uma camiseta de time. Ele estava coberto
por uma boa camada de sujeira também.

KM
─Você parece muito cansado─, ele respondeu, estendendo a
mão, que Rafe agarrou rapidamente. Sua pele estava quente e seu
aperto forte. ─Essa bermuda é apenas uma declaração, ou você
realmente joga?

Rafe riu timidamente e tirou algumas mechas de cabelo negro


da testa.

─Eu sou segunda base em uma liga aqui na cidade. Desculpe


pela sujeira. Nós tivemos um jogo hoje à noite.─ As sobrancelhas de
Jeremy subiram quando percebeu que Rafe estava tão incomodado
quanto ele com seu próprio traje sujo. Totalmente estranho.

─Como foi?

─Ganhei uma bolada na virilha─, ele sorriu quando Jeremy


estremeceu, ─mas você sabe, qualquer coisa pela vitória.

─Ah... então você é o jogador da equipe que realmente merece


uma cerveja de vitória? Como você está andando? Merda.

─É fingimento. Estou tentando impressionar você,─ ele


murmurou, sorrindo por um momento como se ele realmente
quisesse dizer isso. ─Uma cerveja seria ótima.

Jeremy tentou se livrar da sensação estranha que se instalou


sobre ele e bateu em Rafe no braço enquanto ele liderava o caminho
para as portas duplas do pub. Ele sentiu os grossos cordões de
músculos no ombro do detetive e quase congelou no
lugar. Droga. Ele também era forte. Ele estava muito bem.

KM
Jeremy rosnou baixinho. Ele estava agindo como uma garota -
como se estar perto de um cara bonito e em forma, estivesse criando
todas essas inseguranças dentro dele ou algo assim. Nesse ritmo, ele
teria seus períodos logo logo. Boceta, ele pensou.

─Vamos lá, ainda deve haver uma mesa ou duas livre ─, ele
murmurou baixinho, tentando desesperadamente se controlar. Ele
deveria ter pego alguma coisa. Ele estava corado e quente. Sem
mencionar que seu estômago estava um pouco engraçado.

Rafe parou e lançou-lhe um olhar preocupado que Jeremy


sentiu até os dedos dos pés.

─Olha, eu entenderei se você não estiver se sentindo bem


agora. Tenho certeza que você teve um longo dia.

Os olhos de Jeremy se voltaram para os de Rafe e ele estava


puto consigo mesmo por dar aquela impressão. Ele esteve ansioso
para relaxar no pub durante todo o dia.

─Não, não. Agora está ótimo. Quero dizer, é ótimo para mim
de qualquer maneira. A menos que você queira fazer isso em outro
momento─, ele deixou escapar antes que uma realização o
atingisse. Ah. Merda. Rafe provavelmente ainda estava preocupado
sobre encontrar Mark Newland. ─Se isso é sobre Newland, não se
preocupe. Ele está trabalhando esta noite; ele nem estava no treino.

Rafe pareceu surpreso dessa vez e começou a rir, o que


confundiu Jeremy ainda mais.

─Vamos apenas entrar. Estou bem, você está bem, e nós dois
estamos famintos e com sede. Obrigado, no entanto.─ Ele abriu uma

KM
das portas e segurou-a para Jeremy, os sons familiares do pub
saindo para cumprimentá-los.

─Não mencione isso─, disse ele, decidindo esquecer o resto da


conversa e começar do zero. ─Uma mesa soa bem?

Rafe assentiu com a cabeça e seguiu quando Jeremy foi direto


para uma das poucas cabines restantes em um canto que era tão
quieto quanto um lugar como Mulhaney poderia ser. No caminho,
ele cumprimentou alguns caras da equipe de bola e acenou para o
barman. Na cabine, ambos se moveram para do lado que lhes dava
uma vista da sala, mas Rafe chegou primeiro, sorrindo astutamente
enquanto se sentava no banco.

─Idiota─, Jeremy riu e sentou-se em frente a ele.

Rafe apenas riu e pegou um dos menus de mesa. Seu cabelo


caiu sobre a testa novamente e Jeremy congelou por um segundo,
imaginando que abençoada lua o sujeito nascera para arranjar uma
cabeleira assim. Ele revirou os olhos e sinalizou para uma garçonete,
já sabendo o que ele iria pedir.

Lydia os viu primeiro e se apressou quando Rafe depositou seu


cardápio de volta no lugar. Ela deu-lhe um olhar de “Olá, gostoso!”
para ele e ele deu um sorriso, ordenando exatamente o mesmo
combo de sanduíche e batatas fritas que Jeremy.

Estava começando a parecer bizarro... o que quer que estivesse


acontecendo dentro dele. Não era um pouco ridículo sentir-se tão
satisfeito por eles pedirem a mesma coisa do menu? Um
pouco gay talvez? O que tinha sobre Rafe para faze-lo agir assim?

KM
Lydia se foi e voltou em tempo recorde com suas cervejas e
Jeremy bebeu um quarto dela, esperando que isso suavizasse a seus
nervos. Rafe tomou a bebida um pouco mais devagar, olhando ao
redor do pub com curiosidade. Seu celular vibrou no tampo da mesa
e, depois de um rápido olhar, ele deixou ir para o correio de voz.

─Você poderia ter atendido, cara. Eu não me importo.

Rafe deu de ombros.

─Era meu amigo Brian. Vou ligar para ele mais


tarde. Obrigado, embora... e obrigado novamente por se encontrar
comigo,─ ele ofereceu depois de alguns segundos.

Jeremy limpou a espuma de cerveja do lábio superior com um


guardanapo e balançou a cabeça.

─Isso não é um problema. Você conseguiu descobrir algo novo


hoje?

─Bem, eu só tive duas entrevistas referentes ao caso de


Yesenia, mas elas adicionaram um monte de carga para o inferno.─
Ele tomou outro gole de cerveja e prendeu Jeremy com aquele olhar
milenar dele. ─Quanto mais ouço sobre Hector, mais me preocupo
seriamente com o que estava acontecendo com Yesenia naquela
casa. Eu acho que foi muito mais do que algumas brigas sobre Angel.

Jeremy apoiou os braços na mesa, franzindo a testa.

─Como o quê?

KM
─Abuso de algum tipo. Físico, emocional... talvez mais.─ Ele
limpou a garganta e assentiu enquanto os olhos de Jeremy se
arregalaram. ─Falei primeiro com Angel e ele apontou-me na
direção de Grace, prima de Yesenia. Eu falei com ela antes de ligar
para você. De qualquer forma, ambos aludiram ao modo como
Hector observa Yesenia. Ele é obsessivo sobre onde ela está e com
quem ela está em todos os momentos. O relacionamento deles não é
uma situação saudável de pai e filha. É como se Hector estivesse
fixado em Yesenia.

─Você pode me dar mais detalhes do que isso?─ Jeremy


perguntou, sua pele rastejando com as possibilidades.

─Angel e Grace me contaram sobre o modo como Hector


age. Agora, obviamente, ele não vai agir da mesma forma com Angel
por aí, mas ambos falam sobre como ela mal tinha permissão para
sair de casa - até mesmo para ver um amigo que ele aprova - e que se
dependesse dele, ele a manteria trancada lá o tempo todo. Angelina
estava deixando Angel vir e vê-la quando Hector estava no trabalho
para que ele não surtasse. E veja só: Grace me disse que na noite em
que Yesenia desapareceu, ela foi ao banheiro e Hector ficou
preocupado por ela ter ficado sozinha por tanto tempo. Ele entrou e
encontrou a janela aberta e Yesenia desaparecida. Quer dizer, se ele
está observando quanto tempo ela demora no banheiro...

─Inferno. Ele certamente não mencionou essa parte para nós,


não é? Por que ele estaria em tal negação que sua filha poderia
fugir? Porque ele acreditaria que ela foi arrastada da casa pela
janela?

KM
Rafe deu de ombros.

─Eu não tenho ideia ainda, mas essa informação sozinha torna
isso ainda mais estranho. Há uma coisa de tipo
de propriedade acontecendo com ele sobre ela. Angel disse que
nunca viu um homem olhar para a filha daquele jeito e Grace disse a
mesma coisa. Como se ele quisesse que ser o melhor amigo dela e
ficou furioso ao sentir que estava sendo ameaçado por qualquer
outra pessoa. Mas nós vimos por nós mesmos, não foi? Ele não
parece realmente racional quando Yesenia está envolvida.

Jeremy olhou fixamente para Rafe por um minuto, imagens de


seu encontro com Hector e Angelina passando pela sua mente. O que
Rafe estava dizendo implicava que algo muito doente estava
acontecendo na casa dos Aragon, mas ele estava certo, até mesmo
Angelina parecia estar sendo forçada a agir de uma maneira
estranha.

─Deus─, ele gemeu. ─Espero que não seja o que estamos


pensando.

─Você conhece a família melhor do que eu, mas eu não tinha


certeza se isso provocaria alguma lembrança em você.

Jeremy tentou filtrar sua repugnância por qualquer lembrança


que pudesse se destacar e ajudar Rafe, mas ele não frequentou a casa
dos Aragon desde que saíra de casa. Carlos era oito anos mais velho
que sua irmãzinha também, então, mesmo quando Jeremy estava
por perto, Yesenia sempre era jovem demais para acompanha-
los. Jeremy não tinha passado mais tempo com ela desde que ela
entrou na adolescência.

KM
─Eu gostaria de poder dizer que nem é uma possibilidade, mas
eu acho que é realmente… tão terrível quanto isso soa. Droga. Ela
tem apenas dezessete anos.

Rafe fez um barulho de concordância e depois estalou os dedos


de repente.

─Falando sobre a idade dela, Grace me disse que Yesenia fará


dezoito anos em breve. 17 de agosto. Pode ser que ela não poderia
aguentar sua vida em casa por mais um minuto e pensou em escapar
até que ela se torne uma adulta legal. Então, ela poderia
tecnicamente se encarregar de sua vida sem ter que obter a
aprovação do pai.

─É uma possibilidade, concordou Jeremy, passando a mão


pelo rosto. ─Eu não posso acreditar nisso.─ Lydia escolheu esse
momento para trazer seus sanduíches e ele silenciou, não querendo
que ela ouvisse qualquer coisa que eles estavam falando. Quando ela
se afastou, Rafe estendeu a mão e deu um tapinha na mesa na frente
da mão de Jeremy.

─Tenha em mente que isso é tudo boato por enquanto. Ainda é


uma possibilidade que o maior problema de Hector é que ele é um
babaca manipulador e controlador. Ainda tenho muitas perguntas a
fazer.─ Jeremy deu um sorriso indiferente e se forçou a comer um
pedaço do sanduíche, mastigando pensativamente.

Depois de mais alguns minutos de silêncio enquanto os dois


comiam, ele perguntou: ─Mais alguma coisa se destacou para você?

KM
Rafe limpou a boca e recostou-se, obviamente imaginando se
deveria dizer alguma coisa a Jeremy depois da bomba que acabara
de soltar. Jeremy acenou para ele com impaciência.

─Da sua conversa com Carlos, qual foi sua impressão sobre
como ele se sentia sobre Angel?

Jeremy inclinou a cabeça ao recordar o telefonema.

─Eu acho que ele soava meio blasé sobre o garoto. Como se ele
não gastasse muito tempo se preocupando com um cara cujas bolas
nem cresceram. Suas palavras não são minhas. Ele até parecia estar
realmente cansado da maneira como Hector foi balístico sobre o
assunto. Eu acho que ele não se importava de um jeito ou de
outro. Parecia-me que ele achava que sua irmã fugiu e que Angel não
teve nada a ver com isso. Ele ficou meio envergonhado de ter que me
ligar porque o pai dele queria um detetive.

Rafe ajeitou o guardanapo e jogou-o na mesa, parecendo


irritado de um jeito rico e suave.

─Entenda isso então. Angel disse que na noite em que Yesenia


desapareceu, Hector invadiu sua casa exigindo ver Yesenia e que,
quando seus pais o deixaram entrar, ele procurou no quarto de
Angel.

─Sim, eu lembro de você dizendo isso.

─Bem, o que Angel não disse antes - não para os caras da


unidade de pessoas desaparecidas de qualquer maneira - foi que
Carlos também estava lá. Ele procurou no armário de Angel, o que
aparentemente o irritou.─ Ele franziu o cenho de um jeito que fez

KM
Jeremy se perguntar o que ele não estava dizendo. ─Então agora
parece que Carlos está escondendo algo de nós também. Se ele não
se importasse de um jeito ou de outro, se Angel namorava a irmã
dele, por que ele iria fazer essa merda com o pai naquela noite? E
por que ele iria manter isso de você que ele foi lá - ou por que ele não
iria pelo menos dizer que ele visitou Angel e sabia que sua irmã não
estava lá?

Jeremy se acomodou nas almofadas da cabine e olhou


pensativo para o detetive.

─É como um buraco de rato gigante, cara. Como se ninguém


estivesse dizendo a verdade.

─A merda está começando a ficar grossa. Quando Angel me


deu o nome de Grace, ele também me disse para falar com Angelina,
mas sem Hector por perto. Vou ter que me esgueirar quando Hector
estiver no trabalho e ela estiver sozinha. Mas agora sabemos que,
mesmo quando estávamos sentados em frente a ela na sala de estar,
ela estava escondendo coisas de nós.

─Recebi uma mensagem dela hoje me agradecendo por


encontrar e recomendar você─, Jeremy ofereceu. ─Ela soou como se
estivesse lendo de um papel ou algo assim. Hector provavelmente
estava em seu pescoço, certificando-se de que ela dissesse tudo
exatamente assim. Foda-se─ ele retrucou. ─Eu aposto que você
realmente desejou que você nunca tivesse me conhecido agora.─
Mesmo quando Jeremy disse as palavras, ele esperava que Rafe não
se sentisse assim. Quando o detetive riu, Jeremy quase caiu de
alívio.

KM
─Fácil, Halliday. Este é o meu trabalho, lembra? Eu tive um
monte de casos malucos antes. Este é apenas o primeiro em que
todos parecem estar escondendo alguma coisa - especialmente as
pessoas que me contrataram.

─Alguma chance de você poder cobrar extra por isso?

─A papelada é uma cadela ─, Rafe piscou. ─Isso vai somar.

Jeremy voltou para o copo e percebeu que estava vazio.

─Você quer outra?─ Ele acenou com a cabeça para a cerveja


quase terminada de Rafe.

─Definitivamente. Tem sido um longo dia.

Ele fez um sinal para Lydia novamente enquanto levantava o


copo, jogado fora quando viu que ela já estava olhando para a mesa
deles, ou mais especificamente para Rafe , e sussurrando com outra
garota com quem ela trabalhava. Ao seu sinal, ela realmente ficou
agitada e ele segurou um sorriso. Rafe parecia ter um efeito
poderoso em todos.

─Então, o que vem a seguir?─ Jeremy perguntou antes que


Rafe percebesse que ele estava rindo. ─Tentar falar com Carlos?

Rafe suspirou e terminou de mastigar um pedaço de


sanduíche.

─Eu já tentei. Deixei mensagens em sua casa e em seu celular,


mas ainda não tive retorno. É uma droga, mas ele está me deixando
bastante desconfiado. Eu me pergunto se ele estava trabalhando na

KM
outra noite quando paramos na casa de seus pais. Eu também ainda
tenho que sentar com Hector e Angelina sozinhos.

─Eu nem achei que Carlos pudesse ser totalmente honesto─


disse Jeremy, sorrindo para Lydia quando ela deixou as cervejas. Ela
nem percebeu; ela tinha um sério bloqueio em Rafe que ainda estava
alheio a ela. ─Eu realmente não esperava que a conversa fosse assim
quando você ligou. Eu imaginei algumas questões de perfil de
personalidade e você terminaria. Eu realmente me sinto mal, está se
tornando um problema.

─Eu não faria isso para ganhar a vida se não gostasse─, Rafe
respondeu suavemente. ─O trabalho de detetive é um desafio para
mim.

─Bem, parece que eu enganchei você com as pessoas certas,


então esqueça o que eu disse sobre me sentir mal. Você me deve.

Rafe ergueu o copo para Jeremy em uma saudação e olhou ao


redor do pub novamente, seus olhos voando de pessoa para pessoa
no bar como se esperasse que um rosto familiar aparecesse.

─Posso fazer uma pergunta? ─ perguntou Jeremy, engolindo


mais batatas fritas.

─Manda.

─Qual é o problema com você e Mark Newland? Ele


atrapalhou uma investigação sua ou algo assim?

KM
Rafe se mexeu desconfortavelmente em seu assento e Jeremy
se endireitou quando notou o rubor subindo pelas bochechas do
detetive.

─Oh... bem─, ele gaguejou, ─é uma história muito longa e eu


teria que arrastá-lo de volta aos meus dias de faculdade antes
mesmo de conhecer Mark para explicar.─ Ele procurou por algo a
dizer por alguns momentos, sua mente obviamente correndo pra
encontrar. ─Vamos apenas dizer que o conheço há alguns anos e
tivemos algumas grandes diferenças de opinião.

─Algumas?

─Sim. Algumas.─ Ele olhou por cima do copo para


Jeremy. ─Veja. Ele é um cara legal. Nós simplesmente não
combinamos com todos os detalhes, eu acho.

Jeremy bufou mais alguns goles de cerveja e apontou para


Rafe.

─Você é tão idiota. Em algum momento você terá que me


contar sobre esses dias de faculdade, porque você está deixando de
fora todas as coisas boas, eu posso dizer.

Rafe olhou para o prato, as sobrancelhas esticadas na direção


da linha do cabelo.

─Confie em mim, Jeremy─, disse com a voz baixa. ─Você não


gostaria de saber.

KM
***

Rafe não conseguiu se encontrar com os olhos de Jeremy


novamente, com medo de dizer o que tinha certeza que seria
demais. Como poderia Jeremy não desconfiar? Ele se ferrou
completamente agindo estranho sobre Mark no telefone mais cedo,
mas ele tinha certeza de que Jeremy não estava pronto para ouvir
que Mark era um daqueles erros de longo prazo que ele tinha
cometido e que eles tinham vivido juntos... em todos os quartos da
casa. Se isso não o fizesse correr, Rafe iria cagar um tijolo.

─Você ficaria surpreso com o que eu posso lidar.─ A expressão


de Jeremy estava presunçosa.

Rafe sorriu.

─O que?

─Ei, você não é o único cara que não se dá bem com o Mark.

─Ele passou por muitos dos últimos anos. Ele nem sempre foi
assim...─ Rafe parou, perguntando-se por que ele estava defendendo
sua ex. Culpa, ele adivinhou.

―Fodido?─ Jeremy forneceu. ─O cara é muito idiota.

Rafe riu alto, cobrindo a boca com a mão. Jeremy não tinha
ideia de que estava chegando muito perto. Em vez disso, ele se
sentou em frente a Rafe com essa expressão feliz em seu rosto por.

─Clássico─, Rafe finalmente conseguiu suspirar. ─Bem feito.

KM
Jeremy ergueu um ombro como se dissesse que tinha muito
mais.

─Não é grande coisa─, disse ele, alcançando atrás de sua


carteira. ─Considerando o problema que estou causando,
arrastando-o para as casas que são da família Aragon, pagarei essa.

Rafe recusou a oferta.

─Não a sério. Você não precisa fazer isso.─ Mas Jeremy já


estava com a carteira aberta.

─Sem objeções─, disse ele, e em seguida se fechou


instantaneamente quando um pedaço de papel de caderno dobrado
caiu de dentro da carteira de couro marrom. Depois do incômodo
com Mark, Rafe não estava disposto a deixar isso passar.

─O que é isso?─ Ele se inclinou para frente, levantando a voz


em curiosidade, até que ele percebeu a letra feminina e o que deveria
ser um número de telefone. ─Uh oh! Quem é Jeannette ─ Jeremy se
lançou para o papel, mas Rafe chegou primeiro, segurando-o com
força e rindo loucamente. Ele nunca iria admitir isso em voz alta,
mas a visão do número de telefone de uma garota caindo da carteira
do policial tinha realmente doído um pouco. Principalmente porque
Rafe era aparentemente incapaz de manter distância em uma
situação que nunca funcionaria a seu favor.

─Eu tive que colocá-lo no meu bolso!─ Ele protestou. ─Ela


estava sentada em seu carro me observando depois que ela entregou
- e a única razão pela qual ele chegou até aqui foi porque eu estava
distraído por estar ao telefone com você. Na verdade, é sua culpa.

KM
─Ohhhhh!─ Rafe brincou. ─Então você estava
de uniforme? Está tudo fazendo sentido agora. Que garota pode
resistir a um cara com botas e uma motocicleta?

Que cara poderia também? Rafe pensou consigo mesmo.

─Ela era dez anos mais nova que eu. Toda cabelo fofo e batom
e riso tímido. Definitivamente não é meu tipo.

─Acho que você protesta demais.

─E eu acho que os caras que citam Shakespeare devem receber


um tapa na cara com uma pá─, ele disparou de volta, lutando com o
pedaço de papel, embora Rafe estivesse realmente fazendo com que
ele se esforçasse por isso.

─Ah, não seja sensível.

─Eu não sou!─ Ele sufocou. ─Você pode ter seu número de
telefone. Você pode até ir atrás dela.─ A risada de Rafe se
interrompeu e ele soltou o papel, afastando-se.

─Fofura e batom não são o que eu estou procurando─, ele


admitiu baixinho. Um atleta musculoso, loiro, bronzeado... isso era
outra história. Jeremy olhou-o com desconfiança, parecendo que
queria pedir mais detalhes, mas Rafe não lhe deu a chance. Depois
de aguentar mais alguns segundos de escrutínio intenso, pediu
licença para ir ao banheiro e fez uma careta ao ver seu reflexo no
pequeno espelho sobre as pias. Ele estava parecendo cansado... fedia
também. Excelente. Apenas a impressão que ele queria passar. Para
o cara hetero com quem ele não tinha chance .

KM
Deus ele precisava ir para casa enquanto ainda tinha um pouco
de dignidade.

No caminho de volta para a cabine, ele notou a garçonete vindo


em direção a ele com um propósito em seus olhos. Ela esteve
olhando para ele a maior parte da noite e se ele girasse desse jeito,
ele poderia tê-la achado fofa, mas desde que ele se mantinha do
outro lado da base, ele alterou o rumo casualmente e encontrou
Jeremy no momento em que ele terminou de assinar seu recibo de
cartão de crédito. Ele ouviu Lydia se aproximando por trás e agarrou
o antebraço de Jeremy, empurrando-o em direção à porta.

─Nós temos que ir. Vamos nos mover. Vamos,─ ele disse tão
rapidamente que as palavras saíram de sua boca como uma só.

─O que foi?─ Os olhos de Jeremy se arregalaram quando ele


olhou ao redor, nem mesmo puxando o braço do alcance de Rafe.

─Lydia─, Rafe sussurrou, relutantemente liberando o braço de


Jeremy quando parecia que ele estava disposto a ir junto com ele. A
gargalhada de Jeremy era adorável e seus olhos verdes praticamente
brilhavam.

─Inestimável─, ele interrompeu, empurrando as portas da


frente do pub e embaralhando até parar no estacionamento. O sol já
estava baixo, mas o céu ainda estava claro o suficiente para que Rafe
pudesse absorver o quão absurdamente bonito seu amigo era.

─Tudo bem─, ele disse. ─Peço desculpas por incomodar você


sobre Jeannette.

KM
Jeremy apenas riu mais um pouco quando ele enfiou a mão no
bolso e tirou o papel de caderno dobrado com o número dela,
jogando-o no cinzeiro perto da entrada.

─Não se preocupe.─ Rafe olhou incrédulo para o papel que já


estava escurecendo nas bordas por causa da ponta de cigarro de
alguém. Se apenas desejar tornasse alguém gay, ele pensou. Ele
estava fazendo um desejo intenso na hora, mas como Jeremy não
parecia inclinado a beija-lo, ele encarou o sol.

─Obrigado por se encontrar comigo─, ele disse um pouco


melancolicamente.

─Certo. Devemos nos encontrar novamente em breve e


repassar o que mais você descobrir. Eu gostaria de ajudar se puder,
mas você sabe, sem pressão.

─Com certeza, cara─ concordou Rafe, lembrando-se de soltar a


mão de Jeremy. Ele voltou a concentrar-se em girar o chaveiro em
torno do dedo.

─E deixe-me saber se você tiver mais problemas em entrar em


contato com Carlos ou marcar qualquer outra entrevista. Eu posso
ser capaz de caçá-lo para você.

Rafe acenou com a cabeça e recuou em direção ao caminhão


estacionado do outro lado do Barracuda de Jeremy.

─Vejo você por aí, então.

Jeremy sorriu para ele e correu para o carro, deixando Rafe


sem nada mais a fazer além de entrar na caminhonete e ir para

KM
casa. Quando ele afundou atrás do volante, ele amaldiçoou a si
mesmo.

─Ele é hetero, idiota─, ele resmungou. ─Você não tem algum


tipo de fada madrinha que vai transformar a abóbora em sua
próxima carruagem, então deixe-o ir.─ Ele ouviu uma buzina atrás
dele e enfiou o braço pela janela para acenar um adeus. ─Sim. Corra,
homem indisponível. Não posso tê-lo.─ Que pena. Eles até gostavam
da mesma comida. Isso deve contar para alguma coisa. ─Sim, não no
seu mundo, cara.

Agarrando seu telefone, ele ligou para Brian, procurando por


uma espécie de intervenção. Quando sua voz soou na linha que Rafe
discou.

─Eu me encontrei com ele para repassar algumas coisas desta


investigação e ele estava todo suado depois de sua prática de
softball. Ele é do caralho, eu mencionei isso? Tenho certeza que sim.
─ Brian riu impiedosamente.

─Você é uma droga, cara. Isso é o que você foi fazer depois do
jogo? E não é de admirar que você tenha me deixado no correio de
voz, sua bicha. ─ Houve alguns resmungos no fundo e Rafe percebeu
que Brian estava ouvindo a desaprovação de sua noiva. ─Megan
acha que eu não deveria chamá-lo de bicha─, ele continuou,
─mas eu digo que se Dolcé e Gabana se encaixam, use-o.─ A risada
de Brian foi cortada com um gemido e Megan subitamente estava na
linha.

─Ele é o policial que você contou a Bri?─, Ela perguntou,


sendo seu eu sempre atento.

KM
─Jeremy, sim. Eu estou dizendo a você, Megan, se o aconteceu
aqui fosse um encontro, seria um sonho se tornando verdade.

─Ele sabe que você é gay?

─Eu duvido seriamente disso. Seria uma droga, mas não me


surpreenderia se ele for do tipo que corre para a porta depois de
ouvir algo assim. Ele é tão hetero que provavelmente tem medo de
um gay se esfregar nele.

─Outro sonho virando realidade, certo? Você está se


esfregando nele?─ ela riu levemente e Rafe ouviu Brian perguntar
por que ela podia provocá-lo e ele não podia. Megan ignorou-
o. ─Como você sabe com certeza que ele é hetero? Quer dizer, ele
não pode olhar para você e ter certeza, então...

─Ele é hetero. Ele tinha o número de telefone de uma menina


em sua carteira, embora ele tenha dito que ela não era seu tipo e ele
guardou o número porque ela estava observando a reação dele, ─ele
pensou em voz alta. ─Mas sério, ele é hetero. Eu não tenho dúvidas.

─Bem, eu vou deixar isso para o seu julgamento. O que você


acha que vai fazer com ele então? Você não pode realmente evitá-lo
enquanto estiver trabalhando para esta família. Ele vai querer saber
como está indo a investigação, especialmente desde que você já o
incluiu.

─Eu sei, certo?─ Ele gemeu, passando a mão sobre o


rosto. ─Eu acho que vou tentar manter o contato no
mínimo. Estritamente profissional. Então, eu ligarei para vocês para
que você possa me convencer da minha homossexualidade.

KM
Megan fez um barulho simpático.

─Tenha cuidado, Rafe, ok? Nós não queremos que você se


machuque com esse cara - mesmo que ele nunca tenha qualquer
ideia de que ele está machucando você. Você merece mais que isso.

─ Sim... bem. A vida é cruel, eu acho.─ Rafe olhou ao redor do


estacionamento escuro e suspirou. ─Eu vou para casa agora. Vou
manter vocês atualizados sobre a minha falta de progresso
emocional.

─Ligue sempre─, ela ofereceu gentilmente, fazendo um


barulho de beijo no telefone antes de desligar. Ugh. Patético. Ele era
muito patético.

KM
CAPÍTULO CINCO

Eram dez para as sete quando Jeremy saiu da breve reunião da


manhã, uma onda de risos seguindo-o. Lucero, um dos novatos,
cometeu o erro de dar voz a uma pergunta que seu parceiro lhe disse
para fazer. O garoto ainda estava na sala de instrução levando
sermão. Jeremy saiu correndo de lá, sabendo que ele não estava tão
longe do status de novato e não demoraria muito para ter o lembrete
de quando começou e seus velhos embaraços apareceriam logo em
seguida. A maioria deles era muito mais ridículo do que qualquer
coisa que Lucero dissera.

Alguns amigos cumprimentaram Jeremy enquanto ele se


movia pelos corredores e ele acenou para eles, parando quando
avistou Mark Newland pegando uma xícara de café na sala de
descanso. Normalmente, como Mark era um despachante sênior, ele
estava na principal estação de despacho fora da cidade. Algumas
vezes por mês havia reuniões que representantes dos despachantes
participavam nas diferentes estações. Esta foi talvez a segunda vez
que Jeremy viu Mark fora dos jogos de softball e da prática.

Não foi tanto ver ele que parou Jeremy no meio do caminho,
no entanto. Era a imagem de Rafe no jantar da noite anterior,
murmurando uma explicação sobre o despachante, ou uma não-
explicação. Jeremy sorriu sombriamente e não perdeu tempo em
mergulhar em uma investigação.

─Ei Mark, senti sua falta no treino na noite passada─, ele


mentiu alegremente.

KM
Mark lançou um olhar cético por cima do ombro ao ouvir o
som da voz de Jeremy, sem sequer tentar sorrir. Nunca fomos
próximos, pensou Jeremy, a boca se abrindo em um sorriso largo.

─Sim, ei─, Mark respondeu, voltando a mexer o café, todo o


corpo gritando sua indiferença. ─Quem vocês colocaram na primeira
base?

─Brooks.─ Jeremy se moveu em torno de Mark e encostou-se


no balcão de frente para ele. ─Ele não foi tão mal.

─Bom saber.─ Ele tomou um gole de café, estremeceu e


acrescentou outro pacote de açúcar, murmurando algo sobre
policiais forçando as pessoas a beber alcatrão. ─Voltarei ao treino na
noite de quinta-feira─, ele falou novamente para Jeremy. ─Não se
preocupe com o próximo jogo. A prática durou muito? ─Uau. Aqui
estavam eles. Realmente conversando um com o outro sem se
dissolver nos rosnados habituais de Mark.

─Não, não muito na verdade.─ Jeremy olhou para ele,


perguntando o que o cara fez para causar tanto sangue ruim com
Rafe. O detetive parecia ser o tipo terminalmente tranquilo, então a
verdadeira história tinha que ser suculenta. ─Saímos um pouco mais
cedo. Eu consegui me encontrar para jantar com um detetive amigo
meu. Rafe.─ Jeremy soltou o nome e sentiu uma onda de satisfação
quando o corpo de Mark começou a falar outra língua. Bingo.

─R-Rafe Bridges?─ Ele gaguejou, abandonando seu café para


encarar Jeremy de frente.

─Claro─, Jeremy respondeu inocentemente. ─Você o conhece?

KM
Mark limpou a garganta e tentou agir de forma casual,
cruzando os braços, o que não deu certo, porque ele continuava
jogando-os de lado e cruzando-os novamente. Indo e
voltando. Jeremy sorriu, ele não pôde evitar.

─Claro que eu o conheço. Nós moramos juntos por um ano e


nos conhecemos muito antes disso.

Foi a vez de Jeremy ficar atordoado. Essa não era a resposta


que ele estava esperando, e ele tinha certeza de que seu sorriso tinha
estimulado Mark em sua explosão de raiva.

─Não... merda?─ Ele vacilou, lutando para manter seu humor.

Mark estava realmente furioso agora, fechando a curta


distância entre eles em dois passos furiosos e automaticamente
colocando Jeremy na defensiva. Ele teve que usar seus antebraços
contra o peito de Mark para manter o homem menor fora de seu
rosto.

─Vocês são amigos , hein?─ Ele sussurrou duramente. ─Você


me enganou todo esse tempo também. Eu geralmente consigo
encontrar alguém no meio da multidão. Eu deveria ter sabido
embora. Você deve lembrá-lo daquela fodido Jason.

Jeremy usou um pouco de força para empurrar Mark de volta e


franziu o cenho com força.

─Que diabos você está falando?

Um brilho malicioso surgiu nos olhos de Mark e ele trocou sua


expressão sombria por uma de superioridade.

KM
─Você não sabe.─ Não era uma pergunta.

─Sei o que?

─Hah!─ Ele riu. ─Bem, talvez você precise fazer ao seu 'amigo'
mais algumas perguntas antes de tentar enganar a pessoa que o
conhecem melhor do que qualquer outro.─ Mark deu um tapinha no
peito de Jeremy de uma maneira muito pessoal, recuando antes que
ele pudesse retaliar. Sentindo-se totalmente desequilibrado, Jeremy
se afastou do balcão e passou por Mark, sua saída não tão orgulhosa
quanto sua chegada. Na porta ele se virou e pregou Mark com um
olhar.

─Quem te transformou em um idiota assim?

Mark sorriu presunçosamente para ele e pegou o café do


balcão, soprando nele uma vez.

─Rafe Bridges, na verdade. Ele não é exatamente tão hetero


quanto parece ser.─ Jeremy virou-se com um bufo de nojo, a risada
de Mark ecoando atrás dele. Quando ele estava quase na entrada da
estação, ele ouviu seu nome ser chamado novamente, mas se
recusou a parar, mesmo quando Mark gritou atrás dele: ─Deixe-me
saber como terminou sua conversa!

***

KM
Cinco horas em seu turno e Jeremy ainda ouvia as palavras de
Mark em sua cabeça. Toda vez que ele se sentia como se estivesse
caindo no que o cara estava insinuando sobre Rafe, sua imaginação
se afastava, certa de que ele estava mentindo e não querendo
assumir algo sobre Rafe que o perturbaria - mesmo que ele nunca
lhe contasse sobre isso. Mas então ele começou a lembrar de coisas
diferentes que tinham sido ditas, o jeito que ele ficou tão
desconfortável quando falou sobre Mark, e aquele pouco sobre a
faculdade.

Oh Deus, ele pensou. De jeito nenhum. Rafe poderia conseguir


qualquer mulher que ele quisesse. Olhe para o jeito que ele não teve
que dizer uma única palavra para Lydia no restaurante e ela
praticamente o perseguiu. Essa lembrança só ajudou por um
segundo, porque ele se lembrou do rosto de Rafe enquanto corria
para a porta, empurrando Jeremy à frente dele em sua pressa de
partir.

E inferno! E sobre o comentário que Jeremy fez sobre entregar


o número de Jeannette para ele? O que ele disse?

─Fofura e batom não são o que eu estou procurando.

Merda. Merda.

Então também houve a maneira como ele respondeu quando


Jeremy o pressionou sobre Mark.

─Confie em mim, você não gostaria de saber.

Enquanto as palavras de Rafe sussurravam em sua mente, ele


quase perdeu o Audi prateado passando a luz vermelha. Acendendo

KM
as luzes e a sirene, ele entrou no tráfego e acelerou para alcançá-
lo. Ele sabia exatamente quando o motorista o viu porque seus olhos
no espelho retrovisor disseram: “Foda-se”. Jeremy estava quase
pronto para esquecer tudo isso quando sentiu um novo
desenvolvimento na conversa com Mark.

Quando o Audi diminuiu, a voz de Mark o atingiu de novo.

─Ele não é tão hetero quanto para ser.─ E sua satisfação


quando ele disse: ─Você não sabe.─ Sério? Ele gemeu em voz
alta. Como era possível? E enquanto ele estava se fazendo perguntas,
ele queria saber quem esse Jason deveria ser.

Jeremy estacionou sua moto bem fora do tráfego e forçou


todas as distrações de sua mente. Ele acabaria sendo baleado ou pior
pensando em coisas assim durante seu turno. Aproximando-se do
carro a um ritmo constante, ele manteve as mãos livres, mas perto
de seu cinturão de arma por precaução. Quando ele parou ao lado, o
motorista, um homem de vinte e tantos anos, talvez da mesma idade
de Jeremy, já tinha sua licença e registro.

─Como você está?─ Jeremy perguntou a ele.

─Eu estive melhor, oficial─, o cara respondeu, segurando suas


informações. Jeremy pegou e olhou a licença por um segundo.

─Você sabe por que eu te parei?

─Eu furei o sinal vermelho e estava no meu celular─, ele


admitiu imediatamente.

KM
As sobrancelhas de Jeremy se ergueram atrás dos óculos de
sol. Era engraçado quantas vezes as pessoas lhe respondiam como se
estivessem em uma confissão, quando ele ainda não tinha visto
algumas das coisas que estavam fazendo de errado. Como esse cara
falando em seu celular.

─É ilegal operar o seu veículo com uma das mãos livres em seu
telefone, mas você sabe disso.─ O sujeito assentiu. ─Também é ilegal
ultrapassar um sinal vermelho.─ Outro aceno. ─Eu terei que multar
você. Falar no seu telefone distraiu você o suficiente para ultrapassar
o sinal. E se um pedestre estivesse na faixa?

─Você está certo, senhor. Sinto muito por isso.

─Volto em um minuto─, Jeremy respondeu, levando a licença


e o registro de volta para sua moto e escrevendo sua quinta multa do
dia. Ele não costumava avisar as pessoas quando as emitia, mas era
isso ou perguntar ao cara como ele reagiria se descobrisse que um
cara que ele admirava era gay, e o que ele faria se o mesmo cara
tivesse um efeito sobre ele que ninguém mais conseguiu. Não foi até
que a Audi recuou para o trânsito e Jeremy estacionou sua moto
para o almoço que ele realmente se permitiu se perder no pensando
novamente.

Tudo bem. Ele apenas diria isso. Experimente por agora e veja
o que acontece.

─Rafe pode ser gay─, ele murmurou para si mesmo. ─Lá. Eu


disse isso. ─Não foi tão ruim. Se fosse verdade, não é como se Rafe
fosse o primeiro cara gay que ele conheceu. Não era contagioso nem
nada. Esse pensamento o mandou para o buraco do coelho errado

KM
também, porque nem um segundo depois de passar por sua mente
ele pensou no impacto que Rafe teve nele. Havia sempre aquela
ridícula autoconsciência - totalmente diferente dele - e ele ficava
nervoso. Ele odiava ficar mal na frente de Rafe. Droga O que diabos
isso significava? Ele estava agindo como uma garota interessada em
um cara! Estranho, muito estranho! E não natural... certo? Ou ele se
sentiu assim sem saber que Rafe era gay e ele não tinha certeza de
como agir ao seu redor?

Ele deveria saber. Certo, Rafe era muito masculino - nada


sobre ele era gay. O cabelo, embora? Seu estilo? E filho da puta! Ele
não tinha dito algo sobre seu pai não falar mais com ele? Esse
provavelmente era o porquê.

─Isso se encaixa─, Jeremy suspirou pesadamente. ─ Eu


acho. De um modo circunstancial.

Rafe não flertou com ele. Não que ele precisasse. Jeremy podia
nem ser seu tipo, o que não parecia certo por razões que ele não
queria imaginar naquele momento. Por que ele não seria o tipo do
cara? Não é como se ele fosse feio ou qualquer coisa assim. Ele se
mantinha em boa forma. Ele era atlético, engraçado e fácil de
conversar também. Então, qual era o problema?

─O que há de errado com você, cara?─ Ele brigou


consigo. ─Por que você se importa com isso? Você não sabe se é
verdade! E você é hetero.

Ele não daria a Mark a satisfação de fazê-lo ficar louco por algo
assim. Idiota. Então ele e Rafe viveram juntos por um ano, e
daí? Isso é algo normal, ele raciocinou. A coisa gay foi mais fácil de

KM
aplicar a Mark, no entanto. Ele não era do tipo feminino, também,
mas com as palavras de Mark sobre observar o comportamento de
Jeremy, algumas coisas estavam começando a se
destacar. Definitivamente houve ciúme na maneira como ele
respondeu à referência de Jeremy a Rafe como amigo, e como ele
imediatamente ficou irritado quando perguntado se conhecia o
detetive. Mark também parecia interessado em entrar no espaço
pessoal de outro cara. Ele deveria gostar de deixar as pessoas
desconfortáveis ... ou ele gostava de flertar onde sabia que não
haveria retorno. Na sala de descanso, ele chegou perto o suficiente
para beijar-

Uau! Ele definitivamente não pensaria nisso. Todo esse


pensamento só o fez perceber que ele não sabia muito sobre gays
além dos estereótipos. Nem todo cara gay era promiscuo,
obviamente, assim como nem toda lésbica era masculina. Ele
gostava de Rafe independentemente disso. Ele gostava muito dele. A
única coisa que ele não gostava era de suas reações erradas ao cara.

Jeremy encontrou-se no centro da cidade, percorrendo as ruas


de sentido único em um círculo próximo, até perceber um trailer
prateado estacionado no canto de um lote. Sem pensar, seu rosto
quebrou em um sorriso triste. Era o trailer de burrito que Rafe
frequentava algumas vezes por semana. Ele pegou aquelas
chimichangas lá.

Sem saber bem por que, ele parou ao lado do meio-fio e


desligou a moto, observando os três menus do quadro de giz. O
trailer tinha tudo. Ele olhou em volta furtivamente procurando uma
picape familiar e ficou em partes iguais aliviado e desapontado que

KM
Rafe não estava por perto. Havia uma fila curta na frente do trailer, a
maioria caras de ternos dos prédios financeiros e da corte
vizinhos. Um par deles estava ao lado comendo, suas gravatas
viradas sobre os ombros para fora do caminho da sujeira. O cheiro
no ar era de dar água na boca e ele não podia mais resistir.

Jeremy se juntou à fila, tirou o capacete e ligou o rádio para


poder ouvir as chamadas. Quando ele chegou a janela, um homem
sorridente se inclinou e perguntou o que ele queria. Sem perder o
ritmo, Jeremy pediu uma chimichanga e uma garrafa de água,
imaginando se Rafe estava realmente falando a verdade sobre a
culinária aqui. Ele costumava ter o hábito de evitar trailers de
burrito porque não gostava da perspectiva de reviver dolorosamente
a comida vinte e quatro horas depois.

Levou apenas alguns minutos para conseguir seu pedido e ele


se acomodou em um dos bancos do lugar, apoiando o capacete no
banco ao lado. A primeira mordida foi a felicidade e o resto que se
seguiu quase o fez derreter seu assento em uma poça na calçada. Ele
gemeu alegremente e comeu como se alguém estivesse ameaçando
roubar o tesouro embrulhado em suas mãos. Depois de engolir a
água engarrafada, ele pegou o celular e olhou para ele, inquieto. Ele
deveria ligar ou não?

KM
CAPÍTULO SEIS

Rafe estava com as mangas arregaçadas e usava a última


toalha seca para enxugar o dilúvio de água que sua máquina de lavar
louça quebrada decidira despejar em seu ladrilho de travertino
quando seu telefone zumbiu do balcão. Ele soprou uma mecha de
cabelo dos olhos e se levantou com um gemido. Suas malditas costas
o estavam matando. Graças a Deus ele tinha decidido voltar para
casa para almoçar, ou seu especial de vinte anos Kenmore ainda
estaria cuspindo baldes e inundando a sala de estar atapetada. Ele
não podia ignorar a ligação, especialmente se fosse Carlos Aragon. O
cara estava prestes a ferir os sentimentos ternos de Rafe, evitando-o
com tanta atenção. Infelizmente, o telefonema não era de Carlos. Era
alguém muito melhor.

─Ei, Jeremy, o que está fazendo cara?─, Ele sorriu para o


telefone, totalmente satisfeito por estar recebendo uma chamada do
policial.

─Não muito...─ Jeremy fez uma pausa e Rafe facilmente pegou


a hesitação na voz do outro homem. ─Eu... só parei naquele trailer
de burrito que você frequenta no centro.

─Oh merda, você não está doente, está?─ Ele limpou uma gota
de suor do rosto com o antebraço. ─Eu juro que nunca tive um
problema com a comida de Manuel. O que você comeu?─ A risada
baixa de Jeremy vibrou sobre a linha e Rafe caiu contra o balcão.

─Estou bem. Eu tive uma chimichanga e isso praticamente


mudou minha vida. Eu pensei que você deveria saber.─ O tom dele

KM
estava se aquecendo pouco a pouco e a inquietação de Rafe começou
a desaparecer. Talvez ele apenas tenha entendido errado no
começo. ─Você está no almoço agora?

Os olhos de Rafe varreram sua cozinha e ele bufou.

─Esse era o meu plano inicial, mas quando cheguei em casa,


encontrei minha cozinha inundada. A porra da lava-louças decidiu
quebrar.

Jeremy xingou em solidariedade e começou a rir de novo.

─Então você ainda não comeu?

─Infelizmente, não─, disse Rafe, cutucando a pilha de toalhas


ensopadas com a ponta do seu Steve Madden. ─Eu terei que puxar a
máquina de lavar louça e ver se ela vai continuar vazando, o que
seria particularmente impressionante porque eu terminei de refazer
o chão há um mês.

─Você gostaria… quero dizer, você quer que eu leve algo do


trailer? Eu ainda estou bem aqui─ Jeremy ofereceu, gaguejando e
vacilando.

Os olhos de Rafe se estreitaram e ele ficou em silêncio por um


segundo. Algo definitivamente estava acontecendo com Jeremy.

─Você pode fazer isso enquanto está de serviço?─ Ele


finalmente quebrou o silêncio.

─Claro─, Jeremy disse calmamente. Rafe facilmente imaginou


ele encolhendo os ombros de uma maneira adorável, embora ele

KM
nunca fosse dizer isso para Jeremy. ─Diga-me onde você está e o que
você quer, e vou levar. Eu posso sempre patrulhar nesse caminho,
embora tecnicamente, eu ainda esteja no meu intervalo.

─ Você realmente não se importaria? ─Rafe perguntou


hesitantemente, com medo de soar muito ansioso se ele aceitasse a
oferta imediatamente como queria. Deus o ajude, ele realmente
queria ver o policial novamente. Você sabe, adicionar mais tortura
ao seu dia, ansiar por alguém impossivelmente fora de seu alcance.

─Eu não me importo de jeito nenhum. O que você gostaria?

Porra, Rafe amava a voz de Jeremy; era tão quente que o fazia
vibrar em todos os lugares certos. Rafe era patético.

─Um burrito de carne seria ótimo. Eu tenho bebidas aqui.─


Ele deu instruções para Jeremy encontrar sua casa, e eles desligaram
ao mesmo tempo. Com a hora do rush do almoço para enfrentar e vir
todo o caminho do centro da cidade, provavelmente levaria quinze
minutos para chegar até aqui. Ele se forçou a voltar a enxugar a
água e, sem sucesso, tirar a imagem de Jeremy usando uniforme de
sua mente. Vê-lo assim o levaria de volta àquela primeira vez,
quando ele teve que caçar Jeremy no tribunal. Ele avistou o policial
pela primeira vez perto dos detectores de metal no saguão e ele só
estava recebendo a visão traseira, o que certamente não era motivo
de riso, mas quando Jeremy se virou ao som de seu nome, ele bateu
em Rafe com toda a força de sua beleza de Deus grego. Ele tinha a
mandíbula linda, a estátua perfeita do nariz de David e seu
cabelo? Deus, era perfeito. A maioria das pessoas nunca percebia o
quão raro era ver um cara com cabelo loiro dourado. Havia loiros e

KM
castanhos claros às dúzias, mas aquele ouro nos cabelos de Jeremy
era raro. Ele mantinha aparado como se estivesse sempre à beira de
precisar de um corte: mais na frente sem parte definida. Cabelo de
alguém recém saído da cama. E Rafe queria tudo isso.

Rafe revirou os olhos miseravelmente e resmungou


baixinho. Ele estava falhando. Era tão injusto. Outra pista de que
talvez ele precisasse sair e conhecer alguém novo. Desejar um cara
mais jovem que era policial e intimamente envolvido com seus
clientes... Era idiotice. Ele precisava de alguém que não fosse
desperdiçar seu tempo e seus profundos sentimentos. Jeremy era,
no entanto, um investimento perfeito se o retorno que Rafe
desejasse fosse desgosto.

Não, ele pensou cansado, eu passo. E se Jeremy por


ser exatamente o tipo dele, estivesse trazendo de volta memórias do
primeiro cara com quem ele já esteve na faculdade? Jason. O homem
três anos mais velho. Porra, se aqueles três anos não tinham lhe
dado um mundo de experiência, com Rafe colhendo todos os
benefícios. Ele também era loiro dourado, mas não era tão
musculoso quanto Jeremy. E aqui estava Rafe... com sua chance de
ser o homem mais velho, talvez? Jeremy era uma pessoa melhor do
que Jason, o que Rafe não queria pensar como uma preocupação
secundária em comparação com sua aparência; Aconteceu dessa
maneira. Jeremy era honesto e autêntico. Jason era um trapaceiro
mentiroso que se aproveitou dele e depois mudou sua bunda não
confiável para Chicago. Jeremy era fácil de estar por perto. Claro,
isso sem ele saber a verdade. Assim que ele descobrisse - e ele o
faria, não era um segredo tão grande - talvez ele se virasse e

KM
corresse. Rafe realmente esperava que não. Ele ainda estava meio
delirante com o sonho de Jeremy decidir que era gay e perceber que
a atração por mulheres que ele costumava sentir foi apenas um
acaso. Quão conveniente seria isso? Merda, mesmo olhando para as
coisas estereotipadas - o fetiche de atleta musculoso - o cara tinha
que ter garotas caindo em seu caminho o dia todo. As mulheres
adoram caras de uniformes. Não importava que Jeremy não tivesse
namorada; ele poderia ser o tipo casual. Ele não precisava se
apressar em encontrar alguém. Afinal, ele provavelmente tinha
apenas vinte e seis, vinte e sete anos. Havia muito tempo para ele se
estabelecer com uma garota e fazer um milhão de bebês. Rafe
estremeceu, percebendo que esse era um comentário direto da boca
de sua mãe.

─Você só precisa encontrar a garota certa. Tudo vai se


encaixar...─ Sim, obrigada mãe. Tudo vai se encaixar, exceto por
atração, paixão, sexo...

Rafe encontrou outra toalha seca em cima de sua secadora na


garagem e estava arrastando-a pelo chão da cozinha com o pé
quando a campainha tocou. Seu coração zumbiu junto com ele e ele
respirou fundo antes de gritar Jeremy para entrar. Melhor não ficar
muito excitado e pular para a porta como uma verdadeira bicha.

─Eu estou aqui─, ele gritou por cima do ombro e se inclinou


para pegar a pilha de toalhas encharcadas, com cuidado para mantê-
las longe dele para que ele não transformasse a visita de Jeremy em
um concurso improvisado de camisa molhada.

KM
─Caramba,─ Jeremy disse e jogou o saco aromático de comida
no balcão enquanto corria para tirar algumas das toalhas das mãos
de Rafe.

─Calma─, Rafe advertiu, ─Eu não quero que seu uniforme se


suje com a água da máquina de lavar louça.

─Meu uniforme é preto. E a água cheira a sabonete de limão─


respondeu ele com facilidade, pegando metade das toalhas de Rafe
com antebraços magnificamente flexionados. ─Estou bem.

Rafe propositadamente não tinha realmente olhado para o


amigo, quando ele entrou, mas agora seus olhos deslizaram para o
lado e pegou nas partes que ele poderia ver. Ele deve ter deixado o
capacete na moto; sua testa tinha uma marca na parte de cima e seu
cabelo apontava para todos os ângulos. Sua pele bronzeada era a
cereja no topo do bolo e Rafe ficou ocupado pensando em custos de
conserto para a cozinha para que ele não dissesse algo estúpido
como: ─Sim, você está bem. Eu gostaria de ter você para o almoço.

Eles largaram as toalhas no chão da garagem e Rafe carregou a


máquina de lavar enquanto Jeremy olhava ao redor. Quando ele deu
outro assobio baixo, Rafe soube que tinha avistado os dois jet skis
escondidos no fundo da garagem. Ele riu.

─Você já pilotou um?─ Rafe perguntou, girando a maçaneta na


máquina de lavar até que estivesse roncando como um profissional.

─Só duas vezes─, Jeremy respondeu quando ele atravessou a


sala e passou a mão ao longo de um dos assentos. ─Estes são muito

KM
mais legais do que os alugados que eu peguei. Passei mais tempo
tentando liga-lo do que pilotando.

Rafe se moveu na frente do trailer e pegou um o guidão do jet


ski, mantendo os olhos longe das pernas magras de Jeremy que
desciam até as botas.

─Isso é muito divertido. Faz tempo demais desde que eu os


tirei daqui.

Jeremy assentiu e se moveu para olhá-los de outro ângulo.

─Há quanto tempo você os tem?

Rafe manteve os olhos baixos e se acenou com um dos punhos


enquanto respondia.

─Um ano e meio, eu acho. Uma relíquia de um relacionamento


passado, você poderia dizer.

Jeremy ficou completamente imóvel e Rafe não pôde deixar de


olhar para ele. Aqueles olhos verdes perfuraram os dele, uma
pergunta nadava neles, e Rafe fez a coisa mais estúpida que ele
poderia ter feito e segurou aquele contato visual enquanto sua
respiração acelerava. O sinal clássico de interesse. Ele esperou que
Jeremy falasse quando sentiu o suor escorrer em sua nuca. Um cara
hetero não apreciaria esse tipo de olhar e a cada segundo que
passava, Rafe implorava para ele desviar o olhar, para abaixar os
olhos e voltar para dentro, mas ele não podia. Ele estava
escorregando. Tanto para manter a calma.

KM
─Eu esbarrei em Newland hoje─, Jeremy falou, seu rosto
corando quando ele quebrou o contato visual. Suas longas pernas se
mexendo de um lado para o outro acompanhadas pelo som de couro
da bota.

O corpo de Rafe endureceu e ele segurou o guidão até que a


pele de suas palmas protestou. Ele sabe, ele pensou. Mark contou a
ele.

─Oh sim? E o que Mark tinha a dizer?─ Rafe esperou pelas


inevitáveis desculpas antes da fuga de Jeremy, envergonhado demais
para continuar aqui. Ele diria que precisava voltar ao trabalho.

─Rafe.

O som de seu nome falado com tanto cuidado o fez querer


explodir com uma onda de emoções. Quando ele olhou para cima,
uma sensação lamentável de rejeição subiu em seu peito, e ele teve
que admitir como ele estava ferrado. Alguns encontros com esse cara
e ele já estava se deixando levar. Estúpido. Jeremy estava olhando
para ele novamente, seu corpo perfeito apoiado no outro lado do
trailer, seus antebraços apertados e dourados sob a luz
irregular. Droga, até mesmo seu cabelo amassado ao redor de sua
testa zombou de Rafe de uma forma que o fez querer cair de joelhos
e gritar, como se sua preocupação com o que esse cara pensava dele
fosse algum tipo de piada cósmica.

─Posso lhe fazer uma pergunta pessoal?─ Jeremy murmurou,


canalizando o olhar para outro lugar e salvando Rafe de provar quão
abismais eram seus esforços para se distanciar.

KM
Ele sabia o que estava por vir e a sensação interior de rejeição
se multiplicou. Sua resposta foi mais um grunhido do que qualquer
outra coisa. Jeremy manteve a atenção nos jet skis, as mãos
pressionando em um dos assentos almofadados até que os nós dos
dedos estavam brancos.

─Eu não sei mais como perguntar isso, então eu vou apenas
dizer─, ele começou.

Rafe sentiu vontade de agradecer grosseiramente por tirar os


dois da miséria. Foi muito gentileza do policial.

─Você é gay?─ Jeremy terminou, sua voz ficando rouca.

E ai estava.

A mandíbula de Rafe se apertou e ele percebeu uma dor


latejante no peito.

─Isso importaria?─ Ele cuspiu. ─Não, você sabe o que? Não


responda isso. Se você tem que perguntar, provavelmente é porque
você está pensando que, se eu sou gay, estou esperando algo de
você. Tipo, eu te fiz vir aqui para te atacar, certo? Foda-se isso.

Ele não sabia de onde veio toda a animosidade, mas a raiva


estava correndo através dele, a resposta forte o suficiente para fazer
a cabeça de Jeremy girar em sua direção. A surpresa em seus olhos
só fez tudo piorar.

─Não perca mais tempo se preocupando, Jeremy. Se isso faz


você se sentir melhor, você pode ir embora, ─Rafe rosnou, virando-
se e voltando para a casa.

KM
─Hey!─ Jeremy gritou, seguindo e derrubando algo no
processo. ─Não é por isso que eu perguntei. Eu te disse que não
sabia como fazer. Eu queria saber é tudo. Não estou tentando irritar
você.

Rafe tirou os sapatos molhados na cozinha e se virou para ele.

─Por que Jeremy? Por que você quer saber então? Tente
explicar para mim.

A cor estava alta no rosto de Jeremy e ele estava claramente


chateado com a conversa desemaranhada.

─Eu acabei de dizer. Não é um grande problema se você é, mas


você não pode me culpar por estar curioso sobre isso!

─Curioso como? Como se você quisesse saber se isso afetara


você? Ou que talvez eu tente enganar você para poder roubar
sua virtude.

─Não! Calma, Rafe. Não importa para mim, é o que estou


tentando lhe dizer. Somos amigos, certo? É por isso que estou
perguntando.

─ Mentira. Se isso não importasse, você não precisaria saber


tanto. Você está perguntando porque se eu sou gay e alguém
descobrir sobre isso, você sabe que eles vão começar a olhar para
você e se perguntar por que você gasta tempo comigo. Merda...─ Ele
ergueu os braços em realização. ─Foi isso que aconteceu, não
foi? Mark acha que você é gay porque nós saímos.

KM
O rosto de Jeremy endureceu em um segundo e ele fechou a
distância entre eles, cutucando Rafe no peito com um dedo.

─Por que você não se acalma e deixa de ser tão idiota por um
segundo? Que tipo de babaca você pensa que eu sou? Como se eu
não pudesse lidar com alguém que é gay. Você acha que é o primeiro
cara gay que eu conheci? Saia da viagem do ego por um minuto e me
escute. Eu perguntei porque queria saber mais sobre você. Fim da
história. Se você ainda quer que eu saia, vá em frente e me diga,
ninguém está te forçando a nada. Não farei mais perguntas a partir
de agora.─ Jeremy respirava com dificuldade ao final de seu
discurso e Rafe estava igualmente aborrecido, embora parte dele
fosse de constrangimento por agir como uma rainha do drama. Cada
músculo em seu corpo estava apertado e pronto para uma luta e ele
não sabia por que ele estava tão excitado. Não foi a primeira vez que
perguntaram isso a ele, mas foi a primeira vez que ele entrou em
erupção como o maldito Vesúvio. Ele só não queria que Jeremy fosse
o tipo de cara que não pudesse lidar com isso. Ele não queria perder
o pouco contato que tinha com ele, porque... Bem, porque ele estava
completamente encantado por Jeremy, embora fosse absolutamente
inútil.

─Sim─, ele meio resmungou, meio sussurrou. ─Rafe


Bridges. Detetive particular e bicha.─ Jeremy não recuou, nem
correu para a pia para lavar as mãos.

─Sim, sua reação meio que confirmou. Droga...─ Ele


descansou as mãos nos quadris e desviou o olhar. ─Se eu soubesse
que esse era o jeito errado, eu não teria perguntado.

KM
─Esqueça─, Rafe acenou a semi-desculpa para longe. ─Não é
sua culpa. Acho que sou um pouco sensível agora. Eu não estou
tentando converter ou seduzir todos os caras que eu conheço,
sabe? Na minha linha de trabalho, eu me deparo com um monte de
caras que não conseguem lidar com isso e automaticamente supõem
que ando por aí com um perpétuo tesão para qualquer cara que eu
vejo.─ Ele fez uma pausa. ─Eu não queria que você fosse como
eles. Desculpe.

─ Quer dizer que você não anda por aí com uma perpétua
ereção?─ Jeremy sorriu. ─Eu totalmente pensei que fosse
verdade!─ Ele riu por alguns segundos e depois levantou as mãos em
sinal de rendição. ─Brincadeira, Hulk. Vamos esquecer isso, tudo
bem?

Os músculos do pescoço de Rafe afrouxaram lentamente e ele


balançou a cabeça, colocando um pouco mais de distância entre
eles.

─Como é que isso é estranho?─, Ele perguntou, inclinando-se


sobre o balcão e passando as mãos pelos cabelos.

Jeremy deu de ombros.

─Da próxima vez, não se enfureça tanto. Eu posso ser um


idiota, mas não sou tão ruim assim.

Rafe bufou.

─Tanto faz. E o que você quer dizer com 'próxima vez'? Você
acha que eu tenho uma coleção de esqueletos no meu armário? Não

KM
que eu ser gay seja um grande segredo ou algo assim. Eu
simplesmente não anuncio minha vida pessoal.

Jeremy pegou a sacola com o burrito dentro e a jogou em Rafe


tão rápido que ele mal teve tempo de pegá-la.

─Então eu entendo. Você deveria comer; sua fome está


aparecendo.─ Ele olhou para a sala de estar e depois voltou para a
cozinha e para a sala de jantar como se estivesse procurando por
algo.

─O que?

Jeremy continuou procurando enquanto respondia.

─Só querendo saber onde você guarda sua coleção do ABBA.

Rafe, na verdade, abriu um sorriso e limpou-o com uma careta


quando deu uma mordida em seu burrito.

─Eu realmente sinto muito. Você não merecia essa... explosão


ou o que quer que tenha sido.─ Ele queria dizer mais, mas temia que
Jeremy percebesse sua atração por ele; ele estava se sentindo
transparente.

─Pelo menos não levei um soco─, Jeremy brincou,


caminhando para a máquina de lavar louça e abrindo-a para uma
olhada rápida dentro. ─Eu posso entender sobre manter sua vida
pessoal para si mesmo, mas e sobre… caras? Tipo, você está vendo
alguém? É assim que você diz isso?

KM
Ele deu uma olhada de lado em Jeremy e terminou de
mastigar.

─Não é como se tivéssemos um livro de linguagem especial. É


praticamente o mesmo como quando você está vendo uma
garota. Quase todas as mesmas descrições se aplicam.

─Justo. Então, qual é o nome da sua namorada8?─ Ele saltou


do gancho de esquerda de Rafe e começou a rir. ─Merda, onde está
seu senso de humor, Rafe?

─ Eu não estou vendo ninguém, ─Rafe respondeu depois de


um breve silêncio.

─ Livre de namorada. Bem, o que Mark fez para você?

Jeremy ficou ocupado mexendo na máquina de lavar louça


mais uma vez, revelando pela primeira vez toda a extensão do seu
desconforto. Sua falta de jeito no telefone fazia sentido agora.

─Ele disse que você… não era tão hetero quanto queria
transparecer.

─Inteligente─, Rafe rosnou. ─Maldito cara. E foda-se por eu


sair com ele por tanto tempo.

─ Sim, estou realmente lutando para descobrir o que você viu


nele. Talvez ele nem sempre tenha sido tão... sensível.

─Bem, isso é em parte minha culpa─, Rafe suspirou. Ele estava


prestes a dizer mais, estupidamente avançando em relação a

8
Antes que algum ‘engraçadinho’ venha apontar erro, ele realmente diz NAMORADA.

KM
problemas de relacionamento, mas o rádio de Jeremy começou a
gritar, salvando-o. Rafe estava quase zombando quando viu a reação
de seu amigo à ligação. Ele entrou no modo policia. Rosto sério,
postura ereta, foco e intensidade. Foi sexy pra caralho. Rafe quase
engasgou com sua última mordida de burrito.

Jeremy falou no microfone do rádio pendurado no ombro e


sua expressão clareou um pouco quando ele olhou para Rafe.

─Desculpe, cara, mas eu tenho que voltar─, ele se desculpou,


já se movendo em direção à porta. ─Outra perturbação doméstica
adorável e eu estou mais perto.

Foi uma partida abrupta, especialmente depois da “confissão”


de Rafe, mas não havia nada que nenhum deles pudesse fazer sobre
isso. A coisa toda estava fazendo Rafe se contorcer de ansiedade. Ele
soltou outro agradecimento pela comida e seguiu Jeremy até a
porta.

─Tenha cuidado lá fora─, ele disse casualmente.

Jeremy assentiu distraidamente e estava na metade da


caminhada antes de se virar e gritar: ─Quer que eu venha hoje à
noite e ajude você a concertar a lava-louças? Eu tenho experiência
com aparelhos...

Ele estava andando para trás agora e Rafe lutou contra o


impulso quase irresistível de se forçar contra o policial até convencê-
lo a trocar de equipe.

─Isso seria legal. Venha a qualquer hora; Eu vou grelhar


alguns hambúrgueres.

KM
Jeremy chegou à sua moto e puxou o capacete fazendo alguns
ajustes com o microfone do rádio. Depois vieram os óculos de sol e
Rafe quase teve que cruzar as pernas contra a onda de luxúria que se
acumulou em sua virilha.

─Eu saio por volta das três e provavelmente posso estar aqui
às cinco.

O cérebro confuso de Rafe pensou em dizer algo


completamente diferente e balançou a cabeça, se controlando
calmamente, ele disse ─Até logo─, antes que Jeremy ligasse a moto e
saísse da garagem com um estrondo.

Não restaram dúvidas de que Rafe estava fraquejando. Quando


Jeremy deu-lhe um aceno rápido, ele se perdeu. Foi quando ele ligou
para Brian e se assegurou de que ele e Megan abandonassem todos
os seus planos e fossem à sua casa para comer hambúrgueres hoje à
noite. Era definitivamente o momento de voltar atrás antes de
cometer um grande erro jogando-se em um homem hetero.

KM
CAPÍTULO SETE

A máquina de lavar louça teria que ficar como estava,


quebrada e oprimida depois de trinta anos de trabalho duro. Rafe
tinha contas para pagar.

As coisas que ele aprendeu com Grace e Angel no dia anterior


estavam pesando nele. Ele conseguiu mais duas entrevistas por
telefone com amigos de Yesenia, mas eles não eram tão próximos
dela e não tinham muito a oferecer. Era a mesma coisa antiga sobre
ela e seu pai não se dando bem, o que impedia que esses amigos
pudessem passar muito tempo sozinhos com ela. Rafe sabia que
precisava conversar com Hector em algum momento e temia
isso. Não existia uma maneira leve de sugerir que um
relacionamento inadequado estava acontecendo dentro daquela
casa. Era uma armadilha que ele teria que pular assim que tivesse
mais informações - algo que ele precisava tirar de Angelina e Carlos -
e ele só poderia colocar essa armadilha quando estivesse
absolutamente certeza de que estava certo. Ele não conhecia bem
Hector, mas não precisava ser um gênio para reconhecer que o
homem não aceitaria gentilmente esse tipo de sugestão. Por
enquanto, Rafe esperava que Yesenia tivesse fugido e se escondido
em algum lugar seguro, desde que havia a dúvida sobre o que o pai a
estava submetendo naquela casa.

Puxando uma cadeira em sua mesa de jantar, ele colocou para


fora todas as informações de contato que ele tinha e as anotações
que ele tinha feito. Ele foi abençoado com uma memória fotográfica
e nunca teve problemas em lembrar o que os entrevistados disseram,

KM
mas ele sempre fazia anotações depois, só por precaução. Afinal, ele
poderia levar uma pancada na cabeça - não era impossível em sua
linha de trabalho - e todas essas lembranças poderiam desaparecer,
um pensamento deliciosamente mórbido.

Rafe queria muito falar com Angelina, mas sabia que se ele
ligasse para a casa dos Aragon e Hector estivesse por perto, ela não
daria um pio sem que ele ouvisse e possivelmente a fizesse pagar
mais tarde.

Ele procurou em suas informações e conseguiu o número no


escritório no qual Hector trabalhava. Seria mais difícil contatá-lo se
ele ainda estivesse trabalhando em uma das equipes da estrada, mas
ele se formara no escritório há alguns anos. A ligação conectou
diretamente e ele esperou na linha até que um sistema de
atendimento de voz suave falasse. Levou alguns minutos, mas
finalmente conseguiu falar com uma recepcionista de verdade.

─Boa tarde─, ele disse, rezando para que ela estivesse


familiarizada com Hector. ─Eu gostaria de saber se Hector Aragon
foi a trabalhar hoje?

Houve uma pausa e alguns papeis sendo movidos, então,


─Sr. Aragon não trabalha exatamente neste escritório, mas eu o vi
hoje de manhã. Você gostaria do número direto?

Rafe fechou os olhos e cerrou a mão em vitória.

─Sim, isso seria ótimo.

A recepcionista deu-lhe o número e desligou. Rafe realmente


não precisava falar com ele, mas o número poderia ser útil, então ele

KM
anotou e digitou imediatamente o número da casa dos Aragon em
seu telefone.

Eles não tinham uma secretária eletrônica, e Rafe ligou quinze


vezes antes de desistir. Então… Angelina estava no trabalho
também.

Ele folheou sua pilha de anotações até encontrar o número do


restaurante da família onde Angelina trabalhava como recepcionista
e discou. Ele sorriu de alívio quando ela atendeu no segundo
toque. Se outro membro da família tivesse respondido, ele poderia
ter que explicar a eles quem ele era e não havia como ele saber se
diriam a ela ou não.

─Restaurante Familiar Aragon, aqui é Angelina, como posso


ajudá-lo?

Rafe se sentou, batendo os dedos no tampo da mesa.

─Senhora Aragon, aqui é Rafe Bridges, eu poderia falar com


você por um minuto rápido? Eu não vou atrapalhar seu trabalho.

O ruído de fundo desapareceu na linha. Angelina


provavelmente estava se afastando da multidão.

─Detetive─, sua voz tremeu, ─você tem notícias sobre


Yesenia?─ Rafe fez uma careta.

─Não, senhora, me desculpe. Eu estou passando pelas


entrevistas e fazendo o meu melhor.─ Deus, ele se sentiu um
idiota. ─Eu realmente preciso sentar e conversar com você, mas eu
queria saber se seria possível sem Hector ao redor?

KM
─Detetive─, ela começou, o “não” já aparente, e ele pulou de
volta antes que ela pudesse nega-lo.

─Eu também conversarei com Hector sozinho


eventualmente. É importante, ao tentar encontrar sua filha, que eu
receba todas as informações que puder. Em uma situação como esta,
geralmente é mais benéfico se eu puder falar com as partes
envolvidas separadamente, dessa forma, eu recebo as informações
mais arredondadas.─ Rafe estava falando demais, mas ele precisava
fazer Angelina se sentir tão confortável que pudesse dizer sim.

─Detetive Bridges, eu não sei quando posso falar com você


sem Hector─, ela finalmente respondeu, a relutância pesada em seu
tom.

─Existe um momento em que ele está no trabalho e você não


está? Ou talvez você tenha uma pausa para o almoço, onde
poderíamos nos encontrar? Sei que isso te coloca em uma posição
desconfortável, mas eu prometo a você que a nossa conversa
é essencial para esta investigação e, até que eu possa falar com você
e seu filho, estarei de mãos atadas.

O silêncio na linha era espesso e cheio de preocupação e Rafe


esfregou os olhos quando Angelina se decidiu.

─Hector vai trabalhar muito cedo amanhã de manhã e eu não


tenho que estar aqui no restaurante até as dez. Se você não quer que
ele saiba que vamos conversar, você não pode ir para minha casa. Se
ele descobrir que você quer falar comigo enquanto estou sozinha, ele
não permitirá. Ele acha que sou muito emotiva e vai desviar sua
investigação.

KM
As sobrancelhas de Rafe se ergueram. Ele achava que ela era
muito emocional? Ugh, tanto faz. Esse cara era um idiota.

─Nomeie o lugar e a hora e eu estarei lá.

O ruído de fundo ficou mais quieto de novo e Angelina


sussurrou ao telefone.

─Eu te encontrarei amanhã no WalMart perto da nossa


casa. Você conhece?

─Sim. Que horas?

─Sete─, ela sussurrou novamente.

─Eu estarei em um caminhão prata da Nissan.

─Eu vou te encontrar─, disse ela, e o barulho ficou mais alto


novamente. ─Você pode pegar o menu para viagem a qualquer
momento, ou podemos enviar por fax para você, senhor.

Rafe piscou e sorriu para o estratagema de Angelina.

─Bom trabalho─, ele elogiou ela. ─Vejo você às sete.─


Angelina desejou-lhe um bom dia e desligou. Ele bateu as mãos
contra a mesa uma vez em excitação - ele adorava quando as coisas
começavam a dar certo - e anotou as informações para a
entrevista. Rafe ficou aliviado porque Angelina estava disposta a
falar com ele pelas costas do marido. Para ele, isso significava que
ela tinha coisas para dizer a ele que impactariam a investigação, mas
eram coisas que Hector não podia saber que ela iria fornecer.

KM
Esta era definitivamente uma das mais estranhas investigações
que ele já havia feito. Normalmente, um detetive podia contar com o
fato de que pais de crianças desaparecidas forneceriam todas as
informações necessárias para ajudar a encontrar seus filhos,
incluindo informações que poderiam colocá-los em situação
ruim. Como se talvez eles não estivessem observando tão bem
quanto podiam e em um minuto o filho deles estava por perto, no
seguinte ele se foi.

Mas com os Aragons, ele estava percebendo que ele


absolutamente não poderia fazer essa suposição. O relacionamento
de Hector e Yesenia era complexo o suficiente para que Hector
permanecesse de boca fechada, com a expectativa de que Rafe a
encontrasse com as mínimas pistas para prosseguir, e com a metade
da cooperação por parte da família. Era como se Hector quisesse que
sua filha fosse encontrada, mas ao mesmo tempo não. Talvez ele
soubesse que Yesenia não queria voltar e estava assustado com
isso. Rafe estava lutando para permanecer objetivo. O pensamento
de Hector abusando da jovem na foto - a imagem cuspida de sua
própria esposa - fez sua pele arrepiar. Uma coisa que ele sabia com
certeza era que, se Hector fosse culpado, cuidaria pessoalmente para
que o sujeito fosse preso. Por enquanto, porém, Hector ainda era
“inocente”, não importava que ele transmitisse a Rafe uma sensação
terrível.

***

KM
Na maior parte do tempo, Jeremy trabalhava no trânsito -
acidentes, passagens e veículos quebrados -, mas ocasionalmente ele
participava de outras chamadas. A única coisa que ele não podia
fazer era levar as pessoas para a cadeia no centro da cidade. Ele
sempre chamava uma viatura para isso.

O distúrbio doméstico que o afastou de Rafe foi, na verdade,


uma chamada de apoio. Houve um relato de uma mulher
perseguindo o marido com uma faca no gramado da
frente. Aparentemente a lua de mel acabou. Assim que uma faca
aparecia, o amor era uma lembrança distante. Quando Jeremy
parou, estacionou ao lado do único cruzador ali e desmontou,
deixando as luzes piscando. O oficial que respondeu inicialmente,
Greg Halpert, aproximou-se e acenou em direção ao meio-fio, onde
um homem decididamente abatido balançava para a frente e para
trás, segurando o que pareciam restos de uma camiseta sobre um
corte no antebraço. Ele estava encharcado de sangue.

─Esse é o marido. Frank Sordino. Fiz uma chamada para os


paramédicos para dar uma olhada nesse corte. Ele tem mais alguns
nas costas, mas o pior é aquele.─ Jeremy olhou para a casa e achou
que poderia ver algum tipo de grito. Ele começou a dizer algo
quando Greg assentiu. ─Essa é a esposa. Vicky. Ela me viu
chegando, deu um último golpe em Frank e correu para a casa. Ela
se trancou lá e se recusa a responder às ordens para sair. Você e eu
temos que fazê-la sair discretamente, ou entrar silenciosamente.

─Adorável─, Jeremy suspirou. ─Esta não é a primeira


chamada certa?

KM
─Nah, eu realmente estive aqui uma vez antes. Essa ligação
não era violenta, apenas brigas e gritos até que um vizinho se
cansou.

Jeremy assentiu.

─Alguma criança?

─Sem filhos, mas eles têm um cachorro─, disse Greg


secamente.

─Por favor, me diga que é um chihuahua ou um maldito


pequinês.

Greg sorriu friamente.

─Frank─, ele chamou, trazendo a expressão confusa de Frank


para eles. ─Que tipo de cachorro você disse que tem?

─Ela é uma rottweiler. Doce como açúcar. Eu posso chama-la e


ela não vai morder.

Greg sorriu largamente para Jeremy, que revirou os olhos.

─É provavelmente melhor que você fique longe da casa,


Frank,─ Greg disse. ─Os paramédicos estarão aqui em um minuto
para ver esses cortes.

Frank voltou a balançar e Jeremy deu um leve tapinha no


spray de pimenta.

KM
─Tudo bem─, ele murmurou. ─Vamos cuidar disso. Vou
continuar com meu capacete, especialmente porque ela é uma
malabarista de facas.

Greg riu por um segundo e depois começou a se mover. Se


Vicky estava disposta a usar a faca em seu marido, ela estaria
disposta a usá-la neles também. Deus, Jeremy odiava facas. Elas
poderiam ser mais mortais do que balas e o pensamento de ter seus
intestinos espetados o deixou compreensivelmente melindroso.

O latido rouco do Rottweiler começou quando chegaram mais


perto da casa. Greg bateu na porta e gritou: ─Sra. Sordino,
precisamos que você saia e converse conosco. Seu marido não está
bem e ele disse que você é a responsável.

─Ele diria isso!─ Ela gritou. ─Ele é um inútil e merece tudo o


que recebeu. Traidor!─ Vicky seguiu com uma sequência
particularmente criativa de epítetos com o cachorro cantando a
baixa harmonia.

Jeremy decidiu dar uma chance.

─Senhora, entendemos que você está chateada e, talvez, se


você sair, podemos conversar sobre isso. Não há necessidade disso
ficar pior. Você pode sair e podemos conversar sobre isso. Seu
marido nem está mais perto da casa. Não precisa se preocupar com
ele.

Obviamente.

KM
─Eu não vou sair, você só vai me jogar no chão ou algo assim e
eu não fiz nada de errado. Eu assisto programas policiais na TV; Eu
sei que vocês dizem qualquer coisa para enganar as pessoas.

─Sra. Sordino─ Jeremy ergueu a voz sobre o latido. ─Você


também deve saber que não podemos ir embora. Ou você sai com
calma e conversamos sobre isso, ou talvez tenhamos que usar spray
de pimenta, ou pior. Você é esperta. Agora, venha para fora.

Vicky pensou que essa era a pior ideia e possível e fez questão
de dizer a eles, então começou com seus gritos novamente. Ouviu-se
o som de mais sirenes e Jeremy virou-se para ver a ambulância
estacionar bem como outro veículo de segurança. O policial se
juntou a eles, não um cara que Jeremy conhecia, e eles rapidamente
o atualizaram.

Não parecia que Vicky estava na porta da frente, então Greg se


inclinou para frente e tentou a maçaneta da porta. Para sua
surpresa, abriu-se. Para seu espanto, o Rottweiler estava chegando
rápido e ela parecia ter cento e oitenta dentes.

─O que você acha?─ Greg perguntou quando fechou a porta


assim que o cachorro colidiu com ela, rosnando e latindo com um
propósito. ─Abrir a porta, deixar o cachorro sair e ir atrás
dela? Distrair o cão e se esgueirar pelos fundos?

Jeremy sacudiu a cabeça.

─Qual é o nome da cadela?

Greg sorriu novamente.

KM
─Docinho.

─Sim? Isso combina com ela.─ Ele deu um passo em frente a


Greg e abriu a porta, abrindo o corpo contra a entrada. ─Docinho
...─ ele murmurou. ─Docinho. Quer um petisco?─ ele olhou para a
cadela e tentou lembrar dos episódios de The Dog Whisperer9. Pena
que ele não tinha espaço suficiente para se estabelecer como o
alfa. Ele tinha certeza que empurrar sua bota pela porta só acabaria
arruinando um ótimo calçado.

Docinho se acalmou um pouco e ele abriu a porta um pouco


mais. Houve um rosnado baixo e Jeremy começou a arrulhar
novamente até que o rosnado parou. Vicky ainda estava dentro
imitando algum tipo de corujinha do leste, realmente soltando
algumas notas altas. Jeremy tentou empurrar a porta um pouco mais
e o cachorro a empurrou até que sua enorme cabeça estava saindo
pela abertura.

Ele apertou ainda mais a porta o suficiente para que Docinho


não pudesse se aproximar, mas ela poderia voltar. Ele estendeu a
mão e ela rosnou por um minuto, depois se fez um pouco menor. No
segundo que Docinho deixou ele acariciá-la o rosnado parou, ele
abriu a porta e deixou o cachorro sair, agarrando seu colarinho e
puxando-a para o lado. Outro policial apareceu e, em vez de
informá-lo sobre tudo, ele disse o nome do cachorro e a
entregou. Docinho estava fazendo jus ao seu nome agora,
provavelmente apenas aliviada por se afastar da psicopata lá dentro.

9
Conhecido no Brasil como “O encantador de cães”.

KM
Jeremy voltou para a porta e rapidamente pegou o fato de que
Vicky tinha notado que sua acompanhante canina tinha fugido, e ela
estava chateada. Eles tentaram raciocinar com ela mais alguns
minutos, depois entraram pelos fundos, correndo pela porta quando
ela estava no meio da sentença e pegando-a desprevenida.

Vicky ainda estava empunhando uma longa faca de açougueiro


e, enquanto Greg cumpria sua advertência para Taze, Jeremy
segurou-lhe o pulso com as duas mãos, tentando arrancar a faca da e
joga-la para fora do alcance da mulher. O terceiro policial atacou e
subjugou suas pernas, enquanto cada um deles gritava para ela parar
de lutar e soltar a faca. A lâmina brilhou sob a iluminação do
vestíbulo e Jeremy sentiu suas bolas murcharem.

Demorou mais alguns minutos de luta cheia de adrenalina de


Vicky antes que os três pudessem subjugá-la e Jeremy conseguisse
tomar a faca sem que ela machucasse qualquer um deles. Ela não
parou de gritar, mesmo quando eles a viraram, colocaram as
algemas e revistaram seus bolsos.

Jeremy deixou um ofegante Greg e o outro oficial levá-la até


um carro de patrulha, enquanto ele caía contra a parede na
entrada. A velha Vicky deveria estar usando algo para ter esse tipo
de força fluindo através dela.

Por alguma razão, ao recuperar o fôlego, pensou em Rafe. E do


nada ele sentiu um tremendo alívio por ter conseguido passar por
outra chamada completamente ileso. Ele se afastou da parede e
voltou para o lado de fora. Agora não era hora de pensar sobre isso.

KM
KM
CAPITULO OITO

A campainha tocou no mesmo momento em que Rafe fazia


malabarismo com pãezinhos de hambúrguer, ketchup e uma caixa
de seis cervejas, mas antes que ele gritasse uma saudação, a voz de
Brian bateu nele.

─Tudo bem, seu grande comedor de bunda. Estou aqui como


ordenado.

Rafe sorriu quando o alívio passou por ele. Seu amortecedor


havia chegado, ou metade dele de qualquer maneira. Brian não era
tão fácil de controlar sem Megan por perto. Ele estava prestes a dizer
coisas na frente de Jeremy que faria um homem menor chorar de
vergonha.

─Onde está Megan?─ ele perguntou quando Brian dobrou a


esquina para a cozinha, parecendo exatamente como você
imaginaria um designer de website para uma empresa de skate:
camisa larga, jeans desgastados, tiras nos dois braços e cabelo
estilizado. Rafe gostou.

─Não confia em meu bom comportamento com seu amor não


correspondido?─ Ele sorriu desagradavelmente.

─Nem um pouco─, Rafe suspirou, deixando a cerveja na


geladeira e tirando todos os ingredientes dos hambúrgueres.

Brian preguiçosamente jogou uma sacola de compras com


batatas fritas e biscoitos no balcão e deu uma olhada avaliadora na
direção da máquina de lavar louça.

KM
─Meg está trabalhando, mas ela vai chegar aqui no segundo
em que seu turno acabar, então vocês dois me impedirão de foder
com esse cara quando ele disser algo que te dê esperanças.

Rafe fez uma careta, seu temperamento queimando.

─Obrigado. Isso foi muito eloquente de sua parte. Bolsa de


bosta.

─E gentil também ─acrescentou ele, com os olhos brilhando


com humor. Ele estava se divertindo muito assistindo Rafe se
contorcer. ─Me dê os detalhes sobre esse cara - não a aparência dele,
por favor; você pode me poupar esses detalhes. Eu preciso do básico.

Rafe permaneceu de boca fechada enquanto o amigo lavava e


secava as mãos com uma toalha de papel.

─Você não ouviu nada do que eu disse sobre ele?─, Ele


perguntou impacientemente.

─Merda─, ele murmurou. ─Eu escutei tudo, mas você me deu


mais adjetivos sobre a bunda dele do que detalhes.─ Brian pegou a
carne moída que Rafe estava massacrando e começou a formar
perfeitos hambúrgueres de 90 gramas. ─Conversa do pau.

Brian sorriu.

─Quando se trata desse cara, você fala com seu pau. Ele é
loiro. Um Adonis. Ele tem esses incríveis olhos verdes ─, ele falou no
que aparentemente era sua melhor imitação de Rafe. ─Ah, e meu
favorito pessoal, a principal razão por eu ter concordado em estar
aqui hoje à noite: ele é fodidamente hetero!─ O último hambúrguer

KM
bateu no prato e Brian o observou com um olhar azedo. ─Conversa
do pau.

Rafe não podia discutir com ele sobre isso, tanto quanto ele
queria. Estar perto de Jeremy fazia seus hormônios começarem a
correr como naquela vez em que ele viu Steven Pierson, o
quarterback do ensino médio, nos chuveiros. Mesmo assim, ele não
tinha esquecido como Jeremy era legal como pessoa. Ele era
engraçado e-

Brian ainda estava olhando para ele, esperando pela


informação, todo o humor desaparecido de sua expressão. Ele não
queria que ele se machucasse novamente, Rafe podia ver isso, e isso
fez Rafe aliviar um pouco do ressentimento.

─Jeremy está incrivelmente comprometido com seu


trabalho. Acredite ou não, notei isso nele também. Ele gosta de
ajudar as pessoas - e ele é extrovertido.─ Rafe descobriu que, assim
que começou a falar sobre todas as grandes coisas sobre Jeremy, não
era tão fácil parar. ─Não tenho certeza porque não perguntei
diretamente, mas acho que ele está na força há cerca de cinco
anos. Ele é mais novo que eu. Ele tem um carro com quem quer se
casar. Ele tem uma irmã e visita muito seu pai. Sua mãe foi embora
quando ele tinha três anos.

Brian interrompeu-o com um gemido e baixou a cabeça entre


as mãos.

─Isso é pior do que eu pensava. Droga.

KM
─Do que você está falando? Eu estava respondendo sua
pergunta.

Rafe pegou o prato de hambúrgueres no balcão e tentou não


arrancar a porta traseira em sua frustração. Ele sabia do que Brian
estava falando, e ele só estava chateado porque seu amigo estava
certo.

─Você está apaixonado por ele─, disse Brian, incrédulo,


seguindo-o para o pátio. ─Ele é hetero, Rafe. Você vai ficar todo
envolvido nele e ele vai descobrir e arrancar seus braços ou algo
assim.

─Ele não é homofóbico, Brian─ Rafe rosnou, batendo os


hambúrgueres na grelha.

─Oh sim? Como você sabe? Lembro que na nossa ultima


conversa ele era mais propenso a convidar você para um clube de
striptease do que achar que você é gay. Espero que você goste de
escorregar notas de dólar em biquínis de dançarinas─. Rafe fechou a
grade com um estalo e girou a cabeça para encarar furiosamente
Brian.

─Ele sabe. Ele esbarrou em Mark hoje e é assim que toda essa
merda surgiu.─ Brian ficou parado, chocado sem palavras por
alguns segundos - um recorde se tratando de Brian.

─Você quer dizer seu Mark? Mark Newland? O cara que te


odeia porque você teve a coragem de romper um relacionamento que
não estava indo a lugar nenhum?

KM
─Sim. Esse Mark─ ele sussurrou. ─Jeremy veio me trazer um
pouco de comida depois que minha lava-louças quebrou e ele
perguntou se era verdade.

Brian sacudiu a cabeça.

─Oh, aposto que você simplesmente amou isso. Você saiu para
ele?

Rafe virou as costas teimosamente.

─Eu não quero falar sobre isso. Eu respondi sua pergunta


sobre ele e agora terminamos com isso.

─Ignorar-me não vai mudar essa situação, Rafe.─ Brian deu a


volta para encará-lo e colocou as mãos sobre os ombros de Rafe,
dando-lhe uma sacudida rápida. ─Você vai se machucar porque as
probabilidades são que você nunca vai dizer a ele como você se sente
e ele vai te sujeitar a um desfile de namoradas que fara você se sentir
um idiota maior a cada apresentação. Mesmo se você disser que
gosta dele, ele provavelmente iria cagar nas calças e nunca mais falar
com você.─ Ele fez uma pausa para respirar fundo e sua expressão
séria se suavizou. ─Eu não quero ver esse cara fodendo com sua
cabeça, quer ele saiba que está fazendo isso ou não.

Brian estava certo. Rafe sabia disso. As palavras que ele estava
dizendo não eram diferentes das que ele esteve pensando o dia
todo. Ele não tinha chance com Jeremy, a menos que ele estivesse
procurando apenas por amizade. Ele sentiu uma enorme fisgada no
peito e suspirou.

KM
Rafe baixou a cabeça e sussurrou: ─Por que mais você acha
que eu te implorei para vir? Eu preciso manter meus pés no
chão. Me certificar de que meus limites estão definidos. Se eu cuidar
disso agora, poderei superar mais rápido o que quer que seja isso e
ser amigo de Jeremy.

Brian apertou seus ombros encorajadoramente.

─Ouça cara, eu sei que o último ano fodeu você e eu sei como é
difícil encontrar o cara certo para você, mas vai acontecer. Você não
pode desistir, ou se conformar com pouco - além disso, as coisas
poderiam ser piores... Você ainda poderia estar com Mark.

Rafe deu um sorriso indiferente e estava prestes a responder


quando a porta se abriu atrás dele. Ele estava de costas para a porta,
mas julgando pela surpresa no rosto de Brian, não era Megan. Os
olhos de Rafe se arregalaram e ele deu a seu amigo um olhar “Há
quanto tempo ele está parado ali?” Brian sacudiu a cabeça. Não
havia como dizer.

─Está tudo bem, Rafe?─ Jeremy perguntou, sua voz profunda


e... protetora talvez? Ele fechou os olhos, quase com dor. Isso seria
impossível.

***

Ninguém atendeu sua batida ou o toque da campainha, então


Jeremy experimentou a maçaneta e entrou. Ele estava adiantado,

KM
mas a caminhonete de Rafe e um jipe que ele nunca tinha visto
estavam estacionados na entrada. Ele chamou e esperou, mas ainda
não houve resposta. Quão terrível seria se Rafe estivesse com algum
cara em seu quarto no momento em que Jeremy chegou?

Sua resposta não foi tão direta quanto ele queria que fosse. Ele
definitivamente não queria ver Rafe brincando com alguém, mas não
porque era com um homem - embora ele felizmente nunca tivesse
sido uma testemunha de algo assim. Não. O problema era que ele
não queria ver Rafe com ninguém. Isso era tudo. Sim. Nada mais do
que preocupação por seu amigo. Havia muitos idiotas por aí que
tentariam se aproveitar de um cara legal como Rafe. Imaginando
que não faria mal colocar a cerveja que ele trouxe na geladeira, ele se
moveu silenciosamente pela casa até a cozinha. A porta do quintal
estava aberta, mas a tela estava fechada e Jeremy não teve
dificuldade em entender como Rafe não tinha ouvido a
campainha. Um estranho tatuado tinha as mãos descansando
possessivamente nos ombros de Rafe e, embora não conseguisse
entender o que estavam dizendo, devia ser sério pela expressão no
rosto do sujeito. Era esse o cara que Mark mencionou...
Jason? Espere. Mark não disse que Jason parecia com ele? Isso
certamente não se aplicava nesta situação; ele era praticamente o
oposto desse cara maluco. Ele teve que admitir que o cara não era
feio.

Jeremy não gostou. Algo profundo dentro dele mudou e ele


teve a súbita vontade de tirar as mãos do homem misterioso de
Rafe. Ele não imaginou que o tipo de Rafe fosse rockstar - não a
julgar por Mark de qualquer maneira; ele era bem comum na

KM
verdade. Mas o cara segurando Rafe era diferente, seu cabelo
castanho um pouco longo e estilizado com ondas e pontas
perfeitas. Como Mark, ele era um pouco menor que Rafe. Talvez ele
gostasse de seus homens menores que ele. Os ombros de Rafe
afundaram quando o cara disse algo para ele e quando ele
finalmente falou de volta, Jeremy não podia ter certeza, mas ele
acreditou ter ouvido seu nome.

Recusando-se a assistir outro minuto daquilo, especialmente


se o roqueiro estava incomodando Rafe ou falando sobre merda que
não entendia, Jeremy silenciosamente deixou a cerveja no balcão e
abriu a porta de tela com um empurrão decisivo.

─Está tudo bem, Rafe?─ Ele perguntou, tentando controlar o


rosnado em sua voz até que ele soubesse o que estava acontecendo.

A cabeça de Rafe se levantou e houve algum tipo de troca entre


ele e seu amigo. A única coisa que lhe deu um pouco de satisfação foi
ver os olhos do estranho arregalarem como pratos de jantar. Rafe
recuou e saiu de baixo das mãos do sujeito e virou-se com um sorriso
no rosto.

─Jeremy! Desculpe cara, nós não te ouvimos.─ Rafe estava se


esforçando para agir de forma natural, e se não fosse pela cor alta
em suas bochechas, ele poderia ter conseguido. O roqueiro se moveu
ao redor de Rafe e ofereceu sua mão. Ele posicionou-se de forma
bastante protetora na frente de Rafe e Jeremy sentiu um grunhido
vibrar em seu peito.

KM
─E aí cara. Eu ouvi muito sobre você ─, o roqueiro disse, sem
sorrir. ─Eu sou Brian Hatchett, o melhor amigo de Rafe desde o
ensino médio.

Engraçado, pensou Jeremy, mas Rafe só o mencionara uma


vez, mas melhor amigo era definitivamente melhor que namorado
ou ficante. Ele havia descoberto naquele mesmo dia que Rafe jogava
para o outro time; ele não tinha pensado que seu amigo se sentiria
confortável o suficiente para tê-lo por perto como uma terceira roda
durante um encontro.

Como se estivesse lendo os pensamentos de Jeremy, Rafe


falou.

─A noiva de Brian, Megan, estará aqui quando ela sair do


trabalho. Ela é enfermeira no hospital universitário.

─Está brincando?─, Ele perguntou, seu humor melhorando


uma fração. ─Isso é ótimo. Minha irmã é enfermeira
também. Vocês... precisam de ajuda aqui? Eu trouxe algumas
cervejas, caso queiram uma.─ Rafe colocou a espátula contra o peito
de Brian e passou por Jeremy para a casa.

─Sim, vamos pegar algumas. A cerveja que comprei ainda está


um pouco quente.

Jeremy ficou feliz em deixar a cena do pátio e voltar para


dentro. Ele assistiu enquanto Rafe vasculhava uma gaveta
procurando um abridor de garrafas, jogando-o para ele.

KM
─Estou feliz que você pode vir hoje à noite─, disse ele, dando
Jeremy a segunda dose de contato visual sério naquele dia e desta
vez, Jeremy segurou, não querendo realmente desviar o olhar.

─Tem certeza de que está tudo bem?

Rafe corou e ele desviou o olhar.

─Sim─, ele suspirou. ─Ouça, eu não tenho certeza do que você


pode ter ouvido-

─Eu não ouvi nada─, Jeremy o tranquilizou, realmente


desejando agora que ele tivesse já que Rafe parecia estar olhando
para todos os lugares, menos para ele. Eles estavam falando sobre
ele, sem dúvida sobre isso. Ele não ficou muito surpreso.

─Oh… não foi nada ruim. Brian me conhece há muito tempo e


ele estava se certificando de que eu não estava prestes a fazer algo
estúpido.─ Ele encontrou o olhar avaliador de Jeremy novamente e
ergueu as mãos como se estivesse tentando acalmá-lo. ─Não se
preocupe. Como eu disse hoje cedo, não vou colocar você em uma
posição desconfortável. Brian não quer que eu me machuque, é tudo.

Ok. Ele realmente não estava fazendo sentido agora.

Jeremy limpou sua expressão mesmo quando uma pequena,


mas barulhenta parte dele começou a protestar. Nem todo cara
hetero estava disposto a machucar outra pessoa porque ele era
gay. Ficou chateado que Brian automaticamente assumisse que ele
poderia ser assim. Veja o gay com quem Rafe esteve
envolvido. Mark era um idiota. Jeremy era pelo menos melhor que
ele. E ele pode não saber quem diabos era Jason e por que ele era tão

KM
significativo, mas as chances eram de que ele se aproveitou de Rafe
de alguma forma também.

O mais importante era que Jeremy não queria machucar


Rafe. O pensamento o deixou com náuseas.

─Tem certeza de que ele não estava dizendo para você ficar
longe de mim porque ele acha que eu sou homofóbico?─ Ele
perguntou suavemente. Rafe estava completamente inconsciente de
quão perto Jeremy estava de chutar através da porta de tela e
perguntar a Brian exatamente qual era o problema dele.

─Eu disse a ele que você sabe sobre mim. Ele sabe que você é
legal com isso.

─Tudo bem, mas você acredita nisso? Eu não estou tentando


tornar sua vida mais difícil, sabe? Por que ele é o único que pode
passar no teste para ser seu amigo?

Essa última questão meio que denunciou sua raiva. Não era
realmente a abordagem calma e coletiva que ele estava procurando.

─Não, não. Não é isso. Ele só está cuidando de mim há muito


tempo. Ele não sabia que você era legal com isso. Ele ainda achava
que você não sabia─ Rafe falou.

Jeremy assentiu e virou-se para abrir as cervejas.

─Eu posso entender isso, eu suponho─, ele finalmente


admitiu, sorrindo um pouco para o alívio de Rafe.

─Quer voltar?

KM
─Claro, Brian quer uma cerveja?─ Ele chamaria isso de uma
trégua provisória por enquanto.

─Ele não negaria. Aqui, ─Rafe correu na frente dele para pegar
a porta, um saco de batatas fritas em uma mão,─ deixe-me levar
isso.

Jeremy não tinha certeza do porque fez isso, fosse porque


Brian estava observando-os, ou que Rafe estava tão perto, mas
quando ele passou por ele através da porta, ele parou por um
segundo, seu rosto perto do de Rafe.

─Eu nunca vou te machucar─, ele sussurrou, inclinando-se


mais perto do ouvido de Rafe.

Quando ele se afastou, a expressão no rosto de Rafe fez seu


coração acelerar inesperadamente. Jeremy podia ver totalmente o
desenho que os homens teriam que ir atrás daqueles olhos azuis com
seu brilho sutil. Merda, Rafe até o fez se perguntar sobre isso.

Brian pigarreou.

─Uma dessas cervejas é para mim?

Jeremy estendeu a mão com uma cerveja e, muito lentamente,


deixou seus olhos se afastarem de Rafe.

─É uma IPA10, tudo bem?

Brian encarou-o por um momento antes de tomar a cerveja


oferecida a ele, a contragosto.

10
India Pale Ale. É uma cerveja com alto teor alcoólico.

KM
─Os hambúrgueres estão prontos, Rafe, e Megan acabou de
mandar uma mensagem. Ela está a caminho.

KM
CAPÍTULO NOVE

Rafe estava colado a porta, todo o seu corpo preso em


Jeremy. Isso realmente aconteceu? Jeremy se inclinou para ele e
disse que nunca o machucaria? Ele lambeu os lábios e lutou para
impedir que seu coração pulsasse para fora de seu peito. Desde a
primeira vez que ele se virou e viu o policial, não conseguiu negar
que sua reação a Jeremy estava ficando mais forte a cada vez que o
via, como se a indisponibilidade de seu amigo estivesse piorando
ainda mais.

Ele parecia limpo e fresco, seu cabelo estava perfeitamente


penteado, e Deus, a camiseta preta e o jeans desgastado que ele
estava usando, fizeram Rafe querer ofegar, era tão distrativo. Seu
peito e estômago duros estavam expostos e não foi preciso muito
esforço para imaginar o algodão fino subindo em uma nuvem de
fumaça.

E enquanto a aparência e o corpo de Jeremy eram todos bons,


era o jeito que ele estava agindo e as palavras que ele estava dizendo
que estavam seriamente ficando sob a pele de Rafe. Primeiro, ele
agiu como o Sr. Protetor quando ele chegou e viu Brian e ele
conversando, e então o que ele disse na cozinha e agora mesmo
enquanto eles caminhavam para fora... Era como se Jeremy estivesse
propositadamente tentando fazer Rafe se apaixonar por ele. Um
pensamento que serviu apenas como mais uma prova de que Brian
estava certo e que Rafe já estava a caminho disso.

Se apenas... Ele suspirou.

KM
─Rafe?─ A voz de Brian cortou seus pensamentos e ele desviou
sua atenção de Jeremy, percebendo que não era a primeira vez que
seu nome era chamado. Porra, há quanto tempo ele estava
olhando. A atenção de Jeremy estava na grelha, felizmente, e ele
conseguiu se recompor antes que ele percebesse que Rafe estava
babando sobre ele.

─Eu disse que os hambúrgueres estão prontos e Megan está a


caminho. Você tem um prato para estes?─ Brian estava de cara feia
para ele, seus olhos dizendo a Rafe que não haviam perdido nada do
que estava acontecendo.

─Sim claro. Um segundo.

Rafe correu de volta para a cozinha, pegando condimentos,


pratos e pães e trazendo-os de volta para fora. Jeremy encontrou-o
na porta e levou várias coisas dele para colocar na mesa do
pátio. Brian ficou ocupado montando os hambúrgueres e lançando
olhares mordazes para Rafe por cima do ombro enquanto as costas
de Jeremy estavam viradas. Ele só podia dar de ombros.

A voz de Megan ecoou pela casa quando ela gritou o nome dele
e de Brian. Brian jogou o prato de hambúrgueres na mesa e entrou
para cumprimentá-la, deixando Rafe e Jeremy sozinhos novamente.

─Você quer trabalhar na lava-louça depois de comermos? Eu


trouxe algumas ferramentas para o caso de precisarmos. Elas estão
no carro.

Rafe piscou, imaginando Jeremy sem camisa, com um cinto de


ferramentas preso na cintura.

KM
─Na verdade, isso parece ótimo. Eu acho que podemos movê-
la para a garagem até que eu consiga uma nova e os entregadores
possam levar a velha. Receio que, deixa-la ligada em uma poça de
agua, fará a coisa começar a dar choque e me matar no meio da
noite.

Jeremy riu.

─Isso seria incrivelmente trágico. Eu prefiro morrer na


fuselagem de um helicóptero ou algo assim. Se morto por uma
máquina de lavar louça não tem o mesmo toque.

Rafe sorriu e sentiu a tensão diminuir. Jeremy tinha uma


maneira tão incrível sobre ele - a rapidez com que ele conseguia
difundir as pessoas - isso só tornava o cara ainda mais
carinhoso. Exatamente o que Rafe não precisava saber.

Brian levou Megan para o pátio e Rafe foi poupado do trabalho


de tentar não flertar com Jeremy, puxando-a para um rápido
abraço. Ela ainda usava seu uniforme cor de água com o longo
cabelo castanho preso em um rabo de cavalo, mas ela sempre
parecia ótima. Rafe tinha uma ideia do que Brian poderia ter dito a
ela enquanto eles estavam sozinhos, mas a curiosidade felina no
rosto dela era toda a prova de que ele precisava. Ela iria examinar
tudo o que acontecesse esta noite e relataria mais tarde.

Megan imediatamente se apresentou a Jeremy, que apertou a


mão dela e disse que sua irmã também trabalhava para um dos
hospitais da área. Ela mordeu a isca e preparou seu hambúrguer
enquanto passeavam de um lado para o outro. Quando todos se
sentaram para comer, ainda eram apenas Megan e Jeremy

KM
conversando, com Brian parecendo traído, e Rafe encarando Jeremy
a cada segundo que ele achava que Brian não notaria.

Ele encontrou-se lamentando ter convidado Brian e Megan,


não que ele não os amasse, ele era apenas egoísta o suficiente para
admitir que ele queria Jeremy para si mesmo, apesar dos
perigos. Ele queria saber como foi seu dia e o que aconteceu na
chamada que o arrancou da cozinha de Rafe e de volta ao
trabalho. Demorou mais cinco minutos de ida e volta antes que Rafe
pudesse se intrometer sem se fazer de bobo.

─Jeremy, o que aconteceu naquela chamada que fez você sair


correndo daqui? Você disse que era uma briga doméstica?─ Viu,
pensou Rafe, isso foi bastante casual. Era uma mudança sutil de
assunto, uma onde Rafe poderia, gratuitamente, acumular
informações sobre Jeremy sem que ninguém soubesse.

Jeremy revirou os olhos e sacudiu a cabeça.

─Foi muito mais louco do que eu pensei que seria─, ele riu. ─A
mulher perseguiu o marido com uma faca ao redor do gramado,
depois trancou-se na casa quando viu o carro de patrulha
chegando. Ela estava dentro gritando sobre como ela tinha
visto Policiais na TV e ela não iria sair. Nós poderíamos tê-la
dominado de várias maneiras se ela não tivesse um Rottweiler lá
dentro com ela.

Os olhos de Rafe se arregalaram no início da história de


Jeremy, mas ao mencionar o rottweiler, ele congelou no lugar, uma
batata a meio caminho da boca aberta.

KM
─Havia um Rottweiler?

O sorriso de Jeremy se ampliou com a expressão no rosto de


Rafe e ele assentiu.

─Sim, o nome dela era Docinho.

Megan riu e se inclinou sobre o prato.

─Como você conseguiu pegar mulher com o cachorro lá


dentro? Por favor, não me diga que você atirou no cachorro!

─De jeito nenhum, e irritá-la ainda mais?─ Ele tomou um


rápido gole de sua cerveja e enxugou as mãos em um
guardanapo. ─A mulher deixou a porta destrancada e enquanto ela
estava distraída, eu atraí o cachorro para fora quando percebi que
ela que ela não iria comer meu rosto.

─Quão grande Docinho era?─ Megan perguntou, os olhos


brilhando. Rafe estava muito ocupado tentando não engasgar com
sua batata para dar-lhe um olhar sujo por encorajá-lo.

─Grande. Ela tinha uma cabeça do tamanho de um desses


pratos. Assim que ela saiu, ela estava totalmente calma. Eu a deixei
com outro oficial e eventualmente tivemos que encurralar a mulher e
imobiliza-la para tomar a faca.

Brian colocou uma batata em sua boca, tentando parecer


desinteressado, enquanto Rafe e Megan simplesmente ficaram
boquiabertos com Jeremy.

KM
─Você atraiu um enorme e irritado Rottweiler e depois lutou
com uma mulher com uma faca?─ Rafe sufocou.

Jeremy notou de repente como Rafe estava chateado e agarrou


seu ombro em um aperto rápido, sua preocupação óbvia.

─Coisas assim não acontecem todos os dias─, disse ele


tranquilizador. ─Eu não estava sozinho e o cachorro era realmente
bem comportado.

Rafe abriu a boca para argumentar, mas rapidamente se


lembrou da plateia.

─Você provavelmente também tirou a faca da mão dela.─


Quando Jeremy não negou, os olhos de Rafe se ergueram. ─Você
não fez.─ Não era uma pergunta.

─Eu não fiz isso sozinho─, ele protestou. ─Era o braço mais
próximo de mim e eu não queria ser perfurado. Ela estava alta com
algo, então precisou de três homens para mantê-la no chão.

── Oh, isso me faz sentir muito melhor. Deus, você precisa ser
mais cuidadoso─, Rafe rosnou e pegou seu hambúrguer novamente,
dando uma mordida.

─Rafe, não é grande coisa. Eu estava sendo cuidadoso e eles a


prenderam assim que eu tomei a faca.

Rafe levantou as mãos, impedindo que Jeremy continuasse.

─Eu não quero ouvir o resto. Aquela mulher poderia ter te


cortado e dado de comida para o cachorro raivoso.

KM
Megan não pôde deixar de rir e Jeremy também e quando
começou a se defender novamente seu celular o interrompeu. A
mesa ficou muito quieta, o que dizia muito porque Megan e Brian
estavam fazendo um ótimo trabalho de serem invisíveis - Rafe tinha
certeza de que Brian estava fumegando por dentro. Jeremy deu uma
olhada no identificador de chamadas e o enviou para o correio de
voz. Nem mesmo cinco segundos depois de ele se desculpar, o
telefone tocou novamente.

─Sinto muito─, disse ele. ─Você se importa se eu atender isso


lá dentro?

Rafe não tinha nenhum problema com isso até que ouviu
Jeremy dizer ao telefone: ─Tracey, o que está acontecendo?─ Se ele
soubesse que era uma mulher, ele teria pegado o telefone e jogado
no quintal do vizinho. Os olhares que Jeremy lhe dera e as palavras
que ele dissera estavam funcionando como magica e Rafe se
convencera, por um belo momento, de que havia mais entre eles do
que ele pensava. Então Jeremy estourou sua bolha com esse
Tracey. Não conseguiu ouvir a conversa do amigo e, com um
movimento brusco da mão, jogou o guardanapo sobre o prato, o
apetite desaparecendo.

─O que eu te disse?─ Brian espetou-o com uma carranca. ─Ele


vai flertar e se aproximar de você e no próximo segundo uma garota
vai ligar e você é notícia velha.

─Ele não estava flertando─, Rafe cuspiu, suas bochechas


corando com a sugestão. Megan deu-lhe um olhar conhecedor e
Brian olhou para ele, incrédulo.

KM
─Até eu posso dizer que é o que ele tem feito desde que chegou
aqui, então não me engane.

─Ele está flertando─, concordou Megan, embora ela dissesse


com prazer e não com censura. ─Você tem certeza absoluta de que
ele não é gay?

Rafe queria muito dizer não. Queria usar os argumentos que


Megan lhe dera um dia antes, que certamente não saberia ao certo a
menos que perguntasse a Jeremy. Isso significava apenas que ele
estava tentando demais e desejando demais. Claro, algumas coisas
que Jeremy fez que pareciam paquera, mas Rafe não podia se
concentrar nisso. Ele não podia esperar que tivesse mais provas do
seu lado de que Jeremy fosse hetero, do que sua reação naquela
tarde a saber a verdade sobre Rafe.

─É um jogo de poder─, Brian começou de novo. ─Ele sabe que


você está atraído por ele e está usando isso para aumentar seu
ego. Rafe. Por favor, não deixe esse cara te arrastar pela
sujeira. Você está além do ponto em que deixa um cara imaturo
sentir seu… você sabe… seu fruto proibido. Você não apenas ouviu
ele atender esse telefone? Ele está falando com uma garota e ele não
atendeu o telefonema na sua frente. Isso não lhe diz alguma coisa?

─Brian, esqueça.─ Megan cutucou-o no braço, vendo como


Rafe estava ficando chateado. ─Rafe é um adulto. Ele sabe o que está
fazendo.

Brian empurrou sua cadeira e se levantou.

KM
─Então ele sabe que está sendo usado e eu não quero ficar
sentado assistindo.

─Não seja um idiota─, Rafe retrucou. ─Eu confio em


Jeremy. Ele é meu amigo como você é meu amigo. Eu não vou deixar
ele se aproveitar de mim. Mas talvez você ir para casa e voltar
quando não estiver com um humor tão mal-intencionado.

Brian lançou um longo olhar para o céu e enterrou as mãos nos


bolsos.

─Eu não estou tentando te chatear. Eu só não quero que você


se machuque como com Jason e os outros. Isso é tudo.

─ Olha, eu entendo. Eu agradeço mesmo. Mas você tem que


confiar que estou mantendo meus olhos abertos, não me deixando
levar cegamente.

Megan se levantou e colocou os braços ao redor de Brian,


trancando as mãos nos bolsos.

─Você é doce, Bri, mas você consegue ser um chato as


vezes. Vamos sair daqui... Eu tenho o turno da manhã.

─Sinto muito sobre a interrupção─, a voz de Jeremy soou pela


porta de tela quando ele abriu. Ele deu uma rápida olhada em
Megan e Brian se preparando para ir e ergueu as sobrancelhas em
surpresa. ─Eu não queria acabar com a festa. Era minha irmã; ela
precisava de ajuda com uma coisa.

Rafe não conseguiu segurar o sorriso presunçoso na frente de


Brian, e vendo isso, seu amigo revirou os olhos novamente.

KM
─Não se preocupe. Megan tem que trabalhar cedo amanhã e
ela quer ir para casa relaxar, ─Rafe rapidamente preencheu.

Megan apertou a mão de Jeremy e quando ela se moveu para


abraçar Rafe, Brian fez seu movimento.

─Jeremy, posso dar uma olhada no seu carro? Rafe disse que é
incrível.

***

Jeremy olhou para Rafe, que sorria desconfortavelmente.

─Claro─, ele finalmente respondeu. ─Agora?

─Por que não? Nós provavelmente não nos encontraremos


com frequência.

A maneira como Brian disse isso foi obviamente uma


escavação, mas Jeremy não queria aceitar a provocação e levar
adiante. Ele se moveu para seguir Brian para fora da casa e no
momento em que ele estava longe demais para voltar ao pátio, ouviu
Megan dizer a Rafe: ─Eu não tive a chance de dizer isso antes, mas
há um residente no hospital – aquele que eu te falei algumas
semanas atrás? Eu sei com certeza que ele é gay e ele
está realmente interessado em conhecê-lo.─ Suas palavras cortaram
a concentração de Jeremy e ele parou no limiar da sala de jantar,
intensamente curioso sobre qual seria a resposta de Rafe. Parecia

KM
que os dois tinham outras pessoas forçando relacionamentos
neles. Brian notou que ele estava congelado no lugar e levantou uma
sobrancelha como se soubesse exatamente por que Jeremy estava
esperando.

─Tudo bem?─ Ele perguntou significativamente.

─Sim. Não há problema─ respondeu Jeremy, engolindo sua


irritação enquanto procurava as chaves. Filho da puta. Não havia
como ele conseguir falar sobre isso com Rafe mais
tarde. Fantástico. Jeremy não se importava que soasse rude da parte
dele, mas ele mal podia esperar que Brian fosse embora. Megan era
legal, mas Brian estava agindo como uma grande idiota e Jeremy
estava ficando cansado da maneira como ele examinava cada coisa
que fazia.

─Megan quer unir Rafe com um médico com quem ela


trabalha. Ela esteve preparando o terreno por algumas semanas
agora. Ele deve ser um cara muito legal─, Brian ofereceu. Seu
comentário foi um pouco perfeito demais. A maneira como ele
deslizou casualmente a informação sob o nariz de Jeremy, o modo
como ele o observava pelo canto dos olhos. O temperamento de
Jeremy, não totalmente resolvido após o telefonema de Tracey,
incendiou imediatamente. Ele entendia a proteção, mas isso era
como se Brian estivesse tentando provar que Jeremy ia enlouquecer
e fugir assim que se sentisse desconfortável com a sexualidade de
Rafe. Foda-se isso.

KM
─Então, deixe-me ver se entendi. Rafe deveria pular no cara
estritamente por ele ter um bom trabalho? Isso realmente não soa
como algo que ele faria, francamente.

Jeremy destrancou o carro e abriu o capô quando Brian o


observou com os olhos apertados.

─Bem, não estritamente falando─, o tom de Brian era


calmo. ─Rafe gosta de caras assim, eu o conheço há muito
tempo. Ele provavelmente vai aceitar.

Jeremy queria rosnar, realmente deixar sair um rosnado de


vibrar as costelas. Então ele queria atacar Brian e esfregar o rosto do
homem na terra. Essa atitude onisciente, como se ele pudesse ler
tudo sobre Rafe como pessoa, estava irritando Jeremy.

Ele colou um sorriso falso no rosto e contornou o carro para


levantar o capô.

─Conhecer uma pessoa por muito tempo significa que às vezes


você pode perder coisas sobre ela. Quer dizer, do jeito que você está
falando, você pode muito bem dizer logo que ele deve namorar com
esse médico só porque ele é gay. Como se essa fosse uma
oportunidade que ele não deveria recusar.

O corpo de Brian se contraiu com o olhar inocente de Jeremy e


ele se inclinou sobre o motor, os tendões do pescoço inchados de
tensão.

─Não é fácil para ele conhecer caras, sabe? Por


que não aproveitar a oportunidade? O médico é próximo de sua
idade, bem-sucedido, disponível e gay.

KM
─ Merda, quão superficial você acha que Rafe é? Ele não é um
alpinista social, e ser gay não significa que um homem deva ser
forçado a responder aos caprichos de seus amigos héteros que por
acaso se depararam com outro cara gay que, por algum milagre, sabe
ler e escrever.

─Do jeito que você fala, quase parece que você pode ser gay.

É isso, pensou Jeremy.

─Você quer me juntar com Rafe então?─ Ele disparou de volta,


sua voz suave, mas seria. ─Sou jovem e disponível com um emprego
estável. Eu não sou médico, então você teria que abrir uma exceção,
mas pelo menos eu me preocupo mais com quem ele é do que se ele
é gay e pode pagar minhas contas.

Jeremy olhou para Brian, deixando que ele tomasse aquele


pequeno discurso do jeito que quisesse. Ele podia pensar que Jeremy
era gay o quanto quisesse e isso não importaria. Brian deveria ser o
melhor amigo de Rafe e ele passou mais tempo o desrespeitando
hoje à noite do que qualquer outra coisa.

─Ouça, Jeremy─, Brian sussurrou duramente. ─Eu não quero


que Rafe tenha esperanças em um cara que sabe desde o
começo que só vai machucá-lo. Não foda com o coração dele. Eu não
estou brincando.─ Brian olhou para ele de uma forma que fez
Jeremy querer limpar o sorriso de seu rosto, talvez com o taco de
beisebol que estava em seu banco de trás. ─Rafe gosta de você,
cara. E se você está apenas zombando dele, você vai se arrepender.

KM
Jeremy se inclinou e não pensou duas vezes sobre o que suas
palavras poderiam significar em um nível mais profundo. Ele só
sabia que se importava com Rafe e, tanto quanto Brian, não queria
vê-lo ferido. Sua voz era baixa e uniforme, e embora ele estivesse
realmente se jogando de uma forma que ele não tinha certeza, sabia
que isso irritaria Brian.

─Obrigado pelo aviso, mas o coração dele está em boas


mãos. Você pode dizer a esse médico para ir se fo-

─Belo carro, certo Bri?─ Rafe gritou da varanda da frente, sua


presença fazendo muito para difundir a tensão no ar. Jeremy ainda
estava ciente da maneira como os olhos de Megan analisavam
asperamente a situação.

─Você está dizendo que não é hetero?─ Brian resmungou


baixinho.

─Isso deve mantê-lo calmo hoje à noite.─ Ele sorriu e acenou


com a cabeça em direção a Rafe e Megan. ─Rafe fez uma pergunta.

Brian olhou para ele por um instante e lentamente se virou


para o amigo.

─Bastante─, ele respondeu.

KM
CAPÍTULO DEZ

Rafe observou enquanto Jeremy fechava o capô do Barracuda e


pegava suas ferramentas no banco de trás. Algo aconteceu entre ele e
Brian e a probabilidade de que tenha sido algo perturbador era
muito grande. Jeremy contornou o carro e parou na frente dele,
olhando por cima do ombro na direção em que o jipe de Brian tinha
ido.

─Seu amigo não gosta muito de mim─, disse ele, seu tom
despreocupado.

─O que diabos acabou de acontecer aqui?─ Rafe tinha que


saber agora.

Jeremy deu de ombros indiferentemente.

─Você estava certo. Ele é muito protetor com você.─ Rafe


começou a concordar, mas Jeremy não terminou. ─Ele não entende,
mas é importante que saiba agora.

A boca de Rafe secou com a nova luz nos olhos do amigo e


levou três tentativas para falar.

─O que ele não entende?─ Sua voz soou como lixa na


madeira. Jeremy jogou as chaves para cima e pegou-as na mesma
mão.

─Eu também sou protetor com você.─ Rafe balançou um


pouco, seu estômago fazendo uma dança de cancan contra seus rins.

─Por quê?─ Ele engasgou.

KM
As chaves subiram e desceram novamente. Ele as estava
arremessando.

─Isso importa?

─Eu não estou-

─Não. Não importa.─ Ele fez outro arremesso.


─Vamos. Vamos consertar sua máquina de lavar louça.─ Jeremy
assoviava ao passar por Rafe e voltou para a casa. Rafe respirou
fundo e soltou o ar lentamente antes de finalmente segui-lo.

***

─Ele é gay─, disse Brian sem preâmbulos naquela noite ao


telefone. Rafe, na verdade, afastou o celular do ouvido para encará-
lo por um segundo.

─De quem você está falando? Espere, isso é sobre o médico


que Megan está empurrando para mim? Eu sei que ele é gay. É meio
que um pré-requisito para mim.

─Não, idiota─, ele suspirou em irritação. ─Bem, sim, o médico


é gay, mas é a foda de Jeremy.

Rafe riu. Até que o xingamento de Brian o afogou.

─Foder Jeremy provavelmente seria uma coisa muito gay para


fazer.

KM
─Pare de rir. Estou falando sério aqui. Ele praticamente
escreveu isso para mim em letras grandes e brilhantes da Broadway
que vocês homossexuais gostam tanto.

A risada de Rafe lentamente diminiu e ele teve que


imediatamente empurrar para baixo a esperança crescente em seu
peito que por algum acaso, Brian estivesse certo. Seu sangue
começou a pulsar traidoramente em suas veias.

─Nós já passamos por isso─, ele disse asperamente. ─Jeremy é


hetero. Ele gosta de mulheres.

─Então isso é o que ele quer que você pense.

Uma imagem de Jeremy inclinado em direção a ele na porta - o


jeito que ele prometeu não machucá-lo - os olhares sutis que ele
lançara em Rafe a noite toda. Rafe olhou para ele em momentos
diferentes e, quando sorriu, Jeremy apenas olhou para trás, sua
expressão profunda e ilegível. E apesar de Rafe ter tentado negar
isso na frente de Megan e Brian, ele também havia percebido o
flerte. Não foi óbvio, mas estava lá. Jeremy o tocou com mais
frequência agora - nada muito grande, mas uma dinâmica
totalmente nova para os dois.

Deus, ele esperava que Brian não estivesse certo sobre Jeremy
usá-lo apenas para inflar seu ego. Alguns caras eram assim. Eles
tentavam ver se podiam transar com um cara gay, fazer com que ele
se importasse com eles e depois abandonar a cena quando
sentimentos reais se envolveiam. Tudo porque eles eram
inseguros. Ele rezou para que Jeremy não fosse assim.

KM
─Por que Jeremy quer que eu pense que ele é hetero quando
ele é realmente gay?─ Rafe argumentou. ─Isso é uma coisa que
teríamos em comum. Não faz sentido ele não me dizer.

─Faz muito sentido se ele estiver brincando com você, ou se


você for o primeiro homem dele!─ gritou Brian. ─Ele me disse que
gosta de você. Ele disse que seu coração está seguro com ele. Não
dele, mas com ele. Refute essa, chupador de pau.

Rafe piscou, querendo acreditar, mas vendo muitos buracos.

─Em primeiro lugar. Isso não significa que ele seja gay. Se ele é
hetero, ele ainda pode gostar de mim como pessoa, e é claro que meu
coração estaria seguro. Ele não está interessado nele. Em segundo
lugar, o que há com todos esses nomes, cara de bunda?

─Ele é gay, Rafe. Estou dizendo a você. Eu também estou


dizendo para você correr para bem longe da próxima vez que você o
vir chegando, porque ele vai rolar sobre você e sair do outro lado da
sua cama antes que você possa dizer: Bom dia, querido!

─Que imagem adorável─, resmungou Rafe. ─É realmente


ofensivo a falta de confiança que você tem em mim.

Brian bufou.

─Eu preciso te lembrar de todas as vezes que foderam com


você? Talvez precise dos nomes? Há Jason - o clone de Jeremy, Sean
- o motociclista, David - o restaurador... Agora chega! Eu conheci a
tempestade de merda do seu passado antes de Megan, e há muito
mais nomes do que você me contou.

KM
─Sim mas-

─O que? Você os deixou? Você está certo. Você é o mais


saudável agora.─ Rafe respirou fundo e se forçou a se acalmar.

─Jeremy não é um clone de Jason.

─Olhe para você!─ Brian gritou. ─É nisso que você escolhe se


concentrar? Hetero. Gay Bi. Seja o que for. Esse cara vai te
foder. Você deve correr, não andar, até o bom médico e dar uma boa
foda nele até ele não deixe você ir.

─Parece romântico─, disse ele em uma voz fria e digna. ─Eu


não vou mais falar sobre isso. Eu tenho uma reunião.

─Rafe. Eu só quero o melhor para você.─ Brian correu para


dizer.

─Sim. Tenho que ir.─ Rafe desligou e afundou-se nas


almofadas do sofá. O que Brian realmente queria era que Rafe
fizesse o que ele achava melhor. Não era a mesma coisa. O que quer
que estivesse acontecendo com Jeremy era seu negócio. Ele encerrou
esse assunto com Brian. Então ele provavelmente teria seu coração
arrastado pela sujeira, pisoteado, e frito, mas pelo menos seria algo
que ele escolheu enfrentar.

Pensou na expressão de irritação cômica no rosto de Jeremy


quando ele confessou sobre o telefonema de sua irmã. Nenhum dos
dois conseguia para as pessoas intrometidas que tentavam arranja-
los, mas, no mínimo, a conversa explodiu qualquer bolha que
pudesse ter se formado na mente de Rafe quando Brian “entregou”

KM
Jeremy. Ele disse que passou por inúmeros encontros armados por
sua irmã.

Parte da patética conversa, lembrou Rafe de que sua própria


mãe estava sempre tentando junta-lo com mulheres elegíveis e ele
não queria ter nada a ver com isso. Talvez fosse carma...?

Rafe gemeu e passou as mãos pelo cabelo até que seu couro
cabeludo soltou um protesto. Por que as pessoas não podiam deixa-
lo em paz? Por que sempre tentavam tomar as coisas em suas
próprias mãos como se não pudessem ser felizes até que brincassem
de Cupido e desse certo? Agora, na noite de sexta-feira, Jeremy seria
forçado a ir a um jantar idiota e conversar com uma garota,
enquanto Megan e Brian deixariam o amigo médico solto até que
Rafe aceitasse.

Ele e Jeremy provavelmente seriam mais felizes fazendo algo


parecido com o que tinham feito hoje: arrancar uma velha e
enferrujada máquina de lavar louças da parede e reparar os
danos. Rafe fechou os olhos e permitiu um pequeno sorriso
enquanto imaginava Jeremy se espremendo entre a máquina de
lavar louça e os armários enquanto tentava remover o cordão para
que pudessem tirar o pedaço de metal da parede. Sua camiseta preta
subiu, expondo o caminho esburacado de seu abdômen. Eles não
eram tão dourados quanto a pele de seus braços, mas eram muito
bronzeados. O que o cara fazia para se bronzear daquele jeito? Ele
não parecia o tipo que frequentava salão de beleza; era algo um
pouco caro demais. Talvez ele lavasse o carro sem camisa. E de
short. E-

KM
Whoa, amigo. O corpo de Rafe estava todo a bordo da fantasia,
mas ele não podia continuar. Essa era a receita para o
desastre. Deus, ele não seria capaz de olhar Jeremy nos olhos da
próxima vez que o visse se continuasse com isso. Toda vez que eles
fizessem contato visual, ele lembraria que se masturbou pensando
nele.

De jeito nenhum. Não mesmo.

Mas ele estava tão excitado agora.

Rafe se levantou com um sobressalto e rosnou para a sala


vazia.

─Ótimo. Feliz agora? Eu vou tomar um banho frio.

***

Rafe quase não dormiu e, embora estivesse acostumado a


acordar bem cedo, estava bocejando e esfregando os olhos cansados
enquanto esperava que Angelina Aragon aparecesse. Ele estava
exatamente onde tinha concordado em estar ao telefone no dia
anterior, estacionado na frente do Wal-Mart, cinco minutos antes
das sete e esperando que ela o encontrasse como ela disse que
faria. A loja ainda não estava aberta, mas havia muitos carros na
frente da mercearia vizinha e ele estava se misturando. Ele não se
lembrava do tipo de carro que Angelina dirigia, então ele ficou
atento aos recém-chegados, olhando até que os motoristas notaram

KM
e ele teve que se virar. Foi enquanto ele estava observando uma
mulher ao volante de um caminhão Chevy que Angelina apareceu e
bateu na janela do lado do motorista. Rafe saltou um pouco, mas ela
estava felizmente vasculhando o estacionamento e não percebeu.

Abaixando a janela, ele pediu a ela para dar a volta e entrar.


Ela deu uma última olhada ao redor e obedeceu, sentando-se
gentilmente no banco do passageiro com os dedos bem apertados no
colo. Seu sempre presente gravador estava no painel e ela piscou
algumas vezes quando ele pressionou o botão.

─Você me pegou desprevenido─, ele admitiu com um sorriso


para deixá-la à vontade. ─Eu não lembrava o tipo de carro que você
dirigia.

Ela sorriu fracamente e assentiu.

─Eu andei. Não é longe e, assim, se Hector perguntar depois,


posso dizer que estava andando.

─Perdoe-me, Sra. Aragon, mas se ele descobrir que você se


encontrou comigo, você estaria em algum tipo de problema?

Angelina levantou os olhos arregalados para ele, a boca aberta


em um “o” de surpresa.

─Hector nunca me machucou. Ele nunca iria me machucar.

─Sinto muito─, ele se desculpou novamente. ─Eu quero ter


certeza que você ficara bem, especialmente por temos que nos
encontrar assim. Isso me fez pensar.

KM
Ela estava agitada, enfiando o cabelo atrás das orelhas e
brincando com o zíper da jaqueta fina.

─Você tem que tentar entender Hector. Ele ama sua família
mais do que qualquer outra coisa. Quando ele acredita que um de
nós vai se machucar, seu temperamento pode ficar incontrolável,
mas ele nunca agiu contra nossos filhos, ou eu. Ele nunca espancou
Yesenia.─

Rafe teve que engolir uma onda de nojo ao pensar no que


Hector poderia ter feito. Ele tinha que pisar com cuidado aqui. Se ele
revelasse demais para Angelina, ela provavelmente enfrentaria
Hector e ele não poderia ter isso até que ele tivesse alguma evidência
sólida. Se ele estivesse errado e Hector descobrisse, a investigação
seria interrompida e quem sabe como ele trataria Angelina. Suas
perguntas tinham que ser feitas de uma forma que ela não pegasse o
que ele estava dizendo.

─Eu falei com Angel, Sra. Aragon, assim como sua sobrinha,
Grace. Ambos me disseram para conversar com você sem o seu
marido para que eu pudesse talvez conhecer mais sobre a dinâmica
entre ele e sua filha.

─Ele a ama muito, detetive. Ele só quer que ela volte para casa.

Rafe deixou suas palavras pairarem no ar entre eles enquanto


considerava seu perfil. Ela ainda era uma mulher muito bonita,
embora linhas de estresse e preocupação fossem proeminentes em
torno de seus olhos. Sentia muito por ela e, se essa investigação
terminasse do jeito que ele temia, ele se sentiria ainda pior, mas
estaria associado ao pensamento de que ela poderia ter detido o que

KM
estava acontecendo em sua casa. Parecia haver uma cortina de
negação diante de tudo que tinha a ver com a verdadeira natureza do
marido. Ela o achava inofensivo.

─Você pode me dizer de novo o que aconteceu na noite em que


ela desapareceu?─ Ele começou, observando sua reação de perto.

As inquietudes recomeçaram e Rafe observou-a com


expectativa, não muito surpreso com o aparente
desconforto. Ninguém gostava de reviver o desaparecimento de um
membro da família.

─Hector e Yesenia tiveram outro desentendimento sobre


Angel. Ele não quer que nossa filha namore alguém agora, e ele não
gosta especialmente de Angel porque ele acredita que ele está preso
em uma gangue.

Suas palavras implicaram sua falta de concordância.

─Você não pensa o mesmo.

Ela lambeu os lábios e suspirou.

─Ele é um bom menino. Eu deixava que ele viesse as vezes


quando sabia que Hector não iria descobrir, ou voltaria para casa e o
encontraria lá.─ Angelina encontrou seu olhar com uma suplica em
seus olhos. ─Você tem que entender, detetive. Eu não gosto de ir
contra o meu marido. Eu o amo. Eu o respeito. Mas eu tinha que
fazer tudo ao meu alcance para não perdê-la. Todos os dias pensava:
'Este é o dia em que ela fugirá da ira de seu pai'. Se eu pudesse
impedir que isso acontecesse, permitindo-lhe tempo com Angel,
então era isso que eu faria. Eles nunca ficavam sozinhos em nossa

KM
casa. Eu estava sempre com eles. Yesenia sabia que eu iria deixá-la
ver Angel quando seu pai não estava. Eu não poderia perdê-la,
entende? E agora, aconteceu mesmo assim.

─Você acha que a última briga foi o que a fez ir embora?─ ele
perguntou, tomando nota da maneira como ela disse que não
poderia perder sua filha. Era possível que apenas a necessidade
pudesse estar na raiz de sua negação.

─Eu acho que Yesenia é jovem. Eu acho que mesmo com uma
mãe disposta a ajudá-la, ela viu apenas um caminho aberto para ela
e ela foi embora para que pudesse ver Angel sempre que ela
quisesse.

─ No entanto, relatórios policiais e até mesmo minha própria


investigação mostram que ela não entrou em contato com ele desde
que ela desapareceu. Ela não está com ele. Por que você acha que ela
faria isso?─ Angelina balançou a cabeça e puxou os fios soltos de
cabelo em volta do rosto novamente.

─Eu não sei. Talvez ela esteja esperando que as emoções


esfriem. Ela pode estar pensando que, se o pai tiver tempo de se
acalmar - ou se a ausência dela se instalar em Hector e for pior do
que o pensamento dela namorando com Angel - que toda essa
situação pode ser resolvida. Yesenia é inteligente. Ela conhece bem o
pai.

Rafe mordeu a língua para não dizer que ela poderia ter
conhecido seu pai muito bem e contra sua vontade.

KM
─Quando é o aniversário de Yesenia?─ Ele se perguntou se ela
juntaria a mesma coisa que Grace revelara.

─Muito em breve, na verdade─, Angelina respondeu com


surpresa. ─Eu esqueci completamente com tudo que está
acontecendo. Ela fará dezoito anos.─ Rafe apenas olhou de volta
para Angelina e lentamente ergueu as sobrancelhas quando a luz
amanheceu em seus olhos. ─Yesenia será uma adulta legalmente─,
ela sussurrou. ─Você acha que é por isso que ela está esperando para
voltar para casa?

─Eu acho que é uma possibilidade─, ele murmurou. ─Você


está certa, ela é jovem. Às vezes, medidas drásticas são o único
caminho a percorrer quando a juventude entra no caminho da
experiência. Ela pode estar pensando que é a única maneira de
resolver o problema: esperando até que ela seja maior de idade e
possa voltar para casa, e assim ela terá a liberdade de poder namorar
quem ela quiser, porque ela é uma adulta. ─Angelina assentiu,
esperança brilhando nos olhos dela.

─Se for esse o caso, ela pode voltar para casa muito em breve.

Rafe detestava ter que corta-la, porque ele não fazia ideia se
Yesenia estava esperando por um aniversário, ou pior, se
escondendo de um pai que abusava dela regularmente.

─Senhora. Aragon, você pode voltar para a noite em que ela


desapareceu? O que aconteceu depois da briga? Que horas eram?

Levou um momento para Angelina voltar a bordo com a


entrevista, já que sua mente obviamente tinha dado um salto para a

KM
filha estar confortável em casa em três semanas. Suas mãos
apertaram em seu colo e ela olhou para elas por um longo tempo
antes de virar todo o corpo para encará-lo.

─Eu não estava em casa─, disse ela, com lágrimas nos


olhos. ─Aquela noite. Não sei o que aconteceu exatamente porque
não estava em casa.

Rafe piscou uma vez, devagar, mas não deu outra indicação de
que sua confissão era desconcertante para o caso e colocou o marido
ainda mais longe no rio da culpa. Ele respirou fundo para se firmar e
ordenar o súbito tumulto de perguntas em sua cabeça.

─Você declarou em minha entrevista inicial com você que


estava em casa quando seu marido descobriu que ela estava
desaparecida.

Ela assentiu culpada.

─Eu disse a Hector que eu iria junto com essa história porque
era mais importante que Yesenia fosse encontrada do que qualquer
outra coisa.

Rafe concordou e discordou ao mesmo tempo.

─Por que isso importaria? Por que o Sr. Aragon precisaria que
você me dissesse isso? Seria muito fácil obter os registros do seu
trabalho que dizem onde você estava naquela noite. Você também
mentiu para a polícia sobre isso. Por que você teve que confirmar a
historia dele?

KM
Angelina descansou o rosto nas mãos e estremeceu antes de
olhar para ele.

─Eu não sei, detetive. Ele não queria que ninguém pensasse
que ele a machucou ou a expulsou. Se eu dissesse que estava em
casa, então, eu poderia concordar com o que ele disse e a polícia
poderia descobrir aonde ela está.─ Ela juntou as mãos sob o queixo
como se estivesse rezando para ele ou implorando. ─Estou lhe
dizendo a verdade agora. Eu prometo. Sem mais mentiras. Só quero
que minha filha volte para casa.─ Rafe não tinha muito a dizer sobre
isso. Ele já sabia que Angelina queria que Yesenia retornasse, mas
ficou perplexo com a maneira como a família, as pessoas que o
contrataram, pareciam estar usando seu tempo para interferir na
investigação, em vez de ajudá-la. Era ridículo.

─A que horas você chegou em casa naquela noite?

Angelina engoliu em seco e recostou-se, as mãos rolando de


um lado para o outro no colo.

─Ele ligou quando descobriu que ela tinha desaparecido, antes


de chamar a polícia. Nove e trinta talvez; Não me lembro de tudo. Eu
cheguei em casa e ele chamou a polícia. Eles não podiam fazer nada
até que ela estivesse desaparecida por vinte e quatro horas, mas ele
explicou que parecia que ela tinha sido roubada de casa, não como
se ela tivesse fugido, então a polícia veio. Ele queria alguém
procurando por ela imediatamente. Percebi depois que ela deve ter
fugido.

─Então seu marido ligou para você no trabalho, você correu


para casa e ele lhe mostrou o banheiro com a janela aberta e sem

KM
Yesenia?─ Rafe trocou a história de propósito para ver se Angelina
ainda estava mentindo. Se ela soubesse que Yesenia havia
desaparecida no banheiro, ela não iria corrigi-lo - pelo menos ele
esperava que não, mas com Hector ocultando todas as informações,
parecia improvável que ele teria dito a Angelina a mesma coisa que
ele deixou escapar para sua irmã .

─Bem, sim. E não. Ele me mostrou o quarto dela. Foi de onde


ela desapareceu.─ Rafe passou a mão pelos lábios e abafou um
suspiro. Ela não estava mentindo. Ela queria chegar ao fundo disso,
tanto que estava encontrando-o atrás das costas do marido e
admitindo suas outras mentiras. Ele debateu corrigi-la e deixá-la
saber a verdade, mas ele não poderia arriscar caso ela comentasse
algo com Hector, que estava praticamente brilhando com
desconfiança no radar de Rafe.

─O quarto dela. Certo.─ Ele olhou para fora do pára-brisa para


disfarçar a preocupação em seus olhos. ─Senhora Aragon, você diria
que, além das brigas por Angel, Yesenia e seu marido eram
próximos?─ perguntou ele, mudando de assunto com cuidado.

─Ai sim. Ela é o mundo para ele. Desde o dia em que ela
nasceu. Ele gosta de mantê-la em casa trancada, e quando ela sai, ele
se preocupa que ela vai se machucar ou ser arrastada com a
multidão errada. Ele é muito protetor com ela.

─Isso é o que Angel e Grace disseram─, ele concordou. ─Eles


disseram que ele a observava o tempo todo.─ Angelina
definitivamente não estava seguindo a mesma ideia que ele.

─Ele odeia pensar nela se machucando, isso é tudo.

KM
─Eu agradeço por você me dar a chance de falar com você
sobre isso, Sra. Aragon. Eu sei que não é fácil imaginar onde sua
filha está.

Ele a surpreendeu novamente e ela se mexeu


desconfortavelmente no banco do passageiro.

─Essas são todas as perguntas que você tem?

Para ela, certamente sim. Ela não era a culpada por esse
desaparecimento.

─É isso─, ele disse gentilmente. ─Se houver mais alguma coisa


em que eu possa pensar, ligarei para você. Eu também não direi ao
seu marido que falei com você sozinha.

Ela agradeceu e ofereceu uma mão trêmula.

─Sinto muito que eu tenha mentido para você. Eu prometo a


você que eu não menti hoje, ─sua voz tremeu e ele acariciou sua mão
em conforto.

─Esqueça isso─, ele murmurou. ─Eu entrarei em contato


assim que eu souber mais.─ Ele manteve para si mesmo que se ele
tivesse todas as suas provas ele teria que apresentar a informação
para os oficiais responsáveis pela investigação e ele não podia dar
uma garantia de que a mentira que ela disse poderia ser esquecida.

Angelina foi para a maçaneta da porta e quando estava prestes


a fechar a porta do passageiro atrás dela, ele chamou o nome dela.

KM
─Seu filho esteve longe? Eu tenho tentado chama-lo para uma
entrevista e ele não está retornando minhas ligações.

─Ele está em casa─, ela admitiu com uma expressão


curiosa. ─Eu falei com ele ontem. Acho que ele está se enterrando no
trabalho, sabe, tentando lidar.

Rafe se sentiu culpado por imediatamente duvidar que era o


caso e amaldiçoou mentalmente. Nada era como parecia,
aparentemente. Ele deu a ela outro aceno e ligou o caminhão.

─ Suponho que vou continuar tentando.

Angelina se despediu e atravessou o estacionamento na


direção de casa. Rafe sacudiu a cabeça, desapontado. Até agora, a
única coisa boa que tinha vindo desse trabalho foi conhecer Jeremy,
e parecia que ele ia precisar da ajuda do cara para caçar Carlos.

CAPÍTULO ONZE

Jeremy ligou o carro e o ar-condicionado, rezando para que ele


ajudasse a diminuir o suor agressivo que ele sentia escorrer na
pele. Ele fechou as janelas esperando o ar entrar em ação e puxou o
celular. Foi o primeiro momento livre que ele teve naquele dia para
retornar chamadas, e entre as duas ligações de sua irmã e uma de
Rafe, ele sabia qual era a mais importante em sua lista.

KM
Ele vasculhou seus contatos até que a tela destacou o nome do
detetive e, em seguida, apertou chamar. A ligação caiu no correio de
voz e Jeremy teve que engolir uma emoção parecida com decepção
quando deixou sua mensagem para Rafe.

─Ei cara, é Jeremy. Recebi sua mensagem de hoje cedo, mas


não tive um minuto livre até agora. Acabei de sair do meu turno, mas
acho que posso ajudá-lo com o lance do Carlos. Eu sei onde ele
mora, pelo menos, então se você quiser, talvez a nossa melhor aposta
seja dar uma volta e ver se ele está em casa. Não há razão para ele
estar evitando suas ligações - se é isso que ele está fazendo. Enfim...
me ligue quando você ouvir isso. Estou a caminho de casa.

Quando Jeremy desligou, ele se perguntou o que Rafe estava


fazendo para mantê-lo longe do telefone. Ele só conhecia o cara há
alguns dias, então ele não tinha certeza de como o seu trabalho de PI
funcionava no dia-a-dia. Ele sabia muitas outras coisas, no entanto.

Como: Rafe era gay. E que ele era excelente em seu trabalho e
muito respeitado pelos caras da força. Ele jogava futebol e gostava de
cheeseburgers duplos com bacon. Ele até comia semanalmente em
um trailer de burrito no centro da cidade. Ele namorou um cara
chamado Jason. E o idiota, Mark. Ele não se dava bem com o
pai. Seu melhor amigo estava quase mijando em torno de Rafe para
manter Jeremy longe.

Essa era muita informação importante que a maioria das


pessoas não descobriria sobre um novo conhecido em tão pouco
tempo e Jeremy já estava sabendo. Eles passaram um tempo
razoavelmente bom juntos e ele até ajudou o cara a arrastar a

KM
máquina de lavar louça de uma tonelada de debaixo do balcão para a
garagem. Onde ele teve outro vislumbre dos jet skis que Rafe havia
comprado com Mark.

Argh.

Mas... Rafe era realmente... O que ele era? Ele era muito
bom. Descontraído. Engraçado. Vulnerável.

Jeremy estremeceu com a lembrança da expressão no rosto de


Rafe quando confessou que seu amigo estava preocupado com o fato
de ele ser machucado por Jeremy. Ele ainda queria fechar a cabeça
de Brian no capô de seu carro por ser tão idiota quanto a
isso. Olhando para Rafe na noite passada, quando ele disse que não
iria machucá-lo, tinha feito alguma coisa para Jeremy. O modo como
Rafe endureceu de dor e seus olhos praticamente brilharam,
cortaram Jeremy profundamente.

Ele quis dizer cada palavra do que ele disse e ele ainda estava
muito chateado com Brian para realmente pensar sobre o que o cara
poderia dizer a Rafe sobre ele. Tudo o que ele sabia era que, como
ele disse, o coração de Rafe estava seguro com ele, isso era...
bom. Parecia certo.

Ele poderia tentar dizer a si mesmo que simplesmente quis


dizer que Rafe não precisava se preocupar com Jeremy quebrando
seu coração porque ele não era gay e não iria mexer com ele, mas ele
também não era ingênuo. Você não tem que ter a mesma orientação
sexual que outra pessoa para machuca-las, ou fazê-las se importar
com você. E quando ele disse aquilo, ele não estava pensando nisso
dessa maneira. Jeremy só pensara em Rafe estar a salvo com

KM
ele. Que ele iria protegê-lo. O cara já era seu amigo e amizade era um
grande problema para Jeremy.

Quando chegou em casa, foi direto para o banheiro, colocando


as roupas suadas no cesto e ligando o chuveiro. Ele estava feliz por
ter corrido cedo naquela manhã e não precisava se preocupar com
um treino agora. Ele estava cansado; o sol tinha sugado a força para
fora dele.

De pé sob o fluxo constante, ele descansou as mãos contra a


parede de azulejos e deixou a água escorrer sobre ele. Ele baixou a
cabeça e gemeu com a sensação enquanto seus músculos
relaxavam. Ele ficou daquele jeito por um tempo antes de se
endireitar e pegar o sabonete. Criando espuma, ele passou por cima
de seu corpo superficialmente até que sua mão roçou o peso de suas
bolas e um choque quase elétrico passou por ele.

Ele virou as costas para a água e tentou se lembrar da última


vez que cuidou dos negócios. Fazia um tempo desde que ele fizera
sexo - ele não se importava com isso - e talvez uma semana e meia
desde que ele se masturbou. Não admira que o breve contato o
tivesse deixado duro.

Jeremy jogou o sabonete de volta em seu chuveiro e correu as


mãos ainda ensaboadas pelo estômago até que a direita dele segurou
seu pênis e ele deu um golpe lento e proposital. Um grunhido baixo
escapou de sua garganta e ele deixou sua cabeça cair de volta no
fluxo de água enquanto ele encontrava um ritmo que tinha seu
sangue acelerando em suas veias.

KM
Quando ele fechou os olhos, flashes de imagens surgiram em
sua mente: mãos, olhos, corpo, sexo. Seu afago aumentou, seu braço
flexionando mais forte quando ele começou a se dar prazer e sua
mão esquerda bateu na parede enquanto ele se movia.

Do nada, um par de olhos azuis gelados se filtrou em sua visão,


depois um rosto de queixo forte emoldurado por ricos cabelos
negros. Os lábios se abriram em um sorriso secreto, sabendo que a
figura estava lá observando cada movimento de Jeremy.

Seu pênis pulsou em sua mão e ele gemeu novamente, incapaz


e sem vontade de afastar a imagem de sua mente. Ele estava
sozinho. Só ele sabia o que estava acontecendo naquele exato
momento. A imagem em sua mente se arrastou para baixo sobre um
peito forte e abdominais sólidos envoltos em pele morena que
brilhava de suor. Então, a imagem estendeu a mão para Jeremy,
uma mão se esticando para tocar seu corpo.

Todo o corpo de Jeremy se apertou em antecipação e ele fez


uma careta contra a deliciosa tortura do momento. Foda-se
sim! Toque-me, sua mente implorou. Sua cabeça disparou para trás
e outro gemido escapou.

A imagem em sua mente sorriu lentamente, intencionalmente,


quando a mão agarrou seu pênis latejante e acariciou uma vez. Duas
vezes. Uma terceira vez.

Um grito sufocado arrancou da garganta de Jeremy quando ele


gozou, os esguichos quentes e líquidos correndo por sua mão e
estômago. Ele se tocou até ficar sensível demais para continuar e

KM
depois afundou no chão do chuveiro, sua respiração entrecortada
enquanto seu corpo se recuperava.

Lágrimas inesperadamente encheram seus olhos e ele lutou


contra um soluço histérico. Rafe? Ele acabou de gozar pensando
em-

Deus, o que estava acontecendo com ele? O que estava


errado? Ele não se conhecia mais.

***

O telefone de Jeremy tocou tarde naquela noite, enquanto ele


zoneava no sofá assistindo a um leilão de carros. Ele gastou cada
segundo desde o banho fingindo que não tinha feito o que tinha
feito, mas a visão do nome de Rafe no display do telefone fez tudo
correr de volta. Ele disse a si mesmo pela centésima vez que era uma
casualidade estranha e não significava nada enquanto atendia ao
telefone - como um sonho que não podia evitar acontecer. Ele
deveria agir como se nada tivesse acontecido, e ser o seu eu normal
resolveria isso. Tinha que resolver.

─Rafe, você recebeu a minha mensagem?─ Ele perguntou,


imaginando se sua voz iria denunciá-lo.

─E aí cara. Sim, desculpe por isso. Eu tive treino de futebol


hoje a noite. Temos outro jogo na semana que vem.─ Houve um
ruído arrastado no fundo e Rafe parou por um minuto. Ele deve ter

KM
aberto a porta, pensou Jeremy. ─Está tudo bem?─ Rafe
perguntou. ─Você parece chateado.

Jeremy provavelmente iria pro inferno, mas ele não conseguiu


se controlar. Outra imagem daquele sorriso lento se espalhando
pelas feições de Rafe passou por sua mente e ele jogou o controle
remoto através da sala. Com força.

─Que diabos foi isso?─ Rafe suspirou, obviamente,


preocupado com Jeremy por um instante.

─Nada─, ele murmurou de volta. ─O controle remoto caiu.

─Parece mais ter explodido.

─Talvez─, ele admitiu de má vontade e percebeu o quão


completamente ele estava falhando em atuar casual. Parte dele
queria deixar escapar que ele havia pensado em Rafe - como se ele
estivesse procurando por penitência, perdão ... ou terapia. O lado
racional conseguiu agarrar o primeiro pensamento e estrangulá-lo
até a submissão. ─Então, você está tendo problemas com Carlos?

Depois de uma pausa tensa, Rafe respondeu.

─Ter problemas com ele é meio impossível, porque não


consigo encontrar o cara. Você disse que sabe onde ele mora?

─Ele mora nos apartamentos em Wyoming, os mais


simpáticos. Eu só sei porque a mãe dele disse ao meu pai um tempo
atrás durante uma das conversas no bairro deles.─ Jeremy limpou a
garganta e disse a si mesmo para superar isso enquanto perguntava:
─Você quer que eu leve você até lá?

KM
─Ainda não. Eu vou descobrir se ele está trabalhando à noite e
dar a ele o benefício da dúvida uma última vez. Deixei-lhe outra
mensagem hoje. Amanhã, se eu não tiver ouvido nada, vou passar
por lá.

─Você quer companhia?─ Jeremy ofereceu, abruptamente não


gostando da ideia de Rafe ir ver Carlos sozinho e não sabia por quê.

─Isso poderia funcionar. Você não tem planos para quinta-


feira a noite?

Ao fundo, Jeremy ouviu Rafe abrir uma cerveja e sorriu,


sentindo-se mais parecido com ele mesmo. Ele correu sua agenda, e
então gemeu no telefone.

─Merda. Tenho outro treino de softbol, embora possa ser


cancelado.─ Jeremy pensou por um segundo. ─Se eu não puder ir
depois do trabalho, posso encontrá-lo durante o dia de serviço ou ir
no dia seguinte, desde que não seja à noite. O jantar idiota da minha
irmã é sexta-feira.

Rafe riu de maneira antipática.

─Eu esqueci disso. Bem, posso deixar você saber se Carlos


entrar em contato comigo, e se não, descobriremos a próxima parte
depois disso. Preciso falar com ele o quanto antes. A conversa que
tive com a mão dele me deixou desconfortável.

Jeremy levantou-se e desligou a TV sem o controle remoto,


ouvindo a preocupação na voz de Rafe.

─Então ela apareceu?

KM
─Sim. A melhor parte é que ela admitiu ter mentido para mim
e para os policiais sobre estar em casa na noite em que sua filha
desapareceu.

Jeremy amaldiçoou.

─Exatamente─, concordou Rafe, cansado. ─Ela também está


alheia a algumas outras coisas que eu ouvi ao questionar Angel e sua
sobrinha que fazem Hector parecer muito sujo.

─Você ainda acha que... ele realmente poderia ter feito algo
para ela?─ Jeremy perguntou, seu estômago revirando com o
pensamento.

─Eu não vou dizer com certeza ainda, mas algo está
seriamente errado com o relacionamento deles. Angelina tem estado
tão focada em manter sua filha em casa que ela tem negado as ações
de Hector. Ela está disposta a dar desculpas para o marido de um
lado e do outro, como se nem lhe ocorresse que ele poderia ter ferido
Yesenia. Eu tenho que ter a perspectiva de Carlos. Ele está se
esquivando; Eu sei que ele está por perto porque ele falou com
Angelina ontem. Hector é a próxima grande entrevista.

Jeremy suspirou e desmoronou de volta no sofá.

─Sinto muito, cara. Esta é uma tempestade de merda. Eu me


sinto muito mal com isso.

─Você vai começar com isso de novo? É o meu trabalho. Se


não fosse isso, então eu estaria caçando pessoas por fraude de seguro
ou fazendo chatas verificações de fundo, ─ele riu. ─Isso é melhor

KM
para me manter em forma. E, além disso, sem o emprego, você não
me aceitaria como amigo e estaria perdendo.

Jeremy bufou e passou a mão pelo rosto. Se Rafe soubesse. Ele


permaneceu em silêncio e simplesmente ouviu os ruídos de fundo
vindos do fim da linha de Rafe.

─Ei─, Rafe deixou escapar: ─Eu tenho uma tonelada de sobras


de hambúrgueres da noite passada, se você não tiver comido. Sinta-
se à vontade para vir aqui. Ainda há muita cerveja também.

O corpo de Jeremy aqueceu e ele sacudiu a frente de sua


camiseta para fazer o ar fluir novamente. Ele tossiu e viu quando sua
perna começou a tremer.

─Você está aí?

─Chego em quinze minutos─, disse Jeremy derrotado e


encerrou a ligação.

***

Ele adormeceu no sofá de Rafe. Jeremy comeu um


hambúrguer, tomou metade de uma cerveja e, enquanto Rafe
tomava banho, ele se tomou mais cinco... ou vinte. Ele não ouviu
quando Rafe voltou para a sala de estar, ou quando ele se sentou na
cadeira próxima e começou a trabalhar em suas anotações. Rafe
apenas o deixou dormir.

KM
Jeremy não acordou até que o gentil arrastar de papéis
lentamente invadiu seu estado semiconsciente. Suas pálpebras se
abriram e ele se viu esparramado no sofá e olhando para a expressão
preocupada de Rafe.

─Desculpe─, seu amigo sussurrou culpado. ─Eu estava


tentando ficar quieto.

─Merda...─ Jeremy murmurou. ─Quanto tempo eu dormi?─


Ele notou que em algum momento desde que ele tinha adormecido,
Rafe o tinha movido para que ele estivesse esticado sobre o
comprimento do sofá com os pés pendurados na borda.

─Algumas horas─, Rafe respondeu suavemente. ─Você parecia


tão cansado que não quis te acordar.

─Que horas são?

─Perto de dez.─ Jeremy gemeu quando ouviu a resposta e se


desculpou. ─Você pode ficar aqui esta noite─, Rafe disse. ─Eu tenho
um quarto de hóspedes e um segundo banheiro.

A ideia era tentadora por uma série de razões, e Jeremy pensou


nisso quando ele esticou as dobras de seu corpo. Por um lado, ele
estava tão confortável que não queria se mover, muito menos se
arrastar até o carro e dirigir para casa. E ele não sabia exatamente
como descrever, mas foi meio que bom acordar porque alguém
estava tentando ficar quieto ao redor dele... Rafe foi meio doce por
cuidar dele assim quando ele provavelmente preferia que seus
convidados ficassem acordados para conversar. Ele franziu a testa e
esfregou as mãos sobre o rosto, sabendo que ele tinha que se

KM
levantar e sair. Depois dos eventos estranhos da noite anterior, onde
ele disse cada coisa ultrajante que me veio à mente, e toda a coisa do
chuveiro - que ele imediatamente se lembrou que ele não deveria
pensar - ele estava ficando muito estranho em torno de Rafe. Jeremy
precisava ir para casa e se concentrar e... bem por falta de uma
palavra melhor...endireitar11 sua cabeça. Merda. Ele abriu os olhos,
pronto para se despedir e congelou. Seu alongamento puxou sua
camisa por uma fração e o olhar de Rafe estava fixo na pele
exposta. A expressão em seus olhos azuis gelados era tão
quente. Jeremy sentiu o olhar queimando em seu corpo e não tinha
ideia de como proceder.

Foi apenas a segunda vez que Rafe baixou a guarda o suficiente


para deixar Jeremy ver que ele talvez sentisse atração por
ele. Houvera momentos de contato visual que o amigo havia
mantido um pouco longo demais para ser normal, mas nunca algo
tão evidente quanto o desejo que Jeremy via agora. Sua garganta
ficou seca e sua mente disparou de volta para aquele momento no
chuveiro, do mesmo jeito que Rafe olhava agora, criando o mesmo
zumbido pesado sob sua pele. Seu corpo estava tão quente que
parecia febril.

Ele fechou os olhos e sentou-se com um empurrão, apavorado


demais para ficar parado. Quando ele olhou para cima novamente, a
paixão que ele viu nos olhos de Rafe se foi e ele estava de volta a ser
o amigo preocupado. Se Jeremy não tivesse captado aquele
momento antes, ele nunca teria descoberto. Rafe era profissional em

11
A palavra que ele usou no original pode ser traduzida tanto como reto/direito e variações disso
quanto hetero.

KM
esconder seus pensamentos - ele tinha que fazer isso todos os dias
no trabalho.

─Está tudo bem se você quiser dormir aqui. Parece que você
está quase morto, o que provavelmente faz você se sentir duas vezes
mais cansado.─ Rafe até soava normal. Não era justo. Jeremy estava
agradecido que o cara não tivesse ideia do que estava acontecendo
em sua cabeça. Ele não estava mais cansado. Ele estava excitado.

─Não, eu agradeço─, ele murmurou, ─mas é melhor eu ir para


casa. Desculpe por isto. Eu não queria vir e desmaiar.

Rafe riu e a pele de Jeremy formigou ao ponto que ele teve que
sacudir as mãos algumas vezes para se sentir de volta ao
controle. Quando ele se levantou, Rafe se levantou para segui-lo,
mas Jeremy o dispensou e deu-lhe um rápido tapinha no ombro, em
adeus. Pessoas confusas não faziam coisas assim. Jeremy ia sair da
casa de Rafe inteiro depois de tudo.

─Obrigado pelo hambúrguer e as cervejas...─ ele disse


rapidamente, então percebeu que sua mão tinha se acomodado no
ombro de Rafe e não estava se afastando. Rafe estava olhando para
ele com uma expressão velada, sua reação bem escondida.

─Um ... sim.─ Ele ergueu a mão do ombro quente de Rafe e se


moveu para a porta. ─Da próxima vez você pode vir para
o meu lugar e desmaiar no meu sofá.─ As palavras saíram antes que
ele realmente tivesse pensado e ele estremeceu com a imagem que
isso criou. Rafe riu baixo e rouco.

KM
─Nós vamos ligar mesmo assim. Ah, e eu vou deixar você saber
o que acontece com Carlos amanhã. Ligarei para você assim que eu
descobrir o que está acontecendo.

─Claro ... amanhã─, disse Jeremy, e então, com um rápido


aceno, ele saiu de lá praticamente correndo.

Isso não poderia estar acontecendo. Isso não poderia


continuar. E o que diabos era isso? Sua curiosidade... ou repentina
obsessão... ou o que quer que fosse, não deveria estar fazendo com
que ele agisse assim. Jeremy sentiu um enorme desejo de voltar para
dentro e forçar Rafe a dizer-lhe o que diabos estava acontecendo
entre eles, ou afastar-se da casa e nunca mais ver Rafe
novamente. Ambas as possiblidades o assustavam pra caralho.

KM
CAPITULO DOZE

Rafe observou Jeremy pelas persianas da janela da frente. Seus


pulmões se apertaram quando Jeremy parou na entrada, como se
estivesse pensando em voltar para dentro da casa. Rafe queria muito
que ele se virasse, e foi exatamente por isso que ele se sentiu melhor
quando Jeremy se moveu de novo e saiu de sua garagem.

Quão triste era isso? Rafe sentiu que poderia reconhecer o som
daquele Barracuda em qualquer lugar. Ele provavelmente ficaria
alerta para sempre, assim que sua investigação terminasse e ele não
pudesse ver Jeremy com tanta frequência, ou nunca mais. Toda vez
que ele ouvisse o rugido rouco de um muscle car12, sua cabeça
provavelmente giraria a procura de um vislumbre de um loiro alto.

No entanto, ao mesmo tempo, quanto mais cedo ele


terminasse essa investigação, melhor. A perspectiva de não ter uma
desculpa para ver Jeremy sempre que quisesse o entristecia, mas ele
não podia negar que estar perto do homem estava se tornando mais
difícil a cada dia. Rafe estava lutando para manter suas expressões e
pensamentos em segredo. Ele teve sua parcela de paixões por
homens heterossexuais, mas essa era a primeira e pior em um longo
tempo. Rafe tinha se acostumado a ser capaz de flertar quando ele
estava interessado, manter o contato visual, ou tocar um cara
casualmente... Agora, aqui estava ele, totalmente interessado um

12
é um termo usado para definir uma variedade de carros com potência, tamanho e performance
elevadas. Conforme o Webster's Dictionary, é definido como "Um grupo de carros americanos
esportivos ou coupé com 2 portas e motor potente".

KM
cara e incapaz de fazer qualquer um desses, sem deixar Jeremy
desconfortável ou irritado.

Já era tarde demais para ele. Rafe sabia disso


completamente. Sua atração por Jeremy era instantânea, e a
dificuldade ignorar isso só piorava tudo, e todo o tempo gasto com
ele estava arruinando Rafe. Ele honestamente pretendia trabalhar
esta noite enquanto Jeremy dormia; ele até tirou suas anotações com
a intenção de olha-las a fundo. Em vez disso, ele observou-o
descansar. Jeremy dormia com as mãos no estômago. Ele não
roncava. Rafe achou fascinante observar a sutil ascensão e queda de
seu peito enquanto respirava, e ver Jeremy daquele jeito o fez
desejar que o homem fosse dele... Que eles estivessem juntos e que
esta fosse apenas mais uma noite comum para eles.

Jeremy acordou, o que despertou Rafe de sua fantasia, mas ele


quase derrubou todas as paredes cuidadosamente construídas ao ver
Jeremy se espreguiçando. Aquela pele dourada de seu estômago, tão
tentadora para ele, quase o fez pular no sofá e beijar Jeremy. Ele
queria mostrar a seu amigo o quão bonito poderia ser, mas Jeremy
provavelmente discordaria. Graças a Deus, ele não havia notado o
deslize de Rafe.

Ele tinha que tratar apenas de negócios a partir de agora, Rafe


decidiu. Não mais desejar um relacionamento que nunca iria
acontecer, ou fantasiar sobre um homem que não o queria. Ele iria
se concentrar em fazer o que tinha que fazer para terminar sua
investigação e se ele pudesse manter Jeremy fora disso, ele
faria. Sem mais ligações para falar sobre o que ele descobriu. Havia
mais de uma maneira de fazer Carlos parar de se esquivar dele; ele

KM
não tinha que recorrer a Jeremy. Rafe queria virar essa página e
rezou para que isso fosse o suficiente para evitar seu sofrimento. Era
tarde demais para evitar se apaixonar por Jeremy. Isso já havia
acontecido. No entanto, não era tão tarde para se proteger e colocar
alguma distância entre eles. Brian estava certo; Jeremy quebraria
seu coração se ele permitisse. E Rafe não deixaria isso acontecer.

***

Rafe foi até a cozinha na manhã seguinte depois de ouvir o som


do telefone. Ele ligou para o correio de voz e cerrou o punho em
vitória ao som da voz de Carlos Aragon.

Rafe estava certo, ele estava trabalhando à noite. Às vezes, o


benefício da dúvida realmente funcionava. Ele sorriu. Carlos tinha
que trabalhar novamente esta noite, mas ele poderia se encontrar no
sábado ou domingo à tarde e ligaria depois para marcar um horário.

─Sim─, Rafe respirou aliviado. ─Um passo mais perto de


terminar essa investigação.─ E continuar a minha vida longe de
Jeremy, ele terminou silenciosamente.

Uma rápida olhada no relógio lhe disse que Jeremy estaria no


trabalho e, provavelmente ocupado, não atenderia ao telefone. Como
um covarde, Rafe ligou para o seu número e sentou-se à mesa de
jantar quando foi direto para o correio de voz. Ele soltou a voz
depois do sinal.

KM
─Jeremy, eu só queria te dizer que Carlos ligou e nos
encontraremos neste fim de semana. Ele estará no trabalho noite ─,
disse ele como explicação. ─Obrigado novamente pela oferta de
ajuda.─ Rafe parou por um segundo, querendo dizer mais, como
um adeus, talvez, mas em vez disso suspirou. ─Boa sorte no seu
encontro sexta-feira. Espero que ela seja uma garota muito legal e
que sua irmã tenha acertado desta vez. Tchau.

Ele desligou com um movimento rápido e deitou a cabeça na


mesa. Foi o primeiro passo de um longo processo, mas estava
feito. A distância ajudaria. Ele esperava que Jeremy estivesse
ocupado demais para se importar.

***

A manhã de Jeremy foi muito mais agitada do que ele pensava


e depois de três tentativas de se livra por um minuto para checar a
mensagem de Rafe, ele finalmente conseguiu uma folga para
almoçar. Ele não sabia se deveria esperar até que eles pudessem se
encontrar, ou se ele deveria tentar ficar fora disso. Se Rafe precisasse
dele, ele ajudaria, mas quanto mais refletia, mais ele tinha certeza de
que precisava ficar longe. Ele não queria arruinar sua amizade e não
sabia como proceder, então se ausentar parecia ser a melhor opção
por enquanto.

O som da voz de Rafe o fez esquecer tudo isso. O tom era


diferente. Rápido, profissional, quase frio em comparação com

KM
outras mensagens que ele deixou antes. Mas então houve um suspiro
- uma espécie de suspiro triste - e um comentário sobre o jantar
ridículo de amanhã à noite. Era quase como se Rafe não fosse ligar
nunca mais.

Jeremy escutou a mensagem mais duas vezes, e a cada vez sua


carranca se aprofundou um pouco mais. Porque Rafe estava fazendo
isso? Por que ele soava tão... diferente? Teria Jeremy imaginado
aquele olhar na noite anterior ou o calor entre eles quando se
tocaram?

Ele balançou a cabeça para afastar as dúvidas. Alívio era tudo o


que ele deveria sentir. Jeremy deveria estar contente que Rafe
obviamente não estava tão interessado nele quanto pensara
anteriormente. Ele fechou o celular e tentou terminar o sanduíche
em silêncio, sem saber ao certo como identificar o que estava
sentindo. Rafe passou a significar muito para ele. E se ele
inadvertidamente o machucou de alguma forma? O pensamento fez
sua respiração acelerar em preocupação e seu apetite
desapareceu. Empurrando as sobras no lixo, ele correu para voltar
ao trabalho. Ele não queria pensar em nada disso pelo resto do dia.

Rafe não ligou para ele novamente e Jeremy foi praticar


naquela noite como normalmente faria. Jeremy manteve distância
dos outros jogadores, mas não conseguiu evitar Mark, que o atacou
como um míssil. Isso geralmente não era suficiente para incomodá-
lo, porque todo mundo estava acostumado com a atitude de merda
de Mark. Foi o que ele disse que quase fez Jeremy pular a grade e
arrancar sua garganta.

KM
Rafe ligara para Mark. Ele pediu desculpas novamente por
tudo que aconteceu entre eles.

Jeremy nem sequer considerou que o cara poderia estar


mentindo. As palavras foram como um soco no estômago e ele
precisou de toda a sua energia para responder algo sarcástico e
voltar a praticar como se não importasse.

Então, parecia que Rafe queria voltar com Mark? E isso só


importava a Rafe. Jeremy e Rafe eram... apenas amigos.

A caminho de casa depois da prática, Jeremy tentou descobrir


qual era o problema dele. Pensou na tarde na lanchonete e na garota
que lhe deu o número. Ela era atraente, confiante o suficiente para
se aproximar dele, interessada, com certeza... então, por que ele não
a queria? Por que ele não ficou animado? Ele nem queria o número
dela. Ele poderia citar de cabeça meia dúzia de caras que já teriam
ligado e transado com ela se eles estivessem em seu lugar. Mas não
ele. Qualquer encontro que ele tentou recentemente acabou com
uma desculpa de como isso não funcionaria. Ele não sentia nada,
mesmo com algumas garotas que ele deveria ter gostado e que eram
realmente ótimas. Ele sempre recuou. Elas ligavam, ele as ignorava
e, eventualmente, elas desapareciam completamente. Talvez ele
estivesse se transformando em um eremita passivo-agressivo que só
se importava com o carro e os catálogos de JC Whitney13.

Oh Deus.

13
é uma varejista de peças e acessórios automotivos de reposição

KM
Em um semáforo, o rosto de Rafe surgiu em sua mente como
um estroboscópio e Jeremy o viu de novo do jeito que estivera em
sua garagem, debruçado sobre os jet skis e tentando manter a
calma. Como ele olhou para Jeremy e continuou olhando, sem piscar
aqueles olhos azuis revelando o que Rafe havia escondido bem até
aquele ponto. Atração. Desejo. Por ele. Jeremy sabia que ele não
tinha imaginado aquilo.

Não foi isso que o fez congelar no sinal verde com uma
expressão estupefata no rosto. Foi admitir o modo como o interesse
de Rafe o havia afetado naquele dia e desde então - a maneira como
ele se sentiu naquele segundo antes de ignorar aqueles pensamentos
estranhos e se concentrar em outra coisa. A coisa era, ele sentiu
muito mais naquele pequeno espaço de tempo encarando os olhos de
Rafe do que com qualquer linda mulher que tenha entrado em seu
caminho.

Ele estava se recusando a pensar em sua reação como algo


mais do que um pouco de curiosidade provocada pela confirmação
de que Rafe era gay, mas agora, dias depois, com suas defesas
baixas, ele foi pego de surpresa pela verdade. Ele amaldiçoou,
engoliu em seco e amaldiçoou novamente. A sinfonia de buzinas de
carro atrás dele forçou-o a atravessar o cruzamento e seguir para sua
casa, mas a única coisa que rolava em seu cérebro era: Você também
sentiu isso.

E ele tinha. Ele começou a rir e tentou negar, mas ele queria
ver Rafe. Foi como um aperto em suas bolas. Seu rosto corou e sua
temperatura corporal disparou.

KM
De jeito nenhum. Isso não está acontecendo. Não? Não não
não. Não pode ser.

Pode?

Ele amaldiçoou novamente, mais forte desta vez. Suas mãos


tremiam no volante e de repente ele queria muito uma bebida. Ele
nunca reagiu ao estresse dessa maneira.
Merda. Merda. Merda. Jeremy apertou o volante enquanto tentava
colocar em ordem seus pensamentos desenfreados. Ele até tentou o
velho discurso do homem hetero, mas isso parecia pouco importante
depois da percepção de que ele gostava de Rafe vazar de alguma
parte de seu cérebro. Jeremy fez um valente esforço para reprimir o
pensamento, moldá-lo de uma forma que ele pudesse aceitar mais
uma vez, mas não estava funcionando. E se - tudo bem - e se, talvez,
ele estivesse avaliando isso apenas por estar próximo de um cara
carismático, interessante e gay? Claro, ele era atraente. Um cara
poderia achar isso de outro cara... Ele sorriu. Era apenas isso. Não
era atração, era admiração. Havia uma grande diferença.

E tal qual um terremoto, seu raciocínio foi abalado quando a


parte mal-comportada de seu cérebro sussurrou o nome de Mark
Newland.

KM
CAPÍTULO TREZE

A raiva no peito de Jeremy o surpreendeu. Ele estava subindo


a calçada da casa de Tracey, desejando poder dar um pontapé em
algumas de suas plantas na esperança de começar uma briga de
irmãos. Se ele seguisse com o plano, entretanto, seu cunhado
também ficaria chateado, e agora Jake era seu único aliado contra a
intromissão de Tracey.

Jeremy chegou cedo de propósito, simplesmente para que ele


pudesse dizer a ela como estava cansado desses encontros que ela
arranjava. Ele estava pronto para sair no segundo em que dissesse
isso a ela, só que ele não esperava se sentir tão chateado com o
jantar, ou o convite forçado, ou a ideia de que ele precisava de ajuda
para conhecer alguém. Além disso, ele estava irritado com a garota
que ele deveria conhecer hoje à noite. Ele nunca a encontrou antes e
já não gostava dela. Resumindo: ele estava de mau humor. De jeito
nenhum ele poderia suportar uma noite dessa porcaria. Ficou ainda
pior quando se lembrou de que, mesmo se estivesse sozinho em casa
hoje à noite, Rafe poderia muito bem estar com Mark ou o Dr.
Maravilha. Como se não fosse difícil o bastante lidar com uma irmã
que nunca ficava fora de sua vida amorosa, ou que Jeremy estava
aceitando o fato de que Rafe tinha de alguma forma penetrado na
linha de frente de seus pensamentos, imaginar Rafe com Mark foi
jogar gasolina ao fogo.

Veja o que estava acontecendo com ele. Ele estava com


ciúmes. Não era normal sentir ciúmes de amigos. Para o inferno com
isso, ele lançou um vaso de plantas voando pelo quintal com um

KM
chute rápido. As margaridas caíram lamentavelmente na sujeira,
apenas meio desalojadas de seu vaso. Ele estava enlouquecendo. A
sério. Como ele estava sentindo vontade de rir histericamente,
chorar e gritar ao mesmo tempo? E o que era esse impulso ridículo
de ligar para Rafe e exigir saber se ele estava com Mark, o Comedor
de Homens? Isso seria uma conversa estranha, especialmente
quando Rafe perguntasse por que ele se importava.

A porta da frente se abriu e Tracey desceu os degraus


observando as margaridas demolidas, a terra espalhada pelo
gramado e a expressão furiosa de Jeremy em um único olhar.

─O que há de errado com você, Jeremy?─ ela gritou com seu


tom de irmã mais velha, com o cabelo loiro caindo ao redor dos
ombros. Jake apareceu na porta atrás dela e vendo a evidência do
colapso de Jeremy, as sobrancelhas dele subiram.

─Eu não vou aceitar mais essas merdas de encontros as


cegas.─ Ele enfiou as mãos nos bolsos e se recusou a se mover se isso
significasse que ele tinha que se sentar à mesa de jantar em frente a
uma mulher que sua irmã escolheu para ter seus sobrinhos e
sobrinhas.

Tracey olhou boquiaberta para ele e ele olhou para trás por
quase um minuto antes de ele ceder e ir para o quintal, ele pegou o
vaso de margaridas e colocou-o de volta em seu lugar com
um baque alto. Depois disso, ele transferiu a sujeira derramada de
volta para o pote, um punhado de cada vez, até as margaridas
ficarem de pé.

KM
Jake e Tracey observaram cada movimento dele com vários
graus de perplexidade. Quando ele terminou de limpar a sujeira de
suas mãos, ele finalmente olhou para eles.

─Sinto muito sobre a planta─, ele resmungou de uma forma


que praticamente cancelou a sinceridade do pedido.

─O que diabos deu em você? Você concordou em vir, lembra?─


Tracey perguntou, seu espanto se desvanecendo em mágoa real.

─Eu só vou... ─, Jake murmurou, desaparecendo de volta para


a casa como um fantasma. Homem inteligente.

Para sua completa mortificação, Jeremy meio tossiu, meio


soluçou e meio suspirou, e seus olhos começaram a vazar do
nada. Ele passou as mãos pelo rosto e reprimiu o contato
aparentemente sincero com seu lado feminino. Tracey fez um ruído
simpático e parou ao lado dele no segundo seguinte, jogando um
braço ao redor de sua cintura e guiando-o pelos degraus, passando
por sua casa e indo para seu quarto. Jake estava conspicuamente
ausente, provavelmente em sua garagem fazendo coisas masculinas.

No momento em que Tracey o fez sentar na cama, ele estava


sob controle novamente, mas era frágil na melhor das hipóteses. Ele
tinha certeza de que uma palavra gentil, ou qualquer sinal de
preocupação o faria chorar novamente.

─Esta é uma bagunça tão fodida ─, ele sussurrou de forma


rápida.

─O que? Diga-me, Jeremy.─ Ela estava assustada agora. E ela


deveria estar, ele pensou. Ele estava descontrolado. Todo o seu

KM
trabalho duro para terminar a escola, juntar-se à força, se tornar um
policial, e agora ele estava louco.

─Sinto muito sobre os encontros─, ela murmurou. ─Eu não


sabia que você os odiava tanto; Eu só queria ajudar. Você não
precisa fazer isso.

Jeremy baixou a cabeça, as mãos segurando as têmporas,


como se tivesse que manter a cabeça unida para evitar que ela
explodisse.

─Deus, não é sobre os encontros─, ele gemeu. ─Bem, é, mas


não é.

─Você está realmente me preocupando. Eu nunca vi você


assim.─ Ela envolveu um braço sobre os ombros dele e o puxou para
mais perto.

Ele não podia dizer nada; sua mente estava ocupada demais,
passando por uma colagem de rostos. As mulheres com quem ele
esteve, os rompimentos e, finalmente, Rafe. Ele respirou fundo e
gemeu de frustração.

─Eu não posso te dizer isso. É inacreditável. Nem mesmo eu


entendo e se não fossem meus próprios pensamentos, eu diria que é
impossível.─ Suas palavras caíram umas sobre as outras e ele sabia
que não estava fazendo nenhum sentido. Ele podia sentir a tensão de
Tracey. Quando ele espiou por entre os dedos, ele percebeu pela
primeira vez que ela tinha uma toalha de mesa enrolada em seu colo
como se ela estivesse arrumando a mesa quando ela notou que ele
estava chutando seus vasos.

KM
─Jeremy, você sempre conversou comigo... desde que éramos
pequenos. Eu acredito que você possa me dizer qualquer coisa. Pelo
menos, eu estou aqui se você quiser.

Ele balançou sua cabeça.

─Nada como isso, Trace. Este não sou eu. Eu nem sei como
dizer isso.

─Comece no começo─, ela interrompeu. ─Respire fundo e fale


comigo.

─E quanto ao jantar?─ Seu protesto foi fraco e ela viu através


dele. Ele estava nas garras dela agora.

─Jake tem tudo sob controle. Não se preocupe com isso. Eu


posso ligar e cancelar se eu quiser. A ideia foi minha.

Ela não o pressionou depois disso, mas esperou em silêncio


enquanto ele mastigava as palavras certas para descrever o que ele
estava passando. Nada parecia se encaixar. Como ele poderia
explicar isso a sua irmã - aquela que estava na busca para encontrar
a mulher perfeita para ele? E se ela contasse ao pai deles?

─Eu conheci alguém─, ele finalmente admitiu, sabendo de


todas as suposições que ela deve ter feito, mas ela não soltou se quer
uma pergunta sobre quem era a mulher de sorte, ou como eles se
conheceram.

─Okaaaay─, ela disse a palavra lentamente. ─Você diz como se


fosse ruim.

KM
Ele respirou fundo e abruptamente se sentou, batendo em toda
a força dela com o tumulto em seus olhos.

─Eu não acho ruim ... Ah, inferno.─ Jeremy cerrou os punhos
em seus joelhos e cuspiu para fora. ─Sim. É ruim. Eu conheci
alguém. Um cara. Eu conheci um cara.

O rosto de Tracey ficou em branco e demorou um pouco, mas


ele viu o momento exato em que o pensamento saltou para o
entendimento.

─Oh─, ela suspirou. ─Oh.

─Eu não sei o que está acontecendo comigo─, ele sussurrou


com pressa. ─Eu juro que esta é a primeira vez que eu já senti algo
assim e, deus, está me assustando.

─Então... você não está tentando me dizer que você é ... hum ...
gay?

─Nossa, Trace, não posso nem lidar com essa questão agora. É
estranho o suficiente que eu esteja pensando merda assim. Você não
pode me ajudar a concertar as coisas para que eu possa voltar ao
normal? ─Tracey se moveu até que ela estava de frente para ele, uma
perna enrolada debaixo dela na cama.

─Sem rótulos, então. Conte-me sobre ele.─ Ela estava usando


o tom de novo.

Jeremy deu-lhe um olhar estranho e ficou ocupado olhando


para seus sapatos. Seus novos tênis estavam sujos graças a sua
proeza anterior.

KM
─Eu o conheci em serviço há seis semanas.

─Ele é policial?

Ele balançou sua cabeça.

─Não. Ele é um investigador particular.

Ele não continuou e Tracey respirou fundo, agarrando uma das


mãos dele.

─Aquele que você recomendou para a família Aragon? O que


pai conheceu?

Ele olhou para ela e desviou o olhar novamente.

─Sim. Eu o conheci no tribunal de trânsito; ele estava


investigando um cara que eu o peguei em um DUI e ele queria me
fazer algumas perguntas.

─V-você começou a sair com ele?

A pergunta agiu como um choque elétrico para Jeremy e ele


ficou de pé, andando na frente da cômoda da irmã.

─ Não.

─Jeremy, por que você simplesmente não diz tudo?─ Tracey


estalou. ─Estou fazendo perguntas porque você não está
explicando. Entenda que eu não vou te julgar por nada que você
disser agora, ou no futuro, então vamos terminar essa conversa
antes da semana que vem.

KM
─Eu não estou saindo com ele,─ ele respondeu no mesmo tom
que ela usou com ele. ─Nós nem conversamos até que Yesenia
desapareceu e a família dela quis contratar um investigador. Ele tem
uma boa reputação e eu já o tinha encontrado, então liguei. Assim
como você já sabe.

─ Qual é o nome dele?

Ele encontrou os olhos dela quando respondeu, incapaz de


esconder o efeito que teria sobre ele - não que ele entendesse o
porquê disso.

─Rafe Bridges.

─E Rafe-

─Sim, ele é gay. Eu suspeitei disso e depois perguntei para ele


no início desta semana.─ Ele a preencheu com os detalhes daquela
visita em particular a partir do momento em que ele perguntou e
Rafe ficou chateado.

─Por que ele ficou bravo assim quando você perguntou? Se ele
está fora, qual é o problema?─ Tracey perguntou confusamente.

─Ele achou que eu fosse homofóbico. Quer dizer, lá estávamos


nós em sua garagem e bem...

─Jeremy? O que aconteceu?

─Eu perguntei se ele era gay porque eu ouvi algo e... ele olhou
para mim.

KM
─Ele olhou para você.─ Ela estava se esforçando muito para
entender, mas não estava dando certo. Ele baixou as mãos e a
encarou, exasperado.

─Heteros não olham nos olhos um do outro de forma


significativa, Trace. Dois segundos no máximo... talvez mais, se for
um assunto sério, mas eles não olham nos olhos um do
outro. Rafe olhou para mim. Isso foi como a última pista ou qualquer
outra coisa. Então eu perguntei a ele e ele ficou muito irritado.

─Oh, então ele pensou que você estava acusando-o de tentar


tirar vantagem de você?─ Jeremy bufou.

─Eu acredito que suas palavras foram sobre eu pensar que por
ser gay ele tentaria se esfregar em mim.

Tracey nem tentou esconder o sorriso; ela até soltou uma


risadinha.

─E era?

─Isso já é bastante difícil. Se papai e Jake souberem disso ...

─Jeremy! Se acalme. Não direi nada a ninguém, nem mesmo a


Jake─ ela bufou. ─Desculpe, eu não deveria ter brincado com você.

Ele ignorou seu pedido de desculpas e começou a andar de


novo, distraído demais com a multidão de pensamentos em seu
interior para se agarrar a uma coisa por muito tempo.

─Ok─, Tracy mergulhou de volta, provando o quão corajosa


ela era. ─Você conheceu Rafe e vocês passaram um tempo

KM
juntos. Você descobriu que ele é gay. Ele olhou para você... e...? O
que está acontecendo com você agora? Você gosta dele?

Jeremy foi até a janela que dava para o quintal de sua irmã e
encolheu os ombros.

─Claro que sim. Tire toda essa loucura e ele é um cara muito
legal. Pé no chão, divertido de conversar, ele sabe quem é e não
tolera besteira de ninguém. Ele é um bom amigo.

─Papai ficou impressionado com ele─, ela respondeu


suavemente.

Ele assentiu.

─Eu sei. Ele tem esse efeito nas pessoas; Ele os deixa à vontade
e faz com que fiquem cativados, mesmo percebendo que ele está
fazendo isso.

─Ele parece muito legal.─ Tracey estava pescando por mais e


ele sabia disso, mas era quase como se dizer em voz alta tornaria
tudo real. Muito sério. Mas ele não podia deixar como estava; isso
nunca o deixaria e certamente não o impediria de explodir em
milhões de curiosidades gays.

Ele suspirou.

─Quando ele olhou para mim na garagem, eu sabia que ele


se importava comigo, você sabe, e eu demorei um pouco para
admitir isso, mas eu também gosto dele.─ Jeremy virou as costas
para a janela, colocando seu rosto na sombra. ─Eu não posso
acreditar que estou dizendo isso. É loucura; Quero dizer, sou eu de

KM
quem estamos falando. Mas pela primeira vez, estou chocado. Isso
faz sentido?─ Ele não esperou que ela respondesse, longe demais
para recuar agora. Ela só estava observando e ouvindo. ─Estou
enlouquecendo pensando sobre isso e percebi que só namorei
aquelas mulheres por namorar, não porque eu estava interessado
nelas. Eu as achava atraentes de uma maneira casual; mas nenhuma
delas se destacava para mim. E eu nunca olhei para outro
homem romanticamente - nunca. Eu apenas… eu não sei. Então
Rafe apareceu e eu só consigo pensar sobre o que ele faz para mim...
como ele é diferente. Até me irrita que seu melhor amigo não goste
de mim porque tem medo que eu quebre o coração de Rafe.

─Eu nem sei o que estou dizendo aqui. Ele está na minha
cabeça, Trace. Ele está na minha cabeça e ele não sai.

─Então você está atraído por ele de verdade? Talvez até mais
do que já se sentiu atraído por outra pessoa?─ Sua voz era suave.

Jeremy sentou-se ao lado dela novamente e foi como se todo o


seu corpo caísse sob o peso de sua confusão.

─Sim. Acho que sim. Sim.

Tracey assentiu e segurou uma de suas mãos novamente.

─Ok─, ela respirou. ─Você acha que ele sabe como você se
sente?

Ele correu os dedos nervosamente sobre os lábios e grunhiu


uma vez em negação.

KM
─De jeito nenhum. Ele até sabe que eu deveria encontrar uma
garota hoje à noite. Eu provavelmente anunciei isso. Nós
conversamos principalmente ao telefone aqui e ali, mas ele ficou
quieto nos últimos dois dias, como se estivesse me evitando. Seu
trabalho o mantém tão ocupado, se não mais ocupado, do que o
meu.

─Você disse que ele está atraído por você, no entanto. Ele
mostrou algum interesse desde aquele dia na garagem?

Jeremy pensou no olhar no sofá e nos poucos toques entre


eles.

─Acho que sim, mas não estou acostumado a identificar


isso. Eu não quero assumir um olhar dele como algo que não é. E
acredite em mim, ele tem sido hipersensível sobre isso. Se a
conversa se desvia para coisas pessoais, ele a mantém longe de
qualquer coisa sobre sua vida amorosa e nunca me pergunta sobre a
minha. E se for apenas isso? E se eu estou me sentindo assim porque
ele é o primeiro cara gay que eu me aproximei e isso está fodendo
com meu cérebro ou algo assim?

Jeremy ouviu a frustração em sua voz e ficou surpreso com


isso. É como se ele tivesse dupla personalidade, com um lado dele
trabalhando nos bastidores para acertar as coisas com Rafe e o outro
lado tentando arruinar as coisas.

─Eu não acho que é assim que sentimentos como esse


funcionam, Jeremy. Você não é o primeiro cara a ter um amigo gay e
você não é o primeiro cara a passar por isso. Parece que te incomoda
que ele não esteja mostrando mais interesse.

KM
─Ele está com o ex esta noite. Eu sei disso.─ Ele contornou
todo o sentido que ela fez com essa frase e escancarou a ferida aberta
em seu peito.

─Quem é o ex dele?─ A testa de Tracey franziu.

─Um despachante. Você acredita nisso?─ Ele perguntou com


um sorriso. ─O cara até joga no time de softball.

─Oh, não, eu o vi em seus jogos?─ Ela parecia quase muito


feliz por ter essa conversa, como se estivessem fofocando como
mulheres velhas.

─Você o viu─, ele admitiu de má vontade. ─Ele é o atacante da


primeira base. Mark Newland.

─ Não se segure, ─ela brincou com o jeito que ele rosnou o


nome. ─Diga-me como você realmente se sente.─ Ela deu-lhe um
olhar de soslaio e franziu os lábios. ─Ele é bem comum. Cabelo
escuro, certo?─ Ele se recusou a responder, zombando da isca.

─Como é Rafe?─, Ela perguntou então, com genuíno interesse


em cada palavra.

Jeremy se mexeu desconfortavelmente. Ele não estava


preparado para isso. Concedido, sua irmã estava levando a notícia
incrivelmente bem, mas ela estava realmente pedindo a ele para
descrever o cara que ele... oh inferno. Ele engoliu em seco. Argh.

─Eu não vou-

KM
─Cale-se e diga-me como ele é ou eu vou descobrir uma
maneira de vê-lo que vai fazer você desejar ter me dito─, ela
ordenou. ─Ele é alto?

Os lábios de Jeremy se apertaram momentaneamente e ela


arqueou uma sobrancelha. Ele reconheceu e desistiu; ela estava
falando sério.

─Ele não é tão alto quanto eu. Provavelmente um e oitenta. Eu


nunca o medi, Trace.

─ Pare de resmungar.─ Ela estendeu a mão e bateu no ombro


dele. ─O quê mais? Ele está em forma?

Jeremy imaginou as diferentes maneiras que ele viu Rafe:


jeans com camisa de botão, shorts de futebol, moletom surrado…

─ Sim. Ele está em forma. Gosta de jogar futebol─, ele


respondeu em voz baixa, ainda muito desconfortável ao falar. ─O
cabelo dele é preto. Negro mesmo, sabe? E está sempre
arrumado; de uma forma que parece não precisar de esforço. Ele
tem olhos azuis bem diferentes, da mesma cor da sua camisa, na
verdade.─ Seu rosto ficou vermelho no último comentário e ele teve
que desviar o olhar. Ele disse algo tão sentimental.

─Ele é lindo, então?─ Ela pressionou.

Jeremy pigarreou e deu um rápido aceno de cabeça.

─Sim. Ele é.

─Você também. Ele tem bom gosto, pelo menos.

KM
Ele tentou um sorriso, mas foi bem patético. Ela deu-lhe outro
aperto quando ele se inclinou para frente e apoiou o queixo na mão
que ela não segurava.

─O que isso significa para mim, Trace? A sério. Estou


assustado. Como posso me sentir assim? Como posso estar
pensando coisas que nunca pensei antes? Não é como se eu estivesse
de repente babando em cima de cada cara que passa, mas quando
estou perto de Rafe... há essa energia... essa coisa. Eu não sei. O que
faço?

─Hey, hey─, ela o acalmou, e ele deixou-a puxá-lo para um


abraço. Ela embalou-o em seus braços e ele estava à beira das
lagrimas novamente. Havia muito desconhecido. Muita incerteza.
─Vai ficar tudo bem, irmãozinho.

Ela balançou-o e deu um beijo no cabelo dele.

─Tudo bem se sentir assim, ok? Estou feliz que você possa
falar comigo sobre isso. E não importa o que, eu quero que você
saiba que eu estou com você, ok? Você não faz parte de uma família
que ouve algo assim e te expulsa para sempre, pelo menos não no
que me diz respeito ─, ela insistiu. ─Mas aqui está a coisa, e eu não
quero que você fique chateado com isso. Me ouça.

Ele acenou com a cabeça contra ela e ela estendeu a mão para
passar a mão pelo cabelo dele.

─Talvez você deva ver aonde isso vai. Deixe-o saber disso. Se
ele é um cara tão bom quanto você diz, ele não vai menosprezar você
ou usar isso como um tipo de arma, ele vai ajudar você a

KM
descobrir. Meu palpite é que ele ainda está lutando com sua atração
por você, pensando que você está interessado em mulheres.─
Jeremy queria protestar e dizer que estava interessado em
mulheres, mas ele não tinha a convicção e uma mulher para
sustentar a discussão. Então deixou passar.

─Ele nunca traz à tona sua vida pessoal, provavelmente por


respeito a você, e porque é uma droga ter uma queda por alguém que
você sabe que não tem chance. Coloque-se no lugar dele por um
segundo. Quero dizer, ele está conhecendo e gostando de você e você
é indisponível para ele. É fácil ser pego em quão grande isso é para
você, eu realmente não posso culpá-lo por isso, mas se ele é seu
amigo, talvez você possa dizer a ele o que está acontecendo. Se nada
mais, pode ao menos limpar toda essa angústia. Você pode até achar
que foi um acaso aleatório. E se você descobrir que é mais do que
isso, então você atravessará a ponte quando chegar a ela.

Jeremy sentiu o perfume de sua irmã, assim como o amaciante


que ela usava no tecido, que agora estava esmagado entre eles. Ele
estava muito confuso para se sentir totalmente aliviado, mas havia
uma parte significativa dele agradecendo os poderes de Tracey. Por
ele ter entrado em sua casa, deixado cair uma enorme bomba no colo
dela e ela ficou com ele passo a passo. Ele fungou e piscou os sinais
suspeitos de umidade em seus olhos. Não chore, ele disse a si
mesmo.

Tracey beijou seu cabelo novamente e depois sua têmpora.

─Você deveria ligar para ele e ver o que ele realmente está
fazendo. Aposto que ele vai mudar seus planos para te ver. E se você

KM
descobrir que não consegue pronunciar nenhuma das palavras -
nossa família não é exatamente eloquente -, recomendo agarrá-lo e
mostrar a ele. Funcionou comigo e com Jake.

Jeremy gemeu de incerteza e ela riu. Porra, ela já estava


unindo os dois! Ele não sabia se poderia ir tão longe ainda.

─Sério, Jeremy─, ela riu. ─Ligue para ele. Eu te liberto deste


jantar e de todos os futuros encontros, a menos que você peça por
eless. Vai. Vou dizer a Jake que você precisava cuidar de outras
coisas.─ Ela estava certa sobre uma coisa: ele certamente não queria
passar os próximos dias se sentindo infeliz. Se ele descobrisse as
coisas agora, ele poderia acabar com isso. Ou ele estava atraído por
Rafe ou não. Não havia melhor tempo que o presente para descobrir
isso. Ele tinha que deixar de ser covarde e seguir em frente.

Jeremy se afastou gentilmente e ficou de pé.

─Eu vou ligar para ele─, ele disse a ela, seu coração acelerado
com o pensamento.

Ela sorriu com aprovação e acenou para ele com uma mão.

─Bem, vá então. Deixe-me saber o que aconteceu.

Ele assentiu e foi até a porta.

─Tenho certeza que depois ficarei totalmente mortificado com


isso, Trace, mas obrigada. Você tornou isso muito mais fácil do que
eu pensava.─ Ele riu sem graça. ─Inferno, eu nunca planejei contar a
você.

KM
─Vá, antes que eu mude de ideia sobre o jantar.─ Ele se
encolheu e se virou, ouvindo sua risada quando ele saiu do
quarto. Jake pode ter chamado da cozinha, mas Jeremy não parou
para saber e se despedir. Ele tinha que cuidar disso antes que
perdesse a coragem.

KM
CAPITULO QUATORZE

A noite estava ficando animada quando Rafe trancou a porta


do escritório e seguiu para a caminhonete. Ele teria ficado mais
tempo tentando juntar as peças da investigação Aragon, mas em vez
disso ele tinha sido intimado a ir na casa de seus pais no que deveria
ser um fim de semana sem visita.

Sua mãe não lhe contara por que ela queria que ele fosse, mas
dissera que não seria uma longa visita. Eles provavelmente
decidiram que estavam totalmente cansados dele e o saudariam na
porta com uma caixa com suas antigas coisas. Aqui está o seu
material. Vejo você quando você for hetero. Nada disso deveria
incomodá-lo agora. Ele sabia que eles ficariam loucos quando ele
saiu anos atrás e eles não provaram que ele estava errado, mas
sempre existiu a esperança de que eles percebessem que não
poderiam mudar nada e parar com a negação. É sempre uma droga
pensar nisso, e era por isso que ele raramente pensava, mas os finais
de semana eram difíceis às vezes. Ele sentia muita falta do jeito que
as coisas eram. Rafe se mexeu e estava saindo do estacionamento
quando seu telefone tocou. Ele parou e procurou no bolso,
estremecendo quando viu a tela.

─Eu pensei que você estava em algum tipo de encontro às


cegas─, disse ele ao telefone, sua voz suave.

─Eu disse a minha irmã que eu preferiria não enfrentar outro,


obrigada.─ A voz de Jeremy voltou para a linha e era profunda e
quente... como de costume. Bastardo.

KM
─Qual seria o de hoje?

─Eu nem sei mais. Eu perdi a conta há alguns anos


atrás. Quinquagésimo talvez. Centésimo.─ O som do pesado motor
estrondoso de Jeremy era alto no fundo e Rafe o provocou.

─Ei, policial Halliday, não é ilegal dirigir e falar em seu celular


ao mesmo tempo neste estado? Eu posso ouvir o Cuda,─ ele disse,
movendo seu caminhão para estacionar novamente.

─Grande trabalho de detetive, Bridges ─, ele murmurou. ─Eu


ainda estou estacionado na frente da casa da minha irmã. Liguei
para saber quais seus planos... para a... para hoje à noite.─ Jeremy
soou um pouco estranho e Rafe ficou tenso, pressionando o telefone
com mais força em seu ouvido. A última vez que seu amigo soou
assim, eles tiveram aquela grande discursão em sua garagem. Além
disso, ele mal conseguiu chegar ao ponto em que ele não estava
constantemente pensando em ligar para Jeremy e agora o cara
queria encontra-lo para o jantar?

─Você está bem? Você parece estranho.

Houve um som como uma garganta limpando e depois: ─Estou


bem. Ótimo.

Rafe não acreditou nisso, mas ele não iria insistir. Inferno,
todo o trabalho que ele já tinha feito para permanecer distante
estava acabando como um desperdício de energia. Ele estava um
pouco excitado demais ao receber outra ligação aleatória. De
seu amigo totalmente hetero. Apenas um amigo, ele disse a si
mesmo novamente. Não existe esperança.

KM
Jeremy estava tornando muito difícil para ele continuar com
esse mantra, no entanto. O policial era como um produto químico
viciante. Ele pensou nas possíveis razões que ele poderia usar para
não se encontrarem. Ele pensou nelas e imediatamente descartou
cada uma delas. Dois dias sem falar com Jeremy tinham sido
surpreendentemente difíceis. Ele queria muito vê-lo.

─Eu tenho que ir encontrar meus pais por alguns minutos hoje
à noite, mas podemos pegar uma cerveja ou algo para comer
depois. Eu encontro você depois. Mamãe nunca liga e me pede para
ir lá; Isso vai ser incrível─, ele murmurou, sarcasmo pingando das
palavras.

─Eu pensei que você só fosse lá uma vez por mês─, disse
Jeremy. ─Pode ser bom que eles queiram ver você, não é?

─Em teoria, claro. Na realidade, não. Não com a maneira como


mamãe soou ao telefone─ Rafe admitiu com relutância.

─Bem… eu posso ir com você. Força nos números. Você pode


vir na minha casa me buscar, então podemos ir jantar depois
disso. Economizaria gasolina, preservaria as florestas ou o que for...

Isso era hesitação na voz de Jeremy? Ele realmente parecia


nervoso, ele percebeu. Então o atingiu, ele provavelmente estava
preocupado que Rafe fosse confundir seu convite para jantar como
um pedido de encontro. Ele revirou os olhos e deu um
suspiro. Entendi! ele pensou. Você não gosta de homens.

─Não, você não precisa fazer isso─, ele ofereceu, dando a


Jeremy uma saída. ─Meus pais são muito grosseiros; Eu não

KM
gostaria de te fazer passar por isso.─ O aperto dele aumentou ao
redor do telefone.

─Não seja idiota. Venha me pegar e nós vamos a casa


deles. Será bem rápido.─ Jeremy estava sério. Ele estava realmente
disposto a conhecer as duas pessoas na vida de Rafe que faziam ser
feliz consigo mesmo quase impossível.

─Jeremy, eu agradeço, mas não estou brincando quando digo


que meu pai e minha mãe são… intensos. Papai mal consegue lidar
em estar no mesmo quarto comigo; na verdade, ele geralmente ataca
no segundo em que eu apareço. Mamãe é delirante. Quero dizer,
você provavelmente nunca verá outro caso de negação como este.─
Jeremy rosnou algo que Rafe não conseguiu entender, mas antes que
ele pudesse questioná-lo, ele falou.

─Eu não me importo. Pare de discutir sobre isso e venha me


pegar. Eu provavelmente vou chegar na minha casa na mesma hora
que você.

Rafe ficou quieto e considerou. Eles só precisariam parar por


alguns minutos - Jeremy nem precisava entrar. Se os dois entrassem
na casa, não havia como dizer o que poderia acontecer, mas
provavelmente não seria bom.

─Eu não sei-

─Bom. Está resolvido─, Jeremy o cortou. ─Vejo você em dez


minutos.─ Então ele desligou.

─Sim ... dez─, Rafe disse para a linha vazia.

KM
Momentos depois, ele estava resmungando baixinho quando
saiu do estacionamento e virou a caminhonete na direção da casa de
Jeremy. Isso foi mais arrogante do que Jeremy normalmente era, e
Rafe estava chateado porque não podia simplesmente apreciá-lo
como algo que um amigo legal faria. Em vez disso, ele achou a
proteção atraente.

O que ele estava tentando fazer? Arrancar seu coração, cobrir


de fita adesiva e entregar pro cara? Ou pior, ele poderia estar
duplamente interessado em Jeremy, porque ele sabia que não iria a
lugar nenhum. Isso o manteria fora do drama de encontrar alguém
como Mark. Então, em essência, ele estava possivelmente trocando
um tipo de comportamento autodestrutivo por outro. Ótima maneira
de amadurecer, idiota.

Ele balançou a cabeça, totalmente irritado agora. Como era


maravilhoso levar o homem dos seus sonhos para casa - aquele que
gostava de garotas - para conhecer os pais que estavam a dois passos
de deserdá-lo. Era tão suculento e Jeremy não tinha a menor ideia
de no que ele estava se metendo.

Essa porcaria tinha que parar. Se ele não conseguisse colocar


seus sentimentos em ordem, ele teria que se mudar. Para o Alasca. A
paixão estava fodendo com sua cabeça e ele mal conseguia
trabalhar. Quando ele parou na frente da casa de Jeremy, seu amigo
estava encostado no para-choque do carro, os braços cruzados sobre
o peito. Ele usava jeans desgastados com uma camiseta branca
simples e jaqueta preta. Era como olhar para um anúncio da

KM
Abercrombie and Fitch14. Rafe sussurrou uma Ave Maria. Ele não
era imune a esse loiro.

Ele abaixou a janela e olhou para Jeremy por cima de seus


óculos escuros.

─Estou aqui para te levar a cova dos leões─ disse ele, sorrindo
quando Jeremy fez uma careta e saiu do carro. Rafe destrancou a
porta e moveu a papelada que deixara no banco do carona para os
fundos. ─Você pode esperar no carro enquanto eu entro; pode ser
mais fácil assim.

Jeremy agarrou o cinto de segurança e afivelou-o.

─Quando você se transformou em um maricas assim?─ Ele


franziu a testa e começou a tamborilar com os dedos nos
joelhos. ─Eu posso lidar com isso. Se for ajudar, diga-lhes que
trabalha comigo de tempos em tempos.─ Sua bravata era enganosa,
mas a súbita inquietação não era.

Rafe nunca tinha visto o cara tão chateado, mesmo depois da


grande revelação gay de alguns dias atrás. Foi ele quem ligou para
você, ele lembrou a si mesmo. Se Jeremy queria passar a noite tenso
e desconfortável, era problema dele.

Eles conversaram muito no caminho, para o alívio de Rafe,


mas foi apenas sobre os bairros em que ambos cresceram, seu
passado, onde ambos estudavam. Nada inovador. Cinco minutos
depois, Jeremy relaxou e começou a agir como ele mesmo, então
Rafe continuou desenterrando informações aleatórias sobre si

14
Varejista de roupas norte americana.

KM
mesmo para manter a conversa fluindo, evitando cuidadosamente
qualquer coisa remotamente relacionada à sua vida amorosa. A certa
altura, ele poderia ter mencionado que gostava de queijo; ele estava
tão fora de foco.

Eles demoraram cerca de quinze minutos para chegar à casa de


seus pais no sopé das montanhas. Quando ele ainda estava na
faculdade e seus pais o queriam por perto, eles compraram a casa e
se mudaram do chalé de três quartos onde ele tinha crescido. O lugar
que eles tinham agora tinha três andares com cinco quartos e uma
enorme sala de estar que tinha vista para a cidade. Eles queriam
espaço para as tias, os tios, sobrinhas e sobrinhos que estavam
sempre visitando - ah, e para os netos que ele ia dar a eles algum
dia. Sim... uh-huh.

Quando ele entrou no bairro, Jeremy soltou um suspiro de


surpresa.

─Eles moram aqui, hein?

─Mudamos para cá quando eu estava na faculdade─, ele


respondeu, observando-o com o canto do olho. Deus, que perfil.

─Agradável.

─Exatamente.─ Rafe grunhiu em resposta, a sensação de


desgraça iminente piorando quanto mais se aproximavam da
casa. Ele entrou na calçada curva, cercada pelo habitual gramado
encontrado em todos os conjuntos habitacionais construídos desde
os anos noventa. A casa estava bem iluminada e ele pensou ter
vislumbrado sua mãe pela janela da frente.

KM
─Nós fomos vistos─ ele murmurou e os olhos de Jeremy
seguiram os dele.

─Seremos rápidos─, ele encorajou, abrindo a porta e saindo.

Rafe queria arrastá-lo de volta para dentro do carro e voltar


pelo caminho que tinham vindo, mas já era tarde demais. Jeremy
estava em pé na frente do caminhão, as mãos nos bolsos da jaqueta e
uma expressão de expectativa no rosto. De jeito nenhum ele poderia
colocar a cauda entre as pernas e correr. Rafe saiu e passou por ele
para liderar o caminho. No caso de ele ainda estar sendo observado,
ele manteve uma boa distância entre os dois para que seus pais não
levassem a presença de Jeremy para o lado errado.

Já á alguns anos ele não sentia como se pudesse simplesmente


entrar e gritar um olá, então ele bateu e esperou enquanto as
sobrancelhas de Jeremy subiam significativamente. Pelo menos ele
permaneceu em silêncio, mas arruinou todo o plano de Rafe,
movendo-se irritantemente para perto dele. Ele estava tão ciente dos
movimentos de Jeremy que tinha certeza de que seu cérebro estava
se transformando na consistência de Velveeta.

Sua mãe abriu a porta quase imediatamente, então ela


provavelmente estava observando cada passo deles pelo olho
mágico. Seu sorriso era frágil, mas educado, e Rafe se adiantou para
dar um beijo no ar perto do rosto dela.

─Oi, mãe─. Feliz em me ver? ele queria perguntar.

─Rafe─, ela disse friamente.

KM
Fechou as sobrancelhas, sem se surpreender com as boas-
vindas, e deu um passo para trás, para gesticular para Jeremy.

─Este é Jeremy Halliday.

Para o embaraço de Rafe, ela olhou para Jeremy, desconfiada,


até que Jeremy ofereceu sua mão, dizendo: ─Sra. Bridges, é bom
conhecê-la. Eu trabalho com seu filho de vez em quando.─ O alívio
que iluminou sua expressão foi repugnante.

─Oh! Então você também é um detetive?─ Jeremy sorriu e


surpreendeu Rafe, batendo de leve nas costas dele
encorajadoramente onde sua mãe não seria capaz de ver. ─Não, eu
sou policial, mas nós o consultamos em casos de tempos em
tempos. Ele tem uma ótima reputação no departamento.─ Rafe riu e
teve que transformá-lo em tosse. Que mentira. Ele estava bastante
certo de que Mark havia desfeito essa “reputação” até agora.

Como esperado, sua mãe não se importou com a lisonja de seu


filho, a menos que a lisonja fosse sobre como ele não conseguia se
cansar das mulheres. Ela abriu mais a porta para eles entrarem,
ainda segurando um pano de prato que ela trouxe da cozinha e
torcendo nervosamente em suas mãos. Rafe quase podia sentir a
parede de desaprovação fria de seu pai, que estava parado no final
da entrada, de costas para a cozinha.

─Richard, este é um colega de trabalho de Rafe. Jeremy, meu


marido, Richard Bridges.─ Ela os apresentou e o pai de Rafe virou o
olhar indignado para Jeremy.

KM
─Prazer em conhecê-lo, senhor.─ Jeremy ofereceu uma mão
que foi completamente ignorada, e, eventualmente, baixou
casualmente para o seu lado, sem sequer um sinal de decepção.

─Rafe não tem colegas de trabalho, Lydia─, ele rosnou, e


passou por todos eles para a sala de estar.

Os olhos de Rafe se estreitaram quando ele viu o pai sair e ele


disse com os dentes cerrados: ─Volto em um minuto, Jeremy─, e se
moveu para segui-lo até a sala de estar. A mão de Jeremy se ergueu e
segurou levemente o cotovelo dele.

─Ouça, Rafe─, ele se inclinou e disse em voz baixa. ─Está tudo


bem. Você não precisa se preocupar comigo.─ Rafe deu um aceno e a
mão de Jeremy se afastou depois de um leve aperto. Era porcaria
assim que fazia com que manter a distância do cara fosse
impossível. Seu pai já estava sentado em sua poltrona reclinável,
com uma expressão feia no rosto quando Rafe entrou na sala de
estar.

─Sua mãe e eu queríamos lhe dizer que estamos deixando a


cidade por um tempo, vamos passar um tempo com alguns
familiares no Texas─, Richard desabafou, uma careta mal-
humorada.

─Fantástico. Você poderia ter dito isso pelo telefone. Ou agir


como um idiota comigo é importante o suficiente para que você
quisesse uma visita?

Seu pai se levantou e deu a volta na mesa de café.

KM
─Tome cuidado com o que você diz para mim na minha casa,
você me ouviu? Tudo que você faz é machucar esta família e nós
tivemos o suficiente. Se você não pode parar com essa ... essa
depravação... então esqueça de vir aqui novamente. Você é
responsável por isso, Rafe. Você.

O queixo de Rafe caiu pelo meio segundo que levou para sua
raiva aparecer. Então eles finalmente fariam isso? Iriam nega-lo. Ele
virou e viu Jeremy e sua mãe falando desconfortavelmente na
entrada. Jeremy deu um passo em sua direção, uma pergunta em
seus olhos, mas Rafe o deteve com um olhar. Ele nem saberia o que
dizer a ele; seu cérebro estava ocupado demais juntando tudo.

─Você me odeia tanto?─ Ele finalmente sussurrou com uma


risada angustiada.

─Olhe o que você se tornou─, seu pai disparou de volta. ─Você


vive uma vida de pecado. O que você faz é uma abominação. Durante
anos, aguentamos suas escolhas, mas não mais.

─Eu nunca forcei você a fazer parte da minha vida, ou a


conhecer alguém com quem eu me importava─, Rafe disparou de
volta, sua voz alta o suficiente para chegar até onde Jeremy e sua
mãe estavam de pé. ─Eu não sei o que me fez esperar que todo esse
tempo você voltasse a ser o mesmo homem que me criou para não
odiar as pessoas. Vocês são meus pais e mesmo assim não podem me
aceitar! Vocês preferem me tratar como um pária e nunca mais me
ver. Fodidos hipócritas! E para você saber, eu já vi mais amor de
pessoas que você consideraria merecedoras do inferno do que eu vi
de vocês dois desde que eu saí.

KM
Rafe recuou alguns passos, consciente de que Jeremy se
aproximara dele, tentando oferecer encorajamento. Ele estava tão
lívido agora que era impressionante que ele ainda fosse capaz de
formar frases.

─Tudo bem, pai. Você não quer mais que eu faça parte dessa
família, eu não serei. Feito.

─Nós não ligaremos para você, nem lhe escreveremos nem


entraremos em contato com você de qualquer maneira─, seu pai
sibilou, quase espumando pela boca com sua própria fúria e Rafe viu
que seu pai não esperava que ele reagisse assim, ele esperava que
Rafe fosse ceder. Ele imaginou que a ameaça seria suficiente para
fazer Rafe renunciar às suas decisões e cair a seus pés como um filho
pródigo.

─É exatamente o que um par de covardes faria!─ Rafe cuspiu


as palavras, não se importando com quem ouvia. ─Duas pessoas que
estão com muito medo de amar seu filho por quem ele é.

─Saia da minha casa, então. E leve essa outra bicha com você.

─ Foda-se, pai─, ele cuspiu.

E todo o inferno se soltou.

Seu pai voou para ele com os punhos cerrados, o direito


balançando no que seria um gancho em seu olho. Rafe não teve
tempo de reagir além de se preparar para o golpe, mas nunca
chegou.

KM
Jeremy gritou seu nome e pulou na frente dele, tomando todo
o peso do soco na têmpora e bochecha esquerda. A mãe de Rafe
gritou e correu para seu pai, empurrando-o para longe de Rafe e
Jeremy com tanta força quanto seu pequeno corpo poderia reunir.

Jeremy caiu sobre um joelho e se moveu para frente e para trás


enquanto agarrava onde ele havia sido atingido. Ele estava
sangrando e a mancha vermelha na pele de sua bochecha e mão
rasgou algo dentro de Rafe.

─O que há de errado com você?─ Ele gritou, pulando em seu


pai e derrubando-o sobre a mesa de café e no sofá. Bijuterias e um
vaso cheio de flores voaram e sua mãe gritou, correndo para o lado
do marido. ─Eu nunca vou perdoar isso, seu filho da puta!─ O peito
de Rafe soltou e foi apenas o som de Jeremy murmurando seu nome
repetidamente o impediu de pular sobre seu pai e soltar um golpe
após outro. Um golpe para cada pedacinho de dor que eles infligiram
nele.

Ele se agachou ao lado de Jeremy e passou os braços ao redor


dele, ajudando-o a ficar de pé e firmando-o quando ele vacilou.

─Deus, você está bem? Jeremy, eu estou tão arrependido.─ Ele


passou a mão sobre a bochecha ilesa de seu amigo e queria atacar
seu pai novamente.

─Vamos... apenas... vamos─, Jeremy respondeu, olhando para


ele sob seus cílios enquanto apertava sua testa. ─Vamos... Você não
merece essa merda ─, ele dirigiu o último pedaço aos pais de Rafe
no sofá. Sangue escorria de sua mão e rosto no tapete branco
imaculado. ─Diga mais uma palavra e eu farei uma acusação.

KM
Rafe deu a seus pais um último olhar fulminante e viu o pano
de prato ainda apertado com força no punho de sua mãe, ele andou
em direção a ela e arrancou-o de sua mão.

─Não se preocupe─, ele rosnou baixo em sua garganta, ─eu


vou pagar depois.─ Eles olhavam para ele, até mesmo seu pai
parecia perplexo pelo soco.

Rafe não se despediu deles, correndo para pressionar o pano


no templo de Jeremy e levá-lo para fora da casa. Mais tarde, ele não
conseguiria se lembrar se ele se desculpou com Jeremy todo o
caminho de volta, ou se era apenas um loop em sua cabeça. Eu sinto
muito. Eu sinto muito. Isso é terrível. Todo o seu ser estava
agoniado com remorso e constrangimento.

Jeremy sentou-se ao lado dele, a cabeça inclinada para trás


contra o encosto de cabeça enquanto aplicava pressão com o pano. A
meio caminho de sua casa, ele estendeu a mão direita e apertou a de
Rafe que repousava no câmbio de marchas.

─Calma, amigo─, ele sussurrou. ─Estou bem. Vamos para


casa, ok?─ Rafe não conseguiu dizer uma palavra. Se ele fizesse, ele
desmoronaria.

KM
CAPÍTULO QUINZE

Jeremy se inclinou pesadamente contra a porta de tela


enquanto Rafe cuidava de destrancar sua casa. Sua cabeça não
estava doendo muito, mas ele estava definitivamente
tonto. Engraçado, ele imaginou que a essa altura eles estariam
sentados para jantar e ele estaria lutando com as palavras para dizer
a Rafe que ele poderia ter uma queda por ele. Ou que ele tinha uma
queda por ele. Ok, então ele queria seguir o plano de Tracey e apenas
saltar em Rafe quando estava sentado ao lado dele no carro.

─Onde está seu kit de primeiros socorros? Você tem algum por
perto?─ Rafe perguntou quando ele finalmente abriu a porta e saiu
do caminho para que Jeremy pudesse ir na frente dele.

─Band-aids, talvez um pouco de gaze─, ele murmurou,


caminhando muito lentamente para a mesa da cozinha e tentando
não tocar em nada com os dedos ensanguentados.

─Sente-se, eu vou dar uma olhada.─ Rafe saiu da cozinha com


pressa e Jeremy ouviu enquanto ele vasculhava o banheiro. ─Você
tem um secador de cabelos?─, Ele gritou em um ponto e Jeremy
gemeu. ─Tudo que você precisa é Aquanet15 e você será como
metade da minha turma de formandos.

─Você é mais velho do que eu pensava, então.

Jeremy tirou a jaqueta e se sentou, fechando os olhos contra a


luz que pairava sobre a mesa. Como ele acabou aqui

15
Spray para cabelo.

KM
exatamente? Num minuto ele está tendo uma conversa casual, ainda
que empolada, e no minuto seguinte todo mundo estava gritando, o
pai de Rafe estava distribuindo socos e seu rosto estava
interferindo. Foi fodidamente trágico. Pelo menos ele não estava
mais nervoso; traumatismo craniano praticamente matou o
humor. Se ele confessasse seus pequenos problemas agora, Rafe
pensaria que ele estava delirando.

Não importava quantas vezes ele tivesse sido golpeado em sua


vida, o que na verdade não somava muitos, mas aquele cruzado do
papai Bridges doeu como um filho da puta. Suas sobrancelhas e
têmpora latejavam a cada batida do coração e ele tinha certeza de
que o pano que estava pressionando no corte estava colado à sua
cabeça agora. Seria um verdadeiro prazer tira-lo. Uma maneira
perfeita de terminar o dia.

─Encontrei tudo─, anunciou Rafe enquanto voltava para a


cozinha. Jeremy abriu os olhos e viu o amigo arregaçar as
mangas. Seus dedos ainda estavam cobertos de sangue seco. Sangue
de Jeremy.

─Eu te trouxe um pouco de ibuprofeno; deve ajudar com o


inchaço.─ Rafe não estava falando muito e mesmo com as piadas
frívolas, Jeremy podia dizer que ele estava abalado com o que
aconteceu. Ouvir a dor em sua voz fez seu estômago doer.

Rafe encheu um copo com água e jogou as pílulas na mão dele.

─Tome─, ele ordenou, entregado o copo.

KM
Jeremy silenciosamente fez o que foi mandado, esperando que
o efeito fosse rápido e impedisse que ele pensasse demais. Ele estava
ciente de Rafe puxando uma cadeira e se aproximando, mas ele
estava de olhos fechados, de volta à rotina do nervosismo.

─Deixe-me ver isso─, disse Rafe, seus dedos tocando a mão de


Jeremy, onde ainda estava firmemente pressionado a sua têmpora.

Os olhos de Jeremy se abriram e ele pulou um pouco, movendo


a cabeça para fora do alcance.

─Não se preocupe. Eu posso cuidar disso. ─Embora sua versão


de “cuidar disso” fosse tomar uma dose de uísque e cair na cama,
com o pano ainda grudado na testa. Ele estava tenso e o pensamento
das mãos de Rafe tocando-o novamente o fez suar.

Isso ia matá-lo. Ele sabia disso. Havia toda essa estranheza nos
últimos dias – todo essas pensamentos sobre essa porcaria o
desconcertava.

─Se você não limpar ficará infectado. Você estará atendendo


chamados com um tapa olho, porque está agindo como uma
garotinha assustada e não me deixa ajudar.─ A mão de Rafe rodeou
o pulso de Jeremy levemente e o calor da pele contra a pele enviou
um choque através dele. Jeremy não protestou dessa vez, mas
observou atentamente enquanto Rafe tirava sua mão do
caminho. Quando a toalha puxou um pouco do sangue seco, ele
assobiou, amaldiçoando. Rafe se aproximou e soltou um rosnado
que fez os olhos de Jeremy se arregalarem tão rapidamente que ele
estremeceu novamente.

KM
─Eu nunca vou perdoá-lo por isso. Nunca.─ A boca de Rafe
estava apertada enquanto ele falava, sua voz tremendo com fúria
reprimida.

Ver a reação de seu amigo o esquecer sobre qualquer besteira


que estava deixando-o louco e ele procurou dizer algo que o
ajudaria.

─Você me avisou, cara. Você disse que ele era um idiota e ele
provou isso. Apenas... tente esquecer.

Rafe puxou a mão de Jeremy para longe do corte e inclinou a


cabeça para que ficasse sob a luz.

─Sim, eu vou esquecer tudo sobre isso. Sem problemas. Foi só


meu pai atacando alguém com quem me importo porque
ele me odeia.

Jeremy não sabia se era a combinação das palavras de Rafe -


ou a forma como ele disse que se importava, mas isso não era apenas
sobre ser amigo - e a maneira gentil com que ele estava cuidando do
corte em sua testa, ou se era por causa do nó em sua mente, mas a
atmosfera na sala mudou. Quando o polegar de Rafe roçou a maçã
do seu rosto, os dedos inegavelmente sensíveis, as pálpebras de
Jeremy se fecharam. Ele engoliu em seco. Tudo o que ele conseguia
pensar era no que Tracey havia dito a ele anteriormente. Fale com
ele. Diga à ele.

─Me desculpe, eu não imaginei que isso fosse acontecer─, Rafe


disse depois de outro longo momento de silêncio. ─Eu nunca pensei
que meu pai tentaria me machucar por eu não ser quem ele quer que

KM
eu seja. Eu não...─ Ele limpou a garganta e tirou as mãos do rosto de
Jeremy para abrir um dos pacotes de gaze. ─Eu realmente sinto
muito.

Sentindo-se incerto demais para dizer muito ou olhar para


Rafe de novo, ele balançou a cabeça.

─Não foi sua culpa.

─Mentiroso─, ele meio que riu, meio soluçou, o som tão alto
no quarto silencioso que Jeremy não conseguiu deixar de dar outra
espiada, apesar de sua proximidade e do jeito que isso estava
mexendo com sua cabeça.

Rafe não estava olhando para ele quando foi para a pia com
um pedaço de gaze, encharcou-o com água oxigenada e voltou a
esfregar a sujeira ensanguentada em sua testa. Doeu tanto que ele
teve que morder a bochecha para não gritar, as narinas se
alargando. A mão de seu amigo era gentil, toda a sua atenção em
consertar o maldito corte; ele nem percebeu como Jeremy não
conseguia desviar o olhar dele.

As feições de Rafe eram esculpidas e sólidas. À primeira vista,


ele parecia ser um idiota arrogante, todo aristocrático, mas ele não
era. O cara foi abençoado com a melhor tipo de cabelo - preto e
ondulado. E junto com olhos azuis gelo, caramba, mesmo o cara
mais hetero do mundo teria que admitir que o cara era alguma
coisa. A única palavra que Jeremy podia pensar que realmente se
encaixava era lindo. Rafe era lindo.

KM
Jeremy esperou que suas entranhas se congelassem, que
surgisse os mesmo pensamentos de “o que diabos você está
pensando”, mas isso não aconteceu. Uma sensação quente
acumulou-se em seu estômago e espalhou em seu corpo até que ele
teve certeza de que seu rosto estava vermelho beterraba. Com Rafe
tão perto, essa sensação não parecia errada como quando ele estava
com Tracey. Ele esteve se castigando durante toda a semana
passada, discutindo consigo por ser tão... curioso. Tão incomodado
por Rafe estar com alguém como Mark. Agora, ele estava sozinho
com ele e eles estavam próximos e caramba!

Ele estava até o topo com essa nova consciência sobre Rafe e só
estava ficando mais profundo. Como Rafe não percebia isso? Ou ele
estava fingindo que não percebia para Jeremy não ficar
desconfortável? Deus, que bagunça.

O calor se intensificou quando Rafe se aproximou novamente


para examinar o corte, Jeremy estremeceu. A imagem do pai de seu
amigo se aproximando de seu filho, pronto para soca-lo, passou por
sua mente. Ele se jogou entre eles sem pensar. Ele não suportava a
ideia de Rafe ser machucado mais uma vez por um pai babaca que
nunca viu seu filho do jeito que deveria. Era tão triste e horrível, e
naquele momento Jeremy só queria poupar Rafe, queria enfrentar
qualquer dor que pudesse para tornar isso mais fácil. E o que Rafe
fez? Ele pediu desculpas por seu pai. Ele cuidou do resultado.

O coração de Jeremy estava acelerado agora enquanto olhava


para ele. Eles estavam a apenas alguns centímetros de distância e
Rafe ainda estava incrivelmente alheio à sua
turbulência. Lentamente, dando a si mesmo tempo para recuar se

KM
algum tipo de alarme interno começasse a soar, Jeremy estendeu a
mão e roçou levemente a bochecha de Rafe. As pontas dos dedos se
moveram ao longo das linhas fortes de sua mandíbula, correndo
sobre a sombra fraca do bigode. Rafe ficou completamente imóvel,
seus olhos centralizados no peito de Jeremy enquanto sua respiração
acelerava um pouco.

O sangue de Jeremy corria em seu corpo, inflamado com novo


propósito. Ele não sabia o que deveria fazer em seguida. Ele queria…

Ele precisava estar mais perto.

Sua mandíbula apertou quando ele hesitantemente avançou,


fechando a distância com Rafe enquanto seus sentidos ficavam em
alerta total. Os dedos de Rafe arrastaram-se como uma marca
abrasadora ao longo de sua mandíbula até que pararam em seu
queixo, segurando-o, mas prontos para cair em um instante.

Jeremy não desistiria agora. Ele não tinha ideia da


profundidade do que o estava impulsionando, ou o quanto ele
precisava fazer isso até que ele começou. Ele não iria se afastar. Ele
estava indo devagar, terrivelmente lento, mas não sabia como parar
isso. Ele podia sentir o calor do corpo de Rafe e cheirar os traços
remanescentes da loção pós-barba e estava deixando-o fraco com a
necessidade. Enquanto seu coração martelava em seu peito, seus
lábios se separaram, palavras e apelos de uma parte sem nome dele
subiram em sua língua e desapareceram antes que pudessem
alcançar o ar.

─Rafe...

KM
Ele esperou a inevitável onda de repulsa, o grito interior para
se afastar, mas isso nunca veio, e quando os olhos de Rafe se
arregalaram, Jeremy fechou a distância entre seus lábios em um
movimento rápido e final.

Os lábios de Rafe eram quentes e suaves, a sensação de tocá-


los diferente de qualquer coisa que ele já tivesse experimentado. Foi
inacreditável. Perfeito. Suave como seda. Poderoso como um golpe
no corpo. Sua respiração estava tão trêmula e alta que ele deveria ter
ficado envergonhado, mas tudo o que ele conseguia pensar era que
ele queria mais. Mais.

A mão de Rafe ainda segurava sua mandíbula e um gemido que


veio de Deus sabe onde explodiu de Jeremy enquanto sua outra mão
se enrolava no cabelo da nuca de Jeremy. Seus lábios se separaram
ainda mais quando ele tentou aprofundar o beijo, doendo,
precisando mais da boca de Rafe contra a dele; temendo apenas
alimentar o fogo em seu sangue.

Rafe se moveu contra ele pelo mais breve e doce dos


momentos e então ele se foi. No que pareceu menos de um segundo,
ele estava do outro lado da sala, sua cadeira caindo para trás com um
estrondo e os braços apoiados na porta. Ele estava respirando tão
forte quanto Jeremy, seus olhos brilhando com desejo e cautela. A
expressão que ele estava ostentando era semelhante a dor e Jeremy
não entendeu. Quando Rafe falou, sua voz estava rouca e uma oitava
mais baixa do que Jeremy jamais ouvira. E grande choque, era sexy
pra caralho.

KM
─Jeremy... Você não sabe o que está fazendo. Esta não é uma
boa noite para foder com minhas emoções.

Jeremy levantou em um movimento fluido, com a fome


espalhada em todo o seu corpo e sua lesão esquecida.

─Eu não estou.

─Você não pode me beijar assim. Isso é o que você fez, você
sabe disso, certo? Você me beijou. Amanhã, você acordará e se
perguntará o que deu em você e acabará me culpando.─ Jeremy não
parou. Ele chutou a cadeira de Rafe para fora do caminho e fechou a
distância entre eles até que seus peitos estavam quase se tocando. O
lábio inferior de Rafe tremia de um jeito que fez Jeremy se sentir
poderoso e frágil de uma só vez.

─Eu sei o que estou fazendo, Rafe─, ele sussurrou. ─Se isso faz
você se sentir melhor, eu assumo total responsabilidade.

─Não-

Ele beijou Rafe novamente, gentilmente, com cuidado,


prestando atenção a cada lampejo de sensação dentro dele enquanto
seus lábios se tocavam. Ele estava se afogando no cheiro de Rafe, a
pressão de sua boca e a força dele que estava escondida abaixo da
superfície.

Os braços de Rafe ainda estavam apoiados na porta, e embora


ele permitisse o beijo, ele ainda estava duro como pedra, o lábio
inferior ainda tremendo ligeiramente. Jeremy passou a boca pela de
Rafe uma última vez e abriu os olhos, sentindo-se estranhamente

KM
desolado quando não foi agarrado e puxado de volta. Ele se jogou de
cabeça e foi rejeitado.

A dor no olhar azul de Rafe o cravou no chão e o fez querer


implorar, esconder-se e correr ao mesmo tempo.

─Acho que deveria ir─, disse Rafe com voz rouca. ─Sim... eu
deveria ir.

Jeremy, chocando os dois igualmente, pegou um punhado da


camisa de Rafe, mantendo-o perto.

─Eu não vou me arrepender─, ele respondeu no meio do


silêncio pesado.

─Você irá. Amanhã.─ Ele parecia tão aflito que Jeremy foi
capaz de ver um vislumbre do monte de porcaria que seu amigo
havia passado. Caras que o machucaram, mentiram para ele, o
usaram. Ele estava espantado consigo mesmo, mas queria caçá-los e
espancá-los. Ele queria proteger o homem na frente dele, embora
não houvesse dúvida de que ele poderia cuidar de si mesmo.

Rafe baixou os braços e se afastou de Jeremy.

─Eu tenho que ir.

─Ok─, Jeremy respondeu, sua voz suplicante, ─mas me


ouça. Não estou tentando...─, Rafe o silenciou, erguendo a mão no
ar.

─Eu não posso fazer isso agora, Jeremy. Entendeu? Eu não


posso.

KM
─Tudo bem, eu te ligo mais tarde─, disse ele quando Rafe
abriu a porta e praticamente correu para a varanda.

─Não. Apenas...─ Ele vacilou onde estava, por um segundo


parecendo que não queria nada mais do que voltar para ele e
continuar de onde pararam. Em vez de ficar assustado e perturbado
com a perspectiva, o coração de Jeremy disparou com algo parecido
com esperança. Desejo. ─Esqueça isso, Jer.

Jeremy assistiu da porta quando Rafe foi até a caminhonete e


entrou. Ele queria fazer cem coisas diferentes. Ele queria pensar em
cada segundo da última hora e queria afogar os pensamentos ao
mesmo tempo. Ele queria pular em seu próprio carro e perseguir
Rafe e ele queria ficar sozinho. Foi a pior e melhor coisa que ele já
sentiu. Como se de repente a vida dele imitasse um dos romances de
Charles Dickens16. Melhor e pior foda dos tempos.

Ele não sabia o que fazer agora e não tinha ideia de como
deveria consertar as coisas. Esta não era a reação que ele esperava de
Rafe - não que ele tivesse planejado isso.

Jeremy revirou os olhos e segurou a cabeça, sentindo a dor


novamente. Oh, quem ele estava tentando enganar, ele estava muito
interessado na vida pessoal de Rafe antes disso. Beijá-lo era
inevitável, especialmente depois da conversa com Tracey. Mas foram
embora os pensamentos de que ele acordaria e tiraria todas aquelas
coisas do seu sistema. Ele estava definitivamente em uma situação
maior. Ele estava sozinho e desmoronando. Ele estava mudando. Ele
estava diferente do que ele tinha sido antes de Rafe entrar em sua

16
foi o mais popular dos romancistas ingleses da era vitoriana.

KM
vida e fazê-lo questionar tudo o que ele achava que sabia sobre si
mesmo. E ele estava aterrorizado.

***

Rafe bateu com os punhos no volante enquanto se afastava da


casa de Jeremy. Ele estava tremendo com as emoções que passavam
através dele. E ele não era responsável desta vez. Primeiro o pai dele
agindo como uma merda, então Jeremy com seus beijos, que foi um
golpe baixo. Aqui cara, eu sei que você teve um dia de merda, que
tal pensar em outra coisa? PS: eu só estou interessado em
mulheres. Que porra foi essa?

Por um minúsculo momento, Rafe pôde continuar como se


Jeremy não estivesse constantemente em sua mente. Ele fez a coisa
certa e empurrou a atração que sentia para o esquecimento por
causa de sua própria sanidade e por respeito a seu amigo.

Seu amigo que deveria ser hetero. Não bi. Não gay.

Sua mente ansiosa voltou novamente para o beijo, procurando


por qualquer sinal de que ele estivesse enviando sinais, mas ele sabia
que não. Pela primeira vez Rafe não tinha pensado sobre o seu
amigo assim, ele estava absorto em seu pai dando uma de Rocky e
como ele nunca deveria ter deixado Jeremy ir até lá com ele. O beijo
foi a última coisa que ele esperava. Foi tudo Jeremy. Com a parte da
culpa resolvida, ele percebeu que o beijo foi absolutamente melhor
do que qualquer fantasia estúpida que ele já teve e precisou de todo

KM
o seu autocontrole para não tirar vantagem da situação. Mas ele não
queria acordar amanhã de manhã com um novo conjunto de
problemas e culpa. Como se ferir assim como fez com Mark.

Jeremy poderia tê-lo beijado - duas vezes! -, mas na manhã


seguinte ele estaria de volta ao final do espectro gay/hetero,
culpando Rafe por seduzi-lo. E ele estava cansado de ser usado para
satisfazer a curiosidade de alguém em um minuto, depois ser
empurrado para longe como se ele tivesse algum tipo de doença. Ele
com certeza tinha um dom para escolher os caras que estavam tão
fundos no armário que acreditariam que estavam em Nárnia antes
de acreditarem que poderiam ser atraídos por outro homem. Isso, ou
ele encontrava caras como Mark que deveriam ser certos para ele e
não importava o que eles fizessem, algo não clicava.

E isso o irritou porque ele ainda podia sentir os dedos de


Jeremy contra a pele de sua bochecha, o jeito que ele estava tão
hesitante quando ele se moveu para o primeiro beijo, então
praticamente o perseguiu através do quarto para o segundo. Rafe
quase bateu no batente da porta agarrando-se a ele, e quando
Jeremy agarrou sua camisa, puxando-o para perto...

Filho da puta. Ele queria assumir e mostrar a ele o quão


incrível poderia ser. Seu celular tocou um alerta e ele puxou-o do
bolso, sem ter certeza de quem ele queria que fosse. Talvez um
cliente - alguém com quem ele pudesse contar em ser normal, ou
Mark - deus era uma péssima ideia, ou Jeremy - provavelmente se
desculpando por seu “erro”. Rafe podia ver agora: Aquele foi um
beijo hetero, não um gay. Não faremos isso de novo.

KM
Ele amaldiçoou e olhou para a tela onde o nome de Jeremy
estava brilhando intensamente. Rafe estava a apenas um quilômetro
de casa, então ele esperou até que ele estivesse estacionado na
garagem para abrir o telefone e ler a mensagem.

Não fuja de mim agora, plz17. Fale comigo.

Rafe gemeu e descansou a cabeça no volante, oscilando entre


virar e correr de volta para a casa de Jeremy para descobrir tudo ou
engolir pílulas para dormir o suficiente para acordar, digamos, na
semana que vem.

Seus dedos pairavam sobre as teclas, e ele foi atingido por sua
própria fraqueza, como ele não esteve tão perdido desde que
saiu. Era como se ele estivesse tropeçando no escuro
novamente. Uma coisa era inegável, no entanto. Mesmo com Jason,
seu primeiro, ele não esteve tão confuso. Jason era o único que o
guiava, mas com a principal diferença que agora Rafe tinha certeza
de que gostava de homens e estava pronto para aceitar isso. Ele não
tinha certeza se ele tinha os meios para ser essa pessoa para
Jeremy. Jeremy... que era hetero.

Deus, ele era tão estúpido por se apaixonar por outro homem
inatingível.

Ele fechou o telefone e abriu a porta. Ele estava na metade da


caminhada quando seu telefone começou a tremular. Rafe parou
bruscamente, lutando contra o desejo de atender. O que ele diria a
ele? E o que Jeremy queria? De jeito nenhum ele poderia lidar com

17
Por favor

KM
isso agora. Ele mandou Jeremy para o correio de voz e destrancou
sua casa, batendo a porta atrás dele. Seu lugar estava escuro e
vazio. Deprimente. Então, avaliação rápida de danos: pais, se
foram… namorado, zero… amigos, longe…

Jogando as chaves sobre a mesa, foi direto para a geladeira e


tirou uma cerveja, torceu a tampa e engoliu a metade antes de
desabar em uma cadeira à mesa. Foi quando ele notou o sangue
ainda em seus dedos e suspirou.

Seu telefone começou a tocar novamente e ele apenas olhou


para ele. Cinco minutos depois, ele tocou novamente, e depois cinco
minutos depois disso. Merda.

As mensagens de voz estavam se acumulando. Quando a


próxima mensagem de texto veio zumbindo, Rafe estava terminando
sua segunda cerveja. Ele não era forte o suficiente para não lê-la, e
seu coração disparou em sua garganta quando viu o que dizia.

Rafe, me ligue de plz. Preciso ouvir sua voz e falar


disso. Eu não vou voltar atrás. Me ligue, plz.

Ele olhou para as palavras por um longo tempo, sua mandíbula


cerrada, os dedos apertados ao redor do telefone, e então ele
desligou. Quando ele foi para seu quarto, fechou a porta atrás dele e
caiu na cama, exausto e furioso.

Ele não queria nada mais do que ligar para Jeremy e fazer tudo
dar certo como se fosse num filme, mas às vezes não importava o
quanto você queria. E ele simplesmente não tinha forças para pensar

KM
em perder outra pessoa com quem ele se importava hoje à
noite. Essa merda teria que esperar.

KM
CAPÍTULO DEZESSEIS

Jeremy girou o volante do carro para a garagem de Rafe e


desligou o motor, olhando sombriamente para a casa às
escuras. Horas se passaram sem uma única palavra e ele não ia
esperar mais um minuto para enfrentar essa situação de merda. O
tempo tinha se arrastado desde o segundo que Rafe tinha ido
embora, tropeçando para longe dele como se não pudesse suportar
vê-lo. Seu silêncio era tudo o que Jeremy precisava para saber que o
que estava acontecendo entre eles significava muito e deixar as
coisas do jeito que estavam não seria bom. Ou o cara descarregava
nele e eles lidavam com isso, ou... Deus, e se Rafe ainda se recusasse
a falar com ele?

Jeremy olhou para a hora no celular e viu que passava da


meia-noite. Ele tinha que acordar cedo para um jogo duplo, mas ele
não dava a mínima. Sua mente estaria bem longe de qualquer
maneira. Então, ou ele ficava acordado aqui tentando falar com
Rafe, ou ficaria acordado ligando de casa. Quando tentara dormir,
achou fácil demais se torturar pelo que poderia ter acontecido,
depois acidentalmente rolou sobre o hematoma feio que cobria o
lado do rosto e saiu da cama com uma maldição. Dormir estava fora
de questão.

Obviamente, a reação de Rafe não era a que ele imaginara; em


vez disso, ele continuava repassando o que aconteceu de novo e de
novo. Jeremy estava pulando em torno da grande “questão gay”, mas
não porque ele estava chocado com isso. Não mais. Tudo o que ele
queria agora era que Rafe falasse com ele para que eles pudessem

KM
descobrir o que fazer a seguir. E talvez fosse presunçoso, mas ele
realmente queria que eles resolvessem isso juntos. Ele precisava
que Rafe entendesse.

Rafe era... Ele era tudo em que Jeremy podia pensar. Ele se
importava com ele, verdadeiramente. Vendo-o tão chateado e
observa-lo correr de sua casa como se os cães do inferno o
estivessem perseguindo, fez seu peito doer. Quando ele saiu,
Jeremy sentiu sua ausência. Um buraco que se encheu rapidamente
com o que poderia ser entre ele.

Ele estava preocupado, não só porque eles se beijaram e Rafe


não pareceu satisfeito com isso, mas também por causa da outra
porcaria que Rafe estava passando com seu pai. Tinha que ser
realmente terrível ver o seu próprio pai tão cheio de repugnância que
apelou para a violência. O estômago de Jeremy se contorceu quando
ele pensou nisso, imaginando qual seria a reação de seu pai se ele
soubesse o que Jeremy estava fazendo naquele momento -
perseguindo um cara em sua casa para que ele pudesse se acertar
com ele.

Ele não queria dar desculpas ou pedir desculpas. Ele não tinha
certeza se tinha alguma coisa para se desculpar, a menos que Rafe
estivesse ofendido, o que parecia meio provável. E sem dúvida, essa
conversa seria estranha. O que mais ele deveria pensar depois da
maneira como Rafe se recusou a responder suas mensagens ou
retornar as ligações? Com cada simples mensagem que ele deixou,
seu espírito afundou mais e mais até que ele se perguntou se ele teria
a chance de conversar com Rafe, que provavelmente estava se
preparando para fugir do estado.

KM
Talvez Jeremy tenha lido tudo errado antes, mas ele tinha
certeza de que em algum lugar no fundo Rafe queria estar perto dele
também. Não havia tantos sinais quanto antes, mas lembrava-se
bem do contato total com os olhos, dos olhares de soslaio, dos
toques - todos totalmente discretos -, assim como o modo como
Jeremy vinha provocando-o. Como se ele estivesse flertando
também e não tivesse percebido. Então, por que diabos o cara se
escondeu depois que Jeremy deu esse salto?

Jeremy sussurrou uma maldição e abriu a porta, fechando-a


atrás dele. Não se importando se ele acordasse a vizinhança, ele
andou até a porta da frente e não hesitou com as batidas. Tocou a
campainha com a outra mão e começou a rezar.

─Rafe!─ Ele gritou. ─Levante-se e abra a maldita porta. Nós


precisamos conversar. Rafe!─ Não havia sinal de vida lá dentro e
Jeremy manteve o coro de tocar e bater, encontrando um ritmo
decente que acordaria até os mortos.

─Eu não vou a lugar nenhum até você falar comigo. Eu ficarei
aqui a noite toda, droga!─ Vamos maldição.

A luz na sala de estar piscou e, momentos depois, a porta se


afastou de seu punho fechado. Finalmente, o homem que ele queria
ver estava na frente dele, perto o suficiente para tocar. O ar deixou
os pulmões de Jeremy como se tivesse levado um soco no estômago
e por um segundo ele não pôde dizer nada.

Rafe estava usando um moletom velho e ele estava sem


camisa. E maldição se isso não fez Jeremy esquecer todas as coisas
realmente impressionantes que ele planejava dizer. A expressão no

KM
rosto do outro homem também não era exatamente um convite para
entrar.

Nem mesmo três segundos se passaram antes que a mão de


Rafe segurasse o pulso de Jeremy, puxando-o para dentro.

─O que há de errado com você?─ Ele rosnou. ─Eu receberei


reclamações dos vizinhos até o caralho do final do ano!

─Você está falando sério?─ Jeremy revidou, seus sentidos


retornando, alimentados por sua própria raiva. ─O que há de
errado comigo? O que há de errado com você? Por que você não
respondeu minhas mensagens ou me ligou?─ ele perguntou sem
rodeios, intensamente consciente do modo como Rafe estava
segurado seu braço. ─Isso é importante, Rafe. Você ao menos os leu?

─Eu li. Eu também escutei os recados.─ Sua voz era muito


mais baixa agora, mas seu corpo ainda estava tenso. Ele não gostou
de admitir que ele recebeu todas as mensagens. E por sua expressão,
estar a menos de meio metro de distância de Jeremy ficava entre
algum lugar abaixo da tortura chinesa ou ter seus olhos
arrancados. Sua expressão era fria e distante e o coração de Jeremy
rachou com a visão.

─Se você os ouviu, por que você não me ligou de volta? Quero
dizer, mesmo que essa noite não tivesse acontecido, imaginei que
um cara como você entenderia quando alguém precisa conversar. E a
coisa é, esta noite aconteceu, e você fugiu. Por horas eu tenho
enlouquecido e você esteve muito ocupado me ignorando e
se escondendo.

KM
Rafe se eriçou.

─Bem, você resolveu isso, não é? Estamos conversando agora!

─Sim, depois que você me deixou no escuro, imaginando o que


estava acontecendo - imaginando o que tudo isso significa. Que tal
alguma cortesia, pelo menos? Talvez uma mensagem de texto me
dizendo que você ia me ignorar ou que você espera que minhas bolas
murchem e caiam. Qualquer coisa.─ Jeremy arrancou o braço do
aperto de Rafe e passou por ele para a sala de estar. Ele começou a
andar de um lado para o outro, com as mãos nos quadris, e então,
tão rápido quanto começou, ele parou. ─Merda, você vai participar
disso, ou é demais para você?

Os olhos de Rafe se estreitaram e ele cruzou os braços sobre o


espetacular peito nu, os olhos azuis gelo enquanto olhava para
Jeremy, que estava perdendo rapidamente a esperança de poder
discutir o que estava acontecendo como adultos.

─Você acha que esta é a primeira vez que estou nessa situação,
Jeremy? Honestamente? Você acha que é o primeiro cara que
descobriu que eu sou gay e acabou fazendo algo como me beijar para
satisfazer algum tipo de curiosidade residual do ensino médio?─ Ele
seguiu Jeremy para a sala de estar, mas manteve a distância
enquanto fazia seu discurso.

─Deixe-me dizer-lhe algo sobre ser usado, sobre ter uma


pessoa com quem você se preocupa usando jogos mentais com você
porque eles estão muito fodidos para descobrir quem eles são. Você
me beijou esta noite; Eu não sei porque. Perdoe-me por não querer
ouvir como você é hetero e nunca quis fazer o que fez. Estou farto de

KM
pessoas com muito medo, covardes e muito imaturas para se
importar com o sentimento de outra pessoa.

Jeremy apontou a direção de Rafe.

─Isso vindo do cara que correu da minha casa como se mal


pudesse esperar para estar longe-, então estava muito ocupado com
essa besteira de me ignorar.─ Ele balançou os braços ao redor. ─Se
isso é tudo que você tem a dizer para mim, você pode guardar para si
mesmo. Eu já descobri isso sozinho, obrigado. Você já pensou
nisso? Você já considerou que eu estou enlouquecendo e poderia ter
precisado de ajuda com o que acontece a seguir? Merda! Eu até
contei para minha irmã como me sentia! E o que você fez? Você
fugiu. E agora fala sobre covardia.

A menção de Jeremy a sua irmã claramente surpreendeu Rafe,


mas ele limpou a expressão atordoada de seu rosto e fez uma careta
ainda mais profunda. Se Jeremy não estivesse tão chateado e com o
coração partido, ele teria ficado impressionado com a forma como
Rafe enterrou suas emoções.

─Você não sabe do que está falando. Eu não sou um jogo que
você pode jogar, Jeremy. Eu não sou uma experiência de laboratório
para o cara hetero. Você viu que eu tinha sentimentos por você - e
sim, eu tenho coragem de admitir - e decidiu experimentar.

Jeremy deu um passo para trás, como se Rafe tivesse lhe dado
um soco no peito.

─Essa é a impressão que você tem, hein? Diga-me, foram as


dezenas de mensagens telefônicas implorando para que você falasse

KM
comigo, dizendo repetidas vezes que eu não iria fingir que nada
aconteceu que fez você pensar que eu poderia tratá-lo como
uma experiência? Ou foi o jeito que eu te disse que
tenho sentimentos por você e queria que você fizesse parte da minha
vida?─ A dor passou por ele e ele teve que parar para se controlar.

─Foda-se, Rafe. Eu nunca brincaria assim com


você. Nunca. Eu posso não entender o que está acontecendo comigo,
mas para o inferno com você por pensar que sou tão
idiota. Droga! Esta é a segunda vez que você acha que sabe o que
estou pensando. Errado de novo. Você deveria crescer.─ Jeremy
passou a mão pelo rosto e balançou a cabeça, com medo de que ele
realmente fosse se envergonhar e começar a soluçar, ou fazer algo
igualmente ridículo, como implorar. ─Apenas esqueça─, ele
engasgou, passando por Rafe até a porta da frente. Era isso. Todo
esse tumulto, toda essa besteira por nada.

Jeremy segurou a maçaneta e desejou poder arrancar a porta


das dobradiças, qualquer coisa para se sentir melhor. Esvaziar seu
peito. Gritar e gritar um pouco mais. Mas isso não iria acontecer. Ele
estava cansado disso; isso estava apenas o enlouquecendo.

Antes que ele pudesse abrir a porta, a palma de Rafe bateu


contra ela e fechou-a e as emoções de Jeremy se intensificaram.

Rafe não afastou a mão e por alguns momentos o único som


era a respiração deles. Nenhum deles estava perto de estar sob
controle. Jeremy sentiu o calor do corpo de Rafe atrás dele e
imaginou como deveria parecer: o corpo quase bloqueado pelo braço
de Rafe, eles quase se tocando. Ele coçava para se virar e encarar

KM
Rafe, mas estava preocupado demais em encontrar apenas mais
rejeição. Algumas coisas são melhores sem contato visual. Para
completar, sua cabeça machucada estava soando todos os alarmes e
fazendo seu estômago doer como se estivesse digerindo cimento.

Quando Rafe se inclinou para ele e descansou a testa entre as


omoplatas de Jeremy, ele se esqueceu de tudo isso. O outro braço de
Rafe, lentamente - timidamente - deslizou pela cintura de Jeremy
até que foi enrolado firmemente ao redor dele.

O coração de Jeremy trovejou em seu peito e ele estava


tremendo por acreditar que Rafe iria deixá-lo ir sem levantar um
dedo. Ele passou os braços sobre os de Rafe, segurando-o
firmemente enquanto aquela pressão suspeita se construíra por trás
de seus olhos. Oh deus, ele não podia começar a chorar, mas não
tinha certeza de quanto tempo poderia ficar assim enquanto sua
visão ficava turva e seus ombros começam a tremer.

Diga-me para sair ou fazer isso direito, Rafe, pensou consigo


mesmo.

Rafe murmurou algo que Jeremy não conseguiu entender e


envolveu o outro braço ao redor dele. Sua pele estava quente, seu
aperto forte enquanto ele o segurava, e foi a sensação mais
maravilhosa que Jeremy já havia sentido. Como se ele finalmente
tivesse encontrado algo certo.

─Jeremy─, Rafe sussurrou então. ─Deus… Me diga por


quê. Diga-me o que você precisa de mim.─ Sua voz era baixa e rouca.

KM
Jeremy sacudiu a cabeça, incapaz de falar durante alguns
instantes. Quando ele finalmente conseguiu, cada palavra tremeu
com o peso de seus sentimentos.

─Nós não nos conhecemos há muito tempo, Rafe, mas eu


nunca usaria você. Eu te beijei porque... merda... eu queria, e diabos
sim, eu estou com medo, mas como você pode fazer isso? Me
ignorando desse jeito? Eu não desrespeitei você assim. Nunca. Estou
totalmente perdido aqui.

Rafe puxou Jeremy para perto dele, o peito pressionado


firmemente contra as costas de Jeremy, e ele gemeu.

─Eu sei─, ele sussurrou. ─Estou lidei errado com isso de forma
errada. Eu pensei que depois da cena dos meus pais ...

Jeremy interrompeu, reunindo coragem e movendo-se nos


braços de Rafe até ficarem frente a frente, a poucos centímetros de
distância. A expressão cheia de dor de Rafe era quase demais para
ele.

─Você pensou que eu faria aquilo como uma solução


rápida? Um Band-Aid por seu pai agir como um idiota violento e de
mente fechada? Dê-me algum crédito, Rafe. Eu não sou tão
arrogante para achar que um beijo meu poderia resolver todos os
seus problemas, e mesmo se eu fosse, eu realmente não tenho o
hábito de beijar outros homens.

Ele procurou os olhos azuis de Rafe e viu sua própria agitação


refletida ali. Estar tão perto de um homem era novo para ele, mas
quando Rafe se afastou para lhe dar espaço, Jeremy agarrou seus

KM
ombros e o segurou onde estava. Ele o queria perto. Ele queria coisas
que nem sabia como pedir.

─Foi tão difícil acreditar, talvez por um segundo, que eu te


beijei porque eu queria? Porque eu me importo com você? Porque
por alguma razão eu quero estar perto de você e te proteger? Eu
nunca me senti assim com ninguém antes, Rafe. Certamente com
nenhuma mulher com quem eu estive. Quando você deixou de ver
seu próprio valor? Ou você nunca viu?

Rafe o observava com olhos arregalados que brilhavam com


intensidade. Seu corpo estava congelado no aperto de Jeremy, mas
quente e muito agradável sob seu toque.

─Eu sei que não tenho experiência nisso. Talvez para ser justo,
parte disso era curiosidade.─ Jeremy passou as mãos pelos braços
de Rafe e respirou fundo quando sentiu arrepios na pele que ele
tocou. Ele só podia se maravilhar com a exatidão do que estava
fazendo. ─Eu sei que não posso explicar por que estar perto de você
tem sido diferente para mim desde o começo─, disse ele. ─Você está
me ouvindo? Eu gosto de você. Você me atrai, Rafe. Você está na
minha cabeça e eu não consigo te tirar dela, e eu nem quero, mas
você fez eu me sentir como um idiota. Como se eu estivesse em pé na
frente de um pelotão de fuzilamento, implorando que abaixem as
armas deles. Então você me diz o que fazer. Você me diz o que você
precisa que eu faça. E eu farei isso. Juro por Deus que eu vou.

Rafe ficou em silêncio por um longo tempo, seus olhos


baixando para o peito de Jeremy enquanto ele mordia o lábio
inferior.

KM
─Você tem alguma ideia do que está fazendo comigo?─ ele
murmurou, levantando as mãos de onde Jeremy ainda segurava seus
braços e os passando pelos cabelos. Jeremy ficou tão aliviado que
Rafe não estava forçando-o a sair pela porta que ele não pôde
responder.

─Eu sei que você está confuso agora─ Rafe disse, enviando o
coração de Jeremy para sua garganta enquanto ele deixava cair as
mãos para descansá-las nos quadris de Jeremy. ─Eu não quero tirar
vantagem disso. Sabe o que eu quero dizer?

Jeremy teve que limpar a garganta para falar.

─Sim.

─Eu não quero ser esse cara. Porque se você decidir que isso
não é o que você quer, você vai começar a me olhar de forma
diferente, mesmo que você não pense assim agora. Isso me
mataria. E por mais egoísta que pareça, não tenho certeza se estou
pronto para ser deixado para trás se de repente você perceber que
cometeu um grande erro. Você é importante para mim, Jeremy; Eu
não quero estragar isso. Mas eu também não posso ser o cara com
quem você brinca de vez em quando, e ignora quando não estamos
sozinhos.

─ Eu não vou-

─Não, Jeremy. Deixe-me terminar─, interrompeu Rafe e a


boca de Jeremy se fechou. ─Eu tive a minha cota de ver homens que
escondem quem são de todos. Não é divertido e nunca acaba
bem. Relacionamentos secretos são para pessoas que não têm

KM
escolha, ou para covardes. O que você está considerando é uma
decisão que vai mudar sua vida - quer dizer, você viu meus pais. Eles
me deserdaram. Mas isso não é apenas uma mudança de vida para
você. É para mim também. Eu quero você. Eu quero você de todas as
maneiras que eu puder ter você e eu te quero desde que te conheci,
mas não se você for correr. Eu sei que você está em uma situação
difícil com o seu trabalho. Não é o melhor ambiente para dois caras -
ah, inferno... Mesmo no meu trabalho, tenho que ser cuidadoso, por
mais injusto que isso seja, mas para você...

Ele ficou completamente imóvel e sua vulnerabilidade foi tão


dolorosa que Jeremy esqueceu seu nervosismo e o puxou para mais
perto até que seus lábios estavam apenas a um sussurro de
distância. Os medos de Rafe estavam tornando mais fácil para
Jeremy esquecer os seus, mas ele disse que o queria e, por enquanto,
era tudo o que ele precisava saber. Ele sabia que tinha muito em jogo
- descobrir quem ele era, contar à sua família - que era algo
assustador a considerar. Rafe significava muito para ele
simplesmente ir embora.

─Diga-me o que você quer que eu faça─, ele rosnou.

─Escute, nenhum de nós sabe o que vai acontecer-

Jeremy cortou suas palavras com um beijo que começou lento


e doce, uma suave pincelada de lábios nos lábios. Levou segundos
para o contato se intensificar enquanto seu corpo rugia em
satisfação. Empurrando Rafe contra a parede, ele se soltou, seu
corpo balançando de prazer quando Rafe não se conteve. Seus lábios
se misturavam poderosamente, suas línguas se esfregando uma na

KM
outra enquanto eles se apertavam com tanta força que mal havia
espaço suficiente para respirar. Jeremy sentiu as mãos de Rafe
enquanto seguiam uma trilha sobre os ombros e o pescoço e
enrolaram em seus cabelos, mas isso não era nada comparado com a
sensação de pele de Rafe e o movimento de seus músculos quando
Jeremy se moveu contra ele. Instinto entrou em ação e Jeremy
soltou a boca de Rafe apenas para deixar uma série de beijos em seu
pescoço e ombro. Ele respirou profundamente seu perfume, aquela
loção pós-barba familiar, e beliscou a pele ali, amando o
gosto. Quando Rafe assobiou de prazer, Jeremy sorriu em
gratificação e capturou sua boca mais uma vez, dando um gemido
próprio quando Rafe alcançou seus quadris, puxando Jeremy com
força contra ele.

Rafe soltou sua boca, o peito arfando com o esforço que levou,
e ele encontrou os olhos de Jeremy e manteve o olhar fixo.

─Você tem certeza disso?

Um lento sorriso de certeza se espalhou pelas feições de


Jeremy e ele assentiu.

─Tenho certeza─, ele murmurou, e fechou a distância entre


eles mais uma vez.

Não havia muito entre eles e até mesmo através de seus jeans,
Jeremy sentiu a excitação de Rafe contra ele, sua própria resposta
pulsando dentro de seus jeans a cada batida de seu coração. Jeremy
deixou as mãos vagarem quando alcançou as costas de Rafe,
empurrando com facilidade por baixo do cós do moletom até que ele
sentiu a pele firme dos glúteos de Rafe. Aterrou-se contra o corpo de

KM
Rafe, movendo a boca para a têmpora de Rafe enquanto um gemido
de paixão rasgava-o.

O corpo de Jeremy sacudiu com sua respiração e ele sussurrou


guturalmente, ─Eu quero mais de você ...─ Rafe murmurou algo
contra sua pele e assentiu, agarrando a mão de Jeremy e puxando-o
para o quarto. A luz não estava acesa, mas Jeremy não dava a
mínima quando ele tirou a camisa, jogando-a, Deus sabia onde e
largando os sapatos ao longo do caminho. Quando ele mexeu em seu
cinto, Rafe estava lá, afastando as mãos.

─Deixe-me fazer isso─, ele suspirou, sua excitação tão forte


que Jeremy achou que poderia prova-la. Suas mãos não vacilaram
quando ele soltou o cinto e em vez de ir mais longe com o jeans, ele
inclinou a cabeça para o peito de Jeremy e suavemente correu os
lábios sobre a pele lá, fazendo algo perverso com a boca no mamilo
de Jeremy.

─Deus, seu gosto...─ Rafe disse em um sussurro rouco. ─Eu


tenho que te deitar.─ Jeremy não teve chance de responder. Um
segundo ele estava de pé no final da cama de Rafe, no outro ele
estava esparramado no topo e observava enquanto Rafe se abaixava
sobre ele. Seus moletons, pendurados nos quadris, deixavam pouco
para a imaginação. A visão fez o pênis de Jeremy saltar dentro de seu
jeans e ele levantou os quadris sem pensar, balançando-se mais
perto de Rafe, que deu a mais sexy risada que Jeremy já ouvira.

Isso estava acontecendo. Isso estava realmente acontecendo.

─Paciência, meu homem. Paciência...─ Rafe rosnou baixo.

KM
Jeremy não estava assustado como achava que estaria. Havia
apenas Rafe e o momento, e ele foi apanhado em ambos. Ele
percebeu que queria isso desde o começo. Ele precisava de Rafe, não
simplesmente pelo modo como daria prazer a seu corpo, mas porque
ele tinha que tê-lo ali a cada passo do caminho, mesmo que fosse
apenas para dizer que o que estava acontecendo entre eles era tão
perfeito para ele como para Jeremy. Estar com ele, observar o modo
como o desejo e as inúmeras outras emoções invadiram os olhos de
Rafe, tudo estava... perfeito... pela primeira vez em sua vida. O único
medo que sentiu foi que ele pudesse perder tudo antes que
pertencesse a ele. Rafe se apoiou sobre Jeremy, apoiando o peso nos
braços enquanto olhava em seus olhos, a luz fraca projetando
sombras em seu rosto.

─Vamos devagar─, ele murmurou enquanto seu cabelo caía


sobre a testa.

Jeremy balançou a cabeça e levantou a boca para Rafe para um


beijo longo e ardente.

─Eu não estou assustado. Eu quero isso, Rafe. Eu quero você.

Rafe deu um sorriso sexy, todo poder e experiência, e saiu do


alcance de Jeremy novamente, dando-lhe outra chance de ver seu
pau lutando contra as calças de moletom antes de se inclinar e
continuar o trabalho que tinha começado no jeans de
Jeremy. Obedecendo, Jeremy ergueu os quadris enquanto Rafe
abaixava a calça jeans sobre suas pernas e pés.

Sua respiração ficou mais rápida quando Rafe olhou para ele,
seus olhos percorrendo seus peitorais e abdominais, finalmente

KM
chegando ao eixo rígido de Jeremy que espreitava para fora do cós
de sua cueca boxer. A cabeça estava vazando, ele estava tão
pronto. Os olhos de Rafe se arregalaram e sua própria respiração
tornou-se superficial quando Jeremy passou a mão pelo estômago e
se tocou através do tecido.

─É isso que você quer ver?

─Foda-se… eu amo seu corpo. Sua pele...─ Rafe sussurrou e


Jeremy o recompensou segurando a tira de sua boxer com o polegar
e puxou mais para baixo, revelando mais de si mesmo enquanto
acariciava seu membro. Os ombros de Rafe se levantaram e suas
costas arquearam, seu pênis lutando contra o seu moletom.

Jeremy se apoiou em um cotovelo e encheu o punho com o


moletom de Rafe.

─Ou você tira isso, ou eu arranco─, ele disse.

Rafe agarrou o braço de Jeremy e puxou-o para mais perto,


lambendo-o por um momento apressado, depois soltou quando ele
se levantou de joelhos. Nunca tirando os olhos do rosto de Jeremy,
ele puxou o moletom pelo resto do caminho e tirou. Jeremy
observou enquanto cada centímetro era revelado, de sua ereção
latejante para suas pernas fortes e flexionadas.

Ah... sim... Isso era muito melhor do que qualquer


fantasia. Seu corpo nunca esteve tão duro e pronto.

Cansado da separação, Rafe correu para ele, tomando sua boca


novamente e colocando o comprimento de seu corpo contra
ele. Jeremy o encontrou no meio do toque e passou os braços ao

KM
redor dele, deleitando-se com o peso de Rafe em cima dele. Era
como se apenas a sensação de sua pele pudesse fazer Jeremy gozar a
qualquer momento.

─Eu tenho que te dizer uma coisa...─ Jeremy disse sem fôlego,
sabendo que as palavras provavelmente seriam um choque. Uma
nova onda de hesitação entrou nos olhos de Rafe enquanto ele
assentia. ─No outro dia, no chuveiro... eu fantasiei sobre você...

O calor nos olhos de Rafe aumentou e ele beijou Jeremy com


força, o contato dizendo a ele quem estava realmente no controle.

─Eu também─, Rafe admitiu com um pequeno sorriso quente,


em seguida, tomou sua boca novamente. Rafe arrastou beijos em seu
peito, tomando seu tempo sobre cada mamilo e se movendo para
baixo em seu abdômen. Com uma das mãos no cós da cueca de
Jeremy, ele olhou para Jeremy com os lábios entreabertos que o
deixaram inquieto por algo mais. Nos olhos dele havia uma
pergunta. Jeremy assentiu e engoliu convulsivamente.

─Tire─, ele engasgou.

Rafe lentamente baixou o contato visual e, reverentemente,


enrolou os dedos ao redor do elástico ao deixar outro rastro de beijos
ardentes pelo quadril de Jeremy, afastando propositalmente a mão
da crescente e evidente excitação de Jeremy. Ele puxou a cueca um
quadril de cada vez, o processo aumentando a necessidade de
Jeremy ao ponto de todo o seu corpo doer.

Rafe beijou suas pernas e recuou assim que a cueca estava fora
do caminho, suas mãos indo à frente de sua boca até que elas

KM
estavam segurando seus quadris. Em um movimento gracioso, ele se
acomodou entre as pernas de Jeremy e usou esse aperto para
levantar os quadris de Jeremy da cama. Os olhos de Rafe brilhavam
na penumbra e Jeremy só podia observar enquanto seu corpo se
contorcia.

─Você é tão lindo...─ Rafe murmurou, mas Jeremy poderia


argumentar que Rafe era o mais lindo, com os ombros flexionados e
o peito largo esticado sob o peso de Jeremy. Ele estava além do
ponto de encontrar palavras que se encaixassem e seu corpo tinha
que falar por ele. Falando em uma linguagem antiga que era
facilmente compreendida, ele olhou para Rafe segurando seu corpo
da cama, ambos os pênis rígidos e prontos, e seus quadris
empurraram para cima quando a cabeça dele retrocedeu. Seu corpo
todo se arqueando de prazer e necessidade. Rafe o recompensou
com aquela mesma risada novamente, seu aperto se intensificando
perfeitamente.

Jeremy sentiu a respiração em sua pele momentos antes que os


lábios de Rafe tocassem seu eixo e, à leve pressão daquela boca como
cetim, seu corpo começou a pulsar de novo. Rafe levou seu tempo,
provocando seu caminho de cima para baixo antes de tomar tudo
dele. O calor da boca de Rafe enquanto ele chupava fez Jeremy se
contorcer na colcha enquanto seus pulmões puxavam o ar.

Rafe conseguiu controlá-lo facilmente, envolvendo um sólido


braço musculoso em torno de Jeremy e usando seu peso para
empurrá-lo de volta para a cama. Com a outra mão, ele gentilmente
tocou as bolas entre as pernas de Jeremy, ganhando um gemido
dele. O corpo de Jeremy balançou contra Rafe, mas o aperto do

KM
homem era como ferro, prendendo-o sob os cuidados apaixonados,
tão perto de enviá-lo ao limite.

Nunca se sentira assim. Nunca tinha sido... assim.

Rafe cavalgou as ondas de prazer pulsando através do corpo de


Jeremy, levando-o ao limite do orgasmo e recuando. Ele subiu o
corpo de Jeremy e usou a língua para saquear sua boca. Jeremy
puxou-o com mais força e se provou na língua de Rafe. Seu coração
realmente estava prestes a explodir, batendo como um louco.

─Você quer gozar?─ Rafe sussurrou, lambendo o lábio inferior.

Ele não deu a Jeremy a chance de responder quando ele


afundou de volta e continuou o que ele havia começado com a boca,
torturando-o com prazer até que ele estava suando e se
contorcendo.

─É isso, meu homem, goze para mim─, Rafe disse com a voz
rouca, usando as mãos.

Suas palavras mandaram Jeremy para o precipício e quando


ele gozou, foi como se seu pênis explodisse, jatos quentes de fluido
contra o estômago e o peito dele enquanto suas costas se arqueavam
no orgasmo. Rafe segurou-o através dos espasmos de prazer, seu
corpo um peso quente contra ele. Sua respiração estava ofegante
quando ele puxou Rafe para ele, então, em um movimento rápido,
Jeremy rolou os dois até que Rafe estava ofegando embaixo dele, os
fluidos quentes de seu orgasmo tocando os dois e excitando Jeremy
de novo. Tomando os pulsos de Rafe em uma mão, ele os trancou
sobre a cabeça e com a mão livre, traçou as linhas do estômago de

KM
Rafe para baixo até que ele estava segurando seu pau duro e
acariciando suavemente. Dois poderiam jogar este jogo.

O corpo de Rafe se tornou um cordão apertado, seus músculos


endureceram enquanto ele avançava no ritmo com a mão de
Jeremy.

─Porra─, ele gritou novamente e Jeremy engoliu as palavras


quando ele tomou a boca de Rafe novamente, suas línguas entrando
e saindo e fazendo os dois ficarem quentes com pensamentos de
onde isso estava indo.

Apoiando os braços em ambos os lados de Rafe, Jeremy se


inclinou até que sua boca pairou sobre sua orelha.

─O que você acabou de fazer comigo...─ ele sussurrou e


esperou até que Rafe acenou em seu ombro. ─Peça-me para fazer
com você.

Rafe fez um barulho que fez Jeremy sorrir maliciosamente até


que ele se distraiu mordiscando o lóbulo da orelha e o pescoço.

─Rafe.─ A voz de Jeremy era baixa e exigente. ─Você quer?

Empurrando com força contra os ombros de Jeremy, Rafe


forçou-o a olhar em seus olhos. A hesitação que Jeremy viu ali fez
sua mandíbula flexionar.

─Você não tem que fazer─ Rafe começou.

Jeremy beijou-o. Com força. Uma forma de punição.

─Você quer?

KM
Rafe engoliu e seus dedos cravaram na pele dos ombros de
Jeremy. Finalmente, depois de um momento pesado de
possibilidade, ele respondeu com um sim.

─Peça-me, Rafe.

─Por favor...─ ele sussurrou então, seu corpo esfregando em


Jeremy.

─Por favor o que?

─M-me ponha em sua boca─, ele gemeu e Jeremy o beijou


novamente antes de baixar no corpo de Rafe em um movimento
lento e hipnotizante. Deus, ele nunca tinha visto nada tão lindo
quanto Rafe e quando ele levou aquele comprimento duro em sua
boca, ele encontrou um prazer inacreditável em fazê-lo desfrutar. E o
homem estava definitivamente aproveitando . Rafe gemeu e passou
os dedos pelos cabelos de Jeremy enquanto ele o chupava. Foi uma
noite de descobertas e Jeremy estava descobrindo que ele não era
tão ruim nisso.

─Jeremy─, Rafe ofegou, ─eu estou muito... perto.

─É a sua vez de gozar para mim─, ele respondeu, não


recuando por um segundo. Ele provocou com a língua e acariciou
com as mãos até que Rafe o puxou para longe e empurrou para cima
enquanto seu próprio corpo balançava com a força de seu
orgasmo. Ele gemeu e Jeremy passou os braços ao redor do corpo de
Rafe, segurando-o perto enquanto as ondas eróticas o envolviam.

Rafe estava tremendo quando ele retornou o abraço, tremendo


contra o corpo de Jeremy enquanto cada centímetro deles se tocava.

KM
─Jeremy ...─ ele finalmente conseguiu sussurrar. ─Você…

Ele o abraçou apertado e beijou carinhosamente o pescoço de


Rafe logo abaixo da orelha.

─Shhh.─ Ele estava sentindo muito para conseguir


falar. Jeremy ficou chocado com a gama de emoções que fluíam
através dele, a menor das quais era a felicidade sexual. Ele não podia
acreditar no que acabara de fazer, e para outro homem, mas
principalmente ele não podia acreditar no quão certo ele sentiu que
era. Foi embaraçoso sentir a pontada de lágrimas se formando em
seus olhos. Não havia como pará-las, no entanto.

─Jeremy, você e eu... estamos bem?─ A voz de Rafe era


insegura e ele segurou Jeremy com mais força, como se estivesse
com medo de que ele sairia correndo da sala.

Ele acenou na curva do pescoço de Rafe e o beijou novamente.

─Estamos bem─, ele gaguejou. ─Estamos muito bem.

Não demorou muito para Jeremy adormecer, exausto dos


acontecimentos do dia quanto estava, mas foi ainda mais fácil com
Rafe murmurando suavemente em seu ouvido.

Horas depois, Jeremy surpreendeu os dois acordando e


começando tudo de novo. Quando ele pediu por mais, Rafe hesitou
apenas um momento antes de pegar dois preservativos da mesa de
cabeceira e cobri-los. Quando Rafe se moveu sobre ele, ele foi
incrivelmente gentil e lento. Ele passou as mãos sobre Jeremy como
se ele fosse o melhor tesouro, e quando ele o fodeu, foi uma mistura

KM
tão requintada de dor e prazer que Jeremy rugiu ao gozar. Quando
ele se perdeu, Rafe estava lá, segurando-o com força.

Era impossível permanecer o mesmo depois de uma noite


como esta.

Antes de voltar a dormir, Jeremy deu um beijo no cabelo de


Rafe.

─Eu preciso de você...─ e o suspiro de resposta de Rafe foi


exatamente o que ele queria ouvir.

***

Rafe não tinha certeza de que horas eram quando um barulho


incomum o acordou, mas seu quarto estava apenas ficando mais
claro. Através de uma névoa de sono, os eventos da noite anterior -
todos os eventos - voltaram para ele. Seu coração estremeceu
quando ele estendeu a mão na cama procurando Jeremy, querendo
apenas tocar sua pele mais uma vez e provar que ele não tinha
sonhado com cada detalhe delicioso. Quando sua mão encontrou o
ar vazio e o lençol frio, seus olhos se abriram novamente e uma onda
de pânico o atingiu. Ele saiu! Ele escapou enquanto eu dormia,
assim como eu sabia que ele faria, ele gemeu para si mesmo. Rafe
não merecia melhor. Ele não tinha feito a mesma coisa com Mark
antes?

─Desculpe, eu não queria te acordar ainda.

KM
O coração de Rafe parou por um instante ou sete, depois voltou
a bater ao som da voz de Jeremy. Um momento depois, a cama se
moveu e ele estava sendo puxado para dentro de um abraço
esmagador. Em seu alívio, ele o agarrou como se nunca fosse soltar.

─Você achou que eu tivesse ido embora?─ Jeremy perguntou


gentilmente. ─Você pode ser honesto.

Rafe assentiu contra o peito de Jeremy e deu um beijo de


desculpas em seu ombro.

─Apenas por um segundo─, ele falou, sua voz rouca de sono.

Jeremy o surpreendeu rindo e encontrando os lábios de Rafe


na escuridão. Seu beijo foi quente e suave enquanto ele tomava seu
tempo colocando a mente de Rafe à vontade. Quando ele se afastou,
ele soltou um suspiro profundo.

─Eu não iria se não precisasse. Eu tenho um duplo treino que


começa cedo esta manhã e é em um campo ao norte. Tenho que
pegar meu equipamento e dirigir por uma hora.

Rafe olhou em volta em busca do relógio, mas aparentemente


fora lançado da mesa de cabeceira durante a noite. Vai saber.

─Droga, que horas são?

─Cinco e quinze e eu preciso de um banho.─ Havia um sorriso


em sua voz. ─Eu tenho certeza que cheirar a sexo e sua loção pós-
barba me daria alguns olhares engraçados.─ Rafe realmente corou e
agradeceu aos céus por Jeremy não poder vê-lo claramente no
quarto escuro.

KM
─Eu não pretendia te acordar até que eu tivesse que sair─,
continuou Jeremy, ─mas estou tendo dificuldade em encontrar
minhas roupas. Não posso sair daqui só de tênis, o que os vizinhos
pensariam?

Rafe riu sonolento e se ofereceu para ajudar, mas Jeremy não


quis, dizendo para ele se deitar enquanto ele procurava. Levou mais
alguns minutos, o que lembrou a Rafe que ele provavelmente deveria
levantar e lavar as roupas, e então Jeremy estava de volta ao seu
lado.

─Acho que estou usando uma de suas camisas porque está


escuro e não consigo ver, e parece um pouco pequena, mas estou
ficando sem tempo. Ah, e minha boxer ainda está por aqui em algum
lugar. Você pagará muito se eu descobrir que colocou no eBay.

Rafe fez o melhor que pôde para rir, mas ele estava em uma
situação tão profunda, tão apaixonado, que ele mal conseguia
pensar. Como ele teve tanta sorte?

─Tenha cuidado hoje; você não dormiu muito e faz vinte e


quatro horas desde que você descansou de verdade.

─E, no entanto, me sinto muito bem─, Jeremy riu. ─Eu sinto


muito, mas eu realmente tenho que ir. Se você se sentir disposto a
um jogo, temos um às oito e outro ao meio-dia.

Rafe sorriu. Jeremy realmente o convidou? Como um cara


convida alguém com quem ele está saindo? Se ele não fosse ao jogo,
ele não conseguiria vê-lo até muito mais tarde, se fosse o caso. Não
era assim.

KM
─Eu vou ver o que posso fazer─, ele prometeu, realmente
odiando a ideia de Jeremy sair. ─Me ligue quando você tiver algum
tempo livre hoje, não fizemos as pazes corretamente. Eu
definitivamente quero passar mais tempo com você.

─Bom,─ Jeremy sussurrou contra os lábios de Rafe.

─Não me ignore, entendeu?

─Não ousaria.─ Jeremy deu-lhe um último beijo demorado e


foi até a porta do quarto. ─Até mais tarde... e obrigado...

─Jeremy─, ele chamou seu amigo... ou o que seja... quando ele


já estava com um pé fora da porta.

─Sim─, ele respondeu suavemente.

─Foi totalmente meu prazer.

Rafe ouviu o som da risada sexy de Jeremy e quando ele voltou


a dormir foi com um sorriso largo e astuto.

KM
CAPÍTULO DEZESSETE

Rafe aproveitou que Carlos só o chamaria para se encontrar


mais tarde naquele dia ou na tarde seguinte e fez a viagem de 1 hora
para Santa Fé, onde Jeremy estava treinando. A única razão pela
qual ele sabia onde eram os campos de futebol era estranhamente
por causa do namoro com Mark. Ele passou cerca de quinze minutos
da viagem tentando descobrir se ele já tinha visto Jeremy em
qualquer um dos jogos que ele participou para torcer por Mark.
Como ele poderia ter perdido? O grande loiro, alto e gostoso era
totalmente o tipo dele. De jeito nenhum ele poderia estar no time
naquela época.

Rafe estava um pouco atrasado para o início do primeiro jogo,


então ele teve que estacionar bem longe do campo, e então caminhar
até o local mais distante onde Jeremy estava jogando. Ele estava
nervoso. Claro, Jeremy o tinha convidado, mas ele provavelmente
não estava pensando que Mark os veria juntos. Rafe também estava
um pouco preocupado sobre como Jeremy reagiria se eles tivessem a
chance de conversar. A noite passada foi um grande negócio para
ambos, mas foi a primeira experiência de Jeremy e ele não podia
esperar que o cara esquece seu passado e pedisse por um beijo no
momento que o visse. Ele poderia estar mais perturbado com o
aconteceu do que estava deixando transparecer. Rafe tinha que se
lembrar de não ter esperanças, ou de Jeremy ir mais rápido do que
ele estava confortável. Tudo o que ele tinha que fazer era lembrar o
que tinha sido para ele depois de sua primeira vez com Jason.

KM
Ele estava usando um boné de beisebol e o puxou para baixo,
dizendo a si mesmo que era por causa do sol, mas sabendo que era
porque ele não queria que Mark o notasse. As arquibancadas
estavam cheias, mas ele viu um lugar vazio e foi até lá. O casal ao
lado dele sorriu em saudação, a mulher o observando por um
momento a mais que o cara. Demorou menos de dois segundos para
Rafe esquecer tudo sobre eles quando avistou Jeremy na posição de
shortstop18. Seu corpo magro estava agachado ligeiramente
enquanto ele balançava de um pé para o outro esperando pelo
próximo golpe. Nenhum time estava na borda ainda, mas havia um
cara na primeira - provavelmente lidando com os comentários
sarcásticos de Mark - e o batedor estava a um passo de ser
expulso. O tiro acertou entre a primeira e a segunda base e Jeremy
deu meia-volta para cobrir o segundo, enquanto o homem da base
pegou a bola com a ponta da luva. Ele torceu e atirou de volta para
Jeremy, que marcou a base, o que parecia uma fração de segundo
antes de o corredor vir em sua direção. Jeremy disparou um
arremesso contra a luva de Mark para um doce jogo duplo.

Rafe soltou um grito e bateu palmas junto com todos os


outros. Ele teve o desejo de virar para o casal ao lado dele e dizer
algo como ─Aquele é o meu namorado─, mas como faria isso? Ele
não tinha ideia do que ele e Jeremy eram um para o outro agora. Ele
se contentou em observar cada movimento de Jeremy e admirá-lo de
longe, seus pensamentos continuamente pulando de volta para a
noite anterior e a sensação do corpo de Jeremy contra o dele. Seu

18
No beisebol, o interbases, ou shortstop, é o jogador que ocupa a posição entre a segunda e terceira
bases. Essa posição é considerada por muitos uma das mais difíceis e dinâmicas, devido à localização em
que joga.

KM
coração acelerou em seu peito enquanto ele recordava e tudo o que
ele queria fazer agora era voltar para casa e continuar de onde
pararam. Jeremy foi até a próxima base e, ao sair do círculo no
convés, Rafe se sentou. Ele estava prestes a gritar um pouco de
encorajamento quando a mulher ao lado dele se mexeu novamente e
ele sentiu o olhar dela. Ela não estava olhando para longe, então ele
encontrou os olhos dela esperando que ela não estivesse atrás do
número dele ou algo assim. Ela sorriu e estendeu a mão para
bloquear o sol, então o surpreendeu perguntando: ─Por acaso você é
Rafe?

Ele recostou-se, lançou um olhar para Jeremy, alinhando-se


com a jogada inicial, e limpou a garganta.

─Sim... na verdade eu sou.

O sorriso da mulher ficou maior e seus olhos pareciam brilhar


para ele quando ela estendeu a mão.

─Eu sou Tracey. Jeremy é meu irmãozinho.

Rafe automaticamente pegou a mão dela, mas quando ela se


apresentou ele riu.

─Está de brincadeira? Eu não tinha ideia de que você estaria


aqui.

Tracey assentiu.

─Nós decidimos vir no último minuto - este é o meu marido, a


propósito, Jake Humphrey.─ Jake olhou ao redor de Tracey e

KM
distraidamente ofereceu uma mão, seu foco no jogo de bola
enquanto ele murmurava algo que soou como ─bom conhecê-lo .

Rafe olhou para Jeremy e se perguntou como deveria


proceder. Jeremy não disse que ele falou com a irmã sobre os
dois? Isso significa que ela sabia sobre a noite passada? Ele decidiu
que a melhor opção era manter sua boca fechada.

─Jeremy me contou muito sobre você─, Tracey falou


novamente. ─Estou muito feliz por finalmente conhecê-lo. Papai
também adorou conhecer você.

Rafe queria dizer alguma coisa, mas foi salvo de descobrir o


que quando Jeremy se conectou com uma bola rápida e lançou-a
entre os campos esquerdo e central para um duplo. Rafe, Tracey e
Jake se levantaram gritando e batendo palmas, e quando Jeremy
olhou para as arquibancadas depois de limpar a poeira de suas
calças, ele olhou diretamente para Rafe.

Seu sorriso era enorme e a boca de Rafe se esticou em um


sorriso. O contato visual durou apenas um momento antes que a
cabeça de Jeremy estivesse de volta ao campo, mas aquele olhar
ficou com Rafe no resto do jogo.

***

A equipe de Jeremy venceu e enquanto os caras se reuniam


para discutir sobre o aquecimento do segundo jogo, ele estava

KM
ansioso para deixar o banco e chegar às arquibancadas. Ele notou
Tracey e Jake, e qualquer preocupação que ele tinha sobre encontrar
Rafe na frente deles era secundária ao seu desejo de ter um minuto a
sós com ele. Aquele olhar que eles compartilharam depois do duplo
no segundo turno o distraiu durante o jogo.

Não que ele não quisesse Rafe lá. Jeremy ficou agradavelmente
surpreso por ele ser capaz de aparecer, e tê-lo assistindo e
aplaudindo fez Jeremy se sentir bem e animado. Os caras da equipe
se dispersaram e Jeremy percebeu que tinha perdido o que quer que
tenha sido discutido. O apanhador, Mike Ronowski, deu-lhe um soco
leve no peito ao passar.

─Jogue um pouco de gelo na sua cara, está grotesca.

─Obrigado cara. Eu aprecio o elogio.─ Jeremy sorriu


facilmente, pegando seu equipamento para sair. Ele continuou
esquecendo o corte e contusão até que alguém novo desse uma
espiada e olhasse pra ele horrorizado. Mesmo com o boné cobrindo a
maior parte, ele estava recebendo zombaria de todos. Parecia pior do
que era.

Jeremy pendurou a bolsa no ombro e virou à direto em Mark,


que estava bloqueando o caminho.

─Qual a pressa, Halliday?─, Perguntou ele. ─Encontro quente


com a garota que lhe deu o olho roxo?─ Jeremy nem perdeu tempo
olhando para ele, empurrando até que Mark foi forçado a sair do
caminho.

KM
─Sua atenção esteve ausente o jogo inteiro, Newland ─, ele
jogou as palavras por cima do ombro. Sabendo que Mark
imediatamente girou para encara-lo, ele riu. ─Mais tarde, cara.─ Ele
empurrou o portão e mal tinha passado em torno de um dos caras de
sua equipe antes que Tracey e Jake o encontrassem. Eles estavam
prestes a oferecer seus parabéns quando avistaram seu rosto. Os
olhos de Tracey se arregalaram e sua boca se abriu em horror.

─Quem fez isso com você?─ Ela exigiu. ─Foi ele?─ Ela
apontou o polegar para Rafe e fez uma careta.

─Absolutamente não. É uma longa história e agora não é o


momento.─ Jeremy deu-lhe um olhar significativo e sua boca se
fechou. Jake claramente queria seguir o tópico, mas a mão de sua
irmã em seu braço cortou o que ele ia dizer. ─Ligue
depois. Queremos saber.─ Vendo que ela não ia se mover até que ele
dissesse sim, ele assentiu.

─Obrigado por fazer a viagem até aqui. Foi bom ter uma
torcida animada.

─Sim, seu amigo nos ajudou─, respondeu Jake, perdendo o


olhar que Jeremy e sua esposa trocaram com a palavra
“amigo”. ─Você nos ouviu gritando para você correr para a terceira
base?

Jeremy riu.

─Eu ouvi, mas eu ainda não teria chegado a tempo.─


Enquanto ele respondia, seus olhos passaram por eles para ver se
Rafe ainda estava lá e Tracey pegou a sugestão rapidamente.

KM
─Nós não podemos ficar─, ela interveio, acidentalmente
cortando Jake novamente. ─Nós vamos encontrar os pais de Jake
para o almoço.─ Tracey estava praticamente vibrando com o desejo
de questioná-lo sobre tudo o que tinha acontecido desde a conversa
na noite passada, mas não havia como ele entrar nos detalhes
sangrentos na frente de Jake e enquanto Rafe estava esperando por
ele.

─Eu te ligo mais tarde, ok?

Tracey assentiu e pegou a mão de Jake para arrasta-lo ao


estacionamento.

─Assim que você puder─, ela ordenou com um olhar.

Ele acenou, observando-os por um segundo antes de respirar


fundo e se virar para Rafe. Seu coração girou para o lado e começou
a socar seus pulmões no segundo que seus olhos se
encontraram. Rafe sorriu hesitante e lentamente desceu as
arquibancadas. Ele estava sexy com seu boné, seu cabelo preto
parecendo que precisava ser tocado.

Jeremy não tinha certeza de como agir - se ele deveria tocar


em Rafe e o que as pessoas pensariam se o fizesse -, mas Rafe
resolveu o problema parando na última arquibancada e pegando a
mochila com o equipamento de Jeremy. Isso foi como se ele
estivesse mostrando sua reivindicação. Ele meio que… gostou. Ok,
ele amou isso - e o brilho que apareceu nos olhos de Rafe.

KM
─Parabéns pela vitória─, ele murmurou, seus lábios mal se
movendo, e Jeremy lembrou a maneira como eles se sentiam. Suave
e aveludados.

─Obrigado por ter vindo─, ele sorriu, batendo no boné chapéu


de Rafe com a mão livre em uma tentativa de não parecer tão
nervoso quanto ele se sentia. ─Eu gosto disso.

─Sim? Estou incógnito.

O corpo de Jeremy endureceu antes que ele pudesse se


conter. A única pessoa de quem Rafe estaria se escondendo era
Mark, mas por quê. Era porque ele não queria que Mark o visse em
geral, ou porque ele não queria ser visto passando algum tempo com
Jeremy?

─Ei─, a voz de Rafe caiu quando suas sobrancelhas baixaram


em preocupação. ─O que houve?─ Ele saiu da arquibancada e
deixou a bolsa de Jeremy no banco para que ele pudesse se
aproximar. Quando Rafe abaixou a cabeça para dar uma olhada
melhor em seu rosto, Jeremy desviou o olhar.

─Se você não quer ser visto comigo, por que você dirigiu até
aqui?─ Ele finalmente murmurou, fazendo o seu melhor para afastar
a maneira como isso doía. ─Eu não vou envergonhar você ou algo
assim.

─Jeremy, você está louco? Eu te pegaria e te beijaria agora,


então seguraria sua mão até o carro se achasse que você estaria bem
com isso. Não estou escondendo que vim te ver.─ Como se para
ilustrar seu argumento, ele tirou o boné e passou a mão pelo cabelo

KM
antes de jogá-lo em cima da bolsa de Jeremy. ─Eu não queria que
Mark te importunasse sobre mim, ou inventasse alguma besteira
sobre eu vir vê-lo.

Foi a resposta perfeita, mas Jeremy não conseguia apagar as


palavras de Mark sobre Rafe ligando para se desculpar. Ele não
deixaria de se preocupar com isso, então ele deixou escapar:

─Você ligou para ele outro dia para se desculpar pelo que
aconteceu entre vocês dois? Ele teve com a impressão de que você
queria recomeçar. Disse que ele conhecia os sinais graças a
experiência do mês passada. Eu pensei que vocês estivessem
separados há mais de um ano.

Rafe ficou boquiaberto por um segundo e soltou uma


gargalhada.

─Eu nunca liguei para ele, Jer. Eu juro. Você pode olhar meu
telefone agora se quiser. Não há nada que eu tenha a dizer para ele, e
se eu ligasse - até mesmo para me desculpar - ele aceitaria como se
eu estivesse interessado. É por isso que eu nunca faria isso.─ Ele
balançou a cabeça em descrença. ─Que babaca.

O peito de Jeremy aqueceu e ele finalmente encontrou o olhar


de Rafe novamente.

─Bem. Eu não sabia... Era parte da razão pela qual eu decidi


que tinha que conversar com você ontem... quer dizer, antes que seu
pai me desse uma surra.

Rafe ficou petrificado de surpresa.

KM
─Você ia me dizer antes de decidir me beijar?

Sentindo-se tímido, de repente, Jeremy encolheu os ombros.

─Claro. É por isso que eu não queria perder tempo, mesmo


com você me evitando nos últimos dois dias. Não pense que não
notei. Você não sai da minha cabeça, seu desgraçado.

─Bem... eu estou feliz por isso.─ A risada de Rafe fez Jeremy


querer tocá-lo, mas ainda havia muitos caras da equipe por perto,
para não mencionar Mark, e Jeremy estava meio que pirando.

─Se você não precisa voltar por um tempo; nós poderíamos


sair pra almoçar. Eu não posso garantir que não vamos encontrar
muitos caras do seu time.

Rafe pegara a bolsa de Jeremy de novo e olhou em volta para


os grupos de pessoas próximas enquanto esperava que Jeremy
respondesse. Ele estava tentando se certificar de que ele não
colocasse Jeremy em uma situação embaraçosa e seu esforço foi
ótimo para acalmar sua ansiedade, mas ele não conseguia se livrar
do mal-estar que sentia sobre Mark e quão forte sua influência
realmente era sobre Rafe. . Não é como se fosse um assunto que Rafe
iria querer começar a falar imediatamente.

─Almoço está bem─, ele finalmente falou. ─Onde você quiser.

***

KM
Rafe se ofereceu para dirigir e Jeremy o seguiu através do
complexo esportivo até a caminhonete, sem mencionar que ele
chegou atrasado, já que seu carro estava tão longe. Ambos estavam
quietos e começou a crescer uma tensão entre eles que Rafe não
gostou. Considerando tudo, essa provavelmente não era a melhor
maneira de iniciar o relacionamento deles - ou o que quer que fosse
isso.

Jeremy não estava pronto para PDA19 e Rafe não era do tipo
que empurrava. Ele só não tinha percebido que seria tão difícil se
conter. Ele não queria força-lo muito rápido. De certa forma, ele
desejava que eles pudessem jogar todas as suas expectativas na
mesa, mas ele não estava seguro o suficiente para fazer isso. O risco
de perder Jeremy com um movimento como esse era muito
grande. E o fodido Mark estava fazendo o seu melhor para plantar
duvidas a cada chance que ele tinha. Rafe odiou fazer isso, mas ele
teve que mentir. Foi um momento de fraqueza depois que ele
decidiu colocar espaço entre ele e Jeremy. Graças a Deus, ele caiu
em si antes de fazer algo muito mais idiota do que ligar para o
cara. Mark havia exagerado um pouco sobre o que ele
dissera. Ele certamente não queria voltar com o homem,
mas... caramba, ele desejou nunca ter feito aquela ligação. Ótima
maneira de começar, idiota. Finalmente encontrar um cara com
quem você se importa e mentir na cara dele. Rafe colocou o
equipamento de Jeremy na sua caminhonete e destrancou as
portas. Quando ele deslizou atrás do volante, Jeremy apertou sua
mão e puxou-o para mais perto.

19
Demonstração publica de afeto.

KM
─Eu queria dizer...─ Ele estava muito agitado e seus olhos
seguiam para a boca de Rafe. Enquanto lambia os lábios, era óbvio o
que ele queria fazer, mas estava nervoso demais para tentar.

─Venha aqui─, Rafe sussurrou, estendendo a mão em torno da


nuca de Jeremy e puxando-o para perto. Quando seus lábios se
tocaram gentilmente, ele suspirou e se derreteu em Jeremy, sua
culpa empurrada para longe. Suas mãos deslizaram pelo cabelo de
Jeremy, derrubando o boné. Ele cheirava a sabão e sol. Rafe recuou
primeiro porque estava tão tentado a deixar o beijo durar para
sempre, e quando ele abriu os olhos, Jeremy estava olhando
diretamente para ele, seu desejo perto da superfície.

─Eu estava com vontade de fazer isso desde que eu tive que
sair esta manhã─, ele murmurou. ─Desculpe.

─Nunca se desculpe por isso. Porra, quem te ensinou a beijar?

─Tanto faz. Isso vem naturalmente.─ Os olhos de Jeremy


cintilaram enquanto ele falava e foi só quando se recostou em seu
assento e afivelou que Rafe se lembrou de que eles deveriam ir para
algum lugar.

Ele apontou o carro em direção a uma lanchonete fora do


caminho, na esperança de conseguir privacidade. Jeremy observou a
estrada por um tempo, suas mãos relaxaram em seu colo, até que ele
se mexeu em seu assento e deu a Rafe um olhar interrogativo.

─O que?─ Rafe perguntou, vendo sua expressão com um


rápido olhar de lado.

KM
─Há quanto tempo você saiu? Você se importa que eu
pergunte?─ A expressão dele era séria e um pouco intimidante, mas
Rafe não ficou muito surpreso com a pergunta. Especialmente
depois da noite passada. Jeremy tinha que estar ocupado pensando
sobre o que suas ações significavam para seu futuro, ou se ele estaria
enfrentando o mesmo tipo de situação se ele escolhesse sair. E Rafe
acreditava absolutamente que deveria, não apenas por motivos
egoístas, embora ainda estivesse um pouco preocupado por Jeremy
desistir disso e deixa-lo.

Ele franziu o cenho em pensamento enquanto fazia as contas.

─Foi na faculdade. Eu namorei um cara no meu segundo ano e


disse aos meus pais durante o meu primeiro ano. Doze anos atrás.─
Uma risada sem humor escapou. ─Depois das férias de primavera,
cheguei em casa e meio que deixei escapar para eles. Eles não
falaram comigo por um longo tempo depois disso.

─Foi tão ruim assim? Quero dizer, você esperava que eles
aceitassem, mesmo que com um pouco de dificuldade, ou mesmo
que eles não gostassem, pelo menos ainda se importavam?

Rafe franziu a testa para a lembrança.

─Eu disse a eles como se estivesse tirando um Band-Aid. Eu


sabia que eles não acreditariam, mas eu não esperava que eles
reagissem da maneira que reagiram. Você pode se basear pela forma
que papai agiu ontem. Eu pensei que ele estava tendo um
aneurisma. Mamãe... mamãe gritou como uma verdadeira mãe
italiana. Ela usou todo o arsenal sobre a culpa da criança católica - e

KM
ela provavelmente ainda se culpa. Eu morava nos dormitórios e,
depois que confessei, disseram-me para sair de casa e me cortaram.

─Eles te cortaram?─ O rosto de Jeremy mostrou seu choque e


havia medo em seus olhos. Ele esperava que a família de Jeremy
fosse melhor em lidar com o choque do que com a dele. Sua irmã
parecia legal com isso, pelo menos.

─Como você viveu depois disso, Rafe?

─O quarto e os materiais estavam pagos até o final do primeiro


ano de faculdade. No último ano eu tinha um emprego de estagiário
que cobria as contas, e o cara que eu estava vendo tinha um
apartamento e ele me deixou morar com ele─, ele respondeu
calmamente. ─Parando para pensar sobre isso, não sei por quê. Ele
estava em um relacionamento sério com um cara de Chicago de
quem ele nunca me contou e ele me deixou para ficar com o cara
quando me formei. Um dia nós estávamos juntos e no outro ele
estava me contando sobre um cara chamado Craig e pedindo a
minha chave do apartamento. Ele me manteve por perto enquanto
eu cumpria seus propósitos. Acontece que ele gostava de ser o cara a
doutrinar homos recém-saídos do armário. Graças a Deus nem todo
cara gay é assim, mas eu aprendi muito.

─Puta merda─, Jeremy respirou. ─Quem era esse idiota?

Rafe sacudiu a cabeça.

─Ninguém importante. Ele sempre se importou mais em ser


feliz primeiro e se você se perdesse no esquecimento durante o
processo... Bem. Foi há muito tempo.

KM
─Ele foi o seu primeiro?

Rafe olhou pelo para-brisa e viu muitas lembranças em vez do


cruzamento lotado. Ele estava suavizando a história por causa de
Jeremy, mas no momento em que a merda acabou, foi como se
Jason tivesse feito um buraco no seu peito. Rafe ainda podia ver o
jeito que ele estendeu a mão para a chave, seu sorriso característico
no lugar. O que ele disse? Oh, certo. Algo como: ─Você
honestamente não acreditava que continuaríamos juntos, não é?

Romântico e inexperiente como ele era, ele realmente achava


que funcionaria. Ver a raiva nos olhos de Jeremy em seu favor o fez
agradecer mais uma vez por não ter dado certo.

─Sim─, Rafe finalmente respondeu. ─Jason foi meu primeiro.

Jeremy rosnou e a cabeça de Rafe girou ao redor com o som.

─Jason?─ Sua voz era fria enquanto esperava por uma


resposta.

─Jason Watts. Sim. Não me diga que você o conhece também?

─Eu não o conheço, mas no dia em que descobri que você era
gay Mark disse que você deve gostar de passar tempo comigo porque
eu devo te lembrar dele.

Rafe xingou e pensou em algumas palavras escolhidas que


gostaria de dizer a Mark. Como vai se foder , ou seja atropelado ,
ou que seu pau caia . Ele virou rapidamente para o estacionamento,
encontrou um espaço e desligou o motor antes de arquear um braço
sobre o volante e se virar para Jeremy.

KM
─A única coisa semelhante entre você e Jason é que você é alto
e loiro. A maior diferença entre você e Jason é que você é uma boa
pessoa com quem me importo muito. Jason tornou impossível ver o
bem nele, provavelmente porque não havia muito disso.─ Rafe
suspirou e envolveu a mão no pulso de Jeremy. ─Por que você ouve
Mark, Jeremy? Ele diz merda como essa para te irritar, e você
provavelmente pode contar com o fato de que qualquer coisa que
Mark diga a alguém é para deixá-los malucos. Ele não é realmente o
chocolate mais doce da caixa, sabe o que quero dizer?

Uma pontada de culpa, que estava se tornando familiar


demais, se fez conhecida no peito de Rafe. Mark seria muito menos
neurótico se Rafe não tivesse puxado a mesma porcaria de Jason
com ele.

─Como você pode esperar que eu não escute?─ Jeremy


disparou de volta. ─Era sobre você e considerando o pouco que eu
sei, ele parecia uma fonte boa o suficiente. Você morou com ele por
um ano.

─E por mais da metade disso eu estava completamente infeliz


e procurando uma saída.─ Rafe ficou surpreso com a raiva na
resposta de Jeremy. A direção que a conversa deles tomou foi para
rumo realmente delicado.

─Isso honestamente importa, Rafe? Ele está atrás de você


desde que vocês se separaram. É óbvio que ele não consegue
superar.

KM
Os olhos de Rafe se estreitaram e ele puxou Jeremy em direção
a ele, pegando-o em um ombro quando ele quase se esparramou
sobre o console central.

─O que fo-

─Essa merda é porque você está com ciúmes? De Mark?

Jeremy olhou para ele friamente por alguns segundos e


finalmente desviou o olhar.

─Eu não sei. Ele sabe sobre você. Eu estive com você durante
uma noite que passamos juntos; Como é que isso deve se comparar a
uma série de noites com um cara com quem você compartilhou mais
de um ano de sua vida? Toda vez que eu me deparo com ele, ele
deixa claro que eu não tenho chance quando comparado a ele. Quero
dizer, você não pode nem contar comigo agora, porque, até onde
todos sabem, inclusive você e eu - até pelo menos essa semana - eu
era hetero.

Rafe segurou os ombros de Jeremy e deu-lhe uma sacudida


suave.

─Jeremy, me escute. Está ouvindo?─ Demorou um momento,


mas ele finalmente murmurou um sim. ─Você está certo. Não há
comparação entre você e Mark.

Jeremy escondeu bem a dor, virando os olhos para olhar pelo


para-brisa, mas Rafe seguiu em frente.

─Você o supera em todos os aspectos e eu não estou apenas


dizendo isso para fazer você se sentir melhor. Uma noite com você

KM
fez qualquer noite que eu já tive com qualquer outro ficar pálida em
comparação.─ Quando o rosto de Jeremy relaxou lentamente, Rafe
começou a sorrir. Ele estava tão apaixonado por esse homem, e não
se importava que fosse cedo demais para dizer em voz alta. Era
verdade.

─Eu aposto que Mark nunca lhe disse que praticamente toda
vez que eu dormia com ele eu tinha que estar bêbado?─ Quando
Jeremy balançou a cabeça, Rafe deu de ombros. ─Eu sabia que
não. E ele provavelmente não mencionou que me conheceu quando
eu estava derrotado em um bar logo depois que meus pais
começaram a falar comigo de novo e deixaram claro que era apenas
para me reabilitar?─ Jeremy balançou a cabeça novamente. ─Mark
pode saber algumas coisas sobre mim que você ainda não conhece,
mas nenhuma coisa é terrível ou verdadeiramente significativa. Pode
soar mal, mas ele nem é mais um pontinho na minha tela de
radar. Você significa mais para mim do que ele já fez algum dia.

Jeremy amaldiçoou e esfregou os olhos.

─Olhe para mim. Eu sou a porra de uma bagunça emocional


ao seu redor e de toda a merda para falar, eu decidi te perguntar
sobre seus ex-namorados.─ Ele gemeu alto e colocou o rosto em
suas mãos. ─Estou quebrando todas as regras. Incrível.

─ Eu discordo, ─Rafe sorriu e apertou seus ombros


novamente. ─Jeremy, você precisa reconhecer que eu não estou te
avaliando cum algum tipo de tabela de tempo aqui. Nós podemos
levar isso devagar. Não estou esperando que você simplesmente
aceite isso. Se dê tempo e me dê algum crédito. Eu posso ser

KM
paciente. Você é importante demais para eu ficar irritado com os
detalhes agora.

─Mas e se eu não sei o que-

─Tome algum tempo, cara─, Rafe interrompeu. ─Nós vamos


resolver isso. E se você tiver alguma dúvida, apenas me pergunte
como você fez hoje. Eu não costumo morder.

Os olhos de Jeremy se abriram e ele se virou com um sorriso


secreto.

─Não, você não morde. Não normalmente.

KM
CAPÍTULO DEZOITO

Jeremy sentiu-se relaxado na lanchonete. Ele estava envolvido


em uma conversa que nunca sonhou que teria, incluindo estatísticas
sobre a reivindicação de Santa Fé de uma grande população
gay. Certamente ninguém teria um problema se ele estendesse a
mão e segurasse a de Rafe que estava descansando na mesa? Isso era
leve comparado ao que eles fizeram na noite passada.

A lembrança das mãos de Rafe em todo o seu corpo, sua boca


espalhando beijos em seu corpo, funcionou como um encanto e fez
seu sangue ferver. Rafe estava indiferente sentado em frente a ele e
examinando seu sanduíche antes da próxima mordida perfeita.

Assim que a decisão foi tomada e ele beijou Rafe, acabou para
ele. Ele ficou chocado com a falta de dúvidas. Jeremy não sabia a
maneira correta de colocá-lo, mas se ele fosse “virar gay” ele queria
que fosse por Rafe. É claro que ele estava com medo de que seu pai
soubesse disso e reagisse do mesmo modo que o de Rafe. Ele passou
a maior parte de sua viagem até Santa Fé tentando se lembrar de
tudo que seu pai poderia ter dito sobre pessoas gays e acabou em
branco. Nunca foi um grande assunto de conversa na casa dos
Halliday. Toda vez que as dúvidas de Jeremy surgiam, ele se
lembrava da reação de Tracey.

Ah. Merda. Como ele ia explicar isso para Jake? Seu cunhado
pensaria que era uma piada. A menos que ele levasse Rafe com ele
para confirmar.

KM
O pensamento o fez enlouquecer de novo, então ele voltou sua
atenção para a comida e tentou se concentrar no fato de que o cara
que ele queria estava na frente dele, e se isso era tudo o que
importava no final... então, que seja.

Rafe estava observando-o atentamente, uma pergunta em seus


olhos que ele não chegou a fazer porque seu telefone tocou. Salvo
pelo gongo. Sua testa franziu e ele respondeu com seu tom de PI
profissional, o que significava que era um estranho ou um cliente.

─Rafe Bridges.

Jeremy observou as emoções se espalharem por seu rosto e,


embora a conversa não tenha sido longa, era claramente
importante. Quando Rafe terminou a ligação, ele o olhou com pesar
em seu rosto.

─Eu tenho que ir para casa. Era Carlos. Ele pode me encontrar
em duas horas─ ele suspirou e ajustou o boné. ─Eu realmente sinto
muito, Jer. Se não tivesse demorado tanto tempo para conseguir
falar com ele, eu cancelaria.

Sem pensar, Jeremy agarrou a mão de Rafe e entrelaçou os


dedos.

─Está tudo bem, Rafe. Só de você ter vindo até aqui… eu não
sei… foi muito legal. Você está tentando fazer com que esse cara fale
com você a semana toda. Apenas vá.

Rafe estava olhando para as mãos deles com um sorriso


melancólico.

KM
─Deus… eu gostaria que estivéssemos sozinhos agora em
algum lugar. Eu gostaria que pudéssemos passar o dia todo juntos.

Jeremy sorriu e deu uma rápida olhada nos outros clientes


para ver se eles notaram que dois caras estavam de mãos dadas na
mesma sala, mas se eles notaram, eles não se importavam.

─Eu vou te encontrar depois que eu voltar para casa. O jogo


deve terminar em algumas horas e eu não vou ficar por aqui.

─ Bom. Eu quero te ver. Logo.─ Ele deu a Jeremy um olhar


ardente que fez com que seus dedos se enroscassem dentro de seus
tênis, então, relutantemente, embrulhou seu sanduíche. Jeremy fez
o mesmo e se perguntou se isso significava que ele estava realmente
apaixonado pelo cara, pois já sentia falta dele e eles ainda estavam a
menos de meio metro de distância. Provavelmente sim.

Rafe os levou de volta ao complexo esportivo e parou atrás do


carro de Jeremy no estacionamento.

─Ligue para mim quando puder─, disse ele. ─Eu não sei se
vou ser capaz de responder com certeza, mas atenderei se puder.

Jeremy pegou a maçaneta da porta, desejando não temer tocar


em Rafe novamente, desejando que não importasse de um jeito ou
de outro - merda, ele estava desejando um milhão de coisas.

─Obrigado pelo passeio e uhm... almoço. Obrigado.


─Genial. Nem um pouco estranho.

─Eu vou te ver em algumas horas.─ Rafe piscou e Jeremy mal


se impediu de ataca-lo. A tortura interna deve ter sido óbvia em seu

KM
rosto porque Rafe riu e apertou sua mão que estava descansando no
console entre eles. ─Tudo bem, Jeremy. Compreendo. Divirta-se no
jogo.

Jeremy olhou para ele por um longo momento, tentando


decidir se Rafe realmente não estava chateado. Ele ainda estava
sorrindo gentilmente, e isso teria que ser bom o suficiente. Jeremy
olhou ao redor outra vez e depois pensou: foda-se .

Movendo-se rapidamente, ele agarrou Rafe com as duas mãos


e deu um beijo duro em sua boca.

─Fique seguro─, ele sussurrou contra os lábios, em seguida,


disparou para fora do carro antes que Rafe pudesse dizer ou fazer
qualquer coisa em resposta.

Ele estava quase na área da arquibancada quando ouviu seu


nome ser chamado atrás dele. Rafe estava sorrindo e chamando pela
janela do passageiro.

─Seu equipamento ainda está no carro, Jeremy.─ Com um


rubor violento em suas bochechas, ele correu de volta, pegou sua
bolsa e se inclinou na janela. ─Tente não se divertir muito isso─, ele
resmungou e se virou.

Mas ele sorriu quando ouviu aquela risada deliciosa seguindo-


o.

***

KM
Carlos estava esperando em uma pequena mesa do lado de
fora de uma lanchonete fast food quando Rafe entrou. A única razão
pela qual ele o viu foi porque ele era uma versão um pouco mais alta
de seu pai, até os lábios tensos e a mandíbula dura. Ele também
parecia acessível.

─Carlos?─ Rafe perguntou, estendendo a mão.

─Sim, sou eu─, ele respondeu, um pouco mais lento ao


retornar o aperto de mão. Ele se comportava como se tivesse
dormido pouquíssimo e estivesse sob muito estresse. ─Eu aprecio
você se encontrar comigo apesar de sua agenda. Posso te pagar uma
bebida ou algo assim?

Carlos balançou a cabeça e sentou-se, tirando os óculos de sol


do alto da cabeça. O sol estava completamente atrás de um prédio
vizinho. Ok. Então ele não queria que Rafe visse seus olhos... Certo.

─Vou começar com as perguntas, talvez assim você possa


voltar mais cedo para casa e dormir um pouco.

─Eu não vou mentir, cara. Isso seria legal.

Rafe deu sua risada amigável para deixar o cara à vontade, e


recostou-se na cadeira. Como de costume, ele não iria anotar nada.

─Tudo bem. Por que não começamos com a noite em que sua
irmã desapareceu? Você estava lá? Como você descobriu o que
aconteceu?

KM
─ Eu não estava lá. Eu estava em casa quando meus amigos me
ligaram e me disseram que Angel e alguns de seus amigos invadiram
a casa e levaram Yesenia de seu quarto.

─O que você fez então?

─Dirigi direto para a casa dos meus pais e tentei acalma-


los. Os policiais estavam lá fazendo perguntas e papai estava fazendo
a maior parte da conversa.

Sim, Rafe não duvidou disso. Angelina provavelmente foi


ordenada a falar apenas se perguntado.

─Sua mãe estava lá quando sua irmã desapareceu?

─Ela deveria estar no trabalho naquela noite, mas ela disse


que não se sentia bem e ficou em casa.

Mentira número um de Angelina e Hector para o filho deles.

─Então, os policiais questionaram você e sua família,


espanaram o banheiro por impressões digitais...

─Não, eles só tiraram as impressões do quarto.

Rafe assentiu.

─Desculpe, erro meu ─, ele disse, fingindo que estava


simplesmente confuso. Carlos parecia por fora de vários desses
detalhes. Mas atrás de Carlos e atrás de Angelina estava Hector, que
tinha pontos importantes contra ele. Quanto mais Rafe pensava
sobre a investigação, mais ele queria falar com Hector. Ele estava

KM
confiante de que o cara era sujo e pobre. Yesenia tinha sido sua
vítima - possivelmente por toda a sua jovem vida.

─Falei com Angel há alguns dias e ele disse que você e seu pai
foram à casa dele naquela noite para confrontá-lo sobre
Yesenia. Isso é verdade?

─Eu fui, mas tenho que te dizer, foi porque meu pai estava
muito bravo para ir sozinho. Ele teria enlouquecido. Eu não o queria
fazendo uma bagunça maior do que ele já estava. Eu apenas
acompanhei─ ele admitiu, cruzando os braços sobre o
peito. ─Procurei através do armário e arrastei meu pai para casa
depois disso.

─Naquele momento, porém, seu pai disse que foi Angel quem
a levou. Você não estava com raiva quando foi para a casa dele? Você
não queria agir contra ele?

Carlos arrastou os pés e coçou distraidamente o cotovelo.

─Papai disse que Angel a levou, mas ele tira conclusões


precipitadas às vezes. Se ela tivesse fugido, ele automaticamente
acreditaria que o namorado dela tinha algo a ver com isso. Cheguei
em casa naquela noite e acho que você diria que eu estava em estado
de choque ou algo assim. Eu não fui ameaçar Angel. Fui ficar de olho
no meu pai.

─Estou bastante certo de que Angel não viu a bondade naquele


gesto.

KM
E Carlos não gostou do humor nessa observação. Ele virou os
óculos de sol para Rafe e deu a ele aquele olhar de raiva
Aragon. Cara resistente.

─Você é próximo de Yesenia?─ Rafe continuou, sereno.

Demorou um segundo, mas Carlos finalmente decidiu que


quanto mais rápido ele respondesse, mais cedo ele poderia sair.

─Há uma grande diferença de idade. Eu sou oito anos mais


velha do que ela, eu estava fora de casa quando ela tinha dez anos e
eu estava ocupado fazendo meu próprio caminho. Nós só
conseguimos nos ver uma ou duas vezes por semana. Ela é a mais
próxima do meu pai.

─Havia algo incomum sobre o relacionamento deles? Por


exemplo, ele era muito protetor na sua opinião?

─Eu não sei. Provavelmente. Eu me livrei de todo tipo de


merda enquanto crescia. Mas ela mal pode sair de casa porque o pai
tem medo que ela acabe com problemas. Se ele a mantém em casa,
ele pode ficar de olho nela. Eu acho que de certa forma faz sentido.

─Como?─ Rafe inclinou a cabeça com curiosidade.

─Dessa forma, ele sempre sabe com quem ela está. Ela não vai
encontrar amigos ruins se ela não tiver permissão para sair. Sabe o
que estou dizendo?

Rafe assentiu, desapontado. Ele queria muito acabar com essa


investigação - e ter provas reais e sólidas. Carlos não estava
oferecendo nada de novo.

KM
─Quando foi a última vez que você viu Yesenia? E falou com
ela?

Carlos fez uma careta como se tivesse que pensar de novo.

─Eu não a vejo desde uma semana antes de ela desaparecer,


mas conversei com ela alguns dias antes disso. Ela e papai estavam
bem. Sem grandes brigas por alguns dias. Você provavelmente já
ouviu falar que eles brigavam muito, e é verdade. Sobre Angel e suas
amigas principalmente.

─O que você acha de Angel? Acha que ele sequestraria sua


irmã para afastá-la de seu pai?

Ele encolheu os ombros.

─Eu não penso sobre ele de um jeito ou de outro. Nunca o vi


fazer nada de errado com ela, então, a menos que isso tenha
acontecido, não tenho problema.

─Então você não acha que ele teve participação no


desaparecimento de sua irmã?

Carlos cutucou os óculos de sol no nariz e sacudiu a cabeça


lentamente.

─Não. Eu duvido.

─ Eu já sei como você vai responder a isso por causa do que


você disse sobre ir à casa de Angel, mas você acha que ela foi
sequestrada?─ Rafe fez a grande pergunta que todos, exceto Hector,
responderam da mesma maneira. .

KM
Carlos ficou quieto por um tempo, seu rosto virou para o
estacionamento. Ele estava pensando muito. Eventualmente, ele
passou a mão sobre a boca nervosamente e endireitou-se.

─Ela fugiu de seus problemas com o pai, eu acho. Ela


provavelmente planejou isso por um longo tempo, porque ela fez
isso sem contar aos amigos ou procurar alguém da família. Que eu
saiba ninguém a viu ou falou com ela.

─Sua mãe está esperando que ela volte sozinha. Você acha que
ela poderia?

─ Merda. Ela vai ter que aprender a fazer algo além de


fugir. Aposto que ela sabe que o pai está procurando por ela
também, e isso pode fazê-la voltar para casa. Eu não sei.

Com a maioria das perguntas de Rafe respondidas, Carlos


pareceu desvanecer-se visivelmente, como se a exaustão que o
dominava de repente fosse demais. Ele não disse nada que Rafe já
não soubesse, e mesmo sem terminar sua linha de questionamento,
Rafe sabia que não descobriria nada de novo. Yesenia ainda estava lá
fora em algum lugar, provavelmente se escondendo de seu
pai. Carlos e todos os outros que ele entrevistou não tinham visto ou
ouvido falar dela.

Rafe tirou um cartão da carteira e passou para Carlos.

─Se você lembrar de alguma coisa ou ouvir qualquer coisa que


você acha que pode ajudar, ligue para mim. Obrigado mais uma vez
por ter tido tempo para me encontrar.─ Carlos pareceu quase
satisfeito ao terminar a entrevista e pegou o cartão com um sorriso.

KM
─Até a próxima. Diga oi para Jeremy se você o vir.

Rafe tentou não se sentir desanimado enquanto caminhava


para onde seu caminhão estava estacionado. Isso tudo fazia parte do
trabalho certo? Um beco sem saída. E de volta à estaca zero.

***

Rafe estacionou na garagem de Jeremy e desligou o motor. Se


o segundo jogo terminou quando Jeremy disse que faria, ele deveria
chegar em casa logo. Em vez de esperar por uma ligação, Rafe
decidira ir até lá e agir como um perseguidor. Ele esperava que
nenhum dos vizinhos achasse que ele parecia suspeito. Ser preso era
exatamente o que ele não precisava.

Reclinando-se no banco, ele cruzou os dedos atrás da cabeça e


suspirou. Ele realmente queria saudar Jeremy com notícias sobre
um avanço, mas em vez disso, ele recebeu todas as mesmas
respostas que antes de sua fonte semi adormecida e ele perdeu a
chance de passar mais tempo com Jeremy.

Sim claro. Ele entendia que esse era o seu trabalho - ele tinha o
dever de fazê-lo o mais rápido possível, mas nenhuma pessoa que ele
havia questionado até agora estava tornando isso um pouco mais
fácil. Duas pessoas - as responsáveis por contratá-lo - já haviam
mentido em sua cara. O que ele deveria fazer com isso? Todo mundo
poderia perdoá-lo por ter um momento egoísta para gastar
exclusivamente com o cara dos seus sonhos.

KM
Rafe ouviu o barulho distinto de um muscle car e ele
imediatamente levantou do encosto, com um sorriso no rosto. O
Barracuda ainda não estava à vista, mas isso não importava. Ele
sabia que era Jeremy.

Saindo de sua caminhonete, ele recostou-se contra a porta com


os braços cruzados sobre o peito, uma onda de satisfação crescendo
dentro dele. Quando Jeremy virou para a rua, o sorriso de Rafe se
estendeu ainda mais e o sol da tarde estava no ângulo perfeito para
lhe dizer o momento exato em que Jeremy o viu. Rafe respirou
fundo com a expressão em seu rosto, emocionado mais do que ele
por saber que eles finalmente ficariam sozinhos e ele poderia
mostrar a Jeremy o quanto ele estava ansioso por isso.

Rafe encontrou-o ao lado do motorista e abriu a porta para ele,


observando cada centímetro dele, que ainda estava coberto de calças
e camisa de beisebol. A pele bronzeada de Jeremy o tentou até que
ele pensou que ele explodiria ali mesmo na entrada da garagem. Ele
teria que ser rebocado da calçada.

─Hey,─ Jeremy suspirou. ─Esta é uma boa surpresa.

─Você não se importa? Eu pensei em esperar por você aqui em


vez de te encontrar mais tarde.

As bochechas de Jeremy se avermelharam e ele abaixou a


cabeça ligeiramente, aproveitando o momento para puxar seu
equipamento do banco do passageiro.

─Eu gosto que você esteja aqui─, ele disse baixinho.

KM
Rafe pegou a bolsa e saiu do caminho para que Jeremy
pudesse sair do carro. Ele bateu a pesada porta e liderou o caminho
para a casa. Ele não olhou para Rafe, mas sua mão tremeu um pouco
quando ele abriu a porta da frente.

─Entre. Não está limpo agora, mas...─ ele parou e Rafe levou
um momento para olhar em volta. Ele estava muito chateado na
noite anterior para perceber como Jeremy decorou o lugar, o que era
realmente muito bom, embora um pouco escasso.

─Eu sei disso─, Rafe riu. ─Suas cadeiras de jantar são


resistentes pra caralho.─ A referência ao primeiro beijo e a resposta
de Rafe finalmente arrancaram um sorriso menos nervoso de
Jeremy. ─Onde você quer que eu coloque sua bolsa?

Jeremy ficou surpreso como se tivesse esquecido tudo e pulou


para frente para tira-la das mãos de Rafe.

─Eu vou levar. Eu costumo jogar na lavanderia pra ficar fora


do caminho.

Rafe seguiu-o pela sala de estar, pela sala de jantar e cozinha


combinadas e entrou na lavanderia. A casa não era tão grande
quanto a de Rafe, os quartos eram todos menores, mas a maneira
como tudo era montado não parecia assim. Quando ele fez uma
pausa em seu papel de turista, encontrou Jeremy olhando para ele
com aquele rubor de volta em suas bochechas.

─Tem certeza de que está tudo bem comigo aqui?─ Rafe teve
que perguntar por causa dos olhares que ele estava recebendo de
Jeremy. ─Eu não quero te atrapalhar ou algo assim.

KM
─Não não não. Você não está atrapalhando,─ ele se apressou
em dizer. ─Deixe-me tomar um banho rápido e podemos ir de lá,
ok?

Querendo tornar isso mais fácil para Jeremy, Rafe assentiu


com a cabeça e voltou calmamente para a sala de estar.

─Se importa se eu assistir TV enquanto você se limpa?

Toda a falta de jeito de Jeremy o deixou quando ele explicou a


configuração do sistema de entretenimento e Rafe fingiu que estava
totalmente interessado quando tudo o que ele realmente queria era
tomar banho com ele. Jeremy jogou-lhe os controles remotos e saiu
pela porta da sala que levava ao quarto e ao banheiro.

Ele abaixou o volume até que ouviu o som do chuveiro e se


contentou em apenas ouvir. Ele fechou os olhos e imaginou a água
fluindo sobre a pele bronzeada, tocando o corpo de Jeremy em todos
os lugares que Rafe o tocara na noite anterior. Seu pau ficou duro
quando ele se lembrou. Ele viu Jeremy se arqueando contra o fluxo
do chuveiro, suas mãos vasculhando seu cabelo...

Rafe se levantou abruptamente e desligou a TV, empurrando a


porta entreaberta para o quarto, apenas para parar ao ver a porta do
banheiro escancarada. O chuveiro ainda estava ligado e, quando ele
se aproximou, ele orou por portas de vidro - portas transparentes de
vidro - em vez de uma cortina. Ele não sabia como Jeremy iria reagir
a ele aparecendo, mas ele não conseguia se conter.

KM
Rafe rapidamente tirou os sapatos e a camisa de botão,
deixando apenas a calça jeans e a camiseta preta. Lentamente, ele
virou para a porta aberta e congelou.

Era um boxe e a porta era transparente, mas não foi isso que o
deteve. Jeremy estava debaixo doo fluxo, os braços apoiados contra
a parede enquanto a água lavava seus ombros e costas
musculosos. Ele estava virando a cabeça de um lado para outro
enquanto a água batia em seu pescoço e Rafe achou o movimento
quase hipnótico.

Como se Jeremy sentisse que não estava mais sozinho, ele


olhou por cima do ombro e encontrou os olhos de Rafe, o calor se
formando instantaneamente entre eles como eletricidade entre fios
energizados. Sua boca se abriu em surpresa e a água escorreu por
sua bochecha. Ele não disse nada, mas em um movimento sedutor,
ele virou o corpo para Rafe, segurando no topo das paredes de vidro
até que seu corpo estivesse totalmente em exibição.

Rafe lambeu os lábios e deixou os olhos vagarem dos planos


suaves dos peitorais de Jeremy, descendo por seu abdômen,
finalmente descendo em seu eixo endurecido. Sua boca se alargou
em um sorriso ante a visão e ele balançou a cabeça lentamente.

Com um passo medido, ele se aproximou do chuveiro e entrou


no jogo de Jeremy, abrindo a porta. Ele não se encolheu quando a
água encharcou sua pele, parecendo chiar em todos os lugares que
tocava. Ele estendeu a mão para desligar o chuveiro, mas Jeremy o
deteve, agarrando seu pulso e puxando-o sob o jato. Ele estava

KM
encharcado em segundos, sua camiseta e calça jeans agarrados ao
seu corpo como uma segunda pele.

Os dedos de Jeremy subiram lentamente de seu pulso, uma


carícia suave que causou arrepios na espinha de Rafe, até que ele
estava tocando seu pescoço e mandíbula, e finalmente seus lábios,
que se separaram com a pressão. Os olhos de Rafe se fecharam e ele
se recostou no jato, divertindo-se com a sensação de sua
proximidade. Quando a boca de Jeremy atacou a sua e a água lavou
seus lábios e línguas, ele gemeu.

Houve um puxão na bainha de sua camiseta e ele


automaticamente levantou os braços, quebrando o beijo pelo único
momento que eles precisavam para puxar a camisa sobre sua cabeça,
então eles estavam se beijando novamente. Ele puxou Jeremy para
mais perto e correu as mãos avidamente sobre os ombros e costas,
parando para massagear sua bunda perfeita.

Jeremy se afastou para remover a calça jeans e soltou uma


exclamação de surpresa quando não encontrou nada além dela e a
excitação de Rafe se soltou. Ajoelhou-se no chão do chuveiro e
gentilmente puxou o jeans dos pés, e então, lentamente,
metodicamente, ele passou as mãos por cima das coxas e quadris até
que os lábios dele roçaram levemente a pele sensível do membro de
Rafe.

Rafe arqueou-se quase violentamente e jogou os braços para se


firmar. Quando ele sentiu a língua de Jeremy, seu corpo tremeu
novamente quando um grito rouco saiu de sua garganta. Querendo
mais uma vez a boca dele, Rafe agarrou os braços de Jeremy e o

KM
puxou para cima. Seus corpos nunca se separaram, eles se beijaram
novamente enquanto a água corria sobre seus rostos e para baixo de
seus ombros.

Como se tivessem o mesmo pensamento, suas mãos


encontraram o pau um do outro, acariciando em longas e fluidas
varreduras enquanto suas línguas se entrelaçavam. A energia entre
eles estalou enquanto eles se aproximavam do orgasmo, até a
respiração deles arquejava em conjunto. Seus corpos se misturavam
mais forte enquanto a liberação se aproximava e Rafe sentiu o pulso
forte do punho de Jeremy contra seu abdômen. Logo depois, Rafe
não reconhecia nada além da deliciosa explosão de prazer que
Jeremy tirou dele, e a maneira como ele ordenhava a mesma
resposta dele. Os dois gemeram e desmoronaram um contra o outro,
seus lábios ainda se tocando enquanto respiravam juntos no
rescaldo do gozo.

Sem pensar, Rafe gentilmente segurou o rosto de Jeremy e


sussurrou as palavras que ele sabia que não deveria.

─Eu me apaixonei por você─, ele sussurrou rudemente e os


olhos de Jeremy arregalaram com uma expressão que ele não podia
interpretar. Ele baixou os olhos, a intimidade do momento quase
mais do que ele podia suportar, e sussurrou novamente. ─Eu te
amo...─ Jeremy não disse nada, em vez disso pegou a boca de Rafe
com a sua própria e deu-lhe um beijo mais profundo do que eles já
haviam compartilhado. Era muito cedo para ele devolver os
sentimentos, provavelmente cedo demais para que Rafe os tivesse,
mas ele não podia mudar isso. Era suficiente apenas saber que ele

KM
era especial aos olhos de Jeremy. Era o suficiente por agora, de
qualquer maneira.

KM
CAPÍTULO DEZENOVE

Jeremy observou Rafe sair enquanto se inclinava na porta da


frente. Eles compartilharam um adeus lá dentro, longe dos olhares
indiscretos de seus vizinhos, e vê-lo ir trouxe uma
surpreendentemente sensação de vazio. Rafe poderia ter ficado a
noite, mas Jeremy percebeu que ele tinha chocado até a si mesmo
jogando a grande bomba “A”. Ele estava tentando não ser agressivo,
ou forçar Jeremy a ir rápido demais, então ele estava dando um
pouco de espaço para Jeremy.

Mas ele não precisava. Sim, ele ficou chocado; Na verdade, era
a última coisa que ele esperava ouvir da boca de Rafe. Desde que ele
disse essas três pequenas palavras, elas não deixaram a mente de
Jeremy. Ele continuava voltando a elas, parte dele se perguntando se
as palavras não eram simplesmente o resultado de um orgasmo
alucinante. Ele sabia que isso acontecia com homens, mas não era
geralmente antes do orgasmo? Rafe o agarrou para ter certeza de
que estava prestando atenção e depois disse que o amava. Duas
vezes, praticamente.

Jeremy queria dizer aquelas palavras de volta. Ele queria


esmagar Rafe e nunca soltá-lo, mas ele ainda não podia. Ele estava
errado em pensar que era cedo demais para ele devolver o
sentimento? Rafe estivera em outras relações com homens; ele tinha
que saber o que estava acontecendo com seus próprios pensamentos,
e não havia como confundir a intensidade em seu olhar quando ele
confessou como se sentia. Jeremy não só tinha zero experiência

KM
em gostar de um cara, mas amar? Como ele deveria descobrir
isso? Ele nunca realmente amou suas antigas namoradas.

Ele sabia que se importava muito com Rafe. Ele o achava


fascinante, viciante e bonito. Para Jeremy, era óbvio que eles
estavam envolvidos em algo sério, porque Rafe era um homem que
gritava compromisso. Isso era imenso. Ele estava namorando
e dormindo com outro homem. Isso definitivamente era mais que
uma paixão.

Seu relacionamento estava se movendo rapidamente. Com


amor na mesa, ele teve que assumir que Rafe o considerava seu
namorado, ou pelo menos uma perspectiva séria para o
futuro. Enquanto ele gostava da ideia, ele não estava totalmente à
vontade. Ele continuava voltando para a conversa no almoço. Rafe
disse todas as coisas certas, mas faltava alguma coisa.

Depois que eles se separaram no estádio, ele esperava que


alguém tivesse notado o quão perto ele e Rafe estavam e
comentassem, mas nem mesmo Mark tinha algo a dizer para ele. A
única oportunidade que ele teve de fazer uma escavação em Jeremy,
ele apenas olhou para ele. Jeremy não sabia com certeza, mas
parecia que seus olhos estavam irritados, como se ele tivesse
chorado. Um ano depois do rompimento deles e Rafe ainda poderia
atraí-lo às lágrimas? Isso o fez pensar que havia mais na história do
que lhe foi dito. Era muito tempo para alimentar um coração
partido.

Rafe fez parecer que ter sido um relacionamento ruim e difícil


que nunca foi realmente bom, mas era possível que ele estivesse

KM
protegendo-o da realidade. Talvez eles tenham sido ótimos por um
tempo. Talvez um deles tenha traído. Talvez Mark tenha sido aquele
que continuou perdoando Rafe... Talvez algo tenha acontecido entre
eles recentemente, o que tornou a presença de Jeremy na vida de
Rafe incrivelmente dolorosa para Mark. O cara definitivamente
escondia suas emoções por trás do sarcasmo e comentários
maliciosos. Enquanto ele nunca foi um pacote de alegria para estar
ao redor, foi muito pior durante o último mês ou assim.

Era possível que toda a conjectura fosse inútil e servisse


apenas para fazer Jeremy se sentir ainda mais inseguro com Rafe do
que ele já era, mas as dúvidas o incomodavam e ele não sabia como
proceder. Ele estava se preparando para sair abertamente com
Rafe. E se ele fosse o próximo Mark Newland?

Ele suspirou e tentou afastar esses pensamentos. Ele não


queria que Rafe saísse, mas algum tempo sozinho para pensar não
faria mal. Então lá estava ele, observando Rafe vestindo uma calça
muito folgada e uma de suas camisetas favoritas. O jeans e a
camiseta de Rafe ainda precisavam ser espremidos e jogados na
secadora.

Jeremy acenou quando Rafe ligou o motor e ligou a marcha


ré. Ele fez o sinal universal para “te ligo depois”. Pelo menos eles
ainda passariam o domingo juntos, e se Jeremy estivesse sendo
honesto, ele estava realmente exausto e precisava dormir. Ele
certamente não tinha dormido muito na última noite na casa de Rafe
e, depois de um jogo duplo, ele precisava descansar um pouco.

KM
Quando o caminhão de Rafe estava fora de vista, ele trancou a
porta e foi direto para seu quarto. Seu rosto ainda estava sensível
quando ele encostou a cabeça no travesseiro, mas isso não
importava. Ele estava dormindo um segundo depois.

***

O celular de Rafe começou a tremer depois da meia-


noite. Havia poucas pessoas que ele sabia que ligariam naquele
momento, o que significava que Brian e Megan estavam em algum
tipo de problema, ou Jeremy estava ligando. Afastando seus lençóis
amassados, Rafe pegou o telefone na mesinha de cabeceira e apertou
os olhos mal abertos para a tela. O número não estava
disponível. Ele pensou em deixar ir para o correio de voz. Mas ainda
assim, isso pode ser importante.

Apertando o botão aceitar, ele respondeu com seu jeito


habitual, soando como se tivesse engolido cascalho por algumas
horas. Ele limpou a garganta e tentou novamente.

─Rafe Bridges.

─Você é o detetive? ─ uma jovem falou depois de uma pausa e


Rafe passou a mão cansada pelo rosto. Isso não acontecia com
frequência, mas ocasionalmente pessoas que precisavam de um
detetive ligavam para ele no meio da noite como se ele vivesse de
energéticos e ficaria feliz em saber se o cônjuge/outra pessoa
importante estava gozando em outro lugar. Ele aceitava esse tipo de

KM
trabalho durante o horário comercial. Emergências eram outra coisa
e, pelo som de sua voz ao telefone, Rafe percebeu que era algo que
poderia esperar até a manhã seguinte.

─Sim, sou detetive. Isto é uma chamada de emergência?

Outra pausa e um suspiro ao fundo.

─Sim. Preciso que você faça auma coisa por mim.─ Rafe se
levantou contra a cabeceira e acendeu a luz, resignado com o
destino.

─Com o que posso ajudar?

─Isso vai soar mal, mas eu preciso que você pare de procurar
por mim.

Ele congelou e olhou fixamente para a parede por alguns


segundos.

─Yesenia Aragon?

─Sim.

─Você está em algum lugar seguro? Fora de perigo?

─Eu estou bem─, ela respondeu. ─Melhor do que eu estaria se


eu estivesse em casa.

─Alguém te forçou? Você está sendo mantido em algum


lugar?─ Ele estava correndo pela lista de perguntas enquanto as
peças remanescentes do quebra-cabeça de sua investigação

KM
começavam a se encaixar. Assim que ele tivesse certeza de que ela
estava bem, ele tomaria o tempo para ficar bravo.

─Ninguém me sequestrou. Eu saí sozinha e preciso que você


pare de me procurar. Estou pedindo que você vá até meus pais e diga
que você não pode mais fazer esse trabalho.

Ah, claro, pensou Rafe. Toda a correria que ele tinha passado
só para recusar o pagamento, porque ela pediu com
educação. Hmmm. Nada feito.

─Deixe-me ver se entendi. Você quer que eu finja que não falei
com você e que estou desistindo da busca. Depois de uma
semana. Não importa a quantidade de esforço que eu normalmente
coloco em uma investigação, ou o óbvio dilema ético que você está
apresentando.

─Eu sou quase uma adulta legal. Depois do meu aniversário


daqui a duas semanas, vou voltar e pegar minhas coisas e sair para
sempre.

─Por que foi tão importante para você sair de lá,


Yesenia? Foram as brigas com seu pai?─ A linha ficou em silêncio e
Rafe esperou que ela respondesse. Ele ainda podia ouvir sua
respiração.

─É um monte de coisas que eu não consigo mais lidar, ok? Eu


não vou falar com você sobre isso. Eu estou pedindo para você me
ajudar e parar de procurar por mim. Eu irei para casa depois que eu
completar dezoito anos.─ Sua auto absorção foi o que acabou

KM
empurrando Rafe sobre a borda e seu modo geralmente
descontraído se perdeu.

─É muito conveniente que você faça algo assim,


sabe? Cancelar uma investigação como se não fosse grande
coisa. Você tem alguma ideia da quantidade de pessoas procurando
por você agora? Eu não sou o único no trabalho. A polícia tem
detetives designados para o seu caso também, e durante o tempo que
você se esconde, perfeitamente segura e saudável enquanto espera
pelo seu aniversário, eles estão desperdiçando seus esforços para
encontrar você. Esses esforços poderiam, na verdade, estar indo para
uma criança ou um adulto que está com sérios problemas e está
orando dia e noite para que alguém apareça e ajude. Talvez isso
acontecesse se os policiais não estivessem ocupados com as
investigações que acabam sendo um desperdício de tempo. Você já
considerou isso? Você pode estar confortável onde está, mas com
certeza há pessoas que estão perdidas e com medo. Você pode estar
prestes a completar dezoito anos, Yesenia, mas se é assim que
resolve seus problemas, está longe de ser uma adulta.─ Houve um
suspiro de indignação em resposta e Rafe sacudiu a cabeça. O que
ela esperava que ele fizesse? Apenas desistisse?

─Você não sabe o que eu tive que aguentar, detetive. O que faz
você pensar que eu não fugi de algo ruim?

─Eu não disse isso. Eu simplesmente disse da minha


própria maneira indireta que fugir de casa não é a melhor opção. Eu
tenho certeza de que algo está acontecendo em sua casa,
provavelmente durante anos, e definitivamente não é bom, mas a
coisa é, existem maneiras de obter ajuda que não envolvem fugir até

KM
que tenha idade suficiente para escapar permanentemente. E
enquanto você está se escondendo, outras pessoas
em situações mais imediatas estão sendo perdidas ao longo do
caminho. Eu poderia ajudá-la se você for honesta comigo e me der a
chance.

─Eu não posso voltar para casa. Eu não vou.

─Tudo bem. Não volte para lá, mas não posso ir até a casa dos
seus pais e dizer que é muito difícil e eu desisto. Eu tenho uma
responsabilidade para com eles. Eu teria que dizer a eles que falei
com você e que você está segura, mas que você se recusa a voltar
para casa. Eu também tenho que informar o departamento de polícia
para que eles possam redirecionar seus recursos para as pessoas que
precisam deles. Você parece estar olhando para isso de dentro de
uma bolha, como se suas ações não estivessem tendo um impacto
sobre ninguém, exceto um pouco de preocupação. Nada é tão
simples assim.

─Eu posso endireitar tudo isso quando eu voltar para casa


depois que eu tiver dezoito anos.

Rafe revirou os olhos. Ela não estava ouvindo.

─Prove que você é mais madura do que isso e enfrente seus


problemas antes, porque o que você está realmente dizendo não é
que você vai suavizar as arestas quando tiver dezoito anos e voltar
para casa. Você está dizendo que vai para casa, abraçar a sua mãe e
arruma as malas para correr de novo. Você terá que encontrar um
lugar para ficar, ou se impor um pouco mais à pessoa que a está
escondendo atualmente, então conseguir um emprego e

KM
possivelmente abandonar a escola porque você não pode se
sustentar com um salário de meio período. Se você quer minha
opinião, o que eu tenho certeza que não, seu plano é péssimo.

─Você age como se eu estivesse tentando machucar as pessoas


quando não é isso que eu quero. Mas não posso aparecer naquela
casa e fingir que está tudo bem.

─Primeiro de tudo, você não está tentando ferir as pessoas


agora, você está ferindo - direta e indiretamente. Segundo, eu
entendo que o que você está enfrentando em casa é muito pior do
que o seu pai não gostar de seu namorado - que, a propósito, é uma
das pessoas que estão incrivelmente preocupadas com você. Eu não
posso ajudá-la a menos que você deixe, mas se você me der uma
chance, há uma maneira de enfrentar este problema e cuidar disso,
mantendo você segura.

─O que você sabe sobre o que eu passei lá? Ninguém


sabe. Ninguém.

─ Se você quer dizer que não foi honesta com os outros sobre o
que está acontecendo sob aquele teto, eu concordo completamente,
mas isso não significa que não possa ser deduzido se você fizer as
perguntas certas. Sou um bom detetive, Yesenia.

─Eu acho que você está blefando─, ela retrucou, soando perto
das lágrimas.

─Que tal eu contar algumas coisas que aprendi desde o início


desta investigação, ok? Então você me diz o que pensa. ─Yesenia
fungou, mas não respondeu. ─Temos um acordo?─ Ele cutucou.

KM
─…Sim.

─Eu não discuti isso com ninguém da sua família, então eu não
quero que você se preocupe que, assim que suspeitar de algo, eu leve
isso para eles. Eu acabaria atirando no meu pé dessa maneira. Eu sei
que seu pai está mentindo. Ele fez sua mãe mentir para mim
também, mas ela teve a coragem de admitir. Ela está em negação
sobre o que realmente está acontecendo em sua casa.

─Seu pai disse que você desapareceu do seu quarto, que você
foi levada e arrastada pela janela. Eu sei que você fez uma pausa
para isso no banheiro. Então, obviamente, seu pai já queria apontar
a investigação em uma direção que fizesse parecer que você foi
sequestrada, em vez de sair sozinha. Ele era o único em casa quando
você saiu, mas sua mãe mentiu e disse que estava lá também. É
estranho que ele não quisesse que parecesse que estava sozinho com
você.

─Agora, sua mãe disse que seu pai queria que a polícia te
procurasse imediatamente e eles têm que esperar vinte e quatro
horas se é um caso normal de pessoa desaparecida. Uma invasão
domiciliar com a filha desaparecida os deixará mais atentos. Tudo
isso só me diz que seu pai não está apenas preocupado com você,
Yesenia, ele está obcecado em levar você para casa. Não só a polícia
designou uma equipe, mas eu recebi uma ligação dentro de alguns
dias após seu desaparecimento e comecei a trabalhar.

─Desde o início desta investigação, seu pai tem estado


frenético para tê-la sob seu teto. É incrível que eu tenha passado
uma semana sem um telefonema dele. Todos com quem falei, além

KM
de sua mãe e seu irmão, dizem que seu relacionamento com seu pai
não é correto. Ele observa muito você. Ele mantém você em casa
com ele, tanto quanto pode. Ele odeia quando você está com
Angel. Ele só fica feliz quando você está onde ele possa te ver. Ele
monitora o que você faz - incluindo quanto tempo você passa no
banheiro, com quem você está ao telefone e sobre o que você
fala. Ele verifica você todas as noites antes de ir para a cama. Isso é
mais do que proteção. Se você quer que eu cuspa o que isso significa
para mim, eu vou, mas você precisa me dizer se eu estou no caminho
certo. Você precisa me dizer se seu pai está fazendo algo errado.

Os soluços de Yesenia o machucaram, mas ele não se


arrependeu de ser duro com ela. Ela não teria ficado na linha por
tanto tempo se não precisasse de um pouco de amor duro. Rafe a
deixou chorar por mais alguns instantes antes de pedir que ela
falasse com ele novamente.

─Eu não quero que ninguém tenha problemas─, ela disse


chorando, as palavras saindo distorcidas. Rafe baixou a cabeça
contra a cabeceira da cama e suspirou. Aquele maldito rato bastardo,
Hector. Sua filha odiava o que estava acontecendo com ela tanto que
ela fugiu, mas ela ainda o amava o suficiente para querer mantê-lo
longe de problemas. Ele não merecia a proteção dela.

─Eu sei que é difícil─, ele finalmente respondeu. ─Eu sei que
você se importa com sua família, mas o que você passou está errado,
Yesenia. Profundamente errado. Ele lançara seus tentáculos como
um câncer em todas as partes de sua vida se você não conseguir
ajuda. Ninguém tem o direito de fazer o que ele fez com você.

KM
─Estou com medo de ir para casa e não poder sair de novo
imediatamente. Eu não posso passar por isso novamente. Ele vai...
ele vai querer. Se ele desconfiar que alguém sabe... ele ficará furioso.

Rafe rangeu os dentes contra uma maldição raivosa e teve que


respirar fundo várias vezes para se acalmar. Com repugnância e fúria
mal contidas, ele perguntou: ─Há quanto tempo ele está abusando
sexualmente de você, Yesenia?

Ouvir as palavras em voz alta fez com que os soluços


aumentassem ainda mais e Rafe esperou enquanto ela chorava. Ele
tentou oferecer conforto tanto quanto pode, mas era mais
importante para ela aliviar um pouco sua dor.

Ele ficou surpreso quando ela não precisou que ele repetisse a
pergunta, e ele ficou realmente aliviado por não ter que perguntar
novamente. Perguntar - para não mencionar ouvir a resposta -
tornou isso muito real.

─Ele tem … ele faz essas coisas… desde que eu tinha doze
anos. Ele me dizia para não dizer nada, que ele me amava de uma
maneira especial. Eu não aguento mais. Eu me sinto como
lixo. Estou sozinha com isso e não posso fazer nada.

Rafe engoliu o nó na garganta.

─Ei agora. Você não está mais sozinha, entendeu? Eu vou


ajudar você a consertar isso. Você não é lixo e isso não é culpa
sua. Não é sua culpa .─ Ele fez uma pausa e respirou
fundo. ─Podemos trabalhar juntos e ter certeza de que você está

KM
segura, mas você tem que continuar sendo honesta
comigo. Continue falando comigo. Você pode fazer isso?

─Eu não quero causar problemas a ninguém─, ela


soluçou. ─Minha mãe não sabe. Eu quis contar a ela tantas vezes...
mas achei que ela não acreditaria em mim. Ninguém sabe.

─Eu sei. Eu sei que isso é difícil, mas por favor, deixe-me
ajudá-la. Conheço muitas pessoas que podem trabalhar conosco
para garantir que você receba a ajuda que precisa.

─Eu não posso ir para casa, detetive. Por favor... não me faça ir
para casa,─ ela implorou, soando como se estivesse se tornando
frenética novamente.

─Yesenia, me escute. Ninguém vai forçá-la a estar no mesmo


lugar que seu pai. Não é seguro e não o colocaremos em situações
inseguras. Você tem que confiar em mim, no entanto. Você tem que
trabalhar comigo.

─Eu não sei se-

─Nunca haverá uma solução para esta terrível situação se você


não me deixar ou a outra pessoa te ajudar. Diga-me onde você está e
eu posso ir buscá-la e ter certeza de que você está sendo cuidado.

─ Eu não posso… eu não posso te dizer.

─Por que não?

─Eu não posso ir para casa! Não vou para casa.─ Ela estava se
perdendo novamente e Rafe tinha que se esforçar para

KM
acompanhar. ─Ninguém na família vai acreditar em mim. Eles vão
me odiar.

─Yesenia, você não terá que ficar no mesmo lugar que seu
pai. Tenho a responsabilidade de denunciar seu comportamento,
entendeu? Você estará protegida, você me ouve? Eu prometo que
você estará segura.

─Não. Eu não posso fazer isso agora. Vou ligar de novo, mas é
tudo que posso fazer. Não vou para casa. Eu não quero ser chamada
de mentirosa depois de tudo... o que ele fez comigo. Por favor, não o
denuncie. Ainda não. Eu te ligo de novo. Prometa que vai esperar.─
Sua voz falhou novamente e antes que Rafe pudesse implorar, ela
estava dizendo adeus.

─Yesenia!

─Eu vou ligar de novo em breve. Não conte a ninguém


ainda, por favor─, ela disse e desligou.

─Foda-se!─ Rafe gritou e jogou o telefone para baixo. ─Foda-


se, foda-se!

Como diabos ele deveria ajudá-la? Como ele iria consertar essa
merda?

KM
CAPÍTULO VINTE

Rafe quase não dormiu naquela noite. Várias vezes ele quase
pulou em sua caminhonete para dirigir pelas ruas à procura de
Yesenia, mas isso seria um desperdício astronômico de seu
tempo. Ela estava bem escondida onde quer que estivesse. E ela
estava colocando-o entre a cruz e a espada. Tanto quanto ele sabia, o
tempo que ela levaria pra ligar de novo seria usado para correr para
mais longe. Depois de admitir o que seu pai tinha feito com ela, ela
poderia estar muito assustada para voltar para casa e encarar a
maneira que iria seriamente perturbar o mundo de sua família. Mas
isso não poderia continuar. Se ela estava em casa ou não, seu pai não
poderia continuar sem ser confrontado ou fugir impune por seus
crimes. Não havia dúvida de que Rafe iria contar à polícia tudo o que
ele havia descoberto.

Sem Yesenia, porém, ele estaria apenas fazendo uma


acusação. A única evidência que ele tinha era circunstancial, se é que
tinha mesmo. Ele não podia bem dizer aos detetives designados para
o caso dela que ele tinha um telefonema anonimo e uma onda de
boatos para apoiá-lo. Yesenia tinha que ligar de volta. Ela tinha que
manter sua promessa se quisesse justiça. Rafe lhe daria um dia. Era
isso. Se ela não ligasse para ele no mesmo horário amanhã, ele
deixaria tudo e faria uma visita ao departamento de polícia. Hector
poderia ir direto para o inferno.

Ele finalmente adormeceu no sofá e muito cedo uma batida


forte na porta da frente o fez pular do couro marrom como se
estivesse fervendo. Ele ouviu seu nome ser chamado e suas

KM
esperanças caíram quando ele reconheceu a voz de Brian. Se fosse
Yesenia, ele poderia ir direto ao evento principal com um final
surpresa de Hector algemado. Se fosse Jeremy, ele poderia ter um
abraço reconfortante e um pouco de simpatia, pelo menos. A batida
de Brian não foi um bom augúrio, no entanto. Ele abriu a porta e
teve que saltar para fora do caminho de Brian enquanto seu melhor
amigo passava por ele. Rafe olhou em volta para ver que horas eram
e viu no mostrador de DVD que eram apenas oito.

─Ei idiota─, Brian desabafou. ─Adivinha que bêbado ligou


para mim ao raiar do dia e me submeteu a sua história de dor?

Rafe esfregou os olhos e resmungou.

─Eu não sei. Jimmy Hoffa. Eu espero que você tenha gravado.

─Sabe? Eu gostaria que fosse; Eu ficaria famoso. Mas não, foi


seu ex favorito, Mark, que tinha alguns detalhes muito interessantes
para compartilhar comigo após sua sexta dose de vodca.─ Rafe
sentiu uma dor de cabeça chegando, ou uma dor no intestino, ou
uma dor da vida. Ele não tinha certeza. Deixando a porta aberta e a
luz brilhando através da porta de tela, ele foi para a cozinha.

─Você quer café antes de continuar com sua palestra?

─Não─, retrucou Brian. ─Você não deveria se entregar ao luxo


do café enquanto eu digo isso porque você não foi o único a lidar
com a ligação interminável do garoto bonito Mark.─ Rafe estava
prestes a dizer a Brian exatamente que tipo de telefonema ele
recebeu, mas manteve sua boca fechada.

─É verdade? Sobre o Jeremy? Vocês dois estão juntos?

KM
Rafe gemeu e afundou em uma cadeira na mesa de
jantar. Deus, tão cedo? Sério?

─O que diabos Mark disse para você?─ Porra, ele estava


pronto para estrangular o cara.

Brian era todo negócios, seus braços tatuados apoiados nas


costas de uma cadeira.

─Sim. É verdade.─ Rafe não olhou para ele, preferindo olhar


para o céu azul pela porta. ─Eu não sei o que somos.

Brian amaldiçoou e se afastou da mesa para andar por um


segundo.

─Então ele é mesmo gay?

─Você parece chocado. Engraçado, pois você me ligou para


dizer que ele era.

─Pare de brincadeira seu merda. Eu te amo cara, mas você está


agindo como um grande idiota,─ ele disse com uma careta. ─Você e
eu sabemos que não há nada agradável entre Newland e eu, mas se o
que ele disse é verdade, você está fodendo com a mente dele.

─Eu não fiz isso. Não lhe fiz promessas.

─Oh, ele está bem ciente disso, mas isso não significa que você
não criou uma expectativa. Ele viu você com Jeremy no jogo de
ontem. Você não pensou em como isso iria afetá-lo? Mesmo se nada
estiver acontecendo entre vocês, seja um pouco mais discreto. Isto

KM
não é o ensino médio. Ou lhe devo um pedido de desculpas porque
realmente não há nada acontecendo entre você e Jeremy?

─Brian─, Rafe rosnou, sua voz subindo, ─quando você se


tornou meu guardião? Quando você se tornou especialista em
relacionamentos homossexuais? Nada disso é da sua conta, a menos
que eu seja da sua conta.

─Besteira─, ele cruzou a sala, apontando o dedo direto para o


rosto de Rafe - um movimento que ele sabia que o irritaria. ─Você
fez disso meu negócio quando você se apaixonou por um cara que
era hetero, e quando você terminou com Mark e ficou na minha casa,
e quando ele me ligou pedindo uma dica sobre como lidar com
alguém por quem ele é loucamente apaixonado e que não dá a
mínima para ele. Então aqui estou eu, conversando.

─Bem, então, o que você quer, Bri? Você quer saber se estamos
juntos? Se estamos transando? Se eu amo Jeremy? Ou se eu amo
Mark?

─Quero saber por que você está fodendo com a cabeça do cara
se você está com Jeremy, ou apaixonado por Jeremy - sem
mencionar por que está arriscando as coisas com Jeremy ao mesmo
tempo. Quero dizer, foi você quem aceitou encontro após encontro
com Mark depois que se separaram um ano atrás. Foi você que
dormiu com ele há um mês e meio, empurrou-o para longe, e ligou
para ele esta semana só para dizer oi. O que você está fazendo? Você
está criando seu próprio redemoinho de merda onde seu melhor
amigo não deveria estar envolvido.

KM
Rafe soltou um gemido de dor e baixou a cabeça para a mesa,
logo antes de sua manhã passar de ruim para um grande
pesadelo. Um pesadelo horrível e ensurdecedor.

─Isso é verdade?─ A voz de Jeremy soou através da porta de


tela.

***

Jeremy não sabia como ele continuava aparecendo durante as


conversas pessoais entre Rafe e Brian, mas fizera isso de novo. Ele
não estava nem na metade da caminhada quando suas vozes
chegaram até ele. Ambos estavam irritados com alguma coisa. Aqui
ele pensou que seu carro seria alto o suficiente para trazer Rafe até a
porta, mas com a maneira como os dois estavam gritando, ele não
ficou surpreso por eles terem perdido sua chegada.

Ele debateu sobre voltar para o carro, mas decidiu contra isto
quando ele pensou que o Brian poderia estar persuadindo Rafe a
nunca mais vê-lo. Se esse fosse o caso, ele queria dar suas próprias
respostas.

Na porta de tela, ele levantou a mão para bater quando as


palavras de Brian cortaram suas intenções e o congelaram na
calçada. Seu coração afundou e ele esperou, rezando, na verdade,
pela negação de Rafe - de que ele não tivesse dormido com Mark
recentemente, ou o chamado como ele disse que não tinha feito. Mas
nenhuma negação veio.

KM
─Isso é verdade?─ Ele murmurou, mordendo o lado da
bochecha para se manter sobre controle. Rafe girou ao redor e a
maneira como o sangue drenou de seu rosto, foi como Jeremy
soube. E ali estava ele, de pé no alpendre, como um idiota com uma
sacola de bagels em uma mão e as roupas limpas de Rafe na
outra. Foi como um filme muito ruim em que o público se encolhe,
dizendo coisas como “Pobre bastardo”. Ele deveria ter visto esse
final chegando.

─Merda─, Rafe disse, levantando-se quando Jeremy entrou na


casa. ─Eu-o que você está-

─Não foda comigo, Rafe. Seja homem e me diga se você


mentiu para mim.

─Escute, você tem que me dar uma chance para explicar


isso. Parece terrível da maneira como você ouviu e...

─Droga! Você nem pode admitir isso mesmo depois de ter sido
descoberto.─ Jeremy não estava com vontade de ouvir um monte de
desculpas, mas ao mesmo tempo, sua mente estava clamando para
que Rafe explicasse tudo - para mentir. Ele arriscou um olhar para
Brian e ficou surpreso ao ver que ele não estava se regozijando ou
sorrindo; ele estava olhando para seus pés, parecendo que queria
estar longe de ambos.

─Não é desse jeito. Eu não estive com Mark em mais de seis


semanas. Eu estava bêbado e ele apareceu e... Como sou um idiota,
fui para casa com ele.─ Ele se moveu em direção à porta com as
mãos abertas em súplica. ─Na manhã seguinte, eu disse a ele que
tinha sido um erro e que isso não deveria ter acontecido. Brian pode

KM
atestar isso. Juro que foi a única vez que dormi com ele desde que
terminamos.

─Mentiroso. Seu maldito mentiroso.─ Jeremy sacudiu a


cabeça, prestes a vomitar. ─Eu ouvi o que Brian disse. 'Encontro
após encontro' desde que vocês se separaram.

─Eu não dormi com ele. Eu não fiz nada com ele antes do
tempo que acabei de lhe contar. Ele estava tentando voltar e ficava
me procurando. É só isso. Pergunte a Brian se você não acredita em
mim.

Os olhos de Jeremy dispararam para Brian, que assentiu


lentamente, dizendo que Rafe estava dizendo a verdade.

─Eu não quis dizer encontros sexuais─, ele murmurou


envergonhado.

─Jeremy.─ Rafe se aproximou dele até que ele levantou a mão


para detê-lo. ─Eu não quero estar com Mark. Você é tudo que eu
quero. Por favor acredite em mim. Se eu soubesse que você iria
entrar na minha vida, eu nunca teria estado com ele.

Demorou um segundo para Jeremy lembrar que ele realmente


não tinha o direito de ficar bravo com o que Rafe e Mark haviam
feito juntos antes de ele entrar em cena, mas doeu pensar no modo
como ele tinha sido enganado. Ele deveria ter ouvido Mark - o único
que sabia como Rafe agia em um relacionamento.

─E o telefonema? Você sabe, aquele que você disse que não fez,
porque Mark achava que você estava interessado.─ Jeremy lutou
para manter a voz baixa. Ele estava fervendo de raiva e

KM
incrivelmente envergonhado por estar tendo sua primeira briga gay
na frente do melhor amigo de Rafe.

Rafe deu mais alguns passos para perto dele até que o aviso em
seus olhos o deteve.

─Uma semana atrás, não achei que tivesse a chance de estar


com você, Jeremy. Eu gostava muito de você e estava com medo de
acabar machucando meu coração, então decidi colocar distância
entre nós. Você só queria amizade até onde eu sabia. Então... eu
evitei você. Em um momento idiota e sem sentido de solidão, liguei
para Mark. Eu pedi desculpas pelo modo como eu o tratei, mas eu
não disse que queria voltar, ou me encontrar com ele, ou dormir com
ele. Eu acho que queria falar com alguém que soubesse o que eu
estava sentindo. Eu deixei uma mensagem de voz. E eu não falo com
ele desde então, embora ele tenha me ligado. Você me deu uma
chance e... eu não pude acreditar.

Rafe estava engasgando e Jeremy ficou horrorizado ao sentir


sua própria garganta se fechando em resposta. Seus olhos estavam
começando a arder.

─Eu te dei uma chance─, ele sussurrou com voz rouca. ─Eu me
arrisquei com você porque nunca havia me sentido tão vivo como
com você. Então ontem, eu fiz uma pergunta simples: se você ligou
para ele como ele disse. Nada disso estaria acontecendo se você
tivesse sido honesto comigo. Se você tivesse explicado isso naquele
momento. Você mentiu na minha cara e a parte triste é que eu sabia
que algo estava errado. Eu sabia disso e não escutei meu instinto.

KM
─Mark chorou por você. Você sabe disso? E eu pensei comigo
mesmo, cara, que tipo de relacionamento eles devem ter tido para
que Rafe ainda possa machuca-lo assim um ano depois? Acontece
que é mais como se ele estivesse lidando com a noite em que você o
fodeu, e um telefonema que o fez pensar que ele poderia ter voltado
para você novamente.

Jeremy suspirou e teve que esperar um segundo para controlar


sua voz vacilante.

─Ele me avisou. Mark Newland me avisou sobre você e parece


que ele estava certo. Talvez você seja mais parecido com seu mentor,
Jason, do que você pensava.─ Ele caminhou até o sofá, desviando de
Rafe que tentou alcançá-lo. ─Aqui estão suas roupas. Elas estão
limpas. E eu trouxe o café da manhã. Vocês dois podem se divertir
juntos.

Virando as costas enquanto seus olhos se enchiam de


mortificação, ele pegou suas chaves e parou para olhar para Brian.

─Parece que você não precisava se preocupar sobre alguém


quebrar o coração de Rafe. Ele estava apenas mantendo suas opções
em aberto.

Brian estremeceu e passou as mãos pelos cabelos enquanto


amaldiçoava. Jeremy assentiu, pensando que não poderia concordar
mais e virou-se para sair de novo. Rafe estava bloqueando seu
caminho.

─Não saia assim, por favor. Eu sinto muito. Você está certo, eu
não deveria ter mentido, mas eu estava com medo de ele ficar entre

KM
nós e eu quero que você faça parte da minha vida. Por favor.─ Ele
juntou as mãos na nuca de Jeremy e tentou puxá-lo para mais perto.

─Rafe─, sua voz falhou quando seus olhos se encheram de


lágrimas. ─Tire suas mãos de mim. Isso pode não parecer grande
coisa para você, mas é enorme para mim. Eu estava pronto para
mudar minha vida por você. Você estava muito ocupado sendo
egoísta para perceber isso.

Os olhos de Rafe estavam frenéticos e ele se recusou a recuar


ou soltá-lo.

─Não, Jeremy. Eu juro que só queria proteger o que temos-

─Tivemos. O que nós tivemos─ Jeremy interrompeu as


palavras. ─Você não estava nos protegendo. Você estava se
protegendo. Eu não vou mais fazer parte disso. Talvez eu deva
agradecer a você por tornar minha vida de repente muito mais fácil.

Quando Rafe puxou-o, ele puxou seu corpo para longe e


empurrou Rafe até a porta.

─Eu não vou mais me envolver nisso se não posso confiar em


você com algo tão pequeno.─ Rafe se lançou para ele uma última vez
e Jeremy o parou com um olhar com lágrimas nos olhos. Como ele
não conseguia conter as lágrimas, ele poderia usá-las, ele pensou.

─Eu quis dizer o que eu disse ontem─, Rafe murmurou. ─Eu te


amo. Eu não vou deixar terminar assim.

─Você não tem escolha─, ele respondeu e abriu a porta de


tela. ─Eu terminei.

KM
CAPÍTULO VINTE E UM

Jeremy saiu da entrada da garagem, forçando-se a não olhar


para Rafe enquanto ele deixava a casa. Ele estava sem camisa e
usando o mesmo moletom que usara na primeira noite em que
estiveram juntos. Vê-lo assim intensificou a lavagem repugnante de
emoções que ele estava tentando tanto suportar.

Ele estava furioso; mais consigo mesmo do que qualquer outra


pessoa, porque ele deu uma chance e ela explodiu na cara dele. Se ele
fez as contas corretamente, eles estiveram juntos por quase dois
dias. Seu relacionamento mais curto. Jeremy nem sequer tinha uma
noite para recordar. Naquele momento, ele desejou que tivesse.

Jeremy dirigiu sem destino. Seu telefone tocou algumas vezes,


mas nenhuma mensagem de voz chegou. Suas mãos tremiam contra
o volante toda vez que ele imaginava o rosto de Rafe quando ele lhe
pediu a verdade. Ele encontrou-se engolindo outra pontada de dor
quando as palavras que ambos disseram correram em sua mente
novamente.

O que o deixou mais chateado - o que não fazia sentido - era


que ele estava sentado atrás do volante, desejando ter saído de casa
cinco minutos mais tarde esta manhã, desejando nunca ter ouvido
Brian dizer aquelas coisas, então ele poderia continuar em
abençoada ignorância com Rafe dizendo que o amava e todas as
outras porcarias. Que patético. Ele era patético.

Rafe esteve com o Mark há seis semanas. Jeremy conheceu


Rafe seis semanas atrás... e ele estava completamente bagunçado

KM
naquela manhã no tribunal. Eles provavelmente foderam na noite
anterior. Jeremy xingou as imagens terríveis em sua cabeça.

Por que o cérebro funciona dessa maneira? Quando você está


chateado, sua mente sempre encontrava aqueles pedacinhos de
informação que eram esquecidos ou ignorados e os apresentava de
novo até que você veja tudo através de uma perspectiva totalmente
diferente. Isso só o deixou mais irritado.

Jeremy dirigiu pelo seu antigo bairro, rugindo pela rua em que
seu pai morava e terminando na entrada da garagem de Tracey. Ele
ficou olhando para a casa, sem querer responder a nenhuma
pergunta, mas sem querer ficar sozinho. Quando sua irmã saiu e
acenou para ele, ele saiu sem energia.

Ele se arrastou mais do que caminhou na direção dela e a


expressão em seu rosto deve ter dito mil palavras porque ela abriu a
porta e ofereceu café.

Jake estava à mesa e Jeremy sentou-se ao lado dele, apoiando


o queixo na mão. Seu cunhado deu-lhe um longo olhar. Depois de
um silêncio tenso, ele vasculhou as partes do papel que estavam
sobre a mesa e entregou a Jeremy a seção de esportes.

─Há um bom artigo sobre aquele veterano que levou sua


equipe para o estado no ano passado. Ele já está sendo procurado
durante os dois anos de verão.

Jeremy pegou o papel e fingiu ler. As únicas manchetes que ele


viu foram: Confortável no armário, Idiota Ingênuo foi Enganado ,
ou Esperança Esmagada: A aventura gay do jovem policial que

KM
deu errado . Ele não estava totalmente certo, mas ele poderia se
odiar. Talvez. Possivelmente.

Tracey colocou uma xícara de café na mesa na frente dele e


levou algumas tentativas, mas ele finalmente conseguiu engolir um
pouco. As palavras na frente dele se embaçaram e tudo o que ele
podia ver era o rosto de Rafe e tudo o que ele conseguia pensar era
em como ele foi fodido. Literalmente e figurativamente. Foi
surpreendente o quão parecido era quando comparado a ser vítima
de uma farsa. Rafe descobriu que ele poderia conseguir um cara que
sempre achou que era hetero... e Jeremy foi chutado nos
dentes. Exatamente o que um idiota imaturo como ele merecia. Se
isso não o fizesse sentir como um idiota total, ele sabia que poderia
reunir alguns soluços impressionantes. Ele não queria chorar por ter
sido enganado. Ele não queria soluçar por perder um cara com quem
se importava - embora isso fosse uma boa razão. Ele queria rolar e
fechar os olhos para o mundo porque, sem Rafe, sua vida não
voltaria automaticamente ao normal. Fingir que ele era o mesmo
cara que ele era há uma semana era certamente uma opção, mas ele
não queria voltar para lá.

Estar com Rafe mudou tudo o que ele sabia sobre si mesmo. E
agora que ele estava sozinho, era como se um estranho estivesse
vivendo dentro de sua própria pele e ele não tinha uma desculpa
para não descobrir quem era aquela pessoa.

***

KM
Rafe correu de volta para a casa e imediatamente mergulhou
no sofá para pegar o telefone. É claro que Jeremy não atenderia suas
ligações, mas isso não significava que ele não tentaria. Brian estava
em pé exatamente onde ele o havia deixado com uma expressão em
seu rosto como se ele tivesse acabado de matar um filhote de
cachorro.

Depois de cair no correio de voz três vezes, ele não se conteve e


lançou o telefone para as almofadas do sofá. Ele girou com raiva, e
pregou Brian com um olhar estrondoso. Seu melhor amigo já estava
acenando como se Rafe estivesse realmente tentando soca-lo.

─Eu não queria que isso acontecesse─ ele gesticulou para fora
da porta de tela aberta. ─Eu não o ouvi chegando.

Rafe ficou parado, a mandíbula cerrada, ainda incapaz de falar,


ele estava tão furioso.

─Você quer que eu fale com ele? Eu posso encontrá-lo e tentar


consertar tudo isso.─ Brian era uma das pessoas mais importantes
na vida de Rafe. Ele esteve lá por ele em alguns dos seus momentos
mais difíceis e mesmo que ele ficasse um pouco parental de vez em
quando, como gritar com ele por fazer Mark de idiota, ele fez isso
porque ele era um bom amigo. Rafe sabia que, se dissesse a Brian
para encontrar Jeremy e tentar, seu amigo não hesitaria.

─Nada que você diga a ele vai mudar que eu menti e o tratei
como se ele não pudesse lidar com algo difícil de ouvir─, ele admitiu,
sua raiva desviando de Brian para si mesmo. ─Jeremy não estava
nem perto de se acostumar comigo como namorado, nem se sentia à
vontade para me beijar em publico, mas estava confiando muito no

KM
fato de que eu não iria enganá-lo. Eu deveria ser a única pessoa com
quem ele poderia contar agora, enquanto ele está totalmente
confuso, então não é apenas com a mentira que ele está chateado… É
por eu não ser quem eu pretendia ser em primeiro lugar.

Ele afundou no sofá e descansou a cabeça entre as


mãos. Impressionante como ele tinha fodido tudo e em tempo
recorde. Woohoo. Jeremy disse exatamente as palavras certas para
mostrar o bom trabalho que Rafe havia feito. O comentário sobre
Jason quase o fez implorar perdão de joelhos. Inferno, se era isso
que precisava para Jeremy dar-lhe outra chance, ele faria em um
piscar de olhos. Jeremy era um cara teimoso, e demoraria muito
para que ele o ouvisse novamente.

─Rafe─, Brian sentou ao lado dele, afastando o saco


amassando de bagels que Jeremy deixou para trás. ─Sinto muito que
isso tenha acontecido. Eu não sabia que... bem, que você o ama.

─ Não demorou muito, não é?

─Isso é relativo, eu acho.

─Eu não posso deixar isso acabar assim, Brian─, ele levantou
os olhos enquanto seus ombros pareciam afundar com a dor. ─Ele é
diferente de qualquer um que eu já conheci. Desde o primeiro dia.

─ Cara, ele não pode abandonar todos os seus sentimentos em


um dia. Todos os sentimentos dele por você, ainda estão dentro
dele. Ele não pode simplesmente sair daqui e esquecer tudo o que
você fez, bom ou ruim. Você tem que fazê-lo se lembrar. Fazer o que
for preciso para provar que você pode ser quem você prometeu ser.

KM
Como um verdadeiro covarde, Rafe pegou as roupas que
Jeremy havia trazido e enterrou o rosto nelas. Com certeza, elas
cheiravam como ele. Ele gemeu.

─Ele não vai falar comigo─, ele murmurou.

─Então o obrigue. Vá para a casa dele─ Brian respondeu. ─Ele


já está lidando com a rejeição. Se você está com muito medo de
sentir a mesma coisa, então você deve desistir. Se você realmente o
quer, lide com essa merda e continue voltando até ele falar com você.

─Deus, eu gostaria de ter contado a verdade. Eu gostaria de


nunca ter ligado para o Mark. Foi um momento estúpido de fraqueza
que provavelmente arruinou a melhor coisa que já aconteceu
comigo.

─ Rafe, faça algo sobre isso. Conserte isso.

─Ele vai dizer não.

─Então pelo menos você saberá sua resposta─, disse ele


suavemente. ─Ouça, se eu puder fazer alguma coisa para ajudar...

Rafe suspirou e jogou as roupas de volta no sofá.

─Não é sua culpa.

─Meio que é sim─, ele respondeu.

─Ok, é sua culpa.

Brian assentiu.

─Você vai atrás dele?

KM
─Sim. Vou.

***

Rafe foi para todos os lugares em que podia pensar que Jeremy
iria. Ele não tinha ideia de onde Tracey morava e duvidava que
Jeremy quisesse encontrar seu pai agora, então ele acabou com o
traseiro estacionado na varanda de Jeremy, pronto para esperar o
tempo que fosse preciso até ele aparecer. Claro, ele não tinha a
menor ilusão de que seria permitido chegar perto assim que ele
chegasse em casa, mas, como Brian disse, continuaria voltando até
que pudessem conversar.

Ele estava em uma longa espera. Os vizinhos do lado de fora,


trabalhando em seus gramados, continuavam a dar-lhe olhares
desconfiados, mas seu caminhão já era familiar, mesmo que seu
rosto não.

Não havia muito o que fazer para passar o tempo, então ele
passou muito disso mexendo no celular e arrumando uma pilha de
pedras na frente de seus pés. Ele não tinha comido e seu estômago
protestava seriamente pela falta de café da manhã e almoço. Parecia
que o jantar também era um sonho distante. Ele se inclinou contra
os degraus atrás de si e tentou ficar confortável.

Perto das cinco e meia, o carro de Jeremy virou na rua e entrou


na garagem. Ele tinha uma sacola plástica de mantimentos em uma
mão e as chaves na outra enquanto caminhava em direção à

KM
casa. Nem mesmo olhando a caminhonete de Rafe, ele agiu como se
fosse pular por cima dos degraus da varanda. Rafe se preparou.

Jeremy ainda não o reconheceu quando passou por ele e abriu


a porta da frente, largando gentilmente as coisas na entrada.

─Jeremy?─ Rafe se levantou e fez uma careta para a câimbra


por estar na mesma posição por tanto tempo.

─Vá para casa, Rafe. Eu não quero fazer isso ─, ele respondeu,
ainda se recusando a virar e olhar para ele.

─Por favor, me escute, ─Rafe pediu. ─Eu não vou tomar muito
do seu tempo, eu prometo.

─Vá para casa.

─Eu esperei aqui por você o dia todo e voltarei amanhã e no


dia seguinte até você falar comigo.

Jeremy girou e se aproximou tão rápido que Rafe recuou nos


degraus, surpreso.

─Você quer que eu me sinta mal por você ou algo assim?─ Ele
rosnou. ─Bem, eu não vou. Você fez isso para si mesmo. Você fez
isso conosco, seja lá o que tivéssemos, e eu não quero ver você agora,
amanhã ou no dia seguinte. Pegue o discurso que você planejou e
vá. Não há nada que você possa dizer que eu queira ouvir.

─E as segundas chances? Daqui a alguns anos, você não acha


que vai se perguntar e se?─ Rafe deu um passo para perto dele e
ficou encorajado quando Jeremy não o afastou ou instantaneamente

KM
recuou. ─Eu estraguei tudo. Isso é culpa minha. Você confiou em
mim - não apenas para dizer a verdade, mas também para ser o tipo
de cara com quem você podia contar - e eu estava com medo e
estraguei tudo. Eu menti e fiz você se sentir como um cara que não é
forte o suficiente para ter um papel igual nessa relação. Eu sou um
idiota.─ Jeremy enfiou as mãos nos bolsos e ficou ocupado olhando
para os pés. Rafe não perdeu o jeito que ele mordia o lábio inferior
como se estivesse tentando segurar alguma coisa.

─Jeremy, você significa mais para mim do que qualquer outra


pessoa e eu sinto muito por ter sido egoísta e ter assumido coisas
sobre você que não são verdadeiras. Você é um dos caras mais
corajosos que eu conheço porque você estava disposto a me dar uma
chance, não importa quantas duvidas você tivesse. Eu sei que não
provei que posso ser o namorado que você merece, mas nunca vou
agir assim de novo. Eu posso te fazer feliz - tão feliz quanto eu puder
se você continuar na minha vida.

Rafe, hesitante, fechou a distância restante entre eles e


gentilmente correu os dedos pelo braço de Jeremy até que ele estava
apertando sua mão.

─Por favor, me perdoe, Jeremy─, ele sussurrou. ─Por favor,


me dê outra chance. Eu te amo.

Jeremy tremeu e tentou se afastar, com lágrimas nos olhos


enquanto ele balançava a cabeça.

─Rafe, não é tão fácil

─Eu te amo. É assim tão fácil. Eu te amo.

KM
Com uma expressão dolorida, Jeremy soltou suas mãos e
empurrou Rafe para trás com uma das mãos no peito.

─Eu tenho muito para pensar agora. A vida é diferente do que


era há uma semana e há muito a descobrir. Eu não posso me
esconder atrás de você, ou um relacionamento com você, e eu não
vou me esconder.

─ Bem, eu não vou desistir, ─Rafe disse com voz rouca,


agarrando a mão que ainda estava em seu peito, mas Jeremy a
afastou antes que ele pudesse tocá-la. ─Voltarei amanhã.─ Jeremy
olhou por cima do ombro para a casa e encolheu os ombros, o lábio
tremendo.

─Eu acho que não posso te parar, mas isso não significa nada.

─Eu te amo─, repetiu Rafe. ─Estarei aqui.

Ele desceu os degraus baixos da varanda quando Jeremy se


moveu para entrar. Quando ele fechou a porta atrás de si, balbuciou:
─Faça o que quiser.

***

─Você ligou bem na hora, Yesenia. Não vou mais esperar para
cuidar disso─, disse Rafe, no momento em que o “número
indisponível” apareceu em seu telefone. Ela não disse nada e ele
esfregou os olhos cansados. Ele não precisava que isso fosse ainda

KM
mais difícil. ─Você dever saber que estou gravando essa conversa,
porque não é bom se você desaparecer e eu não tiver nada para
explicar por que você sentiu que precisava.

Yesenia fez um barulho que mostrava como ela estava dividida.

─Ele vai para a cadeia?

─Ele vai ser levado em custódia, sim─, Rafe respondeu,


tentando descobrir como reduzir a razão por que isso tinha que
acontecer para que ela não recuasse. ─Yesenia, você disse que não
pode mais viver assim. Você disse que fugiu por causa das coisas que
ele estava fazendo com você, então você deve entender que o que ele
fez é errado.

─Eu sei que é… eu sei que é errado ele fazer essas coisas
comigo. Ele ficará tão zangado e a família - minhas tias, tios, primos
- nenhum deles acreditará que ele fez algo assim comigo.

─Yesenia, eu absolutamente discordo. Eu sei que Grace vai


acreditar em você. Eu a entrevistei e ela sabia que algo ruim estava
acontecendo em sua casa.

─Você falou com Grace?─ Ela engasgou, soando à beira das


lágrimas novamente. Ele não podia culpá-la. Se ele estivesse no lugar
dela, ele choraria o tempo todo.

─Eu falei. Você tem que tentar lembrar que você terá apoio
nisso. Mesmo que seja apenas de sua prima e eu. Eu sei que é
assustador pensar em como você pode perturbar as pessoas, mas
não é desculpa para não contar o que você passou. Você não deve ter
que continuar sofrendo em silêncio porque algumas pessoas não

KM
estão dispostas a aceitar sua palavra. Entenda isso, há pessoas que
não acreditarão em sua história e isso não fará com que o que
aconteceu seja menos errado.

─Aqui está a coisa, eu sei que seu pai abusou sexualmente de


você por anos, porque você foi honesta comigo sobre isso. Eu sei
agora. Não importa o que você faça, eu tenho que contar para a
polícia e eles vão investigar o que eu disser a eles. Basicamente, está
fora do seu controle, porque não há como, em boa consciência, eu
esperar até você ter dezoito anos para que possa fugir para sempre,
ou se recusar a contar à polícia sobre isso. Esperei vinte e quatro
horas porque você não quis me dizer onde está, mas vou falar com
eles hoje, independentemente disso.

─Eu sei...─ ela sussurrou, soando quase como se estivesse


tentando abafar sua voz no telefone. Pela centésima vez, ele se
perguntou com quem ela estava se escondendo e por que ela tinha
que ligar em tais horas estranhas.

─Por que você não pode me dizer onde você estava ontem?─,
Ele perguntou, andando pela sala de estar, agora que a conversa
estava realmente se movendo.

─Não tenho certeza do que fazer. Estou com medo...─ ela


parou.

─Ok, isso é compreensível, mas se você me disser onde você


está, eu posso buscá-la e ter certeza de que você continue em um
lugar seguro - longe de seu pai e da sua família – até a polícia
questionar seu pai.

KM
─Estou segura onde estou agora. Não vou voltar para casa até
terminar.

─Yesenia, a polícia precisará falar com você sobre isso


também. Eu posso mostrar a eles essa gravação, mas eles precisarão
que você conte a eles sua história.

─Eu não posso-

─Sim. Você pode.─ Rafe não gostava que ele tivesse que ser tão
firme com ela. Ela não estava no melhor estado de espírito para
entender que era para seu próprio bem. Ele não estava tentando
infligir mais dor a ela, mas com uma situação tão delicada, não era
realmente evitável. ─Alguém estará com você a cada passo do
caminho. Você não precisa ficar sozinha. Seu pai tem que assumir a
responsabilidade por suas ações da mesma forma que qualquer
outra pessoa.

─Eu vou te dar um número para ligar depois que você for à
polícia, mas eu não vou voltar antes disso.─ Yesenia não estava
fazendo sentido. Obviamente, ela estava com medo, mas atrasar o
inevitável não iria consertar as coisas.

─Irei a polícia pela manhã e entregarei a eles esse número


também. Eles provavelmente vão para a casa dos seus pais
imediatamente, esteja você na delegacia ou não.

─E quanto a conversar comigo?

─É melhor prevenir do que remediar,─ Rafe blefou, esperando


que eles tomassem o telefonema gravado como o suficiente para dar

KM
o pontapé inicial, ou que Yesenia cedesse e fosse ao departamento de
polícia com ele. ─Você pode vir comigo, no entanto.

─Aqui está o meu número─, respondeu Yesenia, repetindo os


dígitos tão rápido que ele estava lutando por uma caneta, mesmo
que ele pudesse passar pela gravação para obtê-la. ─Eu não voltarei
até você falar com eles. Eu não posso fazer isso ainda.

─Yesenia, isso está acontecendo e você não pode controlá-


lo. Por favor, venha comigo para conversar com a polícia. Eu posso
te encontrar em algum lugar neutro e te levar, ou um policial pode te
pegar.─ Jeremy instantaneamente veio à sua mente... não que ele
quisesse ajudá-lo naquele momento. Rafe só ouviu silêncio e puxou
o celular de volta para olhar a tela. ─Merda!─ Ela desligou.

Seus olhos dispararam para o relógio. Eram quase cinco. Rafe


apressadamente vasculhou uma das mesas da sala de estar para
pegar um bloco de notas novo e sentou-se para escrever. Menos de
cinco minutos depois, ele estava no chuveiro. Às dez e cinco, pegou
todas as anotações, o telefone e a gravação e saiu de casa.

KM
CAPÍTULO VINTE E DOIS

Uma nota dobrada estava colada à porta balançando na brisa


leve quando Jeremy saiu de casa a caminho do trabalho. Seu nome
estava rabiscado no topo e ele não teve que pegá-la e ler para saber
de quem era. Ele debateu sobre deixa-lo lá por um minuto, mas
sabia que ele iria patrulhar o dia todo como um idiota apaixonada
com o bilhete no fundo de sua mente.

Puxando-o da porta, ele foi até o carro e acendeu a luz do teto


enquanto desdobrava a folha de papel. A caligrafia de Rafe era nítida
e forte, inclinada para a direita, porque ele era canhoto. Jeremy ficou
instantaneamente irritado consigo mesmo por ficar sentimental e
tentou se livrar da sensação.

Ele não podia deixar que Rafe o afetasse assim. Ontem à noite
ele quase desmoronou nos braços de Rafe, conseguindo se segurar
por tempo suficiente para limpar sua cabeça. Era como estar sob a
influência do gás do riso. Rafe chegou tão perto e ele só queria rir e
se enroscar com ele, esquecer tudo o que aconteceu. Ele não podia
fazer isso, no entanto. Agora ele precisava de tempo para pensar se
algo com Rafe era realmente certo para ele - se ele deveria estar com
alguém enquanto tentava descobrir quem ele era.

Com uma respiração entrecortada, ele começou a ler:

Jeremy, eu estaria aqui para te desejar bom dia e te


ver antes de ir para o trabalho, mesmo que seja a última
coisa que você queira. Com tudo o que aconteceu ontem -
em outras palavras, depois de toda a merda que eu fiz - eu

KM
não consegui te dizer que eu falei com Yesenia na manhã
de ontem. Ela disse que está em um lugar seguro por
enquanto, mas não me deixou ir atrás dela. Ela
finalmente admitiu o que estava sofrendo naquela casa e
é tão ruim, se não pior, do que eu pensava.

Eu dei a ela um dia antes de dizer que iria à polícia e


ela ligou novamente esta manhã. Eu estarei no
departamento para lhes dizer o que sei e seguir de lá. Ela
está com muito medo de ir à polícia sozinha. Espero que
depois que tudo estiver feito, ela volte para casa.

De qualquer forma, é por isso que não estou aqui. Eu


te amo e não estou desistindo de nós. Eu vou continuar
dizendo até você realmente me ouvir. ~ Rafe

Jeremy leu a nota mais uma vez, mais surpreso com o


conteúdo do que achava que estaria. Ele estava contente que a
investigação parecia estar chegando ao fim, mas ele estava
incrivelmente perturbado ao ouvir o que Yesenia tinha passado. Ele
tinha várias memórias de Hector de quando ele estava crescendo, e
agora tudo estava contaminado com esse novo conhecimento. Todos
os olhares de Yesenia... cada palavra falada. Desgosto. Que imundo
bastardo.

Depois do beco sem saída que Rafe pensou ter chegado na


outra noite, a situação parecia estar se resolvendo com muita
facilidade. Por que ela ligaria para ele? Como ela descobriu que ele
era o detetive a menos que ela estivesse em contato com uma das
pessoas que Rafe já havia entrevistado? E apesar de Rafe ter

KM
conversado com ele sobre com quem ele havia falado também, ele
não tinha certeza sobre todos eles. Poderia ser qualquer um que ele
questionou.

Ele ligou o carro e se viu esperando que ele pudesse encontrar


Rafe para perguntar se ele considerou isso. Ele era um bom detetive
e Jeremy tinha certeza de que ele não perderia certas pistas, mas isso
estava acontecendo rápido e com todas a coisa acontecendo em sua
vida pessoal, ele poderia ter esquecido isso em sua pressa de cuidar
de Yesenia. Jeremy sempre poderia ligar...

Ele imediatamente negou o pensamento. Rafe estava no


controle. Não precisa se preocupar. E não havia necessidade de ele
estar procurando uma desculpa para destruir o resto de sua
resolução. Uma nota doce e uma visita não deveriam fazê-lo
esquecer que ele tinha muita merda para descobrir antes de pular na
cama com alguém.

***

Rafe teve que esperar mais de meia hora para falar com um
dos detetives designados para o caso de Yesenia. Sam Pierce era um
cara direto e sensato e Rafe gostou dele imediatamente. Ele saiu
correndo de sua reunião matinal, tentando, sem sucesso, tirar um
respingo de café da gravata, para saudar Rafe e seu sorriso torto era
autêntico.

KM
─Você deve ser Detective Bridges─, disse ele em uma voz grave
que surpreendeu Rafe. Acrescente um par de guitarras, um
saxofonista e alguns tambores, e o cara provavelmente conseguiria
se passar por Springsteen.

Eles entraram em uma pequena sala de interrogatório e Rafe


expôs toda a informação que ele tinha: transcrevendo as entrevistas,
cronogramas e a gravação que fizera há menos de duas horas. Pierce
olhou através de tudo e ouviu a gravação com uma expressão que se
tornou mais sombria quanto mais ele absorvia. A polícia não falara
com Grace, e Angel tornara difícil para eles tirar muito proveito dele,
de modo que muitas das coisas que aprendera ao entrevistá-lo eram
novidade para o departamento. Eles também entrevistaram os
Aragons ao mesmo tempo - Carlos realmente falou com ele.

Pierce tinha a mesma opinião que Rafe sobre Hector


Aragon. Ele trouxe mais algumas pessoas para discutir se a gravação
e as transcrições da entrevista que ele coletou serviriam como uma
causa provável para prender Hector, para que eles pudessem acertar
enquanto o mandado era emitido. O consenso geral era ir em
frente. Todos os policiais que ouviram o que Yesenia havia dito em
sua primeira ligação telefônica mal podiam esperar para arrastar
Hector de volta à delegacia.

Um jovem detetive pegou o número que Yesenia havia dado a


Rafe e saiu da sala de entrevistas. Ele voltou depois de alguns
minutos, balançando a cabeça.

─Nada. Apenas a secretária eletrônica. Eu irei investigar o


número e descobrir a quem pertence.

KM
Rafe e o detetive Pierce decidiram que o melhor caminho para
manter os ânimos sob controle era os dois irem juntos para a casa de
Aragon e confrontar Hector com as acusações. Rafe iria porque
Hector parecia confiar nele mais do que nos policiais, e Pierce
poderia dar-lhe uma bofetada - não que a prisão de um cidadão
chique não fosse uma fantasia temporária que todos os rapazes
entretinham em algum momento de sua vida, incluindo Rafe. Desta
vez, ele só queria que Hector saísse daquela casa e Yesenia
encontrasse a companhia de pessoas que pudessem ajudá-la.

Ele e Pierce foram para a casa dos Aragon na caminhonete de


Rafe e, mesmo com a mente no jogo, Rafe não pôde deixar de olhar
para a casa do pai de Jeremy. Algo dentro dele doeu quando ele
involuntariamente desejou que o homem soubesse o quanto ele se
importava com seu filho. Ele queria que todos soubessem, mas ele
estava tendo problemas para convencer Jeremy disso então... era
melhor não pensar nisso agora.

Quando estacionaram na garagem, o cachorro já estava


enlouquecendo e isso causou arrepios na espinha de Rafe. Deus, ele
odiava cachorros. Mesmo bons cachorros. O pastor alemão de
Aragon estava rosnando como se estivesse realmente
descontrolado. Era um pouco exagerado demais para dois caras que
mal saíram do caminhão.

Ele e Pierce trocaram um olhar, empurraram o portão e


subiram a calçada. A porta estava fechada e eles rapidamente
perceberam que o latido vinha de um dos outros cômodos da
casa. Rafe realmente não queria encontrar o cachorro. Ele cheiraria

KM
seu medo e iria para sua perna... ou seu pescoço - alguma parte
tenra.

─Estranho─, Pierce murmurou, levantando a mão para


bater. Ele também não se conteve; Precisaria ser alto para ser ouvido
sobre o cachorro.

Rafe lembrou-se da maneira como Jeremy agiu na casa com o


Rottweiler e, antes que ele pudesse se convencer de tentar, houve
uma reviravolta. O latido ficou abruptamente mais alto quando a
porta se abriu alguns centímetros. Pierce baixou a cabeça e chamou
os Aragon, mas Rafe não os ouviu responder.

Um segundo depois, Pierce estava olhando para ele com os


olhos arregalados.

─Algo está acontecendo lá dentro─, ele sussurrou. ─Eu posso


vê-los sentados no sofá, mas eles não estão olhando para mim. Tem
alguém na sala com eles.

Rafe tinha uma arma. Trancada em um cofre em casa. Você


sabe, onde era inconveniente e inútil. Ele amaldiçoou. Pierce moveu
a jaqueta para o lado e deixou sua mão se aproximar de seu coldre
no ombro.

─Fique perto─, disse ele por cima do ombro.

Rafe entrou atrás dele e fez exatamente o que lhe foi dito,
desejando ter mais a oferecer em sua situação atual além de grande
carisma. Ele teve um vislumbre dos Aragon sobre o ombro de Pierce
e ele estava certo, eles não estavam se movendo ou falando. Angelina
parecia aterrorizada. O único som era o cachorro latindo como um

KM
maníaco e agora que eles estavam dentro da casa, ficou claro que ele
estava trancado em um quarto. Obrigado Senhor.

Eles chegaram à beira da sala ao longo do corredor de entrada


da frente e Pierce estava fazendo a coisa onde ele ficava de costas
para a parede enquanto dava uma olhada. Seu nariz mal tinha
limpado o quadro quando uma voz soou.

─Eu posso ver você. Não se mexa!

Pierce congelou e seus olhos dispararam para Rafe em


choque. Ele murmurou: ─É Yesenia!─, Não acreditando em si
mesmo. Ela o enganou.

─Yesenia─, Pierce gritou por cima do barulho do


cachorro. ─Sou o detetive Pierce, do departamento de polícia. Estou
aqui para falar com você sobre o que está acontecendo.─ E se
tivessem sorte, ele poderia cantar sua própria versão de Born in the
USA20, pensou Rafe. ─Rafe Bridges está comigo─, continuou
Pierce. ─Ele me contou sobre sua situação e queremos ajudá-la.

─Não!─ Yesenia estalou. ─Estou cuidando disso. Eu já tive o


bastante. Eu não preciso que vocês me ajudem.

─Yesenia, por favor─, disse Rafe. ─Nós vamos entrar na sala


de estar. Isso é tudo. Você entende?

─Não cheguem mais perto!

20
É uma musica do Bruce Springsteen, o cara com quem o Rafe disse que o detetive parece.

KM
Rafe e Pierce estenderam as mãos para que ela pudesse ver que
estavam vazias. Com o cachorro ainda em pânico, nenhum dos dois
ouviu a arma em movimento.

─Eu disse para não se mexer─, ela gritou freneticamente.

Pierce contornou a entrada e Rafe estava prestes a segui-lo


quando quase simultaneamente, um tiro soou e a cabeça de Pierce
estalou para trás, o sangue espirrou contra as paredes e o rosto de
Rafe. Quando o corpo do detetive caiu para trás, Rafe
automaticamente agarrou-o pela camisa e puxou-o para mais perto.

Graças a Deus, Yesenia era uma péssima atiradora, porque,


obviamente, ao tentar um tiro mortal, ela apenas roçou o lado direito
de sua cabeça acima de sua sobrancelha por toda a lateral do
rosto. Estava sangrando muito e onde a cabeça de Pierce estava
descansando na coxa de Rafe, o sangue já estava encharcado seu
jeans.

Rafe rasgou os botões de sua camisa e usou as mangas


compridas para amarrar ao redor da ferida. O sangue em sua mão
estava escorregadio, então ele não tinha certeza se estava apertado o
suficiente, mas antes que pudesse verificar a força do pulso de
Pierce, ou arrastá-lo de volta para a porta da frente, Yesenia estava
na frente dele, seu rosto manchado e irritado.

─Eu o avisei para não chegar mais perto!

Rafe queria dizer que não se importava, mas com uma arma
tremendo a menos de meio metro de seu rosto, ele segurou a
língua. Se ele pudesse convencê-la a pelo menos tirar Pierce de casa,

KM
suas chances não seriam ruins. Rafe temia que mencionar que o
homem estava vivo poderia causar outra ferida de bala. Se Yesenia
estava atirando, ela estava além da razão, o que era uma má notícia
para todos eles.

Com o canto do olho, Rafe viu Hector se mexer enquanto as


costas de Yesenia estavam viradas, como se ele fosse ataca-la. Rafe
balançou a cabeça com força uma vez, mas ainda foi o suficiente
para dar uma pista a Yesenia. Ela girou, enfrentando os pais na sala
e Rafe no corredor.

─Entre na sala de estar─, ela gritou, sua voz tão estridente que
Rafe não tinha dúvidas de que isso terminaria muito mal. Quando as
situações envolvendo adolescentes com armas acabavam bem? Com
um último olhar para Pierce, que ainda estava inconsciente, ele se
moveu para a sala de estar com as mãos para cima e sentou na
mesma cadeira em que esteve durante sua primeira visita.

Angelina estava tremendo e balançando no sofá em frente a


ele, grandes lágrimas descendo por suas bochechas. Suas mãos
estavam amontoadas na frente de sua boca como se as engolisse
antes de fazer um barulho. Rafe imaginou que poderia ser um bom
plano.

Hector continuava com uma expressão chocada no rosto. Sem


sinal da determinação de um momento atrás, enquanto as costas de
sua filha estavam viradas. Parecia oco e doente e, embora Rafe
desaprovasse totalmente os métodos de Yesenia, não pôde deixar de
pensar que Hector deveria parecer vazio.

KM
Yesenia afundou na porta e abaixou a arma ligeiramente. Seus
braços estavam cansados. Ela estava imitando a maneira como
policiais seguravam suas armas em programas de TV e ela não
deveria saber que segurar uma arma naquela posição por muito
tempo fazia os ombros queimarem.

─Há outras maneiras de fazer isso, Yesenia─, Rafe disse em


um tom suave. ─Largue a arma e vamos falar sobre isso.

O olhar que ela lhe deu foi cheio de raiva, ressentimento e


fúria.

─Estou cansada de fazer o que as outras pessoas dizem. Você


disse que ele merece assumir a responsabilidade pelo que ele fez
comigo durante anos. E a mãe sabia que algo estava errado e ela
ignorou, porque ela sempre teve muito medo de falar ou proteger
alguém além de si mesma. Estou mostrando a eles o que fizeram
comigo.

─Yesenia, por favor, ouça-me─ disse Rafe, com as mãos


cobertas de sangue em frente ao peito enquanto implorava a
ela. ─Você já atirou e feriu gravemente um policial - se ele ainda não
morreu. Você conhece as acusações que irá enfrentar? Sem
mencionar as acusações de empunhar uma arma na casa da sua
família e colocá-los em perigo.

Ela não queria ouvir nenhuma conversa e levantou a arma


novamente.

─Cale-se. Pare de falar agora!─ Ela sussurrou, seus olhos


selvagens. O cachorro estava enlouquecendo depois do tiro e Rafe

KM
estava com medo de que todo o barulho e distração a fizessem
quebrar mais cedo. Ele fechou os lábios. Yesenia virou-se lentamente
para o pai, mostrando a vingança através das lágrimas e da
maquiagem, bem na hora em que cada um deles ouviu um coro de
sirenes da polícia. A arma voou para o rosto de Rafe novamente e
suas mãos subiram junto com ele.

─Você ligou para eles!─, Ela gritou, incrédula.

Rafe sacudiu a cabeça.

─Nós estávamos sozinhos. Nós não fizemos nenhuma


ligação. Um vizinho deve ter ouvido o disparo.

Angelina abafou outro soluço antes que Yesenia notasse.

As persianas da sala estavam fechadas, mas a porta da frente


estava destrancada e provavelmente ainda estava aberta. Yesenia,
pensando a mesma coisa, espiou pelo corredor e ordenou que ele se
aproximasse e trancasse a porta. Ele tentou descobrir se havia uma
maneira de arrastar Pierce até a porta, mas sabia que ele só levaria
um tiro pelas costas por seus esforços.

Ele passou pela forma inconsciente do policial e se moveu


rapidamente para fechar e trancar a porta. Ele estava pensando,
pensando, pensando. E ficando totalmente em branco. Voltando
para a sala de estar novamente, ele voltou ao seu lugar, lembrando
da arma no coldre de ombro de Pierce e tentando descobrir como ele
poderia conseguir. Suas ideias estavam se tornando cada vez mais
fantásticas, e mesmo sabendo que ele poderia derrubar Yesenia em

KM
um confronto corpo-a-corpo, mas havia muitas variáveis para ele
controlar.

Mesmo sendo uma adolescente contra uma enorme


quantidade de profissionais do lado de fora, ela era imprevisível,
motivada pela raiva e pela vergonha. Eles provavelmente estavam
cercando a casa - ele tinha certeza de que o tinham visto fechando a
porta - e o treinamento deles venceria enquanto ela não se perdesse
e matasse todos eles. Dedos cruzados.

O pensamento trouxe Jeremy à sua mente e seu peito doeu.

Pierce tinha uma aliança de casamento ... Ele tinha uma


família. Rafe tinha que ajudá-lo.

─Eles vão tentar entrar aqui─, Yesenia murmurou, passando a


mão trêmula pelo cabelo despenteado.

─Ou eles vão pedir para você nos deixar ir─, ele forneceu.

As palavras intensificaram aquele olhar louco em seus olhos e


Rafe se amaldiçoou por falar. Yesenia voltou a arma contra o pai e
aproximou-se dele. Os olhos de Hector estavam redondos e ele
levantou uma das mãos em súplica.

─Senia─, ele resmungou. ─O que você está fazendo? Eu te


amo.

Ela soltou um soluço histérico, aproximando a arma ainda


mais do rosto dele.

KM
─É a minha vez de não deixar você ir─, ela gritou. ─Você ou
mãe.

KM
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Jeremy não foi a delegacia onde Rafe estava se encontrando


com os detetives designados para o caso de Yesenia. A manhã era
longa e ele teve que patrulhar pela hora do rush. Ele estava animado
para fazer algo que não envolvia pensar em seu fim de semana, ou o
homem que ultimamente consumiu seus pensamentos. Esta manhã
era apenas sobre infratores e violações de trânsito. Ele estava
totalmente confortável com isso.

Havia um veículo diminuindo o tráfego na I-40 e ele se


certificou de que o caminhão de reboque não causasse um acidente,
depois conseguiu prender um motociclista que estava trocando de
pista como se a auto-estrada fosse sua própria pista de
obstáculos. Jeremy alcançou a BMW facilmente e, quando ele
estacionou na pista seguinte, ele sorriu e apontou para o lado da
estrada. O show acabou, idiota. Mal Knievel não gostou muito disso.

Jeremy tinha acabado de entrar no estacionamento de um


minimercado para poder pegar uma garrafa de água, quando seu
fone de ouvido emitiu uma chamada para todas as unidades
disponíveis. Houve um relato de tiros disparados com possíveis
policiais e civis feridos. Recostando-se em seu assento, ele esperou
pelo endereço e quando soou pelo rádio, seu sangue gelou.

O endereço do Aragon. Rafe!

Ele girou sua moto com um rugido e puxou para o tráfego com
as luzes acesas e sirene estridente. Demorou segundos para ligar e
responder que ele estava a caminho, mas ainda estava a uma boa

KM
distância da casa dos Aragon. Não havia garantia de que Rafe estava
lá, mas se Hector estava sendo confrontado sobre o que ele tinha
feito para Yesenia, parecia provável. O pensamento o fez acelerar a
moto, não importando se ele estava furando sinais e dirigindo bem
acima do limite de velocidade. Quando ele entrou na rua familiar, ele
rezou para que Rafe estivesse seguro em algum lugar - em uma
delegacia em algum lugar falando com os detetives, ou em casa - em
qualquer lugar, exceto aqui com os Aragon. Suas esperanças foram
frustradas quando ele parou e estacionou entre as viaturas já em
cena. Lá na entrada da casa dos Aragon estava o caminhão de Rafe.

─Não─, disse Jeremy, sua respiração deixando-o em uma


rajada. Por um momento ele não conseguiu se concentrar em
nada. Seus olhos vagaram para cima e para baixo da rua, parando na
casa de seu pai e registrando a onda de preocupação que ele recebeu
de seu velho de pé na varanda assistindo o drama se desenrolar.

Ele tinha que descobrir se Rafe estava lá dentro. Ele não tinha
informação suficiente. Deus, a última coisa que ele disse a ele... E se
ele não tivesse a chance de falar com ele de novo? E se ele estivesse
ferido? Levado um tiro? O estômago de Jeremy se revirou e ele se
inclinou, apoiando as mãos nos joelhos até que o ar fresco que ele
estava engolindo pudesse fazer efeito.

Jeremy arrancou o capacete e foi em direção a um dos oficiais


mais próximos que não estava na linha de frente dos que cercavam a
casa. Ele não o conhecia.

─Alguma notícia desde o despacho?─, ele perguntou sem


fôlego.

KM
O policial balançou a cabeça.

─Ouvi dizer que estão se preparando para fazer contato e ver o


que está acontecendo lá dentro antes de tentar invadir. Alguém de
dentro fechou a porta da frente, mas não conseguimos distinguir
quem era. Há muita informação vindo de muitas pessoas diferentes
agora e eles estão tentando organizá-la.

Fingir que ele estava calmo e sob controle era quase impossível
para Jeremy. Ele não ficou a vontade por saber que não tinha
informações. Pelo contrário, cada palavra fez o pânico em seu peito
vibrar para cima até que ele sentiu em sua garganta. Ele queria gritar
com a pressão.

─Foi um vizinho que ligou sobre os tiros que foram


disparados?─ Ele engoliu o nó na garganta.

O outro policial encolheu os ombros.

─Alguns deles definitivamente chamaram, mas a primeira


ligação veio supostamente do filho do cara que é dono da casa.

─Carlos Aragon?─, perguntou Jeremy, incrédulo. ─Ele está lá


dentro?

─Não, ele sabia que algo ia acontecer, então ele ligou.

Jeremy ficou completamente aturdido. Por que Carlos ligaria


sabendo que algo iria acontecer? Carlos era quem estava lá dentro
com a arma?

KM
Aproximando-se do grupo principal de oficiais que se reunia
atrás do SUV de uma unidade canina, Jeremy ficou ao redor
tentando ouvir o que estava acontecendo, seus olhos nunca saíram
da casa. Eles provavelmente tornariam a área do posto de comando e
atribuiriam missões a partir daí.

─A partir das informações que temos agora─, um sargento


volumoso falou alto o suficiente para ser ouvido por aqueles ao seu
redor, ─um dos nossos detetives do MPU está lá dentro. Ele foi
acompanhado por um PI que família contratou para procurar por
sua filha. Existem diferentes relatos sobre o número de tiros
disparados e ainda não sabemos se alguém foi ferido. Nós faremos
contato primeiro para ver se alguém dentro falará conosco e nos
dará uma ideia melhor do que está acontecendo. Recebemos um
telefonema do filho e eles enviaram a informação de que ele tem
motivos para acreditar que a irmã está aqui com os pais. Isso nos dá
pelo menos cinco pessoas lá dentro.

A cabeça de Jeremy estava girando e ele tinha certeza de que


ele ia vomitar. Isso não fazia sentido. A única razão pela qual Carlos
saberia o que estava acontecendo com Yesenia era se ele tivesse
contato... Puta merda! Era exatamente isso. O tempo todo ela esteve
com Carlos! Ela sabia sobre Rafe porque seu irmão se encontrou
com ele. Ela sabia que os policiais estavam vindo falar com seus pais
porque ela ligou para Rafe e ele disse a ela.

Yesenia planejou isso. O que o bilhete de Rafe dizia? Ela estava


em um lugar seguro, assustada demais para ir sozinha a polícia, e
que lhe contara a verdade sobre o que havia passado. Seria
embaraçosamente fácil para ela usar as vinte e quatro horas que

KM
Rafe lhe dera para planejar o que ia fazer com sua família, então
enquanto Rafe estava na delegacia contando a história, ela poderia ir
até a casa e faze-los pagar como ela acreditava que mereciam. A
atenção de Jeremy voltou lentamente para o policial que anunciou
que o detetive Reese do MPU entraria em cena em breve para
informá-los sobre detalhes que trouxeram um de seus homens para
a casa naquela manhã. Enquanto isso, um grupo de policiais cercaria
a casa e tentar dar uma olhada no que estava acontecendo, então a
SWAT seria chamada para assumir o controle.

Os policiais restantes voltaram para administrar o controle de


multidões, ou para levar vizinhos curiosos para dentro de suas casas,
onde estariam mais seguros. Jeremy não tinha o equipamento certo
para fazer muito mais do que espera. Ele só podia ficar parado, seu
coração batendo como um beija-flor enquanto as peças do quebra-
cabeça começavam a se unir. Ele poderia oferecer o pouco que sabia,
mas ainda era informação recolhida através de
um relacionamento muito pessoal. Esse detetive Reese
provavelmente sabia mais do que Jeremy.

Ele ficou parado como uma pedra esperando pelo detetive, que
quando finalmente apareceu, explicou tudo o que estava
acontecendo. Hector tinha um mandado de prisão listando
acusações que fizeram todos os policiais em cena se
encolherem. Rafe foi mencionado e a mandíbula de Jeremy apertou
ao som de seu nome, seus punhos cerrados em seus
lados. Involuntariamente, seus olhos dispararam para a casa de seu
pai. Seu pai ainda estava na varanda olhando diretamente para ele

KM
com preocupação. Ele se viu querendo ir até ele, mas ele tinha que
ouvir o resto primeiro.

A única informação nova era que Yesenia forneceu um número


para Rafe que ele compartilhou com os policiais, e que eles
rastrearam para Carlos Aragon. Antes da chamada que Jeremy
atendeu, Carlos telefonou explicando que havia descoberto um
bilhete deixado por sua irmã confessando as ações do pai e que ela
iria confrontá-lo antes que os policiais o abordassem. O pior para
Jeremy foi que antes de Carlos chamar a polícia, ele checou seu
apartamento pela arma que possuía e que estava faltando.

Jeremy cambaleou a certa distância e olhou distraidamente


para as barreiras que estavam sendo erguidas para fechar a rua e
manter os espectadores longe. Foi esperto. Eles estavam esperando o
pior. Mas o “pior” para todos os outros era diferente do pior que
Jeremy podia esperar. Ele poderia perder Rafe. Ele poderia já ter
perdido.

Jeremy voltou para o posto de comando e avançou, precisando


fazer parte de tudo para poder saber se Rafe estava bem. No meio do
caminho, um grito estridente saiu da casa Aragon e os policiais
entraram imediatamente em ação.

***

Hector estava apavorado. Sua filha agitava uma arma na frente


do rosto como se fosse um brinquedo, e não havia nada que Rafe

KM
pudesse fazer a respeito. Se ele fizesse um movimento repentino,
como se atirar na arma de Pierce, ela entraria em pânico e atiraria
nele.

─Yesenia─, ele murmurou em seu tom mais suave. ─Deixe-me


ajudar o detetive. Você não perde nada deixando-o ir ou deixando-
me ver como ele está.

Ela balançou a cabeça, distraída com seu pai no momento.

─O que você vai fazer com ele? Leva-lo para a varanda? Eles
vão entrar.

Rafe se levantou devagar, com as mãos abertas para que ela


visse que ele não estava tentando nada.

─Estou apostando que o telefone vai tocar em breve e alguém


do departamento de polícia vai querer falar com você. Se você disser
que vai deixar o detetive sair, eles vão tirá-lo daqui e pedir
ajuda. Acredite em mim, você não quer a morte dele em sua
consciência.

─Não, ─ela retrucou. ─Se você quer ajuda-lo, faça isso


aqui. Ninguém vai sair. Você acha que eu não sei em que tipo de
problema estou? É tarde demais para voltar.

Rafe amaldiçoou interiormente e caminhou até o lado de


Pierce. Yesenia manteve os olhos nele o tempo todo, sua arma
levantada ameaçadoramente. Ele estava inclinado sobre a cabeça de
Pierce para verificar a ferida quando um grito agudo soou atrás dele,
o assustando. Ele se virou a tempo de ver Yesenia empurrando a mãe
de volta para seu lugar e batendo-a uma vez no rosto. Angelina

KM
finalmente perdera o controle. Ela estava olhando fixamente para o
espaço, chocada pelo tapa de sua filha.

Ótimo, ele pensou. Hector estava tentando compensar por


anos de abuso com um resmungado “eu te amo” e Angelina estava
gritando como uma garota em um filme de terror. Parecia que ele
estava sozinho no trem da sensatez. Enquanto Yesenia estava
distraída, ele vasculhou rapidamente as roupas do detetive e
transferiu a arma para suas calças, puxando a camiseta por cima do
cós para escondê-la. O pulso de Pierce estava fraco e ele perdera
muito sangue, mas o sangramento parecia estar diminuindo. Não
havia a menor chance de Yesenia deixar que ele fizesse alguma coisa
além de cutucá-lo e ver se ele acordaria, então ele tentou, dando um
tapinha no rosto de Pierce e sussurrando seu nome. Não foi bom
embora; o detetive ainda estava inconsciente - provavelmente a
melhor coisa para ele.

Rafe estava rezando para que os policiais dispensassem as


negociações e simplesmente chutassem a porta. Ele não se
importava se ele se machucasse no processo. Yesenia estava
agindo mais descontrolada do que antes e era apenas uma questão
de tempo antes que ela desistisse completamente e atirasse. Havia
muito perigo em uma arma sendo balançada no ar, soluços e gritos
poderiam empurra-la para uma decisão mais drástica. Pelo menos
ele tinha uma arma agora, mas ele não queria puxa-la e transformar
a situação em um impasse. Com o objetivo dela, quem sabe quando
ela atiraria. Rafe ainda estava agachado ao lado de Pierce, lançando
olhares rápidos por cima do ombro para monitorar Yesenia, que
andava de um lado para o outro na frente de seus pais, com a mão

KM
armada tremendo descontroladamente, quando o telefone no
corredor tocou. Ela girou em direção a ele como se ele fosse a causa
do barulho e ele automaticamente levantou as mãos.

O toque era alto em seu ouvido e ele percebeu que o cachorro


tinha calado a boca em algum momento. Yesenia olhou primeiro
para ele, depois para o telefone e depois para ele. Ele não sabia
quantas vezes tinha tocado ao lado dele antes de dizer:
─Provavelmente é alguém do departamento de polícia, como eu
disse. Se você não pegar, eles vão continuar tentando ou usar um
alto falante para se comunicar.

─O que eles querem saber? Quem está morto?─ Sua garota


durona parecia estar vacilando. Ele cuidadosamente baixou as mãos
para os joelhos.

─Eles vão querer saber quem está dentro e se alguém está


ferido. Eles sabem que um policial está aqui e, como não ouviram
nada dele, é menos provável que tenham paciência com você depois
que os tiros foram disparados. Você deveria falar com eles.

─ Você não acha que eles acharão interessante que meu pai me
molestou por anos, me forçando a dormir com ele e manter isso em
segredo? Ou que ele não permitia que eu estivesse com mais
ninguém porque ele me queria para si mesmo? Você não acha que
eles vão entender que minha mãe ficou parada e deixou acontecer,
fingindo que não era tão doente quanto o seu marido enquanto vivia
em negação?─ As lágrimas corriam pelas bochechas de Yesenia
novamente, seu nariz escorrendo. ─Como é que eu sou a única
metida em problemas? Por que eu sou aquela que tem que ter

KM
certeza de que ele nunca está autorizado a me tocar de novo?─ Sua
voz subiu para um soluço mal compreensível novamente, mas Rafe
entendeu o que ela estava dizendo. Hector estava praticamente
ficando roxo em sua cadeira, as mãos apertadas contra os
braços. Engraçado, ele ainda não sentia simpatia pelo homem. O
segredo está fora, idiota. Pena que Yesenia estivesse caindo da
ponte da sanidade.

─Yesenia─, Rafe disse tão placidamente quanto podia, ─há


opções melhores do que o que você está fazendo agora. Existem
profissionais que podem ajudá-la a lidar com o que você passou. É
por isso que eu queria buscá-la esta manhã e levá-la para a
delegacia. Mas você tomou as coisas em suas próprias mãos e
colocou um policial em sério perigo. Eles não serão gentis com isso
agora,─ ele disse, apontando por cima do ombro. ─Sua melhor
chance é largar a arma, falar com a polícia, conseguir ajuda para o
detetive Pierce e se entregar.─ De repente, Yesenia estava na frente
dele, com a arma a centímetros do seu nariz. Ele se inclinou para
trás, mas ele jurou que podia sentir o calor saindo do cano. Um Colt,
ela aparentemente queria enterrar em sua cavidade nasal.

─E todo o que meu pai recebe é um par de algemas e algumas


perguntas? Não é justo!─ O toque no fundo parou.

─Por favor abaixe a arma e me escute, Yesenia─, implorou


Rafe, sua voz mortalmente calma. Se ele jogasse direito, ele poderia
acabar com isso mais cedo, tirar a arma do seu rosto e leva-la para o
chão, mas como qualquer idiota sem treinamento carregando uma
arma, ela tinha o dedo no gatilho, pronta para atira em qualquer

KM
um. ─Seu pai já está sendo acusado pelo que fez. Nós viemos, como
eu disse a você, para leva-lo para a prisão.

Um grunhido mortificado de Hector fez com que Yesenia se


afastasse de Rafe e colocasse o pai na berlinda mais uma vez. Deus,
ele tinha que acabar com isso.

O telefone começou a tocar de novo e, atrás de Yesenia, Rafe


viu um borrão de uniforme escuro passando pelas janelas. As
persianas estavam fechadas, mas ele ainda conseguia distinguir as
figuras no minúsculo espaço que permanecia visível. Seu coração
começou a bater mais rápido. Talvez ele conseguisse seu desejo
depois de tudo.

─Atenda o telefone─, disse Yesenia friamente, sua voz


diferente do que qualquer outra vez que ela falou. ─Conte a eles
sobre o policial e diga a eles que farei o mesmo com o pai.

KM
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Muitos oficiais se reuniram em torno do sargento no telefone e


ele teve que acenar para todos saírem do caminho. Jeremy queria
empurrar o grupo e arrancar o telefone da mão dele na chance de
que fosse Rafe. Em vez disso, ele foi forçado a afastar-se como todo
mundo e teve que fingir que seu mundo não estava desmoronando.

Um grupo de oficiais havia cercado a casa, mas as persianas


estavam fechadas e as portas trancadas. Se eles decidissem entrar, o
que ele queria mais do que tudo, eles provavelmente acabariam
usando a SWAT para isso. Eles jogariam bombas de luz ou fumaça
na casa e neutralizariam a ameaça antes que Jeremy pudesse rezar
que Rafe saísse de lá sozinho. O sargento ao telefone balançou a
cabeça dizendo que ninguém estava atendendo e Jeremy
amaldiçoou, passando as mãos pelos cabelos. Procurando por algum
tipo de alívio, ele avistou seu pai novamente e sem hesitar, ele se
moveu em sua direção. Eles se encontraram no final da garagem e
Jeremy acenou para um oficial que estava obviamente chateado
porque seu pai não estava obedecendo e voltando para a casa onde
era mais seguro.

─Eu vou falar com ele─, ele murmurou, apenas meio


consciente do que ele estava dizendo.

Peter Halliday não perdeu tempo com perguntas sobre o que


estava acontecendo; ele pulou direto ao ponto.

─Você está bem?

KM
Jeremy olhou para o pai por um bom tempo até não conseguir
esconder o tremor de seus lábios ou o jeito que seus olhos estavam
ardendo. Ele sacudiu a cabeça quase freneticamente e cobriu a boca
com a mão trêmula. Não, não, não era tudo o que ele conseguia
pensar.

─É porque você os conhece? Eu nunca te vi assim. Eu não


achei que você fosse tão próximo deles. Você e Carlos não se falam
há meses.─ Seu pai lhe deu alguns tapinhas no ombro, tentando ao
máximo entender por que Jeremy estava tão abalado.

─Não é por eles─, Jeremy engasgou, sua respiração


engatando. Ele viu o rosto de Rafe do jeito que ele parecia na noite
anterior, implorando para que ele desse outra chance ao
relacionamento deles. Ele quase podia sentir a pressão da mão de
Rafe contra seu peito e seu calor corporal enquanto ele fechava a
distância entre eles. Então ele se lembrou da maneira como ele havia
tratado Rafe e não conseguiu segurar o suspiro.

─Então o que é? Alguma outra coisa aconteceu no trabalho?─


A voz de seu pai mostrava sua confusão. Não havia como ele
entender.

─É Rafe─, ele disse asperamente. ─Rafe está lá dentro.

─É o caminhão dele na garagem?─ Seu pai perguntou


incrédulo. ─Eu não sabia. Eu pensei que você mal o conhecesse.

Jeremy cruzou os braços sobre o peito, mantendo-se junto.

KM
─Ele é importante, pai.─ Peter olhou para Jeremy com uma
expressão vazia e estava trabalhando movendo os lábios para tentar
enquadrar suas próximas palavras.

─Acho que trabalhar juntos nisso os aproximou?─ Jeremy se


virou, olhando para o caos controlado em frente à casa dos Aragon e
rezou para que alguém conseguisse manter Rafe seguro. Ou
qualquer um dos presentes. Seu pai não ia entender e Jeremy
provavelmente estava escolhendo o pior momento possível para
confessar seus sentimentos por Rafe, mas com o pânico superando
todos os outros pensamentos conscientes, ele não se importava com
o modo como seu pai levaria a noticia. Ele queria que alguém de
todas as pessoas de lá soubesse que seu interesse era mais do que
casual. Ele queria que alguém soubesse que ele amava Rafe e, se
tivesse a chance, ele o teria em sua vida cem por cento - não
importando como isso pudesse estragar tudo.

─Eu o amo, pai. Ele não sabe, e eu preciso vê-lo novamente


para que possa dizer a ele.─ Jeremy viu o jeito que seu pai
endureceu com o canto do olho. Ele ainda não se importava.

Seu pai ficou atordoado e sem palavras. Ele se moveu para


frente e para trás por um instante, depois gesticulou em direção à
casa, prestes a falar.

O que pareceu vários minutos depois, ele tossiu e se moveu


onde podia ver o rosto de Jeremy.

─Você o ama. Como amor romântico?

KM
Jeremy ergueu os olhos para encontrar o olhar de seu pai e
respirou com dificuldade.

─Sim. Ele é...

Seu pai acenou com as mãos na frente dele.

─Espere, espere, espere. Não, eu não acredito nisso. Você está


me dizendo que está chateado porque o homem que você ama está
dentro daquela casa? Não.─ Jeremy empurrou o pai e voltou para a
barreira de carros construída na rua.

─Acredite, pai. Eu o amo.

─Espere um segundo!─ Peter gritou atrás dele.

Ele balançou a cabeça e continuou andando. Outro bando de


policiais havia se reunido ao redor do sargento ao telefone e Jeremy
não sabia como tinha certeza, mas sabia que era Rafe que estava na
linha.

***

Com as palavras de Yesenia, Rafe sentiu seu coração encolher


de lado em seu peito. Mesmo enquanto sua mão pairava sobre o
telefone, ele rezou para que ela estivesse blefando. Hector
aparentemente estava fazendo a mesma coisa. Seus olhos estavam
arregalados com incredulidade quando sua boca engasgou com
algum tipo de resposta ao que sua filha dissera. Angelina ainda

KM
estava confusa, soluçando baixinho no braço do sofá e fazendo o
possível para ignorar que sua família estava despedaçada. Yesenia
rosnou: ─Bem? Você não vai atender o telefone?

Rafe se sacudiu e pegou o telefone, respirando fundo e


tentando descobrir como dar mais informações à polícia do que
Yesenia gostaria.

─Aqui é o detetive Rafe Bridges─, disse ele


imediatamente. ─Há cinco pessoas dentro, incluindo uma que levou
um tiro na cabeça - o detetive Pierce. Ele ainda está inconsciente e
perdeu muito sangue.

─Entendido. Eu sou sargento Driscoll da APD. Há algum outro


ferido?

Rafe sabia que ele tinha que ser conciso com suas respostas,
não só para que os policiais do lado de fora pudessem trabalhar mais
rápido, mas também porque Yesenia estava olhando para ele com a
arma na mão e ele não queria ser explodido em pedaços.

─Você pode nos dizer quem está armado? Mais detalhes?

Rafe olhou novamente para Yesenia e ficou enojado com a


decisão que viu nos olhos dela. Sendo tão delicado quanto podia, ele
respondeu: ─A filha deles, Yesenia, me disse para informar que o
policial está ferido e que seu pai é o próximo.

─O detetive Pierce está armado? Você está armado?

Rafe sacudiu a cabeça.

KM
─Pierce não está armado.─ Yesenia franziu a testa quando
percebeu que isso era algo que deveria ter verificado. Ela olhou o
oficial de cima a baixo e então para Rafe, provavelmente pensando
que não havia muito que ele pudesse esconder nele já que sua
camisa estava sendo usada como um curativo. E ele poderia ter
atirado nela, certo? Ele esperava que ela ficasse com qualquer linha
de pensamento que o fizesse parecer inocente.

─Você está armado?─, O sargento repetiu.

─Sim ─ A palavra mal saiu da boca de Rafe antes de Yesenia se


aproximar dele, com a mão tremendo ameaçadoramente.

─Eu quero saber quais perguntas você está respondendo!─ Ela


chorou. ─Eu não sou estúpida.─ O sargento Driscoll ouviu suas
palavras estridentes e, embora ela não pudesse ouvi-lo, ele relaxou.

─Você pode perguntar se ela vai falar com a gente?

Rafe manteve o fone no ouvido para ouvir tudo o que ele


dizia. Ele sabia qual seria a resposta de Yesenia, mas talvez pudesse
obter mais informações para eles, formando o que estava
acontecendo em perguntas para ela.

─Eles querem saber se você está disposta a conversar com eles


e resolver isso de outra maneira. Eles sabem sobre a situação com
seu pai e ele vai enfrentar as consequências legais pelo que ele fez,
mas eles estão esperando que você deixe nos três sairmos e que
permita que ajudem o detetive Pierce. Se você conversar com eles
agora, poderá tornar as coisas muito mais fáceis para você. Você não
quer que eles entrem aqui, certo?

KM
Rafe ouviu uma agitação ao fundo no telefone e ele controlou
suas feições para que Yesenia não notasse. Houve outro flash rápido
de um corpo passando por uma janela e Rafe agradeceu a Deus por
ela estar de costas.

─Eu não quero falar com ninguém!─ Sua voz tremeu, sua
arma chacoalhando junto com ela. ─Papai irá para a cadeia e sairá
algum dia. Como eu sei que ele não me encontrará e me machucará
por tê-lo traído - ou forçar-me a fazer o que ele sempre me forçou a
fazer? Claro, ele enfrenta consequências legais, mas ele enfrentará
alguma consequência moral sem que eu faça o que vou fazer?

Rafe começou a responder, mas Yesenia estava longe de


terminar, realmente entrando no ritmo agora que a represa estava
quebrando.

─Você sabe o que ele diria para mim? “Não conte a ninguém,
Senia. Este é o nosso segredo. Nosso segredo que ninguém mais
pode saber. É especial e as pessoas não vão entender.” Isso é o que
este bastardo doente e distorcido me disse durante anos, me
culpando e me controlando, então nunca me senti segura. Então eu
nunca pude dizer a ninguém. E minha mãe! Ela sabia que havia algo
errado e ignorou. Mesmo quando eu chorei e chorei e tentei dizer a
ela o que ele estava fazendo, ela fugiu para que não tivesse que
ouvir.─ Yesenia estava gritando novamente, as lágrimas escorrendo
por suas bochechas em listras manchadas de delineador.

─Não há nada que os policiais possam fazer que conserte


isso. Me consertar! Nada. Ele vai pagar por isso do meu jeito.

KM
Driscoll amaldiçoou do outro lado da linha e suas palavras
ficaram abafadas quando ele deu instruções, então Rafe ouviu:
─Vamos ligar para a SWAT. Você acha que consegue mantê-la firme
por alguns minutos?

Rafe empalideceu. Ela estava incrivelmente instável. Alguns


minutos poderiam durar uma eternidade com o estado em que ela
estava.

─Yesenia, tudo bem. Ok,─ Rafe a acalmou, ainda pressionando


o telefone em seu ouvido. ─Eu ouço o que você está dizendo. Eu
entendo que você está sofrendo e ninguém te culpa por isso, mas
você não precisa cuidar das coisas dessa maneira. Se você conversar
com os oficiais e nos deixar ir, você pode passar pelo que está
acontecendo. Você é uma garota forte. Você pode voltar disso e levar
uma vida feliz. Você teria Angel e sua prima, Grace. Tantas pessoas
estão disponíveis para ajudá-la. Você não precisa fazer isso.

─Bom─, Driscoll disse em seu ouvido. ─Distraia ela. A SWAT


está chegando e o lugar está cercado.

Yesenia estava chorando a sério agora, a arma ainda apontada


para ele e seus pais pareciam impotentes de seus lugares no
sofá. Ninguém estava se movendo.

─Mais de seis anos─, ela choramingou. ─Ele fez coisas comigo


por mais de seis anos e ir para a prisão não é pagamento
suficiente. Ele é sujo. Ele não sente remorso por ter feito essas coisas
comigo.─ Rafe desejou ter alguma fonte de sabedoria para extrair
algumas palavras calmantes para Yesenia, mas diante de uma dor

KM
tão crua - cuja fonte ele só podia simpatizar - ele estava perdido. Ela
estava perto de ceder. Ela estava com medo.

─Eu sei que dói─, disse ele, ─mas há ajuda-

Hector pigarreou, interrompendo o último esforço de Rafe e,


quando começou a falar, Rafe se encolheu de horror e viu seu olhar
espelhado no rosto de Angelina também.

─Yesenia, bebê? Por que você está dizendo essas mentiras?

O sangue deixou o rosto de Yesenia e seus soluços sufocaram


até parar em sua garganta. Lentamente, com os olhos brilhando
como pederneira, ela se virou para Hector.

─O que você acabou de dizer para mim?

***

Jeremy observou a van da SWAT estacionar e, a essa altura,


estava ficando lotado demais para ele se aproximar. Ele reconheceu
alguns policiais da equipe de softball nas proximidades, mas
ninguém que ele conhecia estava perto o suficiente da ação para
fornecer uma atualização. Ele teve que tentar pegar pedaços de
informações que as pessoas passavam, que ele sabia que não eram
tudo porque apenas um cara estava naquele telefone conversando
com alguém de dentro casa e até agora, ele estava apontando e

KM
direcionando as pessoas como se estivesse ouvindo algum merda
séria nessa chamada.

Ele andava perto da parte de trás da multidão, mantendo-se


fora da linha de visão de qualquer furgão de notícias que estava
praticamente escalando as barreiras policiais. Se eles conseguissem
uma foto dele em pânico, ele levaria um sermão. Ele tinha bastante
senso sobre ele para manter o tumulto que ele sentia um pouco
menos óbvio agora.

Não havia nada que ele pudesse fazer, mas ele queria correr
pelo minúsculo quintal da frente e chutar a porra da porta. Ele não
se importava se Yesenia era uma criança assustada, se ela tinha uma
arma apontada para Rafe, ele a derrubaria. Então ele iria desfigurar
Hector por ser a causa de toda essa besteira em primeiro lugar.

O líder da equipe da SWAT estava falando rápido,


provavelmente já atualizado via rádio quando estava a
caminho. Demorou apenas alguns instantes para que ele e seus
rapazes saíssem em formação e enviassem os policiais que haviam
cercado o local, para fora do perímetro. Ele ouviu um cara dizer que
a casa estava trancada - todas as persianas abaixadas, as janelas
fechadas e as portas trancadas, embora todos pudessem ouvir os
gritos com facilidade. Quanto mais Jeremy tinha que assistir, mais
ele queria agarrar alguém e sacudir - qualquer coisa que fizesse
alguém se mexer e tirar Rafe de lá.

Deus, e se ele não tivesse a chance de falar com ele de novo?

KM
***

Rafe observou a frágil esperança que construíra desmoronar


quando Yesenia se esqueceu do que ele dissera e se voltou para o
pai. Hector estava olhando para ela com uma expressão de
desaprovação, a expressão de cordeiro perdido de antes havia
desaparecido completamente, e Rafe realmente queria jogar algo
pesado nele. Ou mesmo atirar.

A SWAT deveria estar a caminho, mas ele não sabia o plano


deles. Os policiais do outro lado da linha estavam tentando ouvir o
que estava acontecendo lá dentro e coordenar seus esforços, então
não havia muita conversa acontecendo. Além disso, se ele começasse
a tagarelar, Yesenia explodiria tão rapidamente que ele nem queria
imaginar isso.

Isso deixou apenas uma opção, até onde ele podia ver. Rafe
tinha certeza de que Yesenia atiraria no pai se ele não interviesse, e
ela iria fazer isso antes que o pessoal de preto viesse correndo pelas
portas e batendo nas janelas. Doce. Combate corpo-a-corpo com
uma adolescente. Na frente de seus pais. Ele seria morto.

Por uma fração de segundo, ele pensou em sussurrar uma


mensagem para Jeremy através do telefone para o sargento do outro
lado, mas mudou de ideia. Não havia tempo. Yesenia estava além do
limite agora. Heitor estava lentamente se levantando, as mãos para
fora enquanto olhava para Yesenia de cima a baixo. Seu tom era de
mel, destinado a acalmar, mas estava tendo o efeito oposto em sua
filha.

KM
─Senia, você sabe o quanto eu te amo. Eu nunca te
machucaria. Eu não entendo porque você está contando essas
mentiras. Você não precisava fugir de casa─ insistiu ele, enquanto
passava uma perna ao redor da mesa de café. ─Poderíamos ter
resolvido nossos problemas sem arrastar mais ninguém para eles.

─O único problema que tivemos nesta casa foi você!─ gritou


Yesenia, seu corpo tremendo. Rafe viu sua chance e sabia que tinha
que ir em frente. Alcançando sob a camisa, ele rezou para que
Hector pudesse mantê-la distraída o tempo suficiente para ele tirar a
arma das mãos de Yesenia, mas não o suficiente para que ela tivesse
a oportunidade de atirar em alguém primeiro.

A mão dele envolveu a pistola do detetive Pierce, mas ele não a


tirou do cós. Sem sequer respirar, saltou para a frente sobre o corpo
de Pierce, largando o telefone atrás dele, exatamente quando Hector
percebeu o que ele estava fazendo. Seus olhos foram para baixo, para
a mão de Rafe em volta da extremidade da arma e em um
movimento que chocou a todos, ele se lançou para frente e empurrou
Yesenia para fora do caminho, seu corpo batendo forte contra Rafe e
empurrando-o para trás em direção ao corredor.

Foi um duro golpe e o cotovelo de Hector fez contato sólido


com o estômago dele, o deixando completamente sem ar. Houve
uma onda de movimento sobre o ombro de Hector, mas Rafe não
conseguiu ver nada. Ele estava muito ocupado sendo empurrado
para longe de Yesenia e vendo sua vida passar diante de seus olhos.

Um tiro soou e o corpo de Hector sacolejou contra o de Rafe,


de repente se tornou um peso morto contra ele quando um respingo

KM
de sangue saiu de sua boca. O equilíbrio de Rafe vacilou, ele caiu
para trás, contorcendo o corpo de Pierce enquanto tentava controlar
sua queda. Era um espaço muito pequeno e a mesa do corredor se
conectou com a parte de trás de sua cabeça com uma pancada sólida
que o fez ver o mundo de cima por um minuto. Quando as bordas de
sua visão ficaram turvas e desbotadas, ele sentiu o calor escorrer
contra seu peito e ouviu um grito que fez seus cabelos
arrepiarem. Um segundo tiro soou, mas ele estava flutuando na
escuridão e descobriu que não podia se mover para ajudar.

KM
CAPÍTULO VINTE E CINCO

O primeiro disparo mal soou antes de a SWAT entrar em


ação. O corpo de Jeremy estremeceu como se a bala tivesse
penetrado em sua própria pele e ele encolheu os ombros, com as
mãos presas no cabelo e os lábios movendo-se freneticamente em
orações sussurradas. Foi apenas uma questão de segundos antes de
o segundo tiro ser disparado e os membros da SWAT abrirem as
janelas e lançarem bombas de fumaça.

O grupo estava dividido, metade da equipe chutando pela


porta dos fundos e a outra metade atravessando a da frente. Sua
resposta ao tiroteio foi a precisão dos movimentos e do trabalho em
equipe, mas mesmo vendo isso com seus próprios olhos, não parou a
batida frenética do coração de Jeremy. Quem recebeu os
disparos? Rafe estava ferido? Ele estava... estava... morto?

Jeremy só podia olhar para a casa e reza para Rafe sair


tropeçando com o pior de seus danos sendo irritação pulmonar por
inalação de fumaça.

Longos momentos se passaram e havia muitos gritos ao redor


dele enquanto os relatórios eram passados. Nada ainda. Mais um
minuto se passou e não houve movimento.

O líder da SWAT finalmente apareceu na porta da frente e


sinalizou para os paramédicos. Observando como ninguém mais saiu
além de outros caras da SWAT, Jeremy sentiu seu coração se
quebrar quando o suor frio se espalhou por seu corpo. Um oficial
deu uma atualização sobre dois mortos e ele quase o agarrou e gritou

KM
em seu rosto para obter mais detalhes. A casa ainda estava cheia de
fumaça, então os caras da SWAT saíram apoiando um corpo para a
varanda da frente da casa. Os oficiais invadiram a área para impedir
que as imagens fossem captadas pelas equipes de notícias
próximas. Não era Rafe. Era um cara grande e corpulento, com
algum tipo de atadura improvisada amarrada na cabeça.

Depois de suportar vários minutos de silêncio torturado,


Jeremy viu Angelina sendo conduzida da casa com um cobertor
sobre os ombros. Ela estava tossindo e soluçando, e mesmo com o
grande cobertor pendurado em sua figura leve, não podia cobrir a
frente de seu manto coberto de sangue.

Jeremy engoliu e lutou contra um gemido selvagem. Duas


pessoas saíram e nenhuma era Rafe: o cara na varanda da frente
recebendo ajuda e Angelina. Isso deixou Yesenia, Hector e Rafe.

Quando a caminhonete do legista subiu até as barreiras


policiais e se aproximou, Jeremy não conseguiu conter o pânico. O
sargento encarregado estava sendo inundado por chamadas e
perguntas, mas Jeremy abriu caminho até o seu lado e agarrou um
cara que ele reconheceu vagamente e que trabalhava com o sargento.

O oficial foi cortado no meio da sentença e olhou para baixo,


para a mão em seu braço, como se um olhar sozinho pudesse
queimar Jeremy.

─Eu preciso saber o que aconteceu lá─, ele resmungou, com os


olhos vermelhos queimando. ─Eu preciso saber sobre o detetive
particular que estava com o policial.

KM
A expressão em seu rosto deveria ser horrível, porque o olhar
do outro oficial se suavizou. O crachá estampado em seu uniforme
dizia “Morgan”.

─Você conhece o cara ou algo assim?

─Por favor, apenas me diga se ele está vivo.

Ele balançou a cabeça e Jeremy recuou.

─Calma─, Morgan repreendeu. ─Eu não sei ainda. Os caras da


SWAT estão nos informando. Eles chegaram primeiro ao cara na
varanda. Ele é o detetive do departamento. Foi ferido na cabeça e
perdeu muito sangue. A mulher que trouxemos também não está
fazendo muito sentido; ela está muito abalada.

─Se ele está morto─, Jeremy engoliu em seco, ─me diga. Diga-
me agora mesmo.

Morgan deu de ombros, impotente.

─Como eu disse, ainda não sei. Eu não estou recebendo todas


as atualizações. O melhor que posso fazer é continuar ouvindo, o que
não posso fazer enquanto você está me atrapalhando.

─Mas o legista- por que o legista estaria aqui se ninguém


morreu?─ perguntou Jeremy, sua voz ofegante de medo. .

─Eu não disse que ninguém morreu─, ele murmurou enquanto


olhava por cima do ombro. ─Nós só não temos os nomes ainda.

─Oh Deus…

KM
A testa de Morgan franziu em preocupação e ele firmou
Jeremy.

─Escute, talvez você deva se sentar. Vou tentar descobrir e


atualizar você assim que eu souber algo mais, ok?─ Jeremy assentiu
entorpecido e tropeçou para o meio-fio onde Morgan o ajudou a se
sentar. Ele estava de costas para a casa e ele se enrolou sobre os
joelhos e tentou se concentrar apenas em sua respiração entrando e
saindo, fechando os ruídos ao seu redor e as pessoas
conversando. Se ele observasse a porta e visse Rafe saindo em uma
maca, ele se perderia e essa não era a hora nem o lugar. Nem todo
mundo na cena precisava saber o que estava acontecendo. Isso fez
tudo parecer real. Como se esse fosse o fim.

O que pareceu horas mais tarde, Jeremy sentiu um tapinha no


ombro e ele olhou para a cara preocupada de Morgan. Sua expressão
não lhe deu esperança.

─Ele está morto?

Morgan suspirou e deu-lhe um aperto reconfortante.

─Sim. E a filha.

Jeremy teve que agarrar a beira do meio-fio para evitar


vomitar no chão a seus pés. Seus pulmões se apertaram e, apesar de
estar tentando manter algum tipo de compostura, não conseguia
respirar. Desejou ficar entorpecido, porque a lavagem abrupta da
dor e do vazio era muito difícil de suportar.

Morto? O que aconteceu?

KM
─E sobre... H-Hector - o pai?─, Ele conseguiu perguntar, a
repulsa crescendo dentro dele ao pensar que, de todas as pessoas
para sobreviver, Hector, o molestador de crianças, conseguiu o
ingresso dourado. Morgan inclinou a cabeça para o lado, confuso.

─Hector Aragon está morto, como eu disse. E a filha também.

A cabeça de Jeremy se levantou e ele ficou de pé, o sangue


correndo de sua cabeça, então ele tropeçou em Morgan. Ele agarrou
o policial para se firmar.

─E quanto a Rafe Bridges? O detetive particular?

Morgan ficou obviamente surpreso com essa resposta, mas ele


respondeu.

─Eu não peguei o nome do cara, mas se for ele, está sendo
levado para um hospital. Ele está ferido, mas não sei até que ponto.─
Ele sinalizou na direção de uma ambulância que já ultrapassava as
barreiras policiais e estava na metade da rua.

─Que hospital?─ Jeremy o sacudiu, sua expressão feroz.

Morgan sacudiu a cabeça novamente.

─Não tenho certeza. Essa é toda a informação que tenho.

Jeremy o soltou e empurrou através da multidão, ignorando as


maldições enquanto esbarrava em uma pessoa após a outra. Tudo o
que ele conseguia pensar era na esperança de que Rafe estava vivo e
bem. O mal-entendido com Morgan, embora tivesse durado apenas

KM
alguns segundos, arrancara seu coração. Ele tinha que ver Rafe com
seus próprios olhos para acreditar que ele estava realmente seguro.

Sua motocicleta estava exatamente onde ele tinha deixado e ele


puxou o capacete com os dedos trêmulos. Jeremy não tinha certeza
de para onde Rafe foi levado, mas o hospital universitário tinha o
pronto socorro mais próximo. Ele acendeu as luzes, prendendo a
sirene e atravessou as barreiras e os espectadores na rua.

A ambulância estava fora de vista, e Jeremy girou acelerador


com força, ligando as sirenes assim que saiu da vizinhança. Ele
pegou estradas que evitariam as principais vias de circulação e
tráfego, voltando apenas perto do hospital.

Ele jogou algumas bênçãos no ar ao ver o estacionamento


aberto para policiais e desligou a moto em tempo recorde. Jeremy
imaginou que ele estava a cinco minutos atrás da ambulância que
levou Rafe - se eles o tivessem deixado naquele hospital em
particular. Então ele estaria por perto.

Jeremy não perdeu tempo passando pela entrada de pacientes


ou lidar com a equipe na escrivaninha da sala de espera, preferindo
passar pela entrada de ambulâncias. Ele se esquivou de uma
pequena mulher hispânica lutando para empurrar uma maca pelo
corredor e dois médicos correndo para cá e para lá antes de chegar à
mesa.

Duas enfermeiras incrivelmente ocupadas estavam em


telefones e segurando pilhas de pastas em seus braços. Uma delas
sorriu fracamente e apontou um dedo para ele esperar. Ele estava

KM
prestes a arrancar o telefone da mão dela e implorar quando seu
nome foi chamado.

Ele se virou e ficou cara a cara com Megan, a boa amiga de


Rafe - e uma enfermeira do pronto-socorro. Como ele se esquecera
disso?

Jeremy agarrou Megan da mesma forma que ele agarrou o


oficial na cena do crime e a puxou para mais perto.

─Ele está aqui? Rafe está aqui?

─Você não- ─ começou ela, mas Jeremy não esperou para


ouvir sua resposta.

─Ele está aqui? Ele está bem?

Seu olhar era hesitante, mas ela respondeu: ─Sim. Ele está
aqui.

Jeremy desabou contra o balcão com alívio e relaxou, deixando


a cabeça encostar nas mãos brevemente.

─Você vai gritar com ele?─ Ela estava seriamente franzindo a


testa para ele agora e foi sua vez de hesitar.

─Por que eu gritaria com ele? Eu preciso vê-lo. Eu preciso ter


certeza de que ele está bem.─ Ele estava prestes a procurar Rafe por
conta própria se ela não o apontasse na direção certa.

─Por que você precisa saber? Você terminou com ele.─ Megan
cruzou os braços sobre o peito e o encarou, obviamente em guarda.

KM
─Megan, eu juro por deus que se você não me deixar vê-lo e
dizer a ele que eu o amo, eu vou destruir esse hospital até encontrá-
lo. Agora não é hora de uma explicação prolongada. Eu preciso vê-
lo.

Eles estavam praticamente nariz-a-nariz e Megan o considerou


até que ela viu algo que a satisfez.

─Ele está na quarta sala à esquerda. Se o médico ainda estiver


com ele, você terá que esperar. Brian também está a caminho─ ela
ofereceu. ─Rafe não pode ouvir bem agora, e ele está um pouco
confuso.─ Quando ele começou a se afastar, ela levantou a mão para
detê-lo. ─Ele tem uma concussão, então não estresse mais. Ele viu
muita coisa hoje e andou resmungando sobre isso.

Jeremy não pôde deixar de notar que ela não entrou em


detalhes, deixando-o com todos os tipos de ideias sobre o quão ruim
era o estado de Rafe. A preocupação em seus olhos era inconfundível
e seu coração acelerou novamente. Cobriu a distância até a sala em
passos largos, até mesmo as enfermeiras e os médicos saltando para
fora do seu caminho depois de olhar seu rosto.

Jeremy parou na porta e espiou, esperando que Rafe estivesse


sozinho. Era uma sala com duas divisórias cortadas e apenas uma
cortina estava fechada. Ele não ouviu nenhuma conversa ou viu
nenhum pé extra abaixo da divisória, então com as pernas trêmulas
ele foi até o tecido pendurado e depois de respirar fundo, puxou a
divisória para o lado.

Rafe estava recostado na cama do hospital, a cabeça virada


para a direção de Jeremy, com os olhos fechados. A visão dele ali,

KM
respirando e vivo contra os lençóis brancos, o fez engolir em seco
enquanto ele tropeçava ao lado da cama. Ele estava no meio do
caminho quando os olhos de Rafe se abriram e, apesar de estarem
vermelhos e irritados, seja por bombas de luz ou granadas de
fumaça, ele o reconheceu. Quando Rafe sussurrou seu nome, Jeremy
sentiu um nó na garganta.

Rafe levantou a mão e Jeremy saltou para a frente e segurou


com força, os dedos entrelaçados.

─Eu pensei... eu não sabia se-

Rafe se endireitou e o puxou para mais perto.

─Você veio─, ele sussurrou com voz rouca. Jeremy só


conseguiu acenar de volta, completamente vencido.

Ele ficou curvado ao lado da cama, os lábios pressionados


contra a mão de Rafe. A mão livre de Rafe pousou em cima de sua
cabeça e lágrimas escorriam dos olhos de Jeremy.

─Você está bem? Precisa de alguma coisa?

Droga, por que não havia algum tipo de livro ou panfleto sobre
o que dizer em uma situação como essa? Rafe quase morrera hoje e
ele esperava consertar tudo pegando-lhe um copo de água ou
afofando os travesseiros? Merda.

Rafe deu um tapinha na cabeça mais uma vez e relaxou


novamente contra os lençóis.

KM
─Hector me impediu de derrubar Yesenia. Ela atirou nele
quando ele pulou na minha frente. Ele morreu... Ele meio que me
salvou, eu acho.

Jeremy apertou a mão dele e estendeu a outra para afastar o


cabelo dos olhos de Rafe. Ele parecia atordoado, mas ele não estava
balbuciando.

─Eu desmaiei─, continuou ele. ─Eles não me contaram o que


aconteceu depois, mas eu vi Yesenia e Hector. Ela atirou nele e... se
matou, Jer. Quase a convenci a não fazer nada...

Jeremy não tinha ideia do que dizer, mas sabia que não sairia
daquele quarto enquanto Rafe estivesse falando com ele.

─Eu me lembro de pensar em você...─ Rafe deu um pequeno


sorriso fraco. ─Eu pensei que não teria a chance de manter minha
promessa para você. Você sabe, ficar do lado de fora da sua porta
todos os dias até que você me dê outra chance.

─Deus─, Jeremy suspirou, beijando a mão de Rafe


novamente. ─Por favor, não diga coisas assim. Você está aqui. Você
está bem.

─E você está aqui...

Jeremy não conseguia desviar o olhar da intensidade nos olhos


de Rafe e, lentamente, para não causar desconforto, ele se sentou na
beira da cama, com os rostos muito mais próximos.

─Estou aqui.─ Ele engoliu em seco e assentiu. ─Eu estava


enlouquecendo de preocupação. Você... Nunca...─ A voz de Jeremy

KM
se quebrou e ele teve que respirar fundo antes de perder
completamente o controle e chorar como um bebê. Rafe estava
inclinado para frente novamente, a mão livre agarrada ao braço de
Jeremy.

─Eu te amo─, ele finalmente sussurrou, olhando nos olhos


azuis de Rafe. ─Me desculpe, eu estava agindo como um idiota. Não
consigo imaginar o que teria feito se você...─ Jeremy limpou a
garganta. ─Nunca mais me assuste assim. Por favor.

Os olhos de Rafe estavam vermelhos e ele limpou as lágrimas


com as costas da mão.

─Diga isso de novo─, ele implorou.

─Nunca me assuste-

─Não... Diga a primeira parte de novo.

Jeremy fez uma pausa e depois sorriu.

─Eu te amo. Eu te amo e quero estar com você, Rafe. Não


estou pronto para ficar sem você.

As mãos de Rafe tremiam quando ele puxou Jeremy para


perto, seus dedos tocando sua nuca.

─Graças a Deus─, ele suspirou.

Jeremy começou a rir, mas então tudo o que ele conseguia


pensar era beijar Rafe e puxá-lo para mais perto. Ele gentilmente
tocou o queixo de Rafe e inclinou a cabeça para trás, abaixando a
boca até que seus lábios se encontraram. Rafe suspirou contra ele e

KM
se contorceu aprofundando o beijo, abrindo-se para Jeremy até que
suas línguas se misturaram em uma dança terna.

Não foi até eles serem interrompidos por um médico limpando


a garganta em voz alta que Jeremy percebeu que as lágrimas ainda
escorriam por suas bochechas. Ele as afastou e cuidadosamente
levantou da cama, suas bochechas vermelhas. Rafe parecia querer
ignorar o médico e continuar, mas ele estava incrivelmente perto do
colapso e afundou no colchão como se pudesse dormir em segundos.

─Desculpe a interrupção─, disse o médico, um sorriso


puxando a borda de seus lábios. ─Eu não sabia que Rafe tinha um
visitante. Eu sou o Dr. Caleb Michaels.

Ele ofereceu sua mão e Jeremy automaticamente a sacudiu,


imaginando a expressão estranha em seu rosto. O doutor não
parecia tão ofendido ao entrar no meio de dois homens se beijando,
então qual era o problema? Quando ele se virou para Rafe e falou,
tudo ficou claro.

─Megan me contou muito sobre você, Rafe. Só lamento que


tenhamos que nos encontrar nessas circunstâncias.

Jeremy imediatamente se endireitou e ampliou sua


postura. Então esse era o bom médico que Megan e Brian queriam
na cama de Rafe? Ele deu a Michaels uma olhar e franziu a testa. Ele
era um cara bonito. Loiro de olhos cor de avelã e da altura de
Rafe. Pode ter sido um pouco vaidoso, mas Jeremy tinha certeza de
que era mais bonito.

KM
Em um passo, ele estava de volta à cabeceira de Rafe com uma
mão protetoramente pousada em seu braço.

─Sim, é uma pena─, ele respondeu por ambos, um aviso em


sua voz.

O médico olhou de sua mão em Rafe até seu rosto e riu.

─Sim… bem. Você não pode vencer todos, suponho.─ Ele


quebrou o contato visual, ainda rindo e folheando a pasta pendurada
no final da cama de Rafe.

Ele começou a falar de sinais vitais e testes e observação


durante a noite, todos os quais Jeremy mal registrou enquanto
ouvia. Eles não tinham passado por uma provação terrível só para
acabar sendo separados por um médico bonito que aparentemente
tinha tudo que queria. Jeremy concentrou-se em ficar ao lado de
Rafe e parecer o mais territorial possível. Rafe segurou a mão dele e
apertou-a, dando-lhe um olhar de reprovação, mas o sorriso que se
seguiu o cancelou. Ele gostava que Jeremy estivesse fazendo sua
presença conhecida.

Quando o médico voltou-se para ele, com o mesmo sorriso


divertido no rosto, os pêlos de Jeremy se ergueram.

─Tecnicamente você não deveria estar aqui, mas vendo como


você é da força policial e que vocês dois estão-

─Juntos?─ Jeremy completou.

Michaels riu novamente.

KM
─Sim, claro. Isso também. Já que as circunstâncias são o que
são, não me importo se você ficar por aqui.─ Jeremy assentiu
bruscamente e olhou quando o médico piscou para Rafe. ─Eu posso
ver porque ele é tão possesivo.

Jeremy o teria ajudado a sair da sala com um chute rápido na


bunda, se Rafe não o tivesse parado com um puxão.

─Você precisa trabalhar em sua sutileza─, ele sussurrou.

Jeremy se inclinou sobre ele com diversão em seus olhos.

─Apenas fazendo uma declaração.

─E todos nós ouvimos alto e claro.─ Rafe não parecia nem um


pouco ofendido, mas era óbvio que ele ia dormir antes que alguém
chegasse para levá-lo para os testes a serem realizados.

─Eu te amo, Rafe─, ele murmurou, colocando um beijo suave


em sua testa.

Os olhos de Rafe se fecharam e ele sorriu.

─Estou feliz…

KM
CAPÍTULO VINTE E SEIS

Os olhos de Rafe se abriram com uma vibração e demorou um


minuto para ele reconhecer onde estava. Cama de hospital. Sob
observação. Estava escuro lá fora, mas ele tinha a sensação de que só
dormira por algumas horas desde que terminaram de fazer testes
nele. Graças a Deus ele tinha uma cabeça dura, mesmo que estivesse
batendo como se Thor estivesse balançando seu martelo. Ele
realmente queria que o médico lhe permitisse ir para casa, mas não
teve essa sorte. Eles o mudaram para um novo quarto - muito mais
silencioso do que o canto do pronto-socorro que lhe foi atribuído
quando ele chegou.

Virando a cabeça com cuidado para não perturbar os grampos,


seus olhos pousaram em Jeremy e ele sorriu. Ele ainda estava
usando o uniforme, as longas pernas esticadas na frente dele com os
pés cruzados. Sua mão estava descansando na cama perto de Rafe e
em algum momento ele adormeceu.

Vendo ele lá, sabendo que eles ficariam bem, o sobrecarregou


tudo de novo. Ele esperava que todas essas lágrimas tivessem algo a
ver com medicação para a dor, mas ele duvidava disso. Seus olhos
pareciam jorrar a todo instante. Rafe não pôde evitar. Apenas vê-lo e
saber e que esse homem bonito o amava era demais.

Seus dedos avançaram através do colchão até que ele estava


tocando levemente a pele bronzeada de Jeremy e ele sentiu uma
lágrima deslizar por sua bochecha. Ao seu toque, os olhos de Jeremy
se abriram e ele se sentou com um solavanco.

KM
─Rafe? Você está bem? Você precisa de algo?

Rafe enrolou os dedos ao redor dos de Jeremy e sacudiu a


cabeça, limpando a garganta antes de tentar falar.

─Eu-eu estou bem… eu estou bem. Fiquei feliz em ver você


aqui, é tudo.

Jeremy aproximou a cadeira com mais força e apoiou o queixo


no colchão, trazendo o outro braço ao redor até que a mão de Rafe
estivesse na dele.

─Eu não vou a lugar nenhum. Eles tentaram me expulsar no


final do horário de visitas, mas o médico os impediu.

Rafe sorriu com a nota azeda em sua voz sobre o potencial


encontro de Brian e Meg.

─Brian veio depois que terminaram seus testes, mas você


estava apagado. Ele vai passar na sua casa pela manhã e trazer
algumas roupas limpas antes de voltar aqui.─ Rafe suspirou em
concordância. Ele não precisava que Jeremy dissesse que o hospital
havia se livrado de suas roupas manchadas de sangue. Pelo menos
com Brian chegando, ele não estaria preso em aventais ou em um
vestido de hospital.

─E você?─, Ele perguntou, encarando o uniforme de


Jeremy. ─Você não pode estar confortável usando isso.

Jeremy deu de ombros.

KM
─Não é grande coisa. Brian se ofereceu para me trazer roupas
suas, mas acho que nós dois sabemos que suas roupas ficarão um
pouco confortáveis demais para serem decentes. Pode causar um
rebuliço se eu vestir uma camisa que mostre minha barriga.

Rafe riu.

─Eu apenas direi a eles que você é meu Twinkie. Eles


entenderiam.

─Absolutamente não, Rafe. Eu vou ficar com o meu


uniforme.─ Os olhos dele se tornaram calculistas por um
segundo. ─Além disso, estar armado é uma boa ideia com Caleb
Michaels tão perto. Ele provavelmente adoraria ter a chance de falar
com você sozinho.

─Eu não estou interessado.─ Eles compartilharam um sorriso


e Rafe se levantou na cama. ─Que horas são?

─Não tenho certeza... em algum lugar por volta das dez, eu


acho.

Rafe ajeitou as almofadas atrás dele e de repente percebeu que


sua bexiga estava se juntando à multidão de partes do corpo
queixosas. Com um estremecimento, ele virou as pernas para o lado
oposto da cama de Jeremy.

─Whoa, whoa, whoa.─ Jeremy ficou de pé e se moveu ao redor


da cama em alguns passos rápidos. ─Deixe-me ajudá-lo.

─Parece que eu não vou ao banheiro desde que eu tinha dez


anos─, ele grunhiu.

KM
─Isso é culpa dos remédios, eu acho. Eles colocaram um IV
mais cedo.

Rafe olhou para o braço esquerdo e viu a seção final da


tubulação ainda cutucando seu cotovelo. Como ele tinha perdido
isso?

Jeremy o apoiou todo o caminho até o banheiro e, quando viu


que Rafe não ia tombar no chuveiro ou estalar a cabeça no chão,
deu-lhe um pouco de privacidade. Assim que ele terminou, Jeremy
estava de volta com o braço ao redor de Rafe e levando-o para a
cama. A cabeça de Rafe latejava tanto que ele considerou seriamente
vomitar depois de dar alguns passos. Jeremy puxou os cobertores
sobre ele assim que voltaram a cama, e após um longo suspiro de
Rafe, Jeremy inclinou-se sobre ele e carinhosamente passou a mão
por sua testa.

─Você quer que eu chame uma enfermeira para lhe trazer um


analgésico? Eles me disseram que poderiam fazer isso se você
estivesse se sentindo muito desconforto. E, se você precisa vomitar,
eles me forneceram este pequeno comadre. Ótimo, hein?

Rafe queria rir, mas a tentação de pegar a vasilha e usar estava


um pouco perto demais da superfície.

─Talvez... a medicação primeiro.

Jeremy assentiu e deu um beijo gentil em sua testa.

─Eu preciso esticar minhas pernas, então volto em um


minuto. Feche seus olhos.

KM
Rafe fez o que lhe foi dito e contou os segundos até que a dor
em sua cabeça recuou um pouco e o turbilhão em seu estômago não
pareceu tão sinistro. Ele estava tendo dificuldade em saber por
quanto tempo Jeremy tinha ido embora, então quando a porta de
seu quarto se abriu novamente, ele automaticamente deixou escapar
o que estava pensando.

─Diga-me o que eles deram a você vai me derrubar até a minha


cabeça voltar a um tamanho normal e o desejo de vomitar
desaparecer.─ Quando Jeremy não respondeu depois de um
momento, Rafe abriu os olhos e congelou. ─Mark? O que você está
fazendo aqui?─ Deus, Jeremy ia ficar chateado quando ele voltasse,
o que provavelmente seria em segundo.

Mark enfiou as mãos nos bolsos e balançou para trás e para


frente mudando de pé para pé. Ele estava obviamente lutando com o
que dizer e, embora Rafe estivesse distraído com o conhecimento de
que Jeremy inevitavelmente voltaria e o veria, ele não podia ignorar
a presença de Mark.

─Pensei que teria que passar pela enfermaria, mas não havia
ninguém lá─, ele disse sem entusiasmo. ─Eu só... queria ter certeza
de que você estava bem─, ele finalmente falou. ─Eu saí do trabalho
cerca de meia hora atrás e eu precisava...

A culpa que atingiu Rafe foi intensa, e era um feito e tanto já


que sua cabeça e estômago estavam fazendo uma séria batalha
dentro dele. Mesmo depois de todo o tempo, drama e falsas
expectativas - muitas das quais Rafe havia criado - Mark ainda se

KM
importava o suficiente para ter certeza de que ele estava bem. Foi
como um soco no estômago e ele mereceu.

─Você não tinha que vir─, ele murmurou humildemente.

Mark mexeu um pouco mais e manteve os olhos ao pé da cama


de Rafe.

─Eu sei disso e sei que você provavelmente não me quer aqui
agora, mas eu tinha que verificar você. Há todo tipo de histórias por
aí.

Rafe só podia imaginar. Jeremy provavelmente era o assunto


de fofocas bastante suculentas também.

─Escute, Mark... Eu tenho sido um idiota para você e


machuquei você, e eu realmente não mereço o quão legal você está
sendo. Eu realmente sinto muito... Sobre tudo.

Mark tirou as mãos dos bolsos e estalou os nós dos dedos


nervosamente.

─Eu acho que algumas coisas não são destinadas a ser─, ele
sussurrou entrecortado. ─Eu realmente não posso negar que sempre
houve algo em você que me fez sentir o contrário. Merda,─ ele riu
sem humor, ─até agora eu acho que nós poderíamos dar certo
juntos, mas você não sente o mesmo e eu não posso te convencer...

─Mark─. Rafe levantou a mão para detê-lo. Eles não deveriam


entrar nas ervas daninhas sobre o relacionamento deles por uma
série de razões. Isso não resolveria nada, e Jeremy provavelmente

KM
atiraria em alguém se ele voltasse e encontrasse Mark tagarelando
sobre o que poderia ter acontecido.

─Você foi muito bom comigo. Você perdoou muita merda que
fiz. Não é como se eu quisesse te machucar, mas eu tomei algumas
decisões horríveis que acabaram machucando você de qualquer
maneira. Você merece estar com alguém melhor - alguém que sabe
que você é perfeito. Eu... me preocupo com você, mas não é a mesma
coisa.

Dizer o que os dois já sabiam não fez Rafe se sentir menos


idiota. Mark cruzou os braços sobre o peito, o queixo tremendo
enquanto refletia sobre o que ouvira.

─Você o ama, não é? Ele é o que você quer.

Ele não precisava dizer o nome de Jeremy para Rafe para saber
de quem ele estava falando. Aparentemente, a conexão deles não era
tão bem escondida quanto ele teria pensado.

─Sim, eu o amo. Eu quase o perdi e... não consigo imaginar...─


Ele não podia continuar sem se envergonhar com mais lagrimas.

Mark deu alguns passos para mais perto da cama e engoliu em


seco.

─Então, você sente por ele o mesmo que eu sinto por


você? Exceto que eu perdi você-

Rafe suspirou e, apesar do modo como fez seu estômago


revirar, ele se sentou na cama novamente e se inclinou na direção de
Mark.

KM
─Eu não sou o cara certo para você, Mark. No fundo, você sabe
disso. No fundo provavelmente te irrita que você ainda esteja
interessado em mim quando você sabe melhor do que ninguém
como foi entre nós. Você é um cara muito bom para desperdiçar
mais do seu tempo. Eu não consigo nem entender por que você iria
querer.

Mark encolheu os ombros e deu os últimos passos para a


cama.

─O policial Jeremy Halliday é o último cara com quem eu


teria imaginado que você terminaria. Ele escapou completamente
do meu radar, o qual você sabe que é excelente.

─Sim─ concordou Rafe. ─Eu sei. É apenas uma daquelas


coisas que encaixa desde o começo, apesar de termos nosso próprio
conjunto de problemas para lidar. Ele é tão...─Rafe balançou a
cabeça. Não era a coisa mais legal de se fazer, cantar os elogios de
seu atual namorado na frente de seu ex, especialmente quando o ex
estava sendo realmente legal sobre isso. ─Bem... não há necessidade
de entrar em detalhes, mas acho que temos algo que você deveria
estar procurando em sua própria vida.

─De seus lábios...─ ele sussurrou. Mark manteve seu olhar


treinado em Rafe por um longo momento antes de se afastar da
cama. ─Você vai ficar bem?

Rafe assentiu.

─Obrigado por me checar. Você não precisava.

KM
─Sim, eu precisava.─ Seus olhos estavam tristes quando ele se
virou para sair, e na porta ele parou. ─Até mais. Boa sorte com...
você sabe, tudo, eu acho.

─Você também.

Ele abriu a porta e Rafe estremeceu internamente ao ver


Jeremy carregando uma bandeja com o que parecia torrada, gelatina
e um ibuprofeno gigante. Jeremy surpreendeu os dois simplesmente
balançando a cabeça e entrando no quarto, passando por Mark, que
ainda segurava a porta.

─Ei, Mark.

─Jeremy.

Mark não perdeu tempo falando outra coisa, com um último


aceno em direção a Rafe, ele saiu. Jeremy não disse nada quando
trouxe a bandeja e colocou-a na mesa ao lado da cama. Rafe
observou quando ele pegou um copo vazio e encheu na pia, depois
rolou a mesinha lateral para a cama, de modo que ela estava
pendurada no colo dele.

─As enfermeiras disseram para tomar o ibuprofeno, mas


precisa comer isso primeiro, se conseguir. Caso contrário, você pode
acabar vomitando.─ Ele passou a mão pela bochecha de Rafe e
sorriu ternamente. ─Ok?─ Rafe apontou para a porta fechada.

─Nada aconteceu, ele apenas-

Jeremy o deteve com um leve beijo na testa.

KM
─Eu sei. Eu o vi entrar de qualquer maneira. Se eu fosse ele,
teria precisado ver você também.

─Isso é incrivelmente doce─, Rafe disse asperamente, ─e me


desculpe por dizer isso agora, mas acho que vou vomitar.

***

As dores de cabeça de Rafe tinham enfraquecido até parar uma


semana depois e ele estava mais parecido com ele mesmo, mas
quando ele e Jeremy foram até o cemitério para o serviço funerário
de Yesenia, seu estômago revirou. Ele não sabia ao certo por que
decidira vir. Talvez porque quando ele imaginou Yesenia, ele não viu
a garota que havia quebrado e causando tanta violência, ferindo
seriamente um policial e matando seu pai e finalmente ela
mesma. Em vez disso, ele viu uma menina que suportou anos de
abuso e não conseguiu voltar à superfície. Rafe não sabia se ela
estava certa sobre o quanto sua mãe sabia também, mas Angelina
havia perdido o marido e sua filha mais nova no espaço de uma hora
e ele queria estar presente para ela também. O serviço de Hector
estava programado para a manhã seguinte e ele sabia que não
compareceria. Essa era uma linha que ele não conseguia cruzar. Até
o fim, Hector manipulou sua filha. Na verdade, Rafe acreditava que
sua tentativa final de controlá-la lhe custara a vida. Como ele
desejou que Hector nunca tivesse dito aquilo para provocá-la. O
resultado teria sido tão diferente. Yesenia certamente teria

KM
enfrentado acusações por uma série de delitos, mas ela estaria viva e
talvez até em direção ao longo caminho para a reabilitação.

Jeremy dirigiu até o cemitério e esperava pacientemente na fila


de carros para chegar a sepultura. Rafe sabia como ele se sentia
sobre estar aqui; ele não estava tão disposto a perdoar Yesenia por
colocar seu namorado em perigo, mas ele não ia deixar Rafe passar
por isso sozinho. O pai de Jeremy também estaria presente, e isso
seria um pouco estranho. Ele não tinha resolvido o fato de que seu
único filho estava apaixonado por outro homem. Pelo menos,
pensou Rafe, Peter Halliday não mostrava as mesmas tendências
contundentes de Richard Bridges.

Rafe foi tirado de seu devaneio por um toque da mão de


Jeremy. Um rápido olhar pela janela mostrou que era hora de se
mexer. Ele assentiu e saiu do carro, esperando que Jeremy se
aproximasse e o encontrasse. Eles caminharam lado a lado até a
sepultura, braços escovando a cada passo, e mesmo que não fosse
um gesto aberto de nenhuma das partes, o toque suave de seus
braços acalmou Rafe.

O ar ao redor estava carregado com uma gama de emoções,


choque e pesar que levavam a maré. Rafe viu Angel em pé com a
família, Angelina debaixo do braço do filho e o pai de Jeremy de
lado, com os olhos no chão.

Rafe e Jeremy estavam na parte de trás do grupo e quando o


serviço começou, Rafe pegou a mão de Jeremy e segurou firme. Ele
realmente não se importava com o que dizia sobre ele, ele precisava

KM
sentir algo real - sentir a vida fluindo através das pontas dos dedos
de Jeremy. Ele sorriu tristemente quando Jeremy apertou de volta.

O serviço não demorou muito, mas a manifestação de pesar da


família e dos amigos de Yesenia era uma presença tangível. Rafe teve
que se virar para engolir ar depois que todos foram dispensados. Ele
sabia que precisava falar com Angelina, mas a perspectiva era mais
assustadora do que ele previra. A última vez que ele a viu, ela estava
chorando no sofá antes de seu marido e filha morrerem. Ele
estremeceu e Jeremy deu um passo mais perto dele.

─Podemos sair, se você precisar─, ele sussurrou. ─Tudo bem


se você não se sentir bem com isso.─ Rafe não pôde falar por um
momento, mas finalmente encontrou sua voz.

─Eu deveria tentar. Não quero que ela pense que eu a culpo... e
também não quero que ela me culpe...

Jeremy assentiu, mas Rafe pôde ver a relutância em seus


olhos. Ele estava pensando que Angelina iria quebrar sobre o que
aconteceu com sua família; Jeremy disse isso na noite passada. E ela
poderia. Havia certamente uma chance, mas ele nunca sentiria que
fez a coisa certa se não oferecesse suas condolências.

Jeremy permaneceu ao lado dele enquanto a multidão


diminuía, os convidados saindo em direção aos carros estacionados
nas proximidades. Ele se afastou apenas uma vez para dizer alguma
coisa ao pai, mas foi só por um minuto e, quando terminou, voltou
imediatamente para o lado de Rafe.

KM
Rafe foi a última pessoa na fila para falar com Angelina; Angel
foi levado pela família antes que Rafe pudesse chegar até ele, o que
provavelmente foi melhor.

A tensão em seu peito se elevou quando chegou sua vez, e


quando ele finalmente estava cara a cara com ela, percebeu que ele
nunca descobriu o que dizer. Desculpe não parecia certo.

─Sra. Aragon─ disse ele com voz rouca─, eu realmente não sei
o que... eu só...

─Perdoe-me─, ela sussurrou, pegando as mãos dele e


apertando-as contra o peito enquanto falava. Carlos inclinou a
cabeça ao lado de sua mãe, a dor pesada em seus ombros. Jeremy se
moveu para o lado dele, dando a Rafe o máximo de privacidade
possível.

─Você não tem que dizer isso─, ele tentou novamente, mas
Angelina não o deixou terminar.

─Obrigado por tentar ajudar minha família. Eu estava perdida,


mas minha filha iria ouvir você, ela faria o que você pediu e
pararia...─ A voz de Angelina se quebrou, mas ela se forçou a
continuar enquanto Rafe olhava com uma expressão torturada. ─Eu
sei que você queria ajudá-la… me desculpe. Já visitei a família do
policial.

Rafe balançou a cabeça e puxou-a para um abraço. Ela estava


encarando a situação horrível como se precisasse procurar por
penitência.

KM
─Não há palavras que eu conheço para consolá-la, mas sinto
muito pelas perdas que você sofreu. Eu gostaria que houvesse algo
que eu pudesse fazer...─ ele murmurou em seu ouvido. Angelina
retornou seu abraço pelo espaço de alguns segundos, e então recuou
gentilmente, um véu sobre as emoções cruas em seus olhos.

─Obrigado─, ela respondeu, sua vulnerabilidade escondida


mais uma vez. ─Estou muito feliz por você ter vindo.

Não havia espaço para dizer mais nada, mas Rafe


entendeu. Vê-lo deve ter sido como experimentar tudo de novo. Ele
não queria ficar por perto e fazê-la se sentir pior. Ele e Jeremy
voltaram silenciosamente para o carro e depois disso não falaram
nada durante o caminho de volta. Foi quando ele estava deitado nos
braços de Jeremy naquela noite, incapaz de dormir, que ele tomou
sua decisão.

Na manhã seguinte, ele vestiu o mesmo terno e compareceu ao


funeral de Hector Aragon. Nem mesmo um quarto das pessoas que
compareceram ao serviço da Yesenia estava lá. Os olhos de Rafe
permaneciam treinados na minúscula forma de Angelina enquanto
ela observava o marido ser baixado ao túmulo. Rafe tinha vindo por
ela, afinal.

KM
CAPÍTULO VINTE E SETE

Duas semanas Depois…

Rafe lutou na porta da frente de Jeremy com três sacolas de


compras e um copo de cerveja pendurado precariamente em um
dedo. Ele estava atrasado porque o trânsito estava horrível, ele tinha
metade do tempo para fazer algo comestível antes que a irmã de
Jeremy, o marido dela e o pai de Jeremy aparecessem para o jantar.

“A Grande Revelação”, foi como Rafe começou a chama-lo,


embora fosse bastante conhecido entre os membros da família que
ele e Jeremy estavam juntos. Ele não tinha certeza se o marido de
Tracey sabia, mas se ela não o tivesse preparado, ele ficaria
chocado. Rafe descarregou as compras na geladeira e foi em busca
de Jeremy, embora tivesse certeza de que ouvia o chuveiro
ligado. Seguindo em direção ao quarto, ele parou e olhou fixamente.

Jeremy estava de costas para ele, vestido apenas com uma


cueca boxer - preta. O contraste entre sua pele dourada e o tecido
escuro fez com que Rafe quisesse esquecer a companhia e se divertir
de verdade.

─Ei─ ele disse baixinho, amando o jeito que Jeremy se virou


para olhá-lo com aquele meio sorriso sexy no rosto.

KM
─Você está de volta.─ Seu sorriso se alargou quando ele deu
uma olhada melhor no que Rafe estava vestindo. ─E você mudou de
roupa... Está nervoso?

Rafe olhou para o polo clássico e shorts e encolheu os ombros.

─Eu não queria parecer tão arrumado. Eles estão vindo para
um churrasco, não um jantar. A camisa de botão fez eu me sentir
estranho.

Jeremy riu e atravessou a sala para ficar na frente dele. Seu


peito nu era espetacularmente tentador.

─Você parece ótimo. Gostoso. Sexy.

Rafe revirou os olhos e empurrou o estômago de Jeremy.

─Certo.─ Ele deixou seus dedos delizarem. ─Eles estarão aqui


em meia hora e eu não preparei nada.

Jeremy sorriu maliciosamente e passou os braços em volta da


cintura de Rafe.

─Eles não esperam que tudo esteja pronto no segundo em que


chegarem. É um churrasco, afinal. Parte da diversão é esperar que a
comida cozinhe.─ Ele baixou a cabeça e acariciou o pescoço de Rafe
antes de beijar levemente sua mandíbula. ─Trinta minutos é tempo
de sobra...

Rafe riu apesar de tudo e tentou se afastar dos braços de


Jeremy.

KM
─Muito tempo para o que? Para todo mundo chegar aqui e nos
pegar? Como se não fosse estranho o suficiente você formalmente
me apresentar como seu namorado sem jogar a imagem mental de
nós no cio?

Jeremy deu uma risadinha.

─Cio? É isso que fazemos?

─Bem... não, mas eles podem pensar dessa maneira.

─Eu realmente não me importo agora─, ele respondeu,


deixando outro rastro ardente de beijos ao longo do pescoço de
Rafe. ─O que eu me importa é tirar você dessas roupas.─ Suas mãos
caíram para o fecho nos shorts de Rafe e abriram. ─Viu como é
fácil?─ Ele sussurrou enquanto abaixava a cabeça para um beijo
sério.

Rafe era um adulto responsável; ele não teve nenhum


problema em se lembrar de todas as coisas que ele tinha que fazer,
mas ele não estava nem perto de ser imune a Jeremy - especialmente
quando ele estava se despindo.

─Foda-se,─ Rafe rosnou, beijando Jeremy de volta. ─O cio


pode ser o melhor caminho...─ A risada vitoriosa de Jeremy foi a
última coisa que Rafe estava ciente antes de ficar ocupado demais
para notar qualquer outra coisa.

Vinte e cinco minutos depois, Tracey e Jake chegaram e


quando ela puxou Rafe para um abraço, ela riu.

─Eu não sabia que vocês usavam a mesma colônia!

KM
O rosto de Rafe ficou vermelho e ele entrou na cozinha quando
Jeremy começou a rir.

─Nós não usamos, Trace. Deve ser impressão sua.

KM
*** SOBRE O AUTOR***

SE Culpepper vive com seu espantoso marido e filho em


Connecticut e escreve sempre que seu bebê risonho/irritado
permite, entregando um humor sarcástico naqueles momentos em
que seus dedos tocam o teclado.

KM

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