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Ilustrações Roberto Bellini

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circuito

Executivos “complexos"
que conheci em consultoria
e coaching
por M a n f r e d K ets d e V r i es

"Eu já era uma personalidade, antes de me tornar uma pessoa. Sou simples, complexa, generosa, egoísta,

feia, bela, preguiçosa e energética". Barbra Streisand

"Tenho um complexo de inferioridade, mas ele não é de muito boa qualidade"! Anônimo

Ao longo de suas carreiras, os consultores orga- referência comum, pois, na verdade, mapeia a estru-
nizacionais, coaches de liderança, psicoterapeutas e tura psicológica de uma pessoa (conhecido original-
psicanalistas encontram, com freqüência, pessoas mente como "feeling-toned complexo de idéias", foi
que apresentam uma surpreendente gama de respos- introduzido em 1989, pelo psiquiatra austríaco
tas e comportamentos. Ao tentar compreender tais Theodor Ziehen). Para atribuir corretamente o termo
pessoas, os profissionais treinados em psicologia ao que um indivíduo está sofrendo, precisamos iden-
costumam buscar os esquemas de classificação psi- tificar diversos aspectos, sintomas, ou características
quiátricos tradicionais. Entretanto, os limites desses clinicamente reconhecíveis, que estejam ocorrendo
esquemas podem ser bastante estreitos (embora o simultaneamente naquela pessoa.
conceito de "co-morbidez" sugira que outros distúr- Basicamente, um complexo se refere a um con-
bios típicos acompanhem os mais importantes). Uma junto de pensamentos, sentimentos, memórias, dese-
forma de ultrapassar os estreitos limites de classifi- jos e padrões de comportamento relacionados – mui-
cação da conduta é lançar um olhar mais profundo tos deles sem controle do consciente e, freqüente-
sobre o conceito de "complexo" psicológico. mente, detectáveis apenas indiretamente – que, em
Na linguagem do dia-a-dia, as pessoas usam a conjunto, explicam a conduta de uma pessoa de
palavra "complexo" para se referir a praticamente outra forma misteriosa.
qualquer dificuldade psicológica ou emocional. O conteúdo de um complexo pode ser tão varia-
Porém, a palavra é bem mais precisa. Aplicado cor- do quanto a experiência humana. As pessoas podem
retamente, o termo "complexo" cria um ponto de ter complexos sobre a intimidade e o amor, a ordem,

Artigo publicado com autorização do INSEAD. Os trabalhos publicados no INSEAD Working Paper
Series divulgam os pensamentos e descobertas dos pesquisadores do corpo docente da instituição.
Cada paper deve ser visto como algo preliminar que pode necessitar de uma revisão. Impresso no
INSEAD, em Fontainebleau, França. Não pode ser reproduzido ou distribuído sem permissão.

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o poder, o status, a honra, a inteligência, a realiza-
ção, o reconhecimento, a fama, a sexualidade, o
dinheiro, a alimentação, a saúde, e assim por dian-
te. Dado o seu efeito sobre um indivíduo, cada
complexo determina como aquela pessoa reage em
circunstâncias específicas. Embora possamos nos
referir a alguém como "tendo um complexo", na
verdade ocorre o contrário: é o complexo que "tem"
aquela pessoa.
Devido à origem inconsciente da maioria dos
complexos, as combinações de pensamentos, sen-
timentos e desejos podem colocar idéias falsas em
nossas cabeças, levando a concepções irracionais
e distorcidas sobre nós mesmos, sobre outras pes-
soas e situações. Podemos chegar a conclusões
apressadas sobre algo, por exemplo, interpretando
certos eventos de uma forma ou de outra, sem
evidências que as sustentem. Podemos nos enga-
jar no tipo de pensamento “tudo-ou-nada”, vendo
as coisas exclusivamente como pretas ou brancas.
Tipicamente, essa atitude desqualifica o positivo,
pois tudo é percebido através de um filtro negativo.
Podemos nos sentir impotentes em muitas situa-
ções, acreditando que não temos controle sobre os
eventos de nossas vidas, e criar uma catástrofe do
nada, esperando que uma catástrofe maior (a ver-
dadeira) aconteça a qualquer momento. Podemos
estar preocupados com as regras de como nós ou
os outros devemos agir. Talvez tenhamos de ser
sempre corretos. E a lista continua por aí. Devido
a distorções como essas muitos complexos são
altamente danosos à nossa auto-estima, acabando
por influenciar a maneira como lidamos com os
outros. Os temas centrais do complexo nos dizem
que somos incompetentes, desagradáveis ou feios,
criando assim problemas específicos intrapessoais
e interpessoais.
Ao tentarmos encontrar a origem de um com-
plexo, precisamos voltar às experiências da infân-
cia. A natureza e a qualidade da interface pais-
criança ajudam muito a explicar as raízes de um
complexo. Se quisermos entender os fatores que
contribuíram em determinado caso, precisamos
fazer perguntas como: até onde ia a sintonia do
relacionamento entre os pais e a criança? Será que
os pais foram capazes de criar "frustrações adequa-
das a cada idade", negando as exigências que não
eram razoáveis, mas permitindo a maioria das
outras, ou será que eles não conseguiam escutar os

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desejos da criança? Mesmo os pais gentis e carinho- O CONTEúDO DE UM
sos e com boas intenções não são perfeitos: a vida
nos impõe pais nem sempre disponíveis, de imedia- COMPLEXO PODE SER
to, e assim certa dose de frustração é uma das Tão variado quanto
coisas inevitáveis no crescimento. Porém, a demora
em receber alimento, atenção e conforto, nos a experiência humana
momentos em que as crianças realmente querem
(na verdade, precisam) dessas coisas, resulta em
frustrações, desapontamentos, sentimentos de raiva pode se desenvolver na ausência (ou na não-dispo-
e/ou sentimentos de tristeza que podem contribuir nibilidade) de uma figura paterna durante a infân-
para a formação de um ser complexo. cia. A busca por um pai carinhoso, continuada na
Inversamente, os pais superprotetores podem fase adulta sob a forma deste complexo, pode resul-
semear um complexo em seus filhos. Quando fazem tar numa atitude de respeito em relação às pessoas
a vontade das crianças e as recompensam exagera- em posições de autoridade, que, por sua vez, pode
damente, elas desenvolvem expectativas irreais de facilitar relações de trabalho construtivas nas orga-
como o mundo deveria tratá-las, e na fase adulta nizações. Mas, o complexo de pai pode também ser
podem ter problemas em lidar com a realidade. negativo, se levar a uma visão de ambivalência e
Como receberam a mensagem de que suas habilida- desconfiança em relação a homens mais velhos,
des e possibilidades são ilimitadas, e que, de certa dificultando o trabalho (e a progressão na carreira)
forma, são superiores às outras pessoas, elas podem em organizações hierárquicas.
ter problemas de auto-estima quando o mundo lhes
disser que são comuns. Também podem carregar Complexos comuns no local de trabalho
pesados sentimentos de insegurança ou autocon- Analisemos agora uma gama de complexos comuns
fiança exagerada (ou um pouco de cada, dependen- no local de trabalho. Encontro alguns desses com-
do de como seu complexo específico se desenvol- plexos, regularmente, durante meu trabalho de
ve), com base em suas experiências de criança. coaching e consultoria; vi outros manifestados na
A tendência de alguns pais, de estereotipar imprensa especializada em negócios. Ao listar esses
suas crianças, também contribui para complexos na modos de comportamento habituais, me baseio no
fase adulta. Pais que, sem perceber, enviam sinais trabalho de Sigmund Freud – "Alguns personagens
para uma criança de que ela é temperamental, se encontrados durante o trabalho psicanalítico" –
comporta como idiota, ou é feia, preguiçosa, teimo- estudo em que ele oferece brilhantes insights sobre
sa, ou desajeitada (ou qualquer outra atribuição), o comportamento não apenas de seus pacientes,
não têm idéia de como aquela mensagem é podero- mas também de figuras conhecidas da literatura,
sa. Na fase adulta, a maioria dessas crianças tais como Lady Macbeth e Ricardo III.
encontra dificuldades em abrir mão das atribuições
que seus pais lhes deram, pois, aos olhos dos O Complexo de Deus Os indivíduos que dizem ter o
jovens, eles são todo-poderosos e sabem tudo. complexo de Deus (ou complexo messiânico), na
Entretanto, nem todos os complexos resultam verdade não acreditam ser Deus – agem de uma
de mensagens dos pais. Alguns surgem de inciden- maneira arrogante e imperiosa que sugere a autori-
tes que aconteceram fora de casa – sucessos excep- dade divina. Este complexo é bem semelhante ao
cionalmente fáceis, episódios culposos que resulta- que já foi descrito como personalidade narcisista.
ram em memórias vergonhosas, episódios de rejei- Algumas das pessoas mais influentes do mundo da
ção ou adulação, ou qualquer outro importante política, dos negócios e das finanças – os chamados
evento ou de transição na vida. Essas experiências “mestres do universo” – parecem ser impulsionados
tornam-se parte de um padrão que dita como as por este complexo específico.
pessoas percebem e lidam com o mundo em geral. As pessoas que sofrem do complexo de Deus
Nem sempre os complexos são negativos, têm uma noção tão tênue da realidade que se entre-
ou, pelo menos, não exclusivamente negativos. gam a fantasias de onipotência e onisciência.
Tomemos, por exemplo, o complexo de pai que Possuídas de grande senso de auto-importância,

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o complexo de deus, como Quando frustradas, contestadas ou confrontadas
por pessoas que consideram inferiores, às vezes
todos os outros complexos, explodem de raiva.
tem sua origem nos conflitos Dada sua predisposição narcisista, as pessoas
sob a influência do complexo de Deus preferem um
de relacionamentos mundo de ilusões ao tédio e às exigências das ver-
interpessoais da infância dadeiras conquistas, embora discutam seus triunfos
com qualquer um disposto a ouvi-las. Mas, quando
alguém de fora olha mais de perto, percebe que
elas agem de maneira pomposa, arrogante e desde- muitas de suas conquistas são meras ilusões, sem
nhosa. Como querem estar sempre sob os holofotes, substância.
exageram suas conquistas e talentos, convencendo Como o complexo de Deus as torna competiti-
a si mesmas com suas fantasias de sucesso e fama vas, ambiciosas e autoconfiantes, essas pessoas
ilimitados. E como precisam de um constante supri- freqüentemente se encontram em posições de lide-
mento de combustível narcisista, esses indivíduos rança. Infelizmente, no ambiente organizacional,
necessitam de admiração, atenção e afirmação sus- seu comportamento autocentrado pode causar
tentável. Por isso, tendem a se cercar de aduladores sérios problemas. Cercados por adoradores, o que
que os encorajam em seu comportamento autocen- acontece freqüentemente, podem perder contato
trado e auto-indulgente. com a realidade e tomar decisões baseadas em
São pessoas que não respondem muito bem às informações inadequadas (há muito tempo os por-
necessidades dos outros. Como lhes falta empatia, tadores de más notícias foram "assassinados"). Elas
elas parecem incapazes ou não dispostas a se podem até mesmo recorrer a um comportamento
identificar, reconhecer, ou aceitar os sentimentos, antiético, dada sua atitude de que as regras foram
necessidades, preferências, prioridades e escolhas feitas apenas para os outros. Homens e mulheres de
das pessoas com quem interagem. Ao contrário, princípios que se recusam a dizer sempre "sim"
não têm vergonha de ver os outros como pessoas tendem a deixar a empresa. Por isso, muitas orga-
que estão ali apenas para servi-las. Elas são "inter- nizações lideradas por pessoas com complexo de
pessoalmente exploradoras", ou seja, têm a habili- Deus acabaram sendo reorganizadas ou indo à ban-
dade de usar os outros para seus próprios fins. carrota.
Esperam favores especiais sem nunca pensar em O complexo de Deus, como todos os outros com-
reciprocidade. plexos, tem suas origens nos conflitos de relaciona-
Um forte sentimento de direito é outra caracte- mentos interpessoais da infância. As raízes são, tipi-
rística das pessoas impulsionadas pelo complexo de camente, encontradas na falta ou no excesso de
Deus. Elas acreditam que o mundo lhes deve, e estímulo por parte dos pais. No caso do primeiro, os
muito, que merecem o que querem e quando que- pais não são capazes de fornecer o apoio emocional
rem. Parecem manter um senso de autovalorização adequado a suas crianças – isto é, dar-lhes a atenção
com a insistência rígida de que estão acima do que necessitam. Conseqüentemente, essas crianças
restante das pessoas. Como acreditam que as regras escapam para um mundo próprio e ficam "presas"
são feitas para os outros (a “ralé”), mas não para num estágio de desenvolvimento em que a visão que
elas, tais pessoas exigem automático e completo têm de si mesmas continua sendo grandiosa e irreal.
cumprimento de suas expectativas de ter tratamen- A criança continua psicologicamente dependente da
to prioritário. Além disso, muito cheias de si, ten- aprovação dos outros para garantir sua auto-estima.
dem a se associar apenas com outras pessoas No caso da estimulação em excesso, a indulgência
especiais (ou instituições) de alto status. dos pais em relação aos humores e exigências de
O equilíbrio mental das pessoas com complexo seus filhos congela estes jovens num estado de gran-
de Deus é delicado. A tendência delas é ser extre- diosidade infantil, fazendo-os crer que são extrema-
mamente invejosas em relação aos outros. Com mente "especiais". Disso resulta a necessidade que
essa mentalidade, se acham injustiçadas e ficam têm de um tratamento especial e que, já na idade
paranóicas quando não conseguem o que querem. adulta, torna-se uma obsessão.

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O Complexo de Sísifo Sísifo, um rei de Corinto que são incapazes de se engajar na exploração do
na mitologia grega, era elogiado por ser um homem desenvolvimento dos negócios de amanhã. Além
esperto, mas diabólico, que matava viajantes e hós- disso, seu senso de foco é, freqüentemente, subde-
pedes violando as leis da hospitalidade. Ele foi senvolvido, criando dificuldades quando as empre-
condenado pelos deuses por ter enganado Hades, sas enfrentam descontinuidades de mercado.
Rei do Mundo das Trevas, e o aprisionado. Com Além disso, se as pessoas com o complexo
Hades não podendo guiar os humanos para o Sísifo ocupam posições seniores, desempenhando o
Mundo das Trevas, houve uma crise: nenhum ser papel de transmissores da cultura, seu comporta-
humano podia morrer. Como punição por seu tru- mento torna-se contagiante. Na busca irracional
que, Sísifo foi sentenciado a rolar uma enorme pelo próximo desafio, podem criar uma cultura
rocha morro acima, sem parar. Antes de chegar ao supercompetitiva que encoraja as pessoas a traba-
topo, a rocha sempre escapava, o que o fazia, a lhar muito, em vez de trabalhar inteligentemente;
cada vez, recomeçar todo aquele processo sem sen- uma cultura de pessoas preocupadas apenas com
tido. Como disse o escritor Albert Camus, "Sísifo é as vitórias no curto prazo, perdendo assim a pers-
o herói absurdo". pectiva mais ampla; e uma cultura que ignora con-
Em termos psicológicos, Sísifo estava destinado siderações éticas e sociais. Apenas um tipo de
a uma vida não produtiva, desempenhando repeti- pessoa consegue sobreviver nessa cultura: aquelas
damente uma tarefa específica, que nunca era que têm inclinação para a mentalidade de Sísifo. O
completada. Pior ainda – estava amaldiçoado por resultado é uma organização cheia de pessoas inse-
saber que, como nunca alcançaria o topo do morro, guras, resistentes e workaholics, sempre buscando
seu trabalho seria em vão. Em outras palavras, a fazer mais.
finalidade de sua vida era conseguir exatamente, Muitos executivos de empresas japonesas pare-
nada. Parece que os deuses perceberam que não cem seguir o modelo de Sísifo. Na verdade, um
havia sentença mais terrível do que um trabalho número considerável de executivos japoneses morre
sem sentido e esperança. a cada ano devido ao excesso de trabalho – número
Nas organizações, costumamos encontrar pes- suficiente para que haja um termo definindo esse
soas que sofrem do complexo de Sísifo. Como têm fenômeno no Japão: karoshi. Há tanta preocupação
a necessidade de estarem constantemente ocupa- com isso no país, que algumas famílias já processa-
dos, esses indivíduos continuam empurrando as ram empresas por elas não terem interferido no
"rochas" da organização sem jamais se perguntarem comportamento autodestrutivo de um funcionário.
por que estão fazendo o que fazem. Embora possam As pessoas com orientação de Sísifo normal-
ser bem-sucedidas no desempenho de certas tare- mente sentem uma aflição pessoal e insatisfação no
fas, nunca têm a sensação de satisfação. O oposto trabalho, como sugere a natureza extrema do
também é verdadeiro: elas correm em direção a karoshi: incapazes de parar e cheirar as rosas, sen-
novas metas e novos desafios – que, freqüentemen- tem-se sem rumo e insatisfeitas, a não ser que
te, não têm um significado objetivo – em vez de se estejam correndo atrás de mais um desafio. Elas
questionarem por que estão correndo naquela dire- confundem os fins e os meios, e assim impedem o
ção. Sentem-se como o personagem J. Alfred desenvolvimento de suas vidas. Fazem interminá-
Prufrock, de T. S. Eliot, que disse: "medi minha vida veis listas do "para fazer", tanto em casa quanto no
com colheres de café". São pessoas que, no instan- escritório, e se dedicam a elas à custa de sua pró-
te em que completam uma tarefa, ficam agitadas. pria vontade e desejos. Porém, como o tempo é
Embora a energia do complexo de Sísifo possa limitado, nem tudo acaba sendo completado.
ter repercussões positivas na carreira, os trabalha- Assim, como essas pessoas são obcecadas por fazer
dores com esse complexo correm o risco de perder tudo no trabalho, elas negligenciam suas vidas pes-
seu senso de equilíbrio e perspectiva ao buscarem soais; e à medida que suas vidas pessoais sofrem,
metas imediatas. Como a reflexão não faz parte de respondem a essa nova sensação de desconforto
seu arcabouço mental, não são capazes de desen- trabalhando ainda mais, para conseguir completar
volver e buscar uma orientação estratégica de longo as tarefas – e o círculo vicioso criado pelo complexo
prazo. Ficam tão focados nos resultados imediatos, de Sísifo se acelera. Esse comportamento que vicia,

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querendo fazer o tão inatingíveis e irreais, que nem mesmo o Super-
Homem poderia atingi-los. Os inevitáveis "fracas-
melhor, mas esperando sos" alimentam pensamentos e comportamentos de
fracassar, têm medo de autofrustração.
Embora sejam as responsáveis por sua própria
cometer erros miséria, raramente vêem isto dessa forma. Acreditam
que suas altas expectativas perfeccionistas são ape-
nas o espelho das expectativas que os outros têm
delas, percepção que aumenta a pressão. Elas assu-
e a tendência dessas pessoas se verem como sendo mem que, devido às suas deficiências percebidas
o que “fazem”, em vez de o que “são”, as leva ao (distorcidas) serão duramente julgadas e talvez até
próximo desafio, e ao seguinte, enquanto suas ridicularizadas. Com medo de ser rejeitadas e humi-
vidas passam ao largo. Em seu nível mais intenso, lhadas, se deixarem que os outros vejam suas
tal comportamento aumenta os níveis de estresse, falhas, elas se isolam por trás de sua fachada públi-
taxas de divórcio e mortes prematuras na aposen- ca, onde sua busca frenética pela perfeição as leva
tadoria. à solidão e à paralisia de ações.
Esse comportamento está, freqüentemente, As pessoas dominadas pelo complexo de Prêmio
enraizado na família de origem – que valorizava o Nobel se engajam num pensamento de “tudo-ou-
controle acima das outras virtudes. Crianças que nada”. Mesmo que já tenham alcançado uma série
tentam agradar pais que valorizam a disciplina, a de sucessos, acreditam que essas conquistas não
ordem, a confiabilidade, a lealdade, a integridade e valem nada se não forem perfeitas – e qual conquis-
a perseverança tendem a se tornar extremamente ta o é? Tendo perdido completamente a perspectiva,
autodisciplinadas, contidas e críticas de si mesmas. não conseguem ver que os pretos e brancos da vida
Crianças que se sentem valorizadas apenas por suas são realçados e enriquecidos pelos tons de cinza. E
conquistas nunca se sentirão apreciadas como seres aplicam a abordagem tudo-ou-nada não só para os
humanos; elas somente se dão valor quando suas outros como para si mesmas: enquanto vêem suas
conquistas são aprovadas pelas outras pessoas. próprias falhas e excluem suas virtudes, vêem nos
Dessa forma, sua meta de vida é tentar, cada vez outros apenas o bom e acreditam que eles alcan-
mais, agradar, primeiro aos pais e, mais tarde, às çam o sucesso com um mínimo de esforço, poucos
pessoas em posição de autoridade. Como seus pais erros e estresse, com máxima autoconfiança. Como
as julgavam duramente, quando eram jovens, não alcançaram uma posição de liderança, apesar de
conseguiam atingir os padrões estabelecidos por sua própria falta de méritos e dos méritos dos
eles, e, já adultas, essas pessoas são muito duras outros, acreditam ser impostoras. E têm medo de
no julgamento de si mesmas. que os outros, ao verem a disparidade de méritos,
sintam-se ofendidos por seus sucessos. Assim, a
O Complexo de Prêmio Nobel Certa ansiedade é pressão sobre elas vêm de todas as direções e não
típica em qualquer pessoa sujeita ao julgamento só encontram dificuldades em lidar com a crítica,
público e sob pressão para ter bom desempenho. As quando não atingem a perfeição, como também
que sofrem do complexo de Prêmio Nobel sentem têm medo da inveja dos outros, se forem bem-
mais do que uma ansiedade normal. Tendo sido sucedidas.
bem-sucedidas nos níveis mais baixos da organiza- A conseqüência dessa desordem psicológica é
ção, colocam tanta pressão sobre si mesmas, para que as pessoas com este complexo ficam paralisa-
atingir metas dignas do Prêmio Nobel, à medida das no ambiente de trabalho – analisam demais
que galgam degraus da carreira, que, quando alcan- suas decisões, adiam as coisas, mantêm suas
çam posições seniores, se tornam obcecadas com o opções abertas pelo maior tempo possível e hesitam
fracasso. Querendo fazer o melhor, mas esperando em sugerir ações. Quando estão em posição sênior
fracassar, têm medo de cometer erros e, mesmo que adotam uma abordagem de análise/paralisia no
consigam alcançar uma meta, duas, ou dez, aquilo trabalho, o que pode trazer conseqüências desastro-
nunca parece suficiente. Elas se impõem padrões sas para toda a organização. Além do mais, tal

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abordagem ajuda a causar exatamente o insucesso
pessoal que elas tanto temem.
Não importa o que façam, são pessoas conde-
nadas, já que o complexo de Prêmio Nobel coloca
em ação um ciclo vicioso. Primeiramente, elas se
impõem metas excessivamente ambiciosas. Em
segundo lugar, não conseguem atingir tais metas –
afinal, eram objetivos impossíveis desde o início!
Em terceiro lugar, percebem seus insucessos previ-
síveis como sérios revezes e, obcecadas com eles,
descobrem que cada vez mais diminuem sua produ-
tividade e eficácia. Em quarto lugar, se culpam por
sua ineficácia, o que contribui para problemas de
auto-estima, ansiedade, paralisia na decisão e, às
vezes, depressão. Como já observado anteriormen-
te, mesmo se elas, inicialmente, obtenham suces-
so, eventualmente vão fracassar, já que o próprio
sucesso as deixa ansiosas: temem que o monstro de
olhos verdes da inveja ataque.
Ao buscar as origens do complexo de Prêmio
Nobel, geralmente descobrimos que tais pessoas
têm conflitos de autoridade, independência e de
como ser capazes de "fazer as coisas do jeito que
querem", fazer melhor que um de seus pais ou que
os dois. Como foram criadas num lar onde os pais
(ou um dos dois) eram muito competitivos, as que
estão iniciando sua busca pelo Prêmio Nobel ten-
tam disputar com os pais, internalizando o compor-
tamento competitivo deles e seus altos padrões.
Mas essa busca torna-se um campo minado, pois ao
mesmo tempo em que tentam fazer as coisas
melhor que seus pais, elas temem que, se forem
bem-sucedidas demais, um ou os dois pais vão ficar
com inveja, e as rejeitarão ou humilharão. Para lidar
com a ambivalência do querer e também temer o
sucesso, costumam subestimar suas conquistas.
Entretanto, vestir o manto da invisibilidade só fun-
ciona até que elas se tornem tão bem-sucedidas
que suas conquistas sejam notadas.

O Complexo de Monte Cristo O complexo de


Monte Cristo é assim chamado devido ao livro de
Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo. O
romance acontece durante a era napoleônica e con-
ta a história de Edmond Dantès, um homem senten-
ciado a passar o resto de seus dias no Chateau d'If
(uma detestável ilha-prisão) por um crime que não
cometeu. Traído por três conhecidos invejosos, ele
é arrastado para a prisão às vésperas de seu

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casamento com a bela Mercedes. Na cadeia escola e depois nos ambientes corporativos e
encontra outro prisioneiro, o Abade Faria, que já políticos.
começou a cavar um túnel de fuga, e fica sabendo Exemplos bem conhecidos do complexo de
que o abade sabe de um tesouro escondido na Monte Cristo na arena política incluem Adolf Hitler,
ilha de Monte Cristo. Depois de escapar da forta- Slobodan Milosevic e Saddam Hussein.
leza, Dantès reaparece alguns anos mais tarde,
tendo se reinventado como o Conde de Monte O Complexo de "Ogro" Há dois significados para a
Cristo e com um plano complexo para se vingar de palavra "ogro", compreendidos neste complexo. No
seus ex-inimigos. folclore escandinavo, os ogros são criaturas míticas
As pessoas que escolhem lidar com as mágoas que moram em cavernas e morros. Variando de
da infância através da vingança e do rancor – é uma gigantes malignos a criaturas semelhantes aos
escolha, embora inconsciente – sofrem deste com- humanos, eles vivem uma vida selvagem e são,
plexo. Embora todos nós ocasionalmente sintamos freqüentemente, caracterizados como criaturas
um desejo de desforra, para as pessoas que sofrem feias e antipáticas que buscam causar confusão.
do complexo de Monte Cristo a vingança é mais que Por outro lado, os ogros da Internet de hoje "bus-
uma tentação passageira; é um modo de vida. Ir à cam" suas presas com o chamado trolling – ou seja,
forra é tudo o que importa. Isso se torna mais oferecendo uma isca. Esses ogros freqüentemente
importante que prêmios como riqueza e poder. escrevem argumentos falsos ou ataques pessoais
As pessoas dominadas pelo complexo de em fóruns de discussão, simplesmente para irritar
Monte Cristo têm grande necessidade de dominar alguém ou atrapalhar uma conversa. Na verdade,
os outros. Agressivas, facilmente irritadas e às querem "provocar" outros usuários a responderem.
vezes violentas, são mestres na retaliação vingativa Eles não têm interesse em dar uma verdadeira con-
quando alguém se opõe a elas, e acreditam ser tribuição ou aprender; querem apenas semear a
imunes às conseqüências dessas ações. Como têm discórdia.
memória de elefante, raramente se esquecem das Os dois tipos de ogro se mesclam no ambiente
mágoas e insultos que acreditam ter recebido. Na de trabalho na forma do complexo de Ogro. Pessoas
verdade, essas mágoas inflamam como uma doen- que sofrem desse complexo são encontradas em
ça infecciosa da mente. Como o Conde de Monte todas as organizações. Você pode reconhecê-las
Cristo, são indivíduos que vivem para o "dia da pela visão azeda e negativa que têm da vida.
verdade", o momento em que vão provar sua supe- Sempre choramingando e reclamando, esperam
rioridade, envergonhar seus inimigos e mostrar ao pelo pior mesmo em situações que estão indo bem.
mundo como foram injustiçados. E seus inimigos São pessoas com um mau humor irritadiço e pessi-
são muitos: acreditando que as ameaças estão por mismo indócil, sempre procurando defeitos.
toda parte neste mundo feroz, vêem a vida como Resistem à autoridade e reagem aos pedidos feitos
uma batalha e rejeitam a sedução da moralidade pelos superiores com adiamentos, esquecimento,
tradicional ou de seus próprios sentimentos mais ineficiência intencional e desculpas esfarrapadas.
delicados. Tais habilidades passivo-agressivas as tornam mes-
Embora possa ser desencadeado por importan- tras da sabotagem organizacional. Invejosas e res-
tes eventos da vida (como o foi para o Conde), a sentidas com as autoridades e outros que conside-
origem desse complexo, como a maioria dos com- ram mais afortunados, elas se vêem como vítimas
plexos, pode geralmente ser encontradas na infân- que nunca tiveram uma grande oportunidade. Como
cia. As crianças aprendem a vingança dentro do estão sempre ocupadas reclamando, são mal com-
ambiente familiar, quando são expostas ao antago- preendidas, não apreciadas e vitimizadas, e têm
nismo, à vingança e ao assédio dos pais. Crianças pouco tempo ou energia para se dedicar à ação
que crescem nesse ambiente precisam sempre construtiva.
estar em guarda. Elas aprendem logo sobre a sobre- Quem sofre do complexo de Ogro possui um
vivência do mais capaz. Com o tempo, por uma repertório de reações defensivas. Tem grande talen-
questão de autodefesa, começam a se modelar por to para redirecionar sua raiva dos alvos mais pode-
seus pais agressivos, primeiramente no pátio da rosos para os mais seguros – pessoas com menos

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probabilidade de rejeitá-las ou revidar contra elas. quase todos nós passamos
Além disso, incapazes de aceitar a culpa por suas
próprias deficiências, externalizam qualquer coisa por episódios de tédio,
que as perturbe. Embora tenham tendência a serem não importa quem somos
bastante articuladas na descrição de seu desconfor-
to, raramente exploram o que está errado ou bus- ou o que fazemos
cam uma solução para suas dificuldades.
Infelizmente, como acreditam que são mal
compreendidas ou não apreciadas, geralmente con-
firmam essa visão nas respostas negativas que arrependeu e teve a redenção.
recebem dos outros, irritados por sua atitude derro- As várias versões dessa lenda mostram clara-
tista. Assim, ficam presas a uma profecia auto-rea- mente que Fausto estava entediado. Ele havia visto
lizada. Devido ao seu comportamento antipático – e e aprendido de tudo, e nada que sabia ou havia
para se protegerem – as outras pessoas evitam ou experimentado conseguia tirá-lo do tédio. Precisava
minimizam o contato com elas. O resultado é que de novos desafios que o fizessem sentir-se vivo e
os que agem como ogros tornam-se socialmente novas maneiras de se divertir. Foi uma felicidade
isolados. encontrar uma pessoa como Mefistófeles, disposta
A origem desse tipo de comportamento pode a ajudá-lo, embora o preço fosse alto (para Fausto,
ser encontrada nas infindáveis brigas de poder dos não era alto demais). No entanto, aparentemente
filhos com os pais. Como a comparativa fraqueza ele acreditava que era melhor experimentar a vida
dos filhos torna impossível que eles vençam nestas ao máximo do que somente deixá-la passar.
situações, eles adotam a técnica da resistência Fausto não está sozinho em sua tentativa de
passiva, de salvar as aparências, como sua tática superar o tédio. Muitas pessoas – e, mais dirigido
preferida. O controle excessivo por parte dos pais, a aos nossos propósitos aqui, muitos executivos –
negligência ou o favorecimento de uma criança em sofrem de problema semelhante. Quase todos nós
detrimento da outra, são coisas que contribuem passamos por episódios de tédio, não importa quem
para o desenvolvimento de uma estratégia de vida somos ou o que fazemos. Contrariando a crença
de resistência passiva, protesto silencioso e obedi- popular, o tédio não resulta de não ter nada para
ência de má vontade. É mais provável encontrarmos fazer: ao invés disso, como na lenda de Fausto, o
ogros em ambientes de trabalho onde as conseqüên- tédio se instala quando nenhuma das coisas que
cias do comportamento não-produtivo são relativa- podemos fazer nos interessa. Na verdade, é um
mente pequenas – organizações que não são impul- estado de espírito subjetivo. O que é entediante
sionadas pelo desempenho. para uma pessoa pode ser extremamente excitante
para outra.
O Complexo de Fausto Uma das lendas mais durá- No ambiente de trabalho, todos nós – ocasio-
veis do folclore ocidental é a história de Fausto, o nalmente ou freqüentemente – enfrentamos o
acadêmico, astrólogo e mágico alemão que vendeu desafio de lidar com tarefas ou situações repetiti-
sua alma ao demônio em troca de mais conheci- vas e sem estímulo externo. Podemos ficar ente-
mento e poder. Embora fosse respeitado pelos estu- diados com tarefas específicas, pessoas específi-
dantes que vinham de longe para aprender com ele, cas, ou um trabalho por inteiro. Podemos até estar
e reverenciado pelas pessoas do lugarejo de cujas entediados conosco, reclamando que não há nada
doenças cuidava, Fausto tinha uma forte sensação que nos interesse. Mas, quando o tédio torna-se
de futilidade. Foi então que chamou o demônio uma condição crônica e debilitante, nós a chama-
(Mefistófeles), que lhe ofereceu juventude eterna, mos de complexo de Fausto. Como Fausto, pessoas
riquezas, conhecimento e poder mágico em troca de assim têm grande dificuldade em se manter inte-
sua alma. Fizeram um pacto e Fausto entregou sua ressadas ou entretidas. Após breves períodos de
alma. Algumas versões da história dizem que ele excitação por encontrarem algo novo, todas as
teve um fim trágico quando o demônio voltou para experiências acabam parecendo chatas, repetitivas
buscar sua alma, enquanto outras, dizem que ele se ou entediantes.

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podemos observar criança experimenta o jogo livre entre fantasia e
realidade – os pais privam a criança dos recursos
algumas características internos necessários para a estimulação. Sem con-
comuns a todos seguir satisfazer sua vida interna de fantasias, a
criança precisa se cercar de outras pessoas para ter
os complexos o estímulo adequado, um padrão para a luta contra
o tédio que dura a vida inteira.

Lidando com Complexos Afinal, como as pessoas


Para nos mantermos alertas, todos nós preci- podem descobrir se têm um desses complexos?
samos de uma constante estimulação dos sentidos. Quais são alguns dos indicadores? E quando identi-
Quando expostos a situações entediantes, a maio- ficam nelas um complexo, como podem lidar com
ria de nós lida com isso através da fantasia e dos ele?
jogos. Do nosso mundo particular, interno, criamos Embora haja especificidades em cada comple-
fantasias sobre o amor, o sexo, o sucesso, a felici- xo, podemos observar algumas características
dade, a riqueza material e a vingança. À medida comuns a todos os complexos. Uma forma de reco-
que lidamos com uma tarefa entediante, essas nhecer se as pessoas estão dominadas por um
fantasias nos estimulam, junto com imagens de complexo é sua absoluta determinação de que as
eventos passados e a antecipação de eventos coisas precisam ser feitas de certa maneira. Guiadas
futuros. Entretanto, as pessoas com complexo de por uma força invisível e inconsciente, elas tentam
Fausto parecem não ter esse rico caleidoscópio de impor aos outros sua própria maneira de fazer as
imagens internas. Em vez de auto-suficientes, elas coisas. Quando questionadas, não conseguem dar
precisam do estímulo contínuo dos outros para se uma explicação racional; afirmam, dogmaticamen-
sentirem vivas. Suas vidas de fantasia são atrofia- te, que tem de ser assim. Sua perspectiva está,
das, ao que parece pela falta de experiências emo- simplesmente, distorcida. Algumas pessoas vêem
cionais internas. Como nunca foram capazes de qualquer situação através de lentes cor-de-rosa,
armazenar recursos adequados para lidar com situ- apesar dos dados negativos (e nem tentam justificar
ações repetitivas ou entediantes, elas sentem o aqueles dados). Por outro lado, há os que prevêem
tédio como um câncer em crescimento que mina a um cenário de fim de mundo mesmo em face de
qualidade de suas vidas. evidências otimistas.
As organizações podem ser afetadas adversa- Outra posição que indica estarmos lidando com
mente por líderes que sofrem do complexo de um complexo é a reação emocional excessiva das
Fausto. Tais líderes freqüentemente contribuem pessoas a certas situações. Como os complexos
para uma cultura organizacional onde faltam vitali- estão profundamente enraizados na infância, even-
dade e criatividade. Alternativamente, em alguns tos no presente podem disparar lembranças de
casos, eles buscam fortes sensações para aliviar seu importantes incidentes do período, fazendo com
sentimento de tédio, o que cria um ambiente exter- que a paixão daqueles eventos antigos flua para o
no variado e estimulante. Isso não é mau por si só, presente. Alguém com complexo de Monte Cristo,
mas quando a busca de sensações leva ao uso de por exemplo, ao ouvir uma pequena crítica por par-
drogas, à jogatina, à falta de ética e outras tentati- te de um colega sobre uma questão técnica, pode
vas de vida no limite, isso certamente terá um perceber ali não uma sugestão de melhoria, mas um
efeito desastroso na organização. ataque contra ele próprio – e responder em conse-
A origem do complexo de Fausto pode freqüen- qüência. Essa reação apaixonada surpreende os
temente ser encontrada num padrão de interação outros, já que eles não compartilham da mesma
pais-filhos onde os pais tomam todas as iniciativas história e vêem a reação como inadequada. Além
para estimular a criança; da criança, como recipien- disso, pessoas dominadas por um complexo são,
te passiva dos esforços dos pais, não se espera que tipicamente, muito insistentes ou apaixonadas por
demonstre iniciativa. Infelizmente, ao monopolizar certas questões ou projetos, reação entusiasmada
o assim chamado espaço transicional – onde a que vai muito além dos méritos do caso. Elas não

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permitem a troca que é normal em discussões sobre Esse tipo de compreensão é crítica em qual-
essas questões; devido ao seu envolvimento emo- quer processo de mudança pessoal, mas apenas um
cional, não estão abertas à razão. início. Como diz o ditado: "se não doer, não faz
A boa notícia é que se um complexo estiver bem". A mudança exige tempo e esforço. Sendo
atrapalhando a eficácia da ação, distorcendo a per- humanos, resistimos a algumas das observações
cepção, complicando os relacionamentos e interfe- feitas por quem está nos ajudando a mudar – afinal,
rindo em nossas metas – ou seja, causando dor e essas pessoas estão questionando nossa maneira
desconforto desnecessários – nós podemos mudar. habitual de ser e relacionar-nos – e precisamos
Podemos aprender significativamente a diminuir a superar aquela resistência. É apenas quando conse-
influência que um complexo exerce sobre nossas guimos compreender a disfuncionalidade do nosso
vidas. Não conseguiremos eliminá-lo (os complexos complexo que conseguimos "superá-lo". Se nossas
são profundos demais para isso), mas podemos resistências forem especialmente fortes, podemos
recuperar o poder de escolha e evitar que forças precisar de um tranco emocional para colocar em
inconscientes controlem inteiramente nossas movimento este processo de reflexão. À medida que
vidas. trabalhamos nossa resistência e tornamos o incons-
A primeira coisa que temos a fazer para lidar ciente, consciente, assumimos novamente o contro-
com um complexo é identificar sua existência. Mas, le da tomada de decisão. Ao vivenciarmos nossos
isso não é fácil. Da mesma forma que os peixes não complexos, conscientemente, podemos trazer de
consideram especial o ambiente molhado que os volta à consciência as experiências sobre as quais
envolve, pois a água é tudo o que conhecem, nem os complexos foram construídos, lidar com elas,
sempre percebemos uma confusão emocional mes- reflexiva e racionalmente, e assim reduzir os seus
mo estando bem no meio dela. Para alcançarmos o efeitos sobre nós.
nível de consciência, geralmente precisamos da No entanto, não podemos esperar por milagres.
ajuda de uma ou mais pessoas – talvez um amigo, Os complexos são obstinados demais para conse-
um membro da família, um terapeuta, um psicana- guirmos integrá-los completamente em nossa cons-
lista ou um coach de liderança. Essas pessoas ciência. Uma parte de nós sempre viverá o complexo,
podem nos mostrar a natureza impulsiva de nosso pois, após muitos anos ele já faz parte de nossa
comportamento e ver onde e como abandonamos a identidade. Essa continuidade nos manterá enraiza-
razão. Se dermos atenção a essas observações, dos, mas podemos mudar nossas percepções crian-
podemos iniciar um processo de auto-exploração do novas ramificações. Mas, à medida que esses
que nos ajude a ter mais consciência das forças ramos crescem e desabrocham, temos uma sensação
inconscientes que dominam o nosso ser. Um pro- de tristeza, pois a madeira podre que deixamos para
cesso que melhora nossa inteligência emocional, trás é parte de nós mesmos.
trazendo mais discernimento às nossas motivações
Manfred kets de Vries é professor titular da Cátedra Raoul de Vitry
e nos ajudando a compreender o que o nosso com- d'Avancourt de Desenvolvimento de Lideranças, Professor Clínico de
plexo específico está tentando fazer. Desenvolvimento de Lideranças e diretor do Centro de Liderança Global
INSEAD (IGLC) no INSEAD – Boulevard de Constance, 77305 Fontainebleau
Cedex, França.
Tradução: Carlos Alberto B. da Silva

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