Harold Segura C.

Advento
esperança que transforma
 Harold Segura C. é colombiano,
pastor batista, teólogo e
administrador de empresas.
É diretor de Relações Eclesiásticas
de Visão Mundial América Latina
e Caribe. Ex-reitor do Seminário
Teológico Batista Internacional
de Cali (Colômbia), foi um dos
oito observadores não católicos
na V Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano e
Caribenho (CELAM). É membro
da Fraternidade Teológica Latino-
Americana (FTL).
Outros livros do autor
No caminho com Jesus Para Falar de Criança
Meditações para um Teologia, Bíblia e pastoral
discipulado integral para a infância
Harold Segura Harold Segura
e Welinton Pereira (editores)
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CONHEÇA E NOS ACOMPANHE
A Novos Diálogos nasceu do desejo
de criar um espaço permanente
de reflexão e conteúdo sobre
justiça, espiritualidade e cultura
que conecte cristãos e cristãs
comprometidas com tornar real o
Reino de Deus para as pessoas
e comunidades do Brasil e da
América Latina.
Nos inspiramos na esperança
ativa e na postura dialógica de
incontáveis movimentos cristãos
que marcaram a história por sua
capacidade de buscar respostas aos
dilemas e desafios contemporâneos
a partir de uma postura humilde e
proativa de escuta e participação.
APRESENTAÇÃO
São numerosas e diversas as comunidades de fé que celebram o tempo do Advento e
acolhem em sua liturgia dominical e em suas disciplinas espirituais diárias o que se co-
nhece como o Ano Litúrgico: presbiterianas, anglicanas, metodistas, católicas, luteranas,
reformadas, algumas batistas e outras. Por certo, com o Advento se inicia o Ano litúrgico.
Mas, o que é o Advento? A palavra provém do latim e significa “vinda”. A expres-
são completa é Adventus Redemptoris, que significa a “vinda do Redentor”. É um tem-
po de preparação para a celebração do Natal.
O Advento tem uma história de muitos séculos. Segundo alguns historiadores sua
prática começou entre os séculos quarto e quinto; pertence à tradição do cristianismo
histórico. Os cristãos daqueles tempos se preparavam com antecipação para a celebra-
ção do Natal, que era e continua a ser uma das festas mais valorizadas do calendário
cristão. Eles se preparavam orando, lendo as Escrituras, participando de celebrações da
igreja, jejuando e atendendo com espírito de solidariedade aos pobres e necessitados.
Preparei estas 24 meditações bíblicas para esta celebração que é, acima de tudo,
uma celebração da nossa esperança cristã. É por isso que as intitulei Advento: esperan-
ça que transforma. Escrevi com sentido interconfessional e ecumênico. O nascimento
do Redentor também nos une!
Estas meditações se iniciam no dia 1º. de dezembro e terminam no dia 24. Uma
para cada dia e se pode repetir a cada ano.
Que o Senhor da manjedoura nos ilumine com seu Espírito de ternura para voltar-
mos a pensar que com seu nascimento renasce nossa esperança.

Seja bem-vindo o Natal!

Pastor Harold Segura, San José, Costa Rica, Advento de 2014.

DIA 1 Viver a Espera
Tenham cuidado, para não sobrecarregar o coração de vocês de libertinagem, bebedeira e
ansiedades da vida... Estejam sempre atentos e orem para que vocês possam escapar de tudo
o que está para acontecer, e estar em pé diante do Filho do homem. Lucas 21.34,36

As primeiras comunidades cristãs viveram animadas
pela esperança do retorno iminente de Jesus. Esta espe-
rança caracterizou sua fé e definiu seu estilo de vida.
Seguir a Jesus significa viver a espera, significa viver
sob a certeza de que existe um amanhã melhor. Nem as
alegrias fugazes deste mundo, nem as tristezas duradou-
ras têm a última palavra. Nem a prosperidade de poucos,
nem a miséria de muitos se manterão assim para sempre.
Crer em Jesus é crer no triunfo da justiça sobre a injustiça,
da paz sobre as guerras, do amor sobre o ódio.
Mas a esperança cristã não é como aquelas que nos
convidam a olhar o futuro sem nada fazer para mudar o
presente; é, ao contrário, uma esperança que transforma
nossa maneira de ser e de estar neste mundo. Por crer
que o amanhã será melhor, já não suportamos qualquer
presente e lutamos para transformá-lo.
“Tenham cuidado” e “estejam sempre atentos e
orem” são as advertências para os que vivem com es-
perança neste mundo. Esta é uma esperança que molda
nossa espiritualidade e nossa ética.

Para continuar refletindo

…possuir uma esperança que alarga o coração significa ampliar o espaço da liberdade, olhar o caminho que há
adiante e captar o perfume do ar matutino que amanhece depois de um dia cinza. Jürgen Moltmann

ORAÇÃO Pelas igrejas (católica, evangélicas e outras cristãs) na América Latina e Caribe, para que
o Espírito reavive sua responsabilidade social e as façam portadoras de esperança.
DIA 2 Os Presunçosos Fiduciários da Fé
“Senhor, não mereço receber-te debaixo do meu teto. Mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado. Pois eu
também sou homem sujeito à autoridade e com soldados sob o meu comando. Digo a um: Vá, e ele vai; e a outro: Venha,
e ele vem. Digo a meu servo: Faça isto, e ele faz”.
Ao ouvir isso, Jesus admirou-se e disse aos que o seguiam: “Digo-lhes a verdade: Não encontrei em Israel ninguém
com tamanha fé”. Mateus 8.8-10

Neste episódio, a pessoa que Jesus aponta como exemplo de
fé é alguém que se encontra fora do círculo da religião oficial. Este
homem nem é mestre da lei, nem funcionário da sinagoga; é um
centurião do exército romano. Em outras palavras, é um militar que
vem a Jesus interessado na saúde de um de seus subalternos. Vai
saber o que pensaram os discípulos quando viram ele se achegar!
A linguagem do centurião é pragmática; seu conceito de au-
toridade é própria daqueles que exercem as funções militares:
ordens breves e obediências incondicionais. Assim, interpretou a
fé em Jesus sob a mentalidade própria de seu ofício. E pela simpli-
cidade e sinceridade (da qual derivou sua teologia) recebeu o que
pediu e, além disso, foi elogiado por crer como poucos.
Já nos acostumamos a ver Jesus usar como exemplo os que
menos esperamos e a julgar e questionar os supostos fiduciários
da fé. Para ele o mais importante é a simplicidade do coração, a
solidariedade com o necessitado (o centurião intercede pelo seu
servo paralítico) e a humildade de quem o busca pedindo ajuda.
Para ele o que fazemos vem primeiro, sem se importar quem o
faça; o que cremos em sua forma dogmática ou doutrinária conta
depois. Que desconcertante para os religiosos de todas as épocas!

Para continuar refletindo

O milagre não foi que Deus tenha dividido as águas do Mar Vermelho, mas que, uma vez divididas, o povo tenha sido fiel o
bastante para estar disposto a caminhar confiantemente entre as muralhas de água. Essa é também nossa tarefa. Joan Chittister

ORAÇÃO Para que o Senhor renove a fé dos que se chamam cristãos e cristãs a fim de que essa
fé tenha uma repercussão prática em nossa vida diária.
DIA 3 A Perfeita e Desconcertante Vontade de Deus
Naquela hora Jesus, exultando no Espírito Santo, disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da
terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai,
pois assim foi do teu agrado”. Lucas 10.21

O que alegra Jesus? Quais são as coisas que lhe fazem
rir e louvar ao Pai? Uma delas encontramos neste texto bíbli-
co. Ele se alegra com a forma desconcertante com que age
o Pai, sobretudo ao fazer dos pequenos (“os que são como
crianças”) os grandes no seu Reino... e descobrir que os
grandes são na realidade muito pequenos.
Jesus não apenas aceita que Deus aja assim, mas tam-
bém compartilha essa perspectiva que o enche de alegria.
Está de acordo a que se dê tratamento preferencial (VIP?)
como agentes de seus projetos salvíficos aos que quase
nunca tiveram oportunidades neste mundo.
O Mestre agiu em consonância com esta perspectiva
do Pai: aproximou-se das crianças, dialogou com os peca-
dores, curou os enfermos, valorizou aos maltratados, elevou
o status das mulheres e se tornou amigo de publicanos des-
prezados. Tudo isto o fez com profunda alegria.
Fazer a vontade de Deus hoje também tem a ver com
aquilo que produz nossa alegria... meta difícil de alcançar
em uma época cuja alegria depende das coisas que pode-
mos comprar (consumismo) ou das aparências sociais que
conseguimos projetar (arrivismo).
Somos convidados como cristãos e cristãs a agir como
Jesus agiu (1Jo 2.6). Nesse caminho de vida encontramos
os motivos da verdadeira alegria.

Para continuar refletindo

Tenho a alegria de que a vida é finalmente mais forte que a morte; que como ninguém pode deter a vinda da
primavera, ninguém pode deter a justiça dos pobres, o triunfo dos melhores desejos do ser humano. Leonardo Boff

ORAÇÃO Para que o Senhor nos ajude a discernir sua vontade e nos encha de sua graça para
cumpri-la com alegria.
DIA 4 Pregadores de Outro Estilo
Jesus chamou os seus discípulos e disse: “Tenho compaixão desta multidão; já faz três dias que
eles estão comigo e nada têm para comer. Não quero mandá-los embora com fome, porque
podem desfalecer no caminho”. Os seus discípulos responderam: “Onde poderíamos encontrar,
neste lugar deserto, pão suficiente para alimentar tanta gente?”. Mateus 15.32, 33
Eis aqui um pregador diferente! Interessa-lhe o bem-estar palavra de salvação), mas também tem igual interesse nas
espiritual de sua audiência mas nem por isso deixa de atender necessidades dos que escutam o que diz. Por isso não quer
suas necessidades físicas e materiais, como o cansaço que os despedi-los com fome.
agonia depois de uma extenuante jornada ou a fome que os Jesus transmitiu imediatamente a preocupação aos
assedia. Não quer despedi-los como o fizeram outros mestres seus discípulos. Estes lhe explicaram que era impossível
da fé: que se vão com fome, mesmo que desmaiem, pois se conseguir pão para tanta gente em um lugar despovoado.
foram cheios de palavras que satisfazem a alma. Não havia dinheiro, nem onde conseguir pão.
A homilética de Jesus (a arte de sua pregação) não se Ao final, como sabemos, o problema se resolveu com
concentra exclusivamente nas filigranas da retórica discur- um milagre. Houve pão para todos os ouvintes e sobraram
siva. Ele fala bem e chama atenção por sua pedagogia refi- vários cestos. O objetivo da pregação foi alcançado: o reino
nada, mas falar bem é também agir em conformidade com de Deus foi anunciado com palavras e com obras; o amor de
o que se prega. Ele tem interesse genuíno no que diz (é Deus foi falado e também demonstrado.

Para continuar refletindo

O amor não pode permanecer em si mesmo. Não tem sentido. O amor tem que ser posto em ação. Essa atividade
nos levará ao serviço. Teresa de Calcutá

ORAÇÃO
Para que a proclamação do evangelho por parte de nossas igrejas não seja um discurso
apenas de palavras, mas também um testemunho de vida.
DIA 5 Uma Fé Que Faz Sentido
“Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que
construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e
deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha”. Mateus 7.24, 25

A fé é uma maneira de construir a vida, não é um credo
para enfeitar a existência com uma discreta pitada de reli-
gião. A fé que faz sentido é a que dá sentido à existência.
Consequentemente, Jesus apresenta sua proposta es-
piritual em palavras relacionadas com a construção de uma
casa levantada sobre firmes fundamentos e que se mantém
de pé mesmo quando caem as chuvas, transbordam os rios
e sopram os ventos.
O que põe a fé à prova não são as perguntas do cate-
cismo, mas as questões práticas que a vida diária apresenta.
Entre as alegrias e tristezas, as gratificações e as frustrações,
vamos demonstrando com nossas atitudes a veracidade de
nossas crenças espirituais. E o fundamento é um: Jesus e
suas palavras. Não existe cimento mais seguro!
Ouvir as palavras do Mestre e praticá-las resume
a essência de nossa fé (7.24). Seguir a Jesus é ser um
ouvinte da palavra (Karl Rahner) ao mesmo tempo que
praticante dela. Ouvir e fazer, ouvir o que ele nos diz por
meio do Espírito e traduzir no cotidiano o significado des-
sas palavras eternas para nossa condição temporal. Assim
se distinguem os discípulos do Mestre, pelo fundamento
de sua vida.

Para continuar refletindo

O distintivo da ação cristã é o seguimento de Cristo. Cristo Jesus é a encarnação pessoal, viva e determinante
de sua causa: a encarnação de um novo estilo de vida. Hans Küng

ORAÇÃO Pela renovação da fé cristã em nosso mundo, para que seja uma fé que oriente o sentido de
vida e a esperança de que necessitamos.
DIA 6 Conforme a Nossa Fé
Entrando ele em casa, os cegos se aproximaram, e ele lhes perguntou: “Vocês creem que eu sou
capaz de fazer isso?”. Eles responderam: “Sim, Senhor!”. E ele, tocando nos olhos deles, disse:
“Que lhes seja feito segundo a fé que vocês têm!” Mateus 9.28, 29

Jesus reconhece a necessidade urgente dos seus interlo-
cutores e sabe que tem poder para curá-los; mas antes do mila-
gre estabelece um diálogo com eles sobre sua fé. A pergunta foi
direta e a resposta breve e imediata. Para eles não havia tempo
para discussões extensas que colocassem em risco sua possi-
bilidade de ver. Afirmaram que criam que Jesus podia curá-los.
Mas, o que significa que Jesus agiu conforme a fé deles?
Significa, por acaso, que se não tivessem essa fé Jesus não
teria operado o milagre? Não o sabemos. Mas o certo é que
algumas coisas não acontecem se não cremos, se não for me-
diada por uma fé autêntica e sincera.
A fé, quando se vincula à vida, à liberdade e à esperança,
é uma força transformadora que nos mobiliza e nos converte em
agentes de transformação; é uma convicção vital que produz em
nós desejo de viver e de lutar para que a vida seja plena, para
que a luz de Jesus vença a escuridão de nossas cegueiras.
Uma fé assim inspira a esperança, como ocorreu neste
exemplo. Eles entraram na casa onde Jesus se encontrava, se
aproximaram, responderam à sua pergunta e receberam o que
esperavam. Sua fé não os paralisou (como costuma acontecer
às vezes), impulsionou-os a agir e ir em busca do Mestre.
Quantas coisas boas poderiam acontecer neste mundo se
tão somente tivéssemos a fé que nos mobiliza! Muitas coisas
aconteceriam conforme esta fé.

Para continuar refletindo

Ah, perdoa-me, Jesus, se fantasio ao expor meus desejos, minhas esperanças, que raiam o infinito! Perdoa-me... e
cura minha alma, dando-a tudo o que ela espera! Teresa de Lisieux

ORAÇÃO Pelas igrejas e organismos cristãos que trabalham em programas de mobilização da juven-
tude visando à transformação de nossas sociedades.
DIA 7 Deus Se Move na Simplicidade
No sexto mês Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, cidade da Galiléia, a uma virgem prometida
em casamento a certo homem chamado José, descendente de Davi. O nome da virgem era
Maria. Lucas 1.26, 27

A cena transcorre na maior simplicidade possível. Nada
extraordinário à simples e comum aparência humana: uma
cidade qualquer da velha Galiléia, uma mulher jovem (uma
das tantas que viviam em Nazaré) e um noivado entre a jovem
e um dos carpinteiros da cidade. Com este pano de fundo
ocorre o extraordinário (o que está para além do cotidiano):
um anjo anuncia o nascimento do Filho do Altíssimo (1.32).
Certamente que todas as cenas do Natal são protagoniza-
das por gente comum, ocorrem em lugares periféricos sem res-
sonância cultural ou política destacada. O Filho do Homem não
nasce nos palácios do rei, nem nos arredores do grande templo.
O nascimento de Jesus não é respaldado por uma cam-
panha publicitária sofisticada, nem por técnica alguma des-
sas que abundam hoje nos meios religiosos. Nem vestidos
chamativos, ou lugares reconhecidos, ou gente famosa. Deus
decidiu assim tornar-se um ser humano e assim desenvolveu
seu plano de redenção.
Deus se move na simplicidade e converte a gente sim-
ples em instrumento do seu Reino — lição para se levar em
conta no meio de nossos afãs de comércio eclesiástico.

Para continuar refletindo

O menino de Belém, o jovem desconhecido de Nazaré, o pregador rechaçado, o homem nu na cruz, ele pede minha
atenção completa. A tarefa de nossa salvação se leva a cabo no meio de um mundo que continua gritando e nos
oprimindo com suas demandas e promessas. Mas a promessa se esconde na raiz que sairá do tronco, uma raiz a
qual ninguém presta atenção. Henri Nouwen

ORAÇÃO Para que o Espírito nos faça pessoas agradecidas e assim possamos descobrir os sinais da
graça de Deus nos acontecimentos mais cotidianos e simples desta vida.
DIA 8 Na Aridez do Nosso Deserto
No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador
da Judéia; Herodes, tetrarca da Galiléia; seu irmão Filipe, tetrarca da Ituréia e Traconites; e
Lisânias, tetrarca de Abilene; Anás e Caifás exerciam o sumo sacerdócio. Foi nesse ano que veio
a palavra do Senhor a João, filho de Zacarias, no deserto. Lucas 3.1, 2

A localização histórica do texto é exata e não dá lugar a
dúvidas: oferece-se o nome do imperador, do governador da
província, do tetrarca e são mostradas as relações familiares
entre eles. Além disso, oferece-se informação sobre a hierar-
quia religiosa do momento, igualmente com nomes próprios.
Nada desta história tão divina acontece fora desta ter-
ra. A chamada história sagrada não se desenvolve em uma
realidade distinta da nossa. Para que Deus manifeste seu
amor, não necessita de um cenário celestial desprovido dos
truques políticos e das simulações dos religiosos. Não, a pa-
lavra de Deus chega — como chegou a João (3.2), a Tibério,
Herodes, Anás e Caifás — para oferecer alternativas de vida
que deem esperança.
O evangelho de Jesus, seguindo a tradição dos pro-
fetas do Antigo Testamento, não nos convida a escapar da
realidade terrena, mas a escutar nela a voz de Deus e a ser
agentes de transformação. João, filho de Zacarias, recebeu
o encargo de ser uma “voz do que clama no deserto” (3.4).
Esse é também nosso encargo: gritar que há água viva (Jo
7.38) neste deserto árido de nossa época.

Para continuar refletindo

Faz, Deus meu, com que eu possa ser no mundo o sacramento tangível de teu amor: ser teus braços, que atraem e
convertem em amor toda a solidão do mundo. Chiara Lubich
Mais de 167 milhões de pessoas vivem em situações de pobreza na América Latina. Oremos
ORAÇÃO para que o cumprimento da missão cristã nestas terras contribua para criar condições de
maior justiça e equidade.
DIA 9 Criatividade Solidária
Vieram alguns homens trazendo um paralítico numa maca e tentaram fazê-lo entrar na casa, para colocá-
lo diante de Jesus. 19 Não conseguindo fazer isso, por causa da multidão, subiram ao terraço e o baixaram
em sua maca, através de uma abertura, até o meio da multidão, bem em frente de Jesus. Lucas 5.18, 19
A necessidade é a mãe da inventividade, diz o velho provérbio. A solidariedade não é um patrimônio exclusivo dos ricos (gran-
E inventividade é, certamente, o que sobra nestas terras de tantas des filantropos). É um valor humano que nos mobiliza a agir em
necessidades. As pessoas que vivem em condições de pobreza in- favor de alguém em particular ou de um grupo de pessoas necessi-
ventam mil maneiras de sobreviver com míseros recursos: as mães, tadas. E tanto podem fazê-lo os ricos (e devem fazê-lo) como todos
chefes de família, criam soluções extraordinárias para sustentar os demais, não importa sua condição social ou econômica.
seus filhos e filhas... e a lista continua, e é extensa, de originalida- As grandes transformações humanas que favorecem o desen-
des sobre-humanas. volvimento dos povos vêm das mãos dos que, com criatividade e
No texto de hoje nos encontramos frente a um grupo de ho- decisão, agem para beneficiar o próximo, como aquele grupo que
mens que usou sua inventividade para aproximar seu amigo para- sobe “ao terraço e através de uma abertura” muda a história de seu
lítico de Jesus, a fonte da vida. É a criatividade pela solidariedade, amigo.
que tanta falta nos faz.

Para continuar refletindo ORAÇÃO A cada ano, ao redor de todo o

Vamos andar, vamos andar,
Filhos com filhos do céu, busquemos juntos a paz!
As igrejas são sepulcros se não proclamam a verdade
Se não fecham as feridas e se não ensinam a andar.
Federico Pagura
mundo, morrem mais de sete milhões de meninos e me-
ninas menores de cinco anos. Isso equivale à morte de no-
vecentas crianças por hora. Peçamos a Deus que nos dê
criatividade para reverter a história de morte dos meninos
e meninas dessa idade que vivem nos países mais pobres.
Oremos para que renasça em todos nós a solidariedade.
DIA 10 Deus Compassivo e de Rosto Sorridente
“O que acham vocês? Se alguém possui cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixará as noventa e nove nos
montes, indo procurar a que se perdeu? E se conseguir encontrá-la, garanto-lhes que ele ficará mais contente
com aquela ovelha do que com as noventa e nove que não se perderam. Da mesma forma, o Pai de vocês, que
está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca”. Mateus 18.12-14
Deus, o expert em buscar o que se havia perdido! Os evan- Estes dois atributos de Deus — seu empenho na busca e sua
gelhos assim o demonstram: é o pai que busca seu filho pródigo, alegria quando encontra o perdido — devem ser parte da nova
é a viúva que busca a moeda perdida e o bom pastor que vai educação religiosa de nossa época. O Deus de rosto sorridente
atrás da ovelha extraviada até trazê-la de novo ao redil. Estas são esteve ausente da pregação cristã. Preferiu-se o Deus castigador,
imagens ternas (maternais e paternais) que revelam o verdadeiro de cara antipática, que sustenta com autoridade o chicote de sua
rosto do Senhor. lei e profere condenações aos desencaminhados.
Ainda que ele tenha toda a autoridade e o poder, prefere usar Quando Deus deve ser firme, ele o é; seu caráter terno não
essa posição para atrair com amor e compaixão, ao invés de usar dissimula sua contrariedade diante dos injustos e violentos que
a ira e o castigo. Em nada se parece aos déspotas do mundo que se aproveitam das pessoas em situações de vulnerabilidade. Mas
exercem sua autoridade com tirania. Ele, ao contrário, busca a dizer que age desta mesma maneira para com todas as pessoas,
ovelha extraviada até encontrá-la; da mesma maneira com o filho não faz mais que distorcer a natureza do Senhor e, consequente-
dissoluto e com a moeda perdida. E quando os encontra, faz festa! mente, deformar a teologia.

Para continuar refletindo

De devoções absurdas e santos amargos, livra-nos Senhor. Teresa de Jesus

ORAÇÃO Pelas pessoas que, em geral, são rejeitadas, menosprezadas ou julgadas por nossas comu-
nidades de fé. Para que o Senhor nos ensine a expressar sua alegre compaixão nestes dias.
DIA 11 Esperança Compartilhada, Alegria Garantida
Então disse Maria: “Minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, pois atentou para a
humildade da sua serva. De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada...” Lucas 1.46-48

“Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que
você dará à luz!”: palavras que procedem da boca de Isabel,
quando Maria a visitou em sua casa, nas montanhas da Judéia.
As duas mulheres se encontram, celebram e glorificam a Deus
porque em seus ventres estão crescendo sinais da ação de Deus
na história. O bebê de Isabel se une à festa e salta no ventre (1.44).
A esperança, quando compartilhada com outros, converte-
-se em alegria. A esperança não é uma graça para saborear nos
recantos de nossa intimidade; é para se viver em comunidade, so-
bretudo aquela que procede do Deus Trino que é, em si mesmo,
comunidade plena.
Maria se regozija porque o Senhor a escolheu para que por
meio dela venha o Salvador do mundo. Sua alegria tem razões
universais porque aconteceu com ela algo que favorecerá todas
as gerações.
Todos os personagens do Natal irradiam alegria, menos
aqueles que por seu egoísmo pretendem que a salvação seja para
uns poucos... e que ninguém além deles seja chamado de salva-
dor. É o caso de Herodes, símbolo do egoísmo selvagem.
Mas além destes poucos reizetes e governantes, todos os
outros estão felizes. E Maria não esconde os motivos: estes po-
derosos, por fim, serão derrotados de seus tronos e os famintos
(também ao final) serão cheios de bens (1.52, 53). Como João
Batista não saltaria no ventre de Isabel?

Para continuar refletindo

A Maria teóloga mostra o ventre grávido para nos ajudar a compreender que a teologia amadurece na espera ativa do
cumprimento da ação de Deus. É teologia com gosto de vocação, vivida no marco do discipulado que não busca o caminha da
cesariana. Valdir Steuernagel

ORAÇÃO Um relatório da UNICEF destaca que o problema mais grave da América Latina e Caribe em matéria
de proteção à infância é a violência: nas ruas, nos sistemas de justiça infanto-juvenil, nos lares e em
forma de exploração e abusos sexuais. Peçamos ao Senhor pela infância e juventude de nosso continente. Peçamos pelo seu
bem-estar físico, sua saúde emocional e para que a esperança de Jesus seja fonte de alegria verdadeira.
DIA 12 Não é Esperança Barata
“Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de força se apoderam dele. Pois todos
os Profetas e a Lei profetizaram até João. E se vocês quiserem aceitar, este é o Elias que havia de vir. Aquele que tem ouvidos,
ouça!” Mateus 11.12-15
Quem disse que ser testemunha do reino de Deus é buscar Depois de João, veio Jesus. As coisas não mudaram. A ou-
tranquilidade e aspirar a uma vida sem perturbações? Quem diz sadia da redenção foi paga com o sangue do nazareno. Ele foi víti-
isso não sabe quem é Jesus, nem conhece a verdade do evange- ma injusta dos poderes do mal que se apoderam da vida dos que
lho, porque o reino “Desde os dias de João Batista...é tomado à proclamam vida em abundância. Jesus andou nesse caminho de
força” e pertence aos valentes porque apenas eles se apoderam entrega sacrificial e assim o anunciaram depois seus seguidores.
dele (11.12). Paulo, por exemplo, diz aos crentes de Corinto que quando pregou
João preparou o caminho para a pregação de Jesus e o fez ao o evangelho decidiu “nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cris-
custo de sua própria vida. Antes, os profetas antigos haviam prega- to, e este, crucificado” (1Co 2.2).
do a luz do Senhor entre as sombras dos reinos terrenos. Todos eles A esperança cristã não é esperança barata. Relembrando de
serviram como testemunhas da verdade “tomando-o à força”. Para Dietrich Bonhoeffer, devemos saber que, como a graça, também a
nenhum foi fácil anunciar as verdades e reclamar a justiça. esperança é preciosa.

Para continuar refletindo

... identificar-se com a tarefa salvífica de Jesus junto aos que sofrem leva ao mesmo tipo de perseguições que o levaram à
morte. A missão da igreja junto aos que sofrem... não é um serviço nascido de boas intenções.... mas do compromisso com
o próprio Jesus Cristo, que nos mostra o caminho e nos adverte claramente de antemão que se trata de um caminho difícil,
sofrido, possivelmente mortal. Nancy Bedford

ORAÇÃO Pelos pastores, pastoras, sacerdotes, missionários, missionárias, trabalhadores e trabalhadoras humanitários e
outros cristãos que trabalham em áreas de alto risco, a fim de que, revestidos do poder de Deus, vivam e pro-
clamem a verdade, e vivam e reivindiquem a justiça. E roguemos por nós, para que, comprometidos com Cristo, assumamos os riscos da
cruz que trazem nossa maneira de viver a justiça de seu reino e de dar testemunho do evangelho a cada dia.
DIA 13 Nem Um, Nem Outro
“Pois veio João, que jejua e não bebe vinho, e dizem: ‘Ele tem demônio’. Veio o Filho do homem comendo e bebendo, e
dizem: ‘Aí está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e “pecadores”’. Mas a sabedoria é comprovada pelas obras que a
acompanham”. Mateus 11.18, 19
Quem entende os que querem desqualificar Jesus? Queriam O Mestre não viveu entre nós para satisfazer os caprichos
um mestre de costumes rigorosos e um asceta rígido? Era João, e dos religiosos, sempre teimosos e inconsequentes. E, além disso,
não o aceitaram. Queriam um profeta aprazível de condutas me- se tivesse acolhido suas regras, estaria acompanhado de “gente
nos legalistas? Era o Filho do homem, e o rejeitaram. decente” e sua dieta teria sido regida pelo menu do Templo; tão
Acusaram Jesus de glutão, beberrão e amigo de pessoas pouco o teriam aceito. Seu código religioso já havia marcado o
indesejáveis. E, aceitemos, esta não era uma acusação de todo aceitável e o recusável.
falsa. Não se pode negar que Jesus, em muitas ocasiões, apare- Quando a religião — a religiosidade tradicionalista e insen-
cia rodeado de publicanos corruptos e de mulheres e homens de sível — domina a vida, seus seguidores limitam sua capacidade
moralidade duvidosa. Por outro lado, comia quando não devia, e de julgar com liberdade. Todas as verdades já estão ditadas pelo
pior ainda, da maneira incorreta. E quanto ao vinho... seu primeiro dogma ou pelo código sagrado. Já não nos resta a necessidade de
milagre consistiu em converter galões insípidos de água em exce- discernir entre o que é e o que não é. A religião aponta o que deve
lente vinho. ser... e isso, para eles, é mais do que suficiente.

Para continuar refletindo

Não há nenhum estado social que não tenha seus costumes e, portanto, suas mentiras convencionais. Søren Kierkegaard

Oremos para que os líderes religiosos sirvam ao povo, sendo capazes de discernir a vida com liberda-

ORAÇÃO
de, sem ataduras de dogmas nem mesquinhez, e assim se convertam em agentes de vida e reconci-
liação e não promotores de morte e conflitos. Roguemos para que as comunidades judaicas, cristãs e
muçulmanas residentes em Israel e nos territórios palestinos descubram como conviver, vendo o dife-
rente não com os olhos do dogmatismo e do egoísmo mas com os olhos da equidade e da misericórdia.
DIA 14 Opiniões Que Matam
Os discípulos lhe perguntaram: “Então, por que os mestres da lei dizem que é necessário que Elias venha primeiro?” Jesus
respondeu: “De fato, Elias vem e restaurará todas as coisas. Mas eu lhes digo: Elias já veio, e eles não o reconheceram, mas
fizeram com ele tudo o que quiseram. Da mesma forma o Filho do homem será maltratado por eles”. Então os discípulos
entenderam que era de João Batista que ele tinha falado. Mateus 17.10–13
A confrontação continua entre o que afirmam os mestres da conduzem a decisões que transtornam a vida das pessoas.
lei e o que ocorre na realidade do reino. Eles creem que conhe- Os desacertos proféticos dos mestres da lei impediram
cem os tempos de Deus e pensam que até o próprio Deus deve que o povo reconhecesse a identidade de João Batista e, por
se sujeitar aos seus prognósticos. Pretendem ser os donos dos isso, “fizeram com ele tudo o que quiseram” (17.12). Do mesmo
mistérios eternos. modo agiriam também com o Filho do homem. Equivocar-se em
Mas a verdade é que quando eles predizem que algo vai matéria de religião ou teologia pode resultar muitas vezes num
acontecer, já aconteceu. E quando creem que algo vai se realizar custo alto. Basta se lembrar das consequências das Cruzadas, a
primeiro, realiza-se ao final. Quando eles falam de Elias, a histó- queima dos hereges, as guerras santas de ontem e as invasões
ria indica que o personagem é João Batista. Não acertam, mas imperialistas de hoje.
ainda assim insistem em possuir o monopólio da fé. Esses equí- A religião não é um fenômeno sem relevância no desenvol-
vocos não seriam graves se fossem simples opiniões para serem vimento dos povos; define a vida de pessoas concretas e permeia
debatidas em círculos acadêmicos; mas o são, e muito, porque a cultura... para o bem ou para o mal.

Para continuar refletindo

As estudiosas feministas apontam corretamente, então, que por muito tempo a tradição cristã foi gravada e estudada por
teólogos, que, com consciência ou não, a entendiam desde uma perspectiva patriarcal de dominação masculina. Elizabeth
Schüssler Fiorenza
Na Síria, mais de 40 mil pessoas foram assassinadas desde quando se iniciaram os protestos populares con-
tra o governo, em fevereiro de 2011. O número de pessoas deslocadas aumenta a cada dia. Oremos para que
ORAÇÃO se alcance a justiça que estes protestos pretendem e se chegue à reconciliação na Síria e em outros povos em
conflitos internos semelhantes. Roguemos também a Deus para que dê discernimento aos líderes religiosos
(muçulmanos, cristãos e outros) destes povos para que ajam como construtores da paz.
DIA 15 O Que Devemos Fazer?
“O que devemos fazer então?”, perguntavam as multidões. João respondia: “Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma;
e quem tem comida faça o mesmo”. Alguns publicanos também vieram para serem batizados. Eles perguntaram: “Mestre, o que devemos
fazer?”. Ele respondeu: “Não cobrem nada além do que lhes foi estipulado”. Então alguns soldados lhe perguntaram: “E nós, o que devemos
fazer?”. Ele respondeu: “Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário”. O povo estava em
grande expectativa, questionando em seu coração se acaso João não seria o Cristo. Lucas 3.10-15
A pregação de João é um pré-anúncio das boas novas que que ajamos com justiça, amemos sem reservas e pratiquemos a miseri-
Jesus proclamará. Entre os dois discursos existem diferenças na for- córdia. Miquéias acrescenta: “e ande humildemente com o seu Deus”.
ma, mas não na essência. Isto fica claro, sobretudo, quando pregam Por isso o seguimento de Jesus é difícil. É mais fácil cumprir os
sobre o que Deus espera de nós. ritos do Templo. Mas o verdadeiro seguimento exige, como ensina João,
Perguntam ao profeta Miquéias: “O que Deus requer?”, e ele que os cobradores de impostos não cobrem mais do que o estipulado, e
responde: “pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemen- que os soldados não pratiquem a extorsão ou sejam corruptos.
te com o seu Deus” (6.8). O que devemos fazer hoje? O que João responderia aos nossos
Nem os ritos pomposos, os conhecimentos abstratos, as afilia- dirigentes políticos, aos militares, aos banqueiros, aos economistas, aos
ções formais a determinada religião ou igreja, ou os sacrifícios ascéti- donos dos grandes conglomerados empresariais, aos que ostentam a
cos, nada disso que tanto temos ouvido e pregado representa a vontade propriedade dos meios de comunicação, aos líderes religiosos? O que
fundamental do Senhor. O que ele espera é bem prático e concreto: exigiria de nós?

Para continuar refletindo

É necessário mudar os corações e as mentes dos homens (...) e oferecê-los uma visão de sociedade na qual seja mais fácil
serem bons. Dorothy Day

ORAÇÃO
Segundo o relatório de 2012 da Transparência Internacional, o grau de corrupção na América Latina continua
levantando tanta preocupação quanto nas últimas décadas. O avanço em integridade foi quase nulo.
Peçamos que cada um que se confessa seguidor de Jesus Cristo, com vínculos políticos e administrativos em
instituições públicas, decida viver com coerência sua fé pessoal na sua vida social e profissional. Por acaso não se
considera nosso continente o mais cristão do planeta?
DIA 16 Deus Humanizado
Eliúde gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacó; e Jacó gerou José, marido de Maria, da qual nasceu
Jesus, que é chamado Cristo. Assim, ao todo houve catorze gerações de Abraão a Davi, catorze de Davi até o exílio
na Babilônia, e catorze do exílio até o Cristo. Mateus 1.15-17
Várias questões da genealogia que nos apresenta o Evangelho mano. Nesta lista se incluem reis de mil guerras, famílias deportadas,
de Mateus captam nossa atenção (1.1-17). A primeira é sua simetria homens que provaram o sabor amargo do erro e mulheres que defen-
— aparecem três grupos de quatorze gerações cada uma. Outra é a deram sua dignidade contra tudo e todos.
omissão de alguns reis que existiram entre Jorão e Uzias (2Rs 8.24). “Jesus, chamado o Cristo” é o Messias esperado. Mas esta gene-
Uma outra, e a mais estranha para os costumes orientais, é que men- alogia também explica porque, ainda que ansiado, será desprezado até
ciona quatro mulheres: Tamar, Raabe, Rute e a mulher de Urias. É es- a condenação da cruz. Esperavam um Messias menos humano, menos
tranho porque os direitos messiânicos legais se estabeleciam pela linha amigo dos pecadores, menos fraco.
paterna. Mais chamativo ainda é que as mulheres mencionadas eram Nossa redenção vem por meio do Deus humanizado. Nos redime
estrangeiras... e algumas de duvidosa reputação moral. da tentação de querermos nos tornar divinos (a tentação a que Jesus
Esta genealogia ressalta a humanidade de Jesus em sua máxima resistiu no monte). Nos redime para que sejamos genuinamente huma-
expressão. O Cristo, que procede do Altíssimo, tem uma ascendência nos, em meio à desumanização deste mundo.
terrena cruzada pela diversidade cultural e marcada pelo selo do hu-

Para continuar refletindo

Definitivamente, ele, uma pessoa humana como nós (exceto no pecado, Rm 8.3) em sua maneira de ser e viver, em seu falar e
em seu fazer, nos mostra que humanidade sim e que humanidade não, que religião sim e que religião não, que compromisso
sim e que compromisso não, que espiritualidade sim e que espiritualidade não, que Deus sim e que Deus não. Marta Zubía
Guinea

25 mil crianças morrem a cada dia de fome no mundo. Oremos para que soluções sejam criadas que acabem
ORAÇÃO com a crise alimentar global, e peçamos ao Senhor para que as pessoas que se confessam cristãs ajam neste
tema como Cristo, mais humanos, com responsável solidariedade.
DIA 17 Até Que Apareceu Um Anjo
Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse: “José, filho de Davi, não tema receber
Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o
nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Mateus 1.20, 21

A confusão de José era compreensível: sua prometida es-
tava grávida e alegava que isto era obra do Espírito Santo. Ele,
como era “um homem justo, e não querendo expô-la à desonra
pública, pretendia anular o casamento secretamente” (1.19). O
divórcio, pensou ele, era a melhor opção.
Ruminava esses pensamentos quando lhe apareceu um
anjo que lhe revelou o que na realidade se passava e lhe atestou
que Maria tinha declarado a verdade. Não era preciso divorciar-
-se dela; ao contrário, deveria celebrar a graça do Senhor.
O plano de José era o melhor do ponto de vista de uma pes-
soa prudente e sábia. Sua atitude era admirável e modelo do que
significa o amor maduro, que sabe renunciar sem necessidade
de maltratar a outra pessoa. Era o plano perfeito.... até quando
se manifestou o anjo.
A presença do enviado de Deus mudou a perspectiva de
José. Ele entendeu que Deus queria realizar algo extraordinário
através de Maria e dele; portanto, já não existiam razões para te-
mer, nem para esboçar soluções que, ainda que prudentes, não
eram as melhores.
A presença de Deus faz a diferença. Diante dos desafios da
vida pessoal e coletiva, diante dos problemas pessoais e sociais,
urge-nos discernir essa presença e descobrir assombrados que
sua mente supera nossas boas ideias.

Para continuar refletindo

Entendemos por discernimento cristão a busca concreta da vontade de Deus, não só para ser compreendida, mas para ser
realizada. Entendemos o discernimento, portanto, não só pontualmente, mas como um processo no qual a vontade de Deus
realizada evidencia também a vontade de Deus pensada. Jon Sobrino

ORAÇÃO
Oremos para que as organizações cristãs de serviço (ONGs e outras) que ministram ao redor do mundo
estendendo o reino de Deus, com ações concretas de assistência e solidariedade, discirnam com acerto o
coração do Senhor para todo empreendimento, que o acompanhem, que não caminhem sós. Que a voz de
Deus ilumine os seus passos.
DIA 18 O Senhor Se Lembrou
No tempo de Herodes, rei da Judéia, havia um sacerdote chamado Zacarias, que pertencia ao grupo sacerdotal de Abias;
Isabel, sua mulher, também era descendente de Arão. Ambos eram justos aos olhos de Deus, obedecendo de modo irrepreensível
a todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Mas eles não tinham filhos, porque Isabel era estéril; e ambos eram de idade
avançada. Lucas 1.5-7

Eram duas pessoas de idade avançada; ambas descenden-
tes da tribo de Arão (da casa sacerdotal) e, o mais importante,
reconhecidas por agir com retidão e por serem fiéis cumpridoras
dos preceitos do Senhor. Credenciais suficientes para crer que
não experimentavam problemas, mas tinham. Os justos também
vivem a vida entre frustrações e alegrias.
Ela, Isabel, era estéril, tal como Sara, Rebeca, Raquel, a
mãe de Sansão, também a de Samuel e tantas outras que pa-
deceram a discriminação social e lutaram contra a dúvida de
pensar que Deus as tinha esquecido.
Sendo uma pessoa de idade avançada, era difícil esperar
que se cumprisse o sonho de sua vida: ter um filho. Há idades
para alimentar certas ilusões e outras para esquecê-las... co-
mentam os realistas.
Mas quando já não havia nada a esperar, chegou o mila-
gre. Zacarias foi surpreendido pela visita do anjo Gabriel, que
lhe anunciou que sua esposa teria um filho. Como era possível?
Tão assustadora a surpresa que o ancião sacerdote reagiu como
qualquer pessoa normal, com incredulidade e temor (1.18).
O nome dele, Zacarias, significa o Senhor se lembrou.
Lembrou-se de dar-lhes o presente inesperado, João o Batista,
que foi o predecessor de Jesus. Nunca é tarde para esperar o
que humanamente já não se espera. Enquanto há vida, deve-se
sempre alimentar a esperança.

Para continuar refletindo

A esperança velha é a mais difícil de se perder. Elizabeth Barrett Browing

A falta de sentido e a perda da esperança são dois dos grandes males de nossa época; perde-se a esperança

ORAÇÃO ainda muito jovem. Peçamos ao Senhor para que na juventude se afirme a esperança que por fim nascerá, pela
operação do Espírito de Deus, um novo dia em que Cristo triunfará e estabelecerá em nosso país a justiça, a paz
e a vida plena do reino de Deus.
DIA 19 Mariologia Ecumênica
Respondeu Maria: “Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra”. Então o anjo a
deixou. Lucas 1.38
Os relatos do nascimento de Jesus assentam as bases ne-
cessárias para uma mariologia ecumênica. Maria não deveria
continuar sendo apresentada como desculpa para os que em seu
nome dividem a Igreja, mas como alento e modelo para os que
proclamam o reino de seu Filho e gozam da graça da redenção
que ele proveu.
A base desta mariologia é sua fidelidade a Deus, e a maneira
com que acolhe a mensagem do anjo e entrega sua vida como
instrumento do cumprimento da vontade divina: “que aconteça
comigo conforme a tua palavra”.
O ecumenismo — bem compreendido — é uma disciplina
espiritual que nos convida a buscar, em unidade, a vontade de
Deus; e a submeter-nos, também em unidade, só a ela. E que
melhor exemplo de submissão que Maria! Ela renunciou seus in-
teresses particulares e seus planos pessoais para cumprir o desíg-
nio do Senhor.
Maria é a bem-aventurada de Nazaré, cujo fruto de seu ven-
tre é bendito porque dele provém nossa salvação. Obedeceu sua
vocação de serviço (isso que às vezes tanta falta faz ao ecumenis-
mo institucional) e assumiu esse papel com a alegria de saber-se
escolhida entre todas as mulheres. Suas palavras ao anjo dizem
tudo: “Sou serva do Senhor”.
O reino precisa de servos e servas, não reis e rainhas. O rei
e Senhor é um só e Isabel o proclamou em sua saudação a Maria
(1.43).

Para continuar refletindo

Não te parece maravilhoso o coração de Maria? ...exaltada por todos os humanos, e apesar disso, permanece tão
tranquilamente simples, que não teria menosprezado a mais simples criada. Pobre de nós! Basta que possuamos
algum poder ou honra ...para que nosso orgulho rompa todas as barreiras. Martinho Lutero

Para que Deus nos dê a simplicidade que nos leve a renunciar a nossos interesses particu-
ORAÇÃO lares, a nos submeter à sua vontade e a buscar a unidade cristã. Que entre as diferentes
confissões cristãs entremeiem-se relações respeitosas e cooperação missionária.
DIA 20 Saltar de Alegria
Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? Logo que a sua saudação
chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que creu
que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!” Lucas 1.43-45
A alegria não foi uma virtude enfatizada pela pastoral cristã. que essas quatro virtudes morais eram as que contribuíam para
Nem a liturgia, nem a teologia (que é outra forma de liturgia) a desenvolver uma vida bem-aventurada. Às virtudes anteriores fo-
reconheceram com toda sua magnitude. Ao contrário, falar de ram depois agregadas três virtudes teologais (porque se referem
fé, em muitos casos, é ligá-la a tudo o que contradiz a alegria: a à Deus): a fé, a esperança e a caridade.
dor sacrificial, a ascese e o desprendimento de todos os prazeres Mas, nem as virtudes cardeais, nem as teologais incluíram
terrenos (tudo o que produza alegria). Não aconteceu assim por a alegria. Deixaram-na de fora, talvez por considerar que um as-
muitos séculos? pirante à santidade devia ser circunspecto e conduzir-se com
Para os antigos gregos existiam três virtudes que contribuí- sobriedade e decoro. Inclusive os velhos monges chegaram a
am para a formação de um cidadão perfeito: a justiça, a fortaleza discutir acaloradamente se Jesus riu alguma vez.
e a temperança. Platão acrescenta outra: a prudência. Depois, Mas, acaso é possível viver de modo cristão sem desfrutar
a fé cristã, sempre interessada em empreender diálogos com as e expressar a alegria? João o Batista, desde o ventre de sua mãe
filosofias do momento (neste caso com os estóicos), considerou Isabel, “saltou de alegria” (1.44).

Para continuar refletindo

De acordo com o conceito e a experiência que cada um tem de Deus, assim será sua vida cristã, concretamente ao
que se refere e afeta a alegria que se desfruta ou, ao contrário, a tristeza que se suporta, por mais que demos a essa
tristeza o nome piedoso de “resignação cristã”. José María Castillo

ORAÇÃO Para que haja em nosso continente cada vez mais boas e justas razões para a alegria de
todos os povos e que os cristãos sejam os primeiros a dar pública expressão dela.
DIA 21 Esperança Que Confronta
Derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os
famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos. Lucas 1.52, 53
A esperança cristã não é ingênua; sabe que o que espera fome por fim serão saciados e que os ricos injustos — também por
(paz, justiça e vida plena) requer a confrontação com os po- fim — serão despedidos sem suas acostumadas fortunas. Que
deres que se opõem aos seus ideais. Na Bíblia esses poderes mulher corajosa!
são representados às vezes por meio de figuras e símbolos que A alegria dela e a razão pela qual chama a Deus Magnífico é
apontam à realidade do mal (dragões de sete cabeças, bestas porque ele “realizou poderosos feitos com seu braço; dispersou os
imperiais etc.). que são soberbos (1.51). A vitória do Senhor é o triunfo da justiça
O reino de Deus avança contra o antirreino de maldades. E sobre os que buscam perpetuar a iniquidade, da paz sobre os que
Maria sabia muito bem; por isso seu cântico de celebração (Mag- querem que as guerras permaneçam para sempre e da vida plena
nificat) está composto de uma vitória que se ganha e uma derrota sobre os que concebem planos de morte.
que deve ser aplaudida. Ela disse que o trono dos poderosos será Os que não amam a paz, nem sonham com a justiça encon-
derrubado, que os humildes serão honrados, que os que padecem trarão muito pouco a celebrar junto à manjedoura.

Para continuar refletindo

Ninguém sabe ainda, mas os pobres, os famintos e os humilhados venceram! E esta desconhecida de quatorze
anos é sua inesperada representante. Não é necessário ser freudiano para aperceber-se da agressividade tácita nas
palavras de Maria: meu filho triunfará, investirá e ressarcirá todas as nossas humilhações prévias; nosso povo será
exaltado nele... e eu serei a origem de tudo isto. Carmiña Navia
Em nível mundial, a fome é o maior risco para a saúde; mata mais pessoas que a AIDS, a malária e a

ORAÇÃO tuberculose juntas. Uma de cada oito pessoas no mundo dormirá com fome esta noite. Clamemos ao
Senhor para que esta e tantas outras condições infra-humanas em nosso mundo, que aguardam pela
justiça, nos movam a unirmos ao Deus Magnífico que é poderoso para levantar o pobre, o faminto e
o humilhado e convertê-lo em sujeito de transformação.
DIA 22 Espiritualidade Sem Arrogância
Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: “Bendita é você entre
as mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz! Mas por que sou tão agraciada,
ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor?”. Lucas 1.41-43
Isabel é uma mulher privilegiada (será a mãe de João Ba- de Jesus e entre ministérios cristãos (comunidades de fé, orga-
tista), mas não por isso deixa de reconhecer que, como ela, nizações de serviço e instituições). Em muitos casos, quando
também outras pessoas foram privilegiadas (Maria será a mãe alguém recebe uma graça especial surge com facilidade a ati-
do salvador)... e inclusive muitas com maiores honras do que tude de superioridade diante dos outros. Isabel reconheceu sua
ela recebeu da parte do Senhor. grandeza sem desconhecer ou competir com a de sua prima
Elas são primas, ambas grávidas, as duas receberam a visi- Maria: “Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a
ta de um anjo e, igualmente, sabem o que significa serem cheias mãe do meu Senhor?”.
do Espírito Santo. O diálogo entre elas bem poderia ter se de- O nobre comportamento da mãe de João é explicado no
senvolvido entre tensões e arrogâncias se elas tivessem cedido texto quando se destaca que ela agia “cheia do Espírito”. Por-
à tentação de ostentar que a graça de uma superava a da outra. que o Espírito não estimula nossas soberbas egoístas, mas pro-
O pedantismo espiritual é muito comum entre seguidores duz o fruto da fraternidade, da simplicidade e da amabilidade.

Para continuar refletindo

Não és mais santo porque te louvam nem mais desprezível porque te censuram. És o que és; e o que poderão dizer
de ti não te fará maior do que vales aos olhos de Deus. Tomás de Kempis

ORAÇÃO
Para que os líderes de Israel e Palestina renunciem à arrogância que os mantêm em competição mortal e que, no
Espírito de Deus, optem pela simplicidade, para alcançar a reconciliação por meio da justiça.
DIA 23 Cheiro de Estábulo
Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em
panos e deitado numa manjedoura”. De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a
Deus e dizendo: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor”. Lucas 2.11-14

A mensagem de Natal tem como protagonista central um meni-
no. Um menino comum e normal que é preciso envolver em panos
e que os visitantes vão encontrar deitado numa manjedoura. No
centro não estão os adultos; estes virão para cuidá-lo, admirá-lo e
adorá-lo.
A redenção não virá de uma proeza militar dirigida pelos adultos,
nem da genialidade técnica de um adulto iluminado. Nos chegará
por uma via mais simples: um menino indefeso.
O menino da manjedoura revela o lugar que ocupam “os fracos”
nos processos complexos de transformação humana. Eles sempre
foram vistos como objetos de transformação (pelos quais devemos
fazer algo), ainda que, na realidade de Deus, são sujeitos dela (po-
dem fazer algo por todos). Sobre este princípio ensina o apóstolo
Paulo: “Porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria
humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem”
(1Co 1.25).
Entre os enfermos, os meninos e meninas, as pessoas com algu-
ma deficiência física, os migrantes sem documento, os indígenas e
tantas outras pessoas que são tratadas como insignificantes, revela-
-se a graça salvadora de Deus. Se poderá sonhar com outro mundo
possível (Fórum Social Mundial) a partir destes “fracos” despojados
de poder do que com os fortes do mundo.... apenas hábeis para
consolidar suas estratégias de poder inútil.
Entre panos e cheiro de estábulo repousa a esperança do mundo.

Para continuar refletindo Investigações de organizações não governamentais

ORAÇÃO
Nasceu-nos um Menino, um Deus nos foi dado. apontaram que cerca de 65 % das crianças de rua,
É para nascer de novo, desnudos como o Menino, nas capitais dos países da América Latina, são objeto
descalços de cobiça, de medo e de poder, sobre de exploração sexual. Peçamos ao Senhor que sai-
bamos como trabalhar com a população vulnerável
a terra vermelha.
a este flagelo, para que eles também, conosco,
É para nascer de novo, abertos ao Mistério, ungidos convertam-se em sujeitos de transformação que
de esperança. reduza o risco de serem vítimas de algum tipo de
Pedro Casaldáliga exploração sexual.
DIA 24 Luz em Meio à Escuridão
“...para dar ao seu povo o conhecimento da salvação, mediante o perdão dos seus pecados, por causa das ternas
misericórdias de nosso Deus, pelas quais do alto nos visitará o sol nascente, para brilhar sobre aqueles que estão
vivendo nas trevas e na sombra da morte, e guiar nossos pés no caminho da paz”. Lucas 1.77-79

Estes versos contêm o final da canção profética de Zacarias,
pai de João Batista. Nela se anuncia o papel do Batista: preparar o
caminho para a vinda do Messias; e a missão de Jesus: brilhar “so-
bre aqueles que estão vivendo nas trevas e na sombra da morte.”
Jesus é o portador da esperança, autor da nossa reden-
ção, o caminho de salvação e luz para o mundo. A celebração
do Natal é uma festa da esperança que nos transforma. Jesus
é a luz que brilha em meio às sombras desta vida e o farol que
nos guia em meio às tempestades de cada dia. Ele disse: “Eu
sou a luz do mundo. Quem me segue nunca andará em trevas,
mas terá a luz da vida.” (Jo 8.12).
Jesus não veio a este mundo, portanto, para reavivar as
tradições religiosas, nem para promulgar um código moral
que nos torne mais piedosos que os outros. Sua tarefa não
era a de um sacerdote (à maneira dos sacerdotes de Israel),
mas a de um leigo; a de um profeta iluminado pelo Pai com a
tarefa de nos oferecer a luz para viver neste mundo. Quanta
falta nos faz a luz em meio a tanta escuridão!
Por isso, na manjedoura celebramos a vinda da luz que nos
enche de esperança. Bendito Natal!

Para continuar refletindo

Nesta noite… a luz que fulgura em Belém é o sinal de nossa esperança… O Natal é uma mensagem de otimismo que eu
gostaria de cravar bem fundo no coração de cada cristão para que esta noite... marque o início de um reino de Deus que se
espera com segurança. Óscar Arnulfo Romero

Peçamos ao Senhor que sua luz ilumine nossas vidas para que sejamos testemunhas do

ORAÇÃO mesmo Evangelho de esperança, paz e salvação que Jesus veio nos comunicar com sua
vinda ao mundo. Que sua luz brilhe para sempre!
Copyright © Editora Novos Diálogos, 2014
Título original: Adviento: Esperanza que transforma
Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados.
Harold Segura C.
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Equipe Editorial
Clemir Fernandes | Flávio Conrado | Wagner Guimarães
Tradução Flávio Conrado
Capa e Diagramação Olga Loureiro

Os textos das referências bíblicas foram extraídas da versão Nova Versão

Internacional (Biblica).

Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua

Portuguesa.

Advento
Esta edição é uma parceria entre Editora Novos Diálogos e Visão Mundial.

esperança que transforma