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Introdução
Neste breve ensaio não poderei responder a todas as questões que giram ao redor
do tema do lugar da teologia prática na igreja, restringindo-me a apontar – após uma
breve discussão sobre a Teologia Prática – possibilidades de tratamento do tema, a partir
de um olhar semiótico sobre o espaço eclesiástico. O que caracteriza o olhar semiótico é
a busca pela significação, pelos meios mediante os quais o sentido é produzido,
difundido e recebido2. Assim, irei perguntar pelo significado do lugar destinado à
teologia prática na igreja, que considero ser um lugar não-central, nem periférico, mas
um que pode ser designado de espaço liminar. Por fim, dedicarei atenção aos efeitos de
significação e poder que decorrem da mudança da teologia de um espaço liminar para
um espaço central na vida eclesiástica.
Por ser teo-logia, o critério último para a elaboração da Teologia Prática não é a
própria ação cristã, não é a práxis cristã, mas, sim, a ação de Deus 10. De outra forma, ao
invés de teologia, torna-se uma técnica, apenas um modo de fazer, uma estratégia. A
verdade da Teologia Prática deve estar em correspondência com a ação de Deus que
tanto está imanentemente presente neste mundo e na Igreja, quanto transcende a toda
a realidade criada; o Deus triúno, forma verdadeira da com-unidade na diversidade,
amorosamente Amigo e Reconciliador do universo (Ef 2,11-22; Cl 1,18-20). Enquanto teo-
logia, o discurso teológico prático está inserido na história humana e partilha de todas as
características da historicidade humana. Particularmente, deve ser ressaltado o caráter
provisório e dialogal de toda elaboração teológica, sob o risco de a teologia transformar-
se em letra morta.11
Por ser cristã, é discurso cujo paradigma da ação não se encontra na Igreja, mas
em Jesus Cristo, Alfa e Ômega de toda a criação, cuja presença ativa no mundo presente
é articulada e configurada pelo Espírito Santo que a tudo e todos permeia como luz e
vida, e que energiza a comunidade cristã para ser agente histórica da vontade divina. A
Teologia Prática, neste sentido, visa construir um saber discursivo que nos permita
seguir a Jesus12, imitá-Lo e caminhar em seus passos (Mc 1,16-17; I Pe 2,21; Ef 5,1-2).
Por ser teologia da ação cristã no mundo, só pode ser feita em permanente co-
relação discursiva com o mundo em ação; tanto a ação não-cristã, ou seja, aquela ação
que reflete o agir de Deus, mas não se configura a partir das comunidades e instituições
cristãs; quanto a ação entendida como anti-cristã, ou seja, aquela que se configura de
forma contrária ao paradigma crístico, e que a tradição cristã nomeia como pecado. Nas
palavras de Jesus, a teologia prática deve ser sal da terra e luz do mundo, e para sê-lo,
precisa dialogar, precisa estar na terra e no mundo, mas sem ser do mundo (Jo 17,11-
18). E, sendo discurso sobre a ação cristã no mundo presente, é con-textual 13, articulada
a partir dos limites e possibilidades da ação no tempo e espaço específicos da
comunidade cristã que a realiza. Por ser reflexão cristã no mundo, a teologia prática
será discurso missionário, evangelizador, discurso que alimenta e nutre a prática
missionária da igreja.14
Pode-se dizer, finalizando, que embora a prédica seja revestida de uma “aura”
sagrada, sendo objeto de grandes expectativas por parte dos membros das igrejas, ela
não só fica reduzida ao trabalho específico do pastor - seu sujeito -, como também, por
paradoxal que seja, fica subordinada aos imperativos do mercado de bens
simbólicos/religiosos, especialmente o vinculado a programas religiosos de rádio e
televisão, e aos produtos musicais - discos, fitas, cds. Assim, além de contribuir para a
manutenção dos sintomas e sinais da irracionalidade no mundo de vida do
protestantismo de missão, a crise do púlpito também opera negativamente na
construção do sujeito eclesial, atribuindo à Palavra de Deus aspectos e conteúdos que,
mais propriamente falando, derivam das regras do mercado de bens religiosos.
Palavras Finais
Este artigo busca oferecer pistas para uma reflexão sobre a teologia, a teologia
prática e o seu lugar na igreja, desde uma perspectiva semiótico-discursiva. Duas
tensões estão claramente presentes nele: a tensão entre teologia e teologia prática, e a
tensão relativa à valorização da teologia na igreja. Ao enfocar os riscos da ocupação dos
espaços de poder na igreja pela teologia, deixei inexplorado todo o campo das
possibilidades ricas da teologia prática na vida da igreja em sua condição liminar. Fica o
convite à exploração dessa temática.
Notas
* (publicado na revista da FATE - Belo Horizonte)
3 KAUFMAN, G. D. In Face of Mistery. A Constructive Theology, Cambridge, Harvard University Press, 1993,
p. 430
5 "Como uma sociedade é sempre dividida em grupos sociais com interesses divergentes, não há uma
perspectiva única sobre uma dada questão. Os indivíduos, em seus textos, defendem uma ou outra posição
gerada no interior da sociedade em que vivem. O discurso é sempre a arena em que lutam esses pontos de
vista em oposição. Um deles pode ser dominante, isto é, pode contar com a adesão de um número maior
de pessoas. Isso, no entanto, não elimina o fato de que concepções contrárias se articulam sobre um
mesmo assunto. Um discurso é sempre, pois, a materialização de uma maneira social de considerar uma
questão." (SAVIOLI, F. P. & FIORIN, J. L. Lições de texto: leitura e redação, São Paulo, Ática, 1996, p. 30)
6 “O teólogo é o homem da comunicação na Igreja. Ele carrega uma linguagem religiosa tipicamente
cristã, resultado de uma longa história. Conhece centenas de palavras e sabe usá-la. Quando fala, faz com
que a língua da Igreja circule. [...] Os teólogos são agente de comunicação: agem no duplo plano dos
cristãos que se convertem à sua vocação e do mundo que esta à espera de uma palavra compreensível.
Eles não são os condutores da evangelização, mas somente os especialistas em palavras. Porém, não se
evangeliza somente com palavras. O Evangelho é levado por pessoas vivas, nas quais a vida, os atos e os
comportamentos esclarecem as palavras. Os discursos, as intervenções, os apelos recebem a sua força da
pessoa. Os evangelizadores são pessoas comuns que vivem intensamente o Evangelho.” (COMBLIN, J. A
força da palavra, Petrópolis, Vozes, 1986, pp. 382, 387)
7 “Entendemos por discernimento cristão a busca concreta da vontade de Deus, não somente para ser
captada, mas também para ser realizada. Entendemos o discernimento, portanto, não só pontualmente,
mas também como um processo no qual a vontade de Deus realizada verifica também a vontade de Deus
pensada.” (SOBRINO, J. “O seguimento de Jesus como discernimento cristão” in Jesus na América Latina.
Seu significado para a fé e a cristologia, São Paulo, Loyola/Vozes, 1985, p. 193)
9 “A teologia não é ciência de um objeto que lhe permanece estranho ou indiferente: ela é, muito mais,
sabedoria, conhecimento que se une à experiência prazerosa e amante, iluminação que vem do
fundamento e prorrompe na busca e a abre à profundidade de Deus. Ela é ‘actio’ do Espírito e ‘passio’ da
criatura, e, justamente, enquanto tal, torna-se também ação do homem e paixão do Mistério, que entra
na humildade das palavras humanas.” (FORTE, B. A teologia como companheira, memória e profecia, São
Paulo, Paulinas, 1991, p. 195)
10 “A ciência se encerra na imanência; a teologia, enquanto fala de Deus, não pode renunciar à
Transcendência. O sentido cristão de uma prática não é dado pela própria prática. Para que se possa
descobrir as pegadas de Deus no mundo, na prática, na experiência, é necessário que não se considere
este mundo como fechado, como se as únicas explicações e realidades possíveis fossem as empíricas e
imanentes. [...] O cristianismo está inexoravelmente unido a Cristo, à Cruz e à ressurreição. Ao se separar
disso, a teologia se perde. Isto a une às Escrituras e à Tradição posterior. Nenhuma argumentação pode
dizer-se cristã se não pode se unir a Cristo por meio da primeira linguagem que a interpretou. A ortopráxis
não pode substituir os demais critérios.” (REFOULÉ, F. “Nuevas orientaciones de la teología”. In:
Selecciones de Teología, Buenos Aires, 1974, n. 50, pp. 94 96)
11 “Uma posição teológica transforma sua unilateralidade meramente finita em grave erro , caso não
acolha a contrabalanço, o julgamento e o aprimoramento que os pontos de vista opostos costumam trazer.
Entre seres históricos, a verdade aparece no diálogo, nascendo dialeticamente do confronto dos opostos e
do novo e mais rico consenso que pode surgir desse confronto no Espírito. A conseqüência imediata da
verdade de nossa finitude histórica e da ação do Espírito Santo entre nós é que a condição essencial para a
verdade dentro da comunidade é a liberdade do debate teológico. A ‘ortodoxia’ representa um consenso
histórico, a ser contrabalançado, criticado e aperfeiçoado por meio de debates posteriores à medida que
as situações culturais se transformam, as interpretações do Evangelho mudam e a relatividade até mesmo
daquele consenso se torna evidente. Somente na atuação dinâmica do Espírito Santo através de diferentes
perspectivas da Igreja total é que a ortodoxia se torna '‘ortodoxa'’ e não no absoluto de uma perspectiva
dentro do todo.” (GILKEY, L. “O Espírito e a descoberta da verdade através do diálogo”. In: VV. AA. A
experiência do Espírito Santo, Petrópolis, Vozes, 1979, pp. 203-204)
12 A teologia vive da oração, sempre de novo alimentando-se nela através da escuta obediente da Palavra
do advento: orando, o teólogo conformar-se-á com Cristo, ao seu mistério de eterna acolhida do amor
fontal. A teologia, pensamento reflexivo da fé, tem constitutivamente necessidade da oração. A teologia,
enfim, conduz à oração. Ela, pensamento do encontro com a iniciativa do amor do Deus vivo, abre-se,
orando, às surpresas do Altíssimo e, orando, conhece sempre novos inícios, na experiência vivificante da
escuta religiosa da Palavra santa. E uma vez que a experiência do orar em Deus é por excelência a da
liturgia, pode-se dizer que a teologia nasce da liturgia, vive dela, desemboca nela. Na liturgia, o discurso
teológico torna-se hino: na teologia, o canto litúrgico torna-se discurso, raciocínio e diálogo.” (FORTE, B.
A teologia como companheira, memória e profecia, São Paulo, Paulinas, 1991, p. 197s.)
13 “a contextualização do evangelho é possível pela ação do Espírito Santo no povo de Deus. Na medida
em que a Palavra de Deus se encarna na igreja, o evangelho toma forma na cultura. E isto reflete o
propósito de Deus: a intenção de Deus não é que o Evangelho se reduza a uma mensagem verbal, mas que
se encarne na igreja e, através dela, na história. Aquele Deus que sempre falou aos homens a partir de
dentro da situação histórica designou a igreja como o instrumento para a manifestação de Jesus Cristo em
meio aos homens. A contextualização do evangelho jamais pode ser levada a cabo independente da
contextualização da igreja na história.” (PADILLA, C. R. Missão Integral. Ensaios sobre o Reino e a Igreja,
São Paulo, FTL-B/Temática, 1992, p. 114)
14 O conhecimento de um linguajar não dá aos teólogos o dom do Evangelho. Contudo a sua missão é
importante para articular, organizar desde dentro uma sociedade cristã, uma comunidade cristã orientada
para a evangelização. A teologia faz a ligação entre os evangelizadores e o mundo que evangelizam, entre
os próprios evangelizadores e entre estes e a tradição da Igreja de todos os tempos. (COMBLIN, J. A força
da palavra, Petrópolis, Vozes, 1986, pp. 392s.)
15 DEL PINO, D. “Do limiar: estudo introdutório”. In: DEL PINO, D. (org.) Semiótica: olhares, Porto Alegre,
EDIPUCRS, 2000, p. 97
16 HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa. Crítica de la razón funcionalista, Taurus, Madri, 1987,
p. 469
17 Todas as citações a seguir vêem da p. 43, de HABERMAS, J. Dialética e hermenêutica. Para a crítica da
hermenêutica de Gadamer, L & PM Editores, Porto Alegre, 1987
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DEL PINO, D. “Do limiar: estudo introdutório”, in DEL PINO, D. (org.) Semiótica: olhares,
Porto Alegre, EDIPUCRS, 2000
FORTE, B. A teologia como companheira, memória e profecia, São Paulo, Paulinas, 1991
PADILLA, C. R. Missão Integral. Ensaios sobre o Reino e a Igreja, São Paulo, FTL-
B/Temática, 1992
SAVIOLI, F. P. & FIORIN, J. L. Lições de texto: leitura e redação, São Paulo, Ática, 1996