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A Filha do Arqueiro – Melissa Mackinnon

A Filha do
Arqueiro
Melissa MacKinnon

Tati, Akemi, Alen, Analu

A Filha do Arqueiro – Melissa Mackinnon


Sinopse
Cate Archer é uma mulher procurada. Quando seu pai foi morto
durante as negociações de paz com o jovem rei Richard, Cate
prometeu que não ia descansar até ver o assassinato de seu pai ser
vingado e seu assassino derrotado. Ela nunca imaginou que se
apaixonaria pelo homem enviado para executar sua sentença de
morte.
O visconde Owen Gray tem apenas uma tarefa — trazer os
líderes rebeldes, mortos ou vivos. O dever de sua vida é para a
Guarda do Rei, e ele tem certas expectativas para cumprir.
Apaixonar-se por sua prisioneira não é uma delas. Ele entende sua
causa, mas não pode arriscar sua posição e honra por uma fora da
lei. Owen deve escolher entre o dever e o desejo do seu coração. A
Guarda é tudo o que ele já conheceu. Ele permanecerá fiel ao seu
juramento ou estará na próxima lista dos mais procurados ao lado
de sua Cate?

A Filha do Arqueiro – Melissa Mackinnon


Dedicatória
Para o Sr. Ray Kelly — Obrigada por me ensinar a encontrar a alegria nas palavras
e por lhes dar asas.

Em junho de 1381, os camponeses da Inglaterra se revoltaram contra o rei e

a pátria, atacando efetivamente Londres e seus condados circundantes. Embora o

foco da revolta tenham sido os impostos injustos e as leis trabalhistas, as

escaramuças também trouxeram à frente das reformas questões como aluguéis justos

e a abolição da servidão. Em 14 de junho, o jovem Rei Richard concordou em

encontrar-se com os líderes da revolta. Durante as negociações entre a Coroa e os

líderes das aldeias camponesas, as forças nobres dominaram o exército rebelde,

capturando e executando seus líderes. Outros se levantaram para ocupar o lugar,

alimentando os incêndios moribundos da revolta camponesa contra a injustiça. Este

é o relato ficcional do evento por Cate Archer, filha de William the Archer, que

muito amou a seu pai. Ela prometeu que não iria descansar até ver o assassinato de

seu pai vingado e seu assassino derrotado.

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Capítulo Um
Julho de 1381
Floresta Bedgebury
Kent, Inglaterra

ASSASSINATO NÃO ERA PARA os fracos de coração.


Cate Archer respirou fervorosamente, incapaz de acalmar seu
interior. Ela confiava em seus instintos sem hesitação. A sensação de
formigamento que percorria sua barriga e rapidamente se espalhava por
suas extremidades — o arrebatador turbilhão de excitação que a consumia a
cada estiramento de seu arco — a excitava além da contestação.
O sangue percorria suas veias com cada batida de seu coração. O
galho da árvore em que ela pousava balançava suavemente na brisa,
ninando-a suavemente em seu dossel de pelúcia. Ela se distraiu brevemente
com a ideia de uma pequena soneca, se tivesse tempo. Os informantes
rebeldes haviam dado a palavra de que um bando de nobres viajava pela
estrada de acesso através da floresta de Bedgebury, e não havia melhor
oportunidade do que essa para acabar com suas crueis vidas. Com um
pouco de sorte e algumas flechas bem direcionadas, o grupo estaria morto
antes do pôr do sol. Justiça rápida para aqueles que tinham sido
assassinados nas mãos do rei, incluindo o seu amado pai.
Cate prometeu que não descansaria até que o homem que matara seu
pai tivesse o mesmo destino. Ela foi para a floresta, prestando especial
atenção à estrada de acesso aberta em meio às árvores. Qualquer nobre que
ousasse passar teria uma morte precoce na extremidade oposta de seu arco.
Não haveria cobrança de tributos — eram roubos, não tributos — de sua
aldeia.
A espera era o mais difícil. Aguardar pelo momento mais oportuno
para atacar, ou escutar algum leve ruído suspeito no vento — um passo em

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falso de um cavalo nervoso, que talvez captasse a presença de Cate muito
antes de seu condutor. Lutando contra o desejo de se esticar de sua posição
inflexível na árvore, Cate concentrou-se em seus arredores, lembrando as
lições que seu pai lhe ensinara durante os seus vinte e três anos. Ela não
falharia com ele agora.
Constância, honestidade e verdade.
Agarrando a haste de sua flecha entre os dentes, Cate afastou seus
cachos escuros do rosto, segurando-os sobre sua cabeça com um pedaço de
corda. Do outro lado da copa, a doce música de um pardal flutuava pelas
árvores. Cate respondeu a chamada simulada com um grasnado
retumbante, silenciando o pássaro da canção. O sinal fora dado. Seus
homens estavam prontos.
Em instantes, os cavaleiros surgiram, aproximando-se de suas mortes
a cada passo insuspeito. Três homens armados protegiam um homem
fortemente carregado no centro do grupo de viajantes. Pesadas bolsas com
mercadorias e moedas retiniam quando o cavaleiro se ajustava na sela.
Um cobrador de impostos. Ele seria o primeiro a morrer.
Depois de encaixar sua flecha, Cate silenciosamente esticou seu arco.
Um passo, dois passos mais perto e ela teria um tiro certeiro para o coração
do homem. Prendendo a respiração, ela aguardou. Então, a corda do arco
escapou de seus dedos, zunindo perto de sua bochecha. A flecha mergulhou
profundamente no peito de seu alvo, e Cate abriu um sorriso.
Ela armou sua segunda flecha. Os cavaleiros abaixo se
movimentaram em círculos erráticos, gritando ordens e puxando suas
armas, preparando-se para combater um inimigo que não podiam ver. Cate
riu, comparando-os com um formigueiro importunado. Perturbação
caótica... como isso a emocionava. A corda do arco cruzou entre as pontas de
seus dedos, impulsionando a flecha em direção ao seu próximo alvo — um
homem gordo e calvo que não conseguia decidir se queria ou não descer de
sua montaria. Ele se sentou na sela, inseguro de sua posição na refrega. No
impacto, sua segunda vítima caiu para o lado e ficou imóvel no chão
lamacento.

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Seus homens — seus rebeldes irmãos de armas — invadiram todos os
ângulos, cortando todos os meios de fuga para as últimas duas pobres almas
que ainda lutavam por suas vidas. A galante tentativa deles de batalhar até
o amargo fim trouxe uma pontada de culpa em suas entranhas, embora
breve.
Quando o terceiro guarda caiu vitimado pelos seus homens, Cate
suspirou pesadamente.
— Espere. — ela gritou das árvores. Ela colocou o arco em suas
costas, em seguida, saltou de galho em galho, descendo da árvore com a
graça e elegância de uma criatura da floresta.
Botas no chão, ela parou, régia e imponente, os pelos suaves da
armadura forrada de peles esvoaçando com a brisa. Carregando uma
pequena adaga na lateral, Cate se aproximou do guarda restante.
O homem ensanguentado era mantido firme por duas corpulentas
monstruosidades de couro e suor, e a observava aproximar-se com os olhos
cautelosos.
— Um nome. É isso que eu peço. Dê-me o nome do homem que
executou William Archer de Kent e pouparei a sua vida, tem a minha
palavra.
O homem lutou contra a restrição.
— E o que isso vale... a palavra de uma mulher? — Ele cuspiu a seus
pés.
— Estou cansada desta caçada. Um nome. — Ela puxou a lâmina,
esfregando a borda afiada com o polegar.
— Eu sou apenas um guarda contratado. Não conheço esse executor
do qual você fala. Talvez você devesse conversar com o Rei. Tenho certeza
de que ele ficaria encantado de adicionar a sua cabeça àquelas que residem
na Ponte de Londres. Talvez ao lado deste seu William, eh?
Ela comprimiuu a mandíbula, apertando os dedos palpitantes em
torno do punho da adaga.
— Oh, isso cutucou sua ferida, menininha? Isso faz você querer me
machucar? — O guarda soltou uma risada arrogante.

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Ela sorriu, seus lábios se curvando para um lado.
— Muito. — Ele a provocava, mesmo com a ameaça de morte
rapidamente se aproximando. Ela deu um passo em direção ao brutamontes,
em seguida, levou o joelho para cima, entre as pernas do homem, fazendo-o
encolher-se num ataque de choramingos e suspiros forçados. O guarda,
gemendo, caiu de joelhos. A atenção dela se voltou para seus homens. —
Colin. Procure a bolsa do cobrador de imposto.
Deixando de segurar o guarda, Colin se aproximou do corpo do
coletor de impostos e revirou sob o manto ensanguentado do homem. Ao
encontrar os bens, ele jogou a bolsa para Cate.
Ela estimou o valor monetário pelo peso. Impostos injustos,
provavelmente retirados daqueles que já eram muito pobres para pagar. As
famílias dificilmente podiam suportar os rigorosos invernos sem as moedas
que haviam guardado... Muitos certamente morreriam de fome.
— Redistribua isso. — Cate jogou a bolsa de volta para Colin, que
concordou com a cabeça. — Wallace. — Ela dirigiu-se a outro membro de
seus rufiões. — Você pode, por gentileza, separar o coletor de impostos de
sua cabeça?
Wallace, um homem robusto com cabelos selvagens e olhos infernais,
puxou a espada, mas hesitou em sua aproximação, suspirando.
— Cate, eu amo você como se fosse minha própria criança. Eu a
balancei em meus joelhos e a ensinei a pescar nos córregos. Eu sei que
muros não a segurarão após o que foi feito ao seu pai, mas eu prometi a ele
que iria cuidar de você. Mesmo que isso signifique falar de coisas delicadas.
Você não acha que isto está indo um pouquinho longe demais? — Seu
sotaque escocês se acentuou com preocupação quando seus olhos se
encontraram com os dela.
— Como você pode questionar isso, Wallace? Seu próprio sangue
pendurado na forca... Você não busca vingança? Eu não vou ficar de braços
cruzados enquanto estes nobres... esses traidores... procuram matar o resto de
nós. Esta é a minha casa. Não permitirei isso!

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Wallace franziu o cenho, mas fez o que Cate pediu, removendo a
cabeça do pescoço de uma só vez.
— O que você quer que eu faça com isso, minha Cate? — Ele
perguntou, levantando a cabeça pelos cabelos, erguendo-a do chão
ensanguentado.
— É apenas um presente para o nosso querido e doce rei. Nosso novo
amigo deve entregar-lhe com pressa.
Os homens fizeram um rápido trabalho em amarrar o guarda a um
cavalo. A cabeça cortada do coletor de impostos foi protegida seguramente
entre as mãos do guarda em uma bolsa insuspeita. Em uma bagunça
emaranhada de couro, suor e carne, o guarda foi solto para retornar a
Londres com o presente de Cate.
— Dê a Sua Majestade os meus profundos cumprimentos. — Ela
verificou o aperto dos nós, certificando-se de que o guarda não poderia se
libertar.
— E de quem devo informar que esse presente pertence?
— Cate, a filha de Archer.

~~~~

— MINHAS MAIS PROFUNDAS DESCULPAS. Não sei o que deu errado. — O


soldado balbuciou cercado pelo grupo de companheiros da guarda.
Robert Gray, Conde de Lancaster e capitão da guarda, passou por
detrás de uma mesa coberta com pergaminhos e livros. Debaixo de sua
superfície desordenada, ele recuperou uma bolsa suja.
— Isso aconteceu! — Ele colocou a bolsa sobre os papéis, fazendo-os
voar.
Um suspiro circunspecto se espalhou pela sala quando a abertura da
bolsa caiu, revelando o rosto afundado de Henry de Burke, o último
cobrador de impostos a perder a cabeça nas mãos dos rebeldes camponeses
espalhados pelo interior inglês.
Robert bateu o punho na superfície da mesa.

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— E se alguma palavra disso chegar ao rei? — Seu maxilar se cerrou.
— Não consigo entender por que esses camponeses ainda não foram
silenciados. — Robert virou-se para um de seus homens de pé perto do
centro da sala para dirigir-se a ele. — Você me assegurou que a questão
tinha sido resolvida!
— Sim, capitão. Pensávamos que estava sob controle. Porém mais
grupos de camponeses se rebelaram assim que capturamos o último.
— Eles têm armas e habilidade. Você acha que isso foi feito com um
enforcamento? — Robert acenou casualmente uma mão na direção da
cabeça de Henry de Burke.
— Existe um grupo que tem sido particularmente difícil de reprimir.
Nós enviamos inúmeros guardas para expulsá-los, mas eles se escondem na
floresta de Bedgebury. Eles preferem caçar a Guarda, Lorde Lancaster, e
aqueles que eles protegem. Temos dificuldade em manter vantagem. Onze
homens foram mortos em uma quinzena. — O guarda dirigiu-se ao seu
Capitão. — Nós estamos perdendo.
Robert fechou os olhos, esfregando as têmporas com dedos rígidos.
— Nenhuma palavra disso sairá desta sala. Se o Rei Ricardo souber
do seu... fracasso, nossas cabeças irão apodrecer no Tâmisa ao lado dos
líderes rebeldes.
— O que você quer que façamos?
Os homens de Robert olharam para ele buscando orientação.
Claramente, era necessário um novo plano.
— Coloque uma recompensa pelas cabeças de todos os líderes
rebeldes que ainda resistem. Eu não me importo com o valor. Não será pago
de qualquer forma. Não muito para não parecer... desespero, mas o
suficiente para ser irresistível à escória desta cidade. Thomas... — Robert
dirigiu-se a um homem sentado perto da parede da pequena sala de canto
usada como sede da Guarda. — Reúna o séquito do rei. Traga-me Harrison,
Maddock e Owen, e apresse-se.
Thomas levantou-se.

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— Sim, capitão. Erm... — Ele abriu a boca para continuar, mas parou
antes que as palavras deixassem seus lábios.
— O que é Thomas? — Robert exclamou.
— É que Sua Majestade deu a Owen um perdão real no mês passado,
conforme solicitado, Capitão, após a revolta dos camponeses. Seu tempo no
serviço acabou e ele voltou para suas propriedades em Banebridge.
Atravessando a sala, Robert parou na frente de Thomas.
— Eu não me importo se você tem que ir até o inferno para buscá-lo...
traga meu filho!

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Capítulo Dois

CATE NÃO PODIA acreditar na sua sorte. A boa fortuna brilhava sobre ela,
e em uma viagem de caça, não menos. Ela partira para uma inspeção
matutina de suas armadilhas — vazias, como sempre — e tropeçara com um
monstruoso cervo em repouso. Se ela conseguisse matá-lo, aliviaria as dores
da fome das pessoas em sua aldeia de Hawkhurst, o que restara deles.
Devastados pela peste negra não mais do que cerca de quarenta anos antes,
as muitas aldeias de Kent ainda não tinham se recuperado. E agora, por
ordem do Rei, as pessoas tinham sido deixadas para morrer em miséria —
quase mil a menos em apenas um mês. E para quê?! Tentativas sem
diplomacia de impor cobrança de impostos tão altos que nenhum homem
honesto poderia pagar, tudo para financiar uma guerra fundada na
ganância.
Um grunhido no arbusto a trouxe de volta à tarefa em questão.
Comida. Seu estômago resmungava com a mera noção de uma refeição
quente. Ela ficara cansada de sua dieta inconsistente de bagas e insetos. Um
cervo seria um prazer bem-vindo. Ela notou que seu braço do arco ficava
cansado enquanto caçava coletores de impostos. O tremor que a
acompanhava poderia lhe custar à vida.
Abrigando-se atrás de uma árvore coberta de musgo, Cate preparou
seu arco. Ela soltou um grito gutural, atraindo o cervo para si. Ele
atravessou o mato, respondendo a chamada. Respirando fundo, ela rodeou
o tronco da árvore para apontar.
Então recuou abruptamente.
Os guardas se aproximavam. Verdadeiros guardas tementes a Deus,
brandindo espadas e de armaduras reluzentes em cima de animais enormes
vestindo as cores reais. A Guarda do Rei. O coração de Cate se agitou. Sua
chance de causar um impacto na causa de seu pai finalmente chegara. Ela
havia contado quatro, mas tinha certeza de que deveria haver mais. Os

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guardas nunca viajavam em menos de seis para uma patrulha. Esses
homens, esses nobres, serviam ao rei diretamente. Um deles poderia ter sido
responsável pela morte de seu pai, tornando-os o alvo perfeito. Se pudesse
levá-los para as árvores, ela poderia matar pelo menos quatro.
Mas estava sozinha, um erro tolo de sua parte. Ela deveria ter
permitido que Colin a acompanhasse, mas o inimigo não pisava na floresta
em quase uma semana. Ela precisava que ele procurasse pelos responsáveis,
não verificar armadilhas de roedores. Deslizando sobre seu estômago, Cate
deslizou para longe da árvore e para dentro da cobertura do arbusto. Ela
encontraria um ponto de vantagem mais adiante na estrada e esperaria para
atacar.
Segurando seu arco e com a aljava 1 atravessada em suas costas, Cate
escalou uma árvore com folhagem completa, desaparecendo em suas cores
exuberantes. Ela secou a testa com a manga, apagando os grânulos de suor
reunidos. Os momentos pareciam se arrastar.
Havia verdadeiramente muita espera na profissão de assassina.
Logo, o suor de cavalo e couro atingiu fundo suas narinas. Os
guardas estavam próximos. Cate tirou o arco de seu ombro e arrancou uma
flecha de sua aljava, aninhando-o em seu lugar certo contra a corda do arco.
Uma energia calorosa fluía no seu interior, percorrendo suas veias até as
pontas de seus dedos, implorando-lhe que soltasse a tensão na corda. Ela
não negou isso.
A flecha disparou pelo ar, perdendo seu destino pretendido por um
fio de cabelo. Droga. Ela tinha errado.
— Flecha! — Um aviso foi bradado.
A sua presença fora percebida. Cate fez uma rápida contagem de suas
flechas restantes. Cinco. Perfeito para derrubar um veado, mas poucas
contra seis guardas armados. Um breve arrepio de pânico ameaçou
enraizar-se, mas ela o afastou, desejando ser forte. Ela devia a seu pai. Ela
precisava lutar.

1 coldre ou estojo sem tampa em que se guardavam e transportavam as flechas, e que era carregado nas costas, pendente
do ombro

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Dos sons que ecoavam abaixo, Cate acreditava que os guardas
estavam se preparando para lutar, mas, do som de sua confusão, eles não
podiam saber de onde ela atirou. As espessas copas do bosque eram um
amigo bem-vindo.
Ela examinou a área à sua esquerda. Vários galhos espessos de uma
árvore próxima se sobrepunham ao que ela se escondia. Se ela pudesse dar
um tiro — e conseguisse acertar alguém dessa vez — ela poderia mudar de
local antes que os homens pudessem disparar de baixo. Cate fez uma rápida
oração, pedindo que os guardas estivessem mal equipados com armamento,
ou fossem ruins ao atirar com um arco.
— Coragem, Cate. — Ela se virou para enfrentar seus oponentes.
— Lá! Acima! — Um guarda apontou em sua direção, levantando o
arco para apontar.
Cate redirecionou seu alvo para a direita, disparando contra o
informante.
Tempo para um novo plano.
Corra.
Uma flecha sibilou através dos ramos, e ela recuou, quase caindo de
seu poleiro. A casca da árvore raspou as palmas dela enquanto se
endireitava.
— Não matem o menino! — Gritou um guarda. — Aguardem!
— Eu não sou um menino! — Cate retaliou sem primeiro pensar.
— Uma moça, então?
Ela silenciosamente se castigou por sua tolice.
— O que mais eu seria, seu palerma?
Eles achavam que ela era uma criança — um engano fantástico com o
potencial de ajudar na sua fuga.
— Diga-me então, garota, por que você tentou acabar com a minha
vida?
Os homens espalharam-se por vários pontos ao longo do chão da
floresta; alguns a pé, outros a cavalo. Um plano estava em formação, mas

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Cate ainda não tinha conhecimento disso. Ela respirou fundo. Hora de mentir,
Cate. Sua vida depende disso.
Ela soltou uma risada, descendo da árvore.
— Acabar com sua vida? Você, senhor, estava apenas no caminho da
minha flecha. Eu teria derrubado esse cervo se vocês não o tivessem
assustado com seus barulhentos passeios pelas árvores. Agora, minha
família será forçada a ficar com fome por mais um dia. Então, eu agradeço...
a você e aos seus colegas barulhentos. — Ela pulou a distância restante até o
chão, em seguida, limpou as folhas de árvore das mangas da roupa de
garoto mal ajustada. Ela ergueu-se em toda a sua altura, quase alcançando o
homem de pé na sua frente.
Ele não usava o uniforme da Guarda do Rei como os outros em sua
patrulha, mas vestia calças de equitação soltas acompanhadas de botas bem-
feitas e um gibão correspondente com os melhores detalhes que já havia
visto. Verdes profundos e azuis ricos misturados em vários redemoinhos e
enfeites entrelaçados ao couro macio e enegrecido. Apenas as melhores
vestes para os melhores homens. Ele era o único que precisava matar.
E ela tinha errado.
Cate apertou o queixo, sem vontade de revelar o pânico que se
infiltrava na superfície de sua fachada ousada. O nobre era bonito, ela
admitia isso, mas seus olhos a preocupavam. Entre as sobrancelhas
profundamente enrugadas e a forma como seus olhares viajavam por seu
corpo, ela sabia que ele a julgava exatamente como ela o fazia com ele.
— A caça não é permitida neste lado da floresta.
Ele a estava avaliando.
— Perdoe-me, mas eu não acredito que o cervo prestava atenção aos
limites do rei. Desde que minha caçada terminou, devo voltar para casa,
onde meu pai me espera em breve. Bom dia, senhores. — Ela fez uma leve
reverência cortês antes de virar os calcanhares com a intenção de
desaparecer novamente entre às árvores. Mal pisou na estrada quando a voz
familiar de um de seus homens ecoou no vento.
— Espere.

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Cate fez uma pausa, seus olhos se dirigiram para a pequena adaga
escondida em sua bota.
— Qual é o seu nome?
Ela se virou para o homem e sorriu.
— Catherine, meu senhor. — Ela inclinou-se ligeiramente, assumindo
que por suas roupas finas ele era de nobre nascimento. Ela não deveria
esquecer as formalidades.
— Tome cuidado, Catherine. Existem riscos nesta floresta. Você não
deve se afastar tanto de sua aldeia.
— Obrigada, meu senhor, pelas amáveis palavras. Eu asseguro-lhe
que vou prestar atenção ao seu conselho. — Um cacho desprendido de
cabelo escuro chicoteou seu rosto com a brisa. Colocando-o atrás da orelha,
ela travou os olhos sobre os do nobre.
— Cate! — O nome dela sobrevoou, abafado pelo barulho das folhas e
dos ramos acima.
Ela estremeceu com a familiaridade que seu nome trouxe aos homens
ante a ela. Maldito seja, Wallace, por ter tanta preocupação em me localizar. Ela
abriu a boca para falar, mas decidiu que fugir seria o melhor curso de ação.
A verdadeira identidade do fora da lei tornou-se conhecida, ela se
precipitou para o abrigo da floresta.
Ordens foram gritadas atrás dela, e os cavalos golpearam a terra, mas
ela não ousou tirar os olhos do caminho adiante. Respirações pesadas
brotavam de seus pulmões enquanto ela corria entre as árvores,
mergulhando em ramos baixos e pulando sobre pedras cobertas de musgo.
Ela seguiu adiante mais fundo na cobertura grossa, tornando cada vez mais
difícil para o perseguidor seguir a cavalo.
Talvez eles procurassem o prêmio pela sua cabeça, mas
abandonariam a perseguição diante das dificuldades da floresta — um lugar
que ela conhecia bem. Ela se arrependeu instantaneamente de sua decisão
de libertar o guarda com a cabeça do coletor de impostos no momento em
que ela havia revelado seu nome. Mas o que tinha sido feito estava feito e
agora ela tinha que limpar sua bagunça.

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Se essa perseguição iria acontecer, ela não iria facilitá-la. Várias
opções passaram por seus pensamentos enquanto ela buscava abrigo —
voltar ao acampamento para pedir ajuda, ficar para lutar e aderir ao seu
plano original de se esconder entre as árvores e atacar o inimigo com
flechas, todas tinham suas vantagens. Cate escolheu o último.
A floresta era sua amiga, sua confidente, e ela podia usar seus pontos
fortes. Ela tinha uma habilidade para um verdadeiro objetivo, se apenas
focasse em seu alvo. Desde cedo, seu pai sabia que herdara suas habilidades
com um arco, e a treinara bem. Ela precisava aproveitar essas habilidades
agora. Se ela intuira corretamente, Wallace e o resto de seus homens não
estariam muito atrás dos guardas. Se ela pudesse escapar do inimigo pelo
tempo suficiente, poderia simplesmente ganhar vantagem.
Escondendo-se o melhor que podia entre vários troncos de árvores
bem espaçados, Cate puxou uma flecha e esperou que o enfrentamento se
iniciasse. Respirando profundamente, ela segurou o ar em seus pulmões um
momento antes de soltá-lo lentamente, embora franzisse os lábios. Eles
estavam aqui.
O homem que ela assumiu ser um nobre — o bonito — falou. Ele
parecia calmo e contido e, na verdade, não inteiramente desapercebido da
sua galante travessura na floresta. Uma situação complicada, de fato. Ela
quase não tinha coragem para acabar com ele.
Quase.
— Cate Archer! Você está presa por ordem de Sua Majestade o Rei,
por rebelião e traição contra a Coroa. Você deve render-se e vir conosco!
Com as costas apoiadas contra o tronco de uma árvore larga, ela não
sabia o que mais fazer além de rir. Esses homens deviam tomá-la por uma
tola.
— Infelizmente, devo recusar o seu convite, meu senhor!
— Não há escolha no assunto, Cate.
— Há sempre uma escolha. Apenas devemos escolher a correta! —
Ela fechou os olhos, esperando que as manchas da sombra deixassem sua
visão. Ela ficara cansada do esforço. Lutar contra esses homens até a morte

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seria menos doloroso do que a fome com que ela certamente iria confrontar.
Escapulindo para a samambaia abaixo, Cate manteve a atenção do nobre
desviada. — Satisfaça-me, meu senhor. Eu lhe disse o meu nome, mas ainda
não sei o seu.
Estendendo o braço ao longo do seu lado, Cate procurou pelo punhal
enfiado dentro de sua bota. Ao encontrá-la, ela a retirou e agarrou-a ao
peito. Ela rezou para que não precisasse usar isso. Ela nunca esfaqueara um
homem antes tão próximo, e o pensamento deixava seu estômago torcido
em nós apertados.
— Não precisamos nos preocupar com nomes.
Cate levantou-se para descansar nos cotovelos e se virou para a sua
esquerda para uma melhor visão.
— Oh, por favor. — Ela brincou. — Jogue direito. É simplesmente
justo que eu conheça o nome do homem que eu pretendo privar da vida.
O homem riu. O ruído profundo ecoou pelas árvores.
— Você parece muito segura sobre isso, Cate. Como você planeja
realizar este plano seu, visto que há seis de nós e apenas um de vocês?
— Você parece muito seguro de si mesmo, meu senhor. — Ela
gracejou. — Meus homens tem você cercado!
— Pelo contrário... — A voz, profunda e gutural, agora grunhiu por
trás.
O nobre.
As palmas quentes de repente a agarraram sua cintura, virando-a de
costas em um movimento fluido. Enquanto ele a segurava, não podia deixar
de olhar seus olhos. Eles eram apaixonantes, como labirintos cintilando de
cor. Eles refletiam o verde, mas também um calmante oceano azul. Traços de
âmbar manchavam suas íris, e por algum motivo desconhecido, pareciam
ter visto uma vida que queria esquecer.
Ela não sabia como havia perdido sua abordagem furtiva. Ele havia
atraído suas atenções em outro lugar, e ela havia perdido o foco. Talvez
fosse o jeito que ele tentara esconder a insinuação de um leve sotaque
irlandês quando se dirigira a ela. Talvez fosse a maneira com que a brisa

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soprava os fios errantes de seus cabelos castanho-avermelhados sobre os
olhos e isso não parecia incomodá-lo no mínimo. Seja qual fosse a resposta,
ele a enganara para pensar que ela tinha a vantagem.
Cate inalou bruscamente, balançando o punho na direção da cabeça
dele. A pancada encontrou o crânio. O golpe, embora fraco, foi
surpreendente o suficiente para jogar o homem sobre o traseiro,
surpreendido. Ela se pôs de pé e pegou seu arco e aljava para depois se
afastar na direção que esperava que seus homens estivessem.
— Adeus, meu senhor! — Gritou, dando um sorriso amplo
desavisado. — Que nunca nos encontremos novamente!
Um grito agudo explodiu por todo o ar, enviando o coração de Cate à
boca. Ela retornou a chamada de pássaro de Wallace e depois virou na
direção da qual o som se originou. A dor a percorreu com cada propulsão à
frente. O suor brotou em sua testa e ela limpou-o com o dorso da palma da
mão, não querendo diminuir o ritmo. Seus homens estavam à vista agora,
logo acima de uma pequena crista.
A terra reverberou sob seus pés com cada pisada, mas ainda assim ela
se pressionou a continuar.
— Cate! — Wallace a chamou acima do zumbido trepidando da
floresta. Puxando uma espada de sua lateral, ele a atirou pelo ar na direção
de Cate. O sol brilhou ao longo da lâmina, estilhaçando a luz em uma
desordem de fragmentos enquanto se arqueava através de uma clareira
antes de mergulhar na terra macia a uma curta distância dela. — Mais
rápido!
Eles estavam se aproximando dela. Ficando de joelhos, ela agarrou o
punho da espada antes de cair de costas rolando, mal perdendo a enorme
besta passando raspando por ela. Mais um momento a teriam pisoteado até
a morte. O guarda que a perseguia a cavalo quase a agarrou por trás —
muito perto.
Agora armada e com seus homens nas proximidades, ela tinha uma
chance melhor de derrotar os guardas persistentes.

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— Wallace, diga a Colin que pegue seu arco e aponte para os
cavaleiros! — Gritou, tomando conta da situação precária em que se
encontrava. Um guarda a cavalo com a espada desembainhada fechando
firmemente o espaço entre ele e Cate. Ela preparou sua própria lâmina,
preparada para lutar.
— O Capitão a quer viva! — Outro gritou para o que logo seria seu
atacante.
Em vez de balançar sua espada para ela como Cate presumiu que
faria, o guarda se atirou da sela, erguendo sua enorme figura sobre ela.
Agora presa no chão, não teria escolha senão se defender.
Se remexendo sob o homem, Cate lutou para reafirmar seu aperto na
espada. Numa luta contorcida de membros, punhos e grunhindos, ela lutou
para manter afastada as mãos do homem de sua arma. Uma dor abrasadora
disparou através da curva de sua caixa torácica, e ela gritou com um ganido
chocante. A lâmina estava muito perto de seu coração. Ela arranhou os olhos
do homem em uma tentativa desesperada de obter alavancagem na batalha
por sua vida. Sem conhecimento da gravidade da lesão, ela precisava estar
livre desse homem e rapidamente. Com os seus polegares, ela cavou os
olhos dele.
Seu atacante rugiu, soltando seu aperto contra Cate apenas o tempo
suficiente para que ela abaixasse o joelho em sua virilha. Quando ele se
enrolou em uma bola choramingando, ela aproveitou o momento, pegando
a espada e levantando-se para se aproximar dele. Agarrando-o com as duas
mãos enroladas em torno do punho, apontou a lâmina sobre o pescoço do
guarda. Cate empurrou o aço para baixo para entregar o golpe da morte.
Mas antes que o golpe pudesse ser totalmente completado, Cate se
viu lançada sobre o alvo pretendido e aterrissando de costas, incapaz de
respirar fundo. Fosse pelo inesperado voo ou do homem maciço ajoelhado
em seu peito prendendo-a no chão, Cate não conseguia se mover enquanto
lutava para inalar. Aqueles perfurantes olhos verdes, selvagens com
antecipação, engoliram todo seu eu em suas profundidades luminosas. Ela
lutou contra o seu aperto, o maior esforço dela não sendo páreo para o

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aperto casual dele em seus ombros. Seu lado queimava com cada respiração
forçada. Um relampejar de pânico enraizou-se em sua mente. A ferida era
fatal? Cate não sabia, não com a fera pairando sobre ela, pronto para atacar
mesmo ao movimento mais insignificante.
— Você se entrega?
A prisão visual sob ela do nobre sem nome a deixou se sentindo
paralisada.
Uma faísca de ansiedade acendeu em seu peito. Ela não podia
entregar-se — ela devia lutar. Conjurando todas as maldições que ela
conseguia reunir, Cate cuspiu e sibilou para ele como um gato encurralado,
esperando que a estratégia afogasse os espasmos terrivelmente erráticos de
seu coração. Ela se contorceu debaixo dele, chutando e torcendo, tentando
rolar e ganhar controle — sem sucesso. Ela gritou contra sua restrição
silenciosa, arqueando suas costas em uma tirada rebelde. Lágrimas quentes
se infiltraram sob as pálpebras fechadas, e ela resistiu ao impulso feminino
de limpá-las. Preparando-se para manter-se forte e manter a pouca
resistência que ela ainda tinha, ela abriu os olhos para encarar seu captor.
Sua concentração vacilou entre a criatura cativante segurando-a e a
visão de seus homens ainda envolvidos em choques de espadas e lutas de
punho — nenhum lado ganhando ou perdendo a batalha sem fim. Colin,
aparentemente sem flechas, correu pelas árvores, sem armas. Ela o seguiu
com os olhos. Lá, em uma clareira, Wallace estava cercado.
Wallace ia morrer.
Um grito ficou preso em sua garganta. Cate tentou alcançá-lo, como
se ela pudesse de alguma forma alcançar os atacantes de sua própria posição
perigosa.
— Não! — Soluços escaparam de seus lábios, contorcendo seu corpo
em espasmos não naturais. — Deus, não, por favor! — Ela se virou para o
agressor. — Eu me rendo! Diga-lhes para parar, eu imploro! Poupe sua vida
e você pode ter a minha.
O nobre fez uma pausa em seu pedido, mas finalmente ordenou que
seus homens parassem e recuassem.

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— Harrison, coloque-os em grilhões.
— Meu senhor. — Ela dirigiu-se a ele apenas para a segurança de
seus homens. — Você tem o que deseja. Eles não servem de nada para você.
Deixe-os seguirem o seu caminho e irei com você de bom grado. Permita
que eles retornem às suas famílias. Eu sou quem você quer, não homens
velhos e meninos com nada além de armas velhas para se defenderem.
Seu captor levantou Cate com um puxão.
— Você não está em posição de fazer demandas.
— O que suas mortes lhe serviria? Sou eu com um preço na cabeça,
não é?
— Você sabe disso, então?
— É claro que eu sei disso. — Ela zombou. — A palavra se espalha
rapidamente entre nós rebeldes. É só uma vergonha que eu não possa
reivindicá-la no presente. Iria encher muitas barrigas esta noite.
— Lorde Banebridge. — Um guarda se aproximou, entregando um
conjunto de grilhões de ferro.
— Ah, então ele tem um nome. — Cate deu um passo para trás. —
Temos um acordo, Meu Lorde Banebridge? Ou devo correr? Eu sinto que
tenho mais algumas centenas de corridas restantes em mim.
Um olhar franzido agraciou o rosto sem barbear do nobre. Ele deu
um passo à frente, os grilhões abertos e estendidos.
— Está na hora, Cate Archer.
Ela vacilou quando os guardas reuniram seus homens mais perto.
— Liberte meus homens.
— Cate... — Wallace, que sempre fora como um tio, tentara falar com
ela para lhe inculcar juízo. Claro, ele se oporia a seus planos.
Ela o calou.
— Wallace, é por causa dos meus próprios atos que você está aqui
agora, então, deixe-me fazer o correto. Eu vou ficar bem, basta confiar em
mim pela última vez. — Ela estendeu os pulsos para as correntes.
Com um aceno de cabeça de Lorde Banebridge, os guardas se
afastaram de seus homens, que se dispersaram nas árvores com pressa. A

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música triste de um pardal se afastou de seus ouvidos, e Cate piscou para
evitar que as lágrimas brotassem em seus olhos.
— Diga-me. — Ela perguntou a Banebridge enquanto os os grilhões
eram apertados em volta dos seus pulsos. — De quanto é a recompensa
agora?
— Dez libras esterlinas. — Banebridge apertou os cadeados,
verificando sua firmeza.
— Só isso? — A quantidade a surpreendeu. Onze mortos, e com o
número crescente em cada dia que passou, ela esperava que a recompensa
fosse maior. Seu povo precisava disso.
— Eu não trabalho por recompensa.
— Eu percebi isso. — Cate testou a força da cadeia curta conectando
os grilhões. — Então, para onde nós viajaremos? Para a Torre ou
diretamente para o carrasco?
Tomando-a pelo braço, Lorde Banebridge levou-a aos seus homens.
— Nós vamos para Londres. O Capitão da Guarda solicitou que você
fosse entregue... viva.
Ele fez a parte do “viva” parecer como se fosse um incômodo.
Um cavalo foi preparado para Cate, e ela foi prontamente montada, e
seus pulsos algemados presos sobre a sela. Cate contou os que a rodeavam.
Sua conta anterior a deixara com seis guardas, como era de se esperar.
Agora ela contava apenas quatro.
— Lorde Banebridge, você parece ter perdido dois de seus homens.
— Ela não precisava perguntar sobre o paradeiro deles... Ela sabia que eles
estavam no calcanhar de seus homens. Ela esperava que Wallace e os outros
se perdessem na cobertura da floresta. Ela só podia imaginar quão profundo
ela os havia levado pela floresta de Bedgebury.
Banebridge não pegou sua isca; em vez disso, ele montou seu cavalo
e pegou as rédeas. Ele puxou com força a corda, prendendo o cavalo de Cate
ao dele.

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Este Lorde Banebridge seria seu maior desafio até agora. Ela supôs
que ele não iria se afastar de suas ordens. Seus homens precisariam de
tempo para ajudá-la a conseguir sua liberdade.
Com mais homens, ela se livraria desse imbecil antes do nascer do
sol.

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Capítulo Três

OWEN GREY, VISCONDE de Banebridge, ponderou sobre a tarefa que


tinha em mãos — trazer um líder rebelde para a justiça — e pensou com
tristeza em suas propriedades negligenciadas no norte da Inglaterra. Ele
também considerou seriamente investir em uma capa encapuzada
habilmente trabalhada para abafar o murmúrio deliberado da mulher
espirituosa que cavalgava ao seu lado.
Ela falava sem fim e propósito. Ela falara de seus cortes favoritos
de carne e de quão delicioso um bolo de especiarias seria sobre sua
língua, se ela apenas tivesse os meios de comprar um. Ela fingira um
longo suspiro e continuou sobre como sua aldeia tinha sido roubada em
seu quinhão de coleta de inverno e de como ninguém poderia sobreviver
ao inverno para fazer o creme de menta que sonhava à noite, quando
chegasse a primavera.
Ela ria de suas próprias piadas bobas, zombava dele e de seus
homens, com mais prudência do que o jogo de cintura de alguns. Ela lhe
perguntou sobre os detalhes pessoais, como quanto ele fora pago para
perseguir a escória da Inglaterra e como ele se sentia por ter recebido
ordens de um rei criança. De alguma forma, ele deixara escapar seu
título de Visconde, e logo ela o usara como forragem para mais insultos.
Se ele tivesse pensado em trazer uma mordaça, Cate Archer teria sido a
primeira em quem ele iria usá-la, sem dúvida.
Ela finalmente se acalmou quando ele obviamente a ignorou. Os
sons da floresta pareceram cair ao longo deles enquanto percorriam a
estrada poeirenta, e ele culpou Cate pela distração, a qual tomou como
uma pequena tentativa de atrasar sua viagem. Owen assumiu que ela
planejava que seus homens os interceptassem, desafiando-o para o
resgate — o cervo fugaz e a vibração de pássaros certamente o
mantinham alerta. Cate Archer era uma mulher inteligente. Tinha

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percebido assim que se encontraram cara a cara. Ele tinha visto o fogo e
a determinação em seus olhos. Ela não era uma tola e ele não podia
permitir-se tomá-la por uma. Cate conhecia as formas de armamento e
como os homens lutavam. Ele seria idiota se pensasse que não tinha um
plano girando naquela cabeça.
Owen e seu pequeno destacamento de guardas haviam cavalgado
por várias horas, e seus batedores ainda não haviam retornado com as
notícias do lugar onde estavam os rebeldes. Cate tinha feito um trabalho
maravilhoso de levá-los ao coração de Bedgebury, onde a maioria dos
homens não ousava viajar. Histórias de espíritos e criaturas vis tinham
chegado aos seus ouvidos quando era apenas um jovem rapaz. Fazia
sentido para os proscritos da terra encontrar consolo nela. Sua proteção
era gratuita e abundante.
Como ele desejava ter ignorado o pedido de seu pai — não,
exigência — que ele voltasse para Londres. Quando chamado de volta ao
serviço, ele respondeu com raiva. Não era como se ele pudesse recusar
como filho de um conde. Seu pai o dotara graciosamente de um título
imerecido, e era seu dever fazer o que seu pai exigisse dele. Esta última
tarefa, e o serviço de Owen para a Coroa estaria para sempre em seu
passado; seu pai lhe assegurara. Ele teria seus papéis de separação na
mão e seria livre para ir atrás de sua própria aposentadoria e, talvez, até
criar uma família se Deus assim permitisse. Mas, conhecendo seu pai, o
Conde de Lancaster, o mais recente certamente não seria o último trabalho.
Essa garota, essa... mulher rebelde, poderia muito bem ter sido sua
queda. Ele esperara alguma tola camponesa mal equipada com homens de
uma vila promovendo seus arroubos rebeldes, e não a salteadora obstinada
que aqueles homens seguiam de bom grado e por quem claramente
morreriam sem hesitação. A conexão entre eles, não era algo desse mundo.
Uma parte dele invejava aquela confiança não fingida. A pobre desculpa de
guardas que ele liderava mais provavelmente o abandonariam se a situação
tivesse se virado contra eles. Um bom grupo de guardas, certamente. Se ele

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fosse um homem de apostas, não apostaria em nenhum deles arriscando seu
pescoço por ele. E Cate o tinha feito por vontade própria.
Cate Archer não era uma mulher típica. Ele gostara bastante do seu
jogo de gato e rato. Ele quase desejava que estivessem de volta às árvores
ainda desafiando um ao outro. Naquele breve momento de liberdade na
floresta, ela lhe permitira um pequeno vislumbre de seu espírito. Com os
grilhões da servidão paterna levantados temporariamente, ele preferia
divertir-se. Owen não conseguia se lembrar da última vez que ele precisara
fazer muito esforço para controlar uma mulher.
Infelizmente, o breve prazer se fora, seu pai estava certo em sua
necessidade de silenciar esse problema antes de chegar aos ouvidos do rei.
Owen a princípio rira quando disseram que uma mera mulher estava atrás
dos assassinatos. Mas depois de ele mesmo testemunhar a determinação
dela, ele agora procedia com cautela. Ela tinha empunhado aquele arco
como se fosse uma extensão de seu próprio corpo, e ela não hesitou em
terminar com a vida dele quando teve a chance. Foi por pura sorte que ela
havia errado, e ele ficaria eternamente grato a qualquer circunstância
profana que fizera a flecha errar o destino.
Pequenos raios de luz se filtravam através da folhagem acima, à
medida que a floresta se estreitava, o bosque de árvores mais densas
diminuia atrás deles. O punhado de homens enviados para acompanhá-lo
nesta incumbência estúpida conversavam entre si enquanto viajavam para o
oeste na estrada que acessava Bedgebury, o que acabaria por levá-los a
Londres.
E a execução de Cate Archer.
Seus pensamentos se voltaram para sua prisioneira, e... a ausência de
suas instigantes provocações e descaradas observações degradando sua
masculinidade. Ela não parecia ser a pessoa que se lamentava em silêncio.
Ela simplesmente desistira tão facilmente depois que ele deixara de
reconhecer suas brincadeiras e dera suas costas? Torcendo-se na sela, se
virou para dirigir-se a Cate.

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Abaixada sobre o pescoço da montaria, ela permanecia imóvel.
Segura no cavalo pelas cordas que a encaixavam na sela, Cate balançava
com cada passo do cavalo. Mole e sem vida, ela não despertou quando ele
chamou seu nome.
Owen parou seu cavalo, também fazendo a montaria de Cate parar
abruptamente enquanto gritava para seus homens mais adiante na estrada.
Desmontando, ele correu para o lado dela. Ele a sacudiu.
— Cate? — Nenhuma resposta. — Harrison, me ajude! — Owen
tentou soltar as amarras dela, mas não conseguia escorá-la e soltar as cordas
enquanto o cavalo se inquietava debaixo dela, dançando em meios círculos
ao redor do próprio cavalo dele.
Harrison fez um rápido trabalho dos nós, enquanto Owen escorava
Cate. Solta das restrições, ela deslizou da sela para os braços de Owen.
Gentilmente, ele a abaixou para o chão, então agarrou sua mandíbula e a
sacudiu.
Cate gemeu, suas pálpebras tremulando ligeiramente.
Owen soltou o aperto dos delicados ângulos do queixo dela. Uma
mancha escarlate pintava sua pele pálida. O sangue cobria os dedos dele.
— Procure-me água. — ele não pediu a ninguém em particular. Um
de seus homens assumiu a tarefa enquanto os outros se reuniam,
observando a mulher imóvel espalhada no chão diante deles. — Harrison,
patrulhe a área. William e Thomas ainda não voltaram, e o escocês pode
estar mais perto do que sabemos.
Deslizando as palmas sob a parte de trás da cabeça de Cate, ele tateou
seu coro cabeludo em busca de contusões e não encontrou nada. O pescoço
dela, embora revestido de sujeira da floresta, também estava livre de
sangue. Ele a deixou de lado e passou a palma da mão pela curvatura de sua
espinha e ao longo da costura de sua brigandina2 de couro bem construído.
Ela fora feita para outra pessoa, ele percebeu... um homem do tamanho e

2 Brigandina - Couraça de malha do fim da Idade Média, que consistia em escamas ou placas de metal parcialmente sobrepostas,
cosidas sobre linho, tela ou couro.

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feitio dela, mas certamente não do seu status. A riqueza do forro bem feito
de seu interior entregava seus segredos.
Quando ele alcançou a caixa torácica dela, as pontas de seus dedos
deslizaram ao longo do couro, revelando a fonte de sangue. Encontrando a
barra ao longo das travas de sua armadura, ele desabotoou cada um com
cuidado para avaliar a ferida abaixo. Sua túnica de linho branco, agora
manchada de carmesim, agarrava-se à ferida.
Owen soltou um suspiro. Ela ficara ferida durante a briga, mas não
dissera nada. Isso só teria admitido fraqueza, algo que ele entendia bem. Ele
teria que enfaixar a ferida antes de poder continuar. Se eles continuassem, as
chances de ela chegar a Londres eram escassas. Mas cuidar dela levaria
tempo. A decisão era dele.
Apoiado nos joelhos, Owen apertou os punhos, uma guerra silenciosa
travando em sua consciência. Ela fora sentenciada a morte. Acabar com ela
agora, a salvaria do medo e dor dos próximos dias, mas algo dentro de seu
ser não permitia que ele fizesse isso. Agora não. Parecia que ela dormia, com
os longos cílios fuliginosos emoldurando aqueles olhos brilhantes que
cintilaram fogo apenas algumas horas atrás. Como ele poderia matar
alguém que parecia tão frágil e inocente quanto aos caminhos da vida?
Voltando a atenção para os homens ainda perambulando perto, ele os
afastou com um aceno.
— Vão formar um perímetro, seus tolos! — Ele, pelo menos,
concederia a ela a privacidade que uma mulher, camponesa ou não, merecia.
Ele deixou seu lado momentaneamente para recuperar um alforje de seu
cavalo e revirou-o até encontrar o pequeno kit médico escondido perto do
fundo. Com o pouco de água que lhe tinha sido entregue ao seu lado, ele
começou a trabalhar expondo a ferida de Cate.
Ele de alguma forma conseguiu remover a brigandina sem causar
muito dano à ferida. Colocou-a de lado, depois removeu o colete de peles.
Ao ampliar o rasgo de sua túnica, Owen encontrou uma ampla tira de linho
enrolada metodicamente em torno da parte superior do tronco dela — a
única maneira de amarrar um amplo peito sob a armadura de um homem.

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Ele correu a lâmina de sua adaga sob a camada inferior da guarnição para
revelar a ferida.
Cate respirou fundo. Ela parecia consciente de suas ações, mas
apenas um pouco.
Derramando um pouco de água sobre a área, ele limpou o sangue
com os dedos, desobstruindo a ferida para avaliá-la. Seria necessário um
fechamento apropriado e Owen fez uma careta ao pensar em ter que fazer
isso sozinho. A pele perfeitamente pálida era um contraste direto com o
exterior endurecido que ela retratara em seu primeiro encontro. Quase todas
as costelas eram visíveis enquanto o peito dela subia e descia com cada
respiração superficial, deixando Owen se perguntar quando a menina tinha
comido uma refeição nutritiva pela última vez.
Ele costurou em silêncio, os dedos desajeitados com a fina agulha de
osso e crina. Os pontos eram grosseiros, mas se manteriam juntos o
suficiente para permitir que a ferida com o tempo fosse curada. Tendo
separado Cate da maior parte de sua roupa, Owen usou uma túnica
sobressalente como uma atadura em torno de seu abdómen e substituiu suas
roupas rasgadas por uma túnica própria. Uma túnica nova e muito cara.
Contra seu melhor julgamento, Owen decidiu que iriam acampar
para a noite. Embora tivesse planejado um encontro na estrada de acesso ao
anoitecer, a copa das árvores que eles tinham parado forneceria mais abrigo
para a noite que viria. O entardecer se aproximava, e havia muito a ser feito.
Movê-la seria muito arriscado.
Reunindo seus homens, ele os informou sobre sua decisão. No
espírito de verdadeiros soldados da guarda, ficaram contrariados e se
opuseram.
— Ela vai morrer de qualquer maneira! – Um argumentou.
— É nosso dever como guardas garantir que ela esteja bem para o
julgamento! — Owen refutou.
— Porra nenhuma! — Harrison, velho o suficiente para ser o pai de
Owen, e tendo servido o conde por mais tempo do que Owen tinha vivido,
cuspiu no chão. — Você não tem culhões para vê-la executada agora. — Ele

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se afastou, resmungando e gemendo por causa da fraqueza das mulheres, e
como elas eram boas apenas para uma coisa.
A falta de vontade dos homens em obedecer apenas fortaleceu a
hostilidade de Owen em relação às ordens de seu pai. Não haveria fogo esta
noite, não até William e Thomas voltarem com notícias sobre o paradeiro
dos companheiros rebeldes de Cate. Os homens se revezariam na vigília
noturna, com Owen assumindo o primeiro turno. A lua elevou-se acima das
árvores antes dele permitir-se descansar e ele chamou Harrison para
continuar a vigília. Saindo de seu posto, Owen colocou-se sobre uma suave
camada de grama perto de Cate. O zumbido noturno de uma lagoa próxima
encheu seus ouvidos e ele fechou os olhos por um momento.
No começo, ele pensou que era um sonho — embora muito real —
que o surpreendera do sono... o som do metal retinindo ficando cada vez
mais perto de seus ouvidos. Foi o choque do ferro frio em volta da garganta
dele que o deixou consciente de que não era um sonho. Seus dedos voaram
para os elos que restringiam sua via aérea. Seguindo ambos os lados da
corrente, ele encontrou pulsos delgados enjaulados pelos anéis que ele
apertara ao redor deles.
Agarrando-a pelos braços, Owen empurrou Cate para frente,
virando-a para que ela se deitasse achatada contra seu peito. Os braços dele
envoltos em torno do corpo dela, fixando-a onde ela estava deitada.
— Você joga um jogo perigoso. — Ele rosnou em seu ouvido. O peito
dela se levantou e desceu, sua respiração dificultada pelo aperto dele. Com
cada inspiração afiada, a ondulação de seus seios pressionava contra os
antebraços dele. Pensamentos pecaminosos giraram em sua mente sombria.
— Eu ainda tenho que aprender suas regras, meu senhor. — Ela lutou
contra ele, arqueando as costas enquanto testava as restrições dele.
Owen gemeu, fechando os olhos em uma fraca tentativa de acabar
com os efeitos que a parte traseira dela pressionada contra a sua
masculinidade tinha sobre ele.
— As regras são simples. Não tente me matar.

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— Oh, bem, onde está a diversão disso? — Cate riu enquanto se
contorcia sob seu aperto. — Solte-me.
— Você tentou tirar minha vida duas vezes agora... por que eu iria
libertar você?
— Eu sou apenas uma mulher, meu senhor. Que dano eu poderia
causar?
Owen apertou mais até Cate soltar um silvo. Ele raspou a ferida dela.
— Você viu o coletor de impostos Henry de Burke recentemente?
— Hmm. Há isso. — Ela respondeu.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ela já não lutava. Ela
parecia estar esperando, assim como ele. Quebrando o som monótono da
escuridão, Owen falou suavemente em seu ouvido.
— Você está com fome?

~~~~

CATE DESEJAVA QUE ELE removesse os grilhões, mas ela sabia que
nenhuma quantidade de persuasão o convenceria a fazê-lo. A pele em seus
pulsos queimava até mesmo com os movimentos mais ligeiros. Ela não
deveria ter sido pega e não deveria ter tentado estrangular Lorde
Banebridge. Isso fora tolo em seu estado enfraquecido. Ela deixara sua
própria arrogância nublar seu julgamento. Ele salvara sua vida, e ela tentou
levar a dele em troca. Que idiota ela fora.
Uma névoa do início da manhã rodava sobre as pontas dos pinheiros,
caindo suavemente no chão de coníferas abaixo. Minúsculas gotículas se
agarravam à penugem de sua pele e aos seus cílios. Cate sentara-se com as
pernas cruzadas nos tornozelos e as mãos recolhidas no colo, as costas retas
e apoiadas contra o tronco de uma ampla árvore. Ela concentrara-se em sua
respiração, testando a que profundidade ela poderia inalar sem que a dor se
intensificasse. Uma vez liberada do aperto de Banebridge, ele verificara sua
ferida apesar de seu protesto e tudo parecia bem, ele disse.

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Com a ausência de sua armadura e túnica, Cate sentia-se exposta e
vulnerável. Ela devia manter sua inteligência, mas, observar os movimentos
fluidos de Lorde Banebridge enquanto atravessava metodicamente o
acampamento improvisado deles, de certa forma, a deixava à vontade. O
amanhecer estava se aproximando, e com isso traria comida e um pequeno
fogo se o tempo permitisse. Ele havia lhe prometido carne e pão quente, e
até mesmo mandara um de seus próprios homens caçar. Ela sentira uma
hostilidade entre Banebridge e seus homens, e adivinhara que ela era a
causa. Ela entendera o raciocínio — por que se preocupar em perder tempo
precioso caçando e alimentando-a quando fora sentenciada a morte de
qualquer maneira? Ela seria questionada por seus homens da mesma
maneira e, para ser sincera, Cate não sabia se ela se manteria viva.
Uma dose de culpa foi direto ao seu coração. Ela rezava para que eles
estivessem vivos e bem. Lorde Banebridge ainda tinha homens
desaparecidos, e Cate esperava que fosse um sinal de que eles não puderam
encontrar nenhum vestígio de Wallace e dos outros. Uma vez na estrada de
acesso, resgatá-la seria uma tarefa mais fácil para eles. Eles conheciam seus
segredos e os melhores pontos de vantagem. Ela só precisava chegar lá.
Vozes masculinas saudando um ao outro distraíram Cate de seus
pensamentos. Ela se esforçou para ouvir a conversa sem dicerni-la
notavelmente. Os homens de Banebridge haviam retornado, e pelo que ela
conseguiu entender, seus homens se dirigiram para o sul de Kent e os
guardas perderam a trilha perto do rio.
Tomando um longo fôlego, Cate o segurou nos pulmões antes de
expulsá-lo através dos lábios franzidos. Seus homens estavam indo na
direção errada. A esperança que ela tinha carregado dentro de si
desmanchara-se em pedaços esfarrapados. O resgate agora parecia uma
lembrança distante.
— Cate.
Ela voltou sua atenção. Ajoelhando-se na frente dela, Lorde
Banebridge segurava um frasco, fazendo um gesto para que ela o pegasse.
— Isso vai afastar o frio.

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Ela hesitou.
— Vá em frente, pegue. — Aqueles olhos verdes enterraram-se
profundamente nos delas, exortando-a a confiar cegamente. — Não, eu não
coloquei veneno nele. Devo beber para provar que eu falo a verdade?
Cate tirou o frasco de sua mão estendida com cautela e cheirou a
extremidade aberta. O aroma da cerveja fermentada belicou-a as narinas e
ela enrugou o nariz com aversão. Era mais forte do que ela estava
acostumada, mas ela inclinou o frasco para os lábios de qualquer jeito,
dando as boas-vindas ao líquido enquanto molhava sua língua seca e
queimava quando engolia. Ela limpou a garganta quando terminou, lutando
contra o desejo de tossir tudo de volta.
— Obrigado, meu Lorde Banebridge. — Ela devolveu o frasco.
Ele tomou um gole para si mesmo antes de fechar a rolha.
— Por favor, me chame de Owen.
Com surpresa, Cate levantou uma sobrancelha.
— Tão íntimo, meu lorde?
— Aqui eu não sou nenhum lorde. Eu sou o mesmo que o resto dos
meus homens... um soldado enviado para uma tarefa. Somos todos iguais.
Owen é o meu nome e eu o prefiro acima de todos os outros. Owen Gray.
Nunca antes lhe pediram que fizesse tal coisa. Não que ela falasse
com os lordes em uma base frequente, mas ela tinha encontrado alguns de
vez em quando. Aqueles homens eram orgulhosos de seus títulos, enquanto
este Lorde Banebridge quase parecia envergonhado dele.
— Como você desejar, então, Owen. — Ela gostou da maneira como o
nome dele soava quando saía de seus lábios, como um sussurro na brisa.
Owen. — Você tem certeza? Parece que se eu fosse dirigir-me a você como
tal, eu poderia acabar morrendo mais cedo do que eu gostaria, pelas mãos
desses seus guardas. Seus homens se dirigem a você como Lorde
Banebridge. Os seus colegas se dirigem a você desse modo? Agora que você
me viu vestida menos do que decente, eu gostaria de pensar que somos
melhores amigos. — Ela fez seu melhor para provocar, esperando que o
aborrecimento a ajudasse a quebra-lo.

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Owen passou os dedos pela testa.
— Eles me chamam de Bane.
Cate sorriu.
— Ah, eu até gosto disso. Talvez eu devesse chamá-lo de Bane. Eu
vejo muita provocação no nosso futuro, Bane.
— Eu não disse que preferia este nome.
Cate revirou os olhos.
— Agora vejo por que eles lhe chamam de Bane 3. Você não tem bom-
humor? Você, Lorde Banebridge, está começando a ser a perdição da minha
curta existência. — Um estrondo em seu estômago torceu suas entranha. —
Então, onde está a comida da qual você falou? Tem que engordar o porco
antes do abate, não?
Owen riu. As linhas de preocupação em sua testa suavizaram quando
sorriu.
— Está sendo preparada. Insistente, não?
Cate desviou os olhos dele. A maneira como ele seguia cada
movimento dela a perturbava.
— Apenas com fome, é tudo. — Ela murmurou, examinando o
pequeno acampamento por algo, qualquer coisa que a impedisse de olhar
para Owen. Sentia como se estivesse em chamas sempre que via o
imponente homem.
— Quando foi a última vez que você comeu, Cate? — Suas palavras
eram sinceras, até mesmo pensativas.
Ela se virou para encará-lo. A confusão inundava seus pensamentos.
— Por que esses detalhes triviais lhe dizem respeito, meu lorde?
Owen ficou de joelhos diante dela.
— Você teve a vantagem durante nossa escaramuça. Há apenas uma
razão pela qual você não conseguiu escapar. Eu vi essa fraqueza nos homens
que eu comandei em batalha. Cansaço, fraqueza... morrendo por causa da
fome.

3 “Bane” significa desgraça, perdição, veneno.

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Ela franziu o cenho. Ela iria para o inferno antes de admitir suas
limitações a um nobre, embora ela supusesse que ele falasse a verdade.
— Quanto tempo? — Ele pressionou.
Um cheiro de carne cozinhando a provocou. Sua boca salivou em um
instante, como se ela fosse um cão examinando restos. Sua barriga
resmungou, cedendo aos cheiros tortuosos de comida deliciosa.
— Quatro dias na última contagem. Três antes disso.
Owen amaldiçoou, levantando-se. Suas palmas levantaram-se para
esfregar a nuca. Seus cabelos na altura do ombro, reunidos uniformemente
com uma tira de couro, roçaram a gola de sua túnica, a sua tonalidade lisa
brilhando à luz do sol.
— O pouco que eu encontro, levo para as crianças. Eu como o
suficiente para me manter em pé.
Owen colocou a mão em volta do cotovelo de Cate, ajudando-a a ficar
de pé.
— No intervalo dos assassinatos dos coletores de impostos, é claro.
— Certamente. — Cate tentou livrar-se de seu aperto, o que só fez
com que segurasse mais forte. Ele a levou perto do fogo, onde duas lebres
recém esfoladas assavam em um espeto. Ela não podia tirar seus olhos delas
quando as chamas lamberam os sucos que se infiltraram na superfície da
carne. Minúsculas gotículas de suculenta delícia sibilaram quando
mergulharam nas chamas, e Cate não conseguia se concentrar em nada
mais.
Owen colocou-a perto de uma pilha de bolsas de sela e a firmou antes
de revistar um pacote próximo. Recuperando um saco de suas profundezas,
ele puxou vários pães pequenos de viagem. Ele jogou um para Cate, e ela
pegou em seu colo.
Ela partiu um pedaço com os dentes, saboreando o sabor rico em sua
língua antes de engolir. Não estava mais que uns dias envelhecido, cozido
fresco nos fornos reais, sem dúvida. Feito com farinha de qualidade,
manteiga e creme doce. Cate fechou os olhos e suspirou. Dada a chance, ela
se satisfaria aproveitando-se da mercadoria tão refinada o suficiente para se

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tornar doente. Ela mordeu o pão novamente, rapidamente seguido por
outro, até que nem as migalhas foram deixadas.
Uma dor instantânea atingiu suas entranhas. Uma onda de náusea a
varreu, obrigando Cate a se reclinar contra o embrulho mais próximo. Uma
sela feita para ser um travesseiro improvisado, e ela esticou as pernas,
esperando que as dores diminuíssem. Ela fechou os olhos, contente de ouvir
os acontecimentos que a rodeavam.
Os dois homens à sua esquerda limparam suas armas enquanto eles
tinham tempo, grunhindo sobre o atraso. Um perto do fogo disse ao outro
para manter as mãos fora da carne... não estava pronta. As conversas de
homens zangados eram mais como as discussões de mulheres idosas. Os
dois homens que estiveram tentando encontrar Wallace estavam
surpreendentemente silênciosos por terem acabado de voltar da caçada.
Cate pensou que estariam ocupados informando Banebridge sobre a
informação que haviam obtido — onde as pistas frescas terminavam, se
haviam outros vindo ajudá-la, até mesmo se houve resistência. Em vez
disso, eles se distanciaram do grupo, ficando perto de seus cavalos
preparados. Seu instinto gritou para ela manter um olhar atento.
Botas soaram por perto. Owen sentou-se em uma sela ao lado dela,
com uma lebre salgada na mão.
— Ainda está com fome?
— Obrigada pela sua generosidade, meu lorde. Eu sei que não é
necessário para alguém de seu status e eu sou grata por sua bondade. —
Cate aceitou o pedaço de carne que Owen lhe deu e ela o levou à boca,
saboreando cada pedaço. — Embora, — Ela fez uma pausa. — eu não
entenda o porquê. Sua obrigação é para a Coroa, não para comigo. Eu sou
sua prisioneira, não sou?
Engolindo, Owen limpou a boca com a parte de trás da palma da mão
antes de falar.
— Não tenho pressa de voltar para Londres. Você tem?
Cate engasgou com o seu bocado.

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— Não, não posso dizer que tenho. — Dirigir-se a sua própria
execução não era uma prioridade. Escapar era, antes de mais nada. Ela
conhecia a floresta melhor do que a maioria e poderia sobreviver sozinha, se
necessário. Um plano para livrar-se dos grilhões era o que ela precisava no
momento. Esgueirar-se de um desavisado Owen não tinha sido bem
sucedido absolutamente — ela estava muito fraca para ganhar dele. Londres
estava a apenas dois dias de viagem, a menos que pudesse enrolar mais a
partida deles. Ela estava ficando sem tempo e opções. Cate só poderia
esperar que Wallace voltasse com reforços e logo.
— Você parece um homem honrado, Bane. Alivie minha mente com a
verdade. Eu desejo saber o que está por vir. — Ela jogou um osso
descarnado na moita, então olhou para Owen com expectativa, esperando
por mais. Ele cortou um pedaço de carne e passou para ela. Cate
prontamente enfiou o pedaço todo na boca. Suco deslizou por seu lábio
inferior e o queixo. Com a língua, ela limpou os sucos de seus lábios. Cate
limpou os pingos do queixo com o dedão, que enfiou na boca não querendo
perder uma gota. Quando Owen não respondeu, ela o viu comer até que
sentiu seus olhos sobre ele. Quando ele olhou por sobre o café da manhã, ela
perguntou com seriedade: — Você vai terminar isso?
Owen renunciou ao espeto.
Um dos homens de Owen, a quem ele se referiu anteriormente como
Harrison, aproximou-se.
— Vamos, agora, Banebridge. Ela comeu, sua ferida foi remendada.
Vamos seguir em frente. — Harrison jogou uma manta de sela sobre o
ombro antes de puxar a sela de acompanhamento da pilha. O guarda
caminhou até o cavalo, com a intenção de sair.
Droga. Sua ideia de uma conversa aprofundada sobre seu destino
agora estava com a pilha de ossos a seus pés. A comida tinha sido saborosa,
pelo menos. E ela nem tivera que roubá-la.

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Capítulo Quatro

MUITO CEDO, KATE estava de volta ao cavalo e viajando para mais perto
de Londres. Seus pensamentos antes calmos tornaram-se tumultuados a
cada hora que passava. Sentia-se como se fosse um animal apanhado em
uma armadilha, apenas esperando que seu assassino calasse seus gritos
lamentosos. Quanto mais ela se rebelava contra as algemas, mais apertadas
se tornavam. A pele debaixo dos grilhões — ferida e rosada — queimava
com os pingos de suor reunido em torno dos anéis sólidos.
As árvores se abriram, e lá diante dela estava a estrada de acesso, a
que conduzia direto ao inferno. Ela tinha estado em Londres apenas uma
vez, quando seu pai entregara um pedido de arcos para o arsenal do rei.
Cate era jovem e se fascinara pela provação. Como ela desejava que ele
estivesse aqui com ela agora. Ele saberia o que fazer. Mas, infelizmente, ele
não estava. Ela falhara com ele, e seu pai estaria para sempre perturbado em
algum lugar entre o céu e o inferno, já que a ele tinha sido negado um bom
enterro por esses bastardos indignos.
Os pássaros chilreavam melodias alegres entre os pinheiros, e Cate se
perguntou pelo que, na vida, eles poderiam estar tão felizes. De um modo
vingativo, Cate assobiou o "tseep" persistente do pardal despreocupado, um
pássaro discreto que ela rastreava quando era uma coisa pequenininha. O
som agudo recebeu um som de barragem de volta, dos muitos machos que
procuravam a fêmea ilusória que ela imitava.
Um corvo retornou a chamada, estimulando batidas de asas. Uma
enxurrada de folhas e pedaços de cascas de árvores desordenadas
despencaram no chão da floresta em círculos aberrantes, caindo nos cabelos
e roupas de Cate. O início de um sorriso se formou nos lábios dela e ela
lutou com o desejo de sorrir abertamente, para que alguém não a visse e
questionasse seu bom humor.

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Cate tentou afastar os detritos, mas suas algemas tornavam isso
impossível. Ela soprou para longe uma folha errante de sua túnica, em
seguida, raspou a bochecha com o ombro onde uma haste havia feito
cócegas na pele macia. Um cheiro residual de sabão ainda permanecia
nas fibras da túnica e ela inalou profundamente o agradável cheiro
amadeirado. A túnica, sendo um artesanato mais refinado, se adequaria
bem à sua armadura, agindo como um substituto excelente para o lixo
que Owen havia destruído.
Como se ele conhecesse seus pensamentos, Owen comentou sobre
sua armadura, ou a falta dela.
— Não foi feita para você, foi? Sua armadura?
— Sua senhoria presta atenção aos detalhes das roupas femininas?
— Você gosta de me provocar. — Owen pegou as rédeas em uma
mão e relaxou sua estatura, ligeiramente virando-se para Cate para
conversar.
— Eu acho isso altamente jovial e positivamente pecaminoso. —
Ela captou um tremor de sorriso sob o leve crescimento dos pelos
faciais alinhando a linha forte da mandíbula dele. — Para responder
sua pergunta, não, não foi feita para mim. Foi feita para um bastante
imbecil homem delicado que pensava que era divertido provocar jovens
criadas com o seu pequenino pênis à beira da água. Eu coloquei um fim
nisso e agora sou dona de um trabalho de couro muito refinado, que
rezo para que você tenha o bom senso de preservar, enquanto estiver sob
sua responsabilidade. Tomei muito cuidado em ajustar essa peça às minhas
necessidades.
Owen riu.
— Você me acha um idiota? — Ele arqueou uma sobrancelha.
— Jamais, meu senhor. — Cate zombou, fingindo um suspiro sem
fôlego. O corvo a chamou mais uma vez, indicando o tempo para a ação.
— Você está tentando brincar comigo, Cate? — Owen parecia
surpreso com sua língua ousada.

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— Oh, eu pretendo fazer muito mais do que isso. — Cate cavou seus
calcanhares na barriga de sua montaria. Ela pulou para frente com a súbita
mudança de comando, cortando a amarra que mantinha seu cavalo em
passo com o de Owen. Ele estendeu a mão para a corda, mas esta deslizou
por seus dedos enquanto Cate entrava entre o grupo de guardas confiantes.
As sombras no cume com vista para a estrada se transformara em filas de
homens, armados apenas com o que podiam carregar. Eles não tinham
armadura, exceto o que eles usavam nas costas, mas estavam dispostos a
lutar por sua liberdade. Ela reconheceu muitos rostos e rezou por sua
segurança. Sua aldeia não suportaria as perdas.
Com as espadas erguidas para o alto enquanto ela corria pela
passagem, os homens soltaram um grito de guerra perverso. Wallace, de pé
e orgulhoso em seu kilt com tartan MacKenzie, soltou um grito de corvo do
topo de uma rocha que jorrava do cume com vista para a estrada. O espírito
de Cate se elevou.
Ao virar uma esquina, seu júbilo se contorceu em um demônio
horrível que ela não esperava. Seus homens não estavam sozinhos. Antes
que ela pudesse gritar seu nome em advertência, Wallace foi atacado por
trás. Ele caiu da borda da rocha e rapidamente desapareceu de vista quando
sua montaria completou a volta.
Agora à frente da luta, Cate lutou contra suas algemas, incapaz de
retardar o cavalo. Sem defesa e incapaz de desmontar, ela pressionou seu
tronco contra o pescoço do cavalo, enfiando a cabeça perto de sua crina
enquanto as flechas lhe cuspiam de cima. Músculos apertaram-se por baixo
dela. O cavalo relinchou quando chutou as patas traseiras para fora, contra o
perigo que sentiu por trás. Olhando para a retaguarda, Cate viu uma flecha
saindo do seu flanco traseiro. O sangue escorria da ferida, descolorindo o
chão quando ele pisava em arcos largos ao longo da estrada, tentando
localizar seu atacante.
Cate lutou para ficar sentada. Se caísse agora, ela seria arrastada até
que seus braços fossem rasgados de seus ombros. Frenética para se libertar,
tentou alcançar os nós com os dedos. Seus esforços foram interrompidos

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quando uma flecha traiçoeira acertou na carne do pescoço do animal. Ele se
ergueu antes de cair no chão com uma torção de pernas e couro. Presa e
incapaz de respirar, Cate se revolveu para se levantar enquanto o cavalo
tentava, sem sucesso, recuperar o equilíbrio.
Incapaz de suportar suas lesões, o cavalo caiu de lado. Confinada à
sela, ela estava destinada a cair com ele. Ele puxou contra o pedaço,
resfolegando gotas de sangue em um jato fino enquanto sacudia a cabeça
violentamente, puxando Cate de lado a lado a cada movimento frenético.
Um enxame de homens usando rostos pintados e escudos circulares,
carregados com espadas desembainhadas surgiram da estrada de acesso.
Atrás dela, Wallace — vivo, graças a Deus — e os outros cruzavam espadas
com uma mistura de guardas de Owen e os misteriosos atacantes do cume.
Cate conectou-se com Wallace. O medo nos olhos dela devia ter sido
revelador, pois ele empurrou contra seu atacante com um propósito
renovado, jogando o homem e derrubando o inimigo. Wallace rapidamente
silenciou seu oponente com sua espada. Ele correu em direção a Cate.
Wallace rugiu o nome dela, esquivando um golpe enquanto forçava
seu caminho para mais perto dela.
Desamparada, ela não podia fazer nada além de observar enquanto
uma batalha surgia ao redor dela como um incêndio. O cavalo se empurrou
para frente, e Cate carenou contra a sela. Sua visão de Wallace desapareceu.
Uma escuridão encobriu sua visão e um sobrecarregador impulso de sufoco
veio a superfície.
Deixando suas frustrações de lado, ela começou a trabalhar nos nós
de corda agora afrouxados pelo cavalo caído. Ela segurou a corda entre os
dentes e trabalhou em uma extremidade do nó bem atado enquanto seus
dedos puxavam o emaranhado.
— Isso pode ser mais eficiente. — Owen. Sua lâmina pequena cortou a
espiral da corda, liberando os grilhões do cavalo.
Cate se jogou sobre Owen, derrubando-o no chão. Uma espada se
ergueu acima deles, por pouco os acertando. Suas maldições coincidiram
com aquelas saindo da boca de Owen enquanto ele chutava o oponente

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deles na barriga, permitindo momentos preciosos para Owen procurar sua
espada. Ele colocou um braço em volta do pescoço dela como se ela
precisasse de proteção, finalmente colocando o corpo dela entre ele e o
cavalo. Um calor fervente irradiava das linhas construídas de seu físico,
cada contração de músculo se compelindo contra as curvas dela. O coração
dele pulsava num ritmo constante, o repetitivo thud thud ecoando em um
forte contraste com a batida trêmula do dela própria. Seu calmo ritmo
pacífico afugentava os gritos e o terror que os rodeava, pois tudo o que ela
conseguia ouvir era o tambor perfeito e constante do coração dele.
O braço livre de Owen avançou quando ele ergueu a lâmina,
desviando um golpe do assaltante pintado. O ranger das lâminas uivava nos
ouvidos de Cate. Owen grunhiu e oscilou, sua espada a única barreira entre
a vida e a morte. Um baque reverberou nas proximidades, e ele soltou um
suspiro, finalmente soltando-a.
Tomando-a pelos braços, Owen sentou Cate na posição vertical e
inclinou as costas dela contra o cavalo. Em uma frágil tentativa de arrumar a
aparência desordenada dela, ele limpou as ondas de cabelo cor de zibelina
do rosto dela. A palma da mão dele permaneceu na nuca dela enquanto ela
prendia a respiração.
— Você está ferida? — A preocupação dele com o bem-estar dela
parecia genuína. Seus olhos enigmáticos escaneando os dela, buscando a
absolvição. Sua cor, uma vez brilhante, se tornara escura e profunda.
— Só um pouco machucada, embora eu vou sentir isso
poderosamente de manhã. — Cate espiou por sobre a barriga do cavalo.
Mais homens se reuniam nas proximidades, um estrondo de escaramuças
explodindo em todas as direções. Eles estavam cercados. — Esses são seus
homens?
— Não, não são meus. Eles também lutam contra o seus escoceses.
Talvez todos nós busquemos o mesmo prêmio?
— Um fardo sim... mas um prêmio? Talvez para o próprio diabo. Eu
não sou um prêmio, não para qualquer homem. — Cate puxou os apertados

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grilhões, o som das correntes alto e claro. — Por favor, diga-me que você
carrega a chave, Bane.
— Carrego. — Owen olhou furtivamente para a ação e depois se
curvou abaixo do cavalo para se juntar a Cate, tomando muito cuidado para
ter certeza de que todos os membros estavam cobertos pelo enorme corcel.
Flechas acertaram a poeira não muito longe dos pés deles.
— Quem são esses homens? Nunca tinha encontrado criaturas de
aparência tão vil. — Cate se baixou em sua lateral, na esperança de
impedir mais uma descoberta. Uma flecha na parte de trás do crânio
depois de tudo o que ela suportara nos últimos dias parecia uma
maneira terrível de conhecer seu criador.
— Eles são caçadores de recompensa, atrás de você, eu acho. Eles
são mercenários e agem apenas pela recompensa. Eles não se importam
com quem matam no processo, tornando meu trabalho extremamente
difícil.
— Por dez libras? Inferno, eu tenho esse montante guardado nas
árvores. — Toda essa comoção por ela? As aldeias locais a conheciam
bem e não fariam tal coisa. A notícia deve ter se espalhado para além de
Kent. Alguém arriscar sua vida para capturá-la parecia uma tolice, mas,
novamente, ela conhecera alguns corações nefastos que matariam um
homem por um gole de cerveja. Ela não duvidaria do mesmo com esse
grupo de rufiões. — Você acha, talvez, que o bom Capitão também
colocou um preço pela sua cabeça? — Cate riu quando outra série de
flechas caiu muito próximo.
— Eu espero sinceramente que não, já que esse bom Capitão,
como você o chama, é meu pai.
— Ahh, muito bem então. Eu deveria ter sabido que era ele quem
mais me queria morta. Seus homens realmente parecem mais fáceis de
eliminar. Talvez ele tenha aumentado o preço para uma soma
irresistível?
— Talvez ele prefira vê-la morta a ser incomodado com um
julgamento justo.

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As palavras de Owen a cortaram ao meio. Cate nunca pensara na
justiça das acusações, mas também não as negara.
Completamente cercados, parecia adequado que ela devesse
morrer ao lado de um homem tão bom quanto Owen. Honorável e
certamente bonito, morrer nos seus braços seria um bom modo de ir. De
fato. Ela tinha derrubado sua justa parte de homens e sabia que alguém
se elevaria em seu lugar.
Clareie seus pensamentos, Cate. Não será morta hoje. Não será morta hoje.
Ela repetiu as palavras até que acreditou nelas.
— Bane, vamos perecer aqui mesmo se você não me libertar. — Ela
lutou contra as algemas. — Você terá que confiar em mim. Você não pode
defender nós dois. Remova a porra desses grilhões. — A corrente retiniu. —
Agora, Bane. Os grilhões!
Owen abriu a bolsa pequena em seu cinto e procurou a chave.
— Apresse-se! — Cate se inclinou para frente em antecipação.
Ao encontrar a chave, ele se atrapalhou com as correntes enquanto
virava a fechadura. Os anéis caíram no chão e ela estava livre. Ela esfregou a
pele irritada por um momento antes de apressadamente pegar uma espada
caída próxima.
O aperto de Owen no punho de sua própria espada ficou
visivelmente mais firme.
Cate revirou os olhos.
— Fique calmo. Nós lutamos juntos ou nós dois morremos hoje.
— Damos uma trégua então? Você não deve tentar me matar e eu
tentarei não matá-la?
— Por enquanto, sim. — Ela testou o peso da espada com um
pequeno balanço de meio arco.
Owen deslocou sua postura curvada, mas não virou
completamente as costas para ela, mesmo que vários caçadores de
recompença os atacasse por trás. Ela entendia a desconfiança. Cate não
se permitia ser vulnerável a ninguém, especialmente não ao homem que
procurava sua prisão.

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Preparando-se para o ataque, Cate respirou fundo, apertando o
cabo da espada grosseiramente feita e esperando o impacto. Sem sua
armadura e seu arco, sentia-se completamente exposta. Não acostumada
com o peso do metal, o primeiro balanço perdeu completamente o alvo
pretendido, e ela quase perdeu o equilibrio na briga. Ela compensou por
bater com o ombro na barriga do homem, derrubando-o pelo tempo
necessário para Owen atravessar seu peito.
— Devemos nos dirigir para as árvores. Estamos muito expostos
aqui. — Owen saltou para o lado, se esquivando de um golpe de seu
oponente.
Ela atacou o homem por trás, empurrando a espada pela lateral
dele. O agressor gorgolejou depois caiu ao chão. Removendo a lâmina do
corpo, ela disse:
— Eu concordo. Sou mais útil com um arco. Eu me canso dessas
bobagens com espadas. Se abaixe.
Owen caiu no chão enquanto Cate se moveu selvagemente acima
dele, cortando o pescoço de outro caçador de recompensas. O sangue
pulverizou em um grande arco enquanto a artéria do homem continuava
a bombear e ele lutava por respirar. Saindo de baixo do inimigo
moribundo, Owen empurrou a espada na barriga do homem, matando-o.
Limpando a substância pegajosa de seu rosto, ela respirou
cansadamente.
— Para as árvores, então?
Owen cambaleou para frente, quase caindo contra Cate. Ele
recuperou o equilíbrio e rapidamente visualizou seus arredores.
Tomando Cate pela mão, eles subiram a estrada até encontrar um local
para atravessar. Pequenas escaramuças floresciam ao redor deles,
nenhuma das partes querendo desistir.
Vencer ou morrer. Essas eram as únicas escolhas.
O par correu por entre as árvores, saltando sobre os ramos caídos
e desviando dos ramos das árvores baixas enquanto abriam caminho
para a segurança.

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Fazendo uma pausa para recuperar o fôlego, Cate se ajoelhou ao
lado de um velho tronco apodrecido com musgo verde.
— E quanto aos seus homens, meu lorde? Você não teme pela
segurança deles? Ou pela sua? — Ela enxugou a testa com a manga da
túnica, manchando-a de vermelho enlameado.
Owen caiu ao lado dela.
— Eles são treinados o suficiente para reagrupar e lutar. E quanto
aos seus homens?
Cate se ergueu, ficando de pé acima de Owen.
— É aqui que nossa liderança difere. Nós lutamos para sobreviver,
para proteger uns aos outros a todo custo. — A ponta da espada dela se
equilibrou precariamente perto do peito dele. — A todo custo.

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Capítulo Cinco

À VISTA DE SEUS HOMENS emergindo do refúgio das árvores, Cate afastou


sua espada, afastando-se de Owen.
— Me desculpe por isso. — Seus lábios se apertaram com um leve
ressentimento. — Se ao menos tivéssemos nos encontrado em circunstâncias
diferentes. — Ela correu para seus homens, parando por um momento para
olhar para o derrotado Owen. Ele pendia a cabeça entre os joelhos, e ambos
os braços estavam estendidos frouxamente em seus lados. Ela o superara.
A respiração saiu de seus pulmões enquanto ela fugia da pequena
clareira em que se despedira de Owen. Correndo ao lado dela, Wallace
soltou seus gemidos e grunhidos enquanto lutava para manter o ritmo. Os
abraços alegres e as orações agradecidas teriam que esperar até que
esvaziassem a floresta e ganhassem uma grande quantidade de terreno ao
fugir do inimigo.
Com cada passo a diante, homens surgiam da floresta, juntando-se a
Cate na retirada. Homens dignos, jovens e velhos, das aldeias vizinhas
tinham se juntado a Wallace — pela liberdade dela. Alguns rostos ela
reconhecia... meninos jovens que agora eram jovens homens carregando
espadas e arcos, enquanto outros eram estranhos. Agricultores simples se
reunindo por uma causa comum.
Por um breve momento, uma euforia corpórea a consumiu. Ela tinha
sobrevivido para viver outro dia, fora-lhe concedida uma segunda
oportunidade para retomar a caça ao assassino de seu pai. Ela o veria
vingado. Brilhos de carmesim profundo, a cor do uniforme da Guarda Real
chamou sua atenção, e Cate segurou Wallace para pará-lo. Ela fez um gesto
para que os outros se abaixassem no chão enquanto ela o fazia, escondendo-
se nas grama alta. Várias vozes ecoaram pelas árvores, saltando da rocha e
da borda em direções distorcidas. Precisando saber quantos eles
enfrentavam, Cate sussurrou para Wallace:

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— Espere aqui.
Erguendo-se sobre os cotovelos, ela se arrastou pelo meio do mato,
mais perto dos guardas inimigos. Os homens discutiam, suas atenções uns
nos outros em vez de seu entorno e ao favor de Cate. Para sua consternação,
dois dos homens de Owen — os rastreadores enviados atrás de Wallace —
discutiam com vários dos pintados caçadores de recompensa. Aturdida pela
traição, Cate não podia se mover. Em vez disso, ela ouviu. Se eles fossem
revelar qualquer coisa parecida a um plano, ela queria sabê-lo.
— Como é que eles não estão mortos? — Um sussurrou com dureza.
Cate reconheceu a voz. Ele ficara desconfiado dela, nunca fazendo
contato visual completo, mas sempre manteve um olho nela em todos os
momentos.
— Não sei, senhor. — Foi a resposta fraca.
— Porque seus homens atiram tão reto quanto mijam! — Com a
frustração evidente na tensão de sua voz, o guarda grunhiu ordens: — Diga
aos seus homens que se eles não me trouxerem a cabeça dos dois, será a
cabeça deles nas lanças!
— Sim, senhor! — Botas se arrastaram pelas samambaias. Os cavalos
resmungaram seu descontentamento à medida que os homens montavam, o
equipamente de couro rangendo sob o novo peso.
Ondas de suor, couro e feras arderam nas narinas de Cate, deixando-
a com o instinto avassalador de correr. Ela se afastou, com cuidado para não
perturbar as plantas altas que disfarçavam sua posição. Um entorpecente
pânico se enraizou em seu intestino, ameaçando arrastar-se por sua
garganta sob a forma de um grito.
Duas cabeças. Os guardas estavam conspirando para matar Owen. Ele
confiara neles — nela — e até mesmo ela o traíra. Embora ela não lhe tivesse
jurado nenhum dever ou honra, ela lhe devia esta única coisa. Owen
colocara a vida dele nas mãos de seus homens de bom grado. Ela não sabia
por que eles queriam acabar com a vida dele, mas ele não merecia morrer
nas mãos traiçoeiras de seus próprios homens. Homens com quem lutara,

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com quem dividira o pão. Ela tinha que avisá-lo da deslealdade deles. Era o
mínimo que podia fazer como reembolso pela bondade dele.
Chegando a Wallace, Cate inalou uma respiração vacilante.
— Wallace, ouça-me. Pegue os outros e volte para casa, para
Hawkhurst. Há um assunto que devo atender e devo enfrentar sozinha.
Voltarei logo. — Ela apertou-lhe o ombro com os dedos, apertando-o de
forma a reasegurá-lo.
— Cate. — Wallace suspirou o nome dela, sua decepção evidente
pelo forte vinco em sua sobrancelha e o franzir de cenho contorcendo suas
características geralmente alegres.
Ela não seria dissuadida.
— Eu sei o quanto você se arriscou e eu estou realmente agradecida,
mas devo avisá-lo.
— O guarda que a levou prisioneira? Ele é nosso inimigo!
— Uma vida por uma vida. Ele salvou a minha e eu devo pagar a
dívida. Seus homens tramam contra ele, Wallace. Você faria o mesmo por
qualquer um de nós. Não vou demorar. — Cate desejava que ela pudesse
fazer com que seu amigo entendesse o quanto ela precisava disso, por sua
própria consciência. — Além disso, — Ela acrescentou, tentando aliviar a
situação. — esse idiota está com a minha armadura. — Ela sorriu quando
Wallace riu. Voltando-se para o homem mais próximo dela, ela estendeu a
mão. — Me empresta seu arco? — O homem acenou com a cabeça,
passando-lhe a arma e uma aljava cheia de flechas.
— A melhor das sortes para você, Cate. Devemos nos livrar desse
absurdo pela manhã e vamos rir disso com uísque. Muito e muito uísque. —
Wallace fez um gesto para que o grupo ficasse à esquerda, para viajar mais
profundamente entre as árvores para evitar os inimigos.
Uma vez livre dos guardas, Cate não perdeu tempo, correndo de
volta para o lugar de que ela lutara tanto para escapar. A batida aloucada de
seu coração a impulsionava à frente. Perto de uma pequena vista da estrada
de acesso, ela se agachou. Ela examinou o caos abaixo. Os corpos estavam

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jogados no chão, principalmente compostos pelos caçadores de recompensas
e em quantidade massiva.
Cercado por todos os lados, vários de seus compatriotas ainda
lutavam contra o inimigo, mantendo a posição o melhor que podiam com
poucos meios de fuga. Um pouco de culpa a atormentava, já que os deixara
para morrer. Seus olhos procuraram Owen e uma porção de esperança
dentro dela desejava que ele ainda vivesse. Ela o viu perto das árvores, onde
se separaram, lutando contra mais homens do que até mesmo os maiores
guerreiros poderiam derrotar nas melhores circunstâncias.
Uma escolha deveria ser feita. Cate contou as flechas em sua aljava.
Ela abriria caminho para aqueles que tomaram as armas por ela ou ajudaria
na fuga daquele que a condenara? Seja qual fosse o seu raciocínio, ela não
possuía flechas suficientes para realizar os dois.
— Pai, guie-me e eu seguirei. — Ela se benzeu antes de remover o
arco pendurado sobre seu ombro. Colocando sua primeira flecha, ela
apontou para aqueles que atacavam seus companheiros de aldeia. O
primeiro atacante caiu no chão logo antes de entregar o que teria sido um
golpe de morte para um jovem rapaz mal grande o suficiente para usar uma
espada. Sem perder tempo, ela voltou a armar, então liberou a corda com
determinação ardente.
O segundo inimigo caiu perto do primeiro, que chamou a atenção
para o paradeiro dela.
— Corram! — Ela ordenou aos outros, enquanto escorregava pelo
aterro. Cate fez uma pausa, o arco levantando-se em harmonia com sua
respiração. Ela armou outra flecha antes de puxar seu foco para Owen. Ela
atravessou a estrada, suas botas batendo na sujeira solta provocada pelos
cavalos e a luta. Saltando sobre um camarada caído, ela retirou uma flecha,
parando brevemente para lançá-la na nuca de um caçador de recompensa
que se aproximava de Owen. Correndo mais perto do agrupamento de
árvores em que ela tinha passado o olho em cima dele, Cate olhou
rapidamente atrás de si, captando um olhar apressado dos outros que ela

A Filha do Arqueiro – Melissa Mackinnon


tentara salvar. Para sua surpresa, a escaramuça diminuíra e os últimos
homens se dirigiram para a espessa cobertura da floresta.
Cate virou-se a tempo de trombar no punho estendido de um
retumbante caçador de recompensas. O golpe acertara Cate em suas costas,
expulsando o fôlego de seus pulmões. As flechas derramaram-se da aljava
quando ela bateu no chão e seu arco voou, parando fora de seu alcance. Ela
chutou o tronco dele, tentando retirar a arma do punho dele. O homem
pegou seu pé e puxou, arrastando Cate vários passos para trás. As unhas
dela cavaram na terra macia. A sujeira e a grama encheram suas mãos
vazias.
Sentindo o eixo de uma flecha roçando as pontas de seus dedos, Cate
se revolveu para pegá-la. Agora, agarrando-a firmemente na palma da mão,
lutou contra a força do homem. Quando seu atacante se inclinou para um
golpe assassino, Cate balançou a flecha violentamente, mergulhando
profundamente no pescoço do homem. O sangue disparou da ferida, e ele
gargarejou um terrível grito de morte. Ela empurrou-o de volta com toda a
força e rolou de debaixo do corpo antes de colapsar em um amontoado de
carne e couro amassados.
Ela se pôs de pé. Tinha que chegar a Owen. Cate pegou uma espada
para acabar com um homem gravemente ferido rastejando em direção a
Owen. Com uma punhalada rápida no peito, o atacante foi silenciado. Suas
mortes temporariamente evitadas, ela deixou cair a lâmina onde estava e
tropeçou até ele.
— Ora, se você não é uma coisa triste de se ver? — Disse ela,
respirando pesadamente.
Cate riu do estado ensanguentado de Owen. Talvez ela esperasse que
ele fosse feito de pedra, pois ficou momentaneamente surpresa ao ver que
ele sangrava sangue vermelho. Um corte fresco gotejava ao longo de sua
coxa direita, suas calças sujas em uma mistura de lama e sangue. As gotas
de carmesim salpicavam sobre sua túnica e sua pele e manchavam com raias
vermelhas enquanto suor pingava de sua sobrancelha.

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— Você veio acabar comigo, Cate Archer? Colocar uma flecha no meu
crânio também? — Owen balançou a espada com galhofa, com a pouca força
que conseguiu reunir. Ele soltou uma risada abrupta, que terminou em um
suspiro.
— Eu preferiria destruir o vitral colorido da Santa Igreja do que um
rosto bonito como o seu. No entanto... devemos parar de nos encontrar
assim. — Cate passou o braço em torno de Owen. — Oh, venha agora.
Ainda há esperança para você. — Ela o ajudou a ficar de pé.
Ele murmurou uma maldição enquanto recuperava o equilíbrio,
devagar para endireitar-se completamente.
— Parece que eles também gostariam da sua cabeça, meu lorde.
Owen testou seus passos, andando cautelosamente para frente. Ele
fez uma careta e seus olhos se fecharam quando seus movimentos cessaram.
— Quantos permanecem? — ele perguntou.
— Muito poucos. Eles se dispersaram no momento. — Owen vacilou
diante dela. — Você deve descansar. — Disse ela, ajudando-o a sentar-se ao
lado de uma árvore caída. Um ponto seguro e longe do perigo imediato,
teria que servir enquanto eles descansavam por um pouco. Depois de alguns
momentos tensos e algumas longas respirações, Cate soltou: — Eu irei
encontrar um cavalo. — Ela encontrou para Owen uma espada e a deixou ao
lado dele. — Eu retornarei. — Ela se virou para sair, ponderando a ideia de
onde, exatamente, ela deveria encontrar um cavalo.
— Catherine.
O seu nome a interrompeu de repente. A suavidade grave e fluida de
sua voz a atravessou. Ela se virou, torcendo os quadris para encará-lo.
— Obrigado. — Uma ternura envolvia as palavras dele. Suave e
encorpado, seu espírito genuíno a surpreendeu.
Um leve sorriso abriu os lábios dela.
— Eu posso ser uma cadela assassina aos olhos de alguns, mas ainda
tenho um coração honrado, apesar do que Sua Majestade possa ter lhe dito.
Ele não conhece as minhas razões nem a minha vida.

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Localizar um cavalo estava provando ser uma tarefa mais difícil do
que Cate havia antecipado. A maioria tinha fugido da área, reivindicado por
qualquer das partes que estivesse participado de sua localização no
momento do acerto de contas na batalha, ou fora ferido de forma mortal.
Encontrando-se na mesma área onde sua montaria caiu, Cate passou por
cima dos corpos com os quais ela e Owen haviam lutado juntos. Quão
rápido os destinos mudaram. Apenas à algumas horas, pensara que tinha
poucas possibilidades de sobrevivência. Os grilhões estavam caídos frios na
sujeira, misturados com pedaços de grama cortada e sangue. A luta parecia
muito antiga.
Ela alcançou as bolsas de sela — ainda presos ao cavalo morto —
esperando que contivessem suprimentos suficientes para mantê-los durante
a noite. Enquanto rodeava o cavalo, ele a encarou, sua cabeça se elevando ao
vê-la.
Ferido e sangrando, agarrava-se à vida, não estando disposto a
sucumbir ao seu destino inevitável. Cate parou um momento para admirar
seu espírito antes de decidir que se ele conseguisse se levantar às quatro
patas e caminhar, as pessoas de sua aldeia festejariam como reis amanhã. Ela
soltou a cilha e afrouxou a sela, esperando que a liberação de peso e
restrição adicionados o ajudasse a levantar. Pegando-o pelas rédeas, ela deu
ao cavalo um puxão.
— Vamos. — Ela o persuadiu. — Levante. — O cavalo lançou um
relincho em protesto, movendo a cabeça. Por sua vez, Cate caminhou até o
seu traseiro e deu-lhe um forte tapa. — Levante-se, sua besta teimosa! — Ela
puxou novamente, e desta vez, o animal rolou de lado, tentando ficar de pé.
— Tente, então. — Ela riu, dando espaço ao cavalo para soltar as pernas
frontais.
Ele se lançou para frente, se libertando com uma sacudida da sela e o
estofamento. O animal estremeceu, a carne pulsando em torno das feridas
da entrada das duas flechas saindo do pescoço dele e do flanco. Em uma
nova inspeção, Cate tomou conhecimento do dano. A ferida do pescoço era
mais um arranhão, e ela facilmente retirou a flecha. A flecha na parte de trás,

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no entanto, estava alojada profundamente no músculo, e desalojá-la só
causaria mais danos. Ela quebrou o eixo o mais perto possível sem causar
mais dor, e deu ao cavalo uma boa palmadinha por ter se mantido
relativamente quieto.
Pegando as bolsas da sela, Cate deu uma olhada no interior. Para sua
surpresa, sua armadura estava enrolada perfeitamente em uma das bolsas
de couro. Que o demônio o levasse, aquele Owen Gray. Seus preciosos
couros estiveram ao seu alcance o tempo todo. Uma onda de pânico se
espalhou por ela. Apenas o pensamento de Owen o ter cortado para tratar
da ferida dela deixava seu estômago em nós. Ela decidiu deixá-lo na bolsa e
lidar com isso mais tarde. Ele precisava de sua ajuda, e ela não lhe faria bem
protestando sobre o estado de sua brigandina.
Cate suspendeu as bolsas sobre o cavalo e pegou as rédeas. Depois de
dar vários passos à frente, ela parou, dobrou de volta a sela, e a elevou em
sua lateral, equilibrando-a precariamente em seu quadril e antebraço,
ajustando seu peso com frequência. Ela incitou o cavalo a seguir,
combinando seus passos ao ritmo trôpego dele. A sela era pesada e
incômoda, mas ela caminhou em um passo lento o suficiente para que
pudesse controlar seu peso. O pensamento de usar o cavalo para carregar a
sela atravessou brevemente sua mente, mas a culpa pesava fortemente em
sua mente. O pobrezinho já havia sofrido o suficiente para que ela pudesse
viver. Então Cate decidiu carregar o fardo dessa vez.
E só desta vez. Ela não precisava se deixar levar por coisas incômodas
como sentimentos.
— Você precisa de um nome, cavalo. — Ela murmurou. — Talvez eu
devesse chamá-lo de... Jantar.
Uma névoa de início da noite se instalou ao redor das árvores
enquanto Cate se aproximava da clareira em que deixara Owen. Minúsculas
gotas de água e suor se agarravam a sua pele, grudando seus cabelos
emaranhados na testa e nas bochechas. Vários longos fios haviam se soltado
da trança e voavam livremente com a leve brisa. Soltando a sela, Cate
demorou um momento para se recompor. Ela soltou o cabelo, retirando a

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faixa de barbante mantendo-a no lugar ao longo de sua nuca e enfiou o
pedaço no alforje. Ela passou os dedos pela bagunça, tentando domar as
ondas escuras. O cavalo resmungou, soprando um pedaço de cabelo no
ombro de Cate. Ela deu ao nariz dele um empurrãozinho suave.
— Eu ainda estou bem melhor do que você, Jantar. — Cate suspirou,
levantando a sela mais uma vez. — Vamos ver como o belo adversário está
se saindo, sim?
Encontrando Owen onde ela o deixara, ela parou para observá-lo. Ele
não a viu chegar; em vez disso, ele se concentrava com uma hesitação
cautelosa sobre o corte ensanguentado em sua coxa. Ele pegara no tecido
rasgado, avaliando o dano infligido, rangendo os dentes enquanto ampliava
o rasgo nas calças. Owen soltou um grito sufocado e respirou fundo. Ele
murmurou uma maldição, então pegou outro pedaço. Antes que ele pudesse
reunir a coragem de puxar, Cate deu um passo à frente e limpou a garganta,
esperando que o distúrbio fosse uma distração oportuna.
— De todos os cavalos, você escolheu o que mais provavelmente vai
morrer? — Owen riu, empurrando para trás os cabelos úmidos agarrados a
sua testa.
Cate deixou cair a sela e olhou para Owen.
— Por acaso você viu um rebanho passar por aqui? — Ela aproveitou
a oportunidade para acariciar a bochecha do cavalo. — Eu pensei que ele
estava morto, mas ele está vivo o suficiente para chegar em casa. Amanhã
comeremos até que nossas barrigas fiquem doentes.
— Você não irá comer meu cavalo.
— Ele vai morrer de qualquer maneira, não vai, Jantar? — Ela
arrulhou, voltando sua atenção para o cavalo. Ele bufou e balançou a cabeça,
puxando contra o cabresto.
— Você é uma pequena cadela assassina, não é? — Uma grande
risada irrompeu de Owen, e ele sorriu. — Ele é chamado de Jack e eu
agradeço que ele ainda esteja vivo.
— Por quê? Para que então você possa esconder minha armadura
novamente, meu lorde? Na sela o tempo todo? Eu deveria lhe bater. — Ela

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deixou o cavalo pastar e ajoelhou-se ao lado de Owen. — Vamos dar uma
olhada, sim? — Cate desenrolou com ternura o tecido da ferida na coxa de
Owen, tocando suavemente a pele avermelhada ao redor do corte,
procurando sangramento ou mais perfurações. Deslizando ambas as palmas
dentro do rasgo nas calças, Cate envolveu seus dedos em cada lado de sua
coxa, deslizando suas palmas para baixo na carne musculosa. O músculo
estremeceu sob seu toque e Owen respirou fundo quando a parte de trás de
sua mão roçou sua virilha. Seus olhos encontraram o dele.
— As preciosidades ainda estão aí, querida, você não precisa se
preocupar.
Cate sentiu suas bochechas enrubescerem. Voltando ao seu exame,
ela mediu todo o comprimento da ferida. Era longa, mas não
excessivamente profunda.
— Não parece que vai matá-lo, mas se não acharmos um médico em
breve, receio que o iminente pus irá. Eu vou limpá-lo o melhor que puder e,
pela manhã, iremos até a minha aldeia. — Cate retirou as mãos, a mudança
repentina de temperatura enviando calafrios por seus braços. — Eu temo
que a parte mais difícil será levá-lo até lá.
— Eu vou ficar bem. — Owen assentiu na direção da ferida dela. — E
você? Sua ferida sangra.
Uma escurecida mancha úmida atravessava sua túnica e ela cobriu a
mancha com a palma da mão. Ela não notara o sangue até que ele falou.
— Droga. — Ela amaldiçoou, reunindo a bainha da túnica. Ela
puxou-a, expondo sua atadura suja. — Parece que ambos precisaremos
desse médico. — Cate sorriu, mas um pânico silencioso enraizou no seu
peito. Não era assim que ela imaginara sua morte.
De alguma forma, ela conseguiu arrancar uma manga de uma túnica
de um homem morto. Estava relativamente limpa e serviria para uma
bandagem. Quando ela terminou de enrolá-la em torno da ferida de Owen,
Cate ajudou-o a ficar de pé.

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— Nós precisamos deixar este lugar. Os outros certamente recolherão
seus mortos logo, e seria melhor se não estivéssemos aqui. Você pode
montar?
— Você deveria pegar o cavalo. — Ele respondeu.
— Não é hora de bancar o cavalheiro. Pegue o cavalo antes que eu o
abata aqui mesmo. — A ameaça vazia funcionou, pois Owen a ajudou a
selar Jack. Cate ajudou Owen a montar na besta inquieta, tomando cuidado
ao colocar o pé dele no estribo para não desfazer a atadura improvisada em
sua coxa. Owen recolheu as rédeas, o tempo todo argumentando que Cate
deveria ser aquela a cavalgar, apesar dos olhares irritado dela.
Cate inspecionou o céu, buscando a posição do sol. Pegando o cavalo
pela rédea, ela apontou para casa, para Hawkhurst. Ela caminhou ao lado
do cavalo, com o arco que tinhaencontrado pendurado no ombro. Se eles
fossem atacados, ela estaria pronta. Ela decidiu que iria atravessar a floresta
e permanecer afastada das estradas, uma vez que eles estavam mais
propensos a encontrarem problemas ao longo de caminhos mais conhecidos.
Ela conhecia bem a floresta e estava confiante de que os levaria
verdadeiramente. Cate também queria evitar se encontrar com algum dos
Guardas Reais, que talvez estivessem procurando Owen. Isso não seria bom
para ela... nem um pouco.
Jantar, o cavalo, cansou-se em pouco tempo, dando a Cate um motivo
para acampar pela a noite. Ela não admitiria que também estava perto do
ponto da exaustão. Os acontecimentos nos últimos dias testaram sua
resistência e seu espírito. Nunca antes tinha enfrentado medidas tão
terríveis. As traquinagens através da floresta pareciam jogos de criança em
comparação com o que enfrentava agora. Seu plano bem pensado para livrar
Kent de nobres ladrões com dinheiro era agora apenas uma lembrança
distante.
O par se instalou em um conjunto de pinheiros baixos, as folhas
caídas proporcionando uma pausa confortável para a noite. Cate tirou a sela
do cavalo e verificou suas feridas antes de liberá-lo para que ele pastasse nas
proximidades. Não haveria fogo durante a noite; a fumaça e as chamas

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poderiam delatar a posição deles se alguém estivesse os procurando.
Também não haveria comida. Ela estava muito cansada, e os bosques ao
redor deles agora estavam muito escuros para caçar. Cate teria que esperar
até de manhã para encontrar algo para encher suas barrigas. Teriam que se
virar com a pouca água que tinham.
Rastejando sob o pinheiro, Cate se instalou ao lado de Owen,
colocando as mãos sob a cabeça como um travesseiro improvisado.
— Você não é tão virtuoso para não compartilhar uma cama de terra,
é? — ela lhe perguntou.
— Eu nunca negaria uma mulher que voluntariamente pede para
dormir na minha cama.
Cate riu baixinho, feliz que o tom entre eles era de brincadeiras e não
de tramas assassinas.
— Certamente, um homem da sua posição permaneceria fiel a sua
esposa?
— Eu não sou casado, se é isso que você está perguntando.
Sua voz era calma e suave — gentil, e lembrava-lhe do ribeirão em
que ela costumava brincar perto quando era criança. Isso fazia cócegas no
seu interior, assim como a água ondulante fazia — o choque súbito do frio
contra sua pele tirava-lhe o fôlego por um momento, assim como olhar a boa
aparência dos traços de Owen o fazia.
— Isso te surpreende? — Perguntou ele.
Cate fez uma pausa, pensando na questão. Na verdade, surpreendia.
Ele era um homem bonito, forte e apto para a batalha. Um filho de
nascimento nobre, ela assumira que ele teria uma esposa junto com uma
quantidade substancial de terra e riqueza. Crianças, criados, todo o lote.
— E você, Cate? Você é casada? Há um homem esperando nervoso
pelo seu retorno? — Owen manteve o olhar no céu, a minguante luz do sol
manchando o céu do verão com tons de âmbar dourado. A escuridão
passearia pela terra em alguns momentos, levando os belos pigmentos com
ela.
Uma tristeza se espalhou por ela.

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— Não. — A vida mostrava uma dura realidade. Eles descansaram
em silêncio, respirando em unissono constante enquanto o sol afundava no
horizonte. Cate contemplou esgueirar-se à meia noite, cortando todos os
laços com o nobre, mas algo puxava as cordas do seu coração. Ela não
conseguia dizer bem o que era, mas algo estava mantendo seus pensamentos
presos a ele.
Os grilos chilreavam uma melodia brincalhona com as rãs nas
proximidades, a sinfonia noturna deles envolvendo a terra enquanto a
escuridão caia entre as árvores. Cate soltou um longo suspiro e espreguiçou-
se. Suas pálpebras ficaram pesadas com os sons suaves da natureza. Jantar
bufou, e Owen permanceu em silêncio. O espaço entre eles parecia uma
eternidade, deixando Cate para ponderar se deveria ou não insistir em
verificar a ferida de Owen novamente, apenas para que pudesse ter a
oportunidade de tocá-lo. Todos os pensamentos de um toque inapropriado
pararam quando Owen falou:
— Cate, posso te perguntar uma coisa?
— Acho que sim.
— Você parece ser uma mulher de honra e moral, embora ache essa
linha um pouco vacilante talvez, mas você voltou para garantir minha
segurança quando não precisava ter feito isso. Posso perguntar-lhe: quem a
prejudicou tão profundamente que você se sentiu obrigada a cometer tais
crimes contra a Coroa?
— Seu pai não lhe disse?
— Para falar a verdade, eu estava a caminho das minhas terras no
norte quando meu pai me convocou para Londres. Eu sigo ordens, não faço
perguntas. Meu pai é... um homem complicado.
— Eu amei meu pai com todas as fibras do meu ser, então, quando
ele foi brutalmente e injustamente assassinado, eu me incumbi de vingar a
morte dele. Meu pai, um homem razoável e justo, viajou para Mile End para
ajudar a negociar mais a fundo aluguéis e impostos justos para a nossa
aldeia. O Rei Richard prometeu reduções de aluguel e o fim do imposto por
cabeça em troca da cessação dos protestos. Estávamos sendo drenados pelos

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coletores de impostos. — Cate inspirou cansadamente. — Eles tiraram tudo
de nós. Minha vila estava morrendo de fome. Ele queria ajudar. — Visões da
última vez que ela viu seu pai flutuou através de seus pensamentos como se
fosse ontem. Ele a abraçou e despediu-se, e ela rezou pelo seu retorno em
segurança. Cate nunca mais viu seu pai. — Quando ele não voltou, saí de
casa em busca dele. Não cheguei longe antes de ouvir sobre a sua morte.
Foi-me dito que o Rei mentiu e emitiu um decreto de que todos os rebeldes
deveriam ser caçados. As forças reais limparam as aldeias. A posse de uma
carta tornou-se uma sentença de morte. Meu pai manteve a carta para a
nossa aldeia, mesmo que não estivesse envolvido nos procedimentos, no
assalto da Torre e a decapitação do Arcebispo e Lorde Chancellor. Antes que
eu pudesse voltar para casa para adverti-los, o exército de Richard passou
por Kent. Pessoas, pessoas boas tementes a Deus, foram enforcadas.
Mulheres e crianças... qualquer um em que eles pudessem colocar as mãos.
Kent perdeu quase mil e quinhentos aldeões.
— Meu Deus. — Suspirou Owen.
Cate inalou profundamente, as feridas ainda frescas em sua memória.
— Eu ouvi falar de quinhentos em Essex.
Owen estava surpreendentemente quieto. Talvez o choque de tudo
isso fosse esmagador, mas ele estava enraizado em Londres. Não tinha
ouvido falar das revoltas? De todos os assassinatos? Certamente ele teve
relações com as revoltas camponesas em torno da cidade.
— Seu pai é o Capitão da Guarda do Rei. Você não estava envolvido
como ele estava?
O silêncio entre eles era ensurdecedor e o fato de que Owen não lhe
respondesse era inquietante.
Ela continuou:
— Eu tenho procurado pelo assassino do meu pai por quase um mês.
Não vou descansar até que o bastardo tenha sucumbido à justiça adequada
por minhas próprias mãos. Não me importa se eu perder minha própria
vida... eu vou garantir o fim disso. — Um ódio alimentado pelo assassino
desconhecido fervilhava em suas entranhas.

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— Sinto muito pela perda do seu pai, mas você não pode viajar pela
floresta simplesmente matando todos com quem você se cruza.
Cate resmungou uma risada sufocada.
— Eu tenho uma causa... as pessoas que ainda residem aqui no
campo. Alguém precisa protegê-los. Quem vai defendê-los se não eu? O
xerife? — Ela soltou a risada. — Ele nos abandonou há muito tempo. Um
nobre não tem nenhum negócio no sul de Bedgebury. E os cobradores de
impostos? Eles ainda vêm roubar a pouca moeda que as pessoas tem. Se eles
forem sortudos o bastante para sair com vida quando eu acabo com eles,
eles entregam com prazer o que têm na bolsa. Eu considero isso um
presente. Um reembolso por nossos problemas e dificuldades. — Cate
chutou a terra com o calcanhar da bota.
— Você é diferente de qualquer outra mulher que conheci, Cate
Archer. — Owen soltou um suspiro e se reposicionou na cama de folhas de
pinheiro.
Não sabendo o que aconteceu com ela, Cate estava contente de
conversar, embora fosse uma conversa unilateral. A liberação de tensão era
estimulante.
— Conte-me sobre o seu pai, Owen Gray, Visconde de Banebridge. —
Ela arrastou as palavras, enunciando seu título de forma provocadora,
esperando que isso o convencesse a se envolver na conversa.
— Meu pai... — Owen parecia contemplar o pedido como se ele
certamente fosse ser punido por simplesmente pensar nisso. — Como falei
anteriormente, meu pai é um homem complicado. Ele é duro, frio e alguém
para não se questionar.
— Você é seu único filho? Meu pai não foi abençoado com nenhum
filho... só existe eu. Eu acho que teria gostado da companhia de um irmão.
— Não, eu sou o segundo filho. Meu irmão mais velho morreu por
uma doença que tomara seus pulmões quando eu era apenas um rapaz. Meu
pai ficou de coração partido.
— Isso deve ter sido um terrível fardo para suportar.

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— Eu só soube da existência do meu irmão quando meu pai veio me
buscar. Já que meu irmão havia morrido, isso deixou o meu pai sem um
herdeiro. Sendo um conde, ele deveria ter um herdeiro.
— Buscou você? Eu não entendo. — A testa de Cate se franziu
enquanto ela ouvia atentamente.
— Você vê, meu pai envolveu-se com uma lavadeira... uma imigrante
irlandesa que trabalhava na casa dele. Ela é minha verdadeira mãe biológica,
mas quando meu irmão morreu, eu era jovem o suficiente para que meu pai
me reivindicasse como legítimo e ninguém ousou questionar isso. Ele me
tirou da minha mãe e fui morar em suas propriedades como seu filho e
herdeiro. Ele manteve minha mãe como criada, mas raramente eu a via. Eu
não era mais do que um menino de dez anos quando meu pai assumiu o
cargo de Capitão. Ele gentilmente me agraciou com o título de Visconde —
uma honra que ele não precisou conferir a um bastardo — e eu tenho feito
sua vontade desde então.
Sua origem explicava porque ela tinha ouvido o suave sotaque
irlandês quando eles se encontraram pela primeira vez. O pai dele teria
contratado um tutor para sua escolaridade, e posterior remoção do
desagradável sotaque. Owen devia ter crescido cercado de morte e
destruição. Pensando nisso, Cate também. Que qualidade para se ter em
comum.
— Com o status do seu pai, por que seus homens estavam planejando
matá-lo hoje? Certamente, ser o filho dele deveria contar algo entre eles?
— Isso eu não posso responder. Eu só posso assumir que o preço da
sua cabeça aumentou para uma quantidade tentadora e você seria mais fácil
de matar comigo fora do caminho. Eles não possuem lealdade para comigo.
— Eu voltarei para a minha aldeia amanhã. — Estaria ela o avisando?
Dizendo a ele? Pedindo permissão? Ela fora completamente honesta desde o
momento em que se conheceram, e Cate não conseguia explicar isso. Ele era
seu inimigo, mas ela sentia-se completamente à vontade com ele. Era o
sentimento mais estranho. — Você é bem-vindo para se juntar a mim se

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teme que seu retorno a Londres possa colocar sua vida em perigo. Você
encontraria descanso em Hawkhurst.
— Eu certamente não estou encontrando isso debaixo desta árvore. —
Owen gemeu, deslizando até uma posição sentada na base do pinheiro. Ele
se encostou no tronco e fechou os olhos.
Cate se apoiou nos cotovelos.
— Sua ferida. Começou a supurar?
— Não tenho certeza. Não consigo ver uma maldita coisa.
— Não podemos nos arriscar com uma fogueira. Seria como convidá-
los para jantar. — Ela se deitou de barriga para baixo. Galhos e folhas
rangiam sob o seu peso enquanto ela se aproximava de Owen. — Deixe-me
ver. Você poderia estar perdendo mais sangue. A atadura não estava tão
bem presa assim.
— Como você vê minha ferida se eu não vejo?
— Há outras maneiras de ver. — Estendendo a mão, ela tateou
procurando a perna de Owen. — É esta aqui? — ela perguntou, passando os
dedos pela panturrilha dele.
Owen resmungou:
— Sim.
Cate avançou com o exame, apesar do obstáculo da escuridão. A
carne se contraiu sob suas palmas enquanto ela subia até o joelho, o sangue
seco debaixo dos dedos enquanto ela sondava sua ferida.
Owen insipirou um forte silvo quando as mãos dela viajaram ainda
mais para o norte.
— Tome cuidado, mulher, porque você não entende as repercussões
que tais relações têm sobre um homem.
Seus dedos se demoraram no interior da coxa dele, logo abaixo dos
seus braies4, onde o corte gotejava.
— Oh, — ela suspirou suavemente. — eu sei. — Dedos se apertaram
firmemente ao redor dos dela, prendendo-os no lugar contra a porção

4 Roupa íntima medieval, parecido com os shorts largos atuais.

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carnuda da coxa dele. Uma agitação sobreveio a Cate, acelerando sua
respiração e a batida constante de seu coração.
Pegando a mão dela na dele, Owen gentilmente puxou-a mais perto e
levou a palma da mão dela ao peito dele. Ele a colocou estendida sobre seu
coração batendo erraticamente.
— Vê o que o seu toque me faz?
— Ele rivaliza com o meu. — Cate retribuiu o toque, trazendo a
palma dele junto ao peito dela. Ela pressionou a mão dele logo acima dos
seios. O calor da pele dele queimava através da fina túnica dela, acendendo
uma chama no fundo de seu estômago. Ela nunca sentiu algo tão
emocionante e temível ao mesmo tempo. Ele permaneceu lá, seu único
movimento era por conta da sua própria respiração.
Owen roçou o polegar sobre o mamilo dela. O botão inchou
instantaneamente em razão do leve toque, enquanto o polegar baixava para
traçar a curva subjacente de seu seio. Cate inclinou-se ligeiramente para a
frente, contendo-se antes de colar-se completamente contra ele. Ela exalou
ao longo do arco do pescoço dele, tomando fôlego antes de se endireitar.
Ela levou os dedos para o rosto dele, roçando suavemente sua
bochecha. Os pelos da sua barba por fazer picaram os seus dedos, enquanto
ela explorava a linha do seu maxilar, e ela a seguiu até seu queixo quadrado.
Circulando-o até seus lábios, ela correu a ponta do dedo pela sua plenitude.
Levemente separados, Owen beijou o dedo de leve, lambendo a ponta.
Ele sussurrou o nome dela, sua respiração fazendo cócegas na concha
da orelha dela. As mãos dele se instalaram na cintura dela, e ele se voltou
para ela, um silencioso gesto para ela se aproximar. Com o toque dela ainda
quente no rosto dele, Cate pressionou os lábios contra os dele, completa e
exigentemente. Owen retribuiu a necessidade, seus dedos amassando sua
carne.
Cate abruptamente gritou, quebrando o beijo quando uma dor afiada
irradiou de sua lateral para seu centro. Owen a pegou sem querer perto de
sua delicada ferida. Ele se desculpou profusamente, acalmando a área com o
calor da palma da mão. Ela cortou suas desculpas com outro beijo,

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explorando a boca dele com a língua. Então, sem aviso prévio, Cate cessou a
conexão e recuou para o pedaço dela do pinheiro.
— Boa noite. — ela bocejou, virando as costas para Owen.
Pela primeira vez na vida, Cate se viu incapaz de confiar em suas
ações. Seu corpo havia traído seu instinto de auto-preservação e maldição...
ela gostou de tudo.
E, pelo inferno, isso a assustava muito.

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Capítulo Seis

— EI, OWEN. — CATE empurrou-lhe a perna com o pé. Ele ainda dormia,
aninhado no pinheiro. — Acorde.
Seus olhos tremularam, depois se arregalaram. Sentando-se, ele
esfregou o rosto cansado.
— O sol mal nasceu.
— E os veados estarão dormindo antes mesmo de nós os
encontrarmos, então você deve se levantar. Honestamente, você parece que
lutou numa batalha ou algo assim. — Cate sorriu, reposicionando a aljava
nas costas.
— Por que estamos procurando por veados? — Owen rastejou para
fora do abrigo do pinheiro e se levantou sobre pernas instáveis. Ele limpou a
samambaia das roupas, e esticou os braços acima da cabeça.
— Meu povo está morrendo de fome e, como você disse que eu não
poderia os alimentar com o seu precioso cavalo, agora preciso caçar. Poucos
têm habilidades como eu. — Cate ficou impaciente. O amanhecer manchava
o céu, invadindo-a com cada momento que passava. — Depende de mim
alimentá-los. Estive ausente por muito tempo.
— Tudo bem então. — Um sorriso malicioso, uma contração da boca,
na verdade, formou-se nos lábios dele enquanto Owen pensava na ideia. —
Você não pode caçar uma vez que chegarmos a Hawkhurst?
— Os campos estão nus e a floresta também. Viajei a Bedgebury para
caçar muitos veados no passado.
— O cervo do rei?
Cate assentiu.
— Somente o melhor.
— Você não tem medo de ser pega? — Owen olhou para ela com
atenção, um olhar incrédulo cobrindo seu rosto.
Ela deu pouca atenção a pergunta dele com um aceno.

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— Eu não me preocupo com isso. Sou quieta e cuidadosa. O rei não é
o mais sábio. Além disso, já existe um preço pela minha cabeça e, a partir de
hoje, provavelmente triplicou. Isso não me assusta minimamente. Você
consegue caçar?
— Eu sou um bom rastreador. — Owen rapidamente passou os dedos
pelos cabelos, desfazendo os emaranhados e arrancando pedaços de pinho
da soneca. O cabelo pendia em sua nuca, emoldurando a linha de sua
mandíbula e curvando-se ligeiramente nas extremidades.
— Eu aposto que sou melhor. — ela provocou.
Owen arqueou uma sobrancelha.
— Se você apostar o que quer que tenha feito na noite passada, estou
pronto para isso.
Cate podia sentir o calor subindo por suas bochechas. Ela virou-se,
não querendo que ele visse sua agitação.
— Vamos, então.
Ela encontrou uma trilha fresca não muito longe de onde eles
pararam durante a noite. Pelo tamanho das marcas, um grande cervo
estava viajando para seu local de pastagem ao longo de um caminho
bem marcado. A grama estava gasta por meses de uso constante. Essa
caçada seria fácil. Cate precisava que algo fosse como o planejado para
variar. Sua sorte havia sido inexistente desde que encontrou este Owen
Gray. Lambendo o dedo e levantando-o no vento, ela detectou de qual
lado ele estava soprando.
— Por aqui. — ela sussurrou para Owen, agachada no chão. Ela o
conduziu ao redor de uma pequena e verde clareira, reposicionando-se
no vento a favor do veado.
Ela o viu. Gracioso, musculoso e com a maior galharda que ela já
tinha visto. O veado era absolutamente perfeito. Ela ergueu o arco
quando Owen abaixou-se ao lado dela. Galhos e detritos da floresta
rangeram sob suas botas, estimulando Cate a jogar-lhe um olhar de pura
maldade.

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— Você poderia ser mais barulhento, gigante? — Ela repreendeu,
golpeando-o levemente no braço.
Felizmente, o cervo apenas ergueu a cabeça para o som. Logo
voltou a pastar, sua cauda se movendo com despreocupação. Ela tirou
uma flecha da aljava, passando os dedos sobre os penachos de penas de
ganso. Cate carregou o arco. De pé em sua altura completa, ela puxou
para trás a corda do arco, apontou e depois soltou. A flecha atravessou o
campo aberto, incrustando-se no peito do veado, logo atrás do ombro.
Ele chutou com as patas traseiras e pulou alguns saltos retorcidos antes
de se balançar para o lado e colapsar em uma pilha.
O coração dela explodiu com júbilo. Cate lançou a Owen um
sorriso orgulhoso.
— Tiro perfeito. — Ele assentiu. Cate pendurou o arco ao redor do
peito, correndo até onde o animal caiu. Ela tirou uma faca escondida nas
profundezas de sua aljava emprestada, grata que muitos dos arqueiros
em sua aldeia conheciam o pequeno truque de seu pai. Era uma pequena
faca, mas fazia o trabalho. Owen recuperou o cavalo enquanto Cate
estripava o veado, e ambos trabalharam juntos para jogar a carcaça sobre
a sela.
Depois de se lavar em um córrego nas proximidades, Cate dirigiu-
os para sua casa de Hawkhurst. A conversa era leve e estranhamente
consistia principalmente em alimentos e qual corte de carne cada um
queria experimentar primeiro. Cate perguntou a Owen se ele sabia como
era a verdadeira fome, debochando de seu estado atual. Um longo riso
foi seguido por um longo silêncio. Cate não queria abordar o assunto de
sua situação — eles já pisavam em águas turbulentas como estavam. A
viagem para casa não era longa. No entanto, Owen os desacelerou
imensamente. Ele tropeçava pelo caminho e ficava sem fôlego facilmente.
Cate temia que sua lesão não estivesse bem.
Enquanto o sol pintava o céu, uma matriz de tons rosa e amarelos
através de uma mancha de nuvens veladas, Hawkhurst apareceu.
Aninhado em um pequeno vale, permanecia imóvel e protegido com as

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persianas fechadas contra o frio da noite. Somente lembranças
fantasmagóricas das transgressões dos dias permaneciam. A velocidade
de Cate aumentou ligeiramente, o pensamento de dormir em sua própria
casa no topo dos seus pensamentos. Owen ficou para trás, abertamente
hesitante.
— Venha agora. Está tudo bem. Eles não irão machucá-lo. — Cate
instou-o para frente, levando o cavalo à frente. — Eu vou protegê-lo. —
Ela sorriu tolamente.
— Talvez não, mas você parece bem certa de que eles comeriam o
cavalo sem hesitação. — Owen cruzou os braços sobre o peito.
— O nome dele é Jantar. — Cate imitou a posição dele, erguendo
uma sobrancelha. — O filho de um conde, hein? Com medo de algumas
velhas e crianças? — Ela zombou. — Nunca ouvi algo tão absurdo. —
Cate riu, balançando a cabeça com o pensamento.
— Você está gozando comigo por causa de uma preocupação
válida?
— Não, estou rindo de você.
Owen suspirou.
— Tudo bem, Cate. Vamos fazer do seu jeito, mas se uma pessoa
ao menos me levanta uma lâmina...
— Você precisa de um médico. — Ela falou interpondo-o,
exasperada.
— Assim como você. Não sou curandeiro.
— Então, nós iremos sofrer com as ministrações dele lado a lado...
e sem nenhuma lâmina. — Cate estalou a língua para o Jantar e instou o
cavalo em frente.
Cate trouxe Owen para a aldeia pela estreita estrada principal.
Sulcada por rodas de vagão de cada lado, ela se manteve na faixa de
grama suave que separava as linhas profundas e enlameadas. Virando
acentuadamente para a direita, ela mudou de direção e seguiu um
caminho estreito através de um campo arado. O cavalo bufou, movendo

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a cabeça quando Cate o parou do lado de fora da pequena e modesta
casa de Wallace.
— Espere aqui — disse ela a Owen. —, eu devo falar com Wallace
e informá-lo que você está aqui. Ele vai cuidar da sua segurança
enquanto você estiver aqui.
— Brilhante... — murmurou Owen, contraindo os lábios.
Cate entregou as rédeas e aproximou-se da porta. Ela se abriu
antes que ela pudesse bater. Wallace ergueu-se sobre ela, envolto em sua
camisa de noite de linho. Ele agarrou a borda da porta com as juntas
brancas e os olhos arregalados como se ela fosse um espírito. Então
braços corpulentos a envolveram em um abraço viciosamente cativante.
— Oh céus, Cate. Você deu a todos nós um baita susto. — Wallace
a empurrou para trás enquanto a segurava pelos antebraços,
inspecionando Cate rapidamente. — Você está bem, moça?
Cate retornou o abraço, inalando o cheiro familiar de seu amigo e
confidente de longa data. Ela soltou um profundo suspiro, contente em
se demorar em sua presença.
— Eu já vi minha parte justa de dias melhores. — Cate quebrou o
abraço, virando-se para Owen. — O visconde precisa de um médico.
Wallace moveu os olhos para Owen, pondo Cate de lado.
Ela o empurrou de volta.
— Wallace, ele salvou a minha vida! Podemos pelo menos cuidar
de suas feridas e alimentá-lo antes de expulsá-lo. Não somos pagãos.
Bem, nem todos. — Cate apontou para a carcaça de veado pendurada no
cavalo.
— Alice. — Wallace gritou para sua esposa inglesa. Ela apareceu
no limiar dentro de momentos. — Vá buscar Thomas Blake.
Alice enrolou seu casaco noturno forte em torno de seu torso e
correu da casa, desaparecendo nas sombras.
Wallace soltou um suspiro pesado.
— Bem então, entrem, os dois. Vou pendurar a caça. — Ele
apertou a mão dela. — Agradeço-lhe, Cate.

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Owen entregou a Wallace as rédeas e seguiu Cate pela porta.
A casa, embora fosse feita de simples tábuas e argamassa, era
quente e acolhedora por dentro. A fogueira havia arrefecido há muito
tempo e apenas brasas brilhantes permaneciam, lançando sombras
ásperas nas paredes arqueadas da longa casa. Cate parou, absorvendo os
cheiros de lembranças desbotadas há muito tempo. Ela passara muitas
noites dentro dessas paredes e até ajudara a remendar o telhado de palha
um verão, pois era a única ágil o suficiente para escalar as vigas
expostas. E disposta. Deus, tão disposta a obter a aprovação de seu pai.
A palha de verão fazia barulho sob suas botas ao longo do piso de
terra batida enquanto Cate se movia mais para dentro da casa. Uma
pequena mesa e dois bancos estavam encostados contra a parede mais
distante. Uma janela com as persianas fechadas firmemente contra o ar
noturno emoldurava o espaço entre os quartos de dormir e o estábulo
vazio no lado oposto. O estábulo estava cheio de sacos e barris, agora
que o tempo mais quente estava sobre eles, com o gado de Wallace posto
para fora para pastar nas pastagens traseiras. Cate viu algumas áreas em
necessidade de reparo, e ela disse a si mesma que cuidar ia delas em
breve.
Wallace entrou e Cate virou-se, assustada pelo momento de
abstração.
— Thomas deverá chegar logo, meu senhor, eh... — Wallace
inclinou-se ligeiramente, embora rígida e forçadamente.
— Banebridge. Meus agradecimentos, erm... temo não saber seu
nome completo. — Owen estendeu a mão em saudação.
— Wallace MacKenzie, meu senhor. — O corpulento escocês
agarrou a palma do nobre em sua própria brevemente, aparentemente
não querendo ofender. — Não quero te desrespeitar, mas não estamos
acostumados a hospedar nobres e perdoe-me por ser cauteloso com um
que tentou me matar.
Owen deu a Wallace um tapinha reconfortante.
— Meus sentimentos também.

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— Cate, espero que você esteja querendo abrir a casa do seu pai
agora que chegou, sim? — Wallace correu pelo espaço aberto da casa,
acendendo velas e alimentando o fogo, adicionando dois troncos sobre o
suave brilho alaranjado dos carvões. As chamas lamberam a madeira,
acendendo com um rubor luminoso de laranja e vermelho.
— Suponho que eu poderia assumir o ofício dele... — sua voz se
apagou. Ele desejaria que ela continuasse a construir arcos em seu lugar,
mas se ela falasse a verdade, ela temia que a dor apenas inibisse sua
capacidade de canalizar os conhecimentos dele. Ela não tinha pisado em
sua casa desde que soube da morte dele. A dor constante em seu peito
era uma dor muito grande para lidar. Ela tinha pego algumas coisas,
pegou o melhor arco, e abandonou Hawkhurst.
Alice retornou pouco depois que Owen e Cate sentaram-se à
mesa, cansados da jornada do dia. Ela lhes trouxe pão e pedaços de
queijo, acompanhados de vinho e várias recargas para cada um dos seus
copos. Ela andou nervosamente pela casa, arrumando as poucas
bugigangas que possuíam, e varreu o chão perto da fogueira,
preparando uma cama para Owen. Cate, ela declarou, dormiria com ela e
Wallace nos quartos de dormir separados. Cate pensou que tinha ouvido a
velha murmurar palavras que tinham que ver com assassinato e fazer bebês,
mas em seu exausto estado, ela não podia ter muita certeza. Certamente, não
haveria nenhum dos dois, embora Cate tenha brevemente pensado na ideia
do último.
Thomas Blake era um homem bastante robusto com uma barba
salpicada de cinza e olhos profundos, o oposto de sua cintura exuberante.
Ele usava uma túnica simples sobre sua enrugada calça estreita de linho e
carregava uma bolsa de utildades médicas variadas, que ele colocou
perfeitamente sobre a mesa depois de entrar na casa. Seu peito estufou com
exagero quando ele se dirigiu a Owen com seu título depois de perguntar
como ele deveria ser chamado. Cate revirou os olhos com desgosto. Com
título ou não, Owen era um homem como qualquer outro. Carne e osso.

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— Você vai precisar também dos meus serviços, garota? — Thomas
olhou por baixo de seu longo nariz, as sobrancelhas levantadas em
questionamento.
Thomas Blake fazia o sangue dela ferver.
— Você acha que eu uso isso para o seu prazer? — Ela pressionou a
palma da mão contra a túnica manchada de sangue que ela usava.
Alice sibilou sua desaprovação pelas palavras escolhidas por Cate.
— Venha comigo, Cate. — Ela acenou para ela do quarto aberto e
para o dormitório, pegando um lampião ao longo do caminho. — Vamos
deixar o médico fazer o trabalho dele. Uma jovem dama não deveria estar
vendo certas... áreas de um homem, feridas ou não.
— Quem você acha que enfaixou a ferida dele a primeira vez? — Cate
sussurrou para Alice, seguindo-a. Ela fechou a porta depois de entrar no
quarto.
Alice sentou-se na erguida cama de paletes e deu batidinhas no
cobertor de tecido ao lado dela, informando Cate para se sentar. Cate fez o
que lhe disseram.
— Tudo bem agora, deixe-me dar uma olhada na sua ferida. —
Levantando a lateral de sua túnica, Cate expôs a bandagem suja. As tiras de
linho, uma vez limpas, agora estavam esfarrapadas e revestidas com
carmesim seco. Alice suspirou, surpresa. — Céus, criança, como isso
aconteceu?
— É uma história muito longa, Alice, uma que tenho certeza de que
será contada vez após vez novamente nos próximos dias, mas o resumo é:
eu fui atacada, e fiquei apanhada entre um homem e uma lâmina. Owen me
costurou.
— Owen?
Cate corrigiu-se.
— Lorde Banebridge. O homem sentado na sua mesa. — Ela baixou a
túnica.
— E ele permite que você se dirija a ele de forma tão informal? —
Alice parecia horrorizada com o simples pensamento disso.

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— A pedido dele, asseguro-lhe. Ele é bem... bem diferente de todos os
homens que conheci. Os silenciosos são aqueles com os quais você precisa
ter cuidado.
— E um bonito também. — Um sorriso apareceu no rosto gasto de
Alice. Seu longo cabelo castanho pendia sobre seus ombros,
complementando seu contagiante sorriso. Um conjunto de olhos
correspondentes sorriram para Cate.
Ela afastou a insinuação com um aceno.
— Isso não vem ao caso. Ele salvou a minha vida, eu salvei a dele.
Estamos quites.
— Então, o que ele está fazendo aqui em Hawkhurst? — Alice cruzou
as mãos no colo. Elas desapareceram nas dobras de sua camisola.
Cate apertou os lábios, pensando.
— Eu não sei. Eu meio que... convidei ele, acho.
— Bem, vamos te limpar e ver se o médico está pronto para vê-la. Eu
acredito que ainda tenho algumas coisas de Rebecca guardadas. — Alice
falava de sua filha, que morreu dando à luz alguns anos atrás. Rebecca era a
única filha de Alice, e de certa forma, Cate sentia como se preenchesse um
certo vazio nas vidas de Alice e Wallace. Ela não se importava com o papel,
pois eles também serviam como um propósito na vida dela.
Alice saiu do quarto em busca de roupas para Cate, e ela a seguiu até
o limiar, espiando pela fenda na porta. Owen estava esparramado em um
cobertor no centro da sala, despido exceto por um cobertor pequeno
cobrindo sua masculinidade. Thomas trabalhava diligentemente no corte da
coxa de Owen, limpando-a com líquido de um pequeno frasco e várias
misturas diferentes de pequenos frascos que ele retirava de sua bolsa
medicinal.
Owen bebia de outro frasco, tomando o uísque escocês que Wallace
mantinha perto para ocasiões especiais. Cate só podia assumir que isso
realmente exigia algo um pouco mais forte do que a cerveja. Owen grunhiu
e murmurou palavras que Cate não ousaria repetir, mas, de qualquer forma,
ela as gravou na memória. Linhas profundas formavam no peito dele

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quando ele contraía os músculos, a pele se contraindo pela dor. Uma leve
camada de cabelo escuro seguia de seu umbigo, dispersando-se sob a
coberta. Owen tomou outro gole antes de abaixar a cabeça para o chão. Ele
soltou um longo suspiro, e Cate rezou para que a bebida finalmente
estivesse fazendo efeito. Ela não invejava a dor que ele devia estar sentindo.
O rosto de Alice preencheu a visão de Cate, e ela deu um passo
precipitado para trás, surpreendida. A mulher enxotou Cate para mais
dentro do pequeno quarto com seu braço livre. O outro estava cheio de
roupas, uma escova de cabelo, e um pano molhado dentro de uma pequena
tigela de água.
— Você manterá os olhos longe se sabe o que é bom pra você. — Ela
colocou a tigela no pequeno suporte circular ao lado da cama e jogou as
roupas na cama. Ajudando a remover a túnica manchada, Alice puxou os
braços de Cate para frente e acima da cabeça. Ela a descartou no canto da
sala. — Céus, Cate, você não passa de pele e ossos. Você não se alimentou,
garota?
Ela esquivou os olhos, e a pergunta.
— Isso pertence a Bane... Owen... Eu... Eu deveria devolver. —
murmurou Cate, sabendo que a túnica estava condenada.
— Estou certa de que sua senhoria tem muita roupa de sobra. —
Alice começou a trabalhar desvinculando as tiras de linho ao redor do peito
de Cate, com o cuidado de molhar quando necessário para não irritar a
ferida. Quando ela alcançou a pele costurada, Alice colocou as mãos nos
quadris, inclinando a cabeça para o lado. — Ele fez isso?
Cate assentiu.
— Está terrivelmente feio? — Ela fez uma careta para o pensamento
de ficar desfigurada pelo resto da vida.
Alice soltou uma leve risada, inspecionando a arrumada fileira de nós
de crina de cavalo.
— Não, de fato, ele fez um trabalho bem feito, fez sim. Muito
provavelmente salvou a sua vida. — Ela pressionou os dedos contra a área,
procurando por grumos e manchas febris. — Não parece haver nenhuma

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costela quebrada, mas suponho que elas irão doer poderosamente por um
bom tempo. Ainda assim, devemos fazer o Sr. Blake lhe dar uma inspeção
minuciosa antes de partir. — Alice pegou o pano, torcendo o excesso de
água na tigela. Ela lavou os braços, rosto e torso de Cate, tomando cuidado
para não tocar nos pontos. — Ainda sangra?
— Um pouco, principalmente quando eu... me movo. Alice, eu
pagarei você e Wallace pelo médico. Não pense que não vou.
A mulher pegou a mão de Cate na dela e deu um aperto.
— Não há motivo para preocupação, querida.
Uma vez suficientemente limpa, Alice ajudou Cate a desnudar-se e a
vestir roupas limpas e escovou seus cabelos, removendo pedaços de galhos
e folhas enquanto trabalhava. Assim que terminou, os longos e negros
cachos de Cate caíam cuidadosamente em suas costas em ondas suaves.
Quando as mulheres voltaram a entrar na sala comum da casa, Owen
estava sentado mais uma vez em um banco ao lado da mesa, com Wallace
sentado em frente a ele, ambos bebendo um copo de bebida.
— Ahh, lá está ela. — Thomas Blake falou ao ver Cate. — Eu quase
não a reconheci.
Cate olhou para a mesa. Owen atrapalhou-se com seu copo, quase
derrubando-o em sua fraca tentativa de ficar de pé. Sua perna lesionada
saltou diretamente de debaixo da mesa, sua coxa envolta firmemente em
ataduras limpas. Ele voltou para o banco e se estabilizou. Cate supôs que ele
estava um pouco bêbado demais para realizar muito de qualquer coisa,
muito menos ficar de pé.
— Por favor, sente-se. — Thomas fez sinal para ela se sentar em um
pequeno banquinho perto do fogo. — Onde está a sua lesão?
— Na minha lateral. — ela respondeu.
Alice enrolou um cobertor em torno da cintura de Cate, e Cate se
jogou no banquinho e subiu a muda de roupa o suficiente para expor sua
ferida, cansada de ser cutucada como um animal deformado. O médico a
examinou, esfregou uma pomada sobre a área costurada para auxiliar na
cura, e disse-lhe para descansar. Quando terminou, Wallace pagou a taxa do

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homem e escoltou ele para fora da casa, agradecendo-lhe por seu serviço a
uma hora dessas.
Wallace ofereceu a Owen sua própria cama por formalidade por seu
título, cuspindo as palavras com uma inflição forçada. Owen recusou,
afirmando que se sentiria mais confortável no chão perto do fogo. Alice
correu procurando por colchas e algum estofamento para ele dormir encima.
Cate, entretanto, foi apressada para a sala dos fundos sem nem mesmo um
“boa noite”.
Não que ela esperasse isso.
Cate se jogou na sua pequena cama improvisada no chão, virando-se
de lado. Ela bateu a cabeça contra um objeto sólido no escuro e estremeceu,
trazendo a palma da mão para cobrir a dor. Ela murmurou uma maldição
antes de lembrar que ela compartilhava o quarto. Sufocada, Cate chutou as
cobertas. Ela precisava de ar. Ela precisava de vinho. Ela precisava de... algo.
Levantando-se, e tropeçando na longa roupa que ela não estava acostumada
a usar, Cate saiu do quarto, fechando a porta raquítica atrás dela.
Um brilho fraco do fogo iluminava o cômodo o suficiente para
permitir que Cate se dirigisse para a mesa e enchesse para si um copo de
vinho do jarro. Ela engoliu o líquido, a doçura do mesmo satisfazendo
sua sede. Virando-se para o fogo, Cate olhou para Owen. Ele se deitava
de lado, sua silhueta escura contra o ardor das brasas. Ela concentrou-se
no constante subir e descer do peito dele antes de colocar o copo sobre a
mesa, e rodeou o banco para voltar para a cama.
— Você não me dirá boa noite?
Cate tropeçou até parar. O tom rouco de suas palavras carregadas
de uísque aqueceram sua pele, como se ela estivesse diretamente perto
do fogo.
— Se eu escolher não fazer isso... e daí? — Ela questionou.
— Você forçaria um homem ferido a se levantar e buscar seu
próprio beijo de boa noite, então?
Ela tossiu uma risada.

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— Palavras ousadas. É o uísque ou o homem que está falando? —
Cate colocou as mãos nos quadris e olhou para a figura sombreada dele.
Owen levantou-se sobre os cotovelos.
— Eu acho difícil distinguir entre os dois nos últimos dias.
— Você usa esse pequeno arranhão como forma de ganhar
favores? — Cate olhou para seu peito desnudo. Ela tinha visto muitos
homens sem camisa em seus dias, mas nenhum nunca havia mexido no
interior dela dessa forma. As sombras ásperas insinuavam a energia que
descansava logo abaixo da superfície da tensa construção dele. Ela se
perguntou se o coração dele batia no mesmo compasso errático do dela.
Ela deu alguns passos para mais perto de Owen para não acordar com
suas palavras a Wallace, que roncava levemente atrás da porta do
quarto.
— Temo que o bom homem, Blake, não tenha um toque tão suave
como o de uma mulher como você. Se você fosse tão amável de verificar
as ataduras para mim, eu realmente apreciaria isso. O meu intermitente
sono os soltou.
— Tudo bem. Eu vou verificá-los por você, se você insiste.
— Eu insisto.
Cate atravessou a extensão da longa casa até o fogo. Ela se
ajoelhou ao lado do leito temporário de Owen, puxando a muda de
roupa dela de debaixo de si enquanto se sentava.
— Maldita coisa. — ela grunhiu, lutando com a extensão do linho.
Ela removeu os revestimentos da ferida dele. Uma coxa carnuda foi
revelada, a nudez a pegando desprevenida. Ela esperara roupas.
— Então? — Ele perguntou. Ele engasgou a palavra, grave e
gutural.
Cate olhou para ele, sem palavras.
— As ataduras. Elas estão firmes?
Entorpecida, Cate baixou os olhos para o linho enrolado em volta
da coxa dele. Ela tocou o pano, testando o aperto. Suas ataduras estavam

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em perfeita ordem — nem mesmo sangravam. O tecido roçou a parte de
trás da mão dela e ela retirou-a, surpreendida.
— Toque-me, Cate. — ele sussurrou.
Ela engoliu em seco, o desejo dele por ela evidente sob a tenda do
cobertor de lã. Ela estava congelada, como se presa em uma tempestade
de inverno. O instinto lhe dizia para fugir, mas seu coração a prendia no
chão. Ela não ousava sair do lado dele, temendo perder a oportunidade
de beijá-lo. O beijo dele... verdadeiramente algo que ela precisava
experimentar novamente. Ela queria sentir aquele fogo se acender mais
uma vez dentro dela. Ele a tinha assustado antes, mas agora ela o
ansiava.
Owen sentou-se, o cobertor caindo baixo ao redor do seu tronco.
Colocando uma mecha escura atrás da orelha dela, ele segurou a
bochecha de Cate com a mão livre, acariciando suavemente o arco alto
de sua bochecha.
— Sonho somente com isso.
— Suas ataduras ainda não se desfizeram. — Cate soltou as
palavras em um sussurro, de alguma forma encontrando sua mão sobre
o peito nu de Owen. Ela ficou maravilhada com as sutis complexidades
das linhas uniformes que moldavam seu ventre. O coração dele trovejava
sob sua palma e ela se demorou ali por um momento antes de arrastar a
mão para baixo, parando sobre o abdômen dele.
Owen fechou os olhos e respirou vacilante.
— Eu voluntariamente confesso o ardil.
— Mmm. Bem jogado, meu senhor. E o que você esperava ganhar
com essa artimanha?
— Isso a trouxe para o meu lado, não? Minha vista mudou para
melhor, pelo menos. — A mão dele se instalou sobre a cintura dela e ele
brincou com o fino revestimento da roupa de Cate. — Depois de perder
para você na floresta hoje, eu precisava encontrar alguma maneira de
virar a mão ao meu favor. E a partir desse momento, acredito que estou
ganhando.

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Levantando mais a camisola, Cate subiu no colo de Owen,
encaixando os quadris dele entre suas coxas.
— O que você vê lhe agrada? — Ela sussurrou em um suspiro
ofegante.
Sua masculinidade se esticou contra o cobertor que os separava.
Cate balançou à frente, envolvendo os dedos em volta do pescoço dele.
Owen gemeu e ela o puxou para o peito dela. Um suspiro saiu dos lábios
dela com o toque da quente língua dele tremulando sob seu mamilo
entumescido escondido logo abaixo da barreira de linho. O cabelo dele
era como as melhores das sedas, enquanto ela passava os dedos por ele,
e lhe parecia simplesmente natural apertá-lo nos punhos.
Dedos seguraram bruscamente os quadris dela. Eles a puxaram
para frente, depois apertaram, enviando uma deliciosa onda de calor
através de seus quadris. Um gemido profundo escapou dela. Owen a
silenciou com um beijo profundo. Gentil, ainda assim cheio e faminto.
— Shh, — ele a avisou, quebrando o beijo — se não vamos acordar
aqueles dormindo além da porta do quarto.
Cate procurou os olhos dele.
— Você me acha bonita, Owen? — Ela perguntou suavemente.
— Desde o momento em que a vi pela primeira vez, fiquei
fascinado com a sua beleza. Nunca vi nada igual.
O coração dela esperava que ele falasse a verdade.
— E pensar, que quando nos conhecemos, você achou que eu era
um menino.
Owen segurou seus seios.
— No momento, agradeço que aquela hipótese estivesse errada. —
Ele a beijou novamente, mais devagar desta vez, e com mais exploração. Ele
a provocou com a língua, e puxou ligeiramente seu lábio inferior com o dele.
Ele tomou seu tempo descobrindo todas as curvas ocultas do corpo dela,
massageando a carne sob suas mãos com precisão perita, e ela, de bom
grado, permitiu que ele fizesse isso.

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Entre suas pernas, Cate acariciou a extensão da ereção dele acima do
cobertor que os separava.
— Faça-me amor como você faz a uma mulher, Owen. — Owen
soltou um suspiro, voltando a se apoiar nos cotovelos. Os toques dele
pararam, e ela sentiu sua frustração.
— Cate... tanto quanto eu gostaria, não posso ser responsável por
destruir o seu futuro. Eu te arruinaria. Eu já deixei isso ir longe demais.
Um sorriso agridoce separou os lábios dela.
— Owen, eu não vou viver tempo suficiente para me casar ou ter
filhos próprios e eu aceitei o meu destino. Eu poderia muito bem aproveitar
a minha vida enquanto ainda a tenho. Meus dias aqui estão contados. Nós
dois sabemos disso.
Owen não respondeu. Ele simplesmente deslizou as mãos sob a
camisola dela e a puxou sob a cabeça dela quando Cate levantou os braços.
Ele a jogou para o lado. Os cabelos dela caíam em cascata sobre suas costas e
ele passou os dedos por ele antes de acariciar a suave curva da coluna
vertebral dela.
— Saiba que, não importa o que aconteça, eu passaria meus últimos
dias ao seu lado. — Ele puxou Cate para se deitar ao lado dele, cobrindo-a
com o cobertor.
Nunca ter se deitado com um homem rapidamente passou pela
mente dela, mas Cate afastou o pensamento. Ela tinha visto isso o suficiente
para saber como funcionava, e não lhe era estranho reproduzir o gado em
sua aldeia. Cate riu, comparando Owen com um garanhão de raça superior.
De constituição forte e bem-dotado. Ela certamente não tinha motivos para
resistir. Quando os dedos dele vagaram entre as pernas dela, ela as separou
levemente, e Owen aceitou o convite.
Ele percorreu o comprimento de sua coxa até o ápice, cobrindo-o com
a palma. A faísca acendeu a chama dentro dela, queimando seu núcleo. Um
calor como nada que ela sentira antes a envolveu — a instou a tomar, a
provar.
A amar.

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Ela retribuiu o toque, pressionando os quadris contra a palma dele
com uma necessidade urgente de sentir novamente as faíscas. Sondando
mais profundamente, Owen traçou as dobras da feminilidade dela, agora
escorregadias com o desejo dela por ele. Encontrando a pequena
protuberância, ele pairou sobre ela com o polegar, girando-o em círculos.
Cate arqueou os quadris com o chocante arrepio de êxtase e mordeu o lábio
inferior para não gritar.
Ela queria mais. Ansiava isso, como se o mundo fosse ruir ao seu
redor se ele parasse. Quando ele se moveu para o espaço acima dela, suas
mãos encontraram o peito dele, e ela traçou o encaixe dos quadris dele com
palmas exploratórias. Quando o braço dele se enrolou em volta do traseiro
dela, e ele baixou a cabeça para beijar seu estômago, ela enfiou os dedos nos
cabelos dele; a simples necessidade de tocá-lo sobrecarregando-a.
Quando ele afundou um dedo dentro dela, seus olhos rolaram
atrás de palpebras pesadas, e ela jogou a cabeça para trás. Um gemido
silencioso deixou seus lábios quando ela ficou flácida nos braços dele,
confiando-lhe completamente seu corpo. Ela lutou contra o desejo de
soltar um grito, ou qualquer som. Seu interior lhe dizia para gritar o
nome dele, vocalizar seu êxtase, mas a própria ameaça de ser descoberta
era excitante. Ficar em silêncio enquanto se mantinha presa por tal
satisfação só intensificava as sensações. Cada toque, cada pedaço de pele
sobre a pele a deixava zonza com novos prazeres.
A respiração dela saia em ofegos irregulares. Não capaz de
suportar o desejo profundo que permanecia logo abaixo da superfície,
Cate implorou por liberação. A tortura, embora doce, logo a devoraria.
Quando Owen soltou os lábios de seu mamilo, ela o puxou para a boca
dela.
— Possua-me. — ela sussurrou contra a concha da orelha dele. —
Tudo de mim, Owen.
Suas palavras pareceram fazer Owen cambalear. O corpo dele
estremeu, e suas mãos tremiam quando ele afastou suavemente o cabelo
do rosto dela. Cate relaxou os quadris e Owen instalou-se entre eles. Ele

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parou, sua dureza descansando na borda de sua feminilidade. Ele
encontrou os olhos dela e Cate se perdeu nas profundezas do verde. Em
um instante, ele estava dentro dela. Seus lábios cobriram o dela,
sufocando seu grito de surpresa.
Owen firmou-se, resistindo ao impulso de empurrar olhando-a
nos olhos. Ele provou sua boca, distraindo Cate do incômodo
alongamento de sua presença dentro dela. Quando as mãos dela
começaram a vagar pelo corpo dele, Owen continou a fazer amor. Seus
impulsos vieram com precisão fluída, buscando o prazer dela antes do
dele próprio. Puxando a coxa dela para cima, Owen empurrou mais
fundo, acelerando o ritmo. Cate agarrou as nádegas dele e apertou-as,
combinando o movimento dele.
Ela apertou os dedos nas costas dele quando o fogo dentro dela
começou a aumentar. Grandes gotas de suor lustravam a pele de Owen,
fazendo o aperto dela nele escorregadio. Liberando sua contenção, ela
cedeu às chamas, saltando de cabeça no fogo. Totalmente consumida, a
centelha dentro dela explodiu para a superfície. Ela estremeceu em baixo
dele.
Owen apertou o queixo e enterrou a cabeça no pescoço dela,
encontrando sua própria liberação. A respiração dele, densa e pesada,
aqueceu a pele dela. Ele deu beijos gentis ao longo da suave curva da
clavícula dela, sussurrando palavras que Cate não conseguia ouvir
completamente. Owen colapsou ao seu lado, rolando para ficar de costas.
Ele enxugou a testa com um canto do cobertor e olhou para o telhado de
tábuas acima.
Cate se moveu para o lado dele, descansando a cabeça no peito
dele. Ela entrelaçou os dedos com os dele enquanto ambos lutavam para
recuperar o fôlego. Uma pequena risada escapou dela. A palma dela
voou para a boca e ela a cobriu. Virando-se para Owen, ela murmurou
em seu ouvido:
— Vamos fazer isso de novo.

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Capítulo Sete

OS OLHOS DE CATE SE AGITARAM, ajustando-se à luz da manhã. Ela se esticou,


esticando os dedos dos pés e estendendo a mão para os lados, testando a dor
de seus músculos. Ela prontamente bateu com o cotovelo na armação de
madeira do catre no quarto de dormir. Surpreendida pela inesperada
mudança de cenário, levou um momento para recordar onde estava e o que
acontecera na noite anterior. Cate puxou para baixo o cobertor. Estava com
sua camisola, ao menos. Interessante. Ela não tomara tanto vinho
assim. Levantando-se, ela parou por um momento para dar um nó em sua
bandagem. Sua ferida doía terrivelmente e ela rezou para que os pontos não
tivessem se soltado. Explicar a razão seria mais insuportável.
Uma túnica limpa e uma camisa estavam cuidadosamente dobrados
no suporte ao lado do lavatório, junto com um par de sapatos usados, de
sola macia. Cate lavou o rosto com a água e depois enxugou com o pano que
a acompanhava. A camisola que ela usara na cama foi substituída pela
camisa limpa, seguida pela túnica azul clara. Ela assumiu que também
pertencia à filha de Alice. Cate era mais alta e certamente com peito maior,
mas com um pouco de ajuste no laço, ela podia respirar
confortavelmente. As mangas ajustadas da camisa coçavam terrivelmente e
Cate brincava com a saia esvoaçante da túnica. Ela ficava entre as pernas nos
momentos mais inoportunos, como toda vez que ela dava um passo. Ela
sentia falta das meias e da armadura. Ela havia se acostumado com a
facilidade de movimento usando a armadura. Precisaria ser consertada, e
Cate jurou que encontraria alguém para consertá-la, naquela tarde.
A grande casa estava vazia quando ela saiu do quarto. Um fogo
crepitava no buraco do chão, a fumaça subindo até o teto e atravessando o
túnel de escape no teto. Fuligem enegrecida cobria as vigas de madeira à luz

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do dia, e Cate apenas podia imaginar a última vez que a casa recebera uma
limpeza completa. Ela também teria que ver isso. Havia muito a ser feito.
Cate abriu a porta da frente para colocar a cabeça, examinando os
arredores. Vozes da lateral da casa permaneciam em uma brisa leve, e atrás
o gado mugia na busca interminável por comida. Com fome, ela entrou pela
porta.
Contornando a esquina da casa, Cate encontrou Owen e Wallace em
pé perto do grande carvalho, discordando sobre a carcaça de cervo
pendurada em um galho grosso. Eles estavam de costas, inconscientes de
sua presença. Encostada na parede rebocada, ela se contentou em ouvir.
Owen afirmou que eles deveriam começar com o flanco traseiro e
cortar até o pescoço, mas Wallace insistiu em massacrar as placas grossas
primeiro, já que elas precisavam ficar mais tempo. Os dois deviam ter
estado em um impasse. Nenhum dos dois se esforçou para começar o corte
da carne. Em vez disso, os dois homens encararam a carcaça com as mãos
cruzadas atrás das costas... olhando fixamente.
Cate se aproximou por trás deles, curiosa para saber o que poderia
deixar sem palavras homens tão obstinados. Andando entre os dois, ela
espiou entre os ombros deles. Ela passou os dedos pela parte exposta da
palma de Owen, e ele apertou-a por um breve momento, reconhecendo sua
presença.
Ao longe, arrastando-se pelo campo ao longo de um caminho
lamacento, estava Alice, um frango debaixo de um braço e puxando um
porco guinchando com o outro. Cate olhou estupefata para o local também,
com a boca aberta, antes de rir. Colocando uma mão em cada um dos braços
dos homens, ela disse:
— Bem, isso não vai se trinchar a si próprio, não é, senhores?
Cate correu para ajudar Alice com o porco irritado. A corda ao redor
do meio de seu corpo estava escorregando a cada rolar que a criatura
conseguia. Mergulhando na grama, Cate pegou as patas traseiras, logo antes
dele se soltar.
— Alice, ouso perguntar por quê?

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A mulher bufou, ajustando a ave.
— Presentes para o filho do conde.
— Oh, Alice, presentes não são necessários. Eu lhe asseguro.
— Eles não são meus. — resmungou Alice. — São do povo da aldeia...
para a festa.
— Que festa?
— Costuma-se realizar uma festa em honra dos nobres, caso eles
permaneçam na aldeia. Antigamente, era apenas uma vez por ano, durante
a coleta de aluguéis. As pessoas sentem que não devem perturbar o
equilíbrio das coisas.
— Ele nem sequer esteve aqui um dia inteiro. Como eles sabem que
ele está aqui? — Cate revirou os olhos. A aldeia não podia se permitir tal
luxo. — Nós deveríamos ter acabado de comer o cavalo. — ela murmurou,
arrastando o porco ao longo da trilha.
Ao retornar aos homens, uma pequena multidão se reuniu em volta
do cervo, ajudando a dividir a carne entre as famílias de Hawkhurst. Owen
estava coberto de sangue e com os cotovelos no fundo da cavidade torácica
do cervo, removendo cada pedaço de carne comestível dos ossos. Wallace
parecia temeroso, com manchas carmesim no peito de sua túnica
branca. Enquanto Owen lhe entregava pedaços de carne, Wallace passava
para os que estavam na fila.
Cate pegou o frango de Alice e o soltou com os outros bicando o
chão, perto do galinheiro que saltou, contente em se livrar dela. Se ao menos
soubesse o que o esperava quando chegasse o pôr do sol. Alice levou o
porco até o porão, mencionando a Wallace que precisaria ser colocado em
um espeto e encontrar alguém que pudesse ceder o cômodo, já que ela já
tinha um cavalo moribundo e um cervo gotejante no quintal. O velho
resmungou seu desdém e enxugou a testa.
Aqueceu o coração de Cate ver Owen trabalhando ao lado de
Wallace. Pelo menos eles não estavam tentando se matar. Quanto tempo ele
ficaria, ela não podia ter certeza, mas por enquanto, não iria reclamar. Sua
presença a mantinha entretida. Suas interações foram bastante

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divertidas. Cate se contentou em ver o par funcionar, até que seu foco
permaneceu ao longo dos músculos tensos que se enrugavam sob a túnica
grossa que Owen usava. Lembrou-se apenas de como se sentia, flexionados
sob as palmas de suas mãos, e pensamentos pecaminosos da noite anterior
inundaram sua mente. Cate correu pela pequena multidão, rezando para
que suas bochechas não estivessem tão vermelhas quanto ela imaginava que
estavam.
Um grupo de mulheres permaneceu dentro do limiar da casa,
brigando entre si. Elas ficaram em silêncio quando Cate entrou. Conjuntos
de olhos cansados focados nela.
— Bem, sigam em frente. O que aflige a todas vocês? — Cate passou
os braços pela cintura defensivamente.
Alice deu um passo à frente.
— As mulheres estão incomodadas com Lorde Banebridge estar aqui
na aldeia, depois... do que aconteceu.
— Owen não participou dos assassinatos. O que aconteceu está sendo
resolvido pelos anciãos e eles devem retornar de Londres em breve. Ele
estava lá fora procurando por mim. É a minha cabeça em risco, a de mais
ninguém, então não há motivo para pânico. Se alguém deve ter medo, sou
eu. — Cate girou sobre os calcanhares e saiu da casa, de repente incapaz de
respirar.
Cate pressionou as costas contra a parede externa. Ela respirou fundo
e segurou, antes de exalar lentamente.
— Você está bem, Cate? — Owen se agachou na frente de um balde
de água, lavando o sangue de seus braços.
Cate pressionou as palmas das mãos contra o peito.
— Owen. Eu não vi você aí.
Ele derramou um pouco de água em seu rosto, em seguida levantou-
se, elevando-se totalmente em sua altura intimidante. Com a água ainda nas
mãos, ele passou-as pelos cabelos, alisando as mechas que se soltaram da
tira de couro, mantendo as madeixas dos ombros seguras.
— Você deseja ficar sozinha?

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— Não, não. Para ser sincera, não sei o que desejo no momento. —
Cate riu nervosamente. No espaço de uma noite, tudo mudou. Não sabia
nada das intenções de Owen e, com os acontecimentos da manhã, nem sabia
quanto tempo ficaria em Hawkhurst. Ela não queria nada além de afogar
suas mágoas na curva de seu pescoço, embalada pelos braços que se sentia
mais segura.
Os de Owen.
Em dois longos passos ele estava em cima dela, tão perto que ela
podia sentir o calor de sua respiração contra o frio fresco da manhã em sua
pele. Sua testa franziu de preocupação.
— Ontem eu tinha um propósito. E hoje, bem... — Ela achatou a
frente de seu vestido. — Hoje eu sou apenas uma garota órfã em um
vestido.
Os olhos de Owen baixaram até o peito dela.
— Combina com você.
Cate rosnou com desgosto.
— Eu sinto como se estivesse em um estado constante de nudez. —
Ela mexeu-se sob seu olhar quente. — Isso o agrada? — Ela arqueou uma
sobrancelha inquisitiva.
— Vê-la em qualquer estado de nudez me agradaria. — Sua mão
curvou-se em torno de sua cintura, acomodando-se na parte baixa de suas
costas. Owen puxou-a para frente ligeiramente, para longe da parede. —
Não pense por um momento que não me recordo do que aconteceu entre
nós, Cate. — Sua voz, baixa em seu ouvido, estava um pouco acima de um
sussurro. — Eu poderia estar bêbado, mas não consegui pensar em outra
coisa além do deslizamento de sua feminilidade no meu pênis. Sonhei com
seus lábios nos meus enquanto dormia.
— Você deve colocá-los lá novamente, para ver se ainda está
sonhando?
Owen encostou-se casualmente na parede, apoiando o peso no
cotovelo. Levantando o queixo de Cate com um dedo, ele se inclinou para
beijá-la. Vozes emergiram da porta abrigada ao lado da casa. Owen se

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levantou, seus braços caíram para os quadris. Casualmente, ele puxou as
mangas para baixo, sobre os antebraços, como se tivesse acabado de lavar,
sua tentativa de sedução agora uma folha fugaz no vento.
As mulheres saíram da casa, olhando brevemente para o par antes de
içar suas saias e andar em todas as direções da propriedade de Wallace. Cate
especulou que partiriam para preparar a refeição da noite. Ela observou-as
correrem por um momento, comparando-as a ovelhas reunidas sem
pastor. Elas pareciam perdidas, sem direção.
— Talvez eu deva ir ajudar. A maioria dos homens deixados na
aldeia são frágeis e não tem condições de furar um porco.
Owen assentiu bruscamente.
— Tenho que ver Jack, para ter certeza de que ele não foi comido em
toda a comoção e inventariar o conteúdo das minhas malas.
Uma brincadeira lúdica, ainda que Cate não pôde deixar de sentir um
pouco da verdade, por trás das palavras. As pessoas estavam com fome, era
evidente e um animal ferido custava mais para cuidar do que um animal
saudável. Suas malas continham sua armadura, um fato que ela não havia
esquecido. Ele estava intencionalmente escondendo isso dela? A questão era
instigante. Ela teria sua armadura de volta, quer ele gostasse ou não.
Cate se separou de Owen, vagando em direção ao centro da aldeia,
onde as lojas margeavam a pitoresca avenida de Hawkhurst. A festa teria
lugar no grande verde triangular conhecido pelos aldeões como o
Moor. Logo atrás da estrada principal, o Moor era cercado por casas de
campo, a igreja paroquial de St. Laurence e uma pequena casa de banhos
que não via uma gota de água há anos. Dada a quantidade de água
necessária para encher a grande banheira, e o fato de que o telhado
queimava nas mãos de alguns rufiões adolescentes, o prédio havia sido
deixado para os perigos da natureza.
Hawkhurst tinha mudado para sempre quando o exército do rei o
invadiu completamente. Cate notou a mudança quando sorriu para os
transeuntes. As moças se mantinham com as cabeças apontadas para a terra,
correndo para lá e para cá. Tantas vidas perdidas. Cate se perguntou se ela

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poderia ter feito a diferença se estivesse lá no momento dos ataques. Talvez,
mas mais do que provavelmente ela estaria no chão entre os mortos
também. Mortos e desaparecidos às vezes pareciam preferíveis, já que a dor
constante em seu coração era insuportável.
Cate se arrastou até parar. Ela se viu em pé na frente de Archer
Corner, a loja de arco do pai. Sua casa. Os dois tinham compartilhado um
pequeno cômodo acima da loja, até que Cate começou a passar a maior parte
do seu tempo na caça nos bosques e praticando suas habilidades de arco. Ela
venderia a carne no mercado, o dinheiro extra complementando a renda
cada vez menor do pai. Ele era um mestre artesão — até mesmo esculpindo
belos arcos para notáveis membros da realeza nos anos anteriores, mas com
os impostos sempre crescentes e a doença em todo o país, o trabalho era
esporádico, na melhor das hipóteses. Cate pensou em entrar, mas para ser
honesta consigo mesma, estava apavorada com isso.
Ela temia que isso apenas alimentasse seu desejo de continuar a
caçada ao assassino de seu pai. Ela devia caçá-lo, mas precisava de
tempo. Owen estava certo. Ela não podia simplesmente andar pela floresta
matando qualquer um que pudesse ter algo a ver com a morte dele. Ela
precisava encontrar o homem. Só então a morte do pai poderia ser
devidamente vingada. Era o mínimo que ela podia fazer para homenageá-lo,
já que o monstro que o matou não tinha tido nem a decência de permitir um
enterro apropriado. Abatida, Cate continuou, passando pelo prédio de
esquina, seguindo em direção ao gramado Moor.
Uma grande fogueira de carvão estava sendo preparada sob o
pequeno porco dado como oferta pela chegada de Owen. Ele estava
preparado, recheado e colocado nas estacas quando chegou. Dois rapazes
durões terminavam os preparativos quando ela se aproximou. Levaria
várias horas até que o porco estivesse pronto para o consumo, mas Cate
ofereceu seus serviços onde necessário. Mesas e bancos brutos foram
trazidos para a clareira, os moradores emprestando o que podiam. Pequenas
cestas de pão e frutas eram colocadas uniformemente ao redor das mesas,
juntamente com taças para o vinho e cerveja trazidos da taverna. Pranchas

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com o cervo abatido anteriormente também fizeram uma aparição,
temperadas com ervas e preciosas especiarias e penduradas para assar.
Ned, o bardo, afinou o alaúde num canto perto de um grande
carvalho. O dedilhar melódico estava cortado por rajadas vacilantes, notou
Cate. Quando o pôr do sol chegou, os aldeões vagaram para a festa com
suas famílias. O coração de Cate se despedaçou ao ver quantos estavam
faltando nos pequenos grupos. Owen dobrou a esquina com Wallace,
elevando-se sobre aqueles que se encontravam à volta dele. Ele usava uma
túnica limpa e fizera a barba. As linhas duras de seus músculos peitorais
espiavam através da fina trama do tecido, e Cate não foi a única a notar. As
três filhas do moleiro, todas curvilíneas e cobertas com longas madeixas
loiras, riram quando ele passou. Cate fez uma careta, zombando de sua
incessante meninice, antes de pegar duas taças de uma mesa e enchê-las com
o vinho de um barril.
Ela se aproximou de Owen, entregando-lhe uma.
— Você parece que poderia usá-lo. — Cate tomou um gole. Ela
lambeu uma gota persistente em seu lábio inferior.
Ele ergueu a taça em agradecimento, depois tomou um gole.
— Nunca me senti tão... pouco à vontade.
— Eu não o invejo. — ela respondeu. — Você leva um modo de vida
mais contrastante. Como está Jantar... quero dizer, Jack? — Cate manteve
uma leve conversa, tentando fazê-lo se sentir um pouco mais à vontade. Ela
sabia como os olhares desanimados e os olhares vazios podiam ser.
— Jack está se saindo muito bem. Com a ajuda de Thomas Blake,
conseguimos curar suas feridas e limpá-las. Tenho certeza de que ele está
sendo bem cuidado, deve estar apto para cavalgar em poucos dias. — Owen
examinou a vegetação, nunca colocando os olhos em um ponto por muito
tempo.
— Você vai partir, então? — Sua voz foi suave quando ela olhou para
ele. Seria o melhor, mas Cate logo se viu sem querer sair do seu lado. Seu
coração desejou que ele ficasse, mas sua mente sabia que isso nunca poderia
acontecer.

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Owen pigarreou.
— O dever chama em Londres.
— Você não vai provar esta besta incrível com suas próprias mãos
esculpidas? — Uma das mulheres que tinham sido encarregadas de cozinhar
empurrou uma bandeja cheia de carne sob o nariz de Owen.
— Eu o matei. — Cate murmurou baixinho, olhando para os cortes
suculentos.
Owen se confundiu com a súbita intrusão.
— Eu ficaria muito agradecido. — Ele sorriu para a mulher gorda. Ela
cambaleou um pouco com prazer, em seguida, correu para uma mesa de
canto, fazendo sinal para Owen segui-la. Com um aceno de cabeça de Owen,
Cate se juntou a ele.
Estavam sentados perto da comida e bebida, com vários pratos
espalhados no centro da mesa. Cate derrubou duas taças de vinho quando
as filhas do moleiro se apresentaram, afirmando que haviam sido instruídas
a encher o banho para ele no final da tarde. Owen objetou a princípio, mas
Wallace interceptou a conversa enquanto passava, insistindo que a banheira
já havia sido trazida por carroça.
— Está feito, então tome seu banho como um bom rapaz. — Cate
brincou, um sorriso irônico curvando as extremidades de seus lábios. — Eu
disse a eles para deixarem a banheira na loja do meu pai, já que ela está
desocupada no momento. Você terá muita privacidade e uma cama só sua.
— Meus agradecimentos. — Owen levantou sua taça em apreciação,
em seguida, tomou um longo gole, terminando sua cerveja. Antes mesmo
que ele tivesse acabado de engolir o líquido de fogo, a taça foi reabastecida.
— Você é muito bem-vindo. Estou verdadeiramente com inveja do
seu banho de água quente. Não me lembro da última vez em que apreciei o
calor da água quente na minha pele.
— Eu não vou lhe entediar com os contos da minha criação. — Owen
lançou-lhe um sorriso dúbio e se abaixou quando Cate, brincalhona, oscilou
para sua cabeça.

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Cruzando os braços na superfície da mesa, Cate ficou contente em ver
as pessoas dançando. As crianças perseguiam umas às outras, em círculos,
ao redor das mesas e árvores. Ela mordiscou a comida diante dela, o prato
cheio de carne e queijos e pedaços de pão duro. Seu estômago doía por ter
comido tanto depois de ter tido tão pouco, e ela desejou que pudesse se
enrolar como uma bola e dormir por dias.
Uma das filhas do moleiro, de cabelos loiros, voltou a encher a taça
de Owen. Seu rosto doce e seu grande peito, irritaram Cate nas profundezas
de seu interior. O jeito que ela balançou em torno de Owen para pegar seu
copo, fingindo um roçar acidental contra o ombro dele com o peito... oh,
como isso a enervava.
— Caía fora daqui! — Cate acenou para a garota ir embora. — Sua
senhoria é perfeitamente capaz de servir a sua própria cerveja, obrigada! Vá
dar suas atenções para Ned... talvez a bebida melhore seu canto!
A filha do moleiro fez uma careta, mas obedeceu. Com as mãos nos
quadris, ela circulou a mesa lentamente, finalmente saindo, quando Cate
enrolou o lábio em um grunhido.
— Vadia. — Cate murmurou, enchendo sua própria taça com mais
vinho.
Owen cuspiu, explodindo em gargalhadas.
— Eu não lhe contei? Era essa vadia que lavaria minhas costas.
Cate prontamente lhe deu um soco no antebraço.
— Oh, você está com ciúmes, Cate? Você prefere ser minha criada
pessoal?
— Eu não sou criada de ninguém. — Cate se inclinou para perto de
Owen, seus olhos seguindo as linhas de sua mandíbula, traçando as curvas
de seus lábios. Percebendo-se perdida nas profundezas de seus olhos, sua
cabeça girou. Um pouco tonta do vinho, ela caiu para frente.
Owen segurou-a pelos ombros, empurrando-a no banco.
— Talvez você deva descansar um pouco.
— Talvez você devesse me dar outra bebida. — Cate virou sua taça
de cabeça para baixo, mostrando que estava vazia.

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Owen colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha de Cate.
— Eu acho que você já teve o suficiente por agora, Cate. — Suas
palavras eram suaves e seu tom suave. — Se você é capaz de ficar em pé,
talvez compartilhasse uma dança comigo em vez disso?
— A dança de uma bêbada. Ideia maravilhosa. — Cate revirou os
olhos, mas aceitou a mão estendida.
Ele pegou as mãos dela, levando-a para a mistura de dançarinos
alegres no verde. Um baterista e um violinista juntaram-se às músicas de
Ned, criando um tumulto de otimismo. Os outros dançarinos, perdidos em
suas próprias voltas, não davam atenção aos dois.
— Eu não faço isso há muito tempo, então não ria. — Juntando-se à
linha dos parceiros de dança, Owen avançou de acordo com a batida,
colocando a palma da mão contra a de Cate. Ele virou-a, envolvendo o braço
em volta da cintura dela. Seus dedos demoraram em suas costas, e ele traçou
a linha do quadril quando ela se afastou.
— Você parece estar indo muito bem, meu senhor. — Seu coração
disparou com a música. Poderia ter sido a quantidade copiosa de vinho
fluindo através de suas veias, mas ela achava difícil ignorar o sorriso feliz
que se estendia de bochecha a bochecha quando ela mudou os passos da
dança inesperadamente. Owen seguiu o exemplo sem perder o
ritmo. Quando a música terminou, Owen passou os braços em volta dos
ombros dela em um abraço solto. Eles riram juntos enquanto os outros
batiam palmas.
— Obrigada pela dança. Se você não se importar, acredito que
sentarei na próxima, pois minha cabeça ainda não parou de girar. — Cate
colocou uma palma contra a testa, como se o toque cessasse o turbilhão.
— Com licença, senhor? — Uma pequena voz interrompeu seu
abraço. Uma garota com menos de dez anos puxou a manga de Owen.
Ele se ajoelhou ao lado dela, toda a sua atenção focada em seu rosto
suado.
— O que posso fazer por você, jovem?
A garota mordeu o canto do lábio inferior e balançou nervosamente.

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— Posso dançar com você?
Owen ficou de pé, depois carregou a menina nos braços, girando-a.
— Eu ficaria honrado em dançar com você... qual é o seu nome,
criança?
— Mary, meu senhor.
— Bem, então, Lady Mary, você me concede essa dança?
Movendo ligeiramente o braço, Cate ofereceu a Owen adeus,
voltando para a mesa. Outra melodia jovial começou e Cate ofegou no
banco, contente de ver o nobre dançar com a criança em círculos
vertiginosos. Pensamentos de ter filhos próprios para amar e apreciar
eddied através de visões induzidas pelo álcool. Os pensamentos foram
eliminados rapidamente. Família, um marido... crianças... não estavam
escritas em suas estrelas.
— Você está apaixonada por ele. — A voz de Alice gritou sobre a
música.
Assustada, Cate disparou na posição vertical. Perdida em seus devaneios,
Cate nem sequer percebeu a chegada de Alice.
— O que? Não fale de tais coisas sem sentido. — Disse ela a Alice.
— Eu sabia desde o momento que você voltou com ele e vejo isso
agora ainda mais. Você pode não acreditar, mas conheço o amor quando
vejo.
Cate revirou os olhos, emitindo sua aversão à acusação pelo fundo de
sua garganta.
— Eu estava sendo honrosa, Alice. Nada mais. — Ela não estava
apaixonada por ele. Podia admitir uma leve paixão se fosse torturada, mas
certamente não era amor. O amor não acontecia com alguém como ela.
— Você sente seu coração acelerando quando ele está perto? Suas
entranhas se arrepeiam quando ele fala com você? — Cate se viroupara
Alice.
— Então, e aí? — Ela se serviu de bebida, não querendo continuar
com a conversa.

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— Pare com isso. Ele não é para você. — As rugas fizeram a testa de
Alice franzir. A confusão deve ter aparecido no rosto de Cate, pois Alice
repetiu as palavras. — Deixe-o ser e se mantenha à distância. Ele vai se
cansar de você e descartá-la quando quiser.
— E se ele não fizer isso? — Cate tomou um gole de seu vinho,
aguardando atentamente a resposta de Alice que olhava para ela sobre a
borda da xícara.
— É claro que ele vai. Um homem como ele vai ter muitas mulheres
antes de se casar. É habitual. Ele é de nascimento nobre, Cate, e você sabe
disso. Ele deve se casar de acordo com o seu título. — Um rubor se espalhou
pelas bochechas de Alice. Ela colocou as mãos no colo, depois falou. — Um
homem detém o poder sobre uma mulher e... certas coisas podem acontecer
quando um homem mostra... interesse... em uma mulher.
Cate riu.
— Você quer dizer que um homem como ele defloraria uma pobre
garota da fazenda e não pensaria nisso? — Seus olhos cresceram em um
alarme fictício.
— Bem, sim. Seria um pecado contra Deus uma mulher se deitar com
um homem que não é o seu marido.
Cate terminou o vinho no copo e ficou de pé.
— Tarde demais. — Colocando o copo sobre a mesa, Cate se virou
para sair em meio a protestos e tentativas de conversas de Alice. Mantendo
distância de Alice, que tinha certeza, informaria imediatamente Wallace de
seus pecados, Cate vagou para as árvores. Ela se sentia mais confortável lá
entre a madeira e longe da agitação das pessoas.
Os sussurros das folhas acalmavam seu espírito ardente. A culpa
encobriu seus pensamentos e Cate sentiu pena de dar a Alice um susto, mas
estava cansada de seus anciãos sempre lhe dizerem o que podia ou não
podia fazer. Seu pai sempre havia dito a ela para seguir seu coração, mas
isso era difícil de fazer sob o poder dos MacKenzies.
Encontrando um tronco de árvore convidativo, Cate se baixou para o
chão de barro. Ela abraçou os joelhos enquanto o sol caía sobre o banquete.

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As sombras ásperas se estendiam ao longo do Moor e os rostos borrados na
escuridão. Ela não conseguiu mais encontrar Owen na multidão e se
perguntou se ele havia recuado para o banho.
Seu banho. Aquela irmã repreendida provavelmente estaria
profundamente abaixada em sua água até agora. Ela teria que ver isso.
Levantando-se, Cate escovou os pedaços de galhos e as folhas caídas do seu
vestido e abriu caminho ao longo da borda do Moor. Em diversas ocasiões,
ela se viu correndo para chegar à loja do pai no final da via.
Uma vez que ela alcançou sua casa, Cate teve que colocar as palmas
das mãos na frente dela para evitar bater na porta. Um brilho suave
emanava das fissuras nas persianas. Ela podia ouvir o resfriado de água e as
risadas de garotas sedutoras do interior das paredes e ela empurrou para
abrir a porta.
Cate agarrou a trava com dedos trêmulos. Sugando uma respiração
profunda, arrancou-a e a porta se abriu. A escuridão a cumprimentou. Cate
forçou uma respiração pelos lábios. Ela meio que esperava que seu pai a
repreendesse por voltar para casa em uma hora tão tardia. Reunindo sua
força, deu um passo para o limiar.
Cate fechou a porta atrás de si. Vários arcos e cordões pendiam das
cavilhas nas paredes. O balcão de atendimento com papéis e uma pena de
tinta onde seu pai os havia deixado. Ela fez o sinal da cruz, sussurrou uma
oração em honra de seu pai e correu para a sala dos fundos para mais perto
da luz.
Na loja de madeira na parte traseira do prédio, a grande banheira de
madeira estava firme no centro. Forrada com um grande pedaço de linho, as
filhas de três moleiros enchiam a banheira com baldes de água. Owen estava
sentado em um banquinho ao lado, trabalhando com as alavancas de suas
botas. Balde após balde foram trazidos pela porta dos fundos. Toda a aldeia
parecia estar aquecendo água para o banho de Owen. O vapor subiu da
superfície, se dissipando no ar mais frio acima.

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Quando uma das irmãs Miller se ofereceu para ajudar a remover a
túnica de Owen, o sangue de Cate esquentou em suas veias. Com as mãos
firmemente em seus quadris e os pés separados, ela berrou:
— Fora! — E olhou até que cada menina desaparecesse pela porta dos
fundos. Na sequência, Cate fechou a porta atrás deles.
Ao voltar para a banheira, Cate parou de repente, admirada pela
visão diante dela. Owen ficou com as costas desnudas, a túnica jogada sobre
um banquinho. Ele testou a água com a mão, suavizando os óleos
perfumados deixados na mesa perto da banheira. O aroma picante encheu
suas narinas.
Cate limpou a garganta.
Owen se virou casualmente para ela, sorriu sem um bom sorriso e
depois voltou sua atenção para a água.
— Se alguém aqui for ajudá-lo a se lavar, será eu.
— Eu nunca achei que você fosse invejosa. — Sua voz, baixa e calma,
escorria com uma suculenta doçura que fez com que seus interiores se
transformassem em mingau.
— Eu posso empunhar uma lâmina e um arco ao vestir a armadura
dos homens, mas ainda sou uma mulher com o desejo de uma mulher pelo
toque de um homem. — Ela deu alguns passos para mais perto dele, mas
parou quando suas calças caíram ao redor de seus tornozelos. Os músculos
carnudos de sua parte traseira se apertaram quando ele dobrou ligeiramente
para tirar a calça. Um suspiro engasgado em sua garganta. Estava escuro
quando ela havia explorado as bordas e as linhas do seu corpo. Ao vê-lo
bruscamente desnudo em sua frente fez sua feminilidade cambalear. Ela
queria tocar sua pele e rastrear cada linha gravada com a língua. Cate inalou
profundamente. Ela tinha bebido muito vinho.
Owen descartou a atadura de sua coxa, deixando cair a pilha de
roupas no piso com vigas. Ele inspecionou a ferida antes de se levantar do
banquinho pequeno perto do lado da banheira e entrar nela. Ele mergulhou
nas profundezas da água e suspirou, inclinando a cabeça para descansar na
borda. Com os olhos fechados, ele murmurou:

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— Você pode se juntar a mim.
Os cantos de seus lábios tremeram, se levantando para cima. Seus
dedos tremiam quando ela desamarrou os laços de seu vestido. Uma vez
afrouxados, ela deixou em cascata em ondulações, caindo ao redor das suas
panturrilhas. Em seguida, ela tirou o resto das bandagens improvisadas ao
redor das suas costelas. Cate saiu da pilha e ficou à luz das velas,
permitindo que Owen visse cada centímetro dela.
Seus olhos vagaram por todas as direções, com fome.
— Venha aqui. — Ele disse a ela, sua voz rouca e profunda.
Atravessando a curta distância até a banheira, Cate foi até o
banquinho e foi na ponta dos pés até a banheira. Owen a pegou pela cintura,
colocando-a no seu colo de frente para ele. A água morna, quase quente,
subiu pela sua pele. Colocando as palmas das mãos em seu peito, ela
colocou os polegares sobre seus mamilos. Os dedos de Owen cavaram nos
quadris em resposta.
— O que é essa loucura entre nós, Cate? — Seus olhos procuraram os
dela.
— Um pouco de prazer, isso é tudo. Não arruine o momento com
sentimento. Eu irei à casa de Deus e me arrependerei por meus muitos
pecados, se isso lhe agradar, mas eu os cometo de bom grado. Por
enquanto... — Seu tom mudou para o sussurro. Cate apertou as linhas duras
de sua mandíbula, passando os dedos pela barba espinhosa. — Você
poderia fingir que é o meu amante? Aquele que me manteria segura em seus
braços, que promete amar somente a mim e que eu seria dele e ele meu. —
Sua voz tremia quando Owen deslizou sua mão debaixo das ondas de seus
cabelos e enrolou seus dedos em torno da curva delgada do pescoço dela.
Ele a aproximou.
— Eu gostaria que fosse assim. — Ele sussurrou. — Fique comigo esta
noite, minha Catherine, e eu vou amá-la como um homem deve amar a sua
mulher.
Sua respiração se agarrou à concha de sua orelha.
Seus dedos se enredaram nas profundezas escuras de suas tranças. Owen

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puxou-as ligeiramente, expondo a extensão do pescoço e da clavícula. Com
sua boca, ele explorou as curvas e as linhas de seu esterno, permanecendo
perto do pulso rápido em seu pescoço. Ele lambeu, acabou com uma
mordida brincalhona, raspando os dentes sobre o local.
Cate se moveu debaixo do calor de sua boca. Seu pênis ficou duro,
pressionando ansiosamente contra a feminilidade. Sua mão deslizou sob a
superfície da água. Quando seus dedos cercaram o seu comprimento, Owen
soltou um forte assobio.
— Assim. — Ele instruiu, envolvendo sua palma ao redor da mão de
Cate, usando-a para se acariciar. Subindo até o eixo, na ponta, e depois para
baixo. Owen empurrou incontrolavelmente os quadris com o toque. — Oh,
Deus, Cate. — Ele gemeu, afundando ainda mais na água. Suas mãos
voltaram para a superfície. Tomando o pedaço de sabão no banquinho
próximo, Owen mergulhou-o na água e deslizou pelo comprimento do
corpo, do umbigo ao peito. Ele passou do lado esquerdo e depois no peito
direito. Com a mão livre, ele percorreu o caminho ensaboado, rastreando as
bolhas em seus mamilos.
A carne pulou quando seu polegar passou pelos picos arrepiados,
aquecendo sua pele resfriada com um calor de formigamento.
Cate pegou o sabão de Owen, ansiosa para retornar o toque. Seus lábios
envolviam os dela — uma exploração suave com a língua enchia sua boca.
Ela devolveu o beijo, profundo e cheio, apenas parando para pegar seu lábio
inferior entre os dela. Ela chupou-o por um momento antes de soltar para
correr as mãos espumosas ao longo da largura de seus ombros.
Seu toque perambulava por seu corpo — suas coxas, a barriga dela e
depois até as dobras ensaboadas entre as pernas. Os olhos de Cate se
fecharam. Seu nome deixou seus lábios em um sussurro de respiração,
seguido por palavrões que ela conseguiu falar em palavras. Ela arqueou as
costas, encorajando o seu toque para continuar. Owen enfiou um dedo
dentro dela enquanto seu polegar fazia pequenos círculos sobre o nódulo
endurecido entre suas dobras. Cate gritou, apertando seus quadris contra
ele. Ela agarrou seus ombros, suas unhas cavando na pele escorregadia de

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Owen. O peito levantou-se e caia em padrões erráticos enquanto tentava
recuperar o fôlego, seu corpo ameaçando ceder.
Em um movimento fluido, Owen segurou Cate e a girou na banheira
de modo que suas costas descansassem em seu peito. Sua cabeça aninhada
na curva do braço, deixando as mãos livres para mergulhar nas fendas
ocultas de seu corpo. Ele estendeu as pernas e elas ficaram ao seu lado, se
separaram e se inclinaram contra o joelho. Seu coração bateu em seu peito,
reverberando através de Cate. Carne deslizando contra a carne —
deslizando em vez de fricção — enquanto Owen acariciava, provava,
amava.
Cate moveu-se ao longo da base da palma da mão enquanto ele
continuava a prepará-la. Seu interior lutava para gritar, para liberar a
pressão enraizada em seu ventre. Sua respiração surgiu em formas instáveis
enquanto o fogo continuava crescendo dentro dela.
— Não pare. — Gemeu, à beira de perder o controle.
Owen traçou uma linha imaginária em seu braço, sobre seu ombro e
ao longo da curva de seu pescoço. Acariciando a concha de sua orelha, ele
pegou o lóbulo entre seus lábios, mordendo com suavidade, antes de curvar
seus dedos ao longo do arco do queixo.
Seu gemido se aprofundou.
— Owen, me leve. Não posso tolerar mais essa doce tortura.
Seu corpo ficou rígido debaixo dela, seus músculos, uma vez lúcidos,
se endureceram ao seu redor. Seu braço rodeou seu peito, puxando-a mais
fundo na água.
Dedos se acomodou firmemente sobre a boca, abafando um grito
aterrorizado.

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Capítulo Oito

— QUIETA. — As palavras de Owen eram um comando, porém


murmurado em seu ouvido. Ele esperou até que Cate acalmasse a respiração
antes de retirar a mão de sua boca. — Um movimento... ali. — Seus olhos
piscaram para a janela fechada. Tochas acesas pairavam logo atrás das ripas
de madeira. Pequenas manchas de fogo dourado espreitavam através das
rachaduras enquanto os portadores da tocha passavam.
Parecia haver apenas um punhado de transeuntes, mas Cate
duvidava que fossem aldeões. Os aldeões sabiam a localização de Owen e
não ousariam perturbá-lo.
Guardas.
— Não faça nenhum som. — Ele fez sinal para ela se levantar.
Cate se levantou da banheira, ainda sofrendo com os efeitos de suas
atenções. Ela passou pela borda e para o banco em um movimento fluido.
Pegando uma toalha da pilha ao lado da banheira, ela se secou antes de
vestir suas roupas em silêncio. Owen fez o mesmo.
— Eu não acredito que fossem aldeões. — Disse ele, afivelando o
cinto.
— Penso o mesmo. — Ela respondeu.
Cate esperou que Owen terminasse antes de acenar para ele seguir.
Ela pegou a mão dele e levou-o para a escuridão da loja. Embora a loja
tivesse sido saqueada durante sua ausência, só ela sabia onde seu pai
escondia seu estoque pessoal. Atrás do balcão, um tapete gasto escondia
uma pequena porta no chão. Com a ajuda de Owen, Cate abriu-a para
revelar várias espadas e um arco. Cate pendurou o arco no ombro e enfiou
uma espada curta no cinto.
— Você sabe — ela sussurrou para Owen — minha armadura seria
mais útil no presente.

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— Se você quiser arriscar uma ida até os MacKenzie’s, eu ficaria feliz
em ajudá-la a colocá-la. — Owen disse. Ele escolheu a espada equipada com
uma bainha.
— Eles estão aqui por você ou por mim? — Cate encontrou uma
aljava ainda pendurada e pegou várias flechas de um cesto. Ela examino-as
rapidamente antes de colocá-los na aljava.
— Eu não sei.
Cate segurou o ombro de Owen.
— Olhe para mim. — Ela ordenou. — Olhe-me nos olhos e jure que
você não vai me atacar assim que eu virar as costas.
Owen a encarou. Ele afagou suas bochechas.
— Eu juro. — Ele respirou fundo. — Contanto que você jure que não
perderá uma flecha quando eu estiver de costas.
— Eu farei o meu melhor. — Ela deu-lhe um rápido beijo nos lábios
antes de correr para a porta dos fundos. Cautelosa, ela abriu a porta. Não
vendo nenhuma ameaça imediata, eles saíram pela porta e entraram na
escuridão.
Cate se voltou para a aldeia. Ela devia avisar os outros.
— Depressa, eles vão até lá. — Ela olhou para trás. Owen correu na
direção das árvores e para longe dela. — Onde você está indo? — Ela
cuspiu.
Owen acenou para ela mais perto.
— Venha, Cate! Temos que nos apressar!
— Você está louco? — Ele queria correr. Guardas estavam em sua
aldeia, e eles deviam ser extintos. Eles não podiam saber de sua presença. As
vidas de seu povo dependiam disso. Não havia tempo para revidar e ele
queria correr? —Precisamos avisá-los! — Cate fechou a lacuna entre eles. —
O que você acha que vai acontecer se esses guardas começarem a questionar
as pessoas? A fidelidade racha mesmo sob as melhores circunstâncias. Eles
vão matar Wallace e Alice. Preciso avisá-los antes que seus companheiros os
encontrem. Não pense que você está isento disso, Owen. Não podemos ter
certeza do que eles sabem… o que eles podem usar contra você.

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Owen esfregou o rosto com os dedos, circulando as pontas ao longo
de sua testa.
— Eu posso falar com eles. Digo-lhes que te perdi na floresta,
conduzo-os para longe daqui. Minhas palavras tem peso.
Cate riu.
— Eles devem morrer, Owen! — Ela era uma idiota por pensar que
sua lealdade ficaria com ela. Ele ainda defendia a guarda até o último
suspiro. Era seu dever. Estava em seu sangue, assim como proteger seu
povo estava no dela. — Se é aqui que nos separamos, agradeço por tudo
que você fez por mim. Mas minha aldeia, meu povo, eles nunca estarão
seguros enquanto a guarda procura acabar com a minha vida. Entre matar
ou ser morta, eu escolho viver. — A certeza de suas palavras correu por ela
como um trovão. Owen abriu a boca para contornar, mas Cate interrompeu.
— Não sou covarde.
Linhas profundas contorciam a boca que ela tanto desejava cobrir
com a sua. Mas ela não conseguiu reunir a convicção necessária para segui-
lo. Ele poderia caminhar diretamente para os braços da guarda por tudo o
que ela sabia. Cate fez uma pausa para olhar para ele, para absorver seus
traços gravá-los em sua memória. Então ela se virou, deslizando nas
sombras da obscuridade, deixando Owen na escuridão.
Cate abriu caminho, entrando e saindo de becos e limiares, buscando
sinais visíveis dos guardas. Ela encontrou apenas dois saqueando os restos
da festa, pegando vinho do barril. O coração de Cate bateu no peito.
O assassinato era um pecado.
Sua mente e suas entarnhas travavam uma guerra dentro dela. Ela
tinha causado danos suficientes nos últimos dias, mas não conseguiu excluir
os pensamentos sobre o que aconteceria se esses homens vivessem.
Uma morte para salvar uma vida. Era justificável.
O pensamento de eliminar essa ameaça que se aproximava de sua
tranquila vila a emocionava. Certamente, Deus entenderia.
Cate contou suas flechas. Três. Droga. Ela daria um propósito a cada
uma delas. Puxando uma flecha, Cate apoiou-se sobre um joelho. Ela

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dimensionou os dois homens, esperando para atacar. Seus dedos tremiam
na corda.
Paciência. Ela devia ser a vencedora.
Não havia outra opção. Sentada na escuridão, de repente sentiu-se
mais sozinha do que nunca antes. A floresta estava escura e vazia. Nem
mesmo os sapos cantavam. Pela primeira vez, ela não encontrou conforto na
floresta que uma vez chamou de casa.
Escolhendo o mais forte dos dois, Cate esperou pacientemente até
que suas costas fossem giradas antes de apontar. Um jeito de morrer e
menos do que honorável de sua parte, mas estava sozinha agora. O homem
virou de lado e Cate soltou um suspiro através dos lábios franzidos.
Ancorando seu polegar sob a mandíbula, ela apontou, soltou, então esperou
com a respiração aguda. A flecha atravessou o pesado cobertor de névoa
que se instalava firmemente sobre o Moor. Ela ouviu o grunhido do homem
e barulho de passos. Então, vozes distintas. Eles a procuravam.
Cate fechou os olhos. Ela não conseguiu matá-lo. Apressadamente,
arrancou outra flecha e ancorou-a na corda.
O vinho. Ela baixou a guarda com Owen. Ela era tão tola. Ela apenas
se enfraqueceu. Com sua confiança vacilante, seus dedos cruzaram o
comprimento do eixo. Apontando, ela desenhou mais uma vez e disparou
contra a sombra batendo na névoa. A flecha fez contato e a gota escura caiu.
Mais uma flecha. Pelo sangue de Jesus Cristo no céu.
Cate arrependeu-se, falou uma maldição e então pegou a última
flecha. Um guarda estava imóvel no gramado, enquanto o outro seguia em
sua direção. Ela disparou a flecha antes de ter tido a oportunidade de
ganhar terreno. A flecha parou no ombro do homem. O suficiente para
derrubá-lo com o golpe, mas não o suficiente para matá-lo.
Uma lágrima quente rolou pelos seus olhos, mas ela a afastou,
lutando contra o desejo de correr com medo. Ela puxou o punho de sua
espada curta, agarrando-a entre as palmas suadas. Convocando um rugido
que desafiaria qualquer homem, Cate avançou no campo, obstinada em

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direção ao guarda restante. Ele pareceu atordoado ao vê-la avançando pela
névoa, e Cate usou isso para obter vantagem.
Trazendo o braço para trás, Cate enrolou os dedos em um punho e
socou a mandíbula do homem. Ela então moveu a espada de forma
selvagem, apontando para o seu peito, mas o guarda conseguiu bloquear o
golpe com apenas um momento de sobra. As lâminas bateram uma contra a
outra, o silvo afiado de aço ecoando nos ouvidos. Lançando seu peso na
luta, Cate tinha como objetivo derrubar o homem com equilíbrio, na
esperança de ganhar terreno. A brutalidade do homem contra a sua
agilidade — se ela pudesse chegar até ele rapidamente, a luta terminaria em
seus termos.
Cate teve a chance, chutando rapidamente o homem na virilha. O
súbito e inesperado golpe tinha trabalhado em seu favor mais vezes do que
qualquer outro. Ele gritou, mas segurou o chão, bloqueando o ataque da
espada de Cate com o dele. O guarda empurrouse contra ela e Cate tropeçou
no chão. Sua espada se afastou violentamente dela, pousando na grama.
Escavando os calcanhares na sujeira, ela afastou-se dele, deslizando na
grama molhada de costas com facilidade.
— Levante-se. — Cate ordenou a si mesma enquanto o homem se
aproximava mais. O sorriso malvado em seu rosto sujo atingiu o medo em
seu intestino. Ele era uma visão ameaçadora, com as flechas ainda
protuberantes em sua carne e sua barba mutilada pingando com uma baba
espumosa.
Cate rolou ao seu lado. Avançando para a frente da névoa à distância, estava
o guarda que tinha atingido com as flechas. O desejo de soltar palavrões
junto com a sua absoluta descrença permaneceu na superfície. Os dedos
enrolados em torno de seu tornozelo e seu instinto era chutar. Suas pernas
emaranhadas no tecido de seu vestido enquanto ela caminhava para
recuperar o equilíbrio. Os olhos dela ardiam com lágrimas não derramadas.
Lute, Cate. Seja forte.
Ela apontou para a cabeça do homem, chutando com toda a força que
ela conseguiu e o guarda a soltou. Cate procurou a sua espada, mas não

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conseguiu alcançá-la na briga. Ambos os guardas estariam sobre ela em
alguns momentos.
—Levante-se!
As palavras, no entanto não eram suas, ressoavam através dela como
se ela tivesse falando sozinha.
Owen.
Seu coração pulou dentro de seu peito. Em um instante, ele estava lá,
seu corpo era uma barreira entre ela e os guardas avançando.
— Levante-se, Cate! — Ele repetiu, afastando o guarda mais próximo.
Cate cambaleou. Inalando profundamente, ela forçou sua mente a
ficar limpa e recuperar a compostura. Quando seus olhos se abriram, o
homem com duas flechas cravadas peito corria em sua direção, muito perto
dela. Sem tempo de se mover, Cate segurou uma das flechas e puxou-a para
fora do homem. Ele berrou, o choque parecia apenas alimentar seu
propósito. Cate empurrou a ponta em direção ao coração do homem.
A flecha estava embaixo do peito do homem, mas ele ainda a
perseguia.
— Por que você não morre? — Ela rosnou, afastando-se. Precisava
encontrar a sua espada, mas a grama era alta e sua visão distorcida. Um
brilho de luz percorreu o ar ao redor dela, e ela se virou para ele. De repente,
o guarda caiu de joelhos, vacilou precariamente de um lado para o outro,
depois caiu para frente, morto. Owen ficou de lado com a espada na mão, o
peito tremendo.
Cate soltou um suspiro. Ela caiu de joelhos e apertou os lados, ofegante por
uma respiração firme que não viria. Nunca antes ela esteva tão perto da
morte.
Owen ficou de pé sobre o corpo do guarda restante, olhando para ela.
— Obrigada. — Ela começou, levantando-se da posição de joelho.
— Não. — Seus olhos a cortaram como se fossem punhais. Owen
balançou a cabeça, engolindo a espada. — O que... Cate, você... eu... O que
diabos você estava pensando? — Ele cuspiu.
Cate apertou os olhos.

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— Eu estava pensando nas vidas da minha aldeia. Eu só procuro
protegê-los! — Ela cruzou os braços contra o frio, de repente, sentindo um
arrepio sobre ela.
— Nós passamos por isso! A que custo, Cate? Quantos mais devem
morrer?
Ela se aproximou.
— Tantos quantos forem precisos!
— Você acha que me deleito em ajudá-la com suas pequenas
brincadeiras de assassinato? — Owen levou uma palma para o rosto. —
Acabei de matar dois dos guardas do rei... por você! Eu não sei o que
acredita que eu sou, Cate, mas isso deve parar! Por que você desafia a morte
assim?
Cate engoliu o nó duro que subiu em sua garganta. Morte. Espreitava
em cada esquina para ela. Talvez morrer em uma batalha parecia a melhor
maneira de morrer em vez de ser exibida para que todos a ridiculizassem e
atirassem pedras. Talvez este fosse o modo de Deus de protegê-la de uma
morte prolongada e ela estava perdendo todos os sinais. Talvez devesse
morrer no ponto em que tudo começou para ela — onde ela soube da morte
de seu pai — mas Owen, esse homem, continuava entrando no caminho do
plano de Deus para ela.
Como ela queria que ela pudesse fazê-lo entender. Estar perto dele só
levaria à sua própria morte. Mais cedo ou mais tarde, seu tempo na terra
chegaria ao fim. Ela não conseguiria arrastá-lo para baixo com ela.
— Você deve ir, Owen. Ninguém está mantendo você aqui e você não
tem nenhuma obrigação de me ajudar. Na verdade, seria bastante agradável
para você ir agora. Eu não posso continuar com as minhas tarefas com a
Guarda do Rei me seguindo o dia todo. Vá! — Ela agitou-o como se fosse
uma criança incômoda. Cate virou as costas para ele. Ela devia juntar a sua
inteligência e procurar Wallace. Precisaria de ajuda para descartar os corpos.
Wallace podia acabar a matando, mas pelo menos não a repreenderia assim.
Cate encontrou sua espada curta e colocou-a debaixo do cinto e procurou
pelo arco descartado na área descartado e pela aljarva.

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— E onde você acha que está indo? — Owen se apressou em
acompanhã-la.
— Não perca seu tempo comigo, Owen. — Ela fez uma pausa para se
voltar para ele. — Você não acha que é hora de retornar a Londres como
você disse? Estou certa de que seu pai deve estar perguntando sobre o seu
paradeiro. Você esteve ausente por algum tempo. Para não mencionar que
você deve lidar com esse pequeno problema de seus homens fiéis. — Cate
continuou no caminho em direção aos MacKenzie e Owen continuou a
segui-la.
Cate percorreu a distância para a casa de Wallace, apenas para
encontrar o casal adormecido na cama. Wallace, mais do que bêbado,
roncava levemente quando Cate tentou despertá-lo. Ele resmungou
brevemente quando ela apertou bruscamente seu ombro.
— Estou indo, Wallace. Eu voltarei em uma quinzena. Se importa se
eu pegar emprestada a égua no pasto?
Wallace resmungou.
Cate beijou-o suavemente na testa e depois se afastou do quarto.
Ainda tonta pela quantidade abundante de vinho que tinha bebido antes, ela
juntou alguns suprimentos em um conjunto de alforjes, enquanto olhava
para um Owen silencioso com um olhar suspeito. Ela ficou surpresa por ele
não ter tentado convencê-la a sair ou tentar prendê-la ainda. Ela não
conseguia ler as suas feições perturbadoramente plácidas e isso a deixava
nervosa. Depois de terminar de recolher seus pertences, tomando cuidado
para tirar sua armadura das coisas de Owen, ela foi até a égua castanha e a
prendeu. Quando voltou do pasto, Owen estava preparando Jack, seu
próprio corcel.
— Para onde iremos? — Perguntou Owen quando montou em seu
cavalo.
— Nós... não vamos a lugar nenhum. Você voltará para Londres e eu
retornarei para minhas árvores. — Cate ergueu-se na sela, ajustando o
comprimento de seu vestido. Ela teria que fazer uma nota para mudar seu
vestuário o mais rápido possível, já que o tecido era um aborrecimento

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terrível para cavalgar. Ela só precisava de calças para acompanhar sua
armadura, e ela estaria boa como se fosse nova. A primeira seiva solitária a
cair na floresta estragaria o tecido.
— Você continuará procurando o assassino do seu pai? — Owen
aproximou o cavalo ao de Cate.
Ela se endireitou na sela.
— E daí?
Owen não respondeu. Ele a olhou, como se pudesse ver através de
seu exterior endurecido. Cate estalou a língua para a égua e a virou na
direção da floresta de Bedgebury.
Eles viajaram juntos em silêncio por algum tempo. Owen deixou Cate
com os seus pensamentos, que corriam soltos com especulações. Verdade
fosse dita, ela não tinha a menor idéia do que fazer a seguir. Ela pensava que
estava no caminho certo com a matança e o roubo de guardas e fiscais, mas
Owen tinha razão... mesmo se ele não tivesse dito com todas as palavras.
Todas as lutas e os assassinatos não estavam a levando a lugar nenhum. A
vingança a conduzia unicamente a uma rápida queda e um fim súbito. Seu
pescoço estava na linha, e agora com uma generosa recompensa, por ele. E,
ainda assim, ela não estava mais perto de vingar a morte de seu pai. Os
pensamentos antes lúcidos estavam nublados de loucura. Cada dia que
passava sem encontrar o homem responsável, ela mergulhava mais
rapidamente na escuridão. Ela tinha que pôr fim nisso... seu pai merecia
justiça.
Ela retornaria à floresta para descobrir qualquer coisa do que as
pessoas pudessem saber sobre o massacre. Um nome era tudo que ela
precisava, mas com tantas mortes, quem estaria disposto a dizê-lo? Cate
suspirou. Talvez ela estivesse errada. Ela precisava falar com aqueles que
estavam lá, talvez até subornasse algum grupo desagradável com uma
moeda de seu próprio bolso. Eles conheciam os envolvidos no massacre em
Mile End. Eles poderiam dar seus nomes. Nomes preciosos.
Cate tentou imaginar as negociações em sua mente. O que haiva
acontecido naquele dia fatídico? Quem viajava com o Rei — o seu séquito?

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Certamente, ele precisaria de proteção. Sua guarda real estaria presente,
bem como uma boa parte de suas forças. O capitão da guarda certamente
seria chamado para dar orientações, pois o rei era jovem e imprudente nos
caminhos das negociações.
Certamente, o Capitão quereria seu filho ao seu lado. Somente o
melhor para uma situação tão precária.
Cate estacou sua montaria. Mil punhos pareciam golpear suas
entranhas.
— Você estava lá.
— O quê? — Owen desacelerou, virando a sela para olhar de volta
para ela. A confusão em seu rosto.
— No Mile End. Você estava lá com o seu pai, não estava? — Não era
uma pergunta, era uma acusação. Cate soltou os pés dos estribos e saltou da
égua. Ela pisou na lama e levou os à cabeça, batendo-os levemente contra
sua testa. As imagens sangrentas nublaram seus pensamentos. — Diga-me
que você não estava lá, Owen!
Com cuidado, desmontou.
— Eu nunca disse que não estava.
Ele escolheu suas palavras sabiamente, o bastardo. Todo esse tempo.
Todo esse tempo, ele sabia. O filho da puta sabia.
— Você informou os guardas de Hawkhurst? Diga-me que você não
os levou à minha aldeia, Owen. — O conteúdo de seu estômago se
aproximou do precipício da expulsão. Oh, o que ela tinha feito? Ela os
conduzira direto para sua casa, seu refúgio. Por um homem. Um homem
estúpido e manipulador por quem ela se deixara cegar com lisonja e
indulgência carnal. Ele a usou, ganhou sua confiança para poder atraí-la
para o pai... até a sua morte. Ela queria chorar, gritar, machucá-lo tanto
quanto ela estava machucada.
— Cate. — Owen deu um passo apreensivo para a frente. Ele a olhou
precariamente, suas profundidades brilhando em uma mistura de fogo e
gelo. —Deixe-me explicar.

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Olhando para baixo, Cate percebeu que agarrou sua espada. Não se
lembrava de tê-la segurado, mas reafirmou seu aperto no punho.
— Eu não quero ouvir o que você tem a dizer.
Outro passo para mais perto, desta vez com os braços esticados
suavemente em seus lados.
— Cate, dê-me a espada.
Uma lágrima queimou uma trilha ao longo de sua bochecha.
— Era parte do seu plano? Ganhar a minha confiança apenas para
esfaquear-me nas costas com as suas mentiras?
— Você é a única que segura a espada, Cate.
Ela plantou os pés firmemente na terra.
— Pegue a sua arma, Owen.
— Eu não vou lutar com você. — Sua voz era suave e fervorosa.
Um soluço subiu a garganta e ela lutou contra o impulso de deixá-lo se
libertar.
— Pegue sua espada! — Ela gritou as palavras para ele, desejando
que sua raiva também o consumisse. Cate se aproximou dele, testando sua
determinação.
Owen estremeceu, mas segurou-se rapidamente.
— Não. — Ele deu um passo para mais perto, agora estavam a uma
curta distância.
— Por favor, — ela murmurou — pegue. — As lágrimas fluíram mais
rápido do que ela podia limpá-las de seu rosto. Ela respirou fundo. — Você
matou meu pai? — As palavras escaparam em um sussurro.
— Eu matei muitos homens naquele dia.
O sofrimento alimentou a sua loucura. Ela balançou a cabeça, sem
vontade de acreditar. Este homem — seu inimigo — provou-se digno de tal
título. Ele não precisava dizer as palavras, ela já conhecia a resposta.
Ela o acusou, mas Owen estava pronto. Ele facilmente puxou a espada de
suas mãos e colocou-a ao seu lado. Ele envolveu seus braços em volta dela
em um abraço apertado, prendendo seus braços nos lados. Quando ela lutou
para se libertar, Owen a puxou para perto. Quanto mais ela lutava, mais

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apertado o seu controle sobre ela se tornava. Cate torceu os dedos em
direção à ferida de Owen e logo cavou as pontas na carne macia de sua coxa.
Owen grunhiu com o desconforto, mas seu controle não vacilou. Em
vez disso, ele caiu na grama, levando Cate com ele. Em uma confusão
emaranhada de empurrões, chutes e braços firmes, o casal rolou pelo aterro,
rolando até um pequeno córrego. O choque da água e do frio deixaram os
dois lutando para respirar, mas Cate era implacável em sua batalha contra
Owen. Ela deu um soco, acotovelou-o, qualquer coisa que poderia fazer na
tentativa de libertar a raiva que a ultrapassava.
— Pare! — Suplicou Owen. — Apenas escute! — Ele tentou segurá-la
ainda. — Eu estava com meu pai no dia em que os rebeldes invadiram
Londres. Nos estavámos em Smithfield.
Cate desejou poder ignorar suas palavras. Ela não queria saber como
ele havia matado seu pai. Ela se acalmou.
—Por favor, não me conte mais nada.
— Você deve ouvir isso, Cate. Eu imploro para você, ouça-me.
Durante tanto tempo, eu queria dizer as palavras, mas não sabia como dizê-
las com medo de te perder. — Ele apertou as mãos dele. — Eu nunca
imaginei que teria tais... fortes sentimentos por você, o que torna meus
pecados muito mais imperdoáveis. Eu fui um covarde, Cate, um idiota
egoísta e eu sabia da primeira reunião na floresta que eu nunca desistiria de
você.
Apenas mais mentiras. Ele provocou-a agora, puxando as cordas do
coração para tirar proveito de seu sexo. Afinal, ela era uma mulher, e ele era
um homem bonito. Ela fechou os olhos, como se não estivesse olhando sobre
o rosto dela, deixaria as palavras que lhe dariam o coração.
— Sim. Eu estava lá, Cate. Não sabia nada do plano do rei até que
fosse tarde demais, e meu pai tomasse a vida do líder rebelde, que se
chamava Tyler. As negociações foram feitas até que Tyler traiu o rei. Meus
homens e eu protegemos o rei Ricardo e todos perderam a vida pela sua
traição. Saí para a minha propriedade no dia seguinte. Eu sabia que o que
tínhamos feito estava errado e eu não podia fazer parte disso por mais

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tempo. Isso deveria ter sido o fim. Mas então... — Sua voz desapareceu. —
Eu fui chamado de volta ao serviço pelo meu pai especificamente para
buscá-la.
Cate se acalmou.
— Você tinha ordens para me matar, naquele dia na floresta.
— Sim.
—Mas você não me matou.
— Eu não consegui. — Ele trouxe suas palmas para o rosto dela para
segurar suas bochechas, forçando os olhos de Cate a encontrar os seus.
Inalando uma respiração profunda, Cate ouviu os sons tilintantes das águas
corriam sobre suas pernas e o canto de pássaros noturnos nas árvores acima.
Seu pai havia deixado Londres com uma carta. Era a carta que havia selado
seu destino. Ele não era um homem lutador — apenas um mensageiro.
— Ele... ele... recebeu a carta. Ele manteve a carta e alguém o matou
por isso. Isto é tudo o que eu sei.
— Eu sou o Guarda do Rei, Cate. É meu dever protegê-lo. Sigo
ordens, não faço perguntas. Isto é tudo o que eu sei.
Seus pensamentos rodaram com contemplações. Ela sabia o
significado do dever e da honra. Ela viveu pelo seu próprio código, como
Owen. Dois mundos completamente diferentes. Com a linhagem nobre dele
e a origem dela considerada de máxima petulância pela maioria, eles nunca
poderiam pertencer ao mesmo mundo. Seu coração queria que fosse assim,
mas seu relacionamento não tinha sido construído exatamente sobre uma
base de verdades. Ou confiança.
— Cate... — Ele a aproximou, seus passos deslocando a correnteza.
Com um fervor ousado, Owen baixou os lábios sobre os dela, testando sua
vontade de encontrar seu beijo. Sua respiração era quente contra sua pele
fria e ela gentilmente abriu a boca, permitindo-lhe acesso. Ele a beijou com
uma gentileza como nenhuma outra. Algo nele tinha mudado. — Venha,
vamos resolver isso. Não quero te perder. — Ele respirou contra sua
bochecha.

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Ela segurou seu peito para se apoiar. Embora hesitante, Cate assentiu
com a cabeça e permitiu que Owen a guiasse.
— Peço desculpas pelos dedos na seu ferimento da perna. — Ela
murmurou, acenando na direção de sua coxa.
— Aquela foi uma boa jogada. — Ele admitiu, segurando sua mão
para que eles pudessem escalar o aterro juntos.
Cate colocou sua palma na dele. O calor irradiou através dela,
acalmando os tremores de seus nervos esfarrapados. A água jorrava de seu
vestido enquanto ela seguia para o topo da encosta. Ensopada e pesada
pelas roupas molhadas, ela lutou para se manter em pé. Quando ela
escorregou, Owen a segurou. Quando ela se moveu para subir, Cate se viu
sendo girada com força. Ela deixou escapar um pequeno grito equanto
expirava e ela resistiu contra a prisão de seus braços em um aperto sólido.
— Não diga uma palavra. — Owen sussurou em seu ouvido,
apertando seu braço.
— Ótimo trabalho, meu filho. — A voz, articulada e afiada, ecoou do
topo do aterro.
Uma dor penetrante tomou profundamente o ventre de Cate. Sentiu
como se tivesse sido chutada no estômago, incapaz de respirar. Ela inalou
profundamente, apenas conseguiu aspirar um pouco de ar. O mundo estava
se fechando ao seu redor. A correnteza ondulante por trás dela agora soava
como se fosse um oceano sobre pedras.
De pé no alto do aterro estava a Guarda do Rei, brandindo as cores
reais em pleno esplendor e iluminadas por tochas flamejantes. Vermelhos e
azuis brilhantes adornavam as duas armaduras equipadas. Seis guardas
estavam montados em cavalos blindados, armados e prontos para atacar.
— Então, esta é a tola que causou tal alvoroço? — Robert Gray,
Conde de Lancaster e Capitão da Guarda do Rei, o pai de Owen, a olhou
como se ela fosse o próprio diabo. Ela o reconheceu instantaneamente, uma
vez que ele tinha o mesmo maxilar cinzelado e olhos vívidos que seu filho.
Cate se deu conta de que ficara com a impressão de que o capitão se
encarregara pessoalmente de cuidar de sua captura. Ela abriu a boca para

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falar, mas Owen rosnou em seu ouvido antes que as palavras malévolas que
pretendia vomitar no homem fossem ditas.
— Eu sei o que você está pensando agora, Cate, mas deve confiar em
mim, neste momento mais do que nunca. — Os dedos de Owen
entrelaçaram-se aos dela, e ele os apertou suavemente para tranquilizá-la.
Então, seu aperto se afrouxou ligeiramente.
— Parece que eu não tenho escolha. — Ela respondeu.
— Sempre há uma escolha, Cate. Só precisa fazer o julgamento
correto. — Suas próprias palavras ecoaram em seus ouvidos. — Vamos. —
O comando de Owen era severo e ele a empurrou para frente ligeiramente.
Cate lutou contra o aperto, enquanto Owen ainda a segurava. Seus
olhos encontraram os do capitão.
— Eu acho que seu filho tem a aparência da mãe.
Ela sentiu um baque contra a parte de trás do crânio. Os flashes de
luz manchavam sua visão até um túnel preto a alcançá-la e ela caiu na
escuridão.

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Capítulo Nove

SUA CABEÇA latejava no ritmo constante da batida de seu coração. Cate


abriu uma pálpebra, sem perceber o que a rodeava. Depois de algumas
piscadas, sua visão clareou, revelando a luz da manhã. Patas de cavalo e
uma estrada de terra moviam-se debaixo dela. Ela estava em um cavalo -
amarrada a um, pelo menos. Seus braços estavam estendidos e amarrados
por algemas. Ela deitou-se sobre a sela em sua barriga com as pernas
balançando livremente para o lado. Homens falavam em todas as direções
ao redor dela. Fingindo inconsciência, Cate se esforçou para ouvir suas
conversas. A informação que ela conseguisse reunir podia ser útil.
Duas das vozes ela reconheceu imediatamente. Eram os guardas que
tinham conspirarado contra Owen. Eles falavam em voz baixa e cavalgavam
na frente do seu cavalo. Outro cavalo seguia atrás dela. Olhando
ligeiramente para a direita, Cate viu o flanco do cavalo sobre o qual estava
apoiada. Identificou uma ferida cicatrizando, logo percebeu que seu cavalo
era Jantar. Ela só podia especular a história que Owen contara ao seu pai
sobre a sua captura. Talvez não tivesse inventado alguma mentira e tivesse
dito a verdade, tramando contra ela o tempo todo — ganhando a sua
confiança apenas para entregá-la ao pai.
Um truque plausível, mas... Owen parecera tão chocado ao ver seu
pai quanto ela. Ela queria poder conversar com ele, saber exatamente o que
tinha acontecido entre pai e filho. Ela aguardaria seu tempo, o pouco que
restava, até que eles parassem. Ela tinha palavras para Owen e muito tempo
para acertar.
O ritmo em que cavalgavam era implacável. O grupo de homens
viajou por horas, levando os cavalos ao limite. Pararam apenas alguns
minutos de cada vez para se aliviar ou dar água aos cavalos, mas nunca
tempo suficiente para Cate tentar qualquer meio de conversa ou fuga. O dia
se arrastava sem parar.

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Contorcendo-se na tentativa de se sentir mais confortável, Cate se
mexeu ao longo do arco da sela, na esperança de assustar o cavalo e ajudá-la
a cair. As batidas em sua cabeça tinham que cessar,e seu estômago doía
incessantemente. Com um último movimento, ela escorregou para trás,
aterrissando de costas em um monte. O cavalo saltou para o lado para evitar
pisar nela e parou a vários passos de distância.
— Esperem! — Falou Owen, interrompeu o cavalo antes de pisoteá-
la.
Os homens restantes diminuíram a velocidade e formaram um perímetro
em torno do capitão enquanto Owen desmontava. Voltando a cabeça para a
luz minguante, ele instruiu os homens a montarem o acampamento.
— Devemos no apressar. — Lorde Lancaster jogou as rédeas para o
guarda mais próximo, desmontou e se aproximou de Owen.
— O sol se põe à medida que falamos. Você não sabe o que espreita
na escuridão. O mal ronda esta floresta. Eu já vi isso antes e não devemos
desdenhar. Vamos acampar aqui e seguir para Londres amanhã. — disse
Owen.
— Você esquece seu lugar, Owen.
Owen suspirou.
— Você me trouxe para isso, pai. Acabei de fazer o que me pediu e eu
vou ver isso terminar. Acamparemos aqui.
O capitão não aprofundou o argumento. Em vez disso, travaram uma
batalha silenciosa. Lorde Lancaster ergueu o queixo, enquanto Owen franziu
o cenho enfrentando a autoridade irredutível de seu pai. No final, o capitão
recuou.
— Muito bem, então. — Lorde Lancaster resmungou. — Vigiem a
prisioneira.
Cate foi colocada de costas contra uma árvore ao lado da estrada
principal, com as mãos algemadas em correntes e ferros a sua frente. Ela riu
quando os homens discutiram qual caminho deveriam seguir para Londres,
pois os dois traidores declararam que o grupo deveria evitar o Bedgebury a
todo custo. Owen manteve distância do par, mas nunca deu as costas a eles.

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Ele também prestou atenção ao seu entorno. Os traidores não eram
confiáveis. Uma pequena fogueira foi feita e os homens comeram rações de
suas mochilas. Nenhuma foi oferecida a Cate. Ela esperava tanto.
Apesar dos inúmeros esforços para ficar acordada, Cate se viu
cochilando ao som do fogo crepitante. Um leve toque em seu ombro a
assustou e ela bateu a parte de trás de sua cabeça contra o tronco de árvore
contra o qual estava encostada.
— Aqui. — Owen entregou a Cate um pouco de comida e um frasco.
Cate aceitou a oferta e comeu em silêncio.
— Se desejar, vou me sentar com você durante a noite. Estou
desconfiado destes homens. Eu prometo que nenhum dano lhe acontecerá
enquanto estiver sob a minha vigília.
Ele se sentou ao lado dela, olhando para o fogo.
— Obrigada. — Disse ela. — Você ficará ao meu lado enquanto o
carrasco aperta o laço ao redor do meu pescoço também?
— Cate, — ele sussurrou. Owen apertou a grama perto do pedaço de
terra em que se sentara. — Você não pode deixar sua língua solta assim
perto de meu pai. Se ele descobrir sobre... nós, eu ficarei ao seu lado. Filho
ou não, cometi crimes graves. Devemos continuar. Eu pertenço à Guarda do
Rei e devo cumprir o meu dever. Meu pai deve saber onde está a minha
lealdade. Ele deve acreditar que eu estou sendo sincero. — Ele voltou-se
para ela então. O fogo brilhou em seus olhos e pela primeira vez Cate viu
medo neles. — Uma vez que retornamos a Londres, talvez eu possa ganhar
o favor do Rei e implorar pela sua liberdade. Não posso fazer isso se eu for
enforcado ao seu lado.
— Você não precisa se preocupar, Lorde Banebridge. Não vou
condená-lo. Esses dois, no entanto... — Cate assentiu ligeiramente para os
dois traidores. — Estou certa de ter informado seu pai de eventos anteriores.
— Enquanto ele confiar em mim, isso é tudo o que importa. Não é
incomum para os homens de posição tomar certas... liberdades. Ele não
pode me culpar por isso, visto que eu mesmo sou o produto de tais flertes.
— Owen pegou o frasco das mãos trêmulas de Cate. Colocou-o contra os

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lábios, permitindo-lhe beber. Ela engoliu ávida o líquido alcoólico,
engasgando. — Descanse agora. Você precisará de sua força para enfrentar o
futuro.
Cate bocejou. Owen sentou-se perto, mas não tão perto para não
atrair atenção indesejada. Ela fechou os olhos.
— Owen? — Ela exalou.
— Hmm? — Ele murmurou.
— Estou com medo.
— Não vou deixar que eles te toquem.
Suas palavras deveriam ser de conforto, mas Cate não encontrou
consolo nelas. Não eram os homens que ela temia... era a morte — o que eles
fariam com ela. Quando começou a busca pela vingança, ela sabia que
aquilo não ia acabar bem para ela e tinha aceitado isso. Ela se entristecia em
saber que a morte de seu pai seria esquecida. Ela esperava vingá-lo antes de
conhecer a morte. Cate fechou os olhos, esperando que tais pensamentos
não prejudicassem seus sonhos.
Cate acordou com um manto de calor, percebendo logo que o calor
reconfortante irradiava de Owen. Ele a segurava apertado contra si,
encaixada na curva de seu corpo com os braços ao seu redor. Ele tinha feito
o melhor que pôde para protegê-la da névoa leve que caia através das
árvores. Ela ouvia o ritmo constante de seu coração, respirando seu cheiro.
Sua pele ainda com cheiro de sabão, levemente encoberta pelos restos de
suor e terra.
Nesse momento, ele acordou e, dando-se conta da posição em que
estavam, rapidamente se afastou dela. Pequenos tremores percorreram sua
pele, quando o frio súbito a tomou. O chão estalou ao seu lado e ela viu
Owen se levantar e se afastar alguns passos. Ela não podia culpá-lo - ser
pego perto dela significaria consequências incertas. Ele inadvertidamente se
colocara em perigo durante a noite, causado por uma familiaridade imoral
que ambos haviam se permitido. Cate se concentrou em estabilizar sua
respiração, fingindo dormir.

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Passos se aproximaram e Cate fechou os olhos com força. Ela
permaneceu imóvel.
— Você desfrutou da companhia? — Um homem riu não muito
longe. Cate presumiu que ele estava ao lado de Owen.
— Não, eu não. — As palavras de Owen eram cortantes.
— Ora, vamos... Eu teria aproveitado aquele doce pote de mel. Talvez
ela o acolhesse, não?
— Feche a boca, Harrison. — Disse Owen.
Harrison lançou uma risada profunda e calorosa.
— Ahh! Eu sabia que você estava se juntando com ela, hein?
— Você pensaria tão baixo de mim, Harrison? Que eu me
aproveitaria de uma prisioneira acorrentada?
— Por que não? Você é um homem da Guarda do Rei, capaz de fazer
o que quiser. Seu pai permitiria que você escapasse de um assassinato, pelo
inferno, ele permitiria! — Respondeu Harrison. — Eu acho que o capitão
adoraria saber de suas brincadeiras na floresta. Talvez seja por isso que você
tenha demorado tanto? Esqueceu o tempo enquanto fodia na floresta?
— Tenho certeza de que o capitão ficaria entusiasmado ao saber de
sua trama para matar a mim e à prisioneira para reivindicar a recompensa
que você não tem direito. Talvez eu devesse informá-lo de sua conspiração
contra o Rei. — As palavras de Owen soaram abafadas, em um tom cada vez
mais baixo quanto mais ele se afastava de Cate.
— Não há conspiração contra o Rei. — Harrison se atrapalhou ao
pronunciar as palavras.
— Não? Em quem ele vai acreditar, no Visconde de Banebridge ou
em um tolo traidor contratado? O que eu faço não é da sua conta. Sugiro que
fique com a boca fechada e fique de olho em suas costas. Eu odiaria ver um
soldado da Guarda do Rei julgado e condenado por conspiração. Você
conhece a punição por tais crimes?
— Você ousa me ameaçar?
— Açoitado e esquartejado, Harrison. Desagradável.

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— Por que você acha que seu pai está aqui? Porque você não cumpriu
seu dever. Fui eu quem informou seu pai de suas falhas.
— Ela está sentada lá em grilhões, não está?
— É fácil pegar uma prostituta quando seu membro está dentro dela.
Cate de repente se esqueceu de como respirar. Ela lutou para ficar
quieta. Cada pedaço dela queria estrangular Harrison. Ambos os homens
tinham argumentos convincentes. Tanto que não podia entender de que
lado Owen estava. Do pai ou da amante?
— Owen! — O capitão chamou, interrompendo a batalha das
vontades.
Quando os passos se afastaram, Cate abriu os olhos. Ela estava
sozinha. Erguendo-se para se apoiar contra a árvore, ela esperou. Os
homens juntaram suas armas, verificaram as tiras de couro na túnica do
cavalo e conversavam entre si. Um homem estava em pé, como uma estátua,
vigiando o horizonte. Cate absorveu cada detalhe - qual mão cada guarda
usava, quantas espadas e adagas carregavam, e quem protegia o capitão. Ela
também notou que Owen não demonstrava nenhum interesse por ela.
Um guarda colocou Cate em pé e a conduziu aos cavalos. Ainda
algemada, ela lutou para subir na sela. O guarda segurou suas nádegas com
as palmas das mãos e apertou, empurrando-a para cima. Cate recuou,
balançando os punhos na direção dele. O guarda bateu na parte de trás de
sua cabeça em retaliação. Uma vez que o zumbido nos ouvidos diminuiu,
ela colocou o pé no estribo e tentou montar apenas para manter o guarda a
distância. Novamente, o guarda a agarrou e ficou muito perto de sua
feminilidade. Balançando a perna sobre a sela, Cate se acomodou no banco.
Olhando para o guarda, ela grunhiu:
— Juro por Jesus Cristo, se você me tocar mais uma vez eu vou
espetar a sua cabeça em um poste.
O guarda fez movimento para atacar, mas Owen interrompeu.
— Murray, deixe a garota. — Owen podia ter ficado longe, mas Cate
percebeu como seus olhos nunca deixaram de segui-la.

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O grupo viajava em silêncio, deixando Cate mergulhar em seus
pensamentos tormentosos. O ritmo cansativo não permitia conversa. A
estrada para Londres, agora bem pisoteada e pronunciada, permitia que os
cavalos galopassem em filas de dois. Eles chegariam a Londres em breve.
Do cume de uma colina, Cate viu o rio Tâmisa no horizonte. A
estrada que eles tinham percorrido levava a Southwark, a aldeia nos
arredores da ponte de Londres. Os aldeões entravam em suas casas e
fechavam as portas enquanto a comitiva chegava. Quando o grupo se
aproximou da ponte, os guardas gritaram ordens para levantar o portão. A
ponte de Londres se ergueu sobre eles. Cate ficou impressionada com sua
enormidade. Mendigos - doentes e pobres - imploravam por esmolas
enquanto esperavam que o imenso portão de ferro se movesse para cima.
Cate desejou poder ajudá-los.
O portão subiu lentamente e seus olhos seguiram sua subida para as
torres. Uma fileira de cabeças em decomposição balançava em lanças de
madeira ao longo do parapeito. Eles foram exibidos com alarde para todos
verem e não havia dúvida na mente de Cate que eles pertenciam àqueles
envolvidos na insurreição. Ela se virou, tentando esquecer as agonizantes
máscaras mortais nos rostos.
— Esse é o seu parente? — O guarda, Harrison, riu ao passar por
Cate.
Seu corpo lhe dizia para correr como o inferno. Na verdade, ela
queria se encolher e chorar. Ela não podia se controlar, tremendo enquanto
seu cavalo era levado ao longo da extensão da ponte sobre o rio. Seus
pensamentos percorriam a contemplação do salto e a distância da ponte à
água. Ela franziu o cenho. Ela afundaria, de qualquer maneira, e não
gostaria de se afogar, especialmente na sujeira que era o Tâmisa.
O capitão gritou ordens, tirando Cate de seus pensamentos mórbidos.
Eles haviam chegado ao final da ponte e Londres estava diante dela.
— Leve a prisioneira para Newgate por Watling e a mantenha em
guarda o tempo todo. Não a subestime, entendeu?
— Sim, capitão! — Um guarda respondeu.

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— Owen, venha comigo.
Owen seguiu seu pai na direção oposta, deixando-a com um
punhado de guardas malcriados. Eles a acompanharam pela extensão de
Watling Street, completamente cercada por todos os lados. Ao passar pela
Catedral de São Paulo, Cate perguntou:
— Podemos parar para uma confissão? Tenho certeza que todos nós
pecamos contra Deus nos últimos dias. Uns mais do que outros. — Suas
palavras foram dirigidas a Harrison.
O guarda que conduzia seu cavalo respondeu:
— Você pode pedir um padre antes da sua execução. Você poderá se
confessar então.
Cate não achou isso reconfortante.
A prisão de Newgate era uma estrutura imponente — escura e
sombria. As pedras, escorregadias com a água da chuva, pareciam ter
chorado as lágrimas daqueles condenados dentro de suas paredes espessas.
O carcereiro encontrou o grupo no portão. Palavras foram trocadas e
documentos dados detalhando os crimes de Cate contra a Coroa. Em
questão de momentos, ela foi tirada de seu cavalo e empurrada pela porta
fortemente blindada para a prisão.
Uma escuridão inebriante a saudou, sugando cada pedaço de
esperança que permanecia dentro dela. As algemas foram removidas de
seus pulsos. Cate foi conduzida a uma pequena sala onde foi revistada
completamente - e nada gentilmente – à procura de armas e objetos
escondidos. Uma vez limpa, ela foi então levada vários degraus acima para
um longo corredor na extremidade leste da prisão. Barras de ferro cobriam
os dois lados do pequeno corredor. Grossas barras de ferro em todas as
portas e nas poucas janelas em cada extremidade do corredor. Homens e
mulheres gemiam incoerentemente, seus gritos dolorosos ecoando por toda
a extensão de pedra. Cate imaginou os ruídos como sendo de espíritos
assombrados ainda presos no lugar abandonado.
O carcereiro parou logo antes do final do corredor. Diante dela estava
um longo quarto, fechado e trancado com segurança. No interior, as paredes

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da cela estavam cheias de mulheres de todas as idades e nas piores
condições. Algumas estavam acorrentadas no chão, enquanto outras
estavam presas às paredes. Cate ouviu o clique da fechadura. O carcereiro
levantou o portão e empurrou Cate para dentro. As mulheres, imundas e
desnutridas, agarraram-se a seus pés enquanto caminhava pelo labirinto de
corpos. Suas grossas correntes chocalharam com cada movimento e o
barulho ecoou em seus ouvidos. Cate foi colocada entre duas mulheres
imóveis contra a parede. Ambos os pulsos estavam presos em bandas de
metal, presas a longas correntes na parede atrás dela.
Embora cercada por dezenas, Cate nunca se sentira mais sozinha.
Olhos encovados olhavam para ela, prenunciando seu próprio destino. O
peso das correntes se abateu sobre ela e logo ela foi obrigada a sentar-se. Ela
fechou os olhos e rezou. Pediu ao pai para perdoá-la e pediu proteção para
Owen. Mas acima de tudo, rezou por uma faca para que ela pudesse cortar
sua própria garganta.

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Capítulo Dez

OWEN ESTAVA APOIADO CONTRA o enquadramento emoldurado da janela,


observando uma névoa constante cair sobre os telhados de Londres do
escritório do pai. O capitão continuou atrás dele, ordenando papéis e
conversando sobre a recente captura de mais rebeldes e o grande espetáculo
que havia planejado para eles em Tyburn, a localização atual de Londres
para execuções em massa.
— Nós cobraríamos a admissão, é claro... pelo enforcamento.
Disseram-me que são quinze até agora. — Disse o capitão. — Estou
enviando uma patrulha nos próximos dias para reunir mais rebeldes.
— E quantos mais você deve adquirir antes de colocar nesta exibição?
— Owen cruzou os braços. O ar que seu pai lhe apresentou foi de desgosto.
— Você está caçando esses rebeldes por quase quinze dias.
Durante todo o tempo, Cate apodrecia na prisão sem esperanças à
vista. Ele não tinha conseguido ganhar uma audiência com o Rei e não
ousou falar com seu pai sobre as suas perspectivas.
Secretamente, Owen encontrou um conhecido próximo disposto a
entregar uma quantidade de moedas para a prisão, a fim de garantir que
Cate recebesse comida e água. Sem isso, ela certamente morreria de fome.
Era o mínimo que ele podia fazer por enquanto, visto que estava preso entre
o dever e seu pai.
E a consciência dele. Até a confissão não aliviava a culpa em seu coração. A
cada dia que passava, sua mente crescia cada vez mais no abismo escuro
que escurecia todo momento. Ele questionou todas as decisões que tomou
na última quinzena, mas uma coisa ele tinha certeza... ela tinha que viver.
Lorde Robert colocou a pilha de papéis que ele ordenou
propositadamente na mesa e virou-se para o filho.

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— Isso importa? Quanto mais, melhor, eu digo. Esta cidade está cheia
de vermes.
Owen suspirou, passando a palma da mão ao longo da nuca.
— Você não pode simplesmente sair por ai prendendo qualquer
pessoa que suspeite que seja um rebelde com base em simples suspeita sem
justa causa. Isso nunca seria válido. Essas pessoas são a espinha dorsal deste
país. Os trabalhadores, os invisíveis. Eu vi como eles vivem e o que eles
devem fazer para sobreviver. Nem todos são rebeldes apenas porque são
pobres.
— O que aconteceu com você, meu filho? — Robert ergueu os olhos
da mesa. — Age como se você se importasse com essas pessoas.
— Enviar todos esses rebeldes para julgamento duraria um mês.
— Ahh. — O capitão sorriu. — Aqui está a beleza de tudo. Não
haverá um julgamento. Eles precisam apenas confessar.
— E estou certo de que os espancará para garantir isso? — Owen
revirou os olhos. E pensar que ele um dia aspirara a ser como seu pai.
Poderoso e implacável. Ele faria qualquer coisa para agradá-lo. Depois de
testemunhar a forma como as coisas eram tratadas em Mile End, Owen
imediatamente renunciou a isso. E, no entanto, ali estava ele, preso no
mesmo escritório com o homem que agora odiava. Antes, ele era um
soldado, acima de tudo. Ele seguia, sem nunca questionar.
Até que ele conheceu Cate. Cate lhe ensinou isso — questionar tudo.
Ver as coisas sob uma luz diferente, caminhar livremente. E agora ele queria
solidão e paz mais do que qualquer coisa, e tão longe de Londres quanto ele
pudesse conseguir. Até mesmo as suas propriedades em Banebridge
pareciam muito próximas.
— Claro. — Os olhos do capitão ergueram-se pela sala, como se
estivesse evitando propositadamente Owen. — Todos confessaram... todos
menos essa garota.
O aborrecimento no que seu pai disse despertou a atenção de Owen.
— Você ordenou que a garota fosse espancada? — Ele apertou os
punhos em seus lados para evitar que os dirigisse ao pai. Uma repugnância

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que consumia suas entranhas latejava sob seu comportamento plácido que
ele tentava desesperadamente aparentar.
— Ela é uma criminosa conhecida. Inferno... ela enviou a cabeça de
Henry de Burke junto com o nome dela... mas ela não vai ceder. É uma coisa
maldita. Ela fala em enigmas, amaldiçoa como um rufião e o carcereiro me
disse que até cantou uma melodia de menestrel quando interrogada. Algo
que tem a ver com três prostitutas de cabelos loiros. Uma melodia alegre...
— E com uma ligeira sacudida de dedos, seu pai ecerrou a conversa,
aparentemente preocupado com outros assuntos.
As palavras morreram nos ouvidos de Owens. Oh, Cate. Voluntariosa
até o fim. Mesmo quando confrontada com a morte, sabia como chegar até
ela. Ela se manteve forte mesmo presa, enquanto ele se recolhia na
segurança da torre da guarda. A lei era amaldiçoada. Ele precisava vê-la. Se
isso significasse arriscar seu próprio pescoço para entrar em Newgate, então
que assim fosse.
— Nós temos muitos planos para essa moça. — Continuou Robert. —
Ela é uma coisinha muito jovem e seria uma pena desperdiçar isso. Eu
permitirei que os homens tenham uma chance com ela, é claro, antes dela
ser enforcada. Despojada de seus trapos, ela irá desfilar nua pela cidade,
para todos verem. Ela zombou do tribunal, então eu pretendo devolver o
favor. — Lorde Lancaster batia as pontas dos dedos opostos, como se
estivesse vendo o esquema em sua mente. — Antes de enforcá-la, eu vou
dizer a ela como seu pai morreu. Chorando como um bebê. Quão delicioso
será. O olhar em seu rosto quando eu disser a ela valerá a pena. O povo irá
se divertir! — Ele levantou os braços em uma simulação de celebração.
Robert abriu uma garrafa, derramando um pouco do líquido âmbar
em dois copos.
— Quer uma bebida? Você parece absolutamente terrível. — Ele
entregou a Owen um copo.
Owen bebeu de um gole. Que a honra e o dever fossem para o
inferno. Ele iria seguir o seu verdadeiro norte. Nenhuma mulher, nem uma
criminosa como Cate, merecia o destino terrível que seu pai tinha lhe

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reservado. Owen amava aquela mulher, maldição. Esta noite, ele entraria
em Newgate. Ele não tinha outra escolha. Cate tinha que saber.
Owen andou de um lado para o outro, esperando que Londres se
instalasse na sinistra escuridão tarde da noite. Ele retirou moedas suficientes
de seus cofres para pagar quem pudesse ficar no seu caminho ou ver a sua
saída da Torre dos Guardas. Certo de que não seria chamado, Owen
escapou pelas portas traseiras sem ser detectado e abriu caminho para os
estábulos da Guarda. Ele escolheu pegar seu próprio cavalo em vez de
preparar outro para ele... menos perguntas que precisariam de respostas que
ele não teria. Ele esporeou o cavalo e cavalgou, deixando para trás a torre da
guarda. Owen se manteve em vielas e estradas, tendo o máximo de cuidado
para evitar quem pudesse reconhecê-lo. Ser visto entrar na prisão sem
consentimento podia custar-lhe caro.
Ao chegar em Newgate, Owen desmontou, então entregou a ambos
os guardas, que estavam vigiando a entrada, várias moedas. Ele lhes disse
para ver seu cavalo que retornaria em alguns instantes. Eles lhe concederam
entrada sem barulho, embolsando o dinheiro.
O carcereiro encontrou-o apenas porta adentro.
— Diga-me o seu propósito.
— Estou aqui para interrogar um de seus prisioneiros sobre um
assassinato. Uma Catherine Archer. — Owen bateu em sua bolsa de moedas.
O carcereiro riu e sorriu.
— Sim, eu sei o nome. Uma prisioneira mal-humorada, essa. Ela dá
aos meus homens o que merecem, ela faz. — Ele acenou com a mão para
Owen seguir. — Por esse caminho.
Owen seguiu o carcereiro corpulento através de corredores úmidos e
subiu vários degraus de escadas. Seu coração batia forte no peito, ainda mais
acelerado por estar subindo as escadas de dois em dois degraus para
acompanhar o carcereiro. Para um homem de seu tamanho, ele podia andar
pela prisão com a agilidade de um menino jovem. Gritos e mais gritos se
fragmentaram pelos caminhos como se fossem espíritos de muito tempo

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atrás. Owen teve o súbito desejo de se benzer enquanto seguia cegamente o
carcereiro na escuridão.
— Ela está de volta. — O carcereiro resmungou enquanto parava. Ele
pegou em seu cinto um aro de chaves. Elas tilintaram sem cerimônia quando
o homem virou uma delas na fechadura. Ele ergueu o pesado portão apenas
o suficiente para que Owen atravessasse. — Não se demore muito, —
murmurou o carcereiro — não são permitidos visitantes aos condenados.
— Eu vou te agradecer muito quando voltar. — Owen abaixou a
entrada. O cheiro de morte e doença o dominaram e ele cambaleou um
passo para trás, inalando bruscamente. Ele fez uma pausa, esperando que
seus olhos se acostumassem com a falta de luz. — Cate? — Ele gritou.
— Cate? — Uma voz zombeteira ecoou das sombras.
— Responda-me, Cate. Devo falar com você. — Owen se aventurou
mais fundo na sala longa. Sombras escuras pairavam perto das paredes,
enquanto algumas estavam espalhadas pelo chão, quase empilhadas em
cima uma das outras.
Uma voz ecoou ao longe.
— Cate, Cate! — A voz enlouquecida então murmurou
incoerentemente.
— Bem, se não é a Alteza Real, o Asno de Banebridge...
Cate. Sua voz, mesmo que rouca e dura, ainda fazia seu coração
acelerar. Owen pisou com cuidado, evitando os membros e as correntes
enquanto se movia na direção de onde a voz de Cate se originara.
— Fale comigo, Cate. — Ainda estava escuro demais para vê-la, ele
precisava de sua orientação.
— Por que você não acabou de me matar? — As palavras dela
vagaram, com um sofrimento prolongado e lento.
Esquerda. Indo na direção da sua voz, Owen estava a três passos
curtos. Ele caiu de joelhos ao lado dela. Ela apoiou-se precariamente contra a
parede, como se fosse cair com a mínima brisa. Presa por correntes grossas,
seus braços pendiam aos seus lados. Suavemente, Owen agarrou suas

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bochechas nas palmas das mãos. Inclinou a cabeça para cima até ver os
brancos dos seus olhos.
— Porque eu amo você. — Ele murmurou em resposta. Com cada
fibra desafiadora de seu ser, cada batida de seu coração, como ele amava
essa mulher.
— Você com certeza tem uma péssima forma de demonstrar isso. —
Suas palavras surgiram com um sussurro de respiração.
— Você deve me perdoar, Cate. Eu fiz o que devia. Nós dois teríamos
morrido no local se eu dissesse isso antes, inferno, eu não acho que soubesse
disso antes da noite em que eu a perdi, vou fazer isso do jeito certo. — Ele a
colocou em seus braços, segurando-a contra seu peito. — Você precisa ficar
forte, Cate. Tenho um plano para libertá-la deste lugar, mas deve confiar em
mim. Eu entendo o quão estranho isso deve parecer, já que ambos nos
traímos, mas você deve ter fé em mim. Você deve viver. — Owen a
espremeu, seus braços se dobraram ao redor do seu corpo magro. — Tendo
Deus como testemunha, vou encontrar um jeito. — Ele pressionou seus
lábios contra a concha de sua orelha. — As pessoas virão te ver. Eles lhe
darão instruções e, por uma vez, pela misericórdia de Deus, você deve fazer
o que eles disserem. Não fale sobre isso com ninguém, você entende?
Ela assentiu levemente.
— Eles vão te preparar para a execução. Se os guardas lhe
questionarem, fique forte e não conte nada a eles. Não lhes dê motivos para
te ver enforcada mais cedo. Meu pai tem peso com o tribunal... não haverá
julgamento. Em vez disso, um espetáculo foi planejado e você é o prêmio.
Ele tem um coração retorcido e irá mantê-la viva por tempo suficiente para
ver seu plano. Tenho que convencer meu pai a aguardar um tempo. Eu lhe
farei uma oferta que ele não pode recusar.
— Meu senhor... — O carcereiro deu seu aviso pela porta da cela.
Owen roçou os dedos pelas curvas da linha da mandíbula de Cate. Ele
beijou suas pálpebras em cima dos olhos fundos, em seguida,
cuidadosamente colocou um beijo nas linhas retas de sua boca.

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— Eu não posso fazer o que você me pede, Owen. É a minha hora. Eu
vivi essa vida para esse momento. Aceitei esse destino há muito tempo. Seu
tempo comigo foi apenas um doce alívio.
— Não. — Ele sussurrou, tirando o cabelo do rosto dela. — Você tem
a coragem de qualquer homem. Você consegue fazer isso. Eu falo a verdade,
Cate. Estou apaixonado por você. Estou desde que a vi pela primeira vez e
não viveria sem você ao meu lado. Vou corrigir isso. — Ele sentiu seus
lábios se curvarem debaixo dos seus em um sorriso fraco.
— Mesmo quando você pensou que eu era um garoto?
— Teria que ser um tolo para confundir essa beleza celestial com um
menino.
— Meu Lorde Banebridge. — O carcereiro dirigiu-se a Owen com
urgência.
— Eu devo ir. — Ele disse a ela, embora seu coração implorasse para
ficar. Como ele queria arrancar as correntes que a prendiam e sair de
Londres, nunca olhar para trás. Eles poderiam correr, mas para onde? Não,
ele tinha que fazer isso direito. Ele ainda mantinha a honra e o dever no
mais alto respeito, mas não mais pela aprovação de um homem que nunca
iria dar-lhe gratuitamente. Seu pai que fosse para o inferno. Owen o
obedecera cegamente por tempo suficiente.
Dando a Cate um último abraço, ele despediu-se e disse-lhe para
fazer como fosse instruída, mesmo que as tarefas parecessem ilógicas. Owen
se voltou para a porta. Escavando sua bolsa, tirou um punhado de moedas e
segurou-as para o carcereiro.
O homem hesitou, mas pegou-as quando Owen as pressionou para
frente.
— Minha família vem de Kent. — O carcereiro sussurrou. — Deixe-
me saber o que posso fazer para ajudar.
Owen deu ao homem um tapinha no ombro.
— Meus agradecimentos, amigo.
O carcereiro trancou o portão atrás de Owen e o acompanhou de
volta pelos corredores e escadas.

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— Espere. — O carcereiro estendeu o braço, bloqueando Owen,
enquanto dois guardas da prisão viravam a esquina. Quando a área estava
limpa, eles continuaram até a entrada principal.
Owen agradeceu ao homem por seus serviços e silêncio. O carcereiro
agarrou-o pelo ombro quando Owen se virou para sair.
— Você tem a minha palavra, meu senhor. Eu fui criado em Kent.
Essa menina, ela é uma santa para essas pessoas. Se você precisar da minha
ajuda, vou dar-lhe gratuitamente.
Owen assentiu.
— Eu vou entrar em contato em breve. — Ele encontrou seu cavalo
com os dois guardas que ele havia deixado a uma curta distância da entrada
de Newgate. Ele deu a cada guarda mais uma moeda e depois montou seu
corcel. Ele cavalgou as ruas em direção a sua residência na torre de guarda.
Havia muito a ser feito, e sua primeira tarefa era com seu pai. Ele tinha que
persuadi-lo a parar a execução. Owen precisaria do resto da noite para
encontrar uma boa razão para isso.
Ele passou as horas remanescentes de escuridão em sua mesa
escavando correspondência e planejando suas ideias para conceder a
liberdade de Cate. Ele andou de um lado para o outro, tomando nota dos
nomes que ele poderia recorrer para os favores devidos. Ele salvara muitas
vidas durante as escaramuças e batalhas ao longo de seu serviço com a
Guarda, e se havia alguma vez que ele precisava de ajuda, esse era o
momento. Como diabos ele iria conseguir libertar Cate enquanto ainda
mantinha sua dignidade e título, ele não sabia. Viver no exílio pelo resto dos
seus dias não faria bem a nenhum deles. Ele ainda tinha seu perdão pelo rei;
talvez a aposentadoria que ele estava procurando fosse finalmente efetivada.
Owen esperou até que seu pai se instalasse no escritório depois da
refeição da manhã se aproximar. Depois de verter um copo de coragem
líquida, Owen bateu na porta do escritório.
— Entre. — Disse Robert.
Owen abriu a porta e entrou no escritório.
— Bom dia, pai.

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— O que é? Eu tenho muito o que fazer hoje. — Seu pai se sentou
atrás da mesa grande, rabiscando um pergaminho.
— Eu estou entediado. Permita-me liderar a busca por mais rebeldes.
Eu sei onde alguns acampam e seria uma honra trazê-los à justiça.
Robert ainda se concentrava em seu trabalho.
— Eu deixei Harrison no comando. Preciso de você aqui para
planejar a execução. Você tem uma cabeça de comando em seus ombros e eu
sei que você vai ver isso.
— Harrison é um idiota. Ele nutre más intenções contra você e o rei e
só procura moeda. Ele não hesitará em deixá-lo desamparado quando
chegar a hora das execuções. Você se encontrará sozinho, pai, e como isso
parecerá aos olhos do rei? Permita-me ir. Eu não vou falhar com você.
Owen colocou as duas mãos na mesa, inclinando-se sobre suas
bordas douradas.
Robert suspirou.
— Muito bem, vou mudar a ordem. Vou lhe dar uma semana para
reunir o maior número possível. Eu não me importo se forem crianças.
Receba uma confissão deles de qualquer maneira que você conseguir.
— Obrigado. Você será o assunto da cidade, eu lhe prometo isso.
Então, por favor... apenas espere o meu retorno.
Owen saiu da sala para se aprontar.
Uma hora depois, um mensageiro entregou uma nota detalhando
onde encontrar os guardas que Owen deveria ordenar para reunir mais
rebeldes para a exibição de Lorde Lancaster. Quanto mais ele pudesse
trazer, melhor, ele foi informado. Os guardas deveriam encontrar Owen na
primeira luz do amanhecer — infelizmente, para eles, Owen já teria ido
embora. Owen rabiscou uma resposta no bilhete para seu pai, afirmando
que já havia reunido seus próprios homens de confiança e não queria
esperar por soldados mal equipados para contratar mercenários. O truque
lhe daria tempo.

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Capítulo Onze

COM A CORRESPONDÊNCIA em mãos, Owen deixou seus aposentos sem


sequer uma segunda olhada. Ele preferiu abrir mão da refeição da noite
e, em vez disso, marcou uma reunião com um velho amigo em Highgate.
O Gatehouse era uma taverna clandestina — escondida da rua principal
da cidade próspera e muitas vezes ignorado por todos, exceto aqueles
que tinham o uso de sua finalidade. Desconhecido e fora dos olhos do
público, era o quartel-general perfeito para colocar seu plano em ação.
Não foi difícil de encontrar Big Ben Murtaugh uma vez dentro do
Gatehouse. Tudo o que Owen precisou fazer foi procurar o maior urso
em forma de homem do lugar. E, com certeza, seu velho amigo estava
sentado junto a uma mesa de canto. Apesar de terem se passado quase
cinco anos desde que Owen vira Ben pela última vez, o homem não
mudara nada. Seu cabelo escuro era selvagem e indomável, combinado
com uma barba cheia. Ele bebeu o líquido de uma caneca, sorvendo
longos goles. Quando Ben avistou Owen, ele se levantou, empurrando a
cadeira para trás com tanta força que ela caiu no chão.
— Senhoras. — Ben dirigiu-se às meretrizes que encostadas na
mesa. — Levantem-se, vocês se encontram diante de uma nobre
presença. — Apesar de seu tamanho imponente, Ben cumprimentou
Owen com uma mesura exagerada. — Sua senhoria, a que devo essa
honra? Por favor, venha sentar-se para uma refeição.
Owen sorriu.
— Eu não gostaria de interferir no que poderia ser a sua única
chance de conseguir um lugar para dormir esta noite. — Os homens
riram, se abraçando como velhos amigos. Owen bateu no ombro de Ben.
— Faz muito tempo, meu amigo.

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— De fato. — Disse Ben. Ele endireitou a cadeira e sentou-se,
afastando as mulheres para longe da mesa. — Então, o que o traz a
Highgate, meu senhor? — Quando Owen se sentou à mesa, Ben
empurrou uma jarra para frente. — A última notícia que ouvi era que
você estava a caminho de uma rápida aposentadoria.
— Eu venho te pedir um favor.
Ben recostou-se contra no espaldar da cadeira.
— Uma visita séria, então? — Seu comportamento mudou, uma
solenidade se instalando em seu rosto.
Owen brincou com a caneca, girando em círculos na mesa de
carvalho, a condensação criada na superfície da mesa de madeira
desgastada.
— Sim, da maior importância. Odeio te pedir coisas, mas não sei a
quem mais pedir. Não confio em nenhum outro nesta cidade miserável.
— Depois de cinco anos, com poucas notícias a seu respeito, para
que você recorra a alguém como eu, um favor só pode envolver uma de
duas coisas. Dinheiro ou mulher. — Ben ergueu uma sobrancelha grossa
e limpou a garganta. — Visconde Banebridge.
Owen tropeçou sobre suas palavras antes de suspirar.
—Sim, é certamente uma mulher.
— Ahh! — Ben brincou. — É sempre uma mulher! — Ele riu, seu
grande tamanho revirou contra a mesa de madeira, fazendo com que el a
subisse precariamente as pernas raquíticas. Ele bateu uma palma para
baixo de repente na superfície da mesa. — Então me fale sobre essa
mulher, Bane. Você finalmente concordou com uma união bem
adequada?
O pai de Owen havia arrnjado várias reuniões de noivado ao
longo dos anos e Owen havia negado cada uma delas com todas as
desculpas possíveis. De doentio a intolerável, ele quebrou uma parcela
de corações.
— Pelo contrário. — Disse ele. — Ela é um fruto proibido.

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— Diga-me que você não se apaixonou por uma prostituta. — Ben
olhou para Owen com expectativa. — Não importa o quanto ela diz que
te ama, ela está mentindo. Ela ama sua grande... bolsa.
— Não, não é uma prostituta. Uma idiota teimosa e obstinada que
zomba do meu título em qualquer oportunidade e o meu dinheiro é o
menor dos seus desejos. Mesmo se ela tivesse, daria tudo para aqueles
menos afortunados. Seu completo desrespeito pela autoridade é
abominável, mas sua lealdade inflexível àqueles pelos quais ela tem
afeição rivalizaria com qualquer fidelidade jurada. Ela é
verdadeiramente uma maravilha.
Ben assentiu.
— E você ama essa mulher?
Owen nunca tinha tido tanta certeza de nada em sua vida.
— Com cada fibra do meu ser.
— E essa mulher te ama também? — Ben se aproximou, seus olhos
fixos em Owen.
— Eu... eu acredito que sim. Ela não me matou quando teve a
chance, então isso é promissor. — Ele abriu seu coração na cela da
prisão, mas ela não repetiu as palavras para ele. Owen não sabia se os
sentimentos dela eram ou não verdadeiros. Amor ou não, não importava.
Ele a libertaria — arriscaria tudo — porque ele havia dito a ela que faria
isso. Ele manteria sua palavra. Daria sua vida por ela, se isso fosse o que
Deus lhe pedisse.
— Eu te devo muito, já que você salvou minha vida uma vez,
então me diga como posso salvar a sua. O que você quer que eu faça por
você, meu amigo?
Ben levou a caneca de cerveja aos lábios.
— Ajude-me a libertá-la da prisão. — Disse Owen sem rodeios.
Ben Murtaugh prontamente engasgou com sua cerveja. Após um
surto de tonturas e um ataque de tosse, ele limpou a boca na manga.
— Por tudo que é santo, homem, diga-me, quem é esta mulher de
quem você fala? Certamente nenhuma dama, presumo?

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— A líder rebelde, Cate Archer. — Owen respondeu, suas
palavras silenciadas para que outros não ouvissem sua traição contra a
Coroa. Ele não podia ter certeza de quão bem conhecido seu nome se
tornara desde a sua captura.
— Você mirou abaixo da sua posição, meu senhor? — Ben parecia
genuinamente surpreso com a revelação. — E uma mulher procurada?
Você certamente sabe como escolher, não é?
— Por Deus, não sou digno dela. Ela é o lampejo de luz em um
eterno mar de escuridão. — Owen esfregou sua nuca. Ele não sabia como
uma pessoa poderia frustrá-lo, mas ainda assim ela o transformava em
uma tigela de mingau com o simples pensamento dela. Terras, nobreza,
criação... riqueza, nada disso importava para ele o mínimo. Ele a queria,
não o que sua linhagem tinha a oferecer. — Ela desafia todos os limites
conhecidos e fala livremente sobre seus pensamentos. E quando ela me
toca, Ben... eu nunca senti algo tão arrepiante.
— Eu nunca soube que você se sentiu assim por uma mulher
antes. — Disse Ben. — Esta Cate deve significar muito para você me
procurar de tal maneira, e eu lhe darei minha ajuda. Fale-me do seu
plano. Isso é… se você tiver algum — Ele levantou uma sobrancelha em
especulação.
Um plano. O que ele tinha era uma ideia que esperava poder
concretizar sem morrer no processo. Owen tirou uma pilha de cartas de
pergaminho da bolsa.
— Eu estou precisando de três mensageiros, cada um para
entregar estas cartas. — Disse ele, empurrando as cartas do outro lado da
mesa para mais perto de Ben. — Eles devem carregá-las com a maior
velocidade e não contar a ninguém. O sigilo é essencial. Os locais estão
escritos na frente de cada um. Eu vou pagá-los bem pela tarefa. Você
conhece três pessoas de confiança?
— Conheço. — Disse Ben. — Vou mandar dois dos meus filhos e
encontrar um terceiro confiável. — Ele pegou as cartas e enfiou-as dentro
do casaco. — O que mais?

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— Eu estou precisando de um grupo rústico facilmente
influenciável por moedas e também preciso de alguém para buscar uma
lavadeira chamada Nel. Ela reside em Lancashire. Você teria uma
carroça, por acaso? — Owen lembrou cada passo de seu plano em sua
mente, pensando que detalhes ele podia lembrar. Seu encontro com Ben
era sua única chance de ver cada etapa concluída.
Ben riu.
— Que diabos é esse plano que você precisa de uma tripulação,
uma carroça e uma lavadeira? Os lençóis limpos são da maior
importância aqui?
Owen deu um sorriso. Ele sabia muito bem o quão absurdo tudo
parecia, mas quanto menos Ben soubesse, menos oposição ele poderia
fazer.
— Se tudo correr como planejado, eu removerei Cate de sua cela à
vista de todos e ninguém irá perceber. — Havia muito trabalho a ser
feito. Owen continuou contando a Ben sobre o plano e o par solidificou o
que funcionaria e o que mais provavelmente os pegaria. Para que o
plano fluísse discretamente, Owen confiava plenamente na lealdade do
carcereiro e só podia rezar para que o homem permanecesse fiel à sua
palavra. Colocar confiança absoluta em um estranho era mais difícil do
que Owen imaginava.
— Encontre-me aqui daqui a três dias, logo após o pôr do sol, e eu
vou ter trabalhado com os detalhes. — Ben despediu-se de Owen e eles
apertaram as mãos, o acordo foi acertado.
Depois de ingerir uma refeição quente, Owen retirou seu cavalo
do estábulo no beco atrás do Gatehouse e seguiu seu caminho para
Hawkhurst. Ele não sabia o quão bem seria recebido, mas contava co m o
amor de Wallace por Cate para mantê-lo vivo.
Ele chegou à beira da exaustão, parando apenas quando sua
montaria exigia. Owen percorreu o caminho mais rápido possível —
direto a Bedgebury — e pela primeira vez em sua vida, rezou para que
ficasse cara a cara com um ou dois rebeldes camponeses. Em uma

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reviravolta infeliz, Owen parecia ser a única alma na floresta. Talvez as
criaturas da floresta sentissem sua urgência, pois nem o trinado da fera
estava presente.
Quando Owen chegou a casa de MacKenzie, ele saltou da sela,
mas prontamente seu corpo esparramou-se no chão. Sem que percebesse
suas pernas tinham perdido a sensibilidade e se transformaram em uma
poça trêmula de membros. Um formigamento varria o comprimento de
seu corpo e então ele rolou de costas para olhar para o céu no início da
noite, tentando reunir seus pensamentos e respirar. Os delicados tons
rosa da noite se fundiam em tons suaves de azul, girando juntos como
um pudim de sobremesa de dar água na boca. Seu estômago gemeu,
forçando Owen a apertar a palma da mão sobre o local que doía.
— Você está bem aí, Lorde Banebridge? — Wallace, barbudo,
olhou para Owen. Depois de alguns momentos de um brilho sólido, o
escocês ofereceu ajuda.
Owen apertou a mão de Wallace e ficou de pé, com as pernas
ainda bambas.
Wallace coçou o cabelo no queixo.
— O que o traz a Hawkhurst, meu senhor?
— Cate. — Respondeu Owen.
— Cate não está aqui. — Afirmou Wallace, olhando para Owen.
Owen respirou fundo antes de revelar o paradeiro de Cate.
— Ela está em Newgate e eu estou aqui para pedir sua ajuda.
— A prisão? — Wallace fechou as mãos em punhos ao lado do
corpo. — Você deveria protegê-la!
— Eu sei e falhei muito. — Owen se endireitou, endurecendo sua
espinha. — Eu amo essa mulher e farei qualquer coisa para vê-la liberta.
Wallace olhou em volta e acenou para Owen.
— Entre, entre.
Owen seguiu Wallace até a casa e inclinou a cabeça quando viu
Alice.
— É um prazer vê-la novamente, Alice.

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— Alice, faça um prato para o homem, ele está morrendo de fome.
Wallace sentou-se à mesa e fez sinal para Owen segui-lo.
— Então me diga como você pretende salvar a minha Cate.
Owen informou Wallace de sua proposta, de seu encontro com
Ben Murtaugh e de como ele planejava retirar Cate de sua cela embaixo
do nariz de seu pai. Uma escaramuça bem cronometrada na floresta
tiraria a maior parte da guarda de Londres, permitindo a Owen mais
liberdades para deixar a cidade sem ser detectado.
— Você vai se matar. — Disse Wallace.
— Se for necessário. — A garantia das palavras de Owen o
surpreendeu.
Sim, ele estava disposto a morrer por ela. Ele morreria, se isso
fosse o que Deus exigisse dele. Ele pagaria sua penitência por seus
pecados, no entanto, julgado por Cristo.
Alice colocou uma tigela de ensopado fumegante e uma taça de
vinho na mesa em frente de Owen.
— Obrigado. — Ele sorriu para a mulher e tomou uma colher.
— Bem... — Wallace fez uma pausa. — Este plano pequenino é tão
louco que pode funcionar. E eu ficaria orgulhoso de fazer parte disso. Os
menestréis cantarão nos próximos anos, bem-sucedidos ou não. Quando
vamos?
— Eu gostaria de estar na estrada de manhã, já que tenho que
encontrar Ben em Londres. Wallace, você possui uma carroça, por acaso?
— Owen sorveu seu jantar, esquecendo-se brevemente das maneiras, em
um esforço para preencher a dor em seu estômago.
— Eh, não, mas eu conheço um rapaz que me deve um grande
favor. Tenho certeza de que conseguirei uma. — Wallace riu.
— Excelente. Ela precisa ser grande o suficiente para caber vários
corpos. — Disse Owen.
Wallace ficou de pé.
— Termine sua refeição, meu senhor, e eu vou buscar uma carroça
para nós. — O escocês beijou a esposa, pegou uma capa e saiu de casa.

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Exausto, Owen se enrolou em um cobertor perto do fogo e dormiu
sem avisar. Seus sonhos estavam cheios com imagens de Cate, e sua
figura fantasmagórica o deixou em pânico. Ele não podia alcançá -la,
então ele chamou o nome dela, desejando que ela respondesse.
Ela não respondeu.

~~~~

Uma fina névoa se instalou sobre Hawkhurst. Owen andava de um


lado para o outro enquanto esperava que Wallace terminasse de puxar
Jack para a frágil carroça. O sol ainda tinha que subir, mas se
demorassem mais tempo, não chegariam até Ben a tempo.
— Você está pronto, ? — Owen pressionou a palma da mão contra
a sua nuca tensa.
Wallace mexeu nas correias de couro, lutando para manter Jack no
lugar.
— Bem, uma vez que meu cavalo e minha carroça foram levados no
meio da noite por um par de rufiões... — Wallace se virou para dar-lhe
um olhar. — Nós temos que nos contentar com sua besta. E ele não vai
demorar a se acostumar a ficar atrelado, não é? — Wallace subiu na
carroça e pegou as rédeas. — Sim. Vamos embora, então. Acredito que
haja algum resgate que precise ser feito.
Owen concordou com a cabeça. Uma avaliação justa. Ele se juntou
a Wallace no banco precário e os dois iniciaram a árdua jornada até
Highgate. O tempo estava passando.
Os homens se mantiveram as estradas, mas a viagem foi lenta. Jack
não estava acostumado a puxar uma carroça e por vezes se recusou a
cooperar. Owen não se atreveu a tirá-lo das amarras com medo de que o
cavalo se fosse, deixando-os indefesos e presos na floresta. Eles pararam
para descansar por alguns breves momentos, permitindo que Jack tivesse
acesso a água de um pequeno riacho que eles precisavam atravessar.
Depois de empurrar a carroça para fora da lama, os homens voltaram ao

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rumo, com as vistas fixadas em Highgate. A conversa era escassa, ambos
repassavam o plano várias vezes, até que recitá-los de trás para frente e
sem ter que pensar. Nenhum dos dois sabia se aquilo daria certo, mas
ambos concordaram que essa era a melhor chance de manter Cate viva.
Ninguém suspeitaria ser possível retirá-la de dentro dos portões da
prisão. Especialmente não pelo filho do capitão.
Quase um dia inteiro se passara quando o Gatehouse finalmente
apareceu. As ruas estavam calmas e um orvalho matinal pousava sobre
eles enquanto Jack descia a rua pavimentada de pedra. Wallace dormia
na parte de trás da carroça, enquanto Owen, encapuzado, guiava o
cavalo cansado até os estábulos atrás da taverna. Pelos infernos, ele
esperava que Ben ainda estivesse lá dentro desde a noite anterior — eles
estavam atrasados.
— Wallace, chegamos. — Owen entregou o cavalo e o carroça ao
cavalariço, pagando-lhe generosamente para refrescar o animal.
Wallace se sentou, esfregando o frio de seus braços.
— Nós não morremos... é um bom dia.
Owen riu.
— Um bom dia, de fato.
Os homens entraram no Gatehouse com cautela, primeiro checando
se havia guardas ou bisbilhoteiros. Um fogo crepitava na lareira de
canto, recém-alimentado. Várias mulheres trabalhavam em silêncio sobre
as áreas comuns e Owen passou discretamente pelas várias salas sem
conseguir localizar Wallace. Em um quarto dos fundos, Owen encontrou
Ben roncando com os braços cruzados sobre a mesa e descansando a
cabeça no travesseiro improvisado. Uma mulher mal vestida dormia
profundamente ao lado dele, usando seu ombro corpulento como um
travesseiro. Owen sentou-se em frente ao amigo e limpou a garganta.
Ben bufou, chamando a atenção. Depois de se concentrar em seu
redor por um breve momento, seus olhos escuros se fixaram em Owen e
um sorriso torto se formou em meio a rugas profundas.

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— Meu senhor. — Ben assentiu com a cabeça, um arroto escapando
dele. Ele esfregou os olhos. — Você está atrasado.
— Minhas desculpas, Ben. Levei mais para conseguir uma carroça
do que pensei que levaria. Hawkhurst é uma longa viagem. — Owen fez
sinal para Wallace se sentar.
O olhar de Ben se estreitou quando ele estudou o rosto de Owen
antes de desviar os olhos para Wallace.
— Por que você foi até Hawkhurst buscar uma carroça? Você
poderia facilmente ter roubado uma em Cheapside.
Owen riu.
— Ahh, mas eu precisava desse homem. — Ele apertou o ombro de
Wallace. — Ele se encaixa perfeitamente no papel, não é?
Ben assentiu.
— Sim, sim. — Ele confirmou.
— Este é Wallace MacKenzie. Ele é da família de Cate.
Ben se inclinou sobre a mesa e olhou para o escocês
cautelosamente.
— Wallace... como você lida com cadáveres?

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Capítulo Doze

Faça o que lhe for dito, Cate.


Siga o plano, Cate.
Ela repetiu as palavras até não conseguir mais entender seus próprios
resmungos.
Pessoas irão visitá-la.
Cate não tinha mais noção da hora do dia, mas ela não conseguia
lembrar de alguém tê-la visitado desde que Owen saíra do seu lado... o que
parecia ser uma vida inteira atrás.
Owen.
Ela sonhava com o rosto dele entre os pesadelos incessantes. A cada
momento que passava, suas feições se desvaneciam na obscuridade. Cate
culpou seu corpo definhando lentamente, morrendo. Suas entranhas doíam
com cada pequeno movimento. Como ela orava para Deus para levá-la, mas
parecia que até mesmo o bom Deus a abandonara nas profundezas de seu
inferno terrestre. Ela não conseguia entender como ainda estava viva.
Chaves chocalharam contra a porta da cela, sinalizando a entrada de
um guarda ou do carcereiro. Cate não podia imaginar outro corpo sem vida
sendo colocado dentro da pequena cela que ela e as outras estavam
confinadas. Vários persistentes gemidos pararam de vocalizar sua dor, então
talvez estivessem finalmente fazendo uma varredura pelos mortos.
Ou comida?
Por um breve instante, Cate teve esperança. Ela diminuiu
rapidamente quando os homens se arrastaram na cela, cada um checando os
prisioneiros em busca de sinais de vida. Não haveria comida hoje. Sua fonte
de comida tinha diminuído lentamente e Cate imaginou que o motivo de
sua execução se aproximava mais do que ela pensara.

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— Este aqui. — Um homem murmurou perto. — E este aqui. —
Homens varreram as fileiras de mulheres, se aproximando de corpos com as
pontas de suas botas, buscando sinais de vida.
Outros homens soltaram as algemas e arrastaram os corpos da cela.
O carcereiro passeava pelo pequeno caminho entre fileiras de
prisioneiros, fazendo marcas em seu pergaminho. Ele parou perto de Cate.
— Esses quatro estão programados para a execução de amanhã.
Certifique-se de que a criada tenha os suprimentos necessários para a
manhã. — O homem fechou o livro e enfiou-o debaixo do braço. — Apresse-
se. — Ele falou para seus homens, cuidando dos corpos enquanto eles eram
arrastados através da porta e para o corredor.
A porta gemeu e tudo ficou escuro mais uma vez.
Amanhã.
Sua hora tinha chegado. Uma onda de alívio tomou conta dela,
desacelerando as batidas de seu coração.
Finalmente.
Ela orara para que a morte a reivindicasse, mas ela não viera. Em vez
disso, ela foi atormentada por um sono inquieto, impulsionada pela garota à
sua direita, cuja respiração era superficial e desigual. Cate imaginou que não
viveria muito mais tempo. Uma doença se enraizou profundamente no peito
da menina e Cate só podia imaginar que alívio seria finalmente sucumbir a
ela. Como ela desejou que ela e a menina pudessem trocar de lugar.
Depois de um sono inquieto, lascas de manhã se espalharam pela
pequena fenda que servia de janela para a cela. O coração de Cate
estremeceu no peito. O sol prometia um dia brilhante. Ela ficaria em pé no
patíbulo com o sol aquecendo seu rosto — se ela conseguisse ficar em pé.
Suas pernas haviam ficado fracas durante a prisão, embora ela tivesse
tentado impedir que seus membros enrijecessem. Os anéis de metal de suas
correntes haviam desgastado sua pele nos tornozelos e pulsos, mas ela fez o
melhor que pôde para não ficar louca.
A porta estava destrancada e a luz das lanternas inundaram as
profundezas da sala de pedra. Cate fechou os olhos e se protegeu da

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intromissão. Ela piscou, com lágrimas lacrimejantes, enquanto seus olhos se
ajustavam ao brilho. Duas pessoas entraram na cela — o carcereiro e uma
mulher alta e esbelta.
Ela tinha uma altura impressionante para uma mulher mais velha;
alta e imponente, com mechas de areia puxadas para trás na nuca. Mechas
prateadas rajavam suas tranças, conferindo mais idade à mulher. Ervas e
sabão moído encheram as narinas de Cate enquanto a mulher passava, as
saias balançando a cada passo.
— São estas quatro, Nel. — Disse o carcereiro à mulher, parando na
frente de Cate e das companheiras de cela circundantes. — Eu estava
pensando nesta aqui. — O carcereiro se aproximou do pé da menina
moribunda para Cate.
— Sim, ela vai fazer muito bem. Teremos que trocar o cabelo e o
vestido. — A mulher falava com uma cadência irlandesa e o suave tom de
canto de sua voz era estranhamente reconfortante para Cate, como se fosse a
memória de algo aconchegante.
— Você conseguirá fazer isso?
— Eu vou te chamar quando precisar de ajuda. — A mulher se
ajoelhou na frente da primeira prisioneira e colocou uma pequena bolsa ao
seu lado. Depois de vários momentos atendendo à mulher, ela passou para a
próxima.
Cate não viu a necessidade do ritual de inspeção prévia quando elas
estavam para morrer de qualquer forma. Esta mulher era diferente da
habitual que verificara sinais de vida antes das execuções, mas Cate supôs
que fossem todas iguais. Pagas para fazerem um trabalho e não fazer
perguntas.
Cate foi a última a ser avaliada.
— Deixe-me. — Disse ela à mulher, recuando quando tocada.
— Cate, meu nome é Nel. — A irlandesa sussurrou. — Eu fui enviada
para ajudá-la.
— Não preciso de ajuda para morrer.

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— Você deve ser enforcada ao meio-dia. Estou aqui para ter certeza
de que isso não acontecerá. — A mulher deu um aperto reconfortante à
perna de Cate.
— Eu desisti dessa esperança há muito tempo. — Cate grunhiu, sua
garganta seca e dolorida. — Não há necessidade.
— Silêncio agora. — Nel arrulhou. — Deixe-me ver você.
Cate observou todos os seus movimentos, mas permitiu que Nel
cuidasse de suas feridas e continuasse com sua inspeção. A mulher tocou
levemente cada ferida crua, o novo corte e até o preto sob as unhas rachadas,
como se estivesse fazendo uma lista de seus males em sua mente.
Nel revelou um par de tesouras da bolsa dela. Metodicamente e com
um propósito, ela manobrou com a agilidade de um gato em torno de Cate,
cortando as longas mechas de cabelo escuro o mais próximo possível da
nuca de Cate. Quando satisfeita com os resultados, Nel recolheu as pilhas e
enfiou-as na bolsa.
Um ajuste melhor para o laço. Uma maneira peculiar de ajudar.
Nel se levantou, esticando as costas dela.
— Carcereiro. — Ela chamou.
O homem entrou na cela — sozinho.
— Você achou alguém correspondente?
— Sim, esta aqui. Ela está no limiar da morte.
Nel falou baixinho, apontando para a mulher parada ao lado de Cate.
O carcereiro puxou um conjunto de chaves do seu lado e removeu as
algemas da mulher doente. Em seguida, ele seguiu para Cate,
desencadeando-a também.
As ações do par deixaram Cate em estado de perplexidade. O que
diabos estava acontecendo? No que parecia um mar de trapos, correntes e
membros em frangalhos, as roupas sujas de Cate foram arrancadas de seu
corpo e substituídas pelas da mulher ao lado dela.
Antes que Cate pudesse protestar, o carcereiro estava com os braços
ao redor do torso dela, arrastando-a de onde ela havia ficado presa por tanto
tempo. Seu corpo gritou em agonia, mas nenhum som saiu de seus lábios.

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Cate estava agora onde sua vizinha morrera em silêncio. Com que
finalidade, ela não sabia.
O aperto frio do metal se fechou ao redor dela mais uma vez e o peso
empurrou contra ela como uma onda do mar esmagadora.
— Nós tomamos muito tempo. Você deve dar a ela agora. — A voz
do carcereiro se abrandou. Havia um engate em sua voz... uma situação
complicada.
Nel pegou sua bolsa. Brevemente, ela examinou os arredores, como
se pra ter certeza de que não estava sendo vigiada. Então, a mulher enfiou a
mão na bolsa, girou e puxou um pequeno frasco de suas profundezas. Nel se
ajoelhou ao lado de Cate e, pegando a mão de Cate na dela, apertou-a
suavemente antes de enrolar os dedos de Cate ao redor do frasco.
— Por favor, Cate. Ouça asminhas palavras. Ele te ama. Você deve
fazer isso. Se não por você mesma, por ele. Essa é a única maneira pela qual
você terá sua liberdade. Isso é tintura de ópio. Você deve tomá-lo antes que
os guardas venham até você ou não teremos tempo suficiente.
Cate tentou empurrar Nel para longe dela, mas o esforço só fez a
curandeira apertar sua mão com mais força.
— Ele disse que você seria teimosa. Beba e você estará livre. Se não,
você certamente morrerá e eu acredito em meu coração que não é o que você
realmente deseja. O láudano fará com que você caia em um sono profundo.
Tome muito pouco e você será descoberta. Tome muito e... bem, eu acredito
ter medido com precisão a dosagem. Por favor, considere isso. Você não tem
muito tempo para decidir.
— Temos que ir agora. — Disse o carcereiro a Nel. Ele acenou para a
frente.
Mais uma vez, Nel apertou os dedos de Cate num último fecho de
despedida.
— Por favor, considere.
As palavras ecoaram por Cate muito depois que a lavadeira saiu da
cela.

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Capítulo Treze

OWEN PASSOU pelo limiar do escritório de seu pai... esperando. Ele não
sabia se o carcereiro tivera sucesso com o plano ou se Cate ainda estava
viva, para início de conversa. Colocar essa confiança devota em terceiros
provara ser muito difícil. Em algum lugar ao longo dessa jornada árdua, ele
havia cruzado a linha entre a honra e dever e não podia mais definir em
qual fronteira da linha ele estava.
Ele passou a palma da mão sobre a testa, enxugando o suor.
— Você está quase pronto, pai? A multidão já começou a se reunir.
Lorde Lancaster colocou sua pena de lado em uma pilha de papéis de
pergaminho e ficou de pé. Cuidadosamente, ele dobrou a pilha em terços
antes de colocá-los dentro de seu robe forrado de pele.
Owen se viu revirando a aparência real do pai para a execução. Ele
não poupou despesas para o evento.
— Não há economia de pompa para a execução hoje, hmm?
— Vamos embora. Eu quero supervisionar pessoalmente o
carregamento dos prisioneiros. Não permitirei quaisquer erros,
especialmente com Sua Majestade Real presente.
— Eu não sabia que a execução de meros rebeldes justificava tal
audiência. — Owen manteve a porta aberta por tempo suficiente para que
seu pai passasse e seguiu para o pátio em silêncio. O ar pesado atingiu-o no
peito como se fosse um pesado saco de grãos. A respiração tornou-se uma
tarefa sobrecarregada, uma vez dentro da carruagem e a caminho de
Newgate.
Eles fizeram um trajeto rápido pelas ruas, sem enfrentar obstruções.
Os pensamentos de Owen estavam focados em outro lugar. Ele esperava
que Ben tivesse reunido rufiões suficientes para causar um distúrbio grande
o suficiente para justificar uma resposta dos guardas e rezou de todo o

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coração para que Wallace e sua carroça passassem pelo portão sem
oposição. Tantos fatores jogaram ao longo de seus pensamentos que Owen
nem percebeu que a imponente prisão estava na frente dele. O carcereiro e
vários guardas os encontraram no portão da frente, prontos para escoltar
Lorde Lancaster e Owen para as celas da prisão.
Eles pararam brevemente em vários andares, reunindo criminosos
específicos. Owen se concentrou em respirar e permanecer calmo enquanto
seu pai lia no jornal detalhando quais prisioneiros seriam reunidos. Uma
vez no andar das mulheres, Owen permitiu que o carcereiro assumisse a
liderança. Os homens trocaram um breve e inquietante olhar e Owen
presumiu que nenhum dos dois sabia o que esperar quando a porta da cela
foi aberta.
Olhos vazios olharam através dele quando Owen entrou nas
profundezas da cela superlotada. Os prisioneiros marcados foram
correspondidos com as ordens de execução correspondentes e seus ferros
foram removidos. Os homens do carcereiro começaram na parte de trás da
cela, indo para a frente, arrastando os que estavam programados para a
execução da cela. O pulso de Owen acelerou cada vez mais rápido enquanto
eles trabalhavam cada vez mais perto de onde ele tinha visto Cate pela
última vez.
— Se isso for demais para você, meu filho, você é mais do que bem-
vindo a esperar lá fora. — Lorde Lancaster colocou a mão no braço de
Owen.
— Está tudo bem. — Owen recuou sob o toque de seu pai. Ele
precisava manter o foco e apagar todas as sugestões de emoção. Sua
preocupação por Cate devia permanecer escondida ou ela pagaria o preço
com sua vida. Um passo em falso e seu plano seria em vão. — Eu me cansei
dessa espera. Nós devemos ir para Tyburn. O rei está esperando.
Lorde Lancaster pareceu aceitar a mentira e continuou com suas
observações. Lendo sua lista, ele se arrastou ao longo da passagem fina,
marcando seu pergaminho e felizmente continuando com seu trabalho.
Lorde Lancaster conversou calmamente com seus guardas, perguntando

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sobre prisioneiros em vários andares e se as carroças de execução estavam
quase cheias quando ele chamou os nomes.
Tal desrespeito pela vida. As vidas dessas pessoas não tinham
significado para o seu pai. E pensar que Owen teria acabado como o homem
que nunca conheceu Cate.
— Catherine Archer.
O chamado do nome dela o cortou pelo meio.
— Rebelde. Traição. Pendurada pelo pescoço até a morte. — As palavras de
Lorde Lancaster pareciam tão definitivas.
— Eu quero essa na frente e no centro.
— Ela mal está viva, capitão. — Disse um guarda.
— Se ela está respirando está bem o suficiente para se enforcada.
Remova seus ferros e arraste-a para a forca por tudo que eu me importo.
O carcereiro aproximou-se com a chave para destrancar as correntes.
Lorde Lancaster continuou.
— Não serei feito de tolo, especialmente por uma cadela como
aquela. Quando alcançarmos a forca, cuidaremos dela, ela será destituída de
toda a sua dignidade, para todos testemunharem. Não serei uma zombaria
para esses tolos insolentes.
Owen prendeu a respiração, encontrando-se mordendo o interior de
sua bochecha para não atacar os guardas que arrastavam o corpo sem vida
para a porta da cela. Seu coração disparou, sua batida frenética ecoando em
seus ouvidos. Um fio de suor escorria do lábio superior de Owen e ele
rapidamente o enxugou.
O carcereiro passou para a próxima e última das prisioneiras.
Enquanto Lorde Lancaster lia o nome e a acusação do crime de roubo, o
carcereiro se ajoelhou para remover as algemas. Cuidadosamente, esmagou
com a bota o pequeno frasco de vidro, produzindo um “pop” abafado. O
carcereiro arrastou os pés, espalhando os pequenos pedaços entre a sujeira
podre e suja do chão da cela. O homem limpou a garganta.
— Erm, capitão… esta já se foi. Seu coração não bate. Ela está morta.
Lorde Lancaster suspirou sua exasperação.

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— Você está certo disso?
— Sim. — O carcereiro ergueu-se em sua altura impressionante,
tomando conta da situação. Ele se dirigiu aos seus homens, dando ordens.
Ele apontou para um par de homens. — Levem este para o carro da morte
do agente funerário e pague ao homem sua taxa. E por tudo que é bom e
santo, tente manter o corpo inteiro. O xerife vai ouvir sobre isso e a multa
virá de ambos os seus bolsos. Você sabe como o agente funerário se sente
sobre perder membros.
Lorde Lancaster dobrou seus pergaminhos e colocou-os sob suas
vestes.
— Bem, então estamos terminados aqui. Vamos embora. — Ele uniu
as palmas firmemente a sua frente, enquanto se dirigia rapidamente para a
saída da sela.
Owen seguiu os outros de volta para o corredor principal da prisão,
dando ao carcereiro um rápido aceno enquanto passava pela porta
principal. Tudo tinha saído como planejado e Ben Murtaugh estaria
entregando uma quantia considerável de moedas ao carcereiro assim que
Owen pudesse dar uma palavra a Ben.
Enquanto os homens subiam as escadas até o salão principal, os
guardas estavam terminando com o agente funerário do lado de fora da
porta dos fundos. O carrinho estava cheio de pessoas que tinham tido a
sorte de morrer antes de sofrerem a dolorosa morte na forca. Owen tinha
visto mais do que seu quinhão de execuções. Culpado ou inocente, ninguém
merecia o espetáculo de se contorcer de dor até que a morte reclamasse seu
último suspiro. Owen preferia muito mais usar sua lâmina. Rápido e
limpo... feito.
Owen entrou na carruagem que aguardava antes de seu pai e se
acomodou em seu assento. Brevemente, ele olhou pela janela lateral,
procurando a distância pelo cavaleiro que ele pagou para entregar notícias
importantes para seu pai. Dentro de alguns minutos, tudo estaria feito e o
momento passaria. Ele não precisava se preocupar por muito tempo, pois

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assim que Lorde Lancaster fechou a porta da carruagem, o cavaleiro se
aproximou a toda velocidade. Owen soltou um suspiro de alívio.
— Capitão, capitão! Espere! — O cavaleiro desmontou em uma
enxurrada e correu para o lado da carruagem, fez uma leve reverência e
respirou calmante.
— O que é isso? — Lorde Lancaster perguntou irritado.
— Rebeldes, senhor. Perto da borda da floresta. Eles ameaçam
atrapalhar a execução e a torre pede a orientação do visconde para forçá-los
a voltar para a cidade.
Visivelmente chateado com a notícia, Lorde Lancaster franziu o
cenho.
— Owen, você poderia, por favor, acabar com essa pequena revolta e
se certificar de que ela se extingua antes que Sua Majestade ouça a respeito?
Owen franziu os lábios.
— Tenho total intenção de ver essa execução com você, pai. Envie
Harrison. Ele é mais do que capaz de lidar com essa situação, e tenho certeza
de que ele vai ter isso terminado antes da execução acabar.
O capitão fez uma pausa e assentiu em concordância.
— Muito bem. Envie uma palavra para Harrison e dê-lhe rédea solta
para extinguir isso da maneira que ele achar conveniente. — Ele voltou suas
atenções para o motorista da carruagem. — Continue. — Ele instruiu.
Vitorioso. Owen desejou poder rir e abraçar Ben em comemoração.
Harrison mal sabia exatamente o que o esperava na floresta. Com alguma
sorte, a própria morte.
O passeio de carruagem até a forca foi feito em silêncio. Owen não
olhou para o pai, mas para fora da janela enquanto a vida diária continuava,
seus pensamentos consumidos pela raiva e pela morte. Como ele não podia
esperar para deixar este lugar miserável para trás. Logo ele estaria livre de
Londres e seus maus caminhos — e de seu pai.
E esse pensamento o fez sorrir.
Uma grande multidão se reuniu em torno da forca de Tyburn e os
prisioneiros já estavam sendo amarrados em pequenas fileiras para morrer

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como que em um espetáculo. Cordas pendiam soltas em torno de seus
pescoços e os prisioneiros se equilibravam precariamente nos banquinhos.
Como se competindo com as festividades da colheita do outono,
comerciantes vendiam comida e cerveja para a crescente multidão curiosa,
coletando moedas onde podiam.
Owen avistou os assentos cambaleantes perto da plataforma do
carrasco quando sua carruagem parou. Muitos nobres já estavam presentes,
mas o Rei Ricardo estava surpreendentemente ausente.
Intrigante.
A porta da carruagem foi aberta e Owen esperou que seu pai saísse
antes dele. O sol brilhante da manhã inundou sua visão e ele rapidamente
colocou a mão acima de sua testa para diminuir o incômodo. As carroças
carregadas de prisioneiros chegaram em instantes, transformando a
multidão em uma turba zombeteira.
As portas da carroça estavam destrancadas e abertas, permitindo que
uma onda de corpos fosse puxada de dentro de suas profundezas. Dedos
esqueléticos agarravam-se aos lados, sem vontade de enfrentar suas mortes
ao ver aqueles que já esperavam o carrasco na forca. Enfraquecida e doentia,
a luta terminava rapidamente. Aqueles que podiam andar eram levados
através da multidão de espectadores — alguns atacaram, alguns
empurrados para o chão — e aqueles que não suportavam eram levados
pelos braços para a plataforma.
Owen apressou o ritmo de seus passos em direção à cadeiar da
plataforma. Ele escolheu um assento de costas, não querendo que alguém
visse a dor arranhando seu rosto. Observar o que estava prestes a acontecer
o atormentaria pelo resto de seus dias. Mulheres e crianças foram amarradas
ao lado dos doentes e dos idosos, e o que mais lhe esmagou o coração foi
que, no fundo, ele sabia que a maioria dessas pessoas era inocente dos
crimes cometidos.
E ele na raiz das acusações.
Não havia quantidade de confissões que ele pudesse participar que
expiaria os pecados que ele havia cometido durante seu tempo no serviço.

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Mas havia uma que ele poderia corrigir e ele pediria perdão pelo resto de
seus dias para aqueles que ele não podia ajudar.
E então, em um momento, lá estaria ela. Os raios do sol refletidos ao
longo de ondas emaranhadas, tornando o cabelo escuro inconfundível.
A dor em seu coração era inegável.
— Lorde Lancaster.
Owen quebrou o olhar hipnótico da forca e virou-se para a voz. Um
guarda se aproximou e se inclinou para falar no ouvido do capitão.
— Sim, o que é isso? — Lorde Lancaster respondeu.
O homem parecia hesitante em dar a notícia ao capitão, mas o fez
quando o dever era necessário.
— Há três que estão... desprovidas de vida. Uma delas é a mulher líder
rebelde, a que você pediu para fazer de exemplo. O que você quer que eu
faça?
Lorde Lancaster fez uma careta quando se virou para o guarda.
— Amarre-as primeiro e pendure-as de acordo com a lei. Eu as verei
enforcadas, mortas ou vivas. Encadeie-os como você precisar.
O guarda assentiu e saiu correndo da área de assentos.
Owen observou o homem abrir caminho entre a multidão e o carrasco.
Ele fez um gesto cerimonioso para o pai e depois para os prisioneiros. As
ordens foram dadas.
— Thomas Miller, Abigail Miller e Catherine Archer, vocês estão
condenados à execução, onde serão pendurados pelo pescoço até a morte e,
posteriormente, levados para a prisão em que esteve confinado pela última
vez, onde seu corpo será enterrado nos recintos da prisão. Que o Senhor
Deus tenha misericórdia da sua alma. — O carrasco repetiu as palavras,
como se ele as tivesse dito mil vezes.
Cordas foram colocadas em volta do pescoço dos três corpos imóveis.
Vários guardas se esforçaram para manter os prisioneiros em posição
vertical enquanto a multidão vaiava seu descontentamento, mas depois de
alguns momentos tensos, os bancos foram derrubados e a execução
concluída.

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Três corpos balançaram ligeiramente com a brisa enquanto a multidão
aplaudia, implorando por mais para cair. Seu vestido azul claro que uma
vez rivalizava com a cor do céu da manhã agora estava em farrapos
imundos. Suas longas mechas — agora cortadas — emaranhadas com a
corda torcida, mantendo o pescoço inclinado em ângulos não naturais.
Sem vida. Apenas a morte.
O carrasco disse a sentença para a multidão mais uma vez e desta vez
uma fila inteira de dez pessoas caiu. O ofegar e borbulhar dos prisioneiros
foram abafados pelo rugido da multidão. Owen se torceu em seu assento,
incapaz de assistir.
— Pai, — Owen começou, esperando a confirmação de que ele tinha
toda a atenção do capitão. Quando seu pai se aproximou, Owen continuou.
— Está feito. Terminei. Eu sei sobre as cartas emitidas pelo rei. Eu vi, mas
não posso mais fazer isso.
Lorde Lancaster se mexeu em seu assento. Owen prosseguiu:
— As cartas não foram emitidas pelo Rei Ricardo, foram? Elas foram
emitidas por você. Sentenças de morte, cada uma delas. Você nunca teve a
intenção de manter a parte final do trato de Ricardo e os líderes rebeldes
descobriram o truque, não é? Eles planejavam buscar uma audiência com
Sua Majestade e você não podia permitir que isso acontecesse. — A
acusação cortante fluiu de seu coração como vinho fresco. Ousada, robusta e
encorpada.
O rosto de Lorde Lancaster se transformou em uma mistura manchada
de tons acinzentados e vermelhos.
— Não fale de tal...
— Você não esperava que o rei aceitasse a audiência. Centenas e
centenas de inocentes morreram para salvar sua pele traiçoeira. Eu tive uma
audiência com o rei mais tarde neste dia. Tenho certeza que ele acharia suas
ações interessantes.
Lorde Lancaster franziu os lábios. Seus olhos passaram pelo rosto de
Owen.
Owen se manteve firme em suas acusações.

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— Se você deseja viver, vai dar atenção às minhas palavras. Um
mensageiro está pronto para entregar a Sua Majestade provas contra você, a
menos que concorde com meus termos. Eu vou sair de Londres esta noite.
Três cópias separadas de sua traição foram entregues em locais secretos e se
você tentar me encontrar ou tentar uma retaliação contra mim, meus
contatos estão sob ordens estritas de entregar o pacote deles. Não pense que
você será capaz de agir em segredo, pois meus informantes o conhecem
bem. Você será procurado e eu não posso garantir sua segurança. Eu fui
claro para você, pai?
Lorde Lancaster estalou antes de encontrar suas palavras.
— Eu não entendo essas insinuações contra mim, especialmente do
meu próprio filho. Seria de esperar mais do filho do capitão da guarda. Eu
dei tudo para você, um bastardo! Eu não sei porque você inventou essas
mentiras! O que você procura ganhar com isso?
— Liberdade.

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Capítulo Catorze

CATE ofegou procurando respirar.


O ar retido em seus pulmões queimava, incapaz de ser expulso.
Visões de pesadelo nublavam seus pensamentos e ela lutava violentamente
contra eles. Ela não queria nada além de atacar, mas por mais que tentasse,
não conseguia reunir a força necessária para gritar sua dor.
Ela deslizou ao longo dos fios de esquecimento e uma névoa
crescente. Os murmúrios preencheram o espaço entre eles. Seu corpo
sacudiu involuntariamente. Faces — figuras borradas — confundiram sua
consciência. O choque de água gelada espalhou-se por seu rosto e ela
engasgou, incapaz de engolir o líquido celestial.
— Será fácil agora... — Uma voz a acalmou.
As pálpebras de Cate se agitaram. Ela tinha ouvido aquele som antes,
seu tom suave e feminino a confortando outra vez.
— Ela está bem?
— Ainda não. — Respondeu a mulher. — Cate, você pode abrir os
olhos?
Um calor envolveu sua mão e apertou.
— Estou aqui por você, Cate. Eu estou aqui.
Owen.
A morte tinha suas vantagens.
Cate inalou profundamente, tentando lembrar-se de seu cheiro
amadeirado das profundezas de sua memória. Seu coração acelerou quando
uma mão roçou sua bochecha.
— Eu preciso que você volte agora, Cate.
— Que diabos é isso? — Ela tropeçou nas palavras, mal conseguindo
sair um sussurro.
— Não é o inferno... ainda não.
— Eu fui enforcada hoje.

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— Você escolheu viver hoje.
Aquela voz. A curandeira?
A consciência a inundou. Seu tempo gasto nas profundezas úmidas
da prisão a agarrou e Cate tentou se levantar. Lembrou-se de orar —
pedindo a Deus que ela ouvisse as palavras da misteriosa curandeira e
ingerisse a tintura de ópio ou permitisse que ela fosse enforcada pelos seus
crimes. Sua última lembrança antes de acordar com uma batida sem fim em
sua cabeça foi verter o líquido amargo do pequeno frasco e se concentrar em
um par de penetrantes olhos verdes.
Braços a cercaram quando Cate lutou contra seus próprios
movimentos. Seu corpo não escutava e involuntariamente tremia.
— O que está acontecendo? — Perguntou uma voz preocupada.
— O láudano está deixando seu corpo.
— Pare a carroça.
Por Deus no céu era reconfortante ouvi-lo falar. Cate temeu que
nunca mais sua voz chegasse aos ouvidos dela. Era Owen, em carne e osso, e
não alguma versão cruel de seu próprio inferno pessoal. Ele estava
verdadeiramente com ela, ela estava viva... e em seus braços.
Abra seus olhos, Cate. Ela desejou que seu corpo obedecesse. Cate!
Seus olhos se abriram. Então apertou os olhos. O sol — os brilhantes e
magníficos raios solares e manchas contra a escuridão das pálpebras
cerradas. Ela piscou para afastar os poucos pontos molhados que se
formavam nos cantos dos olhos e observou o ambiente ao redor. Cate estava
ligeiramente apoiada contra um corpo quente na parte de trás de uma
carroça, que cheirava a morte e sujeira. Várias pessoas que ela não conhecia
olhavam para ela com expectativa.
— Água, me dê água. — Um copo cheio foi empurrado para a mão de
Owen, e ele o pressionou nos lábios de Cate, permitindo que ela bebesse em
seu próprio ritmo. Quando ela terminou, ele perguntou:
— O que mais posso fazer por você?
— Um banho seria adorável. — Ela alegremente brincou.

A Filha do Arqueiro – Melissa Mackinnon


O vagão — seus passageiros — esperavam pacientemente por ela ao
lado de uma estrada deserta, aqueceu-se com compaixão e amor. Pássaros
voavam por cima, entrando e saindo do pinheiro ao redor. Um passarinho
cantava uma melodia afiada perto da frente da carroça, uma que ela havia
cantado mil vezes antes. Um sorriso enfeitou seus lábios rachados. Seu
querido e doce Wallace, fazendo sua presença conhecida.
— O que de tão grave você perdeu para aceitar a ajuda de Owen
Gray? — Ela perguntou a Wallace.
O escocês estava sentado no banco, encapotado em um manto de lã
esfarrapado. Ele se virou, torcendo para vê-la.
— Foi o oposto, temo. — Ele disse a ela. — Você teria sido enforcada
se tivesse sido deixada por minha conta.
— Eu não poderia ter executado o plano se não fosse por sua ajuda.
Seu MacKenzie é um excelente coveiro. Ele deu ordens como se tivesse
dominado o ofício nos anos anteriores, pelo que me disseram. Eu vejo um
novo emprego no futuro dele.
— Eu que agradeço. Eu agradeço a todos vocês. — Os olhos de Cate
se dirigiram para Owen. — Você salvou a minha vida.
— Você salvou a minha, Cate. Minha vida não era nada sem você
nela. Eu posso estar vivo, mas você me ensinou a viver. — Owen, com
ternura, traçou a curvatura de sua mandíbula com o polegar. Seus lábios
tocaram os dela, gentis, quentes e perdoadores. — E eu quero passar o resto
da minha vida fazendo isso.
— Eu não estou esperando na parte de trás de uma carroça da morte.
— A curandeira riu, trazendo Cate de volta ao presente.
— Cate, eu gostaria de apresentá-la formalmente a minha mãe, Nel.
— Owen sorriu.
— Estou muito feliz em conhecê-la, Cate Archer, e em melhores
circunstâncias. — Nel sorriu como uma mãe... consoladora e cheia de amor
inflexível.
Wallace estalou a língua, quebrando o pesado silêncio. A carroça deu
um solavanco.

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— Bem, nós não vamos chegar lá trocando gentilezas. — Ele disse.
Cate limpou a garganta.
— Para onde vamos?
Owen sorriu, um brilho de malícia em seus olhos.
— Cate, meu amor, você já esteve em Manchester?
— Ouvi dizer que há um visconde bonito em Manchester com
propriedades que rivalizam com as de Londres. — Brincou Cate.
— Sim. — Owen assentiu. — Com uma banheira tão grande que
rivaliza com o oceano. Ele daria a sua dama as estrelas, se ela assim o
desejasse.
De fato.

~~~~

CATE AMASSOU O pergaminho em seu punho. O resultado era o que ela


esperava e ela não sabia por que se enganara acreditando que algo mudaria.
Ela andava de um lado para o outro no hall de entrada, os saltos de seus
sapatos estalavam ao longo do piso polido a cada passo.
— O que te incomoda, meu amor? — Owen fez uma pausa na
entrada.
— Um mensageiro. — Cate empurrou o papel contra seu peito. —
Perdoado. Cada um desses bastardos.
Pegando o pergaminho dos dedos torcidos de Cate, ele alisou as
bordas para lê-lo. Seus olhos percorreram as linhas e seus lábios se
franziram em uma fina linha franzida.
— Eu dei um aviso de que isso aconteceria.
— Todas essas pessoas inocentes nunca encontrarão a sua paz. Não
haverá justiça para eles.
— Assim, continuaremos com nossa boa vontade e enviaremos
moedas, alimentos e suprimentos para os necessitados. As rotas comerciais
estão estabelecidas há muito tempo e, graças ao seu povo, a floresta e as
aldeias estão novamente seguras. — Owen se aproximou de Cate e colocou

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as mãos nos ombros dela. Ele massageou os nós que se formavam ao longo
de seus músculos e apertou. — Você fez grandes coisas, Catherine Gray, e
eu pretendo continuar. Não deixemos que o destino dos condenados nos
impeça de fazer o que sabemos ser certo.
Cate sorriu para o marido. Ela deslizou os braços ao redor dele,
deixando seu calor acalmar suas entranhas. Ela respirou profundamente,
sabendo que não podia dar um único momento como garantia. Ela tinha
sido abençoada com uma segunda chance na vida — com o homem que
amava — e não desperdiçaria um momento.
Com cada novo nascer do sol uma aventura a aguardava.

Fim

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Sobre a Autora

Melissa cresceu cercada por dragões, criaturas temíveis e


donzelas em perigo do maravilhoso mundo de faz-de-conta.
Ela logo encontrou suas ideias em papel, entulhando sua mesa
com mapas mundiais e biografias. O escritório foi usado não
para dever de casa, mas para escrita. Embora ela tenha
seguido uma carreira no teatro, a palavra escrita nunca a
deixou. Melissa agora leva uma vida plena com seu marido e
filhos (cinco clones incrivelmente adoráveis para ser exato), embora ainda
encontre tempo para escrever em seu "tempo livre". Ela ostenta um
emblema de honra da Força Militar e tem a sorte de ter o seu próprio
cavaleiro em armadura.
Melissa gosta de ler tudo, desde sexys, espadachins até comédias românticas
divertidas, que a fazem cuspir o seu café. Sua paixão se encontra dentro dos
antigos muros da fantasia e da ficção histórica, onde tudo é possível.

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