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Informativo 937-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Processos cujo julgamento ainda não foi concluído em virtude de pedido de vista. Serão comentados assim que chegarem
ao fim: ADI 5450 MC-Ref/DF; ADI 4619/SP; RE 645181/SC; ARE 1.107.296 AgR/PE; Rcl 30742/SP.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que dispensa multa por quebra da fidelidade nos contratos com as empresas de
telefonia em caso de desemprego superveniente do cliente.
É inconstitucional lei estadual que exija que o pescador, para exercer sua atividade, cadastre-se em entidade privada
(Federação de Pescadores) que cobra taxa por essa fiscalização.
TRIBUNAIS DE CONTAS
É inconstitucional lei estadual ou emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar, que trate sobre
organização ou funcionamento do TCE.
É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja regra sobre a organização ou funcionamento do TCE
de forma diferente do modelo federal.
DIREITO ADMINISTRATIVO
ACUMULAÇÃO DE CARGOS
É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h.
CÓDIGO DE TRÂNSITO
CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos e multas como condição para que o veículo possa
circular.
Resolução do CONTRAN não pode estabelecer penalidades, devendo as sanções ser previstas em lei em sentido
formal e material.
DIREITO PENAL
LAVAGEM DE DINHEIRO
Não se deve reconhecer a consunção entre corrupção passiva e lavagem quando a propina é recebida no exterior
por meio de transação envolvendo offshore na qual resta evidente a intenção de ocultar os valores.
PRISÃO PREVENTIVA
A prisão cautelar, portanto, constitui medida de natureza excepcional e não pode ser utilizada como instrumento
de punição antecipada do réu.
HABEAS CORPUS
Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF que negou
seguimento ao habeas corpus.
DIREITO DO TRABALHO
TRABALHO POR PRAZO DETERMINADO
A lei do contrato de trabalho por prazo determinado (Lei 9.601/98) é constitucional.
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que dispensa multa por quebra da fidelidade nos contratos com as
empresas de telefonia em caso de desemprego superveniente do cliente
É constitucional lei estadual que obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a cancelarem a
multa contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo
empregatício após a adesão do contrato.
STF. Plenário. ADI 4908/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).
Lei do RJ isenta multa por quebra da fidelidade nos contratos com as empresas de telefonia em caso de
desemprego
O Rio de Janeiro editou a Lei estadual nº 6.295/2012, que obriga as concessionárias de telefonia fixa e
celular a cancelarem multa contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo
empregatício após a adesão ao contrato. Veja sua redação:
Art. 1º Ficam obrigadas as concessionárias dos serviços de telefonia fixa e celular a cancelarem a
multa contratual de fidelidade, 12 (doze) meses, quando o usuário comprovar que perdeu o
vínculo empregatício após a adesão do contrato.
Art. 2º O não cumprimento do disposto nesta lei sujeitará a concessionária infratora ao pagamento
de multa correspondente a 100 (CEM) Unidades Fiscais de referência do Estado Rio de Janeiro,
por dia.
ADI
A Associação das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei
alegando que ela seria formalmente inconstitucional por violar a competência privativa da União para
legislar sobre os serviços de telecomunicações, prevista no art. 22, IV, da Constituição Federal:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
IV - águas, energia, informática telecomunicações e radiodifusão;
É constitucional lei estadual que obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a cancelarem a multa
contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo empregatício após a adesão
do contrato.
STF. Plenário. ADI 4908/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).
A referida lei dispõe sobre Direito do Consumidor, de modo que não há vício formal considerando que se
trata de matéria de competência legislativa concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
V - produção e consumo;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
O STF entendeu que esta norma não interfere na estrutura da prestação do serviço público nem no
equilíbrio dos contratos administrativos, razão pela qual não há usurpação da competência legislativa
privativa da União.
DOD PLUS
A discussão sobre até que ponto seria apenas defesa do consumidor ou isso avançaria na regulação dos
“serviços de telecomunicações” é um tema sempre presente na jurisprudência do STF. Veja alguns casos
já decididos pela Corte:
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que exija que o pescador, para exercer sua atividade, cadastre-se
em entidade privada (Federação de Pescadores) que cobra taxa por essa fiscalização
É inconstitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo, para
o exercício da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores do
Estado.
Também é inconstitucional a norma estadual que afirme que a taxa de cadastro e o
fornecimento da habilitação para exercer a atividade de pescador semiprofissional ou
esportivo será definida em Assembleia Geral da Federação de Pescadores do Estado.
Tais disposições invadem a competência da União para editar as normas gerais sobre pesca.
Existe lei federal que regulamenta, de modo unificado, todo o procedimento de habilitação de
pesca com requisitos nacionais.
Além disso, a lei não poderia ter delegado a uma entidade de direito privado (Federação dos
Pescadores) o poder de definir o valor da taxa a ser cobrada.
STF. Plenário. ADI 3829/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/4/2019 (Info 937).
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;
Nas matérias, do art. 24 da CF/88, a repartição das competências observará a seguinte lógica:
• União: tem competência para estabelecer as normas gerais sobre tais assuntos. Ex: o Congresso Nacional
editou a Lei nº 11.959/2009, que regula as atividades pesqueiras, sendo este diploma considerado como
as “normas gerais” sobre o tema.
• Estados/DF: têm competência para complementar as normas gerais.
Assim, a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a legislação federal editada pela
União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Essa divisão está prevista nos §§ 1º e 2º do art. 24:
Art. 24 (...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer
normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.
Inconstitucionalidade do art. 2º
O art. 2º da lei impugnada, delega para a Federação dos Pescadores a competência para realizar o
procedimento de habilitação da pesca no Estado do Rio Grande do Sul. Ao fazer isso, incorre em vício de
inconstitucionalidade.
Sobre este ponto, vale ressaltar que já existe normatização geral a esse respeito, sendo essa atividade
competência do Ministério da Pesca e da Aquicultura, órgão responsável pelo Registro Geral da Pesca.
Aplica-se aqui o princípio da predominância do interesse, uma vez que a competência atribuída aos
Estados em matéria de pesca não se pode sobrepor ao interesse da União na formulação de uma política
nacional de desenvolvimento sustentável das atividades pesqueiras, o que inclui, manifestamente, o
estabelecimento de regras uniformes de habilitação e licenciamento de pescadores.
Dessa maneira, a habilitação como pescador, seja nas modalidades comerciais ou não comerciais, deve
ser efetuada perante autoridade federal.
Há, portanto, nesse ponto, violação do art. 24, VI, CF/88.
Inconstitucionalidade do art. 3º
Além disso, o art. 2º da lei impugnada, bem como seu art. 3º, violam os art. 5º, XIII; o art. 22, XVI, e art.
21, XXIV; o art. 70, parágrafo único; o art. 149 e o art. 150, todos da Constituição, cuja interpretação
conjunta veda a delegação da prestação dos serviços de cadastro e habilitação das atividades pesqueiras
à Federação de Pescadores do Estado.
Com efeito, o art. 145, II, CF/88, autoriza a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a
instituírem taxas em virtude do exercício do poder de polícia.
O poder de polícia abrange tanto a cobrança de taxas quanto a emissão de autorizações e licenças para
exercício de uma determinada atividade, o que engloba, evidentemente, a habilitação.
O STF entende que as atividades que abrangem esse poder não podem ser delegadas a pessoas jurídicas
de direito privado. Nesse sentido:
(...) A fiscalização das profissões, por se tratar de uma atividade típica de Estado, que abrange o poder de
polícia, de tributar e de punir, não pode ser delegada (ADI 1.717), excetuando-se a Ordem dos Advogados
do Brasil (ADI 3.026). (...)
STF. 1ª Turma. MS 28469 AgR-segundo, Relator(a) p/ Acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 19/02/2013.
Assim, a lei é inconstitucional ao permitir que uma organização de direito privado faça o arbitramento da
taxa de cadastro.
Em suma:
É inconstitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo, para o
exercício da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores do Estado.
Também é inconstitucional a norma estadual que afirme que a taxa de cadastro e o fornecimento da
habilitação para exercer a atividade de pescador semiprofissional ou esportivo será definida em
Assembleia Geral da Federação de Pescadores do Estado.
Tais disposições invadem a competência da União para editar as normas gerais sobre pesca.
Existe lei federal que regulamenta todo o procedimento de habilitação de pesca com requisitos
nacionais. No diploma federal, entendeu-se necessária a centralização de regras uniformes de
habilitação, licenciamento e credenciamento de pescadores. Cuida-se de norma geral para o controle
dos procedimentos.
Além disso, a lei não poderia ter delegado a uma entidade de direito privado (Federação dos Pescadores)
o poder de definir o valor da taxa a ser cobrada.
STF. Plenário. ADI 3829/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/4/2019 (Info 937).
TRIBUNAIS DE CONTAS
É inconstitucional lei estadual ou emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar,
que trate sobre organização ou funcionamento do TCE
É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja regra sobre a organização ou
funcionamento do TCE de forma diferente do modelo federal
(...)
§ 6º As decisões do Tribunal de Contas do Estado, relativas à legalidade dos atos referentes às
atribuições de que tratam os incisos II, III, IV, V, VI e VII, deste artigo, inclusive no tocante aos
Municípios, são tomadas no prazo de sessenta (60) dias, contados da data em que for concluído o
trabalho da sua secretaria, o qual não pode ultrapassar noventa (90) dias.
§ 7º. O Tribunal de Contas, até o dia cinco (5) de julho do ano em que houver eleição no Estado,
encaminhará à Justiça Eleitoral e ao Ministério Público Eleitoral relação dos que tiveram suas
contas rejeitadas por irregularidade insanável, a qual configure ato doloso de improbidade
administrativa, assim declarado na respectiva decisão irrecorrível.
Art. 55 (...)
§ 1º O controle interno, do Tribunal de Contas do Estado e do Ministério Público, fica sujeito aos
sistemas normativos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, respectivamente.
Essa emenda foi impugnada no STF por meio de ADI. O que o STF decidiu? A ação foi julgada procedente?
SIM. O STF declarou a inconstitucionalidade formal e material dos arts. 53, §§6º e 7º, e 55, §1º, da
Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, por ofensa aos arts. 73, 75 e 96, II, da Constituição Federal.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
Inconstitucionalidade formal
Há, no presente caso, inconstitucionalidade FORMAL SUBJETIVA ou ORGÂNICA, por vício de iniciativa.
A Constituição Federal confere aos Tribunais de Contas as prerrogativas da autonomia e do autogoverno,
o que inclui a iniciativa reservada para iniciar os projetos de lei que tratem sobre seus próprios cargos, sua
organização e seu funcionamento. Isso se encontra previsto no art. 96, II, “b” e “d”, da CF/88:
Art. 96. Compete privativamente:
(...)
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao
Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que
lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive
dos tribunais inferiores, onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
Desse modo, os Tribunais de Contas, assim como o Poder Judiciário, possuem competência privativa para
iniciar o processo legislativo relativamente às matérias previstas no art. 96, II, da Constituição Federal.
Logo, esta emenda constitucional aprovada pela ALE/RN, de iniciativa parlamentar, ao tratar sobre as
competências do Tribunal de Constas, violou a reserva de iniciativa legislativa privativa do próprio Tribunal
de Contas.
E os arts. 73 e 96 da CF/88 são válidos também para os Tribunais de Contas dos Estados?
SIM. Os Tribunais de Contas dos Estados, por sua vez, são organizados pelas Constituições Estaduais.
Contudo, por força do princípio da simetria, as regras do TCU também são aplicadas, no que couber, aos
TCE’s, conforme determina o art. 75 da CF:
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização,
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como
dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos,
que serão integrados por sete Conselheiros.
Vale ressaltar que neste caso, não estamos falando de “lei” e sim de “emenda constitucional”. Mesmo
assim, os Deputados Estaduais estão proibidos deflagrar o processo legislativo?
SIM.
No modelo federativo, a autonomia dos Estados não é plena, uma vez balizada pela Constituição Federal.
Assim, o poder constituinte reformador nos Estados não ostenta a mesma amplitude do poder
constituinte reformador da Constituição Federal.
Desse modo, as regras de reserva de iniciativa previstas na Constituição Federal não podem ser burladas
pelo poder constituinte reformador dos Estados.
Em virtude disso, não é possível que uma emenda à Constituição Estadual, de iniciativa parlamentar, trate
sobre os assuntos previstos no art. 96, II, da CF/88.
Vale ressaltar que esse mesmo entendimento não se aplica para emendas à Constituição Federal.
Vou explicar melhor esse ponto com uma pergunta: é possível emenda constitucional, de iniciativa
parlamentar, tratando sobre os assuntos do art. 96, II, da CF/88?
• Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM.
• Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO.
Por que existe essa diferença de tratamento entre emenda à Constituição Federal e emenda à
Constituição Estadual?
O poder constituinte estadual não é originário. É poder constituído, cercado por limites mais rígidos do
que o poder constituinte federal. A regra da simetria é um exemplo dessa limitação. Por essa razão, as
Assembleias Legislativas se submetem a limites mais rigorosos quando pretendem emendar as
Constituições Estaduais.
Assim, se os Deputados Estaduais apresentam emenda à Constituição Estadual tratando sobre os assuntos
do art. 96, II, da CF/88 eles estão, em última análise, violando a própria regra da Constituição Federal.
Assim, é incabível que os Deputados Estaduais proponham uma emenda constitucional dispondo sobre o
Tribunal de Contas do Estado. Se isso fosse permitido, seria uma forma de burlar a regra do art. 96, II c/c
art. 73, da CF/88.
Por outro lado, seria possível, em tese, que 1/3 dos Deputados Federais propusessem uma emenda à
Constituição Federal tratando sobre o TCU.
Em suma:
Os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para deflagrar o processo
legislativo que tenha por objeto alterar a sua organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts.
INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL
Além do vício acima explicado, os dispositivos impugnados também apresentam inconstitucionalidade
material.
O art. 75 da CF/88 estabelece um “espelhamento obrigatório” do modelo do TCU para os Tribunais de
Contas dos Estados:
(...) A Constituição Federal é clara ao determinar, em seu art. 75, que as normas constitucionais que
conformam o modelo federal de organização do Tribunal de Contas da União são de observância
compulsória pelas Constituições dos Estados-membros. (...)
STF. Plenário. ADI 3715, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/08/2014.
Em razão disso, é inconstitucional norma da Constituição Estadual que trate sobre a organização ou
funcionamento do TCE de forma diferente do modelo federal.
§ 3º do art. 53
Vejamos o caso do § 3º do art. 53, da CE/RN. Vamos comparar o que ele diz com aquilo que é previsto na
CF/88:
CF/88 CE/RN
Art. 71 (...) Art. 53 (...)
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte § 3º As decisões do Tribunal de Contas, de que
imputação de débito ou multa terão eficácia de resulte imputação de débito ou multa, têm
título executivo. eficácia de título executivo, devendo a Fazenda
Pública Estadual ou Municipal, no âmbito de suas
competências, encaminhá-las para execução, e
com o reconhecimento da boa-fé, a liquidação
tempestiva do débito ou multa atualizado
monetariamente sanará o processo, se não houver
sido observada outra irregularidade na apreciação
das contas.
§ 1º do art. 55
A norma segundo a qual “o controle interno do Tribunal de Contas do Estado fica sujeito aos sistemas
normativo do Poder Legislativo”, prevista no art. 55, § 1º, da CE/RN mostra-se materialmente incompatível
com as prerrogativas de independência funcional e autonomia administrativa asseguradas aos Tribunais
de Contas.
§§ 6º e 7º do art. 53
Os §§ 6º e 7º do art. 53 da CE/RN foram também declarados inconstitucionais porque preveem regras
diferentes do modelo federal incorrendo, portanto, em inconstitucionalidade material por afronta ao art.
75 da CF/88.
Sintetizando:
O art. 75 da CF/88 estabelece que deverá haver um “espelhamento obrigatório” do modelo de controle
externo do TCU previsto na CF/88 para os Tribunais de Contas dos Estados/DF e para os Tribunais e
Conselhos de Contas dos Municípios. Isso significa que é materialmente inconstitucional norma da
Constituição Estadual que trate sobre a organização ou funcionamento do TCE de forma diferente do
modelo federal. Caso isso ocorra, haverá uma violação ao art. 75 da Carta Maior.
Diante disso, é inconstitucional dispositivo da CE que preveja que, se o TCE reconhecer a boa-fé do
infrator e se este fizer a liquidação tempestiva do débito ou da multa, a Corte deverá considerar saneado
o processo. Esta regra é inconstitucional porque não há previsão semelhante na CF/88.
STF. Plenário. ADI 5323/RN, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).
DIREITO ADMINISTRATIVO
ACUMULAÇÃO DE CARGOS
É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h
Importante!!!
A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da
CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional,
pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.
O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício
das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
STF. 1ª Turma. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/4/2019 (Info 937).
STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.
STJ. 1ª Seção. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 27/03/2019.
No caso dos servidores públicos federais, importante mencionar que o tema foi regulamentado pela Lei
nº 8.112/90:
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação remunerada de
cargos públicos.
(...)
§ 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da compatibilidade de
horários.
Parecer-AGU nº GQ-145/98*
Com o objetivo de disciplinar a matéria, a Advocacia Geral da União (AGU) emitiu, em 1998, o parecer nº
GQ-145, vinculante, afirmando que o servidor somente poderia acumular cargos se houver
compatibilidade de horário e desde que a jornada máxima não ultrapasse 60 horas semanais.
Assim, para a AGU, mesmo que existisse compatibilidade de horários, se a jornada semanal ficasse acima
de 60 horas, a acumulação não seria permitida, considerando que o servidor estaria muito cansado e isso
atrapalharia seu desempenho funcional, em prejuízo ao princípio constitucional da eficiência.
* Obs: esse parecer foi revogado em abril/2019.
Os servidores não concordaram com este entendimento e recorreram à Justiça para que pudessem
manter a acumulação de cargos mesmo se a jornada semanal for superior a 60 horas. A jurisprudência
acolhe o pedido dos servidores? É possível que o servidor acumule dois cargos públicos mesmo que a
soma das jornadas ultrapasse 60 horas semanais?
SIM. É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h:
A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88,
não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal
requisito na Constituição Federal.
O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício das
funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
STF. 1ª Turma. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/4/2019 (Info 937).
STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.
STJ. 1ª Seção. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 27/03/2019.
O fundamento é constitucional.
Ora, a Constituição Federal em nenhum momento exigiu que a jornada semanal dos dois cargos fosse de
até 60 horas. O único requisito estabelecido pela CF/88 para a acumulação é a compatibilidade de horários
no exercício das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
Logo, essa exigência feita por norma infraconstitucional de que a jornada seja de até 60 horas está além
daquilo que a Constituição impôs, sendo, portanto, indevida.
Assim, quando houver compatibilidade de horários, a existência de norma infraconstitucional limitadora
de jornada semanal de trabalho não constitui óbice ao reconhecimento da cumulação de cargos prevista
no art. 37, XVI, da Constituição Federal.
Posição do TCU
A jurisprudência atual do TCU é no sentido de que a questão da incompatibilidade de horários entre os
cargos acumuláveis deve ser estudada caso a caso, sem a limitação objetiva de 60 horas semanais.
CÓDIGO DE TRÂNSITO
CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos
e multas como condição para que o veículo possa circular
CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos e multas como condição para
que o veículo possa circular
O CTB prevê que só poderá ser expedido novo certificado de registro de veículo e novo
certificado de licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos a
tributos, encargos e multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade
pelas infrações cometidas (arts. 124, VIII, 128, e 131, § 2º). Tais dispositivos são
constitucionais e não limitam o direito de propriedade. Além disso, não se constituem em
sanções políticas.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 10/04/2019 (Info 937).
Resolução do CONTRAN não pode estabelecer penalidades, devendo as sanções ser previstas em
lei em sentido formal e material
O art. 161 do CTB prevê que:
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código, da
legislação complementar ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às
penalidades e medidas administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas
no Capítulo XIX.
Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às resoluções do CONTRAN terão suas
penalidades e medidas administrativas definidas nas próprias resoluções.
O STF conferiu interpretação conforme a Constituição, para declarar inconstitucional a
possibilidade do estabelecimento de sanção por parte do CONTRAN, como se órgão legislativo
fosse, visto que as penalidades têm de estar previstas em lei em sentido formal e material.
Além disso, o Tribunal declarou a nulidade da expressão “ou das Resoluções do Contran”
presente neste artigo.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 10/04/2019 (Info 937).
1ª parte da ADI
Questionava dispositivos do CTB que preveem que só poderá ser expedido novo certificado de registro de
veículo e novo certificado de licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos
a tributos, encargos e multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas
infrações cometidas.
Assim, tais dispositivos afirmam que o proprietário só pode utilizar o veículo se pagar os tributos, encargos
e multas. Para a OAB, isso ofenderia o direito de propriedade e configuraria “sanção política” (prática
considerada inconstitucional).
Vou abrir aqui um parêntese para você relembrar em que consiste a sanção política:
Desse modo, a orientação jurisprudencial do STF e do STJ é a de que o Estado não pode adotar sanções
políticas, que se caracterizam pela utilização de meios de coerção indireta que impeçam ou dificultem o
exercício da atividade econômica, para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos em atraso,
estando o ente público vinculado ao procedimento de execução fiscal para a cobrança de seus créditos,
no qual é assegurado ao devedor, o devido processo legal.
Art. 128. Não será expedido novo Certificado de Registro de Veículo enquanto houver débitos
fiscais e de multas de trânsito e ambientais, vinculadas ao veículo, independentemente da
responsabilidade pelas infrações cometidas.
2ª parte da ADI
A 2ª parte da ADI questionava o art. 161 do CTB que estabelece que resolução do CONTRAN pode impor
sanções administrativas:
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código, da
legislação complementar ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às penalidades
e medidas administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas no Capítulo XIX.
Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às resoluções do CONTRAN terão suas
penalidades e medidas administrativas definidas nas próprias resoluções.
Para a OAB, esse dispositivo seria inconstitucional, pois a possibilidade de edição, pelo CONTRAN, de
resoluções com previsão de sanções administrativas sem a instauração do correspondente processo
administrativo violaria o princípio da legalidade (art. 5º, II, da CF/88).
Em suma:
O CTB prevê que só poderá ser expedido novo certificado de registro de veículo e novo certificado de
licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos a tributos, encargos e
multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas (arts.
124, VIII, 128, e 131, § 2º). Tais dispositivos são constitucionais e não limitam o direito de propriedade.
Além disso, não se constituem em sanções políticas.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
10/04/2019 (Info 937).
DIREITO NOTARIAL E
REGISTRAL
REGISTRO CIVIL
RCNP pode realizar outros serviços remunerados fora aqueles já previstos na Lei de Registros
Públicos, desde que estejam relacionados com as atividades registrais e o convênio que autoriza
essa prática deve ser fiscalizado pelos órgãos correicionais do Poder Judiciário
RCPN
No Registro Civil de Pessoas Naturais (RCPN) são feitos os registros de nascimentos, casamentos,
conversões de união estável em casamento, óbitos, emancipações, entre outros previstos no art. 29 da
Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos).
Em virtude da relevância social desse registro, existe um cartório de RCPN em praticamente todo
Município do Brasil.
Vale ressaltar que a arrecadação dos Registradores Civis é baixa e, em algumas cidades do interior, muitos
cartórios são deficitários, ou seja, praticamente têm prejuízo. Em Municípios pobres, algumas vezes é até
difícil fazer o provimento desses cartórios por falta de interessados. Atenção: não estou falando de
cartórios de Registro de Imóveis, Tabelionatos de Notas ou de Protesto, onde o cenário pode ser bem
diverso. Refiro-me aqui ao RCPN, que possui uma realidade completamente diferente do que se imagina
em termos de faturamento de cartórios.
Lei nº 13.484/2017
O que fez, então, a Lei nº 13.484/2017: decidiu aproveitar a capilaridade dos cartórios do RCPN (sua
presença maciça nos Municípios) e também incrementar a arrecadação dessas serventias.
Para tanto, a Lei nº 13.484/2017 autorizou que os cartórios de RCPN prestem outros serviços remunerados
à população. Veja os §§ 3º e 4º, que foram acrescentados pela Lei nº 13.484/2017 ao art. 29 da Lei de
Registros Públicos:
Art. 29 (...)
§ 3º Os ofícios do registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão
autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em
credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas.
§ 4º O convênio referido no § 3º deste artigo independe de homologação e será firmado pela
entidade de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma abrangência territorial
do órgão ou da entidade interessada.
Foi dito, pela doutrina, que essa alteração transformou os cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais
em ofícios da cidadania.
Exemplos desses outros serviços passaram a poder ser prestados pelos cartórios: emissão de RG, CPF,
passaporte etc.
ADI
O Partido Republicano Brasileiro (PRB) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra a inclusão
desses §§ 3º e 4º no art. 29.
O autor da ADI argumentou que houve inconstitucionalidade formal por duas razões:
• teria havido contrabando legislativo;
• a Lei nº 13.484/2017 é fruto de uma medida provisória (MP 776/2017) e neste caso não haveria urgência
que justificasse a edição da medida. Logo, teria havido violação ao art. 62 da CF/88.
Além disso, teria havido também inconstitucionalidade pelo fato de a lei conferir a possibilidade de os
Registros de Pessoas Naturais desempenharem serviços totalmente estranhos às atividades registrais.
Vejamos com calma cada um desses pontos.
Contrabando legislativo
A Lei nº 13.484/2017 é fruto da conversão da conversão em lei da MP 776/2017.
Vale ressaltar que a MP 776/2017, quando foi publicada pelo Presidente da República, tratou unicamente
de um assunto: naturalidade facultativa, ou seja, a MP alterou os arts. 19, 54 e 70 da Lei nº 6.015/73 para
permitir que crianças nascidas em hospitais distantes de suas cidades de origem fossem registradas como
naturais da cidade do domicílio da mãe, e não necessariamente do local do nascimento.
A MP quando chega ao Congresso Nacional tramita como se fosse um projeto de lei ordinária (com
algumas peculiaridades). Assim, é possível, guardadas algumas limitações, que os Deputados e Senadores
proponham emendas alterando, suprimindo ou acrescentando novos dispositivos à MP.
Desse modo, durante a tramitação da MP 776/2017, houve uma emenda parlamentar prevendo a inserção
dos §§ 3º e 4º do art. 29 da Lei nº 6.015/73 visto acima. Em outras palavras, é como se um Deputado
tivesse falado o seguinte: concordo com a MP proposta pelo Presidente da República, mas já que ele está
alterando a Lei de Registros Públicos, proponho modificar também o art. 29 para acrescentar dois novos
parágrafos para permitir que os RCPNs tenham novos serviços.
Esta emenda parlamentar foi aprovada e a Lei nº 13.484/2017, além do texto original da MP, promoveu
mais esta alteração na Lei de Registros Públicos.
Ocorre que o autor da ADI afirmou que essa emenda representou um contrabando legislativo.
O contrabando legislativo consiste na inserção, por meio de emenda parlamentar, de assunto diferente
do que é tratado na medida provisória que tramita no Congresso Nacional.
O contrabando legislativo é uma prática vedada. No entendimento do STF:
É incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência temática com
medida provisória submetida à sua apreciação. Assim, como essa emenda versa sobre assunto diverso do
que é tratado na medida provisória, deve-se considerá-la inconstitucional.
O uso de medidas provisórias se dá por motivos de urgência e relevância da matéria, cuja análise compete
ao chefe do Poder Executivo. Logo, toda e qualquer emenda parlamentar em projeto de conversão de
medida provisória em lei deve ficar restrita ao tema definido como urgente e relevante.
STF. Plenário. ADI 5012/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/3/2017 (Info 857).
Houve violação ao art. 62 da CF/88 pelo fato de o assunto tratado na MP não ser urgente?
NÃO. O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas provisórias
em caso de relevância e urgência.
Em regra, não cabe ao Poder Judiciário verificar os requisitos da MP porque configuram conceitos jurídicos
indeterminados que estão situados dentro da discricionariedade política do Poder Executivo.
Somente em caráter excepcional é possível o controle jurisdicional destes requisitos, quando existir abuso
de poder ou a ausência destes pressupostos for evidente.
No caso concreto, o Presidente da República e o Congresso Nacional entenderam estarem presentes esses
requisitos, não havendo situação extrema que autorize o Poder Judiciário a substituir a análise subjetiva
desses requisitos.
A ampliação dos serviços do RCPN, por si só, foi uma inovação inconstitucional?
NÃO. Ao contrário. O STF afirmou que a ampliação das competências do RCPN foi uma medida relevante,
que teve como objetivo conferir maior comodidade no acesso a serviços de cadastro e documentação.
Isso melhora o exercício da cidadania pela população, principalmente pela parcela socialmente
desfavorecida econômica ou geograficamente.
Assim, a possibilidade de ampliação dos serviços do RCPN não representa inconstitucionalidade material.
Outros serviços remunerados devem ter relação com as atividades do RCPN (intepretação conforme do
§ 3º do art. 29)
O § 3º do art. 29 precisa, contudo, de uma intepretação conforme à Constituição. Isso porque não se pode
ampliar em demasia a expressão “outros serviços remunerados” presente neste dispositivo. Vamos
relembrar a sua redação:
Art. 29 (...)
§ 3º Os ofícios do registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão
autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em
credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas. (parágrafo
inserido pela Lei nº 13.484/2017)
Assim, o STF disse que os “outros serviços remunerados” devem, obrigatoriamente, ter alguma relação
com o exercício das atividades delegadas, ou seja, deve ter afinidade (semelhança) com os serviços
registrais. Exemplos de outros serviços remunerados que podem ser desempenhados: emissão de
certidões e de documentos públicos.
Desse modo, é salutar a ampliação, mas desde que haja pertinência temática com os serviços registrais.
Nessa linha, o STF afirmou que o CNJ agiu corretamente ao editar o Provimento 66/2018, que dispõe sobre
a prestação de serviços pelos ofícios de registro civil das pessoas naturais.
Este Provimento prevê que o RCPN pode prestar outros serviços, mas desde que relacionados com à
identificação dos cidadãos:
Art. 2º As serventias de registro civil das pessoas naturais do Brasil poderão, mediante convênio,
credenciamento ou matrícula com órgãos públicos, prestar serviços públicos relacionados à
identificação dos cidadãos, visando auxiliar a emissão de documentos pelos órgãos responsáveis.
Parágrafo único. Os serviços públicos referentes à identificação dos cidadãos são aqueles
inerentes à atividade registral que tenham por objetivo a identificação do conjunto de atributos
de uma pessoa, tais como biometria, fotografia, cadastro de pessoa física e passaporte.
Para o STF, este trecho específico do § 4º não versa sobre “registros públicos”, matéria que é de
competência da União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88. Essa expressão “independe de homologação”
está relacionada com a atividade fiscalizatória que a CF/88 confere aos Tribunais de Justiça (por meio de
suas Corregedorias) e ao CNJ.
A fiscalização prévia e posterior dos convênios pelo Poder Judiciário é uma exigência constitucional e não
pode ser suprimida por legislação federal. Os convênios dependem de homologação. Por isso, retirou-se
a expressão “independe de homologação” do texto do § 4º.
Remuneração dos serviços deve ser fixada por lei estadual de iniciativa do TJ
Por fim, o STF afirmou que a remuneração dos serviços deve ser previamente fixada em lei de iniciativa
do Poder Judiciário local.
Em suma:
O STF, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ADI decidindo:
• conceder interpretação conforme a Constituição Federal ao § 3º do art. 29 para dizer que os “outros
serviços remunerados” devem, obrigatoriamente, ter alguma relação com o exercício das atividades
registrais do RCNP;
• declarar a nulidade parcial, com redução de texto, da expressão “independe de homologação”
constante do § 4º do mesmo art. 29.
STF. Plenário. ADI 5855 MC-REF/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/4/2019 (Info 937).
DIREITO PENAL
LAVAGEM DE DINHEIRO
Não se deve reconhecer a consunção entre corrupção passiva e lavagem quando a propina é
recebida no exterior por meio de transação envolvendo offshore na qual resta evidente a
intenção de ocultar os valores
Eduardo Cunha foi condenado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
evasão de divisas, por ter solicitado e recebido dinheiro de uma empresa privada para
interferir em um contrato com a Petrobrás.
A propina teria sido acertada entre o indivíduo chamado “IC”, proprietário da empresa
beneficiada, e “JL”, ex-Diretor Internacional da Petrobrás. O pagamento foi realizado mediante
transferências para contas secretas no exterior.
O STF entendeu que não se podia reconhecer a consunção entre a corrupção passiva e a
lavagem, considerando que não houve simples pagamento da propina para interposta pessoa,
mas sim pagamento mediante utilização de contas secretas no exterior em nome de uma
offshore, de um lado, e de um trust, de outro, e da realização de transação por meio da qual a
propina foi depositada e ocultada em local seguro. Logo, ficou demonstrada da autonomia
entre os delitos.
STF. 2ª Turma. HC 165036/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/4/2019 (Info 937).
A propina teria sido acertada entre o indivíduo chamado “IC”, proprietário da empresa beneficiada, e “JL”,
ex-Diretor Internacional da Petrobrás.
O pagamento foi realizado mediante transferências para contas secretas no exterior.
Eduardo Cunha impetrou habeas corpus no STF no qual sustenta:
a) a consunção entre os crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro; e
b) como pedido subsidiário, o reconhecimento da ocorrência de concurso formal de crimes entre os atos
de corrupção passiva, de lavagem de dinheiro e de evasão de divisas.
Para relembrar
CONCURSO FORMAL
PERFEITO (normal, próprio) IMPERFEITO (anormal, impróprio)
O agente produziu dois ou mais resultados Quando o agente, com uma única conduta,
criminosos, mas não tinha o desígnio de praticá- pratica dois ou mais crimes dolosos, tendo o
los de forma autônoma. desígnio de praticar cada um deles (desígnios
autônomos).
Ex1: João atira para matar Maria, acertando-a. Ex1: Jack quer matar Bill e Paul, seus inimigos.
Ocorre que, por culpa, atinge também Pedro, Para tanto, Jack instala uma bomba no carro
causando-lhe lesões corporais. João não tinha o utilizado pelos dois, causando a morte de ambos.
desígnio de ferir Pedro. Jack matou dois coelhos com uma cajadada só.
Ex2: motorista causa acidente e mata 3 pessoas. Ex2: Rambo vê seu inimigo andando de mãos
Não havia o desígnio autônomo de praticar os dadas com a namorada. Rambo pega seu fuzil e
diversos homicídios. resolve atirar em seu inimigo. Alguém alerta
Rambo: “não atire agora, você poderá acertar
também a namorada”, mas Rambo responde: “eu
só quero matá-lo, mas se pegar nela também
tanto faz. Não estou nem aí”. Rambo, então,
desfere um único tiro que perfura o corpo do
inimigo e acerta também a namorada. Ambos
morrem.
Pode ocorrer em duas situações: Ocorre, portanto, quando o sujeito age com dolo
• DOLO + CULPA: quando o agente tinha dolo de em relação a todos os crimes produzidos.
praticar um crime e os demais delitos foram
praticados por culpa (exemplo 1); Aqui é DOLO + DOLO. Pode ser:
• CULPA + CULPA: quando o agente não tinha a • Dolo direto + dolo direto (exemplo 1);
intenção de praticar nenhum dos delitos, tendo • Dolo direto + dolo eventual (exemplo 2).
todos eles ocorrido por culpa (exemplo 2).
Fixação da pena: Fixação da pena
Regra geral: exasperação da pena: No caso de concurso formal imperfeito, as penas
• Aplica-se a maior das penas, aumentada de 1/6 dos diversos crimes são sempre SOMADAS. Isso
até 1/2. porque o sujeito agiu com desígnios autônomos.
• Para aumentar mais ou menos, o juiz leva em
consideração a quantidade de crimes.
A Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo
pelos agentes de segurança pública, é constitucional, tanto sob o aspecto formal como
material.
STF. Plenário. ADI 5243/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgado em 11/4/2019 (Info 937).
LEI 13.060/2014
Sobre o que trata a Lei?
A Lei nº 13.060/2014 disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de
segurança pública.
Em âmbito federal, o tema já era tratado, de forma mais detalhada, pela Portaria Interministerial nº
4226/2010, que vinculava o Departamento de Polícia Federal, o Departamento de Polícia Rodoviária
Federal, o Departamento Penitenciário Nacional e a Força Nacional de Segurança Pública.
Desse modo, algumas regras previstas na Portaria agora se tornam lei e passam a valer para todos os
órgãos de segurança pública do país, incluindo polícias civis e militares dos Estados-membros.
Documentos internacionais
O uso subsidiário e moderado da força por órgãos de segurança pública é também tratado em documentos
internacionais que inspiraram a legislação nacional, dentre os quais destacam-se os seguintes:
1) Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotado pela Assembleia
Geral das Nações Unidas na sua Resolução 34/169, de 17 de dezembro de 1979;
2) Princípios orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas na sua
resolução 1989/61, de 24 de maio de 1989;
3) Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação
da Lei, adotados pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos
Delinquentes, realizado em Havana, Cuba, de 27 de Agosto a 7 de setembro de 1999;
4) Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada em Nova York em 10 de
dezembro de 1984 e promulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991.
Definição de IMPO
Instrumentos de menor potencial ofensivo são aqueles projetados especificamente para, com baixa
probabilidade de causar mortes ou lesões permanentes, conter, debilitar ou incapacitar temporariamente
pessoas.
Exemplos de IMPO
Spray de pimenta, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, agentes fumígenos, pistolas de impulsos
elétricos (como é o caso do taser).
Uso da força
O policial somente poderá deixar de lado a utilização de instrumentos de menor potencial ofensivo e
passar a usar a força se houver risco à sua integridade física ou psíquica. Mesmo assim, o uso da força
deverá obedecer aos seguintes princípios:
I - legalidade;
II - necessidade;
III - razoabilidade e proporcionalidade.
A Portaria Interministerial n. 4226/2010 possui algumas definições sobre esses princípios:
Princípio da Legalidade: os agentes de segurança pública só poderão utilizar a força para a consecução de
um objetivo legal e nos estritos limites da lei.
Princípio da necessidade: determinado nível de força só pode ser empregado quando níveis de menor
intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos legais pretendidos.
Princípio da proporcionalidade: o nível da força utilizado deve sempre ser compatível com a gravidade da
ameaça representada pela ação do opositor e com os objetivos pretendidos pelo agente de segurança
pública.
Cursos
Os cursos de formação e capacitação dos agentes de segurança pública deverão incluir conteúdo
programático que os habilite ao uso dos instrumentos não letais.
Fornecimento de IMPO
O poder público tem o dever de fornecer a todo agente de segurança pública instrumentos de menor
potencial ofensivo para o uso racional da força.
ADI
O Partido Social Liberal (PSL) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra dispositivos da Lei nº
13.060/2014.
Compete ao chefe do Poder Executivo propor leis que imponham obrigações a órgãos ou entidades
vinculados ao Poder Executivo, nos termos do art. art. 61, § 1º, II e ao art. 84, VI, “a”, da CF/88. Como a
Lei nº 13.060/2014 foi de iniciativa parlamentar, teria havido inconstitucionalidade formal.
Além disso, a lei teria violado a autonomia dos Estados-membros. Isso porque uma lei federal não poderia
padronizar procedimentos policiais a serem adotados pelas Polícias Civil e Militar, considerando que a
Constituição da República estabelece que o chefe das forças policiais estaduais é o Governador do Estado.
Sob o ponto de vista material, o partido sustentou que os incisos I e II do parágrafo único do art. 2º da Lei
13.060/2014 violaram “o dever do Estado no exercício para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Os dispositivos se referem a situações em que não é legítimo
o uso de arma de fogo:
Art. 2º (...)
Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo:
I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que não represente risco imediato de morte
ou de lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros; e
II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o ato represente
risco de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros.
Não há usurpação da competência das forças policiais para definir sua atuação
Outro argumento invocado pelo autor e rechaçado pelo STF era o de que a Lei usurpava dos órgãos de
segurança pública a competência para decidir o melhor padrão de atuação policial.
Para o STF, a Lei questionada não determina a forma como deve ocorrer essa atuação, mas apenas se
limita a impor obrigações que são necessárias à proteção do direito à vida, buscando impedir que qualquer
suspeito seja arbitrariamente dela privado.
Essa definição do que é uma atuação arbitrária é aferida objetivamente por meio de padrões mínimos de
razoabilidade e proporcionalidade e, também, com base em padrões internacionais de referência, como
os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela
Aplicação da Lei, adotados em congresso das Nações Unidas.
Em seu artigo 9º, este documento internacional preceitua que os responsáveis pela aplicação da lei não
usarão armas de fogo contra pessoas, exceto se outros meios menos extremados revelem-se insuficientes
em casos de legítima defesa própria ou de outrem contra ameaça iminente de morte ou ferimento grave;
para impedir a perpetração de crime particularmente grave que envolva séria ameaça à vida; para efetuar
a prisão de alguém que represente risco e resista à autoridade; ou para impedir a fuga de tal indivíduo.
Em qualquer hipótese, o uso letal intencional de armas de fogo somente poderá ser feito quando
estritamente inevitável à proteção da vida.
PRISÃO PREVENTIVA
A prisão cautelar, portanto, constitui medida de natureza excepcional
e não pode ser utilizada como instrumento de punição antecipada do réu
A prisão cautelar, portanto, constitui medida de natureza excepcional e não pode ser utilizada
como instrumento de punição antecipada do réu.
STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
9/4/2019 (Info 937).
HABEAS CORPUS
Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a
decisão monocrática do Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus
O prazo e a forma de contagem estabelecidos pelo novo CPC não se aplicam aos agravos regimentais
que questionam atos produzidos em processos ou procedimentos de natureza penal
O CPC/2015 possui regra dizendo que o prazo para a interposição de qualquer agravo é de 15 dias úteis
(art. 1.070 c/c art. 219). Essa regra, no entanto, não se aplica para o agravo regimental interposto contra
decisões monocráticas proferidas por Ministros do STF ou STJ em processos de natureza criminal (como é
o caso do HC). Isso porque existem previsões específicas que regem o tema no processo penal:
• o art. 39 da Lei nº 8.038/90 prevê que o prazo do agravo em matéria criminal é de 5 dias.
• o art. 798 do CPP prevê que os prazos no processo penal são contínuos, ou seja, não são contados em
dias úteis.
Esse é o entendimento da jurisprudência:
O agravo interposto contra decisão monocrática do Ministro Relator no STF e STJ, em recursos ou ações
originárias que versem sobre matéria penal ou processual penal NÃO obedece às regras no novo CPC. Isso
significa que:
• o prazo deste agravo é de 5 dias, nos termos do art. 39 da Lei nº 8.038/90 (não se aplicando o art. 1.070
do CPC/2015);
• este prazo é contado em dias corridos, conforme prevê o art. 798 do CPP (não se aplicando a regra da
contagem em dias úteis do art. 219 do CPC/2015).
STF. Plenário. Rcl 25638/MG, Rel. para ac. Min. Edson Fachin, julgado em 09/05/2019.
STJ. 3ª Seção. AgRg na Rcl 30.714/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/04/2016.
Antes de a Turma julgar esse agravo, o advogado do agravante pode fazer sustentação oral?
A 2ª Turma do STF, por maioria, entendeu que sim:
Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática que negou
seguimento ao habeas corpus.
STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
9/4/2019 (Info 937).
O STF afirmou que deveria ser feita uma interpretação constitucional do CPC, a fim de que o art. 937, §
3º, que trata apenas sobre o agravo em ação rescisória, mandado de segurança e reclamação, seja
também estendido para o agravo em habeas corpus. Isso porque o habeas corpus é um writ, ou seja, um
remédio constitucional, tal qual o mandado de segurança.
O habeas corpus é uma ação constitucional cuja envergadura é ainda maior que a do mandado de
segurança, por cuidar da liberdade, direito essencial à cidadania.
DIREITO DO TRABALHO
Ao apreciar medida cautelar em ADI, o STF decidiu que a Lei nº 9.601/98, que dispõe sobre o
contrato de trabalho por prazo determinado, não é inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 1764 MC/DF, rel. orig. Min. Sydney Sanches, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 11/4/2019 (Info 937).
Lei nº 9.601/98
A Lei nº 9.601/98 dispõe sobre o contrato de trabalho por prazo determinado.
Ainda em 1998, foi ajuizada uma ADI contra esta lei.
Em 2019, o STF apreciou o pedido de medida cautelar.
O STF, contudo, afirmou que a Lei nº 9.601/98 não dispõe sobre despedida arbitrária ou sem justa causa.
Esta lei trata, na verdade, sobre rescisão antecipada do contrato de trabalho por prazo determinado, o
que deve ser instituído por meio de convenções ou acordos coletivos de trabalho (art. 1º, § 1º).
Logo, a lei está diretamente relacionada com o reconhecimento de negociação coletiva, matéria para a
qual não se exige lei complementar, conforme dispostos no art. 7º, XXVI, da CF/88:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
(...)
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
Inexistência de inconstitucionalidade material com a ampliação das hipóteses de contrato por prazo
determinado
A Lei nº 9.601/98, na época em que foi editada, ampliou as hipóteses de contrato por prazo determinado.
O autor da ADI argumentava que essa ampliação fragilizaria as relações de emprego e prejudicaria o
trabalhador, razão pela qual seria inconstitucional.
O STF não concordou com o argumento.
O objetivo da lei foi o de diminuir os índices de desemprego, de sorte que o contrato por prazo
determinado seria um “mal menor” diante da situação de desemprego.
Vale ressaltar, ainda, que a Lei nº 9.601/98 não acarretou qualquer cerceamento de direitos, tendo em
vista que atualmente, segundo jurisprudência do STF, as negociações trabalhistas prevalecem em relação
à legislação quando se trata de garantia de direitos de trabalhadores, desde que não se extingam nenhum
desses direitos.
A negociação coletiva é hoje um instrumento com muita importância, que tem sido cada vez mais adotada.
A autocomposição de conflitos coletivos de trabalho tem sido também priorizada no texto constitucional.
A intervenção do Estado-juiz nessas relações, portanto, só seria possível nos casos em que essa negociação
não for bem-sucedida.
Nova legislação
A Min. Cármen Lúcia explicou, por fim, que, embora a Lei nº 9.601/98 ainda permaneça em vigor, a
legislação sobre a matéria foi substancialmente modificada no decorrer dos anos.
Em suma:
Ao apreciar medida cautelar em ADI, o STF decidiu que a Lei nº 9.601/98, que dispõe sobre o contrato
de trabalho por prazo determinado, não é inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 1764 MC/DF, rel. orig. Min. Sydney Sanches, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 11/4/2019 (Info 937).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) É constitucional lei estadual que obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a cancelarem a multa
contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo empregatício após a adesão
do contrato. ( )
2) É constitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo, para o exercício
da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores do Estado. ( )
3) É inconstitucional lei estadual ou mesmo emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar,
que trate sobre organização ou funcionamento do TCE. ( )
4) A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88,
não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal
requisito na Constituição Federal. ( )
5) A Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes
de segurança pública, é constitucional, tanto sob o aspecto formal como material. ( )
6) Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF
que negou seguimento ao habeas corpus. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. C 5. C 6. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 8 a 19 de abril de 2019
Decisão Publicada: 1
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
8 A 19 DE ABRIL DE 2019
Lei Complementar nº 166, de 8.4.2019 - Altera a Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001, e a Lei nº
12.414, de 9 de junho de 2011, para dispor sobre os cadastros positivos de crédito e regular a responsabilidade civil dos
operadores. Publicado no DOU em 09.04.2019, Seção 1, Edição nº 68, p. 1.
OUTRAS INFORMAÇÕES
8 A 19 DE ABRIL DE 2019
Decreto nº 9.765, de 11.4.2019 - Institui a Política Nacional de Alfabetização. Publicado no DOU em 11.04.2019,
Seção 1 - Extra, Edição nº 70-A, p. 15.
Decreto nº 9.761, de 11.4.2019 - Aprova a Política Nacional sobre Drogas. Publicado no DOU em 11.04.2019,
Seção 1-Extra, Edição nº 70-A, p. 7.