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Informativo 937-STF
Márcio André Lopes Cavalcante

Processos cujo julgamento ainda não foi concluído em virtude de pedido de vista. Serão comentados assim que chegarem
ao fim: ADI 5450 MC-Ref/DF; ADI 4619/SP; RE 645181/SC; ARE 1.107.296 AgR/PE; Rcl 30742/SP.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
 É constitucional lei estadual que dispensa multa por quebra da fidelidade nos contratos com as empresas de
telefonia em caso de desemprego superveniente do cliente.
 É inconstitucional lei estadual que exija que o pescador, para exercer sua atividade, cadastre-se em entidade privada
(Federação de Pescadores) que cobra taxa por essa fiscalização.

TRIBUNAIS DE CONTAS
 É inconstitucional lei estadual ou emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar, que trate sobre
organização ou funcionamento do TCE.
 É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja regra sobre a organização ou funcionamento do TCE
de forma diferente do modelo federal.

DIREITO ADMINISTRATIVO
ACUMULAÇÃO DE CARGOS
 É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h.

CÓDIGO DE TRÂNSITO
 CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos e multas como condição para que o veículo possa
circular.
 Resolução do CONTRAN não pode estabelecer penalidades, devendo as sanções ser previstas em lei em sentido
formal e material.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


REGISTRO CIVIL
 RCNP pode realizar outros serviços remunerados fora aqueles já previstos na Lei de Registros Públicos, desde que
estejam relacionados com as atividades registrais e o convênio que autoriza essa prática deve ser fiscalizado pelos
órgãos correicionais do Poder Judiciário.

DIREITO PENAL
LAVAGEM DE DINHEIRO
 Não se deve reconhecer a consunção entre corrupção passiva e lavagem quando a propina é recebida no exterior
por meio de transação envolvendo offshore na qual resta evidente a intenção de ocultar os valores.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


USO DE ARMAS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO
 A Lei 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança
pública, é constitucional.

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PRISÃO PREVENTIVA
 A prisão cautelar, portanto, constitui medida de natureza excepcional e não pode ser utilizada como instrumento
de punição antecipada do réu.

HABEAS CORPUS
 Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF que negou
seguimento ao habeas corpus.

DIREITO DO TRABALHO
TRABALHO POR PRAZO DETERMINADO
 A lei do contrato de trabalho por prazo determinado (Lei 9.601/98) é constitucional.

DIREITO CONSTITUCIONAL

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que dispensa multa por quebra da fidelidade nos contratos com as
empresas de telefonia em caso de desemprego superveniente do cliente

É constitucional lei estadual que obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a cancelarem a
multa contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo
empregatício após a adesão do contrato.
STF. Plenário. ADI 4908/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

Lei do RJ isenta multa por quebra da fidelidade nos contratos com as empresas de telefonia em caso de
desemprego
O Rio de Janeiro editou a Lei estadual nº 6.295/2012, que obriga as concessionárias de telefonia fixa e
celular a cancelarem multa contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo
empregatício após a adesão ao contrato. Veja sua redação:
Art. 1º Ficam obrigadas as concessionárias dos serviços de telefonia fixa e celular a cancelarem a
multa contratual de fidelidade, 12 (doze) meses, quando o usuário comprovar que perdeu o
vínculo empregatício após a adesão do contrato.
Art. 2º O não cumprimento do disposto nesta lei sujeitará a concessionária infratora ao pagamento
de multa correspondente a 100 (CEM) Unidades Fiscais de referência do Estado Rio de Janeiro,
por dia.

ADI
A Associação das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei
alegando que ela seria formalmente inconstitucional por violar a competência privativa da União para
legislar sobre os serviços de telecomunicações, prevista no art. 22, IV, da Constituição Federal:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
IV - águas, energia, informática telecomunicações e radiodifusão;

O STF concordou com o pedido?


NÃO. O STF julgou improcedente o pedido e decidiu que:

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É constitucional lei estadual que obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a cancelarem a multa
contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo empregatício após a adesão
do contrato.
STF. Plenário. ADI 4908/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

A referida lei dispõe sobre Direito do Consumidor, de modo que não há vício formal considerando que se
trata de matéria de competência legislativa concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
V - produção e consumo;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

O STF entendeu que esta norma não interfere na estrutura da prestação do serviço público nem no
equilíbrio dos contratos administrativos, razão pela qual não há usurpação da competência legislativa
privativa da União.

DOD PLUS
A discussão sobre até que ponto seria apenas defesa do consumidor ou isso avançaria na regulação dos
“serviços de telecomunicações” é um tema sempre presente na jurisprudência do STF. Veja alguns casos
já decididos pela Corte:

LEI ESTADUAL QUE... É constitu-


cional?

Proíbe que as empresas concessionárias façam o corte do fornecimento de água e luz


por falta de pagamento, em determinados dias. SIM
STF. Plenário. ADI 5961/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/12/2018 (Info 928).

Obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a cancelarem a multa contratual de


fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo empregatício após a SIM
adesão do contrato.
STF. Plenário. ADI 4908/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

Obriga as empresas prestadoras de serviços no Estado (exs: empresas de telefonia, de


TV por assinatura, de energia elétrica etc.) a informarem previamente a seus clientes SIM
os dados do empregado que realizará o serviço na residência do consumidor.
STF. Plenário. ADI 5745/RJ, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 07/02/2019 (Info 929).

Obriga concessionárias a instalarem bloqueadores de celular em presídios. NÃO


STF. Plenário. ADI 4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/8/2016 (Info 833).

Obriga as empresas concessionárias de serviços de telecomunicações a manterem


escritórios regionais e representantes legais para atendimento presencial de
consumidores em cidades com população superior a 100 mil habitantes, bem como a NÃO
divulgarem os correspondentes endereços físicos no site, no contrato de prestação de
serviços e nas faturas enviadas aos usuários.
STF. Plenário. ADI 4633/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/04/2018 .

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COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que exija que o pescador, para exercer sua atividade, cadastre-se
em entidade privada (Federação de Pescadores) que cobra taxa por essa fiscalização

É inconstitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo, para
o exercício da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores do
Estado.
Também é inconstitucional a norma estadual que afirme que a taxa de cadastro e o
fornecimento da habilitação para exercer a atividade de pescador semiprofissional ou
esportivo será definida em Assembleia Geral da Federação de Pescadores do Estado.
Tais disposições invadem a competência da União para editar as normas gerais sobre pesca.
Existe lei federal que regulamenta, de modo unificado, todo o procedimento de habilitação de
pesca com requisitos nacionais.
Além disso, a lei não poderia ter delegado a uma entidade de direito privado (Federação dos
Pescadores) o poder de definir o valor da taxa a ser cobrada.
STF. Plenário. ADI 3829/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

Lei estadual sobre pesca


O Rio Grande do Sul editou a Lei estadual nº 12.557/2006, que instituiu e regulamentou as modalidades
de pesca semiprofissional e esportiva no Estado, delegando à Federação de Pescadores do Rio Grande do
Sul poderes para regular e fiscalizar as atividades do setor.
Em 2006, o Presidente da República ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei,
argumentando que houve usurpação de competência da União para normatizar os aspectos gerais sobre
o tema. Além disso, o autor argumentou que a Lei delegou, de forma inadequada, a uma entidade privada
(Federação de Pescadores) o poder de polícia para supervisionar a atividade pesqueira.
Veja os arts. 2º e 3º da Lei estadual impugnada:
Art. 2º O pescador semiprofissional ou esportivo deverá, anualmente, cadastrar-se e habilitar-se
para o exercício da atividade na Federação de Pescadores do Estado do Rio Grande do Sul, sem
obrigatoriedade de filiação a esse órgão, na forma definida na regulamentação desta Lei.
Parágrafo único. O cadastro a que se refere o caput deverá ser mantido atualizado pela Federação
de Pescadores do Estado do Rio Grande do Sul, bem como remetido, anualmente, aos órgãos
federais responsáveis pela pesca e pelo meio ambiente.

Art. 3º A taxa de cadastro e o fornecimento da habilitação para exercer a atividade de pescador


semiprofissional ou esportivo será definida em Assembleia Geral da Federação de Pescadores do
Estado do Rio Grande do Sul.
Parágrafo único. Reverterão ao Batalhão Ambiental da Brigada Militar 15% (quinze por cento) dos
valores arrecadados com as taxas, com a finalidade de auxiliar o custeio das ações de fiscalização
da pesca no Estado.

O que o STF decidiu?


O STF julgou parcialmente procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade apenas
dos arts. 2º e art. 3º da Lei nº 12.557/2006, do Estado do Rio Grande do Sul.

Competência legislativa em matéria de pesca


A competência para legislar sobre pesca é concorrente, nos termos do art. 24, VI, da CF/88:

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Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;

Nas matérias, do art. 24 da CF/88, a repartição das competências observará a seguinte lógica:
• União: tem competência para estabelecer as normas gerais sobre tais assuntos. Ex: o Congresso Nacional
editou a Lei nº 11.959/2009, que regula as atividades pesqueiras, sendo este diploma considerado como
as “normas gerais” sobre o tema.
• Estados/DF: têm competência para complementar as normas gerais.

Assim, a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a legislação federal editada pela
União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Essa divisão está prevista nos §§ 1º e 2º do art. 24:
Art. 24 (...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer
normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.

Inconstitucionalidade do art. 2º
O art. 2º da lei impugnada, delega para a Federação dos Pescadores a competência para realizar o
procedimento de habilitação da pesca no Estado do Rio Grande do Sul. Ao fazer isso, incorre em vício de
inconstitucionalidade.
Sobre este ponto, vale ressaltar que já existe normatização geral a esse respeito, sendo essa atividade
competência do Ministério da Pesca e da Aquicultura, órgão responsável pelo Registro Geral da Pesca.
Aplica-se aqui o princípio da predominância do interesse, uma vez que a competência atribuída aos
Estados em matéria de pesca não se pode sobrepor ao interesse da União na formulação de uma política
nacional de desenvolvimento sustentável das atividades pesqueiras, o que inclui, manifestamente, o
estabelecimento de regras uniformes de habilitação e licenciamento de pescadores.
Dessa maneira, a habilitação como pescador, seja nas modalidades comerciais ou não comerciais, deve
ser efetuada perante autoridade federal.
Há, portanto, nesse ponto, violação do art. 24, VI, CF/88.

Inconstitucionalidade do art. 3º
Além disso, o art. 2º da lei impugnada, bem como seu art. 3º, violam os art. 5º, XIII; o art. 22, XVI, e art.
21, XXIV; o art. 70, parágrafo único; o art. 149 e o art. 150, todos da Constituição, cuja interpretação
conjunta veda a delegação da prestação dos serviços de cadastro e habilitação das atividades pesqueiras
à Federação de Pescadores do Estado.
Com efeito, o art. 145, II, CF/88, autoriza a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a
instituírem taxas em virtude do exercício do poder de polícia.
O poder de polícia abrange tanto a cobrança de taxas quanto a emissão de autorizações e licenças para
exercício de uma determinada atividade, o que engloba, evidentemente, a habilitação.
O STF entende que as atividades que abrangem esse poder não podem ser delegadas a pessoas jurídicas
de direito privado. Nesse sentido:

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(...) A fiscalização das profissões, por se tratar de uma atividade típica de Estado, que abrange o poder de
polícia, de tributar e de punir, não pode ser delegada (ADI 1.717), excetuando-se a Ordem dos Advogados
do Brasil (ADI 3.026). (...)
STF. 1ª Turma. MS 28469 AgR-segundo, Relator(a) p/ Acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 19/02/2013.

Assim, a lei é inconstitucional ao permitir que uma organização de direito privado faça o arbitramento da
taxa de cadastro.

Em suma:
É inconstitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo, para o
exercício da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores do Estado.
Também é inconstitucional a norma estadual que afirme que a taxa de cadastro e o fornecimento da
habilitação para exercer a atividade de pescador semiprofissional ou esportivo será definida em
Assembleia Geral da Federação de Pescadores do Estado.
Tais disposições invadem a competência da União para editar as normas gerais sobre pesca.
Existe lei federal que regulamenta todo o procedimento de habilitação de pesca com requisitos
nacionais. No diploma federal, entendeu-se necessária a centralização de regras uniformes de
habilitação, licenciamento e credenciamento de pescadores. Cuida-se de norma geral para o controle
dos procedimentos.
Além disso, a lei não poderia ter delegado a uma entidade de direito privado (Federação dos Pescadores)
o poder de definir o valor da taxa a ser cobrada.
STF. Plenário. ADI 3829/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

TRIBUNAIS DE CONTAS
É inconstitucional lei estadual ou emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar,
que trate sobre organização ou funcionamento do TCE
É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja regra sobre a organização ou
funcionamento do TCE de forma diferente do modelo federal

É inconstitucional lei estadual ou emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar,


que trate sobre organização ou funcionamento do TCE
Os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para deflagrar
o processo legislativo que tenha por objeto alterar a sua organização ou o seu funcionamento
(art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88). Trata-se de uma prerrogativa que decorre da
independência e autonomia asseguradas às Cortes de Contas.
Assim, é inconstitucional lei estadual ou mesmo emenda à Constituição do Estado, de iniciativa
parlamentar, que trate sobre organização ou funcionamento do TCE.
A promulgação de emenda à Constituição Estadual não constitui meio apto para contornar
(burlar) a cláusula de iniciativa reservada.
STF. Plenário. ADI 5323/RN, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja regra sobre a organização ou


funcionamento do TCE de forma diferente do modelo federal
O art. 75 da CF/88 estabelece que deverá haver um “espelhamento obrigatório” do modelo de
controle externo do TCU previsto na CF/88 para os Tribunais de Contas dos Estados/DF e para

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os Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. Isso significa que é materialmente


inconstitucional norma da Constituição Estadual que trate sobre a organização ou
funcionamento do TCE de forma diferente do modelo federal. Caso isso ocorra, haverá uma
violação ao art. 75 da Carta Maior.
Diante disso, é inconstitucional dispositivo da CE que preveja que, se o TCE reconhecer a boa-
fé do infrator e se este fizer a liquidação tempestiva do débito ou da multa, a Corte deverá
considerar saneado o processo. Esta regra é inconstitucional porque não há previsão
semelhante na CF/88.
STF. Plenário. ADI 5323/RN, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

A situação concreta foi a seguinte:


Um grupo de Deputados Estaduais apresentou proposta de emenda à Constituição do Estado do Rio
Grande do Norte alterando inúmeras regras previstas na Carta Estadual relacionadas com o Tribunal de
Contas do Estado.
A proposta foi aprovada e, assim, o Presidente da ALE promulgou a Emenda nº 13/2014 à Constituição do
Estado do Rio Grande do Norte, que alterou a redação do art. 53, §§ 3º, 6º e 7º, e do art. 55, §1º, que
dispõem sobre a organização e o funcionamento do TCE.
Veja os dispositivos modificados pela referida emenda constitucional:
Art. 53. O controle externo, a cargo da Assembleia Legislativa, é exercido com o auxílio do Tribunal
de Contas do Estado, ao qual compete:
(...)
II - julgar as contas dos administradores dos três Poderes do Estado e demais responsáveis por
dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, inclusive das fundações,
empresas públicas, autarquias e sociedades instituídas ou mantidas pelo Poder Público, e as
contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo
ao erário;
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão e contratação de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, bem como as concessões de aposentadorias,
reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do
ato concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Assembleia Legislativa, de Comissão técnica ou de inquérito,
ou em razão de denúncia, inspeções e auditorias de natureza financeira, contábil, orçamentária,
operacional e patrimonial nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário e demais entidades referidas no inciso II;
V - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pelo Estado a Município e a instituições
públicas ou privadas;
VI - prestar as informações solicitadas pela Assembleia Legislativa sobre a fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções
realizadas;
VII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as
sanções previstas em lei, que estabelece, dentre outras cominações, multa proporcional ao dano
causado ao erário;
(...)
§ 3º As decisões do Tribunal de Contas, de que resulte imputação de débito ou multa, têm eficácia
de título executivo, devendo a Fazenda Pública Estadual ou Municipal, no âmbito de suas
competências, encaminhá-las para execução, e com o reconhecimento da boa-fé, a liquidação
tempestiva do débito ou multa atualizado monetariamente sanará o processo, se não houver sido
observada outra irregularidade na apreciação das contas.

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(...)
§ 6º As decisões do Tribunal de Contas do Estado, relativas à legalidade dos atos referentes às
atribuições de que tratam os incisos II, III, IV, V, VI e VII, deste artigo, inclusive no tocante aos
Municípios, são tomadas no prazo de sessenta (60) dias, contados da data em que for concluído o
trabalho da sua secretaria, o qual não pode ultrapassar noventa (90) dias.
§ 7º. O Tribunal de Contas, até o dia cinco (5) de julho do ano em que houver eleição no Estado,
encaminhará à Justiça Eleitoral e ao Ministério Público Eleitoral relação dos que tiveram suas
contas rejeitadas por irregularidade insanável, a qual configure ato doloso de improbidade
administrativa, assim declarado na respectiva decisão irrecorrível.

Art. 55 (...)
§ 1º O controle interno, do Tribunal de Contas do Estado e do Ministério Público, fica sujeito aos
sistemas normativos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, respectivamente.

Essa emenda foi impugnada no STF por meio de ADI. O que o STF decidiu? A ação foi julgada procedente?
SIM. O STF declarou a inconstitucionalidade formal e material dos arts. 53, §§6º e 7º, e 55, §1º, da
Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, por ofensa aos arts. 73, 75 e 96, II, da Constituição Federal.

INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
Inconstitucionalidade formal
Há, no presente caso, inconstitucionalidade FORMAL SUBJETIVA ou ORGÂNICA, por vício de iniciativa.
A Constituição Federal confere aos Tribunais de Contas as prerrogativas da autonomia e do autogoverno,
o que inclui a iniciativa reservada para iniciar os projetos de lei que tratem sobre seus próprios cargos, sua
organização e seu funcionamento. Isso se encontra previsto no art. 96, II, “b” e “d”, da CF/88:
Art. 96. Compete privativamente:
(...)
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao
Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que
lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive
dos tribunais inferiores, onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;

Esses dispositivos tratam sobre a organização e funcionamento do Tribunal de Contas estadual


sem que o processo legislativo tenha sido iniciado pela Corte de Contas, o que viola, portanto, o
art. 96, da CF/88.

Mas esse art. 96 da CF/88 aplica-se aos Tribunais de Contas?


SIM. Por força de expressa remissão feita pelo art. 73 da CF/88:
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal,
quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber,
as atribuições previstas no art. 96.

Desse modo, os Tribunais de Contas, assim como o Poder Judiciário, possuem competência privativa para
iniciar o processo legislativo relativamente às matérias previstas no art. 96, II, da Constituição Federal.

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Logo, esta emenda constitucional aprovada pela ALE/RN, de iniciativa parlamentar, ao tratar sobre as
competências do Tribunal de Constas, violou a reserva de iniciativa legislativa privativa do próprio Tribunal
de Contas.

E os arts. 73 e 96 da CF/88 são válidos também para os Tribunais de Contas dos Estados?
SIM. Os Tribunais de Contas dos Estados, por sua vez, são organizados pelas Constituições Estaduais.
Contudo, por força do princípio da simetria, as regras do TCU também são aplicadas, no que couber, aos
TCE’s, conforme determina o art. 75 da CF:
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização,
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como
dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos,
que serão integrados por sete Conselheiros.

Vale ressaltar que neste caso, não estamos falando de “lei” e sim de “emenda constitucional”. Mesmo
assim, os Deputados Estaduais estão proibidos deflagrar o processo legislativo?
SIM.
No modelo federativo, a autonomia dos Estados não é plena, uma vez balizada pela Constituição Federal.
Assim, o poder constituinte reformador nos Estados não ostenta a mesma amplitude do poder
constituinte reformador da Constituição Federal.
Desse modo, as regras de reserva de iniciativa previstas na Constituição Federal não podem ser burladas
pelo poder constituinte reformador dos Estados.
Em virtude disso, não é possível que uma emenda à Constituição Estadual, de iniciativa parlamentar, trate
sobre os assuntos previstos no art. 96, II, da CF/88.
Vale ressaltar que esse mesmo entendimento não se aplica para emendas à Constituição Federal.

Vou explicar melhor esse ponto com uma pergunta: é possível emenda constitucional, de iniciativa
parlamentar, tratando sobre os assuntos do art. 96, II, da CF/88?
• Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM.
• Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO.

Por que existe essa diferença de tratamento entre emenda à Constituição Federal e emenda à
Constituição Estadual?
O poder constituinte estadual não é originário. É poder constituído, cercado por limites mais rígidos do
que o poder constituinte federal. A regra da simetria é um exemplo dessa limitação. Por essa razão, as
Assembleias Legislativas se submetem a limites mais rigorosos quando pretendem emendar as
Constituições Estaduais.
Assim, se os Deputados Estaduais apresentam emenda à Constituição Estadual tratando sobre os assuntos
do art. 96, II, da CF/88 eles estão, em última análise, violando a própria regra da Constituição Federal.
Assim, é incabível que os Deputados Estaduais proponham uma emenda constitucional dispondo sobre o
Tribunal de Contas do Estado. Se isso fosse permitido, seria uma forma de burlar a regra do art. 96, II c/c
art. 73, da CF/88.
Por outro lado, seria possível, em tese, que 1/3 dos Deputados Federais propusessem uma emenda à
Constituição Federal tratando sobre o TCU.

Em suma:
Os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para deflagrar o processo
legislativo que tenha por objeto alterar a sua organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts.

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73 e 75 da CF/88). Trata-se de uma prerrogativa que decorre da independência e autonomia asseguradas


às Cortes de Contas.
Assim, é inconstitucional lei estadual ou mesmo emenda à Constituição do Estado, de iniciativa
parlamentar, que trate sobre organização ou funcionamento do TCE.
A promulgação de emenda à Constituição Estadual não constitui meio apto para contornar (burlar) a
cláusula de iniciativa reservada.
STF. Plenário. ADI 5323/RN, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL
Além do vício acima explicado, os dispositivos impugnados também apresentam inconstitucionalidade
material.
O art. 75 da CF/88 estabelece um “espelhamento obrigatório” do modelo do TCU para os Tribunais de
Contas dos Estados:
(...) A Constituição Federal é clara ao determinar, em seu art. 75, que as normas constitucionais que
conformam o modelo federal de organização do Tribunal de Contas da União são de observância
compulsória pelas Constituições dos Estados-membros. (...)
STF. Plenário. ADI 3715, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/08/2014.

Em razão disso, é inconstitucional norma da Constituição Estadual que trate sobre a organização ou
funcionamento do TCE de forma diferente do modelo federal.

§ 3º do art. 53
Vejamos o caso do § 3º do art. 53, da CE/RN. Vamos comparar o que ele diz com aquilo que é previsto na
CF/88:
CF/88 CE/RN
Art. 71 (...) Art. 53 (...)
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte § 3º As decisões do Tribunal de Contas, de que
imputação de débito ou multa terão eficácia de resulte imputação de débito ou multa, têm
título executivo. eficácia de título executivo, devendo a Fazenda
Pública Estadual ou Municipal, no âmbito de suas
competências, encaminhá-las para execução, e
com o reconhecimento da boa-fé, a liquidação
tempestiva do débito ou multa atualizado
monetariamente sanará o processo, se não houver
sido observada outra irregularidade na apreciação
das contas.

O § 3º pode ser dividido em três partes:


1) a primeira parte (“As decisões do Tribunal de Contas, de que resulte imputação de débito ou multa, têm
eficácia de título executivo”) repete a regra do art. 71, § 3º, da CF/88. Logo, é constitucional.
2) a segunda parte (“devendo a Fazenda Pública Estadual ou Municipal, no âmbito de suas competências,
encaminhá-las para execução”) apenas explicita as atribuições procedimentais regulares da fazenda
pública relacionadas à execução de condenações impostas pelas Cortes de Contas. Desse modo, também
é constitucional.
3) o trecho final, contudo, apresenta um vício. Diz ele o seguinte: “com o reconhecimento da boa-fé, a
liquidação tempestiva do débito ou multa atualizado monetariamente sanará o processo, se não houver
sido observada outra irregularidade na apreciação das contas”. Ao estabelecer isso, esta parte final do §
3º do art. 53 da CE/RN desvia-se do parâmetro de referência do modelo federal (o art. 71, § 3º, da CF/88)
e cria uma nova hipótese de saneamento de processos de tomada ou prestação de contas.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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§ 1º do art. 55
A norma segundo a qual “o controle interno do Tribunal de Contas do Estado fica sujeito aos sistemas
normativo do Poder Legislativo”, prevista no art. 55, § 1º, da CE/RN mostra-se materialmente incompatível
com as prerrogativas de independência funcional e autonomia administrativa asseguradas aos Tribunais
de Contas.

§§ 6º e 7º do art. 53
Os §§ 6º e 7º do art. 53 da CE/RN foram também declarados inconstitucionais porque preveem regras
diferentes do modelo federal incorrendo, portanto, em inconstitucionalidade material por afronta ao art.
75 da CF/88.

Sintetizando:
O art. 75 da CF/88 estabelece que deverá haver um “espelhamento obrigatório” do modelo de controle
externo do TCU previsto na CF/88 para os Tribunais de Contas dos Estados/DF e para os Tribunais e
Conselhos de Contas dos Municípios. Isso significa que é materialmente inconstitucional norma da
Constituição Estadual que trate sobre a organização ou funcionamento do TCE de forma diferente do
modelo federal. Caso isso ocorra, haverá uma violação ao art. 75 da Carta Maior.
Diante disso, é inconstitucional dispositivo da CE que preveja que, se o TCE reconhecer a boa-fé do
infrator e se este fizer a liquidação tempestiva do débito ou da multa, a Corte deverá considerar saneado
o processo. Esta regra é inconstitucional porque não há previsão semelhante na CF/88.
STF. Plenário. ADI 5323/RN, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

DIREITO ADMINISTRATIVO

ACUMULAÇÃO DE CARGOS
É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

Importante!!!
A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da
CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional,
pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.
O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício
das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
STF. 1ª Turma. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/4/2019 (Info 937).
STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.
STJ. 1ª Seção. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 27/03/2019.

É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público?


REGRA: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos.
EXCEÇÕES: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;


c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;

No caso dos servidores públicos federais, importante mencionar que o tema foi regulamentado pela Lei
nº 8.112/90:
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação remunerada de
cargos públicos.
(...)
§ 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da compatibilidade de
horários.

Parecer-AGU nº GQ-145/98*
Com o objetivo de disciplinar a matéria, a Advocacia Geral da União (AGU) emitiu, em 1998, o parecer nº
GQ-145, vinculante, afirmando que o servidor somente poderia acumular cargos se houver
compatibilidade de horário e desde que a jornada máxima não ultrapasse 60 horas semanais.
Assim, para a AGU, mesmo que existisse compatibilidade de horários, se a jornada semanal ficasse acima
de 60 horas, a acumulação não seria permitida, considerando que o servidor estaria muito cansado e isso
atrapalharia seu desempenho funcional, em prejuízo ao princípio constitucional da eficiência.
* Obs: esse parecer foi revogado em abril/2019.

Os servidores não concordaram com este entendimento e recorreram à Justiça para que pudessem
manter a acumulação de cargos mesmo se a jornada semanal for superior a 60 horas. A jurisprudência
acolhe o pedido dos servidores? É possível que o servidor acumule dois cargos públicos mesmo que a
soma das jornadas ultrapasse 60 horas semanais?
SIM. É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h:
A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88,
não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal
requisito na Constituição Federal.
O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício das
funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
STF. 1ª Turma. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/4/2019 (Info 937).
STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.
STJ. 1ª Seção. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 27/03/2019.

O fundamento é constitucional.
Ora, a Constituição Federal em nenhum momento exigiu que a jornada semanal dos dois cargos fosse de
até 60 horas. O único requisito estabelecido pela CF/88 para a acumulação é a compatibilidade de horários
no exercício das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
Logo, essa exigência feita por norma infraconstitucional de que a jornada seja de até 60 horas está além
daquilo que a Constituição impôs, sendo, portanto, indevida.
Assim, quando houver compatibilidade de horários, a existência de norma infraconstitucional limitadora
de jornada semanal de trabalho não constitui óbice ao reconhecimento da cumulação de cargos prevista
no art. 37, XVI, da Constituição Federal.

Posição do TCU
A jurisprudência atual do TCU é no sentido de que a questão da incompatibilidade de horários entre os
cargos acumuláveis deve ser estudada caso a caso, sem a limitação objetiva de 60 horas semanais.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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Nesse sentido: Acórdãos 1.338/2011-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Augusto Nardes, e


1.168/2012-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro José Jorge.

Revogação do Parecer-AGU nº GQ-145/98


Em abril de 2019, a AGU exarou novo parecer revogando o Parecer-AGU nº GQ-145/98.
A nova posição institucional da AGU é a seguinte:
É inválida a regulamentação administrativa que impõe limitação de carga horária semanal como
empecilho para a acumulação de cargos públicos.

CÓDIGO DE TRÂNSITO
CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos
e multas como condição para que o veículo possa circular

Resolução do CONTRAN não pode estabelecer penalidades,


devendo as sanções ser previstas em lei em sentido formal e material

CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos e multas como condição para
que o veículo possa circular
O CTB prevê que só poderá ser expedido novo certificado de registro de veículo e novo
certificado de licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos a
tributos, encargos e multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade
pelas infrações cometidas (arts. 124, VIII, 128, e 131, § 2º). Tais dispositivos são
constitucionais e não limitam o direito de propriedade. Além disso, não se constituem em
sanções políticas.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 10/04/2019 (Info 937).

Resolução do CONTRAN não pode estabelecer penalidades, devendo as sanções ser previstas em
lei em sentido formal e material
O art. 161 do CTB prevê que:
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código, da
legislação complementar ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às
penalidades e medidas administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas
no Capítulo XIX.
Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às resoluções do CONTRAN terão suas
penalidades e medidas administrativas definidas nas próprias resoluções.
O STF conferiu interpretação conforme a Constituição, para declarar inconstitucional a
possibilidade do estabelecimento de sanção por parte do CONTRAN, como se órgão legislativo
fosse, visto que as penalidades têm de estar previstas em lei em sentido formal e material.
Além disso, o Tribunal declarou a nulidade da expressão “ou das Resoluções do Contran”
presente neste artigo.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 10/04/2019 (Info 937).

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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ADI proposta contra o CTB


Em 2003, o Conselho Federal da OAB ajuizou ADI contra alguns dispositivos do Código de Trânsito
Brasileiro (Lei nº 9503/97).
Para facilitar o entendimento, podemos dizer que a ADI tinha por objetivo questionar dois “grupos” de
dispositivos que teriam vícios diferentes:

1ª parte da ADI
Questionava dispositivos do CTB que preveem que só poderá ser expedido novo certificado de registro de
veículo e novo certificado de licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos
a tributos, encargos e multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas
infrações cometidas.
Assim, tais dispositivos afirmam que o proprietário só pode utilizar o veículo se pagar os tributos, encargos
e multas. Para a OAB, isso ofenderia o direito de propriedade e configuraria “sanção política” (prática
considerada inconstitucional).
Vou abrir aqui um parêntese para você relembrar em que consiste a sanção política:

Cobrança do tributo por vias oblíquas (sanções políticas)


A Fazenda Pública deverá cobrar os tributos em débito mediante os meios judiciais (execução fiscal) ou
extrajudiciais (lançamento tributário, protesto de CDA) legalmente previstos. O Fisco possui, portanto,
instrumentos legais para satisfazer seus créditos.
Justamente por isso, a Administração Pública não pode proceder à cobrança do tributo por meios
indiretos, impedindo, cerceando ou dificultando a atividade econômica desenvolvida pelo contribuinte
devedor. Quando isso ocorre, a jurisprudência afirma que o Poder Público aplicou “sanções políticas”, ou
seja, formas “enviesadas de constranger o contribuinte, por vias oblíquas, ao recolhimento do crédito
tributário” (STF ADI 173). Exs.: apreensão de mercadorias, não liberação de documentos, interdição de
estabelecimentos.
A cobrança do tributo por vias oblíquas (sanções políticas) é rechaçada por quatro súmulas do STF e STJ:
Súmula 70-STF: É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de
tributo.
Súmula 323-STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de
tributos.
Súmula 547-STF: Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas,
despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais.
Súmula 127-STJ: É ilegal condicionar a renovação da licença de veículo ao pagamento de multa, da qual o
infrator não foi notificado.

Desse modo, a orientação jurisprudencial do STF e do STJ é a de que o Estado não pode adotar sanções
políticas, que se caracterizam pela utilização de meios de coerção indireta que impeçam ou dificultem o
exercício da atividade econômica, para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos em atraso,
estando o ente público vinculado ao procedimento de execução fiscal para a cobrança de seus créditos,
no qual é assegurado ao devedor, o devido processo legal.

Fechando o parêntese e voltando à ADI:


Veja a redação dos dispositivos que foram impugnados:
Art. 124. Para a expedição do novo Certificado de Registro de Veículo serão exigidos os seguintes
documentos:
(...)
VIII - comprovante de quitação de débitos relativos a tributos, encargos e multas de trânsito
vinculados ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas;

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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Art. 128. Não será expedido novo Certificado de Registro de Veículo enquanto houver débitos
fiscais e de multas de trânsito e ambientais, vinculadas ao veículo, independentemente da
responsabilidade pelas infrações cometidas.

Art. 131 (...)


§ 2º O veículo somente será considerado licenciado estando quitados os débitos relativos a
tributos, encargos e multas de trânsito e ambientais, vinculados ao veículo, independentemente
da responsabilidade pelas infrações cometidas.

O STF concordou com o pedido? Tais dispositivos são inconstitucionais?


NÃO.
As exigências contidas nos arts. 124, VIII, 128, e 131, § 2º são constitucionais e não limitam o direito de
propriedade. Além disso, não se constituem em sanções políticas.
A circulação dos veículos pressupõe o atendimento das formalidades legais e, por isso, a renovação da
licença se dá anualmente. Não se trata de limitar o direito à propriedade, tampouco de coação política
com o propósito de arrecadar o que é devido. São exigências relacionadas com a fiscalização da circulação
dos veículos automotores.

2ª parte da ADI
A 2ª parte da ADI questionava o art. 161 do CTB que estabelece que resolução do CONTRAN pode impor
sanções administrativas:
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código, da
legislação complementar ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às penalidades
e medidas administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas no Capítulo XIX.
Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às resoluções do CONTRAN terão suas
penalidades e medidas administrativas definidas nas próprias resoluções.
Para a OAB, esse dispositivo seria inconstitucional, pois a possibilidade de edição, pelo CONTRAN, de
resoluções com previsão de sanções administrativas sem a instauração do correspondente processo
administrativo violaria o princípio da legalidade (art. 5º, II, da CF/88).

O que o STF decidiu quanto a esta parte da ADI?


O STF conferiu interpretação conforme a Constituição, para declarar inconstitucional a possibilidade do
estabelecimento de sanção por parte do CONTRAN, como se órgão legislativo fosse, visto que as
penalidades têm de estar previstas em lei em sentido formal e material.
Assim, por ato administrativo secundário, não é possível inovar na ordem jurídica.
Desse modo, o STF declarou a nulidade da expressão “ou das Resoluções do Contran” constante do art.
161, caput, do CTB.

Em suma:
O CTB prevê que só poderá ser expedido novo certificado de registro de veículo e novo certificado de
licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos a tributos, encargos e
multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas (arts.
124, VIII, 128, e 131, § 2º). Tais dispositivos são constitucionais e não limitam o direito de propriedade.
Além disso, não se constituem em sanções políticas.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
10/04/2019 (Info 937).

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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O art. 161 do CTB prevê que:


Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código, da legislação
complementar ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às penalidades e medidas
administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas no Capítulo XIX.
Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às resoluções do CONTRAN terão suas penalidades
e medidas administrativas definidas nas próprias resoluções.
O STF conferiu interpretação conforme a Constituição, para declarar inconstitucional a possibilidade do
estabelecimento de sanção por parte do CONTRAN, como se órgão legislativo fosse, visto que as
penalidades têm de estar previstas em lei em sentido formal e material.
Além disso, o Tribunal declarou a nulidade da expressão “ou das Resoluções do Contran” presente neste
artigo.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
10/04/2019 (Info 937).

DIREITO NOTARIAL E
REGISTRAL

REGISTRO CIVIL
RCNP pode realizar outros serviços remunerados fora aqueles já previstos na Lei de Registros
Públicos, desde que estejam relacionados com as atividades registrais e o convênio que autoriza
essa prática deve ser fiscalizado pelos órgãos correicionais do Poder Judiciário

A Lei nº 13.484/2017 inseriu os §§ 3º e 4º ao art. 29 da Lei dos Registros Públicos prevendo o


seguinte:
§ 3º Os ofícios do registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e
estão autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em
credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas.
§ 4º O convênio referido no § 3º deste artigo independe de homologação e será firmado pela
entidade de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma abrangência
territorial do órgão ou da entidade interessada.
Ao julgar uma ADI proposta contra esses dois dispositivos, o STF decidiu:
• conceder interpretação conforme a Constituição Federal ao § 3º do art. 29 para dizer que os
“outros serviços remunerados” devem, obrigatoriamente, ter alguma relação com o exercício
das atividades registrais do RCNP. Vale ressaltar, portanto, que a ampliação das competências
do RCPN foi uma inovação constitucional. No entanto, esses novos serviços devem ter relação
com as atividades do RCPN previstas na Lei de Registros Públicos;
• declarar a nulidade parcial, com redução de texto, da expressão “independe de homologação”
constante do § 4º do mesmo art. 29. A fiscalização prévia e posterior dos convênios pelo Poder
Judiciário é uma exigência constitucional e não pode ser suprimida pela lei.
STF. Plenário. ADI 5855 MC-REF/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/4/2019 (Info 937).

RCPN
No Registro Civil de Pessoas Naturais (RCPN) são feitos os registros de nascimentos, casamentos,
conversões de união estável em casamento, óbitos, emancipações, entre outros previstos no art. 29 da
Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos).

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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Em virtude da relevância social desse registro, existe um cartório de RCPN em praticamente todo
Município do Brasil.
Vale ressaltar que a arrecadação dos Registradores Civis é baixa e, em algumas cidades do interior, muitos
cartórios são deficitários, ou seja, praticamente têm prejuízo. Em Municípios pobres, algumas vezes é até
difícil fazer o provimento desses cartórios por falta de interessados. Atenção: não estou falando de
cartórios de Registro de Imóveis, Tabelionatos de Notas ou de Protesto, onde o cenário pode ser bem
diverso. Refiro-me aqui ao RCPN, que possui uma realidade completamente diferente do que se imagina
em termos de faturamento de cartórios.

Lei nº 13.484/2017
O que fez, então, a Lei nº 13.484/2017: decidiu aproveitar a capilaridade dos cartórios do RCPN (sua
presença maciça nos Municípios) e também incrementar a arrecadação dessas serventias.
Para tanto, a Lei nº 13.484/2017 autorizou que os cartórios de RCPN prestem outros serviços remunerados
à população. Veja os §§ 3º e 4º, que foram acrescentados pela Lei nº 13.484/2017 ao art. 29 da Lei de
Registros Públicos:
Art. 29 (...)
§ 3º Os ofícios do registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão
autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em
credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas.
§ 4º O convênio referido no § 3º deste artigo independe de homologação e será firmado pela
entidade de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma abrangência territorial
do órgão ou da entidade interessada.

Foi dito, pela doutrina, que essa alteração transformou os cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais
em ofícios da cidadania.
Exemplos desses outros serviços passaram a poder ser prestados pelos cartórios: emissão de RG, CPF,
passaporte etc.

ADI
O Partido Republicano Brasileiro (PRB) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra a inclusão
desses §§ 3º e 4º no art. 29.
O autor da ADI argumentou que houve inconstitucionalidade formal por duas razões:
• teria havido contrabando legislativo;
• a Lei nº 13.484/2017 é fruto de uma medida provisória (MP 776/2017) e neste caso não haveria urgência
que justificasse a edição da medida. Logo, teria havido violação ao art. 62 da CF/88.

Além disso, teria havido também inconstitucionalidade pelo fato de a lei conferir a possibilidade de os
Registros de Pessoas Naturais desempenharem serviços totalmente estranhos às atividades registrais.
Vejamos com calma cada um desses pontos.

Contrabando legislativo
A Lei nº 13.484/2017 é fruto da conversão da conversão em lei da MP 776/2017.
Vale ressaltar que a MP 776/2017, quando foi publicada pelo Presidente da República, tratou unicamente
de um assunto: naturalidade facultativa, ou seja, a MP alterou os arts. 19, 54 e 70 da Lei nº 6.015/73 para
permitir que crianças nascidas em hospitais distantes de suas cidades de origem fossem registradas como
naturais da cidade do domicílio da mãe, e não necessariamente do local do nascimento.
A MP quando chega ao Congresso Nacional tramita como se fosse um projeto de lei ordinária (com
algumas peculiaridades). Assim, é possível, guardadas algumas limitações, que os Deputados e Senadores
proponham emendas alterando, suprimindo ou acrescentando novos dispositivos à MP.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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Desse modo, durante a tramitação da MP 776/2017, houve uma emenda parlamentar prevendo a inserção
dos §§ 3º e 4º do art. 29 da Lei nº 6.015/73 visto acima. Em outras palavras, é como se um Deputado
tivesse falado o seguinte: concordo com a MP proposta pelo Presidente da República, mas já que ele está
alterando a Lei de Registros Públicos, proponho modificar também o art. 29 para acrescentar dois novos
parágrafos para permitir que os RCPNs tenham novos serviços.
Esta emenda parlamentar foi aprovada e a Lei nº 13.484/2017, além do texto original da MP, promoveu
mais esta alteração na Lei de Registros Públicos.
Ocorre que o autor da ADI afirmou que essa emenda representou um contrabando legislativo.
O contrabando legislativo consiste na inserção, por meio de emenda parlamentar, de assunto diferente
do que é tratado na medida provisória que tramita no Congresso Nacional.
O contrabando legislativo é uma prática vedada. No entendimento do STF:
É incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência temática com
medida provisória submetida à sua apreciação. Assim, como essa emenda versa sobre assunto diverso do
que é tratado na medida provisória, deve-se considerá-la inconstitucional.
O uso de medidas provisórias se dá por motivos de urgência e relevância da matéria, cuja análise compete
ao chefe do Poder Executivo. Logo, toda e qualquer emenda parlamentar em projeto de conversão de
medida provisória em lei deve ficar restrita ao tema definido como urgente e relevante.
STF. Plenário. ADI 5012/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/3/2017 (Info 857).

O que o STF decidiu? Houve contrabando legislativo?


NÃO.
A MP 776/2017, em sua proposição, pretendia alterar a LRP e tratava da “naturalidade facultativa”. Assim,
a medida provisória tinha por objetivo melhorar a prestação do serviço público registral, melhorar sua
eficiência, diminuir o sub-registro, aumentar a acessibilidade da população, inclusive em face da
capilaridade das serventias extrajudiciais de registro civil de pessoas naturais.
Logo, não houve “contrabando legislativo”, pois a emenda parlamentar que trouxe o acréscimo dos §§ 3º
e 4º ao art. 29 da LRP ampliou a ideia original da medida provisória.
A transformação dos RCPNs em ofícios da cidadania caracteriza providência situada no domínio temático
semelhante ao da proposição encaminhada pelo presidente da República.
Existe pertinência temática entre a redação originária da medida provisória e a emenda parlamentar
apresentada, que permitiu o aumento das atividades desempenhadas pelos oficiais do registro civil das
pessoas naturais. Em outras palavras, há uma proximidade/afinidade do tema tratado na emenda
parlamentar com o assunto disciplinado originalmente na medida provisória.
Não se pode interpretar a vedação ao contrabando legislativo de forma muito ampla, sob pena de o
Congresso Nacional ficar totalmente tolhido na apresentação de emendas.
Assim, inadmitir a ampliação da finalidade de medida provisória resultaria na compreensão de ser o
Congresso Nacional mero chancelador do ato normativo. A iniciativa parlamentar merece deferência, uma
vez que a emenda cuidou do mesmo escopo (objetivo): favorecer acessibilidade da população a serviços
e utilidades públicas que possam ser prestados pelos registradores.

Houve violação ao art. 62 da CF/88 pelo fato de o assunto tratado na MP não ser urgente?
NÃO. O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas provisórias
em caso de relevância e urgência.
Em regra, não cabe ao Poder Judiciário verificar os requisitos da MP porque configuram conceitos jurídicos
indeterminados que estão situados dentro da discricionariedade política do Poder Executivo.
Somente em caráter excepcional é possível o controle jurisdicional destes requisitos, quando existir abuso
de poder ou a ausência destes pressupostos for evidente.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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No caso concreto, o Presidente da República e o Congresso Nacional entenderam estarem presentes esses
requisitos, não havendo situação extrema que autorize o Poder Judiciário a substituir a análise subjetiva
desses requisitos.

A ampliação dos serviços do RCPN, por si só, foi uma inovação inconstitucional?
NÃO. Ao contrário. O STF afirmou que a ampliação das competências do RCPN foi uma medida relevante,
que teve como objetivo conferir maior comodidade no acesso a serviços de cadastro e documentação.
Isso melhora o exercício da cidadania pela população, principalmente pela parcela socialmente
desfavorecida econômica ou geograficamente.
Assim, a possibilidade de ampliação dos serviços do RCPN não representa inconstitucionalidade material.

Outros serviços remunerados devem ter relação com as atividades do RCPN (intepretação conforme do
§ 3º do art. 29)
O § 3º do art. 29 precisa, contudo, de uma intepretação conforme à Constituição. Isso porque não se pode
ampliar em demasia a expressão “outros serviços remunerados” presente neste dispositivo. Vamos
relembrar a sua redação:
Art. 29 (...)
§ 3º Os ofícios do registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão
autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em
credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas. (parágrafo
inserido pela Lei nº 13.484/2017)

Assim, o STF disse que os “outros serviços remunerados” devem, obrigatoriamente, ter alguma relação
com o exercício das atividades delegadas, ou seja, deve ter afinidade (semelhança) com os serviços
registrais. Exemplos de outros serviços remunerados que podem ser desempenhados: emissão de
certidões e de documentos públicos.
Desse modo, é salutar a ampliação, mas desde que haja pertinência temática com os serviços registrais.
Nessa linha, o STF afirmou que o CNJ agiu corretamente ao editar o Provimento 66/2018, que dispõe sobre
a prestação de serviços pelos ofícios de registro civil das pessoas naturais.
Este Provimento prevê que o RCPN pode prestar outros serviços, mas desde que relacionados com à
identificação dos cidadãos:
Art. 2º As serventias de registro civil das pessoas naturais do Brasil poderão, mediante convênio,
credenciamento ou matrícula com órgãos públicos, prestar serviços públicos relacionados à
identificação dos cidadãos, visando auxiliar a emissão de documentos pelos órgãos responsáveis.
Parágrafo único. Os serviços públicos referentes à identificação dos cidadãos são aqueles
inerentes à atividade registral que tenham por objetivo a identificação do conjunto de atributos
de uma pessoa, tais como biometria, fotografia, cadastro de pessoa física e passaporte.

Convênio está sujeito à fiscalização (nulidade parcial de trecho do § 4º do art. 29)


O § 4º do art. 29 diz que o convênio celebrado para permitir que os RCPN possam desempenhar “outros
serviços remunerados” é um convênio que não precisa de homologação. Veja:
Art. 29 (...)
§ 4º O convênio referido no § 3º deste artigo independe de homologação e será firmado pela
entidade de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma abrangência territorial
do órgão ou da entidade interessada.

O STF declarou a inconstitucionalidade dessa expressão “independe de homologação”.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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Para o STF, este trecho específico do § 4º não versa sobre “registros públicos”, matéria que é de
competência da União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88. Essa expressão “independe de homologação”
está relacionada com a atividade fiscalizatória que a CF/88 confere aos Tribunais de Justiça (por meio de
suas Corregedorias) e ao CNJ.
A fiscalização prévia e posterior dos convênios pelo Poder Judiciário é uma exigência constitucional e não
pode ser suprimida por legislação federal. Os convênios dependem de homologação. Por isso, retirou-se
a expressão “independe de homologação” do texto do § 4º.

Remuneração dos serviços deve ser fixada por lei estadual de iniciativa do TJ
Por fim, o STF afirmou que a remuneração dos serviços deve ser previamente fixada em lei de iniciativa
do Poder Judiciário local.

Em suma:
O STF, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ADI decidindo:
• conceder interpretação conforme a Constituição Federal ao § 3º do art. 29 para dizer que os “outros
serviços remunerados” devem, obrigatoriamente, ter alguma relação com o exercício das atividades
registrais do RCNP;
• declarar a nulidade parcial, com redução de texto, da expressão “independe de homologação”
constante do § 4º do mesmo art. 29.
STF. Plenário. ADI 5855 MC-REF/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/4/2019 (Info 937).

DIREITO PENAL

LAVAGEM DE DINHEIRO
Não se deve reconhecer a consunção entre corrupção passiva e lavagem quando a propina é
recebida no exterior por meio de transação envolvendo offshore na qual resta evidente a
intenção de ocultar os valores

Eduardo Cunha foi condenado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
evasão de divisas, por ter solicitado e recebido dinheiro de uma empresa privada para
interferir em um contrato com a Petrobrás.
A propina teria sido acertada entre o indivíduo chamado “IC”, proprietário da empresa
beneficiada, e “JL”, ex-Diretor Internacional da Petrobrás. O pagamento foi realizado mediante
transferências para contas secretas no exterior.
O STF entendeu que não se podia reconhecer a consunção entre a corrupção passiva e a
lavagem, considerando que não houve simples pagamento da propina para interposta pessoa,
mas sim pagamento mediante utilização de contas secretas no exterior em nome de uma
offshore, de um lado, e de um trust, de outro, e da realização de transação por meio da qual a
propina foi depositada e ocultada em local seguro. Logo, ficou demonstrada da autonomia
entre os delitos.
STF. 2ª Turma. HC 165036/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/4/2019 (Info 937).

O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte:


O ex-Deputado Federal Eduardo Cunha foi condenado a 15 anos e 4 meses de reclusão pela prática dos
crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, por ter solicitado e recebido cerca
de 1.311.700 francos suíços de uma empresa privada para interferir em um contrato com a Petrobrás.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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A propina teria sido acertada entre o indivíduo chamado “IC”, proprietário da empresa beneficiada, e “JL”,
ex-Diretor Internacional da Petrobrás.
O pagamento foi realizado mediante transferências para contas secretas no exterior.
Eduardo Cunha impetrou habeas corpus no STF no qual sustenta:
a) a consunção entre os crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro; e
b) como pedido subsidiário, o reconhecimento da ocorrência de concurso formal de crimes entre os atos
de corrupção passiva, de lavagem de dinheiro e de evasão de divisas.

O STF acolheu as teses defensivas?


NÃO.

Autonomia entre a corrupção passiva e a lavagem de dinheiro


O impetrante sustentava a consunção dos crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro, pois
ambos os tipos teriam sido realizados por Eduardo Cunha por meio de uma única conduta, o recebimento
das vantagens indevidas nas contas secretas sediadas no exterior.
A tese não foi acolhida.
No presente caso, foram realizadas sucessivas transações com a finalidade de possibilitar a ocultação e a
dissimulação do resultado patrimonial da corrupção passiva. Assim, o cenário descrito não retrata apenas
uma simples percepção de vantagem indevida por intermédio de terceira pessoa, mas a ocultação dos
recursos e a dissimulação de sua titularidade, com aptidão da conduta de conferir aparência de licitude ao
objeto material do delito de corrupção, propiciando-se fruição oportuna.
O Min. Edson Fachin destacou que o caso de Cunha não se confunde com o julgamento do ex-Deputado
Federal João Paulo Cunha na Ação Penal 470 (“Mensalão”), quando o parlamentar foi condenado por
corrupção passiva, mas absolvido do crime de lavagem de dinheiro em razão do fato de a propina ter sido
sacada em espécie por sua esposa no banco. Conforme destacou o relator, no caso em questão, não se
trata de mero pagamento a interposta pessoa, mas sim de pagamento mediante utilização de contas
secretas no exterior em nome de uma offshore, de um lado, e de um trust, de outro, e da realização de
transação por meio da qual a propina é depositada e ocultada em local seguro.

Inexistência de concurso formal


Quanto ao pedido subsidiário relativo ao reconhecimento do concurso formal de crimes ao invés de
concurso material, o Ministro Relator afirmou que as instâncias ordinárias reconheceram a pluralidade de
condutas e a autonomia de desígnios.
Para que haja concurso formal, é necessária a prática de uma só conduta, e não foi isso que ficou
demonstrado.
No caso concreto, ficou reconhecida a pluralidade de condutas. Cada crime contou com uma ação ou
omissão distinta.
Ademais, o crime de lavagem de dinheiro, quando praticado na modalidade típica de “ocultar”, é
permanente, protraindo-se sua execução até que os objetos materiais do branqueamento se tornem
conhecidos. No crime de corrupção passiva, por sua vez, a consumação é instantânea.
Vale ressaltar, ainda, que as condutas foram praticadas com desígnios próprios (autônomos). Logo,
mesmo que reconhecida a ocorrência de concurso formal, haveria concurso formal impróprio, de forma
que seria aplicado também o critério da cumulação de penas (mesmo parâmetro adotado no concurso
material). Assim, para a defesa não haveria utilidade porque não se poderia aplicar o critério da
exasperação, que só vale para o concurso formal próprio.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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Para relembrar

CONCURSO FORMAL
PERFEITO (normal, próprio) IMPERFEITO (anormal, impróprio)
O agente produziu dois ou mais resultados Quando o agente, com uma única conduta,
criminosos, mas não tinha o desígnio de praticá- pratica dois ou mais crimes dolosos, tendo o
los de forma autônoma. desígnio de praticar cada um deles (desígnios
autônomos).
Ex1: João atira para matar Maria, acertando-a. Ex1: Jack quer matar Bill e Paul, seus inimigos.
Ocorre que, por culpa, atinge também Pedro, Para tanto, Jack instala uma bomba no carro
causando-lhe lesões corporais. João não tinha o utilizado pelos dois, causando a morte de ambos.
desígnio de ferir Pedro. Jack matou dois coelhos com uma cajadada só.
Ex2: motorista causa acidente e mata 3 pessoas. Ex2: Rambo vê seu inimigo andando de mãos
Não havia o desígnio autônomo de praticar os dadas com a namorada. Rambo pega seu fuzil e
diversos homicídios. resolve atirar em seu inimigo. Alguém alerta
Rambo: “não atire agora, você poderá acertar
também a namorada”, mas Rambo responde: “eu
só quero matá-lo, mas se pegar nela também
tanto faz. Não estou nem aí”. Rambo, então,
desfere um único tiro que perfura o corpo do
inimigo e acerta também a namorada. Ambos
morrem.
Pode ocorrer em duas situações: Ocorre, portanto, quando o sujeito age com dolo
• DOLO + CULPA: quando o agente tinha dolo de em relação a todos os crimes produzidos.
praticar um crime e os demais delitos foram
praticados por culpa (exemplo 1); Aqui é DOLO + DOLO. Pode ser:
• CULPA + CULPA: quando o agente não tinha a • Dolo direto + dolo direto (exemplo 1);
intenção de praticar nenhum dos delitos, tendo • Dolo direto + dolo eventual (exemplo 2).
todos eles ocorrido por culpa (exemplo 2).
Fixação da pena: Fixação da pena
Regra geral: exasperação da pena: No caso de concurso formal imperfeito, as penas
• Aplica-se a maior das penas, aumentada de 1/6 dos diversos crimes são sempre SOMADAS. Isso
até 1/2. porque o sujeito agiu com desígnios autônomos.
• Para aumentar mais ou menos, o juiz leva em
consideração a quantidade de crimes.

Exceção: concurso material benéfico


O montante da pena para o concurso formal não
pode ser maior do que a que seria aplicada se
fosse feito o concurso material de crimes (ou seja,
se fossem somados todos os crimes).
É o caso do exemplo 1, que demos acima, sobre
João. A pena mínima para o homicídio simples de
Maria é 6 anos. A pena mínima para a lesão
corporal culposa de Pedro é 2 meses.
Se fôssemos aplicar a pena do homicídio
aumentada de 1/6, totalizaria 7 anos.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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Se fôssemos somar as penas do homicídio com a


lesão corporal, daria 6 anos e 2 meses.
Logo, nesse caso, é mais benéfico para o réu
aplicar a regra do concurso material (que é a
soma das penas). É o que a lei determina que se
faça (art. 70, parágrafo único, do CP) porque o
concurso formal foi idealizado para ajudar o réu.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

USO DE ARMAS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


A Lei 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial
ofensivo pelos agentes de segurança pública, é constitucional

A Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo
pelos agentes de segurança pública, é constitucional, tanto sob o aspecto formal como
material.
STF. Plenário. ADI 5243/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgado em 11/4/2019 (Info 937).

LEI 13.060/2014
Sobre o que trata a Lei?
A Lei nº 13.060/2014 disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de
segurança pública.
Em âmbito federal, o tema já era tratado, de forma mais detalhada, pela Portaria Interministerial nº
4226/2010, que vinculava o Departamento de Polícia Federal, o Departamento de Polícia Rodoviária
Federal, o Departamento Penitenciário Nacional e a Força Nacional de Segurança Pública.
Desse modo, algumas regras previstas na Portaria agora se tornam lei e passam a valer para todos os
órgãos de segurança pública do país, incluindo polícias civis e militares dos Estados-membros.

Documentos internacionais
O uso subsidiário e moderado da força por órgãos de segurança pública é também tratado em documentos
internacionais que inspiraram a legislação nacional, dentre os quais destacam-se os seguintes:
1) Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotado pela Assembleia
Geral das Nações Unidas na sua Resolução 34/169, de 17 de dezembro de 1979;
2) Princípios orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas na sua
resolução 1989/61, de 24 de maio de 1989;
3) Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação
da Lei, adotados pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos
Delinquentes, realizado em Havana, Cuba, de 27 de Agosto a 7 de setembro de 1999;
4) Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada em Nova York em 10 de
dezembro de 1984 e promulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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Principal regra da Lei nº 13.060/2014: uso prioritário de IMPO


Os órgãos de segurança pública, quando estiverem atuando em suas funções, deverão, prioritariamente,
utilizar instrumentos de menor potencial ofensivo, que são conhecidos pela sigla IMPO.

Definição de IMPO
Instrumentos de menor potencial ofensivo são aqueles projetados especificamente para, com baixa
probabilidade de causar mortes ou lesões permanentes, conter, debilitar ou incapacitar temporariamente
pessoas.

Exemplos de IMPO
Spray de pimenta, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, agentes fumígenos, pistolas de impulsos
elétricos (como é o caso do taser).

Uso da força
O policial somente poderá deixar de lado a utilização de instrumentos de menor potencial ofensivo e
passar a usar a força se houver risco à sua integridade física ou psíquica. Mesmo assim, o uso da força
deverá obedecer aos seguintes princípios:
I - legalidade;
II - necessidade;
III - razoabilidade e proporcionalidade.

A Portaria Interministerial n. 4226/2010 possui algumas definições sobre esses princípios:
Princípio da Legalidade: os agentes de segurança pública só poderão utilizar a força para a consecução de
um objetivo legal e nos estritos limites da lei.
Princípio da necessidade: determinado nível de força só pode ser empregado quando níveis de menor
intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos legais pretendidos.
Princípio da proporcionalidade: o nível da força utilizado deve sempre ser compatível com a gravidade da
ameaça representada pela ação do opositor e com os objetivos pretendidos pelo agente de segurança
pública.

Vedação ao uso de arma de fogo


A Lei nº 13.060/2014 traz expressamente duas situações em que não é legítimo (não é permitido) o uso
de arma de fogo:
I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que não represente risco imediato de morte ou de
lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros; e
II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o ato represente risco
de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros.

Quando ocorrerem danos às pessoas


Sempre que do uso da força praticada pelos agentes de segurança pública decorrerem ferimentos em
pessoas, deverá ser assegurada a imediata prestação de assistência e socorro médico aos feridos, bem
como a comunicação do ocorrido à família ou à pessoa por eles indicada.

Cursos
Os cursos de formação e capacitação dos agentes de segurança pública deverão incluir conteúdo
programático que os habilite ao uso dos instrumentos não letais.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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Fornecimento de IMPO
O poder público tem o dever de fornecer a todo agente de segurança pública instrumentos de menor
potencial ofensivo para o uso racional da força.

ADI
O Partido Social Liberal (PSL) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra dispositivos da Lei nº
13.060/2014.
Compete ao chefe do Poder Executivo propor leis que imponham obrigações a órgãos ou entidades
vinculados ao Poder Executivo, nos termos do art. art. 61, § 1º, II e ao art. 84, VI, “a”, da CF/88. Como a
Lei nº 13.060/2014 foi de iniciativa parlamentar, teria havido inconstitucionalidade formal.
Além disso, a lei teria violado a autonomia dos Estados-membros. Isso porque uma lei federal não poderia
padronizar procedimentos policiais a serem adotados pelas Polícias Civil e Militar, considerando que a
Constituição da República estabelece que o chefe das forças policiais estaduais é o Governador do Estado.
Sob o ponto de vista material, o partido sustentou que os incisos I e II do parágrafo único do art. 2º da Lei
13.060/2014 violaram “o dever do Estado no exercício para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Os dispositivos se referem a situações em que não é legítimo
o uso de arma de fogo:
Art. 2º (...)
Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo:
I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que não represente risco imediato de morte
ou de lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros; e
II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o ato represente
risco de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros.

O STF concordou com o pedido? A Lei nº 13.06/2014 é inconstitucional?


NÃO.
A Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes
de segurança pública, é constitucional, tanto sob o aspecto formal como material.
STF. Plenário. ADI 5243/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado
em 11/4/2019 (Info 937).

Inexistência de invasão à autonomia estadual


Não houve invasão da autonomia estadual. Isso porque a União detém competência legislativa sobre a
matéria. A norma objetiva regular o uso de instrumentos de menor potencial ofensivo, medida atinente à
garantia do direito à vida, competência comum atribuída à União, aos Estados-membros e aos Municípios.
A Lei apenas estabelece diretrizes gerais para o uso de armas de fogo em âmbito nacional, de acordo com
critérios razoáveis de proporcionalidade. Cuida-se, portanto, de competência da União para edição de
normas gerais, nos termos do art. art. 22, XXI e XXVIII, da CF/88, que podem até mesmo ser
complementadas pelos Estados-membros:
Art. 22 (...)
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização
das polícias militares e corpos de bombeiros militares;
(...)
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização
nacional;

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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Não houve violação à iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo


As obrigações impostas pela Lei aos órgãos públicos apenas explicitam deveres de proteção que já estão
no texto constitucional. Por força da cláusula material de abertura (art. 5º, § 2º, da CF/88), ninguém
poderá ser arbitrariamente privado de sua vida, compromisso também assumido pelo Brasil no Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos (artigo 6º).
Embora a Lei nº 13.060/2014 imponha deveres aos servidores do Poder Executivo, a situação comporta
especificidade. Isso porque tais deveres são impostos de forma genérica e abrangente a todos os quadros
integrantes do serviço de segurança pública. Além disso, regulamentar o uso da força não é atribuição
exclusiva do Poder Executivo.
Tal como as práticas médicas são autorizadas por lei, reguladas por conselhos profissionais e se aplicam a
todos os médicos, servidores ou não, a regulação do uso da força destina-se à totalidade dos agentes do
Estado, que detém esse monopólio.

Não há usurpação da competência das forças policiais para definir sua atuação
Outro argumento invocado pelo autor e rechaçado pelo STF era o de que a Lei usurpava dos órgãos de
segurança pública a competência para decidir o melhor padrão de atuação policial.
Para o STF, a Lei questionada não determina a forma como deve ocorrer essa atuação, mas apenas se
limita a impor obrigações que são necessárias à proteção do direito à vida, buscando impedir que qualquer
suspeito seja arbitrariamente dela privado.
Essa definição do que é uma atuação arbitrária é aferida objetivamente por meio de padrões mínimos de
razoabilidade e proporcionalidade e, também, com base em padrões internacionais de referência, como
os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela
Aplicação da Lei, adotados em congresso das Nações Unidas.
Em seu artigo 9º, este documento internacional preceitua que os responsáveis pela aplicação da lei não
usarão armas de fogo contra pessoas, exceto se outros meios menos extremados revelem-se insuficientes
em casos de legítima defesa própria ou de outrem contra ameaça iminente de morte ou ferimento grave;
para impedir a perpetração de crime particularmente grave que envolva séria ameaça à vida; para efetuar
a prisão de alguém que represente risco e resista à autoridade; ou para impedir a fuga de tal indivíduo.
Em qualquer hipótese, o uso letal intencional de armas de fogo somente poderá ser feito quando
estritamente inevitável à proteção da vida.

Proteção constitucional à vida


Dessa forma, as garantias previstas na Lei nº 13.060/2014 não podem ser suplantadas, porque são
fundamento para a proteção constitucional do direito à vida.
Vale ressaltar, ainda, que a Lei será regulamentada por ato do Poder Executivo e pelas próprias forças
policiais, que estabelecerão a atuação pormenorizada e detalhada.

PRISÃO PREVENTIVA
A prisão cautelar, portanto, constitui medida de natureza excepcional
e não pode ser utilizada como instrumento de punição antecipada do réu

Para a decretação ou manutenção da prisão cautelar é necessário demonstrar o cumprimento


dos requisitos previstos no art. 312 do CPP.
A liberdade de um indivíduo suspeito da prática de infração penal somente pode sofrer
restrições se houver decisão judicial devidamente fundamentada, amparada em fatos
concretos, e não apenas em hipóteses ou conjecturas.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


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A prisão cautelar, portanto, constitui medida de natureza excepcional e não pode ser utilizada
como instrumento de punição antecipada do réu.
STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
9/4/2019 (Info 937).

Sem comentários adicionais.

HABEAS CORPUS
Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a
decisão monocrática do Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus

Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do


Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus.
Fundamento: aplicação, por analogia, da regra do § 3º do art. 937 do CPC/2015.
STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
9/4/2019 (Info 937).

Negar seguimento ao habeas corpus


Assim que um habeas corpus é impetrado no STF ou STJ, será sorteado um Ministro para ser o relator
desta ação.
Em regra, o habeas corpus deve ser julgado pelo colegiado (turma ou plenário), ou seja, o relator prepara
seu voto e o submete aos demais Ministros.
No entanto, o regimento interno do STF e do STJ autorizam que, em determinados casos, o Ministro
Relator, monocraticamente, negue seguimento ao habeas corpus caso sele seja manifestamente:
• inadmissível;
• improcedente;
• contrário à súmula do Tribunal;
• contrário à jurisprudência dominante do Tribunal;
• ou quando for evidente a incompetência do Tribunal para julgá-lo.
Essa possibilidade de julgamento monocrático existe não apenas para o habeas corpus como também para
o mandado de segurança e para os recursos.
Veja a previsão do RISTF:
Art. 21 (...)
§ 1º Poderá o(a) Relator(a) negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente inadmissível,
improcedente ou contrário à jurisprudência dominante ou a Súmula do Tribunal, deles não
conhecer em caso de incompetência manifesta, encaminhando os autos ao órgão que repute
competente, bem como cassar ou reformar, liminarmente, acórdão contrário à orientação firmada
nos termos do art. 543-B do Código de Processo Civil.

Confira agora a regra no caso do RISTJ:


Art. 34. São atribuições do relator:
(...)
XVIII - negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente intempestivo, incabível,
improcedente, contrário a súmula do Tribunal, ou quando for evidente a incompetência deste.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27


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Contra essa decisão do relator, cabe recurso?


SIM. Cabe agravo regimental, no prazo de 5 dias corridos.

O prazo e a forma de contagem estabelecidos pelo novo CPC não se aplicam aos agravos regimentais
que questionam atos produzidos em processos ou procedimentos de natureza penal
O CPC/2015 possui regra dizendo que o prazo para a interposição de qualquer agravo é de 15 dias úteis
(art. 1.070 c/c art. 219). Essa regra, no entanto, não se aplica para o agravo regimental interposto contra
decisões monocráticas proferidas por Ministros do STF ou STJ em processos de natureza criminal (como é
o caso do HC). Isso porque existem previsões específicas que regem o tema no processo penal:
• o art. 39 da Lei nº 8.038/90 prevê que o prazo do agravo em matéria criminal é de 5 dias.
• o art. 798 do CPP prevê que os prazos no processo penal são contínuos, ou seja, não são contados em
dias úteis.
Esse é o entendimento da jurisprudência:
O agravo interposto contra decisão monocrática do Ministro Relator no STF e STJ, em recursos ou ações
originárias que versem sobre matéria penal ou processual penal NÃO obedece às regras no novo CPC. Isso
significa que:
• o prazo deste agravo é de 5 dias, nos termos do art. 39 da Lei nº 8.038/90 (não se aplicando o art. 1.070
do CPC/2015);
• este prazo é contado em dias corridos, conforme prevê o art. 798 do CPP (não se aplicando a regra da
contagem em dias úteis do art. 219 do CPC/2015).
STF. Plenário. Rcl 25638/MG, Rel. para ac. Min. Edson Fachin, julgado em 09/05/2019.
STJ. 3ª Seção. AgRg na Rcl 30.714/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/04/2016.

Antes de a Turma julgar esse agravo, o advogado do agravante pode fazer sustentação oral?
A 2ª Turma do STF, por maioria, entendeu que sim:
Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática que negou
seguimento ao habeas corpus.
STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
9/4/2019 (Info 937).

O fundamento está no art. 937, § 3º do CPC/2015, que prevê:


Art. 937. Na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo relator, o presidente dará a
palavra, sucessivamente, ao recorrente, ao recorrido e, nos casos de sua intervenção, ao membro
do Ministério Público, pelo prazo improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um, a fim de
sustentarem suas razões, nas seguintes hipóteses, nos termos da parte final do caput do art. 1.021:
(...)
VI - na ação rescisória, no mandado de segurança e na reclamação;
(...)
§ 3º Nos processos de competência originária previstos no inciso VI, caberá sustentação oral no
agravo interno interposto contra decisão de relator que o extinga.

O STF afirmou que deveria ser feita uma interpretação constitucional do CPC, a fim de que o art. 937, §
3º, que trata apenas sobre o agravo em ação rescisória, mandado de segurança e reclamação, seja
também estendido para o agravo em habeas corpus. Isso porque o habeas corpus é um writ, ou seja, um
remédio constitucional, tal qual o mandado de segurança.
O habeas corpus é uma ação constitucional cuja envergadura é ainda maior que a do mandado de
segurança, por cuidar da liberdade, direito essencial à cidadania.

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28


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Só vale para julgamentos físicos


Vale ressaltar que o STF pode julgar o agravo regimental por meio de ambiente virtual (o chamado turma
ou plenário virtual). Neste caso, não caberá sustentação oral.
Assim, a sustentação oral somente será cabível no agravo regimental referente às hipóteses em que o
processo for objeto de julgamento presencial.

DIREITO DO TRABALHO

TRABALHO POR PRAZO DETERMINADO


A lei do contrato de trabalho por prazo determinado (Lei 9.601/98) é constitucional

Ao apreciar medida cautelar em ADI, o STF decidiu que a Lei nº 9.601/98, que dispõe sobre o
contrato de trabalho por prazo determinado, não é inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 1764 MC/DF, rel. orig. Min. Sydney Sanches, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 11/4/2019 (Info 937).

Lei nº 9.601/98
A Lei nº 9.601/98 dispõe sobre o contrato de trabalho por prazo determinado.
Ainda em 1998, foi ajuizada uma ADI contra esta lei.
Em 2019, o STF apreciou o pedido de medida cautelar.

O que foi decidido?


O STF indeferiu o pedido de medida cautelar por entender que não estavam presentes a:
• plausibilidade jurídica (fumus boni iuris); e o
• periculum in mora.

Desnecessidade de lei complementar


Um dos argumentos do autor da ação era o de que essa lei prevê regras de despedida sem justa causa e
que, portanto, isso somente poderia ser tratado por meio de lei complementar, nos termos do art. 7º, I,
da CF/88:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de
lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

O STF, contudo, afirmou que a Lei nº 9.601/98 não dispõe sobre despedida arbitrária ou sem justa causa.
Esta lei trata, na verdade, sobre rescisão antecipada do contrato de trabalho por prazo determinado, o
que deve ser instituído por meio de convenções ou acordos coletivos de trabalho (art. 1º, § 1º).
Logo, a lei está diretamente relacionada com o reconhecimento de negociação coletiva, matéria para a
qual não se exige lei complementar, conforme dispostos no art. 7º, XXVI, da CF/88:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
(...)
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

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Desse modo, não há inconstitucionalidade formal.

Inexistência de inconstitucionalidade material com a ampliação das hipóteses de contrato por prazo
determinado
A Lei nº 9.601/98, na época em que foi editada, ampliou as hipóteses de contrato por prazo determinado.
O autor da ADI argumentava que essa ampliação fragilizaria as relações de emprego e prejudicaria o
trabalhador, razão pela qual seria inconstitucional.
O STF não concordou com o argumento.
O objetivo da lei foi o de diminuir os índices de desemprego, de sorte que o contrato por prazo
determinado seria um “mal menor” diante da situação de desemprego.
Vale ressaltar, ainda, que a Lei nº 9.601/98 não acarretou qualquer cerceamento de direitos, tendo em
vista que atualmente, segundo jurisprudência do STF, as negociações trabalhistas prevalecem em relação
à legislação quando se trata de garantia de direitos de trabalhadores, desde que não se extingam nenhum
desses direitos.
A negociação coletiva é hoje um instrumento com muita importância, que tem sido cada vez mais adotada.
A autocomposição de conflitos coletivos de trabalho tem sido também priorizada no texto constitucional.
A intervenção do Estado-juiz nessas relações, portanto, só seria possível nos casos em que essa negociação
não for bem-sucedida.

Nova legislação
A Min. Cármen Lúcia explicou, por fim, que, embora a Lei nº 9.601/98 ainda permaneça em vigor, a
legislação sobre a matéria foi substancialmente modificada no decorrer dos anos.

Em suma:
Ao apreciar medida cautelar em ADI, o STF decidiu que a Lei nº 9.601/98, que dispõe sobre o contrato
de trabalho por prazo determinado, não é inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 1764 MC/DF, rel. orig. Min. Sydney Sanches, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 11/4/2019 (Info 937).

EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) É constitucional lei estadual que obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a cancelarem a multa
contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo empregatício após a adesão
do contrato. ( )
2) É constitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo, para o exercício
da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores do Estado. ( )
3) É inconstitucional lei estadual ou mesmo emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar,
que trate sobre organização ou funcionamento do TCE. ( )
4) A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88,
não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal
requisito na Constituição Federal. ( )
5) A Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes
de segurança pública, é constitucional, tanto sob o aspecto formal como material. ( )
6) Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF
que negou seguimento ao habeas corpus. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. C 5. C 6. C

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OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio


eletrônico*
Em curso Finalizados
Pleno 10.4.2019 11.4.2019 2 23 137
1ª Turma 9.4.2019 — 21 2 236
2ª Turma 9.4.2019 — 0 2 213
* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 5 a 23 de 2019.

CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 8 a 19 de abril de 2019

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.057.577


RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Recurso Extraordinário com agravo. 2. Direito Administrativo e Trabalhista. Servidores celetistas. Extensão de vantagens
concedidas a empregados de pessoas jurídicas e carreiras diversas. Isonomia. 3. Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia. Tema 315 da sistemática da repercussão geral e Súmula Vinculante 37. 4.
Reconhecimento da repercussão geral da questão constitucional, com reafirmação da jurisprudência da Corte, para assentar a seguinte tese: ‘A extensão,
pelo Poder Judiciário, das verbas e vantagens concedidas pelo Conselho de Reitores das Universidades do Estado de São Paulo (Cruesp) aos empregados
das instituições de ensino autônomas vinculadas às universidades estaduais paulistas contraria o disposto na Súmula Vinculante 37’. 5. Recurso provido
para julgar improcedente o pedido autoral.

Decisão Publicada: 1

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
8 A 19 DE ABRIL DE 2019

Lei Complementar nº 166, de 8.4.2019 - Altera a Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001, e a Lei nº
12.414, de 9 de junho de 2011, para dispor sobre os cadastros positivos de crédito e regular a responsabilidade civil dos
operadores. Publicado no DOU em 09.04.2019, Seção 1, Edição nº 68, p. 1.

OUTRAS INFORMAÇÕES
8 A 19 DE ABRIL DE 2019

Decreto nº 9.765, de 11.4.2019 - Institui a Política Nacional de Alfabetização. Publicado no DOU em 11.04.2019,
Seção 1 - Extra, Edição nº 70-A, p. 15.
Decreto nº 9.761, de 11.4.2019 - Aprova a Política Nacional sobre Drogas. Publicado no DOU em 11.04.2019,
Seção 1-Extra, Edição nº 70-A, p. 7.

Supremo Tribunal Federal - STF


Secretaria de Documentação
Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
cdju@stf.jus.br

Informativo 937-STF (19/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31

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