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O PRIMEIRO CEGO:

Quando você me olhar, verá: o primeiro cego, o homem que ia, com o peito
sufocado, como se pisado por uma pata de elefante, (imagine!), o peso da pata de
um elefante ou da angústia da falta de curva por onde se arrastavam os seus dias. O
primeiro cego que é também o homem que levava, de volta pra casa, um dissabor
na boca, uma falta de sonho/

O LADRÃO:

Dirigindo seu carro.

O PRIMEIRO CEGO:

Sim, ele guiava o seu carro.

O LADRÃO:

O sinal fechou.

O PRIMEIRO CEGO:

A luz vermelha encharcava as vistas do homem que ia, guiando seu carro, sem
esperança, quase prostrado.

O LADRÃO:

Ele fechou os olhos pra descansar.

O PRIMEIRO CEGO:

Quando abriu... Ele... Era...

O LADRÃO:

Como se um mar de leite tivesse inundado suas vistas, foi isso que ele disse ao
outro homem.

O PRIMEIRO CEGO:

O ladrão.

O LADRÃO:

Quando você me olhar, verá: o homem que ajudou o primeiro cego.

O PRIMEIRO CEGO:

E logo em seguida roubou o seu carro.


O LADRÃO:

Você viu? Você estava lá?

O MÉDICO:

Quando você me olhar, verá: o médico que atendeu o primeiro cego. Aquele que
ligou para as autoridades e alertou sobre aquela estranha cegueira.

A RAPARIGA DOS ÓCULOS ESCUROS:

Mas não sem antes consultar a rapariga, que tentava ocultar sua conjuntivite e uma
noite de choro com esses óculos escuros: não sabia se lhe ardia mais a doença dos
olhos ou a dureza dos dias. Quando você me olhar, verá a tal rapariga.

O MENINO:

Quando você me olhar, verá: o menino que se perdeu da mãe.

A RAPARIGA DOS ÓCULOS ESCUROS:

Não deixaram ela vir.

O MENINO:

Sim, arrancaram o menino dela a força.

A RAPARIGA DOS ÓCULOS ESCUROS:

Vocês não verão aqui a mãe que se perdeu do menino, mas podem imaginar uma
mãe que em algum lugar chora e reza para que a cegueira logo a encontre.

A SOLDADA:

Vocês falam como se essa cegueira fosse algo vivo, um bicho, que tivesse alvo,
vontades. Como se ela escolhesse a quem desgraçar. Como se ela enxergasse.

A RAPARIGA DO LENÇO VERMELHO:

Quando você me olhar, verá: a rapariga que cegou a soldada. Faz tanto tempo que
ela não fala dela que/É como se ela já estivesse cega para quem ela era.

A SOLDADA:

Quando você me olhar, verá a soldada que a rapariga cegou. Mas poderão ver
também uma mãe que foi encerrada aqui, apartada da sua filha, do seu marido, da
sua casa, dos afazeres que havia deixado pra mais tarde, ingenuamente pensando
que naquele dia, como todos os dias, sairia do serviço.

A CEGA DAS INSÔNIAS:


Quando você me olhar, verá: a mulher que passava a noite em claro, há dias.

O MÉDICO:

Ela chegou a imaginar que era esse o motivo do clarão opaco que lhe tomava as
vistas.

A CEGA DAS INSÔNIAS:

Ela não quis acreditar. Ela tentou fechar os olhos. Ela tentou, finalmente, dormir.
Ela sabia do que estavam fazendo com aqueles que cegaram, ela viu na TV, ela
passava os dias e as noites sozinha, em frente ao noticiário que só falava da
cegueira branca que pouco a pouco tomava a todos e ela se sentiu muito segura,
sozinha, no seu apartamento, ela pensou, “isso nunca acontecerá comigo, aqui,
sozinha, por dias a fio, sem nenhuma visita, nenhum telefone, sem ninguém...”

A MULHER DO MÉDICO:

Quando você me olhar, verá: a mulher do médico. A que ainda enxerga vocês. Eles
ainda não sabem, mas eu não ceguei eu só não consigo me ver em outro lugar... Que
não aqui.

O MÉDICO:

(ME ESQUECI DA PERGUNTA QUE O FRANCISCO JÁ FAZ AO PÚBLICO...)

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