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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

Coordenação Pedagógica – IBRA

DISCIPLINA

METODOLOGIA CIENTÍFICA
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03

1 O QUE É CIÊNCIA?................................................................................................ 05

2 NÍVEIS DE CONHECIMENTO ............................................................................. 09


2.1 Empírico ...................................................................................................... 09
2.2 Teológico ........................................................................,............................ 10
2.3 Filosófico ...........................................................................,......................... 11
2.4 Científico .............................................................................,....................... 12

3 A HISTÓRIA DA CIÊNCIA ATRAVÉS DOS TEMPOS .........,,,........................ 14


3.1 Antiguidade ...........................................................................,..................... 14
3.2 Idade Média e Renascimento ..................................................................... 16
3.3 A Revolução Científica .........................................................,...................... 16
3.4 A Revolução Industrial...........................................................,..................... 18
3.5 O século XX ...........................................................................,.................... 19

4 A CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA.........................................,,,,,,,....................... 21

5 FERRAMENTAS DE TRABALHO DO PROFISSIONAL DO


NÍVEL SUPERIOR .......................................................................,,,,,,,,,,.................... 24
5.1 Conceitos, leis, teorias e doutrinas ............................................................. 24

6 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA ..........................,,,,,,,,.......................... 30


6.1 Métodos ........................................................................,.............................. 30
6.2 Técnicas .........................................................................,............................ 34
6.3 Formas de pensamento .............................................................................. 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS E UTILIZADAS .......... 41


INTRODUÇÃO

As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são
neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos
institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a
esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico,
testado e provado pelos pesquisadores.

Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos,


nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que
nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão
acrescentar e melhorar nosso trabalho.

Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês


são livres para estudar da melhor forma que puderem se organizar, lembrando que:
aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é
demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a
formação dos nossos/ seus alunos.

Deste modo, o curso em questão tem como objetivo geral oferecer


subsídios teórico-metodológicos para que os ingressantes na especialização possam
atuar de maneira comprometida e adequada, reforçar os conhecimentos
daqueles que já atuam na área, pois sabemos que o mercado atual exige
renovação da bagagem profissional, valorização das novas tendências na sua área
de trabalho.

Trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que


entendemos serem os mais importantes para a disciplina.

São inúmeros os autores que discutem os temas tratados na


Metodologia Científica, optamos por seguir a linha de pensamento de três
autores mais especificamente que são Lakatos e Marconi (2004), Cervo, Bervian e
Silva (2007) e Mattar (2008), mas salientamos que existem inúmeros outros
autores que nos oferecem uma bibliografia rica nesse conteúdo.

Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao


final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte
para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos.
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1 O QUE É CIÊNCIA?

Etimologicamente a palavra ciência vem do latim scientia, que quer dizer


por definição ampla, conhecimento ou reconhecimento. Podemos inferir também que
ela origina do verbo scire = saber. Num sentido mais restrito a palavra ciência nos
leva a um modo de adquirir conhecimento baseado no método científico, ou
seja, é o esforço que o ser humano faz para descobrir e aumentar o
seu conhecimento de como funciona a realidade.

Segundo Bello (2004) a evolução humana corresponde ao


desenvolvimento de sua inteligência. Sendo assim são definidos três níveis de
desenvolvimento da inteligência dos seres humanos desde o surgimento dos
primeiros hominídeos: o medo, o misticismo e a ciência.

a) O medo: os seres humanos pré-históricos não conseguiam entender os


fenômenos da natureza. Por este motivo, suas reações eram sempre de medo:
tinham medo das tempestades e do desconhecido. Como não conseguiam
compreender o que se passava diante deles, não lhes restava outra
alternativa senão o medo e o espanto daquilo que presenciavam.

b) O misticismo: num segundo momento, a inteligência humana evoluiu do medo


para a tentativa de explicação dos fenômenos através do pensamento mágico, das
crenças e das superstições. Era, sem dúvida, uma evolução já que
tentavam explicar o que viam. Assim, as tempestades podiam ser fruto de
uma ira divina, a boa colheita da benevolência dos mitos, as desgraças ou as
fortunas do casamento do humano com o mágico.

c) A ciência: como as explicações mágicas não bastavam para compreender


os fenômenos os seres humanos finalmente evoluíram para a busca de
respostas através de caminhos que pudessem ser comprovados. Desta forma,
nasceu a ciência metódica, que procura sempre uma aproximação com a lógica.

O ser humano é o único animal na natureza com capacidade


de pensar. Esta característica permite que nós, os seres humanos, sejamos
capazes de refletir sobre o significado de nossas próprias experiências. Assim sendo,
somos capazes de novas descobertas e de transmiti-las aos nossos descendentes.
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O desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado


à sua característica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido
a outro, que, por sua vez, aproveita-se deste saber para somar outro. Assim evolui a
ciência.

Uma boa definição está no Novo Dicionário da Língua Portuguesa.


Ferreira (2004) define ciência como um conjunto de conhecimentos
socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente acumulados, dotados de
universalidade e objetividade que permitem sua transmissão, e estruturados
com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender e
orientar a natureza e as atividades humanas.
Popularmente é entendida como sabedoria ou habilidade intuitiva.

Lakatos e Marconi (2004) no clássico livro “Metodologia Científica”


levantam várias definições para Ciência, mas no entendimento dessas autoras,
todas incompletas. Abaixo estão algumas delas:

“Acumula ão de conhecimentos sistem ticos”.

“Atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais


e suas aplica ações práticas”.

“Conhecimento certo do real pelas suas causas”.

“Conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por


outros enunciados”.

Para as autoras acima, a melhor definição é de Ander-Egg


(1978) apresentada na obra Introducción a las técnicas de investigación social: “A
ciência um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis,
obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a
objetos de uma mesma natureza”.

Fazendo uma decomposição ou análise da definição de Ander-


Egg encontramos que:

a)conhecimento racional – é aquele que exige um método e está constituído por


uma série de elementos básicos, tais como sistema conceitual, hipóteses,
definições.
b)certo ou provável – já que não se pode atribuir à ciência a certeza indiscutível de
todo o saber que a compõe. Ao lado dos conhecimentos certos, é grande
a quantidade dos prováveis. Antes de tudo, toda lei indutiva, é meramente
provável, por mais elevada que seja sua probabilidade.

c)obtidos metodicamente – pois não se adquire ao acaso ou na vida


cotidiana,
mas mediante regras lógicas e procedimentos técnicos.

d)sistematizadores – isto é, não se trata de conhecimentos dispersos e


desconexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um
sistema de
ideias (teoria).

e)verificáveis – pelo fato de que as afirmações, que não podem ser comprovadas
ou que não passam pelo exame da experiência, não fazem parte do
âmbito da
ciência, que necessita, para incorporá-las, de afirmações comprovadas pela
observação.

f)relativos a objetos de uma mesma natureza – ou seja, objetos


pertencentes a
determinada realidade, que guardam entre si certos caracteres de
homogeneidade
(LAKATOS; MARCONI, 2004).

Cervo, Bervian e Silva (2007) ressaltam que a ciência, em sua


condição atual, é o resultado de descobertas ocasionais, nas primeiras etapas, e de
pesquisas cada vez mais metódicas, nas etapas posteriores. “É uma das poucas
realidades que podem ser legadas às gerações seguintes. Os homens de
cada período histórico assimilam os resultados científicos das gerações anteriores,
desenvolvendo e ampliando aspectos novos”.

Mas, por que estamos alongando tanto em um conceito? Fácil! A


disciplina Metodologia Científica que uma grande maioria dos estudantes tem
“medo” ao se aproximar dela, nos levam ao conhecimento científico e
precisamos deixá-los tranquilos, uma vez que ela não o “bicho de sete
cabe as” que muitos pensam. Desde o ingresso em um curso superior, a
metodologia científica deveria ser apresentada ao aluno, em toda sua
grandiosidade e simplicidade. Ela deveria guiar o aluno, uma vez que significa o
estudo dos caminhos do saber, mas o que temos observado é que ela é
apresentada em sua grandiosidade, esquecendo, contudo, sua praticidade e
simplicidade. O conteúdo da disciplina Metodologia Científica pode ser classificado
como conceitual e procedimental, uma vez que não basta memorizar as
ações ou as
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normas da Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT) sem uma construção


de sentidos, pois é preciso compreender sua lógica de funcionalidade, bem
como, realizar as etapas - que comporta o saber fazer – para isso as
condições de aprendizagem são:

 A reflexão sobre a ação que o sujeito está fazendo;

 A exercitação constante, pois é preciso fazer uso deste


conhecimento com frequência e;

 A descontextualização – saber aplicar em outras situações que


se apresentam como necessidade (ZABALA, 2001).

No entendimento de Neves (2005), um dos grandes méritos desta


disciplina, é a reflexão sobre a inconstância do conhecimento, pois permite a
compreensão da necessidade do ser humano produzir perguntas e respostas
relacionadas às dúvidas e questionamentos postos, objetivando a interpretação e a
explicação da realidade, das coisas e dos fenômenos.

Neste sentido, o fato de podermos hoje validar um conhecimento e


amanhã o refutarmos, constitui-se num aspecto fantástico que se traduz na
própria inconclusão do ser, na ideia do provisório. Isso nos remete ao campo da
produção das explicações e das verdades. É comum os alunos e alunas terem um
conceito de verdade absoluto, uma única referência. No processo de leituras
e debates a desconstrução destas ideias, é algo que se torna inevitável.

A metodologia instrumentaliza o futuro profissional auxiliando-o na


investigação, levando-o a comunicar-se de forma correta, inteligível, demonstrando
um pensamento estruturado, plausível e convincente. Ela mostra por onde começar,
qual o primeiro passo a ser dado, o que é mais urgente.

No capítulo 6 falaremos detalhadamente do método científico, deixamos


por hora o seguinte entendimento: embora a utilização de métodos científicos não
seja da alçada exclusiva da ciência, não há ciência sem o emprego de
métodos científicos (LAKATOS E MARCONI, 2004).
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2 NÍVEIS DE CONHECIMENTO

Em todos ou quase todos os livros dedicado aos temas:


Metodologia Científica, Métodos e Técnicas de Pesquisa, Redação de
Monografias, Teses e Dissertações, encontraremos um tópico destinado aos
diversos tipos ou níveis de conhecimento, dependendo dos autores, mas que
tem uma finalidade comum: objetiva mostrar que existem vários tipos de
conhecimentos, mas que aos olhos da ciência, possuem grandes e marcantes
diferenças.

Relembrando, quando falamos em conhecimentos, estamos falando


em saberes que podem ser sistematizados ou não, verificáveis ou não, certo
ou provável, falível ou infalível, exato ou inexato.

O conhecimento está diretamente ligado ao homem, à sua realidade.


Como o conhecimento pretende idealizar o bem estar do ser humano, logo ele
advém das relações do homem com o meio. O indivíduo procura entender o meio
partindo dos pressupostos de interação do homem com os objetivos. É uma forma de
explicar os fenômenos das relações, seja, entre sujeito/objeto, homem/razão,
homem/desejo ou homem/realidade.

A forma de explicar e entender o conhecimento passa por várias vertentes


como: conhecimento empírico (vulgar ou senso comum), conhecimento
filosófico, conhecimento teológico e conhecimento científico.

Para Lakatos e Marconi (2004) no caso do conhecimento empírico, este


não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza
do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método
e os instrumentos do conhecer, por isso podemos dizer que a ciência não
é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade. Mais uma
vez veremos a importância do método para conferir veracidade a um fato e torná-lo
mais real.

2.1 O conhecimento empírico

Segundo Bello (2004) o conhecimento empírico é obtido ao


acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, é o conhecimento adquirido através
de ações não planejadas.
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É aquele adquirido pela própria pessoa na sua relação com o meio


ambiente ou com o meio social, obtido por meio da interação contínua na forma de
ensaios e tentativas que resultam em erros e em acertos (CERVO; BERVIAN; SILVA,
2007).

Do ponto de vista da utilização de métodos e técnicas científicas, esse


tipo de conhecimento, mesmo quando consolidado como convicção, como
cultura ou como tradição, é ametódico e assistemático. A característica
de assistemático baseia-se na organização particular das experiências
próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das ideias,
na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos
observados, aspecto que dificulta a transmissão de pessoa a pessoa, desse
modo de conhecer.

É valorativo por excelência, pois se fundamenta numa seleção


operada com base em estados de ânimo e emoções: como o
conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o sujeito
cognoscente e, de outro lado, o objeto conhecido e este é possuído, de certa forma,
pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto conhecido.

É reflexivo, mas estando limitado pela familiaridade com o objeto, não


pode ser reduzido a uma formulação geral.

É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz


respeito ao que se pode perceber no dia-a-dia.

É falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se


ouviu dizer a respeito do objeto, ou seja, não permite formular hipóteses sobre a
existência de fenômenos situados além das percepções objetivas (LAKATOS;
MARCONI, 2004).

2.2 O conhecimento teológico

O conhecimento teológico ou religioso apoia-se em doutrinas que


contém proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo
sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são
consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas). É um conhecimento sistemático
do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um
criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre implícita
uma atitude de fé perante um
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conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte


do princípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por
consistirem em revelações da divindidade (LAKATOS; MARCONI, 2004).

Para Bello (2004) é o conhecimento revelado pela fé divina


ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado.
Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo.

Ou seja, é um conhecimento ao qual as pessoas chegaram não


com o auxílio de sua inteligência, mas mediante a aceitação dos dados da
revelação divina. Vale-se de modo especial do argumento de autoridade.
São os conhecimentos adquiridos nos livros sagrados e aceitos racionalmente
pelas pessoas, depois de terem passado pela crítica histórica mais exigente
(LAKATOS; MARCONI, 2004).

Dentre os exemplos do conhecimento teológico temos: o acreditar


em reencarnação, acreditar que foi curado de uma doença por milagre,
acreditar em espíritos.

2.3 O conhecimento filosófico

O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de


partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à
observação: as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência, portanto, este
conhecimento emerge da experiência e não da experimentação, e por este
motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, já que os enunciados das
hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem
ser confirmadas nem refutadas (LAKATOS; MARCONI, 2004).

É fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento


especulativo sobre fenômenos, gerando conceitos subjetivos. Busca dar sentido aos
fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência (BELLO,
2004).

É racional em virtude de consistir num conjunto de enunciados


logicamente correlacionados.

Outra característica do conhecimento filosófico é ser sistemático, pois


suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade
estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. É também
infalível e exato, já
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que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer


na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus
postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo
teste da observação (experimentação) (LAKATOS; MARCONI, 2004).

O procedimento científico leva a circunscrever, delimitar, fragmentar


e analisar o que se constitui o objeto de pesquisa, atingindo segmentos da realidade,
ao passo que a filosofia encontra-se sempre à procura do que é
mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e
unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do
espírito humano e até busca as leis mais universais que englobem e harmonizem as
conclusões da ciência (LAKATOS; MARCONI, 2004).

2.4 O conhecimento científico

O conhecimento científico vai além do empírico, assim como o


filosófico, é racional, pretendendo ser sistemático e revelar aspectos da realidade.

É real porque lida com ocorrências ou fatos, isto é, com


toda forma de existência que se manifesta de algum modo. É contingente, pois
suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida
por meio de experimentação e não apenas pela razão, como ocorre no
conhecimento filosófico.

É sistemático porque trata de um saber ordenado logicamente,


formando um sistema de ideias (teorias) e não conhecimentos dispersos e
desconexos.

Apresenta a característica de verificabilidade: as afirmações ou


hipóteses que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência.

É um conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou


final e por esse motivo, é aproximadamente exato, ou seja, novas
proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria
existente.

O ciclo do conhecimento científico (inclusive o das ciências empíricas)


inclui a observação, a produção de teorias para explicar essa observação, o teste
dessas teorias e seu aperfeiçoamento. Há nas ciências, um movimento circular,
que parte da observação da realidade para a abstração teórica, retorna à realidade,
direciona-se novamente à abstração, num fluxo constante entre a experiência e a
teoria. Como
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diz Neville (2001) “a investiga ão nunca come a no início. Não existe


problema puro, mas sim algo problemático surgindo de inúmeras convicções
relativamente estabelecidas; a investigação encontra-se sempre no meio,
corrigindo assunções e inferências prévias, harmonizando hábitos de
pensamento ao engajar a realidade com as hipóteses testadas”.

Lakatos e Marconi (2004) inferem que apesar da separação


metodológica entre os tipos de conhecimentos popular, filosófico, religioso e
científico, no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito
cognoscente pode penetrar nas diversas áreas:

 Ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de


conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso comum
ou na experiência cotidiana;

 Pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando, com base na


investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e
suas funções;

 Pode-se questioná-los quanto a sua origem e destino; assim como quanto a sua
liberdade; finalmente;

 Pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, a sua imagem e


semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados.

Por sua vez, essas formas de conhecimento podem coexistir


na mesma pessoa: um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da
física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um
sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo
conhecimentos provenientes do senso comum.
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3 A HISTÓRIA DA CIÊNCIA ATRAVÉS DOS TEMPOS

Acreditamos que todo conhecimento passa por uma evolução


histórica, sendo este um caminho interessante que nos situa no tempo, no
espaço e nos mostra o quanto podemos construir, modificar, aprender, enfim
evoluir através dos tempos.

Podemos traçar a história da ciência de várias maneiras:


apresentando os principais nomes que fizeram o seu progresso, destacando os
trabalhos e livros mais importantes, estudando o progresso das teorias científicas,
apontando as principais invenções técnicas, acompanhando o desenvolvimento
dos instrumentos utilizados nas ciências, listando as descobertas científicas
importantes, abordando a história dos métodos científicos, centrando o estudo
nas mudanças dos paradigmas científicos, chamando a atenção para a
continuidade ou descontinuidade no desenvolvimento das ciências, ressaltando
o contexto social, econômico ou outro das descobertas da ciência, enfim,
várias são as maneiras de vislumbrarmos os progressos da ciência.

Faremos uma síntese dos acontecimentos ao longo da evolução


humana, mas lembramos que aconteceu muito mais do que apresentamos aqui.
Caso tenham necessidade de aprofundar nessa história, uma dica a leitura do livro
“Metodologia Científica na Era da Inform tica” de João Mattar que traz
um capítulo dedicado evolução da ciência ao longo dos tempos.

3.1 Na Antiguidade

Para nós, “sujeitos moderno”, a ciência caminha a passos muito


lentos, principalmente se pensarmos que cerca de 2 bilhões de anos
atrás, o Australopitecus fabricou a primeira ferramenta de pedra e que foi
necessário mais um bilhão de anos para que esta fosse aperfeiçoada, transformada
em arma de caça e para que o fogo fosse descoberto.

Somente 10 mil anos atrás o homem abandonou sua condição de nômade


e passou a fazer uso da pecuária e agricultura que marcam o início da
nossa civilização e da ciência, isto porque cada estágio do cultivo de
plantas e domesticação de animais requer invenções, daí surgem as
inovações técnicas e acabam dando fundamento a princípios científicos
(BRONOWSKI, 1992 apud MATTAR, 2008).
1
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Na Medicina encontramos na Babilônia as primeiras cirurgias, os


egípcios usando grande variedade de remédios, incluindo o ópio. Os
indianos antigos realizavam cirurgias no nariz, na China, o uso da
acupuntura. Somente a partir de Hipócrates (460-370 a.C.), considerado
pai da medicina, o qual passa a criticar as causas apontadas para as doenças
e mortes, dentre elas as supertições e os aspectos sagrados, é que a medicina
começa a ser vista sob o prisma científico. Por volta de 180 d.C. Galeno
resume e sistematiza o pensamento médico da Antiguidade.

A Botânica, nessa época, também passa a ter um pensamento


mais sistematizado.

No final do século VII e início do século VI, o modo de explicar o mundo,


que passa do mitológico para o racional, é considerado por muitos autores como um
dos mais bonitos e importantes espetáculos da humanidade. Mitos e religião
começam a ser abandonados dando lugar à Filosofia (MATTAR, 2008).

O pensamento racional surgiu com a escrita, diminuindo a


importância da memória e audição começando a prevalecer a experiência e
razão. Aumenta também a importância da observação da realidade sobre a história
dos deuses.

Lógica e geometria alcançam desenvolvimento exemplar na Grécia


Antiga.

Por volta de 300 a.C. começam a ser organizados respectivamente, o


Museu e a Biblioteca de Alexandria com toda estrutura para o desenvolvimento da
ciência e onde Ptolomeu elaborou sua teoria geocêntrica que mais tarde na Idade
Média irá marcar o Tratado sobre a Óptica.

Apesar de toda evolução, nada na Antiguidade se parecia com


a ciência moderna. Todos os temas ainda estavam no campo da Filosofia. Por
exemplo, não havia muita distinção entre um filósofo natural e um matemático.
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3.2 Na Idade Média e Renascimento

Em termos de história, geralmente a Idade Média nos é apresentada


como o período das trevas e do atraso, mas precisamos atentar que esse
pensamento volta-se para o campo das ciências em seu sentido mais estrito,
entretanto, as artes e a cultura que antes eram desconsideradas apresentam
grandes progressos.

Há introdução do sistema hindu-arábico e aperfeiçoamento do


nosso sistema decimal. A invasão da Europa pelos árabes é essencial para
o desenvolvimento da álgebra e matemática aplicada.

A alquimia, uma atividade misteriosa praticada na Idade Média, a qual


tinha como objetivo maior transformar quaisquer metais em ouro, também
procurava explicar seus esforços através da ciência. Astrologia e astronomia
assim como alquimia, magia, espiritualismo e química tinham fronteiras muito
tênues.

Por volta do século XIV, desenvolve-se em Oxford e depois em Paris,


uma linha de pensamento denominada teoria impetus, que desafia as teorias
aristotélicas sobre o movimento ainda dominante na Europa. As definições e
os teoremas elaborados por esse grupo de lógicos e matemáticos serão
importantes para a Cinética, desenvolvida posteriormente por Galileu,
representando, assim, o primeiro estágio na história da revolução científica
(MATTAR, 2008).

A invenção da imprensa no final do Renascimento foi


importante para o desenvolvimento da ciência, pois a partir dela, o conhecimento
pode ser reproduzido com mais facilidade e outro inventos como gravuras colocaram
novos instrumentos a disposição dos cientistas permitindo copiar e multiplicar
desenhos e diagramas.

No entendimento de Mattar (2008) o maior mérito da Idade


Média foi organizar o conteúdo da Filosofia grega e islâmica, assim
como do cristianismo e uma das principais conquistas foi a institui ão de escolas
e universidades como “lar” para a organização de tais conteúdos.

3.3 A Revolução Científica

O desenvolvimento dos instrumentos de viagem como o astrolábio


(dispositivo de observação astronômica que media grosseiramente a
elevação do Sol ou de uma estrela permitindo determinar latitude, as horas do
nascer e pôr-do- sol), funcionando como relógio de bolso e régua de cálculo foi um
dos inventos que marcou esse novo período, sendo batizado de Revolução
Científica.
1
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A medicina também tomou novos rumos: em 1543, Andreas Vesalius


publica De fabrica humani corporis, que corrige erros médicos dos gregos e
revolucionou a disciplina, constituindo os fundamentos da anatomia moderna.
Em 1615, William Harvey, estabelece a mecânica do funcionamento do
coração e da circulação do sangue (MATTAR, 2008).

Não há dúvidas que a Revolução Científica é caracterizada


pelos avanços marcados na Astronomia. Nomes como Copérnico, Kepler,
Galileu e Newton marcaram época na História das Ciências, como
veremos brevemente no quadro abaixo:

Nicolau Copérnico (1473-1543) – contesta teoria de Ptolomeu de que a Terra era


o centro do universo, com os planetas e o Sol girando ao seu redor e propõe a
teoria heliocêntrica, que inclui a ideia do movimento da Terra.

Johannes Kepler (1571-1628) – conjuga as descobertas de Copérnico e


Brahe, abre caminho para a aceitação definitiva da teoria heliocêntrica
e suas três leis planetárias transformam a descrição geral do Sol e dos planetas
em uma formulação matemática precisa.

Galileu Galilei (1564-1642) – teoriza o método experimental, dividindo-o


em: observação, análise, indução, verificação, generalização e confirmação.

René Descartes (1596-1650) – de um lado defende a razão como princípio


absoluto do conhecimento e de outro, usa a matemática e a geometria
como modelos de raciocínio.

Francis Bacon (1561-1626) – desenvolve o que é considerada a


primeira teoria moderna do método científico, indicando como etapas essenciais
para o progresso da ciência: a observação e a experimentação dos
fenômenos, a formulação de hipóteses, a repetição dos experimentos, o
teste das hipóteses e a formulação de generalizações e leis.
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Evidentemente que muitos outros nomes fizeram história dentro da


ciência, foram grandes as evoluções na botânica, na medicina, na química, enfim,
em todos os campos, mas nosso intuito ao falar destas invenções é
exclusivamente mostrar que existe uma evolução no pensamento e a importância
do método para provar e refutar os fenômenos.

3.4 A Revolução Industrial

A Revolução Industrial, a partir do século XIX, foi marcada


pela criação e pelo uso da energia, assim, ciência e produção
passaram a se influenciar mutuamente, ou seja, a necessidade de meios mais
eficientes de produção fez com que a ciência se desenvolvesse. “Os
problemas técnicas da indústria começam a gerar constantes desafios às
ciências, ao mesmo tempo em que a indústria torna-se dependente dos
progressos científicos” (MATTAR, 2008).

É inventado o primeiro termômetro de mercúrio; provou-se que os raios


são eletricidade; a indústria têxtil é desenvolvida a partir do aperfeiçoamento da
primeira máquina a vapor; a química avança mostrando que o ar não é
uma substância elementar, mas composto de vários gases, dentre eles o
oxigênio é isolado pela primeira vez; é instaurada a lei da conservação
das massas (na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma); a
matemática também alcança progressos principalmente no campo das
equações diferenciais; a medicina entra na era da prevenção com a
introdução da técnica de vacinação.

O século XIX apresenta, sem dúvida, uma série de invenções


importantes, é também o século da invenção das ciências biológicas:

1821 – inventado o motor elétrico.

1824 – funda-se a dinâmica do calor ou termodinâmica.

1843 – surge o primeiro telégrafo elétrico.

1859 – Darwin formula a sua teoria da evolução das espécies.

1860 – inventado o motor a gasolina.

1866 – surge a dinamite.

1876 – é inventado o telefone.

1887 – é descoberto o elétron.


Mais uma vez o que desejamos é mostrar que a utilização de
métodos próprios levam as ciências a avançarem, principalmente a partir de
pesquisas e descobertas em ramos específicos do conhecimento.

3.5 O século XX

A racionalidade e a consciência representam apenas uma camada da psique


humana, que é também determinada por processos inconscientes e irracionais sobre os
auais o ser humano não tem controle; não é possível prever os fenômenos
nucleares, já que seus movimentos são irregulares e desordenados; tempo e espaço
não são absolutos, mas relativos; o universo está em constante expansão; os
átomos são estruturas praticamente vazias, e não maciças: a matéria é descontinua
(MATTAR, 2008, p. 18).

Por mais paradoxal que possa parecer, o intenso desenvolvimento


da ciência, no século XX, acabou abalando a crença do ser humano num
universo regido por leis e passível de ser conhecido em seus mínimos detalhes. Ao
contrário, o progresso científico do século passado levou o ser humano a
perceber que só pode compreender o mundo em que vive pelas leis da
probabilidade, por meio de aproximações que, em geral, são passíveis de erro.

A ciência passou a conviver com a ideia de que o acaso desempenha


papel primordial no universo, assim como no próprio ser humano.

“A ciência não epistemológica e tampouco ontologicamente neutra”


(MATTAR, 2008, p. 18) e vemos nas pesquisas em Física uma contribuição nesse
sentido quando propõe que o átomo já não é mais considerado um maciço e
nem indivisível.

Na segunda metade do século XX, as ciências físicas alcançam também um


alto grau de abstração quando começa a desenvolver uma teoria de que o universo não
é estático, mas em constante movimento e expansão. Os avanços na genética,
principalmente através do Projeto Genoma Humano, um dos mais audaciosos do
final do século XX promete revolucionar a medicina, as ciências biológicas,
a indústria relacionada à biotecnologia (agricultura, produção de energia, controle
de lixo, despoluição ambiental).

Enfim, o papel das ciências, do conhecimento científico é insumo


indispensável para o desenvolvimento econômico e social do planeta.
21
2
0

4 A CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA

Devido à complexidade do universo e da diversidade dos


fenômenos que acontecem nele, foi preciso haver uma divisão da ciência em vários
ramos para que o homem estudasse e entendesse esses fenômenos. Essa divisão
ou classificação obedece várias características: ou pelo conteúdo, pela diferença dos
enunciados ou pela metodologia empregada.

A primeira classificação foi proposta por Augusto Comte que obedeceu


uma ordem crescente de complexidade: Matemática, Astronomia, Física,
Química, Biologia, Sociologia e Moral. Outros autores aliaram a complexidade
crescente com o conteúdo.

Em relação ao conteúdo, a classificação primeira foi feita por Rudolf


Carnap, que dividiu as ciências em formais (contendo apenas enunciados analíticos,
isto é, cuja verdade depende unicamente do significado de seus termos ou de sua
estrutura lógica) e factuais (além dos enunciados analíticos, contém, sobretudo os
sintéticos, aqueles cuja verdade depende não só do significado de seus
termos, mas, igualmente, dos fatos a que se referem).

Bunge (1976, p. 41 apud Lakatos e Marconi, 2004, p. 27)


apresenta a seguinte classificação:

 Formal (lógica e matemática);

 Factual: - natural (física, química, biologia e psicologia individual);

-cultural (psicologia social, sociologia, economia, ciência


política, história material e história das ideias).

Na classificação de Wundt (1952 apud Lakatos e Marconi, 2004, p. 27)

 Formais (matemática)

 Reais –ciências da natureza

- ciências do espírito
22

Mesmo não havendo muito consenso entre as classificações, a


diferença fundamental é ser formal ou factual, ou seja, a ciência formal estuda as
ideias e a ciência factual estuda os fatos.

Nas primeiras (ciências formais) encontramos a lógica e a matemática,


que não tendo relação com algo encontrado na realidade, não podem
valer-se dos contatos com essa realidade para convalidar suas fórmulas. Por outro
lado, a física e a sociologia, sendo ciências factuais, referem-se a fatos que
supostamente ocorrem no mundo e, em consequência, recorrem à
observação e à experimentação para comprovar (ou refutar) suas fórmulas
(hipóteses) (LAKATOS; MARCONI, 2004).

A lógica e a matemática tratam de entes ideais, tanto abstratos


quanto interpretados, existentes apenas na mente humana e, mesmo nela,
em âmbito conceitual e não fisiológico. Em outras palavras, constroem seus
próprios objetos de estudo, mesmo que, muitas vezes, o faça, por abstração de
objetos reais (naturais ou sociais).

Segundo Lakatos e Marconi (2004) citando Trujillo (1974) e Bunge


(1976) a divisão em ciências formais e factuais leva alguns aspectos em
consideração, conforme o quadro comparativo abaixo:
ASPECTOS CIÊNCIAS FORMAIS CIÊNCIAS FACTUAIS

O objeto ou tema das Preocupa com enunciados Tratam de coisas e


respectivas disciplinas processos

A diferença de Relacionam símbolos Tratam de entes


espécie entre extracientíficos –
enunciados fenômenos e processos

O método pelo qual Contentam com a lógica Necessitam observar e/ou


se comprovam os para demonstrar seus experimentar
enunciados teoremas

O grau de suficiência São suficientes em relação a Dependem do fato


em relação ao seus conteúdos e métodos experimental para sua
conteúdo e método de de prova convalidação
prova

O papel da coerência Os axiomas podem ser Usam-se símbolos


para se alcançar a escolhidos à vontade, mas interpretativos. A coerência
verdade os teoremas (as conclusões) com um sistema de ideias
têm que ser verdadeiros, ou previamente admitido é
seja, não é possível violar as necessária, mas não
leis do sistema de lógica que suficiente para obter a
se determinou utilizar verdade. O enunciado
precisa passar pelo sistema
de provas

O resultado alcançado Demonstram ou provam Verificam (comprovam ou


refutam) hipóteses que
geralmente são provisórias.
24

5 FERRAMENTAS DE TRABALHO DO PROFISSIONA DO NÍVEL


SUPERIOR

Para Cervo, Bervian e Silva (2007) não se pode deixar de


tratar dos conceitos, leis, teorias e doutrinas quando estamos falando em
Metodologia Científica, mesmo porque o profissional do nível superior,
principalmente das áreas de ciências humanas e sociais, utiliza em seu trabalho,
ferramentas teóricas e não ferramentas manuais ou técnicas, como é característico
dos níveis de formação de ensino médio e técnico.

“Ferramentas teóricas são um conjunto de ideias, códigos, símbolos e


valores que indicam uma série de operações realizáveis, física e/ou mentalmente, a
partir da manipulação de conceitos abstratos” (FERRARI, 1974, p. 98).

5.1 Conceitos, leis, teorias e doutrinas

Conceitos ou constructo pode ser entendido como ideia,


sentença, opinião (FERREIRA, 2004).

Para Lakatos (1983, p. 99) “conceito expressa uma abstra ão,


formada mediante a generalização de observa ões particulares”. Para os que
privilegiam a teoria em detrimento da prática, conceito seria uma técnica
utilizada para obter ou medir alguma coisa para além do próprio
fenômeno que descreve. Inversamente, para aqueles que privilegiam os fatos
em detrimento da teoria, conceito significa uma série de operações
realizáveis física e/ou mentalmente, empreendidas com a finalidade de justificar
ou reproduzir os referentes do fenômeno que está definindo.

Conceitos são construções lógicas, estabelecidas de acordo com


um sistema de referência e formando parte dele. São considerados, por um lado,
como instrumentos de trabalho do cientista e, por outro, como termos
técnicos do vocabulário da ciência (FERRARI, 1974, p. 98).

De todo modo, cada ciência ou área de conhecimento em particular


possui um vocabulário técnico específico que precisa ser de domínio comum
de seus praticantes. Poucas ciências, entretanto, conseguem ou podem construir
vocábulos e conceitos originais, sendo necessário que elas invadam o
campo semântico de outras ciências, ocorrendo a migração de conceitos ou
a apropriação de conceitos de uma ciência para outras.
25

Conceito é a pedra angular para a construção das teorias,


assim como a família é a pedra angular para a construção da sociedade e a
célula, a pedra angular para a existência dos corpos vivos (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2007).

Nos processos de observação, descrição, análise, comparação e


síntese das propriedades gerais e específicas dos objetos, fatos e fenômenos, a
ciência encontra certas regularidades que, se uniformes, constantes e
regulares, possibilitam a classificação e a generalização para objetos,
fatos e fenômenos semelhantes por admitir-se que “se um fato ou fenômeno se
enquadra em uma lei, ele se comportará conforme o estabelecido na lei”
(KNELLER, 1980, p. 94).

São duas as principais funções da lei:

1. Resumir grande quantidade de fatos e de fenômenos;

2. Possibilitar a previsão de novos fatos e fenômenos.

Desse modo, temos leis gerais para explicar o comportamento dos


líquidos, dos gases, da matéria, dos grandes números, do movimento etc.,
bem como presumimos leis gerais para explicar a natalidade, a mortalidade,
o movimento de populações ou o desenvolvimento pessoal e social.

Quando a lei é abordada pela Metodologia Científica, trata-se


de lei científica, sem qualquer conotação legislativa ou jurídica, conforme
estamos acostumados a pensar. As leis científicas são, nas palavras de
Montesquieu “as relações constantes e necessárias que derivam da
natureza das coisas”. As leis exprimem quer relações de existência ou de
coexistência (a água é um corpo incolor, inodoro, tendo tal densidade,
suscetível de assumir o estado líquido, sólido e gasoso etc.), quer relações de
causalidade ou de sucessão (a água ferve a cem graus centígrados, o
calor dilata os metais, etc.), quer, enfim, relações de finalidade (o fígado tem
por função regular a quantidade de açúcar no sangue) (CERVO;
BERVIAN; SILVA, 2007).

Nas ciências experimentais, as leis possuem maior rigor e exatidão do


que nas ciências humanas e sociais, pois, enquanto estas estão condicionadas,
mais ou menos, à liberdade humana, aquelas seguem o curso fatal do
determinismo da natureza. Desse fato, entretanto, não se pode concluir que as
ciências humanas e sociais se constituam em simples opiniões mais ou menos
viáveis. As ciências humanas e sociais realizam todas as condições para se
constituírem em ciência:
2
6

 Os fenômenos que estudam são reais e distintos dos tratados nas ciências
experimentais;

 As causas e as leis descobertas nessa área exprimem relações necessárias


entre os fatos e entre os atos;

 Suas conclusões têm um caráter incontestável de certeza, embora de ordem


diferente da certeza das ciências experimentais.

As ciências humanas e sociais ocupam, sem dúvida, lugar distinto


na hierarquia das ciências quanto aos quesitos de precisão, certeza e rigor
de seus resultados. Muitos dos fatos considerados nas ciências humanas e sociais
não são atingidos diretamente, como os fenômenos psíquicos que apenas se
manifestam no comportamento. Isso acarreta dificuldades tanto para a
experimentação quanto para a generalização (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

Os fatos humanos e sociais implicam maior complexidade do que os


quantitativos ou físicos. A abordagem e a análise qualitativa comportam algo da
subjetividade do próprio ser humano, que tende a abordar e analisar os
fatos orientados por matrizes filosóficas e ideológicas exteriores a eles. Enfim,
pode-se dizer que as incertezas e as angústias humanas em relação a sua origem,
finalidade e destino são componentes importantes na determinação do grau
de certeza e de precisão na pesquisa, uma vez que o rigor metodológico aplicado
na condução da própria pesquisa é sempre relativo. Essa é a base da
origem da diversidade de opiniões, por vezes desconcertantes, sobre várias
questões das ciências humanas e sociais (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

Os fenômenos físicos, por serem regidos por leis determinísticas, podem


ser previstos e alguns até provocados para serem mais bem observados; enquanto
isso, a liberdade, que interfere mais ou menos nos atos humanos, impede
que sua previsão seja absolutamente exata, tornando apenas aproximativos
os cálculos quando aplicados às ciências humanas e sociais.
2
7

Finalmente, as ciências da natureza tratam de fatos e objetos materiais


que podem ser pesados e medidos, ao menos indiretamente. Assim, essa
possibilidade de quantificação das propriedades físicas atribui aos resultados da
pesquisa um pouco de rigor matemático. Aos fatos humanos e sociais, por serem
essencialmente qualitativos, não são aplicáveis os processos de quantificação
(pesar e medir). Embora sejam generalizadas as relações descobertas em
amostras particulares, deve-se sempre ter em mente que os homens, em tese,
mesmo sendo iguais, agem, pensam e se organizam socialmente de formas
diferenciadas (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

Por esses motivos, os resultados, como também as leis das ciências


humanas e sociais, são mais flexíveis e menos rigorosos, apesar de
expressarem suficiente estabilidade e constância para se constituírem em
verdadeiras ciências.

O emprego usual do termo teoria opõe-se ao termo prática. Nesse


sentido, a teoria refere-se ao conhecimento (saber, conhecer) em oposição
à prática como ação (agir, fazer). Aqui, entretanto, o termo teoria é
empregado para significar um resultado a que tendem as ciências. Estas
não se contentam apenas com a formulação das leis. Ao contrário,
determinadas as leis, procuram interpretá-Ias ou explicá-Ias (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2007).

Assim, surgem as chamadas teorias científicas, que reúnem


determinado número de leis particulares sob a forma de uma lei superior e mais
universal.

A teoria distingue-se da hipótese, uma vez que a hipótese é


verificável experimentalmente, e a teoria não. Todas as proposições da teoria se
integram no mundo do discurso (conhecimento), enquanto a hipótese
comprova sua validade, submetendo-se ao teste da experiência. A teoria é
interpretativa, enquanto a hipótese resulta em explicação por meio de leis
naturais. A teoria formula necessariamente hipóteses, ao passo que estas
subsistem independentemente dosenunciados teóricos.

É importante que o estudante saiba que a teoria cumpre as


seguintes funções:

 Coordenar e unificar os saberes científicos;


 Ser instrumento precioso do pesquisador, sugerindo-lhe analogias até
então ignoradas e possibilitando-lhe, assim, novas descobertas.

Com o decorrer do tempo e a evolução da ciência, as opiniões dos


próprios cientistas se modificaram. Até meados do século XIX, os cientistas, de
modo geral, admitiam que as teorias não só explicavam os fatos, mas
também eram uma apreensão da própria natureza ontológica (última) da
realidade. A partir de meados do século XIX, os cientistas restringiram o valor
explicativo da teoria (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

Ainda que seja um sistema lógico e coerente, capaz de


orientar tanto o pensamento como a ação, principalmente na investigação
científica, a teoria não é e não pode ser entendida como a verdade. Ela
reflete, sim, o estado da arte no conhecimento sobre determinado fato ou
fenômeno em um espaço e um tempo também determinados e pode e deve
ser modificada pelos avanços posteriores do conhecimento e da própria ciência.
Assim sendo, o estudante deve conhecer a teoria e saber operacionalizar os
conceitos nela implícitos, mas deve saber também que a teoria, mesmo se
chamada de científica, tem seus limites (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

Se a teoria tiver a pretensão de explicar e solucionar todo e


qualquer problema, ela se torna irrefutável; logo, passa a ser uma ideologia, e não
mais uma teoria.

A teoria é e precisa ser parcial, pois não pode abrigar


hipóteses ou proposições antagônicas ou contraditórias nem estar contra as
evidências observáveis e conhecidas. O que é possível e salutar é a tentativa de
unificação de teorias ou, pelo menos, a busca pela conciliação de aspectos de
teorias divergentes, que podem significar importante indicativo para a
investigação científica. Não admitimos tranquilamente sermos descendentes
dos macacos. Um ponto de intersecção possível entre as duas teorias é a
admissão de que Deus tenha criado o espírito do ser humano e a natureza seja a
responsável pela evolução de sua parte física (o corpo), suficiente para
estimular o surgimento de inúmeras correntes, teóricas e experimentais,
que visam a buscar meios para conciliar o espírito e a matéria, a mente
e o corpo, a vida física e a vida espiritual etc. (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
2
9

A ciência visa a explicar os fenômenos. Para isso observa, analisa,


levanta hipóteses e as verifica, em confronto com os fatos, pela experimentação, e
induz a lei, colocando-a em um contexto mais amplo, por meio de teorias.
São operações que se desenvolvem em um ambiente de objetividade,
de indiferença e de neutralidade.

A doutrina, porém, propõe diretrizes para a ação. Em uma doutrina, há


ideias morais, posições filosóficas e políticas e atitudes psicológicas. Há, também,
subjacentes, interesses individuais, interesses de classes ou de nações. A doutrina
é, assim, um encadeamento de correntes, de pensamentos que não se
limitam a constatar e a explicar os fenômenos, mas os apreciam em função de
determinadas concepções éticas e, à luz desses juízos, preconizam certas
medidas e proíbem outras (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

A doutrina situa-se na linha divisória dos problemas do espírito e dos


fatos (teoria = ciência versus ação) e, estando largamente assentada
nesses dois domínios, permite proceder à síntese.

É importante ficar claro que a postura científica é imparcial, não


torce os fatos e respeita escrupulosamente a verdade. O cientista deve
cultivar a honestidade, evitar o plágio, não colher como seu o que os outros
plantaram, não ser acomodado e enfrentar os obstáculos e perigos que
uma pesquisa possa oferecer (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

A postura científica não reconhece fronteiras, não admite


nenhuma intromissão de autoridades estranhas ou limitações em seu campo de
investigação e defende o livre exame dos problemas.
30

6 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA

Chegamos ao ponto que realmente nos interessa nessa apostila


de Metodologia Científica e que nos levará ao objetivo proposto que é desmistificar
que a pesquisa e seu processo são reservados a poucos iluminados, mostrar que
cada sujeito pesquisa o tempo todo, mas compreender a importância do uso do
método e suas normas para que a pesquisa tenha resultado confiável e
se torne um novo conhecimento universal.

Não refutamos a existência dos conhecimentos teológicos, filosóficos


ou empíricos, mas para a academia, para a ciência, o que vale e
acreditamos ter deixado bem claro até o momento, é o conhecimento
baseado na observação dos fatos, no teste das hipóteses, na verificação e
comprovação e na possibilidade de sua contestação.

Como dizem Lakatos e Marconi (2004) todas as ciências


caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida,
nem todos os ramos de estudo que empregam esses métodos são ciências.
Dessas afirmações podemos concluir que a utilização de métodos científicos não
é da alçada da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.

6.1 Métodos

Método em sentido geral quer dizer “Ordem que se deve


impor aos diferentes processos necessários para atingir um certo fim ou
um resultado desejado”. Nas ciências, entende-se como o conjunto de processos
empregados na investigação e na demonstração da verdade (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2007).

Lakatos e Marconi (2004) oferecem vários conceitos de método, dentre


eles:

“Caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda


que esse caminho tenha sido fixado de antemão de modo refletido e deliberado”.

“Forma de proceder ao longo de um caminho”.

“Procedimento regular, explícito e passível de ser repetido para


conseguir-se alguma coisa, seja material ou conceitual”.
31

Segundo Cervo, Bervian e Silva (2007) o método não é


inventado; ele depende do objeto da pesquisa. Os cientistas cujas
investigações foram coroadas de êxito tiveram o cuidado de anotar os
passos percorridos e os meios que os levaram aos resultados. Mesmo que
no começo tenha sido usado de maneira empírica, gradativamente eles
foram se transformando em métodos verdadeiramente científicos.

O método científico quer descobrir a realidade dos fatos, e estes, ao


serem descobertos, devem por sua vez, guiar o uso do método. Entretanto, ele é
apenas um meio de acesso, pois é preciso inteligência e reflexão juntas para se
descobrir o que os fatos e os fenômenos realmente são.

O método científico segue o caminho da dúvida sistemática, metódica,


que não se confunde com a dúvida universal dos céticos, cuja solução e impossível.
O pesquisador que não tiver a evidência como arrimo precisa sempre
questionar e interrogar a realidade. Mesmo no campo das ciências sociais, deve
ser aplicado de modo positivo, e não de modo normativo, isto é, a pesquisa positiva
deve preocupar-se com o que é, e não com o que se pensa que deve
ser (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

O método científico aproveita a observação, a descrição, a


comparação, a análise e a síntese, além dos processos mentais da dedução e da
indução, comuns a todo tipo de investigação, quer experimental, quer racional.

Quando falamos em método científico nos reportamos aos métodos


indutivo, dedutivo e hipotético-dedutivo. Todos possuem alguma variante ou
ramificação e evidentemente são criticados.

Numa acepção bem simples, a diferença fundamental entre o


método dedutivo e o método indutivo é que o primeiro aspira a
demonstrar, mediante a lógica pura, a conclusão na sua totalidade a partir de
umas premissas, de maneira que se garante a veracidade das conclusões, se não
se invalida a lógica aplicada. Trata-se do modelo axiomático proposto por
Aristóteles como método científico ideal (MOLINA, 2007).

Pelo contrário, o método indutivo cria leis a partir da observação dos


fatos, mediante a generalização do comportamento observado; na realidade, o que
realiza é uma espécie de generalização, sem que através da lógica possa
conseguir uma demonstração das citadas leis ou conjunto de conclusões (MOLINA,
2007).
32

As referidas conclusões poderiam ser falsas e, ao mesmo tempo, a


aplicação parcial efetuada da lógica poderia manter a sua validade; por
isso, o método indutivo necessita de uma condição adicional, a sua aplicação
considera-se válida enquanto não se encontrar nenhum caso que não cumpra o
modelo proposto.

O método hipotético-dedutivo ou de verificação de hipóteses não coloca,


em princípio, nenhum problema, visto que a sua validade depende dos
resultados da própria verificação (MOLINA, 2007).

Temos ainda o Método Dialético que foi proposto por Hegel, o qual
postula que as contradições se transcendem dando origem a novas
contradições que passam a requerer solução. Nesse sentido, os fatos não
podem ser considerados fora de um contexto social, político, econômico, etc.

Outros métodos específicos das Ciências Sociais seriam o Método


Histórico, o Comparativo o Monográfico, o Estatístico, o Tipológico, o
Funcionalista e o Estruturalista.

Para maior clareza com relação a estes métodos citados acima, sugere-
se a leitura do livro Metodologia Científica de Lakatos e Marconi, utilizado
como referência nesta apostila, o qual traz de forma clara os detalhes e variantes
de cada um deles.

Como diz Lakatos e Marconi (2004) do mesmo modo que o


conhecimento se desenvolveu, o método, sistematização das atividades,
também sofreu transformações. Para Galileu, por exemplo, o primeiro teórico
do método experimental, as ciências não tinham como foco principal a
preocupação com a qualidade, mas com as relações quantitativas. Seu método é
descrito como indução experimental, chegando-se a uma lei geral por
intermédio da observação de certo número de casos particulares.

Para Francis Bacon são essenciais a observação e a experimentação


dos fenômenos, pois somente esta última pode confirmar a verdade: uma
autêntica demonstração sobre o que é verdadeiro ou falso, somente é
proporcionada pela experimentação.
33

O tipo de experimentação proposto por Bacon é denominado


coincidências constantes. Ele postula que: aparecendo a causa, dá-se o fenômeno;
retirando-se a causa, o efeito não ocorre; variando-se a causa, o efeito altera-se.

René Descartes afasta-se dos processos indutivos e utiliza o método


dedutivo. Para ele chega-se à certeza, por intermédio da razão, princípio absoluto do
conhecimento humano.

O quadro comparativo abaixo nos mostra de forma sucinta o método


segundo alguns cientistas famosos.

GALILEU BACON DESCARTES MÉTODO ATUAL

Observa Experimenta Evidencia Descobre o problema


Analisa Formula Analisa Colocação precisa do problema
Induz hipóteses Sintetiza Procura conhecimentos ou
Repete o instrumentos relevantes ao
Verifica Enumera.
experimento problema
Generaliza
Testa a Tenta solucionar o problema
Confirma. hipótese com auxílio dos meios
Formula identificados
generalizações Inventa novas ideias – produz
e leis. novos dados empíricos
Obtém uma solução
Investiga as consequências da
solução obtida
Prova a solução
Corrige as hipóteses, teorias,
procedimentos ou dados
empregados na obtenção da
solução incorreta.

De forma resumida devemos entender que método é o dispositivo ordenado,


o procedimento sistemático em plano geral.
3
4

O método racional também é científico, embora os assuntos a que se


aplica não sejam realidades, fatos ou fenômenos suscetíveis de comprovação
experimental. As disciplinas que o empregam (principalmente as diversas áreas
da filosofia) nem por isso deixam de ser verdadeiras ciências.

Todo método depende do objetivo da investigação. A filosofia, por


exemplo, não tem por objeto o estudo de coisas fantasiosas, irreais ou
inexistentes. A filosofia questiona a própria realidade. Por isso, o ponto de
partida do método racional é a observação dessa realidade ou a
aceitação de certas proposições evidentes, princípios ou axiomas, para em
seguida prosseguir por dedução ou por indução, em virtude das exigências
unicamente lógicas e racionais. Mediante o método racional, que também se
desdobra em diversas técnicas científicas (como a observação, a análise, a
comparação e a síntese) e técnicas de pensamento (como a indução e a dedução,
a hipótese e a teoria), procura-se interpretar a realidade quanto a
sua origem, natureza profunda, destino e significado no contexto geral.

Pelo método racional, procura-se uma compreensão e uma visão


mais ampla sobre o homem, sobre a vida, sobre o mundo, sobre o ser. Essa
cosmovisão, a qual leva a investigação racional, nada pode ser testada ou
comprovada experimentalmente em laboratórios. E exatamente a
possibilidade comprovar ou não as hipóteses que distingue o método
experimental (científico em sentido restrito) do racional (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2007).

6.2 Técnicas

O método concretiza-se como o conjunto das diversas etapas ou


passos que devem ser seguidos para a realização da pesquisa e que configuram
as técnicas. Os objetos de investigação determinam o tipo de método a ser
empregado, a saber, o experimental ou o racional. Um e outro empregam
técnicas específicas como também técnicas comuns a ambos. Pode-se
dizer que a maioria das técnicas que compõe o método científico e racional
é comum, embora devam ser adaptadas ao objetivo da investigação. Por isso, as
técnicas ou processos que serão explicitadas a seguir dizem respeito ao método
experimental e, indiretamente, com as adaptações que se impõem, ao método
racional (LAKATOS; MARCONI, 2004).
3
5

Podem ser chamados de técnicas aqueles procedimentos científicos


utilizados por uma ciência determinada no quadro das pesquisas
próprias dessa ciência. Assim, há técnicas associadas ao uso de certos
testes em laboratório, ao levantamento de opiniões de massa, à coleta de
dados estatísticos; há técnicas para conduzir uma entrevista, para determinar
a idade por medições de carbono, para decifrar inscrições desconhecidas
etc. (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

As técnicas em uma ciência são os meios corretos de executar as


operações de interesse de tal ciência. O treinamento científico reside,
em grande parte, no domínio dessas técnicas. Ocorre, entretanto, que certas
técnicas são utilizadas por inúmeras ciências ou, ainda, por todas elas. O
conjunto dessas técnicas gerais constitui o método. Portanto, métodos são
técnicas suficientemente gerais para se tornarem procedimentos comuns a
uma área das ciências ou a todas as ciências.

Existe, pois, um método fundamentalmente idêntico para todas as


ciências, que compreende um certo número de procedimentos, aplicações
científicas ou operações levadas a efeito em qualquer tipo de pesquisa. São eles:
a observação, a descrição, a comparação, a análise e a síntese. Esses
procedimentos servem aos seguintes propósitos:

 Formular questões ou propor problemas e levantar hipóteses;

 Efetuar observações e medidas;

 Registrar tão cuidadosamente quanto possível os dados observados


com o intuito de responder às perguntas formuladas ou comprovar
a hipótese levantada;

 Elaborar explicações ou rever conclusões, ideias ou opiniões que estejam


em desacordo com as observações ou com as respostas resultantes;
generalizar, isto é, estender as conclusões obtidas a todos os casos
que envolvem condições similares; a generalização é tarefa do processo
chamado indução,

 Prever ou predizer, isto é, antecipar que, dadas certas condições, é


de esperar que surjam certas relações.
3
6

Mesmo assim, o método pode e deve ser adaptado às diversas ciências,


à medida que a investigação de seu objeto impõe ao pesquisador lançar
mão de técnicas especializadas.

Parece faltar algo aqui não é mesmo? Como, por exemplo, os diversos
tipos de pesquisa de acordo com os objetivos (exploratória, descritiva, explicativa),
ou os delineamentos da pesquisa (bibliográfica, documental, experimental) ou
ainda falar dos meios de coletar os dados, mas optamos por explanar sobre as
técnicas mais amiúde, na apostila destinada a Orientações de Trabalho de
Conclusão de Curso, acreditando que seria mais pertinente, sendo uma
colaboração para com o estudante nessa etapa do trabalho.

6.3 Formas de pensamento

O pensamento alimenta-se da realidade externa e é produto direto da


experiência. O ato de pensar caracteriza-se por ser dispersivo, natural e
espontâneo. A reflexão, porém, requer esforço e concentração voluntária. É dirigida
e planificada. A conclusão do raciocínio constitui o último elo de uma
cadeia, o período final de um ciclo de operações que se condicionam
necessariamente (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

Segundo Mattar (2008) vários são os movimentos que procuram discutir


em sentido amplo, os métodos em ciências, alguns deles acreditamos ser
importantes discorrer, pois mostram as formas de pensamento que reinaram ao
longo da história da humanidade.

O empirismo, a primeira dessas formas de pensamento, pode ser


entendido como uma postura filosófica, assim como o racionalismo e o idealismo.

O empirismo inglês afirma, de uma forma geral, que a única fonte de


nossas ideias é a experiência sensível, valorizando assim os sentidos. O empirismo
acabou funcionando, na história do pensamento, como um movimento que
funda todas as correntes anti-idealistas, que defendem que o pensamento
humano deva ser compreendido pela experiência efetiva, e não pela abstração
do real.

Se é claro que o empirismo não determinou o desenvolvimento das


ciências naturais ou empíricas contemporâneas, ajudou sem dúvida a construir
uma atmosfera intelectual que se coaduna perfeitamente com os métodos
dessas ciências (MATTAR, 2008).

Nesse sentido, os empiristas ingleses destacam a importância da


sensação e da experiência, e discutem temas importantes como o uso das
hipóteses, a estrutura do raciocínio indutivo, a importância da probabilidade, etc.

Ao positivismo associa-se o ideal de neutralidade nas ciências. Seu


principal nome é o de Auguste Comte (1798-1857). Para ele, a ciência seria o
conhecimento por excelência. Os conceitos e as expressões possuem significado
se, e apenas se ou seja, se forem operacionalizados (MATTAR, 2008).

A extensão do positivismo é o neopositivismo (positivismo lógico ou


empirismo lógico), que também destaca a importância da operacionalização. O neo
positivismo caracteriza-se pela combinação de ideias empiristas com a lógica
moderna. O movimento surgiu na Áustria, com o “Círculo de Viena” (fundado
pelo filósofo Moritz Schlich em 1924, durou até 1936), na Alemanha e na Polônia.
Muitos de seus principais filósofos emigraram para os Estados Unidos ou a
Inglaterra, fugindo do nazismo. Alguns de seus nomes mais importantes são
Rudolf Carnap (1891-1970), Herbert Feigl (1902-1988), Otto Neurath (1882-
1945) e Friedrich Waisman (1896-1959) (MATTAR, 2008).

Para o neopositivismo, a verificabilidade seria o critério de


significação de um enunciado. O sentido das proposições científicas dependeria,
portanto, de uma verificabilidade empírica. Assim, as ciências empíricas, guiadas
pela lógica e pela matemática para manter o rigor e a correção de
suas teorias, esgotariam o conhecimento possível do real. O neopositivismo
destaca-se também, nesse sentido, pelas investigações centradas num critério
de demarcação, que separaria as proposições científicas das não científicas
(MATTAR, 2008).

O pragmatismo está associado ao filósofo, matemático, lógico e


cientista norte americano Charles Sanders Peirce (1839-1914). Há outros nomes
importantes de pragmatistas clássicos, além de Peirce, como Ralph Waldo
Emerson, William James e John Dewey, assim como de pragmatistas
contemporâneos, como Richard Rorty, Hilary Putnam, Stanley Fish, Nancy Fraser,
Cornel West, Ian Hacking, Richard Poirier e Stanley Cavell, De origem filosófica,
o pragmatismo apresentará ramificações na política, na educação e na
crítica literária, para se constituir como um método científico (MATTAR, 2008).
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Para os pragmatistas, a clareza de nossas ideias implica concebermos


seus efeitos práticos, ou seja, sensações e reações associadas com o objeto
do pensamento.

A máxima pragmatista diz que, para clarificar, para “desenvolver” o


significado de uma concepção, é preciso determinar que hábitos ela
produz, pois aquilo que uma coisa significa é simplesmente os hábitos
que ela envolve. O pragmatismo busca os resultados, mais do que as origens,
em nossa compreensão das ideias. Assim, equivale aos procedimentos
experimentais básicos das ciências de laboratório, e poderia ser empregado em
qualquer campo do conhecimento. É sinônimo, portanto, do método
experimental das ciências para adquirir e desenvolver o conhecimento humano
(MATTAR, 2008).

A estrutura do método científico, segundo o pragmatismo, dividir-se-


ia em: identificar o problema; oferecer uma hipótese explanatória usando meios
abdutivos; e testar nossa hipótese contra o problema por meios dedutivos. O que
poderia ser resumido pela tríade problema-hipótese-teste. A estrutura básica do
método do pragmatismo para a aquisição e o desenvolvimento do
conhecimento humano, portanto, implica três passos:

a) Identificar o problema que se tem em mãos, seja pela experiência comum, como
se aprende, ou pelos fatos ou explicações especiais ou peculiares da disciplina
acadêmica.

b) Produzir, usando toda a criatividade possível, uma explicação ou, ainda melhor,
uma hipótese explanatória (algo passível de teste) que se acredite que
possa pelo menos parcialmente resolver o problema.

c) Testar a sua explicação cuidadosa e repetidamente, principalmente a sua


hipótese, contra aquilo a que ela está programada a explicar, principalmente
o problema, e com o mesmo cuidado (ou ainda mais cuidado) observar
e anotar os resultados desse teste buscando erros (MATTAR, 2008).

O pragmatismo seria, nesse sentido, o método dos métodos, ou o


método dos outros métodos. Seriam seus métodos subsidiários: o raciocínio
abdutivo, do qual derivam as hipóteses que são selecionadas para testar o
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raciocínio dedutivo pelo qual, idealmente, a certeza do conhecimento é


expressa e pelo qual, com a finalidade de certeza, hipóteses erradas são
eliminadas de nosso conjunto de explicações; e o raciocínio indutivo, pelo
qual, sobretudo, probabilidades são examinadas e, de acordo com elas, hipóteses
que sobrevivem a nossos exercícios de eliminação dedutiva são
consideradas, para investigações futuras (MATTAR, 2008).

É importante distinguir o marxismo como metodologia do


marxismo como programa social. Como método, é necessário destacar pelo
menos dois aspectos do marxismo:

 Em primeiro lugar, o marxismo, ao descrever o movimento da realidade e do


próprio pensamento por meio de uma dialética tese/antítese/síntese, defende a
necessidade do trabalho com a negação e com a contradição: por meio da
confrontação entre as ideias, seria possível gerar uma síntese, que por sua
vez deveria ser submetida a uma nova contradição, e assim por diante.

 Em segundo lugar, o marxismo é importante por defender que os níveis


econômico, jurídico-político e ideológico devem ser estudados no processo de
construção do conhecimento. Assim, o marxismo insiste que essas
perspectivas devem ser levadas em conta, nas ciências humanas, para a
análise e interpretação dos fenômenos relacionados ao ser humano, e, em
relação às ciências empíricas, introduz uma perspectiva de estudar a verdade
científica em sua exterioridade, ou seja, não apenas por meio do
desenvolvimento interno das ciências, de seus métodos e sua lógica, mas
também das influências socioeconômicas que determinam o seu progresso, a
maior ou menor aceitação das teorias científicas, a transmissão do
conhecimento científico, etc. (MATTAR, 2008).

O estruturalismo desenvolveu-se na França, entre os anos 1950 e


1960, envolvendo os campos da psicanálise e da psicologia, da filosofia, da
antropologia, da linguística, das ciências sociais, da crítica literária e da
semiótica, incluindo a matemática e a lógica, a física e a biologia. Nomes de
destaque no movimento são: os linguistas Ferdinand de Saussure (com seu
clássico Curso de Linguística Geral), Roman Jakobson; o antropólogo Claude Lévi-
Strauss; os filósofos Michel Foucault, Jacques Derrida; o estudioso da cultura
grega Jean-Pierre Vernant; O psicólogo Jacques Lacan; além de Roland
Barthes, Louis Althusser, Pierre Bourdieu e George Dúmezil (MATTAR, 2008).
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O estruturalismo defende que a realidade é composta de estruturas.


Assim, seria possível encontrar e estudar estruturas em arquitetura, no corpo, nas
línguas, na psicologia, na matemática, na geologia, na anatomia, e inclusive nas
ciências humanas e sociais. O método das ciências, portanto, seria identificar
essas estruturas e explicar como suas partes organizam-se numa totalidade,
formalizando-as.

A estrutura não deveria, entretanto, necessariamente ser


entendida como algo estático, mas sim como uma totalidade que se transforma e
se auto-regula.

Por fim, temos Karl Popper, bastante conhecido como o introdutor do


critério de falseabilidade para diferenciar as teorias científicas dos discursos não
científicos. Um conceito científico deve ser refutável ou falseável, ou seja,
deve ser possível admitir uma situação prática, como resultado de uma
experiência, em que esse conceito possa ser desmentido. Uma teoria
científica deve implicar a possibilidade de sua contradição: as teorias que
não admitem sua possível negação pela experiência não seriam científicas
(MATTAR, 2008).

Em linhas gerais, Popper defende a substituição do método indutivo por


um método hipotético-dedutivo. Ele se propõe a responder às seguintes questões,
com o objetivo de distinguir entre ciência e pseudociência: “Quando uma teoria
deve ser classificada como científica?” e “Há um critério para o caráter ou estatuto
científico de uma teoria?” (MATTAR, 2008).

Nessa direção, Popper realiza uma crítica à teoria da história


de Marx, à psicanálise freudiana e à psicologia individual de Alfred Adler: hámuitas
verificações de suas verdades, e essas teorias acabam por ser sempre
confirmadas. Para Popper, as confirmações devem ser classificadas como
científicas apenas se forem o resultado de uma previsão que tiver assumido riscos.
Uma teoria científica seria, então, uma proibição: quanto mais proíbe, melhor.
Uma teoria que não é refutável por nenhum evento concebível não deve ser
considerada científica; para assumir tal estatuto, ela deve ser incompatível com
certos resultados possíveis da observação.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS E UTILIZADAS

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trabajadores sociales. 7 ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978.

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MATTAR, João. Metodologia Científica na Era da informática. 3 ed. São Paulo:


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