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Viktoria Tkotz
Novatec Editora
Capítulo 1
Introdução
A criptografia, para a maioria das pessoas uma ilustre desconhecida, suscita comentários
tanto divertidos quanto estranhos. Pode ser associada aos mistérios dos mortos (talvez
porque o prefixo cripto lembre cripta), à prática de conjurações esotéricas, à bruxaria e
até à escrita automática comandada por espíritos, a chamada psicografia. Em outras oca-
siões foi considerada um trabalho exclusivo de gênios da matemática ou de especialistas
em computadores. O curioso é que poucos se dão conta de que a criptografia faz parte
da vida moderna protegendo informações e mantendo em sigilo dados confidenciais.
Além de ser utilizada para guardar segredos comerciais e industriais, a criptografia é um
ingrediente essencial na manutenção de segredos de Estado. Os métodos criptográficos
também garantem a origem e a autenticidade de documentos, especialmente os de grande
circulação, como o dinheiro que, sem dúvida alguma, faz parte da nossa rotina diária.
Entre outras peculiáridades, também protegem senhas, cartões de crédito, transações
bancárias, telefones celulares e redes de computadores.
Discreta por excelência, a criptografia é a guardiã anônima que zela pela nossa priva-
cidade e preserva nosso direito a segredos, qualidades mais do que suficientes para que
seja elogiada em prosa e verso e para que seja analisada mais
Até recentemente, tanto a criptografia quanto a criptoanálise eram consideradas uma arte.
Somente há cerca de vinte anos é que a criptologia, que engloba o estudo de ambas, passou a
ser considerada uma ciência. A International Association for Cryptologic Research (IACR ou
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Capítulo 1 • Introdução 17
São inúmeros os exemplos em que o rumo da história foi mudado em virtude da pre-
servação de informações vitais por meio de métodos criptográficos seguros ou em virtude
do resultado obtido por criptoanalistas competentes. Governos mais bem organizados, que
reconhecem o valor estratégico de um serviço de inteligência, costumam manter vastas
estruturas de espionagem e de interceptação de informações. O que hoje conhecemos
como Agência de Informação ou Serviço Secreto, não faz muito tempo era chamado de
Gabinete Negro. Com uma freqüência maior do que se pode supor, a qualidade desses
serviços já decidiu o resultado de muitas batalhas, levou à destituição de altos mandatários
e até significou a diferença entre a vida e a morte de muitas figuras proeminentes.
não tem acesso aos métodos instituídos por essas empresas, nem conhecimento deles,
para ocultar e recuperar informações sigilosas, portanto, em hipótese alguma, pode ser
penalizado pela ineficiência dos sistemas de proteção adotados.
Esta é a criptografia moderna que permeia nossas atividades diárias. Oculta e silenciosa,
foi concebida para nos dar proteção, mas está fora do nosso alcance. Os sistemas robustos
realmente nos protegem, mas os que apresentam falhas de segurança nos expõem às agru-
ras de armadilhas das quais dificilmente podemos escapar. Já que esta é a realidade dos
fatos, nada mais justo do que se informar. Este livro trata principalmente da criptologia
clássica porque seus métodos e princípios são atemporais. São a base de toda a criptologia
moderna e nos ajudam a entender não só as cifras antigas, mas também são o caminho
mais curto e seguro para entender as mais atuais.
1.2 O vocabulário
Sabemos que qualquer especialidade possui um vocabulário próprio e a criptologia não é
exceção. Convencionou-se chamar o conteúdo de uma mensagem aberta, não submetida
a qualquer tipo de ocultação, de texto claro. Já uma mensagem que tenha sido processada
para esconder informações é chamada de mensagem cifrada, texto cifrado, texto codificado
ou, genericamente, criptograma. Tal situação pode levar a uma certa confusão quando o
conteúdo de uma mensagem secreta não for submetido a nenhum tipo de processamento,
como nos casos em que mensagens abertas são escondidas em fundos falsos de malas ou
escritas com tintas invisíveis – ainda assim, continuam sendo consideradas criptogramas.
A criptologia se ocupa da ocultação de informações e da quebra dos segredos de ocultação,
aquela é chamada de criptografia, e esta, de criptoanálise. As mensagens podem ser escon-
didas de duas formas diferentes: ocultando a existência da mensagem (esteganografia) ou
tornando seu conteúdo ininteligível (criptografia). Todo processo criptográfico obedece
a certas regras definidas, chamadas de criptossistema ou algoritmo criptográfico. Um
criptossistema funciona como uma via de mão dupla: o sistema permite transformar textos
claros em criptogramas e, o mesmo sistema usado ao contrário ou “no avesso”, permite
decifrar criptogramas para se obter a mensagem original. Quando se conhece o método
que foi utilizado para gerar um criptograma e se obtém o texto claro utilizando-se o mesmo
método, o processo denomina-se decifração ou decodificação. Quando o método que
gerou o criptograma é desconhecido, então o sistema precisa ser quebrado. Neste caso,
trata-se de uma atividade de criptoanálise. Em outras palavras, recuperar o texto original
quando se conhece o método é decifração ou decodificação; quebrar o invólucro de segredo
e arrancar o texto original quando o método é desconhecido, criptoanálise.
Capítulo 1 • Introdução 21
Os códigos também são um tipo de substituição, mas são classificados num grupo
separado porque possuem características próprias. Códigos são centenas ou até milhares
de palavras, frases, letras e sílabas associadas a palavras-código ou números-código
(chamados genericamente de grupos-código) que são usados para substituir elementos
do texto claro. Um código pode ser entendido como um alfabeto cifrante gigante, só
que as unidades substituídas são palavras ou frases. Além de palavras e frases, os códigos
também costumam conter sílabas e letras, usadas para soletrar palavras que não constem
lista. Como as cifras e os códigos são métodos de substituição, a diferença entre eles
nem sempre é muito nítida. O fator determinante é que as cifras substituem unidades
de tamanho fixo (sempre uma ou duas letras) enquanto os códigos substituem unida-
des de tamanho variável (palavras, frases etc.). Outra característica que os diferencia é
que os códigos atuam em unidades lingüísticas (dependem do idioma da mensagem),
enquanto as cifras atuam de forma mais matemática (letra por letra) e independem do
idioma do texto claro. A quantidade de códigos geralmente é muito grande e impossível
de ser memorizada. Por isso, os códigos costumam ser listados em livros, numa espécie
de dicionário de códigos, também conhecidos como nomenclaturas.
Nada impede que vários processos diferentes sejam usados na cifragem de mensagens.
Muito pelo contrário, essa técnica, conhecida como recifragem ou supercifragem, só au-
menta a segurança do segredo. A supercifragem continua muito atual e é usada nas cifras
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mais seguras que se conhece. Cabe aqui uma explicação. Durante as minhas pesquisas,
constatei que certos termos essenciais não existem no português. Por exemplo, existe o
verbo cifrar, mas não existe “cifragem”, o ato de cifrar, e muito menos recifragem ou su-
percifragem; não existem também os termos “encriptar” ou “encriptação” e seus inversos
“desencriptar” e “desencriptação”. Apesar de não existirem oficialmente, vou usá-los de
vez em quando – espero não estar cometendo uma enorme heresia.
Cada uma das áreas citadas ganhou um capítulo próprio. O capítulo 3 fala exclusiva-
mente da esteganografia (lembra até um manual de mágico amador) e o capítulo 4 trata
somente dos códigos. As cifras de transposição podem ser encontradas no capítulo 5 e as
de substituição, mais numerosas, no capítulo 6. Por último, mas não menos importante,
vem a criptoanálise no capítulo 9. Os outros capítulos abordam assuntos como o segre-
do, um dos principais ingredientes da criptologia, os métodos combinados e os artefatos
criptográficos, com destaque para a máquina Enigma.