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Desertificação no Nordeste:
subsídios para a formulação
de políticas públicas
MISSÃO
Produzir, articular e disseminar
conhecimento para aperfeiçoar as
políticas públicas e contribuir
para o planejamento do
desenvolvimento brasileiro
Eduardo A. C. Grcia
Governo Federal
Ministro de Estado Extraordinário de Assusntos
Estratégicos – Roberto Mangabeira Unger
Secretaria de Assuntos Estratégicos
Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Presidente
Márcio Pochmann
Diretor de Administra e Finanças
Fernand Fewrreira
Diretor de Assuntos Macroeconômicos
João Sicsú
Diretor de Estudos Sociais
Jorge Abrahão de Castro
Diretora de Estudos Regionais e Urbanos
Liana Maria da Frota Carleial
Diretor de Estudos Setoriais
Márcio Wohlers de Almeida
Diretor de Cooperação e Desenvolvimento
Márcio Lisboa Theodoro
Chefe de Gabinete
Persío Marco Antônio Davison
Secretário Exewcutivo do Conselho Editorial
Daniel Castro
2
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
1
2 DESENVOLVIMENTO
11
2.1 Conceitos e Contextualizações
14
2.1.1 Desertificação: o problema central
15
2.1.2 Combate à desertificação
29
2.1.3 Degradação de recursos da terra
37
2.1.4 Desenvolvimento sustentável
39
2.1.5 Convivência com a seca: ações integradas em planos
49
2.1.6 Erosão dos solos
57
2.1.7 Conservação e manejo integrado de ambientes e recursos naturais
61
2.1.8 Agricultura: destaque para a sustentabilidade agrícola
62
3
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65
2.1.10 Educação ambiental e capacitação para o planejamento e gestão
67
2.1.11 Cenários e estudos prospectivos
68
2.1.12 Políticas públicas para o combate à desertificação e comv[ivio com a seca
74
2.2 O Problema da Desertificação
57
2.3 O Objetivos e Metas
86
94
2.4.1 Fontes de Dados e Informações
98
2.4.2 Aspectos Metodológicos Gerais
99
2.4.2.1 Técnicas e métodos de síntese e de análise de dados
100
2.4.2.2 Síntese e análise de agrupamento de dados 102
4
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104
2.4.2.2.2 Relações entre variáveis que definem tanto o problema da desertificação como
aspectos do controle
105
2.5 Principais Resultados: Discussão
108
5
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 “Trilha” da degradação que leva a desertificação
18
Figura 2 Elementos de um plano de combate à desertificação indicados pela
Convenção das Nações Unidas de Combate à desertificação
24
Figura 3 Relações entre desertificação (fenômeno local), mudança climática
(fenômeno regional e global) e perda - degradação da biodiversidade (processo
local, regional e global)
27
Figura 4 Ciclos da degradação da terra
38
Figura 5 Ilustração de cinco dimensões em dois cenários: presente e ffuturo
43
Figura 6 Cisternas do semiárido
51
Figura 7 Cistrenas de placas pré-moldadas
52
Figura 8 Tipos frequentes de erosões dos solos no semiárido e Planos Nacionais de
Combate à Desertificação
6
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
59
Figura 9 Ciclos simplificados de políticas públicas no combate à desertificação
76
62
Figura 5 Núcleos de desertificação na Região Nordeste
63
Figura 6 Percentual de dias com déficit hídrico estimado pelo CPTE / INPE
(complementado), para um período de dez anos
69
Figura 7 Níveis de potencialidades agrícolas dos solos do Nordeste
70
Figura 8 Mapa de cobertura vegetal do Nordeste
71
Figura 9 O bioma Caatinga e delimitação de oito ecorregiões
72
Figura 10 Divisão hidrográfica da Região Nordeste
73
Figura 11 Tipos de solos da Região Nordeste
74
Figura 12 Ilustração de integração de componentes físicos no zoneamento
ambiental
76
7
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80
Figura 14 Exemplos de relações de fatores causais, em cascata com indicações
de taxas ( )
81
Figura 15 Exemplos de relações de fatores, naturais e antrópicos, de degradação
ambiental, com indicações de taxas ( ) em diferentes períodos (t; t - i; t + j
etc.)
82
Omitida
Figura 16 Indicações de causas e correspondentes efeitos no problema de
desertificação
83
Figura 17 Ilustração do controle de causas e de seus efeitos que evitam a
desertificação
91
Figura 18 Causas e sinais de degradação na atividade pecuária: sistema de pastejo
92
Figura 19 Processos naturais (gestão integral) e processos antrópicos (conservação)
no controle da desertificação e mitigação – convívio com a seca
93
Figura 20 Processo de desertificação e exemplos de indicadores desse processo
107
Figura 21 Política de informação: relações entre dado, variável, indicador e índice
8
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Sequência e inter-relacionamento de componentes em abordagem
sistêmica
22
Quadro 2 Pontos de reflexão que poderão auxiliar a definição de ações e estratégias
em um plano ou projeto de combate à desertificação
32
Quadro 3 Fatores, condições e possíveis contribuições que determinam a erosão dos
solos
60
Quadro 4 Elementos do conceito de conservação, isto é, utilização reacional
9
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63
Quadro 5 Tipos de cenários que podem ser utilizados para auxiliar a elaboração de
um plano de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca no
Nordeste
72
Quadro 6 Possíveis cenários sobre um futuro esperado sem redução das emissões de
CO2 à atmosfera
73
Quadro 6 Classificação das terras susceptíveis a desertificação de acordo com o
índice de aridez e grau de susceptibilidade à erosão
59
Quadro 7 Níveis de degradação por tipos de solos no Nordeste. 1995
75
Omitida
Quadro 8 Escala de inter-relacionamentos forte (f), moderado (m) e leve (l) entre
variáveis
102
Quadro 9 Exemplo de indicadores e de índice da desertificação e convivência com
a seca
110
Quadro 10 Indicadores descritivos e índice da desertificação e convivência com a
seca
113
10
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Clima, índice de aridez e terras afetadas (mil km2) pela desertificação nos
continentes
39
Tabela 2 Núcleos de desertificação na Região Nordeste. 1998
64
Tabela 3 Número de municípios compreendidos pelo semi—árido brasileiro
segundo áreas delimitadas pelo Polígono das Secas (traço verde) e Região
Semiárido do FNE (traço – pontilhado – azul)
65
Tabela 4 Estados do Nordeste com áreas susceptíveis à desertificação. 2004
67
11
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1 INTRODUÇÃO
12
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
inclusive quanto ao futuro do homem no planeta, com 1,02 bilhões de subnutridos, segundo
dados da FAO (2009).
Tais desequilíbrios formalizam novas “ordens” (desordens) de ambientes e sistemas
naturais cada vez mais empobrecidos; essa formalização vem ocorrendo pela trilha da
desertificação que acentua a escassez de recursos naturais pelo consumo irresponsável;
provoca desastres naturais como a erosão de solos e biológica; e gera como conflitos como
os de posse e uso desses recursos.
Os ambientes e recursos naturais, i no início do novo milênio, continuam sendo
submetidos a crescentes pressões e em processos elevados e acelerados de degradações,
comprometendo ou agravando a continuidade de atendimentos de necessidades que passam,
com maior frequência, extensão e intensidade, a serem insatisfeitas para uns e
insustentáveis para todos. É a pavimentação da trilha da desertificação feita pelo
consumismo, ii economicismo” iii e “tecnologismo” / tecnologicismo. iv
Os processos de degradação ambiental, as pressões antrópicas sobre os recursos
naturais e os riscos de perdas dessas riquezas davam claros sinais, no início do novo
milênio, de continuarem ampliando condições e fortalecendo estados precários para a
sobrevivência da humanidade e, no mediano prazo, para a sobrevivência de comunidades
vulneráveis à desertificação; estados insustentáveis para o fornecimento de bens ambientais
valiosos e imprescindíveis para o desenvolvimento sustentável.
Eram evidências e sinais, reais ou aparentes, em 2009, de países industrializados não
estarem dispostos a, p.ex., realizarem contribuições substanciais para a redução de emissões
de gases causadores do efeito estufa – GEE: não conseguirem atender expectativas do
Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática – IPCC, no sentido
de reduzirem em 40,0%, até 2020, as emissões desse GEE; nem se dispuserem, tais países,
para agirem (até jul/2009), com ações, estratégias e decisões exequíveis e práticas para
combater o aquecimento global que aprofunda desigualdades econômicas e sociais
associadas às perdas ambientais (resultados de simulações indicam um elevado potencial de
perdas econômicas no Nordeste, em especial nos estados mais pobres; DOMINGUES,
MAGALHÃES E RUÍZ, 2009). Frustravam-se, com tais sinais, propósitos da 14ª. Reunião
de 2008, em Poznan, ao preparar a 15ª. Conferencia das Partes da Convenção (7 – 18, dez.,
2009, Copenhague).
São processos destrutivos, pressões com impactos negativos e comportamentos
“irracionais” a se constituírem sérios entraves para a harmonização e equilíbrio exigidos
por esse desenvolvimento.
Pelo desenvolvimento sustentável a tratar e integrar dimensões, tais como: a) a
ambiental, devidamente (re)conhecida pela sua natureza, pela sua capacidade de
sustentação dos ecossistemas e pela necessidade de ser valorizada em sistemas contáveis e
em políticas públicas; b) a social, a ser indicada, internalizada e respeitada em planos que
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
transformados em terras afetadas por fortes ventos que varrem as várzeas dos rios Tigres e
Eufrates (LARSEN, 2008).
Diamond (2006; complementado), em seu livro Collapse: how societies choose to
fail or to survive, apresenta uma análise das causas de ascensão e colapso de muitas
civilizações; nessa apresentação, enfatiza a fragilidade do meio ambiente (isto é, do
conjunto de fatores naturais, sociais e culturais que rodeiam o indivíduo e com os quais
deve interagir, influenciando-o e sendo influenciado) e os efeitos de escolhas individuais
para o futuro das sociedades e descreve como várias civilizações foram destruídas por
causa do uso insustentável dos recursos naturais e decorrentes processos de desertificação.
Oportuno complementar que esses processos, no caso do Brasil, continuam sendo
provocados por diversas causas conhecidas, algumas com origem histórica como é a
concentração de recursos da terra que centraliza poder. Desde o início, a estrutura montada
para a acumulação do capital esteve (está) diretamente relacionada com a concentração de
recursos da terra. A concentração fundiária está associada à própria forma como o Estado se
organizou no País, mediante concessões Sesmarias aos “filhos do Rei”; uma forma que
determinou características da territorialidade, sem preocupações vi diretas com o ambiente,
com efeitos notáveis e douradores, quanto à proteção e preservação de fontes e reservas.
É importante destacar para reflexão, entre outros aspectos, a colocação de que os
problemas ambientais não estão exclusiva ou necessariamente ligados ao sistema capitalista
e ao objetivo da empresa de “maximizar” lucros, mas à questão de não ser feita a
“otimização” compatível com preocupações ambientais o ocorrer se não houver condição
para isso.
A ideia da sensibilização da sociedade para a importância das boas práticas
ambientais é um fator que permeia à empresa para adotar boas práticas com evidências de
que as que provocam (provocarem) danos são (serão) penalizadas pelos mercados.
No sistema capitalista e democrático é possível gerar incentivos e induzir mudanças
de comportamento, dos consumidores e de governos. São atitudes e comportamentos,
provocados por tais mudanças, compatíveis com a proteção ambiental. Caso não seja
alcançada essa compatibilização, será difícil [se não impossível] manter por muito tempo o
meio ambiente sadio. São ajustes que dependem de escolhas certas feitas no presente, em
relação à natureza (DIAMOND, op. cit.).
Relatos do senador romano Cícero (106 - 43 a.C), destacam, entre outros aspectos,
barreiras de recuperação de áreas ocupadas no norte da África (UNEP, 1992; SANTO e
LIMA, 2002).
Friedrich Engels, em sua obra Dialética da natureza, descreve “Os homens que na
Mesopotâmia, na Grécia e na Ásia Menor, entre outras regiões, destruíram os bosques para
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obter terra arável, não podiam imaginar que, dessa forma, estavam dando origem à atual
[no início do novo milênio] desolação dessas terras ao despojá-las de seus bosques”.
A desertificação era, no início, um processo lento e silencioso que pela intensificação
de fatores responsáveis pela sua ocorrência passou a ser observado, com preocupação, a
partir dos anos 30, no meio oeste americano dos Estados Unidos da América.
Foi a observação do fenômeno conhecido como Dust Bowl por causa de três anos de
secas que foram agravados pela degradação da terra. Eram “poeiras de areias” que afetaram
aproximadamente 380 mil km2, em áreas de climas semiáridos de quatro estados
(Oklahoma, Kansas, Novo México e Colorado), com violentas tempestades de poeiras, após
secas, erosão dos solos e desmatamentos da vegetação natural (gramíneas). Foram impactos
que dizimaram a produção agrícola e provocaram a emigração coletiva para o oeste norte-
americano; migração e efeitos decorrentes da intensa e desordenada exploração dos
recursos naturais da terra.
No período 1967/68 a 1973, ocorreu uma grande seca na Região do Sahel, África
Subsahariana, zonas semiáridas que afetam vários países. Essa seca provocou a morte, por
fome, da mais de 200 mil pessoas e milhões de animais.
Foram fatos, entre outros e, possivelmente, por um deles ter afetado, na década de 30,
um dos países mais desenvolvidos, - os Estados Unidos da América, que despertaram
pesquisadores para orientar suas ações de investigação em ecossistemas frágeis marcados
pelas intempéries do clima e sob forte pressão antrópica de seus ambientes.
Na era moderna, dominada pela tecnologia e o conhecimento, a desertificação não se
limita às regiões em desenvolvimento, mas é observado e registrado em países como, por
exemplo, Austrália, Estados Unidos e a China, entre os mais de 110 países afetados por esse
fenômeno, 33,9% da superfície seca do planeta e mais de 2,5 bilhões de pessoas.
Segundo a ONU, é notável a degradação e a ameaça que afeta 66,0% das terras do
planeta. De acordo com o Centro Internacional para o Estuda das Terras Áridas e
Semiáridas da Universidade de Texas, 69,0% das terras estão degradas (solo e vegetação)
das zonas áridas do mundo.
No Brasil, na década de 50 do século XX, há registros da “saarização do Nordeste”.
Segundo Duque (2004), a desertificação “progressivamente vai rompendo cada vez mais o
equilíbrio entre as associações vegetais, o ciclo da água, a produção agrícola, a economia e
o aspecto social”; um processo que se intensificou, na década de 70 e começou a se
manifestar em núcleos de desertificação (JALFIM, 2002), afetando, no início do novo
milênio, a 1482 municípios, aproximadamente 13,0% do território e mais de 32 milhões de
pessoas.
O problema da desertificação, com grandes impactos, incertezas e perdas de riquezas
naturais, espera, com urgência, respostas com efetividade, de interlocutores: instituições e
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2 DESENVOLVIMENTO
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áridas, semiáridas e subúmidas secas, sob pressão antrópica e formas de uso e manejo
inadequados, sejam, com relativa facilidade e notável rapidez, áreas desertificadas no
mundo, em aproximadamente 22,0% das terras sujeitas a esse processo.
Os países em processo de desenvolvimento e mais afetados pela pobreza e fome,
segundo o Informe do Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial para 2010,
afrontam 75,0 a 80,0% dos danos potenciais das mudanças climáticas.
No caso do Nordeste, tais mudanças, de acordo com Magalhães (2007), poderão
representar impactos como decréscimos na disponibilidade de água, substituição da
vegetação nativa por outras típicas de zonas áridas, terras agricultáveis sujeitas à
desertificação, salinização e aumentos de fatores que levam à redução na capacidade de
suporte para manter a população, mais incertezas para a agricultura de sequeiro e crises
sociais devidas às secas mais frequentes e severas, entre outros.
O estudo da FAO Avaliação da degradação do solo em zonas áridas, de 2008,
financiado por Global Environment Facility, revela que a principal causa da degradação do
solo é a má gestão da terra, a má gestão dos recursos da terra. Essa causa se destaca pelo
fato de as terras secas serem responsáveis por aproximadamente 22,0% da produção de
alimentos do mundo. São terras com riscos de desertificação em aproximadamente 33,0%
da superfície total (51,72 milhões de km2) e 70,00% de todas as terras das zonas áridas.
A evidência do impacto da desertificação, junto com a difusão da pobreza, é a
degradação de aproximadamente 3,3 milhões de km2 da área total de campo: 73,0% com
baixa capacidade de sobrevivência; 47,0% de queda na fertilidade dos solos de áreas secas;
e 30,0% de áreas secas com alto potencial de irrigação e alta densidade demográfica. Parte
da evidência dos efeitos negativos da desertificação está na perda de cerca de 6,0 mil km 2
por causa do sobrepastoreio e da salinização de solos por irrigação com praticas e
tecnologias impróprias às condições locais e usos intensivos dos recursos da terra, além da
capacidade de suporte de ecossistemas e manejos, portanto, inadequados às realidades
locais.
No Brasil, são terras que correspondem a aproximadamente 15,7% da superfície total
do território, com várias categorias de susceptibilidade, tais como: muito alta (24,3% da
área total susceptível de 980,7 mil km2); alta (39,2% do total da área susceptível; áreas
áridas e semiáridas) e moderada (36,5% da área total susceptível) (PROGRAMA DE
COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA. IICA,
2008).
É oportuno esclarecer que as áreas susceptíveis à degradação dos solos, dos recursos
hídricos, da vegetação e biodiversidade e à redução da qualidade de vida de populações
afetadas pelo fenômeno, não se limitam às regiões semiáridas ou subúmidas secas do
Nordeste. Têm-se registros e, por vezes com melhores avaliações desses processos
negativos, em estados como os de Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, São Paulo e
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Degradação local
poluição e com as mudanças Função Intensidade de uso
Forma de manejo
climáticas: esse é o sentido da “trilha”
que encurta o tempo para a
desertificação; da trilha que representa o
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saúde educação
Interdisciplinaridad
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“para expressar a regressão da selva equatorial africana pelo corte abusivo, incêndios e roças para a
transformação em campos de cultivo e pastiçais, o resultado dessa prática não era outro senão a exposição
do solo, a erosão hídrica, eólica e conversão de terras biologicamente produtivas em desertos”
(AUBRAVILLE, citado por CAVALCANTI, COUTINHO E SELVA, 2006).
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maiores secas. Essas variações, entre outros, são manifestações notáveis que aparecem na
África e na América Latina (NOBRES, 2008).
Entretanto, por “conveniências” e acomodações com viés, de determinados setores e
países e pelas implicações que se depreendem com a internalização de passivos ambientais
em contabilidades públicas e privadas desses atores, são “fatos, dados e projeções”
questionáveis e até “rejeitáveis”, em função dessas “conveniências” e acomodações, apesar
da polêmica ter sido “aparentemente” resolvida quando aprovada a Agenda 21 e acordada
a sua implementação na Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação.
As Nações Unidas, mediante suas convenções que pactuam, por acordos, ações e
estratégias de combate à desertificação, e os países ricos e desenvolvidos, através de suas
representações econômicas e políticas nesses fóruns, respondem com grande defasagem (à
despeito de fatos e evidências das consequências da desertificação no econômico, no social
e no ambiental) e se “recusam” em acatar compromissos e a se comprometerem a
alcançarem metas que possam reduzir causas como as de mudanças climáticas, de perdas da
biodiversidade e das desertificações ambiental e humana.
AÇÕES
Acrescenta-se o fato de determinados acordos e mercados internacionais estimularem
Elaborar e implementar um programa de
a sobre-exploração de recursos daação
terra quenacional
levam ou de
favorecem à desertificação.
combate à
desertificação, com a participação da
população e de comunidades (...), com
OBJETIVOS parcerias, cooperações e coordenações.
Combater a Um programa com flexibilidade para se
consistentes com a
Agenda 21
PROBLEMA
Identificar fatores contri-
buintes * à desertificação COMBATE À
e definir-especificar DESERTIFICAÇÃO E AOS
obrigações ** dos EFEITOS DE SECAS
envolvidos (…).
RECOMENDA
Recomenda a criação ABORDAGEM
de sistemas de alerta Integrada [sistêmica], considerando
precoce e a preparação aspectos físicos, biológicos e
da sociedade com socioeconômicos do problema para
planos de contingências acenar nas ações de solução.
para lidar com a seca. Associar as estratégias de erradicação
Inclusão do da pobreza com os esforços orientados
fortalecimento de para combater
33 a desertificação e
sistemas como o de mitigar os efeitos da seca.
segurança alimentar.
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Mudança
climática Perda da
biodiversidade
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A desertificação é um inimigo não mais silencioso, nem visível apenas no longo prazo e
defasado de atividades causais, em seu aparecimento, que, paradoxalmente, tem sido “criado”,
fortalecido e evidenciado em grande parte, por ações e intervenções humanas imprevidentes e
irresponsáveis nos ecossistemas. Isto porque sucessivos desflorestamentos, queimadas, sobre-
explorações e artificializações auxiliadas por tecnológicas impróprias rompem ciclos e exaurem
fontes: a trilha da desertificação é pavimentada por essa tecnologia.
O combate pressupõe definir (conhecer) o inimigo da forma mais completa e objetiva
possível: identificar e caracterizar os fatores ou condições que impedem ou limitam o
aproveitamento integrado do solo, dos recursos hídricos e dos recursos florestais em áreas
susceptíveis à desertificação; conhecer os fatores e condições que levam à degradação.
Dessa forma, combater à desertificação implica (condição necessária) conhecer as causas da
degradação pelos seus efeitos significativos, tanto diretos como indiretos – associados; conhecer as
interações de fatores em um conjunto (físico e antrópico) e de conjuntos ou sistemas em um local
ou região. Um combate que exige ações e estratégias acordadas, integradas e viabilizadas
(viabilizáveis por todos) em planos e políticas com atividades conjuntas público–privadas e com
recursos e estratégias nacionais – internacionais direcionadas. Esse direcionamento, com
objetividade, realismo e legitimidade é condição de sucesso. Um combate com visão e cenário
“definidos” e interpretados – viabilizados em políticas públicas.
Controlar a degradação de recursos da terra com efetividade esperada em resultados de
planos pressupõe, além de conhecer a origem, a evolução, o estado atual e os possíveis
desdobramentos de fatores, as tendências desse fenômeno dentro de condições estabelecidas em
cenários prospectivos de desenvolvimento para, com base nesses conhecimentos, definir estratégias
e ações integradas em planos de desenvolvimento sustentável.
O combate à desertificação com objetividade, significa evitar ou minimizar, em níveis
toleráveis pelos sistemas ambientais, sociais e econômicos, fatores, condições e atitudes que
estimulam ou favorecem, provocam ou aceleram a degradação dos recursos da terra e levam à
desertificação. Significa relacionar e compreender todas as atividades (no início do combate, as
mais importantes) e estratégias que podem melhorar as fontes - reservas e os fluxos de recursos
naturais em zonas semiáridas e subumidas (terra secas: caso do semiárido nordestino) tendo como
referência o desenvolvimento sustentável. Portanto, nesse combate há, também, um interesse e foco
no aproveitamento integrado dos recursos e ambientes da terra em zonas áridas, semiáridas e
subúmidas secas, orientado para o desenvolvimento sustentável e com objetivos de prevenção e/ou
redução da degradação e de recuperação de terras em vários níveis de degradação.
O controle de causas da desertificação e, em particular, o combate aos fatores e condições de
aceleração e intensificação desse fenômeno, tem sido para a agricultura sustentável, um tema
recorrente tanto na Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação como em outras
convenções, agendas, planos e proposições em vários níveis e frentes, desde o monitoramento até a
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avaliação e propostas de medidas sem, contudo, alcançar (até início do novo milênio) os objetivos
propostos nessas convenções e planos.
Um tema em destaque que, a partir de 2007/08, motivou novas preocupações, diante as
frustrações de controle e combate desse fenômeno, pelas relações diretas com a produção de
alimentos significativamente reduzida em zonas afetadas, em setores expressivos da população, e de
fontes afetadas biorenováveis de energia passando a se constituir um problema ambiental, social e
econômico nacional e global.
O combate à desertificação deve considerar, no tratamento proposto em políticas públicas, as
causas e os fatores condicionantes que as favorecem; considerar, em especial, evitar esses fatores ou
reduzi-los em níveis ou riscos toleráveis pelo ecossistema, bem como eliminar ou reduzir as
condições que aceleram ou agravam esse problema.
Há princípios, recomendados pela Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação que, quanto possível e sempre adequados às condições locais (processo e estratégia
que o País tem adotado), devem orientar e fundamentar programas de combate à desertificação, tais
como: a) as decisões relativas à concepção e implementação desses programas serão tomadas com a
participação das comunidades locais afetadas – interessadas; nas instâncias superiores de decisão,
será criado um ambiente propício para facilitar a realização das ações nos níveis nacional e local; b)
devem ser melhoradas a cooperação e coordenação, no contexto de solidariedade e parceria, e os
recursos humanos, organizacionais e técnicos alocados onde forem mais necessários; c) a natureza
e o valor dos recursos da terra devem ser mais bem compreendidas e promovidas conservações, -
usos com tecnologias e praticas sustentáveis; d) as necessidades e circunstâncias particulares
devem ser evidenciadas e plenamente consideradas nos programas.
São recomendações que destacam a necessidade de se ter “pleno” conhecimento de condições
que facilitam a participação e cooperação – coordenação; da internalização da natureza e valor dos
recursos em políticas e programas; e de circunstâncias particulares a serem atendidas em planos e
projetos, como as do ser humano em seu meio e estado de evolução.
O Quadro 2 sintetiza aspectos, relacionados com a pesquisa e desenvolvimento (P&D), para
reflexão ao se definirem ações e estratégias de um plano de combate à desertificação e convivência
com a seca, considerando, em parte, recomendações da Convenção.
Quadro 2 Pontos de reflexão que podem auxiliar a definição de ações e estratégias em um plano projeto
de combate à desertificação e convívio com a seca
PONTOS DESDOBRAMENTOS
Em seu meio sociocultural, econômico e ambiental; com a sua
Foco: o ser humano
história, perspectivas e possibilidades, dentro de contextos realistas.
O progresso, com - A implementação de programas de ação local e regional:
objetividade no foco, motivação para a participação.
depende de: - Necessidade de cooperação internacional e parceria: troca de
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
Quais são as causas que devem ser colocadas em destaque em uma proposta de combate à
desertificação? As manifestações dessas causas, em níveis variáveis de região para região, podem ser
sintetizadas como segue:
a) Intensivos e indiscriminados desmatamentos feitos sem critérios técnicos nem opções
econômicas em áreas frágeis; práticas de queimadas constantes; e ocupação desordenada do solo, com
redução e/ou extinção de espécies da vegetação nativa, uma das formas do empobrecimento do solo e do
favorecimento da erosão.
b) Utilização de tecnologias agropecuárias, entre outras e para outros setores, inadequadas para as
condições do semiárido e uso abusivo na aplicação de agrotóxicos e praticas de irrigação que poluem
fontes de água e provocam salinizações nos solos.
c) Práticas tradicionais de uso e manejo inadequados dos recursos solo, água e vegetação; são,
com frequência, práticas associadas a um sistema de propriedade da terra concentrador de
benefícios e de arranjos produtivos com externalidades negativas, agravados pela existência
de secas periódicas.
d) Exploração intensiva (sobrepastoreio e cultivo excessivo ou sobre-exploração), além da
capacidade de suporte ambiental em áreas frágeis e de equilíbrios “considerados” instáveis;
na abordagem de sistema não se tem essas considerações, pois são equilíbrios que respondem
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Valorizar esses ambientes significa conhecê-los para apreciá-los e com base nessa avaliação
ambiental xiv valorativa, conservá-los, tendo como objetivos: a prevenção e/ou redução da
degradação de suas fontes; a reabilitação de terras parcialmente degradadas; e a recuperação de
terras degradadas, entre outros.
Aliado ou concomitante com o combate a desertificação se tem a mitigação dos efeitos da
seca (entendida, conforme a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, como as
“atividades relacionadas com a previsão da seca e dirigidas à redução da vulnerabilidade da
sociedade e dos sistemas naturais aquele fenômeno no que se refere ao combate à desertificação”)
para auxiliar às comunidades no convívio com a seca, não por pretendidos e frustrados controles
diretos desse fenômeno natural, mas mediante ações que impeçam seu agravamento ao preservarem
equilíbrios ecológicos, matas ciliares preservadas e fontes de água conservadas, entre outras. Ações
que permitam “melhor” reconhecer e gerenciar esse fenômeno, inclusive com potencial de
oportunidades de fontes alternativas de energia. Ações que possibilitem amenizar seus efeitos,
tornando-os toleráveis, como é o caso da previsão da seca, dirigida, em parte, à redução da
vulnerabilidade, isto é, à diminuição do grau de susceptibilidade de sistemas físicos, biológicos e
socioeconômicos de comunidades não mais surpreendidas pela seca.
Pela avaliação de previsões de secas com a máxima confiabilidade possível e decorrente
implantação de ações (p.ex., emergenciais, transitórias e permanentes, segundo seja o caso) e seus
monitoramentos oportunos é possível, em tese, minimizar-se-ão danos de “secas anunciáveis”.
Gerar e divulgar informações de previsões sobre as características de secas, formas de proteção em
cada período do ano, mudanças de comportamento das comunidades, alternativas de produção e
consumo, entre outras, que possam estar contribuindo para efetivar o convívio com a seca.
O combate à desertificação, para que seja eficiente deve ter objetividade em seu foco,
consistência em suas ações propostas e desenvolvidas e efetividade nas estratégias, parcerias e
resultados como síntese e fruto da objetividade e efetividade. Isso significa:
a) Definir as vulnerabilidades, isto é, os níveis de susceptibilidades abióticas, bióticas e
socioeconômicas das zonas relacionadas com as práticas agrícolas de uso e manejo dos
recursos naturais; conhecer a capacidade de reorganizar, de regeneração dos ecossistemas
(resiliência) e de estrutura produtiva nesses ambientes.
Trata-se de um conhecimento básico para desenvolver ações de conservação com relações
simbióticas com as previsões / prognósticos do clima, com a recomposição de sistemas
hídricos e com a proteção da diversidade biológica.
É oportuno destacar o sentido de vulnerabilidade que, segundo Kasperson e Turner (2001),
quando associado aos riscos, perigos e danos, evidenciam fatores naturais e sociais e facilitam
a compreensão de interações entre o homem e o- ambiente.
Na especificação de indicadores para a sustentabilidade de unidades geoambientais, feita com
base no potencial e limitações de uso dos recursos naturais, em condições ecodinâmicas,
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das pastagens naturais e semeadas, das florestas e das matas nativas, provocadas pelas
frequentes e crescentes alterações, por intervenções sem critérios adequados, no uso e
manejo de recursos como solos pela erosão e deterioração de propriedades físicas, químicas
e biológicas ou econômicas; hídricos pela poluição e esgotamento de fontes; e vegetação
pelo desmatamento e queimada. Efeitos negativos e perdas incalculáveis dessa degradação
que se traduz em perdas da qualidade de vida de comunidades vulneráveis e dependentes
desses ecossistemas.
O conhecimento da degradação de ambientes e recursos da terra é fundamental não
apenas para dar sentido a princípios estabelecidos em instrumentos como os de políticas de
conservação ambiental, de combate à desertificação, de gestão dos recursos hídricos (...);
em documentos como o da Carta da Terra ao acordar acatar respeitar, favorecer, proteger e
restaurar ecossistemas para assegurar a diversidade biológica e sociocultural; e os de
garantir que os processos de decisão e seus critérios de sustentação sejam definidos de
formas transparentes, explícitos e equitativos, mas, para acenar e indicar que medidas
devem ser aplicadas; medidas que tem alicerce em princípios.
Como conceito teórico, ponto de partida de raciocínio e fundamento de políticas públicas e à
despeito do princípio ser indemonstrável, ele procura orientar uma conduta e maneira de fazer e dar
garantia - sustentação ao uso e manejo conforme a aceitação e conveniência em determinada região.
Essa conformidade ou parecer de aceitação e conveniência ou adequação que traz o princípio
determina a legitimidade de uma ação ou plano. Mas, o princípio deve ser complementado com
outros conceitos e fatores para se definirem políticas como as de desenvolvimento e, neste caso
particular, políticas de combate às causas da desertificação e convívio com a seca.
Pressões como as de altas dos preços
Fome,
Migração…
Degradação
(...) deverá considerar, para o caso do
semiárido do Nordeste, a grande diversidade Simplificação. Degradação.
Perda da biodiversidade em
de climas, geomorfologias, solos, termos (...)
46 Degradação
Mudança climática
vegetações, sistemas de uso e manejo dos recursos da terra, densidade populacional e sistemas
socioculturais, econômicos e político-institucionais, entre outros fatores e condições que compõem
um mosaico fragmentado de mais de uma centena de unidades do semiárido. Isso significa
considerar ações e estratégias integradas em planos de conservação e manejo capazes de romper
elos de componentes e ciclos perversos de estruturas como as indicadas na Figura 4.
São estruturas e pontos que levam à insegurança alimentar, à alta de preços de bens agrícolas,
à fome, à instabilidade e à migração rural-urbana.
Nos lugares de destino do migrante da desertificação, têm-se novos e graves problemas
urbanos, provocados por uma população migrante e sem recursos nem habilidades – competências
para se desenvolver nesse meio; problemas em setores básicos como de emprego, habitação–
moradia, serviços de saneamento, saúde e alimentação.
A degradação dos recursos da terra se relaciona com diversos ciclos, conforme ilustrado na
Figura 4, que precisam de estudos para entender suas lógicas e, em seguida, procurar rompê-los ao
controlar as causas quando se possa agir contra as forças ou fatores de manutenção ou propulsão,
com instrumentos de políticas locais e regionais consistentes e integráveis. Essa consistência é parte
do alicerce de processos como os de desenvolvimento sustentável em terras secas.
As terras secas podem ser consideradas ecossistemas frágeis e vulneráveis, delimitadas
conforme descritores e indicadores, um deles é o índice de aridez (Chuva/Evaporação +
transpiração ou evapotranspiração potencial) na classificação climática de Thorthwaite, com
valores, variações de intervalos e terras afetadas por continentes apresentadas na Tabela 1.
O aquecimento global pode, também, inviabilizar a agricultura familiar e de
subsistência; aumentar a emigração humana que na última década do século XX atingiu em
torno de um milhão de pessoas das áreas rurais do semiárido nordestino; e até reduzir o
volume de água do rio São Francisco, com possíveis implicações em projetos como o da
Transposição desse rio, no contexto do Projeto de Integração do Rio São Francisco com
Bacias Hidrográficas do Nordeste Septentrional.
O entendimento do problema da desertificação é condição necessária (a suficiente
depende da vontade, decisão e ação de resultados com efetividade) para acordar com os
interessados a definição de um plano com ações e estratégias a desenvolver, integradas em
políticas públicas, de “combate” à desertificação, reconhecendo-se que é preciso, antes de
tudo, vontade e decisão política para que esse combate possa ter efetividade em seu
resultado. Essas condições, as de suficiência, não são consideradas neste documento,
pressupondo-se que o fato e a evidência sejam argumentos para despertar, motivar e
orientar ações combinadas, públicas e privadas, destinadas ao controle.
Tabela 1 Clima, índice de aridez e terras afetadas (mil km2) pela desertificação nos continentes a
CLIMA ÍNDICE ÁFRICA ÁSIA AUSTRÁLIA EUROPA A.NORTE A. SUL
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imediato para o caso do Brasil. Um conceito formado por dois, - desenvolver e sustentar, ambos
complexos e em construções sistêmicas com relações interdependentes, básicas para criar e manter
comunidades sustentáveis.
Assim admitido e viabilizado, o conceito de desenvolvimento sustentável estará propiciando
melhorias na capacidade de ciclos e reservas que permitam continuar fornecendo bens e serviços
para o crescimento “responsável” e inclusivo; propiciando, também, equilíbrios dinâmicos para
atenderem às necessidades de atuais e futuras gerações; fluxos de bens e serviços devidamente
reconhecidos pelos mercados em seus valores reais como parte desse desenvolvimento. Esse
reconhecimento e, portanto, a rejeição de um bem livre, é um fator que inibe a sobreexploração de
recursos, o esgotamento de fontes.
Situação inicial
0% 100%
Ecológica Prejuízos sociais e
ambientais
SA2
SP1 SA1
Política 0%
SP2 100%
100%
0% Social
SS2
ST1
SS1 Situação Melhorada
Negociação-acordo
ST2
Imposição-
Espacial regulamentação
0% Gestão-manejo
100%
100% Educação
0% SE2 SE1
Econômica
O próprio reconhecimento do valor de bens e serviços ambientais pelo mercado como parte
da desenvolução deverá contribuir para eliminar (ou reduzir) usos e consumos indevidos,
excessivos ou superfluos (desperdícios), em benefícios de gerações presentes e futuras. Parte desse
reconhecimento tem efeitos no monitoramento de equilíbrios que possam assegurar o atendimento
às necessidades disciplinadas na “otimização condicionada” às capacidades de suporte de uma
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“função objetiva” com limitações impostas pelas dimensões que ali se integram, conjugam e
definem: a ecológica (pela capacidade de suporte), a social (pela inclusão), a econômica (pela
otimização) e a político-institucional (viável), entre outras.
O desenvolvimento sustentável pode ser visto (essa é a visão inicial neste documento:
críticas para adequá-la) e considerado como um conjunto harmônico e integrado–
complementar de processos que passam por sucessivas aproximações de atores definidos e
identificados em um espaço e período de tempo determinados; de negociações e
“confluências” (ou tolerâncias) de interesses desses atores, capaz de compreender, de
forma integrada (porque resulta de transações e acordos entre os interessados que se
aproximam), articulada (porque a todos convém a participação nesse processo) e
transparente xvi (pela legitimidade do acordo na participação social e discussão de o que
fazer? Para responder por que e como fazer, para se adequar à realidade) em várias
dimensões que buscam soluções e equilíbrios. Essas realidades e os direcionamentos para
buscar soluções compatíveis e equilíbrios são ilustrados, em termos gerais (apenas
conceituais), na Figura 5, com o destaque de cinco dimensões.
A busca desse atendimento coletivo que é facilitado pela educação ambiental, transita
e se sustenta (pelo que se informa e comunica, pelo que orienta e fundamenta, pela
transparência e sentido ético etc.) em INDICADORES confiáveis, consistentes e úteis –
aplicáveis, para: representar a complexidade do problema e comunicar e informar; e para
alertar e prognosticar realidades em diversas dimensões.
Aceite-se (uma hipótese) que pela disposição à negociação, ao acordo e à observância
legal de instrumentos como os de políticas públicas é possível (assim se espera), ao
disciplinar o crescimento econômico e internalizar passivos ambientais em suas fontes,
transferir parte dos benefícios econômicos para as dimensões social e meio ambiente–
ecológica, com melhorias, - as indicadas pelas correspondentes setas nessas dimensões na
Figura 5, e retração “imposta” na dimensão econômica. É a transferência de lucros e
benefícios que poderá ocorrer com políticas e seus instrumentos de distribuição e
compensação, entre outros.
As dimensões ilustradas na Figura 5 apresentam estados iniciais (presentes: baixa
sustentabilidade ambiental, limitado desenvolvimento social e ineficiências espaciais e de
instrumentos de políticas públicas de desenvolvimento) e esperados (futuros) em
dimensões:
a) A econômica, como, p.ex., em atividades de produção e hábitos de consumo
melhorados e sustentáveis na região, em um local: sem desperdício, sem poluição
etc., baseadas em critérios como os de proteção de fontes e riquezas naturais e
conservação e manejo dessas reservas.
É possível alcançar (hipótese) a sustentabilidade econômica mediante o
planejamento, a alocação eficiente de recursos, a gestão criteriosa de processos e
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institucionais que colocam múltiplos e, com frequência, conflitantes interesses, objetivos, recursos
e possibilidades, ainda para situações específicas ou limitadas de um local ou região: um processo
de acordos cimentados em cada fase, de construção evolutiva. É o caso do semiárido, com espaços
geográficos diversos, dentro de arranjos que refletem desigualdades e situações complexas de
acomodações como as de estrutura de posse de recursos da terra (um processo histórico-cultural),
para poucos e de exclusão e miséria social para muitos.
No conceito, apesar dos desgastes e deturpações, há condições para criar novas
oportunidades e para que “todos” sejam capazes de optar (para uns, “ceder”; responsabilidade
social e para outros “aceitar”, ambos como preços da sustentabilidade: Figura 5) e escolher os
melhores caminhos por meio do diálogo, da solidariedade. Nessa escolha se evidenciam fatores do
combate à desertificação e mitigação de efeitos das secas; vontade e decisão política para perceber
como agir com ecoeficiência; recursos necessários a oferecer para desenvolver com eficiência;
orientações, diretrizes e instrumentos, entre outras de políticas públicas, para solucionar conflitos
com eficácia, tanto os que resultam de violência explicita da marginalização, quanto de violência
implícita que discrimina e exclui. Por corolário, há espaços para acordar planos de sustentação
consistentes para o suporte ao desenvolvimento em uma região.
O desenvolvimento poderá compreender, em qualquer nível de abrangência, a combinação de
dotações de recursos naturais com a criação de aptidões modernas de conhecimento e tecnologia, de
capital humano e de instituições econômicas e públicas de qualidade-efetividade, sem que haja
superposição à ideia estática de dotação de recursos, de vantagens comparativas, mas
complementações e sinergias ao se definirem novas vantagens da competitividade. São
possibilidades a considerar no semiárido dotado de especiais recursos de seu bioma, a caatinga,
condições climáticas, reservas subterrâneas de água e, principalmente, de seus habitantes especiais
por sua cultura, vontade e perseverança.
Outro conceito importante a considerar nesta síntese é o da convivência com a seca em
planos que considerem esse fenômeno natural da região e que permitam minimizar, em níveis
toleráveis, seus efeitos, evidenciando-se, nessa minimização, o potencial da tecnologia.
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Os aspectos acima indicados, entre outros a compor um plano de convívio com a seca,
poderão ter definições e enfoque diferentes, conforme seja o entendimento e aceitação do conceito
seca por parte de formuladores desse plano. Alguns poderão identificar a seca (S) e a desertificação
(D), como um único e mesmo fenômeno (S = D) e, portanto, admitem que a eliminação dos efeitos
da seca pelo controle de suas causas, significa acabar com a desertificação (S D). Outros,
pressupõem que a desertificação é um processo que pode aumentar o rigor das secas (D S) e,
dessa forma, concluem que combater a desertificação é evitar a mudança climática. Há aqueles que
associam as secas como causas da desertificação (S D) e, assim, gerenciá-las significaria impedir
a desertificação; entre outras posições.
Pelo exposto e para se ter uma orientação objetiva na formulação de um plano de
coexistência com a seca, é preciso diferenciar conceitos. O da desertificação, conforme
anteriormente apresentado e o da seca, de acordo com o que segue, sem admitir que sejam
definições necessariamente corretas e/ou de aceitações unânimes entre os cientistas, apenas
referências conceituais necessárias, claras e objetivas, para facilitar a comunicação e entendimento
da mensagem que se propõe neste documento.
O conceito de seca, como um fenômeno climático mais antigo e visível do que a
desertificação caracteriza-se por normais pluviométricas (ou outras fontes naturais de água)
insuficientes (em relação a um padrão) em uma determinada região e período de tempo. O conceito
compreende:
a) Seca meteorológica: precipitação abaixo das normais de precipitações pluviométricas
esperadas em uma região e para determinado período; como normais, refletem
comportamentos de longos períodos.
b) Seca hidrológica: níveis de rios e reservatórios abaixo de normais esperadas em pontos –
chaves de locais significativos em uma bacia hidrográfica e região para determinado período.
c) Seca agrícola: níveis de umidade do solo, supridos por diversas fontes naturais de água como
as superficiais, subterrâneas e meteóricas, insuficientes para atender demandas consuntivas,
conforme sejam as tipologias de cultivos e sistemas de produção.
d) Seca econômica: quando o déficit de água provoca a falta de bens e serviços em uma
determinada região e período, como os de dessedentação, alimentos e energia hidrelétrica
devido ao volume insuficiente, a “má” distribuição das chuvas, ao aumento no consumo de
água e ao mau gerenciamento dos recursos hídricos, entre outras causas desse déficit.
Os termos ou conceitos implícitos em abaixo, insuficiente e déficit qualificadores do
fenômeno das secas, ainda que não façam parte de abordagens sistêmicas, precisam, além de
referências para suas definições, (p.ex., as normais de longo prazo da região por período), de
indicadores para expressar esse fenômeno, sua severidade, xviii e relacioná-lo com diversos efeitos.
Essas expressões e relações são fundamentais em um plano de convivência com a seca; básicos para
a formulação, aplicação e monitoramento de políticas públicas. Por outro lado ou de forma
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
concomitante, é preciso entender os fatores que determinam (poderão determinar) essa convivência
em um contexto político-institucional, histórico, sociocultural, econômico e físico (ambiental ou
ecossistêmico) amplo e realista de um local e região.
São fatores, tais como: as medidas que devem ser consideradas e para quem devem ser
propostas; as condições de adoção dessas medidas o que significa auscultar aspectos socioculturais
e históricos das comunidades vulneráveis e afetadas pelo fenômeno da seca; a procura da harmonia
entre as atividades econômicas e a proteção – preservação de fontes, de reservas, de ciclos em
ambientes do semiárido (INDICADORES e referências); as condições necessárias para se ter a
conservação – manejo de fluxos de bens e serviços ambientais e o que é preciso fazer para garanti-
las no local; as exigências de ações e estratégias cooperativas, multidisciplinares e multi-
institucionais, implícitas nessa convivência; e a especificação do que se busca em cada fase e é
possível alcançar em um plano estruturado e com visão de longo prazo. Nesse contexto há
importantes lições a serem devidamente estudadas e atualizadas para aplicá-las na formulação de
novos planos; uma dessas lições é a do Projeto Áridas.
O plano de convivência com a seca deve compreender ou prever o re-ordenamento de
espaços agro-econômicos do semiárido, com especificações baseadas em critérios e evidências de
fragilidades, limitações e potencialidades a serem internalizadas, com sustentabilidade, nas
atividades econômicas e na convivência.
Relacionado com os aspectos básicos de um plano de convivência com a seca, tem-se os
fundamentos, instrumentos e recursos, entre outros, os de políticas públicas e do próprio plano da
convivência a compreender (relação para reflexão):
a) Opções tecnológicas para amenizar a escassez de água e as limitações da capacidade
produtiva do solo por insuficiente umidade para os cultivos.
b) Desenvolver e disponibilizar técnicas de dimensionamento, construção e uso – manejo de
sistemas de abastecimento de água como, p.ex., cisternas rurais (para beber, para produzir
etc.; figura ao lado), barragens e poços com dessalinizadores etc. Algumas dessas ações e se
oportunas e/ou convenientes, devem ser integradas com as da transposição do rio São
Francisco.
c) Disponibilizar critérios técnicos e operacionais para a conservação e manejo integrado do solo
– vegetação.
d) Motivar e mobilizar as comunidades para participar e usufruir de projetos como os de
educação ambiental, capacitação e valorização de ambientes e recurso a serem protegidos.
O plano de convivência da seca no semiárido começa e se desenvolve com base no potencial
dessas zonas, incluindo, entre outros aspectos:
a) O regime pluvial médio de 750 mm com grande potencial (perspectiva) de armazenamento de
parte desses 750 bilhões de m3/ano de água para uso e manejo criteriosos.
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Romper esses ciclos pressupõe conhecer as fases que os definem e gerar – oferecer
alternativas para evitar a emigração ao melhorar condições socioeconômicas, aumentar a produção,
recompor áreas, proteger encostas, diversificar ecossistemas e reflorestar – regenerar coberturas
nativas de vales e áreas úmidas desmatadas e preservar as reservas de proteção ambiental. Esses
propósitos, entre outros, fazem parte do conceito de convivência em seus desdobramentos. O plano
deverá transcender a conceituação com a especificação de meios, procedimentos e recursos para
operacionalizá-la.
Um dos conceitos básicos do processo de desertificação no semiárido nordestino é a erosão
de solos, da biota e humana.
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
Várias formas de uso e manejo tradicionais dos solos podem resultar em degradação
ambiental, tais como: o extrativismo vegetal e mineral; o sobre-pastoreio e excessivo uso
agrícola, formas de manejo e técnicas de produção que expõem os solos aos agentes
erosivos.
A erosão depende de um conjunto de fatores que agem tanto de forma isolada como
conjunta (mais freqüente), potencializando o efeito negativo de cada fator. A análise da
ação ou impacto de cada um e do conjunto, sob determinadas condições do semiárido é
fundamental para definir práticas e tecnologias de manejo integrado e de conservação
desses ecossistemas.
Na caracterização da erosão no semiárido se podem identificar várias formas como,
p.ex., a laminar predominante em Irauçuba (CE), lenta e quase imperceptível em solos
rasos e pedregosos, submetidos a intensos desmatamentos, práticas de queimadas e
ocupação desordenada do solo; e a erosão em voçorocas (crateras) e grandes dunas (erosão
hídrica: inverno e eólica: época das secas, com solos esturricados), com sinais mais
notáveis registrados em solos arenosos de Gilbués (PI), ilustradas nas Figuras 8 e 9 e na
Tabela 2.
As perdas de solo, de água e de nutrientes são responsáveis pelo decréscimo na
produtividade agrícola e pecuária, pela eutrofização de corpos de água e pela degradação do
solo com impactos nos recursos hídricos, na flora, na fauna e, no final dessa cadeia, no
homem.
Quanto às perdas de solo, observam-se variações (em função de diferenciações
ambientais e de usos e manejo dor recursos da terra), com destaque para a erosão
entressulcos, a mais prejudicial, com a combinação de dois processos (desagregação e
transporte de materiais).
As perdas ocorrem pela remoção da camada superficial que contém a matéria
orgânica, os nutrientes inorgânicos, materiais orgânicos e, por vezes, insumos agrícolas
como fertilizantes, com alterações de processos microbianos refletidos na fertilidade dos
solos e na produtividade que se perdem com a erosão.
Que fatores determinam a erosão? O Quadro 3 relaciona alguns desses fatores e
exemplos de contribuições, para certas condições tanto físicas como de uso e manejo dos
recursos da terra, determinantes das perdas do solo por erosão.
Em termos econômicos são perdas quase que incalculáveis pela “impossibilidade” de
reparar totalmente os ambientes danificados, mas, com possibilidades de se ter estimativas
ou aproximações como as apresentadas pelo PNUMA, na África e as calculadas, em parte,
neste documento.
No processo de erosão há causas físicas e causas mecânicas, agentes passivos e
agentes dinâmicos, fatores controláveis e fatores naturais, com interações a serem
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Aspecto erosivo: núcleo de Cabrobó Aspecto erosivo: núcleo de Gulbués Erosão laminar
(PE) (PI)
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Figura 8 Tipos frequentes de erosões dos solos no semiárido e Planos Nacionais no combate à desertificação
Quadro 3 Fatores, condições e possíveis contribuições que determinam a erosão dos solos, a
CONDIÇÃO OU
FATOR EFEITOS e EXEMPLOS DE INDICADORES
SITUAÇÃO
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Educação
Campos pilotos e demonstrativos
Capacitação
Cursos teórico-práticos
Taxa
Avaliação geral e decisão: Se existem potenciais /capacidade de suportes suficientes? Usos com base
em princípios e critérios racionais e de suporte. Caso não preservação
Avaliação de riscos e decisão: Se mínivos e aceitáveis? Utilização racional. Caso não preservação
Avaliações de viabilidade econômica, de mercado, social (...) e decisão. Se existem e são oportunas,
estratégicas, convenientes (...) Alternativas de utilização. Caso não preservação
Avaliação de possibilidades de educação, capacitação70(...) e decisão. Caso existam definir as ações
pertinentes para a utilização racional. Caso não preservação
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degradação dos recursos da terra uma parte central desse plano e evidenciando que a degradação
leva a uma competição maior por esses recursos cada vez mais escassos e determinantes da
sobrevivência das comunidades rurais nesse ambiente.
Dessa forma entendido o conceito amplo de agricultura sustentável, tende-se ou se espera
fechar um ciclo produtivo “virtuoso” dentro da propriedade, com certo equilíbrio energético;
equilíbrio entre extração, produção e consumo caracterizado por critérios a serem internalizados nas
práticas de uso e manejo dos recursos da terra. Não significa dispensar modernas tecnologias e
insumos que degradam o meio ambiente, quando não bem escolhidos e aplicados, mas fazer
escolhas “certas”, utilizá-los de forma criteriosa e observar, ao não ser possível evitar esses
impactos, que eles sejam mínimos e, principalmente, toleráveis por esse meio: esse é o sentido de
sustentação e de riscos aceitos na atividade produtiva no semiárido.
Para que a atividade agrícola – pecuária seja sustentável é preciso que considere, além de
aspectos físicos técnicos, outros aspectos básicos como os socioculturais, econômicos, históricos e
institucionais que representem as comunidades e ambientes nessas atividades. Que incorporem
possibilidades de mercados com acréscimos de valor, pela agregação de utilidades dos produtos
primários, dentro da unidade produtiva e em arranjos ou cadeias próximas ao produtor. Essas
considerações colocam o sentido da sustentabilidade agrícola várias dimensões a serem
compatibilizadas e integradas. Não é suficiente proteger e melhorar os recursos da terra se tais
melhorias não são traduzidas em melhorias sociais, em bem-estar; se o controle da desertificação,
dentro da agricultura sustentável, não se traduz em benefícios sociais, - é o ideia da convivência
induzida, para as comunidades vulneráveis que se engajam e apóiam um plano de combate à
desertificação e convivência com a seca.
Pelo exposto, conclui-se que a agricultura sustentável é mais do que novas práticas e
tecnologias de manejo e conservação de recursos, entre outros os naturais, acessíveis e operacionais
para o sertanejo. São transformações sociais, culturais, econômicos e de novos relacionamentos
com o meio ambiente, propiciados por projetos como os de educação e conscientização para
valorizar esse meio, protegê-lo e utilizá-lo de forma racional. Tais transformações colocam em
destaque a participação da comunidade na discussão e elaboração de políticas e planos como os de
controle da desertificação e convívio com a seca.
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concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do ambiente, seja ele físico-natural ou
construído.
Pela multiciplicidade de disciplinas que convergem e se integram, o enfoque ou abordagem
da educação ambiental deve ser interdisciplinaridade possibilitando que os processos interativos
entre as diferentes áreas do conhecimento permitam uma melhor compreensão da totalidade. Dessa
forma sistêmica, procura-se uma abordagem metodológica capaz de integrar os conhecimentos entre
as ciências naturais e sociais, respeitando-se a pluralidade, diversidade e singularidades culturais e
resgatando saberes e experiências locais em educação ambiental. Em outro sentido complementar, a
educação ambiental deve desenvolver o espírito crítico e a criatividade do cidadão quanto às
alternativas locais de desenvolvimento sustentável, na busca de um ambiente saudável e
ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.
É notável o empenho do Ipea para auxiliar tanto planos de educação ambiental como
programas de capacitação orientados para o planejamento, gestão e elaboração de políticas públicas
de desenvolvimento regional. Este documento é um primeiro esboço na definição de uma estrutura
e base de dados e de estudos para fins educativos, compreendendo atividades de pesquisa. Essa base
informacional compila, integra e procura gerir dados de várias fontes para o atendimento às
necessidades de planejadores, gestores e tomadores de decisão em diversos níveis e, em especial,
para auxiliar projetos de educação ambiental.
No conceito de educação para o desenvolvimento há elementos e condições que o tornam
sustentável; um deles é a adequabilidade de conteúdos, de procedimentos metodológicos, de
oportunidade, de atendimento às demandas, de formas de monitoramento e avaliação, etc., de
planos e projetos de educação e capacitação em sintonia com outros planos, expectativas,
tendências e cenários prospectivos. Um deles é o de previsão de mudanças.
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Eduardo A. C. Grcia
A prática de exploração do futuro é tão antiga quanto à própria humanidade sem, contudo, tal
prática, à despeito de avanços científicos, conseguir gerar respostas satisfatórias em previsões de
eventos. Apenas tem sido possível antecipá-los, conforme trajetórias, evoluções e prospecções de
fatores portadores de futuros, de tratamento de fatores críticos.
Um exemplo de antecipação, de um cenário futuro provável, é o da desertificação por causa
de desmatamentos e queimadas sem controles, de práticas de uso e manejo não-sustentáveis
(degradação de recursos da terra causada pela perda da capacidade produtiva de ecossistemas) e de
atitudes imediatistas que levam ao empobrecimento do solo e potencializam variações climáticas,
entre outros fatores portadores desse futuro. Uma morte anunciada e agravada pelo aquecimento
global / mudanças climáticas no semiárido com seus possíveis (por vezes, prováveis) impactos
negativos em sistemas, tais como:
a) recursos hídricos; p.ex., estresse (mudanças inesperadas e rupturas em sistemas vitais) e
redução na disponibilidade de água por causa, entre outras, supressão da matas ciliares,
desmatamentos e exposição do solo, tornando-o vulnerável às perdas (um exemplo na Paraíba
é apresentado por SOUZA et alii, 2007);
b) climáticos, p.ex., tornar mais árido o Nordeste por causa de mudanças em frequências e
severidades de eventos extremos;
c) vegetação; redução e/ou substituição de espécies da Caatinga, do semiárido, por espécies do
árido;
d) agricultura, p.ex., intensidade de uso, além de sua capacidade de suporte e inadequado manejo
para as condições locais;
e) degradação humana, por causa de degradações nos recursos hídricos, na vegetação e no solo
com aumentos de marginalização, de insegurança alimentar e de problemas na saúde e
saneamento básico, entre outros.
O conceito de cenário pode ser o de “uma a seqüência de eventos hipotéticos de situações
complexas, construídas com a finalidade de focalizar as atenções em processos causais e pontos de
decisão”, segundo Kahn e Weiner (1969), a fim de demonstrar como uma meta determinada pode
ser atingida se atendidas certas condições. No caso considerado neste documento, essa meta é
controlar os fatores causais dessa construção antes que os mesmos ocorram e produzam seus efeitos
e buscar o convívio com a seca antes que ocorram as emigrações.
É impossível antecipar as causas - efeitos e a emigração se nada efetivo for feito, com
antecipação, no combate e para o convívio. As condições são as de caracterizar a realidade, definir
propósitos (desejos e expectativas) e controlar (poder de agir) as causas da desertificação.
A abordagem de cenários compreende:
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
1 Uma visão global, sistêmica, da realidade que se impõe na medida em que se observam efeitos
e interdependências entre fatores causais ou correlacionais, tais como os físicos (ambientais),
econômicos, sociais e político-institucionais.
A complexidade de entrelaçamentos de fatores determina que o tratamento de apenas um
deles apresente um valor explicativo reduzido ou inexpressivo. Assim, p.ex., uma “boa”
prática de manejo e uso do solo sem uma alternativa exequível de substituição de
desmatamentos e queimadas na agricultura do sertanejo não será benéfica o suficientes no
controle da desertificação; ou a prestação de serviços como os de crédito rural sem um
acompanhamento de sua aplicação poderá ser até prejudicial por comprometer o patrimônio
do sertanejo.
Uma das características básicas de cenários é a capacidade de reunir, comportar e articular–
integrar opções, prognósticos, hipóteses e contribuições de múltiplos fatores. Para tal
propósito considera estruturas flexíveis pela sua capacidade de se ajustar e acompanhar
evoluções e tendências.
2 Ênfase em aspectos qualitativos da realidade e onde cada cenário possa caracterizar um futuro
qualitativamente diferente.
3 As relações entre variáveis e atores são vistas como estruturas dinâmicas, que comportam
mudanças qualitativas ao longo do horizonte de “projeção” de um fator do plano de combate
à desertificação.
4 O futuro é concebido como a motivação básica de ações e decisões do presente, e não
como um prolongamento inevitável da dinâmica do passado. Essa visão de futuro
deve-se ao fato (ou ao pressuposto: uma hipótese de trabalho) de as pessoas, grupos,
organizações ou classes sociais são capazes de influenciar o seu próprio destino
dentro de um quadro de oportunidades e restrições concretas, porém manejável por
elas. Conhecer essa capacidade dentro de um quadro de oportunidades e limitações é
um dos aspectos básicos na formulação de um plano de combate à desertificação.
5. Uma visão plural do futuro. Em cada momento, o futuro “previsível” é múltiplo e
incerto, porque resulta da confrontação ou cooperação de diferentes atores sociais em
torno de determinados interesses. Dessa forma, a construção do futuro se explica mais
pela ação humana do que pelo jogo ou imposição do determinismo.
6. Adoção de modelos conceituais, métodos qualitativos e quantitativos e de uma visão
probabilística (quando possível: associada ao risco) dos fenômenos. Esta
característica é consequência das anteriores que incluem a incerteza (a ser reduzida) e
a pluralidade (opções de escolha) como algo inerente à exploração do futuro, à
criação de cenários.
7. A consideração explícita dos atores envolvidos. Cada cenário representa, em geral,
uma particular hegemonia ou o predomínio de uma aliança de determinados atores
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Eduardo A. C. Grcia
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
Quadro 5 Tipos de cenários que podem ser utilizados para auxiliar a elaboração de um plano
de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca no Nordeste
Normativo Exploratório
Futuro desejado como Caracteriza futuros possíveis ou
vontade ou compromisso de prováveis, mediante simulações
coalizões e objetivos e desdobramentos de
específicos. A lógica é condições iniciais diferenciadas,
estabelecer o que se deseja e sem assumir opção ou
logo agir para alcançá-lo, a preferência
partir do presente:
diagnósticos
Extrapolativo Múltiplo
O futuro como Pressupõem-se
prolongamento do rupturas nas trajetórias
passado e presente de futuro:
Plausíveis ou prováveis
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Eduardo A. C. Grcia
IMPACTO DO
AQUECIMENTO EXEMPLOS DE PROVÁVEIS IMPLICAÇÕES
GLOBAL
Saúde humana Com as atuais previsões para o ano de 2080, um adicional de 290 milhões de
pessoas poderá estar sob o risco da malária, especialmente na China e Ásia
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
central.
A mortalidade poderá ser reduzida em regiões de clima temperado, devido à
redução de mortes induzidas por invernos rigorosos.
a
Fonte: adaptado do Hadley.
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
Ciclos-espirais de
políticas públicas
t2 Fase III
t1 Fase II
t0
Fase I
Interesses
Surgem (problemas) como: tensões existentes Vontades,
entre a sociedade civil e o Estado, causadas por preferências
precárias condições de vida; necessidade de
assegurar níveis de produção e consumo para o Ideias, visão, Instituições,
desenvolvimento; desigualdades sociais, econô- Contexto
paradigmas normas, valores
micas e de oportunidades; e reivindicações por
melhores condições ambientais e de qualidade
de vida, perdas ambientais que afetam o homem
Vontade
Decisão Pol.
Agendas governamentais:
Eficiência
Eficácia
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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Eduardo A. C. Grcia
N O TA S
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i Os recursos naturais podem ser conceituados como os elementos naturais bióticos e abióticos de que dispõe o homem
para satisfazer suas necessidades econômicas, sociais e culturais.
ii Consumismo é o ato de consumir bens e serviços, muitas vezes de forma irracional e sem consciência, sem
responsabilidade social, induzido por meios como os da propaganda e publicidade, orientando-o para um consumo
desnecessário (esse ato, quando racional no consumo indispensável, é para aquilo que seja necessário para a
sobrevivência) e supérfluo.
iii Economicismo no sentido de reducionismo de fatos como os sociais à dimensão econômica ou como uma ideologia que
coloca a oferta e demanda como únicos fatores na tomada de decisões. Em ambos os casos, pressupõe ou implica a
sobrevalorização dos aspectos econômicos, relegando a planos inferiores outros aspectos ou dimensões como a social e
ambiental. Tal viés, em certo sentido, nega a essência da própria economia como ciência de escolhas, sem excluir
análises (p.ex., de custos e benefícios de diferentes opções que possam melhorar políticas públicas e o bem-estar social)
e impactos de quem ganha e perde; de explicar (economia positiva) e justificar (economia normativa) mudanças: a
economia ensina: mudança por mudar é irrelevante ou nada representa.
v Em outras oportunidades, tais respostas, inseguranças e instabilidades em relação ao meio ambiente e seus recursos
naturais não foram (até o início do novo milênio) tão imprevisíveis nem desprovidas de intencionalidades danosas, como
se verifica com a concentração de riquezas naturais por poucos, com exclusão de benefícios de muitos e a socialização
de custos de externalidades do crescimento econômico, com a inclusão do passivo ambiental, no social. Um passivo de
desmatamentos – queimadas indiscriminadas, de erosões induzidas, tanto dos solos como as biológicas, de poluições, de
perdas de atributos dos recursos hídricos (...). São custos não-internalizados em sistemas contáveis das fontes que o
geraram e continuam gerando-o. A própria relação (real ou pretendida, causal ou não) entre pobreza e degradação
ambiental é intensificada pelo contínuo domínio de riqueza, de poder, de privilégios de setores, de legislações omissas e
tendenciosas carregadas dessas intencionalidades, explícitas ou não. Até relações aceitas e círculos viciosos como os de
pobreza-degradação são, em parte, intencionais. Se o pobre agride-degrada o meio ambiente porque não tem acesso a
outras terras limitadas por instrumentos legais, entre outros, os de posse; à água em condições de uso ou excluído pela
localização da fonte em terra particular; à tecnologia viável e operacional ou da tecnologia que o marginaliza da
competitividade por questões de escalas como as de produção e consumo; à informação que valorize – potencialize seus
saberes tradicionais; ao crédito oportuno e acessível, entre outras, o faz pressionado por circunstâncias, para “assegurar”
a sua sobrevivência. As forças externas dessa pressão são, em parte, intencionadas. No texto se enfatiza a necessidade de
buscar e entender as causas do problema para não pretender, supor ou esperar, por exemplo, formar uma consciência
social de proteção, valorização e conservação em comunidades que lutam pela sobrevivência, sem considerá-las em suas
reais e efetivas necessidades, possibilidades e perspectivas. Nesse ambiente, tal formação é utópica ou muito limitada
porque não se pode supor e esperar a conscientização em alicerces de escombros de pobreza e miséria, de desertificações
socioculturais e econômicas que precisam de soluções antes de reflexões filosóficas: conscientização. Parte dessa
conscientização está na informação para a educação e na responsabilidade social do empresário, do tomador de decisão,
do legislador, do político.
vi Contudo, é oportuno citar algumas ações, tal vez inadvertidas ou omissas em descrições históricas, que, a pesar de
terem motivações diferentes como as de proteção do comércio, resultaram benéficas para a mata nativa. Assim, a
proteção do meio ambiente, que para a maioria dos países é relativamente recente, no Brasil é de longa data, com origem
no período colonial. As Ordenações Manuelinas, durante no reinado de D. Manuel I, o Venturoso (1495 – 1521),
estabeleceram o escambo do “pau-brasil” (Caesalpinia achinata, Lma.; Leguminosae), com penas de degredos aos
contraventores, em cerca de 200 delitos, entre eles cortar árvores de fruto. Essas Ordenações, junto com as Ordenações
Filipinas estabeleceram regras e limites para exploração e usos de terras, águas e vegetação com listas de árvores reais,
protegidas por lei, o que deu origem à expressão “madeira de lei”. As Ordenações Filipinas são precursoras de princípios
como o de proteção das águas ao fornecer o conceito de poluição (GARCIA, 2009; em elaboração).
vii Planejamento como a aplicação sistemática de informações e conhecimentos para conceber, com a necessária
antecipação, o que deve ser feito, e para avaliar, ex –antes, cursos de ações alternativas de um processo racional pelo
qual se decide antecipadamente, o que deve ser feito, pela conveniência e necessidade; quando fazer, pela oportunidade;
como será feito, pela exequibilidade e efetividade esperada de resultados; e quem o fará, pela habilidade e competência,
constituindo-se um elemento crucial da teoria e da prática da administração. Em termos formais, compreende: a) uma
reflexão sobre eventos prováveis ou possíveis e cenários alternativos, de natureza econômica, social, ambiental,
institucional e política; b) uma base informacional “robusta” para sustentar essa reflexão e a definição de objetivos e
meios; c) a tomada de decisões que possam viabilizar a obtenção desses objetivos de forma mais eficiente e rápida. Em
sua forma reduzida, o planejamento é um instrumento de gestão e abordagem racional para a solução de problemas
(dimensão científica, metodológica: analítico-racional). Problemas complexos como o da luta contra a desertificação,
mitigação de efeitos e convívio com a seca não podem ser resolvidos com decisões simplistas, improvisadas ou
aleatórias, a partir de comportamentos reativos e intuitivos – empíricos, mas exigem detalhados desdobramentos do
problema em suas causas, interações e efeitos ordenados e hierarquizados; identificação de relações funcionais,
igualmente ordenadas; e remontagens de partes com o auxílio de técnicas de simulação, dinâmica e riscos. Ainda com
todos esses cuidados no desdobramento e remontagens, o planejamento, com seus planos que refletem estágios de um
processo, não garante o sucesso em alcançar os objetivos com as ações preestabelecidas para criar um futuro desejado.
viii A gestão ambiental pode ser definida como intervenções que incorporam medidas necessárias à otimização de
benefícios econômicos e sociais e garantem a manutenção da qualidade e da sustentabilidade de um ecossistema. Com
frequência, as intervenções têm-se dados em ausência de um plano integrado de gestão e a implementação de
instrumentos como os de licenciamento e avaliação de impactos (reativa), ocorrem sem essa necessária integração.
x Essa Convenção é um instrumento de acordo internacional ratificado por países que estabelece diretrizes para o
combate à desertificação em escala global, constituindo-se uma referência importante para o Brasil, conforme se
constata no PAN-Brasil.
xi A Constituição Federal do Brasil de 1988 tratou o termo meio ambiente, no caput do artigo 225, considerando que é
dever do Poder Público e da coletividade preservar e conservar o meio ambiente, pois ele é de uso e bem comum de
todos os povos, essencial para qualidade de vida. Define-o como um bem de uso comum do povo e determina ao Poder
Público, bem como a toda a população, o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Na Lei
no. 9.795, de 27 de abr. de 1999, ao estabelecer a Política Nacional de Educação Ambiental, define o meio ambiente
como o conjunto de processos abióticos e bióticos existentes na terra passíveis da influência das ações humanas. Na
Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pelas Nações Unidas e UNESCO, em Tbilisi,
Geórgia, em 1977, assinala que o conceito de meio ambiente compreende elementos naturais e sociais criados pelo
homem como os valores culturais, morais e individuais, além de relações interpessoais no trabalho e em atividades de
tempo livre.
xii Tais como os de ordem física-natural: mudanças climáticas e perdas da diversidade biológica; e de ordem humana:
insensibilidade para considerá-lo, interesses econômicos imediatistas; pouca ou falta de decisão e vontade política etc.
xiii A Lei no. 9.433, de 8 de jan. de 1997, ao instituir a Política Nacional de Recursos Hídricos e criar o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, considera, entre outros instrumentos, a cobrança do uso de recursos hídricos (art.
19), com os objetivos de “reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu valor” e
“incentivar a racionalização do uso da água”. Define, na fixação do valor a ser cobrado, o volume retirado em
derivações, captações e extrações e o regime de variação da disponibilidade de água na fonte. Considera, também, o
lançamento de esgoto e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado, seu regime de variação, as
características físicas, químicas e biológicas e a toxicidade do efluente.
xiv Há proposições, critérios e conceitos, quanto à avaliação ambiental, que é preciso considerar, tanto na perspectiva
técnica e tecnológica – científica, quanto prática – operacional. A relação que segue sintetiza alguns deles:
a) considerar todos os possíveis impactos de intervenções: além da impossibilidade de previsão, colocam-se questões
como as de incertezas e racionalidade na tomada de decisão; os impactos podem ser diferentes em suas causas e
efeitos e devem ser ordenados, classificados e hierarquizados conforme determinadas referência;
b) cada avaliação é distinta em função de especificidades de fatores e condições; há, contudo, fatores comuns de pressão
e lições de um local que podem testadas e adequadas para outros, evitando-se redundâncias, possibilitando fazer
previsões com níveis de confiabilidade razoável;
c) a necessidade de elaboração de diagnósticos em cada caso, com poucas contribuições quando entendidos e elaborados
como inventários; a questão é de qualidade e capacidade desses estudos fornecerem dados consistidos de estados e
evoluções possíveis de serem sintetizados em indicadores abióticos, bióticos e socioeconômicos, de acompanharem
dinâmicas e tendências;
d) estudos descritivos a serem integrados mediante abordagens sistêmicas para o entendimento de processos; a questão
se coloca na qualidade do fator que se analisa e no ajuste do sistema que está operando para se ter uma indicação
consistente de como ele operaria sob outras circunstâncias: fatores de risco e simulação de estudos prospectivos que
possam ampliar ou flexibilizar a capacidade de “modelos” complexos de sistemas para situações nem sempre bem
definidas e comportadas;
e) qualquer “bom” estudo técnico-científico é suficiente para o suporte à tomada de decisões; no texto se coloca a
contribuição da pesquisa e ciência – tecnologia como instrumento importante, porém não suficiente; é preciso que
esse instrumento considere a diversidade de interesses e objetivos de diferentes segmentos sociais, a vontade e
decisão política, as escalas e níveis de abordagens transdisciplinares;
f) a divisão e estruturação geopolítica e institucional não são norteadores suficientes, apesar de seus domínios na
conformação de planos e recursos; a natureza e seus domínios obedecem a outros critérios, com frequência não-
compatíveis com divisões geopolíticas;
g) as avaliações eliminam incertezas; é preciso entender que a incerteza é um fator dominante e que as avaliações
poderão reduzi-las a fatores de riscos com possibilidades de se ter um melhor controle e suporte à tomada de
decisões;
h) a análise com abordagens sistêmicas assegura a seleção de melhores alternativas de ações em planos; no campo
tecnológico – científico e nas abordagens sistêmicas, de simulação, dinâmica e risco apenas se tem aproximações
tanto mais confiáveis quanto sejam as representações de atributos e componentes; daí a necessidade e destaque do
dado e do indicador na gestão integrada.
xv A falta de um plano de desenvolvimento sustentável para a região não significa desconsiderar outras referências por
vezes limitadas a programas, setores ou atividades, porém importantes. É possível encontrar em áreas como as de saúde
pública, segurança alimentar, agricultura familiar e educação, diretrizes e instrumentos que podem auxiliar as diretrizes e
instrumentos de planos de combate à desertificação e convívio com a seca. Troca de informações e, em especial, lições e
experiências de comunidades podem ser importantes referências para melhorias.
xvi Entenda-se por transparência a adoção de preceitos básicos do direito administrativo, adotados na administração
pública, direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, relativos
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, proporcionalidade e eficiência. São princípios
relevantes [e com efetividade quando sustentados em critérios de exequibilidade técnico-científica e operacional] para
alcançar uma clara definição de interesse público e, em especial (para o caso considerado nesta publicação), para buscar
e assegurar a participação da comunidade [condição: informação e educação] na tomada de decisões em aspectos como
são os de convivência com a seca, possibilitando um maior grau de correspondência entre as demandas sociais
[ordenadas e hierarquizadas] e as estratégias e ações que se definem em instrumentos como os de políticas públicas, leis
e planos: uma questão de legitimidade do uso do poder. A utilização dos princípios da publicidade, motivação e
participação popular apontam para a transparência a orientar todas as atividades.
xvii A relação homem – natureza, com pontos críticos, conflitosa em alguns casos e complexa em geral, compreende
sucessivos aportes de culturas, organizações sociais e saberes, influenciado e sendo influenciados pela natureza. A lógica
e entendimento contextualizado dessas interações são importantes na formulação de planos para a convivência som a
seca em zonas semiáridas. Os san do Kalahari e aborigens autralianos, os tuaregs e beduínos do norte da África, os
semíticos e camíticos do Oriente Médio, os mongóis da estepa, os watussi da savana, os chihuahuas e apaches do
México, os chimus paracas e moches do Peru, etc., são, entre outras civilizações que nasceram, adaptaram-se e se
desenvolveram em meios caracterizados pela escassez de água, exemplos de povos que adaptaram seus estilos de vida às
condições do ambiente, demonstrando grande capacidade inventiva de resolverem seus problemas. Recentemente,
comunidades como as israelitas em condições próximas as do deserto, mediante mudanças tecnológicas adequadas às
condições, adaptam-se e utilizam os recursos da terra. O processo de desertificação é o resultado do empobrecimento de
uma cultura material, do afastamento de leis naturais e da alienação de comunidades que perdem a capacidade de
conhecimento e controle do meio ambiente. Como corolário dessa definição se tem: a solução ao problema da
degradação dos recursos da terra que leva à desertificação passa necessariamente pelo enriquecimento da cultura
material, pelo conhecimento e observância de leis naturais e pela reorientação para fundamentar as atividades na
capacidade de suporte ambiental e na proteção e recuperação de ambientes. Essa passagem destaca a recuperação,
avaliação e potencialização de saberes tradicionais, incorporando-os em planos e políticas de prevenção e controle da
degradação. Ao longo dessa passagem se rompem círculos viciosos como o de pobreza – degradação e seu efeito de
exclusão social, pressupondo-se que a solução seja a de melhorar, para esses pobres e excluídos, as condições de
integração no sistema socioeconômico dominante; os pobres, sem recursos nem capacidades, sem conhecimentos nem
habilidades (...) precisariam ser integrados. Trata-se de uma visão parcial que precisa compreender outros elementos,
outras referências quando se valorizam experiências, saberes e convivências.
xviii Um dos índices mais utilizados e reconhecidos para a qualificação da seca é o Índice de Severidade de Seca de Palmer
(PALMER, 1965), que tem como argumentos, em sua definição, o total de precipitação requerida para manter uma área
em um determinado período sob condições estável da economia. Esse total depende da média de ocorrência de fatores
meteorológicos e das condições meteorologias dos meses precedentes. Tem como base as estimativas de médias
históricas de evapotranspiração, recarga de água no solo, escoamento superficial e umidade do solo.
xix No contexto da Política Nacional da Biodiversidade, o conceito de conservação se define em consonância com a
Convenção sobre Diversidade Biológica, com um sentido próximo ao do conceito de preservação, de proteção. Assim,
na forma in situ significa conservação de ecossistemas e habitats, bem como a manutenção e recuperação de populações
viáveis de espécies em seus meios; no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham
desenvolvido suas propriedades características: o sentido de racionalidade de uso. Em outro contexto como os de
unidades de conservação, o conceito tem o sentido de manejo de recursos naturais.
xx Segundo a Lei 6.938, de 31 de ago. de 1981, os recursos ambientais compreendem a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a floras.
xxi Essa nova agenda da terra a ser acordada na 15ª. Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas de Combate
à Desertificação, em Copenhague, em dez. 2009, deverá enfatizar, conforme se indica neste documento, a compreensão
do problema e o tratamento e procura de soluções com ações e estratégias para melhorar a subsistência de mais de dois
bilhões de pessoas que vivem em zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas do mundo; considerar o problema da
degradação dos recursos da terra e seus nexos com outros problemas que levam à desertificação. Parte do desafio para o
entendimento da crise ambiental, nessa melhoria, está na mensurabilidade de causas (e efeitos) e interações da
desertificação e na síntese do processo, mediante indicadores. Outra parte está na abordagem da mudança climática e
seus efeitos, especialmente notáveis em zonas vulneráveis como são as de terras secas; para alguns, as mudanças
climáticas e a degradação do solo, são dois lados de uma mesma moeda e, portanto, aspectos que devem ser
considerados conjuntamente em políticas públicas. Há outra parte, nessa nova agenda da terra, que se refere às parcerias
e empenhos institucionais de combate à desertificação pelo tratamento de fatores causais da degradação de ambientes e
recursos da terra e pela procura de ações que possam mitigar efeitos de impactos das secas.