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PERCEPÇÃO ECONÔMICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL: UMA REVISÃO


SOBRE O VOTO ECONÔMICO

SILVA, Alessandro Manoel1


Universidade Estadual de Maringá

RESUMO: Este artigo analisa obras que abordam a relação entre o voto e a percepção econômica.
Desde teorias produzidas na Europa em países onde a democracia é mais consolidada, até as que
abordam a América Latina onde a democracia é jovem. A teoria internacional serviu como base
estudar o Brasil, questionando a natureza da percepção que o eleitor Brasileiro tem da economia e
como isso se manifesta nos resultados das eleições. Busca entrar em contato com as principais
produções que tornem possível a compreensão do voto econômico no Brasil, bem como as
diferenças e semelhanças com outros países da América Latina e Europa.

PALAVRAS CHAVE: Comportamento eleitoral; Escolha Racional; Economia.

ABSTRACT: This article analise works about the relationship between the vote and economic
perception. From theories produced in European countries where the democrace is most consolidate,
to theories about Latin American, where have young democracies. The international theories is the
base for studie the Brazilian case, asking what is the nature of the perception of the brazilian elector
make from economy and how this manifest in the electoral results. Want enter in contact with
principal theories that allow understanding of brazilian economic vote, also the diference and
semelhance with other countries of Latin American and europe.

KEY WORDS: Electoral behavior; Rational choice; Economy

INTRODUÇÃO

As eleições de 2018 e uma grande parte dos fatos sociais paralelos, pelo menos desde o
início das campanhas eleitorais, movimentaram praticamente todas as frações da sociedade
Brasileira evidenciando características, divisões e tensões entre as forças da sociedade.

1 Bacharelando em Ciências Sociais


2

Considerando os principais fatores envolvidos nos processos eleitorais, vimos a articulação de


partidos com suas bases eleitorais; as diversas mídias também interessadas em desempenhar um
papel específico na corrida, assim como movimentos sociais, empresas, personalidades, intelectuais,
etc. Nesse cenário, os eleitores foram às urnas e elegeram um candidato que começou pontuando 22%
das intenções de voto indo para o segundo turno com 40%. O candidato adversário, começou
pontuando 4% no início das pesquisas, sendo derrotado com 39% contra 47% no segundo turno2.

A exemplo de 2018, as eleições como expressão da democracia e meio de participação,


podem ser analisadas por diversos prismas, principalmente no que diz respeito ao voto para
presidente no Brasil, já que o ato de votar articula dimensões diversas da sociedade, diversidade tal
que é expressa nas diferenças de propostas, de legendas e de responsabilidades frente a medidas já
tomadas por governos anteriores que pleiteiam uma reeleição.

Diante de variações tão grandes nos números que indicam intenção de voto, esse artigo
propõe um isolamento da dimensão econômica para analisa-la na perspectiva do eleitor. Trata-se de
uma pauta importante o questionamento sobre como vota o brasileiro e o quanto de critério
econômico tem nesse ato, tanto no que diz respeito à atitude do indivíduo quanto dos grupos. A
economia pode ser entendida como um fator de engajamento, definidora do sentido do voto e do
comparecimento eleitoral? Até que ponto a opinião pública e os índices de satisfação com a
performances de candidatos e eleitos deixam-se impactar pela percepção que se tem da economia.

André Freire em sua obra Modelos de Comportamento Eleitoral Uma Breve Introdução,
tendo como ambiente de estudo as eleições nas democracias ocidentais, estuda o comportamento
dos eleitores e escrevendo para o público português, explica como agem os eleitores e quais são os
fatores explicativos do voto, apresentando alguns modelos de comportamento que constituem uma
reconstrução da base teórica dos precursores do estudo. Segue abaixo uma rápida apresentação dos
modelos de voto, onde nos ateremos ao modelo econômico e à escolha racional:
1) Modelo Sociológico: Os estudos sobre este modelo de voto, utilizam a operacionalização
de dados agregados, o que apresenta diversas vantagens em relação à análise individual. Por sua
tradição sociológica, a análise política por esse viés, considera importante o entendimento das ações
sociais, sobretudo na democracia. Em outras palavras, releva elementos de divisões sociais,
diferenças, semelhanças e alianças que relacionadas configuram o regime democrático (Lipset,
1959: 21 Apud Freire 2001). Por considerar que os contextos das ações são importantes, o estudo do
modelo sociológico de voto deve buscar explicar diferenças nas taxas de voto e variações
relacionadas a diferentes grupos sociais (Lazarsfeld, citado por Figueiredo, 1991: 43 Apud, Freire
2001: 9)

2 Pesquisa divulgada em 28/10/2018 pelo Datafolha.


3

Portanto, podemos dizer que a "pedra de toque" do modelo sociológico do voto é a ênfase
nas características sociais dos indivíduos e nos contextos sociais nos quais se desenrola a
sua acção enquanto factores explicativos da forma como os cidadãos se relacionam com
os sistemas políticos. (FREIRE, P 10)
Tem grandes expoentes em trabalhos de análises comparativas como em Lipset (1959) e
Lipset e Rokkan (1967) e Bourdieu (1979: 463-541).3 Porém as principais obras dessa tradição são
The People's choice, Voting e Personal Influence. Os teóricos que seguiram essa tradição estiveram
preocupados em investigar os efeitos da exposição dos eleitores à mídias, e a forma como os
padrões de identificação e de intenção de voto se alteravam em função disso. Assim, o voto é
condicionado pelo contexto do eleitor e pelo nível de desenvolvimento da sociedade. Em síntese,
esse modelo enfatiza as características sociais dos fatores explicativos da relação do eleitor com o
sistema político. (ANTUNES, P. 19, 20, 2008);
A exposição de Freire desse modelo, traz a informação de que os funcionários públicos, por
conta de suas posições econômicas têm uma maior proximidade da política do que outras
categorias, enquanto grupos mais ou menos afetados pelas medidas governamentais seriam
coagidos a votar, tendo em vista as "pressões econômicas" que os atingem (Lipset, 1959: 162 Apud
Freire 2001: 10). Dessa forma, o pertencimento a grupos econômicos, determinados pelo que fazem
no sentido de trabalho, se relaciona com o grau de impacto das políticas em suas condições de vida.
Da mesma maneira, as formas com que ocorrem essa participação também depende e varia dos
recursos disponíveis ao qual têm contato4
O modelo sociológico traz o fato de que eleitores com maiores recursos educacionais,
tradicionalmente gozam também de uma maior participação política enquanto a análise dos dados
agregados colhidos em Portugal mostraram que a abstenção foi menor em comunidades com maior
desempenho econômico de forma que proporcionalmente foi maior em territórios periféricos.
(FREIRE, P12). O que se observa do comportamento político na visão do modelo sociológico é que
o pertencimento profissional também é um fator de aproximar ou distanciar o eleitor no universo da
política, assim, subentende-se que quem controla o nível de recursos (instrução, rendimento, tempo
disponível) também controla a ação dos indivíduos (p.15). Essa vertente, considera variáveis
sociológicas como as citadas (instrução, profissão) e psicológicas, como a identificação partidária,
porque elas integram indivíduo e determinantes em relação ao voto.
Dados colhidos sobre Portugal revelam que os níveis de participação eleitoral aumentam de
acordo com a idade (P. 18). Do ponto de vista da idade, os indivíduos mais velhos em Portugal "não
dão como adquirido o direito de votar pois tiveram muitos anos sem o poder fazer em liberdade",
de forma que inexiste uma relação significativa entre essas duas variáveis, pelo menos em eleições

3 André Freire (n. 1961) Modelos do Comportamento Eleitoral: Uma Breve Introdução Crítica. Primeira edição:
Fevereiro de 2001.
4 Ver Lipset, 1959:466-472, e 1989:169-171; Memmi, 1985: 338-341 (Freire, P. 11)
4

mais recentes (P. 19) No que diz respeito a análise de modelo sociológico dividida por território,
verificou-se em Portugal um impacto positivo nos resultados de participação por parte das áreas
rurais, salvo em relação à questões específicas como o aborto. 5 Outro fator de relevância
considerado pelo modelo é o exercido pela diferença entre homem e mulher nos padrões de
participação eleitoral. O autor sublinha que devido a tradição que subalterniza a mulher, os homens
tenderam a participar mais, pelo menos até os anos 70, e atualmente pelo menos nos países
ocidentais, o impacto dessa questão não é significativo (Dalton, 1988: 51, figura 3.2; Mossuz-
Lavau, 1985: 209-219; Powell, 1986; Boy e Mayer, 1998a: 52, quadro 9, Apud, Freide, 2001: 21)
Salvo no caso de Portugal, essa análise indicou irrelevância estatística na diferença entre homem e
mulher na Espanha e na França.
Outro fato importante sobre o modelo sociológico é que ele considera as determinações
estruturais do voto além do papel dos partidos políticos 6 e das associações da sociedade civil,
transformando as clivagens 7 sociais em clivagens políticas, ao que se atribui “determinadas
experiências de vida e determinadas solidariedades sociais (comunidade de residência, trabalho,
etc.)” (P. 33). Há também o "voto com base no sistema de clivagens,” onde o lugar em que se
posiciona o eleitor se associa ao “sistema de valores" nutrindo assim, uma lógica de
interdependência. Dessa forma a associação do sistema de valores com as posições estruturais
determinam o sentido do voto, o que segundo o autor, aponta também para um declínio no sistema
de clivagens8 (Knutsen e Scarbrough, 1995: 495- 499 Apud Freire 2001: 34).
A questão dos partidos políticos no modelo sociológico foi testada por Lipset e Rokkan,
Richard Rose e Derek Urwin (1969) em uma pesquisa que media as variações na "coesão social dos
partidos políticos", analisando 7 partidos onde apenas 19 foram significativamente influenciados
pelo fator religioso enquanto 35 pela classe social atestando a pertinência do modelo das clivagens,
que também foi usado por Michelat Simon (1985) e por Lijphart (1971) para analisarem "coesão
política nos grupos sociais"e também atestaram que o fator religioso impacta mais do que o de
classe no sentido do voto.
Tendo destacado as principais considerações sobre o modelo sociológico, faz-se importante
seguirmos para o próximo:

5 Resultados obtidos através de análise bivariada


6 Os próprios partidos políticos, sobretudo os antigos "partidos de integração" ,funcionam como agências de
socialização política, nomeadamente através da doutrinação, e podem inverter completamente os efeitos negativos
do baixo estatuto educacional e profissional sobre os níveis de participação eleitoral (Lipset, 1959: 170-171, e
Memmi, 1985: 346; para o caso português, ver Cabral, 1995: 194-202, e 1998b: 363- 365, 200: 68 Apud Freire,
2001: 16)
7 Nesse sentido, "Clivagens" trata-se de posições estruturais, onde se localizam de forma estrutural o eleitor e
determina o voto, fenômeno denominado como “Voto Estrutural” (Knutsen e Scarbrough, 1995: 499-500 Apud
Freire 2001: 33)
8 Dão origem às identidades sociais como resultante das experiências da vida individual e social
5

2) Modelo Sociopsicológico: Tem sua origem nos estudos conduzidos pela Universidade de
Michigan durante as eleições de 1948 nos Estados Unidos.9 Nesse modelo, o conceito central é o de
Identificação Partidária, entendido como afinidade psicológica à um representação política (no caso,
um partido). A obra American Voter, traz o desenvolvimento desse modelo que segundo Freire foi
dominante nos Estados Unidos e na Europa, expõe a ênfase nas atitudes políticas, e ao mesmo
tempo considera as questões psicológicas, cujas variáveis acabam no comportamento político.
Campbel e outros (1970) explicam que a estrutura causal dessa dinâmica pode ser melhor
compreendida pelo "funil da causalidade" onde são consideradas influências históricas e
sociológicas na base do funil relacionando-as com as atitudes dos indivíduos. (Campbel e outros,
1960: 24-37 Apud Freire, 2001: 42). O centro de preocupação desse modelo de análise é o
indivíduo, contando com recursos da psicologia social, na busca de uma compreensão das
"influências psicológicas" causadoras do voto.
Segundo as teorias da socialização política, as atitudes dos indivíduos em relação aos
objetos políticos formam-se antes de estes terem idade para votar e são, em larga medida,
um reflexo do ambiente social imediato (familia, grupos de vizinhança, grupos de amigos,
etc.), especialmente o contexto familiar. Portanto, as atitudes adquiridas através da
socialização passam a integrar a estrutura da personalidade dos indivíduos e "tornam-se a
base para a formação de opiniões, auto avaliações e propensões para a acção fremte ap
'ambiente' político mais amplo"(Figueiredo, 1991: 20 - 21; Campbell e outros, 1960: 146-
148 Apud Freire, 2001: 43)
Podemos entender mediante análise da literatura, que o modelo entende o voto como uma
determinação do próprio indivíduo, resultante do próprio “ser”, como uma sincronização entre os
diferentes fatores que formam um cidadão votante, de forma que a ação em si, é antecedida por uma
série de sistemas de naturezas diversas, envolvendo fatores como gostos e preferências, cultura e
tradições e inclusive personalidade.
O modelo sociopsicológico foi representado por Freire da seguinte forma10:

9 Posteriormente, os resultados dessa eleição foram analisados Por Kampbell e Kahn (1952)
10 Freire 2001, Pagina 45.
6

O terceiro ponto, sobre o qual nos aprofundaremos mais, visto que agrega ao tema deste artigo,
segue abaixo:
3) Modelo Econômico de voto: Tem como base a teoria da escolha racional por Antony
Downs que começou a ganhar relevância a partir dos anos 70 e 80. Neste modelo, o voto considera
como principal fator a economia, de forma que os requisitos para votar são construídos mediante
análise do desenvolvimento econômico e dela também depende a popularidade do candidato,
podendo ser reeleito ou acontecendo a mudança de governo de forma que eleitores que avaliam a
economia como boa o reelegem ou votam na oposição11.
O termo racional nunca é aplicado aos fins do agente, apenas aos meios. Daqui uma
definição de racionalidade como eficiência, isto é, maximização do output para um
determinado input ou minimização do input para um determinado output (Downs, 1957a:
4-5 Apud FREIRE, 2001, P 60).
Embora o modelo econômico de voto seja anterior à escola de Michigan, projeta o eleitor
como um sujeito já livre da influência sociológica e psicológica12 e mantém critérios de escolha
ligados mais fortemente aos parâmetros de uma racionalidade econômica. Isso indica que ao
escolher um representante para votar nas eleições, os temas políticos são levados em consideração
de forma mais significativa que os fatores anteriores. Nesse sentido, o voto acontece quando os
custos de o fazer são menores do que o ato em si. Para uma total compreensão desse modelo de
voto, veremos mais adiante com mais profundidade a teoria da escolha racional na qual se assenta o
modelo, além de visitar autores que testam esse conjunto de teorias na América Latina, onde os
contextos sócio-econômicos são outros e posteriormente no Brasil, considerando as crises políticas
e econômicas recentes, tanto na América Latina como um todo, como no Brasil.
Antes de entrarmos na teoria da escolha racional, faz-se importante conhecer a literatura que
estrutura as teses que veremos mais adiante. Antony Downs foi o principal autor a dar força à teoria

11 Weyland 2003, Lewis Beck, Martini e Kiewiet (2013), Apud, Bozza 2012
12 Downs não nega as influências psicológicas no comportamento político, simplesmente não as incorpora no
modelos (1957a: 7) (FREIRE, 2001 p.61a)
7

em sua Obra Uma Teoria Econômica Sobre a Democracia,13 cria a hipótese de que o processo de
escolha política acontece dentro de um sistema de mercado. Dessa forma, o que estaria em questão
seria a demanda e oferta de elementos de utilidades, no caso, o voto e bens socioeconômicos.
Assim, de um lado estariam organizados os partidos políticos com suas próprias divisões ofertando
serviços, e de outro o eleitorado, formando um mercado eleitoral. Nesse contexto, formula suas
hipóteses sobre como o eleitor decide qual será seu voto.
O modelo da escolha racional, considera que as ações humanas caso formem algum padrão,
podem ser previstas. De forma que conhecendo os propósitos do que toma a decisão é possível
inferir que a escolha será pela forma mais fácil de atingir o objetivo. Dentro dessa lógica, Downs
considera o sistema eleitoral como um mercado, onde os interesses envolvidos podem ser
traduzidos com expressões como maximização de lucro e de utilidade. Vejamos o que se segue:
Desse modo , todas as vezes que economistas se referem a um "homem racional",
eles não estão designando um homem cujos processos de pensamento consistem
exclusivamente de preposições lógicas, ou um homem sem preconceitos, ou um
homem cujas emoções são inoperantes. No uso normal, todos esses poderiam ser
considerados homens racionais. Mas a definição econômica refere-se unicamente ao
homem que se move em direção a suas metas de um modo que, ao que lhe é dado
saber, usa o mínimo insumo possível de recursos escassos por unidade de produto
valorizado (Downs, p, 27, 1999)

Embora não negue que a escolha racional pautada em questões subjetivas no


comportamento político é algo a se considerar, o autor orienta seu estudo para o comportamento
político numa racionalidade estritamente econômica, considerando fins e meios, onde o fim é
escolher o governo e os meios são as eleições, sendo o eleitor que age racionalmente o "eleitor
médio". Dessa forma, essa racionalidade política não exclui a possibilidade do erro, mas sempre
considerando as relações e possibilidades que envolvem custos e lucros, consideração essa que é
inexistente em caso de irracionalidade, de forma que quando identificado o erro a decisão de
eliminá-lo ou não considera pontos importantes, dentro de outra dinêmica, como a identificação do
erro e perdas e ganhos com sua eliminação. Dessa forma, erro e racionalidade não são, como pode
sugerir em primeiro momento, coisas opostas e impossíveis de serem relacionadas.
É de grande importância para o modelo a compreensão da relação de "racional" e
"Irracional" considerando o contexto político, porque uma vez identificados os mecanismos que

13 Antes, Joseph Schumpeter em Capitalismo, Socialismo e Democracia de 1945, elabora as primeiras formas de
entendimento das eleições como um mercado dividido em interesses dos eleitores, candidatos e partidos, onde são
oferecidos propostas políticas e grupos de eleitores de forma que "[...] o papel desses é escolher uma opção dentre
as ofertadas nesse mercado[...] Como resultado dessa escolha, produz-se governos, sendo o voto do eleitor mera
agregação de preferências individuais, destituídas de conteúdo normativo, cuja finalidade é formar tão somente
governos" (SILVA,P. 44, 2016)
8

produzem padrões, torna-se possível a previsão de resultados 14 . Assim, torna-se importante


considerar que dentro desse raciocínio, a função social do povo é votar. Dessa forma, considera que
o sistema democrático e seus processos de escolha de governos, especificados no voto da maioria,
acontecem da seguinte maneira: levando em conta a renda de utilidade ao escolher entre candidatos
e as alternativas políticas em relação as questões defendidas; as questões que surgem durante o
processo eleitoral; divisão do eleitorado entre maioria e minoria onde se manifestam as questões
individuais; o partido no poder e o partido de oposição. Assim, diante das questões relevadas por
cada uma das frações que aspiram ao governo durante o período, a unidade dos eleitores se
fragmentam com base na diferença de vantagens ou prejuízos com a eleição de determinado
representante. Sendo eleito ou reeleito, o partido no poder passa então a se preparar para a próxima
disputa, controlando a satisfação de seus eleitores e contornando estratégias adversárias. (DOWNS,
1999)
Assim, o eleitor/político/partido se comporta como o homo economicus da economia, age de
forma a maximizar os retornos de utilidade, com o mínimo de custo possível. Essa forma de agir
racionalmente, a partir de um cálculo entre custos e benefícios, não é exclusividade do eleitor, todos
os envolvidos com a política, agem assim, inclusive candidatos e partidos políticos. Considerando o
eleitor, analisando as opções no mercado eleitoral, caso ele conclua ser mais vantajoso, em termos
de retorno, votar no candidato do governo, ele o fará, se concluir o contrário, que as suas
expectativas serão melhor atendidas pela oposição, ele votará nela. Porém, caso nenhuma das
ofertas lhe forneça algum diferencial, que justifique sua ida às urnas, ele se absterá. 15 Ou seja, é um
modelo simples, que desconsidera os condicionantes sociais das ações dos indivíduos, levando a
teoria a receber muitas críticas. É sobre essas noções básicas de racionalidade econômica que se
assenta a teoria política do voto econômico como um desdobramento da escolha racional.

O Voto Econômico
O debate sobre a hipótese de a economia impactar nas formas de votar é extenso na
Ciência Política. Isso significa que nessa concepção, a economia é a principal base explicativa dos
resultados eleitorais. A economia entendida de forma que envolva o bem-estar do eleitor seria uma
das formas diretamente proporcionais à satisfação ou insatisfação com o desempenho do candidato.
As bases da teoria do voto econômico começaram a ser definidas e modeladas em meados da
década de 70 com nomes como Gerald H. Kramer, John Farejohn e Fiorina com interesse apontado
na direção do impacto da dimensão econômica no comportamento dos eleitores na escolha do

14 Mesmo quando agindo de formas a produzir erros, um eleitor/político/partido pode mediante a percepção de
ganhos, seguir influências racionais, como no caso de partidos, mídia e candidatos.
15 SILVA, R. Comportamento Eleitoral na América Latina e no Brasil: Em Busca dos determinantes das
Abstenções, votos brancos e nulos, 2016.
9

presidente nas eleições norte-americanas bem como as variações nos níveis de satisfação com os
governos eleitos. Por sua vez, Tufte (1978) também reconhece a estreita relação das eleições com a
vida financeira dos eleitores. Seus estudos sobre o eleitor norte-americano, mostraram que a cada
100 dólares de aumento na renda per capta, correspondeu a um aumento de 3,5 percentuais de votos
no mandatário. Dessa forma, o eleitor vota com o bolso. (SILVA, 2016, P. 53). No entanto a teoria
do voto econômico e toda a literatura decorrente dela, não ignora a importância da qualidade das
informações que chegam aos eleitores.16 ( RIBEIRO, VEIGA, JUNIOR, 2018)
Kramer (1983) considera que é a avaliação econômica, portanto sociotrópica, que
impacta de maneira mais forte na decisão do eleitor dos Estados Unidos; (BOZZA, P.12) enquanto
Weyland (1988), desenvolve algumas noções que precisam ser compreendidas sobre essas
percepções que deságuam no voto. A primeira é que há uma divisão nos critérios entre
considerações da economia em si e entre interesses não econômicos. A segunda coisa é o bem- estar
individual e o da sociedade como um todo17 e por último a avaliação baseada na trajetória das ações
do governo em questão, ou do incumbente18. A tese de Martins apresenta ainda uma leitura de "The
Nature of Economic Perceptions in Mass Public" por Lewis Beck, onde se encontra um estudo do
embate teórico entre aqueles que defendem a hipótese do voto econômico e os que defendem a
importância das preferências políticas.(Esse é um debate que agrupa estudos sobre como acontece a
percepção econômica, se em dados objetivos ou se em tendências partidárias (Lewis-Beck et al.,
2013, 525, apud Martins, P 23))
Fiorina assim como Kramer, Lewis-Beck & Stegmaier fazem parte dos teóricos que
defendem que o eleitor olha para temas que se relacionam com o desempenho, como temas de
desemprego e crescimento ou estagnação da economia bem como o estabelecimento das
19
capacidades de vida, além de que o eleitor considera questões objetivas onde coisas como
ideologia ou filosofias políticas não são consideradas. (ANTUNES, 2008, P. 79); explica ainda que
na disputa por diferentes órgãos de poder, o comportamento do eleitor varia entre os partidos, para
que haja um equilíbrio entre os poderes. Também defende que a percepção retrospectiva dá
elementos para que o indivíduo considere prováveis elementos futuros. Nisso temos o voto
prospectivo, onde Kiwet (1983) incorpora à teoria dois tipos de avaliações que trazem consigo
importante contributo a respeito dos determinantes do voto, conforme veremos no decorrer deste
trabalho. Dessa forma o eleitor faz a seu modo tanto considerações nacionais como individuais

16 Assunto amplamente discutido por De Boeff e Kellstdr, 2004; (Duch e Stevenson, 2008; Erikson et al, 2001;
Nadeau et al., 1999, Apud, Ribeiro, Veiga e Junior, 2018)
17 Avaliação Egotrópica e sóciotrópica, respectivamente
18 Downs, Key, e Fiorina concordam que nesse caso o eleitor faz uma análise retrospectiva para intuir o futuro, portanto, de forma
propectiva. (Martins, p 22, 2013)
19 Whenever comparable economic complaints do not translate into similar electoral responses across the board,
class and education may offer better explanations (Fiorina 1981; Sniderman et al. 1991, Apud, Camargos 1999).
10

sendo influenciado mais ou menos por uma ou por outra assim como atribuindo importâncias
diferentes.
Em contrapartida ao voto retrospectivo desenvolvido por Dows, Key e Kramer,
Fiorina ressalta a importância da identificação com o partido na expectativa em relação a futuros
governos. O desenvolvimento da teoria como fizeram, segundo Fiorina, imputaria aos eleitores uma
padronização de raciocínio que independe do nível de esclarecimento. Dessa forma entende que a
identificação partidária, provém de uma avaliação retrospectiva e da percepção de questões
demográficas consideradas relevantes. A construção de seu pensamento resultou em um modelo
relacional entre a análise da economia prospectiva e retrospectiva como elementos do voto do
eleitor, onde a expectativa como função do voto acompanha a avaliação retrospectiva e a
preferência partidária.
Martins (2013) traz os resultados desses estudos que foram colhidos por meio de
perguntas acerca da opinião pública sobre a economia, de forma que a contagem e o agrupamento
das respostas foram distribuídos na lógica que considera o crescimento do PIB, da inflação e do
S&P 5020 como avaliação negativa do período em questão. No nível individual, destaca a seguinte
fórmula:
AVALIAÇÃO ECONÔMICA (BINÁRIA) = CRESCIMENTO DO PIB + INFLAÇÃO + S&P 500
A análise desses dados apontou que há uma relação de dependência e causalidade
entre as variáveis objetivas e as subjetivas, indicando a presença de impacto da percepção
econômica no comportamento do eleitor. No entanto, com a inserção da variável preferência
partidária, verificou-se que eleitores mais alinhados ao posicionamento do incumbente tenderam a
fazer uma análise positiva.
Ainda em relação ao mesmo estudo, Kramer (1983) verificou que a análise
sóciotrópica da economia é predominante em relação à egotrópica. Aponta que os dados colhidos do
nível individual são imprevisíveis e apresentam um elemento de grande margem de erro, sendo uma
alternativa a ele, a análise de dados agregados como mais adequado à análise de dados econômicos.
Martins conclui a análise dessa obra com Kramer, ressaltando que a operacionalização de dados
agregados são as mais indicadas para estudar a hipótese do voto econômico.
Essas abordagens iniciais foram produzidas em contextos diferentes nas democracias
europeias, onde na maioria dos casos o sistema eleitoral é bipartido de forma que a escolha racional
entre os candidatos e partidos é mais visível, e o comportamento econômico nessa racionalidade
parte de problemas sociais específicos e de estruturas próprias das sociedades estudadas. As novas
clivagens ofereceram desafios aos analistas do comportamento político, pois a opinião pública foi se

20 Essa variável corresponde à empresa de consultoria Standart and Poors (Martins, P, 24)
11

tornando cada vez mais imprevisível. Dalton e Kleigemann (2009) acreditam4 que no centro dessas
mudanças está a necessidade de entender o comportamento individual.

O Voto Econômico na América Latina e No Brasil


Como vimos até agora, a hipótese do voto econômico foi testada de uma forma
ampla nos países onde o sistema democrático mostra um nível maior de estabilização, o que coloca
a América Latina como um território pouco inexplorado no que diz respeito a investigações do
comportamento eleitoral onde o voto econômico é testado. Observa-se uma predominância do “voto
no incumbente” como alvo de interesse de pesquisadores21 desse campo na América Latina, o que
contribui com a compreensão agregando aos estudos do voto econômico. No entanto, para
prosseguir de forma linear, é necessário verificar o que a literatura apresenta como importância
histórica, onde se encontram as especificidades das novas democracias em especial das Latino
Americanas.
A América Latina é marcada por acordos feitos no âmbito da política internacional,
como o consenso de Washinton, o Plano Brady e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(Martins, apud Veiga). Na prática, isso significou uma interrupção, em meados de 1892 no ciclo de
desenvolvimento desses países e uma exigência, em razão da dívida, de uma reformulação das
políticas econômicas que fossem mais alinhadas aos acordos e objetivos mundiais. 22 A nível
socioeconômico, essas estruturas externas produziram no interior dos países Latinos, um grande
desequilíbrio nos índices inflacionários e uma realidade de pobreza, onde os índices de desemprego
eram alarmantes, quadro que foi se alterar somente no início dos anos 2000 com a interferência da
ONU.
Considerando as informações históricas sobre a economia, o estudo do voto
econômico na América Latina, normalmente seleciona duas variáveis dependentes para serem
analisadas que são o voto no incumbente e a avaliação do presidente (Lewis Beck e Stagmaier,
2008, apud, Martins, 2013) sobre as quais acontecem os estudos dos períodos e dos casos
específicos. Nos primeiros casos da América Latina realizados nos anos 80, Remmer (1991)
verificou que houve uma forte relação entre a alta na inflação 23 e o desempenho dos partidos de
oposição, porém houve nos anos 90 uma redução da inflação e uma ênfase na adesão ao mandatário
em comparação com o ano anterior. (VEIGA, RIBEIRO e GIMENES, 2018)
Esses mesmos autores apresentam Singer (2013) que também estudou o impacto da
economia no apoio ao presidente nos mesmos períodos que Remmer - 1982 a 2011- totalizando 79

21 Remmer (1991); Echegaray (2005); Camargos (2006) e Singer (2013)


22 Flavia Bozza Martins em sua dissertação de mestrado dedica um capítulo inteiro sobre a condição econômica
da América Latina desde o pós guerra.
23 Que chegou a atingir quatro dígitos.
12

eleições em 18 países. Além de constatar o papel da percepção econômica, percebeu uma alteração
nessa relação ao longo do tempo. No primeiro caso, havia uma forte associação entre a inflação e o
voto no presidente, enquanto na outra década, presidentes 24 que tiveram boa performance no
controle da inflação foram reeleitos. Concluem constatando que no período de 2001 a 2011 o
crescimento econômico se tornou um critério mais importante que a inflação.
Por outro lado, Ratto e Lewis-Beck (2013) se ocuparam de estudar 12 países 25 onde a
avaliação sociotrópica retrospectiva no mandatário esteve presente, havendo semelhanças com os
resultados obtidos por Veiga (2013) ao estudar 18 países Latino Americanos e constatar que as
variáveis macroeconômicas afetam indiretamente os resultados das eleições. Isso aponta para o fato
de que o crescimento econômico e a inflação não afetam de forma direta o presidente e seu partido,
enquanto o crescimento e os investimentos sociais estão mais presentes nas avaliações
retrospectivas dos eleitores.
Patricio Navia em seu artigo "Una Aproximación al Estado del Voto Econômico en
América Latina" traz uma série de nomes que pensaram e investigaram a hipótese em diversos
países Latinos como Mathew Singer que Analisa 18 países latinos mostrando a presença do voto
econômico e de outras variáveis, onde o padrão de castigar ou recompensar o governo após a
performance econômica também foi constatada, mostrando também variações importantes na forma
em que se apresenta o voto econômico em cada país. José Miguel Cabezas por sua vez, destaca as
diferenças dos países onde predomina o voto econômico com dados do LAPOP de 2010 e 2012,
sobre 24 países latino americanos e do Caribe. Constata que os votantes que se identificam com
partidos tendem menor inclinação a avaliar os governos partindo do desempenho e expectativas
econômicas.
Segundo Navia, Ryan Carlin y Katherine Hunt estudaram essa questão no Uruguay
entre 2007 e 2013 e usaram a metáfora dos campesinos e banqueiros - que para tomar suas decisões
analisam a situação presente e futura, sugerindo que os eleitores do Uruguai são mais imediatistas, e
egotrópicos, sem considerar tanto as questões econômicas do país, enquanto Rodrigo Osório conclui
que o voto econômico teve uma presença maior na eleição de Humala no Peru em 2011 mais que
em 2014. Para ele, os peruanos além de se orientarem por questões de curto prazo, suas percepções
acontecem com base em como vai o país.
Navia também insere Lucas Parello, mostrando durante a eleição entre Michelle
Bachelet y Sebastian Piñera (2010 - 2014) no Chile que o voto econômico não foi um bom preditor,
considerando as más condições da economia e a alta aprovação de Bachelet. Quanto mais se

24 Entre eles Fernando Henrique Cardoso, visto mais a fundo por Yan Carreirão e Camargos
25 Entre eles Paraguay, Peru, Uruguai e Venezuela nos anos 1996, 2000, 2004
13

degradava a economia mais se aprovava o governo, em contrapartida, durante o governo Pinera


enquanto a situação econômica melhorava a aprovação diminuía. Seu estudo mostra a importância
de se compreender a identificação politica dos chilenos como um fator que blinda seus presidentes.
E por último mas não menos importante, insere Patricia Navia e Ignacio Soto que encontram
outro paradigma no Chile durante as eleições de 1999, 2005, 2009 e 2013. Em 1999 houve a eleição
de um candidato impopular e também quando houve popularidade e boa situação econômica foi
eleito. Somente em 2009 com alta impopularidade, mas com boa performance econômica foi
derrotado. Esses autores também destacam a identificação política como um elemento importante
que molda o voto, assim como o modelo sociotrópico de comportamento. .É importante
considerarmos nesse contexto as condições em que ocorrem as percepções acerca da performance
de governo do eleitor Latino Americano, o que faz Martins inserindo na discussão o conceito de
Clareza de responsabilidade. Nesse sentido, uma eventual reeleição ou voto no incumbente, dentro
dos parâmetros do estudo do voto econômico, estão relacionados com os padrões de transparência e
a identificação dos responsáveis pelo desempenho das políticas econômicas. (Martins, Veiga, Dutt-
Ross, 2014 ) Assim a clareza de responsabilidade é maior quando o número de envolvidos no
manejo de políticas é menor, de maneira que a identificação dos autores das medidas políticas é um
requisito para o voto econômico, já que ele acontece considerando dados dessa realidade.26
Elaborar considerações sobre o comportamento político e do voto com viés
econômico na América Latina, pede a revisita a essas teorias para que sejam testadas e colocadas a
prova, já que falamos de uma realidade socioeconômica diferente da dos lugares de origem da teoria
e com outros níveis de adesão à democracia. Essa é uma iniciativa intelectual que conta com poucos
estudos e constitui um campo de muitas possibilidades de investigação principalmente tendo o
Brasil como campo.
Camargos (1999) escolhe a questão presidencial como alvo de boa parte de sua tese ao
analisar pela perspectiva do voto econômico o caso das eleições brasileiras de 1998 entre Fernando
Henrique Cardoso e Lula. Seu estudo mostra que o plano real, mais especificamente a
implementação da segunda etapa, com a queda da inflação, foi o principal fator que elegeu FHC à
Lula. (CAMARGOS, P.19). Carreirão (2007), analisando o mesmo período, onde o impacto dos
fatos econômicos27 (a efetivação do real e as alterações na inflação) verificou através de análise de
dados do Datafolha que 55% dos entrevistados que avaliaram como bom o plano real, também
avaliaram o governo de forma positiva, enquanto entre os que avaliavam o plano como negativo,

26 Para mensurar a clareza de responsabilidade no voto econômico, Martins analisa variáveis como número de
partidos na coalizão, número de coalizões ao ano, percentual de cadeiras do partido do presidente na Câmera dos
deputados e tipo de gabinete.

27 Seu estudo inclui as mudanças significativas na aprovação do governo em relação às mudanças e instabilidades
anteriores ao plano real, como durante a tentativa do plano cruzado
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12% aprovavam o governo, diferente dos outros 64% o que foi decisivo para as eleições de 1998
(P.225). Por outro lado, a intenção de voto no candidato Lula apresentou motivos como o
desemprego e os salários como campo de melhora, sendo sua imagem e do partido fonte de
identificação
Para grande parte do eleitorado a escolha parece ter se dado entre manter a estabilidade
(inflação baixa, poder de compra da moeda), mesmo à custa de um certo nível de
desemprego, ou votar em Lula, apostando em mudanças sócio-econômicas, especialmente
quanto à redução do desemprego e da miséria, mesmo que com o risco de aumentar a
inflação (CARREIRÃO, P. 228, 2007)
Camargos conclui sua tese após testar as hipóteses sobre como se comportou o eleitor
brasileiro nesse período, afirmando que o voto do brasileiro não é irracional ou alienado, de forma
que os que avaliaram o governo Fernando Henrique Cardoso como positivo tenderam a premiá-lo
novamente com o voto e os que avaliaram negativamente, votaram na oposição. Além da
identificação partidária, constatou a importância de se considerar a identificação com o
representante, já que a importância atribuída à dimensão econômica da performance do candidato
Lula foi posterior à identificação partidária e a avaliação prospectiva sociotrópica.28
O voto econômico no Brasil tem sido um crescente alvo de estudo, tendo em vista as
alterações socioeconômicas nas duas últimas décadas considerando as eleições do período. Timothy
Power e Wendy Hunter, por exemplo, ao analisarem as eleições de 2006 que delegaram a Lula a
presidência, encontraram no bolsa familia um fator de alterações nos padrões do IDH proporcionais
à satisfação pública e a consequente reeleição do candidato. (Hunter e Power, 2007, Apud Ribeiro,
Junior e Veiga, 2018). Acerca dessa mesma questão - o baixo índice de desenvolvimento humano e
a implantação do bolsa familia, - Jairo Nicolau e Vítor Peixoto corroboram a presença do voto
econômico com base retrospectiva, ao que Zuco (2013) reafirma a presença do voto econômico na
reeleição de Lula, com base em pesquisa de metodologia similar, mas considerando a aceitação dos
programas de transferência de renda, ao que atribui parte da perda de identificação com o PT
daqueles que acreditam que há na política de transferência de renda um fator despolitizante.
Veiga e Ross (2016) através de dados do Eseb de 2014 testam a hipótese nas eleições do
mesmo ano, onde buscam mensurar a percepção dos eleitores acerca das principais questões acerca
da economia, como "conhecimento da taxa de desemprego", "sensação de mobilidade social",
"região geográfica" e "afetividade partidária". Seus resultados apontaram para a inexistência de uma
relação entre conhecimento relativo da economia e voto no mandatário, o que demanda estudo do
perfil dos eleitores. Dessa forma conclui que nas eleições de 2014, o conhecimento objetivo da
economia não apresentou impacto na avaliação do eleitor, de forma que a variável da afinidade

28 Entre as principais variáveis estudadas estão: Preferência partidária e avaliação do Governo mais presentes no
voto em FHC enquanto preferência partidária e análise prospectiva sociotrópica e retrospectiva pessoal esteve
mais atrelada ao voto em Lula.
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partidária mostraram impacto na economia, o que contribui com um relativo compartilhamento de


espaço entre o voto econômico e a identificação partidária.
Conclusões
Um dos principais objetivos desse artigo, foi a compreensão e o conhecimento das teorias
que estiveram ao longo do tempo, interessadas em estudar a forma com que os eleitores votam, no
sentido de compreender suas motivações e seus critérios, sobretudo no que diz respeito às variações
no voto com base na percepção da economia. Vimos que esse é um assunto amplamente discutido,
pelo menos desde o início da década de 70 e se constitui um campo de estudo de muitas
possibilidades, podendo agregar problemáticas, metodologias e abordagens diversas.
Vimos de uma forma breve, quais as principais abordagens na literatura que baseiam a
construção dos diferentes modelos de votos, como o modelo sociológico, o psicosociológico e o
racional, que por sua vez constitui a base mais relevante para as teorias acerca do voto econômico.
A compreensão da teoria da escolha racional, permitiu de uma forma lógica o acesso ao
entendimento da hipótese do voto econômico, hipótese esta que foi amplamente testada, pela
perspectiva de diferentes variáveis, na Europa, na América Latina e no Brasil. Através das leituras
das teses dos estudiosos que investigaram a aplicabilidade das teorias europeias na América Latina;
formamos as bases dos principais pontos para ter um panorama das maiores problemáticas que
remetem às diferenças profundas de contextos e realidades políticas e econômicas nas democracias
e suas estreitas relações com o voto econômico. As diferenças entre os resultados coletados
retratando resultados das eleições como fruto de um processo de satisfação e de opinião pública
mediante análises individuais e coletivas, contaram na maioria dos casos estudados , com a presença
do voto econômico (sobretudo nos países onde a democracia é mais consolidada) sendo impactada
pela preferência partidária.
O Brasil como um país Latino Americano, pode ser compreendido, pelo menos nos períodos
de eleição analisados, como uma nova democracia onde o voto econômico ainda se faz presente
mesmo que moldado e modificado em maior ou menor grau, a depender do período, pela
identificação partidária. Dessa forma, diante das crises políticas e econômicas vividas a nível
continental e também nacional, emergem as especificidades históricas nos resultados das eleições e
no comportamento dos eleitores, e diante de turbulências recentes, o Brasil torna-se um campo onde
o estudo baseado nos testes da hipótese torna-se possível e necessário. Assim, esse trabalho é
finalizado como um estudo que buscou conhecer os principais caminhos, importantes e necessários,
para o estudo do comportamento eleitoral com base na economia (o voto econômico), no Brasil.
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