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Resumo: O último relatório3 sobre o crime de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual
publicado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), aponta que 70% das
vítimas são mulheres, das quais, em sua maioria, são negras e pobres. O presente texto tem como
objetivo analisar a construção histórica do estereótipo da mulata como um processo de apropriação
do corpo da mulher negra e suas relações com o perfil das vítimas de tráfico de pessoas para fins de
exploração sexual. Para isso, serão utilizadas discussões estabelecidas por Sueli Carneiro, Heleieth
Safiotti e Ângela Figueiredo. As estruturas de dominação e exploração do período colonial foram
ressignificadas e absorvidas pela sociedade moderna, formando um novo contexto sócio-histórico
que reproduzem violências com recortes de gênero, raça e classe. Um exemplo é a imagem mulata
tipo exportação, estereótipo de herança racista e escravocrata que gera uma demanda específica de
mulheres para alimentar o tráfico de pessoas. Portanto, o racismo é imprescindível para
compreender historicamente o perfil das vítimas.
Entende-se por tráfico de pessoas para fins de exploração sexual aquele que se enquadre na
definição adotada pelo Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em
Especial Mulheres e Crianças de 15 de novembro de 20002, conhecido como Protocolo de Palermo,
promulgado, no Brasil, pelo Decreto 5.017 de 12 de março de 2004, em seu artigo terceiro, entende
que é:
1 Graduada em Direito pela (Universidade Federal da Paraíba) UFPB, especialista em Direito Civil/Constitucional pela
Escola Superior da Magistratura da Paraíba (ESMA/PB) e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Interdisciplinares sobre Mulheres Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
barbarafreitas_2@hotmail.com
2
Graduada em Serviço Social e mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), e doutora em
Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). marciatavares1@gmail.com
3
BRASIL. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Consolidação dos Dados de 2005 a 2011. UNODC/Governo
Federal: Brasília, 2013 <Em: http://www.unodc.org/documents/lpobrazil/noticias /2014/07/Relatorio_Dados_2012_-
_press_quality.pdf> Acesso em 10 de dezembro de 2016.
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forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos;
[...].4
No código penal brasileiro o crime de Tráfico de pessoas está tipificado no artigo 149-A
(inserido pela lei de 13.344/2016) da seguinte forma:
4
BRASIL. Decreto no. 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em
Especial Mulheres e Crianças. D.O.U. DE 15/03/2004
5
BRASIL. Código Penal. Decreto-lei no. 2.848, de 9 de dezembro de 1940 (redação dada pela Lei no. 7.209. de 11 de
julho de 1984).Art. 110, § 1.º do Código Penal.
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O controle e a dominação direta, tanto politicamente quanto economicamente, perpetrado
por nações europeias durante cerca de três séculos, chamou-se colonialismo que produziu estruturas
sociais que permeiam toda a sociedade ainda hoje, seja nas relações de gênero ou étnica-raciais.
6
CARDOSO, Claudia Pons. Outras falas: feminismos na perspectiva de mulheres negras brasileiras. (doutorado em ) –
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, PPGNeim, Bahia, 2012.
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mulher branca sobre ele, como no romance Desonra de John Maxwell Coetzee, 1999 (Oliveira,
2008).
A primeira geração dos mestiços foi decorrente dos estupros coloniais. Mas, para produzir
orgulho na população era preciso um discurso sem a figura do opressor, e sim, de uma relação de
poder natural e harmônica entre brancos e negros. Assim, através da escolha do que deveria ser
apagado da história oficial (Sands, 2000),.nasceu uma narrativa romantizada, que se constituiu
como o novo paradigma cultural, na década de 1930: a democracia racial (Freyre, 1933).
Essa ideia foi reforçada por pesquisadores estadunidenses, pois nos EUA os conflitos de
raça eram explícitos e institucionalizados por leis separatistas (Figueiredo, 2015, p. 154), então
Donald Pierson, quando pesquisou as relações raciais na Bahia, de 1935 a 1937, propagou a ideia de
uma sociedade brasileira multicultural, livre do racismo (Pierson, 1942). Bem como a pesquisa
etnográfica de Ruth Lands que interpretou a Bahia como multirracial e sem conflitos de raça
(Lands, 1947).
A inexistência de preconceitos de raça no Brasil era justificada também pela mobilidade
social. Acreditava-se que o modo de classificação por cor não se configurava um problema na
ascenção social e nem influenciava às oportunidades. Aqui haveria uma sociedade de classes aberta
na qual negros, brancos, índios e mestiços poderiam transitar nos diversos grupos sociais da escala
piramidal. E, sob a égide da miscigenação, consolidou-se o mito da democracia racial, numa
suposta tolerância racial (Carneiro, p. 66, 2000), o que fez da cor um acidente, ou seja, seria
coincidência que os pobres eram negros.
Tales de Azevedo ao analisar as elites não brancas (Azevedo, 1955) e Florestan Fernandes
identificaram que havia preconceito, mas de cunho econômico. Florestan analisou o emprego na
cidade de São Paulo e percebeu que as pessoas que possuíam a Carteira de Trabalho e Previdência
Social assinada eram os imigrantes, mas não atribuiu ao racismo, e sim, à recente sociedade
escravista, de forma que com o tempo os negros seriam absolvidos, pois para o capital não
importaria a cor, era apenas mão-de-obra (Fernandes, 1964). Todavia, “(...) a conquista de direitos e
o empoderamento de pessoas negras somente ocorreu após os anos 1970, com a desarticulação da
celebração da mestiçagem e o uso de termos identitários branco-negro no modelo político bipolar”7
(Figueiredo, 2015, p. 155)
A política higienista tinha um objetivo primordial: embranquecer os brasileiros com a
mestiçagem e, para isso, elaborava um discurso que quanto menos características de ascendência
7
FIGUEIREDO, Ângela. Relato de uma ex mulata à Judith Butler. Revista Periódicos, n.3, v.1 mai-out, 2015.
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africana tivessem os mulatos, mais valor lhe era dado. Nesse processo, as obras literárias foram
fundamentais como o exemplo de A escrava Isaura, citado por Conceição Evaristo: “És formosa e
tens uma cor linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano”8
(Guimarães, 1979, p. 29/31)
A linguagem é um espaço de poder e quem a detém domina a narrativa oficial. Os
estereótipos das mulheres negras, seja da mãe preta (maternidade) ou da mulata (sexo), objeto do
prazer do senhor, eram reproduzidos e fomentados dos livros e romances literários coloniais e pós
abolição aos documentos historiográficos. “A literatura brasileira, desde a sua formação até a
contemporaneidade, apresenta um discurso que insiste em proclamar, em instituir, uma diferença
negativa para a mulher negra.”9 (Evaristo, 2005).
Nessas imagens, o patriarcado encontrou justificavas, no período colonial, para o estupro
colonial, amenizado com o nome de relações extraconjugais. “A mulher negra retratada como
exótica, sensual, provocativa, enfim, com fogo nato. Tais características chegam a aproximá-la de
uma forma animalesca, destinada exclusivamente ao prazer sexual”10 (Carneiro, 2002, p. 171). Ou
seja, a beleza da mulata era desculpa do senhor, ao apropriar-se daquele corpo negro, afinal, seria
impossível evitar.
Dessa forma, a raça e o racismo, no Brasil, definiu-se pelos fenótipos, devido ao processo
de mestiçagem, e independente de ascenção social, não importa quem é a pessoa, o que importa é
que é um corpo negro. Diferente do que ocorre nos EUA onde o que determina quem é negro é a
origem, a ascendência e a situação de classe. No Brasil, o negro mais claro e o mais escuro ocupam
lugares diferentes na estratificação social, quanto mais escura, maior o desprestígio (Figueiredo,
2015, p.155).
Desse processo vem o belo como o padrão de beleza branco, reservando à mulher negra, na
figura da mulata, a hipersexualização. Tais estereótipos não tiveram fim com a abolição,
construíram identidades de gênero e raça em todo o século XX, no qual persistiu a visão que limita
a mulher negra a ao sexo, ao prazer e às relações extraconjugais, já as brancas ao casamento.
“Preta para trabalhar, branca para casar e mulata para fornicar. Essa é a definição de
gênero/raça, instituída por nossa tradição cultural, patriarcal e colonial para as mulheres
brasileiras; além de estigmatizar as mulheres em geral, ao hierarquiza-las do ponto de vista
8
BERNARDO, Guimarães. A escrava Isaura, 1976. (p.29/31)
9
EVARISTO, Conceição. Da representação à auto-representação da Mulher Negra na Literatura Brasileira. Revista
Palmares: cultura afro-brasileira, ano 1, n.1, pp. 52-57, ago. 2005.
10
CARNEIRO, Sueli. Gênero e Raça. In: BRUSCHINI,C & UNBEHAUM, S. (org.) Gênero, democracia e sociedade
brasileira, p. 169-193. São Paulo: Editora 34, 2002.
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do ideal patriarcal de mulher introduz no interior do grupo feminino.” (Carneiro, 2002, p.
172)
É possível estabelecer uma relação direta entre esses estereótipos com a imagem da mulher
brasileira fora do país, o turismo sexual e o tráfico de pessoas, pois criou-se no imaginário
estrangeiro a ideia da mulher brasileira como a mulata quente e irresistível, e por consequência uma
demanda dos homens por essa mulher, a mulata tipo exportação endossada pela mídia (Giacomini,
2006, p. 89).
“A palavra de origem espanhola vem de “mula” ou “mulo”: aquilo que é híbrido, originário
do cruzamento entre espécies. Mulas são animais nascidos do cruzamento dos jumentos com
éguas ou dos cavalos com jumentas. Em outra acepção, são resultado da cópula do animal
considerado nobre (equus caballus) com o animal tido de segunda classe (equus africanus
asinus). Sendo assim, trata-se de uma palavra pejorativa que indica mestiçagem, impureza.
Mistura imprópria que não deveria existir. Empregado desde o período colonial, o termo era
usado para designar negros de pele mais clara, frutos do estupro de escravas pelos senhores
de engenho. Tal nomenclatura tem cunho machista e racista e foi transferido à personagem
globeleza, naturalizado. A adjetivação “mulata” é uma memória triste dos 354 anos (1534 a
1888) de escravidão negra no Brasil.”11 (Ribeiro, 2016)
Essa imagem traz uma carga de violência que recai sobre a mulher negra e está imbricado
por marcadores de gênero, raça e classe, constituídos por heranças coloniais. Não é qualquer mulher
a vítima do tráfico, há uma demanda por um perfil específico que tem origem justamente nas
relações produzidas no período escravista (colonialismo) e após independência (colonialidade).
Como expõe Sueli Carneiro:
11
RIBEIRO, Djalma. Nem mulatas do Gois e nem no “interior” de Grazi Massafera. Geledés, 2016. Disponível em:
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/nem-mulatas-do-gois-e-nem-no-201cinterior201d-de-grazi-massafera.
Acesso em 14/05/2017
12
CARNEIRO, Sueli. Raça e Gênero. In: BRUSCHINI, C. & UNBEHAUM, S. (org.) Gênero, democracia e sociedade
brasileira, p. 167-193. Editora 34: SP, 2002. (p.176)
13
CARDOSO, Claudia Pons. Outras falas: feminismos na perspectiva de mulheres negras brasileiras. Teses (doutorado)
– UFBA, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, PPGNeim, 2012.
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qual organiza e influencia as diversas dimensões da vida humana. A essa preservação de aspectos
coloniais, mesmo após a abolição, Sueli Carneiro dá o nome de continuum histórico:
“As mulheres envolvidas com o turismo sexual ou tráfico de mulheres são invariavelmente
muito pobres e em geral foram vítimas de abuso sexual. Acham-se submetidas a condições
de opressão e marginalização tão intensas que mesmo conhecendo ou intuindo os riscos
presentes nos envolvimentos com esses estrangeiros, agem como se o que vier não pode ser
pior do que ela já conhece.”15 (Carneiro, 2002, p.177)
Todas as vidas humanas estão sob a estrutura do capital, tudo pode vir a render lucros e
nisso se incluem as pessoas. É a coisificação humana e a objetificação da mulher. No tráfico, ela é
comprada, vendida e escravizada como objeto a ser consumido, ou seja, mercadoria. Há a
apropriação do seu corpo, além da sua força de trabalho. O tráfico de pessoas é uma forma de
14
CARNEIRO, Sueli. Raça e Gênero. In: BRUSCHINI, C. & UNBEHAUM, S. (org.) Gênero, democracia e sociedade
brasileira, p. 167-193. Editora 34: SP, 2002.
15
CARNEIRO, Sueli. Raça e Gênero. In: BRUSCHINI, C. & UNBEHAUM, S. (org.) Gênero, democracia e sociedade
brasileira, p. 167-193. Editora 34: SP, 2002.
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escravidão moderna e tem uma base material e estruturante, evidenciada na condição da mulher
como objeto do prazer masculino.
O corpo dessa mulher é também força de trabalho e máquina ao mesmo tempo. É
adquirido, vendido e trocado de acordo com o potencial de lucro, sendo as mulatas mais valiosas,
aspecto no qual podemos traçar uma analogia com a venda e a troca de escravos no Brasil colônia.
Ex.: Quantos homens pode atender? Quanto tempo de trabalho aguenta? Despertará interesse no
mercado do sexo? A rede tráfico precisa oferecer ao consumidor (homem) o tipo produto (mulher)
com a especificidade (a mulata) que eles desejam.
A máquina produtora de trabalho (corpo da mulher) junto à força de trabalho (servidão do
sexo) são apropriadas pelo capital, na busca de lucro. Isso é o que Colette Guillaumin denomina
sexagem, que “compreende a redução ao estado de ferramenta cuja instrumentalidade se aplica
sobretudo e fundamentalmente a outros humanos”16. Diz respeito à apropriação da mulher, tanto
individual como coletiva, do seu trabalho, do corpo e da vida pela classe dos homens, o sujeito
passa a ser objeto. “É como sujeito que nós não existimos. Materialmente existimos
demasiadamente: somos propriedades”17 (Guillaumin, 2014, p. 43)
Desde a sua origem o termo patriarcado já sofreu diversos usos e modificações. Segundo
Mirla Cisne, pode ser “entendido como um sistema de opressão, apropriação e exploração sobre as
mulheres”18 (CISNE, 2015, p. 144). Nele a exploração é inseparável da dominação e podemos dizer
que há três sistemas de dominação-exploração: além do capital e a sociedade de classes sociais
antagônicas; há o patriarcado (homem sobre a mulher); e o racismo (branco sobre o negro). Essas
três estruturas de poder formariam o que Safiotti denominou de nó na simbiose: patriarcado-
racismo-capitalismo, que permeiam todas as relações sociais (Safiotti, 1992).
O homem que busca pelo serviço fornecido nas redes de tráfico, seja em casas de
prostituição na Europa ou nas ruas, almeja por algo que a sociedade já lhe deu. A apropriação do
corpo da mulher pelos homens é fundada no patriarcado, que o faz enxergá-la como sua
propriedade, desprovida de dignidade. Como exigir consciência de quem está violentando alguém
se este, já é seu? Colette Guillaumain observa que “só se pega publicamente o que lhe pertence;
16
GUILLAUMIN, Colette. "Prática do poder e ideia de natureza". In: FALQUET, Jules (et. al.). O patriarcado
desvendado: teoria de três feministas materialistas. Recife: SOS Corpo e Cidadania, 2014.
17
GUILLAUMIN, Colette. "Prática do poder e ideia de natureza". In: FALQUET, Jules (et. al.). O patriarcado
desvendado: teoria de três feministas materialistas. Recife: SOS Corpo e Cidadania, 2014.
18
CISNE, Mirla. Direitos humanos e violência contra as mulheres: uma luta contra a sociedade patriarcal-racista-
capitalista Serv. Soc. Rev., Londrina, v. 18, n.1, p.138 - 154, jul./dez. 2015
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mesmo os cleptomaníacos mais descontrolados se escondem para tentar apoderar-se do que não é
seu. Quando se trata de uma mulher é desnecessário esconder-se”19
Apesar de ser o terceiro crime mais rentável do mundo, não é apenas o lucro que determina
o tráfico, há uma demanda masculina por essas mulheres em conjunto com desprezo pela
exploração, uma apatia generalizada à situação subumana daquela mulher. Portanto, atrás de cada
mulher aliciada, há, no mínimo, dois homens, o que a traficou e o que a usa/adquire o
serviço/produto. A violência é múltipla e legitimada na estrutura de dominação e poder que a classe
masculina detém, é ela como consumidora que determina a preferência pela mulata.
19
GUILLAUMIN, Colette. "Prática do poder e ideia de natureza". In: FALQUET, Jules (et. al.). O patriarcado
desvendado: teoria de três feministas materialistas. Recife: SOS Corpo e Cidadania, 2014. (pag.28)
20
LEAL, Maria Lucia P.; LEAL, Maria de Fátima P. (orgs.). Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e
Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil. Relatório Nacional. Brasília: PESTRAF/CECRIA,
2003. Disponível em: < http://empreende.org.br /pdf/ONG's,%20OSCIP'S%20e%20
Terceiro%20Setor/Tr%C3%A1fico%20de%20mulheres%20crian%C3%A7as%20e%20adolescentes%20para%20explo
ra%C3%A7%C3%A3o%20.pdf.> Acesso em 16 de dezembro de 2016
21
CARNEIRO, Sueli. Entrevista à Bianca Santana. Revista Cult, n.233, ano 20, pp.13-20, maio, 2017.
22
FIGUEIREDO, Ângela. Relato de uma ex mulata à Judith Butler. Revista Periódicos, n.3, v.1 (p.152 – 169) mai-out,
2015
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Evaristo denomina escrevivência. “Essas escritoras buscam produzir um discurso literário próprio,
uma contra-voz à uma fala literária construída nas instâncias culturais do poder”23
Em conclusão, pode-se dizer que a vítima tráfico de pessoas para fins de exploração
sexual, tem cor, classe social e está sob influência de um esteriótipo fundado com base no período
colonial escravista em nome de um projeto político internacional de poder. É mais um corpo negro
violado, subalternizado e subjugado; o que a sociedade de classes, materializada no turismo sexual,
reserva a simbolicamente construída mulata brasileira tipo exportação. O racismo, o sexismo, as
apropriações e as condições econômicas são fatores que expressam violências e opressões concretas
e cotidianas na vida das mulheres, colocando-as em situação de vulnerabilidade social, ou à margem
da sociedade. Por isso, o enfrentamento ao tráfico de pessoas para fins de exploração sexual passa
pelo desmonte de estruturas de dominação-exploração primordiais: gênero, raça e classe.
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From the Big House to a network of human trafficking: an analysis of the stereotype of
trafficked women.
Abstract: The latest report24 on the crime of human trafficking for sexual exploitation purpose
published by the United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) indicates that 70% of the
victims are women, most of whom are black and poor. The present article aims to analyze the
historical construction of the stereotype of mulatta as a process of appropriation of the black
woman's body and the relationship of this construction with the profile of victims of human
trafficking for sexual exploitation purpose. For this, discussions developed by Sueli Carneiro,
Heleieth Safiotti and Ângela Figueiredo will be employed. The structures of domination and
exploitation of the colonial period were resignified and absorbed by modern society, forming a new
socio-historical context that reproduce violence based on gender, race and class. For instance,
the export-style mulatta, which is a stereotype of racist and enslaved heritage that generates a
specific demand of women to feed trafficking. Therefore, to comprehend racism is essential to
analyze historically the profile of victims.
Keywords: human trafficking; profile of victims; stereotype of mulatta; racism
24
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