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Contextos Clínicos, 11(3):285-296, setembro-dezembro 2018

Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2018.113.01

Gravidez pós-estupro: considerações com base na


Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano

Post-rape pregnancy: Considerations based on the


Bioecological Approach to Human Development

Mykaella Cristina Antunes Nunes, Normanda Araujo de Morais


Universidade de Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Av. Washington Soares, 1321,
Edson Queiroz, 60811-905, Fortaleza, CE, Brasil. mykaellanunes@hotmail.com, normandaaraujo@gmail.com

Resumo. Trata-se de uma pesquisa de estudo de caso realizada com uma


vítima de violência sexual que engravidou e teve como desfecho a continui-
dade da gestação, após ter sido negada a interrupção legal. Teve-se como ob-
jetivo compreender os processos proximais vividos pela participante desde
a rejeição à acolhida da gestação a partir dos pressupostos da Abordagem
Bioecológica do Desenvolvimento Humano (ABDH). Os dados foram colhi-
dos em hospital da cidade de Fortaleza (CE), por meio de duas entrevistas,
de característica semiestruturada. Foram delimitadas quatro categorias de
análise, que procuraram retratar desde as características da participante, as
mudanças empreendidas ao longo do tempo, a interferência dos contextos
até os processos proximais vividos da fase de rejeição à fase de maior vin-
culação com a gravidez/criança. Observou-se que, mesmo em situações ad-
versas, como no caso de violência sexual e gravidez indesejada, é possível
ressignificar a experiência e passar a olhar de outra forma para a gravidez/
criança, principalmente por conta da interferência de outros sistemas envol-
vidos, como a família e a equipe de profissionais, e também que a compreen-
são desse fenômeno necessita contemplar os múltiplos aspectos envolvidos,
como ocorreu no caso em estudo, ao ser interpretado à luz da ABDH.

Palavras-chave: estupro, gravidez, abordagem bioecológica do desenvolvi-


mento humano.

Abstract. This is a case study carried out with a victim of sexual violence
who became pregnant and had, as a result, the continuity of pregnancy
after being denied legal interruption. The objective was to understand the
proximal processes lived by the participant from the rejection to the accep-
tance of gestation from the assumptions of the Bioecological Approach to
Human Development (ABDH). Data were collected at a hospital in the city
of Fortaleza (Ceará State), through two interviews, with semi-structured
characteristics. Four categories of analysis were delineated, ranging from
the characteristics of the participant, the changes undertaken over the time,
the interference of the contexts to the proximal processes experienced from
the phase of rejection to the phase of greater attachment to the pregnancy/
child. It was observed that even in adverse situations, as in the case of sexual
violence and unwanted pregnancy, it is possible to resignify the experience
and to look at the pregnancy/child in another way, mainly due to the in-
terference of other systems involved (family and professionals), also that
the understanding of this phenomenon needs to contemplate the multiple

Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo
permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Gravidez pós-estupro: considerações com base na Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano

aspects involved, as it happened in the case under study, when interpreted


in the light of ABDH.

Keywords: rape, pregnancy, bioecological approach to human development.

Introdução car a violência sexual como questão de saúde


pública, também a configura como uma grave
A respeito da violência sexual, a designa- violação dos direitos humanos e reprodutivos
ção conceitual do Ministério da Saúde (2012) (Machado et al., 2015; Rocha et al., 2015).
- ancorada na Lei 12.015, de 2009, que altera O Brasil, por intermédio do Ministério da
o Código Penal Brasileiro – conceitua tal vio- Saúde e da Norma Técnica –“Prevenção e Tra-
lência como uma ação que obriga uma pessoa tamento dos Agravos Resultantes da Violência
a manter contato sexual, físico ou verbal, ou Sexual contra Mulheres e Adolescentes”, edita-
participar de outras relações sexuais com uso da pela primeira vez em 1999 e revista nos anos
da força, intimidação, coerção, chantagem, su- de 2005 e 2009, buscou padronizar o atendimen-
borno, manipulação, ameaça ou qualquer ou- to às vítimas de violência sexual (Ministério da
tro mecanismo que anule ou limite a vontade Saúde, 2012). A Norma preconiza o atendimen-
pessoal. Pode manifestar-se através de expres- to emergencial, nas primeiras 72 horas após a
sões verbais ou corporais que não são do agra- violência, que tem por objetivo acolhimento e
do da pessoa; toques e carícias não desejados; administração de anticoncepção de emergên-
exibicionismo e voyerismo; prostituição força- cia e a profilaxia para as DST, doenças virais e
da; participação forçada em pornografia; re- bacterianas. Tal atendimento deve ser ofertado
lações sexuais forçadas - coerção física ou por por uma equipe multidisciplinar, composta por
medo do que venha a ocorrer. As principais médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem,
modificações decorrentes da Lei 12.015/2009 assistentes sociais e psicólogos. Além disso, a
consistem na nova definição do estupro, que Norma Técnica também prevê atendimento às
passou a ser definido como: “constranger al- mulheres que solicitam interrupção legal da
guém, mediante violência ou grave ameaça, gestação, por meio do Sistema Único de Saúde
a ter ou a praticar ou permitir que com ele se (SUS), nos casos de gravidez decorrente de es-
pratique outro ato libidinoso”, ampliando o tupro, situação prevista no Código Penal Brasi-
entendimento da vítima como mulher ou ho- leiro desde 1940 (Diniz et al., 2014; Machado et
mem e incorporando a prática de outros atos al., 2015; Rocha et al., 2015).
libidinosos, não somente restrito à conjunção Nos casos de gravidez decorrente de estu-
carnal (Lima e Deslandes, 2014). pro, as mulheres devem ser esclarecidas sobre
Atos sexualmente violentos podem ocorrer as alternativas legais quanto ao destino da ges-
em diferentes circunstâncias e cenários, afe- tação e sobre as possibilidades de atenção nos
tando pessoas de ambos os sexos; no entanto, serviços de saúde. Essas mulheres têm direito
as mulheres em todas as faixas etárias são as de serem informadas sobre a possibilidade de
maiores vítimas (Lima e Deslandes, 2014; Ma- interrupção da gravidez, conforme Decreto-
chado et al., 2015). Mulheres que sofrem vio- -Lei nº 2848, art. 128, inciso II, do Código Penal
lência sexual estão mais propensas ao desen- (Lordello e Costa, 2014). Para o acesso ao aborto
volvimento de sintomas psiquiátricos como legal, o consentimento da mulher ou o de seu
transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), representante legal (no caso de crianças e ado-
depressão, somatizações, tentativas de suicídio lescentes) são peças suficientes. Não cabe inves-
e uso de substâncias psicoativas (Machado et tigação policial ou judicial da verdade para que
al., 2015); além de estarem expostas a contrair o testemunho da vítima seja reconhecido como
doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e legítimo para o acesso aos serviços de saúde.
a engravidarem de forma indesejada (Faúndes Desta forma, segundo o Ministério da Saúde
et al., 2006). Por exemplo, cerca de 30% das ví- (2012), a narrativa da vítima deve ser suficiente
timas adolescentes e mulheres desenvolvem para a história do estupro e o acesso ao aborto
doenças sexualmente transmissíveis e o risco legal nos serviços de saúde (Diniz et al., 2014).
de gravidez indesejada atinge até 5% delas, As mulheres também devem ser informa-
agravando o quadro já traumático (Rocha et das quanto ao direito de manterem a gestação
al., 2015). Tais consequências, além de qualifi- até o seu término, garantindo-se os cuidados

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pré-natais apropriados para a situação. De- senvolvimento humano seja compreendido


vem receber informações completas e precisas através da interação de quatro núcleos inter-
sobre as alternativas após o nascimento, que -relacionados: o processo, a pessoa, o contexto
incluem a escolha entre permanecer com a e o tempo (PPCT). Para a ABDH, o desenvol-
criança e inseri-la na família, ou proceder com vimento é fruto de um conjunto de processos
os mecanismos legais de adoção. Nessa última em que interagem a pessoa e o ambiente, pro-
hipótese, os serviços de saúde devem provi- duzindo estabilidade e mudança nas caracte-
denciar as medidas necessárias junto às auto- rísticas da pessoa ao longo do curso da vida.
ridades que compõem a rede de atendimento O Processo ou processos proximais dizem res-
para garantir o processo regular de adoção peito às formas particulares de interação en-
(Faleiros, 2013; Lordello e Costa, 2014). tre o organismo e o ambiente, operando como
Nos casos em que há continuidade da gesta- motores do desenvolvimento. Aqueles podem
ção e a criança permanece junto à mãe travam- produzir dois tipos de efeitos: (1) competên-
-se dois importantes desafios para a relação cia – aquisição e desenvolvimento de conheci-
mãe/bebê, que são preparar-se para a materna- mentos, habilidades e capacidade para condu-
gem e minimizar os efeitos das projeções nas zir e direcionar seu próprio comportamento; e,
quais o(a) filho(a) pode se tornar depositário (2) disfunção – manifestação de dificuldades
da violência sofrida, perpetuando-a por meio em manter o controle e a integração do com-
da transmissão geracional. A construção da portamento (Narvaz e Koller, 2011).
relação afetiva entre mãe e bebê é processual O segundo componente do modelo bioe-
e leva em consideração vários aspectos, inclu- cológico, a Pessoa, contempla tanto as carac-
sive o fato de o bebê ser desejado. Situações terísticas herdadas biologicamente quanto
adversas que resultam na gestação, como é o as adquiridas na interação com o ambiente.
caso do estupro, podem afetar de forma inde- As características da pessoa são tanto pro-
lével o projeto de maternidade. No entanto, dutoras como produto do desenvolvimento.
ainda que sob condições que aparentemente O Contexto, terceiro componente, compreen-
representem risco, a gravidez também pode de a interação de quatro níveis ambientais,
representar um organizador da vida psíqui- sendo: microssistema, mesossistema, exossis-
ca ou mesmo, dar visibilidade e lugar social à tema e macrossistema. O microssistema se re-
grávida (Lordello e Costa, 2014; Nunes, 2014). fere ao contexto de atividades, papéis sociais e
Nessa linha de pensamento, acredita-se que relações interpessoais vivenciados face-a-face
a Abordagem Bioecológica do Desenvolvimen- pela pessoa em desenvolvimento. O mesossis-
to Humano (ABDH), enquanto uma visão sis- tema consiste no conjunto de microssistemas
têmica sobre o desenvolvimento humano pode dos quais uma pessoa participa e nas relações
ser valiosa para a compreensão da complexida- estabelecidas por eles. O exossistema diz res-
de da experiência da vítima de violência sexual. peito aos ambientes nos quais a pessoa não
Tal valor refere-se, sobretudo, à valorização dos
participa ativamente, mas que exerce uma in-
significados atribuídos pelas pessoas sobre o
fluência indireta sob seu comportamento. O
mundo ao seu redor; à bidirecionalidade pes-
macrossistema é composto pelo conjunto de
soa-ambiente, no sentido de que ambos exer-
ideologias, valores, crenças, religiões, culturas
cem influência sobre o outro; à preocupação da
e subculturas presentes no ambiente da pessoa
ABDH em compreender cada pessoa e seus pro-
que influenciam seu desenvolvimento. Por úl-
cessos de desenvolvimento, antes que os resulta-
timo, o Tempo, quarto componente do modelo
dos específicos; e, por fim, a relação entre níveis
bioecológico, diz respeito à influência sobre o
de contextos diferentes (do mais imediato – fa-
desenvolvimento humano de mudanças e con-
mília, por exemplo – ao mais remoto – cultura e
tinuidades ao longo do ciclo de vida. É ana-
valores da sociedade) que também influenciam
lisado a partir de três níveis, sendo o micro-
o desenvolvimento de cada pessoa (Narvaz e
tempo – o momento presente; o mesotempo
Koller, 2011; Nunes, 2014).
– acontecimentos de dias, semanas e anos; e o
macrotempo – tempo histórico e social no qual
Violência sexual e gravidez à luz a pessoa se encontra (Narvaz e Koller, 2011).
da Abordagem Bioecológica do A Abordagem Bioecológica do Desenvolvi-
Desenvolvimento Humano mento Humano tem sido utilizada em discus-
sões diversas, como sobre: terapeutas familia-
A Abordagem Bioecológica, desenvolvida res (Prati, 2009); violência física na família (De
por Urie Bronfenbrenner, propõe que o de- Antoni e Koller, 2010); estudos com crianças e

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Gravidez pós-estupro: considerações com base na Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano

famílias (Martins e Szymanski, 2004); vítimas 2014), fazendo muita diferença nesta mudança
de violência sexual (Lordello e Costa, 2014), de sentido as características pessoais, a influên-
entre outros. Acerca do último, destaca-se cia dos contextos e a ação do tempo.
que Lordello e Costa (2014) descrevem a ex- Deste modo, o presente artigo tem como
periência de uma mulher vítima de violência objetivo realizar um estudo de caso de uma
sexual com um filho recém-nascido a fim de vítima de violência sexual que engravidou
identificar os principais impactos psicológi- e teve como desfecho a continuidade da ges-
cos no desenvolvimento da relação mãe/bebê tação após ter sido negada a interrupção le-
nessa situação adversa. O referente estudo é gal. Pretende-se compreender os processos
de grande valia para este e outros sobre vio- proximais vividos pela participante desde a
lência sexual e gravidez por retratar um tipo rejeição à acolhida da gestação. Para isso, o
de vivência sobre a gravidez fruto de violência caso em questão será descrito com base nos
sexual, no caso a respeito da relação mãe-bebê. pressupostos da Abordagem Bioecológica do
No entanto, o estudo atual diferencia-se Desenvolvimento Humano (ABDH) e, mais
por dar ênfase aos processos proximais viven- especificamente, tomando os quatro núcle-
ciados por uma mulher, grávida decorrente de os Processo-Pessoa-Contexto-Tempo (PPCT)
estupro, que ao ser negada a interrupção legal como eixos de análise do mesmo.
da gestação teve que dar continuidade à mes-
ma, tendo vivenciado processos de rejeição à Método
gravidez e à criança e posteriormente de maior
aproximação afetiva ao bebê enquanto ainda
encontrava-se gestante. Também são poucos Delineamento
os estudos que retratam a experiência das mu-
lheres grávidas decorrente de estupro, tendo O estudo consistiu na realização de um
sido localizados em pesquisa de revisão siste- Estudo de Caso de uma mulher que engra-
mática da literatura (RSL) nas bases de dados vidou decorrente de Violência Sexual e teve
IndexPsi, SciELO, LILACS e PsycInfo, no ano como desfecho a continuidade da gestação.
de 2014, apenas seis produções na área. Estas Utilizou-se a metodologia de Estudo de Caso
versavam predominantemente sobre expe- Único por ser mais apropriada nas ocasiões de
riências de continuidade da gestação, sendo casos raros ou extremos, em que não existem
destacado nos estudos: os aspectos positivos muitas situações semelhantes para que sejam
(Cantelmo et al., 2011) e negativos na relação feitos outros estudos comparativos; e, quando
mãe/bebê (González et al., 1999), o manejo na presença de casos reveladores, que permi-
dos profissionais para com o caso (Moura et tem o acesso a informações não facilmente dis-
al., 2001; Santos, 2012) e a sugestão de parto poníveis (Stake, 2005).
cesárea (Vertamatti et al., 2009). Num estudo A escolha pelo caso a ser explorado neste es-
foram retratadas as experiências de mulheres tudo deu-se em virtude da complexidade que
que interromperam a gravidez, tendo sido o mesmo apresenta ao descrever a experiência
abordados os fatores motivacionais indicados de uma mulher grávida decorrente de estupro
para isso: o repúdio pela gravidez; o vínculo e que precisou dar continuidade à gestação por
da gravidez à violência; a lembrança da vio- ter sido negado o direito à interrupção legal, em
lência e do agressor, dentre outros (Drezett et virtude do período gestacional excedido. Além
al., 2011). Desta forma, verifica-se que são es- disso, porque destoa das experiências de ou-
cassas as pesquisas que abordam as experiên- tras mulheres que foram assistidas pelo serviço
cias das vítimas, especialmente articulando-se de saúde por conta desse dilema (querer inter-
à ABDH como se propõe neste estudo. romper versus ter que dar continuidade) e das
Os processos proximais vivenciados por uma recomendações da NT do Ministério da Saúde
mulher vítima de violência sexual e grávida ten- quando prescreve a assistência imediata à vítima
dem a ser mais negativos, a exemplo dos pro- quando da ocorrência da violência, a anticoncep-
blemas de ordem física, social e emocional que ção de emergência e a realização da interrupção
podem ser desencadeados em razão da violência legal da gestação (Ministério da Saúde, 2012).
sofrida. Contudo, a experiência de atendimento,
da primeira autora, a essas mulheres, bem como Participante
a literatura indicam que há casos em que as víti-
mas conseguem dar novos significados à expe- A participante do estudo, chamada de Ana
riência (Cantelmo et al., 2011; Lordello e Costa, (nome fictício), engravidou como resultado

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de um estupro e foi localizada no Serviço de dências do hospital, em sala de atendimento,


Atenção à Mulher Vítima de Violência Sexual preservando-se a intimidade da participante.
e Doméstica de um hospital-maternidade da As entrevistas duraram cerca de 20 e 40
cidade de Fortaleza (CE). minutos, respectivamente para a primeira e
segunda entrevista, tendo sido gravadas e
Instrumentos transcritas na íntegra. A escolha do caso para
o estudo deve-se à complexidade e diversida-
Foi utilizado o tipo de entrevista semies- de de variáveis que a experiência de Ana pôde
truturada, tendo sido elaborado dois modelos oferecer para a área da violência sexual e gra-
diferentes de entrevistas pelas autoras desse videz fruto desta, como a questão dos procedi-
artigo, os quais foram aplicados em dois mo- mentos para a interrupção legal da gestação, o
mentos: quando da entrada da participante dilema de ter que continuar uma gestação in-
no hospital e após 30 dias (no mínimo) desse desejada, a relação mãe/bebê, a relação com a
primeiro encontro. Estabeleceu-se que as entre- rede de apoio familiar e profissional, entre ou-
vistas seriam aplicadas após um intervalo de tras questões. O caso foi extraído do trabalho
30 dias uma da outra, considerando que não de dissertação de mestrado da primeira autora
podia ser de imediato a alta, visto o restabeleci- desse artigo, que também atuava no hospital
mento da participante nem tardar tanto em ra- como psicóloga na época.
zão das dificuldades de localizá-la novamente.
O primeiro roteiro continha questões so- Procedimentos de análise de dados
bre: como chegou ao serviço hospitalar; o que
tem pensado e sentido acerca da violência so- Para análise das entrevistas foi utilizado o
frida e da gestação não planejada; se contou método da análise da temática seguindo o mo-
para alguém o que lhe ocorreu; o que achava delo proposto por Bardin (2011), que consiste,
melhor para ela (interromper ou continuar a operacionalmente, nas seguintes etapas: Lei-
gestação). No segundo momento de entrevis- tura flutuante (pré-análise), Análise temática e
ta, as perguntas do roteiro diziam respeito aos Tratamento dos resultados. Também se utili-
seguintes temas: percepção sobre mudanças zou a Abordagem Bioecológica do Desenvol-
acontecidas na vida da vítima; como avaliava vimento Humano (ABDH), como teoria para a
a decisão que havia tomado; se tinha recebido compreensão dos processos vividos ao longo
ajuda de alguém; e quais os desejos que pos- da experiência pela participante.
suía para o futuro.
Além das entrevistas também se agregou Procedimentos éticos
ao estudo do caso a análise da ficha de Noti-
ficação/Investigação Individual da violência Foram atendidas as recomendações bioéti-
e do prontuário da paciente, a fim de colher cas para pesquisas com seres humanos no que
mais informações sobre a participante. Ambas diz respeito à Resolução 466/2012 do Conselho
estavam disponíveis no hospital, pois fazem Nacional de Saúde (CNS). A participante foi
parte da rotina institucional de atendimento. informada sobre os princípios bioéticos, tam-
bém sobre os objetivos e procedimentos do es-
Procedimentos de coleta de dados tudo quando convidada a participar volunta-
riamente da pesquisa, tendo assinado o Termo
Conforme mencionado, as duas entrevistas de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
aconteceram em tempos diferentes, com um Também se assegurou a assistência à partici-
intervalo de cerca de 40 dias entre uma e ou- pante da pesquisa, caso necessitasse de apoio
tra. A primeira (E1) feita quando a participan- psicológico em virtude da memória de eventos
te se encontrava com 22 semanas de gestação, emocionalmente tão mobilizadores, podendo
tendo procurado o serviço hospitalar devido ser atendida no próprio hospital. Todos os
sangramento vaginal decorrente de tentativa procedimentos éticos foram cuidadosamente
de aborto; e a segunda (E2) com 27 semanas, analisados, desde o contato com a participante
quando já se encontrava em acompanhamento durante sua permanência no hospital que pos-
de pré-natal. As entrevistas estão representa- sibilitou que a mesma se sentisse segura e aco-
das pelo nome da participante acompanhado lhida para falar de experiências tão delicadas
da identificação (um e dois), da seguinte for- numa situação de pesquisa; como em relação
ma: Ana-E1, Ana-E2. Ocorreram nas depen- à condução da entrevista dias após a alta hos-

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Gravidez pós-estupro: considerações com base na Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano

pitalar da participante, quando ela dava sinais ganização Mundial de Saúde, abortamento é
de maior vinculação com a criança. A pesquisa a interrupção da gravidez até a 20ª ou 22ª se-
que originou este estudo foi submetida ao Co- mana e com produto da concepção pesando
mitê de Ética da Universidade de origem das menos que 500g (Ministério da Saúde, 2012)
autoras, tendo sido aprovado conforme pare- não havendo indicação para interrupção legal
cer de nº 625.809 de 25/04/2014 e do hospital após a 20ª semana, mas sim orientação quanto
pesquisado de nº 2310094836735/2013. aos procedimentos para a adoção da criança.
Diante da impossibilidade de realização do
Resultados e discussão aborto, Ana possuía duas possibilidades - con-
tinuar a gestação e ficar com a criança ou con-
Esta seção está organizada em dois momen- tinuar e encaminhar para a adoção.
tos. No primeiro, faz-se uma síntese do caso; e Durante a primeira entrevista no hospital,
no segundo, descreve-se as categorias identifi- a participante mencionava e transparecia seu
cadas a partir dos núcleos da ABDH: o proces- sofrimento intenso, de quem não queria levar
so, a pessoa, o contexto e o tempo (PPCT), es- a gravidez adiante e tinha a vida como termi-
tando organizados por: (1) A pessoa Ana: suas nada. Após cerca de 40 dias, Ana foi novamen-
forças, recursos e demandas; (2) as mudanças te entrevistada e também no hospital de acor-
empreendidas na história de Ana ao longo do do com sua escolha. Segundo a mesma, já era a
tempo; (3) a interferência dos Microssistemas segunda vez que retornava ao hospital para as
família e equipe multiprofissional nos proces- consultas referentes ao pré-natal, após a inter-
sos vitais de Ana; e, (4) da rejeição à fase de nação. Ana com vestido rosa e sorriso no rosto
maior vinculação à gravidez e ao bebê. se encontrava emocionalmente melhor. Ela es-
tava na casa dos pais, que passaram a apoiá-la
Síntese do caso em sua gravidez e na ocasião preocupava-se
com a maternidade e com a chegada da filha,
Ana, 20 anos, raça/cor parda, de religião pois já sabia o sexo da criança. Segundo infor-
católica, é solteira, possui ensino médio com- mações posteriores, Ana retornou ao hospital
pleto e trabalhava na época da primeira en- ainda outras vezes para consultas e meses de-
trevista na área de comércio/serviços. Che- pois para ter a criança por parto cesárea. Sem-
gou ao hospital acompanhada de uma amiga, pre que possível faz contato com o Serviço de
que logo foi embora ao saber da tentativa de Psicologia do hospital e envia fotos da filha.
aborto por Ana. Foi internada devido sangra-
mento vaginal decorrente de tentativa ilegal A pessoa Ana: suas forças,
de aborto por uso de medicamento que tem
como efeito secundário a função abortiva. recursos e demandas
Ana, como outras mulheres atendidas no
hospital, chegou ao serviço com os efeitos ad- A pessoa em desenvolvimento apresenta
versos da tentativa ilegal do aborto. Foi inter- grande destaque no modelo bioecológico. De
nada e só posteriormente relatou ao médico acordo com Bronfenbrenner e Morris (1998),
que havia sofrido violência sexual e havia en- as características da pessoa não são estáticas e
gravidado como decorrência disso. A família podem ser transformadas, ainda que esteja
de Ana ao saber de sua gravidez a expulsou submetida a condições adversas. A capacidade
de casa, tendo a mesma buscado ajuda com de influenciar os processos proximais está dire-
a amiga referida anteriormente. A jovem não tamente ligada a três grupos de características
revelou a violência à família por medo de re- pessoais, como disposição, recurso e demanda.
taliações por parte dos agressores (dois co- As disposições dizem respeito às forças que
nhecidos) que a ameaçaram de morte e por impulsionam ou dificultam os processos pro-
temor à forma como a família poderia reagir. ximais e podem apresentar-se em dois grupos:
Segundo registros do primeiro atendimen- forças geradoras ou generativas e forças desor-
to psicológico de Ana, esta se descrevia como ganizadoras ou inibidoras. No caso de Ana pô-
desesperada e desprotegida. Ana permaneceu de-se observar a presença de ambas as forças,
no hospital por cerca de cinco dias, tendo neste interferindo em seus processos vitais ao longo
período manifestado o desejo de interromper da permanência hospitalar e posteriormente à
a gestação. No entanto, devido sua gestação sua alta. Inicialmente, destacavam-se as forças
concentrar-se na 22ª semana, a autorização desorganizadoras ou inibidoras, manifestadas
para o aborto legal foi negada. Segundo a Or- pelo desespero e descontrole emocional diante

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da situação da violência sexual, da gravidez, da mento e não julgamento por parte da equipe;
impossibilidade de não mais interromper a ges- e, a aceitação da gravidez por parte da famí-
tação e do desamparo decorrente da ausência lia, a relação de Ana com a criança foi sendo
de seus entes familiares. Posteriormente, com o construída. Percebe-se claramente a mudança
suporte emocional recebido pela equipe de saú- de sentido dada à criança quando Ana viven-
de do hospital, enquanto permanecia internada cia uma situação que para ela era de risco à
e também com seu retorno à casa dos pais, Ana vida da criança, fazendo-a dar conta de que
deu indícios da presença de forças generativas existiam mais laços entre ela e a criança do que
em seu desenvolvimento, tais como a vontade poderia imaginar.
de viver. Sugere-se que o suporte recebido por
parte dos profissionais durante a internação e a Eu pensei assim que eu... até naquele dia mes-
acolhida recebida por parte da família ao acei- mo eu pensei que eu nunca conseguiria gostar...
tá-la novamente em casa potencializaram novas Mas... a partir assim do dia mesmo que eu, é...
perspectivas de vida em Ana que foram essen- tipo assim, eu tive quase assim um choque mesmo
ciais para as mudanças ocorridas. de realidade [...] Aconteceu uma confusão, vizi-
nho à minha casa né... ai foi naquele dia mesmo
As demandas dizem respeito aos atributos
ali que eu descobri que eu gostava tanto, que eu,
da pessoa e fazem menção aos aspectos que es- sei lá... nem imaginava, eu preferia morrer do
timulam ou desencorajam as reações do am- que perder... Foi, porque aconteceu uma confu-
biente social imediato, de maneira a manter ou são muito grande, aí eu fiquei muito nervosa e
romper as conexões com o processo proximal. tive um sangramento. Aí eu fiquei tão nervosa
Desta maneira, tanto a equipe multiprofissio- que eu não sentia mais se mexer, ai... meu Deus
nal como a família de Ana ao recebê-la em casa do céu, eu enlouqueci. Fui pro hospital, chorava...
novamente foram essenciais para o seu resta- aí quando a médica colocou um aparelho pra es-
belecimento, tendo estimulado novas formas cutar o coração, que eu escutei, aí aquilo ali me
de lidar com a situação da gravidez e com a deu um alívio tão grande. Aí foi naquele dia que
eu caí na real, que eu vi que eu não ia conseguir
criança. Os atendimentos da equipe multipro-
dar pra ninguém. Que eu vi que... que eu gostava
fissional possibilitaram acalmar e acolher Ana,
tanto e não sabia. (Ana-E2)
enquanto permanecia internada, tendo sido
muito importante para sua recuperação.
Os recursos são aspectos biopsicológicos
Só a única coisa que eu tenho certeza é que eu
que englobam experiências, habilidades, co-
perdi tudo, que todos os meus sonhos foram em- nhecimentos e capacidades necessárias para o
bora. (Ana-E1) funcionamento eficaz dos processos proximais
em um determinado estágio de desenvolvi-
Eu sempre converso com as psicólogas, com as mento. A capacidade comunicacional e intera-
assistentes sociais, elas são muito legais, todo dia cional de Ana com os profissionais da equipe
me procuram para conversar. (Ana-E1) de saúde durante sua permanência no hospital
foi muito importante para que ela conseguisse
É... me ajudaram em todos os sentidos. Foi, como
se fosse uma família mesmo pra mim naquele mo-
suportar os dias de internação, sem a presença
mento, que tava tudo tava tão difícil (Ana-E2) de seus familiares, nem informações sobre eles
e em datas comemorativas importantes (Natal
Também o contato com a família ao retor- e Ano Novo). Também o bom nível intelectual
nar ao lar foi capaz de gerar sensações positi- possibilitou a compreensão das informações
vas em Ana, sinalizadas na forma como ela se transmitidas pela equipe, que permitiu estar
reportava à atenção que à família passou a dar ciente de todos os procedimentos de saúde
em relação à criança. atenuando o desequilíbrio emocional inicial.

Todo dia eu penso num nome diferente! Aí... é As mudanças empreendidas na


a minha mãe, minhas irmãs, meu pai, aí quan-
do um gosta, os outros não gostam... É sempre
história de Ana ao longo do tempo
assim. Aí eu nunca consigo decidir sozinha. Eu
sempre tenho que esperar pela opinião deles. Eu O tempo diz respeito tanto ao tempo atu-
tenho medo de escolher e me arrepender. Aí por al, recente ou remoto e identifica mudanças e
isso que eu não escolhi ainda. (Ana-E2) permanências que ocorrem ao longo do ciclo
vital (Bronfenbrenner e Ceci, 1994). No tem-
Ao passo que as condições para a vivência po da primeira entrevista, Ana encontrava-se
da maternidade foram dadas, ou seja; o acolhi- sozinha no hospital, sem o apoio da família,

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 291


Gravidez pós-estupro: considerações com base na Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano

que ao saber da gravidez a expulsou de casa. primeira e a segunda entrevista foi importante
No entanto, a família de Ana desconhecia para que Ana pudesse dar um novo sentido à
ser a gestação fruto de violência sexual. Ana gravidez e à criança, considerando que a influ-
apresentava muito sofrimento e revolta pelo ência dos sistemas família e equipe de saúde
ocorrido da violência e da gestação, que não foram primordiais para que ela conseguisse
mais poderia ser interrompida. Além disso, a estabelecer novas relações a partir de então.
participante não vislumbrava perspectivas de
futuro, alegando que seu único desejo era o de Assim eu, eu ainda tenho assim, é, não vou dizer
interromper a gestação. Fazia referências de que eu ainda não tenho aquela mágoa né... por-
desprezo e repugna ao ser que gerava. que ainda tá muito recente. Um dia eu posso até,
chegar o dia que eu posso até perdoar, mas hoje
Eu não consigo ver nada melhor pra mim ago- não. Mas eu vejo que aquela criança, ela não pe-
ra. Porque eu vejo que eu perdi tudo, que eu não diu pra estar ali, ela não pediu. Ela não sabe como
posso fazer nada pra mudar isso. Porque a úni- foi que aconteceu, não foi culpa dela. Aí, agora
ca coisa que eu queria era tirar essa criança e eu eu comecei a entender isso. Aí tá sendo mais fá-
não posso mudar isso [...] Eu sinto uma grande cil, pra mim [...] Porque antes eu nem, assim, eu
vontade de morrer. Era tudo que eu queria nesse nem imaginava a ideia de criar né... Aí quando é
momento [...] Eu me sinto horrível. Eu me sinto agora que tá crescendo, que fica mexendo na mi-
mal com tudo. Eu tô carregando uma vida que eu nha barriga, eu fico vendo coisinha de criança...
não sinto nada por ela. Que até tem momentos Assim, a gente já começa a descobrir aquele amor
que eu chego até a ter raiva. Eu me sinto mal por que a gente achava que não ia descobrir nunca.
não gostar dela [...] Eu me sinto mal por eu tá Aí, quando eu tô em algum lugar que tem uma
me modificando totalmente por uma coisa que eu coisinha de criança, um sapatinho... uma coisa,
não desejo ter, que eu não planejei. Eu vendo meu eu já fico imaginando, fico imaginando o rostinho
corpo se transformando, a minha vida... Eu sinto quando nascer como seria. (Ana-E2)
muito uma revolta. Se eu pudesse eu tiraria com
minhas próprias mãos. Mas eu não posso [choro]. A interferência dos microssistemas
Eu não consigo aceitar. Cada dia fica mais difícil.
(Ana-E1) família e equipe multiprofissional
nos processos vitais de Ana
Compreende-se que, frente a situações
adversas como da violência sexual e da gra- Entende-se as diversas mudanças ocasio-
videz fruto desta, há uma natural propensão nadas na vida de Ana, da primeira entrevista
a vulnerabilidades (psíquicas, sociais e físi- para a segunda, principalmente decorrente do
cas), que se apresentam no momento vivido contexto, sobretudo a presença da família como
e desencadeiam processos a partir dessa ex- rede de apoio protetiva e do suporte dos pro-
periência. Nesse primeiro momento, tomada fissionais do hospital quando Ana ainda se en-
pelas vulnerabilidades, a solução percebida contrava sem o contato familiar. Acerca do mi-
por Ana como melhor para a situação vivida crossistema família, este pode tanto funcionar
era a interrupção da gestação, corroborando o como um fator de risco ou de proteção (Koller
estudo de Machado et al. (2015), em que nas et al., 2012). No caso específico analisado teve
mulheres entrevistadas a ideia sobre o aborto as duas funções, negligenciando inicialmente
apareceu como única saída para retomarem o sofrimento de Ana e, ao fim, dando o apoio
as suas vidas. No entanto, essa medida não necessário para a situação.
é mais possível e Ana não consegue aceitar o
fato de ter que gerar a criança. Somado a isso, Tem me dado apoio que eu pensei que eu não teria
Ana encontrava-se num contexto de desampa- [risos]. Eu imaginava tudo menos que eles iam
ro, sem o apoio da família ou de outros que aceitar e iam me ajudar. Foi totalmente sem es-
pudessem suprir esta falta e tendo que reagir perar. Hoje eu vejo que todo mundo tá se unindo
da forma mais adaptativa possível numa situ- pra... unindo todos pra poder ajudar pra poder
ação de extrema fragilidade em meio a uma ser da forma melhor. (Ana-E2)
internação hospitalar e com um ser que não
desejava gerar. O novo contexto de proteção para com a
No tempo da segunda entrevista, Ana en- díade mãe-bebê possibilitado pela família foi
contrava-se emocionalmente melhor, ainda extremamente importante para Ana ressigni-
ressentida com a violência sofrida, mas já dan- ficar a experiência da gravidez fruto de vio-
do sinais de aceitação da gestação e da crian- lência sexual e modificar os pensamentos e
ça. Ressalta-se que o tempo decorrido entre a sentimentos para com a gestação e a criança.

292 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mykaella Cristina Antunes Nunes, Normanda Araujo de Morais

Apesar disso, a família continuava sem saber pela equipe de saúde do hospital ao longo dos
da história da violência sexual e a gravidez atendimentos, permitindo a elaboração dos
tomava a cena. Ana não conseguiu abordar aspectos emocionais na hora manifestados.
com a família a questão da violência sexual.
Os silenciamentos presentes no microssiste- Naquele... antes de... de eu vir pro hospital, eu
ma confirmam a presença de um alto grau de tava tão mal que eu não conseguia mais ver mi-
poder hierárquico entre os membros e a capa- nha vida assim é... se eu não resolver esses proble-
cidade reduzida de diálogo em ambientes fa- mas. Eu tinha vontade até de... eu tinha vontade,
só não tinha coragem de... é... tentar assim, algu-
miliares em que o abuso sexual está presente,
ma coisa, pra... até em suicídio eu pensava mas...
neste caso, de forma extrafamiliar (Lordello e A sorte é que eu vim pra cá. Pensava muita bes-
Costa, 2014). teira. É... me ajudaram a enxergar aquilo que eu
não tava vendo naquela hora. Que naquela hora
Não. Não sabem exatamente do que ocorreu, de eu conseguia ver só a tristeza, só o ruim. Eu não
como foi né... sabem da gravidez só [...] E eu te- conseguia ver que eu tinha... que eu conseguia
nho medo de contar pra eles. Eu não sei o que é passar por aquilo. Agora eu consigo, por mais
que eles... eu tenho dois irmãos mais velhos... eu difícil que seja, eu consigo. Hoje eu vejo que isso
não sei o que é que eles seriam capazes de fazer e é coisas que acontecem, que Deus é maior. E a
isso só ia tornar a história mais visível pra... pra gente sempre consegue. (Ana-E2)
várias outras pessoas. Eu prefiro esconder o que
aconteceu. (Ana-E2)
Na experiência de Ana é possível apreender
como os processos podem ser estimulados ou
A comunicação intrafamiliar precária e a
dificultados pelo microssistema, que é in-
posição hierarquicamente inferiorizada na
dubitavelmente um contexto transformador
configuração familiar são fatores de risco que
e que promove impactos inegáveis no de-
o eu ecológico percebe de forma ameaçadora
senvolvimento da pessoa que dele partici-
em seu desenvolvimento, fazendo com que
pa (Bronfenbrenner, 1999; Bronfenbrenner e
procure novos apoios em outros sistemas,
Ceci, 1994; Bronfenbrenner e Morris, 1998).
mais acolhedores. Inicialmente, Ana buscou a
Tanto a família como a equipe de saúde foram
ajuda de uma amiga, mas não obteve o supor-
primordiais para a vivência de novos proces-
te que esperava e posteriormente nas depen-
sos, mais positivos, na vida de Ana. Esta, de
dências do hospital pôde receber o conforto de
forma distinta da primeira entrevista, passou
que necessitava.
a manifestar pensamentos e sentimentos mais
A equipe multiprofissional foi substancial
positivos em relação à gestação e à criança.
para a melhora do estado emocional de Ana
Demonstrava interesse pela maternidade e
no tempo em que ela se encontrava sozinha e
vínculo com o bebê.
tendo que continuar uma gestação indesejada.
Em relação a essa assistência, todos os dias
Ana recebeu atendimento por diversos pro- Da rejeição à fase de maior
fissionais da equipe (médicos, enfermeiros, vinculação à gravidez e ao bebê
psicólogos e assistentes sociais), destacando-
-se nessa assistência a psicologia que realizava Sobre os processos proximais vivenciados por
mais de uma visita ao leito por dia, por com- Ana tem-se se uma primeira fase de rejeição à
preender a complexidade de fatores emocio- gestação e ao bebê e a segunda fase de uma
nais e sociais envolvidos neste momento de maior aproximação a estes. Essa última fase
vida da paciente. Nestes atendimentos eram culmina com a construção da maternidade e
feitas intervenções que visavam amenizar a si- outros processos existenciais voltados a novas
tuação vivida, através de acolhimento, da va- formas de pensar a ocorrência da violência se-
lidação das emoções, da clarificação das ideias xual e novos projetos de vida.
e do propiciamento de informações à paciente. Os processos proximais variam sistemati-
Isso só comprova como a atenção profis- camente em função das características da
sional pode minimizar os efeitos da violência pessoa, dos contextos nos quais interagiu ou
sexual e gravidez por meio de intervenções interage, da natureza dos resultados evoluti-
que sejam realmente acolhedoras e empáti- vos, das mudanças e continuidades sociais do
cas ao sofrimento da vítima, não meramente período sócio histórico em que a pessoa está
burocráticas e impessoais. A experiência gra- inserida (Bronfenbrenner, 1999). Deste modo,
vídica de Ana, fruto de violência sexual, pôde Ana vivenciou processos proximais específicos
ser acolhida e trabalhada em seus aspectos (aceitação e apoio) no contexto da família e

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 293


Gravidez pós-estupro: considerações com base na Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano

hospitalar que a fizeram estabelecer uma nova Quanto às mudanças de pensamentos e


relação com a criança que gestava. Também o comportamentos em torno da violência e dos
tempo decorrido entre a primeira e segunda projetos de vida também estão relacionados
entrevista contribuiu para uma mudança de à vivência da maternidade e dizem respeito
percepção e sentimentos de Ana e favoreceu a processos proximais. Tais modificações de-
a melhor compreensão do processo de aceita- vem-se à necessidade percebida pela jovem de
ção por ela. A partir do novo contexto, processos voltar-se para a maternidade em detrimento
vivenciados e tempo transcorrido nascem pers- de outros projetos. Apesar de predominar con-
pectivas que dizem respeito a vivenciar a ma- teúdos que dizem respeito à vivência da ma-
ternidade, vincular-se a filha, configurando-se ternidade, percebe-se também a existência de
como tema principal na vida de Ana. O relato pensamentos que indicam angústia diante da
a seguir retrata um pouco dos processos relacio- incerteza de se conseguirá retomar as ativida-
nados à maternidade. des anteriores à gestação. Verifica-se que essa
ambivalência de pensamentos e sentimentos
Eu fico assim, imaginando que... o que vai acon- manifestam-se mais pela ocorrência da ges-
tecer, como é que eu vou... é, como é que vai ser tação em si, são comuns a este processo vital,
depois que nascer, fica passando muita coisa as- do que pelos sentimentos iniciais de rejeição à
sim pela minha cabeça que na hora nem eu con- gravidez/criança quando não desejava incluir
sigo mesmo responder, assim, pra mim, sabe?
em seus projetos de vida.
Eu sei que são coisas que só vão ser esclarecidas
só quando chegar o momento de acontecer mes-
mo. [...] A minha ansiedade é de... eu queria logo, Considerações finais
que chegasse logo pra mim ver como é que vai ser
depois que ela nascer, eu tenho muito medo das Foi realizado o estudo de caso de uma víti-
responsabilidades [...] Eu quero que Deus me dê ma de violência sexual que engravidou e teve
coragem pra cuidar dela... Que ela durma... não como desfecho a continuidade da gestação,
passe a noite toda acordada... [risos] A única coi- após ter sido negada a interrupção legal. To-
sa que eu quero, assim agora mesmo, é que nasça
mou-se como base a Abordagem Bioecológica
assim, com saúde, e que Deus me dê forças pra
mim... pra mim suportar tudo que tá acontecen-
do Desenvolvimento Humano (ABDH), a fim
do. (Ana-E2) de compreender os processos proximais vivi-
dos por Ana, participante do estudo. Ana ao
Também se destaca o fator organizador que chegar ao serviço hospitalar logo manifestou
a maternidade ocupou na vida de Ana, dando o desejo de interromper a gestação, no entanto
lugar e visibilidade social à mulher grávida por encontrar-se na 22ª semana gestacional, a
e deslocando o acontecimento da violência, interrupção não foi concedida. Durante o tem-
principalmente nesse caso em que a família po transcorrido no hospital e posteriormente
não sabe da ocorrência da mesma. A vivência à alta hospitalar Ana pôde vivenciar novos
da maternidade sobressaiu à violência e tam- processos proximais, sobretudo a respeito da
bém possibilitou dar novos sentidos ao aconte- mudança de percepção sobre a gravidez, sua
cimento desta e a estimular novos projetos de evolução e o bebê que gerava.
vida, apesar de parecerem ainda confusos na As experiências de mulheres que engravi-
experiência de Ana. daram decorrente de estupro e o desfecho da
gestação (a interrupção legal ou a continui-
A única coisa que eu quero é conseguir colocar, dade) precisam ser compreendidas à luz de
conseguir um bom emprego ainda, conseguir me teorias sistêmicas, como a ABDH, que con-
formar. Pronto, e o resto, a gente deixa acontecer. templem os diversos fatores envolvidos (a
(Ana-E2) mulher, os serviços, a família, entre outros) e
a interferência entre eles para que se atinja um
Assim, agora mesmo de momento, eu não con- nível mais aprofundado de entendimento das
sigo, assim é... imaginar nada assim, certo. Eu vivências, ajudando a compreender as mudan-
não sei mais quando é que eu vou poder estudar, ças dadas na vida da mulher ao longo do tem-
não sei quando é que eu vou... fazer alguma coi-
po. É muito importante procurar ter uma visão
sa mesmo dos meus planos que eu tinha antes.
Eu vejo que tá tudo mudado. Não quero dizer contextualizada do fenômeno, contemplando
que sejam ruins, mas são mudanças que eu tô as partes e o todo do processo ao invés de
sendo obrigada a aceitar, não foi uma mudança uma visão centrada no indivíduo, visto que
que eu quis, que eu queria, que eu pensava ago- para além dos aspectos individuais, há um
ra. (Ana-E2) conjunto de outros fatores que condicionam os

294 Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018


Mykaella Cristina Antunes Nunes, Normanda Araujo de Morais

comportamentos individuais, a exemplo dos por parte dos profissionais que trabalham na
contextos envolvidos e do tempo decorrido área, sensibilidade para com essas experiên-
na experiência que agem sistemicamente nos cias, inclusive no sentido de que estejam aber-
processos vividos pela vítima (Esteves-de- tos para acolher mudanças de pensamentos
Vasconcellos, 2012; Narvaz e Koller, 2011). e de sentimentos não raras de acontecer nas
Deste modo, os processos vividos por Ana vivências das vítimas, como tentou-se ilustrar
de uma entrevista para a outra (intervalo de neste estudo a partir do caso de Ana, no que
cerca de 40 dias) apontam o quanto foi impor- se refere ao seu processo inicial de rejeição e
tante para as mudanças empreendidas em re- posterior de maior vinculação à criança.
lação à gravidez e à criança, a interferência dos Por isso, considera-se imprescindível aos
profissionais do hospital e de sua família. Su- profissionais que trabalham na rede de assis-
gere-se que o suporte recebido por parte des- tência às mulheres vítimas de violência sexu-
ses dois sistemas deu maiores condições para al e que engravidaram decorrente desta, uma
Ana poder vivenciar o progresso da gestação, compreensão mais ampla da mulher vitimada,
a maternidade e vincular-se à criança. segundo sua história pessoal, familiar e social
Ressalta-se que a perspectiva bioecológi- que interfere sistemicamente no desenrolar da
ca favoreceu o entendimento da trajetória de experiência de vida daquela. Entender a com-
desenvolvimento de Ana como um ser ativo plexidade dessa vivência é compreender que a
que recebe influências dos sistemas nos quais pessoa e seu entorno estão em constante mo-
está inserida ao mesmo tempo em que neles vimento e as emoções e comportamentos são
também exerce influência. Os resultados dessa motivados por inúmeras interações.
interação permitem que Ana encare a gravidez Em termos de sugestões para estudos fu-
e a maternidade sem desconsiderar sua histó- turos, recomenda-se a realização de pesqui-
ria de violência, mas recorrendo à rede social sas que busquem acompanhar as mulheres
e afetiva de forma a encontrar e potencializar que engravidaram e deram continuidade ou
seus recursos para lidar de forma mais sau- interromperam a gestação por um período
dável com os desafios e construir uma forma mais amplo de tempo. O acompanhamento
mais positiva de enfrentar as adversidades. longitudinal permitirá uma análise ainda mais
Nesse sentido, espera-se com esse estudo adequada das condições de vida e de saúde da
contribuir para o campo de estudo e interven- vítima de violência e de seu bebê, independen-
ções com vítimas de violência sexual e daque- te do desfecho que tenha optado.
las que engravidam, sobretudo pela mudança Ressalta-se que por mais que o apoio pre-
paradigmática na forma como as vítimas, a visto na Norma Técnica não determine período
violência e a gravidez são vistas a partir da mínimo para acompanhamento das vítimas, é
perspectiva da Abordagem Bioecológica, ou necessário que as mulheres vítimas de violên-
seja, compreendendo o fenômeno em sua am- cia que engravidaram sejam acompanhadas
plitude (pessoa, contexto, tempo, processos vi- por uma equipe técnica devidamente prepa-
vidos), ao invés de destacar somente uma par- rada também após o nascimento da criança
te do problema (e.g., a vítima). Somente uma e nos meses/anos subsequentes à opção pela
abordagem teórica que considere a importân- interrupção da gravidez. Ademais, ainda que
cia dos significados atribuídos por cada pessoa tenha sido mencionada a partir da fala de Ana
aos acontecimentos, que considere a múltipla passagens que representam a família dela ou
influência dos contextos sobre o desenvolvi- a equipe de profissionais do hospital, consi-
mento e que tenha um foco de análise nos pro- dera-se uma limitação do estudo a carência de
cessos desenvolvimentais poderá, de fato, se informações tecidas pela própria família ou
aproximar de uma visão que considere a VS equipe, as quais enriqueceriam ainda mais o
com a complexidade que esta exige. estudo de caso proposto.
As situações de gravidez decorrente de VS
desencadeiam muito sofrimento e angústia às Referências
vítimas, pois são muitos aspectos envolvidos,
seja pela violência e descoberta da gravidez, BARDIN, L. 2011. Análise de Conteúdo. Brasil, Edi-
por ter que tomar uma decisão quanto à inter- ções 70, 280 p.
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rupção ou continuidade da gestação ou como developmental perspective: Theorical and op-
apresenta este estudo, por ter que aceitar a erational models. In: S.L. FRIEDMANN; T.D.
continuidade da gestação após ter sido negada WACKS (eds.), Measuring environment across the
por aspectos médicos e legais. Por isso, requer life span: Emerging methods and concepts. Wash-

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018 295


Gravidez pós-estupro: considerações com base na Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano

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