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RESENHA

HISTÓRIA DAS IDÉIAS POLÍTICAS VOL. IV –


RENASCENÇA E REFORMA, de ERIC VOEGELIN
por Mariano Henrique Rodrigues

Por muito tempo tive vontade de escrever resenhas dos livros que li do Eric
Voegelin, este gigante da filosofia ainda esquecido, devido ao grande impacto que estas
obras exerceram não só na minha vida filosófica, mas espiritual. Há vários motivos pra
destacar o mérito de Voegelin como um cientista político par excellence mas gostaria de
destacar dois:

a) Voegelin jamais desprezou o conteúdo espiritual das filosofias que


analisava, i.e, ele estava ciente que o homem é um ser com um órgão espiritual
(Aristóteles chamaria de nous), órgão esse que torna capaz de nos abrirmos ou nos
fecharmos para a penetração do Absoluto em nós mesmos;
b) Mesmo em suas primeiras obras, o autor não se limitava a analisar
uma filosofia pelo seu sistema, mas o que estava sempre implícito: a experiência
do filósofo que implicou na formulação daquela filosofia e o contexto que
permitiu aquela filosofia florescer. De um certo modo, podemos dizer que
Voegelin não analisava a filosofia, mas o horizonte de realidade que aquela
filosofia tentava abarcar.
Dito isto, posso fazer uma revê resenha de uma das obras mais impactantes do autor:
História das Idéias Políticas Vol. IV – Renascença e Reforma, obra da fase inicial do
autor, concentrando-se nas ideias que tornaram possível germinar o horizonte
civilizacional do Ocidente. O texto aqui presente é uma exposição dos argumentos e
análises do autor destrinchados.

Nesse livro, mais conhecido pela polêmica levantada nos últimos capítulos com
relação aos reformistas Lutero e Calvino, Voegelin estabelece uma relação entre as
ideologias totalitárias do século XX, tais quais o nazismo e o socialismo-comunismo, com
as revoltas religiosas surgidas na Idade Média. Mas vamos por partes.

PRIMEIRA PARTE – MAQUIAVEL

O livro divide-se em 4 partes. Na primeira parte, Voegelin analisa a obra e vida de


Maquiavel, famoso pelo adágio os fins justificam os meios. Voegelin é bem honesto em
sua análise do florentino, não caindo na análise maniqueísta que demonizou Maquiavel,
criando uma aura demoníaca em torno dele (o que contribuiu mais pra cobrir os
verdadeiros erros de Maquiavel do que expô-los). O alemão destaca que o autor de O
Príncipe ao mesmo tempo que buscava criar um modelo de governante na qual ele se
colocasse como o conselheiro, entrava em contradição ao não perceber que esse modelo
poderia culminar na sua própria morte. As análises politicas de Maquiavel apesar de ricas,
entravam muitas vezes em contradição com a vida do autor. E é isso que constantemente
Voegelin gosta de evidenciar. Por último, várias vezes Maquiavel tentava um retorno a
uma espécie de filosofia pagã, tentando resistir à nova consciência cristã que já permeava
o Ocidente. Ao tentar evocar as entidades gregas Virtú e Fortuna como as ajudantes do
destino humano, e tentar colocar o Cristo como mais um piedoso iludido, criador de uma
fé que não tinha espaço na verdadeira política, do que o verdadeiro sustentáculo da Igreja
e do homem, a crítica do florentino caía num superficialismo que qualquer filósofo
medieval riria de sua cara.
Porém, como Voegelin destaca, a erupção dessas análises filosóficas superficiais
em comparação com a de autores da Idade Média marca o início da Modernidade. O
diagnóstico final é que Maquiavel errou não propriamente por seu sistema ‘amoral’ (ou
até imoral, segundo alguns trechos) mas pela inadequação do florentino com relação a
diferenciação de consciência que tinha ocorrido com o advento do Cristianismo como
molde civilizacional do Ocidente. Quando o horizonte de consciência se alarga e
diferencia ao ponto máximo na filosofia cristã, o paganismo se torna inadequado para
expressar todas as tensões abarcadas pelo espírito humano.

SEGUNDA PARTE – ERASMO E MORE

Na segunda parte, os autores em destaque são Erasmo e Thomas Moore. Não me


ocuparei muito destes dois para que o texto não fique longo demais e não possamos
saborear o prato principal das últimas duas partes. Resumidamente, Voegelin destaca que
estes dois autores tiveram cada um a seu modo, uma pleonaxia intelectual, isto é, em
certos momentos foram vítimas de uma distorção da realidade para confirmar suas
análises filosóficas. A de More foi mais inocente e sutil, talvez tão intricada no
inconsciente do autor que somente a partir de uma leitura cuidadosa da sua obra A Utopia,
é possível reconstruir uma parte da personalidade dele. Porém, isso em nada diminui a
importância e o caráter de Thomas More, que segundo Voegelin, lutou até o fim para
manter a salvação de sua alma no meio da perdição do jogo político da corte. O destaque
no entanto, vai para as ideias que já estavam germinando no contexto.

Finalmente chegamos no ápice do livro que, para surpresa de muitos, não está na
análise da Reforma e de Lutero e Calvino, mas nos antecedentes que permitiram o
surgimento do protestantismo e os gérmens ideológicos das revoltas espirituais que
assolam o Ocidente.

TERCEIRA PARTE – ORIGENS DA CRISE DO OCIDENTE


NA IDADE MÉDIA
Na parte 3, chamada O Povo de Deus, Voegelin magistralmente analisa em vários
textos de fonte primária, as raízes intelectuais e espirituais das ideologias modernas como
nazismo, comunismo e o positivismo. Ele mostra que desde o início do surgimento da
Igreja Cristã, ela teve que lidar com forças anticivilizacionais surgidas do próprio
cristianismo, ou seja, filosofias que tentavam resolver tensões inerentes do homem
cristão, dando origem as famosas ‘heresias’, como o arianismo que tentava abolir a
divindade de Cristo para harmonizar com as Escrituras, mas abolia também a redenção
do gênero humano, e o maniqueísmo, uma tentativa de explicar o mal no mundo e no
homem, mas só levava em última instância ao desprezo da Criação divina e do próprio
homem, criando novamente um abismo entre a alma e a salvação.

Essas forças anticivilizacionais foram arduamente combatidas pelos Padres da


Igreja, pelos escolásticos e constantemente condenadas pela Igreja Católica por seus
erros. Entretanto, o fato de terem sido refutadas não as extinguia ou as tornava menos
dignas de ainda existirem latentes na consciência de vários homens. E assim elas ficaram,
esperando o momento certo para eclodirem, ou uma válvula de escape que as liberasse do
abismo profundo.

Em determinado momento, Voegelin conecta como pouquíssimos autores de seu


tempo fizeram (Hans Jonas, em The Gnostic Religion e Norman Cohn, em The Pursuit
of Millenium) a relação entre o gnosticismo e as ideologias modernas. O gnosticismo aqui
apresentado não é propriamente uma religião, mas um complexo agregado de crenças e
ideias que surgiram paralelamente ao cristianismo e aproveitou-se de vários elementos do
mesmo para explicar a origem do cosmos e do homem.
Entretanto, definido mais como um parasita que se alimentava do que um sistema
com voz própria, o gnosticismo torna-se uma ameaça ao ser a raiz das forças
anticivilizacionais, o verdadeiro substrato da revolta espiritual do Ocidente ao se infiltrar
sutilmente na mente humana e obscurecer o horizonte de consciência através da criação
de ideias que buscavam um ativismo político embasado numa fé invertida, isto é, uma fé
no mundo imanente, na salvação terrestre por meio só da força ou só da fé, mas não uma
fé completa, mas uma fé deturpada nos próprios conceitos e que abolia o mistério da
relação transcendente-imanente e apostava numa imanentização do eschaton, um apressar
da Segunda Vinda do Cristo, onde somente os ‘profetas da Nova Era’ seriam salvos e iam
julgar os contrários a essa implantação.

É aqui que surge, segundo o autor, a defesa do aniquilamento dos indivíduos como
uma forma de sacrifício para a implantação do paraíso terreno. Cada homem que é morto
ou ‘silenciado’ por não defender essa implantação é visto como inimigo da própria
vontade divina que emana dos ‘emissários de Deus’. A destruição de um anti-socialista
ou anti-nazista se torna um dever divino. O amor Dei, a humildade verdadeira, dá lugar a
libido dominandi, a vaidade espiritual e intelectual de mudar o mundo e a estrutura da
realidade segundo os próprios desígnios.

E quando esta vontade se apossa do indivíduo, uma força extraordinária também o


acompanha; força esta, no entanto, característica do primeiro revolto espiritual, que caiu
do Céu como castigo por sua vaidade. A força luciferina sequestra a alma destes
indivíduos que se deixam dominar para satisfazer seu próprio ego e no final, se tornam
escravos e tornam-se capazes de descer aos níveis mais baixos da humanidade, até ao
ponto que se tornam uma massa de ódio e niilismo, afirmando somente uma vontade:
destruir a ordem.
As origens das ideologias são assim essencialmente, uma revolta espiritual, uma
revolta prometeica. Os séculos passaram e transformaram estas heresias antigas em
ideologias ainda defendidas por muitos, mas o substrato que as alimenta e as conecta no
tempo ainda permanece: o ativismo niilista. A mesma força que impulsionou nazistas a
mandarem judeus para campos de concentração como “inimigos da pátria e da nação
alemã”, que motivou comunistas e socialistas a verem na figura do burguês como o
“grande inimigo do proletariado”, “responsável pela miséria do homem trabalhador”, era
a mesma força que os revolucionários milenaristas proclamavam para trazer a vinda o
Novo Céu nesta terra. O novo reino de paz só poderia ser estabelecido quando todos os
inimigos fossem vencidos.
A ideia ainda defendida hoje de que o comunismo foi mal interpretado e mal
aplicado por vários governos ao longo dos séculos não passa de uma falácia: na verdade,
em todas as suas formas mostradas ao longo do último século, ele permaneceu fiel ao seu
substrato, isto é, uma revolta civilizacional contra a ordem que abole os mistérios do
homem e da realidade, pervertendo-os, rebaixa o homem a um produto do trabalho e a
estrutura da realidade como palco da luta de classes. Não há lugar para a abertura do
homem ao Absoluto, que é abolido como uma “forma de manipulação da ideologia
burguesa” para escravizar o homem.

As ideologias modernas são, então, formas deturpadas do que era pra ser uma
religião, embasadas numa fé imanente, na salvação da natureza humana através da ação
do proletariado, da raça, da ciência, da razão, etc.

QUARTA PARTE - REFORMA PROTESTANTE

Chegamos finalmente a última parte do livro, a tão famosa análise da Reforma


Protestante, que suscita ainda ataques ferozes ao Voegelin. Nela o autor aponta que a
Reforma foi a válvula de escape das forças anticivilizacionais que a Igreja continha num
equilíbrio tênue. Porém, longe de responsabilizar Lutero e Calvino por toda a desgraça
que acometeu-se na Modernidade, Voegelin é enfático: a própria Cristandade foi
responsável por isso, seja pela degradação filosófica e espiritual que já vinha se
apresentando há séculos, seja pelas falhas da Igreja Católica, responsável por representar
o pilar espiritual do Ocidente, ao se mostrar incapaz de corrigir no devido tempo os
problemas internos que apresentava e por ter deixado a situação chegar a tal ponto.

Se muitos católicos atacam os protestantes por acusarem-nos de serem os


responsáveis pela degradação moderna, eles deveriam parar de desonestidade intelectual
de colocarem um bode expiatório e reconhecer os outros fatores que foram responsáveis
por isso. Entretanto, em matéria intelectual e teológica, Voegelin aponta os vários erros
que o Protestantismo trouxe, e as figuras de Lutero e Calvino não se tornam as únicas
responsáveis pela crise no Ocidente, mas também não os exime da responsabilidade que
tomaram parte.

Ao analisar Lutero, o autor procura destacar a personalidade do franciscano e a


insegurança que possuía na salvação de sua alma. Essa insegurança segundo o autor, foi
a responsável por Lutero transformar a amicita divina tomista, a fides caritate formata, a
parceria do homem com Deus na salvação em uma via de mão única: nada o homem pode
fazer para ajudar na própria salvação, as obras se tornam um instrumento de vaidade e só
a fé do justo o salva. As consequências disso, segundo Voegelin, é que o agir da fé, que
são as obras e a expressão da caridade, a expressão da amizade com Deus, se tornam
inúteis totalmente. Se nada do que o homem faz conta, isto é, se seu galardão já não é
mais a expressão de uma vida com Deus, para quê então, se esforçar em fazer caridade e
tornar-se um ‘outro Cristo’, como dizia Santo Agostinho?
Se há um movimento de Deus para o homem em prol de sua salvação, há em
contrapartida um movimento do homem em direção a Deus, uma expressão do amor
humano como resposta ao amor divino. Sem essa contrapartida, a tensão é abolida, e o
homem se torna uma criatura perdida desprovida da própria graça natural de ser uma
criação divina. A semelhança de Deus, perdida na Queda, é reconquistada por meio da
infusão da graça divina, mas a imagem de Deus que o homem possui em seu interior
jamais foi perdida, e é ela mesma o substrato que permite podermos ser alcançados pelo
amor de Deus.

Outro ponto foi a abolição do mistério da transubstanciação, a presença real do


Corpo e do Sangue de Cristo na Missa, na consubstanciação que acaba por negar a
presença real de Cristo na Eucaristia. O Verbo Divino por já estar em todas as realidades
devido a sua onipresença, distinta ou consubstancial, já está no pão. A noção de
consubstanciação não acrescenta nada, portanto, ao afirmar que “há o pão e o Cristo,
consubstancialmente.” A presença eucarística para ser real, no sentido estrito, implica o
desaparecimento da substância ‘pão e vinho’. Talvez essa confusão tenha ocorrido devido
ao desprezo que Lutero apontou pela filosofia medieval, ao criticar a herança aristotélica
como um resquício de paganismo que contaminaria a fé. Essa negação também culmina
numa negação dos pilares da civilização ocidental que é a filosofia grega, e do
aproveitamento que os filósofos escolásticos (São Tomás de Aquino, em particular)
fizeram da obra aristotélica para poder elucidar e harmonizar a fé com a razão.
A questão da livre interpretação das Escrituras esbarra no seguinte argumento: qual
a garantia que o conteúdo espiritual contido nas mesmas será interpretado de forma
correta sem abolir a tensão contida nas palavras divinas? Não é possível harmonizar a
autoridade que emana do Espírito Santo em cada crente sem estabelecer um mínimo de
autoridade para que não se caia em múltiplas interpretações contraditórias entre si. Daí a
autoridade da Igreja, embasada pelos Santos e Doutores que possuem grande
discernimento espiritual, ser o guia para a interpretação. De fato, Santo Agostinho disse
que só cria nas Escrituras devido a autoridade da Igreja, por esta estar embasada na
Tradição.

Ao fim da análise (há muito mais a destacar, mas sugiro a leitura para melhor
entendimento), Voegelin aponta na personalidade de Lutero como responsável pelo
rompimento com a Igreja. Segundo o autor, a crise e a reforma poderiam ter sido feitas
sem a necessidade de um rompimento total, incluindo a mistura de críticas políticas,
algumas certas outras exageradas, da estrutura da Igreja e a mudança de dogmas acerca
dos mistérios da fé, criando um rompimento religioso. São Francisco de Assis apontou
várias críticas a Igreja Católica também, exortando ao próprio Papa, mas jamais deixou
que a sua personalidade tomasse a dianteira e com isso, rompesse definitivamente.

No fim, ele analisa Calvino e a doutrina da predestinação como consequência direta


do desenvolvimento da teoria da justificação de Lutero. Talvez aqui Voegelin tenha se
exarcebado mais que em qualquer outra parte ao chegar ao designar o caráter de Calvino
como ‘assassino’ e ‘repugnante’, afirmando que o mesmo chegou a criar uma tirania em
Genebra. Como o livro destaca, esse quadro deve ser equilibrado por uma perspectiva
alternativa, que emergiu com mais pesquisas acerca da Reforma. Allister McGrath
desmente esses estereótipos criados na figura do suíço, e a “imagem de Calvino como
‘ditador’ de Genebra não tem nenhuma relação com os fatos conhecidos da história.”
Nesse ponto, é possível que a crítica de Voegelin da filosofia e das consequências do
calvinismo tenha se exarcebado, e isso possa atrapalhar as conclusões de sua análise
filosófica.

Concentrando-nos exclusivamente na crítica à doutrina da predestinação, Voegelin


aponta que Calvino hipostasiou um símbolo contido nas Escrituras e destrinchado por
Santo Agostinho (a leitura da obra O Livre-Arbítrio do santo é indicada para um
aprofundamento do assunto). O mistério da salvação pessoal nunca é esclarecido na
existência terrena, de modo que como Santo Agostinho destacou, existem duas esferas da
Igreja: a visível dos membros que fazem parte da comunidade, e a invisível, dos membros
que serão salvos e desconhecida pelo homem, por se tratar na nossa esfera de uma
contingência.

Segundo Voegelin, proposições como “Deus elege alguns homens” e “Deus reprova
alguns homens”, combinam um sujeito transcendental (Deus) com predicados tomados
da experiência imanente do mundo; as proposições que resultam dessa combinação não
são proposições da ciência empírica, mas símbolos. Os predicados de tais proposições
não devem ser tomados no sentido que têm em um contexto imanente do mundo (como
se por exemplo, eleger fosse predicado de um homem); eles têm de ser tomados
analogicamente. A necessidade ou inelutabilidade dos decretos de Deus surge
especulativamente do problema da eternidade de Deus; porque Deus está fora do tempo,
tudo o que ocorre no tempo está em presença eterna para ele; ele “sabe antecipadamente”
o que vai acontecer porque para ele não é o futuro, mas sua presença; e à medida que ele
é a prima causa, tudo o que acontece na distensão do tempo acontece por necessidade em
sua causação eterna.

Essas especulações com relação a Deus, contudo, de maneira nenhuma atingem a


estrutura da realidade como experienciada pelo homem. A necessidade especulativa de
deus não abole nem a contingência experienciada na natureza nem o livre-arbítrio
experienciado pelo homem. Logo, a análise de Calvino seria uma má interpretação de
símbolos especulativos, pelos quais os teólogos tentam descrever analogicamente a
relação do mundo com seu fundamento criativo, como proposições que se referem a um
conteúdo de experiência humana imanente do mundo. Voegelin aponta a inclinação de
aderir a esta tese como residindo na psicologia do autor engendrada na intensidade de
uma experiência religiosa em que a vontade própria é obscurecida sob a irrupção de força
transcendental.

A conclusão da análise dos dois maiores nomes da Reforma Protestante é bastante


negativa: ele aponta sobretudo um antifilosofismo residindo nos dois autores,
característica esta que marcou a Modernidade e se tornou padrão agravado no
obscurantismo dos filósofos iluministas e na ignorância agressiva dos intelectuais
liberais, fascistas e marxistas contemporâneos. As doutrinas teológicas defendidas pelos
dois teriam transformado a fé num ato unilateral e a insistência na natureza
irremediavelmente corrupta humana criam um abismo que teria abolido a harmonia
encontrada e defendida pelos Santos Padres da Igreja, e pelos filósofos medievais.

CONCLUSÃO

A leitura deste livro vale a pena, seja para analisar as relações que Voegelin traça
para entender a crise civilizacional do Ocidente ao encontrar seus rastros na Idade Média,
seja para criticar o autor por uma crítica tão dura e excessiva aos autores da Reforma e
relacioná-los com tiranos verdadeiramente luciferinos como Marx e Hitler. Por mais erros
que apresentem na abordagem de suas ideias e nas consequências desencadeadas por seus
processos reformistas, nem eles conseguiriam prever a crise que ocorreria séculos depois
nem podem ser totalmente responsabilizados pelo gérmen anticivilizacional que
germinou e eclodiu na Reforma, permitindo o surgimento das mais vis e cruéis maquinas
de escravização e aniquilação humana, as ideologias modernas.

Encerro esta resenha (que ficou grande demais para uma resenha) apontando acima
de tudo a importância de Eric Voegelin como mais que um cientista político, um gigante
da filosofia. Por mais críticas que possam ser feitas em discordância de suas análises, não
se pode negar a grande capacidade intelectual e espiritual do autor, principalmente por
apontar na religião cristã como o ponto máximo da diferenciação da consciência humana.
Esse ponto será esclarecido em futuras resenhas (se Deus assim permitir) sobre outras
obras de Eric Voegelin e suas fases posteriores de abordagem. Se muitos o reconhecem
por esta obra crítica ao protestantismo e ao gnosticismo, também devem reconhecer obras
que ele aprofunda a análise das raízes da crise civilizacional como produtos provindos d
distensão da própria consciência humana.

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