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Imperatriz
2017
FACULDADE DAMÁSIO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO DE FAMÍLIA E
SUCESSÕES
Imperatriz
2017
ALBA PATRICIA JALES DANTAS NETTO
Hoje, comemoro mais esta vitória, mas, sozinha, não teria conseguido.
Gostaria de agradecer primeiramente а Deus qυе permitiu qυе tudo isso
acontecesse.
Agradeço aos meus amados pais, Ana Karla Jales Dantas e Benedito
Jorge Gonçalves de Lira, pelo apoio, incentivo e por toda dedicação. Aos meus
irmãos Eduardo e Olga pela admiração. A toda minha família pelas orações e o
carinho.
À Instituição pelo ambiente criativo е amigável qυе proporciona.
Ao mеυ professor, orientador Felipe Matte Russomanno, pela orientação,
incentivo e apoio à elaboração deste trabalho.
Enfim, aos amigos, colegas e a todos aqueles que colaboram direta ou
indiretamente para que este trabalho acontecesse. Àqueles que acreditaram em mim
e que de alguma forma me ajudaram a concluir este maravilhoso trabalho, muito
obrigado!
Aos funcionários do Damásio, que sempre estiveram a minha disposição.
“A motivação é como alimento para o cérebro, você não pode
ter o suficiente em uma refeição. A motivação precisa de
recargas contínuas e regulares para nutrir a fundo e
transformar um ser humano em um vencedor.” Peter Davies.
RESUMO
The present research work consists in analyzing the succession in the stable union,
based on the principles and other constitutional norms, as well as the concern about
the prejudices and discriminations that still permeate society and the legislation own.
It is noted that the partner is treated differently in relation to the succession, when
compared to the wife. In this context, it possible to perceive that much yet needs to
be done to equal the two entities, although the Constitution recognizes both as
"family". The present work also contemplates theoretical-bibliographic research,
since it approaches the positioning of the most outstanding scholars of the Law on
the subject. In addition, the work takes a qualitative approach, more in-depth and in
keeping with the bibliographical research itself. In this sense, a criticism is
undertaken, taking into account the need to promote the constitutionalization of
inheritance law, as has been done with other areas of law.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 10
2 CASAMENTO, CONCUBINATO E UNIÃO ESTÁVEL.................................... 12
2.1 Do casamento – disposições gerais, natureza jurídica, pressupostos e
capacidade.......................................................................................................... 13
2.2 Concubinato puro e adulterino – da nova visão constitucional como
entidade familiar................................................................................................. 15
2.3 A visão tradicional de família...................................................................... 16
2.4 A Constitucionalização do Direito de Família ........................................ 17
2.5 Do Direito das Famílias - Princípios .......................................................... 19
2.5.1 Princípio da Dignidade Humana ................................................................ 20
2.5.2 Princípio da Função Social da Família........................................................ 21
2.5.3 Princípio da Afetividade............................................................................. 22
2.5.4 Princípio da Solidariedade.......................................................................... 22
2.5.5 Princípio do Pluralismo............................................................................... 23
2.5.6 Princípio da Igualdade com Respeito à Diferença...................................... 24
2.5.7 Princípio da Proteção Integral às Crianças, Jovens e Idosos e Princípio
da Proibição de Retrocesso Social....................................................................... 25
2.6 Das “novas” entidades familiares.............................................................. 25
2.6.1 Família monoparental................................................................................. 26
2.6.2 Família homoafetiva.................................................................................... 26
2.6.3 Família anaparental.................................................................................... 26
3 A UNIÃO ESTÁVEL......................................................................................... 28
3.1 Conceito........................................................................................................ 28
3.2 Histórico........................................................................................................ 30
3.3 Legislação pertinente – Da visão da União Estável no Código Civil de
1916, na Constituição Federal de 1988, nas Leis 8.971/94, 9.278/96 e no
Código Civil de 2002.......................................................................................... 31
3.4 Requisitos legais para a configuração da União Estável......................... 34
3.4.1 Pressupostos de Ordem Subjetiva.............................................................. 35
3.4.2 Pressupostos de Ordem Objetiva............................................................... 36
4. DO DIREITO DAS SUCESSÕES...................................................................... 38
4.1 Da Sucessão – histórico e conceito de Direito das Sucessões............... 38
4.2 Dos sucessores legítimos, necessários, testamentários e legatários.... 40
4.3 Direito Sucessório na Legislação Atual – da sucessão do
companheiro no Código Civil de 2002.............................................................. 43
4.4 Da esposa, da companheira e da concubina no direito sucessório........ 45
5 O CÓDIGO CIVIL DE 2002 E O TRATAMENTO ATUAL DA SUCESSÃO NA
UNIÃO ESTÁVEL ................................................................................................ 48
5.1 O companheiro no Código Civil de 2002 – Da concorrência .................. 48
5.1.1 Concorrência com descendentes comuns e do autor da herança.............. 47
5.1.2 Concorrência com outros parentes ............................................................. 50
5.2 Análise crítica do direito sucessório da companheira com vistas ao
Princípio da Dignidade Humana e demais princípios da Constituição de
1988....................................................................................................................... 51
5.3 Da inconstitucionalidade da distinção de regime sucessório entre
cônjuges e companheiros ................................................................................ 55
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 63
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 64
10
1 INTRODUÇÃO
Uma jovem mulher acusada de adultério foi apedrejada até a morte por seu
pai e jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) no centro da Síria, de acordo
com um vídeo postado no YouTube nesta terça-feira (21).
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) afirmou que o
apedrejamento ocorreu em agosto ou setembro em uma região rural da
2
província de Hama (centro), controlada pelo EI.
1
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 43.
2
GLOBO. Mulher síria acusada de adultério e apedrejada por seus pais e jihadistas. 2014.
13
3
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.146.
4
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 97.
5
BRASIL. Código Civil (2002). 2016.
14
6
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 127.
7
Idem Ibidem, p. 127.
8
Idem Ibidem, p. 133-134.
15
9
BRASIL. Código Civil (2002). 2016.
10
BRASIL. Constituição Federal (1988). 2016.
11
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.146.
16
12
FERRAZ, P. C. O Concubinato e uma perspectiva de inclusão constitucional. Disponível em:
<https://goo.gl/zuCXsh>. Acesso em 30 out. 2016.
13
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 17.
14
COULANGES, F. A Cidade Antiga. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2008. p. 107.
17
vimos até agora. [...] A lei que permite que o pai venda ou tire a vida do
filho, lei que encontramos tanto na Grécia, como em Roma, não foi
imaginada pela cidade. [...] o direito privado existiu antes dela. Quando
começou a escrever as suas leis, encontrou esse direito já estabelecido,
15
vivo, enraizado nos costumes, fortalecido pela adesão universal.
15
COULANGES, F. A Cidade Antiga. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 92.
16
LASSALE, F. O que é uma Constituição. São Paulo: Edijur, 2006, p. 30.
18
que qualquer Lei precisa atribuir tratamento digno e condizente com a condição
humana das pessoas.
No Direito de Família, em especial, levando-se em conta que é no seio da
família que o ser humano se desenvolve, essa busca pela constitucionalização, ou
seja, torná-lo condizente com os princípios constitucionais e mais especialmente
com o da Dignidade da Pessoa Humana é ainda mais importante. O que se observa
nesse âmbito é uma modificação completa da visão que se tem de família a partir
daí.
Nos dizeres de Rodrigo da Cunha Pereira e Maria Berenice Dias, apud
Gonçalves, nesse sentido:
17
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 33.
19
18
SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 87.
20
19
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 43.
21
tivesse direito aos bens do outro. Não seria, portanto, compatível com a Dignidade
da Pessoa Humana que além de perder aquele que provia ou colaborava na
manutenção do lar, ainda sofra um prejuízo financeiro dessa ordem.
Nesse sentido, dar à companheira, que vive como se casada fosse, o
direito à sucessão é respeitar o Princípio da Dignidade Humana, conferir-lhe o direito
de ser tratada como pessoa, como ser humano.
20
FIÚZA, C. Direito Civil – Curso completo. Vol. Único. Belo Horizonte: Del Rey, 2014, p. 1180.
22
21
FIÚZA, C. Direito Civil – Curso completo. Vol. Único. Belo Horizonte: Del Rey, 2014, p. 1187.
22
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 70.
23
Idem Ibidem, p. 70.
23
Ora, se eles têm direito a pedir alimentos ao outro quando formam uma
família, muito mais terão de sucedê-lo em caso de morte daquele. Seria incoerente
dizer ou pensar o contrário. Daí ser esse princípio caro a essa pesquisa.
24
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 66-67.
25
FIÚZA, C. Direito Civil – Curso completo. Vol. Único. Belo Horizonte: Del Rey, 2014, p. 1182.
24
26
Idem Ibidem, p.1182.
27
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais 2010, p. 67.
25
28
LHERING, R. V. A Luta pelo Direito. São Paulo: Martin Claret, 2002.
26
famílias homoafetivas, etc., sempre existiram. O que ocorria é que não eram tidas
como tal, não tinham respaldo jurídico como entidades familiares, de fato.
Assim, o que se faz hoje especialmente em função da gama de princípios
supracitada, é assegurar e reconhecer tais entidades e dar-lhes proteção legal.
Nesse sentido, algumas das não tão “novas” entidades familiares são as
mencionadas a seguir.
3 DA UNIÃO ESTÁVEL
3.1 Conceito
Pode haver, portanto, união estável sem que haja coabitação e vida idêntica
à do casamento, embora deva estar presente a intenção de constituir
família. Esta intenção traduz-se na vontade de viver juntos, compartilhando
o dia a dia, criando uma cumplicidade, uma comunhão de vida, amparando-
se e respeitando-se reciprocamente. Na vida prática, é difícil, porém,
caracterizar a união estável sem o mos uxórios, exatamente dada esta
30
intenção de constituir família, exigida pelo Código Civil.
29
FIÚZA, C. Direito Civil – Curso completo. Vol. Único. Belo Horizonte: Del Rey, 2014, p. 1220.
30
Idem Ibidem, p. 1221.
29
3.2 Histórico
31
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
32
FIÚZA, C. Direito Civil – Curso completo. Vol. Único. Belo Horizonte: Del Rey, 2014, p. 1221.
33
Idem Ibidem, p. 1221.
31
34
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 603.
32
Nota-se que para que se falasse em união estável, era preciso comprovar
estado de não casado cinco anos ininterruptos de relacionamento ou prole do outro.
Porém, em relação ao direito sucessório, chama a atenção os artigos 2º e
3º da mesma Lei, em que situação excepcional é aquela em que a companheira ou
companheiro recebe a totalidade da herança deixada pelo “de cujus”. Segundo a
íntegra desses artigos:
35
Idem Ibidem, p.33.
36
BRASIL. Constituição Federal (1988). 2016.
33
Portanto, a regra era que apenas teria direito à metade dos bens do autor
da herança se aquele com quem convivia comprovasse haver participado na
constituição desses bens.
No restante das hipóteses o direito é apenas de usufruto, assim mesmo
de apenas uma quarta parte ou da metade, enquanto não sobreviesse nova relação
conjugal, respectivamente diante da existência ou não de filhos. A totalidade da
herança somente era possível diante da inexistência de filhos e também de
ascendentes do “de cujus”.
O que se percebe pela leitura dessa Lei é que o companheiro não está
hierarquicamente no topo de uma ordem de preferência na sucessão, ao contrário,
apenas é beneficiado com a totalidade da herança na ausência de outros parentes
na linha reta.
Outra Lei que vale a pena ser citada é a nº 9.278 de 1996. Nesta Lei e
levando-se em consideração os já mencionados artigos que definem a união estável
e estabelece a questão dos bens, importante destacar os artigos 1º e 5º, quais
sejam:
Como se vê, a primeira mudança trazida por esta Lei foi acerca da
duração do relacionamento que já não é mais de cinco anos. Basta que seja
duradoura, pública e contínua e que haja a intenção de formar família. Além disso,
os bens adquiridos durante a relação, a título oneroso desde que não sejam
produtos de bens adquiridos anteriormente à relação, são contabilizados como do
casal, ou seja, presume-se esforço mútuo.
37
Idem Ibidem.
38
BRASIL. Constituição Federal (1988). 2016.
34
39
BRASIL. Código Civil (2002). 2016.
40
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 611.
35
41
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 8. ed. São Paulo Saraiva, 2011, p. 612.
36
42
Idem Ibidem, p. 612.
43
Idem ibidem, p. 615.
44
Idem Ibidem, p. 620.
37
constitui uma união estável ou apenas se trata de namoro, noivado ou outro tipo de
relacionamento distinto do primeiro.
38
45
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p.28.
46
BRASIL. Código Civil (2002). 2016.
47
Idem, art. 1788.
39
48
FIÚZA, C. Direito Civil – Curso completo. Vol. Único. Belo Horizonte: Del Rey, 2014, p. 1263.
49
Idem. p. 1267.
50
COULANGES, F. A Cidade Antiga. 1. ed. São Paulo: Martin Claret, 2006.
40
51
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 28.
41
deixou um testamento definindo quem herdaria o quê, ou seja, quem seriam seus
herdeiros e legatários. É o que afirma Dower:
52
DOWER, N. G. B. Direito Civil; direito das sucessões. São Paulo: Nepa, 2004, p. 15.
53
FIÚZA, C. Direito Civil – Curso completo. Vol. Único. Belo Horizonte: Del Rey, 2014, p. 1280.
42
54
BRASIL. Código Civil (2002). 2016.
43
55
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 114.
56
Idem Ibidem, p. 132.
44
59
MARTINI, L. M. Direito sucessório na união estável a dignidade (...). In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n.
94, nov. 2011. Disponível em:
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10767>. Acesso
em 21 set. 2016.
46
60
BRASIL. Código Civil (2002). 2016.
61
MARTINI, L. M. Direito sucessório na união estável (...).In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 94, nov. 2011.
Disponível em:
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10767>. Acesso
em 21 set. 2016.
47
nem a título de herança”, afirma a autora, nem mesmo se não houver outros
herdeiros.
Imagine-se que, nesse caso, parece insólito, mas restaria ao Estado
receber os bens como herança vacante; numa total incoerência com princípios
constitucionais como a Isonomia ou a Dignidade da Pessoa Humana, por exemplo.
Outro fator bem preocupante, ao qual chama a atenção a autora é a
desnecessária confusão que parece ter cometido o legislador ao confundir herança e
meação. Ora, se o regime de bens na união estável já é o da comunhão parcial,
então a meação já lhe seria ali garantida. Não haveria, portanto, razão para dispor
que apenas o adquirido onerosamente poderia lhe ser aproveitado.
Em relação à concorrência com os demais herdeiros legítimos e
necessários, o Código também desiguala a companheira em relação à esposa, mas
o tema será tratado no próximo capítulo que se ocupará da chamada “concorrência”
na sucessão.
Já em relação à concubina, nem mesmo o que foi constituído
onerosamente durante a relação lhe caberia, pelas normas do Código Civil, a não
ser que conseguisse comprovar que já se tratava de companheira, e não mais
concubina, tendo em vista a separação de corpos com a esposa há determinado
tempo e a união de fato com ela própria; fato que não é de fácil comprovação.
48
No que toca ao primeiro inciso, o que se nota pela letra deste artigo, é
que novamente a companheira sofre um prejuízo em relação à esposa. Enquanto
esta receberia uma quarta parte mínima desta herança quando concorra com os
próprios filhos, afinal ela é ascendente deles, a companheira, diz a Lei apenas tem
direito a uma proporção equivalente à quota que couber a cada um dos filhos. Isso
62
BRASIL. Código Civil (2002). 2016.
49
significa que esse mínimo pode exceder e muito ao que caberia à esposa, pelo
simples fato de haver ali uma relação matrimonial.
Não há, como se vê, nada que justifique essa distinção a não ser o
preconceito, a falta de coragem dos legisladores para avançarem rumo à verdadeira
constitucionalização do Direito de Família. Carecem de eficácia, nesse caso, vários
princípios de ordem constitucional, o que será discutido oportunamente.
Mas como funcionaria na prática essa divisão? Imagine-se que os filhos
são comuns, ou seja, que o “de cujus” e a sua companheira sejam seus
ascendentes, ambos. Nesse caso, a situação estaria em pé de igualdade todas as
vezes que o número de filhos não excedesse a três, porque em ambos os casos
(cônjuge e companheira) em sendo um filho, a herança seria dividida com a
companheira, levando-se em conta que o patrimônio teria sido adquirido
onerosamente durante o período da União Estável.
Em sendo dois filhos ou três filhos novamente restaria idêntica a situação
da companheira em relação à esposa, porque não teriam elas direito a uma fração
inferior à quarta parte da herança. Contudo, havendo, por exemplo, 04 (quatro) filhos
a esposa continuaria recebendo a quarta parte, por ser o mínimo que pode lhe
caber, mas a companheira receberia apenas a quinta parte, por caber a ela apenas
uma parcela equivalente a que couber a cada filho. Isso significa que para cada filho
que excede a quantidade de 03 (três) menos recebe a companheira do patrimônio
do “de cujus”, enquanto a esposa mantém o valor mínimo que lhe cabe. Injusta e
extremamente desigual a situação da companheira em relação à esposa. Em
relação ao inciso II, Menin explicita mais um pouco sobre essa situação desigual em
que se encontra a companheira. Em suas palavras:
63
MENIN, M. M. A Necessidade da Equiparação entre União Estável e Casamento (...). 2007. p. 286.
50
Nesta perspectiva, é o que destaca Menin (2007, p. 293): “[...] pode ocorrer
que aquele primo que sequer teve qualquer entrosamento afetivo com o de
cujus herde maior porção do que a pessoa que com este tenha vivido no
mais completo grau de intimidade”. [...]
Posteriormente, o Egrégio Tribunal prolatou decisão, por meio do Agravo de
Instrumento nº 70.024.715.104, o qual deliberou pela não incidência do art.
1.790, III do Código Civil, acolhendo como fundamento a consideração a ser
feita ao § 3º do art. 226 da Constituição Federal, o que confere ao
companheiro, por conseqüência, o mesmo tratamento sucessório
dispensado ao cônjuge. A ementa da decisão, relatada pelo desembargador
José Ataídes Siqueira Trindade, possui a seguinte redação:
“Agravo de Instrumento. Inventário. Companheira sobrevivente. Direito à
totalidade da herança. Parentes colaterais. Exclusão dos irmãos da
sucessão. Inaplicabilidade do art. 1.790, inc. III, do CC/02. Não se aplica a
regra contida no art. 1.790, inciso III, do CC/2002, por afronta aos
princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e de
igualdade, já que o art. 226, § 3º da CF, deu tratamento paritário ao
instituto da união estável em relação ao casamento. Assim, devem ser
excluídos da sucessão os parentes colaterais, tendo o companheiro o direito
à totalidade da herança. Recurso desprovido, por maioria.” (grifo nosso).
No mesmo sentido:
“Herança. Arrolamento de bens. Companheira. Ausência de descendentes e
ascendentes. Colaterais. Exclusão da sucessão. Não incidência do art.
1.790, III, do Código Civil. Afronta ao art. 226, § 3º, da Constituição
Federal. Tratamento sucessório do companheiro sobrevivente assemelhado
àquele do cônjuge. Inteligência dos artigos 1.829, III, e 1.838 do novo
Código Civil. Reconhecimento do direito da companheira à totalidade da
herança. Recurso provido”. (TJSP, AI nº 6.524.254.400, rel. Des. Vicentini
64
Barroso, j. 30.06.2009, (grifo nosso).
64
MARTINI, L. M. Direito sucessório na união estável a dignidade (...). 2015. Disponível em:
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10767>. Acesso
em 21 de set. 2016.
52
65
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 174.
53
66
Rui Barbosa. Oração aos Moços. São Paulo: Saraiva, 2009.
54
67
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
55
68
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 878.694 – Estado de Minas Gerais. Relator:
Ministro Luís Roberto Barroso, 31 ago. 2016. ATA Nº 25, de 31 ago. 2016. DJE nº 194, 09 set. 2016.
56
71
A herança não se confunde, é claro, com a meação, que corresponde à metade do patrimônio comum do
casal, a que faz jus o cônjuge ou o companheiro, a depender do regime de bens adotado.
58
pois dispunha sobre o regime da sucessão legítima nas uniões estáveis de forma
diversa do regime geral previsto no art. 1.829 do mesmo Código em relação ao
cônjuge. Para uma melhor compreensão, salutar transcrever os dispositivos das
referidas normas:
fosse casada com o falecido, teria direito a todo o monte sucessório, excluindo os
referidos herdeiros.
Mais em confronto à lógica do Direito das Sucessões é o caso do falecido
ter deixado apenas um tio-avô, um primo, ou um sobrinho-neto, os quais receberiam
todos os bens adquiridos gratuitamente, todos os adquiridos antes da união estável,
e mais dois terços daqueles adquiridos onerosamente durante a união estável, uma
vez que nos termos do art. 1.729, III c/c art. 1.839 do Código Civil, os parentes
colaterais até o quarto grau são sucessíveis. Neste diapasão, destaca Zeno Veloso:
A lei não está imitando a vida, nem está em consonância com a realidade
social, quando decide que uma pessoa que manteve a mais íntima e
completa relação com o falecido, que sustentou com ele uma convivência
séria, sólida, qualificada pelo animus de constituição de família, que com o
autor da herança protagonizou, até a morte deste, um grande projeto de
72
vida, fique atrás de parentes colaterais dele, na vocação hereditária.
72
VELOSO, Z. Do direito sucessório dos companheiros. In: DIAS, M. B.; PEREIRA, R. C. (Coord.). Direito de família
e o novo código civil. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey2005, p. 249.
60
73
Recurso Extraordinário 878.694 – Estado de Minas Gerais. Relator: Ministro Luís Roberto Barroso; Brasília, 31
ago. 2016. DJE, 09 set. 2016.
74
Idem Ibidem.
62
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Rui. Oração aos Moços. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
______. República Federativa do Brasil. Código Civil (2002). In: Vade Mecum. 19
ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016.
COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. 1. ed. São Paulo: Martin Claret, 2006.
COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2008.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 7. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2010.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 11. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.
DOWER, Nelson Godoy Bassil. Direito Civil; direito das sucessões. 1. ed. São
Paulo: Nelpa, 2004.
FIUZA, César. Direito Civil – Curso completo. Vol. Único. 16. ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2014.
66
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 11. ed.
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