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SIGNIFICADOS DO CONCEITO DE

PAISAGEM:
UM DEBATE ATRAVÉS DA EPISTEMOLOGIA
DA GEOGRAFIAi[1]

Demian Garcia Castro - UERJ

demiancastro@yahoo.com.br

Em momentos assim, num barco ou numa praia, pela janela de um


trem ou em uma casa em um bairro qualquer, a paisagem esta sempre
atraindo nossa atenção. É como se estivéssemos em um teatro, diante de
uma cenografia recém revelada por um abrir de cortinas. Bela ou feia, clara
ou mal iluminada, próxima ou distante – não importa – somos atraídos pela
paisagem como são os olhares dos espectadores atraídos pelo palco. E o
que vemos ou percebemos estimula nossa imaginação e desenvolve nossa
capacidade de observação. Aquilo que os olhos vêem junte-se os estímulos
sonoros provenientes de uma circunstância qualquer e já não somos alvo
apenas do que vemos, mas também do que ouvimos. (Nunes, 2002, p.216)

INTRODUÇÃO
As discussões sobre epistemologia da geografia começam a ganhar espaço no cenário da
Geografia Humana, a contribuição de Bailly e Ferras (1997) vem no sentido de sistematizar e
esclarecer coisas que costumamos enxergar de forma muito parecida. História do Pensamento
Geográfico, Metodologia da Geografia, Teoria da Geografia e Epistemologia da Geografia não
são a mesma coisa. Podemos dizer, por exemplo, que epistemologia não significa história, não
somente história, por outro lado não existe epistemologia sem história (Bailly & Ferras, 1997).

A palavra epistemologia etimologicamente divide-se em episteme (conhecimento


científico) e logia (explicação, opinião, razão, proposição). Algumas expressões aparecem com
significado similar, tais como: Gnosiologia, Teoria do Conhecimento, Filosofia da Ciência. As
distinções revelam-se de acordo com a escola de pensamento com que se está trabalhando. No
”mundo” Anglo-saxão, epistemology, vincula-se a teoria do conhecimento, já no ”mundo”
francês, épistémologie relaciona-se a filosofia da ciência. Podemos definir epistemologia como o
estudo das ciências consideradas como realidade que se observam, se descrevem e se
analisam, designando a estrutura dos conceitos, métodos, princípios, hipóteses e até mesmo o
estudo do desenvolvimento histórico. (Machado, 2003)

Desenvolveremos a seguir um trabalho sobre Epistemologia da Geografia. A base


filosófica de interpretação está relacionada as proposições de Habermas descritas em Unwin
(1995). Habermas divide as ciências em empírico-analíticas, histórico-hemenêuticas e críticas.
Não iremos aqui discutir estas filosofias, observaremos como o conceito de paisagem pode ser
inserido em cada uma destas classificações a partir de três importantes autores da Geografia:
Sauer, Duncan e Santos, tentando observar como estes são embasados por estas diferentes
concepções teórico-filosóficas. Antes, porém, faremos uma apresentação a respeito do conceito
de paisagem.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O


CONCEITO DE PAISAGEM
Paisagem, palavra de uso quotidiano, que cada pessoa utiliza a seu modo; o que não impediu de se
tornar um vocábulo à moda. Paisagem, uma destas noções utilizadas por um número sempre
crescente de disciplinas, que muitas vezes ainda se ignoram. Paisagem, enfim, um dos temas
clássicos da investigação geográfica. Conforme o interesse do que é objeto ou uma maneira como se
encara a própria noção de paisagem difere. Se um geógrafo, um historiador, um arquiteto se
debruçarem sobre a mesma paisagem, o resultado de seus trabalhos e a maneira de conduzi-los serão
diferentes, segundo o ângulo de visão de cada um dos que a examinam. (Chantal & Raison, p.138)

O termo paisagem é extremamente polissêmico, e as acepções disciplinares a ele


relacionadas são tão vagas quanto variadas. Para a geografia a paisagem é um conceito-chave,
ou seja, um conceito capaz de fornecer unidade e identidade à geografia num contexto de
afirmação da disciplina. A importância deste conceito ao longo da história do pensamento
geográfico tem sido variada, sendo relegado a uma posição secundária, suplantada pela ênfase
nos conceitos de região, espaço, território e lugar, considerados mais adequados as
necessidades contemporâneas (Corrêa e Rosendahl, 1998, p.7).

Os geógrafos produziram uma reflexão conceitual própria, seguindo os passos de


Humboldt e de outros naturalistas românticos. A geografia, tendo como objeto de estudo a
paisagem, viabilizou-se enquanto disciplina acadêmica. Estes geógrafos associaram ”a
paisagem a porções do espaço relativamente amplas que se destacavam visualmente por
possuírem características físicas e culturais suficientemente homogêneas para assumirem uma
individualidade” (Holzer, 1999, p.151). O conceito varia de sentidos de acordo com a escala de
observação e os critérios de classificação, conforme a geografia for entendida prioritariamente
como ciência natural ou como ciência humana (Chantal & Raison, ano).

O entendimento da paisagem geográfica conheceu duas fases: no início do século XX


com a escola regionalista francesa na qual a paisagem era capaz de fornecer boa carga de
informação sobre a organização social nela compreendida, e outra fase em meados do século
XX com o desenvolvimento dos transportes e meios de comunicação, da circulação de
mercadorias e capitais, o que fez com que ”(...) a paisagem perdesse seus fundamentos locais
para refletir as relações das redes de economia e sua simbologia universalizante. (...) Entenda-
se que uma medida econômica situada nos centros mundiais de decisão pode modificar a
paisagem situada a milhares de quilômetros”. (Yázigi, 2002, p.19)
Depois de ser um tema central da Geografia no início do século XX, o conceito de
paisagem teve sua importância reduzida no contexto de contestação que a geografia clássica
passou com a incorporação de outras bases epistemológicas ao pensamento desta ciência,
como as relacionadas ao positivismo lógico. Porém, o conceito está novamente em debate, mas
o problema de seu significado permanece em aberto. Retomada com a emergência de uma
Nova Geografia Cultural, a discussão sobre paisagem passou a ser revestida de novos
conteúdos, devido a ampliação dos horizontes explicativos da disciplina com a incorporação de
noções como percepção, representação, imaginário e simbolismo (Castro, 2002). Esta retomada
da dimensão cultural no pensamento geográfico pode ser ampliada para o contexto do debate
científico como um todo, no âmbito de revisão das questões que fundamentaram a modernidade.

Uma nota sobre o vocábulo alemão landschaft

Breve esclarecimento merece ainda as diferentes acepções que o vocábulo recebe de


acordo com a língua em que é empregado. Assim, landschaft (alemão) e paysage (francês),
certamente não significam a mesma coisa. A palavra alemã é mais antiga e possui um
significado mais complexo que a de língua latina, associada ao renascimento e, em sua origem,
as artes plásticas. De acordo com Holzer
"Landschaft” se refere a uma associação entre sítio e os seus habitantes, ou se
preferirmos, de uma associação morfológica e cultural. Talvez tenha surgido de
”Land schaffen”, ou seja, criar a terra, produzir a terra. Esta palavra transmutada em
”Landscape” chegou a geografia norte-americana pelas mãos de Sauer que,
cuidadosamente, enfatizava que seu sentido continua sendo o mesmo: o de formatar
(land shape) a terra, implicando numa associação das formas físicas e culturais.
(1999, p.152)

Podemos completar nos utilizando de Freitas et. al. (1999), que nos diz que landschaft
não tem correspondente em outras línguas, comportando um conjunto de significados e visões
de mundo que fornecem ao conceito uma gama de interpretações e utilizações muitas mais
amplas que das demais escolas de geografia. Segundo estes autores ”a paisagem alemã
compreende um complexo natural total, representado, de forma integrada, pela natureza e pela
ação humana” (Freitas et. al., 1999, p. 31).

A pesar de amplamente utilizado na linguagem comum de diversos paises de histórias


políticas e culturais absolutamente distintas, a paisagem guarda consigo o sentido de estar
associada ao olhar.

A paisagem entre visibilidade e visualidade

Sendo a paisagem o que se vê, supõe-se necessariamente a dimensão real do concreto,


o que se mostra, e a representação do sujeito, que codifica a observação. A paisagem resultado
desta observação é fruto de um processo cognitivo, mediado pelas representações do imaginário
social, pleno de valores simbólicos. A paisagem apresenta-se assim de maneira dual, sendo ao
mesmo tempo real e representação (Castro, 2002).

Menezes nos diz que devemos descartar os enfoques polares, realistas ou idealistas. Os
primeiros pautados na materialidade e objetividade morfológica da paisagem em seu modo dado
ou marcado pela ação humana. Os segundos pensam a paisagem como uma projeção do
observador. Segundo o autor não devemos pensar em duas faces do mesmo fenômeno, uma
material, inerte e outra mental, criadora. Melhor é reconhecer que ela é ”um dado tal como
percebido, um fragmento do mundo sensível tal qual está dotado de personalidade por uma
consciência” (Lenclud apud Menezes, 2002, p. 32).

Lucrécia Ferrara nos traz importante contribuição ao discutir visualidade e visibilidade,


categorias dos modos de ver, de natureza da imagem. A visualidade corresponde a imagem do
mundo físico e concreto, já a visibilidade à elaboração reflexiva do que é fornecido visualmente
transformado em fluxo cognitivo. Nas palavras da autora, se utilizando também de Jameson,

A visualidade corresponde registro um dado físico e referencial; a visibilidade, ao contrário, é


propriamente, semiótica, partindo de uma representação visual para gerar um processo perceptivo
complexo claramente marcado como experiência geradora de um conhecimento contínuo, individual
e social (Jameson, 1994). Na visibilidade o olhar e o visual não se subordinam ou conectam-se um
ao outro, como ocorre com a visualidade, ao contrário, ambos se distanciam um do outro para poder
ver mais. Estratégico e indagativo o olhar da visibilidade esquadrinha o visual para inseri-lo,
comparativamente, na pluralidade da experiência de outros olhares individuais e coletivos,
subjetivos e sociais, situados no tempo e no espaço. (Ferrara, 2002, p. 74)
Talvez como síntese destas questões possamos apresentar o brilhante pensamento de
Berque, segundo o qual a paisagem é simultaneamente uma marca, uma geo-grafia, que é
impressa pela sociedade na superfície terrestre, e ao mesmo tempo estas marcas são matrizes,
ou seja, constituem a condição para a existência e para a ação humana. Se por um lado ela é
vista por um olhar pelo outro ela determina este olhar. Nas palavras do autor, ”(...) a paisagem é
plurimodal (passiva-ativa-potencial.) como é plurimodal o sujeito para o qual a paisagem existe;
(...) a paisagem e o sujeito são co-integrados em um conjunto unitário que se autoproduz e se
auto-reproduz”. (Berque, 1998, p.86).
Partiremos a seguir para uma discussão pautada no pensamento filosófico de Habermas,
apresentando suas diferentes abordagens de ciência e posteriormente observando como o
conceito de paisagem pode ser inserido em cada uma destas classificações.

DIFERENTES ABORDAGENS DAS


CIÊNCIAS
Nossas discussões têm por base o pensamento de Habermas, lido através da obra de
Unwin (1995), que discute a teoria da geografia a partir das contribuições deste pensador. Aqui
no Brasil tal classificação vem sendo utilizada, recebendo denominações um pouco
diferenciadas, por Spósito (1999). Habermas divide as ciências em três tipos, ou seja, categorias
de processo que apontam conexão entre regras metodológicas e interesse do conhecimento: 1.
Empírico-analítica, no qual se enquadra o positivismo clássico e o positivismo lógico; 2.
Histórico-hermenêutica, englobando a fenomenologia, a hermenêutica e o existencialismo; 3.
Crítica, relacionada à Marx e Freud. É claro que não utilizaremos esta classificação como uma
camisa de força, mas buscaremos através dela elementos para uma melhor compreensão de
textos geográficos.

APRESENTANDO DIFERENTES LEITURAS DO CONCEITO DE PAISAGEM: UMA DISCUSSÃO


EPISTEMOLÓGICA
Com a retomada do conceito de paisagem na década de 1970, surgiram novas definições
embasadas em outras matrizes epistemológicas. Na realidade, na paisagem apresentam-se
simultaneamente as diversas dimensões que cada matriz epistemológica privilegia. Assim,
podem ser observadas as seguintes dimensões: morfológica, funcional, histórica, espacial e
simbólica (Corrêa & Rosendahl, 1998). Desta forma analisamos a seguir os textos de Carl Sauer,
Denis Cosgrove e Milton Santos, buscando estas dimensões.

Carl Sauer e a Morfologia da Paisagem


As proposições de C. Sauer para o estudo da paisagem estavam na tentativa de resolver
os maiores problemas da geografia da época, isto é, suas dualidades fundamentais, geografia
física e Humana, Geral e Regional, e também a ausência de um método objetivo próprio. As
inspirações de Sauer são em grande parte provenientes de seu contato com a Geografia Alemã,
e as obras de Schlüter e Passarge. Para estes o estudo da paisagem deveria se restringir às
formas, aos aspectos visíveis, excluindo os fatos não materiais da atividade humana (Gomes,
1996).

Sauer logo no começo de seu artigo ”A morfologia da paisagem” afirma que a ciência
adquire identidade através da escolha de um objeto e de um método, a geografia deveria se
limitar ao que é evidente da mesma forma que as outras disciplinas. Neste caso o evidente está
na paisagem, devendo esta ser o objeto fundamental da geografia.

Corrêa & Rosendahl indicam que para Sauer

a paisagem geográfica é vista como um conjunto de formas naturais e culturais associadas em uma
dada área, é analisada morfologicamente, vendo-se a integração das formas entre si e o caráter
orgânico ou quase orgânico delas. O tempo é uma variável fundamental. A paisagem cultural ou
geográfica resulta da ação, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural. (1998, p.9)

A análise de Sauer procura sempre um plano sistemático mais geral, enfatizando as


análises estruturais e funcionais, observam-se claramente as bases do pensamento positivista
em sua definição de paisagem.

Por definição a paisagem tem uma identidade que é baseada na constituição reconhecível, limites e
relações genéricas com outras paisagens. Sua estrutura e função são determinadas por formas
integrantes e dependentes. A paisagem é considerada, portanto, em um certo sentido, como tendo
uma qualidade orgânica. (Sauer, 1998, p.23)
O que fica mais claro quando o autor nos fala da aplicação de um método morfológico, no
qual ”A agregação e o ordenamento dos fenômenos como formas que estão integradas em
estruturas e o estudo comparativo dos dados dessa maneira organizados constituem o método
morfológico de síntese, um específico método empírico.” (1998 p. 30-31).

As criticas efetuadas ao pensamento de Sauer referem-se ao fato de que a análise da


paisagem não pode estar limitada aos sentidos. O que a confundiria com o sentido genérico do
senso comum que serve para designar ”a aparência de um espaço tal como ele é imediatamente
percebido, e serve também, simplesmente para designar uma parte limitada do espaço.”
(Gomes, 1996, p. 239).
Denis Cosgrove e o Simbolismo da
Paisagem
O estudo de Cosgrove destaca questões que de forma alguma fariam parte de uma
geografia pautada no positivismo clássico ou no positivismo lógico. Já em destaque no título de
seu texto, o autor nos diz que ”a geografia está em toda parte”, para destacar a cultura e o
simbolismo nas paisagens humanas. Temos aqui temas e abordagens próprias de uma
renovação das ciências que ganha força na década de 1970, substituindo os ideais positivistas
anteriores.

Cosgrove destaca que o geógrafo deveria se esforçar para mostrar que a geografia existe
para ser apreciada, e que muitas das vezes temos agido no sentido de ”obscurecer em vez de
aumentar esse prazer”. No meio de um funcionalismo utilitário, a explicação geográfica é
estritamente prática. Sendo banidas da Geografia
"as paixões inconvenientemente, às vezes assustadoramente poderosas, motivadoras
da ação humana, entre elas as morais, patrióticas, religiosas, sexuais e políticas.
Todos sabemos quão fundamentalmente estas motivações influenciam nosso
comportamento diário. (...) Contudo na geografia humana parecemos
intencionalmente ignorá-las ou negá-las. (...) nossa geografia deixa escapar muito
do significado contido na paisagem humana tendendo a reduzi-la a uma impressão
impessoal de forças demográficas e econômicas". (Cosgrove, 1998, p.97)

O autor propõe-se a aplicar a interpretação das paisagens humanas as habilidades


que empregamos ao analisar um romance, um poema, um filme ou um quadro. Assim, a
trataríamos como expressão humana composta de muitas camadas de significados, o
que é bastante incomum. Desta forma o que ele se propõe a tratar a Geografia como
uma humanidade e como uma ciência social.

Uma característica importante de ser ressaltada é que o autor aborda estas questões
relacionadas ao simbolismo e a cultura, o que encaixa seu trabalho em um determinado tipo de
ciência, mas há também um forte conteúdo crítico. Observa-se como o estudo da cultura está
intimamente ligado ao estudo do poder. Revelando as relações de dominação e opressão.
Segundo o autor
Um grupo dominante procurará impor sua própria experiência de mundo, suas
próprias suposições tomadas como verdadeiras, como a objetiva e válida cultura
para todas as pessoas. O poder é expresso e mantido na reprodução da cultura. Isto é
melhor concretizado quando menos visível, quando as suposições culturais do
grupo dominante aparecem simplesmente como senso comum. Isto é as vezes
chamado de hegemonia cultural. Há, portanto, culturas dominantes e
subdominantes ou alternativas, não apenas no sentido político, mas também em
termos de sexo, idade e etnicidade. (Cosgrove, 1999, p.104-105).

Muito do simbolismo da paisagem reproduz as normas culturais estabelecendo os valores


de grupos dominantes por toda uma sociedade.

Podemos terminar esta parte observando como o autor propõe trabalhar as paisagens ao
mesmo tempo de forma crítica e original, incorporando a dimensão simbólica, contribuindo
sobremaneira ao pensamento geográfico

As paisagens tomadas como verdadeiras de nossas vidas cotidianas estão cheias de significado.
Grande parte da Geografia mais interessante está em decodificá-las. (...) Porque a geografia esta em
toda parte, reproduzida diariamente por cada um de nós. A recuperação do significado em nossas
paisagens comuns nos diz muito sobre nós mesmos. Uma geografia efetivamente humana crítica e
relevante, que pode contribuir para o próprio núcleo de uma educação humanista: melhor
conhecimento e compreensão de nós mesmos, dos outros e do mundo que compartilhamos.
(Cosgrove, 1999, p. 121)

Milton Santos e a distinção entre paisagem e espaço

O prof. Milton Santos dispensa


apresentação, com uma postura sempre crítica,
enxergando o mundo a partir do lugar,
desenvolveu desta forma um pensamento
singular sobre os países de Terceiro Mundo,
reconhecido por toda comunidade geográfica.
Santos em seu livro a Natureza do Espaço
(2002), estabelece uma necessidade de
distinção epistemológica entre espaço e
paisagem. Utiliza-se de Hägerstrand, segundo o
qual, "a ação é uma ação na paisagem, sendo a
paisagem que dá forma a ação". Santos
discorda da posição do autor sueco, dizendo
que onde este escreve paisagem teria escrito
espaço. Paisagem e espaço não são sinônimos.
"A paisagem é um conjunto de formas que, num
dado momento, exprime as heranças que
representam as sucessivas relações localizadas
entre homem e natureza. O espaço são as
formas mais a vida que as anima" (2002, p.103).
O autor nos oferece como exemplo desta distinção a bomba de nêutrons, um projeto do
Pentágono abortado por Kennedy durante a Guerra Fria. Esta bomba seria capaz de aniquilar
toda a vida humana em uma dada área, mas mantendo as construções. Se esta bomba fosse
utilizada teríamos antes o espaço e após a explosão somente a paisagem.

Define a paisagem como sendo transtemporal, pois junta objetos passados e presentes
em uma construção transversal. Já o espaço é sempre o presente, uma construção horizontal,
uma situação única.

O seu caráter de palimpsesto revela um passado já


morto que permite rever as etapas do passado numa
perspectiva de conjunto. "A paisagem é história congelada,
mas participa da história viva. São suas formas que
realizam, no espaço, as funções sociais" (p.107).
O autor trabalha dentro de uma perspectiva crítica incorporando o materialismo histórico e
dialético em sua análise. A questão é que ele esvazia o conceito de paisagem em prol de uma
valorização do espaço. A paisagem é o que é possível de ser abarcada com a visão, destituída
da sociedade, possuidora de um caráter histórico em suas distintas materialidades presentes. As
contradições se realizam na dialética entre espaço e sociedade, nas palavras do autor
Não existe dialética possível das formas enquanto formas. Nem a rigor entre
paisagem e sociedade. A sociedade se geografiza através das formas, atribuindo-lhe
uma função que vai mudando ao longo da história. O espaço é a síntese sempre
provisória entre o conteúdo social e as formas espaciais. A contradição é entre
sociedade e espaço.(Santos, 2002, p.109)

Quando são atribuídos valores a paisagem esta se transforma em espaço geográfico. O


fato de existirem simplesmente enquanto forma não basta. Porém, a forma utilizada é diferente,
porque seu conteúdo é social. Assim, esta se torna espaço, porque forma-conteúdo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS (porém não


conclusivas)
A definição mais simples de paisagem, como um espaço abarcado por um "golpe de
vista", bastante usual no senso comum, não dá conta da complexidade que o termo abrange.
Como buscamos demonstrar neste trabalho.

Chantal & Raison almejam "que em torno deste vocábulo, inçado de tantas inspirações
existenciais quando de significados científicos, se realize uma síntese eficaz das relações
dialéticas entre natureza e sociedade" (p.158).

O conceito de paisagem e seus significados objetivos e subjetivos, marca e matriz, real e


representação, material e mental, tempo e cultura formatando o espaço, impregnado de diversos
símbolos, reveladora de relações de poder, etc., nos confirma a polissemia e amplitude do
conceito. Revelada de acordo com a matriz epistemológica segundo o qual se está embasado.
Enfim, paisagem é um conceito-chave para nós geógrafos a partir do qual podemos construir
diversificadas abordagens, as mais ricas possíveis para a nossa ciência.

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