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PAISAGEM:
UM DEBATE ATRAVÉS DA EPISTEMOLOGIA
DA GEOGRAFIAi[1]
demiancastro@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
As discussões sobre epistemologia da geografia começam a ganhar espaço no cenário da
Geografia Humana, a contribuição de Bailly e Ferras (1997) vem no sentido de sistematizar e
esclarecer coisas que costumamos enxergar de forma muito parecida. História do Pensamento
Geográfico, Metodologia da Geografia, Teoria da Geografia e Epistemologia da Geografia não
são a mesma coisa. Podemos dizer, por exemplo, que epistemologia não significa história, não
somente história, por outro lado não existe epistemologia sem história (Bailly & Ferras, 1997).
Podemos completar nos utilizando de Freitas et. al. (1999), que nos diz que landschaft
não tem correspondente em outras línguas, comportando um conjunto de significados e visões
de mundo que fornecem ao conceito uma gama de interpretações e utilizações muitas mais
amplas que das demais escolas de geografia. Segundo estes autores ”a paisagem alemã
compreende um complexo natural total, representado, de forma integrada, pela natureza e pela
ação humana” (Freitas et. al., 1999, p. 31).
Menezes nos diz que devemos descartar os enfoques polares, realistas ou idealistas. Os
primeiros pautados na materialidade e objetividade morfológica da paisagem em seu modo dado
ou marcado pela ação humana. Os segundos pensam a paisagem como uma projeção do
observador. Segundo o autor não devemos pensar em duas faces do mesmo fenômeno, uma
material, inerte e outra mental, criadora. Melhor é reconhecer que ela é ”um dado tal como
percebido, um fragmento do mundo sensível tal qual está dotado de personalidade por uma
consciência” (Lenclud apud Menezes, 2002, p. 32).
Sauer logo no começo de seu artigo ”A morfologia da paisagem” afirma que a ciência
adquire identidade através da escolha de um objeto e de um método, a geografia deveria se
limitar ao que é evidente da mesma forma que as outras disciplinas. Neste caso o evidente está
na paisagem, devendo esta ser o objeto fundamental da geografia.
a paisagem geográfica é vista como um conjunto de formas naturais e culturais associadas em uma
dada área, é analisada morfologicamente, vendo-se a integração das formas entre si e o caráter
orgânico ou quase orgânico delas. O tempo é uma variável fundamental. A paisagem cultural ou
geográfica resulta da ação, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural. (1998, p.9)
Por definição a paisagem tem uma identidade que é baseada na constituição reconhecível, limites e
relações genéricas com outras paisagens. Sua estrutura e função são determinadas por formas
integrantes e dependentes. A paisagem é considerada, portanto, em um certo sentido, como tendo
uma qualidade orgânica. (Sauer, 1998, p.23)
O que fica mais claro quando o autor nos fala da aplicação de um método morfológico, no
qual ”A agregação e o ordenamento dos fenômenos como formas que estão integradas em
estruturas e o estudo comparativo dos dados dessa maneira organizados constituem o método
morfológico de síntese, um específico método empírico.” (1998 p. 30-31).
Cosgrove destaca que o geógrafo deveria se esforçar para mostrar que a geografia existe
para ser apreciada, e que muitas das vezes temos agido no sentido de ”obscurecer em vez de
aumentar esse prazer”. No meio de um funcionalismo utilitário, a explicação geográfica é
estritamente prática. Sendo banidas da Geografia
"as paixões inconvenientemente, às vezes assustadoramente poderosas, motivadoras
da ação humana, entre elas as morais, patrióticas, religiosas, sexuais e políticas.
Todos sabemos quão fundamentalmente estas motivações influenciam nosso
comportamento diário. (...) Contudo na geografia humana parecemos
intencionalmente ignorá-las ou negá-las. (...) nossa geografia deixa escapar muito
do significado contido na paisagem humana tendendo a reduzi-la a uma impressão
impessoal de forças demográficas e econômicas". (Cosgrove, 1998, p.97)
Uma característica importante de ser ressaltada é que o autor aborda estas questões
relacionadas ao simbolismo e a cultura, o que encaixa seu trabalho em um determinado tipo de
ciência, mas há também um forte conteúdo crítico. Observa-se como o estudo da cultura está
intimamente ligado ao estudo do poder. Revelando as relações de dominação e opressão.
Segundo o autor
Um grupo dominante procurará impor sua própria experiência de mundo, suas
próprias suposições tomadas como verdadeiras, como a objetiva e válida cultura
para todas as pessoas. O poder é expresso e mantido na reprodução da cultura. Isto é
melhor concretizado quando menos visível, quando as suposições culturais do
grupo dominante aparecem simplesmente como senso comum. Isto é as vezes
chamado de hegemonia cultural. Há, portanto, culturas dominantes e
subdominantes ou alternativas, não apenas no sentido político, mas também em
termos de sexo, idade e etnicidade. (Cosgrove, 1999, p.104-105).
Podemos terminar esta parte observando como o autor propõe trabalhar as paisagens ao
mesmo tempo de forma crítica e original, incorporando a dimensão simbólica, contribuindo
sobremaneira ao pensamento geográfico
As paisagens tomadas como verdadeiras de nossas vidas cotidianas estão cheias de significado.
Grande parte da Geografia mais interessante está em decodificá-las. (...) Porque a geografia esta em
toda parte, reproduzida diariamente por cada um de nós. A recuperação do significado em nossas
paisagens comuns nos diz muito sobre nós mesmos. Uma geografia efetivamente humana crítica e
relevante, que pode contribuir para o próprio núcleo de uma educação humanista: melhor
conhecimento e compreensão de nós mesmos, dos outros e do mundo que compartilhamos.
(Cosgrove, 1999, p. 121)
Define a paisagem como sendo transtemporal, pois junta objetos passados e presentes
em uma construção transversal. Já o espaço é sempre o presente, uma construção horizontal,
uma situação única.
Chantal & Raison almejam "que em torno deste vocábulo, inçado de tantas inspirações
existenciais quando de significados científicos, se realize uma síntese eficaz das relações
dialéticas entre natureza e sociedade" (p.158).
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