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Introdução
Falando em novenas, freqüentemente pensa-se numa seqüência de rezas e cânticos
realizados durante os nove dias prévios à comemorações do calendário católico. Segundo a
Catholic Encyclopedia, novena é:
Uma devoção pública ou privada de nove dias, na Igreja Católica, para obter graças
especiais. [...] A novena é permitida e mesmo recomendada pela autoridade eclesiástica,
porém ainda não possui um lugar próprio e definido na liturgia da Igreja. Tem sido, no
entanto, mais e mais valorizada e utilizada pelos fieis.2 (HILGERS, 2003).
Articulação da pesquisa
Aproveitaram-se metodologias de natureza musicológica histórica (com
levantamentos documentais pertinentes), e etnomusicológica (com registro áudio-visual das
devoções), procurando eventuais contatos sincrônicos no devir diacrônico. Assim, fez-se o
levantamento das festas religiosas católicas na Bahia, com a triagem daquelas que integram o
alvo deste trabalho.
1
Doutor em Música pela Universidade Federal da Bahia e Professor Pesquisador PRODOC-CAPES no
PPGMUS-UFBA.
2
“A nine days' private or public devotion in the Catholic Church to obtain special graces. […] The novena is
permitted and even recommended by ecclesiastical authority, but still has no proper and fully set place in the
liturgy of the Church. It has, however, more and more been prized and utilized by the faithful.”
3
Projeto Institucional de Pesquisa do PPGMUS-UFBA financiado pela CAPES na modalidade PRODOC.
4
O projeto inicial “A Música das Novenas em Salvador” se encontra hoje na sua segunda etapa, estendendo a
investigação ao Recôncavo Baiano.
2
Períodos mutáveis
Segundo o artigo “Novena para o Snr. Bom Jezuz dos Navegantes”: mais uma obra
de Barbosa de Araújo (BLANCO, 2002), nem sempre os tríduos foram tríduos ou as novenas,
novenas, podendo mudar por motivos econômicos. Silva Campos relata que a imagem do
Bom Jesus dos Navegantes saía “depois do tríduo, ou da novena, conforme as possibilidades
financeiras da Devoção” (CAMPOS, 1941, p.130). Mas de acordo com a Devoção
responsável, “nos últimos 50 anos não se realizaram Novenas, tendo optado pelo Tríduo”.
(BLANCO, 2002). Outras confrarias poderiam assim reduzir em 66% o ônus de uma novena.
Em trabalho apresentado no V ECSIM forneceram-se dados que confirmam o caráter
local dessas escolhas (Cf. BLANCO, 2004). A Tabela 2 inclui as mudanças detectadas nas
devoções soteropolitanas.
Segundo o Almanach Civil, Político, e Commercial da Cidade da Bahia para o anno
de 1845, em 1º de junho “começão os dias de s. Antonio em sua Freguezia” (ALMANACH,
1844, p.26), e em 7 de julho “começa a Novena de N. Senhora do Carmo no seu Conv.[ento] e
no de s. Thereza” (ALMANACH, 1844, p.29), dados coincidentes com os da Tabela 1.
Embora Barbosa informa que em 1862 o Arcebispo Manoel Joaquim da Silveira
“concede verbalmente a graça de fazer-se a festa de Nossa Senhora, desde que suas novenas
sejam até o dia da festa, com o S.S. Sacramento exposto” (BARBOSA, 1970, p.92),
permitindo suspeitar das novenas acontecendo depois da festa, o Almanach... informa que em
29 de novembro “começa a Novena de N. Senhora da Conceição.” (ALMANACH, 1844, p.42).
5
Órgão oficial de divulgação turística do Estado da Bahia.
6
Embora a partitura utilizada durante a celebração indica o termo “novena” (e velhos participantes da
comunidade indicaram que assim era no passado), o termo “semana” é o que figura na programação
disponibilizada pela Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim, pois a Festa de N. Sra. da Guia é atualmente
precedida por apenas seis dias de exercícios devocionais.
3
Estruturas concomitantes
Detectaram-se planos estruturais inter-relacionados que, partindo das estruturas
devocionais, chegam à estrutura do texto e à prática musical.
Infelizmente não localizamos definição deste termo pela CNBB.12 Em Salvador, uma
definição dos limites entre para-liturgia e liturgia é a do Mons. Andrade, quem,
exemplificando, disse:
a novena do Bomfim, por exemplo, ela é para-liturgia até o momento da benção do
Santíssimo [Sacramento]. Daí em diante é liturgia. Isso você aplica às novenas, aos tríduos,
trezenas... [...] Se ela terminar com a benção do Santíssimo Sacramento ela terá sempre uma
parte litúrgica [...]. O que você não pode fazer é [...] um casamento entre Missa e a para-
liturgia. [...] é expressamente proibido, se você celebra a Missa você não pode dar
imediatamente a benção.13
11
“Celebrations that fall under this definition are: all the sacraments, funerals, Liturgy of the Word (with or
without communion), Liturgy of the Hours (usually celebrated as morning or evening prayer), and benediction.
By the way, there is no such thing as a ‘paralitugy’, as far as I know, anyway. Something is either liturgy or it is
not. I think the term paraliturgy was used in the past to refer to the liturgy you were having when you weren’t
having Mass. But as the list above indicates, liturgy encompasses far more than only the eucharist.”
12
Embora a definição do termo liturgia possa ter sofrido modificações decorrentes da própria história
eclesiástica, o seu histórico pode ser traçado e as tais mudanças e adequações aos diversos momentos e
concepções dominantes na Igreja Católica reconhecidos. Por sua vez o termo para-liturgia ainda sofre pelo vazio
oficial de definições sejam atuais ou históricas. Uma discussão mais aprofundada em busca de uma definição
musicológica operacionalmente válida se impõe para o futuro próximo.
13
Mons. Walter Jorge Pinto de Andrade (Reitor da Basílica e Capelão da Devoção do Senhor do Bomfim,
Salvador Bahia), em entrevista concedida ao autor em 21 de Janeiro de 2004 no consistório da citada Basílica.
5
Esses dados confirmam que a prática soteropolitana equilibra tradições pré e pós
Concilio Vaticano II.
14
Pe. Lázaro Silva Muniz (pároco da Igreja de São José de Amaralina, Salvador, Bahia) em entrevista concedida
ao autor em 13 de Março de 2004 na sacristia daquele templo.
15
Fr. Ronaldo Marques Magalhães (Ordem dos Pregadores Dominicanos e pároco de Santo Antônio além do
Carmo, Salvador, Bahia) em entrevista concedida ao autor em 10 de Junho de 2004 na sacristia desse templo.
6
Aperi, Domine...
V. Deus in adjutorium...
R. Domine ad adjuvandum...
Gloria Patri...
Sicut erat...
ANTIPHONA. Veni, Sancte Spiritus...
V. Emitte Spiritum tuum...
R. Et renovabis...
OREMUS. Deus, qui corda fidelium... (NOVENARIO, 1888, p.5).
16
“A estrutura básica da novena constitui-se de: Veni Sancte Spiritus, Domine ad adjuvandum, Ave Maria e
Gloria Patri (a primeira parte destas orações são cantadas por coro-orquestra e a resposta é feita por todo o
povo), Antífona (na hora da incensação da imagem e do altar), Ladainha, Jaculatória e Hino.” (NEVES, 1997, p.
94).
17
Agradece-se ao Prof. Ms. André Guerra Cotta por ter facilitado o acesso a dita publicação.
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18
Siglas e símbolos: Pf – Parte fixa; Po – Parte opcional; Pm – Parte móvel; Tf – Texto fixo; Tv – Texto variável.
= Parte e Texto comum para todas as novenas todos os dias;
+ Parte comum para todas as novenas com texto único para cada novena todos os dias;
§ Parte comum para todas as novenas com texto variável de novena a novena e a cada dia;
o Parte eventualmente comum a mais de uma novena com texto próprio comum a todos os dias da novena em questão.
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01 – Novena de Sto Amaro; 02 – dos Santos Anjos da guarda; 03 – da Gloriosa Santa Anna; 04 – Trezena de Sto. Antonio de Lisboa; 05 – Novena de Santa Apolônia; 06 –
de Sta. Bárbara; 07 – do Senhor Bom Jesus de Matosinhos e da Santa Cruz; 08 – de S. Caetano; 09 – de Nossa Senhora do Carmo; 10 – de Santa Catharina; 11 – da Imaculada
Conceição; 12 – Setenário de Nossa Senhora das Dores; 13 – Novena de S. Domingos; 14 – do Divino Espírito Santo; 15 – de Sto. Elias; 16 – de Sta. Filomena; 17 – de S.
Francisco de Paula; 18 – S. Francisco de Salles; 19 – S. Francisco de Assis; 20 – do Menino Deus; 21 – de S. Januário; 22 – de S. João Batista; 23 – S. João Evangelista; 24 –
de S. João Nepomuceno; 25 – de S. Joaquim; 26 – de São José; 27 – de Sta. Isabel; 28 – de Sta. Maria Madalena; 29 – de Sta. Rita de Cássia; 30 – de S. Pedro e S. Paulo; 31 –
de Sta. Luzia; 32 – de N. Sra. das Mercês; 33 – de S. Roque; 34 – de S. Sebastião; 35 – de Sta. Quitéria; 36 – de N. Sra. do Rosário; 37 – de S. Luiz Gonzaga.
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Para as indicações de Tipo de Estrutura e outras características, vide Tabela 2a.
21
40 – Novena da Purificação de Maria Santíssima; 41 – da Anunciação de N. Sra.; 42 – de N. Sra. dos Prazeres;
43 – da Pureza de N. Sra.; 44 – da Assunção de N. Sra.; 45 – do Puríssimo Coração de Maria Santíssima; 46 – do
Santíssimo Coração de Maria; 47 – Geral para todas as festas e invocações de Maria Santíssima.
22
Para as indicações de Tipo de Estrutura e outras características, vide Tabela 2a.
23
38 – Novena para o Adorável Mistério da Ascensão do Senhor; 50 – da Sagrada Paixão e morte de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
9
24
Para as indicações de Tipo de Estrutura e outras características, vide Tabela 2a.
25
39 – Novena do Santíssimo Coração de Jesus; 48 – de Todos os Santos; 49 – Geral para qualquer Santo.
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Observando as minorias...
A Tabela 6 inclui as estruturas dos casos com uso exclusivo de liturgia (L) ou para-
liturgia (PL).
Conclusões preliminares
Cruzando os dados recolhidos, pode-se concluir que:
a) A prática devocional realizada nas paróquias soteropolitanas, se concentra
majoritariamente nas modalidades de Tríduos e Novenas mantendo a tendência histórica;27
b) Dita prática se distribui eqüitativamente entre costumes e estruturas pré e pós-
conciliares, cada uma ligada a tradições mais ou menos antigas na história da Bahia;
c) As estruturas incluem partes ou seções relativamente comuns à maioria das
manifestações pesquisadas, cuja ordem funcional permite vislumbrar a eventual definição de
tendências nos usos e costumes de outros aspectos relacionados;
26
Congregação vinda a Salvador em 1933 desde Santo Amaro (BA) para ocupar o Convento e tomar conta da
Igreja de São Raimundo (originariamente pertencente à ordem mercedária como o era o santo), segundo
informou a irmã Iolanda em entrevista gentilmente concedida ao autor e à sua bolsista em Agosto de 2003.
27
Estes valores estão sendo atualmente questionados devido à estratégia pastoral Redentorista recentemente
detectada. Um visita realizada em 16 de março de 2003 ao sitio virtual da Igreja de São Lazaro
<http://www.ressureicaodosenhor.com.br> a cargo dos Redentoristas, mostra a grande preferência da
modalidade Tríduo do tipo LPL (de natureza eucarística) nas atividades que essa paróquia desenvolve. No
entanto, o pároco não concedeu entrevistas ao nosso projeto de pesquisa até agora.
12
Bibliografia
ALMANACH Civil, Político, e Commercial da Cidade da Bahia para o anno de 1845. Bahia:
M. Antonio da Silva Serva, 1844. Edição Fac-similar. Salvador: Fundação Cultural do
Estado da Bahia, 1998.
BRISBANE, Archdiocese of. What is Liturgy? The Liturgical Commission: Liturgy Lines. 18
de Julho de 2004. Disponível em: <http://www.litcom.net.au/liturgy_lines/
displayarticle.php?llid=321>. Acessado em 20 de setembro de 2004.
CASTAGNA, Paulo Augusto. “O estilo antigo na prática musical religiosa paulista e mineira
dos séculos XVIII e XIX”. Tese de doutorado, 3 vols., Universidade de São Paulo,
2000.
COTTA, André Guerra. “Para além das barras duplas: uma reflexão preliminar sobre as
práticas musicais nas novenas dos séculos XVIII e XIX”. Monografia de
Especialização em Musicologia. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte, 2001.
HILGERS, Joseph. “Novena” In The Catholic Encyclopedia, Volume XI. New York: Robert
Appleton Company, 1911. Online Edition 2003 by Kevin Knight. Transcribed by
Herman F. Holbrook. Disponível em: <http://www.newadvent.org/cathen/
11141b.htm>. Acessado em: 30 de Setembro de 2003.
NEVES, José Maria. Catálogo de Obras. Música Sacra Mineira. Rio de Janeiro: FUNARTE,
1997.
RÖWER, Basílio. Dicionário litúrgico para o uso do Revmo. Clero e dos fieis. Petrópolis:
Vozes, 1928.
SOTUYO BLANCO, Pablo. “Novena para o Snr. Bom Jezuz dos Navegantes”: mais uma
obra de Barbosa de Araújo, Revista Eletrônica de Musicologia, v.7, 2002. Disponível
em: <http://www.humanas.ufpr.br/rem/REMv7/Blanco/blanco.html>. Acessado em:
30 de Setembro de 2003.