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RESUMO ABSTRACT
Este trabalho discute o papel da Geografia da This research discusses the role of the Geography
Saúde ao longo da história seja aquela Medicina of health along the history; it covers not only the
Geográfica fazendo a descrição de doenças ou Geographic medicine that describes the illness,
a Geografia Médica cujos estudos estão ligados but also the medical geography in which studies
as políticas governamentais. Na década de 1980, are connected to the governmental policies. In
a Geografia da Saúde vem com abordagens the 1980s the Geography of Health emerges with
críticas e de cunho social, e incorporando novas a social critical approach, which includes
ferramentas como o SIG. A área de saúde tem introducing new tools such as the GIS. The area
feito várias iniciativas para a implantação do SIG, of health has made several initiatives to introduce
seja através de parcerias entre órgãos do sistema the GIS, such as partnership with the health-care
único de saúde, seja com prefeituras e universi- system, the town hall and universities,
dades: intercâmbio de bases cartográficas, téc- exchanging of cartographic bases, techniques,
nicas, metodologias e capacitação de pessoal. methodology and workforce training. The
Os estudos geográficos nas últimas décadas têm geographic study in the last decades has
destacado em suas discussões as temáticas ter- highlighted in its discussion the territorial and
ritorial e espacial e assim tem estado na pauta spatial thematic and it has been the main topic
das principais discussões geográficas. No que se in the Geographic discussion agenda. Concerning
refere aos trabalhos em relação à saúde, espe- about the research in the area of health especially
cialmente no planejamento da mesma, os espe- in its planning, specialists of the area have noticed
cialistas nesta área tem notado a interferência an expressive interference of the territory in their
significativa do território em suas ações. actions.
das afirmações de Ferreira (2001) no curso “Tópicos Em Ferreira (op. cit.) novamente cita Sobral (op.
de Geografia Médica” que expõe: Sobral em 1988 cit.), demonstrando as diversas linhas de pesquisa
elabora um breve histórico da Geografia Médica, desenvolvidas nos Estados Unidos em Geografia
considerando que em séculos passados, esses Médica: análise dos padrões de distribuição espacial
estudos preocupavam-se apenas com a localização e temporal das doenças, mais diretamente ligada
de ocorrências epidemiológicas, não havendo mui- à estatística e à Geografia quantitativa; acrescenta-
tas preocupações com o desenvolvimento de meto- ríamos, ainda, a contribuição da cartografia temá-
dologias geográficas. Esses estudos baseavam-se tica; mapeamento de doenças por computação
normalmente na descrição de doenças de acordo envolvendo variáveis múltiplas; os sistemas de infor-
com os locais de ocorrência mais comuns, ou seja, mação geográfica – SIGs – produzem trabalhos nessa
realizava-se uma cartografia da presença de ve- linha; ecologia das doenças, mediante estudos
tores e das patologias associadas. baseados em análise sistêmica, com a finalidade de
identificar os padrões de causalidade das patologias
No Brasil, os primeiros estudos científicos que
nos diferentes contextos ambientais; observamos
relacionaram a ocorrência de doenças e o meio am-
que esta linha associa-se aos estudos de cunho
biente foram elaborados por médicos sanitaristas
biogeográfico e aplicação de conceitos geográficos
e epidemiologistas. Esses estudos faziam parte da
ao planejamento, para localização e administração
Medicina Geográfica, e não propriamente aos estu-
de serviços de assistência médico-hospitalar.
dos de Geografia Médica, que se resumiam a indicar
áreas de distribuição de patologias transmitidas por No Brasil, os estudos em Geografia Médica nor-
vetores, como por exemplo, a malária, esquistos- malmente consideravam aspectos sócio-culturais e
somose, doença de chagas, filariose, leishmaniose, econômicos, principalmente ligados à polarização
hanseníase, parasitoses intestinais e diversos tipos e ocupação do território, baixo nível de vida da
de viroses. população e aspectos ligados à mobilidade, que se
Com a descoberta da penicilina no início do sécu- inserem nas pesquisas, como fatores que contri-
lo XX, os estudos em Geografia Médica passaram buem para a ocorrência, ou mesmo, o agravamento
por um período de crise, pois a preocupação passou de doenças.
a ser o desenvolvimento de ações de combate ao Nos anos 1970 houve um retorno de diversos
agente etiológico, deixando-se de lado, estratégias estudos relacionados às doenças endêmicas, como
de controle ambiental. Acreditava-se que os anti- exemplo, a malária, que vinha se proliferando, devi-
bióticos e biocidas seriam capazes de eliminar os do ao movimento de exploração dos garimpos e
agentes de doenças, à medida que foram se com- diversas ocupações de frentes pioneiras.
provando a ausência de perspectivas de controle
dos mesmos e com o surgimento de novas patolo- Nesse período, verificam-se alguns estudos den-
gias resultantes de condições ambientais, como, a tro da Geografia Médica com avaliações da impor-
poluição e degradação, retomaram-se os estudos tância do clima, relevo, hidrografia, paisagem e
ambientais, muito mais sistematizados. também, formas de habitação, aspectos culturais
e humanos, como o de Lacaz et. al (1972), porém,
Particularmente no Brasil, os estudos em Geo- eram análises fragmentadas, não apresentavam
grafia Médica na década de 1950 (século XX), eram ainda uma visão integradora entre os conhecimen-
desenvolvidos a partir de interesses geopolíticos nos tos médicos e geográficos, contudo, foram estudos
processos de interiorização e integração do terri- representativos, à medida em que estreitaram rela-
tório brasileiro. Esses estudos eram desenvolvidos ções entre a Epidemiologia e a Geografia.
em áreas estratégicas como as regiões norte e cen-
tro-oeste, onde abriam-se estradas para implan- Nos anos 1980, com o aumento de casos de
tação de projetos hidrelétricos, agropecuários e de doenças, ligados às grandes aglomerações urbanas,
mineração. Tais investimentos eram fomentados pe- como a malária; cólera; dengue; leishmaniose, cujo
lo governo em parceria com o empresariado e sem- ciclo de transmissão evoluiu do ambiente florestal
pre direcionados aos interesses capitalistas, ou seja, para o ambiente periurbano e também peridomici-
atendiam aos interesses da classe dominante. liar; a tuberculose associada a Aids e inúmeros casos
Os estudos em Geografia Médica voltados para Uma destas linhas de pesquisa volta-se para a
a melhoria das condições de saúde da sociedade identificação e avaliação dos fatores de risco –
intensificaram-se a partir de 1982, quando inicia- procura identificar e avaliar populações que se
ram-se alguns encontros sobre Geografia da Saúde, encontram em situação de risco, ou seja, encon-
como o Congresso da União Geográfica Interna- tram-se pela exposição a fatores que possam cau-
cional (UGI) onde instituiu-se definitivamente a mu- sar a doença, a uma situação de vulnerabilidade.
dança do termo Geografia Médica para Geografia Como exemplo, podemos citar as prostitutas e pros-
da Saúde. Esses estudos apontavam para uma titutos, que estão mais suscetíveis à infecção do
abordagem mais crítica, dentro da perspectiva da vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou infecções
Geografia Crítica, com trabalhos científicos que bus- sexualmente transmissíveis (IST) devido à exposição
cavam realmente atender às necessidades da cole- diária na procura de clientes para conseguir traba-
tividade. Nesse momento, os geógrafos passaram lho. Porém existem outros fatores que podem causar
a analisar fatores ambientais e sociais de risco rela- as doenças, tais como: clima com destaque para o
cionando-os com a ocorrência de doenças. clima urbano, vegetação e fauna, coleções hídricas,
densidade populacional, faixas etárias, sexo, mo-
Porém, no final do século XX, os geógrafos inte- bilidade de população (migração, imigração e emi-
ressados na Geografia da Saúde desenvolveram gração), aspectos culturais, padrão de vida e padrão
diversas pesquisas relacionadas aos aspectos pre- de consumo, grau de instrução, saneamento básico
ventivos, acompanhando paralelamente à implan- e atendimento à saúde.
tação do SUS, com a introdução de estratégias que
objetivassem desenvolver ações em medicina pre- Outra linha de pesquisa é o planejamento dos
ventiva, o que representa uma dificuldade na área serviços de saúde, que representam estudos ligados
de saúde até os dias atuais, pois, normalmente, o a aspectos culturais, sociais e econômicos e que
que se vêem nas unidades básicas de saúde, hos- também investiga a rede de serviços de saúde,
pitais e outros setores afins, ainda é a prática coti- objetivando a melhoria do atendimento à saúde do
diana da medicina curativa. cidadão. Principalmente no que se refere à distri-
buição e serviços ofertados pelos núcleos integrados
Entretanto, em muitas cidades, a exemplo de de saúde (NIS), a capacidade resolutiva de cada
Maringá, podemos considerar avanços representa- unidade básica de saúde (UBS), o recorte territorial
tivos, como, a avaliação de ações epidemiológicas da área de abrangência de responsabilidade desses
e a gestão dos serviços de saúde, direcionados muito núcleos, bem como suas localizações e diversas
mais à prevenção da saúde, do que propriamente atividades desenvolvidas no setor.
a ocorrência de agravos.
Essa linha encontra-se com a Geografia em di-
Essas pesquisas na área de Geografia da Saúde, versas disciplinas: Geografia da População, Geografia
além de contribuir com a análise de fatores am- Urbana, Estudos de Redes e Planejamento Regional e
bientais de risco para as doenças, também colabo- Ambiental. Assegura Barcellos (2003, p. 31): O re-
ram com o desenvolvimento de estratégias para a conhecimento do território consiste em um dos pres-
administração dos serviços de saúde, monitora- supostos da organização dos processos de trabalho e
mento de eventos e novos modelos de prevenção das práticas de vigilância e atenção à saúde, através
e controle de doenças. Como principal ferramenta de uma atuação a partir de uma delimitação territorial
auxiliar para essa nova abordagem podemos consi- previamente determinada. A chamada “territoriali-
derar os Sistemas de Informações Geográficas zação” de atividades de Saúde vem sendo preco-
(SIGs). nizada por diversas iniciativas no interior do Sistema
Único de Saúde (SUS) como o Programa de Saúde da representam uma gama imensa de pesquisas já
Família, a Vigilância Ambiental em Saúde, Cidades publicadas e vêm sendo aplicados em muitos órgãos
Saudáveis e da própria descentralização das ativida- governamentais e não-governamentais, como prefei-
des de assistência e vigilância. turas, secretarias de Estado; ONG e associações.
E complementam Malta et al., (2001, p. 1.189): O objetivo principal é a criação e organização
“[...] a unidade de agregação de dados mais adequada de bancos de dados, captados continuamente, junto
para avaliar o impacto de ações preventivas seria a à rede de atendimento à saúde: Sistema de In-
área de abrangência de postos de saúde”. formação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Infor-
mação sobre Agravos Notificados (SINAN), Sistema
Sobre a importância das políticas públicas Koga
de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), Siste-
(2003, p. 25) também considera que a implantação
ma de Informação de Atenção Básica (SIAB) e ou-
delas a partir do território deve ter como pressu-
tros; conectados a sistemas de análise, a partir dos
postos a retomada da história, cotidiano e cultura
quais se tornam possíveis o gerenciamento e pla-
da comunidade que está inserida nesse território.
nejamento de ações na área de saúde.
Dessa forma, serão desenvolvidas políticas basea-
das em princípios de totalidade (integralidade) va- Entretanto, os dados sobre condições de saúde
lorizando as especificidades ligadas aos aspectos dos indivíduos, somente são obtidos por intermédio
de diversidade da população e relações entre as de inquéritos e censos, ou mesmo, através dos sis-
políticas locais. temas de vigilância epidemiológica. Esses dados re-
presentam características de pessoas e por isso toda
Mendes et al. (1993) “propõem uma represen-
tecnologia e metodologia aplicadas nessa área
tação gráfica interativa com os problemas que se
devem se referir ao território, ou seja, organizar os
distribuem no território, numa tentativa de ordenar
dados de saúde sobre uma representação do espaço
esta situação de acordo com as necessidades e pos-
geográfico, cuja representatividade é englobar na
sibilidades das práticas de intervenção [...]”.
análise os processos sociais e ambientais atrelados
Além dessas questões serem suficientemente a determinação de doenças.
representativas Silva et al. (2001) traz outra dis-
cussão que é aquela sobre: Essa percepção de tra- Assim, as bases cartográficas digitais, que são
balhar de acordo com os problemas no território muitas vezes o produto final de projetos de geo-
traz a intencionalidade e capacidade de determinar processamento, constituem apenas o ponto de
ou influenciar as práticas sanitárias, com o objetivo partida para as análises espaciais de saúde. Para
de mudança para um novo modelo assistencial que isso, têm-se voltado às técnicas de georreferencia-
responda às necessidades e aos problemas de saúde mento de dados (BARCELLOS; SANTOS, 1997; MAL-
da população daquele território, e não apenas à TA et al., 2001), de incorporação de informações
demanda espontânea. ambientais (JONES, 1989; VINE et al., 1997), e de
análise de distribuição espacial de agravos à saúde
Diversas estratégias poderão ser criadas, porém, (BAILEY, 1994; CÂMARA; MONTEIRO, 2001).
o que importa, é incluir o maior número possível de
profissionais do NIS nas discussões e ações. Tomazi Sobre as concepções de território, diversos au-
(1996) “salienta a importância de incluir os servido- tores, tanto da Geografia, como de outras ciências,
res nesse processo” cujo trabalho objetiva trans- desenvolveram conceitos importantes, que vem
formar essas informações em ferramentas de tra- auxiliando nas pesquisas sobre diversos fenômenos
balho, buscando contribuir para esse novo modelo espaciais.
assistencial, de forma a garantir o atendimento às Algumas discussões sobre o conceito de territó-
necessidades da comunidade e sua participação nas rio atentam para a dimensão “natural” ou bioló-
1
tomadas de decisões de projetos a serem executa-
dos, exercendo efetivamente o controle social. 1
Partindo da etimologia da palavra, o território deriva do latim
terra e torium, significando terra pertencente a alguém.
E também, é importante conhecer os estudos Pertencente, entretanto, não se vincula necessariamente à
integrados em SIG aplicados à área de saúde, que propriedade da terra, mas a sua apropriação. Dallabrida (1999).
gica, como define Ardrey (1969, p. 10) que cionamentos, pela delimitação e afirmação do con-
interpreta o território, como “uma área do espaço, trole sobre uma área geográfica. Esta área será
seja de água, de terra ou de ar, que um animal ou chamada território”. E também Souza (1995, p. 97):
grupo de animais defende como uma reserva ex- “O território é um campo de forças, as relações de
clusiva. A palavra é também utilizada para des- poder espacialmente delimitadas e operando,
crever a compulsão interior em seres animados de destarte, sobre um substrato referencial”.
possuir e defender tal espaço”.
Dallabrida (1999) por sua vez, têm a seguinte
Acrescenta Haesbaert (2002, p. 118, 119): preocupação:
Por outro lado, também valorizando essa o conceito de território não deve ser confun-
ligação “natural” com a terra, temos uma ou- dido com o de espaço ou de lugar, estando
tra variante dessa interpretação naturalista muito ligado à idéia de domínio ou de gestão
do território, envolvendo o campo dos sen- de determinada área. Deve-se ligar o con-
tidos e da sensibilidade humana, que seriam ceito de território à idéia de poder. O território
particularmente moldados pela “natureza” é, então, o espaço territorializado, apropria-
ou pela “paisagem” ao seu redor. Esta visão do. É a escala local da escala espaço-temporal.
sobrevaloriza e praticamente naturaliza uma A apropriação pode ser feita de forma con-
ligação afetiva, emocional, do homem com creta ou abstrata, por exemplo, pela repre-
seu espaço. Aqui, o território seria um impe- sentação. A passagem do espaço ao território
rativo, não tanto para a sobrevivência física ocorre num processo de produção do espaço,
dos indivíduos, mas sobretudo para o “equi- na medida em que este é balizado, modificado,
líbrio” e a harmonia homem-natureza, onde transformado por redes e fluxos (rodovias,
cada grupo social estaria profundamente en- circuitos comerciais e bancários, rotas...) que
raizado a um “lugar” ou a uma paisagem, aí se instalam. Falar em território é fazer uma
com a qual particularmente se identificaria. referência implícita à noção de limite, que
Esta versão chega a seu extremo em algumas mesmo não estando traçado, como em geral
sociedades tradicionais em que uma natureza ocorre, exprime a relação que um grupo
sacralizada, “morada dos deuses”, determina mantém com determinado recorte espacial.
a própria existência e a ação humanas.
Verifica-se que independentemente do foco
Dentro de uma visão econômica, pode-se men- analisado, seja político, econômico ou natural, os
cionar a opinião de Godelier (1984, p.112) que conceitos e discussões que envolvem o território,
considera território: têm em comum, a relação de poder, de perten-
cimento, ou seja, expressa a idéia de dominação.
Uma porção da natureza e, portanto, do es-
paço sobre o qual uma determinada socieda- A Geografia vêm buscando algumas discussões
de reivindica e garante a todos ou a parte de sobre o território, dentro de uma perspectiva inte-
seus membros, direitos estáveis de acesso, gradora, muitas vezes até utópica, porém, neces-
de controle e de uso com respeito à totalidade sária para buscar alternativas na tentativa de mini-
ou parte dos recursos que aí se encontram e mizar problemas identificados na sociedade atual.
que ela deseja e é capaz de explorar.
Dentro dessa visão integradora, alguns autores
Politicamente interpreta Gottman (1952, p. 71): vêm proporcionando contribuições importantes,
“O conjunto de terras agrupados em uma realidade como é o caso de Chivallon (1999, p. 5) que con-
que depende de uma autoridade comum e que goza ceitua: “O território é uma espécie de “experiência
de um determinado regime [...] um compartimento total” do espaço que faz conjugar-se num mesmo
do espaço politicamente distinto”. Ou mesmo Sack lugar [continuidade] os diversos componentes da
(1986, p. 6), que traduz: “A territorialidade é a ten- vida social [“totalidade”]: espaço bem circunscrito
tativa do indivíduo ou grupo, de atingir/afetar, in- pelo limite entre interior e exterior, entre o Outro e
fluenciar ou controlar pessoas, fenômenos ou rela- o semelhante [distinção clara dentro-fora]”.
exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- mentos, divisões internas e organização dos códigos
tística (IBGE), Agência Nacional de Águas (ANA), Insti- de logradouros objetivando o planejamento urbano,
tuto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) e Instituto mas, principalmente a arrecadação de impostos.
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
São bases de alcance nacional e normalmente Essa observação sobre o meio ambiente deve
distribuídas em CD-ROOM. Muitos desses dados são estar comprometida com a totalidade salientando
fundamentais para estudos na área de saúde: uso aspectos físicos da área, como topografia, condi-
do solo, relevo, vegetação, hidrografia, malha viária ções e densidade das habitações, sistema de dre-
e diversas divisões político-administrativas. nagem, eventual presença de esgoto a céu aberto,
acúmulo de lixo, córregos, e outros aspectos visíveis
No Brasil, várias iniciativas têm sido introduzidas que indiquem diferenças nas condições de vida
nos diversos setores para a incorporação do SIG na entre os residentes da área.
área de saúde, através de parcerias entre órgãos
do sistema único de saúde (SUS), prefeituras e uni- A partir das discussões do território apresentadas
versidades: intercâmbio de bases cartográficas, téc- anteriormente e que objetivam atingir um conceito
nicas, metodologias e capacitação de pessoal. integrado é fundamental compreender a relação
de multiplicidade entre os diversos territórios. Nesse
Na área de saúde, o Ministério da Saúde (MS) sentido, sintetiza Haesbaert (2002, p. 121) sobre a
em parceria com a Organização Pan-Americana da realidade dos múltiplos territórios atualmente esta-
Saúde (OPAS) vem articulando a Rede Interagencial belecidos: O território é resultado de relações desi-
de Informações para a Saúde (RIPSA), objetivando guais de poder que envolvem o controle político-
a integração de inúmeras instituições que desen- econômico do espaço e sua peculiar apropriação,
volvem projetos dentro da produção e análise de em alguns momentos combinado, em outros,
dados, buscando parcerias e intercâmbios para o completamente desarticulado. Como na atualidade,
aprimoramento dos diversos estudos no Brasil. vivemos a atuação de múltiplos territórios, ora nos
deparamos com determinada territorialidade, ora
Para a área de saúde, o mapeamento de doen- com outra, tendo as referências e controle espaciais,
ças, a avaliação de riscos, as redes de atenção e o percorrido diversas escalas de poder e também de
planejamento dos serviços, são alguns dos bene- identidade.
fícios destes métodos e tecnologias utilizados nos
SIGs. Embora estejam ainda em fase de experimen- Esse reconhecimento contribuirá efetivamente
tação, não se deve desconsiderá-las podendo com- com subsídios para estabelecer-se uma delimitação
prometer a utilização dessas técnicas na área. Com do recorte territorial de área de abrangência coe-
esses pressupostos, alguns aspectos são relevantes rente com a realidade do local, objetivando assim,
como a aplicação da tecnologia sem qualquer minimizar aspectos identificados como barreiras de
investigação sobre os problemas de saúde existen- acessibilidade aos serviços de saúde.
tes, pode resultar na aplicação de procedimentos
cuja funcionalidade pouco se identifica com o coti- Nessa direção, a multiplicidade de territórios,
diano dos serviços de saúde ligados às comunidades cuja interpretação requer o domínio teórico-me-
e; a ausência de meios de coleta e análise de dados todológico para que o objeto em estudo tenha bases
espaciais poderá dificultar a própria manipulação no mínimo em uma perspectiva cultural, das espe-
de dados. cificidades e dos valores estabelecidos no local, são
significativas para qualquer estudo e em especial
Nos municípios, também se verificam importan- para os estudos que envolvam a saúde das
tes produções de bases cartográficas, como: arrua- populações.
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