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A multidão não ouvia muito bem todas as palavras do Mestre, mas sabê-lo
vivo e são era, na altura, quanto lhe bastava. Sabê-lo salvo das mãos dos
homens de Leonor Teles era, para toda a gente, o essencial.
– Povo honrado desta cidade de Lisboa! – gritava o Mestre, da janela do
Paço. – Acalmai vossos temores que a minha hora ainda não chegou! Estou
vivo, amigos, e o conde de Andeiro é morto!
A gritaria foi então enorme. Homens e mulheres erguiam bem alto varapaus
e escadas, molhos de lenha e carqueja, pedras e madeira, tudo lhes servindo
para vitoriarem o mestre.
– Como sabeis, a rainha D. Leonor....
O povo interrompeu de imediato aos gritos de «morra!», «fim à traidora!»,
«fora com a barregã!». Mas o Mestre ergueu os braços pedindo silêncio e um
pouco mais de paciência.
– Povo desta cidade! D. Leonor foi mulher de meu irmão e vosso rei D.
Fernando, de saudosa memória. D. Leonor é neste momento; rainha regente
deste reino, que assim o mandam as leis. Vós sois gente honrada, e gente
honrada não pede a morte de ninguém...
– Só se não calhar... – bichanou entredentes um homem com cara e
varapau de poucos amigos, mesmo junto de Mafalda, que até se encolheu só
de vê-lo. Mas, impassível, o Mestre continuava, do alto da janela:
– ... gente honrada só pede que a governem com leis justas, e com gente
sua. D. Leonor Teles está no lugar onde deve estar...
– Até ver... – tornou o mesmo homem, e de novo Mafalda se encolheu.
– ... e nós viemos aqui apenas para a fazer entrar na razão. Para lhe
fazermos ver a loucura de entregar este reino a sua filha Beatriz, casada com
um rei estrangeiro. Pois não se está mesmo a ver que, uma vez chegada a
maioridade de D. Beatriz e terminada a regência de D. Leonor, o rei de Castela,
através de sua mulher se tornaria rei de Portugal?!.
Novamente um clamor de «morras» se ergueu daquele povo que, apesar do
frio de Dezembro, não arredava pé.
– Torno a dizer-vos, honrados cidadãos de Lisboa: não queremos que
ninguém morra, queremos todos nos seus devidos lugares – os Castelhanos
em Castela, os Portugueses em Portugal!
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Temores_____________________________________________________
Clamor______________________________________________________
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