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MODELOS

COMPORTAMENTAIS E
MODELOS COGNITIVOS
2017/2018
MODELOS COGNITIVOS

O foco é cognitivo. Interesse em ver o que se passa no interior da pessoa.

Anos 50/60/70 – Ellis e Beck: quando foram testar empiricamente o modelo psicanalítico não encontraram
diferenças entre pessoas que recebiam intervenção e aquelas que não – insatisfação – Beck desenvolveu outro
modelo.

Ellis e Beck vão contribuir com conceitos e desenvolver terapias cognitivas que vão encaixar nas
comportamentais – fusão.

“Revolução Cognitiva” – Modelo do processamento de informação (modelo onde Beck se vai basear):
processamos toda a informação, não respondemos só aos estímulos (selecionamos informação).

O que tem impacto é a maneira como vemos os acontecimentos, o sentido que lhes damos, não a realidade em
si – filtragem da realidade.

Psicologia Cognitiva

U. Neisser (1967, p. 4) [cf, e.g., Styles, 2005, p. 14]:

A cognição está envolvida em tudo o que um ser humano possa fazer ... todo o fenómeno psicológico é
um fenómeno cognitivo.

Definição “clássica” de U. Neisser:

• Cognição refere-se a todos os processos através dos quais o input sensorial é transformado, reduzido,
elaborado, armazenado, recuperado e utilizado.

• A psicologia cognitiva preocupa-se com estes processos, mesmo quando eles operam na ausência de
uma estimulação externa relevante, como no caso de imagens e alucinações.

• Termos como sensação, perceção, retenção, resolução de problemas e pensamento (thinking), entre
outros, referem-se a aspetos ou estágios hipotéticos da cognição.

ABORDAGEM DO PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO

• Broadbent (modelos de atenção), em 1958, propôs uma nova conceção do desempenho humano em termos de
processamento da informação.

• O ser humano é visto como um processador ativo de informação (quer da que chega através dos sentidos,
quer daquela que é gerada internamente a partir do conhecimento armazenado).

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• Para tentar explicar os processos cognitivos, utiliza-se como analogia a ciência dos computadores/metáfora
do computador.

• O processamento de informação é um conceito central da psicologia cognitiva, para o estudo da memória,


linguagem, pensamento, perceção, reconhecimento de padrões, atenção, etc.

• Esta abordagem assume que a perceção, a memória, a atenção, etc, não são resultados imediatos da
estimulação, mas antes ocorrem como resultado do processamento da informação ao longo do tempo (não são
resultados diretos da estimulação externa).

Os vários processos cognitivos (ex.: atenção, memória, perceção) podem ser diferenciados, mas todos envolvem
três estádios:

• Input – receção ou registo da informação


• Tradução (translation) – manipulação da informação; pode envolver categorizar dados, armazenar
dados, interpretar dados, etc [o processo de tradução é específico de cada atividade cognitiva]
• Output – resposta à informação (resultado final)

Ex.: no caso da atenção, o processo de tradução (translation) envolve uma análise física, seguida de uma análise
semântica dos dados.

(Lund, 2001)

A delimitação dos processos é artificial, para fins de investigação, dado que operam em conjunto.

A resposta é o resultado de um processamento de informação que faço acerca das situações, não é resultado
direto da estimulação.

O processamento de informação humano tem sido dividido em vários estádios hipotéticos, envolvendo processos
cognitivos diversos (Styles, 2005), p.ex.:

• selecionar determinada localização do ambiente ou aspeto dos dados dos sentidos para posterior
processamento – envolve processos atencionais
• a codificação (encoding) da informação a que prestámos atenção – tem a ver com processamento
percetivo
• entretanto, o reconhecimento implica que os dados que nos chegam através da atenção e da perceção
correspondam a representações do conhecimento armazenadas na memória.

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Há possíveis interações entre os estágios de processamento. O funcionamento total do cérebro consiste em
realizar tudo ao mesmo tempo, p.ex., atender, percecionar e recordar.

A nossa capacidade de processar informação tem limites: filtragem de informação – há várias formas de o fazer
(cada estimulação pode dar origem a respostas diferenciadas).

Processamentos em série (sequencial) e paralelo:

• processamento seriado ou em série (serial processing)


o a informação seria processada passo a passo, de acordo com uma sequência
o ex.: modelo do filtro para a atenção de Broadbent
o só passo para a etapa seguinte se processar a anterior
• em analogia com os computadores mais modernos, noção de processamento paralelo
o Processamento de 2 ou mais inputs ao mesmo tempo – dependendo da prática e dos recursos
requeridos ((dis)semelhança)
o ex.: modelo modular da atenção (module model of attention) de Allport
o simultâneo, depende da prática que tenho nas tarefas
o ex: condutor que está a conduzir e atento a uma conversa
o consigo fazer duas tarefas simultâneas se não competirem pelos mesmos recursos e se tiver
bastante prática nestas

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Processamento controlado e processamento automático:

• Determinadas informações são manipuladas de modo consciente, p.ex., quando resolvemos problemas
de aritmética e conseguimos descrever os passos que damos – processamento controlado (também
designado por estratégico) [ter consciência de todos os passos e elementos da tarefa, ocupa todos os
recursos atencionais, é mais lento, assegura bons desempenhos, flexível, permite corrigir situações; ex:
quando aprendemos a tocar música]
• Outras são manipuladas sem controlo consciente, p.ex., quando dizemos “olá” a um amigo não
conseguimos explicar como “encontrámos” a palavra ou como a pronunciámos – processamento
automático [não é flexível, desencadeado por situações específicas – inevitável, não usa recursos
atencionais, não requer consciência, rápido]

Características [consensuais] dos processos automáticos:

• mais rápidos do que os processos que requerem controlo consciente [voluntário]


• realizam-se sem esforço (“effordless”), dispensando que se pense sobre eles
• Envolvem reduzida ou nenhuma consciência [controlo voluntário]
• são inevitáveis no sentido em que são ativados por determinados estímulos internos ou externos (não são
iniciados de modo consciente [voluntário])

(Eysenck & Keane, 2005; Lund, 2001)

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Processamento controlado ou estratégico:

• consciente
• governado pelas intenções
• requer esforço
• opera sequencialmente e com capacidade limitada
• mais acessível à consciência e mais flexível, permitindo-se ser ativado, alterado e adaptado para lidar
eficazmente com situações novas para as quais os processos automáticos não foram desenvolvidos

Processamento bottom-up e top-down

Processamento bottom-up [ascendente]:

• originado/orientado por estímulos (stimulus-driven); diretamente afetado pelo input sensorial.


• direção do processamento: dos dados dos sentidos para estágios posteriores
• sobretudo guiado pela estimulação externa

Processamento top-down [descendente]:

• originado/orientado por conceitos; conceptualmente orientado; afetado pelo conhecimento


existente ao longo de experiências passadas
• as nossas expectativas influenciam o modo como interpretamos os dados dos sentidos.
• Ex.: ouvir uma conversa num local barulhento; o estímulo som percecionado é recebido em más
condições e com lacunas, mas o nosso conhecimento da linguagem permite completar o que não
ouvimos e seguir a conversa facilmente.
• o que faço está a ser guiado pelo que já sei

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Característica comum a todos os mecanismos de processamento de informação: limitação na capacidade de
processamento.

Exemplos:

1. Os limites da sensação/perceção [filtros inerentes aos órgãos dos sentidos]

“Existimos num mar de energia. (…) suportamos o impacto dos raios X e das ondas de rádio, dos ultravioletas e
infravermelhos, das ondas sonoras de frequência muito baixa e muito alta. Mas somos cegos e surdos a todos
esses efeitos. (…) as nossas janelas para o mundo estão apenas entreabertas e permitem-nos apenas um
conhecimento limitado desse vasto mar de estímulos” (Myers, 1994, p. 136).

Ex: espetro
eletromagnético e luz
visível ao olho humano

Só é possível uma perceção de cada vez…. E os mesmos estímulos podem


associar-se a mais do que uma única interpretação.

2. Os limites da atenção

Não há uma atenção, mas sim várias formas de atenção. Uma das mais importantes é a atenção seletiva ou
focalizada.

Os recursos atencionais são limitados.

Exs.: contar o número de “passes” da bola de basquete, na equipa de t-shirt branca – experiências sobre o
“gorila invisível” de Chambris e Simons.

3. Os limites da memória

Exs.: capacidade da MCP, M = 7 ± 2

persistência da MCP, ≤ 30 seg.

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falsas memórias e distorções mnésicas (MLP)

Característica comum a todos os mecanismos de processamento de informação: limitação na capacidade de


processamento.

Quantidade imensa de informação disponível

Limitação de capacidade de processamento

Competição entre informação a ser processada

=> Existência de mecanismos de que determinam a seleção da informação a ser processada

=> heurísticas e enviesamentos

Conceito de esquema

 Kant (1787): Esquema – dirige a nossa experiência; estruturas inatas para a organização da nossa
perceção do meio ambiente
 Bartlett (anos 1930): Interessado pelo estudo da memória, verificou que as pessoas frequentemente
adicionam ou eliminam detalhes para tornar nova informação mais consistente com a sua conceção do
mundo de expetativas prévias. Vai procurar explicar a memória humana através da noção de esquema.
 Piaget: Utilizou o conceito de esquema para entender as mudanças que ocorriam no sistema cognitivo
das crianças. Conceitos de assimilação e acomodação.
o O processo mais habitual é o de assimilação (domina).

Nos anos 70 o conceito de esquema ressurgiu como um interesse dominante na Psicologia Cognitiva.

Na psicologia clínica, A. T. Beck vai usar o conceito de esquema para explicar a psicopatologia e desenvolver
a terapia cognitiva [o conceito de esquema é central em Beck – esquemas não só intelectuais, de conhecimento
(podem ser abstratos); ajudam a interpretar a realidade mais depressa, mas pode gerar enviesamentos].

 Utilizado para explicar a organização mental


 Estrutura cognitiva
 Conjunto estruturado de informação e conceitos, utilizado para representar acontecimentos, sequências
de acontecimentos, situações, relações e objetos
 Níveis diferentes de abstração (do + geral ao + específico)
 Usados para organizar e dar sentido à nossa experiência
 Construídos no curso da interação com o meio
 Armazenam e organizam experiências passadas e guiam a nossa perceção e experiência
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 Não são uma representação fiel de um acontecimento, mas uma representação abstrata do seu
significado
 A sua ativação é automática e espalha-se a níveis mais abstratos
 Uma parte da informação contida no esquema é suficiente para o ativar e aumenta a probabilidade
de ser ativado em situações posteriores
 A ativação de um esquema inibe a ativação de outros esquemas que compitam para interpretar aquela
informação, para que seja possível uma interpretação sem interferência
 A interação entre o ambiente/contexto e o esquema afeta a perceção e a memória

Pode conceber-se vários “tipos” de esquemas. Um dos mais conhecidos:

Schank & Abelson, 1977 – «guiões» ou «scripts»:

• representam a sequência de ações que são levadas a cabo durante uma determinada situação
social (ex.: ida ao restaurante), bem como objetos e pessoas que habitualmente estão presentes nesse
contexto.

• estes guiões permitem-nos preencher muitos detalhes que não são explicitados quando alguém
nos conta algo sobre um evento.

Ex.: "ontem comemos uma galinha tondori no Taj Mahal. O serviço foi extremamente demorado
e quase perdemos o início do teatro". Só podemos compreender esta frase de possuirmos determinados
esquemas (sobre a Índia, idas a restaurantes, a teatros, ...).

Por outro lado, quando se pede a alguém para recordar uma passagem de um texto referente
a uma ida ao restaurante:

- elas recordam falsamente aspetos que não foram explicitados, mas que são consistentes com
o seu «script» de restaurante

- podem modificar a ordem dos acontecimentos, por forma a torná-los consistentes com o seu
«script»

Cognição e emoção

É possível que as emoções resultem de avaliações cognitivas dos acontecimentos, mas que os processos envolvidos
no desencadear destas emoções sejam automáticos e não conscientes.

As perturbações emocionais podem ser conceptualizadas como o produto de avaliações não conscientes, que se
tornaram suficientemente fortes para se sobreporem às nossas tentativas conscientes de as controlar.

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A experiência emocional não está confinada a reações emocionais automáticas e rápidas, mas também depende,
em certa parte, da avaliação consciente da situação, dos recursos pessoas para lidar com ela e da causa da
situação. Estas cognições mais conscientes conduzem à diferenciação de estados emocionais (ex: orgulho, culpa).
Estão num contínuo de elaboração cognitiva.

O modelo de processamento de informação não exclui componentes não cognitivos e não os vê como secundários.

Cognição, emoção, comportamento e biologia são quatro faces da mesma moeda.

Principais bases sobre as quais se desenvolveram as terapias cognitivas

 modelos comportamentais (e.g., Bandura)


 modelos psicodinâmicos – insatisfação (e.g., Ellis e Beck)
 “revolução cognitiva” na psicologia (sobretudo o modelo do processamento da informação)

Evolução do Modelo Cognitivo-Comportamental

 Fusão entre a terapia do comportamento e a terapia cognitiva


 Bases filosóficas da terapia cognitiva:
o Epictetus
 “Os homens não são perturbados pelas coisas mas pelas opiniões que têm delas”
o Cícero
 “O desconforto não depende da realidade objetiva das coisas mas do julgamento
subjetivo da mente”
 “as perturbações da mente são produto de avaliações erróneas”

Fundações históricas, filosóficas e científicas

Proposições fundamentais subjacentes às terapias cognitivo-comportamentais:

1. a atividade cognitiva afeta o comportamento


2. a atividade cognitiva pode ser monitorizada e alterada
3. a mudança comportamental almejada pode ser alcançada através da modificação cognitiva (a
modificação comportamental é mediada pela modificação cognitiva – hipótese mediacional)

Terapia cognitiva – pressupostos fundamentais

 A capacidade de processar a informação e formar representações cognitivas do meio ambiente é


fundamental para a adaptação e sobrevivência.
 A cognição, afeto e comportamento são construtos reciprocamente determinados e interativos
 A cognição é acessível e identificável existindo diferentes níveis de cognição e acessibilidade.
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 A mudança cognitiva é central no processo de mudança humana.

Principais terapias cognitivo-comportamentais segundo Dobson & Dozois (2010)

 Terapia Racional Emotiva/Terapia Racional Emotiva Comportamental (RET/REBT TREC) de Albert Ellis
 Terapia Cognitiva de Aaron T. Beck
 Treino Autoinstrucional de Donald Meichenbaum
 Paradigmas do Autocontrolo (autoeficácia; autocontrolo, autorregulação)
 Treino de inoculação ao stresse de Meichenbaum
 Terapia de Resolução de Problemas (e.g., D’Zurilla e Foldried, 1971)
 Psicoterapia estrutural e construtivista de Guidano e Liorri (1983)
 Terapia cognitivo-comportamental de “terceira-onda”

3 grandes classes de terapias cognitivo-comportamentais

(Mahoney & Arnkoff, 1978, cits. Por Dobson, 2010)

 Terapias de aptidões de coping ou de confronto - focalizam-se no desenvolvimento de um reportório de


aptidões que possa ajudar a pessoa a lidar (cope) com uma variedade de situações de stresse. São
especialmente apropriadas para lidar com problemas externos à pessoa.
 Terapias de resolução de problemas - podem caracterizar-se como uma combinação de técnicas de
restruturação cognitiva e de desenvolvimento de aptidões de coping.
 Terapias por restruturação cognitiva - assumem que o mal-estar emocional é consequência de
pensamentos mal adaptativos
=> objetivo da intervenção: identificar, analisar e desafiar os padrões de pensamento mal adaptativos
e estabelecer padrões de pensamento mais adaptativos.
(especialmente apropriadas quando a perturbação surge internamente à pessoa).

Qualquer destas perspetivas assume a existência de processos internos cobertos, designados por “pensamento”
ou “cognição”, assumindo que estes eventos cognitivos medeiam a mudança comportamental. A cognição muda
o comportamento; a mudança comportamental é indicadora de mudança cognitiva.

No âmbito dos paradigmas da restruturação cognitiva destacam-se a terapia racional emotiva


(comportamental) de Albert Ellis e a terapia cognitiva de Aaron T. Beck. Ambos desenvolveram modelos e
terapias de restruturação cognitiva após experimentarem insatisfação com os resultados terapêuticos de modelos
psicanalíticos.

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RET/REBT/TREC DE ELLIS [TEORIA RACIONAL EMOTIVA COMPORTAMENTAL] –
breve panorâmica

 Proposta por Ellis, após treino e experiência em psicanálise (e insatisfação com a mesma).
 Considerada por muitos como o primeiro exemplo de abordarem cognitivo-comportamental.
 Partilha a visão de Epicteto: Não somos afetados pelos acontecimentos mas pela maneira como os vemos.

Propõe um modelo ABC em que

A = evento ativador (antecedentes/estímulos)

B = crenças (beliefs) (racionais ou irracionais) [são estas que determinam a minha


resposta às situações]

C = consequências = sintomas [podem ser positivas ou negativas]

C = sintomas (e.g., emocionais) são considerados consequência de um B = sistema de crenças irracionais da


pessoa face a A = acontecimentos ativadores.

São as crenças irracionais que contribuem muito para a psicopatologia.

 Sustenta que os seres humanos funcionam com base em crenças, as quais podem ser racionais ou
irracionais.
 Crenças racionais estão relacionadas com estados emocionais negativos mas equilibrados/funcionais,
p.ex.: tristeza; mágoa; pesar; desprazer; aborrecimento
 Crenças irracionais produzem reações emocionais perturbadas, p.ex., pânico, depressão; fúria; etc

(Rangé, 2007)

Foi buscar à filosofia grega ideias.

Não é preciso saber a origem das crenças, não é o foco central da terapia.

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Logo, o objetivo da terapia consiste em identificar e desafiar as crenças irracionais na origem da perturbação
emocional.

Assume que o indivíduo possui tendências inatas e adquiridas para ter pensamentos e comportamentos irracionais.
Logo, para manter um estado de saúde emocional, os indivíduos deverão monitorizar e desafiar os seus sistemas
de crenças básicas.

Ellis (1970) identificou 12 crenças básicas irracionais, i.e., que tomam a forma de expectativas e exigências
irrealistas ou absolutistas (rígidas). A sua substituição por desejos ou preferências realistas conduzirá a mudanças
emocionais e comportamentais. Contudo, os indivíduos tendem a preservar os seus padrões de pensamento
irracional, por isso são necessários métodos de intervenção.

Exemplos de crenças irracionais identificadas por Ellis:

 Tenho de ser amado e aprovado por todos


 Tenho de ser adequado e competente em tudo, sempre
 É horrível quando as coisas não acontecem como queremos
 As pessoas precisam/dependem de alguém mais forte
 Devo sentir-me em baixo com os problemas dos outros
 Há sempre uma solução perfeita para os problemas humanos

As crenças irracionais podem tomar várias formas (Rangé, 2007 ):

 EXIGÊNCIAS: Tenho de…, Devo sempre…, Deverias….


 «TERRIVELIZAÇÃO» (“awfulizing”): É horrível/terrível…
 «NÃO-AGUENTO-ITE»
 ROTULAÇÃO DE PESSOAS: Avaliar a si (ou outras pessoas) como um todo, p.ex., ‘Sou um
estúpido/inútil/desprezível/desgraçado”
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O pensamento rígido inflexível não é funcional.

Formulação irracional dos nossos desejos - três componentes:

 exigência, i.e., pensamento rígido absolutista (ex.: “tenho de ser bem-sucedido);


 relevância motivacional (ex.: “eu dou o meu melhor para ser bem-sucedido”)
 não aceitação (ex.: “não consigo conceber não ser bem-sucedido”)

Se os acontecimentos corresponderem às minhas exigências (congruência motivacional)  sentimentos positivos,


mas… disfuncionais por reforçarem crenças irracionais.

Caso não consiga sucesso (incongruência motivacional)  segunda vaga de processamento de informação/
avaliação secundária irracional:

 Intolerância à frustração (ex.: “eu não suporto que isto aconteça”): incapacidade de tolerar o fato de
não atingir os meus desejos rigidamente formulados
 catastrofização/ “é horrível ou terrível” (ex.: isto foi o pior que podia acontecer)
 avaliação global: se os meus desejos não foram satisfeitos, então é porque eu/os outros/a vida não
valho/valem nada.

Vs. formulação racional dos meus desejos – 3 componentes:

 preferência flexível Ex.: prefiro ser bem-sucedida e vou fazer o meu melhor
 relevância motivacional para isso, mas consigo aceitar que nem sempre as coisas
 aceitação acontecem como eu gostaria.

Quando eventos ativadores correspondem a desejos racionais (congruência motivacional)  pensamentos


positivos funcionais.

Se incongruência motivacional  2ª vaga de processamento de informação/ avaliação secundária racional,


geradora de consequências negativas, mas funcionais:

 tolerância à frustração – tolerar que as nossas preferências não se realizaram (mesmo sendo
desagradável); é possível encontrar aspetos positivos noutros eventos
 “badness” – reconhecer, de modo não catastrófico, que o que sucedeu foi mau (o que nos permite
procurar experiências positivas por outras vias)
 aceitação incondicional – antídoto contra uma avaliação global (autoestima).
Em vez de uma avaliação global (positiva ou negativa), aceitação de si incondicional avaliando apenas
aspetos específicos e discretos do self (e.g., o que estou a fazer, pensar ou sentir). Aplicar o mesmo aos
outros e à vida em geral.

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A intervenção propriamente dita:

Emprega uma abordagem multidimensional que incorpora técnicas comportamentais, cognitivas e emotivas (ex.:
condicionamento operante; relaxamento; modelamento; treino de aptidões; exercícios de “ataque à vergonha”).

No entanto, a principal ferramenta terapêutica é o “método lógico-empírico de questionamento, disputa e debate


científico” que ajude o indivíduo a vencer as suas crenças irracionais.

D e E correspondem à fase
de intervenção.

Princípios advogados pela REBT, seguindo uma filosofia racional, com vista à felicidade incluem os seguintes
(e.g., Ellis, 1980; Ellis & Bernard, 1985), entre outros:

 Autointeresse/interesse por si (self-interest)


 Auto direção, i.e., autonomia e responsabilização pela sua própria vida
 Tolerância relativamente a si próprio e aos outros
 Flexibilidade
 Aceitação da incerteza
 Compromisso para com interesses vitais (vital interests)/envolvimentos importantes
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 Autoaceitação: aceitação incondicional de si próprio
 Pensamento científico
 Conceber correr riscos

A REBT acredita que um indivíduo que adote este género de filosofia racional experimentará um mínimo de
perturbação emocional.

Figure 1. The expanded ABC model in the general REBT theory. In the restricted form of the ABC model, it includes
only the specific and general rational and irrational beliefs from the “B” component.

MODELO COGNITIVO DE AARON T. BECK

Ao contrário de Ellis, não faz um confronto direto. Desenvolvido nos anos 60.

Médico com formação psicanalítica, desenvolveu o seu modelo cognitivo depois de procurar testar empiricamente
os princípios da psicanálise a doentes deprimidos (sem sucesso). Desiludido e em alternativa…

Desenvolveu um modelo cognitivo da depressão. Gradualmente, alargamento do modelo a outras


perturbações e à psicopatologia em geral.

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Inúmeras obras – exs. livros:

 1967 – Depression: causes and treatment


 1976 – Cognitive therapy and emotional disorder
 1979 – Cognitive therapy of depression
 1985 – Anxiety disorders and phobias: a cognitive perspective.
 1990 - Cognitive therapy of personality disorders (…)
 Até às publicações mais atuais, p. ex.: 2014 - Advances in Cognitive Theory and Therapy: The Generic
Cognitive Model.

Beck imprimiu uma fundamentação empírica e conceptual às terapias cognitivas (e.g., Gonçalves, 1993). O seu
modelo constituiu um núcleo organizador para o desenvolvimento prático e empírico das terapias cognitivas.

Verificou que os pressupostos psicanalíticos sobre a depressão não se confirmaram empiricamente. Em vez de
temas de hostilidade e raiva, Beck encontrou temas de fracasso, derrota, perda. Assim, acaba por propor um
modelo de terapia cognitiva para a depressão com base nos seus estudos empíricos.

Descreveu uma “tríada cognitiva” característica da depressão:

A pressuposição de que não são os acontecimentos em si, mas a maneira como vemos as coisas, é comum aos
modelos cognitivos.

Ao longo dos anos foram sendo estudadas


outras perturbações. Segundo o modelo de
Beck, cada grupo de perturbações mentais
pode ser caracterizado por um
determinado perfil cognitivo.

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Influências no modelo cognitivo de Beck oriundas de várias escolas (cf. Knaupp & Beck, 2008):

1. Psicanálise
 Inspirou a noção de estruturação hierárquica da cognição, entre processos acessíveis e não acessíveis
à consciência
 identificação com psicodinâmicos que se concentravam nas experiências conscientes das pessoas e
na necessidade de abordar os significados que os pacientes atribuíam aos eventos
 Foco nos processos intrapsíquicos (não exatamente no comportamento observável), ainda que a
intervenção propriamente dita (procedimentos terapêuticos) seja mais semelhante à terapia
comportamental.

Contudo, contrariamente ao modelo psicanalítico clássico, Beck foca-se nos problemas presentes das
pessoas (vs. traumas escondidos passados - psicanálise) e na análise de experiências psicológicas
acessíveis (vs. inconscientes – psicanálise). Além disso, considera que os significados são “idiossincráticos”
(são próprios de cada pessoa) (vs. universais - psicanálise).

2. Abordagem fenomenológica-humanista da psicologia – ênfase na experiência subjetiva consciente


3. Filosofia grega estoica: conceitos de que os seres humanos são perturbados pelos significados atribuídos
aos factos (e não pelos factos em si mesmos)
4. Karl Roger - terapia centrada no cliente: inspirou o estilo terapêutico de “questionamento gentil” e
aceitação incondicional da pessoa
5. Ciências cognitivas e psicologia cognitiva: p.ex., abordagem do processamento da informação; Kelly
(teoria dos construtos pessoais) e Piaget (conceito de esquema; perspetiva construtivista
desenvolvimental)
6. outros terapeutas cognitivos/cognitivo-comportamentais: o Lazarus (teoria cognitiva das emoções); o
Goldfried e D’Zurilla (abordarem de resolução de problemas); o Bandura e Meichenbaum (modelos de
auto-regulação)
7. Terapias comportamentais: Influência decisiva em vários procedimentos e estratégias terapêuticas (ex.:
estruturação das sessões; papel ativo do terapeuta; estabelecimento de objetivos; prescrição de TPC e
experiências entre sessões; monitorização dos progressos terapêuticos).

Indivíduo visto como um processador ativo de informação:

O confronto com (ou a leitura da) realidade envolve constantemente uma seleção, armazenamento,
procura/busca e recuperação de informação [processos cognitivos, nomeadamente de atenção e de memória].
=> reagimos sobretudo às nossas representações da realidade.

Assim como uma câmara fotográfica reduz o número de dimensões da realidade e salienta determinados aspetos
em detrimento de outros, as características especificas da organização cognitiva têm uma influência determinante

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na maneira como a realidade é percebida, representada e, logo, na maneira como a ela reagimos ou
respondemos (Beck, Emery & Greenberg, 1985).

Não estamos permanentemente a avaliar todos os aspetos da realidade. Experiências passadas influenciam o
modo como se reage a cada nova situação, orientando a pessoa sobre o que ela pode esperar e qual a melhor
forma de lidar com a situação do ponto de vista da sobrevivência [processamento top-down]. Trata-se de um
processo bastante adaptativo.

Supõe-se que face a cada configuração de estímulos do meio, são ativadas as estruturas cognitivas supostamente
apropriadas, que ajudam a selecionar a informação mais relevante assim como a escolher a resposta
(hipoteticamente) mais adequada. Entre estas estruturas cognitivas, são ativados esquemas.

Noção de esquema no modelo de Beck :

 Baseado nas noções de esquema de Bartlett e sobretudo Piaget (entre outros).

Estruturas que integram e atribuem significados aos acontecimentos

 “Estruturas cognitivas que organizam a experiência e o comportamento (…) Regras específicas que

regem o processamento da informação e o comportamento” (Beck & Freeman, 1993, p. 4, p. 7)

 Utilizados para classificar, interpretar, avaliar e atribuir significado a objetos e acontecimentos (Beck et

al, 1985).

 “estruturas cognitivas internas relativamente duradouras de armazenamento de características genéricas

ou prototípicas de estímulos, ideias ou experiências que são utilizadas para organizar novas informações

de maneira significativa, determinando como os fenómenos são percebidos e conceptualizados”

(definição de Clark, Beck & Alford in Knapp & Beck, 2008, adapt. para português europeu)

Propriedades e características - os esquemas podem variar quanto ao grau de:

 Abstração: dos mais concretos aos mais abstratos


 Ativação: latentes (quando não está ativado no momento) a hipervalentes (quando está a dominar o
processamento de informação)
 Permeabilidade: permeável a impermeável (abertura a nova informação) [o meio termo é muito
importante em termos de mudança terapêutica]
 Acomodação (≠ assimilação): grau em que consegue integrar nova informação e transformar-se
 Densidade: depende do nº de vezes que o esquema foi ativado; resulta de ativação repetida; traduz a
durabilidade do esq.

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 Limiar de ativação: elevado (só é preciso um acontecimento bastante relevante para o ativar) ou baixo.
Quando um esquema disfuncional é modificado (via acomodação) em virtude de terapia ou experiências
de vida, o limiar de ativação eleva-se.
 Flexibilidade
 Amplitude

A partir do momento em que o esquema disfuncional é ativado vai condicionar a atenção, a memória, etc.

Quando os esquemas são ativados, canalizam o processamento cognitivo.

Possivelmente a ativação de um esquema inibe outros esquemas (eventualmente mais adaptativos ou adequados
a determinadas situações).

Os esquemas têm uma função adaptativa, pois possibilitam um mais eficiente processamento de informação
para que o indivíduo possa adotar a ação mais apropriada.

Contudo, produzem um viés sistemático no processamento de informação (o que pode revelar-se inapropriado
às situações).

Os esquemas de indivíduos bem ajustados permitem avaliações realistas, ao passo que os de indivíduos mal
ajustados levam a distorções da realidade, que, por sua vez, geram perturbação psicológica (Knapp & Beck,
2008,p. 57).

E como se desenvolvem esquemas ((dis)funcionais)? O modelo supõe que se surgem cedo na história de
desenvolvimento individual, atuando como “filtros” através dos quais são processadas experiências e
informações. Serão moldados por experiências pessoais, resultando da identificação com outros significativos,
assim como do modo como a pessoa perceciona as atitudes dos outros em relação a si. O ambiente particular
de cada criança tanto pode facilitar como inibir a emergência de determinados tipos de esquemas. (Knapp &
Beck, 2008).

Dois géneros de eventos: evento particularmente grave; eventos menos graves mas repetidos.

19
CRENÇAS (E ESQUEMAS)

CRENÇAS: designação genérica usada para representar uma variedade de construtos relacionados com os
esquemas, como: suposições; expectativas; receios; regras; avaliações (que influenciam memórias e associações)
(Beck & Haigh, 2014).

A partir do momento em que se forma, uma determinada crença básica pode influenciar a formação subsequente
de novas crenças relacionadas, as quais, caso se mantenham, são incorporada numa estrutura cognitiva
duradoura ou esquema, no qual ficam embutidas crenças nucleares (Knapp & Beck, 2008).

CRENÇAS NUCLEARES (core beliefs): Designação usada por muitos autores como sinónimo de esquema (cf.
Knapp & Beck, 2008, p. S57).

As crenças nucleares são as ideias mais centrais sobre o self (Beck, 2011).

Distinção entre crença e esquema:

A.T. Beck (1964, cit. por J. Beck, 2011) sugere a seguinte diferenciação:

 esquemas seriam as estruturas cognitivas da mente (algo que tem embutido várias crenças)
 o conteúdo específico dos esquemas seriam as crenças nucleares (é o âmago/centro do esquema)

A pessoa não tem consciência de que tem determinado esquema, este é inferido pelo diálogo interno; é a parte
não consciente (não é observado por alguém do exterior).

As crenças nucleares negativas costumam encaixar em três grandes categorias (A. T. Beck propôs as 2 primeiras
e J. Beck a 3ª):

 desamparo (“helplessness”), p.ex.: sou incompetente; sou ineficaz; sou fraco; não tenho poder nenhum;
sou um falhado; sou pior do que os outros; estou tramado
 falta de amor (“unlovability”).p.ex.: estou destinado a ficar sozinho; não sou digno de amor; sou
indesejável; não sou atraente; estou fadado a ser rejeitado; sou defeituoso
 falta de valor/ser inútil (“worthlessness”) , p. ex.: sou mau; sou imoral; sou perigoso; sou inútil; não mereço
viver.

As pessoas poderão apresentar crenças enquadráveis uma, duas ou mesmo três destas categorias (J. Beck, 2011).

Pode distinguir-se entre crenças nucleares, crenças condicionais e regras.

O esquema/crença nuclear vai gerar crenças condicionais. As crenças nucleares geram regras,
pressupostos, suposições.

20
Exs. (in Knapp & Beck, 2008):

ESQUEMA/CRENÇA NUCLEAR: “É impossível eu ser amado”

CRENÇAS CONDICIONAIS associadas às crenças nucleares levam a pressupostos como: “Se eu não tiver
uma mulher que me ame, não sou nada”

e a regras como: “Um homem não pode viver sem uma mulher”.

Existem então diferentes níveis de profundidade de crenças (cf. J. Beck, 2011):

 CRENÇAS NUCLEARES, que são as mais profundas. São o


nível mais fundamental da crença. São globais, rígidas e
sobregeneralizadas.
 CRENÇAS INTERMÉDIAS: manifestam-se por regras, atitudes,
suposições. Situam-se entre as crenças nucleares e os
pensamentos automáticos.

Pensamento automático é o que nos permite aceder às crenças nucleares e intermédias dos indivíduos; são estes
que vão ditar as nossas emoções e comportamento.

O inicial da intervenção é fazer uma avaliação sistemática dos pensamentos automáticos e a partir daí inferir
crenças intermédias e o esquema (o mais difícil de inferir). A ideia é começar por trabalhar com estes
pensamentos.

21
A organização cognitiva segundo Beck – 3 grandes níveis de cognição (dimensões cognitivas)

ESTRUTURAS COGNITIVAS  esquemas

OPERAÇÕES OU PROCESSOS COGNITIVOS  distorções cognitivas P

PRODUTOS COGNITIVOS  pensamentos automáticos

(1) ESTRUTURAS COGNITIVAS

≈ ESQUEMAS: unidades mais básicas do nosso funcionamento cognitivo, mais profundas e estáveis. Definem
os nossos modos específicos de construção da realidade.

(2) OPERAÇÕES (PROCESSOS) COGNITIVAS

= regras ou mecanismos de processamento de informação. Ligam as estruturas/esquemas aos produtos


(outputs) cognitivos

Operações cognitivas através dos quais a informação é codificada, armazenada e recuperada (atenção
seletiva, distorções cognitivas, seletividade na codificação e no armazenamento da informação).

Erros ou enviesamentos no processamento da informação resultantes da ativação dos esquemas disfuncionais


mais rígidos e primitivos.

Distorções e erros cognitivos mais comuns [algo a que já acedemos indiretamente]:

 SOBREGENERALIZAÇÃO/HIPERGENERALIZAÇÃO: a partir de um acontecimento isolado ou


específico, generalizar para todas as restantes situações (generalizar abusivamente)
Ex.: não me senti confortável no encontro => Não sei fazer amigos

 ABSTRAÇÃO SELETIVA: retenção de alguns aspetos da situação em detrimento de outros (mesmo


que mais importantes ou positivos) (selecionar uma parte da informação, ignorando o resto)
Ex.: a avaliação do meu chefe foi negativa [focando-se num único comentário negativo,
negligenciando todos os comentários positivos]

 ENSAMENTO DICOTÓMICO: pensamento do tipo “tudo ou nada”, “preto ou branco”, que apenas
concebe as possibilidades extremas (dicotomização da realidade; pensamento absolutista)
Ex.: “se não sou magra, então sou gorda”; “ou consigo a nota mais alta, ou sou um fracasso”; “ou se
faz perfeito, ou não vale a pena”

22
 MAGNIFICAÇÃO/MINIMIZAÇÃO: exagerar a importância de algo negativo em si, nos outros ou
nas situações (sobrevalorizar) versus subestimar ou subvalorizar algo de positivo (atribuir
erradamente a mim próprio tudo o que se passa)
Ex.: tenho um ótimo emprego; mas os outros também; “por ter ótimas notas, isso não significa que
seja realmente boa nisto” [minimização].
[Maximização:] “esta nota medíocre mostra que sou inapto para isto”

 PERSONALIZAÇÃO: atribuição pessoal inapropriada de acontecimentos externos. Atribuir a si


(indevidamente) acontecimentos externos ou o comportamento dos outros, sem considerar explicações
mais plausíveis.
Ex.: o condutor quase não falou comigo… devo ter feito algo que o desagradou.

 CATASTROFIZAÇÃO: Acreditar que o pior cenário possível vai acontecer (sem considerar outros
desfechos); ou considerar insuportável ou terrível o que sucedeu ou irá suceder
Ex.: “perder o emprego seria o fim da minha carreira”; “o divórcio seria o pior que me poderia
acontecer”

 RACIOCÍNIO EMOCIONAL: acreditar que algo corresponde à realidade porque se se sente com
muita convicção, ignorando ou descontando evidência contrária
Ex.: uma série de coisas estão a correr bem no meu trabalho, mas mesmo assim sinto-me um falhanço;
se sinto que a minha mulher já não gosta de mim, é porque isso é verdade

 ROTULAGEM: colocar um rótulo fixo/imutável e global em si próprio ou nos outros, de modo


inapropriado (i.e., sem suficiente evidência ou desconsiderando informações inconsistentes), em vez
de rotular situações ou comportamentos específicos
Ex.: “sou incompetente”; “é má pessoa”; “é burro”; “as pessoas são más”

 LEITURA DA MENTE: Presumir que se sabe o que outra pessoa está a pensar ou sentir, sem evidência
e/ou desconsiderando interpretações mais plausíveis
Ex.: “sei muito bem o que ele pensa de mim”; “não está a gostar da minha conversa”; “não gostou
de mim/ do meu projeto”

 IMPERATIVOS/afirmações “tenho” e “devo: ter ideias fixas sobre como o próprio ou os outros se
devem comportar e exagerar as consequências disso não suceder
“Devo”, “deveria”, “tenho de”. “Ele/ela deveria” (…)

23
(3) PRODUTOS COGNITIVOS [aquilo a que podemos aceder]

Incluem pensamentos automáticos: auto-verbalizações ou formas de diálogo interno, imagens ou fantasias,


que surdem de modo espontâneo e transitório e são acessíveis à consciência do indivíduo (embora, como são
automáticos, possam passar “despercebidos” ao indivíduo).

PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS (NEGATIVOS / DISFUNCIONAIS):

 Resultam da ativação do esquema pelo acontecimento e podem ocorrer sob a forma de imagens ou
proposições verbais (pensamentos, imagens, atribuições, autoavaliações, expectativas, etc.).
Ocorrem involuntariamente na consciência e antecedem supostamente a resposta emocional e
comportamental que deles resulta.
 Os pensamentos automáticos são a “porta de entrada” no sistema de significações do indivíduo;
revelam as distorções no processamento da informação e representam, também, as crenças do
doente e as suas suposições subjacentes. S
 São: específicos, “curtos e grossos”, automáticos, parecem plausíveis à pessoa, idiossincráticos,
podem ser imagens.

A organização cognitiva segundo Beck, nos distúrbios emocionais

Nos distúrbios emocionais, supõe-se que ocorre a ativação de esquemas disfuncionais [estruturas]
(desenvolvidos devido experiências prévia disfuncionais), sendo essa ativação responsável por um conjunto de
erros sistemáticos ao nível das operações cognitivas [processos], gerando-se pensamentos automáticos
disfuncionais [produtos].

As várias disfunções psicológicas são vistas segundo este modelo como sendo caracterizadas por determinados
esquemas cognitivos e, assim, por distorções específicas no processamento de informação, que se manifestam
por pensamentos automáticos disfuncionais.

Uma hipótese essencial do modelo cognitivo tem sido a noção de que certas crenças constituem uma
vulnerabilidade para determinados distúrbios emocionais (modelo diátese-estresse: temos fatores que não
provocam a perturbação, mas originam vulnerabilidade; diátese: fatores de vulnerabilidade; stress: há um
acontecimento forte, externo).

[=> modelo de vulnerabilidade cognitiva]

Ex: fumar é um fator que, dependendo da vulnerabilidade individual, pode levar a cancro do pulmão (a relação
não é causal).

Na doença mental, as pessoas são sujeitas a um fator; umas desenvolvem a doença e outras não. Está envolvida
a vulnerabilidade prévia (como a genética).

24
PREMISSA BÁSICA DO MODELO COGNITIVO DE BECK: são essencialmente os vieses cognitivos ou atribucionais
(não os motivacionais ou de resposta) que constituem a principal fonte de emoções e comportamentos disfuncionais
(Beck & Freeman, 1993).

Embora o modelo assuma a influência recíproca entre emoção, comportamento e cognição, enfatiza esta última.

Beck estendeu o modelo a uma formulação compreensiva da psicopatologia em geral:

 Não reagimos às situações, mas à visão que temos delas – há uma relação recíproca entre pensamento,
emoção e comportamento
 Perturbações emocionais diferentes apresentam esquemas e conteúdos cognitivos diferentes (cf. exs. Pág.
14 e 22)
 Perturbações emocionais como resultado essencialmente de formas de pensar distorcidas e avaliações
irrealistas dos acontecimentos de vida
 Os esquemas organizam e processam a informação, são desenvolvidos aos longo do desenvolvimento e
funcionam como fatores de vulnerabilidade; estão latentes até serem ativados (por fatores precipitantes)
e depois disso tornam-se hipervalentes
 O objetivo da terapia é substituir avaliações distorcidas dos acontecimentos por outras mais realistas,
identificando, testando na realidade corrigindo estas interpretações e crenças subjacentes

25
A terapia cognitiva/cognitivo-comportamental de Beck

OBJETIVO DA TERAPIA: conduzir à restruturação de esquemas cognitivos (estruturas), corrigindo erros de


processamento de informação (operações), mediante o teste empírico de cognições disfuncionais.

É, portanto, fundamental a fase de avaliação, que é a fase inicial da terapia cognitiva beckiana, onde os três
focos de avaliação são os três níveis de cognição acima mencionados.

Atenção: apenas temos acesso aos produtos cognitivos; não temos acesso direto aos esquemas, nem aos processos
cognitivos; estes são inferidos através dos pensamentos automáticos.

A terapia beckiana começa então por procurar avaliar e identificar pensamentos automáticos e gradualmente
passa para a identificação de atitudes ou pressupostos disfuncionais, que posteriormente vão ser alvo da
restruturação cognitiva.

26
(1) AVALIAÇÃO

Pensamentos automáticos: são acessíveis à consciência com maior ou menor esforço. Pode ser preciso
treino, uma vez que sendo automáticos a pessoa pode nem reparar neles.
Estratégias para aceder aos PA durante as sessões de consulta- exs.:
 questões diretas
 experiências de descoberta guiada
 imaginação de situações
 dramatização

Registo de Auto monitorização (entre consultas) – exs:

27
DISTORÇÕES/ENVIESAMENTOS COGNITIVOS: Mais tarde acrescenta-se mais uma coluna, para aceder às
distorções cognitivas. A pessoa tenta, para cada pensamento, identificar qual o erro de pensamento.

PRESSUPOSTOS E ATITUDES DISFUNCIONAIS DOS ESQUEMAS:

 Também com base nos registos de automonitorização, procura-se identificar temas comuns aos
pensamentos automáticos e aos erros cognitivos, ou o sentido implícito subjacente, por forma a
identificar os esquemas.
 Outras estratégias para aceder indiretamente aos esquemas:
o Escalas de Auto-resposta (ex.: escala de atitudes disfuncionais)
o Técnica da flexa descendente; através de um questionamento sucessivo das implicações dos
pensamentos automáticos, é possível atingir gradualmente os pressupostos cognitivos mais
básicos de uma pessoa relativamente a si própria, aos outros e ao mundo (esquemas).
o Completar frases (p.ex., “eus possíveis”)

28
(2) Formulação

 Fatores predisponentes: suscetibilidades do indivíduo resultantes da sua história de vida e que o tornam
vulnerável a determinado tipo de psicopatologia
 Fatores precipitantes: acontecimentos suscetíveis de ativar crenças disfuncionais anteriormente formadas
 Fatores de manutenção: todos os fatores que mantêm uma visão distorcida de si, dos outros e/ou do
mundo, impedindo a desconfirmação de crenças disfuncionais

29
(3) Intervenção

1. Estabelecimento de uma relação empática e colaborativa


2. Racional/Psico-educação acerca do modelo CC e do(s) problema(s)
3. Intervenção, tendo em conta a formulação cognitivo-comportamental considerada: utilização de
estratégias CC
4. Avaliação
5. Manutenção e generalização dos ganhos terapêuticos

Princípios da terapia cognitivo-comportamental (TCC) [formulação atual, cf. Beck, 2011]

1. Baseia-se numa formulação permanente dos problemas do paciente e numa conceptualização


individual de cada caso em termos cognitivos
2. Requer uma sólida aliança terapêutica como condição de eficácia
3. Enfatiza a colaboração e a participação ativa do paciente
4. Norteia-se por metas/objetivos e focaliza-se na resolução dos problemas que a pessoa traz para as
sessões
5. Começa por enfatizar o presente
6. É educativa, pretende ensinar o paciente a tornar-se o seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção
de recaída
7. Pretende ser uma terapia breve, de duração limitada
8. É estruturada [diretiva]
9. Ensina o paciente a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças disfuncionais

30
10. Usa uma variedade de técnicas para modificar pensamentos, sentimentos e comportamentos [cognitivas,
imagéticas, emocionais e comportamentais]

Outros princípios distintivos enunciados em versões anteriores do modelo (cf. Beck et al.,1985):

 Utiliza primariamente o método socrático/descoberta guiada (em vez do confronto direto)


 Atribui um papel central aos trabalhos de casa

Desenvolvimentos na terapia cognitiva (Terapia Focada nos Esquemas)

Atualmente dirigida a pessoas que têm patologias de personalidade.

Caraterísticas dos doentes com Perturbações de Personalidade:

(caraterísticas clínicas, não sintomas; algumas são processos psicológicos – ex: evitamento)

1. Rigidez (Experiência interna)


 Uma das caraterísticas mais marcantes é a presença de traços rígidos, inflexíveis e duradouros
 Os traços de personalidade são egossintónicos  maior resistência à mudança

Tendência para ver, sentir, fazer as coisas da mesma maneira. Dificuldade marcada da pessoa mudar de
perspetiva, na flexibilidade do pensar e sentir (restritas, inibição, inflexível).

É duradouro, permanente, persistente. Nota-se no funcionamento global da pessoa e ao longo do tempo.

Não cria luta interna, é aceite pelo Eu, não há discrepâncias. Só quando há muito sofrimento é que procuram
ajuda. É da identidade, egossintónico.

2. Evitamento
 Os doentes mais difíceis, crónicos, evitam claramente o confronto (exposição, estar com) com as
cognições e emoções mais significativas.

Crónico, acontece ao longo do tempo, difícil de alterar. Dificuldade de estar com as coisas internas (emoções
negativas intensas).

Marcado nas dimensões emocional, comportamental e cognitiva.

É um mecanismo de coping (evitamento estado) mas neste caso é quase um traço (evitamento traço, disposicional).

3. Dificuldades interpessoais
 Doentes com PP tendem a estabelecer relações interpessoais disfuncionais

31
 Estas dificuldades interpessoais fazem-se sentir também na relação terapêutica e, não só
constituem um obstáculo à terapia, como são parte (se não a totalidade) do problema principal
do doente

Relação profunda entre o Eu e o Outro. Relações são disfuncionais, de conflito, de atrito. Profundas disfunções
comunicacionais. Relacionado com a vinculação (uma relação segura é uma relação vinculada). Questão
desenvolvimental.

Aparece na relação terapêutica (esta relação é a ferramenta, é necessária para agir, é o que está implícito na
técnica).

O problema principal é a relação (interna ou com o outro).

4. Apresentação difusa dos problemas

 É habitual estes doentes não apresentarem problemas imediatamente identificáveis para foco
de tratamento

 Apresentam queixas vagas, sem desencadeadores (não haver um precipitante) específicos e, no


entanto, exibem níveis de perturbação significativos no seu ajustamento ao longo do tempo

As queixas são difusas, confusas (até as próprias emoções o são). Avaliação da expressão do sintoma.

O desenvolvimento da patologia é desenvolvimental, insidioso, progressivo.

Pistas clínicas para detetar perturbações de personalidade (Freeman, 1998):


1. O doente ou outro significativo referem que o padrão de comportamento é crónico – duradouro (os
outros também corroboram a inflexibilidade)
2. Inúmeros contactos terapêuticos prévios
3. Ausência de um ponto de referência interno adaptativo – têm dificuldade a aceder a recursos internos,
a memórias positivas (por exemplo, uma pessoa a dizer eu gosto de ti). O referencial interno é negativo.
4. Pobre auto-monitorização (temos um sistema que nos ajuda a ajustar o comportamento – rotulador e
crítico, autoavaliativo: corrobora a rigidez e os pensamentos)
5. Auto-monitorização dos outros também pobre ou distorcida (não sabem analisar o que podem esperar
dos outros, não sabem o que as ações dos outros querem dizer, distorcem as ações das outras pessoas,
o que leva a conflitos)
6. A terapia é uma série de crises (só procuram ajuda em crise; quando as coisas melhoram já não
aparecem)
7. A terapia parece ter chegado a um súbito e inexplicável impasse (não se sente progresso, estagnação)
32
8. O comportamento é egossintónico (o doente não questiona o seu sistema de crenças)
9. Resistência à terapia
10. Comportamento rígido e compulsivo (o comportamento é repetitivo; o terapeuta precisa de paciência e
persistência)
11. “muita garganta” quanto ao valor da terapia na ausência de mudança observável (“eu não vejo nada
do que a doutora diz”)

7 pressupostos na terapia cognitiva breve:

 Com algum treino consegue-se, facilmente, identificar as emoções (leva ao autoconhecimento e


autodesenvolvimento)

 Com algum treino tem-se acesso a pensamentos e imagens automáticas

 Apresenta problemas facilmente identificáveis

 Os doentes têm motivação para realizar TPC (quando o doente não faz o TPC é sinal de evitamento)

 Facilmente se desenvolve uma relação colaborativa

 Dificuldades na relação terapêutica não são o problema principal

 Cognições, emoções e comportamentos podem ser modificados através da análise empírica, discurso
lógico e prática gradual

A TERAPIA FOCADA NOS ESQUEMAS (J.YOUNG, 1990)

4 construtos teóricos fundamentais:

 Esquemas mal-adaptativos precoces


 Processos de manutenção dos esquemas
 Processos de evitamento dos esquemas
 Processos de compensação dos esquemas

Esquemas mal-adaptativos precoces

Caraterísticas:

1. A maior parte dos EMP são crenças incondicionais acerca do próprio em relação com o ambiente (com
os outros).
Os EMP são verdades a priori, implícitas e tomadas como certas.

Autocrença/autoesquemas inconscientes. Quando se ativam vem o afeto negativo e os processos.

33
O conteúdo é informação acerca do self (o que acho de mim) e dos outros (o que eu acho dos outros e o que
acho que os outros acham de mim)

2. Os EMP são auto-perpetuadores e, assim, bastante resistentes à mudança (persistentes, contínuos;


conteúdo proposicional do esquema)

 Desenvolveram-se cedo na vida (adquirem-se a partir da infância)


 Formam o núcleo do autoconceito do individuo (contém informação acerca do self)
 São familiares e confortáveis (para além de tácitos, subliminares, são familiares, organizadores do
mundo)
 Se desafiados, a informação será distorcida par manter a validade do esquema (reação que vai
distorcer tudo para manter a familiaridade e conforto)

O esquema tem a tendência para manter a sua consistência, coerência e continuidade. Quando há ativação
(emocional), leva a choro, ansiedade ou irritação intensa.

 A ameaça da mudança esquemática é demasiado disruptiva para a organização cognitiva nuclear


 Por isso os indivíduos desenvolvem processos para manterem os seus esquemas nucleares intactos

A forma de manter a consistência do esquema é automática, leva ao desenvolvimento dos processos de


manutenção, evitamento e compensação.

3. Os EMP são, por definição, disfuncionais de forma significativa e recorrente.


4. Os EMP são ativados por eventos relevantes para o esquema particular (episódios, acontecimentos de
vida relevantes).

Cada EMP tem um tema. Os eventos com um tema que está relacionado com o conteúdo do esquema ativam-
no.

5. Os EMP estão ligados a níveis elevados de afeto disruptivo (negativo).

EMPS (18 esquemas; 5 domínios):

 Abandono/instabilidade
 Desconfiança/abuso – crença de que não confio em ninguém, só em mim próprio, porque as pessoas
abusam e passam-me o pé.
 Privação emocional (das mais comuns)
 Defeito/vergonha – “sou incompetente, defeituoso, pouco inteligente”
 Isolamento social/alienação – “não há um sítio onde sinta pertença, não me sinto encaixado em nenhum
grupo”
 Dependência/incompetência
34
 Vulnerabilidade ao mal e à doença – tem pânico/fobias. “Sinto-me indefeso e desprotegido, medroso.
Sou vulnerável”
 Emaranhamento/eu subdesenvolvido – “não consigo fazer as coisas sozinho”
 Fracasso
 Autodisciplina e autocontrolo insuficientes – dificuldades no cumprimento de regras e limites
 Subjugação
 Auto-sacrifício – “deixo as minhas coisas de lado para ajudar os outros”
 Procura de aprovação/reconhecimento
 Negativismo/vulnerabilidade ao erro – tendência para ver tudo negativo; catastrofização; pessimismo
 Controlo excessivo/inibição emocional – “tenho que controlar o que sinto para não mostrar aos outros”
 Padrões excessivos, hipercriticismo – perfecionismo; “tenho de ser a melhor, não posso falhar”;
hipercriticismo – criticar os outros
 Limites indefinidos/grandiosidade – “faço tudo o que me apetece”; narcísicos
 Punição – autopunição

5 domínios (=tema):

 Distanciamento e Rejeição
 Autonomia e Desempenho deteriorados
 Limites deteriorados
 Influência dos outros
 Sobrevigilância e Inibição (Sobrevigilância = controlo)

Distanciamento e Rejeição:

Expetativas de que as necessidades de segurança, estabilidade, apoio, cuidados, empatia, partilha de


sentimentos, aceitação e respeito não serão satisfeitas da maneira previsível.

Habitualmente, a família de origem foi emocionalmente distante, fria, rejeitante (exigente e crítica), não
expressava sentimentos, isolada, explosiva, imprevisível ou abusadora.

Inclui os esquemas de Abandono, Abuso, Privação Emocional, Defeito e Isolamento Social.

Autonomia e Desempenho Deteriorados (insuficientes)

Expetativas acerca de si próprio e do ambiente que interferem com a perceção das próprias aptidões
para se separar, sobreviver, funcionar independentemente e atuar com sucesso.

A família de origem foi emaranhada, destruidora da confiança da criança, sobreprotetora, falhando no


reforço da atuação competente da criança fora da família.

35
Inclui os esquemas de Dependência, Vulnerabilidade ao Mal e à Doença, Emaranhamento e Fracasso.

Limites Insuficientes

Deficiências nos limites internos, responsabilidades para com os outros ou orientação/objetivos a longo
prazo. Conduz a dificuldades em respeitar os direitos dos outros, cooperação com os outros, o assumir de
compromissos ou o estabelecimento e o alcance de objetivos pessoas realistas.

A família de origem foi mais caraterizada pela permissividade, sobre-indulgência, falta de orientação
ou sentido de superioridade do que pela confrontação apropriada, disciplina e limites em relação à tomada de
responsabilidade, cooperação de uma maneira recíproca e estabelecimento de objetivos. Em alguns casos, a
criança pode não ter sido levada a tolerar níveis normais de desconforto ou pode não lhe ter sido dada
supervisão, direção ou orientação adequadas.

Inclui os esquemas de Grandiosidade e Auto-disciplina/Auto-controlo Insuficientes.

Influência dos Outros

Focus excessivo nos desejos, sentimentos e respostas dos outros, comprometendo as suas próprias
necessidades, de forma a ganhar amor e aprovação, manter o sentido de ligação ou evitar retaliações. Envolve,
muitas vezes, a dificuldade em reconhecer a sua própria irritação e inclinações naturais (o que leva depois ao
abuso).

A família de origem foi caraterizada por manter uma aceitação condicional: as crianças têm que suprimir
aspetos importantes de si próprios de forma a obterem amor, atenção e aprovação. Em muitas dessas famílias,
as necessidades e desejos emocionais dos pais – ou aceitação social e status – são mais valorizados do que os
sentimentos e necessidades únicos de cada criança.

Inclui os esquemas de Subjugação, Auto-Sacrifício e Procura de Aprovação.

Sobrevigilância e Inibição

Ênfase excessiva no controlo dos seus sentimentos espontâneos, impulsos e escolhas, de modo a evitar
cometer erros ou ênfase excessiva no cumprimento de regras e expetativas rígidas e interiorizadas acerca do
desempenho e do comportamento ético – muitas vezes comprometendo a felicidade, auto-expressão,
relaxamento, relações próximas ou saúde.

A família de origem foi “cinzenta” (e por vezes punitiva): desempenho, dever, perfecionismo, obediência
a regras e evitamento de erros predominam sobre o prazer, a alegria e o relaxamento. Havia, habitualmente,
uma corrente de pessimismo e preocupação de que as coisas poderiam desabar a qualquer altura se se falhasse
na vigilância e nos cuidados.

36
Inclui os esquemas de Negativismo, Inibição Emocional, Padrões Excessivos, Punição.

Processos

Processos de manutenção dos esquemas

Processos pelos quais os esquemas são reforçados e rigidificados (erros cognitivos e padrões
comportamentais disfuncionais).

 Incluem as distorções cognitivas e padrões comportamentais mal-adaptativos


 Explicam a rigidez caraterística dos doentes com distúrbios de personalidade
 Os doentes, frequentemente, insistem em mostrar ao terapeuta que o seu esquema é verdadeiro (os
doentes argumentam a favor da crença esquemática)
 A nível comportamental, a seleção mal-adaptativa de um parceiro é um dos processos de manutenção
mais comuns (escolher um parceiro que vai de acordo com o EPM – ex., privação e abandono, parceiros
privadores que não expressam afeto) – história afetiva ajuda a perceber o padrão esquemático.

Erros no processamento de informação = distorção cognitiva.

Ex: 1. Ver o mundo a preto e branco (bom ou mau, nos pólos) – cria muito afeto negativo

2. Abstração Seletiva – tirar conclusões generalizadas de um único ponto

Processos de evitamento dos esquemas

Processos através dos quais o individuo evita a ativação do esquema, uma vez que isso o levaria a
experienciar elevados níveis de emoções desagradáveis (evitamento cognitivo, emocional e comportamental).
[mecanismos relacionados com o evitar os pensamentos e o conteúdo emocional]

Uma vez que a ativação dos EMP é acompanhada por níveis elevados de afeto negativo, os pacientes
tendem a desenvolver processos voluntários e automáticos para evitar a ativação esquemática.

O evitamento pode incluir evitamento cognitivo (tentativas de suprimir pensamentos, distração,


despersonalização – sair psicologicamente da situação), afetivo (não sentem raiva, tristeza, etc., mesmo quando
seria normal sentir; em consequência, experienciam emoções mais cronicas, difusas e generalizadas e maior
número de sintomas psicossomáticos) e comportamental (isolamento social, agorafobia, desistências de carreira
ou casamento, etc).

As emoções tornam-se hipervalentes – grande vivência somatizada.

O esquema de autossacrifico é um processo de evitamento do EPM de Abuso (?).

37
Processos de compensação dos esquemas

Em que os indivíduos optam por estilos comportamentais ou cognitivos que parecem o oposto do que
seria de esperar a partir do conhecimento dos seus esquemas disfuncionais.

Tais estilos sobrecompensam os esquemas subjacentes.

São tentativas parcialmente bem-sucedidas (a curto prazo) para desafiar os esquemas nucleares e
conseguir que as suas necessidades sejam satisfeitas.

Quando falha a estratégia compensatória, é ativado o esquema subjacente.

Como estes processos envolvem habitualmente o “falhanço” no reconhecimento da vulnerabilidade


subjacente, não deixa o doente preparado para a dor que é evocada quando a compensação falha.

A compensação ocorre habitualmente através do desenvolvimento de um esquema oposto ao esquema


primário.

Perfecionismo é um padrão compensatório do EPM vergonha e fracasso.

Impede a ativação de um esquema, é uma forma de o contornar.

Em vez de flexibilizar os EPM, rigidificam-no

Vulnerabilidade  estilo compensatório de desportos radicais/não conduz em excesso de velocidade, controla


tudo

Perfecionismo  estratégia de não se conectar ou sentir emoções relacionados ao esquema de incompetência,


vergonha e fracasso.

38
Origem dos EPM e Temperamento Emocional

Influência do temperamento (variáveis biológicas; predisposições inatas, caraterísticas genéticas), de variáveis


familiares (contextuais; ex: estilo parental) e de variáveis socioculturais (ex: experiências de socialização com os
pares), em estreita interação.

O estilo educativo dos pais é diferente do seu estilo relacional, mas interagem entre si.

O temperamento emocional da criança já está definido à partida.

Temperamento influencia o contexto e vice-versa (ex: temperamento influencia o contexto – escolha do parceiro).

O temperamento emocional da criança interage com acontecimentos dolorosos, mas também diferentes
temperamentos expõem a criança a diferentes circunstâncias de vida.

1. Diferentes temperamentos emocionais tornam as crianças mais ou menos vulneráveis face a


acontecimentos de vida semelhantes.

Ex: interações repetitivas com uma figura materna rejeitante (crítica, intrusiva, fria, pouco calorosa em
termos emocionais, controladora, dominante)
39
a) Uma criança temperamentalmente mais tímida tenderá a isolar-se do mundo exterior e a
tornar-se progressivamente mais dependente da figura materna (não faz nada sem a mãe
aprovar);
Defeito, Privação Emocional, Dependência, Emaranhamento, Abandono, Subjugação, entre
outros.
b) A criança temperamentalmente mais sociável tenderá a orientar-se para o mundo exterior
e a estabelecer outros relacionamentos mais satisfatórios.

2. Diferentes temperamentos emocionais expõem seletivamente a criança a diferentes circunstâncias de


vida.

Ex: contacto com uma figura paterna violenta (agressiva) – contexto de ameaça permanente:

a) A criança disposicionalmente agressiva (reativo – alta vulnerabilidade/intensidade


emocional) (criança desafiante) tenderá, com maior facilidade, a desencadear o abuso físico
do pai violento, tornando-se, assim, vítima de maus-tratos físicos e/ou verbais
Defeito, Abuso, Privação Emocional.
b) A criança disposicionalmente passiva não tenderá a desencadear o abuso físico. Não
obstante, poder-se-ão originar, igualmente, EPMs. [explica a violência doméstica]
Subjugação, Controlo Excessivo, Punição (entre outros).

Ambientes extremamente favoráveis ou aversivos (os aversivos potenciam a influência do temperamento) podem
minimizar ou tornar nula a influência do temperamento emocional da criança na formação de EPM.

O contacto precoce com um ambiente familiar extremamente seguro e afetuoso poderá transformar uma criança
temperamentalmente tímida numa pessoa afável em muitas situações do quotidiano. Uma criança
disposicionalmente sociável poderá tornar-se tímida e isolada mediante a sua confrontação com um ambiente
familiar extremamente critico, punitivo e rejeitante.

Temperamentos emocionais extremos podem minimizar ou neutralizar a influência de um ambiente familiar dito
normal e promover o aparecimento de EPM em pessoas que, pela análise da sua história de vida, não
apresentariam qualquer justificação externa para essa condição.

A vivencia de padrões repetitivos de experiências disfuncionais com pais, familiares e pares, conduz,
probabilisticamente, nunca de forma determinista, à formação de EPM.

Será o terapeuta um ser “aesquemático”?

Claro que não…

40
Paciente X: “Doutor… não vale a pena andar aqui… não consigo melhorar… não passo da cepa
torta…”

a) Fracasso: “Não faço nada de jeito… nada do que faço é satisfatório… se ele não melhora é porque eu
não sou um terapeuta de verdade… e nunca serei”
b) Defeito/Vergonha: “Que raio de terapeuta sou eu… se ele não melhora é porque eu não sou
competente… vou acabar na ruína…”
c) Grandiosidade: “Ainda bem… já estava farto de perder tempo com uma pessoa que nunca conseguirá
melhorar… se comigo não melhorou, ninguém o fará melhorar”

É essencial que o terapeuta domine os seus esquemas e processos (estilos de coping). O “autoconhecimento” do
terapeuta permite prevenir erros no processamento da informação, fruto das suas próprias idiossincrasias e
grelhas de leitura.

“As reações do terapeuta face ao paciente são um recurso valioso no processo de avaliação dos EPM do
paciente” (Young et al, 2003).

Interferência dos EPMs do terapeuta na psicoterapia: exemplos

1) Os esquemas do terapeuta são “complementares” aos do paciente (ex: padrões


excessivos/hipercriticismo vs defeito/vergonha) [provoca a rutura da relação terapêutica]
2) Ativação esquemática do terapeuta quando os ganhos não são satisfatórios
3) As emoções do paciente espoletam comportamentos de evitamento do terapeuta

Modos esquemáticos

São facetas (da representação) do Eu (contidas no EPM).

 Modos de Criança – exs.: abandonada – inúmeras chamadas, “se isto…aquilo”; raivosa – agride,
explode, parte coisas
 Modos relacionados com Estratégias de Coping Disfuncionais
 Modos de Pais Disfuncionais
 Modo de Adulto Saudável

Terapia focada nos esquemas – implicações terapêuticas

Diferenças entre a Terapia Focada nos Esquemas e a Terapia Cognitiva Breve:

a) Grande ênfase na relação terapêutica como veículo de mudança (mais tempo a trabalhar na relação
na TPF)
b) Maior ênfase nas emoções e afetos
41
c) Maior duração da intervenção
d) Maior discussão centrada nos primeiros anos de vida
e) Confrontação mais ativa das cognições e padrões comportamentais
f) O terapeuta está bastante mais preocupado com a identificação e superação do evitamento
cognitivo, emocional e comportamental

Quatro grupos de técnicas:

I) Emocionais/experienciais – exercícios promotores da atividade/experienciação emocional


II) Interpessoais
III) Cognitivas – reestruturação cognitiva
IV) Comportamentais – exposição

Promover uma amplitude maior de resposta. Mudar a ação (interpessoal).

Desenvolvimentos da terapia cognitiva – Modelo Cognitivo-Interpessoal


de J. Safran

Raiz cognitiva, trabalha essencialmente os perfis e esquemas interpessoais. O esquema traduz-se num padrão
comportamental interpessoal (relação com os outros).

2 construtos fundamentais:

 Esquemas interpessoais
 Ciclos cognitivos interpessoais

Esquemas Interpessoais:

 Regras que permitem ou facilitam o relacionamento com os outros, construídas através de experiências
de vinculação com outros significativos
 São esquemas (representação da interação) do “eu em relação com os outros”; são modelos internos de
trabalho; programas para manter a ligação com planos, estratégias e princípios específicos que foram
aprendidos, abstraídos de experiências prévias com figuras de vinculação e que permite prever futuras
interações
 Quando o padrão de relacionamento se mantém apesar de experiências repetidas de que este padrão
não conduz ao atingir dos objetivos  esquemas interpessoais disfuncionais [objetivos biossociais não
são preenchidos – sente-se frustrado e insatisfeito]

Mantêm-se por erros (distorções) cognitivos e ciclos cognitivos interpessoais.

42
Se o esquema for funcional, as regras são promotoras de uma relação vinculativa (ligação emocional) – amar os
outros e ser amado.

As regras fazem parte do esquema interpessoal.

As relações profundamente confiantes e confiáveis inserem-se num esquema funcional.

Ciclos cognitivos interpessoais:

Através dos esquemas interpessoais tendemos a estabelecer com os outros relações complementares que
confirmam esses esquemas [atitudes confirmatórias].

O terapeuta como observador-participante:

O terapeuta deve ser capaz de identificar em si o tipo de emoções/respostas que o comportamento do


doente lhe gera, servir-se disto para colocar hipóteses acerca dos esquemas interpessoais do doente e do tipo
de respostas que ele tende a gerar nos outros, libertar-se deste ciclo (para evitar perpetuá-lo, reforçá-lo) e
utilizar a relação terapêutica para desconfirmar estes esquemas [dentro da consulta é igual a fora da consulta].

A relação terapêutica é uma parte intrínseca do processo.

Ruturas da aliança terapêutica adquirem um relevo especial.

Os ciclos interpessoais não são iguais quando interajo com diferentes pessoas.

O Modelo da Função Executiva Auto-Reguladora (S-REF) da Disfunção


Emocional [Wells & Mathews, 2001]

Executiva  áreas neurocorticais superiores do processamento de medo/ameaça

Distanciamento/descentração  conceito importante

Processos relacionados com a disfunção emocional.

Funcionamento fisiológico (neurocortical) ou psicológico (cognitivo). Há vários níveis no processamento.

2 níveis perante a ameaça:

1. Processamento primitivo/rápido – amígdala


2. Processamento mais longo – córtex pré-frontal; raciocínio abstrato, metacognição, inteligência,
representação simbólica

43
O modelo S-REF (Wells & Mathews, 1994) surge como uma tentativa de elucidar algumas questões como:

 Como devemos modelar os mecanismos de autorregulação na perturbação emocional?


 Como são modificadas as crenças à medida que o processamento se desenrola?
 Quais os mecanismos da interação entre crenças e o padrão de funcionamento do sistema cognitivo do
indivíduo?
 Como é que podemos ensinar alguém a autorregular-se?

Este modelo coloca a ênfase nas metacognições e nos processos atencionais para a compreensão das
perturbações emocionais.

Os pensamentos geram outros pensamentos. Modelo de transição. As metacognições têm o efeito de manutenção
na disfunção emocional.

A atenção também é um pensamento – é seletiva.

O modelo S-REF consiste numa arquitetura de 3 níveis que interagem entre si:

i) Processamento automático de nível inferior (funciona de forma inconsciente) [regulado pela


amígdala]
ii) Processamento controlado (avaliação consciente e regulação da ação e do pensamento) [sistema
intermédio, onde estão as cognições]
iii) Armazenamento do autoconhecimento (itens de conhecimento adquirido sobre o self e as estratégias
de autorregulação, guardado na memoria a longo prazo) [nível superior, nível meta, onde se situam
as auto-crenças; abstrato, implícito, tácito]

44
Funciona da base para o topo.

Nível inferior [1º nível – básico]:

 Rede de processamento elementar, automático, reflexo (processamento rápido) [zona do medo;


hipotálamo e amígdala] (funciona de forma inconsciente, não voluntário)
 Desencadeado por input de estímulos específicos (estímulos relacionados com a ameaça – perigo –
ameaças sociais: criticismo, exclusão, rejeição)
 Pode funcionar muitas vezes em conjunto com uma regulação parcial dependente do controlo executivo
(processamento intermédio, nível 2)
 As exigências de recursos são relativamente limitadas
 Podem ter representada informação sobre estímulos externos, sobre o estado cognitivo e sobre o estado
corporal (está guardado qual o estímulo perigoso)
 Muito corporal (o medo sente-se no corpo)
 É o que aparece primeiro

45
Nível de processamento controlado [2º nível – intermédio]:

 Processo metacognitivo (crença sobre a crença, o que penso do pensamento, análise da história)
 Implicado na autorregulação cognitiva, afetiva e comportamental
 Habitualmente consciente, requer recursos atencionais
 Avalia os inputs de nível inferior, desencadeando e regulando a ação destinada a reduzir auto-
discrepâncias e ameaças percecionadas ao self (regula e reduz a discrepância entre o que estou a sentir
e o que queria sentir, o desejado)
 É influenciado/guiado pelo conteúdo das auto-crenças (nível superior, na memória a longo prazo)
 Avaliação consciente dos dados (neocórtex)
 Desliga a amígdala (desativa-se o sistema simpático)
 Reavaliar o estímulo

Auto-crenças [3º nível – superior]:

As auto-crenças (auto-esquemas) afetam o conteúdo das auto-avaliações do S-REF e podem realçar a


monitorização de determinados outputs dos processos de nível inferior.

Tácito, inconsciente. Noção do Eu (rede por defeito). Abstrato.

Funcionamento

 Intrusões de nível inferior ativam o S-REF, apresentando-se sobre a forma de pensamentos intrusivos e
sensações (ex., uma sensação corporal)
Interação constante/permanente do Eu (interior) com o meio. Sensação corporal intensa  o
cérebro foca a sua atenção nesta.
 O S-REF avalia o significado destas intrusões, comparando este auto-estado com um padrão adquirido
e ativando um plano para autorregulação (ex., sou uma pessoa vulnerável/fraca/doente; + planos
para se curar, por ex., ir ao médico)
 Se for percebida uma discrepância entre o padrão de referência e o auto-estado (externo ou interno)
são desencadeadas respostas para reduzir a discrepância

Quando presto atenção há uma amplificação  sensação fica mais intensa, durável  entra no processamento
intermédio  monitorizar a discrepância entre o estado passado, atual e o desejado  regressar ao nível
anterior: ausência de dor

A monitorização é constantemente feita e necessária.

46
 O padrão para alcançar um auto-estado desejado determina o fim ou a manutenção das respostas de
determinado plano

Plano de ação para reduzir a discrepância: o “escape” (fuga) é uma resposta inata. Este plano de ação está
relacionado com o processamento superior. O plano de ação encontra-se relacionado com as expetativas
(nível intermédio),

 As expetativas relativas à capacidade para reduzir as discrepâncias são influenciadas pelas avaliações
e auto-crenças e influencia a escolha da ação

As expetativas são influenciadas pelo nível meta. São pensamentos (quer de resultado quer de eficácia).

Baixas expetativas de autoeficácia: “Não tenho recursos”  plano de ação limitado: fujo.

O nível meta (córtex pré-frontal esquerdo) contém as representações do self. Assim, é o mais elaborado.

Um elemento central deste modelo é o conhecimento meta-cognitivo – tipo específico de autoconhecimento que
guia o processamento e as interpretações.

Podem existir sob duas formas: uma acerca do significado dos pensamentos e outra como planos que
guiam e moldam a forma que a cognição adquire.

a) Significado  leva a mais pensamentos (metacognitivo); conteúdo do auto-esquema


b) Plano, estrutura, que vai moldar o formato que a cognição adquire.

Ex: “Pensar numa coisa é o mesmo que querer que ela aconteça”; “Pensar numa coisa conduz a fazê-la”;
“Preocupar-me ajuda-me a lidar com as situações”; “Tenho que estar vigilante para não ser apanhado de
surpresa”; “Pensar numa coisa é o mesmo que a fazer”.

Pensar e processo de pensar são duas coisas diferentes.

O conhecimento metacognitivo consiste em planos implícitos (inconscientes) que guiam o processamento e


operam largamente fora da consciência.

[No modelo de Safran, as regras/auto-esquema interpessoal corresponde aos planos implícitos do S-REF]

Resumindo, o processamento do S-REF é iniciado por intrusões resultante do processamento automático, que pode
ser gerado por um estímulo externo de ameaça ou por ciclos internos de processamento que geram pensamentos
relacionados com ameaça.

Uma vez ativado, o S-REF acede ao autoconhecimento armazenado na memória a longo prazo, de forma a
avaliar a ameaça e a selecionar uma estratégia de coping (plano de ação/resposta).
47
Este plano tem uma componente metacognitiva que guia o processamento e o efeito do processamento nas
crenças armazenadas na memória a longo prazo.

As auto-crenças estão codificadas na memória a longo prazo (declarativa).

Esta modificação das auto-crenças depende do feedback respeitante ao sucesso ou fracasso de determinada
avaliação ou estratégia de coping adotada  adaptação ao meio ambiente (“object mode” vs “metacognitive
mode”).

Ou seja, após o funcionamento do S-REF existe a possibilidade de alterar o conhecimento de base


(crenças).

Alterar e reestruturar o processamento metacognitivo – No modelo de Yang corresponde à reestruturação do


EPM.

Esta modificação depende da disponibilidade de dados desconfirmatórios (teste das crenças) que não sejam
ambíguos e de fatores cognitivos internos, como o modo de processamento, a capacidade atencional e a
flexibilidade de controlos sobre o processamento.

Em circunstâncias normais, os períodos de atividade do S-REF são curtos – a pessoa seleciona uma estratégia
para lidar com sucesso com a discrepância (modificação do comportamento ou do pensamento) (ex., fome –
comer).

No entanto, nas perturbações psicológicas, o indivíduo é incapaz de alcançar os objetivos da autorregulação e


a configuração S-REF torna-se perseverante.

A manutenção da perturbação psicológica

A perturbação psicológica está intimamente ligada às respostas do “síndrome cognitivo-atencional” e com a


implementação de estratégias de coping que interferem com o desenvolvimento de conhecimento mais
adaptativo.

Estes evitam que o individuo com perturbações psicológica volte a um funcionamento normal.

O síndrome cognitivo-atencional consiste em fenómenos que aumentam a atenção auto-focada (ou seja,
o processamento intensificado de acontecimentos internos) (autofócus, processamento de atenção seletiva) e auto-
monitorização (sistema de verificação e exploração acerca do estado passado, atual/receado e desejado),
limitam a capacidade do sistema, reduzem a eficácia do funcionamento cognitivo, mantém os enviesamentos
cognitivos e mantém ativada as auto-crenças.

A auto-monitorização é útil no mundo externo, mas não no interno, porque gera Autocriticismo.

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Por exemplo, as atividades associadas com a preocupação e a ruminação tendem a interferir com as operações
internas de funcionamento executivo e com a implementação de estratégias de coping que exigem recursos
atencionais e são mais eficazes.

As dificuldades de auto-controlo surgem de:

 Avaliações erradas respeitantes ao controlo


 Uso de estratégias de coping mal adaptativo (ex., centradas na emoção ou no evitamento e não na
tarefa ou no problema)
o “não quero sentir” – focado na emoção e não na tarefa
 Estratégias de coping que não conseguem alterar o autoconhecimento mal adaptativo
 Autoconhecimento disfuncional sob a forma de objetivos irrealistas para a autorregulação [=
autocontrolo]
o Recursos baixos em termos de expetativas

Dois tipos de crenças importantes na manutenção da perturbação:

i) Crenças não meta-cognitivas (ex., “o mundo é um lugar perigoso”)


ii) Crenças metacognitivas (ex., “preocupar-me ajudar-me a lidar com as situações”)

Por outro lado, o funcionamento do sistema não permite a alteração das crenças.

Exemplos de estratégias que impedem a manutenção das crenças:

 Evitamento das situações temidas – previne a exposição a dados desconfirmatórios;


 Ruminação depressiva – foca a atenção em experiências negativas e provoca uma
sobrecarga nos mecanismos atencionais
 Hipervigilância
 Atenção auto-focada

O facto de se tomarem pensamentos como factos (realidade, dados concretos) e objetivo ser escapar à
ameaça, torna mais difícil alterar o conhecimento disfuncional – os recursos atencionais são utilizados na
monitorização, avaliação e prevenção da ameaça percecionada (ao contrário do que aconteceria se os
pensamentos fossem vistos como algo a ser avaliado, com consequente desvio de atenção para esta
tarefa, o que permitiria uma revisão do conhecimento).

Os pensamentos não são factos, são pensamentos.

49
Princípios gerais do tratamento (Guidelines do tratamento)

Modificar/reestruturar o conhecimento de base (autoconhecimento) (auto-crenças e representações do Eu),


gerando e facilitando a aquisição ou substituição do autoconhecimento.

Ênfase na reestruturação das crenças mal adaptativas (não são as auto-crenças, mas as condicionais).

A terapia implica a ativação do sistema S-REF, com consequente ativação do afeto negativo, para o
indivíduo poder treinar estratégias atencionais, cognitivas e de coping alternativas, que reestruturem o
autoconhecimento mal adaptativo.

Os doentes devem aprender novos planos que guiem a atenção para experiências desconfirmatórias,
aumentem o controlo da atenção e reduzam o processamento auto-focado. (mudar a atenção, autofócus, ter uma
visão do mundo mais funcional e útil).

As regras mantêm a discrepância.

Para desenvolver estratégias atencionais e comportamentais alternativas, de modo a que o doente aceda a
nova informação, Well (1997) desenvolveu o protocolo P – E – T – S, etapas na implementação de experiências
comportamentais que consistem em:

 Preparação
 Exposição à ameaça/emoção (implica exposição)
 Teste de crenças
 Sumário de resultados e consolidação

A terapia focada na metacognição propõe a utilização do S-REF não para questionar pensamentos, mas para
promover o distanciamento metacognitivo em relação a esses pensamentos, ao mesmo tempo que se mantém com
um conhecimento objetivos sobre eles.

Esta técnica é denominada “detached mindfulness” (distanciamento) – estar consciente nas situações,
decidir que não serve de nada preocupar-se e andar simplesmente para a frente (atenção dirigida para o que
está a contecer).

Esta estratégia facilitaria:

 O desenvolvimento de uma consciência metacognitiva


 O controlo da seleção de estratégias diferentes de avaliação pelo S-REF
 O desenvolvimento de novas estratégias (planos) para regular a atividade do S-REF

50
 A disponibilização de recursos para o processamento desconfirmatórios e modificação de
crenças

A metacognição é uma representação simbólica.

Terapia Cognitiva focada no Mindfulness (Segal, Williams & Teasdale,


2001)

As terapias da 3ª geração têm todas em comum os seguintes processos: estar no presente (mindfulness), aceitação
e desfusão cognitiva.

Desfusão: olhar para os pensamentos e perceber que são apenas pensamentos.

As terapias de 1ª e 2ª geração focam-se em tirar o que está mal e substituir por algo que funcione; reduzir,
modificar sintomas e psicopatologia. As pessoas voltavam a recair (ou continuam a pensar o mesmo), a emoção
tinha um papel secundário e o terapeuta uma posição diretiva, onde não se tinha de expor.

As terapias de 3ª geração colocam a tónica no desenvolvimento de outros sistemas relacionados com o afeto
positivo – amortece/reduz o stress.

Têm uma lógica mais existencial, relacionada com uma maior capacidade de resiliência.

Foco muito menor na linguagem (não se baseiam nesta).

Não há reestruturação cognitiva nem modificação de pensamentos.

Terapias experienciais – tratam diretamente as emoções/processos de regulação emocional.

Focada nos processos de estar presente.

O corpo é central.

O cérebro do doente é igual ao do terapeuta – posição menos diretiva, menos dominante, mais horizontal
– terapeuta tem de se expor mais e ter contacto direto e vivencia experiencial do que vai ensinar.

A única coisa eficaz na ruminação é o mindfulness.

Tradução do mindfulness: “atenção plena” ou “consciência plena”.

Breve história do mindfulness na psicoterapia

 Anos 60 – ideias vindas da Índia


o 1ª pessoa que o descobriu foi Buda.

51
 Yoga veio também para o Oeste
 Alguns terapeutas começaram a fazer meditação
 Mais tarde, estes terapeutas tentaram ligar a sua prática de meditação com o seu trabalho clínico
 Começaram a surgir estudos sobre a meditação e sobre a meditação como um complemento da
psicoterapia
 Jon Kabat-Zinn e o MBSR (Mindfulness Based Stress Reduction; dirigido ao stress) para tratar condições
físicas (1990)
 Marsha Linehan e a terapia comportamental dialética (1993)
 Teasdale et al. e a MBCT (Mindfulness Based Cognitive Therapy) para a depressão crónica (2000)
 Outros programas aplicados a outras condições clínicas

Mindfulness e sofrimento

O sofrimento aparece em inúmeros disfarces: ansiedade, depressão, problemas de comportamento, conflitos


interpessoais.

O sofrimento é inerente à condição humana. Algum sofrimento é existencial (doenças, velhice, morrer); outro é
mais pessoal.

As 3 fontes de sofrimento são: 1. Envelhecimento; 2. Doenças; 3. Morte; às quais a Castilho adiciona uma
4ª. Os outros.

Quando procuram terapia, as pessoas querem sentir-se melhor – qualidade de vida, não necessariamente
felicidade (esta não é ausência de sofrimento).

Os psicoterapeutas estão no ramo de aliviar (não mudar) o sofrimento emocional. Uma terapia eficaz altera a
forma como o doente se relaciona com a sua forma de sofrimento.

A discrepância é estar em piloto-automático, vaguear da mente, modo de fazer. O sofrimento está


relacionado com esta: antecipar (que leva à ansiedade), comparar, classificar, rever (ruminar – tristeza).
Monitorização interna.

Se formos menos perturbados pelos acontecimentos negativos, o nosso sofrimento diminuirá. Mas como o podemos
fazer?

O sofrimento parece aumentar sempre que nos afastamos do presente. A maioria das pessoas que procuram
psicoterapia estão preocupadas com o passado ou com o futuro, passam a vida sempre focados no mesmo filme.

Estarmos no presente implica menos sofrimento e potencia o afeto positivo – tirar a mente do sistema de
defesa e ameaça.
52
O mindfulness permite que sejamos menos reativos ao que está a acontecer no momento. É um modo de relação
com toda a experiência, positiva (agradável), negativa (desagradável) ou neutra, de forma a que o nosso nível
de sofrimento é mais reduzido e o sentido de bem-estar aumentado.

O mindfulness permite uma libertação de padrões condicionados passados para ver o que está a acontecer no
momento presente.

Mindfulness (estar consciente do que está a acontecer no momento) é diferente de Mindlessness (ser apanhado
em pensamentos e opiniões acerca do que está a acontecer no momento; permanentemente a reagir).

Aceitação é correlacionada negativamente com a psicopatologia.

Definições de mindfulness

Mindfulness é o contrário de estar em piloto automático, de sonhar acordado – é prestar atenção ao que está a
acontecer no momento presente.

O mindfulness permite as memórias, mas não perder-se em memórias.

É uma “consciência momento a momento”. É uma consciência que emerge através da capacidade de prestar
atenção de forma voluntaria, no momento presente, sem julgamento, à experiência que se desenrola momento a
momento (Kabat-Zinn, 2003).

O não julgamento promove o mindfulness quando tem que se lidar com estados físicos ou emocionais difíceis. Se
não julgarmos a nossa experiência, temos uma maior probabilidade a vermos como ela é.

Implica estar com as coisas sem reagir. Tomar decisões mais conscientes, menos reativas, não ajuizando a
experiência.

Estou consciente da emoção e escolho; não ser a mente a escolher por mim.

O mindfulness, a aceitação e a compaixão são processos de regulação emocional. Implica esforço e disciplina.

Mindfulness e Aceitação

A Aceitação é uma extensão do não julgamento.

Segundo a perspetiva do mindfulness, a aceitação refere-se à disponibilidade para deixar as coisas como elas
são, no momento em que elas estão a acontecer  aceitar experiências agradáveis ou dolorosas conforme elas
aparecem.

53
Se aceitarmos as coisas, não fugimos. Aceitar é permitir estar com, é o oposto do evitamento experiencial, que
leva a mais processos ligados à psicologia positiva, sendo um mediador da mudança.

Mindfulness

A prática frequente do mindfulness permite desenvolver uma consciência e compreensão do funcionamento


psicológico e responder mais adequadamente a situações novas.

O mindfulness permite uma compreensão da natureza da mente e das causas do sofrimento. Esta compreensão,
incluindo a consciência de como tudo é impermanente, ajuda a não nos deixarmos enredar em ruminações.

Não é relaxamento – algumas vezes, quando o objeto sobre o qual recai a consciência é desagradável, pode
ser precisamente o contrário.

O relaxamento é um efeito indireto. Expirar tem um efeito parassimpático, de desaceleração, de


acalmia. A ansiedade pode não desaparecer. Ativa o nervo vagal, que liberta opiácios. Ativa circuitos
neurofisiológicos.

Não é distração. Não é só exposição (+ compaixão e aceitação).

Estar ativo e recetivo. Compaixão é a resposta contrária do julgamento; atitude não ajuizadora, não
crítica – é mais do que enfrentar.

O mindfulness pode incluir qualquer sentido – visão, audição, tato, cheiro, gosto – tal como pensamentos e
sentimentos.

A prática inicia-se com a concentração na respiração e depois evolui para dirigir a atenção para outras
experiências. De cada vez que a mente foge para outros objetos de perceção, podemos refugiar-nos novamente
na respiração. Nota-se o que “roubou” a concentração e volta-se à respiração gentilmente.

A respiração é central na autorregulação. A única coisa que estabiliza a mente é o corpo.

MBCT - Mindfulness na prevenção da recaída na depressão (Segal, Williams & Teasdale, 2001)

Partiu da MBSR (também 8 semanas). É uma terapia cognitiva baseada no mindfulness.

O mindfulness é a ferramenta que permite sair da ruminação (pensar sobre a experiência), é o estar
com a experiência e não pensar nela.

Traço preditor da depressão: Autocriticismo (ruminação autocritica) – compaixão tem de ser integrada.

 Grande taxa de recaída na depressão (episódio depressivo major)

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 A constelação depressiva de pensamentos, sentimentos e sensações corporais são cada vez mais
facilmente precipitados por graus normais de humor negativo ou fadiga
 Modelo cognitivo original:
Crenças disfuncionais  vulnerabilidade para a depressão
Prevenção de recaída  modificar essas crenças disfuncionais = modificar o conteúdo do
pensamento depressivo
 Alternativa:
o Mudança na relação com pensamentos e sentimentos negativos (= relação “descentrada” com o
conteúdo mental”
o Pensamentos não são verdades absolutas nem auto-descrições, mas acontecimentos passageiros
na nossa mente que não são necessariamente traduções da realidade nem de aspetos do Eu
o Outras abordagens que impliquem uma mudança na relação com mas não no conteúdo do
pensamento  mindfulness
Marsha Linehan (1993) – mindfulness como um componente na terapia com doentes com
PPB
Kabat-Zinn (1990) – MBSR (mindfulness-based stress reduction) – mindfulness na dor
crónica e perturbações de ansiedade
Hayes et al. (1996) – ACT (Acceptance and Commitment Therapy)
Estas abordagens permitem que o doente se dê conta que lutar contra a experiência
interna provoca mais tensão e que, em vez de participarem nas exigências de
pensamentos e sentimentos, podem aprender a manter-se perto desta luta mental
encontrando um lugar calmo de onde a possam observar.

Mindfulness como abordagem relevante na prevenção da recaída na depressão

Os autores sugerem que não é apenas o material processado que determina a recaída, mas a forma como esse
material e processado.

Estabelecer um modo cognitivo alternativo para processar material relacionado com a depressão (mindfulness).

As rotinas ruminativas de processamento de informação relacionadas com a recaída na depressão envolvem um


“modo cognitivo” de processamento de informação relacionada com a depressão, focado nas discrepâncias entre
o estado presente e um estado desejado do self e do mundo com o objetivo de identificar ações que reduzam
esta discrepância – “modo de fazer” (70% do tempo: O que e passa comigo? Porque é que não consigo fazer
as coisas?).

Experiência da depressão é tão negativa, que é compreensível que os indivíduos que recuperam desviem a sua
atenção dos sinais e sintomas precoces de recaída.

55
Infelizmente, diminui a capacidade de tomar medidas adaptativas que possam ser eficazes na prevenção da
recaída, numa fase inicial em que estratégias simples poderiam ser extremamente úteis.

Atrasam ações neste sentido até que os processos de recaída ganharam força e recursos atencionais –
o doente coloca-se numa posição mais difícil para lidar com a recaída.

O treino de mindfulness implica estar plenamente presente e atento ao conteúdo da experiência interna momento
a momento, quer este seja agradável, desagradável ou neutro.

É treinada uma consciência das sensações corporais, sentimentos e pensamentos, enfatizando a importância de
prestar particular atenção a experiências desagradáveis, numa atitude de abertura e aceitação.

É uma alternativa relevante ao evitamento experiencial que frequentemente precede a recaída na depressão.

Aumenta a possibilidade de detetar dificuldades precocemente e de lhes responder de forma mais eficaz.

O risco de recaída é menor se os doentes puderem aprender a:

a) Estar atentos/conscientes dos seus pensamentos e sentimentos negativos em alturas de potenciais recaídas
b) Responder a esses pensamentos e sentimentos de uma forma que lhes permita desligar-se do
processamento ruminativo depressivo

Terapia Cognitiva baseada no Mindfulness (MBCT; Segal et al, 2001)

 Baseada em elementos da TCC (terapia cognitivo comportamental) da depressão (Beck et al., 1979)
 Incluindo elementos do programa de redução do stress baseado no mindfulness (MBSR; Kabat-Zinn,
1990)
 Ensina doentes em recuperação de episódios depressivos a estarem atentos e a relacionarem-se de
forma diferente com pensamentos, sentimentos e sensações corporais (acontecimentos passageiros e não
leituras da realidade)
 Ensina competências que lhes permitem desligar-se das rotinas cognitivas disfuncionais (e automáticas)
habituais, particularmente de padrões ruminativos de pensamento
 O objetivo é reduzir o risco de recaídas futuras

Não há reestruturação cognitiva mas sim mudar a forma como me relaciono com os pensamentos.

Entrevista inicial – racional da MBCT e da importância da prática.

8 sessões semanais, 2 horas, grupos de até 12 doentes.

56
Inclui exercícios diários como trabalho de casa. Estes trabalhos de casa incluem exercícios de tomada de
consciência dirigidos ao não-julgamento, momento-a-momento, de sensações corporais, pensamentos e
sentimentos e exercícios para aplicar a prática do mindfulness à vida quotidiana.

Os participantes aprendem a desenvolver uma resposta de abertura e aceitação, em que, intencionalmente, se


deparam com o desconforto, aprendendo a desenvolver uma perspetiva “descentrada” de pensamentos e
sentimentos.

Facilita um “modo de estar” que permite a liberdade e a escolha, que contrasta como modo habitual de
processamento automático (“piloto automático” e “condução mindful”).

Nas últimas sessões, inclui a abordagem de estratégias especificas de prevenção da recaída (ex., envolver
membros da família num sistema de “aviso precoce”, escrever atividades para se envolver, interrompendo os
processos da recaída, estar atento a pensamentos negativos habituais).

No fim das 8 sessões, são realizadas 4 sessões de follow-up, com 1, 2, 3 e 4 meses de intervalo.

A MBCT é cada vez mais utilizada na prática clínica. Encoraja o doente a processar a sua experiência sem a
julgar, à medida que ela acontece, ajudando-o a mudar a relação com pensamentos e sentimentos
desconfortáveis, e a aceitar que, mesmo quando acontecem coisas difíceis, é possível abordá-las de uma nova
maneira.

A evidência empírica que suporta a MBCT é cada vez maior, em diversos quadros e condições clínicas.

Pessoas normais treinadas em mindfulness durante 8 semanas mostraram alterações no pré-frontal esquerdo
quando em repouso e quando sujeitas a um desafio emocional.

ACT – Terapia da Aceitação e do Compromisso (Hayes et al., 1999)

As três gerações de TCC

1ª geração: Terapias Comportamentais

2ª geração: As Terapias Cognitivas

Terapia Cognitivo-Comportamental

3ª geração: Terapias baseadas no Mindfulness e na Aceitação

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Terceira Geração das TCC

Podemos falar numa terceira geração de TCC: novas terapias, que convergem em alguns pressupostos básicos
acerca dos fenómenos psicológicos e da terapia, estão a emergir quer da corrente comportamental quer da
corrente cognitiva das TCC.

Caraterísticas:

 Mais do que focarem-se na mudança dos acontecimentos psicológicos diretamente, as intervenções


procuram mudar a função desses acontecimentos e a relação do individuo com os mesmos, através
de estratégias como o mindfulness, aceitação e desfusão cognitiva.
 Tendem a procurar a construção de um repertório de respostas mais vasto, flexível e eficaz, mais do
que uma abordagem que procura eliminar problemas estreitamente definidos.

A mente como uma “Máquina Verbal”:

 Muitas das mensagens (pensamentos) são imprecisas ou mesmo absurdas


 No entanto, os pensamentos negativos e imprecisos dizem-nos que são verdadeiros
 Eles também se “sentem” como verdadeiros”
 Tendemos a dar-lhes uma elevada credibilidade (fusão cognitiva)

Pensamentos e emoções:

 Pensamentos automáticos negativos geram emoções negativas e dolorosas = sofrimento


 Os seres humanos são muito vulneráveis ao sofrimento, e um dos factos mais notáveis da condição humana
é o quão difícil é ser-se feliz
 É notável como é prevalente, intenso e persistente o sofrimento humano
 Estima-se que 30% da população sofre de uma perturbação psicológica importante. Muitos mais sentem
um intenso grau de infelicidade, não diagnosticada como doença psicológica.

Relational Frame Theory (RFT)

O ACT baseia-se numa teoria básica da linguagem e da cognição – Relational Frame Theory (RFT).

Para a RFT o núcleo da linguagem e cognição humana é a capacidade aprendida e contextualmente


controlada par relacionar acontecimentos de uma forma arbitrária, e modificar a função de acontecimentos
específicos baseado na sua relação com outros acontecimentos.

A Relational Frame Theory sugere que é a linguagem a razão para a prevalência do sofrimento
psicológico humano.
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A linguagem é uma competência fantástica para lidar com o meio ambiente, sendo responsável pelo
sucesso da espécie humana em muitas áreas.

Contudo, é também responsável por uma parte importante do sofrimento psicológico como resultado da
transferência da função de estímulo dos referentes para a linguagem utilizada para descrever os referentes.

Palavras (=pensamentos) evocam sentimentos

Se tiver medo de cobras, a simples palavra cobra poderá evocar em maior ou menor grau os
pensamentos e sentimentos associados, como se uma cobra real estivesse presente.

Tudo aquilo que a pessoa está exposta é as palavras. Contudo, as palavras evocam sentimentos e
pensamentos automáticos, como se a situação real estivesse aqui e agora.

A linguagem traz o passado e o futuro para o presente… No presente podem ocorrer pensamentos que nos
fazem recordar a ansiedade experimentada no passado. Podemos antecipar a ansiedade que poderá ocorrer
no futuro.

A armadilha da ansiedade: o passado e o futuro

“apresentaram um trabalho, no mês passado, que não correu muito bem; estavam nervosos e o professor
disse que tinham falado a correr e que alguns conteúdos não se tinham percebido bem; não tiveram uma boa
nota”

Como resultado, sentiram vergonha, sentimentos de fracasso e inadequação, ansiedade.

“têm outra apresentação no mês que vem; o professor dessa disciplina desconhece o que aconteceu na
anterior apresentação”

O que acham que poderá estar a acontecer na vossa mente?

O Futuro e o Passado: construídos como um Presente verbal

Ambos os pensamentos sobre o passado e o futuro, são experimentados verbalmente, como pensamentos,
no presente.

Mesmo que o futuro negativo esperado possa nunca acontecer, os pensamentos acerca disso adquirem
uma função de estímulo para serem experienciados aqui e agora, e não lá e então.

Sem a linguagem não poderíamos evocar um passado negativo ou antecipar um futuro negativo desta
forma (ex., ouvir falar num divórcio ou numa morte, quando passámos pelo mesmo).

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Regras Verbais e Programação

Contudo, a forma como a nossa mente nos encoraja a lidar com a dor complica ainda mais as coisas:

 As pessoas tendem a viver segundo uma regra implícita de que o sofrimento é mau e a ausência de
sofrimento é bom
 E de que se alguma coisa é má devemos tentar livrarmo-nos disso

Embora esta regra possa funcionar bem com as coisas do mundo externo, ela não é eficaz quando aplicada
aos pensamentos ou emoções dolorosas.

Os pensamentos e emoções dolorosas não tendem a desaparecer quando tentamos evitá-los ou suprimi-los.
Pode haver um alívio temporário por distração, álcool, etc., mas os pensamentos e sentimentos dolorosos
tendem a voltar.

A regra “devo evitar os meus pensamentos e sentimentos dolorosos” não funciona.

Dados Empíricos

1) Nos últimos anos várias abordagens têm revelado um interesse crescente pela associação entre o
evitamento emocional, o evitamento cognitivo e a psicopatologia (Hayes et al., 1996)
2) Estudos demonstram que para alguns doentes, a incapacidade para tolerarem emoções negativas, e as
estratégias autodefensivas que usam, contribuem para e mantêm os sentimentos psicopatológicos
(Holland, 2003).
3) Alguns estudos comprovam que o evitamento experiencial (fenómeno que ocorre quando o individuo
resiste, ou procura evitar, estar em contacto com experiencias privadas) excessivo está associado a

60
elevados níveis de psicopatologia, e a consequentemente uma diminuição da qualidade de vida (ex.,
Hayes, Strosahl, Wilson, 1999; Hayes, Strosahl, Wilson et al., 2004).
4) O evitamento experiencia é prejudicial porque os eventos privados não diminuem, ou paradoxalmente,
até podem aumentar de intensidade, quando o indivíduo deliberadamente se esforça para os controlar
(Hayes et al., 1996; Blackledge & Hayes, 2001)
5) A supressão do pensamento consiste em tentativas de distração, controlo e evitamento dos pensamentos
avaliados como intrusivos e incontroláveis (Wells & Davies, 1994). Sabemos que as tentativas de
supressão do pensamento produzem um efeito paradoxal, conduzindo a aumento da sua frequência
(Salkovskis & Campbell, 1994; Salkovskis & Reynolds, 1994).
6) A aceitação, processo oposto, é a experiência completa das emoções e das sensações corporais, sem
encetar esforços para as evitar e/ou controlar (Hayes et al., 1999; Marlatt & Kristeller, 1999)
7) Estudos mostram que a capacidade para lidar com estados emocionais negativos está associada uma
maior aceitação das emoções e, inversamente, com um menor evitamento (controlo experiencial) (ex.,
McHugh, Barnes-Holmes, Wilson & Luciano, 2004).

Implicações da RTF para a Psicopatologia

1) Alguns dos processos que podem conduzir à psicopatologia são utilizados para a solução verbal de
problemas e de raciocínio, não sendo viável na prática eliminar estes processos
2) A ideia comum que as redes cognitivas podem ser logicamente eliminadas ou restringidas não é muito
sustentável porque estas redes são o reflexo de um processo histórico de aprendizagem
3) A tentativa direta de mudança focada nas redes cognitivas cria um contexto que tende a elaborar a
rede nessa área

No seu conjunto estas implicações sugerem que, frequentemente, não é necessário (nem sensato) que a intervenção
clínica seja focada primariamente no conteúdo das redes cognitivas.

O que mantém os velhos hábitos de pensamento

As rotinas disfuncionais e inúteis persistem porque as pessoas mantêm-se num modo cognitivo caraterizado por:

a) Piloto automático
b) Uma constante monitorização e comparação do seu estado mental atual e o estado mental desejado
c) Desejo de se libertar do humor negativo e com uma forte ligação ao objetivo de se sentir feliz
d) Dependência de técnicas verbais de solução de problemas

Tudo isto afasta o indivíduo da prossecução de direções de vida valorizadas.

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O modelo ACT - Psicopatologia

O modelo ACT - Tratamento

Processos Centrais da Terapia ACT

Estes processos centrais são interrelacionados e sobreponíveis. Todos têm como alvo a flexibilidade psicológica,
e podem ser divididos em dois grandes grupos:

 Mindfulness e Aceitação: Aceitação, Desfusão, Contacto com o Momento e Eu como contexto


 Compromisso e mudança de comportamento: Contacto com o Momento e Eu como contexto, Valores e
Compromisso com a Ação.

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Flexibilidade Psicológica: o processo de contactar completamente com o momento presente, como ser humano
consciente, e mudar ou persistir nos comportamentos que servem objetivos valorizados.

Tendo em conta os componentes centrais do modelo terapêutico subjacente a esta teoria, toda a intervenção se
centra em torno dos seguintes tópicos:

 Abandono da agenda de controlo e aceitação da experiência tal como ela é: aceitação


 Clarificação dos valores e estabelecimento de compromissos de ação: valores, compromissos de ação
 Distanciamento dos pensamentos e emoções: desfusão cognitiva
 Estar no momento presente: aumentar o autoconhecimento através do mindfulness
 Desenvolvimento do self como contexto: eu como contexto

Evitamento Experiencial/Aceitação

Evitamento Experiencial: a tentativa de alterar a forma, frequência ou a sensibilidade situacional dos


acontecimentos privados, mesmo quando isso causa problemas e sofrimento.

A aceitação baseia-se na noção que, em regra, tentarmos livrar-nos do sofrimento só o aumenta,


enredamo-nos mais nele… E, entretanto, a vida fica de lado. Envolve abraçar ativa e conscientemente os
acontecimentos privados (pensamentos, emoções, memórias) originados pela nossa história pessoal, sem alterar
a sua frequência ou forma, sobretudo quando fazê-lo causa dano.

Fusão/Desfusão Cognitiva

Em termos mais simples, a fusão cognitiva é a tendência para tratarmos os nossos pensamentos como se
eles fossem realidade.

Assim, o comportamento humano é guiado mais por redes verbais inflexíveis do que pelas
contingências ambientais presentes.

A fusão cognitiva é a base do evitamento experiencial.

Na desfusão cognitiva procura-se modificar a forma como a pessoa se relaciona com os pensamentos.
Procura-se diminuir a qualidade da literalização do pensamento, isto é, a tendência para tratar o pensamento
como se fosse aquilo a que se refere – ex. “estou a ter o pensamento de que eu não presto” em vez de “eu não
presto”.

Passado e futuro/estar presente (mindfulness)

Temos uma tendência enorme para viajar no tempo, constantemente no passado e no futuro – a maior
parte das vezes em piloto automático.
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A ACT procura promover o contacto com os acontecimentos psicológicos e ambientais à medida que les
ocorrem, ou seja, no presente.

O objetivo é ajudar os doentes a experienciar o mundo mais diretamente de forma a que o seu
comportamento seja mais flexível, e assim as suas ações sejam mais consistentes com os seus valores.

Eu conceptualizado/Eu como Contexto

Eu Conceptualizado = Eu sou o que os meus pensamentos dizem que eu sou, recorrendo a uma série de
conceitos (ex.: burra, feia)

Eu como Contexto – A partir de uma tomada de perspetiva é possível termos consciência da nossa
corrente de experiências sem nos apegarmos, facilitando assim a “desfusão” e a aceitação

A identidade começa então a mudar dos conteúdos da consciência para a consciência em si mesma.

Ausência de clareza de Valores/Valores

Valores são qualidades escolhidas de ações com um propósito, que nunca podem ser obtidos (como
objetos), mas podem ser atualizados momento-a-momento.

Nenhum vento é favorável para quem não sabe para onde vai (Séneca).

Falta de ações comprometidas/Ações comprometidas

O ACT promove o desenvolvimento de padrões de ação eficazes ligados aos valores escolhidos.

Incentiva-se a obtenção de objetivos concretos que são consistentes com os valores escolhidos.

As três grandes categorias de intervenções terapêuticas no ACT:

 Mindfulness
 Aceitação
 Vida baseada em valores

Diferenças entre o ACT e a TCC tradicional

i) A ACT não procura modificar o conteúdo dos pensamentos, sentimentos e emoções, mas sim a relação
que o indivíduo tem com eles
ii) O terapeuta não tenta mudar os pensamentos “distorcidos” ou “irracionais”. Através da desfusão
cognitiva ajuda o doente a distanciar-se dos pensamentos e emoções.

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iii) Demonstra ao doente que é impossível ganhar a luta contra a linguagem, mas que não é necessário
fazê-lo para viver uma vida com valor.

Objetivos da ACT

Ensina o doente a estar presente, abrir-se à experiência e fazer o que é preciso.

Terapia focada na Compaixão (Gilbert, 2005)

Psicopatologia

A psicopatologia está ligada à autoproteção (sistema de defesa/ameaça).

Existem múltiplas fontes de ameaça.

A maior parte dos problemas de saúde mental estão relacionados com o processamento da ameaça.

 Medo de ameaças físicas


 Medo de ameaças sociais (externas)
 Medo de fragmentação ou de perda da autocoesão ou identidade

O cérebro e a mente humana evoluíram para lidar com as ameaças inerentes ao estar vivo.

Usamos uma variedade de estratégias defensivas, inatas e aprendidas (evitamento, submissão, esforço para
provarmos que somos bons) que nos ajudam a lidar com os desafios da vida.

Podemos em certas situações ficar encurralados ou presos nas nossas próprias estratégias e sistemas defensivos.

Psicopatologia e abordagem evolucionária

Abordagem evolucionária ajuda a compreender a psicopatologia e o sofrimento humano.

A terapia da compaixão assenta na proposição de que é necessário compreender as complexidades inerentes


à forma como as pessoas processam a ameaça.

A compaixão começa com esta realidade…

O nosso cérebro com os seus motivos, emoções e competências é produto da evolução, desenhado para
funcionar de determinada forma.

As circunstâncias sociais da nossa vida (das quais não temos nenhum controlo) têm importantes implicações
nos diferentes estados da mente, na pessoa que nos tornamos, nos valores que endossamos e na vida que vivemos.

A filosofia básica…
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Estamos aqui, com um cérebro, emoções e um sentido de identidade (socialmente construído) que não escolhemos
e que temos que descobrir e que lidar.

A vida envolver lidar com tragédias (ameaças, perdas, decadência, morte) e as pessoas fazem o melhor que
podem.

“Não temos culpa”. Estamos todos no mesmo barco.

Evolução e Papéis Sociais

Teoria das Mentalidades Sociais

A TMS postula que os sistemas de processamento evoluídos são sistemas sensíveis a sinais e respondem aos sinais
gerados pelos outros.

O cérebro pode simultaneamente enviar e receber sinais que são sociais e formadores de papéis sociais
recíprocos.

Estes sistemas são a base dos esquemas interpessoais a partir dos quais pode ocorrer a autorregulação.

Mentalidades Sociais

 Sistemas que guiam as pessoas na criação de certos tipos de papeis com os outros
 Ajudam na interpretação dos papéis sociais que os outros procuram representar connosco (se agem de
modo cuidador, amigável, sexual ou competitivo)
 Orientam ainda as nossas próprias respostas afetivas e comportamentais no relacionamento interpessoal
(se o outro é hostil, ataco ou fujo; se é amigável, aproximo-me e sou afável)

Tipos de Mentalidades Sociais:

 Procura de cuidados
 Fornecer cuidados
 Formação de alianças

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 Ranking social
 Sexual

Várias terapias desenvolveram técnicas para diminuição de emoções negativas, mas não aumentam
determinados tipos de emoções positivas.

Dois tipos de afeto positivo (drive, focado nas recompensas e nos comportamentos de procura; soothing,
compaixão e aceitação).

Alguns doentes têm enormes dificuldades em aceder ao sistema da auto compaixão e aceitação e ter uma
relação de tolerância, cuidado e aceitação com o eu.

Sistema de defesa-ameaça e segurança

Sistema de defesa-proteção

Quando as crianças e adultos se sentem seguros são mais criativos na resolução de problemas, o
pensamento é mais integrativo e apresentam mais comportamentos pro-sociais.

Quando ameaçados necessitam de estar vigilantes e detetar os perigos, estar prontas para se
defenderem rapidamente, tomando decisões acerca de que respostas acionar (fuga, luta, submissão).

Autoproteção

 Todos os organismos estão estruturados para autoproteção: seguro – não seguro


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 As estratégias defensivas estão ligadas a um conjunto coordenado de emoções, comportamentos e
processos cognitivo
 Os “sintomas” relacionam-se com a ameaça. Benefícios a curto prazo podem levar a problemas a longo
prazo
 Visão partilhada por muitas terapias
 Experiências de ameaça/segurança/recompensa nas co-construções moldam os fenótipos das
mentalidades sociais

Sistema de segurança

Nos humanos a segurança é conferida através das relações sociais.

A segurança social é co-criada nas relações através de um conjunto de sinais e trocas que são
fundamentais para a saúde e bem-estar.

Menu de comportamentos defensivos:

 Luta
 Fuga
 Submissão
 Esconder-se
 Camuflagem
 Cut-off
 Desmobilização
 Apegar-se
 Procura de ajuda

Comportamentos defensivos: detetar, proteger, evitar, subjugar, perseguir, erradicar. As pessoas podem
adotar esta orientação defensiva em relação a si mesmas. Podem sentir ódiio e raiva por si mesmas e
autodirigirem os comportamentos de defesa de detetar, proteger, evitar, subjugar e eliminar contra si mesmas.

Autocriticismo

A TMS e a Relação Eu-Eu

Os seres humanos desenvolveram competências especificas para poderem aprender, compreender e


desempenhar papéis sociais.

Estas competências podem ser recrutadas para a relação com o eu e jogar uma contra as outras.

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Relação interna Eu-Eu

É possível, então, que os indivíduos recrutem para o seu mundo interior as mesmas mentalidades sociais,
os mesmos sistemas de processamento de informação e padrões de resposta comportamental específicos.

Podem adotar uma orientação de ameaça e defesa em relação ao próprio Eu (proteger, evitar, corrigir,
subjugar, perseguir, erradicar – Autocriticismo) ou de tolerância, compaixão e aceitação (cuidar, dar afeto,
tranquilizar – autocompaixão).

Autocriticismo

O Autocriticismo é uma forma de relação interna que está enraizada nos sistemas psicobiológicos que se
desenvolveram para a relação social e desempenho de papéis sociais.

Relação interna hostil-dominante que ativa o sistema de processamento defesa-ameaça.

Este processamento interno autodirigido, na maioria das vezes, constitui um comportamento de


defesa/proteção com funções e formas específicas.

Quando surge? Tipicamente ativado quando as pessoas sentem que falharam em tarefas importantes,
ou se as coisas correram mal.

Uma resposta alternativa ao fracasso pode ser o auto-suporte ou autocompaixão (Gilbert, 2000).

Origem – como se desenvolve um estilo de autorrelação interna hostil?

A criança necessita de aprender a estabelecer as suas estratégias e papéis e de desenvolver crenças


nucleares acerca de si e dos outros que sejam apropriadas ao contexto social em que se insere. Estratégias de

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aproximação, confiança e abertura aos outros podem ser altamente disfuncionais em contextos de hostilidade.
Pelo contrário, a atenção ao poder e ameaça dos outros poderá ser mais adaptativo.

A mentalidade social mais eficaz no lidar com ameaças sociais é a mentalidade de Posto Social ou de Ranking.

Submissão – na competição os indivíduos podem tornar-se excessivamente submissos para lidar com as ameaças
ou procurar proteção e investimento do indivíduo dominante, o que vai gerar diferentes tipos de relação
(dominante e subordinado).

Uma das funções deste mecanismo é dirigir a atenção para o Eu, porque não há possibilidade de alterar
o comportamento do dominante (potencialmente danoso, especialmente se o indivíduo estiver
encurralado)

Aprendemos a defendermo-nos pela emissão de comportamentos de defesa que criam “um sentido de
proteção”, diferente dos comportamentos e emoções de safeness (Tranquilização, contentamento).

A mentalidade de ranking social torna-se numa mentalidade de organização dominante para o processamento
interno autodirigido (Eu-Eu) e para o processamento Eu-Outros.

Pode então ser uma defesa natural e básica, condicionada de muitas formas:

 Em ambientes que são hostis e quando não é possível fugi a um outro poderoso que é critico/abusador
ou que ameaça retirar o amor e proteção
 Quando a criança experimenta uma retirada contingente de afeto por se comportar de forma dominante
ou assertiva
 Quando é dito à criança que ela é má ou que não gostam dela

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O Autocriticismo como abuso interno pode funcionar como um sinal interno hostil; é como ter um sistema de
auto-monitorização que está constantemente à procura de fraquezas para condenar o Eu. Se isto se repete ao
longo do tempo o indivíduo pode sentir-se perseguido pelos seus auto-ataques.

O auto-ataque pode dirigir-se a diferentes aspetos do Eu. A crítica interna (como um outro dominante)
pode advertir e sinalizar ameaça (“se não perdes peso ninguém gosta de ti”), pode prestar atenção e identificar
falhas e erros (“nunca fazes as coisas bem”), pode comandar (“tens que parar de comer”; “não podes mostrar
os teus sentimentos”), pode delinear regras condicionais e rotular nomes e vergonha (“és patético e inútil”).

Existem diferentes tipos de emoções autoconscientes associadas. O Autocriticismo está ligado à:

 Vergonha Externa (pensamentos acerca dos ataques e desvalorização dos outros)


 Vergonha Interna (pensamentos negativos acerca do Eu)
 Culpa
 Humilhação

Dimensões do Autocriticismo

Gilbert (2004) propões duas funções-chave:

a) Auto-correção e melhoria – tem como função tentar fazer com que o Eu se aplique e esforce mais ou
impedir que a pessoa repita ou faça erros
b) Auto-perseguição – nos indivíduos autocríticos que se perseguem e detestam, a função reside no forçar
o Eu a submeter-se à dominância e poder da parte hostil. Ativação de diferentes emoções (aversão ou
nojo).

Porque é que é tão difícil mudar o Autocriticismo? Se as pessoas forem confrontadas com a possibilidade
cortarem com este podem sentir medo de perderem um processo de autorregulação sentido como fiável. Isto
gera incerteza acerca de como se vão comportar e receiam perder o sentido de auto-identidade.

Intervenção dirigida ao Autocriticismo

Dados empíricos

 A relação entre perfecionismo e psicopatologia deve-se ao componente de autocrítica do perfecionismo


(Dunkley et al., 2006)
 Rector et al. (2000) verificaram que os doentes com índices elevados de Autocriticismo tendiam a obter
fracos resultados na terapia cognitiva, mas que os resultados dependiam do grau de modificação do
Autocriticismo

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 Teasdale e Cox (2001) mostraram que indivíduos já recuperados da sintomatologia depressiva com uma
diminuição no estado de humor tornaram-se mais autocríticos do que os indivíduos não deprimidos.

Psicopatologia e abordagem evolucionária

A terapia da compaixão assenta na proposição de que é necessário compreender as complexidades inerentes


à forma como as pessoas processam a ameaça.

 Dirigida para a Vergonha e para o Autocriticismo


 O treino da Compaixão é considerado a via para o desenvolvimento de uma mente compassiva

O que fazer na Terapia

 Explicar como o cérebro está construído de forma a nos tentar proteger


 Explicar como os nossos sistemas de ameaça-defesa funcionam: que eles estão desenhados para serem
rápidos e podem emergir em nós mesmos antes de termos consciência disso – não é culpa sua.
 Voltar repetidamente aos comportamentos de segurança que podem ser involuntários – a regra da
mente “é melhor prevenir que remediar”
 Evitar termos como “distorção do pensamento” ou esquemas mal adaptativos, pois podem ser
constrangedores. O que pretende é desenvolver uma compreensão compassiva acerca da forma como
a mente humana funciona.

O que deve fazer o terapeuta?

 Discuta os múltiplos sistemas na nossa mente e como é normal sentir conflitos


 Ensinar o doente a aceitar as suas experiências internas (importante)

O mindfulness envolve aprender a dirigir a nossa atenção, de um modo não ajuizador, de forma a ter
consciência dos nossos pensamentos, sentimentos, ações, à medida que eles emergem no presente momento.
Envolve cultivar uma atitude de intensa curiosidade acerca da nossa experiência interior (Kabat Zinn, 2005).

Terapia Focada na Compaixão

Definição de Compaixão

Sensibilidade para o sofrimento do Eu e dos Outros, num profundo compromisso de ajudar na sua
diminuição/alívio (Dalai Lama).

Compreender e reconhecer que nem todo o sofrimento pode ser controlado ou resolvido, mas que poderá
tornar-se mais acessível (tolerável) a partir da compaixão.

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É uma resposta multidimensional ao sofrimento, tristeza e angústia. Inclui a bondade, empatia,
generosidade e aceitação. Fazem também parte desta resposta a coragem, a tolerância e a equanimidade.

Capacidade de abertura ao sofrimento e aspiração ao seu alívio.

Componentes da Compaixão a partir da Mentalidade de Prestar Cuidados

Cria oportunidades para crescer e mudar, com Bondade.

(Paul Gilbert, 2007)

Treino da Mente Compassiva

1) Preparação: estabelecer o contexto e introduzir o modelo do treino da mente compassiva


Explorar o valor de desenvolver compreensão, afeto e compaixão por si mesmo
2) Compreensão Empática
Tornar-se empático com o seu próprio sofrimento e preocupação com o seu bem-estar
3) Gerar alternativas compassivas
Convidar o doente a mudar de perspetiva, perguntando “o que é que diria a um amigo ou a alguém
com quem se preocupasse acerca dessa situação”

Criação de um lugar seguro.

Aplicação da Compaixão

Progressivamente o foco é posto no geral de imagens compassivas de uma parte de si mesmo,


acentuando que essas qualidades existem já no eu, talvez adormecidas, mas podem ser descobertas e
desenvolvidas.

 O objetivo é ajudar o doente a transportar essa imagem compassiva consigo mesmo no seu dia a dia
 Pode ser necessária alguma prática até o doente começar a gerar e a colorir a imagem com os
sentimentos e qualidades da compaixão

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