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Diana Wynne Jones FB Gaga dos JQuitos’ Gaminhos Tradugao de RAQUEL ZAMPIL, 2 SUMARIO invio Um fal Charmain ¢ indicada para cuidar da ile um mago WrirvLo Dors Qual Charmain explora a casa pirvLo Tees qual Charmain trabalha em varios feitigos H mesmo tempo |Apirvro Quarto. vie apresenta Rollo, Peter e misteriosas mudangas n Desamparado Cavirvro Cinco Wo qual Charmain recebe sua ansiosa mie Caviruro Seis Que diz respeto a cor azul Diana Went Jones Capirezo Sere No qual varias pessoas chegam & mansio real Caviruto Orr No qual Peter tem problemas com o encanamento Capiroto Nove ‘Como a casa do tio-avé William provou ter ‘muitos caminhos Captruvo Dez No qual Fafsca sobe no telhado CapirvLo Onze ‘No qual Charmain se ajoelha em um bolo Capfruto Doze Que diz respeto a roupa suja e 0s ovos de luboque Cavirvto Taeze No qual Cakifer esta muito ativo Carfruto Quarorze Que é cheio de Kobolds outra ver CaPtruto Quinze No qual o menino Faisca é sequestrado Capiruto Dezesseis Que ¢ cheio de fugas e descobertas Capituco UM No qual Charmain ¢ indicada para ceuidar da casa de um mago o pode- armaln ever ~ deta Sempra. — Crocs dear to. Willa efetr io sexaha ~ Seu tio-av6 William? — espantou-se aSra. Baker. — Ele Iho 6. — Ela tossiu e baixou a voz porque iso, para ela, nao ‘ra muito agradavel. — Ele ndo é um mago? — Naturalmente — disse tia Semprénia, — Mas ele tem, Baixowa vor novamente. — Um tumor, sabe, em suas entra inhas,e somente os elfos podem ajudé-lo.Elesprecisam levé-lo prasercurado, veja bem, ealguém precisa culdar da casa dele. (0s fetigos, voc# sabe, fogem se nio houver ninguém li para Vigi-los. E ew estou ocupada demais para fazer isso. S6a mi ‘nha insttuiggo de caridade, que cuida de cies abandonados. ° Diaxa Weuse Jones ~ Eu também. Estamos cheios de pedidos de bolos de ca- samento este més — disse apressadamentea Sra, Baker. — Esta ‘manha mesmo, Sam estava dizendo, — Ento tem de ser Charmain — decretou tia Sempronia. — Com toda certeza, ela jf tem idade suficiente. — Hi. — disse a Sra, Baker. ‘Ambas olharam para outrolado da sala onde filha da Sra ‘Baker estava sentada, mergulhada em um livro, como sempre, como corpo comprido e esguio inclinado na pouca luz do sol ‘que passava pelos gerinios da Sra, Baker, o cabelo ruivo preso. no alto como uma espécie de ninho de péssaros, os éculos empoleirados na ponta do nariz. Ela segurava um dos imen. 08 € sueulentos pastéis do pai em uma das mios ¢ mastigava enquanto lia. Os farelos iam caindo na liveo,¢ ela 0s espanava como pastel quando caiam na pagina que estava lendo. — Hi... vocé nos ouviu, querida? — perguntoua Sra. Baker, — Nao — respondeu Charmain com a boca cheia. — 0 gue for? — Estd combinado, entio — disse tia Semprénia, — Vou deixar que voce explique a ela, Berenice, querida, — Ela se pos de pé, majestosamente sacudindo as dobras do vestido de seda «engomada e, depois, do guard-sol também de sed, — Voltarei para busci-la amanha pela manha — avisou. — Agora é me- Thor eu ire contarao pobre tio-avé William que Charmain vai ‘cuidar das coisas para ele, Saiu apressada da sala, e deixou a Sra. Baker com desejo ‘de que a tia do marido ndo fosse tho rica nem tao mandona, e se perguntando como iri explicar a Charmain, sem falar em 10 ‘A Casa Dos Mutros Cammnnos Sam, que nunca deixava Charmain fazer nada que nao fosse absolutamente respeitavel. Fo mesmo ocorria com a Sra. Baker, lexceto quando tia SemprOnia estava envolvia, Enquanto isso, tia Sempronia montava em sua pequena ¢ elegante charretee era levada pelo cocheiro para o outro lado dda cidade, onde tio-avé William morava. — Marranjei tudo — anunciou ela, desizando pelos cami ‘nhos mAgicosaté onde otio-avé William se encontrava sentado, Soturno, escrevendo em seu estidio, — Minha sobrinha-neta ‘Charmain esté vindo para cé aman. Ela vai ajudar em sua partida e cuidar de voce quando voltar. Enquanto isso, vai tomar conta da casa para voet. — Quanta gentileza dela — disse o tio-ave William, — Suponho que entao sefa bem versada em magia, — Nao tenho a menor ideia — afirmou tia Semprania, — (© que eu sei que ela nunca tira o narie dos livros, nunca fer trabalho algum na casa € tratada como um objeto sagrado pelos pais. Vai ser bom para ela fazer algo normal para variar — Puxa vida — disse o tio-avé William, — Obrigedo por ‘me avisar, Vou tomar cuidado entao, — Fasa isso — concordou tia Sempronia. — E é melhor ‘euidar para que tenha bastante comida na casa, Nuca conhe- i uma garota que comesse tanto. E continua magra como a Yassoura de uma bruxa, Nao consigo entender isso, Vou trazé-a fagui amanha, antes que os elfos cheguem. Ela se virow esaiu, — Obrigado — disse o tio-avé William debilmente para suas costas rigidas e farfalhantes. — Ora, ora — acrescentou " Diana Wenn Jowns, quando a porta da frente bateu com forca, — Pois bem. pre- iso ser grato pelos parentes que eros, creo, CCharmain, por mais estranho que paresa, também ficou muito agradecida & tia Semprénia. Nao que ela estivesse agradecida por ter sido indicada para cuidar de um mago velho e doente. ue ela nunca vira, ~ Ela devia ter perguntado a mim! — disse ela, algumas — Acho que ela sabia que voce diria no, querida —acabou sugerindo a Sra, Baker. — Talver — disse Charmain. — Ou— actescentou ela, com lum sorriso secreto — talvez néo. — Querida, nao espero que voce vi gostar dessa tarefa — lisse, hestantea Sra, Baker. — Nao é nem um pouco agradlivel, Apenas seria muito generoso.. — Voc€ sabe que no sou generosa — disse Charmain, esubiu & escada, indo para seu quarto branco cheio de babados, onde se sentou a sua linda escrivaninha. Olhou pela janela para os telhados, torres e chaminés de Cidade da Alta Notlanda,eentio Jevantou os olhos paraas montanhas azuis mais além, Na verda- 4e, essa eraa chance pela qual vinha esperando, Estavacansada de sua escola respeitive e muito cansada de morar naquelacasa, com a mie a tratando como se fosse uma tigresa que ninguém sabia com certeza se estava domada, eo pai proibindo-ade fazer coisas porque nio eram distintas, ou seguras, ou costumeiras, Essaera.a chance de sar de casa e fazer alguma coisa —a nica coisa — que Charmain sempre quisera fazer. Valiaapena tolerar Acasa de wm mago s6 por isso, Elase perguntou setinha coragem deescrever a carta que acompanheva a ideia, 2 A.Casa dos Murros Caminnos Por muito tempo, Charmain nio teve coragem. Ficou jada olhando as nuvens se empilhando ao longo dos picos fmontanhas, brancas e pirpuras, criando formas como dais gorduchos e esguios dragtes em pleno ataque, Ficou ino até as nuvens se dissiparem por completo, transfor~ indo-se em nada que nio fosse uma leve névoa contra 0 iy azul. Entdo ela disse: “E agora ou nunca.” Depots disso, ipirou, pegou os Sculos na corrente que pendia de seu pes- iso eapanhou sua caneta boa ¢ 0 melhor papel de cartas. E scteveu, em seu melhor estilo: Vos Maja Drade orev rum ncn eon pl pinta etches gruel dere manu, ano tmetator em os ioe, bore eda ie Vous Moje om lo desi Sus Akers Re pin. coal jon psoas enpjdee long tnt desdeonar sar conti ibe Rel sn in ps pce mit Cone reponse quo me cnddatar 4 pot de Boeck thet Bibles ed sper qe Vora Meade no came minha lca ordeal presen Siamese hamaln ake ado Mi, 2 aed aa Norns ‘Charmain recostou-se e releu sua carta. Inevitavelmente, pensou cl, escrever dessa forma para 0 velho rei era puro atrevimento, mas a carta lhe parecia bastante boa. A tinica B DIANA Wrens Jonas coisa dia era 0 “sou responsivel”. Chatman sabia que iso, ‘em geral, significava que a pessoa tinha 21 anos — ou pelo ‘menos 18 —, mas tinha a sensagio de que aquela ndo era exatamente uma mentira, Ela nio mencionara idade, afinal, Tampouco dissera que era imensamente versada ou altamen- te qualificada, porque sabia que nio era. Nem mesmo reve- Jara que amava os livros mais do que qualquer outra coisa ‘no mundo, embora isso fosse a pura verdade. Ela s6 teria de confiar que seu amor pelos livros transparecesse. ‘Tenho quase certeza de que o rei vai simplesmente amassar ‘carta € atiré-la no fogo, pensou, Mas pelo menos tentei CCharmain saiu e pos a carta no correio, sentindo-se muito ‘corajosa desafiadora Na manha seguinte, tia Semprénia chegou em sua charrete ¢ conduziu Charman, junto com uma bela bolsa de tapecaria ‘que a Sra. Baker arrumars com as roupas da filha, e uma mala ‘muito maior que o Sr. Baker havia preparado, estufada com ‘pasts e guloseimas, paezinhos, fs etortas. Tao grande era «essa segunda bolsa, ¢ com cheiro tao forte de saborosas er- vas, molho, queijo,frutas, geleias e temperos, que o cocheiro Buianclo a charrete virow-se para trés e fungou, admirado, ¢ até mesmo as nobres narinas de tia Sempréinia se inflaram, — Bem, de fome voce ndo vai morrer, crianga — disse ela, — Prossigamos, ‘Maso cocheiro teve de esperar alé quea Sra, Baker houvesse abracado Charmaine dit: ~ Seique posso confiar, uerida, que vocé seré boa, ordeira eatenciosa, A Casa nos Murros Castros Isso ¢ mentira, pensou Charmain, Ela ndo config nem um poco em mim, Entdo, 0 pai de Charmain se apressou a dar um beijo na Dochecha da fila. = Sabemos que vocé nio vai nos decepcionar — disse ele Outra mentira, pensou Charmain. Vocés sabem que vou. — E vamos sentir sua falta, meu amor — afirmou a mie, juase em lagrimas. Talvezisso nio seja mentiral, pensou Charmain com alguma lpresa, Embora eu me pergunte por que eles gostam de mim, ~ Bim frente! — disse severamente tia Semprénia, ¢ foi 0 le 0 cocheiro fez. Quando a charrete atravessava tranguila- le as ruas ela disse: — Agora, Charmain, eu sei que seus is the deram o melhor de tudo e que voc® nunca teve de fer nada por conta propria. Esta preparada para cuidar de yesma, para variac? = Ah, sim — respondeu Charmain sinceramente. = Ba casa eo pobre velho? — insist tia Semprénia. = Vou dar o melhor de mim — afirmou Charmain, Temia Ha Semprénia desse meia-volta ea evasse direto paracasa, Io dissesse isso, Voct recebeu uma boa educagdo, nio foi? — perguntou imprénia, Incluindo musica — admitiu Charmain, um tanto Mla. Apressou-se em acrescentar: — Mas eu nao era nada sso, Portanto, ndo espere que eu toque melodias calman 8 0 tio-av6 William, Nilo espero — retrucou tia Semprénia, — Como ele é Iago, provavelmente pode fazer as proprias melodias cal Diawa Wie Jones ‘antes, Eu s6estava tentando descobrir se vocéteve formagio Dsica apropriada em magia. Teve, nfo foi? Pareceu a Charmain que suas entranhas desapareciam, dentro dela, ¢ era como se levassem junto sangue de seu rosto, Ela nao ousou confessar que no sabia nem mesmo a coisa mais bisica sobre magia. Seus pais — particularmente a Sra, Baker — nao achavam que magia fosse algo distinto, Ea parte da cidade em que moravam era tio respeitivel que a escola de Charmain nunca ensinow nada sobre magia. Se alguém quisesse aprender uma coisa assim to vulga, tina de procurar um professor particular. E Charmain sabia que 10s pais nunca terlam pago por tai aulas. — Ha. — ela comecou. Felizmente tia Semprdnia simplesmente continuow: — Morar numa casa cheia de magia ndo € brincadeira, voce sabe. — Ah, ew nunca pensaria nisso como uma brincadeira — disse Charmain com sinceridade — Otimo — aprovou ta Semprénia, erecostouse A chatrete prosseguia. Atravessaram a Praga Real, passa ram pela Mansio Real, que se erguia em uma das exiremidades dapraga com seu telhado dourado reluzindo ao sol,e seguiram para a Praga do Mercado, onde Charmain raramente tinha ‘petmissio para it. Ela clhava melancélica para as barracas € todas as pessoas comprando coisas e tagarelando, evirot para trés, mantendo os olhos naquele lugar, enquanto entra- ‘yam na parte mais antiga da cidade. Aqui as casas eram tio, altas e coloridas, ¢ tao diferentes umas das outras — cada uma delas parecia ter a cumeeira mais ingreme e janelas po: 6 A.Casa nos Murtos Casnos sicionadas em pontos mais estranhos do que a outra — que CCharmain comegou ater esperangas de que morar na casa do tio-avd William talver viessea ser muito interessante, afinal ‘Mas a charrete seguit em frente, atravessando as partes mais, jpobres e sombrias — passando por meros casebres e saindo nos campos, onde um grande rochedo inclinava-se sobre a estrada e casinhas ocasionalmente erguiam-se recuadas em Ieio as sebes —, € as montanhas passaram a se avultar cada \yez mais perto eacima deles. Charmain comegou.a pensar que fstavam saindo da Alta Norlanda, entrando em outro pai. ‘Qual seria ele? Estringia? Montalbino? Desejou ter prestado Inais atengio as aulas de geografia. [No exato momento em que desejava isso, 0 cocheiro parou iante de uma pequena casa esmaecida, no fando de um com [prido terreno com um jardim na frente, Charmain olhou-a do jutro lado do pequeno porti de ferro esenti-seextremamen- fe desapontada. Era a casa mais sem graca que jévira, Havia ‘uina janela de cada lado da porta da frente marrom eo telhado {or de rato descia sobre elas como sobrancelhas franzidas. Nio Pparecia haver segundo andar. ‘Chegamos — disse tia SemprOnia alegremente. Ela des- ‘eu, abriu ruidosamente o pequeno portdo de ferro, econduzix ‘Charmain pelo caminho até porta da frente. A garota cami Iphou, desanimada, atris dela, enquanto o cocheiro as seguia {Gon as duas bolsas de Charmain. 0 jardim de ambos os lados ‘Wo caminho parecia consistirinteiramente de arbustos de orténsias, azuis, verde-azuladas e malva, “— Nao creio que voce tenha de cuidar dojardim — disse tia Senprdniajovialmente, Enespero que ndo!, pensou Charmain, v Diana Wen Jones — Tenho quase certeza de que William tem um jardineiro — afirmou tia Semprénia — Espero que sim — replicou Charmain, Tudo que ela conhecia sobre jardins era o quintal dos Baker, que continha tum grande pé de amora e uma roseira, e mais as jardineiras fem que a mae cultivava vagem. Sabia que havia terra debaixo das plantas e que a terra continha minhocas. Estremeceu, ‘Tia Sempronia bateu energicamente com a aldrava na porta da frente marrom ¢ entdo entrou na casa, gritando: — U-hu! Bu trouxe Charmain para vocé! — Muito obrigado — respondeu o tio-avé William, Aportada frente levavadireto a uma sala de estar bolorenta, ‘onde 0 tio-avé estava sentado em uma poltrona bolorenta ¢ amarelada, Havia uma mala de couro ao lado dele, coma se j& cestivesse pronto para partir. — £-um prazer conhect-la, minha querida — disse ele a Charmain, — Como vai o senhor? — perguntou ela educadamente, Antes que qualquer um dos dois pudesse dizer alguma coisa, tia SemprOnia anunciou — Muito bem, entdo, vou ter de deixi-los, Ponha a bagagem dela ali — disse a0 cocheiro, que, obedientemente, descarregou as bolsas atrés da porta e se foi. Tia Semprénia 0 seguitu em lum crepitar de sedas caras, gritando ao sair: — Até logo para voces doist A porta se fechou com um ruido, deixando Charmain ¢ 9 tio-avé William othando um para o outro. © tio-avo era um homenzinho quase totalmente careca, exceto por alguns fiapos de cabelos finos e prateados que 8 A.CASA pos Murros Caxisios vam topo de sesh. Setar se gid, encarado sno guem char doco or porte : rete Fact ens Paspersinftoes depend Sor ais casos mosrando sat aera rato nla, come segue, Charman oo got ng retour no ost de minboes epee prema oe mt aks compete Ghscotoa Wiliam Sunvor ea cansnda eget — Gatco rma €um bom snl una opto, Muto Ac gu comege cur dng equate ester ge eum tanto gored, ee pes go an ise Charan, a olen posi Ie hate ermal ~ Pode we diner lgunas Thin gute? Enborsevespere ni frag porn tempor peso el asim geo responder recs tio. Willa — ata doméstias Ann dr ee mages Neeser fini Coo cuniculi stearate algunas mei shor pe Chormain Beach gue saiguna side maga Tate dtr t-avd par expat, mes nage symtoms interop 8 Fors eee Ghetucom um ud, una procs de er mut, muto i (os entrou em siléncio. Estavam todos vestidos de branco, cto medcos ent haviaabslaente nena rr Diana Wewn Jonzs slo em seus indos rostos. Charmain fitou-os, extremamente enervada por suabeleza, sua altura, sua neutralidadee,acima de tudo, por seu completo silencio. Um dele aastou-adeli- cadamente para um lado e ea ficou ali, onde fora colocada, sentindo-se desajitada e confusa, enquanto 0s outros se agrupavam em torno do tio-avd William, comascabecas des Jumbrantesinclinadas sobre ee. Charmain néo tev certeza do que fizeram, mas, segundos depois, otio-avd William estava ‘vestido em um roupso branco els o erguiam da cadeira. Heviao que pareciam trés magis vermelhaspresasnacabega dele, Charmain pode ver que ee estava dormindo — Hi... voces nlo estdo esquecendo a valise dele? — per ‘guntou ela enguanto o levavam na diresio da porta — Nio vamos precisar dela — disse um doselfos,mantendo porta aberta par os outros pssarem com oto-av6 William, Depois, quando todos desciam o caminho no jardim, ‘Charmain corre até a porta abertae gritou: — Quanto tempo ele vai ficar fora? De repente, pareceu-lhe urgente saber por quanto tempo seria responsivel por aquele lugar. =O tempo que for preciso — replicon outro dos fos. Eno, eles desapareceram antes de chegar 20 portio do jardim, 20 Capitulo Dols No qual Charmain explora a casa harman ficou olhando o caminho vazio por algem tempo, fe entdo fechou a porta cam forca. — Agora o que eu faco? — perguntou a sala bolorenta ¢ eta. © Receio que vocé vé ter de arrumar a cozinha, minha rida — disse a voz cansada e gentil do tio-avo William, la do nada, — Pego desculpas por ter deixado tanta roupa | Por favor, abra minha valise para obterinstrugdes mais plexas. {Charmainlangouum olhara valise. Entdoo tio-av6 William ra mesmo a intengdo de deixé-a ai "— Em um minuto — disse ela valise.— Ainda nfo desfiz ‘inhas malas. — Ela apanhou as duas bolsas e marchou. a Diana Wea Jonzs com elas para a tnica outra porta que havia ali. Ficava nos fandos da sala e, depois de Charmain tentar abri-la com a ‘mio que segurava a bolsa de comida, entdo com aquela mio enquanto segurava ambas as bolas, finalmente com amas as mos ¢ com ambas as bolsas pousadas no chlo, descobrix «que porta levava& cozinha. Foul parada,olhando por um momento. Ent, arastou 4s duas bolas pouco antes da porta se fechar, e ficou obser- vando mais um pouco, = Que bagunga! — exclamou ela Devia ter sido urna corinha espagosae confortvel Tinha ‘uma janela ampla que dava paraas montanhas, por onde entra vaaagradive uzdo sol Infelizmente,o sol servia apenas para realgar as enormespilhas de pratos e xicaras que se erguiam dentro da pia, no escorredor eno chio aolado da pa. Aluz do sol entio —e, com ela os desalentadosolhos de Charmain — langou um brilho dourado sobre as duas bolsas de Iona cheias de roupas sujas que se encostavam na lateral da pi, Estavarm tio abarrotadas qu otio-av6 William estiverausando-as como uma pratelera para a pitha de panelase uma frigideira suas Osolhos de Charmain deslzaram deli paraamesanomeio do comodo. Era ali quo tio-av6 William parecia guardar seu suprimento de uns trinta bus de ché eo mesmo nimero de jarros de ete — sem falar nos viros ecpientes que um dia contiveram molho. A sua propria maneira, estava tudo arr ‘mado, pensou Charmain, que entulhadoe suo, — Suponho que voc8 esteja mesmo doente — disse CCharmain, mal-humorada, para 0 at. Nao houve resposta dessa vez Cautelosamente, ela fo atéa pia, onde tinhaasensagdo de que alguma coisa esta faltando, 2 A.Casa Dos Mustos Caminnos ju um momento para ela perceber que nao havia torneia. wavelmente essa casa ficava to longe da cidade que nenhum spo de égua fora instalado, Quando ela olhou pela janela, pode rum quintalzinho e uma bomba no meio dee. — Entio eu devo ir até, bombeara aguae trazt-a para ci, depois o qué? — perguntou Charmain.Elaolhou paraalarcira wuarae vazia. Fra verdo, afinal, entdo naturalmente ndo havia ygo nem nada para queimar, pelo que podia ver. — Aqueso ‘igua? — perguntou ela. — Numa panela suja, suponho, e snsando bem, como vou lavar alguna coisa? Seré que ndo vou wer tomar banho? Ele ndo tem um quarto ou um banbelro? Bla correu para uma portinha além da lareira ea abriu. xdas as portas do tio-avd William pareciam requererafor- inde dez homens para abri-las, pensou, zangada. Ela quase [podia sentir o peso da magia mantendo-as fechadas. Viu-se ‘lhando dentro de uma pequena despensa, Nao havia nada fas prateleiras além de um pequeno pote de manteiga, um [plo de aspecto mofado e uma grande bolsa misteriosamente iquetada CIBIS CANNICUS, que parecia estar cheia de flocos de sabao, E, amontoadas no fundo da despensa, havia iduas outras grandes bolsas de roupa suja, tao cheias quanto ts que estavam na cozinha. — Fuvougritar— disse Charmain, — Como tia SemprOnia pode fazer isso comigo? Como mamae permitiu? Nesse momento de desespero, Charmain s6 conseguia [pensar em fazer © que sempre fazia em momentos de crise: {solar-se em um livro, Ela arrastou suas duas bolsas atéa mesa lotada e sentou-se em uma das duas cadeiras que havia al Entio, desafivelou a bolsa de tapegaria, calocou os éculos no 3 Diaxa Wrwwe Jones naria e mergulhou avidamente entre as roupas em busca dos livros que havia pedido & mie que guardasse na mala para cla. ‘Suas mos nao encontraram nada além de maciez. A nica coisa dura ali era uma grande barra de sabio entre seus produ- tos de limpeza, Charmain a atirou do outro lado da cozinha, dentro da lareira vazia, e continuou procurando, — Eu nio acredito nisto! — exclamou. — Ela deve té-los colocado primeiro, lf no fundo, Entdo, virou a bolsa de cabera) para baixo e sacudiu tudo no chio da cozinha E ld se foram caindo montes de saias, vestides, meias, blusas, dois casacos tricotados, andguas de renda e roupas de baixo suficientes para ‘um ano, tudo lindamente dobrado, Em cima de tudo, cairam seus novos chinelos. Depois, a bolsa ficou vazia. Ainda assim, ‘Charman apalpou todo o interior antes de atiré-la para o lado, deixar os éculos despencarem atéa extremidade da corrente, perguntar-se se devia chorar. A Sra. Baker havia de fato es- ‘quecido de guardar os livros na mal. — Bem — disse Charman, depois de um intervalopiscando « engolindo em seco, — Acho que nunca estive longe de casa ‘mesmo. Da préxima vez em que fora algum lugar, eu mesma vou fazer a mala e enché-la de livros, Por ora, tenho de fazer o melhor que puder, Fazendo o methor que podia, ergueu a outra bolsa até a ‘mesa entulhada e abriu espago para ela, — Be ndo ligo! — disse Charmain enquanto caiam, Para algum alivio seu, os jarros de lite estavam vazios e simples- ‘mente oscilaram, eo bule de cha tampouco se quebrou. Ficou apenas caido de lado, pingando chi no chao, — Esse deve ser ‘lado bom da magia — disse Charmain, pegando um pastel 4 A.Casa pos Muiros Camisnios arne. Enfiou a saia entre as peas, fincou os cotovelos na a € deu uma imensa, saborosa reconfortante mordida ‘Alguma coisa frie trémulatocou a parte nua de sua perna cia ‘Charmain ficou paralisada, nfo ousando sequer mastigat la cozinha estécheia de grandes lesmas mégicas!, penso ‘A coisa fria tocou outra parte de sua perna. Com o toque, jo um gemido bem baixinbo, ‘Muito lentamente, Charmain puxou de lado saiaea toalha jothou para baixo. Debaixo da mesa, estava um cachorrinho lanco extremamente pequeno malcuidado, olhando para com um ar patético e se tremendo todo. Quando ele viu CCharmain o olhava, empinou orelhas brancas desiguais € aparéncia desfiada e balangow a cauda curtae fina. Entio, tia novamente um gemido sussurrado, — Quem é vocé? — perguntou Charmain. — Ninguém me Tilou de um cachorro, ‘vor do tio-avé William surgiu do nada mais uma vez — Este ¢ 0 Desamparado. Seja muito gentil com ele. Eu 0 encontrei abandonado ¢ ele parece ter medo de tudo. Charmain unca tivera muita certeza em relagio a caes. ‘A mie dizia que eles eram sujos e que mordiam e que nunca {eriam um na casa, portanto Charmain sempre icava nervo- a.com qualquer cachorro que encontrasse. Mas esse era tio [pequeno. Parecia muito branco e limpo. E parecia ter muito ‘mais medo de Charmain do que ela dele. E ainda estava se {remendo todo. — Ah, pare de tremer — disse ela, — Nio vou machucar 5 DiaNa Wesive Jowes ‘Desamparado continuou tremendo e alhando para elacom| ar patético, CCharmain suspirou. Partiu um bom pedaco de seu pastel eoestendeu acle — Aqui — disse ela. — Tome isso por ndo ser uma lesma, O nariz reluzente de Desamparado estremeceu na ditegio do pedago de pastel, Ele ergueu os olhos, para ter certeza de {que la queria mesmo lhe dar, eentio, delicada eeducadamen- te, pegou o pastel com a boca e o comeu, Entio, olhou para ‘Charmain pedindo mais. Ela estva fascinada coma delicadeza) dele. Tirou outro pedago do pastel. E mais autro, No fim, di- vidiram o pastel meio a meio, — Acabou — disse Charmain, sacudindo as migalhas de sua saia. — Vamos ter de fazer esta sacola durar, pois parece ‘io haver nenhuma outra comida nesta casa. Agora me mostre © que fazer, Desamparado, Prontamente, Desamparado seguiu para 0 que par ser a porta dos fundos, onde ele parou abanando o fiapo de. abo e sussurrando um gemido, Charmain abriv a porta — {que era to dificil de abrir quanto as outras duas — e seguiu Desamparado para o quintal, pensando que isso significava ue ela deveria bombear égua para a pia. Mas Desamparado passou pela bomba e seguiu para a macieira de aspecto esqui: ido num canto, onde ee ergueu uma das perninhas e fe pipi ro tronco da arvore — Entendi — disse Charmain. — Isso ¢ 0 que vot deve fazer, ndo eu, E ndo parece que voct este fazendo muito bem a essa drvore, Desamparado, O ciozinho langou-the um olhar e continuou andando de: ‘umado para o outro ne quintal, farejando tudo e erguendoa 6 A.Casa bos Mortos Caminnos a junto a moitas de capimn. Charmain pode perceber que se sentia bastante seguro naquele quintal Pensando bem, lambém. Havia uma sensagio agradivel, de seguranca, so seo to-avd William houvesse colocado proteyies de jn em volta do lugar. Fla parou ao ado da bombs e low a lém da cerca, para as montanhas que eerguiam ingre- Havia uma levebrisasoprando dasalturas trazendo um ino de neve ede flores novas, que, de alguma forma, fez que Charmain se lembrase dos elfs. Ela se perguntava ‘les teriam levado otio-avé William I para cima B é melhor que les o tragam de volta logo, pensou ela. Vou jax maluca se passar mais de um dia aqul Havia uma cabaninha no canto ao lado da esa, Charmain AKé 1 investigar, murmurando: = Pis, supono, vasos de plantas e coisas assim, ‘Mas, quando ela conseguiu puxara porta rigid, encontrou tum amplo tanque de cobre, uma miquina de passar eum x paraacender ofogodebaixo do tangue.Elaclhouparatudo jlo da mancira como seclha uma etranba exposiqio em um seu, até que se lembrou de que havia um abrigo semethante quintal de sua prépria casa. Era um lugar 0 misterioso rs cla quanto esse, pois sempre fora proibida de entrar li ‘tant, sabia que, uma vez por semana, uma lvadeira de 3 vermelhas e rosto arroxeadovinhs efaia muita fumaga abrigo, do qual, de alguma maneira, salam roupas limps. Ab. Uma lavanderia, ela pensou. Acho que voce tem de locar aquelas bolsas de roupa suja no tangue e fervé-las, las como? Estou comecandoa pensar que tenho levado a vida indo resguardada demais. z Diawa Weuue Joss — 0 que & uma boa coisa também — disse em vor alta, ppensando na lavadeira de maos vermelhas e rosto arroxeado. ‘Mas isso ndo me ajuda com a louga para lavas, pensou ela, Nem em relagdo a0 banho. Fsperam que eu me ferva nesse tanque? E onde eu vou dormir, pelo amor de Deus? Deixando a porta aberta para Desamparado, ela voltou’ para. casa, onde passou direto pela pa, pelas sacolas de roupa suja, pela mesa entulhada e pela pilha de suas coisas no chao, arrastowa porta na extremidade oposta,abrindo-a. Além dela, vvia-se novamente a bolorenta sala de estar, — Isso ¢ desesperador! — disse ela, — Onde estdo 0s quar- tos? Onde tem um banheiro? ‘A vor cansada do tio-av6 William soou do nada. — Para encontrar os quartose o baneiro, dobre esquerda assim que abrir porta da cozinha, minha queria, Por favor, perdoe a bagunca, CCharmain olhou de volta pela porta da cozinha aberta. — Ah, — disse. — Bem, vamos ver. Voltou cuidadosamente & cozinha e fechou a porta diante’ de si, Entao voltou a abri-la, com o que ela estava comegando ‘pensar como um esforgo habitual, e virou-se energicamente: ‘para.amoldura da porta antes que tivesse tempo de pensar que. aguilo era imposstvel Entio, viu-se em um corredor com uma janela aberta na’ extremidade oposta. A brisa que entrava pela janela trazia o cheiro forte de neve e flores que vinha da montane. Charmain. vislambrou, surpress, uma campina verde e distancias azuis, enquanto se ocupava girando a maganeta e forgando o joelho contra a porta mais prdxima, A Casa pos Murros Casnnos ssa porta abriu-se facilmente, como se fosse usada com uta frequéncia, Charmain tropegou adiante, mergulhando um cheiro que fez com que esquecesseinstantaneamente 08 tos da janel,Ficou éparada, onarizlevantado, fungando, Anta. Era a deliciosa e emboloradafragrancia de livros hos. Centenas dees, ela viu,olhando o quarto a sua volta i quatro paredes, havia livros alinhados em prateleras, pilhados no chao e sobre a mesa, livros antigos com capa de ro em sua maiora, embora alguns no chdo tivessem sobre- coloridas, de aspecto mais recente. Esse era obviamente dio do tio-avd William. — Aaah! — disse Charmain. Ignorando que a vista da janela era das horténsias no jar- in da frente, ela correu para olhar os livros na mesa, Livros ndes, grossos, arométicos, alguns deles com metal para nlé-1osfechados, como se fosse perigoso abri-los. Charmain ina um deles nas mos quando percebeu o pedaco de papel Fo aberto na mesa, coberto com uma caligrafa tremula "Minha querida Charmain” — ela leu, ¢ sentou-se na ra acolchoada dante da mesa para lero restante. Minha querida Charmain, ‘Obrigado por voc ter tio gentiImente concordada em ‘euldar desta casa em minha auséncia. Os elfos me dizem ‘que devo fcar fora cerca de uae semanas. (Obrigada, Deus, {or ssl, pensow Charmain} Ou possivelmente um més, se Ihourer complicagbes. (Ah) Vocé precisa de fato perdoar ‘qualquer bagunca que encontre aqui. Estousoftendo j4 faz flgum tempo. Mas tenho certeza de que voc8 é uma jovem 29 Diana Wea Jones engenhosa eque vai se habituar por aqui logo, logo. Em caso Ae difculdade, deine instrugdes fladas para voct onde quer que clas parecestem necessiias. Tudo que voe® precisa fazer 6 enunciar sua pergunta em vor alta e ela serérespondida Vocé encontrar a explicagso para quesides mais complexas na valise, Por favor, caja genil com Desamparado, que mio cesta comigo hi tempo suficente para se sentir seguro, € or favor fgue & vontade para pegar quaisquer livros neste ‘esti, exceto 0s que estio sobre esta mesa, que slo, em ‘sua malor parte, poderosos eavancados demais para voce (Bah, Como se eu ligase para isso, pensou Charman.) Por ora, desjo-The uma felzestada aqui eesperoem breve poder The agradecer pessoalmente, Seu afetuosoto-bisav6-emprestado, William Norland — Ey ele deve ser emprestado — disse Charmain em vor alta, — Deve ser, na tealidade, tio-av6 de tia Sempronia, que se casou com tio Ned, que € tio do papai, exceto pelo fato de agora estar morto. Que pena! Estava comecando a ter es perangas de que houvesse herdado um pouco de sua magia. —Eentio disse educadamente para o ar: — Muito obrigada, to-av6 William, [Nao houve resposta, Charmain pensou: Bem, no deveria ‘mesmo, [so nao fol uma pergunta. E entdo comegoua explorat os livros em cima da mesa. Ollivro geosso que ela tinha nas mos era imtitulado O livro do aioe do nada Previsivelmente, quando o abriu, as pginas estavam em branco, Mas Charmain podia sentir sob os dedos, 20 A Casa nos Muyros CaMrsiios ‘em cada pagina vazia, uma espécie de vibragdo e movimento ‘e magias ocultas, Ela o devolveu & mesa rapidamente e apa- fnhou outro chamado Guia de Wall da astromancia, Sentix Juma ligeira decepedo com aquele, que consistia basicamente sm diagramas de linhas pontilhadas pretas com niimeros de sontos vermelhos quadrados expandindo-se das linhas pretas| sn virios paddes, mas que quase nada tinha para ler. Ainda sim, Charmain ficou mais tempo do que esperava olhando ira ele. Os diagramas deviam ser, de alum modo, hipnsiti- Por fim, fazendo um pouco de esforgo, ela o pbs de lado e ltou-se para um eujo titulo era Feitigaria seminal avancada, p nao era absolutamente seu tipo de leitura. Era impresso uum texto compacto de longos parigrafos que pareciam necar com: “Seextrapolarmosa partir de nossas descobertas smeu trabalho anterior, estaremos prontos ara abordar uma lensdo da fenomenologia paratipica..” Nio, pensou Charmain, Nao creio que estejamos prontos, Bla pds aquele de lado também ¢ ergueu o livro quadrado esado no canto da mesa, cujo titulo era Das Zauberbuch e estava escrito em um idioma estrangeiro, Provavelmente jue falavam em Ingary, coneluiu Charmain. No entanto, 0 js interessante era que ess livro vinha sendo usado como de papel para uma pilha de cartas, vindas de toda parte mundo, Charmain passou muito tempo examinando, intro- lida, as cartas ficando cada vez mais impressionada com o ‘v6 William. Quase todas elas eram de outros magos que Fiam consultar-se om o tio-avd em questbes mais refinadas /nagia — estava claro que o viam como um grande especia — ou para flicité-o por sua gltima descoberta magica, a DIANA Wess Jones ‘Todos tinham uma caligrafia horrivel, Charmain franziu o ceenho e fer uma careta, erguendo a pior delas contra a luz Caro Mago Norland (dita, até onde ela conseguia ler), Seulivro,Truqueseruciais, tem sido de grande ajuda em ‘meu trabalho dimensional (ou seria “demissional”.per- {guntou-se Charmain), mas gostaria de Ihe cham a atensio Para uma pequena descoberta minh relacionada sua segio sobre a Orelha de Murdoch (Yovelha de Morgado? Abelha de Murundu?” Eu desistot, pnsou Charmain). Da peoxime ‘vez que eu ford Alta Norlands, quem sabe no podemos Seu admirador "adulador? advogado? adubador?” Meu Deus! Que letra, pensou Charmain), “Mago How! Pendragon — Ora, oral Ele deve escrever com um atigador de brasas! — disse Charmain em vor ata, pegando a carta seguinte Esta era do rei em pessoa ea caligrafa, embora trémula € antiqueda, era bem mais facil de lr. Caro Wa (leu Charman, com crescenteespantoe surpresa), Estamos agora a mais de meio caminho de Nossa Grande ‘Tare, mas nem um pouco mais sibios. Contamos com voce. E nossa sincera esperanga que os elfos que Ihe enviamos tenham sucesso em devolver-The a saide © que, em breve, tenhamos os inestiméveis beneficios de seu aconselhamento ‘Com nossos melhores votos esincerasesperangas, Adolphus, rida Alta Norlanda, 2 A.CASA pos Murros Caminos Entdo fora o rei quem mandara os elfos! — Ora, ora — murmurou Charmain, folheando o fim da Pilla de cartas. Cada uma delas fora escrita em diferentes ca- Iigeafis, mas eram o methor que alguém podia fazer. Todas reciam dizer a mesma coisa, de maneiras diferentes: “Por favor, mago Norland, gostaria de me tornar seu aprendiz, O enhor me aceita?” Alguns chegavam a oferecer dinheiro ao {io-av6 William. Uma delas dizia que podia the dar um anel de tiamante magico, eoutra, que parecia ser uma garota, dizi, mn tanto pateticamente: “Eu mesma néo sou muito bonita, as minha irma é, ela diz que se casara com o senhor se incordar em me ensinar.” Charmain estremeceu e s6 passou rapidamente os olhos Jo restante da pilha. Elas Ihe faziam lembrar sua propria {arta ao rei, Eque provavelmente era indtil da mesma maneira, [pensou ela, Era vio que essas eram do tipo que um mago fa \0soiria imediatamente responder edizer "Nao" Ela reuniu-as las novamente debaixo de Das Zauberbuch eolhowos outros jvros sobre a mesa. Havia toda uma fileira de volumes altos grossos na extremidade da mesa, todos com a etiqueta Res iagica, que ela pensau em olhar mais tarde, Entio, pegou nis dois livos ao acaso, Um era chamado Caminho da Sra, yntstemmon: sinalizadores da verdade, e Ihe pareceu um jntinho moralizante. © outro, depois de la destravaro fecho je metal e abrilo na primeira pigina, viu que era chamado livro de Palimpsesto, Quando Charmain virou as piginas juintes, viu que cada uma continha um novo feitigo — que umbém era claro, com um titulo anunciando seu objetivo e, iebaixo dele, uma lista de ingredientes, seguida por passos jumerados que lhe digiam o que era preciso fazer. 2 Diana Wess Jonas —Extesim! — «lamou Charmain,e acomodou-e paralet. ‘Muito tempo depois, enquanto tentava chegar a uma con lusio sobre qual era mais itil, se “Um feitico para distinguir ‘amigos de inimigos" ou “Um feitico para ampliar a mente” ou talvez “Um fetigo para voar”, Charmain de repente percebew 4que precisava urgentemente ir ao banheiro, Isso costumava Ihe acontecer quando ficava absorta naleitura. Ela selevantou, apertando os joelhos um contra 0 outro, e entdo se dew conta de que ainda nio havia encontrado um banheito, — Ah, como chego ao banheiro daqui? — perguntou ela em voralta ‘Sem dkivida, a vor frigile bondosa do tio-avé William soou vinda do nada imediatamente: — Dobre a esquerda na passagem, minha queria, €0 ba- nnheiro éa primeira porta a direta — Obrigada! — arquejou Charmain, e correu. au CAPITULO TRES No qual Charmain trabatha em virios feitigos ao mesmo tempo banheiro era t2o reconfortante quanto a gentil voz do tio-avo William, O piso gasto era de peda verde e havia va janelinha na qual Nutuava uma cortina de tela verde. Ela jvia todas as acessérios que Charmain conhecia de casa. E ia casa nio tinha nada menos do que o melhor, ela pensou. felhor ainda: tinha torneiras ea descarga do vaso funcionava. rade que a banheira eas torneiras eram estranhas,ligeira- yente bulbosas, como se a pessoa que as instalou nao tivesse wita certeza do que estava fazendo; masas torneiras, quando irmain experimentou girar uma, tinham Agua fria e agua te, exatamente como deveriam, havia toslhas aquecidas tum trilho debaixo do espelho. 38 Diawa Wriewe foxes ‘Talvez eu possa colocar uma daquelas sacolas de roupa suja ra banbeira,refletia Charmain, Mas como iri secé-las? [No corredor, no lado oposto ao banheiro, havia uma série de portas, estendendo-se na distancia indistinta. Charmain irigiu-se mais préxima e a empurrou, abrindo-a, na expec- tativa de que levasse & sala de estar. Mas, em ver. disso, atrés dela havia um quarto pequeno, obviamente do tio-av6 William, 1 julgar pela bagunea. As cobertas brancas cafam da cama, desfeita, quase cobrindo virios camisbes de dormir listrados, ‘espalhados pelo chido. Camisas pendiam de gavetas, nto com, ‘eis ¢ 0 que pareciam ceroulas,€ 0 armério aberto continhal tum uniforme de algum tipo com cheiro de mofo, Soba janela, havia mais duas sacolas abarrotadas de roupa suja, Charmain gemeu alt. — Cerio que ele esti doente ha bastante tempo — disse ely tentando ser caridosa. — Mas, mae de Deus, por que eu € que tenho de cuidar de tudo isso? ‘Acama comegou a tremer. De um salto, Charmain fez meia-volta, ficando de frente} para ela. © twemorera causado por Desamparado, confortave ‘mente enroscado no monte de roupa de cama, cogando-se, tando livrar-se de uma pulga. Quando viu Charmain olhandé paraele,abanou acauda miniscula, humilde, baixou as orelhi esfispadas e dirigiu um gemido choroso a ela, = Voct nao deveria estar ai, deveria? ~ perguntou ela — Muito bem. Da para ver que voce esti confortavel.. {qualquer forma, Deus me livre de dormir nessa cama, Entio, batew em retirada do quarto eabriu e porte seguint Para seu alivio, ld estava outro quarto quase idéntico ao 6 A.CAsa Dos Murros Cainnos: tio-av6 William, exceto pelo fato de esse estar arrumado, A ama estava limpa eeita,oarmério estava fechado, ¢, quando fclhou,descobriu que as cOmodas estavam vazias, Charmain ssentiu em tom de aprovagio para o quarto e abriu a porta Aeguinte no corredor. Havia ainda outro quarto arrumado, ¢ Ialém desse, mais um, todos exatamente igus. ‘Emelhoreu guardar minhascoisasmo queé meu, ou munca [ais vou encontré-lo, ela pensou. Flase virou para ocorredore viu que Desamparado deixara cama e agora arranhava a porta do banheiro com as duas as dianteiras — Vocé nio vai querer entrar ai— disse-the Charmain, — luda do que tem af serve para nés, ‘Mas, de alguma forma, aportaseabrin antes que Charmain Jalcancasse, Além dela, estavaacozinha. Desamparado entrou todo lampeiro e Charmain gemeu novamente. A bagunca lo desaparecera. Lé estavam a louga ¢ as sacolas de roupa J, com a adicio agora de um bale caido sobre uma poga de as roupas de Charmain numa pilha perto da mesa e uma jande barra de sabio verde na lareira — Fu jé tinha esquecido disso tudo — disse Charmain ‘esamparado pdsas mintsculas patas dianteirasnatrave da eirae se ergueu em todasua diminutaextensio,supicante. — Vocé esta com fome novamente — diagnosticou jarmain, — Eu também. Bla sentou-se na cadeira, Desamparado sentou-se em seu ‘esquerdo ¢ dividiram outro pastel. Entéo,dividiram tam- tama tartelete de frutas, das roscas doces, seis biscoitos chocolate ¢ um fla de caramelo, Depois, Desamparado ” Dina Were Jones arrastou-se um tanto pesadamente em direcdo porta interna, que se abriu para ele assim que a arranhou. Charmain juntou sua pitha de roupas ¢ o seguiu, na intencio de colocar seus pertences no primeiro quarto vazio. Mas aqui as coisas desandaram um pouco. Charmain em- ppurrow aportacom um cotoveloe,naturalmente,viroua direita para entrar no corredor onde fcavam os quartos. Entao se viu ‘na mais completa escuridao, Quase imediatamente, ela depa- +0u1com outta porta, onde bateu com o cotavelo na maganeta, produzindo um som metalico. — Ail — gemeu ela, procurando, atrapalhada, a masaneta| € abrindo a porta Esta deslizou majestosamente, Charmain entrou em uma) sala amplailuminada por janelas em arco em toda sua volta ceviu-se respirando um cheiro imido, abafado, curtido, aban donado. O odor parecia vir dos assentos de couro de antigas cadciras entalhadas arrumadas em torno da grande mesa também entalhada que ocupava a maior parte da sala, Sobre mesa, diante de cada cadeira, havia uma pequena toalha é, sobre ela, uma folha de mata-borrio velha e gasta — exceto a grande cadeira na outra extremidade, que tinha as armas {da Alta Norlanda esculpidas em seu espaldar, A frente dela, no lugar da toalhinha de couro, havia uma varinha curta € {grossa sobre a mesa. Tudo aquilo — cadeiras, mesa e toalhas — estava coberto de poeira e viam-se teias de aranha nos cantos das muitas janelas. CCharmain olhava tudo perplexa, = Ito éa sala de jantar ou o qué? — perguntouela. — Coma) ‘chego 20s quartos saindo dagui? A vor do tio-av6 William soou fracae distant. 38 A Casa pos Murros CaMrnios Vocé chegou & Sala de Conferéncia — anunciou. — Se esti ai, esté bem perdida, minha querida, portanto ouga, tatenc2o, Gire uma vez, no sentido horsrio. Entdo, ainda indo no sentido horério, abra a porta apenas com a mao, sca. Ulteapasse a porta ¢ deixe que ela bata. Entdo dé passos longos, de lado, para sua esquerda. Isso a levari ta ao lado do banheiro. Jamos esperar que sim, pensou Charmain, esforgando-se seguir as instrugdes. \do correu bem, exceto pelo momento de escuridio de- que a porta se fechou atras dela, quando Charmain se sn tum corredor de pedra totalmente estranho. Um velho vado puxava um carrinho carregado com bules de prata, antes, canecas e pratos gastos eo que parecia uma pilha iu que nquecas grossas. Ela 0 observou um pouco, deci faria bem algum, nem a si mesma nem ao velho, se 0 cha he, cem ver disso deu dvas ongas passadaspara a esquerda, » para seu alivio,viu-se de péao ladodo banheiro, de onde lia avistar Desamparado girando sobre si mesmo na cama, avé William para encontrar posigi0 mais confortivel. Ufa! —exclamou Charmain, despejoua pilha de oupas impo da cémoda no quarto seguinte im seguida, segutu pelo corredor atéajanela aberta na ex lad, onde ficou por alguns minutos olhando a campina, linada pelo sol e respirando o ar fresco que soprava de i. ln-se faci mente sais dali pela anea, ela pensou. Ouentrar. yo fundo, Charmain no estava vendo a campina ou indo no ar fresco. Seus verdadeiros pensamentos estavam lator livro de feitigos que ela deixara aberto na mesa do 2» Diana Wynne Joss tio-avo William, Nunca antes ela fora deixada assim sola n ‘meio da magia. Era diflellresistr, Vou abri-lo a0 acasoe faze © primeio feitigo que vir, pensou ela, Um tinico fetigo, No estidio, Olivro de Palimpsesto agora estava, por algumal raz, aberto em “Um feitico para encontrar um belo principe" ‘Charmain sacudiu a cabega e fechou olivzo, — Quem precisa de um principe? — perguntou ela Entio,abriu olivro novamente, com cuidado, em uma pag na diferente. No alto dessa pina lia-se:"Um feito para voar.” — Agora, sim! —exclamou Charmain, — Assim esté muito) melhor! Ela ps os éculos e estudou a lista de ingredientes, "Uma folha de papel, uma pena para excita (jc tem os dois nesta mesa), um ovo (cocina), duas pétalas de flor — uma ‘rosa ea utra azul —, seis gotas de dgua (banheiro) um fo de cabeloruivo, um fo decabelebranco e dois botbes de pérola — Sem problemas ~ disse Charman, Entao tirou os écu- los ¢ comegou a correr de um lado para o outro, reunindo os ingredientes. Correu para.acozinha — aonde chegou abrindo a porta do banheiro e virando i esquerda, ¢ estava tho agitada que quase no percebeu que fizera isso certo — e perguntou ao ar: — Onde encontro ovos? A gentil voz do tio-av6 William respondew: — 0s ovos estdo em um pote na despensa, minha querida, ‘Acho que estdo atrés das sacolas de roupa suja. Peco sinceras descullpas por detxi-la em meio a tamanha bagun¢a. 0 A.CAsA bos Murros Casinos CCharmain foi para a despensaeinclinou-se sobre as sacolas roupa suja, onde de fto encontrow uma velha forma de torta ‘mela dizi de avos marrons. Flalevou um dees cuidado: mente para oestidio, Como os 6culos estavam pendurados icorrente, ela ndo percebeu que O lvro de Palimpsesto estava ora aberto em “Um feitigo para encontrar tesouros escon- dos”. Ela correu para ajanela do estilo, onde as pétalas de J estavam ao alcance da mio em um arbusto de horténsia, ne era metade rosa, metade anu. Entdo, deixou-as a0 lado do o ecorreu para banheiro, onde coletow as seis gotas d'égua ‘1 uma caneca. Nocaminho de volta, segui pelo corredor até ‘onde Desamparado estava agora enroscado como um suspiro Iobre as cobertas do tio-avd William. — Desculpe — disse ae, correndo os dedos pelas costas Ibrancase ésperas do cdorinho. Ela conseguiu virios pels bran- 0s, um dos quaiscolocou ao lado das pétals, Juntoua eles um flo cuivo de seu préprio cabelo. Quanto aos botoes de pérola, ‘a simplesmente arrancou dois dos que fechavam sua blusa — Certo — disse, e recolocou os dculos avidamente a fim Ae olhar as instrugdes. O livro de Palimpsesto estava agora berto em “Um feitigo para protecao pessoal”, mas Charmain festava entusiasmada demais para perceber. Ela olhou apenas ts instrugSes, que consistiam em cinco passos. Passo Um: *Ponha todos os ingredientes, exceto a pena e 0 papel, em ‘uma tigela apropriada.” Charmain, apés tirar os 6culos para fazer uma busca pelo quarto, e sem encontrar qualquer tigela, apropriada ou no, Joi obrigadaavoltar cozinha, Enquanto estava ausente,lenta matreiramente,O livro de Palimpsest virow mais algumas a Diana Wea Jowes paginas, Quando Charmain retornou com uma tigela lig Tamente agucarada, tendo despejado todo o agticar emu Prato ndo muito sujo, 0 livro estava aberto em “Um feitg ara aumentar 0 poder magico” ‘Charmain nio percebeu. Pousou a tigela na mesa e colo cou dentro dela 0 ovo, as duas pétalas, os dois fios de cabelo, seus dois botdes,e despefou a égua cuidadosamente em cimn de tudo. Entio pos os éculos e inclinou-se sobre o livro pat descobrir o que fazer em seguida. A essa altura, O livro de Palimpsesto exibia "Um feitico para se tornar invisivel”, mat CCharmain othou apenas as instrugdes e néo vin isso, asso Dois: “Amasse todos os ingredientes juntos, usanda} somente a pena, Nao é cil amassar um ove com uma pena, mas Charmain| conseguiu, golpeando-o vezes seguidas com a extremidade ppontiaguda atéa casca se desfazer em pedacos, e entdo mist rando com tanta forga que o cabelo Ihe caiu sobre o rosto em fios vermelhos,¢finalmente, quando nada parecia se misturar hhomogeneamente, batendo com a ponta da pena. Quando ela, Por fim, se ergueu, ofegante, e alastou os cabelos com dedos _grudentos, o livro virara mais uma pagina e agora exibia “Um feitigo para atearfogo", mas Charmain estava ocupada demais tentando evitar que os culos se sujassem de ovo para ver. Ela voltou a coloci-os ¢ estudou o Passo Tres, que nessa pagina Gizias “Recite trés vezes a 'Hegemonia Gauda’” ~ Hegemonia Gauda —entoou Charmain obedientemente: sobre tigela, Ela ndo tinha certeza, mas na terceira repetigdo ‘chou que os pedacinhos de casca de ovo fervilharam um pou- ‘eoem torno dos botdes de pérola. Acho que estéfuncionando!, a A Casa nos Murros Camnstios sou. Empurrou os 6culos novamente narizacima eolhowo 0 Quatro. A essa altura, estava examinando 0 quarto passo "Um feitigo para dobrar objetos a sua vontade’. *Pegue a pena”, dziaolivro, e, usando a mistura preparada, reva sobre o papel as letras Yif dentro de um pentagrama. yne cuidado para nto tocar no papel ao fazé-lo." Charmain pegou a pena grudenta e gotejante, enfeitada sn caquinhos de casca de ovo ¢ um pedago de pétala cor- rosa, efez.0 melhor que pode, Nao era ficil escrever com a stura e parecia ndo haver jeito de manter o papel no lugar. le escorregava e deslizava, enquanto Charmain mergulhava pena na mistura e tentava escrever, ¢ 0 que deveriam ser as tras YIfsaiu pegajoso, pouco visive e torto, e parecia mais of pois o fio de cabelo vermelho na tigela veio com a pena ‘ho meio do processo e desenhou estranhos arcos na palavra ‘Quanto ao pentagrama, o papel deslizou de lado enquanto (Charmain tentava desenhé-lo, ¢ 0 methor que se podia dizer Hele € que tinha cinco lados. Terminou como uma sinistra forma amarelo gema de ovo com um pelo de cachorro se projetando de um dos cantos. ‘Charmain detxouescapar um suspiro,colocouo cabelo para {ris com amo agora extremamente grudenta, eolhoua tiltima ‘etapa, o Passo Cinco. Fra o Passo Cinco de “Um feitigo para fazer um desejo se realizar”, mas ela estava aturdida demais para notar. Dizia: “Colacando a pena de volta na tigea, bata ppalmas trés vezese diga Tacs” — Tacs! — disse Charmain, batendo com forga palmas pegajosas ‘Alguma coisa evidentemente aconteceu, O papel, a tigela| a pena, tudo desapareceu, silencioss e completamente. O “8 Diana Wyn Jones ‘mesmo ocorreu com a maior parte dos pingos na mesa do tio ‘v6 William, O livro de Palimpsestofechou-se com um ruido, ‘Charmain recuov, limpando pedacinhos de casca de ovo das ‘mos, sentindo-se exaustae bastante decepcionada. — Maseu deveria poder voar — disse si mesma. — Bu me ppergunto qual ser o melhor agar para testar. ‘A resposta era ébvia. Charmain saiu do estado e seguiu para o fim do corredor, onde a janela se encontrava convida~ tivamente aberta para a campina verde e ondulante, A janela tinha o peitoril baixo e largo, perfelto para subir. Em questio de segundos, Charmain encontrava-se na campina a luz do centardecer respirando 0 ar pura efrio das montanhas. la estava numa altitude elevada ali, tendo a maior parte’ da Alta Norlanda estendida a seus pés, j6 azul ao cair da noite. Diante dela, sob a luz laranja do sol que baixava, e ilusoriamente préximos, estavam 0s picos nevados que se paravam seu pais de Estrangia, Montalbino ¢ outros lugares estrangeiros, Atrés dela, erguiam-se mais picos, onde grandes ‘nuvens cinza-escuro e carmim se aglomeravam ameagadoras ‘mente. fa chover logo, como ocorria com frequéncia na All ‘Norlanda, mas, por ora, estava quente e tranquilo. Viam-s covelhas pastando em outra campina,além de algumas peda ‘¢ Charmain podia ouvir mugidos e sinos tilintando em w rebanho de vacas em algum lugar ali perto. Quando olhou ni diregdo do som, ficou perplexa ao ver que as vacas estava nna campina acima dela e que no havia sinal algum da cas do tio-avd William ou da janela em que ela subira. CCharmain nio deixou que sso a preocupasse. Nunca ant estivera tao alto nas montanhas,e estava atonita com a “4 A.Casa pos Mutros Caminnos 4a do lugar. O gramado sobre o qual se encontrava era mais ‘yer do que qualquer outro qu ea vita na cidade, Aromas {escos subiam dele. Quando olhou mais de perto, percebeu {ue vinham de centenas e mais centenas de flores mindsculas ‘edelicadas que ereseiam rasteiras na grama. — Ah, tio-av0 William, como o senor tem sorte! — disse la. — Que fantistico ter isto diante do seu estéiio! Por algum tempo, ela perambulou alegremente por ali, itandoasabethas que se ocupavam entre as lores colbendo uque, que ela pretendia que tivesse uma flor de cada tipo. panhou uma pequenina tulipa escarlate, uma branca, uma jor douradaem forma de estrela, uma pia primulaana,uma smpinula malva, uma flor azul quese assemelhava.aumataca, ia onquidea laranjae umade cada moita de flores cor-de-058, jancase amarelas. No entanto, as que mais a encantaram fo- i) minisculas trombetas azuis, de um tom mais penetrante que qualquer azul ue ela houvesse imaginado. Charmain sou que podiam ser gencianasecolheu mais de uma dela. jm tio pequenas, tio perfeitas et30 azuisl Enquanto isso, in avangando mais pela campina, para um ponto no qual ecia haver um tipo de descida, Pensou que poderia saltar lie ver eo eitigo a havia tornado de fato capa de voar. Fla alcangou a descida no momento em que descobriu que hha mais flores do que conseguia segurar. Havia seis novas ies na borda pedregosa que ela teve de deixar onde es- im. Mas entdo se esqueceu das flores e arregalau os olhos, ‘Acampina terminavaem um penhasco a meio caminho do cla montanha. Bem, mas bem ld embaixo, a0 lado do fino ue era a estrada, ela podia ver a casa do tio-avd William 6 Diana Wen Jones ‘como uma miniiscula caixa cinzenta, em um borvto de ardim, ‘Via outras casas, igualmente distantes, espalhadas ao longo da estrada, ¢ as luzes se acendendo nelas como minisculas faiscas cor de laranja. Estavam tio distantes montanha abaixo ‘que Charmain arquejou e seus joelhos tremeramaligeiramente, — Acho que vou desistir da pritica do voo por ora — disse ela, Mas como vou desce?,insstia um pensamento reprimido, Nao vamos pensar nisso agora, replicou com firmeza outro, pensamento. Vamos simplesmente aproveitar a vista. Ela podia ver a maior parte da Alta Norlanda dali de cima, afinal, Além da casa do tio-av6 William, o vale se estreitava, totnando-se uma passagem verde reluzente com quedas d'égua brancas que levavaa Montalbino, Do outro lado, além do bojo ‘damontanha onde se encontravaa campina, fio da estrada se juntava ao fio mais sinuoso do rio eambos mergulhavam entre (0s telhados, torres etorredes da Cidade da Alta Notlanda, As luzesiam se acendendo ali também, mas Charmain ainda podia verosuavebrilho do famoso tlhado dourado da Manso Real, ‘coma bandeira acima dela tremulando,e pensou que podia até ‘mesmo avistar a casa dos pais mais além. Nada daquilo ficava ‘muito longe. Charmain estava bastante surpress ao ver que o tio-avo William morava, na verdade, nos limites da cidade, ‘Atris da cidade, o vale se abria. Estava mais claro ali, fora dda sombra das montanhas, fundindo-se a distancia, no ere- plisculo, exibindo pontos de luz cor de laranja, Charmain podia vera forma comprida e importante do Castel Joie, onde ‘morava o Principe da Corea, ¢ outro castelo do qual ela nada sabia, Este era alto e escuro, com fumaga escapando de uma de suas torres, Atris dele, a terra desbotava a distancia, mais 46 A.CASA Dos Murros Caxsitos {wal cheia de fazendas,vilarejos e indistrias que formavam 0 Wora¢do do pais. Na verdade, Charmain podia ver até mesmo {0 mar, enevoado eindistinto, mais além. 'Nio somos um pals muito grande, somos?, pensou ela ‘Mas esse pensamento foi interrompido por um 2umbido lagudo no buqué que ela segurava. Ela ergueu ofeixe de flores [para ver 0 que estava produzindo barulho. Ali em cima, na {ampina, o sol aindaestavaestonteante, claro osuficiente para que Charmain visse que uma de suas provaveis gencianas no formato de trombetas azuis estava tremendo e vibrando en: quanto zumbia, Ela devia ter colhido uma com uma abetha. (Charmain baixouas floreseassacudiu. Alguma coisa pirpura faiu 2unindo na grama a seus pés. Ndo tinha exatamente a forma de uma abetha e, em ver. de fugir yoando como uma belha fara, a coisa sentou-se na grama e zumbiu, Enquanto umbia, erescia, Charmain deu um passo lateral e nervoso, Diastando-se dela, 20 longo do precipicio. Ja estava maior do ‘que Desamparado e continuava a crescer. [Nao estou gostando disso, pensou ela. O que éisto? Antes que ela pudessevoltara se mexer — ou mesmo pen far — a criatura cresceu velozmente, alcangando duas vezes f)tamanho de uma pessoa. Era roxo-escura etinha a forma humana, mas nfo era humano. Tinha pequenas asas parpura Iransparentes nas costas que se moviam com grande veloci- Aloe, zambindo, e seu rosto era... Charmain teve de desviar ‘0 olhar. Seu rosto era a cara de um inseto, com tentéculos, Intenas e olhos salientes que tinham pelo menos 16 othos Imenores dentro deles. — Ab, céus!—sussurrou Charmain, — Acho queesta coisa um bogue! a” Diaxa Wenwe Jones — Eu sou o lubogue — anunciou a criatura, Sua vor era ‘uma mistura de zumbido e rosnado, — Sou o lnboque ¢ sou 0 dono destas terras. CCharmain ouvira falar em luboques. Na escola as pessoas contavam historias sussurradas sobre essas criaturas, nunca coi sas agradavels. A tnica coisa fazer, assim diziam, eraser muito ‘educado e torcer para escapar sem ser picadoe depois comido, — Eu sinto muito — disse Charmain, — Nio percebi que estava invadindo sua campina. — Vocé est invadindo qualquer lugar que pse aqui —ros- now o uboque. — Toda esa terra que voce pode ver € minha, 0 que? Toda a Alta Norlanda? — exclamou Charmain, — Nio fale bobagens! — Eu nunca falo bobagens — disse a criatura, — Tudo & ‘meu, Vocé & minha, — Com as asas zunindo, ele comegou a avancar na diregdo dela com pés nos eamorfos, de aparén totalmente enormal, — Vou reclamar minhas propriedades muito em breve. Mas ua reivindico primeiro. — Deu um passo vbrante na direc de Charmain. Seus bracos se estenderam. também um ferréo pontiagudo na parte inferior de sua cara, CCharmain gritou, esquivou-se e despencou no penhasco, es palhando flores enguanto ceia CAPITULO QUATRO. Que apresenta Rollo, Peter e misteriosas ‘mudancas em Desamparado /harmain ouviu o luboque dar um grito vibrante de ria, /embora ndo com clareza, por causa do impetuoso vento provocado por sua queda. Hla vi face do imensopreciplciapas- sando como um raio diante de seu rosto.Econtinuou gritando, — Yt, YLF!— ela berrava. — Ah, pelo amor de Deus! Yif! Acabei de fazer um fetigo de voo. Por que ele nto funciona? Estava funcionando, Charmain se deu conta disso quando as pedras diante dela deixaram dese precipitar para cima eela [passou a se deslocar maislentamente, depois planar eentioa flutuar sem rumo, Porum momento ficou suspensa no espaso, balangando-se um poucoacima de algumas gigantescas pontas de pedra nos rochedos no fundo do precipi ” i Diaxa Wesste Jowes Talver eu esteja morta agora, ela pensou, Entio disse — Isto ridiculo! — E conseguiu, por meio de muitos chutes ce bracadas desajeitados, virar-se. Es estava a casa do tio-avd William, ainda muito abaixo dela no lusco-fusco do entar- decer, a pouco menos de quinhentos metros adiante de onde la estava. — E flutuar esté muito bom — disse Charmain —, ‘mas como € que saio do lugar? — A essa altura, ela embrou se de que o luboque tinha asas ¢ que provavelmente naquele ‘momento estava descendo das alturas, zunindo em sua dire- do. Depois disso, nao precisou mais se perguntar como sair do lugar. Charmain viu-se agitando as pernas furiosamente deslocando-se na diregio da casa do tio-avd William, Ela disparou acima do telhado e atravessou o jardim na frente da construgio, onde o feitigo pareceu deixé-la. Ela s6 teve tempo de se lancar de lado, de modo a se posicionar acima do cami tho, antes de cair com um ruido surdo e se ver sentada no calgamento de petras quebradas, tremendo-se toda. A salvol, pensou ela, De alguma forma, parecia nio haver: avida de que dentro dos limites da casa do tio-avé William ‘era seguro. Ela podia sentir que era Depois de um instante, ela disse: — Ai, meu Deus! Que dia! Quando penso que tudo que’ eu queria era um bom livro e um pouco de pez para Ié-lo..! Bendita tia Semprénia! (0s arbustos ao lado dela farfalharam, Charmain recuou, afastando-se,e quase gritou novamente quando as hortéasias ccurvaram-se para um lado, permitindo que um homenzinho azul saltasse para o caminho, ACasa os Murros Camnwtos — Voct éa responsive aqui agora? — perguntoua psso tha azul com vorinha rouca Mesmo & luz do crepiscul, o homenainko era decidida ‘mente azul, nto pirpurs, ¢ nao tinha asas, Seu r0stoestava franzido por rugas de mau humore um nackz enorme quase 0 cupava totalmente, mas no eraacara de um ineto. panico dle Charmain desapareceu. =O que voce & — perguntou ea — Um kobold,é claro — disse o homenainho. — A Alta Norland & uma terra de kobolds. Eu cuido do jardim dagul — A noite? — perguntou Charmain —Nés, kobods,saimos quase sempre & noite — explicou {9 homenzinho azul. — Voltando & minba pergunta., woe éa fesponsivel agora? — Bem — disse Charmain —, mais ou menos — Poio que pensei— disso kobold,satisito, — Vio mago Beno carregado pelos Altinhos. Eno voce vai querer que eu corte todas ssas hortensas,ndo &? ~~ Para qué? — perguntou Charman, = Gosto de cortar as coisas — explicow 0 kobold. — Eo Imaior prazer da jardinagem, ‘Charmain, ue nunca em sua vida pensara em jardinagem, fonsiderou a questo. — Nio — disse ela. — 0 tio-avd William nao as teria se Io gostasse deles. Nao vai demorar muito para ele volta, € acho que ele poderiafcar aborrecdo seas encontrassecorta thas. Por que voct nao fz simplesmente seu trabalho notueno fostumeiroe é 0 que ee diz quando woltar? 5 Diana Went Jones — Ah, ele vai dizer nao, é claro — respondeu o kobotd, abatido. sempre, entio? — E qual é0 prego de sempre? — indagou Charmain, Ele 6 um estraga-prazeres, o mago. O preso de — Aceito um pote de ouro e uma diizia de ovos novos — respondeu 0 Kobold prontamente. Felizmente, a voz do tio-av6 William falou do nada a0) ‘mesmo tempo. — Pago a Rollo um quartilho delete por noite, minha ‘queria, entregue por magica. Nao precisa se preacupar. (© kobold cuspiu, desgostoso, no caminho. =O que foi que eu disse? Eu nio disse que ele era um ‘estraga-prazeres? E ndo you poder fazer trabalho algum se ‘oct ficar sentada nesse caminko a noite toda — Eu sé estava descansando — disse Charmain, com dig. nidade, — Vou embora agora. Ela se pOs de pé, sentindo-se surpreendentemente pesada, ‘em falar na fraqueza nos joelhos, ¢arrastou-se pelo caminho aida portada frente, Vai estar trancada, pensou ea. Vou parecer uma idiota se ndo conseguir entrar. ‘Mas a porta abriu de supetdo antes que ela a alcancasse, revelando um surpreendente clario de luz e, com a luz, a pe ‘quena e saltitante forma de Desamparado, guinchando, agi tado, e abanando a cauda de contentamento ao ver Charmain povamente, Ela também estava to feliz por estar em casa «ser bem-vinda que pegou Desamparado no colo e 0 levou ppara dentro, enquanto ele se contorcia, espichando-se para The lamber 0 queixo. Dentro da casa, a luz parecta segui-los por magia 2 A.CAsa Dos Morros Caminnios — Otimo — disse Charmain em vor alta. ~ Assim, nfo iso procurar vela, — Mas sua mente dizafeneticamente ele’ ajanela aberta! O luboque pode entrar! Fla entdo colocou Desamparada no chao da cozinba e orreu para a esquerda, passando pela porta. A luz brilhava ‘om intensidade no corredor, enquanto ela disparava para f extremidade e fechava a janela com forca. Infelizmente, a Iz fara a campina parecer tio escurs que, por mais que ela ‘spiase pelo vidro, no conseguia verse 6 Iuboque estava li fora ou nao. Ela se consolou com o pensamento de que no conseguir ver janela quando estava na campina, mas pe- eben que ainda estava teemendo. Depois disso, nao conseguiu mais parar de tremer. Teme tio caminho de volta cozinhae tremeu enguanto dividia uma fortade carne de porco com Desamparado, treme maispor- ue a pore de chi se espathara debaixo da mesa, molhando e Aingindo ce marroma parte inferior de Desamparado, Toda ver queoclozinho chegavaperto dela partes de Charmain também ficavam pegajosas com o chi. No fim, Charmain trou a blasa, ‘que. de qualquer forma, estava aberta por causa dos botdes que faltavam, ¢ limpow o ché com ela Isso, & claro, fez com que Aremesse ainda mais. Ela entéo pegou o grosso suéter dea que {Sra Baker havia posto na mala paa ela ese agasalhou com le, mas, ainda assim, continuow a tremer. A chuva anunciada ‘au. Os pingos btiam na janelaeescorriam pela chaminé da ozinha, e Charmain temeu ainda mais. Supds que fosse, na verdade, por causa do choque, mas, apesar diss, sentia ro. — Ah! — griou ela. — Como eu acendo o fogo, tio-avd Williamz 3 Diaxa Wrewe Joxes — Acredito que eu tenha deixado fitigo no lugar — disse vor bondosa vinda do nada. — Basta vocéatirar na grelha algo que quetme e dizer em vor alta: “Fogo, acenda’, e vocé: deve ter seu fogo. Charmain olhou ao redor,&procura de algo que queimasse Viuabolsa ao lado dela sobre a mesa, mas nela ainda havia uma_ torta de carme de porco e uma de maa, além diss, era uma bela bois, com flores bordadas pela Sra, Baker. Havia papel no esttidio do tio-avo William, naturalmente, masissosignficava ter de selevantar¢ ir buscé-o, Havia a roupa suja nas sacolas perto dapia, mas Charmaintinha quase certeza de que ti-av6) ‘William nio fcara stisfeto deter suas roupas sujas queima- das, Por outro lado, havia sua propria blusa, suja, encharcada’ de chi e sem dois botdes, embolada no chio perto de seus pés, — Esté estragada mesmo — ponderou, ¢ entio apanhou 6 fardo marrom e ensopado, ¢ 0 atirou na laveira. — Fogo, acenda — disse ela ‘A grelha creptou, ganhando vida, Por aproximadamente uum minuto vie-s¢o mais alegre echamejante fogo que alguém ppoderia desea. Charmain suspirou de prazer. Estava apro- xximango sua cadeira do calor quando as chamas se transfor- ‘maram em nuvens sbilantes de vapor. Entao, amontoando-se «em meio 20 vapor, invadindo a chaminé e espalhando-se pela cozinha, vieram bolhas. Bolhas grandes, bolhas pequenas, bolhas cintilando com as cores do arco-irs, saiam em grandes ‘quantidades da laeira para acozinha, Eas enchiam o ar, pou savam nas coisas, vavam de encontro 20 rosto de Charmin, ‘onde estouravam com uum suave suspiro, sguidas por outras. Em segundos, acozinha era uma tempestade quente ¢ fume~ gante de espuma, o que fez Charmain arquejar st A.Casa Dos Moros Caminnos — Esqueci da barra de sabao! — exclamou ela, arfando no ito ¢ imide calor. Desamparado concluiu que as bolhas eram inimigos pes- nis e retirou-se para debaixo da cadeira de Charmain, ga ipdo loucamente e rosnando para as bolhas que estouravam. favia um barulho surpreendente. — Cale a bocal — disse Charmain. © suor escorria pelo rosto, ¢ seu cabelo, que caira nos ombros, pingava no spor. Ela espantou uma nuvem de bothas ¢ disse: — Acho je vou tirar a roupa, Alguém bateu com veeméncia na porta dos fundos. — Acho que nao — disse Charmain, 'A pessoa Id fora martelou a porta novamente. Charmain ou parada onde estava, torcendo para que nao fosse o lubo: ye, Mas, quando o martelar da porta veio uma terceira vez, Jase levantou, relutante, e abriu caminho em meio is bolhas urecidas para ver quem era. Poderia ser Rollo, ela supds, jerendo se abrigar da chuva, — Quem é? — gritou ela através da porta, — 0 que voce — Preciso entrar! — a pessoa do lado de fora gritou de a. — Estd chovendo muito! ‘Quem quer que fosse parecia jovem, ¢a vor ndo era éspera ymo-ade Rollo, nem zambia como do luboque. E Charmain lia ouvir a chuva desabando, mesmo através do silvo do spor ¢ do continuo e suave pipocar das bolhas. Mas podia i um truque. — Deixe-me entrar! — gritou a pessoa lé fora, — O mago, ti me esperandt 5 Diawa Woe Joris — Isso nao é verdacle! — gritou Charmain de volta, — Bu escrevi uma carta para ele! — berrou a pessoa, Minha mie providenciou para que eu viesse. Vocé nto tem direito de me deixar do lado de fora! ‘Otrinco da porta sacudiu-se, Antes que Charmain pude: fazer mais do que estender ambas as maos para manté: fechada, a porta abriu de supetio e um garoto encharc entrou, Ele estava to molhado quanto seria possivel estar. cabelo, que provavelmente era encaracolado, pendia em tor 4o rosto jovem em pontas castanhas e gotejantes. O casaco| a calga de aparéncia sébria eram pretos e brilhavam com! gua, assim comoa grande mochils em suas costas.Suas bo chapinhavam quando ele andava, Ele comegou a fumegat ‘momento em que entrou. Ficou parado, olhando fixament paraasbolhas que futuavam, para Desamparado latindo s parar debaixo da cadeira, para Charmain agarrada ao suéter fitando-o por entre os fos vermelhos do cabelo, para as plh de louga suja e para a mesa entulhada com os bules de c Seus olhos voltaram-se para as sacolas de roupa suja, aqui ‘obviamente foi demais para ele, Sua boca escancarou-se e ‘deixou-seficarali, de pé,olhando sem parar para todas aque cosas a seu redore fumegando silenciosamente. Passado um instante, Charmain estendeu a mio e segui Ihe o queizo, onde alguns pelos ésperos cresciam, mostran {que cle era mais velho do que parecia. Fla o empurrou pat cima ea boca do garoto fechou-se com um clique. — Importa-se de fechar a porta? — perguntou ela (Ogaroto olhou para trés, para a chuva entrando na cozinh 56 A Casa 208 Murros Caxitos = Ab — disse ele, — Claro. — Ele empurroua portaatécla har. —O queestéacontecendo? — perguntou ele. — Vocé im éaprendiz do mago? = Nio—respondeu Charmain. — $6 estou tomandocoata asa enquanto ele est fora Eleestava doente, sabe, eoselfos jaram para curso. 1 garoto pareceu muito abalado, = Fle no Ihe disse que eu viria? = Fle nao teve tempo de me dizer nada — afirmou spain, Sua mente voou para a pla de carta debaixo de Zauberbuch, Um daqueles pedis desesperados para que ingo ensinasse alguém devia ter vindo desse garoto, mas os jos de Desamparado estavam tornando dificil pensar. — ea boca, Desamparado. Qual o seu nome, garoto? — Peter Regis — disse ele, — Minha mie é a Bruxa de talbino. £ uma grande amiga de William Norland ecom- ou com ele a minha vinda. Fique quieto,cachorrinho. Eu ja mesmo estar aqui. — Ele tirou a mochila mothada das as ea deixou no chéo. Desamparado parou de late a fim sventurar-se fora da proteio da cadeiraefarejara mochila, caso de ela ser pergosa, Peter pegou acadeia e pendurou ‘saco molhado nela. A camisa estava quase tio encharcada nto. casaco. —E quem é voct? — perguntouele, espiando main por entre as bolhas, — Charmain Baker — ela respondeu e explicou: — Nos. spre chamamos © mago de tio-avé William, mas ele, na lade, €parente da tia Semprinia. Eu moro na Alta Norlanda, ‘onde voce €? Por que bateu & porta dos fundost 2 DIANA Wenn Jones — Venho de Montalbino — disse Peter. — E me perdi, se quer saber, tentando pegar o atalho na passagem. Eu vim) aqui uma vee, quando minha mae estava providenciando para ‘que eu fosse o aprendiz. do mago Norland, mas parece que! ‘eu no me lembrava corretamente do caminho, Hé quanto) tempo voct esté aqui? — Desde hoje de manha — disse Charmain, bastante sur- presa ao se dar conta de que estava ali ndo havia nem um dial ainda, Pareciam semanes, — Ah, — Peter olhou para os bules de ché em meio as bo- thas flutuantes, como se estivesse calculando quantas xicaras de ch4 Charmain havia bebido, — Parece que voce esté aqui hd semanas. — Jéestava assim quando cheguei — replicou Charmain com frieza. — 0 que? As bolhas e tudo? — perguntoa Peter. CCharmain pensou: Acho que nao gosto esse garoto. — Nio— disse ela. — Isso fui eu. Esqueci que tinhajogado o sabonete na larera. — Ah — disse Peter. — Pensei que fosse um feitigo que tivesse dado errado, Foi por isso que supus que vocé também fosse uma aprendiz, Vamos ter de esperar que 0 sabonete se sste entdo. Vocé tem alguma comida? Estou faminto Os olhos de Charmain seguiram relotantes para a bolsa sobre a mesa, Ela entdo os desviou rapidamente, —Nio — disse ela. — Nao tenho. —O que vocé vai dar para o seu cachorro comer, entio? — perguntou Peter ‘Charmain olhou para Desamparado, que voltara para de- baixo da cedeira a fim delatir para a mochila de Peter. 58 A.CAsa pos Murros Camivnos — Nada, Ele acabou de comer metade de uma torta de carne porco — disse ela. — Endo é meu cachorro. E um vira-ata 1 tio-av6 William acolheu. O nome dele é Desamparado, Desamparado ainda estavalatindo. — Fique quieto, Desamparado — disse Peter, ¢ estendeu bbraco em meio a tempestade de bothas, passando por seu sasaco molhado, até onde Desamparado estava encolhido lebaixo da cadeira, De alguma forma, ele conseguiu puxi-lo se ergueu com Desamparado de barriga para cima no colo. ssamparado emitiu um ganido de protesto, agitando as qua ro patas entortou a cauda esfiapada entre as patestraseiras, ler desentortou a cauda — Voct estéferindo a dignidade dele — disse Charmain. | Ponba-o no chi. — Nao ele — disse Peter, — Bla, Fela nd tem dignidade flguma, tem, Desamparada? Desamparada claramente discordava, e consegutu escapar ‘dos bracos de Peter para a mesa, Outro bule caiu, ea bolsa de ‘Charmain tombou, Para grande consternago de Charmain, ta de carne de porco ea torta de maci rolaram para fora dela, — Ah, étimo! — disse Peter, pegando a torta de carne de yrco segundos antes de Desamparada alcangé-la, — Esta & {oda comida que vocé tem? — perguntou ele, mordendo com ‘ontade a torta — Sim — respondeu Charmain, — Esse era o café da ma- ‘nha. — Ela pegou o bule caido. O ché que havia derramado ‘apidamente se transformouem bolhas marrons, queturbilho- haram para o alto, criando um veio marrom entre as outras bothas. — Othe s6 0 que voe® fez 9 Diana Wene foxes ACASA pos Murros Camisos — Um pouguinho mais ndo vai fazer diferenca nessa .gunca —replicou Peter. — Voce nunca arruma isso aqui? torta esta muito gostosa. O que é essa outrat bebida quente eraalgo que Charmain estivera ansian- que caira da encosta da montana, Ela estremeceu e sudter em torn do corpo. Que dtima ideia! — exclamou ela. — Prepare uma se er desviou as bolhas para um lado, a fim de examinar es sobre a mesa, CCharmain olhou para Desamparada, que estava senta ‘melancdlica, a0 lado da torta de maga. — Maga — disse ela. — E, se vocé a comer, tem de da pedaco para Desamparada também, ~ sso uma regra? —perguntou Peter engolindoa it Alguém deve ter feito todos esses bules de chi — afir- ‘mordida da torta de cane de porco 4s —B — disse Charmain, — Desamparado a criou ¢ ele 6 pode ter sido o tio-av® William — disse Charman. quero dizer, ela..€ muito firme nese sentido. fo fuien — Fla € magica, entio? — sugeriu Peter, apanhando a tor dde maga, Imediatamente, Desamparada comesou a emitiele\ nds expressivos pos-se a andar entre os bules de ché, — Bu ndo sei — comegou Charmain, Entio, ela pensou ni ‘maneira como Desamparada parecia capaz de ir a qualqy ‘Mas sso mostra que pode se feito — observou Peter. — fique ai parada, parecendo fragile procure uma panela algo parecio. = Vocé procura — retorquiu Charmain. Peterlangou-the um olhar de desdém eatravessouacozinha, jnndo as bolhas para o lado enquanto avangava até alean- 4 pia entulhada, Ali, ele naturalmente fez as descobertas Charmain fizera mais cedo. lugar da casa e como a porta da frente se abrira para ela mé cedo.— Sim — disse. — Tenho certeza de que & Muito mgh Lenta e relutantemente, Peter quebrou um pedacinho torta de magi, A cauda esfiapada de Desamparada se agitou. seus olhos seguiram cada movimento dele, Ela parecia sabe exatamente o que Peter estava fazendo, independentemente! {quantas bothas se interpusessem no caminho. — Entencdo o que quer dizer — abservou Peter, e passou ppedaco para Desamparada, Ela 0 abocanhou delicadamente, pulou da mesa para a cadeira e entio para o chao, e foi comer em algum lugar entre as sacolas de roupa sua, — Que tal uma bebida quente? — sugeriu Peter, = Nio tem torneira! — exclamou, incrédulo, — E todas panels esto sujas. Onde ele pega Sgua? = Tem uma bombalé fora no quintal — disse Charmain, aspereza. Peter olhou em meto is bolhas para a janela, em cujas vi- jas a chuva ainda escorria, — Nio tem um banheiro? — perguntou ele. E, antes que larmain pudesse explicar como chegar ale, acenou e abr sninho aos tropegos pela cozinha em diresio & outra porta, syando sila de estar, As bolhas caiam ao redor dele quando 0 a Diaxa Wenn Jones eleemergia, furioso, devltacozinha, — Isso uma piadat Perguntou, inerédulo, — Elendo pode ter 6 estes dois cémod ‘Charmain susprou, apertando osuéter ainda mais era or do corpo, foi mostrar ace. — Abraa porta novamentee vite & esquerda — expli dla, ento teve de agarrar Peter quando ee virava para ad relta. — Nao. Por a voé vai para um lugar muito estrano, esquerda& para ci. Nao sabe? — Nao — disse Peter. — Nunca sei dizer. Em geval, ten de amarrar um pedago de barbante no meu polegar ‘Charmain evirou os olhos para alto eo empurrou para ‘esquerda. Amboschegaram ao corredor, onde a chuva golpea ruidosamente a janela na ovtra extremidade. Lentamente Juzinandou o lugar enquanto Peter cava ali parado, olhando tudo sua volta — Agora voc’ pode virar a diteita — disse Charmain, empurrando-o naquela diresio. — © banheiro & esta porta aqui, Aquela sequéncia de portas sfo 0s quartos. — Ah — disse Peter, admirado. — Ele consegue dominar ‘© espago, Al esté algo que mal posso esperar para aprenden Obrigado — acrescentou, e mergulhou no banheiro. Sua vo flutuou até Charmain quando ela se dirigia na ponta dos pés para estidio. — Ah, btimo! Torneiras! Agual CCharmainentrourapidamente no estiio do o-avé William € fechow a porta, enquanto a estranha lampada expiralada na mesa seacendia ease trnando mais clara, Quando el leans G00 a mesa, estava quase tio claro como o dia eli, Charmain empurrou para olado Das Zauberbuche pogou ofeixede cartas debaixo dele. Ela precisava verificar Se Peter estava dizendo a a A.Casa nos Mutros Caminitos de, uma das cartassoicitando a vaga de aprendiz do tio- William tinha de ser dele. Como havia apenas passado os por elas, no tinha qualquer lembranga de que essa carta ise, ese rio existisse ela estavalidando com um impostor, ielmente outro Iuboque. Ela precisava saber. ‘Ah! Ali estava, na metade da pilha, Ela colocou os 6culos Pstimado mago Norland, Noassunto queda respelto me tornar seuaprendiz seria ‘conveniente que eu chegasse af daguia uma semana, eno ho outono, como combinado? Minha mie precisa vijar para Ingary prfere me ver acomodado antes e partir. A menos ‘que ousa 0 contritio de sua parte, ew me apresentarel a sua sano dia 13 deste més Esperando que isto Ihe seja convenient, Sinceramente, Peter Regis Enido parece que esti tudo certol, pensou Charmain, me- le aliviada e metade aborrecida. Quando, mais cedo, ela javia passado os olhos pelas cartas, devia ter enxergado a lavra aprendiz perto do alto da folha e a palavra espera lo perto do fim, eessas palavras estavam em fodas as cartas. ldo ela havi presumido que se tratava ce mais uma carta e solcitagdo, E, aparentemente, o tio-avo William fizera 0 Imwesmo. Ou talvezestivesse doente demais para responder. O jue quer que tena acontecido, ela parecia estar presa com Peter, Droga! Pelo menos ele no é sinistro, ela pensou. 6 Diana Wrnis Jones Nesse momento, ela foi interrompida pelos geitos afi de Peter a distancia. Charmain apressou-se a enfar as car debaixo de Das Zauberbuch novamente, trou as éculos e di pparou para o corredor. (© vapor jorrava do banheiro, misturando-se as bolhas qué hhaviam se extraviado até la e quase ocultando algo grande: branco que se avultava na direcio de Charmain, — O que voce f.. — ela comegou, Isso foi tudo que teve tempo de dizer antes que a enor coisa branca pusesse uma gigantesca lingua cor-de-rosa pat fora e lambesse seu rosto. E também emitiu um estrondk som de trombeta, Charmain cambaleou para tris, Era como lambida por uma toalha de banho molhada e ouvir o brami cde um elefante. Ela encostou-se & parede e ergueu a vista pa (0s olhos enormes e suplicantes da criatura. — Bu conhego esses olhos — disse Charmain. — 0 que fo ‘que ele fez com voce, Desamparada? Peter surgiu do banheiro, arfando. — Nao seio que deu errado— ele arquejou. — A égua nto saiu quente o suficiente para fazer um ché, entto pensei em) deixé-la mais quente com um fetigo de aumento. — Bem, desfasa-o imediatamente — disse Charmain, —| Desamparade esté do tamanho de um elefante. Peter langou tum olhar perturbado & imensa Desamparada, — S6 de um cavalo, Mas os canos estio incandescentes — disse ele. — O que vocé acha que eu devo fazer? ~ Ah, francamente! — replicou Charmain, Ela empurrou. ' enorme Desamparada delicadamente para o lado e seguit para obanheiro. Até onde podia ver em meio a0 vapor, a 4gua ot A.Casa Dos Murros Caminnos Fava em ponto de fervura das quatro torneiras e no vaso tirio, eos canos na parede de fato brilhavam incandescen- Tio-avo William! — ela gritou. — Como é que deixo a ado banheiro fria? ‘A vor gentil do tio-av6 William falou em meio aos silvos e dos da dgua. — Voc vai encontrar instrugdes em algum lugarna vals, jinha querida. = Isso no é nada bom! — disse Charmain. Fla sabia que jo havia tempo para ficar procurando em valises. Alguma isa ia explodir logo, logo. — Eerie! —elagritou para vapor. Congelem! Todos vocés, canos, esfriem imediatamente! a berrou, sacudindo os bragos. — Ordeno que voces esfriem! Para seu espanto, funcionou. O vapor se reduziu a meras foradas ¢ entio desapareceu por completo, A descarga do \s0 sanitério cessou. Tres torneiras gorgolejaram e a dgua [parou de corret. Quase instantaneamente formou-se gelo na orneira que ainda estava aberta — a de dgua fria na pia —e ‘um pingente de gelo surgiu na sua ponta. Outro apareceu nos ‘eanos que corriam ao longo da paredee deslizou, assobiando, pra dentro da banheira, — Assimestd melhor — declarou Charmain, fez meiavolta| para olhar Desamparada, que lhe devolveu um ofhar triste, CContinuava enorme. — Desamparada — disse Charmain —, diminua, Agora. Eu Ihe ordeno, Desamparada abanou melancolicamente a ponta da cauda_ ‘monstruosa e continuou do mesmo tamanho. — Se ela ¢ migica — disse Peter —, provavelmente pode voltar ao tamanko anterior se quiser. 6 Diana Wenne Jonas = Ah, calea boca! — retrucou Charmain, rispida, — Ae wort achou que estavafazendo? Ninguém consegue bebe ‘gua fervendo Peter langou-the um olharfurioso sob as pontas retorcda egotejantes de seu cabelo — Bu queria uma xicara de ché ~ disse ele. — Chi se faz com gua fervendo, ‘Charmain nunca fzera chi em sua vida. Ela deu de ombros. — £ mesmo? ~ E voltou o rosto pars o teto. — Tio-avd William — disse —, como conseguimos uma bebida quente neste lugar? ‘A voz bondosa voltou a falar — Na cozinha, bata na mesa e diga ‘chi’ minha querid, 'Na sala de estas, bata no carrinho de chino canto ediga “ch da tarde” No seu quarto. Nem Peter nem Charmain esperaram para ouvir sobre 0 ‘qearto, les se precipitaram e bateram a porta do banheiro, tornatama abri-la— Charmain dando em Peterum forte em Durrdoparaa esquerda —ese espemeram por la, entrandona Cozinba. Eno, fzeram meia-vols,fecharama porta, tormaram ‘ abri-lae finalmentechegaram sala deestar,onde olharam sua volta, ansiosos, procura do earrinho, Peter o avstou em tum canto o alcangou antes de Charmain, — Chi da tarde! — ete gritou, batendo com forgaem sta si- Perficie vata envidragada, — Cha da tarde! Chi da tarde! Ch. Quando Charmain 0 alcangou e agortou-lhe o brago que s agitava no ao carrinhoestavalotado com bules de chi, jarros de ete, agucareiros, xicaras,bisoites potes de creme, Potes de geleia, patos de torradas quentes com mantega, pi 66 ACasA Dos Mutros Castinntos {ebolinhos e um bolo de chocolate. Uma gavetadeslizou, ulo-se, em uma das extremidades do carrinho, cheia de colheres garfos. Charmaine Peter, de comum acordo, taram 0 carrinho até o sofa bolorento e se acomodaram \comerebeber. Um minuto depois, Desamparada enfiowa «ca pola porta farejando, Vendo ocarrinho, ela empurrou tae entrou na sala também, arrastando-se,tristonha e intesca, até 0 sofa, em cujo encosto ps o enorme e pe- jo queixo, atrés de Charmain, Peter dirigiv-Ihe um olhar ymentado e passou-lhe virios bolinhos, que ela comeu de i s6 vez, com imensa polide2, Uma boa meia hora depois, Peter recostou.se e esticou as — Isso foi 6timo — disse ele. — Pelo menos nio vamos. ‘morrer de fome. Mago Norland —acrescentou ele, experimen- Jando —, como conseguimos almoco nesta casa? Nio houve resposta. — Ble sé respondea mim —disse Charmain, um tanto pre- ‘sungosa. — Feu no vou perguntar agora. Tivede enfrentar um Juboque antes de vocé chegar, «estou exausta. Vou paraa cama, — O que sao luboques? ~ perguntou Peter. — Acho que tum deles matou meu pai CCharmain nto estava com vontade de responder. Ela se levantou e dirigiu-se para a porta, — Espere — pediu Peter. — Como nos livramos destas cojsas no carrinho? — Nao tenho ideia — disse Charmain, e abriu a porta — Espere, espere, espere! — gritou Peter, correndo atris| dela, — Mostre 0 meu quarto primeiro. o Diana Wea Jones ‘Acho que vou ter de fazer isso, pensou Charmain. Ele n onseguedistinguira esquerda da diteita, Ela suspirou. De Yontacle, empurrou Peter entre as bolhas que ainda tomavam 4 cozinha, agora mais espessa, para que ele pudesse pegar a ™mochila, €entio o girou para a esquerda, de volta pela porta, para onde ficavam os quarto. — Fique no terceito — disse ela, — Aguele ali éo meu eo) primeiro & do tio-avé William. Mas tem quilémetros deles, © quiser um diferente. Boa-noite — acrescentou ela, ¢ fol ara o quarto, ‘Tudo ali estava congelado. — Ora, pois bem — disse Charmain, Quando chegou ao quarto e vestiu a camisola, que, por alguma raza dor, gritando: — Bil Este banheiro esté congelado! Que azar!, pensou Charmain, Ela se deitou e adormeceu ‘quase imediatamente, Cerca de uma hora depois, sonhow que estava sendo esma- ‘ada por uma mamute peludo, ~ Desca, Desamparada — disse ela, — Voce # grande demais, Depois disso, ela sonhou que o mamute descera lentamente da cama, resmungando baixinho, antes que ela mergulhasse «em outros sonhos mais profundos. CAPiTULO CINCO. No qual Charmain recebe sua ansiosa mae stava manchada de ché, Peter estava no corre- jvando Charmain acordou, descobriu que Desamparada lantara a imensa cabeca na cama, sobre suas pernas. O sto de Desamparada estava encolhido no chio em um monte anco e peludo que tomava conta da maior parte do quarto. — Entdo vocé ndo consegue voltar a0 seu tamanho por ua propria conta — disse Charmain, — Vou ter de pensar alguma coisa ‘A resposta de Desamparada foi uma série de gemidos gigan- 1s, ap6s o que ela aparentemente voltou a dormir, Charmain, ‘60m dificuldade, arrastou as pernas de debaixo da cabeca tle Desamparada e contornou o corpo enorme, encontrando Foupas limpas e vestindo-as. Quando foi arrumar o cabelo, escobriu que todos os grampos com os quais costumava 68 © Diaxa Wenn Jonus ACASA Dos Murtos Camniios prender o cabelo pareciam ter desaparecido, provavelment fornada. —Puxa! — dissecla. — Suponho queumabarra durante seu mergulho do precipicio, Tudo que Ihe restava ef ho leve dias para gasta. — Depois, ela no disse mais nada, uma fita, Mamde sempre insistia que as garotas respeitivel in boca se enchia de espuma de sabao quando elaaabria, ‘va fazer, pensou. Entio suspirou e cuidadosamente abriu a primeira carta amarelada e quebradia, — Minha querida, espléndida, maravilhosa amada — ela Jeu. — Sinto sua falta tio terrivelmente...— Ha — disse para ‘9 princesa Hilda —, tem uma caixa especifica para cartas de — Tem, de fato — disse a princesa. — Esta aqui. Registre a data ¢ 0 nome da pessoa que a escreveu... Quem foi, por falar CCharmain olhouw no fim da earta — Hum, aqui diz “Grande Golfinho” ‘Tanto o rei quanto a princesa disseram “Oral” e riram, 0 rei com mais entusiasmo, — Entio é do meu pai para a minha mie — afirmou a princesa Hilda, — Minha mae morreu faz muitos anos. Mas no ligue para isso. Registre na sua lista, Charmain olhou para o estado amarelado e quebradico do papel e pensou que devia ser de muitos anos atrés, Ficou surpresa que 0 rei nto parecesse se importar que ela as lesse, ‘mas nem ele nem a princesa pareciam nem um pouco preocu- pados com isco, Talvez as pessoas da realeza sejam diferentes, cla pensou, olhando a carta seguinte, que comerava assim: “Querida fofinha e gorduchinha”. Ah, pois bem! Ela seguin com sua tarefa, ns Diana Wynne Jowes Algum tempo depois, a princesa se levantou e empur cadeira, arrumando-a junto & mesa. — Parece bastante saisfatério — disse. — Eu preciso. Minha convidada vai chegar logo. Ainda lamento nao! chamado o marido dela também, pal — Fora de questio, minha querida — disse o rei, sem Buer os olhos das anotagdes que estava fazendo. — Invasio. propriedade. Ele & 0 mago real de outra pessoa. — Ah, eu sei — disse a princesa Hilda. — Mas eu tam sel que Ingary tem dois magos reas. E nosso pobre Willia esté doente e pode até estar morrendo, — A vida nunca é justa, minha querida — replicou 0 ainda eserevendo sem parar com sta pena. — Alm diss William nao teve mais éxito do que nés. — Também estou ciente disso, pai — di 7 lisse a princes Hilda saindo da biblioteca. A porta fechou-se com um rui ssurdo atris dela, Charman urvous sore sua pris iba de papi tntndo ng quent etna cutinds Parciatm ent parc, Es pha de pap esta amarada evi tn t tempo que cals fa eva gruada na egins soa excurcd, como oni de ves gue Charen Yo encontrar no so dct Este mia alo ean teprncatcamdae de pape HE — doe ove Charman enue os aks vl aus cle estar sortnd ara la com apm pada no uma pied de ldo por cina dos elon ~Vejoquesocte uma javen mute dicta de de E deer dtu Aaconersquessbaosdterqueni estos jong 126 A.Casa os MurTos Caxeinnos sco. estamos procuranda coisas muito importantes. Os: 1 da mika filha irdo the dar algumas pistas do que pro- sf. Suas palavras-chave serio “tesouro”, “receitas’, “Ouro” jom de elfo”. Se encontrar uma mengio a qualquer uma ys, minha querida, por favor me informe imediatamente. [A deia de procurar coisas tio importantes fez os dedos de inrmain fcat ftios e desajeitados no papel frigil. Sim. Sim, naturalmente, Vossa Majestade — disse el. Para seu alivio, o mago de papéis nada mais era do que as de mereadorias com 0 prego — todos parecendo sur- cencdentemente baixas, — Por 5 quilos de velas de cera a 4 centavos o quilo, 20 intavos — ela leu, Bem, aquilo parecia datar de duzentos nos aris. — Por 100 gramas de excelente acafrao, 30 centa- fs. Por nove galhos de macieira fragrante para aromatizar ‘5 aposentos principals, | vintém. — B assim por diante. A Jpigina seguinte estava cheia de coisas como “Por 40 metros de cortinas de linho, 44 xelins”, — Charmain fez anotagies uidadosas, pbs aquelas paginas na caixa etiquetada Contas Domésticas e soltou a fotha seguint. — Ah! —exclamou. A folha seguinte dizia: — Para o mago Melicot, pelo encantamento de 100 pés quadrados de telhas para criara aparéncia de um telhado de ouro, 200 guinéus. — 0 que foi: minha querida? — perguntou oe, pondo um dledo no livro no panto em que havia parado de ler. ‘Charmain lew para ele em voz alta a conta antiga. Ele dew ‘uma risadinha e sacudia um pouco a cabeca. — Entio, definitivamente, foi feito por magica, no foi? — disseele, — Devo confessar que sempre tore para queacabasse sendo ouro de verdade, voc! ni? 17 DIANA Wen Jones A Casa Dos Musros Caminnos, — Sim, mas seja como for, parece ouro — disse Cha ura fosse demas para ele, Enquanto esperavamn que ontaladors, {tendesse ao sino, Charmain aproveitou a oportunidade — E€um feitigo muito bom, para durar duzentos: os livros nas estantes. Pareciam liveos sobre tudo, screscentou orei assentindo coma cabeca, — E-cro ta ali em desordem, livros de viagens ao lado de livros Duzentos guinéus era muito dinheiro naguelaépoca, Al Jbraepoemas ombroa omibro com geograia. Charman ’bem! Eu nunca espereireslver nossos problemas finan fade abrir um chamado Segredos do universo revelados, dessa forma, Além disso, seria chocante se subisse porta da biblioteca se abriu eum homem coma chapéu We arrancdssemos todas as telhas. Continue procur cozinheiro entroucartegando uma bandeja ‘minha querida, a a surpresa de Charmain, ore, dg, sltou pare trés Charmain continuou procurando, mas tudo que en sa ‘rou foi alguém cobrando 2 guinéus para plantar um j Minha querida, pegueo seu cachorto! — ele gritou, em de rosase outra pessoa recebendo 10 guinéus para rest de urgencia © tesouro — ni, nao outra pessoa, 0 mesmo mago Mé jutro cto hava entrado, colado as pernas do cozinheiro, que fez telhadot (Se se sentisseinseguro, um cachorro marrom de aspecto — Melict era um especilista, magino — observou o srgo com orelhas nodosas e cauda esapada. Ele grunia ‘quando Charmain leu aquele pagamento em vor alta. — B entrar. Charmain nfo teve a menor divida de que aquele ‘mim, parece um sujeito que se interessa por falsifcar met ‘0 cio que matava outros ees, e mergulhou no cho para preciosos. O tesouro certamente estava vazio aquela alt 1 Desamparada Hi anos sei que minha coroa ¢falsa, Deve ser obra desse Desamparada, porém, de alguma forma escapuliv-lhe das Melicot. Vocé est ficando com fome, minha querida? lose seguiu rapidamente na directo do cdo do cozinhelt. om frio ou enijcida? Nao nos damos ao tabalho de p Js grunhidos do outro cachorro eresceram, tornando-se um para um almoco apropriado... mina filha nio concorda c nado, Os pelo ergaram-s ao longo de suas cosas marrons isso. mas, em geral, pego a0 mordomo que traga um lane lsgrenhadas. Ele parecia tio ameagador que Charmain nfo 0u- ‘mais ou menos nesse horério, Por que nio se levanta ¢ et ‘ou se aproximar.Desamparada,porém, no pareia sentir edo as pernas enquant t0c0 0 sino? gun. Com seu eto vivaz, fi direto até 0 cdo que rosnava, Charmain se levantou e comeyou a andar, fszendo Desam ‘apoio se nas minsculas patastraseias, , atrevida encostou Parada por-se de pée observi-a,inquisidora, enquanto o seu natiz no dele. O outro cio ficou ta surpreso que parou de smancava até acorda do sino ao lado da porta, Decididamente tosnar.Entéo, ele empinow as orelhasencrespadise, com muita ‘rum homem frgi, pensou Charmain,e muitoalto, Era como ‘autela,cheirouo nariz.de Desamparada de volta. Ela sotou um 128 Le Diaxa Weer Jones sgritinho e pds-sea saltar, euférice, No instante seguinte, am estavam saltitando, encantados, por toda a biblioteca — Oral — disse o rei. — Suponho que esteja tudo ber entio. O que significa isso, Jamal? Por que vocé esta aqui lugar de Sim? Jamal — que tinha apenas um otho, Charmain perceb —avangou e, com ar de quem pede desculpas, pés a bande) sobre a mesa, — Nossa princesa levou Sim com ela para receber a com dada, senhor — ele explicou —, e ndo havia ninguém, excel fu, para trazer @ comida. E meu cio quis vie, Eu acho — acrescentou, observando os dois animais satitantes — que! hhunca aproveitou a vida até agora, — Fez uma mesura na di «g40 de Charmain. — Por favor, traga sempre seu cachorri bbranco aqui, Srta. Charme, Ele assoviow para o seu clo, que fingiu ndo ouvir. Jamal até a porta ¢ tornou a assoviar, — Comida — disse ele. — Venha comer uma lula, — Des v2, ambos oscachorros foram. E, para surpresae consterni de Charmain, Desamparada saiu pela porta andando ao la 0 cio do cozinheiro, e a porta fechou-seatrés dees, — Nao se preocupe — disse o rei. — Fles parecem ser aml {gos Jamal atrard de volta, Um sujito muito confidvel, Jamal Seno fosse aquele cachorro dele, seria um cozinheiro perfeito, ‘Vamos ver o que ele nos trouxe, que tal? Jamal havia levado um jarro de limonada e uma travessa ‘com uma porsio de coisas marrons crocantes debaixo de um ano branco. A Casa Dos Murros Canintos — Ah! — disseo rei, ao ergueravidamente o pana. — Coma’ juanto esté quente, minha querida, E assim Charmain fez. Uma mordida foi suficiente paralhe egurar que Jamal era um cozinheiro ainda melhor do que pai —e 0S Baker tinhaa reputacio de melhor cozinheiro Cidade, As coisas marrons eram crocantes, mas ao mesmo gm)po macias, com um sabor um tanto picante que Charmain mais havia experimentado, Faziam com que voce precisasse limonada. Ela ¢ o rei, juntos, imparam toda a travessa e ieberam toda a limonada, Entio voltaram ao trabalho, ‘Aessaaltura, eles estavam bem vontade. Agora Charmain o tinha timidez em perguntar ao rei tudo que queria saber. —Por que eles precisariam de 70 itros de pétalas de rose, snhor? — ela perguntou, Eo rei respondeu: — Bles gostavam de té-las sob os pés no sali de jantar Jhaquela époce. Habito emporcalhado, na minha opinito. Ouga ‘que esse ilbsofo tem a dizer sobre cameos, minha querida. = Flew em vor alta uma pagina do livro que tinha nas mios ue fez com que os dois gargalhassem. O fil6sofo claramente Inio se dera bem com camelos. Muito tempo depois, a porta da biblioteca se abri eDesam- pparada entrou, faceira, parecendo muito satisfeita consigo ‘mesma, Ela foi seguida por Jamal. — Mensagem de nossa princesa, senhor — ele disse, — A. senhora jé se acomodou, e Sim estélevando cha para o salto da frente. — Ah — murmuroa o rei, — Panquecas? — E muffins também — disse Jamal, ese foi. BI Diaxa Wexne Jones (Ore fechou oliveo ese levantou, — Emelhoreuir cumprimentar nossa convidada — ele, — Vou continuar examinando as contas, entdo — CCharmain. — Vou fazer uma pilha daquelas sobre as qual tiver alguma pergunta, — Nio, no — disse o rei. — Voce vem também, mit querida. Traga o cachorrinho, Ajuda a quebrar o gelo, sabe. Essa senhora é amiga da minha filha. Fu mesmo aug a encontrel ‘Charmain imediatamente sentiu-se nervosissima de nay Ela havia achado a princesa Hilda muitissimo intimidador altiva demais para que ficasse i vontade com ela, ¢ qualg amiga dela provavelmente seria parecida, Mas Charmain Podia recusar o convite,ndo quando o rei a esperava, segura ' porta aberta para que passasse. Desamparada jé estava in atrds dele, Charmain sentiuse forgadaa se levantar e segui (O saléo da frente era uma ampla sala cheia de sofis de bbotados com bragos ligeiramente puidos e franjas um tant esfarrapadas. Havia mais quadrados desbotados nas pared. onde antes deviam haver quadros. © quadrado desbotat Imaior ficava acima da grandiosa lareira de mérmore, ond para alivio de Charmain, um alegre fogo queimava. O sala como a biblioteca, era fio, e Charmain tremia novamente por causa do nervosismo, A princesa Hilda encontrava-se sentada ereta em umn sol 40 lado da lareira, para onde Sim acabara de empurrar um carrinho de cha. Assim que viu Sim empurrando 0 carrinho, Charmain soube onde o vira antes. Fora quando ela se per- 32 A.CASA nos MurTos CaMrnHos olde da Sl de Confectc ¢ visdumbrarao velo Foun cio ong do eranho creo strani, pnsou din colocarcom a tla ves de pangcas om manta bse alae fis des pangucnso nar de Depa emen a rounoquda dro, Charmaine tengo de pep ano sear, sogurnda com reas rages Bb iota gnome rice tine Bin meat ore Todos altos rasta Pui ~ de «pine — pevmie-e presen 8 igre amig Su Sophie Redragon, Ie re season cease cond oct ops sale preceru pos mene. Chara slo dea oats do quo ele ea gande, Que alto quanto es eli ela eso Dr Poon dae ele enctadoon cnc [seni demiao ila sto measamigs também. ‘AS Pendragon rperndeu Charan Esato Iemma grants sou dgatenmte vera Com um je a pro gue lar ean ou abel Suro sermea oho aalsreriadn El nd, pews Charman cam cine AS. ena peyton sua parol quand e cmpinenarsm com brmaper emia edie — Estou aqui para fazer o melhor que puder, senhor. E.0 = pounds ee at ben, mate bem ~ elo oe. ~ Por sees our ye Todos voc Eves tomar un ch 1 Diana Wyxsve Joes A.Casa nos Murtos Casinos ‘Todos se sentaram,eteve inicio um educadoe afive irmain ageadeceu novamente ao cavalheiro e pegow 2um de conversas, enquanto Sim cambaleava distribuiy Bram as panquecas mais amanteigadas que ela jé havia xicaras de chi, Charmain sentia-se uma completa esta uo, O nariz de Dessmparada girou para cutucar deca CCerta de que nao deveria estar ali, sentou-se no canto do! tea mo de Charmain ‘mais dstanteetentou deduzir quem eramm as outras pes Fsté bem, esté bem — murmurou Charmain,tentando Enquanto isso, Desamparada acomodou-se sossegadam lum pedago sem deixar pingar manteiga no sof. A man- no sofiaolado de Charmain, com um ar de recto, Seusol escorria por seus dedos e ameacava cir em suas mangas seguiam avidamenteocavalheiro que servia as panquecas) {stavatentando limpé-la com o lengo, quando a dama de hhomem era to silenciosoesem cor que Charman esquece spania terminou de dizer tudo que se podia dizer sobre o de sua aparéncia assim que tirow os olhos deleeteve de yo. evirou-se para a Sra. Pendragon. olhé-lo para embrar-se.O outeocavalheiro,cuja boca par © A princesa Hilda me disse que voc tem um flhinho fechada mesmo quando ele estava falando, ela concluia q antador — ela disse fosseochanceler do rl. Paecia tr muitas coisas secrets pa = sim, Morgan — disse a Sra, Pendragon, Ela também dizer Sra. Pendragon, qu ficavaastentind com acabega — ecia estar tendo problemas com @ manteigae Himpava os entio piscando um pouco, como se o que 0 chanceler di dos com o lengo, eparentemente congusa 4 surpreendesse. A outra, uma senhora idosa, parecia ser — Qual idade de Morgan agora, Sophie? — perguntow

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