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I N D ISSOCIABILIDADE ENSINO/PESQUISAlEXTENSAO:

BUSCANDO A ESSENCIA E ENGENDRANDO 0 NOVO

Josicelia Dumet Fernandes·

RES UMO: A autora , objetivando urn patamar critico de compreensao da indissociabi­


l idade Ensino/Pesq u isa/Extensao no trabalho da doc�ncia em enfermage m , apresenta
uma aproximac;ao renovada da composiyao dessas funyaes acad�micas com a
realidad e , onde as mesmas se desenvolvem. Nessa aproximayao sao explicitadas as
contradiyaes e confl itos que perpassa m a triade, buscando camin hos para transfor­
mayao da realidade.

ABSTRACT: The a uthor, a i ming at eval uating Teach i ng I Researching I Field Services
("Extension') as parts of a single, u nbreakable unit in the n u rse ry teaching process,
suggests a contin ued exchange between the academic functions and the reality
s u rro u nding it. I n this exchange the contradictions and conflicts that a re involved in the
triad become clear, seeking ways of transforming reality.

U N I TERMOS : Ensino/Pesq u isa/Extensao - Atividades Academicas - Enfermagem.

1. INTRODU�AO mais variados debates e controversias; nota-se tam­


bern que eia tern side interpretada de diversas formas,
As vesperas de urn novo seculo, vive-se urn con­ dando margem a disto�oes significativas ao interior
texto de grande inquieta<;ao social e de profundas da vida academica brasileira; observa-se, ainda, que
mudan�as cientificas/tecnologicas, 0 que leva Ii ne­ eia vern sendo tratada, por uma grande parcela uni­
cessidade de reflexao sobre as pniticas por nos desem­ versimria, como uma composi�ao de fun<;oes separa­
penhadas, procu rando -s e compreender a essencia das das ou sepaniveis que, funcionalmente, sao juntadas
mesmas e remetendo-se, sem dUvida, ao engendra­ para formar urn todo que, interagindo e interrelacio­
mento do novo. nando-se, formam uma unidade inteira, completa,
desenvolvendo-se em dire<;ao a uma harmonia entre
Essa necessidade, no ambito das universidades,
as partes. Essa e uma conce�ao da indissociabilidade
passa por urn processo de revisao das fun<;Oes de
EPE que supOe, equivocadamente, a inexistencia de
Ensino, Pesquisa e Extensao, com enfase no seu com­
conflitos e contradi<;oes que estao consubstanciados
promisso com a sociedade civil, que esta a exigir urna
Ii realidade, reduzindo, ao cotidiano individual, toda
academia renovada para a entrada no novo milenio.
a historicidade do saber academico.
o tema indissociabilidade Ensino/Pesquisa/Ex­
Contrariando esse entendimento, 0 presente estu­
tensao (EPE) MO e propriamente uma novidade nas
do, visando buscar urn patamar critico de compreen­
cogita<;o e s academicas brasileiras; 0 novo, entretanto,
sao da indissociabilidade EPE, constitui-se numa
consiste no tratamento que essa triade deve merecer
aproxima<;ao renovada da composi<;ao dessas tres
frente Ii recente conj untura, onde as mudan<;as na
fun<;OeS academicas, de sempenhadas por enfermei­
sociedade estao se acelerando e nos desafiando a
ros, com a realidade onde as mesmas se desenvolvem.
inteJVir nas mesmas.
Essa aproxima<;ao aponta para a dinfunica do real,
No cotidiano do ambito universitano, obseJVa-se exp licitando as c ontradi<; oes e os conflitos que per­
que a indissociabilidade EPE tern side objeto dos passam, a triade, obj etivando 0 dese ncadeamento da

Professora Visitante da Escola de Enferrnagem da Universidade Federal da Bahia.

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reflexão critica e da busca de caminhos para a trans­ nas para exercer a função de Ensino, sem nenhuma
formação da realidade. exigência com a Pesquisa e a Extensão; a estrutura
Nesse entendimento, procurar-se-á, de acordo administrativa é montada para fazer funcionar o apa­

com a contemporaneidade atual, buscar a compreen­ rato de Ensino. Nesses casos, o professor desenvolve

são da indissociabilidade EPE na sua totalidade, o que um Ensino empobrecido, imitativo, livresco, não re­

significa que a mesma deve ser analisada em relação flexivo, de mera transmissão de conhecimento e com

a si mesma e ao todo social, isto é, em relação àqueles pouca relação com os problemas e necessidades de

elementos que definem sua própria natureza - sua saúde da sociedade onde está inserido; o aluno recebe

essência. Assim, a análise das funções acadêmicas do uma formação sem nenhum preparo para ser pesqui­

enfermeiro está, neste estudo, alicerçada em algo sador, quando, na verdade, a motivação para esse

como uma visão de conjunto da parcela da realidade preparo deve emergir a partir da graduação, sendo

estudada. Nesse aspecto, concordo com KONDER(5) de:senvolvida ao longo de sua formação continuada.

quando este esclarece que a visão de conjunto é Verifica-se ainda, no dia-a-dia dos enfermeiros
sempre provisória, não pretendendo esgotar a realida­ docentes, o desenvolvimento de uma quantidade sig­
de a que ela se refere, pois essa realidade é mais rica nificativa de pesquisas desvinculadas do seu principal
que o conhecimento que se tem del� havendo sempre laboratório - os serviços - estudando problemas rela­
algo que escapa as nossa sínteses. Essas sínteses tivamente superficiais, gerados em gabinetes, sem
constituem a visão de conjunto que permite ao ho­ intervir nos problemas de saúde da região onde estão
mem descobrir a estrutura significativa da realidade inseridos.
com que se defronta uma determinada situação. E é
Observa-se, assim, uma dicotomia entre as três
essa estrutura significativa que a visão de conjunto
funções acadêmicas da enfermagem, de tal modo que
proporciona - que é chamada de totalidade.
a Pesquisa não alimenta o Ensino, nem serve de
Vale salientar, também, que a dialética da totali­ referência para os serviços; da mesma form� a Ex­
dade concreta não é um método que pretenda captar tensão não tem tido uma interação significativa entre
e exaurir todos os aspectos, relações e processos da a Pesquisa e o Ensino.
realidade, oferecendo um quadro total da infinidade
Essa realidade torna-se mais complexa quando se
da realidade estudada, pois o conhecimento humano
constata que ministérios e órgãos financiadores esta­
não pode, jamais, abranger todos os fatos. A totalida­
belecem programas e elaboram orçamentos com alo­
de é apenas um momento de um processo de totaliza­
cação de recursos destinados ao fomento isolado do
ção que, por sua vez, nunca alcança uma etapa defi­
Ensino, da Pesquisa e da Extensão(9), fortalecendo a
nitiva e acabada.
dicotomia entre essas funções acadêmicas, além de
ampliar a dificuldade na concretização da indissocia­
2. APRESENTANDO A REALIDADE
bilidade entre as mesmas e de estabelecer uma hierar­
quia de importância de uma sobre as outras, como se
Em que pesem algumas exceções, a prática pre­
fossem instâncias quantificadas ou quantificáveis.
dominante no cotidiano da enfermagem nas institui­
Disso se conclui que o processo formativo do
ções acadêmicas tem sido aquela em que unl mesmo
aluno não está sendo considerado como inerente ao
profissional, acreditando estar operando a indissocia­
processo de produção do conhecimento e à relação
bilidade EPE, distribui sua carga horária com essas
constante com a sociedade, desenhando-se, assim, um
três atividades acadêmicas, como atividades isoladas,
forte distanciamento entre as funções acadêmicas.
sem nenhuma conexão entre as mesmas, dirigidas a
clientelas e interesses diversificados. Esses distanciamento ou dicotomia existente en­
tre as funções acadêmicas não é inocente; ele se insere
Observa-se também, com muita frequência, uma
num quadro de correlação de forças em jogo no
predominância da função de Ensino sobre as demais,
interior da sociedade e, por isso mesmo, não pode ser
acarretando uma secundarização da Pesquisa e Exten­
analisado linearmente, nem apreendido isoladamente
são, que ocorrem à margem da estrutura e das instân­
e desarticuladamente do todo social, como se fosse
cias formais da instituição. Essa central idade da re­
constituído na própria enfermagem, alijado do seu
produção do conhecimento sobre a produção do co­
conteúdo histórico e dos conflitos sociais.
nhecimento e apresentação de serviços à comunidade,
torna-se mais agravada na medida em que existem A compreensão da indissociabilidade EPE, de­
instituições acadêmicas que contratam docentes ape- mémda sua inserção num quadro contendo ambigüi-

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dades e problernas pr6prios da sociedade brasileira e, convicyao de que estiIo exercendo a indissociabilida­
por isso mesmo, deve partir de urna reflexao de como de entre as tres funyOeS academicas.
se constituiu a realidade existente nas instituiyoes Da mesrna forma, quando do primeiro contato
academicas, no que diz respeito as suas funyOes prio­ com a Lei 5 .540 de novembro de 1 968, alguns profis­
riUirias. sionais, deixando-se levar pela aparencia, afirmam
Toma-se necessario, portanto, urna aproxirnayao que a indissociabilidade EPE e preceituada, determi­
dessa realidade com a sociedade na sua dimensao nada, normatizada, implantada pela Lei da Reforma
social e hist6rica, a fim de encontrarmos carninhos UniversiUiria. Entretanto, ao se realizar uma investi­
pertinentes para a sua transformayao . Nesse aspecto, ga930 mais rigorosa, poder-se-a verificar que aquele
concordamos com CURy( I ) , quando nos lembra que texto legal tern urna aparente preocupa9ao com a
para a transformayao da realidade e preciso 0 conhe­ qualidade acadernica, pois a intencionalidade dessa
cimento da mesrna, e que essa realidade, s6 pode ser preOCUpay30 e bern diferente da que esUi especificada
conhecida na sua totalidade, quando se conhece sua na referida Lei(3) .
dimensao hist6rica e social, compreendendo, assim,
A indissociabilidade EPE se manifesta, atraves
a unidade dialetica da estrutura e superestrutura, onde
da Reforma UniversiUiria, como urn c1aro-escuro de
o homem e reconhecido como sujeito da praxis.
verdade e engano, sendo, por isso mesmo, imprescin­
divel buscar a sua essencia para que se possa apreen­
3. BUSCANDO A ESS E NCIA de-lao Essa busca implica em indagar, investigar,
explicitar como aquela triade se manifesta e, ao mes­
Como nos ensina KOSIK( 7 ) , . . . as coisas nao se mo tempo, se esconde nas politicas de moderniza9ao
mostram ao homem tal qual sao; e, como 0 homem do ensino brasileiro no p6s-68 .
nao tem aJaculdade de ver as coisas diretamente na
A moderniza9ao supra-citada aconteceu no bojo
sua essen cia, a humanidade Jaz uma volta (detour)
de urn conjunto de proj etos de moderniza9ao do sis­
para conhecer as coisas e a sua estrutura. Isto signi­
terna educacional, representados pelas reformas edu­
fica que a essencia, ao contnirio do fenomeno, roo se
cacionais implantadas pelo governo federal ap6s 0
manifesta diretamente, e que 0 fundamento oculto das
movimento de 1 964. Esses projetos constituiram-se
coisas deve ser descoberto mediante urna atividade
como respostas a urn conj unto de movimentos de
peculiar. A existencia do real e as formas fenomeni­
estudantes e intelectuais, que c1amavam por mudan-
cas da realidade sao diferentes e, muitas vezes, abso­
9as e moderniza90es educacionais. Entretanto, as
lutamente contradit6rias com a lei do fenomeno, com
moderniza90es dernandadas pelos movimentos por
a estrutura da coisa e, portanto, com 0 seu nucleo
reformas educacionais nao eram as mesrnas moder­
interno essencial e o seu conceito correspondente ( 7 ) .
nizayOes estabelecidas pelos projetos gove rnamen­
Existem interferencias e articulayoes diversas; e tais ( 8 ) .
preciso ir alem da aparencia, verificar 0 que, efetiva­
Os movimentos por mudanyas educacionais, ini­
mente, ocorreu, que carninhos foram ou estao sendo
trilhados, que interferencias efetivas se rnanifestam, ciados a partir da decada de 50, almejavam urna
muito para alem daquilo que esUi expresso na real ida­ Universidade envolvida no contexto das exigencias
de transformayao da realidade social, isto e , urna
de que a n6s e apresentada.
universidade existencialmente estendida a sociedade
Nesse entendimento, 0 enfermeiro deve ter a e comprometida com as necessidades concretas da
c1areza de que a indissociabilidade EPE, na sua tota­ popula9ao. Essas e outras iniciativas dos estudantes e
lidade, roo se da a conhecer imediatamente e facil­ intelectuais pretendiam urna transformayao no pro­
mente, e mbora ela Ihe sej a imediatamente accessivel cesso de forrna9ao de profissionais, propondo mudan-
na forma das aparencias, isto e, na sua representa9ao, 9as qualitativas , atraves da ad09ao de inovayoes nos
opiniao e e xpe rie nc i a Isto , contudo, nao leva 0 enfer­
.
conteudos e procedimentos educacionais, alem de
meiro a essencia da indissociabilidade EPE. 0 conhe­ tomarem como parametro urn avan90 na produ9ao de
cimento verdadeiro dessa realidade deve ultrapassar pesquisas e dissernina9ao de atitudes cientificas, de
as aparencias para chegar a essencia do fenomeno . predisposi90es para conhecer de forma inteligente, e
Nao basta, portanto, a primeira e p ri ma ria impressao, nao apenas repetitiva e reprodutiva(4, 8 ) .
como no caso de profissionais que, dividindo seu
tempo em atividades de Ensino, Pesquisa e Extensao, Essas propostas inovadoras foram colocadas de
absolutamente dicotomizadas uma das outras, tern a
lado pelas reformas educacionais no p6s-68, sendo
imposta outra racionalidade , com outras defini90es de

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qualidade e organiza� do conhecimento, onde fo­ mantendo oontato direto com os pesquisadores - or­
ram tornados, como referencia, outros imaginArios e ganizados na p6s-grad�oo ou nos grupos de pesqui­
outJas fonnas de pensar a modernizacao; onde foi sa - agindo por cima e por fora da estrutura de poder
adotado urn imaginario educacional cujo ponto cen­ da Universidade<2).
ttal foi deslocado dos seus fins para os seus meios ou
Essa polariza�o alimenta uma tendeocia preocu­
tecnicas. 0 objetivo basico dessas reformas foi 0 de pante de desligamento progressivo das fu�s aca­
racionalizar as atividades educacionais, conferindo­
demicas. Essa tendencia, por sua vez, conduz a dois
lhe maior eflci�ncia e produtividade, partindo do tipos distintos de institui�s: em urn polo estilo as
pressuposto de que os problemas existentes diziam institui�Oes que, desenvolvendo urn ensino de massa,
respeito a estrutura e funcionamento do sistema edu­ procuram atender, de forma imediatista, a demanda
cacional, cujas solu� eram apenas de carater tec­ por diploma a Divel de gradua�o e, excepcionalmen­
Dioo, sendo omitido, deliberadamente, 0 seu carAter te, oferecern cursos de p6s-grad�oo lato-sensu; a
politico. Pesquisa e a Extensao silo, praticamente, inexistentes
Estudando as implic�Oes da Reforma Universi­ nesses estabelecimentos; no outro extremo estilo as
tAria IX) ensino de Enfermagem, FERNANDES(3) institui�Oes que, objetivando a preseIVa�ilo dos prin­
verifkou que essa foi muito mais uma reforma poli­ cipios da indissociabilidade entre EPE, manrem cri­
tica, ecooomica e ideol6gica, do que mesmo uma terios de qualiftca�o academica e oferecem melho­
m� no myel do conteudo e dos procedimentos res oportunidades de forma�ilo, ministrando cursos de
educacionais; reforma politica ao procurar diminuir grad�oo e p6s-grad�oo stricto-sensu(2 ).
as pressOOs sabre a universidade, atraves da amplia­ Por outro lado, com 0 decrescimo dos investi­
� do nitmero de vagas no ensino pUblico e do mentos em educa�o (e saude) que acompanham a
estfmulo a expansao do setorprivado; reforma ecooo­ recessilo economica, produziu-se uma deteriora�oo
mica ao adotar os meios necessarios para racionalizar dos salarios e das verbas de custeio, agravando a
custos; reforma ideol6gica ao procurar dar cobertura
situa�o em si ja diftcil, cujo resultado tern sido a
ideol6gica ao regime implantado em 1 964. Os aspec­ multiplica�o de estabelecimentos onde 0 Ensino e
tos pedag6gicos e quaiitativos da educ�ao foram precario, a Pesquisa e insuficiente e a Extensao ine­
deixados de lado para se assumir 0 quantitativo e 0 xistente, configurando imita�s empobrecidas de
ecooomico. verdadeiras Universidades(3).
A partir de 1 968, a Universidade passou, entilo, a Tomando tada essa realidade como pano de fon­
exercer mais fortemente sua �o de Ensino, aten­ do, fica mais facil entender porque a triade EPE,
dendo a uma demanda ampliada, oferecendo urn en­ quando nilo ausente, e caraterizada pela do�ilo
sino de massa e repassando para outras instancias a de uma, inexpressividade ou marginalidade de outras.
pesquisa (desligada do ensino) e a fo�ao de uma Fica mais facil, tambem, entender porque nilo se pode
elite de pesquisadores. Enquanto isto, a Extensao, compreender EPE apenas em si mesma e sim na sua
marginalizada pela Pesquisa e pelo Ensino, recebe totalidade.
uma ate�ao subestimada da institui�oo. A preocupa­
� com 0 desenvolvimento da Pesquisa e da Exten­ Situada e contextualizada a triade academica,
sao em suas rel�Oes com 0 Ensino nilo fez parte da com seus conflitos e contradi�oes, pode-se dispor
politica geral do ensino superior, que esteve voltada agora, de categorias concretas para se cbegar a urn
para 0 atendimento as demandas por Ensino e para 0 conhecimento aproximado da realidade da composi­
oontrole politico desse atendimento. �Ao EPE, compreendendo-a e explicitando-a como
urn produto hist6rico, no qual se solidiftcam interes­
Por outro lado, era necessario racionalizarcustos. ses e praticas complexas e contradit6rias.
Essa imperativa necessidade interferiu na distribui­
�o de recursos para a Pesquisa e Extensoo, que foi 4. ENGENDRANDO 0 NOVO
subtraida da area academica. Para a Pesquisa, entre­
tanto, a distribui�o de recurso s foi canalizada para
Neste final de milenio vive-se urn momento con­
urn segmento especifico do Ministerio da Educa�ilo -
tradit6rio, sobrecarregado de marcas do passado,
CAPES - e para as agencias financiadoras. Esses
mas, ao mesmo tempo, pleno de possibilidades con­
6rgaos, constituindo-se como controladores da poli­
cretas para 0 futuro. Assim, nilo e mais admissivel que
tica de do�ilo de verbas para a Pesquisa, estabelece­
os profissionais se limitem a interpretar 0 que esta
ram urn sistema paralelo a estrutura universitflria,
diante deles, de maneira imediata, sem distinguir, de

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modo conseqiiente, os elementos que se opOem as contribua para 0 avan<;o historico da popula<;ao, e
mudanc;as, ou os que favorecem essas mudan<;as. Nao esta contribua com a forma<;ao de profissionais
basta, portanto, pensar, entender, investigar, interpre­ capazes de pensar e agir, criticamente, frente as
tar e explicitar 0 que e indissociabilidade EPE, mas exigencias coletivas; essa a<;ao e instrurnentada
tambem vislumbrar horizontes para a transforma<;ao pela Pesquisa e pelo Ensino, ou seja, a Extensao
da realidade, para engendrar 0 novo. como articuladora do Ensino e da Pesquisa, garan­
tindo 0 contato direto, realimentador e reciproco
Nao lui formula magica para engendrar 0 novo;
entre enfermeiros-docentes, enfermeiros de servi­
este e 0 resultado de urn processo de luta, de conquis­
<;os, alunos e popula<;ao, vinculando-se nao so a
ta, de vontade e deterrnina<;ao politica que somente se
presta<;ao de servi<;os, mas tambem ao exercicio de
desenvolve em ambientes de critica e autocritica, de
transforma<;ao da realidade.
debates e de confronto diario com a realidade concre­
ta, germinando urna disposi(;iio para se intervir trans­ Esse conjunto de disposi<;oes constitui-se numa
formadoramente no existente . via de WIo dupla, com tnlnsito assegurado a comuni­
dade academica de enfermagem que encontra, nos
A disposi<;ao do enfermeiro-docente para intervir
servi<;os, a possibilidade de operacionaliza<;ao da pra­
na realidade da triade EPE, engendrando 0 novo,
resulta, necessariamente, da concep<;ao da universi­ xis de urn conhecimento. Dessa praxis, docentes e
discentes trazem para a academia urn aprendizado
dade que se deseja, isto e, urn espa<;o privilegiado, WIo
que, submetido a reflexao teo rica, sera acrescido
so da produ<;ao critica do conhecimento e da cultura,
aquele conhecimento. Para REIS (9), esse fluxo, alem
contribuindo para 0 desenvolvimento da tecnologia e
para 0 diagoostico dos problemas nacionais, mas de estabelecer a troca de saberes sistematizados, aca­
demico e popular, tern, como consequencia, a produ­
tambem da forma<;ao de profissionais-cidadaos com­
<;ao do conhecimento resultante do confronto com a
petentes, criticos e comprometidos com as necessida­
realidade nacional e regional, a democratiza<;ao do
des concretas da popula<;ao; enfim, urn espa<;o exist­
conhecimento e a participa<;ao efetiva da comunidade
encialmente estendido a sociedade - sua expressao
na atua<;ao da U niversidade. Esse processo dialetico
maior.
de teoria e prntica e instrumentado por aquele conjun­
Partindo dessa concep<;30, 0 engendrarnento do novo to de disposi<;Oes que favorece urn trabalho interdis­
nas fun<;Oes academicas da enfermagem, resulta da: ciplinar, facilitando a visao integrada do social.
- disposi<;ao para produzir conhecimento proprio,
Nesse entendimento, 0 engendramento do novo
inovador, voltado para a realidade de saMe da se d3 em termos politico-metodologicos, partindo do
regiao, de utilidade para as necessidades nacionais
concreto real ao concreto pensado, atraves de uma
e que sej a objeto do ensino e suporte da presta<;ao
prntica social que se da na constru<;ao de urn projeto
de servi<;os a comunidade;
historico da sociedade, dando urn saIto de qualidade
- disposi<;ao para co locar 0 conhecimento produzido na forma<;ao de profissionais competentes e politica­
e acumulado a servi<;o da popula<;ao, fomecendo, mente comprometidos. Assim, 0 horizonte para a
a mesma, elementos para interpreta<;ao e transfor­ indissociabilidade EPE pode ser expresso como a<;ao
ma<;ao da realidade de saude; vinculada, continua e processual de urna nova politi­
- disposi<;ao para redirecionar os conteudos de En­ ca, uma nova filosofia, urna nova postura academica.
sino e a Pesquisa, tornando como diretriz os inte­ Vale salientar, entretanto, que a traj et6ria para
resses comuns da enfermagem e da popula<;ao, alcan<;ar esse horizonte revelara contradi<;Oes dialeti­
levando em considera<;ao os tra<;os culturais da cas entre a realidade presente e a realidade futura da
regiao, com suas caracteristicas proprias e proble­ indissociabilidade EPE, 0 que remete a compreensao
mas especificos; de que essa triade se da como resultante do confronto
- disposi<;ao para ultrapassar os limites da sala de de interesses de grupos e sujeitos envolvidos, nurn
aula como lugar privilegiado para 0 ato de ensi­ movimento de a<;ao/rea<;ao/a<;ao.
nar/aprender e para assumir 0 desafio de ensinar e Cumpre destacar, ainda, que a indissociabilidade
pesquisar em locais e situa<;oes diversas, onde EPE WIo e uma formula magica capaz de salvar a
estiverem professores, alunos e popula<;ao numa universidade ou a enfermagem brasileira. Nao serao
rela<;ao de apre ndizagem reciproca; apenas as inova<;oes pedagogicas que iraQ resolver as
- disposi<;ao para redefinir a rela<;ao enfermagem x dificuldades dos setores educa<;ao, saude e, mais es­
popula<;ao, onde, simultaneamente, a enfermagem pecificamente, da enfermagem. Estas, mais do que no

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plano do conhecimento, situam-se na praxis. ci�os, a participa�o nos debates e nas delibe��
es da comunidade, a a�o moral, intersubjetiva, isto
5. FlNALlZANDO e, 0 movimento que vai de urn sujeito a outto, em
busca da volta. Nesse movimento, acaba-se por alcan­
Se desejamos inovar, necessitamos evitar os mo­ �ar urn patamar em que a divergencia persiste, porem
dos de sentir e de pensar que 000 estilo funcionando combinada com uma convergencia que gira em torno
a contento; necessitamos, igualmente, realizar urn do esfo�o por uma compree � mutua. EnflDl,
intenso esfo�o no sentido de visualizar novos hori­ como nos lembra KONDER(6 ), assumir a disposi�1Io
zontes. Esse esfo�o passa por uma refle�o critica da para intervir transfonnadoramente no existente, en­
trajet6ria percorrida ate enmo, no sentido de reexami­ gendrando 0 novo, e necessario assimilar os valores
oar nosso patrimonio te6rico, nosso instrumental con­ do pluralismo, ou seja, 0 reconhecimento de pontos
ceitual; passa, tambem, por reformula�s nas formas de vista diversos, de tendencias distintas, de correntes
de pensar e sentir 0 mundo, nas formas de pensar e diferentes e de e�o assegurado para a expressAo
sentir a vida, nas formas de pensar e sentir a educa�o, dos esfo�os de compreens llo e transforma�o de uma
a saMe e a enfermagem. Tais reformul�Oes nos realidade inesgotavel.
chamam a assumir a responsabilidade politica de

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