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HISTÓRIA DE PORTUGAL – APONTAMENTOS (2ª PARTE)


4 - A RECONQUISTA CRISTÃ NA PENÍNSULA IBÉRICA E A FORMAÇÃO DE
PORTUGAL (VIII-XIII)
Os Novos Estados Cristãos
Poucos anos depois da invasão muçulmana, os cristãos (hispano-godos e lusitano-
suevos) acantonados nas serranias do Norte e Noroeste da Península, iniciarama a
Reconquista do território, formando novos reinos que se foram estendendo
sucessivamente para o Sul.
O primeiro reino cristão foi o das Astúrias, mais tarde denominado de Oviedo e depois
Reino de Leão.
Em 722, Pelaio ou Pelágio, rei das Astúrias (718-737) inícia a Reconquista e derrota os
Muçulmanos na Batalha de Covadonga.
Após a morte de Pelaio, Afonso I das Astúrias (739-757), sucessor e genro de Pelaio,
empreende campanhas na Galiza, Vale do Douro e Alto Ebro.
Entre 783 e 842, Afonso II das Astúrias atacou os territórios de Lisboa e Viseu.
De 842 a 850, Ramiro I expandiu o território das Astúrias para Leste até aos Pirinéus (o
que virá mais tarde, no séc. X, a constituir o Reino independente de Navarra). Por esta
altura, em 844, os Normandos saquevam e atacavam o Norte, Lisboa e o Algarve.
De 850 a 866, Ordonho I, expande por sua vez os territórios para Oeste, até aos limites
da Galiza, repovoando Tui, Astorga e Leão.
De 866 a 910, Afonso III conquista toda a faixa Ocidental do território nacional até ao
rio Mondego (Coimbra) e repovoa Portucale, Coimbra, Lamego e Leão, construindo
igrejas, mosteiros e castelos.
Em 868, o Conde Vimara Peres (Suevo), ao serviço de Afonso III das Astúrias,
reconquista o Porto e repovoa o território entre Douro e Minho e funda Guimarães.
Em 878, Hermenegildo Guterres integrou Coimbra no Reino das Astúrias.
Porém, nos princípios do século X, em 910, com a morte de Afonso III das Astúrias, as
discórdias entre os chefes cristãos enfraqueceram o reino. O território foi dividido
pelos seus filhos, tendo Ordonho ficado com a Galiza, apoiado e ajudado pelos Condes
de Portucale.

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Em 940, os Condes de Portucale e a cidade de Coimbra actuavam com autonomia. Os


Condes de Portucale foram Mumadona Dias casada com Hermenegildo Gonçalves.
A Condessa Mumadona Dias, ligada aos primórdios históricos de Guimarães, reinou no
Condado de Portucale de 924 a 959. Era filha do Conde Diogo Fernandes e da Condessa
Onega Garcês de Pamplona também conhecida como Onega Lucides (850-?).
Mumadona Dias, em 926 já estava casada com o Conde Hermenegildo Gonçalves (m.
928), tornando-se a mulher mais rica e celebrada do Noroeste da Península Ibérica. À
sua morte, em 959, o território foi dividido pelos seus seis filhos, ficando à frente do
Condado Portucalense Gonçalo Mendes (925-997) e o Conde Gonçalo Moniz que, em
determinado momento, se revoltaram contra Sancho I de Leão.
Pouco tempo antes de morrer, Mumadona Dias, fundou em Guimarães um mosteiro
sob a invocação de S. Mamede (Mosteiro de São Mamede), onde tomou votos e para o
proteger, dos Normandos, mandou construir uma “torre de menagem” no alto da
colina de Guimarães, a qual, posteriormente, deu origem ao Castelo. Deste modo, se
desenvolveu o burgo vimaranense, à sombra do Mosteiro, que mais tarde, no tempo
do Conde D. Henrique e de D. Teresa, pais do primeiro rei de Portugal, ali
estabelecerão, também, a capital do Condado Portucalense.
A Condessa Mumadona Dias doou em testamento, datado de 26 de Janeiro de 959 (um
dos documentos escritos mais antigos que se encontram em Portugal), a maior parte
dos seus domínios, gado, rendas, objectos religiosos e livros ao Mosteiro de
Guimarães. Este documento é de extrema importância, porquanto se podem verificar
menções a vários castelos e vilas desta região.
De 961 a 971 continuaram a registar-se novos ataques dos Normandos.
A partir de 981, os muçulmanos, sob o comando do Califa de Córdova, Hisham II, o
Almançor, aproveitando as discórdias entre os cristãos, após a morte de Afonso III das
Astúrias, tomaram a defensiva e destruíram Leão, nesta época a capital do reino,
arrasando as principais praças-fortes como Coimbra e Santiago de Compostela,
reduzindo de novo o reino cristão ao último extremo.
No século XI, Sancho, rei de Navarra, anexou o condado de Castela e, por sua morte, os
seus estados foram divididos pelos três filhos, sendo nessa altura os condados de

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Aragão e de Castela elevados à categoria de reinos. O reino de Castela coube a


Fernando, mas este em breve se apoderou também do reino de Leão.
Em 1037, Fernando I, o Magno, rei de Leão e Castela, notabilizou-se na luta contra os
Muçulmanos recuperando muitas terras (Lamego, Viseu), entre as quais Coimbra
(1064), alargando assim definitivamente os limites da reconquista até ao Mondego.
Este monarca desenvolveu o território entre Douro e Mondego, o qual aparece
designado por Portugalle, separadamente da Galiza, com dois distritos ou condados –
Portugalle e Coimbra – gozando de autonomia administrativa, com magistrados
próprios.

Fernando I, rei de Leão e Castela, ao falecer (1065), repartiu os seus domínios pelos
filhos: Sancho II ficou com Castela, Afonso VI com Leão (que englobava as Astúrias), e
Garcia com a Galiza, transformada em reino independente.

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Depois de várias lutas entre os irmãos, morto Sancho e destronado Garcia, em 1073,
Afonso VI reúne novamente todos os estados de seu pai, tornando-se assim, rei de
Leão, de Castela e da Galiza.
Afonso VI, filho e sucessor de Fernando Magno, aproveitando as lutas entre os reinos
muçulmanos das taifas, após a desagregação do Califado de Córdova, prosseguiu a
guerra contra os infiéis e conquistou Toledo, onde fixou a capital (1085).
Alarmados com as vitórias dos cristãos, alguns emires pedem auxílio aos Almorávidas
da Mauritânia, e estes, vindo à Península, derrotam os exércitos cristãos na Batalha de
Zalaca (1086).
Porém, Afonso VI, aproveitando agora a luta dos Almorávidas para a submissão dos
príncipes muçulmanos, conquistou Santarém, e a seguir Lisboa e Sintra (1093),
estendendo assim a Reconquista até ao Tejo.
Depois de Afonso VI, a Reconquista contra os Almoádas foi prosseguida pelos reis de
Portugal, Castela, Aragão e pelos condes de Barcelona.
Enquanto os reinos cristãos da Península prosseguiam na Reconquista, nos séculos XI e
XII a Europa encontrava-se em pleno “feudalismo”, politicamente fragmentada
(retalhada em ducados e condados) e enfraquecida, vendo-se ameaçada por dois
lados: a Oriente pelos Turcos Seljúcidas que, vindos da região do Cáspio, haviam
conquistado a Ásia Menor (1071) e estavam às portas de Constantinopla, a Oeste pelos
Almoádas reforçados com a vinda dos Almorávidas do Norte de África (1068).
No meio da fragmentação geral da Europa, era impossível encontrar uma comunidade
política suficientemente forte para defender a cristandade ameaçada.
Enquanto, porém, o feudalismo fizera decair a realeza, o Papado fora ganhando
prestígio e era a única autoridade eficazmente reconhecida por toda a sociedade
feudal.
Nos fins do século XI aparece a dirigir a Igreja Hildebrando, monge de Cluny,
conselheiro oficial de papas e depois eleito papa com o nome de Gregório VII (1073-
1085). A ideia deste Papa reformador era submeter toda a Europa à autoridade
religiosa da Santa Sé, e por isso ele se apresenta, então, como chefe espiritual não só
da Igreja, mas dos estados e príncipes cristãos.

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Em face do perigo que o avanço dos Turcos Seljúcidas trazia para a Europa Oriental, o
Imperador de Constantinopla implorou o auxílio do Papa como soberano espiritual do
Ocidente, e a partir daqui nasceram as Cruzadas do Oriente.
Ao mesmo tempo, os ataques dos Almorávidas na Península Ibérica, após a vitória de
Zalaca (1086), alarmaram a Europa cristã e levaram o Papa Urbano II, sucessor de
Gregório VII, a organizar todas as forças da Cristandade para uma luta contra o
Islamismo.
Ao mesmo tempo que começam os preparativos para as grandes Cruzadas do Oriente,
os condes e senhores da Borgonha, Aquitânia e Normandia organizam expedições de
cavalaria à Península Ibérica, com contingentes cada vez maiores, para ajudarem os
príncipes cristãos na luta contra os Muçulmanos. Estas expedições foram denominadas
Cruzadas do Ocidente.
Denominaram-se cruzadas do Ocidente ou cruzadas da Espanha, as expedições
militares que, vindas de além-Pirinéus, combateram os muçulmanos instalados na
Península Ibérica.
Na organização destas cruzadas à Península, e nos sucessos que se lhe seguiram,
exerceu papel predominante a Ordem de Cluny, na Borgonha, poderoso centro cultural,
social e político, dirigida pelo célebre abade D. Hugo, “amigo de reis e confidente de
papas”, e que durante mais de meio século (1049-1109) interveio em todos os assuntos
do Ocidente, como fulcro da diplomacia europeia do seu tempo.
A influência de Cluny na Península manifestou-se no estabelecimento de alianças de
família e no envio de monges para a direcção de várias dioceses peninsulares.
Assim, a Reconquista Ibérica tomou foros de Cruzada num momento em que a Europa
se organizava contra os infiéis da fé cristã e a Ordem de Cluny passou a ter um papel
relevante. Deste modo, Afonso VI de Leão e Castela casa com uma filha do duque da
Borgonha e sobrinha de Hugo de Cluny (D. Constança).
Com Afonso VI de Leão e Castela iniciou-se na Península uma época próspera para as
armas cristãs. As conquistas deste monarca culminaram com a tomada de Toledo
(1085) que lhe dava o domínio da linha do Tejo e a possibilidade de realizar expedições
às terras andaluzas.

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O facto de Toledo, cidade considerada inexpugnável pelos mouros, ter caído nas mãos
dos cristãos, alertou os príncipes muçulmanos. Alguns deles pediram então auxílio para
África, onde triunfara uma nova tribo berbere, a dos Almorávidas. Passando à
Península, os Almorávidas aliados aos muçulmanos peninsulares infligiram uma derrota
a Afonso VI em Zalaca em 1086.
D. Afonso VI, apelou, então, aos reis franceses, defensores da abadia de Cluny e
também eles ameaçados pelas vitórias muçulmanas.
Entre os cavaleiros de além-Pirinéus que acudiram aos apelos de Afonso VI de Leão,
vem Raimundo, conde de Amons, parente dos duques da Normandia e da Borgonha, o
qual casa com D. Urraca, filha legítima de Afonso VI e recebe deste (1093) o governo de
toda a Galiza.

O CONDADO PORTUCALENSE
No ano seguinte (1094) chega à Península, o conde D. Henrique, neto, filho e irmão dos
duques da Borgonha, primo de Raimundo e sobrinho da rainha D. Constança, esposa
de Afonso VI, que desposou (1095) D. Teresa, filha ilegítima de Afonso VI e que recebeu
o governo das terras para o Sul do rio Minho, as quais constituíram o Condado
Portucalense.
Em 1095, D. Henrique intitulava-se “senhor de Coimbra” e, em 1097, “Conde
Portucalense”.
A concessão do condado por parte do rei de Leão e Castela implicava o direito da sua
transmissão a descendentes, além do governo do território com todos os poderes. O
conde D. Henrique ficava apenas com deveres de vassalo em relação a Afonso VI. Estes
deveres de vassalagem iam desde a prestação de auxílio militar, até à comparência na
cúria régia de Leão, sempre que se reunisse extraordinariamente.
A política do conde D. Henrique seria de futuro eximir-se, tanto quanto possível, a estas
obrigações e procurar por todos os meios a autonomia do condado. Para este fim
apoiou as aspirações de independência religiosa da sé metropolita de Braga, o que veio
a conseguir.
Praticamente desde o início da reconquista, a rivalidade entre Braga e Santiago de
Compostela foi uma constante, em especial, no que se referia ao domínio das dioceses.

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Em 1103, o Bispo D. Geraldo obtém do Papa a confirmação de Braga, com jurisdição


sobre as dioceses de Astorga, Orense, Tui, Porto, Coimbra, Lamego e Viseu.
Por acção do conde D. Henrique, a Ordem de Cluny 1 entrou em Portugal, em 1100 e
estabeleceu-se em S. Pedro de Rates, a qual foi sendo substituída, posteriormente,
pela Ordem de Cister2.
Todas estas acções desenvolvidas no tempo de D. Henrique, unidas ao desejo de
autonomia que já existia nas terras do condado, explicam a sua transformação num
reino independente.
A fim de aumentar a população e valorizar o território, D. Henrique deu foral e fundou
novas povoações. Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, em paços próprios,
dentro do castelo que ali fora edificado no século anterior.
O “Pacto Sucessório” – O conde portucalense celebrou também com D. Raimundo um
acordo conhecido por “Pacto Sucessório”. Este pacto, feito sob a égide de um legado de
Cluny, unia os dois primos contra um eventual inimigo de D. Raimundo, que lhe viesse a
disputar a coroa de Leão e Castela. D. Henrique prestaria auxílio a D. Raimundo e em
troca viria a receber a cidade de Toledo com um terço dos seus tesouros, ficando o
primeiro com Leão, Castela e a Galiza. Este tratado visava possivelmente a defesa dos
direitos de D. Raimundo contra um filho que D. Afonso VI tivera recentemente, o
príncipe D. Sancho.
As mortes sucessivas de D. Raimundo (1107) e do infante D. Sancho (1108) e de Afonso
VI (1109) tornaram inútil o “Pacto Sucessório”.
D. Urraca, herdeira do trono de Leão e Castela, veio a casar de novo com Afonso, o
Batalhador, rei de Aragão. As desinteligências que em breve surgiram entre os dois
esposos foram exploradas por D. Henrique que, ora se colocava ao lado de um, ora ao
lado de outro, na esperança de conquistar vantagens materiais para o seu estado.
Por morte de D. Henrique (1112 ou 1114), o governo foi assumido por sua mulher D.
Teresa. Esta continuou a política do conde, tomando partido nas lutas entre D. Urraca e
o marido. Conquistou momentâneamente Tui e Orense.
Em 1113, o território do Porto foi doado ao bispo D. Hugo, por D. Teresa, tornando-se o
couto independente face a Braga, empreendendo-se a construção da sua Sé.

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Ordem de Cluny – Ver sebenta sobre Ordens Religiosas.
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Ver sebenta sobre Ordens Religiosas.
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Contudo, D. Teresa, que por morte do marido passara a fazer parte da Cúria Régia de
Leão, tem uma política de grande apoio aos condes da Galiza. E a partir de 1121,
Fernão Peres de Trava, conde galego, passou a exercer funções governativas no
Condado Portucalense perante o protesto dos nobres, que são afastados da corte de D.
Teresa, e do próprio povo.
Caberia ao filho dos condes portucalenses, D. Afonso Henriques, romper gradualmente
os laços de submissão que ainda ligavam o condado ao reino de Leão e Castela, bem
como resolver a situação que se instalara durante a regência de D. Teresa provocada
pela inimizade entre os barões portucalenses e os galegos, agora em grande número na
corte e cuja acção era cada vez mais marcante.
Em 1125, D. Afonso Henriques arma-se a ele próprio cavaleiro na Catedral de Zamora.
D. Urraca morre (1126) e seu filho Afonso VII, rei de Leão e Castela, procurava fazer
prestar vassalagem a Afonso Henriques e sua mãe, D. Teresa para, pelo menos no
plano teórico, manter a sua suserania.
Em 1127, Afonso VII invade a Galiza, cerca Guimarães exigindo vassalagem a seu primo
Afonso Henriques e a sua tia D. Teresa. O cerco a Guimarães foi levantado mediante a
promessa de que a vassalagem seria prestada, no entanto, como se verá, esta
promessa não será cumprida. (Ver “Episódio de Egas Moniz” – azulejo da Estação de S.
Bento no Porto).

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Batalha de S. Mamede – Em 1128, surgiu a guerra civil entre os partidários de D.


Teresa e os de Afonso Henriques. No campo de S. Mamede (24 de Junho de 1128),
junto de Guimarães, a sorte das armas deu a chefia do Condado Portucalense a D.
Afonso Henriques.
Batalha de Cerneja - Começava agora a luta declarada com o rei de Leão e Castela e,
tomando a ofensiva, Afonso Henriques invadiu a Galiza (conquista os territórios de
Toronho e Límia), vencendo algumas forças galegas em Cerneja (1137).
Afonso VII, preocupado com o perigo muçulmano que se fazia sentir com maior
premência a Sul e com problemas políticos que ocorriam nos seus próprios estados,
não tinha possibilidade de realizar uma contra-ofensiva.
Por outro lado, Afonso Henriques, sabendo que as suas fronteiras também estavam de
novo a ser atacadas pelos mouros, resolvera chegar a um acordo.
A Paz de Tui – A Paz de Tui (1137) voltava a colocar o príncipe português na
dependência explícita do rei de Leão. Comprometia-se a aceitar lealmente a sua
amizade, respeitar-lhe os territórios e auxiliá-lo quando necessário, contudo, foi-lhe
concedido o título de “dux” (duque), reforçando o papel de Afonso VII como
imperador.
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A Batalha de Ourique – Feito o tratado, os dois primos voltaram as suas armas contra
os muçulmanos, que Afonso Henriques venceu em Ourique (1139-40), segundo a lenda
contra cinco reis mouros, cuja vitória teria tido grande repercussão em toda a
cristandade, passando a usar, a partir deste momento o título de “rex” (rei).

O Torneio de Arcos de Valdevez, Bafúrdio de Arcos de Valdevez ou o Recontro de


Arcos de Valdevez (1141) – Uns meses mais tarde, de novo os portucalenses invadiram
a Galiza (condado de Toronho). Em resposta, Afonso VII entrou no Minho, onde tomou
alguns castelos. Em Arcos de Valdevez um torneio entre barões dos dois partidos
consignava a derrota dos leoneses. Suspensa a luta, preparou-se um novo tratado que
se veio a realizar em Zamora (1143).
Importante, não só para a Reconquista do território nacional como para a defesa, para
o povoamento e para o desenvolvimento de muitas técnicas, foi a acção desenvolvida
pelas Ordens Religiosas Militares: Templários, Hospitalários, Calatrava/Avis e Santiago
da Espada.

ORDENS RELIGIOSAS MILITARES


TEMPLÁRIOS3

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Ver sebenta de Ordens Religiosas.
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Teve como fundadores monges franceses, mas o grande impulsionador foi Hugo de
Paynes, que em Jerusalém, o rei Balduíno II lhe concedeu, em 1118, os estábulos ao
lado da Mesquita Al-Aqsa, onde se situava parte do Templo de Salomão.
Intitulavam-se os Pobres Cavaleiros de Cristo e adoptaram como símbolo um cavalo e
dois cavaleiros e tinham como invocação S. João Baptista. Regiam-se pela ordem de
Cister reformada de S. Bento e os seus cavaleiros faziam votos de pobreza. A casa mãe
era em Paris e foi concedida pelo rei Luís VI, em 1137, por intervenção de Bernardo de
Claraval tendo-lhes sido doado as terras de Champagne.
Nos primeiros anos a ordem, que tinha como incumbência a protecção aos peregrinos
na Terra Santa e posteriormente os Caminhos de Santiago e a defesa da Cristandade,
não cresceu e o Papa Honório II alterou os Estatutos, permitindo a integração de
nobres que lutassem contra os infiéis, que seriam ajudados pelos sargentos, os padres
estavam encarregues das coisas religiosas e os servos e ajudantes faziam outras
tarefas.
Possuíam um vigoroso treino militar. Os princípios eram a castidade, pobreza e
obediência.
Adoptaram como distintivo uma cruz de oito pontas, colocada em mantos branco e
acima do coração.
Diziam-se protectores de várias relíquias, que obtiveram na Palestina, como o Santo
Graal e pedaços da cruz de Cristo, a coroa de espinhos de Cristo, uma cruz de bronze
feita da bacia, que Jesus utilizou na Última Ceia.
A sua primeira acção foi integrarem-se na conquista cristã de Damasco, em 1129.
Lutaram ao lado dos Cruzados, tiveram relações privilegiadas com Saladino.
Em 1291, perderam a sua grande fortificação de Sídon e outras praças na Palestina e
dedicaram-se a enriquecer através de empréstimos bancários aos reis europeus.
Transferiram a sua sede para Chipre naquele mesmo ano, nunca perdendo de vista a
reconquista de Jerusalém e o seu último mestre chegou a propor uma nova Cruzada,
em 1306.
Entraram em Portugal, em 1128, pela acção de D. Teresa, que lhes doou o castelo e as
terras de Fontearcada, Longroiva, Mogadouro, Penarroia e ainda Soure, altura em que
participam na guerra.

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O seu primeiro mestre, em Portugal, foi Hugo Martone, em 1143.


Mas o principal foi Gualdim Pais, que participou ao lado de Afonso Henriques na
Batalha de Ourique (1139-40), recebendo, em 1160, Tomar para sua sede além de
Ceras, Pombal, Ega, Redinha e foi sepultado no panteão dos Templários, na Igreja de
Nossa Senhora do Olival, em Tomar.
Construíram castelos como os de Torres Novas, Castelo Branco, Monsanto, Idanha-a-
Velha, Idanha-a-Nova, Salvaterra do Extremo, Segura, Rosmaninhal, Penamacor e
fundaram Alpalhão, Niza, Arez e Rodão. Foi-lhes confiada a defesa do Tejo.
O último Grão-Mestre (em França) foi Jacques de Molay, a quem Filipe o Belo devia
grandes somas de dinheiro. Este solicitou ao Papa Clemente V a extinção da Ordem.
Quando o Papa publicou a Bula, em 1312, a determinar a extinção da Ordem, já, em
1307, todos os templários haviam sido presos em França.

HOSPITALÁRIOS
Possuíam este nome ou Frades de Jerusalém, ou ainda, Cavaleiros de São João do
Hospital, por ter sido fundada nesta cidade, em 1113, depois da primeira cruzada. Teve
a sua origem num hospital organizado por mercadores de Almafi, próximo do Santo
Sepulcro (1048-1063), a que se juntou um mosteiro masculino dedicado a Santa Maria
Latina e outro feminino dedicado a Santa Maria Madalena. A congregação destinava-se
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a receber peregrinos debilitados e a cuidar dos enfermos e, em 1118, o Papa Pascoal II


reconheceu a Ordem. Em 1120, foi-lhes imposto o serviço militar. Estabeleceram uma
rede de hospitais. Regiam-se pela regra de Santo Agostinho adaptada.

Depois da perda de S. João de Acre, em 1291, os Cavaleiros de S. João do Hospital


retiraram-se para Chipre e, em 1309, estabeleceram-se em Rodes, que governaram
como um principado privado. Perante os ataques dos Turcos, em 1522, estabeleceram-
se em Malta, onde adquiriram grande poder naval.
Depois da decadência da Cristandade foram perdendo importância e, em 1834, a sua
sede passou para Roma, no entanto foram sempre encarados como um principado
privado.
Entraram em Portugal pela acção de D. Teresa, que lhes concede a primeira sede em
Leça do Bailio, em 1128. Afonso Henriques renovou-lhes a carta de couto, em 1157 e,
D. Sancho I entregou-lhes Belver, e Penha Garcia, tendo abandonado esta última para
os Templários.
Com D. Afonso IV estabelecem-se no Crato (1340) – Flor da Rosa.
Foi-lhes confiada a defesa de Oleiros, Pedrógão, Sertã, Amieira, Proença-a-Nova, Ponte
de Sor, Monforte, Barcarena, Borba, Mação, Gavião, Vila Fernando, Moura , Mourão e
controlavam o vale do Guadiana.
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O mestre estava subordinado ao grão comendador de Castela e conhecido como Prior


do Hospital. Nos meados do século XV desvinculam-se de Castela e a Ordem passa a
ser conhecida como Ordem do Crato.
SANTIAGO DA ESPADA OU ESPATÁRIOS
Esta Ordem foi criada por volta de 1170 por Fernando II de Castela e teve origem numa
confraria em Cáceres. Tinha como incumbência proteger os peregrinos, que se dirigiam
a Santiago de Compostela. A Ordem foi confirmada pelo Papa Alexandre II, em 1175,
tendo como primeiro mestre Pedro Fernandes, como permitia o casamento dos seus
membros a autoridade dos arcebispos de Braga e Toledo, foi substituída pela do Papa.
A milícia esteve em Antioquia, em 1180, e na Palestina, em 1206, mas a sua vocação
era a Península.
Em 1172, Afonso Henriques dou-lhes Arruda e Monsanto e, em 1175, Alcácer, Palmela,
Sesimbra e Almada, povoações perdidas durante o ataque almoáda de 1179 e 1180.
Durante o período da ocupação muçulmana destas praças a sua sede provisória foi na
Igreja de Santos-o-Velho. A sua sede foi Palmela, Alcácer do Sal e Palmela de novo e
recebeu territórios como Aljustrel, Mértola, Ayamonte.
Santiago do Cacém, Setúbal, Odemira, Almodôvar, Castro Verde. Participaram na
defesa de Santarém, em 1184, e participaram na conquista de Silves, em 1189,
recuperaram Palmela, em 1194 e Alcácer, em 1217.
Em 1244, o seu Grão-Mestre e comendador de Alcácer, Paio Peres Correia conquistou
Tavira, passando a possuir Alcoutim, Cacela e Aljezur. Teve um papel determinante na
conquista do Sul em particular, no Algarve. Aplicaram dízimos e outros impostos nas
suas terras, tornando-se poderosos.
Com a diminuição da sua importância militar conseguem separar-se de Castela, em
1327, após uma longa batalha entre D. Dinis e o Papa, a separação efectiva só se realiza
por Bula do Papa Nicolau V, em 1452. Os mestres escolhidos eram próximos da Coroa,
D. João I centralizou-a na pessoa de seu filho D. João.
Palmela foi o grande centro após a sua reconquista, no entanto, o convento deslocar-
se-ia para Alcácer do Sal, em 1218 e Mértola, em 1245, de modo a favorecer a
conquista do Algarve. Após a conquista, a sede voltou a Alcácer, passando, em 1482,
definitivamente para Palmela.

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D. João II entregou o mestrado da Ordem a seu filho bastardo D. Jorge, que


estabeleceu a sua sede em Palmela e reformulou os seus Estatutos. Pelo breve do Papa
Júlio III, em 1551, todas as Ordens militares passaram para a coroa no tempo de D.
João III e os seus Estatutos reformulados.
Foi secularizada, em 1789, como todas as outras pelo Papa Pio VI, passando os reis e
posteriormente os Presidentes da República a serem os seus mestres.

CALATRAVA/AVIS
Foi fundada por S. Raimundo ajudado pelos monges de Cister com o intuito de
defenderem Calatrava, em 1150. Foi confirmada pelo Papa Alexandre III, em 1164.
Em 1176, D. Afonso Henriques concedeu-lhes casas e bens em Évora e passaram a
denominar-se Cavaleiros de Évora. Ajudaram D. Fuas Roupinho na defesa de Porto de
Mós, durante a invasão almóada, em 1180. Regiam-se pela Ordem de Cister, seguindo
a trilogia da obediência, para lutar contra os infiéis, pobreza e castidade.
Receberam os castelos de Alpedriz e Alcanede e depois da conquista do Algarve
receberam Estremoz e o Alandroal. Em 1211, Afonso II doou-lhes Avis e aí
estabeleceram a sede do ramo português, passando a designar-se Ordem de Avis com
o Grão-Mestre Fernando Enes. Os monges de Évora incorporaram-se, em 1223.
Pertenceram-lhes as povoações de Samora Correia, Coruche, Mora, Pavia, Vimieiro,
Fronteira, Juromenha, Noudar e Paderne no Algarve. A independência face a Castela
só é feita com o rei D. João I, ele que tinha sido mestre desta Ordem, atribuiu o
mestrado da Ordem depois de subir ao trono a D. Fernando Sequeira, no entanto, a
separação de Castela só foi obtida, em 1440, pelo Papa Eugénio IV, no reinado de D.
Afonso V.
As dignidades eram as de Mestre e Prior Mor, com dignidade espiritual, Comendador
Mor, Chaveiro, Alferes Mor e Sacristão Mor.
Esta, como outras ordens, passou a estar ligada à coroa, em 1551, no tempo de D. João
III e foi secularizada, em 1789, sendo mestre o Presidente da República.

6 - A PRIMEIRA DINASTIA – AFONSINA

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Esta dinastia divide-se em três períodos: o da formação com D. Afonso Henriques; o da


conquista até D. Afonso III; e o da organização até D. Fernando I.
No 1º período unifica-se, inicialmente, o território, sob o ponto de vista político e
religioso, de maneira a formar um só estado e um só arcebispado – o de Braga.
No 2º período promove-se a conquista mais intensamente e o povoamento do
território. Além das lutas contra Castela e contra os mouros, por vezes ao lado de
Castela, houve lutas internas, com o clero e a nobreza combatendo pelo seu
predomínio na vida política e social, as tendências feudais, as ambições e a absorção
territorial.
Cruzados e Ordens Militares ajudam na luta contra os muçulmanos.
No 3º período funda-se a Universidade. Criam-se concelhos, em que o povo teve
soberania, acompanhando o movimento comunal de então. O carácter do fomento é
agrário e náutico. No interregno, que se segue à dinastia, a nobreza territorial tende à
união com Castela e o povo concelhio à autonomia e à independência. É a corrente do
povo que triunfa.

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D. AFONSO HENRIQUES – O CONQUISTADOR


(1143-1185)

Biografia
D. Afonso Henriques nasceu pressupostamente em Guimarães em data incerta (talvez
1109), armou-se cavaleiro em 1125 e passou a governar Portugal a partir de 1128 (data
da Batalha de S. Mamede contra sua mãe D. Teresa e Fernão Peres de Trava). Faleceu a
6 de Janeiro de 1185, depois de governar 57 anos. Jaz no Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra.
Genealogia
Casou com D. Mafalda, filha de Amadeu III, da Moriana e Sabóia, de quem teve os
seguintes filhos: D. Sancho, herdeiro do trono; D. Henrique e D. João, mortos em
pequenos; D. Mafalda casada com D. Afonso II de Aragão; D. Teresa casada primeiro
com Filipe I conde da Flandres e depois com Eudo II duque da Borgonha; D. Urraca
casada com D. Fernando II de Leão; e D. Sancha.
Como guerreiro independente rebela-se abertamente contra Afonso VII de Castela, que
se intitulava “imperador das Espanhas” e faz a guerra contra os mouros.
No entanto, a separação de Portugal tornava-se dificílima em virtude de o clero
português estar dependente dos prelados de Castela.
Para vencer a oposição de Toledo e Compostela junto da Santa Sé, foi necessária uma
longa negociação com Roma. Esta luta de independência eclesiástica, correu paralela e

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interligada à luta pela independência política, e nela desempenhou papel relevante o


arcebispo de Braga, D. João Peculiar, que durante 40 anos foi o primeiro dignitário da
Igreja em Portugal, e o conselheiro e diplomata incansável de D. Afonso Henriques.
Tentando atrair as simpatias da Santa Sé, D. Afonso Henriques promoveu a fundação de
vários mosteiros, entre os quais o de Cónegos Agostinhos de Santa Cruz de
Coimbra(1131) e protegeu e doou vastas terras à Ordem de Cister (1153), S. Vicente de
Fora, Mosteiro de Tarouca.
Assim, conseguiu de Roma que os bispados portugueses passassem para sufragâneos
da metrópole de Braga, restaurando-se provisoriamente a unidade da Igreja (1138).
A Vassalagem à Santa Sé – Sabendo Afonso Henriques a pressão política que então
podia exercer a Santa Sé, procurou interessá-la pela situação do condado.
Aproveitou para isso a presença na Península de um legado do Papa Inocêncio II, o
cardeal Guido de Vico. No Verão de 1143, ainda antes da Conferência de Zamora, jurou
fidelidade à Santa Sé (representada pelo cardeal), e doou-lhe o território da nação.
A Conferência de Zamora (1143) – O mesmo cardeal viria a estar presente no encontro
de Zamora em que Afonso VII, reconhecendo ao primo o título de rei, que ele de resto
já usava, conferiu a independência ao condado, consumando-se assim, também, a
independência política do reino de Portugal.
Afonso Henriques continuava no entanto ligado por um preito de vassalagem a Afonso
VII, pois recebeu então o senhorio de Astorga. Mantinha as obrigações de auxílio
militar e financeiro e de presença na cúria régia, mas nunca procurou cumpri-las.
Logo depois da Conferência de Zamora, o rei português pretendeu estreitar os laços
que o uniam à Santa Sé. Escrevendo ao papa, prometeu-lhe o pagamento anual de um
censo de quatro onças de ouro que exprimia a sujeição exclusiva em que o reino de
Portugal se encontrava perante a Santa Sé.
Afonso Henriques pensava garantir assim a total independência perante o rei de Leão.
A Santa Sé, que por um lado tinha interesse em aceitar a sujeição do rei português, não
queria por outro desentender-se com Afonso VII, campeão peninsular da luta contra os
mouros. Por essa razão, o papa Lúcio II, respondendo a Afonso Henriques, não lhe deu
o título de rei mas sim o de “dux” (duque).

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O papado reconheceu o reino português – Só em 1179, consolidada a autoridade do


rei português e desmembrado o império de Afonso VII em dois estados (Leão e
Castela), o papa Alexandre III conferiu o título de “rei” a Afonso Henriques. Este voltou
a prestar vassalagem a Roma e quadruplicou o censo anteriormente proposto. O
pagamento caiu, no entanto, rapidamente em desuso.
As Lutas com os Mouros e o alargamento territorial
A conquista da linha do Tejo: Santarém e Lisboa
Os limites meridionais do novo reino eram extremamente instáveis. A linha do Tejo,
que já em tempos fora dominada pelo rei castelhano Fernando Magno, o qual
conquistara Santarém e Lisboa, tinha voltado a ser perdida com o avanço almorávida.
Como o império dos Almorávidas entrasse em decomposição mercê de guerras civis,
Afonso Henriques pensou que chegara o momento de reconquistar as cidades mouras
do Tejo.
A tomada de Santarém – Foi planeada a conquista de Santarém, povoado importante,
defendido por um castelo considerado quase inexpugnável. Esta conquista era
imprescindível, pois daí partiam constantemente ataques às posições cristãs. Sem ela
seria impossível caminhar para o Sul.
A 14 de Março de 1147, Afonso Henriques com um grupo de guerreiros portugueses, à
frente dos quais se encontrava Mem Ramires, conseguiu penetrar, a meio da noite, na
cidade adormecida. Deu-se um combate feroz, mas quando o sol nasceu, já a praça era
portuguesa.
Na tomada de Santarém, a acção da Ordem de Cister 4 foi de grande prestação e ajuda a
D. Afonso Henriques, pelo que receberam do rei o couto de Alcobaça, em 1153, tendo
iniciado mais tarde a construção do Mosteiro de Alcobaça, onde permaneceram
durante 700 anos, até à extinção das Ordens Religiosas, em 1834.
A conquista de Lisboa – Seguir-se-ia naturalmente a tomada de Lisboa, empresa que
não era fácil, dado que os mouros se encontravam agora na defensiva.
A chegada ao Porto de uma armada de cruzados que transportava cerca de 13 000
homens veio facilitar o empreendimento. Esta armada transportava cruzados
flamengos, alemães, franceses e ingleses que, integrados na 2ª cruzada, se destinavam
à Terra Santa. O bispo do Porto, D. Pedro Pitões, por sugestão do monarca, convenceu-
4
Ordem de Cister – ver sebenta sobre Ordens Religiosas.
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os a aderirem à luta peninsular. A armada, que se compunha de umas 200 velas, entrou
no Tejo a 28 de Junho de 1147.
Lisboa sofreu um cerco de 4 meses. Os sitiadores usaram variadas armas de guerra,
entre as quais catapultas e torre de madeira para o assalto às muralhas.
Como o ataque à cidade continuasse, teimoso, e a fome começasse a reinar atrás das
muralhas, os mouros pediram a paz. As forças cristãs entraram em Lisboa a 24 de
Outubro de 1147.
Nomeou como bispo de Lisboa um cruzado, o clérigo inglês Gilbert de Hastings, o
primeiro bispo de Lisboa.

A conquista do Alentejo e do Algarve – Após a conquista de Lisboa, Sintra entregou-se


a Afonso Henriques e Palmela foi abandonada pelos seus defensores. Passando então
ao Alentejo, o rei português pôde conquistar várias praças, entre as quais se destacam,
pela sua importância, Alcácer do Sal (1158), Évora e Beja, tomadas em 1159, perdidas
de novo e reconquistadas em 1165 (ajudado por Geraldo Geraldes o Sem Pavor) e
1166.
Desastre de Badajoz (1169), onde fica ferido e preso, passando a associar à governação
seu filho D. Sancho I.
1175 - Ataques constantes dos Almoádas.
1184 - Yusuf II coloca a fronteira no Tejo de novo, com excepção de Évora, chegando a
atacar Santarém.
Graças à conquista de novas terras para a cristandade e à sua política de protecção à
Igreja, acaba por conquistar o reconhecimento do Papa: as dioceses são desligadas da
obediência ao primado de Toledo, e finalmente Alexandre III, pela Bula “Manifestis
Probatum”, de 1179, reconhece solenemente, por privilégio especial, D. Afonso

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Henriques como rei e Portugal como reino independente sob a protecção da Santa Sé.
Era a confirmação de um facto há 40 anos consumado.
Com a ocupação da linha do Tejo estava terminada a mais importante fase da ofensiva
portuguesa.
Além de fazer doações aos cruzados que quiseram ficar em Portugal; doou vastos
domínios aos Templários, a Norte do Tejo, juntamente com os direitos eclesiásticos de
Santarém e contemplou ainda o Grão-Mestre da Ordem em Portugal, Gualdim Pais,
com o território de Tomar (1160), que passou a ser sede da Ordem, em Portugal até
1319 (reinado de D. Dinis). Os Templários ocupavam assim posições estratégicas junto
ao Zêzere e ao Tejo, defendendo as incursões muçulmanas que pudessem surgir de
Leste; doou um enorme território (couto) à Ordem de Cister (Bernardo de Clairvaux),
em Alcobaça (1153); Doou á Ordem de S. Tiago as terras conquistadas a Sul de Lisboa,
Arruda, Almada, Palmela e Alcácer do Sal.
Cria em Évora a Ordem de Calatrava (1176), doou-lhes Coruche e Évora.
D. Afonso Henriques morreu em 1185 e está sepultado no Mosteiro de Santa Cruz, em
Coimbra.
Homens Célebres
Egas Moniz, seu leal vassalo e seu aio desde os 3 anos; Martim Moniz, morto na porta
do castelo de Lisboa; D. Fuas Roupinho célebre nos combates navais contra os infiéis,
alcaide-mor de Porto de Mós; Geraldo Geraldes, O Sem Pavor que tomou Évora;
Gonçalo Mendes da Maia, O Lidador, governador de Beja, herói na conquista de
Alcácer e Beja, grande cavaleiro e guerreio, que morreu nas batalhas contra Almansor ;
S. Teotónio, 1º prior de Santa Cruz de Coimbra e padrinho de Portugal, conselheiro do
monarca e a quem foi doado, também, o mosteiro de S. Vicente de Fora; D. João
Peculiar, arcebispo de Braga, conselheiro do monarca e que conseguiu a
independência de Braga em relação a Santiago de Compostela e Toledo.
Recapitulação dos Factos
1127 – Cerco de Guimarães; 1128 – Batalha de S. Mamede; 1137 – Batalha de Cerneja
e Paz de Tui; 1139 – Batalha de Ourique; 1140 – Bafúrdio de Valdevez; 1143 –
Conferência de Zamora, independência, vassalagem à Santa Sé; 1147-1162 –

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Conquistas de Santarém, Lisboa, Almada, Sintra, Palmela, Alcácer-do-Sal, Évora, Beja;


1169 – Desastre de Badajoz; 1184 – Cerco de Santarém.

D. SANCHO I – O POVOADOR
(1185 – 1211)

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Biografia
D. Sancho I nasceu em Coimbra a 11 de Novembro de 1154, e subiu ao trono em 9 de
Dezembro de 1185. Faleceu em Coimbra, a 26 de Março de 1211. Governou 26 anos.
Jaz junto de seu pai em Santa Cruz de Coimbra.
Genealogia
Casou em 1174, com D. Dulce, filha de D. Raimundo de Bereguer, rei de Aragão, da
qual teve onze filhos: D. Afonso, herdeiro do trono; D. Henrique e D. Raimundo,
mortos em criança; D. Constança; D. Teresa, que casou com Afonso IX de Leão, e
professou no mosteiro de Lorvão, tendo sido beatificada, como sua irmã D. Sancha,
que fundou o mosteiro de Celas, em Coimbra, e ali professou; a beata Mafalda, que
casou com Henrique I de Castela, e faleceu no mosteiro de Arouca; D. Branca, senhora
de Guadalaxara; D. Berengária, que casou com Waldemaro II, rei da Dinamarca; D.
Pedro, conde de Urgel; D. Fernando, conde de Flandres, que casou com a princesa
Joana, filha do Imperador de Constantinopla.
Para além destes filhos constam, ainda, sete ilegítimos.
Embora, Sancho I se preocupasse mais com o povoamento e pacificação do País, ainda
assim tomou aos infiéis os castelos de: Silves (1189), Alvor, Albufeira, Lagos,
Monchique, Messines, Paderne (1191) mas perdeu-as juntamente com Alcácer do Sal e
Palmela, em 1191. Com o exército enfraquecido e cansado por um longo período de
guerras, D. Sancho I perdeu não só as terras que havia conquistado, mas também as
que tinham ficado de seu pai, situadas para Sul do Tejo, com excepção de Évora (1165).

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Em 1186, foram feitas doações à Ordem de Santiago da Espada, como Almada, Palmela
e Alcácer do Sal.
Aos Hospitalários, concedeu o castelo e os Paços de Santarém e o Castelo de Belver.
Aos Templários concedeu o território de Idanha-a-Nova para construírem o castelo, já
que tiveram de abandonar Idanha-a-Velha por não possuírem condições de defesa.
Foram concedidos forais a Gouveia, Covilhã, Viseu, Avô, Panoias, Valhelhas, Penacova,
Marmelar, Pontével, S. Vicente da Beira, Guarda e outras.
Na política de repovoamento contratou colonos flamengos e franceses sobretudo para
colonizar Azambuja e Sesimbra.
Entre 1190 e 1191 houve um novo ataque dos Almoádas sob o comando de Almansor,
que conquistou Silves e tomaram todas as terras até ao rio Tejo com excepção de
Évora, apesar da resistência das populações, os Almoádas, passaram o Tejo arrasaram
Torres Novas e cercaram Tomar, voltando a fronteira para o rio Tejo, com excepção de
Évora.
Tem menos valor na história deste reinado a guerra que Sancho I manteve com o reino
vizinho, pelos anos de 1196 e 1199, guerras com Leão que continuavam devido a
questões fronteiriças, pois D. Sancho reivindicava Tui e Pontevedra, chegando a
conquistar Ciudad Rodrigo e desencadeando forte reacção leonesa, traduzida num
ataque ao Castelo de Bragança. D. Sancho aproveitou para pedir a adesão dos nobres e
dos concelhos fronteiriços, tendo concedido foral a Melgaço e Bragança. A paz só foi
alcançada em 1200, devido à mediação do papa Inocêncio III.
Em 1197, recupera Palmela e Almada.
Em 1198, aproveitando a presença de cruzados alemães e dinamarqueses conquistou
os castelos de Alvor, Silves e Albufeira, que estiveram nas mãos dos cristãos durante
pouco tempo.
A conquista temporária de Silves, cidade muito importante, dado que daí partiam os
fossados mais importantes, levou a conflitos, porque nomeou governador, um bispo e
proibiu as outras Ordens de aí se estabelecerem.
Entre 1209 e 1210 o país foi assolado por epidemias e pestes devido às condições
higiénicas deficientes e, consequentemente houve fomes, criando instabilidade social.

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Foram concedidos forais a Leiria e a vilas que fundou como: Covilhã, Belmonte,
Azambuja e Guarda.
O diferendo entre a Sé de Braga e de Santiago de Compostela manteve-se aceso, o que
levou à intervenção do Papa determinando que as dioceses do Porto, Coimbra, Viseu,
Tui, Orense, Lugo, Mondoñedo e Astorga se mantivessem sob jurisdição de Braga,
mantendo-se assim em aberto a questão dos bispados.
Na fase final do reinado, a partir de 1207, entrou-se numa crise política, que opôs a
nobreza, os bispos do Porto e de Coimbra e mesmo todos os bispos ao rei.
A situação económica e os abusos de autoridade dos nobres, dos alcaides e dos alvazis
(magistrados municipais) levaram a um mau estar com as populações.
O clero reclamava mais direitos e lutava entre si, sem que D. Sancho conseguisse
solucionar o problema, tendo levado á intervenção do Papa, o todo-poderoso
Inocêncio III, que excomungou o rei, pena esta que lhe foi levantada na altura do seu
falecimento, porque em testamento D. Sancho isentou o clero do serviço militar, à
excepção de períodos de eventuais invasões muçulmanas.
Nesse mesmo testamento distribuiu benesses pelos segundos filhos, mas obrigava-os a
partir, para tentar manter a unidade territorial. No seu reinado fez várias Inquirições,
de modo a tentar evitar abusos das classes mais poderosas e introduziu o notariado
para registo das propriedades.
Em resumo, D. Sancho I dedicou-se ao povoamento e à defesa do reino, fundando vilas,
dando forais e construindo castelos. Mandou vir colonos estrangeiros que fez distribuir
por bastantes terras e a quem entregou o cultivo dos campos. Com essa gente e com
mais cruzados que, passando pelos nossos portos, por cá iam ficando, conseguiu
aumentar e fomentar a população e a riqueza do País.
Teve problemas com a Santa Sé e com o Papa Inocêncio III, por ter restringindo
privilégios ao clero, aos bispos do Porto e de Coimbra, e por não pagar o censo que
tinha em dívida.
Fundou Azambuja, Valença, Montemor, Covilhã, Guarda e amuralhou Bragança; suas
filhas fundaram vários mosteiros, como os de Celas e de Lorvão.
Em testamento deixou a suas filhas terras que eram como que feudos independentes
no país.

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Homens Célebres
Gualdim Pais, grão-mestre da Ordem dos Templários.
Recapitulação dos Factos
Guerra com o rei de Leão. Povoamento e colonização do reino, fundação de vilas e
castelos, concessão de forais. Conquista de Silves. Invasão muçulmana. Contendas com
o clero.

D. AFONSO II – O GORDO
(1211 – 1223)

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Biografia
D. Afonso II nasceu em Coimbra, a 23 de Abril de 1185 e subiu ao trono em 27 de
Março de 1211. Faleceu em Coimbra, a 25 de Março de 1223. Governou 12 anos. Jaz
em Alcobaça.

Genealogia
Casou com D. Urraca, filha de Afonso VIII, de Castela e primo de Afonso IV, da qual teve
cinco filhos: D. Sancho, herdeiro do trono; D. Afonso III, conde de Bolonha, sucessor
do irmão anterior; D. Fernando, Infante de Serpa; D. Vicente, que morreu criança; D.
Leonor, que casou com Waldemaro III, rei da Dinamarca. Ainda teve um filho ilegítimo.
D. Afonso II teve lutas com as irmãs, auxiliadas por Afonso IX de Leão, para que não
transformassem a herança de seu pai (D. Sancho I) em feudos e para evitar a quebra da
unidade nacional.
Este conflito só foi resolvido após a batalha de Navas Tolosa (1212), por decisão do
Papa, em 1214, a favor de D. Afonso II.
Seguiu uma política centralizadora defendendo os direitos régios sobre os senhoriais e
defendeu uma política baseada no direito romano, defendendo a supremacia da justiça
régia sobre a senhorial e a autonomia civil face á religiosa.
Reuniu em Coimbra as mais antigas cortes (1211) de que há notícia, onde se
promulgaram as leis de desamortização, não permitindo que a Igreja e as Ordens
Religiosas comprassem bens de raiz, ou bens fundiários, providências tendentes à
protecção da coroa e das classes populares.

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No entanto, por razões de defesa e de repovoamento concedeu às Ordens Religiosas


territórios na Beira Baixa e no Alentejo. Assim, os Templários fundaram Vila Franca de
Xira e Castelo Branco.
Aquelas cortes (1211) produziram a primeira colectânea de textos jurídicos, onde
foram garantidos os direitos de propriedade, os direitos da coroa e a aplicação de uma
justiça mais equitativa, assumindo-se como Juiz Supremo.
Em 1212, por acção do Papa, colaborou com os outros reis peninsulares (coligação de
tropas portuguesas, francesas, aragonesas e castelhanas) na luta contra os mouros,
que foram vencidos em Navas de Tolosa, sendo os portugueses comandados por um
mestre dos Templários (Gomes Ramires).
Em 1217, recuperou Alcácer-do Sal, com o auxílio dos cruzados.
Lesando os privilégios do clero, teve questões com o arcebispo de Braga, levando o
Papa Honório III (que pôs fim aos litígios entre o arcebispado de Braga e o de Toledo) a
intervir e a lançar o interdito sobre o País, levantado posteriormente. A questão
tratava-se de sujeitar a dízimo todos os rendimentos eclesiásticos das dioceses de
Braga, Coimbra, Porto, Lisboa, Viseu, Lamego, Idanha e a parte portuguesa de Tui, os
quais passaram a pagar direitos depois de 1223 (reinado de D. Afonso III).
Teve questões com a nobreza, afectada com as Inquirições sobre Honras e Coutos, para
averiguar das usurpações dos bens do Estado. A sua chancelaria inventariou todos os
bens e expediu cartas de confirmação de privilégios e em 1220 fez Inquirições para
levantamento de todos os bens régios.
A reconquista continuava e os cristãos reconquistavam o território para além do Tejo,
aproveitando as novas divisões entre os muçulmanos, e assim, já em 1217, todos os
territórios até Alcácer do Sal tinham sido reconquistados.
Em 1219, os Reinos de Leão e Castela voltaram a unir-se, passando a ser o reino mais
poderoso da Península Ibérica.
Em 1222, foi, finalmente, sagrado o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde S.
António assistiu ao Capítulo nesse mesmo ano, e onde, em 1269, passaram a funcionar
escolas públicas.
Por acção da rainha, D. Urraca, entraram em Portugal os Franciscanos, que tiveram
grande apoio.

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A questão da sucessão não suscitou problemas de maior, já que a sucessão hereditária


estava definitivamente implementada.
Homens Célebres
Fernando de Bulhões, que depois foi chamado Santo António de Lisboa e faleceu em
Pádua, na Ordem de S. Francisco; D. Soeiro, bispo de Lisboa pela sua acção na
conquista de Alcácer do Sal.
Recapitulação dos Factos
Reunião das Cortes de Coimbra. Contendas com os irmãos. Batalha de Navas de Tolosa.
Reconquista de Alcácer-do-Sal. Lutas com o clero. Inquirições.

AS ORDENS MENDICANTES5
Como o próprio nome indica, as Ordens Mendicantes pretendiam viver apenas de
esmolas, num retorno à pobreza evangélica. Tiveram origens muito diferentes.
As Ordens Mendicantes nasceram no século XIII e impunham uma regra de pobreza
pessoal: Dominicanos, Franciscanos, Carmelitas e Agostinhos, juntando-se mais tarde
os Trinitários e os Jerónimos. A partir do Concílio de Trento foi-lhes permitido terem
rendas, mas não benefícios eclesiásticos.
Faz-se menção neste momento apenas a estas duas ordens mendicantes, por ter sido
nesta época que estas entram em Portugal, todas as outras acima mencionadas entram
posteriormente.
Os Dominicanos – os dominicanos, ou irmãos pregadores, foram os seguidores de São
Domingos, padre espanhol que tentou por meio da pregação converter os cátaros,
conhecidos também por albigenses6 (por se terem expandido na região de Albi (França)

5
Para uma maior informação sobre as Ordens Religiosas existe uma sebenta que será também enviada
aos alunos. Neste resumo dá-se apenas um pequeno apontamento da sua entrada em Portugal.

6
Os Cátaros organizaram uma autêntica religião, com os seus rituais, hierarquia e um sacramento, o
consolamentum. Este, administrado aos crentes à hora da morte, conferia-lhes a pureza e perfeição de
que gozavam os Homens Bons ou Perfeitos, sacerdotes que incansavelmente pregavam os preceitos da
sua religião. O Cátaro (de um étimo grego que significa “puro”) devia praticar a pobreza e o
desprendimento, acreditar na luta entre dois princípios, o do Bem e o do Mal, e fugir a tudo o que fosse
matéria, por ser obra do espírito do Mal. Esta heresia, de origem oriental, estendeu-se a todas as classes
sociais desde as mais humildes às mais elevadas. A partir do século XIII o catarismo estava praticamente
extinto na França. Entretanto a Igreja realizava um esforço de renovação através da criação de novas
ordens religiosas – as Ordens Mendicantes. Além dos Cátaros, uma outra heresia desenvolveu-se, a
partir de 1170, na região dos Alpes franceses, os Valdenses, fundada por Pedro Valdo.
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– século XIII). O papa, que tinha orientado a sua actuação contra os heréticos do Sul da
França, aprovou a nova ordem em 1216, a qual dará origem, posteriormente, ao
Tribunal do Santo Ofício.
Em Portugal, Frei Soeiro Gomes, depois de influenciar o rei (D. Afonso II) teve
autorização para fundar um Convento na Serra de Montejunto, perto de Alenquer, em
1217, transferindo-se depois para Coimbra onde funda um Mosteiro, em 1250.
Estiveram ligados aos Estudos Gerais, quer em Coimbra quer em Lisboa, compondo a
maioria dos docentes.
Os Franciscanos – Os franciscanos, ou frades menores, deveram a sua existência a S.
Francisco de Assis, filho de um rico comerciante daquele povoado. Renunciando ao
bem-estar e à riqueza, São Francisco, juntamente com alguns companheiros, resolveu
enveredar por uma vida de humildade e pobreza. Pregava o amor a Deus, ao próximo e
à natureza em geral. Mendigava para comer. Esta regra foi aprovada, em 1209, pelo
Papa Inocêncio III e confirmada pelo papa Honório III, em 1223. Pretendiam levar a
todo o Mundo uma cruzada de paz, em especial, aos mouros, em Espanha e em
Marrocos, a sua divisa era a peregrinação constante.
Entraram em Portugal, com Zacarias e Gualter que, por volta de 1217, fundaram
eremitérios em Alenquer, Guimarães e nos Olivais, em Coimbra.

D. SANCHO II – O CAPÊLO
(1223 – 1248)

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Biografia
D. Sancho II nasceu em Coimbra a 8 de Setembro de 1202 e subiu ao trono em 25 de
Março de 1223, do qual foi destituído em 1245, tendo-se retirado para Toledo, onde
faleceu a 4 de Janeiro de 1248.
Genealogia
Casou com D. Mécia Lopes de Haro, fidalga espanhola, filha de Lopo Dias de Haro,
Senhor de Biscaia e neta bastarda de Afonso IX de Leão, a qual já era viúva de Álvaro
Peres de Castro. Não deixou filhos.
Indicava já o testamento que seria rei, por ser primogénito, e seguir-se-lhe-iam na
sucessão outros filhos, mas se fosse menor, o Reino seria governado por ricos-homens
até à sua maioridade aos catorze anos.
D. Sancho II, conquistou aos mouros o Leste do Alentejo e do Algarve: Elvas (onde se
estreou como guerreiro e a qual foi abandonada posteriormente) e Juromenha (1229);
Moura e Serpa (1232); Mértola, Cacela, Tavira e Paderne (1238). Terras que foram
doadas à Ordem de Santiago da Espada.
O avanço dos cristãos foi significativo, mas o Algarve ainda não estava seguro, devido
ao perigo muçulmano, mas igualmente devido aos direitos de conquista do rei de Leão
e Castela.
Em 1234, celebrou com Fernando III de Leão e Castela o acordo de Sabugal, que
permitiu uma redefinição da fronteira e obteve de novo Chaves.
Todavia, o clero e a nobreza procuraram e conseguiram reparações dos danos sofridos
no reinado anterior e entrou-se numa fase de anarquia e guerra civil, o que levou
certos nobres e bispos descontentes, como os de Braga e de Coimbra, a acusá-lo ao
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Papa, conseguindo o envio do Cardeal João de Abbeville, para harmonizar o estado de


coisas, o que aconteceu; mas, mais tarde, renovaram as lutas e obtiveram do Papa
Inocêncio IV a deposição do monarca, em 1245, incumbindo-se da regência D. Afonso,
irmão do rei, casado com a condessa Matilde de Bolonha. A esta medida resistiram
alguns vassalos fiéis e as tropas reais ainda foram ajudadas pelo Infante Afonso, filho
do rei de Castela, mas não conseguiram restabelecer D. Sancho II no trono.
São, portanto, as questões internas, que dominaram o seu reinado.
O conflito interno inicia-se com a revolta dos burgueses do Porto contra o Bispo da
cidade, já que era um couto, a intervenção dos oficiais régios complicava, por vezes,
mais a situação do que a resolviam, devido a eventuais abusos de autoridade.
Os conflitos entre as Ordens Religiosas e os bispos, por mais privilégios que
possuíssem, foram agravados com a expansão do poder dos Franciscanos, que era a
Ordem preferida do rei, permitindo que construíssem mosteiros nas principais cidades.
O Papa Gregório IX, em 1231, lançou um interdito sobre o reino, que não foi aceite
pelo próprio clero.
O Papa culpou o próprio rei da situação de quase guerra civil, entre ele e as diversas
classes e mesmo no seio das próprias classes, como era o caso do clero.
No Concílio de Leão, o arcebispo de Braga e os bispos de Coimbra e Braga,
acompanhados por alguns nobres, descreveram a desordem do reino, pedindo a
destituição do rei.
Em 1245, por influências do seu irmão, o Conde de Bolonha e do arcebispo de Braga,
que instigava sobretudo uma facção do clero contra o rei, pedem a anulação do
casamento deste que foi considerado nulo, porque não foram pedidas
antecipadamente dispensa de laços de consanguinidade, e assim os filhos do
casamento, a existirem, seriam ilegítimos.
O Papa Inocêncio IV considerou-o “rex inutilis” e foi incentivado a destroná-lo e a
substituí-lo pelo Conde de Bolonha, irmão do rei.
Em troca, o Conde de Bolonha jurou na catedral de Chartres, perante o deão,
representante do Papa, que qualquer que fosse o cargo que viesse a possuir em
Portugal defenderia sempre os privilégios do clero, os municípios e os cavaleiros.

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Desta forma, com o apoio declarado do Papa desembarcou em Lisboa em 1247, com
uma força militar e declarou abertamente guerra ao seu irmão.
D. Sancho obteve apoio militar de Castela e os dois exércitos encontraram-se perto de
Leiria, tendo o Conde Bolonha sido derrotado militarmente.
Apesar da vitória militar, o rei partiu para o exílio em Toledo, onde veio a falecer no ano
seguinte e onde está sepultado. Muitos fidalgos mantiveram a sua fidelidade, como o
alcaide de Coimbra, Martim de Freitas e Fernão Pacheco governador de Celourico.
O seu irmão o Conde de Bolonha ficou como regente do reino até á sua morte, depois
de ter jurado apoiar decisivamente os bispos.
D. Sancho II faleceu em 1248 e está sepultado na Catedral de Toledo.
Recapitulação dos Factos
Conquistas de Elvas, Moura, Serpa, Mértola, Tavira e Aljustrel. Questões com o clero.
Conspiração dos nobres e deposição do rei pelo Papa Inocêncio IV. Luta entre os
partidos de D. Sancho II e de D. Afonso III.

Catedral de Toledo

D. AFONSO III – o Bolonhês


(1248 – 1279)

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Biografia
D. Afonso III nasceu em Coimbra, a 5 de Maio de 1210, começou a governar em 1245,
tendo tomado o título de rei em 1248, após o falecimento de seu irmão D. Sancho II,
em Toledo. Ao título de Rei de Portugal juntou o de Rei do Algarve. Faleceu em Lisboa,
a 16 de fevereiro de 1279. Governou 34 anos. Jaz em Alcobaça.
Genealogia
Casou a primeira vez com D. Matilde duquesa de Bolonha, tendo sido elevado à
dignidade de Conde e vassalo de Luís IX de França. Quando subiu ao trono repudiou a
sua mulher, apesar de ter um filho Carlos, que veio a casar com uma princesa
castelhana, D. Catarina.
Casou pela segunda vez, com D. Beatriz Guillen, filha bastarda do rei Afonso X, o Sábio,
por este facto este seu casamento foi considerado nulo e só foi validado quando a sua
primeira mulher faleceu.
De D. Beatriz de Guillen, teve os seguintes filhos: D. Dinis, herdeiro do trono; D.
Branca que D. Sancho IV de Castela dotou com o mosteiro de Huelgas; D. Fernando
que morreu criança; D. Afonso, Senhor de Portalegre, Arronches, Castelo de Vide e
Marvão; D. Sancho, D. Maria religiosa do mosteiro de S. João das Donas, de Coimbra, e
D. Vicente; também se cita outro nome D. Duarte, do qual nada se sabe. E mais dez
filhos ilegítimos.
D. Afonso III mudou a capital para Lisboa e promoveu a finalização da conquista do
Algarve: Faro, Albufeira, Porches e demais localidades algarvias, empreendidas por Paio
Peres Correia, mestre dos Espatários ou Ordem de Santiago da Espada, em 1249.

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Com estas conquistas, ficou a metrópole portuguesa mais ou menos delimitada pelas
fronteiras que actualmente possui, havendo assim terminado, as lutas entre cristãos e
infiéis, dentro do território nacional. Portugal entrou então em uma nova fase de
organização política e administrativa. D. Afonso III e seus sucessores, a partir desta
data, começaram a usar o título de Rei de Portugal e dos Algarve.
Esta conquista levantou novas dúvidas sobre o direito de conquista com Castela e como
os castelhanos pretendessem o Algarve, houve uma luta com Castela (1263).
Em 1264, deu-se a revolta dos mudéjares na Andaluzia e logo Afonso X, rei de Castela,
se apressou a reconhecer o direito de Portugal ao Algarve em troca de apoio militar.
Este acordo foi celebrado em Badajoz, em 1267 e assim a revolta foi sufocada e
Portugal viu garantida definitivamente a posse do Algarve e a fronteira delimitada
desde a confluência do Caia com o Guadiana a Este até ao mar.
O monarca repudiou a condessa de Bolonha e casou com D. Beatriz, filha de Afonso X,
rei de Castela, pelo que foi excomungado; o casamento foi legitimado em 1258, depois
da morte de Matilde.
Os bispos do Porto, Coimbra e mesmo os Mestre dos Templários reclamaram junto do
Papa, acerca dos abusos dos funcionários régios nos territórios sobre as suas
jurisdições.
Em 1250, reuniu Cortes em Guimarães, onde ouviu as queixas do clero, resolveu as
questões da desvalorização da moeda e dos transportes, concedeu privilégios aos
mercadores e criou feiras.
Publicou a Lei das Almotaçarias, diploma régio onde se fixavam os preços dos produtos
agrícolas e proibiu a exportação de metais, mas a crise económica era profunda e em
1254 convocou as Cortes de Leiria, onde estiveram pela primeira vez representados os
homens bons dos Concelhos, isto é o terceiro Estado, isto é, tomaram parte pela
primeira vez os representantes do clero, nobreza e povo.
Tentou colocar á frente das principais dioceses, clero da sua confiança. A partir de
1255, a Corte estabelece-se quase permanentemente em Lisboa.
Concedeu cartas de privilégio e criou as primeiras feiras francas, isto é, com isenção de
impostos numa tentativa de desenvolver o comércio interno.

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Em 1258, mandou proceder a Inquirições Gerais, facto que provocou protestos dos
bispos, alguns dos quais se queixaram à Santa Sé.
Em 1268, há uma nova queixa ao Papa pelos abusos cometidos contra o clero por parte
dos funcionários régios, obrigando o Papa Gregório X a uma bula, onde previa uma
série de acções sob pena de ser lançado um interdito sobre o reino.
O rei reuniu as Cortes de Santarém, em 1273 para tratar deste assunto. O Papa Pedro
Hispano, designado como João XXI, viu-se obrigado a seguir a política do seu
antecessor e lançar o interdito sobre o reino e a excomunhão do rei. A questão
terminou em 1279, com o arrependimento do rei que morreu nesse ano.
Criou um regulamento de juízes procuradores e juízes régios.
Debilitado o rei chamou para a governação seu filho D. Dinis, em 1278.
Afonso III fomentou a agricultura e o comércio.
Fundou o Convento de S. Domingos, de Lisboa e o de S. Claro, de Santarém.
Homens Célebres
D. Paio Peres Correia, Mestre da Ordem de São Tiago da Espada.
Recapitulação dos Factos
Conclusão da conquista do Algarve (1249). Reunião das Cortes de Leiria, em que
entraram pela 1ª vez os representantes do povo. Mudança da capital de Coimbra para
Lisboa. Discórdias com o clero. Inquirições. Convénio de Badajoz, direitos de conquista
invocados pelos castelhanos por causa do Algarve.

D. DINIS – O LAVRADOR
(1279 – 1325)

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Biografia
D. Dinis nasceu em Lisboa, a 9 de Outubro de 1261 e subiu ao trono em 1279.
Governou 46 anos. Faleceu em Santarém, a 7 de Janeiro de 1325. Jaz no Convento de
Odivelas em Lisboa, por ele mandado construir.
Contratou, como almirante mor, Nuno Fernandes Coutinho e contratou o genovês
Manuel Pessanha para coordenar todas as acções navais e chefiar a frota de vinte galés,
que controlavam a costa portuguesa na luta contra os piratas.
Mandou construir estaleiros navais. Criou uma bolsa de comércio do Porto em 1293,
espécie de seguro para as viagens comerciais.
A agricultura preocupou-o, pelo que facilitou a distribuição de terras por pequenos
agricultores, aumentando assim os proprietários rurais.
Genealogia
Casou com D. Isabel de Aragão, a Rainha Santa, filha de Pedro III de Aragão e de D.
Constança de Nápoles, a quem doou as vilas de Trancoso, Óbidos, Porto de Mós e
Abrantes, que passaram a fazer parte da Casa das Rainhas, instituição que se manteve
até 1834 e da qual teve os seguintes filhos: D. Afonso, herdeiro do trono; D.
Constança, que casou com Fernando IV de Castela e mais seis filhos ilegítimos.
Filhos Ilegítimos: D. Afonso Sanches, que disputou o trono ao irmão (Afonso IV); D.
Pedro Afonso 3.º Conde de Barcelos; D. Pedro; D. João Afonso; D. Fernando Sanches;
D. Maria Afonso 1ª; D. Maria Afonso 2ª.
Logo no início do seu reinado, em 1281, D. Dinis, travou lutas com D. Afonso Sanches
seu irmão mais novo, que lhe disputava o trono, argumentando ser ele o legítimo
sucessor, pois D. Dinis nasceu num período em que o casamento de seu pai (D. Afonso

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III casa pela segunda vez com D. Beatriz filha de Afonso X) ainda não tinha sido
aprovado, apesar de serem filhos dos mesmos pais. Afonso Sanches, por testamento era
Senhor de Marvão, Portalegre, Arronches e Castelo de Vide e esteve eminente uma
guerra civil, mas acabou estabelecendo um acordo com seu irmão em Estremoz.
Afonso Sanches pouco convencido com este acordo insistiu no seu intento obrigando D.
Dinis a novo confronto militar do qual Afonso Sanches saiu derrotado e só não foi
morto devido à intervenção da Rainha Santa Isabel. Apesar de tudo, D. Dinis
confirmou-lhe as possessões que detinha.
Quando D. Dinis subiu ao trono (1279), Portugal tinha encerrado um primeiro capítulo
da sua história. A reconquista atingira o término e o País alcançara os limites que
aproximadamente viria a manter.
Em cerca de cento e cinquenta anos de actividade batalhadora muitos problemas de
administração e fomento interno se tinham levantado. Era preciso resolvê-los e integrar
a economia portuguesa nas grandes linhas de comércio europeu que já então estavam
delineadas.
A terra fora até então a sua maior riqueza. O mar começava, no entanto, também a
solicitar muitos interesses: a pesca, a salinicultura e o comércio marítimo seriam
factores de importância na economia nacional.
D. Dinis seguiria uma política de protecção e fomento de todas as fontes de riqueza
nacional.
A primeira preocupação deste rei foi apoiar e desenvolver a agricultura. Tinha-se
verificado anteriormente (reinado de D. Afonso II), que se procurou evitar a
concentração das terras nas mãos da Igreja. Esta medida conduziria a uma maior divisão
da propriedade, aumentando assim o número de pequenos proprietários.
D. Dinis mandou dividir muitas terras até então incultas em vários casais ou
propriedades que eram alugadas a pequenos agricultores a fim de serem cultivadas. Para
interessar todas as classes sociais no arroteamento da terra, decretou que nenhum
fidalgo perderia as honras que lhe eram devidas pelo facto de ser lavrador. Para
aproveitar o maior número possível de terras ordenou a drenagem de muitos pântanos.
Na zona de Leiria, onde os areais do litoral ameaçavam as boas terras de cultivo, o rei
mandou plantar o pinhal, que veio a proporcionar madeira necessária para as
construções navais e terrestres. Para além do pinhal de Leiria mandou ainda semear o
pinhal da Azambuja e plantar vinhas.

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Em Trás-os-Montes adoptou um regime colectivista, isto é, as terras eram lotadas e


concedidas a um grupo que dividia os impostos entre si e possuíam forno, moinho,
guarda de gado e serviços dos caminhos, manutenção dos fortes e a própria agricultura
era comunitária.
Mandou enxugar, a expensas suas, os pauis de Ulmar, Salvaterra de Magos, Muge e
Valada.
Fundou povoações, atribuiu forais e cartas de aforamento.
A marinha: reorganizou a marinha de guerra, cuja chefia entregou ao almirante
genovês Manuel Pessanha (1317), o qual coordenava todas as acções navais com uma
frota de vinte galés, controlando a costa portuguesa na luta contra os piratas e
protegendo os navios mercantes dos assaltos; promoveu a construção de navios, a fim
de serem transportadas para o estrangeiro as nossas mercadorias; fundou uma bolsa para
mercadores – a Bolsa do Comércio do Porto (1293), espécie de seguro para as viagens
comerciais. Estes dispunham-se a pagar por todas as barcas com mais de 100 tonéis, que
deixassem o Reino, 20 soldos, e pelas de menor tonelagem, 10. Da totalidade cobrada,
100 marcos de prata eram depositados em Bourges, na Flandres, onde já então viviam
alguns comerciantes portugueses. Este dinheiro destinava-se a subsidiar, quando
necessário, os seus negócios e demandas judiciárias.
Celebrou com a Inglaterra um tratado de comércio em 1308, pelo qual Eduardo II de
Inglaterra concedia salvo-condutos a todos os comerciantes portugueses que se
dirigissem à Inglaterra.
Protegeu a exportação para os portos da Flandres, Inglaterra e França de produtos
agrícolas, sal, peixe salgado, em troca de minerais e tecidos.
D. Dinis não esqueceu os portos de pesca e as necessidades dos pescadores. Muitos
portos receberam então foral, e nalguns casos foi o rei quem lhes concedeu os navios
necessários para a sua faina.
Cuidou do comércio (criou feiras francas em muitas localidades) e das indústrias,
auxiliando a exploração de minas de ouro, prata e cobre, favorecendo a indústria da
pesca e de tecidos de linho.
Ordenou novas Inquirições.
Fomentou a instrução. Até ao século XIII o ensino em Portugal ministrava-se
exclusivamente nas escolas catedrais e monacais e nas igrejas colegiadas. Os Mosteiros
de Alcobaça e de Santa Cruz de Coimbra ou Colegiada de Santa Maria da Oliveira

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(Guimarães), tiveram as suas escolas que ficaram famosas. Na época de D. Dinis os


estudantes portugueses, saídos de uma burguesia que começava a enriquecer,
procuravam já as universidades estrangeiras. Para isso tinham de fazer longas viagens
até Salamanca, Paris ou Bolonha.
D. Dinis começou por instituir em 1286 o ensino da Teologia. Três anos mais tarde com
o apoio dos bispos de Coimbra e Lisboa, dos abades de Santa Cruz de Coimbra e
Alcobaça fundou em Lisboa os Estudos Gerais em 1290, confirmados pelo Papa
Nicolau IV.
Os Estudos Gerais terão tido o seu início na actual Rua da Artilharia, com as Faculdades
de Cânones, Lógica, Gramática e Medicina. A Teologia era leccionada nos Conventos
de S. Francisco e de S. Domingos.
Os Estatutos permitiram a criação para os estudantes de um autêntico Bairro Escolar.
Devido á rebeldia dos estudantes foram transferidos para Coimbra, em 1308.
Em Coimbra as aulas foram ministradas, primeiramente, em casas perto do Palácio das
Alcáçovas e pouco depois passaram para o Colégio de S. Pedro, cerca do Arco
Almedina.
Em 1309, com a mudança dos Estatutos, as matérias passaram a ser Direito Económico,
Direito Civil, Medicina, Dialéctica e Matemática.
Os Reitores eram eleitos pelos estudantes, os quais, possuíam bastantes regalias.
No reinado de D. Afonso IV, os Estudos Gerais são mudados de novo para Lisboa
(1338), dado que se pensava mudar temporariamente a Corte para Coimbra e para que
os estudantes não perturbassem. Os Estudos Gerais regressaram de novo a Coimbra em
1354 ainda no reinado de D. Afonso IV.
Em 1377, no tempo de D. Fernando e por insistência dos mestres estrangeiros, que
consideravam que Coimbra não possuía as condições ideais, foi de novo transferida
para Lisboa, e estabeleceu-se na Rua dos Estudos Gerais, passando a dar os graus de
bacharelato, licenciatura e doutoramento, com uso das respectivas insígnias.
Em 1537, D. João III concedeu à Universidade os seus Paços em Coimbra e esta
mudou-se, definitivamente, para esta cidade.
No reinado de D. Dinis destaca-se ainda a protecção às artes, em especial ao estilo
gótico, e o uso do papel em vez do pergaminho.
Ordenou que se usasse nos documentos escritos a língua portuguesa, em substituição da
latina, até então empregue. Protegeu as letras e foi poeta.

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Desenvolveram-se os quatro cantares: Cantigas de amigo, amor, maldizer e escárnio. Os


instrumentos musicais mais usados eram a harpa, pandeiretas, rabeca (pequeno violino),
tambor, sinos, saltério (pequena harpa portátil) e o alaúde anterior ao bandolim e de
origem árabe.
O próprio rei foi um grande poeta e trovador tendo escrito cantigas de amor e sobretudo
cantigas de amigo.
Neste reinado foi extinta pelo Papa, a pedido de Filipe o Belo da França, a antiga Ordem
dos Templários. Em 1312, depois de pressões de Filipe o Belo sobre o Papado, a Ordem
dos Templários foi extinta pelo Papa Clemente V, cuja bula estipulava que os bens desta
Ordem seriam transferidos para a Ordem dos Hospital.
D. Dinis exerceu influência para que Portugal fosse uma excepção e solicitou a criação
de uma nova Ordem, a de Cristo (1319), que teve a sua primeira sede em Castro Marim
tendo passado para a posse desta Ordem todos os bens dos Templários. Alguns anos
mais tarde a sede da Ordem de Cristo foi transferida para Tomar. Mais tarde, esta Ordem
sob a governação do Infante D. Henrique, exercerá uma grande influência na realização
dos Descobrimentos marítimos.
D. Dinis teve para com seu filho bastardo D. Afonso Sanches, filho de D. Aldonça
Rodrigues, grande apoio e protecção, o que motivou ciúmes no príncipe herdeiro (D.
Afonso IV).
D. Dinis concedeu ao pai de D. Aldonça, D. João Teles Menezes o título de 1.º Conde
de Barcelos, esta atitude levou o príncipe herdeiro (D. Afonso IV) a pensar que D. Dinis
desejaria legitimar os seus filhos bastardos D. Afonso Sanches, mais velho do que D.
Afonso IV e D. Pedro Afonso, filho de Grácia Frois que viria a receber o título de 3.º
Conde de Barcelos.
O príncipe (D. Afonso IV) urdiu uma conjura contra o rei conjuntamente com o apoio
dos bispos de Évora e de Lisboa, mas estes foram obrigados a conterem-se pelo Papa
João XXII, sob pena de excomunhão.
O príncipe tinha ainda o apoio de sua sogra D. Maria Molina, que queria ver no trono
seu genro o mais depressa possível.
As hostilidades foram abertas pelo príncipe herdeiro, que tomou várias cidades do reino,
o que levou quase a confrontos directos, só não chegando a vias de facto devido à
interposição da Rainha Isabel, terminando a contenda em 1322, mas o rei foi obrigado a
doar-lhe Coimbra, Montemor-o-Velho e o burgo do Porto, e outras cidades importantes.

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Esta situação causou grande desgosto ao rei, que debilitado pela doença convocou as
Cortes de Lisboa de 1323 com os três Estados, onde foram tratados vários assuntos da
governação, mas onde o rei recusou conceder ao príncipe a sua resignação como rei.
O príncipe partiu então de Santarém com o seu exército em direcção a Lisboa,
obrigando D. Dinis a formar o exército real composto pelos seus filhos bastardos
Afonso Sanches, D. Pedro Afonso e D. João Afonso.
Junto ao Paço do Lumiar os dois exércitos estiveram frente e frente e de novo a rainha
se interpôs e de novo o príncipe beijou a mão de seu pai e se retirou para Santarém.
A contenda voltou quando o rei passou por Santarém e foi impedido de entrar na cidade
pelo seu filho.
Esteve de novo eminente a guerra, mas as contendas terminaram, quando o príncipe
obteve de seu pai todas as reivindicações relativas aos seus meios-irmãos, isto é, a
destituição de todos os privilégios, Afonso Sanches vendo chegar ao fim seu pai
renunciou aos bens e partiu para Castela.
Em 1288, D. Dinis tinha conseguido que a Ordem de Santiago da Espada se
desvinculasse de Santiago de Compostela.
Percorreu as terras de Portugal e procedeu á reparação dos burgos arruinados e fundou
outros, entre os quais mais de cinquenta castelos.
Entre 1295 e 1297, por motivos referentes à demarcação de fronteiras, D. Dinis invadiu
o reino de Castela, governado por Fernando IV, tendo-se apoderado de algumas terras
situadas entre o rio Coa e o Douro. Pelo Tratado de Alcanices (1297), o rei de Castela
reconheceu a Portugal a posse das recentes conquistas e pôs-se termo ao conflito.
Desde então a fronteira só se alterou em relação a Olivença e a algumas povoações na
região Norte (Tratado de Lisboa – reinado de D. Luís). No tratado de Alcanices foi
também celebrado o acordo de casamento de D. Constança, sua filha, com o rei de
Castela, Afonso IV e de Beatriz, irmã do rei de Castela, com o sucessor do trono de
Portugal D. Afonso (futuro D. Afonso IV).
Favoreceu a construção de mosteiros entre os quais o de Odivelas, que era bastante
frequentado por ele para se aconselhar com a madre superior.
A RAINHA SANTA
Neste tempo distinguiu-se pela sua acção pacificadora nas lutas de D. Dinis com o
irmão e o filho, e nas lutas deste, e pela sua grande caridade bondosa, a rainha D. Isabel
de Aragão – a Rainha Santa – canonizada em 1625, a qual jaz e se venera no Mosteiro

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de Santa-Clara-a-Nova (Convento de Clarissas), em Coimbra (morre em Estremoz a 4


de Julho de 1336 – dia feriado em Coimbra).
Recapitulação dos Factos
Desenvolvimento da agricultura, comércio e marinha. Guerra com o irmão D. Afonso
Sanches. Rebelião do filho (D. Afonso IV), que veio a ser seu sucessor. Sementeira do
pinhal de Leiria. Fundação dos Estudos Gerais (1290). Guerra com Castela (1295);
Tratado de Alcanises (1297); Fundação da Ordem de Cristo (1319), em substituição da
Ordem do Templo, em Castro Marim, vindo depois para Tomar.

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D. AFONSO IV – O BRAVO
(1325 – 1357)

Biografia
D. Afonso IV nasceu em Coimbra, a 8 de Fevereiro de 1291, e subiu ao trono, em 7 de
Janeiro de 1325. Faleceu em Lisboa, a 28 de Maio de 1397. Governou 32 anos. Jaz na
Sé de Lisboa.
Genealogia
Casou com D. Beatriz, filha de Sancho IV de Castela e de Maria de Molina, da qual
teve os seguintes filhos: D. Pedro, herdeiro do trono; D. Maria – a formosíssima Maria
dos Lusíadas, que foi casada com Afonso XI de Castela; D. Afonso, D. Dinis, D. João,
D. Isabel que morreram crianças; D. Leonor, que casou com D. Pedro IV de Aragão.
Logo que subiu ao trono, Afonso IV convocou os três estados para as Cortes de Évora
(1325), a fim de o reconhecerem como rei e lhe prestarem menagem. Clero, Nobreza e
Povo, submetidos à sua autoridade. De notar que até 1433, à morte de D. João I, não se
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conhecem outras cortes reunidas para prestar menagem ao rei, ou seja, expressamente
convocadas para jurar o novo rei.
As Cortes de Évora, estabeleceram, ainda, trajes para judeus, mouros e cristãos e as
inquirições a coutos e honras.
Perseguição a Afonso Sanches – uma das primeiras atitudes prendeu-se com o seu
meio irmão Afonso Sanches, não obstante este se encontrar exilado em Castela e ter
mandado juramento e menagem através de um procurador. No entanto, foi acusado de
traidor, condenado a desterro perpétuo e os seus bens confiscados. No ano seguinte
(1326) fez o mesmo ao seu outro meio irmão João Afonso, só que para este a sentença
foi de morte. D. Afonso IV iniciou assim o seu reinado sob o signo da ódio e da
vingança.
Afonso Sanches, após diversos protestos escritos, que de nada resultaram, pegou em
armas com forças de Castela e invadiu Portugal, devastando o território fronteiriço,
desde Trás-os-Montes ao Alentejo. D. Afonso IV fazia o mesmo do lado de lá,
sobretudo em Badajoz onde estavam os aliados de Afonso Sanches. Era uma guerra
senhorial, que continha iminente o perigo de se tornar uma guerra internacional. Se por
um lado o rei de Castela, Afonso XI, tinha obrigação de querer boas relações com
Portugal (casado com D. Maria, filha de Afonso IV), por outro tinha obrigação de
defender o senhor de Albuquerque (sogro e aliado de Afonso Sanches). A execução do
seu outro meio irmão João Afonso em 1326, viera agravar mais o conflito. E mais uma
vez a Rainha D. Isabel, agora a viver em clausura, em Coimbra, enviava recados ao
filho, no sentido de apaziguar os ódios. Todavia, a questão duraria mais três anos, até
Afonso Sanches ter adoecido gravemente e ter abandonado a luta. Foi então, negociada
a paz, e restituídos os bens a Afonso Sanches, que viria a morrer em 1329. Seria
sepultado no convento de Santa Clara de Vila do Conde, que ele ajudara a fundar.
Em 1353, firmou-se com a Inglaterra um importante tratado comercial, para 50 anos (na
sequência de contactos que já vinham de longe, e de privilégios dados a mercadores
ingleses em 1338, e um tratado de protecção mútua anti-corso, datado de 1343).
A este propósito, crê-se que terá sido importante a influência dos mercadores,
interessados nos negócios com a Inglaterra. Cite-se, por exemplo, um Afonso Martins
Alho, mercador do Porto, e um dos intervenientes no acordo comercial com a Inglaterra,
em 1353.

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Guerra com Castela (1336/1339) – tratou-se de um conflito da vida interna castelhana,


com a alta nobreza e o clero divididos face ao rei de Castela. Aparentemente, o rei
português entra no conflito por razões de ordem afectiva e familiar: o facto do rei de
Castela, Afonso XI, repudiar a infanta D. Maria (filha de D. Afonso IV), trocando-a por
D. Leonor de Guzman. É neste contexto que se vê o rei português a negociar o
casamento do infante D. Pedro, seu filho e herdeiro, com a filha de João Manuel
(fidalgo da Catalunha rival de Afonso XI de Castela), D. Constança Manuel. Esta
contenda originou uma guerra que durou cerca de três anos, tendo os castelhanos
invadido Trás-os-Montes, Alentejo, Badajoz, Algarve Oriental e costas da Andaluzia,
atacaram a costa, desde Gibraltar a Vigo. Com a mediação do papa, acertaram-se as
pazes, em 1339, em Sevilha.
Batalha do Salado – Em 1340, os mouros de Granada aproveitando os
desentendimentos entre Portugal e Castela, pedem ajuda ao rei de Marrocos que
atravessa o Estreito, com mais de 100 navios e entra na Espanha, vitorioso. As ameaças
à cristandade fazem esquecer os ódios entre os reis peninsulares – o de Castela, Afonso
XI e o de Portugal, Afonso IV. Ambos se aliam num feito de Cruzada, e vencem os
mouros no Salado (em 30 de Outubro de 1340). Foi um marco decisivo para os cristãos,
facto que terá levado os cronistas a exaltarem o sucesso, como uma das maiores vitórias
da Reconquista. Com efeito, foi um passo importantíssimo para o firmar do domínio dos
cristãos. Granada iria manter-se por mais século e meio, mas apenas aguentando-se e
nada mais. A assinalar a Batalha do Salado, D. Afonso IV, mandou construir, em
Guimarães, um Padrão, o qual persiste e se designa por “Padrão da Batalha do Salado”.
Actividade Marítima (na continuidade de D. Dinis) – a frota criada por D. Dinis, e
entregue, como se viu, ao genovês Manuel Pessanha, vinha a exercer notável actividade
na luta contra os piratas e contra os corsários, bem como em incursões no Norte de
África. Por outro lado, dão-se os primeiros passos nas expedições de descoberta e
conquista: pensa-se que a célebre exploração às Canárias, atribuída ao genovês
Lancelloto Malocelli (cerca de 1336), tenha sido orientada pelo almirante português,
Manuel Pessanha. Certo é que os navios portugueses chegaram às Canárias antes de
1336, e continuaram a ir lá depois de 1339. Facto que levou os reis portugueses a
reivindicar a posse das ilhas, junto do papa, desde 1345 e por mais de um século.
Podemos anotar o reinado de Afonso IV como o que assinala os primeiros passos da
expansão portuguesa.

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Peste Negra (1348-1349) – veio do Oriente (surgiu na Crimeia), e um navio mercante


trouxe-a até Itália, nos finais de 1347, espalhando-se por toda a Europa. Bubões no
pescoço, axilas e virilhas. Pensa-se que a peste terá atingido o reino na Primavera e que
se prolongou até ao fim de 1348, deixando um rastro de miséria e luto que por muitos
anos viria a abalar a sociedade portuguesa. Pereceram cerca de 1/3 da população, vinte
anos mais tarde ainda se falava de terras “despoboradas” pela acção da peste. Esta
epidemia marcou fortemente o reinado de Afonso IV e ainda se fazia sentir no início do
governo de D. Pedro.
O Drama de Inês de Castro – Inês de Castro era filha de Pedro de Castro, nobre
castelhano, e irmã de D. Fernando e D. Álvaro Pires de Castro, que naquele reino
dispunham de grande poder senhorial. Teria vindo para Portugal em 1340, no séquito da
princesa D. Constança Manuel, esposa de D. Pedro I (deste consórcio nasceram D.
Maria, D. Luís e D. Fernando que veio a ser rei).
Após a morte de D. Constança Manuel, D. Pedro, recusou vários casamentos e instalou
a amante numa quinta de Coimbra, próxima ao Mosteiro de Santa Clara, o que foi
considerado injurioso para a memória da Rainha Santa. D. Afonso IV, viu-se
persuadido, como última solução, a acabar com a vida de Inês de Castro. Diogo Lopes
Pacheco, fidalgo, Álvaro Gonçalves meirinho-mor e Pêro Coelho, conselheiros do rei,
deslocaram-se de Montemor-o-Velho, onde a corte se achava, a Coimbra e degolaram
Inês de Castro, em 1355.
Isto deu causa a uma guerra civil entre D. Afonso IV e seu filho D. Pedro revoltado com
a morte de Inês de Castro, que só terminou pela intervenção da rainha D. Beatriz, esposa
de D. Afonso IV e mãe de D. Pedro.
Com efeito, em 1356 é assinado um acordo em Canaveses. Poucos dias mais tarde
jurava obediência ao pai na vila de Guimarães.
Inês teve os seguintes filhos: D. Afonso, D. João, D. Dinis e D. Beatriz.
Governo Interno
Reforma na Justiça - reprimindo os abusos das justiças da nobreza territorial e dos
municípios, instituiu os Juízes de Fora (1327/1332-1340). A justiça vinha sendo até
então administrada por – Juízes da Terra – do mesmo lugar, por issso, nem sempre era
aplicada como devia ser: imparcialmente. Para remediar este mal, o rei instituiu os
chamados Juízes de Fora, disposição que ainda hoje é observada nos nossos tribunais.

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Publicou a “lei pragmática”, instrumento que proibia a aquisição de bens supérfluos, a


fim de fazer face á crise económica, tabelamento de preços e dos bens de luxo.
Reformou a administração dos Concelhos (cerca de 1340).
Medidas Sociais e Laborais (1349) - Lei que procurou evitar a mendicidade
determinando assim a escolha de dois homens bons em todas as freguesias para fazer
o rol da população válida para os mesteres e trabalhos de campo, os quais eram
obrigados a aceitar o trabalho determinado pelo concelho. Não se permitindo que os
ociosos deixassem os campos, nem tão-pouco que os mendigos, com excepção dos
velhos e dos inválidos, vivessem à custa do alheio, acolhendo-se em mosteiros e
hospitais ou andando de terra em terra. Impunha-se-lhes a fixação nos campos e, não
o querendo fazer, seriam “açoutados e expulsos deles”.
Mandou realizar várias inquirições - Repressão de abusos senhoriais (1331, 1334, 1335,
1341, 1343).
Recapitulação dos Factos
Guerra com o irmão, ilegítimo, D. Afonso Sanches. Guerra com Castela. Expedição às
Canárias. Auxílio ao genro, D. Afonso XI, de Castela, na Batalha do Salado. Morte de
Inês de Castro e rebelião de seu filho D. Pedro. Instituição dos Juízes de Fora.
Publicação da Lei Pragmática. Reforma dos Concelhos. Inquirições.

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D. PEDRO I – O JUSTICEIRO
(1357 – 1367)

Biografia
D. Pedro I nasceu em Coimbra, a 18 de Abril de 1320 e subiu ao trono em 1357.
Faleceu em Estremoz, a 18 de Janeiro de 1367, depois de governar dez anos. Jaz em
Alcobaça, frente ao túmulo de Inês de Castro.
Genealogia
Casou em 1328, com a Infanta D. Branca, neta de Jaime II de Aragão, tendo sido
anulado o casamento por não poder ter descendentes. Casou depois em segundas
núpcias com D. Constança Manuel, em Évora, filha de D. João Manuel da Catalunha e
de Constança de Aragão, da qual teve os seguintes filhos: D. Fernando, herdeiro do
trono; D. Maria, que foi casada com o Infante D. Fernando de Aragão; e D. Luís.
De D. Teresa Lourenço teve um filho natural – D. João, Mestre da Ordem de S. Bento
de Avis, que depois foi rei de Portugal e iniciou a Dinastia de Avis ou Joanina.

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De D. Inês de Castro teve D. Afonso, D. João, D. Dinis que casou com a filha ilegítima
de Pedro o Cruel (rei de Castela) – D. Isabel, e D. Brites que veio a casar com D.
Sancho filho bastardo de D. Afonso XI de Castela e de D. Leonor de Gusmão, a sua
favorita.
D. Pedro I, vingou atrozmente a morte de D. Inês de Castro, a quem fez aclamar como
rainha depois de morta, deu-lhe sepultura em Alcobaça. Logo que D. Pedro assumiu o
poder, foi sua principal ideia vingar-se dos assassinos de D. Inês de Castro.
Conseguindo apanhar apenas dois – Diogo Lopes Pacheco pode escapar-se a tempo –
mandou-os conduzir a Santarém, onde lhes fez dar morte cruel (1358). Diz o cronista
Fernão Lopes que a “um foi arrancado o coração pelas costas e a outro pelo peito”.
D. Pedro fez juramento de que havia casado secretamente com D. Inês de Castro, após a
morte da rainha e reconfirmou este juramento nas Cortes de Coimbra de 1360. Mandou
exumar o corpo de Inês de Castro, colocou-a no trono e corou-a rainha, a lenda refere
que mandou os nobres prestarem-lhe vassalagem.
Com grande pompa fez trasladar o seu corpo do Mosteiro de Santa Clara a Velha para o
de Alcobaça numa enorme procissão. Tentou legitimar os seus filhos com Inês de
Castro.
Terminou o período de lutas com o clero, apesar dos protestos, pelo estabelecimento do
Beneplácito Régio, nas Cortes de Elvas, de 1361, em que se determinava que a
divulgação e aplicação dos diplomas papais como bulas, breves e outros documentos só
era permitida depois da autorização real, cerceando assim os direitos do clero.
Governou com justiça e rigor e com punições exemplares, como o açoitamento público
de um bispo, até à condenação à morte por roubos a judeus. Tentou controlar os estragos
provocados pela peste, que fazia diminuir a população.
Em 1357, atribuiu o Condado de Barcelos a D. João Afonso Telmo e numa política de
centralização das Ordens Religiosas atribuiu o mestrado da Ordem de Avis em 1363 a
seu filho bastardo D. João (Mestre de Avis), que contava apenas seis anos.
Poupou o reino às lutas que dividiam os outros estados peninsulares, governou com
imparcial justiça, rigorosa severidade e inteligente economia, e foi muito amigo do
povo.
Recapitulação dos Factos
Vingança contra os assassinos de D. Inês. Trasladação do corpo de D. Inês de Coimbra
para Alcobaça. Repressão severa dos crimes. Convocação das Cortes de Elvas e

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instituição do Beneplácito Régio (1361). Hábil administração e grande prosperidade do


reino, sobretudo, durante outro ciclo de pestes entre 1361 e 1365.

D. FERNANDO – O FORMOSO
(1367 – 1383)

Biografia
D. Fernando nasceu em Coimbra, a 31 de Outubro de 1345 e subiu ao trono a 28 de
Janeiro de 1367. Faleceu em Lisboa, a 22 de Outubro de 1383. Governou 16 anos.
Sepultado primeiramente em S. Francisco de Santarém de onde transitou mais tarde
para o Convento do Carmo.
Genealogia
Casou com D. Leonor Teles e teve os seguintes filhos: D. Afonso e D. Pedro, que
morreram crianças; e D. Beatriz que foi casada com D. João I de Castela.
Após a morte de Afonso XI, o trono de Castela foi disputado entre Pedro o Cruel, seu
único filho legítimo, e seu meio-irmão Henrique de Trastâmara. Inicialmente D.
Fernando manteve a neutralidade, apesar do apoio pontual a Pedro, mas este foi
assassinado e quando Henrique II (Henrique de Trastâmara) assumiu o poder, a política
portuguesa alterou-se e acabou por ser arrastado para a guerra.
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D. Fernando, como bisneto de D. Sancho IV de Castela reclamou então o trono de


Castela, tendo sido reconhecido como rei em Zamora, Ciudad Rodrigo, Valência de
Alcântara e Tui.
Para entrar em guerra com Henrique II de Castela assinou um tratado de paz com o rei
mouro de Granada e atraiu à sua causa o rei de Aragão, propondo casar-se com sua
filha.
D. Fernando, invadiu a Galiza (1369-1371 – 1.ª Guerra contra Castela), enquanto o rei
mouro cercou Algeciras.
Henrique II de Castela entrou em Portugal e conquistou Braga, cercou Guimarães, mas
teve que socorrer Algeciras, que esteve na eminência de se perder, conquistou, no
entanto, Bragança e Miranda do Douro, onde deixou guarnições militares.
O Papa Gregório XI interveio e solicitou a paz, que foi assinada em Alcoutim em 1371.
Numa das cláusulas deste Tratado, D. Fernando casaria com a filha (Leonor de Castela)
de Henrique II que traria como dote as cidades de Valência de Alcântara e Ciudad
Rodrigo.
Entretanto, D. Fernando veio a apaixonar-se por Leonor Teles, casada com D. José
Lourenço da Cunha, de quem tinha um filho e cuja família descendia indirectamente de
D. Afonso IV.
Mercê da acção da irmã de Leonor Teles, Maria Teles, foi solicitado o divórcio, por
consanguinidade entre Leonor Teles e o ex-marido e D. Fernando casou secretamente
com Leonor Teles, contra a vontade do povo e violando o tratado de Alcoutim.
O rei tentou retirar a cláusula de casamento do Tratado de Alcoutim e foi obrigado por
Henrique II de Castela a assinar o Tratado de Tui, em que as fronteiras portuguesas
voltavam a ser as mesmas, tendo-se perdido a hipótese de Portugal obter territórios
importantes.
Entretanto, o povo revoltava-se e não se conformava com a ideia de que o rei casaria
com Leonor Teles, a quem chamavam a “aleivosa”, e que consideravam uma feiticeira.
O alfaiate de Lisboa, Fernão Vasques, liderou a contestação popular da capital e
solicitou ao rei uma explicação, que lhe prometeu dar essa explicação no dia seguinte no
Convento de S. Domingos, mas durante a noite o rei partiu para Santarém e os
cabecilhas da revolta foram mortos, a nobreza estava igualmente contra este enlace, em
especial seu meio-irmão, D. Dinis.

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De Santarém, o rei partiu para o Porto e dali para Leça do Bailio, onde foi celebrado o
casamento oficial e se procedeu ao beija-mão. D. Dinis (meio irmão de D. Fernando –
filho de D. Pedro e de D. Inês de Castro) recusou beijar a mão da rainha e mesmo ali, o
rei tentou matá-lo. D. Dinis teve de fugir para Castela, onde passou a servir os reis
castelhanos.
A filha, D. Beatriz, fora entretanto prometida ao filho bastardo de D. Henrique II de
Castela, D. Frederico, duque de Benavente, mas esta proposta foi posta em causa devido
à sucessão do trono, pelo que ficou adiada a solução do contrato de casamento da jovem
princesa.
D. João, outro meio-irmão de D. Fernando e também filho de D. Inês de Castro,
apaixonou-se pela irmã de D. Leonor, Maria Teles com quem casou. Leonor Teles
instigou o seu cunhado, para vir a ser rei de Portugal se casasse com a sua filha, D.
Beatriz, mas para tal teria de livrar-se de sua irmã.
Leonor Teles urdiu um plano de adultério levando o próprio D. João a matar a mulher,
mas logo a rainha o acusou de querer usurpar o trono de Portugal, pelo que D. João teve
de se refugiar em Espanha.
Entretanto, surgiu na cena Peninsular uma nova personagem, o duque de Lencastre,
filho de Eduardo III de Inglaterra, que pelo casamento com D. Constança, filha bastarda
de Pedro I o Cruel, defendia o seu direito à coroa de Castela, tal como Henrique II de
Castela, que tinha o apoio da França.
O duque de Lencastre viu a hipótese de obter o apoio do rei de Portugal. Assim, neste
contexto, foi celebrado a 10 de Junho de 1372, o Tratado de Tágilde entre D. Fernando e
o Duque e posteriormente, em 1373, o de Westminster, no qual foram alicerçadas
alianças comerciais e garantido o apoio de Portugal à causa do duque de Lencastre.
Ao saber do sucedido, Henrique II de Castela invadiu Portugal (segunda Guerra com
Castela) conquistando Almeida, Pinhel, Linhares, Celourico e Viseu. Em 1373, desceu
até Coimbra, passou ao lado de Santarém e dirigiu-se a Lisboa sem encontrar qualquer
resistência e pôs fogo a uma parte da cidade, tendo ardido a judiaria e as freguesias de
S. Julião e Madalena.
Por acção do cardeal Guido de Bolonha, foi imposta a paz, celebrada em Santarém em
1373, de forma vexatória para Portugal, que se viu envolvido por via indirecta no
contexto da Guerra dos Cem Anos.

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D. Fernando passou a dedicar-se à administração interna e mandou reparar todos os


castelos e praças-fortes do país, e mandou construir novas cinturas de muralhas em volta
das cidades do Porto e Lisboa.
A de Lisboa, foi obra de João Fernandes e Vasco Brás, possuía 5 775 metros e foi
terminada em 1375. Possuía quarenta e seis portas, das quais se destacam as da
Mouraria, Santana, Santo Antão, Trindade, Santa Catarina, Corpo Santo, Moeda,
Portagem, Judiaria, Alcaçarias, Chafariz de Dentro, Arcebispo em Santa Clara, Graça e
S. André.
Criou o cargo de Condestável do Reino, uma espécie de chefe militar supremo.
Procurou reprimir os excessos da nobreza nas Honras e dos religiosos nos Coutos.
D. Fernando aumentou também o número dos que serviam na guerra, obrigando as
populações dos concelhos, mediante remuneração, a cumprir fossado de seis meses mas
muitas vezes os soldos não eram pagos.
Modificou o armamento utilizado em combate, a todos os que se podiam armar a cavalo
e deu-lhes armas convenientes, mandou fazer um arrolamento geral dos mancebos para
saber os que poderiam servir a pé no exército.

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Promulgou em 1375, a Lei das Sesmarias, que visava compulsivamente evitar o pousio
das terras susceptíveis de serem aráveis e aumentou o número de pessoas para
trabalharem na agricultura.
Exigiu que o ensino da agricultura fosse extensivo a toda a família, e se os proprietários
das terras não as trabalhassem seriam confiscadas. Obrigou os mendigos e os vadios,
desde que válidos, a trabalhar na agricultura.
Alargaram-se as relações comerciais com outras paragens, em especial, com as cidades
italianas, maiorquinas, da Córsega, entre outras, pelo que estabeleceu medidas de
dinamização da marinha, fundando o Arsenal da Marinha, também conhecido pelas
Tercenas Navais.
Impulsionou a Universidade ao transferi-la para Lisboa, a pedido dos mestres
estrangeiros por não existirem condições em Coimbra, tendo ficado alojada na Rua dos
Estudos Gerais, onde permaneceu 260 anos e isentou de taxas os produtos destinados à
Universidade.
As Cortes de Leiria de 1372 deram um passo importante, porque passaram a permitir ao
povo apresentar temas de discussão. Recebeu muitas queixas das gentes, quando
visitou, sobretudo, cidades como Leiria, Lisboa e Porto. As guerras depauperaram o
erário e a moeda foi várias vezes desvalorizada.
No final do seu reinado, não esquecendo a vergonha do Tratado assinado com Henrique
II e já depois da morte deste em 1380, acelerou as negociações com a Inglaterra, através
de João Fernandes Andeiro, que vivia naquele país.
Em 1381 começaram as escaramuças, que levaram à terceira guerra com Castela,
sobretudo, junto à fronteira onde o exército castelhano era comandado pelo príncipe D.
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João (meio-irmão de D. Fernando, filho de D. Pedro e de D. Inês). Os portugueses


atacaram Badajoz e os castelhanos puseram cerco a Elvas.
No mar os portugueses foram derrotados na Batalha de Saltes. Entretanto chegaram ao
Tejo as tropas inglesas, que foram enviadas em grande parte para o Alentejo. A armada
castelhana entrou no Tejo e cercou a cidade, mas as novas muralhas permitiram a
defesa, os castelhanos acabaram por pilhar as povoações circundantes.
No Alentejo distinguiu-se o prior da Ordem do Hospital, D. Pedro Álvares, com os seus
irmãos, entre os quais Nuno Álvares Pereira.
O clero e alguma nobreza tentaram chegar à paz e chegou-se a um acordo sem
conhecimentos dos ingleses, assinando-se o Tratado de Badajoz, em 1382.
O Mestre de Avis opôs-se a esta política e sobretudo ao comportamento da rainha, que
declaradamente tinha como amante o Conde João Andeiro.
Entre as cláusulas do acordo celebrado com Castela, a infanta D. Beatriz, casaria com
D. Fernando filho do rei de Castela, mas acabou por casar com o próprio rei D. João I
de Castela, quando este enviuvou. O respectivo tratado de casamento foi assinado em
Salvaterra de Magos, em 1383.
Neste Tratado previa-se:
Se D. Fernando viesse a ter ainda um filho varão, este seria o herdeiro da Coroa, caso
contrário seria D. Beatriz a rainha.
No caso de D. Beatriz falecer antes de D. João de Castela sem que tivessem filhos, a
coroa passaria para o rei de Castela.
No caso de D. Beatriz ter um filho varão, este viria para Portugal para ser educado e
seria rei de Portugal.
Até D. Beatriz ter um filho varão, a Regência do Reino seria assegurada por D. Leonor
Teles. Na verdade em 1384 nasceu D. Miguel, que teve apenas um ano de vida.
O rei veio a falecer em 1383 sem ter conseguido um filho varão, assim a primeira parte
do acordo de Salvaterra não poderia ser cumprida e estava comprometida a
independência, assim como o erário público.
Foi sepultado em Santarém e transladado para o Convento do Carmo em Lisboa.

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Recapitulação dos Factos


Casamento do rei com D. Leonor Teles. Primeira Guerra com Castela e Tratado de Paz
de Alcoutim. Segunda Guerra com Castela e Tratado de Paz de Santarém. Terceira
Guerra com Castela, derrota da esquadra portuguesa em Saltes e Tratado de Paz de
Badajoz. Lei das Sesmarias e protecção ao comércio e marinha (Arsenal da Marinha ou
as Tercenas Navais). Casamento de D. Beatriz com D. João I de Castela e Escritura de
Salvaterra de Magos.

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