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59. Conforme pontua Flávia Pereira Ribeiro, embora a alienação de bens por iniciativa
particular prevista não configure um efetivo deslocamento da atividade judicial para
outra instância, pode ser compreendida como “mais um exemplo da tendência de
delegação de atividades burocráticas que historicamente estiveram sob a égide do juiz
para a iniciativa privada” (RIBEIRO, Flávia Pereira. op. cit., p. 65).
60. Deve-se registrar, por pertinência, que, no julgamento da constitucionalidade do leilão
extrajudicial previsto no Decreto-lei nº 70/66, o Ministro Ilmar Galvão pontuou ex-
pressamente que, por razões semelhantes, corrente doutrinária prestigiosa defendia a
execução fiscal administrativa, “posto reunir ela, na verdade, na maior parte, uma série
de atos de natureza simplesmente administrativa”, reservando-se ao Judiciário a “aprecia-
ção e julgamento de impugnações, deduzidas em forma de embargos, com o que estaria
preservado o princípio do monopólio do Poder Judiciário” (SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. Primeira Turma. Recurso Extraordinário nº 223.075/DF. Relator: Ministro
Ilmar Galvão. Decisão unânime. Brasília, 23 de junho de 1998, publicação em 6.11.1998).
nem da sua liberdade sem o devido processo legal, também tem sido apontada
como óbice à positivação da execução fiscal administrativa. Para os defensores
de tal tese, a norma constitucional, que positiva o devido processo legal, apenas
autorizaria o processo de execução no âmbito do Poder Judiciário. A tese, no
entanto, não se sustenta. A Constituição não cria uma cláusula de reserva judicial
para o processo de execução coativa nem impõe que a perda de bens somente
possa ser realizada no âmbito de um processo judicial. O que a Constituição
determina é que a perda da propriedade somente poderá ocorrer no âmbito de
um procedimento onde sejam asseguradas as garantias do devido processo legal.
Necessário registrar, no ponto, a indeterminação do termo “devido pro-
cesso legal”, não existindo uma espécie de processo que, objetivamente, possa
ser considerado “o devido processo legal”. Na verdade, a doutrina questiona a
própria pertinência de eventual determinação do termo. Neste sentido, Carlos
Roberto Siqueira Castro, citando o juiz Felix Frankfurter, da Suprema Corte
norte-americana, ensina que o devido processo legal não pode ser aprisionado
dentro dos traiçoeiros limites de uma fórmula.61
Não existe, realmente, uma fórmula que abarque toda a densidade do
princípio, que apenas se desvela pelos seus desdobramentos. O devido processo
legal, portanto, analisado em seu núcleo normativo, somente se densifica através
do conjunto de direitos e garantias que o substancializam. Por isso, ao tratar do
tema, Gilmar Mendes registra que o devido processo legal se traduz em “uma
série de garantias hoje devidamente especificadas e especializadas nas várias ordens
jurídicas”62. Em lição semelhante, Carmen Lúcia Rocha destaca que o devido
processo legal “compreende um conjunto de elementos garantidores dos direitos
fundamentais em sua persecução, quando ameaçados, lesados ou simplesmente
questionados, tais como o direito à ampla defesa, ao contraditório, ao juízo objeti-
vo”, entre outros, sendo “um meio formal e previamente conhecido e reconhecido
de viabilizar o questionamento feito pelo administrado”63. Também pertinente,
na questão, a lição de Uadi Lammêgo Bulos, que caracteriza o devido processo
legal como “o reservatório de princípios constitucionais, expressos e implícitos,
que limitam a ação dos Poderes Públicos”64.
61. CASTRO, Carlos Roberto de Siqueira. O devido processo legal e a razoabilidade das leis
na nova constituição do Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 1989, p. 56.
62. MENDES, Gilmar Ferreira. In: BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. MENDES, Gilmar
Ferreira. op. cit., p. 592.
63. ROCHA, Carmen Lúcia Antunes Rocha. Princípios constitucionais dos servidores públicos.
São Paulo: Saraiva, 1999, p. 474-475.
64. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009, p.
565.
Bockmann faz uma interessante análise do devido processo legal, dividindo os seus
termos, para concluir pela necessidade de um “processo”, só possuindo “fundamento
de validade a execução de ato atentatório à liberdade ou bens que esteja inserido em
66. “Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado
o disposto no art. 6º:
[...]
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
[...]
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;”.
67. “Art. 58. A administração pública respectiva, por sua própria forca e autoridade, pode-
rá repor incontinente no seu antigo estado, as águas públicas, bem como o seu leito e
margem, ocupados por particulares, ou mesmo pelos Estados ou municípios:
a) quando essa ocupação resultar da violação de qualquer lei, regulamento ou ato da
administração;
b) quando o exigir o interesse público, mesmo que seja legal, a ocupação, mediante
indenização, se esta não tiver sido expressamente excluída por lei.
Parágrafo único. Essa faculdade cabe a União, ainda no caso do art. 40, nº II, sempre que
a ocupação redundar em prejuízo da navegação que sirva, efetivamente, ao comércio.”
68. “Art. 7º Declarada a utilidade pública, ficam as autoridades administrativas do ex-
propriante ou seus representantes autorizados a ingressar nas áreas compreendidas
na declaração, inclusive para realizar inspeções e levantamentos de campo, podendo
recorrer, em caso de resistência, ao auxílio de força policial. (Redação dada pela Medida
Provisória nº 700, de 2015)”
69. “Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública poderá motivadamente
adotar providências acauteladoras sem a prévia manifestação do interessado.”
70. “Art 90. Não surtindo efeito as medidas especiais ou a intervenção, a SUSEP encami-
nhará ao CNSP proposta de cassação da autorização para funcionamento da Sociedade
Seguradora.
Parágrafo único. Aplica-se à intervenção a que se refere este artigo o disposto nos arts.
55 a 62 da Lei no 6.435, de 15 de julho de 1977.”
71. “Art. 43. O órgão fiscalizador poderá, em relação às entidades abertas, desde que se
verifique uma das condições previstas no art. 44 desta Lei Complementar, nomear, por
prazo determinado, prorrogável a seu critério, e a expensas da respectiva entidade, um
diretor-fiscal.
[...]
Art. 44. Para resguardar os direitos dos participantes e assistidos poderá ser decretada a
intervenção na entidade de previdência complementar, desde que se verifique, isolada
ou cumulativamente:
I - irregularidade ou insuficiência na constituição das reservas técnicas, provisões e
fundos, ou na sua cobertura por ativos garantidores;
II - aplicação dos recursos das reservas técnicas, provisões e fundos de forma inadequada
ou em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos competentes;
III - descumprimento de disposições estatutárias ou de obrigações previstas nos regula-
mentos dos planos de benefícios, convênios de adesão ou contratos dos planos coletivos
de que trata o inciso II do art. 26 desta Lei Complementar;
IV - situação econômico-financeira insuficiente à preservação da liquidez e solvência
de cada um dos planos de benefícios e da entidade no conjunto de suas atividades;
V - situação atuarial desequilibrada;
VI - outras anormalidades definidas em regulamento.”
77. HARADA, Kiyoshi. Exame do anteprojeto de lei que dispõe sobre a cobrança de dívida
ativa apresentado pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e seu substitutivo. In:
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1430, 1 jun. 2007. Disponível em: <https://
jus.com.br/artigos/9968>.
78. Além disso, do mesmo modo que ocorre na execução fiscal judicial, a discussão acerca
do crédito tributário formalizado, no âmbito da execução administrativa, também será,
de ordinário, postergada, o que é natural na dinâmica de todo processo de execução
de título extrajudicial, onde o contraditório, além de eventual, é, regra geral, posterior
(exercido por meio de embargos). As garantias constitucionais, embora alcancem todo
o processo, não o fazem de modo absoluto e indistintamente, adaptando-se às fases
e especialidades dos procedimentos (BECKER, L. A. Contratos bancários: execuções
especiais. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 273).
79. Magna Carta de 1.215 (Magna Charta Libertatum). Tradução da Biblioteca Virtual de
Direitos Humanos. Universidade de São Paulo (USP). Disponível em: <http://www.
direitoshumanos.usp.br/>.
80. SILVA, José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros,
2014, p. 434-435.
81. “EMENDA XIV
Section 1. All persons born or naturalized in the United States and subject to the juris-
diction thereof, are citizens of the United States and of the State wherein they reside.
No State shall make or enforce any law which shall abridge the privileges or immunities
of citizens of the United States; nor shall any State deprive any person of life, liberty, or
property, without due process of law; nor deny to any person within its jurisdiction the
equal protection of the laws.”
82. Para Elizabeth Moura, há razões para não inclusão da palavra “vida” no texto consti-
tucional brasileiro:
85. MELO FILHO, João Aurino de. Sistemas de cobrança executiva da obrigação tributária
no direito comparado: execução fiscal administrativa como modelo moderno de cobrança
da administração tributária de massas. op. cit., p. 43.
86. Em sentido semelhante, a lição de Anderson Ricardo Gomes:
“Na realidade, não há na Constituição Federal qualquer óbice à realização de atos
procedimentais de expropriação patrimonial pela própria Administração Tributária,