Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
pt/semanario/semanario2455/html/revista-e/-e/quem-e-rui-pinto-
16 de Novembro de 2019 – Revista “E”, jornal “Expresso”
Quem é
Rui Pinto
Expôs os segredos da indústria do
Fac ebookTwitterE-M ail
Budapeste Rui Pinto foi viver para a capital da Hungria em 2015. Foi lá
que foi entrevistado e fotografado pela “Der Spiegel” em fevereiro deste
ano, em prisão domiciliáriaMARIA FECK
Rui Pinto já colaborou com o Ministério Público francês
antes de ser detido, tendo fornecido às autoridades
gaulesas mais de 12 milhões de documentos. França
classificou-o como denunciante e chegou a prever incluí-lo
num programa de proteção de testemunhas, antes de ele
ser extraditado para Portugal. As autoridades francesas,
aliás, criaram uma colaboração europeia com nove países,
coordenada pelo Eurojust, estando essa investigação a
trabalhar os dados de Rui Pinto até hoje.
DE GAIA A BUDAPESTE
Nascido a 20 de outubro de 1988 em Vila Nova de Gaia,
Rui Pinto aprendeu a ler e a escrever aos quatro anos. Na
escola “levava um avanço em relação às outras crianças”,
como o próprio contou à “Der Spiegel”, mas isso não se
viria a traduzir num desempenho excecional mais à frente.
“Era muito bom a história. Por outro lado, a matemática,
química e física era um desastre”, explicou Rui Pinto.
A PJ ENTRA EM CAMPO
A 3 de outubro de 2015, 48 horas depois das primeiras
revelações, chega à caixa de correio do então presidente
executivo da Doyen, o português Nélio Lucas, um
misterioso e-mail assinado por Artem Lobuzov, com um
aviso: “A fuga é bem maior do que imagina.” A mensagem
aludia a “artimanhas feitas no Banco Carregosa ao abrir
uma conta quase sem documentação”, negócios
simulando contratos de prospeção de jogadores (scouting)
envolvendo o Futebol Clube do Porto, a Vela Management
(empresa maltesa de Nélio Lucas) e a Energy Soccer (de
Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do clube).
No último parágrafo podia ler-se que “muito mais pode
aparecer online”. “Certamente não deve querer isso, não
é? Mas podemos conversar.” O e-mail marcou o início de
uma troca de correspondência entre Nélio Lucas e Rui
Pinto, na altura disfarçado sob a identidade de “Artem
Lobuzov”. Essa correspondência veio a culminar com um
apelo a uma “doação generosa”, entre meio milhão e um
milhão de euros, para que cessasse a divulgação de
documentos da Doyen.
No próprio dia de receção desse e-mail a Doyen, através
da sociedade de advogados Vieira de Almeida, apresentou
uma queixa contra incertos no Departamento de
Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa. A 7 de
outubro também a Polícia Judiciária (PJ) recebe uma
denúncia de extorsão, apresentada por Nélio Lucas e pela
Doyen. Uma semana antes a PJ tinha recebido outra
denúncia, por acesso ilegítimo, apresentada pelo Sporting.
Nélio Lucas entrega à PJ o seu iPhone, para uma perícia.
E dois dias depois o advogado de Nélio Lucas, Pedro
Henriques, informa a PJ sobre a identidade do advogado
que estaria a representar Artem Lobuzov, encaminhando
um e-mail aos inspetores José Amador (que conduziu
toda a investigação nos últimos quatro anos) e Rogério
Bravo (especialista em cibercrime na PJ).
Rui Pinto tinha contactado o advogado Aníbal Pinto (que
já o defendera no processo do Caledonian Bank) para o
representar nas negociações com a Doyen. A partir de 15
de outubro os telefones de Aníbal Pinto ficaram sob
escuta. A Doyen, que tinha sede em Londres, mostrou-se
disponível para negociar um acordo para estancar as
revelações no Football Leaks. Na verdade, fê-lo apenas
para, em articulação com a PJ, tentar descobrir a real
identidade de Artem Lobuzov.
CABEÇA A PRÉMIO
Enquanto o blogue Football Leaks continuava com as
publicações, Rui Pinto tinha a cabeça a prémio. A Doyen,
controlada por investidores cazaques (a família Arif), era
uma das empresas mais ativas na Europa nos negócios do
futebol. Não tinha a influência do superagente Jorge
Mendes, mas movimentava com relativa facilidade os
capitais necessários para apoiar necessidades de
tesouraria dos clubes.
O CERCO A APERTAR
Em março de 2016 Rui Pinto vê pela primeira vez o seu
nome exposto publicamente. Um blogue na internet
atribuía-lhe a autoria do Football Leaks, identificando-o
como um jovem de 27 anos a residir num país da Europa
de Leste e publicando uma fotografia sua, com alguns
dados pessoais. Também a relação com o advogado Aníbal
Pinto era exposta. O blogue Football Leaks de imediato
negou estar associado a Rui Pinto.