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CASOS E ACASOS CLÍNICOS: POTENCIALIDADES, LIMITES E

POSSIBILIDADES DA CLÍNICA DA PSICOLOGIA


A partir de experiência de prática clínica na Abordagem Existencial-Humanista
Thaisa Maria Fonseca Almeida 1

1 INTRODUÇÃO

“Este perpétuo analisar de tudo,


Este buscar de uma nudez suprema
Raciocinada coerentemente
É que tira a inocência verdadeira.”
(Fernando Pessoa)

“Eu preciso perdoar a felicidade dos que não se


indignam com as mesmas coisas que me doem e
me afetam.”
(Fiódor Dostoiévski)

A Psicologia é reconhecidamente, a partir do seu histórico como consolidação de um saber


científico, pelo seu trabalho na clínica, e posteriori, a partir também do seu olhar clínico,
mesmo dentro do conceito de clínica ampliada. Dentro disto, que muitas das grades dos
cursos de Psicologia nas instituições de ensino e formação, se estruturam. Aliado a um
arcabouço teórico enquanto embasamento científico para a prática do trabalho dentro da
clínica existe o estágio como possibilidade de experiência neste campo, para dar sentido a este
arcabouço da teoria. (JACO-VILELA, FERREIRA e PORTUGAL; 2005).

Neste enquadre que a partir das disciplinas de Clínica I, II e III, ofertadas pela FASI 2,
respectivamente nos períodos sexto, sétimo e oitavo do curso de Psicologia, constituem como
uma oferta e promoção do serviço da Psicologia Clínica, para a população que tem acesso aos
serviços no campo da saúde da Clínica Escola da respectiva instituição, por intermédio de
acadêmicos e por supervisão de profissionais do campo em questão.

1
Acadêmica de Psicologia da Faculdade de Saúde Ibituruna FASI.
2
Faculdade de Saúde Ibituruna, Montes Claros-MG.
Dentro do trabalho da Psicologia Clínica, existem várias abordagens que cuidará de conduzir
o caso clínico dentro do seu referencial teórico e epistemológico. Assim, o debruçar-se sobre
o caso requer um trabalho também de apropriação de um arcabouço filosófico que auxiliará a
pensar o caso clínico, permeando a condução do caso dentro do processo terapêutico. Apesar
das diferenciações epistemológicas, é unânime entre as abordagens à importância que se
confere à relação terapêutica. O que ganhou especial atenção a partir da terceira força da
Psicologia, a Abordagem Existencial-Humanista – pela qual este trabalho terá como norteador
para analisar e explorar casos e acasos clínicos. (VILELA, FERREIRA e PORTUGAL;
2005); (BARROS e HOLANDA, 2007).

Assim, a partir de experiência com três casos clínicos de uma acadêmica dentro da abordagem
supracitada, que este trabalho possui o objetivo de se debruçar, conforme a epistemologia da
palavra clínica, ou clinicar a respeito das potencialidades, limites, e possibilidades da clínica
psicológica.

2 DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento e discorrer deste tópico se propõem a pensar sobre duas questões


fundamentais que envolvem a relação terapêutica: qual a responsabilidade do terapeuta ou o
que cabe a ele dentro da condução do processo clínico, e qual a responsabilidade do cliente.
Neste sentido, que não há como pensar sobre a clínica da Psicologia sem considerar os
conceitos de relação e comunicação na perspectiva Rogeriana 3. Os últimos estudos de Rogers
se voltaram para o trabalho com grupos, mas ainda dentro de vieses institucionais, e após,
envolvendo o tema da politica dentro dos pressupostos que solidificaram seus trabalhos
iniciais. (MIRANDA, 2012); (ROGERS, 2007); (SHMIDT, 2011).

O alicerce da revolução política da psicoterapia centrada no cliente, segundo o autor,


reside na confiança nas capacidades de crescimento, autocompreensão e
autorregulação dos organismos humanos. As atitudes preconizadas como necessárias
e suficientes para desencadear um processo de crescimento traduzem, politicamente,
a facilitação da passagem do controle heterônomo para o autocontrole (SCHMIDT,
p. 632).

3
Carl Rogers teve como principal foco de estudo o processo da comunicação, partindo de um enfoque mais
diretivo para uma comunicação transcendente. Nos seus estudos, as principais contribuições, que são tomadas
como fundamentais em qualquer relação terapêutica, independente de abordagem, refere-se às atitudes. Sendo:
1-aceitação incondicional:; 2-congruência:; e 3-autenticidade:. Neste caso clínico, as atitudes foram as primeiras
norteadoras para a escuta verdadeira e o estabelecimento do contrato e vínculo terapêutico.
A fenomenologia também acaba por se envolver neste movimento, ao tecer críticas ao saber
científico e na maneira instrumentalizada e objetificada com que a pessoa era considerada –
algo que também pode ser encontrado nos trabalhos de Rogers, ao partir de uma diretividade
no processo de comunicação para uma não diretividade, que envolve a forma como o autor e
pesquisador, passa a apreender a totalidade da pessoa, dentro de uma perspectiva positiva.
(MIRANDA, 2012); (DE BARROS e HOLANDA, 2007).

Assim Husserl, quando aborda sobre o método fenomenológico, considera a importância de se


olhar para o fenômeno de outra maneira a fim de apreendê-lo de fato. E apreender o fenômeno
passa pela dimensão do afeto, da real aproximação – categoria desconsiderada pelo
conhecimento científico, e por este mesmo motivo que o método de Husserl se contrapõe a
este tipo de “saber”. Crítica que a Psicologia Social 4 também realiza, quando uma das suas
representantes, Bader Sawaia, busca no saber filosófico um resgate à ontologia do ser dentro
das ciências sociais. Para isto, Sawaia recorre a autores como Espinosa ao discorrer sobre
afeto, como categoria desestabilizadora do saber científico. (DE BARROS e HOLANDA,
2007); (SAWAIA, 1999).

Algo semelhante ou similar não deixar de ser realizado pela Psicologia Humanista (como
também pela Psicanálise), ao recuperar epistemologicamente a Filosofia dentro da Psicologia,
adotando não somente uma maneira de olhar e apreender o ser humano em sua totalidade,
como também e por este modo de se relacionar com ele. Por este motivo que esta abordagem
considera como de fundamental importância e a priori, a relação do terapeuta com o cliente,
que passa por compreender não somente a totalidade da existência do ser cliente, como
também do ser terapeuta. (SHMIDT, 2011).

Através desta fundamentação, é possível agora refletir sobre a experiência com três casos
clínicos – sobre os pontos em comum e o que escapa desses pontos, sendo assim, os acasos.
Em todos eles, a responsabilidade do terapeuta se situou nos limites da relação e nas maneiras
de como estabelecer essa relação. De certa maneira, a responsabilidade do terapeuta no
processo de condução e estabelecimento do vínculo pode ser pensada por meio das atitudes
que Rogers considera. Todavia, não se é possível pensá-las de maneira robotizada ou

4
Psicologia Social dentro da perspectiva crítica, tendo nascido com os estudos de Vygotsky, Luria e Leontiev,
sendo representada no Brasil através inicialmente de Silvia Lane, e outros pesquisadores como Ana Bock e
Bader Sawaia.
instrumentalizá-las, pois foge da lógica de como Rogers compreende o terapeuta e cliente, ao
discorrer sobre elas. Assim, é possível situar neste sentido a categoria da afetividade na
relação e na apreensão de um objeto no conhecimento cientifico sem desapropriá-lo da sua
totalidade, o que caracteriza também o método fenomenológico proposto por Husserl.
(MIRANDA, 2012); (ROGERS, 2007); (SAWAIA, 1999); (SHMIDT, 2011).

Considerando a responsabilidade do terapeuta, cabe então pensar até onde “depende” dele, de
certa forma, o sucesso de uma condução do caso clínico, ou o que escapa dos pontos
abordados acima. A relação não deixa de estar envolvida novamente, visto a forma com que
Rogers também concebia o cliente no processo de comunicação. Neste enquadre, cabe
considerar a maneira como é compreendido o espaço da clínica ou o setting terapêutico. Para
Rogers, este espaço situa-se no encontro entre terapeuta e cliente – o que se esbarra muito
também nos estudos da Psicologia Social ao se pensar sobre o sofrimento dentro da dimensão
ético-política. (ROGERS, 2007); (SHMIDT, 2011).

A política da abordagem centrada-no-cliente implica que o terapeuta evite e renuncie


conscientemente a qualquer controle sobre, ou a qualquer tomada de decisão pelo
cliente. Trata-se da facilitação da posse de si mesmo pelo cliente e das estratégias
pelas quais isso pode ser alcançado; a colocação do locus da tomada de decisão, e a
responsabilidade pelos efeitos dessas decisões é politicamente centrada-no-cliente
(ROGERS, 1978, p. 22).

Assim, o terapêutico da clínica não se limita a estruturas físicas de uma sala, por exemplo,
compreendendo que o potencial da vida existe na totalidade da existência, o que abarca as
várias dimensões que a constituem. Assim, poder-se-ia considerar que os limites da clínica em
Psicologia se circunscrevem no que se escapa no encontro com o cliente para o que existe fora
do espaço físico dentro do processo de comunicação, que são as outras dimensões que existem
para além do clínico, e compõe a vida, e história desta pessoa, quando retrata o seu dia, escrita
nos seus dia-a-dias. (DE BARROS e HOLANDA, 2007); (MIRANDA, 2012); (ROGERS,
2007); (SHMIDT, 2011).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maneira de apreender o ser humano, o situando agora dentro de um contexto político e


social advém de vários movimentos não somente da Psicologia, e adentra também no campo
da Fenomenologia, quando se considerado o resgate da Filosofia nas ciências que estudam o
sofrimento e as relações. No Brasil, ganha contornos com a Psicologia Social Crítica,
resgatando a dimensão do afeto nas análises sociais, como também a dimensão objetiva na
constituição do sofrimento. (BOCK, 2009); (DE BARROS e HOLANDA, 2007); (SAWAIA,
1999); (SHMIDT, 2011).

Logo, a dialética da objetividade-subjetividade ou o movimento das relações que atuam sobre


realidades individuais que chegam até as clínicas, passa por compreender o ser humano como
ativo, transformador, dentro de um potencial de vida. Movimento realizado também pela
Abordagem Humanista. Pois não há transformação social sem se acreditar na totalidade do
fenômeno do existir enquanto potencial e impulsionador para esta mesma transformação.
(BOCK, 2009); (DE BARROS e HOLANDA, 2007); (SAWAIA, 1999).

Este movimento não acontece somente dentro da Psicologia, como desemboca primeiramente
no campo da saúde de forma geral, como na Psicopatologia, ao se contrapor à Psicopatologia
Tradicional através da Fenomenologia, quando surge com o intento de “atender ao imperativo
de não exclusão ao verdadeiro objeto de estudo destas disciplinas: a experiência subjetiva”.
Um dos seus representantes mais contemporâneos, Tatossian, tendo como referência os
estudos de Husserl, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, bem como Jaspers, Binswanger, e Van
Den Berg, tece entrelaçamentos entre a psicopatologia e a filosofia fenomenológicas, para
compreender o sintoma e o fenômeno dentro do contexto da experiência, sem tomar
novamente o sujeito no lugar de passividade. (DE BARROS e HOLANDA, 2007);
(SAWAIA, 1999); (MOREIRA, 2011); (TEIXEIRA, 2006).

A conversão implica também em sair de uma simplificação restrita ao sintoma em


uma análise causal e previsível para uma compreensão do fenômeno em busca de
uma análise essencial. Isto significa uma modificação que vai de uma priorização do
diagnóstico à terapêutica, da patologia mental, pensada apenas como teorização, à
clínica. O modelo inferencial cede lugar ao modelo perceptivo no sentido de uma
percepção do modo de ser global do sujeito que se manifesta em cada um dos
fenômenos percebidos (BLOC e MOREIRA, p. 32).

A descontinuidade no atendimento clínico como experiência na prática de clínica II na


Abordagem Humanista serviu de reflexão a respeito da responsabilidade do terapeuta na
condução de um caso clínico, considerando seus limites e potencialidades. Assim a
possibilidade desta condução calca-se no potencial de pensar o ser humano e por isto a
relação. Por isto que a possibilidade da clínica dentro da dialética e do movimento do sujeito e
das relações depende da maneira com que o cliente e os diversos atuantes são considerados no
sofrimento psíquico, que é também ético-político. (BOCK, 2009); (DE BARROS e
HOLANDA, 2007); (MIRANDA, 2012); (ROGERS, 2007); (SAWAIA, 1999); (SHMIDT,
2011).
REFERÊNCIAS

BLOC, Lucas; MOREIRA, Virginia. Sintoma e fenômeno na psicopatologia fenomenológica


de Arthur Tatossian. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 16, n. 1,
p. 28, 2013.

BOCK, Ana Mercês Bahia; GONÇALVES, Maria da Graça Marchina (Ed.). A dimensão
subjetiva da realidade: uma leitura sócio-histórica. Cortez Editora, 2009.

DE BARROS, Fernando; HOLANDA, Adriano. O aconselhamento psicológico e as


possibilidades de uma (nova) clínica psicológica. Revista da Abordagem Gestáltica:
Phenomenological Studies, v. 13, n. 1, 2007.

JACÓ-VILELA, Ana Maria; FERREIRA, Arthur Arruda Leal; PORTUGAL, Francisco


Teixeira (Ed.). História da psicologia: rumos e percursos. Nau Editora, 2018.

MIRANDA, Carmen Silvia Nunes de; FREIRE, José Célio. A comunicação terapêutica na
abordagem centrada na pessoa. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 64, n. 1, p. 78-94,
2012.

MOREIRA, Virgínia. A contribuição de Jaspers, Binswanger, Boss e Tatossian para a


psicopatologia fenomenológica. Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological
Studies, v. 17, n. 2, 2011.

ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. WWF Martins Fontes, 2017.

SAWAIA, Bader. O sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética


exclusão/inclusão. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da
desigualdade social, v. 2, p. 97-118, 1999.

SCHMIDT, Maria Luisa Sandoval. Utopia, teoria e ação: leitura das propostas grupais na
abordagem centrada na pessoa. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 31, n. 3, p. 628-639, 2011.

TEIXEIRA, José A. Carvalho. Problemas psicopatológicos contemporâneos: Uma perspectiva


existencial. Análise Psicológica, p. 405-413, 2006.

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