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Introdução
O principal marco da obra foi o fato de Lúcio Costa ter unido com tamanha aptidão dois
partidos arquitetônicos diferentes, seguindo uma arquitetura moderna no pavimento térreo do
hotel, e usufruindo da arquitetura luso brasileira no pavimento superior. Diante disso, efetua-se
uma revisão dos principais conceitos, características e idealizadores dessas vertentes seguidas
pelo arquiteto, para contextualizar o tema, fundamentando esta análise.
A arquitetura moderna, assim como as outras artes, se desenvolve no início do século XX
e tinha como princípio romper com o que era vigente até o momento. Le Corbusier, um arquiteto
artista, sendo um dos maiores nomes da arquitetura, defendia que a sociedade estava passando
por mudanças, devido principalmente a Revolução Industrial, e que da mesma forma que os
outros campos estavam se adaptando a tal mudança, a arquitetura e o modo de construir também
deveriam.
Para ele a sociedade adquiriu velocidade e deveriam suportar tal demanda explorando o
conceito de casa como “máquina de morar”. As residências deveriam ser construídas em massa,
com poucos, ou sem ornamentos, valorizando a funcionalidade do espaço e não os seus itens
decorativos. Ao longo de seus estudos são determinados cinco elementos que se tornam
fundamentais para a arquitetura moderna, sendo eles os pilotis, a fachada livre, a planta livre, o
terraço jardim e por fim as janelas em fita.
O uso dos pilotis dava sustentação ao edifício, substituindo as paredes e permitindo a
amplitude para ir e vir. Assim como a planta livre, que por meio de uma estrutura independente,
traz a ideia de modificar o espaço sem causar danos à estrutura, permitindo a livre locação das
paredes, já que não possuem mais função estrutural. A fachada livre é consequência direta da
planta livre, permitindo a fachada com abertura máxima, ou qualquer arranjo que se deseja
realizar. O uso da janela em fita também é defendido, uma vez que a fachada livre e
independente, é possível realizá-las no formato que se deseja. Por fim, o terraço jardim, que o
arquiteto questiona a não utilização do espaço da cobertura se ela tiver inclinação, propondo,
então, coberturas planas, que servissem de área de permanência e convívio social.
Já sobre a arquitetura luso brasileira, refere-se a arquitetura colonial realizada no território
brasileiro desde 1500, com a chegada dos portugueses, até 1822 com a independência,
retratando a influência portuguesa e adequando ao clima tropical, aos materiais disponíveis e
às situações socioeconômicas locais. Em outros termos, é uma arquitetura de expressão
vernacular, própria da região que pertence, desprovida de uniformização e se opondo a
padronização da arquitetura mundial, visando uma independência cultural.
De acordo com os materiais disponíveis em abundância, barro e madeira, era comum o uso
das técnicas da taipa de pilão e pau a pique na arquitetura colonial, apresentando resistência e
durabilidade. Esse sistema era muito conhecido pelos indígenas, que também construíam em
modo vernacular, utilizando no sistema de estrutura as vigas e pilares amarrados em suas
extremidades. Com o tempo foi sendo utilizada a alvenaria de pedra ou tijolos de adobe para as
paredes e o uso de madeira para os pisos e tetos, assim como as palhas da cobertura foram sendo
substituídas por telhados de duas águas, com telhas em cerâmicas. Na alvenaria de pedra,
passaram a incrementar o uso da pedra e cal como método construtivo ao modo da arquitetura
portuguesa, tendo-se uma pedra argamassada e rebocada com barro e cal, para dar forma à
arquitetura.
3. Metodologia
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizada uma revisão bibliográfica de teses,
textos científicos e livros, para analisar o processo de construção estrutural e projetual. A seguir
encontra-se o que foi concluído com essa revisão.
Sobre o processo de construção do projeto, com obras a cargo de Arnaldo Monteiro e
assistido por Sylvio Santos, pode-se afirmar que Lúcio Costa o concebeu de maneira a fugir do
óbvio, já que o monumento é composto por dois volumes adjacentes com forma de prisma,
possuindo dimensões, materiais e funções divergentes.
O volume de maior dimensão apresenta uma planta retangular, de aproximadamente 31
por 5 metros, incluindo os balanços, se expandindo no sentido leste-oeste. Ele representa o
bloco principal, possui dois pavimentos e, devido a declividade do terreno, é levemente elevado
do solo por colunas de tora bruta de eucalipto, cujo diâmetro é de 21 centímetros e cujos eixos
verticais se distanciam em 3 metros, sendo um típico exemplo de planta livre corbusiana.
Ademais, sua cobertura é em meia-água inclinado a sul, formando uma seção transversal
trapezoidal e é constituída de telhas em barro.
Figura 1: Corte transversal
Fonte: www.archdaily.com.br
O pavimento térreo desse bloco é metade fechado por planos de vidro com caixilhos a cada
75 centímetros e metade exposto em varandas com abertura para o parque. Relativamente
próximo à colunata, o plano de vidro direcionado para o sul tem um desvio ao adentrar a escada
que permite o acesso a área social, o qual ocorre por meio da varanda. Esta área é cercada de
um lado por uma área de recreação e do outro pela recepção e o restaurante, sendo válido
evidenciar os vários desníveis entre esses espaços.
Outrossim, o acesso do edifício ocorre pela fachada norte, possuindo uma entrada social e
uma entrada de serviços, sendo, respectivamente, pela gerência e pela cozinha. Ambas entradas
são resguardadas também por telhas de cerâmica, a primeira com caimento inverso sustentado
por pilares de madeira em “V”, e a segunda com caimento tradicional.
O pavimento superior tem acesso através de uma escada inclusa em um volume de pedra
central que se mostra na fachada norte. É nesse pavimento que se encontram as suítes, as quais
oito delas são dispostas em linha e classificadas em suítes-padrão por serem iguais em tamanho
e configuração. As duas outras restantes são suítes especiais, localizadas nas extremidades do
bloco, também são idênticas entre si, mas possuem maior dimensão que as demais. Além disso,
as paredes entre os apartamentos são de taipa-de-mão e na fachada sul todos os quartos são
providos de uma varanda em balanço e protegida por um peitoril em muxarabi azul, que é uma
treliça típica da arquitetura colonial.
4. Materiais
Nos próximos tópicos segue uma descrição mais detalhada de cada material, dos
principais optados pelo arquiteto, como a madeira de eucalipto, o vidro, a pedra e o barro,
mostrando suas propriedades físicas, suas especificidades técnicas e um pouco da sua
contextualização na sociedade.
A madeira é um material que está presente nas construções há milhares de anos, tendo
diversas finalidades, inclusive sendo uma ótima alternativa como sistema estrutural. Observa-
se o seu uso como estrutura desde a Antiguidade na Grécia Antiga com as edificações dos
grandiosos templos, e por ser um material de fácil acesso, disponível na natureza e renovável,
com diversas qualidades, permanece até hoje como uma das melhores alternativas, de acordo
com o projeto, se usada de maneira consciente, sustentável e legal.
Apesar de ter uma grande oferta desse material, há uma preocupação com sua utilização,
devido a evidente redução da cobertura florestal, e assim, no Brasil, o IBAMA - Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - aponta a necessidade da
redução da pressão sobre as florestas nativas, estimulando o reflorestamento e o uso das
madeiras provenientes dessas. Isto posto, existe uma grande diversidade de espécies que
atendem a tal necessidade, como o pinus e o eucalipto, sendo, o segundo, o material optado
pelo arquiteto Lúcio Costa para as colunas aparentes de toras roliças, usando junto amarração
de metal para fazer seu travamento.
O gênero Eucalyptus é proveniente das ilhas da Oceania, com mais de setecentas
espécies reconhecidas botanicamente, e, atualmente, não mais que vinte são comercializadas
mundialmente. Acredita-se que foi introduzida na América em 1823 no Chile, e no Brasil há
controvérsias quanto a data e a localidade, porém, as primeiras semeaduras ocorreram por certo
em 1868 no Rio Grande do Sul. De acordo com a Indústria Brasileira de árvores, hoje, são 5,5
milhões de hectares plantados, com uma produtividade média de 39m²/ha/ano, dependendo de
acordo com o local de plantio.
Com relação às características técnicas, essas espécies têm boa durabilidade, no quesito
apodrecimento, se tratada com produtos preservativos com antecedência, mesmo sendo
vulneráveis à ação de agentes biológicos como fungos e insetos. Quanto à reação ao fogo, a
madeira é um material combustível, mas não impede que apresente boa resistência. Isso porque,
quando exposta ao fogo, formam uma camada externa de carvão que se comporta como um tipo
de isolante, tendo uma velocidade reduzida do aquecimento e degradação do material, e,
portanto, uma melhor capacidade de sustentação das cargas da edificação.
Outrossim, é um material de baixo consumo de energia no processo de usinagem,
comparado com demais materiais, como o aço e o concreto. Também apresenta bom
desempenho mecânico, tanto para tração quanto compressão, altas resistências às cargas de
impacto e boa resistência às cargas de curta duração. Por fim, pode-se dizer que é caracterizada
pela sua simplicidade de manipulação, sofre pouca alteração de dimensão pela variação de
temperatura e não reage com agentes oxidantes ou redutores com facilidade.
4.1.2. Vidro
O vidro é um dos materiais mais antigos empregados pelo ser humano, sendo formado
essencialmente por areia, cal e barrilha desde os primórdios. Em sua composição encontra-se
outros materiais secundários, que são importantes para alterar suas qualidades e que
diferenciam um tipo de vidro do outro, tendo o vidro de soda-cal, que é o mais comum, o de
borosilicato, o de chumbo, entre outros. Há uma gama de variedade e de finalidade do vidro,
que vão de incolor à colorido, com isolamento térmico, fotossensíveis, temperado, laminado, e
assim por diante, estando presentes em espelhos, lâmpadas, itens de cozinha, itens de decoração,
nos carros, e, dentre muitos outros, nas vedações de edificações.
Sobre as principais propriedades do vidro, pode-se abordar sobre a transmissão de luz e
radiação, o índice de refração, que é a medida da fração de luz que é “flexionada” quando
atravessa vidro e é relativamente invariável para os vidros, sendo de 1,52 para os vidros de
soda-cal, e variando de 1,47 para os vidros de borossilicato a 1,56 para os vidros de chumbo, e
as propriedades térmicas, que englobam a temperatura máxima de trabalho, o calor específico,
a condutividade, a expansão e a transmissão térmica, sendo que o comportamento mecânico
do vidro como fruto de uma fusão e como um elemento que se quebra naturalmente, é
demasiadamente submisso das suas propriedades térmicas.
Ademais, há também a resistência, que é uma propriedade que mede a capacidade de
suportar compressão, tensão, flexão, torção e outros esforços, sendo um material quebradiço
com qualidades de resistência muito diferentes. Uma importante unidade de resistência é o
esforço de tensão, conhecido como o Módulo de Young (E), em que o vidro apresenta um valor
de 70.000 MN/m², enquanto o diamante, por exemplo, tem o valor de 1.200.000 MN/m² e o aço
210.000 MN/m², e assim conclui-se que o vidro apresenta uma boa elasticidade e assim como
o concreto, o vidro é muito resistente a compressão, com valor de 1.000N/mm², e pouco
resistente à tração, com valor de 100 N/mm².
Quanto à dureza dos materiais, o teste de “arranhão” usa a escala de dureza Moh e o
vidro é um material naturalmente duro, comparável com o aço e a sua dureza é uma das
propriedades mais importantes, tendo o vidro de soda-cal uma dureza de 5,4-5,8. A durabilidade
às intempéries é a associação entre a dureza e a durabilidade química, tendo influência da
resistência natural do material a ação química, e da sua eficácia em suportar a limpeza prescrita
para o funcionamento de um transmissor de luz sem distorções.
Por fim, o vidro é um material razoavelmente leve com uma densidade de 2,50 para o
soda-cal, enquanto vidros com chumbo têm densidade entre 3 e 6, sendo que ao adicionar
fluidos e modificadores geralmente pode-se ter a densidade aumentada. Já em relação à
resistência ao fogo, é muito baixo o desempenho de janelas de vidros convencionais, no entanto,
hoje há o uso dos vidros de borossilicato, que é um material forte de baixa expansão, e
desenvolveu-se sistemas sanduíches que incorporam intercamadas resistentes ao fogo. Além
disso, o vidro deve atender aos requisitos de isolamento acústico, sendo que se instalado como
uma folha simples o seu resultado é exíguo, mas se utilizado sistemas múltiplos pode-se obter
um bom isolamento, principalmente se for mesclado espessuras de vidro diferentes. Existem
também os vidros laminados acústicos que, comparado com o vidro comum, concedem um
isolamento acústico superior.
Em suma, o vidro é um material com muitas aptidões, as quais são otimizadas cada vez
mais com a pesquisa e tecnologia, sendo fundamental na produção da arquitetura. Existe uma
diversidade de tipos de vidro, mas é importante um grande entendimento para fazer a melhor
escolha visando seu objetivo. Além disso, deve-se entender as propriedades do vidro para que
não se extrapole seus limites e assim tenha suas qualidades otimizadas.
4.1.3. Pedra
5. Justificativa
Considerando que mesmo com tal magnitude do edifício Park Hotel, de Lúcio Costa, a
população não tenha tanto conhecimento sobre ele e sobre sua relevância, não só para a
arquitetura brasileira, mas para a arquitetura moderna no geral, o estudo tem por foco
comprovar e disseminar uma ideia, analisando essa obra emblemática, visando a disseminação
do tema e um maior entendimento do seu processo construtivo e projetual, permitindo,
outrossim, a conservação da memória histórica da obra e da arquitetura do país.
6. Relevância
Por meio de análises bibliográficas é possível afirmar que ao utilizar madeira e pedra,
telhados de barro, varandas e treliças e, simultaneamente, desassociar a estrutura da vedação,
possibilitar uma divisão funcional, e usar a transparência dos planos de vidro, Lúcio Costa
concebeu, em 1944, um projeto de marco para a história da arquitetura, contribuindo para o
rompimento da arquitetura que se seguia vigente até o momento.
Tal obra, que inicialmente era de intenção temporária, permaneceu em funcionamento
durante décadas devido ao ápice do turismo no local. Em contrapartida, quando esse turismo
decaiu e o edifício foi sofrendo ações do tempo e do clima, com dificuldades para realizarem
restauração, ele teve que ser desativado em 2003.
Diante desse estudo, conclui-se que essa obra representa a essência de uma arquitetura
marcante para a história, e assim, não deve e não pode ser abandonada e esquecida pela
sociedade. Para tal, seria de suma importância a restauração e preservação desse patrimônio,
almejando um maior conhecimento da população sobre ele, e que talvez se atribua novos usos,
para que esse edifício não seja apagado da história.
8. Referências bibliográficas