Penhane BOLETIM OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE APOIO E ASSISTÊNCIA JURÍDICA AS COMUNIDADES

Director Executivo: Rui de Vasconcelos* Sede: AAAJC* Telefone: 20030252*Cidade de Tete *Chingodzi* Editado em Português e Inglês

Porquê é que as 512 famílias de Benga querem manifestar-se?

As comunidades de Benga-sede, Chitambo, Cangale e Nhambalua-
lu no distrito de Moatize falharam ontem, dia 18 de Novembro,
uma manifestação pública de reivindicação dos seus direitos de
reassentamento à empresa ICVL. Da carta de reivindicação que o
Penhene viu as comunidades propunham-se a bloquear as princi-
pais entradas da empresa em Benga, porque segundo entendem, a
ICVL não está a honrar o compromisso de reassentamento prometi-
do em 2013, aquando da sua implantação.
A Associação de Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades está
perplexa com o facto por entender que outras vias poderiam ser
activadas sim, visando buscar solução desta problemática, mesmo
antes de atingir este estágio. É certo que falhou a manifestação. Mas
poderia ter acontecido e motivado por actos evitáveis. Ainda existe
muitas formas de diálogo, formas essas que devem ser activadas
antes de uma possível manifestação e bloqueio. E ora, do historial
deste cenário e possível motivação, chega-se a conclusão de que na
verdade, depois da realização de estudos que avaliaram as reservas
de carvão mineral existentes nas minas de Benga, no distrito de
Moatize, constatou-se que a mina possuía mais de 2,1 bilhões de
toneladas de carvão térmico e metalúrgico. A abertura da mina
custaria cerca de 800 milhões de USD e representava apenas 2% do
carvão das áreas licenciadas para a Riversdale Moçambique, ora
conhecida por ICVL que submeteu em 2008 um pedido para a ex-
ploração do carvão mineral de Benga e que, um ano depois, em
2009, foi assinado um contrato com o governo moçambicano.
A mina de Benga localiza-se na localidade de Benga, no Posto Admi-
nistrativo de Moatize. O Relatório Executivo do Estudo de Impacto
Ambiental, indica que a área de exploração mineira ocupa as aldeias
de Capanga Nzinda, Capanga Gulo, Capanga Luani, Mpala, Nhan-
ganjo, Chitambo, Benga-Sede e Nhamsembe. A mina expropriou
terras e “expulsou” cerca de 5 671 habitantes, ou seja, um total de
1147 famílias, como aliás, está escrito na IMPACTO; GOLDASSOCI-
ATES; RIVERSDALE, 2009. Dada a existência de comunidades na
área atribuída à Riversdale Moçambique para a exploração do car-
vão mineral, aquela multinacional foi obrigada a reassentar as famí-
lias atingidas. E para a sua concretização iniciou-se um processo de
informação, escuta e consulta às comunidades sobre as áreas a serem
reassentadas.
O processo apresentou-se como estando a privilegiar a negociação,
mas na realidade foi um processo imposto às comunidades, ou seja,
a deslocação era irreversível e, apenas se ouvia falar sobre os prová-
veis locais de reassentamento. Mas na verdade, as indemnizações
devem ser negociadas. E mesmo antes do reassentamento foi realiza-
do um estudo social e económico, onde a consultora contratada para
a realização desse estudo fez um inventário de bens de cada família
como forma de facilitar o processo das indemnizações. E há um total
de 512 familias daquelas comunidades que não foram reasentadas,
embora a ICVL garanta que nada tem a tratar com as 512 familias.

Mas quem é a ICVL?

É preciso referir que a Riversdale Mining, hoje ICVL é O projecto de exploração do carvão de Benga tem a duração de
uma multinacional de exploração mineira registada na 25 anos, que poderão ser renováveis. Dadas as características
Bolsa de Valores Australiana. No continente africano a da mina, em que as jazidas de carvão vão da superfície até
empresa possui alguns projectos na República da Áfri-
1000 metros de profundidade, a mineração inicialmente será a
ca do Sul, como é o caso da mina de Antracite da Zulu-
céu aberto.
lândia. Para realizar as suas operações em Moçambi-
que, em cumprimento da legislação moçambicana, a
empresa teve que abrir uma filial denominada de Ri-
versdale Moçambique Limitada e o projecto de explora-
ção de carvão mineral de Benga é um empreendimento Parceiros:
conjunto com a Tata Steel, com cerca de 35% das ac-
ções. Esta empresa adquiriu o direito de compra de
40% do carvão metalúrgico produzido nas minas de
Benga com o objectivo de fornecer, principalmente, as
instalações do Grupo Tata Steel na Europa e na Ásia. A
sua mina em Benga cobre uma área de 4560 hectares,
dos quais 4502 estão localizados no distrito de Moatize
e os restantes na cidade de Tete.

Quem somos? Associação de Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades (AAAJC), é uma organização da Sociedade Civil
Moçambicana, não-governamental, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, fundada em 2008 e com os seus estatutos legal-
mente publicados em 2010 no Boletim da República nº. 2, III serie, 4º suplemento de 19 de Janeiro. A sede é na cidade de Tete.
 Penhane OFICIAL REPORT CARD OF THE ASSOCIATION FOR SUPPORT AND LEGAL ASSISTANCE TO COMMUNITIES

The Executive Director: Rui de Vasconcelos* Phone: 20030252*City of Tete-Mozambique* Edited in Portuguese & English
o
Edition n 205

Why do the 512 families in Benga want to speak out?

The communities of Benga-headquarters, Chitambo, Cangale and
Nhambalualu in Moatize district failed yesterday, November 18, to
make a public demonstration of their resettlement rights to ICVL.
From the letter of complaint that Penhene saw the communities
proposed to block the company's main entrances to Benga, as they
understand, ICVL is not honoring its 2013 resettlement commitment
at the time of its implementation.
The Association for Support and Legal Assistance to Communities is
perplexed by the fact that it believes that other avenues could be
activated, seeking to solve this problem, even before reaching this
stage. It is true that the manifestation failed. But it could have hap-
pened and motivated by preventable acts. There are still many forms
of dialogue, which must be activated before possible manifestation
and blocking. And from the history of this scenario and possible
motivation, it is concluded that, in fact, after studies that evaluated
the existing coal reserves in the Benga mines in Moatize district, it
was found that the mine owned over 2.1 billion tons of thermal and
metallurgical coal. Opening the mine would cost about $ 800 million
and represented only 2% of the coal in the licensed areas for Rivers-
dale Mozambique, now known as ICVL, which submitted an appli-
cation for the exploration of Benga coal in 2008 and which a year
later in 2009, a contract was signed with the Mozambican govern-
ment.
Benga Mine is located in Benga, Moatize Administrative Post. The
Executive Report of the Environmental Impact Study indicates that
the mining area occupies the villages of Capanga Nzinda, Capanga
Gulo, Capanga Luani, Mpala, Nhanganjo, Chitambo, Benga Head-
quarters and Nhamsembe. The mine expropriated land and
"expelled" about 5 671 inhabitants that is, a total of 1147 families, as
incidentally, is written in the IMPACT; GOLDASSOCIATES; RIV-
ERSDALE, 2009. Given the existence of communities in the area
allocated to Riversdale Mozambique for coal mining, the multina-
tional was forced to relocate affected families. And for its realization
began a process of information, listening and consultation with the
communities about the areas to be resettled.
The process presented itself as privileging the negotiation, but in
reality it was a process imposed on the communities, that is, the
displacement was irreversible and only heard about the probable
resettlement sites. But in fact, compensation must be negotiated.
And even before the resettlement, a social and economic study was
conducted, where the consultant hired to carry out the study made
an inventory of assets from each family as a way of facilitating the
compensation process. And there are a total of 512 families from
those communities that have not been resettled, although ICVL
guarantees that it has nothing to do with the 512 families.

But who is the ICVL?

It should be noted that Riversdale Mining, today ICVL The Benga coal exploration project lasts 25 years,
is a mining multinational listed on the Australian which could be renewable. Given the characteristics
Stock Exchange. On the African continent the compa- of the mine, where coal deposits surface to 1000 me-
ny has some projects in the Republic of South Africa, ters deep, mining will initially be in the open.
such as the Zululand Anthracite Mine. To carry out its
operations in Mozambique, in compliance with
Mozambican legislation, the company had to open a
subsidiary called Riversdale Mozambique Limited and Partners:
the Benga coal exploration project is a joint venture
with Tata Steel, with about 35% of the actions. This
company acquired the purchase right of 40% of the
metallurgical coal produced in the Benga mines in or-
der to supply mainly the Tata Steel Group facilities in
Europe and Asia. Its Benga mine covers an area of
4560 hectares, of which 4502 are located in Moatize
district and the remainder in Tete city.

Who we are? Association for Support and Legal Assistance to Communities (AAAJC), is a non-governmental, non-profit,
Mozambican Civil Society organization, nationwide, founded in 2008 and with its statutes published in 2010 in Bulletin of Re-
public no. 2, III series, 4th supplement of 19 January. The headquarters is in the city of Tete.