Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Desde as 06:00 da manhã que a cozinha trabalha em velocidade de cruzeiro, para que
nada falhe. Quando o primeiro hóspede se senta para tomar um copo de sumo de
laranja, já a equipa que assegura os pequenos-almoços tem quase três horas de
trabalho em cima do corpo. "É preciso estar tudo pronto para quando os clientes
chegam. É certo que nas férias as pessoas tendem a ficar até mais tarde na cama, mas
é preciso arranjar tudo para que nada falhe na hora do serviço", explica o chefe Miguel
Teixeira, sem tirar os olhos de uma travessa de ovos mexidos que acabou de ser
confecionada por um dos seus ajudantes e aguarda apenas a sua aprovação para
seguir para a sala de refeições.
"Nestas fichas estão os números dos quartos que cada funcionária tem de limpar, com
informação detalhada sobre cada um dos clientes", explica a governanta sem levantar
a cabeça das folhas que garantem que cada cliente encontrará a cama feita e a roupa
arrumada quando regressar ao quarto no final do dia. Neste hotel de cinco estrelas, os
pormenores são a pedra de toque do negócio, por isso, é exigido a cada uma das 24
funcionárias de limpeza que saiba o nome dos clientes que estão na sua lista de
tarefas, para que o tratamento seja o mais personalizado possível. "Temos em atenção
as características e preferências de cada cliente, o número e o tipo de almofadas de
que gosta, os produtos que prefere ter no minibar, etc. Este tipo de informação está
nesta ficha e o que se pede é que esteja tudo pronto por volta do meio-dia", explica
Graça Silva, sublinhando que o aumento da ocupação do hotel na altura do Verão
obriga muitas vezes a procurar ajuda de trabalhadores temporários, "a quem tem de
ser passada esta filosofia".
Fernanda tem um gabinete só para si, mas fica pouco tempo na secretária. "Só quando
chego, por volta das 07.00, é que perco aqui algum tempo, a organizar as fichas de
limpeza que são entregues a cada uma das funcionárias", adianta, enquanto verifica o
funcionamento da lavandaria do hotel, que fica a três metros de distância da sua
secretária e que faz também parte do seu alargado leque de responsabilidades.
Ainda não são 10.00 da manhã e já mais de 200 kg de toalhas e lençóis passaram pelas
ruidosamente fumegantes máquinas de lavar e de secar do hotel. Até ao final do dia,
hão de ter passado pelas mãos das duas funcionárias encarregadas de separar, lavar,
secar, engomar e dobrar quase uma tonelada de roupa de quarto e de piscina, a que se
juntam ainda as fardas dos 83 funcionários do hotel.
O tratamento da roupa não é uma dor de cabeça de que se possa queixar Graça Silva.
Ao contrário do que se passa no Vila Galé, o Tivoli Victoria recorre à ajuda de "um
irmão mais velho" para tratar da roupa suja, literalmente. Mário Candeias, diretor-
geral da unidade de Vilamoura, acompanhou a reportagem do DN ao Tivoli Marina,
onde é processada a roupa de todos os hotéis do grupo no Algarve. Aqui chegam todos
os dias várias carrinhas carregadas com quase oito toneladas de roupa suja. Segundo
Mário Candeias, "a convergência da roupa de vários hotéis numa só lavandaria gigante
permite gastar apenas 0,46 euros por cada quilo de roupa lavada, um valor muito
abaixo do que gastam as outras unidades e que permite uma poupança anual de vários
milhares de euros". Como a maior parte do trabalho - incluindo a secagem e
engomadoria - é executada por máquinas, para tratar de uma quantidade tão grande
de roupa são necessários apenas oito pares de braços.
Ainda a tarde vai a meio e já a cozinha retoma o seu ambiente caótico. A preparação
dos jantares, explica o chefe Miguel Teixeira, começa às 16.00, três horas e meia antes
da abertura de portas do restaurante. O tempo de preparação, adianta, deve-se à
complexidade da refeição: "Já não estamos a falar de um serviço para 700 pessoas,
mas de um tipo de cozinha diferente, que exige pormenores muito mais elaborados."
A dor de cabeça do chefe do Vila Galé é a mesma do seu colega do Tivoli Victoria, que
tem nas paredes as fichas técnicas das complexas refeições, que incluem sabores como
vieiras, presunto pata negra, bife tártaro de melancia e uma esterificação de manga. "É
um tipo de gastronomia que comunica com os clientes e que pretende despertar
emoções enquanto se bebe um copo de um bom vinho, por exemplo", conclui.
Longe dos luxos das unidades das grandes cadeias, outros hotéis, mais pequenos e
familiares vão sobrevivendo à crise do sector. O segredo? "Além dos preços, o serviço
personalizado e intimista", revela Susana Tavares, do hotel Marina de São Roque, a
escassos dois quilómetros do gigante Vila Galé de Lagos. Com apenas 33 quartos e um
quadro de pessoal composto por Susana, a sua mãe Conceição, o pai e quatro
funcionárias de limpeza, o Marina de São Roque é um verdadeiro hino ao casamento
entre simplicidade e comodidade. "Aqui tratamos os clientes pelo nome e tentamos
conhecer as preferências de cada um para que se sintam em casa", conta, orgulhosa,
Susana.
Nesta pequena unidade, os bastidores confundem-se com a vida pessoal dos seus
proprietários e gerentes: os turnos na receção são divididos consoante as necessidades
de cada um (quando Susana se ausenta para ir buscar a filha à escola, o posto é
ocupado pela mãe) e os pedidos especiais dos clientes são satisfeitos com recurso a
uma viagem rápida ao supermercado mais próximo. Por exemplo, explica Conceição,
"se há um cliente que gosta mais de um tipo específico de pão para o pequeno-
almoço, basta-nos pedir ao padeiro que nos abastece para trazer dois pães desses para
o pequeno-almoço. São gestos como estes, como mandar sempre postais de
aniversário aos nossos clientes, que fazem com que as pessoas gostem de nós e
queiram voltar..."