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O Olho e o Espirito – Maurice Merleau-Ponty

O livro é dividido em três partes: O olho e o espírito, A linguagem indireta e as


vozes do silêncio e A dúvida de Cézanne. Optamos pela exposição da primeira parte
que é uma meditação filosófica sobre a pintura e a visão. Nesse texto Merleau-Ponty
afirma que o pintor é o único que olha as coisas sem a necessidade de apreciação,
usando os olhos e as mãos como técnica para sua arte, seu papel é projetar o que
vê dentro de si, pensando por meio da pintura.

O autor já no inicio do texto apresenta uma crítica à ciência moderna e suas


percepções: “A ciência manipula as coisas e renuncia habitá-las” (p.15). Merleau-
Ponty tenta mostrar os problemas do mundo cotidiano por meio dos aspectos
reflexivos da percepção. Evidencia a relação entre o vidente e o visível, ou seja,
entre o sujeito e o objeto demonstrando como estes se alternam e se entrelaçam no
movimento de conhecer o mundo.

Na pintura essa interação com o mundo que se dá por intermédio do corpo


faz-se muito mais evidente, pois “é oferecendo seu corpo ao mundo que o pintor
transforma o mundo em pintura” (p.18). Assim, não há pintura sem pintor,
considerando que o pintor não é o observador distante frente ao visível, é aquele
que se funde à obra. Nesse sentido pintor e obra estão imbricados, o que faz com
que a obra não seja um tipo de representação do mundo, mas sim um movimento do
observador em direção ao mundo com o qual ele coexiste. Por isso pode-se afirmar
que, ao perceber o mundo, percebo-me. Essa é uma qualidade própria do ver, ”o
vidente não se apropria do que vê; apenas se aproxima dele pelo olhar, se abre ao
mundo” (p.19), não observo as coisas com distância: estou fundido a elas e elas a
mim. Mesmo a interação mais ingênua e despretensiosa de alguém com uma obra
acontecem por meio do corpo que percebe todas as suas qualidades. “Digo de uma
coisa que ela é movida, mas, meu corpo, ele próprio se move, meu
movimento se desenvolve” (p.19).

Somos o composto de alma e corpo, e o corpo é o depositário da visão e do


tato, sendo nossos órgãos instrumentos. O corpo é ao mesmo tempo vidente e
visível, ou seja, se reconhece em meio às coisas sendo essa uma das
características de nossa humanidade e é para a alma seu espaço natal, já a visão é
um tipo de pensamento que depende do movimento. O olho abre à alma as coisas
ao seu redor. A pintura é um artificio que nos faz ver espaço onde não há, e as
imagens dos objetos não se assemelham a eles, mobilizando o pensamento à
interpretação.

Merleau-Ponty critica o modelo cartesiano, afirmando que não há modelos


para a explicação do mundo, não há uma linearidade, quando olhamos, quando
vemos o mundo, pois cada olhar é único e singular, não há dissociação entre corpo
e alma. Entre o que olha e o que é olhado, entre o ser e o objeto, entre a parte e o
todo há, sim, uma relação de troca uma ação, um entrelaçamento. Assim, na relação
do artista com o objeto, com o mundo, não se sabe quem olha, quem vê, o que é
olhado, quem é olhado, quem sente e o que é sentido. Olhamos e falamos com as
coisas todo o tempo e o tempo todo.

O autor discute, também, em seu texto dimensões da pintura como a


semelhança, os ícones, a profundidade, a linha, a forma e a cor e, para ele, essas
dimensões só estão aí porque nosso corpo as acolhe. Compreende a semelhança
como “uma denominação exterior, pertencente ao pensamento” (p.29), pois é um
reflexo que engana o olho estabelece uma percepção sem objeto que não afeta
nossa ideia do mundo. Os ícones são como signos e palavras não se assemelham
àquilo que significam, são a imagem do objeto sem se assemelhar à ele. A
profundidade não é visível é essencialmente carnal, é uma realidade constitutiva do
ser e do conhecimento que se manifesta nos processos corporais. “O que
chamo profundidade é nada ou é minha participação num ser sem restrição, e
primeiramente no ser do espaço para além de todo ponto de vista” (p.33). A linha
“não imita mais o visível, ela ‘torna visível’, é a épura de uma gênese das coisas” (p.
47), não é imitação no vazio, mas sim movimento na espacialidade da obra. A cor “é
o lugar onde nosso cérebro e o universo se juntam” (p. 43), pois cria identidade,
diferença, realce, textura, materialidade, reaviva, dá movimento ao espaço e ao
tempo da obra.

A partir do corpo estabelecemos nossa comunicação com as coisas e com o


mundo e a pintura é um ato que possibilita a relação corpo/mundo pelas mediações
do sensível que conferem visibilidade ao visível. Os elementos da pintura como
profundidade, cor, luz, forma, linha, contorno, entre outros, apresentam-se como
desdobramentos do ser, pois se comunicam com o corpo que os acolhe e, também,
se faz visível por meio deles. “A visão, portanto, é movimento de encontro entre o
visível e o invisível. No emprego do olho e da mão, o pintor nunca se apropria da
natureza, no máximo, realiza uma reintegração entre aquele que vê e aquele que é
visto” (FALABRETTI, 2012, p. 220). Nesse sentido, a pintura é considerada a forma
mais efetiva da nossa experiência sensível originária, porque amplia e potencializa a
visibilidade. A imagem produzida pela obra é uma linguagem capaz de expressar a
nossa iniciação ao mundo, a partir da potência criadora da visão, ela ilustra a visão
em ato.

Referência:
FALABRETTI, Ericson. A pintura como paradigma da percepção. Dois pontos.
Revista dos departamentos de filosofia da Universidade Federal do Paraná e da
Universidade Federal de São Carlos, v. 9, n. 1, p. 201-226, 2012.

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