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Resumo
Lajes lisas são sistemas estruturais em que as lajes são diretamente apoiadas nos pilares, sem o uso de
vigas. Um dos problemas estruturais que esse sistema pode apresentar é o fenômeno da punção na ligação
laje-pilar. A punção ocorre quando na região do entorno do pilar as tensões de cisalhamento solicitantes
superam a resistência da laje, causando ruptura frágil antes do escoamento da armadura de flexão da laje.
As normas de projeto atualmente apresentam modelos de cálculo para a verificação da segurança dessas
ligações no ELU. No entanto, o fenômeno da punção é complexo e governado por diversas fontes de
incertezas. Dentro deste contexto, este trabalho tem como objetivo a realização de análises de
confiabilidade de uma ligação laje-pilar interno contra a punção, considerando os modelos de cálculo das
normas ABNT NBR 6118 (2014), EUROCODE 2 (2010) e ACI 318M (2014). Duas situações foram
comparadas: sem e com o uso de uma variável que define o erro de modelo para cada norma. As
estatísticas da variável erro de modelo foram obtidas no trabalho de MARQUE e NOGUEIRA (2018). O erro
de modelo foi utilizado como fator de correção da resistência da ligação à punção determinada pelos
modelos teóricos das referidas normas. A análise de confiabilidade resultou em diferentes valores para cada
uma das normas, com diferenças significativas ao se considerar o erro de modelo. Os resultados sugerem a
importância de se intensificar os estudos sobre a segurança de ligações laje-pilar contra a punção.
Palavra-Chave: punção, lajes lisas, concreto armado, confiabilidade.
Abstract
Flat slabs are structural systems in which the slabs are directly supported by the columns, without beams.
One of the structural problems this system can present is the phenomenon of punching shear in the slab-
column connection. The punching shear occurs when in the region surrounding the column, the shear
stresses are higher than the slab strength, causing brittle rupture before the slab flexure reinforcement
yields. Design standards currently provide calculation models for verifying the safety of these connections in
the ELU. However, the punching shear phenomenon is complex and is governed by several sources of
uncertainties. In this context, this work aims to perform reliability analysis of an internal slab-column
connection against punching shear, considering the prediction models of ABNT NBR 6118 (2014),
EUROCODE 2 (2010) and ACI 318M (2014). Two situations were compared: without and with the use of a
variable that defines the model error for each standard code. The statistics of the model error variable were
obtained in MARQUE and NOGUEIRA (2018). The model error was used as a correction factor for the
punching shear strength predicted by the theoretical models of the mentioned standards. The reliability
analysis resulted in different values for the predictions models, with significant differences when considering
the model error. The results suggest the importance of intensifying studies on the safety of slab-column
connections against punching shear.
Keywords: punching shear, flat slabs, reinforced concrete, reliability.
Figura 1 – Modo de ruptura em lajes lisas submetidas à punção, sem armadura de cisalhamento
(CARVALHO, 2008).
Sd Rd 1 (Equação 1)
FSd K1M Sd ,1 K 2 M Sd , 2
Sd (Equação 2)
ud Wp1d Wp 2 d
Onde:
FSd é a carga ou reação concentrada, em kN;
u é o perímetro crítico, como na Figura 2, dado em cm;
d é a altura útil da laje, em cm;
K1 e K2 são coeficientes que fornecem a parcela de momento transmitida ao pilar por
cisalhamento, obtido através da relação C1/C2 e C2/C1, respectivamente;
MSd,1 e MSd,2 são os momentos fletores atuantes de cálculo, em kN.cm;
W p1 e W p2 são os módulos de resistência plástico do perímetro crítico.
A tensão resistente no contorno C’, quando não há presença de armadura de punção
( Rd 1 ) é calculada como:
Rd 1 0,13 1 20 d 100 f ck 1 / 3 (Equação 3)
Onde:
ρ é a taxa geométrica de armadura de flexão aderente, obtida pela média geométrica da
taxa de armadura nas duas direções ortogonais.
fck é a resistência característica do concreto à compressão, em MPa.
Nos casos onde a verificação não é atendida, é necessário fazer alterações no projeto.
Estas alterações incluem melhorias nos parâmetros de resistência, inclusão de capitel ou
de armadura de punção na ligação laje-pilar.
Para pilares internos, com atuação de momento fletor, o cálculo da tensão solicitante ( Ed )
é:
VEd
Ed (Equação 5)
ui d
Onde:
VEd é a reação de cálculo exercida pelo pilar ou área carregada, em kN;
ui é o perímetro de controle, apresentado na Figura 3;
d é a altura útil, em cm.
β é um parâmetro que considera a existência de excentricidade na reação de apoio em
relação ao perímetro de controle. Nos casos onde a estabilidade lateral não depende do
funcionamento de pórticos formados pelos pilares e lajes e os vãos dos tramos adjacentes
não diferentes entre si em mais de 25%, considera β, para pilares internos, igual a 1,15.
Nos casos onde não existe momento fletor atuante, β é igual a 1.
Considera a tensão resistente ( VRd ,c ) no contorno C’, definido como:
0,18 20 20 1 / 2
VRd ,c 1 100 1 f ck 1 / 3 0,035 1 fck (Equação 5)
c d
d
Sendo:
Ƴc o coeficiente de segurança do concreto;
ρ1 a média geométrica entre as taxas de armadura nas duas direções, que deve ser igual
ou inferior a 0,02.
Para o EUROCODE 2 (2010), adota-se que 1 20 / d 2 .
Se a verificação não é atendida, existe a necessidade de alterações no projeto.
Figura 4 – Perímetro de controle, bo, para pilares internos (ACI 318M, 2014).
Vn Vu (Equação 6)
Onde:
φ é um coeficiente de ajuste das resistências, baseado nas deformações específicas do
concreto e do aço no perímetro de controle analisado.
A tensão solicitante Vu é calculada como:
u v1 M u1 c1 v 2 M u 2 c2
Vu (Equação 8)
bo d J C1 JC 2
Com:
νu sendo a força concentrada do pilar ou área carregada, em kN;
bo o perímetro de controle, como mostrado na Figura 4;
Ƴv1 e Ƴv2 correspondem à parcela de momentos fletores transferidas ao centróide crítico
por excentricidade no cisalhamento;
Mu1 e Mu2 são os momentos fletores de cálculo, em kN.cm;
c1 e c2 são as distâncias do centroide da seção crítica até o ponto onde ocorre o máximo
cisalhamento;
Jc1 e Jc2 são as propriedades da seção crítica, com cálculo análogo ao momento de
inércia polar.
A parcela de resistência, Vn, quando não há armadura de punção, é igual à tensão
resistente de cisalhamento fornecida pelo concreto, V c, cujo valor para pilares internos é o
menor obtido entre:
2
Vc 0,17 1 f c'
40d (Equação 9)
Vc 0,083 2 f c'
bo
Vc 0,33 f c'
Onde:
β é a razão entre o maior e menor lado das dimensões do pilar ou área carregada;
fc’ é a resistência específica do concreto, em MPa. Seu valor é diferente do valor de f ck,
devido a diferença na distribuição estatística adotada pelo ACI 318M (2014) e as normas
brasileira e europeia, apesar de haver relação entre seus valores.
Se a verificação não for atendida, existe necessidade de acréscimo de armadura de
punção ou alteração em algum dos parâmetros de resistência, como a altura útil da laje
ou resistência do concreto.
1 ( Pf ) (Equação 10)
Para o caso de lajes lisas submetidas à punção, adota-se o valor de β=3,1 como alvo. Isto
corresponde a uma situação com custo de medida de segurança elevada e grande
consequência caso ocorra a falha.
No estudo do estado limite último e a função de falha G, é necessário conhecer as
variáveis aleatórias importantes do projeto. Uma variável aleatória é definida como uma
função que fornece o número real associado a cada resultado obtido através de um
experimento aleatório dentro de um determinado espaço amostral (NOGUEIRA, 2010).
Em problemas complexos, é necessário conhecer o valor da média, desvio padrão e
ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 7
distribuição estatística de todas as variáveis aleatórias para que seja possível avaliar a
probabilidade de falha. Esta probabilidade de falha é dada por:
Pf P( R S 0) (Equação 10)
Portanto, as variáveis R e S, são compostas por diversas outras variáveis aleatórias, cuja
quantidade depende do estado limite último adotado.
No caso do dimensionamento de lajes lisas à punção, para este estudo, considerou-se a
adoção de nove variáveis aleatórias. Os parâmetros, como média, coeficiente de variação
(COV) e distribuição de probabilidade são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 – Variáveis aleatórias e seus parâmetros do dimensionamento contra punção.
V.A. Distribuição Média COV (%) Fonte do COV
Resistência à compressão do concreto
Lognormal fcm 14 Nogueira et al. (2007)
(fc)
Espessura da laje (h) Normal h 4 Silva (2017)
Distância entre o CG da armadura de
Normal d’ 12,5 Carvalho et al. (2017)
flexão superior e a face do concreto (d’)
Carga permanente (G) Normal 1,05G 10 Silva (2017)
Carga variável (Q) Gumbel Q 25 Silva (2017)
Dimensão paralela à excentricidade da
Normal C1 4 Carvalho et al. (2017)
força (C1)
Dimensão perpendicular à
Normal C2 4 Carvalho et al. (2017)
excentricidade da força (C2)
Excentricidade das cargas (ex e ey) Normal ex, ey 10 Carvalho et al. (2017)
Outra variável aleatória a ser adotada nos estudos, mas que não faz parte dos modelos
de cálculo normativos é a variável erro de modelo do dimensionamento de lajes lisas à
punção, definida abaixo.
Fexp
Em (Equação 11)
Fteo
Onde: Fexp é o valor da força de ruptura por punção obtida experimentalmente e F teo é o
valor de ruína obtida pelos modelos normativos, sem os coeficientes parciais de
segurança.
Quando Em=1 e desvio padrão zero, resulta em modelo completamente fiel aos resultados
obtidos experimentalmente, o que não ocorre na realidade. Se E m<1, os modelos de
previsão de norma se apresentam contra a segurança e, quando E m>1, as normas se
apresentam conservadoras, com forças teóricas abaixo das obtidas experimentalmente.
Portanto, através de diversas comparações de análises experimentais, a média e o
coeficiente de variação da variável erro de modelo apresentam o comportamento do
modelo de norma quando comparado aos resultados experimentais. Como as normas
ABNT NBR 6118 (2014), EUROCODE 2 (2010) e ACI 318M (2014) possuem diferentes
formulações, os resultados de suas variáveis erro de modelo se diferem.
ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 8
Através da comparação de 37 ensaios experimentais, com os valores obtidos
teoricamente, MARQUE e NOGUEIRA (2018) apresentaram as estatísticas da variável
erro de modelo para pilares internos, segundo as normas ABNT NBR 6118 (2014),
EUROCODE 2 (2010) e ACI 318M (2018). Os resultados obtidos podem ser observados
na Tabela 3.
Tabela 3 – Estatísticas da variável erro de modelo para pilares internos (MARQUE E NOGUEIRA, 2018).
Distribuição Desvio Coeficiente de
Código Normativo Média
Estatística Padrão Variação (%)
ABNT NBR 6118 (2014) Lognormal 0,951 0,126 13,2
EUROCODE 2 (2010) Lognormal 0,947 0,126 13,3
ACI 318M (2014) Lognormal 1,450 0,209 14,4
Q
R (Equação 11)
GQ
No exemplo estudado por LIMA (2001), um dos objetivos era analisar os dados segundo o
modelo de cálculo da norma brasileira, considerando todas as superfícies críticas. Isto
inclui a superfície crítica com armadura de punção. Para isto, este exemplo, na verificação
inicial, resultou em tensões solicitantes superiores às tensões resistentes no contorno C’
sem armadura de punção. Deste modo, adotando a espessura de laje de 18 cm, os
resultados de β tendem a serem inferiores ao alvo. Por isso, além da análise de
confiabilidade considerando os valores característicos do exemplo, outra análise foi
realizada, considerando a espessura de laje mínima que atenda os valores de tensão
especificados para cada norma estudada. Essa alteração também permitiu um melhor
estudo das variáveis aleatórias adotadas no problema. Além da obtenção dos índices de
confiabilidade, a análise permitiu conhecer a influência de cada variável no
comportamento da ligação. Isto se torna muito importante, pois pode permitir ao
profissional intervir no projeto nas variáveis mais adequadas para melhorar a segurança
da estrutura e seu desempenho (NOGUEIRA et al., 2007). Além disso, é possível
conhecer a diferença na importância das variáveis para cada um dos modelos de cálculo.
3.3. Resultados
As análises do exemplo de Lima (2001) são realizadas considerando quatro
possibilidades no contorno C’:
Espessura de laje de 18 cm, sem erro de modelo (E.M.);
Espessura de laje de 18 cm, com erro de modelo (E.M.);
Figura 5 – Análise de confiabilidade segundo a ABNT NBR 6118 (2014), EUROCODE 2 (2010) e ACI 318M
(2014) para pilares internos, seguindo o exemplo de Lima (2001).
Figura 6 – Sensibilidade das variáveis, segundo a ABNT NBR 6118 (2014), EUROCODE 2 (2010) e ACI
318M (2014) para pilares internos, seguindo o exemplo de Lima (2001).
Figura 7 – Sensibilidade das variáveis, segundo a ABNT NBR 6118 (2014), EUROCODE 2 (2010) e ACI
318M (2014) para pilares internos, seguindo o exemplo de Lima (2001) com inclusão da variável erro de
modelo.
4 Conclusões
As normas ABNT NBR 6118 (2014), EUROCODE 2 (2010) e ACI 318M (2014)
apresentam diferentes formulações para o dimensionamento de lajes lisas à punção.
Como há diferença em seus resultados, inclusive na superfície crítica a ser analisada, a
comparação entre as três normas é um processo complexo. Para isto, o uso da Teoria da
Confiabilidade Estrutural apresenta-se como uma alternativa viável para se estudar o
comportamento dos modelos normativos diante do fenômeno da punção, comparando as
formulações estre si.
Com base nos resultados obtidos considerando a ligação estudada por LIMA (2001), as
seguintes conclusões foram obtidas:
As respostas em termos do índice de confiabilidade obtidos para normas ABNT
NBR 6118 (2014), EUROCODE 2 (2010) e ACI 318M (2014) resultaram diferentes
entre si. Nos casos em que a variável erro de modelo foi desprezada, a norma
americana apresentou os menores valores para β;
Na inclusão da variável erro de modelo, β é alterado de forma significativa,
ocasionando em elevada redução nas normas brasileira e europeia, mas tendo um
significativo aumento no ACI 318M (2014);
A consideração da variável erro de modelo, devido a sua elevada sensibilidade,
forneceu maior uniformização dos valores de β, cuja variabilidade chega a cair de
50% para 15%, apenas. Isto mostra a variabilidade inerente aos modelos de
cálculo adotados pelos códigos de projeto, o que requer, na visão dos autores,
maiores estudos para a previsão do fenômeno da punção;
5 Agradecimentos
Os autores agradecem a FAPESP (processo nº 2018/06562-4) pelo financiamento da
bolsa de Iniciação Científica da aluna.
6 Referências
ACI COMMITEE 318M. Building code requirements for reinforced concrete (ACI 318-
89) and Commentary ACI 318R-89. Detroit, American Concrete Institute, 2014;