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Alca: ninguém entende, todo mundo 

explica 
Alca: ninguém entende, todo mundo explica 

MÍDIA SEM MÁSCARA, 18 DE SETEMBRO DE 2002 

Argemiro Luis Brum 

Tenho  lido  e  ouvido,  inclusive  neste  espaço,  muitas  opiniões  sobre  a  Área 
de  Livre  Comércio  das  Américas  (ALCA).  Alguns  contra,  outros  tantos  a 
favor;  alguns  em  tom  pejorativo,  outros  tantos  em  tom  mais  profissional  e 
científico;  muitos  sem grande embasamento econômico, outros muito bem 
fundamentados, e assim por diante. 

Pelo  sim  ou  pelo  não,  o  fato  é  que  este  assunto  vem  suscitando  diversas 
questões  interessantes.  Afinal,  o  debate  sobre  a  ALCA  é  necessário,  pois 
estamos  em  pleno  processo  de  construção  da  mesma.  Dentre  os  temas 
que  surgiram  está  a  preocupação  de  que  o  Brasil  possa  perder  sua 
soberania  caso  venha  a  participar  deste  Acordo.  Ora,  nosso  país  tem  se 
posicionado  firmemente  contra  uma  posição  exclusivista  dos  EUA  nesta 
questão.  E  o  Brasil,  mesmo  sendo  surpreendido  por  ações  contraditórias 
de  seus pares, pode tomar tal posição justamente porque aceita negociar -- 
preceito básico das relações internacionais. Isto significa dizer que, ao final 
de  tais  negociações,  em  2005,  poderemos  nos posicionar se aceitamos ou 
não  os  termos  negociados  e  se  participamos  ou  não  da  Área  de  Livre 
Comércio  das  Américas.  Isto  porque  a  ALCA  ainda  não  existe.  Ela  está 
apenas no terreno da proposta e em negociação. 

Assim,  precisamos  nos  informar  corretamente  sobre  o  assunto.  Neste 


contexto,  preocupam  afirmações  que  certos  setores  da  comunidade 
nacional  passaram  a  fazer  sobre  o  assunto.  Dentre  outras  coisas,  fala-se 
que  um  dragão  irá  se  abater  sobre  o  Brasil  e que precisamos nos defender 
do  mesmo  sob  pena  de  sermos  engolidos;  fala-se  que,  ao  participar  da 
ALCA,  o  Brasil  não  poderá  mais exportar seus produtos para nenhum outro 
país  sem  obter  o  acordo  dos  EUA;  fala-se  que  o  Brasil  irá  perder  a 
soberania  sobre  a  Amazônia  e  a  Base  de  Alcântara  caso  participe  do 
acordo,  e  assim  por  diante.  Ora,  tais  afirmações  são  um  amontoado  de 
disparates  ditos  por  quem  está  muito  mal  informado  ou  mal  intencionado 
em  relação  ao  assunto.  Em  ambos  os  casos,  prestam  um  enorme 
desserviço  à  Nação.  Este  fato  se  agrava quando tais afirmações são feitas 
por professores do ensino médio e mesmo do ensino superior, assim como 
padres da igreja católica em suas homilias, para citar alguns casos. 

Nesta  lógica  da  correção,  temos  a  informar  que  os  acordos  de  livre 
comércio  existem  entre  os  diversos  países  do  mundo  e,  particularmente, 
as  principais  potências  (EUA,  Europa  e  Japão),  principalmente  após  1947, 
com  a  criação  do  GATT,  hoje  OMC.  Evidentemente  tais  acordos  não  são 
irrestritos  e  atingem  setores  específicos  de  interesse  das  partes 
envolvidas.  Aliás,  é  para  isto  que  se  negocia!  Por  outro  lado,  o Brasil tem o 
máximo  interesse  em  manter  relações  comerciais  com  o maior número de 
países  no  mundo  e,  especialmente,  com  os  EUA  que,  além  de  possuir  o 
maior  PIB  do  mundo,  são  os  maiores  compradores  de  bens  e  serviços  do 
mundo.  Em  2001,  o  Brasil exportou 28% de suas vendas externas para este 
país  e  dali comprou 23% de suas importações totais, obtendo um superávit 
comercial  superior  a  US$  1,3  bilhão  (em  2000  o  superávit  brasileiro  para 
com  os  EUA,  mesmo  em  ano  de  déficit  da  balança  comercial, já havia sido 
de  US$  333  milhões).  Achar  que  se  pode  prescindir  da  economia dos EUA, 
no mundo de hoje, é um erro de avaliação que beira a ingenuidade. 

É  evidente,  entretanto,  que  um  processo  de  abertura  comercial  não  pode 
ser  unilateral.  Desta  forma,  é  verdade  que  o  Brasil,  assim  como  os  outros 
33  países  que  participam  das  negociações  da  ALCA,  deve  buscar  um 
consenso  que  lhe  ofereça  vantagens  e  lhe  dê  oportunidades, 
especialmente  diante  do  Canadá  e  dos  EUA.  Caso  isto  não  ocorra,  nada 
mais  justo  do  que  não  participarmos  desta  Área  de  Livre  Comércio.  Ora, 
para  se  chegar  a  tal  conclusão,  é  preciso  negociar  e  não  fugir  da 
responsabilidade  como  o  "plebiscito"  em  relação  a  ALCA,  açodadamente, 
deixou transparecer. 

Uma  outra  preocupação  detectada  diz  respeito  ao  papel  das 


multinacionais  no  contexto.  Não  é  novidade  para  ninguém  a  forte 
participação  das  empresas  dos  EUA  na  economia  mundial.  O  que  talvez 
seja  novidade  para  muitos  é  que  o  Brasil  também  possui  suas  empresas 
multinacionais,  em  número  superior  a  300,  algumas  delas,  como  a  gaúcha 
Gerdau,  comprando  empresas  justamente  no  Canadá e nos EUA. Podemos 
não  ser  muito  fortes  mas  a  força  que  temos  somente  foi  possível 
alcançá-la  porque  participamos  igualmente  do  mercado  internacional, 
aproveitando  a  abertura  comercial  que  o  mundo  tenta  construir  a  duras 
penas. 

Desta  maneira,  não  há  dúvida  de  que  o  assunto  não  pode  ficar  restrito  ao 
domínio  de  alguns  técnicos.  Quanto  mais  o  debatermos  e  o 
popularizarmos  melhor  será  para  a  nossa  tomada  de  consciência, 
conhecimento  real  dos  fatos  e  tomada  final  de  posição  como  nação 
soberana  que  somos.  Agora,  jamais  chegaremos  a  tal  estágio  com 
informações  e  afirmações  infundadas,  com  meias  verdades,  direcionadas 
a  interesses  específicos  e  muitas  vezes  mal  intencionados.  A  ignorância  é 
que  nos  deixa  subjugados  ao  exterior.  O  Brasil  espera  que  seus  cidadãos, 
especialmente  os  formadores de opinião, como os professores, jornalistas, 
padres e políticos tenham esta capacidade de discernimento. 

* publicado no Jornal de Brasília, 11 de agosto de 2002 

   
 

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