Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
explica
Alca: ninguém entende, todo mundo explica
Tenho lido e ouvido, inclusive neste espaço, muitas opiniões sobre a Área
de Livre Comércio das Américas (ALCA). Alguns contra, outros tantos a
favor; alguns em tom pejorativo, outros tantos em tom mais profissional e
científico; muitos sem grande embasamento econômico, outros muito bem
fundamentados, e assim por diante.
Pelo sim ou pelo não, o fato é que este assunto vem suscitando diversas
questões interessantes. Afinal, o debate sobre a ALCA é necessário, pois
estamos em pleno processo de construção da mesma. Dentre os temas
que surgiram está a preocupação de que o Brasil possa perder sua
soberania caso venha a participar deste Acordo. Ora, nosso país tem se
posicionado firmemente contra uma posição exclusivista dos EUA nesta
questão. E o Brasil, mesmo sendo surpreendido por ações contraditórias
de seus pares, pode tomar tal posição justamente porque aceita negociar --
preceito básico das relações internacionais. Isto significa dizer que, ao final
de tais negociações, em 2005, poderemos nos posicionar se aceitamos ou
não os termos negociados e se participamos ou não da Área de Livre
Comércio das Américas. Isto porque a ALCA ainda não existe. Ela está
apenas no terreno da proposta e em negociação.
Nesta lógica da correção, temos a informar que os acordos de livre
comércio existem entre os diversos países do mundo e, particularmente,
as principais potências (EUA, Europa e Japão), principalmente após 1947,
com a criação do GATT, hoje OMC. Evidentemente tais acordos não são
irrestritos e atingem setores específicos de interesse das partes
envolvidas. Aliás, é para isto que se negocia! Por outro lado, o Brasil tem o
máximo interesse em manter relações comerciais com o maior número de
países no mundo e, especialmente, com os EUA que, além de possuir o
maior PIB do mundo, são os maiores compradores de bens e serviços do
mundo. Em 2001, o Brasil exportou 28% de suas vendas externas para este
país e dali comprou 23% de suas importações totais, obtendo um superávit
comercial superior a US$ 1,3 bilhão (em 2000 o superávit brasileiro para
com os EUA, mesmo em ano de déficit da balança comercial, já havia sido
de US$ 333 milhões). Achar que se pode prescindir da economia dos EUA,
no mundo de hoje, é um erro de avaliação que beira a ingenuidade.
É evidente, entretanto, que um processo de abertura comercial não pode
ser unilateral. Desta forma, é verdade que o Brasil, assim como os outros
33 países que participam das negociações da ALCA, deve buscar um
consenso que lhe ofereça vantagens e lhe dê oportunidades,
especialmente diante do Canadá e dos EUA. Caso isto não ocorra, nada
mais justo do que não participarmos desta Área de Livre Comércio. Ora,
para se chegar a tal conclusão, é preciso negociar e não fugir da
responsabilidade como o "plebiscito" em relação a ALCA, açodadamente,
deixou transparecer.
Desta maneira, não há dúvida de que o assunto não pode ficar restrito ao
domínio de alguns técnicos. Quanto mais o debatermos e o
popularizarmos melhor será para a nossa tomada de consciência,
conhecimento real dos fatos e tomada final de posição como nação
soberana que somos. Agora, jamais chegaremos a tal estágio com
informações e afirmações infundadas, com meias verdades, direcionadas
a interesses específicos e muitas vezes mal intencionados. A ignorância é
que nos deixa subjugados ao exterior. O Brasil espera que seus cidadãos,
especialmente os formadores de opinião, como os professores, jornalistas,
padres e políticos tenham esta capacidade de discernimento.